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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
O CHEQUE NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO: O CHEQUE PÓS-DATADO PARA ANÁLISE
MAÍRA DA ROCHA
Itajaí –SC, Maio de 2006
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
O CHEQUE NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO: O CHEQUE PÓS-DATADO PARA ANÁLISE
MAÍRA DA ROCHA
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como
requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientador: Professor MSc. Mário Slomp
Itajaí-SC, Maio de 2006
AGRADECIMENTO
Agradeço, primeiramente, a
Deus, por sempre ter me concedido suas bênçãos nesta caminhada.
Aos meus pais, Pedro e Maria, pelo carinho, apoio e principalmente pelo amor com que me criaram.
Ao meu irmão, Neto, pela disposição em me ajudar nos momentos necessários.
Ao meu noivo, Adriano, por seu amor, e especialmente pela sua paciência, pois nos momentos em que em as
dificuldades surgiram, sua compreensão foi muito importante.
Ao meu orientador, Mário Slomp, pelos conhecimentos transmitidos ao longo desta pesquisa.
E finalmente, a todos os meus familiares pelo apoio concedido.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, que por inúmeras vezes renunciaram aos seus sonhos, para
colaborarem na realização do meu.
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a
coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e
qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí-SC, Julho de 2006
Maíra da Rocha Graduando
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do
Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Maíra da Rocha, sob o título O cheque no
ordenamento jurídico brasileiro: o cheque pós-datado para análise, foi submetida em 06
de Julho de 2006 à banca examinadora composta pelos seguintes professores:Esp.
Eduardo Campos, MSc. Clovis Demarchi e MSc. Mário Slomp e aprovada com a nota
nove ponto nove.
Itajaí-SC, 06 de Julho de 2006
MSc. Mário Slomp Orientador e Presidente da Banca
MSc. Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ART. Artigo
CC Código Civil Brasileiro
C/C conta corrente
CDC Código de Defesa do Consumidor
CP Código Penal Brasileiro
DES. Desembargador
D.J. Diário da Justiça
ED. Edição
GO Gioás
LC Lei do Cheque Lei nº 7.357
LUG Lei Uniforme de Genebra
P Página
RESP Recurso Especial
SP São Paulo
STJ Superior Tribunal de Justiça
T Turma
TJ Tribunal de Justiça
SC Santa Catarina
ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à
compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.
Beneficiário
É a pessoa a quem o cheque deverá ser pago; é o titular do direito cambiário,
geralmente o portador do cheque1.
Cheque
O cheque constitui-se com uma ordem de pagamento, realizada pelo emitente do mesmo
a um terceiro, para que este retire junto ao banco a importância estabelecida.
Cheque pós-datado
O cheque pré-datado, ou pós-datado, como prefere parte da doutrina, é o cheque emitido
com cláusula de cobrança em determinada data, data, em geral (sic) a indicada como
data da emissão, ou a consignada no canto direito do talão.2
Conta corrente
É um contrato realizado entre o Banco e o correntista, através do qual o Banco se obriga
a receber valores que lhe são remetidos pelo cliente ou por terceiros, e ainda cumpri as
devidas ordens de pagamento até o limite disponível.
Contrato
O contrato é um acordo de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de
adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir diretos3.
Contrato Bancário
O contrato bancário consolida-se como sendo forma de realização de um acordo entre
Banco e cliente, buscando desta forma, criar, regulamentar ou extinguir uma relação
devidamente embasada no crédito.
1 ROQUE, Sebastião José. Títulos de crédito. São Paulo: Ícone, 1997. p.127 2 COVELLO, Sergio Carlos. Prática do cheque. São Paulo: Leud, 1994. p. 44 3 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigações: 2ª parte/
34 ed. rev. e atual. por Carlos Alberto Dabus Maluf e Regina Beatriz Tavares da Silva. São Paulo: Saraiva, 2003. v. 5. p. 5
Endosso
É uma forma de transferência dos títulos de crédito, no qual o possuidor deste para
promover a sua circulação lança sobre o título a sua assinatura.
Lei Uniforme de Genebra
Realizou-se em Genebra em 13 de maio a 7 de junho de 1930, uma Conferência,
objetivando alcançar a unificação da legislação relativa à letra de câmbio e à nota
promissória, com a presença de 31 Estado, inclusive o Brasil. Posteriormente em 1931,
outra Conferência foi realizada em Genebra, da qual decorreu a uniformização da
legislação relativa ao cheque mediante a aprovação das mesmas Convenções
resultantes da Conferencia de 1930.4
Sacado
É o Banco ou instituição financeira que lhe seja equiparado, contra qual é emitida ordem
de pagamento, uma vez que o Banco é o responsável pela prestação de serviços
referentes a conta corrente ao sacador.
Sacador
O sacador pode também ser chamado de emitente, de forma que para a devida
eficácia do cheque é necessário a assinatura do sacador, conforme determinado
no inciso VI do artigo 1º da LC.
Título ao portador
A transferência deste título de crédito ocorre pela tradição não sendo necessário
que o nome do beneficiário apareça expressamente, de forma que receberá os
direitos do título àquele que possuí-lo no dia do vencimento.
Título de credito
É um documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo, nele
mencionado5.
4 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3 ed. revista e atualizada, de
acordo com o novo Código Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p.14 5 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito letra de câmbio e nota promissória segundo a lei
uniforme. 13 ed. São Paulo: Forense, 2000. VI. p.5
SUMÁRIO
RESUMO.......................................................................................... XII
INTRODUÇÃO ................................................................................... 1
CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 3
DOS CONTRATOS ............................................................................ 3 1.1 CONCEITO .......................................................................................................5 1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA .................................................................................7 1.3 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS PARA A FORMAÇÃO DO CONTRATO........9 1.4 REQUISITOS PARA A FORMAÇÃO DO CONTRATO..................................12 1.4.1 AGENTE CAPAZ ..............................................................................................12 1.4.2 OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO OU DETRMINÁVEL .........13 1.4.3 FORMA PRESCRITA OU DESEFA EM LEI.................................................13 1.5 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS ..........................................................13 1.6 INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS.........................................................15 1.7 FORMAS DE EXTINÇÃO DOS CONTRATOS...............................................18 1.8 CONTRATOS BANCÁRIOS...........................................................................20 1.8.1 ELEMENTOS DO CONTRATO BANCARIO................................................22 1.8.2 CLASSIFICAÇAO DOS CONTRATOS BANCARIOS..................................22 1.8.3 INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS BANCÁRIOS ...............................23 1.8.4 FORMAS DE EXTINÇÃO DO CONTRATO BANCÁRIO..............................25 1.8.5 CONTA CORRENTE: COMO UMA DAS ESPECIES DE CONTRATO BANCÁRIO..............................................................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 1.8.5.1 Classificação do contrato de conta corrente........................................27
CAPÍTULO 2 .................................................................................... 28
DOS TÍTULOS DE CRÉDITO........................................................... 28 2.1 CONCEITO .....................................................................................................28 2.2 HISTÓRICO ....................................................................................................30 2.3 CARACTERÍSTICAS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO......................................31 2.3.1 LITERALIDADE ...........................................................................................32 2.3.2 AUTONOMIA ...............................................................................................32 2.3.3 ABSTRAÇÃO ..............................................................................................33 2.3.4 CARTULARIDADE ......................................................................................34 2.4 FORMAS DE CIRCULAÇÃO..........................................................................34 2.4.1 TITULOS NOMINATIVOS ............................................................................35 2.4.2 TÍTULOS À ORDEM.....................................................................................35 2.4.3 TÍTULOS AO PORTADOR...........................................................................36 2.4.4 TÍTULOS NÃO À ORDEM............................................................................36 2.5 AVAL ..............................................................................................................37
2.6 O ACEITE .......................................................................................................38 2.7 O PROTESTO.................................................................................................39 2.8 A PRESCRIÇÃO.............................................................................................40 2.9 CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO QUANTO AOS DIREITOS QUE INCORPORAM ............................................................................................41 2.9.1 TÍTULO DE CRÉDITOS PRÓPRIOS............................................................41 2.9.2 TÍTULOS DE CRÉDITOS IMPRÓPRIOS .....................................................41 2.9.3 TÍTULOS DE CRÉDITO DE LEGITIMAÇÃO................................................42 2.9.4 TÍTULOS DE CRÉDITO DE PARTICIPAÇÃO ...........................................................42 2.10 AS PRINCIPAIS ESPÉCIES DE TÍTULOS DE CRÉDITO............................43 2.10.1 LETRA DE CÂMBIO ........................................................................................43 2.10.1.1 Requisitos necessários para a formação da letra de câmbio ...........44 2.10.1.2 Prescrição da letra de câmbio .............................................................46 2.10.2 NOTA PROMISSÓRIA......................................................................................46 2.10.2.1 Requisitos necessários para a formação da nota promissória ........47 2.10.2.2 Prescrição da nota promissória...........................................................49 2.10.3 DUPLICATA ..................................................................................................49 2.10.3.1 Requisitos necessários para a formação da duplicata:.....................50 2.10.3.2 Prescrição da duplicata ........................................................................50 2.10.4 DEBÊNTURE .................................................................................................51 2.10.4.1 Principais Características da debênture .............................................51 2.10.5 CHEQUE.......................................................................................................52 2.10.5.1 Requisitos necessários para a emissão do cheque...........................53 2.10.5.2 Prescrição do cheque...........................................................................53
CAPÍTULO 3 .................................................................................... 54
DO CHEQUE .................................................................................... 54 3.1 CONCEITO .....................................................................................................54 3.2 HISTÓRICO ....................................................................................................55 3.3 FIGURAS INTERVENIENTES:.......................................................................56 3.4 ENDOSSO ......................................................................................................57 3.5 AVAL ..............................................................................................................58 3.6 PROTESTO ....................................................................................................59 3.7 OPERAÇÕES BANCÁRIAS COM CHEQUE .................................................60 3.8 DO CHEQUE PÓS-DATADO .........................................................................62 3.8.1 O CHEQUE PÓS-DATADO E A LEGISLAÇÃO PENAL ..............................................73 3.8.2 O DANO MORAL COMO CONSEQÜÊNCIA DA APRESENTAÇÃO ANTECIPADA DO CHEQUE PÓS-DATADO ..............................................................................................77
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 80
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 83
ANEXOS........................................................................................... 87
RESUMO
A pesquisa para esta monografia foi realizada com o objetivo de destacar
determinados aspectos do cheque, com ênfase no cheque pós-datado, tem em
vista sua vasta utilização nas negociações comerciais, uma vez que em nossa
sociedade tornou-se uma prática habitual, comercializar, com cheque pós-datado.
Sendo possível observar com este trabalho os reflexos da utilização desta forma
de pagamento, os quais poderão apresentar-se tanto de forma positiva, como
também de forma negativa, sendo a primeira inerente as facilidades obtidas com
as transações feitas com cheque pós-datado, tanto para o comerciante que
promove um aumento nas suas vendas, quanto para o consumidor que tem a
possibilidade de concretizar a compra, ainda que não possua saldo suficiente em
sua conta corrente para pagamento a vista. Já os reflexos negativos consistem
principalmente no descumprimento por parte do comerciante do contrato
realizado, quando este por sua vez promove a apresentação do cheque antes da
data acordada. Para tanto, estudar-se-ão: o contrato, suas características,
contrato bancário, a formação da conta corrente, a utilização dos principais títulos
de créditos, assim elencados no artigo 583 CPC, como títulos executivos
extrajudiciais; até o cheque, com todas as suas peculiaridades, destacando a sua
utilização de acordo com a Lei nº 7.357, a atual lei que regulamenta este título de
crédito, e ainda o cheque na sua forma de pós-datado, a legalidade deste
costume, para o qual não há legislação disponível, e ainda o dano mora como
conseqüência de sua utilização, destacando também o entendimento
jurisprudencial no que se refere à responsabilidade do comerciante ou prestador
de serviço que aceita um cheque com data futura para apresentação.
2
INTRODUÇÃO
A presente Monografia tem como objeto o estudo acerca dos
aspectos destacados do cheque, no tocante a utilização deste título.
Possuindo como objetivo institucional: produzir uma
Monografia para obtenção do grau de Bacharel em Direito pela Universidade do
Vale do Itajaí – UNIVALI; e ainda o objetivo geral: a analise dos aspectos
destacados do cheque com ênfase no cheque pós-datado, assim como também
as conseqüências advindas do não cumprimento do prazo estabelecido,
demonstrando o entendimento tanto doutrinário, quanto jurisprudencial no que se
refere o estudo de um costume assim evidenciado e ainda não devidamente
regulamentado no Brasil.
O estudo torna-se relevante, devido ao grande número de
negociações que são realizados com cheque, devido à facilidade encontrada para
a comercialização do presente título.
Ressalta-se, ainda, que surgi também das relações
comerciais a possibilidade do pagamento com cheque pós-datado, embora não
existe no ordenamento jurídico brasileiro nenhuma regulamentação no tocante a
utilização desta forma de pagamento.
Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando de um
resumo sobre os aspectos gerais do contrato, as principais características, os
elementos necessários para a sua formação, assim como também é realizada
uma analise das principais características do contrato bancário, com ressalva a
conta corrente.
No Capítulo 2, tratar-se-á dos títulos de credito, sendo
apresentado as peculiaridades deste documento, formas de transferência, os
direitos incorporados, alem disso é realizado também um estudo dos principais
títulos de créditos: letra de câmbio, nota promissória, duplicata, debênture e o
cheque.
3
No Capítulo 3, consiste no estudo do cheque, no qual será
apresentado: as características marcantes deste título de crédito, seu conceito,
surgimento, transações bancárias, sendo realizado um estudo em especial do
cheque como pós-datado, de forma a apresentar o posicionamento doutrinário e
jurisprudencial, no que tange a utilização deste título, devidamente, pós-datado,
como forma de pagamento, as conseqüências do negocio realizado entre
comerciante e consumidor.
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões
sobre a utilização do cheque como promessa de pagamento, e não como ordem
de pagamento à vista.
Para a presente monografia foram levantadas as seguintes
hipóteses:
� A utilização de cheque como pós-datado, não descaracteriza a sua natureza jurídica, de titulo de credito, embora não encontre tal costume amparo legal.
� Quando um cheque, não é pago, ou seja, o emitente no momento da realização do negocio assim o faz, pois não tem condições de realizar o pagamento à vista, no entanto quando o pagamento é feito através de cheque pós-datado, estará caracterizado um ilícito penal.
� O cheque como pós-datado nasce de uma relação contratual entre o emitente e o beneficiário, diante da qual a não observação do contrato poderá ensejar em futura reparação dos danos causados por tal atitude.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase
de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados
o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente
Monografia é composto na base lógica Indutiva.
4
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as
Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa
Bibliográfica.
CAPÍTULO 1
DOS CONTRATOS
1.1 CONCEITO
O contrato constitui-se como, como um acordo de vontades,
no qual as partes manifestam seu interesse e este deve estar em conformidade
com a norma jurídica, uma vez em que é considerado como uma espécie de
negócio jurídico.
Neste sentido entende Monteiro6:
Da nossa parte, podemos conceituá-lo como um acordo de vontades que tem por fim criar, modificar ou extinguir um direito. Por essa definição, percebe-se, para logo, a natureza e a essência do contrato, que é um negócio jurídico e que por isso reclama, para a sua validade, em consonância com o art. 104 do Código Civil de 2002, agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei.
Ainda sobre contratos Pereira7 escreve:
É um negócio jurídico bilateral, e conseguinte exige o consentimento; pressupõe, de outro lado, a conformidade com a ordem legal, sem o que não teria o condão de criar direitos para o agente; e, sendo ato negocial, tem por escopo aqueles objetivos específicos. [...] o contrato é um acordo de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos.
6 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigações: 2ª parte.
2003. p. 5 7 PEREIRA,Caio Mario da Silva. Instituições ao Direito Civil - fonte das obrigações contratos
– declaração unilateral de vontade – responsabilidade civil. 10 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000.v3 p. 2
6
O contrato se caracteriza pela manifestação de vontade dos
contrates, que por sua vez consiste na liberdade, de forma que está a critério das
partes as cláusulas que desejarem lançar no contrato, ou até mesmo criarem
determinado contrato, desde que haja amparo legal, como é o caso dos contratos
atípicos.
Embora, seja concedida aos contratantes a liberdade, no
que tange a estruturação do contrato, esta não poderá em nenhum momento
desobedecer a uma norma jurídica, devendo estar sempre de acordo com a
ordem pública, neste sentido ressalta-se o entendimento de Venosa8: “Em tese, à
vontade de contratual somente sofre limitação perante uma norma de ordem
púbica. Na prática, existem imposições econômicas que dirigem essa vontade”.
O objetivo do contrato é estritamente a regulação dos
interesses particulares, para tanto, os ditames contratuais serão relacionados
pelas partes, sendo que os contratantes procederão estudar a forma determinada
de seu contrato, tão logo, conseqüências serão geradas de forma a constituir,
modificar ou extinguir obrigações. Para Diniz9 contrato é:
[...] é o acordo de vontades de duas ou mais vontades, na conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma regulamentação de interesses entre as partes, com o escopo de adquirir modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial.
Consta como principal característica do contrato, a vontade
manifestada pelas partes, sendo que o efeito desejado se concretizará quando os
membros do contrato, acordarem em todos os aspectos deste, de forma que
nenhuma cláusula poderá fazer alteração sem o consentimento da outra.
