universidade do estado de santa catarina · expressões das crianças durante as brincadeiras, é...

55
PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ CURSO DE PEDAGOGIA FLORIPES MARIA DE SOUZA VOZ DE CRIANÇA É COISA SÉRIA: As revelações que elas fazem durante as brincadeiras São José 2011

Upload: trantram

Post on 17-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

CURSO DE PEDAGOGIA

FLORIPES MARIA DE SOUZA

VOZ DE CRIANÇA É COISA SÉRIA:

As revelações que elas fazem durante as brincadeiras

São José

2011

Page 2: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

CURSO DE PEDAGOGIA

FLORIPES MARIA DE SOUZA

VOZ DE CRIANÇA É COISA SÉRIA:

As revelações que elas fazem durante as brincadeiras

Trabalho elaborado para a disciplina de Conclusão de Curso (TCCII) do Curso de Pedagogia, como requisito parcial para aprovação no curso de graduação em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José- USJ.

Orientadora: Profª. MSc. Arlete de Costa Pereira

São José

2011

Page 3: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

FLORIPES MARIA DE SOUZA

VOZ DE CRIANÇA É COISA SÉRIA:

As revelações que elas fazem durante as brincadeiras

Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito parcial para obtenção do grau de licenciado em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ avaliado pela seguinte banca examinadora:

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________ Profª. Msc. Arlete de Costa Pereira

Orientadora- USJ

_________________________________________________________ Profª. Msc. Débora Cristina Sampaio Peixe

Examinadora - NDI/CED/UFSC

____________________________________________________

Profª. Msc. Andréa Rivero

Examinadora - USJ

São José, 23 de novembro de 2011

Page 4: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

Dedico este trabalho aos meus filhos e neta, Fernanda Luiza Peres, Nelson Ruda Able, Arthur Souza de Oliveira e

Bernardo Souza de Oliveira, Scarlleth Mayana Peres da Silva (neta). Em especial, ao meu esposo Álvaro Francisco

de Oliveira, que sempre me apoiou, me incentivando, e sendo o melhor companheiro em todas as horas.

Page 5: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus pela permissão de eu poder crescer

espiritualmente, e quando isso acontece minha visão de mundo também cresce.

Agradeço ao meu mestre espiritual Meishu Sama, que me guia na trajetória da

minha vida iluminando meus caminhos, me dando discernimento e confiança,

me fazendo acreditar que sou capaz de realizar meus sonhos, de ser feliz.

Agradeço ao meu pai Raul de Souza (in memorian) que sempre foi justo,

amável, gentil, honesto, alegre, me mostrando que a vida deve ser vivida com

paz, harmonia, felicidade, gratidão.

A minha querida mãe Cecília Scóz, que me mostrou ser a maior guerreira

que já conheci, vencendo grandes batalhas que a vida lhe pôs a prova. Obrigada

mãe por me ensinar a ser forte. Esse é um presente para você!

E especialmente para minha amada neta Scarlleth Mayana Peres da Silva, e

meus filhos, deixo como exemplo aqui minha força de vontade e alegria em

poder ter concluído um curso superior aos 53 anos de idade.

Aos meus irmãos, e em especial Raul de Souza Filho (in memorian) que

nos deixou muitas saudades e nos faz tanta falta.

A minha querida orientadora Arlete de Costa Pereira. Que sempre com

muita sabedoria, me deixava tranquila nas horas mais difíceis dessa caminhada.

Também a minha querida USJ. Universidade da qual eu tenho o maior

orgulho, feita para pessoas especiais que almejam um objetivo de alcançar o

sonho de uma formação no ensino superior. Ela está ali de braços abertos, feita

para estas pessoas.

Page 6: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

A todos os meus colegas de turma, em especial ao Oésle Luis Alexandre e

Kryslaine de Morais Vieira, que sempre foram os melhores amigos,

companheiros, que alguém poderia ter.

A todos os meus professores que contribuíram para que eu me

transformasse em uma pessoa com mais conhecimentos e com certeza, melhor.

Ao CEI Flor de Nápoles, onde sempre fui recebida com muito carinho por

todos me oportunizando o estágio, e a pesquisa de TCC, e também a todas as

crianças do CEI, que ficarão para sempre no meu coração.

A todas as pessoas que não foram aqui citadas, mas que de alguma forma

contribuíram para que esse sonho se tornasse realidade.

Page 7: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

Nós somos as crianças do mundo. Somos as crianças das ruas.

As crianças da guerra. As vítimas e os órfãos da AIDS.

Somos as crianças cujas vozes não são ouvidas. Agora chegou o momento de nos ouvirem.

Gabriela Azurduy Arrieta, 13 anos, Bolívia.

Inauguração da Sessão especial da ONU para a infância, reunida em Nova York, (9 de maio de 2002)

Page 8: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

RESUMO

Este trabalho busca investigar o que as crianças dizem quando estão brincando nos diferentes espaços da Instituição de Educação Infantil. Ouvir as crianças, dar visibilidade às suas vozes, imaginação e sentimentos, perceber seus pontos de vista, desejos e suas mais diversas manifestações de expressão foram os objetivos deste trabalho. A questão que norteou o trabalho teve como foco investigar sobre o que podemos aprender ao observar as brincadeiras das crianças e ouvir suas vozes. O que as crianças nos dizem, o que desejam, o que expressam, o que revelam enquanto brincam? A pesquisa, que se insere no campo das pesquisas qualitativas, envolveu um período de aproximadamente um mês em campo, fazendo observações participantes com registros em diário de campo e registros fotográficos, e teve como sujeitos, crianças de dois a seis anos de idade. A instituição escolhida como campo de pesquisa foi um Centro de Educação infantil da Rede Municipal de Ensino de São José - SC. As análises indicaram que nesse CEI acontecem múltiplas manifestações das crianças durante as brincadeiras. Olhar para as brincadeiras das crianças com um olhar mais sensível, tentar entrar nesse mundo e descobrir o que elas nos dizem quando estão brincando é uma tarefa que demanda sensibilidade, pois é preciso desconstruir o olhar adulto para compreender a lógica da criança. Para que a professora consiga perceber as mais diversas formas de manifestações e expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as crianças não conseguem dizer com palavras o que estão sentindo, mas conseguem fazer isso com outras formas de linguagens como os gestos, olhares, choros, sorrisos. Por isso, o olhar sensível dos adultos, nesse momento, é fundamental para ouvir, perceber, sentir o que as crianças nos revelam quando estão brincando.

Palavras-Chave: Crianças. Voz de Criança. Brincadeiras. Educação Infantil.

Page 9: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

LISTA DE IMAGENS

Fotografia 1 – Criança desenhando ....................................................................20

Fotografia 2 – Meninas tirando fotos ...................................................................21

Fotografia 3 – Meninas tirando fotos....................................................................21

Fotografia 4 – Crianças fazendo(arte)..................................................................27

Fotografia 5 – Valentina brincando de faz de conta.............................................28

Fotografia 6 – Pedro trocando fraldas..................................................................29

Fotografia 7 – Olhar entristecido de Valentina.....................................................31

Fotografia 8 - Menino brincando com a boneca...................................................35

Fotografia 9 – Aconchego da professora............................................................38

Fotografia 10 – Crianças trocam só um pé de seus calçados........................... 39

Fotografia 11 – Carinho da professora...............................................................40

Fotografia 12– Em volta da professora...............................................................40

Fotografia 13 – Beijo carinhoso..........................................................................40

Fotografia 14 – Abraço amigo.............................................................................40

Fotografia 15 – Um colinho.................................................................................40

Fotografia 16 – Amigos bem juntinhos................................................................40

Fotografia 17 – Dividindo o mesmo espaço........................................................41

Fotografia 18 – Parque lugar de princesa...........................................................41

Fotografia 19 – Parque lugar de super-heróis....................................................41

Fotografia 20 – Parque lugar de faz de conta.....................................................42

Fotografia 21 – Parque lugar de compartilhar espaço........................................42

Fotografia 22 – Parque lugar de fazer comidinha...............................................42

Fotografia 23 – Parque lugar para ver meus e-mails..........................................42

Fotografia 24 – Parque lugar de ajuda mútua.....................................................42

Fotografia 25 – Despedida..................................................................................49

Page 10: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

LISTAS DE ABREVIATURAS

ANPED- Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CEI – Centro de Educação Infantil

DCNEI – Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC – Ministério da Educação e Cultura

NUPEIN - Núcleo de Estudos e Pesquisas da Educação na Pequena Infância.

PCSJ – Proposta Curricular de São José

SCIELO- Scientific Electronic Library Online TCC – Trabalho de Conclusão de Curso

UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

USJ – Centro Universitário Municipal de São José

Page 11: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................11

2 CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO..........................................................16

3 OS CAMINHOS DA PESQUISA ......................................................................17

3.1UMA IMAGEM, UM CLICK..............................................................................20

4 AS CRIANÇAS E AS LEGISLAÇÕES: ONDE ESTÃO SUAS VOZES ..........23

4.1 BRINQUEDOS, BRINCADEIRAS E AS CRIANÇAS ....................................26

4.2 CRIANÇAS DE DOIS A TRÊS ANOS: DIZENDO TUDO SEM PRECISAR

FALAR NADA...................................................................................................... .28

4.2.1 Expressões de Sentimentos: gestos e olhares que falam por si................30

4.3 OUVINDO AS CRIANÇAS DE TRÊS A QUATRO ANOS.............................32

4.3.1 Ouvindo as crianças falarem......................................................................34

4.4 DAR VOZ AS CRIANÇAS DE 04 A 05 ANOS...............................................36

4.4.1 Momentos de carinho e afetos....................................................................38

4.4.2 Parque, lugar de troca entre os pares.........................................................39

5 ORGANIZAR E PLANEJAR ESPAÇOS PARA AS CRIANÇAS.....................44

6 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES AINDA PROVISÓRIAS.................................49

REFERÊNCIAS...................................................................................................52

ANEXOS..............................................................................................................55

Page 12: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

11

1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa corresponde ao Trabalho de Conclusão de Curso – TCC

do curso de Pedagogia, do Centro Universitário Municipal de São José e foi

realizada no segundo semestre de 2011, em um Centro de Educação Infantil- CEI

Flor de Nápolis, da Rede Municipal de Educação do Município de São José.

