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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
O AGRAVO RETIDO E DE INSTRUMENTO NO SISTEMA PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO: DE ACORDO COM A LEI Nº 11.187/05
JEFERSON ANTONIO DE MELO
Itajaí, 19 de novembro de 2008
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
O AGRAVO RETIDO E DE INSTRUMENTO NO SISTEMA PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO: DE ACORDO COM A LEI Nº 11.187/05
JEFERSON ANTONIO DE MELO
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí –
UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em
Direito. Orientador: Professor MSc. Marcelo Petermann
Itajaí, 19 de novembro de 2008
AGRADECIMENTO
Agradeço ao meu orientador professor e
amigo Marcelo Petermann pelo apoio no
decorrer deste trabalho.
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia à minha estima mãe
Lucimaris de Melo e à minha amada esposa
Eunice Feliponi de Melo
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade
pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a
Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a
Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade
acerca do mesmo.
Itajaí 19 de novembro de 2008
Jeferson Antonio de Melo Graduando
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade
do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Jeferson Antonio
de Melo, sob o título O AGRAVO RETIDO E DE INSTRUMENTO NO SISTEMA
PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO: De Acordo Com A Lei Nº 11.187/05, foi
submetida em 19 de novembro de 2008 à banca examinadora composta
pelos seguintes professores: MSc. Marcelo Petermann, orientador e
presidente e MSc. Fernanda Sell de Souto Goulart membro, e aprovada
com a nota ______ (__________).
Itajaí, 19 de novembro de 2008
MSc. Marcelo Petermann Orientador e Presidente da Banca
MSc. Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia
ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à
compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos
operacionais.
Ação
É o direito ao exercício da atividade jurisdicional (ou poder de exigir esse
exercício). Mediante o exercício da ação provoca-se a jurisdição, que por
sua vez se exerce através daquele complexo de atos que é o processo1.
Agravo
O agravo é recurso cabível de toda e qualquer decisão interlocutória
proferida no processo civil, salvo se houver disposição expressa do
legislador em sentido contrário2.
Atos Processuais
Os atos processuais são praticados pelos diversos sujeitos do processo e
têm diferentes significados e efeitos no desenvolvimento da relação
jurídica processual; além disso, quanto ao modo mediante o qual são
realizados diferenciam-se também, havendo os que se exaurem numa só
atividade e os que se apresentam como a soma de atividades múltiplas3.
Condições da Ação
As condições da ação se referem diretamente à pretensão deduzida pelo
autor. Se existentes, permitem o juízo de mérito, ou a prestação da tutela
1 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. Teoria geral do processo. 17. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2001, p. 131.
2 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. V. 1. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 603.
3 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. Teoria geral do processo, 2001, p. 265.
jurisdicional, favorável ao autor ou ao réu, desde que, evidentemente,
superado o juízo sobre os pressupostos e impedimentos processuais4.
Elementos da ação
São elementos da ação: a) as partes, os sujeitos da lide, os quais são os
sujeitos da ação; b) o objeto, a providencia jurisdicional solicitada quanto
a um bem; c) a causa do pedido, as razões que suscitam a pretensão e a
providencia5.
Jurisdição
Jurisdição é poder que tem o Estado de aplicar a lei sobre os casos
concretos (dizer o direito), para resolver conflitos de interesses. Este poder
é exercido pelo juiz, em nome do Estado, compondo a lide e entregando
a prestação jurisdicional através da sentença. Mas, ao mesmo tempo, é
um dever, porque o Estado não pode se furtar a atividade jurisdicional6.
Pressupostos Processuais
Os pressupostos processuais, pois, podem ser considerados como os
requisitos indispensáveis à instauração válida do processo e ao seu regular
desenvolvimento, dentro da disciplina que lhe deu a lei7.
Procedimento
Procedimento é a manifestação extrínseca do processo, o modo pelo
qual ele anda. Ou seja, o processo se materializa através do
procedimento. Daí a exigência de normas procedimentais, como por
exemplo o disposto no artigo 282 do Código de Processo Civil, que
4 COSTA, José Rubens. Manual de processo civil: teoria geral e ajuizamento da ação. V. 1. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 55.
5 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. V. I . 20. ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 163.
6 ATHANÁSIO, João Batista. Cadernos de direito processual civil. V. I. Curitiba: Juruá, 1997, p. 49.
7 RIBEIRO, Pedro Barbosa. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo. V. I. tomo II. 2. ed. Porto Alegre: Síntese, 1996, p. 216.
determina o que deve conter a petição inicial. É uma norma
procedimental porque é paupável, material8.
Procedimento Comum
Procedimento comum, portanto, é aquele que se aplica à falta de
regulamentação especial. Se uma lei situada fora da legislação
codificada cria pretensões especiais dentro de institutos novos do direito
material, para compor-se uma lide daí surgida, o procedimento a seguir-
se, à falta de regras próprias e específicas, será sempre o procedimento
comum9.
Procedimento Especial
Procedimentos Especiais – (regulados a partir do art. 890 do CPC),
abrangendo tanto a jurisdição contenciosa – arts. 890 a 1.102 do CPC, tais
como a ação de consignação em pagamento, ação de prestação de
contas, ação de depósito etc., quanto à jurisdição voluntária, graciosa ou
administrativa – arts. 1.103 a 1.210 do CPC, tais como a tutela, curatela,
abertura e cumprimento de testamento etc10.
Processo
Deriva do latim processus, de procedere, embora por sua derivação se
apresente em sentido equivalente a procedimento, pois que exprime,
também, ação de proceder ou ação de prosseguir, na linguagem jurídica
outra é sua significação, em distinção ao procedimento. Exprime,
propriamente, a ordem ou a seqüência das coisas, para que cada uma
delas venha a ser seguida no procedimento, até que se cumpra sua
finalidade. Processo é a relação jurídica vinculada, com escopo de
8 ATHANÁSIO, João Batista. Cadernos de direito processual civil, - V. I, 1997, p. 119.
9 MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil. V. 4. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 480.
10 COLUCCI, Maria da Glória Lins da Silva. Lições de teoria geral do processo. 4. ed. Curitiba: Juruá, 1999, p. 134.
decisão, entre as partes e o Estado Juiz, ou entre o administrado e a
administração11.
Processo Cautelar
O provimento cautelar funda-se antecipadamente na hipótese de um
futuro provimento jurisdicional favorável ao autor (fumus boni iuris):
verificando-se os pressupostos do fumus boni iuris e do periculum in mora, o
provimento cautelar se opera imediatamente, como instrumento provisório
e antecipado do futuro provimento definitivo, para que este não seja
frustrado em seus efeitos12.
Processo de Conhecimento
O processo de conhecimento (ou declaratório em sentido amplo)
provoca o juízo, em seu sentido mais restrito e próprio: através de sua
instauração, o órgão jurisdicional é chamado a julgar, declarando qual
das partes tem razão. Objeto do processo de conhecimento é a
pretensão ao provimento declarativo denominado sentença de mérito13.
Processo de Execução
O processo de execução se funda num título executivo, que se contém na
sentença exeqüenda, ou num crédito com eficácia de título executivo.
Também se desenvolve entre dois termos: pedido de execução, que é o
ato inicial, e aquele ato em que se esgotam as providências executórias
solicitadas: entrega da coisa, de quantia certa ou a prática ou omissão de
ato (obrigação de fazer ou não fazer)14.
11 SILVA, de Plácido. Vocabulário jurídico. 24. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 1101.
12 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. Teoria geral do processo, 2001, p. 317.
13 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. Teoria geral do processo, 2001, p. 302.
14 SANTOS, Moacir Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, V. 1. 1998, p. 272.
Sujeitos da Ação
Na ação há dois sujeitos, que são os mesmos da lide a que visa compor,
um sujeito ativo, o autor, e outro sujeito passivo, o réu, os quais são
abrangidos pela denominação jurídica de partes, ou persone15.
15 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, V. I, 1998, p. 163.
SUMÁRIO
RESUMO .......................................................................................... XIII
INTRODUÇÃO .................................................................................... 1
CAPÍTULO 1 ........................................................................................ 3
BREVES CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA JURISDIÇÃO, DA AÇÃO, DO PROCESSO E DO PROCEDIMENTO ............................................. 3 1.1DA JURISDIÇÃO ................................................................................................ 3 1.1.1Conceito De Jurisdição ................................................................................ 3 1.1.2 Características Da Jurisdição ..................................................................... 4 1.1.3 Das Espécies De Jurisdição ........................................................................ 6 1.2 DA AÇÃO ......................................................................................................... 9 1.2.1 Conceito De Ação ....................................................................................... 9 1.2.2 Elementos Da Ação ................................................................................... 10 1.2.3 Condições Da Ação .................................................................................. 11 1.2.4 Classificação Das Ações .......................................................................... 13 1.3 O PROCESSO .................................................................................................. 14 1.3.1Conceito De Processo ................................................................................ 14 1.3.2 Dos Atos Processuais ................................................................................. 16 1.3.3 Das Espécies De Processo ........................................................................ 17 1.4 DO PROCEDIMENTO ...................................................................................... 20 1.4.1 Conceito De Procedimento ...................................................................... 20 1.4.2 Do Procedimento Ordinário Ou Comum ................................................. 21 1.4.3 Do Procedimento Sumário ........................................................................ 22 1.4.4 Dos Procedimentos Especiais ................................................................... 23
CAPÍTULO 2 ...................................................................................... 25
TEORIA GERAL DOS RECURSOS ....................................................... 25 2.1 DO CONCEITO DE RECURO ........................................................................... 25 2.2 DA CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS........................................................... 28 2.3 DA ADMISSIBILIDADE E DOS PRESSUPOSTOS GERAIS DOS RECURSOS ....... 30 2.4 DOS EFEITOS DOS RECURSOS: Devolutivo e Suspensivo ............................ 36 2.5 ASPECTOS GERAIS DOS RECURSOS EM ESPÉCIE .......................................... 38 2.5.1 Apelação .................................................................................................... 38 2.5.2 Dos Embargos ............................................................................................ 41 2.5.3 Dos Recursos Para Os Tribunais Superiores: Ordinário, Especial E Extraordinário ...................................................................................................... 45
CAPÍTULO 3 ...................................................................................... 50
O AGRAVO RETIDO E DE INSTRUMENTO NO SISTEMA PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO: De Acordo com a Lei Nº 11.187/05 ................ 50 3.1 BREVES CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS E CONCEITO DE AGRAVO ........... 50 3.2 DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE ................................................... 60 3.2.1 Os Pressupostos Extrínsecos ..................................................................... 60 3.2.2 Os Pressupostos Intrínsecos ...................................................................... 64 3.3 OS PRINCIPAIS ESFEITOS DO AGRAVO ........................................................ 66 3.3.1 Efeito Devolutivo ........................................................................................ 66 3.3.2 Efeito Suspensivo ........................................................................................ 68 3.3.3 Efeito Expansivo ......................................................................................... 69 3.3.4 Efeito Translativo ........................................................................................ 69 3.3.5 Efeito Substitutivo ....................................................................................... 70 3.4 DO AGRAVO RETIDO ..................................................................................... 70 3.5 DO AGRAVO DE INSTRUMENTO .................................................................... 73
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 77
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ................................................ 80
RESUMO
O presente trabalho monográfico tem por objetivo
efetuar, sem a pretensão de esgotar o tema proposto, uma abordagem a
respeito dos agravos, retido e de instrumento de acordo com a Lei nº
11.187/2005. Procurou-se fazer uma abordagem a respeito do tema sob o
ponto de vista legal e doutrinário e, para tanto, tratou, inicialmente da
tutela jurisdicional, para então abordar-se os recursos e finalmente o
recurso de agravo (retido e de instrumento). Vale lembrar aqui, que o
tema é por demais extenso e que o presente trabalho possui um caráter
acadêmico, mas não menos científico, tanto no que diz respeito à
pesquisa, como no diz respeito ao seu desenvolvimento e considerações
finais.
INTRODUÇÃO
A presente Monografia tem como objeto O Agravo
Retido e de Instrumento no Sistema Processual Civil Brasileiro: De acordo
com a Lei Nº 11.187/05.
O seu objetivo é discorre a respeito do tema proposto,
buscado para tanto, subsídios na legislação e na doutrina que
possibilitassem a elaboração do trabalho acadêmico cientifico que
resultou na presente monografia de conclusão de curso, com vistas à
obtenção do Grau de Bacharel em Direito.
Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando da
tutela jurisdicional do Estado fazendo-se uma abordagem a respeito da
jurisdição, seu conceito, suas características e espécies; adentra-se, a
seguir no conceito de ação, seus elementos, condições e classificação;
passe-se, então, para o processo, para os atos processuais e para as
espécies de processos e finaliza-se este capítulo abordando o conceito de
procedimento, os procedimentos ordinário, sumário e especiais.
O Capítulo 2, trata da teoria geral dos recursos e, para
tanto inicia-se trazendo o conceito de recurso, para em seguida
apresentar a classificação; sua admissibilidade e pressupostos; aborda-se
a seguir os seus efeitos e os aspectos gerais dos recursos em espécies, do
recurso de apelação, dos embargos e finaliza-se este capítulo com a
abordagem dos recursos para os Tribunais Especiais: ordinário, especial e
extraordinário. Ressalva-se que neste capítulo não se abordou o recurso
de agravo, por ser o mesmo, o objeto de estudo desta monografia.
No Capítulo 3, adentra-se ao tema proposto para este
trabalho acadêmico-científico, ou seja, os agravos retido e de
instrumento. Primeiramente fez-se um apanhado histórico do instituto, para
2
em seguida, seus pressupostos de admissibilidade; seus principais efeitos e
finalmente discorrer a respeito do agravo retido e o agravo de
instrumento.
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das
reflexões sobre agravo retido e de instrumento na legislação processual
civil brasileira.
Para a presente monografia foram levantadas as
seguintes hipóteses:
a) Os agravos retido e de instrumentos são interpostos
para impugnar uma decisão interlocutória de primeiro grau.
b) O agravo retido é interposto diretamente no juízo de
primeiro grau e o agravo de instrumento é dirigido diretamente ao juízo de
segundo grau.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na
Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de
Tratamento de Dados o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados
expresso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as
Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da
Pesquisa Bibliográfica.
CAPÍTULO 1
BREVES CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA JURISDIÇÃO, DA AÇÃO, DO PROCESSO E DO PROCEDIMENTO
1.1DA JURISDIÇÃO
1.1.1Conceito de Jurisdição
Antes mesmo de se conceituar o que venha a ser
jurisdição, interessante que se busque a sua origem etimológica16, cuja
origem vem do termo latino jurisdictio, que tem por significado judicatura
e, em um sentido mais estrito representa a função do Estado em dizer o
direito e administrar a justiça17.
Em um sentido mais amplo, o significado de jurisdição
expressa, inicialmente, um poder estatal em dizer a quem cabe um
determinado direito, trata-se, também da função exercida com
exclusividade pelo Estado, por meio dos seus órgãos da administração
judiciária em aplicar a norma material a cada caso concreto e, é ainda,
uma atividade, pois cabe ao Estado tutelar direitos individuais e coletivos,
apaziguando os conflitos interesses entre seus administrados, ou seja, o
membros da sociedade18.
16 ETIMOLOGIA. S. f. Parte da lingüística que estuda a origem e o significado das palavras. BUENO, Silveira. Minidicionário da língua portuguesa. São Paulo: FTD, 2000, p. 334.
17 ATHANÁSIO, João Batista. Cadernos de direito processual civil. V. I. Curitiba: Juruá, 1997, p. 49.
18 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: teoria geral do processo e auxiliares da justiça. V. I. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 167.
4
Corroborando este entendimento de que a jurisdição é
um poder, uma função e uma atividade Cintra19 leciona que:
Que ela é uma função do Estado e mesmo monopólio
estatal, já foi dito; resta agora, a propósito, dizer que a
jurisdição é, ao mesmo tempo, poder, função e atividade.
Como poder, é manifestação do poder estatal,
conceituado como capacidade de decidir
imperativamente e impor decisões. Como função, expressa
o encargo que têm os órgãos estatais de promover a
pacificação de conflitos interindividuais, mediante a
realização do direito justo e através do processo. E como
atividade ela é o complexo de atos do juiz no processo,
exercendo o poder e cumprindo a função que a lei lhe
comete. O poder, a função e a atividade somente
transparecem legitimamente através do processo
devidamente estruturado (devido processo legal).
Desta feita, pode-se afirmar que a jurisdição é o meio
através do qual o Estado exerce seu poder soberano sobre a sociedade
de tutelar direitos e administrar conflitos de interesses, poder este, que
embora seja exercido com exclusividade não é ilimitado, pois o próprio
Estado está sujeito a ser demandado quando houver a necessidade.
Assim, a jurisdição como função e atividade estatal implica na efetiva
aplicabilidade do ordenamento jurídico quando ocorrer um conflito de
interesses, seja individual ou coletivo, cabendo ao Estado solucioná-los de
maneira satisfatória e de acordo com as normas jurídicas.
1.1.2 Características da Jurisdição
O Estado, por sua importância para a sociedade
exercer diversas funções e atividades que visam atender às necessidades
e interesses de seus administrados, assim como, promover o bem-estar e a
19 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. Teoria geral do processo. 2001, p. 131.
