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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA
LEONARDO NOBUO HOSHINO
AVALIAÇÃO DA SENSIBILIDADE DE TRABALHADORES MAIORES DE 60 ANOS À TOXICIDADE OCUPACIONAL INDUZIDA POR
BENZENO
LORENA – SP 2018
LEONARDO NOBUO HOSHINO
AVALIAÇÃO DA SENSIBILIDADE DE TRABALHADORES MAIORES DE 60 ANOS À TOXICIDADE OCUPACIONAL INDUZIDA POR
BENZENO
Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso,
apresentado a Escola de Engenharia de Lorena
da Universidade de São Paulo, como parte das
exigências para conclusão da Graduação do
curso de Engenharia Ambiental.
Orientador: Prof. Dr. Morun Bernardino Neto
Lorena – SP
2018
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIOCONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE
Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Automatizadoda Escola de Engenharia de Lorena,
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
Hoshino, Leonardo Nobuo Avaliação da sensibilidade de trabalhadoresmaiores de 60 anos à toxicidade ocupacional induzidapor benzeno / Leonardo Nobuo Hoshino; orientadorMorun Bernardino Neto. - Lorena, 2018. 53 p.
Monografia apresentada como requisito parcialpara a conclusão de Graduação do Curso de EngenhariaAmbiental - Escola de Engenharia de Lorena daUniversidade de São Paulo. 2018
1. Avaliação ocupacional. 2. Benzeno. 3.Fragilidade osmótica eritrocitária. 4. Pessoasidosas. 5. Vulnerabilidade. I. Título. II. Neto,Morun Bernardino, orient.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer primeiramente aos meus pais, Márcia e Eduardo, pelo
total apoio nestes 5 anos de formação, sempre estando ao meu lado, me motivando
a olhar o meu melhor futuro.
Ao meu irmão, Gustavo, por ter me dado todo o suporte que necessitei, bem
como suprir as necessidades cruciais para manter o meu estudo.
À minha namorada, Vitória, pela companhia e compreensão nos momentos
mais difíceis, fazendo eu me reerguer todas as vezes.
Aos Prof. Dr. Fabiano Fernando Bargos e Profa. Dra. Danúbia Caporusso
Bargos, pela amizade, companheirismo e apoio em minha formação acadêmica.
Ao Prof. Dr. Morun Bernardino Neto, pelo excelente trabalho e paciência com
relação ao desenvolvimento desta monografia, como também por todo auxílio
fornecido como professor e amigo.
Aos meus amigos de república, companheiros da MATOSTT e amigos de
faculdade, especialmente Maria Fernanda, Débora Teixeira, Giulia Moreira e Flávia
Ferraz, pela as risadas, as conversas e todo divertimento nesses 5 anos de jornada.
Ao apoio fornecido pela Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura de Lorena.
E a todos que direta ou indiretamente contribuíram com a minha formação, o
meu muito obrigado.
HOSHINO, L. N. Avaliação da sensibilidade de trabalhadores maiores de 60 anos à toxicidade ocupacional induzida por benzeno. 2018. Monografia (TCC) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2018.
RESUMO
O benzeno é um composto químico com alta aplicabilidade, tanto no ramo industrial
quanto no seu uso como matéria-prima e solvente. Dependendo da exposição por
este composto dos trabalhadores, pode causar anemia aplástica, leucemia, danos à
medula óssea, entre outros problemas de saúde. Diante da longevidade dos
indivíduos, haverá um maior número de idosos no mercado de trabalho informal
(postos de gasolina), necessitando de uma maior preocupação com a saúde destes
trabalhadores. Este estudo teve como objetivo avaliar o efeito do benzeno sobre a
estabilidade celular por meio de dX e H50 pelo método de Fragilidade Osmótica
Eritrocitária (FOE) e definir o perfil individual mais suscetível à intoxicação. Foram
feitas as curvas ajustadas à regressão sigmoidal de acordo com a equação de
Boltzmann, seguida das análises descritiva exploratória e o teste de comparação de
Wilcoxon, bem como a investigação por correlações entre as variáveis dos parâmetros
de estabilidade (dX e H50) com as variáveis do hemograma (gênero, eritograma e
lipidograma). O teste FOE e a análise descritiva mostraram que em concentrações
altas de NaCl as células sofrem menor lise. A análise comparativa demonstrou que o
meio com o benzeno gera maior estabilidade à membrana dos eritrócitos.
Palavras Chaves: Avaliação ocupacional; Benzeno; Fragilidade Osmótica Eritrocitária; Pessoas idosas; Vulnerabilidade
HOSHINO, L. N. Avaliação da sensibilidade de trabalhadores maiores de 60 anos à toxicidade ocupacional induzida por benzeno. 2018. Monografia (TCC) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2018.
ABSTRACT
Benzene is a chemical compound with high applicability in the industrial branch and
using like feedstock and solvent. Depending on the exposure of workers to this
compound, it can cause aplastic anemia, leukemia, bone marrow damage, among
other health problems. Given the longevity of individuals, there is a tendency for more
elderly people to enter the informal labor market (gas stations), necessitating a greater
concern for the health of these workers. This study aimed to evaluate the effect of
benzene on cell stability by means of dX and H50 by the Erythrocyte Osmotic Fragility
(EOF) method and to define the individual profile most susceptible to intoxication.The
adjusted curves were calculated according to the Boltzmann equation, followed by the
exploratory analysis and the Wilcoxon comparison test, as well as the correlations
between the variables of the stability parameters (dX and H50) with the variables of the
hemogram (gender, erythrogram and lipidogram). The EOF test and the descriptive
analysis showed that in high concentrations of NaCl the cells suffer less lysis. The
comparative analysis demonstrated that the benzene sample gives greater erythrocyte
membrane stability.