O estudo tem o objetivo dar voz às crianças, ou seja, busca investigar o que

as crianças dizem e revelam enquanto brincam ou como se expressam nas suas

brincadeiras nos contextos de Educação infantil. Discute sobre a importância de se

ouvir o que as crianças têm a dizer a respeito das brincadeiras, dando voz a estes

“sujeitos de pouca idade”. (SARMENTO, 1997).

Com esse trabalho pretendo desencadear uma reflexão sobre a importância

de ouvirmos as vozes das crianças durante suas brincadeiras, valorizando seus

pontos de vistas, suas falas, suas ações como elementos importantes para pensar o

processo de apropriação e ampliação dos conhecimentos pelas crianças nas

Instituições de Educação Infantil.

Seja brincando ou se utilizando das linguagens simbólicas, as crianças estão

sempre interpretando algo, expressando diferentes formas de linguagens, elas têm

um jeito específico de se comunicar, com uma lógica própria, diferente da lógica dos

adultos.

O ato de ver e ouvir as crianças se expressando, nas mais variadas

formas de linguagem, sobre seus interesses e seus jeitos específicos de pensar o

mundo e as questões que as cercam revela a distância e desconhecimento que

ainda separa o mundo adulto deste grupo etário. A brincadeira parece ser uma das

formas de linguagens das crianças para comunicarem aos adultos o seu lugar neste

mundo.

Ao brincar, as crianças dão significados próprios às coisas que vivenciam no

seu cotidiano. Também interpretam, experimentam e exploram, expressando todo o

seu sentimento e emoção.

Partindo do pressuposto de que brincar é direito de todas as crianças e ouvir

o que elas têm a dizer quando estão brincando é uma necessidade e um dever de

todas/os as/os profissionais de Educação infantil, principalmente daqueles que estão

envolvidas/os e comprometidas/os com uma prática que venha ao encontro dos

Page 13: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

12

direitos das crianças, é que se destaca a relevância deste trabalho.

Portanto, com esse trabalho busco dar visibilidade às vozes das crianças,

durante suas brincadeiras, revelando aspectos do brincar que são próprios dos

mundos infantis, e com isto contribuir para a melhoria das práticas pedagógicas em

contextos de Educação Infantil, ampliando as possibilidades de desenvolvimento das

crianças, em todos os aspectos físico, psicológico, intelectual e social.

O interesse pela temática surgiu a partir das vivências durante o período de

estágio realizado em uma instituição pública de Educação Infantil, no Município de

São José.

Nas observações feitas durante o estágio e posteriormente na docência, foi

possível constatar a necessidade e a importância de se ouvir o que as crianças têm

a nos dizer, e que um bom lugar para ouvir as crianças é nos momentos de

brincadeiras, que acontecem nos espaços da Instituição de Educação Infantil,

principalmente no parque.

Na inserção junto às crianças, percebi a importância da brincadeira e do faz

de conta e, principalmente, de suas falas durante estas brincadeiras, pois elas se

utilizam desta linguagem como forma de expressarem seus sentimentos, desejos e

seus pontos de vistas.

A riqueza dos elementos que são revelados durante as brincadeiras das

crianças, os jeitos próprios de interpretar o seu cotidiano, a magia dos personagens

e das possibilidades ilimitadas de transformação dos mundos indicaram um caminho

desafiador para a construção da pesquisa.

O registro a seguir ilustra esse „jeito criança de ser’, quando, certo dia,

“apareceu um elefante na creche”:

Apresentei a eles o livro que se chamava Animais da Floresta.

E durante a contação da história, os bichos foram surgindo: A

onça, o macaco, a girafa, e as crianças foram interagindo com

o livro, fazendo comentários, acrescentando outros textos a

cada imagem mostrada. Uma menina disse: - Eu vi um macaco

lá no circo! Eu virava a página e aparecia outro animal, desta

vez um elefante, e outro menino logo comentou: - Eu tenho um

elefante bem grandão na minha casa. Eu vo trazê ele pra

Page 14: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

13

creche1, i ele vai cume um pedaço da creche. Percebemos que

a linguagem do faz de conta facilitou para uma aprendizagem

significativa, para a criança, onde ela se expressa interage

enquanto aprende vivenciando os personagens do livro.

(REGISTRO DE CAMPO, 2010).2

Por meio do registro é possível ouvir as vozes das crianças e perceber o

quanto o brincar, o lúdico, o imaginário, o faz de conta estão permeando os espaços

da Educação Infantil. Compreender melhor estes elementos que fazem parte das

brincadeiras das crianças, ouvir o que elas nos dizem enquanto brincam, perceber

seus desejos, preferências, seu jeito próprio de ser e agir no mundo poderá

contribuir para que haja uma rotina mais prazerosa tanto para as professoras quanto

para as crianças nos contextos coletivos de educação e cuidados.

Desde o início da minha atuação como professora da Educação Infantil, tenho

procurado ter um olhar mais atento e profundo ao observar uma brincadeira de

criança. Sempre procuro ouvir o que elas estão querendo dizer, com palavras,

gestos, brincadeiras, as revelações que elas fazem que muitas vezes não são o que

parece ser aos olhos de um adulto. Por isso, ter esse olhar aguçado e sensível me

ajuda a perceber e refletir sobre o que de fato tem importância e faz sentido para

uma prática cotidiana planejada e significativa para e com as crianças.

Na atualidade, fala-se muito sobre as crianças enquanto sujeitos sociais de

direitos, garantidos na legislação (LDBEN, 1996). A partir do entendimento das

crianças como sujeitos ativos, participativos, pensantes, é que defini pesquisar as

vozes das crianças durante as brincadeiras, ou seja, ouvindo-as, uma vez que elas

são as maiores interessadas no assunto.

O objetivo da pesquisa é trazer à tona as falas das crianças durante as

brincadeiras, dando visibilidades às suas vozes, sua imaginação, valorizando seus

pontos de vistas, seus desejos e suas ações como elementos importantes para a

vivência plena das suas infâncias.

Para atingir este objetivo, foi necessário refletir sobre a importância de se

ouvir e dar voz às crianças, na tentativa de compreender as linguagens expressadas

1 Estarei apresentando as falas das crianças tal como foram expressas, respeitando seus “jeitos de

falar”, suas singularidades. 2 Esta observação foi realizada durante o estágio, no segundo semestre de 2010, no CEI Flor de

Nápolis. Foi a partir daí que comecei a observar mais atentamente as falas das crianças durante as brincadeiras.

Page 15: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

14

nas brincadeiras, assim como Investigar sobre o que as crianças querem nos dizer

quando estão brincando nos espaços da instituição de Educação Infantil.

Houve um tempo em que as crianças eram consideradas “seres inacabados”,

ou também “adultos em miniaturas”. Não se olhava para as crianças como seres

completos, totais e indivisíveis. Hoje sabemos que elas estão inseridas na sociedade

e são parte da mesma, consideradas seres produtoras de cultura, que interpretam o

mundo a sua maneira, e expressam isso por meio das brincadeiras. (RIVERO,

2011).

Dar voz às crianças, ouvir o que elas têm a nos dizer em suas brincadeiras

significa compreender a linguagem que elas se utilizam para interpretar seus

desejos, anseios e alegrias.

Estudos recentes apontam para a necessidade de aprendermos a ouvir as

crianças (SARMENTO, 1997; CERISARA, 2004; ROCHA, 2008, 2010) de todas as

formas manifestadas, para que possamos interpretar o que elas querem nos dizer

quando estão brincando nesses espaços das instituições de Educação Infantil.

Portanto, ouvir as crianças para que elas nos indiquem, nos digam o que é mais

importante para elas, acerca das brincadeiras.

Porém, essa não é uma tarefa fácil. Dar voz às crianças é uma concepção

ainda muito recente, e por isso, temos que aprender como fazer. Para isso, é

necessário um exercício de sensibilizar o olhar, aprender a observar e refletir muito.

Afinal, o que as crianças querem nos dizer nas suas brincadeiras? Qual a

importância de ouvirmos a voz das crianças, de compreendermos essa linguagem

da brincadeira nos contextos de Educação Infantil? Ao observar as brincadeiras das

crianças e ouvir suas vozes, o que podemos aprender com elas? O que as crianças

nos dizem, o que desejam, o que expressam, o que revelam?

Foram estas questões que desencadearam a necessidade de ir para a

realidade e pesquisar, aprender, ouvir as crianças, compreender o que elas têm para

nos dizer. Ouvir as crianças para que elas nos indiquem, nos digam o que é mais

importante para elas acerca das brincadeiras, pois assim poderemos aprender a

conhecer melhor as crianças, e esta pesquisa poderá ser reveladora de suas vozes.

Para subsidiar esta pesquisa, procurei me apoiar teoricamente em Vigotski

(1984,1994), Kishimoto (1998,2005), Sarmento (1997), Ostetto (2000, 2004, 2008),

Cerisara (2004), Rocha (2008, 2010), entre outros.

O trabalho está estruturado em seis capítulos. No capítulo 1, Introdução, faço

Page 16: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

15

um apanhado geral do trabalho. Em seguida falo sobre a Instituição, depois

apresento Os caminhos da pesquisa. No capítulo 4, As crianças e as legislações:

onde estão suas vozes? Inicio trazendo um pouco sobre as legislações, Crianças,

brincadeiras, características por faixa etária. Na sequência, o capítulo 5, Organizar e

planejar espaços para as crianças; no capítulo 6, Algumas considerações ainda

provisórias e encerro com as Referências e Anexos.

Page 17: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

16

2 OS LUGARES DA PESQUISA A pesquisa foi realizada no Centro de Educação Infantil – CEI Flor de Nápolis,

que pertence à Rede Municipal de Educação de São José e fica localizado no bairro

Flor de Nápolis. O CEI possui uma estrutura física ampla, e atende, neste ano, 164

crianças da comunidade, a maioria em período integral. Ao todo são cinco turmas

matutinas e vespertinas, sendo setenta e cinco crianças no período matutino e

oitenta e nove crianças no período vespertino, isto porque algumas crianças

frequentam somente o período da tarde. Trabalham no CEI trinta e uma

profissionais, entre Diretora, Auxiliares de Direção, Auxiliares de Ensino,

Professoras, Auxiliares de Sala, Professora de Educação Física, Merendeira e

Auxiliar de Serviços Gerais.