5
harmonia social e, para tanto, a função jurisdicional é de fundamental
importância, uma vez que é ela, um instrumento institucional através do
qual o Estado administra a Justiça20.
A jurisdição possui um caráter substitutivo, isto é, o
Estado se coloca entre as partes que estejam em conflito, uma vez que
não é dado aos cidadãos o direito de buscarem por si só a realização da
justiça com suas próprias mãos, assim, o Estado substitui a parte na busca
da satisfação de um direito lesado ou ameaçado21.
Ao exercer sua função jurisdicional, o Estado a deverá
fazer de acordo e em conformidade com os preceitos legais previstos no
sistema jurídico, isto porque, embora o Estado seja soberano sobre a
sociedade, deve limitar-se ao ordenamento jurídico, daí tem-se a
característica da jurisdição como atuação do direito22.
A lide é uma das principais características da atividade
jurisdicional do Estado, isto porque, para que o Estado venha exercê-la
necessariamente deverá haver um conflito de interesses entre dois ou mais
sujeitos da sociedade, que por sua vez levarão ao Estado-juiz suas
pretensões para que este solucione a demanda através da aplicação da
norma jurídica23.
Outra característica da jurisdição civil é a inércia do
Estado, uma vez que o mesmo somente exercerá sua função quando
provocado pelo interessado, isto porque, a jurisdição por si só não atua e,
para tanto depende necessariamente que aquele ou aqueles cujo direito
tenha sido ameaçado ou lesado busquem junto ao Estado que este
20 RIBEIRO, Pedro Barbosa. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo. V. I. tomo II. 1996, p. 76.
21 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. Teoria geral do processo, 2001, p. 132.
22 COLUCCI, Maria da Glória Lins da Silva. Lições de teoria geral do processo, 1999, p. 69.
23 ATHANÁSIO, João Batista. Cadernos de direito processual civil, V. I, 1997, p. 50.
6
exerça sua função jurisdicional a fim de solucionar o conflito de
interesses24.
A jurisdição possui como característica a definitividade,
ou seja, a função jurisdicional encerra-se com o trânsito em julgado da
sentença exarada pelo Estado-juiz em primeira instância, que após
esgotadas todas as possibilidades do exercício da ampla defesa e do
contraditório colocará fim em definitivo ao conflito entre as partes25.
1.1.3 Das Espécies de Jurisdição
Sob seu aspecto geral, a função jurisdicional do Estado
é exercida de forma uma, ou seja, é a atuação exclusiva do Poder
Judiciário em todo o território brasileiro, através da qual o Estado aplica o
ordenamento jurídico de maneira autônoma e soberana. Entretanto, por
uma questão de agilidade, praticidade e celeridade, o legislador
constituinte entendeu por bem desmembrar a jurisdição em algumas
espécies, cada qual com sua autonomia e área de atuação dentro do
ordenamento jurídico brasileiro de tal modo que, dependendo do conflito
de interesses ou da norma jurídica lesada, o Estado exercerá uma
jurisdição específica26.
Assim, a jurisdição será penal ou civil de acordo com
seu objeto (dependerá da norma jurídica lesada, se for de ordem pública,
a jurisdição será penal e se atingir direito privado, será civil); será comum
ou especial no que se refere ao órgão do Poder Judiciário que exercerá a
função jurisdicional; será inferior ou superior no que diz respeito a que
24 RIBEIRO, Pedro Barbosa. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo, V. I, tomo II, 1996, p. 78.
25 COLUCCI, Maria da Glória Lins da Silva. Lições de teoria geral do processo, 1999, p. 69.
26 RIBEIRO, Pedro Barbosa. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo, V. I, tomo II, 1996, p. 86.
7
esfera do Poder Judiciário irá atuar jurisdicionalmente (primeira instância
ou segunda instância) e será de direito ou de eqüidade dependendo da
fonte que venha a alicerçar a sentença27.
No que concerne a jurisdição penal, esta será exercida
pelo Estado, quando algum dispositivo no sistema jurídico penal for
contrariado por um ou mais indivíduos, ou seja, quando ocorrer uma
conduta tida como lesiva aos interesses da sociedade como um todo,
cabendo, assim ao Estado, em nome da coletividade exercer a sua
função jurisdicional, aplicando a norma penal e processual penal, no
limite da legalidade visando punir quem tenha delinqüindo, coagindo
assim, os demais sujeitos da sociedade28.
A jurisdição civil é exercida pelo Estado quando a
norma jurídica lesada se afasta da esfera penal ou de outra norma
específica e tem por finalidade resolver e solucionar conflitos na esfera do
direito privado. Trata-se da atuação do Estado em matéria disciplinadas
pelo ordenamento civil e processual civil que tutela interesses de pessoas
físicas e jurídicas, sejam elas de direito privado ou público. Na jurisdição
civil, o Estado somente atuará quando for provocado pela parte que se
sinta ameaçada ou lesada em um dos dispositivo previsto na norma civil29.
A jurisdição comum é aquela que se ocupam de
solucionar os conflitos que encontram na esfera do Direito Penal e do
Direito Civil, tanto no Nível da Justiça Federal, como no âmbito da Justiça
Estadual. Já a jurisdição especial, é aquela na qual o Estado exerce sua
função em matérias específicas, ou seja, em ramos especializados do
27 COLUCCI, Maria da Glória Lins da Silva. Lições de teoria geral do processo, 1999, p. 72.
28 RIBEIRO, Pedro Barbosa. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo, V. I, tomo II, 1996, p. 86.
29 ATHANÁSIO, João Batista. Cadernos de direito processual civil, V. I, 1997, p. 53.
8
Direito, tais como: a jurisdição trabalhista, a jurisdição eleitoral, a jurisdição
militar30.
Em atendimento ao preceito constitucional do duplo
grau a jurisdição será inferior na qual o Estado exerce a sua função
através dos seus agentes (órgãos) de primeiro grau, compostos pelos juízos
monocráticos, de competência originária, cuja função é, a de tomar
conhecimento e resolver os conflitos levados à apreciação do Poder
Judiciário e superior através da qual se exerce a ampla defesa e o
contraditório por meio dos tribunais cuja função é a de tomar
conhecimento da lide, analisando o seu mérito e revisionando ou não a
sentença exarada pelo julgador da primeira instância31.
Por fim, a jurisdição será contenciosa ou voluntária, a
primeira é exercida quando existe um conflito de interesses entre duas ou
mais partes que provocam o Estado para que ele solucione a lide e tem
como característica o caráter privado dos interesses envolvidos; já na
segunda, a jurisdição voluntária, o Estado toma para si a defesa de direitos
ou interesses ameaçados ou lesados sem que necessariamente seja
provocado para tal é o exercício automático da função, do poder e do
dever que cabe ao Estado de proteger os interesses gerais da
sociedade32.
30 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. Teoria geral do processo, 2001, p. 146.
31 RIBEIRO, Pedro Barbosa. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo, V. I, tomo I, 1996, p. 86-87.
32 ATHANÁSIO, João Batista. Cadernos de direito processual civil, V. I, 1997, p. 55-56.
9
1.2 DA AÇÃO
1.2.1 Conceito de Ação
O Estado moderno, desde sua origem se alicerça na
idéia do direito positivado, no qual prevalece a existência de um conjunto
de normas jurídicas reguladoras das relações entre os membros da
sociedade e destes com o Estado, de tal modo, a não ser mais permitido
que a solução de conflitos seja realizada por somente um dos sujeitos
envolvidos, requerendo assim, a presença do Estado como sujeito
administrador da justiça33.
Para que o Estado possa exercer sua função
jurisdicional, na esfera do Direito Civil, o mesmo deverá necessariamente
ser provocado para que preste sua tutela e resolva determinado conflito
de interesses. Para que isto ocorra, cabe a quem se sinta ameaçado ou
lesado em um direito recorra ao Estado para que ele venha administrar e
aplicar a justiça. A busca por esta tutela somente é possível através dos
meios previstos no ordenamento jurídico e disponibilizados pelo Estado
denominado de direito de ação34.
A ação é um direito subjetivo de caráter público por
meio do qual, o interessado pleiteia junto ao Poder Judiciário uma solução
a respeito da sua pretensão em relação a um direito lesado ou
ameaçado por outrem35.
33 COSTA, José Rubens. Manual de processo civil: teoria geral e ajuizamento da ação. V. 1,1994, p. 45.
34 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. Teoria geral do processo, 2001, p. 249.
35 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: teoria geral do processo e auxiliares da justiça, V. I., 1998, p. 75.
10
1.2.2 Elementos da Ação
A ação como um direito subjetivo colocado à
disposição de quem se sinta ameaçado ou lesionado em um direito seu,
para que possa ser válida e, portanto, levar o Estado-juiz a movimentar a
máquina do judiciário, a mesma deve preencher alguns elementos
essenciais, sem os quais a tutela jurisdicional estatal não será possível, estes
elementos são: a) os sujeitos ou partes; b) a motivação para o pedido ou
fatos e sua fundamentação jurídica e c) a pretensão pretendida
(requerimento)36.
Neste sentido Santos37 leciona que:
[...] são elementos da ação: um sujeito ativo e um sujeito
passivo; uma providência jurisdicional sobre uma pretensão
quanto a um bem; as razões, a causa dessa pretensão. Ou,
por outras palavras, são elementos da ação: a) as partes, os
sujeitos da lide, os quais são os sujeitos da ação; b) o objeto,
a providencia jurisdicional solicitada quanto a um bem; c) a
causa do pedido, as razões que suscitam a pretensão e a
providencia.
Os sujeitos ou partes da ação representam os
indivíduos que participam do conflito (lide) que pode ser composto por
somente dois indivíduos, um no pólo ativo (autor) e outro no pólo passivo
(réu)38; entretanto, em determinados casos concretos, o exercício do
direito de ação será exercido, por força de lei, ou de necessidade
processual, por vários sujeitos que atuaram tanto no pólo ativo como no
pólo passivo da demanda e são denominados de litisconsórcio39.
36 COSTA, José Rubens. Manual de processo civil: teoria geral e ajuizamento da ação, V. 1, 1994, p. 54.
37 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. V. I, 1998, p. 162.
38 BERMUDES, Sérgio. Introdução ao processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 1996, p. 34.
39 RIBEIRO, Pedro Barbosa. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo, V. I, tomo II, 1996, p. 34.
11
Para que o autor possa vir a exercer seu direito
subjetivo de ação deverá fundamentar sua pretensão em alegações e
fatos originados da conduta praticada por aquele contra quem ele
pretende demandar e, que tal conduta tenha lesado ou possa colocar
em perigo um direito do autor, ou seja, caberá ao autor demonstrar em
um primeiro momento que existe dentro do ordenamento jurídico um
direito que lhe assiste em face do demandado (réu)40.
Ainda, no que diz respeito ao pedido ou à motivação
legal que sustenta a pretensão do autor em face do réu, esse poderá ser
imediato, ou seja, o autor informa ao Estado-juiz que pretende que sua
decisão deverá condenar o réu ou declarar a existência de um direito ou,
ainda, constituir um novo direito perdido ou lesado; já o pedido mediato
se relaciona com o bem jurídico que a pretensão do autor quer ver
tutelada41.
Para que o autor obtenha sucesso no exercício do seu
direito subjetivo de ação, além dos elementos anteriormente discorridos,
deve, o mesmo atentar-se para o último requisito (elemento) que é a
causa de pedir, ou seja, são todas as pretensões que o autor pretende
alcançar ao pleitear a tutela do Estado e deve estar de acordo com os
demais elementos essenciais para que a ação prospere, pois do contrário,
a tutela jurisdicional não será prestada42.
1.2.3 Condições da Ação
Além dos elementos essenciais a toda ação, outras
condições devem estar presentes para que a relação processual possa
prosperar e assim a lide ter início, meio e fim. Para que o processo se inicie 40 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, V. I, 1998, p. 163.
41 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: teoria geral do processo e auxiliares da justiça, V. I., 1998, p. 90.
42 COSTA, José Rubens. Manual de processo civil: teoria geral e ajuizamento da ação, V. 1, 1994, p. 55.
12
com o exercício do direito de ação pelo autor, deverão estar presentes os
seguintes requisitos: interesse em agir; legitimidade; e a possibilidade do
jurídica do pedido43.
O interesse de agir se traduz de duas maneira, uma no
que diz respeito à real demonstração da vontade do autor em obter sua
pretensão junto ao Estado-juiz, ou seja, o desejo ao exercício subjetivo da
ação e; a outra, no que diz respeito ao interesse processual, ou seja, se
após manifestada a vontade de dar início à ação, o autor também
manifeste seu desejo em dar continuidade à relação processual e, assim,
fazer com que a ação e o processo demonstre a sua utilidade, isto
porque, não admite a legislação, civil e processual civil, que o autor
demande em juízo sem a real necessidade e utilidade de fazê-lo, uma vez
que se assim o fosse, estar-se-ia movimentando todo o aparato judiciário
sem uma real necessidade44.
A legitimidade para o exercício do direito de ação diz
respeito à capacidade jurídica das partes ou sujeitos que formarão a
relação processual, isto implica dizer que, para demandar em juízo através
da ação os sujeitos deverão gozar da sua plena capacidade para o
exercício da vida civil45.
No que diz respeito à possibilidade jurídica do pedido,
a terceira condição para que a ação possa prosperar ou não, essa diz
respeito à existência de um direito objetivo ou material previsto no
ordenamento jurídico que irá embasar e fundamentar o direito subjetivo
de ação, de tal modo que, somente se exerce o direito de ação se o
autor determinar qual a norma jurídica (direito) seu está sendo ameaçado 43 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: teoria geral do processo e auxiliares da justiça, V. I., 1998, p. 76.
44 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: teoria geral do processo e auxiliares da justiça, V. I., 1998, p. 80.
45 RIBEIRO, Pedro Barbosa. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo, V. I, tomo II, 1996, p. 34.
13
ou lesado e assim demonstrar ao Estado-juiz que sua pretensão é válida e
justa46.
1.2.4 Classificação das Ações
Verificados os elementos da ação e seus requisitos
essenciais, as mesmas, por uma questão de organização processual civil,
são classificadas basicamente em três espécies de ações que, por sua
vez, preenchidos os requisitos e elementos para sua propositura darão
origem aos seus respectivos processos, assim, têm-se que as ações são
classificadas em: ação de conhecimento ou de cognição; ação de
execução e ação cautelar, cada qual com suas peculiaridades e
características próprias47.
A ação de conhecimento tem por finalidade dar
ciência ao Estado-juiz, através dos relatos dos fatos, dos acontecimentos e
do embasamento jurídico que os alicerçam levantados pelo autor que
demonstram a lesão ou a ameaça a um direito seu, trata-se, assim, de dar
ciência ao julgador de que o autor está se vendo prejudicado em seu
direito e que requer a tutela jurisdicional estatal para ver sua pretensão
satisfeita e que terá como resultado uma sentença que declare a
existência de um direito; que condene o réu ou que constitua em prol do
autor um novo direito48.
A ação de execução, diferentemente da ação de
conhecimento, já contém em seu objeto um direito lesionado pela não
satisfação de uma obrigação pactuada entre o autor e o réu e;
46 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, V. I, 1998, p. 170.
47 RIBEIRO, Pedro Barbosa. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo, V. I, tomo II, 1996, p. 49.
48 COSTA, José Rubens. Manual de processo civil: teoria geral e ajuizamento da ação, V. 1, 1994, p. 82.
14
geralmente tem como fundamentação jurídica um título executivo ou
uma sentença judicial com força executiva. Essa modalidade da ação
tem por finalidade obter, do Estado, como pretensão do autor, a
satisfação da obrigação, por parte do réu, de maneira coercitiva49.
Por sua vez, a ação cautelar tem por fundamentação
jurídica uma ameaça eminente de uma lesão a um direito do autor,
através da qual o autor pretende obter uma medida de caráter
emergencial, uma vez que, a ameaça poderá comprometer ou lesar em
definitivo o direito do autor. A ação cautelar é provisória, visto que, sua
duração dependerá do tempo em que a ação principal durar, ou seja, a
ação cautelar que obtenha uma medida emergencial dará origem à
ação principal, entretanto, em se configurando seus requisitos legais do
fumus boni iuris e do periculum in mora, seus efeitos serão antecipados
visando a proteção do direito ameaçado até que se julgue o mérito da
lide50.
1.3 O PROCESSO
1.3.1Conceito de Processo
A palavra processo tem sua origem no termo latino
procedere e de maneira derivada tem como sentido a ação de proceder
ou de prosseguir. Sob o ponto de vista da terminologia jurídica, significa
uma ordem ou uma seqüência, na qual são realizados determinados atos
(procedimentos) até que uma determinada lide seja efetivamente
concluída51.
49 RIBEIRO, Pedro Barbosa. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo, V. I, tomo II, 1996, p. 49.
50 ATHANÁSIO, João Batista. Cadernos de direito processual civil, V. I, 1997, p. 102.
51 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. Teoria geral do processo, 2001, p. 265.
