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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA
MARIANA CENERINO GALHARDO
ESTUDO DA VIABILIDADE PARA A PRODUÇÃO DE COMPOSTOS GRAXOS
DIMÉRICOS NA INDÚSTRIA QUÍMICA
Declaro que esta monografia foi revisada e encontra-se apta para avaliação
e apresentação perante a banca avaliadora.
Data: __/__/____
______________________________
ASSINATURA ORIENTADOR
Lorena – SP
2015
MARIANA CENERINO GALHARDO
ESTUDO DA VIABILIDADE PARA A PRODUÇÃO DE COMPOSTOS GRAXOS
DIMÉRICOS NA INDÚSTRIA QUÍMICA
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Escola de Engenharia de
Lorena da Universidade de São Paulo
como requisito parcial para conclusão da
graduação em Engenheira Química.
Orientador: Professor Dr. João Paulo
Alves Silva
Lorena – SP
2015
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, que são minha base e
fontes de determinação e força para
seguir em frente.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, Moacir e Rosângela, por todo amor, dedicação,
confiança e por estarem juntos a mim na busca de meus objetivos e realizações.
Agradeço a eles também pela educação proporcionada a mim e por contribuir
para que eu me tornasse a profissional ética e humana que sou.
Agradeço ao meu irmão, Chico, pela parceria e por apoiar meu sonho de
me formar Engenheira Química e compreender a distância física ao longo dos
anos de graduação.
Agradeço ao meu namorado, Thiago, pelo amor, companheirismo e
amizade construídos. Por ser paciente e saber me acalmar nos momentos mais
difíceis.
Agradeço ao meu orientador, João Paulo, pela dedicação e atenção ao
longo do desenvolvimento desse trabalho.
Agradeço aos meus colegas, Elieser e Hércules, por todo o conhecimento
técnico adquirido dentro da empresa, conselhos dados e desabafos escutados ao
longo dos anos de estágio e de execução desse trabalho.
Agradeço à família Caixa D`água, por terem me acolhido em Lorena e me
proporcionar amizades para a vida toda.
Aos meus amigos de Birigui que sempre estiveram comigo apesar de toda
a distância.
Agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para minha formação
e aprendizado.
RESUMO
GALHARDO, M.C. Estudo da viabilidade para a produção de compostos
graxos diméricos na indústria química. Trabalho de conclusão de curso.
Escola de Engenharia de Lorena. Universidade de São Paulo. 2015.
Estimativas recentes apontam uma perspectiva de crescimento mundial no
mercado de petróleo. O segmento de químicos para exploração e produção de
petróleo é constituído por uma variedade de produtos químicos utilizados nas
diversas etapas de exploração. Dentre estes produtos químicos, os aditivos
viscosificantes são um importante insumo empregado na etapa de perfuração de
poços. Os compostos graxos dimerizados podem ser utilizados como aditivos
viscosificantes de fluidos de perfuração em poços de produção e extração de
petróleo e podem ser obtidos a partir de fontes renováveis. A partir deste cenário,
o presente trabalho tem como objetivo verificar a viabilidade técnica de obtenção
de um produto graxo dimérico, utilizando uma mesma rota de síntese química
para comparar duas matérias-primas diferentes, TOFA (tall oil fatty acid) e ácido
graxo destilado de soja. Para esta comparação, a síntese foi realizada em um
reator tipo autoclave, de alta pressão e temperatura. Após a reação, por
destilação, foi possível remover monômeros residuais e obter um produto com
alta concentração de dímeros. O produto obtido a partir do TOFA como matéria-
prima apresentou maior rendimento de reação, 55,8%, e teor de dímeros, 87,13%,
ou seja, é mais viável tecnicamente. Além da viabilidade técnica, a viabilidade
econômica foi analisada e ao utilizar o ácido graxo de soja, o processo se tornaria
mais viável economicamente, pois essa matéria-prima apresenta um menor custo
de mercado.
Palavras-chave: Ácido graxo. Ácido dimérico. Perfuração de poços de petróleo.
Aditivos viscosificantes.
ABSTRACT
GALHARDO, M.C. Study of the viability for the production of fatty dimer
compounds in the chemical industry. Trabalho de conclusão de curso. Escola
de Engenharia de Lorena. Universidade de São Paulo. 2015.
Recent estimates have shown a global growth in the oilfield global market. The
chemical segment for oil exploration and production has a variety of chemicals
used in the various stages of exploration. Among these chemicals, viscosifying
additives are an important chemical used in well-drilling stage. The dimerized fatty
compounds can be used as viscosifying additives of drilling fluids in the oil
production and can be obtained from renewable sources. From this scenario, the
present study aims the technical feasibility of obtaining a fatty dimer as a product,
using the same route of chemical synthesis to compare two different raw
materials, TOFA (tall oil fatty acid) and fatty soy distilled acid . For this
comparison, the synthesis was performed in a reactor type autoclave with high
pressure and temperature. After the reaction, by distillation was possible to
remove residual monomers and obtain a product with high concentration of
dimers. The product obtained from TOFA as a raw material showed a higher
reaction yield, 55.8% and dimer content of 87.13%, and it is technically more
feasible. In addition to the technical feasibility, economic viability was also
analyzed and using the soybean fatty acid, the process would become more
economically viable, as this raw material is less expensive.
Keywords: Fatty acid. Dimer acid. Drilling oil. Viscosifier additives.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Processo de obtenção de um ácido dímero. ......................................... 17
Figura 2 - Operação de uma broca e fluido de perfuração. ................................... 21
Figura 3 - Estrutura dos principais ácidos graxos de interesse. ............................ 24
Figura 4 - Fracionamento por destilação do CTO. ................................................ 25
Figura 5 – Estrutura da argila Montmorilonita utilizada como catalisador na reação
de dimerização. ..................................................................................................... 29
Figura 6 – Distância lamelar das folhas tetraédricas na estrutura da
Montmorilonita. ...................................................................................................... 30
Figura 7 – Reação de dimerização de ácidos graxos e os principais produtos
obtidos por esse processo. ................................................................................... 31
Figura 8 - Mecanismo de reação de dimerização por alquilação. ......................... 32
Figura 9 - Mecanismo da reação de dimerização por Diels Alder. ........................ 33
Figura 10 - Dimerização dos ácidos linoleico e oleico. .......................................... 33
Figura 11 - A) Coluna tipo bandeja; B e C) Colunas empacotadas. ...................... 35
Figura 12 - Evaporador Thin Film. ......................................................................... 36
Figura 13 - Fluxograma do desenvolvimento do produto. ..................................... 39
Figura 14 - Modelo reator tipo autoclave semelhante ao utilizado no trabalho. .... 41
Figura 15 - Esquematização do processo para produção em escala industrial. ... 54
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Composição teórica do TOFA. ............................................................. 26
Tabela 2 - Composição teórica do ácido graxo destilado de soja. ........................ 27
Tabela 3 - Identificação das matérias-primas utilizadas. ....................................... 45
Tabela 4 - Resultados da Cromatografia Gasosa para o Teste A. ........................ 47
Tabela 5 - Resultados da Cromatografia Gasosa para o Teste B. ........................ 48
Tabela 6 - Resultados da Cromatografia Gasosa para o Teste C. ........................ 49
Tabela 7 - Resultados da Cromatografia Gasosa para o Teste D. ........................ 49
Tabela 8 - Composição dos produtos obtidos. ...................................................... 51
Tabela 9 - Resultados da Cromatografia Gasosa para o produto concentrado do
Teste B de ácido graxo de soja destilado. ............................................................ 51
Tabela 10 - Resultados da Cromatografia Gasosa para o produto concentrado do
Teste D de TOFA destilado. .................................................................................. 52
Tabela 11 - Custos fixos para utilização do sistema de manufatura em dois
cenários distintos de operação. ............................................................................. 57
Tabela 12 - Custos variáveis utilizando ácido graxo destilado de soja como
matéria-prima. ....................................................................................................... 58
Tabela 13 – Custos variáveis utilizando TOFA como matéria-prima. .................... 58
Tabela 14 - Custos totais mensais de produção na capacidade total da planta para
os dois cenários propostos e as duas matérias-primas estudadas. ...................... 59
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Principais ácidos graxos e suas fontes de obtenção ......................23
LISTA DE FÓRMULAS
Fórmula 1 – Cálculo das proporções dos componentes utilizados .......................42
Fórmula 2 – Cálculo do rendimento da reação .....................................................43
LISTA DE SIGLAS
ANP Agência Nacional do Petróleo
PF Ponto de fusão
TOFA Tall oil fatty acid
CTO Crude tall oil
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
U.M. Unidade monetária
AG Ácido graxo destilado de soja
LISTA DE SÍMBOLOS
°C Graus Celsius
Bar Unidade de pressão
L Litros
Kg Quilograma
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 15
1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................................ 15
1.2. JUSTIFICATIVA ....................................................................................... 16
1.3. ORGANIZAÇÃO DO TEXTO .................................................................... 17
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................... 19
2.1. AS ETAPAS DA PRODUÇÃO DO PETRÓLEO ....................................... 19
2.2. FLUIDOS DE PERFURAÇÃO .................................................................. 20
2.2.1. COMPOSTO DÍMERO COMO MODIFICADOR REOLÓGICO ................ 21
2.3. SÍNTESE DE COMPOSTOS DÍMEROS .................................................. 22
2.3.1. O ÁCIDO GRAXO .................................................................................... 22
2.3.2. PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DOS ÁCIDOS GRAXOS ............. 22
2.3.3. TALL OIL FATTY ACID (TOFA – ÁCIDO GRAXO DE TALL OIL) ............ 25
2.3.4. ÁCIDO GRAXO DESTILADO DE SOJA ................................................... 26
2.3.5. A REAÇÃO DE DIMERIZAÇÃO ............................................................... 27
2.3.6. AÇÃO DA ARGILA MONTMORILONITA COMO CATALISADOR ........... 28
2.3.7. OS MECANISMOS DE REAÇÃO DE DIMERIZAÇÃO ............................. 31
2.4. A OBTENÇÃO DE UM CONCENTRADO DE DÍMEROS ......................... 33
2.4.1. DESTILAÇÃO ........................................................................................... 34
2.4.2. EVAPORADOR DE PELÍCULA – THIN FILM .......................................... 35
3. OBJETIVOS ............................................................................................. 37
3.1. OBJETIVOS GERAIS ............................................................................... 37
3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................... 37
4. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................ 38
4.1. METODOLOGIA DE PESQUISA ............................................................. 38
4.2. PROCEDIMENTO LABORATORIAL ........................................................ 38
4.2.1. SÍNTESE DO COMPOSTO DIMÉRICO ................................................... 40
4.3. CARACTERIZAÇÃO ................................................................................ 42
4.3.1. CROMATOGRAFIA GASOSA .................................................................. 42
4.4. EFICIÊNCIA DO PROCESSO .................................................................. 43
4.5. ANÁLISE ECONÔMICA ........................................................................... 43
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................ 45
5.1. CROMATOGRAFIA GASOSA .................................................................. 46
5.1.1. PRODUTO DIMERIZADO NÃO CONCENTRADO .................................. 46
5.1.2. PRODUTO DIMERIZADO CONCENTRADO ........................................... 51
5.2. PROCESSO INDUSTRIAL ....................................................................... 53
5.3. ANÁLISE ECONÔMICA ........................................................................... 56
6. CONCLUSÃO ........................................................................................... 61
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 62
APÊNDICE A - CROMATOGRAMA DO TESTE A REALIZADO COM ÁCIDO
GRAXO DESTILADO DE SOJA ............................................................................ 65
APÊNDICE B – CROMATOGRAMA DO TESTE B REALIZADO COM ÁCIDO
GRAXO DESTILADO DE SOJA ............................................................................ 66
APÊNDICE C - CROMATOGRAMA DO TESTE C REALIZADO COM TOFA
DESTILADO .......................................................................................................... 67
APÊNDICE D - CROMATOGRAMA DO TESTE D REALIZADO COM TOFA
DESTILADO .......................................................................................................... 68
APÊNDICE E - CROMATOGRAMA DO PRODUTO CONCENTRADO DO TESTE
B DE ÁCIDO GRAXO DE SOJA DESTILADO ...................................................... 69
APÊNDICE F - CROMATOGRAMA DO PRODUTO CONCENTRADO DO TESTE
D DE TOFA DESTILADO ...................................................................................... 70
ANEXO A - TERMO DE PERMISSÃO DE USO DE INFORMAÇÕES .................. 71
15
1. INTRODUÇÃO
1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO
O segmento de químicos para exploração e produção de petróleo é
constituído por produtos químicos que possam ser utilizados nas diversas etapas
de exploração, produção e todo desenvolvimento relacionado à indústria de óleo e
gás. Estes diversos químicos se diferenciam pelas etapas do processo nas quais
são empregados, ou ainda pelos tipos de extração, como nas aplicações onshore
(exploração em terra) e offshore (exploração em alto mar).