Optei por fazer minha pesquisa neste CEI, porque já havia feito o estágio em

Educação Infantil nessa mesma instituição de educação pública. Sempre fui muita

bem acolhida por parte de toda a direção, funcionárias e crianças, onde já me sentia

como parte deste CEI. Todos me abriram as portas para que eu pudesse fazer a

pesquisa com liberdade e tranquilidade.

O CEI abriu-me as portas para que a pesquisa fosse realizada em todos os

espaços, contemplando as salas, o parque, os corredores, os cantos, o refeitório.

Sendo o TCC um momento de suma importância em nossa vida acadêmica,

realizar a pesquisa em um espaço onde nos sentimos acolhidas já é um bom

começo.

Page 18: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

17

3 PERCURSOS METODOLÓGICOS: DESAFIOS DA PESQUISA

O primeiro desafio é descobrir o objeto da pesquisa e construir o projeto de

TCC. Para isto, é necessário mergulhar nas leituras. E o ponto de partida foi a

experiência de estágio, portanto, estava relacionado as falas das crianças durante

as brincadeiras.

Para uma melhor compreensão do objeto investigado, foi necessário,

primeiramente, realizar um levantamento bibliográfico acerca da temática visitando

Bibliotecas, sites, obras estudadas no decorrer do curso de pedagogia, e obras

sugeridas pela orientadora. Os principais autores pesquisados foram: Kishimoto

(2005), Brougère (1995), Vigotski (1984, 1994), Ostetto (2000, 2004, 2008) e

Sarmento (1997), sendo que outros autores também contribuíram e serão citados no

decorrer da apresentação desse trabalho.

Após selecionar os trabalhos, passei para etapa dos fichamentos das

principais obras de interesse.

Com as leituras e reflexões suscitadas durante a elaboração do projeto,

surgiram dúvidas e assim, senti a necessidade de ter um contato mais direto com o

ambiente e o objeto a ser investigado, ou seja, o retorno ao campo de estágio foi

uma necessidade imediata. Queria olhar as crianças, ouvi-las um pouco mais para

poder ter clareza acerca do meu objeto de pesquisa.

Então, retornei ao CEI e fui conversar com as crianças, queria sentir se

conseguiria fazer um TCC tendo como foco as suas vozes. E lá, fui recebida

carinhosamente pelas crianças e equipe de profissionais, o que fortaleceu meu

desejo de realizar a pesquisa naquele espaço ouvindo as crianças nas suas

brincadeiras.

A pesquisa se insere no campo das pesquisas qualitativas, uma vez que

envolveu um período de aproximadamente um mês em campo junto às crianças,

para realizar as observações participantes com registros em Diário de Campo, além

de registros fotográficos.

De acordo com Minayo (1999):

Page 19: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

18

[...] a técnica de observação participante se realiza através do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios contextos. O observador, enquanto parte do contexto de observação, estabelece uma relação face a face com os observados. Nesse processo, ele, ao mesmo tempo, pode modificar e ser modificado pelo contexto. A importância dessa técnica reside no fato de podermos captar uma variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos por meio de perguntas, uma vez que, observados diretamente na própria realidade, transmitem o que há de mais imponderável e evasivo na vida real. (p.59)

A pesquisa foi realizada no segundo semestre de 2011, (TCCII), com crianças

dos dois aos seis anos de idade.

Ouvir as crianças, observar o que elas nos dizem quando estão brincando, ter

um olhar mais profundo e apurado diante das suas brincadeiras, dos

comportamentos, das ações e reações infantis é algo, no mínimo, instigante. É

sempre um grande desafio. Neste sentido, concordo com Cerisara (2004) ao dizer

que “[...] realizar pesquisas buscando captar as vozes das crianças é um desafio

para os adultos, uma vez que, por mais comprometidos que formos com as crianças,

seremos sempre adultos falando pelas crianças e sobre elas”. (p.49).

Por isso, esta pesquisa tem o intuito de ouvir a voz das crianças, buscando

uma maior compreensão das suas variadas formas de linguagens.

Sobre as metodologias de pesquisa com crianças, Sarmento (1997, p. 24) diz

que “[...] as metodologias utilizadas devem ter por principal escopo a recolha da voz

das crianças, isto é, a expressão da sua acção e da respectiva monitorização

reflexiva”.

Para conseguir ouvir as crianças, fui descobrindo, como pesquisadora que, ao

observar as crianças para enxergar de fato o que elas expressam em suas

brincadeiras, é necessário estar livre de preconceitos pré-concebidos diante das

brincadeiras infantis, ressignificando esse olhar, apreendendo seus jeitos próprios de

ser. Neste sentido, Gandini e Goldhaber (2002, p. 52) acrescentam que “através da

observação e da escuta atenta e cuidadosa às crianças, podemos encontrar uma

forma de realmente enxergá-las e conhecê-las”. Assim as crianças fazem quando

estão brincando, nos revelam vivências dos seus cotidianos, que têm significados

importantes para elas, e que muitas vezes passam despercebidas pelo olhar do

adulto.

Neste sentido, Sarmento e Pinto (1997, p. 24) indicam a necessidade de “[...]

partir das crianças para o estudo das realidades de infância”. Os autores

Page 20: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

19

prosseguem dizendo que o estudo das realidades da infância com base na própria

criança é um campo de estudos emergente, e por isso é necessário adotar um

conjunto de orientações metodológicas capazes de auxiliar na recolha da voz das

crianças. Portanto, um estudo que se propõe partir das crianças é desafiador, mas,

de acordo com os autores, de grande relevância, pois:

O estudo das crianças a partir de si mesmas permite descortinar uma outra realidade social, que é aquela que emerge das interpretações infantis dos respectivos mundos de vida. O olhar das crianças permite revelar fenómenos sociais que o olhar dos adultos deixa na penumbra ou obscurece totalmente. Assim, interpretar as representações sociais das crianças, pode ser não apenas um meio de acesso à infância como categoria social, mas às próprias estruturas e dinâmicas sociais que são desocultadas no discurso das crianças. (SARMENTO; PINTO, 1997, p. 25).

Essa pesquisa procura trazer as vozes das crianças em suas mais simples,

espontâneas e verdadeiras formas de linguagens. Tentando trazer suas falas na

forma como elas se apresentam, captando a essência, o sentimento com que as

crianças estavam querendo dizer com essas formas de se expressar. O exercício do

registro diário foi fundamental para captar as vozes das crianças. Sobre o ato de

registrar e documentar, Gandini e Goldhaber (2002, p. 161) afirmam:

[...] o processo de documentação amplia o nosso entendimento sobre os conceitos que as crianças estão elaborando, sobre as teorias que elas estão construindo e sobre os questionamentos que elas propõem. O processo de documentação nos une como comunidade de aprendizagem e nos desafia a expressar os nossos pensamentos, articulada e publicamente, e a aceitar a responsabilidade, como sugere Carlina Rinaldi (1998), de escutar atentamente a fim de compreender o ponto de vista dos outros.

Sobre a contribuição das pesquisas com crianças, Cerisara (2004) fala que:

Pode dizer-se que as pesquisas voltadas para as crianças e as culturas infantis ou para os fazeres e saberes das crianças, trazem uma importante contribuição para a área da Educação Infantil à medida que evidenciam a necessidade de todos os professores educarem o seu olhar no sentido de aprenderem a ver, observar e conhecer as crianças para tomá-las como ponto de partida para a organização do tempo e do espaço dentro das creches e pré-escolas. (p. 51).

Durante a pesquisa de campo, em muitos momentos, as crianças solicitavam

participar ativamente dos meus registros, contribuindo com suas formas de

expressão:

Page 21: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

20

As crianças sempre querendo desenhar no papel onde eu

registrava as observações. Sempre „rabiscavam‟ a folha e

depois queriam assinar o seu nome na obra de arte. Queriam

registrar seus nomes, assumindo a autoria da arte. Queriam

ser visíveis, mostrar como são capazes. Então, o menino João

pegou a folha e a caneta e começou a desenhar e disse:

“Existi minina só com uma perna, né? Eu vi uma cando eu

fui cu meu pai lá nu mercado, Intão vo dejenhá uma minina

assim3.”

(DIÁRIO DE CAMPO/12/08/11).

Foto 1 - Criança desenhando a menina só com uma perna. Fonte: Floripes Maria de Souza, 12/08/2011.

3.1 UMA IMAGEM, UM CLICK:

Duas meninas com quase quatro anos de idade, me observavam, enquanto

eu tirava fotos das crianças. E para não perder o momento exato, muitas vezes eu

ficava no chão, de cócoras, de lado, enfim o meu objetivo era registrar o momento

exato do fato, por isso não tinha uma pose certa para bater as fotos. De repente,

3 Para saber mais sobre os jeitos de falar próprios das crianças, ver Vigotski (2004, p.356) que diz

que “A maioria de nossas crianças fala uma linguagem contra natural, deformada pelos adultos e não se pode imaginar nada de mais falso do que esse discurso dissimulado.”

Page 22: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

21

elas começaram a me imitar, e batiam fotos umas das outras, de várias formas. A

menina que batia a foto buscava um ângulo mais perfeito para tirar a melhor foto.

Exatamente o que eu estava fazendo. Como elas conseguiram captar em mim esse

meu objetivo; que não era só tirar as fotos, simplesmente, mas sim, pegar o melhor

ângulo, e para isso, eu me posicionava de diversas formas, e elas também.

Foto 2 - Meninas tirando fotos.

Fonte: Floripes Maria de Souza, 12/08/2011.

Foto 3 - Meninas tirando fotos.

Fonte: Floripes Maria de Souza, 12/08/2011.

Page 23: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

22

Sobre esta questão, Caputo indica:

Ao regular a abertura da máquina, ao optar por este ou aquele filtro de luz, ao decidir que velocidade será usada na hora do “clic”, ou seja, no exato momento da “captura” do objeto a ser fotografado, o fotógrafo o faz baseado em seus pressupostos teóricos. (CAPUTO, 2001, p. 6).

Procurei registrar fotografando o momento exato do fato, da ação, onde as

crianças brincavam e se expressavam de maneira espontânea e própria delas.

