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UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO UM ESTUDO DE AVALIAÇÃO DO CURRÍCULO DA ÁREA DE EXPRESSÃO E EDUCAÇÃO PLÁSTICA NO 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO COM BASE NA METODOLOGIA DA REFERENCIALIZAÇÃO Lúcia Grave Magueta DOUTORAMENTO EM EDUCAÇÃO Área de Especialização em Teoria e Desenvolvimento Curricular 2012

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

UM ESTUDO DE AVALIAÇÃO DO CURRÍCULO

DA ÁREA DE EXPRESSÃO E EDUCAÇÃO PLÁSTICA NO 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO

COM BASE NA METODOLOGIA DA REFERENCIALIZAÇÃO

Lúcia Grave Magueta

DOUTORAMENTO EM EDUCAÇÃO

Área de Especialização em Teoria e Desenvolvimento Curricular

2012

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

UM ESTUDO DE AVALIAÇÃO DO CURRÍCULO

DA ÁREA DE EXPRESSÃO E EDUCAÇÃO PLÁSTICA NO 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO

COM BASE NA METODOLOGIA DA REFERENCIALIZAÇÃO

Lúcia Grave Magueta

DOUTORAMENTO EM EDUCAÇÃO

Área de Especialização em Teoria e Desenvolvimento Curricular

Dissertação orientada pela Professora Doutora Maria Helena Peralta

2012

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Agradecimentos

Agradeço aos que comigo colaboraram durante a realização deste trabalho, nomeadamente,

- à minha orientadora Professora Doutora Maria Helena Peralta, pela partilha de conhecimento e

experiência, apoio, disponibilidade e atenção que sempre dedicou a este trabalho;

- aos professores do Curso de Formação Avançada «Avaliação e Desenvolvimento da Educação»

(ano letivo de 2006/2007), pelo apoio prestado na fase inicial do trabalho;

- aos professores envolvidos nos estudos de caso, pela disponibilidade, pela colaboração e

incentivo;

- aos professores do 1º Ciclo que responderam ao questionário, pela colaboração e importante

contributo;

- aos professores que ao longo do percurso do estudo colaboraram comigo no confronto de ideias.

Agradeço também a todos os que se interessaram pelo meu trabalho e me dirigiram palavras de estímulo,

nomeadamente,

- aos colegas professores da ESECS;

- aos amigos Luís António e Patrícia Silva.

E ainda,

- ao Jaime da Silva Lopes, por tudo;

- ao Jaiminho e ao Benjamim, pelas mil formas como ajudaram a mãe.

Muito obrigada!

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Resumo A investigação aqui apresentada é um estudo de avaliação que tem por objeto o currículo da

área de Expressão e Educação Plástica (EEP) do 1º Ciclo do Ensino Básico nas suas diferentes

dimensões. Com este estudo pretende-se compreender o modo como se processa o

desenvolvimento curricular da Expressão e Educação Plástica nas escolas públicas portuguesas e,

consequentemente, contribuir para a sua melhoria. O estudo situa-se, assim, na avaliação do

currículo – ou avaliação de programas – e abrange um conhecimento aprofundado sobre o

currículo formal, o currículo ideal e o currículo real, que incide sobre a prática e que é a

dimensão menos conhecida do currículo de EEP.

Foi seguida a metodologia de avaliação proposta por Gérard Figari – a referencialização –

que consiste na construção e operacionalização de um conjunto de referências (referencial) para

avaliar um dispositivo educativo. Para constituir o referencial de avaliação e o referido (o

currículo real de EEP) combinaram-se procedimentos de investigação quantitativa e de

investigação qualitativa.

O enquadramento teórico que estrutura e orienta o trabalho desenvolvido abrange conceções,

modelos e perspetivas atuais sobre avaliação, centrando-se nos pressupostos relativos à

metodologia adotada e também no estudo do currículo e do desenvolvimento curricular. No que

respeita aos documentos curriculares foram analisados o Programa do 1º Ciclo, particularmente a

parte referente à área de EEP, e o Currículo Nacional do Ensino Básico, focando principalmente

as Competências em Educação Visual. A revisão de literatura estende-se também aos princípios

teóricos e pedagógicos sobre EEP, sendo abordado o conceito de “expressão plástica”, assim

como outras temáticas relevantes para o aprofundamento deste assunto.

O referencial de avaliação constituído integra uma componente relativa ao currículo formal,

outra relativa ao currículo ideal e outra relativa ao currículo real representado, sendo esta última

baseada numa recolha de dados junto de uma amostra de professores do 1º Ciclo a exercer

funções letivas no ensino público, estando estes assim, também envolvidos no processo de

avaliação. O referido, o currículo real, deriva da recolha de dados feita através de dois estudos

de caso, efetuados em dois contextos escolares do 1º Ciclo do Ensino Básico.

Os resultados vêm mostrar que o currículo de EEP se pratica na conformidade com o que é

prescrito, sobretudo ao nível do Programa do 1º Ciclo do Ensino Básico, e que faz parte do

quotidiano escolar. Apurou-se também que, no geral, as atividades, as estratégias de ensino, as

opções metodológicas, os materiais didáticos, a planificação e a avaliação, que integram as

práticas da EEP estão em coerência com os princípios teóricos atuais relativamente à

concretização do conceito de expressão plástica. No entanto, este estudo identificou aspetos que

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se podem traduzir na melhoria do currículo de EEP, colocando-o numa perspetiva de inovação e

de compreensão da sociedade em evolução, proporcionando aos alunos uma maior amplitude de

experiências no que se refere ao contacto com as artes e com o uso da linguagem plástica.

A estratégia de construção de um referencial para a avaliação de programas e o próprio

referencial de avaliação são também resultados que se alcançaram com este trabalho.

Palavras-chave:

currículo; avaliação de programas; expressão plástica; 1º Ciclo do Ensino Básico;

referencialização

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Abstract This research study is an evaluation on the Plastic Expression and Education (PEE)

curriculum of the 1st Cycle of Basic education in its different dimensions. This evaluation seeks

to understand how the PEE curriculum is developed in public schools in Portugal and to

contribute to its improvement. The scope of the study comes under programme evaluation,

includes an in-depth knowledge of the formal, ideal and real curriculum and focuses on the

practical and less known dimension of the PEE curriculum.

We followed the evaluation methodology proposed by Gérard Figari that consists of

constructing and using a reference system for evaluating. In order to construct the reference

system and to characterize the real curriculum of PEE we used mixed research methods.

The theoretical framework was developed around the central themes of this work: evaluation

and programme evaluation, including an approach towards Figari’ methodology; the curriculum

and its dimensions; plastic expression (art) and pedagogical approaches around this issue. The

curricular documents related to PEE were also analysed.

The reference system includes three components: one related to formal curriculum, another

to ideal curriculum, and a third to real curriculum and how they are represented by teachers. The

latter was based on a research study involving data collection from a sample of public school

teachers. Thus teachers were also involved in the evaluation study. The data collection also

included two case studies related to two different contexts of the 1st

The results show that practice in PEE follows the formal curriculum, mainly in terms of the

programme and permeates daily school life. In general, the activities, strategies, methodologies,

teaching materials, planning and evaluation, contained in PEE practices are consistent with

current theories about on plastic expression (art). However, this study found several aspects to

improve the PEE curriculum and place it in a perspective of innovation and understanding of

society’s evolution, thus providing students with more experiences related to art and plastic

language.

Cycle of Basic Education.

In addition to this conclusion, the study also shed light on further knowledge conveyed through

the following results:

- a strategy to construct a framework of reference for programme evaluation and the

framework itself.

Key-words:

curriculum; programme evaluation; plastic expression (art); 1st Cycle of Basic Education;

framework of reference for programme evaluation

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Índice

Introdução

1. Contextualização do estudo.................................................................................................... 1 2. Identificação do problema...................................................................................................... 14 3. Objetivos e questões de investigação..................................................................................... 15 4. Breve apresentação do percurso metodológico...................................................................... 18 5. Organização e estrutura da tese.............................................................................................

25

Capítulo I - Enquadramento teórico Nota introdutória........................................................................................................................

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1. Em torno do conceito de avaliação

1.1. A avaliação e aspetos da sua evolução enquanto conceito........................................... 28 1.2. Os modelos para a avaliação do currículo.................................................................... 31 1.3. A referencialização enquanto metodologia de avaliação de dispositivos educativos... 42 2. Currículo e desenvolvimento curricular

2.1. O que é o “currículo”?.................................................................................................. 48 2.2. Contextos e níveis de desenvolvimento curricular......................................................... 49 2.3. As componentes do currículo......................................................................................... 54 2.4. A reorganização curricular do Ensino Básico.............................................................. 2.5. Currículo e competências.............................................................................................. 2.6. O currículo do 1º Ciclo do Ensino Básico..................................................................... 2.7. As Metas de Aprendizagem............................................................................................

57 63 66 68

3. A expressão plástica

3.1. O que é a “expressão plástica”?................................................................................... 69 3.2. O desenvolvimento gráfico e plástico na infância......................................................... 72 3.3. O desenvolvimento da criatividade através da expressão plástica............................... 75 3.4. Atitudes pedagógicas e opções metodológicas para a prática criativa da expressão plástica...........................................................................................................................

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4. A área curricular de Expressão e Educação Plástica (EEP) 4.1. A EEP no Programa do 1º ciclo do Ensino Básico....................................................... 4.2. A EEP no Currículo Nacional do Ensino Básico.......................................................... 4.3. A EEP e as Metas de Aprendizagem.............................................................................. 4.4. Materiais didáticos específicos da EEP.........................................................................

89 93 98 100

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Capítulo II – Metodologia Nota introdutória........................................................................................................................

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1. Os objetivos da recolha e análise de dados............................................................................ 2. A abordagem mista enquanto metodologia de investigação.................................................. 3. Primeira fase – Descrição do processo de construção do referencial de avaliação............ 3.1. A abordagem quantitativa.............................................................................................. 3.1.1. Processos de construção e aplicação do questionário......................................... 3.1.2. A amostra............................................................................................................ 3.1.3. O tratamento dos dados quantitativos – a análise estatística.............................. 4. Segunda fase – Descrição do processo de construção do referido “currículo real”........... 4.1. A abordagem qualitativa................................................................................................ 4.1.1. O estudo de caso................................................................................................... 4.1.2. A recolha de dados qualitativos: a entrevista, a observação participante e a análise documental............................................................................................ 4.1.3. O tratamento dos dados qualitativos: a análise de conteúdo............................... 5. Terceira fase – Descrição do processo de aplicação do referencial de avaliação............

104 106 107 109 110 116 118 119 120 120 121 125 127

Capítulo III – A construção do referencial de avaliação Nota introdutória........................................................................................................................ 1. O referente “currículo formal”.............................................................................................. 1.1. Formação de categorias, critérios e indicadores.......................................................... 1.2. Organização de uma grelha de leitura.......................................................................... 2. O referente “currículo ideal”................................................................................................ 2.1. Formação de categorias, critérios e indicadores.......................................................... 2.2. Organização de uma grelha de leitura......................................................................... 3. O referente “currículo real representado”............................................................................ 3.1. Tratamento e análise dos dados quantitativos..............................................................

128 128 128 131 132 135 136 138 138

3.1.1. Caraterização da amostra................................................................................... 3.1.2. Práticas na área curricular de EEP – Atividades............................................... 3.1.3. Práticas na área curricular de EEP – Estratégias para abordar conteúdos....... 3.1.4. Práticas na área curricular de EEP – Opções metodológicas........................... 3.1.5. Práticas na área curricular de EEP – Planificação............................................ 3.1.6. Práticas na área curricular de EEP – Materiais didáticos................................. 3.1.7. Práticas na área curricular de EEP – Avaliação................................................

139 142 144 146 147 149 150

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3.1.8. Formas de atualização de conhecimentos sobre EEP....................................... 3.2. Formação de categorias, critérios e indicadores.......................................................... 3.3. Organização de uma grelha de leitura.......................................................................... 4. O referencial de avaliação..................................................................................................... Capítulo IV – A construção do referido «currículo real» Nota introdutória........................................................................................................................ 1. Tratamento e análise de dados qualitativos – Estudo de caso 1 1.1. O contexto...................................................................................................................... 1.2. O professor, o grupo de alunos e a sala de aulas.......................................................... 1.3. As práticas na área curricular de EEP.......................................................................... 2. Tratamento e análise de dados qualitativos – Estudo de caso 2 2.1. O contexto...................................................................................................................... 2.2. A professora, o grupo de alunos e as salas de aulas.................................................... 3.3. As práticas na área curricular de EEP......................................................................... 3. Integração dos dados e constituição do referido “currículo real”........................................ Capítulo V – A aplicação do referencial de avaliação Nota introdutória........................................................................................................................ 1. Relação entre o referente “currículo formal” e o referido “currículo real”........................ 2. Relação entre o referente “currículo ideal” e o referido “currículo real”........................... 3. Relação entre o referente “currículo real representado” e o referido “currículo real”....... 4. A avaliação do currículo de EEP - Síntese dos resultados obtidos........................................ Conclusões e reflexão final

151 152 155 156 162 162 163 164 169 170 171 178 187 187 195 203 210

Nota introdutória. ...................................................................................................................... 1. Respostas às questões de investigação / avaliação................................................................ 2. Síntese conclusiva..................................................................................................................

217 217 232

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3. Reflexão final.........................................................................................................................

235

Bibliografia................................................................................................................................. 238 Anexos........................................................................................................................................

252

Anexo I – Questionário Anexo II – Guião de entrevista Anexo III – Estudo de caso 1 – Grelha de análise da entrevista Anexo IV – Estudo de caso 2 – Grelha de análise da entrevista Anexo V – Estudo de caso 1 – Notas de campo (um exemplo) Anexo VI – Estudo de caso 2 – Notas de campo (um exemplo) Anexos (volume entregue em suporte digital) Anexo A – Estudo de caso 1 – Registo das Atividades de EEP desenvolvidas Anexo B – Estudo de caso 1 – Transcrição da entrevista ao professor Anexo C – Estudo de caso 1 – Notas de campo Anexo D – Estudo de caso 1 – Grelhas de análise das notas de campo Anexo E – Estudo de caso 2 – Registo das Atividades de EEP desenvolvidas Anexo F – Estudo de caso 2 – Transcrição da entrevista à professora Anexo G – Estudo de caso 2 – Notas de campo Anexo H – Estudo de caso 2 – Grelhas de análise das notas de campo Anexo I – Textos curriculares que visam a EEP – Programa do 1º Ciclo do Ensino Básico Anexo J – Textos curriculares que visam a EEP – CNEB Anexo K – Textos curriculares que visam a EEP – Metas de Aprendizagem Índice de figuras Figura 1 – Correspondência entre as dimensões do currículo consideradas no sistema de referências e as questões de investigação / avaliação relativas ao objetivo 1 ......................................................... Figura 2 – Elementos constituintes do referencial e do referido............................................................ Figura 3 – Plano Curricular do 1º Ciclo do Ensino Básico (Decreto-Lei nº6/2001 de 18 de janeiro).................................................................................................................................................... Figura 4 – Estratégia sequencial explanatória (Creswell, 2003, p.213)................................................. Figura 5 – Esquema representativo do processo de construção do referencial de avaliação................. Figura 6 – Esquema que sintetiza as principais etapas da realização do estudo....................................

17 23 67 106 108 218

Índice de quadros Quadro 1 – A área de Expressão e Educação Plástica no Programa do 1º Ciclo do Ensino Básico.... Quadro 2 – Competências relativas à literacia em artes (Ministério da Educação, 2001).................... Quadro 3 – Competências específicas da Educação Visual (Ministério da Educação, 2001)............... Quadro 4 – Competências nos domínios da comunicação visual e dos elementos da forma para o 1º Ciclo do Ensino Básico (Ministério da Educação, 2001)....................................................................... Quadro 5 – Correspondência entre questões de investigação / avaliação e os objetivos definidos para a recolha e análise de dados..........................................................................................................

90 94 95 96 105

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Quadro 6 – Correspondência entre os objetivos da recolha e análise de dados e as questões que integram o questionário......................................................................................................................... Quadro 7 – Estatísticas de fiabilidade do questionário (cálculo do coeficiente alfa (α) de Cronbach). Quadro 8 – Correspondência entre objetivos da recolha e análise de dados e aspetos considerados na análise de documentos...................................................................................................................... Quadro 9 – O referente “currículo formal”............................................................................................ Quadro 10 – O referente “currículo ideal”............................................................................................. Quadro 11 – Distribuição dos professores inquiridos por faixa etária................................................... Quadro 12 – Distribuição dos professores inquiridos por género.......................................................... Quadro 13 – Distribuição dos professores inquiridos por habilitação académica............................... Quadro 14 – Distribuição dos inquiridos por anos de experiência como professores do 1º Ciclo do Ensino Básico e medidas de estatística descritiva para a mesma variável............................................. Quadro 15 – Distribuição dos professores inquiridos por zona geográfica (DRE a que pertence a escola onde exerce funções letivas)....................................................................................................... Quadro16 – Atividades de EEP desenvolvidas e frequência com que foram realizadas ao longo do ano letivo de 2010/2011......................................................................................................................... Quadro 16A – «Outras» atividades de EEP desenvolvidas ao longo do ano letivo de 2010-2011...... Quadro 17 – Estratégias para abordar conteúdos incluídas nas práticas de EEP e frequência com que foram selecionadas ao longo do ano letivo de 2010/2011.............................................................. Quadro18 – Opções metodológicas incluidas nas práticas de EEP e frequência com que foram selecionadas ao longo do ano letivo de 2010/2011............................................................................... Quadro 19 – Aspetos relativos à planificação do ensino-aprendizagem da EEP e frequência com que foram considerados nas práticas ao longo do ano letivo de 2010/2011.......................................... Quadro 20 – Materiais didáticos específicos da EEP utilizados e frequência com que foram selecionados ao longo do ano letivo de 2010/2011............................................................................... Quadro 21 – Aspetos relativos à avaliação do ensino-aprendizagem da EEP e frequência com que foram considerados nas práticas ao longo do ano letivo de 2010/2011................................................ Quadro 22 – Formas e frequência com que os professores inquiridos atualizaram conhecimentos científicos e pedagógicos sobre EEP ao longo dos últimos dois anos................................................... Quadro 23 – O referente “currículo real representado”......................................................................... Quadro 24 – A «árvore» das dimensões do objeto a avaliar (o currículo de EEP)............................... Quadro 25 – Relação entre as «dimensões a avaliar», a «informação invocada» e a «informação provocada»............................................................................................................................................. Quadro 26 – O referencial de avaliação................................................................................................ Quadro 27 – Síntese das atividades de EEP desenvolvidas (Estudo de caso 1)................................... Quadro 28 – Síntese das atividades de EEP desenvolvidas (Estudo de caso 2)................................... Quadro 29 – Síntese das Atividades desenvolvidas nos contextos do Estudo de caso 1 e Estudo de caso 2..................................................................................................................................................... Quadro 30 – Síntese das Estratégias para abordar conteúdos de EEP adotadas nos contextos do Estudo de caso 1 e Estudo de caso 2...................................................................................................... Quadro 31 – Síntese das Opções metodológicas identificadas nos contextos do Estudo de caso 1 e Estudo de caso 2.................................................................................................................................... Quadro 32 – Síntese de aspetos relativos à Planificação identificados nos contextos do Estudo de caso 1 e do Estudo de caso 2................................................................................................................. Quadro 33 – Síntese relativa aos Materiais didáticos específicos da EEP identificados nos contextos do Estudo de caso 1 e Estudo de caso 2................................................................................................. Quadro 34 – Síntese de aspetos relativos à Avaliação do ensino-aprendizagem da EEP identificados nos contextos do Estudo de caso 1 e do Estudo de caso 2..................................................................... Quadro 35 – Quadro-síntese que representa o referido “currículo real”............................................... Quadro 36 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise

113 115 124

131 137 139 140 140

141 141 143 144 145 147 148 150 151 152 155 157 158 159 165 172 179 180 181 183 184 185 185

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«Conhecimentos, capacidades e atitudes visadas nas competências».................................................... Quadro 37 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Experiências educativas correspondentes aos Blocos de aprendizagem»............................................ Quadro 38 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Indicações metodológicas»................................................................................................................... Quadro 39 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Conceito de expressão plástica»........................................................................................................... Quadro 40 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Desenvolvimento da criatividade»....................................................................................................... Quadro 41 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Papel do professor».............................................................................................................................. Quadro 42 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Atividades desenvolvidas».................................................................................................................. Quadro 43 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Estratégias para abordar conteúdos de EEP »...................................................................................... Quadro 44 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Opções metodológicas»....................................................................................................................... Quadro 45 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Planificação»........................................................................................................................................ Quadro 46 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Materiais didáticos específicos da EEP »............................................................................................ Quadro 47– Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Avaliação»...........................................................................................................................................

188 189 190 197 199 202 204 205 206 208 209 210

Abreviaturas AEC – Atividades de Enriquecimento Curricular EED – Expressão e Educação Dramática EEP – Expressão e Educação Plástica EEM –Expressão e Educação Musical CNEB – Currículo Nacional do Ensino Básico DGIDC – Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular DRE – Direção Regional de Educação LBSE – Lei de Bases do Sistema Educativo PAA – Plano Anual de Atividades PEA – Projeto Educativo de Agrupamento PCA – Projeto Curricular de Agrupamento PCT – Projeto Curricular de Turma TIC – Tecnologias de Informação e Comunicação

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1

Introdução 1. Contextualização do estudo

As experiências com as linguagens artísticas possibilitam às crianças adquirir

conhecimentos e desenvolver competências que enriquecem a sua personalidade. O estímulo

da criatividade, da expressão, da sensibilidade estética e da comunicação, tal como a

construção de um espírito crítico, observador, questionador e interventivo são alguns dos

aspetos que as chamadas «áreas artísticas» privilegiam. A sua importância explica-se pela

perspetiva de a criança utilizar a expressão, a comunicação e a criatividade para ver e

interpretar a realidade que a rodeia, mas também para a representar de um modo próprio,

através dos elementos caraterizadores da especificidade de cada linguagem (sons, gestos,

linhas, cores,...).

O presente trabalho de investigação diz respeito à educação artística e incide

particularmente sobre o modo como se desencadeiam e vivenciam as aprendizagens

específicas da linguagem plástica ao nível do 1º Ciclo do Ensino Básico. Trata-se, assim, de

um estudo que avalia o desenvolvimento do currículo na área de Expressão e Educação

Plástica (EEP) no 1º Ciclo do Ensino Básico.

Tendo em vista a justificação e a demonstração da relevância desta investigação,

procuramos, de seguida, enquadrá-la relativamente aos seguintes pontos: 1. a importância que

tem sido dada à educação artística como objeto de estudo e como tema de debate; 2. a

evolução da integração das artes visuais nos currículos, identificando alguns dos factos,

contributos e protagonistas que mais marcaram o desenvolvimento da educação artística no

nosso país desde o início do século XX até aos nossos dias; 3. algumas investigações nas

quais se estudou como se carateriza e processa a educação artística noutros países da Europa;

4. as investigações sobre o desenvolvimento do currículo de EEP no 1º Ciclo.

Quanto ao ponto 1, queremos salientar que há várias décadas que a teoria tem evidenciado

o valor da educação artística no desenvolvimento global do indivíduo. As teorias sobre o

desenvolvimento da criança, as teorias da Arte e as teorias sobre educação enquadram os

contributos de alguns autores cujas obras continuam a ser referências quando se fala em

“educação artística” e se relaciona as “artes visuais” com a “educação”. Como exemplos,

referimos John Dewey, que em 1934 publicou a obra Art as experience; Herbert Read, que em

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2

1943 publicou Educação pela arte; Viktor Lowenfeld e a obra A criança e a sua arte,

publicada em 1954; Jean Piaget através da obra produzida em torno do desenvolvimento da

criança, da psicologia do desenvolvimento e da pedagogia, do qual podemos aqui focar A

representação do espaço na criança publicada em 1972; Ana Mae Barbosa e a sua vasta obra

que teve início com a publicação de Arte-educação no Brasil: das origens ao modernismo em

1978; Howard Gardner e a obra Arte, Mente e Cérebro: Uma abordagem cognitiva da

criatividade publicada em 1982; Michael Parsons do qual destacamos Compreender a Arte

(com edição portuguesa publicada em 1992); acrescentamos ainda a referência aos autores

portugueses Eurico Gonçalves e Dalila D'Alte Rodrigues que publicaram, respetivamente, A

arte descobre a criança em 1991 e A infância da Arte, a arte da infância em 2002.

Poderíamos ainda enumerar outros exemplos que, tais como estes, representam modos

diferenciados de entender a “educação artística”, relativamente à qual Fróis (2005) identificou

quatro modelos: a Educação Artística como Expressão; a Educação Artística como

Compreensão; a Educação Artística como Cognição; e a Educação Artística como

Apreciação.

Nos últimos anos, a educação artística tem tido relevo como tema de debate. Foram

diversos os encontros científicos em que se discutiu a sua importância no desenvolvimento

global das crianças e o seu enquadramento nos currículos e nas práticas de professores e

educadores1

Destes espaços de debate têm emergido diversas recomendações, dirigidas a diferentes

intervenientes da educação artística (educadores e professores, entidades formadoras,

instituições artísticas e culturais, investigadores, poderes públicos e decisores políticos,

diretores de escolas, pais, entre outros). Algumas dessas recomendações dizem respeito,

especificamente, ao lugar e à integração das expressões nos currículos e às práticas dos

professores. Resumidamente, apresentamos algumas delas, extraídas do documento

“Conclusões do Congresso Ibero-Americano de Educação Artística: Sentidos Transibéricos”

relativo ao mais recente dos encontros científicos realizados:

.

- a educação artística (que inclui a música, a expressão plástica, o teatro e a dança) deve

ser considerada como uma das áreas curriculares essenciais da Educação;

1 Salientamos alguns fóruns de nível nacional e internacional, tais como a “Conferência Mundial de Educação Artística” promovida pela UNESCO e realizada em Lisboa no ano de 2006; a “Conferência Nacional de Educação Artística” promovida pelo Ministério da Educação, Ministério da Cultura e pela Comissão Nacional da UNESCO e realizada no Porto em 2007; e o “Congresso Ibero Americano de Educação Artística: Sentidos Transibéricos” realizado em Beja em 2008. Outras iniciativas com objetivos semelhantes também têm sido levadas a cabo por associações de professores das áreas das expressões artísticas ou por organizações que se dedicam à promoção da educação artística em contextos de educação formal e não formal.

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- os aspetos afetivos, emotivos, biográficos e subjetivos devem assumir um lugar

essencial no quotidiano das salas de aula;

- a educação artística deve ser fundamentada nas tendências epistemológicas, sociológicas

e históricas das teorias e práticas artísticas mais atuais, não deixando de considerar as

definições alcançadas nos finais do século passado;

- o campo de intervenção da educação artística deve incluir novos olhares sobre atos

artísticos feitos em espaços públicos, sobre a cidade e sobre o património, fomentando a

«construção de valores relacionais e sociais geradores do respeito pelo Outro e pela

diversidade cultural» (p.3);

- a educação artística deve ser vista como espaço disciplinar autónomo tendo como

primeira finalidade proporcionar às crianças a aprendizagem das linguagens artísticas,

podendo, no entanto, contemplar ligações com a aprendizagem de outras disciplinas;

- a educação artística deve orientar-se por princípios construtivistas que colocam as

crianças como protagonistas ativos das suas aprendizagens, e sendo assim, «as práticas de

ensino-aprendizagem devem convocar (e problematizar) os interesses, inquietações,

problemas e vivências dos alunos (imaginários, idiossincráticos e coletivos) evitando a

implementação de exercícios descontextualizados e pouco significativos» (p.3);

- a aprendizagem das artes deve fazer-se a partir da complexidade, nunca a partir de

«discursos essencialistas, simplificadores, reducionistas ou descontextualizados» (p.6);

- as experiências que se proporcionam devem «ir além da leitura de imagens/ apreciação

estética e avançar para a compreensão crítica» (p.7);

- as metodologias e instrumentos de observação e avaliação devem ser desenvolvidas e

aprofundadas, não só da aprendizagem artística, mas também das práticas dos professores;

- os professores devem adotar práticas de reflexão / avaliação e investigação sobre as suas

ações.

Também nestes fóruns se identificou a necessidade de, na realidade atual, se investigar e

avaliar formas de desenvolvimento do currículo nas áreas das expressões artísticas. O presente

estudo procura contribuir para o preenchimento dessa necessidade.

No que respeita ao ponto 2, não tendo a intenção de fazer uma exaustiva apresentação

retrospetiva sobre a evolução da educação artística em Portugal, enunciamos, de seguida,

alguns dos factos que dizem respeito à integração pedagógica das artes visuais nos currículos,

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particularmente no que respeita ao 1º Ciclo do Ensino Básico2

Começamos por fazer referência a António Aurélio da Costa Ferreira (1879-1922) que,

em 1916, escreveu um ensaio intitulado Arte na Escola e a Palyart Pinto Ferreira (1880-1946)

que, também no mesmo ano, escreveu O Ensino do Desenho na Escola Primária, sendo

ambos próximos da pedagogia da Escola Nova. Este último, enquanto responsável pela

Instrução Pública, fez publicar normas sobre o Ensino do Desenho na Escola Primária e

propôs currículos que davam importância à Arte, ao ensino do desenho e aos trabalhos

manuais (Fróis, 2005). No entanto, as reformas que se concretizaram em 1918 e 1919 visaram

sobretudo os programas liceais de Desenho, passando este a ser considerado também um

exercício criativo (Amaral, 2005).

. Destacamos também alguns

contributos dos principais protagonistas que intervieram neste domínio.

Durante o Estado Novo, e com a Reforma Educativa de 1936, «o ensino estrito das letras e

dos números, eram saberes bastantes para formar cidadãos preparados para a obediência ao

regime» (Amaral, 2005, p.434) e estava fora de questão o incentivo à criatividade. O currículo

do ensino primário incluia Português, Aritmética, Moral, Ginástica e Canto, e excluía o

Desenho, que já anteriormente era pouco valorizado.

Até à primeira metade do século XX, os lavores e o desenho geométrico eram as

principais experiências «artísticas» realizadas pelas crianças na escola. Entretanto, neste

período, surgiam na Europa as teorias de Frank Cizek, Herbert Read, Viktor Lowenfeld e

John Dewey sobre a expressão livre e a ligação entre a educação e a Arte. A criação do Ciclo

Preparatório, em 1968, contemplou o Desenho, ao qual o programa se referia como «poderoso

instrumento de cultura geral e estética, constituindo um meio original, vivo e agradável da

expressão dos sentimentos e pensamentos da criança» (Amaral, 2005, p.444), contrastando

com os programas exclusivamente dedicados à geometria que vigoravam anteriormente.

Nos anos sessenta e setenta, Manuel Calvet de Magalhães (1913-1974) e António Betâmio

de Almeida (1920-1985), enquanto metodólogos, produziram obras de referência sobre o

ensino das artes visuais e ambos influenciaram as políticas delineadas pelo Ministério da

Educação.

A realização do Colóquio Sobre o Projeto de Reforma do Ensino Artístico, em 1971, e a

«Reforma Veiga Simão» deram ênfase à introdução das artes no sistema de ensino, uma vez

que até aqui só decorria em contextos especiais, tendo para isso contribuído a intervenção de

Madalena Perdigão. Nos programas acentua-se «uma linha pedagógica mais fundada na

2 Para esta apresentação baseámo-nos no trabalho de Amaral (2005), por considerarmos muito completa a sua descrição sobre a evolução da educação artística em Portugal, particularmente no que respeita às artes visuais.

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psicologia e centrada nas necessidades e no desenvolvimento da expressividade criativa dos

alunos» (Amaral, 2005, p.453).

Queremos também assinalar a importância do contributo de Arquimedes de Sousa Santos.

Em 1971, foi responsável pela criação do curso de Professores de Educação Pela Arte, que

tinha por finalidade a formação de professores e educadores com formação artística e

pedagógica para utilizar as artes como metodologia de ensino. O trabalho desenvolvido por

Arquimedes de Sousa Santos, enquanto pedagogo e autor, esteve sempre ligado às conceções

de arte, estética e educação propostas por Herbert Read (especificamente na obra Educação

pela Arte, que já mencionámos anteriormente) e a sua atividade enquanto estudioso da

psicopedagogia das expressões artísticas decorreu também no Centro de Investigação

Pedagógica do Instituto Gulbenkian de Ciência e no Centro Artístico Infantil da Fundação

Calouste Gulbenkian (respetivamente, nos anos sessenta e oitenta do século XX).

Em 1973, publicou-se a Lei de Bases da Educação Nacional (Lei n° 5/73, Diário do

Governo - I Série, n° 173, de 25 de julho), trazendo esta algumas inovações educativas. Nesta

lei é mencionado que o Estado tem a obrigação de proporcionar condições propícias para o

desenvolvimento da criatividade dos alunos, ganhando também relevo a educação artística,

passando esta a estar prevista nas atividades escolares do ensino primário.

Após o 25 de abril de 1974, foram várias as alterações nos currículos e na organização do

sistema educativo levadas a cabo pelo novo poder instituído. Segundo Amaral (2005, p.459) a

escola passa a ser vista como um «agente de transformação social do meio, o aluno passa a

constituir o centro do processo de ensino/ aprendizagem, buscando estimular-se a sua

criatividade expressiva e compreensiva, a partir da realidade do seu meio envolvente, sendo

visto multidimensionalmente, com especial interesse na sua dimensão social; propõem-se

estratégias interativas produtivas, fomentadoras da escolha livre e responsável dos alunos».

Em 1986 foi publicada a Lei de Bases do Sistema Educativo, que, para além de incluir

múltiplas referências ao desenvolvimento da criatividade, conferiu à promoção da educação

artística uma grande importância. Para o 1º Ciclo do Ensino Básico configurou-se a área de

Expressão e Educação para as expressões plástica, musical, dramática e físico-motora.

O programa de EEP decorre da Reforma Curricular do Ensino Básico (Decreto-Lei

n.º286/89 de 29 de agosto) que se efetuou em 1989 e vigora até aos nossos dias.

Em 1990, através do Decreto-Lei 344/1990 de 02 de novembro, foram estabelecidas as

bases gerais da organização da educação artística pré-escolar, escolar e extraescolar, sendo

assumida a sua inclusão nos currículos de todos os níveis de ensino.

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Em 2001, publica-se o documento Currículo Nacional do Ensino Básico - Competências

Essenciais (Departamento de Educação Básica do Ministério da Educação) no contexto da

Reorganização Curricular do Ensino Básico (Decreto-Lei 6/2001, de 18 de janeiro)3

A importância da educação artística tem sido reconhecida também ao nível das instâncias

europeias. Em março de 2009, o Parlamento Europeu aprovou uma Resolução que emitia as

seguintes recomendações: «a educação artística deve ser obrigatória em todos os níveis de

ensino; a educação artística deve utilizar as mais recentes tecnologias da informação e da

comunicação; o ensino da história da arte deve promover encontros com artistas e visitas a

espaços culturais» (Eurydice, 2010, p.8). Para a consecução destas medidas, a Resolução

apelava a uma maior supervisão e coordenação da educação artística a nível europeu,

incluindo a monitorização do impacto produzido pela educação artística nas competências dos

estudantes na União Europeia. Esta resolução, que veicula progressos ao nível das políticas

para a educação artística, surge num quadro de debates que têm sido realizados por diversos

países nos últimos anos (e aos quais já nos referimos), trazendo à luz diversos resultados da

investigação produzida.

. Também

em 2001, foi publicado o Decreto-Lei 241/2001, de 30 de agosto que define os perfis

específicos de desempenho profissional do educador de infância e do professor do 1º Ciclo do

Ensino Básico, estando também contempladas e descritas formas de desempenho do professor

do 1º Ciclo no âmbito da educação artística.

Em outubro de 2010, foram apresentadas as «Metas de Aprendizagem» que surgem

enquadradas na Estratégia Global de Desenvolvimento do Currículo Nacional delineada pelo

Ministério da Educação no final do ano de 2009 e que consistem na «conceção de referentes

de gestão curricular para cada disciplina ou área disciplinar, em cada ciclo de ensino,

desenvolvidos na sua sequência por anos de escolaridade, incluindo ainda metas finais para a

Educação Pré-escolar» (Ministério da Educação, 2010). A identificação das metas justifica-se

pela necessária «reorganização e clarificação da globalidade das prescrições e orientações

curriculares» que advieram dos processos de reorganização curricular que se iniciaram em

2001. Para a EEP, as Metas de Aprendizagem organizam e clarificam orientações curriculares

que constam do Programa do 1º Ciclo do Ensino Básico (especificamente da parte que

corresponde à EEP) e também do Currículo Nacional (especificamente das partes que

correspondem à Educação Visual e à Educação Artística, na qual também se enquadra a

Educação Visual).

3 A parte relativa à Educação Artística e Educação Visual é apresentada no Capítulo I – Enquadramento teórico.

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Também no final de 2010, foi apresentada uma iniciativa do Ministério da Educação

denominada «Programa de Educação Estética e Artística», um plano de intervenção no

domínio das diferentes formas de arte (Plástica, Música, Dança, Dramática/ Teatro) em

contexto escolar, em parceria com as diferentes instituições culturais (museus, teatros,

academias, entre outras). O referido programa abrangeu no ano letivo de 2010/2011 cerca de

cinco mil alunos da Educação Pré-escolar e do 1º Ciclo em 22 agrupamentos de escolas e

perspetiva-se que se generalize a sua implementação no ano letivo 2012/2013. Com este

programa procura-se o alargamento de horizontes culturais dos alunos e a melhoria das

práticas educativas no âmbito das expressões artísticas. Especificamente, as suas finalidades

são: desenvolver ações conjuntas e mutuamente enriquecedoras entre Escola e Instituições

Culturais, antecipando a cultura como uma necessidade no processo educativo; incentivar a

dimensão estética da educação através da apropriação da linguagem das várias formas de arte;

implementar estratégias, interativas e participantes, cujas ações assegurem a articulação

curricular e integrem a dinâmica de diversas linguagens; sensibilizar os docentes e as famílias

para o papel da arte na formação das crianças e para a sua relação com outras áreas do saber;

estimular o conhecimento do património cultural e artístico como processo de afirmação da

cidadania, assim como um meio de desenvolver a literacia cultural (DGIDC, 2010).

Este programa tem como eixos de intervenção as parcerias com as instituições culturais; a

dinamização de oficinas nos contextos escolar e cultural; a formação de docentes em contexto

de trabalho tendo por base o desenvolvimento das práticas pedagógicas com as crianças; a

definição de linhas de investigação, com a participação ativa dos diferentes agentes

educativos; e a produção e divulgação de materiais educativos (DGIDC, 2010).

Referimo-nos de seguida ao ponto 3. A Eurydice, Rede de Comunicação sobre Educação

na Comunidade Europeia, numa das suas publicações (Eurydice, 2010) debruçou-se sobre o

estado da educação artística e cultural na Europa. Neste documento são apresentados

resultados de projetos de investigação realizados em países europeus, entre os quais se

destacam os trabalhos de Robinson (1999), Sharp & Le Metáis (2000), Taggart et al (2004) e

Bamford (2006). Estes estudos apontam que, ao nível do peso que as artes têm nos currículos,

existe uma hierarquia que atribui prioridade à leitura, à escrita e à numeracia. Além disso,

entre as artes, determinadas formas artísticas (em especial as artes visuais e a música) tendem

a ser privilegiadas em relação a outras (como a arte dramática ou a dança). Apurou-se também

que os objetivos expressos nos currículos, para além de versarem as matérias relativas às

artes, realçam a importância de desenvolver a criatividade das crianças e de contribuir para a

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sua educação cultural. Ainda a este respeito, é referido que objetivos da educação artística que

visem resultados pessoais e sociais /culturais (como confiança e autoestima, expressão

individual, trabalho de equipa, compreensão intercultural e participação cultural) não têm

grande expressão na maioria dos países (Taggart et al, 2004 cit. por Eurydice, 2010).

O trabalho de Bamford (2006, cit. por Eurydice, 2010) aponta que nos primeiros anos da

educação básica as áreas artísticas são ensinadas por professores generalistas. Sugere-se, por

isso, que se pondere a preparação inicial dos professores neste campo, assim como as

condições para poderem atualizar o seu conhecimento e desenvolver as suas competências.

Relativamente à avaliação, os resultados obtidos pela mesma autora mostram que, nas artes, a

avaliação dos alunos é considerada «difícil». Constatou-se que na maioria dos países se

seguiam duas abordagens de avaliação: uma, exigia aos professores que efetuassem uma

apreciação profissional individual em relação às metas e ao conteúdo do currículo; a outra,

implicava que o professor atribuísse uma nota ao desempenho dos alunos em função do

desempenho considerado «norma» num determinado grupo etário ou ano escolar.

Identificou-se então a necessidade de «a própria avaliação ser um ato criativo» em que «os

métodos de avaliação têm de captar os diferentes tipos de aprendizagem vividos por cada

criança enquanto executante, apreciadora ou mesmo enquanto criadora» (Eurydice, 2010,

p.10).

Também se constatou que se consolidou a expetativa de que as escolas poderão oferecer

oportunidades extracurriculares na área da arte e cultura, tendo assim o poder de compensar

desigualdades, permitindo o acesso a recursos culturais aos jovens de grupos desfavorecidos

(Robinson,1999 e Sharp & Le Metáis, 2000, cit.por Eurydice, 2010).

A participação de artistas profissionais na educação artística foi recomendada pelos

estudos realizados (Robinson,1999; Sharp & Le Metáis, 2000; Bamford, 2006), tendo sido

apontados os seguintes motivos: aumentar a qualidade do ensino e da aprendizagem no

domínio das artes, incentivar maior criatividade, melhorar as competências e a confiança dos

professores e permitir o acesso a um leque mais vasto de recursos culturais. A este respeito, é

referido também que «a educação artística de qualidade tende a caraterizar-se por uma forte

parceria entre as escolas e organizações artísticas externas e comunitárias» (Eurydice, 2010,

p.11).

Foram também referidas recomendações que vão no sentido de o currículo ao nível das

artes, no século XXI, incluir os novos meios de comunicação (cinema, fotografia, artes

digitais) e permitir aos alunos a utilização de TIC no processo criativo. Também se

recomenda que deverão ser reforçadas as atividades transversais que articulem as disciplinas

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artísticas e outras não artísticas em trabalho conjunto em torno de temas criativos e/ ou

culturais (Sharp e Le Métais, 2000; Taggart et al., 2004; Bamford, 2006).

A Rede Eurydice realizou também um estudo cujas conclusões convergem com alguns

dos aspetos apontados (Eurydice, 2010). Este estudo dá-nos uma perceção da oferta de

educação cultural e artística presente nos currículos de 30 países e do modo como o papel da

educação artística na formação de competências dos jovens para o século XXI tem sido

amplamente reconhecido. Portugal foi também um dos países estudados. De seguida,

destacamos algumas das conclusões que, especificamente, dizem respeito às artes visuais e ao

1º Ciclo:

• Os principais objetivos da educação artística são bastante semelhantes em todos os

países estudados. Quase todos os países mencionam “competências, conhecimento e

compreensão a nível artístico”, “apreciação crítica”, “património cultural”,

“expressão/identidade individual”, “diversidade cultural” e “criatividade” como

objetivos; São também contempladas as ligações entre as artes e outras áreas

curriculares;

• Quanto à conceção dos currículos, podem ser encontradas situações em que cada área

artística é tratada individualmente e casos em que as áreas artísticas constituem um

conjunto integrado (a área de «artes»); Em todos os países estudados, os currículos

incluem a música e as artes visuais, e em muitos casos também incluem a arte

dramática, a dança e os trabalhos manuais. As artes da comunicação e a arquitetura

também integram o currículo artístico obrigatório em alguns países, como é o caso da

comunidade flamenga da Bélgica, da Finlândia e da Noruega, entre outros;

• Todos os alunos do nível primário (1.º e 2.º ciclo do ensino básico, em Portugal)

frequentam algum tipo de educação artística obrigatória;

• O tempo mínimo obrigatório dedicado ao ensino na educação artística atinge

aproximadamente 50 a 100 horas por ano no nível primário (1.º e 2.º ciclo do ensino

básico, em Portugal) em cerca de metade dos países europeus estudados (entre eles,

podemos indicar como exemplos a Letónia, a Hungria, a Eslováquia, a Islândia e

Chipre);

• Quase todos os países europeus estudados incentivam as escolas a proporcionarem

atividades extracurriculares ao nível das artes;

• A utilização das TIC é explicitamente mencionada como parte do currículo artístico

em diversos países (é o caso da comunidade germanófona da Bélgica, da República

Checa, da Dinamarca, da Irlanda, da Espanha, da Finlândia, da Noruega, entre

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outros). Nos outros, existem iniciativas ou recomendações concebidas especificamente

para fomentar a sua utilização (damos como exemplos a Eslovénia e Malta);

• As escolas na Europa estão a desenvolver ações destinadas a aproximar os alunos do

mundo das artes e da cultura. Na maioria dos países, são promovidas iniciativas para

organizar visitas a locais de interesse artístico e cultural ou para criar parcerias com

artistas. No caso de Portugal, é focada uma iniciativa da DGIDC denominada “A

minha escola adota um museu”, cuja principal finalidade é estimular o conhecimento

dos alunos relativamente à Rede Portuguesa de Museus e sensibilizá-los para a

necessidade de conservar e proteger o património cultural;

• Os critérios de avaliação na educação artística são normalmente definidos a nível das

escolas pelos próprios professores tendo por base os objetivos de aprendizagem

constantes do currículo ou nas orientações fornecidas pelas autoridades educativas. No

nível primário (1.º e 2.º ciclos do ensino básico, em Portugal) a prática mais vezes

mencionada é a utilização de comentários verbais e acontece em doze países

(Bulgária, República Checa, Estónia, Grécia, Letónia, Lituânia, Hungria, Malta,

Polónia, Portugal, Finlândia e Noruega);

• No nível primário (1.º e 2.º ciclos do ensino básico, em Portugal), a educação artística

é geralmente assegurada por professores generalistas, ou seja, professores que ensinam

todas ou quase todas as disciplinas do currículo;

• Os artistas profissionais raramente podem ensinar as suas artes nas escolas, a não ser

que possuam habilitações adequadas para a docência.

Este estudo também realça que para promover a educação artística, a tendência a seguir é

uma «abordagem de colaboração» que, ao nível das escolas, envolva os artistas profissionais e

as instituições artísticas. Na realidade portuguesa, o Programa de Educação Estética e

Artística, a que já nos referimos, vem ao encontro desta tendência.

Por último, referindo-nos ao ponto 4, salientamos que a realidade da área curricular de

EEP no 1º Ciclo nas escolas portuguesas não tem sido muito estudada. No entanto, quisemos

destacar alguns exemplos de estudos realizados nos últimos anos que focam esta área de

modo específico, ou que se centram sobre a generalidade das expressões artísticas.

É o caso do estudo de Guimarães (1999) que incide sobre a integração curricular da EEP

no 1º Ciclo e no qual se concluiu que, no contexto investigado, a expressão plástica é utilizada

fundamentalmente com funções de complemento da aprendizagem, isto é, para consolidar e

concretizar matérias referentes a outras áreas do currículo. Constatou-se também que as

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poucas atividades realizadas nesta área são orientadas pelo professor, utilizando materiais

pobres, pouco estimulantes e explorados de forma funcional e diretiva.

Barroso (2000) no seu estudo sobre a relevância da arte na educação e na interiorização

dos saberes, constatou que, apesar de os professores do 1º Ciclo reconhecerem a importância

desta área expressiva, há uma discrepância entre aquilo que «pensam e dizem» e aquilo que

«fazem». Este estudo dá conta também das necessidades sentidas pelos professores quanto a

uma maior e melhor formação nas áreas das expressões.

Parece-nos de grande relevância o trabalho realizado por Fróis (2005) sobre a perspetiva

histórica das Artes Visuais na Educação. Este autor aponta três fatores que têm determinado a

secundarização da Arte na Educação: por hedonismo, ou seja, pelo facto de a Arte ser

encarada como um modo de entretenimento, uma ocupação frívola que é passível de escolha

opcional; por se considerar que o «génio artístico» é uma exceção à regra e se privilegiar o

ensino das outras áreas do saber em detrimento das áreas artísticas; e por último, o não

reconhecimento da importância da Arte para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social

dos indivíduos.

Merece especial destaque a investigação realizada por Branco (2006) na qual se faz uma

avaliação ao desenvolvimento do currículo da EEP através de dois estudos de caso. Apesar de

ser muito circunstancial, a sua investigação concluiu que: o currículo oficial apenas tem uma

influência burocrática nas planificações; a área de EEP não tem qualquer relevância no

Projeto Curricular de Turma; a EEP é desenvolvida nas aulas através de atividades

esporádicas e espontâneas, baseadas mais nas conceções e conhecimentos dos professores do

que no currículo oficial; e que existe uma relação limitada entre o currículo prescrito e aquele

que é implementado. Deste estudo ressaltam ainda outros dados, tais como a referência à

pouca importância da EEP comparativamente com as outras áreas e de esta ser vista como

uma ocupação dos tempos livres e, também, ao facto de as atividades de EEP serem realizadas

sobretudo em alturas festivas, não serem planificadas e não terem relação com as orientações

curriculares oficiais, nomeadamente o Programa do 1º Ciclo e o Currículo Nacional. Na

opinião desta autora, o professor gere o currículo consoante as suas vontades, conceções e

vocações e não com o intuito de assegurar o melhor ensino para os alunos.

No entanto, outros contributos mostram a área de EEP numa posição diferente. É o caso

do trabalho de Félix (2004) que se centrou na relação entre a EEP e a Matemática, verificando

que os alunos quando falam das suas produções plásticas mencionam uma grande diversidade

de conceitos matemáticos; no seu estudo concluiu também que alunos com diferentes

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desempenhos em Matemática têm diferentes níveis de «maturidade» ao nível da expressão

plástica.

Referimos também o trabalho de Cristóvão (2005) que investigou sobre questões de ensino

e aprendizagem relacionadas com a utilização das Tecnologias de Informação e Educação,

nomeadamente, como recurso no desenvolvimento de atividades de EEP. As conclusões do

seu estudo mostram que os professores sobre os quais recaiu a investigação reconhecem a

importância da expressão plástica no desenvolvimento das crianças e referem que esta tem um

lugar de destaque nas suas práticas pedagógicas; as atividades de expressão plástica são

realizadas frequentemente e são diversificadas no que respeita à exploração de técnicas e

materiais; os professores proporcionam aos alunos momentos facilitadores do conhecimento

do mundo da arte, fazendo visitas de estudo a museus e galerias de arte, participando em

ateliês e contactando diretamente com artistas; o computador é utilizado para fazer pesquisas

na internet sobre artistas e obras artísticas e no uso de programas de desenho, como o Paint;

na execução de trabalhos são ainda utilizados outros equipamentos, tais como a impressora, o

scanner e a câmara digital; os professores revelaram-se conhecedores do Currículo Nacional,

fazem frequentemente pesquisas e envolvem-se em ações de formação sobre a área de

expressão plástica; os professores reconhecem que a expressão plástica promove o

desenvolvimento de habilidades e competências que vão ser úteis para a aprendizagem de

outras áreas.

Consideramos importante referir ainda outros contributos, como o estudo de Gradíssimo

(2007), sobre “a obra de arte como caminho para a literacia artística”. Este estudo, apesar de

se reportar à disciplina de Educação Visual e Tecnológica do 2º Ciclo do Ensino Básico,

aborda aspetos relativos à aproximação à obra de arte, um dos conteúdos explícitos nos

documentos curriculares do 1º Ciclo, e por isso, representa alguma afinidade com a temática

da presente investigação. Sendo assim, algumas das conclusões apresentadas mencionam que

a obra de arte possibilita o desenvolvimento da literacia artística e facilita a compreensão e

exploração de técnicas de expressão plástica; enquanto material didático, pode ser utilizada

como instrumento de exploração de diferentes temáticas e em diferentes áreas; é uma

ferramenta de trabalho importante para a integração e definição de conteúdos; motiva os

alunos para as aprendizagens e para as suas produções artísticas.

Outros estudos, igualmente afins, também têm sido realizados na Educação Pré-Escolar.

Como exemplos, destacamos o trabalho de Gameiro (2009) com o título O Lugar e o Não

Lugar da Expressão Plástica / Artes Plásticas nos Projectos Curriculares e nas Acções dos

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Educadores de infância e o trabalho de Ferreira (2009) com o título A abordagem da obra de

arte, em sala de aula, no jardim-de-infância, com crianças de 5/6 anos.

A proximidade que temos com a realidade das práticas educativas no 1º Ciclo do Ensino

Básico numa grande diversidade de contextos permitiu-nos observar e conhecer diferentes

formas de gerir e desenvolver o currículo levadas a efeito por professores em monodocência.

O principal aspeto a destacar prende-se com o “espaço curricular” e o modo como se

desenvolve o ensino e a aprendizagem nas áreas das expressões artísticas, nomeadamente em

EEP.

Foram muito diversos os contextos que tivemos oportunidade de conhecer (escolas em

meio rural e em meio urbano em localizações diversas, práticas de professores em diferentes

fases da carreira, professores e turmas de diferentes anos de escolaridade, escolas com

diferentes recursos e diferentes formas de acesso a bens culturais, entre outros aspetos). Por

aquilo que pudemos observar, a Expressão e Educação Plástica (tal como a Musical,

Dramática e Físico-motora) ocupa um lugar diminuto no tempo letivo e as atividades

desenvolvidas não privilegiam o desenvolvimento da sensibilidade estética, da criatividade,

da comunicação, da perceção, da observação, das destrezas e da expressão, tal como indicam

as orientações curriculares. Da mesma forma, é diminuto o contacto com materiais de

expressão plástica que ampliam as possibilidades expressivas e criativas (como tintas, barro e

pastas de modelar, entre outros); é pouco significativa a exploração de técnicas diversificadas

de expressão plástica; não são desenvolvidas abordagens efetivas aos conteúdos sugeridos

pelas competências específicas de Educação Visual; não é proporcionada a aproximação e o

contacto com a obra de arte.

Por estes motivos, consideramos que as atividades que tomam lugar como “expressão

plástica” na realidade não o são. As atividades desenvolvidas resumem-se à prática de colorir

figuras (policopiadas ou incluídas nos manuais), à cópia de formas utilizando modelos, ao

recorte e montagem orientada de brinquedos /objetos de papel que constam dos manuais,

entre outros exercícios que, tais como estes, consistem na reprodução de estereótipos visuais.

Nestes exercícios é muito limitada a possibilidade de criar e deles, resulta o empobrecimento

da expressão. Apenas a prática de desenhar concretiza, de uma forma mais substancial, os

objetivos da EEP. No entanto, esta prática é muitas vezes relegada para o fim do dia ou para o

preenchimento de tempo entre atividades de outras áreas e é muito limitada no que respeita à

utilização de suportes e materiais.

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O Currículo Nacional do Ensino Básico identifica um conjunto de competências

específicas em Educação Visual a adquirir e a desenvolver pelos alunos do 1º Ciclo. Este

documento, em vigor desde 2001, veio complementar e enriquecer as orientações curriculares

incluídas no programa da área de EEP. No entanto, não reconhecemos que esta mudança no

currículo prescrito tenha tido efeitos sobre as práticas dos professores. Esta perceção ganhou

forma através do contacto que mantivemos com professores e contextos escolares muito

diversos enquanto acompanhámos as práticas pedagógicas de professores em formação.

Estes aspetos que agora salientámos estão em coerência com os dados dos estudos de

Guimarães (1999), Barroso (2000) e Branco (2006). No entanto, todos estes dados se opõem

às conclusões apresentadas no estudo de Cristóvão (2005).

2. Identificação do problema

A contextualização do estudo que acabámos de fazer mostra como a educação artística, na

qual se inclui a EEP do 1º Ciclo do Ensino Básico, tem sido alvo de questionamentos,

reflexões e debates em diversos contextos.

Enumerámos também a sucessão de mudanças curriculares que têm afetado o

desenvolvimento da área de EEP. Porém, constatamos que não são conhecidos resultados de

avaliações que, feitas intencional e sistematicamente, revelem os efeitos dessas mudanças. Ou

seja, não se tem a perceção do seu valor nem se conhece quais têm sido os seus efeitos no

ensino e na aprendizagem, no contexto da área de EEP. No entanto, no quadro atual,

verificamos que se efetivam e se perspetivam novas mudanças, nomeadamente, a

implementação das Metas de Aprendizagem e do Programa de Educação Estética e Artística e

a reestruturação do Programa do 1º Ciclo do Ensino Básico.

A análise dos documentos curriculares permite-nos conhecer bem a EEP ao nível do

currículo formal. No entanto, o conhecimento que se tem sobre o modo como os professores

gerem e desenvolvem o currículo nas suas práticas é muito limitado, como aliás vimos através

das conclusões obtidas nos estudos que atrás enumerámos. Os efeitos do currículo sobre a

aprendizagem dos alunos resultam do trabalho que é feito no quotidiano escolar. Por isso,

para conhecer esses efeitos é necessário conhecer o currículo real, que se desenvolve no micro

espaço curricular, e que é a dimensão menos conhecida do desenvolvimento do currículo de

EEP nas escolas públicas portuguesas.

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Assim sendo, propusemo-nos desenvolver um estudo de avaliação do currículo de EEP

que contribuísse para a construção e ampliação desse conhecimento. Para tal, pretendemos

criar um referencial de avaliação – seguindo a metodologia da referencialização sugerida por

Figari (1996) – que descrevesse o currículo de EEP em diferentes dimensões. Assim,

procedemos à constituição de referentes, com origem no currículo formal, no currículo ideal e

no currículo real representado pelos professores, assim como o ensaio da sua aplicação no

contexto onde se concretiza a EEP. Desta forma, perspetivámos a validação do referencial e a

clarificação da relação que se estabelece entre aquilo que se pretende que os alunos aprendam

– e que é explícito ao nível do currículo formal –, o que é saliente no plano dos princípios

teóricos e pedagógicos sobre EEP – e que enforma o currículo ideal – e o que efetivamente

carateriza o modo de ensinar e aprender – e que se traduz no currículo real. Ou seja, através

deste processo, buscámos o conhecimento sobre as relações e os pontos de coerência e/ ou de

discrepância entre as três dimensões: o currículo formal, o currículo ideal e o currículo real.

3. Objetivos e questões de investigação

Para dar resposta ao problema enunciado e para pôr em prática o processo de estruturação

do sistema de referências, definimos dois objetivos para o trabalho a realizar:

1. Construir conhecimento sobre o currículo de EEP nas três dimensões enunciadas –

formal, ideal e real;

2. Construir conhecimento sobre o contributo da metodologia da referencialização para a

avaliação do currículo de EEP.

Relativamente ao objetivo 1, que conforme explicámos, se refere às relações e aos pontos

de coerência e/ ou de discrepância entre o currículo formal, currículo ideal e currículo real,

considerámos que remete para as seguintes questões:

Questão 1. Como se caraterizam as práticas pedagógicas em Expressão e Educação Plástica?

Questão 2. Que representações têm os professores sobre as suas práticas pedagógicas na área

de Expressão e Educação Plástica?

Questão 3. Como foi acolhido, entendido e que implicações teve na prática o texto curricular

«Competências em Educação Visual»?

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Questão 4. Em que medida as práticas dos professores se enquadram nos princípios

científicos e pedagógicos da literatura mais recente sobre Expressão e Educação Plástica?

O objetivo 2 refere-se às potencialidades da referencialização enquanto metodologia de

construção de um sistema de referências (referencial), com origem na investigação, que

descreve e explica algo a ser objeto de avaliação. Considerámos que a sua formulação suscita

a seguinte questão:

Questão 5. Em que medida a construção do referencial permite descrever o currículo de

Expressão e Educação Plástica, em diferentes dimensões, e operacionalizar a sua avaliação?

Estas questões configuraram a necessidade de um enquadramento teórico que estruturasse

e orientasse o trabalho a desenvolver, fazendo um aprofundamento relativamente aos

principais conceitos envolvidos: a “avaliação”, o “currículo” e a “expressão plástica”. Assim,

dada a natureza do trabalho a realizar, efetuou-se uma revisão de literatura sobre conceções,

modelos e perspetivas atuais sobre “avaliação”, tendo como núcleo central os pressupostos

relativos à metodologia adotada neste trabalho – a referencialização.

A revisão teórica incidiu também sobre o “currículo” e os níveis em que este se

desenvolve. Focando especificamente dimensões do currículo de EEP que estruturam o

sistema de referências construído, salientamos que, no que respeita à dimensão do “currículo

formal”, se analisaram os textos curriculares que enquadram a EEP, isto é, o Programa do 1º

Ciclo do Ensino Básico, particularmente a parte relativa à área de EEP, e o Currículo

Nacional do Ensino Básico, focando principalmente as Competências em Educação Visual.

Relativamente à dimensão do “currículo ideal”, que compreende os princípios teóricos e

pedagógicos sobre EEP, foram abordados o conceito de “expressão plástica” e outras

temáticas relevantes para o aprofundamento deste assunto, tais como: o desenvolvimento

gráfico e plástico na infância; o desenvolvimento da criatividade através da expressão

plástica; e atitudes pedagógicas e opções metodológicas para a prática criativa da expressão

plástica.

Os procedimentos metodológicos que constituíram a recolha e análise dos dados foram

também estudados atendendo aos seus fundamentos teóricos4

4 Estes são apresentados ao longo do Capítulo II – Metodologia.

.

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Em suma, queremos salientar que as questões de investigação /avaliação que decorrem do

objetivo 1 assentam num dos conceitos-chave deste trabalho, o “currículo”, e nas três

dimensões em que é considerado enquanto suporte de construção do sistema de referências.

Representamos essa correspondência na Figura 1 e, em seguida, apresentamos uma breve

explicitação sobre este conceito e as três dimensões enunciadas.

Figura 1 – Correspondência entre as dimensões do currículo consideradas no sistema de referências e as questões de

investigação / avaliação relativas ao objetivo 1.

Alonso (1994, p.18) entende o currículo como um «projeto integrado e global de cultura

(aprendizagens a realizar) e de formação (capacidades a desenvolver) que fundamenta,

articula e orienta as decisões sobre a intervenção pedagógica nas escolas, com o fim de

permitir uma mediação educativa de qualidade para todos os alunos». Também Roldão (2001,

p.19) partilha desta visão referindo que o currículo é «o conjunto de aprendizagens

necessárias para as pessoas e necessárias para a sociedade, e porque são necessárias é preciso

garanti-las a todos».

Conforme foi referido, o presente estudo incide sobre diferentes níveis de

desenvolvimento do currículo: o formal, que é determinado pela administração central e

adoptado pela estrutura organizacional escolar (Pacheco, 2001); o ideal, que engloba os mais

recentes fundamentos teóricos, técnicos e práticos subjacentes ao ensino e à aprendizagem

(Peralta, 2005); e o real, que é o que acontece na prática diária da escola, o «conjunto de

experiências, de tarefas, de atividades que geram ou que se pressupõe que gerem

aprendizagens» (Perrenoud, 1995, p.51).

O currículo real resulta, em parte, da interpretação que o professor faz do currículo formal,

da sua conceção de trabalho escolar e de todas as limitações que decorrem da gestão efetiva

da aula. As orientações e prescrições do currículo formal servem de referência para o

CURRÍCULO FORMAL

Como se caraterizam as práticas pedagógicas em EEP?

Que representações têm os professores sobre as suas práticas pedagógicas na área de EEP?

CURRÍCULO IDEAL

CURRÍCULO REAL

Como foi acolhido, entendido e que implicações teve na prática o documento curricular «Competências em Educação Visual»?

Em que medida as práticas dos professores se enquadram nos princípios científicos e pedagógicos da literatura mais recente sobre EEP?

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desenvolvimento do currículo real. Não devem, no entanto, ser vistas de forma rígida, pois

como diz Vilhena (1999, p.65), o currículo real corre o risco de ser um veículo de

normalização se do referente formal ressaltar a definição de aprendizagens iguais exigidas a

todos os alunos sob a forma de um currículo comum. Ainda para esta autora, o professor é,

agora, desafiado a arquitetar um currículo real que considere a heterogeneidade humana, a

singularidade dos contextos e a sua própria autonomia enquanto professor.

Também neste sentido, Roldão (1999, p.28) refere que o currículo deve ser organizado em

contexto e deve ser gerido de forma flexível, ainda que «se tenha de manter sempre presente a

necessidade de garantir que todos percorrem um certo caminho comum, balizado pelas

competências de que todos precisarão». Diferenciar atividades e estratégias, inserir a

aprendizagem das disciplinas formais nos contextos dos alunos e em projetos curriculares

significativos, perceber como os alunos leem o mundo para que possam ter acesso a novas

leituras, são algumas das vias que concretizam uma gestão flexível do currículo.

4. Breve apresentação do percurso metodológico

Tal como foi referido, a investigação realizada é um estudo de avaliação em que o objeto é

o currículo da área de Expressão e Educação Plástica do 1º Ciclo do Ensino Básico nas suas

diferentes dimensões. Esta avaliação contribui para a compreensão do modo como se processa

o desenvolvimento curricular da EEP nas escolas públicas portuguesas e, consequentemente,

pretende contribuir para a sua melhoria.

O estudo situa-se, assim, na perspetiva da avaliação do currículo – ou avaliação de

programas - que, na definição de Patton (2003), corresponde à recolha sistemática de

informação sobre as atividades, as caraterísticas e os resultados de um programa (ou

currículo), para, a partir dessas informações, emitir juízos e perspetivar a melhoria da sua

eficácia e /ou a tomada de decisões relativamente a futuros programas ou currículos.

Para Anderson (1990), este processo compreende:

- a descrição dos métodos a utilizar (quantitativos e/ ou qualitativos);

- a definição do problema, que corresponde à apresentação dos motivos que justificam a

realização da avaliação;

- os procedimentos, que englobam as decisões relativas aos aspetos práticos do estudo

(delineação do plano de trabalho, seleção de fontes de informação, formulação de questões,

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construção de instrumentos) e a recolha efetiva dos dados, através das estratégias

anteriormente selecionadas;

- o tratamento e análise dos dados recolhidos;

- e a redação de um relatório final, apresentando os propósitos da avaliação, a metodologia

seguida, os resultados e as recomendações.

Em termos gerais, uma “avaliação” refere-se ao processo de determinar o valor e o mérito

de algo (Scriven, 1991). Por outras palavras, deve traduzir-se num processo consistente de

conceber, obter e comunicar informação que permita formar um juízo de valor e marcar uma

orientação para a tomada de decisões (Stenhouse,1991).

Hadji (1994, p.178) considera o ato de avaliar como um juízo sobre uma realidade,

articulando uma «certa ideia ou representação do que deveria ser» e um conjunto de dados

factuais respeitantes a essa realidade.

O avaliador necessita, por isso, de uma «grelha de referência que lhe permita ler e dizer a

realidade» (Hadji,1994, p.178).

Para Lesne (1984, p.132), «avaliar é pôr em relação, de forma explícita ou implícita, um

referido (o que é constatado ou apreendido de maneira imediata, o que é objeto de uma

investigação sistemática ou de uma medida) com um referente (o que desempenha o papel de

norma, o que deve ser, o que é o modelo, o objetivo perseguido, etc.)». Partindo desta ideia,

avaliar é confrontar «dados de facto» («o real», «o existente») com o ideal e com o desejado,

e esperado, que é composto de normas, objetivos ou critérios, e permite atribuir um valor,

uma utilidade ou uma significação aos dados concretos que constituem o referido (Rodrigues,

1993, p. 25). Assim, o processo de avaliação engloba um conjunto de práticas destinadas a

construir o referente e o referido e, ainda, o confronto entre o referente e o referido (Lesne,

1984, cit. por Rodrigues, 1993, p. 26).

A construção do referente é para Figari (1996) a “referencialização”, isto é, a construção e

operacionalização de um sistema de referências. Neste processo, procuram-se referentes

pertinentes que possam explicar e justificar a conceção e a avaliação de um dispositivo

educativo (a explicitação deste conceito será retomada mais à frente).

O trabalho realizado e que aqui apresentamos – um estudo de avaliação do currículo da

área de Expressão e Educação Plástica no 1º Ciclo do Ensino Básico – baseou-se nesta

metodologia.

Figari (1996, p.52) designa a referencialização como um «processo de elaboração do

referente, que consiste em assinalar um contexto e em construir, fundamentando-o com dados,

um corpo de referências relativo a um objeto ou situação, em relação aos quais poderão ser

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estabelecidos diagnósticos, projetos de formação e avaliações». Este autor apresenta-nos a

referencialização como uma metodologia de investigação e avaliação que se carateriza por

utilizar um referencial que é construído e que permite analisar e comparar a situação desejada

(ou ideal) com a situação real; por utilizar vários procedimentos com o objetivo de recolher e

tratar dados relativamente à estrutura e função do dispositivo educativo a avaliar; e por

último, por utilizar a formulação de hipóteses, tendo em vista a explicitação de resultados.

De uma forma mais sistematizada, Alves (2004, pp. 96-97) explica os objetivos essenciais

do processo de referencialização: (1) encontrar e/ ou construir referentes; (2) operar

diagnósticos provisórios que se destinam a motivar o prosseguimento da procura sistemática

de informações; (3) definir dimensões de avaliação abrindo categorias de questionamento que

desembocarão na formulação dos critérios utilizados para a avaliação; (4) delimitação do

contexto num ambiente multiforme, criando um quadro em relação ao qual os diagnósticos

poderão ser discutidos; (4) justificar e nomear os critérios que presidirão à avaliação.

Importa ainda explicitar o que se entende por “dispositivo educativo”. Este termo refere-se

a «estruturas» que, por desempenharem funções com finalidades de aprendizagem e produção

de resultados, se podem considerar «educativas», tais como: instituições; organismos e

serviços de formação; estabelecimentos escolares; sistemas de apoios de formação de

professores e de formadores; ciclos e grupos de formação; currículos; e organizações

particulares de projetos ou de outros sistemas de orientação de ações educativas (Figari, 1996,

pp. 29-31). No contexto do estudo realizado, pode considerar-se que a noção de dispositivo

educativo se adequa ao «objeto» já apresentado, isto é, o desenvolvimento do currículo é uma

«estrutura» pois forma um conjunto estruturado que integra quatro componentes principais:

justificação teórica, elaboração/planeamento, operacionalização e avaliação (Pacheco, 2001,

p.25); e é «educativa» porque se refere a processos que visam a construção de aprendizagens

e o desenvolvimento de competências que decorrem em espaços socialmente convencionados

como sendo espaços de educação.

Nesta sequência, e perante os objetivos deste trabalho, nomeadamente o objetivo 2

anteriormente enunciado, considerámos adequado adotar a prática de avaliação sugerida por

Figari (1996), ou seja, construir um referencial de avaliação. O processo de referencialização,

isto é, a elaboração deste sistema de referências constituiu a primeira fase do estudo – a

construção do referencial de avaliação.

A operação de construção do referencial respeita as questões de investigação/ avaliação

que decorreram da formulação do objetivo 1, pois estas expressam as «preocupações

essenciais que justificaram a operação de avaliação» (Figari, 1996, p.160). Assim sendo, o

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referencial deve «preparar» e «situar» as respostas a obter relativamente às expetativas

levantadas com as questões colocadas.

Neste sentido, e estabelecendo paralelismo com as dimensões do currículo que integram

as questões de investigação já apresentadas, o referencial construído centra-se nos seguintes

elementos (referentes):

- O currículo formal;

- O currículo ideal;

- O currículo real representado.

Para Figari (1996, p. 157), avaliar um dispositivo implica uma referência prévia às

finalidades que presidem à sua própria existência e também descrever a sua «identidade». Por

conseguinte, a construção do referencial iniciou-se com a descrição e análise dos documentos

curriculares que enquadram a área de EEP no 1º Ciclo do Ensino Básico, fazendo, desta

forma, uma caraterização e explicitação do referente “currículo formal”.

Paralelamente, um levantamento aos princípios teóricos e pedagógicos sobre Expressão e

Educação Plástica permitiu constituir o referente “currículo ideal”.

Quanto ao referente “currículo real representado”, este teve origem num conjunto de

dados recolhidos junto de uma amostra representativa da população de professores do 1º Ciclo

das escolas públicas portuguesas, através da realização de um inquérito por questionário.

Sendo assim, estes dados são «representações» sobre as práticas destes professores, logo,

representações do currículo real. A integração destes dados na construção do referencial surge

como forma de envolver os «atores» no processo de caraterização e avaliação, pois, tal como

sugere Figari (1996, p.156), é necessária a «busca de sentido dos fenómenos para todos os

atores envolvidos». A construção do questionário atendeu também ao conhecimento

produzido nos estudos que incidiram sobre as práticas pedagógicas na área de EEP e que já

foram inicialmente apresentados.

Da elaboração do referencial ressaltaram as «dimensões» a avaliar. Estas, traduzem-se na

formulação de critérios e indicadores. Para Figari (1996) os critérios são o «corolário de toda

a reflexão precedente» porque realizam «a ligação, o interface entre as dimensões da

avaliação e as categorias da realidade» formando «princípios que permitem distinguir o

verdadeiro do falso, julgar, estimar, e que são caraterizados pela abstração e discriminação»

(p.109). A cada critério correspondem indicadores que, por serem observáveis, tangíveis,

manipuláveis e quantificáveis, permitem que a informação sobressaia e se efetue a

comparação induzida pelo critério (Alves, 2004, pp. 97-98).

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A segunda fase do estudo – a construção do referido “currículo real” – representa a

apreensão do real, isto é, incide sobre o funcionamento do próprio dispositivo em avaliação –

o currículo de EEP – e baseia-se na recolha de informações no seio do próprio sistema e na

respetiva interpretação (Figari,1996, p.157).

O decurso desta fase traduziu-se na realização de dois estudos de caso e foi determinado

pelas dimensões de análise que ressaltaram da construção do referencial. Isto, porque o

referencial deve orientar e justificar a procura e recolha de informação em ordem à construção

do referido (Rodrigues, 1993, p.27). É nesta fase que emerge a dimensão da prática, das

interações e do quotidiano do trabalho escolar.

Os dados obtidos constituem o «referido» e representam a desocultação do currículo real,

isto é, a caraterização e conhecimento do que acontece na prática diária, e que é observável e

real, relativamente à área de EEP.

A terceira fase – a aplicação do referencial de avaliação – corresponde ao ensaio de

validação do referencial, enquanto instrumento de avaliação. Esta validação decorre da

aplicação do instrumento, ou seja, da sua confrontação e comparação com o referido (o

currículo real).

Deste processo, resulta a avaliação do currículo de EEP no 1º Ciclo do Ensino Básico,

conforme nos mostra a Figura 2.

As conclusões e produtos produzidos a partir do presente trabalho de investigação e

avaliação contribuem para o conhecimento de formas de ação dos professores do 1º Ciclo e,

consequentemente, para a melhoria das práticas letivas na área curricular de EEP.

Focando especificamente as estratégias e técnicas para a recolha e organização de dados

que adotámos, salientamos que, na primeira fase, para a construção dos referentes “currículo

formal” e “currículo ideal” se recorreu à pesquisa documental em textos curriculares e em

literatura científica sobre EEP. Esta análise resultou, tal como foi referido, na formulação de

dimensões a avaliar, critérios e indicadores considerados posteriormente na efetivação da

avaliação. Quanto à construção do referente “currículo real representado”, esta remeteu-nos

para uma recolha de dados feita em extensão e enquadrada, naturalmente, numa abordagem

quantitativa.

Na segunda fase (construção do referido “currículo real”), procurou-se apreender o

currículo real, propriamente dito, através da caraterização das práticas pedagógicas dos

professores na área de EEP. Por isso, considerámos que a opção adequada seria realizar um

estudo descritivo e interpretativo enquadrado numa abordagem qualitativa, que permitisse

uma recolha e análise de dados em profundidade e de forma contextualizada.

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Figura 2 – Elementos constituintes do referencial e do referido.

Assim sendo, e tendo em vista o conhecimento aprofundado da realidade das práticas dos

professores do 1º Ciclo, foram realizados dois estudos de caso. Este tipo de abordagem

consiste na observação detalhada de um contexto, um indivíduo, de uma fonte de documentos

ou de um acontecimento específico (Merriam,1998, cit. por Bogdan & Biklen, 1994, p.89).

A recolha de dados efetuada teve uma estruturação prévia decorrente da construção do

referencial, e recorreu a diversas técnicas, tais como: entrevistas semi-estruturadas aos

professores; análise documental em projetos curriculares, planos anuais de atividades,

planificações de aula, materiais didáticos, trabalhos realizados pelos alunos, entre outros

elementos; bem como, a observação das práticas dos professores em momentos de aula

dedicados à área de EEP. Estes procedimentos permitiram que, em cada caso estudado, se

fizesse a triangulação dos dados, para assim se confirmar a sua validade.

CURRÍCULO FORMAL - Currículo Nacional do Ensino Básico - Programa do 1º Ciclo do Ensino Básico

REFERENCIAL

CURRÍCULO IDEAL - Princípios teóricos e pedagógicos expressos na literatura mais recente e na investigação sobre Expressão e Educação Plástica

CURRÍCULO REAL «REPRESENTADO»

- Representações dos professores sobre as suas práticas na área de Expressão e Educação Plástica (recolha de dados efetuada através de um inquérito por questionário)

REFERIDO

CURRÍCULO REAL

- Caraterização das práticas pedagógicas na área de Expressão e Educação Plástica (recolha de dados efetuada através de dois estudos de caso)

AVALIAÇÃO DO CURRÍCULO DE EXPRESSÃO E EDUCAÇÃO PLÁSTICA

NO 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO

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Quanto à seleção dos casos estudados, esta considerou as variáveis que tinham maior

importância para o tema em investigação (Stenhouse,1985, p.646). Assim sendo, as unidades

de análise (casos) foram contextos educativos, do 1º Ciclo do Ensino Básico, constituídos

pelo professor, pelos alunos, e pelos espaços e recursos utilizados em atividades da área de

EEP.

Para Miles & Huberman (1994, p.27) as amostras qualitativas tendem a ser intencionais e

não aleatórias. No caso do presente trabalho, efetuou-se a seleção dos dois casos, através do

contacto e convite a professores que desempenham a prática pedagógica no 1º Ciclo, tendo

sido escolhidos aqueles que mostraram interesse em colaborar no estudo e que manifestaram

disponibilidade para participar em todos os aspetos da recolha de dados.

Considerou-se também importante que os dois casos correspondessem a contextos

escolares diferentes: um em meio rural e outro em meio urbano. A justificação para este

requisito, reside na possível disparidade entre as práticas realizadas em meio urbano e as

realizadas em meio rural, e por se considerar que esta diversidade enriqueceria mais o estudo,

na medida em que traduziria melhor a realidade das escolas portuguesas.

Sendo assim, o Estudo de caso 1 foi realizado numa escola do concelho de Oeiras (meio

urbano) com uma turma do 3º ano de escolaridade e o Estudo de caso 2 foi realizado numa

escola do concelho de Mafra (meio rural) com uma turma do 1º ano de escolaridade.

O tratamento dos dados foi feito através da análise ao conteúdo das entrevistas e de outros

elementos documentais recolhidos, assim como das notas de campo elaboradas em momentos

de observação de diferentes situações.

No que respeita à terceira fase, o referencial de avaliação, nas categorias que formam o

referente “currículo formal”, o referente “currículo ideal” e o referente “currículo real

representado”, foi confrontado com as categorias que formam o referido “currículo real”,

resultantes dos estudos de caso. Para facilitar esta análise, organizaram-se quadros

comparativos da relação estabelecida entre as categorias que constituem o referencial e as

categorias que constituem o referido.

Os procedimentos descritos têm afinidade com a estratégia adoptada por Peralta (2005)

num trabalho sobre as práticas de planificação dos professores de Alemão do 3º Ciclo do

Ensino Básico e do Ensino Secundário, em que se construiu um «quadro de referência

textual». Este quadro de referências era constituído pelo «texto pressuposto», pelo «texto

curricular formal» e pelo «texto expetativa» e orientou a análise ao «texto em operação» (ou

«texto plano»). Todos estes elementos encontram paralelismo com o conjunto de referentes e

referido que integraram a avaliação que realizámos.

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Damos ainda como exemplos outros trabalhos que utilizaram a metodologia da

referencialização:

- o estudo realizado por Vilhena (1999) às atividades extracurriculares enquanto “espaços

educativos” de ensino e aprendizagem;

- o estudo realizado por Alves (2004) às conceções sobre ensino e avaliação da

aprendizagem de professores do 3º Ciclo do Ensino Básico e do Ensino Secundário,

assim como às finalidades, estratégias e instrumentos usados nas suas práticas de

avaliação;

- o estudo realizado por Reis (2005) sobre a construção e a avaliação de um projeto

curricular de escola-agrupamento;

- o estudo realizado por Correia (2006) sobre a autoavaliação de escola;

- e também o estudo de Cruz (2009) sobre a integração das TIC no Currículo Nacional do

Ensino Básico.

5. Organização e estrutura da tese Com o presente capítulo pretendemos mostrar uma visão global do trabalho desenvolvido.

Para tal, apresentámos a contextualização do estudo, identificámos o problema e as questões

de investigação/ avaliação e abordámos, em breve síntese, os principais fundamentos teóricos

e as opções metodológicas que enquadram a investigação. Mostramos agora o modo como

estruturámos e organizámos as restantes partes que constituem esta tese.

O Capítulo I, Enquadramento teórico, apresenta revisões de literatura relativas aos temas

e conceitos que enformam a investigação realizada: a avaliação, o currículo, a expressão

plástica e a área curricular de EEP.

O Capítulo II, Metodologia, apresenta os objetivos da recolha e análise de dados e

descreve o processo de referencialização enquanto metodologia de investigação e avaliação.

De forma fundamentada, apresentam-se as estratégias e técnicas de recolha de dados que

foram adotadas e que se referem a processos da investigação quantitativa e qualitativa.

O Capítulo III, A construção do referencial de avaliação, descreve o processo de

referencialização e apresenta o modo como foram identificadas categorias e definidos critérios

e indicadores em cada um dos referentes, assim como as respetivas grelhas de leitura que

resultaram de todo o processo. É também neste capítulo que se inclui o tratamento e análise

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dos dados quantitativos, enquadrados na constituição do referente “currículo real

representado”.

O Capítulo IV, A construção do referido “currículo real”, inclui o tratamento e análise

dos dados qualitativos relativos aos Estudos de caso 1 e 2, a consequente integração dos

mesmos e a constituição do referido «currículo real», parte essencial do processo de

avaliação.

O Capítulo V, A aplicação do referencial de avaliação, descreve o confronto entre o

referencial de avaliação e o referido «currículo real». Apresenta-se também uma síntese dos

resultados obtidos através das diferentes análises realizadas.

O último capítulo, Conclusões e reflexões finais, mostra os resultados que se alcançaram e

que permitem responder às questões de investigação/ avaliação. Apresenta-se ainda uma

síntese conclusiva e uma reflexão final sobre todo o processo de investigação.

Esta sequência de capítulos termina com a apresentação da bibiografia e da legislação

referenciadas ao longo da tese.

Apresentamos ainda um conjunto de anexos com informação complementar a diferentes

partes do trabalho. Em grande parte, estes anexos dão a conhecer a operacionalização relativa

a diferentes componentes do estudo (o questionário, as notas de campo, as grelhas de análise,

entre outros elementos). Optámos por incorporar no presente volume os que considerámos de

maior pertinência e anexámos em suporte digital os que considerámos ser de leitura

complementar ao corpo principal do trabalho.

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Capítulo I – Enquadramento teórico Nota introdutória

Com a anterior apresentação pretendemos «mapear» as diferentes partes deste trabalho e

do processo desenvolvido neste estudo em que se avalia o currículo de EEP no 1º Ciclo do

Ensino Básico. Aludimos já a alguns dos principais conceitos que integram a revisão da

literatura que efetuámos: o que se entende por “avaliação”; o que se pode “avaliar”; o que é a

“avaliação de programas”; o que abrange o modelo/ abordagem de avaliação em que

inscrevemos o nosso estudo – a “referencialização”. Também já nos referimos ao “currículo”

e aos diferentes níveis em que se desenvolve.

Este capítulo é dedicado aos temas centrais deste trabalho e que são explícitos no seu

título – Um estudo de avaliação do currículo da área de Expressão e Educação Plástica no 1º

Ciclo do Ensino Básico com base na metodologia da referencialização – e também nos

objetivos que já enunciámos – objetivo 1 e objetivo 2. Sendo assim, retomamos a abordagem

em torno da “avaliação”, explicitando momentos da sua evolução enquanto conceito; expondo

alguns modelos subjacentes à “avaliação do currículo” ou “avaliação de programas”;

apresentando os contributos de alguns autores que propõem significados e abordagens para a

avaliação, situando-a em atuais formas de concretização; e ainda, focando detalhadamente a

metodologia da referencialização. Relativamente ao “currículo”, expomos de uma forma mais

alargada o seu significado, dimensões e componentes. Considerámos importante tratar os

aspetos que, na atualidade, melhor caraterizam o currículo e o desenvolvimento curricular,

particularmente no contexto sobre o qual o presente trabalho de investigação incidiu – o 1º

Ciclo do Ensino Básico. Assim sendo, serão focados os temas que mais recentemente

determinaram o entendimento do currículo por parte da escola, nomeadamente, as

competências, o processo de implementação da Reorganização Curricular do Ensino Básico; e

também as Metas de Aprendizagem.

