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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTE DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO JOÃO PEDRO DE QUADRO MORAES Emancipação 2.0 O Fora do Eixo e a realização de uma utopia brasileira: a reinvenção das políticas culturais através da economia solidária, do crowdsourcing e do crowdfunding. SÃO PAULO 2011

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTE

DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO

JOÃO PEDRO DE QUADRO MORAES

Emancipação 2.0

O Fora do Eixo e a realização de uma utopia brasileira: a reinvenção das políticas culturais

através da economia solidária, do crowdsourcing e do crowdfunding.

SÃO PAULO

2011

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JOÃO PEDRO DE QUADRO MORAES

Emancipação 2.0

O Fora do Eixo e a realização de uma utopia brasileira: a reinvenção das políticas culturais

através da economia solidária, do crowdsourcing e do crowdfunding.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Departamento de Biblioteconomia e Documentação da

Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São

Paulo como requisito parcial para a obtenção do título de

Bacharel em Biblioteconomia e Documentação.

Orientadora: Profa. Dra. Lúcia Maciel Barbosa de

Oliveira

SÃO PAULO

2011

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TERMOS DE APROVAÇÃO

Nome: MORAES, João Pedro de Quadro

Título: Emancipação 2.0 - O Fora do Eixo e a realização de uma utopia brasileira: a

reinvenção das políticas culturais através da economia colaborativa, do crowdsourcing e

do crowdfunding.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de

Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes

da Universidade de São Paulo como requisito parcial para a obtenção

do título de Bacharel em Biblioteconomia e Documentação.

BANCA EXAMINADORA

Presidente da Banca: Profa. Dra. Lúcia Maciel Barbosa de Oliveira

Assinatura:________________

Profº. Dr. Marcos Luiz Mucheroni Instituição: Universidade de São Paulo

Assinatura:________________

Profº. Dr. Martin Grossmann Instituição: Universidade de São Paulo

Assinatura:________________

Aprovado em:

____/____/_____

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Dedico este trabalho aos meus pais, irmãos, minha amada companheira Marina,

e a todos os irmãos que lutam pela vida diariamente na periferia de São Paulo.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço de todo o coração aos meus pais, João Juares Nunes de Moraes e Gilda Maria

de Quadro Moraes, meus irmão Alex e Melina, minha cunhada Juliete e minhas sobrinhas

Alicia Jim e Bianca Biglia, assim como aos meus tios, primos.

À professora Lúcia M. B. Oliveira, minha orientadora, assim como a todos os professores

da USP e dos colégios Dom Duarte Leopoldo e Silva e Plácido de Castro pela inspiração,

dedicação e carinho.

Agradeço à minha companheira Marina Gabrielli pelo apoio, carinho e dedicação em

todos os momentos.

Agradeço especialmente à professora Nair Kobashi, sem ela este trabalho não seria

concretizado.

Agradeço também aos meus irmãos de corre: Julio Limão, André Birolha, Junior Ganso,

Fino, Caverna, Rob, Grunge, Evo, Otávio, Menici, P R Souza e Souza, Andréa, Livia, Ju

Calherani, Pirulito, David, Renato, à turma de 2004, à de 2005... Ao povo da zona sul:,

Parelheiros, Cidade Dutra, Vila São José, do Flávia, do Suzana, do Socorro, de Santo

Amaro, do Brooklin, do Guarapiranga. Ao pessoal de Bauru, de São Lourenço, da fiel, da

poesia, do rock, do movimento negro, da luta por dias melhores, da lealdade, da

humildade e do procedimento. Todos de Perus, do Butantã, comunidade São Remo. Não

nos acovardamos NUNCA!

Agradeço profundamente a Leal Gravações Elétricas e ao Chaiss.

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³/HDOGDGH

Humildade

3URFHGLPHQWR´

Mais que um lema, uma filosofia de vida.

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RESUMO Este estudo objetiva a compreensão sobre da influência das novas tecnologias de

informação e comunicação (TICs), com foco na internet, e mais especificamente na web

2.0, na emergência de novos modelos de produção, distribuição, financiamento e uso ou

consumo de cultura - com especial atenção à cadeia produtiva da música - baseados na

colaboração e no compartilhamento. Buscaremos também compreender como estes

modelos impactam a política cultural, e quais as reflexões resultantes. Serão analisados

três modelos de produção distintos: a economia solidária, o crowdsourcinge por fim o

crowdfunding, tendo como foco compreender como estes modelos de organização,

produção e financiamento\FRQVXPR� FRQWULEXHP� SDUD� R� ³LQFUHPHQWR´� GD� GLYHUVLGDGH�

culturalno Brasil, além de buscar compreender como estes respondem aos anseios da

sociedade civil contemporânea por mais participação e transparência no desenvolvimento

e aplicação de políticas culturais.

Palavras-chave: Política cultural , Economia solidária , Crowdsourcing , Crowdfunding ,

Internet 2.0 , Contracultura , Movimentos sociais , Fora do Eixo.

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SUMÁRIO

0. INTRODUÇÃO ao autor 1

1. INTRODUÇÃO 3

2. OBJETIVO 7

3. METODOLOGIA 9

4. POLÍTICAS CULTURAIS 12

4.1. Políticas Culturais no século XXI 16

5. CULTURA, CONTRACULTURA E INTERNET 19

5.1. Linux e o trabalho colaborativo 21

5.2. Os hackers e a internet 22

5.3. A internet ganha o mundo: E a cultura com isso? 24

6. MOVIMENTOS SOCIAIS 28

7. ECONOMIA SOLIDÁRIA 32

8. CROWDSOURCING 39

9. CROWDFUNDING 45

9.1. Modalidades 49

9.2. Fatores de sucesso para um projeto de crowdfunding 51

10. CIRCUITO FORA DO EIXO - REDE DE COLETIVOS E EMPREENDIMENTOS

CULTURAIS E SOLIDÁRIOS 54

10.1. Organização dos Pontos Fora do Eixo 56

10.2. Eixos temáticos ± Temas norteadores da rede 57

10.3. Frentes de trabalho 61

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS 78

12. REFERÊNCIAS 83

ANEXO I ± Regimento interno do Circuito Fora do Eixo 88

ANEXO II ± Carta de princípios do Circuito Fora do Eixo 97

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1

0. INTRODUÇÃO ao autor

³2�TXH�HFRQRPLD�FRODERUDWLYD��crowdsourcing e crowdfunding têm a ver com a

BiblioWHFRQRPLD"´�Você pode estar se perguntando. A verdade é que esta não é

uma pergunta fácil de responder, e acho que nada pode elucidar melhor minhas

razões do que minha própria jornada até aqui. Como muitos colegas meus,

estudantes de biblioteconomia, cresci na periferia, mais especificamente na zona sul

de São Paulo, uma das regiões mais carentes da cidade, onde a força da

comunidade é um dos maiores aliados na luta por condições mais dignas de vida.

Lembro-me de ainda criança ficar sabendo de mutirões em que o dinheiro

arrecadado em festas ou rifas acabava virando uma laje, uma parede ou uma casa

nova para alguém em dificuldades. Lembro também das vaquinhas, que fazíamos

para qualquer coisa. A vaquinha, o mutirão, o ajudar ao próximo são tradições

nacionais. Na década de 1990, quando a zona sul tinha os maiores índices de

criminalidade do mundo, a solução para os maiores problemas era confiar na força

da comunidade, na irmandade de quem sabia que um dia iria precisar. Adolescente,

eu me encontrei na cultura punk, com a qual tive contato através do meu irmão, que

sempre foi apaixonado por música, mas nunca conseguiu viver dela. Uma das

SULQFLSDLV� EDQGHLUDV� GR� SXQN�� GHVGH� VHX� QDVFLPHQWR�� p� R� ³GR� LW� \RXUIHOI´�� RX� ³IDoD�

YRFr� PHVPR´1. Esse pensamento pregava que se deveria fazer coisas por conta

própria em vez de comprar ou pagar por um trabalho profissional. Na Europa tal

princípio se tornou profundamente associado a movimentos anti-consumistas; mas

de onde eu vim fazer você mesmo era uma necessidade, não uma escolha política.

Quando terminei a escola, sem titubear, prestei vestibular para jornalismo em todas

as faculdades que podia; passei só nas que não conseguiria pagar. Resolvi estudar

mais e tentar de novo no ano seguinte, até que uma noite zapeando a TV eu vi uma

palestra do professor Eugenio Bucci, na TV Cultura. O WtWXOR�GD�SDOHVWUD�HUD�³9HU�79�

GH� ROKRV� IHFKDGRV´�� (P� VXD� IDOD�� R� SURIHVVRU� %XFFL� QRV� VXJHULD� D� LPSRUWkQFLD� GH�

PDQWHU� XPD� YLVmR� FUtWLFD� DQWH� D�PtGLD�� H� UHIOHWLU� VREUH� R� TXH� QRV� p� RIHUHFLGR� ³GH�

1 Nota: O faça você mesmo, concebido como princípio ou ética, questiona o suposto monopólio das

técnicas por especialistas e estimula a capacidade de pessoas não-especializadas aprenderem a

realizar coisas além do que tradicionalmente se julgam capazes, ou seja, a ideia seminal do punk.

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graoD´�QD�79��3DVVHL�D�PH�SHUJXQWDU�VH�YDOHULD�D�SHQD�SDUWLFLSDU�GDTXHOD�PtGLD�SDUD�

um dia realizar meu sonho de montar um Zine e fazer um jornalismo independente e

verdadeiro. SHUi�TXH�HX�QmR�PH�³YHQGHULD´�DQWHV"�&KHJXHL�D�SHQVDU�

Nessa mesma época, tive contato com alguns estudantes de biblioteconomia. Já

trabalhava num arquivo, mas só depois de um papo com o Thiago Murakami é que

me veio o estalo: o que muda as pessoas e, por consequência, o mundo é a

informação. Eu preciso trabalhar com informação, não com notícia.

Assim caí no CBD. Desde então vi pouca revolução. A bibliografia do Milanesi é

incendiária, professores como Guerra, Nair, Ivete, Johanna e Teixeira Coelho me

inspiraram a continuar e compreender melhor o poder transformador da informação.

Desde o inicio dos meus estudos na USP me fascinavam os estudos sobre políticas

culturais, em meio a tantos estudos sobre técnicas e gestão, vi na política cultural

um tema que focava nas pessoas, no desenvolvimento humano. O professor

Teixeira era bem especifico ao dizer que as políticas culturais deveriam colocar o

sujeito à frente, dar a este as condições para que se construa, se desenvolva, se

reinvente, e para mim isso fez toda a diferença.

Chegada a hora de decidir por um tema para este trabalho, eu estava perdido.

Sempre fui muito mais do mundo do trabalho que dos estudos, e as discussões

sobre a grade do curso ou sobre direitos autorais não me tomavam mais a atenção.

Queria falar de algo atual, mas algo que tivesse a ver comigo. Pensei em escrever

sobre o papel da pirataria na disseminação da cultura, sobre gestão de

equipamentos culturais e mesmo sobre direito autoral na era digital, porque não?

Num encontro com minha orientadora ela me sugeriu falar sobre o Fora do Eixo o

Crowdfunding e as conseqüências deste para a política cultural. O tema caiu como

XPD� OXYD�� (UD� FRPR� VH� R� ³GR� LW� \RXUVHOI´� YLUDVVH� ³OHW¶V� GR� LW� WRJHWKHU´�� FRPR� QXP�

mutirão, edificando a visão do bem comum, da realização coletiva, tirando a

competição e colocando a colaboração no lugar, no que para mim é um sinal claro

de que novos tempos precisam chegar, porque sob o capitalismo neoliberal que

endeusa o capital e seus possuidores, a tendência é das mais terríveis. Quando se

fala de cultura é impossível não tomar partido, e eu á fiz minha escolha, eu escolho

o bem comum.

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1. INTRODUÇÃO

Vivemos num mundo em crise. Várias são as faces dessa crise: econômica,

de representação, de valores, de ética. A econômica vem apenas para confirmar o

que parecia lógico, se uns poucos ganham demais, muitos vão sair perdendo. E foi o

que aconteceu e acontece nas bolsas de aposta de Wall Street, da Europa ou da

Bovespa, uns poucos vivendo do trabalho mal remunerado de milhões de chineses,

indianos, brasileiros e tantos outros explorados em todo o mundo. Não nos sentimos

mais representados por nossos governantes, vemos diariamente os mais diversos

tipos de corrupção serem repetidos e a impunidade, mesmo com vídeos de pessoas

recebendo dinheiro, matando, extorquindo, no fim das contas nada acontece. Além

GH�³UHSUHVHQWDQWHV´�TXH�QmR�QRV�UHSUHVHQWDP��YLYHPRV�VRE�XP�VLVWHPD� jurídico que

demora a se atualizar, viciado por jurisprudências compradas, leis que não pegam

por sua arbitrariedade ou por seu descolamento da vida real, do desenvolvimento

científico e dos valores cultivados e compartilhados na sociedade. Vivemos sim uma

crise de valores, depois de um século onde a grande voz vinha da televisão, nossa

sociedade se baseou numa mensagem massificada e deixou o diálogo, a troca, para

a hora do intervalo, quando muito. Nossa sociedade adoeceu no dia em que

paramos de construir nossos símbolos na troca cara-a-cara, criando juntos,

evoluindo junto, para ficarmos passivos, recebendo, enquanto a cultura, a nossa

cultura, foi ficando esquecida.

Parece um cenário apocalíptico, mas é bem verdade que as coisas vem

mudando. Na sociedade da informação e da comunicação, com o advento de novas

formas de conexão entre as pessoas, estamos reaprendendo a descobrir, não mais

na passividade do sofá, mas na troca com o outro, reencontrando parte de nós

mesmos e conhecendo o outro, o diverso, o diferente. E é disso que se trata essa

monografia, dessa troca, dessa construção compartilhada, seja na praça, seja nas

redes sociais digitais, neste século tão jovem ainda, que parece ter chegado com a

esperança de que juntos podemos construir um mundo melhor, para nós e para

todos os outros, sejam eles quem forem.

A Era Industrial, sob o domínio da comunicação de massas, deixou a rede

escondida, em segundo plano, e a internet tem nos levado a reviver essa ideia. Hoje

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em dia, com a popularização da internet, novas redes colaborativas, e voltadas para

a produção criativa, têm surgido com incrível velocidade, gerando bens coletivos de

valor inestimável. Estamos num processo de reconstrução da sociabilidade, o que

esta impulsionando o empoderamento da sociedade civil em sua busca por

autonomia e por um ambiente mais democrático, livre e igualitário. Segundo Alain

Touraine (1996 apud OLIVEIRA, p.95),

A autonomia da sociedade é fruto da autonomia dos sujeitos. Da

mesma forma, a democratização do Estado passa necessariamente

pela democratização da sociedade. A razão de ser da democracia é

o reconhecimento do outro e deve responder às demandas da

maioria. A democracia é a política do sujeito: não é somente um

conjunto de garantias institucionais, mas a luta dos sujeitos,

impregnados de sua cultura e liberdade, contra a lógica dominadora

dos sistemas.

Essas novas tecnologias, em especial a internet, possibilitaram a ascensão de

um novo ambiente para a cultura, onde a produção de bens artísticos e culturais,

sua circulação e consumo se dão de forma interativa, livre, num movimento que vem

abalando as estruturas de valor da indústria cultural e promovendo uma diversidade

de expressões nunca vista antes. Segundo Benkler (2006), essH� QRYR� ³VLVWHPD�

RSHUDFLRQDO´� GD� FXOWXUD, baseado na emergência das redes sociais e na produção

pelos pares, seria capaz de fomentar ao mesmo tempo criatividade, produtividade e

liberdade, satisfazendo igualmente às demandas tanto de indivíduos quanto de

coletividades. Este novo cenário trás questionamentos fundamentais para a política

cultural. Como criar políticas culturais em consonância com este novo ambiente?

Como responder aos anseios da sociedade por mais participação e transparência no

desenvolvimento e aplicação de políticas culturais?

Para responder a estas questões, partirei dos conceitos de política cultural de

Teixeira Coelho Netto (1997) e de cultura de Nestor Garcia Canclini (2004) para

compreender o cenário atual das políticas culturais e sua necessidade de

atualização frente à emergência dos movimentos sociais, assim como o surgimento

de novos agentes, chamados por Hardt e Negri (2005) de µmultidão¶ e por Pierre

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Levy (1999) de µinteligência coletiva¶, que através da utilização de modelos de

produção chamados crowdsourcing e crowdfunding vêm tornando essencial novas

formas de pensar as políticas culturais.

Não pretendemos aqui, contudo, trazer soluções ou fechar temas, mas sim

trazer à tona a discussão sobre como essas novas visões sobre a coletividade estão

transformando nossa forma de nos organizar, assim como nossa relação com o a

cultura, seja produzindo, consumindo, ou ambos.

Analisaremos aqui quais os preceitos básicos e o funcionamento da economia

solidária, um siVWHPD� HFRQ{PLFR� DXWRSURFODPDGR� ³SyV-FDSLWDOLVWD´� RQGH� D� JHVWmR�

coletiva, a valorização do ser humano, o respeito à natureza e a produção

colaborativa são os principais valores cultivados e praticados.

Buscaremos ainda compreender como se formaram e como operam esses

modelos de produção colaborativa oriundos do meio digital, o crowdsourcing, um

modelo de produção distribuída que utiliza o poder da inteligência coletiva como

fonte para solucionar problemas, criar produtos e serviços de forma colaborativa. E o

crowdfunding, um modelo de financiamento colaborativo baseado em

micropagamentos que modifica o conceito de consumidor, dando a este a

possibilidade de financiar projetos criativos ainda em sua fase de concepção, que

sem essa ajuda dificilmente sairiam do papel.

No que tange à política cultural, por se tratar de uma área muito diversa,

sempre que necessário, usaremos como exemplo a cadeia produtiva da música, por

alguns motivos simples: por sua inserção em todas as camadas sociais, por ter se

mostrado até então uma das expressões artísticas mais afetadas pelas mudanças

provocadas pelo digital e por sua capacidade de resposta diante dessas mudanças.

Buscaremos aqui também explicitar o papel da contracultura na formação

dessas novas coletividades e na reorganização da vida social através do uso cada

vez mais onipresente da internet como ferramenta de convívio social, de construção

da subjetividade, de ação política, de comunicação e de subsistência.

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Considerei importante, ainda, observar concretamente o desenvolvimento

dessas práticas, por entender que a abordagem da realidade é importante na

construção do conhecimento. Por isso, inclui como objeto empírico do presente

trabalho, o estudo sobre a rede de coletivos e empreendimentos culturais solidários

Fora do Eixo, uma rede de coletivos culturais que sob os preceitos da economia

colaborativa e com o uso substancial das tecnologias digitais criou praticamente do

zero um circuito cultural que hoje passa por mais de cem cidades de todo o país e

que não pára de se expandir.

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2. OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é compreender como as novas tecnologias de

informação e comunicação (TICs), com foco na internet, e mais especificamente na

web 2.0, inspiraram e subsidiaram a ascensão de modelos de produção,

distribuição, financiamento e uso ou consumo de cultura (com especial atenção à

cadeia produtiva da música) baseados na colaboração e no compartilhamento.

Buscaremos também compreender como estes modelos impactam a política cultural,

e quais as reflexões resultantes.

Serão analisados três modelos de produção colaborativa, modelos distintos

porém complementares: a economia solidária, um sistema econômico

DXWRSURFODPDGR� ³SyV-FDSLWDOLVWD´� RQGH� D� JHVWmR� FROHWLYD�� D� YDORUL]DomR� GR� VHU�

humano, o respeito à natureza e a produção colaborativa são os principais valores

cultivados e praticados. O crowdsourcing, um modelo de produção distribuída que se

XWLOL]D� GD� ³LQWHOLJrQFLD� FROHWLYD´� �/(9<�� ������ GH� XP� VHP� Q~PHUR� GH� LQGLYtGXRV�

conectados à rede (internet) para produzir colaborativamente desde software livre

até músicas e filmes. E por fim o crowdfunding, um modelo de financiamento cultural

onde o usuário\espectador\consumidor financia e ajuda a viabilizar produtos e

serviços culturais ainda em sua fase de concepção, participando desta de forma

ativa.

Este trabalho tem como foco compreender como estes modelos de

organização, produção e financiamento\FRQVXPR�FRQWULEXHP�SDUD�R�³LQFUHPHQWR´�GD�

diversidade cultural e da democracia cultural no Brasil, além de buscar compreender

como estes respondem aos anseios da sociedade civil contemporânea por mais

participação e transparência no desenvolvimento e aplicação de políticas culturais.

Usaremos como emblema deste novo paradigma o Fora do Eixo, um

conglomerado de mais de 90 coletivos espalhados pelo Brasil que, organizados sob

os princípios da economia colaborativa, utilizam o crowdsourcing e o crowdfunding

em suas ações para produzir e distribuir arte e cultura país afora.

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9

3. METODOLOGIA

A presente pesquisa se divide em duas partes. Em um primeiro momento, fez-

se necessário um levantamento bibliográfico sobre os temas que envolvem a

tecnologia digital e a internet, em especial sobre o caráter colaborativo da internet,

desde a sua origem até o surgimento recente da web 2.0 e suas ferramentas, que

vêm colocando as políticas culturais em nova chave (TEIXEIRA COELHO NETTO,

2007), trazendo o protagonismo social para o centro da mesa e subsidiando o

surgimento de novas redes, sejam elas fundamentadas na economia solidária, ou

em relações instantâneas entre os usuários das redes sociais digitais.

A pesquisa bibliográfica também procurou atender à demanda de

compreensão da formação de novas redes sociais, sobretudo o entendimento sobre

as redes sociais digitais e seu papel nessas novas cadeias produtivas da cultura.

A segunda parte da pesquisa busca compreender a conjuntura tecnológica e

cultural onde se desenvolveu o Fora do Eixo (FDE), um circuito de coletivos que, sob

a bandeira da economia colaborativa, está ao seu modo tentando reinventar a

política cultural pós-PRGHUQD��&RP�XPD�IRUPD�³GLIHUHQFLDGD´�GH�SURGX]LU�FXOWXUD��R�

fora do Eixo se utiliza do crowdsoucing e do crowdfunding para alimentar a cena

musical do interior do Brasil e coloca no mercado dezenas de artistas por ano, que

com o apoio do circuito estão viajando o país, retroalimentando a rede e

enriquecendo o intercâmbio de artistas Brasil afora.

A investigação empírica de dados pretende atender à pesquisa sobre o

funcionamento da rede FDE, as formas de remuneração através do uso das moedas

sociais administradas pela rede, e como acontece a geração de receita, sua divisão

e a relação com fornecedores que não utilizam\aceitam a moeda social, a fim de

compreender a sustentabilidade econômica da rede.

Alguns conceitos e termos são fundamentais para o desenvolvimento da

pesquisa. A cartografia conceitual será explicitada no decorrer do texto, destacando-

se que quando me refiro à cadeia produtiva da cultura ou mais especificamente da

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música, foco principal deste trabalho, adota-se o critério utilizado por Teixeira Coelho

Netto em seu Dicionário Crítico de Políticas Culturais (1997, p.103), em que,

política cultural apresenta-se como o conjunto de iniciativas visando

promover a produção, a distribuição e o uso da cultura, a

preservação e divulgação do patrimônio histórico e o ordenamento

do aparelho burocrático por elas responsável.