15
Silva52 leciona que o:
Processo é a relação jurídica vinculada, com escopo de
decisão, entre as partes e o Estado Juiz, ou entre o
administrado e a administração. [...] Em sentido amplo,
significa o conjunto de princípios e de regras jurídicas,
instituído para que se administre a justiça. [...] Em conceito
estrito, exprime o conjunto de atos, que devem ser
executados, na ordem preestabelecida, para que se
investigue e se solucione a pretensão submetida à tutela
jurídica, a fim de que seja satisfeita, se procedente, ou não,
se injusta ou improcedente.
Logo, juridicamente o processo se traduz em um
conjunto de atos praticados no decorrer da relação processual que tem
por objetivo solucionar a lide. É, na verdade, uma ferramenta ou um
instrumental por meio do qual o Estado-juiz, ao aceitar o exercício do
direito de ação pleiteado pelo autor, dá seqüência à mesma até que
uma solução seja proferida por meio de uma sentença após a existência
de uma gama de atos praticados pelos sujeitos envolvidos na relação
processual53.
O processo reflete a existência de um conflito de
interesses entre as partes. oriundo de lesão ou da ameaça a um direito
daquele ou daqueles que exercem o direito subjetivo de ação em face
de quem os tenha violado ou esteja ameaçando, de tal modo, que
através da intervenção do estatal, através da instauração do processo,
tem-se por objetivo apaziguar e harmonizar os sujeitos enquanto membros
da sociedade com a aplicação da norma jurídica em prol daquele a
quem o direito deve socorrer54.
52 SILVA, de Plácido. Vocabulário jurídico, 2004, p. 1101.
53 RIBEIRO, Pedro Barbosa. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo, V. I. tomo I, 1996, p. 28.
54 BERMUDES, Sérgio. Introdução ao processo civil, 1996, p. 72.
16
1.3.2 Dos Atos Processuais
Entende-se por ato processual, como sendo toda a
ação, aqui no sentido de conduta humana, que influencia na relação
processual, ou seja, são atos que dão origem, forma e mantém a relação
processual e que são importantes para que o processo se desenvolva de
maneira satisfatória até a sua extinção após o trânsito em julgado da
sentença55.
Cintra56 leciona que:
Os atos processuais são praticados pelos diversos sujeitos do
processo e têm diferentes significados e efeitos no
desenvolvimento da relação jurídica processual; além disso,
quanto ao modo mediante o qual são realizados
diferenciam-se também, havendo os que se exaurem numa
só atividade e os que se apresentam como a soma de
atividades múltiplas.
Entre os atos processuais estão os atos do juiz que são
os provimentos, isto é, são os atos realizados pelo juiz no decorrer do
processo que tem por finalidade sanear e resolver problemas, assim como
atos ordenando que alguma providência seja tomada. Os provimentos
podem ser interlocutórios, que são atos de mero expediente e visam dar
agilidade ou colher informações para o convencimento posterior do
julgador (estes atos não extinguem o processo), ou ainda, os provimentos
poderão ser terminativos, ou seja, colocam fim à relação processual como
ou sem resolução do mérito57.
A fim de atender e prestar a tutela jurisdicional o
Estado criou alguns órgãos para auxiliarem neste objetivo. Estes órgãos são
55 ATHANÁSIO, João Batista. Cadernos de direito processual civil, V. I, 1997, p. 133.
56 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. Teoria geral do processo, 2001, p. 265.
57 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. Teoria geral do processo, 2001, p. 334.
17
denominados de auxiliares e estão representados pelos cartórios das varas
dos fóruns; dos órgãos responsáveis por perícias; pelos órgãos de repressão
(polícias); por órgãos que praticam atividade externas (oficiais de justiça),
entre outros que atuam em conjunto com o Estado-juiz, cujos atos visam
contribuir para com o bom andamento processual e a efetiva prestação
da tutela jurisdicional. Entre estes alguns dos atos praticados por estes
auxiliares da justiça estão: as citações e intimações, as penhoras, buscas e
apreensões, as prisões, a emissão de mandados e ofícios etc58.
Como a relação processual é formada por dois ou
mais sujeitos, estes também devem praticar determinados atos
processuais. Tais atos dependem de que situação o processo se encontre,
como, por exemplo, a petição inicial através da qual o autor postula
frente ao juiz declinando os motivos e os direitos que o levaram a
demandar em face do réu; os atos do réu contrapondo as alegações do
autor; poderão ser atos praticados por ordem do próprio juiz, como, por
exemplo, para a produção de provas ou periciais, entre tantos outros atos
previstos na norma processual civil ou determinados pelo magistrado para
que o processo se desenvolva de maneira satisfatória59.
1.3.3 Das Espécies de Processo
Todo processo tem como origem uma determinada
ação através da qual o autor quer ver satisfeita sua pretensão em razão
da ameaça ou da lesão a um direito seu. Desta feita, cada processo
recebe a denominação da ação que lhe dá origem e, assim sendo, no
ordenamento jurídico processual civil brasileiro os processos são
58 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. Teoria geral do processo, 2001, p. 334.
59 ATHANÁSIO, João Batista. Cadernos de direito processual civil, V. I, 1997, p. 135-136.
18
classificados em processo de conhecimento, processo de execução e
processo cautelar60.
O processo de conhecimento ou cognitivo, cuja
origem é a ação com mesmo nome, tem por finalidade demonstrar ao juiz
que o autor teve um direito ameaçado ou lesado, ou seja, por meio do
processo de conhecimento o juiz conhece propriamente dito, qual é a
pretensão que o autor pleiteia e assim, em se convencendo da sua razão,
lhe concederá uma sentença que venha a condenar o réu; que venha a
conceder ao autor um novo direito ou declarar-lhe a existência de um
direito61.
Cintra62, por sua vez leciona que:
O processo de conhecimento (ou declaratório em sentido
amplo) provoca o juízo, em seu sentido mais restrito e
próprio: através de sua instauração, o órgão jurisdicional é
chamado a julgar, declarando qual das partes tem razão.
Objeto do processo de conhecimento é a pretensão ao
provimento declarativo denominado sentença de mérito.
Com o processo de conhecimento quando o autor
pretender uma sentença declaratória terá como resultado o
reconhecimento ou não de um direito demandado no decorrer do
processo63.
O processo de conhecimento poderá ter como
resultado uma sentença condenatória, na qual o juiz expressará o seu
entendimento de que o réu é realmente culpado pela lesão ou ameaça
ao direito do autor. Esta condenação poderá ser definitiva, na qual o juiz
60 SANTOS, Moacir Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, V. 1. 1998, p. 272.
61 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Curso completo de processo civil. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 33.
62 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. Teoria geral do processo, 2001, p. 302.
63 COLUCCI, Maria da Glória Lins da Silva. Lições de teoria geral do processo, 1999, p. 129.
19
ordena o réu à satisfazer ou restituir o direito lesado, ou ainda, ter como
resultado a garantia ao autor do exercício de um novo direito64.
Tem-se ainda, que o processo de conhecimento
poderá resultar em uma outra modalidade de sentença denominada de
constitutiva, cujo efeito jurídico será a constituição de um novo direito ao
autor ou ainda, a modificação ou extinção de determinado direito65.
Outra classificação do processo é o de execução, que
se origina da ação de execução cujo objetivo maior é a satisfação, via
tutela jurisdicional, de uma obrigação não cumprida amigavelmente pelo
réu. O processo de execução tem como embasamento jurídico a
existência de um título com força executiva, seja extrajudicial (um título)
ou judicial (uma sentença anterior que condene o réu). Trata-se de
medida forçada de ver satisfeita a obrigação assumida pelo réu
(devedor) frente ao autor (credor)66.
Por meio do processo cautelar, iniciado por uma ação
do mesmo nome, o autor, em face da existência de um direito e da sua
eminente ameaça de lesão, busca a tutela jurisdicional do Estado para
que este lhe conceda uma providência judicial de urgência, porém de
caráter provisória, isto porque, caso a sentença final venha a demorar o
seu direito poderá já ter se perdido ou ser de difícil reparação67.
A respeito do processo cautelar Cintra68 leciona que:
A atividade cautelar foi preordenada a evitar que o dano
oriundo da inobservância do direito fosse agravado pelo
64 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. Teoria geral do processo, 2001, p. 304.
65 COLUCCI, Maria da Glória Lins da Silva. Lições de teoria geral do processo, 1999, p. 129.
66 BORGES, Marcos Afonso. Teoria e prática do processo civil: doutrina, jurisprudência e legislação. 2. ed. Araras, SP: Bestbook Editora, 1999, p. 170-171-172.
67 SANTOS, Moacir Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, V. 1. 1998, p. 273.
68 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. Teoria geral do processo, 2001, p. 317.
20
inevitável retardamento do remédio jurisdicional (periculum
in mora). O provimento cautelar funda-se antecipadamente
na hipótese de um futuro provimento jurisdicional favorável
ao autor (fumus boni iuris): verificando-se os pressupostos do
fumus boni iuris e do periculum in mora, o provimento
cautelar se opera imediatamente, como instrumento
provisório e antecipado do futuro provimento definitivo,
para que este não seja frustrado em seus efeitos.
Uma peculiaridade do processo cautelar é o fato de
que ele pode ser instaurado mesmo antes da existência do processo
principal, neste caso será denominado de processo cautelar preparatório,
ou poderá, ainda ser instaurado no decorrer do processo principal de
conhecimento ou de execução e será denominado de processo cautelar
incidental, ressalta-se que ambos os processo cautelares durarão
enquanto durarem os processo principais, ou seja, extinguem-se no
momento em que extinguirem os principais69.
1.4 DO PROCEDIMENTO
1.4.1 Conceito de Procedimento
Diferentemente do processo, que é um instrumento
através do qual o Estado aplica efetivamente a tutela jurisdicional quando
provocado pela parte interessada, cujo desenrolar ocorre mediante a
prática de diversos atos inerentes ao próprio processo e este como
solução dos conflitos sociais, o procedimento são as ações realizadas
pelos sujeitos que estão diretamente envolvidos na relação processual70.
69 BERMUDES, Sérgio. Introdução ao processo civil, 1996, p. 92.
70 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. V. 1, 2002, p. 162.
21
Assim todo procedimento é, sob um ponto de vista
mais estrito ou num conceito mais simplicista, uma das ferramentas
disponibilizadas e disciplinadas pelo ordenamento processual civil
colocado à disposição das partes para movimentarem o processo71.
Neste sentido Athanásio72 leciona que o:
Procedimento é a manifestação extrínseca do processo, o
modo pelo qual ele anda. Ou seja, o processo se materializa
através do procedimento. Daí a exigência de normas
procedimentais, como, por exemplo, o disposto no artigo
282 do Código de Processo Civil, que determina o que deve
conter a petição inicial. É uma norma procedimental
porque é palpável, material.
O Direito Processual Civil brasileiro classifica os
procedimentos em três categorias, a primeira denominada de ordinário ou
comum, que é o procedimento geralmente adotado quando o processo
não requerer uma das outras duas categorias, ou seja, caso não exista a
previsão legal para a adoção do procedimento sumário ou especial
adota-se o procedimento comum73.
1.4.2 Do Procedimento Ordinário ou Comum
O procedimento ordinário ou comum sempre será
adotado como o padrão para o desenvolvimento da relação processual
71 BORGES, Marcos Afonso. Teoria e prática do processo civil: doutrina, jurisprudência e
legislação, 1999, p. 38.
72 ATHANÁSIO, João Batista. Cadernos de direito processual civil, V. I, 1997, p. 119.
73 COSTA, José Rubens. Manual de processo civil: teoria geral a ajuizamento da ação, v. 1, 1994, p. 35.
22
quando inexistir uma previsão legal que determine a adoção do
procedimento sumário ou especial74.
Marques75 leciona que o:
Procedimento comum, portanto, é aquele que se aplica à
falta de regulamentação especial. Se uma lei situada fora
da legislação codificada cria pretensões especiais dentro
de institutos novos do direito material, para compor-se uma
lide daí surgida, o procedimento a seguir-se, à falta de
regras próprias e específicas, será sempre o procedimento
comum.
Assim, dentro do universo jurídico processual civil, o
procedimento comum é aquele que alicerça ou embasa as outras
modalidades procedimentais. O procedimento comum, como base para
o processo possui três fases distintas conhecidas como a fase postulatória;
a fase probatória e a fase decisória76.
1.4.3 Do Procedimento Sumário
O procedimento sumário, por sua vez, tem como
principal atributo, a simplicidade dos atos processuais utilizados no
decorrer da relação processual, além de possuir certas peculiaridades
quanto ao valor da causa, conforme disposto no artigo 275, I do código
de Processo Civil e quanto à matéria a ser discutida, conforme previsto no
inciso II do referido artigo.
A adoção do procedimento sumário é determinada e
disciplinada pelos incisos I e II do artigo 275 do Código de Processo Civil
74 ATHANÁSIO, João Batista. Cadernos de direito processual civil, V. I, 1997, p. 120.
75 MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil. V. 4, 1997, p. 480.
76 COSTA, José Rubens. Manual de processo civil: teoria geral a ajuizamento da ação, V. 1. 1994, p. 35- 36.
23
brasileiro baseada no valor da matéria ou em razão do valor da causa.
Uma das principais peculiaridades do procedimento sumário é a
simplicidade e cerelidade dos atos processuais praticados no decorrer do
processo77.
1.4.4 Dos Procedimentos Especiais
Ao contrário dos procedimentos comum e sumário, os
procedimentos especiais sempre serão adotados de acordo com as
particularidades que envolvam a relação processual e são determinados
pela legislação, isto porque, os atos praticados possuem certa
diferenciação a serem levadas em consideração pelo juiz durante a
relação processual78.
Sobre os procedimentos especiais Colucci79 leciona
que:
Procedimentos Especiais – (regulados a partir do art. 890 do
CPC), abrangendo tanto a jurisdição contenciosa – arts. 890
a 1.102 do CPC, tais como a ação de consignação em
pagamento, ação de prestação de contas, ação de
depósito etc., quanto à jurisdição voluntária, graciosa ou
administrativa – arts. 1.103 a 1.210 do CPC, tais como a
tutela, curatela, abertura e cumprimento de testamento
etc.
A determinação do procedimento é mais um princípio
de hermenêutica que entre a regra geral e a especial, há de prevalecer
esta última, especial, que prioritária em relação à geral, exatamente por
ser especial, específica, para aquele determinado caso. 77 COSTA, José Rubens. Manual de processo civil: teoria geral a ajuizamento da ação, V. 1, 1994, p. 35.
78 BERMUDES, Sérgio. Introdução ao processo civil, 1996, p. 140.
79 COLUCCI, Maria da Glória Lins da Silva. Lições de teoria geral do processo, 1999, p. 134.
24
Assim, em princípio a primeira tarefa para a
identificação do procedimento será a de verificar se, para o caso
concreto, há previsão de procedimento especial, porque se houver, o
procedimento será especial e não outro. Há previsão de procedimentos
especiais no Livro IV do CPC, art. 890 a 1.210., consultando o índice lógico-
sistemático do CPC, e assim poder-se-á de logo identificar se há, para o
caso concreto, um procedimento especial e, se houver, resolvida está a
questão da identificação do procedimento. Ela será especial.
Neste primeiro capítulo procurou-se fazer uma breve
abordagem a respeito da jurisdição, da ação, do processo e do
procedimento, uma vez que, para que se possa falar em recursos e, por
conseguinte nas modalidades de agravos existentes no sistema processual
civil brasileiro há que se percorrer o assunto ora abordado para que se
tenha uma lógica no desenrolar deste trabalho monográfico, cujo próximo
conteúdo versará a respeito dos recursos e suas espécies.
25
CAPÍTULO 2
TEORIA GERAL DOS RECURSOS
2.1 DO CONCEITO DE RECURO
Inicialmente cabe analisar-se o recurso sob seu ponto
etimológico, isto é, sobre a origem da palavra recurso. O termo recurso
origina-se do latim recursus cujo significado literal remete ao entendimento
de reiteração ao mesmo caminho80.
De acordo com Mancuso81:
[...] o prefixo re evoca o ato de voltar, tornar, fazer
novamente, reconstituir o “status quo ante”, ainda que essa
“recuperação” de uma ocorrência pretérita por vezes seja
apenas imaginária ou emocional, como em: “recordar é
viver...”. Também a palavra recurso (recours, em francês,
ricorso em italiano, recurso, em espanhol), vem formada
daquela partícula re, acoplada ao substantivo cursus, este,
naturalmente, derivado do infinito currere (correr). Essa
“volta ao passado”, subjacente ao sentido da palavra
recurso, revela a verdadeira essência do que se contém
nesse termo, quando o empregamos na prática jurídica:
quem recorre, pretende, justamente, uma restitutio in
integrum, ou mesmo parcial que seja, algo assim como um
ritorno da capo na partitura onde se espelha sua posição
processual.
Sob o ponto de vista da terminologia técnica-jurídica,
o vocábulo é empregado em sentido amplo e restrito. No sentido amplo,
80 NERY JÚNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 171.
81 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Recurso extraordinário e recuso especial: recursos no processo civil. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 17.
