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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL RAQUEL MARI SIQUEIRA TENDÊNCIAS DE CONSUMO: ECONOMIA COLABORATIVA E AS NOVAS ATITUDES DO CONSUMIDOR JOVEM EM CAXIAS DO SUL Caxias do Sul 2016

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

RAQUEL MARI SIQUEIRA

TENDÊNCIAS DE CONSUMO: ECONOMIA COLABORATIVA E AS NOVAS ATITUDES DO CONSUMIDOR

JOVEM EM CAXIAS DO SUL

Caxias do Sul 2016

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RAQUEL MARI SIQUEIRA

TENDÊNCIAS DE CONSUMO: ECONOMIA COLABORATIVA E AS NOVAS ATITUDES DO CONSUMIDOR

JOVEM EM CAXIAS DO SUL

Trabalho de Conclusão de Curso de Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade de Caxias do Sul, apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social. Orientadora Prof.ª Dr.ª Ivana Almeida da Silva.

Caxias do Sul

2016

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RAQUEL MARI SIQUEIRA

TENDÊNCIAS DE CONSUMO: ECONOMIA COLABORATIVA E AS NOVAS ATITUDES DO CONSUMIDOR

JOVEM EM CAXIAS DO SUL

Trabalho de Conclusão de Curso de Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade de Caxias do Sul, apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social.

Aprovada em: ____/____/____

Banca examinadora: ________________________________ Prof.ª Dr.ª Ivana Almeida da Silva Universidade de Caxias do Sul – UCS

________________________________ Prof.ª Dr.ª Ramone Mincato Universidade de Caxias do Sul – UCS ________________________________ Prof. Ms. Ronei Teodoro da Silva Universidade de Caxias do Sul – UCS

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Para minha amada mãe.

Muito obrigada.

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AGRADECIMENTOS

São muitas pessoas para agradecer nesses anos de caminhada estudantil.

Iniciando pelos meus avôs, mas principalmente minha avó materna, meu maior

exemplo de amor ao próximo. À minha mãe, por todos os carinhos, por me esperar

chegar no portão de casa, por fazer o jantar quando eu chegava tarde da aula, por

me cuidar, por me ouvir e por me amar incondicionalmente. Mãe, tu é meu exemplo

de mulher e eu te amo muito. Ao meu pai, que não está mais presente, e que talvez

não tenha nem imaginado me ver formada, mas que tenho certeza vai ficar

orgulhoso. Ao meu irmão, por ter me aturado desde da infância e ter me dado tantas

referências importantes de música, arte e coisas que ele gosta e que me

influenciaram muito, mais do que ele talvez saiba. A todos meus lindos amigos, por

encherem minha vida de alegria. A todos os professores que ajudaram a

desenvolver uma opinião crítica frente a profissão e a sociedade. Eu não acredito

que exista matéria que possa ser mais importante do que isso. Aos demais

funcionários da Universidade que são sempre atenciosos e compreensivos. À

professora Ivana, que me acompanhou nessa última jornada da graduação, paciente

e amorosamente. À CAFH, que vem sendo suporte espiritual para meus dias. A

Deus, pela incrível oportunidade e o privilégio de estar concluindo a graduação. E

finalmente, a todos que estiveram, estão e estarão presentes no caminho. Somos

muito mais fortes, juntos.

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RESUMO

O consumo sempre esteve presente em relações de mercado dos seres humanos. Há muitos anos a sociedade capitalista se estabeleceu trazendo consigo uma lógica de mercado voltada ao consumo excessivo. Em meados da década de 1970, a iniciativa de um consumidor mais consciente fez apontar sinais de uma onda de preservação ambiental no mundo. Essa tendência, juntamente com a ascensão da internet possibilitou que novas relações fossem formadas, gerando um novo modelo econômico chamado, economia colaborativa. Esse trabalho busca relacionar o momento histórico social, com essa nova economia e o consumidor jovem, pertencente à geração Y e residente de Caxias do Sul com a finalidade de entender as atitudes desse consumidor frente à economia colaborativa.