Keywords: Benzene; Erythrocyte Osmotic Fragility; Elderly people; Occupational evaluation; Vulnerability
SUMÁRIO LISTA DE GRÁFICOS ................................................................................................. 8
LISTA DE QUADROS ............................................................................................... 10
LISTA DE TABELAS ................................................................................................. 11
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .................................................................... 12
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................... 15
2.1 O BENZENO .................................................................................................... 15
2.1.1 TOXICIDADE DO BENZENO .................................................................... 16
2.1.2 EXPOSIÇÃO AO BENZENO ..................................................................... 19
2.2 OS BIOMARCADORES ................................................................................... 22
2.3 A POPULAÇÃO IDOSA E EXPECTATIVA DE TEMPO DE TRABALHO ........ 24
2.3.1 VULNERABILIDADE ................................................................................. 24
2.4 METODOLOGIA DA FRAGILIDADE OSMÓTICA DOS ERITRÓCITOS (FOE)
............................................................................................................................... 25
3 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 27
4 OBJETIVOS ........................................................................................................... 28
4.1 OBJETIVOS GERAIS ...................................................................................... 28
4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................ 28
5 METODOLOGIA ..................................................................................................... 29
5.1 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS ........................................................................... 29
5.2 AMOSTRAS DE MATERIAL BIOLÓGICO ....................................................... 29
5.3 REAGENTES ................................................................................................... 30
5.4 TESTES DE FRAGILIDADE OSMÓTICA ERITROCITARIA EM HUMANOS .. 30
5.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA DE DADOS .............................................................. 32
6 RESULTADOS ....................................................................................................... 33
6.1 TESTE DE FRAGILIDADE OSMÓTICA ERITROCITÁRIA (FOE) ................... 33
6.2 ANÁLISE DESCRITIVA EXPLORATÓRIA ...................................................... 34
6.3 TESTE DE NORMALIDADE LILLIEFORS ....................................................... 39
6.4 TESTE DE COMPARAÇÃO NÃO-PARAMÉTRICO DE WILCOXON .............. 41
6.5 BUSCAS DE CORRELAÇÕES A PARTIR DA CORRELAÇÃO DE RHÔ (ρ) DE
SPEARMAN ........................................................................................................... 42
7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................................................................ 45
8 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 48
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 49
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Informação existente sobre os efeitos na saúde do benzeno ................... 17
Figura 2 - Amostras de sangue cedidas à Universidade ........................................... 30
Figura 3 - Exemplo de amostras em duplicata sem o sangue ................................... 31
Figura 4 - Amostras após centrifugação sem caotrópico .......................................... 33
Figura 5 - Amostras após centrifugação com caotrópico .......................................... 33
Figura 6 - Processo ilustrativo da ação do benzeno em meio salino no eritrócito ..... 46
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Principais fontes de exposição ao benzeno para fumantes e não fumantes,
de acordo com o estudo da USEPA .......................................................................... 21
Gráfico 2 - Porcentagem de trabalhadores de postos de gasolina expostos a
concentrações diferentes de benzeno ....................................................................... 22
Gráfico 3 - Curva ajustada a regressão sigmoidal de acordo com a equação de
Boltzmann com os parâmetros de estabilidade ......................................................... 31
Gráfico 4 - Curva da dependência de hemólise sem benzeno .................................. 34
Gráfico 5 - Curva da dependência de hemólise com 10µL.mL-1 de benzeno ............ 34
Gráfico 6 - Teste de Comparação Wilcoxon de dX sem e com caotrópico ............... 41
Gráfico 7 - Teste de Comparação Wilcoxon de H50 sem e com caotrópico ............... 42
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Processos de produção e principais utilizações do benzeno como matéria-
prima ......................................................................................................................... 16
Quadro 2 - Vantagens e desvantagens de alguns biomarcadores de exposição ao
benzeno .................................................................................................................... 23
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Propriedades Químicas e Físicas do Benzeno ........................................ 15
Tabela 2 - Análise descritiva dos parâmetros de estabilidade sem o caotrópico ...... 36
Tabela 3 - Análise descritiva dos parâmetros de estabilidade com o caotrópico ...... 36
Tabela 4 - Análise descritiva exploratória das variáveis do eritograma e lipidograma
.................................................................................................................................. 38
Tabela 5 - Teste de normalidade Lilliefors para os parâmetros de estabilidade sem
caotrópico .................................................................................................................. 39
Tabela 6 - Teste de normalidade Lilliefors para os parâmetros de estabilidade com
caotrópico .................................................................................................................. 39
Tabela 7 - Teste de normalidade Lilliefors das variáveis do eritrograma e lipidograma
.................................................................................................................................. 40
Tabela 8 - Teste de comparação de Wilcoxon de dX sem e com caotrópico ............ 42
Tabela 9 - Teste de comparação de Wilcoxon de H50 sem e com caotrópico .......... 42
Tabela 10 - Coeficientes de correlações de Spearman (ρ) e os níveis de significância
(Sig) ........................................................................................................................... 44
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
A1 Absorbância no platô de hemólise mínima
A2 Absorbância no platô de hemólise máxima
A540 Absorbância a comprimento de onda de 540 nm
ACS American Chemical Society
ASTDR Agency for Toxic Substances and Disease Registry
CalEPA California Environmental Protection Agency
CEP Comitê de Ética em Pesquisa com Humanos
CHCM Concentração da Hemoglobina Corpuscular Média
CNTP Condições Normais de Temperatura e Pressão
COV Composto Orgânico Volátil
dX Variação da concentração de NaCl que promove 100% de hemólise
EEL Escola de Engenharia de Lorena
FOE Fragilidade Osmótica Eritrócitos
H50 Concentração de NaCl que promove 50% de hemólise
Hb Hemoglobina
HCM Hemoglobina Corpuscular Média
HDL High Density Lipoproteins
Ht Hematócrito
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IIA Istituto Inquinamento Atmosferico
IPCS International Programme on Chemical Safety
LDL Low Density Lipoproteins
NaCl Cloreto de sódio
NOAEL No Observed Adverse Effect Level
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Ppm Parte por milhão
Pt Plaquetas
t-Col t-Colesterol
TG Triglicerídeos
USEPA United States Environmental Protection Agency
USP Universidade de São Paulo
VCM Volume Corpuscular Médio
VLDL Very Low Density Lipoproteins
WHO World Health Organization
14
1 INTRODUÇÃO
O benzeno é um hidrocarboneto aromático cancerígeno derivado do petróleo
ou carvão mineral com uma alta aplicabilidade, principalmente no ramo industrial
siderúrgico e petroquímico além do seu uso como matéria-prima e solvente. A
exposição dos trabalhadores ao benzeno pode causar sérios problemas à saúde,
como leucemia, danos a medula óssea, entre outros. A gravidade dessas doenças
pode estar relacionada à concentração, ao período de tempo de exposição, a
frequência de exposições sucessivas e a características individuais como a idade das
pessoas expostas ao toxicante.
Dentro do cenário atual da indústria do petróleo, a taxa de longevidade e o
tempo necessário para a aposentadoria são fatores que estão em constante mudança,
o que pode levar a maior exposição a esta substância. Assim, é provável que a cada
dia haja maior quantidade de trabalhadores maiores de 60 anos sujeitos à exposição
ao benzeno. Esse cenário requer maior preocupação com a saúde dos idosos, afim
de que estes trabalhadores possam viver sem agravos à saúde decorrentes de
intoxicação ocupacional.
Esta intoxicação pode ocorrer principalmente por três formas: a oral, a inalatória
e a dérmica. No entanto, somente a via inalatória possui relatos que comprometem o
sistema imunológico, neurológico, reprodutivo, bem como problemas genotóxicos,
cancerígenos e causar até a morte.
Mediante ao contato do benzeno com o organismo, aquele que não foi
metabolizado no corpo pode ser analisado principalmente pelo ar exalado, pela urina
e pelo sangue. O sangue é um biomarcador específico e sensível, com emprego de
técnicas sofisticadas, ademais, também é um biomarcador de acesso fácil e não
invasivo, uma vez que se pode utilizar o método de fragilidade osmótica eritrocitária
(FOE) para analisar as concentrações do benzeno em amostras de pequeno volume.
Nesse trabalho, será usada a metodologia FOE para analisar a sensibilidade
de idosos à citotoxicidade induzida por benzeno e definir o perfil individual mais
suscetível à intoxicação.
15
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 O BENZENO
O benzeno é um hidrocarboneto aromático e um composto orgânico volátil
(COV) de fórmula molecular C6H6 descoberto em 1825. Em Condições Normais de
Temperatura e Pressão (CNTP) se encontra em forma líquida e incolor, podendo ser
encontrado no ar, água e solo. É um hidrocarboneto muito estudado com propriedades
químicas e físicas bem definidas conforme demonstrada na tabela 1 (ASTDR, 2002).
Uma das propriedades que se destaca é a sua volatilidade, devido ao ponto de
ebulição relativamente baixo (80,1ºC), na qual está relacionado as altas
concentrações ambientais alcançadas (MARTINS e SIQUEIRA, 2002).
Tabela 1 - Propriedades Químicas e Físicas do Benzeno
Nome Benzeno
Massa Molar 78,12 g/mol
Ponto de Fusão 5,5 °C
Ponto de Ebulição (760 mmHg) 80,1 °C
Massa Volumétrica (20 °C) 0,8794 g/cm³
Log. Coef. Partição octanos/água (logKow) 2,13
Cor Clara
Odor Característico
Viscosidade (absoluta) a 20 °C 0,6468 cP
Calor de Vaporização a 80,1 °C 33,871 kJ/kg.mol
Calor de Combustão a Pressão Constante a 25 °C 41,836 kJ/g
Solubilidade em Água a 25 °C 0,180 g/100 mL
Pressão de Vapor a 25 °C 95,2 mmHg (12,7 kP)
Temperatura de Auto-Ignição 562 °C
Flash Point -11 °C
Constante Dielétrica (20°C) 0,23
Fonte: Adaptado de SITTIG (1989), LEWIS (1991), USEPA (1979)
16
O benzeno é um dos principais componentes que são produzidos nas indústrias
petroquímicas e sua utilização como matéria-prima, na qual é apresentada no quadro
1.
