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i Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro A Comunicação Não Verbal na Política A visão do eleitorado brasileiro Dissertação de Mestrado em Ciências da Comunicação Comunicação Pública, Política e Intercultural Janice Oliveira Correia Orientador: Professora Doutora Marlene Loureiro Vila Real, 2016

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i

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

A Comunicação Não Verbal na Política

A visão do eleitorado brasileiro

Dissertação de Mestrado em Ciências da Comunicação

Comunicação Pública, Política e Intercultural

Janice Oliveira Correia

Orientador: Professora Doutora Marlene Loureiro

Vila Real, 2016

ii

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

A Comunicação Não Verbal na Política

A visão do eleitorado brasileiro

Dissertação de Mestrado em Ciências da Comunicação

Comunicação Pública, Política e Intercultural

Janice Oliveira Correia

Orientador: Profª. Doutora Marlene Loureiro

Composição do Júri:

___________________________________

___________________________________

___________________________________

Vila Real, 2016

I

Agradecimentos

Ao Deus misericordioso e providente;

Ao meu pai. Embora já não esteja presente, viveu o tempo necessário para me ensinar

a enfrentar o medo do novo e desconhecido. Por isso, registro a minha eterna

gratidão;

À minha mãe Sebastiana, pela constante intercessão divina e por nos dar a mais

virtuosa base.

Aos irmãos, Clarice, Claudio, Cintia, Clayton, Cristiane, Patrícia, Sany e Willian. Vocês

fazem parte desta conquista. Reafirmo lhes o meu amor.

Ao vovô Nucha, à vovó Elzita, à vó Maria; e assim estendo aos tios, primos, cunhados,

sobrinhos e vizinhos.

Aos amigos, brasileiros e portugueses, em especial, à Ana Souza, Aurora, Catarina,

Diego, Hellen Quezia, Jeferson, Junior, José Augusto, Karina, Leticia, Lucilio e

Simone; ao Yuri.

Às colegas de mestrado, Ana Lucia, Ânia, Elsa, Inês, Laura e Lena. Meninas, muito

obrigada pelas orientações, traduções, boleias, suporte. Gratidão e carinho resumem.

Às colegas de casa Cristiana, Hevelyn, Inês, Maria e Sofia, que tão bem me aturaram

nestes últimos dias.

À Professora Doutora Marlene Loureiro, minha orientadora, por ter me acolhido,

suportado e tantas vezes clareado minhas ideias. A minha gratidão ultrapassa o

espaço académico.

Aos professores pela compreensão e apoio.

O espaço dedicado aos agradecimentos, seguramente, não me permite descrever a

gratidão que trago a todos que, ao longo deste Mestrado, me apoiaram, incentivaram e

ajudaram a concluir esta importante etapa da minha vida.

A todos, o mais profundo reconhecimento e gratidão.

II

Índice Geral

Agradecimentos ........................................................................................................................... I

Índice de Ilustrações ................................................................................................................. III

Índice de Tabelas ...................................................................................................................... IV

Índice de Gráficos ....................................................................................................................... V

Resumo ...................................................................................................................................... VII

Abstract ..................................................................................................................................... VIII

Introdução: ................................................................................................................................... 1

1 Comunicação ........................................................................................................................... 4

2 Comunicação Política ........................................................................................................... 12

3 Comunicação Não Verbal .................................................................................................... 17

3.1 Elementos da Comunicação não verbal .................................................................... 30

3.1.1 Cinésica ................................................................................................................... 30

3.1.2 Paralinguagem ........................................................................................................ 45

3.1.3 Proxémica ................................................................................................................ 46

3.1.4 Tato ........................................................................................................................... 53

3.1.5 Olfato ........................................................................................................................ 53

3.1.6 Cronémica ............................................................................................................... 55

3.2 Indumentária ................................................................................................................... 56

3.3 Credibilidade ................................................................................................................... 60

4 Comunicação não verbal e Comunicação política ........................................................... 61

5 Discurso Político ................................................................................................................... 64

7 Metodologia ............................................................................................................................ 73

7.1 Problema de Investigação ............................................................................................ 74

7.2 Instrumentos de Recolha de Dados ............................................................................ 75

8 Apresentação e Discussão dos Resultados ..................................................................... 77

8.2 Discussão dos resultados ........................................................................................... 115

9 Conclusões ........................................................................................................................... 120

10 Referências Bibliográficas ............................................................................................... 124

III

Índice de Ilustrações

Ilustração 1: Modelo de Lasswell ............................................................................................. 7

Ilustração 2: A Pirâmide da Comunicação ............................................................................. 8

Ilustração 3: Elementos da Comunicação Interpessoal ..................................................... 19

Ilustração 4: Elementos da comunicação não verbal ......................................................... 68

Ilustração 5: Funções dos gestos no discurso ..................................................................... 72

IV

Índice de Tabelas

Tabela 1: Quatro Modelos de Comunicação ........................................................................ 11

Tabela 2: Tipologia de Gestos................................................................................................ 35

Tabela 3: Especificações dos Gestos ................................................................................... 38

Tabela 4: As distâncias adotadas pelo ser humano ........................................................... 51

V

Índice de Gráficos

Gráfico 1: Género dos inquiridos ........................................................................................... 77

Gráfico 2: Idade dos inquiridos ............................................................................................... 78

Gráfico 3: Habilitações Literárias dos inquiridos ................................................................. 78

Gráfico 4: Profissão dos inquiridos ........................................................................................ 79

Gráfico 5: Estado e Região dos inquiridos ........................................................................... 80

Gráfico 6: O que engloba a comunicação não verbal......................................................... 81

Gráfico 7: Comunicação não verbal condiciona a primeira impressão ............................ 82

Gráfico 8: Comunicação não verbal condiciona a primeira impressão ............................ 83

Gráfico 9: Os gestos condicionam a decisão de voto......................................................... 84

Gráfico 10: As expressões faciais condicionam a decisão do voto .................................. 85

Gráfico 11: A maneira como se faz uso do espaço condiciona a decisão do voto ........ 86

Gráfico 12: O modo como o político fala condiciona a decisão do voto .......................... 87

Gráfico 13: O movimento corporal condiciona a decisão do voto .................................... 88

Gráfico 14: A postura corporal condiciona a decisão do voto ........................................... 89

Gráfico 15: A aparência física condiciona a decisão do voto ............................................ 90

Gráfico 16: A comunicação não verbal influencia na decisão do voto ............................. 91

Gráfico 17: A linguagem corporal é mais importante que o próprio discurso ................. 92

Gráfico 18: A linguagem corporal não importa o que vale são as palavras .................... 93

Gráfico 19: Como interpreta o sorriso durante o discurso ................................................. 94

Gráfico 20: Como interpreta a ausência do sorriso durante o discurso ........................... 95

Gráfico 21: Que impressão transmite um político de aparência descuidada.................. 96

Gráfico 22: Como considera uma fala acompanhada de muitos gestos ......................... 97

Gráfico 23: Imagem A .............................................................................................................. 98

Gráfico 24: Imagem B .............................................................................................................. 99

Gráfico 25: Imagem C ............................................................................................................ 100

Gráfico 26: Imagem D ............................................................................................................ 101

Gráfico 27: Imagem E ............................................................................................................ 102

Gráfico 28: Imagem F ............................................................................................................ 103

Gráfico 29: Imagem G ........................................................................................................... 104

Gráfico 30: Imagem H ............................................................................................................ 105

VI

Gráfico 31: Imagem I ............................................................................................................. 106

Gráfico 32: Imagem J ............................................................................................................. 107

Gráfico 33: Imagem L ............................................................................................................ 108

Gráfico 34: Imagem M ........................................................................................................... 109

Gráfico 35: Imagem N ............................................................................................................ 110

Gráfico 36: Imagem O ........................................................................................................... 111

Gráfico 37: Imagem P ............................................................................................................ 112

Gráfico 38: Imagem Q ........................................................................................................... 113

Gráfico 39: A linguagem corporal condiciona a impressão ............................................. 114

Gráfico 40: A linguagem corporal dos políticos influencia a decisão de voto ............... 115

VII

Resumo

Esta investigação, cujo tema é a Comunicação Não Verbal na Política, objetiva

perceber como a linguagem corporal é entendida pelo eleitorado brasileiro. Através de

um estudo exploratório quantitativo, observamos se as mensagens não verbais

transmitidas pelo político, durante o discurso, traz alguma influência na escolha do

voto.

Nesta finalidade, seguimos primeiramente à pesquisa bibliográfica, a fim de ter

um adequado conhecimento sobre a área. Depois aplicamos um inquérito por

questionário, tendo como amostra por conveniência, 261 brasileiros, pertencentes às

cinco regiões do Brasil: Centro- Oeste, Norte, Nordeste, Sudeste e Sul. Nestes

inquéritos, questionamos à população qual a influência os elementos da comunicação

não verbal, presentes no discurso político, possuem sobre a decisão do voto. Ainda

apresentamos algumas imagens onde as expressões faciais deviam ser interpretadas

pelos inquiridos, a fim de perceber se há um consenso cultural na descodificação de

mensagens não verbais.

Por fim, fizemos a análise dos resultados, onde percebemos que a

comunicação possui efeito sobre a impressão que o eleitorado entrevistado tem a

respeito do político, sobretudo as expressões faciais, a fala e o uso do espaço;

entretanto a linguagem corporal não é mais importante que o discurso oral, portanto

não é capaz de condicionar a decisão de voto.

Palavras- chave: Comunicação; Comunicação não verbal, Discurso Político.

VIII

Abstract

This research, which theme is the Non-Verbal Communication in Politics, aims

to realize how the body language is understood by the brazilian electorate. Through a

exploratory quantitative study we saw if the non-verbal messages transmitted by

politician, during the speech, brings some influence on voting decision.

In this purpose, we go, firstly, on the bibliographic search, in order to have a

suitable knowledge on the area. Secondly we aply an survey, having as a sample for

convenience, 261 brazilians, from the five regions of Brazil: Midwest, North, Northeast,

Southeast and South. In this survey, we asked people whose influence the elements of

non-verbal communication, present in political speech, have on voting decision. We still

presented some images where the facial expressions should be interpreted by the

respondents, in order to realize if there is a cultural consensus on non-verbal

messages decoding.

In conclusion, we made the analysis of the results, where we understood that

the communication has effect on the impression that the interviewed electorate has on

the politician, specially the facial expressions, the speech and the use of space;

however, the body language isn’t more important that the oral speech, so it isn’t able to

condicion the voting decision.

Keywords: Communication; Non-verbal Communication, Political speech.

1

Introdução:

Uma comunicação eficaz depende de dois fatores: o envio e a receção de uma

mensagem. Comunicar não consiste apenas em falar, mas também a maneira como a

nossa mensagem é descodificada pelo outro, aquele que processa nossa informação

e a devolve por meio de feedback. Este processo não demanda somente dos meios

verbais, oral ou escrita; depende também de outra fonte informativa, a linguagem

corporal, que tem como elementos comunicativos os gestos, o movimento corporal, a

postura, as expressões faciais, o espaço, as características físicas, o vestuário e

acessórios. Esta linguagem tem como atribuições, além de informar, reforçar,

certificar, ilustrar, comprovar ou até desmentir a oratória. Desmentir pelo fato de que,

enquanto a comunicação oral, oriunda de palavras, pode ser manipulada, a linguagem

corporal apresenta maior resistência, pois também se dá através de manifestações do

corpo, algumas involuntárias, como, por exemplo, corar o rosto quando sentimentos

vergonha ou ficamos nervosos.

Em tempos de eleições, durante os debates e discursos políticos, é possível

constatar a incoerência entre a comunicação verbal e a linguagem corporal. Quando

uma devia suportar e reforçar a outra, percebemos que a incoerência traz divergências

ou evidenciam insegurança, incerteza, constrangimento, surpresa, incredulidade,

inexperiência e farsa, consciente ou inconscientemente. A comunicação não verbal,

como apontam diversas obras, é a linguagem menos passível de manipulação e, por

isso, possui maior credibilidade quando não há sintonia com a oralidade. É ainda a

primeira forma de comunicação humana. Os bebés, por exemplo, iniciam a

comunicação com o mundo externo através da comunicação não verbal. É assim que

eles também começam a perceber o ambiente que os rodeia.

Nas eleições presidenciais de 2014, no segundo turno do processo, observava-

se a incoerência no discurso político dos dois candidatos finais, a ex-presidente Dilma

Rousseff (Partido dos Trabalhadores- PT) e o senador Aécio Neves (Partido da Social

Democracia Brasileira- PSDB). Talvez motivados pelo nervosismo da véspera do

desfecho, ou impulsionados por uma reação às acusações, estes candidatos

exprimiam, através do corpo, sentimentos e atitudes inconsistentes à fala. Foi esse

contexto que levou à investigação sobre a comunicação não verbal na política e a sua

influência perante o eleitorado brasileiro. Será essa questão que se seguirá através do

2

problema: qual o impacto que a comunicação não verbal, a linguagem corporal,

presente no discurso político tem sobre os eleitores?

Vamos então verificar se a linguagem corporal, através dos elementos que a

constituem, é capaz de influenciar o voto do eleitor. À luz da investigação,

examinaremos também se algumas expressões faciais são interpretadas de igual

maneira dentro de uma cultura.

Para chegar à solução desta problemática, começaremos então pela pesquisa

bibliográfica que “é o primeiro passo de qualquer pesquisa cientifica” (Cervo & Bervian

1983: 50), referenciada por estudiosos do campo, como Flora Dawis e Mark Knapp,

por exemplo, que referenciam suas obras, embasados em Charles Darwin e Paul

Ekman, primeiros pesquisadores da comunicação não verbal, dando um grande

contributo aos investigadores da área. Entretanto, antes de aprofundarmos pela

literatura da linguagem corporal, trataremos no primeiro capítulo sobre a comunicação

verbal onde aboradaremos os processos comunicativos, modelos e níveis de

comunicação propostos por Mcquail (2003). No segundo capítulo, discorreremos sobre

a comunicação política, uma forma de comunicação que atende as massas e aos

políticos, simultaneamente, tornando-se então uma influente comercializadora da

publicidade política, tendo os políticos como clientes e os eleitores, o nosso objeto de

estudo, como consumidores.

Em seguida passaremos finalmente para comunicação não verbal, onde

aprofundaremos a investigação a cerca dos elementos que compõem a linguagem

corporal, nomeadamente a cinésica (gestos, emblemas, movimentos corporais,

expressões faciais, olhar e postura); a paraliguagem e os seus atributos e contributos;

a proxémica e o uso do espaço; o tacto, olfato, cronémica e indumentária.

Discutiremos ainda, no capítulo a seguir, a credibilidade, consideravelmente um

fator que reforça a imagem do político e dá impulso à sua argumentação.

Por fim, juntaremos a comunicação política e comunicação não verbal para tratarmos

a seguir do discurso político e finalmente, a comunicação não verbal no discurso

político, onde a linguagem corporal pode ser uma aliada aos políticos para ajudá-los a

convencer e conquistar eleitores ou, pelo contrário, se mal administrada, pode

desmentir o seu discurso, causando danos ao pleito.

O efeito da linguagem corporal no discurso político é o que trataremos a seguir.

3

Para isso, finalizando a pesquisa bibliográfica passaremos para recolha de dados.

Esta operação consiste, segundo Quivy & Campenhoudt (2003), em recolher

concretamente as informações determinadas junto às pessoas incluídas na amostra.

Usaremos enquanto método o inquérito por questionário para analisar a amostra por

conveniência que é composta por 261 brasileiros. Dado o grande numero de pessoas

geralmente interrogadas e o tratamento quantitativo das informações que deverá se

seguir, as respostas à maior parte das perguntas são normalmente pré codificadas,

utilizando a escala de Likert, de forma que os entrevistados devem obrigatoriamente

escolher as suas respostas entre as que lhes são formalmente propostas.

Neste questionário iremos colocar questões que levem os inquiridos a refletir

sobre a comunicação não verbal enquanto elemento condicionante ou não na escolha

do voto. O questionário contará ainda com imagens ilustradas por conhecidas

expressões faciais, com o intuito de perceber também se as expressões faciais são

percebidas de maneira consensual pela cultura brasileira.

Com os dados recolhidos, passaremos para analise e discussão dos

resultados, aonde chegaremos à resposta do nosso problema e ao arremato desta

investigação, quando concluiremos, através da amostra inquirida, se a comunicação

não verbal, presente no discurso político, interfere ou não na escolha do voto.

4

1 Comunicação

“A linguagem, acima de tudo, é o que diferencia o homem dos outros animais. Sem

ela, a cultura, a história e a maioria das coisas que faz dele o que ele é, seria

impossível” (Davis 1979:178)

“A palavra é aquilo que o homem usa quando o rosto lhe falha.”

(Davis 1979:22)

A comunicação é indispensável para a sobrevivência dos seres humanos e

também para a sua interação dentro do seu grupo, comunidade, sociedade ou cultura.

A raiz etimológica da palavra comunicação é a palavra latina communicatione

que deriva da palavra commune, ou seja, comum. Communicatione significa em latim,

participar, pôr em comum ou ação comum. “Logo, comunicar é, etimologicamente,

relacionar seres viventes e, normalmente, conscientes (seres humanos), tornar alguma

coisa comum entre esses seres, seja essa coisa uma informação, uma experiência,

uma sensação, uma emoção, etc.” (Sousa 2006: 22). Segundo McQuail (2003) este

termo, comunicação, tem muitos significados e definições diferentes, entretanto a ideia

central é a de um processo de crescentes pontos comuns ou de partilha entre os

participantes com base nas mensagens enviadas ou recebidas. Há ainda

discordâncias teóricas sobre contar como comunicação a transmissão ou expressão

de mensagens por si próprias, sem provas de recepção, de efeito ou de finalização da

sequencia, com, por exemplo, o ato de refletir, comunicar consigo próprio. Segundo

Pignari (apud Rector &Trinta: 1985), comunicar significa compartilhar os modos de

vidas estabelecidas pelo homem para o homem.

Por trás de um ato comunicativo há sempre uma intenção. Quando

comunicamos, transmitimos informação, simples ou complexa, ao nível das relações

humanas ou sociais, ou inclusive, ao nível biológico. “De um determinado ponto de

vista, todos os comportamentos e atitudes humanas e mesmo não humanas,

intencionais ou não intencionais, podem ser entendidos como comunicação” (Sousa

5

2006: 22). Comunicamos em busca de informações, para transmitir informações, para

nos entendermos; para justificarmos, para entretermos e integrarmos, para satisfazer

ou exprimir necessidades. “A comunicação humana é tão natural quanto ao ato de

respirar. Afinal, comunicar é o que todos fazemos quando contatamos com os nossos

semelhantes“ (Santos 2011: 239).

A comunicação dá se através de um processo de troca de mensagens

codificadas formadas por palavras, ou ilustradas por gestos e imagens, através de um

canal e num contexto especifico. É também uma atividade social. Neste propósito,

segundo Gil e Adams (apud Souza 2006), as pessoas, imersas numa determinada

cultura, criam e trocam significados, respondendo, desta forma, à realidade que

diariamente experimentam. Segundo Sousa (2006), as mensagens trocadas só têm

efeitos cognitivos porque lhes são atribuídas significados e estes significados

dependem da cultura e do contexto em geral que rodeiam quem está a comunicar.

A comunicação é um processo que sofre influência de vários fatores. Segundo

Bordenave (apud Sousa 2006) a recepção envolve a percepção, a interpretação e a

significação. A percepção, em grande medida, depende da expectativa e do

envolvimento. De acordo com Jakobson (apud Menezes: 2000), para que a

comunicação possa ocorrer, faz-se necessário a atuação de três elementos: um

emissor, que envia a mensagem a um recetor, através de um canal de comunicação.

Para a eficácia comunicativa este emissor deverá utilizar um código (supostamente

comum aos dois). A situação que envolve a produção da mensagem, bem como as

relações entre os sujeitos do ato comunicativo, depende também de outros fatores

como, por exemplo, as circunstâncias que enquadram a produção da mensagem e

constitui o referente contexto. A comunicação é, portanto, uma interação entre

emissor, canal de transmissão e recetor, sendo que este, o recetor, interpreta a

mensagem de acordo sua própria capacidade. Isso deve ser levado em conta pelo

emissor, uma vez que a interpretação da sua intenção comunicativa poderá não ser

concluída fielmente, já que, submetida ao saber preliminar do receptor, irá depender

do conhecimento a cerca do que se trata ou até mesmo de pressupostos culturais.

Para Argyle (1988), todos os aspectos da comunicação humana são afetados por

pessoas bem como por situações. O sucesso da interação emissor- canal- recetor

emerge naturalmente de uma consciência formada por mensagens anteriores, gerada

por uma aprendizagem social e vinda de uma herança cultural, fundamentada pelas

experiências pessoais.

6

Segundo Parafita (2012), a comunicação deve observada a partir de duas

perspetivas: uma em sentido lato outra em sentido restrito. No sentido lato considera-

se haver comunicação sempre que o emissor transmite algo a um recetor; já no

segundo sentido, o restrito, a comunicação existe se o emissor interage com o recetor,

ou seja, se os dois lados do processo transmissivo se encontram ativamente

implicados. Menezes (2000) considera que a eficácia da comunicação é medida pelo

grau de aproximação entre a informação enviada e a que é recebida. No primeiro

sentido, comunicar está relacionado com partilhar enquanto que no segundo,

aproxima-se de transacionar. De acordo Carey (apud McQuail: 2003) a comunicação

está ligada a conceitos como divisão, participação, associação, pertença e posse de

uma fé comum. Este autor define a comunicação como um processo simbólico. Na sua

visão a realidade comunicativa é assim produzida, mantida, reparada e transformada.

Se emitimos uma mensagem e ela é compreendida pelo recetor, concluímos

que o processo comunicativo foi consumado com sucesso. “Apenas por meio da

transferência de significados de uma pessoa para outra é que as informações e as

ideias conseguem ser transmitidas. A comunicação, contudo, é mais do que

simplesmente transmitir significados. Ela precisa ser compreendida” (Robbins: 119). A

comunicação inclui precisamente a transferência e a compreensão de uma

mensagem, e “todo o processo é, no fundo, uma cooperação e uma interação entre

indivíduos” (Santos 2011:43).

O ato comunicativo torna-se efetivo através de canais, linguagens e códigos,

englobando conteúdos, referencias e tipos de informação. Ele ocorre desde uma

reflexão, uma interação entre fonte e recetor, até ao mais alargado ato

comunicacional, quando se interage com grandes massas, através dos media,

executando funções e com variados propósitos que leva a comunicar. Os efeitos da

comunicação podem ser intencionais ou não, podem ser orientados para a informação,

compreensão ou ação. “Até a recusa da comunicação é comunicativa no sentido em

que informamos a alguém das nossas fobias indisposições ou mau feitio, em suma da

nossa existência e da pessoa que somos” (Santos 2011: 239). A comunicação é troca

de informações, partilha de sentimentos, opiniões, conhecimento e histórias vividas.

Além do mais, ela liga-nos à rede de seres humanos, começando na nossa família,

amigos, grupos, sociedade e pelo mundo inteiro (com a ajuda dos media). “A forma

como nos desenvolvemos como indivíduos depende muito do grau de sucesso com

que construímos essas redes” (Sousa 2006: 24).

7

O ato comunicativo é descrito por Lasswell (1975) através de um modelo que

visa tornar mais compreensível todo o processo. Esse modelo, conhecido como

Modelo de Lasswell, desenvolvido em 1948, baseia se nas questões “Quem”, “Diz o

quê”, “Em que canal”, “Para quem” e “Com que efeito”. Segundo o autor, a

comunicação gira em torno destas demandas, umas vez respondidas, pode se

considerar que a comunicação foi concluída com sucesso.

Ilustração 1: Modelo de Lasswell

Fonte: Laswell (1971)

Estas cinco questões, segundo Laswell (1971), são cruciais para compreensão

do ato comunicativo.

O estudo cientifico do processo de comunicação tende a se concentrar em uma ou outra dessas questões. Aqueles que estudam o “quem”- o comunicador- se interessam pelos fatores que iniciam e guiam o ato comunicativo. Essa subdivisão do campo de pesquisa é chamada de análise de controle. Os especialistas que focalizam o “diz o quê” ocupam-se da análise do conteúdo. Aqueles que se interessam principalmente pelo rádio, imprensa, cinema e outros canais de comunicação, fazem analise de meios (media). Quando o principal problema diz respeito às pessoas atingidas pelos meios de comunicação, falamos de análise de audiência. Se for o caso do impacto sobre as audiências, o problema será de análise de efeitos (Lasswell 1975: 105).

QUEM

1 DISSE

O QUÊ

2 A

COM QUAIS

INTENÇÕES

6

EM QUE

CANAL

3

EM QUE

CONDIÇÕES

7

QUEM

4

COM QUE

EFEITOS

5

8

Processos Comunicativos

Na perspectiva de McQuail (2003), a comunicação é compreendida através de

processos comunicacionais que vão do intrapessoal, que dá se, por exemplo, em uma

reflexão onde comunicamos com nós mesmos, até a comunicação de massas, que é o

nível mais alargado da ordem. Dentre os níveis ainda compreende-se o institucional

que se dá, por exemplo, num determinado sistema politico ou empresa; o intergrupal

(ou associação); o intragrupal que está presente, por exemplo, no contexto de família,

o interpessoal que se dá num diálogo entre duas pessoas, como em um casal, por

exemplo. Num total são compreendidos seis níveis que constituem uma pirâmide

imaginária, chamada por McQuail (2003) de Pirâmide da Comunicação.

Niveis do Processo de Comunicação

Ilustração 2: A Pirâmide da Comunicação

Fonte: McQuail: 2003

Alargado

a toda

a sociedade

(Ex: Comunicação

de Massas )

Institucional/ Organizacional (Ex: Sistema Político ou

Empresa)

Intergrupal ou Associação (Ex: Comunidade Local)

Intragrupal (Ex: Família)

Interpessoal (Ex: casal)

Intrapessoal (Reflexão)

9

Segundo McQuail (2003) a realidade da comunicação varia muito de nível para

nível. Por exemplo, uma conversa entre dois membros de uma família acontece de

acordo com regras diferentes das que governam um canal de informação para uma

grande audiência.

A Comunicação Intrapessoal dá-se quando alguém comunica consigo próprio.

Ocorre durante uma reflexão, auto avaliação, pensamentos íntimos. A Comunicação

Interpessoal ocorre a partir da relação entre dois indivíduos ou pequenos grupos. Esse

nível comunicacional é interativo, presente, por exemplo, nas relações de amizade. A

Comunicação Intragrupal está presente, por exemplo, no seio familiar, fazendo

referencia às formas de conversação, interação e influência.

Intergrupal: este nível comunicacional baseia-se nas relações comuns à vida

cotidiana (comunidade, vizinhança, ginásio, trabalho) podendo ser compartilhada com

pessoas sem que estas pertençam necessariamente ao seu grupo, como se dá nos

níveis Intragrupal e Interpessoal. “A este nível, a questão mais importante diz respeito

à ligação e à identidade, à cooperação e à formação de regras” (McQuail 2003:11).

Organizacional/ Institucional: É a comunicação desenvolvida no seio de

organizações e instituições como empresas, setores públicos, universidades e partidos

políticos.

Por fim, temos o nível comunicacional considerado o mais amplo, fazendo

referência a uma comunicação desenvolvida e difundida à sociedade. Segundo

(McQuail 2003:11), trata-se de um nível de comunicação superior, o que atravessa ou

mesmo ignora as fronteiras comunicacionais, em relação a cada vez mais atividades

(econômicas, politicas, desportivas, de entretenimento, etc). O termo massa denota

grande volume, gama ou extensão, e neste caso refere-se a um grande volume de

pessoas. Comunicação, neste sentido, se refere ao sentido de emitir ou receber uma

mensagem. Segundo Janowitz (apud McQuail: 2003) essa comunicação de massas

(conforme termo exposto acima) compreende as instituições e técnicas pelas quais

grupos especializados empregam meios tecnológicos (jornais, radio e cinema) para

disseminar conteúdos simbólicos junto de grandes audiências, dispersos ou

heterogêneos. Comunicar, informar, entreter, influenciar o comportamento, opinião e

decisão, são algumas das funções envolvendo a comunicação de massas. A

experiência com esse nível de comunicação é variada, voluntária e marcada pela

cultura e pelos requisitos da maneira de viver de cada um e do ambiente social.

10

Abordamos ainda a comunicação de massas global, a comunicação que

transpõe fronteiras. Este é um termo que, segundo McQuail (2003), tornou-se

realidade na segunda metade do século XX, através de um fortalecimento constante

que permitiram as audiências dos media receber conteúdos culturais de outros países

e de outras partes do mundo.

Para além dos níveis comunicacionais McQuail (2003) disserta sobre quatro

modelos de comunicação, nomeadamente o modelo de transmissão, modelo de ritual

ou de expressão, modelo de publicidade e modelo de recepção. Estes modelos

seguem propósitos instrutivos, informativos e propagandistas, e envolvem diferenças

de orientação por parte do recetor e emissor.

Modelo de Transmissão Transmissão dos

emissores aos

receptores

Processo de transmissão

de uma quantidade fixa

de comunicação.

Modelo Ritual

Expressivo

Emitir, transmitir ou dar

informação a outros

A ideia central deste

modelo é a transmissão de

sinais ou mensagens

através do espaço com

proposito de controlar. A

comunicação efetiva

depende do entendimento

e emoções comuns.

Modelo Publicitário Captar e manter atenção

por meio de espetáculos.

É característico aos media;

tem finalidade econômica

(lucrar com a venda de

anúncios). Por isso, ao

informar e produzir

espetáculos os media

tencionam unicamente

captar e manter atenção

visual e auditiva dos

expetadores, naturalmente

considerados potenciais

consumidores.