Palavras-chave: sociedade do consumo, economia colaborativa, tendências, lowsumerism, comportamento do consumidor, atitudes de consumo, geração Y.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Necessidades hierarquizadas na Pirâmide de Maslow .......................... 26

Figura 2 - A roda do comportamento do consumidor ............................................. 28

Figura 3 - Modelo de Ajzem e Fishbein .................................................................. 31

Figura 4 - Dia dos Namorados O Boticário ............................................................. 33

Figura 5 - O que a House of all entrega para o consumidor ................................... 44

Figura 6 - Comercial do Novo Punto 2015 ............................................................. 52

Figura 7 - Comentários de consumidores referentes ao comercial do Novo Punto 52

Figura 8 - Distribuição da idade .............................................................................. 78

Figura 9 - Relação com a cidade ............................................................................ 78

Figura 10 - Grau de escolaridade ........................................................................... 79

Figura 11 - Preocupação ambiental ....................................................................... 79

Figura 12 - Perfil de compras ................................................................................ 80

Figura 13 - Produtos verdes x valor da compra ...................................................... 80

Figura 14 - Produtos orgânicos x valor da compra ................................................. 81

Figura 15 - Conceito de economia colaborativa ..................................................... 82

Figura 16 - Envolvimento com a economia colaborativa ........................................ 82

Figura 17 - Plataformas e a economia colaborativa ............................................... 83

Figura 18 - Aplicabilidade da economia colaborativa ............................................. 83

Figura 19 - Modelo tradicional x Modelo Colaborativo ........................................... 84

Figura 20 - Razões por optar pelo Modelo Colaborativo ........................................ 84

Figura 21 - Razões por optar pelo Modelo Tradicional ........................................... 85

Figura 22 - Consumidor e a publicidade ................................................................. 85

Figura 23 - Porcentagem de envolvidos com Economia Colaborativa ................... 86

Figura 24 - Respostas comentadas ........................................................................ 86

Figura 25 - Percepção do pesquisado quanto a economia colaborativa ................ 87

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Malefícios do Consumismo segundo Horn e Vergani (2010) ............... 24

Quadro 2 - Teoria funcional das Atitudes segundo Katz ........................................ 30

Quadro 3 - Lowsumerism – a linha cronológica do consumo ................................. 41

Quadro 4 - Benefícios do colaborativismo de acordo com Wolfgang Menke ......... 45

Quadro 5 - Tendências do Fator M ........................................................................ 58

Quadro 6 - Entrevistas em profundidade – dados essenciais ................................ 61

Quadro 7 - Plataformas e a economia colaborativa ............................................... 83

Quadro 8 - Principais atitudes relacionadas à economia colaborativa ................... 87

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10

1.1 METODOLOGIA .............................................................................................. 13

2 SOCIEDADE DO CONSUMO ............................................................................. 15

2.1 CONCEITO E CENÁRIO HISTÓRICO ............................................................ 15

2.2 CONSUMO versus CONSUMISMO ................................................................. 21

3 TENDÊNCIAS E COMPORTAMENTO DE CONSUMO ..................................... 25

3.1 ATITUDES DE CONSUMO ............................................................................. 29

3.2 TENDÊNCIAS DE CONSUMO: LOWSUMERISM ........................................... 34

3.2.1 Economia Colaborativa: a nova onda........................................................ 42

3.2.2 O Desafio da Comunicação ....................................................................... 50

4 CAXIAS DO SUL E O JOVEM CAXIENSE ....................................................... 56

4.1 JOVENS “GERAÇÃO Y” E O CONSUMO ........................................................ 55

4.1.1 Entrevistas em Profundidade ..................................................................... 61

4.1.2 Questionários online .................................................................................. 77

4.2 RESULTADOS: O CENÁRIO ENCONTRADO ................................................ 87

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 92

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 95

ANEXOS ............................................................................................................... 99

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1 INTRODUÇÃO

O jovem da primeira geração do nascimento da internet cresceu em uma

sociedade de grandes mudanças, mas vem dando-se conta dessas há pouco tempo.

À ascensão da Internet modificou os processos de interação humana e as mudanças

são tão velozes que, por vezes, não conseguimos prevê-las. Os processos

anteriores à era digital causaram também um grande impacto na sociedade, mas

nenhuma outra transformação permitiu mudanças tão constantes e a aceleração de

novas tecnologias como a da sociedade da informação. Alvin Toffler (2005)

denominou como Terceira Onda essa era onde as relações humanas são mediadas

por tecnologia, em uma sociedade que se tornou sinônima de conhecimento e de

informação.