No que diz respeito às redes digitais, compreende-se termos utilizados por

autores como Manuel Castells (2003 e 2008), Lawrence Lessig (2005) e Yochai

Benkler (2003 e 2006). No caso, a comunicação entre computadores ligados em

UHGH��YLGH�,QWHUQHW��FRQVWLWXL�³espaço de fluxo de informações´��&DVWHOOV��������S������

que possibilita aos seus usuárLRV�³construam e cultivem cultura, com resultados que

vão muito além dos limites locais´� �/HVVLJ�� ������ S�� �����2X� VHMD�� SHOD� UHGH�� EHQV�

culturais podem ser criados e compartilhados com um grande número de pessoas. E

de acordo com Benkler (2006, p. 81), ³D rede possibilita a cooperação entre seus

usuários, de forma a transformar o modo de produção e distribuição de conteúdos

LQIRUPDFLRQDLV��GLIHUHQWHPHQWH�GR�PHUFDGR�WUDGLFLRQDO�´

Para este estudo, procura-se discutir os temas acima analisados, dentro da

perspectiva de uma economia da informação em rede (Benkler, 2006). Assume-se a

distribuição gratuita de música como uma realidade, sendo ela concorrente ou não

da indústria de discos físicos. Assim, compreende-se que a música na rede gera

abundância e a ³HFonomia da abundância tende por si só a uma economia da

JUDWXLGDGH´ (Gorz, 2005: 37).

No capítulo sobre políticas culturais, utilizaremos como base as análises de

Teixeira Coelho Netto (1997) em seu Dicionario Crítico de Politicas Culturais, assim

como autores como Paulo Freire (1982), Nestor Canclini (2004) e Lúcia Oliveira

(2010), a fim de compreender tanto o desenvolvimento das políticas culturais no

Brasil como seu estado atual e seus desafios para o futuro.

Nos capítulos reservados à analise dos movimentos sociais e da economia

solidária, utilizamos como base os autores Euclides Mance (2000, 2002, 2006),

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Jorge Machado (2007), Paul Singer (2000, 2002) e, novamente, Teixeira Coelho

Netto (2011), tendo outros autores sido consultados, mas não citados.

Para os capítulos relativos ao crowdsourcing e ao crowdfunding, além de

autores já conhecidos e conceituados como Pierre Levy (1999), Jeff Howe (2008) e

Hardt e Negri (2005), houve a necessidade de recorrer a blogues e sítios

especializados, já que a literatura branca acerca dos temas, principalmente em

português, ainda é bastante restrita.

Com relação ao levantamento de dados acerca da rede Fora do Eixo tive a

oportunidade de conhecer a Casa Fora do Eixo, localizada na Liberdade, em São

Paulo, onde pude conhecer pessoalmente membros do coletivo que disponibilizaram

uma série de informações sobre o nascimento da rede, seu funcionamento e gestão.

Outras fontes, sobretudo com críticas ao grupo foram consultadas e, apesar de não

terem sido citadas nominalmente, impactaram o desenvolvimento do trabalho.

O levantamento de fontes foi feito na biblioteca da ECA (através do sistema

DEDALUS), onde foram feitas buscas pelos termos: política cultural, crowdsourcing,

crowdfunding, economia colaborativa, economia sROLGiULD�� ³PXVLFD� �� LQWHUQHW´��

³FXOWXUD� �� LQWHUQHW´�� ZHE� ����� LQWHUQHW� ����� HQWUH� RXWURV�� WHQGR� VLGR� DQDOLVDGD� D�

pertinência das fontes e utilizadas as que mais se adequaram aos objetivos da

pesquisa. Foram feitas pesquisas também no banco de dados do sistema municipal

de bibliotecas de São Paulo, nos bancos de dados Scielo, Science Direct, Google

Acadêmico, entre outros, com a utilização das principais fontes encontradas.

Como o objetivo desta monografia não era uma revisão de literatura, mas um

estudo exploratório sem pretensão de ser definitivo, ou de encerrar qualquer

questão, foi objetivada a exploração dos temas abordados de forma exaustiva sim,

mas sem culpas por descartar autores e temas paralelos que não parecessem de

total pertinência para a realização de nossos objetivos, mesmo correndo o risco de

enfraquecer alguns argumentos e criar gaps conceituais.

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4. POLÍTICAS CULTURAIS

Segundo o dicionário Crítico de Políticas Culturais, cultura é no seu sentido

PDLV� DPSOR� ³R� PRGR� GH� YLGD� GH� XPD� FRPXQLGDde em seu aspecto global,

WRWDOL]DQWH�´�2X��FRPR�DQDOLVD�7HL[HLUD�&RHOKR�1HWWR��������S�������

As várias manifestações culturais não são determinadas de modo

absoluto por uma ordem social global patente, mas são elementos

decisivos na definição daquela ordem; por outro lado, a cultura não

se caracteriza apenas pela gama de atividades ou objetos

tradicionalmente chamados culturais, de natureza espiritual ou

abstrata, mas apresenta-se sob a forma de diferentes manifestações

que integram um vasto e intricado sistema de significações.

Segundo Canclini (APUD Oliveira, 2010, p. 94), o mundo globalizado e a

emergência das novas tecnologias de informação e comunicação, nos trouxeram a

uma realidade muito mais dinâmica e diversa nos obrigando a redefinir a noção de

cultura, entendendo-D�QmR�FRPR�³HQWLGDGH�RX�SDFRWH�GH�WUDoRV�TXH�GLIHUHQFLDP�XPD�

sociedade de outra, mas como sistema de relações de sentido que identifica

diferenças, contrastes e comparações e é o veículo ou meio pelo qual a relação

entre os grupos consubstancia-VH´�� 3DUD� &DQFOLQL�� SDVVDPRV� GH� XP� PXQGR�

multicultural para um mundo intercultural, onde as etnias e grupos não mais se

aceitam simplesmente, mas se definem em suas relações de negociação, conflito e

empréstimos recíprocos, (2004 APUD OLIVEIRA, 2010, p. 95) construindo sua

subjetividade num ambiente globalizado, flutuante e dinâmico. (Oliveira, 2010, p. 96)

Teixeira Coelho Netto (1997, p. 104) define políticas culturais como:

Programa de intervenções realizadas pelo Estado, instituições civis,

entidades privadas ou grupos comunitários com o objetivo de

satisfazer as necessidades culturais da população e promover o

desenvolvimento de suas representações simbólicas.

Alguns autores brasileiros dedicaram-se especialmente ao estudo da ação

cultural definindo tendências que moveram políticas e práticas culturais no país.

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13

Teixeira Coelho Netto (1997) refere-se à ação cultural como ação sócio-cultural, com

foco principal na arte e na distribuição mais equitativa da cultura. Segundo ele,

destacaram-se três momentos da ação cultural na história brasileira. O primeiro

surgiu com a ascensão dos museus e o enfoque principal sobre a obra. Nesta fase,

a ênfase era sobre a preservação do patrimônio, reforçando a sacralização do

produto e seu valor econômico, caracterizando assim uma fase patrimonialista nas

políticas culturais no Brasil.

Num segundo momento, em torno do final dos da década de 1940, as

instituições culturais passam a enfatizar a preocupação com as pessoas ± grupos,

segmentos ± que estavam em contato com o objeto cultural, e menos com o objeto

propriamente dito.

No terceiro momento, a partir do final da década de 1960, a ênfase das ações

não se localizava nem na obra, nem nas pessoas como um todo, mas no indivíduo.

Notam-se, assim, duas tendências marcantes que definem o desenvolvimento

da ação cultural, tomada na perspectiva de processo e prática intencional de

mediação de objetos culturais. Uma primeira, de caráter, sobretudo patrimonialista e

outra de natureza participativa. Essa última buscava a transformação dos indivíduos

e a desalienação dos contatos humanos.

No enfoque proposto pelas concepções do terceiro momento, aparece no

Brasil a ideia da ação cultural, provavelmente idealizada por Mário de Andrade,

durante a década de 1940, com o nome de arte-ação. Por meio da arte-ação,

Andrade visava fazer da arte e da cultura, instrumentos de mudança do homem e do

mundo. Contudo, a proposta não conseguiu subsistir, tal como ele a imaginara, em

razão das alterações do quadro político brasileiro e a ascensão do regime ditatorial

do Estado Novo. (TEIXEIRA COELHO NETTO, 1997)

No término da década de 1970, as políticas e práticas de ação cultural, são

redefinidas por influência estrangeira. Imitando modelos franceses, iniciou-se a

construção de centros de cultura, sobretudo nas grandes metrópoles. Após os

anseios pela construção de teatros, cinemas e museus, agora era a vez dos centros

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14

de cultura que, assim como aconteceu com seus predecessores, eram vistos como

um avanço cultural.

Assim, a década de 1980 foi marcada pela construção de centros de cultura.

Porém, havia questionamentos sobre as atividades desenvolvidas nesses centros,

se eram verdadeiramente ações culturais ou se, conforme alertavam os teóricos,

não teriam suas concepções embasadas na ideia de fabricação cultural2 e em

UHODo}HV� ³ILOLVWpLFDV´� H� FRQVXPLVWDV� TXH� JUDQGH� SDUWH� GD� VRFLHGDGH� WLQKD� FRP� D�

cultura. A sociedade, segundo Teixeira Coelho Netto, passava por uma crise de

valores, sendo incapaz de discernir sobre o que era cultura, num contexto em que

esta era diluída e homogeneizada para fins mercantilistas3. (TEIXEIRA COELHO

NETTO, 1989). Assim como Freire (1982) combateu a visão deturpada da letra

como amuleto, combatia-se agora a ideia de que a mera construção de centros

culturais efetuaria magicamente uma ação cultural.

Nos anos de 1990, as políticas culturais federais passaram por uma espécie

de terceirização, principalmente nas políticas culturais de cunho criacionista4, com a

adoção de leis de renúncia fiscal, criadas no governo de Fernando Collor (Lei

2 Segundo Teixeira Coelho Netto (1989), fabricação cultural consiste num processo de mediação cultural com

ponto de partida, etapas intermediárias, fim e finalidade previstos. Tem por meta, alternativa ou

cumulativamente, a transmissão de conhecimentos e técnicas determinadas; a formação de uma opinião cultural

específica; a conformação de um modo de percepção ou a produção de uma obra cultural previamente estipulada.

Neste processo, os objetivos são predeterminados, cabendo ao agente ou mediador cultural orientar as atividades

de seu público na direção estabelecida. Opõe-se, neste sentido, à ação cultural, processo de invenção e

construção conjunta, entre mediadores e público, dos fins e meios culturais visados, não raro definidos apenas no

decorrer do próprio processo.

3 Segundo Teixeira Coelho Netto (1997), os procedimentos citados correspondem ao que se pode chamar de

democratização da cultura, o que consiste na essência, num processo de popularização das chamadas artes

eruditas, com a ideia de que diferentes segmentos da população gostariam de ter acesso a esses modos culturais,

ou poderiam ser persuadidos a expor-se a eles, sem recorrer-se a instrumentos adequados de educação,

sensibilização e facilitação dessas práticas, movidos por interesses meramente mercadológicos.

4 Políticas culturais criacionistas, segundo Teixeira Coelho Neto, são aquelas promovem a produção, a

distribuição e o uso ou consumo de valores e obras culturais.

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15

Rouanet e do Audiovisual) que na prática, delegaram a produção, promoção e

circulação de novos produtos culturais a agentes privados, deixando a cargo do

Estado, além da administração de editais e leis de renuncia fiscal, as políticas

culturais de cunho patrimonialista5. Foram levantados questionamentos quanto à

transparência e aos critérios utilizados para a concessão de subsídios,

principalmente com relação à Lei Rouanet, por considerar-se que tais instrumentos

dariam à iniciativa privada superpoderes no que tange à produção de produtos

culturais financiados com dinheiro publico (oriundos de renúncia fiscal), sem que

fique clara a geração de contrapartidas equivalentes, servindo assim a interesses

privados da elite econômica e cultural estabelecida, mas, sobretudo a interesses

políticos (já que os principais financiadores são empresas com participação ou

controle estatal: Vale e Petrobras), ficando tanto o Estado quanto a sociedade civil à

mercê desses interesses. (AMORIM, 2010) Pode-se colocar a contraponto destes

ataques o fato de a máquina estatal não ter a agilidade necessária para cuidar

mesmo dos interesses mais vitais, o que justificaria a adoção desta forma de

financiamento, que apesar de suas fraquezas, trouxe ganhos indiscutíveis para a

cultura brasileira.

No século XXI pudemos observar uma tentativa do governo federal em tomar

de volta as rédeas das políticas culturais, depois de períodos de ausência,

autoritarismo e instabilidade. (RUBIM, 2008, p. 186) Tomar as rédeas e distribuí-las

novamente, porém não aos agentes do mercado como anteriormente, mas à

totalidade do povo brasileiro, num movimento duplo, no sentido de trazer a

responsabilidade de criar programas e ao mesmo tempo um compromisso em criá-

los em conjunto com a sociedade. (GIL, 2003, p. 23)

O que se pode observar foi uma pluralização de pautas, (políticas de apoio às

culturas indígenas, às culturas populares, de afirmação sexual, cultura digital,

economia criativa, entre outras), ao mesmo tempo em que houve uma proliferação

5 Políticas culturais patrimonialistas, segundo Teixeira Coelho Neto, são aquelas dirigidas para a preservação, o

fomento e a difusão de tradições culturais supostamente autóctones ou, em todo caso, antigas ou, ainda, ligadas

às origens do país.

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16

de seminários, câmaras setoriais e conferências, num esforço de promover um

ambiente democrático, acionando a sociedade civil e agentes culturais na

formulação e promoção de políticas públicas.

4.1. Políticas Culturais no século XXI

Teixeira Coelho Neto destaca, em artigo de 2011 (p. 10), como as mudanças

decorrentes dos novos tempos, com todas as particularidades que lhe são próprias6,

muitas vezes não foram acompanhadas pelas políticas culturais,

O recurso a políticas culturais datadas, alimentadas por outros

imaginários, só pode desaguar em insatisfações ou, como prefere

dizer, e bem, Walter Moreira Salles, na tentativa de concretização de

ambições medíocres, porque embebidas de passado e nutridas pela

nostalgia.

O imaginário do século XXI trás entre suas ideias centrais o desenvolvimento,

o desenvolvimento sustentável e em especial o desenvolvimento humano

(TEIXEIRA COELHO NETTO, 2011), e a certeza de que sem este, o

desenvolvimento econômico, tão almejado, estará limitado. Vale lembrar, porém,

que ao se discutir políticas culturais é primordial que o fim maior dessas políticas

resida na própria cultura, e que esta não se torne um mero instrumento para o

desenvolvimento econômico, e para isso, a participação efetiva da sociedade civil se

faz primordial. Ou como disse o cientista político uruguaio Geraldo Caetano, citado

por Oliveira,

Se não se quer que os programas de emergência se tornem

assistencialistas, mas comecem a atacar as estruturas de exclusão,

é imperativo que os beneficiários das novas políticas públicas se

6 1R� DUWLJR� ³3ROtWLFD� FXOWXUDO� HP� QRYD� FKDYH´�������7HL[HLUD�&RHOKR�1HWR� GHstaca que a contemporaneidade

SDVVD�SRU�XPD�PXGDQoD�UDGLFDO�GH�LPDJLQiULR��SRU�VH�WUDWDU�GD�HUD�GR�³choque entre civilizações, da libertação

genética do homem, a sociedade da insignificância, uma sociedade que não mais tem uma imagem de si mesma,

com a qual as pessoas não mais podem ou querem se identificar e cujos mecanismos de direção se

GHFRPS}HP´��

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17

tornem, de modo crescente, sujeitos e não simples objetos da ação

pública (Caetano, 2007 APUD OLIVEIRA, 2010, p. 93)

Teixeira Coelho Netto (2011, p. 13) diz que a cultura é uma longa conversa,

uma troca de ideias de cada um com aquele que lhe está ao lado, de cada cultura

com aquela que lhe está ao lado. Seguindo na mesma toada, Geraldo

Caetano (2007 APUD OLIVEIRA, 2010) sugere que para a construção de uma

SROtWLFD� FXOWXUDO� GHPRFUiWLFD� p� QHFHVViULR� ³DPELHQtar pactos entre culturas,

ambientar um pluralismo efetivo e não simplesmente a tolerância resignada que não

WUDQVIRUPD�QHP�LQWHUSHOD´�

A UNESCO, ao afirmar em sua Conferência Geral para a Educação, a Ciência

e a Cultura, celebrada em Paris em 2005, que a diversidade cultural é uma

característica essencial da humanidade, ratifica o direito do individuo de, além de

participar do processo cultural, ter acesso irrestrito à sua própria cultura, assim como

à do outro, um binômio que pode parecer ridículo aos nascidos na era digital

(geração Y), mas que é constantemente ameaçado por iniciativas governamentais,

como a censura à internet na China ou a criação do Ministério da Imigração,

Integração, Identidade Nacional e Desenvolvimento na França, e também por

iniciativas da indústria cultural que além de financiar o lobby pelo endurecimento das

leis de propriedade intelectual mundo afora, promove uma guerra feroz contra a

distribuição de produtos culturais na rede, com sucessos pontuais (Napster), porém

sem uma perspectiva de vitória a qualquer prazo. (LESSIG, 2004)

2� FHQiULR� TXH� VH� PRVWUD� SDUD� DV� SROtWLFDV� FXOWXUDLV�� D� WDO� ³QRYD� FKDYH´�

levantada por Teixeira Coelho Netto é cada vez mais participativa, multicultural,

plural, conectada. Passamos por um período de mudanças, com novas práticas

sociais de produção, consumo e intercâmbio, que afetam nossa percepção do

mundo e colocam a liberdade e o desenvolvimento humano em um novo patamar. O

enfraquecimento das instancias de representação [em especial o Estado] fez

emergir uma maior autonomia dos sujeitos e a formação de coletividades

organizadas para os fins mais diversos. Para Negri (em entrevista) a revolução já

passou e a liberdade vive na consciência das pessoas, e a grande transformação

que nós vivemos hoje pode ser uma transição extremamente poderosa para uma

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18

sociedade mais livre, mais justa, mais democrática. Segundo Negri, a ruptura já se

deu, e foi em 1968.

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19

5. CULTURA, CONTRACULTURA E INTERNET

Por séculos a cultura ocidental se apoiou numa concepção individualista, fruto

do ideário iluminista, de que apenas grandes gênios tinham condições de transpor a

MDQHOD�GD�DOPD�H�OHYDU�DR�PXQGR�VXD�HVVrQFLD��6HJXQGR�)RXFDXOW��³D�QRomR�GH�DXWRU�

constitui o momento forte da individualização na história das ideias, dos

FRQKHFLPHQWRV��GDV� OLWHUDWXUDV��QD�KLVWyULD�GD� ILORVRILD� WDPEpP��H�QD�GDV�FLrQFLDV´�

(FOUCAULT, 1992, p. 5). Esta crença nos levou a um cenário em que uma minoria

seria detentora desse poder, enquanto a maioria, formada por simples mortais

poderia apenas assistir e aplaudir. Nas palavras de J. Richardson e D. Kleiner (2006,

p. 4),

Adotando a metáfora de crescimento orgânico utilizada por

Rousseau e a noção de gênio como força inata que criava a partir do

interior de si empregue por Kant, os autores românticos celebraram o

artista como um ser indomado e espontâneo (como a própria

natureza), conduzido pela necessidade intuitiva e indiferente às

normas e convenções sociais. Ao situar a obra de arte num sujeito

natural e préssocial, o seu significado estava livre de ser

contaminado pela vida quotidiana. A arte não era nem pública, nem

social, não sendo também semelhante ao trabalho dos operários que

produziam mercadorias. Era autoreflexiva, providenciando uma

janela para uma subjetividade transcendente.

Tal visão, aliada ao alto custo de produção de bens artísticos, levou a

indústria cultural a uma realidade de alta mercantilização da cultura e, também, a um

cenário de homogeneização cultural crescente, onde a maximização dos lucros se

contrapõe à diversidade cultural. Como descreve Teixeira Coelho Netto (1997),

(...) com o tempo, a cultura, não é mais vista como instrumento da

livre expressão e do conhecimento, mas como produto permutável

por dinheiro e consumível como qualquer outro produto, uma

mercadoria com cotação individualizável e quantificável.

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20

A obra de arte era reprodutível, mas a que custo? A descaracterização de

modos culturais a fim de torná-los melhor digeríveis por um contingente cada vez

maior criou uma cultura para as massas, apática e conformista, para uma massa

ainda mais acrítica, alienada, doutrinada. (TEIXEIRA COELHO NETTO, 1997)

Marcados pelas análises da escola de Frankfurt7, artistas lutaram contra a

indústria, criaram o rótulo do artista independente, que não se rende ao mercado, se

organiza em grupos, geralmente de nicho (selos de punk rock, de musica eletrônica,

O Fluxus, etc.) (HOME, 1999) Nos anos de 1960, a contracultura chacoalhou as

estruturas da sociedade, indo em busca do diverso, do diferente, do natural, do

subjetivo; buscou na tribo, nas drogas, no rock, a oposição ao poderio econômico, à

tecnocracia, ao belicismo, ao capitalismo, à opressão manipuladora dos meios de

comunicação de massa. (TEIXEIRA COELHO NETTO, 1997) Porém, à época,

pouco podiam frente à lógica do mercado, em que a detenção de meios de produção

e distribuição eficientes era determinante, mantendo a indústria cultural em posição

hegemônica e sem grandes percalços por praticamente todo o século XX. Como

afirma Benkler (2002, p. 8),

O custo do capital físico foi por mais de 150 anos o princípio central

da informação e da produção cultural, da produção de alto custo,

prensas mecânicas de alto volume, por meio de telégrafo, telefone,

radio, filme, discos, televisão, cabo, e sistemas de satélite. Esses

custos largamente estruturaram a produção em torno do modelo

industrial de capital intensivo.

Alguns podem ter acreditado que a contracultura acabou em Paraty vendendo

brincos de miçanga, ou em comunidades rurais fazendo dança de roda até a morte,

7 As críticas da Escola de Frankfurt apoiadas no pensamento político de cunho marxista, analisam o

modo de produção industrial dos bens culturais e o processo reprodutivo serial, padronizado, servindo

essa produção a fins de construção de meras mercadorias culturais seria - para os autores - o fator

responsável por processos de degradação da crítica filosófica e existencial do amplo espectro de

estudos e compreensões das manifestações culturais.

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21

mas a verdade é que os ideais que moveram aquela geração nunca morreram,

apenas se atualizaram, e ganharam proporções que poucos poderiam prever.

5.1. Linux e o trabalho colaborativo

O nascimento da internet, por volta dos anos 70, é geralmente analisado

como o produto da comunhão dos esforços do exército e da academia, com uma

importante participação da contracultura e seus ideais. (LEVY, 1999, p. 126) No

inicio da computação era impensável uma pessoa, uma empresa ou um laboratório

desenvolver códigos de programação sozinha; a colaboração foi uma característica

vital dos primeiros anos de desenvolvimento da microinformática, o que criou uma

tradição cultural de desenvolvimento compartilhado e colaborativo, que valorizava o

acesso irrestrito à informação. Era o nascimento da cultura hacker. (HOWE, 2008, p.

46)

Com a introdução do computador pessoal em 1976, criou-VH�D�³QHFHVVLGDGH´�

de softwares patenteados, o que dava a impressão de que o sonho hacker iria por

água abaixo, até que Richard Stallman, em 1983, fundou o GNU Project, um esforço

inicialmente solitário para a criação de um sistema operacional com código-fonte

aberto e de uso gratuito. Com o passar do tempo, outros hackers se sentiram

atraídos pelas ideias de Stallman e contribuições para o código não pararam mais

de chegar. Nesse contexto, Stallman fundou a organização FSF (Free Software

Foundation�� HP� ������ SDUD� ³HVWLPXODU� D� OLEHUGDGH� GR� XVXiULR� GH� FRPSXWDGRU� H�

GHIHQGHU�RV�GLUHLWRV�GH�WRGRV�RV�XVXiULRV�GH�VRIWZDUH�OLYUH´��H�SRVWHULRUPente a GNU

GPL (GNU General Public License) que determinava que qualquer software lançado

sob esta licença deveria ser disponibilizado gratuitamente, e que softwares que

incorporassem os códigos inscritos sob ela também deveriam ser gratuitos.

