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1 POLÍTICA HABITACIONAL E NEODESENVOLVIMENTISMO: NOTAS PARA UMA ANÁLISE A PARTIR DAS FRAÇÕES DE CLASSE Rafael Locateli Tatemoto Mestrando do programa de Planejamento e Gestão do Território da UFABC [email protected] [email protected] 1. Introdução O presente artigo busca abordar sob uma nova perspectiva um dos temas que hoje mais tem sido debatidos no campo do planejamento urbano: a atual política habitacional formulada em nível federal (e implementada praticamente em todo o país). O atual debate em torno dessa questão têm lançado luz ao que vem sendo chamado de financeirização da política habitacional. Apesar de elaborado formalmente como programa, e até hoje permanecendo enquanto tal, por uma conjuntura que significou o esvaziamento de implementação de um política nacional de habitação mais ampla, o "Minha Casa, Minha Vida" 1 passou a ser a principal, e até certo sentido, única, medida em curso na área da produção da “habitação popular”, fato que permite identificá-lo, elevando seu status, como política pública em si. No âmbito da academia, via de regra, o programa tem sido encarado com um tom crítico e pessimista. Tal avaliação decorre principalmente, ao nosso ver, por duas questões: a primeira, principalmente de ordem teórica, relacionada ao fato de que a maior parte dos trabalhos no campo de estudos do planejamento urbano em relação ao MCMV aborda as questões relativas aos aspectos urbanísticos e dos impactos territoriais do programa; a segunda, decorre a (justa) desconfiança daqueles envolvidos com os estudos urbanos em relação à atuação do mercado no provimento habitacional. Tal desconfiança, com razões históricas e práticas de existir, muitas vezes, no âmbito analítico, extrapolou a mera postura crítica e não permitiu que distinções analíticas importantes fossem operadas. Foi justamente o tom majoritário das avaliações precedentes do MCMV que 1 A partir deste ponto, passaremos a nos referir ao programa apenas pela sigla MCMV.

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    POLTICA HABITACIONAL E NEODESENVOLVIMENTISMO:

    NOTAS PARA UMA ANLISE A PARTIR DAS FRAES DE CLASSE

    Rafael Locateli Tatemoto

    Mestrando do programa de Planejamento e Gesto do Territrio da UFABC

    [email protected] [email protected]

    1. Introduo

    O presente artigo busca abordar sob uma nova perspectiva um dos temas que hoje

    mais tem sido debatidos no campo do planejamento urbano: a atual poltica habitacional

    formulada em nvel federal (e implementada praticamente em todo o pas). O atual debate em

    torno dessa questo tm lanado luz ao que vem sendo chamado de financeirizao da poltica

    habitacional.

    Apesar de elaborado formalmente como programa, e at hoje permanecendo

    enquanto tal, por uma conjuntura que significou o esvaziamento de implementao de um

    poltica nacional de habitao mais ampla, o "Minha Casa, Minha Vida"1 passou a ser a

    principal, e at certo sentido, nica, medida em curso na rea da produo da habitao

    popular, fato que permite identific-lo, elevando seu status, como poltica pblica em si.

    No mbito da academia, via de regra, o programa tem sido encarado com um tom

    crtico e pessimista. Tal avaliao decorre principalmente, ao nosso ver, por duas questes: a

    primeira, principalmente de ordem terica, relacionada ao fato de que a maior parte dos

    trabalhos no campo de estudos do planejamento urbano em relao ao MCMV aborda as

    questes relativas aos aspectos urbansticos e dos impactos territoriais do programa; a

    segunda, decorre a (justa) desconfiana daqueles envolvidos com os estudos urbanos em

    relao atuao do mercado no provimento habitacional.

    Tal desconfiana, com razes histricas e prticas de existir, muitas vezes, no

    mbito analtico, extrapolou a mera postura crtica e no permitiu que distines analticas

    importantes fossem operadas.

    Foi justamente o tom majoritrio das avaliaes precedentes do MCMV que 1 A partir deste ponto, passaremos a nos referir ao programa apenas pela sigla MCMV.

  • 2

    motivou a tentativa, aqui expressa, de empreender uma anlise que, antes de ser uma

    avaliao de poltica pblica, busque identificar e caracterizar a especificidade do objeto em

    questo, localizando e interpretando-o em um contexto mais amplo. Assim, no buscaremos

    responder ao final destas linhas, como tantas vezes antes, se o programa foi "bom" ou "ruim",

    ou at mesmo se as cidades brasileiras "melhoraram" ou "pioraram".

    Nossa inteno, ao contrrio, buscar as contradies especficas nas quais o

    MCMV surge e, at certa medida, aquelas que ele implica. Com isso, entendemos contribuir

    para uma narrativa descritiva - que obviamente no deve se encerrar nessa iniciativa- que se

    aproxime o mximo possvel da realidade.

