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UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO “PROF. JOSÉ DE SOUZA HERDY” UNIGRANRIO DANIELLE ALMEIDA OLIVEIRA DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS DOCENTES NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO NAS IES PRIVADAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO RIO DE JANEIRO 2016

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UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO “PROF. JOSÉ DE SOUZA HERDY”

UNIGRANRIO

DANIELLE ALMEIDA OLIVEIRA

DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS DOCENTES NOS CURSOS DE

GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

NAS IES PRIVADAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RIO DE JANEIRO

2016

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DANIELLE ALMEIDA OLIVEIRA

DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS DOCENTES NOS CURSOS DE

GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

NAS IES PRIVADAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Dissertação apresentada à Universidade do Grande

Rio “Prof. José de Souza Herdy”, como parte dos

requisitos para obtenção do grau de Mestre em

Administração.

Orientador: Prof. Dr. Alexandre Mendes

Nicolini.

Área de concentração: Gestão Organizacional.

RIO DE JANEIRO

2016

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CATALOGAÇÃO NA FONTE/BIBLIOTECA - UNIGRANRIO

O48d Oliveira, Danielle Almeida.

Desenvolvimento de competências docentes nos cursos de graduação

em Administração nas IES privadas do Estado do Rio de Janeiro / Danielle

Almeida Oliveira. – 2016.

95 f. : il. ; 31 cm.

Dissertação (mestrado em Administração) – Universidade do Grande Rio “Prof. José de Souza Herdy”, Escola de Ciências Sociais e Aplicadas, Rio de Janeiro, 2016.

“Orientador: Prof. Dr. Alexandre Mendes Nicolini”. Bibliografia: f. 89-93.

1. Administração 2. Ensino superior. 3. Professores universitários. 4.

Universidades e faculdades particulares. I. Nicolini, Alexandre Mendes. II. Universidade do Grande Rio “Prof. José de Souza Herdy“. III. Título.

CDD - 658

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DANIELLE ALMEIDA OLIVEIRA

“DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS DOCENTES NOS CURSOS DE

GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO NAS IES PRIVADAS DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO”.

Dissertação apresentada à Universidade do Grande

Rio “Prof. José de Souza Herdy”, como parte dos

requisitos para obtenção do grau de Mestre em

Administração.

Área de concentração: Gestão

Organizacional.

Aprovado em ___________ de ______________________ de _____________.

Banca Examinadora

____________________________________________________________

Prof.º Dr.º Alexandre Mendes Nicolini

Universidade do Grande Rio

____________________________________________________________

Prof.º Dr.º Sérgio Eduardo de Pinho Velho Wanderley

Universidade do Grande Rio

____________________________________________________________

Prof.º Dr.º Claudio Pitassi

Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais - IBMEC

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Ao Deus Pai, Filho e Espírito Santo, toda honra, glória, louvor e gratidão.

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AGRADECIMENTOS

Ao Deus Pai, Filho e Espírito Santo pela Sua força e Sua presença em minha vida.

Ao meu grande amigo e parceiro de fé, profissão e na jornada de Mestrado, Rafael Deolindo.

À minha família, em especial à minha mãe, por seu apoio e amor incondicionais.

Aos amigos e entes queridos, por compreenderem a ausência dos últimos anos.

Ao meu orientador, prof. Alexandre Mendes Nicolini, pelo aprendizado proporcionado.

Aos docentes que colaboraram com a pesquisa, ofertando seu tempo e experiências.

Aos colegas de profissão, alunos e colegas de turma pela troca e conhecimento compartilhado.

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RESUMO

As atuais exigências mercadológicas e profissionais também chegaram ao ensino superior, com

destaque para as IES privadas, devido às políticas públicas de governo dos últimos 20 anos que

flexibilizaram o processo de abertura destas, ocasionando um crescimento acentuado. O papel

desempenhado pelas IES privadas no contexto educacional atual é de extrema importância, pois

essas instituições formam boa parte da mão de obra para o país. Outro destaque é a demanda

por cursos de graduação em Administração, que se deve principalmente à necessidade das

organizações brasileiras, consolidando o Administrador como indispensável à economia e

sociedade brasileira, vislumbrando um extenso campo de atuação e emergente mercado de

trabalho para esse profissional. Nesse contexto, uma engrenagem fundamental para que o

processo de formação do Administrador ocorra é o docente, que por vezes trilha um caminho

solitário na busca de aquisição de competências para se estabelecer no mercado de trabalho e

atender às demandas discentes. Esse trabalho teve como objetivo identificar se as competências

desenvolvidas pelos docentes dos cursos de graduação em Administração nas IES privadas

ocorrem de maneira formal ou informal. A pesquisa realizada foi de cunho qualitativo, com

posterior aplicação da técnica de análise de conteúdo. Para a coleta de dados foram realizadas

entrevistas semiestruturadas. Também foi necessária pesquisa bibliográfica sobre a temática,

de forma que pudesse ajudar a explicar o fenômeno estudado. Ao final encontra-se a

apresentação dos resultados: de que maneira os docentes dos cursos de graduação em

Administração nas IES privadas desenvolvem suas competências.

Palavras-Chave: Desenvolvimento de competências docentes; professor de Administração;

IES privadas.

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ABSTRACT

The current marketing requirements and professionals also come to higher education, especially

in private PEIs due to public policies of government of the last 20 years have eased the process

of opening these, causing a sharp rise. The role of private PEIs in the current educational context

is very important, because these institutions make up much of the manpower for the country.

Another highlight is the demand for undergraduate courses in Business Administration, which

is mainly due to the need of Brazilian organizations, consolidating the Administrator as

indispensable to the economy and Brazilian society, glimpsing an extensive field of action and

emerging job market for this professional. In this context, a key gear for the Administrator of

the training process occurs is the teacher, sometimes a lonely trail path in the acquisition of

skills to establish in the labor market and meet the students' demands. This study aimed to

identify if the skills developed by teachers of undergraduate courses in Administration in

private HEI occur formally or informally. The research was qualitative in nature, with

subsequent application of the content analysis technique. For data collection semi-structured

interviews were conducted. It was also necessary literature on the subject, so that could help

explain the phenomenon studied. At the end is the presentation of the results: how teachers of

undergraduate courses in Administration in private HEI develop their skills.

Keywords: Development of teaching skills; management teacher; Private HEI.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 –

Competências como Fonte de Valor para o Indivíduo e para a Organização..............................25

FIGURA 2 – Modelo de competências profissionais do professor do ensino superior...............36

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LISTA DE QUADROS E TABELAS

QUADRO 1 – Perfil dos entrevistados......................................................................................45

QUADRO 2 – Tempo de experiência dos docentes entrevistados.............................................46

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

EAD – EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

ENADE – EXAME NACIONAL DE DESEMPENHO DOS ESTUDANTES

FIES - FUNDO DE FINANCIAMENTO ESTUDANTIL

IES – INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR

IGC – ÍNDICE GERAL DE CURSOS

INEP – INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS

LDB – LEIS DE DIRETRIZES E BASES

MEC – MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA

PROUNI - PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS

REUNI - PROGRAMA DE APOIO AO PLANO DE REESTRUTURAÇÃO E EXPANSÃO

DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS

SISU - SISTEMA DE SELEÇÃO UNIFICADA

TIC - TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

UAB - UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

UNESCO - UNITED NATIONS EDUCATIONAL SCIENTIFIC AND CULTURAL

ORGANIZATION

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO GERAL...............................................................................13

1.2 OBJETIVO FINAL.......................................................................................................16

1.2.1 OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS...............................................................................16

1.3 DELIMITAÇÃO...........................................................................................................17

1.4 RELEVANCIA.............................................................................................................18

1.5 ORGANIZAÇÃO GERAL DO TRABALHO..............................................................20

CAPÍTULO 2 – REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 COMPETÊNCIA..........................................................................................................21

2.2 COMPETÊNCIAS INDIVIDUAIS..............................................................................24

2.3 COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS..........................................................................26

2.4 COMPETÊNCIA DOCENTE.......................................................................................29

2.5 COMPETÊNCIA DO DOCENTE EM ADMINISTRAÇÃO.......................................38

CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA

3.1 A PESQUISA................................................................................................................43

3.2 OBJETO, SUJEITO E INFORMANTES DA PESQUISA...........................................44

3.3 PERFIL DOS ENTREVISTADOS...............................................................................44

3.4 DEFINIÇÃO DE CATEGORIAS A PRIORI................................................................46

3.5 CATEGORIAS EMERGENTES..................................................................................47

3.6 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS.......................47

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS DADOS

4.1 ANALISANDO OS RESULTADOS............................................................................50

4.1.1 COMPETÊNCIAS DESENVOLVIDAS ATRAVÉS DE TREINAMENTOS

(FORMAL)....................................................................................................................50

4.1.2 COMPETÊNCIAS DESENVOLVIDAS POR MEIO DE CURSOS DE FORMAÇÃO

INICIAL OU CONTINUADA (FORMAL)..................................................................53

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4.1.3 COMPETÊNCIAS DESENVOLVIDAS A PARTIR DA REFLEXÃO DA PRÁTICA

DOCENTE (INFORMAL)............................................................................................56

4.1.4 COMPETÊNCIAS DESENVOLVIDAS POR MEIO DA PRÁTICA DOCENTE

(INFORMAL)...............................................................................................................59

4.1.5 COMPETÊNCIAS DESENVOLVIDAS ATRAVÉS DA RESOLUÇÃO DE

PROBLEMAS DO ENSINAR/CONTINGÊNCIAS (INFORMAL)............................62

4.1.6 COMPETÊNCIAS DESENVOLVIDAS POR MEIO DA INTERAÇÃO

(INFORMAL)....... ........................................................................................................65

4.1.7 COMPETÊNCIAS DESENVOLVIDAS A PARTIR DAS RELAÇÕES DE

TRABALHO (INFORMAL).........................................................................................68

4.1.8 COMPETÊNCIAS DESENVOLVIDAS A PARTIR DE SITUAÇÕES

PROFISSIONALIZANTES/PERCURSO PROFISSIONAL (INFORMAL)...............71

4.2 ANÁLISE DAS CATEGORIAS EMERGENTES........................................................74

4.2.1 PERCEPÇÃO DE COMPETÊNCIAS DOCENTES: O QUE É SER UM PROFESSOR

COMPETENTE?...........................................................................................................74

4.2.2 O PAPEL DAS IES PRIVADAS NO DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS

DOCENTES..................................................................................................................78

4.2.3 O PAPEL DOS COORDENADORES DE IES PRIVADAS NO

DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS DOCENTES....................................80

CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................83

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................89

APÊNDICE A..........................................................................................................................95

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CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO GERAL

De acordo com o MEC (2015), as Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras

podem ser públicas ou privadas. As instituições públicas de ensino são aquelas mantidas pelo

Poder Público e são financiadas pelo Estado. Já as IES privadas são administradas por pessoas

físicas ou jurídicas de direito privado, com ou sem finalidade de lucro. As instituições privadas

sem finalidade de lucro são as comunitárias (que incluem em sua entidade mantenedora

representantes da comunidade), confessionais (que atendem a determinada orientação

confessional e ideológica) e as filantrópicas (que prestam serviços à população, em caráter

complementar às atividades do Estado). As instituições privadas com fins lucrativos são

mantidas por entes privados.

No que diz respeito à classificação acadêmico-administrativa, as IES podem receber

diferentes denominações: Universidades, Faculdades, Centros Universitários e Institutos

Federais. A mais estrita, definida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, é a

Universidade. Trata-se de instituição acadêmica pluridisciplinar que conta com produção

intelectual, apresenta requisitos mínimos de titulação acadêmica (um terço de mestres e

doutores) e carga de trabalho do corpo docente (um terço em regime integral). É autônoma para

criar cursos, sedes acadêmicas, expedir diplomas, fixar currículos, número de vagas e realizar

diversas ações, respeitadas as legislações vigentes e a norma constitucional. (MEC, 2015).

Junior e Muniz (2004) mencionam que o estado nacional sempre regulou as

relações no ensino superior, sendo que nas últimas duas décadas a legislação educacional

brasileira passou por profundas modificações, principalmente após a publicação da Lei

9.394/96 - a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), contemplando da educação

básica ao ensino superior. A partir da metade da década de 1990 até o presente momento,

impulsionados pelas recomendações para o ensino superior do Banco Mundial e da United

Nations Educational Scientific and Cultural Organization (UNESCO), as políticas públicas de

governo trataram de flexibilizar totalmente o processo de abertura de instituições privadas, que

tiveram um crescimento notável e, hoje, são responsáveis por cerca de 70% do total de

matrículas no ensino superior do país.

Rosa (2013) corrobora que as políticas públicas de governo dos últimos anos foram

responsáveis por permitir um maior acesso da população a níveis mais elevados de ensino,

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através das mais diferentes formas de ingresso. Mais precisamente no período de 2003 a 2010

foram delineados alguns programas do governo federal, como: Programa Universidade para

Todos (PROUNI); Fundo de Financiamento Estudantil (FIES); Sistema de Seleção Unificada

(SISU); Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais

(REUNI); Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) e a Expansão da Rede Federal de

Educação Profissional, Científica e Tecnológica, desenvolvidos com o escopo de expandir e

democratizar o acesso à educação superior brasileira. Tais ações e programas resultou em um

movimento de expansão do nível superior de ensino, impulsionado pela criação de novas

instituições em todo o país, bem como pela ampliação de cursos e vagas nas instituições já

existentes. O crescente número de IES privadas também tem uma parcela significativa nessa

inserção.

Mancebo (2004) endossa que as ações do Governo no campo das IES têm sido

direcionadas para uma máxima de custo benefício visando de uma só vez suprir a necessidade

de ampliação da rede de ensino superior sem em contrapartida gerar gastos volumosos para a

União. Segundo Roth et al. (2013), após a Constituição de 1988 e a nova Lei de Diretrizes e

Bases (LDB), foi possível se verificar um crescimento de 295,62% no número de IES privadas

e, no mesmo período, as instituições públicas apresentaram um crescimento de 47,91% (ano

base 1999). O crescimento das IES privadas tem duas origens: a primeira relacionada com a

lacuna deixada pelas IES públicas que não acompanharam o crescimento da demanda; a

segunda, as políticas adotadas na nova legislação que possibilitaram um maior investimento por

parte do setor privado.

No que se refere aos cursos de graduação em Administração, estes agregam o maior

número de alunos matriculados no ensino superior brasileiro. Conforme o Censo da Educação

Superior elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) no ano

de 2014, encontravam-se matriculados 801.936 alunos nos cursos de bacharelado em

Administração, os quais representam 10% do universo de alunos matriculados em IES

brasileiras. Ainda de acordo com o censo, 88% dos alunos matriculados nos cursos de

bacharelado em Administração no Brasil estão em instituições privadas. Os números destacam

a importância dos cursos superiores em Administração no país.

A demanda por cursos de graduação em Administração é um aspecto que merece

destaque e pode estar relacionado à necessidade das organizações brasileiras, sejam elas do

setor industrial, comercial, de serviços, terceiro setor etc. O administrador é um profissional

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muito importante para a economia e para a sociedade; possui extenso campo de atuação e

espaço emergente no mercado de trabalho atual. Essa responsabilidade de formação dos atuais

e futuros Administradores são das Instituições de Ensino Superior e seus docentes, e as IES

privadas tem recebido o maior contingente destes.

A expansão do ensino superior no Brasil está exercendo considerável pressão sobre

a formação de profissionais docentes e técnicos do setor. A disponibilidade de docentes

preparados não cresce na mesma proporção da oferta de vagas, pois aquela não ocorre na mesma

velocidade (KÜHL et al., 2013). Quanto à formação docente, Vasconcellos (2009) ressalta que

especificamente na universidade muito pouco se sabe a respeito de seus docentes. Muitas vezes,

os profissionais da área de educação decidem previamente o formato e o conteúdo de cursos de

capacitação a partir de suas perspectivas, somado ao fato de não se ter conhecimento

aprofundado sobre a qualidade do ensino praticado na universidade. Sendo assim, é necessário

inserir o debate sobre quem forma o docente universitário, pois essa formação não pode ser

concebida como de responsabilidade exclusiva de pedagogos ou de docentes da área da

educação.

Para Nassif, Hanashiro e Torres (2010) a capacitação e a qualificação dos

professores têm emergido como palavra de ordem. A ênfase recai na necessidade de o professor

desenvolver competências para acompanhar a demanda de informações, a introdução de novas

tecnologias, de fazer parte do mundo dos jovens e ser parte integrante do processo de mudança

instalado no setor educacional. Sendo assim, é exigido do professor flexibilidade para

acompanhar as mudanças na educação, na sociedade, na ciência e, consequentemente, no ensino

superior, para que promova um ensino de qualidade. Quanto ao professor universitário no

campo da Administração, Nogueira e Bastos (2012) alertam quanto à sua preparação para

enfrentar as possíveis mudanças no contexto geral e educacional e afirmam que para tais

incertezas ainda não existe uma resposta imediata.

Villard e Vergara (2013) consideram que capacitar professores em IES e

desenvolver-lhes as competências docentes, assim como sua aprendizagem, irá propiciar que

conscientemente reconheçam suas concepções epistemológicas, pedagógicas e outras que

sejam diferentes das suas. Os autores defendem que à medida em que os professores de

administração são capazes de reconhecer e traduzir seu conhecimento docente, fazem escolhas

didáticas para ensinar considerando processos de aprendizagem e as concepções pedagógicas

subjacentes; desenvolvem consciência sobre como professor e aluno se relacionam na sala de

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aula; como o conhecimento e a competência docente se desenvolvem; aumentam a capacidade

de aprendizagem de seus alunos. O desenvolvimento da competência docente lhes permitiria

vislumbrar outras mais adequadas ao processo de ensino-aprendizagem para o atual perfil dos

alunos e às necessidades da sociedade onde os docentes de administração operam.

Considerando o papel desempenhado pelas IES privadas no contexto educacional

atual, constata-se a importância dessas instituições na formação de mão de obra para

desenvolvimento econômico do país, bem como o papel social que as IES privadas

consequentemente realizam, a partir do momento que privilegiam o acesso ao conhecimento,

que é capaz de modificar a percepção dos indivíduos sobre si mesmo e sobre o meio ao qual

está inserido. Ao analisarmos que esse indivíduo - o discente - precisa de mecanismos (métodos,

metodologias, ferramentas etc.) para absorver esse conhecimento, construí-los e reconstruí-los,

constata-se que um dos sujeitos que fazem parte desse processo é o docente. Ele é um elemento

indispensável para que esse processo ocorra da forma mais eficiente possível, bem como atinja

os objetivos ao qual se propõe: a formação técnica, profissional, social e ética dos discentes. O

docente é o mediador e facilitador desse aprendizado, e por esse motivo precisa desenvolver

competências que o ajudem a realizar o ofício para o qual se propõe. E as competências exigidas

são diversas, bem como se desenvolvem de várias maneiras, dentro ou fora de seu contexto de

atuação docente.

A partir da contextualização apresentada e das considerações estabelecidas, a

pergunta de pesquisa que surge é: As competências desenvolvidas pelos docentes dos cursos

de graduação em Administração nas IES privadas ocorrem de maneira formal ou

informal?

1.2 OBJETIVO FINAL

Identificar se as competências desenvolvidas pelos docentes dos cursos de

graduação em Administração nas IES privadas ocorrem de maneira formal ou informal.

1.2.1 OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS

• Investigar se o desenvolvimento de competências dos docentes de graduação em

administração nas IES privadas ocorreu formalmente, através de cursos ou treinamentos

proporcionados pelas IES (a IES os capacitou?).

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• Investigar se o desenvolvimento de competências dos docentes de graduação em

administração nas IES privadas ocorreu formalmente, através de formação continuada (a

titulação os capacitou?).

• Investigar se o desenvolvimento de competências dos docentes de graduação em

administração nas IES privadas ocorreu informalmente, através da experiência como docente

ou do espaço de trabalho (a prática os capacitou?).

1.3 DELIMITAÇÃO

Em qualquer pesquisa se faz necessário reduzir o foco de atuação no intuito de

torna-la possível, tendo em vista o quão complexo é analisar ou compreender completamente a

realidade que se pretende estudar. Nessa pesquisa, o objetivo final foi investigar o

desenvolvimento de competências dos docentes nos cursos de graduação em Administração nas

IES privadas. O objeto da pesquisa foi a maneira pela qual os docentes dos cursos de graduação

em Administração nas IES privadas desenvolvem as suas competências. Os professores

atuantes nos cursos de graduação em Administração das IES privadas foram os sujeitos da

pesquisa. Os informantes da pesquisa foram os professores dos cursos de graduação em

Administração atuantes em IES privadas no estado do Rio de Janeiro.

Conforme abordado na contextualização apresentada, o curso de graduação em

Administração foi escolhido devido à sua representatividade no contingente de estudantes no

ensino superior do país, considerando principalmente o número de matrículas desses estudantes

em IES privadas. Visando a facilidade de acesso e o tempo disponível para a realização da

pesquisa, foram entrevistados professores dos cursos de graduação em Administração que

atuassem em diferentes IES privadas no estado do Rio de Janeiro, com idades distintas, variadas

cargas horárias de trabalho, diferentes tempos de atuação na docência do ensino superior e, em

alguns casos, que já Coordenaram ou são atualmente Coordenadores de curso.

Considerando o itinerário percorrido pelos docentes de graduação em

Administração de IES privadas para o desenvolvimento de suas competências, o presente

trabalho o intitulou como formal e informal. O desenvolvimento de competências de maneira

formal seria proveniente do percurso formativo da docência, que ocorre habitualmente através

de cursos de formação inicial ou continuada, tais como especializações, licenciatura, formação

pedagógica e similares, considerando também cursos ou treinamentos proporcionados pelas IES

que o docente atua ou já atuou profissionalmente. Já o desenvolvimento de competências de

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maneira informal seria decorrente da experiência no seu espaço de trabalho (a sala de aula e o

âmbito acadêmico em geral), ou ainda através da experiência de mercado ou do percurso

profissional anterior ou concomitante à carreira docente.

Com relação a delimitação teórica, esta foi direcionada em função do objeto de

estudo da pesquisa: a maneira pela qual os docentes dos cursos de graduação em Administração

nas IES privadas desenvolvem as suas competências, contemplando referencial teórico sobre o

tema competência docente, sendo necessário também abordagem dos temas competência,

competência individual e competência profissional, a fim de construir um embasamento teórico

para explicar o fenômeno estudado, através de autores clássicos, atuais e contemporâneos. Para

demonstrar as competências docentes desenvolvidas, foram utilizados como referência o

modelo de competências do docente do Ensino Superior e do professor Universitário, propostos

por Mendonça et al. (2012) e Masetto (2012), respectivamente.

