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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI EM SÃO JOSÉ CURSO DE ADMINISTRAÇÃO – HABILITAÇÃO EM MARKETING ELAINE CRISTINA KIEL ANÁLISE DAS ATRIBUIÇÕES DO MARKETING SOCIAL EM UMA ORGANIZAÇÃO SEM-FINS-LUCRATIVOS: Um estudo de caso no Centro de Integração Empresa Escola do Estado de Santa Catarina – CIEE/SC São José 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI EM SÃO JOSÉ CURSO DE ADMINISTRAÇÃO – HABILITAÇÃO EM

MARKETING

ELAINE CRISTINA KIEL

ANÁLISE DAS ATRIBUIÇÕES DO MARKETING SOCIAL EM UMA ORGANIZAÇÃO SEM-FINS-LUCRATIVOS: Um estudo de caso no Centro de Integração Empresa Escola do Estado de

Santa Catarina – CIEE/SC

São José 2006

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ELAINE CRISTINA KIEL

ANÁLISE DAS ATRIBUIÇÕES DO MARKETING SOCIAL EM

UMA ORGANIZAÇÃO SEM-FINS-LUCRATIVOS

Um estudo de caso no Centro de Integração Empresa Escola do Estado de Santa Catarina – CIEE/SC

Trabalho de Conclusão de Curso - pesquisa teórico-empírica - apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Administração da Universidade do Vale do Itajaí. Professor Orientador: Ricardo Boeing da Silveira

São José 2006

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ELAINE CRISTINA KIEL

ANÁLISE DAS ATRIBUIÇÕES DO MARKETING SOCIAL EM

UMA ORGANIZAÇÃO SEM-FINS-LUCRATIVOS

Um estudo de caso no Centro de Integração Empresa Escola do Estado de Santa Catarina – CIEE/SC

Este Trabalho de Conclusão de Estágio foi julgado adequado e aprovado em sua forma final pela Coordenação do Curso de Administração – Habilitação em Marketing da Universidade do Vale do Itajaí, em 06 de Julho de 2006.

Luciana Merlin Bervian Univali – CE São José

Coordenador (a) do Curso

Banca Examinadora:

Ricardo Boeing da Silveira Univali – CE São José Professor Orientador

Ana Paula Lisboa Sohn Univali – CE São José

Membro

Rosalbo Ferreira Univali – CE São José

Membro

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Dedicado a minha amada avó Sylvia Wanda Kiel (in memorian)

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Agradeço a Deus por tudo, em particular, pela oportunidade de poder agradecer: A minha mãe, pelo empenho, carinho e dedicação; Ao meu pai, por abdicar de tantas coisas para que eu pudesse chegar até aqui; Aos meus irmãos, pelo apoio constante; Aos meus amigos, em especial, Karine, Dani, Adri, Rafa e Marcelo, por fazerem destes quatro anos inesquecíveis; Ao Boeing, por ter aceito ser meu orientador e ter dedicado um pouco do seu tempo, carinho e sabedoria para me ajudar; Ao Mino, pelos bons momentos que passamos juntos; Ao CIEE/SC, principalmente, eles: Lisiane, Carlos, Luane, Kelly e Ingobert, pela cooperação durante a realização deste trabalho; A instituição Univali, pelo suporte necessário para a realização deste; Por fim, um sincero agradecimento a todos que direta ou indiretamente me auxiliaram no decorrer desta caminhada.

Muito Obrigada!!!

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No coração de quem faz a guerra nascerá uma flor amarela como um girassol.

(Cidade Negra).

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RESUMO

Apesar das inúmeras inconsistências e controvérsias acerca da sua nomenclatura e aplicação, o marketing social se estruturou e impôs sua importância nas organizações sem-fins-lucrativos. Com o objetivo de promover o bem-estar comum, através de mudanças sociais, este segmento do marketing tradicional condiz com aquilo que designa às organizações do terceiro setor. A partir desta relação foi traçado o objetivo desta pesquisa, que consistiu em analisar as atribuições do marketing social em uma organização sem-fins-lucrativos, tendo como ambiente de estudo o Centro de Integração Empresa Escola do Estado de Santa Catarina – CIEE/SC. Para tanto, realizou-se uma pesquisa de cunho teórico-empírico, de caráter exploratório e descritivo que continha duas populações distintas, uma composta pelos integrantes do departamento social da instituição e outra com os beneficiados pelos projetos. Com estes foi aplicada uma pesquisa de natureza quantitativa e com aqueles uma qualitativa. Os instrumentos de coleta foram: um questionário semi-estruturado para a pesquisa quantitativa e um roteiro de entrevista para a qualitativa. Além de fontes primárias foram extraídas informações de fontes secundárias. Depois de coletados os dados extraídos por meio da pesquisa qualitativa foram analisados separadamente e em conjunto e os dados obtidos por meio dos questionários foram analisados a partir da média das respostas obtidas. Como principais resultados, observou-se que o CIEE/SC, apesar de pertencer desde sua criação ao terceiro setor, foi apenas recentemente que começou a trabalhar mais sua imagem social. Por meio do reposicionamento do seu principal projeto social, o programa de estágio, e da ampliação e aplicação conjunta dos depois projetos sociais desenvolvidos pela organização, que desde sua elaboração já vinham focado no desenvolvimento social. Outro ponto relevante foram os reflexos dos projetos sociais na população, de onde se pode constatar que as atividades que o CIEE/SC desenvolve atende a todas as mudanças sociais propostas por autores de marketing social: mudanças de cognição, ação, comportamento e valor. Contudo, é seguro afirmar que as atividades desenvolvidas por esta organização e as defendidas pelo marketing social possuem uma compatibilidade natural. No entanto, apesar de identificadas atividades de marketing social no CIEE/SC, estas são aplicadas na informalidade e sem a consistência devida, haja visto a falta de domínio sobre o assunto. As principais limitações encontradas durante a elaboração deste trabalho são as dificuldades de contato com os beneficiados pelos projetos e a exaustão causada pelo excessivo número de ligações telefônicas e o fraco acervo bibliográfico sobre o tema estudado. Tendo por base as informações obtidas sugere-se a elaboração de um plano de marketing social para o CIEE, de um estudo de viabilidade para implantação de um departamento exclusivo para este fim, maiores pesquisas sobre marketing social e societal, além de estudos sobre a efetividade do controle das verbas públicas destinadas à elaboração de programas sociais. Palavras-chave: Marketing social, organizações sem fins lucrativos e mudanças sociais

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ABSTRACT

Despite the innumerable inconsistencies and controversies concerning its nomenclature and application, the social marketing structuralized itself and imposed its importance in the non profit organizations. With the objective to promote well-fare state, through social changes, this segment of the traditional marketing is related to what it assigns to the organizations of the third sector. From this relation the objective of this research, that consisted of analyzing the attributions of the social marketing in a non profit organization, having as study enviroment the Center of Integration Company - School of the State of Santa Catarina - CIEE/SC. For in such a way, a research was become fullfilled theoretician-empiricist, exploratory and descriptive character that contained two distinct populations, one composed by the integrant ones of the social department of the institution and another one with the benefited ones for the projects. With these a research of quantitative nature was applied and with those a qualitative one. The collection instruments had been: a questionnaire half-structuralized for the quantitative research and a script of interview for the qualitative one. Beyond primary sources information of secondary sources had been extracted. After collected the data extracted by means of the qualitative research they had been analyzed separately and in set and the data gotten by means of the questionnaires had been analyzed from the average of the gotten answers. As main results, it was observed that the CIEE/SC, although to belong since its creation to the third sector, was only recently that started to work plus its social image. By means of the reposicionamento of its main social project, the program of period of training, and the magnifying and joint application of the ones later social projects developed by the organization, that since its elaboration already came focado in the social development. Another excellent point had been the consequences of the social projects in the population, of where if it can evidence that the activities that the CIEE/SC develops take care of to all the social changes proposals for authors of social marketing: changes of cognition, action, behavior and value. However, he is safe to affirm that the activities developed for this organization and the defended ones for the social marketing possess a natural compatibility. However, although identified activities of social marketing in the CIEE/SC, they are applied in the informality and without the which had consistency, it has seen the domain lack on the subject. The main limitations found during the elaboration of this work are the difficulties of contact with benefited for the projects and the exhaustion caused for the extreme number of phone calls and the weak bibliographical quantity on the studied subject. Having as base the gotten information it is suggested elaboration of a social marketing plan for the CIEE, of a feasibility study for implantation of an exclusive department for this end, greater researches on social and societal marketing, beyond studies on the effectiveness of the control of the public amounts of money destined to the elaboration of social programs. Word-key: Social marketing, non-profit organizations and social changes

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Lista de ilustrações

Figura 1 – Mercado Assistencial ..............................................................................................26

Figura 2 – Mercado Comercial .................................................................................................26

Figura 3 – Mercado Social........................................................................................................26

Quadro 01 – Abrangências e Características do Terceiro Setor ...............................................32

Quadro 02 – Diferença entre marketing social e marketing societal........................................41

Quadro 03 – Tipos de mudanças ..............................................................................................42

Quadro 04 – Estratégias de mudança social .............................................................................43

Quadro 05 – Diferença entre marketing tracional e marketing social ......................................44

Quadro 06 – Estratégias, atividades e objetivos-fins do marketing social ...............................56

Quadro 07 – Atividades de marketing social visualizadas na prática ......................................57

Quadro 08 – Atividades de marketing social observadas no CIEE..........................................75

Quadro 09 – Contornando os desafios por meio do marketing social......................................77

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Lista de Gráficos e Tabelas

Gráfico 01 – Canas de informação ...........................................................................................68

Gráfico 02 – Quais outros.........................................................................................................68

Gráfico 03 – Quantidade de interessados .................................................................................69

Gráfico 04 – Áreas de mudança ...............................................................................................70

Gráfico 05 – Mudanças observadas pelos entrevistados ..........................................................71

Gráfico 06 – Auxílio no desenvolvimento pessoal...................................................................73

Gráfico 07 – Criação de novas oportunidade de emprego........................................................73

Gráfico 08 – Coerência dos conteúdos .....................................................................................73

Gráfico 09 – Melhoria da qualidade de vida da população ......................................................74

Tabela 01– Quais outros ...........................................................................................................70

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SUMÁRIO

Resumo .................................................................................................................................................................vii

Abstract ...............................................................................................................................................................viii

Lista de ilustrações ............................................................................................................................................... ix

Listas de tabelas..................................................................................................................................................... x

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................1

1.1 PROBLEMA PESQUISA ................................................................................................2

1.2 PERGUNTAS DE PESQUISA..........................................................................................3

1.3 OBJETIVOS.................................................................................................................3

1.3.1. Objetivo Geral ..............................................................................................3

1.3.2. Objetivos Específicos ...................................................................................3

1.4 JUSTIFICATIVA ...........................................................................................................3

1.5 APRESENTAÇÃO GERAL DO TRABALHO ......................................................................6

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.....................................................................................7

2.1 GOVERNO...............................................................................................................7

2.1.1. Contextualizando o governo.........................................................................7

2.1.2. As atribuições do governo para com a sociedade.......................................12

2.2 MERCADO ............................................................................................................13

2.2.1. Contextualizando o mercado ......................................................................13

2.2.2. Conceitos de Mercado ................................................................................15

2.2.3. Demanda e Oferta.......................................................................................16

2.3 MARKETING ........................................................................................................18

2.3.1. Posicionamento de mercado .......................................................................19

2.3.2. Segmentação de mercado ...........................................................................20

2.4 TERCEIRO SETOR...............................................................................................27

2.4.1 Origem do termo.........................................................................................27

2.4.2 Definição do termo “terceiro setor”............................................................31

2.3.3. As competências atribuídas ao Terceiro Setor ...........................................35

2.3.4. Dificuldades de gerenciamento do terceiro setor .......................................37

2.5 MARKETING SOCIAL.........................................................................................40

2.5.1. Composto de Marketing Social ..................................................................45

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3 ASPECTOS METODOLÓGICOS .................................................................................49

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA .............................................................................49

3.2 CONTEXTO E PARTICIPANTES...................................................................................50

3.2.1. Tipo de Amostragem e Cálculo das amostras ............................................52

3.3 PROCEDIMENTOS E INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ......................................53

3.4 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS ......................................................................54

4 RESULTADOS.................................................................................................................55

4.1 PRINCIPAIS ATIVIDADES DE MARKETING SOCIAL ENCONTRADAS NA TEORIA ..........55

4.2 AS ATIVIDADES DE MARKETING SOCIAL NA PRÁTICA...............................................57

4.3 AÇÕES SOCIAIS DESENVOLVIDAS PELOS PROJETOS DO CIEE/SC .............................59

4.4 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS NAS PESQUISAS...................................................62

4.4.1. Entrevista em síntese ..................................................................................62

4.4.2. Interpretação dos gráficos da pesquisa quantitativa ...................................67

4.4.3. Atividades relativas ao marketing social encontradas no CIEE/SC...........74

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................78

5.1 LIMITAÇÕES ............................................................................................................80

5.2 SUGESTÃO PARA NOVOS TRABALHOS ......................................................................80

6 REFERÊNCIAS ...............................................................................................................81

7 APÊNDICE .......................................................................................................................85

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1 INTRODUÇÃO

No decorrer do processo de aceitação das atividades de marketing, variadas aplicações

foram surgindo e se enraizando na sociedade como um todo. Atualmente, não se pode mais

desassociar o marketing das relações humanas. Mesmo que seja elaborado de forma leiga e

superficial, apenas para incrementar a imagem pessoal de alguém, o marketing está presente e

atuante, promovendo melhorias e ganhos para quem o pratica. Por outro lado, observando-o

um pouco mais a fundo e de forma bem mais aprimorada e detalhada; o marketing pode

oferecer ganhos gigantescos às empresas comerciais; através de um elaborado estudo das

oportunidades de mercado, das necessidades e desejos dos clientes, além da manutenção do

sentimento de sua satisfação. “Marketing significa administrar mercados para chegar a trocas,

com o propósito de satisfazer as necessidades e desejos do homem” (KOTLER;

ARMSTRONG, 1998, p. 7).

Num âmbito geral, comumente se ouve falar do marketing direcionado para empresas

comerciais com objetivo de barganha, aumento dos rendimentos e ampliação da cobertura de

mercado, entretanto, existem segmentos deste marketing direcionado para outros fins, como

por exemplo do marketing social que atende as organizações sem-fins-lucrativos.

Cobra (1997) as defende como sendo empresas sociais que têm como característica a

não comercialização de produtos e/ou serviços, e que, continuam, assim como as comerciais,

a realizar um processo de troca com a população, entretanto, sem a troca de valores em

espécie.

Este processo de troca gera dispêndios para as empresas, sendo supridos a partir de

atividades junto à sociedade, cujo objetivo é disseminar e promover a aceitação e o

comprometimento da população às causas defendidas pela empresa em questão. Entretanto,

este é um processo bastante dificultoso e moroso, e que tarda o andamento das atividades

sociais desenvolvidas.

Muitos dos transtornos enfrentados por empresas sem-fins-lucrativos poderiam ser

amenizados por meio da implementação de atividades de marketing social. Tais esforços

estariam focados em clarear a imagem que as organizações sem-fins-lucrativos transmitem à

sociedade e divulgar seus benefícios para o melhoramento da qualidade de vida da população.

Mediante desta difusão aumentariam as oportunidades de novas parcerias e incentivos de

órgãos públicos.

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Baseado na compatibilidade existente entre o que as empresas sem-fins-lucrativos

desejam promover e o que o marketing social tem a oferecer, definiu-se o objetivo desta

pesquisa, que consiste em: analisar as atribuições que o marketing social pode oferecer às

empresas sem-fins-lucrativos. Com foco nas atividades sociais desenvolvidas pelo Centro de

Integração Empresa Escola do Estado de Santa Catarina – CIEE/SC.

1.1 Problema Pesquisa

O CIEE/SC trata-se de uma sociedade civil do direito privado, não-governamental, de

caráter filantrópico, sem-fins-lucrativos e de utilidade pública federal, estadual e municipal.

Visa à integração do estudante ao mercado de trabalho, bem como: desenvolvimento

de projetos sociais, cujo objetivo é a melhoria da qualidade de vida das populações de baixa

renda e consecutivamente benefícios que favorecem toda a população catarinense.

Durante os 18 anos de atuação no Estado de Santa Catarina, o CIEE estadual criou

uma imagem bastante solidificada e reconhecida pela população local, entretanto, pouco se

trabalhou o lado social das atividades oferecidas. Com isso, deu-se que atualmente a

sociedade pouco reconhece o CIEE/SC como organização não-comercial, o que dificulta no

desenvolvimento de suas atividades.

É por meio dos recursos adquiridos através de parcerias com empresas comerciais e

órgãos do governo; que o CIEE/SC consegue oferecer à população a oportunidade de inserção

no mercado de trabalho para adolescentes, jovens e adultos.

Devido à necessidade de manutenção e ampliação das parcerias o CIEE/SC deveria

conscientizar-se da importância das atividades de marketing social para o reconhecimento e

afirmação da imagem da organização como uma empresa sem-fins-lucrativos, além da

divulgação dos projetos oferecidos pela organização à população.

Sendo assim, objetiva-se analisar quais são as atribuições do marketing social para as

empresas que não visam o lucro, com o intuito de difundir o trato destas ações para o

benefício social.

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1.2 Perguntas de Pesquisa

Com base na introdução e no estudo diagnóstico realizado na organização, questiona-

se: Que prerrogativas o marketing social proporciona às empresas sem-fins-lucrativos?

1.3 Objetivos

1.3.1. Objetivo Geral

- Analisar as atribuições do marketing social em uma organização sem-fins-lucrativos

de Florianópolis.

1.3.2. Objetivos Específicos

- Verificar as principais atividades do marketing social encontradas na teoria;

- Apontar as ações sociais desenvolvidas pela organização;

- Destacar os reflexos de tais ações sociais junto aos beneficiados;

- Comparar as ações da organização com as estudadas na teoria;

- Identificar a contribuição destas ações perante a sociedade.

1.4 Justificativa

Os esforços de marketing geralmente são usados com o intuito de obtenção de lucro,

entretanto, existem outras aplicações de marketing que abrangem outros setores, entre eles, o

setor não lucrativo. Embora as estratégias do marketing que visam o lucro sejam mais

desenvolvidas que as do marketing não lucrativo, geralmente estes são aplicáveis e podem

ajudar empresas sem fins lucrativos a alcançar seus objetivos. (CHURCHILL; PETER, 2003).

No entanto, existem constantes equívocos na aplicação do marketing social, ou seja,

na definição correta do seu significado. Muitas empresas condicionam as atividades de

marketing social ao objetivo de agregar valor social a um produto comercial. Em outras

palavras, a empresa estaria desenvolvendo ações de marketing comercial agregado de valor

social (FONTES, 2001).

Este estudo, objetiva a análise das atribuições do marketing social para empresas que

não objetivam o lucro, como foco, o Centro de Integração Empresa Escola – CIEE/SC. Esta,

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por sua vez, consiste numa organização não-governamental, cujo objetivo central é a inserção

no mercado de trabalhos dos jovens estudantes, a fim de aprimorar a qualidade dos novos

ingressantes e consecutivamente ampliar as chances de um bom futuro profissional. Além

desta visão educacional, o CIEE/SC também objetiva alcançar, no âmbito social, melhorias na

qualidade de vida da população, principalmente carente, resultando em benefícios para toda a

sociedade.

Por se tratar de uma organização sem-fins-lucrativos, o CIEE/SC carece de constante

participação de empresas dispostas a investir nos projetos propostos pela instituição.

Empresas que desenvolvem atividades que não visam o lucro têm a característica comum de

manterem-se receosas no que diz respeito ao marketing, por associá-lo às atividades de

barganha aplicadas por empresas comerciais. Em contrapartida, é certo que o marketing social

muito tem a contribuir para empresas não-comerciais, pois é capaz de adequar os esforços de

forma a atrair mais apoiadores e contribuintes as causas defendidas. Normalmente estas

parcerias são procuradas no empresariado e em órgãos governamentais. (VAZ, 1995).

Devido ao caráter não-comercial destas empresas, torna-se mais difícil e trabalhoso o

processo de manutenção e continuidade das atividades oferecidas à sociedade. Sendo assim,

vê-se a importância de trabalhar o marketing social para a divulgação dos objetivos e

benefícios que os projetos sociais oferecem a comunidade.

Kotler (1988, p.288) sustenta que:

O marketing social é o projeto, a implementação e o controle de programas que procuram aumentar a aceitação de uma idéia ou prática social num grupo-alvo. Utiliza conceitos de segmentação de mercado, de pesquisa de consumidores, de configuração de idéias, de comunicações, de facilitação de incentivos e a teoria de troca, a fim de maximizar a reação do grupo-alvo.

Muito se ouve falar da aplicação do marketing social para as empresas privadas de fins

lucrativos, com objetivos de disseminação da idéia de conscientização social, entretanto, o

marketing social deve ser aplicado com intuito de difundir a importância das atividades de

cunho social para o desenvolvimento das comunidades.

A comunidade brasileira em geral respira e alimenta-se de marketing, conscientemente ou não. E, por isso, é, necessário compreender o significado e a importância do marketing como desencadeador do processo de desenvolvimento econômico e social. (COBRA, 1997, p.35).

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O marketing de negócios, voltado para as organizações que visam o lucro, está focado

em indicadores de rendimento, ou seja, o objetivo principal dessas empresas está na obtenção

de lucro através da relação de troca de benefícios. Por outro lado, o marketing social está

estruturado para atender as empresas que não visam o lucro; e que vêem na qualidade da

relação social como um indicador de lucratividade. Sendo assim, pode-se encontrar

sustentação a esta idéia, nas palavras de Vaz (1995, p.281):

O programa de Marketing Social [...] é um trabalho cuidadoso de pesquisa, procurando a raiz de um problema social, identificando os focos de resistência a uma mudança e, então, definindo um planejamento de apresentação das idéias, de formulação das propostas, de preparação da estrutura necessária para dar sustentação à campanha.

Baseado nas palavras de Vaz pode-se observar que o marketing sem-fins-lucrativos é

focado em atender as necessidades de uma sociedade, através de atividades que envolvem a

análise do ambiente social e o estudo das relações existentes, buscando a difusão de idéias e a

captação de recursos que viabilize e sustente a realização de projetos sociais. Ou seja, o

marketing social prioriza a qualificação das relações humanas.

Contudo, entende-se que este estudo contribuirá para o melhor desenvolvimento das

estratégias de penetração no mercado, de competição junto à concorrência – que por sua vez

constitui-se de empresas comerciais e não-comerciais – de captação de novas parcerias e

incentivos governamentais, bem como, a mudança da percepção da sociedade em relação às

atividades oferecidas pelo CIEE/SC, que até então, boa parte, se restringe apenas a oferta de

estágio, sem consciência do caráter não-governamental e não-comercial da organização.

Mediante a obtenção dos resultados deste estudo, o CIEE/SC poderá, posteriormente,

elaborar estratégias de marketing social bem mais estruturadas e fundamentadas, correndo

menores riscos e potencializando as chances de retorno positivo para a organização.

No nível social, será importante, pois agregará valor as atividades realizadas

juntamente a sociedade. Além, de desvencilhar a idéia de marketing social como meio de

melhoria da imagem de empresas comerciais junto à sociedade, ou de catalisador nas vendas

de produtos comerciais, unidos a apelos sociais.

Já no ambiente acadêmico, esta pesquisa tem um significado de grandeza e captação

de conhecimentos, tanto para o acadêmico quanto para a instituição em si. A partir da

obtenção dos resultados, novos e importantes estudos poderão ser realizados na área em

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questão. Agregando assim, enriquecimento e engrandecimento pessoal e social para ambas

partes.

1.5 Apresentação geral do trabalho

Este trabalho, objetiva, primeiramente, estudar o marketing social, extraindo os

benefícios que ele proporciona às empresas sem-fins-lucrativos. Seguido de uma comparação

com as atividades sociais desenvolvidas pelo Centro de Integração Empresa Escola -

CIEE/SC, a fim de demonstrar a correlação existente e a importância dos esforços de

marketing social para o desenvolvimento de empresas não-lucrativas.

Inicialmente, capítulo 1 apresenta uma introdução do trabalho a ser realizado,

incluindo uma contextualização do tema proposto, seguido da descrição do problema e da

questão central deste estudo e os objetivos que dão significado a este trabalho. Ao final este

primeiro capítulo expõe a justificativa para a sua realização.

No capítulo 2, deste trabalho, consta à fundamentação teórica, que consiste na

exposição das posições de autores sobre diversos temas considerados relevantes para o estudo

proposto.

Dando seqüência, no capítulo 3, podem ser vistos os aspectos metodológicos, que

compreende todo o processo adotado na pesquisa, seguido pelo capítulo 4 com a exposição

dos resultados alcançados com a mesma. Finalizando a pesquisa encontram-se as

considerações finais, acrescido das limitações para a realização desta pesquisa, bem como, as

sugestões.

Nos capítulos finais 6 e 7 encontram-se respectivamente as referências bibliográficas

utilizadas para a construção desta pesquisa e os apêndices que consistem nos materiais feitos

paralelamente e que contribuíram para viabilizar a realização da mesma.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para se abordar temas que englobam, na sua integridade, assuntos que vão da esfera

social às relações de troca existentes no mercado, vê-se necessário explanar sobre a opinião de

diversos autores, a fim de sustentar as idéias apresentadas. Esta parte da pesquisa é dedicada,

justamente, a esta explanação sobre as abordagens de diferentes autores em diferentes épocas

sobre temas considerados pertinentes.

Para fim de contextualização é mencionado, de forma um tanto superficial, o

surgimento do Estado e do Governo, bem como o conceito e a sua função para o

desenvolvimento da sociedade, buscando ressaltar a inevitável participação do governo nas

atividades de cunho social. Em seguida, o estudo é convergido para uma pesquisa mais

aprofundada sobre o mercado e as relações de troca nele existentes, seguido das relações de

marketing, nas suas diversas aplicações, dando maior ênfase ao marketing social; também

serão abordados o terceiro setor e os diferentes tipos de instituições as quais ele engloba.

2.1 GOVERNO

Ao se trabalhar com instituições inseridas no Terceiro Setor, faz-se imprescindível

explanar sobre a origem do governo, haja visto a sua intensa relação com o surgimento das

mesmas.

2.1.1. Contextualizando o governo

Primeiramente, não se pode falar de Governo sem antes mencionar a concepção da

origem do termo sociedade, que remonta a eras passadas, onde o cenário, embora diferente da

“imagem” de uma sociedade atual, já concebia as relações sociais existentes hodiernamente.

Alimentados pelo instinto natural de viver em bandos, e pela necessidade intrínseca de

sobrevivência e defesa, o homem, desde então, passou a viver em sociedade. Esta sociedade

inicialmente esporádica e não-estruturada foi se intensificando e tornando-se organizada,

sólida e irreversível. (GOULART, 1995).

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Bonavides (1999, p.55) corrobora com Goulart ao defender que “os instintos

egocêntricos e altruístas que governam as condições humanas, o instinto de preservação da

espécie, fazem, porém, que o homem seja eminentemente social”.

Com base nas palavras de Goulart e Bonavides vê-se que é natural e necessário ao ser

humano o inter-relacionamento, e desta interação compõem-se as sociedades. Assim sendo,

pode-se encontrar sustentação nas palavras de Azambuja (1998, p.18) onde afirma que: “o

homem está no centro da sociedade; a sociedade está dentro do homem. Só este existe

essencialmente: a sociedade é os homens e as interações de seus sentimentos, idéias e

volições”.

Entretanto, para que houvesse passividade nas relações sociais foi-se necessário à

existência de um órgão controlador, a fim de se estabelecer à ordem. Goulart sustenta esta

idéia ao dissertar que:

O homem, impulsionado pela sua natureza gregária, forma naturalmente a sociedade; esta não poderá subsistir sem organização; a organização, por seu turno, supõe, imperativamente, sob pena de tumulto e desagregação social, a presença de um órgão diretor ou guia. (GOULART, 1995, p.17).

Daí surge à idéia de um Estado, controlador e provedor da ordem e do bem-estar

social. Del Vecchio (1952) e Goulart (1995) defendem esta linha, onde o Estado, na sua

soberania, é encarregado de estabelecer o bem-estar do indivíduo e da sociedade.

Bonavides (1999, p.61) acorda com os autores ao afirmar que é finalidade do Estado

“a promoção da ordem política, a organização coercitiva dos poderes sociais de decisão, em

concomitância com as outras sociedades, como as de natureza econômica, religiosa,

educacional, lingüística, etc”.

Sendo assim, pode-se dizer que cabe ao Estado prover a ordem pública e a base para o

desenvolvimento do tecido social, a fim de promover a harmonia, a qualidade e a

continuidade das relações nele existentes.

Por outro lado, Azambuja (1998) defende que o Estado é originário da inteligência e

da vontade dos membros da sociedade, ou se for o caso, dos indivíduos que nela governam e

exercem influência.

Contudo, Azambuja (1998) e Bonavides (1999) estão em comum acordo ao afirmar

que o Estado é um grupo social que, no limite do seu território, tem poder de supremacia e

mandato.

A partir do surgimento do Estado, inúmeros conceitos foram levantados, cada qual,

dissertando a cerca das premissas do Estado para com a sociedade. No desenvolver desta

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sociedade, foram-se discutidas as limitações do poder do Estado sobre o tecido social,

chegando ao estabelecimento do “Estado Democrático do Direito”, que consiste numa forma

de governo que prima pelo reconhecimento dos valores humanos e dá suporte ao

desenvolvimento de suas capacidades. (GOULART, 1995).

Para o correto entendimento desta forma de governo faz-se necessário entender o

conceito de democracia, que consiste numa forma natural de governo por ser exercitado pelo

povo, ou por um representante escolhido por ele, cujo poder no povo reside, para que em seu

nome e em proveito de seus reais interesses, ponha em prática os atos fundamentais para a

vida a o bem-estar da sociedade (AZAMBUJA, 1998; GOULART, 1995).

Filomeno (2000) complementa ao defender que a democracia consiste na efetiva

participação da sociedade na escolha de seus representantes e na constituição do ordenamento

jurídico do Estado.

Sob um prisma mais amplo, Azambuja (1998, p.214), sustenta ainda que “a

democracia deve também assegurar os direitos sociais; não somente deve defender o direito

do homem à vida e à liberdade, mas também a saúde, à educação, e [...] a abundante

legislação social”.

Baseado nisso, pode-se constatar que cabe ao Estado Democrático a função maior de

primar pelo desenvolvimento do tecido social, tendo como principal premissa, dar subsídio à

interação social entre os indivíduos, nas suas diversas naturezas, além de promover a ordem e

o bem estar público. Em contrapartida, Russeau (apud Bonavides 1999) dúvida da

possibilidade desta forma de governo servir aos homens, devido ao grau de perfeição que se

prende a Democracia.