    Nesse sentido, este artigo procurar traar um caminho que busque jogar luz

    naquilo que consideramos ser o elemento especfico fundamental do MCMV. Identificamos

    esse elemento na caracterizao do programa como um modelo de "habitao social de

    mercado". Em nosso entender, a descrio desta frmula foi apresentada de forma apurada

    pelas apreciaes expostas sobretudo por Lcia Shimbo. Ainda que concordemos com o

    conceito, discordamos parcialmente da interpretao proposta pela autora. Assim, nossa linha

    estruturar os elementos que julgamos necessrios para uma possibilidade de interpretao

    (parcialmente) alternativa.

    Desta forma, iniciaremos por uma breve retomada do histrico da poltica

    habitacional no Brasil. O foco desta seo, com vistas nossa interpretao do MCMV ser o

    resgate do conceito de habitao social. Para isso, nos basearemos principalmente na obra de

    Nabil Bonduki a respeito do tema, que aponta os laos entre essa problemtica e apoltica

    populista. De outro lado, essa retrospectiva tambm fornecer elementos necessrios para a

    caracterizao do perodo imediatamente anterior ao programa em questo, apresentando os

    elementos institucionais de financeirizao da economia nos quais se embasa o programa.

    Em uma terceira parte, decorrente das duas primeiras, apresentaremos a interpretao

    de Shimbo, Royer e Fix a respeito do fenmeno. Posteriormente, a partir de elementos

    indicados pelas prprias autoras, proporemos uma interpretao alternativa ou, ao menos,

    complementar.

    A partir destes elementos, introduziremos, tambm de forma breve, uma descrio

    do processo de formulao do MCMV enquanto poltica pblica. Aqui, apontaremos os

    interesses de classe originalmente envolvidos, e o papel desempenhado pelo programa no

    contexto macroeconmico.

  • 3

    Tendo estes elementos, colocaremos em questo o debate em torno do novo

    Estado desenvolvimentista brasileiro, conceito que, pensamos, ajudar dar as linhas gerais

    dessa tentativa de nova interpretao.

    Em verdade, julgamos que o debate proposto pela questo do

    neodesenvolvimentismo permite uma melhor compreenso do MCMV, ao passo que, a

    anlise deste ltimo, permite testar hipteses formuladas, principalmente na rea da cincia

    poltica, no mbito das teorias do novo paradigma de desenvolvimento.

    Sinteticamente, buscaremos desenhar uma interpretao que aponta o MCMV

    como programa possvel a partir de elementos presentes em perodo anterior, mas que

    representa um nova direo na poltica habitacional, fruto de uma deciso dos agentes

    governamentais, e nesse sentido, no podendo ser vista como mera continuidade.

    Como inciamos nessa introduo, o debate em relao moradia tem sido

    marcado pela financeirizao da produo habitacional. No desenvolvimento dessa frmula,

    se encontra, em nosso ver corretamente, o argumento que postula a aproximao entre o

    capital imobilirio e o capital financeiro. A pergunta que guia esse artigo : tal aproximao

    se deu sob a hegemonia de qual frao do capital?

    2. Questo habitacional pr-MCMV

    Nesta seo, faremos uma breve reviso histrica da questo habitacional no

    Brasil. Nos basearemos na obra de Nabil Bonduki a respeito da questo. Ainda que tal obra se

    referia apenas a uma sistematizao e interpretao historiogrfica focada na capital do estado

    de So Paulo, pensamos que, dada a expressividade que a cidade adquiriu no correr do

    desenvolvimento do sculo 20, tal como adverte o autor, parte significativa dos contedos

    analisados tem validade geral para a realidade brasileira.

    2.1 Produo rentista da habitao

    Antes da emergncia do perodo Vargas, que inaugura o debate populista na

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    poltica brasileira, a questo habitacional era encarada pelo Estado basicamente como de

    ordem sanitria.

    Neste momento, que vai at a dcada de 30, a produo de habitaes populares

    se dava atravs da iniciativa privada, na construo de moradias que visavam a cobrana de

    aluguis, em um negcio cujos ganhos eram certos (BONDUKI, 2011, p. 43). Conforme o

    autor,

    a existncia de excedentes econmicos nas mos de investidores de diversos portes, a restrita capacidade de aplicao no setor industrial, a expanso e retrao cclica da cafeicultura, a valorizao imobiliria e grande demanda por habitaes em So Paulo, os incentivos fiscais e a inexistncia de controles estatais dos valores dos aluguis - tudo isso tornou o investimento em moradias de aluguel bastante atraente durante a Primeira Repblica (BONDUKI, 2011 p. 45).

    Assim, o fenmeno regulador da produo imobiliria para os estratos populares

    era simplesmente a lei da oferta e da demanda (BONDUKI, 2011, p. 46). Desta forma, diante

    da necessiade de maximizar retornos, a modelo de moradia popular neste momento cortio

    (BONDUKI, 2011, p. 25).