26
significa todo remédio, toda ação, toda medida ou socorro, previstos no
sistema jurídico que visa à proteção ou a defesa de um direito ameaçado
ou lesado. Em seu sentido restrito, o recurso equivale à provocatio utilizada
no Direito Romano, ou seja, é a provocação para que se realize uma nova
análise ou alteração de decisão proferida anteriormente82.
Assim sendo, o termo recurso, em seu sentido mais
amplo, acaba por ser conceituada como sendo uma espécie de medida,
uma “proteção ou socorro para se remediar uma situação existente.
Recurso é, pois, neste sentido, uma solução para um determinado
assunto”83.
De acordo com Grecco Filho o recurso é “o remédio
voluntário e idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a
invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se
impugna”84.
Por sua vez, Gonçalves85 ensina que:
Os recursos são os remédios processuais de que se podem
valer as partes, o Ministério Público e eventuais terceiros
prejudicados para submeter uma decisão judicial a nova
apreciação, em regra por um órgão diferente daquele eu a
proferiu. Têm por finalidade modificar, invalidar, esclarecer
ou complementar a decisão. Os remédios são mecanismos
previstos no ordenamento jurídico que têm por finalidade
sanar os atos processuais de eventuais vícios, de forma ou
conteúdo. O recurso está entre eles, pois objetiva purgar as
decisões judiciais de eventuais erros.
82 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, 2004, p. 1.170-1.171.
83 PARIZATTO, João Roberto. Recurso no processo civil: doutrina e jurisprudência de acordo com as leis n. 8.950, de 13.12.1994 e 9.139 de 30.11.1995. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 01.
84 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e processos nos tribunais. V. 2. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 293.
85 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: processo de conhecimento e procedimentos especiais. V. 2. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 37.
27
O recurso pode ser considerado como uma verdadeira
extensão do próprio direito de ação, uma vez que somente se propõe ou
se interpõe um recurso em face a uma sentença ou decisão exarada em
processos que ainda estão em trâmite e que podem perfeitamente serem
contrapostas por não se tratarem de decisões terminativas, cujos meios de
impugnações diferem dos recursos justamente por serem ações
autônomas de impugnação como, no caso dos mandados de segurança,
das ações rescisórias, das ações impugnatórias etc86.
O recurso é notadamente a mais ampla expressão do
duplo grau de jurisdição adotado de maneira geral pelos países no
mundo de hoje, isto porque, através do recurso têm-se a possibilidade da
revisão dos decisórios exarados nos juízos de primeiro grau pelas instâncias
superiores, ou seja, pelos Tribunais Superiores87.
Por seu turno o recurso visa atacar ou discutir, a
princípio, pontos que o recorrente entenda como desfavoráveis à sua
pretensão expressos na decisão judicial visando impugná-las, no todo ou
em partes, para que se restituam as condições processuais anteriores88.
A respeito do recurso, Jorge89 leciona que:
Na exegese da palavra é possível encontrar o objetivo do
instituto, que é fazer desaparecer a situação configurada
com a sentença. Apesar de o sentido etimológico fornecer
uma cera compreensão, o que interessa é um
entendimento estrito e técnico dos recursos. [...] Se é
possível dizer que os recursos e as ações autônomas de
86 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento, V. 1., 2002, p. 578.
87 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil: processo de conhecimento. V. 1. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 648.
88 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Recurso extraordinário e recuso especial: recursos no processo civil, 2003, p. 17-18.
89 JORGE, Flávio Cheim. Apelação cível: teoria geral e admissibilidade. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 46-47.
28
impugnação têm o mesmo sentido finalístico - reformar ou
anular a decisão judicial -, o fato de com a interposição do
recurso não se instaurar um novo processo, mas,
simplesmente, provocar a extensão daquele já existente,
permite diferenciá-lo de forma precisa. O prolongamento
da mesma relação processual e a finalidade de impugnar a
decisão são as características essenciais para se conceituar
o recurso.
Assim sendo, o recurso é o meio hábil colocado à
disposição das partes na relação processual, através do qual o recorrente
pretende impugnar, no decorrer do próprio processo, um pronunciamento
judicial que, a princípio ou sobre a sua ótica, lhe tenha causado prejuízo,
cujo objetivo é, senão outro, o de ver modificada, anulada ou esclarecida
a decisão atacada pelo recurso, desde que estejam presentes as
condições jurídicas para a sua admissibilidade90.
2.2 DA CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS
Os recursos, a princípio podem ser classificados em
recursos ordinários e recursos extraordinários conforme determinação
prevista nos artigos 102 e 105 da Constituição Federal de 1988. Os primeiros
são aqueles regulamentados pelo processo comum e visam a correição
de algum prejuízo; já os recursos extraordinários, embora também sejam
aplicáveis ao processo comum, estão consagrados na esfera
constitucional, cuja finalidade visa não tão e somente a correção de caso
concreto, como também, propiciar a uniformidade da interpretação da
90 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Recurso extraordinário e recuso especial: recursos no processo civil, 2003, p. 17-18.
29
norma jurídica federal, assim como garantir a eficácia dos preceitos
constitucionais91.
Neste sentido Santos92 ensina que:
Considerando-se a fonte legal do recurso, é ele ordinário ou
extraordinário: ordinário, quando sua fonte é a lei
processual; extraordinário, quando a sua fonte é a
Constituição Federal. Assim, são ordinários todos os recursos
instituídos pelo Código de Processo Civil, art. 496, I a IV;
extraordinário será o assim denominado e instituído pela
Constituição, art. 102, III. Mas conforme esse critério, como
extraordinário ter-se-ia igualmente que classificar o recurso
ordinário e o recurso especial, criados também pela
Constituição, arts. 102, II, a, e 105, II, b e c. e III, o que seria,
evidentemente uma extravagância.
O recurso ordinário é todo aquele no qual a
sucumbência por si só já constitui motivos suficientes e necessários para
que se possa formular um novo pedido de reexame da decisão
considerada como prejudicial à parte que dele faz uso, desde que
estejam preenchidos os pressupostos de admissibilidade para a sua
tramitação, assim sendo, no recurso comum, a subjetividade do direito de
requerer o reexame da decisão decorre diretamente da sucumbência da
própria sentença93.
No que concerne aos recursos extraordinários Ribeiro94
leciona que:
91 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e processos nos tribunais, V. 2., 2007, p. 301.
92 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. V. 3. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p.103.
93 MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil. V. II. 9. ed. São Paulo: Millennium Editora, 2003, p. 384.
94 RIBEIRO, Pedro Barbosa. Curso de direito processual civil: processo de conhecimento. V. I. Tomo I. Porto Alegre: Síntese, 1998, p. 134.
30
Os recursos extraordinários são os que criados pela
Constituição da República. Tais são: o recurso extraordinário
para o Supremo Tribunal Federal (art. 102, III, letras “a”, “b” e
“c”, da Constituição Federal); o recurso especial, para o
Superior Tribunal de Justiça (art. 105, III, letras “a”, “b” e “c”,
da Constituição da República) e os recursos ordinários para
o Supremo Tribunal Federal (art. 102, II, letras “a” e “b”, da
Constituição Federal, embora estes só existam nos processo
crimes) e para o Superior Tribunal de Justiça (art. 105, II, “a”,
“b” e “c”, da Constituição Federal, o primeiro relativo a
processo-crime e os demais, a processos-cíveis).
Por sua vez o recurso especial é todo aquele no qual o
direito subjetivo de recorrer da sentença deriva da norma processual que
define quais são os requisitos necessários para que o mesmo seja
interposto95.
Já os recursos ordinários são divididos ou classificados
em duas outras espécies, os recursos comuns e os recursos específicos. Os
recursos comuns possuem como requisitos fundamentais a própria
sucumbência e, por sua vez, os recursos específicos exigem certa situação
especifica prevista na norma jurídica processual96.
2.3 DA ADMISSIBILIDADE E DOS PRESSUPOSTOS GERAIS DOS RECURSOS
O objetivo ou o efeito que se pretende com o recurso
é que a decisão exarada em primeira instância seja examinada e, mesmo,
impugnada pela instância superior (Tribunal). Denomina-se juízo ad a quo
95 MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil. V. II., 2003, p. 384.
96 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e processos nos tribunais, V. 2., 2007, p. 301-302.
31
a instância contra qual se pretende recorrer e, juízo ad quem o Tribunal
para quem se direciona o recurso para ser examinado97.
Gonçalves98 leciona que:
Antes de apreciar o mérito dos recursos, é preciso que sejam
examinados os requisitos de admissibilidade. São
pressupostos indispensáveis para que o recurso possa ser
conhecido, e constituem matéria de ordem pública, que
deve ser examinada de ofício. Sem o seu preenchimento, a
decisão não será reexaminada pelo órgão ad quem.
Esta admissibilidade recursal se subordina, justamente
ao cumprimento de determinados requisitos ou pressupostos, uns de
ordem objetiva que se ligam ao recurso em si mesmo e que por isto
mesmo assim o são considerados; e, outros de ordem subjetiva que se
relacionam com a pessoa que figura no pólo ativo do recurso, ou seja, o
recorrente99.
Conforme se observa, ao se interpor o recurso, o
mesmo se transforma em ato postulatório e se submete, desde logo, à
análise da sua admissibilidade, que, em um primeiro momento, salvo no
caso dos recursos de agravo, se dará junto ao órgão que exarou a
sentença a ser recorrida, que tomará conhecimento do recurso e
verificará se estão presentes os requisitos para a sua admissibilidade e,
estando os mesmos preenchidos, remeterá o recurso ao juízo ad quem100.
Marques101 leciona que o:
97 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e processos nos tribunais, V. 2., 2007, p. 302.
98 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: processo de conhecimento e procedimentos especiais, V. 2., 2008, p. 44.
99 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, V. 3., 2003, p. 87.
100 MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil. V. II., 2003, p. 391.
101 MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil. V. II., 2003, p. 391.
32
Objeto desse juízo de admissibilidade são os pressupostos
recursais, isto é, os requisitos necessários para que o juízo ad
quem decida o mérito do recurso interposto. Embora cada
recurso tenha seus pressupostos próprios e particulares, para
todos os procedimentos recursais há, no entanto, requisitos
ou exigências gerais e comuns no tocante a sua
admissibilidade, e que se agrupam em pressupostos
objetivos e pressupostos subjetivos. Além disto, há um
pressuposto fundamental, pressuposto dos pressupostos de
admissibilidade de qualquer recurso: a sucumbência.
Como dito anteriormente, os pressupostos gerais a
serem observados no momento do exame da admissibilidade do recurso
são objetivos e subjetivos. Os primeiros dizem respeito ao cabimento e a
adequação do recurso, à sua tempestividade, à sua regularidade quanto
ao procedimento (que inclui a motivação para a propositura do recurso e
o recolhimento das custas regimentais impostas pelo Poder Judiciário) e,
por fim, a verificação se há ou não fatos impeditivos ou extintivos. Os
pressupostos subjetivos, por sua vez, dizem respeito à legitimidade e ao
interesse de agir originado da sucumbência102.
Vale ressaltar que os pressupostos recursais são muito
semelhantes, de certa forma, às condições da ação e, deste modo, um
recurso será cabível se houver previsão para sua propositura no
ordenamento jurídico processual, assim como para que seu mérito seja
julgado procedente103.
Neste sentido Grecco Filho104 assevera que:
102 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e
processos nos tribunais, V. 2., 2007, p. 303.
103 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: processo de conhecimento e procedimentos especiais, V. 2., 2008, p. 45.
104 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e processos nos tribunais, V. 2., 2007, p. 303.
33
O cabimento do recurso significa a existência no sistema
processual brasileiro do tipo de recurso que se pretende
utilizar e sua adequação, ou seja, sua aplicabilidade à
reforma da decisão impugnada, e também que a decisão
seja recorrível. Assim, além de existir no sistema processual
brasileiro como possível para determinada decisão, o
recurso dever ser o próprio para atacar a decisão que
gerou o gravame.
No exame da admissibilidade recursal dois princípios
devem de pronto ser observados para que o recurso seja conhecido. O
primeiro, o princípio da unirrecorribilidade determina que somente um
recurso pode ser interposto para cada decisão, de tal modo que caberá
ao recorrente identificar no ordenamento jurídico processual qual a
espécie de recurso que melhor se adequa ao caso concreto, uma vez
que não se admite a interposição de dois recursos ao mesmo tempo
frente a uma única decisão. O segundo, o princípio da fungibilidade diz
respeito justamente às espécies de recursos, ou seja, ao interpor o recurso
a requerente pode utilizar, de maneira equivocada um recurso que não o
adequado ao caso concreto e, em se verificando que não ouve má-fé ou
um erro extremamente grosseiro, mais sim um equívoco, poderá o Tribunal
conhecer do recurso interposto105.
Outro aspecto que deve ser levado em conta para
que o recurso seja conhecido ou não pelo Tribunal, isto é, seja admissível,
diz respeito à sua tempestividade, que não mais é que a observação do
prazo previsto no ordenamento processual, ou seja, a interposição do
recurso deverá ocorrer dentro de tempo hábil estabelecido para cada
uma das espécies de remédio recursal, pois do contrário estará precluso o
direito de recorrer. Vale lembrar que os prazos recursais não são os mesmo
105 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e
processos nos tribunais, V. 2., 2007, p. 304.
34
para todas as espécies de recursos e, portanto, cada qual terá seu prazo
para interposição definidos pelo ordenamento jurídico processual106.
A este respeito Grecco Filho107 leciona que:
Quanto à tempestividade, prevê a lei determinado prazo
para cada recurso. O art. 508, do código tentou a
unificação, estabelecendo que em todos os recursos, salvo
o agravo e os embargos de declaração, o prazo para
interpor e para responder será sempre de quinze dias.
Temos, então, que a apelação, os embargos infringentes do
art. 530, os embargos de divergência, o recurso
extraordinário, o ordinário e o recurso especial têm prazo de
quinze dias para a interposição e resposta. O agravo tem
prazo de dez dias. Os embargos de declaração (art. 536)
têm prazo de cinco dias e os embargos infringentes da Lei n.
6.380/80, prazo de dez dias. O prazo de interposição dos
recursos é próprio, fatal, improrrogável, ou seja, se
descumprido, determina a perda do direito de recorrer,
com a preclusão ou o trânsito em julgado da decisão,
conforme o caso.
Haverá a interrupção do prazo recursal, situação na
qual o mesmo voltará a fluir novamente, de acordo com o disposto no
artigo 507 do Código de Processo Civil, quando durante o decorrer do
prazo recursal ocorrer o falecimento do recorrente ou de seu advogado,
ou ainda se advir algum motivo de força maior que leve à suspensão do
curso do processo, cujo prazo será restabelecido em sua totalidade em
favor da parte, quando sobrevier motivos de força maior ou falecimento
do advogado; ou em favor dos herdeiros ou sucessores quando se tratar
do falecimento da parte que pretendia interpor o recurso108.
106 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, V. 3., 2003, p. 88.
107 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e processos nos tribunais, V. 2., 2007, p. 304-305.
108 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, V. 3., 2003, p. 89.
35
A respeito do prazo recursal Gonçalves109 ensina que:
O prazo é contato na forma da lei processual, com início na
data em que as partes são intimadas do ato judicial,
excluindo-se o dia da intimação e incluindo-se o dia do
vencimento. O início e o final da contagem só podem cair
em dias úteis. Se um ato judicial é publicado na sexta-feira,
o prazo recursal terá início na segunda-feira subseqüente. A
intimação das partes é feita, em regra, com a publicação
do ato no Diário oficial, salvo se a decisão for proferida em
audiência, quando as partes sairão intimadas. O fluxo do
prazo é interrompido com a interposição, por qualquer das
partes, de embargos de declaração. A interposição
favorecerá a todos, e se verificará mesmo que os embargos
sejam rejeitados, ainda que considerados de má-fé. A lei
processual prevê a sanção adequada (multa) caso isso
ocorra. Não pode o juiz, a título de apenar o que age de
má-fé, puni-lo com uma sanção não prevista no
ordenamento, a perda da eficácia interruptiva dos
embargos. Há uma única hipótese em que eles não terão o
efeito que lhes é peculiar: quando forem opostos
intempestivamente.
Vale lembrar que os recursos, para serem conhecidos
pelo juízo ad quem, devem necessariamente estarem motivados, ou seja,
conterem as fundamentações legais que justifiquem o direito de recorrer,
assim como deverá obrigatoriamente haver o preparo do mesmo, isto
implica dizer que o recorrente deverá recolher aos cofres do Poder
Judiciário das custas judiciais, pois do contrário o recurso não será
encaminhado para o Tribunal competente. Somente haverá a dispensa
do preparo ou do recolhimento das custas judiciais quando for
concedida, ao recorrente, a justiça gratuita, assim como, daqueles
109 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: processo de
conhecimento e procedimentos especiais, V. 2., 2008, p. 50-51.
36
previstos no parágrafo primeiro do artigo 511110 do Código de Processo
Civil111.
2.4 DOS EFEITOS DOS RECURSOS: Devolutivo e Suspensivo
Como ato jurídico que é, a interposição de recurso
visará a produção de determinado efeito, também de caráter judicial que
poderá atender ou não a pretensão do recorrente. Geralmente a
propositura de qualquer recurso produz, de imediato, dois efeitos, um
denominado de efeito devolutivo e outro de efeito suspensivo112.
