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PREVALÊNCIA DE LESÕES BUCAIS EM HANSENIANOS E SEQUELADOS PELA HANSENÍASE, MANAUS, AMAZONAS
MARGARETH YURIE OBARA AN
MANAUS
2013
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR. HEITOR VIEIRA DOURADO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS
MARGARETH YURIE OBARA AN
PREVALÊNCIA DE LESÕES BUCAIS EM HANSENIANOS E SEQUELADOS PELA HANSENÍASE, MANAUS, AMAZONAS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em Convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, para obtenção do titulo de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas.
Orientador: Dr. José Antônio Nunes de Mello Co-Orientador: Dr. Sinésio Talhari
MANAUS
2013
i
Ficha Catalográfica
O12p Obara An, Margareth Yurie. Prevalência de lesões bucais em hansenianos e
sequelados pela hanseníase, Manaus, Amazonas / Margareth Yurie Obara An. -- Manaus : Universidade do Estado do Amazonas, Fundação de Medicina Tropical, 2013.
60 f. : il.
Dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical – UEA/FMT e Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, 2013.
Orientador: Profº Drº José Antônio Nunes de Melo.
Co-orientador: Profº Drº Sinésio Talhari.
1. Lesões bucais - Hansenianos - Prevalência 2. Saúde bucal - Hansenianos I. Título.
CDU: 614.546
Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária da Escola Superior de Ciências da Saúde – UEA Sheyla Lobo Mota.
FOLHA DE JULGAMENTO
Título: “Prevalência de lesões bucais em hansenianos e sequelados pela hanseníase, Manaus, Amazonas”. Orientador: Prof. Dr. José Antônio Nunes de Mello Membros Titulares:
1. José Antonio Nunes de Mello (UEA)
2. Mônica Nunes Souza Santos (UEA/FUAM)
3. Maria Fulgência Costa Lima Bandeira (UFAM) Membros Suplentes:
1. Jorge Augusto de Oliveira Guerra (FMT-HVD)
2. Jonas Alves de Oliveira (UEA)
“A vida é algo interessante. É feita de sonhos e realidades.
Pode-se sonhar e viver sonhando.
Pode-se viver a realidade sem sonhos e pode-se fazer da realidade um sonho.
Não há limites nos sonhos, mas os limites existem na realidade.
Há os que nunca sonham e não querem sonhar.
Há os que vivem sonhando e transformam seus sonhos em realidade.
Há os que querem alcançar os sonhos de Deus e transformá-los em realidade.
Para estes, não há limites, pois para Deus não há o que seja impossível.
Um projeto onde se busca o bem do próximo é um sonho se transformando em realidade”.
Margareth Yurie Obara An
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho de pesquisa a Deus, que me deu capacidade e forças para
chegar até aqui. Sem Ele, nada do que foi feito seria realizado.
E ao meu marido, que em meio às lutas para concretizar esse sonho, teve que
partir para estar junto do Pai que o chamou. Mesmo enfermo e necessitando de
maiores cuidados e atenção, procurou me ajudar em tudo o que pôde e como pôde.
AGRADECIMENTO ESPECIAL
Agradeço em especial ao meu orientador que teve paciência e compreensão com minhas
limitações, que me deu um voto de confiança, quando eu mais precisava e que me apoiou,
incentivou e ajudou no que lhe foi possível, com toda a boa vontade.
Devo lhe muito, Professor Doutor José Antônio Nunes de Mello.
Que Deus o recompense em justa medida o que eu nunca poderei lhe pagar!
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. José Aldemir de Oliveira, Magnífico Reitor da Universidade do Estado
do Amazonas, pela oportunidade de realização deste curso.
Ao Dr. Sinesio Talhari e Dra. Maria das Graças Costa Alecrim, Diretores da
Fundação de Medicina Tropical, pela participação na realização do curso.
Ao Prof. Dr. Marcus Vinícius Lacerda, Coordenador do Programa de Medicina
Tropical.
A CAPES pelo apoio financeiro e à pesquisa por meio da bolsa e dos cursos
oferecidos.
A SUFRAMA pelo apoio financeiro e institucional à pesquisa.
A Fundação MURAKI pelo apoio financeiro e institucional.
Ao Prof. Dr. Sinesio Talhari, pelo seu interesse, apoio e disposição em participar da
co-orientação deste estudo.
A todos os professores que ministraram as disciplinas do curso de pós-graduação.
Aos meus colegas de turma pela amizade e apoio nas horas necessárias.
Aos meus quatro filhos Paulo Aquila, David Michael, Charis Rachel e Vitoria Priscila,
por terem a paciência de dividir as preciosas horas da sua mãe com este trabalho.
Aos meus pais Tereza e Mitsuru Obara que me deram todo apoio e incentivo.
Ao Professor Msc. Jesem Di Orellana (epidemiologista -FIOCRUZ), Msc. Sergio
Sakata (FGV), Msc. Ana Paula Nagaoka (enfermeira), Dra. Raquel Kinoshita Sano
(dermatologista - USP), Monica Murakami (fisioterapeuta), Junior (epidemiologista -
FUAM), Marcilene Vinhorte (acadêmica de Odontologia - UEA), Renata Cerquinho
(Acadêmica de Odontologia – UEA), Eric (estatístico - FMTAM), Maria do Rosário
Angelim da Silva (Cirurgiã-dentista - FOM), Paulo Vitor (Acadêmico de Odontologia –
UEA), Maria Rosineide Carvalho Teixeira (estudante de técnico de enfermagem),
Estéfano (técnico de enfermagem), Andreza Moraes (teóloga).
RESUMO O grande comprometimento da qualidade de vida e a carência de informações sobre a saúde bucal dos indivíduos sequelados de hanseníase deram origem a este estudo, que teve como objetivo investigar se as sequelas interferem na frequência de lesões bucais. Da amostra de 343 indivíduos, 310 preencheram todos os requisitos, sendo divididos entre sequelados (106), não sequelados (97) e grupo controle sem Hanseníase (107). Encontrou-se associação entre edentulismo e os sequelados (p < 0,001). Necessitavam de próteses totais 82% (87/106) dos sequelados, 35% (34/97) dos não-sequelados e 34% (36/107) do grupo controle. Observou-se associação onde 45% dos sequelados apresentaram formas graves de doença periodontal (p = 0,013). As medianas do CPOD indicam índice mais elevado para o grupo de sequelados em relação aos grupos sem sequelas e controle (p-valor <0,05). Logo, conclui-se que as sequelas incapacitantes de hanseníase constituem fator de risco para edentulismo, cárie e doença periodontal. Palavras-chave: Hanseníase, lesões bucais, sequelados de hanseníase.
ABSTRACT
The strong commitment to quality of life and the lack of information on the oral health of leprosy sequelae individuals give rise to this research/study, which aimed to investigate whether the sequelae interfere with the frequency of oral lesions. Sample of 343 individuals, 310 met all the requirements, being divided between sequelae patients (106), no sequelae patients (97) and control group without leprosy (107). It was found an association between edentulism and sequelae patients (p <0.001). 82% (87/106) of sequelae patients, 35% (34/97) of non-sequelae and 34% (36/107) in the control group needed dentures. An association was observed where 45% of sequelae had severe forms of periodontal disease (p = 0.013). The medians indicate higher DMFT index for the group of sequelae in relation to groups without sequelae and control (p-value <0.05). Therefore, it is concluded that the disabling sequelae of leprosy constitute a risk factor for tooth loss, dental decay and periodontal disease. Key-Words: Leprosy, oral lesions, leprosy sequelae
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1 2 REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................ 3 2.1 A Doença .................................................................................................. 3 2.2 Diagnóstico ............................................................................................... 3 2.3 Aspectos Epidemiológicos ........................................................................ 4 2.4 Classificação da doença ........................................................................... 5 2.5 Sequelas da doença ................................................................................. 6 2.6 Lesões Bucais Específicas e Inespecíficas .............................................. 10 3 OBJETIVOS ................................................................................................. 18 3.1 Objetivo Geral ........................................................................................... 18 3.2 Objetivos Específicos ................................................................................ 18 4 METODOLOGIA .......................................................................................... 19 4.1 Modelo de Estudo ..................................................................................... 19 4.2 Universo de Estudo ................................................................................... 19 4.3 Método de Seleção da Amostra ................................................................ 19 4.4 Cálculo do Tamanho da Amostra .............................................................. 19 4.6 Tipo de amostra: Não probabilística .......................................................... 21 4.7 Critérios de Elegibilidade ........................................................................... 23 4.7.1 Inclusão .................................................................................................. 23 4.7.2 Não inclusão ........................................................................................... 23 4.8 Aspectos Éticos ......................................................................................... 23 4.9 Método de Coleta de Dados: ..................................................................... 24 4.9.1 Instrumentos de Coleta: ......................................................................... 24 4.9.2 Variáveis Estudadas: .............................................................................. 33 4.10 Análise dos Resultados: .......................................................................... 33 5 RESULTADOS ............................................................................................. 35 5.1 DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS .......................................................... 35 5.2 LESÕES BUCAIS ...................................................................................... 36 5.2.1 LESÕES BUCAIS ESPECÍFICAS (Relacionadas à hanseníase) .......... 36 5.2.2 LESÕES BUCAIS INESPECÍFICAS: ..................................................... 36
5.3 DIFICULDADE DE HIGIENIZAÇÃO BUCAL ........................................... 38 5.4 EDENTULISMO ....................................................................................... 39 5.5 DOENÇA PERIODONTAL ....................................................................... 39 5.5.1 PRESENÇA DE CÁLCULO DENTAL ................................................... 41 5.5.2 BOLSA PERIODONTAL ....................................................................... 41 5.5.3 PERDA DE INSERÇÃO ....................................................................... 41 5.6 ÍNDICE CPOD ......................................................................................... 42 6 DISCUSSÃO .............................................................................................. 43 6.1 LESÕES BUCAIS ESPECÍFICAS: .......................................................... 43 6.2 LESÕES BUCAIS INESPECÍFICAS: ...................................................... 44 6.3 HIGIENIZAÇÃO BUCAL ......................................................................... 45 6.4 EDENTULISMO ...................................................................................... 45 6.5 DOENÇA PERIODONTAL ...................................................................... 47 6.6 CPOD ...................................................................................................... 48 7 CONCLUSÕES .......................................................................................... 49 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 50 9 ANEXOS..................................................................................................... 55 9.1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ........................................ 56 9.2 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para Fotografias ............. 57 9.3 Questionário ............................................................................................ 58 9.4 Ficha de exame clínico bucal .................................................................. 59 9.5 Ficha de avaliação socioeconômica ........................................................ 60 10 DIVULGAÇÃO .......................................................................................... 61
INDICE DE TABELAS