Este trabalho diz respeito à expressão plástica e ao lugar que esta ocupa na vida escolar

das crianças do 1º Ciclo. Por isso, para além do conceito de “expressão plástica”, abordamos

também neste capítulo os temas que nos pareceram de maior relevância para explicitarmos a

sua natureza e importância. Sendo assim, referimo-nos ao “desenvolvimento gráfico e plástico

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na infância”, ao “desenvolvimento da criatividade através da expressão plástica” e também a

“atitudes pedagógicas e opções metodológicas para a prática criativa da expressão plástica”.

Encerramos este capítulo apresentando o currículo formal da EEP. Mostramos o que a esta

área diz respeito no Programa do 1º Ciclo, no Currículo Nacional e nas Metas de

Aprendizagem. Por último, debruçamo-nos ainda sobre os materiais didáticos específicos da

EEP que são disponibilizados a professores e a alunos por vias de caráter oficial.

1. Em torno do conceito de avaliação

1.1. A avaliação e aspetos da sua evolução enquanto conceito

As definições de «avaliação» que se podem encontrar na literatura são diversas e refletem

os diferentes posicionamentos que é possível tomar em relação à tarefa de “avaliar”.

Em qualquer projeto se procura atingir determinadas metas ou objetivos, por isso, torna-se

necessário averiguar se o que foi planeado está a decorrer como previsto e se, os resultados

obtidos correspondem às intenções iniciais. Neste processo, verifica-se se estão a ser

cometidos erros ou desvios que impeçam a obtenção do produto desejado e, se necessário,

introduzem-se correções ou estratégias alternativas que reconduzam ao trajeto planeado.

Importa ainda, analisar o conjunto de resultados obtidos e constatar se correspondem ou não

ao “produto” visado. Conhecer o “processo” e o “produto” constitui a função da avaliação,

que é, contribuir para o sucesso e averiguar em que medida foi conseguido (Ribeiro,1999).

Avaliar implica tomar decisões antes, durante e no final de um projeto e permite «manter,

alterar ou suspender, justificadamente, um dado plano, o mesmo é dizer, selecionar

criteriosamente o que tem interesse, melhorar a qualidade do que é aceite e eliminar o que

representa um desperdício» (Ribeiro,1999, p.14).

Esta é uma definição comum e corrente, tal como as de Lesne (1984), Stenhouse (1991) e

Hadji (1994) já apresentadas neste trabalho (ver p.10), e inclui alguns dos aspetos que

caraterizaram a evolução da conceção de “avaliação”.

Nevo (1986, p.16) sintetiza essa evolução enumerando os contributos de:

- Tyler (1950), que definia a avaliação como um processo de determinar até que ponto os

objetivos educacionais eram realmente atingidos;

- Cronbach (1963), Stufflebeam (1969) e Alkin (1969), que acentuavam que a avaliação

devia fornecer informação necessária à tomada de decisões;

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- Eisner (1979a), Glass (1969), House (1980), Scriven (1980) e Stufflebeam (1974), que

viam a avaliação como forma de determinar o mérito e o valor de algo;

- Guba e Lincoln (1981) e Stake (1967) que consideravam a avaliação uma atividade

compreendida entre a descrição e o julgamento;

- e do Joint Committee on Standards for Educational Evaluation (1981), que definiu a

avaliação como «a investigação sistemática ao mérito e valor de um objeto».

A avaliação é um elemento essencial nos mais diversos contextos, abrange as diferentes

componentes que os caraterizam e requer métodos, técnicas e instrumentos que se adequem à

natureza do “objeto” a avaliar: sistemas educativos, instituições, grupos de intervenientes,

serviços prestados, projetos e programas, dispositivos educativos (Figari, 1996), e até a

própria avaliação (metaavaliação).

Atendendo a esta necessidade e à complexidade a ela inerente, nas últimas décadas a

avaliação desenvolveu-se enquanto área de investigação - discutindo-se mesmo a sua

afirmação enquanto disciplina autónoma de investigação científica (Scriven, 1994) - tendo

diversos especialistas desenvolvido diferentes concetualizações e modelos / abordagens no

domínio da avaliação educacional.

A evolução dos significados atribuídos à avaliação está ligada aos contextos históricos e

sociais, aos propósitos que se pretendiam alcançar e às convicções filosóficas de quem

trabalhava na conceção, desenvolvimento e concretização das avaliações, que ao longo do

tempo se tornaram cada vez mais complexas e sofisticadas, ao nível dos métodos, dos objetos

avaliados e dos propósitos e finalidades da avaliação (Fernandes, 2005).

A respeito desta evolução, Fernandes (2005) refere-se a uma categorização organizada por

Guba & Lincoln (1989) na qual se distinguem três gerações de avaliação: a avaliação como

medida; a avaliação como descrição; e a avaliação como juízo de valor. Estes autores

propõem ainda a emergência de uma quarta geração de avaliação: a avaliação como

negociação e construção (construção social). Sucintamente, apresentamos as principais

caraterísticas destas «gerações» de avaliação (Fernandes, 2005, pp.56-63).

Na geração da avaliação como medida (situada no período compreendido entre 1900 e

1930) concebia-se a avaliação como uma questão técnica, ou seja, a utilização de testes bem

construídos deveria permitir medir com rigor e isenção as aprendizagens dos alunos. Os testes

e outros instrumentos eram os meios que permitiam medir, quantificar, comparar e ordenar

numa escala, dados sobre as aptidões e as aprendizagens, tendo sido Frederick Taylor o

principal teórico que desenvolveu esta conceção.

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Na geração da avaliação como descrição passaram a ser considerados outros objetos de

avaliação para além dos conhecimentos dos alunos, embora ainda persistissem as

caraterísticas da avaliação da geração precedente. Por isso, para além de medir, considera-se

necessário descrever como os alunos atingem os objetivos definidos. As ideias de Ralph Tyler

(anos 20 e 40) enquadram-se nesta geração e caraterizam-se pela necessidade de se

formularem objetivos para que se pudesse definir o que se iria avaliar. Tyler designou por

“avaliação educacional” o processo de avaliação do cumprimento dos objetivos definidos.

Apresentaremos, mais à frente, a sua proposta para a “avaliação de programas”.

Na geração da avaliação como juízo de valor acentua-se a necessidade de as avaliações

permitirem formular juízos acerca dos objetos de avaliação. Às funções técnicas e descritivas

das gerações anteriores junta-se a formulação de juízos de valor. Considera-se que no período

compreendido entre 1957 e 1972 decorreu uma grande expansão e desenvolvimento da

avaliação, sendo os trabalhos de Scriven em 1967 e os de Bloom, Hastings & Madaus (1971)

alguns dos mais relevantes contributos. É através destes autores que surge a distinção entre os

conceitos de avaliação formativa e avaliação sumativa. Fernandes (2005) destaca as principais

ideias que surgiram nesta fase: «a avaliação deve induzir e/ou facilitar a tomada de decisões

que regulem o ensino e as aprendizagens; a recolha de informação deve ir para além dos

resultados que os alunos obtêm nos testes; a avaliação tem de envolver os professores, os pais,

os alunos e outros intervenientes; os contextos de ensino e de aprendizagem devem ser tidos

em conta no processo de avaliação; a definição de critérios é essencial para que se possa

apreciar o mérito e o valor de um dado objeto de avaliação» (Fernandes, 2005, p.59).

Para suprimir limitações teóricas e práticas das três perspetivas de avaliação, Guba &

Lincoln propõem o surgimento da avaliação como negociação e construção, na qual os

parâmetros e enquadramentos seriam determinados através de um processo negociado e

interativo com aqueles que, de algum modo, estão envolvidos na avaliação. Especificamente

em relação à avaliação das aprendizagens, Fernandes (2005) destaca alguns princípios que se

enquadram nesta perspetiva, que, segundo o autor, são de referência construtivista: «(1) os

professores devem partilhar o poder de avaliar com os alunos e outros intervenientes e devem

utilizar uma variedade de estratégias, técnicas, e instrumentos de avaliação; (2) a avaliação

deve estar integrada no processo de ensino e aprendizagem; (3) a avaliação formativa deve ser

a modalidade privilegiada de avaliação, com a função principal de melhorar e de regular as

aprendizagens; (4) o feedback, nas suas mais variadas formas, frequências e distribuições, é

um processo indispensável para que a avaliação se integre plenamente no processo de ensino-

aprendizagem; (5) a avaliação deve servir mais para ajudar as pessoas a desenvolverem as

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suas aprendizagens do que para as julgar ou classificar numa escala; (6) a avaliação é uma

construção social em que são tidos em conta os contextos, a negociação, o envolvimento dos

participantes, a construção social do conhecimento e os processos cognitivos, sociais e

culturais na sala de aula; e (7) a avaliação deve utilizar métodos predominantemente

qualitativos, não se pondo de parte a utilização de métodos quantitativos» (p.63).

Fernandes (2005) salienta que as conceções das três gerações de avaliação ainda

prevalecem e influenciam os sistemas educativos atuais e resume esta evolução referindo que

«de uma conceção inicial muito limitada, redutora e essencialmente técnica, foi-se evoluindo

para uma conceção mais sistémica e abrangente com a sistemática apreciação do mérito e do

valor dos objectos avaliados, que deixaram de ser exclusivamente as coisas relativas aos

alunos para passarem a incluir professores, projetos, currículos, programas, materiais, ensino

ou políticas» (p.60).

Como já foi referido - nas definições sintetizadas por Nevo (1986) - desta evolução,

resultou a conceção de que a avaliação é um processo deliberado e sistemático de recolha de

informação acerca de um ou mais objectos, no sentido de se poder formular um juízo acerca

do seu mérito e/ou valor que permita a tomada de decisões (Joint Committee on Standards for

Educational Evaluation, 1981, cit. por Fernandes, 2005).

1.2. Os modelos para a avaliação do currículo

Tendo como objeto de avaliação um currículo, este estudo enquadra-se na “avaliação do

currículo” ou “avaliação de programas”, que, Patton (2003) define como a recolha sistemática

de informação sobre as atividades, as caraterísticas e os resultados de um programa (ou

currículo), para, a partir dessas informações, emitir juízos e perspetivar a melhoria da sua

eficácia e/ou a tomada de decisões relativamente a futuros programas ou currículos.

Também a definição de Pérez Juste (1995) tem o mesmo sentido, considerando a

avaliação de programas como um processo sistemático, desenhado intencional e

tecnicamente, de recolha de informação rigorosa - valiosa, válida e fiável - e orientado para

avaliar a qualidade e as concretizações de um programa. Este processo tem em vista a tomada

de decisões para a melhoria do próprio programa, das ações das pessoas que sobre ele

intervêm e, também, mas de modo indireto, do corpo social em que se encontra imerso.

Para a “avaliação de programas” destacaram-se ao longo da evolução das conceções de

avaliação, tal como vimos, algumas propostas de modelização das tarefas de investigar e

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avaliar. Cada modelo articula intenções inerentes à atividade e funcionamento da própria

avaliação (o que se vai avaliar e como se vai avaliar?) e da utilização dos seus produtos (para

que servem os resultados da avaliação?). Abordaremos de seguida, de forma resumida, os

modelos de avaliação de programas propostos por Tyler, Cronbach, Stufflebeam, Alkin,

Stake, Owens & Wolf, Scriven, Eisner, Parlett & Hamilton, e MacDonald que, de acordo com

as suas conceptualizações – finalidades, fundamentação, tipo de investigação, papel do

avaliador, critérios de avaliação, instrumentos, tratamento da informação, utilização dos

resultados – se agrupam em três categorias de modelos de avaliação de programas: os

eficientistas, os humanísticos e os holísticos (Arredondo & Palacios, 1995).

Faremos ainda referência ao modelo de avaliação de programas proposto por Kirkpatrick

(2007).

Os modelos eficientistas (ou conductistas-eficientistas, de acordo com Arredondo &

Palacios (1995), visam a determinação da eficiência dos programas através da definição exata

dos objetivos alcançados e dos resultados conseguidos, tendo em consideração a

rentabilização dos recursos investidos. Apresentamos de seguida as propostas, e os respetivos

autores, que se enquadram nesta categoria.

Tyler é considerado o fundador da avaliação aplicada a programas educativos. A sua

proposta baseia-se na medição da consecução de objetivos. Ou seja, o êxito e eficácia de um

programa mede-se através da comparação entre os objetivos que este se propôs alcançar e os

resultados obtidos. Analisam-se as atividades e o resto das componentes do programa tendo

em vista a determinação da sua utilidade para atingir os objetivos estabelecidos. Esta

proposta, que assenta em métodos quantitativos para medir o desempenho observado, é vista

como inflexível, porque não valoriza aspetos relativos ao processo de desenvolvimento do

programa (Hadji,1994; Arredondo & Palacios, 1995; Mediano, 1997).

A proposta de Cronbach advém do seu interesse por programas do tipo social e vem

acrescentar à proposta de Tyler, que focava a avaliação do produto, a avaliação do processo,

tendo em vista o seu aperfeiçoamento. Esta proposta tem por finalidade oferecer informação

suficiente e apropriada para facilitar a tomada de decisões. Em termos de metodologias, prevê

enfoques qualitativos que incluam a observação das situações e o contacto entre o avaliador e

os responsáveis pelo programa, recolhendo assim informações sobre através de múltiplas

perspetivas. A avaliação resulta da planificação e controle de três elementos: as unidades

(unidades que são submetidas a avaliação e que se constituem por grupos de indivíduos ou

grupos de participantes); o tratamento (o tratamento da avaliação); e as operações (utilização

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de instrumentos para recolher, analisar dados e elaborar conclusões) (Arredondo & Palacios,

1995; Mediano,1997; Vilhena,1999).

No modelo de Stufflebeam – o “modelo CIPP” – para avaliar é essencial ter informação

útil sobre determinado objeto (neste caso, um programa), sendo esta informação necessária à

tomada de decisões. Não se trata apenas de determinar a eficácia do programa, mas também

de conhecer quais as partes que funcionam melhor ou pior. Consideram-se quatro tipos de

avaliação (do contexto, dos inputs, do processo e dos produtos) aos quais correspondem

quatro tipos de decisão: decisões de planificação (determinar os objetivos / fins previstos;

decisões de estruturação (delimitar os procedimentos / meios previstos); decisões relativas à

concretização (utilizar, controlar e melhorar os procedimentos / procedimentos realmente

utilizados); decisões de revisão (avaliar as realizações e reagir em função dos resultados / fins

realizados). A observação, a análise de conteúdo de documentos e a interrogação dos

intervenientes (oral ou escrita) são algumas das técnicas previstas para a recolha e tratamento

de informação (Hadji, 1994; Arredondo & Palacios, 1995; Mediano,1997).

O modelo de Alkin é muito semelhante ao de Stufflebeam, sendo também orientado para a

tomada de decisões. No entanto, este autor propõe que a avaliação seja conduzida de acordo

com as seguintes fases: (1) a valoração das necessidades (a identificação das necessidades

permitirá fixar metas educativas); (2) a planificação do programa (no sentido de tentar

ultrapassar as necessidades detetadas); (3) a avaliação da instrumentalização (avaliar a

execução do programa e determinar possíveis modificações no seu decurso); (4) a avaliação

do progresso (verificar se se alcançam ou não os objetivos propostos); e (5) a avaliação dos

resultados, sendo que, a apreciação global do desenvolvimento do programa e dos seus

resultados servirão para a sua aceitação, ou pelo contrário, para os responsáveis tomarem

decisões sobre a sua modificação ou substituição (Arredondo & Palacios, 1995; Vilhena,

1999).

No final dos anos 60 do século XX, Stake propõe um modelo que, tal como Tyler, dá

importância à análise da consecução de objetivos. No entanto, este modelo – que Arredondo

& Palacios (1995) designam como “modelo de avaliação da figura” e Vilhena (1999) designa

como “modelo de congruência – contingência” – considera na avaliação um amplo conjunto

de dados relativos ao programa, que podem ter interesse para os diversos indivíduos e grupos

nele envolvidos. Sendo assim, a informação a recolher refere-se a três componentes: (1) os

antecedentes, ou seja, as condições prévias do programa (contexto, participantes, âmbito

institucional, entre outros aspetos); (2) as transações, ou seja, o processo de interação entre os

envolvidos no programa (destinatários, orgãos institucionais, professores, entre outros); e (3)

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os resultados, ou seja, em que se traduz a consecução (em conhecimentos, habilidades,

atitudes), quais os efeitos secundários e quais as consequências inesperadas. Este modelo,

prevê a organização de uma matriz de «descrição» referente à recolha de dados e uma matriz

de «juízo» para a sua análise. A primeira matriz é um instrumento que permite cruzar as

intenções (dados sobre o que se pretende alcançar) e as observações (dados sobre a realidade)

com os antecedentes, as transações e os resultados. A segunda matriz permite cruzar e

confrontar o que se recolheu relativamente às três componentes de avaliação com normas

(aquilo que é aprovado) e juízos (aquilo que se crê que deve ser o programa) (Arredondo &

Palacios, 1995). A respeito deste modelo, Vilhena (1999, p.140) refere que reflete «as duas

vertentes essenciais da avaliação: a descrição e a valoração», permitindo que se emitam juízos

sobre um objeto compreendido, ou seja, depois de ter sido analisado e de sobre ele se ter

refletido.

Os modelos humanísticos, para além da determinação de resultados valorizam também os

processos que permitem obter esses resultados. Atentar nos indivíduos e nas atividades que os

mesmos realizam no contexto do desenvolvimento dos programas é algo de fundamental

nestes modelos, também denominados de “subjetivistas” (Arredondo & Palacios, 1995). Estes

propósitos caraterizam os modelos de Owens & Wolf, de Scriven e de Eisner, que passamos a

apresentar.

A proposta de Owens & Wolf é designada por modelo de contraposição e, consiste na

discussão e análise sobre múltiplos aspetos de um programa por um amplo conjunto de

pessoas interessadas no mesmo. Esta «discussão avaliadora» é mediada pelo avaliador que

incentiva à participação e à apresentação de diferentes pontos de vista, com o objetivo de

facilitar a compreensão do programa nas suas distintas componentes, e com o fim de justificar

as decisões que se tomam a partir das opiniões dos protagonistas reais (Arredondo & Palacios,

1995, p.55).

Scriven propõe um modelo de atenção ao cliente, opondo-se aos modelos que se baseiam

na análise da consecução de objetivos. Para este autor, estes modelos não permitem medir o

valor de um programa para os indivíduos e para os grupos sociais. Para esta proposta, os

resultados alcançados e que não estão previstos na planificação do programa são importantes

e possibilitam a apreciação de outros aspetos, para além dos que apenas constam dos

objetivos. Com este método, visa-se a análise das necessidades do cliente, deixando para

segundo plano os objetivos do programa; procura-se determinar o valor e mérito do programa

para os seus «consumidores» comparando os resultados alcançados com as necessidades

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identificadas. As técnicas e instrumentos a utilizar podem ser do tipo qualitativo ou

quantitativo (Arredondo & Palacios, 1995; Mediano,1997).

Na proposta de Eisner, a avaliação resulta da submissão do programa a uma crítica

artística. A postura crítica perante o programa e a colaboração criativa por parte dos

envolvidos (professores, por exemplo) traduzem-se na «promoção de atitudes interpretativas e

valorativas da ação educativa prática no seu conjunto e no seu contexto» (Eisner, 1981, cit.

por Arredondo & Palacios, 1995, p.59). São os participantes que descrevem a realidade

educativa, a interpretam e a julgam. O papel do avaliador é suscitar opiniões e impulsionar

perspetivas valorativas, passando o processo por três fases: (1) a descrição dos fenómenos e

das suas relações com o contexto (em sentido factual e artístico); (2) a interpretação desses

fenómenos (procurando significados, causas e manifestações); e, (3) a valoração crítica (que

conduzirá à emissão de juízos de valor com base em critérios subjetivos no próprio contexto)

(Arredondo & Palacios, 1995, p.59). Neste modelo, as técnicas e instrumentos a utilizar são

de tipo qualitativo, com ênfase nos estudos de caso.

Nos modelos holísticos considera-se a globalidade dos componentes que constituem os

programas, incluindo os fundamentos e bases psicopedagógicas subjacentes ao seu

desenvolvimento. Para tal, são envolvidos no processo de avaliação os protagonistas

implicados na sua conceção e concretização (Arredondo & Palacios, 1995). Enquadram-se

nesta categoria os modelos de Stake, Parlett & Hamilton e de MacDonald, que apresentamos

de seguida.

Nos anos 70 do século XX, Stake apresenta um novo modelo, que designa como

avaliação respondente (ou responsiva). Nesta proposta, a finalidade da avaliação é a de

oferecer uma visão completa e holística do programa educativo, centrada na necessidade de

responder aos problemas e questões que se colocam aos alunos durante o desenvolvimento do

mesmo programa. A comunicação entre o avaliador e os avaliados, possibilita o debate em

torno dos objetivos iniciais e a modificação dos mesmos, a identificação de problemas e a

proposta de soluções. Ao valorizar as necessidades e expetativas dos «utilizadores» do

programa, este modelo aproxima-se do modelo de atenção ao cliente de Scriven. A

confluência das diversas perspetivas dos «utilizadores» é a base deste modelo. O papel do

avaliador é recolher, descrever e interpretar um amplo conjunto de opiniões e juízos de

diversas pessoas e setores implicados no programa (Arredondo & Palacios, 1995); a

apresentação desta proposta de Stake será retomada e aprofundada mais adiante.

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O modelo de Parlett & Hamilton – modelo de avaliação iluminativa – surge como reação

aos modelos eficientistas (que já apresentámos), que baseiam a avaliação na medida e no

controle. Estes autores defendem que a finalidade da avaliação de programas deve ser a de

iluminar as suas componentes, para as descrever e compreender na relação com o contexto em

que se desenvolvem. A impregnação histórica, cultural e social dos programas deve também

ser assumida e considerada na avaliação (Parlett & Hamilton, 1977, cit. por Arredondo &

Palacios, 1995, p.63). Neste modelo, atendem-se aos resultados conseguidos e aos não

conseguidos e às dificuldades surgidas no processo. Sendo de caráter holístico e global,

atende também à fundamentação do próprio programa, aos fatores que incidem sobre a sua

execução, ao clima entre os participantes durante o seu desenvolvimento, às estratégias com

que é posto em prática, à aplicação do projeto inicial e às modificações realizadas, entre

outros aspetos. As técnicas e instrumentos são predominantemente qualitativas (com

observação, entrevista, diálogo com participantes). O papel do avaliador para além de

promover o debate entre os participantes, para que surjam opiniões e juízos de valor sobre o

programa e as suas componentes, inclui a interpretação e compreensão holística da

informação de que dispõe.

A avaliação holística de MacDonald, para além de considerar os resultados alcançados e

as opiniões e interpretações dos «protagonistas», atende também a outros elementos, de

reflexão, com repercussão na dinâmica do desenvolvimento do programa, tais como: o

contexto nas suas diversas manifestações, as diferenças históricas, a pluralidade de valores e

interesses, entre outros. Nesta proposta, adequam-se as técnicas e instrumentos de tipo

qualitativo. O relatório de avaliação deve transmitir a «riqueza da pluralidade interpretativa de

todos os envolvidos, a diversidade de interesses que fundamentam os seus contributos, e a

dinâmica dialéctica e negociadora que atende à interpretação e valoração do programa e o

orienta para a sua melhoria» (Arredondo & Palacios, 1995, p.65).

Também Kirkpatrick propôs um modelo de avaliação que, atualmente, é muito utilizado

para avaliar programas de formação em ambientes organizacionais (Martins, 2007). O seu

modelo prevê a aplicação, em sequência, de quatro níveis de avaliação:

- no primeiro nível, a avaliação da reação dos participantes, determinando a sua

satisfação perante o desenvolvimento do programa e ponderando formas de o melhorar,

através de mudanças nas suas componentes (conteúdos, material didático, tempo e espaço

da formação, manutenção ou substituição de formadores, entre outros);

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- no segundo nível, a avaliação das aprendizagens adquiridas pelos participantes no

decurso do programa; a busca de informações pretende determinar se os conteúdos e

experiências de aprendizagem tiveram efeitos nas atitudes, habilidades e conhecimentos

dos participantes (prevê-se a aplicação de pré-testes e pós-testes com este fim);

- no terceiro nível, a avaliação do comportamento dos participantes, determinando os

efeitos que a participação no programa tem no seu desempenho, transferindo as

aprendizagens para os contextos de trabalho; ou seja, procura-se verificar se o

comportamento dos participantes se altera com a participação no programa de formação;

- no quarto nível, a avaliação dos resultados, visando esta medir o impacto do

desenvolvimento do programa nos objetivos da organização, determinando também o

retorno do investimento da mesma (Kirkpatrick, 2007; Martins, 2007).

Stufflebeam (2000) debruçou-se sobre as caraterísticas e potencialidades das teorias e

modelos que mais se destacaram ao longo da evolução e desenvolvimento da avaliação. E,

tomando a avaliação como um «estudo desenhado e conduzido para dar às audiências o

acesso ao mérito e valor de um objeto» (p.35), apresenta um extenso conjunto de abordagens

de avaliação (vinte e duas) enquadradas em quatro categorias: pseudoavaliações; avaliação

orientada por questões / métodos; avaliação orientada para a melhoria / prestação de contas;

e avaliação orientada pela agenda social.

Da sua categorização, Stufflebeam (2000) destaca algumas abordagens como sendo as

«mais fortes e promissoras» para as «avaliações do séc. XXI» (p.80). A saber:

- a avaliação baseada em estudos de caso e a avaliação de resultados como valor

acrescentado (enquadradas na categoria avaliação orientada por questões / métodos);

- a avaliação para a decisão / prestação de contas, a avaliação orientada para os

consumidores e a avaliação orientada para a acreditação / certificação (enquadradas na

categoria avaliação orientada para a melhoria / prestação de contas);

- a avaliação recetiva (responsiva), a avaliação construtivista, a avaliação democrática e

deliberativa e a avaliação focada na utilização (enquadradas na categoria avaliação

orientada pela agenda social).

Explicitam-se de seguida as principais caraterísticas de cada uma destas abordagens,

recorrendo não só a Stufflebeam (2000, pp.45-80), mas também a outros autores que as

estudaram e descreveram.

Na avaliação baseada em estudos de caso procura-se descrever, caraterizar e analisar de

forma aprofundada e documentada o objeto a avaliar, considerando os contextos (geográfico,

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cultural, organizacional e histórico) e conhecendo as operações internas que respeitam aos

inputs e processos que levam à produção de resultados. Esta abordagem requer a utilização de

múltiplos métodos (quantitativos e qualitativos) e o recurso a múltiplas fontes, entre as quais

devem estar os stakeholders (os intervenientes que podem ser afetados pela avaliação). As

limitações apontadas prendem-se com as dificuldades que a informação descritiva coloca à

determinação do valor e mérito do objeto avaliado, e também, com o facto de a informação

necessária não ser produzida em tempo útil ao desenvolvimento do programa (objeto). No

entanto, para Stufflebeam (2000), esta abordagem permite, sobretudo, «delinear e iluminar um

programa, e não necessariamente guiar o seu desenvolvimento ou definir e julgar o seu mérito

e valor» (p.54).

A avaliação de resultados como valor acrescentado carateriza-se pela recolha (anual) de

dados relativos aos resultados obtidos pelos alunos, tendo por base indicadores

“standardizados”, e pelas análises sofisticadas e aprofundadas que determinam qual o valor

que foi acrescentado aos resultados anteriormente alcançados. Estes estudos têm por

propósitos, a orientação das políticas, a responsabilização (prestação de contas) e o feedback

para a melhoria dos programas e serviços. Nesta abordagem, não se obtêm dados relativos aos

desempenhos individuais dos alunos, mas sim, relativos a níveis de ensino, escolas, áreas

curriculares, etc.. As suas limitações prendem-se com a elevada dependência da informação

quantitativa obtida através da aplicação dos testes “standardizados” e de múltipla-escolha,

pondo de parte os métodos qualitativos.

Na avaliação para a decisão / prestação de contas procura-se conhecer o mérito e valor

do que está a ser avaliado, sendo estes resultados utilizados na tomada de decisões. A

definição de objetivos e prioridades, a seleção de serviços, o planeamento e financiamento dos

programas e a contratação de recursos humanos são alguns domínios cujas decisões

dependem dos resultados da avaliação. Esta permite identificar necessidades, problemas e

oportunidades; conhecer os planos, processos e materiais respeitantes aos programas e as

qualificações e performances dos profissionais que neles operam; averiguar a relação

custo-eficácia, entre outros elementos essenciais à organização e funcionamento de um

programa. A condução do processo de avaliação exige a interação entre o avaliador e os

representantes das diversas “audiências”, às quais deve ser fornecida, em tempo útil,

informação relevante e exata. Podem ser utilizados métodos quantitativos e qualitativos,

através de técnicas diversas (inquéritos, estudos de caso, estudos experimentais ou quase

experimentais, observações, entrevistas, etc.) e as questões de avaliação são determinadas

pelo avaliador e por representantes dos stakeholders. A informação que resulta da avaliação

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serve não só os decisores, mas também aqueles que são intervenientes, possibilitando que

estes reconheçam a importância das suas ações e decisões no desenvolvimento do programa.

Hadji (1994) refere-se a esta abordagem referindo que é necessário construir o objeto em

função do objetivo apropriado à decisão a tomar, ou seja, organizar a avaliação em torno da

sua finalidade. Neste sentido, a avaliação envolve momentos distintos: (1) a identificação da

informação, (2) a sua recolha e (3) a sua organização de modo a tornar possível a tomada de

decisões. Esta abordagem é explícita na proposta de Stufflebeam e Guba – o modelo CIPP –

ao qual já nos referimos.

A avaliação orientada para os consumidores, proposta por Scriven, procura destacar o

mérito e o valor de programas, serviços e produtos, tomando os “consumidores” (por

exemplo, alunos, pais, professores) como beneficiários da avaliação, orientando-os nas suas

escolhas. Da avaliação devem resultar diversos elementos e tipos de informação, como por

exemplo, a descrição do programa e o seu contexto e a identificação de “clientes”,

“consumidores”, recursos, funções, custos, concorrentes, generalizações, recomendações,

relatórios e a avaliação do próprio processo (metaavaliação). A obtenção e organização da

informação pode assumir diversas formas (estudos experimentais ou quase experimentais,

análises de custos, análises ao modus operandi, etc.), tendo grande relevância a utilização de

listas de verificação (checklists), tal como propôs Scriven (1991).

A avaliação orientada para a acreditação / certificação permite que instituições,

programas institucionais e profissionais sejam avaliados para aceder à acreditação e

certificação requeridas para que possam desempenhar determinadas funções na sociedade.

Nesta abordagem procura-se a identificação de áreas em que é necessária a melhoria e, com

este fim, a avaliação orienta-se pelo conjunto de critérios adotado pelo sistema de acretidação

e certificação. Os relatórios pessoais dos envolvidos e as visitas dos avaliadores são algumas

formas de ter acesso à informação, para sequentemente a submeter à comparação com os

correspondentes critérios. Os resultados da avaliação têm interesse público, pois informam

sobre a qualidade das organizações, dos programas e dos profissionais que neles operam.

Considera-se também importante que o processo de avaliação que conduz à acreditação e

certificação seja avaliado por independentes (metaavaliação).

A avaliação recetiva (responsiva ou respondente) é proposta por Stake. Já nos referimos

às suas caraterísticas aquando a apresentação dos modelos para a avaliação do currículo.

Nesta abordagem, os estudos de avaliação procuram servir diversos grupos de “clientes”

(professores, administradores, legisladores, patrocinadores, etc.) que apoiam, desenvolvem,

administram ou operam diretamente no programa a avaliar e utilizam os resultados da

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avaliação na sua melhoria. As necessidades avaliativas dos clientes direcionam continuamente

as ações do avaliador, e este, fornece-lhes informação útil à medida que a obtém. Esta

abordagem de avaliação pode servir vários propósitos: mostrar o aspeto global de um

programa (incluindo efeitos laterais e incidentes); entender os pontos de vista dos vários

grupos de intervenientes relativamente aos problemas do programa; identificar os pontos

fortes e os pontos fracos; considerar os valores dos intervenientes na interpretação dos

resultados; identificar o modo como o programa é valorizado e julgado. A sua base filosófica

acentua o papel do avaliador, devendo este «promover a igualdade e a justiça, ajudar os que

têm menos poder, impedir o abuso de poder, expor a desonestidade, moderar os confiantes,

fortalecer os inseguros, e ajudar sempre a ver as coisas através de pontos de vista

alternativos» (Stufflebeam, 2000, p.69). Quanto aos métodos utilizados (estudo de caso,

observação, histórias de vida, descrições narrativas, etc.), estes devem permitir a recolha,

processamento e relatório de opiniões e julgamentos do conjunto de stakeholders e também de

outros especialistas. A adoção desta abordagem implica a recetividade dos “clientes” à

participação dos stakeholders (inclusive na interpretação e uso dos resultados) e a aceitação

das metodologias escolhidas pelo avaliador (incluindo as interações entre este e os

stakeholders), assim como a aceitação de resultados ambíguos, múltiplas interpretações e

diferentes pontos de vista. Por outro lado, ao possibilitar a investigação-ação, quem organiza,

implementa e usa os programas é ajudado a conduzir as suas próprias avaliações e a usar os

resultados para melhorar as suas decisões e ações.

Na avaliação construtivista, os avaliadores e os stakeholders estão no centro da

investigação, sendo os “instrumentos humanos”. O processo de avaliação procura formas de

mudar e melhorar a sociedade. O papel desempenhado pelos avaliadores e stakeholders

baseia-se na interação e na busca de consensos, sendo também a determinação das questões e

variáveis a considerar na avaliação um processo partilhado. Com o envolvimento dos

participantes (especialmente os que têm menos poder) sobressaem as suas experiências,

conhecimentos e pontos de vista. O avaliador procura respeitar a sua vontade e, ao longo do

processo, ajuda-os a realizar as tarefas de avaliação, informando-os e consultando-os sobre

todos os aspetos do estudo. São utilizados métodos quantitativos e qualitativos (tendo estes

maior importância) e é feita a triangulação dos dados provenientes das diferentes fontes. A

principal preocupação desta abordagem é determinar e compreender o sentido da variedade de

“construções” dos stakeholders num dado contexto, por isso, todos os envolvidos (“clientes”,

avaliadores e stakeholders) devem estar recetivos aos possíveis resultados ambíguos e

contraditórios que podem resultar das reflexões dos diferentes intervenientes no processo. A

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pesquisa é sempre aberta a novos dados, análises e sínteses e as conclusões são vistas como

indeterminadas, havendo a possibilidade de se aceitarem novas respostas.

A avaliação democrática e deliberativa proposta por House e Howe (2000) enaltece a

relação entre os princípios democráticos e a avaliação, salientando que esta, através dos seus

fiáveis e válidos argumentos, pode contribuir para a democratização. Esta abordagem

carateriza-se pela participação democrática, isto é, todos os stakeholders têm igual

participação ao longo do processo de avaliação. Em diversas fases, os resultados são

disponibilizados e discutidos com os stakeholders para assegurar que todos os pontos de vista

estão a ser representados. Sequentemente, cabe ao avaliador apresentar conclusões e deliberar

sobre o que é essencial para determinar o mérito e valor do que está a ser avaliado. As

questões de avaliação são determinadas pelo avaliador, tendo a colaboração dos stakeholders

e os métodos incluem a observação, as discussões e os debates. Todas as fases do processo de

avaliação assentam em três componentes: inclusão, o diálogo e a deliberação. Nesta

abordagem procura-se que as avaliações sejam justas, porque partem da participação

democrática de todos os envolvidos, fazendo emergir aspetos do seu interesse e requerendo a

sua responsabilidade na utilização dos resultados.

Na avaliação focada na utilização, proposta por Patton, são envolvidos grupos específicos

de stakeholders e foca-se a utilização que estes fazem dos resultados da avaliação e qual o seu

impacto no programa. Esta abordagem requer a participação democrática dos envolvidos e

leva o avaliador a atender aos múltiplos e variados interesses e pontos de vista dos

stakeholders. Cabe também ao avaliador: determinar os métodos a utilizar na recolha de

informação (quantitativos ou qualitativos); explicar as finalidades da avaliação e negociar

com o grupo específico de participantes as questões que a vão conduzir; e orientar a utilização

dos resultados que se vão produzindo. Desta forma, chega-se à determinação do mérito e

valor, à melhoria e à produção de conhecimento. Esta abordagem faz sobressair as vantagens

do processo de avaliação: conseguir um maior entendimento entre os stakeholders envolvidos,

apoiar o programa, promover a participação e desenvolver e fortalecer a capacidade

organizacional.

Em suma, as abordagens que Stufflebeam (2000) destaca «mostram uma forte orientação

para o envolvimento dos stakeholders e para o uso de múltiplos métodos» (p.81). A

participação dos stakeholders no processo de avaliação, deve permitir que, com a sua

cooperação se utilizem e apliquem construtivamente os resultados. Nas diferentes abordagens

é realçada a interação, ao longo do processo, entre o avaliador e os interessados nas

conclusões da avaliação, quer sejam decisores, “clientes”, práticos (profissionais

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responsáveis) ou “consumidores”. Algumas das abordagens são ainda consideradas

«utópicas» (por exemplo, a avaliação democrática e deliberativa), no entanto, são

apresentadas como ideais a perseguir. Os standards e a metaavaliação são requeridos em

algumas das abordagens para legitimar a credibilidade e comprovar a qualidade do trabalho de

avaliação, principalmente quando estes incluem informação de natureza subjetiva.

Tal como foi referido anteriormente, o nosso estudo de avaliação utilizou a metodologia

proposta por Figari (1996) – a referencialização – que, embora seja distinta dos modelos de

avaliação que apresentámos e também das abordagens de avaliação propostas por Stufflebeam

(2000), tem relativamente a estes algumas afinidades que se traduzem nas seguintes

caraterísticas:

- Serão utilizados métodos quantitativos e qualitativos, entre os quais, os estudos de caso.

Estes irão permitir uma explicação aprofundada e documentada sobre o objeto da avaliação (o

currículo da área de Expressão e Educação Plástica no 1º Ciclo do Ensino Básico);

- É requerido o envolvimento dos stakeholders, através da sua colaboração na construção do

referencial (referente “currículo real representado”). A este respeito, Figari (1996) refere que

a referencialização é um sistema participativo, pois, a responsabilidade da avaliação é

partilhada com os atores e os parceiros;

- As respostas às questões de avaliação, os resultados e as recomendações deverão contribuir

para a melhoria do desenvolvimento do currículo de EEP, uma vez que se trata de

conhecimento que ficará disponível e poderá ser considerado nas decisões sobre o currículo,

na formação de professores, e também nas práticas pedagógicas dos professores do 1º Ciclo

do Ensino Básico.

Poder-se-á dizer, portanto, que este estudo se enquadra nas “tendências” que Stufflebeam

(2000) sugere para as avaliações atuais.

1.3. A referencialização enquanto metodologia de avaliação de dispositivos educativos

Conforme já foi referido, a referencialização foi a metodologia de avaliação adotada na

realização do presente estudo. Retoma-se, agora, a explicitação que foi iniciada na

Introdução, acerca da sua definição e caraterísticas.

Figari (1993), apresenta a referencialização como um modo de abordagem alternativo ao

quadro de referências normativo – que é preexistente e fechado e que apenas relaciona um

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resultado com outro resultado – e ao quadro de referências criteriado – que «relaciona o

resultado com os critérios que determinam o sentido da performance no conjunto do

processo» (p.142). A referencialização distingue-se destas duas conceções, afirmando-se

como «um processo específico de explicação ou de construção de um quadro de referências»

(p.149).

Para explicitar este conceito, Figari (1993) faz a distinção entre “referente”, “referencial”

e “referencialização”:

- o referente designa «aquilo em relação ao qual um juízo de valor é produzido», ou

aquilo «que fixa o estado final necessário ou desejável e “desempenha um papel

instrumental”». Este, é requerido para o ato de avaliar, que consiste «numa reflexão sobre

a distância entre referente e o referido (designa a parte da realidade escolhida como

“material” para esta reflexão ou medida» (p.150);

- o referencial designa o sistema de referências quando este é «considerado de uma vez

por todas como estando estabelecido, generalizável e normativo», ou seja, um «produto

acabado» (p.151);

- a referencialização é o processo de «empreender uma investigação de referências

pertinentes, podendo explicar e justificar a conceção e a avaliação de um dispositivo

educativo, visto que este (...) constitui o objeto de uma deslocação do seu quadro de

referências habitual e exige uma redefinição» (p.151). Por outras palavras, Figari (1996)

apresenta a referencialização como um «processo de elaboração do referente (articulado

em torno das suas duas dimensões: geral e situacional)» que «consiste em assinalar um

contexto e em construir, fundamentando-o com os dados, um corpo de referências

relativo a um objeto (ou a uma situação), em relação ao qual poderão ser estabelecidos

diagnósticos, projetos de formação e avaliações» (p.52).

Ainda no contexto desta distinção, o autor acrescenta que a referencialização «pretende ser

um método de delimitação de um conjunto de referentes e nisso se distingue do referencial

que, por sua vez, designa um produto acabado e, mais exatamente, uma formulação

momentânea da referencialização» (p.52).

Rodrigues (1993), refere que, a avaliação inclui o controlo se esta for tomada como

«verificação ou medida das distâncias, discrepâncias, desvios, conformidade ou coerência,

quer seja entre planificação e realização, regulamentação e aplicação, objetivos e resultados,

quer como resultados e necessidades». Com a referencialização, a avaliação ultrapassa o

controlo, pois esta requer «uma reflexão sobre os referentes e a justificação da escolha ou

elaboração do referencial» (p.28).

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Figari (1996, p.58) resume o conceito de referencialização, afirmando que, esta «define um

quadro abstrato de reconstrução de uma realidade que pode ser transposta para diversas

situações que caraterizam dispositivos educativos» (o conceito de dispositivo educativo já foi

explicitado neste trabalho).

O referencial (decorrente do processo de referencialização) tem:

- estatuto operatório, pois representa um «aparelho-padrão» ou um «instrumento de

medida de coordenadas em relação a outras situações»;

- estatuto metodológico, porque «justifica um conjunto de procedimentos ordenados e

finalizados» relativamente à «estrutura» e «função» do dispositivo educativo. A

«estrutura» corresponde aos princípios de organização do objeto a estudar, e a «função»

designa o papel que ele desempenha num dado ambiente;

- e estatuto científico, pois o referencial resulta de um processo científico e «deve poder

fornecer um eventual corpo de hipóteses que preveja a explicação dos resultados»

(Figari,1996, pp.57-58).

O dispositivo a avaliar constitui-se por informações diversas, complexas e evolutivas. Por

forma a classificar os diferentes tipos de dados, Figari (1996) apresenta um esquema que

reproduz as diferentes dimensões que constituem qualquer dispositivo educativo – o esquema

ICP – que se refere ao «Induzido» (uma delimitação do contexto), ao «Construído» (uma

dimensão de elaboração individual e coletiva) e ao «Produzido» (um tratamento dos

resultados e dos efeitos). Nestas três dimensões cabe o conjunto dos processos e dos

procedimentos que caraterizam qualquer dispositivo: o «induzido» designa as determinações,

as origens; o «construído» designa o processo, a negociação, a elaboração; e o «produzido»

designa a atualização, a programação. As três dimensões são indissociáveis, porque cada

elemento que a constitui tem necessidade de ser legitimado pelos outros dois, por exemplo: a

realização de um conjunto de atividades ou de um programa (o «produzido») é o resultado de

uma construção coletiva (o «construído») e só tem sentido se for considerado o contexto (o

«induzido»). Ou seja, «os dados “induzidos” alimentam a “construção” que leva ao

aparecimento de uma “produção”» (p.61). A “produção”, por sua vez, desencadeia novos

dados que vão, também por sua vez, influenciar o «induzido» e o «construído», e assim

sucessivamente.

Para Figari (1996), o esquema «induzido-construído-produzido» é uma tentativa de

«dispor de um princípio explicativo do funcionamento dos dispositivos educativos» (p.63) e

poderá constituir um instrumento ao serviço da referencialização.

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Importa agora explicitar como decorre o processo de referencialização, isto é, a procura

das referências no sentido de se constituir um modelo que auxilie a «descrição» do dispositivo

a avaliar – no caso do presente estudo, importa, sobretudo, apreender como se desenvolve a

construção de um referencial para a avaliação do currículo.

Esta metodologia inclui, segundo Figari (1996), «recolhas sucessivas de informações

confrontadas com categorias de referência que foram sendo sucessivamente construídas,

interpretação e diagnóstico, participação dos atores e pesquisa sobre as especificidades da

situação» (p.117).

Segue-se, então, a ordenação dos procedimentos necessários à construção de um

referencial, segundo uma proposta de Figari (1996, pp.154-174):

1. Num primeiro momento, partindo de um pedido (de uma instituição, por exemplo) e de um

conjunto de questões / pontos colocados, o avaliador identifica os «níveis em que a avaliação

é desejada» e verifica os elementos que são necessários para analisar informações

correspondentes a esses níveis;

2. Segue-se a definição de um projeto de avaliação que deve explicitar a «busca de sentido

dos fenómenos para todos os atores envolvidos» e que inclui orientações e uma proposta de

abordagem metodológica.

As orientações poderão incluir os seguintes pontos: (1) contribuir para uma reflexão sobre o

dispositivo (currículo, programa), especificando que, numa primeira fase do estudo será

construído o sistema de referências com a colaboração dos atores, e numa segunda fase, será

feita uma recolha de informações no seio do próprio sistema; (2) estudar um dispositivo em

referência às finalidades do sistema, porque «avaliar um dispositivo implica uma referência

prévia às finalidades que presidem à sua própria existência» (p.157); e (3) descrever a

identidade do dispositivo, ou seja descrever o currículo ou programa na sua especificidade.

A proposta de abordagem metodológica abrange: o estudo do dispositivo e socorre-se da

análise de conteúdo de documentos descritivos e prescritivos; a análise do funcionamento que

implica a observação; e a análise dos efeitos que compreende o tratamento dos resultados

escolares, o questionamento dos atores e parceiros (alunos, professores, etc.), entre outros

métodos.

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3. Partindo das questões/ pontos levantados no pedido inicial, segue-se uma formulação de

novas questões (interrogações), às quais o estudo deve dar respostas antes de poder responder

aos primeiros;

4. Seguidamente, procede-se à elaboração de um plano de estudo, que é «um plano de

descrição do dispositivo que possa permitir, terminada a primeira fase do estudo, fornecer não

só uma análise das caraterísticas visíveis do dispositivo, mas também a lista das questões que

estas caraterísticas colocam à avaliação» (p.158). Neste plano têm lugar os seguintes

elementos: a) as dimensões do problema; b) o ajustamento das questões; c) as linhas de

investigação e a construção de um corpo de materiais; e d) os modos de tratamento e

análise.

a) Nas dimensões do problema, inclui-se o tratamento das questões (interrogações)

formuladas (decorrentes das questões/ pontos expressos no pedido), porque a

«referencialização passa por uma reflexão prévia sobre cada uma delas» (p.159); e a definição

da correspondência entre as questões de avaliação e as «dimensões do dispositivo a avaliar»,

isto é, constrói-se um referencial de avaliação do conjunto do dispositivo mostrando a relação

entre as diferentes questões de partida e as dimensões gerais do problema posto em cada

questão.

b) No ajustamento das questões, identificam-se «objetos da avaliação» (que correspondem às

questões formuladas anteriormente) e «dimensões do estudo que daí decorrem» (que

correspondem às anteriores «dimensões do dispositivo a avaliar»). Para cada um destes pontos

formulam-se subquestões.

c) As linhas de investigação e a construção de um corpo de materiais, corresponde à

organização e concretização da recolha de informações. Determina-se para cada um dos

elementos definidos anteriormente («objetos de avaliação», «dimensões do estudo que daí

decorrem» e «questões») os métodos a utilizar na obtenção de informações – Figari (1996)

designa-os por «linhas de investigação» - e os «materiais a reunir», ou seja, as fontes de

informação.

d) Os modos de tratamento e análise correspondem ao momento da referencialização em que

se tratam as informações recolhidas, encontrando categorias. Nesta fase, através de uma

análise, o avaliador pode identificar os problemas levantados por cada categoria (por

exemplo, identificar o desvio existente entre o que estava prescrito nos programas e a

interpretação dos atores). Aqui, definem-se alguns “pré-diagnósticos” que se destinam a

formular, de forma fundamentada, as categorias do referencial de avaliação.

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5. Segue-se a construção do referencial, propriamente dita, reagrupam-se os diferentes

elementos num documento sinóptico que permita destacar as ligações lógicas que se

estabelecem estre as diferentes referências e as operações de que estas são objeto. Esta

organização inclui: a) «a árvore das dimensões do objeto avaliado»; b) «as hipóteses» que

prefiguram a avaliação considerada; c) os «modelos de interpretação» julgados pertinentes; d)

as «fontes de informação»; e) os «critérios de avaliação»; e f) os «atores envolvidos».

a) A «árvore» corresponde às organizações esquemáticas que relacionam as «dimensões a

avaliar» e as «questões colocadas» com as categorias encontradas (estas correspondem às

diferentes caraterísticas do dispositivo);

b) Partindo das categorizações obtidas na «árvore» para cada «dimensão do dispositivo a

avaliar», formulam-se hipóteses de avaliação, ou seja, várias explicações possíveis acerca do

objeto a avaliar – aqui, o trabalho de referencialização consiste em esclarecê-las e sustentá-

las. Esta fundamentação e verificação das hipóteses deve permitir formular uma hipótese geral

que tente explicar o conjunto do dispositivo avaliado.

c) A partir desta fase, o avaliador escolhe os modelos de interpretação que permitirão a leitura

das informações constituídas. Para tal, Figari sugere alguns domínios a partir dos quais se

pode «ler» o dispositivo em avaliação, tais como: a sociologia do currículo, a psicologia

cognitiva e as teorias da avaliação em educação;

d) Apresentar as fontes de informação é essencial para evidenciar o rigor e a clareza da

avaliação - aqui, pode organizar-se um quadro que explicite a correspondência entre as

«dimensões do objeto a avaliar», a «informação invocada» (fontes) e a «informação

provocada» (técnicas de recolha de dados);

e) A formulação de critérios de avaliação constitui o termo da construção do referencial.

Estes devem trazer uma significação aos resultados que a avaliação terá de produzir e

manipular e devem ser traduzidos em indicadores precisos que possam ser submetidos à

quantificação e discriminação (aqui, pode organizar-se um quadro que coloca em paralelo as

«dimensões do dispositivo a avaliar», os «critérios de avaliação do dispositivo» e os

«indicadores»). A partir destes elementos, o avaliador apresentará resultados, juízos, opiniões

ou decisões;

f) Os atores envolvidos são também elementos da referencialização e, por isso, devem ser

evocados no referencial. Neste caso, podem identificar-se dois tipos de atores: os

«utilizadores» e os «criadores» do dispositivo.

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De todo este processo, deverá resultar um documento (relatório) que «apresente as

diferentes fases da referencialização e as dimensões estudadas acompanhadas das

justificações traduzidas pelos dados existentes ou recolhidos» (Figari, 1996, p.174).

Figari (1996) sublinha que cada avaliação é única e que por isso, os referenciais são

efémeros. Pelo facto de refletir a identidade do dispositivo a avaliar, representa também um

momento único na sua evolução. É neste sentido que o autor refere que, após o cumprimento

da avaliação, o referencial construído não deve ser aplicado a outras avaliações sob pena de se

tornar «normativo» e restringir a avaliação a uma medida de conformidade à sua norma.

2. Currículo e Desenvolvimento curricular 2.1. O que é o “currículo”?

Ribeiro (1990, pp.11-12) apresenta o conceito de “currículo” partindo das definições mais

comuns que lhe são atribuídas: o currículo é entendido como o «elenco e sequência de

matérias ou disciplinas propostas para todo o sistema escolar, um ciclo de estudos, um nível

de escolaridade ou um curso, visando a graduação dos alunos nesse sistema, ciclo, nível ou

curso»; é identificado como «programa de ensino» para um determinado nível ou área de

estudo do sistema escolar, que inclui a listagem organizada e sequenciada dos conteúdos,

assim como orientações e sugestões metodológicas para a sua abordagem; ou ainda, a junção

equilibrada das duas definições anteriores, considerando o currículo como o «conjunto

estruturado de matérias e de programas de ensino num determinado nível de escolaridade,

ciclo ou domínio de estudo».

Estas definições assentam na ideia de que o currículo se carateriza como «um modo de

transmitir de geração em geração o conjunto acumulado do saber humano, sistematicamente

organizado e tradicionalmente consagrado em matérias ou disciplinas fundamentais» (Ribeiro,

1990, p.13). No entanto, para este autor, estas definições caraterizam o currículo mais pelos

seus aspetos «exteriores» do que pelos seus elementos intrínsecos ou «substantivos», pois não

exprimem a diversidade de experiências formativas vividas pelos alunos na escola.

Nesta sequência, o currículo deve ser entendido como o «conjunto de experiências

educativas que engloba todas as atividades de aprendizagem proporcionadas pela escola, quer

elas resultem de intenções ou propósitos explícitos quer decorram da própria organização e

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ingredientes da vida escolar na sua multiplicidade» (Ribeiro, 1990, p.14). Também

Formosinho (1983, cit. por Machado & Gonçalves, 1991, p.43) diz que «currículo é o

conjunto das atividades educativas programadas pela escola, ocorram elas nas aulas ou fora

delas».

Estas definições mostram que o currículo abrange um plano que é prévio ao ensino e

aprendizagem e também as interações e experiências efetivas de aprendizagem, constituindo

assim um «plano estruturado de ensino-aprendizagem, englobando a proposta de objetivos,

conteúdos e processos» (Ribeiro,1990, p.17). Assim sendo, o currículo deve referir-se a:

objetivos ou resultados de aprendizagem a alcançar; matérias ou conteúdos a ensinar; e

experiências ou processos de aprendizagem.

É também neste sentido que Tanner & Tanner (1975, cit. por Ribeiro, p.17) definem o

currículo como o «conjunto de experiências de aprendizagem planeadas bem como de

resultados de aprendizagem previamente definidos, formulando-se umas e outros mediante a

reconstrução sistemática da experiência e conhecimento humano, sob os auspícios da escola e

em ordem ao desenvolvimento permanente do educando nas suas competências pessoais e

sociais».

É também neste sentido que Alonso (1994, p.18) se refere ao currículo como um «projeto

integrado e global de cultura (aprendizagens a realizar) e de formação (capacidades a

desenvolver) que fundamenta, articula e orienta as decisões sobre a intervenção pedagógica

nas escolas, com o fim de permitir uma mediação educativa de qualidade para todos os

alunos».

Estas definições mostram-nos que o currículo veicula não só o conhecimento mas também

valores sociais e culturais a todos os membros de uma determinada sociedade. Ou seja,

mostram-nos que o «currículo» para além da componente académica, também abrange as

componentes culturais e sociais. É também neste sentido que Roldão (1999, p.23) refere que o

currículo é «o conjunto de aprendizagens que socialmente se pretende e se espera que a escola

promova e garanta a todos os cidadãos».

2.2. Contextos e níveis de desenvolvimento curricular

Gimeno (1988, p.119) refere que o currículo é «um objeto que se constrói no processo de

configuração, implantação, concretização e expressão de determinadas práticas pedagógicas e

na sua própria avaliação, como resultado de diversas intervenções sobre o mesmo» e que o

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seu valor real para os alunos depende dos processos de transformação a que é submetido.

Assim sendo, o currículo pode definir-se como um processo em desenvolvimento, que

engloba diferentes fases: a justificação e orientação (fundamentação); a conceção e elaboração

(planeamento); a implementação; e a avaliação (Ribeiro, 1990, p.7). Este autor acentua que o

processo de desenvolvimento curricular «tem de ser visto numa perspetiva sistémica, em que

todas as suas componentes e fases se relacionam», e propõe as seguintes hipóteses de

desenvolvimento do processo:

1. Partindo de uma fundamentação orientadora, constrói-se um plano curricular,

analisa-se a sua execução e avalia-se a sua eficácia para o definir e aperfeiçoar;

2. Partindo da conceção e elaboração do currículo, procede-se à sua implementação,

avalia-se a sua execução e clarifica-se a sua justificação e linhas orientadoras;

3. Tomando como ponto de partida a análise de um currículo implementado, procede-

-se à avaliação, esclarecem-se os princípios orientadores e o contexto justificativo,

aperfeiçoa-se (ou modifica-se) o plano curricular;

4. Começando por avaliar o currículo em execução, explicitam-se as suas linhas

orientadoras, introduzem-se inovações (ou correções) no plano curricular e analisam-

-se as suas condições de implementação (Ribeiro, 1990, p.8).

O currículo, enquanto processo contínuo de decisão, é uma construção que ocorre em

diversos contextos aos quais correspondem diferentes fases e etapas de concretização

(Pacheco, 2001).

Neste processo, em que decorrem diferentes decisões em termos da construção, gestão e

realização do currículo, este ganha significados distintos. Diogo & Vilar (1999, p.7)

concretizam os significados que se podem atribuir ao currículo referindo que: o currículo

prescrito é constituído pelas decisões assumidas pela administração do sistema educativo e

que estão configuradas na Lei de Bases, decretos-lei, despachos, programas e outros

documentos normativos e/ou orientadores; o currículo apresentado é constituído pelos meios

elaborados por diferentes instâncias (administração regional e local do sistema de ensino,

editoras, associações de caráter científico e pedagógico, etc.) com o objetivo de oferecer aos

professores uma interpretação do significado e conteúdo do currículo prescrito; o currículo

traduzido é formado pelas planificações curriculares e outras programações levadas a cabo

pelas escolas, integrando as decisões respeitantes ao currículo prescrito e apresentado, à luz

do seu projeto educativo; o currículo trabalhado refere-se às tarefas escolares que dão

significado real às decisões curriculares anteriormente assumidas; o currículo concretizado é

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constituído pelo conjunto de efeitos cognitivos, afetivos, morais, sociais, etc., isto é, pelas

aprendizagens significativas dos alunos em consequência das tarefas escolares.

Estes significados correspondem ao que Gimeno (1988, pp. 123-126) apresenta como

níveis de desenvolvimento do currículo: o currículo prescrito; o currículo apresentado, o

currículo moldado; o currículo em ação; o currículo realizado; e o currículo avaliado, este

referindo-se à avaliação dos alunos e também da ação dos professores.

Importa, ainda, acrescentar a referência de Goodlad (1979, cit. por Machado &

Gonçalves,1991, p.63) ao currículo observado ou operacional que se refere à perspetiva

«externa» de quem observa e descreve o currículo tal como acontece na situação de ensino

escolar, independentemente das perspetivas das entidades oficiais, dos professores e dos

alunos. Este autor refere também que as perceções que as várias pessoas e grupos interessados

(como os pais, por exemplo) têm sobre o que é ensinado na escola, formam o currículo

percebido e que, no caso dos professores, a sua perceção tem mais importância porque podem

modificar a gestão que fazem do currículo em função dos ajustamentos que julguem

necessários.

Em síntese, a gestão do currículo decorre entre o currículo prescrito – ou ainda formal,

manifesto, explícito ou oficial (Ribeiro, 1990) – e o currículo concretizado – ou real (Ribeiro,

1990; Perrenoud, 1995).

Para compreender este processo - um dos objetivos do presente trabalho de investigação -

é necessário encarar estes significados com uma visão de conjunto e de complementaridade,

pois, como refere Pacheco (2001, p.145), o «currículo é, ao mesmo tempo, uma intenção e

uma realidade que ocorre num contexto determinado». Assim sendo, é necessário analisar,

contextualizadamente, o que existe no campo das intenções e o que acontece no campo da

prática.

Perrenoud (1995, p.51) fala também deste processo referindo que o currículo real «não é

apenas uma interpretação mais ou menos ortodoxa do currículo formal, mas uma transposição

pragmática deste último» e acentua a distinção entre estes dois níveis, afirmando que o

currículo formal é «uma imagem da cultura digna de ser transmitida, com o recorte, a

codificação e a formalização correspondente a esta intenção didática» e o currículo real é «um

conjunto de experiências, de tarefas, de atividades que geram ou que se pressupõe que gerem

atividades». Reportando-se ainda à «transposição pragmática do currículo formal em currículo

real», este autor salienta o papel do professor, na medida em que, apesar deste interpretar o

currículo formal, conceber o trabalho escolar e fazer a gestão efetiva da aula, as atividades e o

trabalho dos alunos saem parcialmente do seu controlo, isto, porque «as resistências dos

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alunos e as eventualidades da prática pedagógica e da vida quotidiana na aula fazem com que

as atividades nunca se desenrolem exatamente como estava previsto» (p.51).

Por outras palavras, apesar de o professor preparar as suas aulas, sequenciando as

atividades e organizando as diferentes estratégias, nada garante que tudo aconteça conforme o

que foi previsto inicialmente, porque, da interação com os alunos resultam muitos imprevistos

e estes determinam o ritmo do trabalho escolar. Assim sendo, o currículo real resulta de uma

«negociação» entre os alunos e o professor, onde este tem em conta as suas «preferências» e

«resistências» na escolha das atividades, às quais os alunos respondem com maior ou menor

empenho, ritmo e capacidade de trabalho. Ou seja, «a transposição pragmática do currículo

formal não é gerida unicamente pelas conceções didáticas do professor e pela sua imagem da

cultura, mas depende também dos alunos e da dinâmica do grupo-turma» (Perrenoud, 1995,

p.53).

Ainda por outras palavras, a «forma» e «substância» do currículo real resulta da

interpretação do currículo formal por parte da escola e da forma como esta prescreve o

currículo aos professores, e, da «negociação» que é feita entre alunos e professores. Nesta

sequência, «nem tudo o que é aprendido na escola vem explicitado no currículo formal»

(Perrenoud, 1995, p.53).

Importa também juntar a estes significados, o currículo ideal (a que já se fez referência na

Introdução). Aqui, situam-se os mais recentes fundamentos teóricos, técnicos e práticos

subjacentes ao ensino e aprendizagem e que são portadores de inovação. O conceito de

currículo ideal equivale ao conceito de «texto expetativa» referido por Peralta (2005) num

trabalho sobre as práticas de planificação dos professores de Alemão do 3º Ciclo do Ensino

Básico e do Ensino Secundário (a que já se fez referência na p.18). Para esta autora, o «texto

expetativa» representa «o conjunto de valores, teorias, resultados da investigação e relatos da

prática que constituem o paradigma actual» (p.78). Roldão (1999, p.15) refere que os saberes

científicos, em constante e rápida evolução, são um vetor de pressão sobre os currículos

escolares, e vão introduzindo elementos novos ou áreas científicas emergentes no corpus do

currículo, assim como novas formas de encarar o saber.

Ainda no que respeita a «significados» ou «dimensões» do currículo, outras distinções

merecem referência. Ribeiro (1990, pp.18-19) refere-se também ao currículo informal que é

constituído por atividades estruturadas (como os clubes escolares, por exemplo) em que as

intenções de aprendizagem são implícitas e a sua organização difere das atividades

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curriculares onde são promovidas aprendizagens formalmente definidas. Vilhena (1999, p. 73)

refere que este tipo de atividades se encontram na fronteira entre o legal (o currículo oficial,

prescrito em programas ou em manuais) e o periférico, porque visam objetivos e conteúdos

que a escola não planifica. Em consequência desta posição, torna-se pouco visível a utilidade

destas atividades e por vezes não se reconhece o seu valor educativo. Estas atividades, que

resultam muitas vezes da participação voluntária dos alunos, são também organizadas e

planificadas pelos professores e executadas com intenções deliberadas, e por isso, segundo

Kelly (1982, cit. por Machado & Gonçalves, 1991), cabem também na definição de currículo.

A escola é também um lugar de socialização. Das interações entre os alunos, da relação

destes com os professores ou com outros membros da comunidade escolar, resultam

aprendizagens que não figuram explicitamente no currículo formal.

Estas aprendizagens, integram o chamado currículo oculto ou escondido (ou ainda,

implícito), que, segundo Ribeiro (1990, p.20), compreende «processos do ensino escolar que,

não sendo explícitos nos planos curriculares e programas de ensino, constituem parte

integrante e efetiva da experiência do aluno na escola (...) e que não sendo diretamente

visados pelo currículo formal, parecem decorrer da própria organização pedagógica do ensino

e dos ingredientes constitutivos da vida e instituição escolares». É também neste sentido que

Vilhena (1999, p.76) refere que das vivências na instituição escolar resultam «experiências

não pretendidas» e que a «cultura de Escola pode gerar experiências que não resultam de uma

planificação deliberada».

Formosinho (1983, cit. por Machado & Gonçalves, 1991, p.44) está de acordo com este

ponto de vista, integrando estas experiências no próprio conceito de “currículo”, quando

afirma que «currículo é tudo o que é aprendido na escola pelos alunos, seja ou não objeto de

transmissão deliberada». Este autor indica que na escola se aprende muito mais do que aquilo

que é objeto de transmissão formal ou informal, pois a própria estrutura da escola transmite

mensagens que os alunos devem compreender, tais como, aprender que as organizações e a

sociedade são hierarquizadas, que é preciso encaminhar os problemas pelos canais próprios,

que os diversos grupos têm poderes diferentes, etc.. Também Kelly (1982, cit. por Machado &

Gonçalves,1991, p.51) refere que estas aprendizagens «ocultas», apesar de impossibilitarem a

perceção de um currículo «total», pois não são deliberadamente planificadas, devem ser

consideradas partes integrantes do currículo.

Perrenoud (1995, p.61) afirma que a «aprendizagem do senso comum faz parte da

aprendizagem do ofício de aluno» e que esta aprendizagem é uma componente do currículo

oculto. Aprender o «ofício de aluno» significa assimilar a cultura do grupo e da organização

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escolar, adquirindo um conjunto de saberes e saber-fazer, de regras, de valores, de códigos, de

crenças e de representações partilhadas que definem a identidade coletiva dessa organização.

Em suma, é através destas aprendizagens mais ou menos escondidas (currículo oculto) que

resultam das interações estabelecidas na escola, que o aluno aprende a desempenhar o seu

papel e se torna membro da organização.

Perrenoud (1995) destaca, ainda, algumas das aprendizagens que não figuram no currículo

formal e que integram o currículo escondido. Na escola o aluno (1) aprende a «viver na

multidão», porque pertence a um grupo que condiciona as suas ações e que o obriga a

controlar os seus desejos pessoais, como falar, interrromper, movimentar-se, etc.; (2) aprende

a matar o tempo e a saber esperar; (3) aprende a ser submetido à avaliação do outro, não só à

do professor mas também à dos colegas de turma; (4) aprende, através da avaliação, a

satisfazer as expetativas do professor e dos colegas; (5) aprende a viver numa sociedade

hierarquizada e estratificada; (6) aprende a influenciar o ritmo de trabalho do professor,

mostrando que não compreendeu, fazendo perguntas, etc.; e, (7) aprende a funcionar em

grupo restrito, a partilhar e a utilizar os valores e os códigos de comunicação desse grupo

(Eggleston,1977, cit.por Perrenoud, 1995, pp.57-58).

Instruir e socializar são duas funções da escola que se complementam (Kelly,1982;

Ribeiro,1990). É também neste sentido que Valente (2001, p.11) refere que se vai à escola

«para aprender e para aprender a viver em comum».

2.3. As componentes do currículo

Importa, agora, perceber quais são os elementos formais que integram um currículo.

A conceção de um currículo deve considerar as seguintes componentes: finalidades e

objetivos; matérias e conteúdos; estratégias e atividades; e avaliação. Ou seja, o currículo

deve conter o enunciado das finalidades e objetivos visados, propôr ou indicar uma seleção e

organização de conteúdos, implicar ou sugerir modelos, métodos e atividades de ensino e

aprendizagem e, ainda, um plano de avaliação dos resultados da aprendizagem

(Ribeiro,1990).

Estas componentes devem estar todas presentes de modo explícito ou implícito e de forma

equilibrada (Ribeiro,1990). Devem também ser interdependentes e coordenadas e funcionar

como um sistema coerente, em que, qualquer alteração numa das componentes afeta a

estrutura e o funcionamento das outras (Machado & Gonçalves, 1991, p.165).

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Os currículos diferenciam-se pela importância que é dada a cada um dos elementos, pelo

modo como os estes se relacionam entre si, e pela natureza das decisões que são tomadas

relativamente a cada um (Taba, 1962, cit. por Machado & Gonçalves, 1991, p.98). Por

exemplo, a seleção de conteúdos e experiências de aprendizagem difere de currículo para

currículo, conforme os objetivos que estes incluem; a natureza e sequência dos conteúdos e

experiências de aprendizagem dependem das teorias de aprendizagem (modelos de ensino)

que os currículos expressam.

Numa proposta mais elaborada, Ribeiro (1990) refere que, num currículo, são essenciais

as seguintes componentes: contexto e justificação; quadro de objetivos; roteiro ou «mapa» de

conteúdos; plano de organização e sequência do ensino-aprendizagem; plano de avaliação;

referência a condições de execução prática.

O contexto e justificação refere-se ao «quadro de referência, orientação e fundamentação

do plano curricular nas suas finalidades e objetivos e no seu modelo estrutural»; o quadro de

objetivos define a «intencionalidade fundamental do plano curricular, a sua direção última e o

quadro de resultados ou produtos finais a alcançar», os objetivos poderão estar organizados

sequencialmente e poderão ser formulados em diferentes níveis de generalidade e

especificidade; o roteiro de matérias ou conteúdos refere-se à seleção e organização do

conjunto de conteúdos que o currículo engloba; o plano de organização e sequência do

processo de ensino aprendizagem refere-se às ações do professor e ações do aluno, ou seja, a

estratégias, a métodos, a atividades e a materiais e meios de ensino-aprendizagem; a

avaliação define o «plano de apreciação dos resultados reais de aprendizagem, procurando

indicadores que evidenciem a aprendizagem conseguida e a sua comparação com os objetivos

visados»; por fim, a explicitação de condições de execução do plano curricular reporta-se a

aspetos da implementação, tais como «fatores de organização escolar, estruturas e meios»

relacionados, por exemplo, com o «espaço», o «tempo», o «grupo de ensino» e o «pessoal

docente» (Ribeiro, 1990, pp.41-42).

Ribeiro (1990) refere que na análise de currículos é necessário verificar a presença,

dominância ou equilíbrio das componentes que o constituem – tivemos em conta este aspeto

na análise dos documentos curriculares que orientam a área de EEP e que também

apresentamos neste capítulo..

Roldão (1999, p.34) resume o significado de currículo na seguinte ideia: «aquilo que se

considera que a escola deve fazer aprender aos seus alunos, porque essa aprendizagem lhes

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será necessária como pessoas e cidadãos». Esta ideia suscita questões diretamente ligadas aos

elementos do currículo: o que deve ser ensinado? (escolha de conteúdos e respetiva

justificação); para quê? (definição de metas e objetivos); e a quem? (a todos os alunos).

A sociedade atual determina que o currículo se ajuste em função da diversidade que a

carateriza. É neste sentido que Roldão (1999, p.36) refere que os conteúdos curriculares

devem compreender: «o domínio de saberes de referência sem os quais o acesso ao

conhecimento não se operacionaliza; a ativação e consolidação de processos autónomos de

construção de saber; o domínio de instrumentos de acesso ao conhecimento na diversidade

das suas formas; o desenvolvimento de atitudes e competências sociais; o desenvolvimento de

mecanismos de desenvolvimento individual e melhoria da qualidade de vida».

No que respeita às metas e objetivos, estas devem assentar naquilo que as sociedades

atuais requerem: a melhoria do nível de educação dos seus cidadãos, que se justifica pela

«competição económica»; por a qualidade e melhoria da vida social exigir o domínio de

«competências para aprender, colaborar e conviver»; pelo «nível cultural geral dos indivíduos

e pela sua capacidade de se integrarem numa sociedade construída sobre múltiplas

diversidades» (Roldão, 1999, p. 37).

Já era neste sentido que Taba (1962, cit. por Machado & Gonçalves, 1991, p.99) referia

que na conceção de um currículo era «preciso procurar quais são as exigências e aspirações da

cultura e da sociedade, tanto para o presente como para o futuro» e que o currículo era «uma

maneira de preparar os jovens para participarem como membros produtivos de uma cultura».

Para esta autora, só uma análise da cultura e da sociedade fornece orientações para determinar

os objetivos principais da educação, para selecionar conteúdos e para tomar decisões sobre o

que se deve privilegiar nas atividades de aprendizagem.

Na dinâmica da construção e evolução dos currículos interagem três grandes fatores: a

sociedade, os saberes científicos e o conhecimento e representação do aluno (Roldão, 1999,

p.15).

Atualmente, a reflexão sobre o que deve constituir o currículo enfatiza que a educação

escolar deve privilegiar «finalidades operacionais no sentido de uma preparação mais efetiva

para a vida social e profissional e para a própria formação ao longo da vida», ou seja, as

finalidades curriculares devem estar centradas no «desenvolvimento de competências que

tornem utilizáveis, reconvertíveis e operativos os saberes, as técnicas e as práticas que forem

integradas no currículo» (Roldão, 1999, p.26).

Roldão (1999, p.27) realça ainda que é fundamental que o currículo contribua para a

consolidação de competências indispensáveis à vida social como, por exemplo, a resolução de

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problemas ou a tomada de decisões fundamentadas, e promova a capacidade e competência de

entender e fruir de bens como a música e a arte.

2.4. A reorganização curricular do Ensino Básico

Importa agora perceber de que forma os pressupostos já enunciados têm determinado o

entendimento que a escola tem feito do currículo e que aspetos têm definido a sua apropriação

e gestão em todo o processo de desenvolvimento curricular. Tendo em vista a caraterização da

situação actual, considerámos importante descrever os aspetos mais representativos das

mudanças levadas a cabo nos últimos quinze anos. Assim sendo, focam-se as «etapas»

relacionadas com a implementação da Reorganização Curricular do Ensino Básico,

nomeadamente, o projeto de Reflexão Participada sobre os Currículos e o projeto de Gestão

Flexível do Currículo. Serão ainda salientados os aspetos mais relevantes para o 1º Ciclo do

Ensino Básico, o ciclo de estudos em que se situa a presente investigação.

Do que foi anteriormente mencionado, ressalta a ideia de que a escola deve promover

aprendizagens que correspondam não só aos conteúdos disciplinares mas também não

disciplinares, sendo estes resultantes das dinâmicas próprias de cada contexto, e ainda, que

considere a singularidade e individualidade dos alunos, isto é, que atenda às suas caraterísticas

sócio-culturais e cognitivas e aos seus interesses e motivações.

Também, tal como foi referido, a diversidade cultural e social que carateriza a escola

determina que o currículo se ajuste em função dessa diversidade, pois esta «não pode

responder com a uniformidade dos conteúdos e dos processos» (Diogo & Vilar, 1999, p.20).

Para promover o sucesso escolar, e partindo dos princípios orientadores estabelecidos no

currículo formal, a escola e os professores devem proporcionar aos alunos aprendizagens que

atendam à sua individualidade e também, de acordo com a especificidade do contexto,

considerem a diversidade cultural e social.

Estes princípios eram visados no Projeto de Reflexão Participada sobre os Currículos do

Ensino Básico, uma iniciativa do Departamento de Educação Básica que se concretizou no

ano lectivo de 1996/97. Segundo Roldão (1999, p.42), com este projeto procurava-se «debater

nas escolas e com os professores as formas de introduzir progressivamente uma lógica

curricular mais flexível, gerida por eles, com a identificação daquelas aprendizagens que

deverão ser comuns e garantidas a todos, e de, simultaneamente, desencadear a reflexão

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acerca dos modos de gerir o currículo e de propostas de organização futura assumidas pelas

escolas para responderem com mais eficácia aos alunos que têm, nos contextos em que se

integram».

Costa et al. (2005, p.11) referem que este projeto pretendia identificar os pontos críticos

na educação básica e mobilizar para a reflexão e para o debate os professores, as escolas, a

comunidade científica educacional e outros parceiros sociais envolvidos; e que o «produto

final esperado era a instituição de um sistema de gestão curricular flexível assente nos

princípios da contextualização e da diferenciação que garantisse a eficácia das aprendizagens

mediante a articulação de um corpus nuclear de aquisições / aprendizagens comuns a nível

nacional com os projectos resultantes das opções específicas a decidir em cada escola ou

grupo de escolas». Este projeto defendia também a necessidade de incentivar os professores

para o trabalho cooperativo e para a tomada de decisões no domínio do currículo.

No relatório relativo a este projeto, Roldão, Nunes & Silveira (1997, p. 90) realçam a

recetividade demonstrada pelos professores para participar nas mudanças propostas e afirmam

que «a mudança para um outro modo de gerir a educação e o currículo, centrado nas escolas,

integrador de toda a ação curricular (disciplinar, não disciplinar, institucional, na comunidade,

etc.) e praticado de forma contextualizada, só pode construir-se envolvendo cada vez mais os

professores na responsabilização pelas decisões que entendam adequadas, mas conferindo-

-lhes a possibilidade real de gerirem os meios e os recursos necessários para as porem em

prática».

As mudanças propostas procuravam contrariar uma visão do currículo que se resumia a

«dar o programa», em que os professores sem espaço para decidir ou refletir sobre o currículo,

eram vistos como «executores de programas». Esta visão normativa e rígida inviabilizava a

adequação e a diferenciação curricular necessárias ao sucesso dos alunos.

Abrantes (2001, p.35) menciona que o «diagnóstico da situação apontava sérios problemas

na escola básica, com uma evidente dificuldade em promover o cumprimento de uma

escolaridade obrigatória de nove anos bem sucedida». No que respeitava ao 1º Ciclo, este

autor refere-se à «grande dispersão da rede escolar» e ao «isolamento e falta de condições de

muitas escolas»; o 2º e 3º ciclos caraterizavam-se pelas elevadas taxas de insucesso e

abandono, pela exclusão escolar e social e «uma grande dificuldade em lidar com a

heterogeneidade dos alunos e a diversidade de situações». Este autor aponta também a

deficiente articulação entre os três ciclos como um dos aspetos mais negativos do sistema

educativo, salientando a transição entre o 1º e o 2º Ciclos, em que «alunos de 10 anos de idade

passam a ter um grande número de professores e disciplinas separadas, assim como uma carga

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horária semanal baseada quase exclusivamente em sequências de aulas, sem que a isso

correspondam mais e melhores aprendizagens»; outro aspeto prende-se com os programas

extensos e prescritivos que contribuíam para uma «excessiva uniformização da ação

pedagógica e um empobrecimento dos conteúdos e metodologias dominantes» (p.36).

Alonso, Peralta & Alaiz (2001, p.13) referem que as práticas seguidas na escola refletiam

uma «conceção estática e compartimentada do conhecimento e da aprendizagem» sendo esta

entendida como «acumulação passiva, linear e individualista de conhecimentos, em que

predomina a função instrutiva face à formação integral, dando prioridade aos conteúdos

conceptuais e factuais, em detrimento dos procedimentais e atitudinais e em que as

aprendizagens académicas são desligadas das experiênciais, com a consequente falta de

significatividade e funcionalidade».

Tanto o projeto de Reflexão Participada sobre os Currículos como o projeto de Gestão

Flexível do Currículo, implementados em escolas do Ensino Básico, vieram preparar a

Reorganização Curricular, e na sua essência, davam um papel relevante aos professores,

conferindo-lhes autonomia para gerir o processo de ensino-aprendizagem atendendo à

realidade cultural e social dos alunos.

Estas mudanças ganharam corpo no Projeto de Gestão Flexível do Currículo cujo

lançamento foi consignado pelo Despacho 4848/97 de 30 de julho, ao qual se seguiu a

experimentação, acompanhamento, produção de materiais e reconstrução progressiva do

modelo «Gestão Flexível do Currículo» numa rede de escolas, entre 1997 e 2000. Nesta fase,

o processo iniciava-se com a candidatura voluntária das escolas, consistindo esta na

elaboração de uma proposta de desenvolvimento do projeto específica para a própria escola, e

na respetiva apreciação por parte do Ministério da Educação.

Às escolas participantes eram exigidos alguns requisitos, tais como: a integração do

projeto de gestão curricular flexível no projeto educativo; o respeito pelos programas em

vigor; a identificação das possibilidades de convergência transversal das aprendizagens nas

várias disciplinas; a identificação dos processos que deveriam levar à definição de

aprendizagens nucleares por ano, disciplina ou área disciplinar; o registo, divulgação e

avaliação do projeto de gestão curricular; a articulação com outras entidades, nomeadamente,

centros de formação das associações de escolas e instituições do ensino superior; e também, a

elaboração de uma proposta de estrutura organizacional para os tempos e espaços das

aprendizagens que correspondessem ao projeto de gestão curricular mas que não alterassem as

cargas horárias globais definidas a nível central (Costa et al., 2005, p.12).

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O «aprofundamento das capacidades de decisão ao nível dos estabelecimentos de ensino»

e a «procura de soluções para resolver o problema da qualidade e do sucesso das

aprendizagens» eram os dois grandes objetivos deste projeto (Costa et al., 2005, p.12). O seu

principal sentido era «(...) promover uma mudança gradual nas práticas de gestão curricular,

(...) melhorar a eficácia da resposta educativa aos problemas surgidos da diversidade dos

contextos escolares e assegurar que todos os alunos aprendam mais e de um modo mais

significativo» (DEB, 1999, p.6). Alonso, Peralta & Alaiz (2001, p.13) referem que este

projeto pretendia «colocar no coração do currículo a aprendizagem de competências e atitudes

essenciais para aprender a aprender a lidar com a mudança, assim como para aprender a

colaborar e a participar na melhoria da sociedade, através do exercício de uma cidadania

esclarecida e ativa».

Num segundo momento, o Despacho 9590/99 de 14 de maio, trouxe dados mais precisos

referentes à conceptualização da Gestão Flexível do Currículo e introduziu também algumas

alterações no desenho curricular – três novas “áreas curriculares não disciplinares” – e «veio

confirmar e precisar os termos em que, em cada escola, se poderia concretizar uma

organização diferenciada do tempo e conteúdos escolares» (Costa et al.,2005, p.13).

“Projeto Interdisciplinar”, “Estudo Acompanhado” e “Educação para a Cidadania” eram

as três novas áreas, que na opinião de Costa et al. (2005), eram «novos espaços de integração

de saberes, de processos de trabalho, de valores e atitudes» que contribuíam para a criação de

«condições para o desenvolvimento de novas experiências em que a autonomia de conceção e

de concretização de uma parte do currículo podia assumir formas e conteúdos diferenciados

em cada escola».

Diogo & Vilar (1999) referem que a gestão flexível do currículo implica o ajustamento

contínuo e a constante procura de adequação a cada situação específica. Para estes autores, os

aspetos que a caraterizam são: (1) a possibilidade de se trabalharem programas educativos

diferenciados com diferentes grupos de alunos, contemplando estes programas os objetivos

gerais do ciclo de estudos a que se referem, assim como os objetivos e conteúdos

considerados básicos e essenciais para todos os alunos; (2) a possibilidade de variar as

condições organizativas do desenvolvimento do currículo, tais como os espaços, o tempo, e o

agrupamento dos alunos; (3) a necessidade de não tomar as soluções encontradas como

rígidas, não perdendo de vista «o caráter dinâmico dos processos» (p.20).

Este projeto trouxe, assim, maior protagonismo à escola em relação ao currículo e,

consequentemente, modificações nos métodos de trabalho dos professores. Estas

modificações consistiram na realização de projetos interdisciplinares e no trabalho

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colaborativo entre professores do mesmo conselho de turma. A escola e os professores

tiveram oportunidade de determinar os conteúdos e as atividades respeitantes às áreas

curriculares disciplinares e não disciplinares e organizá-los em função dos contextos escolares

e da comunidade educativa (Lopes, 2003). Conforme referem Costa et al. (2005, p.13), «com

uma gestão dos programas disciplinares e do conjunto das aprendizagens em função de

competências nucleares que as próprias escolas procuravam estabelecer, criaram-se espaços

nas práticas escolares para modalidades mais ativas de organização e intervenção dos

professores».

Alonso, Peralta & Alaiz (2001) num parecer relativo ao projeto de Gestão Flexível do

Currículo, fazem uma apreciação positiva acerca da filosofia e opções fundamentais que

caraterizam o projeto, apresentando as seguintes razões: «(a) o facto de o currículo finalmente

se ter constituído objeto de questionamento, de discussão e de reflexão crítica, única maneira

de ir ao âmago da substância da educação escolar para a poder melhorar; (b) o ter colocado os

alunos (cada aluno na sua diversidade) e a sua aprendizagem no coração do currículo e da

ação pedagógica; (c) o ter atribuído aos professores um papel central na mediação do

currículo conferindo-lhes uma autonomia partilhada na sua gestão flexível e integrada; (d) o

ter-se assumido a mudança como um processo lento, complexo, progressivo e participado,

sustentado num modelo ecológico e político de inovação, que requer um acompanhamento e

uma avaliação continuadas; (e) a opção por uma visão sistémica e articulada da inovação que

contempla em interação as dimensões curriculares com as organizacionais com as formativas;

e (f), o ter ousado passar da proposta de soluções monolíticas e maximalistas para a aceitação

de cenários alternativos e soluções diversas e apropriadas às caraterísticas dos diferentes

contextos» (p.74).