Os fluidos de perfuração, também conhecidos como lama de perfuração,
auxiliam no processo de perfuração de um poço de produção de petróleo e são os
responsáveis por trazer à superfície todo o cascalho produzido. Atualmente, os
fluidos de perfuração utilizados nas formações de produção de petróleo são
misturas complexas que necessitam se adequar às formações e às características
encontradas no subsolo.
Os principais tipos de fluidos de perfuração encontrados são os fluidos à
base óleo e fluidos à base água. Fluidos à base de água são normalmente
aplicados em fases iniciais de perfuração, os quais são submetidos a baixas
pressões e em formações com baixa permeabilidade de água (ALTOÉ, 2006).
Fluidos à base óleo são normalmente misturas como diesel ou parafinas e são
aplicados em seções mais profundas, onde são sujeitos a temperaturas e
pressões maiores as quais a estabilidade do fluido é mais importante. Esse tipo
de fluido normalmente é mais caro que os a base de água e possui maior impacto
ambiental.
Os fluidos de base óleo possuem uma excelente aplicabilidade e
desempenho, mas possuem grande desvantagem ambiental. No passado, o
descarte dos cascalhos contaminados acontecia em alto mar sem tratamento
prévio, causando a contaminação do ambiente marinho e sua decomposição era
muito lenta no ambiente. Atualmente, esses resíduos são normalmente coletados
por navios e podem ainda ser reutilizados em outros poços. Considerando o alto
custo desse tipo de operação e o aumento das preocupações ambientais nos
16
últimos anos, surgiu um novo tipo de fluido de perfuração, o fluido de perfuração
de base sintética. Esse tipo de fluido de perfuração é proveniente de diversas
fontes de óleos vegetais, constituídos principalmente de ésteres graxos e ácidos
diméricos. Eles possuem o mesmo desempenho que os fluidos a base de
derivados do petróleo, com vantagem de serem biodegradáveis e possuírem teor
de contaminação do ambiente marinho bastante reduzido.
Existe uma perspectiva para que o mercado mundial de petróleo cresça em
média 8% ao ano até 2021, frente a um crescimento de 21% do mercado
brasileiro no mesmo período. O crescimento do mercado brasileiro se deve,
principalmente, às atividades intensas de perfuração de novos poços produtivos
offshore na área de pré-sal, recentemente descoberta.
Com novas fontes produtivas descobertas demandam-se novas tecnologias
para garantir alto desempenho na perfuração em condições de altas temperaturas
e pressão. Além disso, a legislação ambiental brasileira vem exigindo cada vez
mais produtos químicos menos agressivos ao meio ambiente, o que implicaria,
por exemplo, a preferência pelo uso de produtos com menor toxicidade e maior
biodegradabilidade, principalmente produtos aplicáveis aos aditivos e fluidos de
perfuração dos poços produtivos.
Dentro desse contexto, o presente trabalho propões o estudo da viabilidade
técnica da implementação de produção em uma indústria química, de um aditivo
químico de caráter orgânico sintético utilizado como modificador reológico em
fluidos de perfuração de base sintética em aplicações offshore.
1.2. JUSTIFICATIVA
Apesar da porcentagem de aditivos químicos consumidos nas atividades
de perfuração e completação não serem extremamente significativas, essas
atividades se sujeitam às regras de conteúdo local aplicada pela ANP, Agência
Nacional do Petróleo (BAIN&COMPANY; GAS ENERGY, 2014). Sendo assim, a
produção local de um ácido dimérico, proveniente de fontes renováveis, que será
utilizado como um aditivo modificador reológico em lamas de perfuração é um
grande atrativo e impulsionador para o estudo proposto.
17
Figura 1 - Processo de obtenção de um ácido dímero.
O presente trabalho consiste em avaliar a viabilidade técnica e econômica
de um processo de obtenção de um produto químico em escala industrial e, a
partir dos resultados obtidos, propor a viabilização da reativação de uma unidade
produtiva industrial. O estudo será realizado através de testes em laboratório e da
análise do processo existente de obtenção de compostos graxos diméricos
aplicáveis no processo de perfuração de poços de extração de petróleo.
A partir da hidrólise de óleos vegetais obtêm-se ácidos graxos e glicerina.
Basicamente, o processo de síntese de um aditivo graxo dimerizado engloba a
reação de dimerização de ácidos graxos e sua posterior concentração, a fim de
obter-se um produto com as especificações requeridas. A partir da hidrólise de
óleos vegetais, pode-se exemplificar através da Figura 1 uma das possíveis rotas
de aplicação desses óleos, a qual os ácidos graxos insaturados sofrem uma
reação de dimerização, a altas pressões e temperaturas, e formam um composto
dimérico.
Fo
Fonte: Autoria própria.
1.3. ORGANIZAÇÃO DO TEXTO
O trabalho está organizado em 6 Capítulos. Inicialmente foi apresentada
uma abordagem introdutória sobre o tema e em seguida, no segundo capítulo,
será apresentada uma fundamentação teórica sobre o tema abordado,
apresentando ao leitor o cenário em que o produto estudado é aplicado, como se
dá seu processo de produção, bem como reações envolvidas, matérias-primas a
serem testadas e a forma de caracterizar o produto obtido. No Capítulo 3, serão
apresentados os objetivos do presente trabalho e em seguida, no Capítulo 4, os
Óleo vegetal
C18-C20 Hidrólise
Ácidos graxos
e glicerina Dimerização
Compostos graxos
dimerizados
18
Materiais e Métodos aplicados na obtenção do produto. Já no Capítulo 5 serão
apresentados os resultados obtidos e a discussão sobre os principais aspectos do
produto e processo de obtenção. Por fim, no último capítulo serão apresentadas
as conclusões do trabalho realizado e as Referências Bibliográficas consultadas
para que se tornasse possível o estudo deste trabalho.
19
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. AS ETAPAS DA PRODUÇÃO DO PETRÓLEO
O processo de produção de óleo e gás em alto mar envolve várias etapas
complexas as quais serão descritas a seguir segundo o reportado por Nascimento
(2013), contemplando ainda os principais químicos aplicados em cada uma delas:
Perfuração: Os principais produtos utilizados são fluidos base água (água
e aditivos) e fluidos sintéticos (parafinas, olefinas, ésteres e aditivos).
Depois de detectada uma área produtiva, inicia-se a perfuração de um ou
mais poços na mesma região. Sua principal função é remover cascalhos
gerados durante o processo, garantir a estabilidade do poço, resfriar a
broca e garantir o suporte da coluna de perfuração.
Cimentação: Nesta etapa, deve-se garantir o isolamento hidráulico do
poço, uma vez que o mesmo está sujeito a variações de altas pressões e
toda a estrutura do poço deve estar sustentada e revestida com cimento,
evitando, assim, perdas do material a ser encontrado e do próprio poço. Os
principais químicos aplicados neste segmento são cimentos, aditivos
aceleradores e retardadores de pega.
Completação: Uma vez o poço cimentado, é necessário garantir que a
pressão no mesmo mantenha-se controlada. Além disso, é necessário
evitar corrosão no revestimento e na coluna de produção e evitar a
permeabilidade da rocha ao óleo explorado. Utilizam-se sais inorgânicos,
inibidores de corrosão e biocidas a fim de evitar tais problemas.
Produção: A partir do momento em que se inicia a produção do óleo, não
é possível garantir que não haja água emulsionada ou o próprio gás natural
que possivelmente possa existir nas formações, principalmente nas
extrações offshore. Sendo assim, nesta etapa é necessário separar a
emulsão de óleo, água e gás retirados da reserva, e garantir que não haja
formação de bolhas durante o processo. Os químicos que se aplicam a
esse processo são desemulsificantes, sequestrantes de H2S e biocidas.
20
Estimulação: Após anos ou até mesmo décadas de exploração de um
poço, é de se esperar que seu volume produtivo diminua
consideravelmente, sendo necessário aumentar sua vida útil e aumentar o
fator de recuperação do poço, através da aplicação de polímeros,
surfactantes e álcalis.
2.2. FLUIDOS DE PERFURAÇÃO
A perfuração de um poço produtivo de óleo e gás inicia-se ao detectar uma
área produtiva e determinar a formação geológica da região. Em regiões de águas
muito profundas tem-se requerido cada vez mais tecnologias sofisticadas que
atendas às necessidades produtivas, como sustentação da coluna d’água,
resistência mecânica da broca de perfuração e o uso de aditivos químicos que
propiciem características reológicas favoráveis durante a operação, entre outras
características específicas, como biocidas e inibidores de gás de xisto.
