reportagem as práticas devocionais -...

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vitória Ano X Nº 115 Março de 2015 vitória Revista da aRquidiocese de vitóRia - es As práticas devocionais da Quaresma REPORTAGEM ECONOMIA POLÍTICA Reformas necessárias ENTREVISTA O carisma e a simpatia a serviço da população

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vitóriaAno X • Nº 115 • Março de 2015

vitóriaRevista da aRquidiocese de vitóRia - es

As práticas devocionaisda Quaresma

reportagem

economia política

Reformas necessárias

entrevista

O carisma e a simpatia aserviço da população

arquivix

@arquivix

É muito comum ouvir, em ambientes religiosos ou não, expressões como religiosidade popular, devoções, piedade. Elas têm um destaque especial nesta edição

e o significado é interpretado pelo padre Jocemar Zagoto de uma forma diferente da habitual (expressões simples ligadas à cultura e à tradição): devoção popular é o povo transformando a teologia em outra teologia que ele seja capaz de entender. É tempo de quaresma! Procissões, encenações, beijo na cruz, celebrações! Os sinais da religiosidade popular estarão por todos os cantos durante este Tempo Litúrgico e talvez seja uma boa ocasião para olhá-los e vivenciá-los nas experiências da vida de cada dia. A vivência da quaresma acontece na realidade da vida de cada um e pode ser entendida a partir dela. As manifestações de fé e identificação com Jesus que sofre, morre e ressuscita são muito mais que devoções populares , é o jeito de grande parte do povo fazer teologia. n

Teologia do povo

editorial

fale com a gente

maria da luz fernandeseditora

Envie suas opiniões e sugestões de pauta para [email protected]

anuncieAssocie a marca de sua empresa ao projeto desta Revista e seja visto pelas lideranças das comunidades. Ligue para

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“É tempo de quaresma! Procissões, encenações, beijo na cruz, celebrações! Os sinais da religiosidade popular estarão por todos os cantos durante este Tempo Litúrgico.”

mitraaves

www.aves.org.br

vitóriavitóriaRevista da aRquidiocese de vitóRia - es

Ano X – Edição 115 – Março/2015Publicação da Arquidiocese de Vitória

enTRevisTAO carisma e a simpatia a serviço da população

cAminhOs dA bíbliA “O Deserto se transformou num Jardim!”

diálOgOsDiante da cruz e do

Ressuscitado

Arcebispo Metropolitano: Dom Luiz Mancilha Vilela • Bispos Auxiliares: Dom Rubens Sevilha, Dom Joaquim Wladimir Lopes DiasEditora: Maria da Luz Fernandes / 3098-ES • Repórter: Letícia Bazet / 3032-ES • Conselho Editorial: Albino Portella, Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Gilliard Zuque, Marcus Tullius, Vander Silva • Colaboradores: Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Raquel Tonini, Pe. Andherson Franklin • Revisão de texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin • Publicidade e Propaganda: [email protected] - (27) 3198-0850 • Fale com a revista vitória: [email protected] • Projeto Gráfico e Editoração: Comunicação Impressa - (27) 3319-9062 • Ilustrador: Richelny Lorencini e Rennan Mutz • Designer: Albino Portella • Impressão: Gráfica 4 Irmãos - (27) 3326-1555

05 atualidade

08 micronotícias

15 economia política

18 mundo litúrgico

20 pensar

editorial comunicação A ética nas famílias

espiritualidade Santa Teresa de Ávila

aspas Falas do arcebispo emérito Dom Silvestre Luiz Scandian

viver bem A vitamina D na atualidade

especial A influência da religião na vida profissional

0311

16

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2627

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34

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21 arquivo e memória

39 reflexões

42 prática do saber

46 acontece

carismas religiosos Passionista / Irmãs de Calcutá / Irmãs Azuis

ideias Nós precisávamos dessa seca

reportagem As práticas devocionais da Quaresma

ensinamentos O que diz o Papa?

cultura capixaba O milho e suas peculiaridades

atualidade

Os (des) caminhos da

no espírito santo

gilliard Zuque i vander silva

D iscurso comum nas últimas décadas, quan-do as preocupações relacionadas ao Meio Ambiente engatinhavam no Brasil, era que

devíamos cuidar da água sobre o risco das futuras gerações ficarem sem. Esta triste realidade chegou bem mais cedo do que imaginávamos.

água

34%

60%

da água pronta para consumo no espírito santo é perdida.

da população da grande vitória é abastecida pela bacia do rio Jucu.

Difícil pensar que com a abundância das florestas e dos rios, este problema batesse em nossa porta já agora. As autori-dades no setor cobram de nós, consumidores, atitudes para amenizar a situação. Mas, será que diminuir alguns minutos do banho, ou reaproveitar a água da máquina de lavar resolve a questão? A crise hídrica atual não é somente provocada pela seca

va a situação em nosso estado é a falta de gran-des reservatórios de água. Dependemos diretamente da vazão dos nossos rios e qualquer oscilação mais abrupta, afeta a captação. A ocupação irregular de encostas, áreas ribei-rinhas e de mananciais, estimulada em grande parte pela especulação imobiliária, causa danos às reservas hídricas do es-tado. Devido ao intenso e desordenado processo de uso e ocupação, os tre-chos com vegetação ciliar

que assola o Estado, mas tam-bém por décadas de gestão ina-dequada e não planejada deste precioso bem. Mas, devemos levar em consideração que o Espírito Santo ocupa o 4º lugar no ranking nos estados que mais consomem água. São 191 litros por habitante ao dia, sendo que o aconselhado pela Organiza-ção Mundial da Saúde é de 110 litros. Outro problema que agra-

revista vitória I Março/20155

são cada vez menores e em mau estado de conservação. Como consequência direta, o assore-amento, que é a obstrução por sedimentos, areia ou detritos que causa a redução da correnteza e até a morte de rios. Na agricultura são visíveis os danos provocados pelo repre-samento da água, além de sua contaminação por agrotóxicos e fertilizantes, quando relan-çados nos rios, sem o devido tratamento. As indústrias também têm a cota de participação. Para ci-tar dois exemplos, segundo o Governo do Estado, a Arcelor-

atualidade

Mittal e Vale juntas consomem 79 milhões de litros de água do Rio Santa Maria da Vitória, dia-riamente. Elas recebem, respec-tivamente, 800 e 120 litros por segundo de água. Com a crise, a quantia disponibilizada foi re-duzida e o reuso incentivado. O desperdício provocado no caminho entre as estações da Cesan e as residências tam-bém preocupa. Segundo pes-quisa realizada em 2013, no

busca de soluções Em fevereiro, o Comitê Hí-drico Governamental finalizou a série de reuniões envolvendo a participação dos Comitês de Ba-cias Hidrográficas, produtores rurais, lideranças empresariais, políticas e religiosas, membros da sociedade civil organizada e usuários de água de um modo geral.

Espírito Santo perde-se 34% da água pronta para o consumo. Os principais motivos da per-da na distribuição são: registro defeituoso ou desgastado; tubo rachado, quebrado ou perfurado; desgaste da solda nas juntas das tubulações; hidrante vazando; ligações irregulares (gatos); falhas na medição e a demora nestes consertos, que em deter-minados casos, levam dias. A crise da água também causa impactos na oferta e nos preços do comércio. Pequenos negócios, que não têm como in-vestir em medidas de economia, tendem a reduzir a oferta ou mes-mo encerrar as atividades. Ne-gócios maiores, com potencial de investimento, devem repassar os custos extras para os preços oferecidos ao consumidor.

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As fotos acima mostram o processo de assoreamento com o passar dos anos no rio sobreiro no município de laranja da Terra, que com as fortes chuvas o solo é carreado para a calha do rio e as enchentes provocam a mudança do seu leito

O Espírito Santo está situado na Região Hidrográfica Atlântico Sudeste, com elevado contingente populacional e grande impor-tância econômica de suas indústrias. Este desenvolvimento é motivo de problemas em relação à disponibilidade de água: ao mesmo tempo em que apresenta uma das maiores demandas hídricas do País, a bacia também possui uma das menores disponibilidades relativas.

fonte: agência nacional das águas (ana)

Perth, Austrália: aproveitou a proximidade com o mar e construiu duas estações de dessalinização e hoje 50% da água potável vem do mar;califórnia, eUA: multas para reduzir consumo, obras para o reuso da água e captação de água das chuvas;nova iorque, eUA: implementou nos anos 90 programa de proteção de mananciais, comprou terras e fez parcerias com fazendeiros para evitar contaminação dos leitos dos rios.

dito para o financiamento de sistemas de irrigação mais efi-cientes e sustentáveis. Por outro lado, o governa-dor Paulo Hartung pediu apoio ao Governo Federal para trans-formar a represa de Rio Boni-to, hoje usada para geração de energia, em reservatório de água para abastecimento humano e o aproveitamento de rios menores para o transporte da água do Rio Doce, na região de Caboclo Bernardo. O grande desafio é promo-ver o uso sustentável dos recur-sos hídricos. Mas esse trabalho implica em colocar em prática formas de gestão que conciliem

o crescimento econômico e po-pulacional da região com a pre-servação ambiental. A responsabilidade é de to-dos. Cada um deve agora assumir a parte que lhe cabe para que esta ameaça da falta de água seja, em breve, coisa do passado. É fato que o uso precisa ser equi-librado, seja em nossas casas, na agricultura e pela indústria, e assim garantir que este bem tão precioso não falte. n

04/2006 01/2007 08/2011

Foto

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sOlUções PelO mUndO AfORA

O último encontro acon-teceu em Marechal Floriano e contou com a participação de centenas de usuários de água da Bacia do Rio Jucu, que abran-ge os municípios de Domingos Martins, Viana, Cariacica, Gua-rapari e Vila Velha e é responsá-vel pelo abastecimento de água de 60% da população da Grande Vitória. Entre as diversas sugestões apresentadas, estão a construção de barragens e pequenos reser-vatórios; o reflorestamento de áreas degradadas; o incremento de programas de preservação de áreas remanescentes de Mata Atlântica e a ampliação do cré-

DE cADA 100 litros

DE águA colEtADA E

trAtADA no BrAsil,

APenAs 63 liTROs chegAm

sãOs e sAlvOsnA cAsA Do BrAsilEiro,

EM MÉDiA.