Quadro 1 - Processos de produção e principais utilizações do benzeno como matéria-prima
COMPOSTO TIPO DE
PROCESSO PROCESSO
Benzeno
Processos de produção
Reforma Catalítica Produção de Etileno Dealquilação do Tolueno Destilação dos óleos leves de forno de coque Isomerização do Xileno
Processos que se utiliza como matéria-prima
Etilbenzeno / Estireno Cumeno / Fenol Ciclohexano Nitrobenzeno / Anilina Alquilbenzenos Clorobenzenos Outros processos (Adição aos Combustíveis)
Fonte: Adaptado de (SOUSA, 2008).
Além desse hidrocarboneto ser utilizado nas indústrias químicas, é comum ver
sua utilização como solvente de gorduras para a produção de ceras, óleos, tintas,
borrachas, bem como na fabricação de detergentes, explosivos, corantes e produtos
farmacêuticos, entre outras diversas aplicabilidades (SITTIG, 1989; ASTDR, 2007).
O benzeno pode ser liberado no ar através de fontes naturais e antropogênicas.
Entre estas fontes, a segunda destaca-se pelo seu maior impacto ao meio ambiente,
devido à grande quantidade liberada por meio de gases oriundos de queimadas,
fumaça de cigarros, emissões industriais e processo de combustão de combustíveis
fósseis (IPCS, 1993b; IIA, 1998; ASTDR, 2002).
2.1.1 TOXICIDADE DO BENZENO
Além de possuir propriedades físicas e químicas bem definidas, o benzeno é
uma substância química que está sendo pesquisada frequentemente, devido ao seu
17
potencial cancerígeno, hemotóxico e genotóxico para o ser humano, como pode ser
observado na figura 1.
Figura 1 - Informação existente sobre os efeitos na saúde do benzeno
Fonte: Adaptada de (Agency for Toxic Substances and DIsease Registry, 2007).
● Estudos existentes.
Desde os estudos de Delore e Borgomano (1928), há informações suficientes
para justificar a associação entre a exposição ocupacional ao benzeno e o
desenvolvimento de leucemia, o que foi cientificamente aceito devido à forte
correlação entre altas exposições e o desenvolvimento de pancitopenia, anemia
aplásica e leucemia miocárdica aguda. Posteriormente, após uma breve revisão das
publicações clínicas sobre o benzeno, Van Raalte (1982) concluiu que a
hemotoxicidade estava relacionada as concentrações superiores a 50ppm e que entre
as faixas de 20 a 25ppm não havia evidência de hemotoxicidade devido a não possuir
nenhum relato.
A toxicidade do benzeno está relacionada à forma com que o ser humano é
exposto. Segunda a USEPA (1979), quando inalado pode provocar sintomas
neurológicos e alterações sanguíneas. Quando ingerido em quantidades maiores
pode provocar vômitos, tonturas e convulsões. Já quando se é exposto ao líquido e
ao vapor, pode ocorrer irritação na pele, olhos e no trato respiratório superior.
Segundo SOUSA (2008), a USEPA não definiu nenhum valor de concentração
e dose de referência. Entretanto, a CalEPA estabeleceu 0,06 mg.m-³ como valor de
referência, o que é um valor abaixo do que se espera que ocorra efeitos à saúde
humana.
18
Por sua vez, a ATSDR (2002) estabeleceu como valor mínimo para inalação
capaz de gerar intoxicação aguda a concentração de 0,2 mg/m³ e valor intermediário
de risco mínimo o valor de concentração de 0,01 mg/m³, sendo que estes valores são
baseados em efeitos imunológicos e neurológicos em ratos. Já o Brasil faz uso dos
mesmos limites impostos pela Alemanha, ou seja, os valores de referências
tecnológicos com níveis de 1,0 ppm (3,3 mg.m-3) e 2,5 ppm (8,1 mg.m-3), dependendo
da tecnologia da fonte emissora (PEZZAGNO, 1995; BRASIL, 1995).
2.1.1.1 TOXICOCINÉTICA E TOXICODINÂMICA DO BENZENO
Após o benzeno ser absorvido, ele é distribuído rapidamente pelos tecidos e
atinge maior concentração nos tecidos ricos em lipídios como o fígado, o baço, a
medula óssea e as lipoproteínas sanguíneas, devido as interações de van-der-Waals.
No entanto, apenas 30% do benzeno absorvido é eliminado sem alterações por vias
respiratórias, enquanto o restante é biotransformado no fígado e na medula óssea em
substâncias mais solúveis em água como o fenol e catecóis os quais são eliminados
pela urina em forma de conjugados com ácidos glicurônicos. Destaca-se o fato de que
após o benzeno ter adentrado no organismo, ele atua como um elemento tóxico e
torna-se perigoso independente do grau de exposição (CAZARIN, 2005).
2.1.1.2 NÍVEIS DE INTOXICAÇÃO
Os níveis de intoxicação podem ser diferenciados a partir de critérios
decorrentes de suas características. Dessa forma, ela pode variar tanto quanto a
rapidez de absorção da substância tóxica, quanto sua rapidez de aparecimento de
sinais e sintomas e sua severidade dos sintomas (CHASIN, 2003 apud LAUWERYS,
1972).
A classificação geralmente utilizada está relacionada à duração da exposição
ao agente tóxico para o aparecimento da sintomatologia. Dessa forma, a intoxicação
poderá ser:
• Aguda (curto prazo): quando a exposição e a absorção do agente tóxico são
rápidas. Geralmente, as manifestações da intoxicação se desenvolvem
rapidamente (CHASIN e AZEVEDO, 2003);
19
• Subaguda (médio prazo): quando as exposições são frequentes ou repetidas
num período de vários dias antes que os sintomas apareçam (CHASIN e
AZEVEDO, 2003);
• Crônica (longo prazo): quando as exposições repetidas durante um longo
período de tempo precisam ocorrer para se dar a intoxicação. Os sinais clínicos
podem se manifestar através da acumulação do tóxico no organismo ou pela
adição dos efeitos causados por exposições repetidas, sem a acumulação do
tóxico no organismo (CHASIN e AZEVEDO, 2003).
2.1.2 EXPOSIÇÃO AO BENZENO
Em geral, as pessoas são expostas todos os dias à uma pequena quantidade
de benzeno, oriunda de ambientes externos e internos. As formas mais comuns de
exposição são as fumaças de cigarros, as estações de serviços automobilísticos,
exaustão dos motores veiculares, as emissões industriais e os vapores dos produtos
que contem benzeno em sua composição (ASTDR, 2007). Com isso, a fim de realizar
uma avaliação na qualidade do ar de um ambiente é necessário identificar como a
saúde populacional é afetada sob uma qualidade de ar baixa e uma das formas de se
conseguir isto é realizando uma quantificação da concentração exposta (KOISTINEN
e KOTZIAS, 2008).
Dessa forma, a exposição ao benzeno é determinada pela sua concentração e
pela frequência ao longo da vida, podendo ser classificada em duas formas: a pessoal
e a populacional. A primeira tem relação a um único individuo em um dado local e um
determinado tempo e a segunda é a exposição média da população à que se fez
referência (WHO, 1999). Já com relação à exposição da população, ela pode ser
dividida em ambiental e ocupacional, podendo ocorrer através da via respiratória e da
ingestão de água ou alimento contaminado.
Destaca-se também o fato de que o composto em destaque pode inferir
diferentes sintomas para subgrupos de pessoas quanto ao sexo e a idade. Com
relação ao fator idade, verifica-se uma toxidade maior para um grupo populacional do
que ao outro, por exemplo, os idosos podem ser mais suscetíveis a alguns agentes,
20
devido a uma menor capacidade hepática de biotransformar e a renal de excretar
(CHASIN e AZEVEDO, 2003).