O Brasil de 10 anos atrás não conhecia banda larga, smartphone 3G, WiFi, LED, LCD, iPod, iPhone, iPad, BlackBerry, YouTube, Skype, MSN, redes sociais, e milhares de outras tecnologias que hoje são correntes (DOSSIÊ UNIVERSO JOVEM 5 MTV, 2010).

Algumas mudanças, entretanto, não são passageiras como outras se

apresentam. E, se por um lado, depois da tecnologia tudo tem se tornado obsoleto

rapidamente. Pelo outro, é devido à tecnologia que mudanças que antes não seriam

possíveis sem a quantidade, nem velocidade de interação que temos hoje, estão

acontecendo.

Devido a essas mudanças a forma como consumimos hoje em dia, também

se modificou. No final do século XX movimentos que pensam e agem em prol da

preservação do planeta iniciaram e aos poucos alcançaram um maior número de

consumidores que, preocupados com as consequências de um consumo impensado,

advento de uma sociedade de consumo, começaram a repensar seus

comportamentos.

Foi a partir de uma nova atitude por parte dos consumidores que novas

formas de interação com o mercado passaram a dar sinais de transformação. Rifkin

(2001) destaca que vivemos a transição de mercados convencionais para networks e

o nascimento de uma nova economia. “Na nova era, os mercados estão cedendo

lugar às redes, e a noção de propriedade está sendo substituída rapidamente pelo

acesso” (RIFKIN, 2001, p. 4).

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Do fortalecimento destes sinais surgiram então novas tendências de

consumo, um consumo consciente que vem rompendo com o consumismo

desenfreado. De acordo com Caldas (2004) o termo tendência se relaciona com

“tender para”, “inclinar-se”. A partir do século XIX a palavra adquiriu um sentido de

“aquilo que leva a agir de uma determinada maneira”.

Nesse sentido, a economia colaborativa se formou a partir de movimentos

de mudança social pelo fortalecimento do crescimento sustentável do meio

ambiente. Entre esses movimentos, a economia colaborativa, também chamada de

economia compartilhada1, ganha destaque nesse estudo.

A economia colaborativa tem sido considerada um modelo econômico

alternativo visto que não diminui o desejo de consumo, mas reduz a posse (BOX

1824) 2. Entretanto, atualmente, pouco se discute sobre esta e sobre de que forma

pode estar alterando nossa forma de consumir.

É através deste viés e olhando para o jovem residente da cidade de Caxias

do Sul, que procuramos então entender: Quais são as principais mudanças nas

atitudes de consumo do jovem Caxiense que estão relacionadas à economia

colaborativa e que vem rompendo com o paradigma do consumismo?

Para tanto o objetivo geral da pesquisa é analisar se essa amostra de jovens

Caxienses pertencentes à geração Y tem dados sinais de mudança de

comportamento de consumo tendo como base suas atitudes de consumo.

Os objetivos específicos propõem: estudar o jovem caxiense, especialmente

na área do consumo, estabelecendo relações com o universo da economia

colaborativa, identificar critérios de preocupação ambiental desse jovem e buscar

entender o desafio da comunicação frente a esse novo perfil de consumidor.

Esse trabalho mostra sua relevância devido a seu objeto de estudo, que,

primeiramente, analisa uma tendência de comportamento de consumo em

sociedade. Analisar tendências se torna um fator importante como forma de prever o

mercado, buscar soluções e se preparar para o futuro. Quando propusemos falar

sobre esse assunto, o primeiro intuito foi de “dar voz” ao mesmo, função primeira do

1 Nesse estudo o conceito de Economia Colaborativa (Sharing Economy) e Economia Compartilhada estão sendo utilizados como sinônimos devido a não termos constatado uma diferenciação considerável nas palavras levantadas. De toda forma Guglieri (2016) em palestra realizada em Caxias do Sul em 19.jul.2016 destaca uma diferença que apontamos aqui. Segundo ela, a economia compartilhada envolve o compartilhamento de recursos, enquanto a economia colaborativa engloba isso, mas vai além, e está em busca um impacto social coletivo. 2 Disponível em: http://www.box1824.com.br/. Acesso em: 04 de julho. 2016

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comunicador social. E dessa forma, poder disseminar e ampliar a discussão em volta

do tema.