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micronotícias

caño cristales, arco íris derretidoC o n h e c i d o c o m o “o rio que escapou do paraíso”, “arco--íris derretido” e até como “o r io mais bonito do mundo”, o Caño Cristales, na Colômbia, chama a atenção pela mistu-ra de cores vivas que pode ser observada a cada ano, na transi-ção entre as estações seca e úmida. Algas e plantas aquáticas são as responsáveis pelos cinco tons que se mesclam na água: vermelho, amarelo, azul, verde e preto. A temporada de visita-ção, quando é possí-vel ter acesso ao rio e ele está colorido, dura seis meses: vai da metade de junho até dezembro, todos os anos.

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sufocamento dos oceanos

smartphone para detectar hiv e sífilis

O papa do povoO Papa Francisco não coloca freio nas iniciativas em benefício dos mais pobres. Já fez doações dos seus presentes recebidos, instalou chuveiros no Vaticano para o banho dos moradores de rua e também a Barbearia do Papa, que oferece corte de cabelo e barba. Agora fez a doação de 300 guarda-chuvas esquecidos por turistas nas visitas aos Museus Vaticanos para os sem-teto que vivem nas proximidades, e em outras regiões da capital italiana, e sofrem com as intermitentes chuvas que caem sobre a capital italiana no inverno.

Oito milhões de toneladas de plástico. Essa é a quantidade de resíduos plásticos presente nos oceanos, segundo estudo publicado na revista Science. De acordo com as projeções do estudo, a quantidade do material que chega aos mares aumenta a cada ano, por isso, estima-se que em 2015 os oceanos rece-berão cerca de 9,1 milhões de toneladas de plástico. Caso pro-vidências não sejam tomadas, como a melhora da gestão de resíduos e a ampliação dos sis-temas de reciclagem de plástico, esta quantidade poderá ter um impacto acumulativo de até 155 milhões de toneladas em 2025.

Cientistas americanos desco-briram uma forma de transfor-mar um ‘smartphone’ comum em um dispositivo rápido e fácil de usar para realizar testes de detecção de HIV e sífilis. Usando um acessório, cuja fabricação custa US$ 34 - uma diferença enorme com relação a testes de diagnós-tico padrão, que custam em

média US$ 18 mil -, gotas de sangue são analisadas em busca de anticorpos das do-enças em questão de minutos. Quando acoplado à entrada de áudio de um ‘smartphone’, o dispositivo imitou o ensaio imunossorvente ligado à en-zima (ELISA), um teste de HIV muito conhecido, e teve um desempenho quase tão bom quanto o exame tradicional. Especialistas esperam que o acessório possa se tornar uma ferramenta útil, especial-mente em locais onde clínicas de campanha são montadas para ajudar populações mal assistidas.

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equipe de comunicação do muticom

comunicação

A ética nas famíliasa menSagem do PaPa FRanciSco PaRa o 49º dia mundial daS comunicaçõeS SociaiS, com o Tema “comunicaR a Família: ambienTe PRivilegiado do enconTRo na gRaTuidade do amoR”, divulgada no começo deSTe ano eSTabelece um inTeReSSanTe e FRuTíFeRo PaRalelo com o Tema do 9º muTicom, “ÉTica naS comunicaçõeS”.

Em todo documento, Fran-cisco sublinha diversos aspectos que envolvem a

comunicação e a família. Para ele, “a família é o primeiro lugar onde aprendemos a co-municar” e considera o ventre materno como a primeira ‘es-cola’ de comunicação. Ou seja, cabe às famílias, pai e mãe num primeiro momento, a responsa-bilidade pela formação não só física, mas também intelectual de seus filhos. Daí a necessi-dade dos pais serem corretos no convívio familiar e na vida em sociedade, influenciando-os positivamente.

O Papa defendeu ainda uma educação para o pluralismo, no interior de cada família: “Uma criança que aprende, em famí-lia, a ouvir os outros, a falar de modo respeitoso, expressando o seu ponto de vista sem negar o dos outros, será um construtor de diálogo e reconciliação na sociedade”.

ele recorre à família como pilar no sentido de balizar o com-portamento dos jovens “para que saibam ensinar os filhos a viver, no ambiente da comuni-cação, segundo os critérios da dignidade da pessoa humana e do bem comum”.

A mensagem do Papa para o dia Mundial das Comunica-ções Sociais, que será celebrado em 17 de maio, tem inúmeros pontos que trazem à tona a ne-cessidade para uma comunica-ção ética e será certamente um dos textos-base para o 9º Mu-ticom que terá a ética no cen-tro das discussões. Um desses momentos, será a participação da doutora em Educação pela UFRJ e professora da Ufes, Eli-zabeth Barros que trará em sua palestra o tema “A comunicação social e a construção ética do indivíduo”. n

Qual zelo ético com o seu semelhante terá alguém que quando criança vivenciou ex-periências que divergem radi-calmente dos princípios de vida fraterna e respeitosa, na coleti-vidade? Quem nunca ouviu ou foi ouvido, em família, saberá ouvir em sociedade? Quem não aprendeu noções de respeito e limite, os terá quando adulto? Francisco sustenta que, apesar das novas tecnologias de comunicação puderem “di-ficultar” a comunicação em família, elas podem favorecer, quando “ajudam a narrar e par-tilhar, a permanecer em contato com os de longe, a agradecer e pedir perdão”. Mais uma vez,

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caminhos da bíblia

pe. andherson franklin, professor de sagrada escritura no iftav e doutor em sagrada escritura

“Que a Igreja, que é chamada a ser servidora e promotora da justiça e da

paz se transforme também num sinal profético desse

tempo de renovação.”

transformou“O deserto se

num Jardim!”

Já no início da Quaresma, no seu primeiro domingo, é lido na liturgia esse trecho do Evange-

lho de Marcos: “Esteve no deserto quarenta dias, sendo tentado por Satanás; vivia entre as feras e os anjos o serviam” (Mc 1,13). Tal pas-sagem espelha o caminho de Jesus no deserto e de como ele venceu as tentações do Mal. Partindo deste pe-queno, mais significativo versículo é possível intuir o caminho proposto pela liturgia neste período fértil que a Igreja oferece a seus filhos e fi-lhas. Jesus é conduzido ao deserto onde foi tentado, lá Ele venceu as tentações, conviveu com os animais selvagens e era alimentado pelos anjos. Esse cenário, composto pelo evangelista, deseja apresentar, de forma bem clara, a identidade e a missão do Messias − Ele é o Novo Adão, o Homem Novo, aquele que anuncia o Reino de Deus. Jesus foi tentado por Satanás por quarenta dias, um tempo simbó-lico e clássico na Sagrada Escritu-

ra. Referência direta ao período em que o povo de Israel peregrinou no deserto rumo à terra prometida, um tempo de superação de gerações e de profunda renovação. O cenário é o deserto, que para a Sagrada Escritura é sempre o lugar da manifestação de Deus. O mesmo para o evangelista Marcos é o espaço para o qual Jesus sempre retorna para orar e encontrar forças para a sua missão. Neste capítulo, o deserto serve de palco para as tentações de Jesus e a sua vitória sobre o Mal. Ao mes-mo tempo, que se apresenta como espaço do convívio de Jesus com os animais selvagens e os anjos. O olhar atento do leitor deve-se voltar para o livro do Gênesis, no qual o primeiro homem − Adão, foi coloca-do num jardim em meio aos animais selvagens. Neste espaço simbólico, Adão se encontrava em profunda co-munhão com o seu Criador, convivia em meio aos animais e também foi tentado por Satanás. Ele ao sucumbir às tentações do Mal é derrotado dian-

revista vitória I Março/201512

te de suas investidas, sendo assim afastado da presença de Deus e do jardim do Éden. O deserto é a pri-meira meta de Jesus, antes mesmo do início de sua Missão, lá Ele será provado e vence-rá o Mal. Sua vitória diante das tentações restitui a esse lugar simbólico, no qual ele está cercado pelos ani-mais selvagens e anjos, a sua imagem perdida pelo pecado de Adão. O deserto se transforma num jardim, no qual a presença de Deus se faz sentir e o homem entra em profunda comunhão com toda a criação. Jesus abre de novo o jardim que Adão, o primeiro homem, tinha perdido com seu peca-do, restaurando assim a comunhão com Deus e inaugurando um tempo novo de salvação. Tal imagem que é apresentada logo no início da Quaresma é significativa e deve ser

mação, não somente do exterior, mas sobretudo do interior do homem, como também de in-tenso questionamento e mudança das estru-turas sociais. O desafio de vencer os males no deserto da vida diária é algo apresentado a cada um que deseja ser discípulo e discípula de Cristo. Não somente os males individuais que corrompem os corações, a bondade e generosi-dade humanas, como também aqueles sociais que fazem do mundo um verdadeiro deserto cheio de males e peri-gos contra a vida. Que

uma luz para todo esse período no qual todos são convidados “a ras-gar os corações e não as vestes” (Jl 2,13). A novidade trazida por Cristo, por meio de sua morte e ressurreição quer ser motor de inten-sa e profunda transfor-

O desafio é fazer desta

Quaresma um tempo fértil

e fecundo, no qual todos se

empenhem a vencer as tentações e os males, a fim de que, os desertos

cheios de males se

transformem em jardins.

a Igreja, que é chamada a ser servidora e promo-tora da justiça e da paz se transforme também num sinal profético des-se tempo de renovação. O desafio é fazer desta Quaresma um tempo fértil e fecun-do, no qual todos se empenhem a vencer as tentações e os ma-les, a fim de que, os desertos cheios de ma-les que ainda existem no Estado do Espírito Santo se transformem em jardins, a violência dê lugar ao convívio pacífico e fraterno e o Reino de Deus seja anunciado. n

revista vitória I Março/201513

Reformas necessárias

economia política

arlindo vilaschiprofessor associado de economia da ufes

AConstituição de 1989 buscou superar uma ordem exagera-damente centrada na segurança

nacional dos tempos do regime militar, e dotou o País de um estatuto voltado para a cidadania. Fez isso tanto no que se refere à participação política quanto no que diz respeito a acessos a serviços como educação, saúde, áreas em que a dívida social brasileira se acumula ao longo de séculos.