2.1.2.1 EXPOSIÇÃO AMBIENTAL
As principais fontes de exposição ambiental são os cigarros, emissões
industriais e veiculares, os vapores da gasolina dos veículos ou dos postos de
abastecimento população, bem como a contaminação de água e do solo (GALBRAITH
et al., 2000; COSTA et al., 2002; CARRIERI et al., 2012). Dessa forma, pode-se inferir
que grande parte da população já está exposta ao benzeno devido as fontes citadas
anteriormente (WALLACE, 1996; IIA, 1998).
Ademais, uma pesquisa foi feita para retratar a diferença entre pessoas
fumantes ativos e passivos e não fumantes, com isso, Gilli et al. (1996) pode afirmar
que pessoas não fumantes possuem uma menor quantidade de benzeno detectada
com relação as pessoas fumantes.
Outro estudo, desta vez realizado pela USEPA, de 1980 a 1987, avaliou a
exposição da população aos COV e pôde fornecer dados sobre a contaminação pelo
benzeno através do monitoramento de 800 pessoas que representasse uma média de
800.000 pessoas em oito áreas dos Estados Unidos. Analisando-se o gráfico 1,
podemos observar que as principais fontes de exposição para fumantes e não
fumantes, foram a fumaça de cigarro e a inalação de vapores e combustão de gasolina
(WALLACE, 1996).
21
Gráfico 1 - Principais fontes de exposição ao benzeno para fumantes e não fumantes, de acordo com o estudo da USEPA
Fonte: (WALLACE, 1996).
Além da contaminação atmosférica, existe embasamentos teóricos que aborda
a contaminação por meios ambientais, como a água e o solo, devido a vazamentos
de tanques das indústrias petroquímicas e de postos de armazenamento e distribuição
de combustíveis (BARATA-SILVA, MITRI, et al., 2014). Este tipo de contaminação é
preocupante, uma vez que se trata de um hidrocarboneto monoaromático que possui
uma rápida solubilidade em água, possibilitando a chegada deste composto nos
lençóis freáticos e consequentemente, afetar a população que faz uso de poços
artesianos (BRITO, OLIVEIRA, et al., 2005; TIBURTIUS, PERALTA-ZAMORA, et al.,
2005; ANJOS, 2012; LANDON e BELITZ, 2012).
2.1.2.2 EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL
A exposição ocupacional ao benzeno retrata um complexo problema de Saúde
Pública, uma vez que aproximadamente dois milhões de trabalhadores por ano no
mundo são expostos ocupacionalmente a esta substância (NOGUEIRA, 2016). Desta
quantidade de trabalhadores, pode-se observar no gráfico 2, a porcentagem de
trabalhadores de acordo com a concentração exposta.
22
Gráfico 2 - Porcentagem de trabalhadores de postos de gasolina expostos a concentrações diferentes de benzeno
Fonte: Adaptada de (PEZZAGNO, 1995; COUTRIM, CARVALHO e ARCURI, 2000).
Mesmo o benzeno sendo um dos poluentes mais estudados no Brasil, em
termos de Saúde do Trabalhador, ainda não há dados adequados de notificação de
mortalidades, internações hospitalares e estimativas de trabalhadores expostos
(NOGUEIRA, 2016). Embora os limites estabelecidos pelo Brasil sejam baixos com
relação ao risco de contaminação, estes não asseguram uma proteção absoluta do
trabalhador pelo fato de não existir limite seguro de exposição para agentes
carcinogênicos (JOHNSON e LUCIER, 1992).
2.2 OS BIOMARCADORES
Os biomarcadores são compreendidos como toda e qualquer substância ou seu
produto de biotransformação, cuja a determinação quantitativa nos fluídos biológicos,
tecidos ou ar exalado, avalie a intensidade da exposição e o risco à saúde (WHO,
1996).
O benzeno não metabolizado pode ser determinado por três matrizes distintas:
no ar exalado, no sangue e na urina, na qual geralmente é utilizado o próprio
xenobiótico ou seus metabólitos, como o ácido trans,trans-mucônico e o ácido S-
fenilmercaptúrico. Cada biomarcador possui suas vantagens e desvantagens,
conforme segue o quadro 2.
1
4
95
Porcentagem de trabalhadores
Concentração > 10 ppm Concentração entre 1 a 5 ppm Concentração < 1 ppm
23
Quadro 2 - Vantagens e desvantagens de alguns biomarcadores de exposição ao benzeno
Biomarcador Vantagens Desvantagens
Benzeno no ar
Específico e sensível a baixas concentrações no ambiente
Amostra não homogênea
Benzeno no sangue
Biomarcador específico e sensível
Amostra muito heterogênea; processo invasivo de coleta
Benzeno urinário
Biomarcador específico e sensível
Apresentado na urina em uma pequena fração inalterada
Fenol urinário
Biomarcador sensível Ingestão de determinadas substâncias podem alterar as concentrações de fenol urinário
Ácido trans, trans-mucônico urinário
Apresenta boa correlação com benzeno no ar
Ácido sórbico como fator de confundimento; tabagismo como fator de confundimento
Ácido S-fenilmercaptúrico urinário
Biomarcador específico do benzeno
Apresenta uma baixa concentração na urina; tabagismo como fator de confundimento
Catecol e quinol urinários
Melhor correlação com benzeno no ar do que fenol
Exposição ao tolueno encontrado na gasolina causa interferência na concentração desses metabólitos
Benzenotriol ou triidroxibenzeno urinário
Apenas traços são excretados pela urina
N-Acetilcisteína e tiofenol urinários
Não são específicos, nem sensíveis
Hidroquinona urinária
Melhor correlação com benzeno no ar do que fenol
Exposição ao tolueno encontrado na gasolina causa interferência na concentração desses metabólitos
N-7 Fenilguanina urinária
Biomarcador de carcinogenicidade do benzeno, específico
Dificuldade de detecção em concentrações inferiores a 5 ppm de benzeno no ar
Adultos de hemoglobina, albumina e N-fenilvalina no sangue
Podem ser utilizados como biomarcadores de efeitos precoces; são específicos
Baixa sensibilidade devido às baixas concentrações no sangue
Aberrações cromossômicas em linfócitos no sangue e outros biomarcadores de genotoxicidade
Biomarcadores sensíveis
Podem responder a qualquer xenobiótico; não são específicos
Fonte: (CORRÊA DOS SANTOS, OLIVA FIGUEIREDO e ABEL ARCURI, 2017).
24
Embora o benzeno no sangue seja um biomarcador específico, sensível e as
concentrações de benzeno seja baixa, verifica-se a possibilidade de análise através
do método de FOE, na qual analisa-se a concentração necessário para que ocorra
algum agravo à saúde.
2.3 A POPULAÇÃO IDOSA E EXPECTATIVA DE TEMPO DE TRABALHO
O envelhecimento populacional é um processo natural que ocorre em todos os
países devido ao avanço tecnológico na área da saúde e uma maior preocupação com
a qualidade de vida vivida pela sociedade. Tal processo tem uma ocorrência maior em
populações que se tem uma baixa taxa de natalidade e elevada expectativa de vida
das pessoas.
Segundo dados da Secretaria de Direitos Humanos (2012), a quantidade de
idosos desde 2001 até 2011 aumentou em 55 %, totalizando 23,5 milhões. Atualmente
em 2018, a PNAD de 2018, verificou números superiores a 30 milhões de pessoas
maiores de 60 anos e com grande tendência a aumentar este número no decorrer dos
anos.
Conforme o aumento da população de idosos e da taxa de longevidade, muitas
dessas pessoas devem seguir em sua jornada de trabalho, na qual acarretará em uma
maior quantidade de idosos no mercado de trabalho, principalmente em tarefas em
que não necessitam estudo. No entanto, os trabalhadores maiores de 60 anos estarão
mais propícios a doenças, necessitando de um sistema de saúde mais qualificado e
versátil.