11

Modelo de Receção Codificação e

Descodificação da

Mensagem. “O modelo de

receção lembra-nos que o

aparente poder dos media

para moldar, expressar ou

captar é parcialmente

ilusório, uma vez que no

final é a audiência que

decide” (McQuail: 60).

Há uma implicação de que

o sentido descodificado

não corresponde,

necessariamente, ao

sentido codificado,

tomando um caminho

diferente do rumo

pretendido. As mensagens

mediáticas são sempre

abertas e com múltiplos

sentidos e interpretada de

acordo com o contexto e

com a cultura dos

recetores. A essência

desse modelo consiste em

localizar a atribuição e

construção de sentido por

parte do receptor.

Tabela 1: Quatro Modelos de Comunicação

Fonte: McQuail (2003)

A comunicação pública, segundo McQuail (2003), parte de três perspectivas

diferentes, entretanto complementares.

Estrutural: deriva principalmente da sociologia, mas é também cooperada pela

história, ciência política e economia.

Comportamental: tem suas raízes na psicologia e na psicologia social,

possuindo ainda uma variante sociológica.

Cultural: tem as suas raízes nas ciências humanas, na antropologia e na

linguística.

Dentre as três perspectivas que completam a comunicação, enfatizamos a

cultural, haja vista que cultura irá conferir um grande atributo a este trabalho,

sobretudo no que envolve a comunicação não verbal, que é o tema central desta

12

pesquisa. A cultura, segundo Carey (apud McQuail:2003), está interligada à

comunicação e é definida por ele como um processo e atributo partilhado por um

grupo humano, como o seu ambiente físico, ferramentas, religião, costumes e práticas

ou o seu modo de vida completo. A cultura é fator determinante durante os processos

comunicativos, bem como direciona esta interação. “A cultura pode referir-se também

a textos ou artefatos simbólicos, codificados com sentidos particulares por e para

pessoas com identificações culturais particulares” (Carey apud McQuail: 95).

2 Comunicação Política

A comunicação política emerge da comunicação de massas, e será

brevemente tratada neste capítulo, dada sua ligação com o tema.

Amaral (2014) define a política como uma atividade humana que tem por objeto

a conquista e manutenção do poder e, por isso, cada vez mais políticos e governantes

procuram servir-se de métodos científicos para alcançar este objetivo, como técnicas

de propaganda e marketing eleitoral. A comunicação política é definida, segundo o

Dicionário de Filosofia Moral e Política (s/d), como um conjunto de técnicas

habitualmente designadas sob o chapéu do “marketing político”, mas que, no entanto,

servem a tarefa maior da política. Segundo Amaral (2014) a comunicação social é hoje

a grande intermediária entre os políticos e a opinião pública. Neste seguimento, a

estabelecemos então como uma comunicação estratégica onde o público (potenciais

eleitores) é equiparado a consumidores. Aos políticos, ela oferece os serviços de

marketing político, gestão de imagem e publicidade politica.

Toda notícia que reflita atividade política e crenças, não só discursos e propaganda de campanha, tem alguma relevância sobre o voto. Não somente durante a campanha, mas também entre os períodos. Os media constroem perspectivas, conformam as imagens dos candidatos e dos partidos, ajudam a destacar os conceitos em torno dos quais se desenvolverá uma campanha e definem a atmosfera particular e as áreas sensíveis que marcam uma campanha específica. (Lang & Lang apud Rubim 2004: 42)

Miller (apud Dicionário de Filosofia Moral e Política: s/d) cita três elementos,

que dão extensa relação entre comunicação e política: persuasão, a negociação e um

mecanismo de tomada de decisão coletiva, no caso, as eleições, onde as campanhas

políticas objetivam convencer os eleitores a eleger determinado candidato.

13

A comunicação política desenvolve então dois papeis consideravelmente

divergentes: informa ao público para que faça sua escolha de maneira consciente e,

ao mesmo tempo, visa persuadi-lo a eleger determinado político. A partir daí podemos

notar que a comunicação política é estritamente comercial, até porque é financiada por

políticos e partidos, que pagam aos media para construir a imagem de um político que

corresponda às carências dos cidadãos eleitores (consumidores) e reter informações

destrutivas que nada condizem ao seu interesse principal: ser eleito.

As organizações políticas usam o campo jornalístico como cenário natural da concorrência política, o seu "espaço público" particular para resolverem as suas controvérsias, canalizar as suas propostas para a sociedade, difundir os seus projetos, anunciar o seu sistema de valores, articular mobilizações e impulsionar suas ações coletivas. (Zeller 2001: 124-125)

Segundo Zeller (2001), essa situação "privilegiada" do jornalismo, que lhe

permite exercer uma influência substancial na vida política e social, tem avocado

mudanças na reportagem, até mesmo no próprio ofício do jornalismo. Os media têm

se transformado num ator político dentro da sociedade, exercendo muitas vezes um

papel tendencioso e manipulador, demonstrando o descompromisso com o público ao

tomar partido unicamente com o “ajuste” ou a construção da imagem de determinado

político ou partido.

No que diz respeito à comunicação política, os media de massas deram-lhe um

lugar privilegiado, transformando-a num elemento essencial no processo democrático.

Os media providenciaram-lhe um espaço para destacar os políticos (clientes), que,

dependendo da atuação, tornam-se mais evidentes e conhecidos. A comunicação

política torna-se então um vantajoso artifício de influência para políticos e agentes do

governo, e um lucrativo negócio para os media.

A impressa possui um grande poder político. Não é por acaso que o jornalismo

carrega consigo a expressão “Quarto Poder”, conferida, pela primeira vez, por Edmund

Burque, no final do SEC XVIII, para referir-se ao poder político que a imprensa possuía

a par dos três poderes do contexto britânico: os lordes, a igreja e os comuns. Segundo

McQuail (2003) este termo tornou-se convencional para jornalistas no seu papel de

repórteres e “vigias” do governo, denotando assim, sua capacidade de dar ou retirar

publicidade (disfarçada de informação) e da sua capacidade informativa e persuasiva.

“Os media de massa foram sempre encarados como benéficos e necessários à

evolução das politicas democráticas” (McQuail 2003: 136). Um recente episódio em

que é limpidamente visível a atuação dos media no processo de influência das massas

foi o impeachment da ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff, em agosto de 2016.

14

Desde o início da crise política, no começo de 2015, a comunicação política esteve

presente atuando com o seu jornalismo investigativo e, ao mesmo tempo, através de

anúncios publicitários da direita, incentivando as massas a irem às ruas protestar.

De acordo com McNair (1995), “Para a grande maioria das pessoas os meios

de comunicação, incluindo agora a internet, que cresce em importância a cada ano,

representam a principal fonte de suas informações sobre política” (McNair 1995: 21).

Ao que se observa, grande parte dos cidadãos eleitores atribuem realmente aos media

esse papel de “vigiar” o governo, apontando suas irregularidades e indícios de má

gestão, expondo- o a critica pública e influenciando opiniões. Segundo McNair (1995),

com a ascensão da comunicação política, os jornalistas e repórteres tornaram se

também atores políticos, considerando os efeitos da cobertura dos media sobre a

política, enquanto conduzem determinadas investigações.

Tomemos rumo agora para a comunicação política enquanto recurso

comunicacional para os políticos, que se valem deste mecanismo para conquistar o

seu eleitorado. Podemos chamá-la de recurso publicitário, ou nomeá-la por

publicidade política, uma vez que “a publicidade é um processo de comunicação

intencional, com conteúdos persuasivos que visam determinados efeitos numa massa

de indivíduos” (Verissimo 2008: 26). Nas campanhas políticas, os políticos concentram

planeados esforços que visam, unicamente, influenciar a opinião pública. Usam da

arte da persuasão para proferir discursos que, condizendo ou não à verdade, intentam

conquistar a confiança do público ou contornar as impressões negativas a seu

respeito. Como observa Denton (apud McNair: 1995), a comunicação política tornou

se mais um meio de autopromoção dos políticos do que um meio de informação para o

público. “A imagem pública de uma pessoa ou de uma instituição não é o que ela ou

os amigos pensam de si, mas antes a ideia que a opinião pública faz dela” (Amaral

2014: 421). Consideremos então a comunicação política, oriunda dos media, como

uma variante da comunicação de massas, e, dentre as suas abordagens,

presenciamos uma comunicação política enquanto elemento publicitário, criador do

marketing político que prima à construção e ascensão de imagem de um determinado

político ou partido político ou a destruição da imagem de um inimigo.

A publicidade política, que divulga informações sobre ou do candidato, tem

notável poder sobre o público. Os seus anúncios publicitários políticos, transmitidos

pela TV, jornais, internet, cartazes e outdoors, segundo McNair (1995), têm como

função informar à sociedade as opções disponíveis para eles, enquanto consumidores

políticos, visando persuadir ou fortificar suas convicções. Entretanto, há outro lado

15

com maior interesse nessa disseminação de informação, afinal, a propaganda tem

vantagens claras para o político, aquele que paga por este espaço e para que sua

mensagem seja transmitidas às massas. Sem necessariamente ter compromisso com

o público, os produtores de anúncios políticos têm a liberdade para dizer o que

quiserem, como, por exemplo, divulgar "pontos fortes” dos seus clientes e destacar as

fraquezas dos adversários. Segundo McNair (1995) o anúncio, em suma, é a única

forma, dentro dos meios de comunicação de massa, de ter total controle da construção

da imagem do político, pois podem transmitir sua mensagem sem interrupção e torna-

la mais atraente. Aqui notamos que o surgimento da Internet tem ampliado o leque de

alternativas, a impressão tradicional e a publicidade de TV, disponível aos atores

políticos.

Através da comunicação política, uma profissão emergiu, enquanto mecanismo

para promover um acesso conveniente dos políticos e partidos aos media. Trata-se do

Spin Doctor, expressão que nomeia os profissionais que têm a tarefa de gerir a

apresentação pública dos políticos, do modo mais vantajoso possível e que, segundo

McQuail (2003), “tem crescido muito em termos de marketing político e da gestão

profissional das campanhas” (McQuail 2003:505). Paul Richards (apud Ribeiro: 2013)

define o spin doctor como um perito em media, com especial conhecimento sobre

jornalismo e jornalistas, que usa competências e técnicas para projetar mensagens

positivas (para os públicos certos) de uma organização ou um individuo, através de

uma reportagem, entrevista de bate-papo, concerto ou discussão ao vivo, os debates

políticos. Michelle Grattan (apud Ribeiro: 2013) considera este profissional como o

responsável pela “venda altamente profissional da mensagem política que envolve a

manipulação e a máxima gestão dos meios de comunicação”, por parte de “um

exército” de técnicos que atuam “atrás das cortinas do governo”. Com o apoio destes

profissionais, os políticos reforçam o poder persuasivo das suas mensagens,

aumentando o nível de influência. Este é o compromisso principal: influenciar.

Estes profissionais e sua equipe costumam serem cautelosos, criativos e

trabalham analisando o mercado de consumidores, obrigatoriamente levando em

consideração o público (idade, etnia, sexo, etc.), as convicções políticas deste público

(eleitores conservadores, partidários, apartidários ou alienados), e, não menos

importante, o contexto em que mensagem transmitida será rececionada. “O emissor

deve ter em conta a natureza do meio em que veicula a mensagem, a coincidência

entre o público que acede ao suporte e o público da mensagem /produto publicitado,

ou seja, o consumidor” (Veríssimo 2008:25). Ainda deve ser levado em consideração

16

que o espetador irá interpretar a mensagem em conformidade com suas dependências

e convições.

Esses profissionais, os spin doctors, são ágeis e estratégicos quando se trata

de defender e projetar o nome da fonte pra quem trabalham. A atuação deles pode ser

decisiva para o sucesso de uma campanha política, por exemplo. Observemos pois, a

atuação do spin doctors neste tipo de processo. Em 1992, a construção da imagem do

candidato Bill Clinton foi embasada numa imagem que exibia juventude, vigor e

radicalismo, contrastando com a idade avançada e com o conservadorismo do seu

principal adversário, George H. W. Bush. McNain (1995) também relata a campanha

que levou à eleição de Barack Obama como presidente, em 2008. A imagem de um

jovem candidato negro foi a base para uma campanha que inspirava "esperança" e

"mudança".

Os efeitos da comunicação política podem ser invalidados, independentemente

do conteúdo da mensagem, dado o contexto histórico em que aparecem. É o que

aponta McNair (1995). Segundo estes autores, a qualidade de uma mensagem, a

habilidade e a sofisticação da sua construção, não contam para nada se o público não

é recetivo. Se o público não pretende comprar a sua ideia, não importa o quanto você

gasta ou quão bem os seus anúncios são produzidos, eles não irão funcionar. O

sucesso da comunicação de uma mensagem depende não só de como ela é dita, mas

também do contexto em que é dita.

Essa fusão da política e comunicação de massas foi um processo que trouxe

implicações boas e ruins à democracia. Neste capítulo tratamos a comunicação

política por um conceito mercadológico. Ela tornou-se uma fonte de renda para a

comunicação de massas, onde é o político (ou partido) o cliente que paga pela criação

e divulgação de mensagens publicitárias aos seus consumidores, os eleitores. As

campanhas eleitorais fogem ao seu papel principal, que seria educar os cidadãos para

escolher racionalmente os seus governantes.

Finalizando a exposição sobre os efeitos da comunicação política- comercial-,

concluímos que, com a comercialização da comunicação política, Infelizmente o que

se vê é uma democracia prejudicada pela intrusão das "artes persuasivas” onde a

publicidade política especializa-se, a cada dia, em promover uma “lavagem cerebral”

nos seus consumidores, os eleitores. O processo democrático torna-se quase

impotente, a mercê dos media que, disfarçadamente (ou não muito), tentam a todo

custo (financeiro) influenciar as massas disseminando, ocultando e manipulando

informações.

17

A comunicação política deveria, antes de tudo, ser uma fonte de informação

apartidária, a assegurar os direitos democráticos do seu público alvo e educar os

cidadãos eleitores, para que eles saibam em que estão votando e por que estão

votando. Uma comunicação politica, justa e eficaz pode influenciar as atitudes e

comportamentos dos cidadãos, refletindo na sua escolha durante o voto.

Há noticias tendenciosa e discursos falsos. Compete ao expetador, enquanto

recetor dessas mensagens intencionalmente persuasivas, analisar se o conteúdo

comunicado não traz consigo mensagens completamente distorcidas da realidade,

fatos negligenciados ou falsos. As massas não devem ficar sujeitas à mediação e

interpretação por parte do jornalismo político, que já não é confiável.

3 Comunicação Não Verbal

“O homem é um ser multissensorial. De vez em quando ele verbaliza.”

(Birdwhistell apud Davis 1979: 44)

Para além da comunicação verbal, aquela que é expressa somente por via de

palavras, existe outra via de comunicação que está presente no nosso dia a dia e em

todas as nossas relações, a comunicação não verbal. Esta auxilia-nos a comunicar,

seja para complementar as palavras, substituí-las (quando optamos pelo silêncio, por

exemplo) ou para colocá-las à prova; de entre outras tantas funções, como destaca

Argyle (1988). A linguagem corporal também nos auxilia a expressar emoções,

principalmente pelo rosto, corpo e voz, como também a comunicar atitudes

interpessoais, estabelecermos e mantermos amizades e outros relacionamentos, pois

utilizamos sinais não verbais para isso, como a proximidade física, o tom de voz, o

toque, o olhar e a expressão facial. De facto, “Comunicamos, também e, sobretudo

através de símbolos não verbais, linguagem gestual e corporal” (Rego 1999: 35). A

linguagem corporal exterioriza o que, por vezes, buscamos omitir a fim de ter controle

do nosso discurso, para persuadir ou para não demonstrar as nossas emoções.

Entretanto, a linguagem corporal tem sido revelada como uma forma de comunicação

inexorável, e é aí que revelamos, por vezes inconscientemente, o que desejamos

sonegar dos nossos interlocutores. Durante um colóquio, discurso ou debate,

18

podemos deixar de descrever as nossas emoções, entretanto “as nossas emoções

tendem a refletir-se nos nossos gestos e nas nossas expressões faciais e corporais”

(Rego 1999: 79). O emissor não tem intenção de comunicar, mas o seu

comportamento emite informações na mesma, e essas informações serão

decodificadas pelos recetores. Por exemplo, numa sala de reuniões, alguém que

trabalhou o dia todo espera cansado pelo término do discurso do seu chefe, para que

possa finalmente ir para casa descansar. Ele nada diz, pois isso seria inconveniente,

mas, motivado pela fadiga, apoia a cabeça sobre o braço, em cima da mesa. Os

presentes deverão notar que ele esteja entediado, embora nada diga. O nosso corpo

nos entrega, entrega nosso estado de ânimo ou alguma anormalidade que se passa

naquele momento. Se trememos quando estamos num ambiente de temperatura

quente ou normal ou se transpiramos num dia frio e sem ter feito alguma atividade que

exija esforço, nosso corpo mostra que há ali alguma anomalia e isso será percebido

por outras pessoas. São sinais observáveis sem que o emissor tenha intenção de

comunicar. Segundo Argyle (1988), estes são sinais dirigidos, respostas

comportamentais e fisiológicas. Entretanto também pode acontecer de não haver a

intenção de comunicar e o recetor descodificar erroneamente, talvez usando crenças

amplamente difundidas, mas incorretas. Argyle (1988) alerta sobre isso, pois é difícil

decidir se um determinado sinal não verbal se destina a comunicar ou não, pois há

comunicações que são motivadas, sem ter consciência da intenção.

A comunicação não verbal existe desde o princípio da comunicação humana.

Segundo Fast (1970), pesquisas apontam que esta foi a primeira forma de

comunicação usada pelo homem. Quando ainda não haviam códigos verbais,

nomeadamente a fala, era por gestos e expressões faciais que comunicavam uns com

os outros. De acordo com Davis (1979), “Nos primórdios da raça humana, antes da

evolução da linguagem, o homem se comunicava através do único meio que dispunha:

a comunicação não verbal“ (Davis 1979:50). Ela envolve todas as manifestações de

comportamentos que não são expressos por palavras e embora seja uma área de

tamanha relevância para a compreensão dos seres humanos, enquanto agentes de

comunicação, sobretudo nas suas relações interpessoais, a Linguagem Corporal

começou a ser estudada tardiamente. Historicamente, o pontapé inicial foi dado por

Charles Darwin. Foi o famoso biólogo inglês, quem primeiro desenvolveu um estudo

sobre o tema, o que resultou no livro “Of the emoctions in man and animals (em

tradução livre, “A expressão das emoções no homem e nos animais”), em 1872.

“Darwin preocupa-se principalmente com as expressões faciais e corporais, através de descrições fisiológicas e observações sobre animais. Relata ainda sobre a expressão de doentes mentais em

19

7%

38% 55%

ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL

PALAVRAS

VOZ/ TONALIDADE

LINGUAGEM NÃO VERBAL

diversos países, de acordo com informações obtidas de colegas seus” (Rector & Trinta 1985: 65).

Depois de Darwin, em meados do século XX, “entre 1914 e 1940, mais ou

menos, ouve considerável interesse sobre a comunicação pessoal por meio de

expressões faciais” (Davis 1979:18). Nesta altura, psicólogos, estudiosos e cientistas

começaram a se interessar pelo tema. Ainda assim a comunicação não verbal é

considerada uma ciência embrionária. As pesquisas em torno deste tema resultam de

cinco diferentes disciplinas: a psicologia, a psiquiatria, a antropologia, a sociologia e a

etologia.

Não é de se admirar o interesse por estudar a comunicação não verbal após os

primeiros levantamentos de Darwin. Em diversos artigos, autores reconhecem a sua

importância. Tal é o caso de Tuchet (2012), para quem “As palavras- nas quais

demonstramos tanta confiança- não representam mais de 7% da comunicação, mas a

linguagem do corpo, essa transforma, no mesmo número de casos, 100% da natureza

da comunicação” (Tuchet 2012:32). Nesta ótica, Loureiro (2013), analisando os

estudos de Albert Mehrabian, menciona que “na comunicação interpessoal, a

mensagem é transmitida em apenas 7% das palavras, em 38% pela voz e 55%

corresponde à linguagem não verbal” (Loureiro 2013: 02).

Ilustração 3: Elementos da Comunicação Interpessoal

Fonte: Belludi 2008

20

Diante do exposto, é de se entender a importância da linguagem não verbal na

comunicação, pois “o recurso à linguagem verbal separa a comunicação humana de

todas as outras formas possíveis de comunicação, no entanto, dispomos de muitas

outras formas de comunicar uns com os outros que não se baseia num código

linguístico” (Santos 2011: 52). É necessário estarmos sempre atentos “ao significado

da mensagem que deve estar sempre inserido no contexto e jamais em algum lugar do

corpo” (Davis 1979: 41), para que nossas interpretações não sejam motivadas por

emoções, ou somente por elas, de maneira que evite- se falhas desastrosas neste

processo.

Para Kendon (apud Rector e Trinta: 31), a comunicação não verbal é aquela

frequentemente usada para dominar todos os modos pelos quais a comunicação se

efetua entre pessoas, quando em presença uma das outras, por outros meios que não

palavras. Kendon estabelece três limites técnicos para o termo:

1. é usado principalmente para referir-se a pessoas que estão presentes, uma diante da outra; 2. é usado em relação à comunicação realizada por meio de um dado comportamento, cujo significado não pode ser alcançado de outras formas; 3. é usado quando as mensagens são o centro de interesse, sobretudo aquelas sem formulação explicita, que podem ser inferidas ou se acham implicadas em certos comportamentos do individuo. (Kendon apud Rector&Trinta 1985: 31)

Também recorremos à linguagem não verbal quando não há vocabulário

adequado devido à idade ou experiência linguística do emissor. No caso dos bebés,

esta seria, por enquanto, a única maneira de expressarem suas necessidades e

incômodos aos adultos, “se os bebes não falam, a comunicação faz-se pelas

expressões faciais e o reconhecimento das emoções básicas, por exemplo, que está

nos sistemas neuronais” (Magalhães 2011: 60); quando não há palavras, e, por

alguma deficiência verbal, falta-nos vocabulário adequado; ou mesmo quando a

distância impede-nos de ser ouvidos pelo próximo. “O ato não verbal pode repetir,

aumentar, ilustrar, acentuar ou contradizer as palavras. Bem como pode acentuar,

antecipar, coincidir, substituir ou acompanhar o comportamento não verbal” (Ekmam e

Friesen apud Rector & Trinta 1985: 41).

De acordo com Corraze (1982), para o ser humano a comunicação não verbal

se processa através de três suportes: o primeiro é o corpo, nas suas qualidades

físicas, fisiológicas e nos seus movimentos; O segundo no homem, ou seja, objetos

associados ao corpo como adornos, as roupas, ou mesmo as mutilações, marcas ou

cicatrizes de tatuagens, de rituais ou não; o terceiro suporte refere-se à dispersão dos

indivíduos no espaço, este engloba desde o espaço físico que cerca o corpo até o

21

espaço que a ele se relacione, o espaço territorial (Corraze apud Mesquita1997: 158).

Nesse universo do não dito, nos valemos de diversas maneiras para transmitir ou

interpretar uma mensagem. Podemos comunicar através de gestos e posturas

emitidos por todo corpo, por expressões faciais, pela maneira como olhamos para os

outros ou pela forma como tocamos (os outros ou a nós próprios), pelo que vestimos,

pelas cores que escolhemos e até pela forma como ocupamos espaço ou como nos

movemos. “Não comunicamos, apenas, através da escrita e das palavras. Os nossos

gestos, expressões faciais, posturas do corpo também comunicam, podendo ajudar ou

dificultar a chegada das mensagens aos destinatários” (Rego1999: 60).

A linguagem não verbal é uma herança que veio sendo transmitida, aprimorada

e celebrada por convenção em todas as sociedades. Se “o primeiro movimento de

comunicação do homem terá tido expressão através do gesto” (Parafita 2012:20),

podemos concluir que há gestos universais passados de geração em geração e

espalhados pelos continentes, “já se registrou, por exemplo, que o símbolo para

comida ou para o ato de comer é, universalmente, o gesto de levar a mão à boca”

(Davis 1979:51). Seguindo a linha de estudos em torno da comunicação não verbal,

descobrimos também que, embora haja gestos universais, que podem ser

considerados uma convenção universal, como levar a mão à boca quando se refere a

comer, deve-se ater ao fato de que linguagem não verbal não é inteiramente universal,

e, portanto, deve ser entendida de acordo com contexto, cultura e meio. É importante

salientar que a linguagem não verbal não deve ser interpretada embasada em

julgamentos, pois “nunca contaremos com um dicionário digno de confiança, que

contenha gestos inconscientes, porque deve buscar- lhes o significado sempre e

somente dentro de algum contexto” (Davis 1979: 41).

Sobre esses gestos universais, conseguimos identificá-los, segundo os estudos

de Davis (1979), graças ao nosso conhecimento cognitivo que automaticamente

detecta o que se passa, seja gerado pela empatia ou por experiência própria dos

movimentos em questão, “(...) reagimos ao gesto com extrema atenção e poder, ao

dizer o que fazemos segundo um elaborado código que não está escrito em lugar

nenhum, que ninguém conhece, mas que todos compreendem” (Edward Sapir, apud

Davis 1979:19).

O nosso corpo manifesta estados de ânimo, sentimentos e desejos muitas

vezes indizíveis. A Linguagem Corporal é o primeiro meio de comunicação com o

mundo. Ao que entende- se, isso se dá graças a uma natural habilidade de

descodificar. Essa intuição manifesta- se ainda quando bebé. Se observarmos um

22

bebé notaremos que, enquanto não lhe desenvolve a capacidade de comunicar-se

verbalmente, é pelo corpo que ele comunica. Quando ele sente fome, cólica ou algo

que o incomoda, é pelo choro que vai comunicar a mãe, que precisa dos seus

cuidados. Ele também comunica sua afeição à mãe de maneira não verbal, através da

expressão facial. Com os gestos ele consegue informar à mãe que quer alguma coisa

que não está ao seu alcance. Os bebés também apresentam uma natural fluência para

descodificar a linguagem corporal de que lhe cerca. Podemos observar isso também.

Uma criança entende quando seus pais reprovam uma atitude por meio de expressões

faciais, ou demonstram afeto quando sorriem. Nos seus movimentos corporais, por

exemplo, com a cabeça: o sacudir da cabeça na horizontal indicando um “não” e o

sacudir da cabeça na vertical como uma resposta positiva. Essa é uma das tantas

possibilidades que nos apresenta a comunicação não verbal, nota-se então que a

entoação que damos à voz, o ritmo a que pronunciamos as palavras, o nosso modo de

olhar, a forma como colocamos as mãos, cruzamos a perna, nos sentamos, franzimos

a sobrancelha, passamos a mão na nuca, sorrimos. Tudo é fundamental no processo

comunicacional, “todos esses aspetos podem ajudar, alterar ou dificultar a

interpretação que queremos dar às nossas palavras” (Rego199: 36).

Mas como a linguagem corporal não é por completa universal, já que devemos

levar em consideração as diferenças interculturais: racial, sexual, étnico,

socioeconômico, profissional, ocupacional, religioso e internacional, devemos estudar

como se dá esse processo em cada situação a fim de se evitar uma má comunicação,

sobretudo no processo de decodificação por parte do recetor, pois a comunicação não

verbal pode gerar equívocos e transtornos à comunicação efetiva, “os sinais não

verbais não têm o mesmo significado para todas as pessoas e culturas“ (Rego1999:

60).

O processo de codificação e descodificação da mensagem pode ser bem

sucedido ou não, pois não depende apenas da intenção do receptor. A comunicação é

concluída com sucesso quando ambos compartilham de um mesmo conhecimento,

celebrado em convenção. Por exemplo, o acenar com a mão é sempre um

cumprimento, na maioria das culturas. Logo, ao enviar uma mensagem não verbal no

intuito de cumprimentar, possivelmente ela será bem descodificada pelo receptor. Mas

o recetor também pode descodifica-la de maneira que não condiz à intenção do

emissor. Geralmente isso ocorre quando interlocutor e locutor pertencem a culturas

diferentes. Por exemplo, o gesto de fazer um circulo usando o polegar e o indicador

representa um “OK” em Portugal, mas no Brasil, em algumas regiões, este é um gesto

obsceno. Logo, se um português usar a linguagem não verbal para dizer “tudo certo” a

23

um brasileiro, poderá haver uma falha na interpretação, gerando ali um transtorno.

Argyle (1988) também chama a atenção para as diferenças culturais, pois como ele

notou em seus estudos, há variações entre árabes, japoneses, italianos, africanos,

latinos, norte americanos, dentre outros. Segundo ele alguns gestos não têm

significado em outras culturas ou o mesmo sinal pode ter significado diferente. Pode

haver regras que regem a utilização de, por exemplo, expressões faciais. Pode haver

rituais complexos tais como formas de saudação e cerimonias religiosas.

Além da má interpretação, com a ruína do processo comunicativo, quando a

linguagem corporal é mal aplicada e/ou mal interpretada (consequência) , ela ainda

pode criar ali algumas barreiras. As diferenças culturais (entre países, regiões,

profissões) tendem a criar mal-entendidos na comunicação se não levarmos isso em

conta. “Os antropólogos têm analisado diferentes idiomas culturais da linguagem do

corpo e descobriram que um árabe e um inglês, um preto americano ou um branco da

mesma nacionalidade não se movimentam do mesmo jeito” (Davis 1979:21). Hoje em

dia, isso é levado em consideração, tanto que, devido a esse fato, é recomendado e

exigido que diplomatas, políticos, representantes de nações ou de empresas

multinacionais, negociadores, estudem a linguagem corporal da sociedade em

questão, a fim de ter maior sucesso no seu objetivo. “Uma posição ou um movimento

do corpo não tem, por si só, um significado preciso ou universal, porém, quando

somado à linguagem falada, completa a mensagem do emissor” (Robbins 2004: 123).