    Em um contexto como esse, de acento notadamente liberal, a atuao dos

    aparelhos de Estado se limitou s questes de ordem sanitria: "o poder pblico atacou em

    trs frentes: a do controle sanitrio das habitaes; a da legislao e cdigos de posturas; e a

    da participao direta em obras de saneamento das baixadas, urbanizao da rea central e

    implantao de rede de gua e esgoto." (BONDUKI, 2011, p. 19)

    digno de nota de que, do ponto de vista do urbanismo, tais concepes e

    intervenes do poder pblico, se relacionavam aos "planos" de embelezamento e

    melhoramento, modelos importados do estrangeiro e que marcavam, do ponto de vista

    estilstico a emergncia e consolidao da burguesia enquanto classe dominante (RIBEIRO e

    CARDOSO, 1994, p.81).

    2.2 A emergncia da habitao social

  • 5

    A Revoluo de 30, processo histrico que culminou na inaugurao da era

    Vargas, permitiu, e de certo modo, exigiu, que o Estado adotasse uma postura diferenciada em

    relao ao tratamento da questo da moradia popular.

    Embora ainda presente, a questo sanitria passo a segundo plano, prevalecendo a

    partir de ento a perspectiva de que a a habitao era condio bsica para a reproduo da

    fora de trabalho e elemento decisivo na formao poltica, ideolgica e moral dos

    trabalhadores (BONDUKI, 2011, p. 73).

    Neste momento, consolida-se a percepo de que a questo moradia no pode ser

    resolvida pela produo rentista, ou seja, pela lgica de mercado, j que envolvia

    "caractersticas especiais" requerendo, portanto, interveno estatal (BONDUKI, 2011, p.

    78).

    A soluo pela "casa prpria", que desde ento passou a habitar o imaginrio do

    povo brasileiro, atendia a duas preocupaes: a possibilidade de distanciamento espacial

    entres as classes, dado que, no padro anterior, dominado pelo cortio, estas viviam em

    proximidade na regio central , e a garantia de rebaixamento nos custos de mo de obra

    (BONDUKI, 2011, p. 77). De forma resumida, pode-se entender tal processo como

    imperativo para a mudana rumo a uma economia baseada na indstria, mas com baixa

    capacidade de investimentos, dado seu carter dependente e, portanto, inexistncia de um

    processo vigoroso de acumulao primitiva de capital.

    Como resultante deste cenrio, dois processos se desencadearam, a produo

    estatal de moradias populares e a permissividade com a ilegalidade na construo de

    moradias, com destaque, em termos de volume de produo, para o segundo elemento. Ambos

    processos focavam, como j dito a conquista, por parte do trabalhador, da casa prpria

    (BONDUKI, 2011, p. 98).

    O cenrio desenhado por Bonduki tem relao direta com as formulaes que se

    consagram, em perspectivas mais amplas, no pensamento social brasileiro a respeito da

    poltica populista, cujo grande exemplo se encontra justamente nos perodos governados e na

    prpria pessoa de Getlio Vargas.

    Francisco Weffort, na qual Bonduki se baseia de forma expressa, talvez tenha sido

    o estudioso que melhor tenha atentado para as relao ntimas entre, na seara econmica, o

  • 6

    projeto nacional-desenvolvimentista, visto pelo urbanista como contexto mais amplo no qual

    a poltica habitacional formulada pelo varguismo est inserida, e a poltica de massas

    (WEFFORT, 2003, p. 38).

    De forma precisa, Weffort afirma que o desenvolvimentismo torna-se "um

    populismo terico", ou seja, que o projeto econmico, em sua face poltica, se manifesta

    enquanto poltica populista (WEFFORT, 2003, p. 44).

    De forma sinttica, o argumento de Weffort postula que o populismo a forma

    adquirida pela democracia de massas nos pases da periferia do capitalismo. A partir de uma

    crise no bloco hegemnico entre pequena burguesia, burguesia industrial e elites agrrias, que

    culmina na Revoluo de 30, as massas populares teriam passado a ser o fiel da balana no

    jogo poltico. Desta forma, as fraes das classes dominantes precisam sempre buscar o apoio

    dos estratos populares para implementar seus projetos de poder, projetos que muitas vezes

    contrariam outras fraes, como no caso das disputas entre capital industrial e capital agrrio.

    O essencial desta formulao a consequncia do cenrio que teria se instaurado a

    partir de 45: ainda que a incluso das massas tenha se dado de modo parcial, atravs do voto,

    era imprescindvel que a elite poltica atende-se a certos interesses populares, imediatos e

    concretos. Tal interpretao encontra eco em outras, como aquela que constata o papel no

    passivo, no mbito da poltica, desempenhado pela classe trabalhadora na formao do

    trabalhismo (GOMES, 2005).