Essa pesquisa não se propôs a estabelecer críticas a nenhum modelo de

competências docentes ou ainda propor um novo modelo de competências para os docentes dos

cursos de graduação em Administração. A pesquisa delimitou-se a investigar as formas de

desenvolvimento de competências nos docentes dos cursos de graduação em Administração das

IES privadas e apontar desdobramentos dentro da temática. Para isso, se fez necessário escolher

e utilizar um modelo de análise de competências docentes, apenas com a finalidade de ilustrar

as competências desenvolvidas pelos docentes em sua trajetória profissional. Os modelos

escolhidos foram apresentados no parágrafo anterior que trata sobre a delimitação teórica da

pesquisa.

1.4 RELEVÂNCIA

De acordo com Karawejczyk e Estivalete (2003), as mudanças e transformações

que estão ocorrendo na natureza e no conteúdo do trabalho geram o desenvolvimento de novas

competências e transações de saberes. Antigamente, as competências eram facilmente

explicitadas em normas e manuais evidenciando-se o caráter prescritivo de realização de uma

tarefa. As descrições e especificações de cargos reforçam este caráter. Atualmente, o

desenvolvimento de competências tem assumido uma dimensão significativa à medida que

contribui para a formação e o desenvolvimento das pessoas e para uma mudança no seu modo

de pensar, ser e agir no contexto de trabalho.

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A competência, assunto que tem relevância, utilidade e aplicabilidade em qualquer

tipo de organização, sejam empresas, escola, universidades, quer sejam públicas ou privadas,

apesar de ser um tema amplamente debatido e discutido nos últimos anos, por inúmeros autores,

acadêmicos ou não, e sob vários aspectos, ainda é um assunto emergente e fonte inesgotável

para gerar mais conhecimento a respeito. A competência docente, relacionada ao objeto desse

estudo, faz parte dessa mesma linha de pesquisa, no tocante da utilização da competência em

um contexto profissional e com fins de agregar ainda mais conhecimento sobre o tema.

Nesse contexto, torna-se necessário salientar as exigências estabelecidas pelas

autoridades competentes em fiscalizar as IES privadas - o Ministério da Educação (MEC) é o

maior exemplo - através de parâmetros estabelecidos para avaliar o desempenho da instituição

e do corpo discente, a exemplo do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE)

e do Índice Geral de Cursos (IGC), que de forma cada vez mais rigorosa tem exigido qualidade

no ensino e que as universidades cumpram um papel que lhe são inerentes: pesquisa e extensão.

Mais uma vez os docentes aparecem como elementos chave desse processo.

Nogueira e Bastos (2012) ressaltam que em uma profissão como a docência, que se

volta ao domínio da técnica e sua aplicação, há de se esperar que os requisitos da escola

salientem a experiência profissional mais do que desenvolvam e foquem qualidades específicas

do escopo pedagógico. Já Slomski (2007) relata que quando se questiona o desempenho do

profissional formado pela Universidade, é a qualidade do ensino ministrado que,

concretamente, é objeto de avaliação. Esse dado remete à reflexão sobre o papel do docente,

quanto à prática do ensino universitário. Isso indica que a formação pedagógica do professor

universitário é tema primordial quando se discute a melhoria da qualidade de ensino na

graduação. Aos docentes de IES do curso de Administração a pesquisa torna-se importante para

que analisem, constatem ou reflitam de que forma podem desenvolver competências para o

ofício ao qual se propõe realizar, subsidiando alternativas para sua melhoria contínua, a fim de

que possam desenvolver-se adequadamente às exigências emergentes ou indispensáveis à

carreira docente.

Baeta e Lima (2008) afirmam que é intervindo numa realidade que se constrói a

cada dia, que os docentes da área de Administração atuam. Extrapolando os conhecimentos

formais, adquiridos ao longo da vida acadêmica, contam com a própria competência para

estabelecerem-se no mercado de trabalho e responderem às demandas discentes; em uma área

que se propõe a formar profissionais capazes de intervir na condução de organizações e gerir

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pessoas, o resultado da ação docente no processo formativo merece atenção. Hanashiro e Nassif

(2006) alertam que o ser professor não é uma caminhada dirigida e conquistada pela mera

disposição desse profissional em empreender esforços de autodesenvolvimento, pois seria

insuficiente. As Universidades precisam implantar ações focadas no desenvolvimento dessas

competências fundamentais para que o professor melhore seu desempenho e agregue valor às

instituições e a si próprio. Ou seja, as IES também devem cumprir o seu papel para que essas

competências possam emergir.

A partir da contribuição dos autores referenciados, constata-se a relevância desse

trabalho também para as IES, representadas por seus gestores acadêmicos ou administrativos,

pois o acesso a pesquisas sobre a temática “competência docente” pode possibilitar uma

reflexão a respeito do papel destes no estímulo ao desenvolvimento de competências nos

docentes, contribuindo ainda que em parte para que isso ocorra. A soma de competências

individuais resulta nas competências organizacionais. Desta forma, os argumentos expostos

buscaram embasar a relevância do trabalho para o ensino e pesquisa em Administração.

1.5 ORGANIZAÇÃO GERAL DO TRABALHO

Este trabalho está organizado da seguinte forma: na primeira etapa, estão expostos a introdução

com a pergunta de pesquisa, objetivos final e intermediário, delimitação e relevância. A segunda

etapa é contemplada pelo referencial teórico, com revisão bibliográfica sobre os temas:

competência, competência individual, competência profissional, competência docente e

competência do docente em Administração. Na terceira etapa são apresentados os aspectos

metodológicos da pesquisa, com definições a respeito do sujeito, informantes e objeto da

pesquisa, assim como as categorias a priori e emergentes. Na quarta etapa realizou-se a análise

e apresentação dos dados. Na quinta etapa as considerações finais e a sexta seção traz as

referências bibliográficas.

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CAPÍTULO 2 - REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 COMPETÊNCIA

Fleury e Fleury (2000) relatam que no modelo taylorista-fordista de organização do

trabalho, o conceito de qualificação era a referência necessária para se trabalhar a relação

profissional indivíduo-organização. Define-se qualificação geralmente pelos requisitos que

dizem respeito à posição, ao cargo, ou pelos saberes ou estoque de conhecimentos da pessoa,

frequentemente classificados e certificados pelo sistema educacional. O debate francês a

respeito de competência teve início nos anos 70, a partir do questionamento do conceito de

qualificação e do processo de formação profissional, principalmente técnico. Observando as

divergências ocorridas no mundo do trabalho, procurou-se aproximar o ensino das necessidades

das empresas, com vistas a aumentar a capacitação dos trabalhadores e suas chances de se

empregarem. Buscava-se então a relação entre competências e os saberes no referencial do

diploma e do emprego.

Para Zarifian (2008) competência é um entendimento prático de situações que se

apoiam em conhecimentos adquiridos e os modifica à medida que aumenta a diversidade das

situações; é a inteligência prática de situações que se apoiam sobre tais conhecimentos e os

transformam com quanto mais força, quanto mais aumenta a complexidade de tais situações.

Fleury e Fleury (2000) definiram competência como um saber agir responsável e reconhecido,

que consiste em mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que

agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo. Para os autores, a noção

de competência aparece assim associada a verbos como: saber agir, mobilizar recursos, integrar

saberes múltiplos e complexos, saber aprender, saber se engajar, assumir responsabilidades, ter

visão estratégica entre outros correlatos.

Perrenoud se refere à noção de competência como “uma capacidade de mobilizar

diversos recursos cognitivos para enfrentar um tipo de situações” (PERRENOUD, 2000, pag.

15). Tal definição consiste em quatro aspectos:

1. As competências não são saberes, mas mobilizam, integram e orquestram tais

saberes;

2. Essa mobilização de saberes varia a cada situação, ou seja, ainda que análoga a

outras, cada situação é singular;

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3. O exercício da competência exige operações mentais, denominada de esquemas,

que determinam e realizam uma ação relativamente adaptada a cada situação encontrada;

4. As competências, no âmbito profissional, constroem-se na formação e de uma

situação de trabalho à outra.

Segundo Perrenoud (2000) descrever uma competência equivale a evocar três

elementos complementares:

1. Os tipos de situações que domina;

2. Os recursos que mobiliza (conhecimentos, atitudes, esquemas motores, de

percepção, de avaliação, de antecipação e de decisão);

3. A natureza dos esquemas de pensamento que permitem a solicitação, mobilização

e organização dos recursos pertinentes nas situações complexas e em tempo real; este último de

difícil observação, mas inferidos a partir das práticas dos atores.

Le Boterf (2003) explica que a competência não pode se limitar a estabelecer uma

lista de conhecimentos ou de saber fazer, nem mesmo em constatar sua aplicação, pois a

competência profissional não reside nos recursos; ela é da ordem do saber mobilizar, e tem

como finalidade a ação contextualizada, a capacidade de integrar saberes diversos e

heterogêneos na realização de atividades. O saber fazer consiste no grau mais elementar da

competência. O verdadeiro saber agir – chamado de atitude – não se reduz ao saber fazer ou ao

saber operar. Não é necessário ser competente para executar o que é formalizado, para aplicar

o que é conhecido. O saber agir é saber ir além do formalizado, solicitado e, portanto, não

consiste somente em saber tratar um problema, mas, igualmente, em saber antecipá-lo.

Fleury e Fleury (2000) observam que é limitada a noção e a lógica da competência

que se incorre no reducionismo de seu conceito, que é a definição de competência como sendo

o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que afetam a maior parte do trabalho de

uma pessoa. Apesar das abordagens mais atuais a respeito do tema, Ruas et al. (2005) reforça

que continuam a prevalecer, como elementos de referência para qualquer classificação nesse

campo, os três grandes eixos considerados como clássicos: conhecimentos (saber), habilidades

(saber fazer) e atitudes (saber ser/agir).

Zarifian (2008) traz à discussão a concepção de competência profissional, que

consiste em se antecipar a eventos de maneira pertinente e com conhecimento de causa. A lógica

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da competência profissional reposiciona o trabalho na interioridade do indivíduo, tanto do ponto

de vista cognitivo quanto do ponto de vista da motivação e do comportamento social exigido

pelas inesperadas, não previstas na concepção do cargo. O retorno do conceito de trabalho ao

trabalhador gerado pela lógica da competência como propriedade particular do indivíduo, e não

do posto de trabalho, posiciona o indivíduo como unidade de análise privilegiada e ponto de

partida dos estudos de competência.

Lima, Zambroni-de-Souza e Araújo (2015) corroboram que a noção de competência

e seu significado de restituição do trabalho ao trabalhador, de retomada da prerrogativa de tomar

iniciativas, portanto, de reexercitar o poder de agir, de interferir nos destinos, de regular o

trabalho, de poder modulá-lo segundo o perfil de cada trabalhador, é, sem sombra de dúvidas,

o retorno à vida da subjetividade, sufocada por longo tempo na lógica taylorista. O modelo da

competência se apresenta nesse momento com um potencial revolucionário. A retomada da

respiração subjetiva, a possibilidade de reconectar a inteligência e o trabalho, de reafirmação

do trabalhador como sujeito, desbravador, autor, criador, inovador, alguém que abre caminhos,

que enfrenta os problemas e constrói soluções.

Le Boterf (2003) ilustra a importância do contexto ao ressaltar que inúmeras

pessoas que possuem conhecimentos ou capacidades não sabem mobilizá-los de modo

pertinente e no momento necessário em uma situação de trabalho. A atualização daquilo que se

sabe em um contexto específico (como por exemplo, relações de trabalho, cultura institucional,

contingências, restrições temporais dos recursos, etc.) é nesse momento que se revela a

competência, que somente se realiza na ação. A competência se constrói, portanto, na

combinação de saber e contexto (saber agir); além disso, o profissional é capaz de transpor a

aprendizagem para outros contextos.

Paralelamente ao saber agir, Le Boterf (2003) desenvolve a noção de querer agir e

de poder agir (dependente das condições contextuais). O profissionalismo e a competência

resultam não somente de um saber agir, mas de um querer e de um poder agir. Nesse momento.

Aparecem, aqui, associados à competência, os aspectos cognitivos, afetivos e sociais inerentes

à motivação humana. O envolvimento do profissional depende de sua implicação cognitiva

(saber agir), afetiva (querer agir) e social (poder agir) na situação. O saber agir pode ser

desenvolvido de diversas formas, a exemplo da formação, treinamento e passagem para

situações profissionalizantes. O querer agir será estimulado principalmente por desafios. Já o

poder agir será tornado possível por um contexto facilitador, por atribuições e por redes (de

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relacionamento e de informações). Para o autor, a competência é inseparável da motivação. Se

as condições de manutenção da motivação não estiverem reunidas, o indivíduo pode negar-se

a agir, apesar da presença da capacidade de agir.

O trabalho não é mais o conjunto de tarefas associadas descritivamente ao cargo,

mas se torna o prolongamento direto da competência que o indivíduo mobiliza face a uma

situação profissional cada vez mais mutável e complexa. Esta complexidade de situações torna

o imprevisto cada vez mais cotidiano, rotineiro. A competência é uma nova forma de

qualificação emergente. Com a evolução histórica e prática dos conceitos, a profissionalização

hoje não deveria mais estar reduzida à formação, inclusive porque, segundo o autor, profissional

é aquele que sabe administrar uma situação profissional complexa. Aqui, a complexidade

aparece associada ao evento, ao contexto, às necessidades, problemas e ao processo. (FLEURY;

FLEURY, 2000; ZARIFIAN, 2008).

2.2 COMPETÊNCIAS INDIVIDUAIS

Na perspectiva da competência individual, o conceito de competência e pensado como

um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que justificam um alto desempenho, na

medida em que há também um pressuposto de que os melhores desempenhos estão

fundamentados na inteligência e na personalidade das pessoas; nessa abordagem considera-se

a competência, portanto, como um estoque de recursos que o indivíduo detém. A avaliação

dessa competência individual e feita, no entanto, em relação ao conjunto de tarefas do cargo ou

posição ocupada pela pessoa. (FLEURY; FLEURY, 2013).

Para Fleury e Fleury (2013) competência individual encontra seus limites, mas não sua

negação, no nível dos saberes alcançados pela sociedade, ou pela profissão do indivíduo, numa

época determinada. As competências são sempre contextualizadas. Os conhecimentos e o

know­how não adquirem status de competência a não ser que sejam comunicados e trocados. A

rede de conhecimento em que se insere o indivíduo e fundamental para que a comunicação seja

eficiente e gere competência. A noção de competência aparece, assim, associada a verbos como

saber agir, mobilizar recursos, integrar saberes múltiplos e complexos, saber aprender, saber se

engajar, assumir responsabilidades, ter visão estratégica. As competências devem agregar valor

econômico para a organização e valor social para o indivíduo. A figura 1 sintetiza a proposta

dos autores:

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Figura 1 - Competências como fonte de valor para o indivíduo e para a organização

Fonte: Fleury e Fleury (2013, p.30) adaptado pela autora.

Zarifian (2008, p.67) afirma que:

[...] A competência é realmente a competência de um indivíduo (e não a qualificação de um emprego) e se manifesta e é avaliada quando de sua

utilização em situação profissional (na relação prática do indivíduo com a

situação profissional, logo, a maneira como ele enfrenta essa situação está no âmago da competência).

Zarifian (2008) relata que é a organização que permite unir a competência individual à

competência coletiva. A competência individual se manifesta claramente em relação a um

indivíduo e se expressa no que ele faz. A sua produção é resultado de inúmeras trocas de saberes

e conexões entre atividades diferentes. Cada vez mais o indivíduo constrói sua competência

entrando em contato em seu percurso educativo e profissional. É relativamente fácil avaliar a

manifestação de uma competência individual em dada situação profissional, mas é

relativamente difícil compreender como essa competência foi construída.

Já Le Boterf (2003) afirma que o capital de competências de uma empresa não se limita

ao desenvolvimento das competências individuais de seus empregados. A competência coletiva

é uma resultante das competências individuais. As competências são construídas nas interações

entre as pessoas e a competência coletiva emerge das trocas fundadas nas competências

individuais.

Passando do nível mais estratégico de formação das competências organizacionais para

o nível da formação das competências do indivíduo, Fleury e Fleury (2013) categorizou em 03

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(três) grandes blocos a relação da competência individual com toda a empresa, em uma

perspectiva sistêmica:

• competências de negócio: competências relacionadas a compreensão do negócio, seus

objetivos na relação com mercado, clientes e competidores, assim como com o ambiente

político e social; exemplo: conhecimento do negócio, orientação para o cliente.

• competências tecnico­profissionais: competências específicas para certa operação,

ocupação ou atividade, como, por exemplo, desenho técnico, conhecimento do produto,

finanças;

• competências sociais: competências necessárias para interagir com as pessoas, como,

por exemplo, comunicação, negociação, mobilização para mudança, sensibilidade cultural,

trabalho em times.

Relacionando esses conjuntos de competências desenvolvidas pelos indivíduos em seus

espaços de atuação com as estratégias do negócio, chegaremos às competências essenciais da

organização. (FLEURY; FLEURY, 2013)

2.3 COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS

Le Boterf (2003) define o profissional como o sujeito que consegue administrar

situações profissionais complexas, originadas em boa parte pelos avanços da tecnologia

aplicados no mercado que estabeleceu e aproximou as relações entre as empresas. Diante dessa

realidade, o profissional passa a ser exigido em maior grau, de forma que possa apresentar

soluções que ultrapassem o conhecimento técnico; esse é o perfil de profissional que se torna

procurado pelas empresas que concorrem por mercados e clientes, porque representa o recurso

mais importante de todos, no que se refere a dar respostas que representem um diferencial

competitivo.

O profissional para ser considerado competente deve agir de forma que seus

resultados são avaliados por si mesmo e por terceiros, e que dependendo dessa avaliação, sua

ação será legitimada como competente (ou não), pois a competência profissional também é de

natureza contextual. Em ambos os casos (julgado competente ou não), o profissional reflete

sobre e na sua ação, de modo a melhorá-la ou adequá-la ao que é esperado por si mesmo e pelos

públicos com os quais ele lida (MENDONÇA et al., 2012).

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Paiva e Melo (2008, p. 11) propuseram o seguinte conceito de competência

profissional:

[...] mobilização de forma particular pelo profissional na sua ação produtiva de um conjunto de saberes de naturezas diferenciadas (que

formam as competências intelectual, técnico-funcionais, comportamentais,

éticas e políticas) de maneira a gerar resultados reconhecidos individual (pessoal), coletiva (profissional), econômica (organização) e socialmente

(sociedade).

Os autores conceberam então competência profissional como a meta-reunião de

maneira singular e produtiva de competências compostas por saberes variados. Nesse contexto,

foi acrescida a ‘competência política’, com vistas a considerar as relações de poder inerentes a

qualquer estrutura organizacional, justificando as razões e formas de atuação do profissional na

teia política intra e interorganizacional.

Tardif (2000) afirma que os saberes profissionais são saberes trabalhados, saberes

laborados, que só têm sentido em relação às situações de trabalho e que é nessas situações que

são construídos, modelados e utilizados de maneira significativa pelos trabalhadores. O trabalho

não é primeiro um objeto que se olha, mas uma atividade que se faz, e é realizando-a que os

saberes são mobilizados e construídos. Esse enfoque considera que o profissional, sua prática e

seus saberes não são entidades separadas, mas “co-pertencem” a uma situação de trabalho na

qual “co-evoluem” e se transformam. Os saberes profissionais não são construídos e utilizados

em função de seu potencial de transferência e de generalização; eles estão encravados,

embutidos, encerrados em uma situação de trabalho à qual devem atender.

De acordo com Le Boterf (2003) o profissional se define pela tarefa de

“administrar”, diferente do trabalhador, que se define com relação ao trabalho e às tarefas a

realizar. Esse saber administrar relativo ao profissional declina em alguns “saberes”, são eles:

- saber agir com pertinência: saber agir na ocorrência de imprevistos e

contingências, tomando iniciativas, fazer escolhas, assumir riscos e inovar-se;

- saber mobilizar saberes e conhecimentos em um contexto profissional: não basta

apenas ter conhecimentos e habilidades. É necessário saber mobilizá-los de forma pertinente e

no momento oportuno em uma situação de trabalho.

- saber integrar ou combinar saberes múltiplos e heterogêneos: refere-se a

capacidade de selecionar os elementos necessários de seu repertório de saberes e recursos,

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organizando-os e empregando-os para realizar uma atividade profissional, resolver um

problema ou realizar um projeto.

- saber transpor: consiste na capacidade de aprender e de se adaptar. O profissional

não pode se limitar a repetir; ele deve transpor a experiência adquirida em novos contextos.

- saber aprender e aprender a aprender: refere-se ao saber transformar sua ação em

experiência. Fazer de sua prática profissional uma oportunidade de criação de saber.

- saber envolver-se: consiste em tomar iniciativas, fazer propostas; envolver-se

profissionalmente na busca de resolução de problemas.

Le Boterf (2006) corrobora que a dinâmica posta em prática por um profissional

que age com competência ativa 03 (três) dimensões da competência: os recursos disponíveis

que ele pode mobilizar para agir (conhecimentos, capacidades cognitivas, competências

comportamentais etc), a ação e os resultados que ela produz (práticas profissionais e

desempenho) e a reflexividade (distanciamento em relação às duas dimensões anteriores).

Os recursos a mobilizar é a dimensão mais conhecida. Para agir de forma apropriada

um profissional deve manter, saber combinar e pôr em prática um conjunto coerente de recursos

pessoais (conhecimentos e experiência, por exemplo). Por outro lado, existem os recursos

disponíveis no contexto em que a pessoa se insere, aqueles que ela não possui, mas aos quais

ela pode recorrer se necessário, como por exemplo: bases de dados, redes de conhecimentos,

competências de colegas ou de profissionais. Para agir com competência, um profissional deve

combinar e mobilizar os recursos pessoais e os recursos do seu contexto; torna-se difícil, talvez

impossível, ser competente sozinho e de forma isolada (LE BOTERF, 2006).

De acordo com Le Boterf (2006), a segunda dimensão - da ação e dos resultados

que ela produz - corresponde às práticas profissionais em relação às exigências de uma situação

profissional e com a necessidade de desempenho. Ser reconhecido como competente é ser visto

como alguém capaz de conduzir práticas profissionais adequadas, em relação às exigências de

um posto de trabalho ou de uma missão a cumprir. O profissional competente demonstra-o

através da ação. A noção de prática profissional é a base da compreensão da competência, e é

concebida como um conjunto de atividades executadas a partir de uma prescrição, com vistas a

resolver uma situação, um problema ou para encarar um determinado acontecimento. Saber agir

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não se refere a aspectos isolados, mas sim a combinação de diferentes operações; a articulação

de sequências de ações a fim de alcançar um objetivo que faça sentido.