A comunicação não verbal também sustenta nossas demonstrações de

afinidade e sintonia com as pessoas ao nosso redor ou até mesmo um desconhecido.

Há uma empatia que aproxima indivíduos e ela pode ser explicada pela capacidade

que a linguagem não verbal tem de nos colocar no lugar do outro.

“A linguagem do corpo não dá apenas o seu tempo ao diálogo, também lhe modifica o teor. Ninguém acolhe as gargalhadas uma pessoa triste. A tristeza de um modifica primeiro a expressão de felicidade do outro, e depois, muito simplesmente, a sua felicidade” (Tuchet 2012: 25).

Quando faltam palavras, sobram gestos e/ou expressões, independente se

essa ausência verbal seja precedida de uma longa pausa ou silêncio, no caso,

grunhidos ou verbalizações desconexas. A comunicação não verbal é a forma não

discursiva, ou seja, o não dito, e pode ser pode ser emitida através do corpo ou

objetos associados, pois, como afirma Santos (2011), “(...) as únicas condições

essenciais para a comunicação não verbal parecem ser a presença de sinais e a

interpretação de outrem. Esse é o outro motivo pelo qual a comunicação não verbal

assume especial relevância nas nossas relações” (Santos 2011: 52). A comunicação

24

não verbal acontece sempre que uma pessoa influencia outras por meio de expressão

facial, tom de voz, ou qualquer um dos outros canais. Este pode ser intencional ou

não. Quando não é intencional, Argyle (1988) denomina de comportamento não verbal

ou, em alguns casos, de expressão da emoção. Na definição de Robbins (2004) a

comunicação não verbal abrange os movimentos do corpo, a entonação da ênfase às

palavras, expressões faciais e o distanciamento físico, são sinais capazes de explicar

a relação entre emissor e receptor. “Todo e qualquer movimento do corpo tem um

significado, nenhum acidental” (Robbins 2004: 123).

Quando se trata de linguagem não verbal para identificar emoções,

encontramos expressões que podem ser facilmente apontadas em todas as culturas,

seja no oriente ou ocidente, presenciamos expressões que fazem parte desse

processo comunicativo: “(...) desde Charles Dawin, todos os especialistas

reconhecem, de comum acordo, que o medo, a cólera, a alegria e a tristeza são

emoções universais” (Tuchet 2012: 25); não precisamos falar a língua nativa de um

povo em questão para compreender o que se passa, referindo-se às expressões

emitidas pelas emoções acima.

É cliché dizer que “um gesto vale mais que mil palavras” ou ainda “o que os

olhos não veem o coração não sente”, e nessa ótica percebemos que a comunicação

não verbal está sempre presente no nosso dia a dia, entretanto não damos crédito a

essa função que auxilia-nos a expressar, comunicar, interagir e compreender ao

próximo no nosso dia a dia, pois “qualquer um pode deixar de falar, mas dificilmente

seria capaz de deixar de mexer um músculo“ (Davis 1979:66). Os deslocamentos do

rosto e do corpo são capazes de descrever uma emoção, quando as palavras nada

dizem. “Até a recusa da comunicação é comunicativa no sentido em que informamos

alguém das nossas fobias, indisposições ou mau feitio, em suma da nossa existência

e da pessoa que somos” (Santos 2011: 239).

A linguagem corporal completa a linguagem verbal, facilitando o processo

comunicativo. Argyle (1988) inclusive pondera que alguns sinais não verbais podem

ser exprimidos em palavras. Mas não há palavras que descrevam certas atitudes,

emoções e comportamentos. Há de se observar que, quando estamos ao telefone, por

exemplo, a nossa comunicação, perante o recetor, fica restrita à linguagem verbal

(usamos também a não verbal enquanto falamos, entretanto ele-o recetor- não

consegue ver), e corre riscos de sofrer danos entre o processo de emissão e

compreensão da mensagem. Daremos conta que ali falta algo, nomeadamente os

gestos e expressões faciais, fatores que completam o sucesso de uma mensagem. As

25

emoções que a complementam ficam restritas somente as palavras e no máximo ao

tom de voz. Se a pessoa com que falamos está a falar de maneira irônica, poderíamos

perceber pela sua gestualidade e expressão facial, que é permitido graças à

linguagem não verbal. Prova disso é que hoje em dia, durante troca de mensagens

instantâneas pelo telemóvel ou redes sociais (WhatsApp, Facebook, etc.), vamos

buscar nos Emojis uma maneira de ilustrar uma ideia, palavra ou frase, ou seja, aquilo

que realmente queremos comunicar. Isso tudo em busca de suprir a deficiência

causada pela ausência dos gestos e expressões não verbais. “As palavras são

bonitas, excitantes, importantes, embora tenham sido superestimadas em excesso,

uma vez que não representam a imagem total e nem parcial (Davis 1979:22).”

A comunicação não verbal é capaz de dar maior confiabilidade às palavras, já

que elas adquiriram certo descrédito, pois são completamente manipuláveis, em

alguns contextos, como por exemplo, durante discursos, onde se faz necessário uma

argumentação apurada e eficiente. Para falar sobre isso, deve-se retornar às primeiras

manifestações da Retórica, que surgiram no século V a.C., em Sicília, Itália. Sobre o

contexto do seu surgimento, Kenedy (apud Santos 2011: 179) conta que ela foi criada

para dar suporte às reclamações apresentadas nos tribunais sobre terras usurpadas.

Não possuindo nenhuma experiência de advocacia, os cidadãos comuns eram

ensinados pelos sofistas, que hoje seriam considerados como uma espécie de

“profissionais da comunicação”, a defender as suas causas. Foram eles que deixaram

muitos dos princípios de estruturação e apresentação das ideias, ainda hoje usados,

mesmo que inconscientemente, nas apresentações formais e nos debates públicos.

Para Santos (2011), a Retórica, usada pelos Sofistas, é cercada por um descrédito,

pois não tem compromisso com a verdade e baseia-se num jogo de manipulação de

linguagem. Há um sentimento de desconfiança em relação à Retórica, ao mesmo

tempo em que o papel da argumentação se torna progressivamente menos

importante.

“As linguagens” “coloridas” da Retórica, marcadas, aliás, pelas figuras de estilo e tropos que a estética literária foi nela incorporando, tornam-se suspeitas de distorcer os factos, visto que ou os transformam em ornamento, ou os colocam ao serviço de uma argumentação tendenciosa, que varia conforme o ponto de vista de quem o faz. (Santos 2011: 181)

Podemos assim dizer de onde vem o descrédito das palavras, obviamente que

o mais leigo público, que não estudou sobre os efeitos da retórica, também pode notar

a facilidade com que se pode manipular as palavras, pois, tal com destaca Toulmin, “A

consequência para qualquer comunicação pública (debate, discurso politico, defesa

26

em tribunal, sermão) é a de ser depreciativamente considerada como artificial,

manipulativa, em suma, “retórica” e “falsa” também” (Toulmim apud Santos 2011: 182).

Aristóteles, o filósofo grego, ensinava aos seus alunos a desenvolver

habilidades para influenciar o público com uma ideia, fazendo com que,

independentemente de ser verdadeira ou não, essa ideia fosse aceita. Essas

estratégias consistiam em “sensibilizar pelo Phatos, construir uma imagem credível do

orador de acordo com o Ethos, ou criar uma argumentação racional baseada no

Logos” (Kempf apud Santos 2011: 182).

O argumentador tem nos ensinamentos da retórica todos os aparatos para se

sobressair com sucesso em uma entrevista ou discurso. Além de estudar todos os

meios para persuadir com eficácia, nomeadamente o Phatos, Ethos e Logos, o retor

também deve se ater ao fato de que suas argumentações podem ser contestadas e,

por precaução, a retórica também desenvolveu esta habilidade. “A prática da retórica,

também reconhecia a necessidade de explorar possíveis argumentações contrárias,

justamente para que pudessem ser refutadas (Robrieux apud Santos 2011: 182)

Perante o descrédito que as palavras têm adquirido, tanto nos discursos

públicos, nos diálogos, nos media e nas organizações, é com a comunicação não

verbal que revisamos o que pode ou não ser dado como verdadeiro e sincero, ou seja,

o que é digno de crédito. Para ser uma mensagem credível é preciso que

comunicação verbal e comunicação não verbal estejam em equilíbrio, pois, como

aponta Argyle (1988), a linguagem é altamente dependente e estreitamente ligada à

comunicação não verbal, onde há partes que não podem ser expressas

adequadamente em palavras. “São frequentes as situações em que diferentes

componentes da comunicação humana se harmonizem entre si, tendo em vista a

maximização dos efeitos comunicativos” (Beebe et all apud Santos 2011: 50). Em

casos onde não há equilíbrio, certamente daremos maior credibilidade à linguagem

não verbal, afinal esta dificilmente será manipulada, pois como apontam estudos, é

humanamente impossível controlar os diversos músculos faciais quando eles

exprimem algum desconforto:

pode acontecer, porém, que a nossa comunicação não verbal contradiga a verbal, o que já constitui um caso de interação um pouco mais complexo, uma vez que essa contradição tanto pode ser deliberada (como acontece com a ironia), como pode ser pura e simplesmente confusa. Curiosamente, para descodificarmos situações em que há conflito, prestamos mais atenção aos sinais não verbais (Beebe et all apud Santos 2011:50).

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O que é visto acaba sendo mais importante do que é falado, uma vez que,

enquanto recetores, observamos não só as palavras, mas todo o aparato usado

enquanto elas são emitidas, nomeadamente tom de voz e expressões faciais,

elementos não verbais que apresentam grande capacidade de externar emoções, e

que possuem pouca disposição para serem manipulados.

E quando levamos (ou não) a comunicação não verbal para outros ambientes

se não aquele em que se dão as relações interpessoais?! Segundo Santos (2011),

profissionalmente podemos e devemos usar a linguagem não verbal, entretanto com

uma consciência mais apurada, sendo possível estudar, treinar e aperfeiçoar as

diferentes estratégias desse ramo, como muito bem sabe qualquer político de

sucesso. Essa é uma das discussões polémicas acerca da comunicação não verbal e

dado isto, muitos oradores e pessoas públicas têm demonstrado particular atenção às

constatações de que enviamos sinais não verbais de maneira inconsciente, afinal,

enquanto foco público é importante se ater ao fato de que o sucesso da sua

comunicação e imagem está comprometido por todo um contexto que não se resume

às suas declarações verbais ou aos seus discursos pré-elaborados, afinal a linguagem

desenvolve-se também num contexto não verbal, e esse deverá ser o que melhor

devem-se ater, já que a sua comunicação vai além do verbal e visível. Se nesse

discurso houver a intenção de ludibriar, maquilhar ou omitir informações esse

comunicador poderá sair-se mal sucedido perante o seu público, pois como afirma

Freud, o criador da Psicanalise, “aquele que tem olhos de ver e ouvidos de ouvir, pode

ficar convencido de que nenhum mortal consegue guardar um segredo. Se os lábios

ficarem silentes, falam os dedos. A traição brota dos poros” (Freud, apud Davis

1979:66).

Por mais seguro que esteja o locutor, graças aos ensinamentos da Retórica,

talvez por ter decorado o discurso ou mesmo ter uma tela à sua frente, ele pode se

perder na sua oratória, sobretudo se não tiver autenticidade nas suas palavras. Essa

arte de discursar não requer somente o dom de falar em público, pois se não tivermos

a verdade nas nossas intenções, nossa linguagem corporal poderá nos entregar, como

aponta Adler e Rodman:

comportamentos não verbais involuntários denunciam-nos: coramos, transpiramos, gaguejamos, hesitamos, não olhamos para o interlocutor de frente, mas, sobretudo, tendemos a gesticular de forma peculiar ou descontrolada (piscando os olhos, por exemplo), já que o cérebro está demasiado ocupado nas suas elaborações para desperdiçar energia a regular a parte motora (Adler e Rodman apud Joana Santos: 51).

28

Esses sinais emitidos pelo corpo, quando desencadeiam uma série de

contradições entre o dito e o não dito, tendem a confundir o interlocutor. Afinal usamos

as palavras para convencê-los de uma maneira e enviamos sinais verbais incoerentes

com o que foi falado. Segundo Robbins (2004), essas contradições geralmente

sugerem que as ações falam mais (e com mais precisão) do que as palavras, pois

“falamos com órgãos vocais, mas conversamos com o corpo inteiro” (Abercrombie

apud Rector & Trinta 1985: 30).

A comunicação não verbal é inevitável, quando sentimentos reprimidos por

palavras fogem ao domínio e são exprimidos pela linguagem corpo, de maneira

consciente ou não. Ela também é responsável por exteriorizar uma personalidade, por

mais que esta não seja a intenção do autor em questão. O gesto, a voz, o sorriso, o

silêncio, o movimento ou a ausência dele, fazem parte da comunicação não verbal.

Essa é a originalidade dos gestos, a exteriorização do ser humano através do corpo e

do movimento. O movimento corporal, seja ele com intencionalidade ou não, emite no

ar uma mensagem para ser decifrada pelo interlocutor. Segundo Hall (1966), a

mensagem decodificada pelo interlocutor nunca é igual mensagem que lhe enviamos.

“Sempre que fala, com efeito, não enuncia senão uma parte da mensagem. O resto é

completado pelo auditor” (Hall 1966:120)

Por vezes, escusamos falar algo, porque entendemos que automaticamente a

nossa intenção fica subtendida através de um movimento corporal, gesto ou

expressão facial. Contamos que seremos interpretados ainda assim, pois há ali um

consenso celebrado pelo contexto e cultura. Por vezes, grande parte do que não é dito

fica subtendido e é interpretado ainda assim. Todavia, devemos levar em

consideração que nem sempre seremos interpretados segundo a nossa intenção; é

que a configuração dessa mensagem implícita varia segundo as culturas.

(...) na América, por exemplo, é inútil indicar ao engraxador de sapatos a cor da cera que deve usar. No Japão, em contrapartida, o americano deverá fornecer ao engraxador essa precisão, se não quiser correr o risco de ver engraxados de preto os seus sapatos amarelos” (Hall 1966: 120).

Ainda sobre o que deixamos subtendido de maneira inconsciente, podemos

curiosamente observar como diariamente usamos a linguagem corporal sem que nos

demos conta do processo, ou seja, inconscientemente. Argyle (1988) reforça isso ao

apontar como uma pessoa pode inconscientemente indicar que chegou ao fim de uma

frase, retornando a mão para descansar, ou indicar que quer continuar falando

metendo a mão em meio gesto. Ela emite sinais de que quer continuar falando de

maneira inconsciente e o receptor descodifica de maneira eficiente, “as pessoas são

29

capazes de codificar, deliberadamente ou não, mensagens e de decodificar

mensagens sabendo o que estão fazendo ou sem conhecimento consciente do que

significam” (Sebeok apud Rector e Trinta 1985: 45).

Enquanto ouvinte, o público também se comunica por meio de sinais não

verbais. Um contato visual e um sorriso, ou mesmo um abanar de cabeça remete-nos

a sensação que o interlocutor está a seguir o que dizemos, mesmo que não concorde

com as nossas opiniões. Argyle (1988) chama isso de discurso de acompanhamento e

apoio, onde os ouvintes se envolvem em uma complexa sequência de indicações com

a cabeça e olhares. É preciso considerar então que a nossa ideia esteja sendo

fielmente repassada, ou seja, estamos emitindo de maneira verbal e não verbal aquilo

que realmente idealizamos, afinal, como aborda Hartley (1999), “(...) não devemos ser

ingênuos ao ponto de acreditar que uma boa transmissão implica automaticamente

numa boa compreensão, nem que uma boa compreensão implica, também

automaticamente, uma boa comunicação” (Hartley apud Santos 2011: 140).

Nessa ótica, observamos que a linguagem corporal não surge apenas para

comunicar ideias e necessidades, tal como usada nos primórdios da construção

humana, ela vai, além disso. Como aponta Santos (2011), ela, a linguagem corporal,

também é uma ferramenta para entender “conflitos não verbalizados, ajudar a

construir identidades ou papeis sociais, estabelecer cumplicidades, criar ou resolver

problemas de compreensão, influenciar massas de seres humanos, determinar o êxito

de uma empresa ou, com algum exagero, mudar o curso da história” (Santos 2011:

52).

Há de se considerar também a diferença comunicativa entre os géneros, como

consigna Loureiro (2013), o género também é comunicativo mesmo nas mensagens

silenciosas, já que as mensagens não verbais podem ser interpretadas de diferentes

maneiras quando enunciadas por um homem ou uma mulher. “(...) o gênero também

comunica não verbalmente com o interlocutor, interferindo, por exemplo, nas

expetativas e nas primeiras impressões causadas no outro” (Loureiro 2013: 5).

É preciso ter cuidado com a comunicação não verbal, tanto aquela expressa

por meio do corpo, quanto a expressa por objetos ao redor do corpo. A comunicação

não verbal é informativa, e nos serve quando não queremos usar a linguagem falada

ou escrita. Tudo é comunicativo. Um escritório bagunçado, cheio de objetos

espalhados comunica implicitamente que ali trabalha alguém desorganizado. Muitas

das vezes também se pode usar o espaço ao redor para provocar a comunicação não

verbal, de maneira voluntária. Há de se observar, por exemplo, que quando alguns

30

políticos dão entrevistas nos seus gabinetes, sua mesa deverá estar enfeitada com

porta retratos ilustrados com fotos da esposa e filhos. A ideia é passar uma imagem,

de cidadão de boa moral e bons costumes, que preza pela importante instituição que é

a família. Atrás da sua mesa, na estante, livros estarão todos organizados. O propósito

é que ele seja interpretado como um homem de família e intelectual, o que é

culturalmente considerado como boas características para um bom representante do

povo.

3.1 Elementos da Comunicação não verbal

Não só da palavra vive o homem (Rector & Trinta1985: 40).

A expressão humana vai além do verbo. Outras dimensões vêm ao seu

encontro, para ilustrar e reiterar a mensagem, dizendo de forma não verbal, o que já

havia sido dita verbalmente. Noutros casos, vêm também para contradizer as

inverdades expressas por palavras. “Geralmente a mensagem não verbal traz consigo

a realidade, mesmo contradizendo a verbal” (Rector & Trinta 1985: 44).

A compreensão da linguagem corporal dá-se através de elementos que a

constituem. Eles são classificados por Knapp (1980) em Cinésica (linguagem do corpo

dada através de gestos, movimentos corporais, expressões faciais, olhar e postura),

Paralinguagem (modalidade da voz), Proxémica (uso do espaço pelo homem), Tato

(linguagem do toque), olfato e Cronémica.

3.1.1 Cinésica

As nossas atitudes e posturas corporais são, na medida da intencionalidade e

da maneira como forem interpretadas, formas de comunicação do tipo cinésico (do

grego Kinema, “movimento”) (Adler e Rodman apud Santos 2011: 59). A cinésica é a

área que estuda os gestos e movimentos corporais de valor significativo convencional.

Poyatos a define como “o estudo sistemático de movimentos corporais baseados

psicomuscularmente e/ou as suas posições resultantes, quer aprendidas ou

somatogênicas, de perceção visual, visual-acústica e tátil ou cinestésica que isoladas

ou combinadas com as estruturas linguístico-paralinguísticos e com o contexto

31

situacional, possuem valor comunicativo, seja consciente ou inconscientemente.

(Poyatos apud Rector e Trinta 1985: 56)

Os estudos sobre a cinésica foram iniciados em 1952, por Birwhistell. De

acordo com Rector & Trinta (1985) esta data marcou o começo de uma série de

pesquisas sistemáticas de gestos corporais, como uma ciência que trata dos aspetos

comunicativos do comportamento aprendido e estruturado do corpo e movimento.

3.1.1.1 Gestos

“O homem do povo, com as mãos amarradas, fica mudo”.

(Cascudo apud Rector & Trinta1985: 69)

Os gestos corporais têm grande expressividade e ajudam a validar ou não o

que dizemos. Alguns gestos e posturas que usamos fazem com que tenhamos maior

credibilidade, já que dispensa retórica, tornando-nos mais convincentes no nosso dia a

dia, pois são nítidos e positivos. Antes de verbalizar era através dos gestos que

nossos ancestrais se comunicavam, ou seja, os gestos foram a nossa primeira

linguagem humana. “Os gestos manuais são os mais antigos” (Cascudo apud Retor &

Trinta1985: 71).

O gesto, e bem assim o grito e a mímica, pôde ser para os homens de antes da história, um meio de se exprimirem, cujos vestígios chegaram atenuados até nós. Eles deviam traduzir destarte o seu medo, a sua emoção, a sua alegria, a sua repugnância, a sua admiração e sem dúvidas muitas outras coisas. Permanecem no nosso comportamento cotidiano alguns resíduos disto: os psicólogos garantem que a saudação e a inclinação da cabeça ou do busto são recordações de antigas posturas de sujeição. Que o sinal pela qual exprimimos naturalmente o desdém, de busto recuado, lábios cerrados, ar expirado pelo nariz, não passa de uma antiquíssima recordação do gesto de recusa de consumir um alimento impróprio ou impuro (Clarke 1980: 55)

Clarke (1980) pondera que, no nascimento do homem, nos primórdios dos seus

descobrimentos, a sua consciência ajudou a diferenciar- se, favorecendo as suas

relações necessárias com o mundo exterior, através da mão, criadora de gestos e de

utensílios. “É bem certo que se pode pensar sem linguagem. A comunicação e a

criatividade podem estabelecer-se fora dela” (Clarke 1980: 55).

Observa-se então, que, embora os gestos não sejam todos universais, há

gestos disseminados em todas as culturas e que levam a um mesmo significado.

32

Apontar o dedo indicador a uma pessoa é um deles. “Quando você aponta um dedo

acusador a alguém, está a usar um dos gestos mais antigos do mundo, o mesmo que

os antepassados das cavernas faziam quando brandiam uma arma face ao acusador.”

(Pierson 1991-1995: 62) Outro que também se disseminou foi o ato de estender a

mão, entretanto não surgiu como intuito de cumprimentar, mas antes uma defesa.

“estender a mão direita era demonstrar que não se empunhava uma arma de ataque”

(Melo apud Rector & Trinta 1985:72).

Segundo Poyatos, o gesto “é um movimento corporal consciente ou

inconscientemente feito pela cabeça, pelo rosto ou pelos membros do corpo, servindo

como instrumento comunicacional, dependente ou não da linguagem verbal

modificando-se conforme o contexto condicionante” (Poyatos apud Rector &

Trinta1985: 96). De acordo com Davis (1979), a gesticulação transmite uma porção de

coisas. Ela funciona como pista para as tensões de um indivíduo; ela pode dizer da

origem étnica de alguém, assim como se transformar, também, na expressão direta de

um estilo pessoal. Os gestos fazem parte da nossa rotina e a todo o momento,

emitimos, através deles, sinais de encorajamento, apoio, inibição, superioridade,

adoração, afirmação ou negação, agressividade, afeto, afirmação, agitação,

agressividade, alegria, desapontamento, desespero, dominação. Os emitimos até

mesmo de maneira inconsciente, por automatismo, não deixando de comunicar por

isso.

Erguemos uma sobrancelha em sinal de descrédito. Esfregamos o nariz quando ficamos confusos. Cruzamos os braços para nos isolar ou nos proteger. Levantamos os ombros com indiferença, piscamos um olho com intimidade, tamborilamos os dedos com impaciência ou batemos na testa por causa de um esquecimento (Robbins 2004: 124).

Segundo Rector & Trinta (1985), o comportamento corporal e os gestos

representam, também, uma série de condicionamentos. Há quatro elementos

condicionantes básicos: o biológico/psicológico, o ecológico, a convivência e os

padrões culturais. Estes elementos contribuem para estruturar o comportamento

humano. No entanto a forma do ser humano agir vai depender em última análise do

contexto. Há aí uma ritualização de condições pela qual esse indivíduo participa desde

a infância, tais como cumprimentos, parabéns e pêsames. Logo, a classificação social

deste passa a depender de seu comportamento que é embasado na assimilação das

atitudes impostas pela sociedade, de acordo com as situações, rituais e mesmo certos

hábitos costumeiros.

33

Rego (1999), sobre a importância dos gestos, diz que representam uma

linguagem visual/corporal que transmite significados. “Os gestos ajudam as pessoas a

exprimirem-se, podendo mesmo substituir as palavras” (Rego 1999: 79).

Os gestos informam e influenciam.

As emoções também são transmitidas e compartilhadas, quando não tateadas, de forma não verbal. Na lentidão de seus gestos e na sua postura, uma pessoa revela seu desânimo; pela extrema extensão do seu corpo, a outra deixa transparecer o medo” (Davis 1979:180).

Pelos gestos podemos transmitir informações e estabelecer laços, sem recorrer

à linguagem. Montagner (apud Clarke: 1980) coloca em evidência alguns

comportamentos gestuais como inclinar a cabeça estendendo a mão, um gesto que

desencadeia quase sempre à dádiva, oferecer algo. “Também levantar a mão

bruscamente leva à submissão dos demais, se isto for realizado por aquele que, na

pequena sociedade constituída, é um dominante líder” (Montagner apud Clarke 1980:

55). O punho cerrado pode revelar ansiedade/ preocupação; olhar para o relógio pode

significar impaciência. Tocar a outra pessoa no braço ou nas costas tende a significar

sinceridade. Esfregar a nuca com a palma da mão, ou passar os dedos através do

cabelo, podem revelar frustação/ irritação. Já esfregar os dedos, polegar e indicador,

parece constituir alusão quase universal ao dinheiro.

Os gestos não são universais, não todos. Grande número dos nossos gestos,

mesmo que provocados pelas nossas emoções, foram- nos ditados pela nossa cultura.

“Até o sorriso, que nos parece mais universal, é posto em causa por este japonês que

se inclina à nossa frente a sorrir: longe de exprimir o seu contentamento, é a sua

desaprovação delicada que ele quer nos exprimir” (Pierson 1991-1995: 62). O gesto é

sensível à cultura, logo, mesmo para um gesto universalmente conhecido, como

menear a cabeça, não há uma tradução única. “Negativa e afirmativa, meneios de

cabeça em sentido vertical ou horizontal, têm significado não raro inverso para

europeus e ocidentais” (Cascudo apud Retor & Trinta1985: 71). Outro exemplo é o ato

de colocar a língua para fora da boca, na Europa é um insulto, já em algumas regiões

da Índia e no Tibete, configura-se num gesto de boas-vindas. Um gesto pode ser

interpretado de várias maneiras. Em culturas diferentes, há significados diferentes. Ele

pode ter mais de um significado, o que pode desencadear equívocos e má

interpretação, ou seja, a mensagem emitida não será bem sucedida. “Na maior parte

do mundo, acenar com a cabeça, para frente e para trás, significa concordância, o

oposto acontece com o aceno lateral. Mas, nalgumas partes da Índia, a interpretação é

a inversa” (Rego1999: 64). O desconhecimento da linguagem não verbal de

34

determinada cultura, coloca em risco a intenção de comunicar, afinal não seremos

bem interpretados, a nossa intenção não será compreendida, e, com grande

facilidade, estaremos gerando um mal estar junto ao recetor. Logo “quer o emissor,

quer o recetor, devem ter atenção aos sinais não verbais, bem como os contextos

sócio econômicos, culturais e econômicos em que são utilizados” (Loureiro 2013: 5).

Os significados sociais dos movimentos corporais, por exemplo, a mão na

cabeça, algumas vezes são fáceis de identificar, tanto nos adultos como nas crianças,

porque o movimento obviamente cumpre uma função: cobrimos os olhos quando não

queremos ver algo, cobrimos a boca quando temos “medo de falar”, não podemos

falar (é segredo) ou quando queremos “esconder um sorriso”, por ele ser inapropriado

ao momento, por exemplo. Neste sentido, segundo Davis (1979), existem gestos que

possuem variados significados que podem configurar numa simples ação de cuidado

com corpo, ou também como manifestação do próprio corpo, que tenciona comunicar,

às vezes até inconscientemente, entretanto, não há um único significado para esses

gestos, não em culturas diferentes. Exemplo disso é o ato de passar os dedos pelo

cabelo, coçar a cabeça, o nariz, o queixo- ou a barba se for o caso- que pode estar

relacionado com o cuidado com o corpo, mas na verdade ocorre quando estamos

indecisos ou incertos. Para os especialistas norte-americanos, a ação de coçar o nariz

sempre acontece quando a pessoa reage negativamente. Eles demonstraram que o

gesto de arrumar os cabelos acontece em situação de namoro. Já para os etologistas

britânicos, o ato de arrumar os cabelos está relacionado à indecisão. Eles acham que

passar os dedos entre os cabelos, por exemplo, acontece num momento de equilíbrio,

quando a pessoa encontra- se indecisa. Coçar a cabeça, no entanto, parece

demonstrar mais frustação que indecisão.

Para Rector & Trinta (1985), o critério mais comumente usado para a divisão

dos gestos tem sido o de caracterização de suas intenções funcionais: negativas,

afirmativas, normativas (ordens e convites) e religiosas (submissão, vênia, adoração,

respeito), de resto uma origem provável de gestos de saudação. Há ainda acenos

orientadores que servem a especializações profissionais. A adaptação necessária das

possibilidades anatômicas para a expressão gestual de variadas formas de interação

social pode explicar a sua multiplicidade.

Gestos populares Piscar o olho direito a uma mulher em

que se tem interesse.

Gestos nervosos Balançar as pernas, tamborilar os dedos,

passar as mãos nos cabelos, roer unhas.

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Gestos históricos

O sinal de V (de vitória), um gesto com a mão em que o dedo indicador e o médio são levantados e separados, enquanto que os outros dedos permanecem cerrados. Ele foi muito usado pelo ex- primeiro- ministro britânico Winston Churchill, em 1943, e desde então difundido.

