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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO E SISTEMAS CLÉRISSON TANK INTEGRAÇÃO DO PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO E MATERIAIS COM ÊNFASE EM REDUÇÃO DE ESTOQUES JOINVILLE – SC 2009

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO E SISTEMAS

CLÉRISSON TANK

INTEGRAÇÃO DO PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO E MATERIAIS

COM ÊNFASE EM REDUÇÃO DE ESTOQUES

JOINVILLE – SC

2009

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO E SISTEMAS

CLÉRISSON TANK

INTEGRAÇÃO DO PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO E MATERIAIS

COM ÊNFASE EM REDUÇÃO DE ESTOQUES

Trabalho apresentado à Universidade do Estado de Santa Catarina como requisito parcial para obtenção do título de Engenheiro de Produção e Sistemas.

Orientador : Professor Lírio Nesi Filho, Dr.

JOINVILLE – SC

2009

CLÉRISSON TANK

INTEGRAÇÃO DO PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO E MATERIAIS COM ÊNFASE EM REDUÇÃO DE ESTOQUES

Trabalho aprovado como requisito parcial para obtenção do título de Engenheiro no Curso de Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade do Estado de Santa Catarina.

Banca Examinadora : Orientador:

__________________________________________________________ Professor Lírio Nesi Filho, Dr. UDESC Membro:

__________________________________________________________ Professor Evandro Bittencourt, Dr. UDESC Membro:

__________________________________________________________ Professor Adalberto José Tavares Vieira, Dr. UDESC

Joinville (SC), 17 de junho de 2009

AGRADECIMENTOS

À Deus:

Pela benção da vida e por iluminar meu caminho.

Aos meus pais:

Por todos os anos de dedicação, mostrando o caminho para uma vida

com dignidade, saúde e respeito ao próximo.

À minha esposa:

Por sua compreensão nos momentos de ausência, por incentivar e

auxiliar na busca pelo conhecimento, também por sua confiança em

Deus e por seu bom humor imbatível.

Ao professor Lírio:

Pelo exemplo de profissional, pelo comprometimento e por seu auxílio

na elaboração deste trabalho.

Espero poder retribuir à todos vocês.

CLÉRISSON TANK

INTEGRAÇÃO DO PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO E MATERIAIS COM ÊNFASE EM REDUÇÃO DE ESTOQUES

RESUMO

A gestão de estoques vem se destacando como uma questão essencial nas empresas, uma vez que este fator influencia significativamente nos resultados financeiros da organização, visto que a falta de controle dos estoques acarreta diversas conseqüências como dificuldades no fluxo de materiais, tempo elevado de atravessamento, pouca visibilidade do processo produtivo e baixos índices de qualidade. Este trabalho tem como objetivo aplicar ferramentas de administração da produção e materiais, focando redução de estoque, com análise de capacidade produtiva e gestão visual no chão de fábrica, integrando os processos de curto, médio e longo prazo. O procedimento metodológico utilizado baseia-se na pesquisa qualitativa e exploratória, sendo desenvolvido um estudo de caso com pesquisa-ação em uma empresa do segmento de componentes automotivos de médio porte que atua com demanda dependente para seus itens armazenados. Nesse sentido, foi desenvolvido um planejamento de materiais em função da capacidade produtiva, utilizando as ferramentas de administração da produção e materiais: plano agregado de produção, RCCP (Rough-Cut Capacity Planning), MPS (Master Production Scheduling), MRP (Material Requirement Planning), CRP (Capacity Requirement Planning), Kanban e a classificação ABC para análise do alcance de estoques. Os principais resultados obtidos indicam uma significativa melhoria na redução e controle de estoques, com aprimoramento no processo de planejamento, por meio de uma sistematização hierárquica dos níveis estratégico, tático e operacional. A gestão visual, com a utilização do Kanban conferiu um controle dos estoques intermediários, conciliando as ordens de produção aos cartões Kanban.

Palavras chave: Estoques, Capacidade produtiva, Gestão visual, Planejamento.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Estoque - amenizar oscilações .................................................................15

Figura 2 - Representação da curva ABC para classificação dos itens ......................18

Figura 3 - Subprocessos do S&OP ...........................................................................23

Figura 4 - Papéis no processo de S&OP...................................................................24

Figura 5 - Políticas de reposição...............................................................................26

Figura 6 - Dados de entrada para o MPS..................................................................27

Figura 7 - Estrutura analítica do produto ...................................................................32

Figura 8 - Gantt de seqüenciamento .........................................................................37

Figura 9 - Quadro Kanban.........................................................................................39

Figura 10 - Mapa de processo - atual........................................................................44

Figura 11 - Plano agregado - GM01..........................................................................45

Figura 12 - Área de Montagem, Usinagem e seus processos...................................47

Figura 13 - Fluxo de materiais entre operações - atual .............................................48

Figura 14 - Mapa de processo...................................................................................51

Figura 15 - Análise inicial do RCCP ..........................................................................53

Figura 16 - Análise final do RCCP.............................................................................55

Figura 17 - Gráfico CRP............................................................................................56

Figura 18 - Fluxo de materiais entre operações - proposta.......................................59

Figura 19 - Quadro de produção Kanban + OP.........................................................60

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Planilha MPS............................................................................................28

Tabela 2 - MPS inicial ...............................................................................................52

Tabela 3 - MPS final..................................................................................................54

Tabela 4 - Análise ABC .............................................................................................62

Tabela 5 - Alcance do estoque..................................................................................63

Tabela 6 - Redução de WIP ......................................................................................66

Tabela 7 - Resultado da análise de cobertura..........................................................66

Tabela 8 - Lista completa da análise ABC ................................................................70

7

LISTAS DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

ACA - Produto acabado

AP - Administração da produção

ATO - Assembly to order (Montagem sob encomenda)

BOM - Bill of material

EBITDA - Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization (ganho

líquido de uma empresa antes da contabilização dos juros, impostos, depreciação e

pagamento de dívidas)

ERP - Enterprise resource planning (Planejamento dos recursos produtivos)

ETO - Engineering to order (Engenharia sob encomenda)

EVA - Economic value added (Método financeiro do performance para calcular o

lucro econômico verdadeiro)

KW - Kalenderwoche (Semana na língua alemã)

MOB - Mão-de-obra

MP - Matéria-prima

MPS - Master production scheduling (PMP - Plano mestre de produção)

MRP - Material requirement planning

MTO - Make to order (Produção sob pedido do cliente)

MTS - Make to stock (Produção para estoque)

OC - Ordem de compra

OP - Ordem de produção

P&D - Pesquisa e desenvolvimento

PCP - Planejamento e controle da produção

PP - Plano de produção

PV - Previsão de vendas

RCCP - Rough-cut capacity planning (Planejamento grosseiro da capacidade)

S&OP - Sales and operations planning (Planejamento de vendas e operações)

SFC - Shop floor control (Sistema de controle da produção)

SMED - Single minute exchange of die (Setup em menos de dez minutos)

WC - Work center

WIP - Work in process

8

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................10

1.1 CARACTERIZAÇÃO DO TEMA..........................................................................11

1.2 OBJETIVO GERAL .............................................................................................11

1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...............................................................................11

1.4 JUSTIFICATIVA..................................................................................................12

1.5 DELIMITAÇÃO....................................................................................................12

1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO............................................................................13

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................. ..............................................14

2.1 GESTÃO ESTRATÉGICA DE ESTOQUES.........................................................14

2.2 SISTEMAS DE PLANEJAMENTO DE PRODUÇÃO E MATERIAIS ....................19

2.2.1 S&OP - Sales and Operations Planning .........................................................21

2.2.2 MPS - Master Production Scheduling .............................................................26

2.2.3 RCCP - Rough-Cut Capacity Planning ...........................................................29

2.2.4 MRP - Material Requirement Planning............................................................31

2.2.5 CRP - Capacity Requirement Planning...........................................................33

2.2.6 SFC - Shop Floor Control ...............................................................................35

2.2.6.1 Gestão Visual ................................................................................................37

2.2.6.2 Kanban ..........................................................................................................38

3 METODOLOGIA........................................ ...........................................................41

4 ESTUDO DE CASO..............................................................................................43

2.3 APRESENTAÇÃO DA EMPRESA ......................................................................43

2.4 PROCESSO DE PLANEJAMENTO ....................................................................44

2.4.1 Oportunidades de melhoria.............................................................................49

2.5 PROPOSTA PARA PROCESSO DE PLANEJAMENTO .....................................50

2.6 PROPOSTA PARA CONTROLE CHÃO DE FÁBRICA........................................57

2.6.1 Kanban ...........................................................................................................58

2.7 MEDINDO O NÍVEL DOS ESTOQUES ...............................................................61

9

2.7.1 Análise ABC....................................................................................................61

2.7.2 Cobertura dos estoques..................................................................................63

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................... .......................................................65

REFERÊNCIAS.........................................................................................................68

APÊNDICE................................................................................................................70

10

1 INTRODUÇÃO

As organizações estão submetidas a constantes alterações nos negócios,

pois os clientes exigem alto nível de serviço, prazos para os pedidos mais curtos a

um custo menor. Com a crescente concorrência, as empresas buscam identificar

formas de melhorar seu desempenho, encontrando diferentes maneiras para obter

vantagens competitivas.

O diferencial de uma boa gestão dos recursos materiais e patrimoniais é o

foco na redução dos custos, que implica gerir bem seus estoques e seu patrimônio

produtivo, de forma a utilizá-los com a máxima eficiência e eficácia.

Em função da ênfase dada ao assunto gerenciamento de estoque, as

organizações têm conseguido reduzir o porte de seu estoque em relação as suas

vendas, conforme afirmam Bowersox e Closs (2008). No entanto, ainda há um

grande percurso a ser percorrido em busca da excelência, o que depende da

integração entre as cadeias de suprimentos com o intercâmbio de informações, além

de um esforço gerencial para reduzir incertezas da demanda.

Neste sentido, há uma necessidade de manter um estoque mínimo, o que

exige um planejamento estruturado, iniciando do nível organizacional estratégico,

passando pelo tático, até o nível operacional, sendo importante que todos estejam

envolvidos de acordo com o propósito da organização, conhecendo a situação atual

e seu objetivo.

11

1.1 CARACTERIZAÇÃO DO TEMA

Este trabalho tem como tema a integração do planejamento da produção e

materiais com ênfase em redução de estoques.

1.2 OBJETIVO GERAL

Aplicar ferramentas de administração da produção e materiais, focando

redução de estoque, com análise de capacidade produtiva e gestão visual no chão

de fábrica, integrando os processos de curto, médio e longo prazo.

1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Para alcançar o objetivo geral proposto neste estudo, foram definidos os

seguintes objetivos específicos:

a) Realizar planejamento de materiais em função da capacidade produtiva,

por meio do uso de ferramentas como Plano agregado de produção,

RCCP, MPS, MRP, CRP;

b) Controlar o estoque em processo com o uso do cartão Kanban e

c) Aferir o nível dos estoques classificando os itens a partir da análise ABC e

verificando seu alcance.

12

1.4 JUSTIFICATIVA

No contexto competitivo em que as empresas estão inseridas, é necessário

criar uma sistemática de planejamento dos níveis de longo, médio e curto prazo para

minimizar problemas como grandes quantidades de estoques geradas pelas

oscilações do mercado, mão-de-obra alocada em máquinas ociosas, grandes

estoques intermediários, atrasos de pedidos por falta de matéria-prima e

necessidade de utilizar horas extras.

A utilização das ferramentas da administração da produção e materiais é

importante no sentido conferir maior integração ao planejamento de materiais e de

produção realizados nos níveis estratégico, tático e operacional.

Com isso, pode-se obter melhoria no nível de serviço ao cliente, com maior

agilidade, flexibilidade a um preço mais acessível. Além disso, é possível

compartilhar junto ao fornecedor informações de consumo, possibilitando que este

se prepare para as demandas futuras.

1.5 DELIMITAÇÃO

A pesquisa será realizada no processo de planejamento de materiais e

produção, para os itens de demanda dependente, no segmento empresarial de

componentes automotivos de uma organização de médio porte. Farão parte deste

estudo os itens que passam pelas áreas de usinagem e montagem.

O Planejamento de materiais ficará subordinado à análise de capacidade

produtiva com propósito de planejar somente materiais necessários no momento

apropriado, respeitando e integrando os níveis hierárquicos de planejamento.

13

1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO

O estudo foi organizado em quatro capítulos, sendo o primeiro introdutório,

com apresentação do tema de pesquisa, os objetivos, a justificativa, a delimitação e

a estrutura do trabalho.

O segundo capítulo apresenta os conceitos essenciais para o

desenvolvimento do estudo de caso, trazendo a visão dos autores sobre gestão

estratégica de estoques e Sistemas de gerenciamento de materiais e produção.

No terceiro capítulo são apresentados os procedimentos metodológicos

utilizados para a realização do trabalho, definindo o tipo de pesquisa e os

instrumentos necessários para a coleta e análise de dados.

O quarto capítulo constitui o estudo e caso, descrevendo a situação anterior

da empresa e as melhorias obtidas com a aplicação das ferramentas da

administração da produção e materiais, seguidas pelas considerações finais,

referências e apêndice.