Mas, enquanto eu fazia esses registros, também era observada por elas, que

me imitavam fazendo de conta que tiravam fotos de verdade uma da outra, e ainda

buscavam se posicionar do melhor ângulo possível. Percebi que, ao registrar e

documentar suas ações, também estava sendo observada, registrada, ou seja, as

crianças estavam elaborando suas próprias teorias acerca das minhas ações

naquele espaço. De acordo com Gandini e Goldhaber (2002, p. 161):

[...] o processo de documentação amplia o nosso entendimento sobre os conceitos que as crianças estão elaborando, sobre as teorias que elas estão construindo e sobre os questionamentos que elas propõem. O processo de documentação nos une como comunidade de aprendizagem e nos desafia a expressar os nossos pensamentos, articulada e publicamente, e a aceitar a responsabilidade, como sugere Carlina Rinaldi (1998), de escutar atentamente a fim de compreender o ponto de vista dos outros.

Portanto, registrar fotografando é também uma forma de documentar as

ações das crianças. Estamos observando as crianças em seus momentos de

construção acerca de suas experiências cotidianas e isto nos remete a pensar que

devemos ouvir mais as crianças enquanto brincam. Assim, tentar compreender as

suas mais variadas formas de se expressarem.

Page 24: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

23

4 AS CRIANÇAS E AS LEGISLAÇÕES: ONDE ESTÃO SUAS VOZES?

Cada cultura tem uma maneira diferente de ver as crianças, de como educar

e cuidar delas. Antigamente, meados do século XV, a criança foi considerada como

„adulto em miniatura‟, depois, como um „ser inacabado‟, uma ‘tábula rasa‟ e,

chegando ao início do século XX como uma concepção oriunda da psicologia do

desenvolvimento que considerou a criança como um futuro “vir a ser”.

Todas essas concepções partiam da ideia negativa da infância, daquilo que

faltava às crianças, que eram vistas sem nenhuma especificidade, nem valor

positivo. Eram consideradas à margem da família, e só passavam a condição de

sujeitos prontos e acabados, quando atingiam a idade adulta, que era considerada a

idade da razão. Então, a partir de Rousseau, as crianças passaram a ser vistas

como seres portadores de uma natureza própria que deve ser desenvolvida.

(KISHIMOTTO, 2005).

No pensamento das épocas passadas, a infância era vista como sinônimo de

inocência, fragilidade, docilidade natural e se tinha, em relação a elas, um

pensamento de homogeneidade, onde se acreditava que todas as crianças eram

iguais, com a mesma cultura, interesses e possibilidades de desenvolvimento

(PCSJ, 2000). Este jeito de ver e pensar as crianças como sendo homogêneas

permaneceu até recentemente e ainda não está totalmente superado.

A concepção de infância vem mudando ao longo dos tempos. Hoje, já se

percebe as crianças como sujeitos sociais de direitos, garantidos e reconhecidos na

legislação atual, embora não totalmente concretizados, mesmo assim, significa um

avanço legal.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 205, fala que “[...] a educação

é direito de todos e dever do estado e da família.”Tendo como objetivo, o

desenvolvimento da criança para o exercício da cidadania. E, em seu artigo 208,

define:

Art. 208 - O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade

4;

4 Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006.

Page 25: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

24

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional também reafirma essa

condição de sujeito de direitos e expressa como finalidade o desenvolvimento

integral das crianças (LDBEN/1996). Esta legislação destaca em seu artigo 29: “[...]

a Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o

desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico,

psicológico, intelectual, e social, complementando a ação da família e da

comunidade.”

O Estatuto da Criança e do Adolescente, datado de 1990, também vem

reafirmar a condição legal das crianças e adolescentes enquanto sujeitos sociais de

direitos:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária

5.

Entendemos que as crianças são sujeitos de direitos, e que devemos

respeitá-las e auxiliá-las no seu desenvolvimento integral, e que esta é uma grande

responsabilidade das instituições de educação. Esta finalidade está expressa na

Proposta Curricular de São José (PCSJ, 2000, p. 177):

As instituições de Educação Infantil devem associar práticas de educação e cuidado que possibilitem a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos, linguísticos e sociais da criança. Entendendo que ela é um ser completo, total e indivisível.

O caderno do MEC “Critérios para um atendimento que respeite os Direitos

Fundamentais das Crianças”, vem ratificar essa ideia, definindo alguns direitos a

serem garantidos para estes sujeitos crianças. De acordo com o material, a criança

tem direito à brincadeira, a desenvolver sua curiosidade, imaginação, a um ambiente

aconchegante seguro e estimulante, direito ao contato com a natureza, direito a

saúde, higiene, a uma alimentação sadia, a movimento em espaços amplos, a

proteção, ao afeto e à amizade, direito a expressar seus sentimentos, a atenção

especial, ao desenvolver sua identidade cultural, racial e religiosa. (CAMPOS, 2009,

p. 13).

5 Para maior esclarecimento, leia a Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional) e a

Lei 8069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Page 26: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

25

Nesta mesma perspectiva, recentemente foi instituída as Diretrizes

Curriculares Nacionais Para a Educação Infantil6 (BRASIL, 1999; 2009), que, em seu

Art. 3º, determina:

III – As Instituições de Educação Infantil devem promover em suas Propostas Pedagógicas, práticas de educação e cuidados, que possibilitem a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivo/lingüísticos e sociais da criança, entendendo que ela é um ser completo, total e indivisível.

As diretrizes vêm reforçar a ideia das crianças enquanto seres íntegros e de

direitos, e isto fica evidente no artigo IV:

IV – As Propostas Pedagógicas das Instituições de Educação Infantil, ao reconhecer as crianças como seres íntegros, que aprendem a ser e conviver consigo próprios, com os demais e o próprio ambiente de maneira articulada e gradual, devem buscar a partir de atividades intencionais, em momentos de ações, ora estruturadas, ora espontâneas e livres, a interação entre as diversas áreas de conhecimento e aspectos da vida cidadã [...].

No entanto, não é suficiente apenas a existência de documentos legais para a

garantia das crianças enquanto sujeitos de direitos; as legislações, por si só não

garantem práticas diferentes em relação às crianças, é necessário também uma

mudança de postura e um investimento sério em formação. Assim como não é

suficiente somente deixá-las falar, pois, como diz Rocha (2010, p.16).

Deixar as crianças falarem não é suficiente para o pleno reconhecimento de sua inteligibilidade, ainda que nem isso se tenha conquistado no campo científico e da ação; depende de uma efetiva garantia de sua participação social, da construção de estratégias, em especial no âmbito das Instituições educativas, da qual fazem parte e que tem representado espaço e contexto privilegiado das vivências da infância.

As Instituições de Educação Infantil são lugares onde o exercício desses

direitos das crianças devem ser efetivados nas práticas cotidianas.

6 Resolução CEB, nº 1, de 7 de abril de 1999.

Resolução CNE/CEB 5/2009. Diário Oficial da União, Brasília, 18 de dezembro de 2009, Seção 1, p. 18. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0199.pdf

Page 27: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

26

4.1 BRINQUEDOS, BRINCADEIRAS E AS CRIANÇAS

Já faz muitos anos que o brincar e as brincadeiras das crianças têm sido

objeto de pesquisas nas academias. Um dos pesquisadores que contribuiu muito

com a construção de teorias acerca do brincar e continua sendo referência para

muitos trabalhos é Vigotski. Este autor considera o ato de brincar muito importante

para o desenvolvimento integral da criança. De acordo com ele, as crianças quando

brincam dão novo significado para aquilo que vivem e sentem no seu dia a dia.

Quando uma criança brinca de mãe, de professora, de irmão, ela imita e recria

situações assumindo papéis de na vida real não poderia assumir enquanto criança.

(VIGOTSKI, 1994).

A brincadeira é uma forma de linguagem que a criança faz uso para se

comunicar com o mundo a sua volta. Por meio da brincadeira, a criança se socializa,

expressa sentimentos, interpreta, cria e recria o que está a sua volta. No entanto,

pensar a brincadeira e o brinquedo como fundamentais no desenvolvimento das

crianças é algo recente, deste século.

O brinquedo educativo data dos tempos do Renascimento, e começa a

ganhar espaço a partir deste século com a expansão da Educação Infantil.

Reconhecido como recurso pedagógico que auxilia na educação das crianças

de forma prazerosa, Kishimoto (2005, p. 36) diz que:

O uso do brinquedo/ jogo educativo com fins pedagógicos remete-nos para a relevância desse instrumento para situações e ensino-aprendizagem e de desenvolvimento infantil. Se considerarmos que a criança pré-escolar aprende de modo intuitivo, adquire noções espontâneas, em processos interativos, envolvendo o ser humano inteiro com suas cognições, afetividade, corpo e interações sociais, o brinquedo desempenha um papel de grande relevância para desenvolvê-la.

Quando criamos situações lúdicas, intencionalmente, com o objetivo de

provocar as crianças a certos tipos de aprendizagens, então estamos aí criando uma

dimensão educativa. A professora estará potencializando as situações de

aprendizagem, bem como introduzindo a construção do conhecimento utilizando-se

desse recurso pedagógico, desafiando as crianças a desenvolverem suas

capacidades de ações e habilidades.

Page 28: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

27

Foto 4 - Crianças fazendo arte- Estágio Educação Infantil 2010.

Fonte: Floripes Maria de Souza

O meio social no qual as crianças vivem, vai influenciar na forma como essas

crianças, quando adultos, irão lidar com o imaginário, com a sensibilidade, tornando-

os adultos que sentem e compreendem o faz de conta, se vivenciarem isto, em suas

infâncias. Portanto nós adultos devemos oportunizar as crianças a explorarem suas

imaginações na brincadeira.

De acordo com Kishimoto (2005, p. 53) “A cultura torna-se parte da natureza

humana”. A criança é influenciada pelo meio social no qual está inserida.

Kishimoto ao falar na cultura, destaca a Arte, também como elemento

importante:

A arte, como parte da cultura, é um dos grandes patrimônios da humanidade, ao qual, todos os homens deveriam poder ter acesso para se nutrir cognitiva e espiritualmente, ampliando suas possibilidades de pensamento e de ação no mundo, enriquecendo o espaço imaginativo e simbólico, capazes de alargar e flexibilizar o pensamento racional.

As crianças quando brincam de faz de conta estão geralmente imitando o

mundo adulto, transportando para seu mundo imaginário, situações do seu

cotidiano, ou do seu meio social, onde elas podem transformar em algo mais

agradável e possível o que desejam, enquanto vivenciam esses papéis. Então,

passam a vivenciar os papéis de princesa, de mãe, de médico, do irmão, da

professora e fazem isso da forma mais prazerosa para elas. No entanto, em alguns

momentos, essas brincadeiras de representação também podem provocar tensões.

