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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
CAMPUS AVANÇADO DE NATAL
CURSO DE CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
JOSÉ JORIMAR PATRÍCIO GOMES
TERÇO DOS HOMENS: UM NOVO MODELO DE DEVOÇÃO
NA PARÓQUIA DO SENHOR BOM JESUS DAS DORES - RIBEIRA – NATAL-RN
Natal-RN 2011
JOSÉ JORIMAR PATRÍCIO GOMES
TERÇO DOS HOMENS: UM NOVO MODELO DE DEVOÇÃO
NA PARÓQUIA DO SENHOR BOM JESUS DAS DORES - RIBEIRA – NATAL-RN
Trabalho monográfico de conclusão de curso, apresentado ao curso de Ciências da Religião, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do Título de licenciado em Ciências da Religião.
Orientadora: Prof. Dra. Irene de A. van den Berg Silva
Natal - RN 2011
JOSÉ JORIMAR PATRÍCIO GOMES
TERÇO DOS HOMENS: UM NOVO MODELO DE DEVOÇÃO
NA PARÓQUIA DO SENHOR BOM JESUS DAS DORES - RIBEIRA - NATAL/RN
Este Trabalho Acadêmico foi julgado adequado à obtenção do Diploma e aprovado em sua forma final pelo Curso de Ciências da Religião da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
___Natal -RN___, __13__ de _____Janeiro_______ de ___2011___.
BANCA EXAMINADORA
______________________________
Profª Dra. Irene de Araújo van den Berg Silva - UERN
Orientadora
_______________________________
Prof. Dr. Rodson Ricardo Souza Nascimento – UERN
Examinador
_______________________________
Prof. Esp. José Carlos de Lima Filho – UERN
Examinador
Cada criatura traz duas almas consigo: uma
que olha de dentro para fora, outra que olha de
fora para dentro.
Machado de Assis
Aos meus Pais, Joaquim e Valdecila, toda a
minha gratidão.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Norte, na instancia
do Centro de Logística onde sirvo que me permitiu uma flexibilidade no exercício de minhas
funções para a realização deste trabalho. Também quero agradecer aos meus colegas de turma
que sempre que se solidarizaram com minhas dificuldades e me apoiaram nos momentos de
dificuldades.
As professoras do estágio supervisionado na Escola Estadual Tiradentes que, a
todo o momento, não mediram esforços em me ajudar nesta caminhada. Em especial as
professoras: Teresinha Eliza Campos, Maria do Carmo Ferreira e Edilza Maria da Silva.
Aos freqüentadores e devotos do Terço dos Homens que na sua simplicidade e
amor a Maria, vê na alegria da fé a chama da vida. Neste grupo, em especial, ao Cônego José
Mário idealizador do grupo, por toda confiança e acolhida em todas as minhas visitas ao Rito
na Paróquia do Senhor Bom Jesus das Dores.
Quero registrar um agradecimento a toda minha família e amigos que
compartilhou a parte mais pesada dessa jornada, sempre me apoiando em todos os momentos.
Especialmente, minha filha Giovanna e minha irmã Deyse, que apesar da distância, sempre
estiveram nos meus pensamentos.
Ao Motociclista Anjo Solitário, que proporcionou momentos de alegria e
descontração nos encontros motociclísticos estrada a fora.
Reservei minhas últimas palavras, as pessoas mais próximas e especiais, que neste
momento tão importante, compartilham todos os momentos desta penosa, porém honrosa
caminhada.
Aos meus pais, Joaquim e Valdecila, que colaboraram de modo intenso, sempre
me apoiando nos momentos mais penosos da caminhada, incentivando aos seus modos,
plantando em mim uma base de educação sólida e disciplinar em toda minha vida. Meu Pai,
exemplo de homem, honestidade e paciência. Minha Mãe, uma guerreira, que com amor
sempre me apoiou nas minhas decisões. Sem dúvida, sem eles nada disso seria possível.
E a minha namorada, Viviany, que esteve comigo, nestes dois últimos anos de
curso, sempre me dando suporte, força e muito amor, compartilhando a parte mais pesada
dessa jornada, com as ausências e falta de atenção que a rotina do trabalho me solicitava.
Por fim, um agradecimento muito especial ao Deus do Universo, por me
proporcionar sabedoria, paz, amor, carinho, carisma e força espiritual em todas as minhas
caminhadas na vida.
RESUMO
Este trabalho de graduação é um estudo etnográfico sobre a origem do Terço dos Homens na
Paróquia do Senhor Bom Jesus das Dores, situada na Praça Capitão José da Penha, N° 135,
bairro da Ribeira, na cidade do Natal, capital do Rio Grande do Norte. O objetivo do trabalho
é conhecer as origens deste rito, analisar a dinâmica social do grupo, bem como avaliar o
valor simbólico para esses homens que todas as semanas se reúnem para recitar as orações do
Terço. Nessa intenção, são evidenciadas três dimensões: as das práticas, que atuam (re)
produzindo ritualmente os significados que põe a devoção a Maria; o conflito, que sugere a
qualidade polifônica das recitações por envolver diversos sujeitos naquele espaço colocando
suas relações de sentidos e interesses que freqüentemente coligem; e as mudanças, que
resultam em maior ou menor grau das percepções, disposições e operações dos sujeitos que
praticam a recitação do Terço como alimento para sua espiritualidade.
Palavras – chaves: Terço dos Homens; Paróquia; Rito; Maria; Espiritualidade.
ABSTRACT
This graduate work is an etnographic study on the origen of the Rosary Parish in Men of
Good Jesus of Sorrows, located in Plaza Captain José da Penha, N° 135, Ribeira district, in
Natal, capital of Rio Grande do North. The objectve is to understand the origins of this rite, to
analyze the social dinamics of the group, as well as evaluating the symbolic value to those
men who meet every week to recite the prayers of the Rosary. That intention, as evidenced
thee dimensions: practive, that act (re) producing the meanings that ritually put the devotion
to Mary, the conflict, which suggests the quality of the polyphonic recitations by various
persons involvend in that space by putting their meanings and relationships interests that often
collect, and the changes that result in greater or lesser degree of perceptions, dispositions and
operations of individuals who practice the Rosary as food for their spiritualiy.
Key – words: Third of Men; Parish; Rite; Mary; Spiritualy.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 – QUADRO DE SÃO DOMINGOS GUSMÃO (1205)....................................... 22
FIGURA 2 – ESTRUTURA DO ROSÁRIO MARIANO (2000)........................................... 24
FIGURA 3 – ESTRUTURA DO ROSÁRIO FRANCISCANO (2000)...................................25
FIGURA 4 – MAPA DO BAIRRO DA RIBEIRA (2005).......................................................43
FIGURA 5 – IMAGEM DO BANNER DO TERÇO DOS HOMENS (2005) .......................46
LISTA DE FOTOGRAFIAS
FOTO 1 - PAPA JOÃO PAULO II REZANDO O ROSÁRIO (2002)....................................26
FOTO 2 – CONGREGAÇÃO MARIANA DA GLÓRIA-MG (2009)....................................31
FOTO 3 – LEGIÃO DE MARIA - SE (2010) .........................................................................34
FOTO 4 – CATEDRAL METROPOLITANA DE NATAL/RN (2010)..................................35
FOTO 5 – IGREJA NOSSA SENHORA DA APRESENTAÇÃO – NATAL/RN (2010)......36
FOTO 6 – PRAÇA AUGUSTO SEVERO – NATAL/RN (2010)...........................................43
FOTO 7 – TEATRO ALBERTO MARANHÃO – NATAL/RN (2010)..................................45
FOTO 8 – PARÓCO JOSÉ MÁRIO (2010).............................................................................47
FOTO 9 – IGREJA DO SENHOR BOM JESUS – NATAL/RN (2010).................................49
FOTO 10 – REUNIÃO DO TERÇO DOS HOMENS NA IGREJA DO SENHOR BOM
JESUS DAS DORES (2010)..................................................................................50
FOTO 11 – PROCISSÃO DE ENTRADA NO TERÇO (2010)..............................................52
FOTO 12 – MOMENTO DE DEVOÇÃO DO TERÇO DOS HOMENS (2010)....................53
FOTO 13 – RECEPÇÃO AOS NOVATOS NO DO TERÇO DOS HOMENS (2010)...........54
FOTO 14 – TERÇO DOS HOMENS IGREJA SANTO ANTÔNIO – NATAL/RN (2008)...55
FOTO 15 - TERÇO DAS MULHERES - PALMEIRA DOS ÍNDIOS /AL (2008).................57
FOTO 16 – GRUPO DOS FREQUENTADORES DO TERÇO (2010)..................................58
FOTO 17 – CONCETRAÇÃO DOS FIÉIS ANTES DO INICIO DO TERÇO (2010) ..........61
FOTO 18 – IGREJA LOTADA NA REUNIÃO DO TERÇO DOS HOMENS (2010)...........63
FOTO 19 – ALTAR DA PARÓQUIA DO SENHOR BOM JESUS (2010)............................65
FOTO 20 – MARCÍLIO E EUGÊNIO – AMIGOS DESDE A ORIGEM DO TERÇO
DOS HOMENS (201)............................................................................................66
FOTO 21 – EQUIPE DE MÚSICA DO TERÇO DOS HOMENS (2010)...............................68
FOTO 22 – HOMENS DE FÉ RECITANDO OS MISTÉRIOS GLORIOSOS (2010)...........70
LISTA DE TABELAS
TABELA 01 – IDADES DO PÚBLICO FREQUENTADOR (2010)......................................60
TABELA 02 – PROFISSÕES DO FREQUENTADORES (2010)..........................................60
TABELA 03 – MEIOS DE LOCOMOÇÃO MAIS USADOS PELO PÚBLICO (2010)........61
TABELA 04 – GRAU DE INSTRUÇÃO DOS FREQUENTADORES (2010)......................62
TABELA 05 - TIPOS DE RELIGIÃO DOS FREQUENTADORES (2010)...........................62
TABELA 06 – CARACTERÍSTICAS DAS MULHERES DOS HOMENS (2010)...............64
TABELA 07 - ASSIDUIDADE DOS HOMENS NAS REUNIÕES (2010)...........................66
TABELA 08 – COMO OS HOMENS CHEGARAM AO GRUPO (2010).............................67
LISTA DE SIGLAS
ABNT – Associação Brasileiras de Normas Técnicas
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
UERN – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
RN – Estado do Rio Grande do Norte
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................17
2. ORIGENS HISTÓRICAS: ESTRUTURA E DIFUSÃO DO ROSÁRIO.....................19
2.1 ORIGENS DO TERÇO DO ROSÁRIO NO MUNDO......................................................19
2.2 A ORIGEM DA ORAÇÃO DA AVE-MARIA..................................................................21
2.3 DIFUSÃO E EXPANSÃO DO ROSÁRIO MARIANO....................................................22
2.4 O ROSÁRIO E O PAPA JOÃO PAULO II.......................................................................26
2.5 O TERÇO DO ROSÁRIO E SUA ENTRADA NO BRASIL............................................28
2.6 AS PRIMEIRAS CONGREGAÇÕES MARIANAS NO BRASIL....................................31
2.7 O TERÇO DO ROSÁRIO E SUA VENERAÇÃO NO RIO GRANDE DO NORTE.......34
2.8 OS MOVIMENTOS QUE INTEGRAM O ROSÁRIO EM SUAS
EVANGELIZAÇÕES NO RN............................................................................................37
3. O TERÇO DOS HOMENS NA IGREJA DO SENHOR BOM JESUS DAS
DORES...............................................................................................................................39
3.1 COMO NASCEU A PESQUISA........................................................................................39
3.2 COMO NASCEU O TERÇO DOS HOMENS...................................................................39
3.3 O TERÇO DOS HOMENS COMO UM NOVO MODELO DE EVANGELIZAÇÃO
CARISMÁTICA.................................................................................................................41
3.4 CARACTERIZAÇÃO DO BAIRRO DA RIBEIRA..........................................................42
3.5 O TERÇO DOS HOMENS NA IGREJA DO SENHOR DO SENHOR BOM
JESUS DAS DORES..........................................................................................................46
3.6 A ETNOGRAFIA DA CELEBRAÇÃO.............................................................................51
3.7 A DESCENTRALIZAÇÃO E A CRIAÇÃO DA REUNIÃO EM OUTRAS
PARÓQUIAS......................................................................................................................54
3.8 O TERÇO DAS MULHERES............................................................................................56
4. O TERÇO DOS HOMENS E SUAS CARACTERÍSTICAS DENTRO DE UM
PERFIL RELIGIOSO E SOCIAL DOS FREQUENTADORES.................................58
4.1 UM ESTUDO POR AMOSTRAGEM SOBRE OS FREQUENTADORES DO
TERÇO................................................................................................................................58
4.2 O PERFIL SÓCIO-EDUCATIVO E ECONÔMICO DOS HOMENS NA
REUNIÃO DO TERÇO......................................................................................................60
4.3 O PERFIL RELIGIOSO DOS HOMENS FREQUENTADORES DO TERÇO
DOS HOMENS...................................................................................................................62
4.4 A ASSIDUIDADE E A MOTIVAÇÃO QUE FORTALECE OS HOMENS DE FÉ........64
4.5 HOMENS DE FÉ COM O TERÇO NA MÃO DENTRO DE UM ESPAÇO
SAGRADO.........................................................................................................................67
5. CONCLUSÃO....................................................................................................................71
6. REFERÊNCIAS.................................................................................................................73
APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido..............................................77
APÊNDICE B – Questionário para Coleta de Dados..............................................................80
ANEXO A – Imagem do Banner do Estandarte do Terço dos Homens na Paróquia do
Senhor Bom Jesus das Dores – Ribeira – Natal/RN...........................................84
17
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa é um estudo etnográfico sobre o Terço dos Homens na Paróquia do
Senhor Bom Jesus das Dores, no bairro da Ribeira, na cidade do Natal, capital do Rio Grande
do Norte, onde se deu o primeiro Terço apenas para homens em terra potiguar. O objetivo do
trabalho é conhecer este novo modelo de evangelização dentro das relações sociais, cuja fé e
interesses dos diversos fiéis conferem uma dinâmica própria do ritual, pois é sabido que em
todas as organizações sociais humanas é encontrada uma diversidade de ritos quanto às
formas, sentidos, conteúdos e finalidades, tudo isso dentro da área do trabalho antropológico.
No campo das Ciências da Religião as realidades se apresentam como dinâmicas a
ponto de configurar processos de mudanças a cada rito que se aborda dentro de grupos
sociais. Isso se dá, principalmente, nos dias de hoje quando vivenciamos sociedades
construídas não só em valores racionais, como também em valores materiais, mas que apesar
disso permite o nascimento de novos discursos dentro das religiões.
O Terço dos Homens é um modelo de congregação relativamente recente, datado
da década de 1930, embora sua história se associe a um enredo da memória dos séculos III e
IV dentro de contexto das igrejas primitivas se formado nos mosteiros católicos até o século
X com os monges nas suas orações diárias.
O trabalho de campo teve início em 2008 e se estendeu até 2010. No início um
pouco tímido, mas com o passar do tempo e através das investidas na pesquisa ele foi se
desenvolvendo naturalmente, pois estudar ritos é muito interessante e isso envolve o
pesquisador. Como diz Claude Rivièri (1997) “(...) que os ritos são uma necessidade humana,
parte do viver humano, dimensão dominante de toda a nossa vida pessoal e coletiva”.
Nesse período foram realizadas várias visitas a Igreja do Convento Santo Antonio,
no centro da cidade, como também a Igreja do Senhor Bom Jesus das Dores, no bairro da
Ribeira, onde nesta fiz toda pesquisa. Viajei a cidade de João Pessoa, capital da Paraíba, onde
estive na Paróquia Santa Júlia, no bairro da Torre, paróquia esta onde foi copiado o modelo do
Rito do Terço dos Homens para se trazer para o Rio Grande do Norte, através do Padre José
Mario, Pároco da Igreja do Senhor Bom Jesus das Dores. Nesta visita tive uma conversa
informal com o Padre Virgílio, um dos Párocos da paróquia Santa Júlia, onde ele me revelou
várias informações sobre as ações sociais do Complexo Religioso da Paróquia que muito
enriqueceu a pesquisa.
18
O trabalho sobre o Terço dos Homens foi desenvolvido em três capítulos. O
primeiro traz toda a história do Rosário e suas origens, bem como a origem da oração da Ave-
Maria tão recitada nos Terços, sua difusão e a relação íntima entre o Rosário e o Papa João
Paulo II, depois descrevo a entrada do Rosário no Brasil e as congregações que
desenvolveram o Terço como oração de fé, e por fim, a veneração do Rosário no Rio Grande
do Norte e as romarias a Maria.
O segundo capítulo trabalha o Terço dos Homens propriamente dito, nele é
relatado o seu nascimento, o modelo de evangelização, a caracterização do bairro da Ribeira
onde se localiza a Igreja, o rito e sua etnografia, a descentralização do terço para outras
paróquias, e por último, o Terço das Mulheres, uma nova versão de evangelização criada no
moldes ritualísticos dos homens.
