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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS ANA CRISTINA COLAVITE BARAÇAL PRADO QUALIDADE DE VIDA EM DEGLUTIÇÃO NO CÂNCER AVANÇADO DE LARINGE: LARINGECTOMIA TOTAL E PRESERVAÇÃO DE ÓRGÃO CAMPINAS 2016

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

    ANA CRISTINA COLAVITE BARAÇAL PRADO

    QUALIDADE DE VIDA EM DEGLUTIÇÃO NO CÂNCER AVANÇADO DE LARINGE:

    LARINGECTOMIA TOTAL E PRESERVAÇÃO DE ÓRGÃO

    CAMPINAS

    2016

  • ANA CRISTINA COLAVITE BARAÇAL PRADO

    QUALIDADE DE VIDA EM DEGLUTIÇÃO NO CÂNCER AVANÇADO DE LARINGE:

    LARINGECTOMIA TOTAL E PRESERVAÇÃO DE ÓRGÃO

    Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de mestra em Ciências Médicas, Área de Concentração em Ciências Biomédicas.

    ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO

    FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO

    ALUNO ANA CRISTINA COLAVITE BARAÇAL PRADO, E ORIENTADO PELO

    PROF. DR. CARLOS TAKAHIRO CHONE.

    CAMPINAS

    2016

  • BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE MESTRADO ANA CRISTINA COLAVITE BARAÇAL PRADO

    ORIENTADOR: CARLOS TAKAHIRO CHONE

    MEMBROS:

    1. PROF. DR. CARLOS TAKAHIRO CHONE

    2. PROF. DR. GIÉDRE BERRETIN FELIX

    3. PROF. DR. CARMEN SILVIA PASSOS LIMA

    Programa de Pós-Graduação em CIÊNCIAS MÉDICAS da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas.

    A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros da banca examinadora encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

    Data: DATA DA DEFESA 29/01/2016

  • Dedico esta pesquisa à

    Maria de Lourdes, minha mãe, dedicada pedagoga que sempre me apoiou nas

    buscas pelo saber com exemplo e incentivo.

    Baraçal Jr, companheiro de todas as horas, que só fez somar nesses 30 anos de

    convivência e felicidade na vida familiar. Os seus exemplos de competência e

    profissionalismo do educador que é me inspiram no meu caminhar profissional.

    Matheus e Marina, filhos queridos, que participaram desde a infância com paciência

    nos meus momentos de trabalho e ausência familiar respeitando e apoiando minhas

    buscas com muito amor e carinho.

    Todos os meus mestres, que com seu magistério, exemplificaram o valor da

    educação bem ministrada e do estudo continuado, em especial neste momento, ao

    Prof. Dr. Carlos Takahiro Chone, orientador que deu continuidade a esses valores.

  • AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Carlos Takahiro Chone por abrir as portas para a Fonoaudiologia com

    respeito e confiança acolhendo, entre seus orientandos, nós fonoaudiólogos.

    A todos os profissionais da Comissão de Pós Graduação, em especial à Marcinha,

    pela atenção e disponibilidade sempre.

    À Cristina – Departamento Otorrinolaringologia pela disponibilidade e solicitude

    durante todos os momentos.

    À amiga Fga. Ms Juliana Lopes de Moraes principal incentivadora no meu caminhar

    pela área da disfagia e do câncer de cabeça e pescoço com exemplos de disciplina

    e ética no estudo e no trabalho.

    À gestora da equipe de reabilitação do Complexo Hospitalar Ouro Verde, Alexandra

    Carlini, pelo apoio fornecendo meios e disponibilidade na organização de meus

    horários entre trabalho e estudo para que esse mestrado se concretizasse.

    Aos pacientes da Disciplina de Otorrinolaringologia - Cabeça e Pescoço, em especial

    aos que colaboraram nesta pesquisa com o objetivo de ajudar aqueles que ainda

    passam pelo tratamento.

  • RESUMO Objetivo: Avaliar a qualidade de vida em deglutição de pacientes tratados de câncer de laringe avançado (T3/T4) com as modalidades de tratamento de laringectomia

    total (LT) e preservação de órgão (PO). Método: Pacientes tratados de carcinoma epidermóide de laringe com LT (12) ou PO (13) com sobrevida livre de doença de

    pelo menos 12 meses, responderam aos questionários M.D. Anderson Dysphagia

    Inventory (MDADI) e European Organization for Research and Treatment of Cancer

    (EORTCQLQ H&N 35). Pacientes com histórico de problemas neurológicos e lesão

    recorrente locorregional ou distante foram excluídos do estudo. A análise estatística

    utilizou o teste Qui-quadrado ou exato de Fisher para as variáveis categóricas e o

    Mann-Whitney para as variáveis numéricas com ajuste no tempo pós-tratamento

    pela ANCOVA. O nível de significância adotado para este estudo foi de 5%.

    Resultados: No questionário EORTCQLQ H&N, com ajuste de tempo por tempo de tratamento, xerostomia e saliva espessa foi maior para o grupo de PO (p

  • ABSTRACT Purpose: Evaluate the swallowing quality of life of patients treated for advanced larynx cancer between total laryngectomy (TL) and organ preservation (OP).

    Method(s): twenty five patients (12 TL and 13 OP) answered the M.D. Anderson Dysphagia Inventory (MDADI) and European Organization for Research and

    Treatment of Cancer (EORTC QLQ-H&N 35) questionnaires. All patients were alive

    without disease. Patients with residual or loco-regional or distant disease and history

    of neurological disease were also excluded from the study. The statistical analysis

    used the chi-square or Fisher exact test for categorical variables and the Mann-

    Whitney test for numerical ones with adjustment in the post-treatment time by

    ANCOVA. The significance level adopted for this study was 5%. Results: In the

    questionnaire EORTCQLQ H&N 35, and setting time for the treatment, xerostomia

    and thick saliva was greater for the PO group (p

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Comparativo das variáveis do questionário MDADI de acordo com o tratamento realizado e análise estatística ..........................................

    27

    Tabela 2 Comparativo entre a frequência absoluta e relativa e grau de limitação da deglutição de acordo com o tratamento realizado ....................

    27

    Tabela 3 Comparativo das variáveis do questionário EORTC QLQ - H&N 35 de acordo com o tratamento realizado e análise estatística ....................

    28

    Tabela 4 Comparativo de variáveis categóricas do questionário EORTC QLQ - H&N 35 de acordo com o tratamento realizado pelo teste exato de Fischer...........................................................................................................

    29

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    EUA - Estados Unidos da América

    CEC - Carcinoma espinocelular

    WHOQOL - World Health Organization – Quality of Life Group

    LT – Laringectomia Total

    PO - Preservação de Órgão

    EORTC H&N 35 - European Organization for Research and Treatment of Cancer Quality of Life in deglutition specific module for head and neck

    QLQ - Quality of Life

    H&N - Head and Neck

    MDADI – Monroe Dunaway Anderson Dysphagia Inventory

    INCA - Instituto Nacional do Câncer

    CEC - Carcinoma espinocelular

    T - Tumor primário. A adição de números indica a extensão da doença maligna

  • SUMÁRIO

    1 Introdução Geral ......................................................................................

    12

    2 Objetivos .................................................................................................

    15

    3 Metodologia .............................................................................................

    16

    4 Resultado

    Artigo .......................................................................................................