    Assim, importante ressaltar, para efeito da anlise que aqui se busca

    empreender, o carter estatal, de forma direta ou indireta, que a ideia de habitao social

    adquiriu historicamente no pas. De outro lado, deve-se destacar o elemento poltico,

    decorrente de uma nova dinmica de classes, que marcou esse debate, principalmente atravs

    do surgimento da poltica populista.

    Privilegiando o enfoque desta anlise, no faremos uma descrio do perodo

    posterior a este, na qual se estrutura a poltica habitacional da ditadura militar, capitaneada

    pela criao do BNH. Tocaremos de forma breve a questo quando analisarmos o processo

    anterior criao do MCMV, marcado pela financeirizao do mercado imobilirio como

    resposta dada pelo governo central, aps um perodo de desarticulao, falncia das

    instituies criadas pelo regime autoritrio.

  • 7

    3. O surgimento do MCMV

    Com o conceito de habitao social melhor determinado, pode-se avanar rumo

    formulao de Shimbo em torno da "habitao social de mercado" (SHIMBO, 2010).

    Apontaremos aqui o prprio resgate histrico proposto pela autora para, aps tambm

    introduzir alguns debates que julgamos necessrios, propor alguns novos elementos de

    interpretao. Alm desta autora, faremos referncia posterior s contribuies de Luciana

    Royer e Mariana Fix.

    3.1 Financeirizao

    Shimbo parte da constatao de que o desmonte do BNH deixou um vazio na

    poltica habitacional do pas, no qual se evidenciou a ausncia de uma poltica habitacional

    clara. (SHIMBO, 2010, p. 64). Nesse processo de esfacelamento que a canalizao de

    recursos pblicos para promotores privados se inicia (SHIMBO, 2010, p. 65).

    A partir de 95, um novo paradigma vai se construindo, buscando ampliar a

    participao do setor privado e a descentralizao da alocao dos recursos federais

    (SHIMBO, 2010, p. 66). De forma geral, a gesto de FHC vista pela autora como momento

    decisivo para o incio da financeirizao da produo imobiliria.

    O governo Lula, por sua vez, teria desempenhado importante papel de

    continuidade desse processo. Segundo a autora, como condies necessrias para a

    viabilizao do mercado imobilirio de habitao social, nesse momento, foi necessria no

    s a manuteno da estabilidade econmica alcanada com o controle inflacionrio iniciado

    na gesto anterior, mas tambm a elaborao de regramentos que garantissem a segurana

    jurdica dos contratos. Alm disso, para a montagem da habitao social de mercado, se fez

    necessria uma poltica econmica que diminusse a taxa bsica de juros e concedesse

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    incentivos financeiros e fiscais construo civil, dois elementos que gostaramos de destacar

    na anlise da autora (SHIMBO, 2010, p. 73-91).

    Se tratando de questo central para nossa anlise, reforamos duas indicaes de

    Shimbo em relao queda da taxa de juros como condicionantes fundamental para a atrao

    do capital financeiro para a produo habitacional. A primeira delas a ponta de forma clara

    que a estabilidade macroeconomica, alcanc ada no final dos anos de 1990, proporcionou taxas de

    juros um pouco mais baixas e alterou os interesses de investidores e de agentes financeiros em

    relac ao a construcao civil e ao mercado imobiliario (SHIMBO, 2010, p. 88), ressaltando de nossa

    parte a discordncia de que a queda na taxa de juros tenha sido operada apenas por conta das

    condies objetivas representadas pela estabilidade macroeconmica, e a segunda, no mesmo

    sentido, afimando que as melhorias nas concesso de crdito, aspecto esse fundamental:

    tambem se devem a queda da taxa referencial de juros da economia, reforc ando a repercussao

    do contexto macroeconomico do pais na situacao do financiamento habitacional (SHIMBO,

    2010, p. 91).

    De forma geral, Shimbo categoriza a aproximao entre capital financeiro e

    mercado imobilirio em duas etapas, a primeira, entre 1993 e 2004, marcada, entre outras

    coisas, pela baixa capacidade de poupana, ocorrendo de forma truncada, e a segunda, indo de

    2005 a 20102, se desenvolvendo de forma efetiva (SHIMBO, 2010,, p. 97-102), categorizao

    que indica continuidade, mas que exploraremos de outra forma em nossa tentativa de

    interpretao.

    Tambm em linhas amplas, outra anlise consagrada em relao financeirizao,

    indica a questo da taxa de juros como elemento fundamental para o sucesso ou no da

    poltica de produo mercadolgica de habitao. Royer, sobre o insucesso originrio do

    Sistema Financeiro Imobilirio, afirma: mesmo com inmeras tentativas, as condies

    macroeconmicas do pas e, principalmente, a poltica de elevadssimas taxas de juros

    sustentada pelo Banco Central dificultaram a implementao do novo sistema (ROYER,

    2009, p. 15).