No terceiro e último capítulo é desenvolvido as características do público,
avaliando o perfil sócio-educativo e econômico, a sua religiosidade, assiduidade e motivação,
como também a sua fé dentro de um espaço sagrado como a igreja católica. Durante as visitas
na Igreja do Senhor Bom Jesus das Dores foi realizado entrevistas com os freqüentadores,
estas foram feitas com os fiéis aleatoriamente, em duas reuniões, como também participei das
cerimônias como observador e participante do grupo para melhor conhecer e vivenciar o
campo de atuação da pesquisa, a fim de me familiarizar dentro do grupo, pois lá observei uma
grande amizade e companheirismo entre os integrantes, e isso fez com que pudesse
acompanhar processos, relações e mudanças em curso durante os três anos.
Contudo, posso dizer que o interesse do trabalho foi compreender este novo
modelo de evangelização só para homens dentro das Igrejas Católicas de todo o país, como
também pesquisar esse novo fenômeno ritualístico e as novas abordagens advindas da Igreja
Católica com relação a esse aumento considerável de fiéis, mais especificamente no Terço dos
Homens. Como afirma Rivièri (1997): “(...) não há sociedade sem rito, nem rito sem
sociedade”. Sem deixar de citar a dinâmica dos diversos agentes que freqüentam e
desenvolvem o ritual, como também as suas motivações em aderirem ao grupo.
Portanto, com esse material coletado na pesquisa, busco construir um estudo
etnográfico fazendo uma descrição das situações e das problemáticas com relação aos
elementos básicos que conformam, articulam e compreendem essa nova devoção de
sociabilidade, comunicação e evangelização desenvolvida com o objeto da pesquisa em foco.
Com isso, espero colaborar para uma melhor reflexão acerca das temáticas inerentes a estes
novos modelos de evangelização, como também ampliar os estudos dentro dos movimentos
religiosos no campo das Ciências da Religião.
19
2. CAPÍTULO 1
ORIGENS HISTÓRICAS: ESTRUTURA E DIFUSÃO DO ROSÁRIO
2.1 Origens do Terço do Rosário no Mundo
Antes de falarmos propriamente do “Terço dos Homens” na Paróquia do Senhor
Bom Jesus das Dores, no bairro da Ribeira, na cidade do Natal, capital do estado do Rio
Grande do Norte, se faz necessário falar um pouco do surgimento e das origens do Rosário,
que na verdade compõe o conjunto completo das orações que integram o “Terço dos
Homens”, uma vez que a denominação Terço, como a palavra já diz é a terça parte do
Rosário.
Não há uma data precisa sobre a origem do Terço do Rosário1, porém sabe-se que
a palavra Rosário vem do latim “Rosarium” que significa “campo de rosas”. Em linhas
históricas, o louvor à Maria é uma tradição católica desde os séculos III ou IV. Ele remonta da
igreja primitiva e foi tomando forma nos mosteiros católicos até o século X, onde apenas os
monges, sobretudo beneditinos e agostinianos, eram que rezavam diariamente os 150 Salmos.
Então, surgiram os mendicantes no século XII, que eram frades pertencentes às
novas Ordens de Religiosos Franciscanos e Dominicanos que criaram o Rosário como
alternativa para aqueles religiosos analfabetos que viviam reclusos nos Monastérios. Como
naquele tempo para recitar os salmos era preciso saber lê hebraico, grego ou latim, aqueles
que não sabiam ou não tinham tempo para aprender essa oração, os substituíram pelo Pai-
Nosso.
Com o passar do tempo o Rosário foi se originando através de uma substituição,
onde as recitações dos 150 Salmos do saltério bíblico foram substituídos pela recitação de 150
Ave-Marias, divididas em três grupos de cinqüenta, recaindo nas mesmas horas da liturgia do
Ofício Divino, celebrada pelos Monges. Mais tarde, esta forma de oração passa a ser usada
também pelos leigos e devotos, que assim se ligava à oração oficial dos religiosos nos
mosteiros e conventos. Assim nasceu o Rosário, com as 150 Ave-Marias que as integrou até o
mês de outubro de 2002, onde a partir daí, o Papa João Paulo II, acrescentou mais um
1Disponível em: <(http://www.catequisar.com.br/texto/materia/especial/rosario/08.htm)>. Acesso em: 04 de agosto de 2010.
20
Mistério, o Luminoso2, fazendo com que a parti daí o Rosário fosse recitado com 200 Ave-
Marias e 20 Pais Nossos.
Com isso, a oração do Rosário foi sendo difundida pela Igreja Católica como uma
espécie de arma dos fiéis para todos os males que ocorriam nas suas vidas e de suas famílias.
Até em situações extremas, como nas guerras, que eram situações constantes na história, o
Rosário foi usado para interceder nas conquistas, principalmente na Batalha de Lepanto3, onde
o Papa S. Pio V, um antigo Dominicano, além de apelar às nações católicas para defender a
Cristandade, também estabeleceu que o Santo Rosário fosse rezado por todos os cristãos. Ele
pediu ajuda a então Mãe de Deus, nessa hora tão decisiva. Em resposta, houve um intenso
movimento de oração por toda a Europa. Finalmente, a 7 de Outubro de 1571 a frota
ocidental, comandada por D. João de Áustria (1545-1578), teve uma retumbante vitória na
batalha naval de Lepanto, ao largo da Grécia. Conta-se que nesse mesmo dia, a meio de uma
reunião com os cardeais, o Papa levantou-se, abriu a janela e disse “Interrompamos o nosso
trabalho, a nossa grande tarefa neste momento é a de agradecer a Deus pela vitória que ele
acabou de dar ao exército cristão, as ameaças foram vencidas se tornando um grande feito da
Cristandade”.
Contudo, o Papa atribuiu à conquista da ação de Maria e passou a louvar a
Vitoriosa, instituindo a festa litúrgica de ação de graças a Nossa Senhora das Vitórias no
primeiro domingo de Outubro. Hoje, ainda se celebra essa festa, com o nome de Nossa
Senhora do Rosário, no memorável dia de 7 de Outubro. Já no âmbito cultural, o Rosário é
lembrado nas pinturas do artista Miguel Ângelo (1475-1564), na Capela Sistina do Vaticano,
onde estão representadas duas almas a serem puxadas para o céu por um Terço. São as almas
de um africano e de um asiático, mostrando a universalidade missionária da oração.
2O Papa João Paulo II, em comemoração aos seus 25 anos de pontífice no dia 16/10/2002, através da Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae introduziu o Mistério Luminoso na Oração do Rosário, com cinco passagens bíblicas de meditação sobre aspectos da vida pública de Cristo.
3Guerra ideológica de cunho religioso no século XVI envolvendo o Cristianismo (Liga Santa) e O Islamismo (Turcos Otomanos).
21
2.2 A origem da oração da Ave-Maria
A estrutura da oração da Ave Maria do “Terço Rosário” teve seus problemas de
conflitos no início de sua formação, pois Anastácio, Presbítero do Bispo Nestório que era
Patriarca de Constantinopla, afirmava que Maria seria a mãe de Jesus e não de Deus. O Bispo
Nestório foi convocado e intimado pelos seguidores de Maria a corrigir seu seguidor, mas não
o fez, este episódio de dúvidas em sua origem tomou feições tão sérias que culminou com o
Concílio de Éfeso4, convocado pelo Papa Celestino I, sob a presidência de São Cirilo,
Patriarca de Alexandria. Neste Concilio o modelo, de heresia citada por Nestório foi
condenado, e ele, recusando a aceitar a decisão do conselho acabou sendo excomungado.
Porém, nesse tempo não havia ainda propriamente a oração da Ave Maria, apesar
de que, desde o século III e IV se usava a saudação do arcanjo S. Gabriel (Lc 1, 28) "Ave
cheia de graça, o Senhor está contigo" e a de S. Isabel (Lc 1, 42) "Bendita és tu entre as
mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre" (Lucas 1, 42). Contudo, estas três saudações
deram origem à primeira parte da Ave Maria, como forma de oração, mas só no século VII ela
aparece na liturgia da festa da Anunciação, como antífona do Ofertório e no século XII no
contexto do Terço com o Rosário. Em 1262, o Papa Urbano IV (Papa de 1261-1264)
acrescenta-lhes a palavra “Jesus” no fim, finalizando assim a primeira parte da Ave Maria.
A segunda parte de súplica foi originada de uma antífona medieval do Concílio de
Éfeso e acrescentada no século XV. Há uma versão no Livro do Oriente art. XVI (1998)5, que
no dia de encerramento do Concílio de Éfeso, onde os Padres conciliares exaltaram as
virtudes e as prerrogativas especiais da Virgem Maria, o Santo Padre Celestino I ajoelhou-se
diante da assembléia e saudou Nossa Senhora, dizendo: "Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por
nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém”. Esta fórmula, que é a atual, tornou-se
oficial com o Papa Pio V (1566-1572). Ele foi um grande reformador no espírito do Concílio
de Trento6 (1545-1563) e também o responsável pela publicação do catecismo, missas e
breviários romanos surgidos do Concílio, que renovaram toda a vida da Igreja Católica
4Foi o terceiro Concílio Ecumênico pelos católicos, ortodoxos, os "velhos" católicos, e uma série de outros grupos cristão. Foi convocado pelo imperador Teodósio II e debateu sobre os ensinamentos cristológicos e mariológicos de Nestório, patriarca de Constantinopla.
5Livro do Oriente – Versão On-line. Disponível em:< (http://www.paginaoriente.com/livro/artigoxvi.htm)>. Acesso em: 04 de agosto de 2010. 6Foi 19º Concílio Ecumênico e considerado um dos três concílios fundamentais na Igreja Católica. Foi convocado pelo Papa Paulo III para assegurar a unidade da fé e a disciplina eclesiástica, no contexto da Reforma da Igreja Católica e a reação à divisão então vivida na Europa devido à Reforma Protestante, razão pela qual é denominado como Concílio da Contra-Reforma.
22
Apostólica Romana. Foi precisamente no Breviário Romano, em 1568, que a Ave-
Maria aparece pela primeira vez como oração oficial da Igreja, tornando-se hoje uma oração
de destaque dentro das celebrações e rituais da Igreja Católica de todo o mundo.
2.3 Difusão e expansão do Rosário Mariano
A difusão e posterior expansão do Rosário na Igreja são atribuídas a São
Domingos de Gusmão7, século XII, ele tornou o Rosário como sua poderosa arma para
combater a heresia dos albigenses, isto no início do século XIII, onde as acusações de heresias
cresciam vertiginosamente na França (Figura 01). Ele fundou a ordem dominicana e por sua
intensa propagação e devoção, a Igreja lhe conferiu o título de “Apóstolo do Santo
Rosário”. Existem inclusive versões históricas onde afirmam que Nossa Senhora teria
aparecido a São Domingos, segurando o Menino Jesus no colo e oferecendo-lhe o Santo
Rosário, a partir daí sua propagação e divulgação teria tomado impulso por pedido pessoal de
Maria Santíssima a São Domingos. Para o Pe. Ennio Domenico Staid8 (Revista Sacerdos
Edição Julho - Agosto 2003) “foi no século XIV que o Cartucho Henrique de Calkar dividiu o
saltério da Ave-Maria em 15 dezenas, colocando entre uma dezena e outra a oração do Pai-
Nosso”. Nesse período a simples repetição da Ave-Maria e do Pai-Nosso ainda não continha a
contemplação dos mistérios.
Figura 1- Quadro de São Domingos Gusmão (1205) Fonte: Google
7Fundador da Ordem Dominicana e defensor do Rosário como oração. 8Responsável pela Irmandade Dominicana de Novara (Itália). É autor reconhecido de livros de caráter religioso.
Artigo publicado na Revista Sacerdos. História do Terço. Tradição e redescoberta da “doce coroa que nos une a Deus”. Ano: XI n° 34, julho-agosto, p.12, 2003.
23
O Saltério Mariano aparece antes de São Domingos (1170- 1221), contudo, seus
frades usaram esta forma popular de oração nos seus movimentos evangelizadores. Basta
pensar nas confrarias9 fundada por São Pedro de Verona, discípulo de São Domingos, e a
influência que elas tiveram na divulgação da devoção à Virgem Maria. Porém, naquele
período, o Rosário não era apenas um privilégio destas confrarias, sua tradição já tinha se
enraizado profundamente no povo e se tornado uma forma universal de oração. Teve
momentos em que a Piedade Mariana e o Rosário se confundiam nos pensamentos dos fiéis,
onde ambos se completavam, pois a Piedade encontrou no Rosário a sua expressão orante,
mais simples e mais rica que serviria de súplicas, agradecimentos e orações para os fiéis
devotos de Maria. Das capelas até as grandes catedrais, dos países da Europa até as terras de
missões, o Rosário atingiu todos os confins do cristianismo, sua época de ouro durou até
colocarem em discussão o sentimento religioso e, sobretudo a devoção à Virgem Maria, o que
resultou em muitos casos, num esfriamento e abandono do Rosário.
O primeiro documento que testemunha a tentativa de conjugar as Ave-Marias com
a meditação dos mistérios evangélicos remonta ao século XV. Entre 1410 e 1439, Domingos
da Prússia, Monge e Cartucho de Colônia, propôs aos fiéis uma forma de Saltério Mariano, na
qual o número de Ave-Marias se reduzia a 50 e a cada uma se acrescentava uma referência
verbal e explícita a um acontecimento evangélico, como se fosse um refrão. Destas citações
propostas por Domingos da Prússia, 14 faziam referência à vida oculta, pré-apostólica de
Cristo, 06 à sua vida pública e 24 à sua paixão e morte, as outras 06 à glorificação de Cristo e
de Maria, sua Mãe. Foi graças a Domingos da Prússia que se iniciou a nova forma de Saltério
Mariano, e foi ele que deu origem ao mais atual modelo de Rosário que conhecemos hoje. O
exemplo do Cartucho de Colônia foi seguido por muitos continuadores e teve grande
ressonância em todo o mundo.
O século XV foi testemunha da proliferação de muitos saltérios deste gênero as
suas citações evangélicas aumentaram imensamente, chegando a se falar em trezentos,
variando de área para área e segundo a devoção de cada lugar. Alano de La Roche (1428-
1478) Frade Dominicano e contemporâneo de Domingos da Prússia difundiu de maneira
extraordinária o Saltério Mariano que começou a ser chamado de “Rosário da bem-
aventurada Virgem Maria” através da pregação e principalmente nas confrarias marianas que
ele mesmo fundou e participou. Ele dividia a devoção em dois momentos, o rosário novo e o
9Associações religiosas de leigos cristão que se reúnem para promover cultos católicos. Surgiram na Europa durante a Idade Média e espalharam-se nas colônias portuguesas.
24
rosário antigo, neste, simplesmente se repetiam as Ave-Marias, enquanto o novo incorporou a
meditação dos mistérios propostos ordenadamente em três grupos: encarnação, paixão e morte
de Cristo, como também a glória de Cristo, e de Maria. Quando se difundiu pelo povo, o
Rosário se simplificou e em 1521, Alberto de Castello, outro Frade Dominicano, reduziu o
número de mistérios, escolhendo quinze, propondo aos devotos do Saltério Mariano. As
citações evangélicas foram substituídas por simples enunciados dos mistérios, que serviam de
lembrança para aqueles fatos ao longo da recitação das Ave-Marias. As formas propostas por
Alano de La Roche e Alberto de Castello foram se impondo sobre as demais e as novas
confrarias marianas difundiam por toda a Europa esta devoção “reformada”.
Com isso, o Rosário ficou representado por um conjunto de 165 contas,
correspondentes ao número de quinze dezenas de Ave-Marias e quinze Pais-Nossos para
serem rezados como prática religiosa, entremeado da contemplação dos mistérios de vida,
paixão, morte e ressurreição de Cristo, chamados mistérios da glória, mistérios da alegria e
mistérios da dor, sempre relacionando essa caminhada com a de Maria (Figura 02).
Figura 2 - Estrutura do Terço do Rosário Mariano (2000) Fonte: Google
25
Dentro do cristianismo, há também outro modelo de Rosário, porém este menos
divulgado, por ser um modelo contemplado apenas por seguidores franciscanos. Ele foi criado
pouco mais tarde, em 1422. Os franciscanos denominam de “Coroa Seráfica”, (Figura 03)
uma oração muito parecida com o Rosário, mas com estrutura ligeiramente diferente, por
apresentar apenas sete mistérios, em honra das sete alegrias da Virgem. O Mistério Gozoso é
substituído pela apresentação no templo e pela adoração dos Magos, os dois últimos
gloriosos, são acrescentando mais duas ave-marias nas orações da Coroa, em honra e
homenagem aos 72 anos vividos por Nossa Senhora na Terra. A Coroa Seráfica, chamada
também de Coroa das Sete Alegrias de Nossa Senhora ou Rosário Franciscano, compõe-se de
sete mistérios, com um Pai-Nosso, dez Ave-Marias e um Glória ao Pai. Seus mistérios são:
1. Encarnação do Verbo divino
2. Visitação da Mãe de Deus à sua prima santa Isabel
3. Nascimento de Jesus
4. Adoração prestada ao Divino Infante pelos três reis magos
5. Encontro de Jesus no Templo
6. Jubilosa Ressurreição do Salvador
7. Coroação da Virgem Imaculada no Céu
Figura 3 – Rosário Franciscano (2000) Fonte: Google
26
Há uma versão no site do “Seminário São Francisco” 10 que em 1442, na época
de São Bernardino de Sena, um grande pregador popular e reformista da Ordem Franciscana,
noticiava à aparição de Nossa Senhora a um noviço franciscano, onde este, desde criança
tinha o costume de oferecer à Virgem Maria uma coroa de rosas. Porém, quando entrou na
Ordem dos Frades Menores, sentia-se muito triste por não ser permitido continuar a oferecer à
Virgem os ramos de flores, chegando até mesmo a pensar em desistir da Ordem Seráfica. Foi
então que lhe apareceu a Virgem, a consolá-lo e indicar-lhe outra oferta diária que seria para
ela ainda mais agradável, sugerindo-lhe que todos os dias rezassem sete dezenas de ave-
marias intercaladas com a meditação de sete misteriosos acontecimentos da sua vida que a
tinham enchido de alegria. Assim, teria nascido à Coroa Franciscana, o Rosário das Sete
Alegrias, sendo São Bernardino um dos primeiros a praticá-lo e divulgá-lo pelo mundo.