8 VENOSA, Silvio de Salvo.Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 4
ed. São Paulo: Atlas, 2004. p.389 9 DINIZ, Maria Helena.Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e
extracontratuais. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p.24
7
1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Sobre os contratos em Roma, prescreve Monteiro10:
No direito romano, as obrigações ex contractu , filiavam-se a quatro tipos: Obrigatones, que sunt ex contractu, aut consensu contrahuntur, aut re, aut verbis, aut literis. Por outras palavras, os contratos, os contratos erma consensuais, reais, verbais e literais, segundo resultassem no mútuo acordo das partes (consensu), da entrega de uma coisa (re), do emprego de expressões solenes que os contraentes deveriam pronunciar (verbis), ou quando se formavam por escritos (literis).
Segundo historiadores, o Direito Romano pregava apenas
que o contrato se tratava de um acordo de vontades a respeito de um mesmo
ponto, não chegando a desenvolver uma declaração doutrinária específica dos
contratos. Isso tem justificativa na própria origem desse Direito — sendo de
natureza consuetudinária e jurisprudencial, os costumes e as decisões dos
pontífices é que ditavam as normas jurídicas daquela sociedade. Desse modo, na
época feudal, período compreendido entre os séculos X e XIII, o simbolismo e o
formalismo desempenharam papel importante, uma vez que os contratantes
firmavam o contrato bebendo nas tavernas e quando as partes davam as mãos o
contrato estava selado11.
No Direito Romano, conforme Venosa12, eram usados
outros termos para designar o sentido do contrato, tais como: o pacto ou a
convenção; neste sentido a convenção era o gênero, já o pacto e contrato eram
espécies, uma vez que a palavra convenção era utilizada para qualquer espécie
de negócio bilateral; já o pacto servia para as cláusulas acessórias de um
contrato.
10 MONTEIRO, Washington de Barros.Curso de direito civil: direito das obrigações: 2ª parte.
2003. p. 23 11 MARTINS, Francisco Serrano. A teoria da imprevisão e a revisão contratual no Código Civil
e no Código de Defesa do Consumidor. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/ doutrina/ texto. asp?id=5240 acessado em 17/09/2005.
12 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 2004. p. 378
8
Também Pereira13, escreve que no Direito Romano existia o
pactum, que não era dotado de força cogente, o qual não tinha nome especial,
não sendo revestido de forma predeterminada, não permitindo as partes invocar
uma ação, diferente do contrato, o qual já possuía denominação própria
(comodato, compra e venda), possuindo assim uma exteriorização material da
forma. Todos, porém, eram genericamente denominados de convenciones.
O principal caráter do contrato nesta época era quanto a sua
forma, a qual deveria seguir o rigoroso e o sacramental, independentemente se
estivessem ou não expressando a vontade das partes.
A primeira vez em que houve uma codificação do contrato foi
no Código de Napoleão, o qual objetivava apenas a aquisição da propriedade,
sendo então uma forma de circulação de riqueza, disciplinado pelo sistema
francês, sendo que relações das pessoas aperfeiçoavam-se justamente com o
contrato.
Para Venosa14:
O código napoleônico foi a primeira codificação moderna.[...]. Nesse estatuto, o contrato vem disciplinado no livro terceiro, dedicado aos ‘diversos modos de aquisição da propriedade’. Como uma repulsa aos privilégios da antiga classe dominante, esse Código eleva a aquisição da propriedade privada ao ponto culminante do direito da pessoa.[..]. No sistema francês, historicamente justificado, o contrato é um mero instrumento para se chegar à propriedade.
O Código alemão que surgiu posteriormente ao Código
francês trouxe o contrato como uma categoria do negocio jurídico, sendo que se
iniciou uma dedicação maior a este instituto, com regras para os contratos gerais
e também para os específicos, buscando regular as relações particulares com
mais clareza.
13 PEREIRA,Caio Mario da Silva. Instituições ao Direito Civil - fonte das obrigações contratos
– declaração unilateral de vontade – responsabilidade civil. 2000. p. 3 14 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos.
2004. p. 376
9
Desta forma, a autonomia da vontade, se concretizou como
uma principal característica do Direito Francês e Alemão, assim como também é
um dos princípios basilares do Direito Contratual, partindo do pressuposto de que
o contrato era todo formulado conforme a vontade das partes.
Já no século XX, houve significativas mudanças no âmbito
do Princípio da Autonomia da Vontade, que com a nova dinâmica social, fez com
que os contratos não mais estivessem impostos somente a este princípio, pois,
nem sempre as partes estão em comum acordo, sendo necessário em
determinados casos, que as partes se submetam a determinadas cláusulas
impostas, podendo gerar até uma possível intervenção estatal.
1.3 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS PARA A FORMAÇÃO DO CONTRATO
Dentre as inúmeras normas a serem seguidas na formação
contratual, existem os princípios, os quais devem ser utilizados e respeitados na
busca do interesse das partes, dentre eles temos: o principio da autonomia da
vontade, do consensualismo, da supremacia da ordem pública, da
obrigatoriedade da convenção, da função social do contrato e da probidade da
boa-fé.
a- Princípio da autonomia da vontade: encontra-se
fundamentado, conforme Venosa15 sob o prisma do Código Francês, de que o
contrato é determinado pelas partes, no entanto, esta liberdade de contratar
acaba se submetendo aos princípios da ordem jurídica, estando tão logo,
sofrendo determinadas limitações.
Para Diniz16:
Consiste no poder das partes de estipular livremente, como melhor lhes convier, mediante acordo de vontades, a disciplina de
15 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos.
2004. p. 389 16 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e
extracontratuais. 2003. p. 40
10
seus interesses, suscitando efeitos tutelados pela ordem jurídica, envolvendo além da liberdade de criação do contrato, a liberdade de contratar ou não contratar, escolher outro contratante e de fixar o conteúdo do contrato, limitadas pelas normas de ordem pública, pelos bons costumes e pela revisão judicial dos contratos.
Desta forma, tem-se como principal prisma deste princípio a
liberdade que ampara as contraentes, deste modo, ficará a critério das partes as
formas do contrato, estando, porém submissos à ordem pública, assim como
também suas cláusulas não poderão infringir as leis vigentes.
b- Princípio do consensualismo: consiste, para Diniz17, na
existência do livre acordo entre as partes, para que possa ocorrer a validade do
mesmo, sendo este princípio conseqüência de uma das principais características
do contrato, por ser este um negócio jurídico biliteral, desta forma a simples
manifestação da vontade é o suficiente para sua efetivação.
c- Princípio da supremacia da ordem pública: segundo
Monteiro18, é com base neste princípio que ocorrem proibições as estipulações
contrárias a moral, a ordem pública e aos bons costumes, sendo que as partes,
embora com consentimento, não poderão versar em seu contrato, cláusulas que
vejam ofender a ordem pública.
d- Princípio da obrigatoriedade da convenção: Para sua
efetivação, o contrato deve ser devidamente cumprido pelas partes, é o que
reflete o pacta sunt servanda, através do qual é gerando a principal
obrigatoriedade do que foi convencionado, ou seja, seu fiel cumprimento.
Assim entende Venosa19:
Essa obrigatoriedade forma a base do direito contratual. O ordenamento deve conferir à parte instrumentos judiciários para
17 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e
extracontratuais. 2003. p. 40 18 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigações: 2ª parte.
2003. p. 10 19 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos.
2004. p. 390
11
obriga o contraente a cumprir o contrato ou e indenizar pelas perdas e danos. Não tivesse o contrato força obrigatória e estaria estabelecido ao caos.
e- Princípio da função social do contrato: este princípio
assim encontra-se estabelecido no artigo 421 do Código Civil:
“Art. 421. A liberdade de contratar será exercida e, razão e
nos limites da função social do contrato”.
Assim entende Jones Figueredo Alves, citado por
Monteiro20, ao referir a da função social do contrato.
A função social do contrato acentua a diretriz da sociabilidade do direito, de que nos fala, percucientemente, o eminente Professor Miguel Reale, como princípio a ser observado pelo interprete na aplicação dos contratos. Por identidade dialética guarda intimidade com o princípio da função social da propriedade previsto na Constituição Federal.
Pode-se ressaltar, que o contrato não tem como prisma da
sua realização o individualismo dos contratantes, uma vez que deverá vir ao
encontro também dos anseios sociais.
f- Principio probidade da boa-fé: pode-se também encontrar
no corpo da Lei Civil a previsão deste princípio, no artigo 422 CC, que prescreve:
“Art. 422. Os contraentes são obrigados a guardar, assim na
conclusão do contrato, como em sua execução os princípios da probidade da boa-
fé”.
Assim para Diniz21, as imputações deste princípio não estão
apenas ligadas a interpretação do contrato, pois versará também sobre a intenção
inferida da declaração de vontade das partes, assim como também o interesse
20 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigações: 2ª parte.
2003. p. 10 21 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e
extracontratuais. 2003. p. 39
12
social de segurança das relações jurídicas, de forma com que as partes deverão
agir com lealdade e confiança recíprocas.
Por esse princípio, as partes deveram em todo o contesto
contratual agir com honestidade, partindo desde a intenção na formação
contratual até a execução do mesmo.
1.4 REQUISITOS PARA A FORMAÇÃO DO CONTRATO22.
Os requisitos para o reconhecimento jurídico do contrato
encontram-se descritos nos incisos I, II e III do artigo 104 do CC:
Art.104. A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.
Desta forma para que o contrato seja válido como ato
jurídico prefeito é necessário que ele obedeça aos dispositivos legais, os quais
estão relacionados com as partes, o objeto e a forma.
1.4.1 Agente capaz
As partes deverão ter capacidade para a prática dos atos da
vida civil, prevista nos artigos 3º e 4º do CC, para que então possam livremente
manifestar sua vontade, que pode ser de forma tácita ou expressa.
Caso, não sejam as partes devidamente capazes, de acordo
com a norma Civil, poderá ser o contrato nulo ou suscetível de anulação.
22 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigações: 2ª parte.
2003. p. 5
13
1.4.2 Objeto licito, possível, determinado ou determinável
O objeto do contrato não poderá de forma alguma ser ilícito,
tão pouco contrário à ordem pública e aos bons costumes, sob pena de não
serem considerados válidos, assim como também não serão inválidos os
negócios jurídicos que possuírem como objeto algo materialmente impossível, ou
que se encontra além das forças humanas.
O objeto acordado deverá ser certo ou, pelo menos
determinável, devendo constar no contrato os elementos necessários para que
possa ocorrer o devido cumprimento contratual.
1.4.3 Forma prescrita ou não defesa em lei
A formalidade que o contrato deverá se submeter encontra-
se prevista no art 107 do CC, o qual dispõe que:
“Art. 107. A validade da declaração de vontade não
dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente exigir”.
Há determinados negócios para serem válidos tem como
exigência forma prescrita em lei, são os contratos que obedecem à forma solene,
como é caso dos direitos reais sobre bens imóveis, acima de trinta vezes o salário
mínimo vigente, devendo acontecer por escritura pública, a maioria, porém não
tem a obrigatoriedade de ser pela forma solene, uma vez que, uma simples
declaração de vontade estabelece uma obrigação entre as partes, podendo ser
oral ou escrita.
1.5 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Estando diante dos várias categorias em que se encontram
os contratos, ocorre a necessidade de classificá-los, com a finalidade de observar
14
determinadas particularidades inerentes a cada um, assim como também as
conseqüências geradas pela aceitação.
Entre as várias classificações adotadas para os contratos
pode-se destacar, conforme Lisboa23, para o qual a classificação do contrato pode
acontecer segundo: a tipicidade, as obrigações,
Quanto à tipicidade pode ser típicos ou atípicos: os contratos
típicos podem também ser chamado de nominados, este se encontram
expressamente previstos em lei, ou possuem regulamentação própria; atípicos:
não estão expressamente previstos em lei, no entanto são por ela admitidos,
desde que não estejam em desacordo com a lei, ou com a moral e os bons
costumes.
Quanto às obrigações podem ser unilaterais ou bilaterais:
unilaterais quando apenas uma das partes é detentora de obrigações, não
gerando nenhum vínculo obrigacional a outra. Bilateral ou sinalagmáticos: ocorre
nos contratos em que as obrigações são recíprocas para ambas as partes.
Quanto à personalidade podem ser personalíssimo ou
impessoal: o contrato personalíssimo também chamado de intuitu persona, desta
forma somente a pessoa que foi contratada poderá viabilizar o cumprimento da
obrigação, a qual é infusível, caso não ocorra o devido cumprimento, poderá o
contratado responder por perdas e danos; já o impessoal: o contrato poderá ser
executado pelo devedor ou por um terceiro.
Quanto à onerosidade podem ser oneroso ou gratuito:
oneroso é aquele contrato em que as partes reciprocamente dispõem de seu
patrimônio para que ocorra a realização do mesmo; no contrato gratuito não
decorre da disposição patrimonial de apenas uma das partes.
Quanto ao risco o contrato pode ser comutativo ou aleatório:
o primeiro, ocorre quando há as prestações acertadas são equivalentes; e o
23 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. 2 ed. rev. e atual. Em conformidade com
Novo Código Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 86
15
segundo, ocorre quando a efetiva concretização depende de um fato futuro e
incerto, sendo que uma das partes assume o risco da prestação, a qual poderá ou
não acontecer.
No que se refere à forma para a concretização do contrato,
esta poderá decorrer de forma solene ou consensual: solene quando a sua forma
seja reconhecido juridicamente, deverá ser de acordo com o que dispõe a lei; e
consensual independe de forma especial, podendo por sua vez ser celebrado de
qualquer forma, desde que não proibida por lei.
Em relação ao prazo contratual, este poderá ser
determinado ou indeterminado: o determinado é quando existe prazo para o seu
cumprimento; e o indeternimado quando não houver prazo final fixado.
Quanto a execução o contrato, esta poderá ocorrer de forma
instantânea, de trato sucessivo ou de execução coativo: de forma instantânea
decorre quando a execução acontece em um pequeno espaço de tempo; de trato
sucessivo: sua execução somente acontecerá após o cumprimento das
obrigações no decorrer deste; de Execução coativa assim caracteriza-se pela
acompanhamento da parte contratada, ao longo do contrato.
1.6 INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS
A interpretação dos contratos existe para que os conteúdos
sejam fixados, de forma a ser analisada a vontade manifestada pelas partes, as
verdadeiras intenções que vieram a ser decisiva na devida formação contratual, já
que esta se inicia já nas primeiras palavras que são pelas partes trocadas,
gerando assim um vínculo obrigacional. Desta forma é de suma importância a
interpretação a ser realizada.
16
Sobre a importância da Interpretação, observa-s, alguns
comentários de Monteiro24:
Mas as palavras são insidiosas e traiçoeiras. Não he dúvida de que, quase sempre, conseguem elas exprimir com fidelidade a intenção que o agente de fato procura traduzir. Sendo exata, correta e perfeita a correspondência entre o pensamento que animava o agente e as palavras que empregou para externá-lo, arredada estará, por certo a necessidade de interpretação. Não há fugir, evidentemente , aos termos do enunciado, segundo soem os vocábulos ou as frases.
Ressalta-se, todavia, a importância de tal procedimento,
uma vez que em determinados casos, uma palavra analisada em determinado
contexto poderá ser interpretada de forma adversa da pretendida, gerando assim
ambigüidade da qual conseqüentemente venha a surgir uma discussão nas vias
judiciárias. Desta forma pode-se destacar o que determina o artigo 112 do CC:
“Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá, mais a
intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem”.
Deverá desta, o magistrado ao interpretar, exteriorizada a
vontade dos contraentes, não se limitando o juiz, apenas na interpretação literal
das palavras, assim como também, ao analisar determinada cláusula, seja
realizada de todo o conjunto, buscando, desta forma, esclarecer as pertinentes
dúvidas suscitadas.
Ainda, neste sentido entende Venosa25:
A manifestação da vontade contratual é, evidentemente bilateral. Desse modo, sua interpretação levará em consideração a emissão da vontade propriamente dita e o reflexo dessa mesma vontade com relação ao outro contratante. O contrato então deve ser considerado como um todo orgânico, ao se examinar uma cláusula obscura ou de má compreensão. O interprete deve
24 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigações: 2ª parte.
2003. p. 36 25 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos.
2004. p.469
17
debruçar-se sobre os efeitos que decorrem do contrato em relação a todos os contraentes.
Importante ressaltar os ensinamentos de Cunha Gonçalves,
apresentado por Rizzardo26:
O contrato, com efeito, constitui no espírito dos contraentes um todo indivisível; as suas cláusulas completam-se e reciprocamente se esclarecem. Daí a necessidade de examiná-las todas, quando uma delas se antolhe de sentido obscuro ou pareça contraditório.
A interpretação pode acontecer de forma subjetiva ou
objetiva, sendo que a primeira consiste em analisar a vontade real das partes
desde a formação contratual, Barros27 entende que o interprete deverá,
conseqüentemente, procurando fixar a vontade, alumiar-se pelo que é usual no
comercio jurídico em casos semelhantes. E para interpretação objetiva o que
realmente importa para esta linha de interpretação não é tão somente à vontade,
mas sim a exteriorização desta, realizada na declaração, para Lisboa28:
“[...] através desta busca-se esclarecer o sentido dado às declarações que integram o negócio. Destacando três regras de interpretação objetiva: a observância da boa fé, a conservação do negócio jurídico e o equilíbrio entre as prestações contratuais”.
Diante dos inúmeros conflitos que podem gerar um contrato,
deve-se estar atento na sua formação, desde a utilização correta das palavras,
até a intenção das partes, evitando as ambigüidades, neste contexto.
26 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 129 27 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigações: 2ª parte.
2003. p. 37 28 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. 2002. p. 102
18
1.7 FORMAS DE EXTINÇÃO DOS CONTRATOS
As partes ao formalizar o negócio jurídico, poderão ou não
estipular um prazo para seu término, porém ainda que não colocado um termo
final, poderá o contrato ser extinto de acordo com a vontade dos contraentes.