    3.2 O "Minha Casa, Minha Vida"

    2 Vale lembrar que a tese de Shimbo deste mesmo ano, o que "forou" a interrupo do perodo. Pelos elementos e

    proposta de interpretao na obra, possvel afirmar que, para a autora, tal perodo permaneceria em voga at o presente momento.

  • 9

    Em sua linha narrativa, Shimbo aponta o programa MCMV como ponto de

    chegada deste processo de aproximao entre capital financeiro e produo habitacional

    (SHIMBO, 2010, p. 92-96). A anlise que proporemos partir justamente desta premissa,

    divergindo nos desdobramentos que a autora prope.

    O estudo que a autora realiza de uma empresa em especfico (SHIMBO, 2010, cp.

    149-197), altamente ilustrativo da lgica produtiva que culminaria no programa. Desde os

    ganhos baseadas na alta lucratividade, passando pela expanso exponencial do tamanho e

    escopo de atuao da empresa, a dependncia do financiamento pblico para captao de

    recursos mobilirios e chegando a evidenciar o papel decisivo que a companhia desempenhou

    na formulao do MCMV junto Casa Civil do governo federal so fortes pontos a favor da

    consolidao do conceito de habitao social de mercado3.

    3.3 Formulao do programa

    Em consonncia com a identificao operada por Shimbo da atuao da empresa

    estudada, diversos estudos apontam para o papel desempenhado pelo setor da construo civil

    na criao do MCMV.

    A ttulo de resgate histrico, digno de nota que o MCMV tenha surgido no seio

    da Casa Civil, na gesto da ento ministra Dilma Roussef, em momento no qual j funcionava

    de maneira plena o Ministrio das Cidades e, no interior deste, o Conselho das Cidades4.

    Sem avaliar a atuao do setor da construo, mas sim a (no) participao dos

    setores da sociedade civil presentes no ConCidades no momento inicial de formulao do

    programa, chega-se a concluso de que este sequer foi consultado: "os principais programas

    urbanos do governo, o PAC e o Programa Minha Casa Minha Vida, foram formulados

    externamente ao Conselho das Cidades." (CASTRO;SANTOS JUNIOR,CARDOSO;

    FERREIRA, 2011, p.24)

    No mesmo sentido, em uma narrativa que tambm destaca a influncia do

    empresariado no processo, j se apresentou o dficit democrtico do programa:

    3 interessante notar que a autora aponta a empresa como exemplo de uma nova figura emergente no mercado imobilirio,

    a qual desempenha todas as funes, antes divididas, na produo habitacional, abrangendo todo o processo, desde a compra do terreno at a venda da unidade.

    4 Passaremos a nos referir a este rgo apenas como ConCidades, exceto quando em citaes diretas.

  • 10

    Mesmo tendo alcanado as metas estabelecidas, com arranjos de gesto e monitoramento orientados para elevar a eficincia da poltica, o arranjo institucional no se mostrou politicamente legitimador, na medida em que atores sociais importantes na rea, como os movimentos populares pr-moradia e grupos organizados de especialistas em temas urbanos e suas respectivas demandas no tm sido contempladas nas arenas decisrias (LOUREIRO; MACRIO; GUERRA, 2013, p. 29)

    4. O Novo Estado Desenvolvimentista

    No recente debate acadmico em torno do perodo que se abriu com a chegada de

    Lula ao poder, aps algumas interpretaes que identificavam a gesto do PT como

    continuidade dos governos que implementaram o neoliberalismo no Brasil, algumas linhas

    tericas passaram a apontar distines importantes que marcariam este novo momento.

    Para Andr Singer, a partir de 2006, h uma guinada na poltica brasileira,

    marcada por um realinhamento eleitoral (SINGER, 2012, p. 13 e 15). Por conta da

    fragilizao das alianas realizadas na poltica institucional, o PT, na figura de Lula, teria

    forjado um governo situado entre o subproletariado5 e o grande capital. Assim, criou-se uma

    gesto baseada em um "reformismo fraco" (SINGER, 2012, p. 44 e 76), baseado na frmula

    que garante incluso e ganhos sociais sem afrontas diretas ao capital6. Todo esse processo foi

    batizado de "lulismo". O governo, nesse sentido, teria passado a atuar como rbitro entre as

    classes, em uma interpretao tambm inspirada na j aqui referida formulao de Weffort ,

    bem como no 18 de Brumrio de Lus Bonaparte (SINGER, 2012, p. 159 e 165). Como

    consequncia, ainda que de forma no completamente coerente, os governos petistas atuariam

    de forma insconstante, como em um ziguezague, mas aplicando o programa poltico do

    subproletariado. No entraremos aqui na questo da defesa de Singer, em relao ao carter

    bonapartista do ltimo perodo nem em relao possibilidade do subproletariado, enquanto

    classe desorganizada segundo o prprio Singer, ter um programa poltico. Apresentaremos

    uma outra interpretao, que apresenta algumas divergncias em relao a essa tese.