Gonçalves113 abordando a temática leciona que:
Por efeitos entendem-se as conseqüências jurídicas que
resultam, para o processo, da interposição do recurso. Os
dois efeitos tradicionais são o devolutivo, que todo recurso
tem, e que consiste na restituição ao órgão ad quem do
conhecimento da matéria impugnada, e o suspensivo, que
impede a decisão de produzir seus efeitos até que ele seja
apreciado.
O efeito devolutivo tem por objetivo a devolução da
matéria recorrida ao juízo ad quem que apreciará os fatos e os direitos
contidos na decisão, isto implica dizer que o recurso será encaminhado à
instância superior para que esta reexamine os pontos da sentença
110 Art. 511. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção. § 1o São dispensados de preparo os recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelos Estados e Municípios e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal.
111 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e processos nos tribunais, V. 2., 2007, p. 307.
112 RIBEIRO, Pedro Barbosa. Curso de direito processual civil: processo de conhecimento. V. I. Tomo I., 1998, p. 137.
113 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: processo de conhecimento e procedimentos especiais, V. 2., 2008, p. 77.
37
impugnados pelo recurso visando a reformulação total ou parcial do
conteúdo da decisão a ser ratificada ou não pelo Tribunal ad quem114.
Marques115 leciona que:
Quando interposto um recurso, fica devolvido à jurisdição
superior o conhecimento do processo e do litígio, para que
se faça o reexame da decisão, julgamento ou sentença
recorrida. É por isso que “o julgamento proferido pelo
tribunal substituirá a sentença ou decisão recorrida no que
tiver sido objeto de recurso” (art. 512). Todos os recursos têm
efeito devolutivo, porquanto transfere-se ao órgão judiciário
para o qual se recorre o conhecimento do que foi decidido
no juízo contra o qual o recurso é interposto. A devolução
opera-se dentro dos limites em que o recurso foi
apresentado e formulado.
Já o efeito suspensivo tem por finalidade a suspensão,
a eficácia ou ainda obstar a sentença em seus efeitos constitutivos,
declaratórios ou condenatórios, de tal maneira que, os mandamentos
contidos da sentença ficam sem os efeitos que produziria na esfera
jurídica enquanto o Tribunal ao qual o recurso se dirige não exare um
pronunciamento a respeito do conteúdo da própria sentença, assim
como da pretensão reivindicada no recurso116.
Assim sendo, têm-se que todos os recursos se
apresentam como devolutivos, ou seja, todos serão apreciados pelo juízo
ad quem, para que esse tome conhecimento dos fatos e dos direitos
demandados, assim como do conteúdo de sentença exarada no juízo ad
quo analisando o requerimento do recorrente em todo ou em parte,
podendo vir a alterar os mandamentos da decisão ou não. Por outro lado,
114 RIBEIRO, Pedro Barbosa. Curso de direito processual civil: processo de conhecimento.
V. I. Tomo I., 1998, p. 137. 115 MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil. V. II., 2003, p. 385. 116 RIBEIRO, Pedro Barbosa. Curso de direito processual civil: processo de conhecimento.
V. I. Tomo I., 1998, p. 137.
38
o recurso tem efeito suspensivo justamente por bloquear os efeitos jurídicos
que a sentença provocaria, mantendo-os inertes ate que o juízo ad quem
exare sua decisão a respeito do recurso é, pois uma forma processual de
se evitar a preclusão ou o trânsito em julgado da sentença117.
2.5 ASPECTOS GERAIS DOS RECURSOS EM ESPÉCIE
2.5.1 Apelação
Inicialmente cabe ressaltar que a apelação é uma
espécie de recurso interpostos das sentenças terminativas em processos
tanto de jurisdição contenciosa como de jurisdição voluntária, visando
que instância superior competente, conheça, processe e julgue a matéria
contida na decisão da instância inferior e atacada pelo recurso de
apelação118.
Segundo leciona Gonçalves119, a apelação:
Cabe contra todo tipo de sentença, seja ela de mérito ou
meramente terminativa. Aquele que apela objetiva a
reforma ou a anulação da sentença, por um órgão
diferente, e superior, àquele que a proferiu. Serve para que
alegue tanto error in procedendo como error in judicando.
Presta-se para impugnar as sentenças proferidas em todos
os tipos de processo, nos de conhecimento, de execução e
cautelar, nos procedimentos de jurisdição contenciosa e
voluntária.
117 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e
processos nos tribunais, V. 2., 2007, p. 312-313-314.
118 PARIZATTO, João Roberto. Recurso no processo civil: doutrina e jurisprudência de acordo com as leis n. 8.950, de 13.12.1994 e 9.139 de 30.11.1995, 1997, p. 26.
119 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: processo de conhecimento e procedimentos especiais, V. 2., 2008, p. 90 .
39
Através do recurso de apelação é possível se discutir
novamente todas as questões anteriormente abordadas no juízo de
primeiro grau, tanto no que concerne aos fatos como ao direito
anteriormente discutido de modo a renovar-se o exame da causa, salvo,
somente, as questões definidas antes de proferida a sentença e que já
tenham sido alcançadas pela preclusão120.
Por se tratar de espécie de recurso, aplica-se à
apelação os mesmos requisitos de admissibilidade, ou seja, ela somente
será conhecida pelo Tribunal Superior se estiverem preenchidos os
pressupostos objetivos e subjetivos, ou seja, legitimidade da parte, o
interesse em agir, o cabimento e sua adequação, a tempestividade, a
inexistência de fatos impeditivos e extintivos, a motivação e a
regularidade procedimental121.
A apelação é uma petição protocolada junto ao juízo
que prolatou a sentença e deve obrigatoriamente conter os nomes das
partes e as suas qualificações, assim como apresentar claramente os
fundamentos dos fatos e do direito e o pedido para o reexame da
sentença apelada pelo Tribunal Superior competente, conforme disposto
no artigo 514, I a II, do Código de Processo Civil brasileiro122.
A apelação deverá ser interposta no prazo máximo de
quinze dias contados da publicação da sentença contra a qual se
pretenda apelar. Trata-se assim de recurso interposto junto ao juízo de
primeira instância para que este tome conhecimento do recurso e o
120 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e
processos nos tribunais, V. 2., 2007, p. 325.
121 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: processo de conhecimento e procedimentos especiais, V. 2., 2008, p. 90 .
122 PARIZATTO, João Roberto. Recurso no processo civil: doutrina e jurisprudência de acordo com as leis n. 8.950, de 13.12.1994 e 9.139 de 30.11.1995, 1997, p. 26.
40
encaminhe para a Instância superior para ser conhecido, processado e
julgado123.
Quanto aos seus efeitos Grecco Filho124 ensina que:
O efeito devolutivo da apelação, em sua extensão e
profundidade, está regulado que está nos arts. 515 a 517 do
Código. Além desse efeito, de regra a apelação tem
também efeito suspensivo da eficácia da decisão,
impedindo que ela seja efetivada. Enquanto cabível a
apelação (durante quinze dias contados da intimação) e
interposta, até que o tribunal se pronuncie, a regra é que se
produza o duplo efeito, o devolutivo e o suspensivo. A
apelação somente será recebida no efeito devolutivo
quando interposta de sentença que I- homologar a divisão
ou demarcação; II – condenar à prestação de alimentos; III
- julgar a liquidação de sentença; IV – decidir o processo
cautelar; V – rejeitar liminarmente embargos à execução ou
julgá-los improcedentes; VI – julgar procedente o pedido de
instituição de arbitragem; VII – confirmar a antecipação dos
efeitos da tutela.
No que diz respeito à sua extensão a apelação poderá
ser plena ou integral e limitada ou parcial, isto de acordo com o objetivo
da impugnação da sentença, ou seja, se total ou se parcial e se traduz em
uma medida de caráter voluntário, isto porque, se não houver o interesse
por parte do apelante em agir, a mesma não poderá ser interposta de
ofício125.
123 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e
processo de conhecimento. V. 1., 2002, p. 606.
124 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e processos nos tribunais, V. 2., 2007, p. 329.
125 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. V. 3., 2003, p.114.
41
2.5.2 Dos Embargos
O termo embargos, no vocabulário da língua
portuguesa deve ser analisado sob dois pontos de vista, um no singular e
outro no plural. No singular, a palavra embargo tem por significado
comum, empecilho, obstáculo ou impedimento. No plural, o termo, na
esfera do Direito Processual Civil abarca uma série de significados dada a
amplitude da sua aplicabilidade como recurso em várias espécies de
ações, mas que, no entanto, tem por finalidade opor obstáculo a uma
determinada decisão proferida pelo juízo de primeira instância126.
Segundo leciona Grecco Filho127:
No direito processual, o termo “embargos” é equivoco,
porque utilizado para entidades de natureza diferente.
“Embargos” podem ser ação, como procedimento especial
(ex.: embargos de terceiros), ação incidental em que se
efetiva a defesa do devedor na execução (embargos do
devedor), medidas constitutivas (ex.: o embargo na
nunciação de obra nova) e ainda recursos. Mesmo no
campo recursal há vários tipos de embargos: a) embargos
infringentes (art. 530); b) embargos de declaração; c)
embargos infringentes da Lei n. 6.380/80; d) embargos
infringentes contra decisões em causas de competência
originária do Supremo Tribunal Federal; e e) embargos de
divergência no Supremo Tribunal Federal e no Superior
Tribunal de Justiça e nos referidos na Lei Orgânica da
Magistratura Nacional.
No sistema processual civil brasileiro existem os
embargos infringentes e os embargos de declaração, estes últimos se
126 RIBEIRO, Pedro Barbosa. Curso de direito processual civil: processo de conhecimento.
V. I. Tomo I.,1998, p. 199-200. 127 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e
processos nos tribunais, V. 2., 2007, p. 357.
42
dividem em embargos de declaração em primeira instância e embargos
de declaração em segunda instância128.
Os embargos infringentes são todos aqueles dirigidos
contra acórdão que não tenha sido proferido com unanimidade em
julgamento de recurso de apelação ou em ação rescisória. Podendo,
ainda, de acordo com a Súmula 255 do Superior Tribunal de Justiça, ser
interposto embargos contra acórdão que mesmo proferido por maioria,
em agravo retido, em se tratando de matéria que verse sobre o mérito da
causa129.
Neste sentido Gonçalves130 leciona que:
Cabem embargos infringentes contra acórdão não
unânime que houver reformado, em grau de apelação, a
sentença de mérito, ou houver julgado procedente ação
rescisória (CPC, art. 530). Tal como no sistema anterior, a
extensão dos embargos infringentes é condicionada pela
matéria que tenha sido objeto da divergência. Só aquilo
que foi objeto de voto vencido é que será discutido.
Os embargos infringentes devem ser interpostos através
de petição dirigida ao relator do processo recorrido por meio de
apelação ou responsável pelo julgamento da ação rescisória, que
decidirá a respeito do cabimento ou não dos embargos, isto é, o relator
analisará a existência dos pressupostos gerais e específicos para a
admissibilidade do recurso de embargos infringentes131.
128 RIBEIRO, Pedro Barbosa. Curso de direito processual civil: processo de conhecimento.
V. I. Tomo I.,1998, p. 202. 129 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e
processo de conhecimento. V. 1., 2002, p. 636.
130 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: processo de conhecimento e procedimentos especiais, V. 2., 2008, p. 123 .
131 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e processos nos tribunais, V. 2., 2007, p. 360.
43
Quanto aos seus efeitos, os embargos infringentes
possuem tanto os efeitos devolutivo como suspensivo. Entretanto, o efeito
devolutivo somente se opera no que concerne a matéria que constituía o
objeto dos embargos e dentro da limitação da impugnação que o
mesmo pretendia, ou ainda nos limites do requerimento formulado pelo
embargante. Em seu efeito suspensivo, os embargos infringentes implicam
na suspensão da eficácia do acórdão embargado, somente no âmbito
do objeto contido no embargo.132
Já os embargos de declaração são aqueles cuja
existência está intimamente ligada ao princípio da inafastabilidade do
controle jurisdicional, isto porque, podem ser objeto dos embargos
declaratórios todas as decisões interlocutórias, as sentenças e os
acórdãos133.
Por sua vez Gonçalves134 leciona que:
A finalidade dos embargos de declaração é distinta.
Servem não para modificar a decisão, mas para integrá-la,
e sanar os vícios de obscuridade, contradição ou omissão
que ela contenha. Sua função é complementar ou
esclarecer a decisão. Por isso, eles não são apreciados por
um órgão diferente, mas pelo órgão que a prolatou.
Os embargos de declaração podem, também ser
interpostos, além da sentença de primeiro grau, em face de acórdãos
proferidos na estância de segundo grau, desde que o mesmo tenha por
132 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. V. 3., 2003, p.149-
150.
133 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. V. 1., 2002, p. 645.
134 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: processo de conhecimento e procedimentos especiais, V. 2., 2008, p. 123 .
44
objetivo sanar obscuridades, omissões ou contradições existentes no
conteúdo do acórdão135.
Por força da norma processual civil os embargos de
declaração devem ser opostos no prazo de cinco dias da data da
publicação da sentença ou do acórdão a ser embargado através de
petição dirigida ao magistrado ou ao relator e, que deverá apontar
claramente quais são os pontos obscuros, contraditórios ou omissos da
decisão prolatada, conforme disposto no artigo 536 do Código de
Processo Civil brasileiro136.
Além dos embargos infringentes e de declaração,
existem ainda, os embargos de alçada, previstos na Lei nº 6.830/80 que
trata das execuções fiscais, cujo prazo para oposição é de dez dias
contados da publicação da decisão, nota-se que esta espécie de
embargo é dirigida ao juiz da causa, salvo se tiver sido interposta
apelação. Há também os embargos de divergência (art. 546 do Código
de Processo Civil) que são interpostos contra decisão da turma quando o
julgamento de um recurso especial ou extraordinário, for divergente do
julgamento exarado por outra turma ou do plenário, esta espécie de
embargo deverá ser interposta no prazo de quinze dias, sendo seu
procedimento regulamentado pelos Regimentos Internos de cada órgão
judicante137.
135 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e
processos nos tribunais, V. 2., 2007, p. 361.
136 MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil. V. II., 2003, p. 428.
137 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e processos nos tribunais, V. 2., 2007, p. 362-363.
45
2.5.3 Dos Recursos para os Tribunais Superiores: ordinário, especial e
extraordinário
O recurso ordinário é um dos três recursos dirigidos para
o Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, sendo que
as possibilidades ou as hipóteses para o cabimento do recurso ordinário
estão tipificadas na Constituição Federal de 1988 (artigos 102 e 105). São
cabíveis os recursos ordinários em face do Supremo Tribunal Federal em
decisões do Superior Tribunal de Justiça que tenham denegado mandado
de segurança, mandado de injunção ou hábeas data. Já os recursos
ordinários em face do Superior Tribunal de Justiça os mandados de
segurança decididos nos Tribunais Regionais, estaduais ou federais e do
Distrito Federal, quando denegatória a decisão. Cabe, ainda recurso
ordinário nas causas nas quais figurarem como parte entidades públicas
ou privadas estrangeiras e no outro pólo pessoas residentes e domiciliadas
no Brasil ou os municípios138.
Segundo Grecco Filho139:
A denominação “recurso ordinário” tem uma significação
processual bem clara, qual seja, a de permitir o exame de
matéria de direito de fato, Além disso, significa não ter
restrições especiais, salvo os pressupostos gerais dos recursos
e as hipóteses de cabimento. Seu efeito devolutivo é amplo,
nos mesmos moldes da apelação. É importante observar
que o recurso não terá, também, qualquer limitação quanto
à matéria alegada. Até mesmo direito estadual ou
municipal poderá ser invocado.
O prazo para a interposição do recurso ordinário é de
quinze dias contados da publicação do acórdão e deverá ser dirigido ao
138 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: processo de
conhecimento e procedimentos especiais, V. 2., 2008, p. 141 .
139 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e processos nos tribunais, V. 2., 2007, p. 362-363.
46
relator que analisou o processo recorrido, sendo aplicadas ao recurso
ordinário as regras previstas para o recurso de apelação disciplinadas no
artigo 540 do Código de Processo Civil. Cabe lembrar que diferentemente
dos recursos especial e extraordinário, não há, para o recurso ordinário a
exigência do prequestionamento140.
Os recursos especial e extraordinário como as suas
próprias nomenclaturas já definem, são recursos de cunho excepcionais e
serem como garantia da tutela jurisdicional e da aplicabilidade da
Constituição Federal de 1988 a serem efetivamente desempenhadas pelo
Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça141.
Neste sentido Parizatto142 leciona que:
O recurso especial foi criado pela Constituição da
República de 1988 (art. 105, III); trata-se, portanto, de
recurso de origem constitucional que tem a finalidade de
garantir a autoridade da Lei Federal e uniformizar a sua
interpretação, velando pela exata aplicação do direito aos
fatos que as instâncias ordinárias soberanamente
examinaram.
Por sua vez, Gonçalves143 ao abordar os recursos
especial e extraordinário assevera que:
São aqueles excepcionais, em oposição aos ordinários,
porque cabem em hipóteses específicas, e devem
preencher requisitos de admissibilidade muito mais rigorosos.