Para finalizar o sistema GNU faltava, porém, uma parte essencial, o Kernel,

que numa iniciativa de Linus Torvalds, um estudante finlandês, acabou por ser

escrito colaborativamente em incríveis 2 anos, trazendo como resultado o sistema

Operacional Linux, que se mantivera sob licença GNU General Public e que continua

em aprimoramento contínuo até hoje. O Linux é uma prova de que o

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22

desenvolvimento colaborativo pode ser bem sucedido, como afirma Howe (2008, p.

47):

Trabalhando fora de qualquer agência organizadora, como uma

empresa ou instituição acadêmica, a comunidade de código aberto

provou que as redes mais inteligentes eram auto-organizadas. Quem

foi o autor do Linux? A multidão.

O movimento do software de código aberto sempre teve como objetivo a

promoção de uma filosofia de trabalho e de vida, pautados pela transparência e pela

igualdade; os defensores do código aberto sempre acreditaram que com um grande

número de pessoas contribuindo, qualquer problema se torna superficial.

5.2. Os hackers e a internet

³2�PRYLPHQWR�KDFNHU�p�XP�SURMHWR�SROtWLFR´��-RKDQ�6|GHUEHUJ�������

A presença da contracultura norte-americana é claramente encontrada

também no desenvolvimento da rede mundial de computadores. Segundo Castells, a

produção dos sistemas tecnológicos é estruturada culturalmente, assim, a cultura

dos construtores da Internet teria moldado seu desenvolvimento, assim, a cultura da

Internet se caracterizaria por uma estrutura em quatro camadas: a

tecnomeritocrática (dos cientistas), a dos hackers, a comunitária virtual e a

empresarial. (Castells, 2003, pp. 34-5).

(VVD� FRQVWUXomR� H[SOLFDULD� D� ³LGHRORJLD� GD� OLEHUGDGH� TXH� p� DPSODPHQWH�

GLVVHPLQDGD�QR�PXQGR�GD�,QWHUQHW´��&DVWHOOV��������S�������1D�SHUVSHFWLYD�GH�3LHUUH�

/pY\� ������� S�� ���� ³XP� YHUGDGHLUR� PRYLPHQWR� VRFLDO� QDVcido na Califórnia na

efervescência da contracultura apossou-se das novas possibilidades técnicas e

LQYHQWRX�R�FRPSXWDGRU�SHVVRDO´�

A contracultura teria assim grande participação na formação da cibercultura

por estar enraizada na própria origem da construção Internet. Dessa forma, tomava

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23

forma um movimento social que pregava distribuição do poder e a emancipação das

pessoas pelo acesso às informações, tendo os hackers como sua infantaria.

A definição original de hacker HUD� D� GH� ³XP� SURJUDPDGRU� GH� FRPSutador

talentoso que poderia resolver qualquer problema muito rapidamente, de modo

LQRYDGRU�H�XWLOL]DQGR�PHLRV�QmR�FRQYHQFLRQDLV´8

Porém, tanto o termo como a atitude hacker foram atacados sistematicamente

na medida em que as redes informacionais adquiriram importância econômica e

social. Primeiro porque os compromissos dos hackers com a liberdade de

informação e com o compartilhamento de códigos eram vistos como negativos para

a acumulação e lucratividade das grandes corporações.

6HJXQGR�³6WHYHQ´�/HYy (1984, Hackers: Heroes of the Computer Revolution),

os elementos centrais da ética hacker são: ³$FHVVR�DRV�FRPSXWDGRUHV«�GHYH�VHU�

ilimitado e total... Todas as informações deveriam ser livres... Hackers desconfiam

das autoridades e promovem a descentralização... Hackers devem ser julgados por

seus hackeamentos e não por outros critérios, tais como escolaridade, idade, raça

ou posição social... Você pode criar arte e beleza em um computador... Os

FRPSXWDGRUHV�SRGHP�PXGDU�VXD�YLGD�SDUD�PHOKRU´�

Na matriz do ideário hacker está enraizada a ideia de que as informações e o

conhecimento não devem ser propriedade de ninguém, e a cópia de informações

não agride ninguém dada a natureza intangível dos dados.

Segundo o pesquisador finlandês Pekka Himanen (2001, S�� ����� ³R� SULPHLUR�

valor a guiar a vida de um hacker é a paixão, ou seja, algum objetivo interessante

TXH�R�PRYH�H�TXH�p�GH�IDWR�JHUDGRU�GH�DOHJULD�HP�VXD�UHDOL]DomR´��$LQGD�VHJXQGR�

Himanen, ao alcançar e superar um desafio, o hacker tende a compartilhar seu

aprendizado, adquirindo assim reputação, principio fundamental na relação entre

hackers.

8 http://www.livinginternet.com/i/ia_hackers.htm

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24

5.3. A internet ganha o mundo: E a cultura com isso?

A história da internet até seu lançamento comercial em 1994 mostrou, como

vimos, a possibilidade de novos caminhos. Porém, por seu caráter privado (e pago),

a dificuldade com a nova tecnologia [html], a precariedade da infraestrutura

(conexões lentas), a internet se lança ao mundo trazendo a impressão de ser

apenas mais do mesmo, ou seja, mais um canal de comunicação de massa. A

predominância de grandes portais corporativos e de grandes grupos de mídia

manteve as coisas sem maiores mudanças no que diz respeito ao desenvolvimento

cultural, já que simplesmente ampliava o leque de consumidores de produtos

culturais já massificados. O Napster, assim como outras iniciativas, seguindo o

formato de compartilhamento distribuído (P2P ou Peer to Peer) foi uma primeira

janela, embora, estas, por sua interface e sua forma de uso, acabavam ainda

privilegiando artistas já consagrados, sobretudo os de mainstream, trazendo

avanços pouco significativos no que tange à produção cultural.

Depois do solavanco da explosão da bolha da internet em 2001, agindo como

um freio de arrumação,,veio à tona a web 2.0, uma nova forma de enxergar o

ambiente digital, trazendo de volta alguns valores, sob forte influência do movimento

de software livre. Segundo Castells (2008, p. 50),

O exagero profético e a manipulação ideológica que caracteriza a

maior parte dos discursos sobre a revolução da tecnologia da

informação não deveria levar-nos a cometer o erro de subestimar sua

importância verdadeiramente fundamental.

(VVD� ³QRYD´� LQWHUQHW�� EDVHDGD� QR� FRPSDUWLOKDPHQWR� �0DLV� upload e menos

download) trouxe um novo enfoque, e o ganho de velocidade das redes e o

incremento de ferramentas de publicação de conteúdo, gratuitas e de uso livre,

içaram a internet a um novo patamar que alguns anos antes era algo inimaginável,

uma plataforma multimídia onde qualquer um que estivesse conectado poderia

mostrar o que faz, seja arte, crítica, compilações, produção própria, material gráfico,

jornalístico, etc. Ou seja, mostrar sua produção, seu trabalho, para o mundo inteiro

de forma instantânea. As palavras do momento desde então são compartilhamento e

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25

colaboração e aos poucos foram tomando forma modelos de distribuição, portais de

compartilhamento, coletivos criativos, canais de notícias independentes, portais de

mobilização pública entre outras centenas de formas de gritar ao mundo o que se

faz, seja em busca de clientes para um novo negócio ou produto, para disseminar

uma ideia, uma manifestação cultural ou para mobilizar pessoas em torno de uma

causa, a um custo baixo e sem precisar da autorização ou da aprovação de

ninguém. A internet enfim se reencontrava com sua vocação. Nas palavras de

Benkler (2002, p. 9)

O preço cada vez mais baixo da computação, contudo, inverteu a

estrutura do capital da informação e da produção cultural.

Computadores pessoais baratos, assim como vídeo digital e

sistemas de áudio, são agora capazes de realizar a maioria das

funções do capital físico que antes requeria investimentos

substanciais. Como os custos do capital físico e da comunicação e

fixação estão agora baixos e amplamente distribuídos e como a

informação existente é ela mesma um bem público, o primeiro

recurso escasso que resta é a criatividade humana. E é sob essas

condições que as vantagens relativas da produção colaborativa

emergem para uma glória que era impossível antes.

Para o artista, e aqui vou me focar na relação do músico com o digital, a

tecnologia digital barateou o custo de produção, com facilidade de acesso a

equipamentos, softwares de edição abertos e samplers gratuitos (legais ou não)

encontrados facilmente na rede. Num primeiro momento a internet trouxe ao artista a

multiplicação de fontes para se inspirar, agora, ele tem a chance de criar e produzir

a um custo muito baixo, expor seu trabalho e se relacionar com seu público de forma

cada vez mais direta e íntima, o que trouxe como resultado um cenário musical rico

em diversidade como nunca antes. Isso sem falar nos antes excluídos da cadeia

produtiva da cultura, que agora, de posse desses novos instrumentos tecnológicos,

estão criando seus próprios mercados, seus próprios nichos, uma forma nova de

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26

alimentar essa cadeia, como é possível observar em casos como o do Tecnobrega

no Pará9.

Como salienta José Murilo (2009, p. 9),

O barateamento do computador pessoal e do telefone celular, aliado

à rápida evolução das aplicações em software livre e dos serviços

gratuitos na rede, promoveu uma radical democratização no acesso

a novos meios de produção e de acesso ao conhecimento.

Demorou cerca de uma década até que essas novas tecnologias ganhassem

escala, com produtos e serviços mais baratos, permitindo que um grande número de

pessoas passasse a ter acesso a essas ferramentas de comunicação que nos

mostram, dia após dia, como algumas distâncias não importam mais. Percebeu-se

que era possível reunir muitas pessoas de qualquer lugar em volta de uma ideia, de

um plano, de um objetivo, é isso o que nós vemos hoje na primavera árabe, nas

greves gerais pela Europa e nos movimentos de ocupação iniciados em Wall Street.

Na rede, comunidades se formam tanto em volta de grandes assuntos globais assim

como em fóruns e grupos dos mais específicos. Por se tratar de um espaço

comunicacional livre e distribuído, a internet possibilita a organização de grupos de

nicho, unidos por relações instantâneas que duram apenas o tempo necessário para

a concretização de seus objetivos.

9 O fenômeno do Tecnobrega surgiu no estado do Pará, e ganhou escala a partir de 2002. Desde então,

CDs são produzidos em estúdios caseiros, com baixo custo, copiados em larga escala e distribuídos

por vendedores ambulantes a preços populares, na maioria das vezes com consentimento dos artistas.

No modelo do Tecnobrega, a principal função do CD para os artistas é a divulgação da banda,

tornando-a regionalmente conhecida e assim, atraindo o publico para os shows, conhecidos como

³IHVWDV�GH�DSDUHOKDJHP´��2�7HFQREUHJD�p�XP�JrQHUR�RULJLQDGR�GR�EUHJD�WUDGLFLRQDO��TXH�LQFRUSRURX�

outros elementos da tradição regional e ainda influencias da musica caribenha. Com forte apelo de

mercado regional, formou-se uma grande estrutura, que viabiliza a produção, a distribuição e o

consumo locais, com foco nas apresentações ao vivo. Estima-se em cerca de R$ 10 milhões o

faturamento mensal dos shows de Tecnobrega na região de Belém do Para. Estima-se ainda que sejam

vendidos nos próprios shows e nas ruas, pelos camelos, mais de um milhão de CDs por mês. (LEMOS;

CASTRO, 2008)

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27

Não é que não fosse possível mobilizar pessoas antes da internet, mas a

velocidade e a proporção com que um grito se espalha no ambiente digital é tão

eficiente que está mudando nossa forma de ver tanto o que é global, quanto o que é

local, de forma que as duas coisas chegam a se confundir.

Yochai Benkler, que refletiu criativamente sobre a possibilidade de uma teoria

política da rede, enxerga na emergência das redes sociais e da produção pelos

pares uma alternativa a ambos os sistemas proprietários fundamentados nas lógicas

GR�(VWDGR�RX�GR�PHUFDGR��(VWH�QRYR�³VLVWHPD�RSHUDFLRQDO´�GD�FXOWXUD�VHULD�FDSD]�GH�

fomentar ao mesmo tempo criatividade, produtividade e liberdade, satisfazendo

igualmente às demandas tanto de indivíduos quanto de coletividades. (BENKLER,

2006)

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28

6. MOVIMENTOS SOCIAIS

Não foi apenas na Califórnia10 que o ano de 1968 e seus acontecimentos

deixaram marcas. Nas últimas décadas surgiram em todo o mundo, nos campos da

economia, política e cultura, inúmeras redes e organizações na esfera da sociedade

civil lutando pela promoção das liberdades públicas e privadas eticamente exercidas,

constituindo-VH� HPEULRQDULDPHQWH� HP� XP� ³VHWRU� S~EOLFR� QmR-HVWDWDO�´� �0$1&(��

2002, p. 26) Redes e organizações ecológicas, movimentos na área da educação,

saúde, moradia e muitos outros na área da economia solidária e pela ética na

política vão se multiplicando, trazendo uma renovação do contrato social. O avanço

de uma nova consciência e de novas práticas sobre as relações de gênero, sobre o

equilíbrio dos ecossistemas e sobre a economia solidária, por exemplo, não emerge

nas esferas do mercado ou do Estado. O consenso sobre essas novas práticas tem

sido construído no interior de redes, em que pessoas e organizações de diversas

partes do mundo colaboram ativamente entre si, propondo transformações do

mercado e do Estado, das diversas relações sociais e culturais a partir de uma

defesa intransigente da necessidade de garantirem-se universalmente as condições

requeridas para o ético exercício das liberdades públicas e privadas.

Segundo Teixeira Coelho (2007, p. 11), a grande inovação cultural da

segunda metade do século XX foi a emergência da sociedade civil como

protagonista da vida social e política. Desde o surgimento do Greenpeace em 1971,

mais e mais grupos surgiram com demandas concretas e vitórias incontestáveis da

sociedade civil sobre os principais atores sociais até então, o Estado e a iniciativa

privada. Diante de um Estado que em pouco ou nada representa seus interesses, os

movimentos sociais emergiram como um fiel da balança, para falar por si o que o

Estado não queria ou podia dizer.

10 (P�³&DOLIRUQLDQ�,GHRORJ\´��5LFKDUG�%DUEURRN��������FDUDFWHUL]D�D�FRQIOXrQFLD�GH� LGHDLV�KLSSLHV�FRP�FHUWDV�

condições privilegiadas de emprego na região do Vale do Silício (Califórnia, EUA) que teriam dado origem a

uma visão otimista do potencial emancipatório das novas tecnologias, fundindo ideais libertários com o

empreendedorismo individualista dos yuppies.

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29

Jorge Machado (2007, p. 252), apesar de enfatizar a dificuldade em se definir

R�WHUPR�µPRYLPHQWRV�VRFLDLV¶�FRQVLGHUDQGR�DV�WmR�YDULDGDV�DERUGDJHQV�H[LVWHQWHV�H�

aceitas, diz que o mesmo se refere a:

Formas de organização e articulação baseadas em um conjunto de

interesses e valores comuns, com o objetivo de definir e orientar as

formas de atuação social. Tais formas de ação coletiva têm como

objetivo, a partir de processos frequentemente não-institucionais de

pressão, mudar a ordem social existente, ou parte dela, e influenciar

os resultados de processos sociais e políticos que envolvem valores

ou comportamentos sociais ou, em última instancia, decisões

institucionais de governos e organismos referentes à definição de

políticas públicas.

Considerando-se esse empoderamento dos movimentos sociais, as políticas

culturais devem levar em conta esse novo protagonismo, e, como diz Teixeira

Coelho Netto:

...uma política cultural que não emane da sociedade civil não tem

representatividade. (...) uma política cultural sem a intervenção da

sociedade civil é um retrocesso não só à ideia de nação e republica

do século XIX como a princípios ainda mais arcaicos. A ideia de

representatividade é outra, agora. A sociedade civil se representa a

si mesma. Democracia participativa é isso ou é uma falácia. (...) Em

resumo, política cultural que não fortaleça a sociedade civil e não

fortaleça seus interesses não tem mais razão de ser. (TEIXEIRA

COELHO NETTO, 2011, p. 17)

Iniciando-se nos campos da cultura e da política, essas redes avançaram

progressivamente para o campo da economia, afirmando a necessidade de uma

democracia participativa, senão direta, através da implementação de mecanismos

de autogestão da sociedade em todas as esferas que a compõem. Como coloca

Mance (2002a, p. 6)

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30

Não se trata apenas do controle político da sociedade sobre o

Estado, mas igualmente do controle democrático da sociedade sobre

a economia, sobre a geração de fluxos de informação, sobre tudo

aquilo que afeta a vida de todos e de cada um e que possa ser objeto

de decisões humanas.

Na visão de Mance, a noção de democracia que emerge dessa nova

consciência é aquela que visa a assegurar realmente as liberdades públicas e

privadas, eticamente exercidas, ao conjunto das pessoas e sociedades. O exercício

concreto dessas liberdades supõe, porém, condições materiais, políticas,

educativas, informacionais e éticas para realizar-se, e estas condições só são

alcançáveis à medida que estas redes se conectam a outras, para trabalhar coletiva

e organizadamente contra o status quo. Ainda segundo Mance (2006), a

multiplicação e expansão recente das organizações e redes atuando em diversos

campos se deve, entre outras razões,

à concentração dos recursos materiais e a exclusão das maiorias, o

controle hegemônico do poder político pelos segmentos que

controlam o capital, virtualizando cada vez mais a democracia, a

saturação [manipulação] de informações e a fragilização da

autonomia crítica da sociedade; (...) uma moral individualista

centrada na vantagem privada e que renega a promoção da

liberdade alheia, quando esta não contribui, ainda que

mediatamente, para a realização do acúmulo de riqueza dos grandes

agentes econômicos. (MANCE, 2006, p. 6)

A grande novidade agora, é que a expansão do conceito de democracia, vem

avançando na direção do controle social sobre a esfera econômica, além das

esferas política e cultural. Estamos num momento histórico onde a integração

complexa dos movimentos sociais, culturais, políticos e econômicos tem um

potencial capaz de disseminar novos modelos de produção, consumo e organização

da vida. Esta progressiva aglutinação de redes visando ao empoderamento cada vez

maior da sociedade civil, deveu-se inicialmente à atuação coletiva de resistência

frente a políticas de Estado e de mercado não condizentes com os anseios da

sociedade da informação, onde uma retomada paulatina, mas consistente das

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31

relações coletivas e comunitárias em detrimento da comunicação de massa, em

parte promovida pela emergência das redes sociais digitais, está redefinindo o modo

como a articulação local e global de atores ou movimentos sociais e culturais age,

afirmando um pluralismo organizacional e ideológico, mostrando-nos a possibilidade

de uma sociedade melhor a partir de suas próprias escolhas.

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32

7. ECONOMIA SOLIDÁRIA

Nesse contexto ganha escala a Economia Solidária, uma forma de produção,

consumo e distribuição de riqueza centrada na valorização do ser humano e não do

capital. A ideia de economia solidária não tem uma data de nascimento específica,

porém, Paul Singer (2000) procura suas raízes na revolução industrial,

fundamentada, sobretudo por ideias de "autores socialistas do século XIX (Owen,

)RXULHU��%XFKH]��3URXGRQ��HWF��´� (SINGER, p. 1), Singer diz ainda que a economia

solidária é ³XPD� FULDomR� HP�SURFHVVR� FRQWtQXR�GH� WUDEDOKDGRUHV� HP� OXWD� FRQWUD� R�

capitalismo´�� R�TXH�H[SOLFLWDULD� VXDV�RULJHQV��1DV�iUHDV�PDLV�GLYHUVDV�GH�DWXDomR��

mais e mais comunidades reais e virtuais vêm se formando e trabalhando sob as

ideias da sustentabilidade, do compartilhamento e da coletividade, em busca de uma

qualidade de vida melhor (para si e para a comunidade), de uma divisão mais justa

dos resultados do trabalho, entre outros benefícios não encontrados na economia

capitalista.

A economia solidária é voltada para a produção, consumo e comercialização

de bens e serviços atraves da autogestão, entendendo o trabalho como uma forma

de libertação dentro de um processo de democratização econômica, criando uma

alternativa à dimensão alienante e assalariada das relações do trabalho capitalista,

onde, segundo Singer (2000, p. 8):

a) qualquer trabalhador deva obediência irrestrita às ordens

emanadas do dono ou de quem age em seu nome; b) todo fruto do

trabalho coletivo seja propriedade do capitalista, em cujo benefício

todos os esforços devem ser envidados; c) o trabalhador só faça jus

ao salário previsto contratualmente e aos seus direitos legais.

Além disso, a Economia Solidária possui uma finalidade multidimensional, isto

é, envolve a dimensão social, econômica, política, ecológica e cultural. Segundo

Euclides Mance (2002a),

(...) ao considerarmos a colaboração solidária como um trabalho e

consumo compartilhados cujo vínculo recíproco entre as pessoas

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33

advém, primeiramente, de um sentido moral de corresponsabilidade

pelo bem-viver de todos e de cada um em particular, buscando

ampliar-se o máximo possível o exercício concreto da liberdade

pessoal e pública, introduzimos no cerne desta definição o exercício

humano da liberdade.

Ainda segundo Mance (2002b):

A partir delas [redes de economias solidárias] pode-se vislumbrar os

primeiros sinais do nascimento de uma nova formação social que

tende a superar a lógica capitalista de concentração de riquezas e

exclusão social, de destruição dos ecossistemas e de exploração dos

seres humanos, afirmando a construção de novas relações sociais,

econômicas, políticas e culturais que, organizando-se em

colaboração solidária, têm o potencial de dar origem a uma nova

civilização, multicultural e que deseja a liberdade de cada pessoa em

sua valiosa diferença.

$�HFRQRPLD�VROLGiULD�³nega a separação entre trabalho e posse dos meios de

SURGXomR´ (SINGER, 2002, p. 4), trazendo um ambiente flexível, baseado na

equidade e na dignidade, onde há um visível enriquecimento do ponto de vista

cognitivo e humano. Com as pessoas mais motivadas, a divisão dos benefícios

definida por todos os associados e a solidariedade, há um aprimoramento do

processo produtivo e de seus resultados, desafiando a crença de que iniciativas sob

HVWH�PRGHOR�HVWmR�IDGDGDV�³j�degeneração e à falência´��6,1*(5��������S������1D�

economia solidária, as práticas de solidariedade e reciprocidade são fatores

determinantes na realidade da produção material e social.

Os princípios básicos da economia solidária são: autogestão, solidarização de

capital, cooperação, igualitarismo, auto-sustentação, respeito ao ambiente, às

diferenças étnicas, culturais, sexuais e de gênero, solidariedade nas relações

sociais, promoção do desenvolvimento humano e responsabilidade social.

Segundo Mance (2002b, p. 11), as redes de trabalho solidário:

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34

a) permitem aglutinar diversos atores sociais em um movimento

orgânico com forte potencial transformador; b) atendem demandas

imediatas desses atores pelo emprego de sua força de trabalho e por

satisfação de suas demandas por consumo, pela afirmação de sua

singularidade étnica, feminina, etc. c) negam estruturas capitalistas

de exploração do trabalho, de expropriação no consumo e de

dominação política e cultural; e d) passam a implementar uma nova

forma pós-capitalista de produzir e consumir, de organizar a vida

coletiva afirmando o direito à diferença e à singularidade de cada

pessoa, promovendo solidariamente as liberdades públicas e

privadas eticamente exercidas.