    Uma outra interpretao, muito prxima anterior, tem falado em 5 Conceito emprestado do economista Paul Singer e que se refere massa de excludos brasileiros margem da economia

    formal e do sistema produtivo. 6 Assim, por exemplo, mudanas na poltica macroeconmica ocorreram, mas sem interferir no trip composto por cmbio

    flutuante, supervit primrio e metas de inflao.

  • 11

    neodesenvolvimentismo. A conceituao se basearia em uma srie de indicativos, como uma

    poltica progressiva de recuperao do salrio mnimo e de transferncia de renda, aumento da

    dotao dos bancos pblicos, poltica externa favorecendo grandes campees nacionais,

    polticas anticclicas e investimento estatal em infraestrutura. Do ponto de vista poltico, tal

    processo se consubstanciaria em uma frente composta pelo capital interno7 e parte da classe

    trabalhadora. A grande diferena operada nesta interpretao a diferenciao entre frente

    poltica, anteriormente referida e composta pelo capital interno e parte da classe trabalhadora,

    e bloco no poder, que hegemoniza a poltica, mas sustentado pela frente. Assim, ao contrrio

    de Singer, acredita-se que h uma evidente hegemonia do capital interno o que, mesmo

    significando ganhos a partes expressivas da classe trabalhadora, resulta que o governo no

    desempenha um papel de rbitro entre as duas classes (BOITO JR, 2007 e 2013).

    Como instrumental terico que sustenta tal anlise, esto as ideias de bloco no

    poder e frao de classe (BOITO JR, 2005, p. 53). Tais conceitos se aplicam ao

    funcionamento do Estado capitalista, como responsvel pela unidade entre capitalistas:

    trata-se de uma unidade contraditria porque os capitalistas, para alm de sua unidade geral, esto distribudos, de acordo com a posio particular que ocupam no processo de produo num momento e num pas determinados, em setores economicamente diferenciados que podero se constituir em fraes de classe perseguindo interesses especficos alguns elementos potenciais de diviso da burguesia em fraes de classe so: as fases do ciclo de reproduo do capital (capital dinheiro,capital produtivo, capital comercial), o poderio econmico das empresas (grande capital, mdio capital, capital monopolista), as relaes variadas das empresas com a economia internacional (origem do capital, destino da produo para o mercado interno ou para a exportao). [] organiza os interesses gerais da burguesia priorizando, ao mesmo tempo, os interesses especficos de uma determinada frao burguesa frente aos interesses das demais fraes (BOITO JR, 2005, p. 54 e 55).

    Tal concepo, que no nica sobre o novo desenvolvimentismo, se desenvolve

    de maneira gradativa. Como boa parte das anlises de esquerda a respeito do governo Lula,

    incia-se indicando uma continuidade neoliberal (BOITO JR, 2003, p. 12). Nessa

    continuidade, entretanto, j via o grande percentual de desempregados como uma questo a

    ser solucionada no cenrio brasileiro (BOITO JR, 2003, p. 21). Se nesse primeiro momento,

    enxergava as tticas e estratgias, bem sucedidas, do neoliberalismo em dividir as fraes da

    classe trabalhadora, em um segundo momento comea a perceber as divises no sieo da

    7 O termo capital interno se refere s fraes da burguesia que, por seu carter dependente, no podem ser caracterizadas

    como nacionais, mas que, em conjunturas especficas, podem apresentar contradies com o capital internacional.

  • 12

    burguesia.

    O pressuposto, a partir da ideia de frao de classe, que o programa neoliberal

    atendeu de forma prioritria uma dessas fraes. No caso: todos os aspectos da poltica

    neoliberal a desregulamentao, a privatizao, a abertura comercial atendem integralmente

    aos interesses de uma nica frao da burguesia: o grande capital financeiro (BOITO JR, 2005,

    p. 60). Nesse mesmo sentido, a abertura comercil e desregulamentao financeira, seriam partes

    do programa neoliberal que atacariam interesses especficos da grande indstria moderna. Assim,

    Boito comea a enxergar um melhor posicionamento do grande capital industrial e agrrio,

    voltados para a exportao, na hegemonia burguesa no Brasil (BOITO JR, 2005, p. 62 e 65).

    Mais recentemente, a partir do distanciamento histrico e da consolidao do projeto

    de poder petista, se passou a falar no s em melhor posicionamento da burguesia interna, mas

    tambm em deslocamento da hegemonia burguesa (BOITO JR, 2013, p.175). De forma clara:

    Ocorre que a poltica econmica dos governos Lula e Dilma contempla, nos seus aspectos fundamentais e como iremos indicar, prioritariamente os interesses de uma frao da burguesia que a grande burguesia interna []. Do primeiro governo Lula at o governo Dilma possvel detectar uma afirmao crescente do programa de poltica econmica e social que podemos denominar neodesenvolvimentista []. Depreciou o cmbio, reduziu a taxa bsica de juro, pressionou pela queda do spread bancrio, reduziu por intermdio de expedientes variados o supervit primrio, instituiu uma nova regulamentao para as compras pblicas que favorece a produo local, estabeleceu medidas protecionistas (BOITO JR, 2013, p. 174).