As novas tendências de consumo propõem a quebra de um paradigma que

foi onipresente por um longo período de tempo, o do consumismo. O momento é de

grande importância, pois os consumidores começam a pensar em suas relações

com o consumo em prol da sua responsabilidade com o planeta. Que mundo eu irei

deixar para meus netos?

Há certo tempo que estudiosos das mais diversas áreas de conhecimento

apontam que, para que o mundo siga um lugar habitável, precisamos desenvolver

uma nova maneira de pensar e agir para, assim, perpetuarmos o planeta para

gerações futuras. Está é uma grande carga de responsabilidade que somente o

consumidor poderia ter iniciado e que, como um jogo de dominó, reage naqueles

que mais se importam com seu comportamento de compra: o sistema de mercado. A

mudança dessa realidade implica em um estudo de caráter social para somar

esforços a essa nova realidade. Dessa forma, considerando os objetivos citados, o

trabalho busca contribuir para as áreas de Publicidade e Propaganda e Marketing no

que diz respeito ao comportamento do consumidor.

Para contextualizar novas tendências de consumo, o primeiro capítulo tem

como referência a sociedade de consumo e buscou identificar as etapas que foram

transformando a sociedade através dos tempos, partido do início de uma civilização

da Primeira Onda, simbolizada por uma vida de produção para consumo próprio,

passando pela parte industrial até a sociedade da informação. As obras de Toffler

(2005) e Giacomini (1991) são as que guiam o capitulo mais fortemente.

As novas atitudes que o consumidor passa a ter repercutem nos valores

tidos como essenciais. Para ENGEL, BLACKWELL e MINIARD (2000) esses valores

essenciais definem, entre outros fatores, como os produtos e serviços são usados

numa sociedade e determinam também o comportamento ético que será seguido

pelas marcas e pelos consumidores. Para definir comportamento do consumidor e

atitudes de consumo iremos contar com os principais autores do capitulo, Canclini

(2006), Somolon (2002) e Karsaklian (2004).

O capítulo 3 segue com a abertura da corrente do Lowsumerism conceituada

com precisão em última pesquisa realizada pela BOX 1834, empresa gaúcha

referência em tendências de consumo. Logo, adentramos no assunto de Economia

Colaborativa (ou compartilhada), onde Botsman e Rogers (2011) mostram como

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estamos economizando dinheiro, tempo e espaço além de levar as pessoas a

construir relações mais próximas e a passar de consumidores passivos a

colaboradores ativos. E, ao mesmo tempo, ganhando dinheiro com isso.

Por fim o capítulo 4 levanta a aplicabilidade de um assunto que é de

interesse mundial e que começa a ganhar mais força e impacto no consumidor

brasileiro. Logo, entender como as regras discutidas na economia compartilhada têm

influenciado os jovens da geração Y da cidade de Caxias do Sul é aproximar o

estudo da nossa realidade e acompanhar a relevância do mesmo.

1.1 METODOLOGIA

Metodologicamente, este trabalho possui um viés exploratório e adotou,

inicialmente, uma base de recursos bibliográficos disponíveis na internet e em

fichamento de livros lidos. Ainda, por ser um tema relativamente atual e que trata de

tendências a pesquisa realizada na internet foi de grande importância pela

atualidade de seus dados, visto que, até então, poucas obras abordam o assunto

“economia colaborativa”.

Por se tratar de um trabalho de pesquisa aplicada em sociedade, mais

especificamente na região da Serra Gaúcha da cidade de Caxias do Sul – RS

tornou-se imprescindível a necessidade do estudo envolver pesquisas de caráter

quantitativo e qualitativo. Buscou-se, dessa maneira, esclarecer de que forma se

configuram as relações entre o jovem caxiense e o consumo, dentro da proposta da

economia colaborativa.

As entrevistas em profundidade enriquecem esse estudo por meio de uma

análise criteriosa em relação ao jovem da geração Y. O intuito foi selecionar jovens

devido ao seu envolvimento com assuntos relacionados à economia colaborativa.