Durante a perfuração, o fluido opera em sistema fechado sendo bombeado
para a formação pelo interior da coluna de perfuração, fazendo com que os
cascalhos do final da formação sejam levados à superfície (ALTOÉ, 2006). Além
disso, precisam atender diversas características que atinjam várias finalidades
durante sua aplicação (CORRÊA, 2003):
Lubrificar e resfriar a broca durante a perfuração;
Ter viscosidade adequada capaz de levar os cascalhos à superfície;
Possuir densidade e tensão superficial adequados para manter a
suspensão das pequenas rochas em sua volta à superfície;
Possuir peso suficiente capaz de suportar toda a pressão hidrostática ao
avanço nas formações rochosas;
Ser estável termicamente;
Não penetrar nas formações rochosas.
Além dessas características, um fluido de perfuração deve apresentar uma
característica reológica de extrema importância aplicável à forma em que se
opera que é a pseudoplasticidade. Para que durante a operação, todos os
cascalhos removidos da formação se mantenham em suspensão durante as
21
paradas da broca de perfuração, o fluido deve ser capaz de apresentar alta
viscosidade nessas condições e baixa durante o trabalho. Além disso, deve fazer
com que a resistência da broca de perfuração seja reduzida durante a perfuração,
como pode ser exemplificado na Figura 2. Sendo assim, deve apresentar baixa
viscosidade em altas taxas de cisalhamento e vice-versa, apresentando o
comportamento de um fluido pseudoplástico (ALTOÉ, 2006).
Figura 2 - Operação de uma broca e fluido de perfuração.
Fonte: Adaptado de ALTOÉ, 2006.
2.2.1. COMPOSTO DÍMERO COMO MODIFICADOR REOLÓGICO
Compostos derivados da dimerização de ácidos graxos possuem a
propriedade de aumentar a viscosidade do fluido de perfuração conferindo melhor
propriedade pseudoplástica ao sistema de trabalho, ou seja, ácidos graxos
dímeros conferem ao sistema de remoção de cascalhos a propriedade de rápida
gelificação durante as pausas do processo (ALTOÉ, 2006). Sendo assim, em um
produto derivado de ácidos graxos utilizado como aditivo viscosificante que
possua a capacidade de modificar a reologia de um fluido de perfuração, é
Alta capacidade de carregar
cascalhos para a superfície
Lama de perfuração oferece
baixa resistência à broca
Fluido de perfuração
22
necessário que exista alta concentração de dímeros, superior a 80%, baixa
concentração de monômeros residuais, até 5%, e concentração de trímeros
aproximadamente a 8%.
2.3. SÍNTESE DE COMPOSTOS DÍMEROS
2.3.1. O ÁCIDO GRAXO
Ácidos graxos são compostos alifáticos que possuem cadeia carbônica
com mais de quatro carbonos e um grupo carboxila em uma de suas
extremidades. Os ácidos graxos são componentes de óleos e gorduras naturais e
são obtidos a partir da hidrólise de triglicerídeos de óleos e gorduras, vegetal ou
animal. O processo de obtenção dessa forma graxa é comumente conhecido
como splitting, processo de hidrólise não catalítica e contínua, que ocorre a altas
pressões e temperaturas (WITTCOFF et al, 2004).
O grupo carboxílico terminal da molécula é o responsável pelo caráter
ácido desses compostos, pois é capaz de liberar íons H+ quando solubilizado em
água, entretanto a solubilidade de um composto graxo diminui à medida que sua
cadeia carbônica aumenta, e, consequentemente, seu poder ácido diminui.
2.3.2. PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DOS ÁCIDOS GRAXOS
Cadeias carbônicas de ácidos graxos podem ser saturadas ou insaturadas,
ou seja, a presença de duplas ligações entre os carbonos (C=C) faz com que a
cadeia seja insaturada, e a ausência, a faz ser saturada, sendo que cadeias com
mais de uma dupla ligação são conhecidas como cadeias poli-insaturadas.
Cadeias saturadas possuem normalmente fórmula CH3(CH2)nCOOH, onde n varia
de 2 a 24 (ALI et al, 2005). As insaturações de um ácido graxo são determinantes
em suas propriedades físico-químicas, podendo destacar o ponto de fusão (PF),
pois possui grande interesse industrial. Apesar de o PF de um ácido graxo
23
aumentar de acordo com o aumento de sua cadeia hidrocarbônica, a presença de
insaturações faz com que o PF diminua consideravelmente. Como exemplificado
no Quadro 1, a família dos ácidos C18 é bastante afetada pela presença de
duplas-ligações, diminuindo seu PF de acordo com o grau de insaturações
presente. Na Figura 3, estão exemplificadas as cadeias graxas dos principais
ácidos graxos de interesse.
Quadro 1 - Principais ácidos graxos e suas fontes de obtenção.
Fórmula Nome trivial
Ponto
de
fusão
Posição da
dupla-
ligação
Fontes de obtenção
n-C13H27COOH Ácido
Mirístico 53,9 -
Óleo de coco, óleo
de palmiste
n-C15H31COOH Ácido
Palmítico 63,1 -
Óleos vegetais e
gorduras animais
n-C17H35COOH Ácido
Esteárico 69,6 -
Óleos vegetais e
gorduras animais
n-C17H33COOH Ácido Oleico 16 cis-9
Óleos vegetais e
gorduras animais
(oliva, nozes, tall oil
(resíduo oleoso de
madeira))
n-C17H31COOH Ácido
Linoleico -9,5 cis-9, cis-12
Tall oil, óleos
vegetais (soja e
girassol)
n-C17H29COOH
Ácido α-
Linolênico ou
Linolênico
-11,3 cis-9, cis-
12, cis-15 Óleo de linhaça
n-C17H29COOH
Ácido γ-
Linolênico ou
Linolênico
-11,3 cis-6, cis-9,
cis-12 Óleo de prímula
Fonte: Adaptado de WITCOFF et al, 2004.
24
Figura 3 - Estrutura dos principais ácidos graxos de interesse.
Fonte: DUNCAN, 1989.
As insaturações presentes em uma cadeia hidrocarbônica são
responsáveis por alterar sua geometria espacial e a forma que as moléculas se
acomodam durante sua solidificação, afetando no PF do ácido graxo. As
insaturações promovem torções e desvios na geometria espacial, tornando as
cadeias curvas e distantes umas das outras, dificultando a compactação. Outro
fator importante entre a relação do PF e o grau de instauração, é a isomeria
geométrica da dupla-ligação, ou seja, a presença de isômeros cis e trans, sendo
que o primeiro isômero promove uma redução ainda maior do PF. Já as cadeias
hidrocarbônicas saturadas apresentam maior facilidade de acomodação
estrutural, além de proporcionar um maior número de atrações moleculares do
tipo Wan der Walls e Pontes de Hidrogênio.
Como observado na Tabela 1, os ácidos graxos de cadeia carbônica curta,
como o láurico e mirístico, são comumente encontrados no coco e na semente da
palmeira (palmiste). Ácidos palmítico, esteárico e oleico são encontrados na
grande maioria dos óleos vegetais e gorduras animais, sendo o oleico também
encontrado no tall oil, proveniente da madeira. Por fim, o ácido linoleico é
encontrado em grandes proporções em grãos, como a soja e o girassol
(WITTCOFF et al, 2004).
25
2.3.3. TALL OIL FATTY ACID (TOFA – ÁCIDO GRAXO DE TALL OIL)
Uma fração de subprodutos de baixa massa molecular proveniente de
madeiras, principalmente do tipo Pinus, é constituída basicamente por uma
mistura de ácidos resínicos e ácidos graxos. Essa fração de subprodutos é
comumente obtida a partir do processo de polpação Kraft ou processo sulfato, na
indústria de papel e celulose, no qual hidróxido de sódio é utilizado para separar a
celulose das frações indesejadas, como a lignina, ácidos resínicos e ácidos
graxos (WITCOFF et al, 2004).
Durante a digestão alcalina, muitos desses subprodutos são saponificados
e o Crude Tall Oil (CTO) é obtido pela acidificação do resíduo da polpação. A
acidificação converte os sabões de ácidos resínicos e ácidos graxos em suas
formas originais e podem ser separados por destilação (SALES, 2007). O
fracionamento por destilação do CTO possibilita a obtenção de uma série de
produtos diferentes tais como a fração de alto teor de insaponificáveis, ácidos
resínicos e o próprio TOFA, conforme mostrado na Figura 4. O grau de pureza de
cada uma das frações dependerá das condições operacionais, como temperatura
e pressão empregadas no processo.
Figura 4 - Fracionamento por destilação do CTO.
Fonte: DUNCAN, 1989.
26
O ácido graxo de tall oil é composto basicamente por ácido oleico e ácido
linoleico, o que torna sua aplicação bastante desejada em reações de
dimerização de ácidos graxos. Acredita-se que a dimerização desse ácido graxo é
conseguida com grandes taxas de rendimento e aproveitamento de reação,
obtendo-se assim, uma fração menor de ácidos graxos não dimerizados
(monômeros residuais).
Os ácidos oleico e linoleico estão presentes em maior concentração no
TOFA, como pode ser observado na Tabela 1 (essas informações foram obtidas
com um fornecedor da matéria-prima). Essas concentrações são bastante
favoráveis para a síntese de compostos diméricos.
Tabela 1 - Composição teórica do TOFA.
Características Unidade Valor
Ácidos Resínicos % 4-6
C16 – Ácido Palmítico % Máx. 1
C18 – Ácido Esteárico % 1-3
C18:1 – Ácido Oleico % 50-55
C18:2 – Ácido Linoleico % 40-45
C18:3 – Ácido Linolênico % Máx. 0,5
Fonte: Adaptado de MWV, 2015.
2.3.4. ÁCIDO GRAXO DESTILADO DE SOJA
Segundo a EMBRAPA (2015), Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária, a produção mundial de soja na safra de 2013/ 2014 alcançou
283,873 milhões de toneladas produzidos, esse número corresponde a uma área
plantada de 113,049 milhões de hectares. Neste mesmo período, o Brasil
alcançou uma marca de 85,656 milhões em uma área plantada de 30,135 milhões
de hectares, ocupando a segunda posição mundial, atrás somente dos Estados
Unidos, que produziram 89,507 milhões de toneladas em 30,703 milhões de
hectares.
27
O ácido graxo destilado de soja é obtido a partir do processamento dos
grãos da soja e posterior destilação da fração obtida. Ao selecionar os grãos para
seu processamento, são passados por um processo de remoção do óleo contido
nos grãos. Esse produto é destilado e, então, é possível obter várias frações do
óleo de soja, sendo que o óleo de interesse comercial é uma fração mediana.