Gesto de ironia São dirigidos a uma classe ou grupo

étnico. É o caso de Far le Còrna, um sinal

de desprezo entre os Italianos (ou um

insulto feito a eles), que se obtém pelo

alongamento dos dedos indicador e

médio em forma de tesoura.

Gestos técnicos

Gesto da continência militar, que é dos

mais usados em toda parte.

Gestos de revolta

Esmurrar alguém.

Gestos secretos Membros de sociedades secretas, como

a maçonaria, por exemplo. Os membros

da maçonaria comunicam-se por meio de

sinais ou, mesmo sem se conhecerem

pessoalmente, trocando saudações e

indicando suas posições na hierarquia.

Tabela 2: Tipologia de Gestos

Fonte: Rector & Trinta (1985)

Há ainda gestos que servem para indicar nossa hierarquia na escala social,

numa demonstração do nível de dominância, status social e/ou poder, como os gestos

de continência dos militares frente aos seus superiores, gestos dirigidos aos membros

da realeza britânica, a chefes de estado ou a líderes espirituais e chefes de igreja,

como o papa, aquele que está no primeiro nível hierárquico da religião Católica.

Por fim, apontamos também os gestos que realizamos, mas que falham em seu

objetivo, e a sua intenção é fracassada. Segundo Rector & Trinta (1985), isso

acontece porque submergimos no plano da intensidade do esforço. É o caso do

sorriso amarelo ou constrangido ao tirarmos fotografia. Tentamos exprimir uma

36

imagem simpática, mas como não é espontâneo, transmitimos qualquer outra

mensagem, menos simpatia.

Os gestos, assim como toda linguagem corporal, denunciam-nos sem que

saibamos e revelam o que as nossas palavras são contidas de expressar. “Nenhum

mortal pode guardar um segredo, se os lábios estiverem silenciosos, serão os dedos

que falarão.” (Freud apud Pierson 1991-1995: 5).

3.1.1.1.1 Emblema

Encontramos ainda os emblemas, que são ilustrados e adaptados via gestos,

mas que têm o seu significado, seja numa cultura, seja universalmente. Trata-se, de

“um movimento corporal que possui um significado preestabelecido” (Davis 1979: 87).

Segundo Knapp (1980), os emblemas são gestos aprendidos juntamente com uma

cultura especifica. São ensinados especificamente, assim como a linguagem verbal.

Como emblemas conhecidos e compartilhados por culturas diversas, citamos, por

exemplo, o dedo polegar levantado para pedir carona ou o ato de passar o dedo

indicador pela garganta, remetendo a ideia de morte. Os emblemas podem ser

definidos como “palavras gestuais”, entretanto não se equivalem a palavras, pois não

seriam traduzidos numa única palavra. Assim, a negação feita pelo gesto de sacudir a

cabeça de um lado para o outro, não precisa ser traduzida por “não’, pois o movimento

realizado pode significar também “não continue”, “não faça isto” ou “não aprovo”. O

dedo indicador colocado verticalmente sobre os lábios para indicar silêncio, em

palavra seria traduzido como “fique quieto” ou “não fale nada”, é também um caso

típico de emblema ou gesto emblemático. Os emblemas são sustentados através de

várias partes do corpo, como as mãos, braços e através de movimentos dos músculos

faciais, movimentos da cabeça ou a interação de todos. Segundo Ekman (apud

Magalhães: 2011) há emblemas que são universais, como “sono” ou “dormir” que é

ilustrado pela cabeça inclinada e o rosto aninhado na palma das mãos e a “barriga

cheia”, representado pela mão que esfrega ou dá tapinhas na barriga.

Às vezes, culturas diferentes usam o mesmo emblema, mas com um

significado diferente. No Brasil, por exemplo, o ato de unir o dedo indicador e o polegar

em formato de circulo, é um gesto obsceno enquanto que em Portugal este gesto

signifique “ok” ou “tudo bem”. Assim, devemos levar em consideração que cada cultura

tem também seu repertório de emblemas.

37

Rector & Trinta (1985) classificam os gestos em quatro tipos: ilustradores,

reguladores, manifestações afetivas e adaptadores.

Gestos Ilustradores São movimentos que

acentuam ou enfatizam

uma frase. Gestos

socialmente aprendidos

por imitação, que variam

de acordo com a etnia,

diferenças culturais e de

classe.

Apontar para um objeto

ou fazer um movimento

corporal enquanto fala

verbalmente sobre isso.

Gestos Reguladores São atos não verbais que

mantém e regulam a

natureza da fala e da

escuta entre dois ou mais

integrantes. Sugerem ao

emissor que continue,

repita, elabore, apresse-

se, torne-se mais

interessante, dê ao outro a

oportunidade de falar.

Consistem principalmente

em meneios da cabeça e

movimento dos olhos,

havendo, provavelmente,

diferenças culturais e de

classe no seu uso.

Manifestações Afetivas São simples configurações

faciais que manifestam

estados afetivos. Podem

repetir, aumentar,

contradizer ou não se

relacionar com asserções

afetivas verbais. Seu

manifesto pode ser

consciente ou inconsciente

Uma família norte-

americana que, ao mudar-

se para Hong- Kong,

percebeu que o riso é

comum quando alguém

está envergonhado, o que

faz que com ria até em

momentos de tristeza.

Gestos adaptadores São comportamentos não

verbais difíceis de serem

definidos e que envolvem

especulação. São

adaptadores porque se

São exemplos disso, olhar,

sorriso, os gestos de

chamamento, de ameaça,

etc.

38

julga que, na infância, são

desenvolvidos como

esforços de adaptação

para satisfazer

necessidades, praticar

ações, manejar emoções,

desenvolver contatos

sociais, etc.

Tabela 3: Especificações dos Gestos

Rector & Trinta (1985)

3.1.1.1.2 Movimentos corporais

A linguagem corporal é regida por diversos movimentos corporais, que

envolvem, nomeadamente, a cabeça, braços, mãos, pernas. São usados no nosso dia

a dia como suporte para atitudes que tencionamos comunicar, sem que usemos

necessariamente a palavra. Até mesmo porque há certas atitudes impossíveis de

serem transmitidas de maneira verbal. O cumprimento é um exemplo. “Dar as mãos,

acenar, abraçar, beijar no rosto e/ou nas mãos; dar tapinhas nas costas” (Rector &

Trinta 1985: 49), são rituais que se realizam por força de rotina, um ato celebrado por

convenções culturais, através do qual se manifesta respeito e apreço em relação a

alguém. O cumprimento ocorre em ocasiões sociais e indica graus de relacionamento.

O aperto de mão, por exemplo, marca o início e fim de uma atividade, às vezes

indicando que a reunião ou a conversa termina acordada. Segundo Rector & Trinta

(1985), o aperto de mão contém, na ação inicial, tanto o pedido de acesso ao outro,

como a oferta de si mesmo. Portanto, há um intercâmbio que, às vezes, não é bem

sucedido, quando, por exemplo, estende-se a mão apenas se tocando a do outro sem

aperta-la, é o que acontece a políticos quando cumprimentam eleitores numa multidão.

Por fim, na análise do cumprimento, segundo Rector & Trinta (1985), deve-se levar em

consideração seus elementos constitutivos, nomeadamente a orientação (o rosto, os

olhos ou a cabeça), um leve movimento de sobrancelha (reconhecimento) e a

saudação em si (verbalizada ou não).

39

Segundo Argyle (1988), os sinais não verbais variam de acordo com a

configuração social particular dentro de uma cultura. O significado de tocar outra

pessoa é diferente se essa pessoa é a esposa, a mulher de alguém, um completo

estranho, um paciente, outra pessoa num elevador lotado e assim por diante. O

significado de um sinal não verbal depende também da sua posição no tempo e sua

relação para outros sinais. Um tapa nas costas pode ser percebido como cordiais

felicitações ou como uma agressão física, dependendo do que tenha tomado de

antemão.

Os movimentos corporais são capazes de desmentir uma afirmação, quando

desconexos. Se uma pessoa diz que tem disponibilidade para ouvir um relato, e olha a

todo instante para o relógio, seus movimentos apontam ali uma pressa. “Uma pessoa

que olha para o relógio com frequência está enviando uma mensagem de que gostaria

de encerrar a conversa” (Robbins 2004: 124). Da mesma forma acontece quando um

aluno pede explicações à professora, e começa a mexer no telemóvel ou folear um

livro, o que demonstra não ter nenhum interesse à explicação. Os movimentos

corporais são tão reveladores que dispensam palavras para serem decodificados.

Demonstramos atenção, civismo, desinteresse, distanciamento, dor, empolgação,

respeito, perturbação ou pressa, apenas usando os membros do nosso corpo. Isso

também pode ser inconscientemente. Tocamos o pescoço quando estamos

desconfortáveis, seja com uma conversa ou presenciando uma situação

constrangedora; ou até mesmo quando estamos perturbados interiormente,

preocupados ou angustiados, por exemplo.

Os movimentos corporais também são capazes de revelar a nossa

personalidade ou estado. Se somos ou estamos ansiosos, informamos isso roendo as

unhas, caminhando em círculos, tamborilando os dedos em cima de uma mesa.

Tomemos como exemplo dois famosos jogadores de futebol: o português Cristiano

Ronaldo e o argentino Lionel Messi. Eles têm em comum uma grande habilidade

enquanto jogadores e colecionam vários títulos de reconhecimento por isso. Ambos

também são capitães das seleções de futebol dos seus respectivos países. Fora isso,

eles apresentam uma dicotomia na personalidade e isso é comunicado aos

observadores, através de movimentos corporais. Demonstram claramente uma

personalidade de liderança e domínio da situação, e também frustação. Cristiano

Ronaldo, quando perde uma partida de futebol, sai do gramado com o queixo erguido,

ele é líder, e, enquanto capitão da Seleção Portuguesa de Futebol, motiva os demais

jogadores e também adeptos a não “abaixarem a cabeça”. Já o Messi, que é capitão

da Seleção de Futebol Argentina, sai de cabeça baixa, demonstrando frustação pela

40

derrota, revelando uma personalidade despreparada para as adversidades de uma

partida de futebol. A cabeça baixa demonstra submissão, o queixo erguido demonstra

poder, coragem ou arrogância.

3.1.1.1.3 Expressões Faciais

Abordando o rosto enquanto transmissor de emoções, observamos que as

expressões faciais traduzem informações que a expressão verbal pode querer omitir,

mas que, às vezes, foge ao seu domínio (ficamos pálidos de susto, ruborizamos de

vergonha, por exemplo). Elas exprimem mensagens e sentimentos, sendo inúmeras.

Podemos citar algumas onde, provavelmente, todos já testemunharam e/ou

identificaram, apenas observando os movimentos do rosto do seu interlocutor. São

exemplos, o abalo, agitação, agressividade, agonia, alegria, angustia, arrogância,

chateação, comoção, derrota, dúvida, desafeição, embaraço, empolgação,

entusiasmo, espanto, estarrecimento, exaustão, fascínio, inferioridade, irritação,

isolamento, mal- humor, bom- humor, medo, orgulho, nojo, perturbação, prazer,

preocupação, revolta, sarcasmo, sem-graceza, sensualidade, serenidade, simpatia,

sofrimento, superioridade, surpresa, tédio, timidez, tranquilidade, valentia, volúpia,

vulnerabilidade, cumplicidade, desconfiança. Estes são alguns dos sentimentos que

podem ser reprimidos por palavras, mas que, muitas vezes, fogem ao domínio e são

exprimidos pela linguagem corpo, de maneira consciente ou não.

Se andarmos pelas ruas, a observar a expressão facial das pessoas, somos

capazes de captar algumas coisas sobre o estado emocional em que elas se

encontram. Cito aqui um exemplo curioso, que observamos em duas famosas ruas da

cidade de São Paulo: a Avenida Paulista e a Rua Oscar Freire. A Avenida Paulista,

localizada no centro de uma das cidades mais populosas do mundo, é considerada um

dos principais centros financeiros da cidade, sendo sede de muitas empresas, bancos,

hotéis, hospitais e instituições públicas. Por isso movimentam-se diariamente pela

avenida, milhares de pessoas que ali vão trabalhar, estudar ou tratar de negócios. Já a

Oscar Freire, que fica há poucos minutos dali, é uma rua reconhecida como um dos

pontos de comércio mais elegantes da cidade e é considerada a 8º rua mais elegante

do mundo pela Mystery Shopping International. Algo curioso observa-se no rosto das

pessoas que caminham por estas duas ruas. Grande parte das pessoas observadas

que caminhavam pelo Paulista, carregavam uma ruga na testa, o que segundo os

estudiosos, é um claro sinal de tensão e preocupação. Já na Oscar Freire, as pessoas

41

que ali caminhavam, e foi possível observar-lhes o rosto, grande parte delas

apresentava uma expressão tranquila e pode-se dizer que mais alegre, afinal além de

ser uma rua enfeitada por belas montras, algumas dessas pessoas passavam por ali

para comprar, o que pode lhes dar certo prazer.

Segundo Magalhães (1966) Paul Ekman, um importante psicólogo da área da

comunicação não verbal, acredita que há um tipo de vocabulário facial, o que ele

denominou de FAST (Facial Affect Scoring Technique), onde se valendo de fotografias

faciais e não de descrições verbais, cataloga as expressões faciais a partir de três

áreas: testa e sobrancelha; os olhos; e o resto do rosto: nariz, bochechas, boca e

queixo. De acordo com Magalhães (1966), Ekman afirma que há gestos universais.

Que no mundo inteiro, as pessoas riem quando felizes ou querem mostrar-se

contentes e que enrugam a testa quando estão bravas ou querem parecer bravas.

“Esta opinião, todavia, é da maioria. A maioria dos cientistas do setor acha que

algumas expressões, pelo menos, são universais” (Davis 1979: 61). A prova mais

citada por aqueles que acreditam nessas expressões universais é o estudo realizado a

cerca de crianças cegas de nascença. De acordo com Davis (1979) descobriu-se, que

todos os bebés externam um sorriso social por volta das cinco semanas, até mesmo

os cegos, isto é, aqueles que não podem imitar quem os rodeia. As crianças cegas

riem, choram, fazem beicinho e adotam as expressões típicas de raiva, medo e

tristeza. Birdwhistell (apud Fast: 1970) discorda que as expressões faciais sejam

universais. Ele argumenta que certas expressões similares do ponto de vista

anatômico, podem ocorrer em certas pessoas, mas o significado que se lhes empresta

varia de cultura para cultura. Há de se concordar então que, certas características

apresentadas pelo rosto, mas que comunicam na mesma, não têm necessariamente

um único significado, daí a obrigação de, antes e acima de tudo, perceber o contexto

em que se revelam. Pele húmida, pálida ou corada, pode indicar calor, anemia ou

fome, mas também pode indicar alterações emocionais causadas por um embaraço,

por exemplo.

Segundo Argyle (1988), as expressões faciais, que podem ser motivadas ou

espontâneas, são também capazes de gerar um conflito, confundindo a sua

descodificação. Isso ocorre quando não há sintonia entre a cinésica e a

paralinguagem, por exemplo, rosto amigável e voz hostil.

Sobre discurso, Rego (1999) aconselha recomenda o bom uso da expressão

facial, a fim de cativar e envolver o público. Segundo ele, o sorriso genuíno, não

aquele forçado, o tal “sorriso amarelo”, é o “carro chefe” para o sucesso numa

42

apresentação. “O sorriso transmite que a sua postura é amigável e está feliz por

partilhar algo com a audiência. Além disso, contribui para o seu relaxe e o da plateia”

(Rego 1999: 91).

Rego (1999) faz ainda uma ressalva sobre o sorriso, pois se, durante um

discurso, o locutor mantiver o riso permanentemente, correrá o risco de parecer

artificial ou de mostrar que quer esconder seu nervosismo. “Rir sempre não é muito

diferente de nunca rir. É preferível a circunspecção genuína ao sorriso artificial, o que

pode ocorrer, por exemplo, se a pessoa sorri com regularidade, mas corta o sorriso

bruscamente” (Rego 1999:91).

Diante das observações acima, uma coisa é certa, as expressões faciais

carregam sempre uma mensagem, e são capazes de atrair ou afastar um individuo.

Uma expressão carregada transmite algo diferente de uma expressão risonha. As

expressões faciais, ao lado das entonações de voz, podem mostrar arrogância,

agressividade, medo, timidez, amabilidade, doçura e outras características que nunca

seriam comunicadas caso, por exemplo, estivéssemos lendo ao invés de assistindo

um discurso.

3.1.1.1.3 Olhar

“Quem não compreende um olhar, tampouco compreende uma longa explicação.”

(Provérbio Árabe)

Não é à toa que existe a expressão “os olhos são o espelho da alma”. Os olhos

constituem o ponto mais importante da comunicação facial e o foco mais expressivo

da face. “Os olhos passam em geral por ser a maior fonte de informação que o homem

possui” (Hall 1966: 80). Eles comunicam docilidade, fuga, encantamento,

arrependimento ou culpa, interesse, pavor. “É no rosto humano- sobretudo no olhar-

que se situa a 1ª fonte de comunicação não verbal, entre outros motivos pelo número

e complexidade dos músculos que aí se situam” (Ellis e Battie apud Santos 2011: 59).

Segundo Hall (1966) por mais importante que seja a função de coletores de

informação, não devemos ignorar o papel informativo que os olhos possuem. “Um

olhar pode também punir, encorajar, ou estabelecer uma dominação. A própria

dimensão assumida pelas pupilas é suscetível de traduzir o interesse ou repulsa” (Hall

1966: 80). O olhar também pode ser usado como uma forma de cumprimento.

43

Dependendo como olhamos para os outros, a duração desse olhar e a sua

intensidade, revelamos a relação existente, ou que pretendemos criar com o individuo

em questão. “O olhar é uma das formas de comunicação não verbal mais reveladora

que existe” (Santos 2011: 60), da mesma maneira, a ausência de contato visual, é

claramente capaz de comunicar desinteresse. Quando estamos numa palestra e nem

o palestrante nem o conteúdo abordado não nos chama atenção, revelamos esse

desinteresse, mesmo que sem querer, olhando para os lados, mexendo no telemóvel,

falando com outra pessoa.

O olhar e, sobretudo, a sua direção, desempenha um papel básico na iniciação

e manutenção de encontros sociais. Uma vez estabelecido, o contato visual pode

significar vontade de interagir e não só,

o olhar também pode indicar aversão, sobretudo em três ocasiões especificas: o olhar lateral (virando a cabeça completamente para o lado); olhar lateral (virando a cabeça ligeiramente para um lado, e movendo os olhos para um lado);e olhar para baixo (abaixando a cabeça ou os olhos, verticalmente) (Givens apud Rector & Trinta 1985: 47).

Dentre as tantas funções dadas ao olhar, a ele pode ser atribuído também à

recusa de comunicar, pois ao deixar de olhar, posso comunicar que prefiro o silêncio.

Ele também pode ser um chamado à comunicação dando a entender ali se quer

estabelecer uma conversa. “(...) Quando mantemos o contato visual com os outros,

estamos expressando a nossa abertura para com eles” (Rego 1999: 90). Quando

olhamos para o garçom que está a passar ou vem a nossa direção, certamente já lhe

adiantamos a mensagem de que queremos reclamar algo, seja a conta, seja mais uma

bebida, ou dizer que o prato não satisfez ao pedido. Quando não queremos

cumprimentar alguém que vem ao nosso encontro, optamos por abaixar o olhar, mas,

se for ao contrário, nossos olhos preanunciam uma recepção. Olhar também pode ser

interpretado de várias maneiras. Um olhar desviado, para baixo, para os cantos

demonstra um interesse disfarçado. Um piscar de olhos significa chamado à

cumplicidade ou comunica que tudo está bem, no controle.

Os olhos estão fixos, mas a forma de olharmos dará o significado (dominância ou submissão; agressividade ou medo). Uma variação mais sútil e menos visível é a dilatação ou contração da pupila, indicando mudança no estado de espírito (sinal da pupila) (Rector & trinta 1985: 79).

Os olhos representam então o ponto mais importante da comunicação facial e

o foco mais expressivo da face. Docilidade, fuga, encantamento, arrependimento ou

culpa, interesse, pavor. Nenhuma informação foge à inexpressão do olhar. Essa

44

afirmação é popularmente conhecida por outras palavras: “os olhos são o espelho da

alma”, pois são transparentes e verdadeiros, também difíceis de exprimirem uma

informação manipulada, “um olhar sorridente comunica coisas diferentes de um olhar

sisudo e triste” (Rego 1999: 60).

3.1.1.1.4 Posturas

Sendo o corpo um meio de expressão, em movimento ele exprime aspetos

comunicativos. A postura que adotamos comunica ao nosso respeito e a respeito das

nossas intenções. “A postura não é apenas um índice de caráter, mas uma expressão

de atitude também” (Davis 1979: 102). Isso é analisável na postura de quem está

numa conversa em um café, quem assiste a uma palestra, quem está no ginásio ou na

sala de aula, tanto o professor perante os alunos, quanto os alunos perante o

professor. De acordo com Poyatos (apud Rector & Trinta 1985: 96) a postura é uma

“posição” consciente ou inconsciente do corpo, modificada pelas normas sociais e pelo

contexto condicionante e usada secundariamente como instrumento comunicacional,

apesar de poder revelar a experiência cultural, estados afetivos, condição

socioeconômica, além de características pessoais. Exemplos disso são os passos, a

posição de descanso, o juntar as mãos atrás (nas costas) ao andar, a maneira de

segurar o cigarro, etc.

A postura dos jogadores de futebol, a postura do treinador, a postura da

torcida, a postura dos políticos em discursos; todos eles emitem sinais de empolgação,

cansaço, desespero, surpresa, motivação, impaciência, vibração (na vitória),

ansiedade e cobrança. Em algumas ocasiões, esses sinais são emitidos de maneira

inconsciente, noutros é de maneira voluntária ou proposital que eles saem. Um

treinador de futebol, por exemplo, vale-se da comunicação não verbal para motivar,

cobrar, aprovar, reprovar e orientar sua equipe em campo. É comum observarmos a

sua linguagem corporal, comunicada pela postura que leva, sendo descrita pelos

comentadores.

45

3.1.2 Paralinguagem

Por paraliguagem entende-se toda atividade comunicativa não verbal que

acompanha o comportamento verbal numa conversa. “Não se trata de fenômenos

idiossincráticos e individuais, pois são determinados culturalmente e diferem de um

grupo social a outro” (Rector & Trinta 1985: 50). Poyatos (apud Rector&Trinta 1985:

51) definiu a paraliguagem como sendo o conjunto de qualidades não verbais da voz,

os modificadores e os sons produzidos ou condicionados nas áreas cobertas pelas

cavidades supraglóticas (dos lábios e narinas à faringe), a cavidade laríngea e as

cavidades infraglóticas, assim como os músculos abdominais, que usamos consciente

ou inconscientemente, sustentando ou contradizendo as mensagens linguísticas,

cinésica e proxêmica, quer de forma simultânea, quer alternadamente. “A voz é uma

das peças fundamentais na eficácia de qualquer orador”(Rego 1999: 91), através da

voz de uma pessoa, podemos reconhecer inúmeras informações acerca do seu estado

de espírito, se o individuo está tenso, relaxado, calmo.

A comunicação não verbal pode contradizer a comunicação verbal, quando se

tem uma negação ruidosa ou intencional daquilo que está sendo dito.

uma negação ruidosa pode ocorrer numa situação jocosa, especialmente para exprimir sarcasmo ou ironia: “ótimo”, quando queremos dizer o oposto. “é uma boa” quando na realidade é algo ruim. A mensagem verbal é interpretada como sendo sarcástica. A mensagem não verbal, através da paralinguagem, transmite aqui o verdadeiro conteúdo comunicado (Rector & Trinta 1985: 44)

A comunicação não verbal também vem para regular a dicotomia entre

discurso e intenção. Se a esposa ameaça ao marido, depois de uma pequena

discussão: “vou te deixar e vou embora dessa casa!”, o seu tom calmo ameniza a

ameaça feita ao esposo. Geralmente o tom de voz pode desmentir o verbal. Por

exemplo, estou calma, com voz alterada. Estou com raiva, com voz mansa. Nosso tom

de voz, durante uma frase, tem o poder de acalmar ou apavorar um individuo, ainda

que não seja a intenção das palavras, nem é tanto pelo que se diz, mas como é dito. A

entonação pode alterar o sentido de uma mensagem. Imaginemos um filho fazendo

uma pergunta embaraçosa à mãe. Essa, atordoada com o questionamento e sem

saber como responder, apenas diz: “pra que você quer saber disso?!” A reação do

filho será diferente dependendo da entonação e da ênfase usada na resposta da mãe.

“Um tom suave e gentil gera um significado diferente de uma entonação ríspida com

ênfase na última palavra” (Robbins 2004: 124).

46

Segundo Rector & Trinta (1985), a paralinguagem remete a uma série de

ocorrências na linguagem, mas que não fazem parte da língua. Citam como exemplo,

as variações de altura e intensidade da voz não previstas no sistema de entonação; as

pausas, tanto as não preenchidas (silêncio), com as preenchidas (humm, etc); os sons

que não fazem parte da língua como riso e o suspiro; e outras qualidades da

linguagem articulada, tal como a ressonância. A paraliguagem também é uma questão

a ser considerada de acordo com cada cultura. Tom de voz, timbre, volume e

entoação variam e não somente dado o contexto.

“Para os ingleses, falar alto demais é uma forma de intrusão, um sinal de má educação, o índice de um comportamento social inferior. Em contrapartida, num contexto americano, o modo inglês de modular a voz será entendido como um tom de conspiração e classificado como incómodo” (Hall 1966: 162).

As características sonoras podem influenciar nos significados de um discurso.

A intensidade, volume, velocidade, pausas, são alguns exemplos do que devemos ater

ao falar, pois se não tiver em consonância com a nossa retórica, o discurso poderá

não influenciar. “Evite o som estridente (significa, muitas vezes, nervosismo), assim

como o excessivamente baixo. O tom mais adequado tende a ser o que, além de

calmo, é firme e se consegue ouvir no fundo da sala” (Rego 1999: 91).

Rego (1999) também recomenda variar o tom de acordo com o momento do discurso

e a importância dos temas sobre os quais vai discorrendo, assim evita-se um discurso

monocórdio. “A ênfase de um dado assunto tanto pode ser alcançada com uma

elevação na voz como através de um abaixamento do tom (que pode gerar algum

suspense)” (Rego 1999: 91).

3.1.3 Proxémica

O termo proxêmica é um neologismo criado pelo antropólogo Edward T. Hall

(1966) para “designar o conjunto das observações e teorias referentes ao uso que o

homem faz do espaço enquanto produto cultural especifico” (Hall 1966: 11). Segundo

Hall (1966) tudo o que o homem faz e é, está ligado à experiência do espaço. “O

nosso sentimento de espaço resulta, em síntese, de numerosos dados sensoriais de

ordem visual, auditiva, quinestésica (tato), olfativa e térmica” (Hall 1966: 205).

A Proxêmica estuda o significado social do espaço. A distância em que nos

colocamos com relação ao nosso interlocutor e o tempo que demoramos em receber a

47

mensagem e em respondê-la. Poyatos (apud Rector & Trinta 1985) define a proxémica

como a conceituação, estruturação e uso humano do espaço, abrangendo desde o

ambiente natural ou construído, até distâncias consciente ou inconscientemente

mantidas na interação pessoal.

A perceção de distância e proximidade é o resultado dos sistemas receptores

visual, auditivo e olfativo. As relações de proximidade e afastamento são

institucionalizadas na medida em que cada indivíduo preserva sua integridade física

ao configurar sua própria utilização do espaço. “A proxêmica é percebida pelo fato e

pelo olfato, e também cinesteticamente (movimento e repouso do espaço)” (Rector &

Trinta 1985: 59). Cada tipo de relacionamento humano requer certa distância, pois o

homem faz uso deste espaço, numa elaboração cultural.

O homem, como qualquer outro animal, toma posse e defende certo tipo de espaço físico. Este espaço físico não é, todavia, exclusivo, mas aberto a outros indivíduos, de acordo com o relacionamento existente entre eventuais interagentes (Rector & Trinta 1985: 62).

Assim como os gestos e a paralinguagem, o uso do espaço pelo homem,

nomeadamente a proxémica, varia de acordo com a sua cultura e se não estarmos

atentos a isso, falhas na nossa intenção comunicativa poderão surgir. “Indivíduos

saídos de moldes culturais diferentes podem muitas vezes enganar-se quando

interpretam o comportamento dos outros através das relações sociais destes, do seu

tipo de atividade ou emoções aparentes” (Hall 1966: 2015).

O homem ocidental, aponta Hall (1966), organizou suas atividades e relações

sociais segundo um conjunto de distâncias determinadas, ao qual acrescentou depois

as noções de personagem público de relações públicas. As relações e os

comportamentos públicos dos americanos e dos europeus, por exemplo, são

diferentes dos praticados noutros lugares do mundo. Assim, para os primeiros, é

implicitamente obrigatório tratar os estrangeiros segundo certos modos determinados.

As variadas culturas organizam o espaço de maneira diferente, tomando por

base a noção de território, o que lhe pertence, o que pertence ao outro individuo e o

que é compartilhado por todos. “Além das distâncias estabelecidas no espaço,

devemos considerar também as nossas relações ao próprio espaço: a maneira como

nos movemos dentro dele, e como fazemos em consonância com o outro, outros”

(Santos 2011: 59).

De acordo com Hall (1966), o ser humano, assim como as aves e mamíferos,

observa distâncias uniformes nas relações que mantém com os seus semelhantes. O

48

espaço e o tempo no seio da comunicação influência a maneira de estar numa

relação. Você não comunica da mesma forma se estiver perto ou longe do interlocutor,

ao lado dele ou à frente dele, se for diferente ou não. Numa relação interpessoal, as

distâncias adotadas podem demonstrar informações sobre estas pessoas. As pessoas

mais tímidas, por exemplo, tendem a ficar mais distantes enquanto as mais

extrovertidas aproximam-se mais, até porque muitas delas costumam tocar o

interlocutor enquanto falam.