Estes foram escolhidos por apresentarem um “toque” dessa economia, ou seja,

alguma vivência ou envolvimento com a mesma. Para essa escolha, os jovens foram

observados através das redes sociais, seus perfis e suas pegadas no mundo online

foram observados através das comunidades virtuais de seu interesse e que se

relacionam ao tema economia colaborativa e dos temas relacionados ao assunto aos

quais são “seguidores”. Ainda, foram considerados os jovens que aparecem em seus

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grupos próximos como fomentadores e/ou influenciadores dessa economia. Todo

esse processo é realizado a se fazer pensar nas mudanças de atitudes desses

jovens frente ao consumo.

Se de uma forma a pesquisa qualitativa desse estudo buscou apresentar

dados de jovens que já tem uma representação do que é economia colaborativa, por

outra a pesquisa quantitativa quer enriquecer esse estudo abrangendo o mesmo

público alvo, jovens da geração Y que residem em Caxias do Sul, porém expandindo

para seu foco de amostragem. Foram considerados para fins de foco de pesquisa,

jovens universitários matriculados na Universidade de Caxias do Sul.

Importante direcionar que, para termos de pesquisa, será considerado jovem

Caxiense, jovens naturais de Caxias do Sul ou ainda de outra cidade desde que

residam ou tenham residido na cidade de Caxias do Sul pelo período de dez anos ou

mais.

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2. SOCIEDADE DO CONSUMO

A sociedade do consumo criou em grande escala a vontade crônica, dos bens mercantis, o vírus da

compra, a paixão pelo novo, um modo de vida centrado nos valores materialistas. ”

(LIPOVETSKY, 2007)

Abordar o histórico da sociedade do consumo mostra-se fundamental neste

trabalho, pois é a partir desse entendimento que poderemos criar uma linha de

pensamento que dará embasamento para tratar de mudanças de paradigmas e

discutir tendências do século XXI. A origem da palavra sociedade vem do latim

societas, que significa associação amistosa com outros. O termo pode ser discutido

de diferentes aspectos, seja como grupo de indivíduos que se relaciona, como

sistema institucional, por exemplo, sociedade anônima, sociedade civil, sociedade

artística, etc. Ainda, sociedade pode partir do significado de seu papel político, social

e econômico que parte da existência de uma organização social que possui leis que

regem a vida dos indivíduos e suas relações através de um sistema de símbolos,

valores e normas (CAMARGO, 2016).

Neste trabalho especificamente abordaremos a sociedade no âmbito do

consumo, dos primórdios de uma vida de caça até a sociedade da informação. Nesta

primeira etapa utilizaremos os principais conceitos de Alvin Toffler (2005) para

retratar essa origem. Toffler (2005) divide a sociedade em três grandes fases, que

serão apresentadas como as três grandes ondas. A primeira representa a sociedade

agrícola, que transcendeu as culturas de caça e coleta, a segunda representa a

sociedade da Revolução Industrial, caracterizada pelo processo de produção em

massa, e a terceira a sociedade do conhecimento e da informação, do pós-industrial,

simbolizada pelo computador.

2.1 – CONCEITO E CENÁRIO HISTÓRICO

Anteriormente à Primeira Onda a maioria dos seres humanos vivia em

pequenos grupos migratórios que pescavam, caçavam ou pastoravam seus

alimentos. Foi até que por volta de 8000 a.C até 1600 a 1750 d.C, se iniciou um

processo que durou milênios: a chamada Revolução Agrícola instaurou pelo mundo

um novo modelo de vida e teria ocorrido por volta de 8000 a.C até 1600 a 1750 d.C.

(TOFFLER, 2005).

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Durante a Primeira Onda a economia girava em torno da produção

artesanal. Os negócios giravam em torno do campo e da vida rural e os

comerciantes eram uma classe pequena, que, predominantemente, vendiam

produtos a granel, e manuais. A população, por sua vez, era atendida nas suas

necessidades primárias, com alimentos, vestuário, saúde e entretenimento

(GIACOMINI, 1991). Foi então, a partir da produção agrícola, que ocorreu uma

mudança em sociedade que viabilizou que toda essa economia mudasse, pois se

antes as pessoas viviam em pequenas aldeias, em um processo migratório de um

lugar para o outro, elas passaram a ampliar as comunidades e a se fixar em um local

ideal à plantação. Com este impacto, a população foi dividida em duas categorias: a

“primitiva” e a “civilizada”. Os primitivos continuaram, por se dizer, sobrevivendo de

caça, pesca e coleta, enquanto os chamados “civilizados” estavam cultivando o solo

e criando raízes (TOFFLER, 2005).