2.4 O Rosário e o Papa João Paulo II
Assim o Rosário se configurou como um conjunto de 165 contas, da era do Papa
Pio V (1566-1572), religioso da Ordem de São Domingos, que correspondia ao número de
quinze dezenas de Ave-Marias e quinze Pais-Nossos, para serem rezados como prática
religiosa entremeada da contemplação dos mistérios da vida, paixão, morte e ressurreição de
Cristo, chamados mistérios da glória (Gloriosos), mistérios da alegria (Gozosos) e mistérios
da dor (Dolorosos), obteve mudanças com o Papa João Paulo II, em 2002 (Foto 01).
Foto 1 – Papa João Paulo II (2002) Fonte: Google
10Disponível em: < (http://www.franciscano.org.br) >. Acesso em: 04 de agosto de 2010.
27
A partir daí, o Rosário que tinha 150 ave-marias e 15 pais-nossos agrupados em
três Terços passou a ser composto por quatro, ou seja, 200 Ave-Marias e 20 Pais-Nossos, no
total. Isso aconteceu no mês de outubro do mesmo ano, que pela Igreja Católica é considerado
o mês do Rosário, quando o Papa propôs para os cristãos a inclusão de mais um mistério, o de
Luz ou Luminosos, com isso, de acordo com o Vaticano, sob a inspiração maternal de Nossa
Senhora, no dia 16/10/2002, pela Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, a Sua
Santidade, acrescentou ao Rosário mais um Mistério que retratava a vida pública de Jesus.
João Paulo II era devoto de Nossa Senhora e talvez um dos maiores Papas Marianos da
história, por ele foi inaugurada uma nova era de devoção a Maria, dando especial atenção à
forma física e contemplativa do Rosário. A partir dessa mudança, o Rosário rezado pelos
católicos passou a ter a seguinte configuração:
- Mistérios Gozosos (contempla-se Segunda-feira e Sábado)
1° Mistério - Anunciação do Arcanjo Gabriel a Nossa Senhora;
2° Mistério - Visita de Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel.
3° Mistério - Nascimento de Jesus na pobre gruta de Belém.
4° Mistério - Apresentação do Menino Jesus ao Templo.
5° Mistério - Perda e reencontro do Menino Jesus no Templo entre os Doutores da Lei.
- Mistérios Luminosos (contempla-se Quinta-feira)
1° Mistério - Batismo de Jesus no rio Jordão.
2° Mistério - A auto-revelação de Jesus nas Bodas de Caná.
3° Mistério - O Anúncio do Reino de Deus com o convite à conversão.
4° Mistério - A Transfiguração de Jesus no Monte Tabor.
5° Mistério - A instituição da Eucaristia.
- Mistérios Dolorosos (contempla-se Terça-feira e Sexta-feira)
1° Mistério - A Agonia de Jesus no horto das oliveiras.
2° Mistério - A Flagelação de Jesus na casa de Pilatos.
3° Mistério - A Coroação de espinhos de Jesus.
4° Mistério - A Subida de Jesus ao monte Calvário, carregando a Cruz nas Costas.
5° Mistério - A Crucifixão e morte de Jesus na Cruz.
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Mistérios Gloriosos (contempla-se Quarta-feira e Domingo)
1° Mistério - A Ressurreição de Jesus.
2° Mistério - A Ascensão de Jesus ao Céu.
3° Mistério - A Descida do Espírito Santo sobre os apóstolos, reunidos no cenáculo com
Nossa Senhora.
4° Mistério - A Assunção de Nossa Senhora ao Céu, em Corpo e Alma.
5° Mistério - A Coroação de Nossa Senhora no Céu, Rainha dos Santos, dos Anjos e dos
homens.
O Rosário na vida do Papa João Paulo II era tão especial, que para festejar as suas
Bodas de Prata Papais, ele decidiu celebrar com a oração do Rosário da Virgem Maria. Para
se ter uma idéia da importância, estas decisões têm grande relevância histórica e profética
dentro do cristianismo no mundo, pois demonstra toda sua devoção a Maria. De acordo com o
Vaticano, antes de João Paulo II, apenas três Papas na história da Igreja Católica conseguiram
celebrar os 25 anos de pontificado. Foram eles: o Papa S. Pedro, que foi do ano 32 a 67, o
beato Pio IX, Papa de 16 de Junho de 1846 a 07 de Fevereiro de 1878 e o seu sucessor Leão
XIII, Papa de 20 de Fevereiro de 1878 a 20 de Julho de 1903.
2.5 O Terço do Rosário e sua entrada no Brasil
Em 22 de abril de 1500 chegava ao Brasil 13 caravelas portuguesas lideradas por
Pedro Álvares Cabral. Segundo Cotrim (2005) A primeira vista, eles acreditavam tratar-se de
um grande monte, e chamaram-no de Monte Pascoal. No dia 26 de abril, foi celebrada a
primeira missa no Brasil. Após deixarem o local em direção à Índia, Cabral, na incerteza se a
terra descoberta tratava-se de um continente ou de uma grande ilha, alterou o nome para Ilha
de Vera Cruz. Após a exploração realizada por outras expedições portuguesas, foi descoberto
que se tratava realmente de um continente, e novamente o nome foi alterado, chamando-a de
Terra de Santa Cruz, somente depois da descoberta do pau-brasil, ocorrida no ano de 1511,
nosso país passou a ser chamado pelo nome que conhecemos hoje, Brasil. Porém, somente a
partir de 1530, com a expedição organizada por Martin Afonso de Souza, que a coroa
portuguesa começou a interessar-se pela colonização da nova terra. Isso ocorreu, pois havia
um grande receio dos portugueses em perderem as novas terras para invasores que haviam
ficado de fora do tratado de Tordesilhas, como, por exemplo, franceses, holandeses e
29
ingleses. Navegadores e piratas destes povos estavam praticando a retirada ilegal de madeira
do Brasil e só a colonização seria uma das formas de ocupar e proteger o território. Para tanto,
os portugueses começaram a fazer experiências com o plantio da cana-de-açúcar, visando um
promissor comércio desta mercadoria na Europa.
Em paralelo, ao descobrimento do Brasil, a partir do século XVI, tomou forma à
união entre a igreja e o estado, modelo esse muito desenvolvido naquela época pelos seus
governantes. Nessa união o Cristianismo se tornava a principal religião do Brasil,
predominando assim apenas a Igreja Católica Apostólica Romana. Cotrim (2005, p.203)
“explica que o catolicismo no Brasil foi trazido por missionários que acompanharam os
exploradores e colonizadores portugueses nas terras do Brasil e que através dos jesuítas
obteve uma grande presença social, política, cultural e missionária dentro da descoberta e
colonização do país”.
Tudo começou em 1549, onde seis jesuítas da Companhia de Jesus
acompanharam o Governador-Geral Tomé de Souza, estes foram chefiados pelo Padre
Manoel de Nóbrega, logo em seguida em 1580, os carmelitas descalços chegaram ao Brasil e
em 1581 as missões dos beneditinos baixaram em terra brasileira. A partir daí, teve seu início
a formação de um país que com mais de quinhentos anos tornou-se um dos maiores países
católicos do mundo, apesar das perdas de fiéis nas últimas décadas de acordo com os dados do
IBGE11 (Censo de 2000).
Durante o século XVI e XVII, o governo português, representado pelos
governadores-gerais, buscou o equilíbrio entre o Governo Central e a Igreja Católica, com o
intuito de diminuir e administrar os conflitos entre os missionários, os colonos e os índios.
Com isso, o estado controlava a atividade eclesiástica da colônia por meio do padroado12,
arcando com o sustento da igreja e ganhando a obediência e o reconhecimento da Igreja.
Além disso, o estado nomeava os bispos e párocos, concedendo licenças para a construção de
novas igrejas, templos católicos e ajudando financeiramente todo processo administrativo.
No Brasil, os jesuítas se dedicaram à pregação da fé católica e ao trabalho educativo, eles
perceberam que não seria possível converter os índios à fé católica sem que soubessem ler e
escrever.
11Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br> Acesso em: 20 de
novembro de 2010).
12Acordo entre o Papa e o Rei, que estabelecia uma série de deveres e direitos da Coroa Portuguesa em relação à Igreja. (CONTRIM, 2005, p.206).
30
De Salvador na Bahia, a obra jesuítica estendeu-se para o sul, em 1570 já era
composta por cinco escolas de instrução elementar: Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente,
Espírito Santo e São Paulo de Piratininga, com mais três colégios: Rio de Janeiro,
Pernambuco e Bahia. O mais conhecido e talvez o mais atuante missionário foi o padre José
de Anchieta, que se tornou Mestre-Escola do Colégio de Piratininga; foi missionário em São
Vicente, onde escreveu na areia os "Poemas à Virgem Maria" (De beata virgine Dei Matre
Maria), missionário em Piratininga, Rio de Janeiro e Espírito Santo; Provincial da Companhia
de Jesus de 1579 a 1586 e Reitor do Colégio do Espírito Santo. Além disso, foi autor da Arte
de gramática da língua portuguesa mais usada na costa do Brasil trazido por ele de Portugal.
Os jesuítas não se limitaram ao ensino das primeiras letras, além do curso elementar,
eles mantinham os cursos de Letras e Filosofia, considerados secundários, e o curso de
Teologia e Ciências Sagradas, de nível superior, para formação de sacerdotes, onde muitos
deles que eram nativos, se catequizaram. No curso de Letras, estudava-se Gramática Latina,
Humanidades e Retórica, e no curso de Filosofia estudava-se Lógica, Metafísica, Moral,
Matemática, Ciências Físicas e Naturais. Os nativos que pretendiam seguir as profissões
liberais iam estudar na Europa, na Universidade de Coimbra, em Portugal, a mais famosa no
campo das Ciências Jurídicas e Teológicas, e na Universidade de Montpellier, na França, a
mais procurada na área da Medicina, a fim de adquirirem conhecimentos, porém, tudo isso
após serem catequizados.
Todo esse processo dos jesuítas causou um grande conflito, entre eles e os
colonizadores, com o descobrimento do Brasil os índios ficaram à mercê dos interesses
capitais, as cidades desejavam integrá-los ao processo colonizador, já os jesuítas desejavam
convertê-los ao cristianismo e aos valores europeus, e os colonos estavam interessados em
usá-los como escravos. Então, os jesuítas passaram a afastar os índios dos interesses dos
colonizadores e criaram as missões no interior do território. Nestas Missões, os índios, além
de passarem pelo processo de catequização, onde muitos deles viraram padres, também foram
orientados ao trabalho agrícola, que garantiam aos jesuítas uma fonte de alimentação e de
renda. Para Contrim (2005, p.206) “Os jesuítas permaneceram como mentores da educação
brasileira durante duzentos e dez anos, até 1759, quando foram expulsos de todas as colônias
portuguesas por decisão de Sebastião José de Carvalho, o Marques de Pombal, Primeiro-
Ministro de Portugal (1750 a 1777)”.
31
2.6 As Primeiras Congregações Marianas no Brasil
De todas as devoções do século XVI no Brasil entre os Índios e nos Colégios
Jesuítas, a mais apta a fomentar a piedade foi sem dúvida, a Maria. A primeira Igreja Católica
construída no Brasil foi na Bahia e denominou-se Igreja de Nossa Senhora da Ajuda. Depois
em Porto Seguro, foi construída outra Igreja que teve o mesmo nome, em todo o país, durante
a colonização foram construídas diversas igrejas e colocadas os nomes com títulos de Nossa
Senhora, demonstrando toda veneração a Maria. Como existia todo esse movimento Mariano
no Brasil, então a exemplo de Roma na Itália, também fundaram as Congregações Marianas,
que a principio foi chamada de Virgem Anunciada13 (MAIA, 1992, p. 50).
No inicio não se sabia ainda no Brasil o que seria uma Congregação Mariana
(Foto 02), com isso, apesar de Estatutos Marianos atestarem que trinta anos antes já instituíam
as Confrarias e Congregações no País, só em 8 de agosto de 1586 é que a primeira
Congregação foi realmente estabelecida e em 25 de março de 1588, dia em que se comemora
a Anunciação de Nossa Senhora é que ela foi solenemente inaugurada com o nome de
Congregação Mariana do Colégio da Bahia14 (MAIA, 1992, p. 50).
Foto 2 – Congregação Mariana (2009) Fonte: Google
13A Congregação do Colégio Romano estava sobre a Invocação. Com essa mesma invocação vemos designar-se, em 1590, as duas Congregações Marianas, da Bahia e Rio de Janeiro, cuja agregação se teria dado neste intermédio. (MAIA, 1992, p. 50).
14A Primeira Congregação, canonicamente ereta no Brasil (...). (MAIA, 1992, p. 50).
32
Através destas Congregações, principalmente na Bahia por ser a primogênita, foi
instituído pelo Clero do Brasil a Confraria do Rosário para os Índios e Negros, inclusive com
a reza do Rosário todos os dias santificados, a fim de promover a piedade, a instrução
religiosa e a aprendizagem da doutrina cristã.
A partir daí, outras Congregações no Rio de Janeiro, em Pernambuco e em outras
regiões do país foram fundadas, a fim de realizar esse modelo de evangelização por parte dos
Jesuítas. Porém, esse trabalho foi interrompido devido às manifestações iluministas reinantes
na política religiosa em Portugal. Nesse período, ocorreram perseguições e a expulsão dos
Jesuítas, pois para o governador, as congregações religiosas estariam com grande ascendência
em todos os níveis, principalmente depois da Restauração de 164015 (CONTRIM, 2005, p.
230). Os domínios Jesuítas nas esferas da corte, das missões, do ensino e da cultura intelectual
despertou desconfianças dos políticos acirrando rivalidades de outras ordens religiosas e do
clero secular, criando assim condições de antipatia pombalina para com estes religiosos e
culminando com a extinção da Companhia de Jesus, em 21 de julho de 1773. No momento da
expulsão, eles tinham 25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, além de
seminários menores e escolas de primeiras letras instaladas em todas as cidades onde havia
casas da Companhia de Jesus.
Neste período, a educação no país vivenciou uma grande ruptura histórica num
processo implantado e consolidado, como modelo educacional, dentro do estado recém
colonizado pelos portugueses e que tinham como base os rituais e movimentos católicos. Só
em 7 de Agosto de 1814, a Companhia de Jesus foi restaurada pelo papa Pio VII, porém
apenas no governo de D. Miguel é que os jesuítas regressaram de novo a Portugal, pois
muitos ficaram aldeados no Brasil devido às perseguições do Marquês. Contudo, em 1870 foi
fundada novamente uma Congregação Mariana, em Itu, estado de São Paulo e a partir daí,
tiveram notáveis crescimentos na evangelização do País, tendo como conseqüência em 1927,
a primeira Federação Estadual, no estado de São Paulo.
Em 1937, criou-se a Confederação Nacional com sede no Rio de Janeiro. Foi
o Brasil nesta época, o líder, em todo o mundo no número e crescimento de Congregações e
Congregados, mas algumas mudanças, em nível mundial, acontecida em 1967, afetando a
vida das Congregações Marianas no Brasil. Em 1970, em reunião nacional realizada em Juiz
de Fora, Minas Gerais, foram aceitos pelos Marianos Brasileiros os Princípios Gerais
Mundiais, mas no Brasil decidiu-se manter o nome tradicional de Congregação Mariana,
aproveitando a liberdade concedida pela Federação Mundial das Comunidades de Vida Cristã 15O Duque de Bragança recuperou o governo de Portugal e pôs fim ao domínio espanhol e da União Ibérica. Iniciando a Dinastia de Bragança (CONTRIM, 2005, p.230).
33
na Assembléia Mundial de 1967. Em maio de 1988, o Conselho Mundial das Comunidades de
Vida Cristã, mantendo o reconhecimento das Congregações Marianas no Brasil, admitiu
também a representação, naquele Conselho, das primeiras Comunidades de Vida Cristã, que
como tais, já começavam a existir no Brasil. Criou-se assim, uma dupla presença do País
naquele Conselho Mundial, uma Mariana e a outra da Vida Cristã, que contava com
associações que funcionam completamente independentes uma da outra, mas com um único
objetivo que era ritualizar e venerar Maria através do Rosário.