Mesmo com avanços no processo de escolha de representantes, a qualida-de da representação da vontade popular expressa pelo voto é alvo crescente de críticas. Essas também se acumulam com relação à qualidade dos serviços de educação e saúde. Evidencia-se que tanto representação política quanto serviços essenciais estão longe do de-sejável para um país com as riquezas naturais e humanas do Brasil.

Isso leva a frustrações tanto com relação ao regime democrático em si quanto às possibilidades do País rea-lizar efetivas mudanças sociais. Daí as celebrações das bodas de prata da ‘Constituição Cidadã’ terem ocorrido em meio a demonstrações de insatisfa-ção generalizada em ruas das principais cidades brasileiras. Indicação de que é fundamental a ação política voltada para respostas necessárias às legítimas frustrações da população.

Diante desse quadro, o País pre-cisa estabelecer novas referências que respondam de maneira efetiva, por um lado, às críticas ao funcionamento da

democracia; e que, por outro, esta-beleçam condições objetivadas para um futuro melhor para a maioria da população. Para tanto, necessárias se fazem as reformas política e tributária.

Tentativas no passado nesses campos e projetos em tramitação no Congresso Nacional, indicam que essas reformas, só serão efetivas na busca do bem comum se forem negociadas fora da atual conjugação de forças ali exis-tentes. Essa conjugação está cada vez mais cristalizada em torno de interesses de grupos específicos e muito longe de contemplar legítimas expectativas de mudanças nos campos político e social do País.

A convocação de uma assembleia constituinte específica para essas duas reformas pode ser um importante passo para o Brasil construir bases sustentá-veis para a democracia política, social e econômica. Para diminuir o poder de interesses cristalizados na representação política em vigência, é fundamental que essa assembleia seja eleita a partir também de candidaturas avulsas.

Uma assembleia com mandato es-pecífico e contando com a participação de pessoas fora do quadro partidário pode ser instrumento para a supera-ção da crise pela qual passa a socieda-de brasileira. Como dizia Churchill, ‘não se deve desperdiçar uma crise’. Oportuno, portanto, que o Brasil use o atual impasse político e econômico para melhor se preparar para desafios do presente e do futuro. n

“O País precisa estabelecer novas referências que respondam de maneira efetiva, por um lado, às críticas ao funcionamento da democracia; e que, por outro, estabeleçam condições objetivadas para um futuro melhor para a maioria da população.”

revista vitória I Março/201515

espiritualidade

dom rubens sevilha, ocdbispo auxiliar da arquidiocese de vitória

Santa Teresa de Ávilano dia 28 de março celebraremos os 500 anos do nascimento de teresa de cepeda y ahumada, que nasceu em ávila na espanha em 1515. ela cresceu e viveu numa época complexa. quando teresa tinha dois anos de idade, o frade agostiniano chamado martinho lutero rompia com a igreja católica pregando na porta da capela do castelo de Wittenberg as famosas 95 teses. a espanha estava em plena expansão nas américas ou novo mundo.

e pobre e, por somente usarem as sandálias feitas de cordas por elas mesmas, chamaram--se Carmelitas Descalças. Aqui ela já era uma senhora madura humana e espiritual-mente com 49 anos de idade.

Mas Deus lhe pediu ain-da mais e colocou no coração de Teresa reformar também os frades carmelitas. Ela convence um frade jovem, recém-ordenado sacerdote, chamado Frei João da Cruz a ser o primeiro carmelita descalço.

Teresa leu todos os livros em língua espanhola existen-tes na sua época, eram poucos os livros em vernáculo; mas, numa época em que raras mu-lheres sabiam ler e escrever, Teresa tornou-se uma grande escritora sobre a oração e os caminhos da vida espiritual e, séculos depois, a primeira mulher na história a receber o honroso título de Doutora da Igreja, pelo Beato Papa Paulo VI em 1970.

Morreu com 67 anos de idade e a sua festa celebra-se no dia 15 de outubro. n

t eresa entrou para o mosteiro das Carmeli-tas, onde viviam cerca

de 180 mulheres, entre elas, monjas, também senhoras nobres viúvas, outras filhas de famílias nobres que eram ali internadas, muitas eram criadas pobres que serviam as monjas nobres...

Depois de algum tempo, irmã Teresa estava muito in-

satisfeita e angustiada consi-go mesma. Entrou em crise espiritual e mudou de vida, isto é, decidiu ser inteira de Deus e chegou à profunda intimidade e união mística com o Divino Esposo.

Mas Deus foi lhe pedin-do cada vez mais e colocou no coração de Teresa o desejo de ajudar a Igreja do seu tempo. A inspiração foi viver o mais perfeitamente possível a vida que ela tinha abraçado, ou seja, uma vida toda inteira doada para Deus na oração, para o bem da Igreja e salva-ção do mundo. Percebeu que necessitava de um ambiente que ajudasse nesse objetivo. Assim sendo, pediu licença ao bispo de Ávila, comprou uma casa, adaptou-a e formou um pequeno mosteiro simples

revista vitória I Março/201516

Um esforço conjunto de homem e mulher, esforço corajoso de olhar a realidade da mulher dentro da sociedade e da Igreja; de reconhecer os preconceitos contra a mulher, a discriminação (por exemplo, quanto a salários, à oportunidade de capacitação, quanto a cargos de liderança, etc), reconhecer a dominação machista com tantas formas de opressão da mulher por parte do homem (por exemplo, jogar nas costas dela todas as tarefas de casa, todo o peso da educação dos filhos, violência física, psicológica e sexual).

Abertura da Campanha da Fraternidade de 1990 na Catedra

A paróquia de São Francisco de Assis vai viver e atuar no meio de uma população pobre, marginalizada, sofrida destes bairros em que está inserida. Seja ela “lugar” e instrumento de comunhão dos fiéis com Deus e irmãos entre si. Isto, apesar das expressões diferentes de religiosidade, sempre atenta e aberta ao sopro do Espírito Santo que cria coisas novas, distribuindo dons diferentes, mas complementares. Seja casa que se abre para servir a todos.

Criação da paróquia São Francisco de Assis,Cariacica, em 1989

aspas

falas do arcebispo emérito dom silvestre luiz scandian

Jesus quer que estejamos no mundo, sem ser do mundo. Que fiquemos dentro dele, mas sem nos deixar absorver pelo mundo: pela sua desonestidade, sua mentira, sua injustiça, sua ganância, sua busca desenfreada de prazeres, seu ódio, seu egoísmo. Cristo quer que vivamos dentro do mundo os valores do Reino do Pai: desprendimento e humildade, mansidão e misericórdia, retidão e justiça, fé e santidade no amor.

Ordenação do Padre Ivo Ferreira, em Iúna, em 1984

Perdoando – todas as pessoas têm falhas e erros: nós também. Por isso: vamos perdoar uns aos outros. Vamos olhar cada pessoa com um olhar novo.

Escrito avulso de anotações – sem data

revista vitória I Março/201517

mundo litúrgico

hino de louvor na Quaresma Segundo a Instrução Geral do Missal Romano, n. 53, o hino de louvor “é cantado ou recitado aos domingos, exceto no tempo do Advento e da Quaresma, nas solenida-des e festas e, ainda, em celebrações especiais mais solenes.” No período que vai da Quarta-feira de Cin-zas até a Missa do Crisma, omite-se o canto da glória nas celebrações eucarís-ticas e da Palavra, exceto se tiver alguma solenida-de, como a de São José, no dia 19 de março, ou a Anunciação, no dia 25 de março. Ele reaparece na Celebração Vespertina da Ceia do Senhor, na quinta--feira Santa, é omitido no-vamente na Sexta-feira da Paixão, e é entoado com todo o esplendor na Vigí-lia Pascal para proclamar as maravilhas da Ressur-reição.

Unção dos enfermos

missa presidida pelo bispo diocesano e todoo seu presbitério, na quinta-feira santa,na qual são abençoados os três óleos usados para a celebração dos sacramentos: dos catecúmenos, dos enfermos e do crisma

ça. Somente os presbíteros e bispos podem ministrar este sacramento, realizando a unção na fronte e nas mãos do enfermo. A celebração pode acontecer na casa da família, no hospital ou na Igreja. É comum em muitas comunidades realizarem uma celebração especial para os enfermos, principalmente na Quaresma ou Semana San-ta, quando estes recebem o sacramento.

A Unção dos Enfermos, que teve diversos nomes no decorrer da história, é “um sacramento destinado a re-confortar aqueles que são provocados pela enfermi-dade.” (Cf. CIC 1511). A matéria deste sacramento é o óleo, abençoado pelo Bis-po na Missa do Crisma. O óleo dos enfermos é sinal de força e de ajuda do Espírito Santo para superar a debili-dade do pecado e da doen-

revista vitória I Março/201518

As celebrações no ano litúrgico No decorrer do ano litúrgico, encontramos uma nomenclatura variada para as celebrações segundo a sua importância. As Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário (NALC) regulam essas celebrações.

construções e reformas As construções e reformas das igrejas devem sempre fa-vorecer a celebração do Mis-tério. A Sacrosanctum Conci-lium, 128 afirma: “Revejam-se quanto antes os cânones e os estatutos eclesiásticos que di-zem respeito às coisas externas pertencentes à preparação do culto sagrado, principalmen-

te quanto à digna e funcional construção das igrejas, à forma e edificação dos altares, à no-breza, à disposição e segurança do tabernáculo eucarístico, à funcionalidade e dignidade do batistério, bem como à ordem razoável das sagradas imagens da decoração e ornamentação. O que parecer convir menos à

liturgia reformada seja emen-dado ou abolido; O que, porém, a favorecer seja mantido ou introduzido”. A fé, a razão, a arte Sacra e a piedade popular precisam compor-se que todo o edifício aponte para Jesus Cristo e Este com toda a As-sembléia Orante para o Pai no Espírito Santo! n

SolenidadeSSão os dias mais importantes no ano litúrgico e ocorrem em número menor. A sua celebração começa no dia anterior, com a oração de Vésperas (oração da Liturgia das Horas rezada ao entardecer), e algumas possuem uma liturgia própria para a Vigília (cf. NALC 11). Canta-se o glória e reza-se o credo, independente do dia da semana em que caiam. Nesta categoria (será que está legal essa palavra?) entram Pentecostes, São Pedro e São Paulo, Natal, entre outras.