Dentre as formas de extinção dos contratos tem-se29: o
distrato, a quitação, a cláusula resolutiva, exceção de contrato não cumprido e a
resolução por onerosidade excessiva.
a- distrato: ocorre com um acordo estabelecido entre as partes, a fim de extinguir
o contrato, assim estabelece o artigo 472 do CC:
“Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o
contrato”.
Neste sentido, estando as partes de pleno acordo, não
desejando mais a concretização do contrato, poderão da mesma forma que o
fizeram, de comum acordo, desfazer, através do distrato.
Já quando a manifestação de vontade acontecer de apenas
uma das partes haverá a resilição30, que é, portanto, termo designado para o
desfazimento voluntário do contrato.
“Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei
expressa ou implicitamente permita, opera mediante denúncia notificada à outra
parte”.
b- quitação: estando esta em conformidade com os requisitos do art. 320 do CC,
tem total validade31, devendo ser inidônea e apresenta materialidade suficiente.
29 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigações: 2ª parte.
2003. p. 76 30 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos.
2004. p. 514 31 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos.
2004. p. 517
19
c- exceção de contrato não cumprido: o CC prevê duas exceções de contrato não
cumprido, nos artigos 476 e 477. Estando disposto no primeiro que nenhum dos
contraentes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o inadimplemento do
outro. Já no segundo ainda que após a conclusão do contrato, sobrevier a uma
das partes diminuição em seu patrimônio, capaz de compromete ou tornar
duvidosa a prestação pela qual se obrigou, poderá recusar-se no cumprimento da
mesma.
No que refere a distinção destas duas exceções explica
Monteiro32 esclarece, “[...] a primeira pressupõe completa e absoluta inexecução
do contrato, enquanto a segunda tem como pressuposto a execução insuficiente,
delituosa, diferente ou incompleta”.
d) resolução por onerosidade excessiva: considera-se como um fato que torna
dificultoso o cumprimento da obrigação por uma das partes. Esta possibilidade
encontra-se disciplinada nos artigos 478, 479 e 480 do CC.
Preceitua Monteiro33, sobre a resolução por onerosidade
excessiva:
A onerosidade excessiva está lastrada na teoria da imprevisão que serve de mecanismo de efetivo reequilíbrio contratual, quer recompondo o status quo ante que animou o contrato ao tempo de sua formação, quer o ajustado à realidade superveniente por modificações eqüitativas, e, como tal deve representar em princípio, pressuposto necessário da revisão contratual e não de resolução do contrato, ficando esta última como exceção.
Embora, no momento do contrato as partes tinham pleno
conhecimento da obrigação assumida, se vier a decorrer onerosidade excessiva,
poderá esta ser motivo de extinção contratual.
32 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigações: 2ª parte.
2003. p.80 33 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigações: 2ª parte.
2003. p.82
20
1.8 CONTRATOS BANCÁRIOS
Os contratos bancários são realizados através de uma
empresa, o qual deve estar devidamente autorizada a realizar atividades
bancárias. Certo de que uma das partes deste negócio jurídico, obrigatoriamente
deverá ser um banco ou uma instituição financeira. Embora esta atividade seja de
grande utilização não há no Código Civil nenhuma regulamentação própria no que
se refere às transações bancárias realizadas.
No tocante a definição dada ao contrato bancário pode-se
trazer a baila, as palavras de Sergio Carlos Covello, assim citado por Oliveira34:
”[...] os contratos bancários são instrumentos de acordo entre Banco e cliente
para criar, regulamentar ou extinguir uma relação que tenha por objeto a
intermediação do crédito”.
Continua Oliveira35:
São negócios jurídicos que, além da relação entre o prestador de serviços/comerciante (Banco) e o consumidor/cliente, caracterizam-se pelas regulamentações advindas do Banco Central do Brasil, para cada um dos tipos contratuais permitidos às instituições financeiras (Lei nº 4.595/64).
Covello36 entende a questão afirmando que se podem adotar
dois critérios fundamentais na conceituação dos contratos bancários: 1) o critério
subjetivo, sendo contrato bancário aquele realizado por um banco; 2) o critério
objetivo, pelo qual é contrato bancário aquele que tem por objeto a intermediação
do crédito.
Os dois critérios sozinhos não se tornam suficientes, como
nota Covello37: o primeiro porque nem todos os contrato realizado pelo Banco são
34 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contratos e serviços bancários e a Normatização de Defesa
do Consumidor. São Paulo: LZN Editora, 2000. p. 82 35 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contratos e serviços bancários e a Normatização de Defesa
do Consumidor. 2003. p. 82 36 COVELLO, Sergio Carlos. Contratos bancários. 1999. p. 45 37 COVELLO, Sergio Carlos. Contratos bancários. 1999, p. 47
21
bancários, como por exemplo: contrato de locação; o segundo também não
satisfaz porque um particular também pode realizar operação de créditícia sem
que o contrato correspondente se possa tornar bancário. Adota então, o autor,
uma concepção resumida, recorrendo aos dois critérios, para conceituar o
contrato bancário como "[...] o acordo entre Banco e cliente para criar, regular ou
extinguir uma relação que tenha por objeto a intermediação do crédito”.
O banco tem por finalidade38 a prestação de diversos
serviços, os quais pode este executar com maior segurança que o particular,
desta forma “todas essas operações bancárias poderão ser consideradas como
contratos, por haver acordo entre as partes, criando obrigações”.
Dentre as atividades bancárias, explica Rizzardo39
No sentido específico, compreende-se como atividades bancárias o exercício das funções básicas das entidades componentes do Sistema Financeiro Nacional. Estas funções básicas constituem a coleta e a intermediação ou aplicação dos recursos fianceiros próprios ou de terceiros, com moeda nacional ou estrangeira. Ressalta o trato com a captação de recursos junto a terceiros e com a concessão do crédito. Estas são as grandes atividades das instituições financeiras. Dedicam-se a circulação do dinheiro, arrecadando-o junto a quem faz investimentos, e aplicando-o através de várias operações, como o empréstimo, a abertura de crédito, o desconto, e vários tipos de financiamento.
Desta feita, a acordo realizado entre cliente e banco, para
que este preste serviço ao mesmo, através da realização das respectivas
atividades financeiras, as quais tenham por objeto a intermediação do crédito,
tem-se um contrato bancário.
38 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e
extracontratuais. 2003. p. 615 39 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 1395
22
1.8.1 Elementos dos contratos bancários
Assim como qualquer outro negócio jurídico, o contrato
bancário constitui-se por alguns elementos, sendo aqui apresentados como:
sujeito, objeto e causa40.
a- Sujeitos do contrato bancário: O contrato bancário para sua efetiva
formação é necessário a presença das partes, as quais configuram como
sendo de uma lado o cliente e de outro o Banco.
b- Objeto do contrato bancário: o objeto deste negócio jurídico é o crédito,
sendo este o direito que tem o titular de uma prestação de natureza
patrimonial. No sentido econômico pode-se defini Covello41, como “[...] toda
operação de troca na qual se realiza uma prestação pecuniária presente
contra uma prestação futura de igual natureza[...]”.
c- Causa: a busca para a realização de um contrato bancário tem uma
motivação, isto é, uma causa, sendo esta a responsável pela procura de
um crédito, devido, tão logo, as necessidades financeiras de algumas
pessoas e de outras, no entanto, o alto poder aquisitivo, logo, para suprir a
necessidade da rotatividade destes investimentos é que figuram os bancos.
1.8.2 Classificação dos contratos bancários
Os contratos bancários podem ser classificados como
contratos de adesão, uma vez que sua realização acontece através dos
formulários, utilizados para todos os clientes, de forma que as cláusulas
estabelecidas nos mesmos não são passíveis de discussão, ou seja, não poderão
ser alteradas. Logo, não poderá haver alterações das clausulas contratuais
relativas as negociações bancárias.
40 COVELLO, Sergio Carlos. Contratos bancários. 1999. p. 47 41 COVELLO, Sergio Carlos. Contratos bancários. 1999. p.48
23
Esta classificação, no que se refere ao contrato bancário, é
aceita por Rizzardo42:
Os contratos bancários, enquadram-se, desta feita, no rol dos chamados contratos de adesão, pelos quais a participação de um dos sujeitos se dá pela aceitação in totum das condições prefixadas pela outra parte para constituir o conteúdo normativo-obrigacional da futura relação concreta.
No que se refere ao contrato de adesão, Lisboa43 o
conceitua como “[...] o negócio jurídico onde suas cláusulas não tiveram seu
conteúdo livremente discutido por ambas as partes, submetendo-se uma destas a
termos anteriormente fixados”.
Nota Orlando Gomes44 que a conceituação dos contratos de
adesão é difícil, pois conforme a teoria que o explique, assume contornos
diferentes (há, pelo menos, seis modos de caracterizá-lo). Para o autor, "O traço
característico do contrato de adesão reside verdadeiramente na possibilidade de
predeterminação do conteúdo da relação negocial pelo sujeito de direito que faz a
oferta ao público”.
Em suma, a principal característica do contrato bancário
consiste na impossibilidade de discussão de suas cláusulas, tornando-o um
contrato de adesão.
1.8.3 Interpretação dos contratos bancários
Em quaisquer contratos podem acontecer divergências,
devido às divergências de pensamentos das partes, no tocante a todas as
cláusulas, no entanto essas discussões nos contratos bancários são ainda
maiores, visto que seus conteúdos já são prefixados pelos Bancos, gerando desta
forma grandes indagações em torno de seu conteúdo.
42 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. 2004. p. 1396 43 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. 2002, p. 43 44DALLAGNOL, Deltan Martinazzo. Contratos Bancários: conceito, classificação e características.
Disponível em: http//www.jus2.unol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3262. Acessado em: 28 set. 2005
24
A legislação brasileira não dispõe de muitos recursos legais
para a interpretação destes contratos, conseqüentemente tais lacunas vem sendo
preenchidas por outras formas de interpretação, como doutrina e a jurisprudência,
as quais buscam suprimir as lacunas legislativas.
No que tange as regras de interpretação que devem ser
utilizadas por Covello45, lembra os ensinamentos de Orlando Gomes:
Após enfatizar que o juiz não deve verificar a vontade das partes a luz dos critérios mais usados no plano da concepção voluntarista do negócio jurídico e sim de conceitos flexíveis que lhe abram horizonte mais dilatado no sentido de evitar abusos por parte do estipulante, refere as seguintes regras: a) interpretação contra o estipulante; b) interpretação restritiva das cláusulas que favorecem o predisponente; c) prevalecimento das cláusulas especiais sobre as gerais, das manuscritas sobre as impressas; d) interpretação invariável das cláusulas gerais, sem se atentar para aspectos particulares de cada caso concreto.
Completa ainda Gomes46:
[...] a singularidade de sua estruturação [dos contratos de adesão] não permite seja interpretado do mesmo modo que contratos comuns, porque é relação jurídica em que há predomínio categórico da vontade de uma das partes. É de se aceitar, como diretriz hermenêutica, a regra segundo a qual, em caso de dúvida, as cláusulas do contrato de adesão devem ser interpretadas contra a parte que as ditou.
Desta forma, na interpretação dos contratos bancários, é de
real importância que seja considerado as formas de realização do contato, uma
vez que sendo este de adesão, deverá ser buscando a real intenção das partes
formalização do mesmo.
45 COVELLO, Sergio Carlos. Contratos bancários. 1999. p. 65 46DALLAGNOL, Deltan Martinazzo. Contratos Bancários: conceito, classificação e características.
Disponível em: http//www.jus2.unol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3262. Acessado em: 28 set. 2005
25
1.8.4 Formas de extinção do contrato bancário47
a) Resolução unilateral do contrato: desde que, previamente estabelecido no
contrato, qualquer das partes poderá extinguir o contrato de forma
unilateral, em qualquer momento.
b) Advento do termo final: poderá estar no contrato fixado um prazo final,
desta forma o mesmo estará extinto no prazo acordado.
c) Por mau uso do cheque: conforme determinação de uma Circular do Banco
Central, acontecerá o encerramento da conta corrente, quando houver por
parte do titular o uso inadequado de seu cheque.
d) Retirada das totalidades dos fundos disponíveis: ocorre quando o cliente
utiliza sua liberdade de contratar e retira de sua conta o saldo disponível, é
esta é considerada a forma mais utilizada para o encerramento da conta.
e) Falência do correntista: a situação de falência sofrida pelo cliente, uma vez
que após a decretação da mesma, o titular da conta não tam mais poder
sobre seus bens, certos de que pertencem agora a massa falida.
f) Falta de movimentação: a conta que não sofrer movimentação por mais de
trinta anos, poderão seus valores ser retidos pelo Tesoura Nacional,
conforme a Lei nº 370 de 3 de janeiro de 1937 (regulamentada pelo
Decreto nº 1508,de 17 de março de 1938).
g) Morte do correntista: o falecimento do cliente torna o encerramento da
conta de forma automática, o saldo ali disponível somente poderá ser
retirado através de alvará judicial.
Dentre as formas de contratos bancários, destaca-se o
contrato de conta-corrente, o qual caracteriza-se por ser um contrato realizado
entre o Banco e o correntista, no sentido de que o primeiro prestará serviços
47 COVELLO, Sergio Carlos. Contratos bancários. 1999. p. 115 e 116
26
relacionados a todos os encargos e operações que foram previamente solicitadas
pelo cliente.
Sobre esta forma de prestação de serviço bancário,
conceitua Wald48: “Contrato de conta corrente é aquele em que ambas as partes,
ou só uma, registram, em partidas de débito e crédito, as remessas e os saques,
só podendo reclamar o saldo no vencimento da conta”.
Já para Covello49, conta corrente caracteriza-se como sendo:
[...] contrato em virtude do qual o Banco se obriga a receber valores que lhe são remetidos pelo cliente (correntista) ou por terceiros, bem como a cumprir as ordens de pagamento do cliente até o limite de dinheiro nela depositado ou crédito que se haja estipulado.
Desta forma a conta corrente caracteriza-se como sendo um
contrato, entre Banco e cliente, através do qual busca-se a satisfação das
obrigações previamente acordadas, podendo ser esta situação exemplificada com
a utilização do cheque, o qual é um instrumento de movimentação de conta.
No que se refere à conceituação de contrato bancário Diniz50
adota a seguinte definição:
O contrato de conta corrente bancária é aquele em que duas pessoas estipulam a obrigação, para ambas ou para uma delas, de inscrever, em contas especiais de débito e crédito, os valores monetários correspondentes às suas remessas, sem que uma credora ou devedora da outra se julgue, senão no encerramento de cada conta.
48 WALD, Arnold. Curso de direito civil brasileiro. Obrigações e contratos. 14 ed revista,
atualizada e ampliada de acordo com as modificações do CPC, a jurisprudência do STJ e o Código do Consumidor e com a colaboração do Prof. Semy Glanz. Revista dos Tribunais. São Paulo: 2000. v 3. p. 556
49 COVELLO, Sergio Carlos. Contratos bancários. 1999. p. 98 50 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e
extracontratuais. 2003. p. 624
27
1.8.4.1 Classificação do contrato de conta corrente
Ensina Covello51, que como contrato principal e autônomo
pode, este ser classificado como bilateral, consensual, de execução continuada,
normativo e oneroso.
a) Bilateral: o contrato de conta corrente é assim considerado, uma vez que
ambas as partes estão sujeitas a obrigações, ou seja, tanto o banco quanto
o cliente devem cumprir o acordado.
b) Consensual: este contrato concretiza-se com a vontade das partes.
c) Execução continuada: recebe esta classificação, já que sua obrigação não
se concretiza com um único ato, porém se realiza por intermedeio das
prestações periódicas, ao longo da duração do contrato.
d) Normativo: é desta forma caracterizado, já que através deste poderão ser
reguladas novas relações que poderão surgir no decorrer do contrato.
e) Oneroso: a onerosidade encontra-se sustentada nos juros que são pelo
Banco aplicados.
51 COVELLO, Sergio Carlos. Contratos bancários. 1999 p. 106
28
CAPÍTULO 2
DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
2.1 CONCEITO
Inicialmente pode-se destacar, para a análise dos títulos de
crédito, a definição adotada por César Vivante, assim destacada por Martins52
“Título de Crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e
autônomo, nele mencionado”.
Desta forma completa Martins53, no que se refere à definição
acima:
Assim, diz o Mestre que o título de crédito é um documento. Isso significa que, para se ter um título de crédito, é indispensável que exista um documento, isto é. Um escrito em algo material, palpável, corpóreo. Não é preciso sequer que todas as declarações constantes do título sejam grafadas de próprio punho do declarante. Mas, em qual circunstância, deve ser um escrito, lançado em documento corpóreo, em regra uma coisa móvel, para facilitar a circulação dos direitos, já que esses, incorporados com o título circulam com o mesmo.
Esse documento é necessário para o exercício dos direitos nele mencionados. O emprego da palavra necessário tem, aqui, o sentido próprio de ser indispensável o documento para que os direitos nele mencionados sejam exercidos. Daí resulta ser o título de crédito um título de apresentação.
Configura-se o título de crédito como um documento que
tem como principal característica à circulação dos direitos nele inerentes, que por
sua vez configuram-se sempre com direitos relacionados a créditos, de forma que 52 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito letra de câmbio e nota promissória segundo a lei
uniforme. 13 ed. São Paulo: Forense, 2000. 1v, p.5 53 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito letra de câmbio e nota promissória segundo a lei
uniforme. 2000. p. 5
29
seu pressuposto é a sua materialização na forma escrita, para que então possa
se concretizar sua devida finalidade de circulação de um direito literal e
autônomo. Desta forma destaca-se a definição trazida pelo artigo 887 do Código
Civil:
“Art. 887 O título de crédito, documento necessário ao
exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando
preencha os requisitos da lei”.