    18

    5 Discussão Geral .... .................................................................................

    37

    6 Conclusão ...............................................................................................

    41

    7 Referências .............................................................................................

    42

    8 Anexos ............................................................................................... .....

    45

  • 12

    INTRODUÇÃO As neoplasias malignas de Cabeça e Pescoço atualmente são

    consideradas uma das mais prevalentes em todo o mundo, com 42000 novos

    indivíduos todos os anos nos EUA. Especificamente, o câncer de laringe apresenta

    uma estimativa de 13.560 novos casos com 3640 mortes em 2015. [1]

    Dados do Instituto Nacional do Câncer de 2014 indicam a neoplasia da

    laringe como a segunda mais comum entre os diversos tipos de câncer de cabeça e

    pescoço registrados no Brasil.[2] Estimam-se 6.870 casos novos de câncer de

    laringe com incidência maior em homens (acima de 40 anos). Desses,

    aproximadamente 95% são do tipo histológico carcinoma espinocelular (CEC) e

    seguidos por adenocarcinomas e alguns sarcomas [2].

    Os fatores de risco para o aparecimento do câncer de laringe são,

    principalmente, o uso crônico do tabaco que é potencializado se associado ao

    álcool, seguidos por histórico familiar, má alimentação, situação socioeconômica

    desfavorável, inflamação crônica da laringe causada pelo refluxo gastroesofágico,

    infecção por HPV (human papiloma vírus), exposição a produtos químicos, pó de

    madeira, fuligem ou poeira de carvão e vapores da tinta [2-3].

    Quando diagnosticado em estágios iniciais, o câncer de laringe é tratado

    cirurgicamente ou pela preservação de órgão considerado menos agressivo e com

    um bom prognóstico com alto percentual de cura em torno de 80% a 100% [2].

    Estudo sobre a sobrevida livre de doença em cinco anos de pacientes com tumores

    iniciais de laringe observou um índice de 90% para o tratamento cirúrgico e de 84%

    para a preservação de órgãos [4]. Já nos casos de tumores de laringe em estágios

    mais avançados qualquer que seja a modalidade terapêutica adotada, esta será

    mais agressiva. O prognóstico de cura nesses casos é menor e o índice de

    sobrevida foi de 55% nas lesões avançadas quando submetidos ao tratamento

    cirúrgico e 37% para tumores T3 e zero para T4 com radioquimioterapia com

    preservação de órgão [5].

    A remoção cirúrgica em tumores avançados de laringe é denominada de

    laringectomia total onde são retirados a supraglote, glote, subglote, arcabouço

    cartilaginoso, loja pré - epiglótica e musculatura laríngea. Em seguida procede-se ao

    fechamento da hipofaringe ficando a via aérea sem comunicação com a via digestiva

    pela implantação da traquéia diretamente na pele, formando o traqueostoma [6].

  • 13

    Muitas vezes, é indicado o tratamento adjuvante pós-cirúrgico com radioterapia e/ou

    quimioterapia.

    A modalidade de tratamento denominada preservação de órgão em

    cabeça e pescoço refere-se ao tratamento combinado entre a radioterapia e

    quimioterapia utilizado para tratamento de tumores avançados com a finalidade de

    se evitar ou postergar a laringectomia total [7-8].

    Principalmente, durante a fase aguda do tratamento de preservação do

    órgão, devido aos efeitos tóxicos da radiosensibilização, evidencia-se a presença de

    neutropenia, trombocitopenia, mucosite, xerostomia, perda do paladar, perda de

    peso, dor, náuseas, vômitos e diarreia, muitas vezes, dificultando a alimentação via

    oral, além de possíveis comprometimentos na função renal, perda da audição e

    toxicidade hepática [7-9].

    Na laringectomia total observam-se alteração desfigurante incluindo

    traqueostoma permanente com possibilidades de complicações tais como fistúlas

    faringocutaneas, infecção na ferida e complicações sistêmicas e alteração nas

    funções de voz e deglutição [8-10].

    As sequelas tardias, tais como alteração da voz, fala, respiração,

    mastigação, deglutição, gustação, olfato e aparência facial podem afetar os

    pacientes no pós-tratamento em ambas as modalidades de tratamento [11].

    Proporcionar a o paciente uma boa qualidade de vida neste período de

    sobrevida é um desafio e vem sendo objeto de estudo de diversas equipes que

    interagem durante o tratamento, entre elas a médica, a odontológica, a de

    enfermagem e a de reabilitação: fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas,

    terapeutas ocupacionais e nutricionistas.

    A World Health Organization Quality of Life (WHOQOL) definiu qualidade

    de vida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da

    cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos,

    expectativas, padrões e preocupações” [12].

    Há preocupação com a qualidade de vida em deglutição nos tratamentos

    de câncer avançado de laringe, pois qualquer que seja a modalidade de tratamento

    adotada - preservação de órgãos ou laringectomia total - estruturas anatômicas

    importantes serão atingidas, entre elas grandes vasos sanguíneos, glândulas,

    nervos, medula espinhal e órgãos da fala, deglutição e respiração [13].

  • 14

    A disfagia pode estar presente antes, durante ou após o tratamento em

    pacientes com câncer avançado de laringe independente da modalidade terapêutica

    e comprometer direta ou indiretamente a qualidade vida [14-15].

    Em pacientes submetidos à cirurgia a disfagia pode estar relacionada com

    a conjuntura da doença, o ato cirúrgico (mais ou menos radical), a técnica de

    reconstrução adotada para o trânsito faringoesofágico, tipos de fio e fechamento

    realizado e dependente da neofaringe resultante. A radioterapia pré ou pós-

    operatória também terá um papel importante no quadro disfágico devido ao

    ressecamento mucoso e do trato orofaríngeo, alterações na produção e composição

    da saliva ou ainda pela formação de fibrose no local irradiado [7].

    Já nos pacientes submetidos ao tratamento de preservação de órgãos a

    disfagia é a complicação tardia mais frequente, muitas vezes resultante de estenose

    causada pela cicatrização das úlceras da mucosite grave ao longo do trânsito

    oro/hipofaríngeo, candidíase e perda da coordenação do mecanismo normal da

    deglutição que associados à redução de sensibilidade resultariam em perda ou

    diminuição da mobilidade e aspiração laringotraqueal, muitas vezes, de modo silente

    [7].

    Faz-se necessário obter dados em relação à qualidade de vida em

    deglutição pós-tratamento a fim de fornecer informações que possam auxiliar na

    elaboração e escolha de protocolos de tratamento [16].

    Dessa forma, essa dissertação é composta por um artigo que apresenta

    os resultados da aplicação de questionários validados para o português do Brasil,

    específicos para avaliar a qualidade de vida em deglutição em pacientes tratados de

    câncer avançado de laringe com laringectomia total ou preservação de órgão.

  • 15

    OBJETIVOS

    Objetivo geral: Avaliar a qualidade de vida em deglutição de pacientes

    tratados de câncer de laringe avançado (T3/T4) com as modalidades de tratamento

    de laringectomia total (LT) e preservação de órgão (PO).