FeSTaSAs festas são celebradas apenas no decurso do dia natural, ou seja, não começam com as vésperas do dia precedente. (cf. NALC 13) Canta-se apenas o glória e algumas delas podem ter precedência sobre o domingo, a festa da Transfiguração, por exemplo. Já outras festas, como a da Cátedra de São Pedro, não podem substituir o domingo.

memóRiaSAs memórias são uma recordação de um ou mais santos nos dias de semana, em sintonia com o dia em que ocorrem. (cf. NALC 14) Geralmente, possuem apenas a oração da coleta (primeiro oremos da missa) e as demais orações são próprias do dia. Estas podem ser obrigatórias ou facultativas, como os próprios nomes sugerem, podendo ou não ser omitidas. Estas são em maior número, podendo ter mais de uma por dia. Temos, nas memórias, Santa Teresinha do Menino Jesus, São Francisco de Assis e tantos outros santos e santas de Deus.

revista vitória I Março/201519

Foto

: Mar

cus T

ulliu

s

pensar

arquivo e memória

giovanna valfrécoordenação do cedoc

Procissão do enterro

Momento de reflexão para os católicos, a Semana Santa é marcada pela

lembrança da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Tradicionalmente, vários rituais católicos são cele-brados na semana que antecede a Páscoa. Na sexta-feira da Paixão é comum acontecer nas paróquias e comunidades, a procissão do Senhor Morto ou procissão do enterro. Não há celebração de missas e a Igreja faz silêncio para celebrar a morte de Jesus, no horário das três horas

da tarde. Consta no livro de Tombo da Catedral de Vitória, que na sexta feira santa, às 15 horas, o bispo dio-cesano celebrava a paixão de Jesus fazendo o sermão das sete palavras, lembrando as últimas palavras de Jesus no calvário antes de sua morte, celebração que era transmitida pela Rádio Espírito Santo. Ao final da tarde saía a procissão do Enterro acompanhada por fiéis, os padres, os membros das irmandades, do Apostolado da Oração e da Liga Católica. n

Procissão do enterro saindo da

catedral, sexta-feira da Paixão,

março de 1959

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viver bem

A vitamina da atualidadeA

deficiência de vitamina D é altamente preva-lente em nosso meio e

atualmente constitui um grande problema de saúde pública em todo o mundo. Vivemos uma grande epidemia de hipovitami-nose D. Vários estudos mostram uma elevada prevalência dessa doença, sendo esta bastante vari-ável, podendo acometer mais de 90% dos indivíduos dependendo da população estudada. Interessantemente, mes-mo em países onde a exposição solar é considerada alta, como é o caso do Brasil, existe alta prevalência de hipovitaminose. Esta deficiência pode ser ainda maior em determinados grupos populacionais como os de crian-ças e idosos ou em aqueles que têm pouca ingestão alimentar e

aos que procuram evitar a luz do sol. É bem descrito que a indevida ex-posição solar favorece o envelhecimento cutâneo precoce, manchas e lesões de pele, especialmente o câncer. De fato devemos nos proteger sim, mas não nos esquecendo dos reais benefícios da vitamina D ao nosso organismno. De fato, as fontes de vitamina D tam-bém podem ser obtidas a partir de certos alimentos, como por exemplo, óleo de fígado de bacalhau, salmão, atum, ca-vala. Entretanto, a produção através da pele catalisada pelos raios UVB solares (abundantes até às 10 horas da manhã e após às 16 horas) convertem um precursor em pré-vitamina D, que é rapidamente transformada em vitamina D, representa a principal fonte desta “vitamina” para a maioria dos seres humanos. A partir daí ocorre a modulação de um hormônio

É fundamental estarmos alertas não somente aos cuidados com a pele, mas também a deficiência de vitamina d, especialmente nos pacientes de risco.

revista vitória I Março/201522

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chamado paratormônio – PTH, e principalmente a absorção de cálcio pelo intestino, tão im-portante para a função óssea e muscular. A vitamina D é essencial ao metabolismo ósseo, porém parece também estar relacionada a outras doenças, especialmente as endocrinometabólicas, tais como o diabetes mellitus, as-sim como alterações cognitivas ou doenças autoimunes, como mostram recentes estudos. Em crianças, a deficiência de vi-tamina D leva ao retardo do crescimento e ao raquitismo. Portanto é fundamental es-tarmos alertas não somente aos cuidados com a pele, mas tam-bém a deficiência de vitamina D, especialmente nos pacientes de risco. E se necessário, uma

avaliação médica personaliza-da pode ser importante para as orientações adequadas de uma boa alimentação e os devidos cuidados com o sol. Desse modo, estaremos contribuindo para maior bem estar de nosso corpo como um todo. n

drª alessandra ferri casini doutora em endocrinologia e professora de medicina da uvv

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diálogos

teologia e sem ter recebido instru-ções esclarecedoras, vive uma parte fundamental de sua vocação cristã, o seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Do grande sacrifício ele parti-cipa com o seu pequeno sacrifício. Ele esgota as suas forças e suas lágrimas no esgotar do Sangue do Salvador. Tudo por Amor! Como a dizer-se: “A minha cruz na Cruz de Jesus!” Páscoa! Outro gesto e atitude que vêm surgindo, atualmente, na piedade popular, nos artistas da iconografia, é a imagem do Cristo Ressuscitado. Tenho visto lindas imagens de Cristo Ressuscitado. A imaginação criadora dos artistas ajuda o fiel a abrir o seu coração para a esperança, a vida nova, o céu. É um sentimento de vitória, de alegria e de desejo profundo de felicidade, do céu! Muitas igrejas e capelas estão introduzindo a ima-gem do Cristo Ressuscitado no seu espaço orante. É um novo fenôme-no da piedade popular que, de certa forma, revela a reflexão teológica do tempo de hoje que tenta manifestar nesta iconografia a sede e o desejo de Deus, consequentemente o desejo de felicidade.

Ao longo de minha vida, que considero graça de Deus, te-nho observado gestos e ati-

tudes da piedade popular que muito me comovem e me fortalecem. Eu observava, especialmente na sema-na Santa, uma atitude do povo mais simples e de fé mais pura, o carinho e afeto manifestados diante do Corpo Morto de Jesus, na Sexta Feira Santa. Observei o mesmo carinho e lágrimas derramadas diante do Crucificado. São momentos profundamente co-moventes que sempre me levaram e levam a meditar.

diante da cruz Não se trata apenas de sentimento solidário e compaixão por parte do fiel emocionado diante do Crucificado ou do Cristo Morto. Aliás, o sentimento de compaixão, na sua raiz, talvez seja o caminho de interpretação desta pie-dade popular. Compaixão! O fiel sofre com a pessoa do Crucificado. Mais do que isso, ele projeta o sofrimento que carrega diariamente em sua vida de luta e dissabores na pessoa do Cristo Morto ou do Crucificado. Quantas vezes eu vi uma pessoa muito simples, com um barbante nas mãos, medindo o pescoço do Cristo Morto. Quantas vezes eu vi pessoas emocionadas tocando nas chagas do Crucificado. Este fiel sofredor se faz um com Cristo sofredor e suplica-lhe forças, consolo, cura etc. Lava a sua alma diante do Sinal Sagrado de Amor total de Jesus Cristo. Amor porque Deus é Amor! O fiel bebe desta Fonte Reno-vadora e volta para a sua casa, con-fortado e com coragem para vencer e carregar a sua cruz pesada de todos os dias. Com essa atitude de compaixão, o fiel, sem ter estudado muito sobre

e do Ressuscitado

revista vitória I Março/201524

Eu observava na semana santa, uma atitude do povo mais simples e de fé mais pura, o carinho e afeto manifestados diante do Corpo Morto de Jesus

dom luiz mancilha vilela, ss.cc.arcebispo metropolitano de vitória es

Diante destes dois quadros sur-gem duas preocupações: primeiro a visão dos pastoralistas. Estes di-ziam que fixação no crucificado é exagerada porque nós cremos na Ressurreição da Carne. Tinha-se até certo sentido de frustração perante o povo simples e fiel que valorizava mais a sexta feira do que o Sábado Santo e domingo pascal. No segundo quadro teme-se o exagero da outra parte também muito importante que é o fato da Ressur-reição. A imagem do Ressuscitado não substitui a cruz na celebração da Sagrada Eucaristia. Esta atitude reflete a visão teológica da sociedade atual, tempo que não aceita a dor, a desilusão, a decepção, a Cruz. Neste contexto quer-se tirar os pregos e as chagas do crucificado e deter-se somente na representação do Cristo vitorioso. São dois extremos que se com-pletam, mas não se substituem. O Mistério Pascal é uno, é inseparável. A Sagrada Eucaristia traz no seu bojo a festa e a tragédia. A liberdade do ar-tista tem seus limites quando se trata de expressar o mistério da fé. Seria deplorável acentuar separadamente o fato da ressurreição, ignorando a tragédia da cruz, assim como a cruz não tem fim em si mesma, mas transporta-nos para a ressurreição. Aqui os responsáveis pela construção de um templo devem estar atentos na correta representação do mistério celebrado. n

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especial

A influência da religião na vida profissional

“Estudos científicos

indicam que quanto maior

o nível de envolvimento

religioso de uma pessoa, maiores são

os indicadores de bem estar

psicológico, menor depressão,

diminuição de comportamentos

suicidas, menor uso de drogas e consumo de

álcool”.