A última dimensão da competência de acordo com Le Boterf (2006) refere-se à

reflexividade. Consiste em um distanciamento necessário para melhorar as práticas

profissionais, a fim de compreender o porquê e o como agir; da situação sobre a qual intervém

e a forma como o faz. Segundo Le Boterf (2006, p.04) o distanciamento consiste em:

[...] marcar uma separação entre o próprio e as suas práticas, entre o próprio,

os recursos pessoais e os recursos exteriores disponíveis. É sobre esta

dimensão que o profissional pode desenvolver a sua capacidade de conduzir, ele próprio, as suas aprendizagens e de as transferir.

Esta dimensão é onde se concretiza a análise das práticas; consiste em distanciar-se

para tomar consciência das suas práticas, no sentido de formalizá-las ou conceitualizá-las, A

reflexividade leva à reconstrução da realidade, a exemplo de construção de esquemas ou

modelos cognitivos, que poderão dar lugar a generalizações e que contribuirão para a

construção do profissionalismo da pessoa envolvida. (LE BOTERF, 2006)

2.4 COMPETÊNCIA DOCENTE

De acordo com Karawejczyk e Estivalete (2003), as mudanças e transformações

que estão ocorrendo na natureza e no conteúdo do trabalho geram o desenvolvimento de novas

competências e transações de saberes. Antigamente, as competências eram facilmente

explicitadas em normas e manuais evidenciando-se o caráter prescritivo de realização de uma

tarefa. As descrições e especificações de cargos reforçam este caráter. Atualmente, o

desenvolvimento de competências tem assumido uma dimensão significativa à medida que

contribui para a formação e o desenvolvimento das pessoas e para uma mudança no seu modo

de pensar, ser e agir no contexto de trabalho.

Nassif, Hanashiro e Torres (2010) sinalizam as exigências pregoadas pelos órgãos

oficiais no sentido de impulsionar a educação para a melhoria da qualidade, surgindo então a

necessidade de repensar os papéis e as funções do ensino superior, bem como da relevância do

papel dos educadores e dos procedimentos acadêmicos e administrativos em função do

crescimento e da importância que a educação tem no mercado de trabalho. Por um lado,

observa-se entre os professores um movimento de busca por titulação, em função das exigências

dos órgãos oficiais, das instituições de ensino e do mercado de trabalho. Por parte das

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instituições de ensino superior, prevalece a busca de professores titulados, a fim de atender às

exigências de credenciamento dos cursos.

Rezende e Leal (2013) relatam que atualmente, as Instituições de Ensino Superior

(IES) enfrentam vários desafios, dentre os quais: a ampliação do sistema de ensino, as

regulamentações impostas pelo Ministério da Educação (MEC), as inovações tecnológicas na

educação e a necessidade de atender às demandas do mercado de trabalho, relacionadas a

competências, habilidades e atitudes requeridas dos formandos. Nesse contexto, as IES vêm

passando por um processo de reestruturação e adaptação para enfrentar diversos desafios

inerentes a esse ambiente dinâmico, sendo o papel desempenhado pelo docente essencial na

formação dos futuros profissionais, o que requer uma preparação compatível para enfrentar

esses desafios.

Até a década de 70 eram exigidos do professor de ensino superior o bacharelado e

o exercício competente da profissão. A partir da década de 80, passaram a exigir cursos de

especialização na área. Atualmente, exige-se mestrado e doutorado. Ao observarmos as

exigências, elas basicamente continuam as mesmas, pois se referem a domínio de conteúdo e

experiência profissional, pois até pouco tempo havia a crença de que quem sabe, sabe ensinar,

pois “ensinar” construía ministrar aulas expositivas e mostrar na prática como se fazia.

Recentemente os professores universitários começaram a se conscientizar que ser docente exige

capacitação própria, além do diploma de bacharel ou apenas o exercício da profissão; exige

também aquisição de competências específicas, a exemplo da competência pedagógica, sendo

necessário buscar meios de desenvolvimento pessoal (MASETTO, 2012).

Para Guimarães (2014), se o foco do trabalho docente recai sobre o ensino, não será

a titulação ou sua possível produtividade no campo da pesquisa que o consagrará como

competente. Mesmo sob esta perspectiva, a competência aqui além de estar circunscrita a um

pequeno e seleto grupo de stakeholders, também não responderia em que medida a prática da

profissão – centrada no ensino – concederia o caráter de competência ao docente. Slomski

(2007) defende que a ideia de que a docência é um ofício feito de saberes está relacionada às

perspectivas da literatura educacional, que entende que a docência requer a construção de um

repertório próprio de saberes. Estamos diante de um processo de ampliação do campo da

docência universitária. A docência requer formação profissional para seu exercício:

conhecimentos específicos ou, no mínimo, habilidades vinculadas à atividade docente para

melhorar sua qualidade. Nesse sentido, a docência é uma atividade que demanda saberes

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próprios e inscreve-se como profissão - uma palavra de construção social, em uma realidade

dinâmica e contingente, calcada em ações coletivas, produzida pelas ações dos atores sociais,

no caso, os docentes universitários.

Para Tardif (2000), os saberes profissionais dos professores provêm de diversas

fontes, tais como sua cultura pessoal; conhecimentos disciplinares adquiridos na universidade;

conhecimentos didáticos e pedagógicos oriundos de sua formação profissional; conhecimentos

curriculares veiculados pelos programas, guias e manuais escolares; em seu próprio saber ligado

à experiência de trabalho, na experiência de certos professores e em tradições peculiares ao

ofício de professor. Os saberes profissionais também são variados e heterogêneos porque não

formam um repertório de conhecimentos unificado, por exemplo, em torno de uma disciplina,

de uma tecnologia ou de uma concepção do ensino; os professores procuram atingir diferentes

tipos de objetivos cuja realização não exige os mesmos tipos de conhecimento, de competência

ou de aptidão. Em outras palavras, a prática profissional dos professores é heterogênea ou

heterônoma no tocante aos objetivos internos da ação e aos saberes mobilizados.

Slomski (2007) relata que quando se questiona o desempenho do profissional

formado pela Universidade, é a qualidade do ensino ministrado que, concretamente, é objeto de

avaliação. Esse dado remete à reflexão sobre o papel do docente, quanto à prática do ensino

universitário. Isso indica que a formação pedagógica do professor universitário é tema

primordial quando se discute a melhoria da qualidade de ensino na graduação. Os estudos sobre

a formação de professores investigam a genealogia da profissão docente, procurando identificar

e compreender quais conhecimentos e saberes são demandados em contraposição à perspectiva

histórica da profissão ligada a um fazer vocacionado, em que os conhecimentos profissionais

reduzem-se ao conteúdo de ensino.

Vasconcellos (2009) considera a qualidade de ensino sob um ponto de vista didático

e pedagógico, permeados pela dimensão ética inerente a todo trabalho docente. A ideia de

qualidade no ensino remete também diretamente à questão da competência docente. De acordo

com o autor, o termo competência se encontra desgastado pela conotação que adquiriu no seu

uso pelas ideologias neoliberais definidoras das reformas educacionais atualmente no país. O

termo competência tem sido muito utilizado nos últimos anos, tanto em textos educacionais

como em documentos oficiais que regulamentam a educação brasileira, como os Parâmetros

Curriculares Nacionais. A ideia de competência, na maioria desses casos, está associada a

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saberes, capacidades e habilidades na área de educação e à ideia de qualificação profissional no

espaço do trabalho.

Nassif, Hanashiro e Torres (2010) relatam a cobrança que é feita em relação ao

professor para que forme alunos capacitados para enfrentar as exigências de mercado,

entretanto não há uma reflexão sobre quais são e como esses professores desenvolvem suas

competências. Não obstante, é cada vez mais presente a introdução de novas modalidades de

ensino, como o ensino a distância ou por meio de instrumentos assistidos por tecnologia

computacional, por parte das instituições de ensino superior (IES). Porém não se tem verificado

preocupação por parte destas em desenvolver competências para que os professores atuem nesse

novo ambiente de ensino.

Diante das considerações acima e dos inúmeros desafios vivenciados no cotidiano

de nossas instituições, Vasconcellos (2009) considera que no exercício da docência

universitária é urgente que o professor:

- Dê o devido valor ao ensino, reconheça a centralidade deste para a docência e sua importância

como possibilidade de intervenção na formação de mentalidades; Reconheça-se como autor de

suas ações e escolhas na condução de suas práticas educativas e assuma-se como responsável

pelas consequências geradas por estas;

- Seja livre e tenha autonomia para posicionar-se diante das complexas questões educativas e

aja em consonância com princípios e valores éticos, aplicando estes princípios e valores em sua

prática cotidiana. Dessa forma, seu trabalho, na área educativa, revelaria o compromisso com

um projeto educativo vinculado com um projeto de sociedade mais justo e mais digno para

todos os homens;

- Assuma a responsabilidade de seu papel de educador e conceba a tarefa educativa como

indissociável do trabalho docente, uma vez que não há neutralidade em educação. Seja

consciente de que não é possível para nenhum professor ser apenas um mero repassador de

conteúdos e técnicas, atuando apenas no plano objetivo ou “científico” do conhecimento, pois

durante todo o tempo de sua ação, estará lidando com subjetividades, sentimentos e valores.

Vasconcellos (2009) afirma que é difícil delimitar papéis e que uma das

responsabilidades dos profissionais da área da educação seria a defesa da construção de uma

proposta que permitisse que essa formação acontecesse de forma mais efetiva. O processo

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formativo do docente universitário é complexo e não pode ser considerado apenas de um ponto

de vista. Todos os elementos relacionados ao trabalho docente e seu contexto institucional,

social e político devem ser considerados na busca de alternativas ou propostas de formação,

pois a necessidade do professor universitário assumir a docência como profissão e reconhecer

a importância da formação pedagógica para seu exercício já é uma demanda historicamente

construída.

Para Nassif, Hanashiro e Torres (2010) as instituições de ensino superior precisam

se preparar e reorganizar-se com base na concepção de conhecimento, fazendo uso de teorias

de aprendizagem e formas de organização do ensino que superem as práticas pedagógicas

tradicionais centradas na memorização e na reprodução de informações, já que as exigências

atuais demandam a formação de cidadãos pensantes e criativos. Ainda que a tarefa educacional

não possa ser idealizada, é preciso reconhecer que o professor pode trazer boas contribuições.

Libâneo (2001) reforça a argumentação sobre formação docente, afirmando que a

tendência atual para as atividades de formação de professores é a visão do ensino como

atividade crítico-reflexiva. O alcance da reflexão tem como consequência, além da formação

dos professores, uma análise do currículo, do ensino e da metodologia da docência. O professor

precisa pensar constantemente sobre sua prática e, a partir disso, desenvolver a capacidade

reflexiva sobre a atividade docente. Esse comportamento depende essencialmente da

intencionalidade por parte do professor para proceder a uma reflexão sobre seu trabalho. A

adoção da reflexão sobre a prática docente pode levar a apropriação e produção de teorias que

melhoram as práticas de ensino. Além disso, auxilia na superação das deficiências dos docentes

acerca do aprender a pensar.

Slomski e Martins (2008) corroboram que o conceito de professor-reflexivo gira

em torno da prática dos profissionais, à medida que valoriza a experiência, a reflexão sobre a

experiência e a prática profissional como momento de construção do conhecimento. A ideia é

a de que o professor aprende a ensinar no exercício da profissão. A prática pedagógica é

entendida como um espaço de construção dos saberes profissionais. A articulação entre as

experiências de ensino, vivenciadas nas instituições de educação, o processo de troca coletiva

de experiências e práticas é que permite aos professores o desenvolvimento da consciência

crítica e reflexiva.

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De acordo com Tardif (2000), um professor raramente tem uma teoria ou uma

concepção unitária de sua prática; ao contrário, os professores utilizam muitas teorias,

concepções e técnicas, conforme a necessidade. Sua relação com os saberes não é de busca de

coerência, mas de utilização integrada no trabalho, em função de vários objetivos que procuram

atingir simultaneamente. Os saberes profissionais dos professores são situados, isto é,

construídos e utilizados em função de uma situação de trabalho particular, e é em relação a essa

situação particular que eles ganham sentido.

A reflexão não representa um processo mecânico e solitário, nem um simples

exercício de criação ou construção de novas ideias, que pode ser imposto ao fazer docente, mas

uma prática que expressa a tomada de decisões e as concepções que se tem acerca da ação

pedagógica. A perspectiva reflexiva oferece melhores condições de aprendizagem e de

desenvolvimento profissional do professor. Os professores teriam melhores condições para

enfrentar os problemas colocados pela prática, à medida que os compreendessem, refletissem

e, em conjunto com seus pares, apropriassem-se de formas de enfrentamento. (SLOMSKI;

MARTINS, 2008).

Trazendo para a perspectiva da competência segundo Le Boterf (2006), cada prática

é singular, específica da pessoa que a implementa. É o resultado de uma aprendizagem pela

experiência em situações reais e em situações simuladas. Não existe uma resposta única para

uma situação profissional; não há uma forma única de resolver um problema com competência.

Confrontado com um determinado problema, um profissional agirá de uma forma peculiar,

aquela que lhe foi sendo ensinada pela experiência.

Mendonça et al. (2012) entendem que a ação competente só é legitimada mediante

o atingimento do seu objetivo, que no caso do ensino é a aprendizagem do aluno,

necessariamente verificada a posteriori. Para os autores, as especificidades do contexto

educacional implicam competências docentes diferenciadas, e para fins de compreensão das

competências do professor do ensino superior no Brasil, propuseram um modelo orientador nas

pesquisas e intervenções ligadas à formação de professores do ensino superior.

Mendonça et al. (2012) propuseram um modelo de competências profissionais do

professor do ensino superior, voltado para a realidade sociocultural brasileira, associadas às

componentes específicas - cognitiva, funcional, comportamental, política e ética - do modelo

de competências profissionais de Paiva (2007), sendo este uma adaptação de Cheetham e

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Chivers (1996, 1998, 2000). O modelo de Mendonça et al. (2012) delimita sete conjuntos de

saberes específicos, considerando os papéis que são atribuídos ao professor do ensino superior

na docência, pesquisa, extensão, orientação e administração nas IES. No modelo proposto, o

conjunto de saberes específicos ao professor do ensino superior são: docência, pesquisa,

extensão, de gestão, avaliativos, interpessoais e tecnológicos. Sendo assim, temos:

1) Docência: domínio de sala de aula; tradução dos conteúdos para a linguagem e

cotidiano dos alunos. Componentes principais: cognitivo e funcional.

2) Pesquisa: domínio de abordagens, métodos e técnicas de pesquisa; respeito ao

objeto de pesquisa. Componentes principais: cognitivo, funcional, comportamental e ético.

3) Extensão: aproximação da instituição de ensino em relação à sociedade ou parte

dela focalizada nas ações extensionistas; mobilização de sujeitos. Componentes principais:

funcional, comportamental e ético.

4) De gestão: mobilização de subordinados e pares rumo aos objetivos grupais e

organizacionais; domínio de processos administrativos e burocráticos. Componentes principais:

cognitivo, comportamental, ético e político.

5) Avaliativos: domínio de critérios e processos em nível micro, meso e macro

organizacional; capacidade analítica frente a informações; domínio de mecanismos de

feedback. Componentes principais: cognitivo, funcional, ético e político.

6) Interpessoais: relações em nível individual e grupal; capacidade de desenvolver

e manter empatia. Componentes principais: comportamental, ético e político.

7) Tecnológicos: domínio das tecnologias disponíveis na organização; domínio de

tecnologias de informação e comunicação (TICs). Componentes principais: cognitivo e

funcional.

A figura 2 ilustra o modelo proposto pelos autores:

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Figura 2 - Modelo de competências profissionais do professor do ensino superior

Fonte: Mendonça et al. (2012, p.12) adaptado pela autora.

O modelo apresentado Mendonça et al. (2012) também considera traços de

personalidade e a motivação do professor, já que um sujeito desmotivado certamente não realiza

seu potencial nas suas ações, dificilmente sendo reconhecido como competente. O modelo

também contempla o contexto de trabalho do professor, entendendo seu espaço como além da

sala de aula, já que seu ambiente de trabalho transcende a própria instituição de ensino

dependendo das atividades que realiza, a exemplo da pesquisa e da extensão.

No livro “Competência pedagógica do professor universitário”, Masetto (2012)

também elencou algumas competências básicas para o professor do ensino superior:

1. Ser competente em determinada área do conhecimento – consiste em conhecimentos

básicos em determinada área e experiência profissional de campo, bem como a constante

atualização das práticas profissionais, através de cursos, especializações, congressos,

intercâmbios e, sobretudo, pesquisa para fins de estudo e reflexões críticas (produção de papers

e publicações em revistas e periódicos).

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2. Domínio pedagógico – conhecimento dos processos de ensino-aprendizagem, gestão de

currículos, integração de disciplinas, compreensão da relação professor-aluno e aluno-aluno,

tecnologias educacionais, o processo de avaliação e suas técnicas de feedback e o planejamento

educacional.

3. O exercício da dimensão política na docência – O papel de cidadão que o professor

desempenha não apenas na sociedade e fora da sala de aula, mas inclusive dentro dela. Abrir

espaços para discussão e debate de temas emergentes na sociedade e que impactam a formação

cidadã e profissional dos alunos também faz parte das atribuições do professor universitário.

De acordo com Slomski (2007), ao analisar a situação dos professores que atuam

hoje na universidade verifica-se facilmente que a grande maioria não contou com a formação

sistemática necessária à construção de uma identidade profissional para a docência. Embora

estejam dando aulas, esses professores nem sempre dominam as condições necessárias para

atuar como tais. Essa problemática precisa ser considerada tanto no que se refere ao que é ser

professor (formação), quanto ao exercício da profissão (condições para tal). Essas questões têm

sido consideradas em vários países, tanto no âmbito dos processos de formação, como nas

formulações das políticas de ensino superior (ensino e pesquisa), exigências que caracterizam

o exercício da profissão de modo geral.

Sobre essa questão Kühl et al. (2013) destacam que a expansão do ensino superior

no Brasil está exercendo considerável pressão sobre a formação de profissionais docentes e

técnicos do setor. A disponibilidade de docentes preparados não cresce na mesma proporção da

oferta de vagas, pois aquela não ocorre na mesma velocidade. A solução do mercado é

aproveitar profissionais que atuam no setor público ou empresas para atender essa demanda

adicional de docentes, com o consequente impacto na qualificação desse contingente extra de

docentes.

Slomski (2007) considera que há necessidade de se valorizar também o ensino e a

pesquisa na formação do professor universitário, uma vez que as repercussões do processo

evolutivo de pensar o conhecimento e reorganizar a ciência estão trazendo profundas

modificações para o mundo contemporâneo. Essas duas esferas andam juntas, já que ambas

decorrem de uma visão epistemológica. A docência universitária exige a indissociabilidade

entre ensino, pesquisa e extensão, tendo como produto a geração do conhecimento e sendo

necessária sua socialização.

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Muito tem sido pesquisado sobre a temática formação docente. Slomski (2007)

afirma que há estudos que procuram estabelecer relações entre os conhecimentos construídos

pelos professores ao longo de sua vida profissional e aqueles adquiridos em cursos de formação

inicial e/ ou programas de formação continuada. Há também estudos que focalizam processos

cognitivos envolvidos no desenvolvimento de atividades que o professor planeja, nos seus

conhecimentos adquiridos - do aluno, do currículo, de teorias pedagógicas, de fins e metas

educacionais etc. Tais estudos, embora não conclusivos, têm contribuído para compreensões

sobre o que o professor pensa e sobre como aprende a ser professor.

2.5 COMPETÊNCIAS DO DOCENTE DE ADMINISTRAÇÃO

Hanashiro e Nassif (2006) consideram o professor universitário um eixo

fundamental na cadeia de valores do ensino, que é composto de atividades que vão desde o

aluno até o mercado suprido. Em relação ao ensino da Administração, Baeta e Lima (2008)

consideram que o preparo do educador é relevante por se tratar de uma “ciência nova” e

dinâmica. A questão ganha relevância ao se considerar que diversas instituições buscam formar

profissionais “competentes” e afinados com as novas tecnologias e ferramentas de gestão,

capazes de liderar mudanças e obter resultados através das pessoas. Villard e Vergara (2013)

relatam que a universidade, por meio de seus docentes, promove educação para formar cidadãos

e profissionalização para formar trabalhadores. Nos cursos de graduação em administração, por

exemplo, pretendem-se formar competências profissionais e gerenciais nos alunos, futuros

administradores que atuarão no setor público ou privado.

Nogueira e Bastos (2012) registram que uma arquitetura curricular sobre a

formação docente, se pensada para cursos de Administração deste início de século, faz ecoar

ainda outras incertezas para as quais não existe uma resposta imediata ou resultados de fácil

visibilidade. De acordo com os autores, questionamentos tais como: se há inovações nas

práticas e nos papéis dos professores de Administração; na forma com que os professores lidam

com a mudança do perfil de aluno; nas práticas apoiadas em tecnologia; na promoção de

situações de ensino e aprendizagem e em como os quadros atuais de professores de cursos de

graduação em Administração têm incorporado o papel central da aprendizagem no processo

educativo são perguntas que emergem a partir de tais resultados.

De acordo com Baeta e Lima (2008), é intervindo numa realidade que se constrói a

cada dia, que os docentes da área de Administração atuam. Extrapolando os conhecimentos

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formais, adquiridos ao longo da vida acadêmica, contam com a própria competência para

estabelecerem-se no mercado de trabalho e responderem às demandas discentes. Numa área

que se propõe a formar profissionais capazes de intervir na condução de organizações e gerir

pessoas, o resultado da ação docente no processo formativo merece atenção.

Docentes universitários também são responsáveis pela formação das competências para ensino

e pesquisa dos bacharéis que podem seguir carreira docente posteriormente. Uma avaliação do

estado dessa educação superior em administração que ofereça mais informações, insumos à

capacitação docente requer, antes, explicitar a situação atual. Parece, portanto pertinente

examinar, por meio de pesquisa, e refletir coletivamente no meio acadêmico, sobre as próprias

práticas docentes e os processos pelos quais elas são por eles aprendidas em cursos de

graduação em administração no Brasil (VILLARD; VERGARA, 2013).