Segundo o Relatório Final da IV Plenária Nacional de Economia Solidária

(2008, p. 58), para que a economia solidária aconteça, são necessários os seguintes

atores:

- Os Empreendimentos de Economia Solidária - Tais como associações,

cooperativas, empresas recuperadas, clubes de trocas, redes, bancos comunitários,

fundos rotativos.

- Entidades de Assessoria e Fomento - Organizações que desenvolvem ações

nas várias modalidades de apoio direto junto aos empreendimentos solidários, tais

como capacitação, assessoria, incubação, pesquisa acompanhamento, fomento a

crédito, assistência técnica e organizativa.

- Gestores Públicos em Economia Solidária, que elaboram, executam,

implementam e ou coordenam políticas públicas de economia solidária.

Segundo o mesmo relatório, as características fundamentais de um

empreendimento de economia solidária são:

- Seus participantes ou sócias/os são trabalhadoras/es dos meios urbano e/ou

rural que exercem coletivamente a gestão das atividades, assim como a alocação

dos resultados;

- Podem ter ou não um registro legal, prevalecendo a existência real. A forma

jurídica não é o mais fundamental, mas sim a autogestão.

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35

- São organizações regulares, que estão em funcionamento, e organizações

que estão em processo de implantação, com o grupo de participantes constituído e

as atividades econômicas definidas;

- Realizam atividades econômicas que podem ser de produção de bens,

prestação de serviços, de crédito (ou seja, de finanças solidárias), de

comercialização e de consumo solidário;

- São organizações que respeitem o direito de trabalhadores/as e que não

explorem o trabalho infantil, considerando exploração: o trabalho forçado e coagido

e não a transmissão de saberes tradicionais entre pai, mãe e filhos, como na

agricultura familiar;

- São organizações que respeitem o meio ambiente nas suas atividades

econômicas, buscando a priorização da conservação ambiental e o desenvolvimento

humano;

- São supra-familiares.

A seguir algumas formas de manifestação da Economia Solidária:

- Cooperativas,

- Associações populares e grupos informais (de produção, de serviços, de

consumo, de comercialização e de crédito solidário, nos âmbitos rural urbano);

- Empresas recuperadas de autogestão (antigas empresas capitalistas falidas

recuperadas pelos/as trabalhadores/as);

- Agricultores familiares;

- Fundos solidários e rotativos de crédito (organizados sob diversas formas

jurídicas e também informalmente);

- Clubes e grupos de trocas solidárias (com ou sem o uso de moeda social, ou

moeda comunitária);

- Ecovilas;

- Redes e articulações de comercialização e de cadeias produtivas solidárias;

- Lojas de comércio justo;

- Agências de turismo solidário;

- entre outras.

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36

O movimento de economia solidária tem crescido de maneira muito rápida no

Brasil e também em diversos outros países. No contexto brasileiro, seu nascimento

tem como contexto o fim da Ditadura Militar e a crise econômica nos anos 1980,

quando se formaram as Comunidades Eclesiais de Base e houve o fortalecimento

dos sindicatos, fruto da resistência dos trabalhadores à crescente exclusão,

desemprego urbano e desocupação rural resultantes da expansão dos efeitos

negativos da globalização e das políticas neoliberais implementadas pelos primeiros

governos democráticos sob a estreita supervisão do FMI (Fundo Monetário

Internacional) e do Banco Mundial. Tal resistência se manifesta primeiramente como

uma luta por sobrevivência, com o vertiginoso crescimento do mercado informal,

onde brotavam iniciativas de economia popular, normalmente de caráter individual

ou familiar. Com a articulação de diversos atores sociais, surgem iniciativas

associativas e solidárias por todo o país, sobretudo em comunidades carentes, onde

se organizam projetos comunitários, coletivos de assentamentos rurais, galpões de

reciclagem e mutirões, mas que vão, além disso, apontando para alternativas

estruturais de organização da economia, baseada em valores como a ética, a

equidade e a solidariedade e não mais no lucro e no acúmulo indiscriminado.

Verifica-se no Brasil, durante a última década, a crescente organização da

economia solidária enquanto movimento, ultrapassando a dimensão de iniciativas

isoladas e fragmentadas, e orientando-se para a articulação nacional, a configuração

de redes locais e o estabelecimento de uma plataforma comum. Essa tendência dá

um salto considerável a partir das várias edições do Fórum Social Mundial, espaço

privilegiado onde diferentes atores, entidades, iniciativas e empreendimentos

puderam construir uma integração, que desencadeou na criação da Secretaria

Nacional de Economia Solidária (SENAES), e no Fórum Brasileiro de Economia

Solidária (FBES), representante deste movimento no país. A criação dessas duas

instâncias, somada ao fortalecimento da economia solidária no interior da dinâmica

do Fórum Social Mundial, consolida a recente ampliação e estruturação desse

movimento.

O Sistema Nacional de Economia Solidária (SIES) e o Mapeamento Nacional

de Economia Solidária (FÓRUM BRASILEIRO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA, 2008)

revelaram que:

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37

- 22.859 mil empreendimentos econômicos solidários foram mapeados em

52%

dos municípios brasileiros;

- 1.687.035 trabalhadores e trabalhadoras, 63% são homens e 37% são

mulheres;

- Nordeste (43%), Sudeste (18%); Sul (16,5); Norte (12%) e Centro-Oeste

(10%);

- 48% são rurais, 35% são urbanos e 17% são urbanos e rurais;

- Movimentam anualmente no Brasil cerca de R$ 8 bilhões;

- Dificuldades: 68% comercialização, 53% acesso ao crédito, 27% falta de

assistência técnica.

A economia solidária trata o consumo, assim como o trabalho, como uma

ação, além de econômica, ética e política (MANCE, 2002a), pois é no consumo que

o ciclo produtivo se fecha, e o consumo de produtos e serviços que foram fruto da

exploração de pessoas e do ecossistema acaba por manter esse fluxo, perpetuando

o sistema e incentivando o incremento dessas práticas. Mance (2002b, p. 6) trata

essas práticas como um exercício de poder,

pelo qual efetivamente podemos apoiar a exploração de seres

humanos, a destruição progressiva do planeta, a concentração de

riquezas e a exclusão social ou contrapor-nos a esse modo lesivo de

produção, promovendo, pela prática do consumo solidário, a

ampliação das liberdades públicas e privadas, a desconcentração da

riqueza e o desenvolvimento ecológica e socialmente sustentável.

No cerne da economia solidária está a noção de rede, onde o incremento de

novos nós, novos agentes solidários, tem o poder de aumentar a capacidade da

produção de bens e serviços que vão paulatinamente substituindo os gerados no

mercado capitalista, dando força à rede para agregar cada vez mais pessoas e mais

campos de atuação, afim de que o consumo não caia na acumulação privada fora

das redes, no que é chamado por MancH�GH�³Paradigma da abundância´�

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38

Os principais desafios à evolução da economia solidária são a difusão do

consumo solidário, a logística de distribuição e comercialização, a organização de

fundos de desenvolvimento solidário, o mapeamento de empreendimentos,

estabelecimento de conexões entre eles, tarefa esta que depende largamente de

ações de infraestrutura (Plano Nacional de Banda Larga, por exemplo), de

capacitação técnica dos envolvidos, da diversificação e qualificação dos produtos e

serviços, da capacitação técnica dos empreendimentos, da formação política e

cultural voltada para a autogestão e solidariedade, da estruturação e do

fortalecimento de redes nacionais e internacionais a partir da organização local.

Muitos desses desafios vêm encontrando respostas satisfatórias, como

veremos no caso do Fora do Eixo, na adoção de ferramentas digitais que utilizam da

inteligência coletiva para resolver problemas dos mais diversos. Nada mais justo que

buscar na multidão as soluções para problemas coletivos.

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39

8. CROWDSOURCING

A história do crowdsourcing (crowd = multidão; source = fonte) começa, como

vimos, pela iniciativa de Richard Stallman com a criação do GNU Project e as

conseqüências que este trouxe para a consolidação do software livre, e do Linux

como seu principal trunfo. Porém seu progresso é desenvolvimento é difícil de

mapear, pois como vimos, apesar de alguns atores chave no processo, o

crowdsourcing tem como sua principal característica ser um processo coletivo, em

que a multidão é o criador, o que se aplica também à sua origem.

Apesar de ser um termo razoavelmente novo11, não são raras as vezes em

que nos deparamos com produtos advindos das multidões (crowds), como por

exemplo os vídeos do Youtube. Nele você pode aprender a fazer um bolo de

cenoura ou a programar em Java, no que é hoje praticamente uma universidade

livre, uma não, várias, já que MIT (Massachussets Institute of Technology), Harvard

e muitas outras universidades já têm seus próprios canais dentro da ferramenta do

Google. Outro exemplo emblemático é a Wikipedia, uma enciclopédia com milhões

de entradas e um sistema de revisão em constante aprimoramento que, apesar de

não ser aceita como fonte para trabalhos acadêmicos, tem hoje milhões de usuários

no mundo todo. Existem casos onde o crowdsourcing foi utilizado para missões mais

específicas, como no projeto SETI@home da Nasa que se valeu da inteligência

coletiva (de técnicos) para mapear a superfície de marte em busca de indícios de

água, mesmo que no passado, o que poderia evidenciar a possibilidade de o planeta

já ter sido habitado.

O crowdsourcing não tem um manual de implementação já que tem mais a

ver com uma filosofia, a filosofia hacker, transposta para uma forma de produzir

utilizando a força de trabalho de pessoas muitas vezes desconhecidas que por

empatia à ideia, ou em busca de algum tipo de recompensa, trabalham em seu

tempo livre desenhando produtos, ajudando outras pessoas, na maior parte das

vezes sem imaginar que possa receber algo em troca.

11 O termo que foi utilizado pela primeira vez em 2006 em um artigo do jornalista e escritor estadunidense Jeff

+RZH�SDUD�D�UHYLVWD�:LUHG��LQWLWXODGR�³7KH�ULVLQJ�RI�crowdsourcing´. [Nota do autor]

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40

O termo crowdsourcing se localiza exatamente na passagem de uma

paisagem midiática em que o conhecimento da multidão é adotado nos circuitos de

FRPXQLFDomR� D� SDUWLU� GH� XPD� OyJLFD� WHVWHPXQKDO� �³XVHL� R� SURGXWR� H� HOH� PH� IH]�

DVVLP´��SDUD�XPD�OyJLFD�LPHUVLYD��HP�TXH�RV gosto/opinião é construído, em regime

de cooperação, dentro de comunidades virtuais.

As pessoas logo perceberam o poder da rede para a promoção de seu poder

como consumidores. Assim, as empresas foram obrigadas a ouvir e a trocar idéias

com esses consumidores. Não bastava buscar a solução de um problema de um

consumidor, depois que uma crítica se espalhava pela rede, era imperativo procurar

soluções definitivas, e para além de reclamar, os consumidores passaram a agir

ativamente, guiando os rumos da produção. Como resultado, o termo consumidor,

como tradicionalmente concebido, está se tornando um conceito antiquado. (HOWE,

2008)

Segundo De Angeli,

Surge um diálogo forte entre consumidor e empresa, (...) Hoje, com o

suporte das redes sociais, o consumidor possui o poder de reclamar

se não está satisfeito, questionar assuntos que geralmente eram

omitidos e cobrar uma postura mais responsável das empresas em

um espaço onde outras pessoas que estão conectadas a você

também possam ver, dando maior poder de escolha e participação

da população. (DE ANGELI, 2011, p. 14)

1HVVH� VHQWLGR�� D� LQWHUQHW� p� DSHQDV� D� ³SRQWD� GR� LFHEHUJ´� GH� XPD� SURGXomR�

contemporânea cada vez mais feita de redes de cooperação e troca, de contatos, as

relações, as trocas e os desejos tornaram-se produtivos.

O crowdsourcing foi inicialmente fundamentado nos preceitos da filosofia

hacker de transparência, liberdade e igualdade; tendo como um de seus objetivos

principais compartilhar o conhecimento. Como na cultura hacker, muitos motivos

podem mover uma pessoa a participar de um projeto de crowdsourcing, desde a

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41

simples empatia com a ideia, até a promoção do próprio trabalho ou ponto de vista,

já que critérios de visibilidade e prestigio sempre foram caros aos hackers, e se

mantêm em alta, mesmo entre usuários de internet que não compartilham dessa

filosofia. Empresas têm utilizado também recompensas em produtos, vantagens

exclusivas ou mesmo em dinheiro para encorajar pessoas a colaborarem em seus

projetos.

Nos exemplos mais emblemáticos onde o crowdsourcing foi empregado,

como no desenvolvimento do sistema operacional Linux, a multidão é simplesmente

quem tem empatia pela proposta, seja ela qual for, e resolveu doar parte de seu

tempo para apoiá-la. Existem casos, porém, como o do SETI@home, onde a

multidão de interessados deve ter conhecimentos específicos de uma área, nesse

caso, sobre astronomia, ou devam estar associados de alguma forma com o projeto,

o que restringe o número de possíveis apoiadores, mas que em alguns casos é

essencial.

Para compreender melhor o funcionamento do crowdsourcing, é fundamental

compreender quem é esse crowd (Multidão). Hardt e Negri (2005) em seu livro

³0XOWLGmR: guerra e democracia na era do império´ procuram esclarecer essa

questão. Para os autores, a multidão é "formada por todos aqueles que trabalham

sob o domínio do capital, e, assim, potencialmente [grifo nosso] como a classe

daqueles que recusam o domínio do capital" (p. 147). Essa noção ampla incorpora

os sujeitos sociais envolvidos com o trabalho, qualquer que seja seu tipo, com

destaque para os trabalhadores imateriais. Este grupo requer a explicitação da

noção de trabalho imaterial, que pode ser compreendida por trabalhos que resultam

em produtos imateriais, isto é, frutos da ação do intelecto, do afeto ou de ambos,

produzindo conhecimento, informação, comunicação (trabalho no setor de serviços,

trabalho intelectual ou trabalho cognitivo).

³R� WUDEDOKR� LPDWHULDO� QmR� FULD� DSHQDV� PHLRV� DWUDYpV� GRV� TXDLV� D�

sociedade é formada e sustentada; (...) [mas] produz diretamente

relações sociais tornando-VH� XPD� IRUoD� VRFLDO�� FXOWXUDO� H� SROtWLFD�´�

(HARDT; NEGRI, 2005, p 100-101)

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42

Segundo Hardt e Negri (2005) a multidão é composta de um conjunto de

singularidades, cuja diferença não pode ser reduzida à uniformidade, mantendo-se

múltipla. Sua constituição e ação não se baseiam na identidade ou na unidade (nem

muito menos na indiferença), mas naquilo que têm em comum. A multidão também

pode ser vista como uma rede aberta e em expansão, na qual todas as diferenças

podem ser expressas livre e igualitariamente, esta rede proporciona os meios de

convergência para que possamos trabalhar e viver em comum. A multidão é uma

multiplicidade de todas as diferenças singulares (culturas, raças, etnias, gêneros,

etc). Na multidão as diferenças sociais permanecem; o desafio, porém, é fazer com

que essa multiplicidade social seja capaz de se comunicar e agir em comum, na

criação de novos circuitos de cooperação e colaboração que se propagem pelo

mundo, facultando uma quantidade infinita de encontros, com o objetivo de que os

pontos em comum sejam descobertos, para que haja comunicação e para que todos

possam agir conjuntamente. (HARDT; NEGRI, 2005)

Já para Pierre Levy, a cooperação social em rede será nomeada como um

novo sujeito, chamado ³LQWHOLJrQFLD�FROHWLYD´��Segundo Levy,

Precisamente, o ideal mobilizador da informática não é mais a

inteligência artificial, mas sim a inteligência coletiva, a saber, a

valorização, a utilização otimizada e a criação de sinergia entre as

competências, as imaginações e as energias intelectuais, qualquer

que seja sua diversidade qualitativa e onde quer que se situe. (Levy,

1999. p.167).

Na colaboração em rede, não há necessidade de haver fortes vínculos sociais

entre os membros da comunidade para que haja o intercâmbio da informação. O fato

de um não conhecer o outro pessoalmente acaba por ser algo menor em relação ao

interesse comum em torno do tema que anima a comunidade virtual. A vinculação é,

portanto, em torno desse comum. E é o comum que produz a comunicação.

Mas o que é o comum? O comum parte da noção de que muitos dos mais

importantes bens de que usufruímos na vida são comuns e só podem ser produzidos

em comunidade, a exemplo da comunicação, da produção da subjetividade, da

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43

linguagem, dos gestos, idéias, conhecimentos, imagens, afetos, relações sociais e

formas de vida. Grande parte do trabalho imaterial contemporâneo consiste na

produção de atos de afeto e atos de conhecimento, a produção da subjetividade.

6HJXQGR� +DUGW� H� 1HJUL� �������� ³o comum baseia-se na comunicação entre

singularidades e se manifesta através dos processos sociais colaborativos da

SURGXomR�´

Esse ³comum´ pode ser visto nos tutoriais do Youtube, nos verbetes da

Wikipédia, no abaixo-assinado pela manutenção da lei da ficha limpa, entre outros

milhares de exemplos.

Para Yochai Benkler,

(...) o sucesso do software livre sugere que o ambiente da rede

possibilita uma nova forma de produção: radicalmente

descentralizada, colaborativa e não proprietária; baseada no

compartilhamento de recursos largamente distribuído, onde

indivíduos cooperam entre si sem depender de sinais do mercado ou

GDV�RUGHQV�GH�FKHIHV��1R�TXH�HX�FKDPR�GH� µFRPPRQV-based peer

SURGXFWLRQ�¶´ (BENKLER, 2006, p. 60)

Segundo Howe (2008) alguns dos fatores que possibilitaram a ascensão do

crowdosurcing são:

- Os custos de hardware para todos os tipos de equipamentos digitais vêm

baixando progressivamente, ao mesmo tempo em que ganham em qualidade.

- Softwares incrivelmente poderosos e com interfaces bastante amigáveis

estão disponíveis nos mais diversos campos, e a um custo cada vez menor, e

muitas vezes de graça.

- Informações sobre como usar essas ferramentas também estão amplamente

disponíveis. A Web está cheia de tutoriais gratuitos sobre como fazer praticamente

qualquer coisa.

- Pessoas em todo o espectro de negócios estão se tornando muito mais

familiarizadas com o uso de tecnologias criativas.

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44

Em praticamente todos os campos imagináveis, a tecnologia está deixando

tudo mais barato, mais rápido, menor e mais fácil de usar, colocando o poder criativo

nas mãos da multidão.

Não é difícil notar que o termo crowdsourcing é apenas uma rubrica para

identificar uma gama muito diversa de atividades, já que suas práticas são altamente

adaptáveis, o que justifica o crescimento exponencial dessa prática. A reboque

destas práticas surgiu o crowdfunding, que será esmiuçado no próximo capítulo.

Page 54: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

45

9. CROWDFUNDING

Primeiro uma definição rápida de crowdfunding. A tradução literal é: crowd =

multidão funding = financiamento, ou financiamento coletivo. Um exemplo

simplificado: em vez de pedir uma pessoa para colocar R$ 10.000 em um projeto,

SHGLPRV�D����PLO�SHVVRDV�TXH�LQYLVWDP�¼��� Parece algo simples, e realmente é.

De inicio parece mais um nome novo para algo antigo, como um mutirão ou

uma vaquinha: quem tem tempo, doa trabalho, quem tem como contribuir com

dinheiro, dá dinheiro. Porém o que vemos com o fenômeno do Crowdfunding é que

suas crescentes iniciativas têm alguns diferenciais que estão chacoalhando nossa

visão sobre o financiamento da cultura, com algumas diferenças cruciais para os

modelos até então testados e empregados, de financiamento estatal direto e

indireto, e de financiamento privado, seja ele subsidiado pelo Estado ou não, no

crowdfunding são os consumidores/usuários/público quem decide que projetos

devem ir adiante, o que em última instancia, elimina a barreira entre o produtor

cultural, o artista e o público.

O crowdfunding funciona de forma simples, geralmente por um modelo

coletivo baseado em micropagamentos feitos por uma comunidade de interessados,

geralmente através da Internet, e, em alguns casos, com escalas de recompensas

de acordo com a contribuição. As contribuições não precisam ser estritamente

financeiras, mas também em serviços (humanos, técnicos, etc.), o que vem se

mostrando mais promissor no Brasil (considerando o lento crescimento das

transações financeiras via web no país), gerando retornos diferentes, combinados

entre as partes. Assim, projetos de crowdfunding geralmente são também de

crowdsourcing.

Este modelo surge como uma oportunidade de financiamento exclusivo ou

complementar para projetos criativos ora marginalizados ou que têm apoio

insuficiente por parte do Estado e da iniciativa privada. É sabido que os critérios

utilizados para o financiamento de projetos culturais tanto pelo Estado quanto por

empresas (através de incentivos fiscais) são muitas vezes viciados, baseados em

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46

clientelismo, gestão fraudulenta ou contando com critérios de seleção amarrados e

burocráticos, que potencialmente excluindo muitos projetos.

Para além de uma oportunidade de saída simples para ideias criativas, o

crowdfunding reflete uma mudança na relação curador\produtor X cultura de

consumo. Este novo modelo coloca o público consumidor, até então passivo, na

cadeira de proponente, de idealizador, decidindo quais projetos quer apoiar. O

crowdfunding não é apenas uma resposta à necessidade econômica, mas uma

mudança no modelo de produção e consumo cultural. Um modelo em que o cidadão

(ou seria a multidão?) afirma o seu papel e, a sua capacidade de decisão;

mediações são apagadas, e o receptor ganha uma nova responsabilidade, a de criar

o que vai consumir. O filtro torna-se o consumidor final, o individuo, e não diretrizes

estabelecidas pela expectativa de rentabilidade, políticas econômicas ou culturais de

VHWRUHV� GHWHUPLQDGRV�� p� R� ³ILQDQFLDPHQWR� on demand´� �por demanda). Outro

incentivo é também a agilidade oferecida pelo sistema, já que a espera por editais

públicos ou de grandes empresas financiadoras da cultura como Petrobrás e Vale do

Rio Doce, geralmente anuais, pode tirar o frescor desejado e muitas vezes

necessário para a finalização de projetos.

³Crowdfunding p� FRPR� D� GHPRFUDWL]DomR� GR� PHFHQDWR�´� &RPHQWD� D�

espanhola Antonia Folguera, que segue,

(...)o espectador / consumidor, passou a ser promotor/patrono, e

agora também tem em suas mãos a responsabilidade de

apoiar a produção cultural de seu tempo e de sua comunidade. O

crowdfunding é a democratização da produção cultural.

(FOLGUERA, 2011)

Neste modelo, certamente a Internet é a ferramenta ideal para amplificar o

impacto do lançamento e geração de novas ideias, pois possibilita a articulação de

Page 56: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

47

interesses não tão ligados à proximidade física, e mais à cultura, agindo como uma

YLWDPLQD�VREUH�D�³FDXGD�ORQJD´12 da cultura. (FORGUERA, 2011)

Tal como vem se desenvolvendo, seria difícil imaginar esse modelo de

trabalho fora da web 2.0, por conta de certas características, como a capacidade de

construir relacionamentos em torno de um interesse comum, a possibilidade de

propagação de uma mensagem com longo alcance e de forma "objetiva", a

facilidade de micro-participação por qualquer usuário de maneiras diferentes, de

deixar um comentário, fazer uma pequena doação em um par de cliques ou mesmo

trabalhar em partes do projeto de forma remota, entre outras. Isto torna possível

alcançar rapidamente uma massa de usuários interessados muito elevada, e pedir

muito pouco tempo e dinheiro em troca de participação.