Edebrande CavalieriDoutor em Ciências

da Religião

independente da fé que se professa, podemos dizer com muita segu-

rança que as religiões têm como objetivos formar as pessoas para que possam distinguir o bem do mal, adquirir a capacidade de se relacionar com os outros no dia a dia, educar para o respeito em relação ao ou-tro e à natureza, para uma convivência harmoniosa em sociedade. Só com estes objetivos podemos dizer que as religiões em geral dão um grande contributo na formação de uma socie-dade cada vez mais justa e mais ética. A religião, en-tão, determina o equilíbrio moral com um alto padrão ético de conduta. Esta tese pode ser apresentada como doutrina em qualquer reli-gião, cristã ou não. Sendo esta tese ver-dadeira e sabendo que no contexto brasileiro 96% da população é religiosa, como explicar condutas que não se enquadram nesta doutrina religiosa? Como explicar o crescimento da violência e a exterminação da vida bem perto de nós?

Como explicar corrupção, desvio de dinheiro, rou-bo em alta escala, desres-peito à natureza e à vida em sociedade? Nunca se pregou tanto em Igrejas e nos Meios de comunicação social! Diante desta contradi-ção entre pregação religiosa e vida profissional, parece que as religiões não influem em nada na vida das pesso-as. Muitas vezes parece não haver distinção no cotidiano entre a vida de um cristão e de uma pessoa sem religião. Estudos científicos indicam que quanto maior o nível de envolvimento religioso de uma pessoa, maiores são os indicadores de bem estar psicológico, menor depressão, dimi-nuição de comportamen-tos suicidas, menor uso de drogas e consumo de álcool. Nos meios médi-cos, psicológicos e de auto--ajuda encontramos ações que trazem estes benefícios para a pessoa. Transfor-mar a religião em espaço de auto-ajuda é limitar o seu papel. Muitas vezes, não há diferença entre as palavras

de um padre, um pastor ou um psicólogo. Então, para que servem as religiões na vida profissional? Tentemos nos concen-trar na análise da religião cristã que professamos. Conforme Papa Francisco, para ser cristão de verdade é preciso expressar na vida cotidiana os sacramentos que se recebe. Batismo e Eucaristia “devem tornar--se vida e traduzir em ati-tudes, comportamentos, gestos e escolhas”. Temos que registrar que é inegável o potencial transformador da religião cristã. Segundo Max Weber, grande estu-dioso da religião protestante da era moderna, a religião potencializa transformações na ordem social, tanto da economia, como da polí-tica e da cultura em geral. Mas, se estas transforma-ções não vêm ocorrendo na perspectiva evangélica é porque algo de errado está ocorrendo entre nós. É fá-cil encher os templos para lindas celebrações! Difícil é ser luz do mundo e sal da terra no exercício de cada profissão. n

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carismas religiosos

Pobres com os pobresA paixão de cristo

Trazer de volta o significado da Pai-xão de Jesus foi a motivação do fundador da Congregação da Paixão de Jesus Cris-to, São Paulo da Cruz, em 1720, quando o mundo passava por uma grande crise religiosa. No Norte da Itália, uma região então com grande número de bandidos e saqueadores, surgiram os Padres Passio-nistas, com vocação missionária e logo se expandiram pelo mundo. Identificam-se pela cor preta do hábito e pelo coração que trazem no peito, também de cor preta, com a inscrição PAIXÃO DE JESUS CRISTO, em letras brancas, escrita em três idiomas. A comunidade composta por quatro sacerdotes atua na Paróquia Santa Maria Goretti, em Jardim América.

O carisma das irmãs de Nossa Senhora da Imaculada Conceição de Castres, Irmãs Azuis, está na espiritualidade e centralidade em Deus e nos pobres que dá à Congregação uma forte dimensão missioná-ria. A inspiração para seguirem Jesus no discipulado vem da Virgem Maria. Na Arquidiocese de Vitória a comunidade che-

Irmãs de Calcutá é o nome carinhoso que o povo dá às irmãs da Congrega-ção das Irmãs da Caridade, fundada pela beata indiana Madre Teresa de Calcutá em 1950. Madre Teresa expressa o carisma que vi-veu e encantou o mundo com uma frase simples que traduz os dois pilares teo-lógicos: Jesus Encarnado na Eucaristia e Jesus En-carnado no pobre: “Somos contemplativas no coração do mundo, porque ‘reza-

mos’ o nosso trabalho”. Reconhecidas facilmente por causa do hábito branco com as bordas azuis e uma pequena cruz na altura do ombro, as irmãs trazem à lembrança de quem as en-contra a figura de Madre Teresa de Calcutá.

gou em 1976 e conta hoje com a presença de três religiosas que auxiliam nos trabalhos pastorais no Bairro Bandeirantes em Ca-riacica. As irmãs escolhem para local de missão as regiões com maiores necessidades fazendo

jus ao quarto voto que professam de dedicar-se totalmente à causa dos mais pobres. A Congregação foi fundada em 08 de dezembro de 1836, na França, pela beata Emillie de Villeneuve.

curiosidade

A Congregação está presente nos morros de Vitória desde 1986 e trabalha atualmente com os mais pobres, mães solteiras, idosos e visitam famílias. Moram no bairro Consolação e pertencem à paróquia São Pedro na Praia do Suá.

As irmãs de Nossa Senhora da Conceição são conhecidas em todo o mundo por Irmãs Azuis, devido à cor do hábito.

Pobreza, castidade, obediência e total dedicação aos pobres

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entrevista Leticia Bazet

O carisma e a simpatia a serviço da populaçãomeirelles é um guarda de trânsito diferente. A sua forma de trabalhar no município de vila velha virou sua marca registrada e hoje ele faz sucesso entre os cidadãos e também nas palestras e nos vídeos que circulam na internet. nessa entrevista ele mostra o porquê de sua popularidade.

Meirelles - Tenho tudo aqui. Tem pessoas que precisam de tempero, então eu levo um paco-tinho de tempero e entrego pra ela dar uma temperada na vida. Eu tenho erva cidreira, chás. Quando as pessoas estão nervosas, entrego um chá pra elas se acalmarem. Carrego bombons para os bons motoristas. As pessoas pensam: esse guarda é doido. Se ‘ser doido’ é tratar bem a população, fazer bem, eu sou doido sim. Se eu conseguir salvar um já valeu a pena.

vitória - O senhor foi sempre assim? Meirelles - Eu fui sempre assim, meu comporta-mento sempre foi pra cima. Devido a educação do meu pai, nós somos seis irmãos e meu pai era militar, sempre respeitou, ensinou a respeitar todas as pessoas e tratar todo mundo bem. Na minha família são todos brincalhões. A vida pra mim é um dom, graças a Deus eu sou feliz. Eu percebi assim, se eu sou feio com a cara feia, vou virar um Shrek! Então decidi abordar sempre as pessoas com educação.

vitória - Essa decisão de agir assim, o se-nhor tomou enquanto guarda municipal ou em outro momento?Meirelles - Eu já trabalhava dessa forma. Eu sou ex-funcionário da Petrobras, e pedi para sair na época porque meu pai estava doente e eu preferi tomar essa decisão. Depois disso eu decidi fazer o concurso para ser guarda, fui

vitória - Para começar, conte um pouco das suas peripécias durante o trabalho.Meirelles - Às vezes quando eu vou fazer abor-dagem, a tendência das pessoas é olhar feio para o guarda, pois nos veem como agente punitivo, então eu já chego e falo: cidadão bom dia! Pri-meiro as pessoas se assustam porque minha voz é grossa, segundo porque pra eles guarda não dá bom dia, eles costumam é multar. Uma vez eu peguei dois pregadores de roupa, aí o motorista se assustou e eu falei: senhor, deixe sua raiva secar, sabe por quê? Porque o barro quando bate na sua roupa e você tenta limpar ele te suja mais, a mesma coisa com a raiva, quanto mais raiva, mais irado você fica. Então leve o pregador e

pendure a sua raiva quando chegar em casa e deixe secar. Depois sacode e sai tudo.

vitória - O senhor já carrega tudo aí dentro da roupa?