Contudo, para que seja estabelecida a figura do Estado, faz-se necessária à concepção

de uma organização política, onde haja a adoção de formas de governo e uma filosofia capaz

de conduzir os dirigentes a tomar atitudes condizentes com as vontades e aspirações da

maioria do povo. (GOULART, 1995).

Azambuja (1998, p.25) já visualizava a concepção de governo ao dissertar que: “o

Estado moderno, é uma sociedade à base territorial, divididos em governantes e governados, e

que pretende, nos limites do território que lhe é reconhecido, a supremacia, sobre todas as

demais instituições”.

É atribuída ao governo a função de zelar pela realização do bem comum, em outras

palavras, administrar visando o interesse geral da nação. Aristóteles, em sua obra “A

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Política”, demonstra com clareza a necessidade de se definir um tipo de governo a ser

estabelecido:

Visto que as palavras constituição e governo significam a mesma coisa, visto que o governo é a autoridade suprema nos Estado e que, forçosamente, esta autoridade suprema deve repousar nas mãos de um só, ou vários, ou a multidão, usam de autoridade, com vistas ao interesse geral, a constituição é pura e sã forçosamente; ao contrário, se governa com vistas ao interesse particular, isto é, ao interesse de um só, ou de vários, ou da multidão, a constituição é viciada e corrompida, porque de duas coisas uma: é preciso declarar que os cidadãos não participam de interesse geral ou dele participam. (ARISTÓTELES, 2000, p.115).

Em conseqüência, tornou-se necessária à definição dos tipos de governo, para que

fosse declarada a participação ou não do povo nas atividades do Estado.

Sustentada pelas palavras do filósofo grego Aristóteles, as formas de governos podem

ser definidas de acordo com o número de participantes na tomada de decisão, contanto que

seja estabelecida buscando o interesse da sociedade.

Entre as monarquias, dá-se comumente o nome de realeza àquela que tem por objetivo o interesse geral; e o governo de um reduzido número de homens, ou de vários, contanto que não seja de um só, chama-se aristocracia – seja porque a autoridade esteja nas mãos de diversas pessoas de bem, seja porque tais pessoas dela fazem uso para maior bem do Estado. Finalmente, quando a multidão governa no sentido do interesse geral, dá-se esse governo o nome de república, que é comum a todos os governos. (ARISTÓTELES, 2000, p.115).

Outro filósofo a descrever as formas de governo existentes é Maquiavel (apud

Filomeno, 2000), este as distingue em monarquias (por ele chamada de principados) e

repúblicas. Monarquia caracteriza a forma de governo onde o mando pertencia a uma pessoa

apenas, sendo esta escolhida por hereditariedade. E, em contrapartida, a república

representava a forma, onde o chefe de governo e Estado exerce mandatos temporários.

Existem outros conceitos e abordagens sobre as formas de governo, entretanto, será

utilizado, para fins de estudo, apenas a forma de governo utilizada no Brasil, que se

caracteriza como: Estado Democrático de Direito, cuja democracia estabelecida se descreve

como sendo do tipo Democracia semidireta – que têm como propriedade à distinção da

democracia representativa (sem a participação do povo), por permitir a participação da

sociedade em momentos importantes da nação; aproximando-se assim da democracia direta,

que por sua vez, representa a democracia pura, onde o povo unido exerce as funções do

governo (GOULART, 1995). Em outras palavras “a democracia semidireta, ou semi-indireta

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pode ser entendida como aquela em que as deliberações de interesse coletivo são tomadas

pelos representantes do povo, más há possibilidade de que algumas o sejam por aquele,

diretamente” (FILOMENO, 2000, p.109).

Em concordância as idéias de Goulart e Filomeno, a Constituição da República

Federativa do Brasil, promulgada em 5 de Outubro de 1988, sustentam, através do Art. 1º,

parágrafo único, que: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes

eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

Convergindo ainda mais em direção ao foco de estudo, será descrito exclusivamente o

sistema de governo presidencialista, por ser este o tipo de governo democrático aplicado no

Brasil. O Presidencialismo consiste na forma de governo onde o povo é representado pela

figura do presidente, podendo este ser eleito direta ou indiretamente, cuja função, dentre

outras, é a de administrar, sancionar promulgar e fazer publicar as leis. Sendo que a primeira é

executada com o auxílio dos Ministros de Estado, conforme reza a Constituição da República

Federativa do Brasil.

A principal característica do governo presidencialista encontra-se na separação dos

três poderes, que consiste na separação rígida as funções governamentais, em três estruturas

independentes e harmônicas. (BONAVIDES, 1999; FILOMENO, 2000; GOULART, 1995).

A tripartição do governo foi proposta por Montesquieu, onde o governo seria

subdividido em três poderes essenciais: poder legislativo, executivo e judiciário. Sendo eles

independentes e harmônicos e incumbidos de funções distintas. (MONTESQUIEU, apud

AZAMBUJA, 1998).

Através do poder legislativo fazem-se leis para sempre ou para determinada época, bem como se aperfeiçoam ou ab-rogam as que já se acham feitas. Com o poder executivo, ocupa-se o príncipe ou magistrado (os termos são de Montesquieu) da paz e da guerra, envia e recebe embaixadores, estabelece a segurança e previne as invasões. O terceiro poder – o judiciário – dá ao príncipe ou magistrado a faculdade de punir os crimes ou julgar os dissídios da ordem civil. (BONAVIDES, 1999, p.139).

Sendo assim, como já observado anteriormente, os termos príncipe e magistrado, ditos

por Montesquieu, são representativos da monarquia e república respectivamente. A

monarquia representada na figura única do rei e a república desempenhada pelos

representantes de Estado.

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2.1.2. As atribuições do governo para com a sociedade

Tendo por base as inúmeras premissas do governo que envolve o tecido social, torna-

se interessante ressaltar algumas das principais funções inerentes ao poder público e

fundamental para o desenvolvimento da sociedade.

A Constituição Brasileira que, no seu preâmbulo, resume as vontades e determinações

do povo, tem por objetivo principal “[...] assegurar o exercício dos direitos sociais e

individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça

como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos [...]”.

Contudo, vê-se que é ordem preliminar do governo suprir as necessidades sociais do

indivíduo. Em outras palavras, dar subsídios para que seu progresso dentro do corpo social

seja possível. Filomeno (2000, p.236, grifo do autor) corrobora ao vislumbrar o “homem [...]

como sujeito de direitos inalienáveis e imprescritíveis, tais como o próprio direito à vida, à

liberdade e ao bem-estar, aparecendo o Estado [...] como simples enunciador e guardião

desses direitos”.

Acerca dos direitos humanos a Constituição da República Federativa do Brasil (título

II, capítulo I, Art 5º, § XIII e XIV) assegura que: “é livre o exercício de qualquer trabalho,

ofício ou profissão, bem como é assegurada a todos o acesso a informação”. Em outras

palavras, todo o ser humano, inserido no território abrangido pela constituição, tem o direito

de exercer algum meio lícito de sustento, bem como é assegurado o direito ao acesso as vias

de informação.

Completando o capítulo II do mesmo título, assegura que são direitas sociais as

educações, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à

maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Ou

seja, “independente da raça, sexo, ideologia ou outra diferença porventura existente entre

seres humanos, o respeito a eles devido ultrapassa qualquer fronteira [...]” (FILOMENO,

2000, p. 237).

Contudo, torna-se clara a concepção de um governo responsável pelo bem-estar de seu

povo, além de provedor dos subsídios que atendam as necessidades básicas do ser humano,

tanto no que tange a sua subsistência quanto o acesso à educação, informação e

desenvolvimento.

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2.2 MERCADO

Antes de se referir ao marketing e suas atividades envolvendo a sociedade, é relevante

o estudo do mercado, em virtude do mesmo ser o ambiente onde ocorrem as relações de troca

sugeridas pelo marketing, tanto tradicional quanto social.

2.2.1. Contextualizando o mercado

Assim como para o Estado e o governo, quando se fala de mercado, é imprescindível

reportar-se a eras passadas, onde outrora, as relações de troca eram concebidas sem a

existência de valores monetários. Muito embora, as relações de troca já figurassem as

atividades econômicas desde tempos primórdios, foi após o surgimento dos excedentes de

produção que se iniciou a configuração de uma nova ordem econômica, que posteriormente

resultou na base da estrutura econômica atual. Naquela época as relações econômicas

funcionavam na base das relações de trocas de mercadorias, oriundas dos excessos de

produção das propriedades rurais, de onde se assentava um regime de auto-subsistência.

(COBRA, 1997; MORAES, 1993)

Há autores como Vaz (2000, p.21) que defendem que nestas comunidades primitivas,

“a economia não-monetária foi dominada pelo escambo, que é a troca de um objeto de uso por

outro objeto também utilitário”. E estes processos eram originários dos excedentes, conforme

sustenta, quando diz que cada propriedade “dedicava-se à produção de determinados bens,

gerando excedentes”.(VAZ, 2000, p.21).

Entretanto, após seu ápice, estas relações de troca sofreram inúmeros contra-tempos,

que culminaram no seu enfraquecimento. Provocado pelo ressurgimento urbano, pelo

fortalecimento dos comerciantes e artesãos e pela monetarização da moeda, as novas relações

de troca adquiriram um contorno bem mais detalhado. (MORAES, 1993).

Vaz (2000, p.21) concorda com Moraes ao dissertar que, a partir destes excedentes,

“surgiu uma incipiente atividade comercial, empreendida por pessoas que se empenhavam na

busca de outras comunidades para a negociação e relação de trocas”.

Em contra-partida, Vaz (2000) defende que o escambo acarretava em dificuldades

operacionais, por necessitar de vontades mútuas para que houvesse as trocas. Em outras

palavras, ambos envolvidos deveriam desejar a mercadoria ofertada, caso contrário, a troca

não ocorria.

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Kotler; Armstrong (1998, p.145) asseguram que vários foram os sentidos que o termo

mercado teve ao longo dos anos. Para o autor, “nas cidades medievais, os mercados ficavam

nas praças, onde compradores e vendedores se reuniam para trocar mercadorias e serviços.

Nas cidades de hoje, as compras e vendas ocorrem em áreas comerciais, e não em praças”.

Em decorrência disso, iniciou-se uma nova forma de comercialização, conforme

sustenta Vaz ao afirmar que:

Com a necessidade de facilitar as transações, os mercadores passaram gradativamente a utilizar certos bens de larga tradição ou de maior durabilidade como meios de intermediação do processo de trocas. A função da moeda foi assim representada pelo gado, pelos metais, por papéis fiduciários garantidos pelos poderes constituídos e por vários outros elementos de uso comum e aceitação pública. (VAZ, 2000, p.21).

Ou seja, com o aumento expressivo dos comerciantes de excedentes e do mutualismo,

ressaltado por Vaz como um fator impeditivo, percebeu-se a necessidade de um objeto que

intermediasse os processos de troca e fosse aceito e aproveitado para as demais negociações.

Foi então que começou a utilização da moeda e a partir da sua generalização o comércio

evoluiu e começou a adquirir a arquitetura que possui atualmente (COBRA, 1997).

O interesse mútuo, que outrora figurava as relações de troca, persiste nas relações

comerciais existentes atualmente. Autores como Churchill; Peter (2003) e Kotler; Armstrong

(1995) corroboram ao concordar que a troca é a transação de bens cujo objetivo é a satisfação

mútua.

Para Etzel; Walker; Stanton (2001, p.4) troca consiste em “uma das três maneiras pelas

quais podemos satisfazer nossas necessidades” . Continuando: “Se você quiser alguma coisa

[...] pode oferecer alguma coisa de valor (talvez seu dinheiro, seus serviços ou outra

mercadoria) para uma pessoa que vai trocar o item por aquilo que você oferecer” (ETZEL;

WALKER; STANTON, 2001, p.4). Contudo, vale ressaltar que para a realização de uma

troca é imprescindível a participação de duas partes, sendo que ambas devem possuir algum

objeto de troca. (COBRA, 1997; KOTLER; ARMSTRONG, 1998). Sandhusen (2003, p.3)

confirma a idéia dos autores ao assegurar que “troca são os processos pelos quais duas ou

mais partes dão algo de valor uma a outra, satisfazendo desejos”.

Do momento histórico em que se figura a crise das sociedades primitivas, vários

outros acontecimentos importantes marcaram o desenvolvimento das nações, entretanto, o

próximo episódio, de fato, relevante para o estudo em questão, é o período das rupturas com o

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antigo sistema, devido a sua imensa contribuição para o desenvolvimento das atuais visões de

mercado. (MORAES, 1993; VAZ, 2000).

Neste período, estudos foram realizados, primando pela visualização do homem,

enquanto ser humano, focando seus estudos nas relações sociais e naturais dos seres humanos,

distanciando-se dos dogmas católicos, onde Deus era a justificativa para todas as ações da

igreja, cujos motivos estavam fundamentados nas relações divinas e sobrenaturais.

(MORAES, 1993).

Com isso, pode-se perceber que sua contribuição para o desenvolvimento das relações

comerciais foi imensa. No decorrer dos estudos sobre os seres humanos, iniciados no período

das rupturas, novas descobertas foram feitas, criando-se novos prismas que ajudam a

compreender a natureza humana, principalmente no que corresponde o lado comportamental.

A partir desde contexto, surgiram relações de troca que se aprimoraram

gradativamente ao desenvolvimento do senso crítico do ser humano, resultando em diferentes

caracterizações de mercado.

Como conseqüência às relações de mercado hoje vigentes são bem mais complexas

que as encontradas nos relatos históricos acima mencionados. Atualmente, com o advento da

tecnologia e a popularização dos meios de comunicação os indivíduos envolvidos nas relações

mercadológicas são significativamente mais críticos e detalhistas. Cobra (1997, p.23)

corrobora com esta idéia ao defender que “o mercado consumidor está cada vez mais

esclarecido, cônscio de suas necessidades, desejos e expectativas”. Sendo assim, configurou-

se o mercado de uma forma tal que, hodiernamente, se podem existir vários conceitos

diferentes de mercado, dependendo a ótica adotada.

2.2.2. Conceitos de Mercado

No decorrer do desenvolvimento da história humana, várias formas de relacionamento

mercadológico foram surgindo e se aperfeiçoando gradativamente, sempre com o objetivo de

manter-se sinérgico aos acontecimentos.

Vaz (2000, p.34), e sustenta que mercado é o “ponto de convergência onde os agentes

econômicos se encontram para efetivar as ações preliminares, preparatórias e finalizadoras da

comercialização”. Dando seqüência, este mesmo autor complementa afirmando que: “O fato

mercadológico acontece quando se estabelece um fluxo econômico entre esses elementos,

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com o produtor oferecendo produtos (bens) ao consumidor, que os adquire mediante a

transferência de outro produto (moeda) para o produtor”. (VAZ, 2000, p.35).

Kotler; Armstrong (1998), Kotler (2003) e Sandhusen (2003) estão em comum acordo

ao sustentarem que o mercado consiste no agrupamento de compradores reais e potenciais de

um determinado produto, onde exista uma necessidade ou desejo específico, cuja satisfação

possa ser alcançada através das relações de troca. Comumente o termo mercado pode ser

descrito como o ambiente onde ocorrem transações de bens e/ou produtos, tendo como

objetivo a satisfação mútua.

Churchill; Peter (2003, p.204) sustentam que mercado consiste em “indivíduos ou

organizações com o desejo e a capacidade para comprar bens e serviços”. Etzel; Walker;

Stanton (2001, p.45) corroboram com essa idéia ao sustentar que “um mercado pode ser

definido como o lugar onde os compradores e vendedores se encontram, onde as mercadorias

e os serviços são oferecidos para a venda e as transações de posse ocorrem”.

Estes mesmos autores complementam afirmando que numa visão mais mercadológica

o termo mercado pode ser visto como “pessoas ou organizações com necessidades para

atender, dinheiro e disposição para gasta-lo”. (ETZEL; WALKER; STANTON, 2001, p.45).

Manzo (1996, p.14) complementa a idéia dos autores ao assegurar que o mercado

consiste num “[...] grande grupo que, individualmente ou em grupos (família ou segmentos),

consome produtos com o objetivo de satisfazer seus desejos pessoais ou suas necessidades

primárias e secundárias”.

Contudo pode-se assegurar que mercado é o ponto de convergência de pessoas, sejam

elas indivíduos ou organizações, que apresentam desejos e potencialidades para adquirir

algum produto ou serviços, ou por assim dizer, mercado consiste no ambiente onde ocorrem

as apresentações das mercadorias e a efetivação das transações.

2.2.3. Demanda e Oferta

Nas relações de mercado é imprescindível a atuação de dois agentes: aqueles que

necessitam de algo, por necessidade básica ou influências comportamentais, e aqueles que

possuem algo a oferecer. Em outras palavras o mercado é composto de um lado pelos que

demandam e do outro pelos que ofertam. Para Etzel; Walker; Stanton (2001) a demanda

indica se vale à pena a empresa investir em determinado mercado, em outras palavras, se há

procura pelo determinado produto ou serviço que se pretende oferecer.

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Cobra (1997, p.230) segmenta a demanda em: demanda individual – e a descreve

como “a relação que o indivíduo faz entre a satisfação e o consumo de um bem ou serviço” –

e demanda de mercado, que consiste na “demanda resultante de todos os indivíduos”. A partir

disso pode-se perceber que a demanda varia de acordo com a aceitação individual do produto

ou serviço oferecido ao mercado, e consiste na “capacidade de absorção de cada segmento”

(RICHERS, 2000, p. 85). Complementando, Sandhusen (2003, p.3) assegura que “demanda

são desejos apoiados pelo poder de compra”.

Kotler; Armstrong (1998, p.5) associam o termo oferta à produto, e conceitua este

como sendo “qualquer coisa que possa ser oferecida ao mercado para satisfazer uma

necessidade ou desejo”. Ou seja, o produto é o elemento a ser ofertado pela empresa, cujo

objetivo é ser a solução para a satisfação das necessidades do consumidor (KOTLER;

ARMSTRONG, 1998).

Etzel; Walker; Stanton (2001, p.197) asseguram que “em essência [...] os

consumidores estão comprando muito mais que um conjunto de atributos quando compram

um produto. Eles estão comprando a satisfação de um desejo em forma de benefícios que

esperam receber do produto”.

Por outro lado, Cobra (1997, p.232) ressalta um ponto importante a ser observado

nesta relação de oferta e demanda, no que se refere à formação do preço baseado na procura

por determinado produto ou serviço, assim disserta o autor:

Se a demanda total permanece, a empresa que reduz preços pode ser beneficiada, mas, se, ao contrário, a redução de preços de uma empresa aumenta a demanda do mercado total, a concorrência, então, é que se vai beneficiar, pois uma redução de preços pode estimular o consumo. A empresa que teve esta iniciativa vende todos os seus estoques; a demanda permanece ativa, e a concorrência é que se vai beneficiar

Em outras palavras a demanda e a oferta de um produto devem ser analisadas

quantitativamente e qualitativamente, ou seja, não é apenas o número de indivíduos

interessados no produto que determina seu valor de mercado, mas, também, outros fatores,

tais como: intensidade, urgência e elementos psicológicos que influenciam na oferta e procura

de determinado produto. (MANZO, 1996).

Assim sendo, pode-se perceber que a oferta é a manifestação da empresa na busca por

atender a uma procura no mercado. Necessariamente, esta relação de oferta e procura deve

estar em equilíbrio para que não haja reflexos negativos para a empresa, ou, em muitos casos

favorecimento para os concorrentes.

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Em suma, pode-se constatar que a demanda é variável, e representada por pessoas com

dinheiro para gastar. Podendo esta demanda ser influenciada por esforços de marketing que a

incentivam a adquirir produtos ou serviços específicos (RICHERS, 2000). Contudo, vê-se a

importância de se conceituar o marketing, haja vista a sua importância no estímulo e

manutenção da demanda de um determinado produto ou serviço.

2.3 MARKETING

Existem vários conceitos diferentes que exprimem a idéia de marketing, um destes

conceitos é expresso por Kotler; Armstrong (1998, p.27) onde os autores sustentam que:

“marketing é um processo social e gerencial pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que

necessitam e desejam através da criação, oferta e troca de produtos de valor com outros”. Em

outras palavras, marketing propõem o gerenciamento dos processos de troca de interesses

entre os seres humanos, primando pela qualidade e consistência destas relações.

Marketing consiste no desempenho dos processos que direcionam as mercadorias e

serviços do produtor aos consumidores finais. (American Marketing Association – AMA,

1960 apud COBRA, 1997). Por outro lado, Manzo (1996, p. 20) ressalta que no marketing “é

preciso conhecer primeiro o que o consumidor necessita ou deseja, estudar a fabricação do

produto que atende a essa necessidade, fabricá-lo adequadamente, distribuí-lo”. Este mesmo

autor observa que “é preciso ensinar o consumidor a consumir o produto”. (MANZO, 1996,

p.20).

Churchill e Peter (2003) descrevem que marketing consiste em planejar e executar

uma concepção de preço, promoção e distribuição de idéias, bens e serviços, cujo objetivo é a

criação de uma relação de troca que satisfaça metas individuais e organizacionais. Sob um

prisma um tanto simplista, porém bastante operacional, Richers (2000, p.5) define marketing

como sendo “a intenção de entender e atender o mercado”.

Marketing é o processo de planejamento e execução de um composto mercadológico

para uma idéia, a fim de criar e manter uma relação satisfatória aos objetivos individuais e

organizacionais. (SANDHUSEN, 2003). Visto de uma ótica mais ampla, Las Casas (2001,

p.26) conceitua marketing como sendo:

[...] a área do conhecimento que engloba todas as atividades concernentes às relações de troca, orientadas para a satisfação dos desejos e necessidades dos consumidores, visando alcançar determinados objetivos de empresas e indivíduos e considerando sempre o meio ambiente de atuação e o impacto que essas relações causam no bem-estar da sociedade.

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O marketing visualiza no mercado, oportunidades para a comercialização de uma

idéia, seja através da descoberta de uma necessidade ou da criação de um desejo. Este

processo de troca é feito através da permuta entre a empresa e o cliente, onde a moeda de

troca pode variar de acordo com os objetivos organizacionais. Para Churchill e Peter (2003, p.

4) o termo troca é conceituado como sendo “uma transação voluntária entre uma organização

e um cliente, destinada a beneficiar ambos”.

Novamente Kotler, num enfoque mais abrangente, defende que:

O marketing é a análise, o planejamento, a implementação e o controle de programas cuidadosamente formulados para propiciar trocas voluntárias de valores com mercados-alvo, no propósito de atingir os objetivos organizacionais. Depende intensamente do projeto da oferta da organização, em termos das necessidades e desejos dos mercados-alvo, e no uso eficaz da determinação de preços, da propaganda e da distribuição, a fim de informar, motivar e servir os mercados. (KOTLER, 1988, p.20).

Mediante o observado pode-se assegurar que o marketing consiste no processo de

analisar o mercado escolhido como alvo, planejar e implementar ações para penetração e

manutenção de determinado produto neste mercado, além do constante controle para que seja

freqüente a obtenção de resultados positivos para a empresa, cujo objetivo principal é

entender o mercado para conseguir atender as suas necessidades e desejos de forma efetiva.

2.3.1. Posicionamento de mercado

Conforme já observado, quando uma empresa segmenta o mercado e escolhe, nele, um

nicho específico para atender, ela automaticamente aplicará seus esforços de marketing

direcionados a tais indivíduos. Sendo assim, importante, também, é o posicionamento que a

empresa planeja que o produto ou serviço tenha no mercado. Pode-se encontrar sustentação a

esta idéia nas palavras de Kotler; Armstrong (1998, p.174, grifo do autor) quando os autores

sustentam que posicionamento é “a forma como o produto é definido pelos consumidores

quanto aos seus atributos mais importantes – é o lugar que ele ocupa na cabeça dos

consumidores com relação aos produtos concorrentes”.

Churchill e Peter (2003, p.222) também corroboram com esta idéia ao defender que

posicionamento é a “percepção do produto em relação aos produtos concorrentes na mente de

compradores potenciais" Em outras palavras, o posicionamento de um produto é a imagem

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que este produto adquire na memória dos consumidores em relação aos demais produtos da

empresa e, principalmente, em relação aos produtos concorrentes. (ETZEL; WALKER;

STANTON, 2001). Também, Cobra (1997) ressalta a importância do posicionamento para a

análise da percepção do consumidor em relação ao produto e ao seu lugar no mercado, assim

como para um estudo comparativo aos produtos concorrentes. Sob o mesmo prisma,

Sandhusen (2003, p. 251) define posicionamento como “a soma de percepções, favoráveis ou

desfavoráveis, sobre os atributos de um produto baseado na experiência e conhecimento que

os consumidores têm dele”.

Num outro momento Kotler (2003, p.179) defende que “o posicionamento mais eficaz

é o das empresas que descobriram como ser singulares e dificilmente imitáveis” e

complementa defendendo que “nenhum posicionamento dura para sempre. Com as mudanças

nos consumidores, nos concorrentes, na tecnologia e na economia, as empresas devem

reavaliar o posicionamento das suas principais marcas”.

Sendo assim, pode-se constatar que se posicionar no mercado representa a forma como

a empresa deseja que seus clientes reais e potenciais a identifiquem, e devido as constantes

oscilações do mercado é importante que este posicionamento seja reavaliado constantemente,

a fim de manter-se original e diferente da concorrência.

2.3.2. Segmentação de mercado

Devido a sua complexidade o mercado exige um esforço maior quando se pretende

trabalhar um produto específico dentre seus consumidores. Para que as estratégias

mercadológicas utilizadas surtam efeito e sejam melhor absorvidas, faz-se necessário uma

segmentação de mercado. Para Churchill; Peter (2003, p.204) a segmentação de mercado

consiste no “processo de dividir um mercado em grupos de compradores potenciais com

necessidades, desejos, percepções de valores ou comportamentos de compra semelhantes”.

Eztel; Walker; Stanton (2001, p160) corroboram com esta idéia ao assegurar que a

segmentação de um mercado consiste no “processo de dividir o mercado total de um produto

ou serviço em diversos grupos menores, internamente homogêneos”. E esta homogeneidade

deve ser referente aos fatores que influenciam na aquisição do produto ou serviço.(EZTEL;

WALKER; STANTON, 2001). Sendo assim, pode-se constatar que, para a realização de uma

segmentação de mercado é imprescindível conhecer as necessidades do consumidor

escolhido, além de conhecer as suas atitudes e comportamento de compra. (COBRA, 1997).

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Por outro lado Kotler e Armstrong (1998, p.160) assegura que a segmentação de

mercado é a “divisão do mercado em grupos distintos de compradores com diferentes

necessidades, características ou comportamento que possam exigir produtos ou compostos de

marketing específicos”. A segmentação do mercado beneficia a empresa, pois direciona os

esforços de marketing para nichos isolados do mercado, o que propicia um melhor

aproveitamento dos mesmos.(EZTEL, WALKER; STANTON, 2001).

O mercado de um determinado produto não é composto de todas as pessoas que

possuem poder para comprá-lo, entretanto, é composto sim, de um grupo destas pessoas que

sentem atraídas por aquele produto específico (MANZO, 1996).

Para Richers (2000, p.66) a segmentação de mercado “parte da premissa de que o

mercado é formado de parcelas, nunca idênticas entre si, e que compensa, portanto, atacar só

aquelas partes que apresentam um demanda efetiva e intensa para os seus produtos”.

Ao se dividir o mercado em grupos pode-se escolher entre as várias maneiras

diferentes de segmentação, aquela que melhor direcione ao produto ou serviço que se

pretende comercializar. Churchill e Peter (2003) assinalam as seguintes maneiras de se

segmentar o mercado, são elas:

- Segmentação demográfica: Consiste em dividir o mercado tendo por base as

características populacionais, tais como: sexo, idade, raça, renda,

escolaridade, ocupação e família (no que refere ao tamanho e a composição).

Sandhusen (2003, p.244) concorda com os autores ao assegurar que os

“critérios demográficos referem-se a medidas de estados da pessoa [...]”.

- Segmentação geográfica: Representa dividir o mercado baseado em

características como a localização, a densidade e o clima existente em

determinada região. Kotler; Armstrong (1998, p. 162) corroboram com esta

idéia ao defender que a segmentação geográfica “requer uma divisão do

mercado em diferentes unidades geográficas, como países, estados, regiões,

municípios, cidades ou bairros”. E Sandhusen (2003, p.244) complementa

defendendo que “os critérios geográficos se voltam a localização dos

possíveis mercados-alvo e às características distintivas associadas a cada

localidade. [...] se mais de uma área for selecionada, as ofertas podem ser

confeccionadas de acordo com as naturezas e necessidades diferentes entre

elas”.

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- Segmentação Psicográfica: “Processo de dividir o mercado com base em

como as pessoas conduzem sua vida, incluindo suas atividades, interesses e

opiniões” (CHURCHILL; PETER, 2003, p.214). Ou seja, consiste em dividir

o mercado a partir de critérios comportamentais, inclusive utilizando-se de

variáveis que possuem relação direta com comportamento do ser humano,

tais como: valores, personalidade e estilo de vida. (SANDHUSEN, 2003).

Las Casas (2001) complementa defendendo que as variáveis psicográficas

englobam também a personalidade do indivíduo e a sua percepção frente ao

produto a ser oferecido.

- Segmentação por benefícios: Consiste em dividir o mercado a partir dos

benefícios que os que os clientes esperam de um determinado produto.

- Segmentação tendo por base o comportamento de compra: Representa dividir

o mercado de acordo com as características comportamentais de compra dos

consumidores. Fatores como: Freqüência, lealdade à marca e situação do

usuário são levadas em consideração. Sandhusen (2003, p.45) corrobora

afirmando que os “critérios comportamentais definem grupos de mercados-

alvo em termos de como os membros do mercado se comportam como

consumidores diante da oferta de um vendedor [...]”.

Se a área pretendida para atuação for ampla, a empresa deve optar por segmentar

geograficamente e demograficamente o mercado. Por outro lado, se a demanda pelo produto

tiver características de subjetividade e impulsividade, recomenda-se o uso de critérios sociais

e psicográficos para a segmentação, seguida de uma conseguinte análise do estilo de vida e

dos benefícios que os indivíduos desejam do produto. (RICHERS, 2000).

Em decorrência do exposto é certo considerar a segmentação como um processo de

subdividir o mercado em grupos com características e comportamentos distintos, no entanto,

que, internamente sejam compostos de indivíduos semelhantes; sendo estes também

beneficiados pela maior dedicação no atendimento as suas necessidades e desejos.

• Mercado-alvo

Ao segmentar o mercado em grupos menores e com características distintas, as

empresas tendem a direcionar suas atividades para um determinado grupo de contenha o perfil

mais próximo daquele com a empresa deseja trabalhar. Churchill e Peter (2003); Eztel,

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Walker e Stanton (2001), Kotler e Armstrong (1998) e Las Casas (2001) concordam com a

idéia de que o mercado-alvo consiste no grupo específico de pessoas (indivíduos ou

organizações) as quais a empresa escolhe para atender e direcionar seus esforços

mercadológicos. Kotler e Armstrong (1998, p.170) complementam defendendo que tais

compradores devem possuir “necessidade e características em comum”.