As relações de espaço tem relação afetiva, familiar, profissional, em suma

“todas as relações entre as pessoas, bem como todas as comunicações que se

refletem ao mesmo tempo, são o reflexo da proxémica” (Santos 2011: 56). Neste

âmbito ainda devemos levar em consideração as questões de submissão e autoridade,

estabelecidas por várias formas de hierarquia. Essa relação também é cultural,

podendo variar de sociedade para sociedade, dependendo do espaço territorial e até

do número populacional. Se nessa sociedade o número populacional for excedente, as

relações de espaço poderão sofrer negligencias.

Hall (1966) então desenvolve quatro categorias principais de relações

interindividuais e as nomeia de distância íntima, pessoal, social e pública. Essas

distâncias propostas estão relacionadas no quadro abaixo, bem como as atividades e

espaços que as ligam.

Distância Relação da Distância Descrição

Distância Íntima

(modo próximo)

Distância do ato sexual e

da luta, reconforto e

proteção.

O emprego dos recetores

de distância é

extremamente reduzido, à

exceção do olfato e da

perceção do calor irradiado

que se intensificam. A

esta distância íntima, os

músculos e a pele entram

em comunicação e a voz

desempenha um papel

menor no processo de

comunicação, o qual se

realiza por outros meios.

49

Distância Íntima

(modo afastado)

Distância de 15 a 40

centímetros

Nesta distância a voz é

utilizada, mas

conservando-se num

registro mais abafado, que

pode ser o do murmúrio. O

calor e o cheiro do hálito

do outro são perfeitamente

detetáveis, ainda que este

tente dirigi-los para fora do

campo percetivo do

sujeito. O subir ou o

descer da temperatura do

corpo do outro começa a

poder ser percebido por

alguns sujeitos.

Distância Pessoal

(modo próximo)

Distância de 45 a 75

centímetros

Nesta distância, as

posições respetivas dos

indivíduos revelam a

natureza das suas

relações ou dos seus

sentimentos. Uma esposa

pode impunemente

manter-se na zona de

proximidade do marido,

mas o mesmo não

acontece com outra

mulher.

Distância Pessoal (modo

longínquo)

Distância de 75 a 125

centímetros

Essa distância trata-se, em

suma, do limite do alcance

físico em relação outrem.

A tal distância podemos

discutir assuntos pessoais.

A altura da voz é

moderada e o calor

corporal não é perceptível.

Distância Social Distância de 1,20 a 2,10 Esta distância é a das

50

(modo próximo) metros negociações impessoais e

o modo próximo implica

bem entendido, mais

participação do que o

modo longínquo. As

pessoas que trabalham

juntas praticam geralmente

a distância social próxima.

Está vale também de

modo corrente nas

reuniões informais. A esta

distância, olhar de pé e a

direito uma pessoa

sentada evoca a

impressão de dominação

do homem que se dirige à

sua secretária ou

assessora.

Distância Social (modo

longínquo)

Distância de 2,10 a 3,60

metros

Quando as relações

profissionais ou sociais

decorrem segundo o modo

longínquo, assumem um

caráter mais formal do que

na fase de proximidade.

Nos gabinetes das

personalidades

importantes, a dimensão

da mesa de trabalho

instala os visitantes de

acordo com este modo

longínquo da distância

social. Esse modo pode

servir para isolar ou

separar os indivíduos.

Distância Pública

(modo próximo)

Distância de 3, 60 a 7, 50

metros

A 3,60 metros, um

individuo válido pode

51

adotar um comportamento

de fuga ou defesa, se

sentir ameaçado. É

mesmo possível que tal

distância desencadeie

uma forma de reação de

fuga vestigial, mas

subliminar. A voz é mais

alta e não atinge o seu

volume máximo.

Distância Pública

(modo afastado)

Distância de 7, 50 metros

ou maior

A distância de 9 metros é a

que impõem

automaticamente as

personalidades oficiais

importantes. Essa

distância pública comum

não se reserva apenas às

personalidades políticas,

mas pode ser utilizada

igualmente por não

importa quem.

Tabela 4: As distâncias adotadas pelo ser humano

Fonte: Hall (1966)

Em síntese, a proxémica proposta por Hall (1966) aponta duas condições: a

primeira seria mais privada correspondendo ao nosso espaço pessoal e

consequentemente influenciando a nossa linguagem corporal. É possível notar os

seus limites através das distâncias que estabelecemos em relação aos outros. A

proximidade é que varia de cultura para cultura. A segunda condição propõe uma

relação de espaço mais pública, por ser definida pela própria organização social, o que

implica que nos sujeitamos ao grupo que a originou. Devemos estar atentos a

respeitar essas normas estabelecidas, ainda que não pertençamos a este grupo.

Em questão de espaço, levemos em consideração que a maneira como as

pessoas se posicionam transmite um significado, pois “o espaço comunica“

(Davis1979: 97), entretanto, a definição de distância adequada entre duas pessoas

52

que conversam é influenciada pelas normas culturais onde se encontram. Uma

distância que é considerada formal em alguns países da Europa, nos Estados Unidos

indicaria intimidade. “Se alguém se aproxima e se posiciona além do que é ditado

pelas normas culturais, pode significar agressividade ou interesse sexual. Se fica mais

distanciado do que o esperado, pode indicar desinteresse ou insatisfação com o que

está sendo dito” (Robbins 2004: 124). Hall (1966) alerta que nas culturas ocidentais a

tipologia das distâncias obedece, em geral, a padrões mais ou menos definidos,

padrões esses cujo desrespeito, subversão ou clara violação causará desconforto ou

até receio. Segundo Hall (1966) quanto menor for a distância, mais pessoal torna se o

diálogo, pois as distâncias definem o nível das relações íntimas, sobretudo se houver

menos de meio metro de distância entre os interlocutores. Logo, a organização de

espaço determina, portanto, a maneira como as pessoas nele se movem, comunicam

e se relacionam. Comunicamos quando nos afastamos ou nos aproximarmos. Para

evitar um encontro indesejável, mudamos para o outro lado da rua. Sem falar, a

pessoa a quem evitei saberá que, por algum motivo, não quis encontra-la.

De acordo com Hall (1966) a aproximação de um individuo pode acontecer

quando este deseja influenciar, persuadir o seu interlocutor. “Indivíduos fortemente

encolerizados ou muito desejosos de convencerem o seu interlocutor aproximar-se-ão

deste e acionarão, de certo modo, o botão da intensidade, gritando” (Hall 1966: 134).

Perante essa afirmação, podemos claramente perceber como uma mulher consegue

reconhecer os sinais de um homem apaixonado, dada a maneira como ele aproxima.

O homem também poderá perceber que ela não compartilha ou não deseja

compartilhar desse sentimento, caso ela recue, ou seja, retrai-se através da distância.

Hall (1966) chama esse comportamento de territorialidade e ressalta que ele pertence

à natureza dos animais e, em concreto, do ser humano. Neste comportamento,

homem e animal servem-se dos seus sentidos para diferenciar as distâncias e os

espaços. “A distância escolhida depende das relações interindividuais, dos

sentimentos e atividades dos indivíduos envolvidos na situação dada” (Hall 1966: 146).

Ainda observemos por aqui que há um elo entre proxémica e paralinguagem.

Tal como aponta Hall (1966), é observável que a intensidade da voz é uma forte

corrente de informação acerca da distância que separa dois indivíduos, pois observa a

existência de uma relação entre as modificações da voz e as chamadas mudanças de

distâncias. “O sussurrar é utilizado quando os interlocutores se encontram muito

próximos um do outro e o grito é destinado a atravessar grandes distâncias” (Hall

1966: 134).

53

3.1.4 Tato

Sobre os elementos que constituem a comunicação não verbal e as variadas

maneiras com que o corpo comunica, abordamos o tato, o contato corporal entre

pessoas. O tato é um canal informativo que orienta a nossa percepção, já que a pele

carrega consigo um sistema de informação, nomeadamente sensações quinestésicas.

Segundo Hall (1966) de todos os nossos sentidos o tato é o mais pessoal:

Para muita gente, os momentos mais íntimos da vida estão associados a mudanças de textura na pele. A resistência ao contato inoportuno que crispa a pele como armadura, as texturas excitantes e em incessante mutação da pele durante do ato amoroso e o aveludado da satisfação que lhe sucede- eis outras tantas mensagens de um corpo para outro, dotadas de significação universal (Hall 1966: 77).

A pele apresenta uma extrema sensibilidade para reagir a estímulos exteriores

como o toque de outra pessoa ou mudanças de temperatura, e também interiores

como a excitação sexual. A mudança de textura desencadeada por essas sensações

traz-nos duas faculdades sensoriais suplementares, cujo papel, segundo Hall (1966),

não consiste somente em comunicar ao individuo as alterações afetivas ocorridas nos

outros, mas também em fornecer-lhe acerca do seu meio uma informação de natureza

particularmente pessoal.

3.1.5 Olfato

O olfato e o uso social do cheiro também constituem os elementos não verbais

presentes na linguagem corporal.

Segundo Hall (1966), o cheiro está na base de um dos modos mais primitivos e

mais fundamentais da comunicação. Conforme aponta, nos primórdios da raça

humana, o olfato preenchia certamente funções importantes para o homem. Entre as

suas diversas funções, ele permitia não só diferenciar os indivíduos, mas decifrar

também qual o seu estado afetivo.

As mensagens químicas transmitidas pelo corpo atingem uma exaustividade e uma precisão tais que o seu nível de organização e de complexidade ultrapassa de longe os de quaisquer sistemas de comunicação até hoje criados pelo homem, como extensão, da linguagem sob todas as formas de informação diversas pelos computadores mais aperfeiçoados (Hall 1966: 61).

54

Hoje em dia, com o uso “obrigatório” de perfumes desodorizantes, esse tipo de

comunicação perde certa força, já que está sendo maquilhado por cheiros artificiais.

Hall (1966) aborda sobre o aparelho olfativo dos americanos que, devido ao uso

intenso de produtos perfumados para desodorizar locais públicos, tornou os EUA um

país olfativamente neutro e uniforme. Essa maquilhagem às características do cheiro

natural humano contribui então para a monotonia dos espaços, privando-nos de uma

considerável fonte de variedade. “Afeta igualmente o funcionamento da memória na

medida em que os cheiros têm o dom de evocar recordações muito mais profundas

que as imagens e os sons” (Hall 1966: 60).

Na cultura árabe, por outro lado, o cheiro natural humano é apreciado e

observado como um sistema comunicativo, tal como deve ser. Os árabes identificam

clara relação entre o humor de uma pessoa e o cheiro que o corpo deste indivíduo

exala. Os arranjadores de casamentos adotam algumas precauções a fim de

conseguirem uniões harmoniosas. Por sua vez, chegam a pedir para cheirar a

rapariga. Se ela não tiver um bom cheiro, referindo-se aqui ao cheiro natural do corpo,

ela é recusada na base de argumentos estéticos, mas na realidade foi em

consequência do especialista ter detetado nela um cheiro residual de cólera ou

descontentamento. Diante do exposto, notemos, pois, essa dicotomia entre as duas

culturas mencionadas, a árabe e a norte-americana. Enquanto os árabes apreciam as

características olfativas alheias, os americanos afastam-se, procurando evitar esse

contato. Segundo Hall (1966), eles sentem se incomodados quando se acham no

campo olfativo de uma pessoa com quem não têm relações de intimidade, sobretudo

em locares públicos, evitando assim uma possível experiência de caráter sensual

intensa. Ao contrário dos árabes “os americanos privaram-se de um poderoso

instrumento de comunicação: o olfato” (Hall 1966: 64)

O uso do cheiro, enquanto comunicação corporal é uma habilidade que não se

restringe aos humanos. Segundo o Consultório de Ciência e Tecnologia (s/d), os

animais revelam disposição para o ato sexual através do seu cheiro. O cheiro também

delimita território no reino animal. É comum vermos no reino animal, a analise do sexo

oposto, da mesma espécie, através do focinho, buscando perceber o cheiro do outro.

Um cachorro, antes de urinar em um poste na rua, o cheira para saber se aquele

“território” já não foi marcado por outro cão. Isso se dá devido a ação de compostos

químicos chamados de Feromonas, que são produzidas e libertadas pelo organismo,

através do cheiro, transmitindo informação entre indivíduos da mesma espécie. São

tratadas como um atrativo sexual que atua em mamíferos e também pode ser um

55

delimitador de território. Essa comunicação química também ocorre com o homem,

entretanto de maneira menos clara. Há, contudo, evidências sugerindo que os seres

humanos naturalmente produzem feromonas que, a partir de um indivíduo, vão afetar

a fisiologia sexual de outro. Estas substâncias farão parte dos odores normais do

corpo. Assim, o olfato é provavelmente um componente importante na modulação do

comportamento sexual normal da espécie humana. Um exemplo conhecido de

comunicação química entre humanos dá se nas mulheres que vivem juntas durante

períodos de tempo largos e que acabam frequentemente por sincronizar os seus ciclos

sexuais. Sobre o cheiro exalado pelo corpo humano, é comprovado cientificamente

que um bebé reconhece a mãe pelo seu cheiro.

Segundo Hall (1966) as sensações olfativas também provocam sensações

localizadoras, exemplificando pelo cheiro do pão acabado de sair do forno, dos velhos

armazéns, dos depósitos e lavanderias, que servem como ponto de referência aos

habitantes de um lugar. “Além disso, esses cheiros acrescentam intensidade à vida

quotidiana” (Hall: 64).

3.1.6 Cronémica

Outro elemento da comunicação não verbal é a cronémica, o uso do tempo,

cujos componentes estão presentes em todas as relações da vida humana. Segundo

Poyatos (apud Rector &Trinta 1985: 59), a cronémica é uma área de estudo que trata

da nossa conceituação e tratamento do tempo como um elemento biopsicólogico e

cultural, manifestando características especificas às relações sociais e a muitos

acontecimentos dentro do continuo significativo, desde sílabas e gestos rápidos e

furtivos, até olhares e silêncios significativos.

O tempo não é apenas a realidade que nos cerca e delimita as nossas

atividades diárias, mas um elemento manipulável em termos de comunicação. Termos

como “cedo ou tarde” já não podem ser literalmente interpretados, pois não condizem

fielmente ao significado linguístico “cedo-manhã”, “tarde- após o meio dia”. Expressões

como estas são passiveis de variadas interpretações. Outro exemplo, neste

seguimento, é quando dizemos: “espere um minuto que já vou”. Um minuto tem

duração de 60 segundos, neste caso iremos mesmo quando completar um minuto ou

estamos querendo dizer “estou ocupado e só vou quando acabar o que estou

56

fazendo”? Neste caso “minuto é tudo, menos uma medida real do tempo e antes de

constituir-se em fato linguístico é um valor cultural” (Rector & Trinta 1985: 59).

A cronémica muito comunica sobre personalidades e hábitos culturais,

nomeadamente sobre a pontualidade ou a falta dela. Há contrastes culturais neste

sentido.

Se chegarmos 30 minutos atrasados, para um norte americano, poderemos estar a comunicar pouca consideração com ele. Mas o mesmo não acontecerá se a ocorrência se verificar na América Latina. Na Grécia é normal um atraso de 30 minutos. Na Índia, tal atraso pode ser ainda maior (Rego 1999: 64)

Os britânicos, por exemplo, carregam consigo o estereótipo de ser sempre

pontuais, daí a expressão “horário britânico”. No Brasil, se alguém for convidado para

um jantar às 19 horas, e chegar na hora certa, encontrará a casa vazia e, talvez, os

anfitriões ainda a preparar o jantar. Se um jantar entre ingleses é marcado para as 20

horas, os convidados chegarão pontualmente a esta hora. Caso contrário, serão

consideradas pessoas mal educadas. São muitos os contrates culturais acerca da

pontualidade, o que é normal e aceitável em uma cultura é inadmissível em outras. Em

determinadas culturas e casos “a falta de pontualidade pode comunicar inúmeras

mensagens como desinteresse, maus hábitos, pouco desejo de superação pessoal,

descortesia e falta de respeito perante os outros” (Rector & Trinta 1985: 35), já a

pontualidade, pelo contrário, transmite interesse, responsabilidade e respeito ao

compromisso marcado.

3.2 Indumentária

“A imagem das pessoas é uma comunicação não publicitária gratuita”

(Pierson 1991- 1995: 16)

A indumentária, o conjunto do vestuário de uma pessoa ou povo, também

constitui a comunicação não verbal. Fazem parte da indumentária os sinais

conscientes que carregamos no nosso corpo, nomeadamente as roupas e adereços,

bem como as cores destes. Por isso, é importante estarmos atentos a esse aspecto

tão comunicativo e que não passa despercebido pelos nossos interlocutores, pois

“Funcionarão, portanto, como signos não verbais, seja qual for o tipo de comunicação

que estabeleceremos” (Santos 2011: 62).

57

Através da imagem, nomeadamente a indumentária, emitimos uma fonte de

informações sobre nós. Nacionalidade, religião, profissão, estilo de vida, gostos,

humor, relação no mundo social e político. Enquanto andamos pelas ruas,

provavelmente estamos sendo decodificados por pessoas ao nosso redor. Elas estão

captando informações ao nosso respeito sem que falemos algo sobre. Quem “fala” é a

nossa imagem, através da maneira como vestimos e o que vestimos e os acessórios

que carregamos. Certa vez um brasileiro, professor de desporto, confidenciou que

estava à procura de potenciais jogadores de basquete a fim de formar uma equipa. Ele

identificava essas pessoas pela maneira que se vestiam, pois no geral, jogadores de

basquete costumam usar camisas e calções grandes e largos. Ele contou que quase

nunca errava uma abordagem. O vestuário que se usa é sempre um texto a ser

interpretado pelo interlocutor. O que vestimos (roupa, sapato e adereços) representa

parte da nossa identidade e irá comunicar ao mundo o somos ou queremos ser.

Por mais injusto que seja, é verdade que julgamos os nossos semelhantes pela aparência, e que tendemos a avaliar mais favoravelmente os que nos atraem, sobretudo se forem do sexo oposto. Construímos e gerimos uma imagem, recorrendo a uma das técnicas de comunicação não verbal mais sutil e criativa que existe: o uso dos nossos bem materiais e, em concreto, do vestuário (Santos 2011: 61).

Segundo Argyle (1988), uma pessoa pode comunicar com sucesso seu status

social pelas roupas que ela usa. Seria a auto representação através da aparência.

Portanto a imagem deve ser levada em consideração enquanto nos preparamos para

uma apresentação ou discurso, pois seremos interpretados também por isso. “A

imagem é o vector imediato pelo qual julgaremos a maior parte dos valores pessoais,

a qualidade de um produto, a imagem de marca de uma empresa, a credibilidade de

um individuo” (Pierson 1991-1995: 15).

A expressão popular “a primeira impressão é a que fica”, é um exemplo de

como a nossa imagem pode definir a opinião alheia sobre nós e até mesmo definir

como se dará a relação interpessoal a partir daí. “Nunca temos uma segunda

oportunidade de deixar uma primeira impressão” (Mc Kenna apud Pierson 1991- 1995:

15) e, além de não termos uma segunda oportunidade, “também não temos mais do

que quatro minutos, para deixar uma impressão que, boa ou má, será duradoura. Esse

rumor, lisonjeiro ou desfavorável, que será a nossa imagem de marca” (Pierson 1991-

1995: 15).

Levemos também em consideração, o que já é ditado pelas teorias da

comunicação não verbal. A imagem também dá suporte às nossas palavras, mas, em

58

caso de não concordância, é o não verbal quem marcará prioritariamente a memória

do decodificador. “Raramente temos a consciência da nossa comunicação não verbal;

no entanto, é ela que tem prioridade para o nosso interlocutor” (Pierson 1991-1995:

27). A imagem é, portanto, informação. Logo não deixamos de comunicar mesmo

estando calados, pois a comunicação não verbal continua atuando quando as palavras

cessam, já que o silêncio, a recusa em comunicar ou a neutralidade, são também

formas de expressão.

Uma indumentária desconexa à ocasião poderá dificultar a relação, transmitir

preconceitos ou tornar o discurso incompreendido por causa de uma má imagem.

“Preocupar-se com sua imagem não é apenas satisfazer uma necessidade primária:

aquecer-se ou proteger-se. É também responder às necessidades fundamentais de

integração, de reconhecimento e de realizações pessoais” (Pierson 1991-1995: 28).

Tomemos por exemplo uma pessoa que vai à entrevista de emprego concorrer ao

cargo de consultor de clientes. Ele se apresenta de calça jeans, tênis de desporto,

camisa social amassada com o colarinho aberto e não muito arranjado; tem os cabelos

compridos e a barba por fazer. Possivelmente a informação que está imagem passa é

de uma pessoa desleixada e desorganizada, que será imediatamente avaliada, antes

mesmo que comece a reunião. “O que nós exprimimos no nosso corpo é a relação

com nós próprios e com aquilo que nos rodeia” (Pierson 1991-1995: 53).

A imagem é um código que sofre variações dependendo da época, país e

ambiente. Conseguimos, através da roupa que usamos representar, impor, protestar,

provocar, influenciar.

Nossa roupa não serve apenas para cobrir o corpo: ela pode indicar conforto (conjunto para jogging), modéstia (hábito de freira), ou uma exibição (fantasia). Do mesmo modo a barra das saias não sobe e desce gratuitamente: subiram nos ruidosos anos 20, desceram na grande depressão de 30, subiram na economia de guerra dos 40, desceram na austeridade do pós- guerra de 1946-50 subiram nos swinging sixties, etc. (Rector & Trinta 1985: 81).

As nossas roupas comunicam quem somos, o que objetivamos e como nos

relacionamos com os outros. “As roupas, acima de tudo, projetam uma imagem

construída, que é comunicativa não apenas por ser intencional, mas também, e,

sobretudo, por ser lida de forma convencional no âmbito de uma dada cultura”. (Hayes

apud Santos 2011: 61)

A indumentária remete à relação de status e poder, sendo usada para

transparecer, ostentar ou projetar uma imagem de sucesso, por exemplo. A veste que

59

uma pessoa traz ao corpo representa também a sua função e comunica quem ela é. O

uso de fardas por policiais, jalecos por profissionais da saúde (médicos, enfermeiros,

farmacêuticos), batina por padres, bata pelo papa; de acordo com Santos (2011) estas

marcas exteriores servem para marcar estatutos relativos que funcionam como outros

indícios da relação que devemos estabelecer com as pessoas que usam.

A imagem é um influente instrumento de informação. Entretanto deve-se

considerar que é preciso ter coerência com os demais elementos que constituem a

linguagem corporal. Essa coerência ocorre quando todos os sinais emitidos tanto pelo

vestuário quanto pelos gestos, olhar, voz e postura, vão ao mesmo sentido, tendo a

mesma intenção, pois um irá reforçar o outro e assim, juntos, influenciarão com maior

precisão. Do contrário, haverá uma desproporcional ausência de sintonia ocasionando

um fracasso na intenção comunicativa. “Se um gesto contradiz uma roupa, uma

palavra contradiz uma maquilhagem, a falta de coerência denota desorganização

interior, uma dissimulação no caso” (Pierson 1991-1995: 36).

A cor da roupa também é informativa e segue aspetos culturais. “A cor da

roupa marca, de certo modo, uma identificação sexual: mulher- cor de rosa; homem-

azul” (Rector & Trinta 1985: 81). As cores comunicam e por isso constituem

simbologias e protocolos ditados pela sociedade e instituições, todos com um

significado previamente estabelecido. É o caso da roupa dos padres da igreja Católica.

Elas variam a cada domingo e de acordo com os rituais de cada celebração. Seguindo

uma tradição estabelecida, no Brasil, a noiva deve casar-se com um vestido branco,

entretanto, se esta não for mais virgem deverá escolher outra cor, que fuja ao símbolo

que representa pureza (a cor branca), informando assim aos convidados que quebrou

as regras estabelecidas pela religião. Da mesma maneira, uma mulher que perde o

marido deverá vestir-se sempre de preto comunicando que é uma viúva. Se esta

senhora opta por roupas coloridas para se vestir, sobretudo nos primeiros dias que

sucedem a morte do esposo, será interpretada como alguém que não está enlutada,

não sofre a perda do marido. Os significados das cores variam de acordo o contexto

cultural. “Se para muita gente o vermelho é a cor da vida e do dinamismo, para outras

culturas, ela é a cor da morte e do luto” (Pierson 1991- 1995: 41).

A imagem é antes de tudo informação, tendo breve relação ao contexto cultural

e social ao redor. Por isso, ao compor uma imagem, é preciso utilizar códigos bem

definidos. Estes códigos variam com a época, país, ambiente. Portanto, é importante

ater-nos a isso e ter uma previa noção do ambiente que irá visitar, discursar ou fazer-

se presente. Estando vestida de acordo à ocasião, já haverá dado um passo para uma

60

comunicação efetiva e ao desenvolvimento de uma boa relação. Também vale

ressaltar que quando vestimos adequadamente para uma ocasião, respeitando regras

e aspetos culturais estabelecidos ou ditados pelo ambiente, estaremos demonstrando

respeito e atenção aos presentes.

3.3 Credibilidade

É necessário adquirir, ter credibilidade. Sem credibilidade, os argumentos, por si,

poderão não ser suficientes. (Rego 1999:8)

Ao fazer uso da palavra, durante discurso, buscamos convencer, mudar ou

fortificar as ideias do público presente. Para chegar a esse objetivo, devemos

primeiramente, ter uma boa credibilidade perante esse público, e, em segundo,

certificar-nos de que há coerência entre as palavras e a linguagem emitida pelo nosso

corpo, já que, por mais que o discurso seja bem elaborado, com uma retórica

impecável, o nosso corpo pode desmentir aquilo que foi dito, já que exterioriza o

estado interno, levando nossa intenção comunicativa à ruína. “A credibilidade, os

factos e a emoção constituem os três pilares básicos da persuasão” (Rego 1999: 83).

A coerência exterior deve, obrigatoriamente, corresponder à coerência interior, pois

“quando a coerência interior é desorganizada (mentira, bluff, emoções fortes, medo

timidez, pouco à vontade, desorganização mental), a coerência exterior ressente-se, e

a sua credibilidade é posta em dúvida” (Pierson 1991-1995: 35). Dessa forma, as

palavras não terão efeito algum, pois a linguagem do corpo falará mais alto e pior,

ainda correremos riscos de danificar a nossa imagem.

O nosso corpo, nomeadamente as nossas expressões, dão credibilidade ao

nosso discurso, logo devemos usá-las ao nosso favor, desde que não forcemos, pois

caso esses sinais sejam desenvolvidos e emitidos de maneira artificial, perderemos

todo o controle sobre a nossa imagem e isso será notado pelos interlocutores ou

público. “É, portanto, a adequação existente entre o que se sente e o que é emitido

que seu interlocutor é sensível, em primeiro lugar. É inútil fazer bluff. É sua convicção

que organiza os sinais de sua aparência” (Pierson 1991-1995: 36).

61

Segundo Parafita (2012), as habilidades comunicativas do emissor (uso de

código apropriado, adequação de gestos e pronuncia, capacidade de gerir a reação do

destinatário, etc), o seu prestigio e a aceitação do domínio específico em que intervém

e ainda o contexto ambiental do ato comunicativo, são os grandes fatores de eficácia

na comunicação que encontram nas formas simples da arte verbal, da memória oral

um veículo útil e privilegiado para a transmissão de mensagens. Essa sintonia entre

verbal e não verbal é o que marcará o sucesso de um discurso. “Assegure-se de que

suas mensagens são congruentes com os seus atos. Caso contrário, você perderá

credibilidade e suas palavras não terão qualquer poder persuasivo” (Rego 1999: 81).

Portanto, é a nossa credibilidade que irá conferir o sucesso das nossas

relações. Como exemplo ilustrativo, recordemos as vezes que entramos numa loja que

somos clientes assíduos para fazer mais uma compra. Normalmente, temos um

vendedor a quem preferimos ser atendidos. Ele costuma tirar suas dúvidas sobre o tal

produto a que procura e responde honestamente a qualquer pergunta. Ele certamente

é o seu vendedor preferido porque conquistou ao longo de cada compra a sua

confiança. Compramos em quem gostamos e acreditamos. Procuramos o médico da

nossa confiança, o advogado da nossa confiança, o talho da nossa confiança. Isso

porque eles construíram a credibilidade que o motiva a buscar sempre pelos seus

serviços.

4 Comunicação não verbal e Comunicação política

Após a abordagem do capítulo anterior sobre a comunicação não verbal e os

seus elementos, agora iremos reportar sobre com se dá a linguagem corporal no

ambiente político, nomeadamente nas apresentações audiovisuais de um político, seja

uma entrevista (transmitida via rádio ou televisão), discurso ou debate. Nessas

apresentações alguns elementos não verbais, nomeadamente a aparência física,

vestuário, voz, gesto, expressões faciais e postura, ficam em evidência, portanto

devem ser previamente trabalhados pelo serviço de marketing, assessores e o próprio

político.

Maarek (2009) aponta o principal impasse da linguagem corporal na política,

sobretudo quando se trata de apresentações transmitidas em direto, ou seja, quando

não é possível fazer edições, após um feedback por conta da assessoria, antes dessa

mensagem publicitária ser transmitida às massas. “Assessores sabem que os meios

de comunicação audiovisuais não são necessariamente veículos eficazes de

62

mensagens políticas” Maarek (2009: 216). Segundo Maarek (2009) a criação e

manutenção da imagem de um político enfrentam dificuldades no que se trata de

apresentações audiovisuais, ou seja, aquela que emite som e imagem, como em

discursos e entrevistas, seja por rádio ou televisão, por exemplo. Esse impasse se dá

pela dificuldade de se controlar a linguagem corporal do emissor, uma vez que, como

já dito, a sua mensagem não verbal pode invalidar, modificar o discurso verbal. “Os

audiovisuais não são favoráveis às aparições de políticos, tendo em vista que a

linguagem corporal pode colocar o discurso a perder” Maarek (2009: 218). Com efeito,

a eficácia do aparecimento de políticos em TV ou rádio, depende tanto do seu apelo

verbal, o discurso oral, quanto da comunicação não verbal, para que um complete o

outro, transmitindo assim, confiança aos receptores.