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entrevista

aprovado e pensei que eu poderia ser mais, poderia fazer diferente, tirar essa imagem de que guarda foi feito para multar. Sou a favor de multar, mas sou a favor da educação, da maneira de abordar, de como falar. Nas multas que aplico eu nunca tive problema com nenhum condutor. Eu chego e pergunto: O senhor pode colo-car o cinto? Se ele coloca o cinto, para mim sanou o problema. Eu creio que dessa forma não preciso aplicar a multa, embora a legis-lação preveja que eu a aplique. Mas se a pessoa ouviu, acatou, não vejo motivos. Agindo dessa forma eu diminuí muito o índice de pessoas sem cinto ali na ponte em Vila Velha.

vitória - Já conseguiu mu-dar a forma de trabalhar de ou-tros colegas?Meirelles - Sim, nós temos outros guardas que tra-balham dessa forma. Mas não existem seres humanos iguais, sei que há colegas melhores do que eu. Cada um tem autonomia para trabalhar da maneira que julgar correta. Sempre acreditei que podemos melhorar. As pes-soas se impressionam quando cai um avião, mas o nosso trânsito

mata um avião por dia. Enquanto a gente dá essa entrevista já mor-reram cinco. Em média são 130 mil pessoas mortas no trânsito por ano. Nós temos que fazer alguma coisa, e como a gente pode mudar isso? Com gentileza, com normas mais duras, etc. As pessoas acham que eu não multo, mas eu multo sim, mas também discordo de um ônibus andar com 60 pessoas em pé, andando a 80 km/h. Por que essa multa não vai para o ônibus também?

vitória - Lembra qual foi o primeiro gesto que criou para

abordar os moto-ristas? Meirelles - São t ant as c oi s as . Além do chá, o b omb om, tem pir u l i to. D ois motoristas dis-putando quem chega primeiro, tentando ultra-passar o outro, eu chego assim: bom dia senhores, tudo

bem? Eu preparo, abro a bolsa e o cidadão já acha que vai ser multado, eu tiro dois pirulitos e dou um pra cada: isso que vocês estão fazendo é coisa de criança, então toma o pirulito. Eu não sou 100% em nada, nem quero que pensem isso, mas eu sou um funcionário, servidor público. Se

você não tem condição, saia do serviço público, porque ali é lugar para servir o próximo.

vitória - Depois que começou a agir dessa forma, o que mudou na sua vida?Meirelles - Mudou tudo. A gen-tileza é uma coisa que você dá de balde e recebe de barril. Ali-mentação, por exemplo, eu te-nho almoço, café da manhã, os restaurantes me ajudam na dieta (risos). E eu não recebo isso por não multar, pelo contrário, é por-que eles gostam da forma que eu trabalho. Ali no ponto onde eu ficava, eu parava o ônibus para as pessoas, porque elas perdiam o ônibus por não conseguir chegar a tempo. Aí você pode perguntar, mas o que você tem a ver com isso? Eu sou guarda de trânsito, somos responsáveis pela segu-rança. Não me custa nada parar o ônibus, ao invés de ficar parado ali. Nisso eu fui conhecendo as pessoas e isso abriu portas até para minha filha. Já ganhei tantas bíblias ali, tudo por causa do meu trabalho, fazendo aquilo que todo mundo deveria fazer, que é tratar os outros bem. As pessoas estão se sentindo carentes de serem bem tratadas.

vitória - Sente necessidade de estar criando coisas diferentes?Meirelles - Eu não me preocupo, porque é tudo muito natural, de

Quando as pessoas estão

nervosas, entrego um chá pra elas se acalmarem.

Carrego bombons para os bons motoristas.

revista vitória I Março/201530

momento. A mi-nha mente, Deus me deu esse dom de criar coisas. Eu e o Mendonça, meu companheiro de trabalho, cria-mos uma música da faixa de pedes-tres que nunca foi tocada, mas vou cantar para vocês: “As pessoas estão sem paciência, estão perdendo o respeito e a edu-cação, quem sabe ouvindo essa canção, você muda de opinião. Pare na faixa, é nota 100, você praticando o bem. Pare na faixa, que beleza, você gerando gentileza. Pare na faixa, é nota mil, eu e você mudando o Brasil. Agora que já sabe essa canção junte comigo nesta missão, com a gentileza e a educação, cantemos juntos essa canção”.

vitória - Você tem três perso-nagens: é pai, tem a sua família; é guarda de trânsito e é pales-trante. A sua essência muda em cada um desses ambientes?Meirelles - Do mesmo jeito que eu dou palestra é o mesmo jeito que eu trabalho, senão eu so-aria falso. Quem vê as minhas palestras sabe que na rua eu sou a mesma coisa. O que eu falo aqui, eu vivo na prática. Hoje tive

uma palestra com alunos de escola municipal, de 15 e 16 anos. Nós mostramos para eles aquilo que acontece quando se está sem cin-to, quando está com outra pes-soa embriagada ao volante, entre outros exemplos impactantes, que é para alertá-los dos riscos e fazer deles motoristas

mais conscientes.

vitória - O que é mais grati-ficante na função?Meirelles - Não tem preço receber o reconhecimento. Certo dia na praia, vi uma senhora com difi-culdade em estacionar, então fui até ela: Bom dia, senhora, em que posso ajudar? E ela: é que estou com dificuldade de estacionar. Então eu disse: Não seja por isso, guardei uma vaga para a senho-ra, a minha viatura não precisa estar ali, ela estava guardando a sua vaga. O filho dela que mora na Suíça disse que só viu guarda assim na Suíça. Isso mexe com a pessoa, imagina a qualidade de vida da Suíça. Mas todos deve-riam agir dessa forma. Eu não sou melhor do que ninguém, apenas gosto de fazer a diferença.

vitória - Sempre tem essa energia? Não fica estressado?Meirelles - Só quando eu estou com sono, e mesmo assim, em casa (risos). Mas é só de imediato, eu tenho facilidade em acordar, sou disposto, me canso é claro, porque sou humano, mas se for para ajudar os outros estou sem-pre disposto. Eu não tenho tempo de ficar estressado, isso faz mal para o coração, para a mente e para os outros. Eu não levo meus problemas de casa para a rua e nem o contrário, é difícil, mas o tempo nos ensina.

vitória - Se você deixasse de ser guarda seria o que?Meirelles - Ia ser médico. Eu gosto de atender, de lidar com as pessoas. Eu ia ver a medicina muito mais pela pessoa do que pelo dinheiro. Seria muito bom chegar e dizer que Deus me usou para curar outra pessoa e falar que ninguém me deve nada. Eu gosto de ser útil. n

A gentileza é uma coisa que

você dá de balde e recebe

de barril (...)Eu não sou

melhor do que ninguém, apenas gosto de fazer a

diferença.

revista vitória I Março/201531

ideias

nós precisávamos dessa seca

talvez seja necessário buscar coragem pra dizer, nós precisá-vamos dessa seca. E essa coragem precisaria ser acessada das cordas mais finas, sensíveis e profundas do nosso coração

para que de modo algum pensemos em ocupar o lugar do coitado, do inocente, daquele que não tem nada a haver com o que acontece. E dizer “nós precisávamos dessa seca” é, entre outras coisas, afirmar que estamos dispostos a ver o que precisa ser visto nas coisas, em nós mesmos, e nas nossas relações com o mundo e com a natureza. E também que se levante em nós, revigorada, a força de transfigurar os acontecimentos. Mas o que é transfigurar um acontecimento? Pra começar é preciso acolher o que acontece do jeito que acon-tece (“amor fati” - Nietzsche). Até porque depois que algo acontece

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dauri batisti

não há o que fazer senão aceitar o que se deu. Depois, ou ao mesmo tempo, é necessário se empenhar em fazer um duplo do acontecimento, transfigurá--lo (ser digno dele - Deleuze). Ou seja, portar-se de tal modo diante dele que o mesmo acon-tecimento se torne outro. Para tal há que se por em análise o que se escancara diante dos olhos. Nem é forçoso interpre-tar a realidade. Basta senti-la e dar-se a ela em ações de acei-tação e de transfiguração. Ver, analisar, acolher, transfigurar. O mesmo acontecimen-to que é prenhe de durezas também é grávido de outras possibilidades; o mesmo que é garantido em rupturas e fendas e dores também é facilitador de conexões e novos entendimen-tos e soluções; o mesmo que é impositor de desertos e descam-pados é também desenhador de estradas, de córregos de boas águas, de vales férteis. Ou seja, mais do que constatar a ferida, é ser capaz de no sangramento perceber o rio que funda uma nova realidade. Assim escapa-mos da sensação de impotência, impomos limites ao aconteci-mento, uma fronteira sobre a qual ele não pode avançar. O estabelecimento dessa frontei-ra é o estabelecimento claro, lúcido daquilo que depende de nós e que podemos e deve-mos fazer. E, com isso, e por

Quem sabe esse seja o mais doce

fruto da seca, sermos outros,

umedecidos de amor,

encharcados de gratidão

pelo mundo que nos foi dado,

reempossados então como

seus guardiões. Transfigurando, transfiguramo-

nos. O acontecimento

já é outro.

decidimos pela transfiguração do acontecimento, a seca se esparramará para amanhã em várzeas floridas de milharais, em cafezais vermelhos de grãos polpudos, em rios limpos e ale-gres de canoas e peixes, em populações sorridentes em seus rios, lagoas e praias. Só na pressão da doença alcança-mos a experiência do que é ser plenamente sadio. Mas podemos adotar outra atitude também, infelizmente, aquela que se abriga no ressen-timento e desânimo. Chorar e se lamentar e sublinhar a raiva como sentimento básico para olhar o que está posto. Nós outros, os que pela seca somos reconvocados a transfigurar as realidades, ao invés da ira e indiferença escolhemos o riso, a descontração, o traba-lho árduo de recomposição do mundo, e a persistência serena de nos reinventarmos a cada acontecimento. Quem sabe esse seja o mais doce fruto da seca, sermos outros, umedeci-dos de amor, encharcados de gratidão pelo mundo que nos foi dado, reempossados então como seus guardiões. Transfi-gurando, transfiguramo-nos. O acontecimento já é outro. n

consequência, operaremos a mudança na carne do próprio acontecimento, sua transfigu-ração. O acontecimento “seca”, então, não é senão o que faço - como ator de um novo ce-nário - desse sol escaldante, desses pobres rios minguados, dessa sociedade que prioriza a destruição, o desperdício, a usura e a posse das coisas. Se

revista vitória I Março/201533

reportagem

A Páscoa é o grande evento do calendário cristão. Por isso, a preparação para esta grande festa também é muito intensa. A