Relativamente ao 1º Ciclo do Ensino Básico, estes autores consideraram que nem sempre

as escolas se reviram no modelo da Gestão Flexível do Currículo e que os professores nem

sempre fizeram distinção entre a sua prática habitual que consideravam «flexível» e as

propostas do projeto, não tendo mesmo, em alguns casos, integrado as novas três áreas

curriculares não disciplinares. Por isso, deixaram a recomendação de que a reorganização

curricular deveria atender à especificidade do 1º Ciclo, às suas caraterísticas «organizacionais

e curriculares, marcadas pela monodocência e pela globalização» mas não deixando de

contemplar os benefícios e potencialidades trazidos pelas novas propostas (Alonso, Peralta &

Alaiz, 2001, p.64).

São também de destacar alguns aspetos das conclusões do estudo de Dinis (2002),

realizado com seis professores do 1º Ciclo em que se verificou que as intenções da gestão

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curricular centrada na escola não foram apropriadas nem nos discursos nem nas práticas. A

saber: os professores mantiveram uma gestão acrítica marcada pela conformidade à dimensão

normativa e prescritiva dos instrumentos orientadores das práticas (manuais, programas e

legislação); evidenciaram pouca autonomia nas suas decisões, falta de visão estratégica e de

reflexão; e mostraram conformidade a uma cultura de homogeneidade, sendo os alunos

sujeitos a um tratamento padronizado, em que a heterogeneidade era vista como um desvio à

norma.

A Gestão Flexível do Currículo deveria conduzir à conceção de um Currículo Nacional

que considerasse a adequação aos diferentes contextos escolares e que deveria ser, como

referem Alonso, Peralta & Alaiz (2001), apresentado num documento orientador como um

«único Referencial para todo o Ensino Básico, claro, coerente e bem fundamentado, que

defina o perfil terminal de competências transversais e as competências essenciais das

áreas/disciplinas, em articulação com os conteúdos que as sustentam. Este documento –

Projeto Curricular Nacional – deve apresentar uma matriz organizadora que permita uma

leitura clara da articulação curricular, tanto a nível vertical como horizontal, incluindo as

novas áreas “não disciplinares”» (p.57).

O carácter voluntário das candidaturas das escolas cessou a partir do momento em que a

Gestão Flexível do Currículo entrou em vigor a nível nacional – no ano letivo de 2001/2002

no 1º e 2º Ciclos, e no ano lectivo 2002/2003 no 3º Ciclo – dando lugar à Reorganização

Curricular do Ensino Básico.

Abrantes (2001, pp.41-43) foca que a reorganização curricular se orientou pelos

«objetivos que a Lei de Bases do Sistema Educativo estabelece para o Ensino Básico,

nomeadamente, o de assegurar uma formação geral comum a todos os alunos que lhes garanta

o desenvolvimento dos seus interesses e aptidões e que promova a realização individual em

harmonia com os valores da solidariedade social» e sublinha as novas dimensões do conceito

de currículo, referindo que este «integra a procura de respostas adequadas às diversas

necessidades e caraterísticas de cada aluno, grupo de alunos, escola ou região» e que está

ligado a três preocupações centrais: a diferenciação, a adequação e a flexibilização.

A diferenciação refere-se à procura de diferentes formas de tornar as aprendizagens bem

sucedidas e de levar os alunos a atingir os principais objetivos, ou seja, «promover a

diferenciação pedagógica, diversificando as estratégias de acordo com as situações»; a

adequação prende-se com a «procura dos modos adequados a cada situação concreta para que

seja possível promover determinadas aprendizagens de uma forma realmente significativa»; e

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a flexibilização diz respeito aos percursos individuais, aos ritmos e aos modos de organização

do trabalho escolar que, sendo flexíveis, se situam no quadro de referências relativo às

orientações sobre as aprendizagens consideradas fundamentais no ensino básico, no seu

conjunto e nas áreas que o integram» (Abrantes, 2001, pp.43-44).

Valente (2001) relaciona a flexibilidade curricular e a diferenciação pedagógica, referindo

que a flexibilidade não se deve resumir à definição diferenciada das cargas horárias das

componentes do currículo, mas sim, à adaptação das estratégias e dos tempos de trabalho às

necessidades dos alunos. Para isso, esta autora destaca a importância da cooperação entre os

professores, porque é exigida «mais vontade de aprender sobre os alunos e as suas

necessidades do que a de manter-se na fidelidade, ou mesmo a obsessão, de lhes ensinar, a

todo custo, aquilo que não estão preparados emocional e cognitivamente para aprender» (p.9).

Sendo assim, a diferenciação pressupõe o conhecimento dos alunos, a vontade de os

reconhecer individualmente e o conhecimento pedagógico e curricular necessários para

percorrer caminhos diferenciados, ajustando tarefas e materiais.

Nas mudanças propostas, cabe aos professores a missão de identificar e interpretar

problemas educativos e de procurar soluções para esses problemas, no quadro das orientações

curriculares nacionais.

Estas orientações são apresentadas no Currículo Nacional do Ensino Básico, que explicita

as competências essenciais, transversais e específicas das diversas disciplinas, assim como

tipos de experiências de aprendizagem que devem ser proporcionadas a todos os alunos no

seu percurso escolar ao longo do ensino básico. Contudo, a reorganização curricular não

significou a alteração dos programas, mas sim, a identificação de competências e experiências

de aprendizagem consideradas essenciais, a nível nacional, que deverão ser uma referência

para a interpretação dos programas.

2.5. Currículo e competências

O desenvolvimento de competências é um efeito que se espera do currículo.

Tal como refere Roldão (2003, p.20), «todos os saberes que adquirimos ao longo da vida,

e os do currículo escolar incluídos, se destinam afinal a tornar-nos mais capazes de exercer

competências». Quisemos por isso, clarificar este conceito recorrendo aos contributos de

alguns autores que sobre ele se debruçaram.

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O termo “competência” provém do termo em latim competentia e significa proporção,

aptidão, idoneidade, faculdade que a pessoa tem para resolver um assunto (Dias, 2009).

Roldão (2003) destaca o contributo de Perrenoud (1995), que resume numa breve ideia a

noção de competência: «um saber em uso». Esta expressão significa que uma competência é

um «saber que se traduz na capacidade efetiva de utilização e manejo – intelectual, verbal ou

prático» e que se opõe ao «saber inerte» que resulta da acumulação de conteúdos que não se

sabem usar em situações concretas (p.20). Por outras palavras, Peralta (2002) considera a

competência como «um modo estratégico de ação eficaz face a famílias de situações que se

dominam porque dispomos, simultaneamente e de forma integrada, dos conhecimentos

necessários (há sempre conhecimentos a sustentar a competência) e da capacidade de os

mobilizar com plena consciência, no momento, no tempo, e no contexto oportuno, para

resolver problemas verdadeiros» (p.30). Vai no mesmo sentido a definição de Roldão (2003),

pois considera que «existe competência (ou competências) quando, perante uma situação, se é

capaz de mobilizar adequadamente diversos conhecimentos prévios, selecioná-los e integrá-

los adequadamente perante aquela situação (ou problema, ou questão, ou objeto cognitivo ou

estético, etc.)»(p.20).

Dias (2009) na sua definição de “competência” refere-se à capacidade de articular e

relacionar diferentes saberes e conhecimentos, mas também valores e atitudes. Esta autora

considera que competência é uma «ação cognitiva, afetiva, e social que se torna visível em

práticas e ações que se exercem sobre o conhecimento, sobre o outro e sobre a realidade» e

distingue competências pessoais, que dizem respeito à «capacidade de gerir os recursos da

pessoa, do self e pressupõem a promoção do potencial interior e a faculdade para estabelecer

relações», de competências profissionais, que se referem ao «sistema de conhecimentos que

permitem levar a cabo uma atividade que responde às tarefas inerentes a uma classe

profissional» (p.17).

Dias (2009) faz também distinção entre competências transversais e competências

específicas. As tranversais são competências comuns a diversas atividades, a vários

contextos, isentas de especificidade profissional e situacional, sendo também transferíveis, ou

seja, apesar de serem adquiridas no âmbito de uma atividade ou disciplina, são passíveis de

serem utilizadas num domínio diferente. As competências específicas são aquelas que

permitem atuar no exercício de uma profissão.

Rychen (2005) considera que competência é um conceito holístico, que envolve aptidões

cognitivas, atitudes e outras componentes não cognitivas, ou seja, cada competência

corresponde a «uma combinação de competências práticas e cognitivas inter-relacionadas,

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conhecimento (incluindo o conhecimento tácito), motivação, valores e ética, atitudes,

emoções, bem como outras componentes de caráter social e comportamental que, em

conjunto, podem ser mobilizadas para gerar uma ação eficaz num determinado contexto

particular» (p. 34). Rychen (2005) alude também ao conceito de competência-chave que se

refere às competências que permitem aos indivíduos participar eficazmente em múltiplos

contextos ou domínios sociais, contribuindo para o sucesso global da vida de cada um e para o

bom funcionamento da sociedade. Esta autora indica nove competências-chave, enquadradas

em três categorias, que foram identificadas no âmbito de um projeto – o projeto DeSeCo – e

que foram consideradas como potencialmente relevantes para todos os indivíduos dos países

da OCDE e dos países em transição e em vias de desenvolvimento. Uma das categorias

designa-se por «Agir autonomamente» e integra as competências «capacidade de defender e

reivindicar os seus direitos, interesses, limitações e necessidades, e assumir as suas

responsabilidades»; «capacidade de planificar a sua vida e estabelecer objetivos e projetos

pessoais»; e «capacidade de agir dentro de um cenário mais amplo / contexto alargado». Uma

outra categoria designa-se por «Utilizar ferramentas interativamente» e enquadra as

competências-chave «capacidade de utilizar a linguagem, símbolos e texto interativamente»;

«capacidade de utilizar o conhecimento e a informação interativamente»; e «capacidade de

utilizar a (nova) tecnologia interativamente». Por último, é indicada a categoria «Funcionar

em grupos socialmente heterogéneos» que engloba as competências-chave «capacidade de ter

um bom relacionamento com os outros»; «capacidade de cooperar»; e «capacidade de gerir e

resolver conflitos» (p.32-33).

Este conjunto é considerado uma «estrutura de referência abrangente» e constitui-se como

um ponto de partida para o debate sobre quais as competências a que a educação deve dar

prioridade, tendo em vista o melhoramento das competências-chave de todos (Rychen, 2005).

Pareceu-nos também importante referir o contributo de Le Boterf (2005) sobre o conceito

de “competência”, apesar de este autor focar a sua importância unicamente em relação aos

recursos humanos de empresas ou de outras organizações. Este autor refere-se às

competências realçando como estas, em termos individuais e coletivos, se podem traduzir na

«criação de valor» para as organizações. As competências constituem recursos, ou seja, ativos

imateriais necessários ao bom funcionamento e desenvolvimento das organizações.

O saber fazer individual e coletivo, o potencial e as capacidades das pessoas são a riqueza

de uma organização e esta deve orientar sua ação numa perspetiva de construção e de

desenvolvimento de competências. Partindo destes princípios, Le Boterf (2005) propõe um

modelo de gestão de recursos humanos que se apoia na «lógica da competência».

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A noção de “competência” adoptada pela reorganização curricular «integra

conhecimentos, capacidades e atitudes e pode ser entendida como um saber em ação»

(Abrantes, 2001, p.44). Assim sendo, pensamos que é uma noção que engloba aspectos

presentes nas diferentes definições que apresentámos.

No contexto da presente investigação, procurámos também construir uma perceção sobre

a forma como os professores, em especial os que colaboraram connosco nos estudos de caso,

se apropriaram desta noção de competência e lhe dão significado no seu discurso e nas suas

práticas.

2.6. O currículo no 1º Ciclo do Ensino Básico

As medidas da reorganização curricular, a que nos referimos anteriormente, também

afetaram o funcionamento do 1º Ciclo do Ensino Básico, o ciclo de estudos sobre o qual

incidiu a nossa investigação.

O 1º Ciclo do Ensino Básico desenvolve-se ao longo de quatro anos e tem uma carga

horária obrigatória de 25 horas por semana. O ensino é da responsabilidade de um professor

(o professor titular), havendo a possibilidade de este ser coadjuvado.

O professor titular da turma organiza o projeto curricular de turma (PCT) – elemento

central da gestão do currículo, que apresenta o conjunto de experiências de aprendizagem a

proporcionar aos alunos e o modo como as diversas áreas se articulam, tendo como referência

as aprendizagens e competências essenciais formuladas a nível nacional. O PCT é discutido e

acompanhado por um Conselho de Docentes, de acordo com a organização das estruturas

pedagógicas da escola.

O plano curricular é composto pelas áreas curriculares disciplinares de Língua Portuguesa,

Matemática, Estudo do Meio e Expressões (artísticas e físico-motoras); pelas áreas

curriculares não disciplinares de Área de Projeto, Estudo Acompanhado e Formação Cívica;

pela área curricular disciplinar de frequência facultativa de Educação Moral e Religiosa; e

pelas Atividades de Enriquecimento, que também são de caráter facultativo, incluindo uma

possível iniciação a uma língua estrangeira com ênfase na sua expressão oral, de acordo com

os recursos disponíveis (ver Fig.35

).

5 A expressão «componentes do currículo» é utilizada no Decreto-Lei nº6/2001 para designar as áreas que compõem o currículo do 1º Ciclo do Ensino Básico. No entanto, o seu significado é distinto do significado atribuído às «componentes do currículo» explicitadas no presente capítulo.

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Figura 3 – Plano Curricular do 1º Ciclo do Ensino Básico (Decreto-Lei nº6/2001 de 18 de janeiro).

Ainda no que respeita ao plano curricular, o Decreto-Lei 6/2001 salienta também que «o

trabalho a desenvolver pelos alunos integrará, obrigatoriamente, atividades experimentais e

atividades de pesquisa adequadas à natureza das diferentes áreas, nomeadamente no ensino

das ciências».

As áreas curriculares não disciplinares não têm definidas cargas horárias semanais e são

da responsabilidade do professor titular da turma de 1º ciclo e, segundo o Decreto-Lei 6/2001,

«devem ser desenvolvidas em articulação entre si e com as áreas disciplinares, incluindo uma

componente de trabalho dos alunos com as tecnologias da informação e da comunicação e

constar especificamente do projeto curricular de turma».

Tendo-se mantido o número de anos de escolaridade que integram o 1º Ciclo, a carga

horária semanal e o quadro de áreas disciplinares (definido pelo Decreto-Lei nº 286/89, de 29

de agosto), poder-se-á dizer que as principais modificações que advieram da reorganização

curricular foram: as novas áreas curriculares não disciplinares e as atividades de

enriquecimento curricular (AEC); o caráter transversal da educação para a cidadania e da

utilização das tecnologias de informação e comunicação; a valorização do ensino

experimental; os novos papéis dos orgãos de gestão pedagógica, nomeadamente dos

Componentes do currículo Ed

ucaç

ão p

ara

a ci

dada

nia

Áreas curriculares disciplinares

Língua Portuguesa

Matemática

Estudo do Meio

Expressões

- artísticas

- físico-motoras

Form

ação

Pes

soal

e S

ocia

l

Áreas curriculares não disciplinares

Área de Projeto

Estudo Acompanhado

Formação Cívica

Total: 25 horas

Educação Moral e Religiosa

Actividades de enriquecimento

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conselhos de docentes e dos conselhos pedagógicos; e, sobretudo, a concretização de um PCT

que tem em conta a diferenciação, a adequação e a flexibilização e, ainda, o conjunto de

aprendizagens e tipos de experiências educativas definidas pelas competências essenciais.

2.7. As Metas de Aprendizagem

As Metas de Aprendizagem surgem enquadradas na Estratégia Global de

Desenvolvimento do Currículo Nacional delineada pelo Ministério da Educação no final do

ano de 2009 e consistem na «conceção de referentes de gestão curricular para cada disciplina

ou área disciplinar, em cada ciclo de ensino, desenvolvidos na sua sequência por anos de

escolaridade, incluindo ainda metas finais para a Educação Pré-escolar» (Ministério da

Educação, 2010). A identificação das metas de aprendizagem justifica-se pela necessária

«reorganização e clarificação da globalidade das prescrições e orientações curriculares» que

advieram dos processos de reorganização curricular que se iniciaram em 2001 (e que já foram

apresentados neste trabalho). O projeto de elaboração das metas decorre em várias fases,

tendo sido a primeira a identificação das metas de apendizagem para a Educação Pré-Escolar

e para o Ensino Básico. A publicação das metas para o Ensino Secundário, a disponibilização

de exemplos de estratégias de ensino e de avaliação e o acompanhamento e apoio ao uso das

metas serão também etapas integrantes do processo.

Para a elaboração das Metas de Aprendizagem nas diferentes disciplinas ou áreas

disciplinares foram considerados os seguintes pressupostos: (1) são entendidas como

evidências de desempenho das competências que deverão ser manifestadas pelos alunos,

sustentadas na aquisição dos conhecimentos e capacidades inscritos no currículo formal,

constituindo por isso resultados de aprendizagem esperados; (2) são sempre expressas em

termos do desempenho esperado por parte do aluno; (3) integram e mobilizam os conteúdos

nas suas diferentes dimensões, os processos de construção e uso do conhecimento, e as

atitudes e valores implicados quando for o caso; (4) para cada área ou disciplina, as metas de

aprendizagem são estabelecidas para o final de cada ciclo, sendo indicados níveis referenciais

do seu desenvolvimento, para cada um dos anos que o constituem, exceto na Educação Pré-

Escolar, em que apenas se elaboraram metas finais; (5) são suscetíveis de gestão diversificada

por cada escola (Ministério da Educação, 2010).

As Metas de Aprendizagem, não se constituem como um documento normativo, sendo

apresentadas como um «instrumento de gestão curricular de apoio ao trabalho dos

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professores» (Ministério da Educação, 2010). Em conteúdo, explicitam objetivamente

resultados de aprendizagem que os alunos devem evidenciar no final de determinadas etapas

do seu percurso escolar. Trata-se, por isso, de um instrumento a ser considerado no trabalho

de planificação, pois é necessário perspetivar situações educativas e experiências de

aprendizagem que possibilitem aos alunos atingir os resultados previstos. A programação de

estratégias de ensino que contribuam para as aprendizagens visadas nas metas e a verificação

dos resultados, fundamentam a importância que as tarefas de planificação e avaliação têm no

trabalho dos professores.

Ainda neste capítulo, iremos referir-nos especificamente às metas de aprendizagem

relativas à EEP no 1º Ciclo do Ensino Básico.

3. A expressão plástica 3.1. O que é a “expressão plástica”?

O presente estudo incide sobre a área de Expressão e Educação Plástica no 1º Ciclo do

Ensino Básico. Assim sendo, para a revisão da literatura acerca desta área, selecionaram-se os

temas considerados mais relevantes para a investigação, nomeadamente:

- o conceito de “expressão plástica”;

- o desenvolvimento gráfico-plástico na infância;

- o desenvolvimento da criatividade através da expressão plástica;

- e atitudes pedagógicas e opções metodológicas para a prática criativa da expressão

plástica.

O aprofundamento teórico acerca dos temas mencionados serviu de base, tal como já foi

referido, à construção do referente «currículo ideal», um dos elementos que constitui o

referencial de avaliação. Para este fim, foram consultadas obras que se referem às perspetivas

atuais sobre expressão plástica infantil – particularmente em crianças entre os 6 e os 10 anos

de idade, a faixa etária correspondente ao 1º ciclo do Ensino Básico – e também aos

princípios pedagógicos orientadores da ação do professor.

De acordo com Sousa (2003a, p.159), o termo “expressão plástica” utiliza-se para

designar o «modo de expressão-criação através do manuseamento e modificação de materiais

plásticos». O barro, o gesso, a madeira, os metais, entre outros, são exemplos de materiais

plásticos que podem ser utilizados em atividades de expressão plástica.

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A expressão plástica é uma atitude pedagógica que não se centra na produção de obras de

arte, mas sim, tem como objetivo a expressão de emoções e sentimentos através da criação

com materiais plásticos (Sousa, 2003a).

A criança, ao usar as linguagens próprias das diversas artes (não só da expressão plástica),

de um modo único e pessoal, «fala de si e do que a rodeia, ao mesmo tempo que avança na

construção de conhecimentos diversos implícitos nas obras que produz, inclusive os que

dizem respeito ao aperfeiçoamento do uso desses elementos expressivos assim como da sua

leitura e interpretação» (Kowalski, 2000, p.123). Civit & Colell (2004) atribuem à expressão

plástica um significado semelhante, pois referem-se à linguagem plástica como uma

ferramenta capaz de gerar a aquisição de novos conhecimentos, de desenvolver a

sensorialidade, de enriquecer a capacidade de comunicação e expressão e de ampliar a forma

de ver, entender e interpretar o mundo (p.100). Também para estas autoras, entender a

«plástica» como uma forma de ocupar o tempo, uma oportunidade para fazer presentes para

dias festivos ou uma actividade para decorar um espaço, é reduzir as possibilidades educativas

desta área.

A “plástica” é uma linguagem, uma forma de expressão que tem uma gramática visual

mediante a qual podemos expressar-nos e comunicarmos com os outros. Esta gramática visual

é formada pelo «alfabeto visual» - composto pelo ponto, a linha, a superfície, a cor, a textura,

o volume e a forma - que são as «letras» que podemos combinar para nos expressarmos. É

também formada pela «sintaxe visual» - que tem em conta a medida, a proporção, o

agrupamento, a estrutura, a direção, o movimento, o ritmo, o equilíbrio, a simetria, a

assimetria, a harmonia, e o contraste - que são as formas que temos para poder combinar as

«letras» do alfabeto visual (Civit & Colell, 2004). Aos educadores / professores cabe conhecer

minimamente esta gramática, porque é a base da linguagem plástica.

A expressão plástica contribui para o desenvolvimento das capacidades e para a satisfação

das necessidades de expressão da criança, que desenha, pinta, modela e constrói apenas pelo

prazer que estes atos lhe proporcionam e não com a intenção de produzir algo que seja «arte».

Sousa (2003a, p.160) refere que «é a ação que interessa, é o ato de criar que é expressivo e

não a obra criada» e que, para a criança, é uma «atividade natural, livre e espontânea» à qual

ela adere, pois desde pequena «gosta de mexer em água, areia, barro, tintas e de riscar um

papel com um lápis».

Para Beltrán (2000) a expressão plástica, a dança, a escrita, a expressão musical e a

expressão dramática são veículos de expressão e comunicação, são formas de criar em que

cada um estabelece contacto consigo próprio e com o outro. Esta autora faz também uma

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distinção pertinente: o que se entende por «arte» e o que se entende por «expressões

artísticas». Sendo assim, a «arte» é em si «o acto de Criação e de Ser daquele que é Artista,

daquele que faz Arte enquanto profissão e “modus vivendi”, daquele que morreria se não

pudesse criar, pois é um ato tão vital como o ato de respirar»; por outro lado, as «expressões

artísticas pertencem ao universo que está acessível a todos os seres humanos sem conceitos

nem preconceitos de valores e criação» (pp. 139-140).

Através da realização de atividades artísticas, as crianças tornam-se capazes de expressar

melhor ideias e sentimentos, desenvolvem a auto-estima, a autonomia, a flexibilidade de

pensamento, a capacidade de criar símbolos, de analisar e de avaliar (Eisner, 1979b, cit. por

Almeida, 2001).

A importância das expressões artísticas na educação reside na possibilidade de permitir

aos alunos o direito à descoberta e à liberdade de criação, pela capacidade única e inerente a

cada um para se exprimir utilizando diferentes linguagens (Beltrán, 2000).

Poder-se-á considerar também que praticar a expressão plástica permite, como diz

Kowalski (2000, p.122), uma «incursão nas linguagens da arte, através do uso criativo dos

elementos que lhe são próprios», e por isso, será também «um passo na literacia artística, uma

introdução na cultura artística».

A concretização destes propósitos exige que os professores estejam sensibilizados e

informados sobre a importância das expressões artísticas no desenvolvimento das crianças.

Almeida (2001) enumera algumas caraterísticas das práticas pedagógicas em expressões

artísticas que «ameaçam» a consecução dos seus objetivos: as atividades serem propostas pelo

professor e desenvolvidas de forma padronizada (todos os alunos fazem a mesma coisa, ao

mesmo tempo, geralmente seguindo modelos fornecidos pelo professor); as atividades

estarem condicionadas à realização de um produto final, de tal modo que o prazer inerente ao

processo de projetar e experimentar não é considerado; o produto final ser excessivamente

valorizado, e ter de atender a um certo padrão estético – o do professor; as atividades não

serem entendidas nem valorizadas como forma de desenvolver o pensamento, a imaginação, a

criatividade e aspetos socio-afetivos (p.35).

Nesta sequência, apresentamos nos próximos textos os aspetos que podem contribuir

positivamente para que as atitudes pedagógicas, relativas à prática da expressão plástica, se

distanciem deste conjunto de caraterísticas.

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3.2. O desenvolvimento gráfico-plástico na infância

Ao longo do seu desenvolvimento, a criança utiliza de diferentes formas os elementos da

linguagem visual nas suas criações plásticas. Abordaremos de seguida os aspetos que

caraterizam a evolução gráfica das crianças através dos contributos de alguns autores, entre os

quais focaremos a classificação de Lowenfeld & Brittain (1977) e de Luquet (1979)

relativamente aos diferentes estádios de desenvolvimento.

Aproximadamente entre os dezoito meses e os três anos de idade, a criança manifesta nas

suas experiências gráficas o prazer de riscar. De acordo com Salvador (1988), a criança

começa a fazer traços, porque a sua execução lhe dá a constatação de possuir um poder

criador que a iguala aos adultos. As primeiras manifestações – denominadas por garatujas

(Lowenfeld & Brittain, 1977) – são traços instintivos, fortuitos e descontrolados, em que a

criança observa no papel o que resulta das suas ações e movimentos ao utilizar um material

riscador. Progressivamente, os traços começam a resultar de uma maior ligação com o gesto e

o movimento, e a revelar maior minúcia, controle e intencionalidade. Estas garatujas

denominam-se por controladas e continuam a evoluir revelando cada vez mais o controle dos

movimentos. Em fases posteriores, a criança começa a dar nome às suas garatujas, fazendo

analogias com a realidade e utilizando cada vez mais combinações de traços. Por volta dos

três anos, poderão existir imitações da escrita do adulto através de traços horizontais e

paralelos, organizados da esquerda para a direita e de cima para baixo, sendo estas produções

exemplos de pré-escrita (Rodrigues, 2002). A respeito deste momento da evolução do

desenho, Luquet (1979, p.136) refere que, para a criança, «a consciência que tem de possuir

um poder criador valoriza-a na sua própria estima e é a origem de um prazer que procura

renovar recomeçando os seus desenhos, que, primeiro esporádicos, se tornam depois

intencionais».

Na classificação de Luquet (1979), as etapas que se seguem denominam-se por realismo

fortuito e realismo falhado. Para este autor, o realismo é a principal caraterística do desenho

infantil, «pela natureza dos seus motivos e temas que trata» (p.123).

Ao realismo fortuito correspondem as produções em que a criança reconhece analogias

entre o que desenhou e objetos reais, tratando-se apenas de interpretações, podendo no mesmo

conjunto de traços ver representações de objetos diferentes. Nas palavras de Salvador (1988,

p.46), a criança «traça linhas para ver o que sai». Esta etapa ocorre, geralmente, aos 4 anos de

idade.

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Ao realismo falhado, correspondem os desenhos feitos com intenção figurativa prévia. A

criança anuncia o que vai desenhar e as suas tentativas, que resultam do modo como já sabe

dirigir e controlar os seus movimentos gráficos, começam a ter semelhanças com os objetos

representados. Para Luquet (1979, p.129), «a consciência que ela tem de ter procurado a

semelhança basta para lhe fazer crer que a encontrou». No entanto, a descontinuidade da

atenção faz com que não invista no desenho de detalhes do objeto que quer representar, sendo

para ela mais importante começar novos desenhos de objectos pelos quais vai tendo interesse.

Rodrigues (2002) designa estes momentos por fase pré-figurativa e neles enquadra o

aparecimento das primeiras formas esquemáticas e do «círculo primordial» - formas

arredondadas associadas a segmentos de recta que a criança simbolicamente associa à

representação de pessoas, animais e objetos, não facilmente identificáveis pelo adulto. Em

crianças de 4 ou 5 anos, a evolução destas formas começa a resultar na representação da

figura humana, não se distinguindo ainda a cabeça do tronco. Rodrigues (2002, p. 28) refere

também que, o desenho é ideográfico, isto é, a criança representa «muito mais o que sabe do

que o que vê». Estes aspectos caracterizam a Fase Pré-Esquemática na classificação de

Lowenfeld & Brittain (1977).

A transparência (representar o que está dentro dos objetos), a humanização (representar

objetos com elementos do corpo humano), e a perspetiva afetiva (dimensões

desproporcionadas de objetos e pessoas) são elementos relacionados com o ideografismo e

que caraterizam a etapa do realismo intelectual, segundo Luquet (1979), na qual também se

insere o rebatimento (que consiste em rebater ou deitar os «suportes» dos objetos, tais como

pés dos animais e pessoas ou as rodas dos carros). Na representação das figuras humanas

também coexistem a mistura de perspetivas, por exemplo, a cabeça e pernas são representadas

de perfil enquanto que o tronco e os braços são representados de frente. O uso da cor tende a

ser estereotipado, muitas vezes por pressão dos adultos, que sugerem que o céu é azul, as

árvores verdes, entre outros exemplos que se poderiam dar (Salvador, 1988). Esta etapa

decorre entre os 6 e os 8 anos, aproximadamente e, na classificação de Lowenfeld & Brittain

(1977), corresponde à Fase Esquemática.

Progressivamente, as caraterísticas que se verificam na etapa do realismo intelectual

relativamente à representação do espaço, da figura humana e ao uso da cor, começam a ter

mudanças que se referem a uma nova etapa, o realismo visual, a última na classificação de

Luquet (1979). No desenho, os elementos passam a ser representados segundo um único

ponto de vista, desaparecendo os rebatimentos e a mistura de perspetivas; a transparência é

substituída pela opacidade, sendo suprimidos os pormenores não visíveis do objeto; para a

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profundidade, representam-se mais pequenos os objetos afastados e maiores os objetos

próximos. Esta etapa, que começa aproximadamente entre os 8-9 anos, é também marcada

pelo forte sentido crítico da criança relativamente aos seus trabalhos, pois esta exige a si

própria que as suas produções tenham semelhanças com a realidade (Salvador, 1988).

Esta etapa tem aspetos comuns com a fase do Realismo, na classificação de Lowenfeld &

Brittain (1977), que segundo estes autores ocorre os 9 e os 12 anos e relativamente à qual se

realçam as seguintes caraterísticas: na representação da figura humana, começa a haver um

grande investimento no desenho de pormenores que individualizam as figuras representadas

(diferenças entre rapazes e raparigas, desenho de pormenores dos elementos do rosto e do

vestuário); na representação do espaço, começa a libertação da «linha de base» e a noção de

profundidade recorrendo ao desenho de diferentes planos; a utilização da cor associa-se à

experiência subjetiva, e por isso, pode não ter relação com a realidade.

A esta fase, segue-se o Pseudonaturalismo (Lowenfeld & Brittain, 1977), que ocorre

aproximadamente entre os 12 e os 14 anos, e cujas caraterísticas também resumimos: a figura

humana é representada em ação, com proporções, em diferentes posições e com ênfase na

expressão (elementos do rosto representados de forma a mostrar satisfação, irritação,...); na

representação do espaço denota-se a necessidade da expressão tridimensional e da

representação da distância e profundidade e também do envolvimento, quando este tem

importância; a cor é utilizada com diferentes critérios, ou explorada de forma a estar

relacionada com a realidade ou, também, utilizada de forma subjetiva. Estas caraterísticas

evoluem numa crescente sofisticação, dando lugar à Arte dos Adolescentes, que ocorre entre

os 14 e os 17 anos, e que na classificação de Lowenfeld & Brittain (1977) é a última fase da

evolução do desenho.

De forma resumida, enumeramos a sequência de fases da evolução do desenho segundo a

classificação de Luquet (1979), à qual nos temos vindo a referir: Garatuja, Realismo Fortuito,

Realismo Falhado, Realismo Intelectual e Realismo Visual.

Do mesmo modo, enumeramos também a classificação de Lowenfeld & Brittain (1977):

Garatuja, Fase Pré-Esquemática, Fase Esquemática, Realismo, Pseudonaturalismo, e a Arte

dos adolescentes.

Luquet (1979) refere-se a uma caraterística do desenho, comum a várias etapas, a

narração gráfica. Esta, refere-se ao modo como a criança encontra soluções para representar

um ou mais momentos da ação ou episódio de uma história. Existem narrações gráficas de

diferentes tipos: simbólico (quando é representado um momento da ação que é considerado o

mais importante, e por isso, símbolo da totalidade da situação ou história); de Epinal (quando

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se representam, no mesmo desenho, várias imagens que correspondem a diferentes momentos

da situação ou história); e sucessivo (o desenho é composto apenas por uma imagem que

reúne elementos correspondentes a diferentes momentos temporais, podendo estes ser

repetidos ou não).

Na nossa investigação, mais propriamente nos contextos onde realizámos os estudos de

caso, procuraremos identificar caraterísticas dos desenhos dos alunos e relacioná-las com as

fases de evolução gráfica a que nos referimos.

3.3. O desenvolvimento da criatividade através da expressão plástica

“Criatividade” deriva do termo em latim creare, que significa «produzir» e «criar» e

compreende um amplo conjunto de ações – produções artísticas, descobertas, invenções –que

são essenciais ao desenvolvimento da personalidade e ao progresso social e cultural

(Martínez-Otero, 2005).

Para Gonçalves (1991), a criatividade desperta-se «através do fazer» e da

«experimentação constante» e apela para uma pedagogia não diretiva, flexível e aberta que

permita «que seja a própria criança a descobrir o seu modo de agir e de se exprimir, bem

como o material e a técnica que melhor se adaptam à sua expressão pessoal» (p.13).

A criatividade pode ser estimulada através de experiências que apelem ao pensamento

divergente ou intuitivo. Gonçalves (1991) descreve este tipo de pensamento como «aquele

que, perante um problema, procura todas as soluções possíveis, sendo menos adstrito à

conformidade da resposta do que à sua originalidade, tranquilo em face das questões amplas e

mal definidas, capaz de apreender relações entre os factos nunca anteriormente notados e de

produzir novas formas, através de ensaios e erros, por “aproximação experimental”» (p.24).

Díaz (1986) refere que o pensamento divergente ajuda a formar atitudes de abertura e

compreensão do real e da sua complexidade, e que essa compreensão não se atinge só pela

lógica.

A esta forma de pensamento opõe-se o pensamento convergente ou lógico, que por sua

vez, também perante um problema, conduz a uma solução única em que a «atividade mental e

manual é canalizada, encerrada em normas restritas, submetida a instruções rígidas»

(Gonçalves, 1991, p.24).

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Estas duas formas de pensamento são complementares e necessárias à formação integral

da pessoa (Gonçalves,1991; Rodrigues D., 2002).

A expressão plástica, tal como as outras expressões artísticas, pode contribuir para o

desenvolvimento da criatividade e do pensamento divergente, para isso é necessário que as

propostas que se colocam às crianças constituam «desafios» para os quais elas devem criar

soluções individuais e únicas.

Segundo Martínez-Otero (2005), para favorecer o desenvolvimento da criatividade, a

escola deve «cultivar a flexibilidade e a liberdade; fomentar a comunicação e a participação;

estimular a curiosidade; promover os métodos heurísticos; evitar o dogmatismo e a

intolerância; estimular a sensibilidade e a fantasia; possibilitar a reflexão e o ensaio;

desenvolver os sentidos em contacto com a natureza; promover a autonomia, a motivação, o

espírito crítico, o esforço e o trabalho; incentivar os alunos a formular questões sobre o que os

rodeia» (p.174). A expressão plástica tem também um papel na concretização destes

propósitos.

A prática de atividades que exercitem a criatividade artística tem implicações no

desenvolvimento da criança. Kowalski (2000a) aponta que esta é favorável à procura ativa de

soluções e estratégias, ao assumir de posições pessoais, à aceitação da diferença, ao cultivo de

relações de sensibilidade, à afectividade e à introdução às artes; e que por isso, é

«indissociável do desenvolvimento global» pois «alimenta, organiza e materializa, em

produtos criativos, relações sensíveis com pessoas, coisas e ideias». Esta autora refere ainda

que «é um primeiro passo na educação estética e está de acordo com os aspetos gerais da

educação básica» (p.125).

As crianças ao realizarem actividades artísticas aprendem também que o processo de criar

requer decisões, pois necessitam de avaliar constantemente a adequação e qualidade do seu

trabalho, ou seja, aprendem a confiar na sua sensibilidade e perceção para determinar a

adequação do que criam (Almeida, 2001).

A ação de criar é muitas vezes contrariada pelo recurso aos estereótipos, que consiste em

«repetir mecanicamente esquemas de representação inexpressiva» (Rodrigues, 2002, p.118) e,

consequentemente bloqueia a autenticidade expressiva e a originalidade. A criança copia,

decalca ou imita figuras «já feitas» (por exemplo, figuras dos desenhos animados)

substituindo assim as suas próprias criações.

A criança tem acesso a estas imagens enquanto «consumidor visual». A televisão, os jogos

de computador, a publicidade, são algumas fontes de onde provêm essas imagens, cujo

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consumo conduz à massificação do gosto e à expressão mecanicista e impessoal (Almeida,

2001; Rodrigues, 2002; Sousa, 2003b). Também Best (1996, p.123) se referiu a este aspeto,

afirmando que os clichés (estereótipos) contribuem para a «criação e perpetuação de

sensibilidades superficiais» e impedem o «desenvolvimento de sensibilidades

verdadeiramente individuais». Cabe, portanto, ao professor estar consciente destas influências

e defender a autenticidade da expressão.

A posição assumida pelo professor pode estimular ou inibir a expressão pessoal e tem

também relação com o tipo de exercícios que propõe às crianças. Isto é, podem ser

selecionados exercícios que possibilitem à criança produzir um trabalho individual, único,

fruto da sua expressão pessoal ou, por outro lado, podem ser propostos exercícios que

consistem em reproduzir modelos (por vezes sobrecarregados de estereótipos) em que a

criança copia, imita e segue as instruções do professor.

Sousa (2003a) refere que os habituais desenhos estereotipados e demasiado figurativos,

como a representação da casa, da árvore, da flor ou do sol, resultam principalmente daquilo

que a criança acha que vai agradar ao adulto, e não da sua liberdade e espontaneidade de criar.

Como diz Gonçalves (1991), «se a criança se limita a fazer apenas o que a mandam fazer, ela

não poderá responder inteiramente por isso, visto que é mais uma obra de quem manda do que

de quem obedece» e, desta forma, «a educação que visa apenas transformar a criança num ser

obediente, passivo, e submisso, fica muito áquem daquela que estimula no educando a

vontade própria, o poder de iniciativa e de criatividade» (p.12).

Também Kowalski (2000a, p.121) refere que optar por fomentar nas crianças «modos

pessoais de sentir e de pensar perante os outros e o mundo que as cerca; modos pessoais e

únicos que se relacionam com os de outrem e se organizam em produtos expressivos e

criativos, é uma opção exigente, que não se compadece com uma posição de mera reprodução

de conhecimentos e não se alinha com uma escolaridade que tenha por objetivo a atingir

produtos calibrados por padrões, tendo em vista normalizar conhecimentos» ou como diz Díaz

(1986, p.29), cair em «automatismos intelectuais e reducionismos estereotipados» próprios do

pensamento convergente.

Gonçalves (1991) e Rodrigues D. (2002) sugerem para a expressão plástica algumas

«técnicas que estimulam a criatividade» que incluem diversos exercícios: desenho, colagem,

livre associação de imagens, cadavre exquis, frottage, decalcomania, intervenção do acaso,

ocultação/desocultação, montagem objectual, entre outros. Os exercícios propostos podem ser

realizados individualmente ou em grupo e incluem a utilização diversificada de técnicas,

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instrumentos e materiais de expressão plástica. As suas componentes lúdica e expressiva

possibilitam soluções visuais inesperadas e surpreendentes, que resultam da imaginação

criativa das crianças.

Também Santos (2006) acentua o papel da componente lúdica para desencadear o

processo criativo. Associar o trabalho com as artes plásticas com as actividades lúdicas traz

novos significados à intervenção pedagógica, pois, «arte e jogo estão centrados na mesma

busca do novo, do simbolizar, do imaginar e do criar» (p.24).

Considerando o lúdico como facilitador da construção do conhecimento, da comunicação

e da socialização, Santos (2006) propõe alternativas metodológicas baseadas em jogos e

brinquedos tradicionais. Como exemplos, são indicados o caleidoscópio (que estimula a

observação, a imaginação e a curiosidade); o cata-vento (que permite percecionar a fusão das

cores); o tangram (que atrai pela facilidade com que possibilita a criação de formas); e o jogo

de cartas utilizando um «baralho artístico» (que familiariza as crianças com obras artísticas),

construído com imagens de obras de arte e que pode ser utilizado em diversos jogos. Esta

autora sugere ainda diversas abordagens lúdicas que permitem trabalhar com os elementos

estruturais da linguagem plástica (ponto, linha, forma, composição, etc.) e com a obra de arte

(como exemplos: «bingo de forma e cor»; «quebra-cabeças com obras de arte»; «dominó

artístico», entre outros).

As atividades que incluem a aproximação à obra de arte estimulam a criatividade. Esta

posição é defendida por diversos autores (Gonçalves, 1991; Nardin & Ferraro, 2001;

Rodrigues D., 2002; Sousa, 2003a; Santos, 2006; entre outros).

Rodrigues (2002, p.210) afirma que o contacto com a obra de arte «desenvolve a

sensibilidade estética e contribui para desbloquear o processo criativo, proporcionando a

descoberta das variadas técnicas e formas de expressão» e, contraria o estereótipo.

Para Santos (2006), trabalhar as artes na escola significa abordar a arte como «construção

do conhecimento, propiciando à criança os meios para a realização de experiências no fazer

artístico, na apreciação da obra de arte e na reflexão sobre o seu produto» (p.8). O

desenvolvimento da imaginação, da expressão e da sensibilidade ocorre a partir do

conhecimento que a criança tem sobre o que faz (fazer artístico), o que percebe (obra de arte)

e do que pensa e sente (reflexão).

Observar, fruir, analisar e emitir opiniões sobre a obra de arte permite «descodificar as

diferentes linguagens, criando oportunidade à compreensão do sentido e dos significados que

permeiam o mundo simbólico das imagens visuais» (Santos, 2006, p.8). Este processo permite

a apropriação da «gramática visual» necessária para ler, compreender e produzir imagens.

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Para Kowalski (2000a), a ligação próxima entre o lúdico, a expressão, a criação, a fruição

e a apreciação pode «ser optimizada pelo educador desde que dela tenha consciência

pedagógica», pois é uma «perspetiva que engloba vertentes diversas quer a nível do

desenvolvimento pessoal da criança, quer da integração de saberes, quer, numa visão mais

lata, da educação para a cidadania, permanente e fazedora de cultura» (p.126).

As visitas a monumentos, museus e galerias de arte e o convívio com artistas podem ser

formas de proporcionar a aproximação com as obras artísticas e o seu processo de criação. Na

sala de aula são diversas as metodologias que podem ser adotadas: a observação de imagens e

o diálogo/ debate sobre as obras representadas; as pesquisas em livros e na internet (visitas

virtuais aos museus, por exemplo); exploração de materiais didáticos como por exemplo,

jogos, livros e revistas6

Nesta sequência, também Aguirre (2006) e outros autores, como Reis (2010) se referem a

diferentes metodologias e programas que privilegiam o «diálogo» com a obra de arte. É o

caso da metodologia Learning to Think by Looking at Art proposta por Perkins (1994); do

programa de artes visuais denominado Visual Thinking Strategies sugerido pela associação

Visual Understanding in Education; do programa Discipline-Based Art Education proposto

pelo centro americano Getty Education Institute; e também do Primeiro Olhar – Programa

Integrado de Artes Visuais, desenvolvido pela Fundação Calouste Gulbenkian e coordenado

por João Pedro Fróis – e que também é apresentado em Fróis (2005).

(Rodrigues, 2002; Santos, 2006; entre outros).

3.3. Atitudes pedagógicas e opções metodológicas para a prática criativa da expressão

plástica

De acordo com o que foi apresentado anteriormente, considera-se a expressão plástica

(assim como as restantes expressões artísticas) um espaço de expressão de sentimentos e

emoções favorável ao desenvolvimento pessoal e social. Contudo, convém realçar também

que, tal como prescreve o CNEB e como defendem alguns autores (Munari, 1987; Best, 1996;

Kowalski, 2000a; Melo, 2000; Santos, 2006; entre outros) uma abordagem em educação

artística deve atender à intencionalidade da aprendizagem de saberes e ao desenvolvimento e

6 Existem no mercado alguns livros de literatura infantil que conjugam contos e obras de artistas plásticos; existem também revistas que apresentam obras artísticas, contos e exercícios de expressão plástica através de jogos criativos (exemplo: Revistas «Aprender a olhar», Edições Firmamento; Revistas «Viva o Museu», editadas pelo Sector de Educação do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão).

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aquisição de competências específicas de uma expressão artística, ou de várias, de forma

integrada.

Tem o mesmo sentido, a opinião de Oliveira (2007, p.66), ao referir que a expressão

plástica deve proporcionar o desenvolvimento das capacidades percetivas, relacionadas com a

educação dos sentidos; das capacidades manipulativas e procedimentais, relacionadas com a

manipulação de materiais e a utilização de técnicas; e das capacidades criativas, relacionadas

com a comunicação, criação e expressão. Esta autora salienta ainda a importância do aspeto

cognitivo, associado ao saber e do aspeto produtivo, associado ao fazer, sendo ambos

esenciais em todo o processso criativo.

Melo (2000, p. 162) realça que também as expressões artísticas são «um domínio do

conhecimento humano que contém saberes e competências que se aprendem (e

desaprendem)». Para esta autora, a capacidade de expressão e comunicação que as expressões

artísticas permite desenvolver «só pode ‘acontecer’ se houver um conhecimento sobre as

linguagens artísticas» e, esse domínio de saberes e competências ampliará a liberdade de

criação, que desta forma se tornará uma «vivência ‘consubstanciada’» e deixará de ser um

conceito abstrato (p.162).

Também Best (1996) refere que o contributo mais importante da educação, em todas as

áreas do currículo, é abrir horizontes de compreensão, e que esta depende necessariamente da

aprendizagem das técnicas e critérios das disciplinas. Só assim, «a educação sensível e

esclarecedora pode ser essencialmente libertadora» (p.123).

Para Melo (2000), a prática das expressões artísticas (onde se inclui a expressão plástica)

deve ser um espaço onde há «erros, imprecisões, pausas, repetições» no qual o professor

«deve interferir propondo, negociando, levando os alunos a avaliar os seus próprios trabalhos,

procurando com eles novos caminhos técnicos, expressivos, temáticos, etc.» (p.162). Deste

modo, valoriza-se a criação relativamente à execução e à reprodução.

Kowalski (2000a, p.123) realça o apoio disponível do adulto, que em vez de «esperar

resultados previsíveis, confia e fomenta o exercício da criatividade da criança levando-a a

procurar soluções e estratégias materializadas em “obras”».

Melo (2000) defende também que, no 1º Ciclo do Ensino Básico, a educação artística deve

ser generalista e integrada, não desprezando a necessidade de aprendizagem dos saberes e

competências de cada expressão artística, ou seja, «não se deve adotar com crianças um

modelo disciplinar de aprendizagem, segmentando os saberes, os tempos e os espaços

curriculares e materiais» (p.163). Para esta autora, este princípio deve aplicar-se a todos os

outros saberes que compõem o programa do 1º Ciclo.

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É nesta sequência que importa apresentar alguns princípios pedagógicos que são

favoráveis ao desenvolvimento da criatividade e da expressão e que vão de encontro às novas

formas de gerir e concretizar o currículo, que, como atrás foi referido, devem atender à

adequação, flexibilização e diferenciação.

No estudo de Guimarães (1999) é destacada a perspetiva integradora das expressões

artísticas, na medida em que complementam de forma equilibrada o conjunto das

competências desenvolvidas por outras disciplinas, ou seja, podem servir de suporte ou ponte

para outras aprendizagens proporcionando, em simultâneo, o desenvolvimento da

sensibilidade, do raciocínio, da educação estética, da literacia visual, etc.. Para esta autora, a

importância das expressões artísticas na conceção de uma atividade integradora permite a

concretização de um dos objetivos do Ensino Básico - «desenvolver o conhecimento e o

apreço pelos valores caraterísticos da identidade, língua, história e cultura portuguesa» (Lei nº

46/86, LBSE) - porque, as expressões artísticas são elas próprias objetos da identidade,

história e património cultural.

Também Kowalski (2000a) se refere à importância da integração, afirmando que o

professor terá de contribuir para que «o conhecimento não se apresente organizado em

compartimentos estanques, sem ligações, mas sim como uma rede de dados diversos e

interligados», e que, nas expressões artísticas «surgem necessariamente saberes que são

simultaneamente conteúdos programáticos de outras áreas, o que facilita o desenvolvimento

do aluno e o trabalho do professor» (pp.121-122). Esta autora salienta ainda que a integração

implica a relação entre os saberes e que, por isso, é necessário pôr em prática atividades que

exijam uma contínua busca de conhecimentos diversos.

Ainda a este respeito, destacamos o exemplo de um projeto - "Oficina do Imaginário" -

levado a cabo por Cardoso (2006), no contexto do 1º Ciclo do Ensino Básico, no qual se

articularam experiências integradoras das áreas de educação artística. Este projeto, que

envolveu professores e alunos de diferentes escolas, proporcionou, através das atividades

realizadas, a construção de novos espaços de comunicação e partilha. Verificou-se também,

da parte dos professores, a recetividade em mudar algumas rotinas instituídas «tornando-se

protagonistas do currículo» (p.175). Com as experiências vivenciadas procurava-se dar ênfase

a um ensino equilibrado, que valorizasse todas as áreas do conhecimento e que se centrasse

«no ser como um todo, onde a formação da pessoa é global». É também com este sentido que

Valente (2000, p.149) se refere à «educação holística», mencionando que esta «convoca o

conceito de inteireza, de não fragmentação, de globalidade da pessoa». Através desta

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abordagem, direciona-se a prática das expressões para o desenvolvimento pessoal, pois «as

atividades artísticas atingem uma outra interioridade e o trabalho criativo manifesta-se com

maior profundidade».

Focando agora a utilização pedagógica das TIC, mais concretamente o papel do

computador nas atividades de EEP, referimo-nos ao estudo de Cristóvão (2005) cujas

conclusões acentuam o uso do computador como um aspeto positivo, sendo apontadas

algumas razões: o interesse dos alunos em explorar as potencialidades que o computador

oferece (criar e recriar composições, reproduzir e recriar obras de artistas plásticos, pesquisar

na internet sobre obras e artistas, entre outras atividades); facilitar as aprendizagens aos

alunos com necessidades educativas especiais ou com dificuldades, que «são sensíveis ao

computador e denotam maior poder de realização utilizando este recurso, do que só tendo

acesso a meios tradicionais» (p.134); ser favorável ao desenvolvimento de capacidades como

a destreza, a organização espacial, a concentração, a perceção, entre outras); facilitar o

desenvolvimento pessoal e social, porque promove a entreajuda, a partilha e debate de

conhecimentos técnicos entre os alunos, reforça a autoestima, a motivação e a autonomia.

Para Sousa (2003a) o computador é uma ferramenta de grande importância, pois a sua

utilização permite ir ao encontro das necessidades de expressão e de criação da criança, tal

como outros meios e técnicas da expressão plástica. Este autor salienta que a criança, ao

descobrir como funcionam os diferentes programas, ultrapassa a inibição e a falta de destreza

que por vezes sente ao utilizar outros materiais e que, rapidamente, «começa a experimentar

traçados e a desenhar formas, a importar figuras, a fazer o scanner de desenhos e fotografias,

avançando a sua imaginação criativa por um caminho de possibilidades quase infinitas»

(p.327). Eis algumas das possibilidades que o software de tratamento de imagem oferece à

expressão plástica:

- Execução de traços: fazer criações apenas com traços, utilizando diferentes ferramentas

(lápis, canetas, pincéis, marcadores, etc), espessuras, cores e estilos (traço contínuo,

interrompido, etc.);

- Execução de formas: fazer criações com diferentes formas (círculos, ovais, quadrados,

etc.), desenhando com traços de diferentes espessuras, tamanhos e cores;

- Criação de fundos: preencher o fundo da composição escolhendo cores, importando

desenhos ou fotografias;

- Composições com diferentes desenhos e imagens digitalizadas com o scanner (por

justaposição, recriação com sobreposição de traços e formas, etc.);

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- Criação livre: «deixar inteira liberdade criativa para onde a espontaneidade e a

imaginação da criança a levar» (p.331).

De acordo com Amante (2007), o computador contribui para o desenvolvimento do

pensamento geométrico e espacial, facilitando a apreensão de conceitos como a simetria, o

padrão e a organização espacial, entre outros. Esta autora refere ainda que nos programas

gráficos as crianças criam objetos e podem atuar sobre eles, aumentar ou diminuir o seu

tamanho, juntar formas que dão origem a novas formas, colorir espaços fechados, refletir

sobre as caraterísticas topológicas desses espacos e, consequentemente, interiorizam os

processos e constroem novas ferramentas mentais.

Também Pimentel (2010) se refere à importância do uso das tecnologias no ensino e

aprendizagem das artes. Para esta autora, as tecnologias devem ser vistas não só como

ferramentas, mas também como propiciadoras de pensamentos em arte. Hoje em dia, a

internet é utilizada pelos artistas de diversas formas, entre as quais, a exposição de imagens

representativas das suas obras, a divulgação de objetos artísticos digitais e também de espaços

onde promovem a interação com o público, permitindo que os «fruidores» modifiquem a obra.

A este repeito, Pimentel (2010) refere-se à conceção contemporânea de obra de arte que aceita

que a autoria de uma obra só se completa com a fruição, isto é, com a ação e leitura de quem a

observa e aprecia.

Nesta sequência, salienta-se a importância de o professor conhecer estes processos, e

proporcionar aos alunos experiências que incluam não só a utilização da internet para

consultar sítios de artistas, museus e pesquisar imagens, mas também para pensar, fruir e

realizar trabalhos artísticos digitais. O professor deve perspetivar modos de explorar as

potencialidades das tecnologias contemporâneas naquilo em que estas podem contribuir para

o acesso a bens culturais e a modos de criação de diferentes povos e culturas que facilitem o

reconhecimento da diversidade cultural, e ainda, a um conhecimento amplo sobre processos e

procedimentos de produção artística.

Pelos aspetos referidos, depreendemos que os professores devem reconhecer a

importância da utilização do computador e propor atividades que associam a prática da

expressão plástica ao uso das TIC.

A respeito do papel do professor, Best (1996, p.113) sublinha que «uma intervenção

excessiva ou inapropriada pode restringir ou distorcer o desenvolvimento individual de uma

criança». Contudo, para este autor, deixar de intervir pode também restringir o

desenvolvimento artístico da criança, por isso, não se pode considerar que todas as

intervenções são prejudiciais. É neste sentido que acrescenta que são necessários professores

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que «consigam produzir os juízos objetivos necessários de modo a estabelecer como e quando

intervir» (p.113).

Importa, então, apresentar alguns princípios que possam clarificar o modo como deve o

professor intervir, gerir e conduzir as atividades de expressão plástica.

No que respeita ao desenho, uma das formas de expressão plástica que acompanha o

desenvolvimento da criança, a liberdade de criar e a espontaneidade podem ser influenciadas

pelo papel do adulto. Ao avaliar e criticar o desenho, desviam-se as atenções para o produto e

não para a ação de desenhar vivida pela criança, na qual ela experimentou materiais, executou

movimentos e riscou pelo prazer que isso lhe dava e não pela intenção de representar coisas.

Ao identificar como imperfeições as diferenças entre o que a criança desenhou e aquilo que na

realidade se observa, o adulto «inicia muitas vezes uma série de demonstrações de “como

deve ser” o desenho» (Sousa, 2003a, p.173).

Consequentemente, a liberdade de criar e a espontaneidade expressiva começam a ficar

reféns da vontade de agradar ao adulto e de corresponder às suas expetativas e, desenhar

começa, muitas vezes, a ser motivo de frustração e de sensação de incapacidade. Como

consequência, a criança «começa a sentir aversão ao desenho e à pintura e, sempre que lhe

propõem uma destas ações responde invariavelmente que “não sabe desenhar”, ou que “não

tem jeito”» (Sousa, 2003a, p.173).

Ainda nesta sequência, Sousa (2003a) refere que a criança no jardim de infância já

começa a perceber que bonecos, casas, árvores e flores são do agrado do adulto e, quando ela

inicia o 1º Ciclo, vê expostos nas paredes estes e ainda outros elementos (Sol, céu, nuvens,

etc.). Estes elementos passam a integrar o vocabulário plástico da criança, constituindo

estereótipos que ela reproduz repetidamente. No entanto, nas palavras deste autor, «por muito

condicionado e estereotipado que seja um desenho de uma criança, ele possui sempre uma

forte carga de expressão dos seus sentimentos mais profundos e sinceros» e por isso,

«escarnecer, ridicularizar ou comentar ironicamente um desenho de uma criança, são ações

violentas que podem, na sua continuidade, ser psicologicamente traumáticas» (p.174).

Também o elogio injusto e exagerado não é apropriado, pois leva a criança a fazer cópias

do mesmo desenho e a resistir a outras experiências novas. Se na sala de aula, as outras

crianças se aperceberem deste tipo de elogios, vão também sentir-se tentadas a copiar aquilo

que o professor elogiou. Para Sousa (2003a), o papel do professor (ou outro adulto) está no

«meio termo». Isto é, quando a criança solicita uma apreciação ao seu trabalho, o professor

deverá observá-lo com atenção, acenar positivamente e dar algumas respostas que estimulem

o seu esforço expressivo e criativo, como por exemplo «continua o que estás a imaginar»

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(p.177). Ainda para este autor, há diversas perguntas que não se devem colocar à criança, pois

em vez de estimular, «paralisam e retardam a evolução plástica infantil», tais como «o que

vais pintar?», «o que é isto?», «que desenho é este?», entre outras (p.177).

Sousa (2003a) evoca Lowenfeld (1977) – autor de uma de uma importante obra sobre a

expressão plástica, A criança e a sua arte – e enumera um conjunto de indicações sobre o que

os educadores (professores) devem e não devem fazer. De uma forma resumida, enumeramos

as indicações sobre o que os educadores devem fazer: compreender que a expressão plástica é

importante para o desenvolvimento da criança e que nos seus trabalhos ela projeta a sua

personalidade em formação; encorajar criança a expressar de forma liberta as suas próprias

experiências, criando um clima propício à espontaneidade; deixar que a criança explore e

desenvolva técnicas através da experimentação dos diferentes materiais; colocar à disposição

da criança as condições necessárias e adequadas à realização dos seus trabalhos; compreender

que o que a criança representa resulta das suas experiências e perceções e que, por isso, o seu

esforço deve ser apreciado; e promover o respeito pelas diferentes manifestações de arte,

aceitando que as perspetivas das crianças são diferentes das dos adultos.

Também de forma resumida, enumeramos as indicações dadas por Sousa (2003a)

relativamente ao que os educadores não devem fazer: «corrigir» ou «ajudar» a criança no seu

trabalho, procurando impor-lhe os padrões dos adultos, mostrando-lhe «como se faz», «como

se desenha» ou «como se pinta»; valorizar o «produto final» e não a «ação» vivida pela

criança; promover concursos, exposições ou competições de trabalhos de crianças, sobretudo

quando envolverem prémios ou recompensas como estímulo; corrigir as proporções dos

elementos representados nos trabalhos da criança; fazer comparações entre os resultados dos

trabalhos das crianças e pendurar na parede os «melhores»; demonstrar apreço por tudo o que

a criança faça indiscriminadamente; promover atividades que tornam a criança insensível à

experimentação, tais como a utilização de «cadernos para colorir» ou os modelos de desenhos.

De acordo com os estudos que consultámos, uma das atividades que correntemente se

realiza na escola do 1º Ciclo é colorir figuras (em manuais, em cadernos de atividades e em

folhas policopiadas). No entanto, este exercício não favorece a expressão e a criatividade e

poderá levar a criança a sentir-se insatisfeita perante os seus próprios trabalhos, pois, aos seus

olhos, estes não serão tão «perfeitos» como os desenhos que está habituada a colorir. A este

respeito, Sousa (2003a) refere que «os cadernos para colorir dirigem o pensamento da criança,

inibindo a sua espontaneidade expressiva; não lhe permitindo a liberdade criativa;

automatizando-a a seguir os modelos que lhe são dados; condicionando-a nos conceitos dos

adultos, negando-lhe a possibilidade de efetuar as suas próprias experiências; fechando-lhe,

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portanto, as vias naturais do seu desenvolvimento através da expressão plástica, provocando

insatisfação e frustrações» (p.181).

Para Munari (1987, p.124), «o indivíduo na infância não deve ser sufocado por

imposições, constrangido em esquemas que não são os seus, obrigado a copiar modelos».

Neste sentido, este autor sugere que os professores não devem impor trabalhos em que todas

as crianças têm de se submeter ao mesmo tema e aos mesmos materiais e técnicas. Por outro

lado, ainda para este autor, também não se deve deixar as crianças «livres para fazerem o que

quiserem». O professor deve contribuir para que a criança alargue os seus conhecimentos e,

por isso, deve apresentar-lhe diferentes técnicas, instrumentos e materiais, através de jogos

que estimulem a criatividade. Deste modo, as crianças podem «aprender algo de novo,

dominar técnicas novas e compreender as regras da linguagem visual» (p.125). Também

Almeida (2001), Sousa (2003a; 2003b) e Santos (2006) concordam com estes aspectos.

A imposição de um tema pode constituir um entrave ao ato criativo (Munari,1987;

Gonçalves, 1991; Sousa, 2003a). Importa desenvolver a espontaneidade e a liberdade de

expressão, logo, a criança deve poder escolher livremente os seus temas, pois ela «fá-lo

naturalmente, visto que o tema está sempre nela (são as suas aspirações e preocupações

predominantes), exprimindo-o ludicamente, ao agrado da sua própria imaginação»

(Gonçalves, 1991, p.12).

Para Sousa (2003a) as técnicas e os materiais de expressão plástica estão associados ao

desenvolvimento da criança, ou seja, à medida que «as suas experiências se enriquecem, ela

vai tendo cada vez maior necessidade de variedade de técnicas e de materiais para se

expressar convenientemente» (p.183). Cabe ao professor selecionar as técnicas e os materiais

que melhor se adequem à situação das crianças.

Importa, então, enumerar algumas indicações relativas a técnicas e materiais a utilizar por

crianças entre os 6 e os 10 anos de idade, a faixa etária que corresponde ao 1º Ciclo do Ensino

Básico. Com este fim, apresenta-se uma súmula de sugestões referidas por diversos autores

(Rodrigues D., 2002; Sousa, 2003a; Santos, 2006):

- para o desenho e pintura, os materiais mais adequados são: os lápis de grafite, as tintas

(guaches, têmperas), as aguarelas, os lápis de cera, os lápis de cor, os marcadores e o

pastel seco;

- o papel a utilizar como suporte para o desenho e pintura deve ser de dimensões,

espessuras, texturas e cores variadas;

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- para a modelação, poder-se-ão utilizar a plasticina, o barro, a pasta de papel e a massa

de farinha;

- para as construções, a diversidade de materiais inclui o papel, os tecidos, os pedaços de

madeira, plástico e metal (que podem provir do reaproveitamento de embalagens e

objectos) e ainda «materiais naturais» como pedras, conchas, folhas de árvore, etc.. Às

construções estão associadas diversas técnicas que desenvolvem as destrezas, tais como

dobrar, torcer, cortar, atar, colar, coser, agrafar, etc.;

- o recorte e as colagens utilizando diferentes materiais são também técnicas que

estimulam a expressão e a criatividade, no entanto, para crianças até aos 7 anos, não é

conveniente a utilização de materiais que envolvam trabalho demorado e minucioso,

como por exemplo, as colagens com elementos de pequenas dimensões (arroz, missangas,

etc.);

Paralelamente a estas sugestões, os autores mencionados identificam uma grande

diversidade de formas de utilização dos diferentes materiais, explicitando os procedimentos a

seguir. Destas descrições ressalta a ideia de que introduzir frequentemente materiais novos

favorece a descoberta e exploração de novas formas de expressão e criação.

Para além dos trabalhos individuais, devem também ser promovidos os trabalhos

coletivos. A planificação do trabalho, a criação de consensos e a distribuição de tarefas entre

os membros do grupo contribui para que a criança se torne «um ser responsável, cooperante e

interventivo no meio em que se insere» (Gonçalves, 1991, p.13).

Importa também referir um outro aspeto de grande importância: a avaliação.

Beltrán (2000) refere que, sendo as expressões artísticas um meio de expressão do Ser,

valoriza-se o desenvolvimento global e harmonioso das crianças e não a sua qualidade

enquanto valor de comparação com o outro ou quantidade de produção. Logo, para esta autora

não se devem aplicar às expressões artísticas os «padrões de avaliação clássicos e correntes

das disciplinas e das aulas» (p.140).

Para Melo (2000), deve adoptar-se um «modelo reflexivo de ensino-aprendizagem,

valorizando os momentos de reflexão e avaliação sobre o processo de criação e ou sobre a

obra realizada» (p.162).

Estes momentos de reflexão serão também (1) estratégias que levam ao empenhamento e

responsabilidade dos alunos na sua própria aprendizagem, (2) instrumentos de análise para a

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fruição crítica das suas obras e de outrem, e (3) uma fonte de informação para as tomadas de

decisão didática dos professores (Melo, 2000, p.163).

Também Gonçalves (1991) sublinha o papel da reflexão referindo que, a experimentação

ativa e direta deve alternar com «momentos de pausa para refletir sobre o resultado a que se

vai chegando» pois, «é a partir do que se faz e do que se pensa sobre o que se faz que se

constituem os vetores de uma motivação interior» (p.25). Almeida (2001) refere também que

é importante organizar portfólios para que se possam relacionar os trabalhos recentes com os

que foram produzidos anteriormente, e a partir daí, fazer novas reflexões.

Best (1996) destaca também o papel da autoavaliação, referindo que o aluno deve

reconhecer o progresso que está a obter, por si próprio, aprendendo a aplicar critérios

objetivos ao seu trabalho.

Kowalski (2000b, p.75) refere que a avaliação no âmbito das artes não se deve centrar

apenas sobre «o domínio dos meios de expressão e comunicação, mas também sobre o

processo expressivo e criativo em si, sobre a concretização dos produtos, a evolução quanto à

integração dos diversos conhecimentos curriculares, a reflexão e sentido crítico perante o

mundo». Esta autora sublinha também que é necessário valorizar processos e produtos e

distingue que as expressões se diferenciam das restantes áreas curriculares por valorizarem os

produtos criativos.

Respondendo à questão «o que avaliar?», Kowalski (2000b) refere que a avaliação para

além de se ocupar com as aprendizagens (de conhecimentos, de atitudes, de valores, de

capacidades e competências) deve considerar também o processo tendo em conta a

experiência, os meios empregues, a própria estrutura da atividade, os produtos criativos,

valorizando a análise e a compreensão da ação educativa para que se torne claro o caminho

que o aluno vai seguindo, como o vai percorrendo, como vai evoluindo e o que deve ser tido

em conta para que essa evolução possa ser melhorada. Relativamente à questão «quando

avaliar?» a resposta refere que «antes das atividades, os dados a levantar e a analisar deverão

considerar o trabalho já feito, tendo em conta os interesses e necessidades das crianças, e

também o programa» (p.77). A seguir às atividades a avaliação deve incidir sobre «as

aprendizagens, a estrutura das atividades (meios de expressão, de comunicação, criação e

reflexão empregues, participação individual / interação social, os conteúdos trabalhados, o

produto e a reflexão/ posição perante ele» (p.77). Desta avaliação, deverão resultar também

sugestões ou recomendações para possíveis desenvolvimentos da acção pedagógica.

Kowalski (2000b) sugere também que, para além da reflexão oral, se recorra a

instrumentos para registo de dados observados e dados inferidos. Também de acordo com esta

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autora, estes instrumentos de avaliação / reflexão escrita sobre as atividades, poderão ser

grelhas que ajudem a avaliar processos e produtos, e que poderão ser construídas com

referentes relativos à evolução do grupo e aos objetivos a alcançar, assumindo assim a

“referencialização” de que nos fala Figari (1996).

4. A área curricular de Expressão e Educação Plástica (EEP)

4.1. A EEP no Programa do 1º Ciclo do Ensino Básico

No Programa do 1º Ciclo (Ministério da Educação, 1998a), as componentes do currículo

da área de Expressão e Educação Plástica são os princípios orientadores, que «propõem

fundamentos e apontam para perspetivas estratégicas de desenvolvimento das práticas

educativas» e os blocos de aprendizagem que correspondem a «conjuntos de atividades de

aprendizagem designados por um conceito» e que são constituídos por «conjuntos de listas de

atividades de aprendizagem ou experiências educativas enunciadas sob a forma de objetivos

de ação» (p.33).

Sendo assim, o texto curricular que apresenta a área de Expressão e Educação Plástica está

estruturado do seguinte modo:

- Princípios Orientadores;

- Bloco 1, Descoberta e Organização Progressiva de Volumes;

- Bloco 2, Descoberta e Organização Progressiva de Superfícies;

- Bloco 3, Exploração de Técnicas Diversas de Expressão.

Os Princípios Orientadores constituem um breve texto que precede a apresentação dos três

blocos. Estes, por sua vez, são constituídos por subdomínios7

Apresenta-se no Quadro 1 a inter-relação entre blocos, subdomínios e objetivos de ação e

explicita-se, de seguida, o conteúdo de cada uma das partes já referidas – os Princípios

Orientadores, o Bloco 1, o Bloco 2 e o Bloco 3.

que correspondem a diferentes

campos de exploração da expressão plástica, contendo cada um destes um texto introdutório e

um quadro (tabela de dupla entrada) que relaciona diferentes atividades de aprendizagem –

experiências educativas enunciadas sob a forma de objetivos de ação – com os anos de

escolaridade. Ou seja, cada quadro permite fazer a leitura sobre a adequação de cada atividade

a cada ano de escolaridade.

7 Designação utilizada no Programa do 1º Ciclo do Ensino Básico.

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Quadro 1 – A área de Expressão e Educação Plástica no Programa do 1º Ciclo do Ensino Básico (Ministério da Educação,

1998).

BLOCOS SUBDOMÍNIOS OBJETIVOS DE AÇÃO

DESCOBERTA E ORGANIZAÇÃO PROGRESSIVA DE VOLUMES

MODELAGEM E ESCULTURA

→ Explorar e tirar partido da resistência e plasticidade de: terra, areia, barro, massa de cores, pasta de madeira, pasta de papel; → Modelar usando apenas as mãos; → Modelar usando utensílios; → Esculpir em barras de sabão.

CONSTRUÇÕES

→ Fazer e desmanchar construções; → Ligar, colar, atar, agrafar, pregar elementos para uma construção; → Inventar novos objetos utilizando materiais ou objetos recuperados; → Construir brinquedos, jogos, máscaras, adereços, fantoches, instrumentos musicais elementares; → Fazer construções a partir de representações no plano (aldeias, maquetas) → Adaptar e recriar espaços utilizando materiais ou objetos de grandes dimensões (cabanas, casa de bonecas).

DESCOBERTA E ORGANIZAÇÃO PROGRESSIVA DE SUPERFÍCIES

DESENHO

DESENHO DE EXPRESSÃO LIVRE

→ Desenhar na areia, em terra molhada; → Desenhar no chão do recreio e no quadro da sala → Explorar as possibilidades técnicas de: dedos, paus, giz, lápis de cor, lápis de grafite, carvão, lápis de cera, feltros, tintas, pincéis, etc. E utilizando suportes de diferentes tamanhos, espessuras, texturas e cores.

ATIVIDADES GRÁFICAS SUGERIDAS

→ Desenhar jogos no recreio; → Ilustrar de forma livre e pessoal; → Inventar sequências de imagens de forma livre e pessoal; → Criar frisos de cores preenchendo quadrículas; → Desenhar plantas e mapas; → Contornar objetos, formas, pessoas; → Utilizar livre mente a régua, o esquadro e o compasso; → Desenhar em superfícies não planas; → Desenhar sobre um suporte previamente preparado (com anilinas, tinta de escrever...).

PINTURA

PINTURA DE EXPRESSÃO LIVRE

→ Pintar livremente em suportes neutros; → Pintar livremente em grupo, sobre papel de cenário em grandes dimensões; → Explorar as possibilidades técnicas de: mãos, esponjas, trinchas, pincéis, rolos, com pigmentos naturais, guache, aguarela, anilinas, tintas de água...

ATIVIDADES DE PINTURA SUGERIDA

→ Fazer digitinta; → Fazer experiências de misturas de cores; → Pintar superfícies e desenhar por descoloração; → Fazer jogos de simetria dobrando uma folha pintada; → Fazer pintura soprada e lavada; → Pintar utilizando dois materiais diferentes (guache e cola, guache e tinta da china); → Pintar cenários, adereços, construções. → Pintar em superfícies não planas.

EXPLORAÇÃO DE TÉCNICAS DIVERSAS DE EXPRESSÃO

RECORTE, COLAGEM, DOBRAGEM

→ Explorar as possibilidades de diferentes materiais (lãs, cortiça, tecidos, objetos recuperados, jornal, papel colorido, ilustrações) rasgando, desfiando, recortando, amassando, dobrando... → Fazer composições colando diferentes materiais rasgados, desfiados, cortados, recortados; → Fazer composições colando mosaicos de papel; → Fazer dobragens; → Explorar a terceira dimensão a partir da superfície (destacando figuras e pondo-as de pé, abrindo portas...).

IMPRESSÃO

→ Estampar a mão, o pé, elementos naturais... → Fazer monotipias; → Fazer estampagem de água e tinta oleosa; → Estampar utilizando moldes – positivo e negativo – feitos em cartão, plástico,.. → Imprimir com carimbos (feitos em vegetais, cortiça,...) → Imprimir utilizando o limógrafo.

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EXPLORAÇÃO DE TÉCNICAS DIVERSAS DE EXPRESSÃO (continuação)

TECELAGEM E COSTURA

→ Utilizar em tapeçarias diferentes materiais: tecidos, tiras de pano, lãs, botões, cordas, elementos naturais; → Desfazer diferentes texturas (tecidos, malhas, cordas, elementos naturais); → Entrançar; → Bordar pontos simples; → Tecer em teares de cartão; → Tecer em teares de madeira (simples); → Colaborar em tapeçarias de elementos tecidos, elaborados a partir de desenhos imaginados pelas crianças.

FOTOGRAFIA, TRANSPARÊNCIAS E MEIOS AUDIOVISUAIS

→ Utilizar a máquina fotográfica para a recolha de imagens; → Construir transparências e diapositivos; → Construir sequências de imagens; → Associar imagens, sons (montagens audiovisuais simples);

CARTAZES → Fazer composições com fim comunicativo (usando a imagem, a palavra, a imagem e a palavra): recortando e colando elementos, desenhando e escrevendo, imprimindo e estampando.

Os Princípios Orientadores referem-se à importância da expressão plástica no

desenvolvimento da criança, focando que (1) a manipulação e a experiência com os materiais,

formas e cores permitem o desenvolvimento da expressão pessoal; (2) a exploração livre dos

meios de expressão gráfica e plástica possibilita o desenvolvimento da imaginação,

criatividade, destreza manual e a descoberta e organização progressiva de volumes e

superfícies; (3) a expressão pessoal e o prazer que a criança manifesta em variadas

experiências «são mais importantes do que as apreciações feitas segundo moldes

estereotipados ou de representação realista» (p.95); e (4), faz sobressair que, o contacto com a

natureza, o conhecimento da região e as visitas a exposições e a artesãos locais enriquecem as

experiências dos alunos e proporcionam o desenvolvimento da sensibilidade estética.

O Bloco 1, Descoberta e Organização Progressiva de Volumes integra dois subdomínios:

a Modelagem e Escultura e as Construções. Os textos que os apresentam realçam que o

contacto com diferentes materiais (a utilizar em modelação, escultura ou construções) e a

exploração da tridimensionalidade proporciona experiências sensoriais, libertação de tensões,

desenvolvimento da destreza manual, e o envolvimento na atividade criadora. No quadro

relativo à Modelagem e Escultura, é referida a exploração da plasticidade e resistência de

diferentes materiais (barro, massa de cores, pasta de madeira, pasta de papel, barras de sabão,

cortiça, entre outros) em actividades de modelação e escultura (sendo a escultura adequada

apenas às crianças dos 3º e 4º anos). Nas Construções, os objetivos de ação referem-se às

diferentes técnicas a utilizar na transformação dos materias (como por exemplo: ligar, colar,

atar e agrafar). São também mencionados alguns tipos de construções (brinquedos, jogos,

máscaras, adereços, fantoches, entre outros). O objetivo de ação «inventar novos objetos

utilizando materiais ou objetos recuperados» é um exemplo da ligação deste bloco com a

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prática criativa da expressão plástica. Verifica-se ainda que a maior parte dos objetivos /

experiências incluídos neste subdomínio são indicados para os todos os anos de escolaridade.

O Bloco 2, Descoberta e Organização Progressiva de Superfícies também integra dois

subdomínios: o Desenho e a Pintura. Estes, por sua vez, subdividem-se em Desenho de

Expressão Livre, Atividades Gráficas Sugeridas, Pintura de Expressão Livre e Atividades de

Pintura Sugerida, respetivamente.

No Desenho, o texto introdutório salienta a importância do desenho considerando-o uma

das «atividades fundamentais de expressão» e sugere-se que as crianças façam desenhos

frequentemente, de forma livre, experimentando suportes de diferentes dimensões, materiais e

cores «que se adequem à sua sensibilidade» (p.98). No Desenho de Expressão Livre, os

objetivos de ação referem-se aos aspetos mencionados no texto introdutório, sugerindo

diversos materiais (giz, lápis de cor, lápis de grafite, entre outros), diferentes espaços (chão do

recreio) e diferentes suportes (variados em tamanhos, espessuras, texturas e cores). Nas

Atividades Gráficas Sugeridas indicam-se outros exercícios de desenho, alguns com explícito

caráter criativo e expressivo, tais como: «ilustrar de forma pessoal» e «criar frisos de cores

preenchendo quadrículas» (p.99).

No subdomínio Pintura, sublinha-se que esta «exige um clima de disponibilidade e

liberdade». São dadas algumas indicações a respeito do papel do professor: este, deve

observar as crianças sem interferir nos aspetos expressivos percebendo «como pegam no

pincel, preenchem superfícies, como usam a cor e também aperceber-se do ambiente gerado e

do tipo de solicitações que lhe fazem» (p.99). A partir desse conhecimento o professor deve

propor diferentes experiências, explorando diferentes materiais e suportes que «permitirão

aprofundar a capacidade de os alunos se exprimirem, de forma pessoal, através da pintura»

(p.99). Estas indicações estão de acordo com aspetos já abordados no capítulo «Atitudes

pedagógicas e opções metodológicas para a prática criativa da expressão plástica», mais

concretamente com o que enuncia Rodrigues (2002) e Sousa (2003a). Os objetivos de ação

respeitantes à Pintura de Expressão Livre remetem para a exploração livre da pintura

utilizando diferentes suportes, tintas (pigmentos naturais, guache, aguarela, anilinas, entre

outras) e utensílios (esponjas, pincéis, rolos, entre outros). Nas Atividades de Pintura

Sugerida são indicadas diversas técnicas de pintura (borrão simétrico, pintura soprada, entre

outras) e é mencionada a digitinta (que consiste em explorar a textura da tinta e pintar com as

mãos) especificamente para o 1º ano de escolaridade.

O Bloco 3, Exploração de Técnicas Diversas de Expressão é constituído pelos

subdomínios: Recorte, Colagem e Dobragem; Impressão; Tecelagem e Costura; Fotografia,

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Transparências e Meios Audiovisuais; e ainda, Cartazes. O texto que apresenta este bloco

refere-se à importância de as crianças alargarem o «seu campo de experiências e o domínio de

outras linguagens expressivas» (p.101). É também focada a concretização de projetos

individuais ou em grupo e a ligação com trabalhos desenvolvidos noutras áreas curriculares.

No Recorte, Colagem e Dobragem, os objetivos de ação referem-se à exploração de

diferentes materiais (lãs, tecidos, elementos naturais, entre outros) para utilizar em trabalhos

de colagem plana e colagem em volume. São também mencionadas algumas operações

associadas à transformação dos materiais, tais como: rasgar, desfiar, recortar, dobrar, entre

outras.

Na Impressão, são mencionadas várias técnicas de estampagem utilizando as mãos,

carimbos construídos, elementos naturais, entre outros. É também referida a utilização do

limógrafo (conhecido pela sua utilização na construção de jornais escolares, uma das técnicas

pedagógicas popularizadas por Freinet).

Na Tecelagem e Costura, são referidas diferentes técnicas relativas à criação e

transformação em tecidos, tais como: tecer, entrançar, bordar, entre outras.

O subdomínio Fotografia, Transparências e Meios Audiovisuais, tal como a designação

indica, refere-se à utilização da máquina fotográfica para a recolha de imagens, à construção

de transparências e diapositivos e também às montagens audiovisuais simples. Os objetivos de

ação respeitantes a estas experiências dirigem-se principalmente às crianças do 3º e 4º anos de

escolaridade.

Por último, o subdomínio Cartazes, que igualmente se dirige sobretudo aos alunos do 3º e

4º anos, constitui-se por objetivos de ação que se reportam à utilização de técnicas diversas (e

integrantes de outros subdomínios já apresentados, tais como o desenho, a colagem e a

impressão) para fazer composições com fim comunicativo, associando a imagem e a palavra.

4.2. A EEP no Currículo Nacional do Ensino Básico

No Currículo Nacional do Ensino Básico (Ministério da Educação, 2001), as

competências em Educação Visual enquadram-se na área de Educação Artística, tal como a

Música, a Expressão Dramática / Teatro e a Dança. É nesta área que são apresentadas

competências específicas comuns a todas as áreas artísticas correspondendo este conjunto à

literacia em artes que «pressupõe a capacidade de comunicar e interpretar significados das

disciplinas artísticas» (p.151).

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As competências necessárias à literacia artística, a desenvolver ao longo do ensino básico,

encontram-se organizadas em quatro eixos interdependentes: (1) apropriação das linguagens

elementares das artes; (2) desenvolvimento da capacidade de expressão e comunicação; (3)

desenvolvimento da criatividade; e (4) compreensão das artes no contexto (ver Quadro 2). A

apropriação destas competências é «realizada de forma progressiva em aprofundamento

constante dos conceitos e conteúdos próprios de cada área artística, dando origem a diferentes

percursos, de acordo com a especificidade de cada arte» (p.153).

Na área artística de Educação Visual, um texto introdutório refere-se à «Arte, Educação e

Cultura» explicando que a Arte, como forma de apreender o Mundo, «permite desenvolver o

pensamento crítico e criativo e a sensibilidade, explorar e transmitir novos valores, entender

as diferenças culturais e constituir-se como expressão de cada cultura» (p.155).

A Educação Visual é definida conceptualmente como «uma área de saber que se situa no

interface da comunicação e da cultura dos indivíduos tornando-se necessária à organização de

situações de aprendizagem, formais e não formais, para a apreensão dos elementos

disponíveis no Universo Visual» (p.155). A sua intencionalidade é a «educação do olhar e do

ver» e visa desenvolver nos indivíduos «o poder de discriminação em relação às formas e às

cores», a capacidade de «sentir a composição de uma obra» e de «tornar-se capaz de

identificar, de analisar criticamente o que está representado» e ainda, de «agir plasticamente»

(p.155).

Quadro 2 – Competências relativas à literacia em artes (Ministério da Educação, 2001, pp.153-154).

Apropriação das linguagens elementares das artes

- Adquirir conceitos

- Identificar conceitos em obras artísticas

- Aplicar os conhecimentos em novas situações

- Descodificar diferentes linguagens e códigos das artes

- Identificar técnicas e instrumentos e ser capaz de os aplicar com correção e oportunidade

- Compreender o fenómeno artístico numa perspetiva científica

- Mobilizar todos os sentidos na perceção do mundo envolvente

- Aplicar adequadamente vocabulário específico

Desenvolvimento da capacidade de expressão e comunicação

- Aplicar as linguagens e código de comunicação de ontem e de hoje

- Ser capaz de interagir com os outros sem perder a individualidade e a autenticidade

- Ser capaz de se pronunciar criticamente em relação à sua produção e à dos outros

- Relacionar-se emotivamente com a obra de arte, manifestando preferências para além dos aspetos técnicos e concetuais

- Desenvolver a motricidade na utilização de diferentes técnicas artísticas

- Utilizar as tecnologias de informação e comunicação na prática artística

- Intervir em iniciativas de defesa do ambiente, do património cultural e do consumidor no sentido da melhoria da qualidade de

vida

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- Participar ativamente no processo de produção artística

- Compreender os estereótipos como elementos facilitadores, mas também empobrecedores da comunicação

- Ter em conta a opinião dos outros, quando justificada, numa atitude de construção de consensos como forma de aprendizagem em

comum

- Cumprir normas democraticamente estabelecidas para o trabalho de grupo, gerir materiais e equipamentos coletivos, partilhar

espaços de trabalho e ser capaz de avaliar esses procedimentos

Desenvolvimento da criatividade

- Valorizar a expressão espontânea

- Procurar soluções originais, diversificadas, alternativas para os problemas

- Selecionar a informação em função do problema

- Escolher técnicas e instrumentos com intenção expressiva

- Inventar símbolos / códigos para representar o material artístico

- Participar em momentos de improvisação no processo de criação artística

Compreensão das artes no contexto

- Identificar caraterísticas da arte portuguesa

- Identificar caraterísticas da arte de diferentes povos, culturas e épocas

- Comparar diferentes formas de expressão artística

- Valorizar o património artístico

- Desenvolver projetos de pesquisa em artes

- Perceber a evolução das artes em consequência do avanço tecnológico

- Perceber o valor das artes nas várias culturas e sociedades e no dia-a-dia das pessoas

- Vivenciar acontecimentos artísticos em contato direto (espetáculos, exposições...)