Contudo, se pode definir mercado-alvo como sendo uma pequena associação de

pessoas com características em comum, cujas necessidades e desejos foram escolhidos por

uma determinada empresa para serem atendidos.

• Tipos de Mercado

Ao ser segmentado, o mercado dá origem a várias outras subdivisões que se

diferenciam pelos seus agentes e pela forma como as empresas nelas se comportam. Abaixo

serão descritas as consideradas mais relevantes para o estudo em questão:

a) Mercado consumidor: para Kotler e Armstrong (1998); Etzel, Walker e Stanton

(2001) e Las Casas (2001) o mercado consumidor caracteriza-se como sendo o

conjunto de consumidores finais, ou seja, indivíduos ou famílias que adquirem

bens ou serviços para o seu próprio usufruto. Assim sendo, pode-se considerar que

o mercado consumidor é aquele que compra determinado produto a fim de suprir

suas necessidades pessoais.

b) Mercado Organizacional: são geralmente compostos por “fabricantes, setores

comerciais, governos e instituições” (SANDHUSEN, 2003, p.213). Entretanto, são

compostos de um número menor de compradores, quando comparado ao mercado

consumidor. Pode-se encontrar sustentação ao que foi dito nos dizeres de Churchill

e Peter (2003, p.174) quando os autores defendem que “os mercados

organizacionais são compostos de menos compradores do que os mercados de

consumo”. Em contra-partida, apesar do número reduzido o volume das transações

é bem maior, um autor que defende esta idéia é Sandhusen (2003, p.213) quando

menciona que “o mercado organizacional é muito maior que o mercado

consumidor, pois envolve mais transações e duas vezes mais dólares”.

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Dentro de mercados organizacionais autores como Churchill; Peter (2003) e

Sandhusen (2003) defendem a existência, também, dos mercados governamental e

institucional, os quais será dada maior atenção devido à relevância para o estudo em questão.

Operante num âmbito federal, estadual e municipal, o mercado governamental é

geralmente bastante procurado, haja visto o baixo risco oferecido pelo seus integrantes

(governos, principalmente aqueles de países desenvolvidos). Além disto, outro atrativo são as

transações envolvendo valores elevados que estimulam as empresas a competirem num

mercado complexo e burocrático; quase sempre na busca por contas valiosas e novas

oportunidades de negociação (CHURCHILL, PETER, 2003).

Para Sandhusen (2003, p.227) é importante que as empresas interessadas em vender

para este tipo de mercado compreendam a existência de “[...] fatores ambientais,

organizacionais e interpessoais que influem nas decisões de compra do governo”. Este autor

frisa também a possibilidade deste tipo de mercado “sofrer influências de critérios não

econômicos como as necessidades de setores em recessão, a necessidade existente de armas

ou as determinações políticas que favorecem várias clientelas, como as microempresas, os

idosos e os setores protegidos” (2003, p.227).

Em contra-partida, Churchill; Peter (2003) ressaltam um fator bastante importante para

o estudo em questão, ou seja, a abertura existente nos governos de países subdesenvolvidos à

participação de empresas privadas no fornecimento de serviços tradicionalmente oferecidos

por órgãos governamentais. Tais iniciativas (aberturas) tem o objetivo de cortar gastos no

orçamento do governo.

A partir desta abertura, intensificou-se o surgimento de instituições interessadas em

suprir esta carência exposta pelo governo e oferecer a população os serviços por ele

considerados dispendiosos; dando origem ao mercado onde atuam instituições religiosas,

educacionais, de saúde, fundações e organizações sem-fins-lucrativos. (CHURCHILL,

PETER, 2003; SANDHUSEN, 2003).

Esta categoria de mercado gera muita discussão entre os autores, quanto a sua

nomenclatura. Autores como Churchill e Peter (2003) e Sandhusen (2003) estão em comum

acordo ao denominarem este segmento de mercado institucional, entretanto, Fontes (2001)

defende a idéia de segmentar este tipo de mercado em mercado assistencial ou caritário e

mercado social, devido as diferentes formas de atuação. Para este autor, na mesma linha do

mercado comercial existe o mercado assistencial, cujo objetivo principal é a relação de troca

de um bem, sendo como única diferença existente o objeto de troca; no caso do mercado

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comercial, usualmente, este objeto é representado por algum bem material ou serviço

escolhido pelo consumidor, entretanto, no mercado assistencial apesar da similaridade do

processo, o objeto de troca é a sensação de satisfação que o doador sente ao contribuir para

uma causa social.

Fontes (2001, p.24) assegura ainda que:

Tendo uma compreensão mais ampla desse mercado, podemos observar que o número de transações assistencialistas podem ser tão numerosas quanto as transações de outros mercados econômicos. Além disso, no mundo moderno, com as reduções das funções do Estado (entendido como setor governamental) e com a maior “produtividade” do setor privado, a expansão do mercado assistencialista tem sido favorecida.

Por outro lado, conforme Fontes (2001) existe também o mercado social que embora

atue no mercado de assistência social, difere pelo fato de não existir a intenção do benefício

para ambos, mas sim, para a sociedade como um todo. Para este mesmo autor mercado social

“é o único mercado em que, na relação de troca, não é o agente de mudança que “ganha” algo

com a aquisição – por parte do adotante – de um certo produto social ofertado, mas sim, a

sociedade” (2001, p.31). Sendo assim, pode-se assegurar que mercado social prima pelo

benefício social, e não apenas de indivíduos envolvidos numa relação de troca.

Araújo (2005, p.01) corrobora com o autor supracitado ao defender que:

Declarada a reconstrução do Estado sob a ótica neoliberal, assegurando a diminuição e a ação reguladora do aparelho estatal e o incentivo para o estabelecimento de novas relações com a Sociedade Civil organizada, verificam-se dois extremos relativos às ofertas para as inúmeras demandas sociais do Brasil: de um lado, um mercado assistencialista / caritário cheio de vícios do passado, e de outro a busca pela equalização de um chamado mercado social regido pela tríade eficiência / eficácia / efetividade.

Mercado social objetiva proporcionar melhorias na qualidade de vida dos indivíduos,

mediante a mudança de comportamento e aceitação de idéias que contribuam para o bem-estar

social. (FONTES, 2001).

Abaixo serão apresentados os três mercados defendidos por Fontes (2001) a fim de

proporcionar melhor visualização da diferença existente entre eles. A Fig.1 ilustra a relação de

troca existente no mercado assistencialista ou caritário. A Fig. 2, mostra a relação no mercado

comercial e a Fig 3 no mercado social.

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Figura 1: Mercado Assistencial Fonte: Fontes (2001, p.23). Figura 2: Mercado Comercial Fonte: Fontes (2001, p.24) Fonte 3: Mercado Social Fonte: Fontes (2001, p.31).

Assim sendo, pode-se perceber a existência de um mercado em expressiva expansão,

que exerce influência constante sobre os demais mercados por atender a uma fatia, que pode

ser considerada bastante excluída, ora por dificuldade financeiras e orçamentárias, ora por

preconceitos e descaso social. Atuando neste mercado encontram-se empresas que compõem

Doações e Benemerências

Imagem de miséria ou necessidades (produtos assistencialistas).

Detentor de Necessidade

básicas

Benemerente

Produtor Cliente Recursos Financeiros

Mercadorias e Serviços (produtos comerciais)

Agente de Mudança

Adotante

Sociedade

Conhecimento, Atitudes e Práticas (produto sociais)

Benefícios Coletivos

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o chamado terceiro setor, cujo objetivo é suprir as deficiências expostas pelo Estado, as quais

já foram mencionadas anteriormente.

Dado o elevado grau de importância deste setor para a sociedade e para o objetivo

deste trabalho, dar-se-á maior atenção ao seu estudo no item a seguir.

2.4 TERCEIRO SETOR

Apesar de sua constante atuação na sociedade e dos benefícios por ele oferecidos,

pouco se discute a respeito do terceiro setor, por vezes, até mesmo no ambiente acadêmico, o

conhecimento pode ser considerado fraco, dado o seu grau de importância para o

desenvolvimento do tecido social. Alves (2002, p.1) associa tal desconhecimento ao fato de

que “ainda há pouca pesquisa sobre terceiro setor no Brasil e, mesmo aquela que existe, pouco

faz menção às origens do termo e às tradições de pesquisas às quais esta relacionado”.

No desenvolver de sua história, o terceiro setor apresentou períodos que oscilaram da

ascensão inaugural ao ressurgimento, após um período de quedas e desuso presente nos

meados da década de 80. Tais considerações serão, na seqüência, estudadas de forma mais

aprofundada.

2.4.1 Origem do termo

Caracterizado pela dualidade entre conceitos e as constantes alternâncias sobre a sua

definição e abrangência, o terceiro setor tem sua origem marcada pela discordância entre

autores. Entretanto, no que se refere aos primeiros relatos de ações beneficentes – que

compõem as atribuições deste setor – é certo assegurar que sua origem remonta-se a eras

longínquas, onde outrora, antes da era cristã, atuavam as primeiras civilizações egípcias.

Nestas civilizações foi-se constituído um código moral, baseado na justiça social; o qual

contribuiu para o surgimento de ações visando o auxílio ao próximo. (HUDSON, 1999). Este

mesmo autor defende também que foram os profetas judeus os primeiros na formação de

organizações promotoras de campanhas beneficentes.

Porém, conforme Smith (apud ALVES, 2002) a expressão terceiro setor apenas

começou a ser utilizada em meados da década de 70, nos Estados Unidos, cujo objetivo era a

identificação de um setor social, no qual, atuavam organizações que não objetivavam, o lucro

e que visavam produzir ou distribuir bens e serviços públicos.

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A partir de então, diversas atribuições e conceitos foram relacionados ao terceiro setor,

contudo, devido à divergência de idéias, este termo caiu em desuso nos anos 80, dando

margem ao surgimento do setor não-lucrativo. Novamente Smith defende esta idéia quando

atribui a falta de unanimidade entre os autores como incentivo ao desuso do termo, quando se

pretende definir o tipo de atividade não-governamental e não-comercial.

Entretanto, a partir dos resultados do John Hopkins Comparative Nonprofit Sector

Project, o termo terceiro setor ressurgiu como fruto da divulgação uniforme deste termo para

o mundo todo. (ALVES, 2002). Este mesmo autor assegura que tal projeto “tem o objetivo

imediato de mensurar o impacto do Terceiro Setor sobre as economias nacionais [...] e [...]

visa a tornar mais visível o Terceiro Setor, nas diferentes realidades nacionais” (ALVES,

2002, p.6). Assim sendo, pode-se perceber que este projeto teve a finalidade de comparar

reflexos das atividades desenvolvidas por este setor nas diferentes realidades dos países por

ele escolhidos. Inclusive percebe-se que seu objetivo é vislumbrar as múltiplas utilidades do

terceiro setor nas diversas economias existentes.

Acontecimentos, tais como, a crise do Pacto Keneysiano, que resultou na redução do

papel do Estado nas áreas de bem-estar da sociedade mundial, também contribuíram para a

ascensão das atividades voluntárias (FERNANDES, 1994).

No entanto, Salamon (1998) defende que foi devido à convergência das quatro crises

(a crise do Welfare State1 Moderno, a crise do desenvolvimento nos países do terceiro mundo,

a crise do meio ambiente global, a crise do socialismo) e duas revoluções (a revolução das

comunicações e o crescimento mundial dos anos 60), que houve uma redução da atuação do

Estado na provisão do bem-estar social, dando margem ao crescimento das ações de caráter

associativo.

Alves (2002, p.7) defende que foi em virtude da evolução do associativismo que o

termo terceiro setor “pode ser recuperado da literatura dos anos 70, para ser usado como

ponte, para explicar, em termos globais, consideradas muitas das especificidades nacionais

e/ou regionais, a emergência das organizações não-lucrativas”. Dando ao terceiro setor o

termo “guarda-chuva”, no qual, “se preservam, sem misturar-se, muitas diferentes

modalidades de ação e formas de organização” (ALVES,2002, p.7).

No Brasil, da mesma época, é possível observar a formação de sociedades destinadas à

promoção do bem-estar social, como pode ser visto nos dizeres de Oliveira (2004, p.12)

quando assegura que “no Brasil inúmeros projetos foram sendo desenvolvidos para atender as 1 É o Estado de bem-estar estabelecido por países capitalistas, na busca por satisfazer as necessidades básicas do indivíduo, competindo com os princípios do socialismo (ANDERSON, 1995).

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variadas massas de desamparados, desde os miseráveis, os portadores de deficiências, até a

causas ambientais foram temas de ação por parte do voluntariado”. Este mesmo autor

complementa sustentando que “o número de sociedades civis foi aumentado em reação a

diminuição da atuação do governo” (OLIVEIRA, 2004, p.12).

Outro autor que segue a mesma linha e corrobora com esta idéia é Carrion (2000, p.5)

ao defender que no Brasil, na década de 70;

As instituições de caráter filantrópico, e assistencial, se unem aos chamados movimentos sociais e, com o apoio da Igreja, se tornam porta-vozes de problemas locais, assim como, passam a denunciar as situações de repressão, desigualdade e injustiça social

Esta mesma autora complementa, assegurando que este período é marcado pelo

surgimento das Organizações não-governamentais (ONG), que tem papel importante no

cenário político nacional. (CARRION, 2000). Autores como Fischer e Fischer (1994) e

Fernandes (1997) acrescentam defendendo que as organizações não-governamentais têm

origem a partir de movimentos sociais que variam de objetivo, porém quase sempre estão

próximas a movimentos políticos de esquerda.

Oliveira (2004, p.13) contribui assegurando que:

O terceiro setor tem destaque no Brasil exatamente no momento em que a atuação do governo é revisto e que os movimentos e as instituições de cunho político-ideológico cedem espaço para ações voltadas a melhorias da qualidade de vida da população. Verifica-se o descaso com os problemas sociais por parte do Estado, que permite e assiste ao crescimento do terceiro setor, que tem como objetivo diminuir as precárias condições de vida que muitas pessoas são submetidas a passar.

Por outro lado Teixeira (2004, p.3) afirma que no Brasil, “[...] até a bem pouco tempo

era praticamente impossível falar da existência de um “terceiro setor” do país”. Este autor

acrescente ainda que “questões envolvendo o papel do voluntariado, do associativismo ou da

filantropia foram durante muito tempo objeto de pouco interesse, o que demonstra uma

literatura quase nula sobre o tema” (TEIXEIRA, 2004, p.3).

Landin (apud CORREIA, 2005) defende uma ordem cronológica para o

desenvolvimento da sociedade civil e do terceiro setor no Brasil. Tal cronologia é descrita em

seis fases, as quais serão relacionadas a seguir:

1ª fase: Apresenta como cenário o Brasil, do Império à 1ª República, período em que figurava

a imponente Igreja Católica, de onde o país era constitucionalmente vinculado. Nesta época os

recursos, principalmente os privados, eram primeiramente inspecionados pela Igreja. Foi esta

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época, 1543, o berço das primeiras Irmandades da Misericórdia, na capitania de São Vicente,

cujo objetivo era atender aos desamparados (THEODORO, 2005).

2ª fase: Nos meados da época de 30 e 60, período marcado pelo processo de urbanização e

industrialização, uma nova elite econômica veio à tona, favorecendo o fortalecimento do

Estado, tornando-o mais poderoso, além de único detentor do interesse público. No decorrer

deste período, 1935, sob a administração do então presidente Getúlio Vargas foi promulgada

as regras para a utilização do título de utilidade pública federal. Regulamentando a relação

entre Estado e instituições filantrópicas, foi-se criada o Conselho Nacional do Serviço Social,

seguido, anos mais tarde, da criação da Legião Brasileira de Assistência - LBA

(THEODORO, 2005).

3ª fase: Entre a década de 60 e 70, onde se vivia um momento de regime autoritário, que

impedia a participação da população da esfera pública, iniciativas sociais foram lentamente

surgindo e com o propósito de reivindicar a defesa dos direitos e da democracia. Surgindo

então os movimentos comunitários.

4ª fase: No período de transição político brasileira – da ditadura militar para um regime

democrático – as organizações não-governamentais (ONGs), “embrião do terceiro setor”,

cresciam de forma gradual, sustentadas pelo fortalecimento da sociedade civil. A partir deste

episódio, a sociedade brasileira começava a reaver seus direitos constitucionais, que, com a

redemocratização e as eleições diretas, culminaram no surgimento de organizações de

cidadãos que aderiram um relacionamento mais detalhista com o Estado.

5ª fase: O Estado, nos anos 90, começa a reconhecer a importância das ONGs para a

sociedade, bem como, a carga da recursos, experiência e conhecimentos que elas possuem

frente as questões sociais. A partir de então se originou um novo padrão de relacionamento

entre os três setores sociais, materializados pelo GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e

Empresas) que se caracteriza por ser a primeira entidade empresarial do Brasil a tratar sobre

questões sociais.

6ª fase: Esta fase é marcada por dois acontecimentos importantes para o terceiro setor, o “Ano

Internacional do Voluntário”, decretado em 2001 pela Organização das Nações Unidas

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(ONU) e o I e II Fórum Social Mundial, realizado no Brasil. No início do século XXI,

também são observados desenvolvimentos na área social através de incentivos a projetos

auto-sustentáveis, que vão de encontro as tradicionais práticas assistencialistas e dependentes

até então existentes.

Sendo assim, pode-se perceber que o terceiro setor no Brasil surgiu a partir da

iniciativa da sociedade civil de reivindicar seus direitos, inicialmente seguindo uma linha mais

esquerdista devido ao modelo de regime político existente no país daquela época. Entretanto,

observa-se uma constante visão social, destacada com maior intensidade após o período de

redemocratização onde as organizações tornaram-se mais estruturadas, e novos projetos

sociais foram sendo desenvolvidos e uma nova consciência quanto às questões sociais foi

sendo gradativamente conquistada.

2.4.2 Definição do termo “terceiro setor”

Inúmeras variantes conceituais podem ser encontradas sobre o tema terceiro setor.

Muito embora, há bastante tempo se trabalhe a idéia da promoção do bem-estar social,

premissa básica do terceiro setor, pouco se aprofundou em estudos sobre este tema. As

principais divergências encontradas circulam entre o seu conceito e os tipos de empresas as

quais ele engloba.

Fernandes (1994, p.127) define o termo terceiro setor com sendo “[...] um conjunto de

iniciativas particulares com um sentido público” e formado por organizações sem-fins-

lucrativos e não-governamentais, cujo objetivo principal é, mediante o trabalho voluntário,

promover ações de benefício público (FERNANDES, 1997). Seguindo a mesma linha, Alves

(2002) defende que o terceiro setor é um termo - como anteriormente mencionado - do tipo

“guarda-chuva” por abranger variados modelos de organização. Dando sustentação Teodósio

(2002, p.1) corrobora e complementa ao afirmar que este termo é “entendido como o conjunto

de iniciativas da sociedade civil de caráter não-lucrativo, na provisão de políticas públicas de

caráter social”. Assim sendo, é permissível considerar o terceiro setor como a reunião das

organizações que visam o benefício público, através de atividades que promovam o bem-estar

social e que não possuem intenções lucrativas e estejam fora do aparato do Estado e do setor

privado (LEE et al, 1997).

Dado o exposto pode-se observar que o terceiro setor é o meio termo entre o setor

público (Estado) e o setor privado (mercado), devido ao caráter público de suas ações unido

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ao caráter privado de seus agentes. Correia (2005, p.4) defende que “o chamado primeiro

setor é o poder público, ou seja, o Estado. De outra parte, o chamado segundo setor é

compreendido como as organizações do mercado privado, que têm como intuito principal de

constituição o lucro e o enriquecimento do empreendedor”.

O quadro 01 abaixo faz menção a abrangência e características do Terceiro Setor:

Quadro 1: Abrangência e características do Terceiro Setor

Ambiente 1º Setor Estado

2º Setor Mercado

3º Setor Sociedade Organizada

Agente Governo e poderes

públicos Empresas

Organizações não lucrativas, não-governamentais

Finalidade Precípua Regulação Lucro Emancipação e justiça

social

Iniciativa Publicas com fins

públicos Privadas com fins

privados Privadas com fins

públicos Fonte: (BRANDÃO, SILVA E GUADAGNIN, 1998, p.12).

Como se pode perceber no quadro ilustrado anteriormente, os três setores da sociedade

se interligam quando o objetivo-fim é público, ou seja, quando os agentes e os adotantes estão

inseridos no mesmo tecido social. Nesse princípio, cabe ao primeiro setor promover a ordem e

fomentar o desenvolvimento social, ao segundo setor fazer girar a economia e o terceiro setor

reivindicar e disseminar a justiça social.

Correia (2005, p.5) também corrobora ao defender que para ser considerada integrante

do terceiro setor a empresa privada deve possuir:

• Natureza Jurídica – a empresa do terceiro setor, em qualquer de suas modalidades, é sempre de direito privado. • Falta de vinculação ao Poder Público – por não ser órgão público e por não ser integrante do Poder Público, não fica vinculada aos princípios da tutela administrativa, controle hierárquico, da legalidade etc. • Fins não lucrativos – o terceiro setor não objetiva lucros e nem foi esse o motivo de sua criação. • Regime de trabalho – os funcionários das empresas do terceiro setor não possuem vinculo jurídico de trabalho com Poder público, são regidos pelas normas de direito privado, ou seja, pela CLT2, havendo liberdade para fixação de salários.

Seguindo a mesma linha os autores Teodósio e Resende (1999, p.3) defendem que:

O ponto de convergência entre as várias organizações que comporiam o Terceiro Setor parece ser a ausência do lucro como finalidade central em sua orientação gerencial e objetivação de benefícios para toda a comunidade ou grupos populacionais específicos, seja por localização geográfica e/ou

2 Consolidação das Leis do Trabalho - CLT

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convergência de interesses de natureza ideológica, religiosa, racial, de opção sexual, dentre outros.

Apesar disso, pode-se perceber divergências entre as nomenclaturas utilizadas para

definir o terceiros setor, tais divergências ocorrem, muitas vezes, por diferenças culturais.

Autores como Dimaggio e Anheier (1990); Salamon e Anheier apud ALVES (2002)

corroboram com esta idéia ao defender que de acordo com as diferenças culturais é possível

encontrar diferentes denominações para o terceiro setor, tais como: setor de caridade, setor

independente, setor voluntário, organização não-governamental, economia social, filantropia,

entre outros. A seguir, tais termos serão abordados de forma mais aprofundada.

• Setor de caridade: termo bastante utilizado para designar as doações provenientes de

empresas privadas às atividades sociais.(ALVES, 2002).

• Setor Independente: Denominações utilizadas para destacar as organizações que não

mantém vínculos com empresas governamentais ou comerciais (HODGKINSON;

WEITZMAN apud ALVES, 2002).

• Setor voluntário: é o termo que engloba os indivíduos que optam por desenvolver

atividades de forma voluntária, muito embora, ainda existam organizações desta

natureza que são administradas por profissionais, gerando críticas ao termo (BILLIS,

apud ALVES, 2002)

• Organizações não-governamentais: termo adotado pela América Latina como sendo

representante das várias organizações que surgiram a partir de movimentos sociais e

das lutas contra o sistema ditatorial que pairava sobre o continente no decorrer dos

anos 60 e 70 (FERNANDES, 1993).

• Economia Social: termo bastante utilizado pelos franceses como representativo das

organizações que não visão o lucro. (DIMAGGIO; ANHEIER apud ALVES, 2002).

• Setor filantrópico: para Van Til apud ALVES (2002, p.3) o termo pode ser definido de

três diferentes formas. Primeira: “pode ser um processo intencional de ação, serviço e

doação de caráter voluntário, cujo objetivo é a geração de um bem público”, segunda:

“pode ser um conjunto de comportamentos, em quaisquer contextos, que têm por

propósito promover serviços humanitários” e a terceiro e última: “pode ser

compreendida como esfera de atividade institucional, na qual a promoção de bem

público é delegada pela sociedade a organização não governamental”.

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Contudo, vê-se que tais definições servem para oferecer diferentes possibilidades de

nomenclatura para o termo terceiro setor, a fim de contornar possíveis críticas ou associações

a termos pejorativos, capazes de desvirtuar o verdadeiro foco deste setor, ou seja, o de

promover o benefício público.

Quanto a sua abrangência o terceiro setor continua a gerar controvérsias entre autores,

a Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (ABONG) sugere considerar o

terceiro setor com sendo o agrupamento de organizações, tais como as “sociedades civis não-

lucrativas, as associações, as entidades filantrópicas e beneficentes, instituições de caridade,

as organizações não-governamentais (ONGs) e as fundações. (ABONG, 2005)

Já Oliveira (2004, p. 09) defende como integrantes do Terceiro Setor:

[...] as instituições de caridade e voluntariado, as organizações religiosas, as entidades voltadas para arte, lazer, cultura, esporte, as organizações comunitárias, os sindicatos, as associações profissionais, as ONGS (organizações não-governamentais), fundações, e ainda o segmento de cidadãos, que de forma espontânea e voluntária, atuam pelo bem comum.

Entretanto, há autores como Lee et al (1997) e Carrion (2000) que defendem que nem

todas as organizações integrantes ao Terceiro Setor seguem os princípios pré-estabelecidos

vistos anteriormente. Abaixo algumas das organizações pertencentes ao Terceiro Setor:

• Organizações da sociedade Civil: Conforme Lee et al (1997) são constituídas de

instituições, como por exemplo, universidade e colégios privados, que embora utilizem

atividades de cunho social, em alguns casos, visam o lucro. Além de outras instituições

citadas pela autora que nada contribui para o desenvolvimento social.

• Associações: Para Carrion (2000, p.2) “correspondem a grupos de pessoas reunidas

em defesa de seus próprios interesses”. Indo a contra-partida ao interesse público do Terceiro

Setor.

• Entidades Filantrópicas e Beneficentes: Novamente Carrion (2000, p.2) levanta outro

fator relevante, “por mais que seja nítida a opção pelos excluídos, é questionável sua

contribuição à construção da cidadania [...] dado que, não raro, sua ação se limita a doação de

roupas, a distribuição de alimentos, ou a manutenção de abrigo de proteção à indigentes[...]”.

• Fundações: São “as entidades aprovadas e supervisionadas pelo Ministério Público,

para desenvolver um tipo específico de atividade da qual devem prestar contas

periodicamente” (CARRION, 2000).

• Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIPS: Conforme a lei

9.790/99, é caracterizada como OSCIP a entidade que for sem-fins-lucrativos e atender aos

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objetivos sociais, sob as normas estatuárias previstas na lei. Quanto aos objetivos, esta mesma

lei aponta: promoção de assistência social, promoção gratuita da educação e saúde, dentre

outras expressas no art. 3º desta.

Dado a número elevado de entidades pertencentes ao terceiro setor vê-se a importância

de se trabalhar as competências atribuídas as entidades que envolvem este setor da sociedade,

com o intuito maior de orientar quanto a identificação e controle de atuação das mesmas.

2.3.3. As competências atribuídas ao Terceiro Setor

Novamente é possível encontrar inúmeros posicionamentos diferentes acerca das

competências do Terceiro Setor para com a sociedade. As divergências entre as posições

ocorrem frente ao papel do Terceiro Setor, por um lado uma vertente bastante favorável que

vislumbra atividades da sociedade civil, cujo principal objetivo é o investimento social e a

busca por sanar as carências estatais na promoção do bem-estar público. Por outro lado

figuram as dúvidas em torno de possíveis estratégias do Estado em acobertar a sua retirada

gradativa na provisão dos direitos sociais básicos, bem como, a determinação de agendas de

organizações não-governamentais internacionais em países periféricos. (TEODÓSIO, 2002).

Fischer e Falconer (1998, p14) corroboram com esta idéia ao defenderem que:

Na realidade brasileira e talvez possa-se dizer na latino-americana como um todo, as organizações do Terceiro Setor, à semelhança das norte-americanas, atuam nessa faixa difusa que está igualmente distante do setor público e do setor privado, embora exercendo atividades que poderiam estar catalogadas entre os deveres do Estado (Educação, Saúde Pública, Assistência Social) e, simultaneamente, funções que, em teoria, deveriam ser de responsabilidade de agentes sociais e econômicos específicos (geração e emprego e renda, formação e desenvolvimento profissional).

Estes mesmos autores complementam afirmando que “as entidades do Terceiro Setor,

longe de colocarem-se em confrontação, buscam com maior freqüência estabelecer relações

de complementaridade e parcerias com o governo”. (FISCHER E FALCONER, 1998, p.15).

Em decorrência do exposto é possível perceber que as atividades exercidas pelo

Terceiro Setor, nada mais são que as atividades de provisão do bem estar social deixada de

lado pelo Estado, a partir dos ideais neoliberalistas que defendiam a redução de custos obtidos

com a promoção do bem-estar social. Pode-se encontrar sustentação nas palavras de Meireles

e El-Aouar (2002, p.6) quando o autor defende que:

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Tais idéias traziam no seu escopo o enxugamento da maquina estatal por meio de privatizações, desregulamentações, reforma fiscal, descentralização e, principalmente, redução da aplicação de recursos na área social. Essas mudanças foram decisivas, sob essa nova ótica, inclusive por contribuir para realçar as chamadas “ONGS”, organismos não-governamentais sem fins lucrativos, que assumiriam o papel de ocupar espaços, sobretudo no âmbito social, deixados pelos governos que adotaram políticas e estratégias neoliberais.

Dentre estas atividades desempenhadas pelo Terceiros Setor, Teodósio (2002, p.6)

defende que são desempenhadas com o propósito de intervir nas condições sociais, a fim de

proporcionar melhorias para a população. São elas: “controle da execução de políticas

públicas/difusão de valores, execução de políticas públicas, execução autônoma de projetos

sociais e influência nos processos decisórios do Legislativo e Executivo”.

Dado o grau de relevância dos projetos sociais para o estudo em questão, dar-se-á

maior atenção a esta atividade do Terceiro Setor, haja visto a sua importância dos projetos

sócias na relação estabelecida entre a organização adotada para estudo e a sociedade.

No que se refere aos projetos sociais este mesmo autor defende que “é a forma de

atuação mais difícil de se encontrar em estado puro, visto que as organizações do Terceiro

Setor encontram muitas dificuldades de obter recursos para seu funcionamento”.

(TEODÓSIO, 2002, p.9).

Os projetos sociais visam o atendimento a população, o despertar da cidadania e o

incentivo a ação voluntária dos seres humanos. Estas organizações do Terceiro Setor

disponibilizam um ambiente adequado ao exercício da solidariedade na busca por incentivar a

conscientização comunitária. (OLIVEIRA, 2004).