Nogueira e Bastos (2012) defendem que o atendimento da exigência de desenvolver

formandos com um perfil de competências relacionado ao curso que frequentam e com a

necessidade de aplicarem essas competências na atividade profissional que exercem requer uma

reflexão acerca do profissional que tem o papel de contribuir nesse processo formativo: o

professor universitário. Sendo assim, é válido considerar que o ensino de conteúdos

disciplinares não constitui o único e principal objetivo da Universidade, independentemente do

curso − também há o desenvolvimento de competências que são requeridas principalmente no

mundo do trabalho, cada vez mais competitivo.

Baeta e Lima (2008) reforçam que preparar o discente para essa realidade é tarefa

complexa e não deveria ser entendida como responsabilidade apenas do docente, mas também

da instituição. Em diversas circunstâncias, a ação docente torna-se comprometida pela falta de

apoio e mecanismos que permitam uma atuação mais efetiva no processo de ensino-

aprendizagem. Nesse sentido, o acompanhamento e a implementação de ações contínuas de

aperfeiçoamento docente deveriam ser constantes.

Plutarco e Gradvohl (2010) consideram que o conhecimento docente constitui uma

de suas competências centrais, o que inclusive justifica o esforço de formação de docentes em

nível superior em modelos sólidos de formação, como é o caso dos cursos de mestrado

(especialmente da modalidade acadêmica) e doutorado. Por outro lado, a relevância do

conhecimento é moldada pela necessidade das demais competências docentes, pressupondo-se

que conhecimento é algo necessário, porém não suficiente para um bom professor.

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Villard e Vergara (2013) reforçam que resolução de problemas realizada pelos

professores em seu ensinar cotidiano constitui uma forma de desenvolvimento contínuo de

competências profissionais docentes em cursos de administração, admitindo-se que tais

professores aprendam permanentemente com seu próprio trabalho. O aprender pela resolução

de problemas diários do seu ensinar não tem sido incluído na formação de docentes em

administração. Para aprofundar o entendimento da aprendizagem das práticas docentes nos

cursos de administração, ou seja, das dinâmicas de aprendizagem individual, coletiva e

organizacional oferecidas pelas instituições de educação superior, parece interessante e

pertinente examiná-las de modo processual e contextualizado ao invés de apenas individual e

pontual.

Nogueira e Bastos (2012) constatam que há necessidade de iniciativas de formação

continuada dos docentes em Administração, assim como seu papel central no processo de

ensino-aprendizagem e na sua interação com o alunado, além do aspecto afetivo na educação

de adultos, como um fator relevante para que esse processo se efetive. Segundo Tardif (2000),

o objeto do trabalho docente são seres humanos e, consequentemente, os saberes dos

professores trazem consigo as marcas de seu objeto de trabalho. Mesmo que pertençam a

grupos, a coletividades, eles existem primeiro por si mesmos como indivíduos. Esse fenômeno

da individualidade está no cerne do trabalho dos professores, pois, embora eles trabalhem com

grupos de alunos, devem atingir os indivíduos que os compõem, pois são os indivíduos que

aprendem.

A competência do professor é travada e paulatinamente conquistada no cotidiano

da relação que estabelece e constrói com o corpo discente. A docência construída com o foco

na relação professor-aluno mobiliza neles outras habilidades. Este movimento, para os nossos

interlocutores, desencadeia uma busca constante de atualização, aprimoramento e opção

permanente pela aprendizagem do aluno. Constroem um cenário com múltiplas facetas onde é

possível visualizar o que eles compreendem como qualidade da educação superior.

(GUIMARÃES, 2014; BRACCINI; RESCHKE, 2012).

Para cursos na área de negócios, como é o caso dos cursos de Administração, existe

ainda a exigência da experiência de mercado do professor. Plutarco e Gradvohl (2010) relatam

que há certa unanimidade quanto à necessidade do professor possuir experiência real externa à

academia, tornando possível enunciar a experiência de mercado do docente da área de negócios

como uma competência central. Resta, por outro lado, averiguar o quanto esta competência é

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relevante quando analisada em conjunto com competências também relevantes. Os autores

destacaram “atributos” considerados de grande valor na construção do perfil docente em

Administração: didática, conhecimento teórico, experiência de mercado, relacionamento e

exigência do professor.

Plutarco e Gradvohl (2010) consideram a didática o atributo mais importante. A

qualidade de saber ensinar, o uso de práticas de transmissão de conhecimento consistentes e

variadas, a utilização de recursos inovadores e diversificados e quaisquer técnicas, métodos de

ensino e práticas inovadoras são muito valorizados pelos estudantes. Seguido da didática, o

conhecimento teórico do professor foi apontado pelos alunos como o segundo atributo mais

importante, inclusive mais valorizado que a própria experiência de mercado (terceiro atributo

apontado), reforçando a importância de uma formação consistente do professor de

Administração em termos teóricos, o que se dá especialmente nos cursos de base acadêmica,

como mestrados e doutorados. Os atributos relacionamento e exigência do professor (rigor na

avaliação do aluno e em relação ao cumprimento e cobrança de prazos e horários) foram

apontados, respectivamente, em quarto e quinto lugar no nível de importância. Kühl et al.

(2013) corroboram que no conjunto de competências de relacionamento do docente está

incluída a tolerância, ou seja, a capacidade de se colocar na posição do discente, tendo empatia

no trato das questões relacionadas aos acadêmicos.

Baeta e Lima (2008) destacam que, em tempos de elevada competição, a análise

dos diversos fatores influentes nos resultados esperados faz-se necessária. A reflexão crítica

acerca de determinados elementos torna-se pertinente. O primeiro deles trata-se da definição do

perfil de discente a ser formado. Este ponto é central, corresponde ao marco ou referencial que

direcionará as demais ações relacionadas ao processo formativo dos discentes. Significa definir

o que sequer como produto: o gestor empreendedor, o administrador de rotinas, mão de obra

especializada, etc. Seja qual for o objetivo, a força docente deverá ser preparada e apoiada para

responder às demandas emergentes.

Villard e Vergara (2013) defendem que, à medida que os professores de

administração são capazes de reconhecer e traduzir seu conhecimento docente, fazem escolhas

didáticas para ensinar considerando seus pressupostos sobre os processos de aprendizagem e as

concepções pedagógicas subjacentes, maior será sua consciência sobre como professor e aluno

se relacionam na sala de aula e como o conhecimento e a competência docente se desenvolvem,

aumentando a capacidade de aprendizagem de seus alunos também. O desenvolvimento da

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competência docente lhes permitiria repensar suas atuais concepções pedagógicas e se abrir a

várias outras mais adequadas ao processo de ensino-aprendizagem para o atual perfil dos alunos

e às necessidades da sociedade onde os docentes de administração operam.

Nogueira e Bastos (2012) ressaltam que em uma profissão como a docência, que se

volta ao domínio da técnica e sua aplicação, há de se esperar que os requisitos da escola

salientem a experiência profissional mais do que desenvolvam e foquem qualidades específicas

do escopo pedagógico, para que o momento dentro e fora da sala de aula seja um espaço para

reflexões, desenvolvimento e aquisição de conhecimentos e habilidades, imprescindíveis à

formação de administradores. Dessa forma, os autores defendem uma gestão educacional por

competências que seja capaz de elevar o patamar da qualidade de ensino no campo da

Administração.

Para atuar numa sociedade em que os saberes são renovados constantemente, as IES precisam

criar canais que possibilitem a livre circulação e o intercâmbio de informações e conhecimentos.

Capacitar professores em IES e desenvolver-lhes as competências docentes, assim como sua

aprendizagem, irá propiciar que conscientemente reconheçam suas concepções

epistemológicas, pedagógicas e outras que sejam diferentes das suas. Para tal, torna-se

necessário refletir a partir de seus próprios pressupostos sobre o papel da administração, o

propósito de educação e a forma pela qual alunos e professores aprendem em sala de aula.

(BAETA; LIMA, 2008; VILLARD; VERGARA, 2013).

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CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA

3.1 A PESQUISA

O objetivo da pesquisa é identificar se as competências desenvolvidas pelos

docentes dos cursos de graduação em Administração nas IES privadas ocorrem de maneira

formal ou informal. Para isso foram utilizadas diversas práticas e técnicas. Previamente, foi

realizado um levantamento bibliográfico em livros e artigos em periódicos sobre o tema

competência docente, relacionando também os temas competência, competência individual e

competência profissional, a fim de construir um embasamento teórico que pudesse explicar o

fenômeno estudado, bem como para a definição de categorias a priori e analisar as categorias

emergentes ou a posteriori.

Quanto à abordagem a pesquisa é qualitativa (CRESWELL, 2007), utilizada com a

finalidade de expor características de determinada população ou de determinado fenômeno

(GODOY, 1995; VERGARA, 2009), aprofundando em sua realidade (TRIVIÑOS, 1987). Foi

realizada a análise de conteúdo, que é definida como um conjunto de técnicas de análise de

comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das

mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos

relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens (BARDIN,

2011).

Com relação aos procedimentos técnicos, a pesquisa pode ser considerada de

campo. Optou-se pela realização de entrevistas presenciais, todas gravadas em áudio, com os

sujeitos da pesquisa – professores das IES privadas que atuam nos cursos de graduação em

Administração. Para tal, foi elaborado e utilizado um roteiro semiestruturado com perguntas

abertas, que abordavam a trajetória do docente, sua concepção a respeito do que é ser um

professor competente, bem como sobre de que forma considerava ter desenvolvido suas

competências. Para o tratamento e análise dos dados, as entrevistas foram transcritas

integralmente, sendo adicionadas notas às transcrições. As transcrições das entrevistas foram

lidas minuciosamente com o objetivo de identificar pontos em comum nas falas dos

entrevistados, buscando um alinhamento com as categorias a priori que organizaram a análise,

bem como para possíveis categorias emergentes. Para demonstrar as competências docentes

desenvolvidas, foram utilizados como referência o modelo de competências do docente do

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Ensino Superior e do professor Universitário, propostos por Mendonça et al. (2012) e Masetto

(2012), respectivamente.

3.2 OBJETO, SUJEITOS E INFORMANTES DA PESQUISA

O objeto da pesquisa é a maneira pela qual os docentes dos cursos de graduação em

Administração nas IES privadas desenvolvem as suas competências. Os professores das IES

privadas atuantes nos cursos de graduação em Administração foram os sujeitos da pesquisa. Os

informantes da pesquisa foram os professores dos cursos de graduação em Administração

atuantes em IES privadas no estado do Rio de Janeiro.

Considerando a facilidade de acesso e o tempo disponível para a realização da

pesquisa, foram entrevistados 10 (dez) professores dos cursos de graduação em Administração

que atuassem em IES privadas no estado do Rio de Janeiro, de idades distintas, com variadas

cargas horárias de trabalho, diferentes tempos de atuação na docência do ensino superior e, em

alguns casos, que já Coordenaram ou são atualmente Coordenadores de curso. Na maioria dos

casos, os professores trabalham ou já trabalharam em mais de uma IES privada. Os informantes

da pesquisa foram considerados independentes da titulação acadêmica, uma vez que o MEC

(2015) exige que apenas um terço dos professores das Universidades sejam de mestres e

doutores.

3.3 PERFIL DOS ENTREVISTADOS

Conforme relatado no parágrafo anterior, as entrevistas foram realizadas com 10

(dez) professores dos cursos de graduação em Administração que atuassem em IES privadas no

estado do Rio de Janeiro, com idades distintas, variadas cargas horárias de trabalho e diferentes

tempos de atuação na docência do ensino superior. No intuito exclusivamente de organizar o

campo foi traçado um perfil docente, estabelecido a partir dos seguintes intervalos de classe:

Docentes com até 5 anos de experiência

Docentes com mais do que 5 e até 15 anos de experiência

Docentes com mais do que 15 anos de experiência

No quadro 1 realizou-se uma síntese do perfil dos entrevistados:

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Quadro 1 - Perfil dos entrevistados

PERFIL DOS DOCENTES ENTREVISTADOS

ENTREVISTADO IDADE GÊNERO TEMPO DE

DOCÊNCIA

FORMAÇÃO ACADÊMICA

E1 39 ANOS FEMININO 4 ANOS Bacharel em Administração e especialista em

Controladoria e Finanças.

E2 51 ANOS MASCULINO 17 ANOS Bacharel em Administração, Mestrado em

Administração e Doutorando em

Administração.

E3 67 ANOS MASCULINO 22 ANOS Bacharel em Administração, especialista em Marketing e Mestrado profissional em

Administração e Desenvolvimento

Empresarial.

E4 34 ANOS FEMININO 11 ANOS Bacharel em Administração, Mestrado em Administração Pública e Doutorando em

Administração.

E5 41 ANOS MASCULINO 8 ANOS Bacharel em Administração, especialista em Administração Contábil e Financeira e

Mestrando em Administração.

E6 45 ANOS FEMININO 7 ANOS Bacharel em Administração e Mestrado

profissional em Administração.

E7 30 ANOS MASCULINO 1 ANO Bacharel em Administração e Mestrado em

Administração.

E8 39 ANOS FEMININO 2 ANOS Bacharel em Administração e MBA em

Gestão Empresarial.

E9 48 ANOS MASCULINO 8 ANOS Bacharel em Administração, especialista em

Finanças e em Educação à Distância e

Mestrado em Gestão Estratégica de Negócio.

E10 61 ANOS MASCULINO 18 ANOS Bacharel e Licenciado em Administração, MBA em Administração e Mestrado

Acadêmico em Administração.

Fonte: Elaborado pela autora.

De acordo com o perfil docente traçado para organizar o campo, temos no quadro

2 a síntese da configuração estabelecida a partir da realização da pesquisa, dividido em

intervalos de classe:

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Quadro 2 - Tempo de experiência dos docentes entrevistados

TEMPO DE EXPERIÊNCIA DOS DOCENTE ENTREVISTADOS

ATÉ 05 ANOS ENTRE 05 E 15 ANOS MAIS DO QUE 15 ANOS

E1 E4 E2

E7 E5 E3

E8 E6 E10

E9

Fonte: Elaborado pela autora.

3.4 DEFINIÇÃO DAS CATEGORIAS A PRIORI

A partir da análise do referencial teórico sobre o tema competência docente,

relacionando também os temas competência, competência individual e competência

profissional, foram definidas as seguintes categorias a priori, que serviram de base para a

análise dos dados obtidos:

• Competências desenvolvidas através de treinamentos (capacitações proporcionadas pelas IES)

- FORMAL: Le Boterf (2003)

• Competências desenvolvidas por meio de cursos de formação inicial ou formação continuada

(especializações, licenciatura, formação pedagógica e similares) - FORMAL: Slomski (2007);

Plutarco e Gradvohl (2010); Masetto (2012).

• Competências desenvolvidas a partir da reflexão da prática docente (analisando os aspectos

em que a aula pode melhorar e aplicar em um próximo contexto) - INFORMAL: Libâneo

(2001); Le Boterf (2006); Slomski e Martins (2008).

• Competências desenvolvidas por meio da prática docente (o dia a dia da sala de aula; a

atividade de lecionar na prática) - INFORMAL: Le Boterf (2003); Tardif (2000); Le Boterf

(2006); Slomski e Martins (2008).

• Competências desenvolvidas através da resolução de problemas do ensinar cotidiano /

contingências (situações e desafios diversos enfrentados durante o exercício da docência) -

INFORMAL: Tardif (2000); Le Boterf (2003); Villard e Vergara (2013).

• Competências desenvolvidas por meio da interação (o relacionamento interpessoal com os

discentes) - INFORMAL: Le Boterf (2003); Nogueira e Bastos (2012); Braccini e Reschke

(2012); Villard e Vergara (2013); Guimarães (2014).

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• Competências desenvolvidas a partir das relações de trabalho (a interação com outros docentes

e/ou coordenadores da IES) - INFORMAL: Le Boterf (2003); Le Boterf (2006).

• Competências desenvolvidas a partir das passagens por situações profissionalizantes /

percurso profissional (a experiência de mercado do docente na sua área de atuação original) -

INFORMAL: Zarifian (2008); Plutarco e Gradvohl (2010).

3.5 CATEGORIAS EMERGENTES

A partir da análise das entrevistas, foi possível identificar categorias emergentes ou

a posteriori. Realizou-se uma análise à luz do referencial teórico buscando elementos que

também pudessem corroborar, complementar ou até mesmo contradizer a teoria. Essas foram

as categorias emergentes encontradas:

Percepção de competência docente: o que é ser um professor competente?

- Reunir teoria e prática

- Traduzir o conhecimento para a linguagem do discente

- Buscar melhoria contínua

- Proporcionar aprendizado

O papel das IES privadas no desenvolvimento de competências docentes.

O papel dos Coordenadores de IES privadas no desenvolvimento de competências docentes.

3.6 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

Conforme já citado anteriormente, foi utilizado um roteiro semiestruturado com

perguntas abertas para realização de entrevistas, com posterior utilização da técnica de análise

de conteúdo (BARDIN, 2011), a fim de buscar um alinhamento com as categorias a priori e o

surgimento de categorias emergentes. Foi realizado um pré-teste com o instrumento de coleta

de dados (roteiro de entrevista semiestruturado), com vistas validá-lo ou ajustá-lo, bem como

proporcionar a familiarização do pesquisador com o mesmo. Essa etapa foi indispensável para

os ajustes que se fizeram necessários no instrumento de coleta de dados. O instrumento de coleta

de dados (roteiro de entrevista semiestruturado) consta no Apêndice do trabalho.

As entrevistas foram realizadas com 10 (dez) professores dos cursos de graduação

em Administração que atuassem em IES privadas no estado do Rio de Janeiro, com idades

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distintas, variadas cargas horárias de trabalho, diferentes tempos de atuação na docência do

ensino superior e, em alguns casos, que já Coordenaram ou são atualmente Coordenadores de

curso. Na maioria dos casos, os professores trabalham ou já trabalharam em mais de uma IES

privada.

Para obter acesso aos informantes da pesquisa foi utilizada uma estratégia de

indicação, onde era solicitado aos entrevistados que se possível indicassem outros informantes

da pesquisa. Houve certa prudência para não estabelecer uma só rede de relações, o que poderia

“enviesar” a pesquisa. Um critério que necessariamente teve que ser atendido também foi

quanto à disponibilidade dos entrevistados.

As entrevistas tiveram duração média de 40 minutos a 1:30 h. Os entrevistados

foram identificados de maneira alfanumérica e sequencial, de acordo com a realização das

entrevistas. A forma de identificação utilizada teve como objetivo garantir o anonimato dos

informantes da pesquisa. Conhecer os perfis dos informantes é interessante pois as descobertas

obtidas na pesquisa de campo são um reflexo de suas experiências de cunho pessoal,

profissional e formação acadêmica.

O número de entrevistas não foi definido antes do campo. Utilizou-se o método de

saturação de dados, quando a inclusão de novos sujeitos é suspensa uma vez que os dados

obtidos na pesquisa se tornam repetidos; considera-se então que as informações fornecidas por

novos participantes da pesquisa pouco acrescentariam (GLASER; STRAUSS, 2009). Também

foi considerada a qualidade do material coletado para encerrar as entrevistar e iniciar o processo

de análise dos dados.

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CAPÍTULO 4 – ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS DADOS

A análise de dados é um processo que envolve análise das informações dos

participantes, onde os pesquisadores seguem uma estratégia de investigação específica. Incluem

organização e preparo dos dados, além de leitura inicial das informações, codificação dos dados,

desenvolvimento de uma descrição e análise temática e representação dos resultados. Envolve

também interpretação dos dados à luz da literatura e teoria existentes (CRESWELL, 2007).

Os dados obtidos através da pesquisa de campo foram cruciais para tentar responder

à pergunta de pesquisa: se as competências desenvolvidas pelos docentes dos cursos de

graduação em Administração nas IES privadas ocorrem de maneira formal ou informal. Este

capítulo contempla a análise e a interpretação dos dados, obtidos por meio do roteiro

semiestruturado com perguntas abertas, utilizado para realizar as entrevistas gravadas em áudio

e posteriormente transcritas, com posterior utilização da técnica de análise de conteúdo

(BARDIN, 2011).

A análise de conteúdo pode ser entendida como um conjunto de técnicas de análise

de comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo

das mensagens, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de

produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens (BARDIN, 2011). É uma

interpretação pessoal do pesquisador com relação à percepção que tem dos dados, levando em

consideração todos os aspectos relativos ao contexto e autor da mensagem transmitida.

Para realizar a análise de conteúdo, foram utilizadas as categorias a priori, definidas

a partir da análise do referencial teórico sobre o tema de pesquisa. A análise de conteúdo

realizada em uma pesquisa qualitativa também pode revelar categorias emergentes ou a

posteriori, decorrentes do avanço da pesquisa. Foi possível identificá-las também. Para ambos

os casos, realizou-se uma análise à luz do referencial teórico buscando elementos pudessem

corroborar, complementar ou até mesmo contradizer a teoria. Desta forma, analisou-se todo o

conteúdo coletado dos entrevistados e procurou-se destacar os depoimentos que mais

diretamente respondiam à pergunta de pesquisa; depoimentos estes que fossem convergentes,

complementares ou até mesmo antagônicos, utilizando-se sempre do referencial teórico para

dar embasamento à interpretação dos dados. Para demonstrar as competências docentes

desenvolvidas, foram utilizados como referência o modelo de competências do docente do

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Ensino Superior e do professor Universitário, propostos por Mendonça et al. (2012) e Masetto

(2012), respectivamente, e constantes também no referencial teórico.

4.1 ANALISANDO OS RESULTADOS

A seguir temos a apresentação das categorias de análise, tanto as que foram

definidas a priori a partir da análise do referencial teórico, bem como das categorias que

emergiram a partir do campo - a posteriori, com subsequente utilização da técnica de análise de

conteúdo (BARDIN, 2011), utilizando como referência o modelo de competências do docente

do Ensino Superior e do professor Universitário, propostos por Mendonça et al. (2012) e

Masetto (2012), respectivamente.

4.1.1 Competências desenvolvidas através de treinamentos (capacitações proporcionadas

pelas IES) - FORMAL

Essa categoria investigou o desenvolvimento de competências de maneira formal,

que podem ocorrer através de treinamentos ou capacitações proporcionadas aos docentes pelas

IES privadas em que atuam ou já atuaram. Le Boterf (2003) defende que a competência não

pode se limitar a estabelecer uma lista de conhecimentos ou de saber fazer. O verdadeiro saber

agir – chamado de atitude – não se reduz ao saber fazer ou ao saber operar. O saber agir é saber

ir além do formalizado, solicitado e, portanto, não consiste somente em saber tratar um

problema, mas, igualmente, em saber antecipá-lo. O saber agir pode ser desenvolvido de

diversas formas, incluindo formação e treinamento.