Sobre título de crédito tem-se também o entendimento de
Almeida54 que o define como “[...] um instrumento formal que contém obrigação,
instrumento esse que a lei confere direito literal e autônomo”.
Roque55 enfatiza a obrigação contida neste documento, a
qual é assumida pela parte:
É um documento constitutivo, por constituir, por criar uma nova obrigação, nova relação jurídica. A obrigação cambiária do título de crédito, e não de outro ato jurídico fora do título. É, portanto, um documento criador de um direito. A criação do título de crédito tem o frisante efeito jurídico pelo qual a prestação, devida com base na relação existente entre as partes, será adimplida para com o possuidor do título, seja este beneficiário direto, seja outra pessoa a quem o título tenha sido transferido segundo suas normas de Direito Cambiário.
Destaca-se, também o conceito trazido por Coelho56, o qual
relata que “Os títulos de crédito são documentos representativos de obrigações
pecuniárias. Não se confundem com a própria obrigação, mas se distinguem dela
na exata medida em que a representam”.
54 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed rev. atualizada e
ampliada. São Paulo: Saraiva, 1998. p.8 55 ROQUE. Sebastião José. Títulos de crédito. 1997. p. 22 56 COELHO. Fabio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 13 ed ver. e atual. de acordo com o novo
código civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002).São Paulo: Saraiva, 2002. p.227
30
Desta forma, o título de crédito constituí-se como um
documento escrito, caracterizado pela sua circulação, através do qual são
assumidas obrigações que serão quitadas junto ao seu detentor.
2.2 HISTÓRICO
No que se refere a processo evolutivo da economia pode-se
acompanhar o que escreve Almeida57:
Originalmente adotou-se como instrumento de trocas os produtos de uso comum, como o gado e o sal. Num processo evolutivo passou-se à fase metálica e, posteriormente, à fase financeira, surgindo em conseqüência o papel-moeda, representativo da moeda-padrão, também chamada moeda-fiduciária. É a circulação de notas de papel-moeda, fundada na confiança do Estado-emissor do estabelecimento a que o Poder Público incumbe a emissão, e por isso mesmo conversível, em qualquer tempo, em moeda-padrão.
As fases da economia são de acordo com as necessidades
humanas de cada época, iniciando-se pela simples troca, a qual era realizada
suprindo as anciãs aquisitivas da época, até que se chegasse a criação do papel-
moeda, se caracterizado, por sua vez, como um importante instrumento de troca
ou denominador de valores58.
Com a evolução da economia, observa-se, o surgimento do
crédito, ocorrendo no nas negociações uma substituição do dinheiro em espécie
pelos títulos de crédito, decorrendo, inicialmente sua utilização de forma simples,
nos contratos de câmbio, para posteriormente tornar-se instrumento essencial na
circulação dos valores, como bem nos ensina, Almeida59:
De início operavam como meros instrumentos do contrato de câmbio trajetício, isto é, operando a circulação de dinheiro. Mais adiante vamos encontrá-los representando valores que podem,
57 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 1998, p.1 58 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 1998, p.1 59 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 1998, p.2
31
desde logo, ser realizados, delineando de forma nítida a sua função essencial, qual seja a circulação do respectivo valor.
Contudo, em sua criação, os títulos de crédito encontraram
uma resistência marcante por parte da Igreja Católica, que olhavam o crédito
como uma instituição pecaminosa, se fosse oneroso. Para eles, o enriquecimento
do homem só poderia ocorrer por seu próprio trabalho e não as custas do trabalho
do outro, de forma que o enriquecimento através do crédito acontece se a devida
realização do trabalho, sendo o marco da libertação do crédito, a Reforma
liderada por Lutero60.
Logo, atualmente, tem-se os títulos de crédito como
importante instrumento para promover as operações mercantis, com a velocidade
necessária, na certeza de que com a moeda comum não seria tão ágil, permitindo
assim, a imediata mobilização de riqueza, proporcionando a antecipação do
resultado, como se pode citar um exemplo que traz Rosa Junior61: “[...] a indústria
que pode, sem vender o bem produtivo, aplicar o valor do crédito na compra de
novas máquinas para a melhoria de sua produção”.
2.3 CARACTERÍSTICAS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
Para que a satisfação do seu principal objetivo, ou seja, a
circulação, o título deve estar revestido de certos princípios, os quais podem-se
destacar como características necessárias para a efetivação de sua
movimentação, os quais são a literalidade, a autonomia e abstração, assim
destacadas por Martins62.
60 ROQUE. Sebastião José. Títulos de crédito. 1997. p.16 61 ROSA JUNIOR. Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 2004. p. 4 62 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito letra de câmbio e nota promissória segundo a lei
uniforme. 2000. p. 7 a 9
32
2.3.1 Literalidade
A literalidade consiste no fato de valer somente o que no
título encontra-se escrito, já que este sempre deverá se realizar de forma escrita,
no qual constarão todos os direitos acordados pelas partes, assim sendo, quando
ocorrer a assinatura do título em questão somente será passível de discussão o
que neste estiver expressamente contido no título.
No entendimento de Almeida63 destaca-se:
Os títulos de crédito são literais porque valem exatamente a medida nele declarada. Caracterizam-se tais títulos, como Lembra Carvalho Mendonça, pela existência de uma obrigação literal, isto é, independente da relação fundamental, atendendo-se exclusivamente ao que neles expressam e diretamente mencionam.
2.3.2 Autonomia
Esta característica significa que a obrigação inicialmente
assumida deverá ser cumprida, pois embora seja o título um documento de
circulação, isto não impede que seja honrada a obrigação, Desta forma, as
pessoas que a este se vincularam estarão subordinadas as exigências realizadas
pelo portador, conforme o prazo convencionado.
Sobre a autonomia dos títulos, esclarece Martins64:
A autonomia das obrigações assumidas é uma das maiores garantias dos títulos de crédito, dando ao portador a segurança do cumprimento dessas obrigações por qualquer uma das pessoas que tenham lançado suas assinaturas nos mesmos. Assim quanto mais circule, recebendo assinaturas, tanto mais segurança terá o portador de que, no momento aprazado, poderá reembolsar-se da importância mencionada no documento, facultando-lhe a lei em
63 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 1998. p. 3 64 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito letra de câmbio e nota promissória segundo a lei
uniforme. 2000. p. 9
33
recebê-la não apenas do obrigado principal, mas, na falta desse, de qualquer dos que lançaram as suas assinaturas no título[...].
Sobre a relação dos coobrigados num título de crédito,
explica Roque65:
Quando num título houver diversos coobrigados, vários avalistas e endossantes, todos poderão ser cobrados, não podendo um alegar que só pagará se os outros pagarem. Por isso, as obrigações cambiárias são também solidárias.
Então, o possuidor de uma obrigação cambial, tem como
principal dever o cumprimento da mesma, e no caso de existir no título outros
coobrigados, estarão estes por sua vez, também responsáveis pelo cumprimento
da obrigação assumida.
2.3.3 Abstração
A abstração, para Martins66 significa que “os direitos
decorrentes do título são abstratos, não dependentes do negócio que deu lugar
ao nascimento do título. [...] Uma vez o título emitido, este se liberta de sua
causa”.
Esta característica não está interligada a todos os títulos de
crédito, sendo possível visualizá-la na Letra de Cambio e na Nota Promissória,
sendo este atributo relacionado com a causa que deu origem a câmbio, que por
sua vez nestes títulos sua eficácia é produzida independentemente da causa, do
negócio jurídico que lhe deu origem.
A esta característica pode-se destacar o entendimento de
Almeida67:
65 ROQUE. Sebastião José. Títulos de crédito. 1997. p. 42 66 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito letra de câmbio e nota promissória segundo a lei
uniforme. 2000. p.10 67 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 1998 p. 3
34
O sistema jurídico exige que todo ato de atribuição patrimonial (tanto de natureza real como obrigacional) seja justificado por uma causa, por uma razão objetiva lícita credenti, solvendi, domandi, prelaciona Túlio Ascarelli. Todavia, há títulos que adquirem eficácia cambiária independente da cuasa debendi, numa completa abstração ao negócio que lhe deu origem. A obrigação cambiária não é, certamente, uma obrigação sem causa, mas é uma obrigação cuja causa é a letra, e sobre a causa letra nenhuma influência direta pode exercer, afirma Mhitiaker.
Acerca desta peculiaridade, pode-se destacar que o titulo
desvincula-se de sua obrigação original quando passa a circular, entretanto não
significa dizer que este não tenha causa, mas sim que seguirá livremente desta
que o originou.
2.3.4 Cartularidade
Esta característica esta diretamente ligada à existência do
título, visto que o exercício legal do direito de cobrança somente poderá acontecer
em virtude da sua materialidade.
Destaca-se a definição trazida por Almeida68, o qual ressalta
“[...] que em razão da cartularidade, título e direito se confundem, tornando
imprescindível o documento para o exercício do direito que nele se contém”.
Assim, o título de crédito possui esta característica, pois é
representado em forma de uma cártula, ou seja, um documento escrito, no qual
constam os direitos inerentes, formalizando o título de crédito.
2.4 FORMAS DE CIRCULAÇÃO
A característica marcante nos títulos de crédito, que os deixa
valorizados é a circulação, conforme Martins69. Naturalmente, não seria o crédito
68 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 1998. p 4 69MARTINS, Fran. Títulos de Crédito letra de câmbio e nota promissória segundo a lei
uniforme. 2000. p.10
35
mobilizado se o título não pudesse passar de mão, em mão, antes de se efetivar a
obrigação que nele contém.
2.4.1 Títulos nominativos
A circulação dos títulos nominativos acontece com a
realização de um termo cessão ou transferência, sempre constando em seu corpo
o nome do beneficiário da prestação a ser realizada, de forma que só poderão ser
pagos ao titular nominado.
Para Almeida70 “[...] são títulos nominativos aqueles que
trazem no seu bojo o nome do seu titular ou beneficiário, também chamado
tomador, designando-o expressamente”.
Assim pode ser chamado de título nominativo aquele que
possuir a indicação do beneficiário, de forma que sua circulação ensejará na
necessidade da existência de um termo de cessão ou de transferência.
2.4.2 Títulos à ordem
Os títulos que contém a cláusula à ordem têm sua circulação
facultada a transferência a terceiros, por via de endosso, trazendo eles os nomes
dos beneficiários, de forma que esse direito poderá ser transferido a terceiros.
Sobre a importância da cláusula à ordem Martins71
esclarece:
O aparecimento da cláusula à ordem foi, talvez, o fato mais importante ocorrido na evolução dos títulos de crédito porque possibilitou a circulação dos direitos incorporados nos mesmos. E para tornar mais fácil a utilização dessa cláusula, surgiu o endosso, consiste na simples assinatura do beneficiário, a
70 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 1998. p. 9 71MARTINS, Fran. Títulos de Crédito letra de câmbio e nota promissória segundo a lei
uniforme. 2000. p.15
36
principio apenas no verso do título e hoje admitido, em certos casos, no verso ou no anverso do mesmo.
Assim, a utilização da cláusula à ordem surgiu para facilitar a
transferência de um título de crédito, fazendo-a, então, através do endosso.
2.4.3 Títulos ao portador
Os títulos ao portador têm por característica principal a não
identificação da pessoa do beneficiário, desta forma o possuidor deste na data do
vencimento será respeitado como o beneficiário do pagamento.
Sobre estes tipos de títulos são explica Requião72: “ [...] os
títulos emitidos ao portador não revelam o nome da pessoa beneficiada. Têm
inserida a cláusula ‘ao portador’ ou mantém em branco o nome do beneficiário ou
tomador, que é o titular do crédito.”
Logo, são títulos ao portador aqueles em que o nome do
beneficiário da prestação não aparece expressamente mencionado nos títulos de
crédito, sendo transferíveis por simples tradição manual, assim como se dá com
os bens móveis.
2.4.4 Títulos não à ordem
A principal característica dos títulos de crédito, não à ordem,
consiste na circulação, ou seja, a facilidade que estes possuem em serem
transmitidos, no entanto, o lançamento desta cláusula de não à ordem, quando
devidamente lançada em um título pode, aparentemente, retirar sua livre
circulação, uma vez que após inserida a cláusula de não a ordem, o título
somente poderá circular através de uma cessão.
72 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial . 25 ed. Saraiva. São Paulo, 2003. v 2. p. 369
37
Sobre o lançamento da cláusula não à ordem, versa
Martins73: “Entretanto, o título não à ordem também pode circular; apenas essa
circulação se faz através de uma cessão, que requer um termo de transferência,
assinado pelo cedente e pelo cessionário”.
Logo, a fato do título possuir a cláusula não à ordem, não
impedirá sua circulação, no entanto para que esta ocorra é necessário à
realização de uma cessão de direitos.
2.5 AVAL
O aval é uma obrigação assumida, na qual o avalista se
compromete na realização do pagamento, em todo ou em parte, caso este não
seja realizado pelo devedor principal.
Entende Marins74:
A pessoa que dá tal garantia tem o nome de avalista, aquela a quem ele se equipara, e por intermédio da qual é assumida a obrigação de pagar o título denomina-se avalizado. Para assumir tal obrigação o avalista necessita ser capaz, como, aliás, deve acontecer com todos quantos se obriguem cambialmente.
Neste sentido escreve Requião75:
O aval é a garantia de pagamento da letra de câmbio, dada por um terceiro ou mesmo por um de seus signatários. Percerou e Bouteron explicam o aval como uma garantia pessoal do pagamento da letra de que acresce como o aceite, mais um devedor ao título.
73 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito letra de câmbio e nota promissória segundo a lei
uniforme. 2000. p.16 74 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito letra de câmbio e nota promissória segundo a lei
uniforme.p. 2000. p. 153 75 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 2003. p. 420
38
Para que o avalista vincule-se na obrigação cambial basta a
sua assinatura no próprio título ou em documento em anexo, de forma que sua
responsabilidade será subsidiária, sendo esta garantia exclusiva dos títulos de
crédito.
Ressalta-se ainda, a importância de observar o estado de
civil do avalista, uma vez que, sendo este casado, somente terá validade o título
que foi avalizado com a devida outorga do cônjuge. Assim verifica-se o inciso III
do artigo 1647 do CC:
Art. 1647. Ressalvado o disposto no art. 1648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime de separação absoluta:
I - (...)
II - (...)
III – prestar fiança ou aval;
Desta maneira, para que o aval produza resultado, não se
deve esquecer que os títulos que sejam avalizados por uma pessoa casada, da
obrigatoriedade, conforme o artigo acima, da outorga marital.
2.6 O ACEITE
Sobre o aceite disciplina Martins que é “[...] um ato que só
pode ser praticado pelo sacado; contendo a letra uma ordem de pagamento cabe
aquele a quem é dada à ordem declarar se está disposto a cumpri-la ou não”.
O aceite é assinatura do sacado na letra, a qual por sua vez
representa o reconhecimento da validade da ordem, desta forma o sacado torna-
39
se aceitante, estando vinculado ao título. Então o “sacado se obriga a pagar a
letra à data do vencimento, honrando o aceite e sua assinatura76”.
Assim sendo, considera-se aceita o título no momento em
que ocorre a assinatura do título pelo sacado, pois somente a partir deste ato é
que se considera que o mesmo aceitou a ordem.
2.7 O PROTESTO
O protesto é a forma de apresentação do título para que seja
realizado o pagamento, sendo que a principal característica do protesto consiste
pela publicidade do ato, de forma que não sendo o pagamento realizado na data
correta, o título deverá ser levado a protesto no primeiro dia útil em que suceder o
do vencimento.
A Lei nº 9.492/97 define no artigo 1º:
“Art. 1º. Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova
a inadimplência e do descumprimento de obrigação originada em títulos e outros
documentos de dívida".
Requião77, explica o protesto como:
O protesto constitui, portanto, elemento fundamental para o exercício do direito de regresso. Sem ele, dado o formalismo do direito cambiário, não é possível o detentor exercer seu direito contra os obrigados regressivos. Dele decai o credor, de nada lhe valendo a alegação de que apresentou o título por outros meios.
E ainda cabe ressaltar o entendimento trazido por Venosa78:
76 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 2003. p. 435 77 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 2003. p. 436 78VENOSA, Silvio de Salvo. O protesto de documentos de dívida. Disponível em:
www.societario.com.br/demarest/svprotesto.html Acessado em: 11 jan. 2006.
40
Em matéria cambial, o protesto é prova oficial e insubstituível da falta ou recusa, quer do aceite, quer do pagamento, sendo de suma importância para o portador do título e para os seus coobrigados de regresso. Sem o protesto, o portador de um título perderá os direitos contra os devedores de regresso e, no tocante a esses coobrigados, a lei assegura a cada um deles, mediante o protesto, o meio simples e seguro de exercer seu próprio direito de regresso contra os coobrigados a eles anteriores. Segundo a doutrina tradicional, o protesto é um ato formal, com finalidade essencialmente probatória, uma vez que evidencia que o devedor não cumpriu a obrigação constante do título. Trata-se de ato jurídico em sentido estrito. O efeito probante do ato decorre exclusivamente da lei.
Então o protesto consiste num ato formal, com o objetivo de
comprovar a falta de pagamento, através de um meio público, uma vez que este
ato somente poderá ser realizado por um Tabelião.
2.8 A PRESCRIÇÃO
Inicialmente deve-se ressaltar a definição adotada por Clóvis
Beviláqua, devidamente citado por Requião79: “é a perda da ação atribuída a um
direito, de toda a capacidade defensiva, em conseqüência de não uso delas,
durante um determinado espaço de tempo”.