2.3.1 VULNERABILIDADE
A vulnerabilidade é um conceito definido como o estado de um grupo ou
individuo no qual se tem capacidade reduzida em sua totalidade dinâmica formadas
por aspectos que vão de suscetibilidades orgânicas à forma de estruturação de
programas de saúde, passando por aspectos comportamentais, culturais, econômicos
e políticos (AYRES, FRANÇA JÚNIOR, et al., 2003).
25
Para determinar uma maior ou menor vulnerabilidade, Ayres e França Júnior et
al. (2003) define três planos independentes: a vulnerabilidade individual, a social e a
programática, que estão associadas ao comportamento pessoal, contexto social e
ações do governo para o combate ao dano causado, respectivamente.
No presente estudo, estudaremos a vulnerabilidade de uma subpopulação
específica, uma vez que as alterações biológicas tornam o idoso um ser frágil e menos
capaz de manter a homeostase quando submetido a um estresse fisiológico. Dessa
forma, ele fica mais vulnerável às doenças e maior risco de morte (PAZ, LARA DOS
SANTOS e EIDT, 2006).
2.4 METODOLOGIA DA FRAGILIDADE OSMÓTICA DOS ERITRÓCITOS (FOE)
A fim de obter informações sobre a composição, a estrutura das membranas
eritrocitárias, bem como analisar os efeitos de substâncias na sua integridade, faz-se
necessário a aplicação de algumas abordagens bioquímicas e técnicas morfológicas,
na qual entre elas, destaca-se o teste de FOE, uma vez que trata-se de um teste de
baixo custo e eficiente na avaliação da estabilidade das membranas (MOECKEL,
SHADMAN, et al., 2002; ELIAS, LUCAS, et al., 2004; ALDRICH e SAUNDERS, 2006;
IVANOV, TOLEDOVA e CHAKAAROVA, 2007; RODRIGUES, BATISTA, et al., 2009).
Geralmente, a FOE é utilizada para diagnosticar as hemoglobinopatias
(principalmente esferocitoses), avaliar o efeito de drogas sobre a hematopoese e
identificar as alterações de membrana em portadores de câncer cervical e de apneia
obstrutiva do sono (OZTÜRK, MANSOR, et al., 2003 apud SIRICHOTIYAKUL,
TANYIPALAKON, et al., 2004).
Tal metodologia expressa a habilidade das membranas de manter sua
integridade estrutural quando são expostas a um estresse osmótico (ALDRICH e
SAUNDERS, 2006). Ao fazer uso deste tipo de teste faz-se necessário um
monitoramento da lise de eritrócitos mediante a leitura de absorbância da
hemoglobina em um espectrofotômetro com comprimento de onda ajustado em
540nm (MOECKEL, SHADMAN, et al., 2002). Destaca-se também o fato de que a
osmolaridade com que a célula sofre lise, em pacientes humanos, pode estar
26
influenciada mediante a quantidade de colesterol presente na membrana
citoplasmática, se são eritrócitos nucleados ou não nucleados, o tamanho dos
eritrócitos e a idade do paciente (MAEDE, 1980).
27
3 JUSTIFICATIVA
Com o avanço industrial, o benzeno vem sendo utilizado em processos de
produção, como também matéria-prima e solvente. A participação desse composto no
dia-a-dia da sociedade é expressiva, fazendo com que haja grande preocupação com
trabalhadores que estão expostos a tal componente, principalmente aqueles maiores
de 60 anos. Dessa forma, investigar o efeito caotrópico do benzeno (adotando uma
exposição ocupacional final do indivíduo à uma concentração de 10µL.mL-1) no
plasma sanguíneo de humanos e o perfil individual mais sensível a saúde humana por
meio da análise de citotoxicidade de eritrócitos é um estudo de interesse tanto da
saúde do trabalhador como da saúde pública.
28
4 OBJETIVOS
4.1 OBJETIVOS GERAIS
Avaliar a sensibilidade dos trabalhadores idosos à toxicidade ocupacional
induzida por benzeno pelo método de Fragilidade Osmótica Eritrocitária (FOE) e
definir o perfil individual mais suscetível à intoxicação.
4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Determinar os gráficos de fragilidade osmótica eritrocitária para cada indivíduo
usando uma concentração de benzeno de 10µL.mL-1 em meio de
concentrações de NaCl que variam de 0,3 a 0,6 g.dL-1;
• Ajustar cada gráfico obtido à uma sigmoide de Boltzmann e obter graficamente
os valores dos parâmetros H50, dX, Amáx e Amín;
• Comparar os parâmetros de estabilidade supracitados obtidos para os
experimentos com e sem ação caotrópica
• Avaliar os efeitos das variáveis moduladoras do eritrograma, lipidograma e
variáveis individuais (gênero e idade) e definir o perfil de maior sensibilidade à
toxicidade celular por esse toxicante.
29
5 METODOLOGIA
5.1 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
Esse trabalho foi, previamente ao seu início, submetido ao Conselho de Ética
em Pesquisa com Humanos (CEP) por meio da Plataforma Brasil sob Certificado de
Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) número 99728718.1.0000.5467 tendo
parecer de aprovação número 2.933.295.
5.2 AMOSTRAS DE MATERIAL BIOLÓGICO
Amostras de sangue (3,0 mL) foram coletadas de sujeitos saudáveis, não-
fumantes, não usuários de drogas ou medicamentos e, especialmente, não
consumidores de bebidas alcoólicas e maiores de 60 anos, no Laboratório Municipal
de Análises Clínicas da Prefeitura de Lorena através de punção venosa após um
período de jejum de 8-12 horas. Os sujeitos participantes foram codificados e
permaneceram incógnitos, não podendo ser identificados até mesmo se os resultados
da pesquisa puderem beneficiá-los. O sangue foi coletado em tubos evacuados
contendo 50,0 μL de K3EDTA a 25 mmol/L e seguiu a rotina de análise do laboratório
onde foram processados o eritrograma e lipidograma. O sangue total não usado e
considerado material de descarte foi, em no máximo 24 horas da sua obtenção,
cedidos à Universidade de São Paulo para o estudo a que se propõe esse trabalho,
conforme a figura 2. O sangue total foi transportado em recipiente acondicionado em
ambiente refrigerado e mantido entre 0oC a 4ºC até o momento da análise.
30
Figura 2 - Amostras de sangue cedidas à Universidade
Fonte: Próprio Autor.
5.3 REAGENTES
Os reagentes: benzeno e NaCl foram de grau ACS de pureza e obtidos por meio
do Laboratório de Engenharia Ambiental ligado ao Departamento de Ciências Básicas
e Ambientais da EEL-USP.
5.4 TESTES DE FRAGILIDADE OSMÓTICA ERITROCITARIA EM HUMANOS
Os experimentos foram processados pelo método FOE utilizado por Bernardino
Neto, De Avelar, et al. (2013). Para a determinação dos efeitos citotóxicos do benzeno
sobre a estabilidade dos eritrócitos humanos, foram usadas, para cada amostra de
sangue total, duas baterias de 8 tubos eppendorfs em duplicata (figura 3), sendo uma
com 20,0 µL de benzeno (concentração de 10µL.mL-1) por tubo e outra sem o
caotrópico. Em ambas o meio foi composto por 2,0 mL de NaCl cuja concentração
variou de 0,3 a 0,6 g.dL-1. Cada bateria de 16 tubos eppendorfs contendo solução
salina foi então pré-incubada a temperatura de 37.5ºC por 15 minutos sendo que, após
esse tempo, os tubos receberam por meio de pipeta automática 20,0 µL de sangue
total. Cada tubo eppendorf foi então homogeneizado e incubado a temperatura de
37.5º C por 30 minutos. Após a incubação os tubos foram centrifugados por 2 minutos
a 1600 x g e a 20oC, os sobrenadantes foram cuidadosamente removidos com pipeta
automática e submetidos a leitura de absorvância a 540 nm (A540) em
espectrofotômetro UV-VIS. Os gráficos de A540 em função à concentração salina do
31
meio foram ajustados à regressão sigmoidal de linhas, de acordo com a equação de
Boltzmann por meio da fórmula:
A540=Amáx - Amín
1+ e(X - H50)/dX + Amín
Onde Amáx e Amín são os valores que representam os patamares máximo e mínimo de
hemólise, X é a concentração de toxicante, H50 representa a concentração salina
capaz de provocar 50% de hemólise, e dX representa a amplitude de concentração
salina da transição sigmoidal entre Amáx e Amín, conforme demonstrada no gráfico 3.