Tabela 1: Amostragem por quotas ou proporcionais ......................................... 21 Tabela 2: Número dos participantes subdivididos entre os grupos A, B e C ..... 35 Tabela 3: Dados sócio-demográficos dos participantes segundo o grupo de pesquisa ............................................................................................................. 35 Tabela 4: Presença de lesões bucais relacionadas à hanseníase .................... 36 Tabela 5: Presença de lesão bucal inespecífica ................................................ 37 Tabela 6: Presença de lesões bucais ................................................................ 37 Tabela 7: Dificuldade de higienização conforme o grupo de pesquisa .............. 38 Tabela 8: Dificuldade de higienização e edentulismo conforme o grupo de pesquisa ............................................................................................................. 38 Tabela 9: Edentulismo ....................................................................................... 39 Tabela 10: Doença periodontal nos sequelados ................................................ 39 Tabela 11: Gravidade da doença periodontal .................................................... 40 Tabela 12: Doença periodontal .......................................................................... 40 Tabela 13: Cálculo dental .................................................................................. 41 Tabela 14: Bolsa periodontal ............................................................................. 41 Tabela 15: Perda de inserção conforme o grupo da pesquisa .......................... 41 Tabela 16: Mediana do índice CPOD conforme o grupo da pesquisa .............. 42 Tabela 17: Média do CPOD entre as idades de 35 a 44 anos .......................... 42 Tabela 18: Comparação de achados entre estudos de lesões bucais............... 44 Tabela 19: Comparação entre estudos sobre a necessidade de prótese ......... 46 Tabela 20: Doença periodontal em hansenianos .............................................. 47
INDICE DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Mal perfurante plantar............................................................................ 7 Figura 2: Acometimento nasal, bucal e madarose ............................................... 8 Figura 3: Perda progressiva dos quirodáctilos ..................................................... 8 Figura 4: Mãos em garra (mão simiesca) ............................................................ 9 Figura 5: Sequelas nos pés ................................................................................. 9 Figura 6: Lesões tróficas em mãos .................................................................... 10 Figura 7: Reabsorções em mãos ....................................................................... 10 Figura 8: Atrofia da espinha nasal anterior ........................................................ 11 Figura 9: Atrofia da crista alveolar anterior do maxilar com ausência de úvula . 12 Figura 10: Hospital Geral Dr. Geraldo da Rocha ............................................... 21 Figura 11: Atendimento no Hospital Alfredo da Matta ....................................... 22 Figura 12: Moradia da Colônia Antônio Aleixo ................................................... 22 Figura 13: Operador com mesa clínica .............................................................. 24 Figura 14: Exame clínico bucal em sequelado no Hospital Dr. Geraldo da Rocha.................................................................................................................. 25 Figura 15: Esquema de exame periodontal (gingivecsoft.org) ........................... 25 Figura 16: Atrofia da crista alveolar anterior da maxila ...................................... 26 Figura 17: Ausência de úvula ............................................................................. 26 Figura 18: Língua fissurada e geográfica ........................................................... 27 Figura 19: Língua geográfica e saburrosa ......................................................... 27 Figura 20: Língua pilosa .................................................................................... 27 Figura 21: Língua ressecada ............................................................................. 28 Figura 22: Língua com aspecto moriforme ........................................................ 28 Figura 23: Lesão periférica de células gigantes ................................................ 28 Figura 24: Lesão condilomatosa ....................................................................... 29 Figura 25: Lesões de cárie e doença periodontal ............................................. 29 Figura 26: Foto antes e depois da limpeza ....................................................... 30 Figura 27: Reparo e reembasamento feitos com massa epoxi ......................... 30 Figura 28: Prótese com ausência de dentes ..................................................... 31 Figura 29: Hiperplasia por prótese fraturada e com câmara de sucção ............ 31 Figura 30: Prótese parcial com impregnações de bactérias cromófilas ............ 31 Figura 31: Próteses quebradas ainda em uso ................................................... 31 Figura 32: Higienização inadequada ................................................................. 32 Figura 33: Prótese desgastada pelo uso ........................................................... 32 Figura 34: Lesão leucoplásica em lábio inferior ................................................. 32 Figura 35: Prótese com desgaste vestibular por escovação vigorosa ............... 33
LISTA DE SIGLAS
AM - Amazonas BAAR – Bacilo Álcool Ácido Resistente BB – Borderline-Borderline BP – Bolsa Periodontal BT – Borderline- Tuberculóide BV- Borderline-Virchowiano CEP – Comitê de Ética em Pesquisa CPI – Índice Periodontal Comunitário CPOD – Índice de Dentes Cariados, Perdidos e Obturados FMTAM – Fundação de Medicina Tropical do Amazonas FUAM - Fundação Alfredo da Mata GIF – Grau de Incapacidade Física HGR – Hospital Geral Dr. Geraldo da Rocha HI – Hanseníase Indeterminada HT – Hanseníase Tuberculóide HV – Hanseníase Virchowiana MB - Multibacilar MH – Mal de Hansen MPP – Mal perfurante Plantar MS – Ministério da Saúde OMS – Organização Mundial de Saúde PB – Paucibacilar PCR – Proteína C-Reativa PQT – Tratamento Poliquimioterápico PT – Prótese Total (dentadura) SB Brasil – Saúde Bucal Brasil SUSAM - Secretaria de Estado da Saúde T - Tuberculóide TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UEA – Universidade Estadual do Amazonas V - Virchowiano WHO – World Health Organization
1
1 INTRODUÇÃO
Apesar de ser curável e tratável, a hanseníase é uma doença ainda
considerada um relevante problema de saúde pública no Brasil por apresentar
um nível alto de endemicidade. É uma doença milenar também conhecida como
Mal de Hansen (MH) e denominada durante muitos séculos por lepra. Não
sendo diagnosticada e tratada precocemente, pode levar a sequelas
irreversíveis e incapacitantes, trazendo ainda consigo um grande estigma social.
Depois da introdução da poliquimioterapia (PQT) em 1982, houve um
declínio nos coeficientes de prevalência da endemia, como também a
prevenção de deformidades nos enfermos, sendo baixas as falhas terapêuticas
(inferiores a um doente por ano em 1000 tratados) (Talhari, et al. 2006). O Brasil
é o segundo país mais endêmico do mundo, sendo superado apenas pela Índia,
e o único país da América Latina que ainda não atingiu a meta de eliminação
(Imbiriba, et al, 2008). O estado do Amazonas manteve-se hiperendêmico até
2002 (>40,0/100.000 hab.) (Boletim Epidemiológico – FUAM, 2009).
As sequelas mais comumente encontradas são as “mãos em garra”, mal
perfurante plantar (MPP), amputações de dedos das mãos e pés, amputações
dos pés e alterações oculares. Encontram-se ainda lesões na face, nasofaringe
e orofaringe, com atrofia da espinha nasal anterior, atrofia da crista alveolar
anterior do maxilar e alterações inflamatórias endonasais, o que resulta em
erosão óssea com perda de dentes nessa área. As lesões podem se localizar
no palato duro e mole, úvula, ventre da língua, lábios e gengivas (Chimenos, et
al, 2006). Além destas lesões bucais específicas de MH, estão as lesões bucais
resultantes das sequelas que dificultam a adequada higiene bucal e desmotivam
a utilização de próteses dentárias (Russo, et al, 2005).
No período anterior à PQT os doentes acometidos por MH eram isolados em
colônias ou leprosários. Crianças eram afastadas de seus pais e passavam a
2
viver de forma isolada da sociedade nestes hospitais-colônia. Hoje, com o
advento da cura, estes hospitais-colônia foram praticamente desativados,
continuando, porém, como locais de abrigo para os que já foram tratados e
curados mas não têm para onde ir, como também recebem os sequelados de
hanseníase para tratamento das feridas. No Brasil existem 31 ex-colônias de
hansenianos (Faria, 2009).
No Amazonas, na periferia de Manaus se encontra a Colônia Antonio Aleixo,
um bairro inteiro bem afastado e isolado da área urbana, destinado a acolher os
acometidos por MH. Hoje, ali se encontram cerca de 1.400 pessoas sequeladas
de MH, de acordo com levantamento realizado pela Policlínica Antônio Aleixo no
ano de 2010, como também convivem pessoas sadias que nunca tiveram MH,
familiares ou não. Nesta Colônia está localizada o Hospital Geral Dr. Geraldo da
Rocha, onde estão internados cerca de 70 sequelados de hanseníase, os quais
fazem parte deste estudo.
Este trabalho tem por objetivo verificar e informar a atual situação bucal
desta população que se encontra à margem da sociedade, trazendo à tona sua
realidade ainda desconhecida, devido a escassez de estudos deste cunho e
apresentar suas necessidades às autoridades competentes para adequarem os
serviços de forma eficaz em prol da melhoria da qualidade de vida desta
população desde outrora tão negligenciada.
3
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 A Doença
A hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica causada pelo
Mycobacterium leprae (M. leprae ou bacilo de Hansen), um bacilo gram-positivo,
álcool-ácido-resistente (BAAR), intracelular do macrófago, com predileção pelas
células cutâneas e células dos nervos periféricos (Marchese; Marchese; Rivitti,
1997). A doença recebeu esse nome em homenagem ao cientista norueguês
Gerhard Armauer Hansen que em 1874 identificou o bacilo. O tempo de
multiplicação do bacilo é de 11 a 16 dias e apenas 1% parece permanecer
viável no meio ambiente por até 7 dias, por isso é considerada uma doença de
baixa infectividade, levando em média de dois a cinco anos para se manifestar,
ou até mais nos casos multibacilares (Talhari, et al, 2006).
A transmissão se dá por contato íntimo e prolongado entre doentes
multibacilares (MB) sem tratamento e indivíduos suscetíveis à doença; também
a participação de fatores genéticos e fenótipos clínicos da hanseníase
contribuem para a infecção, apesar do número exato de genes envolvidos, suas
funções biológicas e suas variações genéticas serem ainda desconhecidos
(Prevedello; Mira, 2007).
2.2 Diagnóstico
Segundo a OMS, um caso suspeito de hanseníase envolve lesões
hipopigmentadas ou hiperpigmentadas na pele, com alteração de sensibilidade,
dormência ou formigamento das mãos e/ou pés, infiltração na face ou lóbulos
da orelha. O diagnóstico da hanseníase é realizado por meio do exame clínico
das alterações dermatoneurológicas da doença. No estágio inicial da doença, a
neurite hansênica não apresenta lesão importante. Porém, sem tratamento
adequado, frequentemente, pode ocorrer neurite crônica e comprometimento
dos nervos periféricos, com dor e espessamento, perda da sudorese (anidrose),
perda de pelos (alopecia), perda das sensibilidades térmica, dolorosa e tátil e,
por fim, redução da força e paralisia muscular, principalmente nas pálpebras,
4
membros superiores e inferiores, dando origem a incapacidades e deformidades
(Ministério da Saúde, 2002).
O exame histopatológico da pele é realizado quando existe dúvida no
diagnóstico ou classificação; indica-se a biópsia do nervo quando há dúvida no
diagnóstico diferencial com outras neuropatias. Para a classificação de casos
neurais sem lesão cutânea é recomendado fazer o teste de Mitsuda (Ministério
da Saúde, 2000). Este é um teste de intradermoreação baseado na resposta
imunológica do indivíduo através de reação retardada do tipo celular, de alta
especificidade, frente ao bacilo Mycobacterium leprae, inoculado por via
intradérmica (Ministério da Saúde, 1993).
2.3 Aspectos Epidemiológicos
Apesar de ser curável e do consequente decréscimo em sua prevalência
desde meados dos anos 1980 (Neville, et al, 2004), a hanseníase continua
sendo um relevante problema de saúde pública. O Brasil é o segundo país
mais endêmico do mundo (Rao, 2004) e o único país da América Latina a não
atingir a meta de eliminação (Imbiriba, et al, 2008). De 1998 a 2005 o
coeficiente de prevalência do país reduziu de 4,93/10.000 hab. (1998) para 1,48
(2005); contudo, a detecção persiste em níveis de endemicidade (2,16/10.000
hab. em 1998 e 2,10/10.000 hab. em 2007) (Ministério da Saúde, 2007;
Ministério da Saúde, 2008).
Até o final de 1993, o coeficiente de prevalência na região Norte era de
28,05/10.000, o mais alto entre todas as outras regiões naquele mesmo ano. O
estado que apresentou a maior taxa de prevalência por 10.000 habitantes foi o
Amazonas (39,4). A taxa de detecção na região Norte foi de 58,65/100.000, a
segunda maior do país (Fundação Nacional de Saúde, 1993; Glatt; Alvim,
1995). O estado do Amazonas manteve-se hiperendêmico até 2002
(>40,0/100.000 hab.), segundo parâmetro do MS (Boletim Epidemiológico –
FUAM, 2009). Para a OMS, são consideradas altas as taxas de detecção acima
5
de 10 casos/100.000 habitantes e a situação epidemiológica da hanseníase na
região em questão configura-se ainda mais grave devido aos possíveis casos
encobertos (Lins-Lainson; Carneiro, 1995).