A seguir, os docentes entrevistados mencionam que os treinamentos / capacitações

oferecidas contribuíram para o desenvolvimento da competência domínio pedagógico:

conhecimento dos processos de ensino-aprendizagem, integração de disciplinas, compreensão

da relação professor-aluno, planejamento educacional e o processo de avaliação e suas técnicas

de feedback (MASETTO, 2012):

“Existia essa oficina e essa oficina normalmente era um fim de semana inteiro,

sábado e domingo, retirado do ambiente de trabalho num hotel em algum lugar, hotel fazenda

normalmente (...) então lá nessa oficina além do debate existia esse exercício em cima do que

a gente ia praticar na sala de aula no semestre seguinte. Isso é uma forma que eu considero

muito, muito válida de preparo”. (E5)

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“Essa capacitação que nós tivemos, nós fizemos um curso de aperfeiçoamento

entre os docentes, quer dizer, não eram profissionais externos dando o curso, era cada sábado

um docente do curso que ministrava sua disciplina, fazia um relato da sua disciplina para que

os outros conhecessem (...) isso foi uma oportunidade de crescimento, eu acho que aprendi

muito nessa troca de experiência e nesse curso de capacitação, de aperfeiçoamento. ” (E2)

“(...) agregou no aspecto moral e social que o professor tem que ter em relação ao

corpo docente, agregou em determinados métodos e formas que o professor pode obter para

avançar no desenvolvimento dos seus conteúdos, suas aulas, suas práticas”. (E10)

“Nós tivemos uma oficina para elaboração de questões que foi um ganho, porque

até então para mim, elaborar a questão era mais para verificar o conhecimento do aluno (...)

A partir dessa oficina que nós fizemos eu vi que posso utilizar várias formas de questões, e

posso através dessas questões mensurar até que ponto os meus alunos estão tendo

conhecimento” (E8)

“O treinamento que nós fizemos aqui, que é um treinamento em uma das áreas que

a gente na verdade não desenvolve competências, a gente na verdade intui, que é justamente a

área de avaliação. (...) o professor normalmente, não sabe o que está avaliando, não sabe como

avaliar... então a minha capacitação aqui foi nessa área e que foi de extrema importância,

mudou muito a minha ótica com relação à aluno, à medição de conhecimento”. (E3)

Já o entrevistado abaixo expressa que participar da concepção e elaboração de

treinamentos para outros docentes também o ajudou a desenvolver competências docentes.

Neste caso, identifica-se o desenvolvimento de competências de gestão: domínio de processos

administrativos e a mobilização de subordinados e pares rumo aos objetivos grupais e

organizacionais (MENDONÇA et al., 2012):

“Tem três anos eu acho, que eu estou participando de um laboratório que é focado

nisso (...) eu passei a participar da elaboração dos treinamentos, então talvez eu tenha

aprendido mais com a elaboração do que necessariamente com o treinamento, por ter

participado dos bastidores, por ter participado de toda concepção do projeto, e isso, sim me

acrescentou muito, mas aí tive a oportunidade de debater, de errar, de acertar, de verificar...”

(E4)

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A exposição feita pelos docentes a seguir demonstra o desenvolvimento de

competências tecnológicas: domínio das tecnologias disponíveis na organização; domínio de

tecnologias de informação e comunicação (MENDONÇA et al., 2012), tanto no contexto de

educação à distância (EAD) como no curso presencial:

“(...) agora há muito pouco tempo fiz um curso sobre o EAD (...) eu não conhecia

o sistema porque eu nunca tinha atuado com nenhuma ferramenta EAD, eu não conhecia o

AVA (...) esse curso, foi um curso online que a gente fez, mas foi muito bom para conhecer toda

essa área de ensino a distância...”. (E1)

“A capacitação de tutoria (...) não só treina o professor nas habilidades técnicas

da ferramenta, mas também as habilidades comportamentais (...) a gente discute, por exemplo,

como se faz o uso da tecnologia na sala de aula, como você faz com o aluno que fica no

whatsapp. Como você traz esse aluno, esse novo contexto. Você vai proibir? Como você vai

gerenciar essa tecnologia na sala de aula? ”. (E6)

Os docentes abaixo indicam que, mesmo em um contexto específico que é o EAD,

o treinamento recebido os estimulou a desenvolver competências interpessoais: relações em

nível individual e grupal; capacidade de desenvolver e manter empatia (MENDONÇA et al.,

2012):

“(...) um treinamento que foi muito mais um treinamento muito focado ao EAD e à

tutoria (...) a gente discutia questões relacionadas à educação e sobre o papel do professor (...)

para trabalharmos a necessidade do aluno que está cursando um curso a distância (...) para

alertarmos para a emergência que o aluno tem sobre determinado contato com o professor, já

que ele está a distância...”. (E5)

“A forma de comunicação com o aluno (...) e é interessante porque tudo que eu

aprendo nos treinamentos do online eu aplico no presencial. Ou eu trago a experiência do

presencial para o online (...) por exemplo, eu não sou professor que fica mandando e-mail o

tempo todo para o aluno, porque eu acho que “enche o saco” do aluno. Então essa foi uma

informação que a gente recebeu no treinamento…”. (E6)

Todavia, observa-se que entre os docentes entrevistados não é unânime a opinião

de que todos os treinamentos proporcionados pelas IES podem auxiliar no desenvolvimento de

competências, conforme os relatos a seguir:

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“Nós fazíamos normalmente no retorno ou do recesso ou das férias, nós fazíamos

normalmente 02 a 03 reuniões, e naquelas reuniões tentava-se criar ali um treinamento, mas

que eu nunca considerei aquilo como treinamento, era uma tentativa. Mas era muito

desestruturado... treinamento desestruturado ninguém aprende muita coisa...”. (E3)

“Foram treinamentos que seriam mais palestras, e talvez tenha agregado pouco,

por que na palestra não tem muita interação (...) o palestrante está falando lá, você fala: “Pô,

legal...” mas às vezes você não sabe nem como implantar aquilo, não sabe nem por onde

começar.” (E4)

De acordo com os entrevistados, a metodologia ou formato adotados em alguns

tipos de capacitações e treinamentos oferecidos pelas IES não proporciona condições ou meio

de desenvolver competências docentes.

4.1.2 Competências desenvolvidas por meio de cursos de formação inicial ou formação

continuada (especializações, licenciatura, formação pedagógica e similares) - FORMAL

Essa categoria investigou a aquisição de competências docentes ocorridas

formalmente, ou seja, através de cursos de formação inicial ou continuada, tais como

especializações, licenciatura, formação pedagógica e similares. Slomski (2007) afirma que há

estudos que procuram estabelecer relações entre os conhecimentos construídos pelos

professores ao longo de sua vida profissional e aqueles adquiridos em cursos de formação inicial

e/ ou programas de formação continuada. Isso indica que a formação pedagógica do professor

universitário é tema primordial quando se discute a melhoria da qualidade de ensino na

graduação. A respeito da formação pedagógica do docente universitário, Masetto (2012)

corrobora que ser docente exige capacitação própria além do diploma de bacharel ou apenas o

exercício da profissão; exige também aquisição de competências específicas, sendo necessário

buscar meios de desenvolvimento pessoal. Até a década de 70 eram exigidos do professor de

ensino superior o bacharelado e o exercício competente da profissão. A partir da década de 80,

passaram a exigir cursos de especialização na área. Atualmente, Mestrado e Doutorado.

Dentre os entrevistados apenas 05 (cinco) alegaram possuir alguma formação

direcionada à docência, sendo 02 (dois) docentes através de disciplinas (obrigatórias ou

eletivas) nos cursos de Mestrado e Doutorado do qual participam, 02 (dois) possuem

licenciatura na área e 01 (um) realizou um curso na área pedagógica:

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“Agora no Doutorado (...) tem duas: estagio docente I e estagio docente II. Estagio

docente I eu fui liberada por que eu já sou professora, então eu já tenho experiência de sala de

aula na graduação, e o Estagio Docente II, eu fiquei como se fosse tutora de um professor

numa disciplina que eu já havia cursado do próprio programa de Pós-graduação”. (E4)

“(...) no mestrado (...) Pedagogia Universitária (...) me proporciona pensar um

pouco sobre educação de um modo mais amplo, me proporciona entender de uma maneira

mais detalhada, mais objetiva um plano de ensino e o que é a didática”. (E5)

“Eu tenho um curso que eu fiz equivalente à licenciatura no ensino de

administração (...) de uma forma geral ela contribui, na verdade traz um mundo, uma parte

que você não conhece no bacharelado, parte de autores, teorias da área de pedagogia, de

didática mesmo, da educação”. (E9)

“Então eu fiz uma licenciatura pedagógica para o ensino de disciplinas

profissionalizantes (...) Eu tenho essa habilitação como diploma de nível superior. E a nível de

pós-graduação eu tenho duas especializações, no latu sensu, onde também eu fiz a minha

autonomia do ensino superior”. (E10)

“(...) um curso de pedagogia do ensino superior, um curso de 45 horas, nesse curso

a gente conseguiu visualizar várias técnicas que pudesse utilizar em sala de aula, várias formas

de transmitir esse conhecimento e isso agregou bastante”. (E8)

Dentre os 05 (cinco) entrevistados que alegam possuir formação direcionada à

docência, 04 (quatro) conseguiram pontuar as competências desenvolvidas através da formação

recebida: avaliativas (capacidade analítica frente a informações), docência (domínio de sala de

aula; tradução dos conteúdos para a linguagem dos alunos) e domínio pedagógico

(conhecimento dos processos de ensino-aprendizagem; planejamento educacional).

(MENDONÇA et al., 2012; MASETTO, 2012):

“(...) me proporciona também entender quais possibilidades eu tenho de aplicação

em sala de aula, que recursos eu posso usar, o que pode funcionar ou não, isso me ajuda a

explicar, me ajuda entender um pouco de tudo que eu já vivi e vivo até hoje na docência sem

saber explicar, então agora eu consigo explicar algumas coisas”. (E5)

“(...) eu comecei a pegar exatamente a melhor forma possível, a forma mais

técnica de você desenvolver conteúdo e da mesma forma de você lecionar e transmitir um

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ensinamento, transmitir uma aula e na parte sintética até me ensinou algumas coisas

interessantes tais como fazer um plano de aula, um plano de ensino, desenvolver um estudo em

bibliografia, verificar várias metodologias ativas que você pode empregar(...). ” (E10)

“Tem algumas técnicas de motivação de aluno, de avaliação (...) a parte de

psicologia, a forma como ocorre a aprendizagem... uma coisa que foi bastante importante no

caso para mim, da época da licenciatura, que eu trouxe comigo e trabalho bastante isso hoje”.

(E9)

“(...) a questão de fazer perguntas para os alunos (...) a pergunta em sala de aula

tem que ser bem planejada. E essa forma de perguntar não só vai me dar resposta se o aluno

adquiriu o conhecimento, mas eu posso através das perguntas pré-elaboradas, pré estudadas,

desenvolver um conhecimento a partir daí (...) a forma com que o professor coloca, ele vai

fazendo os questionamentos, ele ajuda o próprio aluno a entender, a compreender o que está

sendo dito”. (E8)

Plutarco e Gradvohl (2010) reforçam a importância de uma formação consistente

do professor de Administração em termos teóricos, o que se dá especialmente nos cursos com

modelos sólidos de formação, como é o caso dos cursos de Mestrado (especialmente da

modalidade acadêmica) e Doutorado. Isso é endossado pelo relato do entrevistado a seguir:

“Eu vejo diferença também entre amigos docentes que, da nossa área de

Administração, os que fazem Mestrado e Doutorado na área, tem uma visão bastante diferente

de quem faz Mestrado e Doutorado em áreas afins... eu digo pois na docência a gente vê a

diferença em sala de aula, de quem é Mestre em Administração e de quem é Mestre de outra

área para tratar da formação do Administrador (...) isso afeta no dia a dia em sala de aula”.

(E2)

Pode-se constatar a partir da pesquisa realizada que os docentes de Administração

de IES privadas não têm buscado formação específica na área, o que compromete sua atuação

e o papel que precisam desempenhar. Slomski (2007), reforça esse argumento ao apontar que a

grande maioria dos professores que atuam hoje na universidade não contou com a formação

sistemática necessária à construção de uma identidade profissional para a docência. Embora

estejam dando aulas, esses professores nem sempre dominam as condições necessárias para

atuar como tais, trazendo à tona uma problemática precisa ser considerada tanto no que se refere

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ao que é ser professor (formação), quanto ao exercício da profissão (condições para tal). A fala

do entrevistado a seguir reflete as preocupações do autor:

“(...) eu acho inclusive que esse é um buraco, eu sinto falta de ter uma formação

pedagógica. Porque você sai do mundo corporativo, você aprendeu na prática. Eu trabalhava

com desenvolvimento de produtos, então eu desenvolvia o produto e depois treinava a equipe

para vender o produto. Mas qual é a didática disso? Então eu sinto falta de ter uma formação

didática (...) eu acho que eu tenho esse gap na minha formação”. (E6)

Ao admitir o gap em sua formação docente, o entrevistado constata que a educação

formal recebida em sua área de atuação (bacharelado, Mestrado etc.) ou a experiência de

mercado não são suficientes para exercer a profissão docente, alertando-nos sobre um possível

comprometimento da atuação e do papel do professor de ensino superior em Administração.

4.1.3 Competências desenvolvidas a partir da reflexão da prática docente (analisando os

aspectos em que a aula pode melhorar e aplicar em um próximo contexto) - INFORMAL

No caso dessa categoria, investigou-se o desenvolvimento de competências

docentes de maneira informal, através da reflexão da prática, o que Le Boterf (2006) denominou

de reflexividade, que consiste em um distanciamento necessário para melhorar as práticas

profissionais, a fim de compreender o porquê e o como agir; da situação sobre a qual intervém

e a forma como o faz. Para o autor, essa dimensão da competência é onde se concretiza a análise

das práticas: consiste em distanciar-se para tomar consciência das suas práticas, no sentido de

formalizá-las ou conceitualizá-las. A reflexividade leva à reconstrução da realidade, a exemplo

de construção de esquemas ou modelos cognitivos, que poderão dar lugar a generalizações e

que contribuirão para a construção do profissionalismo da pessoa envolvida.

Com relação ao desenvolvimento de competências docentes através da reflexão das

práticas, apenas 02 (dois) entrevistados conseguiram responder de forma pontual como isso

ocorreu:

“(...) ao mesmo tempo em que estou dando a aula eu estou analisando a aula que

eu estou dando... o que pode estar faltando, o que eu posso estar fazendo que pode estar

deixando algum gargalo... pode ter alguma falha, eu avalio muito. Na correção das minhas

provas, quando eu vou corrigir as provas eu verifico qual está sendo a deficiência do aluno

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(...) porque uma turma inteira, que é muito boa, e teve uma média para mim ruim, o problema

está comigo”. (E1)

“(...) uma disciplina que nós tínhamos aqui na Universidade (...) peguei a primeira

turma e quando terminou o primeiro semestre eu acabei deprimido, a qualidade foi muito ruim

(...) pela resposta que eu tinha: falta de concentração, índice de frequência, porque tudo isso

é um reflexo da qualidade de uma aula... e aquilo me deixou assim, angustiado, e eu fui

aprofundar, estudar mais nas férias (...) e comecei a gostar e fazer com que os alunos gostassem

da disciplina”. (E3)

Em ambos os casos, constatamos a aquisição das seguintes competências docentes:

Domínio pedagógico (o processo de avaliação e suas técnicas de feedback), Docência (tradução

dos conteúdos para a linguagem e cotidiano dos alunos) e Interpessoais (capacidade de

desenvolver e manter empatia). (MASETTO, 2012; MENDONÇA et al., 2012).

Libâneo (2001) reforça a argumentação afirmando que a tendência atual para as

atividades de formação de professores é a visão do ensino como atividade crítico-reflexiva. O

alcance da reflexão tem como consequência, além da formação dos professores, uma análise do

currículo, do ensino e da metodologia da docência. O professor precisa pensar constantemente

sobre sua prática e, a partir disso, desenvolver a capacidade reflexiva sobre a atividade docente.

Esse comportamento depende essencialmente da intencionalidade por parte do professor para

proceder a uma reflexão sobre seu trabalho. A adoção da reflexão sobre a prática docente pode

levar a apropriação e produção de teorias que melhoram as práticas de ensino. Além disso,

auxilia na superação das deficiências dos docentes acerca do aprender a pensar. Slomski e

Martins (2008) corroboram que o conceito de professor-reflexivo gira em torno da prática dos

profissionais, à medida que valoriza a experiência e a reflexão sobre a experiência.

Os depoimentos abaixo dão ênfase às ideias expostas pelos autores:

“Eu acho que essa avaliação tem que ser todos os dias, à medida em que eu entro

na sala de aula, que eu ministro a aula (...) para mim pode estar correto, os alunos podem estar

compreendendo, mas será que eu estou passando da melhor maneira? Será que eu não tenho

uma outra forma de passar isso mais fácil, mais didática, mais atraente para os alunos? (...)

eu acho que você tem que fazer isso sempre... e eu faço isso sim”. (E8)

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“Até por eu ter essa carreira curta, eu tenho que me auto criticar o tempo todo.

Então hoje eu lembro do meu primeiro dia de aula e falo: eu tive pontos positivos nesses, nesses

e nesses aspectos. Pontos não tão positivos nesses, nesses e nesses aspectos. Então eu já passo

para a próxima turma tentando melhorar (...) o professor não nasce professor e ele nunca pode

deixar de querer melhorar”. (E7)

“A autorreflexão ajuda desde que a pessoa reconheça seus erros. Eu acho que pode

existir em alguns a tendência de fugir dos seus erros, de se esconder, de não querer contato

com seu erro porque sabe que terá que corrigir, de sentir vergonha de si mesmo (...)

pessoalmente gosto de refletir sobre isso, porque me ajuda, mas eu também tenho meus limites,

eu vou lidar primeiro com aquilo que eu consigo resolver, que eu vejo que está ao meu

alcance”. (E5)

Entretanto, alguns entrevistados não compartilham da opinião de que refletir sobre

suas práticas, por si só, seja capaz de proporcionar o desenvolvimento de competências,

principalmente se não tiver um prévio conhecimento estruturado, critérios definidos sobre o seu

papel docente ou parâmetros de avaliação:

“Olha, ele só vai se desenvolver, ele só vai conseguir analisar criticamente o que

ele estar fazendo se ele tiver um conhecimento que eu só fui ter agora (...) por que se não você

fica batendo cabeça mesmo, você vai tentando uma coisa não deu certo, vai tentar outra (...)

eu preciso do conhecimento estruturado para poder ser crítico, senão eu não vou ser crítico,

eu vou tentar... sempre assim, vou tentar melhorar, mas não vou saber se estou melhorando”.

(E4)

“Depende. Porque isso é solitário. Você tem que ter um parâmetro para comparar

se você está indo bem (...) quando você troca com um outro professor você está estabelecendo

um parâmetro: ah, ele faz assim. E aí o padrão da escola é assim, eu faço assim etc., você tem

um parâmetro para se comparar. Agora sozinho refletindo eu não sei (...) só se ele for estudar

(...) ele tem a teoria e na prática ele vai comparar (...) aí eu acredito que sim”. (E6)

“(...) o professor ser auto avaliado, ele nunca vai ter a capacidade de chegar a uma

avaliação superior àquele que é superior a ele e está ali transmitindo, ele vai chegar a um

limite (...) algo a mais ele vai atingir quando tiver pessoas que sejam superiores a ele no

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conhecimento e passem para ele esse conhecimento de uma forma plena (...) vai complementar

a auto avaliação que ele fez para ele”. (E10)

“Eu acredito que sim, mas cabe aos gestores ainda mostrar isso para o professor

(...) Hoje a legislação diz que nós temos que ter uma avaliação Institucional e uma avaliação

interna, uma avaliação pelos pares, uma avaliação pelos colaboradores da Instituição e pelos

acadêmicos da Instituição (...) a partir do momento que você repassa isso para os docentes, o

docente começa a perceber um espaço de crescimento a partir da avaliação feita do trabalho

dele”. (E2)

As opiniões desses entrevistados divergem de Slomski e Martins (2008), que

defendem que a reflexão não representa um processo mecânico, nem um simples exercício de

criação ou construção de novas ideias, mas uma prática que expressa a tomada de decisões e as

concepções que se tem acerca da ação pedagógica. Para os autores, a perspectiva reflexiva

oferece melhores condições de aprendizagem e de desenvolvimento profissional do professor.

Os professores teriam melhores condições para enfrentar os problemas colocados pela prática,

à medida que os compreendessem, refletissem e, em conjunto com seus pares, apropriassem-se

de formas de enfrentamento.

Analisando essa categoria, conclui-se que a maioria dos entrevistados não pontuou

o desenvolvimento de competências docentes por meio da reflexão da prática docente, ou seja,

essa não seria uma forma tão profícua para tal.

4.1.4 Competências desenvolvidas por meio da prática docente (o dia a dia da sala de aula

/ a atividade de lecionar na prática) - INFORMAL

A categoria em questão investigou o desenvolvimento de competências docentes de

maneira informal, por meio da prática profissional, ou seja, a atividade de lecionar no dia a dia,

o cotidiano em sala de aula. De acordo com Le Boterf (2006), a segunda dimensão da

competência é o da ação e dos resultados que ela produz. Corresponde às práticas profissionais

em relação às exigências de uma situação profissional e com a necessidade de desempenho. Ser

reconhecido como competente é ser visto como alguém capaz de conduzir práticas profissionais

adequadas, em relação às exigências de um posto de trabalho ou de uma missão a cumprir. O

profissional competente demonstra-o através da ação. A noção de prática profissional é a base

da compreensão da competência. A prática profissional é concebida como um conjunto de

atividades executadas a partir de uma prescrição. Saber agir não se refere a aspectos isolados,

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mas sim a combinação de diferentes operações; a articulação de sequências de ações a fim de

alcançar um objetivo que faça sentido.