  • 16

    METODOLOGIA O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

    Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, sob o

    número 30266214.5.0000.5404 Todos os participantes assinaram o Termo de

    Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), de acordo com a Resolução 196/96 da

    Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).

    A seleção dos pacientes foi feito no Departamento de Otorrinolaringologia

    - Cabeça e Pescoço da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual

    de Campinas durante a consulta de rotina no período de junho a novembro 2014

    com convite verbal para participar da pesquisa sendo que apenas um paciente

    recusou-se a participar da pesquisa por dificuldade em relação ao horário de

    transporte.

    Os critérios de inclusão foram: pacientes com estádio do tumor T3 e T4

    com indicação de laringectomia total tratados de câncer de laringe com cirurgia ou

    preservação de órgão, com término do tratamento há pelo menos um ano sem

    alterações neurológicas associadas e sem evidência de doença.

    Os pacientes foram separados mediante o tipo de tratamento realizado: o

    primeiro grupo foi constituído de pacientes submetidos à laringectomia total com

    tratamento adjuvante de radioterapia e/ou quimioterapia (LT) e o segundo grupo foi

    constituído de pacientes que foram tratados com quimioradioterapia exclusiva e

    tiveram a laringe preservada (PO).

    Os dados foram coletados através de ficha de identificação (nome,

    telefone, idade e gênero), queixa de disfagia atual, hábitos de tabagismo e etilismo e

    coleta de dados em prontuários em relação ao estadiamento do tumor, tratamento

    realizado, período, queixa de disfagia, uso de via alternativa de alimentação

    descritas durante o tratamento e presença de fonoterapia procedendo em seguida a

    aplicação dos questionários de qualidade de vida em deglutição MDADI e QLQ H&N

    35.

    Para descrever o perfil da amostra foram feitas tabelas de frequência das

    variáveis categóricas com valores de frequência absoluta (n) e percentual (%), e

    estatísticas descritivas das variáveis numéricas, com valores de média, desvio

    padrão, valores mínimo, máximo e mediana. A comparação dos resultados das

    variáveis categóricas foi realizada utilizando o teste Qui-quadrado, e quando

  • 17

    necessário, o teste exato de Fisher e na comparação dos resultados das variáveis

    numéricas foi utilizado o teste de Mann-Whitney.

    Para a avaliação da qualidade de vida em deglutição foram utilizados os

    questionários M.D. Anderson Dysphagia Inventory (MDADI) e European

    Organization for Research and Treatment of Cancer Quality of Life (QLQ-H&N 35)

    ambos traduzidos e validados no Brasil.

    Para comparação dos resultados dos questionários, ajustando os

    resultados para diferença do tempo pós-tratamento foi utilizada a ANCOVA a partir

    da transformação dos dados em postos (ranks).

    O nível de significância adotado para este estudo foi de 5%.

  • 18

    RESULTADOS Artigo

    Qualidade de vida em deglutição no câncer avançado de laringe:

    laringectomia total e preservação de órgãos

    Ana Cristina Colavite Baraçal Prado Fga,

    Carlos Takahiro Chone MD PhD,

    Juliana Lopes de Moraes Ms

    Departamento de Otorrinolaringologia Cabeça e Pescoço – FCM -

    Universidade Estadual de Campinas – SP - Brasil

    Instituição:

    Departamento de Otorrinolaringologia Cabeça e Pescoço

    Universidade Estadual de Campinas

    Rua Tessália Vieira de Carvalho,126 Campinas SP Brasil 13083-887

    Telefone: +5519 35217454/+5519 35217523 – Fax: +5519 35217380

    Conflito de Interesse: Nada a declarar

    Financiamento: próprio

    Contato do Autor:

    Ana Cristina Colavite Baraçal Prado

    Rua Tessália Vieira de Carvalho,126 Campinas SP Brazil 13083-887

    Telefone: +5519 35217454/+5519 35217523 – Fax: +5519 35217380

    E-mail: [email protected]

  • 19

    RESUMO

    Introdução: O tratamento para o câncer avançado de laringe pode causar disfagia e comprometer a qualidade de vida. Objetivo: Avaliar a qualidade de vida em deglutição de pacientes tratados de câncer de laringe avançado (T3/T4) com as

    modalidades de tratamento de laringectomia total (LT) e preservação de órgão (PO).

    Método: Vinte e cinco pacientes (12 LT e 13 PO) responderam aos questionários MD Anderson Disfagia Inventory (MDADI) e European Organization for Research

    and Treatment of Cancer (EORTCQLQ H&N 35). Resultados: A presença de xerostomia e saliva espessa foi menor no grupo de LT (p0,05). A limitação mínima à deglutição foi predominante

    seguida da limitação média, sem diferença significativa. Não houve pacientes com

    limitação moderada, severa ou profunda. Conclusão: Observou-se melhores resultados para a xerostomia e saliva espessa após o tratamento cirúrgico pelo

    questionário EORTCQLQ H&N 35 e uma tendência para a melhor qualidade de vida

    em deglutição no domínio emocional para os pacientes submetidos à preservação

    de órgãos no questionário MDADI com predomínio de limitação mínima em ambos

    os grupos.

    Palavras-Chave: Neoplasias laríngeas. Qualidade de vida. Deglutição. Laringectomia. Radioterapia.

  • 20

    ABSTRACT Introduction: Treatment for advanced larynx cancer cause dysphagia and compromise the quality of life. Purpose: This study compare swallowing quality of life in patients treated of advanced larynx cancer by total laryngectomy (TL) or organ

    preservation (OP). Method(s): Twenty five patients (12 TL and 13 OP) answered the

    M.D. Anderson Dysphagia Inventory (MDADI) and European Organization for

    Research and Treatment of Cancer (EORTCQLQ H&N 35) questionnaires. Results: There was lower xerostomia and thick saliva in TL group (p< 0.05). In MDADI

    emotional score trend to better results in the organ preservation group, with and

    without adjustment (p = 0.05). In the others aspects, no significant differences

    between groups (p-values>0.05) were found. The minimal limitation to swallow was

    predominant and the mild limitation was lower with no significant difference. There

    were no patients with moderate, severe or profound limitation. Conclusion: We

    observed better results for xerostomy and sthick saliva after surgical treatment by the

    questionnaire EORTCQLQH & N35 and a trend to improved quality of life in

    swallowing emotional in relation to patients undergoing organ preservation at MDADI

    questionnaire with predominance of minimal limitation in both groups.

    Keywords: laryngeal cancer, quality of life, deglutition, laryngectomy, radiotherapy, chemotherapy.

  • 21

    Introdução

    As neoplasias malignas de Cabeça e Pescoço apresentam-se com grande

    incidência no mundo, com 42000 novos casos todos os anos nos EUA.