14

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O propósito fundamental deste capítulo é apresentar os conceitos teóricos

que servirão de suporte para o estudo de caso desenvolvido posteriormente. Desta

forma, realiza-se uma abordagem que contempla a gestão estratégica de estoques e

o sistema de gerenciamento de materiais descrevendo as características de cada

ferramenta da administração da produção e materiais utilizado na parte prática.

2.1 GESTÃO ESTRATÉGICA DE ESTOQUES

O objetivo principal de uma empresa é maximizar o lucro sobre o capital

investido, independente dos recursos que receberam o investimento. Inicialmente os

valores dos estoques são considerados inativos, porém espera-se que este dinheiro

aplicado tenha função de contribuir para que a manufatura atenda aos pedidos na

forma que o cliente deseja, sendo utilizado o mínimo possível de estoques.

Por muito tempo o estoque foi utilizado como uma forma de segurança para a

organização, criando certa independência dos fornecedores e também entre as

operações. Shigeo Shingo (1996) afirma que, inicialmente, somente três fatores

eram vistos como uma forma de maximizar os lucros: redução de custos de matéria-

prima, custos mais baixos de mão-de-obra e custos indiretos reduzidos, sendo que

outro fator era esquecido pelas organizações: maior taxa de giro de capital. Este

último item significa aumentar os lucros com a redução de estoques. A experiência

do autor confirma que com a redução dos estoques, a diminuição da mão-de-obra

15

pode chegar a 40%, também em conseqüência do tempo de atravessamento menos

elevado.

Gestão de estoques é um ponto importante dentro do escopo da

administração da produção. O planejamento de estoques possui um papel critico

para a produção, pois a falta de matéria prima pode acarretar em paradas de linha.

Por outro lado, o excesso de estoque significa dinheiro parado e uma série de

desperdícios. Sendo assim, é preciso conseguir um sistema que nivele ao máximo o

estoque com a real necessidade.

Para Corrêa, Gianesi e Caon (2001), houve uma grande evolução sobre o

gerenciamento de estoques ao longo dos últimos anos. Inicialmente este item era

uma segurança para o bom funcionamento das operações, pois com estoques

grandes não faltaria material. Nos anos 80 muitas empresas adotaram uma nova

maneira de abordar este tema, denominada estoque zero, porém levaram o assunto

ao extremo, enfrentando sérios problemas de abastecimento.

Slack, Chambers e Johnston (2008) comenta que no contexto atual das

organizações, o estoque é criado para compensar diferenças de ritmo entre

fornecimento e demanda. Assim, se o fornecimento ocorrer exatamente quando

demandado, o estoque não existirá. A Figura 1 exemplifica esta situação: a taxa em

que é fornecida a água pelas chuvas difere da demanda da cidade, ou seja, um

tanque (represa) precisa ser mantido, para garantir o fornecimento. Então quando a

taxa de fornecimento for maior que a taxa da demanda, o estoque aumenta, e

quando a taxa de fornecimento for menor que a demanda, o estoque diminui.

Fase 1 Fase 2

suprimento de água consumo de água da cidade

t t

taxa taxa

Estoque

represa

Figura 1 - Estoque - amenizar oscilações

Fonte: Adaptado de Corrêa, Gianesi e Caon, 2001

16

Ainda segundo Slack, Chambers e Johnston (2008), devido ao desequilíbrio

entre a taxa de demanda e a taxa de fornecimento, ocorrem diferentes tipos de

estoques:

a) Estoque isolador – também conhecido como estoque de segurança,

tem o propósito de compensar as incertezas de fornecimento e

demanda. É comum ocorrer variações no sistema produtivo, tais como,

mão-de-obra (MOB) em treinamento, ou acréscimo no pedido do

cliente.

b) Estoque de ciclo – ocorre quando alguma operação não tem

capacidade para fornecer simultaneamente todos os itens, os quais

são produzidos em lotes, gerando automaticamente estoque.

c) Estoque de antecipação – geralmente é usado quando há flutuação

significativa, e também previsível, na demanda. Por exemplo,

sazonalidade no fornecimento de matéria-prima, ou quando há

dificuldade para compra de determinado item.

d) Estoque no canal – existe porque o material não vai diretamente para o

ponto de demanda, passa pela expedição, é carregada no caminhão,

transportado e descarregado. Ou seja, é todo estoque em trânsito.

Um dos motivos para existir estoque é a proteção contra as incertezas. De

acordo com Davis, Aquilano e Chase (2001), o estoque de matéria-prima (MP)

previne contra variações devido ao atraso nas entregas ou variações nas

quantidades de MP. As variações no fluxo de material ou a falta de

balanceamento resultam no aumento do estoque em processo (WIP). Há

também variação na demanda de produtos acabados (ACA) que leva a criar um

estoque de segurança de produtos prontos.

Outro motivo para existência do estoque na organização é o suporte a um

plano estratégico. As empresas geralmente adotam a estratégia de capacidade

constante, na qual o estoque de ACA permitirá a melhor utilização de sua

capacidade produtiva.

Pode-se mencionar ainda a obtenção de vantagens da economia de

escala que também motiva a criação de estoques. Existem custos fixos atrelados

aos processos, então ao aumentar o lote de produção, este custo fixo é diluído a

todos os itens do lote.

17

Por outro lado, manter estoque gera altos custos que precisam ser

conhecidos e considerados antes da tomada de decisão, conforme citam Davis,

Aquilano e Chase (2001):

a) Custos de manuseio e manutenção – considera-se aluguel ou

depreciação do armazém, seguros, segurança, pessoal de apoio. Se a

empresa tem excesso em caixa e optar por aumentar o estoque, ela deve

considerar a perda de juros que poderiam ser aproveitados em um

investimento de curto prazo, da mesma forma isto vale para empréstimos

feitos para manter o estoque. A obsolescência deve ser observada para

valorizar a depreciação dos produtos substituídos com muita freqüência e

perdem seu valor, o que acontece também com produtos perecíveis.

b) Custos de Preparação ou de Pedido – estão associados à liberação de

um pedido ou produção interna, são custos fixos. Estes podem incluir

taxas de entregas, custos de expedição, tempo para processar uma

ordem de compra ou tarifas telefônicas.

c) Custos de escassez – existe através da falta do produto para o cliente,

geralmente é a soma do lucro perdido com a insatisfação do cliente. É

difícil obter o balanço, pois há dificuldade em mensurar os efeitos dos

clientes perdidos, que pode ser um atraso na entrega e somente isso, ou

o cliente pode desenvolver outro fornecedor devido a incapacidade de

atendimento de suas necessidades, também pode haver a perda do

cliente.

d) Custos de compra – São os custos diretos de material, são custos

diretamente variáveis com a quantidade comprada, podendo haver

variação pela aquisição de grande volume ou de lote.

e) Custos de ineficiência da produção – os altos níveis de estoque impedem

ver os problemas da produção, este assunto será detalhado no assunto

Kanban.

A maioria das empresas conhece e empenha-se em reduzir este custos,

porém conforme Davis, Aquilano e Chase (2001), controlar milhares de itens no

estoque sempre é um desafio para qualquer empresa. Uma solução proposta é

dar maior importância a alguns itens, pois não há tempo nem dinheiro suficiente

para controlar todos como se deseja. Alguns itens têm grande rotatividade, se um

destes faltar afetará vários clientes. Já outro item pode ter um valor muito alto e

18

pouco giro, assim, um grande estoque seria um desperdício de dinheiro. Para

auxiliar neste processo faz-se uso da Análise ABC, conceituado como um

método para agrupar itens de estoque pelo volume de dinheiro envolvido com a

proposta de identificar aqueles itens a serem monitorados de perto.

Geralmente poucos componentes concentram grande parte das

movimentações do estoque, muitas vezes referenciada como regra 80/20, 80%

do valor de estoque se concentra em 20% dos itens que são classificados como

de classe A. Os Itens classe B são referenciados como 10/30 e os Itens classe C

são chamados 10/50 (SLACK, CHAMBERS e JOHNSTON, 2008).

Este percentual pode variar na literatura existente sobre o tema. Para

Nogueira (2006), o valor de estoque e o percentual de quantidade dos itens A

correspondem a 80/20, enquanto os itens da classificação B correspondem a

15/30 e os itens C correspondem a 5/50. Independentemente do percentual, o

interessante é aplicar a ferramenta e analisar o resultado. Quando os itens do

estoque são conhecidos, é possível avaliar se um item próximo do limite entre

duas classes pertence à primeira ou à segunda classe. A Figura 2 é um exemplo

de uma curva ABC, onde os itens foram separados, considerando sua relevância

para a produção.

Figura 2 - Representação da curva ABC para classificação dos itens

Fonte: O Gerente (2006)

19

Conhecer o nível de estoque é extremamente importante em uma

empresa para medir se a metas estão sendo alcançadas. Por exemplo, sabendo-

se que o estoque do item X deve ser de 20 dias, é possível controlar o nível de

estoque de forma consistente (SLACK, CHAMBERS e JOHNSTON, 2008).

Porém, é importante ressaltar que para controlar os estoques alguns

pontos precisam ser considerados, estes são definidos por Dias (2005): o

primeiro ponto refere-se aos diferentes tipos de estoques existentes na empresa;

outro considera que há diferentes visões com relação ao nível ideal de estoque

que deve ser mantido e um terceiro aspecto é a relação entre o nível do estoque

e o capital necessário envolvido.

Considerando a importância da gestão estratégica de estoques na

organização, cabe mencionar que os sistemas de planejamento de produção e

materiais são essenciais para atingir resultados positivos sobre o gerenciamento

de estoques.

Antes de dar seqüência ao próximo capítulo, é importante distinguir o que

é demanda dependente e demanda independente, Davis Aquilano e Chase

(2001) esclarecem da seguinte forma: com a demanda independente, as

quantidades não se relacionam a outro item, por exemplo, um item de revenda

ou um item acabado. Já um item com demanda depende, ele dependerá de outra

demanda para gerar necessidade, por exemplo, os componentes ou matéria-

prima de um produto acabado, eles somente terão demanda caso o item pai, ou

item de nível acima do seu, conter alguma demanda. A estrutura de produto na

Figura 7 página 32, ilustra de forma objetiva, o item “A” é o único item de

demanda independente, o restante dos itens são de demanda dependente.

2.2 SISTEMAS DE PLANEJAMENTO DE PRODUÇÃO E MATERIAIS

Os sistemas de planejamento de produção e materiais vêm sendo

incessantemente estudados por especialistas da área e por organizações, buscando

uma forma mais eficaz de gerenciar, planejar, controlar e agilizar este processo. A

20

abordagem deste tema vem sendo realizada por meio de diferentes métodos. A

utilização de softwares cada vez mais sofisticados permite uma análise detalhada,

resultando na otimização dos processos. A integração das informações é uma busca

constante para a obtenção de melhores resultados, porém demanda uma equipe

preparada, com conhecimento amplo sobre negócios e também sistemas

informatizados.

A administração da produção pode ser entendida como o processo de

transformar, manufaturar ou agregar valor ao produto. Segundo Martins e Laugeni

(2006) é o conjunto de atividades responsáveis pela transformação de um bem em

outro com maior utilidade.

Administração da produção [...] Gestão do processo de conversão que transforma insumos, tais como matéria-prima e mão-de-obra, em resultados na forma de produtos acabados e serviços (DAVIS, AQUILANO e CHASE, 2001, p. 24).

Desde a origem do homem existia a atividade de produção, pois quando ele

polia a pedra com o propósito de utilizá-la como ferramenta para suas atividades,

isso já caracterizava produção, mesmo não havendo comércio, porque o produto

acabado era utilizado por quem o produzia. Segundo Slack, Chambers e Johnston

(2008) a função produção representa o conjunto de recursos destinados à produção

de seus bens.

A administração de operações, similarmente à administração da produção

contempla o controle e direção dos processos para transformação de um bem em

outro. Atualmente caracterizada pela administração de pessoas, capital, informação

e materiais. Ritzman e Krajewski (2004) ainda ressaltam que cada parte da empresa

precisa projetar e operar processos com qualidade.

A administração de materiais é uma ferramenta imprescindível para manter as

empresas em um nível competitivo, pois foca a redução custos, produção com

qualidade e eficiência, eliminação de estoques desnecessários, agilidade na entrega

do produto, e diminuição no tempo do processo produtivo.

Segundo Chiavenato (2005), a administração de materiais é um importante

capítulo de qualquer literatura sobre administração da produção, entretanto a maior

parte dos seus assuntos está contida nos livros sobre administração da produção ou

21

sobre planejamento e controle da produção (PCP) de forma relativamente pequena,

que contempla apenas aspectos estáticos dentro de abordagens tradicionais.

Apenas recentemente a Administração de Materiais surgiu como disciplina

autônoma, utilizando técnicas e métodos próprios, que ao serem utilizados de forma

eficiente e eficaz contribuem significativamente para a competitividade dos negócios.

É importante conhecer os conceitos de administração de produção e

operações, assim como a administração de materiais, para que se tenha melhor

visibilidade do propósito deste estudo.