A fim de classificar os tipos de atividades desempenhadas por instituições sem fins

lucrativos, Fernandes (1994, p.27) defende a categorização das instituições em 12 grupos

diferenciados pelo tipo de conteúdo de trabalho. Tais grupos defendidos pelo autor serão

expostos a seguir:

Grupo 1 – Cultura e Recreação (Cultura e Artes, Recreação, Clubes de Serviços); Grupo 2 – Educação e Pesquisa (Educação Primária e Secundária, Educação Superior, Outra Educação, Pesquisa); Grupo 3 – Saúde (Hospitais e Reabilitação, Asilos, Saúde Mental e Intervenção Cítica, Outros Serviços de Saúde); Grupo 4 – Serviços Sociais (Assistência Social, Apoios Emergenciais ou Econômicos); Grupo 5 – Meio Ambiente (Meio Ambiente, Proteção de animais); Grupo 6 – Desenvolvimento e Habilitação (Desenvolvimento Econômico, Social e Comunitário, Habilitação, Emprego e Formação);

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Grupo 7 – Direitos Civis, Defesa de Direitos, Política (Organização de Defesa de Direitos Civis, Lei e Serviços Legais, Partidos Políticos); Grupo 8 – Intermediários Filantrópicos e Promoção de Voluntariado; Grupo 9 – Internacional Grupo 10 – Business, Associações Profissionais, Sindicatos; Grupo 11 – Religião Grupo 12 – Outros.

Frente ao exposto é possível perceber que o Terceiro Setor está em constante

crescimento, abrangendo sua área de atuação para setores até então desprovidos de

atendimento. Porém para o andamento de suas atividades o Terceiro Setor depende de

doações e parcerias que provém principalmente do poder público e do privado. Assim sendo,

a competência na administração e gerenciamento dos projetos sociais oferecidos por este setor

são primordiais para garantir sua manutenção e sustentabilidade. (OLIVEIRA, 2004).

2.3.4. Dificuldades de gerenciamento do terceiro setor

Inúmeros são os desafios enfrentados ao administrar o Terceiro Setor. Tais

problemáticas englobam desde a obtenção de recursos para o desenvolvimento de projetos

sociais até a obtenção de mão-de-obra voluntária para a execução dos mesmos.

Para Serva (1997) e Tenório (1997) um dos maiores desafios enfrentados pelo terceiro

setor circula em torno da dificuldade de obtenção de recursos devido principalmente ao

caráter substantivo de suas ações (promoção social), distantes do modelo econômico-

financeiro desejado pelos organismos financiadores. Teodósio e Resende3 (1999, p.11)

concordam com a idéia dos autores acima citados, ao defender que um dos desafios

enfrentados pelo Terceiro Setor é “a necessidade de adequação a parâmetros de avaliação

determinados por instituições financeiras e fiscalizadoras”.

Salamon (1996) defende a existência de quatro desafios críticos para a sustentabilidade

das organizações inseridos no Terceiro Setor, os quais descreve-se a seguir:

- Desafio da legitimidade: compete na busca pela distinção do terceiro setor

assim como ocorre com o primeiro e segundo setores. Apesar de sua relevância para o

desenvolvimento do tecido social o Terceiro Setor é pouco difundido e, em muitos

3 Pesquisa realizada pelo autores Teodósio e Resende (1999, p.8) junto a três organizações do Terceiro Setor. Constitui-se de um estudo comparativo, cujo objeto de pesquisa gira em torno das práticas gerenciais adotadas por estas instituições, principalmente no que diz respeito aos recursos humanos voluntários.

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casos, é submetido a barreiras quase intransponíveis em alguns países. Este mesmo

autor advoga pela necessidade de tomarem-se passos importantíssimos para a solução

do problema da legitimidade do Terceiro Setor.

Em primeiro lugar o autor defende que “precisamos disseminar amplamente a

informação básica disponível sobre esse conjunto de organizações e assim tirar o

Terceiro Setor das sombras, de um modo sério”.

Dando seqüência é defendido que “o segundo passe seria fazer um sério esforço de

educação pública para conscientizar amplamente a população sobre o Terceiro Setor e

aquilo que ele é capaz de propiciar”.

A terceira etapa da solução proposta seria a busca pela “forma legal” do terceiro setor,

“regulamentos para estender o status jurídico às organizações sem fins lucrativos e

assegurar a elas e a suas contribuintes condições tributárias favoráveis precisam ser

simplificados e tornados automáticos, desde que certas exigências básicas sejam

atendidas”, além do mais, a morosidade no processo de obtenção de certificados que

regularizem as atividades sociais desempenhadas podem ser considerados como outro

desafio para as organizações do Terceiro Setor (TEODÓSIO E RESENDE, 1999).

E por fim sugere-se a “transparência contábil” das organizações sem fins lucrativos,

onde a “prestação pública de contas” é um exemplo sugerido pelo autor. (SALAMON,

1996, p.104-105, grifos do autor).

- Desafio da eficiência: Salamon (1996, p.105) defende que este desafio refere-

se “a necessidade de mostrar a capacidade e a competência do setor”. Ou seja, trata-se

a necessidade de adquirir um gestor competente, capaz de administrar as contingências

existentes neste setor. Treinamento de administradores e infra-estrutura seriam duas

possíveis soluções para a eficiência continua das ações propostas pelo Terceiro Setor

(SALAMON, 1996).

- Desafio da Sustentabilidade: este é o grande desafio do Terceiro Setor, pois o

que inicialmente eram apenas esforços pessoais, públicos ou privados, com o decorrer

do tempo foi adquirindo uma complexidade tal, que, atualmente, vê-se defronte a

graves problemas de subsistência. Além das dificuldades de sustentabilidade

financeira o Terceiro Setor também enfrenta dificuldade no que diz respeito a número

de indivíduos compromissados com as causas sociais por ele defendidas.

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(SALAMON, 1996). Os autores Fischer e Falconer (1998.p.18) corroboram com esta

idéia e complementam ao defender que:

a proposta do desenvolvimento sustentável só se realiza através da superação desses problemas estruturais, mas boa parte dela depende da capacidade de organização e de mobilização da sociedade em torno da elaboração e da implementação de políticas sociais focadas na equidade

- Desafio da Colaboração: Neste desafio o autor agrega três diferentes campos

de colaboração: o Estado (do qual necessidade apoio e cooperação para os trabalhos

desempenhados), o setor empresarial – quando o autor defende que “as instituições do

Terceiro Setor não podem esperar consolidar-se nas sociedades do mundo em

desenvolvimento a menos que encontrem meios de captar a participação e o apoio

empresarial” (SALAMON, 1996, p.108) e entre as próprias entidades do terceiro setor,

que devido a escassez de recursos tornaram-se competitivas entre si. (SALAMON,

1996).

Outro autor de defende esta posição é Teixeira (2004, p.6) quando defende que um dos

principais problemas enfrentados pelo Terceiro Setor é a conscientização da sociedade

quanto a sua participação nas ações sociais desenvolvidas por este setor, nas palavras

do autor, “é necessário ir à luta, organizar-se [...] de forma a contribuir efetivamente

para a solução dos problemas, que são, em última instância de toda a população”.

Complementando as idéias acima citadas Teodósio e Resende (1999, p.10) asseguram

que dos problemas enfrentados pelas organizações do Terceiro Setor encontram-se: “o

provimento de recursos financeiros, à legalização dessas instituições, à obtenção de sede

própria, ao cenário macro-econômico e ao gerenciamento de mão-de-obra voluntária”.

Frente aos desafios até então visto, muito se pode perceber a cerca das adversidades

encontradas por organizações do terceiro setor para manter-se atuante no mercado. Entretanto,

apesar de anos de atuação no mercado, o terceiro setor pouco espaço possui na mídia, talvez

devido ao baixo impacto causado pela atuação social por ele desenvolvida. (OLIVEIRA,

2004). Esta mesma autora, complementa defendendo que “[...] para dar maior transparência

na realização das ações sociais desenvolvidas e dos recursos aplicados, o terceiro setor precisa

divulgar o que faz para a opinião pública e o mercado”.

Dando complemento ao que foi até então visto as autoras Wetzel e Borba (2004, p.01)

e Theodoro (2005) concordam com a idéia de que as instituições que desenvolvem projetos

sociais se apóiam no Marketing Social para o planejamento de suas campanhas sociais. Assim

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sendo, no tópico seguinte deste trabalho serão abordados o marketing social e suas diversas

atribuições às organizações sem fins lucrativos.

2.5 MARKETING SOCIAL

Como já visto até então tudo aquilo que envolve trabalhar com o social gera algumas

divergências, principalmente no que tange a parte conceitual. No marketing social não seria

diferente. Há autores, como Fontes (2001) e Pringle e Thompson (2000) que defendem

conceitos conflitantes que acabam gerando confusão quanto a real definição do Marketing

Social, tais autores embora utilizem o termo Marketing Social em suas obras, estão se

referindo a aplicações diferentes, onde este defende o marketing voltado para a promoção da

imagem de responsabilidade social e aquele advoga para o marketing que visa mudanças

sociais. Diferentemente do que se possa imaginar, quando uma empresa exerce ações de

marketing com a finalidade de agregar valor a um produto oferecido, ela não está exercitando

o marketing social, apenas está atribuindo valor social a um produto comercial, ou por assim

dizer, a empresa continuaria a desempenhar “uma atividade puramente de marketing

comercial com uma estratégia de promoção social”. (FONTES, 2001, p.97).

A este tipo de marketing é dado o nome de marketing para causas sociais, em outras

palavras, é aquele destinado a promover ações de cunho social com o objetivo de

disseminação da idéia de responsabilidade social por parte da empresa praticante. Assim

sendo, é possível encontrar sustentação nas palavras de Pringle e Thompson (2000, p.3)

quando os autores defendem que “o Marketing para Causas Sociais (MCS) pode ser definido

como uma ferramenta estratégica de marketing e de posicionamento que associa uma empresa

ou marca a uma questão ou causa social relevante, em benefício mútuo”. Seguindo a mesma

linha, KOZEL (1997) assegura que “o marketing social cria e administra todo o processo,

cujas ações e resultados passam a construir valores que se agregam aos produtos”.

Esta relação com as questões sociais pode ser feita através de ações “diretas” com o

mercado, ou seja, utilizando seus próprios recursos, ou por intermédio de instituições afins,

engajando-se em projetos ou através de campanhas que visem promover algum benefício para

a sociedade. (PRINGLE E THOMPSON, 2000; WELZEL E BORBA, 2004).

Frente a esta reflexão é possível perceber uma intersecção entre os dois tipos de

marketing, o social e o MCS – onde ambos desenvolvem atividades de cunho social, porém

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com finalidades diferentes – muito provavelmente esta área em comum é a causa de tantas

distorções de nomenclatura, porém, se observada sob um prisma mais amplo, ela pode ser

considerada como uma porta para a atuação mais expressiva das organizações sem-fins-

lucrativos.

Apesar de ambos trabalhar com o social e desenvolver atividades de se certa forma

beneficiem a sociedade, existe uma tênue diferença entre eles como pode ser observado no

quadro 2 a seguir:

Quadro 2: Diferença entre Marketing Social e Marketing Societal

Marketing Social Marketing Societal Utilizado por Organizações não-lucrativas Organizações lucrativas

Fator desencadeador Melhores condições sociais Investimento no social Função principal Mudança social com finalidade

pública Mudança social com finalidade

de retorno Orientado para O benefício público O consumidor

Fonte: Adaptado de Kotler e Levi (1992).

De acordo com o quadro anteriormente descrito se pode perceber que as finalidades

desses dois segmentos do marketing se contrapõem. Muito embora, ambos invistam na

sociedade, os intuitos dessas ações são visivelmente opostos. Enquanto um trabalha para o

bem-estar social, o segundo trabalha com o social ao associar a sua imagem a ele.

Diante disso, distante da idéia de agregar valor social a um produto comercial

encontra-se o marketing social, que visa a estimular uma mudança no comportamento a fim

de promover melhorias para o tecido social. Como pode ser visto nos dizeres de Kotler e

Roberto (1992, p25) quando sustentam que este tipo de marketing é:

[...] uma tecnologia de administração de mudança social, associada ao projeto, à implementação e ao controle de programas voltados para o aumento da disposição de aceitação de uma idéia ou prática social em um ou mais grupos de adotantes escolhido como alvo.

Logo, Theodoro (2005) observa a essência do Marketing social de uma forma bastante ampla,

tal autora a define como sendo:

[...] difundir a qualidade dos serviços prestados por Organizações Sociais, demonstrar o posicionamento no mercado de empresas comprometidas com causas sociais, dar ao governo a possibilidade de promover mudanças de comportamento, por meio de campanhas institucionais, e garantir ao Terceiro Setor mecanismos de captação de recursos.

Assim sendo, é possível assegurar que a intenção legítima das ações de marketing

social concentra-se em demonstrar à sociedade modelos ideais para a promoção do bem-estar

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comum, objetivando incentivar o surgimento de novas opiniões e emoções, capazes de

promover mudanças sócias, tanto comportamentais quanto de responsabilidade social.

(ARAÚJO, 2005).

Como se pode perceber é praticamente impossível trabalhar o marketing social sem

automaticamente mencionar as mudanças provocadas por ele. Sobre mudanças sociais os

autores Kotler e Roberto a relacionam à “[...] mudança de valores e atitudes nas comunidades

e sociedades internas e a criação de novas tecnologias sociais que suscitem as mudanças

desejadas e elevem a qualidade de vida das pessoas” (1992, p1).

O quadro 3 demonstra os tipos de mudanças sociais propostas por Kotler:

Quadro 3: Tipos de mudanças sociais

Tipo de Mudança Descrição

Mudança Cognitiva Tem o objetivo limitado de criar uma mudança cognitiva na

audiência-alvo, através de campanha de informações públicas ou de

educação pública. Considerada relativamente fácil por não procurar

modificar atitudes e comportamento humano. Ex: Campanhas

nutricionais.

Mudança de Ação Procura induzir um número de pessoas a realizar uma ação

específica, num determinado período de tempo. Relativamente mais

difícil que a cognitiva por necessitar do aprendizado e da ação do

mercado-alvo. Ex: campanha de imunização, campanha de

prevenção ao câncer.

Mudança de

Comportamento

Procura induzir a mudança de comportamento, buscando melhorias

no bem-estar individual. Considerada mais difícil que a anterior,

devido à necessidade de ação contínua. Ex: Campanha

antitabagismo.

Mudança de Valor Tem por objetivo mudar a crença de alguém acerca de alguma coisa.

È a mudança mais difícil dado o grau de envolvimento com os

valores sociais básicos do indivíduo. Ex.: Campanha anti-aborto ou a

favor dele.

Fonte: Adaptado de Kotler (1988, p.293-301)

Torna-se visível que cada uma das mudanças defendidas por Kotler obedece uma

escala de profundidade alcançada pelas intervenções sócias junto um indivíduo específico ou

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a sociedade. Em outras palavras, seria o mesmo que os estágios de transformação alcançados

pelos esforços sociais.

Para o desencadeamento de tais mudanças faz-se necessário apontar a sua causa, os

agentes nela envolvidos (ex: governo), o público no qual se observará possíveis mudanças, os

canais de ligação entre os agentes e os adotantes e as estratégias utilizadas para promover a

mudança. (KOTLER e ROBERTO, 1992).

Em contra-partida existem autores como Levy e Zaltman (apud POPADIUK e

MARCONDES, 2000) que defendem a classificação da mudança social em duas dimensões:

de curto e longo prazo e de amplitude social.

Os autores Kotler e Roberto (1992) propõem ainda a utilização de cinco estratégias de

mudança social, para que os resultados pretendidos sejam alcançados de forma mais eficaz.

Veja as quatro primeiras que no quadro 4 abaixo:

Quadro 4: Estratégias de mudança social

Estratégias Definição

Tecnológica Mudança ocorre a partir da modificação, substituição e inovação de um

produto.

Econômica Utilização de fatores econômicos para influenciar a mudança social.

Político-legal Criação legislações específicas para as mudanças sociais, induzindo a

aceitação da mesma por parte do público-alvo.

Educacional Conscientização da população através da formação educacional.

Fonte: Kotler e Roberto (1992, p.20).

A quinta e última estratégia defendido pelos autores é o marketing social, que para

eles é a mais eficaz no planejamento e ação das mudanças sociais. (KOTLER e ROBERTO.

1992). Os autores Ikeda, Campomar e Mendonça (1997) e Popadiuk e Marcondes (2000)

concordam com a ultima estratégia defendida pelos autores acima citados.

Em se tratando das quatro primeiras estratégias apresentadas, pode-se observar a

utilização de eventos do macroambiente para induzir a prática de atividades sociais.

Diferentemente da quinta estratégia que propõe além da análise ambiental o estudo e

compreensão do público-alvo.

Em se tratando de marketing social Vaz (1995, p.280) defende:

É a modalidade de ação mercadológica institucional que tem como objetivo principal atenuar ou eliminar os problemas sociais, as carências da sociedade relacionadas principalmente às questões de higiene e saúde pública, de trabalho, educação, habilitação, transporte e nutrição.

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Contudo, é possível assegurar que marketing social trata-se de um processo minucioso

de análise dos problemas sociais, buscando destacar os focos de resistência à determinada

mudança. Para que então, se possa planejar e estruturar uma campanha capaz de sugerir

propostos e novas idéias a superação de determinada carência social. (VAZ, 1995).

Os autores Kotler e Roberto (1992) e Schiavo (2005) concordam que marketing social

envolve a tecnologia de administrar as mudanças sociais, atrelada à elaboração, implantação e

controle de programas que visem à adoção de uma idéia ou praticas sociais pelos adotantes

escolhidos como alvo.

No que se refere à transposição do marketing tradicional para o marketing social,

Fontes (2001) assegura a existência de duas gerações. A primeira, que teve como precursor

Richard Manoff, intitulado o primeiro a utilizar a expressão “marketing social” em uma obra

literária, em 1985. Tal autor defendia a utilização de “meios massivos de comunicação como

a estratégia fundamental de marketing para a área social”. Já a segunda geração teve como

precursores Philip Kotler e Eduardo L. Roberto, os quais defendiam a utilização de “todas as

ferramentas de marketing para a área social”. (FONTES, 2001, p.80-81).

Um dos questionamentos levantados contra a utilização dos meios massivos de

comunicação está na restrição ao uso de um único “P”, o de promoção, dos 4 “P” existentes

do composto de marketing: produto, preço, praça e promoção. (KOTLER E ROBERTO,

1992). Tal composto de marketing será visto com maior detalhes a seguir, haja visto a

importância ressaltada por Fontes (2001) na utilização do mesmo para a melhor compreensão

dos fatores influenciadores no comportamento.

Antes de adentrar no composto mercadológico, vale ressaltar as diferenças existentes

entre o marketing tradicional e o marketing social levantadas por Kotler (1988). Veja quadro

05 a seguir:

Quadro 5: Diferença entre marketing tradicional e marketing social

Tipo de marketing Objetivos das ações Produto Intuito das ações

Marketing Tradicional Saciar as necessidades e desejos

dos mercados-alvo

Produto e

serviços Obtenção de lucro

Marketing Social

Mudar atitudes e

comportamentos dos mercados-

alvo

Idéias sociais

(representados

através de

serviços ou

produtos).

Atender as

necessidades do

mercado, sem a

obtenção de lucro

Fonte: Adaptado de Kotler (1988)

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Analisando o quadro anterior é possível compreender porque muitas das técnicas de

marketing social são correlatas as do marketing tradicional ou ortodoxo. Porque ambas

objetivam atender a uma necessidade a partir da oferta de um produto e da intervenção junto a

determinado público escolhido como alvo.

Logo, Schiavo (2005) defende uma visão bastante moderna de marketing social,

considerando-o como sendo: “uma metodologia inovadora, capaz de fazer evoluir o modo de

lidar com idéias, atitudes, conceitos, ações, comportamentos e/ou práticas, visando promover

transformações sociais específicas”.

Levando em consideração ao que foi até aqui exposto, pode-se considerar o marketing

social a ferramenta primordial para o desenvolvimento social, dado a sua participação na

promoção de idéias e projetos que visam o benefício comum, quanto a relevância de suas

técnicas de gerenciamento para a desenvolvimento e sustentação das organizações do Terceiro

Setor, que por sua vez são os principais agentes promotores de mudanças sociais.

2.5.1. Composto de Marketing Social

Como já visto anteriormente, a detalhe que diferencia a primeira da segunda geração

do marketing social, defendida por Fontes (2001), esta centrada na utilização de um ou mais

dos “P” existentes do mix de marketing social. Nos próximos itens serão abordados os quatro

“”P”, sendo eles: produto, preço, ponto-de-distribuição e promoção.

•••• Produto

Produto nada mais é do que aquilo que o programa social almeja que se público-alvo

absorva e ponha em prática, ou por assim dizer, é a simples pergunta defendida por Fontes

(2001, p. 86): “O que eu quero que meu público adote (idéia e práticas específicas)?”. Embora

simplista esta pergunta é considerada pelo autor como chave para a visualização daquilo que

se realmente espera de um determinado programa social.

Kotler e Roberto (1992) asseguram que produto social é representado por idéias e

práticas, estando aquelas subdivididas em crenças, atitudes e valores, e estas em ações e

comportamento. Acrescido a elas os autores defendem também a existência de um “objeto

tangível”, que pode ser identificado como um preservativo, por exemplo, utilizado numa

campanha de prevenção as DSTs4. No entanto, Fontes (2001) contrapõem sugerindo que tais

4 Doenças sexualmente transmissíveis.

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objetos devem ser considerados como “tecnologias sociais”, nas palavras do autor, “os objetos

tangíveis, como os preservativos, metodologias educacionais e soro caseiro devem ser

considerados tecnologias sociais, e não produtos sociais”. E justifica-se alegando que “tais

tecnologias facilitam a adoção de um determinado comportamento. Porém, não é objeto que

deve ser adotado, mas a prática” (FONTES, 2001, p.85).

•••• Preço

As questões envolvendo a formação de preço no composto de marketing social

envolvem fatores que, quase sempre, transcendem os limites monetários, englobando aspectos

sociais. Webster (1978, p.119) corrobora com a idéia acima apresentada quando defende que

a formação do preço no marketing social “é mais complexa que aquela que se defronta às

empresas, porque os objetivos são mais complexos, envolvendo o bem-estar da comunidade, e

porque as receitas provêm de uma grande variedade de fontes”. Este mesmo autor

complementa afirmando que “o problema não é somente dar um preço atraente ao serviço

para que aqueles que o utilizam, mas, outrossim, desenvolver uma estratégia de determinação

de preço compatível com os múltiplos objetivos”. (WEBSTER, 1978, p.119).

O preço no composto de marketing social pode ser monetário, quando for necessária

verba para o andamento de uma campanha, ou, como ocorre na maioria das vezes, pode

adquirir aspectos não-monetários; o que exige maior comprometimento da população. Em

outros casos pode-se haver uma utilização conjunta deles. (KOTLER; ROBERTO 1992;

FONTES, 2001).

•••• Ponto de distribuição Ponto de distribuição para o marketing social seria a conexão entre as instituições de

promovem projetos sociais e seu público-alvo. Fontes (2001, p.89) o define como sendo as

“estratégias de aproximação da oferta à demanda”.

Tal aproximação é feita através de canais de distribuição, para os quais deve ser dada

devida atenção na hora de estabelecer o número de intermediários entre a instituição

provedora e o adotante. Kotler (1988, p. 201) concorda com esta idéia ao defender que “os

canais de distribuição deverão ser escolhidos tanto para as pessoas como para os bens e

serviços”. Este mesmo autor complementa assegurando que “normalmente, os canais são

considerados como os meios que descrevem as rotas que impulsionam o produto”.

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Logo, é possível considerar o ponto de distribuição um fator importantíssimo para o

andamento do programa social, em virtude principalmente do seu papel de ponte entre os

agentes e os adotantes. Entretanto, alguns detalhes devem ser lavados em consideração ao

escolher o melhor canal de distribuição a ser adotado.

Kotler (1998, p 204) aponta quatro possíveis problemas a serem analisados na hora da

tomada de decisão quanto a escolha do canal de distribuição. São eles:

O nível e a qualidade do serviço ao cliente: [...] as organizações devem começar seus planejamento de distribuição com um conceito do nível e qualidade de serviço que irão oferecer. O número e a localização de filiais: [...] quantas filiais a serem estabelecidas quão grandes deveriam ser, onde cada uma deveria ser localizada e que especialidade deveria caracterizar cada filial. A utilização e a motivação dos intermediários: Depois de decidir o nível de serviço e o método de distribuição, a organização poderá operar suas próprias filiais ou contratar os serviços de intermediários. O uso de intermediários auxiliares de marketing: [...] diferem dos outros intermediários porque não estão envolvidos em venda direta ou em negociação. As organizações que não visam a lucro devem ficar alerta quanto às novas maneiras de utilizar os intermediários auxiliares.

Fontes (2001, p.89) corrobora com a idéia acima apresentada ao defender que

“diversos programas sociais estabelecem canais de distribuição que podem prejudicar a

execução das atividades de marketing social”.

Contudo, é possível ver a complexidade na escolha do ponto de distribuição para o

marketing social, em virtude principalmente na possibilidade de queda na qualidade do

serviço (no caso mudança social), como observado por Kotler (1988). Em outras palavras, o

objetivo esperado com a implantação de um projeto social deve ser o mesmo nos diferentes

canais utilizados para contato com o público-adotante.

•••• Promoção:

Como anteriormente mencionado, o “P” de promoção, já fora trabalhado na primeira

geração do marketing social, onde se utilizava o marketing de massa para como forma de

divulgação dos projetos sociais. Entretanto, Kotler e Roberto (1992) – como também já

mencionado – defende a utilização de todos o composto de marketing, e no que diz respeito a

promoção estes autores sugerem a utilização da estratégia do marketing boca à boca.

Para Fontes (2001, p.91) promoção é “qualquer estratégia utilizada para aproximar a

demanda à oferta dos produtos sociais”. Para este mesmo autor a aproximação pode ser feita

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“com o aumento dos incentivos para ação do produto social, como também no favorecimento

de mensagens, linguagem e realidades mais próximas do público-adotante”. (2001 p.91).

Complementando o composto de marketing social até então visto, que se caracteriza

pela proximidade com o mix convencional, autores como Kotler e Roberto (1992) e Fontes

(2001) defendem a utilização de mais dois pés, sendo eles: Público-adotante e Pessoal.

Público-adotante: Refere-se aos indivíduos escolhidos como alvo, que nem sempre são

os mesmos que os levantado no processo de segmentação social. Estes indivíduos podem

também exercer influencia exercem sobre os demais, além de possuírem crenças, atitudes e

valores próprios. Por fim o “P” de pessoal, que representa os indivíduos capacitados para o

desenvolvimento de determinado programa social (KOTLER; ROBERTO, 1992 e FONTES,

2001).

Como visto acima, a segmentação de mercado influencia nas tomadas de decisão

acerca das estratégias adotadas para um programa de marketing social. Assim como ocorre

com o marketing tradicional, visto no item 2.3.2 desta pesquisa, a segmentação de mercado

para o marketing social serve de guia para a elaboração do composto de marketing, bem como

das estratégias a serem adotadas pela instituição. Segundo Kotler e Roberto (1992), a

segmentação de mercado deve abordar variáveis relacionadas a características, tais como:

sócio-demográficas e comportamentais. Outro fator importante, levantado por Fontes (2001),

é a necessidade de preceitos éticos e de equidade social serem levados em consideração no

processo de segmentação de mercado.

Contudo, pode-se perceber que a segmentação do mercado social dá horizontes para a

atuação de diferentes projetos sociais, que, regido por estratégias de marketing social, tendem

a promover bem-estar da sociedade, além de subsidiar as instituições sem-fins-lucrativos

inseridas no então Terceiro Setor.

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3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

Nesta parte do estudo serão assinalados os aspectos metodológicos, que consistem

inicialmente da caracterização e da contextualização da pesquisa, seguida dos procedimentos

a serem tomados para a sua realização e os tipos de coletas de dados utilizados para tal. Por

fim, serão apresentados o tratamento e a análise dos dados obtidos.

3.1 Caracterização da pesquisa

O estudo em questão teve característica teórico-empírica, pois buscou confrontar as

idéias expostas em referenciais teóricos com as experiências e práticas observadas. Uma

pesquisa teórico-empírica tem como principal característica à confrontação da visão teórica

com fatos empíricos, ou seja, aqueles vivenciados na realidade. (GIL, 1991).

No decorrer deste estudo foram realizados dois tipos de pesquisa: uma de natureza

qualitativa e outra de natureza quantitativa. Pesquisas de natureza qualitativa caracterizam-se

por permitir anotar, analisar e trabalhar com fatos ou fenômenos sem manipulá-los.

Caracteriza-se também por objetivar o estudo e explicação a fatos, não tomando por base

apenas análises estatísticas e de natureza quantitativa, pelo fato de não analisar o indivíduo de

forma isolada, mas sim, ele inserido num contexto amplo. (SELLTIZ, 1974). Para Barbetta

(1999, p. 22, grifo do autor) “quando os possíveis resultados de uma variável são números de

uma certa escala, dizemos que esta variável é quantitativa. Quando os possíveis resultados

são atributos ou qualidades, a variável é dita qualitativa”.

Em decorrência de uma das pesquisas ter sido de natureza qualitativa, justificou-se a

realização de um estudo de caso, visto que ele permite o estudo mais aprofundado de

fenômenos, inserido num contexto, além de possibilitar o estudo com base em diversos

ângulos. (RICHARDSON, 1985).

A pesquisa foi do tipo exploratória e descritiva, pois se objetivou descrever as

atividades desenvolvidas pelo Centro de Integração Empresa Escola e confronta-las com as

atividades desenvolvidas pelo marketing social, a fim de ressaltar os benefícios da utilização

conjunta dos mesmos, tanto para a organização quanto para a sociedade como um todo.

Mattar (2001, p.18) sustenta que a pesquisa exploratória:

[...] visa prover o pesquisador de maior conhecimento sobre o tema ou problema de pesquisa em perspectiva. Por isso, é apropriada para os

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primeiros estágios da investigação, quando a familiaridade, o conhecimento e a compreensão do fenômeno por parte do pesquisador são, geralmente, pouco ou inexistentes.

Novamente, Mattar (2001, p.23) assegura que “sob a denominação de pesquisas

descritivas, é agrupada uma série de pesquisas cujos processos apresentam importantes

características em comum” E complementa defendendo que “a elaboração das questões de

pesquisa pressupõe profundo conhecimento do problema e ser estudado”.

Gil (1991, p.46) corrobora com esta idéia ao dissertar que “as pesquisas descritivas

têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou

fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”.