    Especificamente, o câncer de laringe apresenta uma estimativa de 13.560 novos

    casos com 3640 mortes em 2015.1

    No Brasil estimavam-se 6.870 casos novos de câncer de laringe com

    incidência maior em homens (acima de 40 anos). Desses aproximadamente 95%

    são do tipo histológico carcinoma espinocelular (CEC) e em menor frequência, os

    adenocarcinomas e alguns sarcomas.2

    A modalidade de tratamento denominada preservação de órgão em

    câncer de cabeça e pescoço refere-se ao tratamento combinado entre a radioterapia

    e quimioterapia e quando utilizados para tumores avançados tem a finalidade de se

    evitar a cirurgia, que significaria a retirada total do órgão acometido.3,4

    A remoção cirúrgica em tumores avançados de laringe é denominada de

    laringectomia total onde são retirados a supraglote, glote, subglote, arcabouço

    cartilaginoso, loja pré - epiglótica e musculatura laríngea. Em seguida procede-se ao

    fechamento da hipofaringe ficando a via aérea sem comunicação com a via digestiva

    pela implantação da traquéia diretamente na pele formando o traqueostoma.5

    A disfagia pode estar presente antes, durante ou após o tratamento em

    pacientes com câncer avançado de laringe independente da modalidade terapêutica

    e comprometer direta ou indiretamente a qualidade vida. 6,7

    Em pacientes submetidos à cirurgia a disfagia pode estar relacionada a

    própria doença, o ato cirúrgico (mais ou menos radical), a técnica de reconstrução

    adotada para o transito faringoesofágico, tipos de fio e fechamento realizado e

    espaço neofaríngeo resultante pós-procedimentos. A radioterapia pré ou pós-

    operatória também terá um papel importante no quadro disfágico devido ao

    ressecamento mucoso e alteração da saliva ou ainda pela formação de fibrose no

    local irradiado.4

    A disfagia, nos pacientes submetidos ao tratamento de preservação de

    órgãos, pode ser resultante de estenose causada pela cicatrização das ulceras da

    mucosite grave, candidíase e perda da coordenação do mecanismo normal da

    deglutição que associados à redução de sensibilidade resultariam em perda ou

  • 22

    diminuição da motilidade e aspiração laringotraqueal, muitas vezes, de modo

    silente.3

    Independente da modalidade de tratamento adotada - preservação de

    órgãos ou laringectomia total - estruturas anatômicas importantes serão atingidas,

    entre elas grandes vasos sanguíneos, glândulas, nervos, medula espinhal e órgãos

    da fala, deglutição e respiração podendo comprometer direta ou indiretamente a

    qualidade de vida.6,7,8

    A World Health Organization Quality of Life (WHOQOL) definiu qualidade

    de vida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da

    cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos,

    expectativas, padrões e preocupações” 9

    A qualidade de vida do paciente oncológico vem sendo objeto de estudo

    de diversas equipes que interagem durante o tratamento, entre elas a médica, a

    odontológica, a de enfermagem e a de reabilitação: fonoaudiólogos, psicólogos,

    fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e nutricionistas.

    Questionários específicos para avaliação da qualidade de vida em relação

    a deglutição de pacientes com câncer de cabeça e pescoço tem sido utilizados em

    vários estudos, sendo que neste estudo destacamos o questionário M.D. Anderson

    Dysphagia Inventory (MDADI) e QLQ H&N 35 da European Organization for

    Research and Treatment of Cancer Quality of Life.

    O MDADI possui 20 questões subdivididas em 4 domínios: global (1)

    emocional (6), funcional (5) e físico (8). As respostas são pontadas numa escala de

    1 a 5 da seguinte maneira: concordo totalmente (1), concordo (2), sem opinião (3),

    discordo (4) e discordo totalmente (5) e os domínios funcional (item F2) e físico (item

    P4) possuem contagem inversa, sendo 5 pontos para “concordo totalmente” e 1

    ponto para “discordo totalmente”. A pontuação final de cada domínio varia de 0 a

    100, e quanto menor a pontuação, maior o impacto da disfagia na qualidade de vida

    do paciente.

    A partir dos valores do domínio total, houve classificação dos resultados

    em relação à limitação para deglutir em: profunda (0-20), severa (21-40), moderada

    (41-60), média (61-80) e mínima (81-100).10,11,12

    O QLQ - H&N 35 da é baseado em sete domínios: dor (itens 31, 32, 33,

    34), deglutição (35, 36, 37, 38), sentidos (paladar e olfação, itens 43 e 44), fala (46,

  • 23

    53, 54), comer social (49, 50, 51, 52), contato social (48, 55, 56, 57, 58), e

    sexualidade (59, 60), além de possuir 11 itens específicos sobre problemas

    dentários (39), trismo (40), xerostomia (41), saliva espessa (42), tosse (45), mal-

    estar (47), consumo de analgésicos (61), suplementos nutricionais (62), sonda para

    alimentação (63), e perda/ganho de peso (64,65). Os escores variam de 0 a 100,

    sendo que quanto mais alto o escore, pior a intensidade do problema no domínio

    avaliado. No total são 30 questões com a seguinte pontuação: não - 1 ponto, pouco -

    2 pontos, moderado - 3 pontos, muito - 4 pontos e cinco questões com respostas

    binárias tipo sim - 2 pontos ou não - 1 ponto.3.13

    O objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade de vida em deglutição de

    pacientes tratados de câncer avançado de laringe com as modalidades de

    tratamento laringectomia total (LT) e preservação de órgão (PO).

  • 24

    Método

    O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

    Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, sob o

    número 30266214.5.0000.5404 Todos os participantes assinaram o Termo de

    Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), de acordo com a Resolução 196/96 da

    Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).

    A seleção dos pacientes foi feito no Departamento de Otorrinolaringologia

    - Cabeça e Pescoço da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual

    de Campinas durante a consulta de rotina no período de junho a novembro 2014

    com convite verbal para participar da pesquisa sendo que apenas um paciente

    recusou-se a participar da pesquisa por dificuldade em relação ao horário de

    transporte.

    Os critérios de inclusão foram: pacientes com estádio do tumor T3 e T4

    com indicação de laringectomia total tratados de câncer de laringe com cirurgia ou

    preservação de órgão, com término do tratamento há pelo menos um ano sem

    alterações neurológicas associadas e sem evidência de doença.

    Os pacientes foram separados mediante o tipo de tratamento realizado: o

    primeiro grupo foi constituído de pacientes submetidos à laringectomia total com

    tratamento adjuvante de radioterapia e/ou quimioterapia (LT) e o segundo grupo foi

    constituído de pacientes que foram tratados com quimioradioterapia exclusiva e

    tiveram a laringe preservada (PO).

    Os dados foram coletados através de ficha de identificação (nome,

    telefone, idade e gênero), queixa de disfagia atual, hábitos de tabagismo e etilismo e

    coleta de dados em prontuários em relação ao estadiamento do tumor, tratamento

    realizado, período, queixa de disfagia, uso de via alternativa de alimentação

    descritas durante o tratamento e presença de fonoterapia procedendo em seguida a

    aplicação dos questionários de qualidade de vida em deglutição MDADI e QLQ H&N

    Para descrever o perfil da amostra foram feitas tabelas de frequência das

    variáveis categóricas com valores de frequência absoluta (n) e percentual (%), e

    estatísticas descritivas das variáveis numéricas, com valores de média, desvio

    padrão, valores mínimo, máximo e mediana. A comparação dos resultados das

    variáveis categóricas foi realizada utilizando o teste Qui-quadrado, e quando

  • 25

    necessário, o teste exato de Fisher e na comparação dos resultados das variáveis

    numéricas foi utilizado o teste de Mann-Whitney.

