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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ BIANCA DOS SANTOS A PROPORCIONALIDADE DA PENA EM RELAÇÃO AOS CRIMES CONTRA A PREVIDÊNCIA SOCIAL Biguaçu 2008/2

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

BIANCA DOS SANTOS

A PROPORCIONALIDADE DA PENA EM RELAÇÃO AOS CRIMES CONTRA A PREVIDÊNCIA SOCIAL

Biguaçu 2008/2

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BIANCA DOS SANTOS

A PROPORCIONALIDADE DA PENA EM RELAÇÃO AOS CRIMES CONTRA A PREVIDÊNCIA SOCIAL

Monografia apresentada à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial a obtenção do grau em Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. ESp. Márcio Roberto Paulo.

Biguaçu 2008/2

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BIANCA DOS SANTOS

A PROPORCIONALIDADE DA PENA EM RELAÇÃO AOS CRIMES CONTRA A PREVIDÊNCIA SOCIAL

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e

aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Ciências Sociais e Jurídicas.

Área de Concentração: Direito Público

Biguaçu, 14 de novembro de 2008.

Prof. ESp. Márcio Roberto Paulo UNIVALI – Campus de Biguaçu

Orientador

Prof. MSc. Dirajaia Esse Pruner UNIVALI – Campus de Biguaçu

Membro

Prof. ESp. Diego Nunes UFSC

Membro

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3

Agradeço ao meu amado marido, amigo e eterno amor João

Carlos Müller pelo apoio, carinho e dedicação sempre me

acompanhando nesta jornada e entendendo minha ausência ao

seu lado nas noites em que fiquei estudando e escrevendo

esse trabalho.

Aos meus Pais, Airton dos Santos e Maria Catarina Rocha,

pelos ensinamentos e pelo começo deste sonho que hoje se

torna realidade.

A amiga Sônia Lofi pelo carinho e pelo incentivo de todos os

dias.

Ao amigo Sérgio Alexandre de Oliveira pela ajuda de sempre. A meu enteado Matias Probst Muller pelo acompanhamento

nesses últimos meses.

Aos todos os outros amigos, que estiveram juntos na diversão

e ansiosos, como eu, para a finalização deste.

E a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram de

alguma forma para o enriquecimento de meus conhecimentos e

experiências nestes últimos 05 anos.

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“O mundo está nas mãos daqueles que tem coragem de

sonhar e correr o risco de viver seus sonhos”.

(Autor Desconhecido)

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Biguaçu, 14 de novembro de 2008.

Bianca dos Santos Graduanda

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RESUMO

A Seguridade Social brasileira é um sistema de proteção social dividido em três

institutos: a saúde, a assistência social e a previdência social. O sistema

previdenciário brasileiro é moldado através do sistema de contribuições decorrentes

dos pagamentos feitos pela sociedade com a finalidade de assegurar proteção no

campo social. A relação obrigacional de prestação previdenciária para o custeio é

regida por leis que estabelecem direitos e obrigações onde o Estado é o sujeito ativo

e fiscalizador, enquanto que o cidadão ou a empresa é o sujeito passivo. Para

assegurar o cumprimento da relação de custeio e garantir o funcionamento do

sistema foram tipificadas condutas consideradas ilícitas para evitar a sonegação e o

desvio das contribuições, tutelando a subsistência financeira das ações destinadas a

assegurar os direitos dos membros da sociedade em relação à assistência social, a

saúde e a previdência social. Os crimes previdenciários têm como conseqüência a

lesividade de toda a sociedade, comprometendo os benefícios proporcionados pela

seguridade social. Esses crimes são tipificados no Código Penal com suas

respectivas penas e a punibilidade prescrita para essa espécie de criminalidade

também proporcionam diversas formas de acordos que podem ser realizados para a

sua extinção.

Palavra-chave: seguridade social, previdência social, crimes previdenciários, lesividade, punibilidade.

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ABSTRACT

The Brazilian Social security is a system of social protection divided in three

institutes: the health, the social assistance and the social welfare. The brazilian

welfare system is shaped through the contribuitions system resulting from payments

made by society to the effect of assuring protection in the social field. The

compulsory relation of welfare installments to the estimate of costs is directed trough

laws that establish rights and obligations in which the State is the active agent and

subject to fiscal control, whereas a citizen or enterprise is the passive subject. To

assure the execution of cost relation and guarantee the system functioning were

typified procedures considered illicit to avoid the tax evasion along with the

embezzlement of contribuitions, protecting the financial subsistence from actions

consigned to insure the rights of societies individual in respect to the health and both

social assistance and welfare system. The welfare crimes have as a consequence

the hurtfulness of an entire society, compromising the benefits proportioned by social

security. These crimes are typified on the Penal Code with its respective penalties

and the punishability appointed to the this kind of criminality also provides several

sorts of agreement which may be consummated to its extinguishment.

Word-key: social security, social welfare, welfare crimes, hurtfulness, punishability.

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à compreensão do

seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Seguridade Social:

Conjunto de ações que através da iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade

tem o objetivo de garantir a saúde, a assistência social e a previdência social.1

Previdência Social:

Organização do Estado com o objetivo de prover as necessidades da população,

através de um seguro obrigatório custeado pelo Estado, pelos segurados e pelas

empresas.2

Benefícios:

Prestações conferidas de forma pecuniária pela previdência social aos segurados ou

a seus dependentes com a finalidade de atender as suas necessidades.3

Crimes Previdenciários:

Condutas descritas como ilícitas que quando praticadas constituem crime contra a

previdência social, incorrendo em penas fixadas.4

1CORREA, Wilson Leite. Seguridade e previdência social na constituição de 1988. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id+1431> Acesso em: 02 out 2008. 2OLIVEIRA, Moacyr Velloso Cardoso de. Previdência Social. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1987. p. 10. 3ROSA, Marcelo Iranley Pinto de Luna. Benefícios Previdenciários. Disponível em: < http://www.soartigos.com/articles/354/1/Beneficios-Previdenciarios/Page1.html> Acesso em 01 out 2008. 4ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira. Direito penal tributário: crimes contra a ordem tributária e contra a previdência social. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 62.

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Punibilidade:

Possibilidade jurídica do Estado de aplicar a sanção penal ao autor da conduta

definida como ilícita.5

Impunibilidade:

Condições existentes que impedem o Estado de exercer a pretensão punitiva.6

5DOTTI, René Ariel. Teoria Geral da Punibilidade. Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/revista/numero7/artigo4.htm> Acesso em: 02 out 2008. 6GOMES, Márcia Pelissari. O sistema repressivo estatal: a punibilidade como demonstração da soberania. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=1093> Acesso em: 01 out 2008.

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SUMÁRIO

Resumo.............................................................................................................VI

Abstract............................................................................................................VII

Rol de Categorias....................................................................................................VIII

INTRODUÇÃO............................................................................................................13

1 SEGURIDADE SOCIAL.......................................................................................15

1.1 BREVE HISTÓRICO DA SEGURIDADE SOCIAL...............................................15

1.1.1 Conceito de Seguridade Social....................................................................16

1.1.2 Princípios da Seguridade Social..................................................................19

1.2 HISTÓRICO DA SAÚDE......................................................................................21

1.2.1 Conceito de Saúde........................................................................................22

1.2.2 Princípios da Saúde......................................................................................24

1.3 HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL.............................................................25

1.3.1 Conceito da Assistência Social...................................................................26

1.3.2 Princípios da Assistência Social.................................................................27

1.4 HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL............................................................28

1.4.1 Conceito da Previdência Social...................................................................31

1.4.2 Princípios da Previdência Social.................................................................33

2 BENEFÍCIOS, SEGURADOS E CUSTEIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL............35

2.1 BENEFÍCIOS.......................................................................................................35

2.1.1 Auxílio-doença...............................................................................................35

2.1.2 Auxílio-acidente.............................................................................................37

2.1.3 Auxílio reclusão.............................................................................................39

2.1.4 Aposentadoria por invalidez........................................................................40

2.1.5 Aposentadoria por idade..............................................................................41

2.1.6 Aposentadoria por tempo de contribuição.................................................42

2.1.7 Aposentadoria especial................................................................................44

2.1.8 Salário-maternidade......................................................................................45

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2.1.9 Salário-família................................................................................................46

2.1.10 Pensão por morte..........................................................................................47

2.2 SEGURADOS.......................................................................................................48

2.2.1 Segurados obrigatórios................................................................................48

2.2.1.1 Empregado................................................................................................49

2.2.1.2 Empregado doméstico...............................................................................49

2.2.1.3 Contribuinte individual...............................................................................49

2.2.1.4 Trabalhador avulso....................................................................................50

2.2.2 Segurado especial.........................................................................................51

2.2.3 Segurados facultativos.................................................................................51

2.3 FONTES DE CUSTEIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL...........................................52

2.3.1 Salário-de-contribuição................................................................................52

2.3.2 Contribuição pelo contribuinte individual e facultativo............................53

2.3.3 Contribuição pelo empregador doméstico.................................................54

2.3.4 Contribuição pelas empresas......................................................................54

2.3.5 Contribuição do produtor rural e do pescador...........................................56

2.3.6 Contribuição de clubes de futebol...............................................................56

2.3.7 Contribuição sobre receita de concursos de prognósticos......................56

2.3.8 Responsabilidade solidária..........................................................................57

2.3.9 Isenção de contribuição...............................................................................57

3 CRIMES CONTRA A PREVIDÊNCIA SOCIAL....................................................59

3.1 HISTÓRICO DOS CRIMES PREVIDENCIÁRIOS...............................................59

3.1.1 Conceito de crimes contra a Previdência Social........................................61

3.2 TIPIFICAÇÕES....................................................................................................62

3.2.1 Apropriação indébita previdenciária...........................................................62

3.2.2 Inserção de dados falsos no sistema informatizado da previdência......64

3.2.3 Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informação......65

3.2.4 Sonegação de contribuição previdenciária................................................66

3.2.5 Falsificação de documentos públicos.........................................................67

3.2.6 Estelionato previdenciário............................................................................69

3.3 LESIVIDADE.........................................................................................................70

3.4 PUNIBILIDADE.....................................................................................................71

3.4.1 Penas tributárias...........................................................................................71

3.4.2 Sanções penais.............................................................................................73

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3.4.3 Exclusão da ilicitude.....................................................................................73

3.4.4 Correção do inadimplemento.......................................................................74

3.4.5 Garantias constitucionais.............................................................................75

3.4.6 REFIS..............................................................................................................77

3.4.7 Sustação do crédito previdenciário.............................................................78

3.4.8 Princípio da insignificância..........................................................................78

3.4.9 Perdão judicial...............................................................................................79

3.4.10 Parcelamento de débito................................................................................79

3.4.11 Continuidade delitiva....................................................................................80

3.4.12 Decadência e prescrição..............................................................................80

3.5 ALTA LESIVIDADE E BAIXA PUNIBILIDADE...................................................81

CONCLUSÕES...........................................................................................................83

REFERÊNCIAS...........................................................................................................85

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o estudo sobre a estrutura da

Seguridade Social, mais especificamente, uma de suas divisões, a Previdência

Social.

Aborda como seu objetivo principal os crimes contra a Previdência Social e

as punibilidades previstas para as condutas definidas como ilícitas, demonstrando

sua alta lesividade a sociedade resultante das condutas que interferem no seu

custeio.

O capítulo 1 trata do histórico, dos conceitos e dos princípios da seguridade

social e de suas divisões (a saúde, a assistência social e a previdência social),

demonstrando a forma que se interam formando um vasto sistema garantidor da

proteção social a toda à sociedade.

O capítulo 2 especifica os vários benefícios concedidos pela previdência

social, as divisões dos segurados do sistema como obrigatórios, especiais e

facultativos e o ponto primordial que se constitui das formas de custeio para a

entrada de recursos que financiam todo o sistema previdenciário.

O capítulo 3 conceitua os crimes previdenciários especificando suas

tipificações contidas na norma penal e as penas previstas com o objetivo de punição

ao bem tutelado, abordando a questão da punibilidade aplicada e sua desproporção

a lesividade que causa a sociedade.

O presente Trabalho de Pesquisa se encerra com as considerações finais,

nas quais são apresentados os pontos conclusivos, seguidos da estimulação à

continuidade dos estudos sobre os crimes contra a Previdência Social.

Na presente monografia foram levantados os seguintes problemas:

a) Qual a importância da previdência social para a sociedade?

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b) a punibilidade prevista contra os crimes previdenciários é suficiente para a

inibição das condutas ilícitas?

c) a pena prevista é proporcional a lesividade causada ao sistema de previdência

social?

Quanto a metodologia empregada, registra-se que foi utilizado o método

indutivo, onde se pesquisa as partes de um fenômeno e coleciona-se de modo a ter

uma conclusão geral.

Nas diversas fases da pesquisa, foram acionadas as técnicas do Referente,

da categoria, do conceito operacional e da pesquisa bibliográfica.

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1 SEGURIDADE SOCIAL

A Seguridade Social como direito garantido constitucionalmente no Brasil

(artigo 6º) constitui um direito social primordial a dignidade da pessoa humana.

Integram a Seguridade Social: a Saúde, a Assistência Social e a Previdência Social.

Para entender essa integração é necessária a explicação de seus históricos,

conceitos e princípios.

1.1 BREVE HISTÓRICO DA SEGURIDADE SOCIAL

Segurança é um termo que em conjunto com a liberdade formam a base de

sustento para a felicidade humana. O homem ao integrar-se na sociedade se

abstém de uma parcela de sua liberdade em troca da segurança que deseja. A

sociedade ao exigir esta parcela de renúncia em relação a sua liberdade terá de

compensá-lo da perda que sofre com a atribuição da segurança.7

A Seguridade Social tem sua origem a partir do instante que a vontade de

poupar e a caridade deixam de ser preocupações isoladas e passam a ser

consideradas por grupos de indivíduos que se reúnem em busca de uma proteção

mútua contra elementos agressivos da natureza ou de outros grupos.8

O homem, desde a mais remota época, sobrevive através do fruto de seu

trabalho e sempre se preocupou com o futuro e com a possibilidade de ficar

incapacitado para o seu trabalho. Como conseqüência disso, ficaria sem o produto

do trabalho, portanto sem recursos para se manter.9

7COIMBRA, Feijó. Direito previdenciário brasileiro. 11. ed. revist. aument. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas, 2001. p. 44. 8SOUZA, Lilian Castro de. Direito Previdenciário. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 01. 9GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. xv.

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Podemos dizer que o Direito da Seguridade Social é um direito constituído

através de lutas, não resultante da bondade do Estado, mas sim, da necessidade

iminente e da pressão exercida sobre este pelas classes de trabalhadores.10

A evolução histórica da seguridade social no mundo se deu primeiramente

em 1601, na Inglaterra com o Poor Relief Act (Lei dos Pobres), que instituiu auxílios

e socorros públicos aos necessitados. O primeiro ordenamento legal foi editado, em

1883, na Alemanha, por Otto Von Bismarck, com a instituição do auxílio-doença. Já

a primeira Constituição a incluir em seu corpo foi a do México, em 1917, seguida

pela Constituição Alemã de Weimar, em 1919. Mas, o ponto principal da evolução

histórica mundial da seguridade social é o Plano Beveridge, instaurado em 1942, na

Inglaterra; dispondo da estrutura da seguridade social moderna: o financiamento das

três partes da seguridade social (saúde, previdência social e assistência social), a

partir da participação universal de todas as categorias de trabalhadores com a

cobrança compulsória de contribuições.11

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, datada de 1948, estabeleceu

entre outros direitos fundamentais da pessoa humana, a proteção ambiental.12

1.1.1 Conceito de Seguridade Social

De acordo com o crescimento da população houve a necessidade da criação

de um sistema de proteção social para suprir os direitos e garantias fundamentais

dos indivíduos integrantes da sociedade. O Estado democrático visando assegurar

um nível de vida digno a seus cidadãos criou um regime de solidariedade e

igualdade para atender aqueles que necessitam de uma ajuda social entendendo

esses benefícios a toda coletividade.13

10VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 23. 11KERTZMAN, Ivan. Direito Previdenciário. São Paulo: Barros, Fischer & Associados, 2005. p. 20. 12 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. 24. ed. 2. reimp. São Paulo: Atlas, 2007. p. 05. 13JUNIOR, Aécio Pereira. Evolução histórica da previdência social e os direitos fundamentais. Disponível em: <http://jus 2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6881> Acesso em: 25 fev 2008.