- Conhecer ambientes de trabalho relacionados com actividades artísticas (oficinas de artistas, artesãos, estúdios de gravação,

oficinas de construção de instrumentos; salas de ensaio...) e suas problemáticas / especificidades (valores, atitudes, vocabulário

específico)

É neste sentido que a Educação Visual compreende competências específicas, a adquirir e

desenvolver ao longo do ensino básico, enquadradas nas dimensões fruição-contemplação,

produção-criação e reflexão-interpretação, tal como mostra o Quadro 3.

Quadro 3 – Competências específicas da Educação Visual (Ministério da Educação, 2001, p.157).

Fruição-contemplação

- Reconhecer a importância das artes visuais como valor cultural indispensável ao desenvolvimento do ser humano

- Reconhecer a importância do espaço natural e construído, público e privado

- Conhecer o património artístico, cultural e natural da sua região, como um valor da afirmação da identidade nacional e encarar a

sua preservação como um dever cívico

- Identificar e relacionar as diferentes manifestações das Artes Visuais no seu contexto histórico e sociocultural de âmbito nacional

e internacional

- Reconhecer e dar valor a formas artísticas de diferentes culturas, identificando o universal e o particular

Produção-criação

- Utilizar diferentes meios expressivos de comunicação

- Compreender e utilizar diferentes modos de dar forma baseados na observação das criações da natureza e do homem;

- Realizar produções plásticas usando os elementos da comunicação e da forma visual

- Usar diferentes tecnologias da imagem na realização plástica

- Interpretar os significados expressivos e comunicativos das Artes Visuais e os processos subjacentes à sua criação

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Reflexão-interpretação

- Reconhecer a permanente necessidade de desenvolver a criatividade de modo a integrar novos saberes

- Desenvolver o sentido de apreciação estética e artística do mundo recorrendo a referências e a experiências no âmbito das Artes

Visuais

- Compreender mensagens visuais expressas em diferentes códigos

- Analisar criticamente os valores de consumo veiculados nas mensagens visuais

- Conhecer os conceitos e terminologias das Artes Visuais

A operacionalização e articulação destas três dimensões concretiza-se através da aquisição

e desenvolvimento de competências nos domínios da comunicação visual e dos elementos da

forma. Apresentam-se no Quadro 4 as competências que se indicam especificamente para o 1º

Ciclo do Ensino Básico.

Para a concretização das experiências de aprendizagem, são fornecidas aos professores

algumas orientações para a gestão do processo de ensino-aprendizagem (a aplicar nos três

ciclos do Ensino Básico), destacando-se que se «podem implementar dinâmicas pedagógicas

de acordo com a realidade da comunidade em que se inserem, com o projeto educativo da

escola e com as caraterísticas dos alunos» (p.161).

Quadro 4 – Competências nos domínios da comunicação visual e dos elementos da forma para o 1º Ciclo do Ensino Básico

(Ministério da Educação, 2001, pp.158-159). Comunicação visual

- Experimentar a leitura de formas visuais em diversos contextos – pintura, escultura, fotografia, cartaz, banda desenhada,

televisão, vídeo, cinema e internet

- Ilustrar visualmente temas e situações

- Explorar a relação imagem-texto na construção de narrativas visuais

- Identificar e utilizar códigos visuais e sistemas de sinais

- Reconhecer processos de representação gráfica convencional

Elementos da forma

- Reconhecer o seu corpo e explorar a representação da figura humana

- Identificar vários tipos de espaço: vivencial, pictórico, escultórico, arquitectónico, virtual e cenográfico

- Reconhecer e experimentar representações bidimensionais e tridimensionais

- Exprimir graficamente a relatividade de posições dos objetos representados nos registos bidimensionais

- Compreender que a forma aparente dos objetos varia com o ponto de vista

- Relacionar as formas naturais e construídas com as suas funções e os materiais que as constituem

- Perceber que a mistura de cores gera novas cores

- Reconhecer a existência de pigmentos de origem natural e sintética

- Conhecer e aplicar os elementos visuais – linha, cor, textura, forma, plano, luz, volume – e a sua relação com as imagens

disponíveis no património artístico, cultural e natural

- Criar formas a partir da sua imaginação utilizando intencionalmente os elementos visuais

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São também dadas algumas orientações relativas ao desenvolvimento curricular, que,

resumidamente, se referem:

- à organização de atividades / projetos que impliquem um processo e um produto final e que

incluam diferentes estratégias de aprendizagem e de avaliação;

- à adoção de diversas metodologias de trabalho (exposições orais, demonstrações práticas,

mostras audiovisuais, investigação bibliográfica, recolhas de objetos e imagens, debates,

visitas de estudo, trabalhos de ateliê, registos de observação do exterior, frequência de museus

e exposições, entre outras);

- à gestão do tempo, por forma a que a execução plástica permita a consolidação de

aprendizagens e a qualidade do produto final;

- à necessidade de as situações de aprendizagem serem contextualizadas, em que os

conteúdos a abordar sejam «facilitadores da apreensão dos códigos visuais e estéticos,

decorram da dinâmica do projeto e permitam aos alunos realizar aprendizagens significativas»

(p.161);

- à relevância e atualidade dos temas propostos, estando estes relacionados com o meio

envolvente, com as propostas dos alunos e com o universo das artes visuais em Portugal;

- à seleção dos meios de expressão visual para a concretização dos trabalhos, que deverá ser

diversificada e permitir múltiplas abordagens estético-pedagógicas;

- às estratégias de ensino, que devem «favorecer o desenvolvimento da comunicação visual

individual, a cooperação e a participação em trabalhos coletivos» (p.161);

- às opções pedagógicas subjacentes às planificações, que devem explorar conceitos

associados aos domínios da comunicação visual e dos elementos da forma;

- às abordagens que incluam o «diálogo com a obra de arte», incidindo nas formas de arte

contemporânea, considerando que este é um «meio privilegiado para abordar com os alunos

os diferentes modos de expressão, situando-os num universo alargado, que permite

interrelacionar as referências visuais e técnicas com o contexto social, cultural e histórico»

(p.162).

Para além destas orientações, é ainda indicado que «a utilização dos diferentes meios de

expressão deve ser implementada, nos três ciclos do ensino básico, em função das

competências e dos projetos pedagógicos das escolas» (p.162), sendo propostas como áreas

dominantes: o desenho, as explorações plásticas bidimensionais, as explorações plásticas

tridimensionais e as tecnologias da imagem. A cada uma destas áreas correspondem ainda

diversas justificações ao nível dos conceitos e ainda orientações metodológicas, estando estas

integradas nos princípios que a seguir se resumem:

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- A exploração plástica deve ser adequada ao nível de desenvolvimento de cada aluno

como um meio fundamental para o entendimento estrutural do universo visual envolvente, nos

domínios das formas naturais e dos objetos construídos pelo homem;

- A experimentação de diversas tecnologias deve proporcionar ao aluno o domínio de

materiais e instrumentos adequados às suas necessidades de expressão;

- A análise das caraterísticas formais, temáticas e estilísticas de obras da cultura artística

portuguesa, adotando-se o estudo de obras do séc. XX como ponto de partida para o estudo de

obras de outras épocas e culturas.

Em suma, no Currículo Nacional, competências em Educação Visual (Ministério da

Educação, 2001), as componentes que enformam o currículo da área de Expressão e Educação

Plástica são:

- as competências relativas à literacia em artes;

- as competências relativas às dimensões fruição-contemplação, produção-criação e

reflexão-interpretação;

- as competências no domínio da comunicação visual;

- as competências no domínio dos elementos da forma;

- as orientações metodológicas que conduzem à aquisição e desenvolvimento das

competências.

4.3. A EEP e as Metas de Aprendizagem

Para a Expressão e Educação Plástica, as Metas de Aprendizagem organizam e clarificam

orientações curriculares que constam do Programa do 1º Ciclo do Ensino Básico

(especificamente da parte que corresponde à EEP) e também do Currículo Nacional

(especificamente das partes que correspondem à Educação Visual e à Educação Artística, na

qual também se enquadra a Educação Visual).

De seguida, descreve-se, em linhas gerais, o que consta das Metas de Aprendizagem

relativamente à EEP.

A EEP surge enquadrada nas «Expressões Artísticas» - com a denominação Expressão

Plástica e Educação Visual - juntamente com as áreas de Expressão e Educação Musical,

Expressão Dramática/Teatro e Dança, à semelhança do que acontece no Currículo Nacional.

A «Introdução» refere-se à especificidade própria das quatro áreas, à responsabilidade da sua

lecionação pelo professor generalista (que será o «professor titular» da turma) e ainda à

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possibilidade da coadjuvação de professores especialistas das diferentes áreas artísticas. É

frisada a intenção de garantir a articulação horizontal interdisciplinar que carateriza o

currículo do 1º Ciclo e também a articulação vertical com a Educação Pré-Escolar e com os

restantes ciclos do Ensino Básico.

Os quatro eixos interdependentes apresentados no «Currículo Nacional do Ensino Básico:

Competências Essenciais» para o desenvolvimento de competências em «literacia em artes»

(Ministério da Educação, 2001, p.152) serviram de base à formulação das Metas de

Aprendizagem para a EEP. A saber: (1) Desenvolvimento da Capacidade de Expressão e

Comunicação; (2) Desenvolvimento da Criatividade; (3) Apropriação das Linguagens

Elementares das Artes; e (4) Compreensão das Artes no Contexto.

Atendeu-se também às dimensões de «fruição/ contemplação», «produção/ criação» e

«reflexão /interpretação» que, no Currículo Nacional, enquadram as competências específicas

de Educação Visual a adquir e desenvolver ao longo do Ensino Básico.

Na elaboração das Metas procurou-se contemplar dimensões de aprendizagem comuns às

metas definidas para a Educação Pré-Escolar e também para os ciclos subsequentes, tais

como: contacto e diálogo com a obra de arte, aprendizagem das linguagens específicas,

produção plástica, contacto com diversos materiais e meios tecnológicos e a expressão de

juízos fundamentados de apreciação.

Neste processo, o professor deve considerar o nível de desenvolvimento plástico-visual

das crianças verificando o grau de concretização das ações em cada uma das dimensões de

aprendizagem mencionadas.

É referido que, nesta área, os saberes devem ser desenvolvidos de um modo globalizante,

integrando diferentes campos cuja explanação se transcreve:

• «Afirmação da cidadania - Reconhecimento da importância dos patrimónios cultural e

artístico nacionais como valores indispensáveis ao desenvolvimento das capacidades

de apreciação estética e artística, implicando a mobilização de processos de

observação, análise, síntese e juízo crítico (opiniões com critérios fundamentados), de

modo a levar as crianças a um conhecimento mais profundo dos bens culturais, a uma

maior proximidade e a uma maior capacidade de intervenção e preservação.

• Sentido estético - Permitir oportunidades de enriquecer e alargar a experiência visual

das crianças, possibilitando o contacto com a obra de arte, entre outras formas visuais,

despertando o gosto para apreciar e fruir os diferentes contextos visuais.

• Linguagem específica - Aquisição da linguagem da comunicação visual para

identificar e analisar, com um vocabulário específico e adequado, conceitos,

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contextos, técnicas em obras artísticas e noutras narrativas visuais, aplicando os

saberes apreendidos em situações de observação e/ou da sua criação plástica.

• Contacto com a obra de arte - Utilização das obras de arte de diferentes épocas e

culturas, sendo indesejável que se restrinja a Arte à tradição ocidental e em

determinados períodos históricos.

• Produção Plástica- Experimentar plasticamente conceitos, temáticas e narrativas em

diferentes meios expressivos, mobilizando os elementos da comunicação visual e os

conhecimentos vivenciados nos diferentes contextos artísticos, dando especial relevo

ao desenho, nas suas diferentes vertentes, como "exercício básico e insubstituível de

toda a linguagem plástica e uma ferramenta essencial na estruturação do conhecimento

visual" (não há referência aos autores desta afirmação).

• Linguagens digitais - Perceber a importância das linguagens digitais (Internet,

computador, CDROM, fotografia, cinema de animação, entre outros) na interpretação

de narrativas visuais e na conceção / produção de objetos plásticos nos quais se

ensaiem soluções originais, diversificadas e alternativas, no âmbito da pintura, do

desenho, do tratamento de imagem, de atividades interativas e do processo de pesquisa

(Internet)» (Ministério da Educação, 2010).

Resumidamente, as Metas de Aprendizagem para a EEP estruturam-se do seguinte modo:

• São constituídas por nove «metas finais» estando estas distribuídas pelos quatro eixos

interdependentes que, no Currículo Nacional, enquadram as competências da literacia

em artes. Aqui, são designados por «domínios», correspondendo cada um deles aos

«subdomínios» Comunicação visual ou Elementos da forma (estes, no Currículo

Nacional, enquadram as competências em Educação Visual específicas do 1º Ciclo);

• A cada um dos domínios «Compreensão das Artes no Contexto», «Desenvolvimento

da Capacidade de Expressão e Comunicação» e «Desenvolvimento da criatividade»

corresponde uma meta final; ao domínio Apropriação da Linguagem Elementar das

Artes correspondem seis metas finais;

• Cada meta final desdobra-se em metas intermédias, a dois níveis, «até 2º ano» e «até

ao 4º ano», expressando estas um grau crescente de complexificação dos conceitos e

das ações envolvidas;

• Em conteúdo, nas metas identificam-se diferentes elementos: o sujeito da ação

(o aluno); situações educativas, actividades e experiências de aprendizagem; e também

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101

a ação (ou ações do aluno) na situação educativa, atividade ou experiência de

aprendizagem.

4.4. Materiais didáticos específicos da EEP

À semelhança do que acontece para as restantes áreas do currículo do 1º Ciclo, as editoras

também publicam manuais destinados à EEP, cuja adoção fica sujeita às opções e decisões

dos agrupamentos de escolas. No entanto, são conhecidos alguns recursos, específicos da

EEP, que foram publicados pelo Ministério da Educação nos anos 90, do século XX, e outros,

mais recentes, que são disponibilizados a professores e alunos por vias de caráter oficial,

como é o caso das páginas de internet da Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento

Curricular (DGIDC) e do Portal das Escolas (uma página que se afirma como uma rede

colaborativa on line e que disponibiliza informação e serviços diversos, entre os quais um

repositório de recursos educativos digitais).

Apresentamos de seguida alguns destes recursos.

De forma a complementar as indicações que constam no Programa do 1º Ciclo, existe um

conjunto de publicações do Ministério da Educação – enviadas para as escolas a partir do ano

letivo de 1994/95 – designadas por «Módulos» de «Material de Apoio a Professores» com

propostas de atividades para as áreas das expressões. Especificamente para a Expressão e

Educação Plástica, sugere-se que esta ocupe 2h30m semanais e apresentam-se atividades de

acordo com a seguinte estrutura: objetivos específicos, resultado final, estratégia, material,

preparação da atividade e metodologia. Em alguns casos, complementam esta estrutura

pequenos textos informativos sobre funções dos materiais, técnicas e processos de

construção, e ainda, imagens representativas dos possíveis trabalhos finais.

A maioria das propostas apresentadas visa o desenvolvimento da criatividade e da

expressão pessoal, existindo mesmo alguns exercícios sugeridos por Munari (1987), como é o

caso da actividade de desenhar sobre papéis com cores e formatos variados (Ministério da

Educação, 1995, pp.82-83). Noutros exercícios, como é o caso da realização de dobragens

(origami) sugere-se que as crianças observem e imitem os gestos técnicos do professor, no

entanto, abre-se também a possibilidade de as crianças introduzirem colagens, desenhos e

pinturas nos objetos construídos, individualizando deste modo os seus trabalhos (Ministério

da Educação, 1995, pp.93-100).

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Uma outra publicação do Ministério da Educação, datada de 1998 e denominada

«Material de Apoio aos Programas – Expressão e Educação Plástica», da autoria de Adriana

Areal Calvet visa formar e informar os professores do 1º Ciclo sobre a importância desta área

através do aprofundamento teórico de diversos temas, tais como: a natureza da expressão

plástica infantil; a evolução do grafismo infantil; a relação professor-criança; a valorização

da acção infantil; as técnicas plásticas; a expressão plástica e o seu valor na comunicação; e

a escola como fator de difusão estética.

São conhecidos alguns recursos multimédia, de publicação recente, destinados às crianças

do 1º Ciclo, também publicados pelo Ministério da Educação (DGIDC), cuja exploração visa

a área de EEP. São exemplos disso os seguintes recursos:

- Software educativo multimédia 31 Alerta - Imagens à descoberta da autoria de Elisa

Marques e Pedro Sousa que apresenta sete percursos visuais que incluem 31 imagens de obras

de artistas portugueses, a partir das quais de fazem abordagens interativas a diferentes

conteúdos. Este recurso educativo digital foi publicado em 2007 e está disponível no sítio da

Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular e no Portal das Escolas, e por isso,

acessível aos professores e alunos do 1º Ciclo.

- Software educativo multimédia Expressão e Educação Plástica -1º Ciclo, também

publicado em 2007, integra cerca de 70 atividades interativas, incluindo a criação de

composições plásticas utilizando as ferramentas disponibilizadas, informação relativa a

conteúdos diversos e recursos para impressão e trabalho sobre papel. De igual modo, este

recurso também está disponível para alunos e professores no Portal das Escolas.

Destacam-se ainda outros recursos educativos digitais disponíveis no Portal das Escolas,

que também são dirigidos a crianças do 1º ciclo e cujas propostas também visam a EEP para

além de outras áreas curriculares. Alguns exemplos:

- Software educativo multimédia Aprender e Descobrir – Museus e escolas, da autoria de

intervenientes do Projeto e-EPoca (pertencente ao extinto Instituto de Inovação Educacional);

- Software educativo multimédia João e o Arco-Íris, da autoria de M. Lúcia Carvalhas,

Raquel Pinheiro e José Morais;

- Outros recursos (de exploração, jogos educativos e recursos em rede) que permitem às

crianças realizar exercícios diversos (fazer a correspondência entre formas e silhuetas,

selecionar cores e preencher / colorir figuras, identificar diferenças entre figuras, identificar

cores; desenhar e pintar; construir composições com figuras geométricas; organizar

composições visuais juntando partes; identificar pares observando e analisando formas

semelhantes): A tenda dos bonecos; O Jogo de futebol; As cartas da Alice; Aquário da

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imaginação; As cores 1 e 2; Colorindo 1, 2, 3 e 4; Cores e Borboletas; Riscos e Rabiscos;

Mosaico de Triângulos; Blocos; entre outros. Um outro recurso que se diferencia dos já

enumerados é o Curso On-line Pequenos Artistas que se desenvolve em dezasseis semanas e

que pode ser frequentado por alunos do 1º e 2º Ciclos. Trata-se de um curso de iniciação à

utilização criativa do computador como ferramenta promotora da expressão plástica, sendo os

seus promotores e dinamizadores da Universidade do Minho.

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Capítulo II - Metodologia Nota introdutória Este capítulo centra-se na apresentação da metodologia que orientou o presente estudo de

avaliação – a referencialização. Assim, damos continuidade à explicitação que fizemos no

Capítulo I, Enquadramento teórico, no ponto relativo à referencialização enquanto

metodologia de avaliação de dispositivos educativos, descrevendo o processo que seguimos.

Porém, começamos por apresentar, no ponto 1, os objetivos que definimos para a recolha

e análise dos dados necessários, quer para a construção do referencial, quer para a construção

do referido, e que tiveram origem na revisão da literatura. Damos seguimento a este ponto,

expondo alguns fundamentos relativamente à abordagem mista de investigação, uma vez que

está presente se considerarmos a globalidade do percurso metodológico.

No ponto 3 mostramos uma descrição geral do processo de referencialização, explicitando

o decurso da primeira fase, que conduziu à construção do referencial de avaliação. Assim,

incluímos também neste ponto a apresentação da abordagem quantitativa, que suportou a

construção de uma parte do referencial – o referente “currículo real representado”.

No ponto 4 descreve-se a segunda fase, relativa à construção do referido “currículo real”

assim como os procedimentos adotados e que caraterizam a abordagem qualitativa.

Por último, no ponto 5, referimo-nos à terceira fase, descrevendo o modo como se

procedeu para aplicar e validar o referencial construído, tendo daí resultado a avaliação do

currículo de EEP.

1. Os objetivos da recolha e análise de dados

A preparação da recolha de dados iniciou-se com a formulação de objetivos. Cohen &

Manion (1994) referem que o cuidado na formulação de objetivos, leva a que se consigam

produzir o tipo de dados necessários para as respostas às questões de investigação.

Neste sentido, o conjunto de objetivos que definimos foi considerado em todos os

procedimentos que constituíram a recolha de dados. Assim sendo, orientaram a formulação

das questões do inquérito por questionário (abordagem quantitativa da investigação), a

organização do guião a utilizar nas entrevistas e a identificação dos aspetos a apreender na

observação participante e na análise documental (abordagem qualitativa da investigação).

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A revisão da literatura efetuada especificamente em torno do conceito de “currículo”

direcionou a definição dos objetivos que a seguir enumeramos:

a) Conhecer o currículo real na área de EEP, nas suas diferentes dimensões (o currículo

planificado / moldado pelos professores e o currículo avaliado);

b) Conhecer a relação entre o currículo formal e as práticas na área de EEP;

c) Identificar qual o papel dos mediadores curriculares (manuais de EEP) nas práticas em

EEP;

d) Verificar se o currículo percebido condiciona as decisões dos professores

relativamente às atividades de EEP que selecionam;

e) Identificar de que forma(s) os professores atualizam os seus conhecimentos científicos

e pedagógicos sobre EEP.

Estes objetivos consideram diferentes contextos e níveis de decisão sobre o currículo e

orientaram os diversos procedimentos adotados na recolha de dados, tal como já referimos.

Estão também em coerência com as questões de investigação /avaliação anteriormente

apresentadas que decorrem de um dos objetivos do presente trabalho – o objetivo 1, que

recordamos: construir conhecimento sobre a EEP nas dimensões do currículo formal, ideal e

real (ver Quadro 5).

Quadro 5 – Correspondência entre questões de investigação /avaliação e os objetivos definidos para a recolha e análise de

dados.

Questões de Investigação / avaliação Objetivos Questão 1. Como se caraterizam as práticas pedagógicas em EEP?

- Conhecer o currículo real na área de EEP, nas suas diferentes dimensões (o currículo planificado / moldado pelos professores e o currículo avaliado) - Conhecer a relação entre o currículo formal e as práticas em EEP - Verificar se o currículo percebido condiciona as decisões dos professores relativamente às atividades de EEP que selecionam - Identificar qual o papel dos mediadores curriculares (manuais de EEP) nas práticas em EEP

Questão 2. Que representações têm os professores sobre as suas práticas pedagógicas na área de EEP?

- Conhecer o currículo real na área de EEP, nas suas diferentes dimensões (o currículo planificado / moldado pelos professores e o currículo avaliado)

Questão 3. Como foi acolhido, entendido e que implicações teve na prática o texto curricular «Competências em Educação Visual»?

- Conhecer a relação entre o currículo formal e as práticas em EEP

Questão 4. Em que medida as práticas dos professores se enquadram nos princípios científicos e pedagógicos da literatura mais recente sobre EEP?

- Conhecer o currículo real na área de EEP, nas suas diferentes dimensões (o currículo planificado / moldado pelos professores e o currículo avaliado) - Identificar de que forma (s) os professores atualizam os seus conhecimentos científicos e pedagógicos sobre EEP

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106

2. A abordagem mista enquanto metodologia de investigação

A abordagem mista de investigação (Creswell, 2003; Tedllie & Tashakkori, 2009) ou

estratégia composta (De Ketele e Roegiers, 1999, p.39) consiste na recolha e análise de dados

qualitativos e quantitativos num único estudo. A sua implementação implica a tomada de

decisões relativamente à sequência de recolha de dados, isto é, os dados quantitativos e

qualitativos podem ser recolhidos por fases (sequencialmente) ou em simultâneo

(concorrencialmente). Uma outra decisão com a qual o investigador se defronta é a definição

do momento de integração e análise dos dois tipos de dados.

No presente trabalho, os procedimentos que adotámos incluíram a recolha e análise de

dados quantitativos (necessários para a construção do referente “currículo real representado”)

e a recolha e análise de dados qualitativos (necessários para a construção do referido

“currículo real”). A sequência que seguimos aproxima-se da estratégia sequencial

explanatória (sequential explanatory strategy) de que nos fala Creswell (2003) ou Tedllie &

Tashakkori (2009). Esta estratégia permite que se usem os dados qualitativos para ajudar na

explicação e interpretação dos dados quantitativos primeiramente recolhidos (Figura 4). No

caso do presente estudo, isto aconteceu no momento de confrontação e comparação entre o

referente “currículo real representado” e o referido “currículo real”. Creswell (2003) salienta

as vantagens desta estratégia: ser muito direta e ter etapas distintas. A desvantagem que é

indicada prende-se com o longo espaço de tempo que requer a recolha de dados feita em duas

fases separadas.

Figura 4 – Estratégia sequencial explanatória (Creswell, 2003, p.213)

Em síntese, no âmbito do que consideramos compreendido na abordagem mista de

investigação, salientamos que o presente estudo incluiu os seguintes procedimentos:

- recolha e análise de dados quantitativos relativos à aplicação de um questionário a uma

amostra de 444 professores do 1º Ciclo que, voluntariamente, o preencheram através da

internet;

QUANTITATIVO QUALITATIVO

Recolha de dados

quantitativos

Análise dos dados

quantitativos

Recolha de dados

qualitativos

Análise dos dados

qualitativos

Interpretação das análises realizadas

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- recolha e análise de dados qualitativos através da realização de dois estudos de caso (Estudo

de caso 1 e Estudo de caso 2) que incluíram a entrevista a dois professores do 1º Ciclo do

Ensino Básico, a observação de aulas dedicadas à área de EEP e a análise documental de

planificações / projetos e de trabalhos dos alunos.

A análise dos dados quantitativos é uma análise estatística, tendo sido prevista a sua

integração/ articulação com os dados qualitativos. Segundo Creswell (2003, p.221) é

necessário «qualificar» os dados quantitativos, ou seja, no tratamento de dados o investigador

deve criar categorias que possam ser comparadas com as categorias dos dados qualitativos.

Este procedimento foi seguido, pois o conjunto de categorias constituídas no âmbito da

investigação quantitativa integrou um dos componentes do referencial de avaliação, com o

qual se confrontaram dados obtidos na investigação qualitativa (ver no Capítulo III, A

construção do referencial de avaliação, o ponto 3 relativo ao referente “currículo real

representado”).

3. Primeira fase – Descrição do processo de construção do referencial de avaliação

O processo de construção do referencial de avaliação integra diferentes momentos que

correspondem, por sua vez, à construção do referente “currículo formal”, do referente

“currículo ideal” e do referente “currículo real representado” (ver Figura 5). A construção de

cada um dos referentes corresponde à organização de um instrumento de análise, constituído

por um sistema de categorias e pela identificação dos respetivos critérios e indicadores. Este

será, como sugere Figari (1996), o sistema de referências que permitirá analisar e comparar a

situação desejada (ou ideal) com a situação real.

Para a construção do referente “currículo formal” recorremos à pesquisa documental,

tendo como corpus de análise os documentos curriculares Programa do 1º Ciclo do Ensino

Básico (área de EEP) e Currículo Nacional (competências em Educação Visual). Não

incluímos as Metas de Aprendizagem relativas à EEP, uma vez que este não é um documento

normativo, podendo ser utilizado facultativamente pelos professores no seu trabalho

quotidiano de preparação, implementação e avaliação de atividades de ensino.

Num primeiro momento, debruçámo-nos sobre os referidos documentos curriculares e

explicitámos o seu conteúdo e o modo como se estruturam. Este trabalho foi apresentado no

Capítulo I, ponto 4.

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Desta análise, num segundo momento, resultou a formação de categorias e a definição de

critérios e indicadores que permitissem a operacionalização do referente “currículo formal”.

Após este processo, constituímos uma grelha de leitura a utilizar na análise do objeto em

avaliação (o currículo de EEP). Esta sucessão de procedimentos será descrita no Capítulo III,

A construção do referencial de avaliação.

Figura 5 – Esquema representativo do processo de construção do referencial de avaliação.

A construção do referente “currículo ideal” teve como base a revisão da literatura,

apresentada no Capítulo I, ponto 3, em torno dos temas “expressão plástica”,

“desenvolvimento da criatividade através da expressão plástica” e “atitudes pedagógicas e

opções metodológicas para a prática criativa da expressão plástica”.

Num primeiro momento, fez-se uma síntese do texto apresentado, reconstituindo as ideias

centrais. A construção do instrumento de análise resulta, num segundo momento, da

integração destas ideias num sistema de categorias para as quais também se identificaram

critérios e indicadores. De igual modo, após este processo, constituímos uma grelha de leitura

a utilizar na análise do objeto em avaliação (o currículo de EEP). A descrição desta sequência

CONSTRUÇÃO DO REFERENCIAL DE AVALIAÇÃO

CONSTRUÇÃO DO REFERENTE “CURRÍCULO

FORMAL”

CONSTRUÇÃO DO REFERENTE “CURRÍCULO IDEAL”

CONSTRUÇÃO DO REFERENTE “CURRÍCULO REAL

REPRESENTADO”

Análise dos documentos curriculares

Construção do instrumento de análise:

Formação de categorias

Identificação de critérios

Identificação de indicadores.

Reconstituição da revisão da literatura

Construção do instrumento de análise:

Formação de categorias

Identificação de critérios

Identificação de indicadores.

Aplicação de um questionário e análise

dos dados

Construção do instrumento de análise:

Formação de categorias

Identificação de critérios

Identificação de indicadores.

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de procedimentos também será apresentada no Capítulo III, A construção do referencial de

avaliação.

Na construção do referente “currículo real representado” seguimos um processo distinto

dos restantes. A formação de categorias e a definição de critérios e indicadores adveio dos

dados quantitativos resultantes da aplicação do questionário a professores do 1º Ciclo. Dos

resultados obtidos, foram retirados os elementos com maior expressão relativamente a:

atividades de EEP desenvolvidas; estratégias selecionadas para abordar conteúdos; opções

metodológicas; aspetos considerados na planificação e avaliação; e materiais didáticos

utilizados. Também apresentaremos no Capítulo III, A construção do referencial de

avaliação, o tratamento e análise dos dados recolhidos, seguidos da constituição deste

referente e da respetiva «grelha de leitura».

O referencial de avaliação resulta da junção dos três referentes constituídos. Seguindo as

etapas sugeridas por Figari (1996), organizámos a «árvore das dimensões do objeto a avaliar»,

pondo em relação as categorias que constituem cada um dos referentes, as questões colocadas

pela investigação / avaliação e as dimensões a avaliar no referido «currículo real». Definimos

que estas dimensões contemplariam a organização e planificação do ensino (currículo

planificado); as práticas da EEP na sala de aula (currículo real); as práticas de avaliação do

ensino-aprendizagem (currículo avaliado); e os «produtos» resultantes das atividades

desenvolvidas pelos alunos.

Por fim, reunimos num quadro-síntese as dimensões a avaliar, os critérios de avaliação e

os indicadores correspondentes a cada um dos referentes constituídos, apresentando assim o

referencial de avaliação. Previamente à sua utilização, no confronto com o referido “currículo

real”, foi submetido a um juízo de especialistas, que o validaram enquanto instrumento de

avaliação. Este processo é também apresentado no Capítulo III, A construção do referencial

de avaliação.

3.1. A abordagem quantitativa

Conforme mencionámos, a construção do referente “currículo real representado” incluiu a

recolha e análise de dados quantitativos. A técnica utilizada foi a aplicação de um inquérito

por questionário a uma amostra de professores do 1º Ciclo com a finalidade de conhecer as

representações que têm sobre as suas práticas na área de EEP. O questionário foi aplicado no

final do ano letivo de 2010/2011 e visava as práticas em EEP ao longo do mesmo.

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3.1.1. Processos de construção e aplicação do questionário Para construir um questionário, é necessário saber de maneira precisa o que se procura,

assegurar que as perguntas têm um sentido e que todos os aspetos da questão são abordados

(Ghiglione,1987 cit. por De Ketele & Roegiers,1999, p.36). Sendo assim, construímos o

questionário atendendo aos objetivos atrás enumerados e aos aspetos intrínsecos às questões

de investigação /avaliação já enunciadas. A construção do questionário baseou-se na revisão

de literatura assim como no conhecimento produzido pelos estudos que incidiram sobre as

práticas pedagógicas na área de EEP e que foram inicialmente apresentados.

Os conhecimentos que temos sobre as práticas e contextos do 1º Ciclo do Ensino Básico,

obtidos através da nossa experiência profisional, foram também uma mais-valia na fase de

desenvolvimento do questionário, em que as opções e decisões tomadas conduziram à

seguinte estrutura:

Introdução (Apresentação dos objetivos e contexto da investigação) Parte I – Dados de identificação e caraterização Questão 1. Idade Questão 2. Género Questão 3. Habilitação académica Questão 4. Experiência profissional Questão 5. Zona Geográfica Parte II – Práticas na área curricular de Expressão e Educação Plástica Questão 6. Tipos de Atividades de EEP desenvolvidas Questão 7. Estratégias adotadas na abordagem a conteúdos de EEP Questão 8. Opções metodológicas em EEP Questão 9. Planificação Questão 10. Materiais didáticos utilizados Questão 11. Avaliação em EEP Parte III – Formas de atualização de conhecimentos sobre Expressão e Educação Plástica Questão 12. Formas de atualização de conhecimentos sobre EEP Parte final (Referência ao «fim do questionário» e agradecimentos)

No Anexo I, expomos a versão completa, tal como foi apresentada ao conjunto de

respondentes.

Para organizar a parte inicial do questionário seguimos indicações de Hill & Hill (2009).

E, sendo assim, esta parte – a Introdução – identifica o estudo de investigação e o contexto

em que este é realizado; informa sobre o objetivo da recolha de informação; refere que o

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preenchimento do questionário é anónimo; indica uma estimativa do tempo necessário ao seu

preenchimento; refere a importância da resposta a todas as questões; apela à colaboração do

respondente; apresenta um agradecimento e a identificação da investigadora.

A primeira parte (Parte I – dados de identificação e caraterização) integra as Questões 1,

2, 3, 4 e 5 e tem por objetivo solicitar informação sobre as caraterísticas dos «casos» – estes,

segundo Hill & Hill (2009) são os respondentes ao questionário. Tendo em conta as

finalidades gerais da investigação a realizar, optou-se por considerar a «idade», o «género», a

«habilitação académica», o «número de anos de experiência profissional» e a «zona

geográfica da Direção Regional de Educação à qual pertence a escola onde exerce» como

aspetos relevantes e necessários para descrever o conjunto de respondentes.

Considerando orientações de Hill & Hill (2009), optou-se por solicitar estes dados

utilizando perguntas às quais os respondentes fornecessem respostas quantitativas

apresentadas em números (pelos próprios) – medidas numa escala de rácio – e respostas

qualitativas a partir de um conjunto de respostas alternativas fornecido – medidas numa escala

nominal.

A secção principal (Parte II – Práticas na área curricular de Expressão e Educação

Plástica) é constituída por perguntas fechadas, tendo o respondente de escolher entre

respostas alternativas apresentadas no questionário. Este tipo de perguntas permite aplicar

análises estatísticas no tratamento dos dados e permite obter informação quantitativa a

respeito de variáveis consideradas relevantes pelo investigador (Hill & Hill, 2009). Na

formulação das perguntas foram consideradas indicações de Hill & Hill (2009) e de Ghiglione

& Matalon (1993), procurando que estas tivessem extensão e clareza adequadas. A

formulação dos itens a considerar nas respostas alternativas teve por base o aprofundamento

teórico efetuado ao longo da investigação e os dados qualitativos obtidos no Estudo de caso 1.

Procurou-se que, em cada questão, os itens de resposta fossem relevantes face aos objetivos

que orientavam a construção do questionário e que não aumentassem a sua extensão, podendo

desta forma também aumentar o risco da falta de cooperação dos respondentes.

As respostas apresentadas no questionário enquadram-se no tipo «respostas alternativas

nas “escalas de avaliação”» referidas por Hill & Hill (2009, pp.119-120). Isto é, pertencem

aos tipos gerais de respostas alternativas que podem ser usados para obter dados medidos por

«escalas de avaliação». Tendo em vista a constituição do referente «currículo real

representado», considerou-se adequado utilizar respostas sobre frequência, tendo como

referência temporal o ano letivo de 2010/2011, com a seguinte escala (ordinal):

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1 – Muito raramente

2 – Raramente

3 – Às vezes

4 – Frequentemente

5 – Muito frequentemente

Nesta escala, o número de respostas alternativas é ímpar. Fez-se esta opção por se

considerar que seria mais fácil para os respondentes situarem-se relativamente à frequência

com que realizaram determinadas ações (referentes às variáveis que constituem as diferentes

questões).

A Parte III integra apenas uma questão e solicita informação sobre as formas de

atualização de conhecimentos científicos e pedagógicos relacionados com a EEP levadas a

cabo pelos respondentes nos últimos dois anos.

As questões da Parte II e da Parte III apresentam a mesma forma (instruções semelhantes

e respostas na mesma escala). Fez-se esta opção, por considerar que torna o preenchimento

mais fácil e fluente, pois os respondentes não têm de se adaptar a novas instruções.

Especificamos de seguida alguns aspetos que foram considerados na formulação de cada

questão:

- Na Questão 6 solicita-se informação sobre o tipo de atividades de EEP desenvolvidas e a

frequência com que foram realizadas ao longo do ano letivo de 2010/2011. Optou-se por

enumerar meios, técnicas e materiais de expressão plástica que constam do programa de

EEP do 1º Ciclo, descrevendo-os através de ações (modelar, esculpir, pintar,...).

Acrescentaram-se também itens relacionados com as TIC, uma vez que estas também são

contempladas nos documentos curriculares. Nesta questão, integrou-se também a pergunta

«outras, por favor especifique», aberta, que permite aos respondentes referir outros tipos de

atividades que não constam do conjunto fornecido;

- A Questão 7 visa saber quais são as estratégias a que recorrem os professores para

abordar conteúdos de EEP e quais as que selecionaram com maior frequência ao longo do

ano letivo; à semelhança da questão anterior, existe também um espaço de resposta aberta

que permite aos respondentes referir outras estratégias que não fazem parte do conjunto de

alternativas proposto;

- A Questão 8 refere-se a opções metodológicas em EEP e à frequência com que foram

consideradas nas práticas dos professores ao longo do ano letivo;

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- A Questão 9 refere-se a aspetos relativos à planificação do ensino-aprendizagem da EEP

e à frequência com que foram postos em prática durante o ano letivo;

- Relativamente à Questão 10, esta solicita informação sobre os materiais didáticos

específicos da EEP que foram utilizados pelos professores e sobre a frequência a que a eles

recorreram ao longo do ano letivo. Também nesta questão se integrou um espaço de

resposta aberta, permitindo aos respondentes referirem «outros» materiais didáticos que

tivessem utilizado para além dos que constam das respostas alternativas fornecidas;

- A Questão 11 refere-se a aspetos relacionados com a avaliação e à frequência com que

foram considerados nas práticas dos professores ao longo do ano letivo;

- A Questão 12 (que constitui a Parte III) solicita informação sobre as formas de

atualização de conhecimentos científicos e pedagógicos relacionados com a EEP e a

frequência com que foram concretizadas nos últimos dois anos.

Apresentamos no Quadro 6 as questões que integraram cada uma das partes do

questionário explicitando a sua correspondência com os objetivos.

Quadro 6 – Correspondência entre os objetivos da recolha e análise de dados e as questões que integram o questionário.

Objetivos Questões

- Recolher dados para a caraterização

dos respondentes

Parte I – Dados de identificação e caraterização

1. Idade – Indique a sua idade

2. Género – Assinale a opção que lhe corresponde (M / F)

3. Habilitação académica – Assinale as opções que lhe correspondem

(Licenciatura / Mestrado / Outra (questão aberta))

4. Experiência profissional – Indique o número de anos que tem de experiência

como professor(a) do 1º Ciclo do Ensino Básico

5. Zona geográfica – Assinale a Direção Regional de Educação a que pertence

a escola onde exerce (Norte / Centro / Lisboa e Vale do Tejo / Alentejo /

Algarve)

- Conhecer o currículo real na área de EEP, nas suas diferentes dimensões (o currículo planificado / moldado pelos professores e o currículo avaliado)

- Conhecer a relação entre o currículo

formal e as práticas em EEP

- Verificar se o currículo percebido

condiciona as decisões dos professores

relativamente às atividades de EEP que

selecionam;

- Identificar qual o papel dos

mediadores curriculares (manuais de

EEP) nas práticas em EEP;

Parte II – Práticas na área curricular de EEP

6. Indique o tipo de atividades de EEP desenvolvidas com os seus alunos e a

frequência com que foram realizadas ao longo do ano letivo.

7. Indique que estratégias adotou na abordagem a conteúdos de EEP e a

frequência com que foram selecionadas ao longo do ano letivo.

8. Indique opções metodológicas que incluiu nas práticas de EEP e a

frequência com que foram selecionadas ao longo do ano letivo.

9. Indique aspetos relativos à planificação do ensino-aprendizagem da EEP e a

frequência com que os considerou nas suas práticas ao longo do ano letivo.

10. Indique que materiais didáticos específicos da EEP utilizou e a frequência

com que os selecionou ao longo do ano letivo.

11. Indique aspetos relativos à avaliação do ensino-aprendizagem da EEP e a

frequência com que os considerou nas suas práticas ao longo do ano letivo.

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114

- Identificar de que forma (s) os

professores atualizam os seus

conhecimentos científicos e

pedagógicos sobre EEP

Parte III – Formas de atualização de conhecimentos sobre EEP

12. Indique de que forma(s) e com que frequência atualizou os seus

conhecimentos científicos e pedagógicos sobre EEP nos últimos dois anos.

Foi pedido a um conjunto de professores do 1º Ciclo do Ensino Básico, com as mesmas

condições que os futuros respondentes, que preenchesse uma versão inicial do questionário –

um pré-teste, de acordo com Ghiglione & Matalon (1993) – tendo em vista a recolha de

opiniões relativamente à clareza, extensão, ordem e adequação das questões e das respostas

alternativas.

As opiniões recolhidas confirmaram a adequação da estrutura, questões e respostas

alternativas. Foi aceite a sugestão de transformar a resposta alternativa «Outras», que integra

as questões 6, 7, 10 e 12, num espaço aberto no qual os respondentes pudessem registar

diferentes respostas, pois nesta versão inicial a resposta «Outras» seria preenchida do mesmo

modo que as restantes respostas alternativas. As opiniões recolhidas também nos deram conta

de que o quertionário era muito extenso. Apesar de prevermos que a extensão poderia ser um

factor que levasse à desistência dos respondentes durante o preenchimento, optámos por

manter esta versão, pois considerámos que só assim seriam alcançados os objetivos que

orientam a investigação.

Este pré-teste serviu também para testar o funcionamento da plataforma on line onde

contruímos o questionário e, a este respeito, não se verificou qualquer problema de

funcionamento.

Consideramos que este procedimento se traduz na validação do questionário, pois

concretiza o chamado «método dos juízes» (Bryman e Cramer, 1992) ou «triangulação de

analistas» (Patton, 1990) e já foi utilizado em estudos comparáveis ao nosso, damos como

exemplos os trabalhos de Peralta (2005), Cachucho (2005) e de Jorge (2008).

A validação do questionário fez-se também através da avaliação da sua fiabilidade interna.

Para tal, escolhemos o método para o cálculo da consistência interna utilizando a variância

dos itens – o cálculo do coeficiente Alpha (α) de Cronbach. Este procedimento foi aplicado às

questões de resposta fechada medidas pela escala que atrás referimos.

Optámos por fazer este cálculo com os dados finais, isto é, a partir dos 97 itens das Partes

II e III do questionário, respondidos por 444 professores, considerando a eventual eliminação

de itens pertencentes às questões colocadas, em favor da obtenção de um conjunto onde estes

estivessem bem correlacionados entre si (Hill & Hill, p.149). Sendo assim, com o cálculo do

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115

coeficiente alfa de Cronbach global obtivemos o valor 0,784 e, estimando os valores para

cada conjunto de itens do questionário (ver Quadro 7), verificamos que se obtém 0,632 ≤ α

≤ 0,961. Estes resultados permitem-nos concluir que a fiabilidade do questionário é

satisfatória, comparando este valor com a escala de avaliação apresentada por Hill & Hill

(2009, p.149). Com estes procedimentos, podemos afirmar que o instrumento que construímos

mede com precisão as diferentes dimensões que integram o questionário.

Quadro 7 – Estatísticas de fiabilidade do questionário (cálculo do coeficiente alfa (α) de Cronbach)

Questões Alfa (α) de Cronbach

Nº de itens

(6) Atividades de EEP desenvolvidas

0,632

24

(7) Estratégias para abordar conteúdos de EEP

0,717

9

(8) Opções metodológicas

0,961

20

(9) Planificação

0,817

10

(10) Materiais didáticos

0,886

13

(11) Avaliação

0,944

13

(12) Formas de atualização de conhecimentos científicos e pedagógicos

0,740

8

Tendo em vista a participação de um grande número de professores no preenchimento do

questionário, levámos a cabo uma sequência de procedimentos para a sua divulgação.

Começamos por consultar as listagens de agrupamentos de escolas disponibilizadas nos sítios

de internet das Direções Regionais de Educação (DRE). Desta forma, obtivemos não só a

identificação de todos os agrupamentos de escolas de Portugal Continental, mas também os

endereços de correio eletrónico, a via pela qual viríamos a efetuar os contactos.

No passo seguinte, foram enviadas mensagens dirigidas aos diretores dos agrupamentos

cujo conteúdo incluía uma breve apresentação da investigadora, o objetivo central do estudo

em desenvolvimento e um pedido de divulgação do questionário junto dos professores do 1º

Ciclo que exercessem funções letivas no agrupamento. Indicava-se também o endereço

eletrónico através do qual se poderia aceder ao questionário e efetuar o seu preenchimento.

Prevíamos que, desta forma, os diretores dos agrupamentos de escolas iriam reencaminhar

a nossa mensagem para coordenadores de escolas ou mesmo para os professores do 1º Ciclo

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116

dos seus agrupamentos. E foi o que se veio a verificar, a adesão ao preenchimento do

questionário superou as expetativas iniciais e obteve-se um número de respondentes superior

à dimensão da amostra necessária.

Neste processo de divulgação, efetuaram-se mais de oito centenas de contactos, sendo

necessário, em muitos casos, empreender pesquisas nos sítios de internet dos agrupamentos

para obter os contactos de email, uma vez que muitos dos endereços disponíveis nas listagens

das DRE não estavam em funcionamento. Houve apenas um pequeno número de

agrupamentos com os quais não se efetivou qualquer contacto, ou porque não disponibilizam

contactos de email (apenas informam sobre o contacto telefónico ou fax), ou porque

sistematicamente, após várias tentativas, as mensagens enviadas eram «devolvidas».

Em muitos casos, os diretores de agrupamentos responderam às mensagens enviadas,

confirmando o contacto e informando que iriam fazer o necessário reenvio para os professores

do 1º Ciclo.

O questionário esteve disponível durante trinta e cinco dias consecutivos (entre 16/06 e

20/07/2011), tendo decorrido no mesmo período a divulgação e o preenchimento.

Considerámos este espaço de tempo adequado tendo em conta que, as questões eram relativas

à prática levada a cabo durante o ano letivo que estava a terminar, e que, concluído o

funcionamento das aulas, os professores teriam maior disponibilidade para o preenchimento,

obtendo assim uma maior adesão e participação.

3.1.2 A amostra

No que respeita aos sujeitos da investigação, a população abrangida (ou “universo-alvo”,

segundo Hill & Hill, 2009) foi o conjunto de professores do 1º Ciclo do Ensino Básico a

exercer funções letivas nas escolas públicas em Portugal Continental durante o ano letivo de

2010/2011.

Para conhecer o número total de professores em condições de integrar a amostra,

recorremos às informações mais recentes divulgadas pelo Gabinete de Estatística e

Planeamento da Educação (Ministério da Educação), sendo estas referentes ao ano letivo

2009/2010. Por não existir informação disponível relativamente ao ano letivo de 2010/2011,

baseámo-nos nos dados que constam do documento «Estatísticas da Educação 2009/2010»8

8 GEPE (2011). Estatísticas da Educação 2009/2010. Lisboa: Editorial do Ministério da Educação.

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117

para determinar a dimensão da amostra. Sendo assim, considerámos que o universo-alvo

(população) seria constituído por 27 104 professores.

Para determinar o tamanho da amostra, procedemos de acordo com orientações de Rea &

Parker (1992), aplicando uma fórmula, que a seguir apresentamos, que permite calcular o

valor da amostra (n) em função do intervalo de confiança. Este refere-se à margem de erro

admissível em torno de um valor e não deve exceder os 10%.

n =

Z² [ p (1 – p)] + (N – 1) C²

Z² [ p (1 – p) ] N .

Na fórmula estão representados o nível de confiança (Z), que corresponde ao grau de

certeza que se pode associar a um valor e que, para o nosso caso, foi de 95%, sendo esta uma

escolha comum na determinação de amostras. É também comum usar o valor 1,96 nos

cálculos, pois resulta da equivalência entre o nível de confiança 95% e o nível de significação

0,05. O intervalo de confiança (C) que considerámos, e ao qual já nos referimos, foi de 5%,

sendo usado no cálculo o valor de 0,05. Para a probabilidade de resposta (p), que significa a

percentagem de resultados que se espera obter, fizemos também a escolha mais comum e que

corresponde a 50%, sendo usado no cálculo o valor 0,5. O número total de elementos da

população (N) corresponde a 27104, tal como referimos anteriormente. Partindo destes

valores, aplicámos a fórmula do seguinte modo:

n = 1,96² . 0,25 . 27104 . = 3,8416 . 0,25 . 27104 = 26030,6816

1,96². 0,25 + 27103 . 0,0025 0,9604 + 67,7575 68,7179

= 378,804

ou seja, n ≈ 379

Em suma, para uma população composta por 27104 professores, determinou-se que

necessitávamos de uma amostra de 379 elementos, com um intervalo de confiança de 5% e

um nível de confiança de 95%.

De acordo com o que demonstrámos, uma amostra maior ou igual a 379 elementos teria a

representatividade que possibilitaria, com alguma confiança, generalizar o conhecimento

obtido com a investigação.

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118

Para que a generalização se torne possível, é necessário que a população se encontre

«refletida» na amostra considerada, por isso, requer a salvaguarda de alguns princípios: o

conhecimento prévio das caraterísticas da população relevantes para o estudo; o conhecimento

da distribuição da população por tais caraterísticas identificadas (variáveis); e a utilização de

um procedimento correto de amostragem (Almeida & Freire, 2000, p.106). Neste sentido,

julgou-se adequado constituir uma amostra aleatória simples ou ao acaso. Segundo Hill &

Hill (2009), este método permite que qualquer sujeito de uma população (universo-alvo)

possua a mesma probabilidade de ser incluído na amostra retirada (universo inquirido) e, no

caso do presente estudo, possibilitou que qualquer professor do 1º Ciclo a exercer funções

letivas nas escolas públicas portuguesas pudesse integrar a amostra e preencher o

questionário.

Optou-se por disponibilizar o questionário on line, na internet, utilizando as ferramentas

que este meio permite para facilitar o acesso, preenchimento e envio do mesmo. Desta forma,

procurou-se também obter uma maior colaboração e cooperação da parte dos professores.

Tendo em vista a obtenção de uma amostra significativa (≥ 379) considerou -se adequada a

divulgação do preenchimento do questionário junto das direções de Agrupamentos de escolas

de todo o país. Considerando e aceitando que há sempre casos em que a informação é

recebida mas não é divulgada junto dos professores do 1º Ciclo; que nem todos os professores

podem ter os meios necessários para ter acesso ao questionário; e que os professores podem

não ter disponibilidade ou vontade de participar no preenchimento do questionário. Sendo

assim, decidimos aceitar como parte da amostra todos os professores que, conhecendo a

informação disponibilizada sobre o questionário e tendo acesso e possibilidade de proceder ao

seu preenchimento, optaram voluntariamente por participar.

Deste processo resultou uma amostra final de 444 professores, que corresponde a um total

de 444 questionários válidos.

3.1.3. O tratamento dos dados quantitativos - a análise estatística No tratamento dos dados recorreu-se à estatística descritiva, que «consiste na recolha,

apresentação, análise e interpretação de dados numéricos através da criação de instrumentos

adequados: quadros, gráficos, e indicadores numéricos» (Reis, 2005, p.15). Explicamos, de

seguida, quais foram as nossas opções para tratar e apresentar os dados obtidos com a

aplicação do questionário.

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119

Na Parte I do questionário – Dados de identificação e caraterização – as respostas

relativas à Idade e Experiência profissional encontram-se numa escala de rácio (Hill & Hill,

2009). Sendo assim, o tratamento destes dados resume-se à apresentação de quadros que

mostram frequências e percentagens e também a determinação de medidas de tendência

central (média, mediana e moda), permitindo estas a caraterização do valor central ou médio

das observações.

As respostas relativas ao Género, Habilitação académica e Zona geográfica encontram-se

em escalas nominais (Hill & Hill, 2009), fornecendo também dados em forma de frequências.

Ou seja, contabiliza-se o número de respostas em cada categoria da escala, tendo resultado

deste processo quadros que mostram os números absolutos e as percentagens correspondentes

a cada categoria.

As respostas relativas à Parte II e à Parte III do questionário encontram-se em escalas

ordinais, ou seja, admitem uma ordenação numérica das suas categorias (respostas

alternativas), estabelecendo uma relação de ordem entre elas (Hill & Hill, 2009, pp.108-110).

As perguntas estão organizadas de modo a que o respondente situe cada item relativamente à

frequência (ex. frequência com que realiza determinada ação nas suas práticas em EEP) na

escala Muito raramente, Raramente, Às vezes, Frequentemente e Muito frequentemente.

Para apresentar os resultados relativos a cada questão decidimos organizar quadros que

mostram as frequências das respostas, em números absolutos e em percentagem,

relativamente a cada um dos itens que integram as questões. Considerámos que esta opção

permitiria uma leitura fácil dos resultados mais significativos e, consequentemente, facilitaria

a análise a realizar.

4. Segunda fase – Descrição do processo de construção do referido “currículo real”

Conforme anteriormente mencionámos, o referido representa o currículo real da área de

EEP, pois teve origem num conjunto de dados concretos, observados, factuais, apreendidos no

contexto da prática. A sua constituição baseia-se na integração de dados qualitativos

recolhidos em dois estudos de caso – o Estudo de caso 1 e o Estudo de caso 2.

As unidades de análise (casos) foram contextos educativos, do 1º Ciclo do Ensino Básico,

constituídos pelo professor titular da turma, pelo grupo de alunos (turma), e pelos espaços e

recursos utilizados em atividades da área de EEP.

A recolha de dados relativa a cada um dos casos efetuou-se em momentos diferentes: no

Estudo de caso 1 realizou-se no ano letivo de 2009/2010 e no Estudo de caso 2 realizou-se no

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120

ano letivo de 2010/2011. Em ambos os casos, as técnicas adotadas foram variadas e incluíram

a observação e análise de documentos de natureza diversa (trabalhos dos alunos,

planificações, Projetos Curriculares de Turma, Projetos Educativos de Agrupamento, Projetos

Curriculares de Agrupamento, conteúdos das páginas WEB dos agrupamentos, entre outros);

a observação de aulas em momentos dedicados à EEP; entrevistas realizadas aos professores

titulares das duas turmas envolvidas; a observação dos espaços de trabalho e conversas

informais com os professores em diversas ocasiões em que se efetuaram visitas às escolas. A

caraterização das práticas em EEP resultou da triangulação dos dados obtidos pelas diferentes

vias.

A constituição do referido concretizou-se através da sistematização da informação relativa

aos dois estudos de caso, feitas num último momento e das quais ressaltaram as dimensões de

análise Atividades desenvolvidas, Estratégias para abordar conteúdos de EEP, Opções

metodológicas, Materiais didáticos específicos da EEP e Avaliação do ensino-aprendizagem

em EEP. Deste processo resultou um quadro-síntese que representa o referido “currículo

real”.

Este processo será descrito no Capítulo IV, A construção do referido «currículo real».

4.1. A abordagem qualitativa 4.1.1. O estudo de caso Um estudo de caso «consiste na observação detalhada de um contexto, ou indivíduo, de

uma única fonte de documentos, ou de um acontecimento específico» (Merriam, 1988, cit. por

Bogdan & Biklen, 1994, p.89).

Referindo-se concretamente aos estudos de caso com finalidades de avaliação, Stake

(2007) faz uma alusão ao «investigador de estudos de caso como avaliador» - situação com a

qual nos identificamos - salientando que este, sendo um «avaliador mais quantitativo»

evidencia critérios de produtividade e eficácia, fazendo medições em escalas de resultados; e,

sendo um «avaliador mais qualitativo», faz sobressair a qualidade das atividades e dos

processos retratando-os numa descrição narrativa e numa asserção interpretativa. Quer adote

uma ou outra posição, o investigador e avaliador deve salientar o mérito do caso em estudo –

este foi também um aspeto a que atendemos na presente investigação.

Ao iniciar o trabalho de campo, tomaram-se em consideração algumas orientações dadas

por Bogdan & Biklen (1994), tais como:

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121

- obter autorizações por parte dos diretores dos agrupamentos e coordenadores das escolas aos

quais pertencem as turmas e professores dos dois estudos de caso;

- explicar aos professores, intervenientes em ambos os estudos de caso, (1) os objetivos da

investigação a realizar e as razões pelas quais foram escolhidos; (2) aspetos do papel do

investigador, aquando das observações na sala de aula (não causar perturbação, não interferir

com o que professor e alunos geralmente fazem); (3) assegurar a confidencialidade

relativamente a todos os dados recolhidos; e (4) possibilitar o acesso aos resultados obtidos no

final da investigação.

Através destes procedimentos procurou-se, de alguma forma, garantir que os dados que se

procuravam encontrar, ficassem acessíveis e disponíveis. O que veio a acontecer.

4.1.2. A recolha de dados qualitativos: a entrevista, a observação participante e a análise documental No contexto dos estudos de caso, entrevistaram-se os dois professores envolvidos. Em

conceito, a entrevista consiste em «recolher de dados descritivos na linguagem do próprio

sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira

como os sujeitos interpretam asptos do mundo» (Bogdan & Biklen, 1994, p.134).

Cohen & Manion (1994) referem que a entrevista, relativamente a outros métodos de

recolha de dados, permite um conhecimento mais aprofundado dos casos, pois possibilita o

acesso ao que o sujeito (entrevistado) conhece, ao que gosta e não gosta, e ao que pensa

(identificando assim, os seus valores, preferências, atitudes e crenças).

Previamente à realização das entrevistas, foi construído um guião com as questões a

colocar, tendo por base os objetivos da investigação (ver Anexo II). Sendo assim, pode

considerar-se que a entrevista foi semi-estruturada – isto é, o «conteúdo e os procedimentos

da entrevista foram organizados previamente» (Cohen & Manion, 1994, p.273) – embora a

nossa posição fosse de grande flexibilidade face à vontade dos entrevistados em abordar

outros assuntos que não estavam previstos no guião, pois como refere Stake (2007, p.81),

cada entrevistado tem «experiências únicas e histórias especiais para contar».

As questões formuladas enquadram-se no tipo open-ended (abertas) referido por Cohen &

Manion (1994), ou seja, são questões que explicitam o assunto – determinado pela natureza

dos problemas em investigação – orientando as respostas dos entrevistados, sem condicionar o

seu conteúdo ou o modo como estes respondem. Existem algumas vantagens na utilização

deste tipo de questões: são flexíveis; permitem ao entrevistador aprofundar mais ou esclarecer

os assuntos, à medida que vai obtendo as respostas; permitem perceber os limites dos

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122

entrevistados relativamente ao que sabem sobre os assuntos; incentivam a cooperação e

ajudam a resumir os assuntos; e permitem o acesso àquilo em que o entrevistado

verdadeiramente acredita. Por este conjunto de caraterísticas, considerou-se que as questões

abertas eram as mais adequadas para as entrevistas pretendidas.

Para a realização das entrevistas tomaram-se em consideração algumas orientações dadas

por diferentes autores. A saber:

- procurou-se que as perguntas formuladas não contivessem elementos que influenciassem as

respostas dos entrevistados (Hitchock & Hughes, 1995);

- as entrevistas foram realizadas no espaço da sala de aula, podendo os entrevistados

exemplificar algumas das suas respostas recorrendo a documentos e/ou objetos expostos

(Bogdan e Biklen,1994);

- criou-se uma atmosfera onde os entrevistados se pudessem sentir à vontade para expressar as

suas opiniões (Bogdan e Biklen,1994) - a entrevista foi realizada depois de se iniciarem as

visitas à escola e a observação de aulas, desta forma, construiu-se uma relação de maior

proximidade com os entrevistados;

- no decorrer de cada entrevista foram tiradas algumas notas, tendo mais tarde sido redigida

uma «transcrição», tal como indicam Cohen & Manion (1994), Hitchock & Hughes (1995) e

Stake (2007); esta reconstituição do relato foi entregue aos entrevistados que confirmaram a

interpretação que foi dada às suas respostas (ver Anexo B e Anexo F que constam do volume

de anexos entregue em suporte digital).

Quanto à observação participante, Stake (2007) refere que os investigadores «vão para

onde as coisas estão a acontecer, com a esperança de que tivessem acontecido do mesmo

modo, mesmo que o observador não tivesse lá estado» (p.83).

Para Bogdan & Biklen (1994), os registos que resultam da observação participante são

“notas de campo”, isto é «o relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiencia e

pensa no decurso da recolha de dados» (p.150).

No contexto dos estudos de caso, foram observados momentos de aula dedicados à área de

Expressão e Educação Plástica. Ou seja, foram observados os principais intervenientes nos

dois «casos»: os professores e os alunos em ação no espaço da sala de aula. Sendo esta

observação uma observação participante, foram tomadas em consideração algumas

orientações, dadas por Bogdan & Biklen (1994), relativamente a procedimentos a adotar pelo

investigador:

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123

- nas observações realizadas, a investigadora procurou que a sua presença não interferisse

com o normal desenvolvimento das actividades; as interações estabelecidas quer com o

professor, quer com os alunos, tiveram por finalidade criar uma relação de aceitação da

presença da investigadora no contexto da aula;

- as ações da investigadora durante os momentos de observação de aulas visaram sempre a

recolha de dados relacionados com os objetivos da investigação;

- nas notas de campo foi organizada informação relativa ao que foi observado, no entanto, não

foram referidos os nomes dos alunos, nem outros dados que os identificassem;

- os registos escritos relativos às observações foram feitos, principalmente, após as

observações, fora da presença dos intervenientes; desta forma, procurou-se que a escrita

constante de notas não inibisse os professores e alunos observados enquanto estes estavam em

ação, e que, consequentemente, viessem a modificar os seus comportamentos.

Relativamente ao conteúdo das notas de campo, Bogdan & Biklen (1994) referem que este

pode ser descritivo – «a preocupação é a de captar uma imagem por palavras do local,

pessoas, ações, e conversas observadas» - e pode ser reflexivo - representa «o ponto de vista

do observador, as suas ideias e preocupações» (p.152). Isto é, na sua parte descritiva, as notas

de campo devem representar o registo objetivo daquilo que o investigador pôde observar; e na

parte reflexiva, devem representar a visão pessoal, logo subjetiva, do investigador sobre

aquilo que observou.

Bogdan & Biklen (1994) designam a parte reflexiva das notas de campo por «comentários

do observador», consistindo estes em «secções das notas de campo destinadas ao registo do

que o investigador vai pensando e sentindo, à medida que faz as suas observações» (p.211).

Apresentamos no Anexo V e Anexo VI exemplos de registos de observação efetuados nos

contextos do Estudo de caso 1 e Estudo de caso 2 (apresentamos outros semelhantes no

volume de anexos entregue em suporte digital)

Para além da entrevista e da observação participante, recorreu-se também à análise

documental com o propósito de recolher dados requeridos pela presente investigação, de

acordo com os objetivos atrás enumerados. Apresentamos no Quadro 8 a correspondência

entre estes objetivos e os aspetos a considerar na análise dos seguintes documentos:

planificações e documentos relativos a avaliações; projetos curriculares de turma (PCT);

projeto educativo de agrupamento (PCE); projeto curricular de agrupamento (PCA); planos

anuais de atividades (PAA); materiais didáticos utilizados em EEP; trabalhos produzidos

pelas crianças; outros elementos que documentam o quotidiano da vida escolar (jornais

escolares, blogues, sítio do agrupamento na internet, etc.).

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124

Quadro 8 – Correspondência entre objetivos da recolha e análise de dados e aspetos considerados na análise de documentos

Objetivos Aspetos a considerar na análise de documentos

Conhecer o currículo real, nas suas

diferentes dimensões (o currículo

planificado /moldado pelos professores

e o currículo avaliado)

Conhecer a relação entre o currículo

formal e as práticas em EEP;

Nos trabalhos de EEP produzidos pelas crianças:

- identificar técnicas, materiais e temáticas;

- situar as representações relativamente ao desenvolvimento gráfico e plástico

das crianças.

Nos materiais didáticos utilizados pelo professor:

- identificar o tipo de informação que contêm;

- verificar se existem elementos visuais que possam constituir estereótipos.

Outros elementos que documentam o quotidiano da vida escolar (jornais

escolares, blogues, sítio do agrupamento na internet, etc.).

- verificar o que apresentam relativamente à EEP.

Nas planificações (curto, médio, longo prazo) e no PCT:

- identificar atividades, opções metodológicas, recursos, tempo, espaço, entre

outras componentes, que estejam relacionadas com a EEP;

- verificar que «peso» tem a EEP relativamente às outras áreas curriculares;

- identificar tipos de objetivos e/ou competências para a área de EEP;

- identificar momentos e formas de avaliação (instrumentos, critérios,...);

No PCA, PCE e no PAA:

- identificar as atividades que envolvem a área de EEP;

- verificar que «peso» tem a EEP relativamente às outras áreas curriculares;

Em documentos relativos à avaliação:

- identificar o tipo de registos e de instrumentos utilizados;

- identificar os critérios /parâmetros/referenciais que orientam a avaliação.

Identificar qual o papel dos mediadores

curriculares (manuais de EEP) nas

práticas em EEP;

No manual de EEP adotado:

- identificar o tipo de informação que contém;

- identificar o tipo de exercícios que propõe e que são concretizados pelas

crianças da turma.

Stake (2007) salienta que, por vezes, os documentos servem como «substitutos de registos

de atividade que o investigador não poderia observar diretamente» (p.85) – identificamo-nos

com esta situação, uma vez que, não tendo sido observados todos os momentos de aula

dedicados à EEP, puderam ser analisados documentos que se reportam a estas atividades,

como é o caso de trabalhos realizados pelas crianças.

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125

Bogdan & Biklen (1994) referem que os «documentos oficiais» permitem ao investigador

o acesso à «perspetiva oficial», ou seja, estes documentos retratam a forma como contexto em

análise (neste caso, a escola) é definido pelas pessoas que nele intervêm.

4.1.3. O tratamento dos dados qualitativos: a análise de conteúdo No contexto dos estudos de caso, tratando-se de uma investigação de caráter qualitativo,

procedeu-se ao tratamento dos dados obtidos - nas entrevistas realizadas aos professores, e

na observação naturalista das aulas - através da análise de conteúdo.

Berelson (1952, cit. por Vala, 1986, p. 103) definiu a análise de conteúdo como uma

técnica de investigação que permite «a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do

conteúdo manifesto da comunicação».

De acordo com Bardin (2000, p.42), a análise de conteúdo é «um conjunto de técnicas de

análise das comunicações, visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de

descrição do conteúdo de mensagens, indicadores (quantitativos ou não), que permitam a

inferência de conhecimentos relativos às condições de produção / receção (variáveis inferidas)

destas mensagens». Ou seja, a análise de conteúdo consiste na «explicitação e sistematização

do conteúdo das mensagens e da expressão desse conteúdo» utilizando um conjunto de

técnicas parciais, mas complementares, que permitem chegar a uma interpretação

fundamentada das mensagens.

O material a submeter à análise de conteúdo, deve ser visto como o resultado de uma rede

complexa de condições de produção. Ao investigador cabe a função de construir modelos de

análise que permitam inferências sobre uma ou várias dessas condições de produção. Vala

(1986, p.104) afirma que este processo trata da «desmontagem de um discurso e da produção

de um novo discurso através de um processo de localização-atribuição de traços de

significação, resultado de uma relação dinâmica entre as condições de produção do discurso a

analisar e as condições de produção da análise».

Para Bardin (2000, p.117), os procedimentos inerentes ao processo de análise de conteúdo

incluem a construção de categorias através de uma «operação de classificação de elementos

constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente por reagrupamento», sendo

este processo constituído por duas etapas: a do «inventário», na qual se isolam e elementos; e

a de «classificação», na qual se repartem os elementos e se impõe uma certa organização às

mensagens. Esta autora refere ainda que a categorização tem como objetivo a «passagem de

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dados brutos a dados organizados» e que um conjunto de boas categorias deve atender à

«exclusão mútua», à «homogeneidade», à «pertinência», à «objetividade e fidelidade» e à

«produtividade» (p.120).

No caso do presente trabalho, o sistema de categorias corresponde ao referencial de

avaliação cuja construção se apresenta no Capítulo II, Construção do referencial de

avaliação. Isto porque o decurso da recolha de informação nos dois estudos de caso foi

determinado pelas dimensões de análise que ressaltaram da construção do referencial. Tal

como refere Rodrigues (1993, p.27) o referencial deve orientar e justificar a procura e recolha

de informação em ordem à construção do referido. Foi com base nesta ideia que utilizámos o

referencial de avaliação como modelo de análise do conteúdo das entrevistas. Ou seja,

identificámos na entrevista as unidades de registo que tinham relação com as diferentes

categorias, critérios e indicadores que constituem o referencial de avaliação. Para tal,

organizámos grelhas de análise das entrevistas (ver Anexo III e Anexo IV). Com esta nossa

opção, não quisemos na fase de análise das entrevistas, antecipar o processo de avaliação do

referido. Apenas considerámos que nos auxiliava na necessária organização da informação e

delimitação de significados, tendo em vista a tarefa futura de comparação entre o referencial e

o referido.

As notas de campo onde organizámos registos relativos à observação de aulas (ver Anexo

D e Anexo I que constam do volume de anexos entregue em suporte digital) também foram

objeto de análise. À semelhança das entrevistas, o conteúdo destes registos de observação foi

analisado à luz do referencial de avaliação. Ou seja, identificaram-se nos registos os dados

que tinham relação com as diferentes categorias, critérios e indicadores que constituem o

referencial de avaliação.

Tendo em conta procedimentos atrás descritos, fizeram-se leituras verticais e horizontais

aos registos a analisar – as entrevistas transcritas e as notas de campo - procurando assim,

num primeiro momento, identificar unidades de registo relacionadas com as categorias,

critérios e indicadores. Ou seja, foram identificados excertos do discurso dos entrevistados e

dos registos que têm relação com as ideias expressas no modelo de análise (referencial de

avaliação). Num segundo momento, no caso das entrevistas, dividiram-se alguns registos em

segmentos (frases completas e com sentido) em função do reconhecimento e identificação do

conteúdo relevante. Numa última fase, foram organizados quadros que mostram o

enquadramento das unidades de registo relativamente aos elementos do referencial de

avaliação. No caso das notas de campo, não transcrevemos excertos dos registos, tendo antes

optado por identificar elementos e situações que configuravam a relação entre o que foi

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127

observado e cada um dos referentes (ver Anexo D e Anexo H que constam do volume de

anexos entregue em suporte digital).

5. Terceira fase – Descrição do processo de aplicação do referencial de avaliação

A avaliação do currículo de EEP resulta da aplicação do referencial de avaliação, isto é,

da sua confrontação com o referido. Assim sendo, comparamos as dimensões de análise que

constam do referencial de avaliação com as que integram o referido “currículo real”.

Por forma a sistematizar e a clarificar melhor esta análise, explicitámos, separadamente, a

relação entre cada um dos referentes (“currículo formal”, “currículo ideal” e “currículo real

representado”) e o referido “currículo real”. Para cada uma destas partes, organizámos

quadros de comparação que mostram o cruzamento entre as categorias e respetivos critérios e

indicadores, que constituem os referentes, e as componentes da prática e os respetivos itens

em operacionalização, que constituem o referido “currículo real”. Ou seja, cruzamos as

grelhas de leitura (Quadros 9, 10 e 23, que apresentaremos no Capítulo III) que constituímos

para cada um dos referentes com o quadro-síntese que representa o nosso referido (Quadro 33,

que apresentaremos no Capítulo IV).

Terminadas estas comparações, elaborámos uma síntese dos resultados obtidos com a

aplicação do referencial, que resume a avaliação do currículo de EEP.

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Capítulo III – A construção do referencial de avaliação

Nota introdutória Neste capítulo descrevemos o processo de constituição do referencial de avaliação. Para

tal, explicamos como formámos categorias e definimos critérios e indicadores para cada um

dos referentes – “currículo formal”, “currículo ideal” e “currículo real representado”. De igual

modo, relativamente a cada referente, apresentamos as grelhas de leitura a utilizar na análise

do objeto em avaliação.

Por fim, apresentamos o referencial de avaliação com todos os elementos que irão permitir

a sua operacionalização enquanto modelo de análise do currículo de EEP.

1. O referente “currículo formal” 1.1. Formação de categorias, critérios e indicadores

Partindo da descrição dos dois documentos curriculares anteriormente apresentada, foi

possível formar categorias que emergem da própria estrutura destes documentos.

Considerando que a noção de «competência» seguida pela reorganização curricular integra

«conhecimentos, capacidades e atitudes e pode ser entendida como um saber em ação»

(Abrantes, 2001, p.44), definimos uma categoria que decorre da análise ao Currículo Nacional

(competências em Educação Visual) tendo como base este conceito. Esta categoria,

denominada «Conhecimentos, capacidades e atitudes visadas nas competências» (categoria

A), diz respeito aos conhecimentos, capacidades e atitudes relativos à literacia em artes; às

dimensões fruição-contemplação, produção-criação e reflexão-interpretação; e às

competências nos domínios da comunicação visual e dos elementos da forma.

Dos elementos que são apresentados no Programa do 1º Ciclo, advém a categoria

«Experiências educativas correspondentes aos blocos de aprendizagem» (categoria B) que diz

respeito às experiências educativas enunciadas no Bloco 1, Descoberta e Organização

Progressiva de Volumes; no Bloco 2, Descoberta e Organização Progressiva de Superfícies; e

no Bloco 3, Exploração de Técnicas Diversas de Expressão.

Por último, definimos ainda a categoria «Indicações metodológicas» (categoria C), que

representa o conjunto de indicações presentes nos dois documentos curriculares e que são

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129

apresentadas como favoráveis à aquisição e desenvolvimento das competências por parte dos

alunos (Currículo Nacional) e enunciadas nos «princípios orientadores» e nos textos

introdutórios aos blocos de aprendizagem (Programa do 1º Ciclo).

Este conjunto de categorias pretende representar o conteúdo do currículo formal – ou

prescrito (Ribeiro,1990) – da área de Expressão e Educação Plástica. Perceber qual é a sua

relação com a dimensão da prática do currículo de EEP é um ponto essencial no presente

estudo.

Um dos níveis do desenvolvimento do currículo que a análise irá contemplar é o currículo

traduzido, ou seja, formado pelas planificações e outras programações levadas a cabo pelos

professores e escolas, integrando as decisões respeitantes ao currículo prescrito e aos projetos

educativos (Diogo e Vilar,1999). Neste sentido, importa verificar como é que o currículo

prescrito é transposto para o projeto curricular de turma, para as planificações a médio e

longo prazo e para as planificações diárias. Estes documentos, que são correntemente

organizados ao nível do 1º Ciclo, serão objeto de análise no contexto do Estudo de caso 1 e do

Estudo de caso 2.

Nesta sequência de construção do instrumento de análise relativo ao currículo formal,

definimos critérios, que também decorrem da revisão feita aos documentos curriculares e se

enquadram nas categorias já mencionadas.

Sendo assim, à categoria «Conhecimentos, capacidades e atitudes visadas nas

competências» (A) corresponde o critério «Explicitação das competências a privilegiar» (A1).

Para a categoria «Experiências educativas correspondentes aos Blocos de aprendizagem» (B)

definimos o critério «Explicitação de objetivos de ação / experiências educativas relativas aos

Blocos 1,2 e 3» (B1). Relativamente à categoria «Indicações Metodológicas» (C), foram

definidos um maior número de critérios, pois esta representa aspetos presentes nos dois

documentos curriculares. Sendo assim, os critérios definidos são: «Articulação entre as

competências em Educação Visual e as experiências educativas do Programa da área de EEP»

(C1); «Articulação entre abordagens aos conteúdos e experiências educativas» (C2);

«Utilização de vocabulário específico relacionado com a EEP e a Educação Visual» (C3); e

«Aplicação das orientações metodológicas enunciadas nos textos curriculares» (C4).

Para tornar possível o confronto deste conjunto de critérios com a realidade, torna-se

necessário precisar indicadores. Estes, segundo Quivy & Campenhoudt (1998), são

manifestações observáveis e mensuráveis das componentes de um conceito e, no caso do

presente estudo, permitirão a operacionalização dos critérios mencionados.

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130

Nos indicadores que definimos pretendemos representar os aspetos essenciais que

constituem a «identidade» do currículo de EEP, tal como nos é apresentada nos documentos

normativos. Procurámos que os diferentes itens formulados fossem explícitos, claros e

exclusivos de modo a poderem representar de forma completa o conteúdo do currículo formal

de EEP e a permitirem uma leitura do objeto em análise, o currículo de EEP, nos seus

diferentes níveis de desenvolvimento.

Explicitamos, então, os indicadores definidos para cada critério.

Relativamente ao critério «Explicitação das competências a privilegiar» (A1), enquadrado

na categoria «Conhecimentos, capacidades e atitudes visadas nas competências» (A),

definimos como indicadores: «Enunciar competências da literacia em artes» (A1.1);

«Enunciar competências da dimensão fruição-contemplação» (A1.2); «Enunciar competências

da dimensão da dimensão produção-criação» (A1.3); «Enunciar competências da dimensão

reflexão-interpretação» (A1.4); «Enunciar competências no domínio da comunicação visual»

(A1.5); e «Enunciar competências no domínio dos elementos da forma» (A1.6).

Ao critério «Explicitação de objetivos de ação / experiências educativas relativas aos

Blocos 1, 2 e 3» (B1), pertencente à categoria «Experiências educativas correspondentes aos

blocos de aprendizagem» (B), correspondem os indicadores: «Enunciar objetivos de ação /

experiências educativas relativas ao Bloco «Descoberta e Organização progressiva de

Volumes» (B1.1); «Enunciar objetivos de ação / experiências educativas relativas ao Bloco

«Descoberta e Organização progressiva de Superfícies» (B1.2); e «Enunciar objetivos de ação

/ experiências educativas relativas ao Bloco «Exploração de Técnicas Diversas de Expressão»

(B1.3).

Passamos aos critérios e indicadores enquadrados na categoria «Indicações

metodológicas» (C). Para o critério «Articulação entre as competências em Educação Visual e

as experiências educativas do Programa de EEP» (C1) definimos o indicador «Selecionar

experiências educativas que contribuem para a aquisição e desenvolvimento de

competências» (C1.1) e para o critério «Articulação entre abordagens aos conteúdos e

experiências educativas» (C2) definimos o indicador «Selecionar esperiências educativas que

concretizem os conteúdos em abordagem» (C2.1). Ao critério «Utilização de vocabulário

específico relacionado com a EEP» (C3) corresponde o indicador «Mencionar termos

relativos a técnicas e materiais de expressão plástica» (C3.1).

Por último, integra também esta categoria o critério «Aplicação das orientações

metodológicas enunciadas nos textos curriculares» (C4) para o qual definimos os seguintes

indicadores: «Adotar diversas metodologias de trabalho (exposições orais, demonstrações

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práticas, mostras individuais, investigação bibliográfica, recolhas de objetos e imagens,

debates, visitas de estudo, trabalhos de atelier, registos de observação do exterior, frequência

de museus e exposições, etc.)» (C4.1); «Selecionar situações de aprendizagem

contextualizadas» (C4.2); «Selecionar temas relevantes e atuais relacionados com o meio

envolvente, com propostas dos alunos ou com o universo das artes visuais em Portugal»

(C4.3); «Selecionar atividades/ projectos que impliquem um processo e um produto final»

(C4.4); «Selecionar atividades que possibilitam o desenvolvimento da criatividade e

expressão pessoal» (C4.5); «Selecionar meios de expressão visual diversificados que

permitem múltiplas abordagens estético-pedagógicas» (C4.6); «Promover abordagens que

incluam a aproximação à obra de arte» (C4.7); «Promover a análise de obras da cultura

artística portuguesa, adotando o estudo de obras do séc. XX como ponto de partida para o

estudo de obras de outras épocas e culturas» (C4.8); «Selecionar diversas tecnologias e

materiais adequados às necessidades de expressão dos alunos» (C4.9); «Prever a adequação

da exploração plástica ao nível de desenvolvimento de cada aluno» (C4.10); «Prever

diferentes estratégias de avaliação» (C4.11); «Prever uma gestão do tempo que permita a

consolidação das aprendizagens e a qualidade do produto final» (C4.12); «Prever o trabalho

individual do aluno» (C4.13); e «Prever o trabalho de grupo» (C4.14).

1.2. Organização de uma grelha de leitura Na sequência do exercício de análise, reflexão e identificação dos elementos que

constituem o referente “currículo formal”, organizámos uma grelha de leitura que evidencia a

correspondência entre as categorias, critérios e indicadores (ver Quadro 9).

Quadro 9 – O referente “currículo formal”.

Categorias Critérios Indicadores (A) Conhecimentos, capacidades e atitudes visadas nas competências

(A1) Explicitação das competências a privilegiar

(A1.1) Enunciar competências da literacia em artes (A1.2) Enunciar competências da dimensão fruição-contemplação (A1.3) Enunciar competências da dimensão produção-criação (A1.4) Enunciar competências da dimensão reflexão-interpretação (A1.5) Enunciar competências no domínio da comunicação visual (A1.6) Enunciar competências no domínio dos elementos da forma

(B) Experiências educativas correspondentes aos Blocos de aprendizagem

(B1) Explicitação de objetivos de ação / experiências educativas relativas aos Blocos 1,2 e 3

(B1.1) Enunciar objetivos de ação / experiências educativas relativas ao Bloco «Descoberta e Organização Progressiva de Volumes» (B1.2) Enunciar objetivos de ação / experiências educativas relativas ao Bloco «Descoberta e Organização Progressiva de Superfícies» (B1.3) Enunciar objetivos de ação / experiências educativas relativas ao Bloco «Exploração de Técnicas diversas de Expressão»

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(C) Indicações metodológicas

(C1) Articulação entre as competências em Educação Visual e as experiências educativas do Programa de EEP (C2) Articulação entre abordagens a conteúdos e experiências educativas (C3) Utilização de vocabulário específico relacionado com a EEP (C4) Aplicação das orientações metodológicas enunciadas nos textos curriculares

(C1.1) Selecionar experiências educativas que contribuem para a aquisição e desenvolvimento de competências (C2.1) Selecionar experiências educativas que concretizam os conteúdos em abordagem (C3.1) Mencionar termos relativos a técnicas e materiais de expressão plástica (C4.1) Adotar diversas metodologias de trabalho (exposições orais, demonstrações práticas, mostras individuais, investigação bibliográfica, recolhas de objetos e imagens, debates, visitas de estudo, trabalhos de atelier, registos de observação do exterior, frequência de museus e exposições, etc.) (C4.2) Selecionar situações de aprendizagem contextualizadas (C4.3) Selecionar temas relevantes e atuais relacionados com o meio envolvente, com propostas dos alunos ou com o universo das artes visuais em Portugal (C4.4) Selecionar atividades/ projetos que impliquem um processo e um produto final (C4.5) Selecionar atividades que possibilitam o desenvolvimento da criatividade e expressão pessoal (C4.6) Selecionar meios de expressão visual diversificados que permitem múltiplas abordagens estético-pedagógicas (C4.7) Promover abordagens que incluam a aproximação à obra de arte (C4.8) Promover a análise de obras da cultura artística portuguesa, adotando o estudo de obras do séc. XX como ponto de partida para o estudo de obras de outras épocas e culturas (C4.9) Selecionar diversas tecnologias e materiais adequados às necessidades de expressão dos alunos (C4.10) Prever a adequação da exploração plástica ao nível de desenvolvimento de cada aluno (C4.11) Prever diferentes estratégias de avaliação (C4.12) Prever uma gestão do tempo que permita a consolidação das aprendizagens e a qualidade do produto final (C4.13) Prever o trabalho individual do aluno (C4.14) Prever o trabalho de grupo

2. O referente “currículo ideal”

Pretendemos que esta parte do referencial de avaliação represente o currículo ideal9

Poder-se-á dizer que a construção deste referente assenta numa pesquisa bibliográfica

(Albarello et all, 1997) pois tem origem num conjunto de referências essenciais para o

aprofundamento do tema “expressão e educação plástica”.