2.2.1 S&OP - Sales and Operations Planning

O S&OP, ou planejamento de vendas e operações, é fundamental para o

processo de gestão da empresa, pois a partir deste plano são realizadas as análises

estratégias da instituição. Corrêa, Gianese e Caon (2001) afirmam que o S&OP

propõe assegurar que as decisões tomadas no nível institucional sejam seguidas

numa visão de longo prazo, além de integrar os diferentes níveis organizacionais e

associar horizontalmente as decisões como marketing, manufatura, finanças, etc.

Segundo Wallace (2001) o planejamento de vendas e operações auxilia no

balanceamento da demanda e oferta das empresas, para tal, há um enfoque nos

volumes agregados (famílias e grupos de produtos), pois o plano a longo prazo

procura analisar o montante a ser produzido e não os itens detalhadamente. Desta

forma, torna-se possível controlar com agilidade os problemas de mix (produtos

individuais e pedidos de clientes).

Segundo essa base foram identificados quatro fundamentos: demanda e

oferta, volume e mix, que serão explanados a seguir:

a) Demanda e oferta: geralmente as perdas com o desbalanceamento entre

a oferta e demanda são significativos. Segue algumas conseqüências

quando a demanda ultrapassa demais a oferta: o atendimento ao cliente

será afetado, haverão atrasos nas entregas, negócios serão perdidos por

falta de capacidade. Também haverá aumento nos custos, serão aplicado

22

horas extras, os fornecedores poderão alterar os preços. A qualidade fica

comprometida, pois todos os esforços são aplicados para entrega dos

produtos, deixando as especificações em segundo plano, quando houver

contratação temporária os operadores não estarão preparados o

suficiente para realizar a tarefa dentro dos padrões antes realizados,

assim como os novos fornecedores não estarão preparados para manter

o mesmo padrão do principal fornecedor.

b) Volume e mix: é importante diferenciar de forma sistêmica estes dois

pontos. Volume se refere a situação geral, quantidade, índices, famílias

de produtos. Mix, por sua vez, se refere ao detalhe, variedade, seqüência,

produtos específicos e pedidos dos clientes. A missão do S&OP é a de

balancear a demanda e oferta em nível de volume, referindo-se em níveis

globais de vendas, índices de produção, inventários agregados. Percebe-

se que ao fazer um bom trabalho de planejamento e replanejamento de

volume durante o ano, problemas de mix são minimizados. (Wallace,

2001).

Buscando entender como acontece o ciclo de execução do processo S&OP, a

Bremer, Azevedo e Matheus (2008) afirma que o S&OP pode ser dividido em cinco

principais fases:

a) Prever vendas: subprocesso que utiliza ferramentas de inteligência de

mercado para prever a demanda, com a seleção de modelos matemáticos

mais adequados para sua unidade.

b) Planejar vendas: os gerentes comerciais e vendedores ajustam a previsão

com as informações advindas do mercado. Outras ações são discutidas

neste momento como, por exemplo, promoções ou retirada de produtos

do portfólio da empresa.

c) Planejar operações: analisa se a previsão de vendas é viável do ponto de

vista de capacidade produtiva, suprimentos, armazenagem e entregas,

identificando se há algum desbalanceamento entre demanda e

operações. Caso haja algum desbalanceamento, são verificadas as

alternativas como, por exemplo: horas extras, otimização de lotes de

produção, subcontratações. Algumas alternativas são levantadas e

valorizadas, exemplos: lucro líquido sobre faturamento, EVA (Economic

value added), EBITDA (Earnings before interest, taxes, depreciation and

23

amortization). Também é conhecido como plano agregado por outros

autores.

O plano agregado é útil porque se concentra em uma linha de ação geral, coerentes com metas e objetivos estratégicos da empresa, sem se ater muito a detalhes. Por essa razão, os planos de produção e de pessoal são preparados agrupando, ou agregando, produtos, serviços, unidades de mão-de-obra ou unidades de tempo similares. (RITZMAN e KRAJEWSKI, 2004, p. 329).

d) Selecionar cenário de planejamento: Fase que compreende o

alinhamento de todas as áreas para viabilizar o cumprimento do cenário

selecionado.

e) Comunicar decisões: por meio da ata da reunião é divulgado o cenário

definido para o desdobramento das informações dentro de cada uma das

áreas da empresa por seus respectivos gerentes.

A Figura 3 ilustra os cinco passos do planejamento integrado.

Figura 3 - Subprocessos do S&OP Fonte: Adaptado de Bremer, Azevedo e Matheus, 2008

Porém para atingir os resultados esperados com o auxilio desta excelente

ferramenta, é necessário o envolvimento de toda a organização, conforme dito por

Bremer, Azevedo e Matheus (2008), buscando manter o alinhamento entre as

decisões dos níveis estratégico e operacional, o S&OP faz com que os planos

táticos de várias áreas estejam integrados buscando um melhor cenário, não

24

somente de cada área, mas da empresa como um todo. A Figura 4 facilita o

entendimento das funções do processo S&OP nas empresas:

Figura 4 - Papéis no processo de S&OP

Fonte: Bremer, Azevedo e Matheus, 2008

O processo permite maior visibilidade das operações e utiliza as informações

relacionadas à cadeia para criar cenários e alternativas para atendimento da

demanda. Então ocorrem as decisões relativas à forma de atendimento dessa

demanda, definindo as prioridades. Por último é realizado o acompanhamento do

planejado, controlando as operações envolvidas.

Diante destas funções bem implantadas, Wallace (2001) cita alguns dos

benefícios do S&OP:

Para empresas que trabalham com políticas de reposição MTS (Make to

stock), o cliente é bem atendido ao mesmo tempo em que os estoques de ACA

(Produto acabado) são reduzidos. Já para as empresas que trabalham com políticas

MTO (Make to order), o cliente é bem atendido com prazos de entrega curtos. Os

conceitos destas políticas de reposição estão no final deste título, com ilustrações e

suas aplicações conforme Figura 5, na página 26.

Os ritmos de produção são mais estáveis, todas as áreas que auxiliam a

produção estão preparadas para tal demanda e conseguem realizar as tarefas com

25

maior eficiência. O número de operadores está bem dimensionado com devido

treinamento, tendo como conseqüência maior produtividade.

Também se percebe que no trabalho em equipe do nível médio de

administração e grupo de executivos há maior responsabilidade com o desempenho

do plano. Além de uma maior visibilidade antecipada, evitando surpresas. Aumento

na capacidade de se efetuar mudanças caso haja necessidade.

Outra vantagem importante é o custo na utilização deste planejamento, há um

número baixo de pessoas envolvidas, isto acarreta menos custos em treinamento e

não exige pessoas em tempo integral (isto para empresas de porte médio).

Wallace (2001) ainda ressalta que, além dos benefícios já descritos para

empresa, há também uma repercução positiva nos fornecedores, pois quando o

plano é compartilhado, estes poderão se preparar para a demanda necessária. Os

ritmos de produção serão mais estáveis e as alterações antecipadas não impactarão

expressivamente nos custos em geral. Também, haverá maior capacidade de

reação às mudanças no mix.

Com o intuito de esclarecer alguns conceitos sobre políticas de reposição ou

ainda chamados modelos de referência para gestão da produção, segue definição

de Bremer e Lenza (2000):

a) Produção para estoque (MTS – Make to stock): Caracteriza por produtos

padronizados, utilizado quando o tempo de espera do cliente pelo produto

é menor que o tempo de produção do item;

b) Montagem sob encomenda (ATO – Assembly to order): os subconjuntos e

grandes componentes são armazenados até o recebimento dos pedidos

dos clientes contendo as especificações dos produtos finais, desta forma

o tempo de espera do cliente é moderado e ainda tem certa interatividade

na elaboração do produto;

c) Produção sob encomenda (MTO – Make to order): a etapa de produção

somente inicia após o recebimento formal do pedido. Há possibilidade de

o cliente alterar muitas características do produto em função de sua

necessidade. O tempo de espera varia de médio para longo prazo e

d) Engenharia sob encomenda (ETO – Engineering to order): o projeto do

produto é realizado totalmente baseado nas especificações do cliente. O

tempo de espera do cliente é longo e com grande interação.

A Figura 5 compara as diferentes aplicações destas políticas de reposição:

26

Figura 5 - Políticas de reposição

Fonte: Breme e Lenza, 2000

As cores mostram quando a produção é realizada sob previsão e sob pedido

do cliente em relação à fase do processo produtivo.

2.2.2 MPS - Master Production Scheduling

O MPS ou PMP (Plano mestre de produção) é uma ferramenta de nível

estratégico que permite a visualização simplificada da demanda dos produtos bem

como as quantidades a serem produzidas ao longo de um determinado período.

Segundo Corrêa, Gianesi e Caon (2001), o MPS desagrega o plano de produção

gerado pelo S&OP em níveis para programas mais detalhados de produtos

acabados. Além disso, o MPS deve respeitar hierarquicamente as decisões do

S&OP, colaborando com a melhoria no processo de atendimento ao cliente.

Slack, Chambres e Johnston (2008) definem esta ferramenta da seguinte

forma:

27

[...] o MPS contém uma declaração da quantidade e do momento em que os produtos finais devem ser produzidos; esse programa direciona toda operação em termos do que é montado, manufaturado e comprado. É a base do planejamento de utilização de mão-de-obra e equipamentos e determina o aprovisionamento de materiais e capital (SLACK, CHAMBERS e JOHNSTON, 2008, p. 455).

Pode-se dizer ainda que, segundo Tubino (2000), o MPS passa assumir um

compromisso para entrega de produtos acabados que formalizará quantidades

assim estabelecidas. Para isso, a área de finanças coordenará os gastos com

estoques, horas extras, novos equipamentos. Assim como a área de marketing

passará sua previsão de vendas e pedidos de clientes, a engenharia fornecerá

padrões de tempos e consumos de materiais. Compras informará suas necessidade

sobre logística de fornecimento externo, recursos humanos apresentará um plano de

treinamento e contratação de pessoal e a produção levantará suas limitações de

capacidade.

Esta idéia é ressaltada por Slack, Chambers e Johnston (2008), ao afirmar

que é de extrema importância que todas as fontes de demanda e informações sejam

relevadas no MPS conforme Figura 6.

Figura 6 - Dados de entrada para o MPS

Fonte: Adaptado de Slack, Chambers e Johnston, 2008

28

O resultado do MPS pode ser expresso em uma planilha simples e objetiva,

sendo apropriado informatizar a ferramenta conforme ressalta Tubino (2000). A

Tabela 1 mostra um exemplo de arquivo de MPS. Na primeira linha (Demanda

prevista), aparecem as quantidades previstas para cada período. Já na segunda

linha (Demanda confirmada), estão as quantidades confirmadas, sendo os pedidos

em carteira, note que para cálculo dos estoques projetados, a demanda que

prevalece é com a maior quantidade em cada período. Lembrando que, para este

exemplo, a planilha deverá manter estoque mínimo de 50 peças.

Tabela 1 - Planilha MPS

Julho Agosto Estoque Mínimo de 50

1 2 3 4 1 2 3 4

Demanda prevista 50 50 50 50 60 60 60 60

Demanda confirmada 55 40 10 5 0 0 0 0

Recebimentos Programados 100 0 0 0 0 0 0 0

Estoques projetados 5 50 100 50 100 140 80 120 60

PMP 100 100 100 100

Fonte: Adaptado de Tubino, 2000

Ainda conforme Tabela 1, na terceira linha (recebimentos programados),

estão as quantidades programadas anteriormente. Na quarta linha (Estoque

projetados), há informação do saldo em estoque no período, onde são consideradas

todas as outras linhas da planilha, o cálculo é realizado da seguinte forma: estoque

projetado do período anterior - maior demanda do período + recebimento

programado + PMP = estoque projetado. Tomando como exemplo o quarto período:

50 – 50 + 0 + 100 = 100. E por fim, a quinta linha mostra o PMP, as quantidades que

devem ser produzidas período por período.

Tubino (2000) ainda ressalta que é importante definir o plano mestre de

produção em duas dimensões: a primeira é a determinação da unidade de tempo de

cada período, este tempo dependerá da velocidade de produção dos produtos,

podendo variar entre uma empresa e outra. Geralmente as empresas trabalham com

períodos semanais, é muito raro utilizar períodos diários no MPS, empresas com

processos produtivos muito longos podem utilizar períodos mensais.

A segunda dimensão de tempo é o horizonte de planejamento, até onde o

planejamento deve enxergar. É dividido em duas partes, um nível firme de horizonte

curto, utilizado para programação da produção e recursos. Este nível, se alterado

29

significativamente, custa caro e é indesejável. Já o segundo nível é sujeito a

alterações, sendo usado para verificação da capacidade produtiva e negociar com

outros setores.

2.2.3 RCCP - Rough-Cut Capacity Planning

O RCCP, também chamado planejamento grosseiro da capacidade ou ainda,

planejamento de recursos críticos segundo Slack, Chambers e Johnston (2008),

determina a capacidade necessária para cumprir o plano mestre de produção, esta

análise verifica somente gargalos e recursos-chaves. Caso seja identificado que a

capacidade é extrapolada, deve-se ajustar o MPS.