Page 29: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

28

Fotos 5 - Valentina brincando de faz de conta colocando a fralda na boneca.

Fonte: Floripes Maria de Souza 04/08/11

Isto fica evidente na brincadeira de Valentina, quando cuida de seu bebê,

troca fraldas, imita o papel de mãe ou adulto responsável pelo bebê.

Percebi que ao brincar de trocar as fraldas do bebê, imitava um adulto e que

certamente ela já havia visto alguém trocar as fraldas de alguma criança e, portanto,

está recriando o fato enquanto brinca. Para Vigotski (1984, p.49):

[...] o que define a brincadeira é a situação imaginária criada pela criança. Oportunizar a brincadeira para a criança é dar a ela oportunidade de criar e recriar suas vivências, brincando ela descobre, experimenta, dá novo sentido, nova forma como gostaria que fosse, imita, mas também reproduz situações reais observadas ou vividas por elas.

4.2 CRIANÇAS DE DOIS A TRÊS ANOS DE IDADE: DIZENDO TUDO, SEM

PRECISAR FALAR NADA

As crianças, até os três anos de idade, aproximadamente, „falam‟ muito com

a linguagem corporal, imitam os adultos, dão novos significados àquilo que vêem,

reproduzem situações que vivenciam no seu cotidiano enquanto estão brincando de

faz de conta. Assim nos diz Kishimoto (2005, p. 39):

A brincadeira de faz de conta, também conhecida como simbólica, de representação de papéis ou sociodramática, é a que deixa mais evidente a presença da situação imaginária. Ela surge com o aparecimento da representação e da linguagem, em torno de 2/3 anos, quando a criança começa a alterar o significado dos objetos, dos eventos, a expressar seus sonhos e fantasias e a assumir papéis presentes no contexto social.

Nessa idade entre dois e três anos, as crianças imitam os adultos, mas

também começam a dar significados próprios às brincadeiras, reproduzem aquilo

Page 30: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

29

que vêem se expressando de uma forma toda própria.

Pedro, de dois anos e sete meses de idade, pegou uma

boneca, colocou-a deitada sobre um tapete que estava no

chão, e levantando as pernas da boneca, passou um lenço

umedecido nas partes íntimas da boneca. Depois, olhou para o

lenço como se o mesmo estivesse sujo de verdade. Não sabia

o que fazer com o lenço. Então, segurando-o com as pontas

dos dedos, caminhou até a lixeira e jogou-o fora, na lixeira.

(DIÁRIO DE CAMPO, 04/08/11).

Fotos 6 - Pedro trocando fraldas e limpando a boneca.

Fonte: Floripes M. de Souza, 04/08/2011.

A partir desta representação vivenciada por Pedro, é possível inferir que esta

criança vive uma situação imaginária como se fosse real para ela, ao menos,

naquele momento, na brincadeira. Sobre esta questão, Vigotski (1994, p.136) fala

Page 31: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

30

que: “Para uma criança de até três anos de idade, o brinquedo é um jogo sério. [...]

para uma criança muito pequena, brinquedo sério, significa que ela brinca sem

separar a situação imaginária da situação real”

Ao olhar atentamente para a cena, onde Pedro limpava a boneca como se

estivesse trocando as fraldas de um bebê de verdade, percebi que o menino poderia

estar reproduzindo algo que faz parte do seu cotidiano. Ele imita os adultos, e

quando o faz por meio da brincadeira de representação, vive esse momento como

se fosse real. Ao pegar o lenço pelas pontas dos dedos, como se o mesmo estivesse

sujo, em silêncio, caminhou até a lixeira e jogou fora. É possível que esta criança já

tenha observado um adulto fazer isso antes, em situação semelhante. Portanto,

Pedro pode estar manifestando comportamentos e costumes de seu contexto

cultural e social. Neste sentido, Brougère (2008, p. 97) aponta: “A criança está

inserida, desde seu nascimento, num contexto social e seus comportamentos estão

impregnados por essa imersão inevitável.”

Ao observar as crianças em suas brincadeiras, é possível perceber que elas

dizem muito quando estão brincando. Mesmo quando ainda não desenvolveram a

oralidade, quando não falam uma só palavra, nos dizem muitas coisas por meio de

outras linguagens, gestos, olhares, brincadeiras, expressões, que para elas, naquele

momento em que estão vivenciando, a situação vivenciada é coisa séria, é real.

4.2.1 Expressão de Sentimentos: Gestos e olhares que falam por si

Valentina é uma garotinha linda, muito alegre e esperta. Esta

semana completou três anos de idade. Fala as palavras quase

perfeitamente. Nesse dia, a professora fez uma roda com todas

as crianças. E convidou-as para cantar uma música, chamada

Bonequinha de Paris7. Valentina, então, pegou a boneca

alegremente e começou a cantar a música e a interpretar,

fazendo gestos com a boneca como se fosse real cada fala da

7 “A Bonequinha” Cantada por Xuxa. Composição: Rennan Cantuária da Silva, João Paulo

Gonçalves. Letra da Música: Eu tenho uma bonequinha assim, ela veio de Paris pra mim, ela tem um lindo chapéu e também um amor de véu. Eu ponho ela de pé, não cai; ela diz mamãe, papai. Mas um dia sem razão, escorregou e caiu no chão. Quebrou o rostinho dela e também o dedinho do pé. Eu levei levei ela ao doutor, que sabia curar sem dor. A bonequinha chorou, chorou. Eu também chorei, chorei. Só depois que ela sarou, eu brinquei, brinquei, brinquei.

Page 32: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

31

música. Até chegar a parte da música onde fala que a boneca

se machucou e foi ao médico. Então, ela começa a ficar triste,

abraça a boneca fortemente e para pensativa, com um olhar

fixo distante; fica por alguns instantes abraçada a boneca sem

dizer uma só palavra. (DIÁRIO DE CAMPO, 04/08/11).

Foi possível perceber que a menina, inicialmente estava alegre cantando a

música, e de repente, se deu conta do conteúdo da música e quando a bonequinha

fica doente e é levada ao doutor, a menina sente tristeza, como se fosse verdade. O

gesto da menina em relação à boneca, de segurar cuidadosamente, como se

estivesse confortando-a da dor, da tristeza, reforça as falas da música que

certamente essa bonequinha passou por maus momentos de verdade, então a

menina entristeceu por alguns minutos, solidária à sua boneca.

Foto 7- O olhar entristecido de Valentina Fonte: Floripes M. de Souza, 04/08/2011.

Sobre essa questão, Vigotski (1994, p.128) fala que:

A criança não consegue, ainda, separar o pensamento do objeto real. A debilidade da criança está no fato de que, para imaginar um cavalo, ela precisa definir a sua ação usando um “cavalo de-pau” como pivô. [...], toda a percepção humana é feita de percepções generalizadas e não isoladas. Para uma criança, o objeto é dominante na razão objeto/significado e o significado subordina-se a ele.

Page 33: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

32

Com isso, observei que o brinquedo - a boneca - e a música foram elementos

extremamente importantes para que Valentina sentisse como se fosse real esse fato

e mostrasse que ficou muito triste quando a boneca teve que ir ao médico.

Simplesmente, ela manifestou isso com a expressão corporal, onde os olhos de

Valentina falaram por ela. Sobre isto, Vigotski (1994, p.130) diz que “Para uma

criança, a palavra “cavalo” aplicada ao cabo de vassoura significa “eis um cavalo”,

porque mentalmente ela vê o objeto por trás da palavra.” Assim, percebo que

Valentina segura a boneca e abraça muito forte, porque as palavras da música

diziam que aquela bonequinha estava machucada e foi ao médico. Ela chorou,

passou por maus momentos e, agora em seu colo, estava segura, ganhando

aconchego e afeto.

Ao tratar de sentimentos expressos nas brincadeiras, Brougère (2008, p.14)

afirma que:

A brincadeira não pode estar limitada ao agir: o que a criança faz tem sentido, é a lógica do fazer de conta é de tudo o que Piaget chama de brincadeira simbólica (ou semiótica). O objeto tem o papel de despertar imagens que permitirão dar sentido a essas ações.

4.3 OUVINDO AS CRIANÇAS DE TRÊS A QUATRO ANOS

Dar voz às crianças significa também entrar no mundo da imaginação.

Compreender seus significados, suas lógicas. A imaginação é a forma de linguagem

mais simples que as crianças fazem uso para nos dizer, indicar, comunicar. É uma

forma ilimitada de explorar o conhecimento, abrange tudo que envolve as crianças,

incentiva a evolução social e afetiva das mesmas. Assim, Ostetto (2004, p. 83) diz:

Ensinar a linguagem, permitindo o fluir de significados e sentidos no espaço educativo, em situações sociais reais de enunciação, é ir além dos aspectos formais do conhecimento escolarizado. É seguir abrindo cominhos para a imaginação, é possibilitar ferramentas para as crianças entrarem cada vez mais no mundo simbólico da nossa cultura, que se expressa também, mas não só, pela escrita.

As crianças são surpreendentes e nos dão respostas muitas vezes diferentes

daquelas que esperamos ouvir delas, quando fazemos alguma pergunta.

A professora de Educação Infantil pode se utilizar dessa linguagem que é da

brincadeira, do faz de conta, para que as crianças interpretem o mundo a sua volta,

desenvolvendo com isso seus aspectos afetivos, intelectuais, suas interações,

Page 34: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

33

podendo assim interagir e se relacionar com as outras crianças e com o mundo que

as cerca.

Em uma das observações em sala, registrei o seguinte episódio:

A professora levou as crianças até o tapete da sala para

fazerem uma roda de conversas. Lá ela começou a fazer

algumas indagações:

- Quem tem bichinho de estimação em casa? Perguntou a

professora. Alguns disseram:

- Eu tenho!

A professora continua perguntando:

- Qual é o seu bichinho? Um diz:

- Eu tenho um cachorrinho! O outro diz:

- Eu tenho um tucano e um peixe!

Então, um menino levantou a mãozinha e disse:

- Eu tenho uma barata lá em casa!

(DIÁRIO DE CAMPO, 12/08/11).