Igreja Católica estabeleceu alguns momentos litúr-gicos e, o povo fiel, foi criando e recriando o modo de preparar a festa da vida de maneira criativa e, principalmente, devocional durante a quaresma. Conversamos com algumas lideranças sobre as práticas nas comunidades e percebemos que pode-se sintetizar em celebrações e caminha-das penitenciais, procissões, encenações teatrais, via-sacra e vigílias. Mas, o jeito de preparar e

celebrar tem características próprias e às vezes surpreendentes. A paróquia Santa Maria Goretti utilizou-se de um costume popular e elaborou uma “raspadinha” específica para o Tempo da Quaresma: a cada dia a pessoa ao raspar a cartela, que traz 40 sugestões de penitências, encontra a indicação daquilo que deve fazer nesse dia, para melhor se preparar para a Páscoa. Entre as indicações encontram-se o silêncio, jejum, doação, oração, etc. A invenção foi trazida do Peru pelos Padres Passionistas. A aceitação foi tão boa que este ano já é a terceira vez que a paróquia repete a experiência. Ainda em Santa Maria Goretti, na comunidade São Francisco, a quaresma é tempo para os adoles-centes prepararem a encenação da Paixão. O grupo começou encenando a vida de São Francisco de Assis, padroeiro da comunidade, mas uma pessoa da comunidade sonhou que o santo lhe dizia estar na hora de reverenciarem mais a Jesus do que a ele. A partir daí a comunidade começou a encenar a Paixão. Outras comunidades e paróquias prepa-ram encenações para a Sexta-Feira da Paixão. A paróquia da Ressurreição em Goiabeiras, Nossa Senhora da Conceição em Viana, Nossa Senhora

devocionaisda Quaresma

As práticas

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de Lourdes em Guarapari, Bom Jesus em Cariacica, Nossa Se-nhora da Glória em Vila Velha e Santa Isabel em Domingos Martins contaram sobre o envol-vimento dos jovens e da comu-nidade em geral na preparação que é sempre “muito bem feita e com muita dedicação” conforme disse padre Eduardo que ainda acrescentou: “esse é o ponto alto da Quaresma, pois as pessoas se identificam com a morte e sofrimento passado por Jesus”. Em algumas comunidades a atualização dos sofrimentos de Jesus é incrementada com situ-ações relacionadas ao tema da Campanha da Fraternidade. Outra prática muito comum na Quaresma é a realização da Via-Sacra. Às sextas-feiras, de preferência no início da noite,

as comunidades reúnem-se e rezam lembrando os passos de Jesus a caminho da crucificação. Mas para quem pensa que a Via--Sacra é seguir meditando diante dos 14 quadros que mostram a condenação, a pesada cruz, as quedas, os encontros, a morte e o sepultamento, as pessoas das paróquias com quem con-versamos também usam a cria-tividade neste momento. Alguns rezam dentro das igrejas, como na Catedral onde sempre são as mulheres que coordenam, outros fazem a Via-Sacra pelas ruas. Na paróquia Nossa Senhora da Glória as estações da Via-Sacra ficam na casa das pessoas que moram no percurso escolhido, como forma de “ir ao encontro das pessoas”. Em Nossa Se-nhora de Lourdes, escolhida a

comunidade para dar início, é traçado o trajeto até à matriz. As estações são colocadas em frente às casas. A paróquia Nos-sa Senhora da Conceição em Viana adotou nos últimos 5 anos a procissão ou Via-Sacra dos gravetos. A paróquia escolhe 10 lugares e ali coloca uma cruz e alguns gravetos. A cada para-da as pessoas são convidadas a refletir sobre seus pecados. Quem quer, pega um graveto e carrega até à entrada da igreja. Pelo caminho cantos e orações e, na chegada, acendem a fogueira. Quem carregou os gravetos, sím-bolos dos pecados cometidos, joga na fogueira. Outra devoção que encon-tramos foi a Procissão do En-contro. As mulheres carregam a imagem de Nossa Senhora

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das Dores e os homens carregam o Senhor dos Passos. A proposta é a contemplação das últimas palavras de Jesus antes de sua morte, conhe-cidas como “As Sete Palavras”, mas há quem reflete sobre as sete palavras do Sermão da Montanha ou as Sete Dores de Maria. Em Guarapari, na paróquia Nossa Senhora da Concei-ção, as mulheres saem da matriz e os homens da matriz antiga e todos se encontram na Praia das Casta-nheiras onde os padres fazem uma reflexão sobre as últimas palavras de Jesus antes da Morte. Já a paróquia da Ressurreição em Goiabeiras e São Francisco de Assis em Jardim da Penha os homens e as mulheres da paróquia caminham juntos em direção à outra, mas a imagem de Nossa Senhora das Dores é carre-gada pelas mulheres e o Senhor dos

reportagem

PAdRe JOcemAR ZAgOTO exPlicA AlgUmAs PRáTicAs dA QUAResmA e inTeRPReTA As devOções

w As devoções, práticas e sacra-mentais que os fiéis realizam nas comunidades da Arquidiocese de Vitória traduzem a capacidade do povo de transformar a teologia em outra teologia que ele seja capaz de entender e a Igreja deve servir-se dessa capacidade e desses meios para evangelizar.

w Cada celebração, cada momento tem um significado. Por exemplo, a Via-Sacra dos gravetos tem um significado profundamente peni-tencial. Foi criada no Seminário de

Manhumirim e trazida para Vitória pelo padre Ivo Amorim. São 8 esta-ções e em cada uma é colocada uma cruz e alguns gravetos. Em cada parada é proposta uma reflexão pe-nitencial atualizada relacionando a Via-Sacra tradicional e a Campanha da Fraternidade. Cada estação deixa uma pergunta para a pessoa refletir sobre os seus pecados. Se a pessoa se sentir tocada pega o graveto e carrega até o final. Ali uma grande cruz e uma fogueira. A cruz porque é dela que vem a vitória e os gravetos

porque são pequenas partes da cruz. Os gravetos são jogados na fogueira e o padre dá a absolvição.

w A procissão do Encontro expressa o encontro de Jesus e Nossa Se-nhora. É uma caminhada silenciosa com as imagens de Nossa Senhora e do Senhor dos Passos, saindo de lugares diferentes. Na hora do encontro faz-se a reflexão sobre as sete palavras de Jesus e um toque de trombetas ou música forte. Quando o povo introduz as sete dores de Nossa Senhora ou as sete

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Passos pelos homens. Na Glória as mulheres levam a imagem de Nossa Senhora para a casa de uma família na segunda-feira e os homens a do Senhor dos Passos para outra família na terça-feira. Na quarta os grupos saem dessas casas com as imagens e encontram-se em uma comunidade para a meditação das sete palavras. As expressões e vivências que ouvimos fazem-nos entender que há, em todas as comunidades, uma ênfase maior nas práticas que envolvem o sofrimento de Jesus culminando com a adoração da cruz e a procissão do Senhor Morto na Sexta-Feira Santa. Mas a Festa da Ressurreição também é preparada com muito carinho: vi-gília pascal, missas na madrugada, caminhadas na praia e surpresa que veio da comunidade São Sebastião em Viana: após a vigília pascal a comunidade distribui leite e mel aos participantes. n

seTe PAlAvRAsde JesUs nA cRUZ

seTe dORes de nOssA senhORA

palavras das Bem-aventuranças oferece dados para que a teolo-gia os processe e os devolva ao povo. Interpretar e entender essas manifestações é a chave para a evangelização.

w Percebe-se que há na sociedade atual um desejo de liberdade mais forte que no passado, mas isso não tirou dos sacramentais e devoções populares da quaresma a inclinação de valorizar o drama e o sofrimento. Os mais jovens preferem as ence-nações à realização da Via-Sacra,

mas dão à encenação um sentido profundamente dramático. As en-cenações do Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus são feitas com muito realismo, com drama para expressar o sentimento. E essa dramatização muda todo o imaginário religioso da sociedade e do indivíduo.

w Distribuir leite e mel após a Vigília Pascal evoca-nos a terra prometida, a vida nova, a terra nova que nos é oferecida com a Ressurreição de Jesus.

“Pai, perdoai-os porque eles não sabem o que fazem.” (Lucas 23:34)

“Em verdade eu te digo hoje, estarás comigo no Paraíso.” (Lucas 23:43)

“Mulher, eis aí teu filho; olha aí a tua mãe.” (João 19:26-27)

“Eli, Eli, lama sabachthani? (Deus, meu Deus, por que me abandonaste?)” (Mateus 27:46 e Marcos 15:34)

“Tenho sede”. (João 19:28)

“Está consumado” (João 19:30)

“Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”. (Lucas 23:46)

Apresentação de meu Filho no templo

A fuga para o Egito

Perda do Menino Jesus

Doloroso encontro no caminho do Calvário

Aos pés da Cruz

Uma lança atravessa o Coração de Jesus

Jesus é sepultado

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A Associação dos Amigos do Convento da Penha foi criada em 1996, com a finalidade principal de manutenção e conservação do Santuário de Nossa Senhora da Penha. O principal motivo que levou um grupo de dezoito pessoas (Sócios Fundadores) a criar a Associação, foi garantir a manutenção e conservação permanente deste importante patrimônio histórico do Espirito Santo, já que na década de 80, o mesmo encontrava-se em péssimas condições de conservação. Havia muitas goteiras, piso danificado, obras de arte deterioradas, sala dos milagres e o museu desativados, muita infestação de cupins, dentre outros danos. Desde a Fundação da Associação, o

Convento da Penha passou a ter manutenção e conservação permanentes. As contribuições arrecadadas dos associados são aplicadas na manutenção do Santuário o maior patrimônio histórico e religioso do Estado do Espirito Santo. São muitas as necessidades do Santuário da Penha. Sua contribuição ajudará na implementação dos projetos contínuos de manutenção do Convento, desenvolvidos pela Associação, que trabalha apoiando os Franciscanos no cuidado com o Convento. Na Associação você poderá ofertar sua contribuição mensal por meio de carnê quitando na secretaria, ou boleto bancário. A contribuição mensal pelo carnê é apartir de R$ 5,00 e no boleto apartir de R$ 15,00.