. A

revisão da literatura em torno dos temas expressão plástica, desenvolvimento da criatividade

através da expressão plástica e atitudes pedagógicas e opções metodológicas para a prática

criativa da expressão plástica apresentada no Capítulo I, ponto 3, serviu de base para a

construção deste referente.

9 Referimo-nos a este conceito na Introdução.

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133

Num primeiro momento, optou-se por fazer uma síntese das principais ideias apresentadas

na revisão de literatura, procurando que esta reconstituição, num segundo momento,

conduzisse à construção de um instrumento de análise através da formação de categorias,

critérios e indicadores, o mesmo procedimento que seguimose para a construção do referente

“currículo formal”.

Começamos então por apresentar uma síntese das ideias centrais relativamente aos temas

“expressão plástica”, “desenvolvimento da criatividade através da expressão plástica” e

“atitudes pedagógicas e opções metodológicas para a prática criativa da expressão plástica”.

A “expressão plástica” é vista pelos diferentes autores estudados, como uma forma de

expressão e comunicação que possibilita a aquisição de novos conhecimentos e amplia a

forma de ver, entender e interpretar o mundo. As principais ideias que enformam este

conceito são:

- a expressão plástica refere-se ao manuseamento e modificação de materiais plásticos;

- a expressão plástica possibilita a expressão de sentimentos e emoções e permite a

comunicação de ideias através do uso dos elementos da linguagem plástica;

- a expressão plástica envolve a ação de criar;

- a expressão plástica permite o desenvolvimento do pensamento, da imaginação, da

sensibilidade, da criatividade e da capacidade de descoberta.

No que respeita ao “desenvolvimento da criatividade através da expressão plástica”, os

diferentes autores estudados referem como favoráveis as atividades que apelam ao

pensamento divergente; que promovem a flexibilidade e a liberdade; que fomentam a

comunicação e a participação; que estimulam a curiosidade, a sensibilidade e a fantasia; que

promovem a autonomia, a motivação, o espírito crítico, o esforço e o trabalho; que incentivam

os alunos a formular questões sobre o que os rodeia; que possibilitam a tomada de decisões

sobre o processo de criar; que possibilitam aos alunos a autoavaliação sobre a adequação e a

qualidade do seu trabalho.

Ao abordarmos o tema “atitudes pedagógicas e opções metodológicas para a prática

criativa da expressão plástica”, identificámos atitudes e opções dos professores e educadores

(e também dos pais) que favorecem ou que, por outro lado, contrariam a concretização do

conceito de “expressão plástica” num qualquer contexto de educação.

Neste sentido, e uma vez que buscamos o «ideal», destacamos algumas ideias

representativas das atitudes e opções que os professores devem ter e fazer, no sentido de

fomentar a concretização do conceito de “expressão plástica”:

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134

- adotar uma pedagogia não diretiva, flexível e aberta;

- valorizar atividades que estimulem o pensamento divergente e intuitivo;

- apresentar às crianças propostas que constituam «desafios» para os quais elas devem criar

soluções individuais e únicas;

- revelar-se conscientes das influências dos estereótipos e defender a autenticidade da

expressão;

- conhecer, selecionar e pôr em prática técnicas que estimulem a criatividade;

- utilizar a componente lúdica para desencadear o processo criativo;

- associar abordagens lúdicas às abordagens de conceitos;

- proporcionar o contacto com a obra de arte;

- incentivar à reflexão sobre as experiências, processos e resultados;

- organizar atividades que permitam observar, fruir, analisar e emitir opiniões sobre a obra

de arte;

- conhecer e facilitar a apropriação da «gramática visual» necessária para ler, compreender

e produzir imagens;

- adotar metodologias diversificadas;

- relacionar a expressão plástica com as outras expressões artísticas e as diferentes áreas do

conhecimento;

- proporcionar atividades que impliquem a busca de conhecimentos diversos;

- evidenciar a integração de saberes;

- associar a utilização das TIC à EEP, perspetivando modos de explorar as potencialidades

das tecnologias contemporâneas naquilo em que estas podem contribuir para o acesso a

bens culturais, a modos de criação de diferentes povos e culturas e a um conhecimento

amplo sobre processos e procedimentos de produção artística;

- preocupar-se com o modo como interferem no trabalho das crianças;

- observar e apreciar os trabalhos dos alunos estimulando-os no seu esforço expressivo e

criativo;

- encorajar as crianças a expressar de forma liberta as suas experiências;

- criar um clima propício à espontaneidade;

- deixar que as crianças explorem e desenvolvam técnicas através da experimentação de

diferentes materiais;

- colocar à disposição das crianças as condições necessárias e adequadas à realização dos

trabalhos;

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135

- promover o respeito pelas diferentes manifestações de arte, aceitando a perspetiva das

crianças;

- apresentar diferentes técnicas, instrumentos e materiais através de jogos que estimulem a

criatividade;

- selecionar técnicas e materiais que se adequem às crianças;

- proporcionar momentos de reflexão e avaliação sobre o processo de criação e sobre o

trabalho realizado;

- analisar a evolução dos trabalhos dos alunos;

- promover o desenvolvimento do sentido estético, do pensamento crítico e a compreensão

e respeito pelas diversas identidades culturais.

2.1. Formação de categorias, critérios e indicadores

Na síntese apresentada - que representa o currículo ideal - estão delimitados os aspetos

relativos ao que os autores de referência e os estudos de investigação na área entendem por

“expressão plástica”, às caraterísticas das atividades que proporcionam o desenvolvimento da

criatividade e às atitudes que favorecem a concretização do conceito de expressão plástica.

Nesta sequência, considerámos que estas três dimensões, relativas ao conceito e às formas

de o concretizar, poderiam estruturar o instrumento de análise a construir. Sendo assim,

formámos as seguintes categorias de análise do objeto a avaliar (o currículo de EEP):

«Conceito de expressão plástica» (categoria D); «Desenvolvimento da criatividade»

(categoria E); e «Papel do professor» (categoria F).

Pensamos que a lógica seguida para formar estas três categorias encontra paralelismo com

os contributos dos autores estudados. Nas obras consultadas para a revisão da literatura,

deparámo-nos com conceções relativamente às expressões artisticas, e à expressão plástica em

concreto, seguidas por explanações relativas a metodologias e a diretrizes sobre o papel dos

professores e educadores. Damos como exemplos Lowenfeld (1977), Rodrigues (2002), Sousa

(2003a) e Santos (2006).

À semelhança do que apresentámos para a construção do referente “currículo formal”,

também foram definidos critérios após a formação de categorias. Para este referente,

considerámos apenas três, cada um correspondendo a uma categoria: «Vias de concretização

do conceito de expressão plástica» (critério D1); «Seleção de atividades que estimulam a

criatividade» (critério E1); e «Adoção de atitudes pedagógicas favoráveis à concretização do

conceito de expressão plástica» (critério F1).

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136

Definimos também o conjunto de indicadores que permitirá a operacionalização dos

critérios referidos. Esta formulação advém dos aspetos enunciados na síntese anteriormente

apresentada e pretende representar o que seria a situação «ideal», em termos da natureza das

experiências que são proporcionadas aos alunos e das ações dos professores.

Sendo assim, para o critério «Vias de concretização do conceito de expressão plástica»

(D1), definimos os indicadores «Uso e exploração dos elementos da linguagem plástica»

(D1.1), «Manuseamento e modificação de materiais plásticos» (D1.2), «Expressão de

sentimentos e emoções e comunicação de ideias através do uso da linguagem plástica» (D1.3),

«Criação de algo através do uso da linguagem plástica» (D1.4), «Desenvolvimento do

pensamento, da imaginação, da sensibilidade, da criatividade e da capacidade de descoberta

através da apropriação e do uso da linguagem plástica» (D1.5).

Relativamente ao critério «Seleção de atividades que estimulam a criatividade» (E1),

enquadrado na categoria «Desenvolvimento da criatividade» (E), definimos os seguintes

indicadores: «Apelar ao pensamento divergente» (E1.1); «Promover a flexibilidade e a

liberdade» (E1.2); «Fomentar a comunicação e a participação» (E1.3); «Estimular a

curiosidade, a sensibilidade e a fantasia» (E1.4); «Promover a autonomia, a motivação, o

espírito crítico, o esforço e o trabalho» (E1.5); «Conduzir os alunos à formulação de questões

sobre o que os rodeia» (E1.6); «Tomar decisões sobre o processo de criar» (E1.7); e

«Possibilitar a autoavaliação sobre a adequação e a qualidade do trabalho» (E1.8).

À categoria «Papel do professor» (F) fizemos corresponder o critério «Adoção de atitudes

pedagógicas favoráveis à concretização do conceito de expressão plástica» (critério F1), aos

quais se reportam o seguinte conjunto de indicadores: «Adotar uma pedagogia não diretiva,

flexível e aberta» (F1.1); «Valorizar atividades que estimulam o pensamento divergente e

intuitivo» (F1.2); «Apresentar às crianças propostas que constituam «desafios» para os quais

elas devem encontrar soluções individuais e únicas» (F1.3); «Revelar-se consciente das

influências dos estereótipos e defender a autenticidade da expressão» (F1.4); «Utilizar a

componente lúdica em abordagens a conceitos e para desencadear o processo criativo» (F1.5);

«Organizar atividades que permitem observar, fruir, analisar e emitir opiniões sobre a obra de

arte» (F1.6); «Conhecer e facilitar a apropriação da «gramática visual» necessária para ler,

compreender e produzir imagens» (F1.7); «Adotar metodologias diversificadas» (F1.8);

«Relacionar a expressão plástica com as outras expressões artísticas e as diferentes áreas do

conhecimento» (F1.9); «Proporcionar atividades que implicam a busca de conhecimentos

diversos, evidenciando a integração de saberes» (F1.10); «Associar a utilização das TIC à

EEP, perspetivando modos de explorar as potencialidades das tecnologias contemporâneas

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137

naquilo em que estas podem contribuir para o acesso a bens culturais, a modos de criação de

diferentes povos e culturas e a um conhecimento amplo sobre processos e procedimentos de

produção artística» (F1.11); «Preocupar-se com o modo como interfere no trabalho dos

alunos» (F1.12); «Observar e apreciar os trabalhos dos alunos estimulando-os no seu esforço

expressivo e criativo» (F1.13); «Criar um clima propício à espontaneidade» (F1.14); «Deixar

que os alunos explorarem e desenvolvam técnicas através da experimentação de diferentes

materiais» (F1.15); «Apresentar diferentes técnicas, instrumentos e materiais através de

estratégias que estimulem a criatividade» (F1.16); «Selecionar técnicas e materiais que se

adequam aos alunos» (F1.17); «Proporcionar momentos de reflexão e avaliação sobre o

processo de criação e sobre o trabalho realizado» (F1.18); «Analisar a evolução dos trabalhos

dos alunos» (F1.19); «Proporcionar atividades facilitadoras do desenvolvimento do sentido

estético» (F1.20); «Proporcionar atividades facilitadoras da compreensão e respeito pelas

diversas identidades culturais» (F1.21); «Promover o respeito pelas diferentes manifestações

de arte, aceitando a perspetiva dos alunos» (F1.22); e «Prever abordagens que facilitem o

desenvolvimento do pensamento crítico» (F1.23).

2.2. Organização de uma grelha de leitura Para melhor evidenciar a relação entre as categorias, critérios e indicadores que

identificámos e formulámos, apresentamos a seguinte grelha de leitura:

Quadro 10 – O referente “currículo ideal” Categorias Critérios Indicadores (D) Conceito de expressão plástica

(D1) Vias de concretização do conceito de expressão plástica

(D1.1) Uso e exploração dos elementos da linguagem plástica (D1.2) Manuseamento e modificação de materiais plásticos (D1.3) Expressão de sentimentos e emoções e comunicação de ideias através do uso da linguagem plástica (D1.4) Criação de algo através do uso da linguagem plástica (D1.5) Desenvolvimento do pensamento, da imaginação, da sensibilidade, da criatividade e da capacidade de descoberta através da apropriação e do uso da linguagem plástica

(E) Desenvolvimento da criatividade

( E1) Seleção de atividades que estimulam a criatividade

(E1.1) Apelar ao pensamento divergente (E1.2) Promover a flexibilidade e a liberdade (E1.3) Fomentar a comunicação e a participação (E1.4) Estimular a curiosidade, a sensibilidade e a fantasia (E1.5) Promover a autonomia, a motivação, o espírito crítico, o esforço e o trabalho (E1.6) Conduzir os alunos à formulação de questões sobre o que os rodeia (E1.7) Tomar decisões sobre o processo de criar (E1.8) Possibilitar a autoavaliação sobre a adequação e a qualidade do trabalho

(F) Papel do professor

(F1) Adoção de atitudes pedagógicas favoráveis à concretização do

(F1.1) Adotar uma pedagogia não diretiva, flexível e aberta (F1.2) Valorizar atividades que estimulam o pensamento divergente e intuitivo (F1.3) Apresentar às crianças propostas que constituem «desafios» para os quais elas devem criar soluções individuais e únicas (F1.4) Revelar-se consciente das influências dos estereótipos e defender a

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138

(F) Papel do professor (continuação)

conceito de expressão plástica (F1) Adoção de atitudes pedagógicas favoráveis à concretização do conceito de expressão plástica (continuação)

autenticidade da expressão (F1.5) Utilizar a componente lúdica em abordagens a conceitos e para desencadear o processo criativo (F1.6) Organizar atividades que permitem observar, fruir, analisar e emitir opiniões sobre a obra de arte (F1.7) Conhecer e facilitar a apropriação da «gramática visual» necessária para ler, compreender e produzir imagens (F1.8) Adotar metodologias diversificadas (F1.9) Relacionar a expressão plástica com as outras expressões artísticas e as diferentes áreas do conhecimento (F1.10) Proporcionar atividades que implicam a busca de conhecimentos diversos, evidenciando a integração de saberes (F1.11) Associar a utilização das TIC à EEP, perspetivando modos de explorar as potencialidades das tecnologias contemporâneas naquilo em que estas podem contribuir para o acesso a bens culturais, a modos de criação de diferentes povos e culturas e a um conhecimento amplo sobre processos e procedimentos de produção artística; (F1.12) Preocupar-se com o modo como interfere no trabalho dos alunos (F1.13) Observar e apreciar os trabalhos dos alunos estimulando-os no seu esforço expressivo e criativo (F1.14) Criar um clima propício à espontaneidade (F1.15) Deixar que os alunos explorarem e desenvolvam técnicas através da experimentação de diferentes materiais (F1.16) Apresentar diferentes técnicas, instrumentos e materiais através de estratégias que estimulem a criatividade (F1.17) Selecionar técnicas e materiais que se adequam aos alunos (F1.18) Proporcionar momentos de reflexão e avaliação sobre o processo de criação e sobre o trabalho realizado (F1.19) Analisar a evolução dos trabalhos dos alunos (F1.20) Proporcionar atividades facilitadoras do desenvolvimento do sentido estético (F1.21) Proporcionar atividades facilitadoras da compreensão e respeito pelas diversas identidades culturais (F1.22) Promover o respeito pelas diferentes manifestações de arte, aceitando a perspetiva dos alunos (F1.23) Prever abordagens que facilitem o desenvolvimento do pensamento crítico

3. O referente “currículo real representado” Para constituir o referente “currículo real representado” baseámo-nos nos resultados

obtidos na recolha de dados quantitativos, designadamente, através da aplicação do

questionário a uma amostra de professores do 1º Ciclo do Ensino Básico com funções letivas

nas escolas públicas portuguesas (ver Capítulo II, Metodologia). Entendemos que estes

resultados refletem as práticas dos professores tal como estes as representam. Ou seja, os

dados que nos forneceram significam aquilo que os professores dizem que fazem nas suas

práticas.

Esta parte do referencial representa, segundo Figari (1996), o envolvimento dos atores no

processo de referencialização, sendo estes «utilizadores» (e, a nosso ver, também «criadores»)

do dispositivo a avaliar. E, sendo a construção do referencial de avaliação, de algum modo, a

reconstituição das partes que constituem o «todo» da identidade do currículo de EEP, este

referente é significativo do currículo real, mas representado, porque incorpora as

representações dos professores sobre as suas práticas.

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139

3.1.Tratamento e análise dos dados quantitativos No que respeita às componentes do questionário relativas às práticas – atividades

desenvolvidas, estratégias para abordar conteúdos de EEP, opções metodológicas,

planificação, materiais didáticos e avaliação – e à componente relativa às formas de

atualização de conhecimentos científicos e pedagógicos sobre EEP, apresentamos quadros

com a análise quantitativa (em números absolutos e em percentagem) das informações

recolhidas através das questões de resposta fechada. Apresentamos ainda, uma análise

qualitativa das informações recolhidas através das questões de resposta aberta. Estas, referem-

-se à alternativa de resposta «Outras (por favor, especifique)» que era disponibilizada em

quatro questões (Questões 6, 7, 10 e 12).

Também descrevemos, para cada uma das componentes, os resultados que consideramos

mais significativos do ponto de vista dos objetivos que traçámos para o estudo e das análises a

realizar.

3.1.1. Caraterização da amostra Participaram no preenchimento do questionário 444 professores do 1º Ciclo do Ensino

Básico que exercem funções letivas em escolas públicas de Portugal Continental. No que

respeita à idade, estes situam-se maioritariamente na faixa etária entre os 35 e os 44 anos

(37,8%), seguidos pelos professores que têm entre 45 e 54 anos (33,8%). Apenas se registou

a participação de dois professores com menos de 25 anos, que representam apenas 0,5% do

total da amostra de professores participantes (ver Quadro 11).

Quadro 11 – Distribuição dos professores inquiridos por faixas etárias.

IDADE

N

(%)

Inferior a 25 anos

2

0,5

Entre 25 e 34 anos

89

20

Entre 35 e 44 anos

168

37,8

Entre 45 e 54 anos

150

33,8

Superior a 54 anos

35

7,9

TOTAL

444

100

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140

Quanto ao género, a maior parte dos professores participantes (88,3%) é do género

feminino (ver Quadro 12).

Quadro 12 – Distribuição dos professores inquiridos por género.

GÉNERO

N

(%)

Feminino

392

88,3

Masculino

52

11,7

TOTAL

444

100

Relativamente às habilitações académicas, a grande maioria (92,3%) tem licenciatura.

Uma pequena parte referiu ter ainda outras formações, como mestrados (7,2%) e

pós-graduações (2,7%). Alguns dos professores participantes têm bacharelato (4%) ou outras

habilitações, que referiram ser «cursos do Magistério Primário» (1%) (ver Quadro 13). Quatro

dos respondentes referiram estar em formação em cursos de mestrado (2 professores) e

doutoramento (2 professores).

Quadro 13 – Distribuição dos professores inquiridos por habilitação académica

HABILITAÇÃO ACADÉMICA

N

(%)

Mestrado

32

7,2

Pós-graduações

12

2,7

Licenciatura

378

85,1

Bacharelato

18

4,0

Outras (Curso do Magistério Primário)

4

1,0

TOTAL

444

100

Os professores que têm entre 10 e 19 anos de experiência enquanto professores do 1º

Ciclo constituem a maior parte (39%), sendo seguidos pelos que têm entre 20 e 29 anos de

experiência (28,1%). Em toda a amostra, a média de anos de experiência tem um valor

aproximado de 19 anos, sendo o valor mínimo de 1 e o valor máximo de 35. Tendo em conta

estes dados e observando a moda, que tem valor 10, podemos afirmar que o conjunto dos

professores tem um número de anos de experiência significativo (ver Quadro 14).

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141

Quadro 14 – Distribuição dos inquiridos por anos de experiência como professores do 1º Ciclo do Ensino Básico e medidas de estatística descritiva para a mesma variável.

IDADE

N

(%)

Entre 1 e 9 anos

64

14,4

Entre 10 e 19 anos

173

39

Entre 20 e 29 anos

125

28,1

Mais de 30 anos

82

18,5

TOTAL

444

100

Média

18,64

Moda

10

Mediana

17

Desvio-padrão

5,65

Mínimo

1

Máximo

35

Os professores inquiridos lecionam em escolas que se distribuem pelas zonas geográficas

que correspondem às cinco Direções Regionais de Educação. No entanto, a maior

percentagem (34,5%) é proveniente da DRE do Norte, seguida da DRE do Centro (26,8%) e

da DRE de Lisboa e Vale do Tejo (24,8%). Em menores percentagens estão representadas as

DRE do Algarve e do Alentejo, respetivamente, com 8,1% e 5,9% dos professores

participantes (ver Quadro 15).

Quadro 15 – Distribuição dos professores inquiridos por zona geográfica (Direção Regional de Educação a que pertence a escola onde exerce funções letivas).

DRE

N

(%)

Norte

153

34,5

Centro

119

26,8

Lisboa e Vale doTejo

110

24,8

Alentejo

26

5,9

Algarve

36

8,1

TOTAL

444

100

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142

3.1.2. Práticas na área curricular de EEP – Atividades Os professores inquiridos indicaram que as atividades de EEP desenvolvidas com maior

frequência ao longo do ano letivo de 2010/ 2011 foram: desenhar livremente, desenhar com

temas sugeridos, pintar livremente, pintar com temas sugeridos, recortar, fazer colagens,

fazer dobragens, fazer cartazes e observar e analisar imagens em contextos diversos. Destas,

salientamos que 90,3% dos professores referiu que a atividade de desenhar livremente foi

realizada frequentemente ou muito frequentemente. De igual modo, salientamos que pintar

livremente também foi referida de forma muito significativa, tendo-se registado que 83,6 %

dos professores a indicou como uma atividade que se realiza frequentemente ou muito

frequentemente (ver Quadro 16).

De acordo com os resultados, as atividades que se realizaram com menos frequência são:

esculpir (em barras de sabão), tecer, costurar, construir elementos para tapeçarias,

fotografar, construir transparências e diapositivos, fazer montagens audiovisuais e utilizar

TIC (usar sítios da internet para realizar criações plásticas on line e utilizar recursos

educativos digitais específicos da EEP).

Quanto às atividades relacionadas com modelação, construções, impressão /estampagem e

observação, análise e apreciação de obras de arte, prevalece a referência às vezes no que

respeita à frequência com que se realizaram ao longo do ano letivo.

É de notar, que observar, analisar e apreciar obras de arte em contextos diversos (a única

atividade do conjunto de respostas alternativas que, explicitamente, se refere à aproximação à

obra de arte) foi referida por 34,7% dos professores como uma atividade que se realizou às

vezes e por 38,5% como uma atividade que se realizou raramente e muito raramente. Ou seja,

podemos depreender que, nas práticas, a frequência com que se realizam atividades que

incluem a abordagem à obra de arte não é muito significativa.

Quanto à utilização das TIC, a referência mais assinalável dá-nos conta que o uso de

programas de desenho acontece às vezes e frequentemente, de acordo com as respostas de

55,2% dos professores. Também consideramos significativas as respostas relativas ao recurso

às TIC em pesquisas sobre temas da EEP. Quanto a outras ações que relacionam as TIC com a

EEP, como a utilização de sítios da internet onde se realizam criações plásticas on line e o uso

de recursos educativos digitais específicos da EEP, as respostas dadas pela maioria dos

professores indicam que estas acontecem raramente e muito raramente (conforme já tínhamos

referido).

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143

Quadro 16 - Atividades de EEP desenvolvidas e frequência com que foram realizadas ao longo do ano letivo de 2010/2011

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Muito raramente

Raramente Às vezes Frequentemente Muito frequentemente

N

(%)

N

(%)

N

(%)

N

(%)

N

(%)

Modelar (em barro, plasticina, pasta de papel, outros materiais)

56

12,6

88

19,8

211

47,5

79

17,8

10

2,3

Esculpir (em barras de sabão)

317

71,4

104

23,4

19

4,3

2

0,5

2

0,5

Construir (fantoches, maquetas, brinquedos, máscaras, instrumentos musicais, objetos diversos)

49

11,0

72

16,2

216

48,6

91

20,5

16

3,6

Desenhar livremente

4

0,9

7

1,6

32

7,2

174

39,2

227

51,1

Desenhar com temas sugeridos

1

0,2

6

1,4

33

7,4

213

48,0

191

43,0

Pintar livremente

3

0,7

11

2,5

59

13,3

170

38,3

201

45,3

Pintar com temas sugeridos

2

0,5

12

2,7

57

12,8

205

46,2

168

37,8

Recortar

3

0,7

2

0,5

33

7,4

219

49,3

187

42,1

Fazer colagens

4

0,9

3

0,7

47

10,6

213

48,0

177

39,9

Fazer dobragens

9

2,0

35

7,9

152

34,2

174

39,2

74

16,7

Fazer impressão / estampagem

104

23,4

106

23,9

168

37,8

55

12,4

11

2,5

Tecer

311

70,0

96

21,6

30

6,8

6

1,4

1

0,2

Costurar

329

74,1

87

19,6

22

5,0

5

1,1

1

0,2

Construir elementos para tapeçarias

341

76,8

80

18,0

19

4,3

4

0,9

0

0,0

Fotografar

187

42,1

83

18,7

97

21,8

46

10,4

31

7,0

Construir transparências e diapositivos

273

61,5

96

21,6

51

11,5

19

4,3

5

1,1

Fazer montagens audiovisuais

248

55,9

80

18,0

62

14,0

42

9,5

12

2,7

Fazer cartazes

8

1,8

11

2,5

69

15,5

198

44,6

158

35,6

Observar e analisar imagens em contextos diversos

15

3,4

20

4,5

106

23,9

175

39,4

128

28,8

Observar, analisar e apreciar obras de arte em contextos diversos

87

19,6

84

18,9

154

34,7

89

20,0

30

6,8

Utilizar TIC (programas de desenho) 84

18,9

80

18,0

134

30,2

111

25,0

35

7,9

Utilizar TIC em pesquisas sobre temas de EEP

112

25,2

93

20,9

126

28,4

90

20,3

23

5,2

Utilizar TIC (sítios na internet que possibilitam a realização de criações plásticas on line)

170

38,3

102

23,0

108

24,3

52

11,7

12

2,7

Utilizar TIC (recursos educativos digitais específicos da EEP)

175

39,4

94

21,2

111

25,0

50

11,3

14

3,2

N= 444 Nesta questão disponibilizávamos também um espaço aberto que possibilitava aos

professores referirem outras atividades realizadas em EEP que não estivessem representadas

no conjunto de respostas alternativas fornecido. Foram vinte e cinco os professores que

utilizaram este espaço e, analisando o conteúdo das suas respostas, verificámos que alguns se

referiram a tipos de atividades que já constavam do conjunto de respostas fechadas. Sendo

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144

assim, analisámos apenas o conteúdo das respostas que indicavam, de facto, «outras»

atividades e considerámos que estas se enquadravam em quatro categorias: Desenho,

Construções, Animação e Técnicas e Materiais diversificados (ver Quadro 16A).

Estes dados são pouco significativos, pois referem-se apenas às práticas de um pequeno

número de professores. No entanto, reconhecemos que são exemplos de utilizações mais

complexas dos meios, técnicas e materiais específicos da EEP. Salientamos que as atividades

que incluímos na categoria Técnicas e materiais diversificados, são em maior número, e que

algumas parecem enquadrar-se no que chamamos de «artes decorativas», sendo estas, na

nossa opinião, distantes do conceito de «expressão plástica». Referimo-nos, por exemplo, à

«técnica do guardanapo», uma das mais referidas, que consiste na colagem / revestimento de

superfícies com guardanapos de papel estampados que existem no mercado para este efeito, e

na qual não reconhecemos potencial para desenvolver as capacidades expressivas,

comunicativas ou criativas dos alunos através do uso da linguagem plástica.

Quadro 16A - «Outras» atividades de EEP desenvolvidas ao longo do ano letivo de 2010-2011

Categorias (Outras atividades desenvolvidas)

Síntese das unidades de registo

Frequência

Desenho

Elaboração de bandas desenhadas 2 Desenho de observação (de objetos, do edifício da escola, entre outros) 2 Reprodução de obras de arte 1 Completar imagens 1

Construções

Montagens diversas utilizando materiais «de desperdício» (recicláveis) 3 Montagens que incluem moldagem em gesso 1 Montagens com contas e missangas 1

Animação

Construção de filmes (utilização de desenhos dos alunos e exploração de programas como o Powerpoint e o Photo Story)

2

Técnicas e materiais diversificados

Pintura em suportes variados (telhas, pedras, madeira, plástico, vidro, peças de cerâmica)

2

Pintura com técnicas mistas 3 Découpage (vulgarmente designada por «técnica do guardanapo») em madeira, vidro e tela

2

Composições com flores secas 1 Pintura em tecido 1 Gravações em estanho 1 Composições com musgami 1

3.1.3. Práticas na área curricular de EEP – Estratégias para abordar conteúdos Os professores participantes foram também questionados sobre as estratégias que adotam

para abordar conteúdos de EEP. Os resultados obtidos vêm indicar que as exposições orais, a

exploração de materiais didáticos, as demonstrações (da aplicação de técnicas e materiais ou

do manuseamento de utensílios, como exemplos) e a observação da realidade (por exemplo,

observar objetos reais) são as estratégias a que os professores recorrem frequentemente (ver

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145

Quadro 17). Foram também consideráveis as referências que indicam que estas estratégias

foram selecionadas às vezes pelos professores.

As estratégias que os professores referiram adotar com menos frequência foram: pôr em

prática modelos de apreciação /análise de obras de arte, realizar aulas com a presença de

convidados (artistas plásticos, artesãos, entre outros) e fazer pesquisas com os alunos em

enciclopédias e livros de arte. Estes dados, que estão relacionados com a aproximação à obra

de arte, estão em coerência com resultados relativos ao mesmo assunto obtidos noutras

componentes do questionário. Apenas as visitas de estudo (a exposições, em museus, galerias,

monumentos, entre outros) parecem ter sido concretizadas com alguma frequência, no

entanto, foram assinaláveis as percentagens de professores que referiram que raramente e

muito raramente as realizaram ao longo do ano letivo. Foram semelhantes os resultados

obtidos relativamente à estratégia fazer pesquisas com os alunos na internet.

Nesta questão, permitíamos que os professores inquiridos referissem também outras

estratégias que não estivessem contempladas no conjunto de respostas alternativas e que

tivessem integrado as suas práticas. A esta questão aberta responderam cinco dos professores,

tendo três destes usado o espaço de resposta para identificar os locais onde fizeram visitas de

estudo. Houve, no entanto, dois professores que indicaram como estratégias a «pesquisa na

natureza» e «envolver a família na dinamização de aulas, de acordo com as suas apetências». Quadro 17 - Estratégias para abordar conteúdos incluídas nas práticas de EEP e frequência com que foram selecionadas ao longo do ano letivo de 2010/2011

ESTRATÉGIAS PARA ABORDAR CONTEÚDOS DE EEP

Muito raramente

Raramente Às vezes Frequentemente Muito frequentemente

N

(%)

N

(%)

N

(%)

N

(%)

N

(%)

Fazer exposições orais

25

5,6

37

8,3

146

32,9

163

36,7

73

16,4

Explorar materiais didáticos (acetatos, powerpoints, cartazes, manuais, objetos representativos da utilização de técnicas e materiais, entre outros)

23

5,2

39

8,8

138

31,1

163

36,7

81

18,2

Demonstrar (aplicação de técnicas, materiais, manuseamento de utensílios, entre outros)

13

2,9

46

10,4

164

36,9

171

38,5

50

11,3

Promover a observação da realidade (observar objectos reais, paisagem, entre outros)

12

2,7

45

10,1

145

32,7

181

40,8

61

13,7

Realizar visitas de estudo (a exposições, em museus, galerias, monumentos, entre outros)

91

20,5

105

23,6

170

38,3

63

14,2

15

3,4

Pôr em prática modelos de apreciação / análise de obras de arte

166

37,4

144

32,4

98

22,1

27

6,1

9

2,0

Realizar aulas com a presença de convidados (artistas plásticos, artesãos, entre outros)

267

60,1

101

22,7

61

13,7

12

2,7

3

0,7

Fazer pesquisas com os alunos em enciclopédias e livros de arte

160

36,0

129

29,1

112

25,2

28

6,3

15

3,4

Fazer pesquisas com os alunos na internet

94

21,2

83

18,7

134

30,2

95

21,4

38

8,6

N= 444

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146

3.1.4. Práticas na área curricular de EEP – Opções metodológicas Através do questionário, procurámos também identificar algumas opções metodológicas

que caraterizam as práticas em EEP. As respostas alternativas que fornecemos referiam-se a

aspetos relacionados com o papel dos alunos, com o papel dos professores e também com a

natureza das atividades que integram as práticas. Assinalamos de seguida alguns dos aspetos

que nos parecem mais relevantes.

Pelas opções que os professores referiram selecionar frequentemente, podemos depreender

que estes proporcionam aos alunos o contacto com materiais diversificados; promovem a

realização de trabalhos coletivos e a cooperação em grupo; propõem experiências que

permitem a cada aluno produzir um trabalho individual e único; proporcionam experiências

que associam a EEP a outras áreas curriculares; valorizam o processo de projetar e

experimentar; preveem abordagens que desenvolvem o pensamento crítico; propõem

atividades facilitadoras do desenvolvimento do sentido estético, da compreensão e respeito

pelas diversas identidades culturais e que estimulam a criatividade dos alunos.

Os resultados indicam também que é muito frequente a organização de exposições de

trabalhos dos alunos na sala de aula e noutros espaços da escola.

Registamos como significativa a percentagem de professores que referiu que os seus

alunos realizaram exercícios de colorir figuras em manuais ou folhas policopiadas, pois

67,3% indicou que esta opção se concretizava frequentemente e muito frequentemente.

Salientamos também que os resultados obtidos indicam que 71,8 % dos professores

propõe aos alunos, raramente e às vezes, trabalhos que consistem na cópia de modelos.

Pelos resultados, também podemos depreender que o mais comum é serem os professores

a propor temas e atividades. A este respeito, a grande maioria dos professores (90,3%) referiu

que propõe os temas para as atividades às vezes e frequentemente. Vai no mesmo sentido, um

outro resultado que indica que 78,6% dos professores propõe, às vezes e frequentemente,

trabalhos em que todos os alunos têm de se submeter aos mesmos temas, materiais e técnicas.

Os professores referiram ainda que propõem atividades que proporcionam o contacto com

a obra de arte. Os resultados indicam que esta situação ocorre às vezes, de acordo com 38,7%

dos professores; raramente, de acordo com 22,3% e frequentemente, de acordo com 22,1%

dos professores. Salientamos que estes resultados divergem de outros que foram apurados

neste questionário, que também se reportam ao contacto com obras de arte, e aos quais já nos

referimos.

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147

Quadro 18 - Opções metodológicas incluidas nas práticas de EEP e frequência com que foram selecionadas ao longo do ano letivo de 2010/2011

N= 444 3.1.5. Práticas na área curricular de EEP – Planificação Foi nossa intenção procurar saber quais os documentos curriculares que os professores

consultam quando planificam situações de ensino-aprendizagem em EEP. O que se apurou,

OPÇÕES METODOLÓGICAS

Muito raramente

Raramente Às vezes Frequentemente Muito frequentemente

N

(%)

N

(%)

N

(%)

N

(%)

N

(%)

Os alunos participam na seleção das atividades a realizar

12

2,7

28

6,3

197

44,4

167

37,6

40

9,0

Os alunos têm contacto com materiais diversificados

1

0,2

13

2,9

124

27,9

244

55,0

62

14,0

Os alunos realizam trabalhos coletivos 3

0,7

16

3,6

109

24,5

230

51,8

86

19,4

Os alunos realizam exercícios de colorir figuras em manuais ou folhas policopiadas

19

4,3

18

4,1

108

24,3

184

41,4

115

25,9

O professor propõe trabalhos em que todos os alunos têm de se submeter aos mesmos temas, materiais e técnicas

9

2,0

38

8,6

177

39,9

172

38,7

48

10,8

O professor propõe trabalhos que permitem a cada aluno produzir um trabalho individual e único

6

1,4

24

5,4

156

35,1

187

42,1

71

16,0

O professor promove o trabalho e a cooperação em grupo através da EEP

7

1,6

17

3,8

154

34,7

192

43,2

74

16,7

O professor proporciona experiências que associam a EEP a outras áreas curriculares

4

0,9

7

1,6

63

14,2

249

56,1

121

27,3

O professor «corrige» ou «ajuda» as crianças no seu trabalho, mostrando «como se faz» ou «como se desenha», impondo os seus padrões de adulto

65

14,6

108

24,3

134

30,2

92

20,7

45

10,1

O professor valoriza o processo de projetar e experimentar

8

1,8

13

2,9

89

20,0

230

51,8

104

23,4

O professor condiciona as atividades à realização de um produto final

69

15,5

121

27,3

179

40,3

65

14,6

10

2,3

O professor prevê abordagens que desenvolvem o pensamento crítico

5

1,1

21

4,7

156

35,1

203

45,7

59

13,3

O professor propõe atividades facilitadoras do desenvolvimento do sentido estético

4

0,9

20

4,5

133

30,0

223

50,2

64

14,4

O professor propõe atividades facilitadoras da compreensão e respeito pelas diversas identidades culturais

8

1,8

18

4,1

134

30,2

208

46,8

76

17,1

Os temas para as atividades são propostos pelo professor

4

0,9

27

6,1

255

57,4

146

32,9

12

2,7

Os trabalhos propostos consistem na cópia de modelos

90

20,3

160

36,0

59

35,8

24

5,4

11

2,5

Os trabalhos dos alunos são expostos na sala de aula

1

0,2

7

1,6

32

7,2

154

34,7

250

56,3

Os trabalhos dos alunos são expostos em espaços da escola

7

1,6

13

2,9

87

19,6

190

42,8

147

33,1

As atividades propostas estimulam a criatividade dos alunos

1

0,2

4

0,9

59

13,3

214

48,2

166

37,4

As atividades propostas proporcionam o contacto com a obra de arte

34

7,7

99

22,3

172

38,7

98

22,1

41

9,2

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148

relativamente a este ponto, revela que a maioria dos professores consulta frequentemente e

muito frequentemente o Programa do 1º Ciclo (77,9%) e o Currículo Nacional (64,6%)

quando planifica (ver Quadro 19). Quanto às Metas de Aprendizagem, apesar de terem sido

publicadas já depois do início do ano letivo de 2010/2011 (a referência temporal para o

preenchimento do questionário), os resultados indicam que estas são conhecidas e consultadas

frequentemente e muito frequentemente por 66,7% dos professores inquiridos.

Outros dados relativos à planificação, dão-nos conta que é muito frequente a integração da

área de EEP nos Projetos Curriculares de Turma e em outros projetos de natureza diversa.

A integração da EEP em projetos que incluem parcerias entre a escola e artistas plásticos

ou instituições culturais parece não ser significativa. A maioria dos professores (58,2%)

referiu que esta integração ocorreu muito raramente e raramente.

Apenas a realização de visitas de estudo parece ser ponto de contacto entre a escola e as

instituições culturais e artísticas. Os resultados indicam que a escola e as instituições

trabalham em parceria na preparação prévia das visitas a realizar.

As respostas de 91,9% dos professores também nos indicam que a articulação entre a EEP

e outras áreas curriculares ocorre frequentemente e muito frequentemente.

Quadro 19 - Aspetos relativos à planificação do ensino-aprendizagem da EEP e frequência com que foram considerados nas práticas ao longo do ano letivo de 2010/2011 PLANIFICAÇÃO

Muito raramente

Raramente Às vezes Frequentemente Muito frequentemente

N

(%)

N

(%)

N

(%)

N

(%)

N

(%)

Ao planificar consulta o programa do 1º Ciclo

8

1,8

23

5,2

67

15,1

208

46,8

138

31,1

Ao planificar consulta o Currículo Nacional

14

3,2

38

8,6

105

23,6

180

40,5

107

24,1

Ao planificar consulta as Metas de Aprendizagem

13

2,9

36

8,1

99

22,3

185

41,7

111

25,0

A EEP faz parte das atividades previstas no PCT

6

1,4

4

0,9

39

8,8

212

47,7

183

41,2

A EEP integra a planificação de projetos diversos

5

1,1

12

2,7

71

16,0

221

49,8

135

30,4

A EEP integra projetos que incluem parcerias entre a escola e artistas plásticos ou instituições culturais

137

30,9

121

27,3

115

25,9

50

11,3

21

4,7

A EEP articula-se com outras áreas curriculares

3

0,7

2

0,5

31

7,0

205

46,2

203

45,7

As atividades de EEP ocupam duas horas semanais

28

6,3

28

6,3

105

23,6

151

34,0

132

29,7

As perceções que as pessoas (como por exemplo, os pais) têm sobre o que é ensinado na escola, condicionam a seleção de atividades de EEP

115

25,9

136

30,6

122

27,5

61

13,7

10

2,3

As visitas de estudo são preparadas previamente em parceria com as instituições culturais e artísticas a visitar

44

9,9

62

14,0

126

28,4

132

29,7

80

18,0

N= 444

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149

São assinaláveis os resultados relativos ao tempo que é destinado à EEP, por semana. A

este respeito, 63,7% dos professores indicou que as atividades de EEP ocupam duas horas

semanais frequentemente e muito frequentemente.

Também consideramos assinaláveis os resultados relativos ao facto de as perceções das

pessoas sobre o que é ensinado na escola condicionarem as opções dos professores

relativamente à EEP. Estes referiram, em grandes percentagens, que este condicionamento

acontece raramente (30,6%), às vezes (27,5%) e muito raramente (25,9%).

3.1.6. Práticas na área curricular de EEP – Materiais didáticos No que respeita aos materiais didáticos específicos da EEP utilizados pelos professores e à

frequência com que foram selecionados, foram assinalados de forma mais significativa as

imagens diversas para analisar (fotografias, ilustrações de livros infantis, entre outros)», as

«figuras para colorir (em livros ou fotocópias), as revistas (sobre trabalhos manuais, artes

decorativas, entre outros) e os cartazes. As respostas relativas aos materiais que são

utilizados às vezes, recaíram sobre os livros de literatura infantil relacionados com a EEP, os

livros infantis sobre expressão plástica (ou trabalhos manuais), os sítios na internet (de

museus ou com informação sobre obras de arte e artistas plásticos), as imagens

representativas de obras de arte, os objetos diversos representativos da aplicação de técnicas

e materiais e os modelos (exemplos de trabalhos que os alunos devem copiar / imitar). A

maioria dos professores assinalou que raramente ou muito raramente utilizou os manuais de

EEP, os livros de arte e software específico da EEP (ver Quadro 20).

Nesta questão os professores podiam, em resposta aberta, indicar outros materiais

didáticos que utilizam e que não constavam do conjunto de respostas alternativas fornecido.

Havendo a participação de sete professores nesta modalidade de resposta, nem todos

forneceram informação adicional válida, pois indicaram novamente elementos que faziam

parte das respostas de que podiam dispor. No entanto, dois professores referiram-se à

utilização de «elementos da natureza» em atividades de observação, dando como exemplos

«flores, folhas, pétalas, raízes, areia, madeira e fosséis».

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150

Quadro 20 - Materiais didáticos específicos da EEP utilizados e frequência com que foram selecionados ao longo do ano letivo de 2010/2011

MATERIAIS DIDÁTICOS

Muito raramente

Raramente Às vezes Frequentemente Muito frequentemente

N

(%)

N

(%)

N

(%)

N

(%)

N

(%)

Manuais de EEP

191

43,0

74

16,7

119

26,8

49

11,0

11

2,5

Livros de arte

179

40,3

109

24,5

121

27,3

25

5,6

10

2,3

Livros de literatura infantil relacionados com EEP

53

11,9

53

11,9

194

43,7

109

24,5

35

7,9

Livros infantis sobre expressão plástica (ou trabalhos manuais)

34

7,7

46

10,4

177

39,9

143

32,2

44

9,9

Sítios na internet (de museus ou com informação sobre obras de arte e artistas plásticos)

76

17,1

85

19,1

144

32,4

106

23,9

33

7,4

Imagens representativas de obras de arte

70

15,8

109

24,5

177

39,9

67

15,1

21

4,7

Imagens diversas para analisar (fotografias, ilustrações de livros infantis, entre outros)

18

4,1

51

11,5

155

34,9

162

36,5

58

13,1

Objetos diversos representativos da aplicação de técnicas e materiais

27

6,1

63

14,2

212

47,7

116

26,1

26

5,9

Figuras para colorir (em livros ou fotocópias)

25

5,6

37

8,3

90

20,3

186

41,9

106

23,9

Revistas (sobre trabalhos manuais, artes decorativas, entre outros)

21

4,7

42

9,5

154

34,7

166

37,4

61

13,7

Modelos (exemplos de trabalhos que os alunos devem copiar /imitar)

61

13,7

109

24,5

171

38,5

82

18,5

21

4,7

Software específico da EEP

187

42,1

118

26,6

99

22,3

32

7,2

8

1,8

Cartazes

14

3,2

27

6,1

116

26,1

173

39,0

114

25,7

N= 444 3.1.7. Práticas na área curricular de EEP – Avaliação Os dados recolhidos sobre a avaliação são diversos e referem-se a tipos, formas, objetos, e

funções da avaliação (ver Quadro 21).

Consideramos que existe coerência entre alguns dos resultados obtidos, e observando os

aspetos que os professores assinalaram como frequentes, achamos possível fazer as seguintes

leituras: a avaliação diagnóstica é realizada com frequência e os resultados que se obtêm são

considerados na gestão do currículo de EEP; os objetos da avaliação são os trabalhos

realizados e os comportamentos dos alunos observados no decurso das atividades; os critérios

de avaliação têm por base as competências definidas pelo currículo; ao avaliar, os professores

classificam qualitativamente os trabalhos produzidos pelos alunos; a avaliação comunicada

aos alunos traduz-se em comentários verbais do professor, relativamente às experiências

vivenciadas e aos trabalhos realizados; o nível de desenvolvimento gráfico e plástico dos

alunos e a sua evolução é considerado na avaliação; os alunos participam, com grande

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151

frequência, na sua própria avaliação, refletindo sobre o processo de criação e sobre o trabalho

realizado; os trabalhos dos alunos são organizados em arquivos próprios.

Os dados obtidos permitem também verificar que a maioria dos professores (62,1%) refere

que muito raramente ou raramente faz comparações entre os trabalhos das crianças e expõe

os «melhores». No entanto, consideramos assinalável que 24,3% dos professores tenham

referido que às vezes procedem dessa forma. Quadro 21 - Aspetos relativos à avaliação do ensino-aprendizagem da EEP e frequência com que foram considerados nas práticas ao longo do ano letivo de 2010/2011 AVALIAÇÃO

Muito raramente

Raramente Às vezes Frequentemente Muito frequentemente

N

(%)

N

(%)

N

(%)

N

(%)

N

(%)

As práticas de avaliação incluem a avaliação diagnóstica

31

7,0

28

6,3

84

18,9

186

41,9

115

25,9

Os resultados da avaliação diagnóstica condicionam a gestão do currículo de EEP

45

10,1

75

16,9

140

31,5

135

30,4

49

11,0

Na avaliação consideram-se os trabalhos realizados pelos alunos

3

0,7

6

1,4

37

8,3

211

47,5

187

42,1

Na avaliação consideram-se os comportamentos dos alunos observados durante a realização das atividades

11

2,5

10

2,3

54

12,2

226

50,9

143

32,2

Os alunos participam na sua própria avaliação

4

0,9

13

2,9

67

15,1

208

46,8

152

34,2

Para fazer a avaliação são formulados critérios, tendo por base as competências definidas pelo currículo

10

2,3

15

3,4

70

15,8

208

46,8

141

31,8

A avaliação comunicada aos alunos resume-se a comentários verbais sobre as experiências vivenciadas e os trabalhos realizados

33

7,4

90

20,3

160

36,0

126

28,4

35

7,9

Na avaliação classificam-se qualitativamente os trabalhos realizados pelos alunos

25

5,6

26

5,9

97

21,8

199

44,8

97

21,8

Os alunos participam em momentos de reflexão e avaliação sobre o processo de criação e sobre o trabalho realizado

4

0,9

17

3,8

114

25,7

206

46,4

103

23,2

Os trabalhos dos alunos são organizados em arquivos próprios

20

4,5

30

6,8

78

17,6

199

44,8

117

26,4

Na avaliação atende-se ao desenvolvimento gráfico-plástico das crianças

6

1,4

18

4,1

91

20,5

235

52,9

94

21,2

Na avaliação são feitas comparações entre os trabalhos das crianças e são expostos os «melhores»

172

38,7

104

23,4

108

24,3

51

11,5

9

2,0

Na avaliação analisa-se a evolução dos trabalhos dos alunos

7

1,6

12

2,7

55

12,4

198

44,6

172

38,7

N= 444 3.1.8. Formas de atualização de conhecimentos sobre EEP Os professores foram também questionados sobre as formas e a frequência com que

atualizaram os seus conhecimentos científicos e pedagógicos sobre EEP ao longo dos últimos

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152

dois anos. Com os resultados obtidos (ver Quadro 22), podemos depreender que a

participação dos professores em momentos «formais» e estruturados de formação (como as

ações de formação e os encontros de formação promovidos por museus) não é significativa. A

leitura de bibliografia especializada atual, as pesquisas na internet, as visitas a museus e

exposições e o contacto com artesãos e artistas plásticos, parecem ser as formas habituais de

os professores atualizarem os seus conhecimentos sobre EEP. No entanto, podemos

considerar como mais significativas, a consulta de revistas destinadas a professores e

educadores e a troca de informações com outros educadores / professores, pois os

respondentes assinalaram, em grande percentagem, que estas eram formas de atualização que

se efetuavam frequentemente e muito frequentemente.

Nesta questão, solicitávamos também aos respondentes que nos indicassem outras formas

de atualização de conhecimentos que, eventualmente, não estivessem contempladas no

conjunto de respostas alternativas. Houve quatro casos em que os respondentes especificaram

outros modos de atualização de conhecimentos. No entanto, considerámos que eram

redundâncias e que o seu conteúdo estava representado nas respostas alternativas que

fornecíamos, não acrescentando por isso nenhum dado novo.

Quadro 22 - Formas e frequência com que os professores inquiridos atualizaram conhecimentos científicos e pedagógicos sobre EEP ao longo dos últimos dois anos.

FORMAS DE ATUALIZAÇÃO DE CONHECIMENTOS DE EEP

Muito raramente

Raramente Às vezes Frequentemente Muito frequentemente

N

(%)

N

(%)

N

(%)

N

(%)

N

(%)

Frequência de ações de formação

143

32,2

88

19,8

143

32,2

48

10,8

22

5,0

Frequência de encontros de formação promovidos por museus

218

49,1

126

28,4

83

18,7

13

2,9

4

0,9

Leitura de bibliografia especializada atual

117

26,4

114

25,7

146

32,9

47

10,6

20

4,5

Pesquisas na internet sobre temáticas da EEP

45

10,1

28

6,3

152

34,2

146

32,9

73

16,4

Visitas a museus e exposições relacionadas com as artes visuais

89

20,0

95

21,4

158

35,6

79

17,8

23

5,2

Contacto com artesãos e artistas plásticos

106

23,9

118

26,6

151

34,0

51

11,5

18

4,5

Consulta de revistas destinadas a educadores e professores

10

2,3

24

5,4

121

27,3

162

36,5

127

28,6

Troca de informação com outros educadores / professores

5

1,1

9

2,0

64

14,4

171

38,5

195

43,9

N= 444 3.2. Formação de categorias, critérios e indicadores Enquanto intrumento de análise, e à semelhança dos referentes “currículo formal” e

“currículo ideal”, cuja constituição já apresentámos, o referente “currículo real representado”

também se constitui em categorias, critérios e indicadores.

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153

Os elementos que constituem este referente têm origem nos resultados obtidos com a

aplicação do questionário. As categorias correspondem às componentes da prática atividades

desenvolvidas, estratégias para abordar conteúdos de EEP, opções metodológicas,

planificação, materiais didáticos específicos da EEP e avaliação.

Ao formularmos os critérios que correspondem a cada categoria, procurámos que estes

significassem a diversidade de aspetos que correspondem a cada componente da prática, e que

estão representados através dos diferentes indicadores.

Os indicadores que considerámos em cada uma das categorias têm origem no conjunto de

ações e opções cuja concretização foi assinalada pelos professores como frequente ou muito

frequente.

Sendo assim, à categoria «Atividades desenvolvidas» (categoria G) fizemos corresponder

o critério «Diversidade de propostas apresentadas aos alunos» (critério G1) e os indicadores

que representam as atividades de EEP realizadas com maior frequência. A saber: «Desenhar

livremente» (G1.1); «Desenhar com temas sugeridos» (G1.2); Pintar livremente (G1.3);

«Pintar com temas sugeridos» (G1.4); «Recortar» (G1.5); «Fazer colagens» (G1.6); «Fazer

dobragens» (G1.7); «Fazer cartazes» (G1.8); e «Observar e analisar imagens em contextos

diversos» (G1.9).

À categoria «Estratégias para abordar conteúdos de EEP» (categoria H) fizemos

corresponder o critério «Diversidade de estratégias adotadas» (Critério H1) e os indicadores

significativos das estratégias frequentemente selecionadas pelos professores, sendo estas

«Fazer exposições orais» (H1.1), «Explorar materiais didáticos (acetatos, powerpoints,

cartazes, manuais, objectos representativos da utilização de técnicas e materiais, entre

outros)» (H1.2), « Demonstrar (aplicação de técnicas, materiais, manuseamento de utensílios,

entre outros) (H1.3) e «Promover a observação da realidade (observar objetos reais, paisagem,

entre outros) (H1.4).

A categoria «Opções metodológicas» (categoria I), que decorre da componente da prática

com a mesma designação, remete para um conjunto de dados cujos significados não

delimitámos e que englobam aspetos relativos ao papel do professor, ao papel do aluno e à

natureza das próprias atividades de EEP. Estes aspetos representam as opções metodológicas

que os professores fazem com maior frequência.

Sendo assim, fizemos corresponder a esta categoria o critério «Diversidade de opções

metodológicas relativas ao papel do professor, ao papel dos alunos e à natureza das

atividades» (critério I.1) e os seguintes indicadores: «Os alunos têm contacto com materiais

diversificados» (I.1.1); «Os alunos realizam trabalhos coletivos» (I.1.2); «Os alunos realizam

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154

exercícios de colorir figuras em manuais ou folhas policopiadas» (I.1.3); «O professor propõe

trabalhos que permitem a cada aluno produzir um trabalho individual e único» (I.1.4); «O

professor promove o trabalho e a cooperação em grupo através da EEP» (I.1.5); «O professor

proporciona experiências que associam a EEP a outras áreas curriculares» (I.1.6); « O

professor valoriza o processo de projetar e experimentar» (I.1.7); « O professor prevê

abordagens que desenvolvem o pensamento crítico» (I.1.8); «O professor propõe atividades

facilitadoras do desenvolvimento do sentido estético» (I.1.9); «O professor propõe atividades

facilitadoras da compreensão e respeito pelas diversas identidades culturais» (I.1.10); « Os

trabalhos dos alunos são expostos na sala de aula» (I.1.11); « Os trabalhos dos alunos são

expostos em espaços da escola» (I.1.12); e «As atividades propostas estimulam a criatividade

dos alunos».

Quanto à categoria «Planificação» (categoria J), esta também remete para aspetos de

natureza diversa (documentos curriculares consultados, elementos integrantes da planificação,

funções e utilidade da planificação, entre outros). Perante esta diversidade, pareceu-nos lógico

formular o critério «Amplitude dos elementos considerados na planificação» (critério J1). Os

indicadores que lhe correspondem são: «Ao planificar consulta o Programa do 1º Ciclo»

(J1.1); «Ao planificar consulta o Currículo Nacional» (J1.2); «Ao planificar consulta as Metas

de Aprendizagem» (J1.3); « A EEP faz parte das atividades previstas no PCT» (J1.4); «A EEP

integra a planificação de projetos diversos» (J1.5); «A EEP articula-se com outras áreas

curriculares» (J1.6); «As atividades de EEP ocupam duas horas semanais» (J1.7); e « As

visitas de estudo são preparadas previamente em parceria com as instituições culturais e

artísticas a visitar» (J1.8).

A categoria «Materiais didáticos específicos da EEP» (categoria K) refere-se aos dados

que indicam quais são os materiais didáticos que são mais utilizados pelos professores.

Atendendo a este aspeto, formulámos o critério «Natureza e função dos materiais didáticos»

(critério K1) no qual se inscrevem os indicadores «Imagens diversas para analisar

(fotografias, ilustrações de livros infantis, entre outros)» (K1.1), «Figuras para colorir (em

livros ou fotocópias)» (K1.2), «Revistas (sobre trabalhos manuais, artes decorativas, entre

outros)» (K1.3) e «Cartazes» (K1.4).

Por último, referimo-nos à categoria «Avaliação» (categoria L), relativa também a aspetos

diversos relacionados com a avaliação do ensino-aprendizagem da EEP, e para a qual

definimos o critério «Diversidade de tipos, funções, formas, e objetos que são considerados na

avaliação» (critério L1). O conjunto de indicadores corresponde ao conjunto de dados mais

assinalados pelos professores relativamente ao modo como nas suas práticas consideram a

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155

avaliação. A saber: «As práticas de avaliação incluem a avaliação diagnóstica» (L1.1); « Na

avaliação consideram-se os trabalhos realizados pelos alunos» (L1.2); «Na avaliação

consideram-se os comportamentos dos alunos observados durante a realização das

actividades» (L1.3); « Os alunos participam na sua própria avaliação» (L1.4); «Para fazer a

avaliação são formulados critérios, tendo por base as competências definidas pelo currículo»

(L1.5); « Na avaliação classificam-se qualitativamente os trabalhos realizados pelos alunos»

(L1.6); «Os alunos participam em momentos de reflexão e avaliação sobre o processo de

criação e sobre o trabalho realizado» (L1.7); «Os trabalhos dos alunos são organizados em

arquivos próprios» (L1.8); «Na avaliação atende-se ao desenvolvimento gráfico e plástico das

crianças» (L1.9); e « Na avaliação analisa-se a evolução dos trabalhos dos alunos» (L1.10).

3.3. Organização de uma grelha de leitura Para esta componente do referencial de avaliação, replicamos o processo seguido na

constituição dos referentes “currículo formal” e “currículo ideal”, organizando também uma

grelha de leitura que evidencia a relação entre as categorias, critérios e indicadores (ver

Quadro 23).

Quadro 23 – O referente “currículo real representado” Categorias Critérios Indicadores (G) Atividades desenvolvidas

(G1) Diversidade de propostas apresentadas aos alunos

(G1.1) Desenhar livremente (G1.2) Desenhar com temas sugeridos (G1.3) Pintar livremente (G1.4) Pintar com temas sugeridos (G1.5) Recortar (G1.6) Fazer colagens (G1.7) Fazer dobragens (G1.8) Fazer cartazes (G1.9) Observar e analisar imagens em contextos diversos

(H) Estratégias para abordar conteúdos de EEP

(H1) Diversidade de estratégias adotadas

(H1.1) Fazer exposições orais (H1.2) Explorar materiais didáticos (acetatos, powerpoints, cartazes, manuais, objetos representativos da utilização de técnicas e materiais, entre outros) (H1.3) Demonstrar (aplicação de técnicas, materiais, manuseamento de utensílios, entre outros) (H1.4) Promover a observação da realidade (observar objetos reais, paisagem, entre outros)

(I) Opções metodológicas

(I1) Diversidade de opções metodológicas relativas ao papel do professor, ao papel dos alunos e à natureza das atividades

(I1.1) Os alunos têm contacto com materiais diversificados (I1.2) Os alunos realizam trabalhos coletivos (I1.3) Os alunos realizam exercícios de colorir figuras em manuais ou folhas policopiadas (I1.4) O professor propõe trabalhos que permitem a cada aluno produzir um trabalho individual e único (I1.5) O professor promove o trabalho e a cooperação em grupo através da EEP (I1.6) O professor proporciona experiências que associam a EEP a outras áreas curriculares

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156

(I1.7) O professor valoriza o processo de projetar e experimentar (I1.8) O professor prevê abordagens que desenvolvem o pensamento crítico (I1.9) O professor propõe atividades facilitadoras do desenvolvimento do sentido estético (I1.10) O professor propõe atividades facilitadoras da compreensão e respeito pelas diversas identidades culturais (I1.11) Os trabalhos dos alunos são expostos na sala de aula (I1.12) Os trabalhos dos alunos são expostos em espaços da escola (I1.13) As atividades propostas estimulam a criatividade dos alunos

(J) Planificação

(J1) Amplitude dos elementos considerados na planificação

(J1.1) Ao planificar consulta o Programa do 1º Ciclo (J1.2) Ao planificar consulta o Currículo Nacional (J1.3) Ao planificar consulta as Metas de Aprendizagem (J1.4) A EEP faz parte das atividades previstas no PCT (J1.5) A EEP integra a planificação de projetos diversos (J1.6) A EEP articula-se com outras áreas curriculares (J1.7) As atividades de EEP ocupam duas horas semanais (J1.8) As visitas de estudo são preparadas previamente em parceria com as instituições culturais e artísticas a visitar

(K) Materiais didáticos específicos da EEP

(K1) Natureza dos materiais didáticos

(K1.1) Imagens diversas para analisar (fotografias, ilustrações de livros infantis, entre outros) (K1.2) Figuras para colorir (em livros ou fotocópias) (K1.3) Revistas (sobre trabalhos manuais, artes decorativas, entre outros) (K1.4) Cartazes

(L) Avaliação

(L1) Diversidade de tipos, funções, formas, e objetos que são considerados na avaliação.

(L1.1) As práticas de avaliação incluem a avaliação diagnóstica (L1.2) Na avaliação consideram-se os trabalhos realizados pelos alunos (L1.3) Na avaliação consideram-se os comportamentos dos alunos observados durante a realização das actividades (L1.4) Os alunos participam na sua própria avaliação (L1.5) Para fazer a avaliação são formulados critérios, tendo por base as competências definidas pelo currículo (L1.6) Na avaliação classificam-se qualitativamente os trabalhos realizados pelos alunos (L1.7) Os alunos participam em momentos de reflexão e avaliação sobre o processo de criação e sobre o trabalho realizado (L1.8) Os trabalhos dos alunos são organizados em arquivos próprios (L1.9) Na avaliação atende-se ao desenvolvimento gráfico e plástico das crianças (L1.10) Na avaliação analisa-se a evolução dos trabalhos dos alunos

5. O referencial de avaliação Finalizado o processo de referencialização, cremos ter conseguido constituir um sistema

de referências que descreve o «dispositivo» em avaliação – o currículo de EEP do 1º Ciclo do

Ensino Básico – na sua especificidade.

Fazendo uma súmula dos elementos que juntámos ao longo da construção do referencial,

iremos agora estabelecer um paralelismo com algumas das etapas sugeridas por Figari

(1996)10

. Começando pela «árvore» das dimensões do objeto a avaliar, apresentamos no

Quadro 24 a relação entre as «categorias» que caraterizam o dispositivo (o currículo de EEP),

as «questões colocadas pela investigação / avaliação» e as «dimensões a avaliar».

10 Referimo-nos a esta sequência de etapas no Capítulo I, Enquadramento teórico, A referencialização enquanto metodologia de avaliação de dispositivos educativos.

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157

Quadro 24 – A «árvore» das dimensões do objeto a avaliar (o currículo de EEP)

Categorias Questões colocadas pela investigação / avaliação

Dimensões a avaliar (no referido currículo real)

Ref

eren

te

“cur

rícu

lo fo

rmal

(A) Conhecimentos, capacidades e atitudes visadas nas competências

Questão 1. Como se caraterizam as práticas pedagógicas em Expressão e Educação Plástica? Questão 3. Como foi acolhido, entendido e que implicações teve na prática o texto curricular «Competências em Educação Visual»?

- Planificação e organização do ensino (currículo planificado) - Práticas da EEP na sala de aula (currículo real) - Práticas de avaliação do ensino-aprendizagem da EEP (currículo avaliado)

(B) Experiências educativas correspondentes aos Blocos de aprendizagem (C) Indicações metodológicas

Ref

eren

te

“cur

rícu

lo i

deal

(D) Conceito de expressão plástica

Questão 4. Em que medida as práticas dos professores se enquadram nos princípios científicos e pedagógicos da literatura mais recente sobre Expressão e Educação Plástica?

- Práticas da EEP na sala de aula (currículo real) - «Produtos» resultantes das atividades desenvolvidas pelos alunos

(E) Desenvolvimento da criatividade (F) Papel do professor

Ref

eren

te

“cur

rícu

lo r

eal r

epre

sent

ado”

(G) Atividades desenvolvidas

Questão 1. Como se caraterizam as práticas pedagógicas em Expressão e Educação Plástica? Questão 2. Que representações têm os professores sobre as suas práticas pedagógicas na área de Expressão e Educação Plástica?

- Planificação e organização do ensino (currículo planificado) - Práticas da EEP na sala de aula (currículo real) - «Produtos» resultantes das atividades desenvolvidas pelos alunos - Práticas de avaliação do ensino-aprendizagem da EEP (currículo avaliado)

(H) Estratégias para abordar conteúdos de EEP (I) Opções metodológicas (J) Planificação (K) Materiais didáticos específicos da EEP (L) Avaliação

Relembramos também as fontes de informação que utilizámos para, desta forma,

evidenciarmos o rigor e clareza da avaliação. Sendo assim, apresentamos no Quadro 25 a

relação entre as «dimensões a avaliar», a «informação invocada» (fontes) e a «informação

provocada» (técnicas de recolha de dados).

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158

Quadro 25 – Relação entre as «dimensões a avaliar», a «informação invocada» e a «informação provocada»

Dimensões a avaliar (no referido currículo real)

«Informação invocada» (fontes)

«Informação provocada» (técnicas de recolha de dados)

- Planificação e organização do ensino (currículo planificado)

- Documentos curriculares (Programa do 1º ciclo do Ensino Básico, Currículo Nacional, Metas de aprendizagem)

- Análise ao conteúdo de planificações e projetos diversos (planificações do professor, PCT, PCA e PAA)

- Práticas da EEP na sala de aula (currículo real)

- O currículo em funcionamento (Estudo de caso 1 e Estudo de caso 2)

- Observação de aulas de EEP - Entrevistas aos professores

- «Produtos» resultantes das atividades desenvolvidas pelos alunos

- O currículo em funcionamento (Estudo de caso 1 e Estudo de caso 2)

- Observação e análise de trabalhos realizados por alunos

- Práticas de avaliação do ensino-aprendizagem da EEP (currículo avaliado)

- O currículo em funcionamento (Estudo de caso 1 e Estudo de caso 2)

- Análise de documentos relativos à avaliação - Análise ao conteúdo de planificações e projetos diversos (planificações do professor, PCT, PCA e PAA) - Entrevistas aos professores

Referimo-nos agora aos critérios de avaliação formulados. Estes dão significado aos

resultados que a avaliação irá produzir e traduzem-se em indicadores, que no nosso caso,

serão utilizados qualitativamente (ou seja, expressos em informação sobre as diferentes

dimensões do objeto em avaliação). Salientamos ainda que cada indicador se reporta sempre

ao sentido que lhe é conferido pelo critério no qual se enquadra.

No Quadro 26 apresentamos, por fim, o referencial de avaliação, colocando em evidência

a relação entre as «dimensões a avaliar» e os «critérios de avaliação» e «indicadores»

correspondentes a cada um dos referentes constituídos.

Por forma a validar o referencial enquanto instrumento de análise, recolhemos opiniões

junto de quatro profissionais, que conhecem bem o currículo de EEP – um professor do 1º

Ciclo, dois professores de artes visuais e um professor do ensino superior que leciona na área

de educação artística em cursos de formação inicial de professores do 1º Ciclo e de

educadores de infância. Consideramos que assim, submetemos o nosso instrumento ao juízo

de especialistas, tal como fizeram Peralta (2005) e Cachucho (2005). As opiniões recolhidas

visavam, sobretudo, as partes relativas ao currículo formal e ao currículo ideal, que tinham

derivado, respetivamente, da nossa análise aos documentos curriculares e da revisão de

literatura. No geral, as opiniões foram favoráveis à lógica que seguimos na construção do

referencial, tendo sido reconhecido que este contemplava globalmente todos os aspetos que

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159

caraterizam o currículo de EEP. Assim, apenas fizemos ajustes na redação de alguns

indicadores. Após este procedimento, considerámos ter as condições para, a partir destes

elementos, apresentar resultados relativamente ao confronto com o referido “currículo real”.

Quadro 26 – O referencial de avaliação

Dimensões a avaliar

Critérios Indicadores

- Planificação e organização do ensino (currículo planificado)

(A1) Explicitação das competências a privilegiar

(A1.1) Enunciar competências da literacia em artes (A1.2) Enunciar competências da dimensão fruição-contemplação (A1.3) Enunciar competências da dimensão produção-criação (A1.4) Enunciar competências da dimensão reflexão-interpretação (A1.5) Enunciar competências no domínio da comunicação visual (A1.6) Enunciar competências no domínio dos elementos da forma

(B1) Explicitação de objetivos de ação / experiências educativas relativas aos Blocos 1,2 e 3

(B1.1) Enunciar objetivos de ação / experiências educativas relativas ao Bloco «Descoberta e Organização Progressiva de Volumes» (B1.2) Enunciar objetivos de ação / experiências educativas relativas ao Bloco «Descoberta e Organização Progressiva de Superfícies» (B1.3) Enunciar objetivos de ação / experiências educativas relativas ao Bloco «Exploração de Técnicas diversas de Expressão»

- Planificação e organização do ensino (currículo planificado) - Práticas da EEP na sala de aula (currículo real)

(C1) Articulação entre as competências em Educação Visual e as experiências educativas do Programa de EEP (C2) Articulação entre abordagens a conteúdos e experiências educativas (C3) Utilização de vocabulário específico relacionado com a EEP (C4) Aplicação das orientações metodológicas enunciadas nos textos curriculares

(C1.1) Selecionar experiências educativas que contribuem para a aquisição e desenvolvimento de competências (C2.1) Selecionar experiências educativas que concretizam os conteúdos em abordagem (C3.1) Mencionar termos relativos a técnicas e materiais de expressão plástica (C4.1) Adotar diversas metodologias de trabalho (exposições orais, demonstrações práticas, mostras individuais, investigação bibliográfica, recolhas de objetos e imagens, debates, visitas de estudo, trabalhos de atelier, registos de observação do exterior, frequência de museus e exposições, etc.) (C4.2) Selecionar situações de aprendizagem contextualizadas (C4.3) Selecionar temas relevantes e atuais relacionados com o meio envolvente, com propostas dos alunos ou com o universo das artes visuais em Portugal (C4.4) Selecionar atividades/ projetos que impliquem um processo e um produto final (C4.5) Selecionar actividades que possibilitam o desenvolvimento da criatividade e expressão pessoal (C4.6) Selecionar meios de expressão visual diversificados que permitem múltiplas abordagens estético-pedagógicas (C4.7) Promover abordagens que incluam a aproximação à obra de arte (C4.8) Promover a análise de obras da cultura artística portuguesa, adotando o estudo de obras do séc. XX como ponto de partida para o estudo de obras de outras épocas e culturas (C4.9) Selecionar diversas tecnologias e materiais adequados às necessidades de expressão dos alunos (C4.10) Prever a adequação da exploração plástica ao nível de desenvolvimento de cada aluno (C4.11) Prever diferentes estratégias de avaliação (C4.12) Prever uma gestão do tempo que permita a consolidação das aprendizagens e a qualidade do produto final (C4.13) Prever o trabalho individual do aluno (C4.14) Prever o trabalho de grupo

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160

- Práticas da EEP na sala de aula (currículo real)

(D1) Vias de concretização do conceito de expressão plástica

(D1.1) Uso e exploração dos elementos da linguagem plástica (D1.2) Manuseamento e modificação de materiais plásticos (D1.3) Expressão de sentimentos e emoções e comunicação de ideias através do uso da linguagem plástica (D1.4) Criação de algo através do uso da linguagem plástica (D1.5) Desenvolvimento do pensamento, da imaginação, da sensibilidade, da criatividade e da capacidade de descoberta através da apropriação e do uso da linguagem plástica

- Planificação e organização do ensino (currículo planificado) - Práticas da EEP na sala de aula (currículo real)

( E1) Seleção de atividades que estimulam a criatividade

(E1.1) Apelar ao pensamento divergente (E1.2) Promover a flexibilidade e a liberdade (E1.3) Fomentar a comunicação e a participação (E1.4) Estimular a curiosidade, a sensibilidade e a fantasia (E1.5) Promover a autonomia, a motivação, o espírito crítico, o esforço e o trabalho (E1.6) Conduzir os alunos à formulação de questões sobre o que os rodeia (E1.7) Tomar decisões sobre o processo de criar (E1.8) Possibilitar a autoavaliação sobre a adequação e a qualidade do trabalho

- Planificação e organização do ensino (currículo planificado) - Práticas da EEP na sala de aula (currículo real) - «Produtos» resultantes das atividades desenvolvidas pelos alunos - Práticas de avaliação do ensino-aprendizagem da EEP (currículo avaliado)

(F1) Adoção de atitudes pedagógicas favoráveis à concretização do conceito de expressão plástica

(F1.1) Adotar uma pedagogia não diretiva, flexível e aberta (F1.2) Valorizar atividades que estimulam o pensamento divergente e intuitivo (F1.3) Apresentar às crianças propostas que constituem «desafios» para os quais elas devem criar soluções individuais e únicas (F1.4) Revelar-se consciente das influências dos estereótipos e defender a autenticidade da expressão (F1.5) Utilizar a componente lúdica em abordagens a conceitos e para desencadear o processo criativo (F1.6) Organizar atividades que permitem observar, fruir, analisar e emitir opiniões sobre a obra de arte (F1.7) Conhecer e facilitar a apropriação da «gramática visual» necessária para ler, compreender e produzir imagens (F1.8) Adotar metodologias diversificadas (F1.9) Relacionar a expressão plástica com as outras expressões artísticas e as diferentes áreas do conhecimento (F1.10) Proporcionar atividades que implicam a busca de conhecimentos diversos, evidenciando a integração de saberes (F1.11) Associar a utilização das TIC à EEP, perspetivando modos de explorar as potencialidades das tecnologias contemporâneas naquilo em que estas podem contribuir para o acesso a bens culturais, a modos de criação de diferentes povos e culturas e a um conhecimento amplo sobre processos e procedimentos de produção artística; (F1.12) Preocupar-se com o modo como interfere no trabalho dos alunos (F1.13) Observar e apreciar os trabalhos dos alunos estimulando-os no seu esforço expressivo e criativo (F1.14) Criar um clima propício à espontaneidade (F1.15) Deixar que os alunos explorarem e desenvolvam técnicas através da experimentação de diferentes materiais (F1.16) Apresentar diferentes técnicas, instrumentos e materiais através de estratégias que estimulem a criatividade (F1.17) Selecionar técnicas e materiais que se adequam aos alunos (F1.18) Proporcionar momentos de reflexão e avaliação sobre o processo de criação e sobre o trabalho realizado» (F1.19) Analisar a evolução dos trabalhos dos alunos (F1.20) Proporcionar atividades facilitadoras do desenvolvimento do sentido estético (F1.21) Proporcionar atividades facilitadoras da compreensão e respeito pelas diversas identidades culturais (F1.22) Promover o respeito pelas diferentes manifestações de arte, aceitando a perspetiva dos alunos (F1.23) Prever abordagens que facilitem o desenvolvimento do pensamento crítico

- Práticas da EEP na sala de aula (currículo real) - «Produtos» resultantes das atividades desenvolvidas pelos alunos

(G1) Diversidade de propostas apresentadas aos alunos

(G1.1) Desenhar livremente (G1.2) Desenhar com temas sugeridos (G1.3) Pintar livremente (G1.4) Pintar com temas sugeridos (G1.5) Recortar (G1.6) Fazer colagens (G1.7) Fazer dobragens (G1.8) Fazer cartazes (G1.9) Observar e analisar imagens em contextos diversos

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- Práticas da EEP na sala de aula (currículo real)

(H1) Diversidade de estratégias adotadas

(H1.1) Fazer exposições orais (H1.2) Explorar materiais didáticos (acetatos, powerpoints, cartazes, manuais, objetos representativos da utilização de técnicas e materiais, entre outros) (H1.3) Demonstrar (aplicação de técnicas, materiais, manuseamento de utensílios, entre outros) (H1.4) Promover a observação da realidade (observar objetos reais, paisagem, entre outros)

- Práticas da EEP na sala de aula (currículo real) - «Produtos» resultantes das atividades desenvolvidas pelos alunos

(I1) Diversidade de opções metodológicas relativas ao papel do professor, ao papel dos alunos e à natureza das atividades

(I1.1) Os alunos têm contacto com materiais diversificados (I1.2) Os alunos realizam trabalhos coletivos (I1.3) Os alunos realizam exercícios de colorir figuras em manuais ou folhas policopiadas (I1.4) O professor propõe trabalhos que permitem a cada aluno produzir um trabalho individual e único (I1.5) O professor promove o trabalho e a cooperação em grupo através da EEP (I1.6) O professor proporciona experiências que associam a EEP a outras áreas curriculares (I1.7) O professor valoriza o processo de projetar e experimentar (I1.8) O professor prevê abordagens que desenvolvem o pensamento crítico (I1.9) O professor propõe atividades facilitadoras do desenvolvimento do sentido estético (I1.10) O professor propõe atividades facilitadoras da compreensão e respeito pelas diversas identidades culturais (I1.11) Os trabalhos dos alunos são expostos na sala de aula (I1.12) Os trabalhos dos alunos são expostos em espaços da escola (I1.13) As atividades propostas estimulam a criatividade dos alunos

- Planificação e organização do ensino (currículo planificado)

(J1) Amplitude dos elementos considerados na planificação

(J1.1) Ao planificar consulta o Programa do 1º Ciclo (J1.2) Ao planificar consulta o Currículo Nacional (J1.3) Ao planificar consulta as Metas de Aprendizagem (J1.4) A EEP faz parte das atividades previstas no PCT (J1.5) A EEP integra a planificação de projetos diversos (J1.6) A EEP articula-se com outras áreas curriculares (J1.7) As atividades de EEP ocupam duas horas semanais (J1.8) As visitas de estudo são preparadas previamente em parceria com as instituições culturais e artísticas a visitar

- Práticas da EEP na salade aula (currículo real)

(K1) Natureza dos materiais didáticos

(K1.1) Imagens diversas para analisar (fotografias, ilustrações de livros infantis, entre outros) (K1.2) Figuras para colorir (em livros ou fotocópias) (K1.3) Revistas (sobre trabalhos manuais, artes decorativas, entre outros) (K1.4) Cartazes

- Práticas de avaliação do ensino-aprendizagem da EEP (currículo avaliado)

(L1) Diversidade de tipos, funções, formas, e objetos que são considerados na avaliação.

(L1.1) As práticas de avaliação incluem a avaliação diagnóstica (L1.2) Na avaliação consideram-se os trabalhos realizados pelos alunos (L1.3) Na avaliação consideram-se os comportamentos dos alunos observados durante a realização das actividades (L1.4) Os alunos participam na sua própria avaliação (L1.5) Para fazer a avaliação são formulados critérios, tendo por base as competências definidas pelo currículo (L1.6) Na avaliação classificam-se qualitativamente os trabalhos realizados pelos alunos (L1.7) Os alunos participam em momentos de reflexão e avaliação sobre o processo de criação e sobre o trabalho realizado (L1.8) Os trabalhos dos alunos são organizados em arquivos próprios (L1.9) Na avaliação atende-se ao desenvolvimento gráfico e plástico das crianças (L1.10) Na avaliação analisa-se a evolução dos trabalhos dos alunos

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Capítulo IV – A construção do referido “currículo real” Nota introdutória Ao iniciar este capítulo relembramos a definição que Lesne (1984) produz sobre

avaliação: «avaliar é pôr em relação, de forma explícita ou implícita, um referido (o que é

constatado ou apreendido de maneira imediata, o que é objeto de uma investigação

sistemática ou de uma medida) com um referente (o que desempenha o papel de norma, o que

deve ser, o que é o modelo, o objetivo perseguido, etc.)» (p.132). Assim, explicitamos neste

capítulo o processo que seguimos para a construção do nosso referido que, conforme

anteriormente mencionámos, representa o currículo real da área de EEP através de um

conjunto de dados concretos, factuais e sistematizados, que serão confrontados com o

referencial de avaliação.

O referido constituiu-se através da integração de dados qualitativos recolhidos em dois

estudos de caso – o Estudo de caso 1 e o Estudo de caso 2. Assim, nos dois primeiros pontos

apresentamos, para cada um dos casos, alguns dados sobre os contextos, os professores, os

alunos e os espaços onde se desenvolve o trabalho letivo, e também súmulas que caraterizam

as práticas da EEP.

O último ponto é dedicado à constituição do referido, através da integração e

sistematização da informação relativa aos dois estudos de caso, feitas num último momento e

das quais ressaltaram as dimensões de análise Atividades desenvolvidas, Estratégias para

abordar conteúdos de EEP, Opções metodológicas, Materiais didáticos específicos da EEP e

Avaliação. Deste processo resultou um quadro-síntese que representa o referido.

1. Tratamento e análise de dados qualitativos - Estudo de caso 1 1.1. O contexto

Este estudo realizou-se numa escola EB1/JI, ou seja, com as valências de 1º Ciclo do

Ensino Básico e Jardim de Infância, localizada no concelho de Oeiras. As instalações são de

construção recente e o seu funcionamento teve início no ano letivo 2006/2007.

O Projeto Educativo do Agrupamento, à qual pertence a referida escola apresenta o meio

onde esta se situa, como sendo um bairro, também de construção recente, essencialmente

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residencial, onde habitam famílias com um nível sócioeconómico médio/ alto. Os dados

relativos aos encarregados de educação dos alunos que frequentam a escola indicam que,

maioritariamente, estes têm formação académica de nível superior e que pertencem a uma

faixa etária jovem (com idade inferior a 40 anos).

A escola dispõe de diversos espaços destinados ao funcionamento do Jardim de Infância

(três salas de actividades), ao 1º Ciclo (quatro salas de aula) e também espaços comuns

(Biblioteca, Ginásio, Campo de Jogos, entre outros). Dispõe também de diversos espaços de

apoio ao trabalho de educadores e professores (a Sala de Professores, o Gabinete da

Coordenação e os gabinetes de trabalho).

1.2. O professor, o grupo de alunos e a sala de aulas

O professor tem formação específica para lecionar no 1º Ciclo do Ensino Básico e dez

anos de carreira neste nível de ensino. É professor titular da turma observada desde o 1º ano

de escolaridade, encontrando-se esta, à data em que foram recolhidos os dados, no 3º ano.

A turma é constituída por 24 alunos – 14 rapazes e 10 raparigas - com uma média de

idades de 8 anos, sem retenções desde o 1º ano e sem alunos com NEE (Necessidades

Educativas Especiais), PEI (Programa Educativo Individual), CEI (Currículo Específico

Individual), Plano de Recuperação ou outros apoios. Segundo dados recolhidos no Projeto

Curricular de Turma, os alunos são, no geral, muito interessados, participativos,

trabalhadores, autónomos, empenhados nos trabalhos de pesquisa individuais e de grupo e

cumpridores das regras dentro e fora da sala de aula. É referido também que, no geral, têm

muito acompanhamento por parte dos pais, cuja participação é frequentemente requerida. As

atividades escolares funcionam no horário normal (das 9:00h às 12:00h e das 13:30h às

15:30h). Entre as 15:30h e as 17:30h, os alunos frequentam as Atividades de Enriquecimento

Curricular (Atividade Física e Desportiva, Apoio, Música e Inglês).

A sala de aulas onde o professor e a turma desenvolvem o seu trabalho tem algumas

caraterísticas que estão relacionadas com as práticas de EEP. A saber:

- a sala tem uma parede inteiramente ocupada com janelas (luz natural);

- as janelas têm estores/ cortinas que possibilitam escurecer todo o espaço e, desta forma,

visualizar com qualidade as imagens projetadas no quadro interativo;

- há espaço para a secagem de trabalhos (bancada que se estende em todo o comprimento

da sala);

- as mesas são de material lavável;

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- há um lavatório (ergonómico, considerando a estatura das crianças);

- numa das paredes está incorporado um placar de corticite, que permite a afixação de

trabalhos dos alunos;

- o quadro branco está equipado com ímanes, que também permitem a afixação de folhas

(materiais didáticos, trabalhos dos alunos para observação / análise em grupo);

- o conjunto de equipamento informático disponível integra três computadores fixos, uma

impressora, um quadro interativo e um projetor multimédia;

- há espaços específicos (armários, prateleiras, caixas) para guardar de forma organizada

materiais e trabalhos de EEP realizados pelos alunos.

1.3. As práticas da área curricular de EEP

As atividades de EEP realizadas ao longo do ano lectivo de 2009/2010 representam, em

grande parte, os blocos, conteúdos e competências designados nos documentos curriculares.