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Conforme Marcelo Leonardo Tavares14:

A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a segurar os direitos relativos à saúde, à previdência social e à assistência social. Portanto, o direito da seguridade destina-se a garantir, precipuamente, o mínimo de condição social necessária a uma vida digna, atendendo ao fundamento da Republica contido no art. 1°, III, da CRFB/88.

De acordo com o artigo 1°, inciso III, da CRFB/8815 o Estado democrático de

direito tem como um de seus fundamentos a dignidade da pessoa humana,

constituindo assim um direito princípio fundamental ao cidadão. Já a seguridade

social é garantida através do artigo 6° da CRFB/88, integrando assim a lista de

direitos sociais, o qual expressa como direitos sociais a educação, a saúde, o

trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção a

maternidade e à infância, a assistência aos desamparados.16

A CRFB/88 impôs à coletividade uma nova redistribuição de rendas

destinadas ao custeio das prestações. As medidas de seguridade social, não

asseguram o pleno emprego, mas consagram o seguro-desemprego, de modo que a

integração ao mercado de trabalho, encontra-se desenhada na assistência social. A

assistência médica foi colocada ao alcance da população carente e o amparo à

família está presente pela proteção à maternidade, a ajuda para manutenção dos

dependentes do segurado de baixa renda, a pensão aos dependentes quando

falecido ou recluso o trabalhador e pela assistência social ampla sob vários aspectos

à família dos trabalhadores.17

A competência para legislar sobre a seguridade social è privativa da União

conforme determina o artigo 22, inciso XXIII, da CRFB/88; podendo lei

14TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. 8.ed. rev. amp. e atual. Até a Emenda Constitucional 47/2005. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006. p. 1. 15Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05/10/1988, a partir de agora será denominada CRFB/88. 16TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. p. 1. 17COIMBRA, Feijó. Direito previdenciário brasileiro. p. 45-46.

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complementar autorizar os Estados a legislar sobre assuntos específicos da

seguridade social, de acordo com o § único do artigo 22, da CRFB/88.18

A seguridade tem como sua principal Lei a n° 8.212, de 24 de julho de 1991,

a qual trata de todo o custeio do sistema, compreendendo um conjunto integrado de

ações de iniciativa do poder público e toda a sociedade.19

O sistema da seguridade social tem como seus objetivos principais o

atendimento e a universalidade de cobertura, cuja finalidade é o bem-estar e a

justiça social, visando suprir as necessidades sociais e garantindo a dignidade da

pessoa humana. Tanto as prestações de saúde e as de assistência social são

estendidas a toda a coletividade, independentes de prestações antecedentes por

parte do beneficiário, sendo que não há a exigência de custeio, somente a existência

da situação da necessidade. Esses objetivos abrangem as três áreas de sua

atuação (saúde, assistência social e previdência social) gerando aplicabilidade

mediata (conforme a necessidade), indireta (abrangendo todos que necessitem, não

somente aqueles que contribuem) e não integral (no caso da previdência atingem

somente seus contribuintes).20

De acordo com Daniel Pulino21:

A separação das áreas que compõem o sistema de seguridade social, entre previdência, saúde e assistência é evidente, tem como marco diferenciador principal justamente o espectro de abrangência das camadas de proteção, pois enquanto a saúde e a assistência social estão focadas para o atendimento do que se convencionou chamar de mínimos sociais, a previdência social busca assegurar níveis economicamente mais elevados de subsistência, limitados, porém, a certo valor.

Já a Previdência Social está vinculada a um regime prévio de custeio, como

consta no artigo 195, caput, da CRFB/88, estabelecendo que a seguridade social

18SETTE, André Luiz Menezes Azevedo. Direito previdenciário avançado. 8.ed. atual. Até a Emenda Constitucional n. 47/05. Belo Horizonte: Mandamentos, 2005. p. 70. 19VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 27. 20TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. p. 2. 21PULINO, Daniel. A aposentadoria por invalidez no direito positivo brasileiro. São Paulo: LTR, 2001. p. 33.

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será financiada, mediante recursos provenientes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios e das contribuições sociais.22

1.1.2 Princípios da Seguridade Social

O artigo 194, § único da CRFB/88, dispõe os objetivos e os princípios que

constituem a organização da Seguridade Social:

I – universalidade da cobertura e do atendimento;

II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações

urbanas e rurais;

III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;

IV – irredutibilidade do valor dos benefícios;

V – equidade na forma de participação no custeio;

VI – diversidade da base de financiamento;

VII – caráter democrático e descentralizado da administração, mediante

gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos

aposentados e do Governo nos órgão colegiados.

A universalidade da cobertura e do atendimento significa que o atendimento

é voltado para todas as pessoas, assim como cobre qualquer tipo de evento. Este

princípio comporta exceções, pois o regime previdenciário é contributivo,

significando que só terão acesso aos benefícios previdenciários aqueles que

contribuírem com o sistema.23

A uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações

urbanas e rurais estão amparadas no artigo 7° da CRFB/88 que dispõe que não há

diferenças entre trabalhadores urbanos ou rurais. O Brasil possuía distintos regimes

de previdência social voltados aos trabalhadores do setor privado, um destinado aos

trabalhadores rurais, com menor proteção social e outro aos trabalhadores urbanos.

22JUNIOR, Aécio Pereira. Evolução histórica da previdência social e os direitos fundamentais. 23VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 27.

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Buscando acabar com a desigualdade de tratamento, o legislador uniformizou a

equivalência de benefícios e serviços. 24

A seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços é um

princípio específico da seguridade social e da previdência social. A seletividade

consiste na escolha de um plano básico compatível com a força econômica do

sistema em harmonia com as necessidades dos protegidos. Já a distributividade diz

respeito a prestação dos benefícios, pois existem que recebem todos os benefícios e

outros que recebem menos.25

A irredutibilidade do valor dos benefícios significa que o poder aquisitivo dos

benefícios não pode ser reduzido. É uma segurança jurídica contida na CRFB/88 em

benefício do segurado diante da inflação.26

A equidade na forma de participação do custeio garante que as pessoas que

estiverem na mesma situação deverão contribuir da mesma forma, ou seja, os que

ganham mais darão maior contribuição e os que ganham menos darão uma menor

contribuição. O Decreto n° 3.048/99, em seu artigo 198 estabelece que a

contribuição do segurado empregado, doméstico e do trabalhador avulso seguirá um

conjunto de alíquotas, que vai aumentando a medida que a remuneração do

trabalhador também aumenta.27

A diversidade da base de financiamento evidencia-se nas contribuições a

cargo do empregador, da empresa, da entidade a ela equiparada, do trabalhador,

dos demais segurados da previdência social, do administrador de concursos de

prognósticos e de recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios.28

24EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso de direito previdenciário, teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 20. 25GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário. p. 12. 26MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 55. 27EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso de direito previdenciário, teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p.20-21. 28VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 28.

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O caráter democrático e descentralizado da administração é expresso no

sentido de que havendo um fórum, conselho ou órgão em que estejam em discussão

direitos, todos deverão ter representantes para melhor garantir seus direitos. Cabe à

sociedade civil organizada participar da gestão da Seguridade Social, indicando os

representantes dos trabalhadores, dos empregadores e dos aposentados.29

Esses objetivos constituidores dos princípios da Seguridade Social, oriundos

da CRFB/88, norteiam a legislação e organizam o sistema previdenciário conferindo

direitos e obrigações relativos a seguridade social. Esses princípios constitucionais

serviram de referência ao legislador tanto na Lei n° 8.212/91 que trata da

organização da seguridade social e o respectivo plano de custeio, quanto na Lei nº

8.213/91 que trata dos planos de benefícios da previdência social.30

1.2 HISTÓRICO DA SAÚDE

Antes da CRFB/88, o Decreto n° 94.657/87, criou os sistemas Unificados e

Descentralizados de Saúde nos Estados (SUDS), com o objetivo de descentralizar

as ações destinadas à saúde. No âmbito federal havia o INAMPS (Instituto Nacional

de Assistência Médica da Previdência Social), extinto pela Lei n° 8.689/93. Suas

funções, competências e atividades foram absorvidas pelo SUS (Sistema único de

Saúde).31

O atual texto constitucional colocou os serviços médicos ao alcance de todo

cidadão necessitado, como direito inerente a este e não mais como caridade ou

beneficência. Ponto de importância é o que determina a elaboração de regras

disciplinando o transplante de órgãos e a pesquisa, vedando, contudo, a

comercialização.32

29EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso de direito previdenciário, teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 22. 30GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário. p. 11. 31SOUZA, Lilian Castro de. Direito Previdenciário. p. 24. 32COIMBRA, Feijó. Direito previdenciário brasileiro. p. 58.

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1.2.1 Conceito de saúde

O artigo 2° da Lei n° 8.212/91 dispõe que a saúde é garantida através do

Estado, como um dever inerente a este, mediante diretrizes sociais e econômicas

que visam o acesso igualitário a seus serviços e a ações para a redução dos riscos

de doença. A saúde é disponibilizada pelo poder público que pode conveniar-se com

entes privados por meio de contratos ou convênios, participando estes, de forma

complementar e remunerando-os por este serviço, que mesmo assim continua a ser

gratuito para os pacientes.33

A saúde é garantida mediante políticas sociais e econômicas que visam à

redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário

às ações e aos serviços para sua promoção, proteção e recuperação. O dever do

Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade.O direito

da saúde é um direito fundamental do ser humano, sendo um direito público

subjetivo, que pode ser exigido do Estado, que tem, por contrapartida, o dever de

prestá-lo.34

O legislador no artigo 198 da CRFB/88 criou o Sistema Único de Saúde

(SUS) que se constitui de um sistema integrado e hierarquizado de serviços públicos

sanitários regionais. Esse Sistema Único de Saúde é financiado através de recursos

oriundos do orçamento da seguridade social, da União Federal, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios. Além destes, também dão suporte a esse sistema:

ajudas, doações, contribuições, taxas, etc. Essas receitas são creditadas em contas

especiais e movimentadas nas esferas em que foram arrecadadas. Portanto, é o

Estado que tem o dever de prover condições indispensáveis ao exercício do direito

da saúde, oferecendo proteção a pessoa sem qualquer tipo de discriminação, pois é

um direito fundamental de todo ser humano.35

33SETTE, André Luiz Menezes Azevedo. Direito previdenciário avançado. p. 73. 34MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 502. 35GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário. p. 16-17.

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Assim explica André Luiz Menezes Azevedo Sette36:

Hoje, as ações e serviços de saúde não são de responsabilidade do INSS, mas do Ministério da Saúde, por meio do Sistema Único de Saúde – SUS. Verifica-se, portanto, que a saúde é um dos segmentos da seguridade social (como a assistência social e a previdência social), tendo, inclusive, organização distinta.

Está incluído ainda no campo de atuação do SUS:37

a) a execução de ações de vigilância sanitária;

b) a execução de ações de vigilância epidemiológica;

c) a execução de ações de saúde para o trabalhador;

d) a assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica.

Compreende-se por vigilância sanitária o conjunto de ações com o objetivo

de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas

sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da

prestação de serviços que se relacionem direta ou indiretamente com a saúde. A

vigilância epidemiológica é um conjunto de ações que proporcionem o

conhecimento, a detecção ou a prevenção de qualquer mudança nos fatos

determinantes e condicionamentos da saúde individual ou coletiva, com a finalidade

de recomendar e adotar medidas de prevenção e controle de doenças ou agravos.

Na proteção da saúde do trabalhador, além das ações de vigilância epidemiológica e

sanitária, abrange também, a recuperação e a reabilitação da saúde daqueles

submetidos a riscos e agravos advindos do meio do trabalho.38

O Sistema Único de Saúde tem como principais características:39

a) a universalidade;

b) a gratuidade;

c) a participação comunitária;

d) a descentralização;

e) o atendimento integral.

36SETTE, André Luiz Menezes Azevedo. Direito previdenciário avançado. p. 71. 37MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 507. 38SOUZA, Lilian Castro de. Direito Previdenciário. p. 24-25. 39TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. p. 14.

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1.2.2 Princípios da Saúde

Obedecerão os seguintes princípios e diretrizes as atividades da saúde

consideradas de relevância pública:40

a) acesso universal e igualitário;

b) provimento das ações e serviços através de rede regionalizada e hierarquizada,

integrados em sistema único;

c) descentralização com direção única em cada esfera de governo;

d) atendimento integral com propriedade para as atividades preventivas;

e) participação da comunidade na gestão, fiscalização e acompanhamento das

ações e serviços da saúde;

f) participação da iniciativa privada na assistência à saúde, obedecidos os preceitos

constitucionais

O artigo 7° da Lei 8.080/90 acrescenta à Saúde estes outros princípios:41

a) integralidade de assistência entendida como um conjunto articulado e contínuo

das ações e dos serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos

para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;

b) preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e

moral;

c) igualdade de assistência a saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer

espécie;

d) direito a informação, às pessoas assistidas, sobre a sua saúde;

e) divulgação de informação quanto ao potencial dos serviços de saúde e sua

utilização pelo usuário;

f) utilização da epidemiologia para o estabelecimento de propriedades, a alocação

de recursos e a orientação programática;

g) participação da comunidade;

40VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 29. 41MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 503.

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h) descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de

governo, com ênfase na descentralização dos serviços para os municípios,

regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde;

i) integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento

básico;

j) conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União,

dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de

assistência à saúde da população;

k) capacidade de resolução dos serviços em todo os níveis de assistência;

l) organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins

idênticos

1.3 HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

Anteriormente a legislação que versava sobre assistência social era

estudada em conjunto com a previdência social e muitos autores entendiam que a

assistência social era uma das divisões do Direito do Trabalho. A Legião Brasileira

de Assistência (LBA) estava disposta no artigo 9° da Lei n° 6.439/77 e competia a

esta prestar assistência social a população em carência através de programas de

desenvolvimento social e de atendimento às pessoas. Mas, somente a Lei n°

8.742/93 tratou da organização da Assistência Social.42

Ainda não protegida pelas prestações da previdência social, procurou-se

através do campo assistencial ampliar a faixa protetora do necessitado, sendo que o

seu limite para a concessão é a carência de recursos verificada nos interessados em

recebê-la.43

42MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 481. 43COIMBRA, Feijó. Direito previdenciário brasileiro. p. 58.

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1.3.1 Conceito da Assistência Social

A assistência social se firma no preceito de que cada pessoa possui o direito

de ter condições mínimas para a sobrevivência, de forma humana. Portanto, sua

função é destinada às pessoas que necessitam de ajuda para a própria

manutenção.44

Para J. Franklin Alves Felipe45:

Ao lado do seguro social previdenciário, o Estado presta também assistência social em certas circunstâncias (velhice, doença, maternidade, infância, etc.), em caráter normalmente geral e de forma voluntária, posto que não retribui, nesses casos, contribuições recebidas.