Figura 3 – Exemplo de amostras em duplicata sem o sangue
Fonte: Próprio Autor.
Gráfico 3 - Curva ajustada a regressão sigmoidal de acordo com a equação de Boltzmann com os parâmetros de estabilidade
Fonte: (PARAISO, DE FREITAS, et al., 2014).
32
5.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA DE DADOS
Os efeitos citotóxicos do benzeno foram avaliados por meio dos parâmetros de
estabilidade supracitados. Tais parâmetros foram obtidos graficamente pelo Software
OriginPro 9.0 (MicroCal ™, Northampton, MA, EUA). Os grupos intervenção (com
caotrópico) e controle (sem caotrópico) foram comparados por meio de testes de
comparação de ranks de Wilcoxon e as características de base da população foram
descritas por meio do valor mínimo, primeiro quartil, mediana, terceiro quartil, valor
máximo e desvio interquartílico (DIQ).
No afã de avaliar associações entre a estabilidade celular e variáveis individuais
tanto no grupo intervenção quanto no grupo controle, as variáveis do eritrograma,
lipidograma e individuais foram testadas pelo teste de correlação de Spearman quanto
à sua correlação com os parâmetros de estabilidade. Todos os testes foram
processados visando erro tipo I não superior à 0,05.
33
6 RESULTADOS
6.1 TESTE DE FRAGILIDADE OSMÓTICA ERITROCITÁRIA (FOE)
Primeiramente, ao final do processo, pode-se observar os seguintes
sobrenadantes das amostras sem benzeno (figura 4) e com benzeno (figura 5). Após
a leitura destes sobrenadantes no espectrofotômetro UV-VIS a um comprimento de
onda de 540nm, obteve-se dados da concentração de hemoglobina e construiu-se
curvas de dependência de hemólise em função da concentração de NaCl, na qual
foram ajustadas segundo a equação de Boltzmann para um total de 12 amostras
diferentes de sangue, diferenciando-se na presença ou não do caotrópico (benzeno),
conforme pode-se observar nos gráficos 4 e 5, respectivamente.
Figura 4 - Amostras após centrifugação sem caotrópico
Fonte: Próprio Autor.
Figura 5 - Amostras após centrifugação com caotrópico
Fonte: Próprio Autor.
34
Gráfico 4 - Curva da dependência de hemólise sem benzeno
Fonte: Próprio Autor.
Gráfico 5 - Curva da dependência de hemólise com 10µL.mL-1 de benzeno
Fonte: Próprio Autor.
Utilizando o software OriginPro 9.5 (MicroCal ™, Northampton, MA, EUA),
ajustou-se a curva em linhas que seguem a regressão sigmoidal, a partir da qual
obtemos os parâmetros de estabilidade A1, A2, dX e H50, ou seja, valores de
identificação da estabilidade da membrana.
6.2 ANÁLISE DESCRITIVA EXPLORATÓRIA
Para obter uma melhor forma de análise estatística, utilizou-se inicialmente o
software Minitab ® 17 para realizar a análise descritiva exploratória dos parâmetros
de estabilidade A1, A2, dX, H50 e dX/H50, além das variáveis do eritrograma,
35
lipidograma e variáveis individuais. Para tal, foram calculados o valor mínimo, o
primeiro quartil, a mediana, o terceiro quartil, valor máximo e o intervalo interquartil,
além do teste de normalidade de Liliefors. Ressalta-se também que esses parâmetros,
foram tratados separadamente na ausência e na presença do caotrópico, conforme
as tabelas 2 e 3, respectivamente.
36
Tabela 2 - Análise descritiva dos parâmetros de estabilidade sem o caotrópico
Variável Tamanho da amostra Mínimo Primeiro Quartil (25%) Mediana Terceiro Quartil (75%) Máximo Desvio Interquartílico
A1 12 0.9626 1.0107 1.0956 1.2073 1.5308 0.1966
A2 12 -0.1498 0.0351 0.0916 0.1072 0.1458 0.0720
dX 12 0.01125 0.01294 0.02276 0.03886 0.05509 0.02592
H50 12 0.4324 0.4454 0.4594 0.4907 0.5693 0.0453
dX/H50 12 0.02513 0.02856 0.05004 0.07647 0.10573 0.04792 Fonte: Próprio autor.
Tabela 3 - Análise descritiva dos parâmetros de estabilidade com o caotrópico
Fonte: Próprio autor.
Variável Tamanho da amostra Mínimo Primeiro Quartil (25%) Mediana Terceiro Quartil (75%) Máximo Desvio Interquartílico
A1 12 1.0069 1.0465 1.0801 1.2271 1.4210 0.1806
A2 12 0.0985 0.1688 0.2103 0.3359 0.5308 0.1671
dX 12 0.00056 0.01483 0.02157 0.02681 0.03224 0.01198
H50 12 0.39954 0.40996 0.42436 0.44025 0.48174 0.03029
dX/H50 12 0.00116 0.03416 0.05024 0.06669 0.07769 0.03253
37
Após a análise descritiva dos parâmetros de estabilidade, realizou-se a mesma
análise paras as variáveis do eritrograma, lipidograma, idade e gênero, conforme
apresentado na tabela 4.
Diante dos dados amostrados, pode-se inferir que se analisou 8 amostras
sanguíneas do gênero feminino e 4 do gênero masculino, ou seja, cerca de 75 % das
amostras eram de sangue do gênero feminino. A variação das idades foi de no mínimo
61 anos ao máximo de 82, destacando uma mediana de 68 anos. No que se refere as
variáveis analisadas do eritrograma, observa-se que o grupo apresenta níveis
aceitáveis, entretanto, com referência ao lipidograma, vale realçar que os triglicerídeos
estão em classificação limítrofe.
38
Tabela 4 - Análise descritiva exploratória das variáveis do eritograma e lipidograma
Variável Tamanho da
amostra Mínimo
Primeiro Quartil (25%)
Mediana Terceiro Quartil
(75%) Máximo
Desvio Interquartílico
Idade (anos)
Gênero F (%)
12
75.00
61.00
-
65.00
-
68.00
-
77.75
-
82.00
-
12.75
-
Hemácias (milhões/mm³)
12 4.130 4.212 4.715 5.393 5.690 1.180
Hb (mg/dL) 12 11.100 12.175 13.300 15.275 17.000 3.100
Ht (%) 12 36.10 39.58 42.10 47.08 53.50 7.50
VCM (fL) 12 78.80 84.53 89.65 95.35 105.60 10.82
HCM (fL) 12 24.200 26.725 28.900 30.650 34.300 3.925
CHCM (%) 12 30.500 31.100 31.700 32.350 33.500 1.250
Pt (10³/mm³) 12 210.0 245.0 293.0 345.5 399.0 100.5
t-Col 12 120.0 151.0 186.0 214.8 234.0 63.8
LDL (mg/dL) 12 26.00 57.25 95.00 113.75 127.00 56.50
HDL (mg/dL) 12 33.00 42.75 50.00 56.75 113.00 14.00
VLDL (mg/dL) 12 20.00 37.25 46.00 54.75 66.00 17.50
TG (mg/dL) 12 100.0 185.0 230.0 274.3 330.0 89.3
Fonte: Próprio Autor.
39
6.3 TESTE DE NORMALIDADE LILLIEFORS
Para inferir qual tipo de teste estatístico de comparação realizar é necessário
investigar sobre a normalidade das amostras. Dessa forma, os resultados do teste
indicaram que alguns dados não são provenientes de uma população distribuída
normalmente. Diante disso, optou-se pelo teste de normalidade de Lilliefors para
verificar a normalidade das variáveis.