Registámos que houve uma grande diversidade no que se refere à utilização de meios,

técnicas e materiais de expressão plástica, sendo as diferentes atividades permeadas por

abordagens a conteúdos feitas pelo professor e pesquisas feitas pelos alunos. De forma

resumida, apresentamos no Quadro 27 uma síntese das atividades desenvolvidas (no Anexo A,

que consta do volume de anexos entregue em suporte digital, apresentamos um registo

completo relativo às mesmas atividades).

No que respeita ao Programa do 1º Ciclo, não foram observados trabalhos ou atividades

relacionadas com alguns subdomínios, nomeadamente «Modelagem e Escultura»,

«Tecelagem e Costura» e «Fotografia, Transparência e Meios Audiovisuais». Relativamente

às Competências em Educação Visual, verificaram-se exemplos de trabalhos ou atividades

diretamente relacionadas com o desenvolvimento de todas as competências que se enquadram

nos domínios da comunicação visual e dos elementos da forma.

No PCT, o professor enumera algumas «estratégias de atuação» transversais a todas as

áreas curriculares. Os dados recolhidos (através da observação das aulas, dos trabalhos dos

alunos e da entrevista) provam a concretização dessas estratégias, entre as quais destacamos:

«realizar trabalhos de pesquisa individual e/ ou em grupo; permitir aos alunos a escolha de

atividades»; «utilizar a metodologia de projeto»; e «colocar as TIC ao serviço dos projetos».

A planificação das atividades de EEP a desenvolver pela turma apresentada no PCT inclui

apenas elementos que constam do Programa do 1º Ciclo, não se identificando referências às

competências em Educação Visual. No entanto, estas são consideradas na avaliação (são

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mencionadas no registo de avaliação que é entregue aos encarregados de educação no final de

cada período). O professor referiu que conhece «relativamente bem» os documentos

curriculares que enquadram a EEP e que os consulta no momento de planificar. Referiu-se

igualmente à consulta de «projetos internos», como por exemplo o Projeto Curricular de

Agrupamento.

Quadro 27 - Síntese das atividades de EEP desenvolvidas (Estudo de caso 1)

Meios e técnicas de expressão plástica / «subdomínios» (Programa do 1º Ciclo)

Atividades

- Desenho - Pintura com diversos materiais e técnicas - Recorte, Colagem (de elementos planos e com volume) e Dobragem

- Ilustração de experiências vivenciadas (diversos trabalhos realizados ao longo do ano letivo) - Ilustração de histórias escritas pelos alunos - Ilustração de textos /obras de literatura infantil (diversos trabalhos realizados ao longo do ano letivo)

- Pintura - Impressão

- Realização de experiências com técnicas de pintura - foram realizados vários trabalhos que envolviam a pintura com diversos materiais conjugados (parafina, aguadas, lápis de cor, lápis de cera, canetas de feltro,...)

- Construções - Pintura - Recorte, Colagem e Dobragem

- Construção da capa para arquivar trabalhos de EEP – a composição visual que personaliza cada capa construída incluiu a técnica de cadavre exquis (desenho e pintura conjugada com a colagem da fotografia do rosto)

- Desenho - Pintura - Recorte, Colagem e Dobragem - Impressão - Cartazes

- Construção de cartazes (diversos trabalhos realizados ao longo do ano letivo)

- Pintura - Recorte, Colagem e Dobragem

- Elaboração de composições visuais com colagem e pintura sobre tela (presente para o dia da mãe) - Elaboração de paineis coletivos relacionados com temáticas de Estudo do Meio, com contos infantis ou com composições escritas pelos alunos (diversos trabalhos realizados ao longo do ano letivo)

- Utilização do programa informático Paint

- Elaboração de composições visuais utilizando o programa Paint (diversos trabalhos realizados ao longo do ano);

Diversos (integram as obras que os alunos observaram) - Construções (ateliê)

- Visita ao Museu Colecção Berardo (Centro Cultural de Belém) e também à exposição «Sem rede» que exibiu obras da artista plástica Joana Vasconcelos; nesta visita, os alunos participaram num ateliê de expressão plástica denominado «A viagem» e dinamizado pelos serviços educativos do museu

- Pintura - Construções

- Construção de maquetas (diversos trabalhos realizados ao longo do ano letivo) - Construção de um porta Cd’s (presente para o dia do pai) - Construção de adereços e pintura do cenário para a peça de teatro apresentada na festa de encerramento do ano letivo - construção de chapéus, máscaras e acessórios utilizando materiais diversos (papel, cartão, lãs, tecidos, bolas de pingue-pongue, embalagens de plástico, entre outros); alguns objetos foram construídos em várias fases (construção de estruturas com tiras de cartão, revestimento com papel, pintura, acabamentos)

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Frequentemente, as atividades de EEP surgem contextualizadas na sequência de

abordagens desenvolvidas noutras áreas curriculares, nomeadamente com a Língua

Portuguesa. Registaram-se exemplos de atividades que incluiam abordagens enquadradas

nesta área, embora esta articulação não apareça mencionada no PCT. Os temas que estão a ser

tratados noutras áreas e também as efemérides ou épocas festivas determinam a seleção de

experiências de aprendizagem que incluem a EEP.

No que respeita ao tempo dedicado à EEP, é referido no PCT o período de uma hora

semanal para as «Expressões» (o que inclui, para além da expressão plástica, as expressões

dramática e musical). No entanto, o professor refere que dedica à EEP duas horas semanais,

uma vez que a inclui em projetos interdisciplinares. Também os trabalhos realizados pelos

alunos evidenciam que o tempo dispendido foi mais do que uma hora semanal, pela

complexidade de técnicas que apresentam e pelas diversas fases que a sua execução implica.

Em função de opções do professor (ou do grupo de educadores e professores da escola) os

trabalhos dos alunos são expostos na sala de aula ou em espaços comuns (corredor junto à

sala de aula ou átrio «principal»). Os trabalhos são também expostos no blogue – espaço onde

se apresentam trabalhos / actividades de todas as turmas do estabelecimento de ensino (1º

Ciclo e JI). Este blogue é apresentado como um espaço para divulgar «Notícias, trabalhos,

imagens, aprendizagens...e tudo o que se passa na Escola...» e inclui fotos de atividades;

textos individuais e coletivos escritos pelos alunos sobre temáticas diversas (poemas, contos,

cartas, «entrevistas» a personagens, entre outros). A dinamização do blogue é feita pelo

professor e restantes colegas docentes, havendo uma participação dos alunos na seleção dos

conteúdos, que normalmente, é feita por votação. O professor referiu que, por vezes, as

postagens são feitas na sala de aula, no quadro interativo e com a participação dos alunos, e

que, na sua opinião, estes empenham-se mais nos trabalhos em que irá haver votação e

posterior inserção / exposição no blogue. No PCT, o blogue é apresentado como um espaço

que permeia todas as áreas curriculares.

As pesquisas na internet, a consulta de «livros de arte» e as visitas a museus e a

exposições relacionadas com as artes visuais são referidas pelo professor, revelando assim

interesse pela área. Este interesse é também denunciado pelas formas de atualização de

conhecimentos científicos e pedagógicos que indica: «fazendo frequentemente formação na

área e, autonomamente, lendo e tentando estar a par do que há de novo». Foi verificado que,

na sala de aula, estavam frequentemente afixados cartazes de eventos relacionados com as

artes visuais (exposições) e outras expressões artísticas (peças de teatro). Nas palavras do

professor: «(os pais) pedem frequentemente sugestões de passeios que possam dar em família

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a exposições ou museus que sejam significativos para os alunos». Este tipo de pedidos é

entendido pelo professor como uma prova de que os pais dos alunos reconhecem a

importância das actividades relacionadas com as expressões, referindo mesmo que «no meio

de onde provêm os meus alunos, as expressões são entendidas como áreas tão ou mais

importantes que as restantes». Pôde também concluir-se que o professor não seleciona

atividades de EEP pensando no resultado final e na opinião dos pais (ou de outras pessoas)

que, posteriormente, vão ver os trabalhos dos alunos (em exposição na escola, no blogue) -

«Nunca senti necessidade de justificar o trabalho desenvolvido em expressão plástica».

Em termos das metodologias adotadas pelo professor para contextualizar a realização de

atividades «práticas» de EEP, foram diversas as estratégias observadas e referidas (na

entrevista e em planificações): exposições orais sobre os conteúdos; apresentação e

exploração de materiais didáticos; discussões em grupo sobre conteúdos ou temáticas;

demonstrações de técnicas de expressão plástica; realização de trabalhos individuais e

coletivos (em pequeno grupo e em grupo/turma); utilização das TIC (quadro interativo, por

exemplo); visitas de estudo; pesquisas em variadas fontes de informação; atividades no

exterior da sala de aulas; entre outras. Foi também referido e observado que as atividades

práticas de EEP integram três momentos: a «introdução», a «execução» e a «conclusão». O

professor explica que a introdução é «um momento de discussão e de confronto de ideias»;

que a execução se refere à realização prática das tarefas; e que a conclusão integra a limpeza

do espaço e a exposição / apresentação à turma dos trabalhos realizados. Este último momento

é considerado pelo professor como uma oportunidade para a heteroavaliação e a

autoavaliação, referindo que «(os alunos) são muito críticos com o seu trabalho e sentem

necessidade de ouvir uma avaliação constante». A avaliação formativa concretiza-se através

das apreciações que o professor faz aos trabalhos (no momento da sua realização ou após a

sua conclusão), salientando «os aspetos positivos dos trabalhos e as aprendizagens já

adquiridas e chamando a atenção para os aspetos a melhorar». A avaliação sumativa é

orientada por itens definidos no Projeto Curricular de Agrupamento e contempla os itens

«Comunicação Visual», «Elementos da Forma» e «Experiências de Aprendizagem». O

professor refere que é através da observação que recolhe dados para avaliar a aplicação de

técnicas, o desenvolvimento de tarefas, a criatividade, o empenho, o sentido de

responsabilidade e o desenvolvimento de competências. No que respeita à avaliação

diagnóstica, foi referido pelo professor que este tipo de avaliação apenas se justifica quando

tem um novo grupo de alunos ou quando chega um novo aluno à turma. Foi ainda referido

que, uma vez que tem a mesma turma pelo terceiro ano letivo consecutivo, conhece o trabalho

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e as competências de cada aluno e que este conhecimento direciona a gestão que faz do

currículo de EEP.

Verificou-se (no PCT, em aulas observadas e no discurso do professor) que os

computadores portáteis pessoais específicos para alunos do 1º Ciclo também são utilizados

em atividades de EEP. A exploração livre do programa de desenho (Paint) e a pesquisa sobre

diferentes assuntos são exemplos de experiências vivenciadas pelos alunos que relacionam a

EEP e as TIC.

A observação e análise de imagens representativas de obras de arte também foi referida

pelo professor, embora não tivessem sido contempladas nas aulas observadas. A seleção das

obras é feita mediante os temas nelas representados e o tipo de atividade a propor aos alunos.

Neste sentido, foi dado como exemplo a observação de pinturas de Seurat para identificar a

técnica do «pontilhismo» a utilizar num trabalho sobre o «Outono». O professor referiu ainda

que quando organiza visitas a exposições também está a «selecionar obras de arte para

“inspirar” os alunos em futuros trabalhos».

No que respeita à utilização de materiais didáticos específicos da EEP foram referidos

pelo professor o «dossier de imagens» (com imagens de obras de arte, por exemplo) e as

«apresentações em powerpoint». Nas aulas observadas, verificou-se também que o professor

recorre a outros materiais (trabalhos de expressão plástica para exemplificar técnicas, por

exemplo). Não é utilizado ou consultado qualquer manual de EEP, tendo-se verificado em

informação disponibilizada no blogue do Agrupamento que não são adotados manuais para

esta área curricular. O professor revelou a sua discordância relativamente à utilização de

manuais de EEP, referindo que estes «são extremamente limitativos e direcionam muito as

aprendizagens dos alunos, não os deixando evoluir livremente. Diria até que são manuais de

“limitação plástica”». Colorir figuras em manuais ou em folhas policopiadas é uma atividade

que raramente é realizada pelos alunos. O professor refere que «não é o tipo de trabalho» que

se faz na sua sala, pois não considera que seja «expressão plástica», acrescentando que é uma

«atividade de recurso para alunos que acabam mais rapidamente determinada tarefa».

As atividades e os temas são, sobretudo, selecionadas pelo professor, tendo este referido

que, relativamente a este aspeto, os alunos «têm um papel mais passivo e recetor». Contudo,

quando os alunos contribuem com propostas, estas são discutidas e, por vezes, postas em

prática.

Os trabalhos realizados possibilitam que as crianças produzam trabalhos de acordo com a

sua criatividade e expressão pessoal. Este princípio foi realçado pelo professor na entrevista e

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está também subjacente em orientações dadas aos alunos em aulas observadas. Neste sentido,

não fazem parte das suas propostas a «cópia de modelos» cujos resultados são trabalhos

«padronizados». As estratégias referidas pelo professor para estimular a criatividade dos

alunos quando estes «bloqueiam» são, nas suas palavras: «ver imagens (em diversos

suportes); fazer perguntas sobre o trabalho que levem a ter ideias; pedir para pensar em

determinada experiência que tenha vivido (viagem, música que conheça, desporto que

pratique); e apresentar, por vezes, algumas sugestões que podem direcionar um caminho a

seguir».

Os materiais utilizados nas atividades de EEP são muito diversos. Os diferentes tipos

de papel (em cor, gramagem, textura e dimensão) e o material de pintura (tintas, canetas de

feltro, lápis de cor e de cera, aguarelas) são usados com maior frequência. Alguns materiais

são trazidos pelos alunos e outros são fornecidos pela escola, sempre que o professor os

requisita. Em atividades de «construções» é feito o reaproveitamento de materiais (tecidos,

botões, lãs, jornais, esferovite, cascas de noz, entre outros) trazidos pelos alunos e pelo

professor ao longo dos três anos em que trabalham juntos (a turma está no 3º ano de

escolaridade). Na sala de aula existem espaços específicos (caixas, prateleiras, gavetas) para

organizar e arrumar todos os materiais.

2. Tratamento e análise de dados qualitativos – Estudo de caso 2

2.1. O contexto

Este estudo realizou-se num centro escolar com Educação Pré-Escolar e 1º Ciclo do

Ensino Básico localizado no concelho de Mafra. As instalações são recentes, sendo o ano

letivo de 2010/2011 o primeiro ano em que estão em funcionamento, e são compostas por

espaços muito diversos: onze salas de aulas destinadas ao 1º Ciclo; quatro salas de atividades

onde funciona o jardim de infância; salas de expressão plástica; salas de estudo; biblioteca;

sala de informática; refeitório; pavilhão desportivo; gabinete médico; e diversos espaços

destinados a docentes e não docentes, à associação de pais e aos serviços administrativos. Este

centro escolar integra alunos provenientes de antigas escolas do 1º Ciclo de localidades

limítrofes que foram encerradas.

O meio onde está inserido pode ser considerado rural, pois situa-se numa pequena

localidade onde predomina a agricultura, a pecuária e a indústria. Trata-se de uma localidade

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constituída também por zonas residenciais cujos habitantes se enquadram num nível

socioeconómico médio e alto e que trabalham em Lisboa ou arredores. A escola situa-se numa

zona de «campo», não havendo construções nas proximidades e tendo os alunos de ser

transportados pelos pais, em transporte próprio, ou por carrinhas e autocarros de transporte

escolar.

2.2. A professora, o grupo de alunos e as salas de aulas

A professora possui formação específica para lecionar o 1º Ciclo do Ensino Básico, para

além de estudos pós-graduados relacionados com este nível de ensino, no qual leciona há

quatro anos. No ano letivo a que se refere o estudo não foi coadjuvada por professores de

áreas específicas.

O grupo de alunos é uma turma do 1º ano de escolaridade constituída por 24 alunos (16

raparigas e 8 rapazes), tendo a maioria 6 anos de idade. Não existem casos de alunos com

NEE (Necessidades Educativas Especiais), PEI (Programa Educativo Individual), CEI

(Currículo Específico Individual) ou Plano de Recuperação. Apenas se assinala o caso de um

aluno que é acompanhado por um técnico de terapia da fala. Segundo informações dadas pela

professora, os alunos são, no geral, interessados, participativos, trabalhadores e cumpridores

das regras dentro e fora da sala de aula. Também segundo a professora, os pais acompanham

o quotidiano escolar dos seus filhos, participando em algumas iniciativas desenvolvidas no

centro escolar.

As atividades escolares funcionam no horário normal (das 9:00h às 12:00h e das 13:30h às

15:30h). Entre as 16:00h e as 17:30h, os alunos frequentam as seguintes Atividades de

Enriquecimento Curricular: Inglês, Atividade Física e Desportiva, Expressão Artística

(Música), Ciência Divertida e Apoio ao Estudo.

Para além da sala de aulas, as atividades escolares desta turma realizam-se em diversos

espaços do centro escolar. Quanto a atividades de EEP, a sala de aulas é o lugar onde se

realizam com maior frequência e, nesta condição, alguns dos aspetos que a caraterizam são: a

existência de espaços onde se afixam trabalhos de EEP (placares próprios para a afixação de

trabalhos dos alunos ou outro tipo de materiais e/ ou suportes de informação); existência de

espaços destinados à arrumação e organização de materiais próprios para a EEP (caixas

individuais para a arrumação de materiais); existência de arquivos específicos para a

organização dos trabalhos realizados ao longo do ano. A sala não dispõe de computadores ou

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171

outros equipamentos onde se possam utilizar TIC no âmbito da EEP, embora existam noutros

espaços da escola.

Tal como foi referido, neste centro escolar existem salas específicas para a prática da

expressão plástica. Este tipo de espaço faz lembrar o «ateliê» do modelo pedagógico Reggio

Emilia, no qual se integra o «atelierista» que trabalha em conjunto com os professores/

educadores. No presente caso, é utilizado pelos professores titulares e respetivas turmas, não

havendo nenhum professor com formação específica para a dinamização das atividades

realizadas nestes espaços.

A turma em questão neste estudo também se serve de uma destas salas quando os meios e

técnicas a utilizar o justificam. Enumeram-se, de seguida, algumas das caraterísticas deste

espaço: é contígua à sala de aulas da turma e tem aproximadamente as mesmas dimensões;

tem uma bancada com lavatórios, duas mesas de grandes dimensões, dois armários com

prateleiras para a arrumação de material de desgaste e utensílios diversos; à semelhança da

sala de aulas, uma das paredes é em vidro, fornecendo luz natural a todo o espaço e está

equipada com estores que possibilitam escurecer quase totalmente a sala (algo que pode ser

útil, no caso de se fazerem projeções); existem duas arrecadações contíguas a esta sala,

destinadas à arrumação de trabalhos e materiais das duas turmas que dela se servem.

Observou-se que existiam diversos materiais disponíveis (papel manteiga, papel de lustro,

papel cavalinho, cartões, tintas e recipientes variados).

2.3. As práticas na área curricular de EEP

Os dados recolhidos pelas diferentes vias permitiram traçar o modo como a EEP se

desenvolveu no contexto deste estudo de caso. Ao longo do ano letivo o normal

desenvolvimento de atividades foi interrompido por ausência da professora. E, estando o

grupo de alunos no 1º ano de escolaridade, privilegiaram-se os momentos de aprendizagem

que permitiam adquirir e desenvolver competências nas áreas de Língua Portuguesa e

Matemática. Sendo assim, as áreas de expressões artísticas foram desenvolvidas quase sem

tempo próprio, vindo no decorrer de atividades realizadas no âmbito de outras áreas

curriculares. No horário da turma, que apresenta a distribuição da carga horária de cada área

curricular e das AEC pelos diferentes dias da semana, as expressões artísticas não têm

nenhum espaço exclusivo, ocupando apenas duas horas na semana, sendo as mesmas também

da área curricular de Língua Portuguesa. A respeito deste horário, o PCT refere que «apesar

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de haver uma distribuição pré-definida, a gestão do tempo educativo faz-se de modo flexível,

tendo em conta as necessidades e as dificuldades dos alunos».

Pelo que pudemos averiguar, a EEP teve lugar, sobretudo, no contexto do

desenvolvimento de projetos em curso na escola ou em atividades de outras áreas,

principalmente da Língua Portuguesa. Salientamos as atividades que envolviam a ilustração

de histórias criadas pelos alunos, a ilustração de textos / contos infantis e a leitura de imagens

nas obras de literatura infantil. As técnicas e materiais mais utilizados foram o desenho com

lápis de grafite, a pintura com lápis de cor e canetas de feltro, o recorte e a dobragem

utilizando diferentes tipos de papel.

Apresentamos no Quadro 28 uma síntese das atividades de EEP realizadas ao longo do

ano letivo. No Anexo E apresentamos um registo completo relativo às mesmas atividades (ver

volume de anexos entregue em suporte digital).

Quadro 28 - Síntese das atividades de EEP desenvolvidas (Estudo de caso 2) Meios e técnicas de expressão plástica / «subdomínios» (Programa do 1º Ciclo)

Atividades

- Desenho - Pintura (com lápis de cor e canetas de feltro)

- Ilustração de experiências vivenciadas (diversos trabalhos realizados ao longo do ano letivo) - Ilustração de temas relacionados com projetos em curso no centro escolar (diversos trabalhos realizados ao longo do ano letivo) - Ilustração de histórias criadas pelos alunos - Ilustração de textos /obras de literatura infantil (diversos trabalhos realizados ao longo do ano letivo) - Contacto com um escritor e ilustrador (observaram o autor a fazer uma ilustração) - Leitura de imagens nas ilustrações de obras de literatura infantil (diversos trabalhos realizados ao longo do ano letivo)

- Pintura (com lápis de cor e canetas de feltro)

- Pintura de figuras em folhas policopiadas (diversos trabalhos realizados ao longo do ano letivo) - Pintura de figuras em manuais (diversos trabalhos realizados ao longo do ano letivo)

- Pintura - Impressão

- Realização de experiências com técnicas de pintura – frottage, estampagem utilizando têmperas - Pintura em tecido (construção do presente para o dia da mãe)

- Recorte, Colagem e Dobragem - Cartazes

- Pesquisa de imagens e construção de um cartaz coletivo - Recorte de imagens em suportes diversos (panfletos publicitários, revistas, etc.)

Diversos (integram as peças que os alunos observaram) - Pintura (ateliê)

- Visita ao Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas onde observaram peças de escultura e gravações em peças arqueológicas; nesta visita, os alunos participaram num ateliê de expressão plástica, dinamizado pelos serviços educativos do museu, no qual pintaram ovos de madeira

- Construções - Pintura (guaches) - Recorte, Colagem, Dobragem

- Construções em papel (origami) - Construções em papel (através da cópia de moldes) com pintura

No que respeita ao Programa do 1º Ciclo, não observámos trabalhos ou atividades

relacionadas com alguns subdomínios, nomeadamente «Modelagem e Escultura» (apesar de

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este ser mencionado no PCT), «Tecelagem e Costura» e «Fotografia, Transparência e Meios

Audiovisuais». Relativamente às Competências em Educação Visual, verificámos que as

atividades se relacionam diretamente e indiretamente com as competências que se enquadram

nos domínios da comunicação visual e dos elementos da forma. Quanto às Metas de

Aprendizagem (que surgiram no ano letivo em que se efetuou este estudo de caso),

consideramos que as experiências vivenciadas contribuíram para o alcance de algumas das

«metas intermédias até ao 2º ano», entre as quais destacamos as que consideramos mais

relacionadas com as atividades que se realizaram com maior frequência: «O aluno representa

plasticamente objetos, situações, ilustrações de histórias e temas, através da pintura»,

enquadrada na Meta Final 27; «O aluno exprime e justifica as suas opiniões sobre as

diferentes formas visuais», enquadrada na Meta Final 31; «O aluno aplica nas suas produções

plásticas, de um modo espontâneo, os conhecimentos adquiridos», enquadrada na Meta Final

32 (Ministério da Educação, 2010).

Por aquilo que pudemos observar através dos diferentes meios em que recolhemos dados,

consideramos que, apesar de as experiências educativas proporcionadas aos alunos cobrirem

grande parte dos aspetos previstos nos documentos curriculares, não foram contemplados os

meios, técnicas e materiais que, efetivamente, podiam ser significativos para o

desenvolvimento das capacidades expressivas, comunicativas e criativas dos alunos.

Entendemos que o contacto com materiais e técnicas que ampliam essas capacidades foi

muito reduzido, embora as condições em termos de materiais disponíveis e espaços fossem

muito favoráveis à realização de um amplo conjunto de atividades. A professora da turma

também revelou ter esta opinião, mas salientou a importância de os alunos estarem com

dificuldades nas aquisições de Língua Portuguesa e Matemática específicas do 1º ano e a

necessidade de as expressões artísticas terem de permear as restantes áreas curriculares. A

professora atribui as dificuldades detetadas ao facto de o normal acompanhamento dos alunos

ter sido interrompido algumas vezes durante o ano letivo, uma vez que esteve ausente por

motivos de saúde (nos dias em que os alunos estiveram sem professora, eram distribuídos

pelas restantes salas do 1º Ciclo, gerando ritmos de aprendizagem muito diferentes).

O Plano Anual de Actividades apresenta um conjunto de iniciativas que não focam

competências, ou outros aspetos, que respeitem à EEP, mas que a incluem indiretamente. É o

caso da construção dos fatos e adereços a utilizar no desfile de Carnaval, da mostra de

produtos da freguesia onde se situa a escola, que inclui artesanato e o trabalho de artesãos

durante a mesma. Obtivemos informações nesse sentido, através de relatos da professora e

de registos diversos que o agrupamento de escolas apresenta na sua página de internet.

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«Favorecer a utilização de recursos expressivos e diversificados como forma de expressão e

de comunicação», «Despertar a imaginação» e «Despertar a criatividade» são objetivos

frequentemente nomeados neste documento em atividades que incluem as expressões

artísticas (damos como exemplo, o teatro de fantoches realizado na biblioteca que incluiu um

exercício de escrita criativa, para o qual os alunos da turma em estudo fizeram narrativas

visuais).

O Projeto Curricular de Agrupamento especifica as «competências essenciais» a

desenvolver ao longo do 1º Ciclo para «Expressão plástica e educação visual» (é a expressão

utilizada neste documento), sendo estas: «Desenhar ou pintar livremente ou com orientação

em diferentes espaços; Explorar as possibilidades técnicas de diferentes materiais; Fazer

composições, dobragens, modelagem, recortes e colagem; Fazer e desmanchar construções;

Desenhar, pintar e colar em grandes áreas; Fazer construções usando diferentes materiais;

Experimentar técnicas de pintura diversificadas». Neste conteúdo, reconhecem-se alguns

objetivos de ação que constam Programa do 1º Ciclo, mas, diretamente não se identificam

elementos do Currículo Nacional, nomeadamente das competências específicas da Educação

Visual. A planificação das atividades de EEP a desenvolver pela turma apresentada no PCT e

em planificações mensais também inclui apenas elementos que constam do Programa do 1º

Ciclo (alguns blocos e subdomínios). No conteúdo do PCT, as referências à EEP são sumárias

e mostram que o seu envolvimento é apenas transversal. Por exemplo, na parte referente à

articulação entre áreas, a EEP inclui-se sempre na referência a «Todas as áreas curriculares»

não tendo nenhuma menção específica. Também na parte referente à Área de Projeto, a EEP é

identificada enquanto área envolvida, mas apenas a encontramos relacionada com a

competência «Aprofundar a leitura de imagens» e com a atividade «Organização de

actividades lúdicas de expressão (dramatizações, pinturas, desenhos, etc.)». Em planificações

mensais que pudemos analisar, identificam-se blocos, objetivos, atividades/ estratégias e

avaliação. Nestas, verificámos que também refere, sobretudo, elementos que constam do

Programa do 1º Ciclo, não havendo referências diretas a competências da Educação Visual.

A professora referiu que o seu conhecimento relativamente aos documentos curriculares é

«suficiente» e que os consulta no momento de planificar. No entanto, também referiu que

«Muitas atividades vêm por intuição, oportunidade e sensibilidade e nem sempre se tem

noção que são coisas que também estão no currículo». Quanto às Metas de Aprendizagem,

referiu que ainda não as considera nas suas práticas.

Tal como já referimos, a seleção de atividades de EEP advinha do desenvolvimento de

atividades pertencentes a projetos da escola ou de outras áreas curriculares, por isso, era

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sempre feita pela professora. Ainda a este respeito, a professora referiu que se dedicasse

muito tempo à EEP, iria sentir necessidade de justificar aos pais a sua opção, pois considerava

que estes não atribuíam importância às actividades das expressões artísticas e acompanhavam

de forma atenta e crítica o quotidiano escolar dos filhos, especialmente no que se referia às

aquisições da Língua Portuguesa e da Matemática.

A leitura de imagens nas obras de literatura infantil foi uma atividade realizada com

grande frequência. Apesar de não envolver tarefas «práticas» da EEP, constituía-se como uma

oportunidade para abordar a relação imagem-texto, identificar o conteúdo da mensagem

visual, caraterizar elementos da linguagem plástica, identificar materiais e técnicas utilizadas

pelos ilustradores, entre outros aspetos (por exemplo, algumas das obras exploradas

continham elementos da banda desenhada que também eram identificados). As demonstrações

da utilização de materiais, utensílios e execução de técnicas foi também referida pela

professora como sendo uma das estratégias a que recorre para abordar conteúdos relacionados

com a EEP.

O exercício de colorir figuras em folhas fotocopiadas foi também realizado com muita

frequência. Este exercício também integrava as fichas de trabalho, principalmente da área de

Língua Portuguesa, tendo a este respeito a professora referido «Os alunos que terminavam as

fichas com mais rapidez, também coloriam as imagens». Os manuais de Língua Portuguesa

continham exercícios de ilustração e pintura, tais como ler palavras e desenhar as figuras

correspondentes ou ilustrar pequenos textos.

Todos os alunos da turma frequentaram a educação pré-escolar, tendo por isso, vivenciado

neste nível de ensino experiências que envolveram a expressão plástica. Os trabalhos

observados revelam que, apesar de as crianças terem idades semelhantes, se enquadram em

diferentes estádios de desenvolvimento gráfico e plástico. Também ao nível da utilização de

utensílios (como a tesoura, por exemplo) é possível observar diferentes graus de consecução.

As atividades desenvolvidas pelos alunos não incluiram as TIC. Tal como foi mencionado

anteriormente, a sala de aulas não dispõe de computadores nem de outros equipamentos

informáticos. No entanto, a professora utilizou o seu computador pessoal para apresentar a

pequeno grupos de alunos alguns recursos (powerpoints, vídeos, imagens) e software

educativo multimédia, mas não relacionados diretamente com a EEP.

Não foi assinalável a realização de trabalhos coletivos. E, de um modo geral, registámos

que as atividades propostas aos alunos possibilitavam que estes produzissem trabalhos

individuais e únicos. Em alguns casos, foram utilizados modelos (por exemplo em dobragens

e construções em papel), mas os alunos puderam finalizar os trabalhos decorando-os de forma

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pessoal (acrescentando detalhes através do desenho e escolhendo cores para a pintura). Na

entrevista a professora revelou que conhece estratégias de estímulo à criatividade através da

expressão plástica, referindo-se a alguns exemplos de actividades e formas de utilização da

obra de arte. No entanto, não registámos a concretização dos exemplos que deu (pintar e

desenhar em papel amarrotado, rasgar papel e formar imagens, cadavre esquis).

Em atividades realizadas na sala de aula, não registámos a existência de abordagens à obra

de arte (apenas podemos considerar a análise de ilustrações uma vez que também são obras de

artistas plásticos). No entanto, a realização de uma visita de estudo ao Museu Arqueológico

de São Miguel de Odrinhas proporcionou aos alunos o contacto com peças arqueológicas de

escultura. Foi referido pela professora que não foi possível proporcionar aos alunos outras

visitas de estudo, apresentando como motivos as dificuldades das famílias em custear as

despesas que estas envolvem e, também o excesso de procedimentos necessários a uma saída

ao exterior, mesmo que seja a locais de interesse existentes na localidade onde se situa o

centro escolar.

Achamos importante mencionar um outro modo que proporciona aos alunos a observação

de elementos representativos de obras de arte. Referimo-nos aos painéis fotográficos que

representam pormenores de monumentos existentes no concelho onde se situa a escola, que

decoram diversos espaços onde circulam e trabalham alunos e professores. Damos como

exemplo, as fotografias, de grande interesse visual, que representam pormenores do Convento

de Mafra.

Relativamente ao modo como é feita a avaliação em EEP, averiguámos que no início do

ano letivo se realizou um exercício de diagnóstico que envolvia a pintura e recorte de figuras.

A professora referiu que os dados obtidos neste exercício e noutros, condicionaram as suas

opções em termos das atividades que propostas aos alunos, explicando que «Como sabia o

que os alunos sabem fazer, isso condicionou as minhas escolhas» e deu como exemplo «Se

não sabiam recortar, não se faziam actividades complexas que não fossem adequadas ao seu

grau de habilidade a recortar».

Em planificações analisadas verificámos que a avaliação em EEP incide, principalmente,

sobre as «produções dos alunos», e é feita através da «observação direta» e organizada em

«registos diversificados (estruturados, grelhas…)». A professora referiu-se a alguns aspetos

que considera quando está a avaliar os trabalhos: «a criatividade, o empenho, a aplicação das

técnicas que vai ensinando, o respeito pelos limites, o uso correto dos materiais, a forma de

utilização da cor (relacionada com a realidade ou não)». Verificámos através das indicações

que dá aos alunos, que valoriza o aspeto cuidado e organizado do trabalho e se as

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representações correspondem aos temas propostos. A avaliação formativa ocorre em

conversas entre a professora e os alunos, nas quais são feitas apreciações construtivas, «Digo

que está bem. Não critico pela negativa. Digo que está bonito, mas que podia melhorar aqui

ou ali... e indico o que poderia melhorar». A heteroavaliação não é feita, por que notou que

«(...) às vezes os comentários entre alunos são cruéis» e achou que isso podia criar bloqueios

em trabalhos posteriores e mesmo na recetividade dos alunos às atividades de EEP.

Um dos documentos que também analisámos foi o registo de avaliação que é entregue aos

pais no final de cada período letivo. Neste, a avaliação em EEP apresenta-se em paralelo com

a Expressão e Educação Dramática, a Expressão e Educação Musical e a Expressão e

Educação Físico-Motora, sendo todas as áreas avaliadas segundo a «Participação», a

«Criatividade / Expressividade» e o «Desempenho» de acordo com a escala qualitativa Fraco,

Não Satisfaz, Satisfaz pouco, Satisfaz, Satisfaz Bem, Bom, Muito Bom e Excelente.

A respeito dos materiais e utensílios disponíveis, observámos que estes eram muito

diversificados. Para além de algum material, de «uso corrente», que foi pedido aos alunos no

início do ano letivo, a escola dispunha de um armazém com grandes quantidades de material

de desgaste (papel de diferentes tipos, tintas, riscadores, entre outros) e utensílios (pincéis e

tesouras de diferentes tipos, redes para fazer papel reciclado, entre outros). A este armazém

podiam recorrer todos os professores e educadores do centro escolar.

Relativamente a materiais didáticos utilizados, a professora referiu «Tenho preferência em

usar os livros infantis e ilustrações. Por exemplo, com os livros de Pedro Leitão, que são em

BD, abordou-se elementos da gramática da BD». No agrupamento em que se insere a escola

não foram adotados manuais para a EEP. No entanto, registamos a existência de um «caderno

de atividades» elaborado por professores de artes visuais que lecionam na escola sede do

agrupamento. Trata-se de um conjunto de exercícios destinados aos alunos dos diferentes anos

do 1º Ciclo, reproduzindo, na maior parte dos casos, exercícios de livros do autor Taro

Gomi11

Relativamente a formas de atualização de conhecimentos científicos e pedagógicos

relacionados com a EEP, foi referido pela professora que «Troca informações com colegas» e

que frequenta habitualmente museus e exposições relacionadas com as artes visuais. Também

. No entanto, a professora não considerou que tivesse atividades significativas para os

seus alunos e nunca o utilizou. Apurámos, no entanto, que era utilizado por outras turmas da

escola.

11 São conhecidos diversos livros de atividades da autoria de Taro Gomi, como o Scribles (editado em português com o título Livro dos Sarrabiscos, Edições Afrontamento) o Doodles, o Squiggles, entre outros. As propostas que apresentam constituem-se como interrogações divergentes/ desafios aos quais as crianças respondem através do desenho /criação plástica.

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se referiu à prática de fazer pesquisas na internet sempre que precisa de «encontrar ideias para

trabalhos das épocas festivas, como o dia da mãe».

3. Integração dos dados e constituição do referido “currículo real”

O desenvolvimento dos dois estudos de caso foi determinado pelas dimensões de análise

que ressaltaram da construção do referencial de avaliação. A este respeito, Rodrigues (1993)

refere que o referencial deve orientar e justificar a procura e recolha de informação em ordem

à construção do referido. Nesta sequência, para constituir o referido, que representa o

currículo real, decidimos replicar o conjunto de dimensões de análise que identificámos para

um dos componentes do referencial de avaliação - o referente “currículo real representado”.

Considerámos que existia uma afinidade direta entre os dois elementos (referente “currículo

real representado” e referido), porque ambos se reportam ao currículo real. Assim sendo,

pareceu-nos lógico que se estruturassem de modo semelhante.

Nesta sequência, constituímos o referido através da sistematização da informação relativa

aos dois estudos de caso, respeitando, no entanto, no percurso de análise, a singularidade de

cada um dos dois casos, em função das seguintes componentes da prática: Atividades

desenvolvidas; Estratégias para abordar conteúdos de EEP; Opções metodológicas;

Planificação; Materiais didáticos específicos da EEP; e Avaliação do ensino-aprendizagem

em EEP.

As diferenças que encontrámos nos dois estudos de caso relativamente às práticas em EEP

são notórias no que respeita a Atividades desenvolvidas. No Estudo de caso 1, verificámos

que a abordagem a conteúdos de EEP e a articulação e integração com diferentes áreas era

muito regular e permeava as atividades realizadas. A diversidade de propostas apresentadas

aos alunos incluiu a utilização de uma grande variedade de técnicas e materiais, sendo

prevista a sua contextualização e complexificação em função da evolução das capacidades dos

alunos. No Estudo de caso 2, embora consideremos que as atividades realizadas materializam

aspetos significativos do programa de EEP, foram realizadas de forma mais esporádica e

repetitiva no que respeita à utilização de técnicas, materiais e suportes. Tal como afirmámos

anteriormente, não se registou a utilização das técnicas e dos materiais que mais ampliam as

capacidades expressivas, comunicativas e criativas dos alunos no uso da linguagem plástica.

Referimo-nos à pintura livre com tintas em suportes variados, ao uso de técnicas mistas, à

modelação com barro ou outros tipos de pastas, à exploração da tridimensionalidade através

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de montagens objetuais ou outros tipos de construções, entre muitos outros exemplos que

poderíamos dar e que foram apresentados no Capítulo I, O desenvolvimento da criatividade

através da expressão plástica.

Apresentamos no Quadro 29 uma síntese das atividades desenvolvidas estabelecendo a

correspondência com cada um dos casos estudados. Em suma, podemos considerar que as

práticas em EEP incluiram: a ilustração de experiências vivenciadas pelos alunos; a ilustração

de histórias escritas pelos alunos; a ilustração de textos /obras de literatura infantil; a pintura

com técnicas, materiais e suportes diversificados; o recorte, colagem e dobragem; a

elaboração de cartazes; as construções com materiais diversificados; a elaboração de

composições visuais utilizando o programa informático Paint; o contacto com um escritor e

ilustrador; a leitura de imagens (em ilustrações de obras de literatura infantil, fotografias e

obras de arte); as pesquisas sobre temas de EEP; e a realização de visitas de estudo que

permitiram o contacto com obras de arte.

Quadro 29 – Síntese das Atividades desenvolvidas nos contextos do Estudo de caso 1 e Estudo de caso 2.

Atividades desenvolvidas Estudo de caso 1

Estudo de caso 2

- Ilustração de experiências vivenciadas X x - Ilustração de histórias escritas pelos alunos X x - Ilustração de textos /obras de literatura infantil X x - Pintura com técnicas, materiais e suportes diversificados x Não se verificou

- Recorte, colagem e dobragem em materiais diversificados x x - Elaboração de cartazes x Não se verificou - Construções com materiais diversificados x Não se verificou - Elaboração de composições visuais utilizando o programa informático Paint x Não se verificou - Contacto com um escritor e ilustrador Não se verificou x - Leitura de imagens (ilustrações de obras de literatura infantil, fotografias, obras de arte) x x - Pesquisas sobre temas da EEP x Não se verificou - Realização de visitas de estudo que permitiram o contacto com obras de arte x x

No que respeita a Estratégias para abordar conteúdos de EEP, as principais diferenças

prenderam-se com a regularidade com que estas abordagens se efetuavam e com a utilização

das TIC. No Estudo de caso 1 eram muito frequentes e integravam sempre os momentos em

que se envolvia a EEP. Ainda neste caso, era também frequente o uso de TIC, tendo-se

observado uma ampla utilização do quadro interativo, dos computadores portáteis pessoais

específicos dos alunos do 1º Ciclo, dos computadores fixos existentes na sala de aulas e do

projetor multimédia. Estes equipamentos eram utilizados em pesquisas, em apresentações

multimédia sobre conteúdos e na projeção de imagens. O quadro interativo apoiava quase em

permanência as exposições orais do professor para fazer esquemas explicativos, para escrever

termos específicos relacionados com os conteúdos, entre outros tipos de registos.

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No Estudo de caso 2, apurámos que os conteúdos eram abordados em momentos em que

eram exploradas as ilustrações de livros infantis, quando era feito o apoio individual aos

alunos (por exemplo em momentos em que a professora explicava o que era necessário

melhorar nos trabalhos) e também em exposições orais quando a professora apresentava aos

alunos as tarefas a realizar.

Apresentamos no Quadro 30 uma síntese das estratégias que identificámos em

correspondência com os casos em que foram verificadas. Em suma, podemos referir que para

abordar conteúdos de EEP se adotaram as seguintes estratégias: exposições orais;

apresentação e exploração de materiais didáticos; discussões em grupo; demonstrações (por

exemplo, da aplicação de técnicas de expressão plástica); utilização das TIC (por exemplo,

apresentações no quadro interativo); visitas de estudo; e pesquisas em variadas fontes de

informação.

Quadro 30 – Síntese das Estratégias para abordar conteúdos de EEP adotadas nos contextos do Estudo de caso 1 e Estudo

de caso 2.

Estratégias para abordar conteúdos de EEP Estudo de caso 1

Estudo de caso 2

- Exposições orais x x - Apresentação e exploração de materiais didáticos x x - Discussões em grupo x Não se verificou - Demonstrações (por exemplo, da aplicação de técnicas de expressão plástica) x x - Utilização das TIC (por exemplo, apresentações no quadro interativo) x - Visitas de estudo x x - Pesquisas em variadas fontes de informação x Não se verificou

Muitos dos aspetos relativos a estratégias para abordar conteúdos, materiais didáticos e

avaliação também se poderiam integrar na categoria Opções metodológicas. No entanto,

optámos por integrar nesta categoria apenas aspetos relacionados com o funcionamento das

atividades e com o papel dos professores envolvidos nos dois casos estudados.

À semelhança de outras categorias, também nas Opções metodológicas ressaltaram

diferenças entre os dois casos. Estas verificaram-se em relação à promoção do trabalho e

cooperação em grupo; à participação dos alunos na seleção de atividades a realizar; ao uso de

técnicas e materiais diversificados em trabalhos cuja execução exigia várias fases; e à

flexibilidade na determinação do tempo que poderia ser ocupado pela EEP. Estes aspetos

foram constatados no Estudo de caso 1 e não se assinalaram no Estudo de caso 2.

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No que concerne ao papel dos professores, assinalámos também algumas diferenças.

Consideramos que estas poderão estar relacionadas com o tempo de experiência de cada um

dos professores (o professor do Estudo de caso 1 tinha dez anos de experiência e a professora

do Estudo de caso 2 tinha quatro) e também o grau de importância que estes atribuem às

atividades das expressões artísticas. No Estudo de caso 1, constatámos que era valorizado o

processo de experimentar e projetar; que era dada importância à apresentação dos trabalhos

dos alunos à comunidade através da organização de exposições (na sala de aulas, em espaços

da escola ou no blogue); que era estimulado o sentido crítico dos alunos através da discussão

de temas; que a EEP se articulava com outras linguagens artísticas, principalmente com a área

de Expressão e Educação Dramática; que havia a preocupação de proporcionar o contacto

com a obra de arte e, consequentemente, proporcionar o desenvolvimento do sentido estético.

No Estudo de caso 2, estas situações foram menos assinalados. Alguns aspetos que

constatámos no estudo deste caso, prendem-se com a valorização do produto final; com a

apresentação de propostas de trabalhos em que todos os alunos se sujeitavam aos mesmos

temas, técnicas e materiais; e com a utilização de modelos que todos os alunos deviam copiar

(por exemplo, em construções em papel).

Registámos também aspetos que faziam parte das práticas em ambos os casos, tais como:

a preferência por propostas que estimulassem a criatividade e que permitissem que cada aluno

produzisse um trabalho individual e único; os modos de perspetivar a articulação entre a EEP

e as outras áreas; a consciência de que a interferência do professor condiciona a autenticidade

dos trabalhos das crianças; o uso de vocabulário específico da EEP na comunicação entre

professor e alunos; a apresentação de propostas em que os alunos pudessem fazer trabalhos

«livres» (principalmente de desenho) e nos quais pudessem representar as suas vivências

pessoais; a opção por propor às crianças a pintura de figuras em manuais e em folhas

fotocopiadas (opção esporádica no Estudo de caso 1 e opção frequente no Estudo de caso 2).

Considerámos que o conjunto de diferenças e semelhanças encontradas traduzem as

Opções metodológicas que caraterizam as práticas da EEP nos dois casos estudados.

Apresentamos no Quadro 31 uma síntese das opções metodológicas que identificámos em

correspondência com os casos em que foram verificadas.

Quadro 31 - Síntese das Opções metodológicas identificadas nos contextos do Estudo de caso 1 e Estudo de caso 2

Opções metodológicas Estudo de caso 1

Estudo de caso 2

- Promoção do trabalho e cooperação em grupo através da EEP x Não se verificou - Participação dos alunos na seleção de atividades de EEP a realizar x Não se verificou

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- Promoção do uso de técnicas e materiais diversificados em trabalhos cuja execução exige várias fases

x Não se verificou

- Flexibilidade na determinação do tempo que poderia ser ocupado pela EEP x Não se verificou - Valorização do processo de experimentar e projetar x Não se verificou - Apresentação dos trabalhos dos alunos à comunidade através da organização de exposições

x Não se verificou

- Estímulo do sentido crítico dos alunos através da discussão de temas x Não se verificou - Articulação da EEP com outras linguagens artísticas, principalmente com a área de EED x Não se verificou - Promoção do contacto com a obra de arte e do desenvolvimento do sentido estético x Não se verificou - Valorização do produto final x x - Apresentação de propostas de trabalhos em que todos os alunos se sujeitam aos mesmos temas, técnicas e materiais

Não se verificou x

- Utilização de modelos que todos os alunos copiam Não se verificou x - Preferência por propostas que estimulam a criatividade e que permitam a cada aluno produzir um trabalho individual e único

x x

- Articulação entre a EEP e as outras áreas curriculares x x - Atuação sem condicionar a autenticidade dos trabalhos das crianças x x - Uso de vocabulário específico da EEP em momentos de comunicação entre professor e alunos

x x

- Apresentação de propostas em que os alunos podem fazer trabalhos «livres» (principalmente de desenho) e nos quais podem representar as suas vivências pessoais

x x

- Apresentação de propostas que consistem na pintura de figuras em manuais e em folhas fotocopiadas

x x

No decurso dos estudos de caso foram consultados diversos documentos relativos à

Planificação. Referimo-nos a Projetos Curriculares de Agrupamento, a Projetos Curriculares

de Turma, a Planos Anuais de Actividades e a planificações mensais e semanais. Apurámos

que existem referências à EEP em todos estes documentos e que, no caso dos PCT e de

algumas planificações mensais, se apresentam formas de articulação entre a EEP e outras

áreas curriculares. O que apurámos relativamente ao modo como se planificam as atividades

de EEP indica que o documento curricular que mais se utiliza é o Programa do 1º Ciclo do

Ensino Básico. Nestes documentos de planificação existem referências aos blocos,

subdomínios e objetivos de ação que constam do Programa do 1º Ciclo relativamente à área

de EEP. Foi comum aos dois casos a inexistência de referências aos subdomínios

«Modelagem e Escultura», «Tecelagem e Costura» e «Fotografia, Transparências e Meios

Audiovisuais».

Verificou-se a existência de referências a competências, embora, na verdade, fossem

também objetivos de ação que constam do Programa. Foram escassas e indiretas as

referências às Competências relativas à literacia em artes, às Competências específicas da

Educação Visual e às Competências nos domínios da comunicação visual e dos elementos da

forma para o 1º Ciclo do Ensino Básico, tendo estas sido verificadas apenas no Estudo de

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caso 1. Foram nulas as referências às Metas de Aprendizagem (o Estudo de caso 2 decorreu

no ano letivo de 2010/2011, já depois da publicação das Metas).

Nestas planificações existem também referências a atividades e estratégias e ao tempo que

ocupam, a recursos necessários e a aspetos relativos à avaliação. Neste caso, explicita-se que

se avaliam as produções e os comportamentos dos alunos, por observação direta e referem-se

alguns instrumentos para registar dados.

Apresentamos no Quadro 32 uma síntese dos aspetos relativos à planificação que foram

identificados nos contextos do Estudo de caso 1 e do Estudo de caso 2.

Quadro 32 - Síntese de aspetos relativos à Planificação identificados nos contextos do Estudo de caso 1 e do Estudo de caso

2 Planificação Estudo

de caso 1 Estudo

de caso 2 - A planificação tem por base os blocos, subdomínios e objetivos de ação/ experiências educativas que constam do Programa do 1º Ciclo

x x

- Os objetivos de ação/ experiências educativas correspondentes aos subdomínios «Modelagem e Escultura», «Tecelagem e Costura» e «Fotografia, Transparências e Meios Audiovisuais» não integram a planificação

x

x

- A planificação inclui referências indiretas às competências da literacia em artes, às competências específicas da Educação Visual e às competências nos domínios da comunicação visual e dos elementos da forma para o 1º Ciclo

x

Não se verificou

- A EEP integra o Projecto Curricular de Agrupamento x x - A EEP integra o Plano Anual de Atividades x x - A EEP integra o Projecto Curricular de Turma x x - A EEP integra as planificações mensais e semanais x x - A planificação refere-se à articulação entre a EEP e outras áreas curriculares x x - A planificação tem dados relativos a atividades e estratégias, recursos, tempo e avaliação x x

Relativamente aos Materiais didáticos específicos da EEP encontrámos diferenças nos

dois casos estudados. No Estudo de caso 1 observou-se um amplo conjunto de elementos que

foram utilizados para abordar conteúdos de EEP, referimo-nos a um dossier de imagens, que

incluía representações de obras de arte, a recursos educativos digitais (por exemplo,

apresentações em powerpoint sobre conteúdos) e a trabalhos de expressão plástica

representativos da utilização de técnicas e materiais diversos. No Estudo de caso 2, as obras

de literatura infantil com ilustrações representativas da utilização de técnicas e materiais foi o

exemplo mais significativo. Em ambos os casos se assinalaram referências a folhas com

figuras para colorir, principalmente no Estudo de caso 2.

Apresentamos no Quadro 33 uma síntese relativa aos materiais didáticos específicos da

EEP identificados nos contextos do Estudo de caso 1 e Estudo de caso 2.

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Quadro 33 - Síntese relativa aos Materiais didáticos específicos da EEP identificados nos contextos do Estudo de caso 1 e

Estudo de caso 2

Materiais didáticos específicos da EEP Estudo de caso 1

Estudo de caso 2

- Dossier de imagens, que inclui representações de obras de arte x x - Recursos educativos digitais sobre conteúdos de EEP x Não se verificou - Trabalhos de expressão plástica representativos da utilização de técnicas e materiais diversos

x Não se verificou

- Obras de literatura infantil com ilustrações representativas da utilização de técnicas e materiais

Não se verificou

x

- Figuras para colorir x x

Relativamente às formas como se processa a Avaliação do ensino-aprendizagem em EEP,

constatámos que não existem grandes diferenças entre os dois casos estudados. A mais

relevante prende-se com o hábito de, no contexto do Estudo de caso 1, se fazer autoavaliação

e heteroavaliação sempre que se concluem os trabalhos de EEP.

A avaliação diagnóstica foi considerada, sobretudo, no início do ano letivo quando os

professores iniciaram o contacto com os alunos. Os dois professores referiram que os

resultados dessa avaliação determinaram a complexidade das atividades que propuseram a

partir desse momento inicial.

Ambos os professores referiram que a avaliação formativa se efetua quando fazem o

acompanhamento individual dos alunos no decurso das actividades, através de comentários

sobre os comportamentos e os trabalhos em curso.

A avaliação sumativa é feita nos finais dos períodos letivos, resultando a mesma numa

informação qualitativa que integra a ficha de registo de avaliação que é dada aos pais. Os itens

que orientam na avaliação são determinados ao nível do agrupamento de escolas e figuram no

Projeto Curricular de Agrupamento. Para os dois professores, os critérios que consideram na

sua avaliação decorrem dos documentos curriculares, tendo a «aplicação de técnicas», «a

criatividade» e o «empenho» sido referidos pelos dois professores.

Também constatámos que os trabalhos dos alunos são organizados em pastas próprias

para EEP, de modo a facilitar a perceção da evolução do aluno (no Estudo de caso 1) e em

arquivos de trabalhos comuns a várias áreas (no Estudo de caso 2).

A observação direta dos comportamentos dos alunos durante a realização das atividades e

a análise dos trabalhos realizados foram os métodos referidos pelos professores para fazer a

avaliação, e, sendo assim, constatámos que valorizam o processo e o produto final.

Apresentamos no Quadro 34 uma síntese dos aspectos relativos à avaliação do ensino-

aprendizagem em EEP identificados nos contextos dos casos estudados.

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Quadro 34 - Síntese de aspetos relativos à Avaliação do ensino-aprendizagem da EEP identificados nos contextos do Estudo

de caso 1 e do Estudo de caso 2

Avaliaçãodo ensino-aprendizagem em EEP Estudo de caso 1

Estudo de caso 2

- As práticas de avaliação incluem a avaliação diagnóstica x x - Os resultados da avaliação diagnóstica condicionam as decisões sobre atividades a realizar x x - As práticas de avaliação incluem a avaliação formativa x x - A avaliação comunicada aos alunos faz-se através de comentários verbais x x - As práticas de avaliação incluem a avaliação sumativa x x - Os trabalhos de EEP são organizados em arquivos próprios x Não se verificou - As atividades incluem momentos para a autoavaliação x Não se verificou - As atividades incluem momentos para a heteroavaliação x Não se verificou - A avaliação considera o desenvolvimento gráfico e plástico do aluno x x - A avaliação considera o processo e o produto final x x - A avaliação é feita através da observação direta dos comportamentos dos alunos e da análise dos trabalhos realizados

x x

- A avaliação é expressa através de uma escala qualitativa x x - Os critérios de avaliação são definidos no Projeto Curricular de Agrupamento x x - A «aplicação de técnicas», a «criatividade» e o «empenho» são critérios que orientam a avaliação

x x

Da análise que fizemos em cada uma das componentes resultou a definição de um

conjunto de itens que resume e retrata o currículo real das práticas em EEP nos dois casos

estudados. Os itens definidos representam o referido e permitirão operacionalizar a sua

confrontação com o referencial de avaliação.

Apresentamos de seguida um quadro-síntese que representa o nosso referido.

Quadro 35 - Quadro-síntese que representa o referido “currículo real”

Componente da prática

Itens a operacionalizar

Atividades desenvolvidas

- Ilustração de experiências vivenciadas - Ilustração de histórias escritas pelos alunos - Ilustração de textos /obras de literatura infantil - Pintura com técnicas, materiais e suportes diversificados - Recorte, colagem e dobragem em materiais diversificados - Elaboração de cartazes - Construções com materiais diversificados - Elaboração de composições visuais utilizando o programa informático Paint - Contacto com um escritor e ilustrador - Leitura de imagens (ilustrações de obras de literatura infantil, fotografias, obras de arte) - Pesquisas sobre temas da EEP - Realização de visitas de estudo que permitem o contacto com obras de arte

Estratégias para abordar conteúdos de EEP

- Exposições orais - Apresentação e exploração de materiais didáticos - Discussões em grupo - Demonstrações (por exemplo, da aplicação de técnicas de expressão plástica) - Utilização das TIC (por exemplo, apresentações no quadro interativo) - Visitas de estudo - Pesquisas em variadas fontes de informação

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Opções metodológicas - Promoção do trabalho e cooperação em grupo através da EEP - Participação dos alunos na seleção de atividades de EEP a realizar - Promoção do uso de técnicas e materiais diversificados em trabalhos cuja execução exige várias fases - Flexibilidade na determinação do tempo que poderia ser ocupado pela EEP - Valorização do processo de experimentar e projetar - Apresentação dos trabalhos dos alunos à comunidade através da organização de exposições - Estímulo do sentido crítico dos alunos através da discussão de temas - Articulação da EEP com outras linguagens artísticas, principalmente com a área de EED - Promoção do contacto com a obra de arte e do desenvolvimento do sentido estético - Valorização do produto final - Apresentação de propostas de trabalhos em que todos os alunos se sujeitam aos mesmos temas, técnicas e materiais - Utilização de modelos que todos os alunos copiam - Preferência por propostas que estimulam a criatividade e que permitam a cada aluno produzir um trabalho individual e único - Articulação entre a EEP e as outras áreas curriculares - Atuação sem condicionar a autenticidade dos trabalhos das crianças - Uso de vocabulário específico da EEP em momentos de comunicação entre professor e alunos - Apresentação de propostas em que os alunos podem fazer trabalhos «livres» (principalmente de desenho) e nos quais podem representar as suas vivências pessoais - Apresentação de propostas que consistem na pintura de figuras em manuais e em folhas fotocopiadas

Planificação - A planificação tem por base os blocos, subdomínios e objetivos de ação/ experiências educativas que constam do Programa do 1º Ciclo - Os objetivos de ação/ experiências educativas correspondentes aos subdomínios «Modelagem e Escultura», «Tecelagem e Costura» e «Fotografia, Transparências e Meios Audiovisuais» não integram a planificação - A planificação inclui referências indiretas às competências relativas à literacia em artes, às competências específicas da Educação Visual e às competências nos domínios da comunicação visual e dos elementos da forma para o 1º Ciclo - A EEP integra o Projecto Curricular de Agrupamento - A EEP integra o Plano Anual de Atividades - A EEP integra o Projeto Curricular de Turma - A EEP integra as planificações mensais e semanais - A planificação refere-se à articulação entre a EEP e outras áreas curriculares - A planificação tem dados relativos a atividades e estratégias, recursos, tempo e avaliação

Materiais didáticos específicos da EEP

- Dossier de imagens, que inclui representações de obras de arte - Recursos educativos digitais sobre conteúdos de EEP - Trabalhos de expressão plástica representativos da utilização de técnicas e materiais diversos - Obras de literatura infantil com ilustrações representativas da utilização de técnicas e materiais - Figuras para colorir

Avaliação - As práticas de avaliação incluem a avaliação diagnóstica - Os resultados da avaliação diagnóstica condicionam as decisões sobre atividades a realizar - As práticas de avaliação incluem a avaliação formativa - A avaliação comunicada aos alunos faz-se através de comentários verbais - As práticas de avaliação incluem a avaliação sumativa - Os trabalhos de EEP são organizados em arquivos próprios - As atividades incluem momentos para a autoavaliação - As atividades incluem momentos para a heteroavaliação - A avaliação considera o desenvolvimento gráfico e plástico do aluno - A avaliação considera o processo e o produto final - A avaliação é feita através da observação direta dos comportamentos dos alunos e da análise dos trabalhos realizados - A avaliação é expressa através de uma escala qualitativa - Os critérios de avaliação são definidos no Projeto Curricular de Agrupamento - A aplicação de técnicas, a criatividade e o empenho são critérios que orientam a avaliação

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187

Capítulo V – Aplicação do referencial de avaliação

Nota introdutória

Neste capítulo efetuamos a avaliação do currículo de EEP a partir da confrontação entre o

referencial e o referido. Assim sendo, comparamos as dimensões de análise que constam do

referencial de avaliação com as componentes que integram o referido “currículo real”. Nesta

comparação estarão em evidência as «dimensões a avaliar», às quais já nos referimos, e que

são: a planificação e organização do ensino (currículo planificado); as práticas da EEP na sala

de aula (currículo real); os «produtos» resultantes das atividades desenvolvidas; e as práticas

de avaliação do ensino-aprendizagem da EEP (currículo avaliado).

Por forma a sistematizar e a clarificar melhor esta análise, apresentamos separadamente a

relação entre cada um dos referentes (“currículo formal”, “currículo ideal” e “currículo real

representado”) e o referido “currículo real”. Para cada uma destas dimensões organizámos

quadros de comparação que explicitam o cruzamento entre as categorias e respetivos critérios

e indicadores, que constituem os referentes, e as componentes da prática e os respetivos itens

em operacionalização, que constituem o referido “currículo real”. Ou seja, cruzamos as

«grelhas de leitura» (Quadros 9, 10 e 23, apresentados no Capítulo III) que constituímos para

cada um dos referentes com o quadro-síntese que representa o nosso referido (Quadro 33,

apresentado no Capítulo IV).

Ainda neste capítulo, apresentamos uma síntese dos resultados obtidos com a aplicação do

referencial, que resume a Avaliação do currículo de EEP.

1. Relação entre o referente “currículo formal” e o referido “currículo real”

O referente “currículo formal” é constituído por três categorias – Conhecimentos,

capacidades e atitudes visadas nas competências (A); Experiências educativas

correspondentes aos blocos de aprendizagem (B); e Indicações metodológicas (C) – às quais

correspondem critérios e indicadores. Este referente tem como origem o Programa do 1º Ciclo

do Ensino Básico e o CNEB e pretende representar o currículo formal da EEP no 1º Ciclo do

Ensino Básico, tal como foi anteriormente enunciado.

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A dimensão de análise relativa aos Conhecimentos, capacidades e atitudes visadas nas

competências (A) à qual corresponde o critério «Explicitação das competências a privilegiar»

(A1) reporta-se à existência de referências às competências do CNEB, que visam a EEP, em

elementos do currículo planificado ou moldado (Gimeno, 1988), que correspondem ao modo

como o currículo formal é transposto para os documentos organizadores das práticas dos

professores (como os planos e os projetos). Sendo assim, a verificação da existência dessas

referências efetuou-se tendo por base as análises realizadas à planificação relativa às práticas

em EEP investigadas. Nesta sequência, o referido permite-nos constatar que, na planificação,

as referências às competências da literacia em artes, às competências específicas da Educação

Visual e às competências nos domínios da comunicação visual e dos elementos da forma para

o 1º Ciclo são indiretas (ver Quadro 36). Ou seja, não se verifica uma transferência clara e

completa do conteúdo expresso nas competências que visam a EEP, do CNEB para as

planificações, quer ao nível dos projetos (PCA ou PCT) quer ao nível das planificações (PAA

e planos mensais e semanais).

Todavia, constatámos que na implementação do que é planificado se concretizam ideias

expressas pelo conjunto de competências. Isto é, o conteúdo expresso nas competências tem

significação ao nível das atividades dirigidas aos alunos e possibilita as aquisições por elas

visadas (identificaremos estes aspetos na verificação de outros itens).

Quadro 36 - Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Conhecimentos,

capacidades e atitudes visadas nas competências»

REFERENCIAL DE AVALIAÇÃO (referente “currículo formal”)

REFERIDO

Categorias Critérios Indicadores Componente da prática / itens em operacionalização (A) Conhecimentos, capacidades e atitudes visadas nas competências

(A1) Explicitação das competências a privilegiar

(A1.1) Enunciar competências da literacia em artes

PLANIFICAÇÃO: - A planificação inclui referências indiretas às competências da literacia em artes, às competências específicas da Educação Visual e às competências nos domínios da comunicação visual e dos elementos da forma para o 1º Ciclo.

(A1.2) Enunciar competências da dimensão fruição-contemplação (A1.3) Enunciar competências da dimensão produção-criação (A1.4) Enunciar competências da dimensão reflexão-interpretação (A1.5) Enunciar competências no domínio da comunicação visual (A1.6) Enunciar competências no domínio dos elementos da forma

A categoria Experiências educativas correspondentes aos blocos de aprendizagem (B), à

qual corresponde o critério «Explicitação de objetivos de ação/ experiências educativas

relativas aos Blocos 1, 2 e 3» (B1), reporta-se à existência de referências ao Programa do 1º

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189

Ciclo, no que respeita à EEP, em elementos do currículo planificado ou moldado. Sendo

assim, a verificação da existência dessas referências efetuou-se tendo por base as análises

realizadas à planificação relativa às práticas em EEP investigadas. A partir do referido,

podemos constatar que, em EEP, a planificação tem por base os blocos, subdomínios e

objetivos de ação / experiências educativas que constam do Programa do 1º Ciclo (ver Quadro

37). Ou seja, verificou-se que, ao planificar, os professores consultam o Programa e

transferem o seu conteúdo para os planos e projetos.

O referido que constituímos também nos indica que algumas experiências educativas

previstas no Programa não são consideradas nas práticas. É o caso das experiências que

correspondem aos subdomínios de «Modelagem e Escultura», «Tecelagem e Costura» e

«Fotografia, Transparências e Meios Audiovisuais».

Quadro 37 - Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Experiências educativas

correspondentes aos Blocos de aprendizagem»

REFERENCIAL DE AVALIAÇÃO (referente “currículo formal”)

REFERIDO

Categorias Critérios Indicadores Componente da prática / itens em operacionalização (B) Experiências educativas correspondentes aos Blocos de aprendizagem

(B1) Explicitação de objetivos de ação / experiências educativas relativas aos Blocos 1,2 e 3

(B1.1) Enunciar objetivos de ação / experiências educativas relativas ao Bloco «Descoberta e Organização Progressiva de Volumes»

PLANIFICAÇÃO: - A planificação tem por base os blocos, subdomínios e objetivos de ação / experiências educativas que constam do Programa do 1º Ciclo - Os objetivos de ação/ experiências educativas correspondentes aos subdomínios «Modelagem e Escultura», «Tecelagem e Costura» e «Fotografia, Transparências e Meios Audiovisuais» não integram a planificação

(B1.2) Enunciar objetivos de ação / experiências educativas relativas ao Bloco «Descoberta e Organização Progressiva de Superfícies» (B1.3) Enunciar objetivos de ação / experiências educativas relativas ao Bloco «Exploração de Técnicas diversas de Expressão»

A dimensão de análise Indicações metodológicas (C) reporta-se a diversas componentes

da prática e que constituem o referido (ver Quadro 38). Ao nível da planificação, verificou-se

que, explicitamente, não há referências à articulação entre as competências relativas à EEP

que constam no CNEB e as experiências educativas do Programa de EEP (critério C1). No

entanto, o conhecimento próximo que tivemos acerca do conjunto de atividades

desenvolvidas, e que integram o referido, permite-nos constatar que contribuem para o

desenvolvimento de competências (indicador C1.1). A única exceção verifica-se

relativamente à atividade «Pintura de figuras em folhas policopiadas e em manuais», pois não

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190

reconhecemos que materialize explicitamente as aquisições visadas nos documentos

curriculares e não tem enquadramento ao nível das indicações metodológicas focadas pelos

mesmos.

Constatamos também que a articulação entre a abordagem a conteúdos e experiências

educativas (critério C2) está subjacente ao conjunto de atividades desenvolvidas. Assim

sendo, consideramos que as experiências educativas selecionadas, e que integram o referido,

envolvem e concretizam conteúdos da EEP (indicador C2.1).

Quadro 38 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Indicações metodológicas»

REFERENCIAL DE AVALIAÇÃO (referente “currículo formal”)

REFERIDO

Categorias Critérios Indicadores Componente da prática / itens em operacionalização (C) Indicações metodológicas

(C1) Articulação entre as competências em Educação Visual e as experiências educativas do Programa de EEP

(C1.1) Selecionar experiências educativas que contribuem para a aquisição e desenvolvimento de competências

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS: - Ilustração de experiências vivenciadas - Ilustração de histórias escritas pelos alunos - Ilustração de textos /obras de literatura infantil - Pintura com técnicas, materiais e suportes diversificados - Recorte, colagem e dobragem em materiais diversificados - Elaboração de cartazes - Construções com materiais diversificados - Elaboração de composições visuais utilizando o programa informático Paint - Contacto com um escritor e ilustrador - Leitura de imagens (ilustrações de obras de literatura infantil, fotografias, obras de arte) - Pesquisas sobre temas da EEP - Realização de visitas de estudo que permitem o contacto com obras de arte MATERIAIS DIDÁTICOS ESPECÍFICOS DA EEP: - Dossier de imagens, que inclui representações de obras de arte - Recursos educativos digitais sobre conteúdos de EEP - Trabalhos de expressão plástica representativos da utilização de técnicas e materiais diversos - Obras de literatura infantil com ilustrações representativas da utilização de técnicas e materiais

(C2) Articulação entre abordagens a conteúdos e experiências educativas

(C2.1) Selecionar experiências educativas que concretizam os conteúdos em abordagem

(C3) Utilização de vocabulário específico relacionado com a EEP

(C3.1) Mencionar termos relativos a técnicas e materiais de expressão plástica

OPÇÕES METODOLÓGICAS: - Uso de vocabulário específico da EEP em momentos de comunicação entre professor e alunos

(C4) Aplicação das orientações metodológicas enunciadas nos textos curriculares.

(C4.1) Adotar diversas metodologias de trabalho (exposições orais, demonstrações práticas, mostras individuais, investigação bibliográfica, recolhas de objetos e imagens, debates, visitas de estudo, trabalhos de atelier, registos de observação do exterior, frequência de museus e exposições, etc.)

ESTRATÉGIAS PARA ABORDAR CONTEÚDOS DE EEP: - Exposições orais - Apresentação e exploração de materiais didáticos - Discussões em grupo - Demonstrações (por exemplo, da aplicação de técnicas de expressão plástica) - Utilização das TIC (por exemplo, apresentações no quadro interativo) - Visitas de estudo - Pesquisas em variadas fontes de informação

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191

(C) Indicações metodológicas (continuação)

(C4) Aplicação das orientações metodológicas enunciadas nos textos curriculares. (continuação)

(C4.2) Selecionar situações de aprendizagem contextualizadas (C4.2) Selecionar situações de aprendizagem contextualizadas (continuação)

PLANIFICAÇÃO: - A EEP integra o Projecto Curricular de Agrupamento - A EEP integra o Plano Anual de Atividades - A EEP integra o Projeto Curricular de Turma - A EEP integra as planificações mensais e semanais - A planificação refere-se à articulação entre a EEP e outras áreas curriculares OPÇÕES METODOLÓGICAS: - Articulação da EEP com outras linguagens artísticas, principalmente com a área de EED - Articulação entre a EEP e as outras áreas curriculares

(C4.3) Selecionar temas relevantes e atuais relacionados com o meio envolvente, com propostas dos alunos ou com o universo das artes visuais em Portugal

OPÇÕES METODOLÓGICAS: - Estímulo do sentido crítico dos alunos através da discussão de temas - Promoção do contacto com a obra de arte e do desenvolvimento do sentido estético

(C4.4) Selecionar atividades/ projetos que impliquem um processo e um produto final

OPÇÕES METODOLÓGICAS: - Uso de técnicas e materiais diversificados em trabalhos cuja execução exige várias fases - Valorização do processo de experimentar e projetar

(C4.5) Selecionar atividades que possibilitam o desenvolvimento da criatividade e expressão pessoal

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS: - Ilustração de experiências vivenciadas OPÇÕES METODOLÓGICAS: - Preferência por propostas que estimulam a criatividade e que permitam a cada aluno produzir um trabalho individual e único - Apresentação de propostas em que os alunos podem fazer trabalhos «livres» (principalmente de desenho) e nos quais podem representar as suas vivências pessoais

(C4.6) Selecionar meios de expressão visual diversificados que permitem múltiplas abordagens estético-pedagógicas

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS: - Pintura com técnicas, materiais e suportes diversificados - Recorte, colagem e dobragem em materiais diversificados - Construções com materiais diversificados - Elaboração de composições visuais utilizando o programa informático Paint

(C4.7) Promover abordagens que incluam a aproximação à obra de arte

OPÇÕES METODOLÓGICAS: - Promoção do contacto com a obra de arte e do desenvolvimento do sentido estético ATIVIDADES DESENVOLVIDAS: - Leitura de imagens (ilustrações de obras de literatura infantil, fotografias, obras de arte) - Realização de visitas de estudo que permitem o contacto com obras de arte

(C4.8) Promover a análise de obras da cultura artística portuguesa, adotando o estudo de obras do séc. XX como ponto de partida para o estudo de obras de outras épocas e culturas (C4.9) Selecionar diversas tecnologias e materiais adequados às necessidades de expressão dos alunos

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS: - Pintura com técnicas, materiais e suportes diversificados - Recorte, colagem e dobragem em materiais diversificados - Construções com materiais diversificados - Elaboração de composições visuais utilizando o programa informático Paint

(C4.10) Prever a adequação da exploração plástica ao nível de desenvolvimento de cada aluno

AVALIAÇÃO: - Os resultados da avaliação diagnóstica condicionam as decisões sobre atividades a realizar - A avaliação considera o desenvolvimento gráfico e plástico do aluno

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192

(C) Indicações metodológicas (continuação)

(C4) Aplicação das orientações metodológicas enunciadas nos textos curriculares. (continuação)

(C4.11) Prever diferentes estratégias de avaliação

AVALIAÇÃO: - A avaliação comunicada aos alunos faz-se através de comentários verbais - As atividades incluem momentos para a autoavaliação - As atividades incluem momentos para a heteroavaliação - A avaliação considera o processo e o produto final - A avaliação é feita através da observação direta dos comportamentos dos alunos e da análise dos trabalhos realizados

(C4.12) Prever uma gestão do tempo que permita a consolidação das aprendizagens e a qualidade do produto final

OPÇÕES METODOLÓGICAS: - Flexibilidade na determinação do tempo que poderia ser ocupado pela EEP

(C4.13) Prever o trabalho individual do aluno

OPÇÕES METODOLÓGICAS: - Preferência por propostas que estimulam a criatividade e que permitam a cada aluno produzir um trabalho individual e único

(C4.14) Prever o trabalho de grupo

OPÇÕES METODOLÓGICAS: - Promoção do trabalho e cooperação em grupo através da EEP

A exploração dos materiais didáticos específicos da EEP que constam do referido

integrava frequentemente a sequência de momentos que constituíam as experiências

educativas. Assim sendo, considerámos que o seu uso era facilitador das abordagens aos

conteúdos e, consequentemente, também contribuía para o desenvolvimento das competências

relativas à EEP.

Relativamente ao uso de vocabulário específico relacionado com a EEP (critério C3 e

indicador C3.1), o referido indica-nos que este faz parte das práticas e ocorre em momentos

de comunicação entre professores e alunos.

Podemos constatar que, nas práticas em EEP, se considera a aplicação das orientações

metodológicas enunciadas nos textos curriculares (critério C4), de acordo com as verificações

que apresentamos em seguida.

Uma das orientações diz respeito à adoção de diversas metodologias de trabalho, sendo

dados vários exemplos (entre os quais, as exposições orais, as demonstrações práticas, as

mostras individuais, entre outros) (indicador C4.1). Verificou-se que alguns dos exemplos se

concretizam na prática, principalmente enquanto estratégias para abordar conteúdos de EEP.

Atendendo ao referido, constatamos que as metodologias adotadas nas práticas incluem as

exposições orais, a apresentação e exploração de materiais didáticos, as discussões em grupo,

as demonstrações, a utilização das TIC, as visitas de estudo e as pesquisas em variadas fontes

de informação. No entanto, consideramos que nas práticas não se concretizam em pleno todas

as intenções expressas no currículo formal, quanto a este ponto, porque algumas das

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193

estratégias mencionadas apenas eram adotadas esporadicamente (por exemplo, em cada um

dos casos apenas foi realizada uma visita de estudo que visava diretamente a EEP).

No que respeita à seleção de situações de aprendizagem contextualizadas (indicador

C4.2), considerámos que esta se evidencia através da presença da EEP em documentos

relativos ao currículo planificado, tais como o PCA, o PAA, o PCT e as planificações

semanais e mensais, na medida em que estes expressam a integração e articulação da EEP

com as outras áreas curriculares e não curriculares e explicitam a sequência em que se

desenvolve. Ao nível do currículo que se concretiza na sala de aula, verificamos que a

contextualização das situações de aprendizagem sobrevém também do desenvolvimento de

atividades em que se articulam competências de diferentes áreas (no referido destaca-se, por

exemplo, a EED), tendo este aspeto sido enquadrado nas opções metodológicas identificadas

na investigação realizada.

No que concerne à seleção de temas relevantes e atuais relacionados com o meio

envolvente, com propostas dos alunos ou com o universo das artes visuais em Portugal

(indicador C4.3), consideramos que esta se concretiza através de duas opções metodológicas

que constam do referido: o «estímulo do sentido crítico dos alunos através da discussão de

temas» e a «promoção do contacto com a obra de arte e do desenvolvimento do sentido

estético». No entanto, julgamos que esta orientação expressa no currículo formal não se

concretiza em pleno, pelo caráter pontual com que é posta em prática. A investigação

realizada evidenciou que: os temas que mais se assinalaram são relacionados com histórias,

conteúdos de outras áreas curriculares, épocas do ano, entre outros; as propostas de temas e

atividades eram, essencialmente, feitas pelos professores (ao nível das planificações também

não se encontraram referências à possibilidade de os alunos apresentarem propostas); a

abordagem à obra de arte concretizou-se esporadicamente.

A seleção de atividades /projetos que impliquem um processo e um produto final

(indicador C4.4) é também um dos aspetos que se verificou nas práticas. A este respeito, o

referido indica-nos que os professores, nas suas opções metodológicas, promoviam o uso de

técnicas e materiais diversificados em trabalhos cuja execução exigia várias fases e

valorizavam o processo de experimentar e projetar.

Também se verifcou que a seleção de atividades que possibilitam o desenvolvimento da

criatividade e da expressão pessoal (indicador C4.5) é uma orientação seguida na prática. O

referido indica-nos duas opções metodológicas dos professores que vão nesse sentido: a

«preferência por propostas que estimulam a criatividade e que permitam a cada aluno produzir

um trabalho individual e único» e a «apresentação de propostas em que os alunos podem fazer

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trabalhos “livres” (principalmente de desenho) e nos quais podem representar as suas

vivências pessoais». A «ilustração de experiências vivenciadas» é uma das atividades que

amplia as capacidades expressivas e criativas dos alunos (Sousa, 2003) e que também integra

o referido na componente de «Atividades desenvolvidas».

Algumas das atividades desenvolvidas que constam do referido revelam que a seleção de

meios de expressão visual diversificados que permitem múltiplas abordagens estético-

pedagógicas (indicador C4.6) e atendem às necessidades de expressão dos alunos (indicador

C4.9) é considerada nas práticas. Consideramos como exemplos, as atividades de pintura com

técnicas, materiais e suportes diversificados; as construções, o recorte, a colagem e a

dobragem utilizando materiais diversificados; e também a elaboração de composições visuais

com o programa informático Paint. Julgamos, no entanto, que apesar de os meios utilizados

terem sido diversificados (o que aconteceu praticamente só num dos casos investigados), essa

diversidade podia ser mais abrangente, fazendo parte do processo de experimentar e

estendendo-se, por exemplo, ao uso de materiais e técnicas não convencionais, tendo como

referência exemplos existentes na arte contemporânea.

No que respeita à promoção do contacto com a obra de arte (indicadores C4.7), mais

propriamente com obras da cultura artística portuguesa, considerando o estudo de obras do

séc. XX como ponto de partida para o estudo de obras de outras épocas e culturas (indicador

C4.8), o referido vem mostrar que esta se concretiza através da realização de visitas de estudo

e de atividades que envolvem a leitura de imagens. Uma das opções metodológicas

identificadas na investigação realizada também aponta que a promoção de abordagens que

incluíam a aproximação à obra de arte era considerada na prática. No entanto, pelo

conhecimento próximo que tivemos com os casos estudados, anotamos que estas apenas se

concretizaram ocasionalmente, tendo sido as visitas de estudo os momentos mais

significativos em que os alunos contactaram com obras de arte (o Museu Coleção Berardo, a

exposição «Sem Rede» da artista plástica Joana Vasconcelos e o Museu Arqueológico de São

Miguel de Odrinhas foram os locais visitados).

O referido indica-nos que, nas práticas, se prevê a adequação da exploração plástica ao

nível de desenvolvimento de cada aluno (indicador C4.10). Verificou-se que é através da

avaliação, principalmente da avaliação diagnóstica, que se identifica o grau de

desenvolvimento gráfico e plástico dos alunos. Verificou-se também que os resultados obtidos

condicionam as decisões sobre as atividades a realizar, perspetivando assim a sua adequação

ao nível de desenvolvimento dos alunos.

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As práticas incluem diversas estratégias de avaliação (indicador C4.11). O referido vem

mostrar que a avaliação comunicada aos alunos se faz através de comentários verbais; que se

preveem momentos de autoavaliação e heteroavaliação (que se concretizam através de

diálogos/ debates); que se atende ao processo e ao produto final; e que se efetua através da

observação direta dos comportamentos dos alunos e da análise dos trabalhos realizados.

Existem ainda outros elementos do referido que poderemos considerar relacionados com o

currículo avaliado (Gimeno, 1988). Estes, referem-se a tipos, formas, objetos e também

critérios de avaliação. A saber: as práticas de avaliação incluem a avaliação diagnóstica,

formativa e sumativa; os resultados da avaliação diagnóstica condicionam as decisões sobre

as atividades a realizar; a avaliação considera os processos, os produtos e atende ao

desenvolvimento gráfico e plástico do aluno; a avaliação é expressa através de uma escala

qualitativa; os critérios de avaliação são definidos no PCA e referem-se à aplicação de

técnicas, à criatividade e ao empenho manifestado pelos alunos.

O tempo em que se desenvolvem as atividades de EEP é gerido por forma a permitir a

consolidação das aprendizagens e a qualidade do produto final (indicador C4.12). Nos

contextos estudados pôde-se verificar que existia alguma flexibilidade na determinação do

tempo que poderia ser ocupado pela EEP. No entanto, num dos casos, o tempo atribuído era

muito limitado e, apesar de haver flexibilidade na sua gestão, a seleção de atividades era

também condicionada. Consideramos que o facto de a EEP não ter um tempo próprio levou a

que os alunos não tivessem oportunidade de experimentar técnicas e materiais que

ampliassem, mais significativamente, as suas capacidades expressivas, comunicativas e

criativas no uso da linguagem plástica.

Pôde-se constatar que as práticas incluem trabalho individual e trabalho em grupo

(indicadores C4.13 e C4.14). A este respeito, duas das opções metodológicas que constam do

referido acentuam que os professores têm preferência por propostas que estimulam a

criatividade e que permitem a cada aluno produzir um trabalho individual e único e, também,

que veem as atividades de EEP como meios para promover o trabalho e a cooperação em

grupo. Acrescentamos, no entanto, que em termos do que foi concretizado, o trabalho de

grupo teve grande expressão apenas num dos casos.

2. Relação entre o referente “currículo ideal” e o referido “currículo real”

O referente “currículo ideal” é constituído pelas dimensões de análise «Conceito de

expressão plástica» (D), «Desenvolvimento da criatividade» (E) e «Papel do professor» (F) e

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196

tem origem na revisão da literatura em torno dos temas “expressão plástica”,

“desenvolvimento da criatividade através da expressão plástica” e “atitudes pedagógicas e

opções metodológicas para a prática criativa da expressão plástica”, apresentada no Capítulo

I, Enquadramento teórico.

Na dimensão «Conceito de expressão plástica», verificamos em que medida se concretiza

o conceito de expressão plástica nas práticas. Nesta análise, cruzamos cada uma das vias de

concretização do conceito de expressão plástica (critério D1) com elementos que constam do

referido, sendo estes pertencentes às componentes «Atividades desenvolvidas» e «Opções

metodológicas». Reconhecemos, no entanto, que temos várias redundâncias, mas

considerámos importante delimitar significados e, consequentemente, especificar o que

enquadramos em cada uma das vias (ver Quadro 39).

Constatamos que o uso e exploração dos elementos da linguagem plástica (indicador

D1.1) se concretiza através do desenvolvimento de diversas atividades, tais como a ilustração

de experiências vivenciadas, de histórias escritas pelos alunos e de textos/ obras de literatura

infantil; da pintura, construções, recorte, colagem e dobragem com materiais diversificados; a

elaboração de cartazes e de composições visuais utilizando o programa informático Paint; e

também a pintura de figuras em folhas policopiadas e em manuais. Quanto a esta última

atividade, já referimos que se distancia da concretização do conceito de expressão plástica. No

entanto, como envolve, pelo menos, o uso de um elemento da linguagem plástica (a cor),

apenas a relacionamos com esta via (relativa ao uso e exploração dos elementos da linguagem

plástica).