Tal situação levou as Congregações Marianas do Brasil, na Assembléia Nacional
realizada em novembro de 1991, em Aparecida, estado de São Paulo, a aprovar um novo
Estatuto da Confederação Nacional, no qual havia uma referência explícita a uma Regra de
Vida a ser elaborada em que substitui no âmbito Nacional, os Princípios e as Normas Gerais,
fazendo das Congregações Marianas do Brasil uma associação religiosa de leigos, autônoma e
com a marca característica da devoção Mariana, como sempre foram e continuam sendo no
Brasil. Esta decisão teve aprovação do Assistente Eclesiástico Nacional das Congregações
Marianas, o Arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Dom Eugênio Sales.
Os Congregados Marianos do Brasil podem ser reconhecidos nas reuniões ou
celebrações da Igreja pela fita que pende do pescoço da cor azul (cor litúrgica da Virgem
Maria), em cuja extremidade está uma medalha prateada com a imagem do Nosso Senhor
Jesus Cristo de um lado, de outro a da Mãe Santíssima, a Virgem Maria. São esses
congregados que diariamente estão nas igrejas rezando o Terço, a Maria, fazendo uma
menção ao modelo de evangelização seguido pelos homens dentro do “Ritual do Terço dos
Homens”. As Congregações Marianas do Brasil são associações religiosas públicas, no
sentido canônico da palavra, de âmbito nacional, eretas pela Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil que lhes aprova a Regra da Vida16.
Outro seguimento que movimenta a veneração a Maria é a “Legião de Maria”,
(Foto 03) segundo o Manual Oficial da Legião de Maria (1982), ela é uma associação
de católicos, na maioria mulheres, que com a aprovação da Igreja se constituem
em Legião para servir na guerra perpetuamente travada contra o mal que existe no Mundo. É
uma associação que é constituída por um tripé: oração, reunião e trabalho. A reunião dos seus
congregados acontece uma vez por semana e nessa mesma reunião são-lhes passadas as
tarefas que devem concretizar. Nesses trabalhos, os Legionários espelham-se na humildade
de Maria e levam o conforto e amor de Deus a todas as pessoas que dele precisam. Ela foi
16Código de Direito Canônico, c.312 §1° n 2 e c.314. 2001.
34
criada na Irlanda em 1921 e se espalhou pelo mundo inteiro, chegando ao Brasil em 1951. O
primeiro grupo foi formado no Rio de Janeiro, na Igreja Nossa Senhora de Fátima, na Rua do
Riachuelo. Hoje, esse movimento é desenvolvido em todo o Brasil, nos mais longínquos
lugares, numa expansão continuada.
Foto 3 - Grupo da Legião de Maria (2010)
Fonte: Google
2.7 O terço do Rosário e sua Veneração no Rio Grande do Norte
No âmbito estadual, não há uma diferença considerável em relação à devoção
nacional. O Terço do Rosário sempre esteve presente nos movimentos e festas católicas, suas
venerações a Maria são realizadas de diversas formas e modelos, trazendo em si toda a
tradicionalidade católica de anos atrás, entranhada dentro dos ritos existentes nas cerimônias e
liturgias. Quando falamos no Terço ou Rosário, vem logo a lembrança figurada da mulher,
Mãe, que reza seu Terço todos os dias em suas orações pessoais, pedindo proteção para si e
sua família. As congregações Marianas, a Legião de Maria, o terço rezado antes das missas e
em grupos, são os vários movimentos realizados pelos leigos que veneram Maria dentro do
Estado do Rio Grande do Norte onde todas as paróquias, igrejas ou capelas no estado têm seu
momento de devoção a Maria.
Para os potiguares devotos de Maria, a reza do Terço é uma forma de oração
especial, ou seja, entre o leigo e Maria para se chegar a Jesus, seu filho. Nas cerimônias, os
católicos se reúnem para ouvir uma leitura ou pregação e experimentar um crescimento na Fé
pela Palavra de Deus, sempre manifestando o amor à Maria, principalmente na parte
devocional. Os meses de maio, por ser o mês considerado pela igreja católica como o mês de
Maria ou Mariano, o mês de outubro, por ser o mês das comemorações do Rosário e no mês
35
de novembro, devido ao dia 21, onde se realiza a festa da padroeira de Natal, Nossa Senhora
da Apresentação, são realizados vários e intensos trabalhos missionários de devoção a Maria.
São os meses com mais celebrações e intensas movimentações nas paróquias que realizam
novenas e quermesses em homenagem à Maria, rezando principalmente o Terço de acordo
com o mistério do dia.
Podemos citar, por exemplo, na capital, os dias que antecedem a 21 de novembro,
onde são realizados vários eventos em torno e dentro da Catedral Metropolitana (Foto 04), em
homenagem à padroeira da cidade, Nossa Senhora da Apresentação. De acordo com relatos do
Padre João Medeiros Filho17 (2010, p. 07) “É comemorado um dos momentos da vida da Mãe
de Deus, em que ela é levada ao Templo por seus pais Joaquim e Ana, de acordo ainda com a
revista, a Sagrada Escritura não relata este acontecimento, mas ele é escrito nos evangelhos
apócrifos18”.
Foto 4 – Catedral Metropolitana de Natal (2010)
Fonte: Corpo de Bombeiros Militar do RN
A capital potiguar entrar nesse contexto por ser a primeira cidade a construir uma
paróquia dedicada à invocação Mariana, isso ocorreu em 1599, na construção da primeira
17Consultor e Assessor da Faculdade Dom Heitor Sales de Natal-RN e Diocesana de Mossoró-RN. Doutor em Teologia pela Universidade de Louvain, na Bélgica e em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escritor e membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras (REVISTA ROSÁRIO DO POTENGI, 2010, p. 07). 18Os Livros apócrifos, também conhecidos como Livros Pseudocanônicos, são os livros escritos por comunidades cristãs e pré-cristãs (ou seja, há livros apócrifos do Antigo Testamento) nos quais os pastores e a primeira comunidade cristã não reconheceram a Pessoa e os ensinamentos de Jesus Cristo e, portanto, não foram incluídos no cânon bíblico.
36
igreja construída na cidade, que só ficou pronta no início do século XVII, no ano de 1619.
Chamada hoje, de Antiga Catedral (Foto 05), a Igreja Matriz de Nossa Senhora da
Apresentação, no seu início se tornara uma singela capelinha de taipa, coberta de palha que
promoveu os primeiros encontros com Deus em Natal.
Foto 5 – Igreja de Nossa Senhora da Apresentação “Antiga Catedral” (2010) Fonte: Jorimar Gomes
Tradicionalmente, o Rosário (ou Terço) é uma forma de oração conhecida por
vários potiguares, principalmente pelos devotos de Maria, isso vêm das tradições orais e
práticas dos antepassados que a transmitiram para as gerações contemporâneas. Na população
nordestina, principalmente os potiguares, rezar o terço é uma expressão fundamental da
cultura espiritual e da autenticidade religiosa cristã. É fácil achamos nas paróquias da capital e
principalmente dos interiores do estado, movimentos marianos fortes e tradicionais. O Padre
Medeiros Filho afirma que:
A espiritualidade de nossa gente passa necessariamente pela reza do Terço e por sua veneração a Nossa Senhora. É inconcebível a fé das famílias brasileiras sem o relacionamento com Maria Santíssima. O caminho da espiritualidade - e por que não dizer da santidade no Brasil – tem um nome: Nossa Senhora! Ela ensina-nos a simplicidade na oração, a ternura na forma de amar, o segredo do crescimento na caridade e no serviço, que é também contemplar com o coração e pela ação. (2003, p. 09)
37
Apesar do culto à Maria ter sofrido, por outras religiões, variadas alegações sobre
sua autenticidade, no estado o culto remontar uma das grandes concentrações de fiéis em
todos os seus eventos. As suas festas, com novenas, reuniões, encontros pastorais e oração,
são desenvolvidas por grandes movimentações nas paróquias, principalmente, onde há um
vínculo com Maria, através do título de Nossa Senhora. Esses movimentos acontecem não só
em Natal com a Festa da Nossa Senhora da Apresentação, mas também em outros municípios
onde é muito forte a tradição das festas de padroeiras da cidade. A Festa de Sant’Ana,
padroeira da cidade de Caicó, que é comemorada no dia 26 de julho, em Santa Cruz, no dia 22
de maio onde se comemora a festa de Santa Rita de Cássia e em Mossoró na festa de Santa
Luzia no dia 13 de dezembro são alguns eventos que acontece no estado e apresenta todos os
dias uma diversificada programação religiosa, incluindo show, Terços, quermesses,
confissões, feiras de artigos religiosos e missas campais.
Nesse contexto, a Arquidiocese Potiguar procura estabelecer os seus movimentos
Marianos de evangelização, principalmente com a Oração do Terço do Rosário, em todas as
regiões de atuação e suas dioceses a fim de estabelecer um vínculo afetivo com Maria. As
regiões foram divididas em Agreste; Potengi e Trairí; Região Sertão Central: Cabugí, Mato
Grande e Salineira e na Região Urbana; Natal e cidades metropolitanas. Todas no intuíto de
realizar ações religiosas que desenvolvam a espiritualidade, a dimensão pessoal e da família.
Com isso, os missionários dos movimentos da Legião de Maria, as Irmãs Filhas da Caridade,
a Comunidade Maria Mater, as Irmãs Carmelitas, Encontro de Casais com Cristo (ECC),
Encontro de Jovens Amigos de Cristo (EJAC), Segue-me e tantos outros movimentos da
igreja, trabalham intensamente na conversão de pessoas, incluído a orações do Rosário em
devoção e consagração a Maria Mãe e Mestra da família.
2.8 Os movimentos que integram o Rosário em suas evangelizações no RN
No Rio Grande do Norte, são várias as comunidades que desenvolvem ações
presentes e marcantes de evangelização com a população. Entre elas, temos o movimento
importante chamado de Canção Nova, criada em 1978, desenvolve um trabalho de
evangelização através do meio de comunicação, conhecida por todos que acompanha a
emissora de tv, que tem como idealizador Monsenhor Jonas Abib. A sua meta é trabalhar a
evangelização em todos os meios de comunicação, televisão, rádio e Internet. A comunidade
divulga o Terço diariamente, inclusive rezando-o duas vezes ao dia em sua programação, as 6
38
e 18 horas. No Rio Grande do Norte, na capital, a comunidade controla a administração da
Rádio Rural AM 1090 e há 10 anos desenvolve um trabalho de evangelização em parceria
com a arquidiocese, através do site da Canção Nova. Como também no programa da Casa de
Evangelização com uma programação diária com assuntos relacionados à missão da
comunidade.
Outra comunidade é a “Maria Mater Familiae”, que trata Maria como a Mestra,
Mãe da vocação Maria Mater que ensina os seus filhos a buscarem a santidade. Para eles é ela
quem se une aos fiéis para dar o perfeito louvor ao Senhor. Criada em 31 de maio de 1995,
eles desenvolvem um trabalho de Evangelização, na qual realizam grupos de oração do terço,
aconselhamentos, adoração ao Santíssimo Sacramento, missas com grupos musicais,
pregações e catequeses. Tem como vocação desenvolver o carisma: “Viver com alegria
intensamente, a radicalização do sim de Deus” e sua principal missão é resgatar os corações
feridos e os levam aos cuidados da Virgem Maria. No ano de 1999, o grupo revelou o carisma
de viver com alegria intensa a radicalidade do sim a Deus fazendo com que a partir daí eles
pudessem imitar a Maria, assumindo, com ela, a missão de resgatar almas para Deus. A cada
dia a Comunidade Católica Maria Mater Familiae amadurece a vontade de Deus em sua
história, consciente de que, como a Igreja, nasceu para Evangelizar, para fazer com que mais e
mais pessoas tenham uma experiência de amor com Jesus Ressuscitado. (REVISTA
ROSÁRIO DO POTENGI, 2010, p. 24).
Também é notório falar do Grupo Católico da Fraternidade Éfeso, fundada em 01
de julho de 2000, após uma reunião com o então Arcebispo Dom Heitor19 e com as novas
comunidades religiosas existentes em Natal-RN. O movimento tem como Lema: “Ser, gerar
no mundo um sinal de testemunho com a igreja, tendo como modelo a Santíssima Trindade” e
se lançou na missão de levar a libertação de Deus para o mundo corrompido pelo pecado,
tendo como escolhas preferenciais os pobres e a conversão dos pecados, através da
congregação de Jesus Cristo Eucarístico como o Pastor da Igreja Católica. Com sede própria
em Natal-RN, desenvolvem inúmeros trabalhos missionários de evangelização na
comunidade, inclusive com orações do Terço todos os dias.
Todas essas comunidades e outros movimentos como a Legião de Maria,
Comunidade Shalom, Comunidade Católica Veni Creator Spiritus, apresenta no estado
movimentos de evangelização, desenvolvendo a oração do Terço como uma grande prática
evangelizadora nas suas caminhadas, mostrando que Maria, faz parte sim, dos momentos da
glória de Jesus, pois na concepção católica ela foi à primeira educadora da fé cristã.
19Ex Arcebispo da Arquidiocese de Natal.
39
3. CAPÍTULO II
O TERÇO DOS HOMENS NA IGREJA DO SENHOR BOM JESUS DAS DORES
3.1 Como Nasceu a Pesquisa
Católico assíduo e freqüentador do Movimento Carismático da igreja Católica, no
Convento de Santo Antônio, na cidade do Natal-RN. Comecei a observar o convite que era
feito aos homens durante a celebração do Grupo Carismático na Igreja do Convento Santo
Antônio, na Cidade Alta, para participar do “Terço dos Homens” onde nesta igreja realizam-
se todas as quintas-feiras, às 19:30 horas. Como acadêmico do curso de Ciências da Religião
na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), tive a curiosidade de ir
observar, já que o Terço antes era um rito realizado predominantemente pelas mulheres e que
os homens não gostavam de participar. Então, na quinta-feira seguinte fui conhecer e
participar do Ritual do Terço, chegando lá observei que o Terço só para homens era realizado
após a missa do Convento Santo Antônio e as mulheres que por acaso vinham com seus
esposos ficavam aguardando do lado de fora da igreja e não podiam entrar.
Na visita o que chamou a atenção foi ver o público masculino que não tinham
freqüência de ir às missas e cerimônias religiosas, participando desse novo modelo de
devoção, com homens rezando e cantando na realização do Terço, isso se dúvida, foi o que
mais me marcou. A partir daí, percebi que essa mudança de paradigma poderia ser
pesquisada, trabalhado e investigado para que se pudesse buscar compreender esse novo
modelo de ritual dentro da Igreja Católica, que a cada semana vem crescendo em todo Brasil.
Apesar de inicialmente ter participado da cerimônia na Igreja do Convento, onde antes fora
feito o convite inicial, optei estudar o ritual na Paróquia do Senhor Bom Jesus das Dores, no
bairro da Ribeira, na cidade do Natal-RN, por ter sido a pioneira a abrigar o movimento no
Estado do Rio Grande do Norte.
3.2 Como Nasceu o Terço dos Homens
Podemos definir o Terço dos Homens como um novo modelo de evangelização
criado pela Igreja Católica, a fim de buscar os homens para os movimentos da igreja, trazendo
a tona uma mudança de paradigma dentro da Igreja Católica, realizando uma abertura
40
religiosa do homem para as práticas evangelizadoras e quebrando todo tipo de preconceito no
mundo religioso.
Há duas versões sobre a criação do “Ritual do Terço dos Homens”, a primeira é
encontrada no site do “Terço dos Homens no Brasil e no Mundo20” . Esta é a mais aceita pelos
etnográficos e historiadores e relata que o Terço foi criado pelo Frei Peregrino, em 1936,
numa comunidade que tinha como sua padroeira Nossa Senhora da Conceição, na cidade de
Itabi–SE. Segundo moradores da cidade, Frei Peregrino partiu de Penedo-AL, no Navio
Vapor Recomendador Peixoto, em trabalhos missionários, visitando as Vilas e Povoados da
época, entre eles Guararu, Porto da Folha, Nossa Senhora da Glória e demais povoados
existentes nas comunidades católicas dos interiores do estado, a fim de evangelizar a
população. Chegando à Vila Providência, hoje Itabi-SE, no dia 02 de setembro de 1936, após
uma pregação, convidou os homens a entrarem na Igreja e lá propôs lançar o “Terço dos
Homens”, proposta que havia sido feita em outros lugares, mas somente em Itabi foi de
pronto atendida. Com isso, foi marcado o Terço de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro para o
lançamento, no dia 8 de setembro de 1936, que contou com a presença de 220 homens, ainda
hoje existente, com uma média de 80 a 100 membros da comunidade.
Outra versão é dada pela Coordenação Nacional do Movimento, no site “Terço
dos Homens Mãe Rainha21”, onde informa que o “Ritual do Terço dos Homens” foi uma
iniciativa do Diácono João Luiz Pozzobon, em 10 de Setembro de 1950, na estação de trem da
cidade de Santa Maria-RS. Na estação, ele recebeu a Imagem da Mãe Rainha para levá-la às
famílias, em torno dele se formou um grupo de aproximadamente 100 homens e com esta
aproximação percebeu-se que era uma ótima oportunidade para resgatar e mobilizar a
participação do setor leigo masculino na igreja, iniciando assim, o “Terço dos Homens”.