    Para a avaliação da qualidade de vida em deglutição foram utilizados os

    questionários M.D. Anderson Dysphagia Inventory (MDADI) 10,11 e European

    Organization for Research and Treatment of Cancer Quality of Life (QLQ-H&N 35)

    ambos traduzidos e validados no Brasil. 3,13

    Para comparação dos resultados dos questionários, ajustando os

    resultados para diferença do tempo pós-tratamento foi utilizada a ANCOVA a partir

    da transformação dos dados em postos (ranks).

    O nível de significância adotado para este estudo foi de 5%.

  • 26

    Resultados

    Os 25 pacientes avaliados foram agrupados mediante o tipo de

    tratamento realizado: o primeiro grupo - LT foi constituído de 12 pacientes (10

    homens 83% e 2 mulheres 17%) com idade média de 58 anos e tempo médio pós-

    tratamento de 80 meses e necessidade de esvaziamento cervical em sua maioria

    (92%) enquanto que o segundo grupo - PO foi constituído de 13 pacientes (11

    homens 85% e 2 mulheres 15%) com idade média de 67 anos e tempo médio pós-

    tratamento de 41 meses e apenas um realizou esvaziamento cervical (8%).

    A maioria dos pacientes relatou histórico de tabagismo (67% LT e 77%

    PO) e etilismo (83% LT e 69% PO).

    A disfagia esteve presente em 42% dos pacientes do grupo LT e 31% no

    de PO sendo necessário o uso de via alternativa de alimentação para 2 pacientes LT

    (17%) e 1 paciente de PO (8%).

    Na amostra estudada apenas 4 pacientes (1 LT - 8% e 3 PO - 32%)

    realizaram fonoterapia para reabilitação da deglutição em estagio inicial do

    tratamento sendo que, no momento de aplicação dos questionários, nenhum deles

    estava em fonoterapia.

    Nesses casos, os resultados apontaram um predominio de limitação

    mínima à deglutição para tres pacientes e apenas um submetido ao tratamento de

    PO apresentou limitação média à deglutição. Neste paciente a queixa de disfagia

    perdurava com os seguintes resultados nos questionários: MDADI - pior resultado no

    domínio global (20 pontos) seguido pelo domínio físico (45 pontos) e no QLQH&N 35

    a graduação de “moderado” e “muito” foi predominante nos itens relacionados à

    disfagia, tais como dificuldades para engolir alimentos sólidos e líquidos, engasgos,

    trismo, xerostomia, saliva espessa entre outros.

    A metástase cervical foi positiva para 5 pacientes submetidos ao

    tratamento cirúrgico (80% T4 e 20% T3) e para um único paciente submetido ao

    tratamento de preservação de órgão.

    A tabela 1 apresenta a correlação entre os grupos no questionário MDADI

    onde observamos bons resultados em ambos os grupos sendo que no domínio

    emocional, há tendência ao melhor resultado para o grupo PO, com e sem ajuste por

    tempo de tratamento. Nos demais domínios o resultado foram semelhantes entre os

    grupos.

  • 27

    Tabela 1 - Comparativo das variáveis do questionário MDADI de acordo com o

    tratamento realizado e análise estatística

    LT N= 12 PO N=13

    Mann-

    Whitney1 ANCOVA2

    Variáveis Média Média p-valor p-valor

    Global 88,33 86,15 0,7737 0,4312

    Emocional 90,00 97,44 0,0530 0,0506 Físico 85,83 88,65 0,1520 0,0743

    Funcional 95,67 96,92 0,6549 0,8344

    Total 89,96 92,29 0,2096 0,1823

    LT = laringectomia total PO = preservação de órgão

    1 sem ajuste no tempo pós-tratamento 2 com ajuste no tempo pós-tratamento

    escores próximos de cem (100) indicam qualidade de vida melhor

    Em relação à limitação na deglutição os percentuais também foram

    semelhantes entre os grupos, com predomínio de limitação mínima (tabela 2).

    Tabela 2 - Comparativo entre a frequência absoluta e relativa e grau de

    limitação da deglutição de acordo com o tratamento realizado.

    (Chen et al, 2001)

    Nível LT N= 12 % PO N= 13 %

    Limitação média 2 16,67 2 15,38

    Limitação mínima 10 83,33 11 84,62

    p=0.93 LT = laringectomia total PO = preservação de órgão

    Na tabela 3 é possível verificar o resultado da análise comparativa do

    questionário QLQ - H&N 35 com diferença significativa em relação à xerostomia e

    sentidos (olfato e paladar). Na análise (ANCOVA) com realização de ajuste nos

    valores pós-tratamento os índices significativos foram em relação à xerostomia e a

    saliva espessa com valores superiores para a PO em ambos as análises.

  • 28

    Tabela 3 - Comparativo das variáveis do Questionário EORTC QLQ - H&N 35

    de acordo com o tratamento realizado e análise estatística.

    LT N= 12 PO N=13

    Mann-

    Whitney1 ANCOVA2

    Variáveis Média Média p-valor p-valor

    Dor 2,78 3,21 0,8088 0,8520

    Deglutição 5,56 13,46 0,2193 0,6841

    Dentes 11,11 2,56 0,4999 0,3597

    Trismo 16,67 5,13 0,1491 0,1324

    Xerostomia 13,89 51,28 0,0113 0,0125 Saliva espessa 11,11 35,90 0,0776 0,0453 Sentidos 23,61 10,26 0,0489 0,1248 Tosse 13,89 20,51 0,9002 0,7900

    Fala 32,41 23,93 0,4081 0,1594

    Mal-estar 0,00 2,56

    Comer social 6,25 5,13 0,6062 0,6064

    Contato social 10,00 2,05 0,0986 0,1513

    Sexualidade 25,00 32,05 0,9316 0,5103

    LT = laringectomia total PO = preservação de órgãos

    1 sem ajuste no tempo pós-tratamento 2 com ajuste no tempo pós-tratamento

    Escores próximos à zero (0) indicam melhor qualidade de vida

    O questionário QLQ - H&N 35, na análise com ajuste de tempo pós-

    tratamento (ANCOVA), apontou as variáveis xerostomia e saliva espessa com

    valores maiores para os pacientes submetidos à PO. Na análise realizada sem o

    ajuste no tempo pós-tratamento observa-se que o item sentidos obteve valor maior

    para o grupo de LT e a xerostomia se manteve com valores maiores em ambas as

    análises para o tratamento de PO sendo que nessas variáveis a diferença estatística

    foi significante (p-valor

  • 29

    Tabela 4 - Comparativo de variáveis categóricas do questionário EORTC QLQ - H&N 35 de acordo com o tratamento realizado pelo teste exato de Fischer

    LT N=12 PO N=13

    Variável Não % Sim % Não % Sim % p-valor

    Analgésicos 10 83,33 2 16,67 12 92,31 1 7,69 *0,5930

    Suplemento 11 91,67 1 8,33 13 100,00 0 0,00

    SNE atual 12 100,00 0 0,00 13 100,00 0 0,00

    Perda peso 10 83,33 2 16,67 11 84,62 2 15,38 *1,000

    Ganho peso 4 33,33 8 66,67 10 76,92 3 23,08 *0,0472 LT = laringectomia total PO = preservação de órgão SNE= sonda nasoenteral

    As demais variáveis não apresentaram diferença significativa (p-valor>0,05).