Segundo Marta Ardiaca:

"A rede é uma oportunidade para (re)construção da dimensão da

comunidade e fortalecimento do tecido social a partir de uma

dimensão global em que o conceito de proximidade não está ligado a

espaços físicos, mas às ideias, culturas e tendências." (ARDIACA,

2011, Online)

O novo raio de influência sugerido pelo crowdfunding pode adquirir uma

dimensão global, embora surjam dúvidas quanto ao peso final nos aspectos de:

tomada de decisão, confiança e conhecimento direto dos drivers ou projeto e / ou

12 A Cauda Longa é uma teoria sobre o consumo nas mídias digitais, que mostra a diferença de funcionamento

entre o mercado de massa e o mercado de nicho. A emergência das NTIC's possibilitou uma nova configuração

do comércio, uma vez que ficaram diminuídas as conformações físicas para a oferta dos produtos. Chris

Anderson (2007) divide o mercado em duas parte: o dos produtos que são hits, ou seja, que possuem grande

vendagem; e dos produtos que estão no nicho, possuindo baixa vendagem. A questão central na teoria da Cauda

Longa é que com a alteração na oferta provocada pelas mídias digitais, derivada do fato de não serem

necessários os estoques, os produtos do nicho somados possuem a mesma participação nos lucros dos hits.

Importante destacar que o conceito de Cauda Longa se aplica a praticamente todo mercado, inclusive o mercado

de mídia. Com a convergência digital, é muito provável uma reorganização na distribuição da audiência, não

apenas por conta de alterações nas características dos meios e na maneira como são consumidos, mas

principalmente por alterações no próprio comportamento do consumidor.

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48

interesse em enriquecer o contexto cultural imediatamente. Nesse modelo, as

variáveis como confiança, capacidade de transmitir emoção e proximidade,

relevância, oportunidade, transparência, qualidade e viabilidade são elementos-

chave na capacidade de geração do modelo coletivo.

Se algo é certo, é que a Internet amplifica enormemente a capacidade de

divulgação das propostas, facilita a captação e agiliza o processamento de

transações.

Assim, através do crowdfunding o usuário torna-se parte de uma cadeia de

ativos e um ator-chave na geração de valor cultural13 dos projetos dos quais

participa. No entanto, seu grau de envolvimento pode ser muito diversificado, desde

um simples divulgador, ³FULDQGR´�H�compartilhando um evento através do Facebook,

até desempenhando papel direto na criação de conteúdos em determinados projetos

que demandam interatividade. Isso estabelece um novo sistema de

responsabilidades entre o criador/promotor - receptor/ co-produtor/co-autor. Uma

relação em que a transparência e a responsabilidade são chaves para o sucesso do

modelo e das propostas. ³Comunidade, sim, mas também transparência e

responsabilidadH´��GHVWDFD�)ROJXHUD���������2QOLQH�

É essencial avaliar com honestidade o conceito da autoria resultante: qual o

papel oferecido ao espectador no desenvolvimento do processo criativo? Que nível

de co-autoria se está disposto a aceitar? O que envolve a co-autoria em relação aos

potenciais benefícios gerados?

A responsabilidade em relação à comunidade no que tange aos resultados do

projeto é outra questão fundamental. A comunidade é essencial para a

sustentabilidade dos projetos, mas como fornecer feedback e/ou a forma de gerir no

futuro? Qual o nível de abertura da oferta do produto final? Em alguns casos,

modifica-se e abre-se o conceito de autoria, alguns projetos incluem um conceito de

autoria distribuída, a abertura do processo de criação o envolvimento da

13 SegundoTeixeira Coelho Neto, valor cultural é o responsável pelas decisões sobre o que incentivar, em termos

de produção e uso ou consumo, o que difundir e o que preservar.

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49

comunidade. Nesse caso, o crowdfunding além de um mecanismo econômico e de

trabalho coletivo, torna-se também uma filosofia onde se recupera o conceito de

cultura compartilhada, com licenças de uso e distribuição baseadas em Copyleft14 e

Creative Commons15, o que vem se mostrando essencial para o progresso desse

modelo de produção. Algumas propostas ainda incorporam um modelo de retorno

social que inclui licenças livres de produtos finais.

9.1. Modalidades

Em seguida, tentarei dar uma visão geral sobre algumas formas de

crowdfunding e citar alguns exemplos existentes hoje.

- O micromecenato é o tipo mais direto de financiamento coletivo, é aquele

em que um projeto é proposto para a comunidade e recebe muitas pequenas

contribuições para um fundo. Além do benefício para o projeto em si, há uma

contribuição para a comunidade ou o doador, normalmente oferece-se uma

variedade de recompensas, dependendo da quantidade doada como uma edição

especial em DVD ou algum produto exclusivo de merchandising. Exemplos deste

tipo de financiamento coletivo podem ser vistos em muitos projetos para

desenvolvimento de software de código aberto, e também em projetos culturais

ligados à música ou cinema, como no caso da produção do filme ³(X�0DLRU´16 onde

os contribuintes serão citados nos créditos, ganharão ingressos para a pré-estréia e

participarão do sorteio de brindes; ou a apresentação especial do Paralamas do

Sucesso no Circo Voador promovida pelo site Queremos17 onde os financiadores

recebem brindes especiais e podem ser totalmente ressarcidos caso os ingressos

³QRUPDLV´� (depois de confirmado o evento são vendidos ingressos até atingir a

lotação da casa) sejam todos vendidos. Há também empresas envolvidas na gestão

de plataformas on-line para financiamento coletivo em geral, como IndieGoGo ou

iniciativas mais específicas, como Grow Venture Community, dedicado a

14 Ausência de direitos autorais (LESSIG, 2004) 15 Modelo de licenciamento de direitos autorais onde o autor pode decidir, dentro de um leque de

opções, que direitos quer manter reservados e sobre quais quer abrir mão. (LESSIG, 2004) 16 www.eumaior.com.br 17 www.queremos.com.br

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50

financiamento de startups tecnológicos, ou LoudSauce, que apresenta a sugestão

interessante de que o financiamento coletivo da publicidade na cidade pode ser feito

em conformidade com os desejos dos cidadãos e dar visibilidade a iniciativas que de

outra maneira não teriam.

- A variação, a principio mais aceita, é o modelo brasileiro do Queremos e dos

americanos Kickstarter18, que são baseadas em "compromissos" de contribuição que

só se efetivam se o objetivo econômico for alcançado pelo autor do pedido. A

vantagem é que, desta maneira, o usuário sabe que seu dinheiro só será

empenhado em projetos bem sucedidos, devido ao apoio de outras pessoas. Este

modelo tem se mostrado o ideal para o financiamento de projetos futuros: discos por

gravar, livros por escrever, produtos a desenhar, etc.

- Outros sites como o Flattr são baseadas em micropagamentos feitos de

forma rápida e direta. Neste caso, o usuário define um valor mensal que quer

destinar às doações, e este é distribuído entre os projetos apoiados clicando em um

botão do tipo "Like" (Do Facebook) ao longo do mês. A vantagem deste sistema é

que ele permite limitar de antemão o quanto se quer aportar, e tal contribuição é

distribuída ao gosto do usuário. Este método funciona mais a posteriori, para

conteúdos culturais e produtos ou serviços já concluídos e disponíveis.

- Outro modelo é baseado na mera oferta de publicidade ou de visibilidade de

uma contribuição, e daí o termo "multidão" se encaixa simplesmente à soma de

muitas pequenas quantidades para conseguir um bem maior, como é o caso famoso

da Million Dollar Page, onde sem operar sem um projeto por trás, a coleta era em si

sendo a meta. Esses casos, normalmente se justificam causando um efeito viral,

graças à originalidade da ideia e a curiosidade que provoca, e assim por diante.

- Existem outras maneiras pelas quais não se buscam doações ou

contribuições para um projeto, mas sim empréstimos coletivos, que são fornecidos

por várias pessoas e são devolvidos na mesma proporção. Tais são Vittana, uma

18 Formado e administrado por 21 jovens que planejaram um espaço online onde pessoas que com boas ideias/projetos possam compartilhá-las buscando alguma forma de financiamento por parte dos outros membros da comunidade.

Page 60: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

51

rede dedicada ao fornecimento de bolsas de estudo e empréstimo estudantis, ou

Kiva Rangda19, mais direcionados a fornecer microcrédito para empreendedores.

Existem projetos de financiamento coletivo que por sua singularidade

merecem menção à parte. Um exemplo é a chamativa iniciativa Buy This Satellite.

Tal iniciativa propõe nada menos do que comprar coletivamente um satélite de

comunicações para fornecer acesso à Internet para áreas do planeta que não têm.

Se alguém tivesse dito anos atrás que iria participar na compra de um satélite,

teriam rido da ideia, mas o crowdfunding parece ter tornado este projeto real e viável

graças ao poder do coletivo.

9.2. Fatores de sucesso para um projeto de crowdfunding

Como quase todas as iniciativas de caráter social, o crowdfunding é

imprevisível e difícil de controlar com precisão. Alguns projetos recebem apenas

alguns apoios, e outros estão se espalhando como um incêndio, podendo parecer

ambos igualmente interessantes a priori. Como saber se o projeto vai decolar? A

resposta pode ser muito simples: não há como saber, mas o custo de

implementação de uma infra-estrutura de crowdfunding é tão baixo que você pode

apenas tentar e ver o que acontece.

Seguem aqui alguns pontos:

- A existência de indivíduos animados, treinados e com bagagem, com uma

apresentação da proposta capaz de transmitir confiança no sucesso do projeto.

Nesse sentido, a apresentação do projeto é geralmente o primeiro sinal de tais

atitudes, transmitindo entusiasmo, motivação e autoconfiança, além de uma imagem

que se adapte ao caráter do projeto.

- A relevância, conveniência e qualidade da proposta em si. Obviamente, o

co-financiador deve sentir que ver o projeto implementado em si é um grande

benefício pelo qual vale a pena pagar. Mais uma vez, a apresentação do projeto tem

19 www.kiva.org

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52

que passar em si o potencial de qualidade, mesmo que através de uma

apresentação rápida.

- Abertura, transparência e proximidade para lidar com os destinatários da

mensagem, seja via e-mails, redes sociais, site oficial, etc. Manter uma informação

fluida e atualizada sobre o andamento do projeto, estar aberto a sugestões e

contribuições, aceitar críticas e reconhecer a participação. Só dessa forma vai se

efetivar o potencial do co-financiador, que é o de "participante", além de "investidor",

que é essencial para o crowdfunding.

- A existência de objetivos específicos, tangíveis, prazos, formas, aplicações.

Normalmente, a pessoa estará mais disposta a participar de um projeto que diz: "Em

três meses eu vou ter um protótipo funcional que testarei dessa maneira e

documentarei dessa outra" do que aquele que diz: "Eu quero fazer um protótipo

funcional" secamente. Entender que os investidores-participantes estão ansiosos

para saber os resultados e, portanto, quanto mais próximo e preciso o prazo, melhor.

Pela mesma razão, em casos de projetos muito longos é melhor definir etapas

intermediárias que mostrem alguns resultados parciais que possam apoiar a

credibilidade e comprovar a qualidade do projeto.

- A possibilidade de retorno do investimento: a participação proporcional dos

benefícios, acesso a amostras do merchandising e do próprio produto/serviço

desenvolvido, informação privilegiada, etc.

Atualmente uma enxurrada de sites de financiamento coletivo surgem Brasil

afora, a maioria deles com grande sucesso. Segue abaixo o link de alguns deles

para quem se interessar pelo tema:

www.catarse.me

www.incentivador.com.br

www.ingressar.com.br

http://produrama.com.br

www.movere.me

http://multidao.art.br

Page 62: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

53

http://benfeitoria.com

www.embolacha.com.br

www.selofan.com.br

www.sibite.com.br

www.ulule.com

Page 63: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

54

10. CIRCUITO FORA DO EIXO - REDE DE COLETIVOS E

EMPREENDIMENTOS CULTURAIS E SOLIDÁRIOS

O Fora Do Eixo (FdE) é uma organização que busca por meio da expressão

artística e cultural promover uma nova lógica para as relações não só sociais, mas

também, econômicas, dentro do campo da cultura. Trabalhando sob a bandeira da

economia solidária, eles pregam a autogestão como principio norteador, assim, cada

coletivo ligado à rede tem sua gestão independente, devendo apenas seguir

algumas diretrizes para se associar e fazer parte da rede. O Fora do Eixo é formado

por músicos, artistas gráficos, artistas digitais, programadores, jornalistas,

produtores culturais, além de toda a comunidade que participa dos eventos

promovidos no Circuito Fora do Eixo.

Em sua carta de princípios (em anexo) é possível observar a menção aos

principais eixos norteadores da economia solidária, como: autogestão, solidarização

de capital, cooperação, igualitarismo, auto-sustentação, respeito ao ambiente, às

diferenças étnicas, culturais, sexuais e de gênero, solidariedade nas relações

sociais, promoção do desenvolvimento humano e responsabilidade social.

Como veremos a seguir, o crowdsourcing é largamente utilizado na

implementação das ações da rede, que utiliza tanto o trabalho cooperativo de seus

agentes espalhados pelo país, como de organizações parceiras como o Cultura

Digital, e ainda pessoas interessadas em contribuir com os projetos da organização.

Page 64: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

55

O crowdfunding é ainda uma iniciativa embrionária dentro do circuito, com

iniciativas ativas implementadas pelo coletivo Ponte Plural e pelo TNB (Toque no

Brasil), uma plataforma virtual de agenciamento e circulação de artistas no formato

de rede social, que além de contar com sua própria plataforma, ainda busca a

aproximação com outras plataformas de crowdunding afim de viabilizar shows dos

artistas cadastrados na rede.

O FdE espalhou-se pelas regiões centro-oeste, norte e sul a partir do final de

2005. Começaram suas atividades nas cidades de Cuiabá (MT), Rio Branco (AC),

Uberlândia (MG) e Londrina (PR), com o propósito de estimular a circulação de

bandas, o intercâmbio de tecnologia de produção e o escoamento de produtos e

serviços na área cultural, na rota desde então batizada de Circuito Fora do Eixo

(CFE).

&RQIRUPH�GHVFULWR�HP�VXD�SiJLQD�HOHWU{QLFD��³D�UHGH�FUHVFHX�H�DV�UHODo}HV�GH�

mercado se tornaram ainda mais favoráveis às pequenas iniciativas do setor da

música, já que o novo desafio da indústria fonográfica em função da facilidade de

acesso a qualquer informação criou solo ainda mais fértil para os pequenos

empreendimentos, especialmente àqueles com característiFDV�PDLV�FRRSHUDWLYDV´�

Em seus pouco mais de cinco anos, o FDE cresceu e hoje está presente em

mais de cem cidades do Brasil (com presença em 25 estados) e da América Latina

(Argentina, El Salvador, Honduras e Costa Rica). Com o crescimento, as ações da

rede ganharam em tamanho (segundo o site, a infraestrutura gerenciada pelo FDE é

capaz de produzir mais de cinco mil shows por ano), mas também em diversidade,

trabalhando junto a coletivos parceiros em grupos de trabalho nas áreas de ação

política (PCult ou Patido da Cultura), software livre, ensino e qualificação

profissional, rádio, TV e vídeo, design gráfico e digital, ambiental; conta inclusive

com um banco, com a missão de gerenciar as moedas sociais utilizadas entre os

parceiros da rede, entre outros.

Segue abaixo mapa com os pontos fora do eixo espalhados pela América

Latina.

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56

Figura 1 - Pontos Fora do Eixo

10.1. Organização dos Pontos Fora do Eixo

Com o rápido crescimento da rede, logo surgiu a necessidade de uma maior

organização dos agentes, assim foram criadas categorias de participação, como

segue:

CASAS FORA DO EIXO - São coletivos responsáveis por dar suporte às demandas

da rede laboratórios de vivências sócio-culturais que funcionam como moradia,

escritório, fruição e hospedagem solidária, responsáveis por articular e receber

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57

agentes culturais de todo o país e da América Latina, interessados em trocar

experiências e conhecimento.

PONTOS DE ARTICULAÇAO - São coletivos responsáveis por mediar toda e

qualquer ação ligada ao Circuito Fora do Eixo em sua cidade. Cabe ao Ponto de

Articulação Fora do Eixo conectar novos agentes interessados em participar da rede,

bem como desenvolver medidas estruturantes capazes de gerar e estabelecer

PONTOS DE LINGUAGENS e PONTOS PARCEIROS.

PONTOS DE LINGUAGEM - São coletivos que participam da Rede Nacional e que

podem se caracterizar como PONTOS DE MÚSICA, PONTOS DE AUDIOVISUAL,

PONTOS DE PESQUISA e etc. Os PONTOS DE LINGUAGEM devem estar

devidamente conectados ao PONTO DE ARTICULAÇÃO FORA DO EIXO.

PONTOS PARCEIROS - São organizações e pessoas de qualquer natureza que

atuam como parceiros da rede em qualquer instância.

10.2. EIXOS TEMÁTICOS - TEMAS NORTEADORES DA REDE

Os eixos temáticos referem-se às frentes de atuação do Circuito Fora do Eixo

em prol do cenário cultural alternativo nacional. As frentes de atuação do CFE se

estendem para as organizações coletivas a partir do contexto exigido de cada

território e desenvolvem a estruturação de projetos e grupos, que envolvem o arranjo

produtivo cultural local. As frentes de atuação devem atender às necessidades do

cenário e de sua cadeia produtiva, concebendo projetos e integrando agentes

colaboradores de toda localidade. São elas que norteiam a atuação política,

econômica, educacional, social, ambiental, musical, audiovisual, de comunicação,

meio ambiente e demais áreas transversais da entidade. As frentes de atuação

gerem a produção e as ações estratégicas da rede tendo ainda o papel principal de

organizar todas as atividades e os próprios coletivos atuantes do Circuito Fora do

Eixo.

10.2.1. COMUNICAÇÃO FORA DO EIXO - Núcleo que trabalha toda a

comunicação do Circuito e no suporte dos pontos fora do eixo desenvolvendo as

Page 67: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

58

redes de mídias independentes locais. A Comunicação FDE trabalha a Rede Social

Fora do Eixo, a Rádio, TV, Redação, Assessoria, Design e Mídia FDE dos projetos

institucionais do Circuito, além de incorporar em cada ponto fora do eixo o mesmo

método de trabalho para o desenvolvimento das ações locais, conectados ao

cenário cultural.

Este núcleo trabalha de forma integrada a partir de vários pontos do país,

tendo como principal centralizador a rede social do Fora do Eixo, onde agentes

culturais ligados ou não à rede podem contribuir para as ações da rede.

10.2.2. EVENTOS FORA DO EIXO - Núcleo de produção de eventos da rede

como Festival Fora do Eixo, Grito Rock, Encontros Regionais Fora do Eixo,

Congresso Fora do Eixo, Observatório Fora do Eixo, Noites Fora do Eixo, Semana

do Audiovisual e etc. Essa frente gestora estimula a produção de atividades nos

pontos fora do eixo que garantem as vitrines e plataformas de circulação, produção,

formação, distribuição e comercialização artística da cadeia produtiva cultural. Em

cada ponto fora do eixo existe pelo menos um evento de grande porte que atende a

demanda dessa frente gestora em prol do cenário cultural local. Essas ações são as

principais plataformas para o lançamento de novos produtos e projetos no mercado

cultural.

10.2.3. CLUBE DE CINEMA - Núcleo de realizadores audiovisuais dos

coletivos da rede, potencializando o cenário cultural alternativo do audiovisual. O

Clube de Cinema estimula os núcleos audiovisuais de cada ponto fora do eixo e

trabalha colaborativamente nas ações do segmento. O Clube de Cinema surge em

2009 durante o II Congresso Fora do Eixo.

10.2.4. PALCO FORA DO EIXO - Núcleo de agentes dedicados à

organização do cenário das artes cênicas. O Palco Fora do eixo, assim como o

Clube de Cinema, promove o desenvolvimento do cenário segmental, aglutinando

agentes de todos os pontos e fomentando a criação de núcleos de artes cênicas nos

mesmos. O Palco Fora do Eixo surge em 2010, sendo a frente mais recente do

Circuito Fora do Eixo.

Page 68: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

59

10.2.5. MÚSICA FORA DO EIXO - Núcleo que reúne agentes musicais como

bandas, músicos e simpatizantes em geral focados no desenvolvimento do cenário

musical nacional. O Núcleo se estende para os pontos fora do eixo afim de mobilizar

os principais a gentes expandindo as redes musicais locais.

10.2.6. FORA DO EIXO AMBIENTAL - Núcleo dedicado às ações

relacionadas ao meio ambiente. O Fora do Eixo ambiental surge em 2010 durante a

reunião do Fora do Eixo Card no festival Fora do Eixo SP a partir da necessidade de

termos ações voltadas para a área ambiental. A perspectiva da frente é trabalhar

projetos que visem a redução, reutilização e reciclagem de materiais tendo um dos

principais focos, a sustentabilidade. A frente desenvolve ações integradas da rede e

potencializa a criação de núcleos afins em cada ponto fora do eixo.

10.2.7. AÇÃO POLÍTICA INSTITUCIONAL FORA DO EIXO - Responsável

pela concepção e elaboração de estratégias junto às frentes gestoras da entidade,

ampliando o link entre as próprias frentes de atuação e os parceiros externos à rede.

A frente deve trabalhar a manutenção do equilíbrio da dinâmica de grupo a partir das

necessidades que cada frente demanda em relação aos seus parceiros estratégicos.

A frente trabalha em especial, a relação com os Pontos de Cultura do Governo

Federal na busca pela ampliação da rede e troca de tecnologias.

10.2.8. FORA DO EIXO CARD - Responsável pelas ações de

sustentabilidade da rede, administra e organiza ações como como mapeamentos,

diagnósticos, pesquisas, planos de trabalho e comerciais, projetos, fundo, moedas

complementares e fluxo entre as diversas frentes no que tange às decisões acerca

dos projetos e atividades a serem executadas. A frente é dividida entre os núcleos

de Pesquisa e Mapeamento, Projetos, Negócios, Fundo e APL (Arranjo produtivo

local - extensão das ações nos pontos fora do eixo) e cada uma tem seu foco de

trabalho específico para a atuação sistêmica na rede.

10.2.9. FORA DO EIXO DISTRO - Frente responsável pelos trabalhos de

distribuição de produtos da entidade como a loja fora do eixo (física e virtual),

bancas fora do eixo, compacto.rec (projeto de distribuição virtual) e qualquer

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60

demanda de distribuição da rede. A Fora do Eixo Distro fomenta a criação de pontos

de distribuição em todos os pontos fora do eixo.

10.2.10. TECNOARTE (TECA) - Frente responsável pelos trabalhos de áudio,

sonorização, palco, PA, luthieria, ensaio, gravação, iluminação, técnica digital,

computação, softwere livre e qualquer demanda referente à tecnica artística da rede.

A TECA também fomenta a estruturação de núcleos afins em cada ponto fora do

eixo. A frente é dividida entre os núcleos de Compartilhamento de conteúdo, Ao Vivo

(palco, som e luz), Estúdios (gravação, ensaio) e Tecnologias livres.

10.2.11. AGÊNCIA FORA DO EIXO - Frente responsável pelos trabalhos de

circulação dos artistas na criação de rotas, catálogo, editais, fechamentos de shows,

espetáculos, propostas comerciais, marketing e qualquer demanda referente a

organização da carreira artística na rede. A frente também potencializa a criação de

núcleo afim em cada ponto fora do eixo.