A partir daí, o seu crescimento foi tímido, porém crescente, houve o nascimento
de outros movimentos em várias paróquias espalhadas pelo Brasil, com grandes rituais de
devoção a Maria e sempre presidido por um guia espiritual, Padre ou Frei, que em conjunto
com homens religiosos da comunidade católica desenvolveram um rito com a finalidade de
rezar e agradecer a Maria, que para eles do “Terço dos Homens”, é a Mãe de Jesus. Neste
contexto, a igreja desenvolveu um trabalho de resgate da ação do homem dentro da igreja
como apóstolo e gestor de um novo modelo masculino, quebrando todo preconceito existente
dentro da Igreja Católica.
20Disponível em:< (http://www.tercodoshomens.com.br) > Acesso em :13 de outubro de 2010. 21Disponível em:< (http://www.tercodoshomens.org.br/) > Acesso em :15 de outubro de 2010.
41
O Trabalho de evangelização do “Terço dos Homens” desenvolveu uma
irradiação a nível nacional espalhando-se nas diversas arquidioceses de vários estados do país,
com o objetivo de criar um clima de união da família. Já que a mulher é o elemento mais
devoto, o ritual pretende envolver a família em um clima de oração, trazendo também o
homem (Pai), para participar efetivamente dessa comunhão, criando assim um novo modelo
de devoção, incentivado principalmente pelos novos movimentos carismáticos de todo o país.
3.3 O Terço dos Homens como um novo modelo de evangelização carismática
O trabalho do Grupo da Renovação Carismática na cidade do Natal-RN foi de
grande importância para o desenvolvimento e expansão do Grupo do “Terço dos Homens”,
pois as divulgações e convites nas reuniões dos grupos de orações semanais transformaram-se
em um grande meio de propaganda sobre esse novo modelo masculino de evangelização, já
que a Renovação Carismática, dentro de um contexto religioso e geográfico, representa uma
grande efervescência e aceitação por parte da maioria dos católicos natalenses. Seguindo o
modelo do Grupo da Renovação Carismática22, porém apenas com homens, o “Terço dos
Homens”, veio dentro da pluralidade de Ritos e Mitos das religiões, desenvolver uma
atividade própria, dentro do contexto religioso da recitação do Rosário, sem interferir nas
iniciações dos ritos da Igreja Católica.
Trazendo o emocional como ponto forte nas suas reuniões semanais, característica
marcante também nos grupos carismáticos, o “Terço dos Homens” representa uma nova
tendência dentro dos moldes progressistas, deixando no passado às recitações consevardoras
do Terço a Maria. Em seu texto Hervieu:
Propõe a idéia das religiões de comunidades emocionais, e aqui se situa no movimento carismático, enquanto um portador de atributos modernos e antimodernos. Modernos, por admitir positivamente alguns princípios marcadamente modernos como: a relação pragmática com a tradição, a insistência sobre o direito da subjetividade em matéria religiosa, o primado concedido à realização afetiva dos indivíduos, a preocupação com o desabrochar pessoal e o enriquecimento das relações com os outros que resultam da participação comunitária. No que tange a uma posição antimodernidade é neste tipo de comunidade que irá se apresentar o que, nos termos clássicos da sociologia, foi identificado como protesto sócio-religioso. Em outras palavras, viu-se neste emocionalismo das comunidades uma manifestação, no registro da religião, de uma recusa da atomização e da abstração das relações sociais que caracterizam a sociedade tecno-industrial, e a expressão de uma corrente desmodernizante agonizada pela crise. Este surto comunitário da expressividade emocional
22O Movimento esta representado de modo significativo na Igreja do Convento Santo Antonio, no bairro de Cidade Alta, centro de Natal, com reuniões todas as terças-feiras.
42
significava, nesta perspectiva, a rejeição da indiferença afetiva de uma modernidade inteiramente submetida às prioridades da eficácia mensurável e da funcionalização burocrática das relações humanas. Estava entendido que ele [o emocionalismo religioso] punha assim em questão o modo pelo qual as grandes organizações religiosas conformam-se com as normas seculares e a elas se submetem. (HERVIEU-LÉGER, 1997: p. 43-44)
No seu público, o Terço dos Homens, se diferencia um pouco da Renovação
Carismática, pois em seus ritos ele vem atender todas as camadas sociais, porém apenas
masculina que queiram se socializar com a devoção a Maria, modelo o qual, os carismáticos
só vieram adotar em um passado recente, após vários momentos de reflexão por parte das
camadas mais influentes desta corrente, pois na sua maioria eram indivíduos da classe média
alta, tendo sua base de evangelização centrada no individuo e não no grupo. De acordo com
Silva (2000, p.47). “Para se compreender a dinâmica dos grupos carismáticos é
imprescindível perceber a importância do papel da oração para eles, pois a bandeira deste
movimento é a espiritualidade e a oração funciona como mediadora entre o humano e o
divino”.
Portanto, é nítida a força carismática dos devotos que freqüentam o Grupo do
“Terço dos Homens”, convidados por amigos, companheiras, familiares e vizinhos, todos se
apresentam, afim de que naquelas horas de oração, invoquem a mediação de Maria para a
comunhão com o seu Deus em cada prece recitada.
3.4 Caracterização do Bairro da Ribeira
Na Ribeira em 1838, existiam apenas quatro ruas: a rua do Aterro, a rua Duque de
Caxias, a rua Silva Jardim e a rua da Alfândega. A primeira, é hoje conhecida como Junqueira
Aires, enquanto a rua da Alfândega tornou-se rua do Comércio e desde 1932 é chamada de
rua Chile.
A demarcação inicial e sumária seria a chantação de duas cruzes, marcando o sítio da futura cidade, os limites sagrados das urbs. As cruzes foram fincadas nos aclives da coluna. A cruz do Rio Grande do Norte ficou perto do square Pedro Velho, e a rua que levava a ribeira, a ladeira, teve o nome de rua da Cruz, até março de 1888 quando lhe chamaram de rua Conselheiro João Alfredo. Em março de 1896 passou a ser o que esta sendo, rua Junqueira Aires. (MACHADO, 1980, p.124)
A partir de meados do século XIX, consolidou-se o comércio na região de artigos
que chegavam e partiam pelo Rio Potengi, em uma relação negocial dominada por
Pernambuco. Mais tarde, essa vocação da região de centro de comércio de mercadorias pelos
43
navios se consolidaria com a conturbada construção do Porto de Natal. Entre 1869 e 1902, a
sede da Administração Provincial funcionou na Rua do Comércio, atual Rua Chile, na
Ribeira, retornando em seguida para a Cidade Alta. Em 1897, quando Natal só tinha os
bairros da Ribeira (Figura 04) e da Cidade Alta, Olympio Tavares, então vice-presidente da
Intendência Municipal, fez realizar o primeiro censo demográfico da cidade, que apontou a
existência de 2.800 moradores, na maioria solteiros e analfabetos. Outros censos foram depois
realizados, sem jamais registrar população superior a esta .
Figura 4 - Mapa do Bairro da Ribeira (2005) Fonte: Google
Em 1905, foi inaugurada a Praça Augusto Severo (Foto 06), em homenagem ao
norte-riograndense pioneiro da aviação. Alguns anos mais tarde, ela receberia estátuas de
Nísia Floresta e do próprio Augusto Severo.
Foto 6 - Praça Augusto Severo (2010)
Fonte: Jorimar Gomes
44
A praça recebeu melhorias e tornou-se importante ponto de encontro. Ao seu
redor foram construídos prédios tradicionais, como o Teatro Carlos Gomes23, o Cine
Polytheama, primeiro cinema de Natal, a Antiga Escola Doméstica de Natal, que também foi
sede do Atheneu e da Faculdade de Direito, o Grupo Escolar Augusto Severo, o Colégio
Salesiano São José, a Estação Rodoviária de Natal, hoje transformada em museu, e a Estação
Ferroviaria da Great Western.
No início do século XX, foi o primeiro bairro de Natal a receber iluminação
pública. Nos anos 1940, funcionava no bairro o mais importante hotel da cidade, o Grande
Hotel, que hospedou importantes personalidades durante a Segunda Guerra Mundial. O bairro
foi o núcleo do comércio da cidade, até perder espaço, após a Guerra, para a Cidade Alta e o
Alecrim. Em 1966, começaram a circular as balsas que faziam a travessia Natal-Redinha e
em 1983, foi concluída a drenagem e o esgotamento sanitário do bairro, em 1990, passou a
integrar a Zona Especial de Preservação Histórica, juntamente com o bairro de Cidade Alta
onde criou-se um projeto de revitalização que incluia a recuperação das fachadas dos imóveis
da Rua Chile, a ampliação da iluminação e do calçamento do bairro.
A Ribeira é o segundo bairro mais antigo da cidade do Natal, capital do Rio
Grande do Norte, já foi chamada de Cidade Baixa, em oposição ao bairro mais antigo, a
Cidade Alta. Situado na Região Administrativa Leste da cidade, o bairro faz limites a Oeste,
com o Rio Potengi, ao Norte, com os bairros de Santos Reis e Rocas, a Leste , faz divisa com
o bairro de Tirol e Petrópolis, e ao Sul com a Cidade Alta, esta que atualmente é caracterizado
como o Centro da cidade do Natal, onde se concentra a maioria das lojas de comércio da
cidade. Câmara Cascudo explica assim a origem do nome do bairro: “E por que Ribeira?
Ribeira porque a Praça Augusto Severo era uma campina alagada pelas máres do Potengi. As
águas lavavam os pés dos morros. Onde esta o Teatro Carlos Gomes tomava-se banho salgado
em fins do século XIX” (MACHADO, 1980, p.131).
A Ribeira no final do século XX era conhecida como um bairro de classe baixa,
mas após uma série de ações promovidas para a revitalização do bairro, atribuído pela Lei de
Operação Urbana da Ribeira, de 1997, que foi revisada em 2007, o mesmo está
gradativamente se tornando um bairro de classe média e classe média alta, devido
principalmente a construção de vários arranha-céus na região conhecida como o Alto da
Ribeira, tais como o edifício Mirante João Olímpio Filho, um condomínio de Luxo, o maior e
23Teatro Alberto Maranhão
45
mais alto da cidade. Esta lei concede uma série de benefícios fiscais e construtivos a fim de
reabitar, restaurar prédios históricos e atrair novos investimentos para o bairro24.
O Circuito Histórico, Turístico e Cultural da Ribeira compreende trinta atrações.
Dele fazem parte: O Teatro Alberto Maranhão (Foto 07): um dos prédios mais belos da capital
potiguar, teve sua construção iniciada em 1898, com estilo art-nouveau, é tombado pelo
Patrimônio Histórico e Artístico do Rio Grande do Norte, o Centro Cultural Casa da Ribeira:
ambiente que compreende uma sala de teatro, uma sala de artes visuais e uma sala de
convivência, onde ocorrem saraus, conferências e lançamentos de livros, a Rua Chile: local de
diversos eventos culturais, o Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão: inaugurado em
2008, no prédio do antigo Terminal Rodoviário de Natal, as casas de personagens importantes
do bairro, como a do ex-presidente Café Filho, a do poeta Ferreira Itajubá e a do médico
Januário Cicco, como também a Praça Augusto Severo com seus monumentos e prédios
históricos ao redor25.
FOTO 7 - Teatro Alberto Maranhão (2010) Fonte: Jorimar Gomes
24Conheça Melhor o seu Bairro 2007 – Ribeira. Secretaria do Meio Ambiente e do Urbanismo (SEMURB). Prefeitura Municipal do Natal. Natal(RN): 2007.
25Conheça Melhor o seu Bairro 2007 – Ribeira. Secretaria do Meio Ambiente e do Urbanismo (SEMURB). Prefeitura Municipal do Natal. Natal(RN): 2007.
46
3.5 O Terço dos Homens na Igreja do Senhor Bom Jesus das Dores
A Matriz do Senhor Bom Jesus das Dores é a última das igrejas vindas do século
XVIII (MACHADO 1980, p.86). Uma licença para casamento evidencia que capela do
Senhor Bom Jesus das Dores já existia em 05 de fevereiro de 1776 (MACHADO 1980,
p.133). O mais antigo documento que encontrei é um registro de óbito de Manuel Gomes da
Silveira, falecido a 8 de agosto de 1774, por onde se constata ter tido o defunto sepultura na
capela do Senhor Bom Jesus das Dores. (MACHADO 1980, p.86).
Foi no ano de 2005, a primogênita no “Ritual do Terço dos Homens” (Figura 05)
no Estado do Rio Grande do Norte. Situada na Praça Capitão José da Penha, N°135, no bairro
da Ribeira, ela é uma igreja antiga e que faz parte da história da cidade do Natal, pois foi
edificada em 1774 e tornou-se a sede da Capelania Militar do Exército. Machado comenta
que: “Uma figura inseparável da igreja foi o padre Francisco Constâncio da Costa, Capelão do
Exercito Imperial. Desde 1878 apareceu em Natal e, de 1881 em diante é um abnegado pela
humilde igreja. A devoção dos canguleiros sustinha o templo. Havia sempre uma missa
dominical” (MACHADO 1980, p.87).
Figura 5: Banner do Estandarte do Terço dos Homens (2005) Fonte: Eugênio Lúcio
47
No governo de Dom Joaquim de Almeida a capela passou para os padres
franciscanos e a partir 1913 foi dirigida pelos Padres da Santa e Sagrada Família. Na sua
arquitetura original ela não possuía suas duas torres atuais. Havia apenas um local
estabelecido para a construção de uma só torre. De 1915 a 1918 um Frade Franciscano, Frei
André, construiu as torres e realizou reformas. Tinha uma fachada barroca, com um belíssimo
frontispício26, quase semelhante ao da Igreja do Convento de Santo Antônio. A 09 de janeiro
de 1932, o Bispo Marcolino Esmeraldo de Souza Dantas, criou a Freguesia do Senhor Bom
Jesus das Dores. O primeiro Vigário foi o padre Frederico Pastors, missionário da Sagrada
Família. (MACHADO 1980, p.87).
Ao Padre Frederico Pastors seguiu-se os Padres Francisco Scholz (1935),
Agostinho Hanneken (1936-1939), José Winterhalter (1940 a 1962), Guilherme Wirlenbrink
(1963-1965) e Antônio Schulte Wrede (1966-1969). Alemães, holandeses, poloneses e
franceses, os seis primeiros “padres da paróquia da Ribeira” eram todos missionários da
Sagrada Família. O sétimo vigário da Ribeira foi o Monsenhor Manuel Pereira da Costa
(1970-1972), seguido dos padres Talvaci Salustino Soares (1973-1974) e Oswaldo Honório de
Freitas, que ficou de 1975 a 10 de outubro de 1997, quando morreu. A partir de então,
assumiu a paróquia o padre Diocesano José Mário de Medeiros (Foto 08), a 9 de novembro de
1997 e sua atuação estende-se até o corrente ano, onde em 08 de dezembro de 2010
comemorou 40 anos de vida sarcedotal.
FOTO 8 – Cônego José Mário: Pároco da Paróquia do Senhor Bom Jesus das Dores (2010) Fonte: Jorimar Gomes
26Modelo de fachada usada em igreja do século XVIII
48
O padre “Zé Mário” como é mais conhecido é um religioso tradicional e muito
respeitado pelo clero potiguar, com o título de Cônego27 pela Igreja Católica, ele foi o grande
idealizador do “Terço dos Homens” no Estado. Natural de Caicó, cidade do interior do
Estado, a 280 km de Natal e muito forte no turismo religioso devido às festas de Sant’Ana,
padroeira da cidade, o pároco da paróquia no bairro da ribeira também acumula as funções de
Professor do Seminário São Pedro, Capelão da Capela do Campus da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte e do Cemitério Morada da Paz. Zé Mário conta que:
Se tornar vigário da Igreja de Bom Jesus das Dores da Ribeira foi um desafio muito
grande. Os fiéis que freqüentavam a Igreja estavam acostumados com o padre
Oswaldo, que foi o vigário por mais de duas décadas. Padre Mário diz que hoje em
dia as pessoas não freqüentam mais a igreja do seu bairro, mas sim aquela na qual se
identificam com o pároco e sua pregação. Seria uma espécie de devoção pessoal.
Hoje, quem freqüenta a Igreja da Ribeira são pessoas de vários lugares da cidade que
me conhecem há 25 anos. Ele explica que o orago, isto é, o santo que dá nome ao
templo é também um ponto importante que atrai os fiéis. ‘No caso da Ribeira, o
orago é o próprio Jesus e as pessoas têm um grande afeto, um grande carinho pela
figura do Jesus sofredor, crucificado’ e arremata dizendo que as pessoas podem
mudar, mas sempre haverá gente na igreja, afinal Jesus é Jesus28.
Hoje a matriz é uma das mais belas Paróquias da cidade do Natal (Foto 09) e
abriga algumas das esculturas sacras mais antigas do município, neste ano de 2010, com a
ajuda do dos homens do grupo do “Terço dos Homens”, o Templo passou por uma reforma
na pintura, nos bancos, substituiu o sistema de som e foi instalada uma central de ar-
condicionado, tudo isso para um melhor conforto dos fiéis que freqüentam a Paróquia. Foi à
primeira paróquia da cidade a celebrar o “Ritual do Terço dos Homens” no nosso estado. O
Ritual se deu pela iniciativa do seu Padre José Mário e outros devotos e frequentadores da
igreja, que se reuniram, formando uma comissão que viajou para conhecer o Terço dos
Homens na Paróquia Santa Júlia, Paróquia Primogênita, na cidade de João Pessoa, capital
paraibana.