O ácido graxo destilado de soja é composto em sua maioria por ácido
linoleico e oleico, o que torna o processo de dimerização destes ácidos bastante
atrativo, uma vez que a produção brasileira é uma das maiores do mundo (os
dados da Tabela 2 foram obtidos diretamente de um fornecedor local de ácido
graxo de soja).
Tabela 2 - Composição teórica do ácido graxo destilado de soja.
Características Unidade Valor
C14 – Ácido Mirístico % Máx. 0,1
C16 – Ácido Palmítico % 10-23
C18 – Ácido Esteárico % 2-8
C18:1 – Ácido Oleico % 24-34
C18:2 – Ácido Linoleico % 38-50
C18:3 – Ácido Linolênico % 2-8
Fonte: Adaptado ABOISSA, 2015.
2.3.5. A REAÇÃO DE DIMERIZAÇÃO
A dimerização de ácidos graxos ocorre exclusivamente nas insaturações
das cadeias graxas sem que exista qualquer participação ou influência do grupo
carbonila terminal existente. Como a reação depende exclusivamente das
insaturações das cadeias, apenas ácidos graxos que apresentem ao menos uma
instauração são matérias-primas ideais para a síntese de dímeros. Dentre os
ácidos graxos insaturados, os de cadeia com 18 carbonos são os que possuem
maior interesse econômico por serem encontrados com maior abundância na
natureza, e também pelo seu valor de compra e processamento bastante
acessíveis.
28
A dimerização de ácidos graxos é uma reação complexa de adição em fase
líquida que pode ser operada em processo de batelada. O processo mais utilizado
na indústria e que apresenta melhores resultados de conversão com baixa
formação de subprodutos é realizado por catálise heterogênea a elevadas
pressões e temperaturas, de 240°C a 300ºC, e pressão de 2 a 10 Bar, em que se
utiliza argila montmorilonita como catalisador, sendo necessária a utilização de
um co-catalisador inorgânico e água, que possuem a função de aumentar a
eficiência da argila durante a reação (KOSTER, 2003). Os principais produtos
obtidos por esse processo são monômeros, dímeros, trímeros e ácido
isoesteárico, sendo que dímeros e trímeros possuem uma vasta aplicação na
indústria de poliamidas e os monômeros são empregados como lubrificantes
(KOSTER et al, 1998).
2.3.6. AÇÃO DA ARGILA MONTMORILONITA COMO CATALISADOR
Apesar de não existir muitos estudos recentes, nas principais bases de
dados existentes, a respeito da atuação da argila montmorilonita como catalisador
de reações de dimerização de ácidos graxos, é sabido que esta argila é a mais
utilizada como catalisador heterogêneo neste tipo de reação, principalmente na
dimerização ácido oleico. Esta argila é pertencente ao grupo dos filossilicatos de
alumínio e magnésio e é composta por estruturas em camadas, que
compreendem duas folhas tetraédricas de sílica (SiO4-) e uma central octaédrica
de alumina (Al2O3), que são unidas por átomos comuns de oxigênio (PAIVA et al,
2006). A estrutura da argila utilizada como catalizador da reação de dimerização
de ácidos graxos pode ser observada na Figura 5.
29
Figura 5 – Estrutura da argila Montmorilonita utilizada como catalisador na reação de dimerização.
Fonte: Modificado de KOSTER et al, 1997.
Esse tipo de argila apresenta alguns sítios isomorfos onde ocorre a
substituição de Al3+ por Mg2+ nas camadas octaédricas e a substituição de Si4+
por Al3+ na camada tetraédrica (KOSTER et al, 1998). A distância entre uma
camada laminar e outra do mesmo tipo pode apresentar aproximadamente 1nm,
como pode ser observado na Figura 6, sendo que essa distância é determinante
para a atividade da argila. Assim como a distância entre as lamelas, outros íons
presentes no meio reacional podem substituir ou ligar-se aos íons das camadas
octaédricas e tetraédricas das lamelas aumentando ou diminuindo a atividade da
argila, fazendo-se necessário a presença de um co-catalizador inorgânico no meio
reacional.
30
Figura 6 – Distância lamelar das folhas tetraédricas na estrutura da Montmorilonita.
Fonte: PAIVA et al, 2006.
A reação de dimerização ocorre principalmente no espaço existente entre
as lamelas (região interlamelar), indicando que a dimensão deste espaço na
região interlamelar é de extrema importância para a ocorrência da reação e para o
crescimento da cadeia carbônica. Se não houver espaço suficiente para a
permanência de duas moléculas nesta região, não ocorrerá reação e se o espaço
for muito grande ocorrerá formação de moléculas de peso molecular elevados. A
função do co-catalisador é fornecer íons para aumentar a eficiência da argila,
atuando sobre o balanço iônico e propiciando a formação e manutenção da região
interlamelar ideal, facilitando o efeito de ressonância dos elétrons das
insaturações dos ácidos graxos. A água tem função de auxiliar o aumento das
dimensões da região interlamelar, pois provoca o intumescimento da argila, ou
seja, produz na argila um ganho de volume pela separação das lamelas (PAIVA et
al, 2008).
31
2.3.7. OS MECANISMOS DE REAÇÃO DE DIMERIZAÇÃO
Catálise homogênea é outra forma de direcionamento de reação,
entretanto, é aplicável somente para metil-ésteres de ácidos graxos como
reagentes. As reações de dimerização de ácidos graxos também podem
acontecer através da ativação de um radical metil, porém o teor de subprodutos
como, trímeros e ácido isoesteáricos, é alto quando comparado à catálise
heterogênea com argila montmorilonita (KOSTER et al, 1998). Na Figura 7 é
mostrada a reação de dimerização de ácidos graxos e alguns dos possíveis
produtos obtidos no processo.
Figura 7 – Reação de dimerização de ácidos graxos e os principais produtos obtidos por esse
processo.
Fonte: Modificado de KOSTER et al, 1997.
O mecanismo químico da reação é baseado no fenômeno de ressonância
sofrido por elétrons das insaturações. Na verdade dois mecanismos de reação
são aceitos e acredita-se que ambos ocorram ao mesmo tempo, mas produzem
moléculas ligeiramente diferentes quanto à estrutura.
Mecanismo A – A ressonância sofrida pelo elétron da insaturação provoca
uma alquilação ao formar ligação simples C-C com uma molécula de ácido
graxo vizinha unindo as duas moléculas originando uma molécula de ácido
dicarboxílico (HILL, 2000). Na Figura 8, observa-se uma reação de
32
dimerização dos ácidos oleico e linoleico, a 250°, utilizando argila
Montmorilonita como catalisador.
Figura 8 - Mecanismo de reação de dimerização por alquilação.
Fonte: Modificado de HILL, 2000.
Mecanismo B: Reação de Diels Alder – Em 1928, dois químicos alemães
chamados Otto Diels e Kurt Alder descobriram que o butadieno reage
vigorosamente com anidrido maleico originando anidrido cis-1, 2, 3, 6-
tetrahidroftalico, de acordo com o apresentado na Figura 9 (GAMBOA,
2002). A mesma reação ocorre durante a dimerização de ácidos graxos
insaturados em que um dieno, cadeia com duas duplas ligações
conjugadas, reage com um dienófilo, cadeia com uma dupla ligação,
originando um anel de seis carbonos com uma insaturação, como pode ser
observado na Figura 10. Na dimerização de ácidos graxos C 18 os ácidos
linoleicos e linolênicos atuam como dienos e também como dienófilos,
enquanto o ácido esteárico atua unicamente como dienófilo (LEONARD,
1975).
33
Figura 9 - Mecanismo da reação de dimerização por Diels Alder.
Fonte: GAMBOA, 2002.
Figura 10 - Dimerização dos ácidos linoleico e oleico.
Fonte: LEONARD, 1975.
2.4. A OBTENÇÃO DE UM CONCENTRADO DE DÍMEROS
A reação de obtenção dos dímeros de ácidos graxos é realizada sob altas
temperaturas e pressões para favorecer os fenômenos de ressonância e
apresentam como subprodutos trímeros e monômeros não reagidos (LEONARD,
1975). Para determinadas aplicações, a presença de uma pequena fração de
34
trímeros é aceitável e desejada. Por outro lado, a presença de um teor elevado
monômeros é indesejada por provocarem a parada do crescimento da cadeia
polimérica durante a poli condensação, quando se faz necessário um crescimento
de cadeia elevado. O teor de monômeros no produto da dimerização pode ser
reduzido por destilação à pressão reduzida, podendo ser utilizados como
intermediários químicos para outras reações. Devido à necessidade de utilização
de condições extremas de pressão e temperatura existe a ocorrência de reações
paralelas de decomposição, citando-se reações de descarboxilação e de
craqueamento como as mais indesejáveis.
Ao final da reação de dimerização é obtida uma mistura de compostos
graxos, como os ácidos dímeros, trímeros e monômeros que não reagiram. Como
o produto de interesse trata-se de um composto de alto teor de dímeros é
necessário purificar e/ou concentrar o produto obtido através da diferença de
volatilidade dos compostos presentes na mistura e o processo mais utilizado na
indústria é a destilação.
2.4.1. DESTILAÇÃO
A técnica da destilação é a mais empregada atualmente pelas indústrias
como processo de separação, sendo a técnica mais utilizada para separação de
ácidos graxos (SALES, 2007).
No processo de destilação, o vapor se forma no líquido em forma de
bolhas, pelo calor recebido pelo aquecimento do sistema. Uma vez vaporizada,
essa fração leve pode ser fracionada sob vácuo com o auxílio de bandejas (ou
pratos) ou ainda fluir através de colunas empacotadas (DIECKELMANN et al,
1988). Na Figura 11, são apresentadas três diferentes tipos de colunas de
destilação.
35
Figura 11 - A) Coluna tipo bandeja; B e C) Colunas empacotadas.
Fonte: Modificado de DIECKELMANN et al, 1988.
Esses tipos de colunas variam seu desempenho de acordo com o tipo de
recheio utilizado e a pressão interna obtida. Tais fatores são cruciais para manter
o aspecto do produto e não degradá-lo termicamente, ou seja, quanto maior a
área de contato do recheio com o produto a ser destilado, maior será a sua
degradação térmica.
2.4.2. EVAPORADOR DE PELÍCULA – THIN FILM
Evaporadores de coluna operam de maneira a formar uma película do
líquido a ser processado entre a haste de agitação e a camisa de aquecimento do
sistema. A película de líquido formada é projetada para que a troca de calor entre
o líquido e a seção aquecida seja a maior possível (GAUTO et al, 2011).
Exemplificado pela Figura 12, o fluido é alimentado pela parte superior da
região encamisada e se dispersa por todo o comprimento do evaporador, por
meio de uma película. O vapor de voláteis sai pela parte superior, enquanto o
concentrado pela inferior.