10.2.12. ESCRITÓRIOS FORA DO EIXO- Frente dedicada ao fomento e

estruturação dos escritórios permanentes, na perspectiva de trabalhar o mercado e a

ação política da rede. Atualmente o Escritório São Paulo, localizado na sede do

Amerê Beta Coletivo tem como principal foco a atuação no mercado cultural,

ampliando as alternativas de sustentabilidade da rede. Já o Escritório Brasília tem a

atuação de política pública como principal ferramenta a ser explorada. A Frente

busca consolidar todas as ações integradas e dos pontos fora do eixo pautados na

expansão do mercado e da política pública cultural nacional.

Todas as frentes elegem coordenadores e suplentes de coordenação para

que haja maior organização e dedicação nas responsabilidades do coletivo. Todos

os membros são coordenadores de alguma frente e tornam-se automaticamente

"base" das frentes que não estejam na coordenação, estimulando o exercício da

horizontalidade. Cada frente possui lista própria administrada por um representante

dos coletivos de ponto de referência regional e pelos respectivos coordenadores.

Todas as discussões e encaminhamentos das listas de cada frente são relatorizadas

quinzenalmente pelo respectivo coordenador, na lista geral da rede. O Regimento

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61

interno (em anexo) elucida mais detalhes referente ao fluxograma do Circuito Fora

do Eixo.

10.3. Frentes de trabalho

10.3.1. Música

Pioneira do ponto de vista de articulação de agentes em todo o Brasil, e a

principal mobilizadora de recursos financiadores de ações e projetos da rede, a

MUSICA FDE impulsiona a circulação de mais de 5 mil artistas e grupos, além de

centenas de produtores e jornalistas em todo o território nacional. Abaixo alguns

números dessa frente:

Turnês Fora do Eixo

27 rotas de circulação de artistas mapeadas em todas as regiões do país.

Noites Fora do Eixo:

5.000 eventos por ano espalhados pelo Brasil

Agência Fora do Eixo (agenciamento de shows e assessoria geral):

Catálogo: 180 bandas e artistas

Distro e Discos Fora do Eixo (distribuição e lançamento de produtos culturais):

70 pontos de distribuição cadastrados

100 parceiros (selos e marcas)

500 produtos catalogados

10.000 produtos culturais distribuídos anualmente

Compacto.rec (plataforma de lançamento e distribuição virtual de artistas)

12 lançamentos por ano

8.000 downloads por ano

Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin):

Mais de 40 Festivais Associados

Mais 60 Festivais mapeados dentro da rede

Festival Grito Rock

5 edições colaborativas

43 dias de festival

Page 71: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

62

Nº DE SEMINÁRIOS, PALESTRAS E/OU WORKSHOPS _70

Nº DE APRESENTAÇÕES _2 mil grupos musicais

Nº DE TURNÊS DE ARTISTAS MUSICAIS _35 turnês com 13 opções de

rotas

PÚBLICO_ 300 mil pessoas

TNB - O Toque no Brasil20 é uma plataforma virtual de agenciamento e

circulação de artistas no formato de rede social, possibilitando a interação e

oferecendo um espaço para que seus usuários divulguem e busquem financiamento

para seu trabalho.

6.500 artistas cadastrados

700 produtores cadastrados

300 eventos cadastrados

Domingo na Casa - Evento com público qualificado, que promove o encontro

de agentes ligados a cadeia produtiva da cultura, com espaço para realização de

shows, intervenções artísticas, debates e reuniões livres.

10.3.2. Cinema e vídeo

Clube de cinema: O Clube de Cinema Fora do Eixo (CdC FdE) surge na

necessidade de organização dos trabalhadores do audiovisual envolvidos na cadeia

produtiva gerada pelo Circuito Fora do Eixo. Baseado no tripé histórico do ciclo

cinematográfico - produção / distribuição / exibição - o CdC reúne realizadores e

exibidores em todo Brasil, conectados pelas plataformas de distribuição de obras

cinematográficas e circulação dos agentes.

TV FDE e Pós TV: A TV FDE produz o conteúdo audiovisual relacionado ao

circuito, esse material inclui a cobertura de shows, eventos, congressos, festivais,

bandas e alimenta a Pós-TV; que é o laboratório de transmissões ao vivo do circuito.

A Pós TV vem transformando o espectador em agente da informação, debatedor, e

20 www.tnb.art.br

Page 72: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

63

mesmo realizador audiovisual. Com programação semanal temas e debates

diversos interagem e se transformam na opinião dos espectadores, através dos

comentários e inserts ao vivo de outras localidades, gerando assim o conteúdo da

µ¶QmR-JUDGH¶¶�GH�SURJUDPDomR��(P�YHUVmR�%HWD�a Pós-TV tem apresentações online

de segunda a quinta.

DF5: A DF5 nasce em 2010 ao se detectar o gargalo na distribuição de filmes

brasileiros independentes e no acesso a esses filmes por parte dos cineclubes. A

DF5 se propõe a distribuir gratuitamente esses filmes e outros produtos conectados

a essa cadeia produtiva sob licenças Creative Commons fomentando a formação de

público, sustentabilidade dos cineclubes e visibilidade dos realizadores. A

organização da equipe da DF5 se da através de tecnologias sociais desenvolvidas

pelo FDE e uma sistematização de acesso e distribuição dos filmes.

- Público total nas exibições em cineclubes, mostras e festiviais: aprox. 5000

pessoas

- Quantidade de filmes distribuidos que foram exibidos: 40

- Total de estados que a DF5 alcancou: 11

- Total de cidades que a DF5 alcançou: 19

- Downloads de filmes da DF5 no período de julho 2010 a junho 2011: 934

CINECLUBES FDE: São mais de 20 cineclubes de todo o Brasil, catalogados

pelo Clube de Cinema Fora do Eixo, que exibem filmes no mais diversos espaços,

para os mais diversos públicos, atingindo desde as crianças das periferias ao público

universitário dos festivais de artes integradas. Em 2011 os Cineclubes FDE

realizaram lançamentos de filmes integrados por todo país, como a Mostra do Filme

Livre 2011 e o lançamento integrado do filme Cartão postal e do clipe Rua augusta,

conectando toda a cadeia produtiva do audiovisual dentro do CdC.

- Média de público mensal dos cineclubes FDE: 1500 espectadores

- Média de sessões por mês: 40 sessões

- Média de filmes exibidos por mês: 110 filmes

Page 73: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

64

SEDA: A Semana do Audiovisual propõe a realização de oficinas, mesas de

debate e mostras, de forma a apresentar e aproximar a linguagem audiovisual do

público jovem em geral. O diferencial da SEDA em relação aos demais festivais de

cinema é seu foco na formação audiovisual através de oficinas de realização,

edição, videotecagem, entre outras.

Em 2011, irão ocorrer cerca de 30 SEDAs em todas as regiões, destacando-

se a SEDA Norte/Nordeste, em Fortaleza/CE, e a SEDA Nacional em Belo

Horizonte/MG.

VJs: É o mais recente projeto do Clube de Cinema, enquadrando-se dentro

do Núcleo Agência e coordenado por Felipe Peçanha. Os VJs @clubedecine

desenvolvem projeções e videoinstalações para eventos, como Noites Fora do Eixo

e Festivais.

AO VIVO: Programa de web TV transmitido ao vivo de segunda à sexta, que

apresenta e entevista bandas e grupos culturais do cenário independente.

FILMES: Aos poucos o Fora do Eixo tem mostrado potencial ao aproximar

realizadores de cinema que enxergam na rede um potencial de difusão de suas

obras e trocas de conhecimento com os outros realizadores presentes no Clube de

Cinema. O Clube de Cinema realiza filmes de longa, média e curta metragem, de

diversos gêneros como videodança, ficção, documentário, videoclipe, institucional,

coberturas, etc.

10.3.3. Artes cênicas

Palco FdE - O objetivo principal do Palco Fora do Eixo é promover, fomentar,

difundir e divulgar manifestações cênicas de grupos/artistas independentes a fim de

desenvolver uma nova forma de se produzir, construir e consumir cultura,

valorizando essas manifestações que propõem a arte não só como entretenimento,

mas também como conhecimento e ferramenta de formação.

Cabaré - 2� ³&DEDUp� )RUD� GR� (L[R´� VXUJH� FRPR� XPD� SURSRVWD� GH� DomR�

freqüente para trabalhar a formação de público, a potencialização da cena local, o

Page 74: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

65

intercâmbio de projetos artísticos e o desenvolvimento da cadeia produtiva. Surge

como uma plataforma de aproximação dos articuladores do Palco Fora do Eixo com

artistas locais, bem como um espaço aberto para as diferentes linguagens que

compõem o Fora do Eixo.

Encontro PalcoFdE - O Encontro Nacional Palco Fora do Eixo possuí o

intuito de reunir agentes, articuladores, parceiros e demais interessados no Palco

Fora do Eixo de diferentes estados do Brasil. Trata-se de um espaço de socialização

e debate anual, criado para promover a reflexão sobre o movimento em si, bem

como a formação dos agentes envolvidos, enfocando aspectos da gestão, da

política, da arte e da cultura.

Circulando - Plataforma que visa o fomento da circulação local de

grupos/artistas cênicos em teatros, casas, espaços culturais e sedes. O projeto

possui o intuito de divulgar as manifestações cênicas de cada cidade

potencializando a troca de tecnologias e experiências. O projeto Circulando objetiva

alimentar a cena local e iniciar um dialogo com os artistas interessados em promover

tours pelo Brasil via Palco FdE.

Tours - As Tours se caracterizam pela circulação de artistas/grupos cênicos

nas macro e micro rotas do Fora do Eixo fundamentadas em pilares da economia

solidária e criativa. Atualmente, é a maior fonte de estímulo e de adesão à Frente de

Linguagem pelos coletivos que integram o circuito, bem como plataforma de

aproximação de outros grupos/artistas independentes ao movimento.

Festivais - Divide-se em duas frentes: Festivais FdE e Festivais específicos

da linguagem. Em ambas frentes o objetivo é abrir pautas do Palco Fora do Eixo em

suas programações com o intuito de fortalecer o sistema de produção e intercâmbio

distinto do padrão mercadológico, capaz de estimular e dar vazão à multiplicidade de

linguagens, ações, empreendedorismos e outras formas de ativismo sócio-cultural.

Catálogo e Casting

Page 75: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

66

#CATÁLOGO - plataforma on-line dos grupos, espetáculos, esquetes,

intervenções, oficinas cênicas (teatro, dança, circo e performance) participantes do

Palco Fora do Eixo.

#CASTING DE ATORES - projeto desenvolvido conjuntamente com o CdC. O

Casting será uma plataforma on-line onde se encontrará os dados de todos os

atores do Palco Fora do Eixo que possuem o interesse de participar de produções

autorais de audiovisual.

10.3.4 Literatura

FdE Letras - A Fora do Eixo Letras (FEL) é a frente do Circuito Fora do Eixo

que busca compreender os elos da cadeira produtiva e criativa literária e, com isso,

expande as formas de democratização à seu acesso, criando e sistematizando

ações, projetos e debates.

Deste modo, a FEL trabalha a palavra nas suas formas mais diversas ±

escrita, falada, visual, sonora, multimídia, interativa - dentre outras. A frente

encampa, para além da palavra-livro, a palavra digital, palavra-visual, palavra-teatro,

palavra-música. Todo este trabalho dentro dos conceitos de cultura digital, economia

solidária e autogestão, característicos de todo o Circuito Fora do Eixo.

OrFEL - O fanzine OrFEL é uma produção colaborativa que reúne autores de

todas as regiões do país. Para participar, podem ser enviados trabalhos de autores

ligados a coletivos FDE, ou não. Sua primeira edição circulou durante o Festival

Grito Rock. A circulação de OrFEL é feita nas versões online e impressa.

Compacto.TXT - O Compacto.TXT é um projeto de lançamento mensal de

obras literárias virtuais em rede com o objetivo de estimular a produção e circulação

de escritores pertencentes à atual cena literária no país. Para participar, cada

coletivo pode indicar até dois autores de sua regional. Em seguida, uma curadoria

feita pela FEL seleciona cinco destes autores e encaminha para a lista nacional. A

partir daí, todos os coletivos podem votar. A revisão textual do trabalho escolhido é

feita pela frente, enquanto diagramação e ilustração da obra são desenvolvidas pelo

Núcleo de Poéticas Visuais Fora do Eixo.

Page 76: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

67

Editora - Ainda em suas primeiras discussões e planejamento, a Editora FEL

planeja publicações impressas, além de online, para autores ligados ao Circuito Fora

do Eixo. Ela também se une ao trabalho desenvolvido pelo Centro Multimídia na

elaboração da Revista FDE e aos projetos e mapeamentos de obras da UniFDE.

Além disso, a Editora tem mapeado obras para circulação junto às banquinhas da

Distro.

Video Poemas - O projeto é uma parceria entre FEL e Clube de Cinema.

Escritores podem enviar suas poesias para a produção audiovisual que é escoada

para toda a rede. Estes vídeo-poemas podem fazer parte da DF5, a distribuidora de

filmes que disponibiliza seu acervo para exibições on-line e download

gratuitamente, além de integrar mostras e sessões de cinema de diversos festivais

do Circuito Fora do Eixo, através da ocupação da FEL nestes eventos.

Varal da Arte - O projeto expõe durante os eventos do Circuito obras

(poesias, fotografias, gravuras, entre outros), enviadas por correio ou email para os

locais onde a ação vai acontecer. Para sua estrutura, basta barbante, prendedores e

a criatividade dos artistas. A ação reúne em um mesmo local, grande variedade de

autores e estilos literários, possibilitando um intercâmbio tanto na esfera local,

quanto regional e nacional. Adaptações para o Varal também tem sido feitas, como a

³ÈUYRUH´� HODERUDGD� GXUDQWH� R� )HVWLYDO� )RUD� GR� (L[R� GH� %HOR� +RUL]RQWH�� RQGH� DV�

poesias eram penduradas nos galhos de uma árvore localizada no local ao evento.

Sarau - O sarau é uma ação local que pode acontecer nos coletivos, assim

como as Noites Fora do Eixo. Nele, poesias autorais são recitadas, além de

músicas e intervenções cênicas. A divulgação e transmissão por twitcam recebe

apoio da FEL. O sarau também pode acontecer após os observatórios propostos

pela frente, cRPR� LQWHUYHQomR� DUWtVWLFD� H� DSUHVHQWDomR� ³SUiWLFD´� GR� WUDEDOKR� GD�

frente. Autores de todo o circuito podem enviar suas obras por internet, para que

elas sejam recitadas durante o evento.

Twitadas poéticas - As twitadas poéticas são feitas através de tweets e

UHWZHHWV�GH�³SRHVLDV�StOXODV´��TXH�VmR�UHFLWDGDV�GXUDQWH�RV�HYHQWRV�)'(��$�SULPHLUD�

Page 77: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

68

ação aconteceu durante o Festival Fora do Eixo no Rio de Janeiro, em parceria com

o @poemese. Em seguida, foi a vez do Coletivo Ajuntaê (Campinas/SP) puxar a

ação com vídeo-poemas que eram twitados para projeção durante a festa de

aniversário de um ano do coletivo #ajuntae1Ano. As próximas twitadas acontecem

durante o Congresso FDE Sul (Porto Alegre/RS) e no Encontro de Cultura Livre de

Ouro Preto, em parceria com o Coletivo Muzinga.

Caixinha de Poesias - A caixinha de poesias é uma compilação de obras que

tem atualização constante. O objetivo é armazenar estas obras para que elas

possam ser utilizadas em ações de outras frentes, especialmente o Poéticas Visuais.

Os trabalhos enviados para a caixinha já foram utilizados para o Varal da Arte, as

Twitadas Poéticas, Intervenções nas paredes de um Congresso Universitário, entre

outros.

10.3.5. Banco FdE

O Banco FdE tem seu programa baseado em três pilares: UniFdE, Fundo e

Nós Ambiente. Através dessas três linhas de ação, busca criar um arranjo que

integre de forma transversal o fomento de ações de formação, reeducação

socioambiental, captação e acesso, visando ampliar o escopo da gestão de recursos

em espécie e de moeda social que baseia o sistema econômico Fora do Eixo Card.

Cubo Card

O grande destaque do CFE foi a constituição do Cubo Card, uma moeda

social dirigida a todos os participantes do Circuito, seja um produtor, um músico ou

alguém da comunidade que queira participar do processo de desenvolvimento social

e econômico da cultura locaO�� 6HJXQGR� R� VLWH� GR� )G(� ³$� LGHLD� GR� &XER� &DUG� p�

minimizar os efeitos negativos das flutuações do fluxo do dinheiro convencional,

pautando as trocas solidárias com fins de desenvolver a cadeia produtiva da cultura

local. O modelo é um substituto do tradiciRQDO� HVTXHPD� GH� ³EURGDJHP´� TXH�

DFRQWHFLD�TXDQGR�DV�WURFDV�HUDP�LQIRUPDLV�H�QmR�VLVWHPDWL]DGDV´��GHVWDFD�

Page 78: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

69

Com a constituição do Espaço Cubo21, em 2002, em Cuiabá (MT) e com o

lançamento do programa de desenvolvimento do setor da música independente,

como se propôs o coletivo desde seus primórdios, o Cubo Card é lançado, em 2004.

³1R� GHFRUUHU� GRV� DQRV�� D� PRHGD�� TXH� WLQKD� FDUiWHU� FRPSOHPHQWDU�� IRL� JDQKDQGR�

cada vez mais autonomia e eficiência a partir das pesquisas e experimentos

UHDOL]DGRV�QD�SUiWLFD´��GHVWDca a página eletrônica.

1R� FRPHoR� D� ³PRHGD´� HUD� VLVWHPDWL]DGD� XQLFDPHQWH� DWUDYpV� GD�

contabilização de créditos, computados a partir de serviços, compras e aluguéis de

produtos. Os caros aluguéis de equipamentos de som eram substituídos por

aluguéis em cDUGV�� 2� TXH� HP� RXWURV� WHPSRV� VHULD� DSHQDV� XP� ³HPSUpVWLPR´� VH�

constituiu numa prática comercial em que o dono do equipamento pode usufruir de

serviços como ensaios, gravações, assessoria de imprensa, entrada em eventos e

mais um leque de outros serviços e produtos.

A partir de 2008, o Cubo Card passa a existir enquanto material físico,

impresso em papel moeda e com valor em várias localidades integradas ao Circuito

Fora do Eixo. Vale ressaltar que desde a concepção do sistema de crédito, o

orçamento de todos os projetos desenvolvidos pelo Espaço Cubo foram viabilizados

com boa parte do percentual orçamentário, via Cubo Card, o que inclui pagamento

de salários, serviços e produtos de consumo, ainda segundo o site fora do Eixo.

Existem ainda outras quatro moedas sociais criadas por outros coletivos e que são

aceitas na rede: o Palafita Card (do Amapá, criado pelo coletivo Palafita), o Goma

Card (de Minas Gerais, criado pelo coletivo Goma), a Lumoeda (de Pernambuco,

criada pelo coletivo Lumo), o Marciano (de Ribeirão Preto, criado pelo Massa

Coletiva) além do Cubo Card criado em Cuiabá.

Fundo FdE

Vem para acompanhar e gerir a movimentação financeira do Circuito Fora do

Eixo, criando ações para diminuir as diferenças com estratégias de investimento,

21 Ponto fundador do Fora do Eixo.

Page 79: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

70

gerindo o financeiro e o Card como um caixa coletivo nacional, nivelando as

diferenças locais.

Pregão FDE - Processo de seleção para prestação de serviços para o Fora

do Eixo.

Conta Comum - A Conta Comum é uma linha de crédito do Fundo FdE que

busca auxiliar no financiamento das ações da rede a partir de empréstimos dos

pontos e parceiros do fora do eixo. O ponto que se integra, disponibiliza

empréstimos em R$ ou em Card (serviço/produtos) e se torna apto a receber os

empréstimos do Banco FdE. O ponto pode solicitar um empréstimo para o

desenvolvimento de algumas atividades no seu Festival, pagar os juros em Card e

efetuar o pagamento após 60 dias. O ponto que empresta, acumula juros em Card e

amplia seu capital de giro. O CONTA COMUM abrange todas as formas de

empréstimo: desde um CNPJ até um computador!

10.3.6. Ensino e pesquisa

Universidade FdE - A UniFdE é o projeto de formação do CFE que tem como

foco o fortalecimento, capacitação e organicidade da rede. O projeto busca a

construção de metodologias e ambientes de formação livre que promovam o

estreitamento das relações, o trabalho colaborativo, o caixa coletivo, a consciência

política, o desenvolvimento criativo, a disciplina e a organização do arranjo criativo

cultural nacional.

Cartilhas - Ferramenta de sistematização e difusão de tecnologias

desenvolvidas pela rede. Hoje existem cartilhas de todas as frentes temáticas do

Circuito Fora do Eixo, abrangendo temas desde como montar uma banquinha,

transmitir um evento ao vivo até como implementar uma moeda complementar em

seu coletivo.

Imersão FDE - Projeto de formação livre, pautado na realização de encontros

e reuniões presenciais para avaliação, diagnóstico e planejamento, podendo ser

feita para um coletivo, uma regional ou uma frente de trabalho.

Page 80: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

71

Colunas - Projeto de formação no qual agentes da rede viajam realizando

reunioes de planejamento com os coletivos da rota, bem como com parceiros locais.

Vivência FDE - Programa de "estágio" baseado na troca de experiências de

trabalho e convívio em ambientes cognitivos de autoformação, onde a pessoa

integra a equipe de um evento ou coletivo por tempo determinado com um plano de

trabalho definido conforme as necessidades e interesses conjunturais da rede.

Observatórios - Projeto de formação que consiste na realização de reuniões,

encontros, oficinas, palestras ou debates transmitidos online, com participação de

público presencial e virtual. Os Observatórios são eventos abertos a todos, com

objetivo de qualificar e refletir sobre os processos e temas que circundam a rede,

bem como estabelecer parcerias com consultores e especialistas das áreas e temas

abordados.

Compacto.TEC - Ferramenta de gestão colaborativa desenvolvida pelo

Circuito Fora do Eixo, buscando otimizar o planejamento, gestão e produção

cultural,, compilando todas as informações necessárias para a gestão, da pré-

produção à prestação de contas. Além destas informações, o Compacto.TEC

também quantifica todo o trabalho investido na construção das ações, o que permite

a contabilização do valor real dos projetos, através da soma da moeda corrente e da

moeda social. A partir dos indicadores gerados é possível extrair diagnósticos de

processos de produção, que poderão ser utilizados para avaliação e qualificação do

trabalho do núcleo ou coletivo. Assim, incentivamos todos os festivais a utilizarem

essa ferramenta, dando suporte em sua implementação e organização.

Wiki FDE /Fora do Eixo TEC - Banco de Tecnologia colaborativa do Fora do

Eixo, contendo informações sobre os principais projetos, sobre a própria rede e seus

coletivos, alem de seus conceitos.

10.3.7. Ambiental

Page 81: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

72

Nós ambiente - O Nós Ambiente vem pra construir o desenvolvimento

socioambiental como peça fundamental para gerar sustentabilidade. Surge com o

objetivo de desenvolver e estruturar o tema socioambiental dentro da rede. O núcleo

dialoga o tempo inteiro com a UniFE e o Card.

Cardápio Nós Ambiente: Sistematiza ações e conceitos socioambientais, a

fim de ampliar o acesso e adesão ao tema. É construído de maneira colaborativa em

formato de cartilhas e observatórios. A ideia é que o cardápio sirva de base para o

desenvolvimento socioambiental dentro das sedes dos coletivos e eventos culturais.