Então, no dia 25 de maio de 2005 eles estiveram na cidade de João Pessoa para
participar e observar o ritual, a fim de trazê-lo para a cidade do Natal-RN. Participaram da
comissão os Senhores Gilberto Costa e o Eugênio Lúcio. Ao voltarem da Paraíba, a comissão
se reuniu para organizar e realizar a primeira reunião de oração do “Terço dos Homens” na
paróquia. Portanto, no dia 29 de Junho de 2005, dia comemorado a São Pedro e São Paulo, foi
27Padre Secular pertencente ao colegiado de uma Igreja ou Catedral. Minidicionário Houaiss ( 2004, p. 178) 28Disponível:<http://www.sandrofortunato.com.br/salgo/2008/01/23/igreja-do-senhor-bom-jesus-das-dores/>
49
realizado o primeiro Terço em terra potiguar, na paróquia do Senhor Bom Jesus das Dores, a
pioneira, contando no primeiro dia com a com a presença de 65 devotos e o Padre José Mário.
Foto 9 - Igreja do Senhor Bom Jesus das Dores (2010) Fonte: Jorimar Gomes
O movimento cresceu rapidamente. Foram feitas divulgações nas missas e
encontros carismáticos, pediu-se aos freqüentadores que convidassem um amigo ou às
mulheres que falassem do movimento para pais, filhos, esposos ou namorados e conhecidos a
fins. O grupo foi sendo formado e divulgado apenas por amigos, nas conversas informais
onde cada um era invocado nas cerimônias a convidar mais um amigo para a reunião da
próxima semana. Contudo, só depois que a igreja estava lotada nos dias de reuniões, devido à
propagação nas conversas e nos convites informais dos amigos participantes dos ritos é que a
imprensa escrita e falada realizou reportagens divulgando o grupo de Natal na mídia. A
estratégia deu certo e atualmente, as reuniões contam com um público variando de 280 a 300
homens por semana, apesar de já ter chegado a mais de 600 homens em uma reunião no dia
09 de abril de 200829, demonstrando sua força evangelizadora masculina. O ritual é celebrado
todas as quartas-feiras, pontualmente às 19 horas, com a presença de um Padre, Frei ou
Diácono que preside a cerimônia.
O Grupo do Terço dos Homens na Igreja do Senhor Bom Jesus das Dores (Foto
10), no bairro da Ribeira, tem como Lema: “Momentos de Oração com Jesus e Maria só para
Homens”, neste ano de 2010 completou 05 anos, porém não só de existência evangelizadora
29Dados informados pela Comissão organizadora do Terço do Homens na Paróquia do Senhor Bom Jesus das Dores.
50
do público católico masculino, mas também de muita oração e trabalho social com
distribuição de cestas básicas e bolsas de empregos para os desempregados.
Foto 10 - Reunião do Terço dos Homens na Igreja do Senhor Bom Jesus (2010) Fonte: Jorimar Gomes
É importante ressaltar que no Rosário são rezados os mistérios, e cada mistério
tem o seu próprio dia da semana para ser recitado. Cada mistério rezado apresenta cinco
passagens da vida de Jesus e Maria que se intercalam nas orações. Com isso, já que a reunião
do Grupo do Terço dos Homens, na Paróquia do Senhor Bom Jesus das Dores é sempre nas
quartas feiras, o mistério que é rezado e proclamado são os Mistérios Gloriosos, que de
acordo com os dias, podem ser rezados tanto nas quartas feiras como nos domingos. As suas
passagens bíblicas contemplam as Glorias de Jesus, que são:
1° Mistério - A Ressurreição de Jesus.
2° Mistério - A Ascensão de Jesus ao Céu.
3° Mistério - A Descida do Espírito Santo sobre os apóstolos, reunidos no cenáculo com
Nossa Senhora.
4° Mistério - A Assunção de Nossa Senhora ao Céu, em Corpo e Alma.
5° Mistério - A Coroação de Nossa Senhora no Céu, Rainha dos Santos, dos Anjos e dos
homens.
51
3.6 A Etnografia da Celebração
A preparação da celebração começa uma hora antes do início do Terço, que é às
19 horas, quando os membros do grupo de oração do terço dos homens saem dos seus
trabalhos e começam a se dirigir à paróquia, pois a maioria dos frequentadores são
trabalhadores do comércio urbano do bairro da ribeira e circunvizinhos. Eles se apresentam na
paróquia e conferem os últimos detalhes para o início da celebração. Previamente, são
escolhidas as pessoas para rezar os mistérios, enquanto o grupo de música ensaia os últimos
cânticos e acordes.
Os participantes vão chegando aos poucos e se aglomera nas calçadas, fora da
igreja, nas entradas, e nos bancos da igreja. Alguns fazem orações, outros procuram se
recolher ao silêncio interior, porém observa-se que grande parte se conhece e aproveita para
por o assunto da semana em dia. Entre os assuntos mais abordados antes do início do terço,
está o futebol, o trabalho, a política, os problemas pessoais e os vividos por familiares.
Faltando de quinze a dez minutos para o inicio do Rito, alguns integrantes do grupo de oração
convidam alguns outros homens para a procissão de entrada, realizada por aqueles que foram
anteriormente escolhidos para rezar os mistérios.
O condutor do terço, no púlpito do altar anuncia então os pedidos, ações de graças
e notas de agradecimentos. Geralmente, os agradecimentos se concentram em metas
alcançadas, como melhora de saúde, vitórias pessoais ou mesmo o fim de algum vício. Alguns
também apresentam pedidos que extrapolam o nível da conduta de vida individual, como as
preces por melhorias nos negócios da família e nas diversas situações pessoais.
A procissão de abertura traz à frente o estandarte com a foto da Imagem de Nossa
Senhora da Apresentação (Foto 11) padroeira da cidade do Natal com o Lema: “Momentos de
Oração a Jesus e a Maria só para Homens” e mais adiante a imagem de Nossa Senhora da
Conceição. Chama-se a atenção às vozes graves dos cânticos masculinos que nos lembram
ambientes distintos, como estádios de futebol e bares nos finais de semana. Durante toda
procissão de entrada, os homens vem cantando e com terços nas mãos vão tocando na imagem
durante sua passagem, ao se aproximarem do altar, abre-se passagem e a imagem é levantada,
apresentada e aplaudida com fervor por todos os presentes. Os integrantes da banda gritam
“Viva, Nossa Senhora”, “Viva, Jesus Cristo”, “Viva, o Terço dos Homens” e são prontamente
respondidos pelos devotos “viva”. Após isso, a imagem é passada à mão do Padre ou Frei que
presidirá a cerimônia e ele a coloca em cima da mesa do altar.
52
Foto 11 - Procissão de Entrada do Terço dos Homens na Igreja do Senhor Bom Jesus (2010) Fonte: Jorimar Gomes
Dando continuidade a cerimônia, o Presidente da cerimônia se apresenta, dando
boas vindas a todos os homens presentes e a partir daí se inicia o culto propriamente dito, com
o “Sinal da Santa Cruz”, o “ato penitencial”, “canto de aclamação” e a “leitura do
Evangelho do dia”, por fim a “homilia do Presidente fazendo uma reflexão do evangelho”.
Esse início tem um modelo parecido com a celebração de uma missa.
Depois disso, os leigos que estão à frente, junto com Presidente no altar, assumem
o controle do rito. Iniciam com o “oferecimento do terço” e a partir daí é desenvolvida a
oração do terço na íntegra. Sempre que se encerra um mistério, canta-se entre intervalos, um
trecho do hino do Terço dos Homens em louvor a Maria. É nessa parte dos cantos que
observamos a grande animação dos presentes. No decorrer do culto, nota-se claramente que
há uma grande concentração dos devotos nas recitações repetidas das Ave-Marias, a ponto de
em determinadas ocasiões os fiéis ajoelharem-se em momentos de muita devoção e respeito
(Foto 12). Também é observado que na hora dos cânticos há uma maior participação de todos,
muitos integrantes chega a fazer coreografias durante as canções, comportamento este,
raramente observado nos homens durante missas e reuniões católicas tradicionais.
53
Foto 12 - Momento de Devoção dos Homens no Terço (2010) Fonte: Jorimar Gomes
Em seguida, após o fim das orações dos Mistérios, é realizado o ofertório onde os
homens depositam quantias em dinheiro nos cestos de recolhimento das oferendas que fica em
frente ao altar onde esta a Imagem de Nossa Senhora da Conceição, durante este momento o
grupo de cântico entoa canções de louvor acompanhado por todos os fíéis, enquanto estes
caminham em direção ao altar para deixar a oferta.
Quando termina o ofertório, os devotos que estão à frente da reunião, pergunta
quem do grupo veio pela primeira vez como também os aniversariantes da semana,
convidando-os a ir até ao altar. Chegando ao altar, geralmente de cinco a oitos homens, eles
falam o nome, o bairro e quem os convidaram, fazendo com que haja uma socialização dos
novos adeptos com todo o grupo. Continuando à cerimônia, os novos devotos continuam no
altar e neste momento é feita uma oração em ação de graças pelo chamado de Deus a estes
homens e por mais um ano de vida para os aniversariantes, nesse momento, todos cantam e
louvam acompanhando sempre o grupo de cântico que amina os devotos durante todo o ritual
na cerimônia (Foto 13).
54
Foto 13 - Recepção aos Novatos do Grupo do Terço dos Homens (2010) Fonte: Jorimar Gomes
Por fim, após a recepção dos novatos no grupo é a hora dos avisos e
comunicações, neste momento é feito os avisos para os dias que virão, missas, encontros e
principalmente para que todos venham na próxima semana e se possível trazendo mais um
amigo para fazer parte do “Grupo de Oração do Terço dos Homens na Igreja do Senhor Bom
Jesus das Dores”. Terminado todos os avisos e comunicações é passada a palavra ao
Presidente da cerimônia para dá a benção final e deseja aos presentes uma ótima semana e que
Deus os abençoe. Finalizando a reunião, os devotos em grupos voltam para suas casas,
geralmente em seus próprios veículos, outros caminham até o terminal de ônibus da ribeira
para pegar o transporte coletivo e alguns que moram perto da paróquia, como é o caso do
pessoal do bairro das Rocas e da própria Ribeira, regressão a pé para suas residências.
3.7 A Descentralização e a Criação da Reunião em outras Paróquias
Com o passar do tempo, o crescimento na procura pelos homens para conhecer o
ritual do Terço fez com que outras capelas e paróquias na cidade do Natal como também nos
interiores do estado, adotassem o “Terço dos Homens” como uma nova forma de evangelizar
a parcela masculina que estava um pouco afastada dos movimentos da igreja, com isso houve
uma descentralização do ritual na Paróquia do Senhor Bom Jesus das Dores, já que foi a
55
primeira a criar a reunião. A partir daí, nos últimos anos vários outros locais e horários foram
divulgados realizando também a reunião do Terço só para Homens no Rio Grande do Norte.
Paróquias com grande número de fiéis na capital, como é o caso da Paróquia de
São Sebastião, no Alecrim, que tem sua reunião, às 19:30 horas, todas as segundas-feiras, a da
São João Batista, em Lagoa Seca, com o terço no mesmo horário, porém nas terças-feiras e a
da Igreja do Convento Santo Antônio (Foto 14), no centro da capital, que realiza o Terço
também no mesmo horário das demais, mas nas quintas-feiras, são alguns exemplos da grande
expansão do Rito do Terço dos Homens na cidade do Natal. Já no interior, tanto nas cidades
da região metropolitana, como é o caso de São Gonçalo-RN que realiza o Terço todas as
segundas-feiras, as 19:30 horas, como também nas cidades distantes da capital, o rito já é um
grande e inovador meio de evangelização masculina, transformando e renovando a
espiritualidade na vida sociais de seus freqüentadores e devotos.
Foto 14 - Terço dos Homens no Convento Santo Antônio (2008) Fonte: Jorimar Gomes
Na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Jardim do Seridó-RN, a oração
Mariana com os homens vinha sendo realizada todas terças-feiras, às 19 horas, na Capela de
São José Operário, no bairro Bela Vista. Na Assembléia Paroquial 2010, o Padre Amaurilo30,
expressou o desejo de implantar o Terço dos Homens na Igreja Matriz de Nossa Senhora da
Conceição, a qual foi feita a implantação no dia 19 de Março de 2010, dia de São José. “O
Terço dos Homens foi implantado na sexta-feira, por motivo do dia de São José” explicou
Padre Amaurilo31. A implantação do Terço na Matriz teve a participação, animação e
30Amaurilo José da Silva Pároco da Paróquia em Jardim do Seridó-RN e ex-Pároco da cidade de Cruzeta-RN 31Disponível: http://afontenanet.blogspot.com/2010/04/o-terco-dos-homens-em-jardim-do-serido.html.Acesso em: 06 de novembro de 2010.
56
orientação de alguns homens da Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, de Cruzeta-RN,
que se disponibilizaram a implantarem em Jardim do Seridó-RN. No ano de 2005, enquanto
Pároco de Cruzeta-RN, o Padre Amaurilo já tinha implantado o “Terço dos Homens” naquela
cidade. Logo depois de implantado, o Terço ficou sendo rezado todas as quartas-feiras, às 19
horas, dia que a Igreja Católica dedicou a São José. Cada quarta vai aumentando o número de
participantes, mas sempre com um pensamento da necessidade de ter mais homens. Sempre
animado por um grupo de canto, sendo rezado e dirigido pelos homens da comunidade ali
presentes, contando também com o auxílio de Padre Amaurilo. “O Pároco explica que o
sentido de ser ‘Terço dos Homens’ é mostrar a necessidade masculina em nossas igrejas, por
este motivo, os homens são os participantes deste terço”. 32
Este exemplo na cidade de Jardim do Seridó-RN é um modelo seguido por várias
cidades do interior potiguar, que através da devoção a Maria, expandiu a reunião do “Terço
dos Homens” de forma intensa e significante nos movimentos carismáticos na Igreja católica
de todo o estado do Rio Grande do Norte, como também do país.
3.8 O Terço das Mulheres
Seguindo os moldes das reuniões masculinas, as mulheres também criaram sua
própria reunião semanal, deixando para trás aquele modelo tradicional da reza do terço e
inovando com um estilo mais carismático que elas denominaram de “Terço das Mulheres”. O
ritual tem as mesmas características das reuniões masculinas, porém como o nome já diz, só
para mulheres. Como o Terço do Rosário era uma oração predominantemente recitada por
mulheres, esse trabalho não foi tão divulgado pelos grupos carismáticos dentro das igrejas,
como o dos homens, porém este movimento vem crescendo a cada dia em todo o país.
De acordo com site “Terço das Mulheres”33, o movimento foi fundado em
Palmeira dos Índios-AL (Foto 15), em 01 de Maio de 2007, pelo Grupo AME (Amor Maior a
Eucaristia), elas se reúnem semanalmente nas igrejas e capelas assumindo o compromisso
de rezar o Terço diariamente em casa e de preferência com a Família. Realizam
trimestralmente grandes encontros com todas as Igrejas e Capelas participantes no município
de Palmeira dos Índios e outras cidades vizinhas alagoanas, sempre com o objetivo de resgatar
o valor da oração tão importante para a Igreja Católica e fortalecer a Espiritualidade das
32Disponível: http://afontenanet.blogspot.com/2010/04/o-terco-dos-homens-em-jardim-. Acesso em: 06 de novembro de 2010. 33Disponível em: http://tercodasmulheres.wordpress.com. Acesso em: 22 de Novembro de 2010
57
participantes, bem como prepará-las para desenvolver trabalhos sociais junto à população
carente, incentivando a promoção humana, sobretudo da mulher. Outro exemplo é o
movimento realizado na Paróquia Menino Jesus em Diadema-SP34, onde todas as sextas-
feiras, às 19:30 horas, há reunião para louvar a Maria, num momento de evangelização e
muita oração e cânticos a Nossa Senhora só para mulheres.
Foto 15 - Terço das Mulheres: Palmeira dos Índios-AL (2008) Fonte: Google
No Rio Grande do Norte, a primeira Paróquia que iniciou este movimento foi a
Igreja Matriz de São Sebastião35, na cidade de Jucurutu-RN, a 230 km de Natal, capital do
estado. Lá em 21 de janeiro de 2009, às 19:30 horas, foi criado o Grupo do Terço das
Mulheres, com o Lema: “As Mulheres com Maria”, tendo como objetivo a valorização do
Terço Mariano. O Grupo se reúne semanalmente, todas as quartas-feiras, às 16 horas, na
Matriz de São Sebastião. As mulheres se apresentam trajadas com roupas brancas e azuis,
algumas usam a camiseta personalizada com os dados do terço, portando uma vela e o Terço.