As prestações relativas a assistência social são de forma permanente ou

provisória, variando de acordo com a necessidade daquele que a pleiteia e

independe de contribuições para a seguridade social. Este instituto está

regulamentado pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) – Lei n° 8.742/93.46

Os benefícios da assistência social estão divididos em dois: 47

a) os de prestação continuada – que consistem no pagamento de um salário mínimo

mensal ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais e à pessoa portadora de

deficiência incapaz para o trabalho, que comprovem que por si próprios ou por suas

famílias não têm meios para prover a subsistência e também conhecido como

amparo assistencial ao idoso e ao deficiente, não sendo acumulável com qualquer

outro benefício concedido pela seguridade social; esses benefícios de prestação

continuada são pagos pela União Federal;

b) os eventuais – que consistem na prestação em dinheiro paga em razão da

natalidade, também conhecido como auxílio-natalidade e devido às famílias que

tenham renda mensal, por pessoa, inferior a ¼ (um quarto) do salário mínimo e em

44SETTE, André Luiz Menezes Azevedo. Direito previdenciário avançado. p. 74. 45FELIPE, J. Franklin Alves. Previdência social na prática. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994. p. 15. 46TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. p. 15. 47GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário. p. 24-26.

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razão de morte conhecido como auxílio-funeral, devido também, às famílias que

tenham renda inferior a ¼ (um quarto) do salário mínimo, por pessoa, esses

benefícios eventuais são de competência dos municípios e aqueles recebidos, com

essa finalidade específica, dos Estados.

1.3.2 Princípios da Assistência Social

A assistência social para sua organização obedecerá os seguintes

princípios:48

a) descentralização político-administrativa;

b) participação da população na formulação e controle das ações em todos os

níveis.

Os objetivos da assistência social estão dispostos no artigo 203 da CRFB/88

e são estes: 49

a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e a velhice;

b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes;

c) a promoção da integração ao mercado de trabalho;

d) a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção

de sua integração à vida comunitária;

e) a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de

deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria

manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

48FERREIRA, Rosni; FERREIRA, Deyse. Guia prático da assistência social: comentários e normas sobre o decreto n. 3.048/99. 3. ed. atual. São Paulo: LTr, 1999. p. 20. 49SETTE, André Luiz Menezes Azevedo. Direito previdenciário avançado. p. 74.

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1.4 HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

No Brasil as primeiras manifestações previdenciárias surgiram através das

casas de misericórdia (1543) e montepios que eram instituições que através do

pagamento de cotas, cada membro por morte tinha o direito de deixar pensão para

pagamento a alguém de sua escolha. Funcionavam através do mutualismo, ou seja,

uns grupos de pessoas associadas contribuíam formando assim um fundo de

reserva para a cobertura dos eventuais infortúnios.50

No período do Império, em 1888, foi criada através da Lei n° 3.397/88, a

Caixa de Socorros destinada aos trabalhadores de cada uma das estradas de ferro

do Estado. Em 1889, surgiu o montepio para os funcionários dos correios e o fundo

especial de pensões para os trabalhadores da Imprensa Régia.51

A primeira Constituição a descrever a aposentadoria foi a de 1891 que a

instituía somente para os funcionários públicos nos casos de invalidez.52

A base da previdência social teve início com a promulgação da Lei Eloy

Chaves (Decreto Legislativo n° 4.682, de 24/01/1923), que em seu artigo 1°, criou

em todo o país, as Caixas de Aposentadoria e Pensões. Inicialmente para os

trabalhadores de empresas ferroviárias que trabalhassem na mesma empresa por

mais de seis meses. Como benefícios previa: aposentadoria ordinária com 30 (trinta)

anos de serviço e 50 (cinqüenta) anos de idade, pensão por morte, assistência

médica e medicamentos com preços reduzidos. Esses benefícios foram estendidos

aos funcionários portuários, de serviços telegráficos, de água, de energia, entre

outras, atingindo 180 (cento e oitenta) caixas de aposentadorias e pensões, que

foram unificadas na Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários e

Empregados em Serviços Públicos.53

50EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso de direito previdenciário, teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 7. 51SOUZA, Lilian Castro de. Direito Previdenciário. p. 4. 52TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. p. 42. 53MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário, tomo II: previdência social. 2. ed. São Paulo: LTr, 2003. p. 71.

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Já, a Constituição do ano de 1934, instituiu um sistema previdenciário que

assegurava entre outros benefícios, a velhice, a invalidez, o direito de descanso

remunerado a gestante, a morte, o acidente de trabalho e implantava a forma de

custeio tríplice, formada pelos empregadores, trabalhadores e o ente público.54

A Constituição do ano de 1946, substituiu a expressão “seguro social” por

“previdência social”, avançando assim na organização do sistema, determinando a

obrigatoriedade do empregador de instituir seguro contra acidentes de trabalho. Em

1960 foi promulgada a Lei n° 3.807, conhecida como LOPS (Lei Orgânica da

Previdência Social), unificando a legislação existente sobre previdência social,

sendo o primeiro texto legal a dispor sobre regras de benefícios, serviços e custeio.

Nesse mesmo ano foi instituído o Ministério do Trabalho e Previdência Social.55

A Lei n° 3.807/60 (Lei Orgânica da Previdência Social), padronizou o

sistema da previdência social promovendo a uniformização dos vários sistemas

previdenciários existentes e acrescentou os benefícios do auxílio-natalidade, auxílio-

funeral e auxílio-reclusão.56

Em 1966, o Decreto n° 72 criou o INPS (Instituto Nacional de Previdência

Social), unificando as instituições previdenciárias, incluindo os IAPs (Institutos

Públicos de Aposentadorias e Pensões, criados na década de 30). Ao mesmo tempo

modernizou o sistema jurisdicional da previdência social, constituindo Juntas de

Recursos da Previdência Social e o Conselho de Recursos da Previdência

Social.Para a integração do trabalhador rural com a previdência foi instituído o

sistema de amparo do PRORURAL.57

No ano de 1977, foi criado o SINPAS (Sistema Nacional de Previdência e

Assistência Social) composto pelos seguintes entes:58

a) INPS (Instituto Nacional de Previdência Social);

54SETTE, André Luiz Menezes Azevedo. Direito previdenciário avançado. p. 47. 55VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 26. 56SOUZA, Lilian Castro de. Direito Previdenciário. p. 06. 57COIMBRA, Feijó. Direito previdenciário brasileiro. p. 36. 58SETTE, André Luiz Menezes Azevedo. Direito previdenciário avançado. p. 50.

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b) IAPAS (Instituto de Administração Financeira da Previdência Social);

c) INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social);

d) LBA (Legião Brasileira de Assistência);

e) FUNABEM (Fundação Nacional do Bem Estar do Menor);

f) CEME (órgão de fornecimento de medicamentos do Ministério da Saúde);

g) DATAPREV (Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social).

A atual Constituição (CRFB/88), trouxe em seu texto legal um capítulo

destinado somente a seguridade social (Capítulo II, do Título VIII), visualizando

assim o seguro social com mais amplitude instituindo as bases da seguridade social

com a inclusão da saúde e da assistência social.59

A Emenda Constitucional n° 20 de 15/12/1998 (Reforma da Previdência

Social), trouxe significativas mudanças ao Sistema Previdenciário Brasileiro, entre as

quais podemos ressaltar:60

a) determinou que fosse devido somente ao trabalhador de baixa renda, o benefício

do salário-família;

b) proibiu qualquer trabalho para os menores de 16 (dezesseis) anos, exceto na

condição de aprendiz;

c) estabeleceu para os servidores públicos, novas regras para a concessão de

benefícios previdenciários;

d) criou diretrizes para o regime de previdência privada, tendo caráter complementar

e organizado de forma autônoma, em relação ao Regime Geral de Previdência

Social;

e) estabeleceu que para a organização da Previdência Social serão observados

critérios que preservem o equilíbrio financeiro.

Atualmente nosso sistema previdenciário rege-se, entre outras leis, pela Lei

n° 8.212/91 que dispõe sobre a organização da Seguridade Social e institui os

planos de custeio, a Lei n° 8.213/91, que dispõe sobre os planos de benefícios da

59GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário. p. 06. 60EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso de direito previdenciário, teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 11.

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Previdência Social e pelo Decreto Lei n° 3.048/99, que aprova o regulamento da

Previdência Social.61

1.4.1 Conceito da Previdência Social

A previdência social é a principal exteriorização da seguridade social e é

conceituada como um seguro de espécie coletivo, compulsório, público que

mediante contribuições anteriores, cobre certos riscos previstos em lei. Entende-se

por coletivo porque abrange toda uma população; compulsório, pois todos aqueles

que exercem atividades com remuneração são obrigados à filiação; público, devido

ao seu desenvolvimento e organização se darem através do Estado e mediante

contribuição pelo motivo de que todos os filiados são obrigados a contribuir com o

sistema previdenciário.62

Sérgio Pinto Martins63 assim conceitua:

Em verdade, a previdência social é eficiente meio de que se serve o Estado moderno na redistribuição da riqueza nacional, tendo em mira o bem-estar do indivíduo e da coletividade, prestado por intermédio das aposentadorias, como forma de reciclagem da mão-de-obra e oferta de novos empregos.

No dizer de Moacyr Velloso Cardoso de Oliveira64:

A organização criada pelo Estado, destinada a prover as necessidades vitais de todos os que exercem atividade remunerada e de seus dependentes e, em alguns casos, de toda a população, nos eventos previsíveis de suas vidas, por meio de um sistema de seguro obrigatório, de cuja administração e custeio participam em maior ou menor escala, o próprio Estado, os segurados e as empresas.

61PAESE, Renato Kliemann; FORTES, Gisele Borges. Aniversário da previdência social no Brasil. Os aposentados e trabalhadores têm alguma coisa pra comemorar? Disponível em: <http://paeseferreira.com.br/docs/aniversario_previdencia.doc> Acesso em: 25 fev 2008. 62SETTE, André Luiz Menezes Azevedo. Direito previdenciário avançado. p. 94. 63MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. p. 120. 64OLIVEIRA, Moacyr Velloso Cardoso de. Previdência Social. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1987. p. 10.

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Assim, o artigo 1° da Lei n° 8.213/91 expressa como objetivo principal da

Previdência Social:

Assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente.

De acordo com a Convenção da OIT (Organização Internacional do

Trabalho) n° 102 é:

A proteção que a sociedade proporciona a seus membros, mediante uma série de medidas públicas contra as privações econômicas e sociais que, de outra forma, deriva do desaparecimento ou em forte redução de sua subsistência como conseqüência de enfermidade, maternidade, acidente de trabalho ou enfermidade profissional, desemprego, invalidez, velhice e também a proteção em forma de assistência médica e ajuda às famílias com filhos.

A previdência social é definida como uma forte arma para o cumprimento do

princípio constitucional garantidor da dignidade da pessoa humana, reduzindo a

pobreza e posteriormente as desigualdades sociais, garantindo as oportunidades e a

cidadania.65

Economicamente, a previdência social se equipara a uma enorme poupança

coletiva, em que um grande número de pessoas não mais produtivas na sociedade,

sobrevivem devido as reservas obrigatórias de contribuição angariadas

anteriormente por toda a coletividade.66

Suas principais características estão divididas quanto:67

a) ao objeto – quando se verifica um determinado evento, há a obrigação de garantir

uma determinada prestação;

b) ao campo de aplicação – pessoas definidas que exerceram ou exercem atividade

remunerada;

c) aos recursos – responsabilidade do segurado, do empregador e do Estado para

as contribuições prévias.

65TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. p. 28. 66MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário, tomo II: previdência social. p. 96. 67SOUZA, Lilian Castro de. Direito Previdenciário. p. 27.

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O ramo do direito público que trata da previdência social é o direito

previdenciário, disciplinando a relação entre o Estado e o indivíduo (beneficiário),

reconhecendo os direitos que tem sua natureza previdenciária reconhecida pela

Constituição e pela lei que a disciplina. Por sua função social, há regras próprias

para a aplicação da legislação previdenciária, cuidando assim da concessão de

benefícios indispensáveis à preservação da vida, devido a seus recursos serem

produtos dos esforços de seus segurados.68

1.4.2 Princípios da Previdência Social

A previdência social obedece os seguintes princípios e diretrizes dispostos

no artigo 3°, § único, da Lei n° 8.212 e no artigo 2° da Lei n° 8.213:69

a) universalidade de participação nos planos previdenciários, mediante contribuição

(qualquer pessoa poderá participar dos benefícios da previdência social, mediante

contribuição na forma dos planos previdenciários desde que contribua);

b) o valor da renda mensal dos benefícios, substitutos do salário-de-contribuição ou

de rendimento do trabalho do segurado, não inferior ao do salário mínimo;

c) o cálculo dos benefícios, considerando-se os salários-de-contribuição, corrigidos

monetariamente;

d) preservação do valor real dos benefícios;

e) previdência complementar facultativa, custeada por contribuição adicional;

f) uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e

rurais;

g) seletividade e distributividade na prestação dos benefícios;

h) irredutibilidade do valor dos benefícios de forma a preservar-lhes o poder de

aquisitivo;

68FELIPE, J. Franklin Alves. Previdência social na prática forense. p. 8. 69MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 286.

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i) caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão

quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos

aposentados e do governo nos órgãos colegiados;

j) a solidariedade, os ativos contribuem para financiar os benefícios dos inativos. A

solidariedade social, até um certo valor dever ser obrigatória, pois, do contrário, não

se pode falar na manutenção do sistema de previdência social. A baixa renda do

trabalhador o impediria de contribuir se o sistema fosse voluntário, pois iria usar todo

o numerário para honrar os seus compromissos;

k) a contrapartida é um princípio da previdência social, pois não há benefício sem

custeio. Deve haver o custeio para o pagamento do benefício. Não pode haver

contribuição sem benefício, nem benefício, sem contribuição. A contrapartida visa

observar o equilíbrio econômico – financeiro do sistema. O custeio implica o

pagamento do benefício. Se já recebo o benefício, não tem sentido falar em custear

o próprio benefício.

Visando atender os objetivos da Previdência Social foram instituídos os

seguintes benefícios:70

a) auxílio-doença;

b) auxílio-acidente;

c) auxílo-reclusão;

d) aposentadoria por invalidez;

e) aposentadoria por idade;

f) aposentadoria por contribuição;

g) aposentadoria especial;

h) salário-maternidade;

i) salário-família;

j) pensão por morte.

No próximo capítulo tratar-se-á dos benefícios, dos segurados e das formas

de custeio da Previdência Social.

70KERTZMAN, Ivan. Direito Previdenciário. p. 13.

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2. BENEFÍCIOS, SEGURADOS E CUSTEIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

Para a concessão dos benefícios destinados aos segurados da Previdência

Social é necessário o seu custeio com as contribuições dos diversos setores da

sociedade. Explicar-se-á a seguir os tipos de benefícios concedidos, os tipos de

segurados e as formas de custeio da previdência social.

2.1 BENEFÍCIOS

As prestações conferidas pelo regime Geral da Previdência Social são

conferidas na forma de benefícios e serviços. Prestação significa gênero, do qual

são espécies os serviços e os benefícios. Portanto, são benefícios, os valores pagos

em dinheiro ao segurado e dependentes, enquanto, que os serviços são bens

imateriais a disposição dos segurados, quando estes precisarem, como o serviço

social e a assistência médica.71

2.1.1 Auxílio-Doença

Benefício concedido quando o segurado encontra-se em incapacidade

temporária, propenso a recuperação e que necessite afastar-se de sua atividade por

mais de quinze dias.72

Cristiane Miziara Mussi73 explica esse sentido:

71MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 298. 72TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. p. 124. 73MUSSI, Cristiane Miziara. Auxílio-doença: as inovações trazidas pelo Decreto n° 5.545/2005 e as distorções referentes ao benefício. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7637> Acesso em 24 mar 2008.