3.2 Contexto e participantes

A pesquisa em questão teve dois campos de aplicação distintos, o primeiro deles foi

composto pelos integrantes do departamento social do CiEE/SC – responsáveis pela

elaboração, desenvolvimento e manutenção dos projetos sociais oferecidos pela instituição –

onde foi aplicado a pesquisa qualitativa com técnica de saturação amostral. Neste

departamento existem duas pessoas pertencentes ao quadro de funcionários da instituição e,

mais três funcionários terceirizados, totalizando cinco integrantes. Devido ao número

reduzido, todos foram entrevistados. O segundo grupo foi composto pelos beneficiários dos

projetos sociais oferecidos pela instituição e nestes foi aplicada à pesquisa quantitativa.

No que diz respeito aos projetos sociais oferecidos pelo CIEE/SC pode-se perceber que

na grande maioria deles, o público-alvo concentra-se na faixa etária que compreende a

adolescência e a juventude, o que permitiu deduzir que tais esforços sociais visam promover

mudanças, inclusive, em longo prazo, ou seja, a organização parte do princípio de que se

retirado da marginalidade quando jovem, a pessoa tem maiores chances de produzir

benefícios à sociedade, além de inibir a criminalidade e o descaso social que são resultados

possíveis de serem alcançados trabalhando com todas as faixas etárias.

Dentre os projetos sociais desenvolvidos pelo CIEE/SC encontra-se o carro-chefe da

organização, o programa de estágio – que há bastante tempo é divulgado e difundido entre

população – e destaca-se por ser o responsável pelo reconhecimento e pela solidez

conquistados pelo CIEE/SC no decorrer dos seus anos de experiência. Muito embora, nem

sempre o programa de estágio fosse reconhecido como projeto de cunho social, ele já se

destacava por oportunizar o ingresso ao mercado de trabalho aos jovens estudantes.

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Atualmente o estágio continua a ocupar uma posição à frente dos demais projetos

sociais desenvolvidos pelo CIEE/SC, entretanto, o número de novos projetos vem

aumentando gradativamente, e, inclusive, conquistando o mercado; assim como outrora

ocorrera com o programa de estágio.

Dos projetos sociais, já apresentam números relevantes àqueles realizados em parcerias

com instituições federais e estaduais, como por exemplo, o projeto Adolescente Aprendiz que

é realizado a partir de parcerias com a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil e a

Companhia de Águas de Saneamento – CASAN. Neste projeto o jovem de baixa renda, com

idade entre 14 a 24 anos, é contratado pelo CIEE/SC (sob a legislação do trabalho – CLT)

para desempenhar atividades nos diversos postos de atendimento das instituições supracitadas.

Tais atividades são previamente estabelecidas no convênio acordado entre o CIEE e as

instituições, sendo que todas devem ser elaboradas visando o aprendizado do jovem.

Outros projetos de mesma magnitude são os que visam preparar o estudante para o

mercado de trabalho, através de cursos e palestras sobre assuntos diversos. Nesta linha se

encontram o PIT (Projeto de Iniciação ao Trabalho) e o Consórcio Social da Juventude, que

também possuem a característica de trabalhar exclusivamente com jovens de baixa renda e em

risco social. Nestes projetos são tratados temas pertinentes ao mercado de trabalho e também

assuntos que visam à conscientização dos jovens sobre a dura realidade das drogas, além das

doenças sexualmente transmissíveis e da gravidez precoce.

Completando a gama de projetos desenvolvimentos pela organização encontram-se

aqueles que trabalham com outras faixas etárias, como é caso do projeto Escola de Fábrica,

além dos programas de reforço escolar e dos projetos desenvolvidos junto a detentos, entre

outras campanhas que também contribuem para o desenvolvimento e a melhoria do tecido

social.

Quando ao número de beneficiários varia bastante, haja visto principalmente o elevado

índice de rotatividade em projetos sociais, tais como PIT e Consórcio Social da Juventude.

Em outros cujos integrantes têm vínculo empregatício com a organização a rotatividade

diminui consideravelmente. Abaixo será descrito o número aproximado de beneficiários na

região de Florianópolis.

• Programa de Estágio: aproximadamente 2.983 jovens estudantes;

• Programa Adolescente Aprendiz (CEF, CASAN): 42 adolescentes5;

5 Para fins de pesquisa foram desconsiderados os adolescentes aprendizes do Banco do Brasil devido à inexistência dos mesmos na região estudada.

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• Programa de iniciação ao trabalho – PIT: aproximadamente 1.150 alunos;

• Consórcio Social da Juventude: cerca de 100 jovens inseridos no projeto AROEIRA6

• Escola de Fábrica: 40 alunos nas turmas AENFLO e Koerich Engenharia e

Telecomunicações7.

Muito embora o estágio seja o carro-chefe da instituição, não se considerou, para

pesquisa quantitativa, os beneficiados por ele, pelo motivo deste tipo de programa não

distinguir o público pela sua renda. Com isso, as mudanças são menos visíveis do que aquelas

resultantes dos projetos que trabalham exclusivamente com indivíduos de baixa renda e/ou em

risco social.

3.2.1. Tipo de Amostragem e Cálculo das amostras

Os projetos escolhidos para a realização da pesquisa foram os programas: PIT

(Programa de Iniciação ao Trabalho), Adolescente Aprendiz (CEF e CASAN), Consórcio

Social da Juventude e Escola de Fábrica, por focarem seus esforços numa camada da

população socialmente excluída. Por se tratarem de indivíduos com perfis sócio-econômicos

e culturais muito próximos foram englobados todos (os beneficiados pelos projetos sociais

anteriormente citados) numa única população. Caso contrário, numa análise individual, seriam

dispendidos esforços desnecessários quanto comparados às pequenas diferenças de resultados.

Para a definição do número de envolvidos na pesquisa foi utilizada a técnica de

amostragem. Para a extração da amostra na população foi utilizada a amostragem aleatória

simples que, segundo Barbetta (1999, p.42) consiste no tipo de amostragem onde “cada

elemento da população tem a mesma probabilidade de pertencer à amostra”. Quanto se trata

de população este autor refere-se a “um conjunto de elementos passíveis de serem

mensurados, com respeito às variáreis que se pretende levantar”. (1999, p.37).

Para o cálculo da amostra foram utilizadas as fórmulas sugeridas por Barbetta (1999,

p. 58) onde se tolera um erro amostral, considerado pelo autor como sendo “à diferença entre

o valor que a estatística pode acusar e o verdadeiro valor do parâmetro que se deseja estimar”

(1999, p.57). E fixado para esta pesquisa em 5%.

6 Projeto AROEIRA é denominativo da região de Florianópolis. 7 Associação dos Empresários da Grande Florianópolis - AENFLO E Koerich Engenharia e Telecomunicações tratam-se das contratantes do projeto na grande Florianópolis.

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Fórmulas:

n0 = _ 1 _

E0²

n = __N.n0__

N + n0

Onde lê-se:

n0 – amostra inicial

E0² - Erro amostral tolerável

N – nº de elementos da população

n – nº de elementos da amostra

População: 1332 alunos

Erro amostral: 5%

n0 = __1__ = ___1__ = 400

(0,05)² 0,0025

n = __1332 . 400_ = __532.800_ = 307,62 (aprox. 308 alunos).

1332+ 400 1732

3.3 Procedimentos e instrumentos de coleta de dados

Para esta pesquisa foram utilizados dados primários e secundários. Para Mattar (2001,

p.48) dados primários “são aqueles que não foram antes coletados, estando ainda em posse

dos pesquisados, e que são coletados com o propósito de atender às necessidades específicas

da pesquisa em andamento”. Já dados secundários, segundo o mesmo autor, consistem

naqueles que “já foram coletados, tabulados, ordenados e, às vezes, até analisados e que estão

catalogados à disposição dos interessados”.

Os dados primários consistiram dos resultados da pesquisa aplicada, cuja finalidade foi

atender aos objetivos específicos da presente pesquisa no que diz respeito às contribuições e

aos reflexos de tais projetos sociais na sociedade de Florianópolis. Por outro lado os dados

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secundários utilizados fazem parte do banco de dados da instituição, ou seja, dados

anteriormente trabalhados e que contribuíram para a pesquisa em questão.

Os instrumentos de coleta, de fontes primárias, utilizados para realização desta

pesquisa foram: um roteiro de entrevista do tipo não-estruturado para a pesquisa de natureza

qualitativa, que foi aplicado com os integrantes do setor social da instituição e um

questionário do tipo semi-estruturado para a de natureza quantitativa, aplicado junto aos

beneficiários dos projetos sociais. Para Mattar (2001, p.67) um instrumento de coleta semi-

estruturado é “aquele em que, por exemplo, as questões a serem perguntadas são fixas, mas as

respostas são obtidas pelas próprias palavras do pesquisado”.

Foram aplicadas entrevistas pessoais com os integrantes do setor social, e um

questionário via telefone com os beneficiados. Uma entrevista consiste no método de

comunicação, no qual o entrevistador faz perguntas ao entrevistado e toma nota de suas

respostas. (MATTAR, 2001). Este mesmo autor assegura que entrevista pessoal consiste

naquela “em que o entrevistador e o (s) entrevistado (s) estejam em contato pessoal para a

obtenção dos dados”. (2001, p.75).

Devido ao fato da aplicação dos questionários terem sido feitas via telefone, havendo a

possibilidade de esclarecimento de eventuais duvidas por parte do entrevistado, não foi

realizado pré-teste. Tal decisão foi baseada levando em consideração, também, o curto

período disponível para sua realização.

Os dados de fonte secundária foram extraídos do referencial bibliográfico já

apresentado e dos documentos existentes na organização que foram julgados pertinentes para

o estudo em questão.

3.4 Tratamento e análise dos dados

Os dados obtidos por meio da entrevista, na pesquisa qualitativa, foram analisados

separadamente e em conjunto. Por outro lado, os dados obtidos através dos questionários

aplicados foram analisados através do software Excel 2003 da Microsoft, além de outros

instrumentos necessários, a fim de se encontrar a média das respostas obtidas.

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4 RESULTADOS

Nesta etapa do estudo, serão apresentados os resultados obtidos por meio das

pesquisas. A seqüência utilizada para apresentação dos resultados obedece à ordem que foram

dispostos os objetivos específicos nas páginas iniciais.

4.1 Principais atividades de Marketing Social encontradas na teoria

Como já presenciado no item 2.5.1 deste trabalho, apesar das persistentes

controvérsias acerca de sua nomenclatura e conceito, pode-se assegurar – baseados num

número expressivo de renomados autores, tais como, Kotler e Levi (1992), Fontes (2001),

Theodoro (2005) e Schiavo (2005) – que o objetivo-fim do marketing social é gerar mudanças

e promover melhorias na qualidade de vida e no bem-estar da sociedade. Para tanto, o

marketing social utiliza de atividades bastante correlatas àquelas utilizadas no marketing

tradicional, porém, moldadas as necessidades presentes numa organização sem-fins-

lucrativos.

Antes da elaboração de quaisquer atividades de marketing social, autores como,

Theodoro (2005) e Fontes (2001) defendem a necessidade de elaborar uma pesquisa junto ao

público que se pretende atuar. Theodoro (2005) defende a subdivisão desta pesquisa em duas

categorias: “1) Pesquisas mercadológicas sociais para o reconhecimento ou promoção do

nível de demanda. 2) Pesquisas técnico-científicas para o levantamento do nível de

necessidade de produtos sociais e vinculação com as políticas públicas”. Ambas podem ser

qualificadas como: pesquisas quantitativas, que visam identificar diferentes níveis de

demanda, a partir de frações numéricas, e qualitativas que objetivam identificar as atitudes e

comportamentos do público pesquisado (THEODORO, 2005, p.09).

Como benefícios oferecidos por tais pesquisas, Theodoro (2005) ressalta a elevação do

grau de confiabilidade e legitimidade dos projetos sociais oferecidos, além da possibilidade de

criação de indicadores de monitoramento. Esta autora também ressaltou a possibilidade de

elaboração de um plano de marketing social envolvendo os principais agentes de interação e

por fim: a melhor visualização da relação custo x benefício social.

O quadro 06 a seguir ilustrar as etapas e as atividades deste tipo de marketing,

defendidas por alguns autores.

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Quadro 06: Estágios, atividades e objetivos fins do Marketing Social

Estágios Descrição das Atividades

Feedback Objetivos-fins

Planejamento

Pesquisar o mercado Elaborar a análise do meio-ambiente; Segmentar público-alvo Elaborar o composto de marketing social; Especificar quem, como e quando serão realizadas as ações de marketing.

Pré-teste Estudar a viabilidade do que foi planejado

Implementação Executar e acompanhar todas as etapas pré-estabelecidas

Avaliação

Avaliar os resultados obtidos com o projeto e realizar o feedback. Incorporando os resultados obtidos aos novos projetos.

• Criar condições de estrutura social;

• Mudança de comportamento;

• Aumentar a consciência do indivíduo e da

sociedade; • Alterar atitudes

Fonte: Adaptado de Kotler e Roberto (1992, p. 39), Weinreich (1999, apud SILVA;MINCIOTTI, 2005, p.05); Marinho e Façanha (2002). Diante as atividades contidas no quadro 06 anteriormente exposto pode-se visualizar

uma similaridade nas ações desenvolvidas pelo Marketing tradicional e o Marketing Social.

Entretanto, os pontos de divergência entre eles são os objetivos fins que, no social,

concentram-se na mudança de comportamento e na fomentação de uma melhor qualidade de

vida para a população.

Na elaboração do composto de marketing social (presente no estágio planejamento do

quadro 06) autores como Weinreich (1999, apud SILVA; MINCIOTTI, 2005, p.05) defende

apenas a utilização dos quatro P’s do Marketing tradicional (produto, preço, praça e

promoção). Contrariando outros autores como Kotler e Roberto (1992) e Fontes (2001), que

defendem a utilização de mais dois P´s: o público-adotante e o pessoal, conforme consta no

item 2.5.1 da fundamentação teórica.

A prévia avaliação, denominada no quadro como pré-teste, é defendido na sua

integridade por Weinreich (1999, apud SILVA; MINCIOTTI, 2005, p.05), onde o autor

defende a importância de sua aplicação para o correto desenvolvimento dos objetivos

planejados. Contudo, pode-se destacar também a importância do pré-teste como forma de

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assegurar que o público-alvo absorverá a mensagem, evitando assim dispêndios

desnecessários.

Outro ponto defendido pelos autores e de crucial importância para uma organização

sem-fins-lucrativos é a avaliação dos resultados obtidos com o projeto social. Fator esse

bastante cobrado pelo governo, pelo empresariado e pela sociedade como forma de prestação

de contas dos investimentos em programas sociais. Empresas sem fins lucrativos necessitam

periodicamente prestar contas à comunidade acerca das atividades de foram desenvolvidas,

dos recursos utilizados e dos resultados obtidos ao longo de determinado tempo.

Para tanto, a avaliação é importante pois contribui para a melhoria dos projetos

existentes, por meio dos conhecimentos empíricos, agregando maior conhecimento aos

programas, no que se refere aos seus sucessos e fracassos, e contribuindo para o objetivo fim,

estabelecido pela instituição. (REIS, 2002 ; FONTES, 2001).

Depois de visualizada as principais atividades de marketing social, serão

demonstrados exemplos da aplicação destas atividades em organizações que na sua essência

não visão o lucro, assim como a organização escolhida para estudo.

4.2 As atividades de marketing social na prática

O quadro 07 a seguir demonstrará exemplos de estudos de caso encontrados em

artigos científicos, que servem para elucidar a viabilidade das ações de marketing social até

então defendidas.

Quadro 07: Atividades de marketing social visualizadas na prática Autores Descrição da Pesquisa

Tema da Pesquisa: A efetividade dos projetos sociais à luz do marketing social Metodologia da Pesquisa: Pesquisa teórico-empírica e um estudo de caso Projeto Social: Programa de Serviço Civil Voluntário (PSCV) Entidade Executora: Em SC: Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI

Wet

zel e

B

orba

(20

04)

Objetivo do projeto: Abrir uma alternativa para aqueles que são excluídos do serviço militar obrigatório.

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Atividades observadas: • Elaboração de um Mix de marketing Social [considerando os 6 P´s propostos por Fontes

(2001)]; • Análise do meio-ambiente: Adequado para o Estado de SC; • Segmentação do Público-alvo: Formadas 24 turmas, somando 607 jovens; • Planejamento: Formulação de matrizes e planos de aula; • Organização, implantação de controle ficam a cargo de uma equipe de profissionais; • Avaliação do programa: Realizada parcialmente pela PANFLOR8, utilizando com

critérios de avaliação: A situação sócio-econômica, situação educacional, preparação para a cidadania e qualificação profissional;

Resultados: “O PSCV atingiu nível ativo, pois alterou, em um grupo mais baixo que o esperado, à indução de novas atitudes dos indivíduos, à partir de informações e vivências dos participantes”. Tema da Pesquisa: A aplicação do marketing social ao planejamento, elaboração e implementação de políticas públicas de saúde na região do ABC Paulista Metodologia da Pesquisa: Pesquisa descritiva e estudo de casos múltiplos Atividades observadas:

• Segmentação do público-alvo. Utilizando dados secundários fornecidos pelo IBGE e Secretaria de Saúde;

• Codificação das mensagens. Objetivando a mudança social por meio da conscientização dos cidadãos em relação aos problemas e causas sociais;

• Utilização de mídias para comunicação com o público-alvo, tais como: folders e faixas; • Veiculação da mensagem; • Comunicação, distribuição e estabelecimento de parcerias; • Avaliação atende as etapas: seqüência dos processos, avaliação dos processos e dos

resultados, propostas por Kotler e Roberto (1992).

Sil

va e

Min

ciot

ti (

2005

)

Resultados: Os resultados indicaram que dentre os quatro estágios : planejamento, pré-teste, implementação e controle, as estratégias e práticas relativas à implementação são adotadas, empiricamente, por todos os municípios. O pré-teste não é realizado por nenhum deles. E o planejamento e controle foram observados apenas no município de São Caetano do Sul. Os tipos de mudanças observadas foram: cognitiva e ação para Santo André e São Bernardo do Campo e para o município de São Caetano do Sul as duas anteriores mais a mudança de comportamento. Artigo: O projeto Hora H: marketing social, preservativos e atitude Objetivo do programa: Engajar homens jovens na promoção do uso de preservativos e de relações mais igualitárias entre homens e mulheres, além da geração de renda. Estratégia: Aumentar a negociação do uso de preservativos nas relações sexuais. Estratégia essa desenvolvida para e com os jovens de Bangu e Ceilândia (representantes da população adotante). Atividades desenvolvidas:

• Pesquisa de mercado; • Desenvolvimento de parcerias; • Formulação do mix de marketing social:

Produto Social: Promover um estilo de vida mais eqüitativo entre os gêneros e o uso de preservativos; Tecnologia Social: Preservativo Hora H; Público Adotante: Homens jovens entre 15 e 24 anos; Pessoal: São os homens jovens que interagem como agentes de mudança na comunidade; Ponto de Distribuição: Local de circulação de jovens; Promoção: Eventos na comunidade e materiais promocionais; Preço social: Alto pela redução do prazer, porém, baixo quando comparado ao benefício da prevenção a DST e a gravidez.

Stu

art (

2005

)

Resultados: Não foram apresentados os resultados obtidos com o projeto, porque se trata de uma proposta.

Artigo: “Acorda Brasil” – A prática do pensamento: Uma experiência real de marketing social

Mor

eir

a (2

005

) Objetivo do programa: Tirar a população do imobilismo diante das imensas questões educacionais; Gerar novos comportamentos, atitudes e práticas

8 Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador

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Atividades desenvolvidas: • Estudo de mercado; • Análise dos custos tangíveis e intangíveis; • Estabelecimento de parcerias; • Divulgação em meios de comunicação de massa (televisão e rádio); • Realização de palestras sobre o tema; • Criação de veículos de contato com o publico: 0800 e serviço e suporte telefônico; • Materiais informativos: Site do programa e boletim-revista.

Resultado: Mudança positiva do comportamento dos pais e responsáveis com relação à participação na vida escolar de seus filhos.

O quadro 07 exposto anteriormente elucidou algumas das possíveis aplicações do

marketing social, encontrados em estudos teórico-empíricos, seja como instrumento para

auxiliar na administração pública, ou como ferramenta para elaboração de um programa de

prevenção, estímulo ou para qualquer outro fim, no entanto que seja público. Com isso, é

possível visualizar de forma mais clara a associação da teoria proposta por autores com a

prática, que em muitas das vezes são moldadas pelas exigências impostas pelo mercado.

4.3 Ações sociais desenvolvidas pelos projetos do CIEE/SC

A premissa de aprimoramento profissional e inclusão social dos projetos oferecidos

pelo CIEE é algo bastante presente no desenvolvimento desta pesquisa. Contudo cabe agora

explanar mais profundamente do que tratam cada um destes projetos sociais. Os dados a

seguir foram extraídos de fontes secundárias.

Inicialmente, o programa de Estágio, que apesar de não ser o foco principal desta

pesquisa, trata-se de um programa desta natureza e também contribui para a inclusão social de

jovens estudantes ao mercado de trabalho. Regulamentado pela lei 6.494/77 e pelo decreto

87.497/82 o estágio é a via de acesso dos estudantes dos ensinos: médio, técnico e superior, ao

mercado de trabalho. Com o intuito de promover a vivência de cada área de atuação e auxiliar

no direcionamento e aperfeiçoamento profissional de cada estudante. O estágio tem uma

história com grandes realizações e efetiva participação no melhoramento da qualidade dos

novos ingressante no mercado de trabalho. No ano de 2005, o CIEE beneficiou 35.600 jovens

e movimentou a quantia de R$ 46 milhões em bolsas-auxílio na economia do Estado.

As empresas, principais parceiros nestes tipos de projetos, totalizaram 3.112 até

dezembro de 2005. As instituições de ensino, maior fonte de extração desses jovens,

totalizaram 1347 neste mesmo período.

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No entanto, os projetos que mais atendem ao perfil do CIEE enquanto instituição

pública de beneficiamento e inclusão social, são aqueles que atendem exclusivamente a

parcela da população que se encontra em vulnerabilidade social. A seguir maiores detalhes

sobre cada um dos programas.

Programa de Iniciação ao Trabalho - PIT

Com a missão de preparar os jovens de baixa renda para a vida profissional, o PIT

beneficiou em 2005, 5.160 jovens distribuídos em todo o Estado de Santa Catarina. Os

critérios para a seleção desses jovens são atendidos por meio do preenchimento de um

questionário sócio-econômico-cultural, que serve como ferramenta de seleção utilizada pelo

departamento social da instituição.

Os cursos ministrados gratuitamente do ano de 2005 foram: A Empresa e a Loja, A

Empresa e o Escritório, Turismo e Hotelaria e Serviços de Camareira. Além de abordarem

sobre os temas pertinentes a área de foco, os educadores complementam com dicas de como

se comportar perante a sociedade, dentro de uma empresa e numa entrevista. Mostram a estes

jovens que os hábitos do dia-a-dia podem contribuir de forma positiva ou negativa para a vida

profissional, dependendo de como eles são. Os cursos do PIT, compreendem uma carga

horária de 60 horas e suas turmas são compostas por 30 alunos.

Consórcio Social da Juventude

Criado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em parceria com a Delegacia

Regional do Trabalho e demais entidades, o Consórcio Social da Juventude objetiva promover

a geração de oportunidades de trabalho e renda aos jovens de baixa renda e em

vulnerabilidade social. O público-alvo deste projeto é: os jovens, com idade entre 16 e 24

anos, em situação de discrepância escolar, em conflito com a lei, em situação de rua ou

abandono familiar, com deficiência, negros, indígenas, portadores de necessidades especiais e

de outros segmentos socialmente descriminados. (Balanço Social, 2005).

Em 2005, foram beneficiados 1200 jovens, sendo que destes 100 foram instruídos pelo

CIEE. As aulas tiveram carga horária de 400 horas, e abordaram temas como: vendas e

atendimento, secretariado e rotinas administrativas e turismo e hotelaria.

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Programa Adolescente Aprendiz

Em atividade desde 2003, o programa Adolescente Aprendiz tem seus princípios

regulados pela Legislação 10.097/2002 e ratificado pela Lei de Aprendizagem. Este programa

visa viabilizar o ingresso ao mercado de trabalho de jovens carentes, na faixa etária de 14 a 24

anos, com renda familiar per capita mensal de até ½ salário mínimo. O programa Adolescente

Aprendiz associa a teoria com a prática, e compreendem módulos e eixos-temáticos que

condizem com as atividades exercidas em organizações parceiras, como: a Caixa Econômica

Federal, o Banco do Brasil e a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento – CASAN.

Durante a realização do programa o adolescente recebe assistência social tanto no

ambiente onde esta desenvolvendo as atividades, quanto na circulo familiar. Recebe 01 (um)

salário mínimo e tem carteira assinada conforme os rigores estabelecidos pela CLT –

Consolidação das Leis Trabalhistas. A duração máxima do programa é de dois anos.

As atividades são dispostas em 04 horas de práticas e 01 hora de estudo. Os módulos

ministrados aos adolescentes envolvem: formação social e ética, responsabilidade social,

educação ambiental, sanitária e sexual, prevenção às drogas, convivência familiar e

comunitária, educação digital, matemática, comunicação e língua Portuguesa. Além de

atividades esportivas, culturais e rotinas bancárias.

Este programa social oferece ainda a possibilidade e educação a distância, atendendo a

uma carência existente no Estado, devido principalmente a grande extensão territorial

latitudinal. São cerca de 40 cidades abrangidas, sendo que este programa continua em intensa

expansão.

Escola de Fábrica

Criado pelo Governo Federal, através do Ministério da Educação – MEC, o Escola de

Fábrica é uma iniciativa que visa garantir a formação profissional a jovens oriundos de

famílias com renda per capita mensal de até 1,5 salário mínimo e estudante (até o ensino

médio). Em 2005, o CIEE foi a única instituição sem-fins-lucrativos habilitada para gerir o

programa. Dentre as atividades incumbidas estão a escolha das empresas a serem parceiras

nesta gestão.

Ao todo, em Santa Catarina, são 120 alunos beneficiados com o Escola de Fábrica.

Além dos cursos profissionalizantes nas áreas de: Vendas e Atendimento, Marketing de

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Produtos, Marcenaria, Construção Civil. Telecomunicações e Metalúrgica, os alunos podem

contar com lanche, uniforme, seguro, materiais, transporte e bolsa-auxílio concedida pelo

Ministério da Educação.

Os cursos acontecem de segunda a sexta-feira, totalizando 600 horas/aula, durante seis

meses. Desta carga horária, 360 horas são destinadas a formação profissional, 120 a formação

da cidadania e 120 para apoio pedagógico.

Os cursos ministrados pelo Escola de Fábrica no ano de 2005 foram: Iniciação

Profissional em Serviços de Telecomunicações, Iniciação em Vendas e Marketing de

Produtos, Iniciação Profissional em Construção Civil, Iniciação Profissional em Atendimento

e Vendas no Varejo e Atacado, Iniciação Profissional em Marcenaria de Portas e Iniciação

Profissional em Metalúrgica. Todos realizados com parcerias com empresas especializadas no

ramo.

No decorrer de 2006 serão ministrados, na grande Florianópolis, os cursos de:

Serviços de Crédito e Cobrança, Serviços de Restaurante (copa e cozinha de pizzaria), vendas

de materiais elétricos e hidráulicos, equipe de segurança e Telefonia.

4.4 Análise dos dados coletados nas pesquisas

No decorrer deste item serão apresentados os resultados obtidos através da aplicação

das pesquisas junto aos gestores dos projetos sociais, onde foi aplicada pesquisa qualitativa,

tendo como objetivo principal extrair diferentes opiniões acerca do reconhecimento do CIEE

perante a sociedade, das contribuições dos projetos sociais para a melhoria da qualidade de

vida da população, dentre outros aspectos considerados relevantes ao objetivo-fim de

pesquisa. A outra pesquisa realizada teve caráter quantitativo, e fora aplicado juntamente aos

jovens beneficiados pelos projetos sociais, de onde se puderam extrair as principais mudanças

oriundas de tais intervenções sociais.

4.4.1. Entrevista em síntese

A seguinte entrevista foi realizada no período de 28 de março a 03 de Abril de 2006,

juntamente com os funcionários do departamento social do Centro de Integração Empresa-

Escola do Estado de Santa Catarina, e teve como objetivo principal extrair informações acerca

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da imagem do CIEE perante a sociedade, do seu papel na relação sociedade-empresa privada

e governo, das mudanças ocorridas nos jovens participantes, em suas famílias e nas

comunidades em que estão inseridos, além de possíveis ações de planejamento e marketing

social adotadas pela organização. Por fim, foi analisada a contribuição do CIEE para o

desenvolvimento dos jovens e para a erradicação da criminalidade e do descaso social.

Análise da entrevista

A história do CIEE foi construída e solidificada em cima do programa de estágio. Em

decorrência disso, seu papel social ficou obscurecido e na retaguarda dessa evolução. O fator

que contribuiu para isso foi o surgimento expressivo de empresas dispostas a oferecer

programa desta natureza, no entanto, nem todas elas eram sem-fins-lucrativos, acarretando na

banalização do estágio, desvirtuando o seu real papel, de oportunizar ao jovem experiência

profissional, para o de dispor para as empresas mão-de-obra barata. Em decorrência disso,

atualmente o CIEE esta se empenhando em destacar mais o perfil social do programa de

estágio e desvincula-lo completamente da antiga imagem..

Quando interrogados sobre essa questão da imagem do programa de estágio e da

compreensão das empresas sobre seu papel social, os entrevistados foram unânimes ao

afirmar que algumas empresas já estão revendo seus conceitos acerca disso. A funcionária 05

atribui à antiga visão de estágio ao fato de se estar inserido numa sociedade capitalista. Esta

mesma funcionária ressalta também a importância de se estar atuante no mercado de trabalho

na era do Capitalismo quando comparado às sociedades antepassadas:

A questão da inserção no mundo do trabalho é de fato um indicativo muito importante na nossa sociedade capitalista. O sujeito, o indivíduo, estar ou não trabalhando, estar ou não inserido como força de trabalho dentro de uma sociedade faz uma diferença muito grande. Muito mais do que em outros modelos de estruturação da sociedade como na época do sistema feudal (FUNCIONÁRIA 05).

Grande maioria das empresas que estão repensando sobre seus valores, está localizada

próxima a comunidades carentes, com isso acabam vislumbrando mais de perto a

desigualdade social e a necessidade de ações urgentes. O funcionário 01 acredita que estas

empresas localizadas nos arredores das periferias abraçam as causas sociais por dois motivos:

“estar tirando eles (os jovens) do tráfico, e estar protegendo suas empresas dentro dessas

comunidades”. Neste aspecto a funcionária 03 defende que esta absorção ocorre em empresas

que possuem maior compreensão quanto à responsabilidade social. Novamente o funcionário

01 defende que os programas de estágio estão tendo um novo significado perante a sociedade

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e ao empresariado graças à realização conjunta dos demais programas sociais (são eles:

Programa de Iniciação do Trabalho, Adolescente Aprendiz, Escola de Fábrica e Consórcio

Social da Juventude), que estão tendo maior visibilidade pelo fato de trabalharem em

parcerias com instituições do governo e com empresas privadas.