Além disso, têm por objetivo permitir o reexame apenas da
matéria de direito, ao contrário dos recursos comuns, em
140 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: processo de
conhecimento e procedimentos especiais, V. 2., 2008, p. 142 .
141 MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil. V. II., 2003, p. 449.
142 PARIZATTO, João Roberto. Recurso no processo civil: doutrina e jurisprudência de acordo com as leis n. 8.950, de 13.12.1994 e 9.139 de 30.11.1995, 1997, p. 126.
143 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: processo de conhecimento e procedimentos especiais, V. 2., 2008, p. 142 .
47
que se admite o exame dos fatos e do direito. Ao contrário
destes, que são dirigidos aos tribunais estaduais, ou aos
tribunais regionais federais, os recursos excepcionais são
sempre dirigidos aos órgãos de cúpula do Poder Judiciário,
o STJ e o STF.
Além dos pressupostos gerais atinentes aos recursos,
em se tratando do recurso especial, dois outros pressupostos devem ser
levados em consideração, os prévios ou preliminares e os relativos às
permissões constitucionais para a sua interposição144.
Os pressupostos prévios determinam que somente
poderá ser proposto o recurso especial depois de esgotados todos os
demais meios recursais; que a decisão a ser recorrida obrigatoriamente
tenha sido proferida por algum Tribunal, ou seja, a matéria deverá ter sido
prequestionada anteriormente pelo referido Tribunal; quando o recurso
versar a respeito de matéria processual que não tenham sido alcançadas
pela preclusão; somente será admitido recurso especial que discorra a
respeito de direito e não de fatos, assim como a respeito de direito previsto
em norma federal145.
Os pressupostos pertinentes aos permissivos
constitucionais determinam que cabe o recurso especial quando a
sentença ou o acórdão nitidamente apresentar contrariedade a tratado
ou a uma lei federal, ou ainda, pretender negar-lhes a vigência; em face
de divergência a aplicabilidade de norma ou lei municipal e estadual
diante da existência da lei federal e caso ocorram divergências entre
Tribunais a respeito da interpretação da lei federal146.
144 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e
processos nos tribunais, V. 2., 2007, p. 371.
145 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e processos nos tribunais, V. 2., 2007, p. 371-372.
146 GRECCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: atos processuais e recursos e processos nos tribunais, V. 2., 2007, p. 373-374.
48
Wambier147 ensina que:
O recurso especial se presta a uniformizar as jurisprudência
(entendimento dos tribunais acerca do direito posto) dos
Estados, para que a lei federal não seja interpretada de
modo diverso em diferentes Estados, é claro que não pode
ser apontado como paradigma acórdão do mesmo tribunal
(Súmula 13 do STJ).
Já o recurso extraordinário tem por finalidade e por
pressupostos questões controvertidas na esfera constitucional, tem, assim,
a função de tutelar a autoridade e a unidade da Constituição Federal de
1988, justamente por garantir que a Lei Maior tenha sua positividade
aplicada com validade e autoridade de maneira uniforme e soberana
sobre todo o território nacional148.
Conforme leciona Gonçalves149, a respeito do recurso
extraordinário:
Trata-se de recurso que tem por objetivo levar ao STF
questões relacionadas à vulnerabilidade de dispositivos
constitucionais. Compete a ele, órgão da cúpula do Poder
Judiciário, guardar a Constituição Federal. O controle de
constitucionalidade pode ser direto, por meio de ações
diretas de inconstitucionalidade ou declaratórios de
constitucionalidade, de sua competência originária, ou
difuso. O recurso extraordinário é meio pelo qual as ofensas
à Constituição Federal são levadas ao conhecimento do
STF, em controle difuso. A Emenda Constitucional n. 45/2004
acrescentou um novo requisito de admissibilidade ao
recurso extraordinário, incluindo um § 3º no art. 102. Esse
dispositivo exige, para o recebimento do recurso, que o
recorrente demonstre a repercussão geral das questões
147 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. V. 1., 2002, p. 657.
148 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. V. 3., 2003, p.169.
149 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: processo de conhecimento e procedimentos especiais, V. 2., 2008, p. 164.
49
constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim
de que o Tribunal examine a admissão do recurso, só
podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços dos
seus membros.
Assim sendo tem-se que o recurso extraordinário tem
por finalidade garantir e fazer com que a Constituição Federal de 1988
seja efetivamente cumprida, assim como a lei federal de acordo com a
hierarquia imposta pelo próprio ordenamento jurídico constitucional, de tal
modo que o recurso extraordinário somente é admissível quando a
autoridade e validade da Lei Maior estiver sendo contestada ou
controvertida150.
O presente capítulo teve como objeto a teoria geral
dos recursos e seus principais aspectos, assim como os pressupostos de
admissibilidade recursal. Salienta-se que não foram abordados os agravos,
tanto os de instrumento como o retido, isto porque, os mesmos serão
devidamente abordados no capítulo terceiro que se segue.
150 PARIZATTO, João Roberto. Recurso no processo civil: doutrina e jurisprudência de
acordo com as leis n. 8.950, de 13.12.1994 e 9.139 de 30.11.1995, 1997, p. 152.
50
CAPÍTULO 3
O AGRAVO RETIDO E DE INSTRUMENTO NO SISTEMA PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO: De Acordo com a Lei Nº 11.187/05
3.1 BREVES CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS E CONCEITO DE AGRAVO
Assim como muitos institutos jurídicos no ordenamento
civil e processual civil moderno, possuem suas origens principalmente no
sistema jurídico romano e, em se tratando do Direito Processual Civil
brasileiro, também tem como alicerce o sistema jurídico germânico151.
Neste sentido Franzé152 leciona que:
[...] antigamente, o processo civil, em Roma, visava ao
julgamento da lide. Os pronunciamentos do magistrado ou
tratavam de sentença interlocutória (relativa à questão de
expediente e correlatos) ou de sentença de mérito (ato
razão do qual a ação era acolhida, ou rejeitada, pelo juiz),
sendo que somente esta última era passível de recurso
(appellatio).
Na sociedade romana a participação dos cidadãos
era muito ativa no que diz respeito à busca por seus direitos e sua efetiva
aplicação, de tal modo que o povo romano possuía um forte sentimento
de justiça e, por esta razão, não permitia que o magistrado cometesse
151 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Os agravos no CPC brasileiro. 4. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2006, p. 26. 152 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau
no processo civil. 4. ed. Curitiba: Juruá, 2006, p. 57.
51
qualquer espécie de equívoco no que diz respeito à prolatação da
sentença e seus fundamentos153.
Desta forma, na Roma antiga, não era admitida a
idéia de somente ter à disposição o recurso de apelação (appellatio), isto
porque, ao recorrer prevalecia o entendimento de a sentença exarada
pelo magistrado, quando havia a necessidade do recurso estava
impregnada de erro154.
Ainda na Roma antiga “foi criada a supplicatio, pela
qual o recorrente reconhecia a justiça da sentença, contudo, postulava
pelo abrandamento da pena”155.
Pode-se dizer que a supplicatio existente no Direito
Processual Civil nos tempos de Roma, se traduz no primeiro marco
histórico, a respeito de um recurso com a finalidade de impugnar uma
decisão interlocutória e, assim é a primeira notícia que se tem sobre um
instituto recursal semelhante ao agravo atualmente inserido no sistema
jurídico processual civil156.
Ou seja, é possível perfeitamente afirmar-se que o
recurso de agravo tem como sua fonte ou surgiu após a implantação, no
sistema jurídico processual civil romano do instituto da supplicatio, que viria
mais tarde a inspirar o legislador português a criar o recurso de agravo e, o
153 NORONHA, Carlos Silveira. Do agravo de instrumento. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1995, p. 13.
154 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau no processo civil, 2006, p. 58.
155 NORONHA, Carlos Silveira. Do agravo de instrumento, 1995, p. 13.
156 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau no processo civil, 2006, p. 58.
52
introduzir no Direito Processual Civil lusitano, que, por sua vez viria a ser
adotado no Brasil157.
Segundo Wambier158:
[...] no século XIII e após a expulsão dos árabes da península
ibérica, dom Afonso II, rei de Portugal, que havia estudado
em Paris (onde o Direito Romano tinha ênfase), iniciou
reformas no intuito de reorganizar a justiça e o processo,
uma vez que, até então, a ordem jurídica era imperfeita.
A respeito deste período do Direito em Portugal
Noronha159 leciona que:
Em paralelo, havia duas espécies de sentença, sendo
ambas passíveis de impugnação pelo recurso de apelação:
a) a definitiva, que colocava termo ao processo; b) a
interlocutória, cujo escopo era resolver questões incidentes,
sem findar o processo.
Assim, com base no Direito Processual Civil Romano, no
século XIII foi introduzido, pelo legislador português, no ordenamento
jurídico daquele país, o instituto da suplicação, que tinha como objetivo
atender a necessidade da existência de um dispositivo recursal em face
das sentenças definitivas e interlocutórias160.
Entre os anos de 1425 e 1429, foi criada, em Portugal, a
Casa das Suplicações, que era composta por dois colégios, um cuja
composição era feita pelos sobrejuízes que eram que conheciam e
julgavam as apelações e, o colégio composto por desembargadores-
157 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau
no processo civil, 2006, p. 58.
158 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Os agravos no CPC brasileiro, 2006, p. 27.
159 NORONHA, Carlos Silveira. Do agravo de instrumento, 1995, p. 12.
160 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau no processo civil, 2006, p. 58.
53
agravistas que conheciam e julgavam as suplicações. Por sua vez, neste
período surgiu, também, uma espécie de agravo denominado de
ordinário, cujo procedimento se dava semelhante à suplicação, podendo
ser utilizado tanto em face da sentença definitiva como da sentença
interlocutória161.
Sobre este período do Direito Português Pontes de
Miranda162 ensina que:
Nas ordenações Manoelinas, dês sentenças definitivas
cabia apelação, exceto se emanadas da Relação do
Porto, do Corregedor do Paço, ou do Corregedor de Lisboa,
pois, aí, o recurso cabível seria o de agravo ordinário, similar
à supplicatio romana.
Por sua vez Alla163, leciona que:
O agravo ordinário foi concebido pelo sistema do Código
Manuelino (onde as sentenças eram definitivas,
interlocutórias mistas e interlocutórias simples), sendo
mantido pela Carta Régia, de 05.07.1526, bem como
remanesceu no ordenamento lusitano até 1832.
As principais características do agravo ordinário eram
a possibilidade de se alegar novos fatos, assim como demonstrá-los por
meio de novas provas e a possibilidade de se aplicar à sentença um efeito
suspensivo pelo prazo de até seis meses, porém, este prazo dependeria do
efeito suspensivo da apelação que também deveria ser interposta164.
161 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau
no processo civil, 2006, p. 59.
162 MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Comentários ao código de processo civil. Tomo VII. Rio de Janeiro: Forense, 1975, p. 271.
163 ALLA, Valentina Jungmann Cintra. O recurso de agravo e a lei 9.139 de 30.11.1995. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p. 22.
164 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau no processo civil, 2006, p. 59-60.
54
Conforme ressalta Franze165:
[...] a possibilidade de recursos contra todas as decisões no
processo, comprometia a efetividade da tutela jurisdicional,
estando esse fato, na contramão do anseio da população,
causando, portanto, descrédito em relação à justiça.
Salientamos que até o reinado de dom Afonso II, o recurso
era totalmente desconhecido. No intuito de solucionar o
impasse e resgatar o crédito da justiça, dom Afonso IV
expediu édito revogando a possibilidade de a parte interpor
recurso em relação às sentenças interlocutórias, permitindo,
entretanto, a interposição do recurso apenas na hipótese
de dano irreparável ou que colocasse termo ao processo.
Nesse contexto, colocou-se em discussão o binômio
efetividade/segurança jurídica. E isso porque muitas
decisões ficaram sem recurso cabível e, logicamente,
também geraram intranqüilidade nos súditos.
A fim de solucionar a ausência de um determinado
recurso cabível, foi criado uma nova espécie de recurso denominado de
querimas, também conhecido por querimônias, que nada mais era que
uma petição dirigida ao monarca na qual o interessado expressava suas
reclamações a respeito do processo e “o rei, ao dar provimento às
querimas, determinava a expedição da carta de justiça ao órgão prolator
da decisão impugnada”166.
Pode-se dizer que o agravo, como recurso, tem seus
principais traços na legislação processual civil portuguesa como
derivação das querimônias que foram instituídas com vistas a amenizar a
proibição para a utilização do recurso de apelação imposto pela rígida
legislação ao tempo de dom Afonso IV, em Portugal167.
165 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau
no processo civil, 2006, p. 60.
166 NORONHA, Carlos Silveira. Do agravo de instrumento, 1995, p. 17.
167 MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil, V. II.. 2003, p. 413.
55
Entretanto, àquele tempo, a má-fé também se fazia
presente como atualmente e, em algumas situações as alegações
efetuadas pela parte, junto ao monarca, por meio das querimas,
acabavam por induzi-lo ao erro e, por esta razão, este procedimento foi
aos poucos modificado, ou seja, proibiu-se a possibilidade de dirigir a
monarca. No período de dom Duarte, passou-se a proibir a edição da
carta de justiça e para que alegações fossem recebidas e conhecidas
haveria a necessidade da autenticação da querima pelo oficial
público168.
Santos169 leciona que:
Com as Ordenações Manuelinas operou-se simplificação do
agravo de instrumento, que se tornou cabível apenas para
os casos em que o juízo recorrido ficasse à distância não
superior a cinco léguas do juízo do recurso, situado na
capital do Reino, criando-se, ao lado daquele e com a
mesma finalidade, o agravo de petição, que se processava
e seguia nos próprios autos em que proferida a decisão
recorrida. No reinado de D. João II, por carta régia de 5 de
julho de 1526, aos recursos referidos se acrescentou o de
agravo no auto do processo, interponível de despacho
relativo à ordem procedimental, pela influência que a
mesma pudesse ter no julgamento da causa.
Noronha170, complementa lecionando que:
[...] para os casos em que o juízo ad quem estivesse há
menos de cinco léguas do juízo prolator da decisão
recorrida, o autor interpunha suas razões, e os próprios autos
subiam, não havendo que se aguardar pela formação de
instrumento.
168 NORONHA, Carlos Silveira. Do agravo de instrumento, 1995, p. 18.
169 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, V. 3., 2003, p.129.
170 NORONHA, Carlos Silveira. Do agravo de instrumento, 1995, p. 19.
56
Assim, pode-se dizer que haviam, naquele tempo, duas
modalidades de agravos, o de instrumento e o de petição, cuja principal
diferença entre ambos era o critério da distância e, ainda, o fato de que o
agravo de instrumento era processado através da interposição de
instrumento e, o de petição era interposto nos próprios autos do processo
enviado ao órgão responsável por seu julgamento171.
Ao tempo das Ordenações Filipinas, mantinham-se os
agravos de petição e de instrumento sendo instituída outra modalidade
denominada de agravo de ordenação não guardada, cujo
processamento se dava ora como de petição, ora como de instrumento
dependendo do caso, cujo objetivo era senão outro o de resguardar o
cumprimento de formalidades extrínsecas dos atos processuais172.
A respeito do agravo de ordenação não guardada,
Noronha ensina que: “O referido agravo, na realidade, poderia ter sido
como uma espécie de agravo de instrumento, ou petição. Contudo, teve
duração efêmera, pois foi extinto antes da edição do Código de Processo
Civil Lusitano”173.
Ao tempo da independência do Brasil, vigorava a
legislação portuguesa, ou seja, as Ordenações Filipinas, de tal modo que
haviam as seguintes modalidades de agravos: a) ordinário; b) de
ordenação não guardada; c) de instrumento; d) de petição e, e) no auto
do processo174.
171 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau
no processo civil, 2006, p. 61-62.
172 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, V. 3., 2003, p.129.
173 NORONHA, Carlos Silveira. Do agravo de instrumento, 1995, p. 19.
174 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau no processo civil, 2006, p. 63.
57
Santos175 leciona que:
Dois destes recursos alguns anos depois eram abolidos: o
agravo ordinário, pela Disposição Provisória, de 29 de
novembro de 1832, e o de Ordenação mal guardada, pelo
Reg. nº 143, de 15 de março de 1842. A Disposição
provisória, de 1832, também suprimiu os agravos de petição
e de instrumento, transformado-os em agravos no auto do
processo. Entretanto, foram aqueles revigorados pela Lei de
3 de dezembro de 1841, ao lado do agravo no auto do
processo. Esses três agravos, confirmados pelo Reg. nº 143,
de 1842, se aplicavam aos processos em geral, tanto no
cível como no comercial, até a promulgação do Reg. nº
737, de 1850, e desde então somente às causas cíveis, pois
que dito Regulamento, que disciplinava o processo das
causas comerciais, somente admitia os agravos de petição
e de instrumento.
Durante o período Imperial foi determinado que se
consolidasse, em um único dispositivo legal, todas as legislações
reguladoras do Direito Processual Civil e em 1890 a mesma foi editada,
ficando o Regulamento nº 737 limitado a aplicação às causas na esfera
do Direito Comercial176.