  • 30

    Discussão

    O interesse principal desse estudo foi identificar a percepção do próprio

    paciente sobre sua dificuldade em relação à deglutição. Paralelamente,

    correlacionaram-se os achados com o impacto em cada modalidade de tratamento a

    fim de contribuir com informações que auxiliasse a equipe interdisciplinar em futuras

    decisões na opção terapêutica.

    O grupo de PO teve um tempo médio pós-tratamento menor (41 meses)

    sendo que destes 7 pacientes apresentaram um tempo de 24 meses e o resultado

    pior nas variáveis de xerostomia e saliva espessa e a prática clínica nos mostra que

    os efeitos tóxicos da radiação potencializados pela quimioterapia podem estar

    presentes durante o tratamento e perdurar de modo mais intenso por até 24 meses

    interferindo na qualidade de vida do paciente. 14

    Em relação ao tratamento cirúrgico o tempo médio pós-tratamento foi de

    80,33 meses (1 paciente com 24 meses) e as sequelas são mais acentuadas nos

    primeiros meses pós-cirurgia. Sabe-se que com o passar do tempo ocorrem

    adaptações em relação à nova condição cérvico-facial e ao novo padrão respiratório

    com superação ou amenização das dificuldades de comunicação e das alterações

    de olfato e paladar e isto pode refletir numa avaliação melhor da qualidade de vida.

    Sendo assim, quanto mais distante do término do tratamento for a aplicação dos

    questionários mais adaptado o indivíduo estará a sua nova condição e menos ela

    influenciará em sua qualidade de vida. 14

    Em relação ao intervalo de tempo menor no pós-tratamento no grupo

    submetido a PO, o escore emocional foi melhor neste grupo, provavelmente

    associado à ausência de sensação de mutilação ou perda do órgão, ocasionado

    pela cirurgia, apesar de estarem livres de doença.15

    O maior ganho de peso nos pacientes submetidos a LT, apesar de

    significativo, deve estar relacionado ao maior intervalo de tempo, neste grupo de

    pacientes, onde já se recuperaram dos efeitos da cirurgia e da adjuvância do

    tratamento.

    É importante ressaltar que um resultado bom em uma avaliação de

    qualidade de vida em deglutição não significa ausência de disfagia

    sendoevidenciado em vários estudos a presença de transito orofaringeo lento,

  • 31

    aspiração silente e estases em recessos faríngeos evidenciados em exames

    objetivos da deglutição mesmo na ausência de sintomas. 6,7,16

    A escolha da modalidade de tratamento deve levar em conta além da

    sobrevida outros resultados tais como preservação da função. No caso da deglutição

    isto é altamente complexo, pois processos neuromusculares podem ser alterados

    tanto em função da própria doença como de seu tratamento.

    A preservação da laringe não é considerada um sucesso funcional se a

    disfagia e, algumas vezes, a aspiração laringotraqueal permanecerem como

    sequelas nessa modalidade terapêutica.16,17

    Desta forma, o ideal seria que todos os pacientes fossem encaminhados

    para avaliação fonoaudiológica clínica e objetiva da deglutição sempre que possível

    para que a intervenção fosse realizada de forma a prevenir possíveis complicações

    futuras e a visão em relação à funcionalidade da laringe fosse multiprofissional, com

    dados objetivos possibilitando a equipe construir diretrizes de tratamento a fim de

    proporcionar melhor qualidade de vida ao paciente.

    Há a necessidade de interpretar as modalidades de tratamento de forma

    adequada, pois o tratamento que preserva o órgão com utilização de

    radioquimioterapia para tumores avançados não é menos agressivo quando

    comparado com a cirurgia 14,18 sendo também este aspecto evidenciado na pratica

    clínica.

    Em nosso estudo, a maioria dos pacientes não relatou queixas graves em

    relação à deglutição nas duas modalidades de tratamento, estavam em bom estado

    geral, satisfeitos com o resultado do tratamento e ambos os grupos apresentaram

    predominio de limitação mínima à deglutição.

    Mesmo assim, pode-se observar concordancia com os estudos de Hanna

    et al. e Boscolo-Rizzo et al., em alguns aspectos com a presença de maior queixa de

    xerostomia para o grupo de PO e maior queixa para distúrbios sensoriais como

    sabor e cheiro no grupo de LT.19,20

    Se a auto avaliação indica uma boa qualidade de vida em relação à

    deglutição com boa adaptação pós-tratamento como justificar a esses pacientes a

    necessidade de avaliação clínica da deglutição e/ou tratamento fonoaudiológico?

    Acredito que a intervenção fonoaudiológica deve ser seguida da análise

    da queixa do paciente, mas quando se estabelece como rotina a avalição clínica e

  • 32

    se possível avaliação objetiva da deglutição podemos detectar alterações não

    relatadas pelos pacientes, estabelecendo ojetivos claros no processo de reabilitação

    que realmente impactem positivamente na qualidade de vida do paciente para que

    ele se sinta motivado a participar como membro ativo no processo terapêutico.

    Nossa análise crítica sobre este estudo observa algumas limitações em

    relação ao número da amostra, grande divergência entre o tempo pós-tratamento e

    ter sido realizado em uma única instituição e sem randomização. Entretanto, este

    estudo representa um primeiro estudo sobre a qualidade de vida em deglutição em

    pacientes tratados de câncer avançado de laringe com as duas modalidades de

    tratamento: laringectomia total e preservação de órgão na população brasileira com

    uso destes instrumentos de avaliação.

    Nossos dados são importantes para despertar o interesse de profissionais

    da saúde sobre novos estudos que comparem a qualidade de vida em deglutição

    nas duas modalidades terapêuticas e, se possível em diferentes instituições no país

    para que se possa entender melhor os resultados e possibilitar a comparação

    nacional com um número mais significativo de pacientes.

  • 33

    Conclusão

    A avaliação da qualidade de vida em deglutição através de questionários

    específicos correlacionados com as modalidades de tratamento para tumores

    avançados de laringe em pacientes livres de doenças e com tempo pós-término de

    tratamento maior que 12 meses pela laringectomia total ou pela preservação de

    órgão concluí que:

    . Ambos os grupos apresentaram predomínio de limitação mínima em

    relação à deglutição.

    . Os resultados do questionário MDADI mostraram tendência ao melhor

    resultado no domínio emocional para o grupo submetido ao tratamento de

    preservação de órgão

    . Os resultados do questionário QLQ - H&N 35 apontaram as variáveis

    xerostomia e saliva espessa com pior resultado para o grupo submetido ao

    tratamento de preservação de órgãos (p-valor

  • 34

    Referências Bibliográficas

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    Acessado em 12 de outubro de 2015

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  • 35

    10. Chen AY, Frankowski R, Bishop-Leone J, Hebert T, Leyk S, Lewin J, el al. The

    development and validation of a dysphagia-specific quality-of-life questionnaire for

    patients with head and neck cancer: the M. D. Anderson dysphagia inventory. Arch

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    14. Moraes JL. Qualidade de Vida do paciente com câncer avançado de laringe:

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    Preservation. Arch otolaryngol head neck surg. 2004; 130: 875-9

  • 36

    20. Boscolo–Rizzo P, Maronato F, Marchiori C, Gava A, Da Mosto MC. Long-Term

    Quality of Life After Total Laryngectomy and Postoperative Radiotherapy Versus

    Concurrent Chemoradiotherapy for Laryngeal Preservation. Laryngoscope. 2008

    118: 300–6

  • 37

    DISCUSSÃO GERAL O interesse principal desse estudo foi identificar a percepção do próprio

    paciente sobre sua dificuldade em relação à deglutição. Paralelamente,

    correlacionaram-se os achados com o impacto em cada modalidade de tratamento a

    fim de contribuir com informações que auxiliasse a equipe interdisciplinar em futuras

    decisões na opção terapêutica.