Em se tratando da demora do reconhecimento do estágio como projeto social, a

funcionária 05 atrela ao fato de a instituição ter demorado para trabalhar utilizando uma

linguagem social. Em contrapartida o funcionário 04 defende que o CIEE sempre trabalhou

com esta linguagem, tanto que adquiriu seus certificados de filantropia.

Acerca do que foi até então descrito, pode-se perceber que o quê impulsionou o

desvirtuamento do programa de estágio foram às características intrínsecas a sociedade

capitalista e a demora da instituição na adoção de uma linguagem mais social. Contudo,

atualmente as empresas vem adotando posturas mais conscientes em relação às questões

sociais, seja como forma de se proteger dentro de comunidades periféricas, ou como maneira

de promover uma visão mais social.

Retomando os projetos sociais anteriormente descritos: PIT, Adolescente Aprendiz,

Escola de Fábrica e Consórcio Social da Juventude, destacou-se a pré-formatação deles, feitas

pelos órgãos criadores, que em muitas das vezes são instituições do governo. Esta pré-

formatação estabelece o caráter do projeto, o objetivo que se pretende alcançar com o mesmo,

o alinhavo dos temas a serem abordados. Neste tipo de projeto o CIEE entra como

selecionadora e executora, assim com as demais ONG´s também selecionadas pelo Governo.

Dissertando acerca disso o funcionário 01 relata: “Eles (os projetos) já vem de cima para

baixo como sendo de cunho social, com isso a gente só se utiliza de uma rede que é formada

por outras instituições e com a comunidade”. Ao refletir sobre essa rede observa-se o

delineamento da tríade: governo, empresas privadas e organizações sem-fins-lucrativos

agindo dentro de um contexto social.

Com relação à divulgação desses projetos a funcionária 05 faz menção ao uso da

mídia, mas, salienta a falta de ferramentas de marketing, falta preocupação com o foco do

projeto e principalmente a falta de material de divulgação.

Quando solicitado à descrição do objetivo do CIEE com os projetos sociais, a idéia

central foi o desenvolvimento social através da inserção do jovem de baixa renda no mercado

de trabalho. Outros, como a funcionária 03, ressaltaram a importância de se trabalhar

conjuntamente todos os projetos sociais (inclusive o estágio) para que haja continuidade. A

idéia seria trabalhar em círculo, onde o jovem iniciaria participando de um dos projetos de

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capacitação profissional e em seguida buscaria inserção do mercado de trabalho por meio do

programa de estágio, delineando assim, o mercado social proposto por Fontes (2001), onde

empresas do terceiro setor atuam junto ao público-adotante e contribuem para o

melhoramento do tecido social, ou ao menos amenizam os problemas e promovem o bem-

estar social.

Quando questionados sobre a real intenção do governo em participar de tais projetos,

houve algumas controvérsias como por exemplo, alguns funcionários associam essa atitude a

uma forma de repasse de responsabilidades, outros que vêem como marketing político, outros

ainda as associam a falta de know-how para a execução desses projetos. Porém, todos são

novamente unânimes em admitir que essa participação do governo é fundamental para o

sustento e divulgação dessas atividades, e que tais subsídios deveriam ser mais controlados e

melhor cobrados os resultados esperados com os programas.

A respeito da intenção de repasse das responsabilidades do governo o funcionário 01

reporta ao conceito neo-liberalista difundido na década de 90 pelo conselho de Washington,

que defendia a desregulamentação do Estado, onde se defendia idéia de deixar a carga mínima

para os Estados. Meireles e El-Aouar (2002) também associam este fato as políticas

neoliberais, cujas idéias estavam focadas em enxugar as despesas do Estado, uma delas era a

redução de recursos para a área social.

Por outro lado, à funcionária 05 não faz esse juízo acerca do governo e ressalta que é

responsabilidade da sociedade civil participar mais ativamente das políticas públicas:“Nós

somos a sociedade civil organizada, com isso temos a obrigação de propor e executar políticas

públicas”, confirmando o que Oliveira (2004, p.12) assegurou ao dissertar que “o número de

sociedades civis foi aumentado em reação à diminuição da atuação do governo”.

Com relação à conscientização das empresas quanto à natureza dos projetos, percebeu-

se maior preocupação com a responsabilidade social, seguido do interesse em se beneficiar do

preparo inicial que esses jovens têm ao participar de programas de capacitação profissional.

Outro ponto observado foram os incentivos fiscais e a redução dos custos trabalhistas.

Empresas de grande porte tendem a reconhecer os fins sociais destes projetos, e quando isso

ocorre, a procura por alunos saídos de programas específicos é freqüente.

Autores como Tomei e Lerner (1997) e Fossá e Sartoletto (2002) defendem a

associação o termo responsabilidade social a modismo. Por outro lado, autores como

Friedman (1988) e Soares (2002) associam a responsabilidade social ao capital, numa forma

de ganhar lucro a partir de ações sociais. Há ainda quem associe este termo a ética, tais como

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Srour (1998) e Moreira (2002). Entretanto, o conceito que mais corrobora com o observado

pelos entrevistados é o defendido por Ashley et all (2003, p.06-07), para estes autores:

Responsabilidade social pode ser definida como o compromisso que uma organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico, agindo de forma pró-ativa e coerentemente no que tange a seu papel específico na sociedade e a sua prestação de contas para com ela.

Diante da visão de responsabilidade social defendido pelos autores anteriormente

citados é torna-se visível um campo amplo para atuação, na forma de parcerias, das

organizações integrantes do terceiro setor, como por exemplo o CIEE.

Quanto ao seu papel dentro da sociedade o CIEE é visto com um canal de acesso ao

mercado de trabalho e a uma nova concepção de vida e cidadania para a população carente.

Os jovens que adquirem a experiência de realizar um ou mais dos cursos oferecidos pela

instituição, apresentam mudanças de comportamento, atitude, valores que irradiam melhorias

para o círculo familiar e para os outros membros da comunidade. Estes projetos expandem a

visão de mundo desses jovens. A função de traficar e/ou trabalhar na ilegalidade abriu espaço

para o sonho de se tornar cidadão ativos no mercado legal de trabalho. Como relatou um dos

entrevistados, esses jovens tornam-se multiplicadores de conhecimento, de sonho, da idéia de

uma vida melhor. “Nas comunidades tem-se uma revolução, que eu chamo de revolução

branca, onde ao invés de querer ser bandido, eles querem ser adolescente aprendiz”.

(FUNCIONÁRIA 03).

A forma de planejamento adotada pelo CIEE consiste em estratégias emergenciais,

visto que não há uma forma estruturada. Muitas vezes os projetos oriundos do governo vêm

com um espaço de tempo para se adequar e estudar o mercado a ser implantado muito

pequeno. Ora pela urgência de tais ações, outrora pela estrutura enxuta presente na

organização, as formas de planejamento continuam moldadas nas exigências do momento e as

estratégias a serem utilizadas são frutos da agilidade dos funcionários e da capacidade de

adaptação dos mesmos. Esta ausência de planejamento formal acaba prejudicando parte dos

resultados dos projetos. No que se refere a isso a funcionária 03 defende que o planejamento

deve partir também do governo que repassa o projeto e os recursos. Para ela, o governo ainda

“não se vê como um ator desse projeto e sim como um repassador de verbas”.

Quanto à utilização do marketing social, os maiores enfoques foram para a divulgação

dos projetos. Embora em pequena projeção, as mídias mais utilizadas são: Jornal, revistas do

ramo e web-site. Entretanto, estes espaços são utilizados na grande maioria para a divulgação

apenas dos estágios, muito pouco é destinado para os demais projetos. Não foram

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confeccionados folders explicativos sobre eles. A maior fonte de informações sobre os

projetos é o balanço social da instituição, que é elaborado anualmente pelo CIEE/SC e

distribuído para os membros do conselho de administração, funcionários e empresas parceiras.

Uma estratégia bastante utilizada é o estabelecimento de parcerias com órgãos do governo e

empresas privadas.

Contudo, pode-se perceber que por mais que se desenvolva a promoção do bem-estar

social, a mudança social nas suas diversas tipologias, e a inserção do jovem no mercado de

trabalho, dentre outras melhorias que condizem com o perfil do marketing social, o CIEE não

o desenvolve na sua plenitude, ou seja, tais atividades são desenvolvidas apenas de forma

empírica. Com isso, o CIEE pouco usufrui dos benefícios causados pelo marketing social.

No entanto, as contribuições assinaladas pelos funcionários foram – como relatou o

funcionário 04 – muito românticas, pois salientam o desenvolvimento desses jovens enquanto

cidadãos inseridos num círculo social que, por motivos históricos, tendem a agir de forma

contrária. Mostrar a esses jovens, o papel que exercem dentro do tecido social e a valia dessa

mudança para a maior qualificação de suas comunidades. E ao mercado de trabalho a

importância de estarem os absorvendo e quão importantes eles podem ser para o

engrandecimento da empresa., da economia e da população.

4.4.2. Interpretação dos gráficos da pesquisa quantitativa

Na construção do questionário foram levados em consideração os tipos de fontes de

informação, o poder da disseminação dessa informação, as mudanças sofridas e a opinião

crítica dos jovens acerca dos projetos sociais: PIT, Adolescente Aprendiz, Consórcio Social

da Juventude e Escola de Fábrica.

A apresentação dos gráficos obedecerá os critérios acima descritos.

Fontes de informação:

Este critério leva em consideração os meios utilizados para a disseminação de uma

idéia ou prática entre os participantes dos projetos. Tal informação é relevante na tomada de

decisão sobre os veículos utilizados para a divulgação.

O gráfico 01 a seguir os meios de informação citados pelos respondentes.

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Quais outros

3,1%

18,3%0,8%

1,5%

1,5%1,5%

73,3%

Parentes

Outros Projetos Sociais

Escola

Serviços anteriores

Infraero

Banco

Prefeitura

Canais de Informação

4,2%

2,3%15,3%

42,5%35,7%

Por meio da amigos

Por meio de veículos decomunicação

Por meio de representantes dacomunidade

Por meio de representantes doCIEE/SC

Outros

Gráfico 01: Canais de informação Fonte: Dados primários Em se tratando de um projeto social, as formas de divulgação devem ser criteriosas.

Devido principalmente o caráter não lucrativo da organização. Diante disso, pode-se perceber

no gráfico 01 uma polarização dos canais de informação. Aqueles ligados aos veículos de

comunicação e aos representantes das comunidades apresentam resultados inexpressivos (4,2

e 2,3% respectivamente). Uma possível justificativa seria a dificuldade de acesso a esses

veículos tanto por parte dos representantes, quanto dos próprios jovens. Por outro lado, os

amigos e a escola são os meios mais eficazes de divulgação dos projetos oferecidos pelo

CIEE, representam 35,7% e 73,3% respectivamente. Ressaltando que esse último compõe o

grupo denominado outros no gráfico 01, com 42,5%.

A seguir, o gráfico 02 contendo quais outros meios de informação utilizados pelos

jovens atendidos pelos projetos sociais é apresentado.

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Quantidade de pessoas que se interessam pelos projetos a partir da opinião dos alunos

17,5%

25,0%

13,6%

4,5%

39,3%

Nenhuma de 01 a 03 pessoas

de 03 a 06 pessoas de 06 a 09 pessoas

acima de 10 pessoas

Gráfico 02 – complementar: Quais outros. Fonte: Dados primários

Observando o gráfico 02 pode-se observar também a participação dos pais como vias

de acesso a esses projetos. Isso é importante para a permanência dos jovens, haja visto que a

maioria deles são menores de idade. Além do fato de que estas intervenções sociais

abrangerem, também, o círculo familiar desses jovens.

Outro ponto pertinente é a presença das empresas na divulgação desses projetos, ali

representado pelas instituições financeiras, órgãos municipais e do governo. Apesar de

inexpressíveis demonstram possíveis campos de atuação por parte do CIEE.

Poder de disseminação

Gráfico 03: Quantidade de interessados Fonte: Dados primários O gráfico 03 ilustra o poder de disseminação dos jovens. Quando associado o meio de

informação ao número de interessados, representados nos gráficos 01 e 03 respectivamente,

pode-se perceber uma coerência que fortalece ainda mais estes canais como forma de

divulgação. A divulgação na escola (representando 73,3% do gráfico 02) tende a gerar um

interesse coletivo, formando grupos de mais de 10 pessoas, justificando os 39,3% de

ocorrência. Por outro lado, quando a informação e transmitida entre os amigos, o número de

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Áreas de mudança

25,2%

10,0%

13,3%

0,2%0,1%

30,8%

20,4%

Relacionamento com as pessoas Renda Familiar

Disciplina escolar Perspectiva de futuro

Base para uma vida profissional Não trouxe mudanças

Outras

interessados reduz para 01 a 03 pessoas (25%), pois correspondem aos indivíduos inclusos no

circulo pessoal do anunciante.

Tais resultados reforçam a eficácia da estratégia de utilizar o público-adotante como

agente da mudança, conforme observado na prática do projeto Hora H, apresentado por Stuart

(2005).

Mudanças sofridas

Gráfico 04: Áreas de mudanças Fonte: Dados primários

Tabela 01: Quais outros.

Fonte: Dados primários

Por se tratar de projetos que visem à inserção social e a promoção de uma melhor

qualidade de vida para jovens menos favorecidos da sociedade. O gráfico 04, reproduz

resultados já esperados em projetos dessa categoria, tais como: a ampliação do diâmetro do

círculo social através da melhoria do relacionamento com as pessoas (25,2%), refletindo

também numa melhor conduta escolar (13,3%), que contribui para a ampliação da visão de

mundo e futuro desses jovens (20,4%), originada principalmente pela base profissional

Quais outras Ocorrências Proporção Poder de argumentação 1 50,0% Relação com oficiais

(justiça) 1 50,0%

TOTAL 2 100%

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Mudanças observadas pelos entrevistados

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

Capa

citaçã

o P

rofissio

nal

Criativid

ade

Co

mo s

e c

om

port

ar

num

a

entr

evis

ta

Co

mun

icaçã

o

Desin

ibiç

ão

Entu

sia

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o

Din

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l

Mod

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Respo

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ade

Se

gura

nça

Confia

nça

Sa

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Resp

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Co

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Se

r crí

tico

Vis

ão p

rofissio

nal

Não

tro

uxe m

ud

an

ças

Mudança

Cognitiva

Fre

qu

ên

cia

Série1

Mudança de

ValorMudança de Ação Mudança de Comportamento

(30,8%) oferecida por projetos sociais, como estes desenvolvidos pelo CIEE. No entanto, tais

resultados servem, também, para demonstrar a eficácia dessas ações e confirmar a idéia de

mudança social, que consiste no objetivo-fim tanto de organizações sem-fins-lucrativos

quanto do marketing social, como defendem os autores Kotler e Roberto (1992) e Fontes

(2001).

Além de dar uma base para uma vida profissional, de promover o aumento do ciclo

social, tais projetos auxiliam também na melhoria da renda familiar. Este incremento

financeiro é resultado quase sempre da efetiva inserção do jovem no mercado de trabalho.

Com isso, naturalmente a visão de futuro torna-se mais ampla, a conduta mais consciente. E

daí surge às mudanças sociais, como já visto anteriormente.

Na seqüência, o gráfico 05, de apresenta as modificações observadas pelos próprios

participantes, relacionadas às mudanças sociais defendidas por Kotler e Roberto (1992).

Gráfico 05: Mudanças observadas pelos entrevistados Fonte: Dados primários

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Ao observar os resultados apresentados no gráfico 05, pode-se perceber com clareza

que a comunicação é o ponto de maior mudança entre os participantes, representando 21,6%,

seguindo pela capacitação profissional (13,9%) que é um dos objetivos dos programas

oferecidos pelo CIEE/SC.

Os fatores, assinalados pelos entrevistados, como influenciadores de tais mudanças

foram: a convivência com diferentes pessoas e diferentes classes sociais, as dinâmicas de

grupo aplicadas em sala, o estímulo às discussões em grupo (debates), a novas amizades, a

abordagem sobre temas transversais, a apoio familiar, a compreensão e a boa vontade dos

educadores e, inclusive, a vontade própria dos participantes.

Todas as mudanças observadas na pesquisa atendem a um tipo específico de mudança

defendida por Kotler e Roberto (1992), com isso pode-se concluir que os projetos sociais

acarretam mudanças em todas as áreas propostas pelo marketing social. Souza (et al, 2002)

defende possibilidade de se trabalhar com todas as mudanças sociais em conjunto,

corroborando com o que foi visualizado no gráfico 05, onde é possível constatar que, apesar

de não explorar as ferramentas de marketing social, conforme assegurado pela funcionária 05,

os reflexos da intervenção social do CIEE junto a essas populações carentes garantem o

atendimento a todas as mudanças sociais propostas por este segmento do marketing.

Por exemplo, a mudança cognitiva, que visa à passagem da informação ou o nível de

conhecimento da população a respeito de um determinado produto (KOTLER; ROBERTO,

1992) está sendo observado no aumento da capacitação profissional do jovem, nas técnicas de

como se comportar numa entrevista (13,3%) e até mesmo no estímulo a criatividade (0,3%).

A mudança de ação é percebida pela maior desenvoltura ao comunicar-se, o

desprendimento nas relações inter-pessoais – representando no gráfico 05 pela perda da

inibição (10,5%), pelo aumento do entusiasmo (3,6%) e pelo aumento do dinamismo (1,9%) –

e consecutivamente a ampliação do círculo social. As mudanças de comportamento estão

representadas na forma com que o jovem, saído do projeto, se põe diante da sociedade, o

modo como dele agir e falar, a paciência e compreensão diante do próximo, a flexibilidade, o

censo de responsabilidade e respeito, a autoconfiança e a segurança.

Contudo, diante de tantas modificações na carga de informações, no jeito de agir e se

comportar o indivíduo torna-se mais crítico e com uma visão de mundo bem mais ampla.

Observa-se com isso uma mudança de valor, onde o jovem começa a fazer juízo das coisas e a

traçar prioridades e começa a se sentir um ser atuante dentro da sociedade.

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Frequência no auxílio ao desenvolvimento pessoal

60,4%

14,6%

24,0%

0,6%0,3%

Sempre

Quase sempre

Às vezes

Quase nunca

Nunca

Frequência com que cria novas oportunidades de trabalho

45,8%

37,7%

14,9% 1,0%

0,6%

Sempre

Quase sempre

Às vezes

Quase nunca

Nunca

Coerência dos conteúdos em relação ao mercado de trabalho

67,9%

25,0%

6,8%0,3%

0,0%Sempre

Quase sempre

Às vezes

Quase nunca

Nunca

Opinião Crítica dos jovens acerca dos projetos sociais

Os gráficos 06,07,08 e 09 a seguir serão analisados em conjunto, visto que todos eles

buscaram levantar a opinião crítica dos jovens sobre os projetos sociais dos quais

participaram.

Gráfico 06: Auxílio no desenvolvimento pessoal Fonte: Dados primários Gráfico 07: Criação de novas oportunidades de emprego Fonte: Dados primários

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Auxílio na melhoria da qualidade de vida da população

0,0%

73,4%

23,7%

1,0%

1,9%

Concordo plenamente

Concordo em parte

Indiferente

Discordo em parte

Discordo plenamente

Gráfico 08: Coerência dos conteúdos Fonte: Dados primários Gráfico 09: Melhoria da qualidade de vida da população Fonte: Dados primários Os gráficos 06, 07, 08 e 09 apresentados anteriormente, buscaram extrair a opinião dos

jovens sobre os projetos dos quais estavam participando. A partir da análise dos resultados

percebeu-se que a maioria (60,4%) dos participantes concorda que o desenvolvimento pessoal

percebido dá-se em conseqüência das intervenções dos projetos sociais. Boa parte deles

(45,8%) concorda que tais projetos viabilizam novas oportunidades de emprego. Os conteúdos

desenvolvidos estão de acordo com as exigências do mercado, ou seja, são aplicáveis, na

opinião de 67,9% dos entrevistados. Mediante a essas mudanças, mais de 70% dos

entrevistados concordado plenamente que os projetos sociais desenvolvidos por organizações

sem-fins-lucrativos contribuem para a melhoria da qualidade de vida da população.

A partir destes resultados pode-se comprovar a elevação do censo crítico e a visão

mais sistêmica desses jovens. Condizendo com os números observados no gráfico 05, mais

especificamente no campo que demonstra as mudanças de valor.

4.4.3. Atividades relativas ao marketing social encontradas no CIEE/SC

De acordo com as informações extraídas nas pesquisas, pode-se constatar que diversas

atividades realizadas pelo CIEE condizem com as defendidas pelos autores Kotler e Roberto

(1992), Weinreich (1999) e Marinho e Façanha (2002).

Abaixo o quadro 08 demonstra bem essa correlação.

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Quadro 08: Atividades de marketing social observadas no CIEE/SC

Estágios Descrição das Atividades

Feedback Atividades Observadas no CIEE

Pesquisar o mercado O CIEE utiliza projetos pré-moldados pelo Governo

Elaborar a análise do meio-ambiente

Não é feito o estudo do ambiente. As adaptações são feitas na medida em que são exigidas

Segmentar público-alvo

Através do preenchimento do questionário sócio-econômico-cultural

Elaborar o composto de marketing social

Produto: Os projetos do CIEE têm como objetivo: promover o desenvolvimento social através da inserção no mercado de trabalho dos jovens carentes; Preço: Maiorias dos projetos possuem subsídios por parte do governo; Distribuição: Diretamente nas comunidades, através dos líderes, entre os próprios jovens ou por meio da Escola; Promoção: Anúncio do Site da organização, jornal e balanço social; Público-adotante: Jovens de baixa renda, em situação de vulnerabilidade social, entre 14 e 24 anos, estudantes (até ensino médio); Pessoal: Atualmente o CIEE conta com: 05 funcionários no setor social, destes 03 são educadores. Porém a instituição contrata educadores terceirizado na medida do necessário.

Planejamento

Especificar quem, como e quando serão realizadas as ações de marketing.

Não há planejamento formal no CIEE, as estratégias geralmente são emergenciais

Pré-teste Estudar a viabilidade do que foi planejado

Não é realizado, devido principalmente a curto prazo estipulado pelo governo

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Implementação

Executar e acompanhar todas as etapas pré-estabelecidas

O controle dos projetos é feito através das auditorias e publicado por meio do balanço social.

Avaliação

Avaliar os resultados obtidos com o projeto e realizar o feedback. Incorporando os resultados obtidos aos novos projetos.

As avaliações são feitas através de reuniões dos conselhos, dos resultados da auditoria e dos balanços sociais dos anos anteriores. O Feedback costuma não ocorrer no CIEE.

Fonte: Dados primários Observando o quadro 08 torna-se evidente que apesar de não trabalhar efetivamente

com as ferramentas encontradas no Marketing social, o CIEE/SC, mesmo que de maneira

empírica, desenvolve ações muito próximas às defendidas por este segmento do Marketing

que objetiva a mudança de comportamento e a melhoria do bem-estar social.

Muito embora, o CIEE não desenvolva tais estratégias de forma consciente, ele

caminha seguindo os rumos do desenvolvimento social, como se planejado fosse. Porém,

inúmeros contratempos poderiam ser evitados se fossem aplicadas às ferramentas de

marketing social.

Conforme já visto anteriormente nesta pesquisa, Vaz (1995) defende que o marketing

social, beneficia a sociedade por atenuar ou eliminar os problemas sociais, as carências da

sociedade, incluindo as originadas por questões trabalhistas e educacionais. A partir das

palavras deste autor, novamente constata-se uma coerência com o objetivo do CIEE, que é o

de promover melhorias no bem-estar social através da inserção no mercado de trabalho.

Então, não só as atividades como os objetivos-fins desta organização são respaldados

pelo que defende este segmento do marketing. Autores como Kotler e Roberto (1992) e

Schiavo (2005) defendem que marketing social engloba justamente as tecnologias de

administrar as mudanças sociais.

Contudo, a partir da adequação das estratégias de marketing social a necessidade da

organização, se tornaria mais fácil enfrentar os desafios, sustentados por Salamon (1996) e

impostos às organizações inseridas no Terceiro Setor.

Abaixo o quadro 09 que exemplifica os desafios e as ações capazes de suavizar e/ou

neutralizar os impactos:

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Quadro 09: Contornando os desafios por meio do marketing social

Principais Desafios Atividades suavizantes (extraídas do

marketing social e das ações do CIEE)

Desafio da Legitimidade

Divulgar os projetos e os seus resultados;

Conscientizar o público do perfil social do

CIEE, bem com o de suas ações;

Desafio da eficiência

Monitorar os resultados obtidos por meio dos

projetos;

Analisar a eficiência dos processos;

Dar retorno dos resultados para os

funcionários e para a população;

Desafio da sustentabilidade

Ampliar as parcerias com empresas privadas

e do governo;

Elaborar outros projetos sociais, agora em

parceria com o empresariado;

Desafio da colaboração Conscientizar a população quanto aos

reflexos positivos ao bem-estar social.

Fonte: Dados primários

Obedecendo ao objetivo-fim desta pesquisa, explanou-se até então as atribuições das

atividades do marketing social para o desenvolvimento das organizações sem-fins-lucrativos.

Como a entidade escolhida para estudo possui uma estrutura que, embora enxuta, atende as

atuais necessidades, foi possível contemplar além do esperado. Muito embora, não se

desenvolva as atividades de marketing social na sua plenitude, as atividades que são

desenvolvidas são moldadas pela urgência do momento, e como relatou a funcionária 03: “O

planejar é essencial, muitas vezes a emergência exigida pelo governo ou pelas empresas, faz

com que esse planejamento seja feito a “toque de caixa”.

Além disso, as mudanças promovidas pelos projetos abrangem todos os estágios

propostos pelo marketing social: Cognição, ação, comportamento e valor. (Kotler e Roberto,

1992). No que se refere aos desafios enfrentados por empresas do terceiro setor, o CIEE, os

contorna com uma certa dose de habilidade e experiência, entretanto, seria melhor trabalhado

se fossem elaborados a partir de estratégias de marketing social.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Incentivado pela lacuna deixada pelo Estado na administração do bem-estar público, o

Terceiro Setor formado pela sociedade civil organizada mobilizou-se com o propósito de

prover melhor qualidade de vida para a população e garantir a igualdade entre os indivíduos.

Um dos caminhos inerentes ao alcance desses objetivos é a mudança de

comportamento. E atendendo a essa necessidade de prover estratégias que auxilie no processo

de provocar mudanças, o marketing social foi criado, A fim de suprir organizações sem fins

lucrativos de tecnologias, que assessorem no projeto, na implementação e no controle de

programas que visem à adoção de alguma prática ou idéia num público-adotante escolhido

como alvo. (KOTLER; ROBERTO, 1992).

Foi com o objetivo de analisar as atribuições do marketing social numa organização

sem fins lucrativos que esta pesquisa foi desenvolvida. Este objetivo foi alcançado através de

um estudo de caso aplicado no Centro de Integração Empresa Escola do Estado de Santa

Catarina – CIEE/SC. Trata-se de uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, de

caráter público federal e municipal que visa à integração do jovem estudante, principalmente

de baixa renda, ao mercado de trabalho.

De caráter teórico-empírico, a presente pesquisa buscou confrontar as informações

extraídas de obras de autores do ramo e confrontá-las com as informações obtidas por meio de

entrevistas realizadas na organização. A metodologia utilizada foi condizente com o caráter

exploratório e descritivo da pesquisa. Sua natureza foi quantitativa para a pesquisa junto aos

beneficiados pelos projetos e qualitativa para aquela realizada junto aos gestores desses

projetos. Para a pesquisa quantitativa foi escolhido como instrumento de coleta um

questionário semi-estruturado, por possibilitar a utilização conjunta de questões abertas e

fechadas. E para a pesquisa qualitativa foi elaborado um roteiro de entrevista.

As pesquisas produziram resultados bastante surpreendentes, que atendem aos

objetivos tanto o geral quanto específicos. Além das fontes primárias, foram utilizadas fontes

secundárias para a extração das informações necessárias.

Como resultado constatou-se que o CIEE/SC, apesar de, ter caráter social desde sua

fundação, atualmente está passando por uma reformulação e reestruturação em suas ações,

passando a centralizá-las mais para o lado social. Tornando-as públicas e buscando tecer uma

rede de parceiros que facilitem e subsidiem suas ações.

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Crescido e fortificado em torno dos programas de estágio, hoje o CIEE planeja

reposiocionar este programa social e centralizá-lo mais no atendimento ao jovem carente,

assim como ocorre com os demais projetos, foco desta pesquisa, que já “nasceram” com esta

finalidade, são eles: Programa de Iniciação ao Trabalho, Adolescente Aprendiz, Escola de

Fábrica, e Consórcio Social da Juventude.

Na opinião dos funcionários do departamento social da instituição, o CIEE representa

para os jovens carentes a via de acesso ao mercado de trabalho e a uma nova visão de mundo.

E para o dito mundo uma nova versão sobre a realidade das periferias e a consciência de que

delas podem sair talentos, tão iguais quantos os outros. Outro ponto relevante e um tanto

intrigante é a opinião acerca da intenção do governo em participar destes projetos sociais,

como já era de se esperar as opiniões divergiram. Porém o consenso repousou sobre o

reconhecimento da importância desta participação, principalmente pelos recursos fornecidos

pelo governo.

Os benefícios gerados pelos projetos são inúmeros e importantíssimos, atendendo a

todos os estágios de mudança: cognitivo, ação, comportamento e valor, defendidos por Kotler

e Roberto (1992). Tais reflexos são observados além dos participantes, abrangendo seus

familiares, seu círculo social, chegando a modificar o panorama de uma comunidade inteira.

A disseminação desses projetos é feita principalmente entre os próprios participantes.

Seja na escola ou na comunidade onde moram, estes jovens acabam se tornando referência

para os demais e impulsionando a adesão de vários outros nos programas. Em outras palavras,

eles acabam se tornando formadores de opinião e multiplicadores de conhecimento. É uma

mudança em cascata, que começa pelo filho, atinge os pais, os vizinhos, a rua e pulveriza por

toda a parte.

Como mencionado anteriormente, este projetos são elaborados pelo governo federal o

por instituições governamentais e geridos por organizações sem fins lucrativos. Com isso, eles

já vêem pré-estabelecidos. Cabendo as ONG´s selecionar o público-adotante e estabelecer as

demais parcerias. Contudo, devido ao pouco tempo disponibilizado, o planejamento do

CIEE/SC torna-se emergencial, não existindo de forma estruturada, servindo apenas para

atender necessidades imediatas.