Nesse sentido, alguns dos docentes entrevistados alegram que o dia a dia em sala

de aula, a atividade de lecionar em si, contribui para o aprendizado:

“Eu acho que a cada aula já é um preparativo para aula seguinte, então você está

dando aula, você já está aprendendo (...) e o aluno traz muito a experiência dele também, que

vai agregando, vai reforçando, e que em muitos casos você trabalha com um exemplo hoje, um

aluno seu contribui, amanhã você vai trabalhar você já usa o exemplo do próprio aluno... quer

dizer, então eu acho que a cada dia, a cada aula, você vai refazendo e vai construindo a sua

teia”. (E2)

“Eu acho que assim, o que me atrai também na parte docente é não ser sempre a

mesma coisa. Por mais que você... primeiro, você tem várias turmas, as turmas são diferentes,

mesmo que você tente adotar a mesma metodologia vão ser diferentes, a reação deles vai ser

diferente, então tudo muda (...) cada vez que acontece alguma coisa”. (E4)

“Sim, porque até mesmo os alunos acabam nos trazendo algo novo, um feedback,

alguma observação que é feita, então assim, a gente está ali no dia a dia, a gente consegue

perceber coisas que aos nossos olhos não era visível. Então às vezes em uma aula um aluno

chega (...) e fala: “ah professora, porque você não pode fazer assim? ” (...) eu acho que no dia

a dia sim, a gente pode observar algumas coisas e pode aprender muito”. (E8)

“(...) se ele hoje conhecia um pouco mais dessa matéria, amanhã ele tem certeza

de que se continuar na vida docente, ele vai conhecer mais. Isso faz parte do aprimoramento

da sua competência, do que saber fazer da melhor forma possível no seu desenvolvimento

profissional e pessoal”. (E10)

Para Le Boterf (2006), cada prática é singular, específica da pessoa que a

implementa. É o resultado de uma aprendizagem pela experiência em situações reais e em

situações simuladas. Na fala dos entrevistados não foi possível identificar, dentro do modelo de

análise, quais competências docentes foram desenvolvidas com a prática profissional.

Já os entrevistados a seguir pontuaram o desenvolvimento das competências

avaliativas (capacidade analítica frente a informações) e domínio pedagógico (planejamento

educacional) (MENDONÇA et al., 2012; MASETTO, 2012), simultaneamente:

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“(...) eu comecei numa turma muito grande. Eu resolvi trabalhar em grupo. Até aí

tudo bem, mas aí eu tive a infeliz ideia de que eles iriam apresentar os trabalhos, então chegou

ao final do período e eu não consegui terminar com que todos apresentassem o trabalho,

porque eram em torno de cento e dez e os grupos eram de dez e isso foi uma coisa muito ruim

(...) já sei que em turmas grandes não adianta você fazer esse tipo de trabalho (...) Não faço

mais isso”. (E9)

“Por exemplo, você aplica uma atividade, você sabe se ela foi bem ou mal. No

semestre que vem eu posso mudar essa atividade. Uma atividade que você não pontuou muito,

mas que o aluno deu valor, então você deveria ter pontuado. Fazer chamada ou não fazer

chamada, com a prática você vai percebendo”. (E6)

Já na fala do entrevistado a seguir, foi possível identificar o desenvolvimento da

competência docência (domínio de sala de aula; tradução dos conteúdos para a linguagem e

cotidiano dos alunos) (MENDONÇA et al., 2012):

“Eu tinha uma disciplina e dentro dessa disciplina tinha todo um conteúdo. O

conteúdo eu dominava (...), mas eu não tinha exatamente aquela competência de traduzir esse

conhecimento para a sala de aula, nos primeiros momentos eu tive muita dificuldade em

traduzir isso (...) um pouco depois da primeira avaliação eu já comecei a mudar essa forma

(...) tudo melhorou a partir do momento que eu me reinventei dentro de um mesmo semestre”.

(E7)

Slomski e Martins (2008) afirmam que a prática profissional é um momento de

construção do conhecimento. A ideia é a de que o professor aprende a ensinar no exercício da

profissão. A prática pedagógica é entendida como um espaço de construção dos saberes

profissionais. Para Tardif (2000), os saberes profissionais dos professores são situados, isto é,

construídos e utilizados em função de uma situação de trabalho particular. Um professor

raramente tem uma teoria ou uma concepção unitária de sua prática; ao contrário, os professores

utilizam muitas teorias, concepções e técnicas, conforme a necessidade.

Le Boterf (2003) desenvolve a noção de querer agir e de poder agir (dependente das

condições contextuais). O profissionalismo e a competência resultam não somente de um saber

agir, mas de um querer e de um poder agir. Aparecem aqui, associados à competência, os

aspectos cognitivos, afetivos e sociais inerentes à motivação humana. O envolvimento do

profissional depende de sua implicação cognitiva (saber agir), afetiva (querer agir) e social

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(poder agir) na situação. Analisando sob essa ótica, é possível considerar que o

desenvolvimento de competências através da prática profissional precisa estar associado a

aspectos motivacionais e contextuais, ou seja, na ausência de motivação do indivíduo ou de

condições ambientais e contextuais desfavoráveis não será manifesta a competência.

4.1.5 Competências desenvolvidas através da resolução de problemas do ensinar

cotidiano / contingências (situações e desafios diversos enfrentados durante o exercício da

docência) - INFORMAL

Essa categoria de análise investigou o desenvolvimento de competências docentes

de maneira informal, através da resolução de problemas do ensinar cotidiano; das situações e

desafios enfrentados pelo docente no exercício da profissão. A esse respeito, Le Boterf (2003)

afirma que o profissional se define pela tarefa de “administrar”, diferente do trabalhador, que

se define com relação ao trabalho e às tarefas a realizar. Esse saber administrar relativo ao

profissional declina em alguns “saberes”, são eles: saber agir com pertinência, na ocorrência de

imprevistos e contingências, tomando iniciativas, fazendo escolhas, assumir riscos, inovar-se e

saber mobilizar saberes e conhecimentos em um contexto profissional, pois não basta apenas

ter conhecimentos e habilidades; é necessário saber mobilizá-los de forma pertinente e no

momento oportuno em uma situação de trabalho. Le Boterf (2006) corrobora que não existe

uma resposta única para uma situação profissional; não há uma forma única de resolver um

problema com competência. Confrontado com um determinado problema, um profissional agirá

de uma forma peculiar àquela que lhe foi sendo ensinada pela experiência.

Dentre os 10 (dez) entrevistados, 09 (nove) consideram ter desenvolvido

competências docentes através de problemas ou desafios enfrentados durante a atividade de

lecionar. Procurou-se pontuar as competências desenvolvidas em cada caso:

- Ser competente em determinada área do conhecimento, através de conhecimentos

básicos em determinada área, bem como a constante atualização das práticas profissionais,

sobretudo, pesquisa para fins de estudo e reflexões críticas (MASETTO, 2012):

“(...) eu me vi já em situações que para ajudar, para contribuir com uma

necessidade da Instituição, lecionando disciplinas em que eu não tinha aderência. Não foi só

uma disciplina (...). Lógico, dentro do curso de Administração, disciplinas que eu conhecia,

que eu estudei, mas disciplinas que eu não tenho aderência. E aí em uma hora de necessidade,

eu tive que aprender... eu tive que aprender para cooperar com a Instituição”. (E1)

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“(...) me ocorreram vários desafios (...) Muitas vezes o professor tem que ser

suficientemente humilde (...). Não é porque ele (o aluno) sabe um instrumento novo que eu vou

discutir com ele (...)Você me ensina aí como é que faz, vou agradecer muito a você (...) o cara

desenhou um fluxo diferenciado, entrou num software que usava uma metodologia

diferenciada... eu aprendi e comecei a utilizar a técnica dele, foi ótimo para mim”. (E10)

“Pô, quando eu soube que tinha seis alunos de teologia, eu falei: meu Deus do céu,

o que é que vou falar com esses caras? (...) Se bem que era uma aula de TGA (...), mas

inevitavelmente eu tenho que usar exemplos que são de hoje, do dia a dia, um cuidado para

não tocar em temas muito polêmicos que eu tive no início, e eles me desmontaram... muito pelo

contrário, eles queriam temas polêmicos, eles queriam discutir com profundidade e foi muito

bom”. (E5)

- Interpessoais: relações em nível individual e grupal (MENDONÇA et al., 2012):

“(...) o que eu pensei: eu não posso prejudicar toda uma turma em detrimento a

uma pessoa... e independente disso, independente do comportamento dele, o meu

comportamento é de professora (...) não dei um tratamento diferenciado, para mim ele era o

mesmo aluno, assim como outros (...) você olhar para a pessoa e saber que ela não te suporta

por você ser do gênero feminino e estar em uma posição, mas que você tem que cumprir o seu

papel”. (E8)

“O que a gente tem são conflitos... a sala de aula é um ambiente muito propício a

conflitos (...) e acontece, todo mundo passa por isso... e a gestão desses conflitos tem que ser

muito bem administrada. Você tem que identificar se tem lideranças, tentar trazer essa

liderança para você de alguma forma para tentar comprometê-la... e isso foi um aprendizado

do dia a dia docente”. (E3)

“E o que eu aprendi com isso: nunca discutir com aluno (...) que é o que eu faço

hoje, jamais discuto com aluno... “Ah, então tá, você pode ir na secretaria e pedir revisão de

prova”... É tentar me proteger, ter esse cuidado, porque rola uma agressividade (risos). Então

essa foi a minha lição aprendida, logo no início, na primeira turma”. (E6)

“(...) não sei se isso é algo que eu já aprendi, mas geralmente eu adoto o

“bagunceiro” da turma, mapeio quem é o bagunceiro, geralmente tem um líder, e a gente traz

a pessoa para o lado, já chama pelo nome, já sabe que não vai mais faltar, porque já sabe

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quem é. Então acho que a gente tem maneiras de desmontar uma bagunça. Acho que bater de

frente é a pior das estratégias. Geralmente quando você traz essa pessoa para o seu lado

consegue fluir numa boa”. (E7)

- Docência: domínio de sala de aula (MENDONÇA et al., 2012):

“Acho que foi desafio, porque eu concluí a faculdade e com 60 dias de conclusão

da faculdade, não havia sido a colação de grau ainda, eu tive a oportunidade de ir para a sala

de aula (...) quer dizer, então você chega muito assustado e eu acho que esse choque é que fez

com que eu tentasse ter uma boa aula (...) a cobrança era muito grande e a cada dia você

tentava superar, tentava trazer coisas diferentes para trabalhar”. (E2)

- Domínio pedagógico (conhecimento dos processos de ensino-aprendizagem) e

avaliativos (capacidade analítica frente a informações) (MASETTO, 2012; MENDONÇA et

al., 2012), concomitantemente:

“(...) quando eu comecei a dar administração financeira, primeira turma, eu tentei

fazer exatamente o que tinha na minha cabeça do que era um professor de administração

financeira (...) Depois da primeira prova foi uma confusão só, os alunos, reclamação..., aquilo

ali... eu errei na calibragem digamos assim (risos), da prova (...) depois eu fui aprendendo o

quanto eu poderia cobrar, até o quanto a gente tinha que trabalhar de conteúdo”. (E9)

A fala desse entrevistado confirma a opinião de Tardif (2000), de que os saberes

profissionais dos professores provêm de diversas fontes, inclusive de seus conhecimentos

disciplinares adquiridos na universidade.

Villard e Vergara (2013) reforçam que resolução de problemas realizada pelos

professores em seu ensinar cotidiano constitui uma forma de desenvolvimento contínuo de

competências profissionais docentes em cursos de administração, admitindo-se que tais

professores aprendam permanentemente com seu próprio trabalho. De acordo com os autores,

para aprofundar o entendimento da aprendizagem das práticas docentes nos cursos de

administração, ou seja, das dinâmicas de aprendizagem individual, coletiva e organizacional

oferecidas pelas instituições de educação superior, parece interessante e pertinente examiná-las

de modo processual e contextualizado ao invés de apenas individual e pontual.

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Dessa forma, podemos considerar que enfrentar desafios ou o compartilhamento

destes podem constituir uma maneira muito profícua de desenvolver competências aos docentes

nos cursos de Administração.

4.1.6 Competências desenvolvidas por meio da interação (o relacionamento interpessoal

com os discentes) - INFORMAL

A categoria em questão investigou o desenvolvimento de competências docentes de

maneira informal, adquiridas por meio da interação, do relacionamento interpessoal com os

discentes. Le Boterf (2003) afirma que a competência coletiva é uma resultante das

competências individuais e que as competências são construídas nas interações entre as pessoas.

Nogueira e Bastos (2012) defendem que os docentes em Administração devem desenvolver

interação com o alunado, além do aspecto afetivo na educação de adultos, como um fator

relevante para o processo de ensino-aprendizagem. Villard e Vergara (2013) corroboram que

os professores de Administração devem desenvolver uma consciência sobre como professor e

aluno se relacionam na sala de aula e como o conhecimento e a competência docente se

desenvolvem, ocasionando no aumento da capacidade de aprendizagem de seus alunos também.

Dessa forma, os professores conseguem reconhecer e traduzir seu conhecimento docente e

fazerem melhores escolhas didáticas.

A maioria dos entrevistados consideram que é possível desenvolver algum tipo de

aprendizado na interação com seus discentes, bem como que essa troca é muito importante para

o processo de ensino-aprendizagem em sala de aula, conforme destacado nas falas a seguir:

“Então as vezes tem alguma coisa que eles sabem, mas eles não sabem que eles

sabem (...) então eu acredito que assim, ali é uma troca, e quanto mais você, como professor,

se distanciar deles é pior. Porque se você não trocar, você sozinho é extremamente limitado

(...) então eu sou adepta da ideia de que a sala de aula é uma troca, um compartilhamento.

(E4)

“(...) você tem novidades do mercado, experiências, empresas novas através dos

alunos. Eles te contam, contam as experiências deles, eles usam o professor às vezes como

consultor de negócio, principalmente na minha área que é marketing, eles usam o professor

como consultor de negócios. Ou eles estão empreendendo, ou na questão do relacionamento

na empresa. Então sempre tem troca, eu sempre aprendo com os alunos”. (E6)

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“Com certeza que agrega. O próprio desenvolvimento da habilidade da

inteligência emocional (...) porque um dos problemas do docente em geral é ele se achar um

semideus (...) você tem que ter a humildade de saber que você também é um aprendiz, inclusive

de aprender com o próprio aluno, porque tem a experiência do indivíduo que trabalha em um

determinado local e aquilo acrescenta para você. Então é claro que é um aprendizado, sem

dúvida”. (E3)

“Eu tenho alunos que às vezes já estão numa segunda graduação, tenho alunos que

trazem conteúdos, contextos completamente diferentes daqueles com os quais a gente está

acostumado. E eles trazem conhecimentos, trazem formas de ver a vida, de lidar com problemas

que a gente não está acostumado (...) a gente acaba aprendendo com a experiência individual

dos alunos”. (E7)

Entretanto, podemos constatar de forma bastante pontual o desenvolvimento de

competências docentes a partir da interação com os discentes:

- Interpessoais (relações em nível individual e grupal) e avaliativas (capacidade

analítica frente a informações) (MENDONÇA et al., 2012), concomitantemente:

“(...) a gente acaba criando um estreitamento no relacionamento (...) sempre tem

aquele aluno que se sente mais confortável e que chega e fala: “Poxa, sua aula é bacana, mas

o que você acha de tentar mudar isso, fazer isso diferente? ”... E eu aceito todas as críticas, eu

acho que críticas são sempre construtivas (...) e aí esse estreitamento do relacionamento acaba

permitindo com que eles pontuem algumas coisas para mim que me fazem melhorar”. (E1)

“(...) o aluno te dá feedback sobre a sua pessoa, às vezes até coisa que você não

imagina (...) por 2 semestres eu recebi cartinhas, e a maioria de meninas, de mulheres, e

cartinhas falando o quanto eu contribuí naquele semestre para a vida delas (...) são

informações que me trazem uma realidade e me mostram como eu estou sendo vista e como eu

estou me desenvolvendo... então essa forma de feedback me diz aonde é que eu consigo

melhorar”. (E8)

- Ser competente em determinada área do conhecimento (constante atualização das

práticas profissionais através de especializações e pesquisa para fins de estudo e reflexões

críticas, incluindo produção de papers e publicações em revistas e periódicos), (MASETTO,

2012):

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“(...) se eu fui para o Doutorado foi grande parte por cobrança desses 6 ou 7 alunos

que estão no Mestrado (...) porque enquanto se forma são alunos, depois que terminou a

faculdade começam a ser amigos de profissão. Já desenvolvi muito trabalho com ex-alunos,

quer dizer, então eu aprendo muito também com essa aproximação, com essa troca de

experiência”. (E2)

“(...) a evolução do professor, ela vem muito do aprendizado que ele obtém da

outra parte que são os alunos. Tem muitos alunos bons que inspiram você a uma metodologia

mais moderna, a um conhecimento mais aprofundado, ou então faz com que você pesquise para

você chegar no que está sendo discutido. Foi uma prática que eu tive muito interessante, nunca

mais esqueci isso (...)”. (E10)

- O exercício da dimensão política na docência (o papel de cidadão que o professor

desempenha na sociedade e fora da sala de aula, mas inclusive dentro dela, abrindo espaços

para discussão e debate de temas emergentes na sociedade e que impactam a formação cidadã

dos alunos). (MASETTO, 2012):

“Dando aula de fundamentos sociológicos da administração (...) uma aluna me

perguntou o seguinte: professor, como é que a gente pode explicar dois indivíduos da mesma

família, dois irmãos criados pelo mesmo pai e pela mesma mãe, um é trabalhador e o outro é

bandido? (...) o que fiz foi abrir espaço para a gente discutir, dialogar em cima de um conteúdo

que estava escrito de alguns autores, se aquilo era verdade ou não e tentar concluir com ela”.

(E5)

Sob esse aspecto, Villard e Vergara (2013) afirmam que a universidade, por meio

de seus docentes, promove educação para formar cidadãos e profissionalização para formar

trabalhadores, bem como que o desenvolvimento da competência docente lhes permitiria

repensar suas atuais concepções pedagógicas e se abrir a várias outras mais ao atual perfil dos

alunos e às necessidades da sociedade onde os docentes de administração operam.

A competência do professor é travada e paulatinamente conquistada no cotidiano

da relação que estabelece e constrói com o corpo discente. A docência construída com o foco

na relação professor-aluno mobiliza neles outras habilidades. Este movimento, para os nossos

interlocutores, desencadeia uma busca constante de atualização, aprimoramento e opção

permanente pela aprendizagem do aluno. (GUIMARÃES, 2014; BRACCINI; RESCHKE,

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2012). A fala da maioria dos entrevistados, sobre o desenvolvimento de competências e

aprendizado a partir da interação com os alunos, é compartilhada por esses autores.

É importante destacar que um dos docentes entrevistados não compartilha da

opinião de que é possível desenvolver competências a partir do relacionamento interpessoal

com os discentes:

“(...) se você tem uma turma que você tem um relacionamento mais próximo, mais

fácil, que flui mais, você consegue desenvolver, ter um desempenho melhor como professor. E

o contrário também é verdade (...) não que o relacionamento vai me trazer competências... eu

acho que é como eu falei, a prática, a aprendizagem como um todo, entendeu? Situações e

coisas assim, mas não você separar ...ah, o relacionamento...não sei, acho que não”. (E9)

Ao analisar essa categoria conclui-se que, apesar das teorias consultadas afirmarem

o contrário, a interação com os discentes seria uma forma menos profícua para o

desenvolvimento de competências docentes no curso de Administração, segundo os

entrevistados, apesar de ser uma maneira de proporcionar aprendizado aos docentes.

4.1.7 Competências desenvolvidas a partir das relações de trabalho (a interação com

outros docentes e/ou coordenadores da IES) - INFORMAL

Essa categoria investigou o desenvolvimento de competências de maneira informal

através das relações de trabalho que, no caso dos docentes, se dá por meio da interação com

outros docentes e Coordenadores das IES em que atuam ou já atuaram. A esse respeito, Le

Boterf (2003) e Le Boterf (2006) ilustram a importância do contexto ao ressaltar que inúmeras

pessoas que possuem conhecimentos ou capacidades não sabem mobilizá-los de modo

pertinente e no momento necessário em uma situação de trabalho. A atualização daquilo que se

sabe em um contexto específico (como por exemplo nas relações de trabalho) é fundamental

para se revelar a competência, que somente se realiza na ação. Por outro lado, existem os

recursos disponíveis no contexto em que a pessoa se insere, aqueles que ela não possui, mas

aos quais ela pode recorrer se necessário, como por exemplo, redes de conhecimentos e

competências de colegas ou de profissionais. Para agir com competência, um profissional deve

combinar e mobilizar os recursos pessoais e os recursos do seu contexto; torna-se difícil, talvez

impossível, ser competente sozinho e de forma isolada (LE BOTERF, 2006).

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Dos 10 (dez) entrevistados, 09 (nove) alegaram ter desenvolvido competências

docentes a partir das relações de trabalho, referentes à docência (domínio de sala de aula;

tradução dos conteúdos para a linguagem e cotidiano dos alunos), domínio pedagógico

(conhecimento dos processos de ensino-aprendizagem; tecnologias educacionais; o processo de

avaliação) e ser competente em determinada área do conhecimento (constante atualização das

práticas profissionais) (MENDONÇA et al., 2012; MASETTO, 2012), através das relações de

trabalho com outros docentes e Coordenadores de curso:

“(...) eu por mais de uma vez recorri a professores já com experiência, mostrando

transparências das minhas aulas para que dessem, para que fizessem uma avaliação, mesmo

eu sendo Coordenador de curso e tendo o professor como colaborador do curso, e eles sempre

contribuíram falando: “olha, não... está muito carregado isso... não dá tempo de você

trabalhar tudo isso em uma aula...” eu acho que o crescimento veio dessa parceria. (E2)

“Eu sempre observei muito colegas irem palestrar, eu ia assistir a palestra, eu

queria entender como eles faziam (...) e eu aprendi muito, tanto como não fazer, que é

interessante também, quando você vê: “isso não pode fazer... isso não dá certo... ninguém se

interessa por isso...” você observava pelo movimento da plateia (...) e quando algumas pessoas

faziam aquilo de uma forma bastante assertiva aquilo também gerava um aprendizado muito

grande”. (E3)

“No meu início foi tudo (...) eu tive total suporte de todos eles. Da etapa do “me

dá uma aula pronta... me dá material” para que eu pudesse começar a me estruturar até falar

sobre postura em sala de aula, como se posicionar em determinadas situações (...) até hoje eles

contribuem em tudo que eu faço... é uma dica, é uma conversa... “poxa, não... olha, tenta fazer

assim”... e eu reflito muito sobre tudo que me é dito”. (E1)

“Bastante, na verdade assim, no início (...) você acaba buscando informação de

quem já tem experiência naquela situação, você... eu nova, falava com outros professores:

“Aconteceu isso, isso e isso, o que eu faço? Por favor, qual é o caminho? Qual é? ” Ou então

perguntava para o coordenador: “Olha, aconteceu isso e isso na sala, qual é o procedimento?