O manuseamento e modificação de materiais plásticos, a expressão de sentimentos e

emoções, a comunicação de ideias e a criação de algo através do uso da linguagem plástica

(indicadores D1.2, D1.3 e D1.4) também sobrevém das «atividades desenvolvidas» (as

mesmas do ponto anterior, à exceção da «pintura de figuras em folhas policopiadas e

manuais»). O referido indica-nos algumas opções metodológicas, que entendemos estar

subjacentes ao conjunto de atividades desensolvidas e através das quais se concretiza a

«expressão plástica». A saber: a «promoção do uso de técnicas e materiais diversificados em

trabalhos cuja execução exige várias fases»; a «preferência por propostas que estimulam a

criatividade e que permitam a cada aluno produzir um trabalho individual e único»; e a

«apresentação de propostas em que os alunos podem fazer trabalhos «livres» (principalmente

de desenho) e nos quais podem representar as suas vivências pessoais».

No que respeita à via « desenvolvimento do pensamento, da imaginação, da sensibilidade,

da criatividade e da capacidade de descoberta através da apropriação e do uso da linguagem

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plástica» (indicador D1.5), entendemos que esta se concretiza também pelas atividades

desenvolvidas atrás referidas e por outras que envolvem a «apropriação» da linguagem

plástica. Considerámos que as atividades «contacto com um escritor e ilustrador», «leitura de

imagens (ilustrações de obras de literatura infantil, fotografias, obras de arte », «pesquisas

sobre temas da EEP» e a «realização de visitas de estudo que permitem o contacto com obras

de arte» se referem a esta «apropriação», necessária para que seja possível o uso e exploração

da linguagem plástica. Pelo referido, verificamos que algumas opções metodológicas estão

diretamente relacionadas com esta via de concretização da expressão plástica (se os

professores não fizessem estas opções, esta não se concretizaria), sendo algumas semelhantes

ao ponto anterior. Não as referindo todas, destacamos as opções que se relacionam com o

desenvolvimento do pensamento, da sensibilidade, da capacidade de descoberta e com a

«apropriação» da linguagem plástica: «valorização do processo de experimentar e projetar»;

«estímulo do sentido crítico dos alunos através da discussão de temas»; «promoção do

contacto com a obra de arte e do desenvolvimento do sentido estético»; e o «uso de

vocabulário específico da EEP em momentos de comunicação entre professor e alunos».

Quadro 39 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Conceito de expressão

plástica»

REFERENCIAL DE AVALIAÇÃO (referente “currículo ideal”)

REFERIDO

Categorias Critérios Indicadores Componente da prática / itens em operacionalização (D) Conceito de expressão plástica

(D1) Vias de concretização do conceito de expressão plástica

(D1.1) Uso e exploração dos elementos da linguagem plástica

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS: - Ilustração de experiências vivenciadas - Ilustração de histórias escritas pelos alunos - Ilustração de textos /obras de literatura infantil - Pintura com técnicas, materiais e suportes diversificados - Recorte, colagem e dobragem em materiais diversificados - Elaboração de cartazes - Construções com materiais diversificados - Elaboração de composições visuais utilizando o programa informático Paint - Pintura de figuras em folhas policopiadas e em manuais

(D1.2) Manuseamento e modificação de materiais plásticos

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS: - Ilustração de experiências vivenciadas - Ilustração de histórias escritas pelos alunos - Ilustração de textos /obras de literatura infantil - Pintura com técnicas, materiais e suportes diversificados - Recorte, colagem e dobragem em materiais diversificados - Elaboração de cartazes - Construções com materiais diversificados - Elaboração de composições visuais utilizando o programa informático Paint OPÇÕES METODOLÓGICAS: - Promoção do uso de técnicas e materiais diversificados em

(D1.3) Expressão de sentimentos e emoções e comunicação de ideias através do uso da linguagem plástica

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(D) Conceito de expressão plástica (continuação)

(D1) Vias de concretização do conceito de expressão plástica (continuação)

(D1.4) Criação de algo através do uso da linguagem plástica

trabalhos cuja execução exige várias fases - Preferência por propostas que estimulam a criatividade e que permitam a cada aluno produzir um trabalho individual e único - Apresentação de propostas em que os alunos podem fazer trabalhos «livres» (principalmente de desenho) e nos quais podem representar as suas vivências pessoais

(D1.5) Desenvolvimento do pensamento, da imaginação, da sensibilidade, da criatividade e da capacidade de descoberta através da apropriação e do uso da linguagem plástica

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS: - Ilustração de experiências vivenciadas - Ilustração de histórias escritas pelos alunos - Ilustração de textos /obras de literatura infantil - Pintura com técnicas, materiais e suportes diversificados - Recorte, colagem e dobragem em materiais diversificados - Elaboração de cartazes - Construções com materiais diversificados - Elaboração de composições visuais utilizando o programa informático Paint - Contacto com um escritor e ilustrador - Leitura de imagens (ilustrações de obras de literatura infantil, fotografias, obras de arte) - Pesquisas sobre temas da EEP - Realização de visitas de estudo que permitem o contacto com obras de arte OPÇÕES METODOLÓGICAS: - Promoção do uso de técnicas e materiais diversificados em trabalhos cuja execução exige várias fases - Valorização do processo de experimentar e projetar - Estímulo do sentido crítico dos alunos através da discussão de temas - Promoção do contacto com a obra de arte e do desenvolvimento do sentido estético - Preferência por propostas que estimulam a criatividade e que permitam a cada aluno produzir um trabalho individual e único - Uso de vocabulário específico da EEP em momentos de comunicação entre professor e alunos - Apresentação de propostas em que os alunos podem fazer trabalhos «livres» (principalmente de desenho) e nos quais podem representar as suas vivências pessoais

Na categoria «Desenvolvimento da criatividade» (E) referimo-nos ao posicionamento das

atividades / situações do ponto de vista do estímulo à criatividade. No referido acentua-se a

importância do desenvolvimento da criatividade em itens enquadrados nas componentes

«Opções metodológicas», «Atividades desenvolvidas» e «Avaliação». Sendo assim,

reconhecemos no conjunto de atividades que constam do referido (ver Quadro 40), os

seguintes atributos: apelam ao pensamento divergente (indicador E1.1); promovem a

flexibilidade e a liberdade (indicador E1.2); e estimulam a curiosidade, a sensibilidade e a

fantasia (indicador E1.4). Consideramos que as opções metodológicas «preferência por

propostas que estimulam a criatividade e que permitam a cada aluno produzir um trabalho

individual e único» e «apresentação de propostas em que os alunos podem fazer trabalhos

«livres» (principalmente de desenho) e nos quais podem representar as suas vivências

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pessoais», também confirmam a concretização dos indicadores referidos atrás, porque

provêm de observações feitas em contexto real.

Quanto a «fomentar a comunicação e a participação» (indicador E1.3) e a «conduzir os

alunos à formulação de questões sobre o que os rodeia» (indicador E1.6), julgamos que se

confirma a sua concretização, não só pelas atividades realizadas, como também pela opção

identificada no referido que remete para o «estímulo do sentido crítico dos alunos através da

discussão de temas».

No que respeita a «promover a autonomia, a motivação, o espírito crítico, o esforço e o

trabalho» (indicador E1.5) e a «tomar decisões sobre o processo de criar» (indicador (E1.7), o

referido também revela a sua concretização, pois provou-se que nas diferentes atividades se

verificava a «valorização do processo de experimentar e projetar».

Quanto a «possibilitar a autoavaliação sobre a adequação e a qualidade do trabalho»

(indicador E1.8), o referido também revela que as atividades incluem momentos para a

autoavaliação.

O conjunto das opções metodológicas que incluímos no referido “currículo real”, também

inclui aspetos que julgamos serem desfavoráveis ao desenvolvimento da criatividade, mas

que, também integram as práticas em EEP. A saber: «valorização do produto final»;

«apresentação de propostas de trabalhos em que todos os alunos se sujeitam aos mesmos

temas, técnicas e materiais»; «utilização de modelos que todos os alunos copiam»; e

«apresentação de propostas que consistem na pintura de figuras em manuais e em folhas

fotocopiadas»12

.

Quadro 40 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Desenvolvimento da

criatividade»

REFERENCIAL DE AVALIAÇÃO (referente “currículo ideal”)

REFERIDO

Categorias Critérios Indicadores Componente da prática / itens em operacionalização (E) Desenvolvimento da criatividade

(E1) Posicionamento das actividades / situações relativamente ao estimulo da criatividade

(E1.1) Apelar ao pensamento divergente

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS: - Ilustração de experiências vivenciadas - Ilustração de histórias escritas pelos alunos - Ilustração de textos /obras de literatura infantil - Pintura com técnicas, materiais e suportes diversificados - Recorte, colagem e dobragem em materiais diversificados - Elaboração de cartazes

(E1.2) Promover a flexibilidade e a liberdade (E1.3) Fomentar a comunicação e a participação

12 Ver Quadro 35, Capítulo IV, A construção do referido currículo real.

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(E) Desenvolvimento da criatividade (continuação)

(E1) Posicionamento das actividades / situações relativamente ao estimulo da criatividade (continuação)

(E1.4) Estimular a curiosidade, a sensibilidade e a fantasia

- Construções com materiais diversificados - Elaboração de composições visuais utilizando o programa informático Paint - Leitura de imagens (ilustrações de obras de literatura infantil, fotografias, obras de arte) - Pesquisas sobre temas da EEP - Realização de visitas de estudo que permitem o contacto com obras de arte OPÇÕES METODOLÒGICAS - Preferência por propostas que estimulam a criatividade e que permitam a cada aluno produzir um trabalho individual e único - Valorização do processo de experimentar e projetar - Estímulo do sentido crítico dos alunos através da discussão de temas - Apresentação de propostas em que os alunos podem fazer trabalhos «livres» (principalmente de desenho) e nos quais podem representar as suas vivências pessoais AVALIAÇÃO: - As atividades incluem momentos para a autoavaliação

(E1.5) Promover a autonomia, a motivação, o espírito crítico, o esforço e o trabalho (E1.6) Conduzir os alunos à formulação de questões sobre o que os rodeia (E1.7) Tomar decisões sobre o processo de criar (E1.8) Possibilitar a autoavaliação sobre a adequação e a qualidade do trabalho

A categoria «Papel do professor» (F) enquadra os aspetos que configuram atitudes

favoráveis à concretização do conceito de expressão plástica (Critério F1). Para estabelecer a

relação entre esta parte do referencial e o referido, procurámos a correspondência entre os

indicadores e os itens que integram as componentes da prática (currículo real) (ver Quadro

41).

Podemos constatar que, nas práticas em EEP, os professores adotam atitudes facilitadoras

da concretização da expressão plástica, de acordo com as verificações que apresentamos em

seguida.

As atitudes relacionadas com o desenvolvimento da criatividade através da EEP

(indicadores F1.2 , F1.3 e F1.16) confirmam-se através de diversos itens que constam do

referido, principalmente ao nível das «opções metodológicas» e das «atividades

desenvolvidas». Constatou-se que, no currículo real, os professores promovem atividades

(como por exemplo a pintura e construções com materiais diversificados) que estimulam a

criatividade e que permitem a cada aluno produzir um trabalho individual e único.

Depreendemos que os professores reconhecem na EEP um espaço para o desenvolvimento

das capacidades criativas dos alunos.

Verificámos que é reconhecida importância a atividades que permitem observar, fruir,

analisar e emitir opiniões sobre a obra de arte e, consequentemente, promover o

desenvolvimento do sentido estético (indicadores F1.6 e F1.20). O referido indica-nos a

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201

existência de atividades que envolvem o contacto com a obra de arte, principalmente através

da leitura de imagens, na sala de aula, e da realização de visitas de estudo. Salientamos, no

entanto, o caráter esporádico destas atividades nos contextos dos casos estudados.

Os professores preocupam-se em conhecer e facilitar a apropriação da «gramática visual»

necessária para ler, compreender e produzir imagens (indicador F1.7). O referido mostra-nos,

de modo mais evidente, que a apropriação de conhecimentos é possibilitada pela abordagem a

conteúdos, pela realização de pesquisas e pelo uso de vocabulário específico da EEP em

momentos de comunicação entre professores e alunos. Apurámos também que os professores

intervenientes nos casos estudados se interessam por fazer formação relacionada com a EEP.

Os professores adotam metodologias diversificadas (indicador F1.8). O referido revela

que tanto ao nível das atividades propostas como ao nível das estratégias para abordar

conteúdos de EEP, existe diversidade nas opções dos professores.

Os professores revelam-se conscientes de que a sua atuação pode condicionar a

autenticidade da expressão e compreendem a importância de criar um clima propício à

espontaneidade (indicadores F1.4, F1.12 e F1.14). A respeito destas duas atitudes, o referido

aponta que os professores se preocupavam em atuar de forma a não condicionar os alunos no

seu esforço expressivo e criativo, proporcionando atividades livres onde, por exemplo,

podiam representar a suas vivências pessoais.

Os professores valorizam atividades que associam a EEP a diferentes áreas do

conhecimento, incluindo as outras expressões artísticas, promovendo a integração de saberes

(indicadores F1.9 e F1.10). No currículo real verificou-se que a EEP se articulava com as

outras áreas curriculares. No que respeita à associação com as outras linguagens artísticas,

constatámos que era esporádica e apenas foi verificada num dos casos estudados.

Os professores preocupam-se em proporcionar experiências com técnicas e materiais

diversificados e que se adequem aos alunos (indicadores F1.15 e F1.17). Estas atitudes foram

constatadas no currículo real pela variedade de atividades desenvolvidas, consistindo estas no

uso de técnicas e materiais diversificados.

Para os professores é importante a reflexão e avaliação sobre o processo de criação e sobre

o trabalho desenvolvido (indicador F1.18). A este respeito, o referido vem mostrar que se

privilegiavam os momentos de autoavaliação e heteroavaliação. Ainda relativamente à

avaliação, é também importante para os professores terem noção da evolução dos alunos

(F1.19). Neste sentido, verificou-se no currículo real que os trabalhos dos alunos eram

ordenados e organizados em arquivos próprios, para melhor se identificar a evolução ao nível

do desenvolvimento gráfico e plástico.

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202

O desenvolvimento do sentido crítico (indicador F1.23) é valorizado pelos professores e

verifica-se, por exemplo, ao nível da promoção da discussão de temas e também da realização

da autoavaliação e da heteroavaliação.

No referido não se incluem aspetos que, explicitamente e amplamente, confirmem a

concretização das seguintes atitudes (ainda que estejam subjacentes a outras atitudes que

registámos): «adotar uma pedagogia não diretiva, flexível e aberta»; «utilizar a componente

lúdica em abordagens a conceitos e para desencadear o processo criativo»; «observar e

apreciar os trabalhos dos alunos estimulando-os no seu esforço expressivo e criativo»;

«associar a utilização das TIC à EEP, perspetivando modos de explorar as potencialidades das

tecnologias contemporâneas naquilo em que estas podem contribuir para o acesso a bens

culturais, a modos de criação de diferentes povos e culturas e a um conhecimento amplo sobre

processos e procedimentos de produção artística»; «promover o respeito pelas diferentes

manifestações de arte, aceitando a perspetiva dos alunos»; e «proporcionar atividades

facilitadoras da compreensão e respeito pelas diversas identidades culturais».

Quadro 41 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Papel do professor»

REFERENCIAL DE AVALIAÇÃO

(referente “currículo ideal”)

REFERIDO

Categorias Critérios Indicadores Componente da prática / itens em operacionalização (F) Papel do professor

(F1) Adoção de atitudes pedagógicas favoráveis à concretização do conceito de expressão plástica

(F1.1) Adotar uma pedagogia não diretiva, flexível e aberta

OPÇÕES METODOLÓGICAS: - Preferência por propostas que estimulam a criatividade e que permitam a cada aluno produzir um trabalho individual e único - Promoção do uso de técnicas e materiais diversificados em trabalhos cuja execução exige várias fases - Estímulo do sentido crítico dos alunos através da discussão de temas - Articulação da EEP com outras linguagens artísticas, principalmente com a área de EED - Articulação entre a EEP e as outras áreas curriculares - Promoção do contacto com a obra de arte e do desenvolvimento do sentido estético - Atuação sem condicionar a autenticidade dos trabalhos das crianças - Uso de vocabulário específico da EEP em momentos de comunicação entre professor e alunos - Apresentação de propostas em que os alunos podem fazer trabalhos «livres» (principalmente de desenho) e nos quais podem representar as suas vivências pessoais

(F1.2) Valorizar atividades que estimulam o pensamento divergente e intuitivo (F1.3) Apresentar às crianças propostas que constituem «desafios» para os quais elas devem criar soluções individuais e únicas (F1.4) Revelar-se consciente das influências dos estereótipos e defender a autenticidade da expressão (F1.5) Utilizar a componente lúdica em abordagens a conceitos e para desencadear o processo criativo (F1.6) Organizar atividades que permitem observar, fruir, analisar e emitir opiniões sobre a obra de arte (F1.7) Conhecer e facilitar a apropriação da «gramática visual» necessária para ler, compreender e produzir imagens (F1.8) Adotar metodologias diversificadas (F1.9) Relacionar a expressão plástica com as outras expressões artísticas e as diferentes áreas do conhecimento (F1.10) Proporcionar atividades que implicam a busca de conhecimentos diversos, evidenciando a integração de saberes

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203

(F) Papel do professor (continuação)

(F1) Adoção de atitudes pedagógicas favoráveis à concretização do conceito de expressão plástica (continuação)

(F1.11) Associar a utilização das TIC à EEP, perspetivando modos de explorar as potencialidades das tecnologias contemporâneas naquilo em que estas podem contribuir para o acesso a bens culturais, a modos de criação de diferentes povos e culturas e a um conhecimento amplo sobre processos e procedimentos de produção artística

ESTRATÉGIAS PARA ABORDAR CONTEÚDOS DE EEP: - Exposições orais - Apresentação e exploração de materiais didáticos - Discussões em grupo - Demonstrações (por exemplo, da aplicação de técnicas de expressão plástica) - Utilização das TIC (por exemplo, apresentações no quadro interativo) - Visitas de estudo - Pesquisas em variadas fontes de informação PLANIFICAÇÃO: - A planificação refere-se à articulação entre a EEP e outras áreas curriculares ATIVIDADES DESENVOLVIDAS - Ilustração de experiências vivenciadas - Pintura com técnicas, materiais e suportes diversificados - Recorte, colagem e dobragem em materiais diversificados - Construções com materiais diversificados - Elaboração de composições visuais utilizando o programa informático Paint - Leitura de imagens (ilustrações de obras de literatura infantil, fotografias, obras de arte) - Pesquisas sobre temas da EEP - Realização de visitas de estudo que permitem o contacto com obras de arte AVALIAÇÃO: - As atividades incluem momentos para a autoavaliação - As atividades incluem momentos para a heteroavaliação - A avaliação considera o desenvolvimento gráfico e plástico do aluno - Os trabalhos de EEP são organizados em arquivos próprios

(F1.12) Preocupar-se com o modo como interfere no trabalho dos alunos (F1.13) Observar e apreciar os trabalhos dos alunos estimulando-os no seu esforço expressivo e criativo (F1.14) Criar um clima propício à espontaneidade (F1.15) Deixar que os alunos explorarem e desenvolvam técnicas através da experimentação de diferentes materiais (F1.16) Apresentar diferentes técnicas, instrumentos e materiais através de estratégias que estimulem a criatividade (F1.17) Selecionar técnicas e materiais que se adequam aos alunos (F1.18) Proporcionar momentos de reflexão e avaliação sobre o processo de criação e sobre o trabalho realizado» (F1.19) Analisar a evolução dos trabalhos dos alunos (F1.20) Proporcionar atividades facilitadoras do desenvolvimento do sentido estético (F1.21) Proporcionar atividades facilitadoras da compreensão e respeito pelas diversas identidades culturais (F1.22) Promover o respeito pelas diferentes manifestações de arte, aceitando a perspetiva dos alunos (F1.23) Prever abordagens que facilitem o desenvolvimento do pensamento crítico

3. Relação entre o referente “currículo real representado” e o referido “currículo real”

Nesta parte relacionamos o referente “currículo real representado”, que tem origem nos

resultados obtidos com a aplicação do questionário a uma amostra de professores do 1º Ciclo,

com o referido “currículo real”. Sendo assim, iremos reportar-nos ao currículo real da EEP,

em dois níveis diferentes. Por um lado o currículo real “representado”, em que os dados

relativos às componentes da prática em EEP traduzem o que o maior número de professores

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referiu fazer com maior frequência. E por outro lado, o “currículo real”, cujos dados traduzem

as práticas em EEP nos contextos do Estudo de caso 1 e do Estudo de caso 2.

A análise irá confirmar, ou infirmar, se o que verificámos que acontece no currículo real

da EEP corresponde às representações que os professores inquiridos têm sobre as suas

práticas. Iremos debruçar-nos sobre as categorias que integram o referente “currículo real

representado” e as componentes da prática que constituem o referido “currículo real”, e que

relembramos: Atividades desenvolvidas, Estratégias para abordar conteúdos de EEP, Opções

Metodológicas, Planificação, Materiais didáticos específicos da EEP e Avaliação.

A categoria Atividades desenvolvidas (G) refere-se à diversidade de propostas

apresentadas aos alunos (critério G1) e compreende as atividades que são concretizadas com

maior frequência pelos professores do 1º Ciclo. Observando o referido, relativamente à

mesma componente da prática (atividades desenvolvidas), podemos constatar que nele se

encontram representadas todas as atividades do referencial (ver Quadro 42). Ou seja, o tipo de

atividades mais realizadas nas práticas dos professores do 1º Ciclo coincide com o tipo de

atividades que foram realizadas nos contextos dos casos estudados. O que se verifica no

“currículo real” confirma o que se apurou relativamente ao “currículo real representado”, no

que se refere às atividades de EEP. Apenas não estão compreendidas as «construções com

materiais diversificados», a «elaboração de composições visuais utilizando o programa

informático Paint», o «contacto com um escritor e ilustrador», as «pesquisas sobre temas da

EEP» e a «realização de visitas de estudo que permitem o contacto com obras de arte».

Quadro 42 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Atividades desenvolvidas»

REFERENCIAL DE AVALIAÇÃO

(referente “currículo real representado”)

REFERIDO

Categorias Critérios Indicadores Componente da prática / itens em operacionalização (G) Atividades desenvolvidas

(G1) Diversidade de propostas apresentadas aos alunos

(G1.1) Desenhar livremente

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS: - Ilustração de experiências vivenciadas - Ilustração de histórias escritas pelos alunos - Ilustração de textos /obras de literatura infantil - Pintura com técnicas, materiais e suportes diversificados - Recorte, colagem e dobragem em materiais diversificados - Elaboração de cartazes - Construções com materiais diversificados - Elaboração de composições visuais utilizando o programa informático Paint - Contacto com um escritor e ilustrador - Leitura de imagens (ilustrações de obras de literatura infantil, fotografias, obras de arte) - Pesquisas sobre temas da EEP - Realização de visitas de estudo que permitem o contacto com obras de arte

(G1.2) Desenhar com temas sugeridos (G1.3) Pintar livremente (G1.4) Pintar com temas sugeridos (G1.5) Recortar (G1.6) Fazer colagens (G1.7) Fazer dobragens (G1.8) Fazer cartazes (G1.9) Observar e analisar imagens em contextos diversos

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Quanto à categoria «Estratégias para abordar conteúdos de EEP» (H), esta representa a

diversidade de estratégias adotadas mais frequentemente pelos professores do 1º Ciclo

(critério H1).

O referido, que inclui menções comuns às do referencial, vem confirmar que as

exposições orais, a apresentação e exploração de materiais didáticos e a demonstração (por

exemplo, da aplicação de técnicas de expressão plástica) integram, de facto, as práticas em

EEP, pois verificaram-se no currículo real (ver Quadro 43). Não se verificou, no entanto, a

estratégia relacionada com a observação da realidade (observar objetos reais, paisagem, entre

outros). Por outro lado, o referido dá-nos conta que há outras estratégias que integram o

currículo real, tais como: as discussões em grupo, a utilização das TIC, as visitas de estudo e

as pesquisas em variadas fontes de informação. Podemos depreender que no currículo real

existe maior diversidade de estratégias para abordar conteúdos de EEP, do que o que se

apurou relativamente ao currículo real representado. Quadro 43 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Estratégias para abordar

conteúdos de EEP »

REFERENCIAL DE AVALIAÇÃO (referente “currículo real representado”)

REFERIDO

Categorias Critérios Indicadores Componente da prática / itens em operacionalização (H) Estratégias para abordar conteúdos de EEP

(G1) Diversidade de estratégias adotadas

(H1.1) Fazer exposições orais ESTRATÉGIAS PARA ABORDAR CONTEÚDOS DE EEP: - Exposições orais - Apresentação e exploração de materiais didáticos - Discussões em grupo - Demonstrações (por exemplo, da aplicação de técnicas de expressão plástica) - Utilização das TIC (por exemplo, apresentações no quadro interativo) - Visitas de estudo - Pesquisas em variadas fontes de informação

(H1.2) Explorar materiais didáticos (acetatos, powerpoints, cartazes, manuais, objetos representativos da utilização de técnicas e materiais, entre outros) (H1.3) Demonstrar (aplicação de técnicas, materiais, manuseamento de utensílios, entre outros) (H1.4) Promover a observação da realidade (observar objetos reais, paisagem, entre outros)

A categoria «Opções metodológicas» (I) abrange aspetos relativos ao papel dos alunos, ao

papel dos professores e à natureza das atividades e que constituem «opções» feitas pelos

professores nas práticas em EEP. Salientando as opções metodológicas que são comuns ao

referente e ao referido, destacamos: a promoção do trabalho e cooperação em grupo através

da realização de trabalhos coletivos de EEP; a articulação entre a EEP e as outras áreas

curriculares; a valorização do processo de projetar e experimentar; a promoção de atividades

facilitadoras do desenvolvimento do sentido crítico e do sentido estético; a promoção de

atividades que estimulam a criatividade e que permitem a cada aluno produzir um trabalho

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individual e único; a promoção do uso de técnicas e materiais diversificados; e a apresentação

dos trabalhos dos alunos à comunidade através da organização de exposições (ver Quadro 44).

Verificou-se ainda que «proporcionar aos alunos exercícios que consistem na pintura de

figuras em manuais e em folhas fotocopiadas» faz parte das opções dos professores . Este

dado revela que os professores não têm uma posição clara quanto à forma de concretização do

conceito de expressão plástica, porque comparando esta opção com outras, existe incoerência

relativamente ao modo se entende o estímulo da criatividade, expressividade e comunicação

através do uso da linguagem plástica.

A proposta de atividades facilitadoras da compreensão e respeito pelas diversas

identidades culturais consta do referente “currículo real representado”, mas não se verificou

no currículo real. Inversamente, enumeramos algumas opções metodológicas que verificámos

apenas nos contextos dos casos estudados: a «participação dos alunos na seleção de

atividades»; a «flexibilidade na determinação do tempo que pode ser ocupado pela EEP»; a

«articulação da EEP com outras linguagens artísticas»; o «uso de vocabulário específico da

EEP em momentos de comunicação entre professor e alunos»; a «atuação do professor sem

condicionar a autenticidade dos trabalhos das crianças»; e a «apresentação de propostas em

que os alunos podem fazer trabalhos «livres» (principalmente de desenho) e nos quais podem

representar as suas vivências pessoais». Registámos ainda algumas opções que nos parecem

desfavoráveis à concretização do conceito de expressão plástica, mas que verificámos que

também fazem parte das práticas do currículo real: a «valorização do produto final»; a

«apresentação de propostas de trabalhos em que todos os alunos se sujeitam aos mesmos

temas, técnicas e materiais»; e a «utilização de modelos que todos os alunos copiam».

Quadro 44 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Opções metodológicas»

REFERENCIAL DE AVALIAÇÃO (referente «currículo real representado»)

REFERIDO

Categorias Critérios Indicadores Componente da prática / itens em operacionalização (I) Opções metodológicas

(I1) Diversidade de opções metodológicas relativas ao papel do professor, ao papel dos alunos e à natureza das atividades

(I1.1) Os alunos têm contacto com materiais diversificados

OPÇÕES METODOLÓGICAS: - Promoção do trabalho e cooperação em grupo através da EEP - Participação dos alunos na seleção de atividades de EEP a realizar - Promoção do uso de técnicas e materiais diversificados em trabalhos cuja execução exige várias fases - Flexibilidade na determinação do tempo que poderia ser ocupado pela EEP - Valorização do processo de experimentar e projetar - Apresentação dos trabalhos dos alunos à comunidade através da organização de exposições - Estímulo do sentido crítico dos alunos através da discussão

(I1.2) Os alunos realizam trabalhos coletivos (I1.3) Os alunos realizam exercícios de colorir figuras em manuais ou folhas policopiadas (I1.4) O professor propõe trabalhos que permitem a cada aluno produzir um trabalho individual e único (I1.5) O professor promove o trabalho e a cooperação em grupo através da EEP

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207

(I1.6) O professor proporciona experiências que associam a EEP a outras áreas curriculares

de temas - Articulação da EEP com outras linguagens artísticas, principalmente com a área de EED - Promoção do contacto com a obra de arte e do desenvolvimento do sentido estético - Valorização do produto final - Apresentação de propostas de trabalhos em que todos os alunos se sujeitam aos mesmos temas, técnicas e materiais - Utilização de modelos que todos os alunos copiam - Preferência por propostas que estimulam a criatividade e que permitam a cada aluno produzir um trabalho individual e único - Articulação entre a EEP e as outras áreas curriculares - Atuação sem condicionar a autenticidade dos trabalhos das crianças - Uso de vocabulário específico da EEP em momentos de comunicação entre professor e alunos - Apresentação de propostas em que os alunos podem fazer trabalhos «livres» (principalmente de desenho) e nos quais podem representar as suas vivências pessoais - Apresentação de propostas que consistem na pintura de figuras em manuais e em folhas fotocopiadas

(I1.7) O professor valoriza o processo de projetar e experimentar (I1.8) O professor prevê abordagens que desenvolvem o pensamento crítico (I1.9) O professor propõe atividades facilitadoras do desenvolvimento do sentido estético (I1.10) O professor propõe atividades facilitadoras da compreensão e respeito pelas diversas identidades culturais (I1.11) Os trabalhos dos alunos são expostos na sala de aula (I1.12) Os trabalhos dos alunos são expostos em espaços da escola (I1.13) As atividades propostas estimulam a criatividade dos alunos

Na categoria «Planificação» (J) referimo-nos à amplitude dos elementos que são

considerados na organização do ensino-aprendizagem da EEP (critério J1). Começamos por

salientar os aspetos que são comuns ao referente e ao referido e que, por isso, são indicativos

do que acontece nas práticas: a planificação baseia-se, principalmente, no Programa do 1º

Ciclo, embora também sejam considerados elementos do Currículo Nacional (competências

relativas à literacia em artes, competências específicas da Educação Visual e competências

nos domínios da comunicação visual e dos elementos da forma para o 1º Ciclo); a EEP

integra o Projeto Curricular de Turma e outros projetos e planos (podendo estes ser o Projeto

Curricular de Agrupamento e o Plano Anual de Atividades); as planificações referem-se à

articulação entre a EEP e as outras áreas curriculares, podendo as atividades ocupar duas

horas do tempo letivo semanal (ver Quadro 45).

Pelo que se apurou no currículo real representado, as Metas de Aprendizagem também são

consideradas na planificação de atividades de EEP. A organização de visitas de estudo é

articulada entre as escolas e as instituições culturais e artísticas e também é levada em conta

quando se planificam atividades de EEP.

Ao nível do currículo real, verificou-se que os elementos relativos à EEP nas planificações

diziam respeito a atividades, estratégias, recursos, tempo e avaliação. Verificou-se ainda que

não foram realizadas atividades relacionadas com os subdomínios «Modelagem e Escultura»,

«Tecelagem e Costura» e «Fotografia, Transparências e Meios Audiovisuais» (Programa do

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1º Ciclo). Vão no mesmo sentido os dados que se apuraram com a aplicação do questionário,

pois verificou-se que, em grandes percentagens, os professores afirmaram realizar muito

raramente as atividades de esculpir, tecer, costurar, construir elementos para tapeçarias,

fotografar e construir transparências e diapositivos13

.

Quadro 45 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Planificação»

REFERENCIAL DE AVALIAÇÃO (referente “currículo real representado”)

REFERIDO

Categorias Critérios Indicadores Componente da prática / itens em operacionalização (J) Planificação

(G1) Amplitude dos elementos considerados na planificação

(J1.1) Ao planificar consulta o Programa do 1º Ciclo

PLANIFICAÇÃO - A planificação tem por base os blocos, subdomínios e objetivos de ação/ experiências educativas que constam do Programa do 1º Ciclo - Os objetivos de ação/ experiências educativas correspondentes aos subdomínios «Modelagem e Escultura», «Tecelagem e Costura» e «Fotografia, Transparências e Meios Audiovisuais» não integram a planificação - A planificação inclui referências indiretas às competências relativas à literacia em artes, às competências específicas da Educação Visual e às competências nos domínios da comunicação visual e dos elementos da forma para o 1º Ciclo - A EEP integra o Projecto Curricular de Agrupamento - A EEP integra o Plano Anual de Atividades - A EEP integra o Projeto Curricular de Turma - A EEP integra as planificações mensais e semanais - A planificação refere-se à articulação entre a EEP e outras áreas curriculares - A planificação tem dados relativos a atividades e estratégias, recursos, tempo e avaliação

(J1.2) Ao planificar consulta o Currículo Nacional (J1.3) Ao planificar consulta as Metas de Aprendizagem (J1.4) A EEP faz parte das atividades previstas no PCT (J1.5) A EEP integra a planificação de projetos diversos (J1.6) A EEP articula-se com outras áreas curriculares (J1.7) As atividades de EEP ocupam duas horas semanais (J1.8) As visitas de estudo são preparadas previamente em parceria com as instituições culturais e artísticas a visitar

A categoria «Materiais didáticos específicos da EEP» (K) refere-se aos materiais, de

natureza diversa, que são utilizados pelos professores com maior frequência. Os materiais que

correspondem ao currículo real representado não se evidenciam como recursos que veiculem,

exclusivamente, informação relativa a temas e conteúdos da EEP. O mesmo se verifica

relativamente aos materiais que constam do referido, com exceção para os «recursos

educativos digitais sobre conteúdos de EEP».

A utilização de imagens (que podem ser fotografias, ilustrações em livros infantis

exemplificativas da utilização de técnicas e materiais ou representações de obras de arte) é um

registo comum entre o referencial e o referido, à semelhança das «figuras para colorir» (ver

Quadro 46). Quanto a estas, o facto de terem sido consideradas um dos materiais mais

utilizados em EEP vem confirmar que o exercício de colorir figuras é frequentemente

realizado pelos alunos. É de notar que, na nossa opinião, é questionável considerar as «figuras

13 Ver o Quadro 20 apresentado na p.150

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209

para colorir (em manuais ou folhas fotocopiadas)» um material didático, uma vez que

revestem mais a forma de «fichas de trabalho» e, independentemente do que representem, não

é comum veicularem informação relativa a temas e conteúdos da EEP.

O referido vem mostrar que a utilização de recursos educativos digitais e de trabalhos de

expressão plástica representativos da utilização de técnicas e materiais faz parte das práticas

em EEP, não estando estes materiais contemplados no currículo real representado.

Inversamente, apurou-se que a utilização de cartazes e de revistas (sobre trabalhos manuais,

artes decorativas, entre outros) integra as práticas no currículo real representado e não se

incluem nas práticas dos dois contextos estudados (Estudo de caso 1 e Estudo de caso 2). Quadro 46 – Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Materiais didáticos

específicos da EEP »

REFERENCIAL DE AVALIAÇÃO (referente “currículo real representado”)

REFERIDO

Categorias Critérios Indicadores Componente da prática / itens em operacionalização (K) Materiais didáticos específicos da EEP

(K1) Natureza dos materiais didáticos

(K1.1) Imagens diversas para analisar (fotografias, ilustrações de livros infantis, entre outros)

MATERIAIS DIDÁTICOS ESPECÍFICOS DA EEP: - Dossier de imagens, que inclui representações de obras de arte - Recursos educativos digitais sobre conteúdos de EEP - Trabalhos de expressão plástica representativos da utilização de técnicas e materiais diversos - Obras de literatura infantil com ilustrações representativas da utilização de técnicas e materiais - Figuras para colorir

(K1.2) Figuras para colorir (em livros ou fotocópias) (K1.3) Revistas (sobre trabalhos manuais, artes decorativas, entre outros) (K1.4) Cartazes

A categoria «Avaliação» abrange elementos diversos relativamente a tipos, funções,

formas e objetos que são considerados na avaliação do ensino-aprendizagem em EEP.

Referimo-nos, primeiramente, aos aspetos que são comuns ao currículo real representado e ao

referido “currículo real” e que, por isso, são significativos do que acontece nas práticas em

EEP: as práticas de avaliação incluem a avaliação diagnóstica; os objetos da avaliação são os

trabalhos produzidos pelos alunos e os comportamentos dos mesmos, observados durante a

realização das atividades, contemplando assim, o processo e o produto final; as atividades

incluem momentos de reflexão e avaliação sobre o processo de criação e sobre o trabalho

realizado, fazendo-se assim a autoavaliação e a heteroavaliação; os trabalhos de EEP são

organizados em arquivos próprios; a avaliação é expressa através de uma escala qualitativa; a

avaliação considera a evolução do aluno, atendendo ao seu desenvolvimento gráfico e

plástico; para fazer a avaliação são formulados critérios, tendo por base as competências

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210

definidas pelo currículo, podendo estas constar do PCA. Constatamos, portanto, que todos os

aspetos relativos à avaliação incluídos no referente são confirmados pelo referido (ver Quadro

47).

No currículo real, observou-se ainda que nas práticas de avaliação em EEP, se consideram

os resultados da avaliação diagnóstica na tomada de decisões sobre atividades a realizar (ou

seja, na gestão do currículo); se pratica a avaliação formativa e a avaliação sumativa, sendo

estas orientadas por critérios que se referem à aplicação de técnicas, à criatividade e ao

empenho; se comunica aos alunos a avaliação através de comentários verbais.

Quadro 47– Comparação entre referencial e referido quando se considera a categoria de análise «Avaliação»

REFERENCIAL DE AVALIAÇÃO

(referente «currículo real representado»)

REFERIDO

Categorias Critérios Indicadores Componente da prática / itens em operacionalização (L) Avaliação

(L1) Diversidade de tipos, funções, formas, e objetos que são considerados na avaliação

(L1.1) As práticas de avaliação incluem a avaliação diagnóstica

AVALIAÇÃO: - As práticas de avaliação incluem a avaliação diagnóstica - Os resultados da avaliação diagnóstica condicionam as decisões sobre atividades a realizar - As práticas de avaliação incluem a avaliação formativa - A avaliação comunicada aos alunos faz-se através de comentários verbais - As práticas de avaliação incluem a avaliação sumativa - Os trabalhos de EEP são organizados em arquivos próprios - As atividades incluem momentos para a autoavaliação - As atividades incluem momentos para a heteroavaliação - A avaliação considera o desenvolvimento gráfico e plástico do aluno - A avaliação considera o processo e o produto final - A avaliação é feita através da observação direta dos comportamentos dos alunos e da análise dos trabalhos realizados - A avaliação é expressa através de uma escala qualitativa - Os critérios de avaliação são definidos no Projeto Curricular de Agrupamento - A aplicação de técnicas, a criatividade e o empenho são critérios que orientam a avaliação

(L1.2) Na avaliação consideram-se os trabalhos realizados pelos alunos (L1.3) Na avaliação consideram-se os comportamentos dos alunos observados durante a realização das atividades (L1.4) Os alunos participam na sua própria avaliação (L1.5) Para fazer a avaliação são formulados critérios, tendo por base as competências definidas pelo currículo (L1.6) Na avaliação classificam-se qualitativamente os trabalhos realizados pelos alunos (L1.7) Os alunos participam em momentos de reflexão e avaliação sobre o processo de criação e sobre o trabalho realizado (L1.8) Os trabalhos dos alunos são organizados em arquivos próprios (L1.9) Na avaliação atende-se ao desenvolvimento gráfico e plástico das crianças (L1.10) Na avaliação analisa-se a evolução dos trabalhos dos alunos

4. Avaliação do currículo de EEP – Síntese dos resultados obtidos

Em síntese, apresentamos os resultados da avaliação do currículo de EEP no que diz

respeito à relação entre o currículo formal e o currículo real:

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211

- Não se verifica uma transferência clara e completa do conteúdo expresso nas

competências que visam a EEP, do CNEB para as planificações, quer ao nível dos

projetos (PCA ou PCT) quer ao nível das planificações (PAA e planos mensais e

semanais). Os conhecimentos, capacidades e atitudes visados nas competências não são

explíticos ao nível do currículo planificado, apesar de estarem subjacentes às atividades

desenvolvidas pelos alunos;

- Ao planificar, os professores consultam o Programa do 1º Ciclo, na parte respeitante

à EEP, e transferem o seu conteúdo para os planos e projetos;

- As experiências educativas relacionadas com a «Modelagem e Escultura»,

«Tecelagem e Costura» e «Fotografia, Transparências e Meios Audiovisuais» não

integram as práticas;

- Ao nível da planificação, verificou-se que, explicitamente, não há referências à

articulação entre as competências relativas à EEP que constam no CNEB e as

experiências educativas do Programa de EEP;

- O conjunto de atividades desenvolvidas envolvem e concretizam os conteúdos da

EEP e contribuem para o desenvolvimento de competências;

- O uso dos materiais didáticos específicos da EEP é facilitador das abordagens aos

conteúdos e, consequentemente, também contribui para o desenvolvimento das

competências relativas à EEP;

- O uso de vocabulário específico relacionado com a EEP faz parte das práticas e

ocorre em momentos de comunicação entre professores e alunos;

- Nas práticas são adotadas metodologias diversificadas, tais como as exposições

orais, a apresentação e exploração de materiais didáticos, as discussões em grupo, as

demonstrações, a utilização de TIC, as visitas de estudo e as pesquisas em variadas fontes

de informação. No entanto, algumas destas metodologias concretizam-se com pouca

regularidade;

- As situações de aprendizagem que envolvem a EEP são contextualizadas, na medida

em que têm integração e articulação com outras áreas curriculares, ao nível dos

documentos de planificação e da prática da sala de aula;

- A seleção de temas relevantes e atuais relacionados com o meio envolvente, com

propostas dos alunos ou com o universo das artes visuais em Portugal, não se concretiza

em pleno, pelo caráter esporádico com que é posta em prática;

- A seleção de atividades / projetos que impliquem um processo e um produto final

faz parte das opções metodológicas dos professores, sendo promovido o uso de técnicas e

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212

materiais diversificados em trabalhos cuja execução exige várias fases e valorizado o

processo de experimentar e projetar;

- A seleção de meios de expressão visual diversificados que permitem múltiplas

abordagens estético-pedagógicas e atendem às necessidades de expressão dos alunos é

considerada nas práticas. No entanto, essa diversidade podia ser mais abrangente e mais

regular, integrando a realização de experiências e estendendo-se, por exemplo, ao uso de

materiais e técnicas não convencionais, tendo como referência exemplos existentes na

arte contemporânea;

- A promoção do contacto com a obra de arte, mais propriamente com obras da

cultura artística portuguesa, considerando o estudo de obras do séc. XX como ponto de

partida para o estudo de obras de outras épocas e culturas, concretiza-se ocasionalmente,

sendo a realização de visitas de estudo e de atividades que envolvem a leitura de imagens

os momentos mais significativos;

- É através da avaliação, principalmente da avaliação diagnóstica, que se identifica o

grau de desenvolvimento gráfico e plástico dos alunos. Os resultados obtidos

condicionam as decisões sobre as atividades a realizar, perspetivando assim a sua

adequação ao nível de desenvolvimento dos alunos;

- As práticas incluem diversas estratégias de avaliação, no que se refere ao que se

avalia e como se avalia. Constatou-se que se atende ao processo e ao produto final; que

se efetua através da observação direta dos comportamentos dos alunos e da análise dos

trabalhos realizados; que a avaliação comunicada aos alunos se faz através de

comentários verbais; e que se preveem momentos de autoavaliação e heteroavaliação,

sendo estes concretizados através de diálogos / debates;

- As práticas de avaliação incluem a avaliação diagnóstica, formativa e sumativa; a

avaliação é expressa através de uma escala qualitativa; os critérios de avaliação são

definidos no PCA e referem-se à aplicação de técnicas, à criatividade e ao empenho

manifestado pelos alunos;

- O tempo em que se desenvolvem as atividades de EEP é gerido com flexibilidade

por forma a permitir a consolidação das aprendizagens e a qualidade do produto final. No

entanto, o facto de a EEP não ter um tempo próprio e exclusivo condiciona as

oportunidades que os alunos têm para experimentar técnicas e materiais que ampliam,

mais significativamente, as suas capacidades expressivas, comunicativas e criativas no

uso da linguagem plástica.

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213

- As práticas incluem trabalho individual e trabalho em grupo. Os professores têm

preferência por propostas que estimulam a criatividade e que permitem a cada aluno

produzir um trabalho individual e único. No entanto, também veem as atividades de EEP

como meios para promover o trabalho e a cooperação em grupo.

Apresentamos, também em síntese, os resultados da avaliação do currículo de EEP

relativamente à relação entre o currículo ideal e o currículo real:

- As atividades desenvolvidas e diversas opções metodológicas identificadas no

currículo real são facilitadoras da concretização do conceito de expressão plástica. Ou

seja, permitem aos alunos usar e explorar os elementos da linguagem plástica; modificar

e transformar materiais plásticos; e exprimir sentimentos, emoções, comunicar ideias e

criar algo através do uso da linguagem plástica. De igual modo, permitem aos alunos ter

oportunidades para desenvolver o pensamento, a imaginação, a sensibilidade, a

criatividade e a capacidade de descoberta através da apropriação e do uso da linguagem

plástica.

- As atividades e situações que envolvem a EEP são, globalmente, oportunidades de

estímulo à criatividade dos alunos. A sua natureza revela que apelam ao pensamento

divergente, promovem a flexibilidade e a liberdade, estimulam a curiosidade, a

sensibilidade e a fantasia, fomentam a comunicação e participação; levam à formulação

de questões sobre meio; promovem a autonomia, a motivação, o espírito crítico, o esforço

e o trabalho; facilitam a tomada de decisões sobre o processo de criar; e possibilitam a

autoavaliação sobre a adequação e a qualidade do trabalho.

- A concretização destes aspetos verificou-se por diversos modos, sendo de destacar,

como exemplos, as propostas em que os alunos podem fazer trabalhos «livres»

(principalmente de desenho) e nos quais podem representar as suas vivências pessoais; o

estímulo do sentido crítico dos alunos através da discussão de temas; e a valorização do

processo de experimentar e projetar.

- Nas práticas em EEP, também se verificaram aspetos que julgamos serem

desfavoráveis ao desenvolvimento da criatividade. A saber: a valorização do produto

final, em detrimento do processo de criação; a apresentação de propostas de trabalhos em

que todos os alunos se sujeitavam aos mesmos temas, técnicas e materiais; a utilização

de modelos que todos os alunos copiavam; e a apresentação de propostas que consistiam

na pintura de figuras em manuais e em folhas fotocopiadas.

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214

- Os professores reconhecem na EEP um espaço para o desenvolvimento das

capacidades criativas dos alunos e, neste sentido, promovem atividades que estimulam a

criatividade e que permitem a cada aluno produzir um trabalho individual e único.

- Os professores reconhecem a importância de observar, fruir, analisar e emitir

opiniões sobre a obra de arte e, para tal, proporcionam aos alunos atividades que

possibilitam a aproximação à obra de arte, tais como a leitura de imagens e a realização

de visitas de estudo.

- Os professores preocupam-se em conhecer e facilitar a apropriação da «gramática

visual» necessária para ler, compreender e produzir imagens. Esta apropriação provém da

abordagem a conteúdos de EEP, da realização de pesquisas e do uso de vocabulário

específico da EEP em momentos de comunicação entre professores e alunos. Salienta-se

ainda que os professores se interessam por fazer formação relacionada com a EEP.

- Tanto ao nível das atividades propostas, como ao nível das estratégias para abordar

conteúdos de EEP, existe diversidade nas metodologias adotadas pelos professores.

- Os professores preocupam-se em atuar de forma a não condicionar os alunos no seu

esforço expressivo e criativo, proporcionando atividades livres onde podem representar a

suas vivências pessoais.

- Os professores valorizam atividades que associam a EEP a diferentes áreas do

conhecimento, incluindo as outras expressões artísticas, promovendo a integração de

saberes.

- Os professores preocupam-se em proporcionar experiências com técnicas e

materiais diversificados e que se adequem aos alunos.

- Para os professores é importante a reflexão e avaliação sobre o processo de criação e

sobre o trabalho desenvolvido, neste sentido, privilegiam-se os momentos de

autoavaliação e heteroavaliação. É também importante para os professores ter noção da

evolução dos alunos, e para tal, é promovida a ordenação e organização dos trabalhos dos

alunos em aquivos próprios, de modo a facilitar a leitura dessa evolução ao nível do

desenvolvimento gráfico e plástico.

- O desenvolvimento do sentido crítico é valorizado pelos professores e verifica-se,

por exemplo, ao nível da promoção da discussão de temas e também da realização da

autoavaliação e da heteroavaliação.

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215

Por fim, apresentamos uma súmula dos resultados da avaliação do currículo de EEP no

que diz respeito à relação entre o currículo real “representado” e o currículo real:

- As atividades de EEP realizadas com maior frequência são: desenhar e pintar

livremente ou com temas sugeridos, podendo estas contemplar a ilustração de

experiências vivenciadas, de histórias escritas pelos alunos e de textos /obras de literatura

infantil e também a pintura com técnicas, materiais e suportes diversificados; fazer

recorte, colagem e dobragem utilizando materiais diversificados; fazer cartazes; e

observar e analisar imagens em contextos diversos, podendo estas ser ilustrações de obras

de literatura infantil, fotografias ou obras de arte.

- As principais estratégias para abordar conteúdos de EEP adotadas pelos professores

são as exposições orais, a apresentação e exploração de materiais didáticos e as

demonstrações (por exemplo, da aplicação de técnicas de expressão plástica).

- As opções metodológicas mais consideradas nas práticas em EEP, são: a promoção

do trabalho e cooperação em grupo através da realização de trabalhos coletivos de EEP; a

articulação entre a EEP e as outras áreas curriculares; a valorização do processo de

projetar e experimentar; a promoção de atividades facilitadoras do desenvolvimento do

sentido crítico e do sentido estético; a promoção de atividades que estimulam a

criatividade e que permitem a cada aluno produzir um trabalho individual e único; a

promoção do uso de técnicas e materiais diversificados; e a apresentação dos trabalhos

dos alunos à comunidade através da organização de exposições. Verificou-se ainda que

proporcionar aos alunos exercícios que consistem na pintura de figuras em manuais e em

folhas fotocopiadas faz parte das opções dos professores;

- A planificação baseia-se, principalmente, no Programa do 1º Ciclo, tendo poucas

referências a elementos do CNEB (competências relativas à literacia em artes,

competências específicas da Educação Visual e competências nos domínios da

comunicação visual e dos elementos da forma para o 1º Ciclo); a EEP integra o Projeto

Curricular de Turma e outros projetos e planos (podendo estes ser o Projeto Curricular de

Agrupamento e o Plano Anual de Atividades); as planificações referem-se à articulação

entre a EEP e as outras áreas curriculares, podendo as atividades ocupar duas horas do

tempo letivo semanal;

- A abordagem a conteúdos é apoiada pela observação de imagens de natureza diversa

(fotografias, ilustrações em livros e representações de obras de arte), sendo estas o

material didático mais significativo das práticas em EEP.

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216

- A avaliação do ensino-aprendizagem da EEP compreende diversos aspetos

referentes a tipos, funções, formas e objetos. Na sua globalidade, as práticas incluem a

avaliação diagnóstica; os objetos da avaliação são os trabalhos produzidos pelos alunos e

os comportamentos dos mesmos, observados durante a realização das atividades,

contemplando assim, o processo e o produto final; as atividades incluem momentos de

reflexão e avaliação sobre o processo de criação e sobre o trabalho realizado, fazendo-se

assim a autoavaliação e a heteroavaliação; os trabalhos de EEP são organizados em

arquivos próprios; a avaliação é expressa através de uma escala qualitativa; a avaliação

considera a evolução do aluno, atendendo ao seu desenvolvimento gráfico e plástico e

assenta em critérios formulados a partir das competências definidas pelo currículo,

podendo estas constar do PCA.

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217

Conclusões e reflexão final Nota introdutória Neste capítulo apresentamos, em primeiro lugar, os resultados do nosso estudo que se

traduzem i) em respostas às questões de investigação /avaliação que inicialmente formulámos

a partir da discussão dos resultados obtidos com a aplicação do referencial de avaliação,

relacionando-os entre si e com os princípios teóricos que enquadram o estudo, ii) na prestação

de contas sobre os objetivos da investigação que alcançámos, referindo o conhecimento que

construímos sobre a EEP nas dimensões do currículo formal, do currículo real e do currículo

ideal e, iii) na explicitação do contributo da metodologia da referencialização para a avaliação

do currículo de EEP.

Apresentamos, num segundo ponto, uma síntese conclusiva da avaliação do currículo de

EEP, explicitando os aspetos que considerámos reveladores de qualidade e os que, pelo

contrário, consideramos que devem ser objeto de reflexão e melhoria.

Encerramos este trabalho com uma refexão final, na qual nos debruçamos sobre o

percurso efetuado e sobre os contributos que julgamos dar à teoria – sobre currículo, sobre

expressão plástica e sobre a metodologia da referencialização – e aos professores.

Apresentamos também alguns temas cujo aprofundamento propomos para futuras

investigações. Ainda neste ponto, referimo-nos ao ganho de conhecimento que, pessoalmente,

obtivemos com a realização deste trabalho.

1. Respostas às questões de investigação / avaliação

As distintas etapas que constituem o percurso que efetuámos na realização deste trabalho,

desembocaram, como vimos no capítulo anterior, na avaliação do currículo de EEP.

Iniciámos este trabalho com a identificação do problema e a formulação de questões de

investigação /avaliação. Seguiu-se a revisão de literatura relativamente à “avaliação” e aos

temas que enformam o objeto a avaliar – o currículo de EEP – e a escolha fundamentada

das metodologias de recolha de dados. O referencial de avaliação e o referido foram

constituídos, articulando procedimentos de investigação qualitativa e quantitativa, tendo

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218

resultado do seu confronto a avaliação do currículo de EEP. Na Fig. 6 mostramos um

esquema que sintetiza as principais etapas da realização do estudo.

Figura 6 - Esquema que sintetiza as principais etapas da realização do estudo

Neste momento, cremos ter reunido a informação requerida pelas questões que orientaram

o nosso estudo. Apresentamos de seguida as respostas a que chegámos.

Questão 1. Como se caraterizam as práticas pedagógicas em Expressão e Educação

Plástica?

Entendemos que a resposta a esta questão devia descrever o currículo de EEP ao nível do

contexto de realização, de que nos fala Pacheco (2001) ou Zabalza (1992). Ou seja, uma

descrição que abranja a operacionalização das finalidades curriculares em termos da

organização das situações de aprendizagem, da manipulação de recursos educativos e da

implementação de procedimentos de avaliação. Neste sentido, com a recolha e análise de

Identificação do problema

Formulação de questões

de investigação /

avaliação

Enquadra- mento teórico - avaliação - currículo - expressão plástica

Metodologia - A construção do referencial de avaliação; - A construção do referido “currículo real” - A aplicação do referencial de avaliação

REFERENCIAL DE AVALIAÇÃO

REFERIDO

Referente

“currículo formal”

Referente

“currículo ideal”

Referente “currículo real representado”

Estudo de caso 1

Estudo de caso 2

Avaliação do currículo

de EEP

Respostas às questões de investigação / avaliação

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219

dados que realizámos, procurámos alcançar os seguintes objetivos: conhecer o currículo real

na área de EEP, nas suas diferentes dimensões (o currículo planificado /moldado pelos

professores e o currículo avaliado); conhecer a relação entre o currículo formal e as práticas

em EEP; verificar se o currículo percebido condiciona as decisões dos professores

relativamente às atividades de EEP que selecionam; e, por último, identificar qual o papel dos

mediadores curriculares (nomeadamente os manuais de EEP) nas práticas em EEP.

Nesta sequência, iremos reportar-nos às componentes que, em diferentes momentos do

estudo, considerámos que estruturavam as práticas em EEP: as atividades desenvolvidas; as

estratégias para abordar conteúdos de EEP; as opções metodológicas dos professores; os

aspetos relativos à planificação e à avaliação das aprendizagens; e os materiais didáticos

específicos da EEP. Dos resultados da avaliação apresentada ressaltaram algumas ideias

essenciais relativamente a cada uma destas componentes, que cremos que dão resposta à

questão enunciada.

As práticas em EEP compreendem o desenvolvimento de atividades que envolvem

abordagens a conteúdos e são facilitadoras do desenvolvimento de competências prescritas

nos textos curriculares. As mais assinaláveis, do ponto de vista da frequência com que se

realizam na maior parte das escolas públicas portuguesas, são: desenhar e pintar livremente ou

com temas sugeridos, podendo estas contemplar a ilustração de experiências vivenciadas, de

histórias escritas pelos alunos e de textos /obras de literatura infantil e também a pintura com

técnicas, materiais e suportes variados; fazer recorte, colagem e dobragem utilizando

materiais diversificados; fazer cartazes; observar e analisar imagens em contextos diversos,

podendo estas ser ilustrações de obras de literatura infantil, fotografias ou obras de arte.

O contacto com a obra de arte concretiza-se ocasionalmente, sendo a realização de visitas

de estudo e de atividades que envolvem a leitura de imagens as formas mais significativas em

que esse contacto se efetiva. Apurou-se, relativamente a este assunto, que, no geral, os

professores não colocam em prática modelos de apreciação / análise de obras de arte, tais

como os referidos por Fróis (2005) ou Reis (2010).

Globalmente, considerámos que as atividades desenvolvidas, pelas suas caraterísticas, se

constituem como oportunidades de estímulo da criatividade e concretizam o conceito de

expressão plástica, tal como é definido por Sousa (2003) ou por Civit & Colell (2004) e

contemplam o aspeto cognitivo, associado ao “saber”, e o aspeto produtivo, associado ao

“fazer”, ambos essenciais no processo criativo (Oliveira, 2007).

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220

Cremos que o currículo vivenciado pelos alunos tem como efeitos o desenvolvimento das

suas capacidades percetivas, manipulativas e procedimentais e também das suas capacidades

criativas, de que nos fala Oliveira (2007).

Todavia, destacamos um aspeto sobre o qual nos parece necessária uma maior reflexão.

Referimo-nos ao facto de a atividade de colorir figuras em manuais ou em folhas fotocopiadas

ser vista como atividade de EEP e de ser concretizada de forma muito frequente nas práticas.

Relativamente a este tipo de atividade, subscrevemos a opinião de Sousa (2003), já

apresentada no Capítulo I, Enquadramento teórico, pp.85-86.

No que respeita a estratégias para abordar conteúdos, verificou-se que estas são

diversificadas, e que, globalmente, envolvem exposições orais, apresentação e exploração de

materiais didáticos, discussões em grupo, demonstrações, utilização de TIC, visitas de estudo

e pesquisas em variadas fontes de informação. Relativamente a visitas de estudo que se

possam constituir como experiências relevantes para a EEP, verificámos que se realizam com

pouca regularidade.

Quanto a opções metodológicas dos professores, reunimos dados relacionados com a

natureza das atividades, com o papel do aluno e com o papel do professor. Assim sendo,

constatou-se que a seleção de atividades / projetos que impliquem um processo e um produto

final faz parte das opções metodológicas dos professores, sendo valorizado o processo de

experimentar e projetar e promovido o uso de técnicas e materiais diversificados que se

adequem aos alunos.

Os professores propõem aos alunos atividades que estimulam a criatividade e que

permitem a cada aluno produzir um trabalho individual e único. Esta opção coexiste com

outras, na nossa apreciação, constrangedoras das capacidades expressivas e criativas dos

alunos, às quais nos referiremos mais adiante.

As atividades de EEP são vistas como meios para promover o trabalho e a cooperação em

grupo, sendo realizados trabalhos coletivos (em pequenos grupos ou em grupo-turma).

O desenvolvimento do sentido crítico é valorizado pelos professores e verifica-se, por

exemplo, ao nível da promoção da discussão de temas e também da realização da

autoavaliação e da heteroavaliação.

Nas práticas valoriza-se a articulação entre a EEP e as diferentes áreas do conhecimento,

incluindo as outras expressões artísticas, promovendo a integração de saberes. Esta opção é

justificada pelos professores como uma forma de atenuar os constrangimentos que surgem na

gestão do tempo letivo. Assim sendo, o tempo dedicado à EEP é gerido com flexibilidade e

em articulação com outras áreas curriculares, tendo-se apurado que pode chegar a ocupar duas

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221

horas por semana. Consideramos que a consolidação das aprendizagens, a qualidade do

produto final e a qualidade das experiências, sai prejudicada pelo facto de a EEP não ter um

tempo próprio e exclusivo para o seu desenvolvimento. A utilização de técnicas e materiais

que ampliam mais significativamente as capacidades expressivas, comunicativas e criativas

dos alunos no uso da linguagem plástica requerem um tempo favorável à espontaneidade e à

fruição.

Relativamente à planificação das situações de ensino-aprendizagem em EEP, esta

baseia-se, principalmente, no Programa do 1º Ciclo, sendo transpostas partes do seu conteúdo

(identificação de Blocos, subdomínios ou experiências educativas) para os planos e projetos,

havendo poucas referências a elementos do CNEB (iremos referir-nos a este ponto, em

concreto, mais adiante).

Este dado, na nossa opinião, mostra-nos que os professores parecem preferir orientações

precisas para a sua prática, não se apropriando do Programa ou do CNEB para, como diz

Peralta (2005, p.416), serem construtores «do seu próprio currículo, do seu próprio texto

curricular, num processo de reflexão, assente na negociação e na partilha (...)». Ou seja, os

professores parecem assumir apenas um papel de mediadores condicionados entre o currículo

formal e o currículo real.

O Projeto Curricular de Turma e outros projetos e planos, podendo estes ser o Projeto

Curricular de Agrupamento e o Plano Anual de Atividades, que estão ao nível do currículo

programado (Pacheco, 2001), incluem referências ao ensino-aprendizagem da EEP. No

global, estas são provenientes do Programa do 1º Ciclo e, por vezes, reportam-se à articulação

entre a EEP e as outras áreas curriculares.

Quanto ao uso de materiais didáticos, verificou-se que a abordagem a conteúdos é

apoiada pela observação de imagens de natureza diversa (fotografias, ilustrações em livros e

representações de obras de arte), sendo estas o recurso mais assinalável das práticas em EEP.

Não se verificou a utilização de manuais de EEP, embora estes existam no mercado. De igual

modo, também não se verificou a existência de referências à utilização de materiais didáticos

veiculados pela Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular e que envolvem

diretamente a EEP.

Depreendemos também que os materiais didáticos mais utilizados nas práticas parecem

não ser construídos pelos professores com o propósito exclusivo de abordar conteúdos de

EEP.

No que diz respeito à avaliação do ensino-aprendizagem em EEP, as práticas incluem a

avaliação diagnóstica, formativa e sumativa. Os resultados obtidos com a avaliação

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222

diagnóstica condicionam as decisões sobre as atividades, pois procura-se a adequação entre

as propostas a apresentar e o nível de desenvolvimento gráfico e plástico evidenciado pelos

alunos.

No que se refere àquilo “que se avalia” e “como se avalia”, constatou-se que se atende ao

processo e ao produto final e que se efetua através da observação direta dos comportamentos

dos alunos e da análise dos trabalhos realizados, orientando-se por critérios definidos ao nível

do PCA, e recaindo, por exemplo, sobre a aplicação de técnicas, a criatividade e o empenho

manifestado pelos alunos.

A avaliação comunicada aos alunos faz-se através de comentários verbais durante e após a

realização das atividades, tendo assim caráter formativo e sumativo. A avaliação comunicada

aos encarregados de educação faz-se através de registos de avaliação, em que a informação

relativa à EEP é expressa através de uma escala qualitativa.

As práticas incluem momentos de autoavaliação e heteroavaliação, sendo estes

concretizados através de reflexões e de diálogos / debates, tal como é sugerido por Kowalski

(2000b).

É também importante para os professores ter noção da evolução dos alunos, e para tal, é

promovida a ordenação e organização dos trabalhos dos alunos em aquivos próprios, de modo

a facilitar a leitura da evolução dos alunos ao nível do desenvolvimento gráfico e plástico.

Cremos que os procedimentos descritos vão ao encontro do que sugere Fernandes (2005)

relativamente a perspetivas atuais para a avaliação. Ou seja, os professores envolvem os

alunos na avaliação, utilizam várias estratégias e privilegiam a avaliação formativa dando

feedbacks qualitativos a respeito dos processos e dos produtos que envolvem a EEP.

Questão 2. Que representações têm os professores sobre as suas práticas pedagógicas na

área de Expressão e Educação Plástica?

Como resposta a esta questão procuramos conhecer o currículo real a um nível distinto do

que consideramos ter apresentado na questão anterior, pois baseia-se na caraterização das

práticas em EEP tal como os professores as representam. Sendo assim, estruturámos a

resposta tendo por base os dados globais obtidos com a aplicação do questionário a uma

amostra de professores do 1º Ciclo do Ensino Básico e, sendo esta uma amostra

representativa, cremos poder fazer, com alguma confiança, uma leitura generalizada destes

resultados.

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223

À semelhança da resposta apresentada na questão anterior, também optámos por referir o

que se apurou relativamente às componentes da prática – atividades desenvolvidas,

estratégias para abordar conteúdos, opções metodológicas, planificação, materiais didáticos

específicos da EEP e avaliação14

Os professores referiram que as atividades de EEP que se realizam com maior frequência

nas suas práticas são: desenhar livremente, desenhar com temas sugeridos, pintar livremente,

pintar com temas sugeridos, recortar, fazer colagens, fazer dobragens, fazer cartazes e

observar e analisar imagens em contextos diversos.

.

No que respeita a estratégias para abordar conteúdos, globalmente, estas envolvem as

exposições orais, a apresentação e exploração de materiais didáticos e as demonstrações (por

exemplo, da aplicação de técnicas de expressão plástica). Sendo estas as principais estratégias

referidas pelos professores, consideramos que elas evidenciam que, para abordar conteúdos, a

ação se centra no professor, em detrimento de estratégias em que a construção do

conhecimento é consequente das ações e experiências dos alunos.

Os professores indicaram-nos também algumas das opções metodológicas que fazem parte

das suas práticas, reportando-se estas a aspetos do papel do professor, do papel do aluno e

também à natureza das atividades que promovem. Sendo assim, apurou-se que os professores

proporcionam aos alunos o contacto com materiais diversificados; promovem a realização de

trabalhos coletivos e a cooperação em grupo; propõem experiências que estimulam a

criatividade e que permitem a cada aluno produzir um trabalho individual e único;

proporcionam experiências que envolvem outras áreas curriculares; valorizam o processo de

projetar e experimentar; preveem abordagens que desenvolvem o pensamento crítico; e

propõem atividades facilitadoras do desenvolvimento do sentido estético e da compreensão e

respeito pelas diversas identidades culturais.

Os professores também indicaram de forma assinalável algumas opções que contrariam,

em significado, as opções atrás mencionadas. Referimo-nos, por exemplo, ao facto de

proporem trabalhos em que todos os alunos têm de se submeter aos mesmos temas, materiais

e técnicas, ou ainda, à promoção de exercícios que consistem em colorir figuras em manuais

ou folhas fotocopiadas.

No que é relativo à Planificação, os professores referiram consultar o Programa do 1º

Ciclo, o Currículo Nacional e as Metas de Aprendizagem quando planificam situações de

ensino-aprendizagem em EEP. A associação entre a EEP e outras áreas curriculares e a sua

14 Estes dados são apresentados com detalhe no Capítulo III, A construção do referencial de avaliação, no ponto 4.1 Tratamento e análise dos dados quantitativos.

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224

integração nos Projetos Curriculares de Turma e noutros de natureza diversa é muito

frequente. No entanto, os professores deram-nos conta da existência pouco significativa (ou

mesmo inexistência) da integração da EEP em projetos que incluem parcerias entre a escola e

artistas plásticos ou instituições culturais. A este nível, apenas a realização de visitas de

estudo parece ser o ponto de contacto entre a escola e as instituições culturais e artísticas.

Destacamos ainda um outro dado, relacionado com o currículo percebido ou observado,

de que nos fala Goodlad (1979). Os professores indicaram que as perceções das pessoas

(como, por exemplo, os pais) sobre o que é ensinado na escola não condiciona as opções que

fazem relativamente à planificação do ensino-aprendizagem em EEP.

Quanto aos Materiais didáticos específicos da EEP que os professores afirmaram utilizar,

as referências mais significativas recaíram sobre as imagens diversas (fotografias, ilustrações

de livros infantis, entre outros), as figuras para colorir (em livros ou fotocópias), as revistas

(sobre trabalhos manuais, artes decorativas, entre outros) e os cartazes.

Relativamente a caraterísticas da Avaliação do ensino-aprendizagem da EEP, os

professores deram-nos conta de aspetos relativos a tipos, formas, objetos e funções da

avaliação. Sendo assim, os professores indicaram que nas suas práticas é frequente realizar-se

avaliação diagnóstica e que os resultados que se obtêm são considerados na gestão do

currículo de EEP. Os objetos da avaliação são os comportamentos dos alunos observados no

decurso das atividades e os trabalhos realizados, sendo estes classificados qualitativamente,

considerando critérios que têm por base as competências definidas pelo currículo e atendendo

também ao nível de desenvolvimento gráfico e plástico dos alunos e à sua evolução. A

avaliação comunicada aos alunos traduz-se em comentários verbais do professor,

relativamente às experiências vivenciadas e aos trabalhos realizados, cuja organização é feita

em arquivos próprios. Os alunos participam, com grande frequência, na sua própria avaliação,

refletindo sobre o processo de criação e sobre o trabalho realizado.

Na nossa apreciação, estes dados parecem indicar que os professores representam a sua

prática colocando-a em coerência com propósitos perseguidos pela educação artística. No

entanto, ao nível da ação, parecem subsistir opções que retiram significado a esses propósitos,

pois identificamos atitudes pedagógicas contrárias à concretização do conceito de expressão

plástica (iremos referir-nos a estas atitudes na resposta à Questão 4. Em que medida as

práticas dos professores se enquadram nos princípios científicos e pedagógicos da literatura

mais recente sobre Expressão e Educação Plástica?).

Quando nos referimos, no Capítulo II, Metodologia, ao processo de construção do

questionário, explicámos que o conjunto de respostas alternativas também tinha por base a

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225

análise dos textos curriculares. Ora, sendo dada aos professores a possibilidade de, em espaço

aberto e de forma facultativa, especificarem atividades, estratégias e materiais didáticos

referentes às suas práticas e que não estivessem contemplados no conjunto de itens fornecido,

foi diminuta a sua participação. As informações mais significativas obtidas a partir deste

espaço de resposta referem-se a utilizações integradas de técnicas e materiais, mas não

reconhecemos nelas um «rasgo» no que respeita a inovação, diferença, criatividade,

complexidade. Pelo contrário, obtivemos alguns dados que distanciam a EEP da concretização

do conceito de “expressão plástica”, na medida em que as experiências descritas parecem

basear-se na reprodução de modelos e na utilização de técnicas caraterísticas das “artes

decorativas” (referimo-nos, por exemplo, à découpage).

Depreendemos, por isso, que os professores reconhecem que o conjunto de itens

disponibilizados no questionário representa a sua prática. Ou seja, podemos fazer a leitura de

que esta sua «anuência» se justifica porque as suas práticas «seguem» o currículo formal.

Os dados não mostram o professor no papel de participante, construtor e gestor do

currículo, tal como referem Zabalza (1992), Roldão (1999) ou Peralta (2005), evidenciando

que o currículo deve ser entendido pelos professores como um espaço de decisão.

Em suma, pelo modo como os professores representam as suas práticas em EEP,

depreendemos que nas escolas públicas portuguesas, o currículo formal, escrito, é o que está

em uso e que os professores não agem sobre ele, reconstruindo-o, apropriando-se do seu

conteúdo e propondo novas alternativas de adequação e concretização.

Questão 3. Como foi acolhido, entendido e que implicações teve na prática o texto

curricular «Competências em Educação Visual»?

Obtivemos informações diversas, e em alguns casos divergentes entre si, no que se refere

à importância que é dada nas práticas às competências relativas à EEP definidas no CNEB,

quer sejam as relativas à literacia em artes, às específicas da Educação Visual ou ainda, às

competências nos domínios da “comunicação visual” e dos “elementos da forma” para o 1º

Ciclo do Ensino Básico. Em síntese, os resultados da avaliação mostram que:

- ao nível do modo como os professores representam as suas práticas, o CNEB parece ser um

documento curricular de consulta frequente em momentos de planificação da ação

pedagógica. No entanto, o conhecimento das práticas no currículo real veio mostrar que, ao

nível das planificações / projetos (planos, PCT, PCA, PAA), são escassas e indiretas as

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referências às competências referidas; verificou-se que o Programa do 1º Ciclo é visto como

guia para a elaboração de planificações, sendo o seu conteúdo transposto para as mesmas;

- ainda ao nível da planificação, verificou-se que, explicitamente, não há referências à

articulação entre as competências que abrangem a EEP no CNEB e as experiências educativas

do Programa do 1º Ciclo;

- em conteúdo, as «competências» não integram o discurso dos professores sobre as suas

práticas (referimo-nos, por exemplo ao contacto que mantivemos com professores do 1º Ciclo

no decurso dos estudos de caso);

- são proporcionadas aos alunos experiências educativas que visam conhecimentos,

capacidades e atitudes aos quais se referem as competências, sendo estes, portanto,

consequentes das práticas; no entanto, consideramos que a abrangência e a regularidade destas

experiências é reduzida face à expetativa que o CNEB delineia;

- as ações dos professores incorporam opções metodológicas expressas no CNEB, no entanto,

a sua concretização parece acontecer mais por intuição do que por busca da conformidade

com o texto curricular.

Em suma, cremos que os resultados obtidos vêm mostrar que, apesar de o texto curricular

CNEB ter surgido há onze atrás, não é, ao nível da EEP, o principal documento curricular a

orientar a ação dos professores. Ou seja, na prática não se verificou como explícita a

intencionalidade de professores e alunos construírem o currículo de EEP tendo como

referência mais significativa o conjunto de competências prescrito no CNEB.

Questão 4. Em que medida as práticas dos professores se enquadram nos princípios

científicos e pedagógicos da literatura mais recente sobre Expressão e Educação Plástica?

Cremos ter alcançado o objetivo de conhecer o currículo real da EEP, através da

caraterização das práticas pedagógicas nas diferentes componentes que as constituem. Com

esta caraterização também nos foi possível averiguar de que modo se situam as práticas

relativamente a princípios científicos e pedagógicos da literatura recente sobre EEP. Assim

sendo, para responder a esta questão, baseamo-nos nos resultados obtidos com o confronto

entre o referente “currículo ideal” e o referido “currículo real”. Também nos referiremos ao

que apurámos relativamente às formas como os professores atualizam os seus conhecimentos

científicos e pedagógicos sobre EEP.

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Tendo por base o conceito de “expressão plástica», tal como o definimos no Capítulo I,

Enquadramento teórico, consideramos que, globalmente, as atividades desenvolvidas e as

diversas opções metodológicas identificadas no currículo real são facilitadoras da

concretização do conceito de expressão plástica.

Constatámos que as experiências que integram o currículo vivenciado pelos alunos lhes

permitem a apropriação e o uso da linguagem plástica para a expressão de sentimentos e

emoções e para a comunicação de ideias. De igual modo, achamos que estas experiências se

traduzem em oportunidades para desenvolver o pensamento, a imaginação, a sensibilidade, a

criatividade e a capacidade de descoberta.

Consideramos que as atividades e situações que envolvem a EEP são, globalmente,

oportunidades de estímulo à criatividade dos alunos. Reconhecemos que apelam ao

pensamento divergente, promovem a flexibilidade e a liberdade, estimulam a curiosidade, a

sensibilidade e a fantasia.

Acrecentamos ainda que também reconhecemos que a EEP é vista como um espaço de

promoção e desenvolvimento da comunicação, da participação, da autonomia e do espírito

crítico, resultando estes da discussão de temas, da formulação de questões sobre o meio e do

decurso de processos onde é possível experimentar e projetar soluções «plásticas» e «visuais»

para problemas.

Elegemos como exemplo de concretização dos aspetos anteriores as propostas em que os

alunos podem fazer trabalhos «livres», principalmente de desenho e pintura, e nos quais

podem representar as suas vivências pessoais, produzindo assim, algo individual e único.

No entanto, verificámos que estas práticas coexistem com outras, que nos parecem

empobrecedoras das capacidades expressivas e criativas. Referimo-nos concretamente, a

situações em que as propostas de trabalho consistiam na utilização de modelos que os alunos

reproduziam ou ao exercício de colorir figuras em folhas fotocopiadas. Este último,

distancia-se da concretização do conceito de “expressão plástica” (Sousa, 2003a). No entanto,

os resultados que obtivemos indicam que faz parte das práticas da EEP, tendo sido verificada

tanto nos estudos de caso (ainda que de forma mais significativa apenas num deles) como nos

resultados obtidos com a aplicação do questionário (67,3% dos professores referiram que

propõem este exercício frequentemente e muito frequentemente). Esta prática é também

confirmada por um outro dado que registámos: as «figuras para colorir (em livros ou

fotocópias)» foram referidas como um dos materiais didáticos específicos da EEP mais

utilizados. Este é um ponto em que as práticas dos professores não se enquadram nem em

princípios científicos e pedagógicos nem em orientações curriculares.

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Verificámos também situações em que os professores sobrevalorizavam o produto final,

em detrimento do processo de criar ou «impunham» atividades em que todos os alunos se

sujeitavam aos mesmos temas, técnicas e materiais, revelando no seu papel bastante

inflexibilidade perante outras propostas apresentadas pelos alunos.

Focando especificamente o papel dos professores no que toca às atitudes pedagógicas que

considerámos ser favoráveis ao estímulo da expressão, comunicação e criatividade,

salientamos que, tanto ao nível das atividades propostas, como ao nível das estratégias para

abordar conteúdos de EEP, existe diversidade nas metodologias adotadas. Verificámos que

também se preocupam em conhecer e facilitar a apropriação da «gramática visual» necessária

para ler, compreender e produzir imagens. Esta apropriação provém da abordagem a

conteúdos de EEP, da realização de pesquisas e do uso de vocabulário específico da EEP em

momentos de comunicação entre professores e alunos.

Salientamos também que os professores reconhecem a importância de observar, fruir,

analisar e emitir opiniões sobre a obra de arte e, para tal, proporcionam aos alunos atividades

como a leitura de imagens ou a realização de visitas de estudo. No entanto, constatámos que

estas atividades apenas se concretizam pontualmente e não seguem estratégias específicas

como as que são sugeridas por Fróis (2005), Aguirre (2006) ou Reis (2010), ou ainda como as

do trabalho realizado por Ferreira (2009). Também não reconhecemos que estas atividades,

contemplem a «compreensão crítica», tal como é recomendado nas conclusões do «Congresso

Ibero-Americano de Educação Artística: Sentidos Transibéricos»15

São valorizadas atividades que associam a EEP a diferentes áreas do conhecimento,

incluindo as outras expressões artísticas, promovendo a integração de saberes, tal como

sugere Melo (2000).

.

A proposta de experiências com técnicas e materiais diversificados que se adequem aos

alunos e uma atuação que não os condiciona no seu esforço expressivo e criativo, são atitudes

que verificámos ser adotadas e que estão de acordo com o que enuncia Sousa (2003a) a

respeito do papel do professor no decurso de atividades de expressão plástica.

Para os professores é importante a reflexão e avaliação sobre o processo de criação e sobre

o trabalho desenvolvido, neste sentido, privilegiam-se os momentos de autoavaliação e

heteroavaliação, promovendo desta forma também o desenvolvimento do sentido crítico.

Julgamos que estes aspetos concretizam o que refere Kowalski (2000) e Melo (2000) a

respeito da avaliação nas áreas das expressões artísticas. É também importante para os

15 Referimo-nos a este documento na Introdução.

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professores ter noção da evolução dos alunos. Assim sendo, verificámos que se faz a

ordenação e organização dos trabalhos dos alunos em arquivos próprios, de modo a facilitar a

leitura da sua evolução no que respeita ao desenvolvimento gráfico e plástico.

As informações que obtivemos relativamente às representações dos professores sobre as

suas práticas, indicam-nos que se fomenta o contacto com elementos visuais estereotipados. A

este respeito, damos como exemplo a utilização de «figuras para colorir» e de «revistas (sobre

trabalhos manuais, artes decorativas, entre outros)» como materiais didáticos. Nesta

sequência, queremos salientar que algumas publicações, de editoras estrangeiras, apresentam

propostas com interesse para as práticas em EEP na ótica do desenvolvimento da

criatividade16

A seleção de meios de expressão visual diversificados que permitem múltiplas abordagens

estético-pedagógicas e atendem às necessidades de expressão dos alunos é considerada nas

práticas. No entanto, essa diversidade podia ser mais abrangente e mais regular, integrando a

realização de experiências e estendendo-se, por exemplo, ao uso de materiais e técnicas não

convencionais, tendo como referência exemplos existentes na arte contemporânea.

. Em nenhum momento da recolha de dados (quer no decurso dos estudos de

caso, quer com a aplicação do questionário) houve referências ao conhecimento da existência

desse tipo de publicações ou ao seu uso na sala de aula.

Retomando as conclusões do «Congresso Ibero-Americano de Educação Artística:

Sentidos Transibéricos» – que também foram considerados na construção do referente

“currículo ideal” – queremos salientar que o conhecimento que obtivemos relativamente às

práticas em EEP, vem mostrar que se concretizam algumas das recomendações dadas.

Referimo-nos, por exemplo, às aprendizagens que articulam a EEP e outras áreas curriculares;

à importância que se dá a aspetos afetivos, emotivos, biográficos e subjetivos nas experiências

com a linguagem plástica; e à seleção de experiências contextualizadas e significativas que

convocam os interesses, inquietações, problemas e vivências dos alunos. Porém,

consideramos que todas as outras recomendações dadas, são ainda aspetos a intensificar e a

aprofundar nas práticas, conforme explicaremos mais adiante.

Os dados que apurámos com a aplicação do questionário indicam-nos que a consulta de

revistas destinadas a educadores e professores é referida como uma das formas mais

significativas de atualização de conhecimentos sobre EEP. Também se registou que as

16 Referimo-nos, como exemplos, aos Anti colouring books de Susan Striker publicados pela editora Scholastic, Londres; a livros de Taro Gomi ou de Pascale Estellon, publicados pela editora Thames & Hudson, Londres; ou ainda, a diversas publicações sobre artistas plásticos, dirigidas a crianças, da editora Prestel, Munique.

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revistas (sobre trabalhos manuais, artes decorativas, entre outros) são utilizadas como material

didático, tal como já referimos. Na nossa opinião, e porque temos algum conhecimento

relativamente a publicações que existem no mercado, entendemos que o seu teor é suscetível

de discussão no que se refere à correção científica e ao modo como posiciona a expressão

plástica. Esta, no nosso entender, é reduzida à exploração de técnicas (usar a «técnica pela

técnica») e associada à reprodução e imitação de imagens / representações estereotipadas da

realidade (por vezes, são fornecidos moldes e esquemas para os professores fotocopiarem e

fornecerem aos alunos). Pensamos, por isso, que se justifica produzir investigação que tenha

por objetivo analisar o conteúdo de publicações dirigidas a educadores e professores à luz da

relevância das propostas que apresentam para a expressão plástica, clarificando de que forma

se relacionam com princípios defendidos na literatura mais recente sobre educação artística.

A participação dos professores em momentos «formais» e estruturados de formação

(como as ações de formação e os encontros promovidos por museus) não é significativa,

relativamente a outras formas de atualização de conhecimentos sobre EEP assinaladas pelos

professores. Com este dado, depreendemos que a oferta formativa que está ao alcance dos

professores do 1º Ciclo não contempla a expressão plástica (ou as expressões artísticas

globalmente), ou que os professores não sentem necessidade ou não atribuem importância à

formação nesta área. Cremos, por isso, que as ações desenvolvidas no âmbito do Programa de

Educação Estética e Artística17

têm sentido, em virtude de colmatarem necessidades de

formação e atualização dos professores.

Questão 5. Em que medida a construção do referencial permite descrever o currículo de

Expressão e Educação Plástica, em diferentes dimensões, e operacionalizar a sua

avaliação?

Esta questão decorreu de um dos objetivos deste trabalho (objetivo 2) e que relembramos:

contruir conhecimento sobre o contributo da metodologia da referencialização para a

avaliação do currículo de EEP.

Neste momento, cremos poder afirmar que, com a construção do referencial de avaliação,

conseguimos reconstituir as partes que integram o todo da identidade do currículo de EEP. A

referencialização constituiu-se como um processo de integração que reuniu referências

fundamentais para descrever e explicar o currículo de EEP, na sua especificidade. Ou seja,

17 Referimo-nos a este programa na Introdução.

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neste processo descrevemos a dimensão formal do currículo, através da sistematização do que

define a EEP ao nível dos textos curriculares; salientámos o que, de momento, considerámos

ser a dimensão ideal do currículo de EEP, tendo organizado informação sobre o modo como a

expressão e educação plástica é «idealmente» perspetivada por alguns autores que sobre ela

refletem e produzem conhecimento; por último, definimos a dimensão real do currículo de

EEP, recolhendo e analisando dados que representam as práticas, em geral, nas escolas

públicas portuguesas.