O estado do Amazonas detectou 822 casos novos de hanseníase em 2009,
apresentando uma tendência decrescente nos coeficientes de detecção de
6,94/10.000 habitantes em 1989 para 2,10/10.000 hab. em 2009 (redução de
69,7%) - nível ainda alto de endemicidade. Do total de casos novos, 44,1%
residiam em Manaus e 55,9% eram residentes em 49 municípios do estado
(Boletim Epidemiológico – FUAM, 2009).
2.4 Classificação da doença
Essa doença é caracterizada pelo acometimento dermatoneurológico e, de
acordo com a resposta imunecelular de cada indivíduo acometido, pode evoluir
para diferentes formas, cujas características deram origem às classificações
hoje existentes.
Conforme Rabello (1937), que foi um dos primeiros a estabelecer o conceito
das formas polares de hanseníase, a doença teria início na hanseníase
indeterminada (HI), evoluindo para a forma polar tuberculóide (HT), se o
paciente tiver boa resistência; ou para a forma virchowiana (HV ou HL –
lepromatosa), se não conseguirem organizar uma resposta, permitindo a
multiplicação do M. leprae. Entre os dois pólos estáveis: o tuberculóide (T) e o
virchowiano (V) estão as formas intermediárias, instáveis. Ridley e Jopling
(1962) propuseram uma classificação espectral, baseada em parâmetros
clínicos e histopatológicos, que subdivide os pacientes das formas polares em
borderlines ou “dimorfos”: borderline-tuberculóides (BT), borderline-borderline
(BB) e borderline-virchowianos (BV). Conforme tais parâmetros, as formas em
que os pacientes apresentam resistência ao bacilo manifestam poucas lesões
dermatológicas, porém com dano neural mais precoce; e as formas que
apresentam pouca resistência ao bacilo manifestam maior número de lesões
6
dermatológicas, sempre acompanhadas de hipoestesia local e dano neural mais
tardio.
Visando o tratamento poliquimioterápico (PQT), a Organização Mundial de
Saúde (OMS) propõe classificar os doentes em: a) paucibacilares (PB): que
correspondem às formas indeterminada, tuberculóide e a maior parte dos
borderline-tuberculóides, com baciloscopia negativa; b) multibacilares (MB): que
correspondem às formas BB, BV e V, todos com baciloscopia positiva. Isto
permitiu a utilização de dois diferentes algoritmos de tratamento, composto por
combinações entre as drogas dapsona, rifampicina e clofazimina (Talhari, et al,
2006; Ministério da Saúde, 2002; WHO, 1982).
2.5 Sequelas da doença
Como o M. leprae tem predileção pelas células cutâneas e células dos
nervos periféricos, na pele, pode provocar a formação de grandes lesões
cutâneas, desde manchas, pápulas, placas e nódulos, até infiltração difusa, de
acordo com a resposta imunológica de cada indivíduo. Quanto maior a
imunidade celular ou resistência, menor o número de lesões cutâneas e menor
o número de bacilos, porém o dano neural será mais precoce. Quanto menor a
imunidade celular, mais difusa e simétrica será a infecção, apresentando um
grande número de lesões cutâneas, maior número de bacilos e
comprometimento neural mais tardio (Talhari, et al. 2006).
Na HT, o acometimento de troncos nervosos pode levar até a necrose
caseosa do nervo (“pseudo-abscesso de nervo”) e incapacidades. Estas
manifestações, quando ocorrem sem a presença de lesões cutâneas, são
classificadas como “forma neural pura”. Ainda na HT verifica-se a alteração da
sensibilidade térmica, dolorosa e tátil, esta última nas lesões mais antigas. Há
queda de pelos e a sudorese é diminuída ou ausente. Nas mãos e pés, a
insensibilidade e a paralisia de grupos musculares predispõem a garras,
calosidades, úlceras tróficas, mal perfurante plantar e reabsorções ósseas em
decorrência de traumas e infecções nas partes moles e estruturas ósseas. Em
7
relação aos demais tipos intermediários de hanseníase, quanto mais próximos
do pólo T, mais graves serão as lesões neurológicas e deformidades, se não
houver orientação adequada e periódica (Talhari, et al. 2006).
Figura 1: Mal perfurante plantar
A HV, pode iniciar com infiltrações, surgindo pápulas, tubérculos, infiltrações
em placas e lesões circunscritas (hansenomas). As orelhas também podem
apresentar hansenomas; as sobrancelhas, cílios e supercílios começam a cair,
os sulcos naturais da face são acentuados e, com a infiltração intensa e difusa e
preservação dos cabelos, a fisionomia apresenta um aspecto denominado de
“fácies leonina”. As extremidades dos membros superiores e inferiores ficam
infiltradas e ressecadas, às vezes inchadas, com a pele brilhosa, e as regiões
plantares e palmares arroxeadas e cianóticas. É frequente o comprometimento
da mucosa nasal, podendo ocorrer perfuração do septo nasal e deformação do
nariz. Lesões em boca, língua, faringe, laringe, olhos e órgãos internos também
podem ocorrer (Talhari, et al. 2006).
8
Figura 2: Acometimento nasal, bucal e madarose
As sequelas mais comumente encontradas são as “mãos em garra”, mal
perfurante plantar (MPP), amputações de dedos das mãos e pés, amputações
dos pés e alterações oculares. A presença destas deformidades indica
diagnóstico tardio e/ou tratamento inadequado. As sequelas que interferem
diretamente na saúde bucal são as mãos em garra, as amputações de dedos
das mãos e o comprometimento ocular, que impedem a adequada higiene bucal
e desmotivam a utilização de próteses dentárias. A atrofia e amputação dos pés
ou dos pododáctilos dificultam a locomoção e desmotivam a higiene pessoal. As
sequelas tornam o paciente dependente da enfermagem, e o comprometem
psicossocialmente, bem como sua qualidade de vida e sua saúde bucal (Russo,
et al, 2005).
Figura 3: Perda progressiva dos quirodáctilos
9
Figura 4: Mãos em garra (mão simiesca)
Figura 5: Sequelas nos pés
De acordo com a classificação de deformidades adotadas pelo Ministério da
Saúde (MS) os graus de incapacidade física foram divididos em: Grau 0 (GIF 0)
– nenhum problema com os olhos, mãos e pés devido à hanseníase; Grau 1
(GIF I) – diminuição ou perda de sensibilidade nos olhos, nas mãos e/ou nos
pés; e Grau 2 (GIF II) – nos olhos: lagoftalmo e/ou ectrópio, triquíase,
opacidade corneana central, acuidade visual menor que 0,1 ou não conta dedos
a 6 metros, nas mãos: lesões tróficas e/ou lesões traumáticas, garras,
reabsorção, mão caída; nos pés: lesões tróficas e/ou traumáticas, garras,
reabsorção, pé caído e contratura do tornozelo (Rodrigues et al., 1997;
Ministério da Saúde, 2002).
10
Figura 6: Lesões tróficas em mãos
Figura 7: Reabsorções em mãos
Como o grau de incapacidade está relacionado com o tempo de doença, o
indicador permite uma avaliação indireta da efetividade das atividades de
detecção precoce de casos e da prevalência oculta, que é um parâmetro
importante, cuja obtenção requer investigações específicas. As incapacidades
físicas e deformidades permanentes, comprometem significativamente a
qualidade de vida dos pacientes, com auto-estigmatização e vergonha,
agravadas pelo fato de a enfermidade estar socialmente relacionada à ideia de
doença mutilante e incurável, levando a atitudes de rejeição e discriminação
para com o doente, com a eventual exclusão social (Martins et al., 2008; Singhi,
et al, 2004; Kaufmann et al., 1982; Zogbi, 2008; Aquino et al., 2003).
2.6 Lesões Bucais Específicas e Inespecíficas
As lesões bucais ocorrem mais frequentemente em áreas da boca com baixa
temperatura super
11
ficial (Scheepers, 1998). Rendall, McDougall e Willis (1976) demonstraram que
a temperatura relativamente baixa do processo alveolar premaxilar pode ser
importante para a localização da doença nesta região. Motta e col. (2008)
encontraram três pacientes da forma lepromatosa com lesões bucais
específicas no palato. Lesões avançadas na face, nasofaringe e orofaringe são
importantes na história médica e social da hanseníase (Scollard and Skinsnes,
1999).
Nas formas multibacilares, as lesões bucais podem ocorrer em 19% a 60%
dos casos, sendo mais frequentes nos primeiros 5 anos da doença. Ocasionam
frequentemente padrão único de destruição facial, conhecido como face leprosa
ou facies leonina: pele mais grossa, perda dos cabelos, sobrancelhas e cílios.
Neste caso observam-se atrofia da espinha nasal anterior, atrofia da crista
alveolar anterior do maxilar e alterações inflamatórias endonasais, o que resulta
em erosão óssea com perda de dentes nessa área. As lesões podem se
localizar no palato duro e mole, úvula, ventre da língua, lábios e gengivas
(Chimenos, et al, 2006).
Figura 8: Atrofia da espinha nasal anterior
12
Figura 9: Atrofia da crista alveolar anterior do maxilar com ausência de úvula
Ao atingir a polpa dental, a infecção pulpar pode levar à reabsorção interna
e necrose pulpar. O envolvimento granulomatoso da cavidade nasal pode erodir
através dos tecidos palatinos e causar perfuração (Neville, et al, 2004; Russo, et
al, 2005; Kumar, 1989). O Eritema Nodoso Hanseniano também tem um papel
importante no comprometimento bucal (Scheepers and Lemmer, 1992). O
acometimento da área tonsilar e faríngea normalmente segue as manifestações
em palato e úvula (Bucci, et al, 1987; Laskaris, 1996).
Em esqueletos medievais de pacientes dinamarqueses foram observadas
lesões de hanseníase principalmente no crânio, sendo denominada como facies
leprosa. Esse aspecto clínico se divide em Síndrome Bergen I, caracterizada
pelo comprometimento nasal e Síndrome Bergen II que se manifesta por lesões
alveolares da maxila superior e perda dos incisivos anteriores (Moller-
Christensen, 1974).
Na avaliação da mucosa oral de 100 pacientes hansenianos, durante e após
a PQT, Martins e col. (2007) não encontraram lesões relacionadas à
hanseníase provavelmente, consequente à resposta ao tratamento. Em 71
pacientes dessa casuística havia 18 casos (25%) de línguas fissuradas, 16
casos (22,5%) de hiperplasia papilar inflamatória, 10 casos (14%) de candidíase
atrófica crônica, 10 casos (14%) de fibroma, oito casos (11%) de candidíase
13
eritematosa e sete casos (10%) de ulceração traumática. Estes achados são
importantes no diagnóstico diferencial das manifestações específicas de
hanseníase.