    5. Neodesenvolvimentismo e MCMV

    Com todos esses elementos, pensamos ser possvel propor uma interpretao

    alternativa ou, como j dissemos, complementar de Shimbo, Roye e Fix, bem como testar as

    hipteses em torno do novo desenvolvimento.

    Pensamos que diversos elementos trazidos por Shimbo, indicam que, ainda que se

    possa falar que o MCMV se baseou em um processo iniciado na dcada de 90, com o

    surgimento com uma srie de instrumentos de financeirizao, seu surgimento e consolidao,

    dando eficcia a estes mesmo instrumentos, significou no uma ruptura, mas sim um desvio

    em relao ao perodo anterior. Em suma, o processo mesmo de concretizao da

  • 13

    financeirizao se viabilizou em uma conjuntura distinta do momento de sua formulao

    institucional.

    Shimbo cita algumas medidas ou condies alcanadas no governo Lula que

    possibilitaro a efetiva financeirizao da produo de moradia popular. Tais medidas foram

    sublinhadas no correr do texto. So elas: queda na taxa de juros, incentivos estatais

    construo civil, dependncia do financiamento pblico atravs de bancos estatais e

    capacidade de poupana.

    Todos esses fatores so elementos ou efeitos diretos de polticas

    macroeconmicas. Sem nenhuma exceo, so exemplos de uma linha de poltica econmica

    progressiva, ou seja, baseada no crescimento. A primeira representa, mesmo de forma

    limitada, um golpe nas fraes do capital que se baseiam na especulao financeira, pro

    contrariar frontalmente seus interesses. A segunda e terceira, depende da retomada de

    investimentos de bancos pblicos e do prprio Estado. A ltima, depende da elevao das

    condies de vida. Sem nenhuma exceo, polticas que no fazem parte do cardpio

    neoliberal ortodoxo.

    Entretanto, em Shimbo e Royer, ainda que forma no explcita, ao conceituarem a

    financeirizao deixam transparecer a ideia de que, inclusive no caso brasileiro, tal processo

    foi conduzido sob hegemonia do setor financeiro (ROYER, 2009, p. 37; SHIMBO, 2010, p.

    98). Nas formulaes de Fix, ainda que a noo de contradio entre fraes do capital no

    seja levada ao seu pleno desenvolvimento, a noo de paroximao entre capital imobilirio e

    financeiro, no que toca ao MCMV, talvez mais sutil.

    Ainda que indique que a poltica habitacional brasileira tenha contornos

    financeirizados (FIX, 2011, p. 185 e 218), reconhece por outro lado o papel decisivo da

    construo civil - enquanto frao - na formulao do MCMV, e o papel do mesmo no

    incentivo a tais empresas (FIX, 2011, p. 139 141). Alm disso, reconhece que a

    financeirizao no avanou tal como nos EUA, se aproximando do arugumento de Klink e

    Denaldi quando dizem que o mercado de secutirizao no abarcou as camadas de menor

    renda no brasil (FIX, 2011, p. 136 e 138; KLINK et al., 2014).

    De qualquer forma, mesmo que de forma mais sutil e mesmo que reconhecendo a

    dificuldade de penetrao do capital estrangeiro na indstria da construo civil, Fix tende a

    identificar o capital financeiro como tendente a se apoderar da festo do setor (FIX, 2011, p.

    150 e 221).

  • 14

    Com tudo isso, entretanto, queremos dizer que, a opo pelo MCMV no se tratou

    de uma decorrncia natural e automtica do perodo anterior. Antes o contrrio, trata-se de

    uma opo poltica dos gestores do governo federal, sem a qual a fuso entre capital

    financeiro e produo de habitao social no teria ocorrido.

    O prprio carter do MCMV enquanto tpica poltica econmica anticclica, de

    inspirao keynesiana (SINGER, 2012, p. 153; FIX, 2011), e que serve, de forma justa, para

    caracteriz-lo como poltica econmica e no habitacional propriamente dita, refora nosso

    argumento. Em meio uma crise internacional, a opo por tais medidas acima de tudo

    poltica. Sem adentrar no campo das suposies, nada nos garante que, dada outra

    configurao e orientao governamental, a escolha teria sido essa.

    Obviamente, no se deve negar a aproximao entre capital imobilirio

    (produtivo) e o capital financeiro internacional. Essa aproximao em nada contraria nossa

    interpretao. Deve-se lembrar que a burguesia interna no o que j se entendeu por

    burguesia nacional anti-imperialista. Na realidade, quando mencionamos burguesia interna,

    tentamos descrever uma posio intermediria justamente entre a ideia de burguesia nacional

    e a burguesia compradora (BOITO JR, 2012, p. 67). Em nossa concepo, trata-se de uma

    frao com base de acumulao prpria e que tenta buscar, simultaneamente, uma associao

    com o capital imperialista bem como limitar a expanso deste no interior do Brasil (BOITO

    JR, 2012, p. 68).