A B
A
C
A
36
Figura 12 - Evaporador Thin Film.
Fonte: GAUTO et al, 2011.
A principal vantagem dos evaporadores de película é a alta taxa de
transmissão de calor com líquidos viscosos, ideal para a concentração de
compostos graxos dimerizados.
37
3. OBJETIVOS
3.1. OBJETIVOS GERAIS
Este trabalho tem como objetivo o estudo da viabilidade química de um
processo industrial de obtenção de compostos graxos dimerizados, visando obtê-
lo nas especificações requeridas para aplicação final e comercialização como
fluido viscosificante utilizado em perfuração de poços de extração e produção de
petróleo.
3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Uma análise mais específica deste trabalho consiste nas seguintes etapas:
Analisar o processo de obtenção de compostos graxos diméricos,
realizando testes laboratoriais com algumas matérias-primas disponíveis no
mercado, visando estabelecer condições de processos que permitam a
obtenção do produto dentro das especificações necessárias com
rendimento de reação satisfatório.
Realizar uma proposta de um sistema de produção industrial adequado,
avaliando possíveis equipamentos a serem utilizados no processo e suas
possibilidades de adequação para as condições desejáveis, estabelecidas
na etapa anterior.
Analisar a viabilidade econômica para a utilização da planta industrial
desativa em estudo, com o intuito de levantar os possíveis custos de todos
os recursos envolvidos na utilização da infraestrutura instalada bem como
os custos necessários das matérias-primas a serem utilizadas.
38
4. MATERIAIS E MÉTODOS
Ao expor a metodologia e os materiais utilizados durante a execução do
trabalho, foi necessário atentar-se ao sigilo industrial exigido para tal. Sendo
assim, omitiram-se informações técnicas relevantes para garantir a segurança de
informação exposta.
4.1. METODOLOGIA DE PESQUISA
A pesquisa do presente trabalho possui natureza aplicada e caráter
exploratório com abordagem qualitativa utilizando a metodologia pesquisa-ação.
Através da produção do conhecimento será proposta uma análise da situação real
do processo de estudo, ou seja, um acontece devido ao fenômeno do outro
(MELLO et al, 2012).
4.2. PROCEDIMENTO LABORATORIAL
Durante o processo de desenvolvimento do produto, foram coletados dados
de desenvolvimentos anteriores realizados pelo laboratório de desenvolvimento
da Unidade Industrial que desenvolveu e implantou o sistema produtivo existente.
Tais dados foram relevantes para a proposta do modelo apresentado, uma vez
que já existia o domínio sobre a metodologia e o presente trabalho teve como
objetivo certificar-se de que o processo desenvolvido estava apto a produzir o
produto requerido nas especificações desejadas. Sendo assim, já havia um
conhecimento prévio sobre os resultados analíticos esperados e rendimento.
Os testes realizados passaram por uma avaliação de pré-teste para a
definição das condições a serem estudadas, tais decisões eram baseadas no foco
do projeto e em informações obtidas por pesquisas bibliográficas e resultados de
testes anteriores. A condição de teste variada foram matéria-prima, pressão e
temperatura de trabalho, uma vez que o estudo se baseou em desenvolvimentos
39
anteriores. Entretanto desenvolveu-se um modelo de operação do processo
definido segundo as condições operacionais oferecidas pelas plantas industriais
envolvidas. A Figura 13 exemplifica as ações consideradas nas tomadas de
decisão e propõe uma descrição das etapas do processo seguido.
Figura 13 - Fluxograma do desenvolvimento do produto.
Fonte: Autoria própria
40
A partir da etapa de análises finais do produto obtido na segunda etapa do
fluxograma, quando os resultados das analises são satisfatórios, cabe ao cliente
executar os testes de aplicação, uma vez que a Unidade em estudo não possui
infraestrutura para tal.
Toda o processo de síntese e obtenção do composto dimérico concentrado
foi desenhado e executado de acordo com SATO et al, 2000.
4.2.1. SÍNTESE DO COMPOSTO DIMÉRICO
Cerca de 1 kg de material graxo foi carregado, juntamente com 8% a 10%
de argila montmorilonita e 0,1% a 0,3% de hidróxido de lítio monohidratado, em
um reator com capacidade volumétrica de 1L encamisado tipo autoclave. As
reações foram processadas de acordo com Sato et al, (2000) e as condições de
trabalho foram temperatura entre 240ºC e 300ºC, pressão de 4 Bar a 10 Bar e
períodos de reação de 1 a 5 horas. A autoclave utilizada é modelo STIRRED
LABORATORY AUTOCLAVE BEP 280, equipada com vaso tipo 3, CrNiMo –
stainless steel, da Büchglasuster. O modelo utilizado se assemelha ao
apresentado na Figura 14.
41
Figura 14 - Modelo reator tipo autoclave semelhante ao utilizado no trabalho.
Fonte: Acervo da autora.
O aquecimento foi fornecido por um fluxo contínuo de óleo proveniente de
um banho termostático. Durante o desenvolvimento do trabalho com o reator
foram observadas todas as normas de segurança, tais como utilização de EPIs e
inspeções periódicas das condições de trabalho do equipamento.
Quando a reação de dimerização foi finalizada, o sistema foi então
resfriado entre 140ºC e 160ºC e adicionou-se cerca de 0,1% a 0,5% de ácido
fosfórico 75%. Após a adição, o sistema permaneceu em agitação por 1 a 2 horas
dentro da faixa de temperatura mencionada. Esta etapa do processo é
fundamental e necessária, pois o ácido mineral tem como objetivo dissolver todo e
qualquer sal formado durante a etapa de dimerização, facilitando a posterior etapa
de filtração e remoção da argila utilizada.
O produto obtido foi filtrado a quente para remover a argila montmorilonita
utilizada como catalisador, aproximadamente a 120°C e 130°C, em funil de
Büchner e Kitassato, com papel de filtro. Ao remover a argila dissolvida que foi
facilitadora da reação, obtém-se o produto límpido para posterior remoção de
42
monômeros residuais. A concentração por destilação foi realizada em balão de
fundo redondo sob manta de aquecimento e condensador de bolas em capela sob
vácuo entre 240ºC e 280ºC, durante 2 horas a 4 horas. O vácuo é necessário
para promover uma separação mais efetiva, rápida e econômica sem provocar
degradação do produto final. Durante esta etapa, como descrito anteriormente,
foram observadas as normas de segurança necessárias.
4.3. CARACTERIZAÇÃO
É possível caracterizar a distribuição graxa do produto final de interesse de
uma reação de dimerização através de análise cromatográfica.
4.3.1. CROMATOGRAFIA GASOSA
A amostra é preparada em solução alcoólica de potassa e o princípio da
análise se dá através da saponificação, metilação, separação e determinação
quantitativa de monômero, dímero e trímero por cromatografia gasosa usando
coluna ultimetal, cromatógrafo gasoso HP 6890, equipado com detector de
ionização de chama (detector FID) a 380ºC.
O cálculo da proporção de cada componente analisado é feito através da
área por cento usando parâmetros de integração do sistema de dados e a fórmula
utilizada é a Fórmula (1).
𝑥𝑛% = 100 . 𝑎
𝐴 (1)
Sendo:
xn% - Porcentagem de monômero, dímero e trímero;
a – Área referente ao pico de monômero, dímero e trímero;
A – Somatória total das áreas do cromatograma.
43
4.4. EFICIÊNCIA DO PROCESSO
A eficiência do processo é calculada utilizando o componente de interesse
do produto, no caso, o componente dímero. Após a primeira etapa da reação, a
qual se obtém o produto com alto teor de monômeros, é efetuado a quantificação
de seus componentes e para que seja possível o cálculo da eficiência da reação é
necessário também quantificar o componente de interesse no produto após ser
concentrado por destilação. Sendo assim, para esse cálculo, segue a Fórmula (2)
como descrita a seguir.
%𝐸 = 100 . 𝐷
𝑑 (2)
Sendo:
%E – Eficiência do processo;
D - Porcentagem do componente de interesse obtido ao final do processo
de destilação;
d – Porcentagem do componente de interesse obtido na etapa
intermediária (produto bruto).
4.5. ANÁLISE ECONÔMICA
Para que o estudo da viabilidade econômica do projeto seja realizado é
necessário detalhar os custos a serem apresentados nesta etapa. Como o
enfoque principal do trabalho é a viabilidade técnica, temas que abordem
decisões comerciais como margem de lucro, decisão ao utilizar a capacidade
parcial ou total da planta, cotações e acordos de preços com fornecedores, não
serão tratados.
Na análise de custo a ser estudada para o projeto em questão, serão
definidos os principais custos que poderão auxiliar na tomada de decisão sobre a
44
reativação da planta industrial em questão. Os custos serão classificados como
custos fixos, que são aqueles independentes da capacidade de produção da
empresa e da demanda de mercado, ou seja, os custos que permanecem
constantes ao longo de período analisado independente da produção e venda. Os
outros tipos de custos abordados serão os custos variáveis, que dependem
diretamente do volume de vendas do produto e demanda pelo cliente.
Custos fixos englobam recursos humanos necessários para operar a
unidade produtiva durante o período de tempo necessário, depreciação dos ativos
da unidade industrial e equipamentos utilizados, custos com logística e
movimentação interna, recebimento e despacho de produto e custos com
laboratório de análise e controle de qualidade. Já os custos variáveis são os
custos com matérias-primas.
45
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os testes realizados tiveram o intuito de verificar a influência do uso de
duas diferentes matérias-primas para a reação de dimerização de ácidos graxos.
O produto bruto, ou seja, o material dimerizado não purificado foi submetido à
análise cromatográfica para ser avaliada sua distribuição da cadeia graxa. Esta
primeira análise possibilitou a escolha dos testes com maiores percentuais de
dímeros e menores percentuais de monômeros dos produtos obtidos a partir das
matérias-primas utilizadas, para então, realizar a purificação. Além disso, a
análise da distribuição de cadeia graxa do produto bruto possibilitou o cálculo da
eficiência percentual no final do processo.
Na avaliação da matéria-prima foram realizados testes em duplicatas com
duas matérias-graxas diferentes, o ácido graxo destilado de soja e o TOFA (Tall
Oil Fatty Acid) destilado, os quais foram nomeados conforme mostrado na Tabela
3.
Tabela 3 - Identificação das matérias-primas utilizadas.
Teste Matéria-prima Condições de trabalho
A Ácido graxo destilado de soja 3 horas; 260°C-280°C; 7 Bar - 8 Bar
B Ácido graxo destilado de soja 3 horas; 270°C-290°C; 9 Bar - 10 Bar
C TOFA destilado 3 horas; 260°C-280°C; 7 Bar - 8 Bar
D TOFA destilado 3 horas; 270°C-290°C; 9 Bar - 10 Bar
Fonte: Autoria própria.