Esta regulamentação da matéria processual civil se
manteve até o período da proclamação da República, vindo a ocorrer
transformações com a promulgação da Constituição Republicana de
1891, inserindo algumas transformações a respeito da matéria processual,
isto porque, o novo texto constitucional introduziu uma dualidade entre a
União e os Estados membros a respeito da competência legislativa sobre
matéria processual, de tal modo que, a partir da promulgação da
175 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, V. 3., 2003, p.129-
130.
176 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Os agravos no CPC brasileiro, 2006, p. 51.
58
Constituição Federal, gradativamente cada Estado Federado passou a
editar seus próprios Códigos de Processo Civil e Penal177.
Como resultado desde autonomia de competência
estendida aos Estados Membros para legislarem em matéria processual foi
a existências de uma miscelânea de codificações que na verdade
acabava por dificultar as relações processuais e não atendiam
satisfatoriamente as necessidades e anseios da sociedade e, deste modo,
em 18.09.1939, foi promulgado o Decreto-lei nº 1.608 que instituiu o Código
de Processo Civil brasileiro, devolvendo ao legislador Federal (Senadores e
Deputados Federais) a competência para legislarem em matéria
processual civil, unificando, assim a matéria em um único diploma178.
O Código de Processo Civil, sofreu, em 1995, com a
edição da Lei nº 9.139 alterações no que concerne ao recurso de agravo
que além de disciplinar sua utilização, também regulamentou duas
modalidades de agravos, o retido nos autos e o de instrumento179.
Santos180, ainda leciona que:
A Lei nº 10.352, de 26 de setembro de 2001, consagrou o
contraditório no agravo retido e preestabeleceu as
situações de cabimento; já no agravo de instrumento,
tratou de ditar regras de agilidade para seu julgamento
(Cód. Proc. Civil., art. 557, I), autorizou a tutela antecipada
(Cód. Proc. Civil., art. 557, III); determinou a
indispensabilidade da juntada aos autos do processo, no
prazo de três dias, da cópia da petição do agravo, sob
177 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau
no processo civil, 2006, p. 64.
178 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau no processo civil, 2006, p. 64.
179 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, V. 3., 2003, p.130.
180 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, V. 3., 2003, p.130.
59
pena de não-conhecimento do recurso, desde que argüido
e provado pelo agravado (Cód. Proc. Civil., art. 526),
parágrafo único), entre outras alterações (p. ex.:
possibilidade de conversão do agravo de instrumento em
agravo retido) (Cód. Proc. Civil., art. 557, II).
Mais recentemente, em 2005, a edição da Lei nº
11.187, promoveu novas alterações no recurso de agravo, principalmente
nos artigos 522, 523 e 527, ocorrendo a eliminação o recurso antes cabível
em face de decisão que determinava a conversão de agravo de
instrumento em agravo retido, entre outras que serão posteriormente
abordadas181.
Sob o ponto de vista conceitual, o agravo é uma
modalidade de recurso que se destina a impugnar um ato decisório do
magistrado, que tenha causado algum gravame ou prejuízo à parte
agravante, será de instrumento, porque se processamento,
diferentemente de outros recursos processuais se dá em autos apartados,
já, por sua vez, retido, que é aquele que é autuado e processado nos
próprios autos nos quais emanou a sentença recorrida182.
Segundo ensina Wambier “O agravo é recurso cabível
de toda e qualquer decisão interlocutória proferida no processo civil, salvo
se houver disposição expressa do legislador em sentido contrário”183.
Conforme ensina Parizatto184:
O agravo pode ser conceituado como o recurso processual
cabível contra as decisões proferidas no processo, em
prejuízo dos direitos das partes, excluindo-se, pois, as 181 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Os agravos no CPC brasileiro, 2006, p. 85-86.
182 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, V. 3., 2003, p.131.
183 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento, V. 1., 2002, p. 603.
184 PARIZATTO, João Roberto. Recurso no processo civil: doutrina e jurisprudência de acordo com as leis n. 8.950, de 13.12.1994 e 9.139 de 30.11.1995, 1997, p. 52.
60
sentenças e os despachos de mero expediente, dos quais
não cabe recurso. Abrange, assim, as decisões
interlocutórias proferidas no processo de conhecimento, de
execução, cautelar, nos procedimentos comuns e nos de
jurisdição voluntária ou contenciosa.
Assim, o agravo, como instituto processual recursal,
significa o mesmo que gravame sofrido por uma das partes ou de ambas,
cuja sentença tenha causado algum prejuízo evidente, de tal forma que
o mesmo se destina a justamente buscar a revisão ou reapreciação da
decisão atacando-a em seu mérito185.
3.2 DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE
3.2.1 Os Pressupostos Extrínsecos
Os pressupostos extrínsecos são todos os requisitos não
possuem relação direta com o conteúdo da decisão recorrida, pois são
atinentes a outros fatores externos ao processo e, por esse motivo,
geralmente, dizem respeito a aspectos que surgem após proferida a
decisão agravada186.
Parizatto187 ensina que:
O pressuposto do agravo é o inconformismo da parte com
determinada decisão, proferida na causa em que esteja
litigando, contrária a seus interesses. [...] Tem-se como
pressuposto do agravo o inconformismo da parte acerca de
determinada decisão interlocutória, tido como ofensiva a
seu direito, viabilizando, mercê de tal recurso, o reexame da
questão pela instância superior.
185 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil: processo de
conhecimento, V. 1., 2007, p. 664.
186 NERY JÚNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, 1999, p. 241.
187 PARIZATTO, João Roberto. Recurso no processo civil: doutrina e jurisprudência de acordo com as leis n. 8.950, de 13.12.1994 e 9.139 de 30.11.1995, 1997, p. 52-53.
61
Os pressupostos extrínsecos para a admissibilidade do
recurso de agravo são verificados pelo Poder Judiciário e, a saber, são: a
tempestividade; a regularidade formal; o preparo e a inexistência de fato
impeditivo ou extintivo do direito ao recurso188.
A tempestividade tem por base a determinação de
prazo fixo para que a parte venha a interpor o recurso de agravo,
garantindo, assim aos sujeitos processuais a segurança jurídica necessária
para o bom andamento da relação processual e, ainda, evitar que
processo permaneça em aberto por tempo indefinido e, para que o
recurso de agravo seja considerado tempestivo o mesmo deverá ser
interposto no prazo de dez dias contados da data em que a parte tomou
conhecimento da decisão que pretende atacar, conforme prescreve o
artigo 522 do Código de Processo Civil brasileiro189.
A respeito da tempestividade Franze190 leciona que:
Nesse âmbito, o terceiro terá o mesmo prazo conferido à
parte para recorrer. Mas o prazo será contado em dobro
(vinte dias) se o recorrente for: a) o Ministério Público ou a
Fazenda Pública (CPC. Art. 188); b) litisconsortes com
procuradores diversos (CPC. Art. 191); ou c) o Defensor
Público (Lei 1.060/50, art. 5º, § 5º). Por outro prisma, questão
interessante refere-se a localizarmos a data do início da
contagem do prazo para a interposição de agravo, quando
houver uma liminar concedida em prol da parte adversa,
inaudita altera parte. No âmbito recursal, o art. 506 do CPC
determina a aplicação da regra constante no art. 184 do
CPC, pela qual a forma de contagem deve excluir i dia da
intimação e incluir o dia do término.
188 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau
no processo civil, 2006, p. 96.
189 MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Processo civil-recursos. São Paulo: Atlas, 2000, p. 34.
190 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau no processo civil, 2006, p. 97.
62
No que concerne à regularidade formal, como
pressuposto para a interposição do recurso de agravo, diz respeito à
legalidade contida no agravo, ou seja, a sua fundamentação deve estar
em conformidade com o previsto na norma jurídica e esta regularidade
formal implica tanto a fundamentação jurídica contida no corpo do
agravo, como no tocante à sua forma textual191.
Sobre a regularidade formal Franzé192 ensina que:
Ponderamos que a parte causadora de nulidade não pode
requerer a decretação da mesma, em seu benefício (CPC,
art. 243). Bem como, inexistindo cominação de nulidade, o
juiz considerará válido o ato se, por outro maio, alcançar
sua finalidade (CPC, art. 244). Além dos pressupostos
genéricos da regularidade formal, existem outros que
deverão ser atendidos casuisticamente, ou seja, consoante
as circunstâncias do caso específico.
Quanto ao preparo como pressuposto de
admissibilidade do agravo, o mesmo diz respeito ao recolhimento de
todas as taxas e despesas previstas na legislação para que o mesmo seja
interposto, assim, o valor do porte, também faz parte do gênero preparo.
Trata-se assim, do pagamento antecipado de todas as custas processuais
e, para que o agravo seja conhecido ou aceito, caberá ao recorrente
comprovar que tais custas foram todas pagas, pois do contrária
acarretará na deserção193.
Outro pressuposto para que o agravo seja
devidamente interposto e conhecido, diz respeito aos fatos extintivos de
direito, que são externados pela renúncia ou a aquiescência, por sua vez 191 MOREIRA, José Carlos Barbosa. O novo processo civil brasileiro. 21. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2000, p. 119.
192 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau no processo civil, 2006, p. 99.
193 SALLES, José Carlos de Moraes. Recurso de agravo. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 49.
63
o fato impeditivo decorre da desistência de interpor o agravo (artigos 501,
502 e 503 do Código de Processo Civil). Entende-se por enuncia como a
exteriorização da vontade em não levar a relação processual avante, ou
seja, a parte abre mão espontaneamente do direito de interpor o
agravo194.
A respeito da renúncia como pressuposto de
admissibilidade do agravo Moreira195 leciona que:
Quanto às peculiaridades, em linhas gerais, apontamos: a)
trata-se de aro unilateral; b) inexiste necessidade do
consentimento da parte adversa; d) gera efeito,
independentemente da homologação, pelo órgão judicial;
d) pressupõe publicada a decisão; e) deve ser anterior à
interposição do recurso.
Por sua vez, Nery Junior196 assevera que:
A renúncia ao recurso não pode ser, especificamente,
confundida com a renúncia ao direito material, pois o
objeto é o exercício do direito de recorrer (e não a coisa
deduzida em juízo), vem como, por trata-se de forma
extintiva de direito, deve ser interpretada restritivamente,
não podendo haver presunção sobre a mesma. Dessa
forma, a conseqüência da renúncia é tornar inadmissível o
eventual recurso interposto, fazendo, portanto, transitar em
julgado a decisão sobre a qual recaiu a renúncia.
No que diz respeito à aquiescência, esta se traduz na
expressão da vontade de conformismo em relação ao conteúdo contido
na decisão, ou seja, a parte que deveria manifestar-se não o faz ao
194 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau
no processo civil, 2006, p. 106-107.
195 MOREIRA, José Carlos Barbosa. O novo processo civil brasileiro, 2000, p. 118.
196 NERY JÚNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, 1999, p. 336-337.
64
permanecer inerte no decorrer do prazo legal para interpor o recurso de
agravo197.
Segundo Assis198:
No âmbito temporal, observamos que: a) a aquiescência
pode ocorrer antes ou após a interposição do recurso e do
surgimento do ato decisório; b) a renúncia deve ocorrer
após o ato decisório e, sempre, antes da interposição de
recurso; c) a desistência se verificará após a interposição do
recurso, contudo, após o ato decisório.
Por fim, no tocante ao fato impeditivo com base na
desistência, sua principal característica está no fato de que a
manifestação da vontade ocorre logo após ter sido interposto o recurso
de agravo199.
3.2.2 Os Pressupostos Intrínsecos
Já a respeito dos pressupostos intrínsecos, os mesmos
dizem respeito à decisão em si a ser recorrida e, por esta razão, são
mensurados de acordo com o conteúdo e forma do pronunciamento
objeto a ser impugnado pela interposição do recurso de agravo200.
Cabe salientar e observar que a correlação que existe
entre os pressupostos de admissibilidade intrínsecos dos recursos e os
pressupostos de admissibilidade do exame do mérito da ação são
197 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau
no processo civil, 2006, p. 107.
198 ASSIS, Araken de. Condições de admissibilidade dos recursos cíveis: aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 32.
199 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau no processo civil, 2006, p. 108.
200 NERY JÚNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, 1999, p. 240.
65
diferentes201, entretanto, geralmente, “os pressupostos de admissibilidade
recursal referem-se aos critérios localizados dentro do processo
(endoprocessual), na medida em que as condições da ação –
praticamente- se localizam em uma órbita pré-processual”202.
Quanto aos pressupostos intrínsecos estes estão ligados
diretamente a três requisitos processuais, que, a saber, são: quando ao
cabimento do recurso de agravo; quanto à legitimidade para exercer o
direito de recurso e, quanto ao interesse em recorrer203.
Em via de regra, para que todo e qualquer recurso se
enquadre no pressuposto do cabimento devem estar presentes dois
aspectos: “a) a recorribilidade (previsão na legislação processual); b)
adequação (que o recurso seja adequado à espécie)”204.
Miranda205 leciona que:
A recorribilidade determina que o recurso esteja previsto no
rol taxativo atinente aos recursos, trazido pelo art. 496 do
CPC ou em leis extravagantes (trata-se, nessa situação, de
decorrência do princípio da taxatividade). A adequação
consiste na obtenção do resultado pretendido por
intermédio do recurso interposto, podendo, inclusive, ser
recebido recurso errôneo, caso estejam presentes os
pressupostos para aplicação do princípio da fungibilidade.
De acordo com o artigo 499 do Código de Processo
Civil brasileiro, a legitimidade para a interposição do recurso de agravo se
estende à parte vencida, ao membro do Ministério Público e a todo e
201 MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Processo civil-recursos, 2000, p. 29.
202 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Os agravos no CPC brasileiro, 2006, p. 105.
203 NERY JÚNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, 1999, p. 240.
204 NERY JÚNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, 1999, p. 242.
205 MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Processo civil-recursos, 2000, p. 30.
66
qualquer terceiro que se sinta prejudicado pela decisão a ser
impugnada206.
A manifestação ao exercício de recorrer, ou seja, o
interesse de agir, deve estar embasada na existência de dois outros
pressupostos, que dizem respeito à verdadeira necessidade deste
exercício e, se tal exercício será útil processualmente e juridicamente, ou
seja, se realmente é necessário recorrer e se o recurso não acarretará na
continuidade desnecessária da relação processual tomando-se tempo e
gastando-se dinheiro que ao final não acarretará em utilidade207.
3.3 OS PRINCIPAIS ESFEITOS DO AGRAVO
Todo recurso objetiva um determinado efeito, os
agravos não fogem a regra, sendo que se pode falar que basicamente os
efeitos decorrentes da sua interposição são: efeito devolutivo; efeito
suspensivo; efeito expansivo; efeito translativo e efeito substutivo208.
3.3.1 Efeito Devolutivo
Entende-se por devolutivo, o efeito que tem por
resultado o envio da matéria atacada nas razões recursais para o juízo de
206 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau
no processo civil, 2006, p. 110.
207 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao código de processo civil. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 295.
208 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau no processo civil, 2006, p. 113-125.
67
segunda instância (ad quem) que após apreciá-lo, o devolve ao juízo de
primeira instância (a quo)209.
Segundo leciona Mancuso:
Na realidade, trata-se de aplicação do princípio do
dispositivo no âmbito recursal, na medida em que o juízo
não age de ofício, sendo imperiosa a provocação da parte,
conforme determina o art. 2º do CPC. Nessa provocação é
deduzido o pedido nas razões recursais, que fixa o limite da
atuação do juízo ad quem (CPC, art. 460)210.
O artigo 460 do Código de Processo Civil dispõe que “É
defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa da
pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto
diverso do que Ihe foi demandado”.
Assim, cabe ao juízo de segunda estância respeitar os
limites previstos no referido artigo da norma processual civil. Caso o
tribunal venha a ultrapassar tais limites, de forma equivocada, a decisão
será tida como fora do pedido; além do pedido ou sem apreciar o
pedido211.
Por este motivo, é que Salles entende que, “em razão
da possibilidade de retratação imanente ao agravo, enquanto o recurso
não for julgado, seu efeito devolutivo fica diferido”212.
Desta maneira, há que se ressaltar que o efeito
devolutivo do agravo opera-se somente no que diz respeito ao mérito do 209 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau
no processo civil, 2006, p. 113.
210 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação civil pública: em defesa do meio ambiente, patrimônio cultural e dos consumidores. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1992, p. 40.
211 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau no processo civil, 2006, p. 114.
212 SALLES, José Carlos de Moraes. Recurso de agravo, 1999, p. 142.
68
recurso, assim como se limita à matéria impugnada, não sendo analisada
a matéria referente à sua admissibilidade213.
3.3.2 Efeito Suspensivo
O efeito suspensivo do agravo tem por objetivo impedir
e evitar que a decisão produza seus efeitos de plano e, assim remanescer
até que o juízo de segunda instância exare seu pronunciamento final,
quando se terá consumada a preclusão ou a coisa julgada214.