Santos e col. (2000) também não encontraram lesões específicas para MH
(Mal de Hansen) na mucosa bucal de 175 pacientes examinados. Observaram
76 alterações não-específicas em 65 (37%) pacientes, representadas por 23
tipos diferentes, com predominância de pacientes multibacilares sobre
paucibacilares. Quatorze pacientes (8%) apresentaram língua fissurada, sendo
10 multibacilares e quatro paucibacilares. Dos 12 casos (7%) de enantema sem
trauma de prótese, 10 eram multibacilares e dois paucibacilares. Quanto aos
nove casos (5%) de pigmentação racial, sete eram multibacilares e dois
paucibacilares. Houve cinco casos (3%) de hiperplasia fibrosa inflamatória e de
enantema com trauma de prótese. Constatou-se quatro casos (2%) de grânulos
de Fordyce, úvula hipertrófica e queratose irritativa. Para a língua geográfica,
hemangiomas, glossite rombóide mediana, e candidose, foram dois casos (1%)
de cada. Nos demais casos, observou-se uma alteração identificada como
fissura por trauma de prótese, queilite angular, língua pilosa negra, fibromatose
anatômica, herpes simples, afta, úvula ausente, tórus palatino, gengiva flácida e
capuz pericoronário.
Um estudo de caso controle em Fontilles, na Espanha, avaliou os índices
dentais e periodontais da maxila anterior de 76 pacientes hansenianos e
encontrou grande proporção de perda de dentes incisivos e caninos superiores.
A média do índice de placa foi de 2,35 ± 0,7, a profundidade de bolsa
periodontal (BP) de 2,6 ± 0,8 e a perda média de inserção periodontal de 4,18 ±
1,3. Todos os índices se apresentaram estatisticamente maiores que os
controles, porém não associados à presença ou ausência de destruição facial
bem como ao tipo de hanseníase (Nunez-Marti et al, 2004).
Faye e col. (2006) verificaram 47% de lesões cervicais não cariosas entre
102 indivíduos hansenianos que não escovavam os dentes. Observaram
também um alto consumo de comidas ácidas e bebidas que atuavam como
14
agentes corrosivos, bem como o uso de medicamentos que causam xerostomia
e sinais de disfunção. Daí sugeriram que a abrasão da escova e pasta dental
não seria o fator etiológico da lesão cervical não cariosa na população
estudada.
Analisando as alterações gengivais e periodontais de 30 pacientes com
hanseníase virchowiana de longa duração, Reichart e col. (2007) verificaram
que todos os pacientes apresentaram gengivite e periodontite crônica
inespecífica e que os fatores etiológicos que afetam o desenvolvimento de
alterações gengivais e periodontais nesta doença são: falta de higiene oral com
placas graves e formação de cálculos, devido à incapacidade dos pacientes de
realizar a higiene bucal, respiração bucal, infiltrações granulomatosas
específicas, e uma possível ação de drogas.
No Brasil, um estudo de coorte com 99 pacientes recém-diagnosticados com
hanseníase encontrou cárie dental em 73% dos pacientes, com perda dental em
71% e doença periodontal em 80,8% sendo a maioria inflamação crônica
inespecífica e hiperplasia epitelial típica. As lesões na mucosa oral foram raras
neste estudo, e demonstrou-se que pode não haver sinais macroscópicos
mesmo na presença do bacilo colonizando a mucosa oral. Como as condições
bucais dos pacientes foram equivalentes às da população brasileira em geral,
estes índices indicaram a falta geral de prevenção de saúde bucal, de
tratamento e dificuldade de acesso a ele. Ressaltou-se também a escassez de
estudos sobre as condições dentais e manifestações orais em pacientes
hansenianos, principalmente atuais, dificultando a comparação dos achados
(Souza, et al., 2009).
Um estudo recente feito em Manaus, Amazonas, por Abdalla e col. (2010),
avaliou a presença do bacilo no periodonto, saliva e baciloscopia cutânea de 48
pacientes hansenianos e demonstrou maior efetividade do PCR no diagnóstico
de PB do que a baciloscopia. O estudo também não encontrou relação direta
entre a doença periodontal e a presença do M. leprae.
15
As cáries e as doenças periodontais são as patologias bucais mais comuns,
segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) (WHO, 1997). O índice
CPOD, descrito por Klein e Palmer (1937), é o mais utilizado em levantamentos
epidemiológicos de saúde bucal para medir e comparar a prevalência de cárie
dentária em populações a partir dos 12 anos de idade. Seu valor expressa a
média do número total de dentes permanentes cariados (C), perdidos (P) e
obturados (O) em um grupo de indivíduos. A letra D serve para caracterizar sua
aplicação à unidade dente. A doença periodontal é avaliada pela inflamação
gengival, placa bacteriana, cálculo dental, profundidade da bolsa periodontal e
necessidade de tratamento (WHO, 1997; McIntosh, 1954).
Num levantamento nacional de saúde bucal conhecido por Programa SB
Brasil 2010, as condições gengivais foram avaliadas pelo Índice Periodontal
Comunitário, que indica a presença de sangramento (gengivite), cálculo dentário
e bolsa periodontal (uma condição de inflamação gengival em que ocorre
rompimento dos ligamentos do dente à gengiva e até mesmo ao osso). As
formas mais graves da doença periodontal aparecem de modo mais significativo
nos adultos (35 a 44 anos), em que se observa uma prevalência de 19%. Para
os adultos, a necessidade de algum tipo de prótese ocorre em 69% dos casos,
sendo que a maioria (41%) é relativa à prótese parcial em um maxilar. Em 1,3%
dos casos, há necessidade de prótese total em pelo menos um maxilar.
Importante destacar que este percentual em 2003 era de 4,4%. A redução
corresponde a 70% (Ministério da Saúde, 2010).
Segundo os inquéritos do SB Brasil de 2003 e 2010 para o grupo de 35 a 44
anos, observa-se que o CPO caiu de 20,1 para 16,3 – um declínio de 19%.
Importante observar que os componentes “cariado” e “perdido” caíram mais
acentuadamente, enquanto que o componente “obturado” cresceu em termos
relativos. Sinteticamente, o componente cariado sai de 2,7 em 2003 para 1,9 em
2010, o componente “perdido” cai de 13,2 para 7,3, enquanto que o
componente “obturado” cresce de 4,2 para 7,1 (aumento de 69%). Em linhas
gerais, isso significa que a população adulta de 35 a 44 anos, ao longo dos
últimos 7 anos, tem ocorrido um menor ataque de cárie, e, também, um maior
16
acesso a serviços odontológicos para restaurações dentárias. Esta é uma
importantíssima inversão de tendência registrada no país: os procedimentos
mutiladores, representados pelas extrações de dentes, cedendo espaço aos
tratamentos restauradores. Vale destacar ainda que o CPO aos 12 anos de
idade na região Norte apresentou o maior índice (3,2) (Ministério da Saúde,
2010).
A partir de 1981 (WHO, 1982), com a introdução da poliquimioterapia (PQT),
a prevalência da hanseníase foi reduzida drasticamente em todo o mundo, uma
vez que os casos tratados e curados saíam do registro ativo (Opromolla;
Dalben; Cardim, 2006). Porém, até o final do século passado, a hanseníase
atingiu significativamente o estado do Amazonas, deixando numerosos ex-
pacientes com sequelas. Esses casos não constam mais nos números de
prevalência da moléstia e as sequelas são ignoradas sem a devida atenção
para a recuperação de algumas das funções básicas, entre elas a mastigação e
a higienização bucal.
Em uma visita de reconhecimento prévio realizado pela pesquisadora
Margareth Yurie Obara An ao Hospital Geraldo da Rocha (antigo leprosário
“Antonio Aleixo”) em 2008, foram observados 58 pacientes masculinos, sendo
57 deles internados devido às sequelas de hanseníase; 55 estavam totalmente
desdentados, muitos à procura de próteses totais. A Secretaria de Estado da
Saúde do Amazonas possui um Centro de Reabilitação para os egressos
sequelados da região do Amazonas, sendo suprido por médicos generalistas,
dermatologista, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem e psicólogos. Neste
quadro, no entanto, não se incluem profissionais de odontologia e não se sabe
até que ponto o programa tem realmente se adequado às necessidades buco-
dentais destes indivíduos.
Este estudo avaliou a situação odontológica dos sequelados internados no
Hospital Geraldo da Rocha. Este hospital atende a centenas de sequelados de
hanseníase, os quais não constam como casos prevalentes, porém como
tratados e curados. Suas sequelas incapacitantes, no entanto, não podem ser
17
ignoradas, dado a dependência e estigma social que trazem. De maneira
conjunta, o grande comprometimento da qualidade de vida e a carência de
informações sobre a saúde bucal destes pacientes levou-nos a propor este
estudo, que visa investigar se as sequelas dificultam a higienização bucal
levando a um aumento da frequência de lesões bucais. Através dos resultados
deste estudo espera-se fazer conhecida a situação de saúde bucal desta
população, destacando suas reais necessidades para subsidiar futuras ações e
políticas em saúde.
18 3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Estimar a prevalência de lesões bucais de indivíduos hansenianos e
sequelados pela hanseníase em Manaus, Amazonas.
3.2 Objetivos Específicos
Estimar a prevalência de lesões bucais específicas e não
específicas de todos os participantes da pesquisa;
Verificar a associação entre as lesões bucais e a dificuldade de
higienização bucal dos participantes sequelados de hanseníase;
Mensurar o edentulismo nos grupos de estudo;
Avaliar a condição periodontal dos participantes;
Detectar o índice de dentes cariados, perdidos e obturados (CPOD)
de todos os participantes.
19 4 METODOLOGIA
4.1 Modelo de Estudo
Trata-se de um estudo de corte transversal de lesões bucais em
hansenianos e sequelados pela hanseníase.
4.2 Universo de Estudo
Indivíduos hansenianos e sequelados pela hanseníase em Manaus, AM.
4.3 Método de Seleção da Amostra
O Hospital Geraldo da Rocha é uma unidade de referência na internação de
sequelados de hanseníase, situado na Colônia Antônio Aleixo, na Zona Leste
de Manaus. O número médio de pacientes internados varia entre 50 e 80. A
Colônia Antônio Aleixo é um bairro afastado do centro urbano de Manaus que
abriga a maior parte dos indivíduos sequelados por hanseníase da cidade.
Como os casos já tratados e curados de hanseníase não constam mais como
prevalentes, não se sabe ao certo a porcentagem destes na população, por isso
foi realizado um projeto piloto cujos dados foram utilizados na pesquisa.
4.4 Cálculo do Tamanho da Amostra
O tamanho da amostra foi calculado para um estudo que utiliza um teste de
diferença entre prevalências e que considera os Erros Alfa e Beta (Jekel, 2005).
Adotou-se uma estimativa de lesões bucais para o grupo A (de pacientes com
diagnóstico de hanseníase com sequelas incapacitantes) de 85% e para o
grupo B (pacientes com hanseníase sem sequelas incapacitantes) de 65%, com
um nível de significância de 95% e com um poder de teste de 80%.
2
21.2.
d
PPZZN
20
Onde:
Variância expressa como PP 1 , em que 75,0P 25,01 p
Para o valor de alpha de 0,05, ou seja, um intervalo de confiança de
95% desejado (teste bicaudal); 96,1z
Para o valor de beta de 0,20, sendo equivalente a 20% de erro beta.
Portanto 80% de poder do teste ajustado (monocaudal); 84,0z
A diferença a ser detectada ( d ) é de 0,2, ou diferença maior, entre os
índices de lesões bucais do grupo com sequelas e do grupo sem
sequelas (i. e., 20% de diferença, pois 85,0AP ; 65,0BP )
A diferença a ser detectada entre os grupos pode ser verificada com um
tamanho de amostra de 74 indivíduos em cada grupo. Considerando um estudo
do tipo (2;2;2) e adicionando 20% de perda na amostra, ou seja, três grupos de
74, chega-se a um total de 222 indivíduos a serem estudados. Entretanto,
visando ainda outras estratificações da amostra, idealizou-se três grupos de
120, num total de 360 participantes, a princípio.