O ritual do terço das Mulheres é composto por uma procissão que tem como
percurso dá uma volta ao redor da Igreja, culminando com a entrada de todas as mulheres pela
porta principal para receber a imagem de Nossa Senhora com aplausos. Em seguida entoa o
cântico de entrada com a música “Regaço Acolhedor”, por trazer uma mensagem de amor de
Mãe, que Maria tem por todos. Após o canto de entrada e da procissão da imagem de Nossa
Senhora das Graças e da Medalha Milagrosa, há um momento para as intenções e reflexão e
logo em seguida a reza-se do terço, culminando com a consagração a Nossa Senhora das
Graças36.
34Disponível em: http://www.paroquiameninojesus.com Acesso em: 22 de Novembro de 2010 35Disponível em: http://www.paroquiadejucurutu.com.br/2010/02/como-comecou-o-terco-das-mulheres.html. Acesso em: 22 de Novembro de 2010 36Disponível em: http://www.paroquiadejucurutu.com.br/2010/02/como-comecou-o-terco-das-mulheres.html. Acesso em: 22 de Novembro de 2010
58
4. CAPÍTULO III
O TERÇO DOS HOMENS E SUAS CARACTERÍSTICAS DENTRO DE UM PERFIL
RELIGIOSO E SOCIAL DOS FREQUENTADORES
4.1 Estudo por Amostragem sobre os Frequentadores do Terço
Através de um trabalho etnográfico com os frequentadores do grupo (Foto 16),
foram observadas as diversas modalidades de comportamentos e perfis religiosos,
profissionais e financeiros desses que fazem o Grupo do “Terço dos Homens”, que nos
últimos anos vêm prevalecendo como um inovador e promissor modelo de evangelização
dentro da igreja católica.
Foi feito um questionário religioso-sócio-econômico com trinta participantes da
reunião, o mesmo foi desenvolvido em duas reuniões, que são sempre as quartas-feiras, às 19
horas. Foram aplicados sempre antes de se iniciar a reunião, no horário entre as 18 e 19 horas,
momento este da chegada dos devotos ao momento de oração.
Foto 16 – Grupo dos frequentadores do Terço dos Homens (2010) Foto: Jorimar Gomes
59
Antes de iniciar a fazer as perguntas aos colaboradores, foi informado pelo
pesquisador aos colaboradores que essa pesquisa seria um trabalho da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte (UERN) para o Curso de Ciências da Religião e que teria como tema:
“O Terço dos Homens um Novo Modelo de Devoção na Igreja do Senhor Bom Jesus da
Dores”. Foi informando também que os relatos seriam confidenciais, apesar de tratar-se de
uma participação voluntária, sem ônus e nem bônus para ambas as partes (entrevistado e
instituição), podendo a qualquer momento, o entrevistado desistir de participar e retirar seu
consentimento.
A recusa não traria nenhum prejuízo em relação com o pesquisador ou com a
instituição. O entrevistado recebia uma cópia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
onde constava o telefone e endereço do pesquisador, como também todas as informações da
pesquisa, para que se necessário, ele pudesse tirar dúvidas do projeto e de sua participação.
Contudo, após todas as diretrizes necessárias à cerca da pesquisa, alguns dos
frequentadores da reunião ficaram receosos e não quiseram responder, outros antes de
responder faziam questionamentos, em censo comum, quanto ao assunto e da necessidade do
mesmo, porém outros, esses na sua maioria, respondiam tranquilamente todas as perguntas e
ainda faziam comentários importantes sobre este novo modelo de oração para homens, que
muito enriqueceu esse trabalho. Foram feitas vinte e seis perguntas de caráter objetivo e
pessoal, nas quais foi questionado, primeiro o perfil socio-educativo e econômico, com nove
perguntas, em segundo, veio o perfil religioso, com mais nove perguntas, e por fim, o perfil
de participação nas reuniões e dos movimentos sociais que o grupo realiza, finalizando com
mais oito perguntas. Todas com o intuito geral de mapear o rito na mais profunda vivência
dos homens que ali participam. Vilhena diz que:
Não basta assistir aos rituais, ler suas descrições, ouvir falar sobre o que acontece durante a ação que neles se desenrola para que possamos, de fato, nos inteirar da riqueza de que são portadores, do sentido que os anima, da qualidade das experiências que nelas são vividas. (2005, p. 35)
Portanto, devido à imensa variedade de ritos e de sua complexidade nas
construções humanas, este questionário veio mostrar a abrangência no tocante a diversificação
do público masculino que freqüenta semanalmente o rito do “Terço dos Homens” esse que se
tornou modelo e referência evangelizadora crescente a cada reunião em todas as igrejas e
capelas católicas do país. Neste questionário é verificado que o rito é uma cerimônia sagrada
que atende a um amplo e globalizado modelo de interesses e necessidades abstratos ou até
mesmos concretos trazidos pelo público que os freqüenta.
60
4.2 O Perfil Sócio-Educativo e Econômico dos Homens na Reunião do Terço
Neste contexto, foi observado que a faixa etária da maioria dos que freqüentam a
reunião fica acima dos trinta anos (Tabela 01), com uma forte participação de homens na
faixa dos trinta a sessenta anos, na sua maioria com família constituída e dependente de sua
renda. Apresentando um modelo de homens com uma personalidade formada e com
experiência de vida (Foto 17), estando ali em busca de uma remissão de suas ações em anos
passados, ou até mesmo agradecimentos pelas conquistas e vitórias existentes em suas
trajetórias de vida.
Tabela 01 – Quantidade em porcentagem das idades do público do Teço dos Homens
Fonte: Jorimar Gomes
Outro dado importante é que todos se apresentam provenientes de bairros
periféricos da cidade e da grande área metropolitana do Natal. A maioria é de profissionais
liberais, comerciários, aposentados e estudantes que trabalham, estudam ou vivem em bairros
em torno da Paróquia do Senhor Bom Jesus das Dores ou no próprio bairro da Ribeira e que
participam do Terço na Paróquia (Tabela 02).
Tabela 02 – Tipos de Profissões dos Frequentadores
TIPOS DE PROFISSÕES DOS FREQUENTADOS
TIPOS Estudantes Comerciários Prof. Liberais Aposentados
QUANTIDADE ( %) 12% 20% 50% 18%
Fonte: Jorimar Gomes
IDADE DO PÚBLICO FREQUENTADOR
IDADE 05 a 29 30 a 60 Acima de 60
QUATIDADE ( %) 20% 68 % 12%
61
Foto 17 – Concentração dos fiéis na igreja antes do início do Terço dos Homens (2010) Foto: Jorimar Gomes
Com isso, quando terminam suas obrigações, os que moram mais afastados já
saem direto do trabalho para a igreja, a fim de participar do ritual e ficam aguardando o início
da cerimônia.
O meio de locomoção mais usado são seus próprios veículos, carros, motos e até
bicicleta são usados como meio de locomoção para se chegar à reunião, em segundo lugar
vem os que moram nos bairros próximos a igreja do Senhor Bom Jesus e no bairro da Ribeira,
que se deslocam a pé até a reunião, ficando por último os que se locomovem de ônibus para
poder chegar e participar do “Terço dos Homens” (Tabela 03).
Tabela 03 – Quantidade dos Meios de Locomoção mais usados pelos Homens
MEIOS DE LOCOMOÇÃO
TIPOS V. Próprio Ônibus A Pé
QUANTIDADE ( %) 62% 20 % 28%
Fonte: Jorimar Gomes
Já no quesito grau de escolaridade (Tabela 04), reforçando a características de
homens moradores de comunidades periféricas, com um baixo rendimento no que tange ao
nível de instrução, pois de um total de 100% dos homens, de acordo com a pesquisa, 50%, ou
seja, metade dos entrevistados é analfabeto ou tem apenas o ensino fundamental, sendo alguns
incompletos. Já os outros 50%, 30% têm o ensino médio e os 20% restantes estão cursando o
ensino superior ou já terminaram. Ao menor contato com a vida social, percebe-se, de
62
imediato, que os indivíduos são diferentes (TOMAZI, 1993, p. 85). Principalmente no caso da
educação, onde é notório que há uma disparidade exorbitante dentro dos níveis sociais, não só
em Natal-RN, mas em todo país e que também é característica presente dentro do grupo dos
homens freqüentadores do Terço. Esse dado é visível devido o rito ser uma cerimônia aberta e
de cunho social entre seus adeptos.
Tabela 04 – Porcentagem do Grau de Instrução Escolar dos Freqüentadores
GRAU DE INSTRUÇÃO ESCOLAR
GRAU Analfabeto ou E. Fundamental E. Médio E. Superior
QUANTIDADE ( %) 50 % 30% 20%
Fonte: Jorimar Gomes
4.3 O Perfil Religioso dos Homens dos Freqüentadores do Terço dos Homens
A religião predominante dos devotos e isso já era esperado é a católica (Tabela
05), pois do universo dos entrevistados, quase todos disseram que são seguidores da Igreja
Católica Apostólica Romana, apesar de uma pequena minoria, dizer que também já
freqüentou ou freqüenta as reuniões do movimento Espírita na cidade do Natal. A mesma
resposta serviu para os familiares, não havendo nenhuma distinção em relação ao
freqüentador e seus familiares. Quando indagados se participavam de algum outro movimento
dentro da igreja ou de outro modelo de evangelização, quase todos responderam que não
participavam, nem nunca participou de outro tipo de reunião evangelizadora. A minoria que
disse ter participado ou ainda participa, disseram que já foi há Encontros de Casais com Cristo
(ECC), Encontros Carismáticos e Grupos de Jovens Amigos de Cristo (EJAC) nas Paróquias
de seus bairros.
Tabela 05 – Tipos de Religião dos freqüentadores do Terço dos Homens
RELIGIÃO DOS FREQUENTADORES DO TERÇO
RELIGIÃO Católica Espírita
QUANTIDADE (%) 95 % 0,5%
Fonte: Jorimar Gomes
63
Outra informação importante e interessante para a pesquisa, é que apesar da
Paróquia do Bom Jesus celebra missas todos os dias, inclusive nos finais de semana, e ser
uma igreja freqüentada nas missas por pessoas da alta sociedade natalense, principalmente nos
finais de semana, os homens que participam das missas não participam do Ritual do Terço nas
quartas-feiras (Foto 18), como também no fluxo inverso, apenas 20% do público do terço vai
à missa no domingo na paróquia, os demais informaram que freqüentam as missas nas capelas
ou igrejas da própria comunidade. Dos entrevistados, em relação a freqüências nas missas,
50%, ou seja, a metade dos entrevistados, disseram que vão as missas de duas a quatros vezes
ao mês, porém em contrapartida, da outra metade restante, 12% nunca vão as missas,
freqüentam apenas o Terço e os 38% que restaram, raramente ou apenas uma vez ao mês é
que comparecem as missas nos domingos ou em algum dia de semana. As igrejas mais citadas
por eles para irem à missa foi a Catedral Metropolitana, no centro, a Sagrada Família, nas
Rocas, e por fim, a própria Bom Jesus na Ribeira.
Foto 18 – Igreja lotada na reunião do Terço dos Homens (2010)
Foto: Jorimar Gomes
Neste caso, na paróquia do Senhor Bom Jesus há duas características bem
marcantes, a primeira é que o público que participa das missas não participa do Terço, pois
são pessoas da alta sociedade natalense que freqüentam a paróquia nos finais de semana
participando apenas das missas e celebrações eucarísticas, por não morar no bairro da Ribeira
e nem em bairros vizinhos, mas por questões de status social ou tradição. E a segunda
característica é que o público que participa do Terço é de bairros periféricos, mas que
trabalham, estudam ou tem algum vínculo no bairro da Ribeira ou em bairros vizinhos e se
64
socializam de uma vivência religiosa através de uma integração popular, apenas nos dias de
reuniões do rito do Terço.
Quanto aos homens casados ou que moram com alguma companheira (Tabela 06),
todos eles responderam que elas são religiosas e seguem a religião católica, os incentivando a
participar do Grupo do Terço dos Homens, porém apenas 10% participam de algum
movimento dentro da Igreja Católica, como por exemplo, Grupos de Acolhimento nas igrejas
da comunidade, Legião de Maria e Canção Nova de Natal. Em relação à freqüência destas
senhoras nas missas, menos da metade destas participam das missas todas as semanas, ido em
contra-partida dos incentivos que elas fazem aos maridos e ao seu seguimento religioso.
Tabela 06 – Características das Mulheres Companheiras dos Homens do Terço
Fonte: Jorimar Gomes
4.4 A Assiduidade e a Motivação que Fortalece os Homens de Fé
Os freqüentadores do Terço apresentam características parecidas quanto as suas
assiduidades e motivações em freqüentar o ritual (Tabela 07), diferenciando apenas nas
intenções pessoais em que cada um carrega dentro de si para pedir nas suas orações e
momentos de harmonia dentro das interelações pessoais com o seu Deus. O rito refere-se,
pois, à ordem prescrita, à ordem do cosmo, à ordem das relações entre deuses e seres humanos
e dos humanos entre si (VILHENA, 2005, p.21).
Na condição de assíduo, dentro dos entrevistados, todos sem exceção vão à
reunião pelo menos uma vez ao mês, a fim de buscar uma relação de comunhão com Deus
através da oração e recitação das Ave-Marias repetidas em cada mistério do Terço Mariano.
São vários os modelos de rituais que são expressos pelos homens que participam da reunião,
esses ritos vão desde suas chegadas até o momento da saída para casa (Foto 19). Podemos
citar um exemplo desse rito à prática de tocar na imagem de Nossa Senhora na procissão de
entrada, demonstrando toda veneração àquele momento.
MULHERES COMPANHEIRAS DOS FREQUENTADORES DO TERÇO
DESCRIÇÃO Católica Incentivadora Part. Grupos de Evangelização
Freqüência nas Missas
QUANTIDADE ( %) 100 % 100% 20% 30%
65
O relacionamento que há entre santos e pessoas são potencializados por práticas
rituais de caráter devocional (VILHENA, 2005, p.93). Neste contexto Vilhena nos afirma que:
Nesses ritos é fundamental a presença de imagens, que são sagradas porque remetem ao santo que está no céu, portanto são distintas dele. Ao mesmo tempo, sediam sua presença transcendental e invisível, e por isso mesmo participam de sua força e significação. Assim compreendidas, as imagens são símbolos, porque reúnem e articulam realidades distintas: o imaterial e invisível e o material e visível. Promovem o que os especialistas de denominam coincidência opositorum, ou seja, a coincidência de realidades diferentes entre si, ou mesmo opostas, num esforço de captar, na imanência do concreto profano, a transcendência do sagrado. No geral, as pessoas que cultual os santos em suas imagens não confundem ou reduzem às segundas. Sabem que os santos foram pessoas que viveram na terra há muito tempo, em suas vidas sofreram, tiveram um comportamento exemplar e foram bondosas ajudando necessitados. Morreram e agora estão no céu, com Deus, de onde olham e protegem a quem deles continua precisando. Dessa forma, a imagem opera a unificação do passado e do presente, dos já mortos ressuscitados e, assim, vivos, e os que ainda vivem na terra e um dia morrerão, e que sabe poderão, então, conhecê-los pessoalmente. (2005, p 93)
Foto 19 – Altar da Paróquia do Senhor Bom Jesus após a Procissão de Entrada do Terço dos Homens (2010) Fonte: Jorimar Gomes
Contudo, essa assiduidade é motivada principalmente pela espiritualidade que há
no ritual e que comove os fiéis, ambas são sem dúvidas as molas mestras que impulsionam a
crescente forma de evangelização dentro do grupo do “Terço dos Homens”.
66
Tabela 07 – Assiduidade Presencial dos Freqüentadores no Terço dos Homens
Fonte: Jorimar Gomes
Outro importante motivador desse grupo é o relacionamento entre si dos que ali
congregam, pois dentro do universo dos entrevistados, todos, sem exceção, têm amigos dentro
do grupo, seja do trabalho, da comunidade ou mesmo de momentos sociais fora da
participação dentro do grupo (Foto 20). Destes 88% fizeram amigos nas reuniões, em seus
momentos de descontração antes e depois das cerimônias, como também durante os eventos
sociais realizados pelo Terço dos Homens nesses cinco anos de evangelização.
Os ritos religiosos, razão fundamental para a construção de espaços sagrados, são, simultaneamente, oportunidades de encontro interpessoal, de estabelecimento de vínculos e solidariedades entre adeptos daquela religião. Constituem espaços alternativos e criativos que suturam com fios simbólicos, o tecido social. (VILHENA, 2005, p. 118).
Foto 20 – Marcílio e Eugênio Lúcio amigos desde a origem do Terço dos Homens (2010) Fonte: Jorimar Gomes
Estes encontros interpessoais que Vilhena comenta são reforçados também dentro
do grupo, pois quando dentro do questionário foram perguntados aos entrevistados, como eles
chegaram ao grupo, mais da metade disseram que foram convidados por algum amigo ou
parente e mais de 80% ficaram sabendo do movimento do Terço só para homens em
ASSIDUIDADE DOS HOMENS NO TERÇO DESCRIÇÃO 1 a 2
Vezes/Mês 2 a 3
Vezes/Mês Todas as Semanas
QUANTIDADE (%) 10 % 12% 78%
67
conversas informais entre eles no trabalho, em bares e nas reuniões de amigos em jogos de
futebol (Tabela 08).