As condições de trabalho determinadas para os testes realizados foram
baseadas em estudos prévios realizados pelo laboratório de desenvolvimento da
companhia. O tempo de reação de todos os testes foi de 3 horas e foi
considerado ótimo para uma maior taxa de conversão dos monômeros em
dímeros e trímeros. Para ambas as matérias-primas, foi proposta uma variação na
pressão e temperatura de trabalho, uma vez que essas condições poderiam
propiciar o aumento da conversão de monômeros em dímeros e trímeros. Ou
seja, para cada uma das matérias-primas foi realizado um teste entre 7 Bar e 8
46
Bar de pressão e temperatura entre 260°C e 280°C, para os testes A e C, e outro
teste com pressão entre 9 Bar e 10 Bar e temperatura entre 270°C e 290°C, para
os testes B e D. Para os testes A e B utilizou-se a mesma matéria-prima, o ácido
graxo destilado de soja e para os testes C e D, o TOFA (tall oil fatty acid).
Após as reações, os produtos obtidos foram submetidos a testes conforme
descritos nos tópicos seguintes deste trabalho.
5.1. CROMATOGRAFIA GASOSA
Para possibilitar o cálculo da eficiência do processo foi necessário avaliar a
composição de ácido graxo residual e dos compostos formados no produto obtido
através da análise cromatográfica. A análise foi realizada após a reação de
dimerização, encontrando-se no produto alta concentração de monômeros
residuais (produto bruto), e após a retirada de monômeros por destilação, a qual
possibilitou elevar a concentração de dímeros e trímeros formados, ou seja, foi
analisado o produto concentrado (produto final).
5.1.1. PRODUTO DIMERIZADO NÃO CONCENTRADO
A partir dos dados de testes semelhantes realizados pelo laboratório de
desenvolvimento da companhia, para que o processo de obtenção de compostos
dímeros seja considerado viável é necessário que o produto bruto obtido com o
ácido graxo destilado de soja, atinja uma distribuição graxa de 40% a 50% de
monômeros, 35% a 45% de dímeros e até 8% de trímeros. Já para o produto
bruto obtido com o TOFA destilado, espera-se uma distribuição graxa de 35% a
45% de monômeros, 40% a 50% de dímeros e até 8% de trímeros.
Além do valor esperado na composição do material, é necessário
mencionar que os dímeros são os compostos de maior interesse, pois
determinarão a eficiência da reação, seguidos pelos trímeros e por fim,
monômeros, este em alta concentração indica baixa eficiência da reação de
47
dimerização. Após a reação de dimerização e a obtenção do produto filtrado,
foram realizadas análises cromatográficas dos produtos intermediários obtidos.
No Apêndice A é apresentado o cromatograma do produto bruto obtido no
teste A. Para possibilitar a análise dos resultados, os principais dados do
cromatograma foram organizados na Tabela 4. Nesta Tabela, o pico 1 representa
a presença de monômeros na amostra, já que é o composto de menor massa
molar, o pico 2 refere-se a presença de dímeros e o pico 3 de trímeros, composto
de maior massa molar, e suas respectivas proporções, que segundo as áreas de
cada pico foram 52,19%, 43,97% e 3,84%.
Tabela 4 - Resultados da Cromatografia Gasosa para o Teste A.
Pico Tempo de retenção (min) Área (pA.s) Área (%)
1 9,61 39140,40 52,19
2 18,89 32974,90 43,97
3 22,18 2874,71 3,84
TOTAL 74990,01 100
Fonte: Autoria própria.
O teor de dímeros encontra-se dentro do desejado, uma vez que foi obtida
uma proporção de 43,97% e esperava-se uma concentração de 35% a 45%. O
teor de trímeros também se encontra dentro do limite desejado, pois foi obtido um
percentual de 3,83% e esperava-se uma concentração máxima de 8%. Já a
concentração de monômeros apresentou um resultado superior ao limite máximo
desejado, ou seja, foi encontrada uma proporção de 52,19%, onde era desejada
uma concentração máxima de 50%. O teor elevado de monômeros encontrado se
remete a uma baixa efetividade da reação de dimerização, pois a não conversão
de monômeros resultará em um baixo rendimento de reação, ou seja, quanto
maior teor de monômeros residuais, menor será a conversão de monômeros em
dímeros e trímeros.
No Apêndice B é apresentado o cromatograma do produto obtido no teste
B. Os principais resultados do cromatograma foram organizados na Tabela 5.
Nesta Tabela verificou-se que o produto da reação apresentou uma composição
constituída de 50,05% de monômeros, 44,96% de dímeros e 4,99% de trímeros.
48
Desta forma, os resultados da composição do produto bruto para o teste B estão
dentro das metas desejadas para o processo (entre 40% e 50% de monômeros,
entre 35% e 45% de dímeros e até 8% de trímeros).
Tabela 5 - Resultados da Cromatografia Gasosa para o Teste B.
Pico Tempo de retenção (min) Área (pA.s) Área (%)
1 9,04 35944,30 50,05
2 18,78 32292,50 44,96
3 22,16 3581,78 4,99
TOTAL 71818,58 100
Fonte: Autoria própria.
Os testes A e B realizados com o ácido graxo destilado de soja se
mostraram coerentes ao que se desejava no processo e a reação de dimerização
se mostrou efetiva quanto à conversão de monômeros em dímeros e trímeros.
Entretanto, ao realizar uma análise comparativa entre ambos, levando em conta
as condições de trabalho, pode-se perceber que no teste B houve uma melhor
conversão de monômeros em dímeros e trímeros. Em ambos os testes se
trabalhou com tempo de reação de 3 horas. No teste A se trabalhou a uma
pressão entre 7 Bar e 8 Bar e temperatura entre 260°C e 280°C, e no teste B,
pressão entre 9 Bar e 10 Bar de pressão e temperatura entre 270°C e 280°C.
Sendo assim, para os testes com o ácido graxo destilado de soja o
aumento da pressão e temperatura de trabalho proporcionou uma maior
conversão de monômeros em dímeros e trímeros e uma menor proporção de
monômeros residuais no produto bruto. No teste B obteve-se uma proporção de
44,96% de dímeros e 4,98% de trímeros, e para o teste A, 43,97% para dímeros e
3,83% de trímeros. O teste B também apresentou menor teor de monômeros
residuais, 50,05% versus 52,19% no teste A.
No Apêndice C é apresentado o cromatograma do produto bruto obtido no
teste C. Para possibilitar a análise dos resultados, os principais dados do
cromatograma foram organizados na Tabela 6. Nesta Tabela, o pico 1 representa
a presença de monômeros na amostra, já que é o composto de menor massa
molar, o pico 2 refere-se a presença de dímeros e o pico 3 de trímeros, composto
49
de maior massa molar, e suas respectivas proporções, que, segundo as áreas de
cada pico, foram 47,04%, 47,20% e 5,76%.
Tabela 6 - Resultados da Cromatografia Gasosa para o Teste C.
Pico Tempo de retenção (min) Área (pA.s) Área (%)
1 9,04 35507,40 47,04
2 18,80 35628,40 47,20
3 22,11 4343,95 5,76
TOTAL 75479,70 100 Fonte: Autoria própria.
O teor de dímeros encontra-se dentro do desejado, uma vez que foi obtida
uma proporção de 47,20%, e esperava-se uma concentração de 40% a 50%. O
teor de trímeros também se encontra dentro do limite desejado, pois foi obtido um
percentual de 5,76% e esperava-se uma proporção de 8%. Já o teor de
monômeros apresentou um resultado superior ao limite máximo desejado, ou
seja, foi encontrada uma proporção de 47,04%, a qual era desejada uma
concentração máxima de 45%. O alto teor de monômeros encontrado se remete a
uma baixa efetividade da reação de dimerização, pois a não conversão de
monômeros resultará em um baixo rendimento de reação, ou seja, quanto maior
teor de monômeros residuais, menor será a conversão de monômeros em
dímeros e trímeros.
No Apêndice D é apresentado o cromatograma do produto obtido no teste
D. Os principais resultados do cromatograma foram organizados na Tabela 7.
Nesta Tabela verificou-se que o produto da reação apresentou uma composição
constituída de 44,83%% de monômeros, 48,56% de dímeros e 6,61% de trímeros.
Desta forma, os resultados da composição do produto bruto para o teste D estão
dentro das metas desejadas para o processo (entre 35% e 45% de monômeros,
entre 40% e 50% de dímeros e até 8% de trímeros).
Tabela 7 - Resultados da Cromatografia Gasosa para o Teste D.
Pico Tempo de retenção (min) Área (pA.s) Área (%)
50
1 9,04 34471,80 44,83
2 18,81 37339,10 48,56
3 22,17 5084,51 6,61
TOTAL 76895,41 100 Fonte: Autoria própria.
Os testes C e D realizados com o TOFA (tall oil fatty acid) se mostraram
coerentes ao que se desejava no processo e a reação de dimerização se mostrou
efetiva quanto à conversão de monômeros em dímeros e trímeros. Entretanto, ao
realizar uma análise comparativa entre ambos, levando em conta as condições de
trabalho, pode-se perceber que no teste D houve uma melhor conversão de
monômeros em dímeros e trímeros. Assim como nos testes com o ácido graxo
destilado de soja, para o TOFA também se variou somente a pressão e
temperatura de trabalho, permanecendo com tempo de reação de 3 horas. No
teste C se trabalhou a uma pressão entre 7 Bar e 8 Bar e temperatura entre
260°C e 280°C e no teste D, pressão entre 9 Bar e 10 Bar e 270°C e 290°C de
temperatura de trabalho.
Sendo assim, da mesma forma que foi possível observar nos testes
realizados com o ácido graxo destilado de soja, para os testes com o TOFA, o
aumento da pressão de trabalho proporcionou uma maior conversão de
monômeros em dímeros e trímeros e uma menor proporção de monômeros
residuais no produto bruto. No teste D obteve-se uma proporção de 48,56% de
dímeros e 6,61% de trímeros, e para o teste C, 47,20% para dímeros e 5,76% de
trímeros. O teste D também apresentou menor teor de monômeros residuais,
44,83% versus 47,04% no teste C.
Na Tabela 8 são reunidas informações referentes à composição dos
produtos brutos obtidos nos testes A, B, C e D. Verifica-se nesta Tabela que o
experimento que apresentou maiores conversões com o ácido graxo destilado de
soja foi o teste B, uma vez que os compostos de maiores interesses são dímeros
e trímeros. Já para o teste com TOFA destilado, o teste D mostrou conversão
mais efetiva. Sendo assim, somente os produtos obtidos nesses testes seguiram
para a próxima etapa do processo de obtenção do produto final, que é a etapa de
destilação e remoção de monômeros residuais.