Davis, Aquilano e Chase (2001) esclarecem que o planejamento grosseiro da

capacidade:

[...] Revisa o PMP para se certificar de que restrições óbvias de capacidade não irão exigir mudanças na programação. O planejamento grosseiro da capacidade inclui a verificação se instalações fabris e de armazenagem, os equipamentos e os trabalhadores estão disponíveis e se os fornecedores chave alocaram a capacidade adequada para fornecer os materiais quando necessário (DAVIS, AQUILANO e CHASE, 2001, p. 442).

O RCCP tem como objetivo apoiar as decisões do plano-mestre de produção.

Desta forma, segundo Corrêa, Gianesi e Caon (2001), este recurso auxilia a criação

de um plano de produção de produtos finais viável. Assim sendo, é possível

visualizar problemas de grande escala na capacidade, permitindo retornar ao MPS e

ajustar as quantidades por período.

Muito importante salientar que este cálculo de capacidade deve ser simples e

rápido, assim como o MPS. A análise neste nível de atuação da estrutura

organizacional (tático) não trata mais somente de famílias, porém o cálculo não é

realizado para todos os recursos, centros produtivos ou departamentos, trabalhando

com foco na restrição ou recursos críticos. O cálculo do RCCP não enxerga os

30

componentes dos produtos acabados, pois este papel cabe outra ferramenta que

será estuda mais a frente. É imprescindível ressaltar, nesse sentido, que a

concepção do RCCP entenderá que os produtos analisados no plano necessitam ser

totalmente manufaturados, sendo verificado somente o recurso restritivo.

Por tanto, é apropriado compreender de que forma deve-se trabalhar com as

restrições do sistema. Para Cox e Spenser (2002), o processo de pensamento da

teoria das restrições elaborado por Eliyahu M. Goldratt é uma das ferramentas mais

importantes para gerenciamento no século XX. Resumidamente o processo de

atuação no recurso restritivo se dá por cinco passos:

a) Identificar a restrição;

b) Explorar a restrição;

c) Subordinar a restrição;

d) Elevar a restrição do sistema e

e) Medir e refocar na próxima restrição.

Após encontrar o “elo mais fraco” do sistema, deve-se aproveitar ao máximo

sua capacidade, então o restante dos recursos devem ser organizados de tal forma

que a restrição seja priorizada na questão produtividade, a partir deste ponto deve-

se concentrar os esforços na restrição, aumentando sua capacidade e por último,

medir o processo e identificar a próxima restrição do sistema.

Utilizando-se desta informação básica sobre teoria das restrições já é possível

otimizar o processo produtivo, porém é importante manter atualizado o recurso

restritivo do sistema no RCCP para avaliar com mais exatidão as limitações da

organização. É importante ressaltar que quando ocorre a otimização, deve-se definir

qual o objetivo, qual a meta a ser alcançada.

Há vários tipos de restrições em uma empresa, Corrêa, Gianesi e Caon

(2001) identificam alguns fatores que podem ser considerados como restritivos no

RCCP:

a) Pode-se identificar um centro de trabalho que seja o gargalo, tendo sua

capacidade explorada ao máximo, restringindo o fluxo produtivo;

b) O recurso pode ser um processo de difícil subcontratação, por exigir

treinamento especializado;

c) Pode-se verificar a existência de algum gargalo temporário, variando de

acordo com o tipo de produto;

31

d) É possível identificar uma ferramenta especial que processa produtos de

algum centro de trabalho;

e) Em casos de altos-fornos ou processos que não podem parar por

questões de custos, qualidade de processo, pode-se identificá-lo como

restritivo e

f) Quando o recurso necessita de tempo de setup muito longo e se mal

explorado pode tornar-se uma restrição do processo produtivo.

O processo de identificação e exploração da restrição é uma atividade

adicional no RCCP, a simples identificação da restrição, também conhecido como

gargalo, pode ser simplesmente inserida no cálculo de capacidade e analisado os

resultados. Porém cabe ressaltar que a busca pela evolução e superação é

determinante neste cenário de globalização.

2.2.4 MRP - Material Requirement Planning

Devido a sua importância no gerenciamento de materiais, o MRP vem

recebendo destaque na teoria sobre o tema. Esta ferramenta pode ser conceituada,

de acordo com Davis, Aquilano e Chase (2001, p. 501) como um método que, “[...]

determina o número de submontagens, componentes e matérias-primas requeridas

e seus períodos de produção para completar um dado número de produtos finais em

suas datas específicas.”

Dias (2005) acentua esta definição afirmando que se trata de um sistema para

estabelecer procedimentos e regras de decisão com o objetivo de atender a

demanda numa seqüência de tempo determinada para cada componente do produto

final. O MRP busca garantir disponibilidade de materiais, componentes e produtos

para atender o plano e desta forma, assegurar entrega para o cliente.

O MRP também propõe controlar níveis de estoque, planejar prioridades de

operação e permite a análise da capacidade necessária para o plano, como afirmam

Davis, Aquilano Chase (2001). Conforme estes autores, quanto maior a variedade

de componentes em seu portfólio de produtos e quanto mais operações existirem,

32

mais complexo será o processo de abastecimento. Desta forma, disponibilizar

materiais certos na hora certa é um desafio. Os avanços da informática, com a

evolução de softwares e hardwares, possibilitaram o desenvolvimento de sistemas

velozes e versáteis, permitindo às empresas experimentar vários benefícios: preços

mais competitivos, níveis de estoques mais baixos; melhor nível de serviços;

respostas mais rápidas às demandas do mercado; maior flexibilidade; redução de

custos de setup; redução de ociosidade; possibilita ver previamente o plano antes de

serem liberados; altera quantidades de pedidos; auxilia no planejamento da

capacidade e permite reprogramação.

Para determinar o que deve ser produzido para atender a demanda do cliente,

o MRP necessita saber quais itens compõe este produto acabado. Desta forma, é

necessária a utilização da estrutura de produto. Segundo Plossl (1995) cada item

deve ter um único código de identificação associado a BOM (Bill of material)

especificando seus componentes para ser planejado e controlado pelo MRP. A lista

BOM identifica os componentes necessários para produzir o produto acabado, que

pode ser complexo como um produto montado de vários componentes ou pode ser

tão simples contendo uma única matéria-prima, conforme demonstra a Figura 7.

.

Figura 7 - Estrutura analítica do produto

Fonte: Adaptado de Martins e Laugeni, 2006

33

Na análise da Figura 7, pode-se perceber que, por meio da estrutura de

produto, o MRP “explode” a necessidade de materiais para produzir os itens da

demanda verificando saldo em estoque, ordem de compra em aberto, saldo em

terceiros. Estas verificações podem variar de empresa para empresa, de acordo com

a complexidade de sua análise.

Moreira (1993) relata que se denomina “explosão” ao processo de desagregar

o item pai em seus componentes, verificando a data e quantidade necessária para

que este item seja produzido.

Existem vantagens e desvantagens na utilização do MRP. Os pontos fracos,

segundo Pinto (2006) são que esta ferramenta planeja primeiramente os materiais,

somente depois permite a análise de capacidade produtiva e exige um grande

esforço computacional. Como vantagens, este método é um excelente método para

processamento da Estrutura de produtos, sendo adequado quando os componentes

são fator determinante e são produtos complexos. Além disso, é uma ferramenta

bem difundida, sendo bem apoiado por textos e consultoria.

2.2.5 CRP - Capacity Requirement Planning

De acordo com Slack, Chambers e Johnston (2008) o CRP ou Plano de

Necessidades de Capacidade verifica a carga necessária para produzir os itens

planejados pelo MRP, projetando a carga das ordens de produção planejadas e

firmes em cada período. É importante ressaltar que o CRP possui capacidade

infinita, simplesmente calculando a carga de cada OP nos centros de trabalho.

O planejamento das necessidades de capacidade é feito a partir do MRP a fim de calcular as necessidades de capacidade instalada, basicamente mão-de-obra e equipamentos, para completar o previsto no programa mestre de produção – ou MPS (MARTINS e LAUGENI, 2006, p. 378).

O CRP subsidiará o MRP gerando um plano de produção e compras viável,

pois seus ajustes finos aumentaram a precisão do planejamento. Corrêa, Gianesi e

Caon (2001) comentam que não há necessidade desta ferramenta ser rápida, visto

34

que o MRP não é rodado com tanta freqüência, também pelo fato do RCCP já ter

analisado as maiores divergências de capacidade.

Ao calcular a carga dos centros de trabalho, a partir das ordens criadas pelo

MRP, o CRP verifica as operações destas OPs e determina a carga que estas

ordens necessitam para serem produzidas. Cabe ao programador identificar se há

CTs (centros de trabalho) com capacidade insuficiente ou se há grande

desbalanceamento de carga entre estes CTs (DAVIS, AQUILANO e CHASE, 2001).

No que se refere às alternativas para os centros de trabalho com capacidade

insuficiente, os problemas identificados pelo CRP podem ser corrigidos uma vez

que, como afirmam Davis, Aquilano e Chase (2001), existem opções como: horas-

extras; utilizar centro de trabalho alternativo para algumas tarefas; subcontratar;

antecipar a produção ou então atrasar para o próximo período e renegociar a data

de entrega e reprogramar estas operações. Algumas alternativas podem ser

utilizadas para nivelar a produção ao longo dos períodos, aumentando assim a

produtividade.

Pinto (2006) ressalta que as soluções para problemas encontrados pelo CRP

são realizadas pela gestão de operações levando em consideração alguns aspectos

como, por exemplo, aspectos técnicos, financeiros ou humanos. É interessante que

haja métodos bem claros para tomada de decisão para estes casos.

O CRP traz benefícios de várias formas, segundo Vollmann et. al. (2008) a

ferramenta já considera os tamanhos dos lotes, os lead times para as ordens de

produção e as ordens planejadas (ordens ainda não confirmadas), também verifica

todos os centro de trabalho (WC). Por outro lado, o CRP não permite nenhuma

alteração, caso haja algum período com capacidade excedente, diretamente, ele

somente analisa o plano gerado pelo MRP.

35

2.2.6 SFC - Shop Floor Control

Há uma busca constante por parte das empresas pela excelência na gestão

de operações, e para atingir esse objetivo é utilizado o SFC, ou ainda chamado de

controle de chão de fábrica.

De acordo com Pinto (2006), o chão de fábrica é o local onde ocorre a

transformação do produto e onde geralmente há o maior acumulo de recursos da

empresa, pessoas, máquinas, materiais. Na contra mão é o local onde as condições

de trabalho são as mais desfavoráveis, ruídos, esforço repetitivo, ambiente

relativamente poluído, ritmo acelerado de trabalho.

Duas práticas de gestão são dominantes no chão de fábrica, satisfação do

cliente e produtividade, no entanto estes dois objetivos acabam entrando em conflito,

sendo que as decisões são tomadas realizando um balanço entre ambos.

Além disso, o chão de fábrica está em constante mudança decorrente de

avarias, atrasos, acidentes, alterações de última hora.

Assim, torna-se um grande desafio produzir conforme o planejado, como é

proposto por Tubino (2000), o SFC fecha um ciclo de atividades do PCP

(Planejamento e controle da produção). Tem a função de acompanhar e controlar a

produção para que seja cumprido o planejado, sendo uma ligação entre o

planejamento e a execução das atividades operacionais.

Deve-se ressaltar que os replanejamentos devem ser evitados, sendo

aplicado somente em casos em que haja significativos desvios de produção. Os

programas de produção devem ser exeqüíveis, pois caso seja algo impossível de

realizar, o plano ficará desacreditado.

Dando ênfase a esse pensamento, Corrêa, Gianesi e Caon, (2001) afirmam

que o chão de fábrica:

[...] tem a preocupação de garantir que o plano definido pelo MRP seja cumprido. Para isso, muitas vezes, é necessário que na decisão de seqüenciamento da produção [...], dentro de um período, cuidados sejam tomados para que uma programação inteligente seja feita [...] (CORRÊA, GIANESI e CAON, 2001, p. 318).

36

Segundo Tubino (2000) existem três grupos principais de recursos que devem

ser considerados na produção: máquinas, mão-de-obra e materiais, as funções

aplicáveis para controlar estes recursos são:

a) Coleta e registro de dados sobre o andamento das atividades

programadas;

b) Comparar real e planejado;

c) Identificar desvios;

d) Tomar ações corretivas;

e) Emissão de novas diretrizes de acordo com a nova situação;

f) Repasse de informações da produção para os demais setores e

g) Relatórios de análise de desempenho.

Ainda conforme Corrêa, Gianesi e Caon, (2001), geralmente para controlar o

chão de fábrica as empresas necessitam de softwares que por sua vez, já estão

integrados com o ERP (Enterprise resource planning ou planejamento dos recursos

produtivos) da empresa. Com a ferramenta bem aplicada é possível gerenciar os

lotes de produção, realizar o seqüenciamento e liberação das ordens de trabalho,

também pode-se monitorar as equipes de trabalho, incluindo alocação e

coordenação de recursos humanos e ferramental e ainda permitir rastreabilidade.