Para Figari (1996, p.52), o referencial é «um produto acabado, e mais exatamente, uma

formulação momentânea da referencialização». É também desta forma que encaramos o

instrumento que construímos, pois as referências que reunimos têm também caráter

momentâneo. Isto é, o currículo formal é sujeito a frequentes mudanças, como referimos na

parte inicial deste trabalho; o currículo ideal tende a modificar-se em função de novas

reflexões e do novo conhecimento que se vai construindo; o currículo real, tal como foi

representado pelos professores, apesar de, em si, ser contextualizado, é circunstancial, volátil,

não permanecerá. No entanto, consideramos que o seu valor se afirma pelo facto de resultar

de um processo que, no contexto da teoria sobre avaliação, materializa os propósitos da

metodologia da referencialização, proposta por Figari (1996) e, sobretudo, por ter

possibilitado o cumprimento da avaliação, trazendo à luz diversos resultados sobre o objeto

avaliado – o currículo de EEP.

O referencial construído serviu para fazer uma leitura abrangente e multifacetada da

dimensão da prática do currículo de EEP. Cremos, por isso, ter conseguido a sua validação, e

poder reconhecer que constituímos um quadro de referências que contempla, efetivamente, as

componentes necessárias para uma avaliação do processo de desenvolvimento curricular.

É neste sentido que, apesar de ser efémero, consideramos o referencial também um

produto deste trabalho, na medida em que pode ser utilizado, como guia orientador, noutros

estudos que tenham afinidades com o nosso. Damos como exemplo a sua possível utilização,

na avaliação do currículo noutras áreas da educação artística ao nível do 1º Ciclo do Ensino

Básico, como a Expressão e Educação Musical ou a Expressão e Educação Dramática.

Poderá também, com as devidas adaptações, ser replicado para avaliar o currículo de EEP,

noutro momento da sua evolução, havendo circunstâncias que justifiquem a formulação de

problemas e a realização de nova avaliação.

Em suma, consideramos que este trabalho produziu três resultados:

- uma estratégia para a construção de referenciais de avaliação, materializada no processo

seguido neste estudo, que exemplifica a prática da referencialização e, deste modo, pode

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acrescentar algo de novo à investigação no âmbito da avaliação do currículo (ou avaliação de

programas);

- o referencial de avaliação em si, na medida em que pode ser utilizado como guia orientador

e/ ou estruturante de outros processos de avaliação;

e por último,

- a aplicação do referencial – a avaliação do currículo de Expressão e Educação Plástica no 1º

Ciclo do Ensino Básico, como foi ilustrado, sobretudo no Capítulo V.

2. Síntese conclusiva

Fazemos agora uma síntese global das conclusões a que chegámos com este estudo de

avaliação, cuja organização se baseia nas linhas essenciais das definições de “avaliação” que

orientaram o percurso efetuado: determinar o valor e o mérito do programa (neste caso, do

currículo de EEP) e identificar os aspetos que perspetivam a sua melhoria (Scriven,

Stufflebeam, Perez Juste, entre outros).

Sendo assim, registamos como positivos, na medida em que revelam a qualidade do

currículo da EEP nos diferentes níveis em que este se desenvolve, os seguintes aspetos:

- A EEP faz parte do quotidiano escolar dos alunos e permeia a implementação de sequências

pedagógicas que envolvem as diferentes áreas curriculares do 1º Ciclo do Ensino Básico.

- Os professores adotam metodologias facilitadoras da concretização do conceito de expressão

plástica. Pelas atividades propostas, pelas estratégias utilizadas para abordar conteúdos, pelos

materiais específicos da EEP selecionados e pelas práticas de planificação e avaliação

adotadas, pudemos verificar que os professores dão importância à EEP e que, na globalidade,

a sua atuação está em coerência com princípios científicos e pedagógicos defendidos por

autores que se debruçam sobre a educação artística enquanto tema de estudo.

- Apurou-se que o “desenho livre” e a “pintura livre” se realiza com grande frequência.

Consideramos este ponto positivo, na medida em que estas atividades são assinaladas na

literatura como as mais importantes do ponto de vista do desenvolvimento da expressão, da

comunicação e da criatividade no uso da linguagem plástica.

- A utilização de TIC faz parte das práticas em EEP. Os professores reconhecem no uso de

programas de desenho potencialidades semelhantes às de outros meios e técnicas da expressão

plástica.

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Nesta sequência, cremos que destas práticas resulta o alcance das finalidades

determinadas pelos textos curriculares que visam a EEP. Ou seja, as experiências que

integram o currículo vivenciado pelos alunos permitem-lhes a apropriação e o uso da

linguagem plástica para a expressão de sentimentos e emoções e para a comunicação de

ideias.

Por outro lado, também em termos globais, identificámos como aspetos a melhorar os

seguintes pontos:

- As experiências que se enquadram na EEP e que envolvem a utilização de TIC, quer seja o

uso dos programas de desenho, a utilização da internet em pesquisas ou em criações plásticas

realizadas on line, o uso de equipamentos (como o scanner, a máquina fotográfica digital ou a

câmara de vídeo), ou a construção de espaços de comunicação, como é o caso dos blogues ou

dos espaços em redes sociais, devem reconhecer-se como contextos onde se pode pensar

sobre arte, fruir e criar e, consequentemente, devem reconhecer-se como contextos para o

desenvolvimento de competências da educação visual e da expressão plástica. Consideramos,

na linha dos contributos teóricos mais atuais – como é referido por Pimentel (2010) e pelos

estudos divulgados pela Eurydice (2010) – que as práticas devem incluir o uso das tecnologias

contemporâneas, explorando aquilo em que estas podem contribuir para a construção de

conhecimento. Referimo-nos, por exemplo, ao acesso a informação sobre processos e

procedimentos de produção artística e sobre modos de criação de diferentes povos e culturas,

facilitando assim o reconhecimento da diversidade cultural.

- Parece-nos essencial que os textos curriculares mantenham a validade e a qualidade do seu

conteúdo, sendo por isso necessário que estes passem por processos de revisão e atualização.

Na nossa apreciação, o Programa do 1º Ciclo carece de revisão e atualização por forma a

contemplar a extensão em que se pode traduzir o uso de materias, de meios de expressão

plástica e de tecnologias contemporâneas. Na nossa apreciação, esvaziou-se o sentido de

algumas das propostas que apresenta, como por exemplo, «construir transparências e

diapositivos» ou «imprimir utilizando o limógrafo».

- A seleção de temas relevantes e atuais relacionados com o meio envolvente, com propostas

dos alunos ou com o universo das artes visuais em Portugal deve concretizar-se com maior

plenitude e não apenas com caráter esporádico, sem propósitos bem definidos.

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- As informações que obtivemos relativamente às representações dos professores sobre as

suas práticas, indicam-nos que se fomenta o contacto com elementos visuais estereotipados. A

este respeito, damos como exemplo a utilização de «figuras para colorir» e de «revistas (sobre

trabalhos manuais, artes decorativas, entre outros)» como materiais didáticos. Na nossa

apreciação, embora não tenhamos um conhecimento mais aprofundado relativamente às suas

caraterísticas e ao seu uso, não podemos considerar estes materiais como válidos e

facilitadores da educação e expressão plástica. Julgamos, por isso, que é algo que necessita de

maior reflexão e que revela necessidades de formação relativamente à pedagogia das

expressões artísticas.

Em suma, identificámos práticas que estão em coerência com as opiniões de autores que

se debruçam sobre as práticas da educação artística e, em particular, da expressão plástica,

mas também outras, que, pelo contrário, nos merecem maior reflexão e que parecem indicar

que nas conceções dos professores sobre «expressão e educação plástica» coexistem ideias em

sentidos opostos: ou se constituem como facilitadoras ou como inibidoras do desenvolvimento

da expressão, da comunicação e da criatividade através do uso da linguagem plástica.

Sendo assim, com a intenção de perspetivar a melhoria do currículo de EEP, formulámos

algumas recomendações que dirigimos aos professores. A saber:

- uma melhor compreensão do significado das experiências expressivas e criativas com a

linguagem plástica para o desenvolvimento da criança;

- um conhecimento mais abrangente sobre atividades que envolvam a expressão, a

comunicação e a criatividade através do uso da linguagem plástica e sobre atividades

facilitadoras da educação estética;

- uma melhor perceção da importância do papel do educador / professor, no que respeita à

sua atuação em experiências pedagógicas que envolvam a expressão plástica;

- uma melhor compreensão relativamente a processos de aprendizagem e de construção

de conhecimento que se baseiam em ações como observar, interpretar, fruir,

problematizar, construir e desconstruir imagens e ideias, fazer apreciações críticas,

refletir, perspetivar mudanças, projetar e criar e que estão subjacentes às experiências

com as expressões artísticas, nas quais se inclui a expressão plástica;

- um melhor entendimento de que a EEP, numa perspetiva global e articulada com outras

áreas, pode mediar situações de aprendizagem que concretizam os fins da educação – a

formação inteletual, pessoal, social e cultural – através de experiências pedagógicas onde

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se concretiza a integração do conhecimento e, consequentemente, se perceciona a

complexidade;

E para terminar,

- um entendimento sobre o currículo formal, que não se limite à sua «execução», mas que

se traduza na sua interpretação e recriação autónoma, crítica e independente, que

perspetive inovação e que envolva as crianças em experiências verdadeiramente

significativas.

3. Reflexão final Ao finalizar este trabalho de investigação, considerámos ser importante refletir sobre

diferentes aspetos do seu decurso. Na sequência de momentos que integrou todo o seu

desenvolvimento, deparámo-nos com dificuldades, mas também com circunstâncias que nos

surpreenderam positivamente.

Registamos como a principal dificuldade a seleção de professores para os estudos de caso.

Uma vez que a investigação a realizar era um estudo de avaliação, alguns professores que,

numa primeira fase, se prontificaram a colaborar connosco, vieram mais tarde, em tempo de

tensões a que a avaliação do desempenho docente deu origem, a manifestar a sua

indisponibilidade. Julgamos que a natureza avaliativa do estudo se veio a constituir como

fator de inibição para a colaboração inicialmente consentida.

Os dados recolhidos por questionário surpreenderam-nos em alguns aspetos, relativamente

aos quais tínhamos expetativas diferentes. Referimo-nos, por exemplo, à idade dos

professores participantes. Uma vez que o questionário era preenchido através da internet,

criámos a expetativa de que os professores mais jovens iriam participar em maior número.

Ora, tal não se veio a verificar, tendo sido os professores com idades compreendidas entre os

35 e os 54 anos os que mais predominaram. Também nos surpreendeu a adesão à participação

no preenchimento do questionário, principalmente porque a sua aplicação decorreu no final do

ano letivo, numa fase em que os professores estão envolvidos em muitas tarefas (de avaliação,

de organização, de preparação do ano letivo seguinte, entre outras) e acusam um maior

cansaço.

Na nossa opinião, os resultados que alcançámos com este trabalho e os pontos que nos

mereceram maior reflexão justificam a necessidade de aprofundar alguns temas através da

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realização de novas investigações. Sendo assim, tendo por fim a melhoria das práticas em

EEP, sugerimos que os futuros trabalhos se centrem:

- na análise de publicações, dirigidas a educadores e professores, relativamente à relevância

das propostas que apresentam para a expressão plástica e educação visual;

- no conhecimento aprofundado sobre as conceções dos professores relativamente à

«expressão plástica», procurando, por exemplo, entender porque é que as suas práticas

incluem atividades que ora surgem como facilitadoras, ora como inibidoras da «expressão

plástica»;

- no conhecimento do modo como a obra de arte permeia o currículo real do 1º Ciclo do

Ensino Básico, explicitando que modelos de apreciação / análise são privilegiados pelos

professores;

- no conhecimento de «boas práticas», através da recolha e sistematização de dados relativos à

implementação de sequências pedagógicas que envolvam a EEP.

A realização deste estudo trouxe-nos, também, diversos benefícios a nível pessoal.

Reconhecemos que todo o percurso efetuado serviu para aprofundar conhecimentos

relativamente à “avaliação”, ao “currículo” e à “expressão plástica”, e que o trabalho que

desenvolvemos na formação inicial de professores e educadores no domínio da pedagogia da

educação artística será, doravante, enriquecido.

Os resultados obtidos permitiram-nos identificar os aspetos que, na formação de

professores devem ser intensificados, tendo em vista a melhoria do currículo de EEP,

colocando-o numa perspetiva de inovação e de compreensão da sociedade em evolução,

proporcionando aos alunos uma maior ampitude de experiências no que se refere ao contacto

com as artes e com o uso da linguagem plástica.

Sendo assim, também nos consideramos implicados nas recomendações que atrás

apresentámos. Como tal, à nossa escala, procuraremos aprofundar a reflexão sobre os

diferentes aspetos e desenvolver investigação que incida sobre os mesmos.

Como intenções futuras queremos também salientar o nosso interesse em continuar a

atualizar e a aprofundar o que considerámos neste estudo ser o "currículo ideal" - e que

assumimos ser momentâneo - procurando reunir informação sobre a investigação que se vai

produzindo, particularmente, sobre processos de concretização da educação artística e sobre

abordagens curriculares facilitadoras desses processos. Procuraremos também integrar e/ou

constituir grupos de trabalho para desenvolver projetos que incidam sobre estas temáticas e

promovam oportunidades de reflexão e formação com professores do 1º Ciclo.

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Reconhecemos que este trabalho nos trouxe também importantes acréscimos aos

conhecimentos que tínhamos sobre metodologias de investigação em educação, na medida em

que nos colocou na dimensão da sua prática.

Cremos, por isso, que estes ganhos serão uma mais-valia para futuros trabalhos de

investigação que podemos empreender e, assim, continuar a contribuir com conhecimento

sobre avaliação, desenvolvimento do currículo e práticas que envolvam o uso da linguagem

plástica em contextos de educação.

Terminamos, com um breve apontamento (ou antes, um desejo): as práticas da EEP

devem evoluir no sentido de integrarem processos que contemplem não só a vivência de

experiências criativas com técnicas e materiais plásticos diversificados e conjugados entre si,

em espaços de tempo que possibilitem a construção de conhecimento, a espontaneidade, a

fruição, o prazer gratuito,..., mas também, a vivência de experiências estéticas, pelo contacto

com lugares, pessoas, culturas e objetos artísticos diversos.

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ANEXOS

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Anexo I Questionário

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Um estudo do currículo de Expressão e Educação Plástica no 1º CEB

Questionário

Investigação realizada no âmbito do curso de Doutoramento em Educação(Teoria e Desenvolvimento Curricular) do Instituto de Educação da Universidadede Lisboa

Professor(a),Este questionário tem por objetivo recolher informação sobre as práticas dosprofessores do 1º Ciclo do Ensino Básico na área curricular de Expressão eEducação Plástica(EEP) ao longo do ano letivo de 2010/2011.O seu preenchimento é anónimo, não sendo solicitadas informações que o(a)possam identificar de alguma forma.Estimamos que o seu preenchimento tenha a duração de 15 minutos.Por favor, responda a todas as questões, pois só assim serão validadas as suasrespostas para o tratamento dos dados.A sua colaboração é indispensável para a realização deste trabalho.

Muito obrigada!Lúcia Magueta

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Um estudo do currículo de Expressão e Educação Plástica no 1º CEB

PARTE I - Dados de identificação e caraterização

1. Idade - Indique a sua idade

2. Género - Assinale a opção que lhe corresponde

3. Habilitação académica - Assinale as opções que lhe correspondem.

4. Experiência profissional - Indique o número de anos que tem de experiênciacomo professor(a) do 1º Ciclo do Ensino Básico

5. Zona Geográfica - Assinale a Direção Regional de Educação a que pertence aescola onde exerce.

M

F

Licenciatura

Mestrado

Outra (por favor, especifique)

Norte

Centro

Lisboa e Vale do Tejo

Alentejo

Algarve

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Um estudo do currículo de Expressão e Educação Plástica no 1º CEB

PARTE II - Práticas na área curricular de EEP

ATIVIDADES

6. Indique o tipo de atividades de EEP desenvolvidas com os seus alunos e afrequência com que foram realizadas ao longo do ano letivo.Assinale em cada item a opção que mais se aproxima da sua situação.

Muitoraramente

Raramente Às vezes FrequentementeMuito

frequentemente

Modelar (embarro, plasticina,pasta de papel,outros materiais)

Esculpir (embarras de sabão)

Construir(fantoches,maquetas,brinquedos,máscaras,instrumentosmusicais, objetosdiversos)

Desenharlivremente

Desenhar comtemas sugeridos

Pintarlivremente

Pintar comtemas sugeridos

Recortar

Fazer colagens

Fazer dobragens

Fazer impressão/ estampagem

Tecer

Costurar

Construirelementos paratapeçarias

Fotografar

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Muitoraramente

Raramente Às vezes FrequentementeMuito

frequentemente

Construirtransparências ediapositivos

Fazer montagensaudiovisuais

Fazer cartazes

Observar eanalisar imagensem contextosdiversos

Observar,analisar eapreciar obrasde arte emcontextosdiversos

Utilizar TIC(programas dedesenho)

Utilizar TIC empesquisas sobretemas de EEP

Utilizar TIC(sítios nainternet quepossibilitam arealização decriações plásticason line)

Utilizar TIC(recursoseducativosdigitaisespecíficos daEEP)

Outras (por favor, especifique)

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Um estudo do currículo de Expressão e Educação Plástica no 1º CEB

ESTRATÉGIAS PARA ABORDAR CONTEÚDOS DE EEP

7. Indique que estratégias adotou na abordagem a conteúdos de EEP e a frequênciacom que foram selecionadas ao longo do ano letivo.Assinale em cada item a opção que mais se aproxima da sua situação.

Muitoraramente

Raramente Às vezes FrequentementeMuito

frequentemente

Fazer exposiçõesorais

Explorarmateriaisdidáticos(acetatos,powerpoints,cartazes,manuais, objetosrepresentativosda utilização detécnicas emateriais, entreoutros)

Demonstrar(aplicação detécnicas,materiais,manuseamentode utensílios,entre outros)

Promover aobservação darealidade(observarobjetos reais,paisagem, entreoutros)

Realizar visitasde estudo (aexposições emmuseus,galerias,monumentos,entre outros)

Pôr em práticamodelos deapreciação/análise de obrasde arte

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Muitoraramente

Raramente Às vezes FrequentementeMuito

frequentemente

Realizar aulascom a presençade convidados(artistasplásticos,artesãos, entreoutros)

Fazer pesquisascom os alunosem enciclopédiase livros de arte

Fazer pesquisascom os alunos nainternet

Outras (por favor, especifique)

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OPÇÕES METODOLÓGICAS EM ATIVIDADES DE EEP

8. Indique opções metodológicas que incluiu nas práticas de EEP e a frequênciacom que foram selecionadas ao longo do ano letivo.Assinale em cada item a opção que mais se aproxima da sua situação.

Muitoraramente

Raramente Às vezes FrequentementeMuito

frequentemente

Os alunosparticipam naseleção dasatividades arealizar

Os alunos têmcontacto commateriaisdiversificados

Os alunosrealizamtrabalhoscoletivos

Os alunosrealizamexercícios decolorir figurasem manuais oufolhaspolicopiadas

O professorpropõe trabalhosem que todos osalunos têm de sesubmeter aosmesmos temas,materiais etécnicas

O professorpropõe trabalhosque permitem acada alunoproduzir umtrabalhoindividual eúnico

O professorpromove otrabalho e a

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Muitoraramente

Raramente Às vezes FrequentementeMuito

frequentemente

cooperação emgrupo através daEEP

O professorproporcionaexperiências queassociam a EEP aoutras áreascurriculares

O professor«corrige» ou«ajuda» ascrianças no seutrabalho,mostrando«como se faz» ou«como sedesenha»,impondo os seuspadrões deadulto

O professorvaloriza oprocesso deprojetar eexperimentar

O professorcondiciona asatividades àrealização de umproduto final

O professorprevêabordagens quedesenvolvem opensamentocrítico

O professorpropõeatividadesfacilitadoras dodesenvolvimentodo sentidoestético

O professorpropõeatividadesfacilitadoras da

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Muitoraramente

Raramente Às vezes FrequentementeMuito

frequentemente

compreensão erespeito pelasdiversasidentidadesculturais

Os temas para asatividades sãopropostos peloprofessor

Os trabalhospropostosconsistem nacópia de modelos

Os trabalhos dosalunos sãoexpostos na salade aula

Os trabalhos dosalunos sãoexpostos emespaços daescola

As atividadespropostasestimulam acriatividade dosalunos

As atividadespropostasproporcionam ocontacto com aobra de arte

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PLANIFICAÇÃO

9. Indique aspetos relativos à planificação do ensino-aprendizagem da EEP e afrequência com que os considerou nas suas práticas ao longo do ano letivo.Assinale em cada item a opção que mais se aproxima da sua situação.

Muitoraramente

Raramente Às vezes FrequentementeMuito

frequentemente

Ao planificarconsulta oPrograma do 1ºCiclo

Ao planificarconsulta oCurrículoNacional

Ao planificarconsulta asMetas deAprendizagem

A EEP faz partedas atividadesprevistas no PCT

A EEP integra aplanificação deprojetos diversos

A EEP integraprojetos queincluemparcerias entre aescola e artistasplásticos ouinstituiçõesculturais

A EEP articula-secom outras áreascurriculares

As atividades deEEP ocupamduas horassemanais

As perceções queas pessoas(como porexemplo, ospais) têm sobreo que é ensinado

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Muitoraramente

Raramente Às vezes FrequentementeMuito

frequentemente

na escola,condicionam aseleção deatividades deEEP

As visitas deestudo sãopreparadaspreviamente emparceria com asinstituiçõesculturais eartísticas avisitar

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MATERIAIS DIDÁTICOS

10. Indique que materiais didáticos específicos da EEP utilizou e a frequência comque os selecionou ao longo do ano letivo. Assinale em cada item a opção que maisse aproxima da sua situação

Muitoraramente

Raramente Às vezes FrequentementeMuito

frequentemente

Manuais de EEP

Livros de arte

Livros deliteratura infantilrelacionados comEEP

Livros infantissobre expressãoplástica (outrabalhosmanuais)

Sítios nainternet (demuseus ou cominformação sobreobras de arte eartistasplásticos)

Imagensrepresentativasde obras de arte

Imagensdiversas paraanalisar(fotografias,ilustrações delivros infantis,entre outros)

Objetos diversosrepresentativosda aplicação detécnicas emateriais

Figuras paracolorir (em livrosou fotocópias)

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Muitoraramente

Raramente Às vezes FrequentementeMuito

frequentemente

Revistas (sobretrabalhosmanuais, artesdecorativas,entre outros)

Modelos(exemplos detrabalhos que osalunos devemcopiar/ imitar)

Softwareespecífico da EEP

Cartazes

Outros (por favor, especifique)

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AVALIAÇÃO

11. Indique aspetos relativos à avaliação do ensino-aprendizagem da EEP e afrequência com que os considerou nas suas práticas ao longo do ano letivo.Assinale em cada item a opção que mais se aproxima da sua situação.

Muitoraramente

Raramente Às vezes FrequentementeMuito

frequentemente

As práticas deavaliaçãoincluem aavaliaçãodiagnóstica

Os resultados daavaliaçãodiagnósticacondicionam agestão docurrículo de EEP

Na avaliaçãoconsideram-se ostrabalhosrealizados pelosalunos

Na avaliaçãoconsideram-se oscomportamentosdos alunosobservadosdurante arealização dasatividades

Os alunosparticipam nasua própriaavaliação

Para fazer aavaliação sãoformuladoscritérios, tendopor base ascompetênciasdefinidas pelocurrículo

A avaliaçãocomunicada aosalunos

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Muitoraramente

Raramente Às vezes FrequentementeMuito

frequentemente

resume-se acomentáriosverbais sobre asexperiênciasvivenciadas e ostrabalhosrealizados

Na avaliaçãoclassificam-sequalitativamenteos trabalhosrealizados pelosalunos

Os alunosparticipam emmomentos dereflexão eavaliação sobre oprocesso decriação e sobre otrabalhorealizado

Os trabalhos dosalunos sãoorganizados emarquivos próprios

Na avaliaçãoatende-se aodesenvolvimentográfico e plásticodas crianças

Na avaliação sãofeitascomparaçõesentre ostrabalhos dascrianças e sãoexpostos os«melhores»

Na avaliaçãoanalisa-se aevolução dostrabalhos dosalunos

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Um estudo do currículo de Expressão e Educação Plástica no 1º CEB

PARTE III - Formas de atualização de conhecimentos sobre EEP

FORMAS DE ATUALIZAÇÃO DE CONHECIMENTOS SOBRE EEP

12. Indique de que forma(s) e com que frequência atualizou os seus conhecimentoscientíficos e pedagógicos sobre EEP nos últimos dois anos.Assinale em cada item a opção que mais se aproxima da sua situação.

Muitoraramente

Raramente Às vezes FrequentementeMuito

frequentemente

Frequência deações deformação

Frequência deencontros deformaçãopromovidos pormuseus

Leitura debibliografiaespecializadaatual

Pesquisas nainternet sobretemáticas da EEP

Visitas a museuse exposiçõesrelacionadoscom as artesvisuais

Contacto comartesãos eartistas plásticos

Consulta derevistasdestinadas aeducadores eprofessores

Troca deinformação comoutroseducadores /professores

Outras (por favor, especifique)

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Um estudo do currículo de Expressão e Educação Plástica no 1º CEB

Fim do questionário.

Obrigada pela sua colaboração.

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Anexo II Guião de entrevista

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Ponto prévio à realização da entrevista: - dar informações aos professores sobre a investigação em curso e sobre os objetivos da entrevista; - agradecer e salientar a importância da sua participação no estudo; - garantir a confidencialidade no que respeita aos dados fornecidos e identificação da escola, professor, alunos ou outros elementos.

Objetivos da investigação Questões

Conhecer o currículo real na

área de EEP, nas suas

diferentes dimensões (o

currículo planificado /

moldado pelos professores e o

currículo avaliado)

Bloco 1

- Que tipos de experiências de aprendizagem considera fundamentais na área

de EEP? Como seleciona e concretiza essas experiências?

- Que técnicas e materiais privilegia?

- Como propõe aos alunos as atividades de EEP?

- Que sequência de tarefas constituem as atividades que habitualmente

organiza?

- Que papel têm os alunos na seleção das actividades?

- Que estratégias utiliza na abordagem a novos conteúdos? (exposições

orais, demonstrações, exploração de materiais, realização de

experiências,...);

- Utiliza materiais didáticos específicos da EEP? Quais?

- As actividades que organiza incluem as TIC?

- Quais os materiais mais utilizados pelos alunos?

- Como seleciona / providencia a aquisição de materiais?

- Por semana, quanto tempo dedica à EEP?

Outras questões que podem integrar este bloco:

- Colorir figuras em manuais ou folhas policopiadas é um dos exercícios que

habitualmente proporciona aos alunos?

- Inclui nas suas práticas a abordagem à obra de arte? Que estratégias

utiliza? Como seleciona as obras a apresentar?

- Nas suas práticas promove a visita a monumentos, museus, e galerias de

arte ou o contacto com artistas?

- Impõe temas para a realização de atividades de EEP?

- As atividades que propõe às crianças possibilitam que cada uma produza

um trabalho individual e único?

- Incentiva ou promove trabalhos que consistam na cópia de modelos?

- Conhece técnicas de estímulo à criatividade através da EEP? Quais?

- Promove a realização de trabalhos coletivos?

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Conhecer a relação entre o

currículo formal e as práticas

em EEP

Bloco 2

- Que relação estabelece entre o currículo formal e as suas práticas na área

de EEP?

- Qual ou quais o(s) documento(s) que consulta no momento da elaboração

de planificações?

- Como carateriza o seu conhecimento relativamente aos documentos

curriculares que enquadram a EEP?

Conhecer o currículo real na

área de EEP, nas suas

diferentes dimensões (o

currículo planificado /

moldado pelos professores e o

currículo avaliado)

Bloco 3

- Faz avaliação diagnóstica para EEP? Em que momentos? Que

procedimento(s) adota?

- Em que medida os resultados da avaliação diagnóstica condicionam a

gestão do currículo de EEP?

- Como faz a avaliação? (o que avalia e como?)

- Os alunos participam na sua própria avaliação?

- Como reage quando uma criança lhe solicita uma apreciação ao trabalho de

EEP que realizou?

- Analisa os desenhos das crianças? Que aspetos privilegia nessa análise?

Verificar qual o papel dos

mediadores curriculares

(manuais de EEP) nas práticas

dos professores;

Bloco 4

- Concorda com a utilização de manuais de EEP? Porquê?

- Recorre habitualmente ao manual de EEP?

Verificar se o currículo

percebido condiciona as

decisões dos professores

relativamente às atividades de

EEP que selecionam;

Bloco 5

- Sendo o currículo percebido o conjunto de perceções que as pessoas (como

por exemplo, os pais) têm sobre o que é ensinado na escola, de que forma é

que este condiciona as suas decisões relativamente às atividades de EEP?

Identificar de que forma(s) os

professores atualizam os seus

conhecimentos científicos e

pedagógicos sobre EEP;

Bloco 6

- De que forma(s) atualiza os seus conhecimentos científicos e pedagógicos

sobre EEP?

- Frequenta habitualmente museus e exposições relacionadas com as artes

visuais?

- Faz pesquisas relacionadas com a EEP? Quais as fontes que utiliza?

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Anexo III Estudo de caso 1 – Grelha de análise da entrevista

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Análise de conteúdo da entrevista à luz do referente “currículo formal” Categorias Sub-categorias Indicadores Unidades de registo (A) Conhecimentos, capacidades e atitudes visadas nas competências

(A1) Explicitação das competências a privilegiar

(A1.1) Enunciar competências da literacia em artes

«(documentos curriculares que consulta) (...)o Currículo Nacional do Ensino Básico, Competências Essenciais»

(A1.2) Enunciar competências da dimensão fruição-contemplação (A1.3) Enunciar competências da dimensão produção-criação (A1.4) Enunciar competências da dimensão reflexão-interpretação (A1.5) Enunciar competências no domínio da comunicação visual (A1.6) Enunciar competências no domínio dos elementos da forma

(B) Experiências educativas correspondentes aos Blocos de aprendizagem

(B1) Explicitação de objetivos de ação / experiências educativas relativas aos Blocos 1,2 e 3

(B1.1) Enunciar objetivos de ação / experiências educativas relativas ao Bloco «Descoberta e Organização Progressiva de Volumes»

«(documentos curriculares que consulta) Organização Curricular e Programas - 1º Ciclo (...)»

(B1.2) Enunciar objetivos de ação / experiências educativas relativas ao Bloco «Descoberta e Organização Progressiva de Superfícies» (B1.3) Enunciar objetivos de ação / experiências educativas relativas ao Bloco «Exploração de Técnicas diversas de Expressão»

(C) Indicações metodológicas

(C1) Articulação entre as competências em Educação Visual e as experiências educativas do Programa de EEP

(C1.1) Selecionar experiências educativas que contribuem para a aquisição e desenvolvimento de competências

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(C2) Articulação entre abordagens a conteúdos e experiências educativas

(C2.1) Prever experiências educativas que concretizam os conteúdos em abordagem

«Seleciono as experiências que proporciono aos alunos com base em temas que estão a ser tratados em outras áreas e com base em acontecimentos ou momentos (dias e épocas festivas, por exemplo) que vão acontecendo ao longo do ano letivo.»

(C3) Utilização de vocabulário específico relacionado com a EEP e a Educação Visual

(C3.1) Mencionar termos relativos a técnicas e materiais de expressão plástica

«Privilegio sobretudo técnicas mistas e variadas como colagem, pintura em diversos materiais, desenho, recorte, e experimentação de diversos materiais como aguarelas, guache, carvão, lápis de cera e matérias recicláveis.»

(C4) Aplicação das orientações metodológicas enunciadas nos textos curriculares

(C4.1) Prever diversas metodologias de trabalho (exposições orais, demonstrações práticas, mostras individuais, investigação bibliográfica, recolhas de objetos e imagens, debates, visitas de estudo, trabalhos de ateliê, registos de observação do exterior, frequência de museus e exposições, etc.)

«A introdução de novos conteúdos é, na maior parte das vezes, feita através da exposição oral e da discussão em grupo. Em determinados conteúdos apresento por vezes outros meios como imagens (pintura ou fotografia, por exemplo), objetos, materiais, e apresentações no computador (powerpoint)»

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(C) Indicações metodológicas (continuação)

(C4) Aplicação das orientações metodológicas enunciadas nos textos curriculares. (continuação)

(C4.2) Selecionar situações de aprendizagem contextualizadas

«(...) eu proponho a atividade relacionada com um determinado contexto e/ou tema trabalhado noutra área» «Geralmente seleciono as obras (de arte) tendo em conta a variedade e a contextualização no trabalho que quero pôr em prática.»

(C4.3) Selecionar temas relevantes e atuais relacionados com o meio envolvente, com propostas dos alunos ou com o universo das artes visuais em Portugal

«(...) os alunos propõem atividades que são discutidas e é feita a ponderação da sua realização» (...) os alunos contribuem muitas vezes com propostas, sobretudo de temas. Quando isso acontece, é discutido e posto (ou não) em prática.»

(C4.4) Enunciar atividades/ projetos que impliquem um processo e um produto final

«Há sempre, porém, uma estrutura que aplico quando trabalhamos a expressão plástica: introdução – execução – conclusão»; «na introdução fazemos um momento de discussão e de confronto de ideias, na execução realiza-se o processo de execução das tarefas e na conclusão faz- -se a limpeza do espaço e expõem-se os resultados ou apresentam-se à turma»

(C4.5) Selecionar atividades que possibilitam o desenvolvimento da criatividade e expressão pessoal

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(C4.6) Selecionar meios de expressão visual diversificados que permitem múltiplas abordagens estético-pedagógicas

«foram programadas e realizadas atividades no paint»; «Pretendo realizar também trabalho com fotografia e vídeo, mas no próximo ano letivo».

(C4.7) Prever abordagens que incluam a aproximação à obra de arte

«Já propus atividades feitas a partir de observação de obras de arte como inspiração, como “cópia da técnica”, como identificação de elementos, etc.»

(C4.8) Prever a análise de obras da cultura artística portuguesa, adoptando o estudo de obras do séc. XX como ponto de partida para o estudo de obras de outras épocas e culturas

«este ano fomos visitar a exposição da Joana Vasconcelos e vamos visitar o edifício do Teatro Nacional D. Maria II»

(C4.9) Prever a utilização de diversas tecnologias e materiais adequados às necessidades de expressão dos alunos

«Privilegio sobretudo técnicas mistas e variadas como colagem, pintura em diversos materiais, desenho, recorte, e experimentação de diversos materiais como aguarelas, guache, carvão, lápis de cera e matérias recicláveis.»

(C4.10) Prever a adequação da exploração plástica ao nível de desenvolvimento de cada aluno

«(...) conheço o trabalho e as competências de cada aluno»

(C4.11) Prever diferentes estratégias de avaliação

«De uma maneira geral, avalio qualitativamente a Comunicação Visual, Elementos de Forma e as Experiências de Aprendizagem (itens definidos pelo agrupamento onde trabalho).» «A avaliação é feita continuamente e pela observação das aplicação de técnicas, do desenvolvimento de tarefas, pela

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(C) Indicações metodológicas (continuação)

(C4) Aplicação das orientações metodológicas enunciadas nos textos curriculares. (continuação)

criatividade, empenho, sentido de responsabilidade e pelo desenvolvimento de competências.»; «Os alunos fazem a sua autoavaliação, e há momentos de discussão da avaliação de trabalhos.» «(faço avaliação diagnóstica) Sobretudo quando tenho um grupo de alunos novo (o que não é o caso) ou quando chega uma aluno novo à turma.» «Encaro a avaliação diagnóstica para avaliar qual o ponto de partida do meu trabalho»

(C4.12) Prever uma gestão do tempo que permita a consolidação das aprendizagens e a qualidade do produto final

«Apesar de, segundo a lei, ser atribuída uma hora por semana às expressões (plástica, físico-motora, musical e dramática), eu “jogo” com o horário e com a interdisciplinaridade, fazendo em média duas horas de expressão plástica por semana».

(C4.13) Prever o trabalho individual do aluno «Sim (as atividades que proponho às crianças proporcionam que cada um produza um trabalho individual e único)»

(C4.14) Prever o trabalho de grupo «Promovo também o trabalho a pares e em grupo»; «Sim, com alguma frequência (promovo trabalhos coletivos)»

Análise de conteúdo da entrevista à luz do referente “currículo ideal”

Categorias Sub-categorias Indicadores Unidades de registo (D) Conceito de expressão plástica

(D1) Vias de concretização do conceito de expressão plástica

(D1.1) Uso e exploração dos elementos da linguagem plástica

«Privilegio sobretudo técnicas mistas e variadas como colagem, pintura em diversos materiais, desenho, recorte, e experimentação de diversos materiais como aguarelas, guache, carvão, lápis de cera e matérias recicláveis»

(D1.2) Manuseamento e modificação de materiais plásticos

(D1.3) Expressão de sentimentos e emoções e comunicação de ideias através do uso da linguagem plástica

«Sim (propõe atividades que possibilitam a cada aluno produzir um trabalho individual e único»

(D1.4) Criação de algo através do uso da linguagem plástica

«Privilegio sobretudo técnicas mistas e variadas como colagem, pintura em diversos materiais, desenho, recorte, e experimentação de diversos materiais como aguarelas, guache, carvão, lápis de cera e matérias recicláveis»

(D1.5) Desenvolvimento do pensamento, da imaginação, da sensibilidade, da criatividade e da capacidade de descoberta através da apropriação e do uso da linguagem plástica

(E) Desenvolvimento da criatividade

( E1) Seleção de atividades que estimulam a criatividade

(E1.1) Apelar ao pensamento divergente [Não se identificaram referências que visassem explicitamente estes indicadores]

(E1.2) Promover a flexibilidade e a liberdade (E1.3) Fomentar a comunicação e a participação (E1.4) Estimular a curiosidade, a sensibilidade e a fantasia (E1.5) Promover a autonomia, a motivação, o espírito crítico, o esforço e o trabalho (E1.6) Conduzir os alunos à formulação de

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(E) Desenvolvimento da criatividade (continuação)

( E1) Seleção de atividades que estimulam a criatividade (continuação)

questões sobre o que os rodeia [Não se identificaram referências que visassem explicitamente estes indicadores]

(E1.7) Tomar decisões sobre o processo de criar (E1.8) Possibilitar a autoavaliação sobre a adequação e a qualidade do trabalho

«Os alunos fazem a sua autoavaliação, e há momentos de discussão da avaliação de trabalhos»

(F) Papel do professor

(F1) Adoção de atitudes pedagógicas favoráveis à concretização do conceito de expressão plástica

(F1.1) Adotar uma pedagogia não diretiva, flexível e aberta

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente estes indicadores] (F1.2) Valorizar atividades que estimulam o

pensamento divergente e intuitivo (F1.3) Apresentar às crianças propostas que constituem «desafios» para os quais elas devem criar soluções individuais e únicas

«Sim (as atividades que proponho às crianças proporcionam que cada um produza um trabalho individual e único)»

(F1.4) Revelar-se consciente das influências dos estereótipos e defender a autenticidade da expressão

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente estes indicadores] (F1.5) Utilizar a componente lúdica em

abordagens a conceitos e para desencadear o processo criativo (F1.6) Organizar atividades que permitem observar, fruir, analisar e emitir opiniões sobre a obra de arte

«Já propus atividades feitas a partir de observação de obras de arte como inspiração, como “cópia da técnica”, como identificação de elementos, etc.»; «este ano fomos visitar a exposição da Joana Vasconcelos e vamos visitar o edifício do Teatro Nacional D. Maria II»

(F1.7) Conhecer e facilitar a apropriação da «gramática visual» necessária para ler, compreender e produzir imagens

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(F1.8) Adotar metodologias diversificadas «A introdução de novos conteúdos é, na maior parte das vezes, feita através da exposição oral e da discussão em grupo. Em determinados conteúdos apresento por vezes outros meios como imagens (pintura ou fotografia, por exemplo), objetos, materiais, e apresentações no computador (Powerpoint)»

(F1.9) Relacionar a expressão plástica com as outras expressões artísticas e as diferentes áreas do conhecimento

«Seleciono as experiências que proporciono aos meus alunos com base nos temas que estão a ser tratados em outras áreas e com base em acontecimentos ou momentos (dias e épocas festivas, por exemplo) que vão acontecendo ao longo do ano letivo.»

(F1.10) Proporcionar atividades que implicam a busca de conhecimentos diversos, evidenciando a integração de saberes

«Quer em sala de aula, quer no exterior, quer fora do contexto escolar, considero fundamental que os alunos experienciem o máximo de vivências quer ao nível da educação e expressão plástica quer ao nível das outras áreas.»

(F1.11) Associar a utilização das TIC à EEP, perspetivando modos de explorar as potencialidades das tecnologias contemporâneas naquilo em que estas podem contribuir para o acesso a bens culturais, a modos de criação de diferentes povos e culturas e a um conhecimento amplo sobre processos e procedimentos de produção artística;

«foram programadas e realizadas atividades noPaint. Pretendo realizar também trabalho com fotografia e vídeo, mas no próximo ano letivo.»

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(F) Papel do professor (continuação)

(F1) Adoção de atitudes pedagógicas favoráveis à concretização do conceito de expressão plástica (continuação)

(F1.12) Preocupar-se com o modo como interfere no trabalho dos alunos

« Quando um aluno bloqueia (o que é muito raro acontecer com a minha turma) geralmente dou-lhe algumas sugestões como: ver imagens (em diversos suportes); faço-lhe perguntas sobre o trabalho que o levem a ter ideias; peço para pensar em determinada experiência que tenha vivido (viagem, música que conheça, desporto que pratique); e apresento-lhe, por vezes, algumas sugestões que podem direcionar um caminho a seguir»

(F1.13) Observar e apreciar os trabalhos dos alunos estimulando-os no seu esforço expressivo e criativo

«Saliento os aspetos positivos do trabalho e as aprendizagens já adquiridas e chamo a atenção para os aspetos a melhorar. Acontece com frequência com os meus alunos. São extremamente críticos com o seu trabalho e sentem a necessidade de ouvir uma avaliação constante, embora também sejam muito seguros.»

(F1.14) Criar um clima propício à espontaneidade

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(F1.15) Deixar que os alunos explorarem e desenvolvam técnicas através da experimentação de diferentes materiais

«(privilegia) a experimentação de diversos materiais como aguarelas, guache, carvão, lápis de cera e matérias recicláveis»

(F1.16) Apresentar diferentes técnicas, instrumentos e materiais através de estratégias que estimulem a criatividade

«Quando um aluno bloqueia (o que é muito raro acontecer com a minha turma) geralmente dou-lhe algumas sugestões como: ver imagens (em diversos suportes); faço-lhe perguntas sobre o trabalho que o levem a ter ideias; peço para pensar em determinada experiência que tenha vivido (viagem, música que conheça, desporto que pratique); e apresento-lhe, por vezes, algumas sugestões que podem direcionar um caminho a seguir»

(F1.17) Selecionar técnicas e materiais que se adequam aos alunos

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(F1.18) Proporcionar momentos de reflexão e avaliação sobre o processo de criação e sobre o trabalho realizado

«Os alunos fazem a sua autoavaliação, e há momentos de discussão da avaliação de trabalhos.»

(F1.19) Analisar a evolução dos trabalhos dos alunos

(analisa)«aspetos sobretudo ao nível da criatividade, da utilização correta de materiais e da técnica». «(...) conheço o trabalho e as competências de cada aluno»

(F1.20) Proporcionar atividades facilitadoras do desenvolvimento do sentido estético

«Já propus atividades feitas a partir de observação de obras de arte como inspiração, como “cópia da técnica”, como identificação de elementos, etc. Geralmente, seleciono as obras tendo em conta a variedade e a contextualização no trabalho que quero pôr em prática» «Tento sempre, pelo menos uma vez por ano, visitar uma determinada exposição

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(F) Papel do professor (continuação)

F1) Adoção de atitudes pedagógicas favoráveis à concretização do conceito de expressão plástica (continuação)

e um monumento» (F1.21) Proporcionar atividades facilitadoras da compreensão e respeito pelas diversas identidades culturais

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente estes indicadores] (F1.22) Promover o respeito pelas diferentes

manifestações de arte, aceitando a perspetiva dos alunos (F1.23) Prever abordagens que facilitem o desenvolvimento do pensamento crítico

«(estratégia) discussão de temas» «Acontece com frequência com os meus alunos. São extremamente críticos com o seu trabalho e sentem a necessidade de ouvir uma avaliação constante, embora também sejam muito seguros»

Análise de conteúdo da entrevista à luz do referente “currículo real representado”

Categorias Sub-categorias Indicadores Unidades de registo (G) Atividades desenvolvidas

(G1) Diversidade de propostas apresentadas aos alunos

(G1.1) Desenhar livremente «Privilegio sobretudo técnicas mistas e variadas como colagem, pintura em diversos materiais, desenho, recorte, e experimentação de diversos materiais como aguarelas, guache, carvão, lápis de cera e matérias recicláveis»

(G1.2) Desenhar com temas sugeridos (G1.3) Pintar livremente (G1.4) Pintar com temas sugeridos (G1.5) Recortar (G1.6) Fazer colagens (G1.7) Fazer dobragens (G1.8) Fazer cartazes (G1.9) Observar e analisar imagens em contextos diversos

«Em determinados conteúdos apresento por vezes outros meios como imagens (pintura ou fotografia, por exemplo)»

(H) Estratégias para abordar conetúdos

(H1) Diversidade de estratégias adotadas

(H1.1) Fazer exposições orais «A introdução de novos conteúdos é, na maior parte das vezes, feita através da exposição oral e da discussão em grupo»

(H1.2) Explorar materiais didáticos (acetatos, powerpoints, cartazes, manuais, objectos representativos da utilização de técnicas e materiais, entre outros)

«Sim (utiliza materiais específicos da EEP). Dossier de imagens e apresentações Powerpoint sobre alguns temas e/ou técnicas (por exemplo sobre a comunicação, o cartaz). Muitas vezes esses materiais são utilizados também para outras áreas, acontecendo o contrário: utilização de materiais didáticos de outras áreas na expressão plástica (ex: tangram e geoplano)»

(H1.3) Demonstrar (aplicação de técnicas, materiais, manuseamento de utensílios, entre outros)

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente estes indicadores]

(H1.4) Promover a observação da realidade (observar objetos reais, paisagem, entre outros)

(I) Opções metodológicas

(I1) Diversidade de opções metodológicas relativas ao papel do professor, ao papel dos alunos e à natureza das atividades

(I1.1) Os alunos têm contacto com materiais diversificados

«(materiais mais utilizados) diversos tipos de papel (cavalinho, máquina, crepe, lustro, canelado, jornal, revista, esquisso, vegetal); grafite, tintas, canetas de feltro, lápis de cor, lápis de cera, aguarelas (ou aguadas mais especificamente), tecidos e lãs»

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(I) Opções metodológicas (continuação)

(I1) Diversidade de opções metodológicas relativas ao papel do professor, ao papel dos alunos e à natureza das atividades (continuação)

(I1.2) Os alunos realizam trabalhos coletivos «Promovo também o trabalho a pares e em grupo»

(I1.3) Os alunos realizam exercícios de colorir figuras em manuais ou folhas policopiadas

«Não é o tipo de trabalho que se faz na minha sala, e quando é pontualmente feito (muito raramente), não é como atividade de expressão plástica (até porque não considero esse tipo de trabalho expressão plástica), mas sim como atividade de recurso para alunos que acabem mais rapidamente determinada tarefa»

(I1.4) O professor propõe trabalhos que permitem a cada aluno produzir um trabalho individual e único

«Sim (propõe atividades que possibilitam a cada aluno produzir um trabalho individual e único»

(I1.5) O professor promove o trabalho e a cooperação em grupo através da EEP

«Promovo também o trabalho a pares e em grupo»

(I1.6) O professor proporciona experiências que associam a EEP a outras áreas curriculares

«(...) eu proponho a atividade relacionada com um determinado contexto e/ou tema trabalhado noutra área»

(I1.7) O professor valoriza o processo de projetar e experimentar

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(I1.8) O professor prevê abordagens que desenvolvem o pensamento crítico

«(estratégia) discussão de temas» «Acontece com frequência com os meus alunos. São extremamente críticos com o seu trabalho e sentem a necessidade de ouvir uma avaliação constante, embora também sejam muito seguros»

(I1.9) O professor propõe atividades facilitadoras do desenvolvimento do sentido estético

«Já propus atividades feitas a partir de observação de obras de arte como inspiração, como “cópia da técnica”, como identificação de elementos, etc. Geralmente, seleciono as obras tendo em conta a variedade e a contextualização no trabalho que quero pôr em prática» «Tento sempre, pelo menos uma vez por ano, visitar uma determinada exposição e um monumento»

(I1.10) O professor propõe atividades facilitadoras da compreensão e respeito pelas diversas identidades culturais

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente estes indicadores]

(I1.11) Os trabalhos dos alunos são expostos na sala de aula (I1.12) Os trabalhos dos alunos são expostos em espaços da escola (I1.13) As atividades propostas estimulam a criatividade dos alunos

(J) Planificação

(J1) Amplitude dos elementos considerados na planificação

(J1.1) Ao planificar consulta o Programa do 1º Ciclo

«(documentos curriculares que consulta) Organização Curricular e Programas - 1º Ciclo, o Currículo Nacional do Ensino Básico, Competências Essenciais, os Projetos Internos (Projeto Curricular de Agrupamento e Projeto Curricular de Turma). (à data da entrevista ainda não tinham sido publicadas as Metas de Aprendizagem)

(J1.2) Ao planificar consulta o Currículo Nacional (J1.3) Ao planificar consulta as Metas de Aprendizagem (J1.4) A EEP faz parte das atividades previstas no PCT (J1.5) A EEP integra a planificação de projetos diversos

(J1.6) A EEP articula-se com outras áreas «Seleciono as experiências que

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(J) Planificação (continuação)

(J1) Amplitude dos elementos considerados na planificação (continuação)

curriculares proporciono aos meus alunos com base nos temas que estão a ser tratados em outras áreas»

(J1.7) As atividades de EEP ocupam duas horas semanais

«eu “jogo” com o horário e com a interdisciplinaridade, fazendo em média 2 horas de expressão plástica por semana»

(J1.8) As visitas de estudo são preparadas previamente em parceria com as instituições culturais e artísticas a visitar

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(K) Materiais didáticos específicos da EEP

(K1) Natureza dos materiais didáticos

(K1.1) Imagens diversas para analisar (fotografias, ilustrações de livros infantis, entre outros)

«Em determinados conteúdos apresento por vezes outros meios como imagens (pintura ou fotografia, por exemplo), objetos, materiais, e apresentações no computador (powerpoint)»

(K1.2) Figuras para colorir (em livros ou fotocópias)

«Não é o tipo de trabalho que se faz na minha sala, e quando é pontualmente feito (muito raramente), não é como atividade de expressão plástica (até porque não considero esse tipo de trabalho expressão plástica), mas sim como atividade de recurso para alunos que acabem mais rapidamente determinada tarefa»

(K1.3) Revistas (sobre trabalhos manuais, artes decorativas, entre outros)

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente estes indicadores] (K1.4) Cartazes

(L) Avaliação

(L1) Diversidade de tipos, funções, formas, e objetos que são considerados na avaliação

(L1.1) As práticas de avaliação incluem a avaliação diagnóstica

«Sim (faz avaliação diagnóstica). Sobretudo quando tenho um grupo de alunos novo (o que não é o caso) ou quando chega uma aluno novo à turma»

(L1.2) Na avaliação consideram-se os trabalhos realizados pelos alunos

«A avaliação é feita continuamente e pela observação das aplicação de técnicas, do desenvolvimento de tarefas, pela criatividade, empenho, sentido de responsabilidade e pelo desenvolvimento de competências»

(L1.3) Na avaliação consideram-se os comportamentos dos alunos observados durante a realização das atividades

(L1.4) Os alunos participam na sua própria avaliação

«Os alunos fazem a sua autoavaliação, e há momentos de discussão da avaliação de trabalhos»

(L1.5) Para fazer a avaliação são formulados critérios, tendo por base as competências definidas pelo currículo

«De uma maneira geral, avalio qualitativamente a Comunicação Visual, Elementos de Forma e as Experiências de Aprendizagem (itens definidos pelo agrupamento onde trabalho)»

(L1.6) Na avaliação classificam-se qualitativamente os trabalhos realizados pelos alunos

«De uma maneira geral, avalio qualitativamente(...)»

(L1.7) Os alunos participam em momentos de reflexão e avaliação sobre o processo de criação e sobre o trabalho realizado

«Os alunos fazem a sua autoavaliação, e há momentos de discussão da avaliação de trabalhos»

(L1.8) Os trabalhos dos alunos são organizados em arquivos próprios

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(L1.9) Na avaliação atende-se ao desenvolvimento gráfico e plástico das crianças

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(L1.10) Na avaliação analisa-se a evolução dos trabalhos dos alunos

«Sobretudo ao nível de criatividade, da utilização correta de materiais e da técnica»

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Anexo IV Estudo de caso 2 – Grelha de análise da entrevista

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Análise de conteúdo da entrevista à luz do referente “currículo formal”

Categorias Sub-categorias Indicadores Unidades de registo (A) Conhecimentos, capacidades e atitudes visadas nas competências

(A1) Explicitação das competências a privilegiar

(A1.1) Enunciar competências da literacia em artes

«Em caso de alguma especificidade, também se utiliza o currículo (CNEB)» (A1.2) Enunciar competências da dimensão

fruição-contemplação (A1.3) Enunciar competências da dimensão produção-criação (A1.4) Enunciar competências da dimensão reflexão-interpretação (A1.5) Enunciar competências no domínio da comunicação visual (A1.6) Enunciar competências no domínio dos elementos da forma

(B) Experiências educativas correspondentes aos Blocos de aprendizagem

(B1) Explicitação de objetivos de ação / experiências educativas relativas aos Blocos 1,2 e 3

(B1.1) Enunciar objetivos de ação / experiências educativas relativas ao Bloco «Descoberta e Organização Progressiva de Volumes»

«O programa do 1º Ciclo (o documento que consulta no momento de planificar)»

(B1.2) Enunciar objetivos de ação / experiências educativas relativas ao Bloco «Descoberta e Organização Progressiva de Superfícies» (B1.3) Enunciar objetivos de ação / experiências educativas relativas ao Bloco «Exploração de Técnicas diversas de Expressão»

(C) Indicações metodológicas

(C1) Articulação entre as competências em Educação Visual e as experiências educativas do Programa de EEP

(C1.1) Selecionar experiências educativas que contribuem para a aquisição e desenvolvimento de competências

«O que é feito faz parte do programa. Muitas vezes não se tem noção que o que estamos a fazer são coisas que estão no programa...Muitas atividades vêm pela intuição, oportunidade e sensibilidade e nem sempre se tem noção que são coisas que também estão no currículo» «Em caso de alguma especificidade, também se utiliza o currículo (CNEB)»

(C2) Articulação entre abordagens a conteúdos e experiências educativas

(C2.1) Prever experiências educativas que concretizam os conteúdos em abordagem

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente estes indicadores]

(C3) Utilização de vocabulário específico relacionado com a E.E.P. e a Educação Visual

(C3.1) Mencionar termos relativos a técnicas e materiais de expressão plástica

(C4) Aplicação das orientações metodológicas enunciadas nos textos curriculares

(C4.1) Prever diversas metodologias de trabalho (exposições orais, demonstrações práticas, mostras individuais, investigação bibliográfica, recolhas de objetos e imagens, debates, visitas de estudo, trabalhos de ateliê, registos de observação do exterior, frequência de museus e exposições, etc.)

«Em atividades específicas da EEP, normalmente há uma conversa sobre o assunto ou tema e também uma conversa sobre técnicas, materiais,..(...)se houver necessidade faz-se a demonstração» «Exposições orais, mostrar imagens, explorar as ilustrações dos livros de literatura infantil, demonstrações,...»

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C) Indicações metodológicas (continuação)

(C4) Aplicação das orientações metodológicas enunciadas nos textos curriculares (continuação)

(C4.2) Selecionar situações de aprendizagem contextualizadas;

«Normalmente as atividades decorrem dos temas que se estão a trabalhar ou que fazem parte de projetos da escola»

(C4.3) Selecionar temas relevantes e atuais relacionados com o meio envolvente, com propostas dos alunos ou com o universo das artes visuais em Portugal

«Eles (os alunos) não têm um papel muito ativo na seleção do tipo de atividades»

(C4.4) Enunciar atividades/ projetos que impliquem um processo e um produto final

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(C4.5) Selecionar atividades que possibilitam o desenvolvimento da criatividade e expressão pessoal

«No geral, sim (as propostas possibilitam que cada aluno produza algo individual e único). Mesmo que sejam dadas indicações iguais para todos, todos podem fazer à sua maneira. Os das dobragens não são únicos, mas é o único exemplo que posso dar»

(C4.6) Selecionar meios de expressão visual diversificados que permitem múltiplas abordagens estético-pedagógicas

«O desenho, o recorte, ter noção da utilização correta dos materiais e de técnicas de pintura. Estes aspetos são importantes para todas as outras atividades que possam realizar em expressão plástica»

(C4.7) Prever abordagens que incluam a aproximação à obra de arte

«Na visita ao Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas (MASMO) os alunos puderam aprender coisas sobre o que viram: esculturas, lápides com desenhos e outras inscrições...Mas, como a maior parte das peças eram sepulturas e as crianças eram muito pequenas, estas não foram muito exploradas. Mas, falou- -se no tipo de ilustrações que faziam (os símbolos, a escrita, porque desenhavam alguns animais,...)

(C4.8) Prever a análise de obras da cultura artística portuguesa, adoptando o estudo de obras do séc. XX como ponto de partida para o estudo de obras de outras épocas e culturas

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(C4.9) Prever a utilização de diversas tecnologias e materiais adequados às necessidades de expressão dos alunos

«Desenho com grafite, lápis de cor, canetas de feltro, neste ano também se utilizou guaches e tintas para pintar em tecido, papel cavalinho, de lustro, cartolinas, papel manteiga. Desenho, pintura, estampagem, e dobragem foram as técnicas mais utilizadas»

(C4.10) Prever a adequação da exploração plástica ao nível de desenvolvimento de cada aluno

«Como sabia o que os alunos sabem fazer, isso condicionou as minhas escolhas. Se não sabiam recortar, não se faziam atividades complexas que não fossem adequadas ao seu grau de habilidade a recortar»

(C4.11) Prever diferentes estratégias de avaliação

«(avalia) Os trabalhos que fazem. A criatividade, o empenho, a aplicação das técnicas que vai ensinando, o respeito pelos limites, o uso correto dos materiais, a forma de utilização da cor (relacionada com a realidade ou não). Não classifico trabalho a trabalho, mas apenas no geral no final do período»

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C) Indicações metodológicas (continuação)

C4) Aplicação das orientações metodológicas enunciadas nos textos curriculares (continuação)

«Faço comentários a respeito dos aspetos a melhorar na ficha dada aos pais»

(C4.12) Prever uma gestão do tempo que permita a consolidação das aprendizagens e a qualidade do produto final

«É raro haver momentos específicos só para a EEP. Nomalmente associa-se sempre a alguma área (quase sempre a Língua Portuguesa e o Estudo do Meio) e faz-se a ligação. Neste ano, o horário tinha apenas duas horas para todas as expressões, o que limita muito o que se pode fazer»

(C4.13) Prever o trabalho individual do aluno «No geral, sim (as propostas possibilitam que cada aluno produza algo individual e único)»

(C4.14) Prever o trabalho de grupo «Este ano, não foi assinalável (a realização de trabalhos coletivos). Fez-se uma composição que representava a roda dos alimentos com elementos recortados por todos os alunos»

Análise de conteúdo da entrevista à luz do referente “currículo ideal”

Categorias Sub-categorias Indicadores Unidades de registo (D) Conceito de expressão plástica

(D1) Vias de concretização do conceito de expressão plástica

(D1.1) Uso e exploração dos elementos da linguagem plástica

«Desenho com grafite, lápis de cor, canetas de feltro, neste ano também se utilizou guaches e tintas para pintar em tecido, papel cavalinho, de lustro, cartolinas, papel manteiga. Desenho, pintura, estampagem, e dobragem foram as técnicas mais utilizadas»

(D1.2) Manuseamento e modificação de materiais plásticos

(D1.3) Expressão de sentimentos e emoções e comunicação de ideias através do uso da linguagem plástica

«No geral, sim (as propostas possibilitam que cada aluno produza algo individual e único).

(D1.4) Criação de algo através do uso da linguagem plástica (D1.5) Desenvolvimento do pensamento, da imaginação, da sensibilidade, da criatividade e da capacidade de descoberta através da apropriação e do uso da linguagem plástica

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(E) Desenvolvimento da criatividade

( E1) Seleção de atividades que estimulam a criatividade

(E1.1) Apelar ao pensamento divergente [Não se identificaram referências que visassem explicitamente estes indicadores]

(E1.2) Promover a flexibilidade e a liberdade (E1.3) Fomentar a comunicação e a participação (E1.4) Estimular a curiosidade, a sensibilidade e a fantasia (E1.5) Promover a autonomia, a motivação, o espírito crítico, o esforço e o trabalho (E1.6) Conduzir os alunos à formulação de questões sobre o que os rodeia (E1.7) Tomar decisões sobre o processo de criar (E1.8) Possibilitar a autoavaliação sobre a adequação e a qualidade do trabalho

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(F) Papel do professor

(F1) Adoção de atitudes pedagógicas favoráveis à concretização do conceito de expressão plástica

(F1.1) Adotar uma pedagogia não diretiva, flexível e aberta

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(F1.2) Valorizar atividades que estimulam o pensamento divergente e intuitivo

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(F1.3) Apresentar às crianças propostas que constituem «desafios» para os quais elas devem criar soluções individuais e únicas

«No geral, sim (as propostas possibilitam que cada aluno produza algo individual e único). Mesmo que sejam dadas indicações iguais para todos, todos podem fazer à sua maneira. Os das dobragens não são únicos, mas é o único exemplo que posso dar»

(F1.4) Revelar-se consciente das influências dos estereótipos e defender a autenticidade da expressão

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente estes indicadores] (F1.5) Utilizar a componente lúdica em

abordagens a conceitos e para desencadear o processo criativo (F1.6) Organizar atividades que permitem observar, fruir, analisar e emitir opiniões sobre a obra de arte

«(não inclui nas práticas a abordagem à obra de arte) a não ser as ilustrações, que também são feitas por artistas plásticos...»

(F1.7) Conhecer e facilitar a apropriação da «gramática visual» necessária para ler, compreender e produzir imagens

(referiu-se a livros de literatura infantil cujas ilustrações são exemplos da utilização de técnicas e materiais pouco convencionais).

(F1.8) Adotar metodologias diversificadas «Exposições orais, mostrar imagens, explorar as ilustrações dos livros de literatura infantil, demonstrações,...»

(F1.9) Relacionar a expressão plástica com as outras expressões artísticas e as diferentes áreas do conhecimento

«Normalmente as atividades vêm associadas a uma atividade de LP, como é o caso da observação das imagens em livros de literatura infantil...»

(F1.10) Proporcionar atividades que implicam a busca de conhecimentos diversos, evidenciando a integração de saberes

«Nomalmente associa-se sempre a alguma área (quase sempre a Língua Portuguesa e o Estudo do Meio) e faz-se a ligação»

(F1.11) Associar a utilização das TIC à EEP, perspetivando modos de explorar as potencialidades das tecnologias contemporâneas naquilo em que estas podem contribuir para o acesso a bens culturais, a modos de criação de diferentes povos e culturas e a um conhecimento amplo sobre processos e procedimentos de produção artística;

«Não (as atividades que organiza não incluem TIC» «A sala não tem videoprojetor nem computadores. Por isso, utilizo o computador pessoal para mostrar livros digitalizados (ex. «A Rima do Romeu» de Eric Many) e mostrar powerpoints relacionados com literatura infantil, onde incluía a exploração de imagens (deu como exemplos, a identificação de personagens, a relação entre as imagens e a história, identificar a mensagem expressa em imagens,...).

(F1.12) Preocupar-se com o modo como interfere no trabalho dos alunos

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(F1.13) Observar e apreciar os trabalhos dos alunos estimulando-os no seu esforço expressivo e criativo

«Não critico pela negativa. Digo que está bonito, mas que podia melhorar aqui ou ali... e indico o que poderia melhorar . Insisto no cuidado com o trabalho (escrever e desenhar e apagar...os alunos sabem que valorizo este aspeto).

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(F) Papel do professor (continuação)

F1) Adoção de atitudes pedagógicas favoráveis à concretização do conceito de expressão plástica (continuação)

(F1.14) Criar um clima propício à espontaneidade

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(F1.15) Deixar que os alunos explorarem e desenvolvam técnicas através da experimentação de diferentes materiais

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente estes indicadores] (F1.16) Apresentar diferentes técnicas,

instrumentos e materiais através de estratégias que estimulem a criatividade (F1.17) Selecionar técnicas e materiais que se adequam aos alunos

«Como sabia o que os alunos sabem fazer, isso condicionou as minhas escolhas. Se não sabiam recortar, não se faziam atividades complexas que não fossem adequadas ao seu grau de habilidade a recortar»

(F1.18) Proporcionar momentos de reflexão e avaliação sobre o processo de criação e sobre o trabalho realizado

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(F1.19) Analisar a evolução dos trabalhos dos alunos

«Analiso o progresso na utilização das cores, se as representações correspondem aos temas propostas,...»

(F1.20) Proporcionar atividades facilitadoras do desenvolvimento do sentido estético

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente estes indicadores]

(F1.21) Proporcionar atividades facilitadoras da compreensão e respeito pelas diversas identidades culturais (F1.22) Promover o respeito pelas diferentes manifestações de arte, aceitando a perspetiva dos alunos (F1.23) Prever abordagens que facilitem o desenvolvimento do pensamento crítico

Análise de conteúdo da entrevista à luz do referente “currículo real representado”

Categorias Sub-categorias Indicadores Unidades de registo (G) Atividades desenvolvidas

(G1) Diversidade de propostas apresentadas aos alunos

(G1.1) Desenhar livremente «Desenho com grafite, lápis de cor, canetas de feltro, neste ano também se utilizou guaches e tintas para pintar em tecido, papel cavalinho, de lustro, cartolinas, papel manteiga. Desenho, pintura, estampagem, e dobragem foram as técnicas mais utilizadas»

(G1.2) Desenhar com temas sugeridos (G1.3) Pintar livremente (G1.4) Pintar com temas sugeridos (G1.5) Recortar (G1.6) Fazer colagens (G1.7) Fazer dobragens (G1.8) Fazer cartazes [Não se identificaram referências que

visassem explicitamente este indicador] (G1.9) Observar e analisar imagens em contextos diversos

«(...) mostrar powerpoints relacionados com literatura infantil, onde incluía a exploração de imagens (deu como exemplos, a identificação de personagens, a relação entre as imagens e a história, identificar a mensagem expressa em imagens,...)»

(H) Estratégias para abordar conetúdos

(H1) Diversidade de estratégias adotadas

(H1.1) Fazer exposições orais «(que estratégias utiliza?)Exposições orais, (...)»

(H1.2) Explorar materiais didáticos (acetatos, powerpoints, cartazes, manuais, objetos representativos da utilização de técnicas e materiais, entre outros)

«(...) mostrar powerpoints relacionados com literatura infantil,» «Tenho preferência em usar os livros infantis e ilustrações. Por exemplo, com

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(H) Estratégias para abordar conetúdos (continuação)

(H1) Diversidade de estratégias adotadas (continuação)

os livros de Pedro Leitão que são em BD, abordou-se elementos da gramática da BD»

(H1.3) Demonstrar (aplicação de técnicas, materiais, manuseamento de utensílios, entre outros)

«Se houver necessidade faz-se a demonstração»

(H1.4) Promover a observação da realidade (observar objetos reais, paisagem, entre outros)

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(I) Opções metodológicas

(I1) Diversidade de opções metodológicas relativas ao papel do professor, ao papel dos alunos e à natureza das atividades

(I1.1) Os alunos têm contacto com materiais diversificados

«Desenho com grafite, lápis de cor, canetas de feltro, neste ano também se utilizou guaches e tintas para pintar em tecido, papel cavalinho, de lustro, cartolinas, papel manteiga. Desenho, pintura, estampagem, e dobragem foram as técnicas mais utilizadas»

(I1.2) Os alunos realizam trabalhos coletivos «Este ano, não foi assinalável (a realização de trabalhos coletivos). Fez-se uma composição que representava a roda dos alimentos com elementos recortados por todos os alunos»

(I1.3) Os alunos realizam exercícios de colorir figuras em manuais ou folhas policopiadas

«Ilustrar e pintar figuras são exercícios frequentes realizados no manual de LP» «Sim (proporciona o exercício de colorir figuras), a nível do manual de Língua Portuguesa faz-se muito esse exercício» «Os alunos que terminavam as fichas com mais rapidez, também coloriam as imagens» «No Natal, fizeram alguns desses trabalhos (que incluiam unicamente a pintura das figuras)»

(I1.4) O professor propõe trabalhos que permitem a cada aluno produzir um trabalho individual e único

«No geral, sim (as propostas possibilitam que cada aluno produza algo individual e único). Mesmo que sejam dadas indicações iguais para todos, todos podem fazer à sua maneira.

(I1.5) O professor promove o trabalho e a cooperação em grupo através da EEP

«Este ano, não foi assinalável (a realização de trabalhos coletivos). Fez-se uma composição que representava a roda dos alimentos com elementos recortados por todos os alunos»

(I1.6) O professor proporciona experiências que associam a EEP a outras áreas curriculares

«Nomalmente associa-se sempre a alguma área (quase sempre a Língua Portuguesa e o Estudo do Meio) e faz-se a ligação»

(I1.7) O professor valoriza o processo de projetar e experimentar

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente estes indicadores]

(I1.8) O professor prevê abordagens que desenvolvem o pensamento crítico (I1.9) O professor propõe atividades facilitadoras do desenvolvimento do sentido estético (I1.10) O professor propõe atividades facilitadoras da compreensão e respeito pelas diversas identidades culturais (I1.11) Os trabalhos dos alunos são expostos na sala de aula (I1.12) Os trabalhos dos alunos são expostos em espaços da escola

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(I1.13) As atividades propostas estimulam a criatividade dos alunos

(J) Planificação

(J1) Amplitude dos elementos considerados na planificação

(J1.1) Ao planificar consulta o Programa do 1º Ciclo

«Consulto o programa do 1º Ciclo»

(J1.2) Ao planificar consulta o Currículo Nacional

«(...) em caso de alguma especificidade, também se utiliza o currículo (CNEB)»

(J1.3) Ao planificar consulta as Metas de Aprendizagem

«As Metas só agora as conheci...»

(J1.4) A EEP faz parte das atividades previstas no PCT

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(J1.5) A EEP integra a planificação de projetos diversos

«Normalmente as atividades decorrem dos temas que se estão a trabalhar ou que fazem parte de projetos da escola»

(J1.6) A EEP articula-se com outras áreas curriculares

«Nomalmente associa-se sempre a alguma área (quase sempre a Língua Portuguesa e o Estudo do Meio) e faz-se a ligação»

(J1.7) As atividades de EEP ocupam duas horas semanais

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(J1.8) As visitas de estudo são preparadas previamente em parceria com as instituições culturais e artísticas a visitar

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(K) Materiais didáticos específicos da EEP

(K1) Natureza dos materiais didáticos

(K1.1) Imagens diversas para analisar (fotografias, ilustrações de livros infantis, entre outros)

«(...)mostrar imagens, explorar as ilustrações dos livros de literatura infantil»

(K1.2) Figuras para colorir (em livros ou fotocópias)

«Ilustrar e pintar figuras são exercícios frequentes realizados no manual de LP» «Sim (proporciona o exercício de colorir figuras), a nível do manual de Língua Portuguesa faz-se muito esse exercício» «Os alunos que terminavam as fichas com mais rapidez, também coloriam as imagens» «No Natal, fizeram alguns desses trabalhos (que incluiam unicamente a pintura das figuras)»

(K1.3) Revistas (sobre trabalhos manuais, artes decorativas, entre outros)

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(K1.4) Cartazes [Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(L) Avaliação

(L1) Diversidade de tipos, funções, formas, e objetos que são considerados na avaliação

(L1.1) As práticas de avaliação incluem a avaliação diagnóstica

(Não esteve no início do ano, mas sabe que se utilizou uma ficha de diagnóstico para o recorte e pintura de figuras)

(L1.2) Na avaliação consideram-se os trabalhos realizados pelos alunos

«(o que avalia?) Os trabalhos que fazem»

(L1.3) Na avaliação consideram-se os comportamentos dos alunos observados durante a realização das actividades

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(L1.4) Os alunos participam na sua própria avaliação

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(L1.5) Para fazer a avaliação são formulados critérios, tendo por base as competências definidas pelo currículo

«Os trabalhos que fazem. A criatividade, o empenho, a aplicação das técnicas que vai ensinando, o respeito pelos limites, o uso correto dos materiais, a forma de utilização da cor (relacionada com a realidade ou não). Não classifico trabalho a trabalho, mas apenas no geral no final do período»

(L1.6) Na avaliação classificam-se qualitativamente os trabalhos realizados pelos alunos

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(L) Avaliação (continuação)

(L1) Diversidade de tipos, funções, formas, e objetos que são considerados na avaliação (continuação)

(L1.7) Os alunos participam em momentos de reflexão e avaliação sobre o processo de criação e sobre o trabalho realizado

«Não mostram em grande grupo os trabalhos, porque notei que às vezes os comentários entre alunos são cruéis e achei que isso podia ser um entrave»

(L1.8) Os trabalhos dos alunos são organizados em arquivos próprios

[Não se identificaram referências que visassem explicitamente este indicador]

(L1.9) Na avaliação atende-se ao desenvolvimento gráfico e plástico das crianças

«Analiso o progresso na utilização das cores, se as representações correspondem aos temas propostas,...» (L1.10) Na avaliação analisa-se a evolução

dos trabalhos dos alunos

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Anexo V Estudo de caso 1 – Notas de campo (um exemplo)

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Data: 15/04/2010

Atividade:

Análise de projetos individuais para a construção de um cartaz;

Decisão / votação sobre a composição para a construção

coletiva de um cartaz

Blocos / Conteúdos:

Exploração de técnicas diversas de expressão (Cartazes)

Comunicação Visual

Descrição (ações do professor, ações dos alunos, processos, produtos) Comentários do observador

- O professor afixa no quadro branco os projetos realizados pelos alunos

para um cartaz sobre prevenção rodoviária (foram feitos na aula anterior);

questiona os alunos sobre as caraterísticas que um cartaz deve ter.

- Alguns alunos foram nomeando caraterísticas: «tem que se perceber»; «o

que é mais importante tem de ficar grande»; «a imagem tem de ter a coisa de

que queremos mesmo falar»; «a imagem tem de estar sempre a condizer com

o título»; «a letra tem de ser visível e grande».

- O professor foi registando no quadro, ao lado dos projetos, palavras-chave

que resumiam os contributos dos alunos: «texto pequenino» («ou seja, o

slogan», acrescentou o professor); «cor»; «imagem»; «formato»;

«composição»; «letra»; foi referida também a «originalidade».

- O professor conduz o diálogo/ debate para o tema «elementos da

comunicação»; os alunos identificam na situação do cartaz os papéis de

emissor, recetor e mensagem; sobre a mensagem, um aluno refere «é tudo o

que está no cartaz».

- Durante a análise dos estudos, os alunos referem:

• Os cartazes que têm mensagens dirigidas a crianças e os que têm

mensagens dirigidas a «pais» (condutores);

• Críticas aos projetos (referidas como pontos fortes e pontos fracos):

- «acho que o slogan devia ser um bocadinho maior»;

- «este está giro, está original»;

- identificam as cores «bem escolhidas»;

- a preferência pelo slogan «agarra a tua vida com segurança» e

pela representação de umas mãos dadas;

- algumas figuras eram «originais» e «giras» mas «eram

pequeninas»;

Os projetos foram realizados

em folhas A4, e incluíam

desenho e pintura (a lápis de

cor e canetas de feltro);

alguns estudos já tem

caraterísticas do cartaz; o

trabalho final a realizar

(cartaz coletivo) irá ser

enviado para um concurso;

- Os alunos conheciam

caraterísticas do cartaz e

utilizavam algum vocabulário

específico;

- A maioria dos alunos quer

participar - colocam o braço

no ar e o professor regula as

diferentes participações;

alguns alunos são diretamente

solicitados pelo professor; o

professor assegura que não se

desviam do assunto principal

(por exemplo, falam várias

vezes em ganhar o prémio –

uma viagem à EuroDisney)

ESTUDO DE CASO

1

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• Elementos (figuras) que deviam pertencer à composição final

(«carros», «escola», «passadeira»);

• Sugestões de possíveis composições para o cartaz coletivo,

integrando partes de vários projetos (exemplo: «podíamos pôr o sol

do cartaz do (um aluno)no cartaz da (uma aluna»).

- O professor evidencia algumas caraterísticas dos desenhos que fazem parte

dos projetos: planos (refere-se às dimensões do que está representado mais

«longe» e mais «perto»); os pontos de vista (perguntando «se fosses uma

máquina fotográfica, onde estarias a fotografar esta imagem?»).

- O professor escreve no quadro interativo alguns exemplos de slogans que

todos vão considerando como possibilidades para o cartaz a construir.

- O professor destaca aspetos positivos nos estudos que não foram escolhidos

por nenhum dos alunos - «este, bem trabalhadinho, até podia ser uma boa

ideia» - antes da votação refere «não vou dar a minha opinião, porque a

decisão vai ser vossa»; retirou do quadro branco alguns dos estudos, ficando

apenas os que foram «falados» (foi a expressão utilizada).

- Antes da votação (de braço no ar) para a escolha da «base» do cartaz, o

professor refere: «devem escolher a imagem que tem mais força para ser o

nosso cartaz; dou-vos uns minutos para pensar»; diz ainda «não se vota no

desenho dos amigos! Tem de ser mesmo aquele que acham que daria um bom

cartaz»; (os alunos pensam) e o professor orienta a votação «Não se

esqueçam que estamos a escolher a base do cartaz, o fundo. Depois vamos

buscar partes de outros...as imagens e as frases».

- A votação: para cada estudo, os alunos vão colocando o braço no ar (o nº

de votos é anotado ao lado de cada estudo); termina a votação e, a pedido do

professor, a aluna, autora do projeto mais votado, explica a ideia na

totalidade; vários alunos explicam pormenores da imagem e do seu sentido

no estudo mais votado.

- Faz-se também a votação para o texto; «tem de ter a ver com a imagem»,

refere o professor; o professor acrescenta ao conjunto de frases que já tinha

escrito no quadro interativo, outras, pertencentes aos estudos mas que não

estavam visíveis para todos os alunos; feita a votação a todos os slogans, o

professor diz «acabámos de ter a estrutura do nosso cartaz» (o fundo e

imagem já votada e o slogan «agarra a tua vida com segurança»; continua

- Durante a análise, os alunos

revelam capacidade crítica; o

professor pede que cada

opinião / crítica seja

justificada;

- Quase sempre querem

participar, mantendo os

braços levantados; a

comunicação é facilitada;

quase todos dão opinião;

- A informação que é escrita

no quadro interativo

complementa o que está no

quadro branco;

- No início da análise estavam

agitados (presença da

observadora?), tendo vários

alunos pedido para ir à casa

de banho; progressivamente

foram ficando mais

concentrados e as opiniões

cada vez mais elaboradas;

continuam a utilizar

vocabulário específico

relacionado com o «cartaz»;

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«agora eu vou tirar fotocópias e vocês vão estudar a cor e a localização do

slogan».

- No final da discussão, dois dos alunos ainda pedem para dizer algo sobre a

imagem (a imagem escolhida representa umas mãos dadas, antes da

travessia de uma passagem para peões); os alunos queriam referir-se à

posição correta em que as mãos deviam ser desenhadas no cartaz.

- O professor dá indicações sobre tarefas para as aulas seguintes e autoriza

os alunos a sair para o intervalo.

- Todos os alunos estão

atentos /integrados; alguns

mexem em objetos que têm em

cima das mesas;

Observações:

- Numa aula anterior à aula observada, o professor fez uma abordagem ao «cartaz». Esta

incluiu a exploração de um powerpoint sobre a construção de um cartaz e a observação/

análise de alguns exemplares. Para esta abordagem estava prevista, inicialmente, a

participação de dois pais, profissionais na área de publicidade, mas tal não se veio a

concretizar. Os estudos / projetos individuais foram feitos na sequência desta abordagem.

- Alguns dias depois da realização das atividades descritas, professor e alunos enviaram-nos

por email uma imagem do cartaz, já finalizado, a pedir a opinião. Trata-se de um trabalho com

desenho, pintura e colagem de diferentes materiais (papel de lustro, papel de jornal, tecidos,

missangas, botões, lãs) e, no geral, a composição corresponde às decisões tomadas na aula

que observámos.

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Anexo VI Estudo de caso 2 – Notas de campo (um exemplo)

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Data: 20/05/2011

Atividade:

«

Ilustração de textos da obra de literatura infantil

A casa da mosca fosca» de Eva Mejuto (escritora)

e Sérgio Mora (ilustrador)

Blocos / Conteúdos:

Descoberta e Organização Progressiva de Superfícies (Desenho / Pintura);

Comunicação visual (relação imagem-texto)

Descrição (ações do professor, ações dos alunos, processos, produtos) Comentários do observador

- Antes da leitura da história a professora apresenta a capa do livro,

questionando sobre todos os elementos nela representados.

- Lê a história sem os alunos terem contacto visual com as ilustrações.

- A professora, para além de questionar os alunos sobre as personagens,

a sequência de ações, o tempo e o espaço, dá ênfase ao caso de leitura

«as», «es», «is», «os», «us» e também aos números ordinais que são

nomeados no texto.

- Após a leitura e compreensão da história, os alunos fazem desenhos e

pinturas representativos de ações, espaços e personagens; usam folhas de

papel cavalinhoA4, lápis de grafite, borracha, lápis de cor e canetas de

feltro.

- Após a conclusão dos trabalhos os alunos puderam ver o livro e as

imagens criadas pelo autor que o ilustrou.

Caraterização dos trabalhos:

- os desenhos apresentam caraterísticas que se enquadram em diferentes

estádios de desenvolvimento gráfico infantil (Estádios Pré-Esquemático e

Esquemático e, em alguns casos, com aspetos que se enquadram no

Realismo, de acordo com a classificação de Lowenfeld & Brittain (1977);

- alguns desenhos correspondem à «narração gráfica» de tipo Epinal e

de tipo sucessivo (Luquet, 1979).

- grande diversidade de cores (cor usada de forma muito livre e

subjetiva);

- existência de ideografismos (casas «transparentes» que mostram o seu

interior; diversos objetos, como mesas e cadeiras, representados com

A atividade foi realizada por

todos os alunos num momento

de aula dedicado à Língua

Portuguesa,

Matemática e EEP.

ESTUDO DE CASO

2

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rebatimentos);

- algumas tentativas de representação dos objetos com perspetiva;

- individualização de figuras (animais representados com caraterísticas

que são mencionadas na história);

- esquemas corporais repetidos sistematicamente (por vezes, foram

utilizados os números ordinais para a identificação das personagens, tal

como acontece na história);

- representações de objetos e personagens flutuando em volta da

personagem principal;

- disposição linear das figuras (fazendo uma «linha de horizonte» ou

junto aos limites da folha);

- representação de figuras com recurso a estereótipos (sol, borboletas,

flores, entre outros);

- as composições elaboradas pelas meninas têm muitos pormenores de

«decoração» da composição (títulos, flores nos cantos da folha, laços,

entre outros);

- os trabalhos de dois alunos têm um grande investimento na

caraterização das personagens (animais) e são representados com

expressividade (a sorrir ou zangados);

- em algumas composições, os revestimentos dos animais são

representados com exploração do ponto, cor e textura;

- em muitos trabalhos existem legendas que apresentam os nomes das

personagens;

Outros elementos:

- alguns trabalhos revelam pouco controle na utilização de materiais de

pintura, não respeitando linhas de contorno e limites das figuras;

- organização da composição em banda desenhada, representando em

vinhetas os diferentes momentos da história;

- os animais são representados com partes da figura humana (rosto,

membros);

- algumas figuras são representadas com muitos pormenores; os

materiais de pintura foram utilizados para representar texturas;

- Em algumas composições, os materiais de pintura foram utilizados para

obter determinados efeitos visuais (ex. figuras preenchidas a lápis de cor

e contornos feitos com canetas de feltro de cor diferente); espaços

preenchidos com cor e com sobreposição de linhas e pontos feitos com

cores diferentes.

As Metas de Aprendizagem

não constam nem do discurso

nem das planificações da

professora, no entanto,

pode-se constatar que o

exercício realizado é um

contributo para que os alunos

atinjam as metas: «O aluno

representa plasticamente

objetos, situações, ilustrações

de histórias e temas, através

da pintura »; «O aluno

exprime e justifica as suas

opiniões sobre as diferentes

formas visuais». Estas metas

são «intermédias até ao 2º

ano» e enquadram-se,

respetivamente, na Meta Final

27 e na Meta Final 31.