    Os resultados desse estudo indicaram diferença significativa com

    resultado pior, nos aspectos relacionados à xerostomia e saliva espessa, para os

    pacientes submetidos à PO no questionário QLQ - H&N 35, embora o questionário

    MDADI aponte uma tendência a melhor resultado emocional no grupo submetido à

    PO. A limitação para a deglutição foi mínima nos dois grupos, na grande maioria dos

    pacientes.

    O grupo de PO teve um tempo médio pós-tratamento menor (41 meses)

    sendo que destes 7 pacientes apresentaram um tempo de 24 meses com resultado

    pior nas variáveis de xerostomia e saliva espessa e a prática clínica nos mostra que

    os efeitos tóxicos da radiação potencializados pela quimioterapia podem estar

    presentes durante o tratamento e perdurar de modo mais intenso por até 24 meses

    interferindo na qualidade de vida do paciente. [17]

    Em relação ao tratamento cirúrgico o tempo médio pós-tratamento foi de

    80,33 meses (1 paciente com 24 meses) e as sequelas são mais acentuadas nos

    primeiros meses pós-cirurgia. Sabe-se que com o passar do tempo ocorrem

    adaptações em relação à nova condição cérvico-facial e ao novo padrão respiratório

    com superação ou amenização das dificuldades de comunicação e das alterações

    de olfato e paladar e isto pode refletir numa avaliação melhor da qualidade de vida.

    Sendo assim, quanto mais distante do término do tratamento for a aplicação dos

    questionários mais adaptado o indivíduo estará a sua nova condição e menos ela

    influenciará em sua qualidade de vida. [17]

    O domínio emocional foi melhor para o grupo de PO provavelmente

    associado à ausência de sensação de mutilação ou perda do órgão, ocasionado

    pela cirurgia, apesar de estarem livres de doença. [18]

    O maior ganho de peso relatado encontrado nos pacientes submetidos a

    cirurgia, apesar de significativo, deve estar relacionado ao maior intervalo de tempo,

  • 38

    neste grupo de pacientes, onde já se recuperaram dos efeitos da cirurgia e da

    adjuvância do tratamento.

    É importante ressaltar que um resultado bom em uma avaliação de

    qualidade de vida em deglutição não significa ausência de disfagia sendo

    evidenciado em vários estudos a presença de transito orofaringeo lento, aspiração

    silente e estases em recessos faríngeos quando realizado exames objetivos da

    deglutição mesmo na ausencia de sintomas. [19-21]

    Desta forma, o ideal seria que todos os pacientes fossem encaminhados

    para avaliação fonoaudiológica para que a intervenção fosse realizada de forma a

    prevenir possíveis complicações futuras.

    Sendo assim, a visão em relação à funcionalidade da laringe torna-se

    multiprofissional, com dados objetivos possibilitando a equipe construir diretrizes de

    tratamento a fim de proporcionar melhor qualidade de vida ao paciente.

    Pacientes que são capazes de manter os exercícios de reabilitação de

    deglutição antes, durante e após a radioquimioterapia são menos propensos a piorar

    a sua dieta, utilizar via alternativa de alimentação ou desenvolver estenose. [22,23]

    Infelizmente, os pacientes muitas vezes são reticentes em praticar exercícios se

    sentirem que sua deglutição melhorou ou normalizou. [23-24]

    Nos pacientes submetidos à LT, devido à adjuvância do tratamento com

    radioterapia ou radioquimioterapia, seus efeitos na motilidade orofaríngea podem

    estar presentes pela ausência de elementos dentários, perda do paladar, redução da

    produção de saliva, podendo interferir na fase preparatória oral repercutindo no

    desempenho da fase faríngea com estases orais e faríngeas. A presença de bolsa

    de parede anterior pode ocasionar estase na região da bolsa, regurgitação e

    dificuldade no clareamento destes resíduos e consequentemente aumento do

    transito faríngeo. A incoordenação da deglutição pode ser resultante da adaptação

    do jogo pressórico pela ruptura de parte do plexo faríngeo e adaptação dos

    músculos constritores da neofaringe.[14,25]

    Outro efeito adverso é o desenvolvimento de estenose de estruturas da

    faringe ou esôfago cervical, causando disfagia progressiva levando a adaptações na

    dieta com necessidade de mais tempo para se alimentar, uso de líquido para auxílio

    da deglutição de sólidos ou mesmo eliminar essa consistência da dieta. A

  • 39

    intervenção nesses casos é médica com tratamento através de dilatações seriadas

    ou procedimento cirúrgico com laser de CO2 por via endo-oral.[26]

    A escolha da modalidade de tratamento deve levar em conta além da

    sobrevida outros resultados tais como preservação da função. No caso da fala e

    deglutição isto é altamente complexo, pois processos neuromusculares podem ser

    alterados tanto em função da própria doença como de seu tratamento. A

    preservação da laringe não é considerada um sucesso funcional se a disfagia e,

    algumas vezes, a aspiração laringotraqueal permanecerem como sequelas nessa

    modalidade terapêutica. [16]

    Há a necessidade de interpretar as modalidades de tratamento de forma

    adequada, pois o tratamento que preserva o órgão: radioterapia para tumores

    iniciais e radioquimioterapia para tumores avançados não é menos agressivo

    quando comparado com a cirurgia. [10,17]

    Em nosso estudo, a maioria dos pacientes não relatou queixas graves em

    relação à deglutição nas duas modalidades de tratamento, estavam em bom estado

    geral e satisfeitos com o sucesso do tratamento.

    Como justificar a esses pacientes a necessidade de avaliação clínica da

    deglutição e/ou tratamento fonoaudiológico?

    Acredito que a intervenção fonoaudiológica deve ser seguida da análise

    da queixa do paciente, mas quando em conjunto com avaliação clinica é possível a

    avaliação objetiva da deglutição pode-se estabelecer objetivos claros no processo

    de reabilitação que realmente impactem positivamente na qualidade de vida do

    paciente para que ele se sinta motivado a participar como membro ativo no processo

    terapêutico.

    Nossa análise crítica sobre este estudo observa algumas limitações em

    relação ao número da amostra, grande divergência entre o tempo pós-tratamento e

    ter sido realizado em uma única instituição e sem randomização. Entretanto, este

    estudo representa um primeiro estudo sobre a qualidade de vida em deglutição no

    câncer avançado de laringe nas duas modalidades de tratamento: laringectomia total

    e preservação de órgãos na população brasileira com uso destes instrumentos de

    avaliação.