51
Tabela 8 - Composição dos produtos obtidos.
Composição (%)
Componente Teste A Teste B Teste C Teste D Monômero 52,19 50,05 47,04 44,83
Dímero 43,97 44,96 47,20 48,56 Trímero 3,84 4,99 5,76 6,61
Fonte: Autoria própria.
5.1.2. PRODUTO DIMERIZADO CONCENTRADO
Para atender as especificações, o produto final do processo, obtido após a
purificação deve apresentar uma composição de no máximo 5% de monômeros,
entre 80% a 90% de dímeros e até 9% de trímeros.
No Apêndice E é mostrado o cromatograma obtido na análise do produto
concentrado do teste B, o qual foi obtido empregando-se ácido graxo destilado de
soja como matéria-prima da reação, após purificação por destilação. Os dados
referentes ao cromatogramas são apresentados na Tabela 9. Verifica-se nesta
Tabela que o produto final apresentou uma composição de monômeros, dímeros
e trímeros iguais a 5,44%, 87,51% e 7,05%, respectivamente. Sendo assim, o
teste B possibilitou obter um produto final de composição como o desejado, pois
todos os parâmetros analisados encontram-se dentro dos limites desejados.
Tabela 9 - Resultados da Cromatografia Gasosa para o produto concentrado do Teste B de ácido
graxo de soja destilado.
Pico Tempo de retenção (min) Área (pA.s) Área (%)
1 9,07 3558,24 5,44
2 18,97 57289,20 87,51
3 22,17 4618,21 7,05
TOTAL 65465,65 100 Fonte: Autoria própria.
No Apêndice F é mostrado o cromatograma obtido na análise do produto
concentrado do teste D, o qual foi obtido empregando-se TOFA como matéria-
52
prima da reação, após purificação por destilação. Os dados referentes ao
cromatograma são apresentados na Tabela 10. Verifica-se nesta Tabela que o
produto final apresentou uma composição de monômeros, dímeros e trímeros
iguais a 4,09%, 87,13% e 8,78%, respectivamente. Sendo assim, o teste D
possibilitou obter um produto final de composição como o desejado, pois todos os
parâmetros analisados encontram-se dentro dos limites desejados.
Tabela 10 - Resultados da Cromatografia Gasosa para o produto concentrado do Teste D de
TOFA destilado.
Pico Tempo de retenção (min) Área (pA.s) Área (%)
1 11,78 2679,95 4,09
2 18,84 57175,00 87,13
3 22,12 5762,10 8,78
TOTAL 65617,05 100
Fonte: Autoria própria.
Como os principais componentes de interesse são dímeros e trímeros, o
teste com o TOFA destilado apresentou distribuição graxa mais próxima das
especificações necessárias. Para avaliar qual dos produtos obtidos possui um
melhor desempenho de aplicação em campo, seria necessário executar e avaliar
um teste reológico simulando as condições de trabalho em poços de produção e
extração de petróleo. Entretanto, nas dependências na indústria em questão não
existem recursos para avaliar tal requisito e, desta forma, caberia ao cliente
realizar os testes de aplicação do produto e analisar sua performance.
Outro parâmetro avaliado para a verificação da viabilidade técnica do
processo foi a eficiência do processo estudado. Este parâmetro, assim como a
distribuição graxa dos produtos são aspectos importantes na avaliação da
matéria-prima a ser utilizada. Desta forma foram calculadas eficiências obtidas
nos testes utilizando ácidos graxos destilados de óleo de soja e TOFA, como
matérias-primas.
Como apresentado anteriormente, somente os produtos que apresentaram
melhores resultados de conversão na primeira etapa da reação, a reação de
dimerização, foram purificados por destilação, ou seja, somente os testes B e D,
53
obtidos a partir do ácido graxo destilado de soja e TOFA, respectivamente,
passaram pela etapa de destilação e remoção de monômeros residuais. Sendo
assim, para o teste realizado com ácido graxo destilado de soja, teste B, obteve-
se uma eficiência de 51,4% e para o teste realizado com o TOFA destilado, teste
D, obteve-se eficiência de processo de 55,8%.
Ambos os resultados encontrados para a eficiência do processo resultam
na viabilidade técnica de utilização de cada uma das matérias-primas. Entretanto,
a maior eficiência de processo para a conversão do TOFA em compostos dímeros
indica uma preferência para sua utilização como matéria-prima no processo em
questão, pois uma maior eficiência resultará em menor de teor de monômeros
destilados do produto bruto.
Além do estudo de viabilidade técnica, foi realizado também um estudo de
mercado no primeiro semestre de 2015 e foi cotado o fornecimento das matérias-
primas em estudo. O ácido graxo destilado de soja possui um valor de compra
inferior ao do TOFA, 3 U.M. (unidade monetária) e 4 U.M., respectivamente. Ou
seja, o ácido graxo destilado de soja possibilitará uma maior viabilidade
econômica, quanto ao custo de compra de material, para o projeto. Esse tema
será abordado mais detalhadamente nos tópicos seguintes.
5.2. PROCESSO INDUSTRIAL
O estudo realizado em laboratório e o embasamento teórico apresentado
no trabalho possibilitaram levantar alguns fatores importantes e indispensáveis
para a projeção da planta a ser apresentada. O sistema operacional a ser
proposto deverá ser capaz de operar a altas temperaturas, tanto nos vasos que
acontecerão as operações até mesmo nas tubulações que irão compor a unidade
de processamento. Já o vaso de reação de dimerização deverá suportar altas
pressões de trabalho e o evaporador deverá operar a vácuo.
A partir do estudo realizado em laboratório e dos dados coletados e
analisados do processo existente, que não puderam ser divulgados por questões
de confidencialidade industrial, chegou-se a um modelo final de processo
54
proposto para a síntese do produto. Na Figura 21 está esquematizado o esqueleto
da planta.
Figura 15 - Esquematização do processo para produção em escala industrial.
Fonte: Autoria própria.
O sistema estudado possui uma capacidade total de produção de 100
toneladas por mês, operando 24 horas por dia e 5 dias por semana. Para o
sistema apresentado, também será considerada essa capacidade de produção.
Sendo assim, o sistema proposto é composto por vaso de alta pressão (reator),
que opera em bateladas, tanque de espera com aquecimento, para transferência
do produto de um sistema para outro, e evaporador do tipo de película, que opera
de forma contínua.
É desejável que o vaso de alta pressão, onde acontecerá a reação de
dimerização, opere a temperaturas elevadas, 280°C e 300°C, e suporte uma
pressão de 18 Bar por questões de segurança. Além disso, também é necessário
que possua uma capacidade total de aproximadamente 16 toneladas para que
supra a capacidade de produção máxima da planta. Além das condições de
operação, o vaso deverá apresentar um filtro em sua saída que suporte altas
temperaturas, aproximadamente 150°C, para realizar a filtração e separação da
55
argila montmorilonita utilizada como facilitador da reação. Além disso, é
necessário garantir que, tanto o filtro quanto as tubulações que levam o produto à
próxima etapa, não possuam uma queda de temperatura muito brusca, pois a
altas temperaturas a filtração é mais eficaz e o transporte do produto também. Ao
transferir o material, o sistema de dimerização encontra-se livre para iniciar uma
próxima batelada.
Após a reação de dimerização, o produto bruto filtrado é armazenado em
um tanque de espera com aquecimento para alimentar o sistema de evaporação
de monômeros. Essa etapa intermediária se faz necessária, pois o sistema de
reação opera em bateladas e o evaporador proposto opera de forma contínua. O
tanque deverá possuir capacidade igual ou superior à do vaso de reação,
aproximadamente 16 toneladas. Ao garantir que a massa se mantenha aquecida,
a uma temperatura de aproximadamente 150°C, é esperado que o consumo de
energia ao purificar o produto seja menor, pois já se encontrará aquecido. As
tubulações que realizam a transferência do sistema de espera para o evaporador
também deverão possuir aquecimento, para que ocorra uma menor perda de
calor para o ambiente.
O evaporador proposto é o do tipo evaporador de película, pois de acordo
com literatura apresentada é um modelo indicado para operações de líquidos
altamente viscosos por possuir uma alta taxa de transmissão de calor com a
massa a ser purificada. O evaporador deverá apresentar duas vazões de saída
distintas, uma para destinar os monômeros (vazão de saída 1 da Figura 21) e
outra para destinar o produto de interesse (vazão de saída 2 da Figura 21). Além
disso, deverá trabalhar a vácuo e apresentar uma capacidade de remoção da
fração da vazão de saída 2 de aproximadamente 400kg/hora a 450kg/hora. Nesta
vazão será obtido o produto concentrado de dímeros. Além da vazão, outra
condição necessária para a alta eficiência da operação é a capacidade de o óleo
térmico, que será utilizado na camisa do equipamento, trabalhar a uma
temperatura de 280°C a 300°C. Ainda para garantir que haja alta eficiência no
processo, a temperatura do produto que está sendo purificado, deverá atingir uma
temperatura de aproximadamente 260°C a 280°C.
A vazão de saída da parte inferior do evaporador será composta pelo
produto de interesse, com alta concentração de dímeros. Nesta linha de saída do
56
produto, deverá existir uma linha de refluxo para garantir que o produto esteja
dentro das especificações e que durante o processo todas as condições
aplicáveis ao evaporador sejam suficientes para tal. Caso se obtenha uma fração
fora de especificação, esse produto poderá retornar ao evaporador para ser
reciclado. A vazão de saída da parte superior será composta majoritariamente
pelos monômeros residuais do processo.
5.3. ANÁLISE ECONÔMICA
Os dados apresentados a seguir foram tratados utilizando um fator
multiplicador, com o intuito de manter oculto o real custo de operação e matérias-
primas, mas houve a preocupação em se manter as proporções apresentadas
próximas à realidade. A moeda utilizada também foi ocultada, utilizando uma
unidade monetária (U.M.) simbólica.
A proposta da análise econômica do projeto é visualizar os custos do
cenário em que o sistema de dimerização está inserido e comparar os custos das
matérias-primas estudadas, propondo uma viabilização econômica para a decisão
de reativação da planta de operação. Os dados apresentados foram levantados
no primeiro semestre de 2015.
Para os custos de operação, custos fixos que serão apresentados em dois
cenários distintos, a coleta foi realizada baseada na última operação da planta, no
ano de 2013, e foi computada a inflação dos anos subsequentes para adequá-los
ao cenário econômico atual. Já para os custos variáveis, os dados foram obtidos
com fornecedores locais que regularmente prestam serviços para a companhia.