Conforme pode ser visto nas tabelas 5, 6 e 7, os dados mostraram ser
distribuídos de forma normal em sua maioria, visto que os resultados dos testes de
normalidade de Lilliefors geraram p-valor maior do que o nível de significância de 5%
(0.05), deixando-se de rejeitar assim a hipótese nula de distribuição normal. No
entanto, como não foi provada normalidade em todas as variáveis, a estratégia não-
paramétrica de análise foi escolhida.
Tabela 5 - Teste de normalidade Lilliefors para os parâmetros de estabilidade sem caotrópico
Sem caotrópico
A1 A2 dX H50 dX/H50
Tamanho da Amostra
12 12 12 12 12
Desvio máximo 0.1622 0.3533 0.1671 0.2060 0.1663 Valor crítico (0.05) 0.2420 0.2420 0.2420 0.2420 0.2420 Valor crítico (0.01) 0.2750 0.2750 0.2750 0.2750 0.2750
p(valor) Ns <0.01 ns ns Ns
Fonte: Próprio Autor.
Tabela 6 - Teste de normalidade Lilliefors para os parâmetros de estabilidade com caotrópico
Com caotrópico
A1 A2 dX H50 dX/H50
Tamanho da Amostra
12 12 12 12 12
Desvio máximo 0.2343 0.1891 0.1612 0.1878 0.1481 Valor crítico (0.05) 0.2420 0.2420 0.2420 0.2420 0.2420 Valor crítico (0.01) 0.2750 0.2750 0.2750 0.2750 0.2750
p(valor) Ns ns ns ns Ns
Fonte: Próprio Autor.
40
Tabela 7 - Teste de normalidade Lilliefors das variáveis do eritrograma e lipidograma
Tamanho da Amostra Desvio máximo
Valor crítico p(valor)
(0.05) (0.01)
Idade (anos) 12 0.1784 0.2420 0.2750 ns
Hemácias (milhões/mm³) 12 0.1672 0.2420 0.2750 ns
Hemoglobina (mg/dL) 12 0.1797 0.2420 0.2750 ns
Hematócito (%) 12 0.1708 0.2420 0.2750 ns
VCM (fL) 12 0.0934 0.2420 0.2750 ns
HCM (pg) 12 0.1440 0.2420 0.2750 ns
CHCM (%) 12 0.1039 0.2420 0.2750 ns
Plaquetas (10³/mm³) 12 0.1606 0.2420 0.2750 ns
t-Colesterol (mg/dL) 12 0.1301 0.2420 0.2750 ns
LDL (mg/dL) 12 0.1687 0.2420 0.2750 ns
HDL (mg/dL) 12 0.2654 0.2420 0.2750 <0.05
VLDL (mg/dL) 12 0.1423 0.2420 0.2750 ns
Triglicerídeos (mg/dL) 12 0.1331 0.2420 0.2750 ns
Fonte: Próprio Autor.
41
6.4 TESTE DE COMPARAÇÃO NÃO-PARAMÉTRICO DE WILCOXON
O teste de comparação de Wilcoxon (Wilcoxon Matched-Pairs; Wilcoxon
signed-ranks test) é um teste não-paramétrico para comparação de duas amostras
pareadas com objetivo de verificar a existência de diferenças significativas entre os
resultados nas situações propostas.
A comparação dos valores de dX entre os grupos tratamento e controle não
mostrou diferença significante (p = 0.4328) (tabela 8). Entretanto a comparação dos
valores de H50 entre os mesmos grupos mostrou diferença significante (p-valor =
0.0022) (tabela 9).
Gráfico 6 - Teste de Comparação Wilcoxon de dX sem e com caotrópico
Fonte: Próprio Autor.
42
Gráfico 7 - Teste de Comparação Wilcoxon de H50 sem e com caotrópico
Fonte: Próprio Autor.
Tabela 8 - Teste de comparação de Wilcoxon de dX sem e com caotrópico
Grupo intervenção x Grupo controle
Número de pares 12
Z 0.7845
p-valor (bilateral) 0.4328
Fonte: Próprio Autor.
Tabela 9 - Teste de comparação de Wilcoxon de H50 sem e com caotrópico
Grupo intervenção x Grupo controle
Número de pares 12
Z 3.0594
p-valor (bilateral) 0.0022
Fonte: Próprio Autor.
6.5 BUSCAS DE CORRELAÇÕES A PARTIR DA CORRELAÇÃO DE RHÔ (ρ) DE
SPEARMAN
Como visto anteriormente, as variáveis em análise não apresentam distribuição
normal. Sendo assim, a busca de correlações deve ser processada por meio de testes
43
não paramétricos e, nesse estudo, optou-se pelo teste de Spearman (ρ). Este
coeficiente pode evidenciar tanto relação crescente quanto decrescente e o valor de
ρ pode variar de -1 a 1, sendo que quanto mais distante de zero, maior será a
associação entre as variáveis. Convenciona-se coeficiente menor do que 0.3 como
correlação fraca, entre 0.3 e 0.7 moderada e maior que 0.7 correlação forte.
Os resultados dos testes de correlação das variáveis do eritrograma,
lipidograma e variáveis individuais com os parâmetros de estabilidade em ambos os
grupos estudados, foram organizados na tabela 10. Apenas 4 correlações
significantes foram encontradas com os parâmetros de estabilidade. O grupo
intervenção mostrou correlação moderada, inversa e significante entre Ht e dx ou
dx/H50 (p =0.04737), ao passo que o grupo controle mostrou correlação moderada,
inversa e significante entre CHCM e dx (p = 0,04574) ou dx/H50 (p = 0.0382). Algumas
correlações conhecidas na literatura com os parâmetros de estabilidade não foram
encontradas. Não houve significância as correlações entre dx, H50 ou dx/H50 e idade,
gênero, colesterol total, LDL e HDL.
44
Tabela 10 - Coeficientes de correlações de Spearman (ρ) e os níveis de significância (Sig)
dX* dX** H50* H50** dX/H50* dX/H50**
Gênero Corr. 0.19512 0.13937 -0.08362 0.02787 0.25087 0.13937
Gênero Sig. 0.54337 0.66574 0.79611 9.31E-01 4.32E-01 0.66574
Idade (anos) Corr. 0.19684 0.10896 -0.15817 0.12654 0.22847 0.10896
Idade (anos) Sig. 0.53976 0.73604 0.62344 6.95E-01 4.75E-01 0.73604
Hemácias (mi/mm³) Corr. 0.32168 -0.51748 0.30769 0.36364 0.20979 -0.51748
Hemácias (mi/mm³) Sig. 0.30791 0.08487 0.33059 2.45E-01 5.13E-01 0.08487
Hb (mg/dL) Corr. -0.08757 -0.42382 0.32224 0.15061 -0.14711 -0.42382
Hb (mg/dL) Sig. 0.78669 0.16975 0.30701 6.40E-01 6.48E-01 0.16975
Ht (%) Corr. 0.08757 -0.58144 0.43082 0.28722 0.03503 -0.58144
Ht (%) Sig. 0.78669 0.04737 0.16206 3.65E-01 9.14E-01 0.04737
VCM (fL) Corr. -0.21678 0.00699 0.20979 -0.07692 -0.16084 0.00699
VCM (fL) Sig. 0.49856 0.98279 0.51284 8.12E-01 6.18E-01 0.98279
HCM (pg) Corr. -0.23776 -0.05594 0.23077 -0.02098 -0.1958 -0.05594
HCM (pg) Sig. 0.4568 0.8629 0.47053 9.48E-01 5.42E-01 0.8629
CHCM (%) Corr. -0.58494 0.01751 -0.12259 -0.31524 -0.60245 0.01751
CHCM (%) Sig. 0.04574 0.95692 0.70427 3.18E-01 3.82E-02 0.95692
Plaquetas (10³/mm³) Corr. -0.00701 0.15061 -0.06305 -0.07005 0.08406 0.15061
Plaquetas (10³/mm³) Sig. 0.98276 0.64033 0.84566 8.29E-01 7.95E-01 0.64033
t-Col (mg/dL) Corr. 0 0.19965 -0.30473 -0.16112 0.09807 0.19965
t-Col (mg/dL) Sig. 1 0.53387 0.3355 6.17E-01 7.62E-01 0.53387
LDL (mg/dL) Corr. -0.17483 0.29371 -0.3986 -0.18881 -0.09091 0.29371
LDL (mg/dL) Sig. 0.58682 0.35415 0.19933 5.57E-01 7.79E-01 0.35415
HDL (mg/dL) Corr. 0.23199 0.24956 0.04921 0.03515 0.28823 0.24956
HDL (mg/dL) Sig. 0.46812 0.43407 0.87929 9.14E-01 3.64E-01 0.43407
VLDL (mg/dL) Corr. 0.06294 -0.3986 0.18182 0.2028 0.04895 -0.3986
VLDL (mg/dL) Sig. 0.84593 0.19933 0.5717 5.27E-01 8.80E-01 0.19933
Triglicerídeos (mg/dL) Corr. 0.06294 -0.3986 0.18182 0.2028 0.04895 -0.3986
Triglicerídeos (mg/dL) Sig. 0.84593 0.19933 0.5717 5.27E-01 8.80E-01 0.19933
* Sem caotrópico; ** Com caotrópico
Fonte: Próprio Autor.