    Com esta interpretao no queremos responder se o MCMV um programa

    bom, ou at mesmo se deve ser defendido enquanto poltica pblica, queremos apenas indicar

    o cenrio geral ao qual pertence, apontando para seus traos diferencias em relao ao perodo

    anterior - que sequer programa habitacional desse volume tinha.

    De outro lado, a anlise do MCMV nos trouxe elementos para avaliar as

    interpretaes mais gerais sobre esse momento. Se assumirmos o papel desempenhado pelas

    grandes construtoras (todas "nacionais") na formulao do programa, aliado ao reconhecido

    fato de que os estratos mais pauperizados8 tem dificuldades de o acessar (MARICATO, 2012,

    p. 72), sendo um programa claramente voltado para os setores mdios, justamente pelo seu

    protagonista ser o mercado, nos parece que a interpretao que indica a hegemonia do capital

    interno parece mais prxima da realidade, em detrimento a um bonapartismo que aplica o

    programa do subproletariado. Pelo menos nesse caso, o subproletariado no foi um setor 8 Nos referimos aqui ao estrato de 0 a 3 salrios mnimos, e que, analogamente podemos comparar ao conceito de

    subproletariado.

  • 15

    privilegiado pela poltica implementada pelo governo federal.

    Outro argumento em prol da ideia da hegemonia da frao burguesa interna est

    no referido processo de construo do programa. A presena das construtoras no seio do

    Estado brasileiro demonstrativo claro do papel que desempenham no bloco de poder na

    atual conjuntura.

    6. Concluses

    Partimos do pressuposto de que vivemos hoje um momento em que h uma

    produo mercadolgica de habitao social.

    Diante desta premissa, buscamos o conceito de habitao social. Nesta busca,

    identificamos o perodo Vargas como momento histrico no qual emerge tal processo.

    Tentamos, nesse sentido, identificar os elementos que compunham aquele cenrio.

    Aps esse procedimento, analisamos o MCMV. Vimos de que cenrio ele emerge

    e que condies foram necessrias sua criao.

    Propomos ento uma anlise do programa que pode ser assim sintetizada: o

    MCMV uma espcie entre uma srie de outras polticas que marcam o surgimento de um

    novo Estado desenvolvimentista no Brasil. Desta forma, ele significa e fruto de uma

    alterao na linha poltica geral que governa o pas. Do ponto de vista de seu impacto

    territorial, indicamos a necessidade e a possibilidade de uma srie de pesquisas que

    identifiquem os fatores que se combinam com o carter mercadolgico da produo

    habitacional e com interagem tais fatores. Do ponto de vista da poltica, que mais nos

    interessa, tal agenda tambm possvel.

    De outro lado, apontamos o MCMV como exemplo, que pode ser analisado de

    forma anloga a outros setores da economia, servindo como argumento em favor da anlise

    que identifica, na atual quadratura histrica, se no a hegemonia do capital interno na poltica

    nacional (em detrimento, como ocorreu no perodo imediatamente anterior, do capital

    financeiro internacional), pelo menos a contnua melhora de sua posio relativa no bloco de

    poder nos ltimos governos petistas.

    Se adotada, tal concluso leva possibilidade de vislumbrar algumas implicaes.

  • 16

    A primeira delas o questionamento, dada sua especificidade local, da possibilidade de se

    analisar a financeirizao da produo habitacional brasileira com os mesmos parmetros das

    ocorridas no estrangeiro. De outro lado, aponta para a capacidade de observar os limites da

    atual produo a partir das disputas entre fraes do capital.

    Nessa ltima linha, gostaramos de enfatizar que, se assumirmos os conceitos

    analticos aqui presentes, a disputa por melhores posicionamentos entre as fraes da

    burguesia, processo que no deixa nunca de ocorrer, pode trazer impactos decisivos para o

    programa habitacional do governo federal. Um novo avano da frao financeira

    internacional, na tentativa de retomar espao, pode significar, por exemplo, que se passe dar

    uma maior nfase da rolagem da dvida pblica em detrimento dos gastos em investimento.

    Por outro lado, como se trata apenas de um deslocamento de hegemonia no

    interior do bloco no poder monopolista, estamos falando de um processo extremamente

    limitado, sem previso de rupturas institucionais no horizonte, ou seja, uma mudana poltica

    de alcance bastante reduzido. O que refora a ideia de caracterizar o novo

    desenvolvimentismo como o desenvolvimentismo possvel dentro do modelo capitalista

    neoliberal perifrico (BOITO JR, 2012, p. 69). O que tambm explica os limites do MCMV

    enquanto poltica urbana e habitacional.

    7. Referncias bibliogrficas

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  • 17

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