Um político deve estar sempre atento ao que o seu corpo comunica. Quando

se refere ao “sempre atento”, enfatiza-se realmente a questão de que ele precisa ser

vigilante, inclusive com a sua aparência física, mesmo quando fora de compromissos

de agenda, pois um descuido pode comprometer a sua imagem construída perante

aos eleitores. Por ser uma figura pública, ele será sempre observado e avaliado.

“Descuidos como na aparência física, por exemplo, podem influenciar no resultado

final da eleição” Maarek (2009: 218).

A Comunicação não verbal do político, nomeadamente aparência física, os

atributos vocais e a gestualidade, pode ser útil ou danificar a sua imagem, trazendo

um efeito inverso ao que ele prega verbalmente. Embora a comunicação não verbal

seja considerada mais credível, pois muitas vezes é intratável, já que manifesta- se

involuntariamente, o político, ou os seus assessores, têm apenas um elemento que

podem editar: a aparência física (estética). Sendo este o único elemento que se pode

tratar, antes de iniciar uma apresentação, deve ser cuidado para que esta aparência

leve aos receptores uma sensação credível. Devem ser levados em consideração os

cuidados pessoais com cabelo, barba (quando homens), maquilhagem e até o

vestuário, devendo ser tratado como elemento que muito comunica e repercute efeitos

positivos ou negativos. Neste caso, o público a que irá se dirigir também deve ser

levado em consideração, pois a maneira como se veste pode indicar respeito ou

ausência dele, se, por exemplo, a indumentária for completamente contrária aos

moldes culturais dos espetadores.

Os atributos vocais constituem um componente próprio da personalidade física

do político. É um elemento não verbal que detém todo o controle de sua comunicação,

por exemplo, numa entrevista de rádio.

63

Um tom de voz confiante e controlado é um predicado valioso na comunicação. Se as pessoas gostarem do seu modo de falar, ouvirão mais prontamente o que tem a dizer. O tom de voz faz parte do prazer que o ouvinte deve sentir ao ouvir alguém falar. (Rei 2013: 50)

Se tratando de uma apresentação pública via rádio, a linguagem corporal

(agora através da voz) deve ser igualmente cuidada. Nesse caso, a questão é mais

delicada, pois dependendo do estado emocional em que o político encontra, não será

possível editar a sua mensagem, mesmo que não seja uma transmissão em direto.

Também se deve levar em consideração que as numerosas características vocais

(estridente, calma, alterada, pacífica) podem modificar o sentido da interpretação,

sobretudo para quem está somente a ouvir, quando não se tem uma imagem para

oferecer uma melhor análise.

É imprescindível também que sejam observados, durante uma apresentação

audiovisual, os gestos e expressões faciais do político em foco. Embora estes

elementos sejam mais difíceis de controlar (muitas vezes fogem ao controle) se deve

fazer uma analise observativa a fim de que eles não coloquem em dúvida o que está

sendo falado. De acordo com Rei (2013), os gestos são uma arma de dois gumes:

valorizam a comunicação, quando são bem feitos, e podem comprometer o seu efeito

se forem mal feitos, exagerados ou excessivos. “O gesto é uma necessidade

fisiológica, colocada ao serviço da arte de comunicar. O meio de expressão não deve

estar em desacordo com aquilo que ele deve traduzir” Rei (2013: 49). Enquanto os

gestos ilustram e concluem o que está sendo dito, as expressões faciais dão sentido

às palavras, transmitem emoções e o estado do apresentador. Se estiverem de acordo

ao que está sendo falado, certamente despertarão a confiança e sensibilidade dos

espetadores.

Por fim, a postura, que não deve ter menos atenção que os elementos acima

referidos. A postura pode indicar envolvimento ou afastamento em relação às pessoas

e o contexto. Através deste elemento, enviamos claramente sinais de interesse,

desinteresse, tédio ou nervosismo. A imagem carismática de um político ficará

lesionada se a postura com que reporta durante seu discurso, não condizer à

circunstância.

Diante do exposto, arrematamos este capítulo abordando a importância de um

bom marketing político que deve então trabalhar o carisma audiovisual do seu cliente,

partindo do pressuposto de que a linguagem corporal atua igualmente com a verbal

durante uma apresentação (entrevista, debate, discurso), podendo contradizer todo

aparato oral. No entanto, como já assinalado, não é fácil influenciar a comunicação

64

não verbal, exceto a apresentação da aparência física e indumentária, que pode ser

trabalhada e moldada de maneira que se torne confortável e atraente aos olhos dos

recetores.

5 Discurso Político

Na política, para convencer o eleitor a confiar-lhe o seu voto, os políticos

precisam também de um discurso eficaz, com válidos argumentos e boas propostas.

Discursar diante um público requer maestria, inteligência e controle, tanto para proferir

as palavras da maneira certa quanto para argumentar de forma organizada e eficaz.

Logo, um político deve ser também um bom orador, para convencer aos eleitores que

ele tem as melhores propostas, comunicando de forma clara e transmitindo suas

ideias com convicção. “A comunicação mais poderosa é aquela que vai ao encontro

das expectativas do receptor” (McQuail 2003:30). Segundo Davis (1979), o quanto

uma pessoa fala e o padrão que sua fala assume são determinantes preciosos da

maneira como os demais reagem diante dela. “Estudos psicológicos tem demonstrado

que o mais falante num grupo detém o mais alto status e está mais apto a ser

escolhido como líder” (Davis 1979:119)

Este tipo discurso não visa informar ou entreter. Ele intenta unicamente

influenciar, através da argumentação e técnicas persuasivas. Segundo Arendt (1998) o

discurso político tem por finalidade a persuasão do outro, quer para que a sua opinião

se imponha, quer para que os outros o admirem. Para isso, necessita da

argumentação, que envolve o raciocínio, e da eloquência da oratória, que procura

seduzir provocando afetos e sentimentos.

O discurso político, baseado na retórica e na oratória, está orientado para

convencer o povo, impondo as suas ideias, recorrendo à força persuasiva da palavra.

A habilidade de persuadir através da palavra, chamada de Retórica, é uma das artes

mais antigas da Humanidade. Segundo Aristóteles (2005) foi na Sicília que a Retórica

teve a sua origem, como metalinguagem do discurso oratório.

Por volta de 485 a.C., dois tiranos sicilianos, Gélon e Hierão, povoaram Siracusa e distribuíram terras pelos mercenários à custa de deportações, transferência de população e expropriações. Quando foram destronados por efeito de uma sublevação democrática, a reposição da ordem levou o povo à instauração de inúmeros processos que mobilizaram grandes júris populares a obrigarem os intervenientes a socorrerem-se das suas faculdades

65

orais de comunicação. Tal necessidade rapidamente inspirou a criação de uma arte que pudesse ser ensinada nas escolas e habilitasse os cidadãos a defenderem as suas causas e lutarem pelos seus direitos. E foi assim que surgiram os primeiros professores da que mais tarde viria se chamar de retórica. (Aristóteles 2005: 19)

Segundo Aristóteles (2005) a Retórica e o estudo dela, têm em vista a criação

e a elaboração de discursos com fins persuasivos. A finalidade da Retórica é a

capacidade de descobrir os meios de persuasão e não a persuasão em si. Para

Quintiliano (apud Aristóteles: 2005), o seu fim não é só persuadir, mas também falar

bem.

A Retórica é uma área relacionada à Oratória que é, segundo Plantão (apud

Merayo: 2007), a arte de ganhar a vontade humana através das palavras. “Os pais da

oratória foram os gregos que desde muito cedo se aperceberam da força que esta

possuía, onde os bons oradores destacavam-se nas sociedades simplesmente pelo

poder da palavra e argumentação” (Oliveira 1997:101). A oratória passa então a ser

basilar para aqueles que aspiravam à carreira política e precisavam falar em público

com relevância e eficácia.

De acordo com Marayo (2007) já nos primórdios da Retórica, a oratória tinha

como único propósito excitar o auditório até deixa-lo completamente persuadido, não

interessando uma eventual verdade objetiva, mas tão somente o convencimento dos

ouvintes. Ou seja, já no princípio da arte do bem falar, a oratória já era um artifício de

exibição, orientada somente para evidenciar o próprio orador. Segundo Pinto (2006) é

o discurso cuja verdade está sempre ameaçada em um jogo de significações e que

sofre cotidianamente a desconstrução, ao mesmo tempo só se constrói pela

desconstrução do outro. “É, portanto, dinâmico, frágil e, facilmente, expõe sua

condição provisória” (Pinto 2006: 89). De acordo com Pinto (2006) o discurso político

deixa claro sua luta pelo poder, onde a explicitação de seu desejo é o próprio discurso.

Santos (2011) indica três partes principais na construção de um discurso

político: a ação que é, no fundo, a apresentação oral do discurso, ou, pelo menos, de

alguns dos seus fragmentos. Disposição para refutar a argumentos contrários e, por

fim, a elocução que consiste no arranjo final do discurso, sendo constituída por muitos

dos recursos literários ou estéticos, seriam estes os artifícios ornamentais do discurso.

Toda a elaboração necessária a esta estrutura do discurso torna a argumentação

numa peça retórica montada pelo orador para persuasão e o convencimento da

audiência. Ainda segundo Santos (2011), os argumentos devem ser hierarquizados,

consoante o seu peso argumentativo, a sua importância e o seu encadeamento lógico.

66

“Será preciso, por exemplo, evitar que se contradigam entre si, ou que surjam de

maneira dispersa, pois isso não levaria a audiência a perder o fio do discurso e não

acompanhar o orador”. (Santos 2011:184)

De acordo com Sousa (s/d), a oratória política torna-se um anúncio, um meio

dos candidatos transmitirem suas mensagens aos eleitores. Logo, um discurso político

já não é simplesmente um discurso. Envolve investimento e preparação no que se irá

dizer e como irá dizer. É por este motivo que muitos políticos hoje em dia têm

procurado se habilitar em técnicas como o aprimoramento da linguagem corporal,

além de contratação de profissionais que os treinem e assessorem, como é o caso do

spin doctor, um especialista em assessoria de imprensa, relações públicas e

comunicação política.

Um discurso eficaz depende de uma comunicação persuasiva coletiva que

conquiste a adesão do auditório, “Quem melhor comunica melhor influencia.” (Parafita

2012:51). Notamos o sucesso ou não da persuasão pela maneira que este público irá

reagir, demonstrando, geralmente através da linguagem corporal com olhos atentos.

A credibilidade como já citada no capítulo anterior, é um dos aspetos cruciais

quando se pretende realizar uma boa comunicação. Se quisermos transmitir uma

mensagem, o público tem de acreditar nas nossas ideias e palavras, às quais temos

de imprimir credibilidade. “Se o público se aperceber da nossa falta de sinceridade

durante a apresentação, duvidará das nossas palavras e deixará de acreditar nas

mesmas” (Oliveira 1997: 74). Segundo Oliveira (1997), para adquirimos credibilidade

junto ao plateia, faz se necessário que esta identifique no nosso discurso:

naturalidade, emoção, conhecimento e o basilar, uma conduta exemplar.

Se não tivermos uma conduta que seja coerente com as nossas palavras, por mais que se desenvolvam os restantes ingredientes, não conseguiremos conferir credibilidade ao nosso discurso, pois a nossa conduta é incompatível com o que pretendemos transmitir (Oliveira 1997: 75).

Segundo Ferreira (2000), a arte da persuasão através da palavra já não tem

credibilidade, devido estar submetida à manipulação, ter pouca atenção à verdade,

podendo ser falsa e sem escrúpulos, o que leva muitas vezes à rejeição dos

argumentos. De acordo com Ferreira (2000), a crise que afeta os valores em geral não

escapou a arte do bem falar. A retórica passou a competir com a expressão corporal, a

comunicação não verbal, que ilustra as palavras e outras vezes as dispensa. Para

Merayo (2007) numa mensagem é mais importante a forma como se diz, do que o que

se diz. Portanto, comunicar com objetividade, transparência, clareza, simplicidade e ter

67

eficiência verbal são características cruciais que um orador deve ter em conta ao

proferir o seu discurso, a fim de atrair, despertar interesse e convencer; entretanto tão

crucial quanto as características da comunicação verbal é a linguagem corporal e os

múltiplos canais informativos que ela compõe. “A comunicação eficiente se dá quando

a palavra, tom de voz, gesto, contexto, tudo está integrado à mensagem que é

transmitida” (Lair 1993: 15). Uma vez em sintonia, comunicação verbal e não verbal, o

discurso terá mais credibilidade junto ao recetor, caso contrário, poderá a linguagem

não verbal refutar os argumentos retóricos.

6 Comunicação não verbal no discurso político

A oratória é um dos instrumentos mais comuns e antigos da comunicação,

sendo muito utilizada por políticos, durante as campanhas eleitorais, com o intuito de

persuadir os eleitores, conquistando assim o seu voto. No entanto, a expressão oral

deixou de ser credível dada a facilidade com que um discurso poderia ser manipulado,

ou seja, não haveria o que regulasse o compromisso com a verdade. “Com o devir da

história, o homem começou a abusar da palavra e esta parece estar a cair em

desprestígio” (Rei 2013: 22). Ao contrário da comunicação verbal, onde as palavras

podem ser proferidas de maneira falaciosa, a linguagem corporal tende a ser

imanipulavél, onde o corpo comunica atitudes e emoções, podendo, inclusive,

desmentir o que está sendo proferido.

Para Rei (2013) durante o discurso oral, que pode ser dirigido apenas aos

presentes ou ao público ausente, através dos meios de comunicação social, o bom

orador deve ter consciência de que se deve servir sempre das duas linguagens, a

linguagem verbal e a linguagem corporal, através do conjunto de movimentos do

corpo: tronco, cabeça e membros, assim como todo o jogo fisionomio. A linguagem

corporal é fundamental para dar credibilidade às palavras. Como aponta Veríssimo

(2008), tal como a linguagem oral, o corpo também é portador de um poder de

significações e de sentido, que, através dos seus gestos, poses, expressões, modos

de vestir e outras marcas sociais, comunicam com o exterior, operando também neste

jogo persuasivo. A gestualidade dos políticos, por exemplo, pode reforçar ou

contradizer o discurso.

Ao mesmo tempo que falamos através dos nossos órgãos vocais, devemos falar em sintonia com o nosso corpo, pois este também fala. As mãos, os olhos, a voz, o rosto, enfim, todo o nosso corpo se expressa através da linguagem corporal (Oliveira 1997: 18).

68

A linguagem corporal é um importante componente no discurso político, pois

emite informações importantes a cerca do que a pessoa comunica, como comunica, o

que sente ao comunicar e ainda proporciona um feedback por parte de quem

receciona. O nosso discurso oral é quase sempre acompanhado de ações que se

traduzem em gestos e atitudes corporais. Essas atitudes materializam o discurso.

Como aponta Rei (2013), não há palavra oral sem corpo.

Elementos da Comunicação não Verbal

Ilustração 4: Elementos da comunicação não verbal

Fonte: Verissimo: 2008

Um bom discurso não consiste somente numa boa formulação, adornada de

contundentes argumentos e com um peculiar ornamento linguístico. Preconiza-se

também cautela com a colocação e modulação da voz, apresentação do orador, a sua

linguagem corporal, a duração do discurso, contato visual e articulação das palavras

por meio da voz. Este discurso deve ainda ser coerente com o momento, com os fatos

Comunicação não verbaL

Movimentos do corpo

(deslocação, atitude)

Características fisícas (idade,

fisionomia, gestos,meio

cultural)

Cinésica (gestos acompanhados por um contato fisíco, braços e

mãos)

Paralinguagem (tom, timbre e volume da voz, tosse, tiques,

risos, etc.)

Olhar (olhar incisivo, olhar

baixo)

Acessórios (roupa,perfume,

óculos, carro,etc.)

Proxémica (uso do espaço)

69

e com aquilo que queremos expressar naquele preciso instante. Por exemplo,

ninguém fala um discurso fúnebre expressando palavras tristes e sorrindo ao mesmo

tempo. Nesse caso, não existe coerência lógica entre o que se diz e o corpo que

expressa. Todo o nosso corpo comunica e, além da necessidade de harmonia, os

nossos gestos devem ser pautados em função do momento, do tema abordado e dos

recetores.

A linguagem corporal pode ser uma forte aliada aos políticos, desde que

saibam usá-la, claro. Uma boa linguagem corporal pode valorizá-los e conferir-lhes

confiança por parte do seu potencial eleitorado. Já o não domínio dessa linguagem

pode acarretar uma desarmonia entre o seu discurso e a expressividade do corpo. É

preciso ter cuidado com a comunicação não verbal, tanto aquela expressa por

intermédio do corpo quanto à expressa por objetos ao redor. Como salienta Santos

(2011), a construção da personagem pública do orador passa também por outros

adereços como os objetos que os rodeiam enquanto fazem uma apresentação ou

discurso.

Se um político é demasiado inibido ou demasiado desastrado nos gestos que

aplica ao discurso, sua mensagem poderá ficar distorcida, pois a falta de sintonia pode

torná-la confusa. Tal acontece também se for um discurso “morno” com uma

tonalidade de voz sem ênfase e invariações de tonalidade. Neste caso, o discurso não

terá emoção, tornando-se até mesmo cansativo aos espetadores. Voz sem impacto,

rosto inexpressivo e linguagem do corpo inadequada leva ao fracasso de um discurso.

Alguns analíticos políticos, relata Davis (1979), acham que no famoso debate de

televisão, em 1960, entre Nixton e Kennedy, o contraste entre a vitalidade exuberante

de Kennedy e o cansaço de Nixton, além de sua insipidez habitual, foi muito mais

importante do que tudo o que proferiram.

Um discurso político inflamado, dito por um tipo de olhar opaco, rosto murcho, corpo mole, seria muito desinteressante. Através da postura esse homem está dizendo que não precisa prestar-lhe atenção, porque não tem nada interessante para dizer (Davis 1979:48).

Há uma expressão popular que diz “uma imagem vale mais que mil palavras”.

As imagens realmente ilustram atitudes, exteriorizam sentimentos e emoções,

reforçando o que está sendo verbalizado. O bom orador, neste caso o político que

discursa no intuito de persuadir, pode e deve utilizar todos os recursos que a

comunicação não verbal dispõe em favor do êxito da sua mensagem. Além disso, o

orador deve também dominar o assunto que irá abordar. Assim, provavelmente

ganhará a credibilidade do público.

70

A comunicação é tanto mais eficiente quanto melhor se utilizarem as palavras certas, no momento certo, para o público certo, com o tom de voz, os gestos e o contexto apropriados e integrados na mensagem. (Veríssimo 2008: 17)

Para o bom andamento e aproveitamento de um discurso político, elementos da

comunicação não verbal devem ser levados em consideração. Uma vez em sintonia

com o que é expresso verbalmente, estes elementos tendem a validar o que está

sendo dito, dando assim, credibilidade às palavras do orador. Caso contrário, ou seja,

se não houver concordância, a linguagem corporal irá prevalecer, inclusive podendo

até desmentir, invalidando a intenção do discurso, no caso, persuadir.

Voz

De acordo com Rei (2013), a voz é um útil instrumento para exteriorizar e

tornar presente o pensamento e a interpretação de quem fala.

Um tom de voz confiante e controlado é um predicado valioso na comunicação.

“Se as pessoas gostarem do seu modo de falar, ouvirão mais prontamente o

que tem a dizer. O tom de voz faz parte do prazer que o ouvinte deve sentir ao

ouvir alguém falar” (Rei 2013: 50).

Falar com emoção e entusiasmo é, sem dúvida alguma, uma das mais

significativas estratégias para excitar o público e transmitir aquilo que se

pretende com uma grande probabilidade de êxito. “Mude o tom, o ritmo e as

expressões; as pausas surtem um grande efeito, pois criam interesse e

expetativa e servem para mostrar que tem tudo sob controlo” (Oliveira 1997:

35). Clareza, flexibilidade, sonoridade, naturalidade, harmonia, timbre,

velocidade, articulação e pronúncia são, por conseguinte, características

importantes a serem levadas em consideração pelo orador.

Postura

“A postura corporal fala mais alto que a voz” (Rei 2013: 57).

Enquanto se profere um discurso, deve-se estar atento a qual postura carrega.

Segundo oliveira (1997), a postura não deve ser muito humilde, se mantendo

cabisbaixo (quase que implorando atenção e piedade), nem arrogante,

autoritária e com ar de superioridade. A postura deve ser aquela que mais se

adequa ao público, gerando empatia, o que já será meio caminho andado.

“Evitar uma postura arrogante e gestos agressivos ou descoordenados é

preocupação fundamental” (Ferreira 2000: 994). Por fim, deve-se ainda ater ao

modo de andar, modo de estar, modo de posicionar as mãos, por exemplo.

71

Estes movimentos muito informam sobre o nosso estado e o nosso

envolvimento com o momento.

Características físicas

“Em qualquer tipo de comunicação, a primeira impressão pode predispor o

público” (Oliveira 1997:100). Portanto é imprescindível uma aparência bem

cuidada, a fim de não transmitir desleixo ou falta de consideração com o

público presente.

Olhar

De acordo com Rei (2013), o estabelecimento do contato visual é muito

importante na comunicação. “O olhar deve ser utilizado para captar e reter a

atenção, e também para ganhar a confiança” (Oliveira 1997:100).

Indumentária

Quando realizamos uma apresentação, tornamo-nos o centro das atenções, os

olhares dirigem-se a nós e também ao nosso corpo e ao que o reveste. “Antes

de pronunciar a primeira frase, o auditório já deve ter criado uma imagem a

nosso respeito” (Oliveira 1997:18). Portanto é obrigatório levar em

consideração esses detalhes, ou seja, a forma que se veste e se apresenta. “O

vestuário que envergamos parece ser muitas vezes, uma extensão do nosso

próprio corpo. Revela uma forma de expressão que diz muito do indivíduo e da

sociedade ou grupo onde está inserido” (Rei 2013: 44). Deve se ter atenção

ainda ao fato de que cada ocasião requer um tipo de indumentária, entretanto,

em todas as ocasiões prescreve-se vestir com elegância e simplicidade. “São

importantíssimos os cuidados que o orador deve ter consigo mesmo,

nomeadamente a maneira como se apresenta. Não deve se vestir de maneira

inusual e chocante” (Ferreira 2000: 994).

Gestos

Por natureza, os gestos reforçam e/ ou ilustram o que falamos. Suas funções

são inúmeras, o que sugere grande atenção a este importante elemento da

comunicação não verbal.

72

Ilustração 5: Funções dos gestos no discurso

Fonte: Veríssimo 2008

A linguagem corporal pode ser uma arma contra ou a favor de um político. O

corpo emite mensagens de maneira natural e espontânea a todo o momento, sem que

ele necessariamente tome consciência disso. Logo é bom que se domine estes dois

tipos de comunicação, a fim de que tanto as mensagens verbais quanto as mensagens

não verbais (transmitidas com ou sem intencionalidade) o favoreça. A linguagem

corporal é capaz de confirmar ou desmentir o seu discurso, colocando o em situações

embaraçosas e, ou, manchando a sua carreira. Para isso ele precisa aprender a ter

conhecimento e domínio do corpo. Sorriso espontâneo, contato ocular, gestos leves,

boa apresentação física e veste adequada, a maneira como se move, entonação,

altura da voz e maneira como respira, são atributos que tornam a comunicação mais

eficaz e persuasiva.

Qual seja a intenção do político no seu discurso, se é para persuadir ou

ludibriar, transmitir ou criar realidades, ele deve se ater ao fato que a sua linguagem

Funções dos gestos no discurso

Substituir palavras ou até frases

inteiras

Completar uma frase que

fique por concluir

Dar força à frase

Acentuar uma frase ou

expressão

Indicar um movimento

Exprimir diversos

sentimentos

73

corporal pode desmentir ou confirmar o não dito, pois a forma que comunica pode

sobrepor aquilo que comunica. “Se os nossos interlocutores forem perspicazes e

prestarem atenção ao modo como andamos, rimos, respiramos, mexemos as mãos...

conseguirão perceber, pelo menos parcialmente, o nosso estado de espírito.” (Rego

1999: 90). Estilo, gestos, movimentos e expressões faciais, os políticos devem servir-

se da linguagem do corpo para darem credibilidade à sua imagem e palavras.

“Aqueles que são realmente hábeis, no que se refere à capacidade de projetar

emoções através do corpo, não têm de se preocupar com aquilo que dizem. O que

importa é a forma como dizem” (Fast 1970: 172).

7 Metodologia

Exige-se no processo de investigação, descrever quais métodos utilizados para

nortear o presente trabalho. Neste capítulo será exposta a fundamentação, no que diz

respeito às opções metodológicas usadas no estudo, tornando-se um meio de acesso

para solucionar o problema exposto, aquele que deu início à investigação. Buscando

ascender o objetivo desta pesquisa, faz se necessário realizar um estudo exploratório

que validará ou não as hipóteses que levaram ao desenvolvimento deste estudo.

O trabalho exploratório tem como função alargar a perspetiva de análise, travar conhecimento com o pensamento de autores cujas investigações e reflexões podem inspirar as do investigador, revelar facetas do problema nas quais não teria certamente pensado por si próprio e, por fim, optar por uma problemática apropriada. (Quivy & Campenhoudt 2003: 109)

Este estudo exploratório deverá seguir uma metodologia específica que, uma

vez definida e adotada, indicará os caminhos a percorrer, para se chegar a um

resultado preciso e cientifico que fuja às ideias empíricas. Segundo Barros & Lehfel

(1986), a metodologia corresponde a um conjunto de procedimentos utilizados por

uma técnica ou disciplina, e sua teoria geral, num nível aplicado, examina e avalia as

técnicas de pesquisa bem como a geração ou verificação de novos métodos que

conduzem a captação e processamento de informações com vistas à resolução de

problemas de investigação. De acordo com Carmo & Ferreira (1998) é a metodologia

quem designa o processo de recolha sistematizado no terreno de dados susceptíveis

de poder ser comparados.

74

7.1 Problema de Investigação

Toda investigação nasce de um impasse observado, um questionamento, uma

reflexão em torno de determinado assunto que, ainda indissolúvel, torna-se um

problema a ser elucidado. Segundo Cervo e Bervian (1983), a pesquisa parte de uma

dúvida ou problema, e com o uso do método cientifico, busca uma resposta ou

solução. Para (Quivy & Campenhoudt: 2003) os diversos aspetos do problema

decorrem frequentemente de pontos de vistas que devem ser clarificados. Para dar

início à investigação, (Quivy & Campenhoudt: 2003) recomendam a formulação da

pergunta que estrutura o trabalho, os conceitos fundamentais e as ideias gerais que

inspirarão a análise.

A problematização consistirá então em formular o seu projeto de investigação, articulando duas dimensões que se constituem mutualmente nele: uma perspectiva teórica, um objeto de investigação concreto, ou ainda, indissociavelmente, um olhar e o objeto desse olhar. (Quivy & Campenhoudt: 2003)

Durante as eleições presidências do Brasil, em 2014, enquanto assistia aos

discursos dos candidatos do segundo turno Dilma Rousseff (PT- ex-presidente do

Brasil) e Aécio Neves (PSDB- senador), observava algumas incongruências entre o

discurso oral e a linguagem corporal de ambos. Provavelmente, a incompatibilidade de

expressões se dava pelo nervosismo gerado pela vulnerabilidade de um discurso

pautado em autodefesa e acusações. Gestualidade confusa, expressões faciais de

desapontamento, irritação, insatisfação, tom de voz irônico e sorrisos “amarelos”

levaram a pensar sobre a importância da sintonia entre linguagem verbal e não verbal

em todos níveis de comunicação, sobretudo quando o objetivo é persuadir e

convencer. Portanto, a pergunta que fomenta este estudo é: qual o impacto que a

comunicação não verbal, a linguagem corporal, presente no discurso político tem

sobre os eleitores?

Para verificar se há ou não uma influência da comunicação não verbal na

decisão dos eleitores, começaremos a investigação com um levantamento

bibliográfico, que é o primeiro passo de qualquer pesquisa científica, com o intuito de

recolher informações e conhecimentos prévios acerca do problema declarado.

75

7.2 Instrumentos de Recolha de Dados

Na segunda parte da pesquisa, passaremos então à recolha de dados, onde

utilizaremos como instrumento para tal, o inquérito por questionário, um método

quantitativo, que, segundo Carmo & Ferreira (1998), está essencialmente ligado à

investigação que pressupõe a verificação ou rejeição de hipóteses mediante uma

recolha rigorosa de dados, posteriormente sujeitos a uma análise estatística. Segundo

Carmo & Ferreira (1998), os objetivos da investigação quantitativa consistem

essencialmente em encontrar relações entre variáveis, fazer descrições recorrendo ao

tratamento estatístico de dados recolhidos. “Trata-se, neste caso, da caracterização

estatística de uma determinada população, através de um inquérito por questionário”

(Carmo & Ferreira 1998: 178).

Segundo Bell (2004) a recolha de dados através de inquéritos possibilita obter

informações que possam ser analisadas, extrair modelos de análises e fazer

comparações. Ao usar um inquérito propõe-se obter informações a partir de uma

seleção representativa da população e, a partir da amostra, tirar conclusões

consideradas representativas da população como um todo. Dado o fato de o

investigador estar em Portugal e a pesquisa ser realizada no Brasil, foi utilizado um

inquérito em formato de questionário, elaborado, aplicado e administrado entre os dias

02 e 05 de setembro, através do programa Google Forms tendo a rede social

Facebook como canal de comunicação entre inquiridor e inquirido.