45
7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste presente estudo, analisou-se o efeito da concentração crescente de
NaCL (0.3 a 0.6 g.dL-1) com relação a exposição final do indivíduo de 10µL.mL-1 sobre
12 indivíduos distintos com mais de 60 anos, sendo 75% dos indivíduos do gênero
feminino. Para o teste de FOE, observou-se que conforme aumentava a concentração
do sal, o gradiente da lise de eritrócitos decrescia, ou seja, quanto maior concentração
salina, mais estáveis serão os eritrócitos.
A análise descritiva exploratória dos indivíduos não demonstrou nenhuma
variável com comportamento anormal que poderia ter influenciado no método
utilizado. Os experimentos foram processados de modo pareado, destarte, as
variáveis externas moduladoras não exercem influência sobre análises realizadas na
amostragem com ou sem caotrópico.
O teste não paramétrico de Wilcoxon foi utilizado para comparar as variáveis
dX e H50 entre os grupos intervenção e controle. A partir deste teste, identificou-se
que a variável H50, concentração de NaCl que promove 50% de hemólise, mostrou
diferenças significantes entre os grupos analisados. No entanto, ao comparar pelo
mesmo teste a variável dX, variação da concentração de NaCl capaz de levar células
integras à lise, percebe-se que o benzeno não provocou diferença significante.
De acordo com Cunha (2013), as variáveis dX e H50 estão relacionadas
diretamente com a estabilidade da membrana. Enquanto a variável dX é diretamente
proporcional, o H50 é inversamente proporcional à estabilidade. Mediante a este fato,
mesmo que o parâmetro dX nas análises descritivas seja menor nos experimentos
com benzeno, não se pode inferir nada sobre a estabilidade celular, uma vez que não
apresentou diferença significativa no teste de Wilcoxon. Entretanto, com relação ao
parâmetro H50, além deste ser menor na presença do caotrópico, o teste de
comparação demonstrou diferença significativa, o que indica uma maior estabilidade
celular e consequentemente, menor fragilidade osmótica dos eritrócitos.
Era de se esperar que os experimentos com benzeno fossem gerar menor
estabilidade celular e então a ocorrência de maior lise da célula. Contudo, conforme
as curvas, as análises descritivas e testes de comparação fornecidos por este
trabalho, pode-se inferir que o meio com o composto tóxico aumentou a estabilidade
46
celular. Tal ocorrência pode ser explicada pelo fato de que uma substância hidrofóbica
como um solvente orgânico, provoca aumento da entropia do meio através da
formação de uma camada de moléculas de água organizadas ao seu redor. Essa
camada organizada de moléculas de água minimiza o contato do solvente orgânico
com o meio e reduzir a perturbação produzida por ele no sistema. Ao prender
moléculas de água, o caotrópico diminui a disponibilidade de água extracelular, o que
leva a perda de água por parte dos eritrócitos, assim, os eritrócitos murcham. Este
fato pode ser observado na figura 6. A redução do volume das células provoca
aproximação dos fosfolipídios de membrana com consequente aumento da
intensidade das forças atrativas de van-der-Waals e maior estabilidade da membrana.
Figura 6 - Processo ilustrativo da ação do benzeno em meio salino no eritrócito
Fonte: Próprio autor.
Posteriormente a comparação feita pelo teste de Wilcoxon, prosseguiu-se para
a busca de correlações das variáveis dos parâmetros de estabilidade celular com as
variáveis fornecidas pelo hemograma (eritrograma, lipidograma, idade e gênero). Tal
investigação tem como objetivo identificar o perfil mais suscetível à ação do benzeno,
ou seja, identificar as variáveis do eritrograma, lipidograma e variáveis individuais que
caracterizam o indivíduo mais vulnerável à ação caotrópica do agente em estudo. Para
se buscar tais correlações, utilizou-se do teste de ρ de Spearman, teste utilizado para
47
amostras consideradas distribuídas não normalmente. O resultado não encontrou
correlações já vistas na literatura como entre os parâmetros de estabilidade e idade,
gênero, t-Col, LDL, VLDL e triglicerídeos.
De acordo com Bernardino Neto (2011), o parâmetro dX apresenta
dependência significante com o t-Col e o LDL, enquanto o parâmetro H50 apresenta
dependência significante com o LDL, o VLDL e os triglicerídeos. Já com relação aos
parâmetros de estabilidade com idade e gênero, Garrote Filho (2014) explicita bem
que as mulheres possuem menores quantidades de eritrócitos e os eritrócitos de
idosos são osmoticamente mais resistentes, ou seja, deixando claro a relação com os
parâmetros de estabilidade. A não correlação encontrada no presente estudo, pode
estar associada à não equivalência entre mulheres e homens, bem como os altos
valores de triglicerídeos dos indivíduos analisados e o tamanho n-amostral.
Algumas correlações significantes encontradas foram contraditórias, ou seja, a
correlação não condiz com aquelas já descritas na literatura. Destaca-se para a
correlação inversa entre o dX e o dX/H50 (grupo intervenção) com o Ht. Sendo o
hematócrito a porcentagem de volume ocupada pelos eritrócitos, deveria apresentar
relação direta com a estabilidade celular e, portanto, com o dX. Também a correlação
inversa do dX e o dX/H50 (grupo controle) com o CHCM, não foi verificada no grupo
intervenção. Era de se esperar correlação direta entre concentração do meio e CHCM,
visto que quanto menor diferença de gradiente de concentração menor choque
osmótico e maior estabilidade celular. Seguramente o n-amostral levou à algumas
associações enganosas ou falácias ecológicas que estão estreitamente ligadas à
população em estudo, mas não pode ser estendida à população em geral.
48
8 CONCLUSÃO
Com a finalidade de avaliar o efeito do benzeno sobre a estabilidade celular por
meio de dX e H5. Os resultados encontrados nesse trabalho evidenciaram que esse
hidrocarboneto aromático, em pequenas quantidades, gera uma maior estabilidade
dos eritrócitos, diminuindo sua fragilidade osmótica. Contudo, apesar do composto
químico tornar as células mais estáveis, não significa que elas sejam mais saudáveis,
uma vez que estabilidade de membrana aumentada pode levar a célula à menor
flexibilidade e/ou externalização de receptores e menor funcionalidade. Estudos
posteriores com maior n-amostral são necessários para se estabelecer o perfil de
maior suscetibilidade à citotoxicidade por benzeno, perfil esse que não pôde ser
definido pela população em estudo nesse trabalho.
49
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