A prescrição constitui-se como um limite de tempo para que
seja efetuada a cobrança de um título, de forma que tão direito não veja a
perdurar sobre o tempo, ou seja, “a prescrição exprime o modo pelo qual o direito
se extingue, em vista do interessado não o exercer, por certo lapso de tempo80”.
Assim sendo, a prescrição constitui-se como a perda do
prazo, juridicamente estabelecido, para que determinado direito seja buscado.
79 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial .2003. p. 460 80Disponível em http://www.consumidorbrasil.com.br/consumidorbrasil/textos/ebomsaber/prescri
cao /direitobrasil.htm - Acessado em: 13 jan. 2006
41
2.9 CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO QUANTO AOS DIREITOS
QUE INCORPORAM
Quanto aos direitos que contem, os títulos de crédito podem
ser classificados em: títulos de crédito próprios, impróprios, de legitimação e de
participação, tomando por base a classificação trazida por Martins81.
2.9.1 Títulos de crédito próprios
Os títulos são chamados de próprios, haja vista que os
mesmos, executam a verdadeira operação de crédito, uma vez que partem da
confiança, tornando-os de grande circulação, concretizando-se com muita ou
pouca facilidade, de forma que as pessoas que os possuírem e transferirem
tornam-se vinculados à realização do pagamento, conforme a obrigação inicial
assumida. Desta forma82 são esses os genuínos e mais puros títulos de crédito
[..].Exemplos de títulos de créditos próprios são a letra de câmbio e a nota
promissória.
2.9.2 Títulos de crédito impróprios
Títulos de crédito impróprios são aqueles que se configuram
por não apresentarem todos os requisitos de uma operação de crédito completa.
Possuindo uma peculiaridade na forma de circulação, como garantias que
caracterizam esses títulos.
Exemplifica Martins83:
81 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito letra de câmbio e nota promissória segundo a lei
uniforme. 2000. p.19 82 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito letra de câmbio e nota promissória segundo a lei
uniforme. 2000. p.19 83 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito letra de câmbio e nota promissória segundo a lei
uniforme. 2000. p.19
42
É o caso, por exemplo, do cheque, ordem de pagamento à vista, em favor do subscritor ou de outra pessoa, que, por ter requisitos dos títulos de crédito propriamente ditos, circula como esses e tem garantias semelhantes ou bastante aproximadas dos títulos de créditos próprios. No entanto, só serão legitimamente emitidos cheques quando os emitentes possuírem provisão.
2.9.3 Títulos de crédito de legitimação
Os títulos de crédito por legitimação diferenciam-se dos
demais por não possuírem como direito à garantia do crédito, contudo o direito
neste inerente é de receber determinada prestação de um serviço, como por
exemplo, no caso de bilhetes de espetáculo, de passagem, a partir do qual o
possuidor destes bilhetes pode exigir que lhe seja devidamente prestado o serviço
que foi adquirido.
Os títulos de legitimação conferem ao portador o direito de
receber uma prestação de coisas ou de serviços, são também documentos
probatórios de sua causa, assim os define Requiao84.
Desta forma o possuidor de um título de crédito por
legitimação possui com este a possibilidade de receber uma prestação de serviço.
2.9.4 Títulos de crédito de participação
Constituem-se os títulos de participação como determinada
forma de possuir ações das sociedades anônimas, de forma que para os
possuidores de tais documentos sejam garantidos os direitos de participação
nessas sociedades, sendo estes títulos passíveis de negociação nas Bolsas de
Valores.
Sobre estes títulos explica Martins85:
84 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 2003. p. 75
43
Por último, constituem uma categoria especial dos títulos de crédito aqueles papéis que dão ao portador um direito de participação. É o caso, por exemplo, das ações das sociedades anônimas. O portador de um desses papéis tem o direito assegurado de participar dos interesses sociais, não só na fiscalização como nos resultados financeiros obtidos pelas sociedades. Revestindo-se, em regra, de forma especial, esses documentos tomam a natureza de títulos de crédito, podendo, inclusive, circular mediante endosso ou simples tradição.
Assim o título de crédito de participação confere ao seu
portador o direito de participação a que neles estiver inserido, possuindo ainda o
direito de participação nos lucros.
2.10 AS PRINCIPAIS ESPÉCIES DE TÍTULOS DE CRÉDITO
Analisar-se-ão os principais títulos de crédito, de acordo com
o disposto no artigo 585, I, do Código de Processo Civil, que se constituem como
títulos executivos extrajudiciais.
“Art. 585. São títulos executivos extrajudiciais:
I – a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a
debênture e o cheque”.
2.10.1 Letra de câmbio
A letra de câmbio é título de crédito que poderá ser
constituída por qualquer motivo, devendo tão logo observar os requisitos legais
para o seu preenchimento. A mesma tem sua existência à partir de uma tríplice
relação, caracterizada com uma ordem de pagamento que poderá ser à vista ou a
85 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito letra de câmbio e nota promissória segundo a lei
uniforme. 2000. p. 20
44
prazo, pelo sacador ao sacado, para que este segundo por sua vez realize o
pagamento a outro terceiro, então chamado de tomador.
Segundo Rosa Junior86 este título de crédito pode ser
conceituado como:
A letra de câmbio é título de crédito abstrato, correspondendo a documento formal, decorrentes de relação ou relações de crédito, entre duas ou mais pessoas, pela qual a designada sacador dá ordem de pagamento, pura e simples, a seu favor ou de terceira pessoa (tomador ou beneficiário), no valor e nas condições dela constantes.
Na lição de Requião87 a letra de cambio é:
[...] uma ordem de pagamento, à vista ou prazo. Sendo uma
ordem de pagamento que alguém dirige a outrem para pagar a terceiro, importa
numa relação entre pessoas que ocupam três posições no título: a de sacado, a
de sacador e a de beneficiário da ordem.
2.10.1.1 Requisitos necessários para a formação da letra de câmbio
Para a existência da letra de câmbio é necessário que
estejam presentes inicialmente, os requisitos intrínsecos, ou seja, os
indispensáveis à realização de todos os negócios jurídicos, conforme a Lei Civil
vigente, os quais se relacionam com a capacidade do agente, a forma e o objeto.
Porém existem outros requisitos que são específicos da letra de cambio, são
estes chamados de extrínsecos, assim considerados pela LUG como essenciais
para a validade do título, assim destaca-se a denominação de letra de câmbio e
ordem incondicional de pagamento de quantia determinada.
a- Denominação de letra de câmbio: o documento deve conter a
denominação correta de letra de câmbio, como forma de distinguí-lo
86 ROSA JUNIOR. Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 2004. p. 110 87 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 2003. p 387
45
dos demais títulos de crédito, devendo constar esta denominação,
conforme o artigo 1º, nº 1 da LUG, na língua em que foi empregada
para a redação do título, ou seja, na língua em foi que concedida a
ordem de pagamento.
Assim esclarece Almeida88, sobre este requisito: “A
denominação letra de câmbio atesta a rigor da cambial, distinguindo-se dos
demais títulos de crédito, caracterizando-se plenamente”.
b- Ordem incondicional de pagamento de quantia determinada: o
presente dispositivo determina que na letra de cambio deverá
constar corretamente o valor a ser pago, não podendo ser este
sujeito a certas condições, de forma que a obrigação assumida seja
desde o seu nascimento certa e determinada, sobre este requisito
escreve Rosa Junior89:
A ordem de pagamento contida na letra de câmbio deve ter por objeto quantia determinada, entende-se como tal, aquela que corresponde a uma determinada quantidade de dinheiro, não podendo, portanto, o devedor cambiário obrigar-se a efetuar o pagamento em bens, porque não são dinheiro, ainda que possuam valor econômico e nele possam ser transformados.
c- Nome do sacado: considera-se também como pressuposto que na
letra de câmbio esteja escrito o nome do sacado, o qual após a
aceitação da do título deverá realizar o pagamento na data do
vencimento, podendo ser este pessoa jurídica ou física. Não
havendo a denominação do sacado perde a letra de câmbio seu
eficácia.
d- O nome do tomador ou a ordem a quem a letra deve ser paga: o
nome do tomador, também chamado de beneficiário ou credor
deverá constar no título.
88ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 1998. p. 21 89 ROSA JUNIOR. Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 2004. p.123
46
e- Data do saque: Conforme a Lei Uniforme de Genebra, deverá
constar corretamente a data na letra de câmbio, não sendo
obrigatório ter o vencimento à vista. Devendo este título ser
apresentado na data em que foi estabelecida, desta forma o
portador de uma letra pagável em dia fixo ou a certo termo da data
ou de vista deve apresentá-la a pagamento no dia em ela é pagável
ou num dos dois dias úteis90.
f- Assinatura do sacador: qualquer pessoa física ou jurídica poderá
lançar sua assinatura na letra de câmbio, no entanto quando se
tratar de pessoa jurídica deverá esta conferir com a pessoa
responsável, a qual recebeu esta atribuição.
2.10.1.2 Prescrição da letra de câmbio
As ações referentes à letra de câmbio prescrevem em91:
a- três anos ações contra o aceitante (sacado) e o avalista;
b- um ano ações do portador contra os endossantes e sacador;
c- seis meses ações dos endossantes, uns contra os outros.
2.10.2 Nota promissória
A nota promissória é um título de crédito o qual caracteriza-
se como uma promessa de pagamento de certo valor em dinheiro, a ser realizada
em determinado dia e lugar.
Sobre este título de crédito, explica Martins:
90 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 1998. p. 23 91 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 1998. p. 57
47
Entende-se por nota promissória a promessa de pagamento de certa soma em dinheiro, feita, por escrito, por uma pessoa, em favor de outra ou à sua ordem. Aquele que promete pagar, emitindo o escrito, tem o nome de sacador, emitente ou segundo a Lei Uniforme, subscritor; a pessoa em favor de quem a promessa é feita denomina-se beneficiário ou tomador92.
Sobre a relação existente nesta relação jurídica, pode-se
citar: uma o emitente, que subscreve e faz a promessa de pagamento, e a outra,
o beneficiário, em favor de que, é feita a mencionada promessa93.
Desta forma, a nota promissória, portanto, é uma promessa
direta e unilateral de pagamento, à vista ou a prazo, sendo que com este título o
emitente se obriga diretamente.
2.10.2.1 Requisitos necessários para a formação da nota promissória
A Lei Uniforme apresenta, em seu artigo 75, os requisitos
essenciais necessários à plena validade de uma nota promissória. São eles:
a- a denominação nota promissória: deverá estar inserido no
próprio texto do título e expresso em idioma em que está
redigido.94
b- Promessa incondicionada de pagar quantia determinada:
a nota promissória tem natureza jurídica de promessa de
pagamento, e por isso, tal promessa é considerada
requisito essencial. [...], não podendo estar sujeita a
qualquer condição [...]95.
92 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito letra de câmbio e nota promissória segundo a lei
uniforme. 2000. p.279 93 ROSA JUNIOR. Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 2004. p.488 94 ROQUE. Sebastião José. Títulos de crédito. 1997. p 60 95 ROSA JUNIOR. Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 2004. p.491
48
c- Nome do beneficiário: na nota promissória deverá constar
o nome da pessoa a quem deverá ser pago o respectivo
valor, não sendo possível nota promissória sem
favorecido, pois seria promessa de pagar a ninguém.
d- data de emissão: é indispensável que no título contenha a
data completa de sua emissão, com dia, mês e ano, uma
vez que através desta poderão ser solucionadas inúmeras
questões como por exemplo,citadas por Rosa Junior96:
“[...] a capacidade do devedor, a veracidade do mandato,
o vencimento quando for por tempo certo de data, dentre
outras”.
e- a assinatura do emitente: esta assinatura deverá ser de próprio punho, admitindo-se, entretanto, sua substituição pela de mandatário com poderes especiais.97
f- local e data do pagamento: o emitente deverá fazer
constar na nota promissória, o local e data, pois o local da
assinatura será considerado o local do pagamento, e a
data servirá para a contagem do prazo para o pagamento
quando se tratar de título com vencimento a certo termo e
data98.
g- assinatura do emitente: deverá obrigatoriamente a
assinatura a próprio punho do emitente, porém no caso de
analfabeto este deverá constituir mandatário especial para
que seja devidamente cumprido os requisitos deste título
de crédito. Assim ensina Roque99: “Poderá o emitente
assiná-la por intermédio de procurador, desde que a
96 ROSA JUNIOR. Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 2004. p.491 97 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito letra de câmbio e nota promissória segundo a lei
uniforme. 2000. p.281 98 ROQUE. Sebastião José. Títulos de crédito. 1997. p 62 99 ROQUE. Sebastião José. Títulos de crédito.1997. p 62
49
procuração seja feita por instrumento público e com
poderes especiais claramente definidos [...]”.
2.10.2.2 Prescrição da nota promissória
Os prazos prescricionais da nota promissória são 100:
a) três anos a ação do portador contra o emitente e o respectivo avalista;
b) um ano a ação do portador contra os endossantes;
c) seis meses a ação dos endossantes uns contra os outros.
2.10.3 Duplicata
A duplicata é um título de crédito criado com o objetivo
principal de facilitar a compra de mercadorias, de forma que o vendedor possui
uma forma de documentar a dívida do seu cliente, na busca pelo cumprimento da
obrigação assumida. Desta forma após a realização da compra, ocorre a emissão
da fatura, com a qual o vendedor poderá sacar a duplicata relativa ao ato.
Pode-se adotar como definição para a duplicata a trazida por
Roque101:
[...] podemos definir a duplicata como sendo um título de crédito, pelo qual uma pessoa chamada sacador, dá uma ordem à outra pessoa, chamada sacado, para que este pague ao próprio sacador um determinado valor em dinheiro,num determinado dia e num determinado lugar.
100 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 1998. p 68 101 ROQUE. Sebastião José. Títulos de crédito.1997. p 151
50
2.10.3.1 Requisitos necessários para a formação da duplicata102:
a- denominação, a data de sua emissão e o número de
ordem;
b- o número da fatura;
c- a data do vencimento, ou declaração de ser a duplicata
à visa;
d- o nome e o domicílio do devedor e do comprador;
e- a importância a pagar;
f- a praça de pagamento;
g- a cláusula de ordem;
h- a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da
obrigação de pagá-la, a ser assinada pelo comprador,
como aceite cambial;
i- a assinatura do emitente.
2.10.3.2 Prescrição da duplicata
A ação de cobrança da duplicata prescreve103:
a- em três anos, contra o sacado e respectivo avalista;
b- em um ano, contra endossante e seus avalistas;
c- em um ano, de qualquer dos coobrigados contra os demais.
102 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 2000. p 549 103 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 1998. p 195
51
2.10.4 Debênture
As sociedades anônimas podem emitir títulos de créditos,
que por sua vez quando emitidos por estas são denominados debêntures,
tornando os possuidores destes títulos como credores da sociedade que o emitiu,
sendo pagos conforme o valor dos mesmos, desta forma, a debênture é um título
que confere ao seu titular um direito de crédito contra a companhia.104
Assim conceitua Almeida105:
As debêntures, também denominadas obrigações, são títulos de crédito emitidos pelas sociedades anônimas, em decorrência de empréstimos por elas obtidos junto ao público.
Os titulares de tais debêntures são, portanto, credores das sociedades anônimas emissoras. Como adverte Eunápio Borges não participam, como acionistas, dos lucros sob a forma de dividendo (e bonificações) distribuídos pela sociedade, tendo apenas o direito de receber os juros fixos pactuados e reembolsar-se pela forma e nas épocas determinadas, do valor de suas debêntures.
2.10.4.1 Principais Características da debênture
a- emissão: devem ser emitidas com prévia deliberação
da assembléia geral;
b- privilégio do crédito: desde que inscrito o contrato de
emissão das debêntures, no Registro de Imóveis da sede
da sociedade emissora, gozam as obrigações em apreço
de privilégio, tendo por garantia todo o ativo da
devedora106.
104 ROSA JUNIOR. Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 2004. p 77 105 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 1998. p 243 106 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 1998. p 245
52
2.10.5 Cheque
O cheque é um título de crédito no encontra-se uma ordem
de pagamento à vista, podendo esta ordem ser em favor de quem o recebeu ou
de um terceiro, para quem o cheque poderá ser repassado.
Busca-se o conceito de cheque apresentado por Martins107:
Entende-se por cheque uma ordem de pagamento, à vista, dada a um banco ou instituição assemelhada, por alguém que tem fundos disponíveis no mesmo, em favor próprio ou de terceiro.
Segundo Coelho108:
O cheque é uma ordem de pagamento à vista, sacada contra um banco e com base em suficiente provisão de fundos depositados pelo sacador em mãos do sacado ou decorrente de abertura de crédito entre ambos.
Neste contexto, observa-se a participação de três figuras na
transmissão deste título de crédito, que são:
A pessoa que emite o cheque é chamada de sacador ou emitente; o banco ou instituição assemelhada a que a ordem é dada tem o nome de sacado; e a pessoa em favor de quem é dada a ordem é o tomador ou beneficiário, às vezes denominado simplesmente portador109.
Logo, o cheque é um dos títulos de crédito, que caracteriza-
se como uma ordem de pagamento à vista, concedida pelo emitente ao
beneficiário, para que assim a realize junto ao sacado, ou seja, o banco.
107 MARTINS, Fran. Títulos de créditos cheques, duplicatas, títulos de financiamento, títulos
representativos e legislação. 13 ed. São Paulo: Forense, 2000. v 2. p.3 108 COELHO. Fabio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 2002. p. 268 109 ALDROVANDI, Andrea. Cheque pós-datado . Jus Navigandi, Teresina, a. 7, n. 65, mai. 2003.
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4048>. Acesso em: 28 fev. 2006.