A Fundação Alfredo da Matta (FUAM) é uma unidade de referência para
diagnóstico e tratamento da hanseníase na capital do Amazonas. Em 2009, ao
avaliar o GIF de 317 casos novos detectados na instituição, apenas 43 (13,6%)
apresentaram GIF II, sendo a maior parte GIF 0 (Boletim Epidemiológico –
FUAM, 2009). Desta forma, elegeu-se esta instituição para estabelecer um
grupo de comparação de pacientes diagnosticados com hanseníase e GIF 0 e I
numa amostragem não probabilística por quotas (conforme tabela).
745,7304,0
94,2
2,0
)25,0).(75,0.(2).84,7(
2,0
75,0175,0.2.84,096,122
2
N
21
4.5
4.6 Tipo de amostra: Não probabilística
Tabela 1: Amostragem por quotas ou proporcionais
GRUPO A GRUPO B GRUPO C
Amostragem por quota
Amostragem por quota
Intencional (por julgamento)/por quota
Hosp Geraldo da Rocha e Colonia
(n=120)
Alfredo da Matta FUAM
(n=120)
Região da Colônia Parentes, vizinhos
(n=120)
Com sequelas GIF II
Sem sequelas GIF 0 e I
Sem sequelas GIF 0
Pós PQT Durante PQT ou pós PQT
Sem diagnóstico de hanseníase
Obs.: Os grupos A e C foram pareados entre si para corrigir o viés da classe social e da faixa etária.
GRUPO A
Todos os pacientes internados no Hospital Geraldo da Rocha que estavam
presentes no período da coleta de dados apresentando sequelas de hanseníase
com GIF II, bem como alguns moradores da comunidade Antônio Aleixo nas
mesmas condições de sequelas de hanseníase.
Figura 10: Hospital Geral Dr. Geraldo da Rocha
22
GRUPO B
Pacientes com diagnóstico de hanseníase e GIF 0 ou I em atendimento na
Fundação Alfredo da Matta durante e pós PQT em dias aleatórios no período de
inclusão dos participantes da pesquisa.
Figura 11: Atendimento no Hospital Alfredo da Matta
GRUPO C
Parentes, vizinhos e conhecidos dos participantes sequelados da Colônia
Antônio Aleixo, moradores do mesmo bairro que não apresentaram a doença ou
qualquer incapacidade física, atuando como grupo controle para lesões bucais,
classe social e faixa etária.
Figura 12: Moradia da Colônia Antônio Aleixo
23
4.7 Critérios de Elegibilidade
4.7.1 Inclusão
Constitui-se critério de inclusão:
Grupo de estudo:
Os indivíduos que aceitaram assinar o TCLE;
Homens e mulheres acima de 18 anos;
Indivíduos diagnosticados com hanseníase, em tratamento ou pós
tratamento para hanseníase;
Sequelados ou não pela hanseníase: GIF 0, I ou II (Tabela 1);
Que estavam presentes nas referidas instituições no momento do exame
clínico.
Grupo controle:
Os indivíduos que aceitaram assinar o TCLE;
Homens e mulheres acima de 18;
Que nunca tiveram diagnóstico de hanseníase e que moram na Colônia
Antônio Aleixo (parentes ou vizinhos);
Que estavam presentes em suas casas no momento do exame clínico.
4.7.2 Não inclusão
Pacientes sequelados por outras doenças;
Mulheres grávidas e diabéticos.
4.8 Aspectos Éticos
O projeto foi aprovado pelos CEPs da FMTAM, FUAM e autorização da
SUSAM. CAAEE No. 0006.0.266.000-11. Encontra-se anexado ao Projeto o
24
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para participação da pesquisa e
para fotografia (anexos 9.3 e 9.4).
4.9 Método de Coleta de Dados:
4.9.1 Instrumentos de Coleta:
Figura 13: Operador com mesa clínica
Primeiramente foi lido e explicado o TCLE para cada paciente (anexo 9.3)
pela pesquisadora responsável, havendo continuidade da pesquisa somente
após permissão expressa por um dos lados competentes. Os participantes
sequelados assinaram um TCLE específico para fotografias (anexo 9.4). Os que
não podiam assinar colocaram sua impressão digital ou de alguma parte da
mão. Para a obtenção das informações clínicas gerais, grau de incapacidade
física e o diagnóstico etiológico foram utilizados os prontuários médicos da
instituição. Foi aplicado um questionário piloto (anexo 9.5) para complementar
as informações relevantes à pesquisa contendo perguntas objetivas sobre as
dificuldades e necessidades sentidas pelos pacientes em relação às suas
sequelas. Para avaliação bucal foi utilizado o formulário padrão do SB Brasil
(anexo 9.7) e utilizou-se o equipamento de proteção individual preconizado pelo
Ministério da Saúde (gorro, luvas descartáveis, máscara, óculos de proteção,
avental de manga longa e fechada, sapato fechado).
25
Figura 14: Exame clínico bucal em sequelado no Hospital Dr. Geraldo da Rocha
No exame bucal foram examinados a língua, o assoalho da boca, as
mucosas jugais, palato duro e mole, gengivas, lábios, comissuras labiais, fundo
de sulco e dentes com a ajuda de uma espátula de madeira, espelho bucal e
gaze e fotóforo de LED. Em seguida se procedeu a avaliação periodontal, a fim
de verificar sangramento gengival, cálculo dentário e bolsa periodontal e
levantar o índice periodontal comunitário (CPI) seguindo o protocolo da OMS
(Geneva, 1997). Os instrumentos utilizados para o CPI foram a sonda
milimetrada, o espelho bucal e o fotóforo de LED. A sonda milimetrada foi
introduzida entre a gengiva e o dente sem causar perfuração ou dor para medir
a profundidade do sulco gengival ou bolsa periodontal.
Figura 15: Esquema de exame periodontal (gingivecsoft.org)
Depois da avaliação periodontal foi feita uma higienização bucal utilizando-se
escova e creme dental nos participantes não edêntulos e utilizados roletes de
algodão para um isolamento relativo do campo a ser estudado, para estar limpo
26
e seco, e então calculado o índice CPOD, que corresponde ao número de
dentes cariados, perdidos e obturados.
Os instrumentos utilizados foram a sonda exploratória, cureta, espelho bucal,
pinça clínica e fotóforo de LED. Também foi avaliada a situação protética dos
pacientes desdentados totais e parciais quanto ao uso e a necessidade destas.
Toda perda óssea da porção anterior da maxila superior associada à perda da
espinha nasal anterior, bem como deformidade na região da úvula foram
consideradas lesões bucais específicas de MH. A avaliação foi clínica, incluindo
apalpação da crista alveolar da região anterior superior da maxila.
Figura 16: Atrofia da crista alveolar anterior da maxila
Figura 17: Ausência de úvula
Os relatos dos pacientes de perda dos incisivos centrais superiores
acometidos de dor, dormência e amolecimento também foram considerados
lesões bucais específicas de MH. O edentulismo em si não foi considerado
como lesão bucal específica de MH. As lesões de língua foram classificadas em
27
língua geográfica, fissurada, saburrosa e pilosa, com as línguas pilosa e
saburrosa constando em um item apenas.
Figura 18: Língua fissurada e geográfica
Figura 19: Língua geográfica e saburrosa
Figura 20: Língua pilosa
28
Figura 21: Língua ressecada
Figura 22: Língua com aspecto moriforme
As lesões de crescimento pediculado e séssil foram classificadas como
lesões hiperplásicas. Estas lesões receberam indicação e encaminhamento
para biópsia. Nesta pesquisa, porém, as lesões se basearam apenas em uma
avaliação clínica, sendo algumas das lesões consideradas como “sugestivas”
por não terem respaldo histopatológico.
Figura 23: Lesão periférica de células gigantes
29
Figura 24: Lesão condilomatosa
A presença de sangramento gengival, bolsa periodontal acima de 0,3mm e
perda de inserção foram consideradas lesões periodontais. A presença ou não
de cálculo dental foi avaliada apenas nos participantes não edentulos totais.
Neste quesito, os edentulos totais receberam o termo “não se aplica”. A simples
presença de cálculo supra gengival, sem sangramento, sem bolsa e sem perda
de inserção não foi computada como doença periodontal.
Figura 25: Lesões de cárie e doença periodontal
30
Figura 26: Foto antes e depois da limpeza
Para classificar o tipo de MH dos participantes sequelados pela hanseníase
e dos diagnosticados com hanseníase foram realizadas buscas nos prontuários
da FUAM e nos dados armazenados de todos os pacientes que já passaram por
esta instituição. Para os participantes cujos prontuários não foram encontrados
considerou-se esse dado como “desconhecido”. No grupo de participantes
sequelados foram tiradas fotos do rosto, das sequelas das mãos e pés e da
cavidade bucal utilizando uma câmera digital da marca Canon, 10 mega pixels,
com um pano de fundo preto, liso e fosco. Foram também tiradas fotos das
lesões bucais e de próteses que estavam em mau estado de conservação dos
participantes dos três grupos.
Figura 27: Reparo e reembasamento feitos com massa epoxi
31
Figura 28: Prótese com ausência de dentes
Figura 29: Hiperplasia por prótese fraturada e com câmara de sucção
Figura 30: Prótese parcial com impregnações de bactérias cromófilas
Figura 31: Próteses quebradas ainda em uso
32
Figura 32: Higienização inadequada
Figura 33: Prótese desgastada pelo uso
Ao final do exame clínico bucal de cada paciente foi dado um diagnóstico
clínico bucal com sugestão de tratamento feito em duas vias, ficando uma delas
com o próprio paciente. A outra via constando como documento da pesquisa.
Os casos que necessitaram de atendimento odontológico especializado foram
encaminhados à Escola Superior de Ciências da Saúde da Universidade do
Estado do Amazonas e para o serviço público da comunidade.
Figura 34: Lesão leucoplásica em lábio inferior
33
Figura 35: Prótese com desgaste vestibular por escovação vigorosa
4.9.2 Variáveis Estudadas:
As variáveis estudadas foram: dados sócio-demográficos, grau de
incapacidade física, dificuldade de higienização bucal, lesões bucais específicas
e inespecíficas, edentulismo, condição periodontal e índice CPOD.
4.10 Análise dos Resultados:
Os resultados obtidos foram submetidos à análise descritiva simples e
bivariada. Também foram calculadas medidas de associações entre as variáveis
dicotômicas assim como comparação das médias das variáveis quantitativas.
Para analisar a normalidade dos dados foi utilizado o teste estatístico
Shapiro Wilk.
Na análise das tabelas de dupla entrada foi aplicado o teste do qui-
quadrado de Pearson. Na comparação das médias das variáveis idade e cpod
em relação as variáveis categorizadas foi aplicado o teste da Análise de
Variância (ANOVA) e no caso de diferença entre as médias o teste de Tukey
quando os dados apresentavam distribuição normal e variâncias homogêneas
de 5% de significância. Na rejeição da hipótese de normalidade foi aplicado o
teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis e calculada a mediana e os quartis (Q1
e Q3). Os dados das tabelas 5, 11 e 12 foram submetidos a análise de tabela
2x2, com o cálculo do odds ratio com respectivo intervalo de confiança de 95%
e o teste do qui-quadrado (Arango, 2001; Vieira, 2004).
34
O softwares utilizados na análise foram os programas Epi-Info versão 7
para Windows, que é desenvolvido e distribuído gratuitamente pelo CDC
(www.cdc.gov/epiinfo) e SPSS versão 16.0 para windows. O nível de
significância fixado nos testes foi de 5%.