A amostra de estudo é uma amostra não probabilística por conveniência, que

“ocorre quando a participação é voluntária ou os elementos da amostra são escolhidos

por uma questão de conveniência” (Alves: 2006), neste caso a população é acessível

por tratar-se de conhecidos do inquiridor. Constitui essa amostra 261 brasileiros,

oriundos das cinco regiões brasileiras, nomeadamente Centro-Oeste, Nordeste, Norte,

Sudeste e Sul.

Este questionário é constituído por perguntas de identificação, a

caracterização, onde os inquiridos identificam o sexo, idade, escolaridade, profissão e

estado (região) a qual pertencem. Na segunda etapa do questionário, foi aplicada uma

questão fechada num intuito de avaliar qual a noção que os inquiridos tinham da

comunicação não verbal. Dando sequência ao inquérito, segue-se para 16 questões,

de informação fechada, colocadas em uma escala de atitudes, a Escala de Likert que,

segundo Carmo & Ferreira (1998) consiste na apresentação de uma série de

proposições, devendo o inquirido, em relação a cada uma delas, indicar uma das cinco

76

posições: nada, pouco razoavelmente, bastante e muito. Depois, na 3ª etapa do

questionário, 16 imagens ilustradas pela ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff e por

seu principal adversário nas eleições de 2014, o senador Aécio Neves, onde em cada

imagem, o ilustrador portava notórias expressões faciais que evidenciavam alguma

emoção, em que os inquiridos deveriam relatar o que lhes dizia aquela expressão ali

exposta. Para isso foram-lhes colocadas, enquanto opção, cinco sugestões podendo

ainda, caso nenhuma das opções fosse de encontro a sua interpretação, descrever

então o que melhor lhe dizia. Por fim, há ainda duas “perguntas de controle”, como

sugere (Carmo & Ferreira: 1998) são destinadas a verificar a veracidade de outras

perguntas insertas noutra parte do questionário. Também colocadas em escalas, estas

duas últimas questões interpelavam se a linguagem corporal de determinado político

condiciona a impressão que tem dele e se a linguagem corporal dos políticos

influencia sua decisão de voto.

Utilizando esse processo, fez-se então possível recolher informações que

levarão, pois, à resolução do problema e conclusão desta pesquisa.

77

8 Apresentação e Discussão dos Resultados

A caracterização da amostra e a analise de dados serão apresentadas por meio de

gráficos, começando por uma imagem visual de dados e depois a descrição gráfica.

A- Género dos inquiridos

Gráfico 1: Género dos inquiridos

Foram inquiridos 261 brasileiros onde obtivemos 256 respostas. A amostra

então é composta por 173 pessoas do sexo feminino (70%), e 83 pessoas do sexo

masculino, o que equivale a 30%. (Cinco pessoas, sem justificativa, não responderam

a questão).

70%

30%

Género dos inquiridos

Feminino

Masculino

22%

51%

18%

7%

2%

Idade dos Inquiridos

Entre 16 a 21 anos

Entre 22 a 30 anos

Entre 31 a 40 anos

Entre 40 a 50 anos

Entre 50 a 65 anos

78

B- Idade dos inquiridos

Gráfico 2: Idade dos inquiridos

Destes 261 inquiridos, novamente apenas 256 responderam a pergunta. A

maior parte dos questionários foi respondida por jovens com idade entre 22 e 30 anos,

o que equivale a 51% da população inquirida. Depois, 22% (55 respostas)

correspondem a jovens com idade entre 16 e 21 anos; 18% (47 respostas)

correspondem a adultos com idade entre 31 e 40 anos; 7% (18 respostas)

correspondem a adultos com idade compreendida entre 40 e 50 anos e, por fim, 2%

da população (6 respostas) têm idade compreendida entre 50 e 65 anos. (5 pessoas,

sem justificativa, não responderam a questão).

C- Habilitações Literárias dos inquiridos

Gráfico 3: Habilitações Literárias dos inquiridos

Observa-se então que grande parte da população inquirida, 61% (156

respostas) é composta por pessoas com ensino superior. Depois, 32% (83 pessoas)

possui ensino médio; 3% da amostra (8 pessoas) possui mestrado ou doutorado; 2%

(6 pessoas) tem ensino fundamental ou 1º grau. 2% dos inquiridos (4 pessoas) têm

outro tipo de habilitação, não sendo especificado.

2%

32%

61%

3% 0% 2%

Habilitações literárias dos inquiridos

Ensino fundamental ou 1º grau

Ensino médio ou 2º grau

Superior- Graduação

Mestrado ou doutorado

Nenhum

Outro

79

(Quatro pessoas, sem justificativa, não responderam a questão).

D- Profissão dos inquiridos

Gráfico 4: Profissão dos inquiridos

A maior porcentagem da amostra (33%) é composta por estudantes, de acordo

com 83 respostas. 25% (61 respostas) são funcionários públicos, 19% (46 respostas)

são empregados do setor privado, 7% (17 respostas) trabalham por conta própria.

Outra fatia de 7% (17 respostas) corresponde a outro tipo de profissão que não foi

justificada por esta parcela de inquiridos. 4% da amostra (10 pessoas) é composta por

profissionais liberais.

(27 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão).

7%

19%

5%

33%

25%

4% 7%

Profissão dos inquiridos

Conta própria

Empregado setor privado

Empresário

Estudante

Funcionário público

Profissional liberal

Outro

80

E- Estado e Região dos inquiridos

Gráfico 5: Estado e Região dos inquiridos

Conforme já exposto, a amostra desta pesquisa é constituída por brasileiros

pertencentes às cinco regiões geográficas do Brasil, nomeadamente Centro- Oeste,

Nordeste, Norte, Sudestes e Sul. Minas Gerais (sudeste) constitui a maior parte da

população inquirida, são 166 respostas oriundas deste estado, o equivalente a 66%. A

segunda maior fatia da amostra (14%) pertence ao estado de São Paulo (Sudeste),

com 34 representantes. Depois vem Santa Catarina (Sul) com 5% (13 respostas); Rio

Grande do Sul 4% (9 respostas). 11% é constituído por pequenas fatias que

pertencem a inquiridos dos estados: Amazonas- Norte (2 respostas), Bahia/ Nordeste

(2 respostas), Ceará/ Nordeste (1 resposta), Espírito Santo/ Sudeste (2 respostas),

Goiás/ Centro- Oeste (1 resposta), Maranhão/ Nordeste (5 respostas), Mato Grosso do

1%

1% 0%

1%

0%

2% 1%

66%

1%

3%

4%

2% 5%

13%

Estado/ Região dos Inquiridos

Amazonas/ Norte

Bahia/ Nordeste

Ceará/ Nordeste

Espírito Santo/ Sudeste

Goiás/ Centro- Oeste

Maranhão/ Nordeste

Mato Grosso do Sul/Centro- OesteMinas Gerais/ Sudeste

Paraná/ Sul

Rio de Janeiro/ Sudeste

Rio Grande do Sul/ Sul

Rondônia/ Norte

Santa Catarina/ Sul

São Paulo/ Sul

81

Sul/ Centro- Oeste (2 respostas), Paraná/Sul (3 respostas), Rio de Janeiro/ Sul (7

respostas) e Rondônia/ Norte (4 respostas).

(10 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão).

Dada a caracterização da população inquirida, faremos agora a análise e discussão

dos 261 inquéritos.

F- O que engloba a comunicação não verbal, na opinião dos inquiridos.

Gráfico 6: O que engloba a comunicação não verbal

Depois da caracterização, vem a primeira pergunta do inquérito, sobre

comunicação não verbal: “para você, o que engloba a comunicação não verbal”. Essa

questão objetiva perceber se a população tem conhecimento acerca da linguagem

corporal. Dos 261 inquiridos, obtivemos 253 respostas, onde 59% da amostra (149

4%

25%

59%

12%

Para você, o que engloba a Comunicação não Verbal:

A aparência física, o olhar e avoz

Os gestos e expressões faciais

Os gestos, expressões faciais,uso do espaço, a maneira comofalamos (intensidade, volume,velocidade, pausas, ênfase), amovimentação do corpo,postura e aparência física

A movimentação do corpo, osgestos, a postura e o tom de voz

82

pessoas) respondeu que faz parte da comunicação não verbal os gestos, expressões

faciais, uso do espaço, a maneira como falamos (intensidade, volume, velocidade,

pausas, ênfase), a movimentação do corpo, postura e aparência física. Depois, 25%

(64 pessoas) considera como linguagem corporal apenas os gestos e expressões

faciais. 12% (29 pessoas) considera que a comunicação não verbal se resume à

movimentação do corpo, os gestos, a postura e o tom de voz. Depois 4% dos

inquiridos (11 pessoas) consideram aparência física, olhar e a voz.

(8 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão).

G- Comunicação não verbal condiciona a primeira impressão

Gráfico 7: Comunicação não verbal condiciona a primeira impressão

A segunda pergunta do questionário, a respeito do tema, busca compreender

se para a população, a linguagem corporal realmente condiciona a primeira impressão

que criamos de uma pessoa, como aponta Pierson (1991), quando diz que a nossa

linguagem corporal condiciona a impressão que passaremos ao interlocutor.

Utilizando a escala de Likert, onde os perguntados especificam seu nível de

concordância com uma afirmação, obtivemos a resposta de 256 dos 261 inquiridos.

Destes, 47% (120 pessoas) consideram que a comunicação não verbal condiciona

BASTANTE a primeira impressão que temos de uma pessoa. 25% da amostra (63

1%

6%

21%

47%

25%

Em que grau você considera que a Comunicação Não Verbal condiciona a primeira impressão que temos de uma

pessoa:

Nada

Pouco

Razoavelmente

Bastante

Muito

83

pessoas) considera que a comunicação não verbal condiciona MUITO a primeira

impressão que temos de uma pessoa. Depois, 21% da população (53 pessoas)

considera que a comunicação não verbal condiciona RAZOAVELMENTE a primeira

impressão que temos de uma pessoa e 6% (16 pessoas) afirma que a comunicação

não verbal POUCO condiciona a primeira impressão que temos de uma pessoa. Por

fim, na opinião de 1% dos inquiridos (4 pessoas), a comunicação não verbal NADA

condiciona a primeira impressão que temos de uma pessoa.

(5 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão).

H- A Comunicação não verbal de um político condiciona a decisão de voto

Gráfico 8: Comunicação não verbal condiciona a primeira impressão

A questão de número 3, sobre a comunicação não verbal, vai de encontro ao

problema que levou à investigação. Ao perguntar aos inquiridos se consideram que a

comunicação não verbal de um político condiciona a decisão de voto, 35% da

população (90 dos 254 que responderam a pergunta) respondeu que a linguagem

corporal condiciona BASTANTE a decisão de voto. Depois, 22% (57 pessoas)

respondeu que a linguagem corporal condiciona RAZOAVELMENTE a decisão de

voto. 21% da população (52 pessoas) considera que a linguagem corporal condiciona

MUITO a decisão de voto. 17% (43 pessoas) considera a linguagem corporal POUCO

condiciona a decisão de voto e na opinião de 5% da população (12 pessoas), a

linguagem corporal NADA condiciona a decisão de voto.

5%

17%

22%

35%

21%

Considera que a Comunicação Não Verbal de um político condiciona a decisão de voto:

Nada

Pouco

Razoavelmente

Bastante

Muito

84

(7 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão).

I- Os gestos condicionam a decisão de voto

Gráfico 9: Os gestos condicionam a decisão de voto

Agora sobre os elementos não verbais que ilustram a comunicação não verbal

durante o discurso político, foi posto à população se a mesma considera que os gestos

condicionam a decisão de voto. Das 255 pessoas que responderam a pergunta, 33%

(84 pessoas) consideram que os gestos expostos por um político, durante o seu

discurso, condicionam BASTANTE a decisão de voto, 27% (68 pessoas) considera

que condiciona RAZOAVELMENTE, 19% (48 pessoas) considera que MUITO

condiciona; 17% (44 pessoas) considera que POUCO condiciona e, por fim, 4% da

população (11 pessoas) considera que os gestos expostos por um político, durante o

seu discurso, NADA condicionam a decisão de voto.

(6 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão).

4%

19%

27% 33%

17%

Considera que os gestos expostos por um político, durante o seu discurso,

condicionam a decisão de voto:

Nada

Pouco

Razoavelmente

Bastante

Muito

85

J- As expressões faciais condicionam a decisão do voto

Gráfico 10: As expressões faciais condicionam a decisão do voto

Sobre as expressões faciais, que também constituem a linguagem não verbal,

foi perguntado à população se ela considera que as expressões faciais, presentes no

discurso de um político, condicionam a decisão do voto. Obtivemos aqui 254

respostas. Destas, 36% da população (91 pessoas) considera que as expressões

faciais, presentes no discurso de um político, condicionam BASTANTE à decisão do

voto. Depois, 26% da amostra (67 pessoas) considera que condiciona

RAZOAVELMENTE a decisão de voto. 18% (45 pessoas) considera que MUITO

condiciona; 16% considera que POUCO condiciona e, por fim, 4% da população

inquirida (9 pessoas) considera que que as expressões faciais, presentes no discurso

de um político, NADA influem na decisão do voto.

(7 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão)

16% 4%

26% 36%

18%

Considera que as expressões faciais, presentes no discurso de um político,

condicionam a decisão do voto:

Pouco

Nada

Razoavelmente

Bastante

Muito

86

L- A maneira como se faz uso do espaço condiciona a decisão do voto

Gráfico 11: A maneira como se faz uso do espaço condiciona a decisão do voto

Sobre a proxémica, termo criado pelo antropólogo Edward T. Hall (Hall: 1966)

quando se refere à distância em que nos colocamos com relação ao nosso interlocutor

e a maneira como se usa o espaço enquanto meio social; foi perguntado à população

inquirida se ela considera que a maneira como um político faz uso do espaço

(exemplo: mais próximo ou mais afastado do eleitorado) condiciona a decisão do voto.

Dos 261 inquéritos obtivemos 252 respostas, onde 35% da população (89 pessoas)

considera que MUITO condiciona, 30% (75 pessoas) considera que condiciona

BASTANTE, 21% (53 pessoas) considera que RAZOAVELMENTE, 11% (27 pessoas)

considera que POUCO influencia e 3% (7 pessoas) considera que NADA condiciona.

(10 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão)

3%

11%

21%

30%

35%

0%

Considera que a maneira como um político faz uso do espaço (exemplo: mais próximo ou mais afastado do eleitorado) condiciona

a decisão do voto:

Nada

Pouco

Razoavelmente

Bastante

Muito

Outro

87

M- O modo como o político fala condiciona a decisão do voto

Gráfico 12: O modo como o político fala condiciona a decisão do voto

“A voz é uma das peças fundamentais na eficácia de qualquer orador” (Rego

1999: 91). Sobre a paralinguagem, questionamos à população se considera que o

modo como o político fala, durante um discurso, condiciona a decisão do voto. Dos

261 inquéritos, obtivemos resposta de 256 pessoas onde 45% (114 pessoas)

considera que o que o modo como o político fala durante um discurso condiciona

BASTANTE a decisão do voto. Depois, 22% (56 pessoas) considera que isso

influencia RAZOAVELMENTE, 20% (52 pessoas) considera que MUITO influencia, 9%

(24 pessoas) considera que POUCO influencia e, por fim, 4% (10 pessoas) considera

que o modo como o político fala durante um discurso NADA condiciona a decisão do

voto.

(5 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão)

4%

9%

22%

45%

20%

Considera que o modo como o político fala (intensidade, volume, velocidade, pausas, ênfase) durante um discurso condiciona a

decisão do voto:

Nada

Pouco

Razoavelmente

Bastante

Muito

88

N- O movimento corporal condiciona a decisão do voto

Gráfico 13: O movimento corporal condiciona a decisão do voto

Ao perguntar à população se considera que o movimento corporal (cabeça,

braços, mãos, tronco, pernas) de um político, durante o discurso, também condiciona a

decisão do voto, 36% da população (92 pessoas) respondeu que o movimento

corporal condiciona RAZOAVELMENTE a decisão de voto. 22% (56 pessoas)

respondeu que condiciona BASTANTE, 22% (55 pessoas) considera que o movimento

corporal de um político POUCO influencia a decisão, 12% (31 pessoas) considera que

MUITO influencia e 8% (21 pessoas) considera que NADA influencia o movimento

corporal dos políticos durante o discurso.

(6 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão)

8%

22%

36%

22%

12%

Considera que o movimento corporal (cabeça, braços, mãos, tronco, pernas) de

um político, durante o discurso, condiciona a decisão do voto:

Nada

Pouco

Razoavelmente

Bastante

Muito

89

O – A postura corporal condiciona a decisão do voto

Gráfico 14: A postura corporal condiciona a decisão do voto

Ao questionar à população se esta considera que a postura corporal de um

político, durante o discurso, condiciona a decisão do voto, obtivemos 253 respostas,

onde 33% (83 pessoas) afirma que a postura RAZOAVELMENTE condiciona a

decisão de voto. Para 30% da amostra (75 pessoas) condiciona BASTANTE; outra

fatia de 17% (43 pessoas) considera que POUCO condiciona; 15% (39 pessoas)

considera que MUITO influencia e 5% (13 pessoas) considera que NADA influencia a

postura corporal do politico.

(6 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão)

5%

17%

33%

30%

15%

Considera que a postura corporal de um político, durante o discurso, condiciona a

decisão do voto:

Nada

Pouco

Razoavelmente

Bastante

Muito

90

P- A aparência física condiciona a decisão do voto

Gráfico 15: A aparência física condiciona a decisão do voto

Sobre a aparência física do político, durante o discurso, 32% dos inquiridos (81

pessoas) responderam que a aparência física condiciona RAZOAVELMENTE a

decisão do voto. 30% (76 pessoas) considera que condiciona BASTANTE, 15% (39

pessoas) considera que POUCO condiciona; 14% (37 pessoas) considera que MUITO

condiciona e 9% da amostra (23 pessoas) considera que a aparência física NADA

influencia.

(6 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão)

9%

15%

32%

30%

14%

Considera que a aparência física de um político, durante o discurso, condiciona a

decisão do voto:

Nada

Pouco

Razoavelnte

Bastante

Muito

91

Q- A comunicação não verbal influencia na decisão do voto

Gráfico 16: A comunicação não verbal influencia na decisão do voto

Depois das últimas questões sobre a comunicação não verbal e os seus

elementos, fomos verificar se a população já teria então se familiarizado com a ligação

entre comunicação não verbal e o discurso político. Então foi perguntado se, num

discurso político, a comunicação não verbal influencia na decisão do voto. Neste

sentido uma parcela de 37% (93 pessoas) considera que influencia BASTANTE;

outros 25% (64 pessoas) considera que influencia RAZOAVELMENTE; 17% (43

pessoas) considera que POUCO influencia; 16% (42 pessoas) acredita que MUITO

influencia e, por fim, uma fatia de 5% da população inquirida (13 pessoas) considera

que, num discurso político, a comunicação não verbal NADA influencia na decisão do

voto.

(6 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão)

5%

17%

25% 37%

16%

Concorda que num discurso político a comunicação não verbal influencia na

decisão do voto:

Nada

Pouco

Razoavelmente

Bastante

Muito

92

R- A linguagem corporal é mais importante que o próprio discurso

Gráfico 17: A linguagem corporal é mais importante que o próprio discurso

Para reforçar a última pergunta, perguntamos à população inquirida se

considera que a linguagem corporal do político é mais importante que o seu próprio

discurso. Obtivemos 255 respostas, onde 31% dos que responderam (78 pessoas)

considera que é a linguagem corporal é POUCO importante com relação ao discurso;

30% (76 pessoas) afirma que é RAZOAVELMENTE importante, 19% (49 pessoas)

considera que a comunicação não verbal não é importante com relação ao discurso,

ou seja, NADA; 16% (41 pessoas) considera que é BASTANTE importante e apenas

uma fatia de 4% (11 pessoas) considera que a linguagem corporal é MUITO

importante.

(6 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão)

19%

31% 30%

16%

4%

Considera que a linguagem corporal é mais importante que o próprio discurso:

Nada

Pouco

Razoavelmente

Bastante

Muito

93

S- A linguagem corporal não importa, o que vale são as palavras

Gráfico 18: A linguagem corporal não importa o que vale são as palavras

Também questionamos aos inquiridos se consideram que a linguagem corporal

dos políticos não importa no discurso. 31% (79 pessoas) afirmaram que, neste caso, a

linguagem corporal RAZOAVELMENTE importa. 24% (60 pessoas) considera que

POUCO importa; 20% (50 pessoas) considera que a linguagem corporal NADA

importa; 17% (43 pessoas) considera que importa BASTANTE e apenas uma fatia de

8% (21 pessoas) considera que a linguagem corporal MUITO importa.

(8 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão)

20%

24%

31%

17%

8%

Considera que a linguagem corporal dos políticos não importa. O que vale são as

palavras:

Nada

Pouco

Razoavelmente

Bastante

Muito

94

T- Como interpreta o sorriso durante o discurso

Gráfico 19: Como interpreta o sorriso durante o discurso

Sobre um político que se mantém sorridente durante o discurso, a população

inquirida o interpreta da seguinte maneira: 40% (103 pessoas) o considera

SIMPÁTICO; 19% (48 pessoas) o considera POSITIVO; 18% (45 pessoas) considera

FORÇADO, 11% (27 pessoas) considera FALSO, 8% (21 pessoas) considera

CONFIÁVEL e para 4% dos inquiridos (10 pessoas) esse fator é NEUTRO.

(7 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão)

40%

19%

8%

18%

11%

4%

Um político, que mantém-se sorridente durante o discurso, é interpretado como:

Simpático

Positivo

Confiável

Forçado

Falso

Neutro

95

U- Como interpreta a ausência do sorriso durante o discurso

Gráfico 20: Como interpreta a ausência do sorriso durante o discurso

Já um político que não sorri durante o discurso, é interpretado por 41% dos

inquiridos (102 pessoas) como pessoa NEUTRA; outros 41% (102 pessoas) o definem

como um político CONCENTRADO; para 10% da amostra (24 pessoas) é uma pessoa

INCONFIAVÉL; uma fatia de 3% (8 pessoas) o interpreta como SINCERO, para 3% (6

pessoas) é SIMPÁTICO e 2% (6 pessoas) o definem como político honesto.

(13 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão).

3%

41%

3% 2%

10%

41%

Um político que não sorri durante um discurso, é interpretado como:

Sincero

Concentrado

Simpático

Honesto

Inconfiável

Neutro

96

V- Que impressão transmite um político de aparência descuidada

Gráfico 21: Que impressão transmite um político de aparência descuidada

Perguntamos à população inquirida que impressão passa um político que traz a

aparência descuidada durante o seu discurso. Na opinião de 33% (84 pessoas) dos

inquiridos, o maior grupo, esse fator é NEUTRO. Para o segundo maior grupo, aquele

de 30% (76 pessoas), este político é visto como ICONFIÁVEL; outros 30% (78

pessoas) o consideram uma pessoa HUMILDE; para 3% da amostra (8 pessoas) ele

passa a impressão de DESONESTO, para outros 3% (7 pessoas) SINCERO e para

1% dos inquiridos (3 pessoas) este político é visto como HONESTO.

(5 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão)

3%

30%

1%

3% 30%

33%

Um político que traz a aparência descuidada durante um discurso, transmite a impressão

de:

Desonesto

Humilde

Honesto

Sincero

Inconfiável

Neutro

97

W- Como considera uma fala acompanhada de muitos gestos

Gráfico 22: Como considera uma fala acompanhada de muitos gestos

Para 26% da população inquirida (65 pessoas), um político que muito gesticula

durante o discurso tem a fala CONFUSA; outros 22% (57 pessoas) consideram uma

fala mais CONVICTA; 18% (47 pessoas) considera esta fala FIRME; 8% (20 pessoas)

considera que a fala torna-se mais CREDÍVEL; 6% (16 pessoas) considera uma fala

INCOERENTE e 5% (13 pessoas) considera a fala, acompanhada de muitos gestos,

mais COERENTE. Observamos ainda que 15% da amostra (38 pessoas) considera

que muito gesto, durante o discurso, NADA INFLUENCIA. (5 pessoas, sem

justificativa, não responderam a questão)

Segundo Fast (1970), exprimimos o nosso estado de espírito através da

linguagem corporal não verbal. Erguemos a sobrancelha por incredulidade,

esfregamos o nariz por atrapalhação, cruzamos os braços para nos protegermos,

encolhemos os ombros por indiferença, piscamos os olhos por intimidade, batemos os

dedos por impaciência, batemos na testa por esquecimento. Ekman, Friesen e

Sorenson (apud Fast: 1970), três investigadores da comunicação não verbal, afirmam

que dentro de uma cultura, existe uma concordância em reconhecer diferentes

estados emocionais. Este reconhecimento está relacionado com a herança cultural

que vai sendo repassada.

Embasados no exposto acima, perguntamos à amostra qual a emoção que

interpreta em certas expressões faciais, algumas acompanhadas de movimentos

18%

26%

22%

8%

6%

5%

15%

Um político que muito gesticula durante o discurso, tem a fala considerada mais:

Firme

Confusa

Convicta

Credível

Incoerente

Coerente

Nada influencia

98

corporais. As imagens propostas nas seguintes questões são ilustradas por dois

políticos brasileiros, a ex-presidente do Brasil, Dilma Roussef, e o senador Aécio

Neves

Gráfico 23: Imagem A

Na opinião de 44% da população inquirida (113 pessoas) que no caso constitui

o maior grupo, a imagem A (onde o objeto ilustrador tem as duas mãos no rosto, olhos

arregados e boca semi-aberta) expressa o sentimento de SURPRESA; Outra parcela,

agora 32% (81 pessoas), interpreta a mesma imagem como AFLIÇÃO; para 22% (55

22%

32%

1% 1%

44%

0%

O que a linguagem corporal comunica na imagem abaixo (IMAGEM A):

Preocupação

Aflição

Raiva

Descontração

Surpresa

Outro

99

pessoas) é PREOCUPAÇÃO, 1% (2 pessoas) DESCONTRAÇÃO e 1% da amostra (2

pessoas) identifica RAIVA. (8 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão)

Gráfico 24: Imagem B

Na imagem B, o objeto ilustrativo apresenta braços levemente erguidos com

mãos apoiadas à cabeça, boca fechada com cantos superiores levemente caídos e

rugas verticais acima do nariz. Depois de contemplar essa imagem, 55% (139

pessoas) dos inquiridos identificaram PREOCUPAÇÃO nas expressões; 32% (80

pessoas) AFLIÇÃO, 8% (20 pessoas) RAIVA, 5% (13 pessoas) INCERTEZA. Um dos

0%

5%

55% 8%

32%

O que a linguagem corporal comunica nas imagens abaixo (IMAGEM B):

Empolgação

Incerteza

Preocupação

Raiva

Aflição

Outro

100

inquiridos ainda interpretou a imagem como DESCONTRAÇÃO. (8 pessoas, sem

justificativa, não responderam a questão)

Gráfico 25: Imagem C

Na imagem C, temos o objeto ilustrador sentado em posição ereta, braços

apoiados à cadeira, mãos cruzadas, cabeça em posição neutra, olhos e boca aberta,

esboçando um sorriso. Para metade dos inquiridos, 50% (127 pessoas), a expressão

transmite TRANQUILIDADE; Outra parcela, 21% (52 pessoas), identifica

18%

50%

8%

1%

21%

2%

O que a linguagem corporal comunica na imagem abaixo (IMAGEM C):

Descontração

Tranquilidade

Empolgação

Preocupação

Contentamento

Outro

101

CONTENTAMENTO, 18% (46 pessoas) DESCONTRAÇÃO, 8% (19 pessoas)

EMPOLGAÇÃO, 2% (5 pessoas) não concorda com as opções oferecidas, optando

por marcar OUTRO. Por fim, 1% da população (3 pessoas) identifica PREOCUPAÇÃO

nesta imagem. (9 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão).

Gráfico 26: Imagem D

Na imagem D, em que o objeto ilustrado apresenta a cabeça um pouco voltada

para o ombro direito que se encontra levemente erguido, também ostentado com

50%

4%

11% 4%

31%

O que a linguagem corporal comunica na imagem abaixo (IMAGEM D):

Satisfação

Nojo

Ternura

Empolgação

Sarcasmo

102

sorriso, 50% dos entrevistados (127 pessoas) interpretaram SATISFAÇÃO na imagem;

31% (78 pessoas) SARCASMO; 11% (29 pessoas) TERNURA; 4% (11 pessoas)

NOJO e 4% (9 pessoas) EMPOLGAÇÃO.(7 pessoas, sem justificativa, não

responderam a questão).

Gráfico 27: Imagem E

Na imagem E, onde o objeto ilustrador aparece com o queixo apoiado à mão,

boca cerrada e uma pequena ruga vertical acima do nariz, 70% da população (176

O que a linguagem corporal comunica na imagem abaixo (IMAGEM E)

Empolgação

Desinteresse

Raiva

Tédio

Preocupação

Outro

103

pessoas) interpreta a expressão como PREOCUPAÇÃO; uma pequena fatia de 12%

(29 pessoas) identifica TÉDIO; outra de 7% (17 pessoas) RAIVA; 6% da amostra (14

pessoas) não identifica a emoção em nenhuma das opções, assinalando a resposta

“OUTRO”. Uma (1) pessoa (0%) interpreta a imagem como EMPOLGAÇÃO. (9

pessoas, sem justificativa, não responderam a questão).