Esta proposta destina-se a reduzir ou anular possíveis impactos

socioambientais causados pelo circuito. O Nós Ambiente fomenta o consumo

consciente e o senso crítico perante os problemas socioambientais contemporâneos.

A rede estabeleceu alguns princípios básicos a serem disseminados entre seus

associados, são eles:

#REDUÇÃO E REUTILIZAÇÃO (NÃO AOS DESCARTÁVEIS) - A mudança

do material utilizado nas ações do evento é fundamental pra otimizarmos melhor os

recursos naturais que dispomos, sem gerar desperdícios e excessos. Medidas

simples como optar por canecas ou copos retornáveis ao invés de descartáveis,

assim como pratos, garfos, sacolas / bolsas, ingressos permanentes, garrafas.

ideias: produzir sacolas/bolsas com banners que não são mais necessários;

disponibilizar filtro com galão de 20 litros e garrafinhas retornáveis no camarim para

os artistas; produzir e distribuir pelo espaço bituqueiras feitas com garrafas pet.

#COLETA SELETIVA - A Coleta seletiva propicia a separação do lixo

reutilizável, gerando oportunidades estratégicas para o desenvolvimento de

parcerias, renda e contrapartida . Um Festival produz uma grande quantidade de

resíduos. A coleta seletiva desse material, otimiza, organiza e diferencia o espaço,

garantindo produtos que podem ser comercializados gerando renda para o próprio

produtor do evento e/ou de um parceiro.

#BRECHÓ CULTURAL - A proposta é apropriar do tradicional brechó junto

com a banquinha de distribuição para despertar o consumo consciente. Muitos

Page 82: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

73

objetos que estão em desuso para alguns, podem ser reutilizados e voltar para a

casa de outros. Uma maneira sustentável de consumo, contra a obsolescência

planejada que sustenta a economia vigente.

#VAMOJUNTO! - Projeto do Nós ambiente que visa estimular o uso de

caronas para diminuir a quantidade de veículos que emitem gás carbônico e

poluição sonora.

#COMPOSTAGEM - Ensina passo a passo como fazer e dar manutenção a

uma composteira urbana com minhocário.

#TROQUE O CARRO PELA BICICLETA - O estímulo à utilização da bicicleta

ao invés do carro vem sendo fomentado no Brasil desde 2004, quando o Ministério

das Cidades criou o Programa Brasileiro de Mobilidade pra Bicicleta. Os números de

vias e ciclovias para o uso das bikes cresceram significativamente desde então. Na

dinamarca, o uso da bicileta é intenso e o país é um dos que está com um dos

maiores índices de felicidade.

#CARBONO ZERO - Contabilizar carbono gerado pelo festival e recuperar

áreas degradadas da região, através desta ação pode-se fazer parcerias com

empresas e/ou secretarias.

#PRESERVAÇÃO LOCAL - Disponibilizar serviços e produtos da região (ex:

pinga artesanal, açai, pão de queijo, etc) para fomento e valorização da produção

local. Além de garantir particularidades da região para o apreço de um público

ampliado, promove-se um mercado interno onde o que se extrai é retroalimentado

para a própria região.

#DICAS DE MANUTENÇÃO - Rede hidráulica: para evitar vazamentos e o

GHVSHUGtFLR�GH�iJXD��5HGH�HOpWULFD��SDUD�HYLWDU�ILRV�GHVFDVFDGRV�H�³UHPHQGRV´�IHLWRV�

indevidamente, visando a segurança do público, a redução do desperdício e do valor

pago pela energia elétrica e o aumento da potência do palco; Se houver banheiros

químicos, contratar empresas credenciadas junto aos órgãos regulamentadores; Se

houver ar-condicionado: Do número de aparelhos coletar a água de condensação.

Page 83: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

74

Elaborar e ajustar um sistema de coleta da água de condensação e usar na lavagem

dos banheiros e palco, por exemplo; Filtro com galão de 20 litros e garrafinhas

retornáveis no camarim para os artistas.

#ENERGIAS ALTERNATIVAS - Proposta de fomento a utilização de energia

alternativa vindas de recursos naturais como sol, vento, chuva, marés e calor, que

são renováveis (naturalmente reabastecidos). A percentagem das energias

renováveis na geração de eletricidade é de cerca de 18%, com 15% da eletricidade

global vindo de hidrelétricas e 3% de novas energias alternativas.

10.3.8. Multimídia

Centro Multimídia - O Centro Multimídia Fora do Eixo (CMFdE) reúne

agentes da cadeia de produção cultural independente, conectando-se em trabalhos

colaborativos de abrangência nacional com um objetivo específico principal: gerar

novos agentes de mídia livre, além do objetivo macro, que é comunicar ações do

Circuito Fora do Eixo para o resto Brasil e do mundo. A intenção é promover a

formação de opinião por parte dos agentes da cultura independente e manter o

estímulo ao debate em consonância com a prática da produção multilinguagem.

Alguns Entre os temas norteadores do Eixo estão: Redes sociais, Mídias livres e

Produção de conteúdo, gerando os seguintes produtos:

- Compacto.Onda - Reunião de planilhas que auxiliam a sistematização do

conteúdo a ser publicado em redes sociais, sites oficiais, além do manejo do clipping

e mapeamento de novas oportunidades na redes. Alem disso há espaço para um

relatório simples da divulgação.

- Compacto.Mailing - Reunião de planilhas para coleta, manuntenção e

atualização do banco de e-mails dos coletivos, frentes e ações. Cada aba é

direcionada para uma categoria (público, imprensa, parceiros etc) sugeridos e a

criação da planilha é acompanhada de uma reunião com o CMM para novas abas e

especificações dos coletivos.

Page 84: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

75

- Newsletter Comunica - Newsletter nacional do Circuito, realizada pelo

CMM, sob gestão de Verônica Boaventura (MG). As pautas são coletadas pelo

Banco de Pautas, compartilhadas com todas as frentes através da lista nacional,

assim como os deadlines e as chamadas para a redação colaborativa. O corpo de

redatores busca cobrir todas as frentes e ações específicas da semana.

- Programa-se (CAFE SP) - Newsletter específica sobre eventos da Casa

Fora do Eixo São Paulo, enviada para mailing coletado em eventos realizados no

Studio SP e os #DomingonaCasa.

- Newsletters Regionais - Realizada no mesmo formato do Comunica, só

que focado nas regionais Norte, Nordeste, Sul e MG/ES. As matérias são baseadas

em eventos, planejamentos, ações estratégicas e outros assuntos indicados pelos

coletivos da regional.

- Cidadão Multimídia - Projeto criado colaborativamente no terceiro

Congresso Fora do Eixo, consiste em estimular todos os integrados ao Fora do Eixo

a produzir conteúdo em todas as mídias, independente de ser originado da

comunicação ou não. O objetivo, além de ter muito material criado sobre o Circuito

Fora do Eixo, é exercitiar a criação de contéudo livre e registrar as várias visões que

temos da experiência de vida que o CFE nos proporciona. Esse material não é

publicado num site central e sim distribuido em todos os blogs, sites e redes sociais

dos foradoeixo.

- Portal Fora do Eixo - Principal aglutinador de conteúdo informativo sobre

ações do Fora do Eixo. Já esteve no ar com duas versões, a primeira inclusive

sendo contemplada como um Ponto de Mídia Livre. É o foco de atuação do núcleo

de redacão do Fora do Eixo, mas tem contribuições de todos os setores, seja pra

matérias no portal principal, seja em seu site oficial que será publicado no Portal.

- Redes Sociais - Assim como o Portal, as redes sociais do Fora do Eixo

(atualmente focados no Facebook e Twitter) o CMM é responsável pela editoria das

mesmas. Separar pautas e programar postagens estão entre as responsabilidades

do Centro, além de estimular o uso das redes em cada um dos coletivos, inclusive

Page 85: universidade de são paulo escola de comunicação e arte

76

contando com eles para inserções das cidades nos veículos nacionais, garantindo

assim a sua valia em território nacional.

- Clipping - Documento que junta matérias publicadas sobre um determinado

assunto, podendo ser apresentado em planilha, documento de texto ou

apresentação em power point. Além de item imprescindível na pós produção do

setor, também faz parte da prestação de contas na área de Projetos do Banco Fora

do Eixo.

- Cobertura Colaborativa - Um dos cases mais importantes do Projeto M.I., é

também uma das ações mais intuitivas realizadas pelos núcleos de comunicação do

Fora do Eixo. Consiste em convidar agentes de comunicação e planejar a cobertura

integrada e colaborativa das ações do evento nas cinco áreas da comunicação -

Rádio, Tv, Divulgacão, Redação e Design. Os produtos da cobertura são publicados

e publicizados em tempo real pelas redes sociais do ponto e do Fora do Eixo.

- Projeto M.I. - O Centro Multimídia estimula a criação de pontos de mídias

colaborativas, o projeto M.I. - Mídias Integradas, iniciado em Cuiabá. A partir da

reunião convocatória, acompanhamos a sistematização, planejamento e criação do

organograma do núcleo colaborativo, que conta como base na cidade, o Centro

Multimídia do Ponto Fora do Eixo local. O projeto visa atender os eventos e a própria

base de comunicação de cada uma das cidades.

10.3.9. Política

PCult - Frente responsável pela articulação política do Circuito Fora do Eixo,

aglutinando diversos agentes da cadeia produtiva artística, social e cultural na

perspectiva de incluir a cultura no centro do debate político do Brasil. A frente já

desenvolveu uma pesquisa de investimentos culturais no Brasil, por Estado,

ganhando grande repercussão na mídia e a mobilização de diversos debates

transmitidos ao vivo com candidatos a cargos eletivos no Brasil, nas eleições de

2010.

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77

Os Pcults, organicamente, tem se estruturado em frentes estaduais e

municipais que buscam aglutinar um contingente de atores sociais que atravessem a

área cultural e que pesquisem e trabalhem por políticas públicas para a área. O

acompanhamento da atividade parlamentar, das leis em trâmite, a organização de

Frentes Parlamentares de Cultura nas Assembléias e Câmaras e todas atividades

decorrentes das ações e debates de política cultural.

Nacionalmente, o Pcult constitui de uma equipe em Brasília que acompanha a

Frente Parlamentar Mista da Cultura, Comissões de Educação e Cultura e Ciência e

Tecnologia, organiza e participa de seminários de política cultural e contribui com a

formação política dos Pcults estaduais e municipais.

O PCult também integra o projeto Unicult - Universidade da Cultura Livre,

composto por diversos grupos e movimentos em torno de chancelas e metodologias

de formação em ambiente de educação não-formal.

10.3.10. Poéticas Visuais

Frente responsável pela articulação das artes visuais, aglutinando diversos

agentes e suas mais variadas vertentes. A Frente de Artes visuais é responsável

pela concepção visual de todas as ações da rede.

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78

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estamos na era do conhecimento, numa sociedade baseada no fluxo das

informações e não mais na quantidade de bens produzidos. Nesse cenário, alguns

princípios do ser humano estão sendo transformados e a revolução digital se

apresenta como a propulsora de uma nova ordem, onde o conhecimento deve ser

livre e livremente compartilhado.

Para as políticas culturais vem o desafio da construção coletiva,

compartilhada: é preciso ousar, abrir os caminhos para que os sujeitos se

reinventem, se banhem no diverso, construam sua subjetividade de olho no

universo, expandindo os limites do criar, do existir. Não existe mais espaço para

políticas culturais vindas de cima; a prática cultural só faz sentido quando construída

em conjunto, e os coletivos parecem o ambiente social ideal para essa construção

de forma não hierárquica, onde os meios e os fins são construídos e reconstruídos

na prática cultural diária, na comunicação direta entre os sujeitos, sem cartilhas ou

formulas.

Os sujeitos estão paulatinamente tomando as rédeas do desenvolvimento

cultural, as trocas se intensificaram, os sujeitos estão mais ativos, a

interculturalidade está sendo vivenciada de forma cada vez mais intensa. Às

políticas culturais cabe ampliar e intensificar essas trocas, essa comunicação, abrir

as possibilidades de expansão mental colocando os hubs dessa rede para circular,

criando novas conexões, novos agir, novos criar. O crowdsourcing promove essa

comunicação, coloca a multidão para trabalhar junto, faz os conflitos virem à tona,

constrói ambientes de troca, de colaboração, de aprendizado, faz questões que à

primeira vista pareciam insolúveis se tornarem triviais.

O crowdfunding é uma ferramenta também promissora, ao inverter as

estruturas da indústria cultural e colocar nas mãos dos usuários finais o poder de

decidir o que quer consumir, este modelo trás inúmeras possibilidades.

Uma delas, mais palpável, é que este poder, amplamente exercido, poderia

nos livrar da possibilidade de dirigismo cultural por parte de agentes culturais

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79

públicos ou privados, o que é com certeza um cenário utópico, porém, não

irrealizável.

Um ponto problemático é que, por não haver nenhum tipo de regulação, a não

ser a oferta de projetos e a vontade dos agentes culturais que gerenciam essas

plataformas, poderíamos cair num afunilamento onde projetos que poderiam ser

bancados por outras fontes acabariam por esgotar o sistema centralizando recursos,

o que pelo menos até agora não tem sido observado, e considerando o fato de este

ser um sitema baseado no digital, o termo esgotamento se mostra um tanto

deslocado, dada a própria natureza da rede.

Fora do Eixo

A rede de coletivos FdE nos mostra uma forma interessante de produzir

cultura através de uma rede de coletivos culturais que utiliza largamente as redes

digitais para seus propósitos. O uso das redes digitais possibilitou à rede FdE a

organização de agentes culturais por todo o país, e a articulação entre estes de

forma a agilizar os processos e coordenar equipes de trabalho, criando um ambiente

de colaboração no nível nacional. A cultura digital, tema do terceiro congresso de

cultura digital, que acontecerá no Rio de Janeiro entre os dias 4 e 6 de dezembro, é

tema recorrente entre os associados da rede. Existe uma forte influencia da cultura

hacker na rede, de forma a que os princípios da filosofia hacker, como o

compartilhamento de informação, a lealdade e a igualdade são largamente

empregados. O FdE trabalha em consonância com as principais entidades e grupos

coletivos do pais, sobretudo os ligados à causa ambiental, da cultura digital, do

movimento de software livre, entre outros. Esse relacionamento faz com que a rede

tenha um alto nível de eficiência, já que as principais ações são realizadas

coletivamente, e o trabalho dos agentes acaba diluído entre vários participantes,

agilizando assim todos os processos.

Dentre os princípios que regem a organização do Circuito Fora do Eixo estão

o da colaboração, o da sustentabilidade, da economia solidária, da diversidade. Sua

carta de princípios (anexa) p�FODUD��³2�&LUFXLWR�)RUD�GR�(L[R�p�XPD�UHGH�FRODERUDWLva

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80

e descentralizada de trabalho constituída por coletivos de cultura espalhados pelo

Brasil, pautados nos princípios da economia solidária; do associativismo e do

cooperativismo; da divulgação, da formação e intercâmbio entre redes sociais; do

respeito à diversidade, à pluralidade e às identidades culturais; do empoderamento

dos sujeitos e do alcance da autonomia quanto às formas de gestão e participação

em processos sócio-culturais; do estímulo à autoria, criatividade, inovação e

renovação; da democratização quanto ao desenvolvimento, uso e compartilhamento

de tecnologias livres aplicadas às expressões culturais e da sustentabilidade

SDXWDGD�QR�XVR�GH�WHFQRORJLDV�VRFLDLV´�

Por trabalharem em regime de caixa único, na prática, todas as ações da rede

têm seus custos e lucros compartilhados; não há no grupo uma escala de valores do

WLSR�³XP�PDUFHQHLUR�JDQKD�WDQWR�H�XP�DUWLVWD�WDQWR´��WUDEDOKRV�ItVLFRV�H�LQWHOHFWXDLV��

por assim dizer são tratados de forma igualitária, e os resultados do trabalho

coletivamente construído são divididos também dessa forma. O uso de moedas

sociais ajuda nesse sistema, pois a maior parte dos serviços prestados pelos

integrantes da rede é paga em moeda social, que pode ser trocada por reais a

qualquer momento. O uso das moedas sociais tem por efeito manter a circulação de

valores entre os membros da rede e seus parceiros, a maioria deles, outros

empreendimentos baseados na economia solidária, mas também empresas privadas

e o poder público. Muitos fornecedores de serviços e produtos externos à rede se

associaram e aceitam as moedas sociais geridas pelo FdE. Até contas de luz e água

são eventualmente pagas em moeda social em algumas cidades do país, mediante

acordos entre fornecedores e os coletivos associados.

Existem criticas ferrenhas de artistas e associações de artistas ao modelo

empregado pelo FdE para a remuneração de artistas com as chamadas moedas

sociais. Estes artistas dizem que este tipo de prática, em ultima instancia, legitimaria

uma prática antiga no mercado, a de não remunerar os artistas com o argumento de

que estes estariam ganhando visibilidade para seus trabalhos. Pablo Capilé, um dos

idealizadores do FdE, em entrevista a Oona de Castro (2011), é categórico ao

rebater as críticas: ³6HPSUH� UHPXQHUDPRV�DUWLVWDV��0DV�GHIHndemos que o artista,

assim como o produtor ou qualquer agente empreendedor, deve saber investir pro

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81

seu negócio dar certo sem achDU� TXH� WRGR� UHWRUQR�p� LPHGLDWR´�� GHIHQGHQGR�R� XVR�

das moedas sociais para a remuneração de artistas.

Uma prática largamente utilizada pelo FdE é o da abertura de todo o tipo de

dados sobre suas ações, desde dados financeiros até planilhas de escala de

envolvidos nos festivais promovidos pelo grupo, prática que faz parte do que eles

chamam de ³WUDQVIHUrQFLD� GH� WHFQRORJLD� VRFLDO´� ³QLYHODPHQWR� GR� GHEDWH´� ou

³FRPSDUWLOKDPHQWR� GH� LGHLDV� H� FRQKHFLPHQWRV´. Essa prática contribui para que

coletivos, parceiros ou não da rede, possam se espelhar em seus ações e possam

viabilizar suas próprias propostas. Essa é outra das grandes contribuições de

modelos coletivos: o compartilhamento de experiências.

A rede atua também na formação de agentes culturais, com cursos e oficinas

nas áreas de produção, administração, comunicação e sustentabilidade. Essas

ações objetivam alimentar a cadeia do FdE com agentes preparados e também

alimentar a cadeia da cultura no país como um todo.

As moedas sociais utilizadas pelo circuito não são um sistema alternativo,

mas complementar à economia. As moedas são produzidas, distribuídas e

controladas por seus usuários. Assim, seu valor não está nela própria, mas no

trabalho que pode fazer para produzir bens, serviços, saberes. Essas moedas não

têm valor até que se comece a trocá-as por produtos ou serviços.

Cinco dos cerca de 50 coletivos integrados possuem moedas

complementares em papel, mas mesmo nestes coletivos onde não existe a moeda

física, a lógica de contabilizar força de trabalho e organizar trocas é o que prevalece.

Cada coletivo tem um organograma com as funções dos integrantes e as redes de

parcerias, um cardápio de serviços, para visualizar o que se tem a oferecer e facilitar

as trocas, em uma tabela de horas trabalhadas. Os reais e as moedas

complementares que circulam passam por um caixa coletivo e existe também um

fundo nacional, em que os coletivos que já estão estruturados investem para

subsidiar ações institucionais da rede ou apoiar ± em forma de empréstimo ± os

coletivos que estão começando. Isso explica também o funcionamento da Casa Fora

do Eixo (CAFESP), em São Paulo. Com um orçamento avaliado em R$ 50 mil

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82

mensais, a casa é bancada pela rede. Cada hora trabalhada para o Circuito Fora do

Eixo equivale a FDE$ 20,00.

Segundo Bandeira e Castro (2011),

Que a sustentabilidade do Circuito não está apenas apoiada em

questões como patrocínios, cachês e cards está claro. Mas além de

formação, força de trabalho e capacidade de gestão, um dos

aspectos fundamentais para sustentabilidade do Circuito ± e bem

menos lembrados em entrevistas, textos, artigos e reportagens sobre

ele ± é a sua legitimidade. Essa legitimidade passa pela conquista de

formadores de opinião, pesquisadores, gestores públicos, atraídos

pelo esforço dos integrantes do circuito, articulados em rede e

ocupando espaços estratégicos, nos quais apresentam um modelo

que tem chave na inovação ± como a carta de princípios do FdE

ressalta. Na fase atual do capitalismo, a criatividade e a inovação

não são valorizados somente na criação artística, mas no modo de

produção como um todo.

Baseados na proposta de criar novos mercados e inovar na maneira produzir

e compartilhar tecnologia social, o FdE vem ampliando cada vez mais o seu leque

de ações, estabelecendo relações complexas, participando de novos ambientes e

consequentemente se abrindo a novos desafios e conflitos. O FdE está testando os

limites da democratização da cultura, alimentando o ambiente cultural brasileiro com

uma explosão de novos artistas, que pouco a pouco vão deixando de depender da

rede e ganhando asas. O Fora do Eixo pratica assim, uma política cultural horizontal,

ao mesmo tempo anárquica e altamente organizada, participativa e transparente,

que não se envergonha em manter relações tanto com o Estado quanto com a

iniciativa privada, demonstrando que a era das redes tem possibilidades que vão

muito além do que podemos prever.

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83

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89

organiza em sub redes autônomas, operantes em esferas Local, Estadual, Regional e Nacional.

1.1 - Ponto de Articulação Fora do Eixo

São movimentos ou organizações sem fins lucrativos responsáveis por mediar toda e

qualquer ação ligada ao Circuito Fora do Eixo na sua cidade. Cabe ao Ponto de Articulação

Fora do Eixo conectar novos agentes interessados em participar da rede, bem como

desenvolver medidas estruturantes capazes de gerar e estabelecer PONTOS DE

LINGUAGENS e PONTOS PARCEIROS. Cada cidade pode ter somente um PONTO DE

ARTICULAÇÃO FORA DO EIXO e mais do que um PONTO DE LINGUAGEM E PARCEIRO.

1.2 - Ponto de Linguagem Fora do Eixo

São organizações informais ou formais de qualquer natureza jurídica, que participam da

Rede Nacional e que podem se caracterizar como PONTOS DE MÚSICA, PONTOS DE

AUDIOVISUAL, PONTOS DE PESQUISA e etc. Os PONTOS DE LIGUAGEM devem estar

devidamente conectados ao PONTO DE ARTICULAÇÃO FORA DO EIXO que tem a chancela e

a autonomia local para gerenciar as parcerias. Qualquer divergência ligada a possíveis

parcerias locais devem ser reportadas e debatidas com os COLEGIADOS DE REFERÊNCIA da

sua instância da sua respectiva Instância, que ajudarão o coletivo local a mediar qualquer

situação conflituosa.

Os PONTOS DE LINGUAGEM podem participar de reuniões e ambientes deliberativos de sua

linguagem, virtuais ou presenciais, em todas as esferas, sendo-lhes concedido o direito de

voz e de voto. Poderão também participar como ouvintes das reuniões referentes às

demais linguagens ou temas, porém sem direito a voto, em conformidade com o

item1.7.2.6.