Mas de modo geral alguns sistemas produtivos necessitam de sistemas mais

sofisticados de SFC devido à complexidade de seus problemas. Fábrica de matrizes

de moldes para injeção e sopro de plástico, forjaria, empresas com produtos muito

variados, com roteiros muito variados. Tinturarias, litografias, gráficas complexas,

fábricas de alimentos e medicamentos. Parte da complexidade do sistema surge do

tamanho do sistema produtivo. A Figura 8 exemplifica um gráfico de Gantt, forma de

seqüenciamento de ordens de produção informatizada, que permite a priorização e

seqüenciamento de produção.

37

Figura 8 - Gantt de seqüenciamento

Fonte: ERP da empresa, 2009

Além da possibilidade exposta anteriormente de controlar o chão de fábrica

com softwares sofisticados e complexos, ainda existe a opção do controle por

gestão visual, uma maneira mais simples, como será visto a seguir.

2.2.6.1 Gestão Visual

O controle visual de produção é uma prática adotada inicialmente no

Japão, Pinto (2006) comenta que as empresas ocidentais, que geralmente,

buscando soluções cada vez mais especificas e detalhadas para sua situação,

acabavam criando sistemas extremamente complexos, difíceis de aplicar e

principalmente manter em funcionamento total. Já a gestão visual busca

simplicidade com eficácia. Segue alguns recursos do controle visual:

a) Mostrar como a tarefa deve ser realizada;

b) Mostrar como as ferramentas e equipamentos devem ser utilizados;

c) Mostrar como as coisas são guardadas e armazenadas;

38

d) Mostrar os níveis de inventário;

e) Mostrar quando as pessoas precisam de ajuda;

f) Mostrar áreas perigosas;

g) Mostrar como realizar as atividades garantindo que não haja erro na

execução e

h) Sinais sonoros, chão pintado indicando algo, etiquetas, quadros sombra,

quadros indicando produção, desempenho, são alguns exemplos de

gestão visual. Esta é uma forma simples, prática e barata para

implantação. E o mais importante, de fácil entendimento por todos.

2.2.6.2 Kanban

O Kanban, uma das formas de gestão visual, que significa cartão, é uma

ferramenta utilizada em várias organizações, que tem o objetivo de simplificar a

produção. Moura (1992) afirma que o Kanban é uma técnica de gestão de materiais

e de produção com a realização da tarefa ou atividade no momento exato, é

controlado através da movimentação do cartão Kanban.

Tem como função puxar a produção de modo geral, iniciando no produto

acabado, sendo desta forma, contrário aos sistemas tradicionais, que trabalham com

produção empurrada, gerando filas em várias etapas do processo produtivo.

Os cartões controlam os estoques entre as operações/processos, desta forma

é simples mensurar os estoques, verificando o número de cartões que estão fora do

quadro.

A idéia do cartão já existe a muito tempo, porém era utilizado para empurrar a

produção. Taiichi Ohno foi o pioneiro na utilização do cartão para puxar a produção,

O Kanban é uma maneira de reduzir o tempo de espera, diminuir o estoque,

melhorar a produtividade, conectar as operações em um fluxo contínuo e identificar

problemas.

Pace (2003) explica que o quadro Kanban, também chamado de painel porta-

kanban, é uma placa geralmente no formato retangular, mas isso não é uma regra,

39

na qual são pintadas três faixas horizontais sendo a superior vermelha, a

intermediária amarela e a inferior verde, onde são pendurados os cartões referentes

a cada peça produzida, como mostra a Figura 9, No entanto é preciso ressaltar que

não existe um modelo padrão, em alguns casos é preferível pintar as faixas no

próprio chão da fábrica, eliminando o uso de cartões.

Figura 9 - Quadro Kanban

Fonte: Controles Visuais, 2009

As cores estão relacionadas à prioridade de fabricação. Assim se todos os

cartões estiverem ocupando a área verde, a seqüência original de fabricação deve

ser seguida. No entanto se algum dos cartões estiver ocupando a faixa amarela, o

supervisor ou o operador consegue saber que precisa dar prioridade a produção

desta peça com relação as que estão dispostas na área verde, ou seja, está no nível

de atenção. Quando algum cartão de um dos itens a ser fabricado alcançar a faixa

vermelha, enquanto os outros se mantiverem na faixa verde ou amarela, é

caracterizado uma situação crítica, emergencial, essa peça precisa ser produzida

em primeiro lugar, independentemente da seqüência original de fabricação.

O planejamento foi apresentado através dos componentes considerados

fundamentais para estimar as quantidades a serem produzidas, assim como a

preocupação em suprir as necessidades de materiais conforme necessidade. A

utilização de sistemas informatizados torna-se essencial para tornar o processo de

40

planejamento eficaz e ágil, estando presente em praticamente todas as

organizações.

A adoção de métodos de planejamento de produção e materiais é objeto de

estudo de longa data. Atualmente, o enfoque está na integração dos planos para

otimização dos estoques. Dessa maneira, será destacado o mapa de processo de

Corrêa, Gianesi e Caon (2001), conforme Figura 14 na página 51, que será utilizado

no estudo de caso para determinar os passos do planejamento.

41

3 METODOLOGIA

A pesquisa foi desenvolvida por meio de revisão da literatura e estudo de

caso em uma empresa do ramo automotivo. Para o desenvolvimento do estudo foi

necessária a análise do processo de planejamento existente e como este era

aplicado na empresa.

De acordo com Gil (2002) a pesquisa é um processo organizado no sentido

responder a um problema existente em determinado contexto. Ela é realizada

quando a situação observada não corresponde à realidade esperada.

Neste sentido, segundo Gil (2002, p.17) “a pesquisa é um procedimento

racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas

que são propostos.”

A pesquisa desenvolvida se caracteriza como qualitativa. De acordo com o

conceito de Marconi e Lakatos (2007), a pesquisa pode ser quantitativa ou

qualitativa. No primeiro caso, a análise tem como base técnicas estatísticas como

percentual, média, desvio-padrão e correlação de variáveis. No segundo caso, as

análises são realizadas a partir de observações da realidade formando uma análise

mais detalhada sobre investigações, hábitos, atitudes, tendências de

comportamento.

No método quantitativo, os pesquisadores valem-se de amostras amplas e informações numéricas, enquanto no qualitativo as amostras são reduzidas, os dados são analisados em seu conteúdo psicossocial e os instrumentos de coleta não são estruturados (MARCONI e LAKATOS, 2007, p. 269).

Por ser uma pesquisa qualitativa, o presente estudo, utilizou como

instrumento de coleta de dados a observação.

A observação é uma técnica de coleta de dados para conseguir informações utilizando os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade.

42

Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se deseja estudar (MARCONI e LAKATOS, 2007, p. 275).

Além da observação foram utilizados instrumentos como: planilhas para

produção de tabelas e gráficos na apresentação dos dados. Também foi utilizado o

sistema ERP denominado EMS para o cálculo do MRP. A partir da realidade

observada na empresa, foi desenvolvido um estudo de caso no período de janeiro a

abril de 2009.

[...] o grande valor do estudo de caso: fornecer o conhecimento aprofundado de uma realidade delimitada que os resultados atingidos podem permitir e formular hipóteses para o encaminhamento de outras pesquisas (TRIVIÑOS, 2002, p. 111).

O estudo de caso é um "estudo profundo e exaustivo de um ou poucos

objetos de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento" (GIL, 2002, p.

45).

Gil (2002) menciona três tipos de pesquisa, sendo eles:

a) Exploratória: tem como finalidade proporcionar uma contextualização

sobre o problema existente para torná-lo mais explicito e a partir disso

formular hipóteses.

b) Descritiva: tem como propósito descrever as características de uma

determinada população ou fenômeno e correlacionar variáveis.

c) Explicativa: tem como objetivo identificar os fatores que determinam ou

contribuem para a ocorrência de um determinado fenômeno.

Conforme os dados apresentados, a pesquisa realizada neste estudo

caracteriza-se como sendo exploratória, apresentando ainda as características da

pesquisa-ação. Gil (2002) afirma que este tipo de pesquisa tem base empírica pois é

realizada de forma associada a uma ação ou resolução de um problema coletivo de

modo coletivo.

O problema observado na realidade estudada teve como foco o planejamento

de materiais de produção, buscando reduzir os estoques, bem como a integração

das ferramentas de nível operacional, táticos e estratégicos. Neste sentido o

trabalho envolveu inicialmente uma análise do planejamento da empresa de modo

geral e posteriormente foi delimitado para a área de usinagem e montagem.

43

4 ESTUDO DE CASO

Neste capítulo será aplicado o conhecimento teórico adquirido na

fundamentação teórica, utilizando os procedimentos metodológicos.

2.3 APRESENTAÇÃO DA EMPRESA

Esta pesquisa foi aplicada em uma empresa de componentes automotivos,

com atuação em vários países, de diferentes continentes. Está no mercado a mais

de cinqüenta anos, com mais de 2000 colaboradores em todo mundo. No Brasil há

aproximadamente 100 funcionários.

Atua como parceira de renomadas montadoras com desenvolvimento de

soluções para sistemas de filtragem. Seus produtos cobrem desde elementos

filtrantes para óleo, ar, combustível, bem como para ar de cabine, até abrangentes

módulos multifuncionais para motores de todos os tipos. Produzindo também,

soluções para aplicações industriais e ambientas.

Possui padrões de qualidade unificados e abrangentes a todas as áreas da

empresa – certificada conforme a ISO 9001, ISO/TS 16949 e ISO 14001 – que

garantem produtos com alto padrão de qualidade e eficiência.

A empresa pesquisada não será identificada por questões estratégicas,

informações como código de item, demanda do item, valores monetários serão

omitidos ou alterados. As figuras e tabelas que mostrarem dados com características

acima citadas foram alterados para manter sigilo nas informações da empresa.

44

2.4 PROCESSO DE PLANEJAMENTO

O processo de planejamento de materiais e produção consiste em Plano

Agregado, MRP, SFC e Compras. O planejamento se resume em verificar

capacidade produtiva, com uma visão macro, compra de materiais de acordo com a

demanda e acompanhamento da produção, conforme Figura 10.

Figura 10 - Mapa de processo - atual

Fonte: Primária, 2009

O plano agregado é a primeira fase do planejamento, a empresa recebe a

Previsão de vendas para todo o ano, o plano é criado para os doze meses, com

períodos mensais. Utiliza-se esta informação para fazer o cálculo de capacidade

necessária para atender a previsão de vendas, verificando se há capacidade de

máquinas, é neste momento que se determina o que será feito para equilibrar a

demanda com a oferta. Tendo como opções o aumento ou redução do número de

turnos, alteração na capacidade das máquinas ou até mesmo a compra ou venda de

máquinas. O intuito é trabalhar com capacidade utilizada constante ao longo do

tempo, com o menor investimento possível.

A Figura 11 mostra a carga utilizada, de três meses, para atender a demanda

recebida pela previsão de vendas, percebe-se que para estes três meses a média

45

de capacidade utilizada é de 0,97% em média, podendo ser arredonda para um

turno, desta forma a capacidade dos recursos serão ajustados para este contexto,

ou seja, haverá somente um turno de trabalho. Também pode ser verificada a carga

de trabalho para outras áreas, relacionadas a manufatura, como por exemplo,

metrologia.

Figura 11 - Plano agregado - GM01 Fonte: Primária, 2009

Percebe-se que no segundo período de análise, a carga será maior que um

turno, porém neste caso, a divergência é muito pequena, podendo antecipar uma

pequena quantidade e produzir no mês de março.

A segunda etapa do planejamento é realizada pela utilização do MRP, uma

rotina mensal, o horizonte de planejamento é de três meses. As demandas dos

clientes são concentradas em um documento, ou seja, cada período terá a soma das

quantidades dos clientes, para alimentar o MRP.

O plano é do tipo PP (Plano de produção), sendo este, um plano no qual não

considera os estoques dos produtos acabados. Ou seja, se há saldo do item X em

estoque de 25 unidades e houver um pedido de 30 unidades, o MRP não enxergará

46

estas 25 peças no sistema, criando necessidades de materiais para 30 peças. Os

itens que estão na estrutura de produto e tem saldos (quantidades) em estoque

terão estas quantidades levadas em consideração.

O MRP enxerga as ordens de compras em aberto, ordens de produção em

aberto (iniciadas ou não), saldos em estoque são considerados, assim com estoque

de segurança (é a quantidade de segurança necessária para absorver flutuações de

demanda ou de atrasos na entrega pelo fornecedor). Outros parâmetros não serão

mencionados por não ser o foco deste trabalho.

Os parâmetros são alterados com pouca freqüência, desta forma, após

incluído as demandas no plano, o cálculo é realizado (rodado). Lembrando que

estes são parâmetros aplicados ao sistema implantado na empresa estudada,

podendo haver diferenças para outros sistemas no mercado.

Lembrando que o MRP considera os parâmetros do item, cadastrados

previamente no sistema. Como por exemplo:

a) Lote mínimo – quantidade mínima a ser solicitada.

b) Lote múltiplo – calcula quantidades múltiplas para criação das ordens de

compra ou produção.

c) Lote econômico – sendo este o lote com menor custo por item

d) Políticas de reposição para os itens – podendo ser período fixo, lote

econômico, ordem, nível superior, configurado ou composto.

e) Fator refugo – faz o sistema aumentar a quantidade da ordem para

considerar perdas no processo.

f) Ressuprimento do fornecedor – tempo que o fornecedor necessita para

entregar as quantidades solicitadas.