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Em se tratando de auxílio-doença, o risco social protegido é o risco da incapacidade laborativa temporária (incapacidade total ou parcial). Se não houvesse a proteção a este risco, o trabalhador ficaria à margem da sociedade, sem qualquer amparo. Pensando nisso, a previdência social ampara o trabalhador, garantindo, ao mesmo, proteção diante do risco social. No caso em questão, a necessidade de amparo surge a partir de uma incapacidade laborativa temporária.

É considerado o primeiro benefício a ser instituído, podendo ser comum

(doenças ou enfermidades) ou decorrer de acidentes de trabalhos ou não e está

disposto no artigo 201, alínea i, da CRFB/88.74

Incumbe à empresa o pagamento do salário ao segurado empregado

durante os primeiros 15 (quinze) dias consecutivos de afastamento da atividade por

motivo de doença. Cabendo também a esta o exame médico e o abono de faltas

através de serviço médico próprio ou por convênio dos primeiros 15 (quinze) dias de

afastamento. Caso aconteça de o empregado, afastar-se de seu trabalho por motivo

de doença durante um período menor do que 15 (quinze) dias e voltar a afastar-se

novamente dentro do período de 60 (sessenta) dias, terá direito ao auxilio-doença a

partir do dia que completar o período de 15 (quinze) dias iniciado anteriormente. O

benefício só é devido ao segurado que afastar-se de seu trabalho por um período

superior a 15 (quinze) dias consecutivos. Quando a incapacidade ultrapassar esse

período o segurado será encaminhado para a perícia médica do Instituto Nacional

do Seguro Social (INSS). Portanto, quanto ao segurado empregado, a empresa

pagará os 15 (quinze) primeiro dias de afastamento e a previdência pagará o

benefício a partir do 16º (décimo sexto) dia de afastamento. Pra todos os outros

segurados, o benefício será pago da data de início da incapacidade.75

A incapacidade somente poderá ser comprovada por médico pertencente ao

SUS (Sistema Único de Saúde). Nos casos comuns exige o período de carência de

doze meses. Corresponde a 91% do salário-benefício a renda mensal concedida,

não podendo ultrapassar o salário contribuição e nem ser inferior ao salário mínimo.

74MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário, tomo II: previdência social. p. 695. 75EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso de direito previdenciário, teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 347-348.

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Se o beneficiário exercer mais de uma atividade será feito o cálculo proporcional ao

período de 12 (doze) contribuições (corresponde ao período de carência).76

O beneficiário fica submetido ao processo de recuperação e tratamento

médico sendo fiscalizado pela perícia médica, a qual deve comparecer

periodicamente e esta avaliará seu estado de saúde e concluirá pela não

recuperação para qualquer atividade (aposentará o segurado por invalidez),

recuperado sem redução de sua capacidade laborativa (cessa o auxílio-doença),

recuperação das lesões e resultando seqüelas (concessão de auxílio acidente) ou

continuação do processo de recuperação, continuando assim o auxílio-doença.77

2.1.2 Auxílio-acidente

O auxílio-acidente é o benefício concedido ao segurado sendo de caráter

vitalício resultante de algum acidente de trabalho ou acontecimento que resulte em

seqüelas que diminuam sua capacidade laborativa.78

É um benefício destinado ao trabalhador que tem sua capacidade laboral

reduzida. Não ocorre a incapacidade total, que daria direito então a outro benefício,

a aposentadoria por invalidez. A recuperação da capacidade para o trabalho é

parcial, sendo proveniente de acidente de qualquer natureza, gerando uma

incapacidade relativa como seqüela do acidente sofrido. Antes da Lei n° 9.032/95, o

auxílio-acidente era somente para acidentes de trabalho, após abrange os acidentes

de qualquer natureza.79

De acordo com o artigo 86 da Lei n° 8.213 o acidente pode ser de qualquer

natureza, portanto tem que ser interpretado na condição mais favorável ao

76MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário, tomo II: previdência social. p. 697. 77TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. p. 125-126. 78MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário, tomo II: previdência social. p. 763. 79GONÇALES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário, Acidentes do trabalho. p. 24.

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empregado. Isto deixa evidenciado que tanto faz se o segurado se acidenta no

trabalho ou fora dele, nos dois casos, terá direito ao auxílio-acidente.80

O artigo 23 da Lei n° 8.213/91 estabelece que:

Considera-se como dia do acidente, no caso de doença profissional ou do trabalho, a data do início da incapacidade laborativa para o exercício da atividade habitual, ou o dia da segregação compulsória, ou o dia em que for realizado o diagnóstico, valendo para este efeito o que ocorrer primeiro.

Não há carência para o recebimento deste benefício que começa a ser

concedido ao dia seguinte da cessação do auxílio-doença. Corresponde a 50%

(cinqüenta por cento) do salário recebido com o auxílio-doença.81

Conforme Hertz Jacinto Costa:82

Qualquer grau de incapacidade parcial e permanente enseja o ressarcimento acidentário de 50% do salário-benefício porquanto a letra da lei não estabelece distinções de graus. O pressuposto constante da lei é que após a consolidação das lesões decorrentes de acidentes de qualquer natureza, resultarem seqüelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia.

É vedada sua cumulação com qualquer espécie de aposentadoria. Mas, o

recebimento de salário ou concessão de outro benefício previdenciário, não

prejudicará a continuidade do seu recebimento. Não é também permitido seu

recebimento acumulado. Se durante o gozo de um auxílio-acidente tiver direito a um

novo auxílio-acidente, decorrente de outro acidente, será comparada as rendas dos

dois benefícios e será mantido o mais vantajoso ao beneficiário.83

São beneficiários os avulsos, empregados e segurados especiais conforme

determinado no artigo 18, § 1°, da Lei n° 8.213/91.

80MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 427. 81TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. p. 133. 82COSTA, Hertz Jacinto. Previdência social: estudos sobre o auxílio-acidente. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3971> Acesso em: 24 mar 2008. 83EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso de direito previdenciário, teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 369-370.

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2.1.3 Auxílio-reclusão

O auxílio-reclusão é o benefício devido aos dependentes do segurado preso,

desde que este não receba auxílio-doença, aposentadoria, abono de permanência

ou remuneração de empresa. Para o seu requerimento é necessária a certidão de

recolhimento a para a sua manutenção, a apresentação de atestado trimestralmente

de que o segurado continua preso, expedido pela autoridade competente.84

Não há carência para o seu recebimento e sua renda mensal será de cem por

cento do valor do salário-benefício, ou seja, da aposentadoria por invalidez a que

teria direito.85

A cassação do benefício se dará pelo óbito do segurado ou beneficiário, pela

extinção da cota individual, pelo recebimento de aposentadoria pelo segurado, pela

soltura do segurado, pelo fato de o dependente inválido tiver cessada a sua

incapacidade e pela emancipação do dependente ou se este completar vinte um

anos de idade, salvo se for inválido. Os casos de suspensão do benefício são:86

a) pelo recebimento de auxílio-doença pelo segurado;

b) pela fuga do segurado;

c) pela falta de apresentação do atestado trimestral;

d) se o segurado deixar a prisão por livramento condicional ou progressão para o

regime aberto.

84SOMARIVA, Maria Salute; DEMO, Roberto Luis Luchi. Benefícios previdenciários e seus regimes jurídicos. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8599>. Acesso em: 25 mar 2008. 85TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. p. 187. 86SOMARIVA, Maria Salute; DEMO, Roberto Luis Luchi. Benefícios previdenciários e seus regimes jurídicos.

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2.1.4 Aposentadoria por invalidez

Benefício concedido ao segurado considerado incapaz para a sua

capacidade laborativa e impossibilitado de recuperação pra o exercício da atividade

que exercia e que lhe garantia sua subsistência, pago enquanto decorrer essa

situação.87

É uma prestação continuada, classificada em comum ou acidentária, paga

aos segurados obrigatórios, facultativos e ao trabalhador rural mesmo que não tenha

contribuído.88

Na classificação de Daniel Pulino89, com relação à invalidez:

[...] três tipos de benefícios previdenciários diferentes, que se destinam a proteger a invalidez: um relativo à aposentadoria por invalidez em sentido próprio, outro referente ao benefício por grande invalidez, e, finalmente aquele destinado a proteger a situação de necessidade social sentida pelo aposentado que, após recuperar a capacidade, encontrará, em certos casos, dificuldades em reintroduzir-se no mercado de trabalho (que denominaremos de benefício por recuperação da capacidade de trabalho).

A renda mensal do benefício é de cem por cento do salário-benefício e

poderá ser acrescido de vinte e cinco por cento se o aposentado necessitar de outra

pessoa para lhe assistir permanentemente em relação a doenças previstas no anexo

1 do Regulamento da Previdência Social. Esse benefício cessa com a morte do

segurado e não é incorporado à pensão por morte.90

Dependerá da verificação da condição de incapacidade, a concessão da

aposentadoria por invalidez. Será realizado exame médico-pericial a cargo da

previdência social, podendo o segurado estar acompanhado de médico de sua

confiança, ás suas expensas. No momento da perícia médica, a conclusão do

médico deve ser favorável à existência de incapacidade total e definitiva para o

87IBRAHIM, Fábio Zambitte. Resumo de Direito Previdenciário. 6. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2006. p. 163. 88COSTA, Valéria de Fátima Izar Domingues da. A aposentadoria por invalidez. 89PULINO, Daniel. A aposentadoria por invalidez no direito positivo brasileiro. p. 35. 90TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. p. 134-135.

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trabalho, mas, nada impede que em momento futuro, o segurado volte a ter aptidão

para o trabalho, circunstância esta, que fará com que o benefício seja cancelado, daí

diga-se que este, é concedido sob condição resolutiva.91

O segurado ao lhe ser concedido este benefício não poderá exercer

qualquer outra atividade remunerada, pois o evento determinante do benefício é sua

incapacidade. Se exercer incorrerá sobre ele a cassação de sua aposentadoria por

invalidez.92

2.1.5 Aposentadoria por idade

Benefício concedido com o objetivo de garantir a manutenção do segurado

com idade avançada sendo um repouso pelos seus longos anos de cooperação com

a previdência e com a sociedade.93

Tem como beneficiários o homem com 65 (sessenta e cinco) anos de idade

e a mulher com 60 (sessenta) anos de idade, reduzindo em 05 (cinco anos) para os

trabalhadores rurais e para aqueles que exercem atividades de economia familiar,

incluindo o pescador artesanal, o produtor rural e o garimpeiro. A carência exigida

para a concessão desse benefício é de 180 (cento e oitenta) contribuições mensais,

carência esta sendo exigida para os segurados que se filiaram ao Regime Geral de

Previdência Social após 24/07/1991, para os demais há uma regra de transição

disposta no artigo 142 da Lei n° 8.213/91.94

91VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 245. 92IBRAHIM, Fábio Zambitte. Resumo de Direito Previdenciário. p. 164. 93SOUZA, Lilian Castro de. Direito Previdenciário. p. 27. 94IBRAHIM, Fábio Zambitte. Resumo de Direito Previdenciário. p. 169.

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Ressalta Kepler Gomes Ribeiro:95

Conforme destaquei, a Lei que trata do Regime da Previdência Social determina que tais requisitos devem se manifestar de forma simultânea. De nada adianta o preenchimento do requisito carência, deixar de contribuir e esperar que a idade mínima advenha. Ou seja, mesmo após o preenchimento do requisito carência, é indispensável que o segurado continue contribuindo até o implemento da idade mínima; pois assim não o fazendo poderá ter perdido a condição de segurado antes do advento deste segundo requisito (a idade).

A renda mensal deste benefício concedido é de setenta por cento do salário-

benefício mais um por cento para cada 12 (doze) contribuições mensais, sendo que

o valor final não pode ultrapassar cem por cento.96

A aposentadoria por idade, desde que requerida pelo beneficiário, poderá

ser decorrente da aposentadoria por invalidez ou do benefício do auxílio-doença

sendo que deverá ter cumprido todos os seus requisitos e em decorrência disso

serão suspensos os exames médicos periódicos. Esta aposentadoria também pode

ser requerida pela empresa quando o empregado tenha cumprido o período de

carência necessário e completados 70 (setenta anos), o homem e 65 (sessenta e

cinco anos), a mulher. Sendo facultativa para a empresa e compulsória para o

empregado sendo-lhe garantida a indenização prevista na legislação trabalhista.97

2.1.6 Aposentadoria por tempo de contribuição

A aposentadoria por tempo de contribuição assume caráter de poupança

somada por anos de contribuição em favor do segurado, durante seus anos de

trabalho.98

95RIBEIRO, Kepler Gomes. Aposentadoria por idade. Artigos que prevêem a perda da condição de segurado. Necessidade de se fazer interpretação teleológica como forma de se evitar o cometimento de injustiças. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3317> Acesso em: 25 mar 2008. 96TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. p. 140. 97IBRAHIM, Fábio Zambitte. Resumo de Direito Previdenciário. p. 171. 98MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário, tomo II: previdência social. p. 718.

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De acordo com o artigo 201, § 7° da CRFB/88 é exigido dois requisitos para

a concessão deste tipo de aposentadoria. O primeiro diz respeito ao tempo de

contribuição, sendo, de 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem e 30

(trinta) anos de contribuição, se mulher. O segundo requisito, a idade, de 65

(sessenta e cinco) anos, se homem e 60 (sessenta) anos, se mulher; prazo este

reduzido em 05 (cinco) anos para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para

os que exercem atividades em regime de economia familiar (produtor rural, pescador

artesanal e garimpeiro). Tempo de contribuição e idade são requisitos cumulativos.

A Emenda Constitucional n° 20/98 especificou a situação dos professores,

reformando o § 8° do artigo 201, da CRFB/88; terão direito à aposentadoria, a

professora que tiver 25 (vinte e cinco) anos de contribuição e o professor que tiver

30 (trinta) anos de contribuição, desde que comprovem esse tempo de exercício nas

funções de magistério na educação infantil e/ou no ensino fundamental e/ou no

ensino médio. De acordo com a Súmula 726 do STF (Supremo Tribunal Federal)

não se computa neste tempo o serviço prestado fora da sala de aula e não se

estende ao orientador educacional, pois este não sofre o desgaste do professor que

esforça suas cordas vocais, trabalha jornadas extensas e está sujeito a atividade

insalubre, do contato com o pó de giz.99

Entende-se por tempo de contribuição o tempo contado desde o início do

requerimento ou desligamento da atividade, descontados os períodos de suspensão

ou interrupção do contrato de trabalho ou o desligamento da atividade. Este

benefício será pago no valor integral de 100% (cem por cento) do salário-

contribuição, respeitando a carência de 180 (cento e oitenta) meses.100

Dispõe Fábio Zambitte Ibrahim:101

A aposentadoria por tempo de contribuição é um benefício que sofre constantes ataques, sendo que um número razoável de especialistas defendem a sua extinção. Isso decorre de conclusão de não ser este benefício tipicamente previdenciário, pois não há qualquer risco social sendo protegido – o tempo de contribuição não traz presunção de incapacidade para o trabalho. Outros defendem este benefício, já que, mesmo não tendo risco a proteger, permite uma renovação

99MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 331-332. 100TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. p. 146. 101IBRAHIM, Fábio Zambitte. Resumo de Direito Previdenciário. p. 172.

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mais rápida do mercado de trabalho, o que pode ser útil em épocas de desemprego acentuado. Não o bastante, o que se vê na prática são segurados que se aposentam por tempo de contribuição e continuam trabalhando.