1.3 - Ponto Parceiro

São organizações informais ou formais de qualquer natureza jurídica, que participam da

Rede Estadual e que podem se caracterizar como PONTOS DE DISTRIBUIÇÃO, PONTOS DE

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90

MIDIA, PONTOS DE PESQUISA e etc. Os PONTOS PARCEIROS devem estar devidamente

conectados ao PONTO DE ARTICULAÇÃO FORA DO EIXO que tem a chancela e a autonomia

local para gerenciar as parcerias. Qualquer divergência ligada a possíveis parcerias locais

devem ser reportadas e debatidas com o PONTO DE ARTICULAÇÃO MUNICIPAL. Caso a

situação não seja resolvida, o ponto de articulação municipal pode recorrer ao COLEGIADO

ESTADUAL em primeira instância, COLEGIADO REGIONAL em segunda instância e em último

caso ao COLEGIADO NACIONAL. Os PONTOS PARCEIROS podem, mediante solicitação e

aprovação em quaisquer instâncias deliberativas pelo Ponto de Articulação Fora do Eixo,

participar de reuniões e ambientes deliberativos estaduais - virtuais ou presenciais -

sendo-lhes concedido o direito de voz e de voto. Poderão também participar como

ouvintes das reuniões referentes às instâncias deliberativas nacionais, porém sem direito a

voto, em conformidade com o item 4.2.6.

1.4 ESCRITÓRIOS

1.4.1 Nacional - O Escritório Fora do Eixo é formado por uma comissão nacional de execução das atividades institucionais do Circuito Fora do Eixo. A comissão é formada pelos integrantes dos coletivos que tem o maior investimento de força de trabalho na rede. 1.4.2 Estaduais - Os Escritórios FDE estaduais são formados por comissões com integrantes dos coletivos que mais investem força de trabalho no estado, atendendo as demandas institucionais estaduais.

1.5 - Redes (MUNICIPAL, ESTADUAL, REGIONAL E NACIONAL)

São formadas por PONTOS FORA DO EIXO DE ARTICULAÇÃO, LINGUAGEM E PARCEIROS, que

atuam de forma conectada entre si, nas esferas existentes (Municipais, Estaduais,

Regionais, Nacionais e Internacionais).

1.6 - Colegiados (Internacional, Nacional, Regional, Estadual, Municipal)

Os colegiados são conselhos de referência que atuam pelo desenvolvimento de cada município, estado, região e nação. Cabe aos Colegiados: estimular a pró-atividade dos Pontos Fora do Eixo, a circulação e as trocas; a formação de novos Pontos; facilitar encontros presenciais, mobilizar; mediar; monitorar; orientar; cobrar; receber pedidos de inserção à rede, bem como elaborar pareceres sobre solicitantes da inserção à rede, entre outras questões que implicam a atividade dos Pontos Fora do Eixo. Serão também os responsáveis pela avaliação e diagnóstico da atuação dos Pontos Fora do Eixo.

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91

Os Colegiados são conselhos compostos por no mínimo dois Pontos de Articulação Fora do Eixo de sua respectiva instância, com exceção da instância municipal que será representado somente por um ponto de articulação local.

Os Colegiados devem ser eleitos anualmente com a participação de pelo menos 50% dos Pontos de Articulação de sua esfera (Nacional, Regional, Estadual), podendo ocorrer em qualquer instância deliberativa prevista neste Regimento.

INTERNACIONAL: É composto por PONTOS DE ARTICULAÇÃO com no mínimo um integrante de cada país e destina-se a executar ações de âmbito internacional e mediar conflitos entre si. NACIONAL - É composto por PONTOS DE ARTICULAÇÃO, com no mínimo um integrante de cada região e destina-se a executar ações de âmbito nacional e mediar conflitos entre si. Cabe a ele também acompanhar e/ou gerir as ações sugeridas pelos Eixos Temáticos, levantando e mapeando dados relativos às ações realizadas a partir dos mesmos; apresentar a prestação de contas trimestral dos Pontos Fora do Eixo, evidenciar e mapear as redes parceiras, entre outras atribuições consultivas.

REGIONAL - Composto por pelo menos dois Pontos de ARTICULAÇÃO da região eleitos para o Colegiado Regional. Cada região tem sua equipe gestora responsável por todos os Pontos Fora do Eixo da respectiva região, visando desenvolver a rede em sua mais variada forma.

ESTADUAL - Composto por pelo menos dois Pontos de ARTICULAÇÃO do estado eleitos para o Colegiado Estadual. Cada região tem sua equipe gestora responsável por todos os Pontos Fora do Eixo do respectivo estado, visando desenvolver a rede em sua mais variada forma.

MUNICIPAL - Composto por pelo Ponto de ARTICULAÇÃO do município. Cada município pode ter sua equipe gestora responsável por todos os Pontos Fora do Eixo do respectivo município, visando desenvolver a rede em sua mais variada forma.

Parágrafo único - Caso haja alguma divergência ou reinvidicação, os coletivos devem dialogar primeiramente com o seu Ponto de ARTICULAÇÃO Municipal, em segunda instância com o o COLEGIADO Estadual, em terceira instância com o o COLEGIADO Regional, antes de lançar o tema para o COLEGIADO NACIONAL. Para os casos onde não há PONTO DEARTICULAÇÃO MUNICIPAL ou COLEGIADO ESTADUAL, o PONTO FORA DO EIXO LOCAL deverá se reportar diretamente ao COLEGIADO REGIONAL.

1.7 - Instâncias Deliberativas As instâncias deliberativas são aquelas onde e quando são tomadas resoluções sobre temas relacionados ao Circuito Fora do Eixo. 1.7.1 São instâncias deliberativas do CIRCUITO FORA DO EIXO: 1.7.1.1 - Reuniões Gerais Virtuais

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92

O Circuito Fora do Eixo pode se reunir por solicitação de qualquer uma das Frentes

Gestoras ou Pontos de Articulação Fora do Eixo e devem ser convocadas pela lista de e-

mail ([email protected]).

1.7.1.3 - Congresso Fora do Eixo

Instância máxima deliberativa presencial de realização anual, que tem como objetivo

debater, nivelar e encaminhar questões, bem como tirar as resoluções para planejamento

anual da rede.

I - Etapas Regionais - São etapas preparatórias que acontecem nas regiões Norte,

Nordeste, Centro-Oeste, Minas e Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro e Sul, com

objetivo de nivelar o conhecimento entre Pontos Fora do Eixo, indicar novos coletivos

candidatos à Ponto Fora do Eixo, debater questões regionais e encaminhar propostas para a

etapa Nacional.

II - Etapa Nacional - É a etapa deliberativa em que são definidas as diretrizes norteadoras

do planejamento anual da rede. Esta etapa conta com a participação de todos os Pontos de

Linguagem e Articulação Fora do Eixo. Caso algum coletivo não participe sem apresentar

justificativa plausível em alguma reunião geral deliberativa, este poderá perder sua

chancela de Ponto Fora do Eixo, participando apenas de sua Rede Estadual como um Ponto

Parceiro. A operacionalização da produção fica sob responsabilidade compartilhada do

Ponto Fora do Eixo anfitrião e da Comissão Gestora, esta definida em plenária no

Congresso anterior.

1.7.1.4 - Festival Fora do Eixo

Instância deliberativa presencial, de realização anual e que conta com a participação de

todos os Pontos de Articulação Regional. Caso algum ponto de Articulação regional não

participe sem apresentar justificativa plausível em alguma reunião geral deliberativa, este

poderá perder sua chancela de Ponto de Articulação Regional do Circuito Fora do Eixo,

continuando a ser um Ponto de Articulação Fora do Eixo. A operacionalização da produção

fica sob responsabilidade compartilhada do Ponto Fora do Eixo delegado pelo Colegiado

Nacional e da Comissão gestora, este definido em plenária no Festival anterior.

1.7.2 - Do funcionamento das Instâncias 1.7.2.1 - Delegação nas Reuniões Qualquer integrante dos Pontos Fora do Eixo pode participar das reuniões como DELEGADO, não havendo limite máximo de número de integrantes por coletivo,

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93

presentes. A reunião não será paralisada para atualizar sobre os assuntos tratados, aos membros que comparecerem com atraso. Os delegados deverão estar alinhados com a pauta do dia e asresoluções anteriores. O tempo extra de reunião, caso necessário, será decidido em consenso, preferencialmente, ou por meio de votação entre os delegados presentes.

1.7.2.2 - Quórum As reuniões podem começar:

o no horário previsto, com pelo menos um delegado de cada PONTO FORA DO EIXO;

o com 15 minutos de atraso, com qualquer número de delegados

1.7.2.3. - Definição da(s) Pauta(s) e Duração As propostas de pauta devem ser enviadas pelo Ponto de Articulação Regional responsável pela moderação da reunião para o grupo de e-mail do Coletivo Fora do Eixo, ([email protected]), com antecedência mínima de 48 horas. A pauta será confirmada pelos Pontos Fora do Eixo por e-mail em até 12 horas antes do horário previstopara a reunião, devendo ser informado o tempo de duração da mesma. A inclusão de pautas depois desse período será avaliada ao início da sessão.

1.7.2.4 - Deliberações Deliberações são validadas em todas as reuniões contempladas no ítem 4.2.1, buscando-se sempre o consenso entre os coletivos. Caso não haja consenso, a questão será votada e aceita conforme a decisão da maioria (50% + 1). O voto é paritário por Ponto Fora do Eixo.

1.7.2.5 - Atas As reuniões devem ter um responsável pela redação da ata, escolhido no início da sessão e em regime de rodízio. As atas deverão conter um resumo topificado das deliberações e a conversa na íntegra. As atas serão compartilhadas para análise do conteúdo e poderão ser alteradas em até 48 horas após o envio, mediante apresentação de justificativa. Todas elas serão arquivadas no Tec Fora do Eixo.

1.7.2.6 - Participação de Convidados/Observadores Qualquer indivíduo pode participar das Reuniões Ordinárias descritas no item 4.1.1 como Observador sem direito ao voto. Fica a cargo da Plenária conceder ou não ao Observador o direito a fala, quando requisitada.

1.8 - Organização Interna A organização interna do Circuito Fora do Eixo é representada pelos Eixos temáticos, frentes temáticas, frentes mediadoras e frentes produtoras. Veja mais detalhado no modo de organização: https://docs.google.com/Doc?docid=0AXYs0B2jKJs-ZGhwdGc1NXRfNDcwc3JweHd0Y3I&hl=pt_BR&authkey=CMu_qb8H

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Os Eixos Temáticos norteiam as diretrizes que permeiam todas as esferas da rede. Eles são definidos anualmente durante o Congresso Fora do Eixo, em plenária. Os eixos vigentes são Circulação, Sustentabilidade, Tecnologia, Produção de conteúdo (comunicação) e Distribuição. As frentes temáticas norteiam o foco de atuação direcionando o investimento do trabalho colaborativo da rede a fim consolidar os cenários em questão. Elas são definidas anualmente durante o Congresso Fora do Eixo. As frentes temáticas vigentes são Tecnologias Livres, PCult, Música, Clube de Cinema, Palco, Fora do Eixo Letras, Artes visuais, EcoSol criativa, Unicult, Comunicação Social. As frentes produtoras produzem os serviços e produtos necessários para atender os projetos das frentes temáticas. 2. DOS DIREITOS São direitos dos Pontos Fora do Eixo que compõem o CIRCUITO FORA DO EIXO: - Autonomia em consonância com a Carta de Princípios e Regimento Interno do CFE; - Direito de usar a chancela; - Direito de voz e de voto em todas as instâncias deliberativas (reuniões ordinárias, extraordinárias, Festival Fora do Eixo e Congresso Fora do Eixo, como descrito no item 4); - Direito a participação e gestão em todos os projetos encaminhados pelo CFE; - Direito de acesso ao Fundo Nacional, na forma do regulamento próprio; - Direito ao acesso à gestão nacional (pontos de articulação nacional, escritório nacional (SP) e escritórios regionais) do CFE; - Direito à utilização da rede de hospedagem solidária do CFE; - Direito ao acesso a todas as tecnologias sociais produzidas pelo CFE. 3. DOS DEVERES São deveres dos Pontos Fora do Eixo que compõem o CIRCUITO FORA DO EIXO: - Prestar contas das ações solicitadas pelo Colegiado Nacional; - Estar integrado ao sistema solidário FORA DO EIXO CARD; - Manter-se constantemente informado sobre as atualizações do Circuito Fora do Eixo - usando como fontes a Rede Social Fora do Eixo, o TEC (http://tec.foradoeixo.org.br) e a lista de e-mails - para não alegar ignorância quanto aos processos do CFE, entidades parceiras e afins;

- Fomentar o surgimento de outros PONTOS FORA DO EIXO; - Comparecer ao Congresso Fora do Eixo com pelo menos 01 representante; - Comparecer ao Festival Fora do Eixo com pelo menos 01 representante por regional; - Veicular a logo do Fora do Eixo em todas as ações desenvolvidas pelos Pontos; - Acatar as decisões tomadas nas instâncias deliberativas; - Participar dos debates nos ambientes deliberativos virtuais ou presenciais, conforme descrito no ítem 4; - Democratizar o acesso a todas as planilhas e projetos ligados ao PONTO criando seus respectivos TECS;

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- Estar em consonância com a Carta de Princípios e o Programa Circuito Fora do Eixo vigente.

4 ² DA INSERÇÃO, RENOVAÇÃO E EXCLUSÃO DE PONTOS FORA DO EIXO

4.1 - Inserção COLETIVOS representativos e atuantes nos segmentos da cultura poderão solicitar sua entrada oficial no Circuito Fora do Eixo, desde que atendam os seguintes requisitos:

o Adotar de maneira integral as disposições da Carta de Princípios e do Regimento Interno do Circuito Fora do Eixo;

o Ser indicado por um ponto de articulação;

4.1.1 - Avaliação da Solicitação

O coletivo interessado em se inserir no Circuito Fora Eixo deverá apresentar o pedido ao

Ponto de Articulação ou Colegiado de sua localidade, que é responsável por analisar o

pedido e formular um Parecer do coletivo proponente baseado no Roteiro de Inserção, a

ser apresentado em uma das instâncias deliberativas presenciais através de uma reunião no

Festival Fora do Eixo ou no Congresso Fora do Eixo.

4.2 - Renovação da chancela

Para efetuar a renovação do direito de uso da chancela, o PONTO FORA DO EIXO deve

participar do Congresso Fora do Eixo, conforme definido no ítem 4.1.3.

4.3 - Da Exclusão de PONTOS FORA DO EIXO

Serão excluídos do Circuito Fora do Eixo e perderão todos os direitos de uso da chancela,

os coletivos que:

- Não respeitem os itens descritos na Carta de Princípios;

- Não respeitem os itens descritos neste Regimento;

O Ponto Fora do Eixo só poderá ser excluído nas instâncias deliberativas.

5 - DA COMUNICAÇÃO As instâncias referidas contemplam as plataformas de Comunicação interna e externa do Circuito Fora do Eixo.

5.1 - Comunicação Interna 5.1.1 - Grupo de Emails - São moderadores do grupo de email Coletivo Fora do Eixo ([email protected]) pelo menos um delegado de cada Colegiado Regional;

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- Não será permitido o envio de emails puramente publicitários para o grupo de e-mailColetivo Fora do Eixo ([email protected]), devendo esses serdirecionados para o grupo de e-mail Fora do Eixo ([email protected]);

- Os assuntos em discussão devem ser organizados em tópicos, priorizando aqueles já existentes;

- Ao surgimento de um novo assunto, deve ser criado um novo tópico; - Qualquer Ponto Fora do Eixo tem autonomia para criar um novo tópico.

5.2 - Comunicação Externa 5.2.1 - Imprensa A produção, convocação e demais ações de comunicação com a imprensa formal e informal relacionadas ao Circuito Fora do Eixo devem estar em consonância com a Carta de Princípios.

5.2.2 - Delegação Em caso de necessidade de representação do Circuito Fora Eixo em eventos, festivais, congressos, fóruns, comissões e outros, o delegado será definido pelo ponto de articulação ou colegiado de sua respectiva esfera.

6- DO FUNDO

O FUNDO NACIONAL FORA DO EIXO tem como objetivo fomentar o desenvolvimento e a estruturação dos Pontos Fora do Eixo, na busca da sustentabilidade da rede. Através da construção de um "caixa coletivo nacional", o Fundo deverá atender demandas de projetos realizados pelo Circuito Fora do Eixo, além de suprir necessidades específicas dos pontos e indivíduos integrantes da rede. O Fundo opera de acordo com os princípios de solidariedade, colaboratividade, associativismo, minimizando a concorrência desnecessária para o desenvolvimento equânime da rede. Para a gestão de recursos os pontos fora do eixo devem agir em consonância com o regimento do Fundo Fora do Eixo: https://docs.google.com/document/pub?id=1P0Ruh_rc26dJi1J0a2St7qXRMXkOKWaeeH2VYKuklPw .

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de gestão e participação em processos sócio-culturais, do estímulo à

autoralidade, à criatividade, à inovação e à renovação, da

democratização quanto ao desenvolvimento, uso e compartilhamento de

tecnologias livres aplicadas às expressões culturais e da

sustentabilidade pautada no uso de tecnologias sociais.

2. São ainda valores do Circuito Fora do Eixo a substituição da noção de

interesse pela de valores no cotidiano do trabalho dos artistas, produtores e

bandas, a substituição do foco nos produtos pelo foco nos processos, a

substituição da racionalidade instrumental pela racionalidade comunicativa

(dialógica) nas relações de trabalho e produção artístico-cultural e

substituição dos valores de individualismo pelos valores de associativismo

/cooperativismo.

3. Constituem-se em pilares e eixos de atuação do Circuito Fora do Eixo o

conjunto de estratégias de sustentabilidade, de circulação, de

comunicação e de emprego de tecnologias de sonorização, palco e

iluminação.

4. As ferramentas desenvolvidas a fim de dar consecução a cada um dos

pilares de atuação do Circuito Fora do Eixo devem ser desenvolvidas de

forma integrada, orgânica, transversal, interdependente e

interpenetrante, de modo a constituir o chamado Sistema Fora do Eixo de

Música e Cultura Independente, que tende a suplantar a lógica do modelo

ainda predominante da indústria fonográfica (as majors e seu modus operandi

contratual) pela lógica do ³PHUFDGR PpGLR´ cultural, pautado pelos princípios

da economia solidária aplicados às cadeias produtivas da economia da

cultura, em especial, da música independente.

5. O Circuito Fora do Eixo é composto por Coletivos Locais de cada cidade

ou município onde exista um núcleo ou célula de produção cultural

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independente, denominados de ³3RQWRV Fora do (L[R´, cuja adesão do

indivíduo no coletivo é livre,espontânea, esclarecida e consciente. Tais

coletivos articulam-se em circuitos estaduais e regionais de produção,

circulação e comunicação, que se fazem representar por um Conselho

Regional, capilarizando e vascularizando, assim, os preceitos e projetos do

Circuito como um todo.

6. O Sistema Fora do Eixo da Música e da Cultura Independente sintetiza o

modus operandi de atuação do Circuito Fora do Eixo. É integrado por

entidades as quais, com suas estruturas de funcionamento, estabelecem um

fluxo de atuação integrado e sistêmico em prol do fortalecimento da cadeia

produtiva da música e da cultura independente no nosso país.

7. Para dar vazão a cada um dos pilares de atuação do Circuito Fora do Eixo,

diversos projetos são desenvolvidos como ferramentas para concretizar

aqueles que são os objetivos do CFE, sendo os principais o Grito Rock

América do Sul, o Portal Fora do Eixo, o Compacto.REC, o Toque no

Brasil, o Festival Fora do Eixo, a Agência Fora do Eixo, a Fora do Eixo

Discos, o Fora do Eixo Card, o Congresso Fora do Eixo, Observatório

Fora do Eixo,Fora do Eixo Tec, dentre outros.

8. Além dos princípios e valores acima enunciados, os participantes do II

Congresso Fora do Eixo também convencionam quanto à adoção das

seguintes diretrizes e premissas, elencadas conforme os enunciados abaixo

relacionados:

8.1 - Intercâmbio, transversalidade e delegação

a) Formular e colaborar com o desenvolvimento de políticas públicas para a

cultura, promovendo a atuação política com identidade representativa do CFE;

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b) Estimular as redes sociais municipais, estaduais e regionais com vistas a

valorizar as parcerias com outros grupos afins;

c) Integrar e estabelecer uma relação compartilhada com grupos parceiros de

princípios semelhantes, redes e movimentos sociais;

d) Incentivar o debate e a formação de fóruns representativos no campo da

cultura e afins;

e) Promover o intercâmbio entre os coletivos da rede e com os grupos afins,

fomentando a transversalidade das ações do CFE, dos parceiros e das

políticas públicas em geral;

8.2- Identidade, Diversidade e Autonomia

a) Questionar e enfrentar as práticas hegemônicas dos modos de produção,

circulação e fruição com ênfase no campo da cultura;

b) Respeitar as diferenças e diversidades de condições étnicas, religiosas,

culturais, linguísticas, estéticas, etárias, físicas, mentais, de gênero, de

orientação sexual e outras;

c) Estimular, difundir e integrar a diversidade das expressões sócio-culturais e

artísticas, garantindo espaços de valorização e de respeito a essa

diversidade;

d) Promover o empoderamento dos indivíduos e coletivos dentro dos

princípios da economia solidária;

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e) Fomentar a produção criativa, autoral, independente do mercado vigente e

interdependente entre os grupos afins;

f) Valorização social do trabalho humano na perspectiva da igualdade de

condições e da polivalência individual e coletiva;

g) Equilibrar a relação entre o trabalho manual e o intelectual com vistas a

valorização equânime de ambas as práticas;

8.3 - Gestão e Sustentabilidade

a) Fomentar a criação de moedas sociais nos coletivos da rede;

b) Viabilizar a formação, produção, circulação e fruição, fomentando as trocas

de serviços e produtos entre os coletivos, seus membros e parceiros;

c) Orientar as ações para satisfação das necessidades individuais e coletivas

de maneira equânime, justa e solidária;

d) Adotar os critérios de territorialidade no estabelecimento das políticas do

CFE;

e) Fomentar o desenvolvimento da cadeia produtiva da cultura, promovendo

alternativas de sustentabilidade pautadas no uso de tecnologias sociais e em

uma perspectiva solidária;

f) Estimular a renovação de frentes de atuação, agentes e tecnologias,

fomentando a criação experimental em todos os processos e produtos

associados à atividade do CFE;

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g) Promover a democratização e universalização do acesso aos bens e

serviços culturais;

h) Estimular ações considerando o impacto ambiental e impulsionar as

práticas de preservação, incentivando a utilização sustentável dos recursos

renováveis;

8.4 - Inovação e Comunicação

a) Estimular a criação, desenvolvimento e utilização de tecnologias livres,

sociais e de código aberto referente ao direito autoral e propriedade

intelectual, fomentando o uso de plataformas criadas pelos coletivos e

parceiros;

b) Garantir a difusão, o compartilhamento e o livre acesso às tecnologias do

Circuito Fora do Eixo bem como outros conhecimentos livres;

c) Valorizar a troca contínua, colaborativa e a atualização de informações

entre os coletivos da rede;

d) Estimular as práticas de comunicação livre bem como parcerias com

veículos de informação públicos, comunitários, independentes e outros, que

não estejam ligados a grandes grupos ou conglomerados do setor;

8.5 - Formação e Conscientização

a) Estimular a formação e a resignificação contínua do processo, dos coletivos

e seus membros, atingindo os agentes internos e externos;

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b) Criar ferramentas de formação e qualificação dos agentes, promovendo a

multiplicação do processo e do conhecimento cooperativo, solidário e coletivo;

c) Estimular a consciência e a clareza do processo nos indivíduos e coletivos

da rede, promovendo a formação crítica dos agentes e do público;

d) Estar sempre alerta;

e) Estimular a disciplina e a liberdade;

f) Estimular a autocrítica, a humildade, a honestidade e o respeito nas

relações sociais e ambientais;

g) Valorizar a essência do ser humano ao invés da posse;

h) Criar lastro através do trabalho gerando o equilíbrio entre o discurso e a

prática;

i) Garantir a competência técnica dos setores produtivos no desenvolvimento

de ações;