35
5 RESULTADOS
5.1 DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS
Foram entrevistados um total de 343 indivíduos. Dos 109 participantes
entrevistados do grupo A, três foram excluídos por falta do exame clínico bucal,
porque estavam ausentes no momento do exame clínico, restando 106
participantes. De 118 participantes entrevistados no grupo B restaram 97 pacientes
após uma exclusão por idade (a paciente era menor de idade), dois por terem GIF II,
12 por falta de avaliação bucal, devido à ausência do participante na hora do exame
clínico bucal, e o restante pela falta de preenchimento dos dados. Dos 116
participantes do grupo C restaram 107 participantes devido a falhas no
preenchimento da ficha. No total, a amostra contou com 310 participantes, como
mostra a Tabela 2.
Tabela 2: Número dos participantes subdivididos entre os grupos A, B e C
GRUPO A GRUPO B GRUPO C TOTAL
ENTREVISTADOS 109 118 116 343 EXCLUÍDOS 3 21 9 33 PARTICIPANTES 106 97 107 310
Grupo A: Sequelados de Hanseníase com grau de incapacidade física II. Grupo B: Participantes com diagnóstico de hanseníase em tratamento ou pós tratamento PQT com grau de incapacidade física 0 ou I. Grupo C: Participantes sem diagnóstico de hanseníase e sem incapacidades físicas, moradores da Colônia Antônio Aleixo.
Observa-se que a proporção de homens e mulheres com sequelas e sem
sequelas são similares, permanecendo maior o número de homens em relação ao
de mulheres. No caso dos sequelados de hanseníase a frequência de solteiros(as),
viúvos(as) e divorciados(as) é maior que do grupo sem sequelas e os da
comunidade sem hanseníase. A situação financeira do grupo dos sequelados é
ligeiramente melhor que a dos outros grupos.
Entre os sequelados (A) há mais idosos, enquanto os sem sequelas (B) seguem
um padrão mais uniforme. O grupo da comunidade (C) apresenta um maior numero
de jovens do que de idosos. Houve diferença estatística em todos os índices. Erro!
Autoreferência de indicador não válida., pag. 36.
36
Tabela 3: Dados sócio-demográficos dos participantes segundo o grupo de pesquisa
Sequelados S/sequelas Sem MH Variáveis n (%) n (%) n (%) p
Idade Média ± DP 62,9±12,2a 46,2±14,3b 44,6±18,1b <0,001* Amplitude 27 - 91 17 - 79 18 - 83
Sexo Feminino 33 (31) 30 (31) 60 (56) <0,001** Masculino 73 (69) 67 (69) 47 (44) Total 106 (100) 97 (100) 107 (100)
Estado Civil Solt/Viu/Divor 74 (75) 45 (49) 57 (54) <0,001** Casado/Convivente 25 (25) 93 (51) 48 (46) Total 99 (100) 93 (100) 105 (100)
Financeiro Até 1 salário 22 (22) 28 (29) 40 (39) 0,044** De 2 a 3 salário 58 (58) 52 (53) 54 (52)
Mais de 4 salários 20 (20) 17 (18) 9 (9) Total 100 (100) 97 (100) 103 (100)
DP = desvio-padrão; *ANOVA; **Teste do qui-quadrado de Pearson; Letras distintas e valor de p em negrito itálico indicam diferença estatística ao nível de 5% de significância.
5.2 LESÕES BUCAIS
5.2.1 LESÕES BUCAIS ESPECÍFICAS (Relacionadas à hanseníase)
A prevalência de lesões bucais relacionadas à hanseníase na amostra dos
participantes sequelados é de 9% e nos hansenianos sem sequelas é de 3%,
Tabela 4. Não foi encontrada associação.
Tabela 4: Presença de lesões bucais relacionadas à hanseníase
Lesão bucal relacionada à hanseníase
Sequelados
n (%)
Sem sequelas
n (%)
Total
n (%)
Sim
Não
Total
9 (9)
88 (91)
97 (100)
3 (3)
94 (97)
97 (100)
12 (7)
182(93)
194 (100)
p = 0,074 (Teste do qui-quadrado de Pearson).
5.2.2 LESÕES BUCAIS INESPECÍFICAS:
A prevalência de lesões bucais inespecíficas no grupo com sequelas é de 65%
e sem sequelas 62%. No grupo sem hanseníase a prevalência é de 56%. Não
houve diferença estatística nestes índices.
37
Do total de lesões do grupo com sequelas (N=75), 31% (26/75) eram língua
fissurada, 20% (15/75) língua saburrosa, 16% (12/75) trauma por prótese, 9,3%
(7/75) candidose, 8% (6/75) lesão leucoplásica, 4% (3/75) língua geográfica, 4%
(3/75) herpes e 4% (3/75) lesão hiperplásica.
Do total de lesões do grupo de não sequelados (N=34), 17,6% (6/34) eram
língua fissurada, 26,5% (9/34) língua saburrosa, 11,8% (4/34) trauma por prótese,
5,8% (2/34) candidose, 20,5% (7/34) língua geográfica, 17,6% (6/34) lesão
hiperplásica e nenhuma ocorrência de herpes e de lesão leucoplásica.
Do total de lesões do grupo sem hanseníase e sem sequelas (N=30), 30%
(9/30) eram língua fissurada, 30% (9/30) língua saburrosa, nenhum trauma por
prótese, 6% (2/30) candidose, 10% (3/30) língua geográfica, 3% (1/30) lesão
leucoplásica, 3% (1/30) herpes e 17% (5/30) lesão hiperplásica.
Não foi possível realizar testes estatísticos devido às restrições de Cochran
(Vieira, 2004).
Tabela 5: Presença de lesão bucal inespecífica
Presença de outra lesão
oral
Sequelados
n (%)
Sem sequelas
n (%)
Sem MH
n (%) Total
Sim 69 (65) 60 (62) 60 (56) 189 (61)
Não 37 (35) 37 (38) 47 (44) 121(39)
Total 106 (100) 97 (100) 107 (100) 310 (100)
p = 0,393 (Teste do qui-quadrado de Pearson).
Na Tabela 6 pode-se ver o percentual de cada tipo de lesão em relação ao
número de participantes de cada grupo.
Tabela 6: Presença de lesões bucais
Tipo de Lesão Sequelados
n=106
Sem sequelas
n=97
Sem MH sem sequelas
n=107
Língua fissurada 26 (24,5%) 6 (6,2%) 9 (8,4%)
Hiperplasia 3 (2,8%) 6 (6,2%) 5 (4,7%)
Candidíase bucal 7 (6,6%) 2 (2,1%) 2 (1,9%)
Ulceração traumática 12 (11,3%) 4 (4,1%) -
Língua geográfica 3 (2,8%) 7 (7,2%) 3 (2,8%)
Queratose irritativa 6 (5,6%) - 1 (0,9%)
Língua geográfica 3 (2,8%) 7 (7,2%) 3 (2,8%)
38
Herpes simples 3 (2,8%) - 1 (0,9%)
Língua saburrosa, pilosa ou negra 15 (14%) 9 (9,3%) 9 (8,4%)
Não é possível aplicar a estatística de teste devido as restrições de Cochran (Vieira, 2004).
5.3 DIFICULDADE DE HIGIENIZAÇÃO BUCAL
Tabela 7: Dificuldade de higienização conforme o grupo de pesquisa
Dificuldade de higienização Sequelados
n (%) S/ Sequela
n (%) Sem MH
n (%) TOTAL n (%)
Sim 32 (31) 17 (18) 30 (28) 79 (28)
Não 72 (69) 79 (82) 75 (71) 226 (74)
Total 104 (100) 96 (100) 105 (100) 305 (100)
p = 0,080 (Teste do qui-quadrado de Pearson).
Não houve associação entre a dificuldade de higienização, edentulismo e grupos de
pesquisa.
Tabela 8: Dificuldade de higienização e edentulismo conforme o grupo de pesquisa
Variáveis Dificuldade de higienização
Sequelados n (%)
S/ Sequela n (%)
Sem MH n (%)
Total n (%)
p*
Dentado superior e inferior
Sim 6 (33) 11 (18) 20 (29) 37 (25) 0,234
Não 12 (66) 51 (82) 50 (71) 113 (75)
Total 18 (100) 62 (100) 70 (100) 150 (100)
Edentulo
Sim 16 (28) 3 (30) 7 (35) 26 (30) 0,821
Não 42 (72) 7 (70) 13 (65) 62 (70)
Total 58 (100) 10 (100) 20 (100) 88 (100)
Superior ou Inferior
Sim 10 (38) 3 (12) 3 (20) 16 (24) 0,136
Não 18 (64) 21 (88) 12 (80) 51 (76)
Total 28 (100) 24 (100) 15 (100) 67 (100)
Teste do qui-quadrado de Pearson.
39
5.4 EDENTULISMO
Tabela 9: Edentulismo
Grupo de pesquisa Dentado
n (%) Edentulo total
n (%)
Edentulo Superior ou Inferior
n (%)
Total n (%)
Sequelados 19 (18) 57 (54) 30 (28) 106 (100)
Sem sequelas 63 (65) 10 (10) 24 (25) 97 (100)
Sem MH 71 (66) 20 (19) 16 (15) 107 (100)
Total 153 87 70 310 (100)
p < 0,001 (Teste do qui-quadrado de Pearson).
Foi constatada associação estatisticamente significante ao nível de 5%.
Tabela 10: Necessidade de prótese nos grupos de pesquisa
Necessidade de
prótese Grupo A Grupo B Grupo C p*
PT (1 arcada) 30/106 (28%) 24/97 (25%) 16/107 (15%) 0,055
PT (2 arcada) 57/106 (54%) 10/97 (10%) 20/107 (19%) <0,001
* Teste do qui-quadrado de Pearson; Valor de p em negrito itálico indica diferença estatística ao nível de 5%.
5.5 DOENÇA PERIODONTAL
Dos participantes sequelados não desdentados entre 35 a 44 anos de idade,
25% (1/4) não tem doença periodontal e entre os 65 a 74 anos de idade, 10,5%
(4/38) não tem doença periodontal. Dos 106 sequelados da pesquisa, apenas 12
(11,3%) não tem doença periodontal. As formas mais graves da doença periodontal
se concentram nos sequelados a partir dos 45 anos, com prevalência de 18%.
Tabela 11: Doença periodontal nos sequelados
Idade
Não tem doença periodontal
n (%)
Tem doença periodontal
n (%)
Não se aplica
n (%) Total n (%)
18 A 34 1 (14) 2 (5) - 3 (3)
35 A 44 1 (14) 3 (8) - 4 (4)
45 A 54 2 (29) 13 (33) 7 (12) 22 (21)
40
55 A 64 1 (14) 9 (22) 13 (22) 23 (22)
65 A 74 2 (29) 12 (30) 24 (41) 38 (36)
75 A + - 1 (2) 15 (25) 16 (16)
Total 7 (7) 40 (38) 59 (56) 106
Não é possível aplicar a estatística de teste devido as restrições de Cochran (Vieira, 2004).
Agrupando-se os participantes sem problema periodontal juntamente com os de
forma leve de doença periodontal, encontra-se associação entre os sequelados e as
formas graves de doença periodontal. Tabela 12.
Tabela 12: Gravidade da doença periodontal
Gravidade Sequelados
n (%) Sem sequelas
n (%) Total n (%)
Sem problema periodontal 12 (25) 18 (21) 30 (26)
Forma grave 21 (45) 21 (24) 22 (19)
Forma leve 14 (30) 48 (55) 62 (55)
Total 47 (100) 87 (100) 114 (100)
p = 0,013 (Teste do qui-quadrado de Pearson).
Foi constatada associação estatisticamente significante ao nível de 5%.
Somando-se os participantes não edentulos aos parcialmente edentulos de cada
grupo, calculou-se a porcentagem dos que apresentaram doença periodontal e os
que não apresentaram doença periodontal.