2.1.7 Aposentadoria especial

Concedida aos segurados que por 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e

cinco) anos tenham trabalhado sob condições consideradas especiais que

prejudiquem a saúde ou a integridade física. Deverá ser comprovado o trabalho

permanente em jornada integral com exposição a agentes químicos, físicos ou

biológicos. São consideradas somente as atividades perigosas, não sendo

consideradas, as insalubres.102

São considerados agentes químicos os encontrados na forma de poeiras,

fumos, gases, névoas e vapores. Já os agentes físicos são a radiação ionizante,

umidade, eletricidade, temperatura e pressão. Os agentes biológicos são os

microorganismos como fungos, parasitas, bactérias, vermes e vírus, entre outros.103

No artigo 22, inciso II, da Lei 8.212/91 estão previstas as alíquotas deste

benefício. Essas alíquotas são elevadas na proporção do mal em que a atividade

atinge o trabalhador prejudicando sua saúde e sua integridade física. Se o trabalho

necessita da concessão do benefício após 15 (quinze) anos, terá o acréscimo de

12% (doze por cento), se após 20 (vinte) anos, acréscimo de 9% (nove por cento) e

se após 25 (vinte e cinco) anos terá o acréscimo de 6% (seis por cento).104

Para Fábio Zambitte Ibrahim:105

Para alguns, este benefício seria uma espécie de aposentadoria por invalidez antecipada, na medida em que proporciona a aposentação antes de o segurado ser efetivamente incapacitado pelos agentes

102GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário. p. 115. 103MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário, tomo II: previdência social. p. 710. 104GONÇALES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário, Acidentes do trabalho. p. 116. 105IBRAHIM, Fábio Zambitte. Resumo de Direito Previdenciário. p. 179.

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nocivos a que está exposto. Outros a definem como uma espécie de aposentadoria por tempo de contribuição, qualificada em razão da nocividade da atividade desenvolvida. Por fim, a quem veja uma espécie de aposentadoria, a par das já existente. Adoto essa última corrente, em razão das especificidades deste benefício e por ser a mais adequada para o desenvolvimento do seu estudo.

O prazo de carência é de 180 (cento e oitenta) meses e a renda mensal será

de 100% (cem por cento) do salário-contribuição, pois inexiste esse tipo de

aposentadoria na forma proporcional.106

2.1.8 Salário-maternidade

O salário maternidade é devido à segurada da previdência social

(trabalhadora avulsa, empregada doméstica, contribuinte individual e facultativa e

segurada especial) durante cento e vinte dias, com início em vinte e oito dias antes

do parto.107

A segurada que for adotante ou obtiver guarda judicial para adoção também

possui o direito ao salário-maternidade. O período será de 120 (cento e vinte) dias

se a criança tiver até 01 (um) ano de idade, 60 (sessenta) dias se a criança tiver

entre 01 (um) e 04 (quatro) anos de idade e de 30 (trinta) dias se a criança tiver

entre 04 (quatro) a 08 (oito) anos de idade. A adoção de crianças maiores que oito

anos não traz direito ao salário-maternidade, assim como no caso de casal, somente

será concedido este benefício a mulher.108

O valor do benefício em relação à segurada empregada será igual a sua

remuneração devida no mês de seu afastamento, se o seu salário for variável será

realizada uma média aritmética dos seus seis últimos salários. Em relação à

segurada trabalhadora avulsa será o correspondente a sua última remuneração

106TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. p. 161 107MARTINS, Moacir Alves. O salário-maternidade na legislação previdenciária atual. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10760>. Acesso em: 02 jan 2008. 108IBRAHIM, Fábio Zambitte. Resumo de Direito Previdenciário. p. 200.

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integral. A empregada doméstica receberá o valor de seu último salário-contribuição.

Já a segurada contribuinte individual ou facultativa será a média aritmética dos

últimos doze salários-contribuição.Em se tratando da segurada empregada esse

benefício será pago pela empresa, e para as demais seguradas será pago pelo

INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social).109

2.1.9 Salário-família

O salário-família tem caráter alimentar não podendo ser incorporado ao

salário ou benefício e é pago ao segurado de baixa renda para auxiliar na

manutenção de sua família. Não tem direito ao salário-família o contribuinte

individual, o empregado doméstico, o segurado facultativo e o segurado especial,

bem como o pensionista.110

Não há carência para a sua concessão e será pago por cotas referente a

filho ou equiparado que tenha até quatorze anos de idade, ou inválido sem limite de

idade.111

Os empregados recebem o salário-família pago pela empresa juntamente

com o salário; já os trabalhadores avulsos e os segurados que estiverem sob o

benefício do auxílio-doença, recebem diretamente do INSS (Instituto Nacional de

Seguridade Social) .112

Cessará o benefício quando os filhos ou equiparados completarem 14

(quatorze) anos de idade ou o inválido cessando a sua incapacidade, pelo

desemprego do segurado e por morte do dependente. Equiparam-se ao filho o

enteado e o menor tutelado, desde que comprovada a dependência econômica. O

109MARTINS, Moacir Alves. O salário-maternidade na legislação previdenciária atual. 110SOMARIVA, Maria Salute; DEMO, Roberto Luis Luchi. Benefícios previdenciários e seus regimes jurídicos. 111TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. p. 175. 112SOMARIVA, Maria Salute; DEMO, Roberto Luis Luchi. Benefícios previdenciários e seus regimes jurídicos.

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menor sob guarda judicial deixou de ser equiparado ao filho, para efeitos

previdenciários, com o advento da Medida Provisória n° 1.523, convertida na Lei n°

9.528/97; somente o segurado com contrato anterior a data da vigência da Medida

Provisória, tem direito a esse benefício, ocorrendo direito adquirido.113

2.1.10 Pensão por morte

Benefício concedido aos dependentes do segurado com o objetivo de

manutenção da família, no caso da morte do titular pelo provimento de recursos.

Poderá ser acumulada com aposentadoria.114

São 03 (três) as possibilidades para a concessão desse benefício: a morte, o

desaparecimento e a ausência. Nesses últimos dois casos, o direito só será

concedido após a sentença declaratória da ausência. Caso o segurado reapareça o

benefício será cessado sem a necessidade de devolução.115

Não há carência para a sua concessão. Se o segurado falecido for

aposentado o benefício a ser recebido será de 100% (cem por cento) do valor da

aposentadoria. Tanto o homem quanto a mulher tem direito a pensão por morte no

caso de falecimento de um deles.116

Cessará a pensão por morte, pelo falecimento do pensionista, para o

pensionista menor de idade que completar vinte e um anos de idade, salvo se este

for inválido; pela emancipação mesmo que for inválido, exceto se a emancipação for

em decorrência de colação em grau superior e pela cessação da invalidez.117

113TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. 8 p. 176. 114IBRAHIM, Fábio Zambitte. Resumo de Direito Previdenciário. p. 208. 115MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário, tomo II: previdência social. p. 747. 116TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. p. 181. 117IBRAHIM, Fábio Zambitte. Resumo de Direito Previdenciário. p. 211-212.

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2.2 SEGURADOS

Podemos conceituar segurados como sendo as pessoas físicas que

exerceram ou exercem atividade remunerada ou não, ou aquelas que não

exerceram atividade remunerada (dona de casa , síndico, etc.), eventual ou efetiva,

com ou sem, vínculo empregatício. Cabe ressaltar que a pessoa jurídica não é

segurado, pois, por exemplo, não irá se aposentar, mas será, conforme a lei,

contribuinte da seguridade social.118

A contribuição dos segurados será calculada com a aplicação de uma

alíquota sobre seu salário-de-contribuição mensal, sendo que este, constitui a base

de cálculo das contribuições.119

Os segurados são divididos em:

a) segurados obrigatórios;

b) segurados especiais;

c) segurados facultativos.

2.2.1 Segurados obrigatórios

De acordo com o disposto no artigo 11 da Lei n° 8.213/91, os segurados

obrigatórios são as seguintes pessoas:120

a) o empregado;

b) o empregado doméstico;

c) o contribuinte individual;

d) o trabalhador avulso;

e) o segurado especial.

118MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 79. 119VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 69. 120GONÇALES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário, Acidentes do trabalho. p. 32.

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2.2.1.1 Empregado

Empregado é a pessoa é a pessoa que mediante remuneração em caráter

não eventual preta serviços de natureza urbana ou rural à empresa, inclusive como

diretor empregado. Verifica-se que o trabalhador é definido pela natureza do serviço

que presta e não pela atividade principal do empregador. Para a previdência várias

pessoas são consideradas empregadas, podemos citar o empregado urbano, o

empregado rural, o diretor empregado e o trabalhador temporário.121

2.2.1.2 Empregado doméstico

A principal diferença entre o empregado doméstico em relação aos demais

segurados é que o primeiro presta serviço de natureza contínua em residência de

pessoa ou família, em atividades sem fins lucrativos.122

O âmbito familiar não se restringe a casa de moradia do empregador, é

pacífica a aceitação da tese de que o sítio e a chácara constituem extensão da

residência familiar, pois, o que importa é que a atividade do trabalhador não se volte

pra fins lucrativos.123

2.2.1.3 Contribuinte individual

É a pessoa física que recolhe, individualmente, por conta própria, suas

contribuições. No caso do empregado doméstico, quem recolhe sua contribuição é o

121MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 80. 122VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 56. 123GONÇALES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário, Acidentes do trabalho. p. 42.

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empregador doméstico; no caso do empregado, o recolhimento de sua contribuição,

descontada da sua remuneração, é realizada pela empresa.124

São considerados contribuintes individuais:125

a) o empresário urbano ou rural;

b) o diretor remunerado;

c) o trabalhador eventual;

d) o profissional autônomo;

e) o produtor rural pessoa física;

f) o pescador artesanal;

g) o garimpeiro profissional;

h) o eclesiástico mantido;

i) o brasileiro no exterior;

k) o síndico de condomínio.

2.2.1.4 Trabalhador avulso

Confundia-se o conceito de trabalhador avulso com o de eventual, mas,

eventual é o gênero, do qual o avulso é uma das suas espécies. O trabalhador

avulso é a pessoa física que presta serviços de natureza urbana ou rural, a diversas

pessoas, sem vínculo empregatício, sendo sindicalizado ou não, porém com a

intermediação obrigatória do sindicato de sua categoria profissional ou do órgão de

gestão de mão-de-obra. Temos como exemplos o trabalhador que faz carga e

descarga de produtos, o portuário que trabalha nos portos, etc.126

124EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso de direito previdenciário, teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 246. 125MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário, tomo II: previdência social. p. 374. 126MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 90.

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2.2.2 Segurado especial

Segurado especial é o produtor, o parceiro, o arrendatário rural, o meeiro

rural, o pescador artesanal e o assemelhado, que exercem suas atividades

individualmente ou em regime de economia familiar, mesmo com o auxílio eventual

de terceiros, bem como seus cônjuges ou companheiros e filhos menores de 16

(dezesseis) anos, desde que comprovem que trabalhem com o grupo familiar

respectivo.127

2.2.3 Segurados facultativos

Conforme o artigo 11, § 1º, do Decreto n° 3.048/99 que consta o

regulamento da previdência social, as pessoas que podem filiar-se ao sistema de

previdência social como segurados facultativos são:

I – a dona de casa;

II – o síndico de condomínio, quando não remunerado;

III – o estudante;

IV – o brasileiro que acompanha cônjuge que presta serviço no exterior;

V – aquele que deixou de ser segurado obrigatório da previdência social;

VI – o membro de conselho tutelar de que trata o artigo 132 da Lei nº 8.069, de 13

de julho de 1990, quando não esteja vinculado a qualquer regime de previdência

social;

VII – o bolsista e o estagiário que prestam serviços a empresa de acordo com a Lei

nº 6.494, de 7 de dezembro de 1977;

VIII – o bolsista que se dedique em tempo integral a pesquisa, curso de

especialização, pós-graduação, mestrado ou doutorado, no Brasil ou no exterior,

desde que não esteja vinculado a qualquer regime de previdência social;

127KERTZMAN, Ivan. Direito Previdenciário. São Paulo: Barros, Fischer & Associados, 2005. p. 50.

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IX – o presidiário que não exerce atividade remunerada nem esteja vinculado a

qualquer regime de previdência social;

X – o brasileiro residente ou domiciliado no exterior, salvo se filiado a regime

previdenciário de país com o qual o Brasil mantenha acordo internacional.

O segurado facultativo é uma possibilidade de filiação voluntária ao regime

previdenciário, contribuindo da mesma forma que o contribuinte individual, com a

alíquota estipulada incidindo sobre o salário-contribuição por ele declarado.

Entende-se como segurado facultativo a pessoa que voluntariamente filiar-se à

previdência social e que seja maior de 14 (quatorze) anos. Não podendo se

enquadrar em nenhum dos casos previstos nos incisos do artigo 11 da Lei n°

8.213/91, portanto, não pode manter a condição de empregado ou empregado

doméstico, de contribuinte individual, trabalhador avulso ou trabalhador segurado

especial (meeiro e arrendatários rurais, pescador artesanal, etc). O disposto no

artigo 201, § 5º, da CRFB/88 veda a filiação às pessoas que participem de regime

próprio de previdência, ou seja, esse tipo de regime estabelece em benefício aos

seus segurados o direito a aposentadoria e a pensão.128

2.3 FONTES DE CUSTEIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

Tratar-se-á a seguir das formas de entrada de recursos para o custeio da

previdência social.

2.3.1 Salário-de-contribuição

O salário-de-contribuição é a base de cálculo utilizada para medir o valor das

contribuições dos segurados.129

128GONÇALES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário, Acidentes do trabalho. p. 86. 129MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário, tomo II: previdência social. p. 292.

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Conforme define Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari:130

Salário-de-contribuição é o valor que serve de base de incidência das alíquotas das contribuições previdenciárias. É um dos elementos de cálculo da contribuição previdenciária; é a medida do valor com a qual, aplicando-se a alíquota de contribuição, obtém-se o montante da contribuição.

Assim será o salário-contribuição:131

a) a remuneração registrada na Carteira de Trabalho e Previdência Social para o

empregador doméstico e o empregado doméstico;

b) o total dos vencimentos pagos em uma ou mais empresas durante o mês,

incluindo as gorjetas, ganhos habituais de utilidades e adiantamentos salariais para

o trabalhador avulso e para o empregado;

c) a remuneração paga pela empresa, pela entidade sindical ou por ambas no caso

de dirigente sindical que seja empregado ou avulso;

d) a remuneração recebida por mês em uma ou mais empresas em que preste sua

atividade para o contribuinte individual;

e) o valor que declarar, respeitando os limites mínimos e máximos do salário-de-

contribuição para o segurado facultativo.

2.3.2 Contribuição pelo contribuinte individual e facultativo

O segurado contribuinte individual e o facultativo, diferentemente dos

segurados empregados não prestam seus serviços necessariamente a uma

empresa. Muitas vezes a única contribuição decorrente de seus trabalhos será a sua

própria contribuição, inexistindo a contribuição por parte da empresa.132

A inscrição do contribuinte individual e do facultativo será feita no INSS

(Instituto Nacional de Seguridade Social). Caso o segurado contribuinte individual

manifeste interesse em recolher contribuições relativas a período anterior a sua

130CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 6. ed. rev. São Paulo: LTr, 2005. p. 217. 131TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. p. 312-319. 132VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 70.