“A Primeira Onda ainda não se tinha exaurido pelo fim do século XVII

quando a Revolução Industrial irrompeu através da Europa e desencadeou a

segunda grande onda de mudança planetária” (TOFFLER, 2005, p.27). A sociedade

viveu uma verdadeira guerra entre os defensores do processo agrícola e os

apoiadores do industrial. Essa colisão causou lutas violentas e sangrentas de

violência armada, que entre muitas das mudanças, devastou o povo “primitivo”

remanescente (TOFFLER, 2005).

Chama atenção neste primeiro ponto que quando o processo de mudança é

forte, como o que ocorreu nessa primeira etapa, não há margem para retrocesso,

pois quando se alcança uma massa crítica em sociedade, como o exemplo dos

habitantes “civilizados”, o avanço uma vez alcançado, se estabelece.

Na Segunda Onda o passo mais marcante foi a extração das reservas de

energia, como do carvão de pedra, gás e petróleo – combustíveis fósseis

insubstituíveis.

Pela primeira vez, uma civilização estava consumindo o capital da natureza em vez de apenas viver do rendimento que ela fornecia (...). Desde o início dessa extração o avanço tecnológico foi enorme por onde passava a Segunda Onda, as nações construíram altas estruturas tecnológicas e econômicas, na pressuposição de que os fósseis baratos estariam à disposição interminavelmente (TOFFLER, 2005, p.39).

As principais características dessa etapa foram à produtividade, a

maximização dos lucros e a produção em massa. A Revolução Industrial iniciada na

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Europa chegou ao Brasil com a substituição do trabalho artesanal pelo assalariado e

trouxe o início do uso das máquinas. O consumo passou a ter novos atrativos e o

estado demostrava preocupação com o desenvolvimento de novos produtos

(GIACOMINI, 1991).

Lipovetsky (2007) coloca que a produção em massa desenvolveu o

marketing de massa e o consumidor moderno. Se antes, os produtos eram vendidos

a granel e as marcas nacionais eram poucas, a partir da Segunda Onda, as marcas

se desenvolveram e os produtos foram padronizados e distribuídos nos mercados

nacionais. “Pela primeira vez, empresas consagram enormes orçamentos à

publicidade; as somas investidas estão em aumento muito rápido” (LIPOVETSKY,

2007, p. 29).

A oferta passou a ser muito maior que a procura. O mercado percebeu então

a necessidade de criar outros instrumentos para motivar o consumo. A partir disso o

papel da publicidade se tornou mais importante, pois produtos similares, feitos por

maquinário, necessitaram de diferenciais para atrair as vendas (GIACOMINI, 1991).

Com as vendas sendo disseminadas e a engrenagem girando, se tornava

necessário pensar na maneira de distribuição desses materiais.

Na sociedade da Primeira Onda, as mercadorias eram geralmente

encomendadas, pois eram feitas de forma manual, com as comunicações e o

transporte primitivo restringindo o mercado. Com o desenvolvimento da sociedade

da Segunda Onda, ferrovias, e canais de entrega facilitaram o processo de entrega

de produtos encontrados antes em pequenos armazéns ou carregados nas costas e

carroças. Dessa forma, jorraram mercadorias em um sistema de distribuição em

massa (TOFFLER, 2005).

Bauman (2008) acrescenta que o industrialismo foi crucial para a autonomia

no processo entre produção e consumo, de maneira a criar um padrão mútuo.

Seguindo-se à “revolução paleolítica” que pôs fim ao modo de existência precário dos povos coletores e inaugurou à era dos excedentes e da estocagem, a história poderia ser escrita com base nas maneiras como esse espaço foi colonizado e administrado (BAUMAN, 2008, p. 38).