Tabela 13: Doença periodontal
Grupo de pesquisa Com doença periodontal
n (%)
Sem doença periodontal
n (%) Total
Sequelados 38 (77,6) 11 (22,4) 49
Não sequelados 70 (80,5) 17 (19,5) 87
Sem MH 56 (64,4) 31 (35,6) 87
p = 0,043 (Teste do qui-quadrado de Pearson).
Foi constatada associação estatisticamente significante a 5% de significância.
Constatou-se associação entre os grupos de pesquisa e doença periodontal (p-
valor < 0,05).
41
5.5.1 PRESENÇA DE CÁLCULO DENTAL
Tabela 14: Cálculo dental
Grupo de pesquisa Ausencia de
calculo n (%)
Presença de calculo n (%)
Não se aplica n (%)
Total
Sequelados 24 (22) 27 (26) 55 (52) 106 (100)
Sem sequelas 21 (22) 66 (68) 10 (10) 97 (100)
Sem MH 43 (40) 46 (43) 18 (17) 107 (100)
Total 88 (28) 139 (45) 83 (27) 310 (100)
p < 0,001 (Teste do qui-quadrado de Pearson).
Foi constatada associação estatisticamente significante ao nível de 5%.
5.5.2 BOLSA PERIODONTAL
Tabela 15: Bolsa periodontal
Grupo de pesquisa Hígido
n (%)
Bolsa de 4 + mm n (%)
Total
n (%)
Sequelados 38 (74,5) 13 (25,5) 51 (100)
Sem sequelas 65 (75,6) 21 (24,4) 86 (100)
Sem MH 70 (78,7) 19 (21,3) 89 (100)
Total 173 (76,5) 53 (23,5) 226 (100)
p = 0,826 (Teste do qui-quadrado de Pearson).
5.5.3 PERDA DE INSERÇÃO
Tabela 16: Perda de inserção conforme o grupo da pesquisa
Grupo de pesquisa PI
0-3mm n (%)
PI 4-5mm n (%)
PI 6-8 mm n (%)
PI 9-11 n (%)
PI 12+mm n (%)
Não se aplica n (%)
Total
n (%)
Sequelados 27 (25) 13 (12) 4 (4) 1 (1) 6 (6) 55 (52) 106(100)
Sem sequelas 54 (56) 22 (23) 6 (6) 3 (3) 2 (2) 10 (10) 97(100)
Sem MH 63 (59) 10 (9) 3 (3) 7 (6) 6 (6) 18 (17) 107(100)
Total 144 45 13 11 14 83 310(100)
Não é possível aplicar a estatística de teste devido as restrições de Cochran (Vieira, 2004).
42
5.6 ÍNDICE CPOD
Tabela 17: Mediana do índice CPOD conforme o grupo da pesquisa
Grupo de pesquisa n Mediana Q1 – Q3
Sequelados 106 32a 27 – 32
Sem sequelas 97 21b 11 – 27
Sem MH 107 23b 13 – 30
Total 310 26 16 – 32
p < 0,001 (Teste de Kruskal-Wallis); Letras distintas indicam diferença estatística ao nível de 5%.
Tabela 18: Média do CPOD entre as idades de 35 a 44 anos
Grupo de pesquisa n Média Desvio padrão
Sequelados 4 19,2 10,3
Sem sequelas 17 17,1 8,5
Sem MH 18 16,7 9,3
Total 39 17,2 8,8
p < 0,880 (ANOVA).
43
6 DISCUSSÃO
6.1 LESÕES BUCAIS ESPECÍFICAS:
Conforme revisão de Chimenos e col. (2006), nas formas multibacilares as
lesões bucais podem ocorrer em 19% a 60% dos casos. Em nosso estudo, porém,
foram encontradas lesões bucais específicas em apenas 9% dos sequelados e 3%
dos não sequelados, ou seja, os sequelados de hanseníase apresentaram três
vezes mais lesões bucais relacionadas à hanseníase do que os hansenianos sem
sequelas (9:3). Como essas lesões se desenvolvem nos primeiros 5 anos da
doença e o grupo dos não sequelados passaram por uma detecção precoce, a
proporção das lesões bucais é bem inferior. Por outro lado, esta pesquisa não
diferenciou todos os participantes em multi ou paucibacilares, uma das prováveis
razões do índice baixo destas lesões em ambos os grupos. No grupo de
sequelados, onde a maioria contraiu a doença anteriormente à instituição da PQT,
quando também não havia a classificação em multibacilares e paucibacilares, e
devido à dificuldade em conseguir os prontuários dos pacientes mais antigos, não
foi possível diferenciar os paucibacilares e multibacilares. As lesões em nosso
estudo consideradas específicas foram ausência de úvula, atrofia da crista alveolar
anterior do maxilar, perda de dentes por erosão óssea dessa área e sequelas de
lesão nos lábios. Santos e col. (2000) não relacionaram ao MH as lesões bucais
que encontraram na mucosa oral de 175 pacientes, apesar de terem observado
úvula ausente e úvula hipertrófica. Já Bucci (1987), Laskaris (1996) e Chimenos
(2006) relacionaram as manifestações em úvula ao MH. Martins e col. (2007)
também não relacionaram ao MH seus achados em 100 pacientes hansenianos
examinados durante e após a PQT, considerados detecção e tratamento precoce.
Nunez-Marti e col. (2004) encontraram grande perda de dentes anteriores
superiores em 76 pacientes hansenianos, estatisticamente maior do que os
controles, mas não associada à destruição facial ou ao tipo de MH. Em nosso
estudo, porém, no grupo dos sequelados, aqueles que apresentaram destruição
facial também apresentaram erosão óssea e atrofia da crista alveolar anterior do
maxilar, atribuídas ao tempo de evolução da doença. Como o nosso grupo de
44
sequelados se origina de um período anterior à PQT, as manifestações ósseas
bucais são mais evidentes, clinicamente falando.
6.2 LESÕES BUCAIS INESPECÍFICAS:
Quanto às lesões bucais inespecíficas, o quadro abaixo mostra a variação entre
os estudos.
Tabela 19: Comparação de achados entre estudos de lesões bucais
Lesões bucais Santos e col. (2000) N=175
Martins et al. (2007) N=100
An (2013) Sequelados
N=106
An (2013) Sem
sequelas N=97
An (2013) Sem MH N=107
Específicas 0% 0% 9% 3% 0% Inespecíficas 76/175
(43,4%) 71/100 (71%) 69/106 (65%) 60/97 (62%) 60/107 (56%)
Língua fissurada
14/175 (8%) 18/100 (18%) 26/106 (24,5%)
6/97 (6,2%) 9/107 (8,4%)
Hiperplasia 5/175 (2,8%) 16/100 (16%) 3/106 (2,8%) 6/97 (6,2%) 5/107 (4,7%) Candidose 2/175 (1%) 18/100 (18%) 7/106 (6,6%) 2/97 (2%) 2/107 (1,9%) Ulceração traumática
1/175 (0,6%) 7/100 (7%) 12/106 (11,3%)
4/97 (4,1%) 0/107 (0%)
Língua geográfica
2/175 (1%) - 3/106 (2,8%) 7/97 (7,2%) 3/107 (2,8%)
Língua saburrosa, pilosa ou negra
x - 15/106 (14%) 9/97 (9,3%) 9/107 (8,4%)
Enantema sem trauma de prótese
12/175 (6,8%) - - - -
Enantema com trauma de prótese
5/175 (2,8%) - - - -
Pigmentação racial
9/175 (5%) - - - -
Grânulos de Fordyce
4/175 (2,3%) - - - -
Úvula hipertrófica
4/175 (2,3%) - - - -
Queratose irritativa
4/175 (2,3%) - 6/106 (5,6%) 0/97 (0%) 1/107 (0,9%)
Língua geográfica
2/175 (1%) - 3/106 (2,8%) 7/97 (7,2%) 3/107 (2,8%)
Hemangiomas 2/175 (1%) - - - - Glossite rombóide mediana
2/175 (1%) - - - -
Herpes simples - - 3/106 (2,8%) 0/97 (0%) 1/107 (0,9%)
Outros* - - - - -
*Queilite angular, língua pilosa negra, fibromatose anatômica, herpes simples, afta, úvula ausente, tórus palatino, gengiva flácida e capuz pericoronário.
45
Martins encontrou maior prevalência de lesões bucais inespecíficas entre os
hansenianos (71%), sendo seguido pela prevalência do nosso estudo (65%). Porém
classificou menor variedade de lesões bucais inespecíficas (candidíases bucais,
hiperplasias, língua fissurada e lesões traumáticas). Todas as frequências das
lesões bucais inespecíficas do estudo de Martins se mostraram mais altas que os
outros estudos, com exceção da língua fissurada, que em nosso estudo obteve
24,5%. Além da língua fissurada, a língua saburrosa, pilosa ou negra, as lesões
traumáticas, queratose irritativa e candidíases bucais apresentaram índices maiores
no grupo dos sequelados dentro do nosso estudo.
6.3 HIGIENIZAÇÃO BUCAL
Como a pergunta sobre a dificuldade de higienização foi subjetiva, podem existir
diferenças na interpretação da pergunta e, consequentemente, das respostas. Neste
caso não houve diferença estatistica. Contudo, muitos do grupo sem MH referem
não ter tempo para higienizar suficientemente seus dentes. Por outro lado, os que
declaram não ter dificuldade de higienização no grupo dos sequelados são na
maioria edentulos totais como mostra a Tabela 7, pag. 38. De acordo com o Projeto
SB Brasil 2010, nos idosos, os problemas gengivais têm pequena expressão em
termos populacionais, em decorrência do reduzido número de dentes presentes.
6.4 EDENTULISMO
O Projeto SB Brasil 2010 no inquérito populacional, constatou que mais de 3
milhões de idosos necessitam de prótese total dupla (dentadura), ou seja, nas duas
arcadas dentárias e outros 4 milhões necessitam de prótese apenas em uma das
arcadas. A tabela a seguir mostra a porcentagem de idosos entre 65 e 74 anos que
necessitam usar próteses em uma ou nas duas arcadas dentárias nos anos de 2003
e 2010 (SB Brasil 2010), comparando com os dados da nossa pesquisa de 2012 na
mesma faixa etária entre os sequelados de hanseníase.
46
Tabela 20: Comparação entre estudos sobre a necessidade de prótese em idosos de 65 a 74 anos.
Necessidade de prótese Idosos de 65 a 74 anos
SB Brasil 2003
SB Brasil 2010
An Sequelados
2013
An Sem
Sequelas 2013
An
Sem MH 2013
PT (1 arcada) 24% 23% 26% (10/38) 50% (2/4) 37,5% (3/8)
PT (2 arcada) 16% 15% 60% (23/38) 25% (1/4) 37,5% (3/8)
*PT: Prótese Total
Estes índices indicam prevalência maior de edentulismo na região Norte e
também mostram que os sequelados de hanseníase possuem de fato grande
necessidade de próteses dentárias. Esta necessidade persiste ainda mais devido a
dificuldade de acesso ao tratamento protético por esta população em especial, dado
a limitação de locomoção destes sequelados e da rara oferta de serviço, segundo a
nossa pesquisa. A falta prolongada do uso de próteses dentárias causa reabsorção
óssea dos rebordos dentais, dificultando até mesmo a adaptação das próteses,
além de afetar a mastigação e a fala.
Segundo a entrevista realizada neste estudo, ao menos 3 pacientes atribuíram
sua perda dentária ao medicamento utilizado para tratamento de hanseníase antes
da introdução da poliquimioterapia (período anterior a 1980). Referiram nevralgia e
diminuição de inserção de todos os dentes após o uso do medicamento padrão,
sendo que alguns chegaram até mesmo a extrair os próprios dentes sem o auxílio
de instrumentos cirúrgicos, ou seja, com as próprias mãos. Não se encontrou na
literatura explicação para esta situação clínica.