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inscrição, a retroação da data do início das contribuições será autorizada, desde que

comprove o exercício da atividade remunerada no respectivo período.133

O contribuinte individual e facultativo deverão recolher suas contribuições

através de carnês pagos na rede bancária.134

2.3.3 Contribuição pelo empregador doméstico

O empregador deverá recolher as contribuições previdenciárias

proporcionais ao valor efetivamente pago ao empregado doméstico, pois pode

ocorrer a hipótese do doméstico receber salário proporcional ao número de dias

trabalhado, ocorrendo o pagamento de remuneração inferior ao mínimo legal. Pra ter

direitos aos benefícios, o segurado doméstico terá de comprovar o efetivo

recolhimento das contribuições. Não sendo possível, será concedido o benefício de

valor mínimo, devendo sua renda ser calculada quando da apresentação da prova

do recolhimento das contribuições.135

2.3.4 Contribuição pelas empresas

As empresas reterão as contribuições relativas aos seus segurados

empregados, trabalhadores avulsos e contribuintes individuais que lhe prestem

serviços, descontando na fonte e juntando na folha de remuneração. Recolherão

também aos cooperados que prestem serviços através de cooperativas. Em relação

ao contribuinte individual a empresa fornecerá o comprovante de recolhimento das

devidas contribuições sobre a remuneração em declaração para fins fiscais.136

133 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 114. 134TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. p. 321. 135KERTZMAN, Ivan. Direito Previdenciário. p. 77-78. 136TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. p. 323.

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Prevê o artigo 195, inciso I, da CRFB/88:

A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro.

Assim temos a atual redação da CRFB/88:137

a) o empregador é definido de acordo com o artigo 2º, da CLT (Consolidação de Leis

Trabalhistas) como pessoa física ou jurídica, que assumindo os riscos de sua

atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços do

empregado;

b) a empresa é conceituada, através do artigo 15, inciso I, da Lei nº 8.212/91, como

sendo pessoa física ou jurídica que assume o risco de atividade econômica urbana

ou rural, com fins lucrativos ou não, bem como entidades ou órgãos da

administração pública direta, indireta e fundacional;

c) a entidade equiparada, definida no § único, do artigo 15, da Lei nº 8.212/91, são

os condomínios, os contribuintes individuais, a associação de qualquer natureza, a

repartição consular de carreira estrangeira e a missão diplomática.

Na redação anterior do artigo 195, inciso I, da CRFB/88, modificado pela

Emenda Constitucional nº 20 de 15/12/98, constava somente a contribuição por

parte do empregador, termo este incorreto, pois o empregador não tem faturamento

ou lucro, que são inerentes a empresa. Com a mudança da redação passou-se a

utilizar “empregador, empresa e entidade equiparada”, esta última diz respeito às

pessoas físicas equiparadas a jurídicas para recolhimento de contribuições sobre o

faturamento e o lucro. 138

137MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 156. 138MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 157.

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2.3.5 Contribuição do produtor rural e do pescador

O empregador rural pessoa física é definido como sendo a

pessoa que explora a atividade agropecuária ou pesqueira, proprietária ou não, em

caráter temporário ou permanente e que realiza suas atividades com auxílio de

empregados. Sua contribuição incide sobre a receita bruta que provém da

comercialização de sua produção. Não integrando nessa contribuição a produção

rural destinada ao reflorestamento ou plantio, nem sobre o produto animal com

destinação a reprodução ou criação pecuária ou granjeira.139

2.3.6 Contribuição de clubes de futebol

A contribuição devida pelos clubes de futebol profissional incidem em 5%

(cinco por cento) sobre sua renda bruta, que decorrem de espetáculos de que

participem em todo o território nacional, inclusive jogos internacionais, contratos de

patrocínio, licenças para o uso de sua marca e símbolos, transmissão, propagandas

e publicidade.140

2.3.7 Contribuição sobre receitas de concursos de prognósticos

Os concursos de prognósticos são definidos como qualquer sorteio de

números, apostas e loterias, incluindo as realizadas em reuniões hípicas, nos

âmbitos federal, estadual, do Distrito Federal e municipal. Essa contribuição tem seu

fundamento no artigo 195, inciso III, da CRFB/88, que define a receita de concursos

de prognósticos como base de cálculo das contribuições da seguridade social.141

139VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 97. 140MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 184. 141VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 99.

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A receita destinada a seguridade social será a renda líquida, sendo

considerado o total da arrecadação, deduzindo os valores dos impostos, das

despesas da administração, conforme legislação específica.142

2.3.8 Responsabilidade solidária

Conforme o artigo 31 da Lei n° 8.212/91 a responsabilidade pelo

recolhimento da contribuição previdenciária é solidária entre a empresa contratante

de serviços executados mediante sessão ou empreitada de mão-de-obra e o

contratado, incluindo se o serviço for em caráter temporário. Em caso de

inadimplemento, o contratante ou o contratado podem ser chamados para o

cumprimento da obrigação, pois, não existe benefício de ordem.143

2.3.9 Isenção de contribuição

São isentas de contribuição as entidades beneficentes com a finalidade de

assistência social que atuam no amparo às pessoas portadoras de necessidades

especiais, Não possuem fins econômicos, são conhecidas pelo nome de

filantrópicas, utilizam o trabalho voluntário, não remuneram seus dirigentes e

usufruem de imunidade tributária.144

A isenção se estende a obras de construção civil e estabelecimentos da

entidade beneficente, quando por ela executada e destinada ao seu uso próprio. A

entidade beneficente a cada 03 (três) anos deverá requerer a renovação da sua

isenção no Conselho Nacional de Serviço Social, 60 (sessenta) dias antes a

expiração do prazo de validade do seu registro.145

142MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 205. 143VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 123. 144GONÇALES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário, Acidentes do trabalho. p. 88. 145MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 210.

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No próximo capítulo tratar-se-á sobre os crimes previdenciários e a questão

da proporção das penas aplicadas ao bem tutelado.

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3 CRIMES CONTRA A PREVIDÊNCIA SOCIAL

Tratar-se-á neste capítulo dos crimes contra a previdência social,

especificando os tipos penais e suas respectivas penas. Também abordar-se-á

sobre a lesividade que causa ao bem tutelado essa espécie de criminalidade e se as

penas aplicáveis são proporcionais ao prejuízo causado ao sistema previdenciário.

3.1 HISTÓRICO DOS CRIMES PREVIDENCIÁRIOS

Surgiram os delitos contra a Previdência Social com a Lei nº 3.087/60 que

elencava as condutas tidas como ilícitos penais. O legislador tomou de empréstimo

definições de condutas ilícitas já existentes no ordenamento jurídico, ao invés de

criar uma tipificação própria, sendo assim chamada de tipificação por equiparação.

O artigo 155, inciso I, da Lei n° 3.087/60, enumerava determinadas condutas e as

equiparava ao delito de sonegação fiscal, previsto na Lei nº 4.729/65. O inciso II, do

artigo 155, mencionava condutas que equiparava-se à de apropriação indébita,

definida no artigo 168, do Código Penal. Já o inciso III, do artigo 155, as condutas

foram equiparadas ao estelionato, previsto no artigo 171 do Código Penal. Assim o

legislador deixou de criar tipos penais autônomos e específicos para a proteção da

previdência social.146

O Decreto-Lei n° 66 de 21/11/66, determinou que passava a constituir crime

de apropriação indébita a falta de pagamento do salário-família aos empregados

quando as respectivas quotas tivessem sido reembolsadas pra as empresas pela

Previdência Social.147

146SOUZA, Nelson Bernardes de. Ilícitos Previdenciários: Crimes sem pena? Disponível em: <http://jus 2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1495> Acesso em: 15 out 2007. 147ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira. Direito penal tributário: crimes contra a ordem tributária e contra a previdência social. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 61.

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No artigo 95 da Lei nº 8.212/91 estavam tipificados os crimes contra a

Previdência Social; entretanto, com exceção das alíneas d, e e f, esse artigo não

previa as penas para os respectivos crimes. Isto só foi sanado com o advento da Lei

n° 9.983/00, que revogou o artigo 95 da Lei n° 8.212/91 (com exceção do § 2º),

passando a tipificar os crimes e suas respectivas penas a serem aplicadas.148

No artigo 95 da Lei n° 8.212/91 estavam arroladas 10 (dez) condutas que

caracterizavam os crimes previdenciários. Dessas condutas, somente 03 (três)

delas, possuíam penas. Ao deixar de estabelecer qualquer penalidade para as

demais condutas, a Lei n° 8.212/91 desprezou um dos princípios do Direito Penal, o

Princípio da Anterioridade Penal que proclama que “não há pena sem prévia

cominação legal.” 149

As condutas do artigo 95 da Lei 8.212/91 que não possuíam penalidades

constituíam-se de normas com preceitos, mas, desprovidas de sanção que é o

elemento característico da norma jurídica, isto é, a coercibilidade, que se caracteriza

pela imposição de uma sanção quando violada, punindo aqueles que por meios

ilícitos pretendem se furtar à obrigatoriedade de seus deveres e obrigações.150

Mas, a Lei n° 9.983/00, publicada no Diário Oficial da União de 17/07/2000,

alterou vários dispositivos do Código Penal e tratou exclusivamente de matéria

penal, previdenciária e de informática, definindo infrações novas, estabelecendo

equiparações e contemplando os crimes previdenciários.151

A Lei n° 9.983/00 levou para o Código Penal as condutas que constituem

crimes contra a Previdência Social e foi fruto de discussões internas de diversos

setores jurídicos e técnicos visando dotar o aparelho repressivo e judiciário de

instrumentos mais eficazes no combate a essa espécie de criminalidade.152

148EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso de direito previdenciário, teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 175. 149ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira. Direito penal tributário: crimes contra a ordem tributária e contra a previdência social. p. 63. 150SOUZA, Nelson Bernardes de. Ilícitos Previdenciários: Crimes sem pena? 151MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário, tomo II: previdência social. p. 834. 152CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.397.

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3.1.1 Conceito de crimes contra a Previdência Social

O sistema da seguridade social do Brasil, impõe que sejam coibidas as

condutas que desrespeitam as normas estatais que regem o seu financiamento.

Uma vez desrespeitada a norma, ocorre a prática de um ato ilícito. Mas, nem toda

conduta ilícita é considerada crime, como a inadimplência de tributo pelo

contribuinte, por não ter recursos financeiros para cumprir a obrigação. Portanto, a

norma penal que atribui ao Estado o poder de punir tem o poder abstrato que se

torna concreto no momento em que ocorre a violação.153

Para a garantia do recebimento dos recursos destinados a previdência

social, o legislador elencou condutas consideradas ilícitas que atentem contra todos

os componentes da sociedade que necessitem da proteção previdenciária.154

Veremos assim a integração do Direito da Seguridade Social com o Direito

Penal, podendo ser chamado de Direito Penal Previdenciário, em que ocorrem as

penalidades para a inobservância das regras relativas à Previdência Social.155

Há também a integração com o Direito Tributário em razão de que os crimes

previdenciários possuem um núcleo constante, que é a redução das contribuições

sociais mediante fraude e com a CRFB/88, as contribuições sociais passaram a

possuir natureza tributária, como também é o entendimento do Supremo Tribunal

Federal.156

A Lei n° 9.983/00 não somente dispôs sobre as condutas puníveis, como

também dispôs sobre a extinção da punibilidade, passando a admitir a possibilidade

do perdão judicial resultando na extinção da punibilidade e estabelecendo situações

153CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.397. 154SOUZA, Nelson Bernardes de. Ilícitos Previdenciários: Crimes sem pena? 155MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 270. 156ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira. Direito penal tributário: crimes contra a ordem tributária e contra a previdência social. p. 62.

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62

que permitem ao juiz aplicar a legislação com temperamento, considerando as

circunstâncias jurídicas e fáticas dos casos concretos.157

Entre os crimes contra a Previdência Social estão:158

a) apropriação indébita previdenciária;

b) inserção de dados falsos no sistema informatizado da Previdência;

d) modificação ou alteração não autorizada de sistema de informação;

e) sonegação de contribuição previdenciária;

f) falsificação de documento público;

g) estelionato previdenciário.

3.2 TIPIFICAÇÕES

As condutas tipificadas como ilícitas resultando em crimes contra a

previdência social estão dispostas no Código Penal com suas respectivas penas,

conforme descritas a seguir.

3.2.1 Apropriação indébita previdenciária

O crime de apropriação indébita está previsto no artigo 168-A do Código

Penal e tem como pena a reclusão de 02 (dois) a 05 (cinco) anos e multa. Sua

tipificação está em:159

a) deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos

contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional;

157ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira. Direito penal tributário: crimes contra a ordem tributária e contra a previdência social. p. 66. 158CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.398. 159EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso de direito previdenciário, teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 175.

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b) deixar de recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à

previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados,

a terceiros ou arrecadada do público;

c) deixar de recolher contribuições devidas à previdência social que tenham

integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à

prestação de serviços;

d) deixar de pagar beneficio devido a segurado, quando as respectivas cotas ou

valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social.

O crime de apropriação indébita previdenciária é omissivo próprio, pois a lei

não tipifica como crime, o ato de não fazer do contribuinte, que se omite ao não

pagar a contribuição devida ao INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social).

Trata-se também de dolo genérico, pois tanto faz se no desconto ou no repasse do

valor para o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), o agente tem ou não a

intenção de obter benefício econômico com a prática deste ato. Se a contribuição

não for retida do empregado, não existe crime, como na possibilidade que o

empregador paga ao obreiro o valor bruto do que lhe é devido pelo seu trabalho.160

Cabe ao Juiz facultativamente deixar de aplicar a pena estabelecida no

artigo ou aplicar somente a pena de multa se a situação atender a esses

requisitos:161

a) se o réu for primário;

b) se o réu tiver bons antecedentes;

c) se ele for promovido, após o inicio da ação fiscal e antes de oferecida a denuncia,

o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios;

d) ou se o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior

aquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o

mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.

Este delito não ocorre nas seguintes situações:162

160MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 270. 161SETTE, André Luiz Menezes Azevedo. Direito previdenciário avançado. p. 630. 162MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário, tomo II: previdência social. p. 836.

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a) se as contribuições recolhidas sejam de servidor público, portanto, desobrigado

do Regime Geral de Previdência Social;

b) se referem-se a parte da patrocinadora no custeio da suplementação ou

complementação de benefícios do seguimento fechado;

c) se o valor descontado do trabalhador, quando ele e a empresa bancam o seguro

de vida privado.

A extinção da punibilidade ocorrerá se o agente, espontaneamente, declarar,

confessar e efetuar o pagamento das contribuições, importâncias ou valores devidos

e presta as informações necessárias a previdência social, antes do inicio da ação

fiscal. Sendo que se a ação fiscal já tiver sido impetrada ou se o agente já tiver sido

denunciado pelo Ministério Público não haverá a extinção da punibilidade.163

3.2.2 Inserção de dados falsos no sistema informatizado da Previdência

Este crime está previsto no artigo 313-A, do Código Penal e resulta em uma

pena de reclusão de 02 (dois) anos a 12 (doze) anos e multa e consiste em:164

a). inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou

excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de

dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou

para outrem ou para causar dano.

A Previdência Social dispõe de cadastro de recolhimento das contribuições,

banco de dados, estima valores de benefícios, controla as quitações de pagamentos

das prestações, apura débitos, promove a inscrição na dívida ativa, emite

notificações fiscais, enfim, administra um conjunto de dados em seus terminais

163IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. p. 420. 164EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso de direito previdenciário, teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 176.