As crianças sempre estão nos dizendo alguma coisa. O menino talvez

quisesse dizer com isso que em casa ele não tinha nenhum bichinho de estimação,

porque, caso contrário, ele teria falado qual era o seu bichinho. Ou, é possível que

ele tivesse visto uma barata, que não era de estimação, mas que também é um

bicho para ele. Assim, ele interagiu com os amigos, e respondeu a pergunta da

professora. Ele também participou da atividade, embora certamente, não tenha dado

a resposta que a professora esperava.

4.3.1 Ouvindo as crianças falarem

Costumamos ouvir as crianças? Consideramos importante o que elas nos

dizem? As falas das crianças fazem sentidos para nós? O que elas revelam em suas

falas, em suas brincadeiras?

Matheus três anos e meio de idade dizia para Maria:

- Óia a minha baliga!”, levantando a camiseta;

Page 35: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

34

A menina Maria dizia para outra criança:

- O meu pai compo cola cola pa tomá!”

Hora de pintar o papai no desenho. A menina Maria disse:

- Esse é o meu pai João. A professora pergunta:

- Qual é o nome do papai? Ela responde:

- É malido. (marido).

Miau, miau, au, au, hora de andar de quatro no chão e imitar

os bichinhos. Algumas crianças no chão da sala fazendo au,

au, e miau, miau, como se fossem bichinhos de verdade.

(DIARIO DE CAMPO,12/08/11).

As crianças estão sempre nos dizendo alguma coisa. Se expressando com

gestos, com palavras, com olhares, com sorrisos, com choros. Tudo isso nos diz

alguma coisa. Por isso, é importante organizar as rotinas garantindo momentos onde

as crianças possam falar o que desejam, tendo a certeza de que serão ouvidas, de

que elas são importantes para quem as ouve. Mostrar a elas que naquele momento

estamos ali, inteiros dispostos a ouvi-las. Ostetto (2004, p.89), diz que:

É necessário criar espaços e momentos de interlocução, partilhando a palavra com as crianças, ouvindo suas histórias, deixando fluir suas vivências, possibilitando que cada um e todos se transformem em protagonistas de uma história que só pode ser coletiva.

Ainda nesse mesmo dia, o menino Rafael, de três anos e sete meses de

idade, rondava as meninas para tentar pegar a boneca que as meninas estavam

brincando. Até que houve um momento certo, e ele conseguiu tomar das meninas a

boneca. Ele ficou algum tempo balançando a boneca, colocou-a debaixo do braço,

ficou olhando para a mesma e brincou um bom tempo com a boneca na mão. Foi

possível observar que essa criança sentiu vontade de experimentar como era brincar

com a boneca, pois neste grupo, muitos meninos e meninas brincam juntos de

boneca.

Sobre as brincadeiras de bonecas, Kishimoto (2005, p.18), afirma:

Page 36: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

35

Uma boneca permite à criança várias formas de brincadeiras. Desde a manipulação até a realização de brincadeiras como “mamãe e filhinha”. O brinquedo estimula a representação, a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade.

Fotos 8 - Menino brincando com a boneca

Fonte: Floripes Maria de Souza, 12/08/2011.

Em vários momentos, percebi que as crianças se utilizam desse brinquedo

que é a boneca para vivenciarem experiências parecidas com as ações dos adultos

com seus bêbês, então, quando brincam também imitam, ou ressignificam o que

observam como se estivessem ensaiando uma representação da realidade, ao seu

modo. Segundo Cerisara (2002, p. 154),

Page 37: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

36

[...] Isso acontece porque tanto a atividade lúdica quanto a atividade criativa surgem marcadas pela cultura imediatas pelos sujeitos com quem a criança se relaciona. Em outras palavras, as crianças só puderam criar essa nova síntese porque, em sua experiência anterior, já conheciam todos os elementos envolvidos, sem o que não teriam podido inventar nada.

4.4 DAR VOZ AS CRIANÇAS DE 04 A 05 ANOS DE IDADE

Na roda de combinados com a professora da turma, muitas vozes, diversas

falas e uma infinidade de assuntos paralelos fazem parte das rotinas das crianças.

Algumas crianças não ficavam quietas enquanto a professora

tentava explicar que trabalharia neste dia o personagem Saci

Pererê. Então, ela disse:

- Se não ficarem quietos, vou chamar o pai aqui!

Um menino olhou para ela e falou:

- Meu pai não mora cumigo, ele mora na casa da minha vó.

Logo, outra criança disse:

- Intão, chama a bruxa aqui professora!

Outra criança falou:

- O Saci tem cachimbo. O meu pai também fuma cachimbo, ele

tá ficando velho.

Isto significa dizer que quando nos propomos a ouvir o que as crianças têm a

nos dizer, nem sempre vamos conseguir compreender, ou traduzir para a nossa

lógica adulta, pois elas conseguem misturar assuntos como família, bruxas, Saci

Pererê e velhice em segundos de conversas.

Segundo Ostetto (2000, p. 61), “Ver e ouvir, antes de falar, é um exercício

difícil, porém necessário, que auxilia o adulto/educador na compreensão de seu

papel na relação com crianças pequenas que tem contextos sociais e culturais

diferentes”.

As crianças nos revelam muitas coisas quando se expressam. Ter um olhar

mais profundo diante de seus comportamentos nos leva a perceber que gostariam

de uma maior atenção por parte dos adultos. Ouvir as crianças é importante para

que possamos compreender o porquê daqueles seus determinados comportamentos

ou atitudes, em suas mais profundas manifestações. É tentar enxergá-las

Page 38: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

37

profundamente, buscando compreendê-las na sua essência, nos seus desejos,

sonhos e fantasias. E para isso, é necessário aprendermos a observar, escutar,

olhar atentamente. Só assim, é possível respeitar as crianças, como sujeitos de

direitos que são.

Através da observação e da escuta atenta e cuidadosa às crianças, podemos encontrar uma forma de realmente enxergá-las e conhecê-las. Ao fazê-lo, tornamo-nos capazes de respeitá-las pelo que elas são e pelo que elas querem dizer. [...] para um observador atento, as crianças dizem muito. (GANDINI; GODHABER, 2002, p.152).

Portanto, enxergar as crianças realmente não significa somente olhar para

elas e para as suas brincadeiras, mas nos transportarmos para o mundo infantil, na

tentativa de perceber e sentir a forma como as crianças vivenciam as coisas do

mundo.

4.4.1 Momentos de Carinho e Afetos

No caderno de “Critérios para um Atendimento em Creches que Respeite os

Direitos Fundamentais das Crianças” estão definidos alguns dos direitos

fundamentais que devem ser garantidos nas Instituições de Educação Infantil, entre

eles: “Nossas crianças têm direito à proteção, ao afeto e à amizade; Nossas crianças

têm direito a expressar seus sentimentos.” (CAMPOS, 2009, p. 24-25).

Este material, do MEC, teve sua primeira edição em 1995 e foi novamente

publicado em 2009, com o mesmo texto, no entanto, continua atual e um desafio a

ser posto em prática na sua totalidade. É possível perceber alguns avanços, mas

muito ainda temos que caminhar para garantirmos os direitos previstos neste

caderno, dentro das instituições de Educação Infantil.

Seria mais fácil se pudéssemos colocar em prática todos esses direitos,

dando afeto, amizade, aconchego, possibilitando que elas expressem seus

sentimentos, pois, algumas crianças, em muitos momentos se sentem carentes,

precisando de um abraço, um colo, um carinho. Foi o que registrei neste episódio a

seguir:

Isac se aproxima da professora, vem chegando devagarzinho

e deita a cabecinha sobre seu colo. Esse é um dos momentos

Page 39: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

38

de troca de afeto entre o adulto e a criança, de transmitir

segurança a ela. A professora, então, abraça a criança e faz

carinho. Depois, a criança sai e vai brincar novamente e fica

feliz. (DIÁRIO DE CAMPO, 19/08/2011).

Foto 9- Aconchego da professora. Observação TCC 19/08/11

Fonte: Floripes Maria de Souza

4.4.2 Parque, Lugar de Troca entre os Pares

A cumplicidade entre as crianças está expressa na troca dos calçados. Estão

explícitas ali interações de afetos, amizades e também dos sapatos, onde o que é de

um também pode ser partilhado com o outro.

Page 40: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

39

Foto 10- Crianças trocaram só um pé de seus calçados no parque8

Fonte: Floripes Maria de Souza

Quando observei o momento no parque onde havia crianças de dois a seis

anos de idade brincando juntas e dividindo o mesmo espaço, percebi muito afeto

entre elas. Muitas ficavam bem perto, davam as mãos, abraçavam-se, beijavam e

até seguravam outras no colo, demonstrando que parque também é lugar de trocas,

de afetos, de aconchego e claro, de muitas brincadeiras divertidas. Conforme

Agostinho (2003, p. 9-10):

A alegria e a satisfação por ela manifestada nos fez entender o parque como espaço da creche de grande expressão e encontro de liberdade. Nele, as crianças encontram a chance instituída, permitida da brincadeira livre, oportunidades para movimentos amplos, convívio/confronto com as diferenças, lugar de exercitar o livre arbítrio, onde o adulto é fugazmente um olho vigilante.

O parque é um lugar de aconchego junto às professoras, lugar de expressar

carinho entre os pares, de dar beijinhos e abraços gostosos, de colinho, de falar tudo

o que, muitas vezes, não pode ser manifestado em outros lugares.

8 Foto tirado durante o Estágio Educação Infantil, 2010, na mesma Instituição.

Page 41: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

40

Foto 11 - aconchego professora Foto 12 - Em volta da professora.

Fonte: Floripes Maria de Souza Fonte: Floripes Maria de Souza

Foto 13 - Beijo carinhoso Foto 14 - abraço amigo

Fonte: Floripes Maria de Souza Fonte: Floripes Maria de Souza

Foto 15 - Um colinho Foto 16 - Amigas bem juntinhas

Fonte: Floripes Maria de Souza Fonte: Floripes Maria de Souza

Page 42: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

41

Foto 17- Dividindo o mesmo balanço

Fonte: Floripes Maria de Souza

Fotos 18 - Parque lugar de princesa

Fonte: Floripes Maria de Souza

Fotos 19 - Parque lugar de Super-herói

Fonte: Floripes Maria de Souza

Page 43: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

42

Foto 20 - Parque lugar de faz de conta Foto 21 - Parque lugar de compartilhar espaço

Fonte: Floripes Maria de Souza Fonte: Floripes Maria de Souza

Fotos 22 - Parque lugar de fazer comidinha

Fonte: Floripes Maria de Souza

Foto 23 - Parque lugar para ver meus e-mails Foto 24 - Parque lugar de ajuda mútua

Fonte: Floripes Maria de Souza Fonte: Floripes Maria de Souza

Pude perceber que o parque é um lugar encantado, onde as crianças

interagem, compartilham, criam e ressignificam o que vivem no seu cotidiano. Elas

podem se sentir livre para correr, brincar, experimentar, viver as mais variadas

formas de expressar seus sentimentos, afetos, alegrias, saudades, disputas,

carências, e felicidades, enquanto compartilham o mesmo espaço com crianças de

diferentes idades.