De acordo com a nossa pesquisa, 82% (87/106) dos sequelados necessitam de
próteses, enquanto que nos dois outros grupos de não sequelados e sem
hanseníase, 35% (34/97) e 34% (36/107), respectivamente, é que necessitam de
próteses (ver tabela 10). Segundo os dados populacionais do Ministério da Saúde
(2010), para os adultos, a necessidade de algum tipo de prótese ocorre em 69% dos
casos, sendo que a maioria (41%) é relativa à prótese parcial em um maxilar. Em
1,3% dos casos, há necessidade de prótese total em pelo menos um maxilar. Ao
compararmos estes 1,3% com os 82% dos sequelados que necessitam de próteses
totais em um ou nos dois maxilares, podemos afirmar que o grupo de sequelados de
47
hanseníase apresentam extrema carência assistencial na questão das próteses
dentárias.
A maior parte dos pacientes que possuíam próteses necessitava refazê-las, mas
referiram dificuldade de acesso a esse tipo de serviço. Algumas fotos tiradas destas
próteses, Figura 27, pag. 30, mostram as condições em que elas se encontravam
ainda em uso.
6.5 DOENÇA PERIODONTAL
Em termos populacionais, os problemas gengivais aumentam, de modo geral,
com a idade. Os resultados do Projeto SB Brasil 2010 mostram o percentual de
indivíduos sem nenhum problema periodontal de 17% para os adultos de 35 a 44
anos e somente 1,8% nos idosos de 65 a 74 anos. As formas mais graves da
doença periodontal aparecem de modo mais significativo nos adultos (35 a 44
anos), em que se observa prevalência de 19%. Em nosso estudo, dos sequelados
entre 35 e 44 anos de idade, 25% (1/4) não apresentam doença periodontal, entre
65 e 74 anos, 10,5% (4/38) não tem doença periodontal e as formas mais graves da
doença periodontal se concentram nos sequelados a partir dos 45 anos, com
prevalência de 18%, para o qual foi encontrada associação (p<0,05).
Foi encontrada associação entre a presença de cálculo dental e grupos de
pesquisa, porém não foi possível realizar os testes com a bolsa periodontal e a
perda de inserção.
A
Tabela 21 coloca lado a lado a prevalência da doença periodontal de estudos
realizados entre os hansenianos.
Tabela 21: Doença periodontal em hansenianos
NUNEZ_MARTI (2004)
Caso controle
REICHART E COL. (2007)
MH longa data
SOUZA E COL. (2009)
Sem sequelas
AN (2013) Sequelados*
AN (2013) Sem sequelas
AN (2013) Sem MH
N=76 100%
N=30 100%
N=99 80,8%
N=49 77,5%
N=87 80,5%
N=87 64,4%
48
(*) Obs.: O “N” da pesquisa de An (2012) excluiu os participantes totalmente desdentados na obtenção do percentual dos acometidos por doença periodontal.
Os dados dos hansenianos sem sequelas de Souza e col. também estão
nivelados com os nossos. Já os estudos de Nunez-Marti e Reichart e col. apontam
percentual maior que o nosso grupo de sequelados, o qual também se apresenta
superior ao grupo sem MH. Como em nosso estudo, na presente tabela foram
excluídos os participantes totalmente edentulos, há que se considerar um viés, onde
os excluídos podem ter perdido seus dentes devido à doença periodontal, ou
mesmo que não por esse fato, existe a possibilidade da presença desta se
houvesse dentes. O fato da doença periodontal mais grave em sequelados de
hanseníase apresentar índice mais elevado do que os outros grupos, pode estar
relacionado à dificuldade de higienização, de locomoção, de acesso a serviços
odontológicos e de atenção ou auxílio externo.
6.6 CPOD
As medianas do CPOD indicam índice mais elevado para o grupo de
sequelados em relação aos grupos sem sequelas e controle (p-valor <0,05). O
grupo controle e o grupo de hansenianos sem sequelas demonstram estar
nivelados, Tabela 18, pag. 42. Considerando o CPOD de 35 a 44 anos, conforme o
SB Brasil de 2003 e 2010, os índices apresentaram diminuição de 20,1 para 16,3, o
que vem corresponder ao resultado desta pesquisa na mesma faixa etária para o
grupo de indivíduos sem diagnóstico de hanseníase e sem sequelas (16,7). As
médias nesta faixa etária, no entanto, não apresentaram associação, como
podemos observar na Tabela 17.
Como as medianas do CPOD indicam índice mais elevado para o grupo de
sequelados em relação aos grupos sem sequelas e controle, pode-se inferir que as
sequelas concorrem para a deficiência na saúde bucal, aparentemente por dificultar
o sequelado a higienizar adequadamente sua cavidade oral e levar à perda dental.
49
7 CONCLUSÕES
Houve diferença nos dados sócio-demográficos de idade, sexo, situação
civil e situação financeira.
Não foram encontradas associações entre lesões bucais específicas e
inespecíficas nos grupos de estudo, bem como na dificuldade de
higienização.
Encontrou-se associação entre edentulismo e os sequelados. 82%
necessitam de próteses.
Observou-se associação entre os sequelados e as formas graves de
doença periodontal. Também os sequelados e sem sequelas tiveram um
índice maior de doença periodontal em relação ao controle sem MH.
O índice CPOD mais elevado dos sequelados indicou associação com o
grau de incapacidade física e as condições dentárias.
Logo, pode-se dizer que as sequelas incapacitantes de hanseníase são
fator de risco para cárie e doença periodontal.
50
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55
9 ANEXOS
56
9.1
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO No. ________
Você está sendo convidado(a) para participar deste estudo intitulado “PREVALÊNCIA DE LESÕES BUCAIS EM HANSENIANOS E SEQUELADOS PELA HANSENÍASE, MANAUS, AMAZONAS”, cujo objetivo é estimar a prevalência de lesões bucais de indivíduos hansenianos e sequelados pela hanseníase para verificar se as sequelas tem dificultado a higienização bucal e levado a um aumento da frequência de lesões bucais. Serão feitas algumas perguntas, um dentista irá examinar a sua boca, verificando se existe cárie dental e colocando um instrumento não pontiagudo entre a gengiva e os dentes, para saber se há problema periodontal, porém sem forçar e sem causar qualquer desconforto e sem risco de contaminação, pois todo o instrumental utilizado será descartável ou esterilizado. Se houver algum dano decorrente da pesquisa, sendo necessário algum tipo de tratamento odontológico, o(a) encaminharemos para a Policlínica Odontológica da Universidade Estadual do Amazonas. Daremos todas as orientações sobre o tratamento odontológico, resultados dos exames e esclareceremos qualquer dúvida que estiver ao nosso alcance. Tudo o que for observado será usado na pesquisa mas o seu nome e identidade serão mantidos em segredo. Você também pode desistir a qualquer momento de participar desta pesquisa sem prejuízo do seu atendimento nesta clínica. Pesquisadora resp.: Dra. Margareth Yurie Obara An (Dentista) – UEA/FMTAM # Cel.:9122-3055 Orientador do Projeto: Dr. José Antonio Nunes de Mello - UEA Co-orientador do Projeto: Dr. Sinésio Talhari - FMTAM Telefone para contato na Fundação de Medicina Tropical: (92)2127-3433 ........................................................................................................................ Declaro que estou ciente dos termos acima citados e que concordo em participar desta pesquisa: ____________________________________________________________________________ Nome do participante ______________________________________ ____________________________ Assinatura do responsável Nome do Responsável RG/CPF:_______________________ Tel.: _______________________ __________________________________ _______________________________________ Assinatura do(a) Pesquisador(a) Nome do(a) Pesquisador(a) Este formulário foi lido para o(a) participante em __/__/_____ por_________________________________ enquanto eu estava presente. _____________________________ ______________________________________ Testemunha Nome da Testemunha Manaus, Data __/___/_____
57
9.2 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para Fotografias
Eu _________________________________________________________________ permito que os pesquisadores relacionados abaixo obtenham fotografias, de minha pessoa para fins de pesquisa científica, médica e/ou educacional.
Eu concordo que o material e informações obtidas relacionadas à minha pessoa possam ser publicados em aulas, congressos, eventos científicos, palestras ou periódicos científicos. Porém, a minha pessoa não deve ser identificada, tanto quanto possível, por nome ou qualquer outra forma.
As fotografias, vídeos e gravações ficarão sob a propriedade do grupo de pesquisadores pertinentes ao estudo e sob sua guarda.
Nome do sujeito da pesquisa:________________________________________________
RG:________________________________________________
Endereço:_________________________________________________
Assinatura:_________________________________________________
Nome do responsável:_________________________________________________
RG:_________________________________________________
Endereço:_________________________________________________
Assinatura:_________________________________________________
Pesquisadora responsável.: Dra. Margareth Yurie Obara An (Dentista) – UEA/FMTAM Cel.:9122-3055
Orientador: Dr. José Antônio Nunes de Mello – UEA
Co-orientador: Dr. Sinésio Talhari – FMTAM
Telefone para contato na Fundação de Medicina Tropical: (92)2127-3433
Local onde será realizada a pesquisa: Hospital Dr. Geraldo da Rocha
Data: __/__/_____
58
9.3 Questionário
Amostra grupo: A B C Registro/Pesquisa No.:________
I. Identificação do Paciente:
Nome:___________________________________________ Idade: ___anos. Nasc.:______________
Endereço: ______________________________________________________Fone: _____________
______________________________________________________________
Sexo: ( )F ( )M. - Estado Civil: S/C/V/D/A - Profissão: _____________________________________
Escolaridade: ( ) Analfabeto; ( ) 1º. grau Incompleto; ( ) 1º.grau completo( ) 2º. grau incompleto;
( ) 2º.grau completo; ( ) superior incompleto; ( ) superior completo; ( ) Pós-graduação.
II. Perguntas Pessoais: 1. Para participante do grupo A:
a. Você sente dificuldade de escovar os dentes? (1) sim (2) não
b. Quem escova os seus dentes? (1) você mesmo (2)outra pessoa
c. Quantas vezes escova os dentes por dia? (1) menos de 1; (2) 1 vez; (3) 2 ou mais.
d. Tipo de alimentação: (1) Rica em açúcar e carboidratos
(2) Rica em frutas e verduras
Obs.: ___________________________________________________________________________
III. Exame Clínico Intra-bucal:
1. Presença de lesão oral específica de MH: ( )sim ( )não Tipo: _____________________________
2. Índice CPOD: ________________
3. Profundidade de bolsa periodontal: _______________
4. Localização da lesão: (1). língua; (2).palato; (3).mucosa jugal; (4).gengiva; (5).lábios;
(6).____________
5. Evidenciação de placa:
IV. Classificação da Hanseníase:
1. Conforme prontuário da Instituição:
FUAM ( ) / HGR ( ): 1. HI; 2.TB; 3.BTB; 4.BB; 5. BV; 6.MHV
2. Grau de Incapacidade Física: (1) 0 (2) I (3) II
Obs.:_________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
V. Examinador(a): ___________________________________________________ Data: __/__/_____
59
9.4 Ficha de exame clínico bucal
60
9.5 Ficha de avaliação socioeconômica
61
10 DIVULGAÇÃO
Levando em consideração as observâncias éticas contempladas na
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, os resultados da pesquisa
serão tornados públicos, por meio de Revista Científica e as fotos serão
publicadas em livro da área científica, com sigilo e confidencialidade em relação
aos pesquisados. Qualquer uma das instituições envolvidas no projeto e os
órgãos públicos de saúde poderão utilizar os dados e informações desta
pesquisa para subsidiar suas ações.