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operacionais. Inserir dados falsos significa acrescer dados a esse sistema em

substituição aos existentes ou colocá-los pela primeira vez.165

A conduta tipificada na norma penal tem o objetivo de punir o servidor,

considerado o sujeito ativo, sendo admitida também a participação de um particular,

que insere, altera ou exclui dados dos sistemas informatizados da previdência social

com a finalidade de obter para si ou outrem, vantagem ilícita.166

3.2.3 Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informação

Este crime previsto no artigo 313-B do Código Penal consiste em modificar

ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem

autorização ou solicitação de autoridade competente e sua pena prevista é a

detenção de 03 (três) meses a 02 (dois) anos e multa.167

A objetividade jurídica é a incolumidade do sistema de informações e

programas de informática da Administração Pública, que só podem ser modificadas

ou alteradas por solicitação da autoridade competente a um determinado

funcionário. Não ocorrendo dessa forma, a conduta é punida, pois, essas

informações encerram sigilo e interesses estratégicos do Estado. A intenção do

legislador com essa tipificação foi de proteger o sistema de informações da

Administração Pública, devido a sua vulnerabilidade, tendo como objetivo a garantia

da confiabilidade e a integridade do sistema.168

As penas são aumentadas de 1/3 (um terço) até a metade quando resultar

em dano material ou financeiro, implicando em gastos de reparação para a

165MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário, tomo II: previdência social. p. 844. 166CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.420. 167EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso de direito previdenciário, teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 176. 168CALATAYUD, Rejane. Inserção de dados falsos em sistema de informações (art. 313-A) e modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações (art. 313-B). Disponível em: <ftp://ftp.mct.gov.br/unidades/conjur/insercao_de_dados.doc> Acesso em: 19 ago 2008.

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Administração Pública ou caso os caso os contribuintes ou beneficiários da

previdência social sejam afetados.169

Por ser um crime funcional o sujeito ativo é somente o funcionário no

exercício do cargo e o sujeito passivo, em primeiro lugar, o Estado e em segundo

lugar, o particular, supondo a hipótese de dano contra terceiro. Sendo que este tipo

penal possui somente duas condutas incriminadoras:170

a) modificar (mudar, transformar de maneira determinada) o sistema de informações

ou programa de informática;

b) alterar (adulterar, decompondo o sistema original) sistemas de informação ou

programa de informática.

3.2.4 Sonegação de contribuição previdenciária

O crime de sonegação da contribuição previdenciária tem sua previsão no

artigo 337-A do Código Penal com sua pena prevista de 02 (dois) anos a 05 (cinco)

anos de reclusão e multa e assim está disposto:171

a) omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações

previsto pela legislação previdenciária segurados empregado, empresário,

trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem

serviços;

b) deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as

quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo

tomador de serviços;

c) omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou

creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias.

169MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário, tomo II: previdência social. p. 846. 170CALATAYUD, Rejane. Inserção de dados falsos em sistema de informações (art. 313-A) e modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações (art. 313-B). 171EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso de direito previdenciário, teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 177.

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A sonegação da contribuição previdenciária consiste na omissão nas folhas

de pagamento, registros contábeis ou qualquer outro documento do segurado ou do

valor efetivamente pago a ele ou descontado caracterizando essas duas

condutas:172

a) suprimir – impedir que apareça, esconder ou omitir completamente;

b) reduzir – ocultar parcialmente ou diminuir as bases de cálculo para os montantes

das operações.

Há a extinção da punibilidade para o caso em que ocorra, espontaneamente,

pelo agente, a declaração e confissão das contribuições ou valores presta

informações necessárias a Previdência Social, antes do início da ação fiscal.173

É também facultado ao juiz, aplicar somente a pena de multa e deixar de

aplicar a pena de reclusão, se o agente tiver bons antecedentes e for primário,

desde que o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou

inferior aquele estabelecido pela Previdência Social, administrativamente, como

sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.174

3.2.5 Falsificação de documento público

Previsto no artigo 297, § 3° do Código Penal o crime de falsificação de

documentos estabelece a pena de reclusão de 02 (dois) a 06 (seis) anos e multa

para quem insere ou faz inserir:175

a) na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a

fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de

segurado obrigatório;

172MELLO, Marco Aurélio Mendes de Farias. Crimes (novos e “antigos”) contra o trabalhador, contra a previdência com as modificações no código penal. Acesso em: <http://www.apatroaesuaempregada.com.br/textos/crimes_prev.htm> Acesso em: 19 ago 2008. 173IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. p. 422. 174EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso de direito previdenciário, teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 177. 175CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p. 448.

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b) na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento

que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da

que deveria ter sido escrita;

c) em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as

obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da

que deveria ter constado.

O delito de falsificação de documentos se difere dos outros crimes por não

ter como objeto as contribuições previdenciárias, e sim, a documentação que

interessa ao sistema da previdência, cujas fraudes se tenta evitar com a fé publica,

compreende duas partes:176

a) parte objetiva – a veracidade de certos documentos;

b) parte subjetiva – a confiança que a sociedade deposita nesses documentos.

A objetividade jurídica é a garantia da função probatória e a autenticidade

plena dos documentos previdenciários. A Carteira de Trabalho e Previdência Social,

a folha de pagamento e outros documentos que representam a empresa frente a

previdência, são documento relevantes, tanto para a arrecadação das contribuições

como para a concessão de benefícios para os segurados.177

O crime não é próprio, podendo ser cometido por funcionário público ou

particular. O falsificador altera, adultera, refaz com má-fé, modifica, trabalhando a

partir do original, tentando imitá-lo. Faz uso indevido quem se utiliza, indevidamente

de marcas da Previdência Social, como logotipos e símbolos, sendo que são muitos

os documentos envolvidos com a relação previdenciária, em matéria de inscrição,

contribuições e benefícios.178

As condutas tipificadas podem ser assim explicadas:

176FERAZZINI, Lourdes. Da falsificação documentária. Disponível em: <http://www.iape.com.br/artigos/artigos_lourdes3.asp> Acesso em: 20 ago 2008. 177BODNAR, Zenildo. Crimes contra a Previdência Social. Disponível em: <http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/artigos/edicao019/zenildo_bodnar.htm> Acesso em: 19 ago 2008. 178MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário, tomo II: previdência social. p. 853.

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a) falsificar: formar um documento por inteiro ou mediante o acréscimo de letras ou

números ao documento verdadeiro;

b) alterar: modificar o conteúdo do documento.

Encontramos divergência na doutrina e na jurisprudência em relação a consumação

deste crime. Para alguns, o crime está consumado com a alteração ou a falsificação

do documento. Para outros, há a necessidade do uso deste documento, pois a sua

utilização que vai caracterizar o dano.179

3.2.6 Estelionato previdenciário

O crime de estelionato previdenciário não foi alterado pela Lei n° 9.983/00 e

continua com sua previsão no artigo 171 do Código Penal. É um crime contra o

patrimônio da seguridade social que consiste na obtenção de vantagem indevida

com o recebimento do benefício oriundo de artifício praticado perante o INSS

(Instituto Nacional de Seguridade Social).180

Embora houve várias discussões sobre a classificação do crime de

estelionato, o STF (Supremo Tribunal Federal) o posicionou como crime instantâneo,

pois, a data do recebimento da primeira parcela é que ocorre o momento

consumativo. Se fosse considerado permanente a conduta punível só ficaria

caracterizada no recebimento da última parcela.181

Em cada parcela recebida indevidamente há uma lesão ao patrimônio. Um

resultado jurídico autônomo em cada recebimento injusto. A conduta é uma só, mas

os resultados são diversos, pois ocorre em momentos distintos. 182

179FERAZZINI, Lourdes. Da falsificação documentária. 180IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. p. 426.427. 181NEVES, Cleonice. Crime Previdenciários. Disponível em: <www.resumosconcursos.hpg.com.br> Acesso em: 05 set 2008. 182GOMES, Luiz Flávio. Estelionato Previdenciário. Crime instantâneo ou permanente? Crime único, continuado ou concurso formal? Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8991> Acesso em: 04 set 2008.

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3.3 LESIVIDADE

As contribuições previdenciárias têm por objetivo o financiamento da

Seguridade Social que envolve um conjunto de ações em benefício da saúde,

previdência e assistência, para o atendimento da parcela humilde da população

brasileira. Por esse motivo, os delitos cometidos contra a Seguridade Social podem

ser considerados um dos mais graves crimes, pois priva a parte mais pobre da

população dos benefícios proporcionados pela Seguridade Social, acarretando um

constante déficit nas contas do INSS.183

Resta clara a necessidade da utilização do direito penal como instrumento

indispensável de controle social para assegurar o resultado da tributação e a

regularidade das relações jurídicas, visando a importância da proteção do bem

tutelado (previdência social) para conseqüentemente, proteger os direitos

fundamentais sociais das pessoas mais fragilizadas socialmente.184

A Lei n° 9.983/00, que promoveu as alterações no Código Penal inovou com

uma mudança considerada não apropriada ao descrever a conduta como: “deixar de

recolher contribuições à Previdência Social e não mais à Seguridade Social (previsto

no artigo 95 da Lei n° 8.212/91)”, pois, a CRFB/88 trata em seu artigo 195 das

contribuições ao financiamento da Seguridade Social, sendo que as contribuições

arrecadadas se destinam ao custeio da saúde, da assistência social e da

previdência social.185

3.4 PUNIBILIDADE

Pelo sistema brasileiro contributivo, a receita arrecadada pela Previdência,

decorre dos pagamentos feitos pelas pessoas com a finalidade específica pra

financiar os programas no campo das ações sociais. A obrigação previdenciária que

183CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p. 404-405. 184BODNAR, Zenildo. Crimes contra a Previdência Social. 185CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p. 420.

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gera o custeio da previdência social decorre da relação jurídica representada pelo

vínculo de um lado, do responsável pelo cumprimento das obrigações relativas ao

recolhimento das contribuições previdenciárias e pelo pagamento das penalidades

decorrentes do descumprimento dessas obrigações e do outro lado, pelo ente

público responsável pela arrecadação das contribuições, gerando assim, um vínculo

obrigacional entre o contribuinte (responsável) e o ente responsável pela

arrecadação da contribuição.186

No que se refere ás garantias, os créditos decorrentes de contribuições

devidas a previdência social equiparam-se aos da União Federal, seguindo estes na

ordem de preferência, nos casos de concordata, falência e concurso de credores,

significando que tais créditos preferem a quaisquer outros, salvo quanto aos de

natureza trabalhista, sem embargo de sua natureza e da data em que tenham sido

constituídos.187

3.4.1 Penas tributárias

A obrigação tributária tem por objetivo o pagamento do tributo devido na

forma, prazo e condições estabelecidos em lei. Caso o sujeito não cumpra a

obrigação devida, está violando a lei tributária, caracterizando assim, um ilícito

tributário. O poder de punir, atribuído ao Estado, através das penalidades previstas,

visa a garantia da ordem jurídica contra a prática de atos ilícitos. O Direito Penal

Tributário é uma disciplina autônoma que consiste no estudo dos delitos de caráter

tributário e das penalidades aplicadas quando ocorre a infração dos deveres

tributários destinados a tutelar e efetivar o cumprimento das normas tributárias. É

necessária a distinção entre o Direito Administrativo Penal e o Direito Penal.

Enquanto o primeiro regula as infrações fiscais com o estabelecimento de

penalidades exclusivamente da lei fiscal, o segundo, regula as infrações que são

186CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p. 391. 187COIMBRA, Feijó. Direito previdenciário brasileiro. p. 278-279.

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consideradas crimes com as penalidades previstas no Código Penal. Em

decorrência disto há três espécies de ilícitos tributários: 188

a) infração puramente fiscal: encontra-se configurada somente na lei fiscal, tem por

objetivo o pagamento de tributo ou de penalidade e a sanção tem natureza

administrativo-fiscal;

b) infração tributária e penal: incide na lei tributária e na lei penal, devendo o infrator

sofrer sanção administrativa estabelecida na legislação tributária e sanção penal

pelo descumprimento da lei penal;

c) infração exclusivamente penal: o infrator infringe somente a lei penal sujeitando-

se a um processo judicial para apuração do crime e imposição da respectiva pena

prevista na lei penal.

As penalidades fiscais são classificadas em 04 (quatro) tipos:189

a) penas pecuniárias: correspondem a imposição de multas fixas ou proporcionais

ao valor não pago;

b) apreensões: dos bens sobre os quais incide o imposto, vendendo estes em leilões

para saldar o débito;

c) perdimento de bens: aplicável na legislação aduaneira, em que o objeto do

contrabando é apreendido;

d) interdição de direitos: priva o contribuinte devedor de direitos por estar em débito,

impossibilitando transações com repartições públicas.

3.4.2 Sanções Penais

A sanção imposta em decorrência de uma sentença, ao infrator pela prática

de uma infração penal, consiste na restrição ou privação de um bem jurídico, com a

188JUNIOR, Luiz Emygdio F. da Rosa. Manual de direito financeiro & Direito tributário. 19ª ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 597-603. 189JUNIOR, Luiz Emygdio F. da Rosa. Manual de direito financeiro & Direito tributário. p. 605-606.

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finalidade de prevenir novas transgressões pela intimidação dirigida para a

coletividade.190

São características das sanções penais:191

a) legalidade: é necessário a existência prévia de uma lei para a imposição da pena;

b) anterioridade: previsto como um princípio no artigo 5°, inciso XXXIX, da CRFB/88

e no artigo 1°, do Código Penal, é necessário que a lei esteja em vigor na época da

infração;

c) personalidade: a impossibilidade de estender-se a terceiros a imposição da pena,

assim, a pena de multa, não pode ser exigida dos herdeiros de um falecido;

d) individualidade: sua imposição deve ser individualizada de acordo com a

culpabilidade;

e) inderrogabilidade: sob nenhum fundamento a pena deverá de deixar de ser

aplicada;

f) proporcionalidade: deverá ser atendida a proporção entre o crime praticado e a

pena a ser imposta;

g) humanidade: salvo, nos casos de guerra, não são admitidas as penas de morte,

perpétuas, trabalhos forçados, banimento ou cruéis.

3.4.3. Exclusão da ilicitude

Os crimes previdenciários requerem a existência do dolo, a vontade

deliberada de esconder, subtrair do sujeito ativo, os fatos jurídicos. A resistência de

aceitar a exclusão da culpabilidade está no fato de que aquele que alega

dificuldades financeiras tendo como resultado a não satisfação das obrigações

previdenciárias pode não estar sujeito as penalidades se mantém registros e

assentamentos adequados e informa ou confessa o débito ao sujeito ativo,

simplesmente, pela razão de que essa conduta é incompatível com os elementos

190CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral. 11. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 358. 191MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de direito penal: parte geral. 24. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2007. p. 246.

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que o dolo requer para que seja configurado. O objetivo da lei é punir aquele que

não cumpre a obrigação previdenciária e não, aquele que passa por dificuldades

financeiras. Para haver os crimes contra a previdência social é necessário o dolo

comprovado, não bastando o dolo presumido.192

3.4.4 Correções do inadimplemento

A falta do cumprimento das contribuições previdenciárias acarreta para o

contribuinte a imposição de penalidades e acréscimo dos encargos como a

exigência da multa e dos juros moratórios.193

Há duas espécies de multa:194

a) a punitiva: denominada também de multa fiscal ou administrativa, que provém da

infração a determinado dispositivo legal;

b) a moratória, que decorre do não recolhimento das contribuições previdenciárias

no prazo estabelecido legalmente.

Os juros moratórios incidirão sobre o valor atualizado da dívida em 1% (um

por cento) no mês do vencimento em que a contribuição não foi paga, a taxa SELIC

(Sistema Especial de Liquidação e Custódia) nos meses intermediários e 1% (um

por cento) no mês do pagamento. Isto deverá ser aplicado em três situações:195

a) pagamento após o vencimento da obrigação;

b) pagamento quando os créditos já estão incluídos em notificação fiscal de

lançamento;

c) pagamento do crédito já inscrito em Dívida Ativa.

Muito se debateu se as multas impostas pelo descumprimento da obrigação

de recolher, sofrem correção de seus valores. O entendimento do Supremo Tribunal

192FILHO, Edmar Oliveira Andrade. Direito Penal Tributário. Crimes contra a ordem tributária contra a previdência Social. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 72. 193COIMBRA, Feijó. Direito previdenciário brasileiro. p. 268-269. 194MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 214. 195VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 141-142.