Page 44: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

43

5 ORGANIZAR E PLANEJAR ESPAÇOS PARA E COM AS CRIANÇAS

As crianças, quando estão brincando, expressam o que pensam, gostam,

percebem acerca da sua vida e do mundo. Quando elas brincam, estão produzindo

culturas. De acordo com Rocha (2010, p.16) “[...] as crianças não só reproduzem,

mas produzem significações acerca de sua própria vida e das possibilidades de

construção de sua existência concreta”. Estão criando e recriando fatos,

interpretando o mundo e interagindo com seus pares. Estão, assim exercendo um

direito que é seu, na condição de cidadãs.

Isso engloba uma concepção de criança “[...] como sujeito social de direitos,

um ser completo em si mesmo, que pensa, se expressa por meio de múltiplas

linguagens, que produz cultura e é produzido numa cultura”. (ROCHA; OSTETTO,

2008, p. 104).

Na medida em que as crianças ampliam seu desenvolvimento e

compreendem o mundo a sua volta, o interesse delas acerca dos objetos em si

cresce. E é nas brincadeiras de faz de conta que as crianças ampliam seu

conhecimento do mundo, enquanto imitam os adultos, experimentam novos

desafios. Organizam e reorganizam seus pensamentos, têm uma compreensão do

mundo e da sociedade em que se encontram, e fazem isso enquanto interpretam os

mais diferentes papéis. “No brinquedo, no entanto, os objetos perdem sua força

determinadora. A criança vê um objeto, mas age diferente em relação aquilo que vê”.

(VIGOTSKI, 1994, p.127).

Pensar as crianças enquanto sujeitos de direitos implica pensar as práticas,

as rotinas, os espaços organizados para elas. Neste sentido, quando pensamos em

organizar o espaço no cotidiano das crianças da Educação Infantil em uma

Instituição de Educação e cuidados coletivos, não podemos considerar somente o

espaço físico, devemos observar o grupo de crianças e suas necessidades.

Observar as crianças brincando, do que gostam de brincar ou não, que tipo de

brincadeiras organizam, os espaços que preferem para desenvolver a brincadeira, o

que mais as atrai para dar início a uma brincadeira. E, além disso, é fundamental

ouvir as crianças, dar voz a estes sujeitos de direitos, considerar importantes seus

pontos de vista, sua lógica própria de compreender e organizar os cotidianos.

É importante termos esse conhecimento para, então, a partir daí, garantir que

Page 45: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

44

as rotinas possam ser estruturadas para possibilitar a participação das crianças, que

possam contemplar a simultaneidade de ações deste grupo social, que sejam

desafiadoras, superando e transformando a ideia de uma rotina sempre igual e

repetitiva.

A forma de organizar o trabalho nesse espaço deve possibilitar o

envolvimento das crianças para que as mesmas tenham compreensão do modo

como as situações sociais são organizadas e, também com isso permitir que as

mesmas interajam entre si trocando conhecimentos, descobrindo juntas como se faz,

e trocando experiências umas com as outras. Assim, nos falam as autoras Craidy e

Kaercher (2001, p. 67):

[...] a ideia central é que as atividades planejadas diariamente devem contar com a participação ativa das crianças garantindo as mesmas a construção das noções de tempo e de espaço, possibilitando-lhes a compreensão do modo como as situações sociais são organizadas e, sobretudo, permitindo ricas e variadas interações sociais.

Planejar e organizar os espaços físicos para que as crianças possam

manifestar suas vozes e organizar suas brincadeiras é um dos papéis das

professoras de Educação Infantil, e para isso, é necessário conhecê-las melhor.

Saber que esse espaço não pode ser igual para todas as crianças, pois elas são

diferentes, têm saberes, desejos e culturas diferentes. É importante possibilitar às

crianças movimentos livres, autonomia, aconchego, liberdade para que possam

expressar seus medos, suas alegrias, seus sentimentos, enfim um ambiente onde

elas possam sentir-se seguras e partícipes.

Segundo Prado (1999, p.115):

Dessa forma, como espaço de vida, a creche deve proporcionar espaços para brincar, em que adultos e crianças possam vivenciar, experimentar, sentir, conhecer, explorar toda a riqueza que esta atividade encerra, entre fantasias e histórias, danças, musicas, transgressões, imprevistos, sociabilidades, invenções, convites a brincadeiras e outras manifestações de expressão culturais de crianças pequeninas.

Ao planejar as rotinas para crianças na Educação Infantil, deve-se levar em

conta tudo o que a criança nos indica. Esses indícios são manifestados nas

brincadeiras, nas falas, nas ações, quando elas interpretam, vivenciam, choram,

sorriem, cantam, dançam, perguntam e também explicam as suas maneiras de

Page 46: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

45

compreender as coisas que vivenciam. Com um olhar atento, observação, escuta, é

possível oportunizar a elas brincadeiras onde possam aprender e ampliar seus

repertórios de uma forma mais prazerosa, brincando. Para Ostetto (2000, p. 139):

Planejar na educação infantil é planejar um contexto educativo, envolvendo atividades e situações desafiadoras e significativas que favoreçam a exploração, a descoberta e a apropriação de conhecimento sobre o mundo físico social. Para isso, é preciso que se pense em um planejamento do tempo e do espaço a partir da criança e não do adulto.

A professora deverá estar muito atenta às brincadeiras das crianças,

oferecendo recursos e novos elementos que possam ampliar as atividades infantis,

buscando desafiar para novos conhecimentos, instigando a curiosidade,

promovendo interações entre os pares, mediando conflitos que possam surgir,

Intervindo somente quando necessário, não interferir quando a atividade estiver

organizada e desenvolvida pelas próprias crianças. Assim observar o grupo

brincando será importante para se construir um futuro planejamento a partir das

crianças e para as crianças. Assim nos fala Machado (2005, p. 282):

O educador deve usar todas as oportunidades para fazer avançar o raciocínio infantil para noções mais complexas, sendo sensível para reformular com as crianças as explicações simplistas e erradas sobre os fenômenos. Não se trata de “dar aulas” sobre temas, mas estar atento para não deixar que certos significados se estruturem incorretamente. O educador deve assumir a intencionalidade do ato educativo a cada situação de interação.

Quando a professora propõe uma brincadeira intencional, como instrumento

de ampliação dos conhecimentos, deve primeiramente sentir como as crianças agem

e se envolvem, ver o modo como elas enxergam o mundo, imaginam, reproduzem,

recriam. Entrar nesse mundo de faz de conta e mergulhar com elas nessa aventura

de aprender e ensinar brincando. Neste sentido, Kishimoto (2005, p. 122) nos diz

que:

A concepção e capacidade lúdica do professor. Um professor que não sabe e/ou não gosta de brincar dificilmente desenvolverá a capacidade lúdica dos seus alunos. Ele parte do princípio de que o brincar é bobagem, perda de tempo. Assim, antes de lidar com a ludicidade do aluno, é preciso que o professor desenvolva a sua própria.

Planejar na educação Infantil para que se torne um espaço de emancipação,

liberdade e aconchego, que seja um lugar de múltiplas vivências, é preciso que as

Page 47: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

46

crianças sejam respeitadas nas suas variadas formas de cultura, desejos, saberes

vontades, fantasias e autonomia. É preciso, acima de tudo, que as crianças sejam

ouvidas. É importante aprender a observar e se utilizar dessa linguagem, que é o

faz de conta infantil. Assim, é possível ampliar os conhecimentos acerca das

crianças, compreender como elas interpretam o mundo a sua volta, como se

desenvolvem, suas necessidades afetivas, corporais, físicas, seu intelectual e forma

como interagem e se relacionam com as outras crianças e com o mundo que as

cerca. De acordo com Ostetto (2004, p. 90):

Assim, mais do que dar a voz e a vez às crianças, de forma que possam participar e falar realmente de suas coisas, cabe ao professor investir nesse processo, via linguagem, via diálogo, estabelecendo a polifonia, deixando emergir a polissemia, rompendo com a interpretação única tradicionalmente instalada nos espaços educativos.

Também, é preciso rever práticas pedagógicas que na maioria das vezes se

repetem como “reguladoras e homogêneas”, que não permitem as crianças

vivenciarem um direito seu, dentro desse espaço, que é brincar, inibindo sua

imaginação, regulando suas mais diversas manifestações de crianças, de criar,

recriar, interagir, de dar prioridade ao brincar. Essas práticas não são

emancipadoras e negam às crianças o direito de explorarem sua imaginação e viver

o faz de conta como crianças, nos seus mais variados papéis, em tempos e

momentos em que a professora planejou e, muitas vezes o brincar não conta, nesse

planejamento pedagógico. Preocupadas com essa questão, as autoras Batista et al

(2002, p. 55) nos alertam:

[...] Considero que a relevância desta reflexão consiste em “introduzir uma atitude crítica aquelas práticas que são dadas à nossa experiência presente como se fossem naturais, inquestionáveis e eternas.” É preciso que nos incomodemos com as experiências vividas no cotidiano das instituições de educação infantil, principalmente aquelas cuja tendência é a de uniformizar, controlar, vigiar, conformar, ordenar, engessar o pensamento, a criatividade, a ousadia, a espontaneidade, a ludicidade que constituem as dimensões humanas.

Devemos pensar o planejamento a partir do que as crianças nos indicam.

Elas fazem isso em suas brincadeiras, utilizando suas vozes e as mais diferentes

linguagens. As crianças sempre nos dão dicas, nos falam o que querem e o que não

querem também. Termos que ter um olhar mais atento ao que as crianças nos

indicam e a partir daí, então, planejar as práticas cotidianas.