Tabela 08 – Tabela de como os Homens chegaram ao Grupo do Terço
Fonte: Jorimar Gomes
Essa relação interpessoal de amizade dentro do grupo também mostra a influência
de outro ponto que foi questionado na pesquisa, refere-se ao tempo de freqüência, pois entre
os entrevistados, quase a metade deles, estão pelo menos de um a dois anos participando
efetivamente no grupo, mostrando uma grande união de todos que fazem o Terço.
4.5 Homens de fé com o Terço na Mão dentro de um Espaço Sagrado
Dentro de um contexto histórico não víamos homens envolvidos em ritos ou
cerimônias religiosas, muito menos se fosse um movimento característico das mulheres, como
é o caso da reza do Terço. Na verdade essa quebra de paradigma vem acontecendo há alguns
anos e de forma positiva para o Alto Clero da Igreja Católica, pois para eles, é à volta do
homem, chefe da casa para dentro da igreja num momento de comunhão com toda a família.
São homens que hoje, após essa quebra de preconceito, são responsáveis por
conduzir reuniões e ritos, como por exemplo, à reunião do Terço dos Homens, de forma
exemplar e compromissada com a condução do louvor. Auxiliam o Padre nas diversas
funções na igreja, conduzem leituras da bíblia e fazem reflexões, orientando e também
aconselhando outros homens de como percorrer o caminho da salvação e viver em paz
consigo e seu próximo.
Pedem orações e cantam músicas de louvor de caráter emocional a Nossa Senhora
Mãe de Jesus, e para eles, vossa Mãe (Foto 21).
O relacionamento que entre santos e pessoas é potencializado por práticas rituais de caráter devocional. As orações de louvor, pedidos e agradecimento, proferidas em voz alta ou apenas em pensamento, ladainhas, novenas, tríduos, ofertas de flores e velas, toques de carinho e reverência, beijos, cumprimentos, persignações, bilhetes,
COMO CHEGOU AO GRUPO DO TERÇO DOS HOMENS DESCRIÇÃO Convite de
Amigo/Parente Convite do
Pároco Interesse
Espontâneo QUANTIDADE (%) 68 % 12% 20%
68
cânticos, integram esse rituais, que podem ser praticados espontaneamente ou sob direção de sacerdotes, tanto nas igrejas, nos cruzeiros, como nas casas. (VILHENA, 2005, p. 92)
Foto 21 – Equipe de Música no Terço dos Homens (2010) Fonte: Jorimar Gomes
É possível perceber que a ruptura do modo de vida anterior entre os adeptos
ocorre de diversas formas após freqüentar o terço dos Homens, pois são homens que na
maioria, não tinham uma tradição de entoar cânticos e recita versos de orações, tornando
assim uma vivência nova. Porém, já é normal vermos dentro do grupo alguns poucos que já
fazem trabalhos de evangelização e que desenvolvem bem o papel na coordenação dos
movimentos, pois eles apresentam uma experiência maior com o sagrado e se mostram mais
tranqüilos e adaptados com essa relação.
Apesar de haver implicitamente uma hierarquia dentro do Rito do Terço dos
Homens, todos sem exceção são tratados da mesma maneira e de forma cordial, tanto pelo
Presidente da Cerimônia37, como pelos demais fiéis que ficam no altar.
Durante um ritual, é comum que nem todos os envolvidos desempenhem os mesmos papéis e funções. Existem palavras que somente podem ser proferidas por algumas pessoas e gestos que são realizados por determinados participantes e vetados a outros. O mesmo se dá com a utilização de certos objetos que fazem parte dos rituais. Algumas pessoas podem manuseá-los, outras são proibidas de tocá-las ou vê-los. Há aquelas que presidem os rituais e as que dele participam de maneira
37 O Presidente podem ser um Padre, Frei, Diácono ou um Membro do Grupo conhecedor do Rito.
69
subordinada. É o grupo que estabelece e dá a conhecer essas regras, chamadas prescrições, rubricas ou, conforme o caso, interdições. Dessas regras costumam fazer parte à determinação prévia da seqüência das ações particulares que fazem parte do ritual. Existe, assim, uma ordem de ações internas aos ritos. (VILHENA, 2005, p. 23)
Dentro do grupo há tipo de código ético, também implicitamente, que conduz toda
disciplina dos que ali freqüentam aquela reunião, estabelecendo condutas respeitosas e
cordiais em todos os momentos do rito. É notório a adesão e o preenchimento de novas
condutas, que de forma direta, estão relacionados aos valores do grupo, principalmente aquele
“vazio interior” das coisas mundanas que nada acrescentava nas suas vidas.
Os que ali se adaptam facilmente, já na próxima reunião se apresentam com um
Terço nas mãos, ajoelha-se nas orações e invocam nas recitações repetidas das Ave-Marias as
bênçãos necessárias para si e sua família. Tornam-se outros homens e demonstram-se bastante
felizes por estarem de certa forma livre daqueles valores de mundo que não os trazia paz
interior. Preocupam-se mais com suas famílias e suas condutas, como também com os
convívios sociais, deixando aquelas ações impróprias para o passado.
Outro fato que chama atenção e que já foi comentado nesse trabalho em tópico
anterior é a característica desses homens de fé, onde uma grande quantia não participa de
outro movimento da igreja, nem mesmo das missas semanais, porém da reunião do Terço pelo
menos uma vez por mês, os mais ocupados ou retardatários, comparecem para louvar a Maria,
com as recitações e preces dos Mistérios Gloriosos entoados todas as quartas-feiras.
O ato de rezar adquire uma importância totalmente excepcional do ponto de vista fenomenológico porque constitui o momento de expressão do sentimento religioso: é a atualização da experiência religiosa, é a sua concretização aqui e agora numa ação, num gesto, numa palavra que coloca diretamente em contato com o divino. Desse ponto de vista, a oração é a verdade da religião e é, ao mesmo tempo, quase o “respiro” e o pulso de qualquer experiência religiosa autêntica. Não haveria experiência religiosa se ela não conduzisse também e sobretudo ao ato de rezar. (TERRIN, 2003, P. 108)
70
Foto 22 - Homens de Fé recitando os Mistérios Gloriosos (2010) Fonte: Jorimar Gomes
Por fim, o espaço sagrado da paróquia do Senhor Bom Jesus das Dores, transmite
uma paz e um aconchego aos homens de fé, manifestando uma relação especial em suas
simplicidades para a realização do rito. O espaço é condição de possibilidade para realizar-se
o rito (VILHENA, 2005, p.78). Para os que ali congregam, a igreja é um templo especial
dentro dos seus imaginários. Todo sagrado implica uma hierofania38, uma irrupção do sagrado
que tem como resultado destacar um território do meio cósmico que o envolve e o torna
qualitativamente diferente (ELIADE, 1992, p. 30). Com isso a fé destes homens é fortalecida
todas as vezes que eles voltam ao templo, que para eles tornou-se um espaço sagrado, forte e
muito significativo dentro do seu mundo religioso.
38Sinal, manifestação ou presentificação do sagrado (VILHENA, 2005, p. 44).
71
5. CONCLUSÃO
Durante o todo o desenvolvimento desta pesquisa busquei apresentar alguns dos
aspectos que entendi ser importante para a compreensão do rito dentro das reuniões do “Terço
dos Homens”. Analisando o grupo enquanto espaço dinâmico de relações sociais que se
desenvolvem a partir da devoção a Maria, com seus vários títulos de Nossa Senhora e sua
piedade de mãe dos aflitos e necessitados. Neste modo, dentro de uma realidade antropológica
busquei descrever de forma objetiva não só a parte histórica, desde o nascimento do Rosário,
mas toda seqüência etnográfica do ritual e dos homens, público masculino, que fazem desta
devoção, uma forma de comunhão com Deus.
Estabeleci metas e métodos a serem cumpridos, teorias, análises, investigações e
muito trabalho empírico inclusive como observador participante para que nesse estudo se
pudesse entender a verdadeira identidade e qual o principal motivo pelo qual esses homens
lotam todas as semanas a Paróquia num verdadeiro momento de oração. Dentro de uma
prática etnográfica e com uma base histórica e literária pude delinear e estabelecer pontos
importantes que permearam a compreensão e estabeleceram enfoques conclusivos à cerca da
realização desse rito popular para o público masculino dentro da Igreja Católica.
Deste modo, nasce uma percepção de que adjetivos como religiosidade popular,
para este tipo de rito, embora pertinentes para pensar algumas questões do campo, ao mesmo
tempo requer uma análise mais crítica do assunto, pois apenas essas percepções não seriam o
bastante para elucidar os processos em curso dentro do ritual do Terço dos Homens.
Mesmo se norteando por pontos que estabeleçam ainda reflexões projetadas como
populares nas suas relações com o sagrado, mas é na sua fenomenologia que observamos e
podemos compreender melhor a complexa intenção do publico que comparecem aquelas
reuniões, acatando assim, as novas relações sociais e cumprindo um novo código de ética
moral dentro de si e com seus pares.
Assim, esses homens de fé conseguem desabrochar em cada recitação da Ave-
Maria a sua alma religiosa, trazendo para dentro de si um modelo de organização interior,
criando simbolicamente uma identidade devocional em cada reunião que participa.
Com um modelo próprio e positivo dos ritos, a cada semana são apresentadas
novas intenções dentro do íntimo dos frequentadores, que crê na sua eficácia, vendo a cada
ritual, a operatividade através do simbolismo realizado durante as reuniões. Apesar do rito do
Terço dos Homens apresentar uma rotina em seu âmbito exterior, internamente ele se
72
dinamiza, transformando também a intencionalidade e o modo de ser das reuniões. Por isso, é
tão importante o estudo antropológico nestes tipos de pesquisas, pois estes ritos são ricos em
suas diversidades de se organizar e isso é importante ser estudado para um melhor
entendimento dos grupos sociais nas religiões.
Com isso, dentro de uma perspectiva antropológica e de uma pesquisa
etnográfica, foi desenvolvida neste trabalho uma estrutura de entendimento deste novo
modelo de devoção dentro da Igreja Católica que apesar de historicamente ter sido
desenvolvido por monges religiosos, passou a ser um estilo tradicional feminino, mas que
dentro de um mundo contemporâneo vem quebrando paradigmas prestes a se tornar um
grande modelo de evangelização para o público masculino católico que vivia tão afastado da
igreja.
Portanto, através desta pesquisa tentei mostrar com transparência e solidez “o Rito
do Terço dos Homens na Paróquia do Senhor Bom Jesus das Dores”, que apesar de toda essa
dissertação, ainda esta longe de suprir todas as indagações e questionamentos que este tema
apresenta dentro de uma diversidade religiosa no campo das Ciências da Religião. Espero que
este meu trabalho, sirva de inspiração para que novos estudos e novas abordagens sejam
pesquisadas dentro deste mundo tão dinâmico e complexo que são os ritos nas diversas
religiões.
73
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2010.
77
APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO E DA CULTURA - SEEC
CAMPUS AVANÇADO DE NATAL - CAN
CURSO DE CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado(a) a participar, como voluntário(a), da pesquisa –
TERÇO DOS HOMENS: UM NOVO PARADIGMA DE DEVOÇÃO NA IGREJA
CATÓLICA DO SENHOR BOM JESUS DAS DORES DE NATAL. Trata-se de um
Trabalho Acadêmico do Curso de Ciências da Religião na Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte (UERN). No caso de você concordar em participar, favor assinar ao final do
documento. Sua participação não é obrigatória, e a qualquer momento, você poderá desistir de
participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação
com o pesquisador ou com a instituição.
Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e endereço do
pesquisador podendo tirar dúvidas do projeto e de sua participação.
NOME DA PESQUISA: TERÇO DOS HOMENS: UM NOVO MODELO DE DEVOÇÃO
NA IGREJA CATÓLICA DO SENHOR BOM JESUS DAS DORES DE NATAL.
PESQUISADOR RESPONSÁVEL: JOSÉ JORIMAR PATRÍCIO GOMES
ENDEREÇO: RUA PRESIDENTE LEÃO VELOSO, N° 932 – BAIRRO DO ALECRIM –
NATAL/RN – CEP: 59032-500.
TELEFONE: (84) 88981430 – 88034364
78
CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO
Declaro para os devidos fins que li as informações contidas nesse documento, fui
devidamente informado pelo pesquisador – JOSÉ JORIMAR PATRÍCIO GOMES - dos
procedimentos que serão utilizados, riscos e desconfortos, benefícios, custo/reembolso dos
participantes E confidencialidade da pesquisa. Concordando assim em participar da pesquisa.
Foi-me garantido que posso retirar o consentimento a qualquer momento, sem que isso leve a
qualquer penalidade. Declaro ainda que recebi uma cópia desse Termo de Consentimento.
Natal – RN, 24 de Novembro de 2010.
N° NOME IDENTIDADE
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
79
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
24.
25.
26.
27.
28.
29.
30.
80
APÊNDICE B – Questionário para Coleta de Dados
O presente questionário destina-se à caracterização dos perfis sócio – educativo,
religioso e participativo dos frequentadores do Rito do Terço dos Homens na Paróquia do
Senhor Bom Jesus das Dores – Ribeira – Natal/RN
QUESTIONÁRIO
Caracterização de público que freqüenta o terço dos Homens da Paróquia do Senhor Bom Jesus das Dores – Ribeira – Natal/RN
PERFIL SÓCIO-EDUCATIVO-ECONÔMICO 1. Idade:
________________________________________________________________________ 2. Bairro de
residência:_______________________________________________________________ 3. Ocupação profissional:
________________________________________________________________________ 4. Bairro em que trabalha:
________________________________________________________________________ 5. Meio de locomoção até a reunião do terço:
( ) Veículo próprio ( ) Ônibus ( ) Trem ( ) A pé ( ) Outro: _____________________________________________________________________
6. Grau de escolaridade:
( ) Sem escolarização ( ) Ensino Fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo ( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino Médio completo ( ) Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo Formação: ___________________________________ ( ) Pós-graduação
81
7. Estado civil ( ) solteiro ( ) casado ( ) separado ( ) outro: _____________________________________________________________
8. Número de membros da família que dividem renda e morada (Cônjuge, filhos, pais e
outros): _________________________________________________________________ 9. Faixa de renda familiar:
( ) até um salário mínimo ( ) De 1 a 2 salários mínimos ( ) De 2 a 4 salários mínimos ( ) De 4 a 6 salários mínimos ( ) Mais de seis salários mínimos
PERFIL RELIGIOSO 10. Religião:
( ) Católica ( ) Outra: _____________________________________________________________________
11. Frequenta atividades de religiões não-católicas?
( ) não ( ) sim Qual? _____________________________________________________________________
12. Participa de outros grupos ou movimentos católicos?
( ) não ( ) sim Qual? _____________________________________________________________________
13. Frequenta a missa com que assiduidade?
( ) Nunca vou ( ) Raramente ( ) uma vez por mês em média ( ) duas vezes por mês em média ( ) todas as semanas
14. Tem uma paróquia de predileção ou maior frequência à missa? ( ) não ( ) sim Qual: ___________________________________
15. Sua família é católica? ( ) não ( ) sim
16. Sua companheira é católica? ( ) não ( ) sim
17. Sua companheira participa de grupos/movimentos católicos? ( ) não ( ) sim Qual: ___________________________________
82
18. Sua companheira frequenta a missa com que assiduidade? ( ) Nunca vai ( ) Raramente ( ) uma vez por mês em média ( ) duas vezes por mês em média ( ) todas as semanas
PEFIL DE PARTICIPAÇÃO NO TERÇO DOS HOMENS 19. Tempo de sua freqüência no grupo:
( ) 1ª vez ( )1 mês ( ) 1-3 meses ( ) 3- 6 meses ( ) 6 meses – 1 ano ( ) 1- 2 anos ( ) Mais de 2 anos ( ) Desde a origem do grupo
20. Qual o seu grau de assiduidade às reuniões do terço? ( ) Nunca vou ( ) Raramente ( ) uma vez por mês em média ( ) duas vezes por mês em média ( ) todas as semanas
21. Chegou ao grupo através de: ( ) Convite pessoal de amigos ( ) Convite de parentes ( ) Sugestão da companheira ( ) Convite de pároco ( ) Interesse espontâneo ( ) Outro: ________________________________________________________________
22. Soube do funcionamento do grupo através de: ( ) Conversa com conhecidos ( ) Conversa com desconhecidos ( ) Comunicado na celebração da missa ( ) Meios de comunicação ( ) Outro: ________________________________________________________________
23. Tem amigos que freqüentam o grupo? ( ) não ( ) sim
24. Os amigos que freqüentam o grupo são:
( ) amigos só da reunião do terço ( ) amigos com grau de parentesco ( ) amigos com vínculo da comunidade (p. ex. vizinho) ( )amigos do trabalho
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25. Fez novas amizades no grupo? ( ) não ( ) sim
26. O que o motiva a freqüentar as reuniões do terço dos homens? ( ) a espiritualidade ( ) a obediência à igreja ( ) o estímulo do padre ( ) o apoio familiar ( ) a fraternidade dos amigos ( ) o interesse em criar novos amigos
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ANEXO A – Imagem do banner do Estandarte do Terço dos Homens na Paróquia do
Senhor Bom Jesus das Dores – Ribeira – Natal/RN