Como é que deve lidar com essa situação? ”. (E4)

“O rico é a experiência de vida, como ele lida com os alunos, como ele resolve uma

situação. Eu tenho um colega que me mostrou um exercício de sala que ele deu para uma turma

(...) foi o que precisava para gente discutir um pouco como resolver isso, para discutir um

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pouco as bases de educação desse aluno, a dificuldade que o aluno tem hoje para conseguir

entender raciocínio até simples (...) E essa troca com esse professor ajuda, é legal, é bom”.

(E5)

“(...) tem muito professor que tem experiência de vida, de docência, que consegue

passar para a gente, principalmente para quem está começando, informações valiosas. Eu

tenho alguns colegas que sempre falam o que é bom fazer dentro de sala de aula, o que não é

legal... “olha, eu utilizo essa técnica... de repente você vai fazer um cursinho”... vai dando

dicas, e isso vai melhorando sim, com certeza... vai agregando (...) ajuda muito”. (E8)

“Sim. Em geral é professor, na sala dos professores. Eles sempre contam como eles

fazem, sempre tem uma troca na sala dos professores (...) Como você traz a tecnologia para a

sala de aula? Como a tecnologia pode participar da sua aula? Ao invés do aluno desenvolver

uma atividade por escrito, ele faz um vídeo, ele faz um áudio. Isso eu aprendo bastante com os

professores”. (E6)

“Muitas vezes acontece assim, até no dia a dia, um professor tem uma ideia de

formas de avaliação... aí você escuta... poxa, legal... mesmo que não faça a mesma coisa, é

lógico, mas pega uma linha... às vezes você está sem ideia, quer fazer uma avaliação diferente...

ah, fiz tal coisa... aí você: ah, legal... vai adaptar para você, eu acho isso importante”. (E9)

“(...). Já pedi a eles (docentes) para entrar em sala de aula e assistir determinado

assunto que eu não tinha conhecimento nem na teoria, e eu aprendi muito (...). Já fui no curso

de logística pedir para dar uma olhadinha, observar a aula do professor (...) eu queria

aprender um pouquinho sobre transporte. E quando eu entrei para assistir a aula que ele estava

dando eu aprendi muito”. (E10)

É importante destacar que juntamente ao desenvolvimento das competências, os

entrevistados alegam que a interação com colegas de trabalhou (outros docentes ou

Coordenadores de IES) lhes proporcionou melhorar a postura em sala de aula, a didática, o

aprimoramento de seus materiais de aula, auxílio para a resolução de problemas cotidianos em

sala de aula e outros correlatos, contribuindo significativamente para a prática docente. A

exemplo desse entrevistado, que não pontuou o desenvolvimento de competências a partir das

relações de trabalho, mas alega que a troca o auxilia na confecção de materiais de aula e provas:

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“Olha, para dentro de sala de aula não tanto. Acho que dentro de sala de aula o

professor tem que encontrar o seu jeito de dar aula. Eu digo mais no apoio pré aula talvez, ou

então no apoio da dinâmica de você manter o semestre. Questão de conteúdo, de formulação

de provas. Na prática docente não tanto, eu acho que isso é muito do professor mesmo”. (E7)

Ao analisar essa categoria, constatou-se que há considerável aquisição de

competências docentes através das relações de trabalho com outros docentes e Coordenadores

de curso.

4.1.8 Competências desenvolvidas a partir das passagens por situações profissionalizantes

/ percurso profissional (a experiência de mercado do docente na sua área de atuação

original) - INFORMAL

A última categoria analisada investigou a aquisição de competências docentes de

maneira informal, através da experiência de mercado ou percurso profissional anterior, ou seja,

a relevância da experiência de mercado para a atuação do docente de Administração nas IES.

A esse respeito, Zarifian (2008) considera que é a organização que permite unir a competência

individual à competência coletiva, e que a competência individual se manifesta claramente em

relação a um indivíduo e se expressa no que ele faz. A sua produção é resultado de inúmeras

trocas de saberes e conexões entre atividades diferentes e cada vez mais o indivíduo constrói

sua competência entrando em contato em seu percurso educativo e profissional. Para o autor, a

competência é uma nova forma de qualificação emergente. Com a evolução histórica e prática

dos conceitos, a profissionalização hoje não deveria mais estar reduzida à formação, inclusive

porque, segundo o autor, profissional é aquele que sabe administrar uma situação profissional

complexa. Aqui, a complexidade aparece associada ao evento, ao contexto, às necessidades,

problemas e ao processo.

Na investigação realizada junto aos entrevistados, constatamos que os professores

com perfil mais acadêmico e com pouca experiência de mercado anterior à docência não

consideram esse um fator relevante:

“Eu acho que se você está trabalhando para formar um técnico em Administração,

aí a experiência no mercado é importante. Agora se você está formando um Administrador na

sua essência, não só o profissional como o pessoal, a experiência na Academia é vital. ” (E2)

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“(...) a sala de aula é o lugar para você compartilhar experiências, então a

experiência que você, como docente, tem que compartilhar, é a experiência acadêmica, a não

ser que seja uma disciplina especifica, que cobre mais a prática, aí tudo bem (...) se o professor

é um competente moderador e eu tenha alguém na turma que tenha esse conhecimento, ele vai

saber aproveitar isso e trazer esse conhecimento para ser compartilhado pela turma”. (E4)

Observou-se também que alguns entrevistados que relataram possuir ampla ou

moderada experiência de mercado na área em que lecionam atualmente, compartilham da

mesma opinião dos que tem perfil acadêmico, ou seja, a experiência não é necessariamente

relevante para a docência em Administração:

“(...) eu trabalhei por um período na indústria (...) mas se eu não tivesse essa

experiência não seria um empecilho para passar esse conhecimento... porque hoje a gente tem

vídeos, imagens, diversas formas para passar esse conhecimento... poderia pegar um case e

passar em sala de aula... Então essa questão de necessário, obrigatório, eu acredito que não,

vai depender das competências que o profissional tiver, não necessariamente essa experiência

anterior”. (E8)

“(...) se você falar do curso de administração eu acho que deve ter tanto

professores com experiência, uma grande experiência de mercado, em conjunto com

professores que tem um foco mais na formação acadêmica. Eu acho que essa mistura aí é que

faz um curso ser um curso bom. Não só profissionais do mercado, não só também professores

só acadêmicos”. (E9)

“(...) se a gente for analisar uma matriz curricular do curso de Administração você

tem matérias que não vão necessitar. Então a resposta é sim e não. Matérias que exijam um

contexto prático é adequado que o professor tenha uma vivência em determinado assunto pela

via de mercado. Matérias, por exemplo, como Marketing, RH, eu acredito sim (...) Outras

matérias não vão exigir essa vivência”. (E7)

Tais entrevistados colocam a experiência como algo relativo, podendo a sua

relevância variar, por exemplo, em função do indivíduo e das matérias a serem lecionadas.

Já os entrevistados a seguir, que consideram possuir ampla experiência de mercado

na área ou em áreas correlatas à Administração, consideram essa experiência essencial para o

processo de ensino aprendizagem:

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“(...) no nosso caso de Administração, no caso, por exemplo, de Ciências

Contábeis, Economia, alguns cursos superiores com essa modalidade de curso eu acho que é

importante. Não necessariamente ele precisa estar numa empresa para entrar na docência, ele

pode entrar na área de docência e partir para empresa o que ele não pode é deixar de vivenciar

um ambiente empresarial porque ele deixa de ficar enriquecido naquilo que ele vai lecionar”.

(E10)

Um deles sinalizou que em algumas IES é condição sine qua non para o ingresso

do docente:

“Em geral, os alunos valorizam o professor que tem uma carreira profissional, que

tenham tido ou que a tenham em paralelo. Eu não sei se os outros cursos são diferentes, porque

o meu conhecimento é só em Administração. Em Administração é assim (...) tem escolas só

contratam professores que tenham uma carreira profissional. Não que tenha tido, mas que tem

no momento, que não esteja fora do mercado”. (E6)

Na fala dos entrevistados a seguir, constatou-se de forma bem pontual que a

experiência profissional anterior ou concomitante à docência os ajudou a desenvolver as

competências docência (domínio de sala de aula; tradução dos conteúdos para a linguagem e

cotidiano dos alunos) e ser competente em determinada área do conhecimento (conhecimentos

em determinada área e experiência profissional de campo) (MENDONÇA et al., 2012;

MASETTO, 2012), necessárias ao professor de ensino superior em Administração:

“Você não pode ensinar algo que você não domina... se você não domina você não

pode ensinar; você pode conversar a respeito, mas você não pode ensinar (...) eu acho que a

gente precisa da vivência, da experiência profissional para mostrar para o aluno na sala de

aula como é aquilo na prática, a realidade, a aplicabilidade”. (E1)

“Eu acho que ajuda muito, que ele vivenciou, ele experimentou aquelas coisas

todas que vai falar em sala de aula em que ele consegue reconhecer na teoria (...) ajuda até a

responder um aluno (...) Se eu tenho um recurso a mais que é uma experiência do mercado me

ajuda, eu lanço mão disso em algum momento (...) Se eu quero aprender alguma coisa sobre

novos empreendimentos, seria razoável eu querer conversar com alguém que já fez isso”. (E5)

“Uma vivência de mercado cria um conjunto de competências bastante relevantes

(...) quando às vezes você lida com alunos que são da área e que às vezes tentam questionar,

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entender como aquilo acontece de verdade, então não pode ser somente acadêmico, porque

senão você não tem essa dimensão de como acontece (...) A experiência prática não só dá um

suporte, como também uma segurança ao professor”. (E3)

A opinião dos entrevistados acima é endossada por Plutarco e Gradvohl (2010). Os

autores afirmam que há certa unanimidade quanto à necessidade de o professor possuir

experiência real externa à academia, tornando possível enunciar a experiência de mercado do

docente da área de negócios como uma competência central. Entretanto, ou autores propõe a

averiguação do quanto esta competência é relevante quando analisada em conjunto com

competências também relevantes.

Ao analisar essa categoria, foi possível atestar que a passagem por situações

profissionalizantes ou o percurso profissional são capazes de desenvolver competências nos

docentes dos cursos de Administração. Entretanto, não é possível atestar que a experiência de

mercado do docente de Administração seja relevante para sua atuação profissional.

4.2 ANÁLISE DAS CATEGORIAS EMERGENTES

As categorias a seguir foram identificadas a partir do campo, sendo denominadas

emergentes ou a posteriori. Buscou-se analisá-las à luz do referencial teórico, com vistas a

confirmar, corroborar ou até mesmo contradizer a teoria.

4.2.1 Percepção de competência docente: o que é ser um professor competente?

Para Karawejczyk e Estivalete (2003) o desenvolvimento de competências tem

assumido uma dimensão significativa à medida que contribui para a formação e o

desenvolvimento das pessoas e para uma mudança no seu modo de pensar, ser e agir no contexto

de trabalho. Vasconcellos (2009) defende que na área de educação a ideia de competência está

associada a saberes, capacidades e habilidades. Todos os entrevistados opinaram sobre o que

entendem por competência docente. Verificou-se que as concepções de competência docente

foram variadas:

Segundo Perrenoud (2000) descrever uma competência equivale a evocar três

elementos complementares: os tipos de situações que domina; os recursos que mobiliza

(conhecimentos, atitudes, esquemas motores, de percepção, de avaliação, de antecipação e de

decisão) e a natureza dos esquemas de pensamento que permitem a solicitação, mobilização e

organização dos recursos pertinentes nas situações complexas e em tempo real. Este último de

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difícil observação, mas inferidos a partir das práticas dos atores. Tais elementos se mostram

presentes na descrição das competências feita pelos docentes. De acordo com os entrevistados,

são essas as competências necessárias aos docentes que atuam em cursos de Administração em

IES privadas:

- Reunir teoria e prática

Le Boterf (2003) afirma que a competência profissional é a capacidade de integrar

saberes diversos e heterogêneos na realização de atividades. Nogueira e Bastos (2012) ressaltam

que em uma profissão como a docência, que se volta ao domínio da técnica e sua aplicação, há

de se esperar que os requisitos da escola salientem a experiência profissional mais do que

desenvolvam e foquem qualidades específicas do escopo pedagógico. Os entrevistados a seguir

compartilham dessa opinião:

“Para mim, a competência está quase que obrigatoriamente relacionada à vivência

prática, além do aprofundamento acadêmico (...) à medida em que eu comecei a me aprofundar

no conhecimento acadêmico, isso me ajudou muito a entender muitos erros que eu cometi, e

então eu acho que o professor competente é aquele que consegue trazer uma boa base

acadêmica associada a uma vivência de mercado”. (E3)

“(...) é você entender sobre o assunto e saber também a prática de realização

daquilo que você entende. Isso vem com a palavrinha background que é a bagagem que você

adquiriu ao longo do tempo e know how que é o conhecimento que você adquiriu na academia.

Esses dois somados vai fazer com que você saiba o que fazer dentro daquele conhecimento que

você obteve na sua vida profissional e obrigatoriamente a competência (...)”. (E10)

- Traduzir o conhecimento para a linguagem do discente

Paiva e Melo (2008) conceberam a competência profissional como a meta-reunião

de maneira singular e produtiva de competências compostas por saberes variados. Le Boterf

(2003) corrobora que o profissional se define pela tarefa de “administrar”, e esse saber

administrar relativo ao profissional declina em alguns “saberes”, dentre eles o saber transpor,

em que o profissional não pode se limitar a repetir; ele deve transpor a experiência adquirida

em novos contextos. É o que constatamos na fala desses entrevistados:

“(...) eu acho que ser um bom professor é conseguir criar um espaço no ambiente

para o grupo se desenvolver, crescer, mudar sua cabeça, transformar o seu pensamento,

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refletir e cada um seguir o seu caminho (...) tem um momento de início, tem um término ali no

meu convívio com aqueles alunos, mas os alunos vão levar alguma coisa daquilo, para o resto

da vida, de alguma forma aquele conteúdo transforma o indivíduo (...)”. (E5)

“Eu acho que ser um professor competente é o professor que tem o conhecimento

teórico, que ele conheça a teoria, e que ele traga essa teoria para a realidade do aluno, para

a realidade da sala de aula. Que ele ajude o aluno a fazer essa conexão, da teoria com a

prática. E a prática do aluno (...) que eu traga essa teoria para o contexto dele. Que ele consiga

ver a aplicação da teoria. Eu acho que esse é o professor competente (...)”. (E6)

Plutarco e Gradvohl (2010) consideram a didática o atributo mais importante. A

qualidade de saber ensinar é muito valorizada pelos estudantes. Para Zarifian (2008)

competência é um entendimento prático de situações que se apoiam em conhecimentos

adquiridos e os modifica à medida que aumenta a diversidade das situações. Fleury e Fleury

(2013) concebem competência, na perspectiva individual, como um conjunto de

conhecimentos, habilidades e atitudes que justificam um alto desempenho. Nessa abordagem

considera-se a competência, portanto, como um estoque de recursos que o indivíduo detém.

Traduzir esse conhecimento para a linguagem do discente seria um desses recursos relativos à

competência docente, de acordo com esse entrevistado:

“(...) competência eu atribuo talvez à capacidade de você assimilar um

conhecimento, compreender como você vai poder transpassar isso para o seu aluno. Talvez a

grande dificuldade hoje do aluno seja entender um conceito (...) então você ter a competência

de traduzir aquilo. Talvez seja isso, de você ter um conteúdo, ter uma noção desse conteúdo,

você saber traduzir esse conteúdo na linguagem do aluno”. (E7)

- Buscar melhoria contínua

Para Le Boterf (2003), um dos saberes relativos ao profissional competente é o

saber aprender e aprender a aprender, que se refere ao saber transformar sua ação em

experiência; fazer de sua prática profissional uma oportunidade de criação de saberes. Já

Masetto (2012) afirma que as exigências para o professor de ensino superior basicamente

continuam as mesmas - domínio de conteúdo e experiência profissional - pois até pouco tempo

havia a crença de que quem sabe, sabe ensinar, pois “ensinar” constituía ministrar aulas

expositivas e mostrar na prática como se fazia. Recentemente os professores universitários

começaram a se conscientizar que ser docente exige capacitação própria; exige também

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aquisição de competências específicas, sendo necessário buscar meios de desenvolvimento

pessoal. Os relatos dos entrevistados a seguir corroboram a visão dos autores citados:

“(...) eu considero que eu busco sempre caminhos diferentes, eu não busco fazer

sempre igual, eu não busco ficar na zona de conforto (...) quando eu comecei a lecionar eu era

muito nova, eu provavelmente não tinha noção nenhuma do que era ser professor, mas depois

que eu comecei a encontrar as pessoas (...) eu comecei a ver o peso das coisas que você fala,

das metodologias que você adota, do quanto isso impacta na formação daquela pessoa (...)”.

(E4)

“(...) eu acho que tem que ter conhecimento, busca de conhecimento sempre e

dedicação. Porque se você tiver só o conhecimento e não tiver a dedicação você não consegue

transmitir... se eu tiver o conhecimento e aquela dedicação, aquele amor pelo que você faz, eu

acredito que você se torna um professor competente”. (E8)

“Eu acho que acima de tudo (...) a gente tem que ter a habilidade humana... eu

acho que a gente precisa saber se relacionar com outras pessoas (...) em segundo lugar, para

mim o professor, para ele ser competente, eu acho que ele tem que ser bom tecnicamente (...)

e acho que ele precisa estar sempre buscando ampliar o seu conhecimento também(...) então

para mim um professor competente é aquele que consegue equilibrar essas 03 habilidades”.

(E1)

- Proporcionar aprendizado

Mendonça et al. (2012) afirmam que o profissional para ser considerado competente

deve agir de forma que seus resultados são avaliados por si mesmo e por terceiros, e que

dependendo dessa avaliação, sua ação será legitimada como competente (ou não), pois a

competência profissional também é de natureza contextual. Os autores defendem que a ação

competente só é legitimada mediante o atingimento do seu objetivo, que no caso do ensino é a

aprendizagem do aluno, necessariamente verificada a posteriori. Os entrevistados a seguir

compartilham da opinião de que a competência docente está relaciona ao aprendizado

proporcionado ao discente:

“Não se preocupar apenas com a transmissão do conhecimento, mas sim com o

desenvolvimento do estudante enquanto profissional e pessoa (...) eu acredito que aquela fase

de ensinar o aluno passou... hoje eu acho que nós podemos contribuir para que o aluno

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aprenda, mas não ensinar, na minha concepção (...) que estimule o aluno a aprender, que

auxilie o aluno, que oriente o aluno (...) ele está lá para colaborar, ele é um colaborador, eu

acredito”. (E2)

“Um professor competente, é um professor que consegue primeiro ter objetivos em

relação à disciplina, à formação do aluno naquela disciplina.... Então de que forma a tua

disciplina vai contribuir? Tem que ter essa visão, de que forma aquela disciplina vai contribuir

na formação global do aluno, final (...) um professor competente, planeja, vai planejar esse

caminho”. (E9)

Ainda que o objetivo dessa pesquisa não seja propor um novo modelo de

competências para os docentes dos cursos de graduação em Administração, as categorias que

emergiram do referencial indicam que o campo de estudos sobre o tema competência docente

ainda não está esgotado.

4.2.2 O papel das IES privadas no desenvolvimento de competências docentes

Rezende e Leal (2013) relatam que as IES vêm passando por um processo de

reestruturação e adaptação para enfrentar diversos desafios inerentes a esse ambiente dinâmico,

sendo o papel desempenhado pelo docente essencial na formação dos futuros profissionais, o

que requer uma preparação compatível para enfrentar esses desafios. Para Nassif, Hanashiro e

Torres (2010) há cobrança em relação ao professor para que forme alunos capacitados para

enfrentar as exigências de mercado, entretanto não há uma reflexão sobre quais são e como

esses professores desenvolvem suas competências, e que não se tem verificado preocupação

por parte das IES em desenvolver competências para que os professores atuem nesse novo

ambiente de ensino. Foi possível constatar tais apontamentos dos autores ao analisarmos a fala

de alguns dos docentes entrevistados:

“Eu acho que as IES precisam estimular mais (...) eu acho que no geral as IES

ainda investem muito pouco... elas querem pegar o profissional pronto, tanto na questão da

docência como na questão de mercado, e jogar na sala de aula e resolver o problema dela”.

(E3)

“(...) eu poderia somente reforçar a importância da IES nesses trabalhos como

oficinas, reciclagem, treinamentos e todas as outras atividades que ajudam a manter o

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profissional atualizado (...) está certo que o profissional, ele mesmo, precisa buscar o

conhecimento (...) mas quando a Instituição oferece isso é um ganho para todos (...) mais

atividades, mais oficinas que desenvolvam essas competências, eu tenho certeza que só vai

somar para nós professores”. (E8)

“(...) eu acho que a instituição tem um papel importante nisso (...) Dependendo de

como a instituição coloca para o professor que está no exercício de que ele eventualmente não

está sendo um professor competente, isso pode despertar nele uma vontade de se corrigir ou

isso pode colocá-lo mais para baixo ainda e torna-lo pior do que ele é (...) A instituição tem

que ter um cuidado de trabalhar esse professor”. (E5)

Balbachevsky e Holzhacker (2005) destacam que, até o início dos anos noventa, a

política de ensino superior adotada no país criou uma condição de verdadeiro apartheid

institucional, em que o setor privado permaneceu quase inteiramente isolado do setor público,

cada qual recrutando seus profissionais em mercados distintos, com exigências de qualificação

diferentes: enquanto o setor público recrutava ex-alunos de universidades públicas, que tinham

suas necessidades de qualificação profissional atendidas pelo sistema nacional de pós-

graduação, o setor privado recrutava professores com nível mínimo de qualificação, sem

nenhum contato com o sistema de pós-graduação montado no país e, portanto, sem identificação

como os valores da academia. Isso é verificado na fala do entrevistado a seguir:

“A maioria das instituições do nível superior, pelo menos da minha época, que eu

vinha trabalhando, ela tratava o docente de uma forma assim, como que eu posso dizer... mais

mão de obra do que desenvolvê-lo na sua carreira. Então eu não tive oportunidade de numa

instituição de nível superior ter um desenvolvimento internamente, para me aprimorar e

engrandecer na minha profissão”. (E10)

De acordo com esses entrevistados, é de suma importância que a as IES colaborem

para o desenvolvimento de competências de seus docentes; os investimentos feitos por essas

Instituições ainda são muito pequenos e em alguns casos inexistentes. Se considerarmos que o

setor privado responde cada vez mais pela formação da maioria de nossos estudantes do ensino

superior, torna-se relevante as preocupações com a formação do docente nas IES privadas

(BALBACHEVSKY; HOLZHACKER, 2005). O que é feito por boa parte destas são cobranças

sem que sejam oferecidos subsídios, suporte para que os docentes possam ampliar seu

aprendizado e suas competências. De acordo com Villard e Vergara (2013), capacitar

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professores em IES e desenvolver-lhes as competências docentes, assim como sua

aprendizagem, irá propiciar que conscientemente reconheçam suas concepções

epistemológicas, pedagógicas e outras que sejam diferentes das suas. Podemos concluir a partir

das afirmações dos autores que a falta de investimentos por partes das IES no desenvolvimento

de seus docentes pode comprometer o papel destes, limitando-os em sua atuação profissional,

ocasionando um possível reflexo no aprendizado discente.