O sistema de dimerização está inserido em uma unidade industrial
compartilhada com um segundo sistema operacional, ou seja, os dois sistemas
operam de forma independentes, mas podem compartilhar alguns recursos
operacionais. Os dados referentes aos custos fixos de operação da planta de
dimerização são apresentados na Tabela 11 em dois cenários distintos: o primeiro
operando o sistema completo e o segundo operando somente a unidade de
dimerização.
57
Tabela 11 - Custos fixos para utilização do sistema de manufatura em dois cenários distintos de
operação.
Cenário 1: Sistema completo operando Cenário 2: Somente a unidade de
dimerização operando
GRUPO Custo em U.M. GRUPO Custo em U.M.
Recursos Humanos
549.112,00 Recursos Humanos
1.098.224,01
Energia* 55.422,94 Energia* 55.422,94
Manutenção 348.248,40 Manutenção 348.248,40
Depreciação 641.989,33 Depreciação 641.989,33
Logística 31.823,39 Logística 31.823,39
Tratamento de efluentes
281.018,63 Tratamento de
efluentes 281.018,63
TI 30.577,95 TI 30.577,95
Serviços 416.063,96 Serviços 513.145,56
Outros 96.581,81 Outros 96.581,81
Laboratório 99.275,16 Laboratório 99.275,16
TOTAL/ ano 2.550.113,57 TOTAL/ ano 3.196.307,16
TOTAL/ mês 212.509,46 TOTAL/ mês 266.358,93
*Gastos com energia são tratados pela companhia como gastos fixos.
Fonte: Autoria própria.
Para o primeiro cenário apresentado, os custos fixos totais para operar o
sistema completo (operando os dois sistemas) são de 2.550.113,57 U.M. por ano,
resultando em um gasto mensal de 212.509,46 U.M.. Já para o segundo cenário,
ao operar somente a unidade de dimerização resultaria em um custo fixo total de
3.196.307,16 U.M. anualmente, resultando em um gasto mensal de 266.358,93
U.M.. A diferença dos custos é expressiva, pois no primeiro cenário seriam
compartilhados dois dos maiores fatores geradores de gastos, que são recursos
humanos e serviços, ou seja, os custos do segundo cenário é 25% maior quando
comparado ao primeiro cenário.
Sendo assim, é interessante para a área de negócio viabilizar a reativação
do sistema produtivo completo, uma vez que os gastos fixos seriam
consideravelmente reduzidos. Entretanto, esse cenário exigiria o interesse de
áreas terceiras, demanda de mercado e gastos com pesquisa e desenvolvimento.
58
Os custos classificados como custos variáveis incluem apenas as matérias-
primas utilizadas no processo. Os custos com o uso do ácido graxo destilado de
soja utilizado no processo são apresentados na Tabela 12 juntamente com os
custos das outras matérias-primas utilizadas no processo.
Tabela 12 - Custos variáveis utilizando ácido graxo destilado de soja como matéria-prima.
Matéria-prima Custo matéria-prima/ kg (U.M.) Custo de produção
(U.M.)
Ácido graxo 3,02 2.688,45
Argila 1,85 164,00
LiOH 161,57 1.436,20
Ác. Fosfórico 85% 6,55 87,33
TOTAL/ ton (produto bruto) 4.375,99
TOTAL/ ton (produto purificado) 8.751,98
TOTAL/ 100 ton.mês 875.198,00
Fonte: Autoria própria.
O produto bruto produzido com o ácido graxo de soja possui um custo de
4.375,99 U.M. por tonelada produzida. Já o produto purificado, apresenta um
custo de 8.751,98 U.M. por tonelada produzida quando é considerado um
rendimento de 50% de reação. Sendo assim, utilizando a capacidade total de
produção da planta por mês que é de 100 toneladas, é possível obter um custo
total mensal de 875.198,00 U.M.
Os custos com o TOFA utilizado no processo são apresentados na Tabela
13 juntamente com os custos das outras matérias-primas utilizadas no processo.
O produto bruto produzido com o TOFA possui um custo de 5.240,87 U.M. por
tonelada produzida. Já o produto purificado, apresenta um custo de 9.528,86 U.M.
por tonelada produzida quando é considerado um rendimento de 55% de reação.
Sendo assim, utilizando a capacidade total de produção da planta por mês que é
de 100 toneladas, é possível obter um custo total mensal de 952.886,00 U.M.
Tabela 13 – Custos variáveis utilizando TOFA como matéria-prima.
Matéria-prima Custo matéria-prima/ kg (U.M.) Custo de produção
(U.M.)
59
TOFA 4,00 3.553,33
Argila 1,85 164,00
LiOH 161,57 1.436,20
Ác. Fosfórico 85% 6,55 87,33
TOTAL/ ton (produto bruto) 5.240,87
TOTAL/ ton (produto purificado) 9.528,86
TOTAL/ 100 ton.mês 952.886,00
Fonte: Autoria própria.
Os cálculos foram efetuados de acordo com as proporções utilizadas nos
testes em laboratório e de acordo com o rendimento obtido nos experimentos.
Sendo assim, os custos variáveis para produzir o produto purificado do composto
dímero de TOFA é cerca de 8,8% maior quando comparado aos custos para
utilizar o ácido graxo de soja.
Na Tabela 14 são apresentados os custos totais para a produção do
composto dimérico, considerando os custos fixos dos dois cenários apresentados
e os custos variáveis das duas matérias-primas estudadas.
Tabela 14 - Custos totais mensais de produção na capacidade total da planta para os dois
cenários propostos e as duas matérias-primas estudadas.
Cenário 1 Custos totais AG/ mês 1.087.707,32 U.M.
Custos totais TOFA/ mês 1.165.395,03 U.M.
Cenário 2 Custos totais AG/ mês 1.141.556,78 U.M.
Custos totais TOFA/ mês 1.219.244,49 U.M.
Fonte: Autoria própria.
No cenário 1, os custos totais ao utilizar o ácido graxo de soja como
matéria-prima e produzir à capacidade máxima da planta resulta em um gasto
mensal de 1.087.707,32 U.M.. Já para o TOFA, os gastos são na ordem de
1.165.395,03 U.M., 7,14% maior que o primeiro. No cenário 2, os custos totais ao
utilizar o ácido graxo de soja como matéria-prima e também produzir à
capacidade máxima da planta resulta em um gasto mensal de 1.141.556,78 U.M..
Já para o TOFA, os gastos são na ordem de 1.219.244,49 U.M., 6,80% maior que
o primeiro.
60
Quando comparados os gastos totais para uma mesma matéria-prima, mas
considerando os dois cenários distintos, ao utilizar o ácido graxo destilado de soja
como matéria-prima, apresentará um custo 4,95% maior no cenário 2, quando
comparado ao cenário 1. Já para o TOFA essa diferença é de 4,62%.
Partindo dos cenários expostos, o cenário 1 apresenta menores custos
anuais de utilização para o sistema completo operando. Entretanto, seu uso
necessitaria de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e demanda de
mercado, inviabilizando essa opção. Como introduzido no tópico 5.1.3., o uso do
ácido graxo destilado de soja apresenta menor custo de compra e,
consequentemente, maior viabilidade econômica para sua utilização como
matéria-prima. Sendo assim, ao utilizar o ácido graxo de soja como matéria-prima
no cenário 2 exposto, seria alcançado um custo de 11,42 U.M. por quilograma de
produto obtido, sendo a alternativa mais viável economicamente entre as
discutidas.
61
6. CONCLUSÃO
Com o trabalho realizado para analisar a viabilidade de obtenção de um
produto com alta concentração de ácido dimérico, com matéria-prima proveniente
de fontes renováveis, foi possível chegar às seguintes conclusões:
O processo conhecido de obtenção de compostos diméricos se mostrou
bastante efetivo, uma vez que foi possível obter um produto composto por
dímeros, trímeros e monômeros, nas proporções esperadas a partir de
ambas as matérias-primas avaliadas.
Ainda para a etapa da reação de dimerização, etapa inicial, os testes com o
TOFA apresentaram maior conversão em dímeros e trímeros,
apresentando vantagem técnica em relação ao ácido graxo de soja. Além
disso, ao trabalhar com maiores temperaturas e pressões foi possível
alcançar uma melhor conversão dos monômeros para ambas as matérias-
primas usadas nesta etapa.
Através da análise individual de cada componente graxo do produto final
(purificado), os testes realizados com o TOFA e com o ácido graxo
destilado de soja se mostraram capazes de proporcionar a obtenção de
produtos que apresentam valores próximos aos desejados para
monômeros, dímeros e trímeros. Apesar da distribuição graxa semelhante,
o teste realizado com o TOFA apresentou maior rendimento se mostrando
mais viável tecnicamente.
Ao analisar a viabilidade econômica das matérias-primas verificou-se que,
mesmo apresentando menor conversão, o uso do ácido graxo de soja
possibilitou obter um menor custo do produto final, quando comparado ao
TOFA.
A partir da análise econômica considerando dois possíveis cenários para a
operação de uma planta industrial visado a obtenção do produto
dimerizado, verificou-se que a operação da planta em conjunto com um
segundo processo possibilitaria uma maior redução de custos, contribuindo
para a viabilidade econômica do processo.
62
REFERÊNCIAS
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65
APÊNDICE A - CROMATOGRAMA DO TESTE A REALIZADO COM ÁCIDO
GRAXO DESTILADO DE SOJA
66
APÊNDICE B – CROMATOGRAMA DO TESTE B REALIZADO COM ÁCIDO
GRAXO DESTILADO DE SOJA
67
APÊNDICE C - CROMATOGRAMA DO TESTE C REALIZADO COM TOFA
DESTILADO
68
APÊNDICE D - CROMATOGRAMA DO TESTE D REALIZADO COM TOFA
DESTILADO
69
APÊNDICE E - CROMATOGRAMA DO PRODUTO CONCENTRADO DO TESTE
B DE ÁCIDO GRAXO DE SOJA DESTILADO
70
APÊNDICE F - CROMATOGRAMA DO PRODUTO CONCENTRADO DO TESTE
D DE TOFA DESTILADO
71
ANEXO A - TERMO DE PERMISSÃO DE USO DE INFORMAÇÕES
TERMO DE PERMISSÃO DE USO DE INFORMAÇÕES
Através deste termo, nós da empresa BASF SA, declaramos que estamos de
acordo com a utilização das informações desta empresa no Trabalho de
Conclusão de Curso intitulado “ESTUDO DA VIABILIDADE PARA A PRODUÇÃO
DE COMPOSTOS GRAXOS DIMÉRICOS NA INDÚSTRIA QUÍMICA”
desenvolvido pela aluna Mariana Cenerino Galhardo, a ser apresentado à Escola
de Engenharia de Lorena no segundo semestre de 2015.
Guaratinguetá, 13 de Outubro de 2015.