Conforme Figura 10, o MRP se divide em dois processos, compras e SFC.

Esta etapa é a fase mais detalhada de todo planejamento.

As ordens de compra (OC) são confirmadas mensalmente para cada item, ou

seja, cada componente é comprado somente uma vez por mês. Os fornecedores já

estão cadastrados no sistema, incluindo seus parâmetros, itens, tempos, forma de

pagamento, etc. Após a confirmação das ordens de compra, é necessário vincular a

OC a um Pedido, no qual, será enviado ao fornecedor. Quando o material chegar, no

recebimento, o pedido passará a ter o status de atendido e a OC finalizada, quando

toda a quantidade for recebida.

47

O processo de compras é divido em duas partes, itens nacionais e itens

importados. Para os itens nacionais, o lead time é relativamente curto, podendo ser

realizado poucas semanas antes da necessidade dos materiais. Alguns

fornecedores nacionais solicitam previsão de consumo dos itens para os dois meses

seguintes. Já os itens importados têm lead time muito longo, podendo ser maior que

sessenta dias, o transporte é marítimo.

Devido ao longo tempo de ressuprimento de fornecedor para os itens

importados, torna-se necessário rodar o MRP para três meses. A compra de

materiais é baseada também em previsões. A homologação de fornecedores é um

processo crítico, pois deve-se fazer um acordo consistente, de maneira que o

fornecedor irá se comprometer em cumprir com a demanda e qualidade.

O sistema produtivo em análise possui dois processos distintos, Usinagem e

Montagem. Conforme Figura 12, a área de Usinagem abrange os processo de

Usinagem, Rebarbação e Lavação. Nesta área há somente uma matéria-prima, a

carcaça, base para montagem de todos os outros componentes. Na área de

Montagem há o processo de Pré-montagem, onde geralmente são realizadas as

prensagens de componentes, no processo de Montagem é inserida a maior parte

dos componentes, o último processo é a Estanqueidade, responsável pela

verificação de qualquer vazamento no módulo de filtragem.

Figura 12 - Área de Montagem, Usinagem e seus processos

.Fonte: Primária, 2009

48

A Figura 13 mostra a situação inicial, o estoque existe entre todos os

processos, porém não há estoque de produto acabado, logo após a estanqueidade.

Este estoque WIP não é proporcional entre as operações.

Figura 13 - Fluxo de materiais entre operações - atual

Fonte: Primária, 2009

O estoque intermediário é atrativo por trazer independência entre as

operações, se uma máquina quebrar, haverá tempo suficiente para arrumá-la sem

que o cliente seja prejudicado. Caso falte algum colaborador, os estoques

compensarão esta perda de produtividade. Se for encontrado um lote com medidas

fora das especificações, haverá outro lote já em processo para atender o cliente.

As ordens de produção (OP) são confirmadas de acordo com a necessidade,

assim sendo, quando não há OP aberta para reportar as quantidades produzidas,

abre-se uma nova OP através do MRP. Enquanto há OP com saldo para reportar,

ela é utilizada até o saldo esgotar.

Por exemplo: uma OP é gerada com a quantidade de 100 peças, no primeiro

dia são reportadas 50 peças, no segundo dia 40 peças, no terceiro dia, são

produzidas 30 peças, porém a OP aberta tem somente saldo de 10 peças para

49

completar a OP. Então é necessário abrir uma nova OP, para reportar as 20 peças.

Verifica-se no MRP a próxima OP planejada para confirmá-la.

A emissão de ordens de produção é realizada verbalmente para cada

máquina, as ordens geradas pelo MRP não condizem com a programação, não

sendo possível sua emissão. O controle dos estoques é feito visualmente,

diariamente é realizada a contagem de alguns itens para saber o que produzir em

cada máquina. Há um cliente que possui Kanban eletrônico, em algumas situações é

solicitado um lote de determinado item para ser enviado no mesmo dia, nestes

casos as máquinas sofrem alteração da programação da produção para atender

esta demanda.

2.4.1 Oportunidades de melhoria

A carga máquina é verificada somente no plano agregado, porém é uma visão

macro, verifica-se a capacidade produtiva do mês, sem um detalhamento maior. Não

havendo balanceamento dos recursos ao longo das semanas, a produção trabalhará

para atender a demanda, porém é limitada pelas máquinas e pela quantidade de

mão-de-obra, gerando assim diferenças entre o planejado e o realizado.

Para os materiais também há situações indesejadas conseqüentes destas

diferenças. Em alguns casos o material chegará antes do momento exato do

consumo, acarretando aumento do nível de estoques, ou o material poderá chegar

após o momento consumo, causando paradas de máquina, gerando perdas de

produtividades e insatisfação do cliente. Como o MRP é alimentado, simplesmente,

com as demandas dos clientes e as cargas não eram distribuídas, em uma semana

havia sobrecarga no GM xx, em outra semana isto ocorria no GM yy.

A programação da produção não verifica o MRP, simplesmente atende o

pedido, induzindo ao aumento de estoques para alguns componentes e falta de

outros. A solução encontrada para não permitir que falte material é aumentar o

estoque em processo. Para atender esta demanda da produção é necessário

50

aumentar o estoque de segurança dos componentes. Há também, por dificuldade no

controle de estoque, baixa acuracidade nos estoques.

Com estoque em processo dilatado, a visibilidade do fluxo de materiais torna-

se comprometida, assim como a programação da produção. O lead time está maior

que a necessidade real, também em função dos grandes estoques. Optou-se por

controlar visualmente o estoque WIP, contando diariamente alguns materiais. Outra

conseqüência é o excesso de transporte, há grande deslocamento de materiais.

Há também um grande número de retrabalhos, o risco de avarias, problemas

de qualidade encontrados muito tempo depois do defeito ocorrer, gerando estoques

de peças defeituosas. A qualidade encontra grande dificuldade para rastrear defeitos

e é comum encontrar altos custos por defeitos e retrabalhos.

A capacidade de mão-de-obra é outro recurso que é comprometido pelo

elevado número de retrabalho, refugos, inspeção de peças interditadas,

desmontagem de materiais acabados ou semi-acabados. As interrupções nas

atividades produtivas são freqüentes pelos motivos acima citados. Outra

conseqüência das interrupções nas atividades produtivas são as paradas de

máquinas, ou seja, mais perda de produtividade.

Um ponto preocupante é a ausência de estoque de produto acabado, há um

cliente que pode solicitar material para o mesmo dia do pedido. Isto demanda de um

esforço enorme para poder atender o cliente. Estimulando ainda mais o aumento do

estoque em processo.

2.5 PROPOSTA PARA PROCESSO DE PLANEJAMENTO

Segundo Corrêa, Gianesi e Caon (2001) o planejamento da capacidade e de

materiais é de responsabilidade da manufatura, o intuito é elaborar alternativas de

planos para atender a demanda.

Assim sendo, será seguido a estrutura de planejamento que Corrêa, Gianesi e

Caon (2001) propõem para realizar o planejamento de materiais e capacidade,

conforme Figura 14. O objetivo é seguir detalhadamente os passos que o autor

51

demonstra para que haja integração entre as diversas atividades, níveis hierárquicos

e áreas envolvidas. O plano de vendas agregado e o orçamento não serão

comentados no estudo.

A previsão de vendas é recebida (para os doze meses) pela matriz para

alimentar o plano agregado, este procedimento já existia, os ajustes eram realizados

de acordo com a necessidade. Porém o procedimento é realizado com o horizonte

de doze meses somente no inicio do ano, é necessário que esta informação de

previsão para os próximos meses seja realizada freqüentemente, para que no final

do ano a empresa não seja surpreendida com as demandas do início do próximo

ano.

Figura 14 - Mapa de processo

Fonte: Corrêa, Gianesi e Caon, 2001

52

O passo seguinte do planejamento é a análise de nível tático. As demandas

de pedidos e previsões são inseridas no MPS, aplica-se a ferramenta para os três

meses seguintes com períodos semanais. A ferramenta coordenará a demanda com

seus recursos de forma a estabelecer taxas adequadas de produção de produtos

finais. Neste ponto é verificado saldo em estoque de produtos acabados, pode-se

levantar a possibilidade de fazer estoque estratégico de algum item. A Tabela 2

mostra o MPS de uma família de produtos.

Tabela 2 - MPS inicial Março

6-mar 13-mar 20-mar 27-mar Itens Família A

KW 1 KW 2 KW 3 KW 4

Item 12 1831100000 Demanda 50 0 0 0

Estoque atual 0 Estoque 0 0 0 0

1831100000 Produção 50 0 0 0

Item 13n 1832100000 Demanda 90 0 200 90

Estoque atual 0 Estoque 0 0 0 0

1832100000 Produção 90 0 200 90

Item 14n 1833100000 Demanda 30 0 0 0

Estoque atual 0 Estoque 0 0 0 0

1833100000 Produção 30 0 0 0

Item13e 1832108000 Demanda 180 150 170 190

Estoque atual 50 Estoque 15 10 0 0

1832108000 Produção 145 145 160 190

Item 14e 1833108000 Demanda 72 150 120 80

Estoque atual 15 Estoque 15 0 0 0

1833108000 Produção 72 135 120 80

Item 15 1834108000 Demanda 170 180 204 180

Estoque atual 93 Estoque 90 90 66 50

1834108000 Produção 167 180 180 164

Demanda 592 480 694 540 Estoque 158 120 100 66 50 PMP Família 554 460 660 524

Fonte: Primária, 2009

O Plano Mestre de Produção verifica somente o estoque de produtos

acabados, conforme apresenta a Tabela 2. Os dados indicam que o saldo em

estoque dos componentes e matéria-prima não é verificado no plano. Isto simplifica

e acelera o cálculo nesta etapa. O Item 15 mostra que há saldo em estoque atual de

53

93 unidades e foi optado estrategicamente por manter o estoque final em 50

unidades.

Nesse sentido, é realizado um balanceamento semanal, com a ferramenta

RCCP, distribuindo as demandas ao longo dos períodos, analisando os impactos de

possíveis atrasos e antecipações da produção, garantindo de forma aproximada que

a capacidade necessária para o MPS será viável.

Neste ponto é possível visualizar a ociosidade de alguns recursos, alocando

mão-de-obra para outros recursos que estão sobrecarregados. Solucionando esta

situação, por exemplo, com férias para algumas pessoas caso haja necessidade e

ociosidade suficiente para interromper um turno de produção. No caso de

sobrecarga em vários recursos, pode-se contratar mais pessoas ou então distribuir

as quantidades além da capacidade para outros períodos.

Figura 15 - Análise inicial do RCCP Fonte: Primária, 2009

Na análise da Figura 15 pode-se perceber que na terceira semana (KW3) a

carga de atividades ultrapassou um turno de trabalho, indicando a inviabilidade para

a realização do planejado. É necessário que as quantidades alocadas na semana

54

três sejam alteradas, pois há ociosidade em outras semanas, não sendo necessário

aplicar horas extras. A Tabela 3 apresenta o MPS após o ajuste das quantidades

semanais.

Tabela 3 - MPS final Março

6-mar 13-mar 20-mar 27-mar Itens Família A

KW 1 KW 2 KW 3 KW 4

Item 12 1831100000 Demanda 50 0 0 0

Estoque atual 0 Estoque 0 0 0 0

1831100000 Produção 50 0 0 0

Item 13n 1832100000 Demanda 90 0 200 90

Estoque atual 0 Estoque 20 110 0 0

1832100000 Produção 110 90 90 90

Item 14n 1833100000 Demanda 30 0 0 0

Estoque atual 0 Estoque 0 0 0 0

1833100000 Produção 30 0 0 0

Item13e 1832108000 Demanda 180 150 170 190

Estoque atual 50 Estoque 15 10 0 0

1832108000 Produção 145 145 160 190

Item 14e 1833108000 Demanda 72 150 120 80

Estoque atual 15 Estoque 15 0 0 0

1833108000 Produção 72 135 120 80

Item 15 1834108000 Demanda 170 180 204 180

Estoque atual 93 Estoque 64 64 40 50

1834108000 Produção 141 180 180 190

Demanda 592 480 694 540 Estoque 158 114 184 40 50 PMP Família 548 550 550 550

Fonte: Primária, 2009

Na Figura 16 é possível verificar que as quantidades semanais inseridas no

MPS não ultrapassam o limite da capacidade disponível. Além disso, houve um

balanceamento da carga de trabalho ao longo das semanas. As quantidades

produzidas do item 13n foram antecipadas, assim como o item 15.

55

Figura 16 - Análise final do RCCP

Fonte: Primária, 2009

A análise do RCCP auxilia a criação de um plano de produção de produtos

finais viável, antes mesmo de chegar ao processo de MRP e CRP, reduzindo o

tempo de ajustes nas próximas ferramentas a ser utilizadas. Assim sendo, o nível

tático tem condições de analisar e tomar ações para que o cliente seja atendido com

maior antecedência.