4.2.3 O papel dos Coordenadores de IES privadas no desenvolvimento de competências

docentes

Vasconcellos (2009) afirma que é difícil delimitar papéis e que uma das

responsabilidades dos profissionais da área da educação seria a defesa da construção de uma

proposta que permitisse que essa formação acontecesse de forma mais efetiva. O processo

formativo do docente universitário é complexo e não pode ser considerado apenas de um ponto

de vista. Todos os elementos relacionados ao trabalho docente e seu contexto institucional,

social e político devem ser considerados na busca de alternativas ou propostas de formação.

Sendo assim, é possível considerar que um outro elemento central para o desenvolvimento de

competências nos docentes de Administração em IES privadas seja o Coordenador de curso.

Marra e Melo (2003) denomina-os gestores universitários - docentes que exercem a atividade

acadêmica juntamente com as atividades gerenciais; desse grupo também fazem parte os

coordenadores de curso, corresponsáveis pelas respostas aos desafios parte acadêmica e

administrativa das IES.

Os requisitos necessários para um gerente na universidade podem ser subdivididos

em três grupos. O primeiro grupo enfatiza aspectos do relacionamento interpessoal; o segundo

grupo engloba as características e qualidades pessoais; o terceiro grupo reúne as características

profissionais do gestor. As características e qualidades pessoais seriam uma boa comunicação,

liderança, transparência/honestidade e equilíbrio. As características profissionais reúnem

aspectos como uma visão de futuro, o conhecimento de todas as instâncias da universidade,

trabalho em equipe e conhecimento técnico de sua área de atuação (MARRA; MELO, 2003).

Um dos entrevistados ressalta a importância do Coordenador para o equilíbrio do grupo:

“(...) a liderança, no caso o coordenador, deve manter o equilíbrio (do grupo) (...)

no sentido de através de reuniões, colocar os hábitos que todos devem ter, cooperação que

todos devem ter entre si, para que alcance o melhor rendimento possível...”. (E10)

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Entretanto, verifica-se que esse potencial fomentador na aquisição de competências

docentes está frequentemente envolvido em questões meramente administrativas. Marra e Melo

(2003) reforçam que a universidade modela seus processos administrativos mediante condições

muitas vezes desfavoráveis para os ocupantes dos cargos de chefia. O excesso de burocracia

cria situações em que para se resolver os problemas é necessário montar-se processos que

trilham longos caminhos, tornando-se muito demorados; e além de tomarem muito tempo do

gestor, tornam as decisões mais lentas. Os gestores têm a sensação de estar perdendo um tempo

precioso que poderia ser aplicado em outra atividade. A fala do entrevistado a seguir corrobora

com as considerações expostas pelos autores:

“(...) o Coordenador de um curso de Administração de uma Instituição privada

acaba não tendo tempo para se preocupar com aspectos didáticos, ele acaba se preocupando:

“ah, tem que ter o lançamento das notas, tem que ter o plano de ensino, tem que ter a

bibliografia básica, complementar, tem que ter a avaliação...” e não sobra muito tempo para

fazer esse papel da pedagogia universitária, para fazer esse papel da formação docente(...)”.

(E2)

Os gestores universitários dedicam grande parte de seu tempo para a solução de

problemas dos mais variados possíveis, desde a esfera acadêmica-administrativa até problemas

com docentes e discentes (MARRA; MELO, 2003). A fala desse docente entrevistado ratifica

essa postura:

“(...) os contatos com a coordenação são muito restritos, por que primeiro,

normalmente você vai procurar o coordenador quando você tem algum problema, quando está

tudo bem, você não procura (...) Normalmente quando você procura ele está com quinhentas

coisas, está todo cheio de tarefas para fazer, então ele não necessariamente vai ter o tempo

que você gostaria que ele tivesse para falar com você (...) eu acho uma relação muito mais de

cobrança”. (E4)

Para conciliar todas as atividades, os gestores universitários geralmente aumentam

o número de horas trabalhadas semanalmente, implicando muitas vezes em prejuízos pessoais.

A função dos Coordenadores nas Universidades extrapola às relativas ao processo

administrativo e frequentemente são feitas sem planejamento, imperando o imediatismo, a

sensação de apagar incêndios e o improviso (MARRA; MELO, 2003; MARRA; MELO, 2005).

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Ou seja, o principal elo entre as IES e os docentes, um elemento que seria agregador para o

desenvolvimento de competências encontra-se sobrecarregado e subaproveitado.

De acordo com Baeta e Lima (2008), é intervindo numa realidade que se constrói a

cada dia, que os docentes da área de Administração atuam. Extrapolando os conhecimentos

formais, adquiridos ao longo da vida acadêmica, contam com a própria competência para

estabelecerem-se no mercado de trabalho e responderem às demandas discentes. Numa área

que se propõe a formar profissionais capazes de intervir na condução de organizações e gerir

pessoas, o resultado da ação docente no processo formativo merece atenção.

Constata-se então que o Coordenador de curso, que poderia configurar-se no elo

entre IES e docentes no desenvolvimento de competências, acaba sendo subaproveitado,

limitado a tarefas burocráticas e operacionais, destinado a cumprir apenas as exigências legais

do curso, em detrimento ao docente, minimizando seu papel e importância.

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CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Identificar como os docentes dos cursos de graduação em Administração nas IES

privadas desenvolvem suas competências motivou essa pesquisa. Para isso foram definidos

alguns objetivos intermediários a serem atendidos. As conclusões dessa pesquisa foram

construídas buscando atender a esses objetivos. Além das categorias de análise, definidas a

priori e também a posteriori, utilizou-se como referência o modelo de competências do docente

do Ensino Superior (MENDONÇA et al., 2012) e do professor Universitário (MASETTO,

2012), constantes no referencial teórico.

O desenvolvimento de competências pode ocorrer através de treinamentos e

capacitações oferecidas pelas IES. Constatou-se na pesquisa que tais atividades contribuíram

para o desenvolvimento das competências: domínio pedagógico, competências tecnológicas (no

contexto EAD), interpessoais e até mesmo competências de gestão. Observou-se também que

a maioria dos entrevistados, 08 (oito) dentre os 10 (dez), alegaram ter desenvolvido

competências docentes dessa forma, o que demonstra ser uma forma muito profícua para tal. É

importante destacar que os entrevistados que não consideraram essa uma forma de

desenvolvimento de competências docentes alegaram que a metodologia ou formato adotados

em alguns tipos de capacitações e treinamentos proporcionados pelas IES não ofereceu

condições para tal.

Os cursos de formação inicial ou continuada voltados para a docência, tais como

especializações, licenciatura, formação pedagógica e similares proporcionam a aquisição de

competências docentes também. Entretanto, dentre os entrevistados apenas 05 (cinco) alegaram

possuir alguma formação direcionada à docência, sendo 02 (dois) docentes através de

disciplinas (obrigatórias ou eletivas) nos cursos de Mestrado e Doutorado do qual participam,

02 (dois) possuem licenciatura na área e 01 (um) realizou um curso na área pedagógica.

Dentre os 05 (cinco) entrevistados que alegam possuir formação direcionada à

docência, 04 (quatro) conseguiram pontuar as competências desenvolvidas através da formação

recebida: avaliativas, docência e domínio pedagógico. A pesquisa apontou que a formação

continuada não seria a maneira mais profícua de desenvolver competências docentes, mas não

pode ser descartada, tendo em vista o gap que foi revelado na formação dos docentes de

graduação em Administração: metade dos entrevistados não possuem nenhuma formação

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pedagógica. Um dos entrevistados pontuou de maneira particular essa carência em sua

formação.

Plutarco e Gradvohl (2010) reforçam a importância de uma formação consistente

do professor de Administração em termos teóricos, o que se dá especialmente nos cursos com

modelos sólidos de formação, como é o caso dos cursos de Mestrado (especialmente da

modalidade acadêmica) e Doutorado. Slomski (2007) aponta que a grande maioria dos

professores que atuam hoje na universidade não contou com uma formação sistemática

necessária à construção de uma identidade profissional para a docência. Embora estejam dando

aulas, esses professores nem sempre dominam as condições necessárias para atuar como tais,

trazendo à tona uma problemática que precisa ser considerada tanto no que se refere ao que é

ser professor (formação), quanto ao exercício da profissão (condições para tal). À luz da teoria,

podemos considerar que a falta de formação direcionada à docência pode comprometer a

atuação profissional e o papel que os docentes precisam desempenhar.

A análise do referencial, a priori, apontou que o desenvolvimento de competências

de maneira informal poderia ocorrer da seguinte forma: reflexão da prática docente; prática

docente; resolução de problemas e contingências no ensinar cotidiano; interação e

relacionamento interpessoal com os discentes; relações de trabalho e interação com outros

docentes ou coordenadores de curso; passagens por situações profissionalizantes na área de

atuação.

Quanto ao desenvolvimento de competências docentes através da reflexão da

prática, foram possíveis algumas constatações: apesar da metade dos entrevistados

considerarem a reflexão uma prática válida, apenas 02 (dois) pontuaram o desenvolvimento de

competências: docência, domínio pedagógico e interpessoais. Os demais entrevistados não

compartilharam da opinião de que refletir sobre suas práticas seja capaz de proporcionar o

desenvolvimento de competências, justificando que sem um prévio conhecimento estruturado,

critérios definidos sobre o seu papel docente ou parâmetros de avaliação isso não será possível.

Sendo assim, a pesquisa revelou que a reflexão sobre a prática não é profícua para o

desenvolvimento de competências docentes.

Já o desenvolvimento de competências docentes por meio da prática profissional,

ou seja, a atividade de lecionar no dia a dia, apontou o desenvolvimento de competências apenas

por 03 (três) dos docentes entrevistados: avaliativas, docência e domínio pedagógico. Apesar

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de alguns dos docentes entrevistados alegarem que o dia a dia em sala de aula, a atividade de

lecionar em si contribui para o aprendizado, o modelo de análise não conseguiu identificar o

desenvolvimento de competências docentes nesses casos. À luz do referencial foi possível

constatar que o desenvolvimento de competências pela prática depende também de questões

motivacionais (inerentes ao indivíduo) e contextuais (relacionadas ao ambiente), o que nos leva

a concluir que a falta de motivação ou um contexto desfavorável pode ter sido um entrave nesse

processo de aquisição de competências docentes através da prática profissional.

O desenvolvimento de competências docentes através da resolução de problemas

do ensinar cotidiano e situações e desafios enfrentados pelo docente no exercício da profissão

foi uma das formas mais profícuas segundo a pesquisa, pois 09 (nove) dentre os 10 (dez)

entrevistados pontuaram competências desenvolvidas nesse contexto. Dentro do modelo de

análise, as competências foram: ser competente em determinada área do conhecimento,

interpessoais, docência e domínio pedagógico. Villard e Vergara (2013) reforçam que resolução

de problemas realizada pelos professores em seu ensinar cotidiano constitui uma forma de

desenvolvimento contínuo de competências profissionais docentes em cursos de administração,

admitindo-se que tais professores aprendam permanentemente com seu próprio trabalho.

Conclui-se, portanto, à luz da teoria e a partir dos resultados da pesquisa, que os desafios

enfrentados pelos docentes no cotidiano de seu trabalho proporcionam um excelente contexto

para o desenvolvimento de competências.

Quanto ao desenvolvimento de competências docentes por meio da interação, neste

caso através do relacionamento interpessoal com os discentes, apontou que quase todos os

entrevistados consideram que é possível desenvolver algum tipo de aprendizado com essa

interação, bem como que essa troca é muito importante para o processo de ensino-aprendizagem

em sala de aula. Entretanto, apenas metade dos entrevistados, 05 (cinco) dentre os 10 (dez),

conseguiram explicitar a aquisição de competências através da interação com os discentes.

Constatou-se de forma bastante pontual o desenvolvimento de competências docentes a partir

da interação com os discentes: interpessoais, ser competente em determinada área do

conhecimento e o exercício da dimensão política na docência. Apesar das teorias consultadas

afirmarem o contrário, a pesquisa apontou que a interação com os discentes seria uma forma

menos profícua para o desenvolvimento de competências nos docentes dos cursos de

Administração, apesar de ser considerada uma forma de proporcionar aprendizado.

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O desenvolvimento de competências através das relações de trabalho, que no caso

dos docentes se dá por meio da interação com outros docentes e Coordenadores das IES, se

revelou uma maneira bastante profícua. Dos 10 (dez) entrevistados, 09 (nove) alegaram ter

desenvolvido competências docentes a partir das relações de trabalho. Verificou-se a aquisição

das competências: docência, domínio pedagógico e ser competente em determinada área do

conhecimento. É importante destacar que juntamente ao desenvolvimento das competências, os

entrevistados alegaram que a interação com outros docentes, em particular, lhes proporcionou

melhorar a postura em sala de aula, a didática, o aprimoramento de seus materiais de aula,

auxílio para a resolução de problemas cotidianos em sala de aula e outros correlatos,

contribuindo significativamente para a prática docente. É possível considerar que esse foi um

dos principais achados dessa pesquisa, já que a literatura existente sobre competência docente

no ensino superior pouco aborda sobre desenvolvimento de competências a partir das relações

de trabalho, bem como sobre as competências desenvolvidas a partir dessas relações.

Já a aquisição de competências docentes através da experiência de mercado ou

percurso profissional anterior, ou seja, a relevância da experiência de mercado para a atuação

do docente de Administração nas IES, trouxe algumas constatações. A primeira constatação é

que os docentes com perfil mais acadêmico e com pouca experiência de mercado não

consideram esse um fator relevante. A segunda constatação é que alguns dos entrevistados que

relataram possuir ampla ou moderada experiência de mercado na área em que lecionam,

compartilham da mesma opinião dos que tem perfil acadêmico, ou seja, a experiência de

mercado não é necessariamente relevante para a docência em Administração. A terceira

constatação, é que apenas 03 (três) dos docentes entrevistados pontuaram o desenvolvimento

de competências através da experiência de mercado anterior na área: ser competente em

determinada área do conhecimento e docência. A pesquisa nos leva a inferir que a passagem

por situações profissionalizantes ou o percurso profissional são capazes de desenvolver

competências nos docentes dos cursos de Administração, mas em menor proporção se

considerarmos outros meios anteriormente apresentados. Contradizendo alguns autores do

tema, a experiência de mercado do docente de Administração demonstrou não ser tão relevante

para sua atuação profissional.

As categorias que emergiram a partir do campo, ou seja, a posteriori, trouxeram

algumas contribuições significativas para a pesquisa. Uma delas foi a percepção de competência

docente, ou seja, como os docentes percebiam ou consideravam o que é ser um professor

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competente, a partir do seu entendimento sobre o conceito de competência docente. De acordo

com os entrevistados, são essas as competências necessárias aos docentes que atuam em cursos

de Administração em IES privadas: reunir teoria e prática; traduzir o conhecimento para a

linguagem do discente; buscar melhoria contínua e proporcionar aprendizado. Segundo

Perrenoud (2000) descrever uma competência equivale a evocar três elementos

complementares: os tipos de situações que domina; os recursos que mobiliza e a natureza dos

esquemas de pensamento que permitem a solicitação, mobilização e organização dos recursos

pertinentes nas situações complexas e em tempo real (este último de difícil observação, mas

inferidos a partir das práticas dos atores); tais elementos se mostraram presentes na descrição

das competências feita pelos docentes. A pesquisa revelou que apesar de debatido, o campo de

estudos sobre o tema competência docente ainda não está esgotado.

Um outro achado da pesquisa foi o papel das IES privadas no desenvolvimento de

competências docentes. Foi pontuado por alguns docentes que não há preocupação por parte

das IES em desenvolver competências para que os professores atuem em um ambiente de ensino

cada vez mais exigente e dinâmico. De acordo com alguns entrevistados, é de suma importância

que a as IES colaborem para o desenvolvimento de competências de seus docentes, mas que os

investimentos feitos por essas Instituições ainda são muito pequenos e em alguns casos

inexistentes. O que é feito por boa parte delas são cobranças sem que sejam oferecidos

subsídios, suporte para que os docentes possam ampliar seu aprendizado e suas competências.

Conclui-se que também deve ser atribuído às IES a responsabilidade de desenvolver

competências em seus docentes, e não apenas a estes.

A pesquisa também apontou um outro elemento que poderia ser muito agregador

para o desenvolvimento de competências docentes: os Coordenadores de curso das IES

privadas. Alguns docentes entrevistados apontaram que ele poderia configurar-se no elo entre

IES e docentes nesse processo, entretanto, o que se observa é que ele geralmente está

sobrecarregado pelos aspectos burocráticos da função, limitado a cumprir apenas as exigências

legais do curso, em detrimento ao desenvolvimento de seus docentes.

Algo que também merece destaque na pesquisa foi a ausência de docentes que

consideram ter desenvolvidos competências através de pesquisa e extensão, competências essas

que também estão contempladas no modelo de análise - competências profissionais do professor

do ensino superior (MENDONÇA et al., 2012). Esse gap evidenciado na pesquisa corrobora

com a pesquisa realizada por Maduro (2013), onde docentes dos cursos de graduação em

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Administração sinalizam o baixo envolvimento com a produção técnico-científica,

configurando-se em um fator dificultador para que os docentes possam lidar com as demandas

universitárias emergentes. De acordo com Balbachevsky e Holzhacker (2005), em todos os

sistemas de ensino superior do mundo as atividades de ensino e pesquisa constituem-se em dois

pólos agregadores da atividade acadêmica. Esse aspecto nos leva a constatar que os docentes

dos cursos de Administração em IES privadas não estão envolvidos em atividades elementares

para as Universidades – o princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão –

constante no artigo 207 da Constituição Federal de 1988.

Os resultados da pesquisa realizada indicam que as IES privadas devem

proporcionar mecanismos formais e informais para que as competências docentes sejam

desenvolvidas. Os mecanismos formais podem ser exemplificados por treinamentos e cursos

voltados para a formação didática, pedagógica e outras que contribuam para a docência, como

o uso de tecnologias da informação e comunicação (TIC’s) que favoreçam o processo de ensino-

aprendizagem. Já os mecanismos informais para o desenvolvimento de competências docentes

podem consistir em condições ou contextos que aproximem os docentes de seus pares e

principalmente dos Coordenadores das IES, elemento primordial nesse processo.

De forma geral, conclui-se que os resultados obtidos pela pesquisa atenderam ao

objetivo final do trabalho - Identificar se as competências desenvolvidas pelos docentes dos

cursos de graduação em Administração nas IES privadas ocorrem de maneira formal ou

informal. Entretanto, outros estudos podem agregar à essa temática, indicando possibilidades

de pesquisas futuras, a exemplo da validação através de outros modelos de competência

docentes ou outras investigações a respeito de como os docentes desenvolvem suas

competências, ou ainda considerando as componentes específicas - cognitiva, funcional,

comportamental, política e ética - do modelo de competências profissionais de Paiva (2007),

adaptado de Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2000), não contemplados no modelo de análise

de competências utilizado.

Constata-se que tema competência ainda é fonte inesgotável de discussão e

descobertas, bem como sobre os docentes universitários e os docentes dos cursos de

Administração, sendo necessário o aprofundamento nessas questões. Sendo assim, o trabalho

acredita ter realizado uma significativa contribuição para a linha de pesquisa e ensino em

Administração.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS DOCENTES NOS CURSOS DE

GRADUAÇÃO DE IES PRIVADAS

PROTOCOLO PADRÃO DE ÉTICA

Bom dia. Meu nome é Danielle Almeida e desde já agradeço sua contribuição nesse projeto de

pesquisa, cuja temática é como as competências dos docentes dos cursos de graduação em

Administração nas IES privadas são desenvolvidas. Gostaria de esclarecer que sua participação

é voluntária, e você pode se recusar a responder qualquer pergunta e interromper a entrevista a

qualquer momento. Seu nome ou quaisquer dados que o identifiquem aqui são totalmente

confidenciais, e não serão compartilhados fora do âmbito da pesquisa. Caso você tenha alguma

dúvida após a entrevista, ao final desta deixarei meus contatos telefônico e de e-mail.

1 – Realize uma breve apresentação pessoal, incluindo sua formação e experiência profissional.

2 – De que forma você chegou à docência do ensino superior? Como foi esse percurso? O que

te motivou a seguir carreira na docência?

3 – Em sua opinião, o que é ser um “professor competente”?

4 –Alguma IES em que você trabalha ou já trabalhou lhe proporcionou algum tipo de

treinamento? Esse treinamento agregou algo à sua atividade docente? De que forma?

5 – Você possui alguma formação direcionada para a docência? Qual (is)? Que contribuição

essa formação trouxe, de fato, para sua carreira docente?

6 – Você compartilha da opinião de que o docente pode se desenvolver analisando a sua própria

maneira de lecionar? Isso já aconteceu com você? Poderia falar dessa experiência?

7 –O dia a dia em sala de aula, ou seja, o exercício da docência em si também contribui para o

seu desenvolvimento? De que forma isso acontece?

8 - Alguma situação, desafio ou problema enfrentado durante a prática docente agregou algo

para sua carreira docente? Poderia me contar essa experiência?

9 – Na sua opinião, o relacionamento interpessoal com os alunos também pode contribuir para

o desenvolvimento da docência? De que forma?

10 – Você acredita que a interação com outros docentes ou coordenadores de IES contribui para

o desenvolvimento docente? Ocorreu com você? Poderia compartilhar isso?

11 – Você compartilha da opinião de que o professor de Administração precisa possuir ampla

experiência profissional anterior ou concomitante à carreira docente? Poderia embasar sua

resposta?

12 – Gostaria de fazer alguma colocação final sobre o tema ou sobre a pesquisa?