53
2.10.5.1 Requisitos necessários para a emissão do cheque110
Os requisitos necessários para a emissão do cheque
encontram-se regulados pela Lei 7.357/85, em seu artigo 1º:
a- denominação cheque inscrita no contexto do título e
expressa na língua em que este é redigido;
b- a ordem incondicional de pagar quantia determinada;
c- o nome do banco ou da instituição financeira que deve
pagar (sacado);
d- a indicação do lugar do pagamento;
e- a indicação da data e do lugar do pagamento;
f- a assinatura do emitente (sacador),ou de seu
mandatário com poderes especiais.
2.10.5.2 Prescrição do cheque
Os prazos prescricionais para o cheque são111:
a- seis meses contados do termos do prazo de apresentação: para todas as ações do portador contra os endossantes, contra o sacador ou contra os demais coobrigados;
b- seis meses contados do dia em que ele próprio foi acionado: para todas de um dos coobrigados no pagamento de um cheque contra os demais.
Assim, os títulos de crédito nasceram da busca pela
facilitação de circulação financeira, à partir do qual estão disponíveis inúmeros
títulos de créditos, no entanto, no presente capítulo, objetivou estudar apenas os
títulos de créditos que caracterizam-se como títulos executivos extrajudiciais.
110 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 1998. p 97 111 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 1998. p 133
54
CAPÍTULO 3
DO CHEQUE
3.1 CONCEITO
O cheque constitui-se com uma ordem de pagamento à
vista, realizada pelo emitente do mesmo a um terceiro, para que este retire junto
ao banco a importância estabelecida, seu conceito é amplamente consolidado
dentre os autores dentre os quais pode-se destacar:
Martins112 conceitua como: "uma ordem de pagamento, à
vista, dada a um banco ou instituição assemelhada, por alguém que tem fundos
disponíveis no mesmo, em favor próprio ou de terceiro”.
Pelo conceito Almeida113: "O cheque é o título revestido de
determinadas formalidades legais contendo uma ordem de pagamento à vista,
passada em favor próprio ou de terceiro".
Neste mesmo sentido Coelho conceitua: "O cheque é uma
ordem de pagamento à vista, emitida contra um banco, em razão de provisão que
o emitente possui junto ao sacado, proveniente essa de contrato de depósito
bancário ou de abertura de crédito".
Assim sendo, a ordem de pagamento realizada através de
um cheque, é conseqüência da abertura de uma conta corrente junto a uma
instituição financeira, de forma a mesma fornecera o título pretendido para que
este seja tão logo utilizado, desde que com a devida provisão de fundos.
112 MARTINS, Fran. Títulos de créditos cheques, duplicatas, títulos de financiamento, títulos
representativos e legislação. 2000. p. 3 113 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 1998. p 95
55
3.2 HISTÓRICO
Inúmeras são as discussões dos autores no que tange a
origem do cheque, sendo defendido por alguns historiadores que o mesmo tenha
suas origens na antiguidade, certos de que já no Egito, na Grécia ou em Roma
eram concedidas ordens de pagamentos a terceiros. No entanto a corrente mais
aceita defende que o cheque tenha por sua vez, surgido na Idade Media em
decorrência do aparecimento dos bancos de depósito, sendo plenamente
difundido na Inglaterra, por conseqüência das práticas bancárias adotadas neste
país.
Segundo de Martins114:
A partir da segunda metade da Idade Média, ordens de pagamento contra bancos, com algumas características dos cheques atuais, entre as quais o fato de poderem as mesmas circularem e de haver a responsabilidade dos que nelas lançavam suas assinaturas, foram usuais em vários países da Europa. Esses documentos eram outros , chamados polizze notata fede, na Itália, e bills of sacario, na Inglaterra.
Foi porém neste último país que, realmente, o uso do cheque se aprimorou, tomando o contorno do título que hoje se apresenta. [...] Mas, com o correr do tempo, tais ordens de pagamento foram tomando outra forma e o seu uso se expandindo. [...] e sua maior expansão verificou-se com as Goldsmith notes, emitidas, no século XVII, por banqueiros, autorizando a emissão, por parte de sues clientes de títulos nominativos ou à ordem, que seriam pagos no ato da apresentação.
No Brasil, a utilização do cheque iniciou-se no final do século
XIX, o qual foi regulado somente em 07 de agosto de 1912, com o Decreto-Lei nº
2.591, posteriormente em 1971, nosso país adotou com reservas a Lei Uniforme
de Genebra, no entanto atualmente o cheque é regulado pela Lei nº 7.357/85,
114 MARTINS, Fran. Títulos de créditos cheques, duplicatas, títulos de financiamento, títulos
representativos e legislação. 2000. p. 5
56
sendo esta um resumo dos princípios contidos na Lei Uniforme, buscando
solucionar as questões atuais pertinentes ao cheque.
3.3 FIGURAS INTERVENIENTES:
São três as figuras intervenientes nas negociações em que o
cheque é utilizado: o emitente, o sacado e o beneficiário.
O emitente pode também ser chamado de sacador ou
passador, é quem definitivamente dá a ordem do cheque, ou seja, o emite,
podendo este figurar como pessoa física ou jurídica. “Basta a sua assinatura para
que o cheque crie vida e se complete, independentemente da manifestação do
banco sacado”.115
O sacado é àquele a quem a ordem é dada, sendo que este
será sempre um banco ou instituição assemelhada, segundo o inciso III do artigo
1º, da Lei do cheque, conforme contrato já estabelecido entre sacador e sacado.
Assim entende Roque116:
O sacador deverá manter anteriormente com o sacado combinação para adquirir o direito ao saque de cheque. Quase sempre esse acerto consta de um contrato de C/C bancária ou contrato de depósito de dinheiro em C/C bancária, tanto que o talão de cheques é fornecido pelo próprio banco sacado.
O beneficiário ou também chamado de tomador é a pessoa
física ou jurídica, que porta o título, ou seja, a favor de quem é concedida a ordem
de pagamento.
115 ROQUE, Sebastião José. Títulos de crédito. 1997. p 126 116 ROQUE, Sebastião José. Títulos de crédito. 1997. p 126
57
3.4 ENDOSSO
Chama-se de endosso a forma de transmissão do cheque,
uma vez que o cheque tem como característica a facilidade de sua circulação,
assim o endossante transfere, os direitos contidos no título, ao endossatário, é
uma faculdade que na cártula contenha ou não a clausula a ordem.
O cheque que não contem a cláusula á ordem é aquele em
cuja cártula não há a especificação do beneficiário, “assim cheque ao portador é
que não indica o beneficiário”.117
Prevê a LC em seu artigo 8º:
Art. 8º. Pode-se estipular no cheque que seu pagamento seja feito:
I - a pessoa nomeada, com ou sem a cláusula expressa “à ordem”;
II – a pessoa nomeada, com a cláusula “não a ordem”, ou outra equivalente;
III – ao portador.
Parágrafo único. Vale como cheque ao portado que não contém indicação do beneficiário e o emitido em favor de pessoa nomeada com a cláusula “ou ao portador”, ou expressão equivalente.
Então, o cheque que contiver ou não a cláusula à ordem é
transmitido por endosso, conforme o artigo 17 da LC, no entanto se o cheque
contiver a cláusula não à ordem, sua transmissão poderá ser realizada somente
através de uma cessão civil, conforme o parágrafo 1º do artigo 17 da LC, sendo
vetado neste caso o endosso.
Sobre o tema leciona Martins118:
117 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. p 109
58
O cheque emitido com a cláusula não a ordem pode, assim, circular, mas essa não será a circulação normal dos títulos de crédito, que se faz de modo bastante simplificado, mediante endosso. Mas convém esclarecer que, contendo um cheque a cláusula não a ordem, não significa essa cláusula que só a pessoa designada como beneficiário poderá receber. Esse pode ser transmitido pela forma e com os efeitos de cessão ordinária [...].
Logo, denomina-se de endosso a forma de transmissão de
um título de crédito, de forma que o endosso pode-se também se realizar no
cheque, facilitando assim sua circulação.
3.5 AVAL
O aval caracteriza-se como uma garantia, a ser lançada no
título no todo ou em parte, sendo necessário neste último caso que o avalista
declare a importância que está sendo avalizada, conforme o artigo 29 da LC.
Sobre o aval conceitua Martins119:
O aval representa uma garantia suplementar do título, já que este, em princípio, conta sempre com a garantia do pagamento por parte do sacador (Lei do Cheque, art. 15) e dos endossantes, a não ser que estes, transmitindo o cheque, expressamente se isentem da responsabilidade do pagamento (art. 21). Sendo, contudo, algum dos obrigados no cheque avalizado, o portador possui a garantia extra dada pelo avalista, o que significa maior segurança quanto ao recebimento da importância mencionada no título.
De acordo com Roque120 teoricamente até parece uma
atitude desnecessária o aval em um título de crédito como o cheque, que é uma
ordem de pagamento à vista, no entanto entende-se esta possibilidade em 118 MARTINS, Fran. Títulos de créditos cheques, duplicatas, títulos de financiamento, títulos
representativos e legislação. 2000. p. 48 119 MARTINS, Fran. Títulos de créditos cheques, duplicatas, títulos de financiamento, títulos
representativos e legislação. 2000. p. 69 120 ROQUE, Sebastião José. Títulos de crédito. 1997. p. 132
59
determinadas situações como, por exemplo: dois amigos entram num restaurante
e um deles paga a conta com cheque; o restaurante reluta em aceitar por não
conhecer o emitente; o amigo acompanhante avaliza o cheque, garantindo seu
pagamento.
O aval no cheque deve ser colocado diretamente no cheque
ou ainda em folha de alongamento, sendo vedado neste caso o lançamento em
documento separado, ainda que este documento circule junto ao cheque,
devendo, então, de acordo com o artigo 30, quando o aval for dado no verso
conter a expressão “por aval”, e quando for no anverso bastará a assinatura do
avalista, salvo quando se tratar a assinatura do emitente.
Assim, aquele que assina como avalista, assume as
mesmas obrigações do avalizado, podendo ser o avalista garantidor de todo o
valor ou apenas de parte dele. Não podendo neste caso ser ignorada, como já
estudando no capitulo anterior, a anuência do cônjuge, quando o avalista for
casado.
3.6 PROTESTO
O protesto é um dos meios de comprovar a inadimplência do
devedor principal e conseqüentemente garantir a responsabilidade dos
coobrigados. Então, “o não pagamento do cheque deve, antes de mais nada, ser
comprovado pelo protesto”121.
Esta forma de demonstrar a mora do devedor ocorre de
forma extrajudicial, formal e não interrompe a prescrição. Faz-se perante oficial
público, na forma prevista no art. 48, §§ e alíneas da conforme o § 1º do artigo 48
da LC.
121 ROQUE, Sebastião José. Títulos de crédito. 1997. p 135
60
3.7 OPERAÇÕES BANCÁRIAS COM CHEQUE122
Inúmeras são as operações bancárias que podem ser
realizadas com a utilização de um cheque, que por sua vez é fruto da abertura de
uma conta corrente em determinado estabelecimento bancário, dentre estas
operações destacar-se-á algumas das mais freqüentes:
a- pagamento de cheque com contra-ordem: ocorre que o emitente do cheque
pode dar uma contra-ordem, para que assim o faça é necessário apenas que se
dirija até o banco e realize por escrito, desta forma, o banco deve cumprir a
decisão do cliente, e quando a descumprir responderá pelos danos ocasionados.
b- pagamento de cheque falso: para regular esta hipótese deve-se analisar a
súmula de nº 28 do Supremo Tribunal Federal: “O estabelecimento bancário é
responsável pelo pagamento de cheque falso, ressalvadas as hipóteses de culpa
exclusiva ou concorrente do correntista”. Desta maneira é de responsabilidade do
banco a atenção deste no tocante a autenticidade do cheque, pois será
responsabilizado quando ocorre o pagamento de uma cártula cuja falsificação era
grosseira, para melhor clareza, observa-se o entendimento de Alves123:
[...] pode definir a responsabilidade civil exclusiva do estabelecimento bancário pelo pagamento de títulos grosseiramente falsos ou falsificados, ou a responsabilidade não-exclusiva, como se, não-grosseira a falsificação, a ela concorreu o ofendido com determinada parcela de culpa.
c- pagamento a falso procurador: neste caso, destaca Alves124 “[...]o banco que
paga cheque apresentado mediante mandato falso, sem culpa do correntista, há
de ser responsabilizado e, assim, suportar os danos conseqüentes, [...]”. Nesta
hipótese, o cheque não possui irregularidades, no entanto determinada pessoa se
passa por procurador do emitente, para receber o valor, o banco então responde
122 ALVES, Vilson Rodrigues. Responsabilidade dos estabelecimentos bancários. Campinas:
Boockseller, 1996. p.138 123 ALVES, Vilson Rodrigues. Responsabilidade dos estabelecimentos bancários. 1996. p. 136 124 ALVES, Vilson Rodrigues. Responsabilidade dos estabelecimentos bancários. 1996. p. 156
61
quando realiza o pagamento, sem averiguar a veracidade da procuração, ou
ainda, sem exigi-la.
d- cheque devolvido sem justa causa: ocorre quando o banco recusa-se a realizar
o pagamento de um cheque embora tenham valores suficientes disponíveis,
nestes casos é comum se verificar no cheque que o motivo foi a falta de saldo, no
entanto, caso o correntista comprove que possuía fundos, tem este o direito de
pleitear indenização pelo ocorrido, uma vez que, inúmeras são as conseqüências
oriundas da devolução de um cheque, especialmente, quando o correntista com
intenção de honrar seus pagamentos, possui fundos em sua conta e o cheque é
devolvido pelo motivo de falta de saldo. Neste sentido entende Aves125:
Com efeito, assentou, na indenização do dano moral oriundo de restituição indevida de cheque, com nota de falta de fundos, quando os havia, não se trata de pecunia doloris ou pretium doloris, que se não pode avaliar e pagar, mas satisfação de ordem moral, que não ressarce prejuízos e danos e abalos e tribulações irressarcíveis, mas apresenta a consagração e o reconhecimento, pelo direito, do valor e importância desse bem, que se deve proteger tanto quanto, senão mais do que os bens materiais e interesses que a lei protege.
e- cheque especial: há determinados casos, em que o banco oferece ao
correntista uma linha de crédito a qual ficará disponível em sua conta, são os
chamados de: “cheque especial”, assim torna-se o banco responsável pelo
pagamento de um cheque, ainda que não conta não tenha fundos disponíveis, no
entanto o “estabelecimento bancário só fica obrigado a efetuar o pagamento até o
limite estabelecido no respectivo contrato de abertura de crédito”.126
125 ALVES, Vilson Rodrigues. Responsabilidade dos estabelecimentos bancários. 1996. p.160 126 ALVES, Vilson Rodrigues. Responsabilidade dos estabelecimentos bancários. 1996. p.162
62
3.8 DO CHEQUE PÓS-DATADO
Inicialmente, deve-se destacar que no Brasil não há
reconhecimento legal da utilização do cheque na sua categoria de pós-datado,
pode-se então destacar o conceito trazido à baila por Covello 127:
O cheque pré-datado, ou pós-datado, como prefere parte da doutrina, é o cheque emitido com cláusula de cobrança em determinada data, data, em geral (sic) a indicada como data da emissão, ou a consignada no canto direito do talão.
Sobre a existência do cheque pós-datado: Pontes de
Miranda, assim citado por Aldrovandi128, é enfático ao afirmar que "o cheque pós-
datado existe, vale e é eficaz", pois, na sua opinião, não existe na lei nenhum
dispositivo prevendo alguma sanção de quando alguém dele se utilizar, ou ainda
no que se refere a invalidade ou ineficácia ao cheque que for usado dessa forma.
Cumpre ressaltar, que usualmente as que pessoas utilizam
desta forma de pagamento, o chamam de pré-datado, o que estaria ocorrendo de
forma inadequada, pois o afixo pré quando utilizado significa antecipação, assim
sendo o afixo a ser utilizado deve ser o pós, já que este determina um ato futuro,
e como é de conhecimento neste ato ocorre a colocação no corpo do título de
uma data posterior a da sua emissão129.
Sabe-se, no tocante a natureza jurídica, o cheque encontra-
se conceituado como uma ordem de pagamento à vista, sendo pagável no dia de
sua apresentação conforme determina o artigo 32§ Único da LC, no entanto, os
costumes comerciais foram ao longo dos anos se modificado tornando a utilização
do cheque, com pagamento para uma data futura, uma prática algo cada vez mais
comum.
127 COVELLO, Sergio Carlos. Prática do cheque. São Paulo: Leud, 1994. p. 44 128 ALDROVANDI, Andrea. Cheque pós-datado . Jus Navigandi, Teresina, a. 7, n. 65, mai. 2003.
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4048>. Acesso em: 12 mar. 2006. 129 ANDREATTA, Vanessa Regina. O cheque pós-datado em vista das exigências da lei do
cheque. São Paulo: Editora de Direito, 2004. p. 42
63
Acerca deste tema, manifesta-se Rosa Junior130:
Entretanto tornou-se praxe no mundo dos negócios no Brasil a emissão de cheque pós-datado (pré-datado na linguagem vulgar) ou cheque garantia, ou seja, cria-se o cheque em 19/03/1999 mas opõe-se a data de emissão como tendo sido feito em 19/04/1999, para que o cheque só seja apresentado ao sacado nesta última forma. Neste caso procura-se transformar a função do cheque de instrumento de pagamento em instrumento de promessa de pagamento. A doutrina e a jurisprudência são interativas no sentido de que o cheque pós-datado deve ser pago pelo banco na data de sua apresentação, ainda que esta ocorra antes da data da emissão dele constante, em razão da clareza da norma do art. 32 da LC e porque o banco desconhece o pacto entre o emitente e o beneficiáriono que toca a apresentação do cheque. Entende-se também que o cheque pós-datado continua a consubstanciar ordem de pagamento à vista, ainda que dado em garantia ou como promessa de pagamento, não perdendo a sua cambiariedade e sua execultoriedade.