Outra vantagem desta ferramenta é de apoiar as decisões de quantidades a

serem produzidas, muito importante em casos onde não há capacidade suficiente

para atender ao plano de vendas. Lembrando que os problemas de capacidade não

serão tão expressivos, pois a capacidade já foi verificada no plano agregado de

produção, ou seja, serão encontradas apenas pequenas divergências de

capacidade.

O próximo passo é levar estas informações de quantidades em seus devidos

períodos para o MRP, onde são geradas OP e OC planejadas. O tipo de plano

utilizado para rodar o MRP é o PP (Plano de produção), sendo que o MRP irá

“explodir” as necessidades de materiais sem verificar o saldo em estoque dos itens

do próprio plano, que geralmente, são produtos acabados, para os demais níveis da

estrutura de produto são verificados os saldos em estoque.

56

Após o cálculo do MRP, o CRP será acionado, lembrando que o RCCP irá

verificar a capacidade dos recursos, porém não é totalmente detalhado. Já o CRP,

irá calcular a capacidade de todos os centros de trabalho (WC). Por exemplo: para

os casos em que algum recurso não possua capacidade suficiente, é importante

reduzir as quantidades de itens que passam por aquele WC e então rodar o cálculo

novamente. Por exemplo, se o CRP mostrar que alguma máquina não conseguirá

produzir todo o material inserido num determinado período e mesmo assim

confirmarmos as ordens de compra, certamente ocorrerá o aumento do estoque de

alguns componentes (os componentes que fazem parte da estrutura dos itens que

não serão produzidos), pois não será possível consumir todos estes componentes.

Caso as ordens de produção sejam liberadas, não será possível cumprir a

programação de produção.

Na Figura 17 o recurso verificado é o mesmo que o analisado no MPS, pois

dessa forma é possível analisar melhor a diferença entre o RCCP e o CRP.

Figura 17 - Gráfico CRP

Fonte: Primária, 2009

57

Comparando com a Figura 16 é notável que na primeira semana a carga na

máquina analisada está mais ociosa que na análise do RCCP. Quando o item 15

passa por este WC, ainda não tem o código de identificação do ultimo nível na

estrutura de produto, ou seja, é um item semi-acabado. Neste caso o MRP verificou

o saldo de estoque deste item de 90 unidades, e desta forma, reduziu em 90 peças

a quantidade da ordem de produção deste item para o período em análise.

Na semana 01 há ociosidade de aproximadamente 0,25 turnos, permitindo

estudar alternativas, como por exemplo, antecipar a produção de itens da semana

seguinte, ou então aproveitar esta disponibilidade para realizar manutenção

preventiva ou treinamentos aos operadores.

Enquanto o RCCP analisa somente o recurso restritivo, o CRP analisa todos

os centros de trabalho envolvidos na produção dos itens do plano. Há mais uma

diferença entre o CRP e o RCCP, o primeiro visualizará saldo em estoque em todos

os níveis da estrutura de produtos (informação obtida pelo MRP), enquanto o

segundo verifica somente saldo em estoque de produtos acabados (informação

obtida pelo MPS).

Feito a análise de capacidade, já será possível confirmar as ordens

planejadas. Os materiais importados têm tempos de ressuprimento de fornecedor de

até 60 dias, adicionando ainda, tempo ressuprimento de compras, tempo de controle

de qualidade. Considerando estes tempos, é necessário comprar os componentes

com até 90 dias antes de sua utilização. Porém as ordens de compra são

confirmadas somente para os próximos 30 dias. As ordens de produção são

confirmadas semanalmente.

2.6 PROPOSTA PARA CONTROLE CHÃO DE FÁBRICA

Para o chão de fábrica (SFC), o ERP contém um módulo chamado Chão de

fábrica, porém devido a sua complexidade e dificuldade de acompanhamento da

produção em geral, é mais interessante aplicar soluções de gestão visual de

produção. Assim, a produção tem condições de acompanhar o andamento da

58

produção, inclusive pessoas de outras áreas sem conhecimento detalhado do

sistema produtivo.

2.6.1 Kanban

Segundo Moura (1992), esta ferramenta pode ser introduzida a qualquer

momento com qualquer nível de estoque, porém além de controlar o estoque, o

Kanban é um identificador de problemas e desta forma, tem o propósito de aumentar

a produtividade.

Inicialmente, o Kanban não será utilizado como um todo, sendo o controle dos

estoques intermediários o maior foco nesta etapa. A partir do momento em que o

fluxo de materiais ocorrer de maneira natural, vencidas as resistência existente nos

colaboradores envolvidos no processo e a percepção dos ganhos que a ferramenta

traz, será viável otimizar ainda mais os estoques nos supermercados. Desta forma,

possibilitará a melhoria continua nos processos, identificando problemas do tipo:

setups longos, gargalos, qualidade, manutenção, layout, etc. O propósito é utilizar a

ferramenta trazendo simplicidade e controle visual.

A proposta é a criação de dois painéis ou quadros, um próximo da última

operação e outro após o processo de lavação. Ou seja, um supermercado de ACA e

outro de semi-fabricado, reduzindo os demais estoques em apenas um lote, desta

forma é possível manter um estoque intermediário controlado sem grandes

investimentos, apenas com a organização e materiais simples como quadros, fitas,

cartões e treinamento.

A Figura 18 mostra o layout do processo de fabricação com a aplicação de

dois supermercados (estoque controlado).

59

Figura 18 - Fluxo de materiais entre operações - proposta Fonte: Primária, 2009

O painel de produção conterá os cartões Kanban que acionam a produção

quando for expedida uma caixa. Porém, um de nossos clientes necessita de um

tratamento diferenciado, o faturamento (levando em consideração que o faturamento

ocorre no momento da expedição) é realizado uma vez por semana, ou seja, estas

quantidades são produzidas ao longo de uma semana para então serem expedidas.

Caso fosse aplicado Kanban para atender a demanda deste cliente, seria necessário

um estoque de ACA dos itens para uma semana de produção, ou a quantidade total

a ser entregue para o cliente, inviabilizando o uso de cartão Kanban para este

cliente no painel de produtos acabados. Além disso, seria necessário estocar todos

os itens que este cliente poderia solicitar.

A Solução encontrada foi a criação de OP no último processo e puxar as

operações anteriores. Ou seja, no painel onde está a última operação haverá

cartões Kanban e também OP, conforme Figura 19. Neste painel, os cartões terão

prioridade um, pois a reposição destes itens deve ser o mais rápido possível para

que o próximo pedido, que poderá ser no dia seguinte, possa ser atendido. As OP

terão prioridade dois, estas quantidades têm o prazo de uma semana para ser

entregue, lembrando que a necessidade de entregar dentro do prazo solicitado pelo

cliente tem mesma importância para os dois tipos de clientes. O segundo quadro, da

área de usinagem, conterá somente cartões Kanban.

60

Figura 19 - Quadro de produção Kanban + OP

Fonte: Primária, 2009

Como o MRP calculou as quantidades dos itens que são puxados pelo cartão

Kanban?

O cliente regularmente passa uma previsão de quantidades no mês, no MPS

estas quantidades já são consideradas, assim como no MRP, e a capacidade

produtiva já considera estas quantidades no RCCP e no CRP, garantindo que

haverá capacidade e componentes suficientes para atender o cliente.

Havendo diferença entre as informações enviadas pelo cliente sobre PV e

Pedido firmes, haverá uma alteração nos níveis de estoque. Quando o pedido é

menor que a previsão, os estoques aumentam, quando o pedido é maior que a PV,

haverá falta de material. Para evitar que não ocorra falta de material, o MRP deve

considerar um estoque de segurança, parametrizado no próprio sistema.

A redução estimada com a utilização dos quadros associando OP e cartão

Kanban é de 35%. Este percentual pode ser melhorado com a redução do setup nos

centros de usinagem tendo como objetivo atingir tempos menores que 10 minutos,

61

conhecido como SMED (Single minute exchange of die). Com esta melhoria pode-se

reduzir os estoques em 47% comparando com a situação atual.

Com a utilização do Kanban é possível manter um estoque em processo

controlado, pois o número de cartões limita a quantidade de caixas (lotes) no

processo produtivo. Verificou-se que houve aumento no nível de estoque de alguns

itens em certos processos, porém, a redução no estoque ainda foi expressiva.

2.7 MEDINDO O NÍVEL DOS ESTOQUES

É de extrema importância saber como estão os níveis de nossos estoques,

para saber se está sendo trabalhado dentro dos objetivos estabelecidos, o estoque

não pode ser mais considerado como um ativo.

Segundo Davis, Aquilano e Chase (2001) empresas costumam acumular

grandes investimentos em seus estoques, o custo para manter estes estoques é de

30%, ou mais, em relação ao seu valor, num período de um ano. Outra vantagem na

redução de estoques é o aumento no nível de qualidade e performance.

2.7.1 Análise ABC

A classificação ABC trará uma visibilidade privilegiada dos itens em relação à

sua importância no resultado financeiro, os itens com grandes valores acumulados

por seu alto custo, pela grande quantidade armazenada ou pela combinação destes

fatores estarão em evidência.

62

Tabela 4 - Análise ABC

Item Preço (R$) Consumo mensal (pç) Total (R$) ABC

183110230137 R$ 322,40 26.335 R$ 8.490.391 A

61710104911 R$ 257,35 26.485 R$ 6.816.007 A

5223800074 R$ 35,01 115.505 R$ 4.044.003 A

53610236057 R$ 101,81 26.485 R$ 2.696.568 A

31420322277 R$ 14,63 115.505 R$ 1.689.954 A

117713000068 R$ 42,07 16.800 R$ 706.734 B

21913800046 R$ 24,02 26.485 R$ 636.236 B

31420201188 R$ 4,52 115.505 R$ 522.129 B

723200628 R$ 2,41 171.850 R$ 414.760 B

61710322231 R$ 12,68 26.485 R$ 335.880 B

59110200862 R$ 12,24 26.485 R$ 324.129 B

5361800036 R$ 21,52 13.700 R$ 294.872 B

61710219231 R$ 9,13 25.875 R$ 236.151 C

128710200870 R$ 90,45 2.220 R$ 200.792 C

7460800022 R$ 63,36 2.220 R$ 140.665 C

59110834623 R$ 18,36 7.210 R$ 132.358 C

90809201683 R$ 4,93 26.485 R$ 130.449 C

59110805845 R$ 210,02 610 R$ 128.112 C

61710235651 R$ 4,40 26.325 R$ 115.880 C

123200521 R$ 0,26 409.700 R$ 106.932 C

TOTAL R$ 30.155.408

Total R$ 30.155.408

A (80%) R$ 24.124.326

B (10%) R$ 27.139.867

C (10%) R$ 30.155.408

Fonte: Primária, 2009

Conforme já mencionado no capítulo 2.3, os dados foram alterados, porém a

proporção de alguns desses dados foram mantidos para que os resultados

pudessem ser mensurados com qualidade. A lista completa da análise ABC está em

anexos, na Tabela 8.

Com esta análise, verifica-se que há cinco itens na classificação A

(totalizando cinco por cento), sete itens na classificação B (oito por cento) e 80 itens

pertencentes à classificação C (com oitenta e sete por cento dos itens analisados).

Após os resultados obtidos com a Tabela 4, conclui-se que ao analisar

somente doze itens, será feito um controle de noventa por cento do valor aplicado

nos estoques. Ou seja, será muito mais simples e rápido reduzir custos de estoques

focando estes itens. Os itens C podem ficar para uma segunda etapa. É importante

63

salientar que esta análise deve ser realizada periodicamente, pois os preços e

principalmente o consumo oscilam com o passar do tempo.

2.7.2 Cobertura dos estoques

A opção pelo método para medir o estoque foi o de alcance (cobertura).

Verifica-se o estoque atual e a média de consumo do item de acordo com a previsão

de venda. Optou-se por utilizar a PV (previsão de vendas) por considerar que o

histórico de consumo (informações do passado) do item não atende as

necessidades da empresa. Se um item estiver em final de ciclo, haverá uma redução

no consumo deste item, se estivermos utilizando a PV será possível considerar esta

redução, tornando a ferramenta mais eficiente, segue Tabela 5.