Gráfico 28: Imagem F

Na imagem F, observa-se que o ilustrador mantém a cabeça baixa e a boca

fechada e comprimida. Para 44% da população inquirida (110 pessoas) esta imagem

transmite LAMENTO; para outro grupo de 43% (108 pessoas) é DESAPONTAMENTO,

44%

7%

0%

43%

4% 2%

O que a linguagem corporal comunica na imagem abaixo (IMAGEM F):

Lamento

Descrença

Alegria

Desapontamneto

Aflição

Outro

104

7% da amostra (18 pessoas) identifica DESCRENÇA, 4% (11 pessoas) AFLIÇÃO, 2%

(5 PESSOAS) não identifica a emoção em nenhuma das opções, assinalando a

resposta “OUTRO”. (9 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão).

Gráfico 29: Imagem G

Ao contemplar a imagem G onde o objeto ilustrador tem a cabeça e ombro

direito inclinado, boca fechada e uma pequena vertical acima do nariz, para o lado

direito, 36% da população inquirida (92 pessoas) identificou INDAGAÇÃO por meio da

expressão. 31% (77 pessoas) apontou ARROGÂNCIA, 17% (43 pessoas) ESPANTO,

4% (9 pessoas) EMPOLGAÇÃO e 3% da amostra (8 pessoas) não identifica a emoção

17%

31% 36%

9%

4% 3%

O que a linguagem corporal comunica na imagem abaixo (IMAGEM G):

Espanto

Arrogância

Indagação

Frustação

Empolgação

Outro

105

em nenhuma das opções, assinalando a resposta “OUTRO”. (9 pessoas, sem

justificativa, não responderam a questão).

Gráfico 30: Imagem H

Na imagem H, o objeto ilustrador traz a cabeça meio abaixada, boca aberta e

uma das mãos levantada, onde os dedos, polegar e indicador, estão juntos em forma

de círculo. Na interpretação dessa imagem, 53% dos inquiridos (135 pessoas)

identificam uma emoção de REVOLTA, 38% (96 pessoas) RAIVA, 5% (12 pessoas)

TÉDIO, 1% (3 pessoas) TRISTEZA. 3% da amostra (8 pessoas) não identifica a

5%

53%

1%

38%

3%

O que a linguagem corporal comunica na imagem abaixo (IMAGEM H):

Tédio

Revolta

Tristeza

Raiva

Outro

106

emoção correspondente em nenhuma das opções, assinalando a resposta “OUTRO”.

(7 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão).

Gráfico 31: Imagem I

Na imagem I, onde o objeto ilustrador mantém-se aparentemente sentado, mão

direita a tocar a orelha, olhos baixos e boca cerrada com cantos levemente caídos,

49% dos inquiridos (122 pessoas) apontaram que a imagem comunicava

PREOCUPAÇÃO, para 22% (55 pessoas) MEDO. 11% da amostra (27 pessoas)

aponta SARCASMO nesta expressão e para 9% (21 pessoas) é NOJO. 1% da

amostra (3 pessoas) identifica entusiasmo na expressão. Por fim, 8% (21 pessoas)

9%

49% 11% 1%

22%

8%

O que a linguagem corporal comunica na imagem abaixo (IMAGEM I):

Nojo

Preocupação

Sarcasmo

Entusiamo

Medo

Outro

107

não identifica a emoção correspondente em nenhuma das opções disponíveis,

assinalando a resposta “OUTRO”. (12 pessoas, sem justificativa, não responderam a

questão).

Gráfico 32: Imagem J

Na imagem J, temos o objeto ilustrativo portando na sua expressão facial uma

boca retraída e sobrancelhas arqueadas. Segundo 36% da população inquirida (91

pessoas) a imagem comunica LAMENTO, outra parcela inquirida, que equivale a 34%

(87 pessoas) identifica DESAPONTAMENTO, para 27% (68 pessoas) há

CONSTRAGIMENTO, 2% (6 pessoas) aponta TÉDIO e, por fim, 1% da amostra (2

36%

34%

2%

1%

27%

O que a linguagem corporal comunica na imagem abaixo (IMAGEM J):

Lamento

Desapontamento

Tédio

Entusiasmo

Constrangimento

108

pessoas) ainda aponta como ENTUSIASMO. (7 pessoas, sem justificativa, não

responderam a questão).

Gráfico 33: Imagem L

A imagem L tem na expressão facial uma boca fechada, levemente contraída,

cabeça jogada levemente para o lado esquerdo, e olhos abertos meio abaixados, a

mirar também o lado esquerdo. Diante da expressão, 51% da amostra (129 pessoas)

identifica uma emoção de CONSTRANGIMENTO na imagem; 22% (54 pessoas)

identifica SURPRESA, 15% (37 pessoas) TRISTEZA, 11% (28 pessoas) ESPANTO, e

11% 1%

51%

15%

22%

O que a linguagem corporal comunica na imagem abaixo (IMAGEM L):

Espanto

Raiva

Constrangimento

Tristeza

Surpresa

109

um 1% da amostra (2 pessoas) aponta RAIVA na expressão. (11 pessoas, sem

justificativa, não responderam a questão).

Gráfico 34: Imagem M

Na imagem M, observa-se um ilustrador com a mão direita apoiada no rosto,

olhos abertos meio abaixados e boca fechada. A maior parcela da amostra, 68% (170

pessoas), identifica TÉDIO na expressão; depois, 26% da população (65 pessoas)

identifica DESAPONTAMENTO, 4% (11 pessoas) RANCOR. 2% população inquirida

(5 pessoas) não identificou uma emoção referente a expressão, em nenhuma das

68%

26%

0% 4% 2%

O que a linguagem corporal comunica na imagem abaixo (IMAGEM M):

Tédio

Desapontamento

Otimismo

Rancor

Outro

110

alternativas, apontando então para opção OUTRO. Um dos inquiridos ainda identificou

OTIMISMO na expressão. (9 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão).

Gráfico 35: Imagem N

Na imagem N onde o personagem traz a mão esquerda apoiada ao queixo, a

cabeça levemente inclinada para o lado direito, boca fechada e olhos abertos fixados à

frente, 37% da população inquirida (95 pessoas) identifica DESDÉM na expressão.

Depois, 29% (73 pessoas) apontam para CONCENTRAÇÃO, 26% (66 pessoas)

37%

29%

2%

4%

26%

2%

O que a linguagem corporal comunica na imagem abaixo (IMAGEM N):

Desdém

Concentração

Medo

Entusiasmo

Arrogância

Outro

111

ARROGÂNCIA, 4% (10 pessoas) ENTUSIASMO, 2% (5 pessoas) MEDO e outra

pequena fatia de 2% (4 pessoas) não identifica nenhuma alternativa que se encaixe à

interpretação, optando então pela alternativa OUTRO. (8 pessoas, sem justificativa,

não responderam a questão).

Gráfico 36: Imagem O

38%

36%

8%

8%

9%

1%

O que a linguagem corporal comunica na imagem abaixo na imagem abaixo

(IMAGEM O):

Revolta

Raiva

Aflição

Arrogância

Empolgação

Outro

112

Na imagem O, o personagem ilustrativo aparece com boca aberta,

sobrancelhas arqueadas e queixo levemente inclinado. Ao perguntar aos inquiridos o

que a linguagem corporal comunica nesta imagem, 38% destes (95 pessoas)

responderam REVOLTA; Uma parcela um pouco menor, 36% (91 pessoas),

interpretou a expressão como RAIVA; 9% (23 pessoas) EMPOLGAÇÃO; 8% (20

pessoas) ARROGÂNCIA, 8% (21 pessoas) AFLIÇÃO. Um dos inquiridos (1%) não

identificou em nenhuma das opções a emoção que condizia à sua interpretação. (10

pessoas, sem justificativa, não responderam a questão).

Gráfico 37: Imagem P

34%

1%

1% 14%

46%

4%

O que a linguagem corporal comunica na imagem abaixo na imagem abaixo

(IMAGEM P):

Simpatia

Espanto

Ternura

Indiferença

Descontração

Outro

113

Na imagem P, temos a imagem do personagem ilustrativo a gesticular com a

mão esquerda e dedo indicador elevado; na face, um sorriso acompanhado de rugas

nos cantos externos dos olhos e sobrancelhas meio arqueadas. Da população

investigada 46% (116 pessoas) interpretam a expressão como DESCONTRAÇÃO;

34% (86 pessoas) SIMPATIA; 14% (36 pessoas) entende como INDIFIRENÇA; 1% (2

pessoas) TERNURA e 1% (1 pessoa) assimila a expressão como ESPANTO. Depois,

4% da amostra (10 pessoas) não identificou em nenhuma das opções a emoção que

condizia à sua interpretação. (10 pessoas, sem justificativa, não responderam a

questão).

Gráfico 38: Imagem Q

10%

75%

1% 11%

2% 1%

O que a linguagem corporal comunica na imagem abaixo na imagem abaixo

(IMAGEM Q):

Convicção

Satisfação

Preocupação

Entusiasmo

Arrogância

Outro

114

Na última imagem deste inquérito, a imagem Q, o objeto ilustrativo traz as

mãos juntas e elevadas à altura do queixo. No rosto, um sorriso, sem a presença de

rugas verticais ou nas extremidades dos olhos. Ao contemplar esta imagem, 75% da

amostra (190 pessoas) identificou SATISFAÇÃO; uma parcela de 11% (27 pessoas)

identifica ENTUSIASMO; 10% (25 pessoas) CONVICÇÃO, 2% (4 pessoas)

ARROGÂNCIA e 1% (4 pessoas) ainda identifica PREOCUPAÇÃO. Por fim, 1% da

amostra (3 pessoas) declara que não identificou em nenhuma das opções a emoção

que condizia à sua interpretação. (8 pessoas, sem justificativa, não responderam a

questão).

X- A linguagem corporal condiciona a impressão

Gráfico 39: A linguagem corporal condiciona a impressão

As duas últimas questões que seguem agora objetivam verificar as questões

anteriores. Perguntamos aos inquiridos se a linguagem corporal de determinado

político condiciona a impressão que têm dele. Na opinião de 39% da população

inquirida (97 pessoas), a linguagem corporal condiciona BASTANTE a impressão que

formamos de um político, durante o seu discurso. Uma parcela de 27% (69 pessoas)

afirma que condiciona RAZOAVELMENTE; Para 20% (49 pessoas) condiciona

MUITO; 11% (27 pessoas) POUCO condiciona e para uma fatia de 4% (9 pessoas),

NADA condiciona. (10 pessoas, sem justificativa, não responderam a questão).

4%

11%

27%

39%

19%

A linguagem corporal de determinado político condiciona a impressão que tem

dele:

Nada

Pouco

Razoavelmente

Bastante

Muito

115

Y- A linguagem corporal dos políticos influencia a decisão de voto

Gráfico 40: A linguagem corporal dos políticos influencia a decisão de voto

Por fim, foi perguntado à população se a linguagem corporal dos políticos

influencia a decisão de voto. A maior parcela de inqueridos, 31% (77 pessoas), afirma

que influencia BASTANTE, outra de 26% (66 pessoas) responde que influencia

RAZOAVELMENTE; para 20% (50 pessoas) POUCO condiciona; para 14% (35

pessoas) MUITO condiciona e para 10% (24 pessoas) a linguagem corporal dos

políticos NADA influencia a decisão de voto. (9 pessoas, sem justificativa, não

responderam a questão).

8.2 Discussão dos resultados

Já apresentando avanços em relação à solução da problemática dessa

investigação, seguimos agora para discussão da análise dos dados, onde será

exposta a nossa interpretação dos resultados colhidos na pesquisa.

A amostra dessa investigação é composta maioritariamente pela população

feminina, representada por 173 brasileiras (70%). As maiores fatias pertencem a

jovens com idade compreendida entre 22 e 30 anos, estudantes do ensino superior,

pertencentes ao estado de Minas Gerais. Por se tratar de jovens que já têm direito ao

voto, com um grau de instrução elevado, acredita-se que são pessoas já

questionadoras com opinião expressiva e observadora a cerca da comunicação não

verbal no discurso político.

9%

20%

26%

31%

14%

A linguagem corporal dos políticos influencia sua decisão de voto:

Nada

Pouco

Razoavelmente

Bastante

Muito

116

Já na primeira questão sobre a comunicação verbal, pode-se observar que

59% da amostra tem noção sobre o que se trata a linguagem corporal, quando

respondem que é uma forma de expressão constituída por gestos, expressões faciais,

uso do espaço, a maneira como falamos (intensidade, volume, velocidade, pausas,

ênfase), a movimentação do corpo, postura e aparência física. Das 256 respostas, 120

afirmavam (47%) que a comunicação não verbal influi bastante na primeira impressão

que têm de uma pessoa e, para 90 inquiridos, essa linguagem condiciona bastante na

hora de decidir o voto.

Agora vamos falar dos elementos não verbais, começando pelos gestos.

Importante suporte durante o discurso, os gestos contribuem na autenticidade da fala,

dão ênfase e ilustram. Ao analisar os inquéritos, observa-se que os gestos não

relevam a decisão de voto, das 255 respostas, somente 44 delas (17%) afirmam que

os gestos condicionam a decisão destes eleitores. Já as expressões faciais têm

grande influência. De toda população inquirida, somente 4% (9 dos 254 inquiridos)

afirma que as expressões faciais não condicionam a decisão de voto. Os demais

afirmam, em maior ou menor grau, que as expressões faciais influem sim, na decisão.

Tal como as expressões faciais, a maneira como o político faz uso do espaço, durante

o discurso, pode influenciar a opinião dos seus eleitores. É o que apontam 65% dos

252 eleitores que responderam a questão. Para este grupo, a maneira como um

político faz uso do espaço (exemplo: mais próximo ou mais afastado do eleitorado)

condiciona a decisão do voto, bem como a maneira como o político faz o uso da voz.

65% da amostra também considera (muito ou bastante) que a maneira como o político

fala durante um discurso é importante no processo de influência.

Já o movimento do corpo deste político, durante o seu discurso, não influencia

o seu argumento e não possui peso na conquista dos eleitores. É o que aponta a

amostra inquirida, onde 58% dos 255 que retornaram a pergunta afirmam. Segundo

esta maioria, o movimento corporal (cabeça, braços, mãos, tronco, pernas) de um

político, durante o discurso, não condiciona a decisão do voto. A postura corporal que

o político carrega durante o seu discurso, também não interfere na decisão dos

eleitores. Para 139 dos 253 eleitores inquiridos, ou seja, 55%, a postura corporal de

um político, durante o discurso, não é um fator relevante na escolha do voto.

Praticamente essa mesma parcela também concorda que a aparência física de um

político, durante o discurso, não determina o voto.

Indo ao encontro da problemática dessa investigação, 53% da amostra afirma

que a comunicação não verbal interfere na sua decisão enquanto eleitor. Essa

117

afirmação será novamente discutida no final desse capítulo, quando interpretarmos as

duas últimas questões, as perguntas de controle. Mas aqui, ao cruzar os dados,

podemos já concluir que a comunicação não verbal é importante para os eleitores

fazerem uma análise do discurso político, entretanto 50% da população inquirida

afirma que linguagem corporal não é mais importante que o próprio discurso. Outros

30% a considera razoavelmente importante, se comparada às palavras.

Voltando aos elementos da comunicação não verbal, observamos que o sorriso

é bem visto quando usado pelo político durante o discurso. Dos 254 inquiridos que

responderam a questão, 172 deles (67%) interpretam um político que se mantém

sorridente durante o discurso, como simpático, positivo ou confiável. A ausência do

sorriso também não é fator nocivo quando se trata de cativar os eleitores. 82% deles

apontam um político que não sorri como uma pessoa neutra ou concentrada. A

aparência física como já apontado acima, também não acarreta danos à intenção do

político durante o seu discurso. Para 63% do público entrevistado, ou seja, 162

pessoas, um político que traz a aparência descuidada durante um discurso, transmite

a impressão de humildade ou tem efeito neutro. Sobre os gestos e o ato de muito

gesticular durante a fala, a maior parte da amostra tem opiniões claramente divididas.

Em 26% dos 256 inquéritos respondidos, um político que muito gesticula durante o

discurso, tem a fala considerada confusa. Outra fatia de 22% considera uma fala

convicta (os gestos dão convicção à fala) e para 18% da amostra os gestos dão

firmeza ao discurso.

Passamos agora à discussão da interpretação das imagens ilustrativas deste

questionário. Estas imagens não influem no resultado dessa investigação, mas

consideramos pertinente inseri-las no questionário, para verificar o que diz a literatura

sobre a universalidade de algumas expressões faciais, além de afirmações de que a

interpretação se dá através de convenções culturais. Como a amostra é constituída

por brasileiros de diversas regiões do país, o questionário poderá confirmar ou refutar

estes estudos.

Na interpretação da imagem A, por exemplo, dos 254 inquéritos, a maior fatia

que equivale a 44% (113 pessoas) decodificou como SURPRESA a expressão

sustentada por sobrancelhas arqueadas, olhos bem abertos e maxilar descaído. Estes

mesmos indícios são apontados por Ekman (apud Magalhaes: 2011). A imagem B,

onde o objeto ilustrativo apresenta braços levemente erguidos com mãos apoiadas à

cabeça, boca fechada com cantos superiores levemente caídos e rugas verticais

acima do nariz foi apontada por 55% (139 pessoas) como PREOCUPAÇÃO.

118

A imagem C, objeto ilustrador sentado em posição ereta, braços apoiados à

cadeira, mãos cruzadas, cabeça em posição neutra, olhos e boca aberta esboçando

um sorriso. Para metade dos inquiridos, 50% (127 pessoas), a expressão transmite

TRANQUILIDADE. O mesmo observa-se na imagem D, em que o objeto ilustrado

apresenta a cabeça um pouco voltada para o ombro direito que se encontra levemente

erguido, também ostentando com sorriso. 50% dos entrevistados (127 pessoas)

interpretaram SATISFAÇÃO.

Na imagem E, onde o objeto ilustrador aparece com o queixo apoiado à mão,

boca cerrada e uma pequena ruga vertical acima do nariz, 70% da população (176

pessoas) interpreta a expressão como PREOCUPAÇÃO.

Na imagem F, observa-se que as duas maiores e iguais fatias da amostra,

interpretam de forma diferente. O ilustrador mantém a cabeça baixa e a boca fechada

e comprimida. Para 44% da população inquirida (110 pessoas) esta imagem transmite

LAMENTO; para outro grupo também composto por 43% (108 pessoas) é

DESAPONTAMENTO o que a expressão transmite. Na imagem G onde o objeto

ilustrador tem a cabeça e ombro direito inclinado, boca fechada e uma pequena

vertical acima do nariz, para o lado direito, a maior parcela da população inquirida,

36% (92 pessoas), identificou INDAGAÇÃO. Na imagem H, o objeto ilustrador traz a

cabeça meio abaixada, boca aberta e uma das mãos levantada, onde os dedos,

polegar e indicador, estão juntos em forma de círculo. Na interpretação dessa imagem,

53% dos inquiridos (135 pessoas) identificam uma emoção de REVOLTA. Na imagem

I, onde o objeto ilustrador mantém-se aparentemente sentado, mão direita a tocar a

orelha, olhos baixos, boca cerrada com cantos levemente caídos, 49% dos inquiridos

(122 pessoas) apontaram que a imagem comunicava PREOCUPAÇÃO. Na imagem J,

temos o objeto ilustrativo portando na sua expressão facial uma boca retraída e

sobrancelhas arqueadas. Segundo 36% da população inquirida (91 pessoas) a

imagem comunica LAMENTO.

A imagem L tem na expressão facial uma boca fechada, levemente contraída,

cabeça jogada levemente para o lado esquerdo, e olhos abertos meio abaixados, a

mirar também o lado esquerdo. Diante da expressão, 51% da amostra (129 pessoas)

identifica uma emoção CONSTRANGIMENTO; Na imagem M, observa-se um

ilustrador com a mão direita apoiada no rosto, olhos abertos meio abaixados e boca

fechada. A maior parcela da amostra, 68% (170 pessoas), identifica TÉDIO na

expressão. Na imagem N onde o personagem traz a mão esquerda apoiada ao queixo,

a cabeça levemente inclinada para o lado direito, boca fechada e olhos abertos fixados

119

à frente, 37% da população inquirida (95 pessoas) identifica DESDÉM na expressão.

Na imagem O, o personagem ilustrativo aparece com boca aberta, sobrancelhas

arqueadas e queixo levemente inclinado. Ao perguntar aos inquiridos o que a

linguagem corporal comunica nesta imagem, 38% destes (95 pessoas) responderam

REVOLTA. Na imagem P, temos a imagem do personagem ilustrativo a gesticular com

a mão esquerda e dedo indicador elevado; na face, um sorriso acompanhado de rugas

nos cantos externos dos olhos e sobrancelhas meio arqueadas. Da população

investigada 46% (116 pessoas) interpreta a expressão como DESCONTRAÇÃO. Na

última imagem deste inquérito, a imagem Q, o objeto ilustrativo traz as mãos juntas e

elevadas à altura do queixo. No rosto, um sorriso, sem a presença de rugas verticais

ou nas extremidades dos olhos. Ao contemplar esta imagem, 75% da amostra (190

pessoas) identificou SATISFAÇÃO.

Como já exposto, esta parte do questionário visava entender se as expressões

faciais, algumas acompanhadas de movimentos corporais, tinham realmente caráter

cultural universal, tal como implica Ekman, Friesen e Sorenson (apud Fast: 1970). O

que se observou através da interpretação dos inquiridos, é que realmente há um

notório consenso. Em algumas imagens apresentadas (imagem E e Q, por exemplo)

houve concordância entre 36% e até 75% da população, referindo à maior fatia, ao

descodificar uma mensagem.

Finalizando a discussão dos resultados, apresentamos então as duas ultimas

questões, perguntas de controle onde os inquiridos reafirmam ou não perguntas já

respondidas anteriormente. Para 146 dos 251 inqueridos, ou seja, 58%, a linguagem

corporal de um político atua na impressão que estes eleitores têm dele, entretanto

para 140 eleitores dessa amostra (55%) a linguagem corporal não é realmente tão

importante quanto o discurso, influenciando razoavelmente, pouco ou nada na escolha

do voto.

120

9 Conclusões

A comunicação não verbal, a primeira forma de comunicação humana, é um

campo fascinante que muito tem a ser explorado e divulgado. Durante essa

investigação, sobretudo nas pesquisas bibliográficas, observamos o quão ampla é

essa área, já que todos os nossos comportamentos e interações são repletos de

mensagens corporais, conscientes e inconscientes, aptas a serem decodificadas por

nossos interlocutores. Algumas se destinam a comunicar, outras são meramente

expressivas; algumas fornecem informações sobre as emoções, enquanto outras

divulgam atitudes e personalidade, questões que não se descreve por palavras. A todo

tempo estamos comunicando através de vários elementos.

As expressões faciais, por exemplo, constituem uma fonte informativa de

emoções. Segundo Knapp (1980), o rosto possui um rico potencial comunicativo,

ocupando um lugar primordial na comunicação de estados emocionais. Além disso, o

rosto reflete atitudes interpessoais, fornece feedback não verbal sobre os comentários

dos outros e, em conjunto com a fala, é a principal fonte de informação. Além de

estados emocionais, o rosto também comunica informações relativas à personalidade.

O olhar também tem inúmeras funções comunicativas. Informa o desejo de comunicar,

regula a conversa, sugere alternância, revela interesse ou desinteresse.

A voz, a paralinguagem, é outro elemento importante nas nossas interações,

pois, ao falar, as nossas palavras vêm acompanhadas de efeitos não verbais que

complementam a comunicação, podendo influenciar mais que a oralidade. “É possível

que esqueçamos o que ouvimos, mas não a maneira como foi dito” (Knapp 1980: 24).

A intensidade, tonalidade e altura da voz, é o que dão sentido à fala e norteiam a

interpretação da mensagem. A voz enfatiza, entusiasma, acalma ou irrita ainda que a

mensagem verbal tenha sentido diferente. A voz também pode desmentir um discurso.

Enquanto isso, os gestos repetem, contradizem, substituem, complementam, ilustram

e acentuam a oralidade desta mensagem. A voz comunica aspectos da personalidade,

a dimensão de um sentimento, reforça atitudes e emoções, dão rumo à conversa ou

revela intenções. A voz carrega consigo um grande volume de informações a serem

decodificadas.

121

A maneira como o homem faz uso do espaço também é uma mensagem a ser

decodificada. A proxémica é o termo designado para este elemento da comunicação

não verbal, que estuda a utilização e perceção do estado pessoal e social. A maneira

como nos orientamos no espaço, consciente ou inconscientemente, transmite

informações sobre o status, nosso papel social, cultural e pessoal.

Comunicamos através de características físicas que são sinais não verbais,

como aponta Knapp (1980), incluem a forma física do corpo, os odores corporais e

respiração, altura, peso, cabelo, cor ou tonalidade da pele. Através do tato, que está

presente nos nossos relacionamentos e nos ajudam a transmitir, dentre outros

sentimentos, entusiasmo, ternura e apoio quando acariciamos, beijamos, abraçamos.

Há também uma estreita relação entre vestuário e a comunicação. A

indumentária e os acessórios têm um notório poder comunicativo, pois carregam

consigo informações não verbais que conscientemente podem influir nas interações

pessoais, além de persuadir, atrair e destacar pelo status, posição social, cultural e

profissional.

A comunicação não verbal tem despertado o interesse da área política,

enquanto meio de persuasão. Com o descredito adquirido pelas palavras, uma vez

que a retórica permite ser manipulada, sem nenhum compromisso com a verdade, os

políticos têm buscado na linguagem corporal um meio de complementar e reforçar os

argumentos presentes no seu discurso. A comunicação política torna-se então um

produtor comercial de mensagens publicitárias que tem o eleitor como consumidor de

um marketing de poder político. Com advento da comunicação política surgem então

profissionais que oferecem serviços de criação e manutenção da imagem daqueles

que arcam com a comercialização deste tipo de mensagem publicitária. O spin doctor

fica então responsável pelo sucesso dos políticos, cuidando para que sua imagem e o

seu discurso consiga persuadir e conquistar o público a qual dependem para chegar

ao poder. Para isso faz-se necessário cuidarem de todos os aspetos que os levarão a

alcançar este objetivo, inclusive a comunicação não verbal, que pode influenciar,

reforçar ou desmentir o discurso dos mesmos, caso estejam despreparados.

Nesta investigação propomos aos inquiridos que interpretasse expressões

faciais ilustradas por 16 imagens. Embora não seja o objetivo geral do estudo, este

exame poderia verificar se existem expressões faciais universais, interpretadas de

maneira consensual em uma cultura, como apontam Ekman, Friesen e Sorenson

(apud Fast: 1970) quando postulam que programas inatos do cérebro levam

determinados evocadores a distinguir as expressões universais para cada uma das

122

emoções primárias nomeadamente a atenção, alegria, surpresa, medo, ira, angustia,

repugnância, vergonha e desprezo. Segundo estes pesquisadores o cérebro de todos

os homens está programado para mover para cima os cantos da boca quando se está

feliz, movê-los para baixo quando se está triste enrugar a testa, erguer sobrancelhas

por espanto. “As expressões de medo, cólera, aversão, tristeza e alegria registram

valores de congruência intercultural” (Fast 1970: 97). Ao analisar os resultados

certificamos que, de fato, há um acordo cultural na descodificação das mensagens

estabelecidas pelas expressões da face. É o que indicam as maiores parcelas,

apontadas em cada imagem, onde até 75% dos inquiridos descodificam a mensagem

embasados numa mesma interpretação.

Sendo o que levou à investigação, a influência da linguagem corporal na

política, concluímos através da amostra inquirida, 261 brasileiros pertencentes às

cinco regiões brasileiras, sendo maioria constituída por jovens do sexo feminino,

estudantes universitários, com idade compreendida entre 22 e 30 anos, que as

expressões faciais, o modo como o político fala (intensidade, volume, velocidade,

pausas, ênfase) e a maneira como um faz uso do espaço (exemplo: mais próximo ou

mais afastado do eleitorado) possui grande influência no discurso político. Já os

gestos, movimento corporal, postura, vestuário e aparência física, de acordo com esta

população, não interferem no resultado do discurso. Através da análise e discussão

dos resultados, concluímos que, segundo esta amostra, a comunicação não verbal

condiciona sim a impressão que os eleitores têm de um político, entretanto não é tão

importante quanto o discurso oral e, por isso, não interfere na decisão do voto.

Por fim, concluímos ainda que a comunicação não verbal embora pouco

abordada, dado também ao fato de que os estudos acerca começaram tardiamente, é

familiar às pessoas, embora não façam alusão ao termo. Durante a investigação, ao

comentar sobre o tema com amigos e familiares, muitos foram os relatos a respeito.

Estas pessoas mostram interesse e relembram fatos em que algum dos elementos da

comunicação não verbal foi fortemente influente. Um destes casos, o mais

interessante deles, já que tem notável relação com o tema deste estudo, foi a eleição

do ex- presidente do Brasil, Fernando Collor de Mello, em 1989. Segundo algumas

opiniões, um dos fatores que levaram à escolha dele é atribuído a linguagem corporal,

pois tratava-se de um candidato jovem, sorridente e belo, que cativava ao discursar.

Como já exposto, os políticos têm buscado especialização no campo da

linguagem não verbal, a fim de garantir mais persuasão nos seus discursos, uma vez

que esta fonte comunicativa, sobretudo a voz, expressão facial e uso do espaço, tem o

123

poder de reforçar o que dizem ou desmentir o enunciado, caso estejam desatentos.

Espera-se então que os eleitores sejam vigilantes, tomando atenção não só a

informação da própria mensagem, mas também a credibilidade da fonte, sendo

capazes de questionar a veracidade dos discursos, a fim de não serem ludibriados por

uma comunicação política cada vez mais agressiva e tendenciosa.

124

10 Referências Bibliográficas

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