Aduz Coelho131, sobre a utilização de data futura em na
emissão do cheque:
O elemento essencial do conceito de cheque é a sua natureza de ordem à vista, que não pode ser descaracterizada por acordo entre as partes. Qualquer cláusula inserida no cheque com o objetivo de alterar esta sua essencial característica é considerada não-escrita e, portanto, ineficaz (Lei n. 7,357, de 1985 – Lei do Cheque, art. 32). Desta forma, e emissão de cheque com data futura, a pós-datação, não produz nenhum efeito cambial, posto que, pelo contrário, importa tratamento do cheque como um título de crédito a prazo. Um cheque pós-datado é pagável em sua apresentação, à vista, mesmo que esta se dê em data anterior àquela indicada como a de sua emissão (art. 32, parágrafo único).
Na busca pela exploração da relação de consumo, tornou-se
habitual o pagamento de mercadorias ou serviços de forma parcelada,
130 ROSA JUNIOR. Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 2004. p 564 131COELHO. Fabio Ulhoa. Manual de direito comercial. 2002. p. 268
64
principalmente através de cheques pós-datados, sempre na busca pela facilidade
de exercer as negociações.
Ensina Coelho132 que:
O cheque pós-datado é importante instrumento de concessão de crédito ao consumidor. Embora a pós-datação não produza efeitos perante o banco sacado, na hipótese de apresentação para liquidação, ela representa um acordo entre tomador emitente. A apresentação precipitada do cheque significa o descumprimento do acordo.
O consumidor quando emite um cheque pós-datado, assim o
faz pela confiança que deposita no beneficiário, pois o mesmo poderá apresentar
ao banco o cheque antes da data estipulada, e o sacado por sua vez, poderá
promover o seu desconto, já que tal ato não caracteriza ilicitude, devendo então o
consumidor pleitear seus prejuízos junto à parte que lhe propôs a negociação.
Neste contexto explica Coelho133:
O consumidor terá, contudo, o direito de demandar contra o fornecedor os prejuízos que sofrer em decorrência da quebra do contrato entre eles. É plenamente lícito ao emitente e ao credor do cheque definirem, de comum acordo, prazo mínimo para a apresentação do título à liquidação. A combinação segundo o disposto na lei, não gera nenhum efeito perante a instituição financeira sacada, que tem o dever de simplesmente ignorar qualquer menção que torne o cheque título de pagamento a prazo. No entanto, como em qualquer outra hipótese de descumprimento de obrigação contratual, o fornecedor que não observa os termos de seu acordo com o consumidor, deve indenizar as perdas provocadas. Trata-se de mera aplicação de principio mais que assente na teoria da responsabilidade contratual.
Outrossim, segundo os doutrinadores, o destinatário do
cheque tem por obrigação o respeito à data futura colocada para pagamento, e
132 COELHO. Fabio Ulhoa. Curso de direito comercial. 9 ed. rev. atual. São Paulo:Saraiva, 2005.
p. 441 133 COELHO. Fabio Ulhoa. Curso de direito comercial. 2005. p. 442
65
tão pouco seria obrigação do banco no respeito desta data, uma vez como se
observa, a instituição bancária poderá em qualquer momento da apresentação do
cheque, realizar o pagamento, independente da data lançada, assim, “o sacado
de um cheque não tem, em nenhuma hipótese, qualquer obrigação cambial134”.
Entende o Superior Tribunal de Justiça135 em um de seus
julgados que o cheque não perde sua natureza jurídica como titulo de crédito,
ainda quando utilizado como pós-datado.
CHEQUE POS-DATADO. EXECUTIVIDADE. O CHEQUE POS-DATADO, EMITIDO EM GARANTIA DE DIVIDA, NÃO SE DESNATURA COMO TITULO CAMBIARIFORME, NEM TAMPOUCO COMO TITULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. PRECEDENTES DO STJ. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO, MAS IMPROVIDO As conseqüências da apresentação antecipada do cheque pós-datado tendo em vista o acordo realizado entre as partes Inicialmente deve-se ressaltar que não há nenhuma norma que impeça a apresentação antecipada do cheque pós-datado, no entanto ao emitir um cheque desta característica, é porque tal procedimento já foi previamente acordado entre as partes contraentes, de forma que a promessa do emitente é em ter fundos na data estabelecida, e a do beneficiário, em apresentá-lo somente na data acertada.
A utilização do cheque como pós-datado, de acordo com a
jurisprudência verificada, do STJ, apresenta-se como meio de esclarecer o dilema
no tocante as suas características de: executividade de cheque e título de crédito,
ante o exposto, verifica-se, que tais peculiaridades não são modificadas, ainda
que no cheque, tenha sido lançada data futura para apresentação.
Desta maneira, é importante observar, que de acordo com a
jurisprudência a pós-datação do cheque é fruto de um pacto, entre as partes,
134 COELHO. Fabio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. P. 268 135 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 67206 / RS ; RECURSO ESPECIAL 1995 /
0027232-6 Ministro BARROS MONTEIRO (1089) T4 - QUARTA TURMA 22/08/1995 DJ 23.10.1995p 35681RDR vol. 7 p. 285 http://www.stj.gov.br/SCON/ jurisprudencia/ toc. jsp? tipo_ visualizacao=null&livre=cheque+pre-datado&b=ACOR acesso em 28 jan.2006
66
podendo, assim ser classificado como um contrato, o qual deverá ser
devidamente respeitado.
Sobre o tema leciona Rosa Junior136:
Entretanto, vem se firmando entendimento de que a pós-datação do cheque, resulte de acordo entre o emitente e o beneficiário (vendedor de mercadorias ou prestador de serviços), constitui importante instrumento de concessão de crédito ao consumidor, e se o beneficiário apresenta o cheque ao banco para pagamento antes da data acordada, e não ocorre o pagamento por insuficiência de fundos, o consumidor tem direito de demandar o beneficiário pelo descumprimento da obrigação de não fazer, para ser ressarcido dos prejuízos por ele sofridos , inclusive indenização por dano moral pelo constrangimento que lhe foi causado.
Neste sentido, completa Coelho137:
Está se desenvolvendo o entendimento de que o comerciante, ao aceitar o pagamento com cheque pós-datado, assume obrigação de não fazer, consistente em abster-se de apresentar o título ao sacado antes da data avençada com o consumidor. De modo que o descumprimento dessa obrigação acarretaria o dever de indenizar o emitente.
Assim a parte que descumprir os termos negociados quando
da emissão do cheque, poderá ser responsabilizada civilmente, pelos prejuízos
causados em decorrência de determinada ação, ainda que esta seja uma prática
tão somente amparada pelos costumes e não defendida pela legislação, daí a
importância de analisar a relação que originou o pagamento pelo meio do cheque,
como um contrato, e não somente a análise do cheque meramente através de
legislação disponível, uma vez que esta mesma lei dispõe que o cheque deverá
ser pago no dia de sua apresentação, no entanto em nenhum momento observa-
se a ilicitude deste costume.
136 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 2005. p. 564-565 137 COELHO, Fabio Ulhoa. Código Comercial e legislação complementar anotados. 5 ed.
Saraiva: São Paulo: 2002 p. 240.
67
Logo, o beneficiário que apresentar o cheque antes da data
estabelecida entre as partes, descumpri uma obrigação assumida, quando
ocorreu a aceitação do cheque com data posterior, devendo o beneficiário
ressarcir os danos causados. Conforme dispõe o Código Civil:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito".
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Acerca deste acordo, deve-se levar em conta, outrossim, o
princípio geral da boa-fé138, disposto no artigo 1482 do Código Civil:
“Art. 1482. Os contratantes são obrigados a guardar, assim
na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e
de boa-fé”.
Deste modo, o emitente que de boa-fé, por conseqüência do
estabelecimento de um contrato, ainda que apenas verbal, emite um cheque pós-
datado, não pode ficar a mercê da proteção de seus direitos decorrentes do
desconto do cheque antes da data determinada, causando-lhe prejuízos, tanto
morais, quanto materiais.
Com o advento do CDC, tornou-se prática aceita, quando a
mesma resultar de oferta realizada, ou seja, o comerciante que oferece, através
de publicidade, a opção de pagamento com cheques pós-datados, como nas
promoções divulgadas, normalmente oferecendo o pagamento em cheque, para
30, 60 ou até 90 dias, assume o comerciante a obrigação de não fazer, que uma
vez assumida, obriga o comerciante a não promover o desconto antecipado do
cheque concedido em pagamento. Logo a quebra deste pacto importa em
138 Afirma Venosa que: A idéia central é no sentido de que, em princípio, contraente algum
ingressa em um conteúdo contratual sem a necessária boa-fé. (...) Toda a cláusula geral remete o interprete para um padrão de conduta geralmente aceito no tempo e no espaço. Em cada caso o juiz deverá definir quais as situações nas quais os participes de um contrato se desviaram da boa-fé. VENOSA. Silvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral da obrigações e teoria geral dos contratos.2004. p. 310
68
ressarcimento do dano causado pela parte, ou ainda a rescisão do contrato,
conforme se encontra expresso nos artigos: 30 e 35,I e III do CDC:
Art. 30 Toda a informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.
Art. 35 Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha:
I – exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade;
II – (...);
III – rescindir o contrato com direito a restituição da quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e perdas e danos.
Indispensável trazer a baila o que leciona Marques139 quanto
a publicidade:
No Brasil, com as mudanças introduzidas pelo CDC, a publicidade quando suficientemente precisa, passa a ter os efeitos jurídicos de uma oferta, integrando o futuro contrato. Isto significa que o fornecedor brasileiro deverá prestar mais atenção nas informações que veicula, através de impressos, propagandas em rádio, jornais e televisão, porque estas já criam para ele um vinculo, que no sistema do CDC será o de uma obrigação pré-contratual, obrigação de manter a sua oferta nos termos em que foi veiculada e cumprir com seus deveres anexos de lealdade, informação e cuidado. No caso de aceitação por parte do consumidor, a obrigação de prestar contratualmente o que prometeu ou sofrer as conseqüências previstas no art. 35.
139 MARQUES, Claudia Lima. Contrato no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime
das relações contratuais. 5 ed. ver. atual. e ampl. RT. São Paulo. 2006. p. 746
69
A previsão sobre publicidade existente no CDC é de suma
importância no que se refere ao cheque pós-datado, uma vez que sua utilização,
assim como sua origem, é puramente fruto das relações comerciais, as quais por
sua vez atraem o consumidor, principalmente, através das ofertas realizadas,
sendo comum à proposta do pagamento através de cheque pré-datado, para 30
dias, 60 dias ou até 90 dias.
Deste modo, o fornecedor ou prestador de serviços, que
propõe a possibilidade do pagamento com a utilização do cheque pós-datado,
deverá cumprir com a obrigação assumida, a fim de que sejam evitadas futuras
demandas.
Afirma Coelho140 que:
Se o cheque pós-datado, portanto, apresentado ao sacado antes da data combinada entre (emitente) e fornecedor (tomador), for liquido, cabe a indenização pela inadimplência da obrigação de não fazer, contratualmente assumida – por cia oral ou escrita, através de publicidade (CDC, art. 30) ou de outro meio – pelo credor.
Destarte, o comerciante ou prestador de serviço ao
descumprir com o contrato realizado, poderá responder por danos materiais ou
até morais que tenham sido causados, por conseqüência do desconto antecipado
do cheque, consistindo os danos materiais naqueles frutos das taxas bancárias,
fruto da devolução do cheque, ou ainda que esta não ocorra, quando se tratando
de cheque especial, dos juros pagos pela utilização do mesmo. Já o dano moral
decorre quando com a devolução de cheques por falta de provisão de fundos, o
encerramento da conta e a inscrição no Cadastro de Emitentes de Cheque sem
Fundos.
Continua Coelho141:
Além da responsabilidade pelos danos materiais experimentados pelo consumidor, cabe a condenação do credor do cheque pós-
140 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito comercial. 2005. p. 442 141 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito comercial. 2005. p. 443
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datado de apresentação precipitada, pelos danos morais que o emitente cofre na hipótese de devolução por insuficiência de fundos.
Sendo o consumidor uma pessoa honesta e de boa índole,
para a qual não é comum a devolução de um cheque sem previsão de fundos, os
danos morais quando uma situação como esta ocorre são indescritíveis, devendo,
assim, ocorrer a punição de quem descumprindo um acordo, apresenta o cheque
antes da data correta.
No que tange o entendimento jurisprudencial do Tribunal de
Justiça catarinense, sobre a apresentação antecipada do cheque pós-datado,
pode-se observar142:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - CHEQUE PRÉ-DATADO APRESENTADO ANTES DA DATA AVENÇADA ENTRE AS PARTES - ORDEM DE PAGAMENTO À VISTA - INSUBSISTÊNCIA DA ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO LEGAL - INOBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO PACTA SUNT SERVANDA - PREJUÍZO MORAL E MATERIAL - DEVER DE INDENIZAR - DESPROVIMENTO RECURSAL É certo que o cheque é uma ordem de pagamento à vista, a teor do que prevê a Lei n. 7.357/85 (lei do cheque), todavia, embora a lei tenha essa previsão, a parte que faz um contrato com estipulação diversa, se sujeita à manifestação de vontade exarada quando de sua realização. Em razão disso, não pode a empresa contratante invocar essa previsão legal para justificar o seu decumprimento ao princípio do pacta sunt servanda.
Embora seja o cheque uma ordem de pagamento à vista,
salienta-se que quando utilizado como pós-datado, o beneficiário que assim o
aceitou deve respeitar a data lançada para a sua apresentação, ficando desta
maneira civilmente responsável pelo cumprimento do acordo realizado.
Neste sentido o posicionamento do Superior Tribunal de
Justiça143:
142 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação cível 03.027065-5 Relator: Des. José
Volpato de Souza. Data da Decisão: 25/06/2004 Dipsonivel em: http://tjsc6.tj.sc.gov.br/ jurisprudencia/PesquisaAvancada.do acesso em: 25/02/2006.
71
Civil. Recurso especial. Cheque pré-datado. Apresentação antes do prazo. Compensação por danos morais.- Não ataca o fundamento do acórdão o recurso especial que discute apenas a natureza jurídica do título cambial emitido e desconsidera o posicionamento do acórdão a respeito da existência de má-fé na conduta de um dos contratantes. - A apresentação do cheque pré-datado antes do prazo estipulado gera o dever de indenizar, presente, como no caso, a devolução do título por ausência de provisão de fundos. Recurso especial não conhecido. Da prescrição do cheque pós-datado.
Destaca-se ainda144:
Cheque pré-datado. Apresentação antes do prazo. Indenização por danos morais. Precedentes da Corte. 1. A apresentação do cheque
pré-datado antes do prazo avençado gera o dever de indenizar, presente, como no caso, a conseqüência da devolução do mesmo por ausência de provisão de fundos. 2. Recurso especial conhecido e provido.
O cheque possui um determinado prazo para que seja
apresentado para pagamento, que de acordo com o art 33 é de trinta dias para
cheque emitidos no lugar do seu pagamento, e sessenta dias quando emitidos em
outro lugar, após o referido prazo inicia-se a contagem do prazo prescricional para
a propositura da ação de execução.
O prazo prescricional para as execuções, dispõe o art. 59 da
LC, é de seis meses contra o emitente e seus avalistas ou ainda contra ele e os
143 BRASILIA. Superior Tribunal de Justiça. REsp 707272 / PB ; RECURSO ESPECIAL
2004/0169322-6 Ministra NANCY ANDRIGHI (1118) T3 - TERCEIRA TURMA 03/03/2005 DJ 21.03.2005p. 382RDDPvol. 26 p. 194 RNDJ vol. 66 p. 102 Disponível em: http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=null&livre=cheque+predatado &b=ACOR. Acesso em: 15 fev. 2006.
144 BRASILIA. Superior Tribunal de Justiça. REsp 557505 / MG ; RECURSO ESPECIAL 2003/0121273-7 Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO (1108) T3 - TERCEIRA TURMA 04/05/2004 DJ 21.06.2004p. 219 RSTJ vol. 188 p. 381 Disponível em: http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=null&livre=cheque+predatado &b=ACOR. Acesso em: 15 fev. 2006.
72
seus co-obrigados, contados a conforme Almeida145: “No primeiro caso, o prazo
tem inicio no término do tempo fixado para a apresentação, no segundo, a contar
do dia em que o coobrigado tenha pagado o cheque, ou do dia em que foi
acionado”.
É importante salientar, que no caso de cheques com o
lançamento de data posterior para desconto, a data pactuada deverá ser
respeitada entre as partes, para que seja iniciado o prazo de apresentação do
título, assim o computo será a partir do termino do prazo para apresentação, que
neste caso será o da data que foi convencionada, e não da sua efetiva emissão.
Desta forma, o cheque pós-datado exerce influencia nos prazos prescricionais,
uma vez que, o prazo de apresentação deverá contar-se a partir da data aposta
na cártula, ficando, assim, conseqüentemente, prorrogado do prazo de prescrição.
Segue o entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal
de Justiça, acerca do prazo prescricional do cheque pré-datado:146
COMERCIAL E PROCESSUAL CIVIL. CHEQUE PRÉ-DATADO. PRESCRIÇÃO.O cheque emitido com data futura, popularmente conhecido como cheque"pré-datado", não se sujeita à prescrição com base na data de emissão. O prazo prescricional deve ser contado, se não houve apresentação anterior, a partir de trinta dias da data nele consignada como sendo a da cobrança. Recurso não conhecido.