reflexões

dom Joaquim Wladimir lopes diasbispo auxiliar da arquidiocese de vitória

Ao se confessaro homem reconcilia-se com cristo

os batizados são cha-mados a viver o sa-cramento da reconci-

liação, pois embora no batismo o homem renasça em Cristo para viver na santidade, a fra-gilidade da natureza humana e a inclinação para o pecado não foram suprimidas. Desta forma, Cristo instituiu o sacramento da confissão para a reconciliação dos batizados, os quais d´Ele se afastaram devido ao pecado. Esse sacramento foi ins-tituído no domingo da Páscoa, quando Jesus apareceu aos após-tolos e lhes disse: “Recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados serão perdoados, e àqueles a quem os retiverdes serão retidos” (Jo 20, 22-23). O Senhor transmi-tiu aos Seus apóstolos a força do Espírito Santo, na qual Ele perdoava os pecados. Dessa forma, quando nos dirigimos a um sacerdote para confessar-mos nossos pecados, caímos nos braços da misericórdia do Pai. De acordo com as orienta-ções da Igreja Católica, os fiéis devem se confessar individual-mente pelo menos uma vez ao

ano, por ocasião da Páscoa. Aqui, é necessário deixar claro que a Igreja nos pede que façamos Páscoa. Assim, para um cristão consciente e que de-seja levar a sério sua religião, a celebração da misericórdia deve ser constante e ainda maior a sua participação na Eucaristia, principalmente aos domingos, dia do Senhor. Enfim, pela confissão o ho-mem reconcilia-se com Cristo, com a Igreja e com os irmãos. É, portanto, um sacramento de cura, de recomeço de uma vida de santidade, de acolhimento nos braços do Pai. Assim, como ensinado por São João Maria Vianney, o Cura D´Ars, depois de cada pecado reconhecido, e confessado, ressuscitamos. A confissão concede ao homem a oportunidade de uma vida nova por meio da misericórdia de Cristo. Aproveite esta Quaresma, tempo favorável para conver-são e mudança de vida, e com o coração contrito, desejando uma caminhada nova, faça uma boa confissão. Deus lhe abençoe. n

pela confissão o homem reconcilia-se com cristo, com a igreja e com os irmãos. É, portanto, um sacramento de cura, de recomeço de uma vida de santidade, de acolhimento nos braços do pai.

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ensinamentos

O que diz o Papa?novidades de um novo Papa. Cada frase coloquial ou fora de seu contexto dita pelo Papa – transformado em celebridade –, ganha ares de uma novidade desconectada da teologia e da doutrina católicas. Torna-se crucial analisar cri-ticamente as versões líquido-mo-dernas feitas sobre as declarações do Papa, que transformam frases coloquiais descontextualizadas numa “declaração ex cathedra”, revogadora da teologia e da dou-trina da Igreja até então em vigor. Em alguns momentos, o Papa expressa publicamente ideias e temas para serem refle-tidos e os resultados desse debate teológico sirvam para otimizar as ações pastorais. Isso não sig-nifica revogar a doutrina católi-

um dos princípios bá-sicos para interpretar um texto é situá-lo no

seu contexto. Esse pressuposto essencial passa despercebido pelos seguidores da sociedade líquido-moderna, que investem na fragmentação do pensamento e na curta expectativa de memó-ria do público para que ideias

e produtos se-jam consumidos como novidades. A sociedade líquido-moderna aplica essa regra ao apresentar as-suntos relativos à Igreja Católica,

relegando a Sagrada Escritura, a Tradição e o Magistério ao segundo plano, frente às ditas

os posicionamentos expressos nas falas coloquiais do papa são pautados na sagrada

escritura, na tradição e no magistério da igreja, dos quais não pode se eximir em

razão de sua responsabilidade de pastor.

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vitor nunes rosaprofessor de filosofia na faesa

ca nem afirmar que os antecessores estavam numa direção equivo-cada quanto às questões de fé e de moral. Os posicionamen-tos expressos nas falas coloquiais do Papa são pautados na Sagrada Es-critura, na Tradição e no Magistério da Igreja, dos quais não pode se eximir em razão de sua respon-sabilidade de Pastor. Por exemplo, o Papa Francisco em en-trevista após sua visita às Filipinas em janeiro deste ano, acentuou a paternidade responsá-vel para que as crianças não sejam simplesmente

abandonadas por falta de condições dos pais. Ele usou uma lin-guagem popular: “Al-gumas pessoas pensam – perdoem a minha ex-pressão – que, para ser bons católicos, temos de ser como coelhos. Não é isso. Ser bons pais é ser responsável.” A declaração des-contextualizada caiu como se fosse uma no-vidade recém-saída do forno... Na verdade, po-sicionou-se amparado no conceito de “pater-nidade responsável”, incorporado pelo Papa Paulo VI na Encíclica

Humanae Vitae, de 25 de julho de 1968, e pelo Catecismo da Igreja Católica (n. 2368), in-clusive manifestando--se contra os métodos contraceptivos. Ele expressou colo-quialmente o pensamen-to da Igreja realçando a dignidade humana e a responsabilidade dos pais, atitude característi-ca de sua personalidade e atuação pastoral, para fazer-se entender por todos, desde teólogos até as pessoas sem es-colaridade. n

cada frase coloquial ou fora de seu contexto dita pelo papa

– transformado em celebridade

–, ganha ares de uma novidade desconectada da teologia e da doutrina

católicas.

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prática do saber

Trabalho acadêmico leva estudantes de engenharia para competição nacional

Foram os próprios alunos dos cursos de Engenharia Mecânica, Elétrica, Produção, Controle e Automação da FAESA que tomaram a iniciativa de se organizarem para participarem

de competições que lhes renderia capacidade profissional durante o período de formação Acadêmica no começo de 2011. Hoje o grupo conta com a participação de 21 alunos dos cursos citados e cada um atua dentro das áreas de marketing, transmissão, elétrica, suspensão, chassis, direção e freio para produzir o protótipo de um carro off road, o mini-baja que será apresentado na próxima competição. Além do aprendizado e representar a instituição,

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cOndições PARA PARTiciPAR

Para compor a equipe, os alunos de qualquer período dos cursos de engenharia da FAESA passam por um processo seletivo, que acontece ao final de cada torneio e é dividido em duas partes: 1- uma prova escrita sobre o regulamento da competição BAJA SAE, 2- entrevista com a comissão julgadora, que elege os integrantes do projeto vigente.

eles também participam de Baja SAE Brasil, que consiste em uma avaliação comparativa dos projetos de engenharia apresen-tados por todas as instituições participantes. Orientados pelos professo-res, Newton Valladão Júnior e Pablo Altoé Amorim, os alunos ainda buscam recursos mate-riais, como aço, ferramentas e dinheiro para desenvolverem os projetos e participarem das competições. Allan Cypriano Doelinger, capitão da equipe considera que a interação e troca de conheci-mentos é o melhor da compe-tição. Para ele conversar com outras equipes e observar as novidades é o segredo para aper-feiçoar o trabalho que realizam. A equipe participou de duas competições regionais e está se preparando para a segunda

nacional. O evento acontece de 5 a 8 de março de 2015, em Pira-cicaba, São Paulo. Os estudantes apresentarão o segundo protó-tipo construído na faculdade.

A grande expectativa deste ano para Valladão é colocar, pela primeira vez, o carro na prova de enduro, qualificada por ele como a mais difícil. n

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O milho e suas peculiaridades

conhecido pelos índios Boto-cudos, do norte do Estado, como Jauatý e pelos seus

irmãos purís, do sul, como Maki, o milho é originário das Américas, onde foram encontrados vestígios que datam de 7.300 anos. Um dos alimentos mais nutri-tivos que existem, o milho tornou--se comida obrigatória de todas as famílias. É rico em carboidra-tos, proteínas, vitamina B, ferro, fósforo, potássio e zinco, além de açúcares e gorduras. No Estado do Espírito Santo, o milho foi de tal maneira introduzi-do nas cozinhas de norte a sul, que encontramos receitas de alimentos e guloseimas entre todas as etnias que povoam o território capixaba. Quem já teve a oportunidade de participar da tradicional Festa da Polenta, de Venda Nova do Imi-grante, e degustar o aroma exalado pelo caldeirão gigante que cozinha, ali na hora, o fubá de milho com água e sal? O “Tombo da Polen-ta”, ou seja, o momento em que a mistura é retirada do fogo, para a apreciação dos participantes, é a ocasião de grande prazer olfativo e gastronômico. Assim também podemos des-crever o momento em que a cozi-nheira retira o tradicional Broti (foto) do forno, em Laranja da Ter-

diovani favoretohistoriadora

“O milho foi de tal maneira introduzido nas cozinhas de norte a sul, que encontramos receitas de alimentos e guloseimas entre todas as etnias que povoam o território capixaba.”

ra. Esse pão tradicional da região central do Estado vem com o aditivo de banana ou cará ou inhame e nos é servido com café e besuntado de geleia ou manteiga. Mas, ainda me falta uma visita à região de Conceição da Barra para descobrir se o Mungunzá que se prepara por lá é a mesma versão que conheço como canjicão e é servido durante o período de festas juninas, em Muniz freire. Esse prato, com-posto de milho cozido ao leite e acrescido de canela, cravo, açúcar e coco, tem um sabor único. n

w Milho cozido ou assado, papa, pamonha, curau, farinha, angu, macarrão, pipoca, paçoca, munguzá, broa, canjica, canjicão, broti...

w Milho em conserva, flocos, pipoca de micro-onda, biscoitos, pães, maionese, óleo vegetal, picolé, xarope...

deRivAções dO milhO

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acontece

40 anos de episcopado de dom silvestreDistribuindo sorrisos e abençoando as crianças, o arcebispo emérito da Arquidiocese de Vitória, Dom Silvestre Scandian, comemorou os seus 40 anos de episcopado, no dia 22 de fevereiro. Parentes e amigos lotaram a paróquia São Camilo, na Mata da Praia, para saudá-lo e comemorar a data. Na ocasião, o então arcebispo, Dom Luiz Mancilha, que também estava em comemoração pelos 29 anos de episcopado, destacou a trajetória de Dom Silvestre, como missionário, pastor e sacerdote. Carinhosamente os fiéis o aplaudiram, agradeceram por sua vida e testemunho e o saudaram no final da celebração. n

22 de fevereiro Abertura da Campanha da Fraternidade na Arquidiocese de Vitória14h - Entrada do Convento | 15h - Missa