Muito embora, o CIEE não utilize, consciente e formalmente, o planejamento e as

estratégias de marketing social, ele atende eficazmente seus objetivos. No entanto, não se

pode sublimar o tempo que o CIEE/SC demorou para se posicionar efetivamente como

organização sem fins lucrativos. Pois, até então, apesar dos títulos e das atividades realizadas,

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essas informações praticamente não ultrapassavam as paredes da organização. Entretanto,

para se obter maior rede de contato e parceiros, faz-se necessário se expor como uma

organização do terceiro setor e galgar por reconhecimento e sustentabilidade nesta área.

Comparando as atividades desenvolvidas pelo CIEE/SC, as mudanças que elas causam

na sociedade e os objetivos organizacionais, com as atividades sustentadas pelo marketing

social, podem-se constatar uma coerência natural. Assim sendo, torna-se seguro afirmar que

se introduzidas estas atividades de marketing social no processo organizacional, haveria

melhores condições para se trabalhar as demandas, estudar e controlar os projetos e contornar

os desafios impostos às organizações do terceiro setor, defendidos por Salamon (1996).

5.1 Limitações

Durante a realização desta pesquisa inúmeros contratempos surgiram, desde a

dificuldade de contato com os beneficiados pelos projetos, ao custo elevado das tarifas

telefônicas e o despreparo por parte de alguns respondentes. Bem como, o desgaste físico e

psicológico ocasionado durante a aplicação dos questionários. A escassez de livros sobre o

tema também gerou demora, frustração e, por hora, desânimo.

5.2 Sugestão para novos trabalhos

A partir dos resultados desta pesquisa tornou-se evidente a importância de se trabalhar

com marketing social em organizações sem-fins-lucrativos. Sendo assim, sugere-se:

• Elaborar um plano de marketing social

• Providenciar um estudo de viabilização para a implantação de um departamento de

marketing social no CIEE/SC.

• Ampliar estudos na área de marketing social e societal, a fim de desmistificar

eventuais incoerências e fortalecer a parceria entre empresa privada e organizações

sem-fins-lucrativos.

• Analisar a efetividades do controle das verbas públicas destinadas a elaboração de

projetos sociais.

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6 REFERÊNCIAS

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7 APÊNDICE

Apêndice 1 – Entrevistas na íntegra

Apêndice 2 – Roteiro de entrevista

Apêndice 3 – Questionário

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APÊNDICE 01 – Entrevistas na íntegra

ENTREVISTADO: Funcionário 01

ENTREVISTA REALIZADA EM : 28 de março de 2006, às 08h30’

Então assim, é, primeiro, a questão de a empresa reconhecer o estágio como projeto

social. Né?. Em minha opinião o estágio ainda tem muito daquele caráter de mão de obra

barata. E muitas outras empresas com trabalham com a integração dos jovens ao mercado

de trabalho, trabalham ainda com esta perspectiva de estágio enquanto mão de obra barata,

por questão de previdência social e questões trabalhistas, né? Então, eles ainda não utilizam

muito estágio como ferramenta neste sentido.

Os projetos sociais do CIEE, eles objetivam reverter esta característica também do

estágio enquanto mão de obra barata, mas, sim cunho social e de inserção no mercado de

trabalho. Então ainda acho que as empresas avançaram neste sentido né, muitas empresas já

pensam num estágio hoje como inserção social e como projeto social. E a população, eu

acho que a população que procura pelos estágios é muito relativa, pois se divide em dois

setores: o setor de ensino médio que vem procurar um meio de sobrevivência, como eles

ainda não conseguem se inserir no mercado de trabalho de maneira formal, eles procuram o

estágio realmente pra conseguir ajudar a família e os do ensino superior que vem pra

sustentar a universidade e também pela questão do estágio obrigatório (realmente na

questão de conhecer o que realmente irá ser a tua profissão). E eu acho que isso está muito

ligado a conjuntura que o Brasil vem vivendo hoje. Tem a questão da criminalidade, da

desigualdade social. E as empresas vêem que se elas não absorverem estes adolescentes o

tráfico acaba absorvendo.

Mas, isso é o que vocês estão tentando implantar na mentalidade das

empresas? Ou isso tu já consegues observar nelas?

Já, em algumas empresas já.

Poucas ou grande maioria delas?

Poucas. Principalmente as que estão nos arredores da comunidade de periferias. Eles

tanto absorvem pelo sentido de estar tirando eles do tráfico, quanto de também como de

estar protegendo as suas empresas dentro das comunidades. Geralmente a comunidade não

rouba a própria comunidade. Então eles fazem disso como se fosse também uma forma de

ligação entre eles.

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Um acordo?

É um acordo não declarado

E a população vem realmente buscar isso, a possibilidade de estar ajudando em

casa, estar ajudando na família. Nesta bolsa dos estágios raramente fica com o adolescente

ela sempre vai toda para a questão familiar.

Mas eu estou percebendo que você citando bastante os adolescentes

(nomenclatura utilizada para os jovens carentes dos programas sociais), estes

adolescentes são mais o foco dos projetos sociais (fora programa de estágio). Mas, o

programa de estágio em si ele aborda de ricos a pobres. Então, e as outras empresas

que não “vêem” esta desigualdade social, elas utilizam o estágio mais como mão de

obra barata ainda. Ou você acha que não?

É, isso ocorre principalmente em nível superior, ou muitas ainda tem a consciência

de estar contribuindo com a formação do estudante, mas, muitas ainda se utilizam

realmente como mão de obra barata.

Desde quando o CIEE está conseguindo ser visto como uma ONG e não como

uma agência de estágios?

Isso começou a reverter com os projetos sociais. Pois não se faz projetos sociais se

organização não está inserida no meio social junto das outras ONG´S. E há ainda um

preconceito ainda entre as ONG´S. Algumas ONG´S como por exemplo o GAPA (ou

outras ONG´S mais voltadas à proteção dos direitos humanos) não compreende o CIEE

enquanto ONG que trabalha também com os direitos humanos que é o direito do trabalho,

direito a uma formação profissional então eles não enxergam isso ainda.

É uma caracterização diferente na verdade né?

Sim. E também porque a gente está muito próximo ao público empresarial, com isso

a gente caminhou bastante para o lado dos estudantes.

E vocês estão tentando associar os projetos sociais com os programas de

estágios? Ou irá trabalhá-los de forma paralela?

É, a gente compreende o estágio como estágio final do projeto, depois de ter dado a

formação profissional, depois de ter tirado eles da vulnerabilidade social o estágio é um

caminho de integração no mercado de trabalho

2 – Então, na verdade quando a gente faz as parcerias com órgão governamentais,

no caso do Adolescente aprendiz com a lei da aprendizagem, o Escola de Fábrica que veio

do ministério da educação e o consorcio que vem do ministério do trabalho. Eles já vêm de

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cima para baixo como sendo de cunho social, , com isso, a gente só se utiliza de uma rede

que é formada por outras instituições e com a comunidade para estar buscando estes jovens.

Com isso eles já vêm com a compreensão de que é um projeto social, mas é muito

interessante que muitas vezes a população por não se reconhecer como excluída, isso vira

um status normal para elas sobreviverem para elas aquilo é normal, elas não se sentem

excluídas. Para elas é uma coisa normal foi Deus quem quis assim, ou eu nasci pobre

porque eu não tive capacidade de conseguir chegar lá. Eles não se sentem como vítimas de

um sistema perverso.

Então quando eles vêm, eles já vem – por exemplo, vou dar o exemplo de um

adolescente aprendiz. Existem adolescentes aprendizes hoje que vem de outras instituições

não governamentais, ex: fé e alegria, o próprio GAPA já encaminhou vários, a

Arquidiocese. Então, eles criam como se fosse um vínculo com as instituições sociais,

então eles acham que aquilo se tornou uma coisa normal. Eles institucionalizam a vida

deles.Então quando eles vêm, eles não vem sabendo necessariamente que aquilo é de cunho

social. Para eles aquilo é normal, eles não conseguem fazer estar diferenciação.

Para eles é só um benefício que a comunidade esta dando.

Exatamente. Eles se acostumam a viver de benefícios. Então um dos objetivos dos

projetos sociais, é justamente o de estar muito ligado à emancipação destes adolescentes.

Então eles percebem que aquilo não é algo compensatório, e sim um direito dele, e é um

dever nosso de emancipar o adolescente para que ele saia daqui e não vá para outro projeto

social e sim para o mercado de trabalho. E isso a gente esta tendo bastante êxito assim,

principalmente o programa Adolescente Aprendiz

A gente já tem hoje adolescente que estão na universidade, já temos adolescentes

que estão trabalhando em outros bancos particulares. Então a gente tem bastante desse

retorno.

Também porque é um projeto que mostra mais a prática do que os outros. O

programa adolescente aprendiz já faz essa associação. Então as estratégias em suma

seriam as parcerias com outras empresas?

Sim

3. Todos os projetos visam à formação profissional né?.Então com as outras ONG a

gente visa trabalhar de forma harmônica. Quando se fala em CIEE, se vêem vários CIEE´S,

eu acho que quando a gente trabalha numa instituição governamental a gente traz muita

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bagagem de fora. Com isso, cada um tem um projeto de vida, e a gente tenta juntar todos

estes projetos de vida numa única linha.

O mercado está absorvendo estes adolescentes de uma forma fácil? Estão sendo

bem recebidos os adolescente preparados pelo CIEE?

Quando tu atentes um adolescente com o objetivo social, tu trabalhas justamente

com aqueles que são chamados de publico socialmente discriminados (negro, índios,

portadores de necessidade especiais, ou vindo realmente da periferia) E o mercado de

trabalho ainda barra um pouco eles, principalmente quando se põem endereço, ainda

mesmo com toda essa caminhada do CIEE. Infelizmente o mercado ainda engole estes

adolescentes, eles ainda não os absorvem e compreendem que isso ajuda muito para o

desenvolvimento social da economia. Eles o engolem como uma forma de responsabilidade

social é que vista atualmente como uma estratégia de marketing e propaganda e não como

uma ferramenta social mesmo. Ainda tem muito a caminhar neste sentido, porque muitos

adolescentes que precisam ser inseridos no mercado ainda estão sendo barrados por este

sentido.

4. Então, isso na verdade já é uma ação bem pra trás, né?. Na década de 90 quando

surgiu o Conselho de Washington, que é a questão da desregulamentação dos estados.

Deixar a carga mínima pro Estado. Então o Estado vê nas instituições não governamentais

uma forma de estar contribuindo com esta lógica neoliberal que esta surgindo com vez mais

forte. Né? de responsabilizar a sociedade civil de algo que ela mesma é vítima, entendeu?

Então tem um pouco dessa lógica perversa. E é aí que entra a questão das ONG estarem

contribuindo com o desenvolvimento social, mas não absorverem a obrigação do Estado.

Eu acho que nesse sentido o CIEE vem trabalhando de forma coerente. A gente absorve os

projetos sociais, em parceria, mas em nenhum momento a gente quer ter a obrigação de

estar inserindo eles de forma legitima no ministério do trabalho. Porque por mais que a

gente dê a formação profissional. Hoje o governo fala muito dos projetos sociais, mas, não

gera empregabilidade.

Tu achas que isso é uma escapatória do governo para se sentir menos culpado?

E o que vai gerar a empregabilidade a economia ta sabia o suficiente para absorver

estes adolescentes. Então você tendo maior formação profissional, mas, se a empresa não

tem dinheiro para te contratar. Ela não vai te contratar e não vai te manter no mercado de

trabalho. Então eu acho que nesse sentido tem essa visão do Estado de estar repassando esta

responsabilidade para as instituições, mas ao mesmo tempo há algumas instituições que se

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vêem com a necessidade também de sobrevivência, tem a necessidade desses recursos, mas

que tem a coerência de cobrar do Estado as suas obrigações. Como no caso do CIEE.

Em alguns projetos o Estado contribui financeiramente ou só a concessão de

benefícios?

Contribui sim. Contribui no sentido de ajudar a organização a se estruturar. Neste

sentido as parcerias com o governo são sadias, porque estrutura as organizações, as ampara,

para estar trabalhando com o público-alvo e também, porque são estas instituições que

conhecem melhor o público.. Ninguém melhor para conhecer o público das comunidades

do que as instituições que estão inseridas dentro das comunidades.. Mas, outro fato que

acontece também é certa brinca entre as ONG´S por território, cai um recurso do governo

as ONG´s fecham pau para ficar com isso e aquilo, quem tem mais pobre para absorver.

5. Acho que principalmente na formação profissional, porque é aquela lógica assim

ó, se tu queres ter uma empresa sadia, tu tens que formar bons profissionais e muitos deles

não têm acesso a faculdade, então quer dizer. Os cursos do CIEE estão contribuindo para as

próprias empresas, as empresas estão vendo isso. O que mais esta ajudando agora é o

Escola de Fábrica que faz a parceria entre governo, as empresas, e as entidade sem fins

lucrativos, esses três juntos para alcançar a camada social que vive realmente em

vulnerabilidade social né. E é aquela história! Eles formam profissionais para inserir dentro

da própria empresa. E com isso estas parcerias estão sendo bem efetivas.

E tu achas que este tipo de parceria entre governo, instituições sem fins

lucrativos e empresas tem mais base para desenvolver um trabalho legal?

Acho que tem porque pega os três setores principais. Porque tem o governo que tem

a obrigação de fazer, as empresas que tem a necessidade de absorver, e as instituições que

tem toda essa demanda de jovens para estar sendo inserido.

6 Fazer a ponto entre os jovens e o mercado de trabalho

7 Assim ó! É besteira achar que apenas a economia gira o país, o lado social dele, o

fato de as pessoas estarem necessitando satisfazem as suas necessidades é o que gira um

país. Porque, por exemplo, a grande violência! O grande problema é que ela é tratada hoje

como um crime. Como uma questão de segurança pública e não com uma questão de

exclusão social. Então acho que a partir do momento que as pessoas mais simples,

começarem a ser mais valorizadas, as pessoas começarem a se ver mais como sujeitos

criadores da sua própria história. Acho que as coisas começaram a mudar de rumo. Hoje

por exemplo, há uma grande necessidade de se integrar ao mercado de trabalho sem

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perceber o que é o mercado de trabalho e sem a pessoa se enxergar no mercado do trabalho.

É a questão da alienação do mercado de trabalho. Então eu acho que os projetos sociais

hoje, vêm muito trabalhar neste sentido. No sentido da emancipação, ou seja, da pessoa

perceber enquanto sujeito autônomo que precisa sobreviver. E neste sentido eles entram

para o mercado de trabalho muito mais preparado, porque eles se compreendem nesta

conjuntura toda. Quanto mais a população compreender, mais ela terá para contribuir com

os projetos sociais. E menos terá gente partindo para o lado da violência. Porque na verdade

a violência na verdade é uma resposta da exclusão social, o tráfico é uma resposta da

exclusão social, é um meio de sobrevivência tão (não é legal) mas, é tão legítimo quanto

um trabalho.A pessoa precisa sobreviver, comer e ter dignidade. Daí se cria aquela lógica

de que á porque eu tenho um trabalho honesto, eu cato papel e durmo com a cabeça

tranqüila. Isso é mentira, porque de barriga vazia ninguém consegue dormir com a cabeça

tranqüila. Então o trafico absorve este pessoal, a violência absorve. Então os projetos

sociais vêm com este sentido, de não apenas inserir no mercado de trabalho, mas, também

de fazer a pessoa se compreender enquanto sujeito.

Tem uma comunidade aqui no Chico Mendes, que tem uma rua inteira participou

dos programas de estágio. A rua inteira que poderia ter sido absorvida pelo tráfico, hoje

estão inseridas no mercado de trabalho. E agora a nossa parte a gente fez, agora cabe a

sociedade continuar absorvendo eles. E eles também se valorizar um pouco mais enquanto

sujeitos inseridos no mercado de trabalho. E aí tem a necessidade de desmontar a questão

da mão de obra, de que quem esta ali não é apenas um profissional, mas sim uma pessoa

que tem um projeto de vida e que precisa de um suporte para isso. E se a instituição não dá,

ela saí!. Mas, como a gente já tem uma formação diferente a gente procura outro emprego,

mas, o jovem que saí de uma empresa a única saída dela é o tráfico, pq ele não vai ver os

filhos passando fome. Os projetos sociais têm esse impacto muito grande no sentido de

valorização humana.

9 Na comunidade em geral, porque numa favela o principal autor é o traficante, é

que a pessoa que tem status, que atende eles, que comanda o local. O equivalente a um

empresário, um político. Então quando alguém da comunidade consegue um trabalho

diferente e consegue mostrar que ela pode ser diferente, que ela pode ter um tênis, um

relógio, que ela pode comprar isso legalmente. Ela passa a ser exemplo dentro da

sociedade. Então ela começa a atrair muitas outras pessoas. Entendeu? Então o foco

começa a mudar. Então é nesse sentido que a comunidade inteira começa a ter esse reflexo.

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Hoje esses jovens sonham em ser adolescentes aprendizes, isso mudou a perspectiva

deles que antes era de ser traficante, cobrador de ônibus, frentista. Porque eles achavam que

ele era o máximo da realidade deles. Hoje não, hoje eles querem ser médicos, professores.

Eles criam um novo mundo.

10 Acontecem assim é. Algumas unidade elas tem uma necessidade muito grande se

inserir com entidade não governamentais então acontece de as vezes ter um projeto e não se

encontrar o público necessitado. Daí fica aquela incoerência. No Brasil em que são quase

70% da população vivendo na linda da pobreza. Como não se encontra? Apesar de que o

Sul é a Europa Brasileira, realmente o sul tem umas características onde realmente

necessita se encontrar pessoas carentes. Mas, é feito um pré-estudo sobre aonde e quem a

gente vai atender e também às vezes falta tempo para a elaboração do projeto, a gente faz o

projeto para depois encontrar o publico. A gente absorve o projeto e depois procura o

público.

11 O maior rival do CIEE é o ministério do trabalho justamente na compreensão do

estágio, então o que acontece. Acho que uma das grandes estratégias do CIEE hoje é e

deveria ser um pouco mais forte, é mostrar que o estágio é um meio de inserção social.

Fazer com que os órgãos que regulamentam o estágio estarem percebendo que isso é

um meio de inserção social

12. Vai no sentido de mostrar que existe outro caminho. Cabe a sociedade perceber

que esta errada e dar novas oportunidades para todos. Eles começam a compreender que há

novos caminhos e a compreender que o estagio é um caminho de inserção social, eles vêm

no CIEE e permanecem aqui, pois sabem que aqui é um caminho para essa inserção.

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ENTREVISTADO: Funcionário 02

ENTREVISTA REALIZADA EM: 28 de março de 2006, às 10h30’

1 Eu acho que é um conjunto né. Com certeza as empresas já têm esse

reconhecimento do CIEE, basta ver os vários prêmios que o CIEE já ganhou, né, de

empresas e instituições governamentais que estão dando esse respaldo em relação da todos

os projetos que o CIEE vem fazendo para toda a comunidade e para o empresariado

também, né!. Então eu creio também que isso seja um reconhecimento conquistado, né,

pelo trabalho que o CIEE vem desenvolvendo junto as empresas.

Com relação as mão de obra barata, isso é encontrado muito pelas outras ONG e por

instituições do governo e alguns órgãos partidários. Por parte do empresariado não que eles

não vão utilizar o estágio para mão de obra barata, mas eu acho que eles vêm mesmo é

querendo passar a imagem de responsabilidade social.

2 No caso desses projetos a gente envolve muito a comunidade, para dar um

exemplo do consórcio social da juventude. A gente foi até a comunidade e trabalhamos em

parceria com outras ONG´s, com escolas públicas para estar fazendo todo desenvolvimento

do projeto. Até mesmo que a gente estava precisando recrutar jovens de classe social mais

desprivilegiada e para isso a gente precisava entrar na favela e para entrar na favela a gente

contou com a ajuda de lideres comunitários, enfim eles estudaram o programa. Enfim então

tem essa visibilidade e o PIT e com os demais projetos a gente também trabalha com este

tipo de estratégia. E gente vai até a comunidade, até mesmo porque é o foco do CIEE entrar

dentro as comunidade e recrutar o pessoal lá mesmo. Não estar só na sede mas também

estar indo ao encontro desses alunos que precisam e às vezes não tem condições de estar

vindo ao CIEE, então o CIEE vai até as comunidades. A nossa imagem junto às

comunidades é bem positiva, quando a gente vai até eles a gente já vai com a camisa, todo

mundo já sabe e pergunta acerca dos cursos. Isso é bem gratificante.

E vocês levam este programa, os benefícios desses programas sociais, as

informações para as empresas também? Para elas estarem cientes desses projetos que

o CIEE desenvolve?

Na verdade é assim o consorcio social da juventude é um programa do governo

federal que foi feito em parceria com várias entidades. Então, enquanto o CIEE quanto

executora, absorve os recursos para este programa. A gente trabalha em conjunto. A

principio nos primeiros meses do programa a gente se focou mais na qualificação

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profissional desses jovens. Daí agora que o programa esta terminando é que em parcerias

com outras ONG´S a gente esta dividindo, com muito planejamento para fazer bem essa

divisão né. E a gente está indo em diversas empresas, para tentar inserir estes jovens. São

1200 jovens nesse programa e a gente, prioritariamente, até para ter uma renovação do

contrato é obrigatório que a gente inclua no mínimo 30%. Só que a gente não quer ficar só

nos 30%, o CIEE pelo menos quer inserir no mínimo 70% desses jovens. Então a gente

executou os cursos para 100 jovens, então 80 jovens a gente vai ter essa obrigação moral e

ética de estar correndo atrás de trabalho e não só estágio. Por a gente sabe que o que

depender do CIEE para estágio a gente consegue contemplar, mas muitos deles não estão

no ensino médio. Daí entra aí aquela visão ética da gente de estar indo até as empresas,

estar divulgando o programa, estar levando o currículo e estar levando um pouquinho qual

é a missão do CIEE e estar falando dos programas, para estar realmente procurando esta

inserção desses jovens né.

As empresas que eu particularmente visitei esses jovens têm uma abertura muito

grande, elas gostam de poder estar contribuindo com este tipo de projeto né. Até porque

querendo ou não estas empresas têm lucro, porque o que elas vão ter, elas vão ter um jovem

que ficou cinco meses realizando diversos cursos com: vendas, turismo e hotelaria, rotinas

administrativas. Então são jovens que estão saindo depois de cinco meses qualificados e

que estão com toda aquela capacitação profissional. Então para elas é muito gratificante,

porque estes jovens saem dos cursos muito motivados para trabalhar. Então, as empresas

acabam absorvendo esses jovens motivados e capazes profissionalmente. E ainda eles têm a

visibilidade perante a sociedade como empresa cidadã, pois a gente entrega um certificado

de empresa cidadã por estar contribuindo com a qualificação desses jovens.

Eles têm alguma barreira de preconceito social?

Eu particularmente não encontrei ainda nenhuma empresa que fosse contra isso, e

isso até me surpreendeu assim. As empresas que a gente estar visitando até agora não teve

esta barreira. Mas, a gente sabe que realmente precisar estar preparado para enfrentar

qualquer tipo de preconceito.

3 Acho que como uma ONG que tem o titulo de utilidade publica federal, que estar

regularizadas nos conselhos municipais de assistência social, né, então este é o caráter do

CIEE. De estar contribuindo através dos projetos sociais. Para que não haja mais

desigualdade social, para que haja mais justiça social. Através da inserção de jovens no

mercado de trabalho. .Eu acho que o CIEE busca isso.

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4 Com certeza para o governo esta sendo vantajoso, por ele esta contando com a

ONG para executar o que ele de repente não teria capacidade financeira e até competência

para estar fazendo. Você sabe que hoje em dia na sociedade em que a gente esta vivendo

esta caminhando para isso. A responsabilidade do Estado esta sendo transmitidas para as

empresas do terceiro setor, então isso vai crescer mais e a gente sabe que realmente tem

bastante interesse do por parte do governo em criar essas parcerias, porque são obrigações

que antes eram dele e agora eles estão terceirizando. É vantajoso com certeza.

5 Na verdade a gente tem bastantes parceiros de empresas privadas, e o objetivo

maior é ter a responsabilidade social e as empresas ainda levam para o lado de elas

poderem ter um retorno absorvendo esses jovens para trabalhar dentro das empresas. Eu

acho que a vantagem maior.

Tu achas que um jovem que participou destes programas sociais dá mais valor

ao estágio do que um jovem que está hoje na mesma idade (16,17 anos) mas não

passou por tantas experiências?

Com certeza, porque 5 meses, 4 horas, todos os dias, para aprender uma profissão

né, porque não é uma coisa fácil. Eles acordavam, tem jovens que moram em santo amaro

por exemplo, acordavam às 6 horas para estar aqui no CIEE às 8 horas , ficar 4 horas, e sair

correndo às vezes nem almoço. Muitos contavam com o lanche do CIEE. E iam direto para

a aula e ficavam na aula até tarde e depois iam para casa, enfim. Eles vão dar bem mais

valor do que um jovem que nunca passou por isso, ou seja, eles estavam buscando

conhecimento e com certeza eles querem agora utilizar isso como ferramenta para trabalho.

Muitas vezes o jovem tem que lidar com a frustração, por exemplo, quando eles vão

cheios de expectativas e quando chegam lá não era bem como ele esperava. No que se

refere às relações dentro do trabalho, mas eu acho que aí entra também o papel do CIEE de

estar fiscalizando os estágios, e fiscalizando a inserção desses jovens. Para que eles não

sejam ludibriados, explorados, enganado né porque a gente sabe que existem muitas

empresas que são aqueles lobos em pele de cordeiro né. Então a gente tem que estar

cuidando.

Eles sabem de todos os direitos e de todos os deveres, eles tiveram aulas sobre

mercado de trabalho, sobre direitos e deveres do estagiários. A própria CLT. Eles procuram

o CIEE, sempre que sentem que tem alguma coisa errada na empresa.

6 Algumas né, a gente sabe que tem muitas empresa que investem no social, a gente

tem empresas que são grandes parceiras que disponibilizam tempo, funcionários, dentro da

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empresa para que a gente possa estar demonstrando. A gente teve agora no projeto Escola

de fábrica onde as aulas são feitas realmente dentre das empresas. Então elas. Não ganham

nada, elas doam tempo, os funcionários que se dedicam totalmente voluntariamente. Como

por exemplo a Koerich Telecomunicações onde a gente esta tendo um exemplo bem

gratificante assim, onde 25 funcionários da empresa se dedicam a ensinar os alunos, e cada

aluno tem seu tutor lá dentro. E gente ta vendo bastante comprometimento. Eles

acompanham os funcionários, observando as suas atividades, eles estão apenas aprendendo.

7 O CIEE é um agente que esta integrando, é uma ponte que esta dando visibilidade

entre a comunidade e o que a sociedade está oferecendo. Esta fazendo esta ponte entre o

jovem de classe baixa e a sociedade. E mostrando as empresas o quanto esses jovens são

comprometidos, e querem trabalhar, mas muitas vezes não sabem como chegar a isso.

8 A gente vê mudanças bastante significativos, porque quando eles vem para esses

projetos estão ainda muito receosos até mesmo revoltados pelo tráfico nas favelas.

Realmente a gente vê isso, eles fazem os cursos só para ver no que dá. Mas, no curso a

gente consegue envolver eles de tal maneira que eles já têm uma nova visão. Então eu acho

que o impacto é bastante positivo, o psicológico, social, econômico. Eu acho que o CIEE

está conseguindo progredir bastante nessas relações, a gente ta conseguindo mudar a

realidade de muitos desses jovens. Muitos deles só tinham uma visão de mundo. Ah é o

trafico que dá dinheiro, é a única possibilidade que eu tenho. Que é realmente um

subemprego é (o tráfico). E eu acho que o CIEE está conseguindo mostrar, uma perspectiva

de mundo novo de que eles não precisam apenas pelos caminhos que eles imaginam mas

que existem outras alternativas. Eu acho isso tudo muito gratificante. A as famílias vem

mudanças assim gigantescas, de meninos que entravam dizendo que iam matar todo mundo,

que iam matar os pais. Realmente a gente sabe que tinham menores que estavam em

liberdade assistida por tráfico, por homicídios e que ao final do curso já estavam como

outra visão. Eles já querem trabalhar. Eles criam uma nova visão de futuro. Isso é muito

gratificante para a gente que trabalha com isso, porque a gente vê isso todos os dias.

9 Na comunidade como um todo, principalmente na família. O que a gente mais tem

é mãe ligando para cá e agradecendo. Mães que ligam chorando dizendo que antes o filho

entrava em casa e nem dava bom dia e agora já está até pedindo licença. Isso é uma fala que

a gente escuta bastante, sabe é bem legal. Porque a gente trabalha isso dentro do curso,

então com isso a gente vê esta mudança de postura. São impactos que também são vistos na

comunidade

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10 Eu estou a pouco tempo no CIEE, há apenas 2 anos, e eu acho que todos os

projetos tiveram um impacto positivo. Com certeza antes de colocar o projeto em vigor a

gente faz bastante pesquisa e estudos para ver onde será desenvolvido este projeto. Isso é

feito bem detalhado, é bastante trabalhosa mas, a gente vê que com isso a gente consegue

alcançar os objetivos nosso né.

11 Eu acho que tem muita gente que vê ainda o CIEE só pra estágios, não que o

estágio não seja importante e também não seja um projeto social. Mas, tem muita gente que

acho que só tem estágios e não vê os outros programas que o CIEE desenvolve. Eu acho

também que o CIEE deve estar usando isso como marketing social até mesmo para estar

chamando a atenção das empresas, para que elas também começam a adotar uma visão

mais social né.

O departamento do CIEE vai estar dando um treinamento para os assistentes

externos sobre os projetos sociais para eles possam estar repassando essas informações para

as empresas

12) Eu novamente ressalto a importância desses projetos sociais porque a gente ta

vendo que a criminalidade vem crescendo de maneira exuberante e cada vez mais a gente

vê caso de jovens entrando em crimes. Esses projetos eles abrem um novo futuro, com eles

o jovem podem ver que eles podem estar sendo inseridos . Com eles os jovens têm novas

alternativas. Todos os projetos possuem grande valia, mas, infelizmente nem sempre a

gente tem o respaldo por parte dos órgãos competentes. É uma pena que a gente não tem

como atender a todos os jovens da nossa periferia

A boa conduta de um jovem em liberdade assistida alivia a pena dele?

Sim, tem um abatimento da pena, porque periodicamente o CIEE faz relatório

descrevendo o comportamento dos jovens e a boa conduta deles. E isso ocorre não só aqui

dentro, mas, quando eles estão trabalhando, a boa conduta deles no trabalho contribuem

para a diminuição da pena deles.