Logo a pós-datação no cheque gera conseqüências no
tocante ao prazo prescricional do mesmo, uma vez que este será ampliando por
conseqüência do emprego de data futura, desde que devidamente convencionada
entre as partes. Assim, o cômputo será a partir do término do prazo para
145 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 1998. p. 108 146 BRASILIA. Superior Tribunal de Justiça. STJ REsp 620218 / GO ; RECURSO ESPECIAL
2003/0229391-7 Ministro CASTRO FILHO (1119) T3 - TERCEIRA TURMA 07/06/2005 DJ 27.06.2005 p. 376 Disponivel em. http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/ toc.jsp?tipo_ visualização =null & livre=prescri%E7%E3o+cheque+pr%E9-datado&b=ACOR. Acesso em 16. fev. 2006
73
apresentação, sendo a base a data posterior inserida — “Bom Para” — e não a de
sua efetiva emissão147.
3.8.1 O cheque pós-datado e a legislação penal
O cheque em sua utilização como ordem de pagamento à
vista, cujo pagamento não tenha sido honrado, configura ilícito penal previsto no
art. 171, inciso VI do Código Penal, ou seja, fraude no pagamento por meio de
cheque:
Art. 171 Obter para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
I – (...)
II – (...)
III – (...)
IV – (...)
V – (...)
VI – emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.
O Direito Penal brasileiro busca com esta figura jurídica a
proteção do patrimônio, tornando um ato ilícito o não pagamento de um cheque,
assim aquele que coloca este título de crédito em circulação deve honrar com o
pagamento do mesmo.
Sobre a fraude através de cheque, dispõe Jesus148:
147 FREITAS, Antonio Carlos de Oliveira. Bom para Apresentação de pré-datado antes do
combinado gera dano. Disponível em: http://conjur.estadao.com.br/static/text/41163,1. Acessado em: 10 abr. 2006.
74
Na primeira hipótese, o sujeito coloca em circulação cheque para efeito de pronto pagamento, não tendo suficiente saldo bancário. Na segunda, possui provisão de fundos. Entretanto, agindo fraudulentamente, retira a quantia antes do saque ou dá contra-ordem de pagamento.
Desta forma não há crime quando o cheque é pós-datado,
uma vez que estaria descaracterizando sua natureza jurídica como ordem de
pagamento a vista, assim afirma Jesus149:
O cheque é emitido para pagamento à vista. Não se trata de título como a nota promissória, em que o pagamento não é de pronto, mas a prazo. Em face disso, não há crime quando é dado como garantia de dívida. Neste caso, na verdade não funciona como cheque, mas como título de efeitos idênticos à nota promissória, para garantia de pagamento futuro.
Sendo assim, aquele que aceita um cheque com data futura
para a apresentação, deve ter o conhecimento de que não figura ilícito penal,
devido a data estabelecida para a sua apresentação, já que a mesma foi
devidamente acordada entre as partes, desta forma restará apenas a esfera civil
para ressarcimento dos danos causados, em virtude do não pagamento da
obrigação.
Ensina Noronha150, sobre cheque pós-datado:
Com efeito, ele é ordem de pagamento à vista. Tomando-o, tem o portador o direito de in continenti apresentá-lo ao sacado, de modo que a data posterior o desnatura, transformando-o em documento de dívida, em letra de câmbio. Não obstante isso, poderia ainda o fato ter repercussões no direito penal, mas é claro que o beneficiário que aceita um cheque com data posterior à da emissão, fica ciente da inexistência de fundos do emissor.
148 JESUS, Damásio E de. Direito penal: parte especial: dos crimes conta a pessoa e dos
crimes contra o patrimônio. 27 ed. Revisada e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2005 2 v. p. 446
149 JESUS, Damásio E de. Direito penal: parte especial: dos crimes conta a pessoa e dos crimes contra o patrimônio. 2005, p. 446
150 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal: dos crimes contra a pessoa, dos crimes contra o patrimônio. Atualizada por Adalberto Jose Q. T. de Camargo Aranha. 33ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003,p. 428
75
Desta forma aquele que recebe um cheque com data futura
para apresentação, não poderá utilizar-se da Legislação penal no que se refere
ao crime de estelionato praticado com a utilização de cheque, uma vez de acordo
com a doutrina e a jurisprudência, no momento da negociação o beneficiário já
tem conhecimento da data de apresentação, não podendo alegar que foi iludido,
pois houve apenas uma promessa de pagamento.
Acerca do crime de estelionato com cheque pós-datado,
segue o posicionamento do Tribunal de Justiça de Santa Catarina151:
EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL. PRELIMINARES AFASTADAS. ESTELIONATO. CHEQUES PRÉ-DATADOS E IMÓVEIS OFERECIDOS COMO GARANTIA DE DÍVIDA. AUSÊNCIA DE ARDIL OU DOLO DE INDUZIR A VÍTIMA EM ERRO. DELITO NÃO CONFIGURADO. MERO ILÍCITO CIVIL. ABSOLVIÇÃO DECRETADA. - "Se o cheque é pré-datado, emitido como garantia de dívida, não se configura o ilícito criminal, nem do art. 171, § 2º do Código Penal, nem o do caput do mesmo artigo, a teor da jurisprudência sumulada do Supremo Tribunal Federal (súmula 246)".
Neste sentido é o entendimento jurisprudencial do Superior
Tribunal de Justiça152:
HABEAS CORPUS. CHEQUE EMITIDO COMO GARANTIA DE DÍVIDA. ESTELIONATO NÃO CARACTERIZADO. ORDEM CONCEDIDA PARA DETERMINAR O TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. 1. A compreensão pacificada nesta Corte a respeito do trancamento de ação penal por ausência de justa
151SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Acórdão: Apelação criminal 01.008383-3 Relator: Des.
Sérgio Roberto Baasch Luz.Data da Decisão: 28/05/2002http:// www.stj.gov.br/SCON/ jurisprudencia/ toc.jsp?tipo_visualizacao=null&livre=cheque+pre-datado&b=ACOR Acesso dia 20 mar. 2006.
152 BRASÍLIA. Superior Tribunal de Justiça. C 39056 / SP ; HABEAS CORPUS 2004/0149421-0 Ministro PAULO GALLOTTI (1115) T6 - SEXTA TURMA 14/02/2006 DJ 06.03.2006 p. 447. Disponível em: http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/ toc.jsp?tipo_ visualização=null&livre=prescri%E7%E3o+cheque+pr%E9-datado&b=ACOR. Acesso em 16. fev. 2006
76
causa é de que, em sede de hábeas corpus, somente será possível quando se constatar de pronto, sem um exame detalhado da prova, por exemplo, a inexistência de indícios de autoria, a atipicidade da conduta, bem como a existência de alguma causa extintiva da punibilidade. 2. A jurisprudência desta Corte já firmou o entendimento de que exclui-se a tipicidade da conduta quando o cheque é emitido como garantia de dívida, e não como ordem de pagamento à vista.3. Ordem concedida para determinar o trancamento da ação penal.
Destaca-se também a presente decisão153:
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. ESTELIONATO. REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. EMISSÃO DE CHEQUE PRÉ-DATADO. ATIPICIDADE DA CONDUTA. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO PARA TRANCAR A AÇÃO PENAL. 1. Em que pese o pedido do recorrente se restringir a revogação da prisão preventiva por ausência dos requisitos que autorizam a segregação cautelar, percebe-se, conforme pacífica jurisprudência desta Corte, que a emissão de cheque pré-datado descaracteriza a cártula de um título de pagamento à vista, transformando-a numa garantia de dívida. Atipicidade da conduta. 2. Recurso conhecido para conceder, de ofício a ordem, para trancar a ação penal. Como de pós-datar o cheque:
Embora não seja encontrado nenhum amparo legal sobre a
forma de se pós-datar um cheque, deve-se para este procedimento subsidiar-se
dos costumes comerciais adquiridos no decorrer do tempo.
Formas de pós-datar um cheque
Há várias maneiras de realizar a pós-datação de um cheque,
no entanto destacar-se-á, as três mais usuais, que são, no entendimento de
Aldrovandi154:
153 BRASÍLIA. Superior Tribunal de Justiça. (RHC 16880 / PB ; RECURSO ORDINARIO EM
HABEAS CORPUS 2004/0161224-3 Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA (1127) T6 - SEXTA TURMA 06/10/2005 DJ 24.10.2005 p. 381) Disponível em: http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/ toc.jsp?tipo_ visualização=null&livre=prescri%E7%E3o+cheque+pr%E9-datado&b=ACOR. Acesso em 16. fev. 2006.
77
a- a Aposição de uma data futura no espaço reservado para a data real de
emissão do cheque. Assim no espaço reservado a data, o preenchimento é feito
já com data estabelecida para o pagamento, destaca-se que, desta forma, há
conseqüências em outros aspectos, como: a prorrogação do prazo de
apresentação e assim como também dos prazos prescricionais; a perda da
prioridade, quando ocorrer a apresentação dois ou mais cheques
concomitantemente, e não existirem fundos disponíveis para o pagamento de
ambos, c) existindo ainda dificuldades, quando acontecer morte ou perda da
capacidade, do emitente do cheque.
b- o lançamento de data futura, assim o lançamento da data acordada é realizado
no canto inferior direito da cártula, juntamente com a famosa expressão bom
para. Sendo o principal problema, neste caso, relacionado com prazo de
apresentação, uma vez que, segundo a lei, a contagem da data será realizada da
data que estiver lançada no espaço correto existente no título para finalidade.
c- a utilização de lembretes, esta consiste em anexar um lembrete ao cheque,
colocando naquele a data em que o cheque deverá ser apresentado. No entanto,
este não seria uma forma muito segura, uma vez que tal anexo poderá ser
retirado, sendo apresentado, então, antes da data correta, gerando inúmeras
conseqüências para o emitente, e tornando a prova documental dificultosa.
3.8.2 O dano moral como conseqüência da apresentação antecipada do cheque
pós-datado
Embora já esteja ocorrendo uma tentativa de promover a
substituição do cheque por outra forma de pagamento mais moderna, o cartão de
crédito, observa-se que este título de crédito ainda é muito utilizado pelos
brasileiros.
154 ALDROVANDI, Andrea. Cheque pós-datado . Jus Navigandi, Teresina, a. 7, n. 65, mai. 2003.
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4048>. Acesso em: 02 abril. 2006.
78
A principal forma de utilização do cheque consiste ainda em
sua versão “pós-datado”, os comerciantes na ânsia de promover vendas, tentam
ao Maximo facilitar a compra colocando desta a opção pelo pagamento através do
famoso e popular cheque “pré-datado”, disseminando assim a utilização desta
forma de pagamento.
Assim entre as partes o comerciante e o consumidor, nasce
uma relação contratual, ou seja, na qual o comerciante assume a obrigação de
realizar o desconto do cheque somente na data estabelecida, desta forma tem
total obrigação no cumprimento do negocio, uma vez que o consumidor
normalmente compra pela facilidade do pagamento, desta forma programação
para realizá-lo somente na data prevista.
Sobre esta relação entende Marmitt155:
Entre as partes contraentes prevalece a cláusula do contrato de compra e venda. O vendedor é obrigado a esperar o vencimento de cada cheque, e a descontá-lo somente na data aprazada. Apesar de a legislação permitir ao portador o resgate em datas diferentes das consignadas na cártula, impõe-se, no caso, o fiel cumprimento do ajuste. Do contrario, agirá com negligencia o depositante precipitado. O depósito prematuro, e infringente do pactuado, provoca ato de negativação do nome do emitente, com sua inscrição nos cadastros dos emitentes de cheques sem fundos, e a respectiva responsabilização por danos morais.
Ocorrem assim inúmeros situações em que pessoas têm
seus nomes prejudicados devido ao não cumprimento da data de apresentação
do cheque, tornando-as inadimplentes sem que assim verdadeiramente
configurem-se, pois decorre que no caso de realização de uma compra com prazo
para trinta dias, a pessoa assim o fez, porque no mês seguinte teria como pagar,
e se o cheque é apresentado no dia seguinte certamente não haverá fundos na
conta corrente e ocorrerá a devolução deste ou de outros, quando no caso de
ocorrer o pagamento do primeiro e segundo que estava no prazo correto ser
devolvido, gerando uma situação constrangedora para o emitente.
155 MARMITT, Arnaldo. Dano moral. Rio de Janeiro: AIDE, 1999. p. 192
79
Destaca Marmitt156:
Em casos dessa natureza, o dano moral é presumido, por força da publicidade ínsita nos referidos serviços, que tem suas portas escancaradas a todos quantos mantêm convênio com a empresa prestadora de tais serviços.
Quem inveridicamente tem seu nome propalado como sendo um mau pagador, além de não conseguir novos créditos na praça e no comércio, sofre também grande abalo moral e dor íntima, o que obriga o ofensor a reparar p prejuízo causado.
Logo aquele que assumiu a obrigação, o fornecedor, deverá
cumprir com o contratado, e quando de forma incorreta proceder, isto é,
descumprir o desejado, deverá ser responsabilizado pelos danos causados ao
consumidor.
156 MARMITT, Arnaldo. Dano moral. 1999. p. 193
80
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das pesquisas realizadas para a formação do
presente trabalho, através do qual foi possível destacar determinados aspectos do
cheque, consistindo estes principalmente no cheque pós-datado, deve-se ainda
salientar, que o cheque encontra-se regulamentado pela Lei nº 7.357/85, a qual
dispõe sobre o cheque e dá outras providências.
Salienta-se, inicialmente, que conforme sua Lei, o cheque
possui alguns requisitos para sua emissão e quando apresentado ao banco ou
instituição financeira, será pago, assim sendo, torna-se uma ordem de pagamento
à vista.
No entanto, inúmeras são as operações comerciais
realizadas por meio do cheque, o qual para fins legais apresenta-se como um
título de crédito, representado como uma ordem de pagamento a vista concedida
pelo emitente ao beneficiário, para que este por sua vez, promova o desconto do
título junto ao Banco, para o devido desconto.
O cheque é fruto de uma relação contratual, em que as
partes configuram em: o Banco e o cliente, devendo este contrato preencher os
requisitos necessários para a sua formação, que consistem no agente capaz,
forma prescrita ou não defesa em lei e o objeto deve ser licito.
Assim, devidamente realizado o contrato bancário haverá a
abertura de uma conta corrente, a qual configura-se como uma das espécies de
contrato bancário, devidamente regularizada a conta corrente, a instituição
bancária, disponibilizará ao correntista a possibilidade de utilização do cheque.
Com o cheque em mãos, poderá o correntista realizar o
pagamento, de suas negociações, por meio deste título, o qual objetiva ainda
facilitar a circulação financeira.
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Ressalta-se, ainda, a importância do comercio, no tocante a
forma de utilização do cheque, aquele por sua vez, devido as produções em
massa e a necessidade de circulação de bens e produtos, propõe inúmeras
facilidades nas formas de pagamento.
Neste sentido, observar-se que, é comum encontrarmos em
placas, a possibilidade de pagamentos através de cheques pós-datados, para
trinta, sessenta e até noventa dias.
Diante das propostas, o correntista realiza seus pagamentos
de cheques com data futura para lançamento, sendo a emissão destas cártulas,
decorrentes de acordo entre quem recebe e quem paga, em que o promitente
assume o compromisso de apresentar o título somente na data convencionada, e
o promissário, por sua vez, compromete-se em garantir o saldo na conta corrente
para a efetivação do pagamento.
Para a formação do presente trabalho foram levantadas
determinadas hipóteses:
� A utilização de cheque como pós-datado, não descaracteriza a sua natureza jurídica, de titulo de credito.
� Quando um cheque, não é pago, ou seja, o emitente no momento da realização do negocio assim o faz, pois não tem condições de realizar o pagamento à vista, no entanto quando o pagamento é feito através de cheque pós-datado, estará caracterizado um ilícito penal.
� O cheque como pós-datado nasce de uma relação contratual entre o emitente e o beneficiário, diante da qual a não observação do contrato poderá ensejar em futura reparação dos danos causados por tal atitude.
Como término da pesquisa restou-se comprovada a primeira
hipótese, haja vista que, de acordo com os precedentes jurisprudenciais do
Superior Tribunal de Justiça, o cheque quando pós-datado, não perde sua
natureza de título cambiariforme, ou seja, ainda que utilizado como promessa de
pagamento, não deixa de ser um título de crédito.
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No tocante à segunda hipótese, a mesma não se apresentou
como verdadeira, de acordo com as considerações doutrinárias e as
jurisprudências estudadas, a partir dos quais decorre o entendimento que para se
configurar o crime de fraude por meio de cheque, este não pode ser emitido com
data futura, uma vez que este ilícito penal decorre apenas do cheque como ordem
de pagamento à vista.
Já quanto à terceira hipótese, esta se comprovou, tendo em
vista o entendimento doutrinário e jurisprudencial, que considera a relação
existente entre o emitente e o beneficiário, quando se tratar de cheque pós-
datado, como uma relação contratual, no tocante as obrigações assumidas para o
lançamento de data futura no título.
Decorre que, sendo as partes capazes, o objeto lícito, não
há como desconsiderar o aspecto contratual que surgi para amparar a emissão do
cheque pós-datado.
No entanto, deve-se ressaltar, sua utilização como pós-
datado, sendo este costume diariamente difundido nas práticas comerciais,
devido a sua facilidade deste instrumento, quando comparado com outros títulos
de crédito.
Logo, em nosso país, é comum a utilização do cheque pós-
datado, no entanto, não há, até o presente momento, amparo legal para esta
prática, resta, apenas, buscar o entendimento doutrinário e jurisprudencial, tendo
em vista que, o consumidor não pode ficar a mercê de seus direitos, quando a lei
assim não regulamentar.
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ANEXOS