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Federal que vem prevalecendo, argumenta que uma vez aplicada à multa, ela se

transforma em obrigação principal sendo dívida da obrigação anterior. Outra

importante discussão diz respeito às multas referentes à mora do contribuinte. Se

forem elas, proporcionais ao débito e se graduam em decorrência do retardamento

do contribuinte para satisfazer a obrigação. Grande parte dos doutrinadores acentua

que a multa só passa a ser exigida após sua imposição em processo administrativo-

fiscal, regularmente instaurado, no qual se assegura ao infrator o direito pleno de

defesa. Pois, se não for dessa maneira, passa então a funcionar como sobretaxa e

tem caráter de ressarcimento do prejuízo decorrente da mora, gerando um parcial

efeito de sanção, o que seria inadmissível ao lado de juros moratórios, também

exigíveis.196

3.4.5 Garantias constitucionais

Se o ordenamento jurídico permite diversos meios de defesa, sendo que o

procedimento administrativo é um deles, esses meios devem ser esgotados da

melhor maneira possível, permitindo a melhor defesa. Essa interpretação dá maior

efetividade ao princípio da ampla defesa, disposto no artigo 5º, inciso LV, da

CRFB/88, pois, a aplicação da norma penal coloca em evidência dois direitos

fundamentais, a liberdade e o patrimônio. A interpretação constitucional deve

conduzir por meio de princípios e diretrizes a menor restrição possível a esses

direitos fundamentais, porque, otimiza o potencial protetivo do enunciado do in dúbio

pro libertate, que parte da presunção de liberdade em favor do cidadão. 197

Ocorreram discussões a respeito da constitucionalidade das sanções

relativas a conduta de omissão de recolhimento das contribuições previdenciárias,

em que é questionada a ofensa ao artigo 5º, inciso XVII, da CRFB/88 e ao Pacto de

São José da Costa Rica (do qual o Brasil faz parte) que proíbe a prisão por dívida.

Maior parte dos doutrinadores e magistrados não acredita na referida

196COIMBRA, Feijó. Direito previdenciário brasileiro. p. 268-269. 197FILHO, Edmar Oliveira Andrade. Direito Penal Tributário: Crimes contra a ordem tributária contra a previdência Social.p. 78.

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inconstitucionalidade ou violação do pacto, pois a prática da omissão do

recolhimento das contribuições previdenciárias trás como conseqüência prejuízos a

Previdência Social, prejudicando às classes economicamente menos favorecidas,

portanto, o legislador criou um tipo penal específico, objetivando punir severamente.

Outra parcela menor de doutrinadores defende a inconstitucionalidade, pelo fato das

pessoas passarem por uma forte reprimenda, sem lhes serem permitidas

justificativas para a sua conduta, contrariando os princípios da proporcionalidade

entre a gravidade do delito e a sua punição, e o princípio da igualdade, quando

comparada a omissão no recolhimento de outros tributos.198

A redução da pena de um terço até a metade ou a aplicação de somente a

multa, prevista no § 3º do artigo 337 (sonegação previdenciária) do Código Penal,

nos casos em que o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento

não ultrapasse uma quantia limite gerou também a polêmica acerca de sua

inconstitucionalidade. Ao escolher o fato de alguém ser ou não, uma pessoa jurídica,

para ter a obtenção de um direito, elegeu uma circunstância que não tem lógica com

o fator discriminante, que deveria se único e exclusivamente o valor envolvido,

porque existem pequenas empresas que se revestem de pessoa jurídica, mas, não

tem organização tipo empresarial.199

3.4.6 REFIS

A adesão ao REFIS (Programa de Recuperação Fiscal), como previsto na

Lei n° 9.964/00 é um benefício de suspensão da pretensão punitiva do Estado.

Enquanto estão sendo honrados os compromissos com o REFIS, há a retirada do

poder-dever de punir do Estado, pois, impede o processamento penal do agente,

198CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p. 404. 199FILHO, Edmar Oliveira Andrade. Direito Penal Tributário. Crimes contra a ordem tributária contra a previdência Social. p. 77.

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fazendo cessar também a prescrição, o que leva a conclusão que dilata o interesse

estatal em punir, pois as adesões ao REFIS não possuem prazo fixo para o

adimplemento total do débito, ficando a critério do interessado determinar o número

de parcelas. Assegura também ao Estado a retomada da pretensão punitiva á

aqueles que comprometendo-se a efetuar o pagamento, descumpram o contrato.

Por outro lado, se todo o refinanciamento for cumprido o Estado tem a obrigação de

declarar extinta a punibilidade do agente.200

Atualmente a Lei n° 10.684/03, do PAES (Parcelamento Especial) possibilita

a suspensão punitiva do Estado após o recebimento da denúncia e tem como

resultado a extinção da punibilidade após todos os pagamentos. Como dispõe o seu

artigo 9°:201

“Artigo 9º É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente

aos crimes previstos nos artigos 1º e 2º da Lei nº 8.137, de 27

de dezembro de 1990, e nos artigos 168A e 337A do Decreto-

Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal,

durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com o

agente dos aludidos crimes estiver incluída no regime de

parcelamento.

§ 1º A prescrição criminal não corre durante o período de

suspensão da pretensão punitiva.

§ 2º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste

artigo quando a pessoa jurídica relacionada com o agente

efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e

contribuições sociais, inclusive acessórios.”

3.4.7 Sustação do crédito previdenciário

200CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p. 436. 201BODNAR, Zenildo. Crimes contra a Previdência Social.

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Pode ocorrer a possibilidade do crédito previdenciário, antes de ser extinto

pelo pagamento ou por forma admissível legalmente, tenha sua exigibilidade

sustada. Sendo concedida a moratória, o vencimento é adiado durante certo prazo e

o crédito embora formado, não pode ser exigido e a ação de cobrança não pode ser

exercitada. O artigo 38 da Lei n° 8.212/91, autoriza a conceder parcelamento

durante um prazo máximo de 60 (sessenta) meses, sendo que o artigo 153 do CTN

(Código Tributário Nacional), também prevê as condições em que esse favor pode

ser deferido. O contribuinte passa a estar em dia com suas contribuições, durante o

cumprimento do acordo de parcelamento.202

3.4.8 Princípio da Insignificância

Pelo princípio da insignificância jurídica, se absolverá o réu, que denunciado

por crime de natureza fiscal, sendo reconhecida a bagatela, pelo desvalor da

culpabilidade perante o fato, dispensando assim, a aplicação da pena, se houver a

constatação do valor atualizado do débito como irrisório.203

3.4.9 Perdão Judicial

A faculdade do perdão judicial conferida ao juiz é considerada bastante

problemática. Quando satisfeitos os requisitos previstos na lei em relação à condição

a ser concedida ao réu, a faculdade do perdão judicial torna-se um dever do juiz em

deixar de aplicar a pena, com exceção, se haverem circunstâncias fáticas ou

202COIMBRA, Feijó. Direito previdenciário brasileiro. p. 272. 203CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário p. 442.

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jurídicas que não proporcionem tais providências. Se não existirem boas razões para

o uso desta faculdade legal, o juiz deve aplicar a pena prevista em lei e produzir uma

decisão motivada e fundamentada para permitir o aparelhamento da ampla defesa

do acusado.204

3.4.10 Parcelamento de débitos

A lei n° 9.711/98 deu nova redação ao artigo 38 da Lei n° 8.212/91

estabelecendo as condições para o concedimento de parcelamento dos débitos

relativos as contribuições previdenciárias:205

a) para ter vigência, o parcelamento se condiciona ao pagamento da primeira

parcela;

b) não se concederá parcelamento para quem tenha sonegado parcela de salário-

família, salário-maternidade ou em relação a debito de contribuições descontadas

dos empregados, nem a empresa cuja falência tenha sido decretada;

c) o reparcelamento só é admitido uma única vez;

d) o não cumprimento de qualquer das cláusulas do acordo firmado, este se

rescinde e a divida será inscrita para cobrança judicial.

3.4.11 Continuidade delitiva

Os delitos praticados em continuidade devem ter o aumento da pena dosado

pelo juiz que levará em consideração o número de meses em que não houve o

recolhimento das contribuições. Quando os fatos foram praticados em continuidade

sob a égide de leis distintas como o artigo 95 da Lei n° 8.212/91 e a Lei n° 9.983/00,

204CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p. 76. 205COIMBRA, Feijó. Direito previdenciário brasileiro. p. 274.

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sendo a primeira a mais gravosa, pois a pena é de 02 (dois) a 06 (seis) anos de

reclusão e multa, aplicar-se-á a mais benéfica, sendo a Lei n° 9.983/00, com pena

de 02 (dois) a 05 (cinco) anos de reclusão e multa. Tratando-se de lei mais benéfica,

sua aplicação é retroativa, conforme Súmula n° 711, do STF (Supremo Tribunal

Federal):206

“A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou crime

permanente se a sua vigência é anterior à cessação da

continuidade ou permanência.”

3.4.12 Decadência e Prescrição

A decadência consiste no decurso do tempo previsto em lei para a

constituição do crédito em favor da Seguridade Social, implicando na perda do

direito ao crédito da contribuição devida. O direito do Estado (sujeito ativo) deixa de

existir, pela não observância do tempo, extinguindo-se o débito. O prazo de

decadência é contado do primeiro dia do exercício seguinte em que o crédito poderia

ser constituído.207

O artigo 45 da Lei n° 8.212/91 dispõe que o direito da Seguridade Social em

constituir seus créditos extingue-se após 10 (dez) anos (Súmula Vinculante nº 08 do

Supremo Tribunal Federal).

A Súmula 219 do TRF (Tribunal Regional Federal) assim declara:

“não havendo antecipação de pagamento, o direito de constituir

o crédito previdenciário extingue-se decorridos 5 (cinco) anos

do primeiro dia do exercício seguinte aquele em que ocorreu o

fato gerador.”

206CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p. 428-429. 207MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 260.

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A prescrição diz respeito a perda do direito de ação para a exigibilidade do

crédito da Seguridade Social após a constituição do mesmo pelo decurso do prazo

previsto em lei. De acordo com o artigo 46 da Lei n° 8.212 o direito de ação para a

cobrança dos créditos devidos a seguridade social prescreve em 10 (dez) anos

(Súmula Vinculante nº 08 do Supremo Tribunal Federal).208

3.5 ALTA LESIVIDADE E BAIXA PUNIBILIDADE

As normas concedidas em favor dos sonegadores são questionáveis do

ponto de vista ético e moral, na medida de se constituírem privilégios em favor dos

sonegadores, servindo como incentivo a pratica do ato ilícito.209

O princípio da proporcionalidade é um balizamento na interpretação e na

aplicação das normas, orientando o Estado a adotar a medida menos gravosa, ou

seja o aplicador do direito deve verificar todas as possibilidades adotando aquela

que cause menos prejuízo ao indivíduo.210

A matéria previdenciária tem o pretexto de coibir as condutas ilícitas ao

interesse da sociedade, utilizando como meio de arrecadação, a sanção, desviando

a sua finalidade punitiva.211

Com a redução da pena máxima de 06 (seis) para 05 (cinco) anos, a Lei n°

9.983/2000 fugiu da intenção inicial do projeto de lei que era de punir severamente

os sonegadores da Previdência Social. Com o abrandamento da pena máxima,

houve a limitação da penalidade a ser aplicada aos infratores, que na maior parte

das vezes, praticam os delitos de forma continuada e são reincidentes, salvando, o

208MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 262. 209BODNAR, Zenildo. Crimes contra a Previdência Social. 210PIMENTA, Alan Vitor Bonfim. Princípio da Proporcionalidade. Disponível em: <www.webartigos.com/articles/5431/1/principio_da_proporcionalidade/pagina1.htm> Acesso em 20 nov 2008. 211MACHADO, Schubert de Farias. As sanções tributárias e o princípio da proporcionalidade. Disponível em: <http://www.ffb.edu.br/_dowload/dialogo_juridico_n4_03.PDF> Acesso em 20 nov 2008.

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fato de que esta redução não altera o cálculo da prescrição disposta no artigo 109

do Código Penal.212

Nos últimos tempos, o legislador tem optado pela ampliação da arrecadação

com sucessivas leis que facilitam a suspensão do processo em função de

parcelamentos que até possibilitam a extinção da punibilidade após a quitação

integral do valor da contribuição.213

As possibilidades da extinção da punibilidade como em virtude do

pagamento da dívida atua como inibidoras da aplicação da sanção penal, sendo que

extingue o direito que tem o Estado de aplicar a punição quando ocorre um crime de

qualquer natureza.214

Decorrente da obrigação de pagar tributo, o Estado se utiliza do poder de

polícia para fiscalizar as contribuições devidas com a aplicação da lei previdenciária,

utilizando, em caso de violação, as sanções cabíveis. Alguns doutrinadores

entendem que a norma instaurada no Código Penal (Lei n° 9.983/00) dificulta a

prática dos sonegadores, pois, para a extinção da punibilidade, deverá ser efetuado

o pagamento das contribuições devidas, acrescidos de todos os encargos incidentes

pelo atraso, antes do início da ação fiscal, o que antes era possível mesmo depois

desta, sendo antes do recebimento da denúncia.215

CONCLUSÃO

A importância da existência de um sistema de previdência social forte para a

sociedade está na garantia de ajuda através de benefícios a todos que dele

212CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p. 402. 213BODNAR, Zenildo. Crimes contra a Previdência Social. 214FILHO, Edmar Oliveira Andrade. Direito Penal Tributário. p. 149. 215CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p. 395-432.

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necessitem e para isso é necessário um ótimo funcionamento de seu sistema de

custeio, ou seja, de sua arrecadação, que tem por objetivo o financiamento das

ações de proteção social relacionadas a assistência social, a saúde e a previdência

social, atendendo em maior proporção a parcela menos favorecida da sociedade.

As prestações da previdência social atenderão com maior qualidade a

população carente de necessidades sociais na medida da capacidade que a

população tenha para se organizar e impor um efetivo regime de solidariedade e o

Estado coíba com maior eficácia as condutas lesivas a esse sistema de proteção

social.

Sendo a importância do bem tutelado (a Previdência Social) de mais alta

relevância por decorrer da proteção a um direito fundamental é necessária a

utilização do Direito Penal como instrumento de efetiva repressão, para assegurar o

cumprimento da tributação das contribuições previdenciárias, coibindo as condutas

lesivas e assegurando os recursos financeiros necessários para a manutenção do

sistema previdenciário.

Apesar do caráter ofensivo da conduta, colocando em risco todo o

funcionamento do sistema de proteção social, a legislação ainda é muito

condescendente com esta criminalidade, levando como objetivo principal a

arrecadação e não a punição, oferecendo a extinção da punibilidade através da

quitação do valor devido ou a suspensão do processo em casos de parcelamentos.

Resta claro que a pretensão do Estado em relação a delinqüência

previdenciária é o recebimento do débito, ou seja, a satisfação da dívida, deixando

de lado a punição em relação aquele que praticou a infração penal.

A tipificação das condutas como crimes tem por objetivo somente a

intimidação com a sanção penal para o fortalecimento do cumprimento da obrigação,

não importando-se com a punição da intenção do agente em praticar a conduta

delituosa, desde que satisfaça o interesse do Estado com a quitação do devido,

perdendo com isso o valor de conduta ilícita.

O presente sistema repressor dessa espécie de criminalidade não

repreende de forma eficaz as condutas tipificadas, não pela falta de leis sobre essa

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matéria, mas pela sua aplicabilidade de forma branda com penas baixas para a alta

lesividade que causa ao bem tutelado.

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