Page 48: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

47

6 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES AINDA PROVISÓRIAS

Quando decidi pelo tema da pesquisa já tinha certeza do que queria buscar,

pois, desde a 6ª fase do curso de Pedagogia, quando iniciei meu estágio em

Educação Infantil e passei a observar as crianças em suas brincadeiras, já fui me

encantando com a riqueza das vozes que as crianças expressam durante as

brincadeiras.

Buscando sempre um olhar mais profundo e atento aos comportamentos

infantis dentro da instituição, procurei ouvir as crianças, o que elas nos dizem em

suas mais variadas formas de linguagens.

Essa pesquisa revelou que as crianças nos dizem muitas coisas quando estão

brincando. Dizem quando estão felizes, tristes, carentes, que precisam ser ouvidas,

que precisam que se dê valor e atenção as suas falas.

A pesquisa mostrou também que quando brincam, as crianças ampliam seus

repertórios de brincadeiras e conhecimentos. Desenvolvem o campo intelectual,

físico, afetivo, emocional. Quando brincam, as crianças dão um significado todo

próprio, recriam, imitam, fazem de conta, vivem diferentes papéis que só poderiam

experimentar nas brincadeiras e no faz de conta.

Percebi que nas brincadeiras, diversos fatores vêm a contribuir para o seu

desenvolvimento, como o fator social, onde as crianças se relacionam com os pares,

trazendo para as brincadeiras coisas dos seus cotidianos, do meio social ao qual

estão inseridas, mostrando diferentes culturas e assim ampliando seus

conhecimentos para um desenvolvimento que será de extrema importância na

constituição do sujeito.

A pesquisa também trouxe à tona a importância de se ouvir as crianças, de ter

uma sensibilidade maior diante de suas expressões. Onde muitas vezes, tive que

observar as crianças e me transpor para seus mundos infantis, para poder sentir

como elas sentem, vivem o faz de conta, falam nas suas mais variadas linguagens e,

para enxergar isso, tudo olhei muitas vezes suas manifestações “Com olhos de

criança.” (TONUCCI, 1997).

A pesquisa reflete também sobre a importância de garantirmos os direitos das

crianças, expressos nos documentos legais e aponta também a necessidade de se

planejar, com intencionalidade, os espaços para as brincadeiras infantis dentro das

instituições. Sendo que as crianças criam seus próprios espaços para brincadeiras,

Page 49: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

48

basta que lhe possibilitemos, dentro das rotinas, tempos e espaços para que elas se

organizem. Na sala, estavam sempre inventando um canto todo especial, com

cadeiras enfileiradas, ou almofadas amontoadas para fazer de conta que era uma

casinha.

Mas, com certeza, o local preferido da maioria delas, era o parque da

instituição. Lá observei todos os tipos de brincadeiras possíveis, sendo um lugar

onde as crianças corriam livremente, brincavam explorando o potencial físico,

experimentando e desafiando os brinquedos mais altos, por exemplo. E até subiam,

balançavam-se em uma pequena árvore que teimou e vingou no meio do parque.

As crianças brincavam de faz de conta, onde vi muitos super heróis,

princesas, mamães, que brincavam de casinhas e faziam comida „de mentira‟;

Presenciei muitas trocas entre os pares, conflitos onde elas próprias resolviam e

outros em que as professoras mediavam.

Observei muitos momentos de afeto entre as crianças e também com as

professoras; observei, na maioria das vezes, crianças felizes, mas também observei

crianças tristes, nesse lugar que nós adultas, às vezes, pensamos ser só alegria,

mas isso é um pensamento que procura homogeneizar os sentimentos infantis, e

não corresponde a realidade.

No parque, pude perceber que esse é um lugar onde as crianças podem criar,

recriar e vivenciar diferentes papéis, enquanto ampliam e desenvolvem todos os

seus potenciais que são necessários para a formação do sujeito.

Observei que no parque as crianças expressavam diversos sentimentos,

como de alegria, felicidade, e até momentos de tristeza, ou carência, saudades,

resignificavam experiências vividas nos seus cotidianos, imaginavam, exploravam os

espaços. Havia muita troca entre os pares, sentimentos de afeto, e liberdade de

correr livremente subindo nos brinquedos mais altos com capa de super herói,

sentindo-se com muito poder. É no parque que elas percebem esse poder de ser

muito grande e realizar o que desejam.

Na Educação Infantil, é fundamental que se ouça a voz das crianças, o que

elas estão querendo comunicar quando estão brincando, para que compreendendo

a lógica infantil, seja possível pensar proposições em que o ato de ensinar e

aprender se torne menos difícil e doloroso para as crianças, facilitando também a

ação e os planejamentos daqueles que estão assumindo a função de professoras e

professores nestes espaços, tornando as rotinas mais significativas e lúdicas.

Page 50: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

49

Foto 25 - Despedida estágio Educação Infantil 2010

Fonte: Floripes Maria de Souza

Page 51: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

50

REFERÊNCIAS

AGOSTINHO, Kátia Adair. O Espaço da Creche: que lugar é este? Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003. BATISTA, Rosa et al. Partilhando Olhares Sobre as Crianças Pequenas: reflexões sobre o estágio na Educação Infantil. In: 12o Encontro Nacional de Prática de Ensino (ENDIPE), Curitiba. Conhecimento Local e Conhecimento Universal. CD-

Rom. 2004. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional de 5 de outubro de 1988 com alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais nos 1/1992 a 53/2006 e Emendas Constitucionais de Revisão nos 1 a 6/1994. Ed. atual. em 2007. Brasília, DF: Senado Federal, 2007. _______. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e dá outras providências. Estatuto da Criança e do Adolescente. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16.07.1990. _________. LDB. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LEI Nº. 9394 de

20 de dezembro de 1996. Disponível em:

http://www.pedagogiaaopedaletra.com/posts/ldb-atualizada-2011-mec-ldb-

atualizada-comentada-pdf-lei-939496/ Acesso em: 09/12/11.

_________. Ministério da Educação e Cultura. Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Educação Infantil. Resolução n. 5, de 17/12/2009, Brasília: MEC, 2009.

BROUGÉRE, Gilles. Brinquedo e Cultura. São Paulo: Cortez, 1995.

CAPUTO, Stela Guedes. Fotografia e Pesquisa em Diálogo sobre o Olhar e a

Construção do Objeto. In: TEIAS. Rio de Janeiro, n. 4, jul/dez 2001, p. 6.

CAMPOS, Maria Malta. Esta creche respeita criança: critérios para a unidade creche. In: ________. Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças. 6. ed. Brasília : MEC, SEB, 2009.

Page 52: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

51

CERISARA, Ana Beatriz. De como papai do céu, o coelhinho da páscoa, os anjos e papai noel foram viver juntos no céu. In: KISHIMOTO, T. M. (org). O Brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002, p. 154.

CRAIDY, Carmem Maria; KAERCHER, Gládis. (Org). Educação Infantil: Pra que te

quero? Porto Alegre: Artmed, 2001, p. 67.

GANDINI, Lella e GOLDHABER, Jeanne. Duas reflexões sobre a documentação. In: GANDINI, L & EDWARDS, C.. Bambini: a abordagem italiana à educação Infantil.

Porto Alegre: Artmed, 2002, p.150-169. KISHIMOTO, Tizuko M. (Org.) Jogo, brinquedo, brincadeira e a Educação. 8. Ed.

São Paulo: Cortez, 2005, p. 18 -122.

MACHADO, Maria Lucia de A. (Org). Encontros e Desencontros em Educação

Infantil. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2005, p. 282.

MINAYO, Maria Cecília (org.). Teoria, método e criatividade. 13. ed. Petrópolis:

Vozes, 1999.

OSTETTO, Luciana E. Encontros e encantamentos na educação infantil. São

Paulo: Papirus, 2000.

_________; LEITE, Maria Isabel. Arte, Infancia e formação de professores.

CAMPINAS, SP: Papirus, 2004.

_____________. O estágio curricular no processo de tornar-se professor. In: _____.

(Org.). Educação infantil: saberes e fazeres da formação de professores.

Campinas - SP: Papirus Editora, 2008, p. 127-138.

PRADO, Patrícia Dias. As crianças Pequenininhas Produzem Cultura?

Considerações e Cultura Infantil em Creche. Pró-Posições. Campinas: São Paulo,

1999, p. 115.

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ. Proposta Curricular da Rede

Municipal de São José. Secretaria de Educação e Cultura. São José, 2000, p. 177.

Page 53: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

52

RIVERO, Andréa Simões: A Brincadeira das crianças na formação de professores de

educação infantil. In: Revista Zero-a- Seis, n. 23 - Janeiro de 2011 a junho de 2011.

Disponível em: http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/zeroseis/article/view/19076.

ROCHA, Eloisa Acires Candal; OSTETTO, Luciana Esmeralda. O estágio na

formação universitária de professores de Educação Infantil. In: SEARA, Izabel

Christine et al. (Orgs.). Práticas pedagógicas e estágios: diálogos com a cultura

escolar. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2008, p. 103-116.

__________. Diretrizes Educacionais Pedagógicas para Educação Infantil. Prefeitura Municipal de Florianópolis. Secretaria Municipal de Educação. Florianópolis: Prelo Gráfica e Editora Ltda., 2010.

SARMENTO, Manuel Jacinto; CERISARA, Ana Beatriz. (Orgs.) Crianças e Miúdos: Perspectivas sociopedagógicas da infância e Educação. Porto: Edições ASA. 2004. ____________; PINTO, Manuel. As crianças e a Infância: definindo Conceitos: delimitando o campo. In: _______. (Orgs.). As Crianças: Contextos e

Identidades. Braga, Portugal: Centro de Estudos da Criança, 1997, p. 25. SOUZA, Floripes Maria de. Brinquedos e Brincadeiras: Quem Mora Nessa

Casinha? O imaginário Infantil e a reorganização dos espaços da sala. Relatório de Estágio em Educação Infantil, 2010. Centro Universitário Municipal de São José, USJ-SC.

TONUCCI, Francesco. Com olhos de criança. Porto Alegre: Artmed, 1997.

VIGOTSKY L. S. O papel do brinquedo no desenvolvimento. In: A Formação Social da Mente. O Desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores. 3ª ed. São

Paulo: Martins Fontes,1984, p. 49. ___________. A Formação Social da Mente. O Desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores. 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes,1994, p. 127-136.

Page 54: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

53

ANEXOS

ANEXO A – CARTA DE APRESENTAÇÃO EM CAMPO

Page 55: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as

54