    Nossos dados podem contribuir no despertar do interesse de profissionais

    da saúde sobre novos estudos que comparem a qualidade de vida em deglutição

  • 40

    nas duas modalidades terapêuticas e, se possível em diferentes instituições no país

    para que se possa entender melhor os resultados e possibilitar a comparação

    nacional com um número mais significativo de pacientes.

  • 41

    CONCLUSÃO A avaliação da qualidade de vida em deglutição através de questionários

    específicos correlacionados com as modalidades de tratamento para tumores

    avançados de laringe em pacientes livres de doenças e com tempo pós-término de

    tratamento maior que 12 meses pela laringectomia total ou pela preservação de

    órgão concluímos que:

    . A análise dos resultados do questionário MDADI observou que ambos os

    grupos apresentaram limitação mínima em relação à deglutição. O escore emocional

    apresentou tendência a melhor resultado no grupo de pacientes submetidos à

    preservação de órgãos.

    . A análise dos resultados do questionário QLQ - H&N 35 apontou

    diferenças significativas (p-valor0,05).

  • 42

    REFERÊNCIAS 1. National Cancer Institute Surveillance, Edidemiology, and End Results Programs

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    42(2): 109-12

  • 45

    ANEXOS Anexo 1 - Aprovação Comite de Ética

  • 46

  • 47

  • 48

    Anexo 2 – Comprovante de apresentação em congresso científico

  • 49

  • 50

    Anexo 3 – Questionário MDADI

    Este questionário pergunta sobre sua habilidade de engolir (deglutir). Estas informações irão nos auxiliar a entender como você se sente em relação à sua deglutição. As questões que seguem foram preparadas por pessoas que têm problema com sua deglutição. Alguns dos itens podem ser relevantes para você. Por favor, leia cada questão e marque a resposta que melhor reflete sua experiência na última semana. Minha capacidade de deglutição limita minhas atividades diárias ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo ( )Discordo totalmente E2. Eu tenho vergonha dos meus hábitos alimentares ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( )Sem opinião ( )Discordo ( )Discordo totalmente F1. As pessoas têm dificuldade de cozinhar para mim ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( )Sem opinião ( )Discordo ( )Discordo totalmente P2. É mais difícil engolir no fim do dia ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( )Sem opinião ( )Discordo ( )Discordo totalmente E7. Sinto-me inseguro quando me alimento ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( )Sem opinião ( )Discordo ( )Discordo totalmente E4. Eu estou triste pelo meu problema de deglutição ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( )Sem opinião ( )Discordo ( )Discordo totalmente P6. Deglutir é um grande esforço ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( )Sem opinião ( )Discordo ( )Discordo totalmente E5. Deixo de sair de casa por causa do meu problema de deglutição ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( )Sem opinião ( )Discordo ( )Discordo totalmente F5. Meu problema de deglutição tem me causado perda de rendimentos financeiros ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( )Sem opinião ( )Discordo ( )Discordo totalmente P7. Eu levo mais tempo pra comer por causa do meu problema de deglutição ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( )Sem opinião ( )Discordo ( )Discordo totalmente P3. As pessoas me perguntam, “Porque você não pode comer isto?” ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( )Sem opinião ( )Discordo ( )Discordo totalmente E3. Outras pessoas se irritam por causa do meu problema de deglutição ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( )Sem opinião ( )Discordo ( )Discordo totalmente P8. Eu tenho tosse quando eu tento beber líquidos ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( )Sem opinião ( )Discordo ( )Discordo totalmente F3. Meus problemas de deglutição atrapalham minha vida pessoal e social ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( )Sem opinião ( )Discordo ( )Discordo totalmente F2. Eu me sinto à vontade para sair pra comer com meus amigos, vizinhos e parentes ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( )Sem opinião ( )Discordo ( )Discordo totalmente P5. Eu limito minha alimentação por causa da minha dificuldade de deglutição ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( )Sem opinião ( )Discordo ( )Discordo totalmente P1. Perco peso devido ao meu problema de deglutição ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( )Sem opinião ( )Discordo ( )Discordo totalmente E6. Eu tenho baixa autoestima por causa do meu problema de deglutição ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( )Sem opinião ( )Discordo ( )Discordo totalmente P4. Eu sinto que estou conseguindo deglutir uma grande quantidade de alimentos ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( )Sem opinião ( )Discordo ( )Discordo totalmente F4. Eu me sinto isolado por causa dos meus hábitos de alimentação ( )Concordo totalmente ( )Concordo ( )Sem opinião ( )Discordo ( )Discordo totalmente

  • 51

    Anexo 4 – Questionário EORTC QLQ H&N 35

    Durante a semana passada Não Pouco Moderado Muito

    31. Você teve dores na sua boca 1 2 3 4

    32. Você teve dor no maxilar superior (parte superior da boca) ou inferior 1 2 3 4

    33. Tem ocorrido alguma irritação em sua boca? 1 2 3 4

    34. Você tem tido dor em sua garganta 1 2 3 4

    35. Você teve dificuldade em engolir líquidos? 1 2 3 4

    36. Você teve dificuldade em engolir alimentos pastosos (ex purê de batatas)? 1 2 3 4

    37. Você teve dificuldade em engolir alimentos sólidos (ex. arroz, carne)? 1 2 3 4

    38. Ao engolir, você tem engasgado? 1 2 3 4

    39. Houve algum problema com seus dentes? 1 2 3 4

    40. É difícil abrir a boca? 1 2 3 4

    41. Você tem sentido sua boca seca? 1 2 3 4

    42. A saliva era de consistência pegajosa? 1 2 3 4

    43. Você teve dificuldades em sentir os cheiros? 1 2 3 4

    44. Você teve dificuldades em sentir o sabor dos alimentos? 1 2 3 4

    45. Você tem tido tosse? 1 2 3 4

    46. Esteve rouco? 1 2 3 4

    47. Você tem se sentido doente? 1 2 3 4

    48. Você se sente incomodado com a sua aparência? 1 2 3 4

    49. Você teve dificuldades em se alimentar? 1 2 3 4

    50. Você teve dificuldade em se alimentar na frente da sua família? 1 2 3 4

    51. Você teve dificuldades em se alimentar na frente de outras pessoas? 1 2 3 4

    52. Você teve dificuldade em saborear as suas refeições? 1 2 3 4

    53. Você teve dificuldade em falar com outras pessoas? 1 2 3 4

    54. Você teve dificuldade em falar ao telefone? 1 2 3 4

    55. Você encontrou dificuldade no convívio com a família? 1 2 3 4

    56. Você encontrou dificuldade no convívio com seus amigos? 1 2 3 4

    57. Você teve dificuldade em ficar em lugares públicos 1 2 3 4

    58. Você encontrou alguma dificuldade no relacionamento com a família ou com amigos?

    1 2 3 4

    59. Você tem sentido menos interesse sexual 1 2 3 4

    60. Você teve menos prazer sexual? 1 2 3 4

    Durante a semana passada: Não Sim

    61. Você tomou algum medicamento para dor 1 2

    62.Tomou algum suplemento alimentar (excluindo vitaminas)? 1 2

    63. Alimentou-se através de sonda? 1 2

    64. Você perdeu peso? 1 2

    65. Você ganhou peso 1 2