Tabela 5 - Alcance do estoque

Item Consumo

mensal (pç)

Estoque atual (pç)

Preço (R$) Alcance (mês)

Valor estoque (R$)

Valor a reduzir (R$)

183110230137 26.335 55290 322,400 2,10 17.825.468 844.687 61710104911 26.485 990 257,354 0,04 254.780 0 5223800074 115.505 122490 35,012 1,06 4.288.559 0

53610236057 26.485 53735 101,815 2,03 5.471.024 77.888 31420322277 115.505 120890 14,631 1,05 1.768.742 0

117713000068 16.800 23800 42,068 1,42 1.001.207 0 21913800046 26.485 71805 24,023 2,71 1.724.936 452.464 31420201188 115.505 148820 4,520 1,29 672.726 0

723200628 171.850 290010 2,414 1,69 699.939 0 61710322231 26.485 82180 12,682 3,10 1.042.199 370.438 59110200862 26.485 70145 12,238 2,65 858.449 210.191 5361800036 13.700 36880 21,524 2,69 793.787 204.043

61710219231 25.875 59985 9,127 2,32 547.459 75.158 128710200870 2.220 5695 90,447 2,57 515.096 113.511

7460800022 2.220 6445 63,362 2,90 408.371 127.042 59110834623 7.210 116670 18,358 16,18 2.141.781 1.877.065 90809201683 26.485 68610 4,925 2,59 337.932 77.033 59110805845 610 7115 210,019 11,66 1.494.284 1.238.061 61710235651 26.325 69590 4,402 2,64 306.328 74.568

123200521 409.700 409265 0,261 1,00 106.818 0 42.259.882 5.742.149 Média (mês) 3,18

% a

Reduzir(R$) 13,59%

Fonte: primária, 2009

64

A Tabela 5 detalha o processo de obtenção do alcance de estoque. Além da

informação de alcance do estoque a planilha já verifica o excesso de estoque,

detalhando o percentual (R$) possível de reduzir, mantendo um estoque de

segurança de dois meses (componentes importados com transporte marítimo).

Na análise dos vinte primeiros itens da curva ABC, a média dos estoques é de

3,18 meses, ou seja, 1,18 maior que o planejado. É possível reduzir em 13,59% o

valor do estoque. Esta análise, em princípio, é utilizada para itens com demanda

independente, sendo neste momento, uma forma auxiliar para analisar o nível dos

estoques.

O MRP planejará somente o necessário para produzir os itens incluídos no

plano, verificando estoques de componentes e semi-acabados. Lembrando que o

MRP contém uma infinidade de parâmetros, no qual serão relevados no momento do

cálculo das necessidades. É extremamente importante conhecer todas as

funcionalidades do MRP para que não haja surpresas como estoques elevados ou a

falta por motivos de má parametrização.

65

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo possibilitou aplicar ferramentas de administração da

produção e materiais, focando redução de estoque, com análise de capacidade

produtiva e gestão visual no chão de fábrica, integrando os processos de curto,

médio e longo prazo.

Para uma aplicação consistente, a revisão bibliográfica proporcionou maior

conhecimento destas ferramentas. Sendo que, o embasamento científico foi

relevante para obter um resultado expressivo. Percebe-se, também, que somente a

experiência teórica não esclarece todos os obstáculos que podem ser enfrentados

na prática, porém é fundamental para obter sucesso de forma consistente.

Neste sentido, inicialmente foi desenvolvido um planejamento de materiais em

função da capacidade produtiva, por meio do uso de ferramentas como Plano

agregado de produção, RCCP, MPS, MRP, CRP. Por meio desta ação obteve-se

maior confiabilidade no planejamento, sendo possível identificar as alterações

gradativas, porém pouco perceptíveis, do mercado.

A partir disso, a organização poderá trabalhar com informações consistentes

que conferem maior coerência ao planejamento desde o nível estratégico até o

operacional. Isso contribui para tomada de decisão de forma mais segura e

antecipada.

Os benefícios advindos da aplicação das ferramentas da administração

mencionadas anteriormente estão voltados à melhoria no aproveitamento da

capacidade produtiva e também um balanceamento desta capacidade ao longo do

tempo, podendo otimizar o aproveitamento dos recursos da organização.

Um dos propósitos fundamentais da pesquisa foi a compra de materiais na

quantidade e no momento exato, contribuindo para o controle de estoques, sendo

constatado o alcance dos itens.

66

Outra vantagem pode ser observada no aproveitamento da mão-de-obra visto

que é possível prever ociosidades e gargalos nas operações. Neste sentido, as

horas-extras poderão ser focadas nas restrições produtivas, aumentando

diretamente o faturamento da empresa.

O estudo de controle do estoque em processo foi realizado com o uso do

cartão Kanban. Com isso foi possível obter maior visibilidade do processo produtivo,

mais especificamente no fluxo de materiais. Possibilitando que todos tenham

conhecimento sobre o está sendo e o que deverá ser produzido.

Tabela 6 - Redução de WIP Redução estimada de WIP 35%

Redução estimada de WIP com setup reduzido 47% Fonte: Primária, 2009

Como aspecto principal da aplicação desta ferramenta, foi verificado o

controle de estoques em processo, conforme Tabela 6, gerando benefícios como:

redução expressiva do lead time, melhoria da qualidade por meio da identificação

imediata dos defeitos no produto. A equipe apresenta maior comprometimento com

resultados devido à dependência entre as operações. A manutenção se torna mais

ativa, pela necessidade de atuar imediatamente nos problemas.

A análise de cobertura dos estoques com a pré-classificação dos itens em A,

B e C permitiu concentrar os esforços nos itens de maior impacto com relação aos

seus custos. O resultado foi a identificação de doze componentes, integrantes da

classe A e B, que concentram 90% do valor em estoques. Nos 20 primeiros itens foi

identificado um excedente de 1,18 meses de cobertura para a classe A, B e mais

oito itens da classe C, correspondendo a 13,59% do valor em estoques destes itens,

conforme Tabela 7.

Tabela 7 - Resultado da análise de cobertura Cobertura excedente de estoque (meses) 1,18

% a Reduzir (R$) 13,59% Fonte: Primária, 2009

Nesse sentido, é possível obter uma visão geral dos estoques, mesmo sendo

uma ferramenta apropriada para o uso em itens de demanda independente, pode-se

obter uma análise importante, permitindo identificar a existência de possíveis

67

incoerências na parametrização de itens no sistema ERP ou até mesmo no próprio

plano do MRP. Visto que o MRP já considera todos os saldos em estoques dos

itens, criando necessidades somente quando necessário.

Importante salientar que se deve realizar, também, a análise dos itens classe

C, podendo ser realizado com menor freqüência. Alguns itens desta classe, mesmo

não afetando expressivamente no resultado financeiro, podem ocupar espaço

significativo nos estoques, podendo tornar-se obsoletos e dificultando as atividades

de armazenagem.

Em virtude desses resultados e da necessidade de manter controle de

estoques o mais baixo possível, pode-se tratar este tema com uma amplitude maior,

sendo proposta a elaboração de outros estudos como: aplicação de Kanban para

componentes, controlando assim, os componentes em processo; aplicação de

Kanban para fornecedores, criando um elo maior e reduzindo ainda mais os

estoques; aplicar TOC no grupo de máquina restritivo utilizado no MPS para

aumentar a eficiência do sistema produtivo; compartilhar informações de demandas

futuras com os fornecedores permitindo sua preparação para tal; incluir o

planejamento totalmente ao ERP da organização, eliminando as vulnerabilidades

das planilhas com relação a erros humanos e por último, integrar área financeira

para processo de planejamento, identificando possíveis restrições neste sentido.

Pode-se concluir que um grande desafio sempre será a busca do equilíbrio

entre o nível dos estoques, os recursos financeiros disponíveis e o nível de serviço

ao cliente. Obter a equação de quanto manter em estoque com menos risco de

faltas de materiais, é necessário que as empresas sejam dinâmicas para responder

de forma rápida as movimentações do mercado. A utilização de ferramentas

informatizadas será fundamental para obter informações em tempo real em muitas

atividades da organização.

68

REFERÊNCIAS

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70

APÊNDICE

Tabela 8 - Lista completa da análise ABC Item Preço Consumo

mensal Total ABC

183110230137 R$ 322,40 26.335 R$ 8.490.391 A

61710104911 R$ 257,35 26.485 R$ 6.816.007 A

5223800074 R$ 35,01 115.505 R$ 4.044.003 A

53610236057 R$ 101,81 26.485 R$ 2.696.568 A

31420322277 R$ 14,63 115.505 R$ 1.689.954 A

117713000068 R$ 42,07 16.800 R$ 706.734 B

21913800046 R$ 24,02 26.485 R$ 636.236 B

31420201188 R$ 4,52 115.505 R$ 522.129 B

723200628 R$ 2,41 171.850 R$ 414.760 B

61710322231 R$ 12,68 26.485 R$ 335.880 B

59110200862 R$ 12,24 26.485 R$ 324.129 B

5361800036 R$ 21,52 13.700 R$ 294.872 B

61710219231 R$ 9,13 25.875 R$ 236.151 C

128710200870 R$ 90,45 2.220 R$ 200.792 C

7460800022 R$ 63,36 2.220 R$ 140.665 C

59110834623 R$ 18,36 7.210 R$ 132.358 C

90809201683 R$ 4,93 26.485 R$ 130.449 C

59110805845 R$ 210,02 610 R$ 128.112 C

61710235651 R$ 4,40 26.325 R$ 115.880 C

123200521 R$ 0,26 409.700 R$ 106.932 C

6360300719 R$ 3,36 31.840 R$ 106.877 C

33010200840 R$ 11,47 9.240 R$ 105.990 C

32910200867 R$ 9,42 10.920 R$ 102.870 C

2160217612 R$ 9,28 9.500 R$ 88.205 C

10213800082 R$ 7,56 10.920 R$ 82.608 C

6360238663 R$ 8,62 9.500 R$ 81.852 C

10513800032 R$ 8,38 9.240 R$ 77.458 C

6360201149 R$ 5,53 13.700 R$ 75.784 C

55010334686 R$ 2,84 26.485 R$ 75.117 C

49510322264 R$ 6,59 10.920 R$ 71.967 C

34310314582 R$ 1,46 48.865 R$ 71.524 C

139310201163 R$ 2,66 26.485 R$ 70.389 C

49610322211 R$ 7,30 9.240 R$ 67.426 C

87720200731 R$ 10,95 5.920 R$ 64.847 C

90809201766 R$ 2,85 19.275 R$ 54.841 C

61710230162 R$ 356,70 150 R$ 53.505 C

106910231446 R$ 2,52 20.160 R$ 50.876 C

760409200658 R$ 1,77 26.635 R$ 47.056 C

90809201951 R$ 2,27 20.160 R$ 45.771 C

71

6360206480 R$ 2,39 18.950 R$ 45.224 C

3860231457 R$ 3,30 13.700 R$ 45.148 C

34310226924 R$ 0,80 52.970 R$ 42.636 C

87720332380 R$ 7,11 5.920 R$ 42.070 C

24113800018 R$ 17,90 2.220 R$ 39.736 C

760409200976 R$ 2,65 13.200 R$ 34.915 C

69710234270 R$ 1,05 26.485 R$ 27.801 C

22410201119 R$ 1,37 20.160 R$ 27.633 C

78510214677 R$ 11,20 2.220 R$ 24.866 C

760309207828 R$ 0,91 26.485 R$ 24.178 C

78510219236 R$ 9,64 2.220 R$ 21.401 C

69710322274 R$ 9,17 2.220 R$ 20.348 C

2160218543 R$ 2,08 9.500 R$ 19.799 C

7260201177 R$ 1,31 13.700 R$ 18.010 C

34310214643 R$ 0,34 48.865 R$ 16.770 C

102120232454 R$ 2,83 5.920 R$ 16.725 C

760309208068 R$ 0,61 26.485 R$ 16.082 C

35320201035 R$ 1,04 11.840 R$ 12.304 C

760309202267 R$ 1,83 5.920 R$ 10.807 C

760309207717 R$ 0,44 19.275 R$ 8.570 C

7360238321 R$ 0,56 13.700 R$ 7.665 C

760309207929 R$ 0,35 20.160 R$ 7.040 C

32910234277 R$ 0,34 20.160 R$ 6.919 C

90809200833 R$ 2,78 2.220 R$ 6.161 C

760309207557 R$ 0,20 26.635 R$ 5.226 C

67910201181 R$ 2,15 2.220 R$ 4.765 C

760309208222 R$ 0,35 13.050 R$ 4.588 C

87720208320 R$ 0,70 5.920 R$ 4.140 C

760309202641 R$ 0,68 5.920 R$ 3.996 C

40210234270 R$ 1,78 2.220 R$ 3.959 C

68110214789 R$ 0,63 5.920 R$ 3.731 C

32910217159 R$ 0,17 20.160 R$ 3.484 C

68110219162 R$ 0,44 5.920 R$ 2.588 C

60610207846 R$ 0,18 13.700 R$ 2.515 C

560219082 R$ 0,26 9.500 R$ 2.445 C

76610200764 R$ 14,94 150 R$ 2.241 C

24820221826 R$ 0,35 5.920 R$ 2.073 C

24820218622 R$ 0,35 5.920 R$ 2.058 C

10708900264 R$ 0,35 5.920 R$ 2.055 C

40210204427 R$ 0,73 2.220 R$ 1.612 C

760309207226 R$ 0,71 2.220 R$ 1.566 C

760409200844 R$ 1,98 310 R$ 612 C

760309202124 R$ 0,18 2.220 R$ 408 C

76610201070 R$ 2,30 150 R$ 345 C

760309208120 R$ 0,45 310 R$ 140 C

760309210054 R$ 0,51 160 R$ 82 C

760309208555 R$ 0,05 160 R$ 8 C

TOTAL R$ 30.155.408

Total R$ 30.155.408

A (80%) R$ 24.124.326

B (10%) R$ 27.139.867

C (10%) R$ 30.155.408

Fonte: Primária, 2009