No que diz respeito ao efeito suspensivo do agravo
Nery Junior215 Leciona que:
Por intermédio desse mecanismo, o recurso, em geral, terá o
condão de suspender os efeitos da decisão impugnada (e
não a formação da coisa julgada) até o pronunciamento
definitivo do órgão julgador respectivo, sendo certo que, se
a impugnação for parcial, a suspensividade se limitará na
parte da decisão que foi impugnada.
Vale ressaltar que nos casos concretos, em sendo
efetivamente demonstrada pelo agravante de que em não sendo
acatado seu pedido os efeitos do mesmo serão ineficazes por serem
somente concedidos ao final da demanda ou ainda, ficar comprovada a
razoabilidade da matéria jurídica discutida, o relator do agravo estará
obrigado a conceder o efeito suspensivo, não se trata de um poder
(faculdade), mas de uma obrigação (dever) do relator em assim
proceder216.
213 MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Processo civil-recursos, 2000, p. 44.
214 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao código de processo civil, 1999, p. 255.
215 NERY JÚNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, 1999, p. 382.
216 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau no processo civil, 2006, p. 119.
69
3.3.3 Efeito Expansivo
No que tange ao efeito expansivo do recurso de
agravo, o mesmo tem lugar quando “ao julgar um recurso, o
pronunciamento apresenta maior amplitude em relação ao postulado nas
razões recursais217”.
A fundamentação legal para esta espécie de efeito,
ou seja, expansivo provocado pelo pronunciamento que julga o recurso
de agravo, encontrar-se disposto nos artigos 267, § 3º e 301, § 4, ambos do
Código de Processo Civil218 e o mesmo será considerado como efeito
expansivo objetivo interno quando o mesmo atingir o próprio ato
impugnado219. Por outro lado, o “efeito expansivo externo é aquele que
também se opera sobre outros atos do processo (e não somente em
relação ao ato impugnado)”220.
3.3.4 Efeito Translativo
O efeito translativo decorre do pronunciamento, pelo
juízo ad quem, no qual ocorre a manifestação a respeito de matérias
diferentes daquelas impugnadas pelo recurso de agravo, daí a sua
denominação de translativo, pois o pronunciamento vai além daquele
impugnado pelo agravo, conforme previsto nos artigos 515 e 516 do
Código de Processo Civil221.
217 NERY JÚNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, 1999, p. 410.
218 MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Processo civil-recursos, 2000, p. 45.
219 NERY JÚNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, 1999, p. 410.
220 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau no processo civil, 2006, p. 121.
221 MOREIRA, José Carlos Barbosa. O novo processo civil brasileiro, 2000, p. 135.
70
Vale lembrar que o efeito translativo somente se aplica
aos recursos ordinários de apelação, agravo, embargos infringentes,
embargos de declaração e recurso ordinário constitucional e, por
conseguinte, não se aplica aos recursos extraordinário, especial e aos
embargos de divergência222.
3.3.5 Efeito Substitutivo
Como a própria denominação já determina, pelo
efeito substitutivo do recurso de agravo, a sentença impugnada será
substituída por aquele exarada pelo Tribunal223.
Em um primeiro momento somente ocorrerá o efeito
substitutivo quando o juízo de segunda instância, além de tomar
conhecimento das razões do recurso, também adentra ao seu mérito.
Entretanto, não haverá este efeito substitutivo, mesmo com o
conhecimento das razões do recurso caso o mesmo envolva erro de
procedimento, cujo resultado não será a substituição da decisão, mas sim,
sua anulação224.
3.4 DO AGRAVO RETIDO
Durante o desenrolar da relação processual, não raras
vezes, ocorrem diversas decisões denominadas de interlocutórias, cujo
222 MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Processo civil-recursos, 2000, p.
47.
223 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau no processo civil, 2006, p. 125.
224 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao código de processo civil, 1999, p. 391-413.
71
objetivo e inclusive é senão outro de decidirem pelo sucesso ou não do
processo propriamente dito. Por outro lado, se tais decisões não sofrerem
impugnações corre-se o risco de que as mesmas venham a ser
alcançadas pela preclusão, ou seja, a perda de um direito pela inércia da
parte225.
Segundo leciona Santos226:
Conceituamos agravo como recurso destinado à
impugnação das decisões interlocutórias. O agravo, de
duas uma, ou se processa o recurso, formando-se o
respectivo instrumento, ou fica retido nos autos principais,
isso ou aquilo dependendo, em princípio, da vontade do
agravante. O agravo retido será interposto perante o juízo
em que se processa o feito, não forma escrita ou oral (Cód.
Proc. Civil, art. 523, § 3º), devendo o agravante requerer “o
Tribunal dele conheça, preliminarmente, por ocasião do
julgamento da apelação” (Cód. Proc. Civil, art. 523, caput).
Assim, proferida a decisão interlocutória que venha a
causar algum prejuízo a uma das partes, a mesma poderá exercer o seu
direito subjetivo processual de interpor o recurso de agravo retido. Esta
modalidade de recurso, tem por finalidade evitar a preclusão, entretanto,
o mesmo não tem finalidade quando a sentença não contenha
pronunciamento sobro matéria que possa vir a ser encoberta pela
preclusão227.
Grecco Filho228 ensina que:
225 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau
no processo civil, 2006, p. 127.
226 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, V. 3., 2003, p.132.
227 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. V. 1., 2002, p. 604.
228 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: teoria geral do processo e auxiliares da justiça. V. I., 1998, p. 312.
72
O agravo retido não depende de preparo, mas está sujeito
às seguintes condições: a) que haja apelação, própria ou
de outrem; b) que a apelação seja conhecida; c) que seja
expressamente pedida sua apreciação, nas razões e
contra-razões. O agravo retido é, pois, um recurso de efeito
devolutivo impróprio ou imperfeito, porque seu
conhecimento depende do conhecimento de outro
recurso, no caso a apelação.
Quanto ao prazo para sua interposição, Franzé229
leciona que:
O prazo para interposição dessa modalidade de agravo, tal
como no agravo de instrumento, é de dez dias, consoante
determina o art. 522, do CPC [...] O início do prazo conta-se
da data da ciência da decisão hostilizada, o prazo flui a
partir dessa ocasião, e não somente a partir da certidão da
intimação pelo diário oficial [...] ponderamos, pra as
prerrogativas de prazo em dobro da Fazenda Pública e do
Ministério Público (CPC, art. 188), do defensor público (Lei
1.060 de 05.02.1950, art. 5, § 5º), bem como dos litisconsortes
com procuradores diferentes (CPC, art. 191).
O agravo retido é processado nos mesmos autos do
processo cuja decisão pretenda-se impugnar e, por este motivo, o mesmo
se resume a uma petição com os dados dos autos e das matérias que o
agravo retido pretende impugnar na decisão; não havendo necessidade
de ser acompanhada por outros documentos230.
Neste sentido, Wambier231 leciona que:
229 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau
no processo civil, 2006, p. 132.
230 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: processo de conhecimento e procedimentos especiais. V. 2., 2008, p. 108.
231 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. V. 1., 2002, p. 604.
73
O agravo retido é interposto em petição fundamentada,
mas não instruída, ou seja, sem documentos, no prazo de
dez dias. Em princípio não há contraditório. Como o juiz,
diante da interposição do agravo, pode, se se convencer
da argumentação do recorrente, alterar a decisão, prevê a
lei dever o magistrado, em casos assim, provocar o
contraditório antes de decidir. Assim, interposto o agravo,
sentindo-se o juiz inclinado a mudar a decisão, não pode
fazê-lo antes de ouvir a outra parte. A outra parte deve ser
provocada para manifestar-se no prazo de dez dias (art.
523, § 2º).
O agravo retido, de acordo com as alterações
introduzidas pela Lei n. 11.187/05, poderá, ser interposto por petição
escrita e também poderá ser interposto de forma oral, isto quando a
decisão interlocutória for proferida no transcorrer da audiência de
instrução e julgamento, conforme previsto no artigo 523, § 3º do Código
de Processo Civil232.
3.5 DO AGRAVO DE INSTRUMENTO
O agravo de instrumento é a espécie de recurso que é
destinado à instância superior àquela que processou, julgou e exarou da
sentença que o agravante pretende impugnar e sua apreciação ocorrerá
de imediato e, por esta razão o agravo deverá ser instruído com todas as
peças e documentos para que o Tribunal possa analisar e apreciar com
clareza o que aconteceu no decorrer do processo na instância inferior233.
232 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau
no processo civil, 2006, p. 134.
233 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: processo de conhecimento e procedimentos especiais. V. 2., 2008, p. 110.
74
Franzé234 ensina que:
Consoante verificamos, o agravo é o recurso cabível para o
recorrente impugnar as decisões interlocutórias. Na
modalidade de instrumento, basicamente, o agravo tem
dois escopos: a) evitar a preclusão da decisão
interlocutória; b) servir como mecanismo apto para outorgar
uma tutela de urgência.
Assim, entende-se que o agravo de instrumento deverá
ser redigido em petição obrigatoriamente escrita, na qual o agravante
deverá declinar os fatos, a fundamentação jurídica e os motivos pelos
quais quer ver a sentença reforma e, ainda instruída com todos os
documentos referentes ao processo, podendo, o agravo ser protocolado
diretamente junto ao Tribunal (instância superior), enviado pelo correio ou
através de outro mecanismo previsto pela legislação ou, então de acordo
com os regimentos ou regulamentos dos próprios tribunais235.
Neste sentido, Santos236 assevera que:
O agravo de instrumento deve ser interposto diretamente no
tribunal competente, através de petição contendo: “I – a
exposição do fato e do direito; II – as razões do pedido de
reforma da decisão; III – o nome e o endereço completo
dos advogados, constantes no processo” (Cód. Proc. Civil,
art. 534). Os requisitos exigidos pelos incisos I e II do artigo
transcrito são respeitantes à indispensável fundamentação
do agravo e o previsto no inciso III faz-se necessário por ser o
recurso interposto diretamente no tribunal, precisando esse
saber se as partes estão devidamente representadas e
como proceder às intimações. As exigências da norma
comentada refletem a circunstância do recurso ir
234 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau
no processo civil, 2006, p. 155.
235 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. V. 1., 2002, p. 605.
236 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, V. 3., 2003, p.134-135.
75
diretamente para o tribunal, sem a fiscalização do juiz
atuante no processo.
O Agravo de instrumento passou, após a edição das
Leis nº 9.139/95; 10.352/01 e 11.187/05, a ser muito mais efetivo e,
principalmente, passou a agilizar e conceder maior celeridade em ações
que requerem certa tutela de urgência. Pois, pelo sistema processual civil
anterior às referidas leis, em ocorrendo um decisão interlocutória capaz de
causar algum prejuízo à parte, esta deveria, em um primeiro momento
interpor o recurso de agravo de instrumento, para, depois, obter, via
mandado de segurança a suspensão da decisão proferida pela primeira
instância237.
Nos dias de hoje, o procedimento anteriormente
descrito não se faz mais presente no sistema processual civil brasileiro, ou
seja, não há a necessidade da impetração do mandado de segurança,
pois, se estiverem presentes os requisitos do fumus boni iuris e do pericum in
mora (artigos 527, III e 558, ambos do Código de Processo Civil) o
agravante poderá requerer diretamente ao relato a concessão do efeito
suspensivo ao agravo238.
Assim, pode-se dizer que o agravo de instrumento é um
recurso destinado diretamente ao Tribunal, no prazo de dez dias a contar
do conhecimento da decisão; através do qual o agravante pretenda ver
reformada a decisão de primeira instância impugnando os pontos que lhe
tenham causado prejuízo, podendo, quando o for e se assim o comprovar,
requerer o efeito suspensivo ao agravo. Ressalva-se que o agravo deverá
estar devidamente instruído com fotocópias de toda a documentação
atinente à sentença impugnada, assim como, acompanhada do
237 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau
no processo civil, 2006, p. 155.
238 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. V. 1., 2002, p. 607.
76
comprovante do pagamento das respectivas custas processuais e postais
de acordo com o regimento interno de cada Tribunal de Justiça239.
De acordo com o disposto no artigo 528 do Código de
Processo Civil, que após o recebimento do agravo de instrumento, pelo
relator e da intimação do agravado para manifestar-se quanto à
impugnação da sentença, terá o prazo de trinta dias para realizar o
julgamento do recurso de agravo de instrumento240.
239 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: teoria geral do processo e
auxiliares da justiça. V. I., 1998, p. 316.
240 FRANZÉ, Luiz Henrique Barbante. Agravo frente aos pronunciamentos de primeiro grau no processo civil, 2006, p. 189.
77
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A monografia ora apresentada teve como objetivo
institucional a elaboração de trabalho acadêmico de cunho cientifico
para o obtenção do Grau em Bacharel em Direito e, cujo o tema abordou
a Agravo Retido e de Instrumento no Sistema Processual Civil Brasileiro: De
acordo com a Lei Nº 11.187/05.
A elaboração do trabalho se deu com base no Código
de Processual Civil e na lei anteriormente citada que introduziu alterações
no diploma processualista civil brasileiro, assim como nos apontamentos
doutrinários que versam a respeito da jurisdição, da ação, do processo, do
procedimento, dos recursos e, em especial do recuso de agravo, retido e
de instrumento.
A escolha do assunto se deu em razão do interesse do
graduando pelo tema específico, além da necessidade de aprofundar
seus conhecimentos na processualística civil, tão importante para o bom
desenvolvimento e desempenho da atividade jurídica.
Procurou-se abordar a matéria da maneira proposta,
por entender-se que seria a melhor forma de fazê-lo, já que o tema central
do trabalho trata de uma modalidade de recurso e que, portanto, não
faria sentido, uma abordagem que não tratasse da jurisdição, da ação,
do processo, procedimento e recursos.
Como dito, no desenvolvimento deste trabalho
monográfico, a tutela jurisdicional é uma função exercida com
exclusividade pelo Estado, sendo ainda, um dever pertinente ao próprio
Estado de dizer do direito.
78
Não obstante, para que o Estado possa se manifestar a
cerca de a quem cabe o direito, o mesmo deve ser provocado, e a esta
provocação se dá o nome de direito de ação, daí se justificar a tratativa
no primeiro capítulo deste instituto e seus principais aspectos para a busca
da tutela jurisdicional do Estado.
Num segundo momento, ainda dentro da melhor
perspectiva para o desenvolvimento do trabalho de pesquisa, discorreu-se
a respeito do processo e do procedimento, uma vez que não basta existir
a tutela jurisdicional estatal, assim como o direito de ação, se não houver
um instrumento hábil para que ambas sejam exercidas e, é, neste
contexto que se têm o processo como ferramenta instrumental através do
qual o direito de ação será exercido e o Estado poderá desempenhar a
sua função tutelar.
Mas para que o processo também seja eficaz, há que
se ter dispositivos que o tornem ágil, neste caso, têm-se os procedimentos,
reguladores do processo e norteadores dos atos praticados internamento
da relação processual.
A finalidade primordial do exercício subjetivo da ação
e de todo a instrumentalidade processual, com seus procedimentos e atos
processuais praticados pelos sujeitos envolvidos na relação processual é,
senão outro, a obtenção da tutela jurisdicional do Estado através da
sentença e, em razão dos princípios constitucional da ampla defesa e do
contraditório e do duplo grau de jurisdição, o sistema jurídico brasileiro
coloca à disposição da parte que tenha se sentido prejudicada pela
decisão exarada pelo Estado-juiz, o direito subjetivo ao exercício da
interposição do recurso que será adequando ao caso concreto ou à
situação jurídica que a parte pretenda impugnar na sentença.
Tem que entre as modalidades recursais positivadas no
Código de Processo Civil brasileiro estão os recursos de agravo retido e de
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instrumento, ambos com a finalidade de impugnarem uma decisão
interlocutória resultante da sentença que tenha colocado termo à
relação processual. Desta maneira, esta modalidade de recurso pode ser
utilizada de duas formas, na retida, quando o agravo será interposto junto
ao juízo de primeira instância que tenha proferido a decisão, para que
este tome conhecimento do agravo e que o mesmo seja remetido à
segunda instância e, o agravo de instrumento, que será interposto
diretamente junto ao tribunal (segunda instância) sem a necessidade de
dar conhecimento imediato ao juízo da sentença a ser impugnada.
Por fim, volta-se ás hipóteses levantas na introdução
deste trabalho monográfico, que, a saber, foram:
a) Os agravos retido e de instrumentos são interpostos
para impugnar uma decisão interlocutória de primeiro grau.
b) O agravo retido é interposto diretamente no juízo de
primeiro grau e o agravo de instrumento é dirigido diretamente ao juízo de
segundo grau.
Com o desenvolvimento do presente trabalho
monográfico, com base na legislação processual civil e na doutrina que
aborda e estuda a temática foi possível demonstrar que ambas
modalidades de agravos se destinam justamente a atacar ou impugnar
uma decisão interlocutória proferida pelo juízo de primeiro grau, assim
com, restou demonstrado que o agravo retido é interposto ao juiz da
sentença, para que esse tome conhecimento do recurso e que o mesmo
seja remetido ao juízo de segundo grau para que seja apreciado e o
agravo de instrumento, por sua vez é interposto diretamente junto ao juízo
de segundo grau sem a ciência imediata do juiz da sentença para que
também seja apreciado pela instância superior.
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