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ENTREVISTADO: Funcionário 03

ENTREVISTA REALIZADA EM: 28 de Março de 2006, às 14h00

1 Uma grande parte já. Até porque quem tem amparado esses jovens carentes para

estar sendo inserido nos estágios. Isso já é um processo que está começando a ser

instaurado em algumas instituições e empresas que tem um entendimento de

responsabilidade social. O CIEE cresceu bem na área de estagio e agora esta começando a

iniciar como projetos na parte social

2 Nós estruturamos todos eles pensando na questão social. Os projetos sociais já

têm desde o seu nascedouro a intenção de ser social. Eu acredito que o CIEE tem ainda

umas lacunas em relação às estratégias, mas as parcerias mostram que o CIEE tem buscado

pelo menos que as empresas compreendam que são responsáveis pelos projetos sócias, e

com melhoria da sociedade.

3 O CIEE trabalha em conjunto, com o estagio e com a questão dos projetos sociais.

Porque não adianta nada ter os projetos sociais e depois não tem onde estar inserindo esses

jovens e o estágio é uma via de acesso que estes jovens têm para a sua emancipação social.

4 Na verdade eu acho que o governo passa um pouco da responsabilidade dele para

as instituições. E acaba muitas vezes tendo que buscar recursos além dos oferecidos pelo

governo, porque ele não tem um aparato de instituição e estrutural para trabalhar com essas

questões. Ele já busca através das organizações da sociedade civil um subterfúgio eu acho

para estar fazendo esses projetos sociais e muitas das vezes com marketing. Eu acredito

muito que o governo ainda utiliza essa questão de inserção social como marketing político.

Ele passa a responsabilidade para a mão dos outros.

E ele faz bem o papel que ele se propõe

Não o governo ainda tem as suas falhar porque ele não tem estrutura, ele passa um

recurso e não sabe por qual motivo ele está repassando aquele recurso. Muita vez se cai em

mãos de instituições que não são reconhecidas, e que não tem realmente a intenção de estar

aplicando isso com os jovens. A gente está jogando o dinheiro publico fora.

Eles exigem retorno:

Alguns sim, alguns projetos exigem retorno, relatórios e o número de adolescentes

inseridos.

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5 Uma metade eu acredito que tenha consciência da questão social e a outra pelos

incentivos fiscais. As empresas ainda vão tomar consciência, mas é algo que vai demorar

um pouco.

6 Boa parte dela contrata a instituição dos trabalhos desenvolvidos e outras porque

precisam investir dinheiro nessa área para os incentivos fiscais.

7 É um papel de articulador, entre a empresa e a sociedade, a empresa tornar-se

consciente e a sociedade entender que o mercado exige uma capacitação profissional.

8 Podemos dizer que os aspectos psicologias e sociais tem realmente uma evolução

pq eles passam a compreender um o mundo de outras maneiras, eles melhoram a questão de

se reconhecerem como sujeitos inseridos em uma sociedade, melhoria da auto-estima, da

possibilidade e da viabilidade de ter um retorno financeiro para a casa. Quando o

adolescente chega para fazer o programa até a gente conscientizar de que não é só questão

de dinheiro e sim de conhecimento, é um trabalho que envolve o social direto, A

comunidade, os pais, a família.

9 Na comunidade. Nós temos um caso de um adolescente aprendiz específico. Tem-

se uma revolução, que eu chamo de revolução branca, onde ao invés de querer ser bandido

eles querem ser adolescente aprendiz, E isso ocorre com uma freqüência muito expressiva.

Eu vejo bastante isso.

10 O planejar é essencial, muitas vezes a emergência exigida pelo governo ou pelas

empresas, faz com que esse planejamento seja feito a toque de caixa. E isso influencia sim

nos resultados no programa. Não é que ele não vai dar certo totalmente, mas ele não atinge

os objetivos da mesma forma se tivesse feito o planejamento. Mas, o planejar dentro da

instituição que recebe verba, busca parcerias é um fato que eu ainda acho uma falha. A

necessidade de se ter um corpo para o planejamento da instituição.

Tu achas que isso estar se transformando

Eles estão buscando buscar uma consciência porque o governo ainda não se vê

como um ator desse projeto e sim como um repassador de verbas. Ele tem que pensar o

planejar. De 10 anos atrás hoje os projetos sociais elaborado pelo governo estão 50%

melhor planejado do que antigamente.

11 EU acredito que nós temos um marketing mas ainda não é um marketing social,

mas, ainda o marketing convencional.

O CIEE precisa divulgar mais próximo da comunidade.

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12 Acredito que é pouco pq ainda não temos pernas para atender a todos os

adolescente que precisam ser atendidos. A gente vê casos de grandes mudanças mas, ainda

é muito pouco diante da necessidade.

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ENTREVISTADO: Funcionário 04

ENTREVISTA REALIZADA EM: 31 de Março de 2006, às 13h30’

1 Olha, o estágio atualmente é reconhecido sim com um programa social. Pela

compreensão que eu tenho o CIEE sempre compreendeu o estágio como sendo um

programa social. É graça aos estágios que a gente tem o certificado de filantropia, mas,

fazer com que o setor privado compreenda o estágio como uma atividade complementar

para a formação profissional e também como programa social é uma cara que o CIEE dá

para a sociedade que ao longo dos anos vem se configurando como sendo essa graças a

atuação do CIEE no setor privado. Por exemplo, tu podes encontrar outros agentes de

integração desenvolvendo trabalhos de estágios não focados na idéia de projeto social.

Tu achas que ainda está muito firma esta idéia de estágio com mão e obra

barata?

Sim, e esse é o papel que o CIEE vem desenvolvendo que é o de redesenhar ou

resignificar essa compreensão de estágio. Porque o setor privado tem outras preocupações,

outros focos de atuação que é o próprio desenvolvimento interno, o lucro interno e as

empresas se preocupam com o desenvolvimento social é uma outra etapa, um outro

processo um outro caminhar. Eu acredito que o CIEE atualmente vem conquistando

parceiros que entendem essa diferença. O estágio como uma atividade que gera

desenvolvimento social. Diferente de ser uma mão de obra barata.

2 Sim, é exatamente essa a característica que a instituição da para todos os projetos

que desenvolve. Com o setor privado isso é bem característico com o PIT, Adolescente

Aprendiz, Escola de Fábrica, e Consórcio. Com o estágio isso está se resignificando em

alguns momentos. Mas em relação aos outros programas, todos os outros setores, a

população em geral os compreendendo como ações de cunho social.

È uma estratégia que o CIEE esta assumindo é que quando os assistentes externos

vão levar as propostas de estágios já apresentem os programas do CIEE como parceiros aos

programas de estágio.

3 Gerar desenvolvimento social. É a intenção primeira.

4 Em gerar desenvolvimento também. Eu acho delicado discutir essa questão assim

tão rapidamente. É que o governo federal já tem atividades para garantir o desenvolvimento

social, investir no desenvolvimento de projetos de outras organizações (não-

governamentais). O CIEE já tem know-how na área de desenvolvimento de projetos

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sociais, mas, quantas pessoas têm essa qualidade? O problema de o governo investir nas

organizações não governamentais, é não fazer um direcionamento deste investimento.

Porque hoje o 3º setor, virou um arrecadador de fundos, e nem sempre estes fundos são

bem destinados. Aliás a grande preocupação deveria ser esta. A verdadeira briga por pobre,

pois quanto mais pobre mais dinheiro ganha. Esse é o problema, o governo federal não tem

essa preocupação. O retorno que o governo espera destes investimentos é muito baixo.

Não é mais ou menos um marketing político?

Sim, ou vou dizer que eu posso entender dessa forma, eu prefiro acreditar que não.

Vou te dizer que há um dinheiro destinado para o desenvolvimento social, porém o governo

não tem braço para fazer os projetos. Então vai investir naquele lugar que já tem know-how

para fazer esses projetos. O problema é que nem sempre são instituições sérias. E esse

dinheiro se perde. Um exemplo bem real. O consórcio social da juventude, a exigência do

mercado de trabalho para que esse projeto fosse continuado é que dos 1200 jovens 30%

fossem inserido no mercado de trabalho (ao final do projeto), seja por contrato efetivo, seja

no mercado formal ou informal. É um retorno muito baixo para a gente. O CIEE não

trabalha com números tão reduzindo. O CIEE trabalha com margem de 30%. É um dinheiro

que tu perde se você não acompanhar este retorno.

São 30% dos 1200, que englobam várias executoras, que nem sempre são ONG´S.

Isso é o problema. Todas sem fins lucrativos. Mas, o que caracteriza competência? Imagine

uma instituição falida, sem recursos financeiros para se manter e gerenciar um projeto.

Mas, ela tem muita competência. O governo opta por investir o recurso numa outra

instituição, que já financeiramente estável para esta gestão. Que pode nem sempre estar

com a mesma competência que a primeira. Eu acredito que se o foco do governo fosse

investir naquelas que tem a competência, os resultados seriam mais significativos. Daí o

retorno pro governo pra geração de empregos seria muito maior. Auditoria,

acompanhamento, supervisão, fiscalização, algo mais próximo, mais direto.

5 Sim, hoje, há uma preocupação muito grande em todo o setor privado em investir

em responsabilidade social. E quando o CIEE já antecede com uma qualidade na prestação

de um serviço dê estágios, as empresas têm mais segurança em receber os projetos que o

CIEE oferece.

E elas procuram o CIEE ou elas só aceitam quando o CIEE corre atrás?

Hoje o CIEE é referência para programas de estágio. As empresas que procuram

estágio, já conseguem associa-lo ao CIEE. Agora aos projetos sociais, há uma

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reconfiguração das ações, porque isso não é o foco do CIEE. A gente está redesenhando um

novo trabalho para o CIEE desenvolver.

E você não acha que isso deveria ser?

Deveria ser? Vai ser daqui a pouco sim. Os programas de estágios nada mais é que

um programa social. Porque a instituição nasceu com um foco para trabalhar

especificamente com o estágio. O CIEE não nasceu com o foco de trabalhar com inúmeros

programas. Existem outros CIEE´S pelo Brasil que não trabalham com outro programa

além do estágio.A autonomia do CIEE/SC abriu a possibilidade de se trabalhar com outros

projetos sociais.

As empresas que utilizam nossos programas de estágios e sabem dos demais

projetos elas procuram o CIEE. A gente utiliza bastante à mídia escrita para divulgação.

Mídia de massa (televisão) é difícil. Em SC vez ou outra faz uma reportagem. Mas, não é

nem a preocupação do CIEE em apresentar o que o CIEE faz. Hoje eu tenho empresas que

nos ligam para dizer: Olha, eu quero que você sejam a nossa gestora no projeto Escola de

Fábrica.

Se a divulgação fosse mais constante contribuiria para o desenvolvimento da nossa

identidade. Seria muito mais enriquecedor para o desenvolvimento dos projetos sociais.

6 Têm empresa que não gosta nem de divulgar que participa desses projetos sociais!

Mas, eu não vejo isso de uma forma negativa. Eu tenho empresa que pede também para

carregar o selo do projeto.

7 O de facilitador, o de integrador. O papel do CIEE é importante na construção de

um outro número

8 Olha é, toda a preocupação no desenvolvimento dos projetos não é focado num

último aspecto, nossa preocupação é desenvolver o jovem como um todo. Desde quando eu

recebo um jovem , eu me preocupo em saber quem ele é, de onde ele vem, como ele vem, e

para onde ele vai. Entender o porquê ele quer tudo isso, logo o nosso investimento é no

desenvolvimento multidirecional. Eu quero sim gerar empregabilidade, mas também gerar

cidadania. Que ele se entenda como cidadão, que ele se constitua como sujeito.

A nossa preocupação é desconstruir a subalternidade do ser humano que acredita

que as coisas são feitas para ele porque as pessoas estão fazendo um favor. Não. O CIEE

lida com direitos e garantias. A gente tem que desconstruir e resignificar valores, atitudes.

9 Na comunidade. Eu quando trabalho com um adolescente eu trabalho com mais

pelo menos 4 pessoas, o pai, a mãe e os irmãos. Eu tenho jovem que hoje consegue uma

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colocação no mercado de trabalho. Graça a intervenção dos nossos profissionais junto a

família, amigos e no espaço onde eles vivem. E é essa a nossa obrigação.

10 Planejamento é indispensável para qualquer execução. Nada no departamento

acontece sem a gente poder pensar sobre isso com antecedência. Já deu errado, sim. Mas a

gente não trabalha apenas com a nossa realidade institucional, a gente trabalha com o

governo. E necessita lidar com todas as necessidades e interesses de três parceiros

diferentes. E fora as possíveis falhas de comunicação. Às vezes a incompetência.

11 Sim utilizam. Poderia utilizar mais? Sim, poderia utilizar. Atualmente o CIEE

utiliza: mídia impressa, jornal, balanço social. A gente periodicamente tem espaço na

revista Agitação e circulação nacional.

Por que o CIEE ainda não faz uso do marketing para divulgação?

Porque talvez não seja o interesse institucional neste momento gerar a identidade de

referencia para o desenvolvimento de projetos sociais. Quando essa necessidade aparecer

pra instituição. Iremos utilizar a mídia para isso.

Tu achas que não é o foco da instituição em si, ou ainda não tomaram

consciência disso ainda?

Eu vou dizer que as duas coisas. Não é o foco do CIEE hoje. Os projetos sociais

fazem o CIEE crescer muito rapidamente e hoje, o CIEE não tem tanto suporte para isso.

Hoje eu tenho 40 jovens na cidade de Florianópolis participando do Escola de Fábrica, no

dia 02 de maio eu terei mais 160 jovens. A instituição precisar crescer assustadoramente

num período curto. Mas, isso não acontece de um dia para a noite, é possível? Sim, mas,

aos poucos para gerar sustentabilidade e fazer bem feito.

Se eu tiver que usar da mídia para deixar isso claro, eu faço, eu vou divulgar na medida em

que eu tiver condições de crescer.

12 A minha resposta será muito romântica. Eu acredito demais no desenvolvimento

social. Hoje eu tenho os dois extremos ta. Eu tenho adolescente que sai do trafico e vem

para a minha atividade e me responsabiliza por isso, no sentido de me cobrar. De querer

resultados imediatos e de curto prazo. Em função dessa troca que é feita. E tenho resultados

que não são de sucesso. Nem todas essas mudanças passam por pela decisão das

instituições. Eu não posso decidir pela vida dos outros. Mas, o que a instituição pode fazer

ela faz. Gera uma mudança significativa no que a gente faz. Eu tenho adolescente que por

exemplo foi aluno do Escola de Fábrica e em função de um documento de avaliação da

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participação dele nesse projeto ele conseguiu uma colocação no mundo do trabalho. Com

uma empresa parceira. Ele foi o diferencial porque ele tinha essa carta.

A gente tem empresas que perguntam se o jovem já participou de um projeto social.

Mas, eu já tive adolescente não conseguir. Essa porcentagem negativa ela existe, mas, a

gente tem um resultado de 70% positivos. Hoje eu tenho uma turma que começou com 20

jovens, hoje eu já tenho 9 empregados com carteira assinada. (o projeto não terminou

ainda). E isso se dá graças a intervenção dos projetos.

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ENTREVISTADO: Funcionário 05

ENTREVISTA REALIZADA EM: 03 de Abril de 2006, às 13h30’

1 Na verdade já fazem mais de 04 décadas que o CIEE vem desenvolvendo

programas de estágios que também são considerados programa social. Vivemos numa

sociedade capitalista, com isso, se eles estão ou não inseridos vai de acordo com o nível de

poder de transitar nesses espaços. A questão da inserção no mundo de trabalho é de fato um

indicativo muito importante na nossa sociedade capitalista. O sujeito o indivíduo estar ou

não trabalhando, estar ou não inserido como força de trabalho dentro de uma sociedade faz

uma diferença muito grande, muito mais do que em outros modelos estruturação da

sociedade como na época do sistema feudal. O papel social de organização social que o

CIEE tem que usa os estágios como ferramenta para esta inserção. Agora com relação ao

CIEE: Eu acho que o CIEE é ainda mais conhecido pelos programas de estágio. Essa

compreensão estágio como programa social, estágio como ferramenta efetiva para uma

inclusão social, para uma transformação da sociedade e para um desenvolvimento

econômico sustentável. Ele ainda há furos, ele ainda não é bem compreendido. Um dos

motivos na minha avaliação é que nós também demoramos para trabalhar com essa fala

com essa linguagem. Pensar na idéia do Marketing e se foca. Mas, é uma coisa para o

futuro.

Como é que se organiza o estágio: A empresa precisa de alguém para um trabalho

específico. Ela abre a suas portas para o estagiário por quê? Ele vai fazer com tanta

competência como um funcionário. Para a empresa ela tem um incentivo do governo pela

isenção de impostos, pelo fato de ela estar abrindo e tendo essa paciência de ensinar e usar

a empresa como laboratório para no futuro. Ter um profissional para ela ou para o mercado

bem formado. Então ela tem um incentivo, então ela tem uma mão de obra mais barata do

que uma contratação CLT. Por outro lado pro estudante ela quebra aquele circulo de não ter

uma experiência, não ter um currículo. Um bom estágio, um estágio bem organizado todo

mundo ganha. A escola ganha porque o estudante leva coisas novas para a escola e com

isso ela tem que resignificar suas teorias, o estudante por outro lado resignifica através da

prática que aprende. A empresa tbém vai providenciar novas tecnologias. O estagio é

realmente uma contratação que é mais econômica. Se tudo isso ficar bem transparente para

todos as parte, eu acho que há uma grande parceria. E o CIEE organiza isso né. CIEE faz

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essas intervenções. Abre as vagas, faz o acompanhamento. Eu acredito que o estagio se

prostituiu na medida em que as empresas começaram a fazer sem o controle.

2 A grande diferença agente ainda não consegui, por questões de infra-estrutura,

encaminhar prioritariamente esse ou aquele público. Porque a gente não tem nenhum

sistema que nos de informações que são básicas. Quem dirá (que sabe é um sonho, quem

sabe um dia a gente tenha) um que diga não quem são os alunos que vão ser encaminhado

prioritariamente. Quem eu vou chamar primeiro para as oportunidades? Vai ser um publico

carente que esta com dificuldade de pagar a bolsa.. Então assim, o problema de estágio não

é, ainda, um programa mais social porque ele não tem um critério de renda. Né! Num país e

num mundo com tantas mazelas, para o assistente social tu sempre pensas em pobreza, para

os pobres. Ou você vai fazer um projeto pro povo que mora na beira-mar? Não! Você vai

fazer um projeto pro povo que mora no maciço. Os cursos ou vou usar para quem? EU vou

usar para ele.

Os programas que a gente chama de cunho social, são os de formação profissional.

A idéia desses programas é equiparar a formação dos conhecimentos. Mas, ainda assim

sempre terá uma lacuna muito grande se comparado a alguém que tem uma rede de

relacionamentos. Tem ainda as redes de relacionamentos que são positivas e também as

relações cotidianas.

Os programas sociais são reconhecidos porque eles já iniciaram com esta roupagem

social. Os programas de estágio estão numa linha de mudança de foco de missão social.

Os programas sociais já tinham mais parceiros. A mídia dá mais visibilidade às

coisas diferentes.

Você destaca a mídia como estratégia.

Sim a mídia aberta. O CIEE já tem reconhecimento e frente ao que tenho esse apelo

pela fase difícil e por causa do movimento muito grande de questões sociais.

Tu achas que o CIEE esta utilizando a mídia de forma correta?

Eu acho que faltam ferramentas de marketing, de marketing ou mídia. Eu acho que

falta este cuidado. Falta uma preocupação com foco. A gente até hoje não tem folders, nem

o nosso site é atualizado.

Até hoje poucas pessoas sabem que o CIEE é uma ONG e pouco sabem dos

projetos.

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Quando ficarem sabendo o CIEE vai deslanchar. Porque que eu faço estágio com o

CIEE, eu faço estágio porque eu não estou pagando pro CIEE fazer o estágio, eu estou

contribuindo com uma instituição e isso faz a diferença. Né?

3 Eu acho que é classificar o foco da nossa missão, que é a inserção. Quem são os

jovens? Bom todos. Mas, nem todos são inseridos. Ai ta a diferença o CIEE teve essa

objetivo.

Na verdade eu acho que o CIEE fez uma releitura e qualificou as suas ações com

relação e esses objetivos.

4 Eu acho que o governo tem percebido que ele tem uma deficiência com relação

agilidade. As empresas privadas são bem mais ágeis. As organizações da sociedade civil

estão na base da sociedade civil ao lado de quem quer atingir e também são mais ágeis. São

menores, tem mais autonomia. Então eu que foi isso que o governo foi buscar. Fazer essas

alianças para ter uma maior agilidade e uma maior assertividade. Ao invés de ele lá de

Brasília, lá de uma secretaria descobrir quem de fato precisa faz uma parceria né e fecha

mais um elo. E sabe na prática quem trabalhar e com o trabalhar essas questões. O seu

“produto” o seu objetivo-fim é o mesmo objetivo-fim do governo.

Você não acha que é uma forma de terceirizar as obrigações do governo?

Eu acho que não por eu acho que o governo trabalha para a sociedade como um

todo. Nós somos a sociedade civil organizada, eu acho que a sociedade civil organizada

também tem a obrigação de propor e executar políticas públicas. Ele não faz, ele tem que

estar organizando políticas para a sociedade, no entanto, não significa que ele tem que ser o

único executor. Ele tem que pensar em estratégias que dêem mais efetividade as suas ações

e uma delas e envolver toda a sociedade. Nós todos deveriam de fato estar mais perto do

governo de alguma forma , para verificar de perto essa execução. Nós deveríamos estar

mais perto para poder deliberar, junto aos conselhos.

Tu achas que o governo dá esse suporte esse controle para que essas

instituições façam esse serviço?

Olha os projetos que a gente esta trabalhando tem um controle. Quando a meta não

é comprida tem a devolução do recurso o escola de fabrica a gente que acompanhar esses

jovens durante mais 02 anos depois do projeto. A gente fecha essas parcerias para dar mais

visibilidade. As grandes instituições são executoras de políticas publicas, é mais fácil

trabalhar com parcerias e com grandes parceiras. O PIT é só do CIEE, mas outros a gente

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trabalha com executora de políticas publicas. É o triangulo sociedade, governo, instituições

sem fins lucrativos.

5 Agora que a gente tem as parcerias eu acho que esta mais nessa linha de

responsabilidade social.

6 Nem todas, muitas delas ainda não conhecem qual é o real trabalho do CIEE. As

que conhecem acham que faz toda a diferença, tanto pela qualidade. Tem empresas que

querem alunos que passaram pelo PIT. Normalmente tem uma ou outra pessoa que acabam

fomentam esse tipo de atividade, mas, ainda é muito pouco. São mais as de maior parte. No

geral acho que ainda falta a consciente do trabalho de estagio

7 É fazer o elo.

8 Eu acho que mais muda é a questão da informação. Os alunos que conhecem e

sabem que é possível, que podem perguntar e ninguém ira rir. Essa questão dá auto-estima,

de se compreender. Eu posso ir lá, eu tenho meus valores, entenderem o significado da sua

estória. Fazer um projeto de vida.

Essa questão da afetividade é muito importante para dar segurança. Serem

protagonizadores da sua história.

Vocês mostram a eles o valor que eles têm

9 Olha a gente não tinha idéia de que a gente poderia ter reflexos na família. Mas, a

gente já tem. Dentro do monte cristo tem uns meninos que participaram dos projetos.

Recebemos um telefonema dizendo que faltam apenas 04 meninos, porque os demais já

estão trabalhando, outros estudando. Esses quatro que estão faltando já estão se sentindo

desanimados porque não querem mais, ficar na rua, as meninas já não querem eles porque

agora já não é mais moda ser bandido. Agora a moda é ser aluno do PIT. A gente pensou

que eles tivessem morrido, mas, estavam fazendo o PIT. E isso é muito bom.

Então eu acho que essa transformação da sociedade é um retorno. AS famílias

fazem o curso por tabela. Eles são um multiplicador de conhecimento. Eles vão formando

as suas redes.

Uma vez uma educadora me contou a história da menina bonita do vestido azul. Era

uma menina toda sujinha tal, que ganhou um vestido azul novo todo passadinho todo

bonito. Daí a mãe olhou. Ah mas a menina é tão bonitinha, o vestido é tão lindo. Vou dar

um banho e vou arrumar o cabelo da minha filha. E daí deu um banho e arrumou. Daí Ah,

mas, a minha filha com o vestido azul, tomada banho, bonitinha e com essa casa suja. Daí

ela arrumou a casa. E assim o pai chegou a arrumou o terreno. E a comunidade...

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São essas coisas né apesar de uma comunidade empobrecida tem o lado inverso, o

CIEE quer quebrar o clico contrario a isso. A gente quer quebrar as barreiras que a

sociedade põe.

A gente também muda a vida de gerentes, empresarias, funcionários de banco. Mas,

a vida deles também muda, a partir da convivência com eles. Essa transformação de

começar a conviver.

10 É a gente tem uma estrutura bastante enxuta, a gente não tem muito

planejamento. A nossa própria prática é que vai indicando o tipo de planejamento. São as

lacunas. Não existe um planejamento de pesquisa de campo, traçar necessidades, definir

estratégias. Isso não existe, O nosso planejamento, as pessoas que trabalham nessa linha

têm utilizado um planejamento mais prático. Não teve nenhum trabalho que não deu certo.

Até mesmo que a equipe é bastante adaptável. No adolescente aprendiz a distancia gente

criou rapidamente um programa a partir de uma necessidade que era de trabalhar os

adolescentes que moram longe, Agora a gente criou até um grupo de estudo em nível

nacional para o CIEE.

11 Eu acho que é muito na linha do planejamento. Ele não tem a essa nomenclatura,

a política estratégica para isso, Mas, na prática a gente acaba fazendo, pois a gente cria as

parcerias.

12 A principal contribuição é trabalhar com políticas publicas para a juventude.

Tem políticas para crianças, para adultos, mas, tem poucos para os jovens. Eu acho que o

CIEE trabalhar com políticas publicas para os jovens é uma grande contribuição.

A questão do descaso é um pouco mais complexa, se eu pensar num ciclo o povo da

beira-mar também alimenta esse clico. Tu nasces mais ou menos com um carimbo, que vai

se fechando naturalmente naquela linha. Poucos rompem com aquele elo e passam para um

outro estágio de vida é. Com isso eu acho que é muito importante o que o CIEE faz, que é a

função de quebrar com esses ciclos, de fazer com que a sociedade no geral passe a pensar

sobre essas questões.

A gente acaba aproximando esses mundos com esses programas.

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APÊNDICE 02 - Roteiro de Entrevista

1. Há mais de uma década o CIEE/SC vem trabalhando com o programa de estágio,

que também é considerado um programa social. Em sua opinião a população e as

empresas envolvidas o reconhecem como tal? Ou a solidez e o reconhecimento

conquistados pelo CIEE/SC durante estes anos foram baseados em outros aspectos?

Caso sim, quais?

2. E os demais projetos sociais desenvolvidos pelo CIEE/SC são reconhecidos pela

população como sendo exclusivamente de cunho social? Caso sim, quais as

estratégias utilizadas para tal? Caso não, por quê?

3. Qual o objetivo principal do CIEE/SC com os projetos sociais?

4. A grande maioria dos projetos sociais é desenvolvida em parceria com instituições

do governo. Qual a sua opinião quanto à intenção do governo ao participar das

ações sociais desenvolvidas por organizações sem-fins-lucrativos?

5. Empresas privadas costumam se envolver com os projetos sociais desenvolvidos

pelo CIEE/SC? Caso sim, qual o principal objetivo delas?

6. Em sua opinião, empresas privadas estão cientes do papel social que desenvolvem

ao contratar os serviços do CIEE? Quais fatores o levaram a ter esta opinião?

7. Qual o papel do CIEE na relação empresa privada – sociedade?

8. Os projetos sociais causam um impacto social de grande magnitude. Quais fatores

(psicológico, econômico, etc) sofrem maior reflexo? Por quê?

9. Os resultados são visíveis apenas nos indivíduos que participam dos projetos ou

também na comunidade em que estão inseridos?

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10. Durante a elaboração de um projeto de cunho social é feito um estudo inicial e/ou

um planejamento? Já ocorreu de algum projeto não ter dado certo por falta de

planejamento adequado?

11. O CIEE utiliza estratégias de marketing social? Quais? Quais não acontecem, porém

deveriam, em sua opinião?

12. Quais contribuições os projetos sociais concedem a sociedade? E qual a importância

de tais contribuições para o desenvolvimento juvenil e principalmente para a

erradicação da criminalidade e do descaso social?

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APÊNDICE 03 - Questionário

Bom dia/tarde/noite. Estou realizando um levantamento acerca dos benefícios gerados pelos projetos sociais oferecidos pelo Centro de Integração Empresa Escola – CIEE/SC. Você concordaria em responder a algumas perguntas? 1) De que forma você ficou sabendo dos programas sociais desenvolvidos pelo CIEE/SC? ( ) Por meio de amigos ( ) Por meio dos veículos de comunicação (revistas, jornais, televisão, etc...) ( ) Por meio de representantes da comunidade (se assim houver) ( ) Por meio de representantes do CIEE/SC ( ) Outros. Quais?________________________________ 2) Depois que você iniciou o programa quantas pessoas (amigos, familiares, vizinhos, etc)

se manifestaram interessados em participar? ( ) Nenhuma ( ) de 01 a 03 pessoas ( ) de 03 a 06 pessoas ( ) de 06 a 09 pessoas ( ) acima de 10 pessoas 3) O programa social do qual você participa (ou) trouxe mudanças na sua vida em quais

áreas? ( ) Relacionamento com pessoas (amigos, parentes, pais e sociedade). ( ) Renda familiar ( ) Disciplina escolar ( ) Perspectiva de futuro ( ) Base para a vida profissional ( ) Não trouxe mudanças ( ) Outras. Quais?___________________________________ 4) Fazendo uma comparação entre como era a sua vida antes da realização do projeto

social e como ela esta agora. Quais diferenças você pode destacar? O que influenciou essa mudança?

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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5) Em sua opinião os programas sociais desenvolvidos pelo CIEE/SC auxiliam no desenvolvimento pessoal?

( ) Sempre ( ) Quase sempre ( ) Às vezes ( ) Quase nunca ( ) Nunca 6) O programa que você realiza (ou) no CIEE/SC o ajudou a encontrar novas

oportunidades de trabalho? ( ) Sempre ( ) Quase sempre ( ) Às vezes ( ) Quase nunca ( ) Nunca 7) Em sua opinião. Os conteúdos desenvolvidos pelos programas sociais estão de acordo

com o exigido pelo mercado de trabalho? ( ) Sempre ( ) Quase sempre ( ) Às vezes ( ) Quase nunca ( ) Nunca 8) Em sua opinião, você concorda que os programas sociais auxiliam na melhoria da

qualidade de vida da população? ( ) Concordo plenamente ( ) Concordo em parte ( ) Indiferente (nem concorda e nem discorda) ( ) Discordo em parte ( ) Discordo plenamente Muito Obrigada pela sua colaboração!

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