Da primeira para a segunda mudança em sociedade ocorreu uma grande

distinção entre produção e consumo. A Segunda Onda quebrou com a ideia de

autossuficiência das comunidades. Se antes as mercadorias eram produzidas para

uso do próprio produtor e sua família, na sociedade industrial quase todos se

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tornaram dependentes de comida, mercadorias ou serviços produzidos por terceiros

(TOFFLER, 2005). Muito além da dependência de mercadorias de necessidade

básica, pouco a pouco a produção dos objetos passou a ser produzida para,

independentemente de sua utilidade, ser adquirida.

Na antiga relação mercantil, a dominação era do comerciante, porém com o

passar do tempo, o cliente transformou-se em um consumidor que passou a

valorizar marcas, comprando o produto sem necessariamente um comerciante que

lhe oferecesse. O consumidor passou a ser educado pela publicidade a valorizar

uma assinatura no lugar de um objeto. (LIPOVETSKY, 2007).

O capitalismo do consumo não nasceu mecanicamente de técnicas industriais capazes de produzir em grandes séries mercadorias padronizadas. Ele é também uma construção cultural e social que requereu a “educação” dos consumidores ao mesmo tempo em que o espírito visionário de empreendedores criativos, a “mão visível dos gestores” (LIPOVETSKY, 2007, p. 29).

Em 1904, Henry Ford, imaginou e criou um novo sistema para a indústria

dos automóveis que ficou conhecida como fordismo. O fordismo foi pensado como

uma linha de produção de montagem com o objetivo de diminuir o tempo gasto pelos

operários para a montagem dos veículos. No processo os funcionários não

precisavam sair do seu local de trabalho, gerando assim mais velocidade de

produção, pois cada trabalhador executava apenas uma pequena tarefa dentro de

sua etapa de produção. Dessa forma, as máquinas ditavam o ritmo do trabalho.

Segundo Lipovetsky (2007) o fordismo marcou uma fase de grande abundância, pois

multiplicou por três ou quatro o poder de compra dos consumidores.

A época vê o nível de consumo elevar-se, a estrutura de consumo modificar-se, a compra de bens duráveis espalhar-se em todos os meios […] Consumando o “o milagre do consumo”. […] Pela primeira vez, as massas têm acesso a uma demanda material mais psicologizada [sic] e mais individualizada, a um modo de vida (bens duráveis, lazeres, férias, moda) antigamente associado às elites sociais (LIPOVETSKY, 2007, p. 32-33).

A Revolução Industrial não alterou apenas a tecnologia, a natureza e a

cultura, mas ajudou a forma um novo caráter social, “o homem industrial” foi “senhor

dos escravos da energia”, passou grande parte da sua vida num chão de fábrica,

aprendeu desde a infância que a sua sobrevivência dependia do dinheiro e foi

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informado sobre o mundo através de veículos de comunicação e massa (TOFFLER,

2005).

O ponto central era que, da noite para o dia, a produção deixava de se apoiar no artesanato para se basear na tecnologia. Como resultado, o capitalista passou a ser, quase de repente, o centro da economia e da sociedade, quando sempre fora em “ator secundário” (DRUCKER, 2007, p.43).

Já nas primeiras fases da industrialização e com o domínio tecnológico do homem sobre as ameaças mais diretas da natureza, o meio ambiente revelava-se um espaço infindável a ser dominado e explorado, ideal para aportar tudo o que de bom e ruim as civilizações pudessem produzir: a natureza era útil, bela e infinita (GIACOMINI, 2004, p. 50).

Em 1960, surgiram os primeiros vestígios da Terceira Onda, quando os

Estados Unidos completaram a fase do industrialismo e da volta da união entre

consumidor e produtor, nasceu o termo “prosumidor”, que vem a ser o agente como

consumidor, produtor e reprodutor de informação (TOFFLER, 2005).

Segundo Kotler (2010) o marketing vem acompanhando as fases de

desenvolvimento em sociedade desde a Revolução Industrial. Já na Terceira Onda,

com a tecnologia da informação e a internet, o autor afirma que as pessoas

começaram a se expressar e a colaborar entre si, e um dos fatores que impulsionou

essa possibilidade são as mídias sociais, pois permitiram aos indivíduos que criem e

consumam notícias e entretenimento. “O surgimento da nova onda de tecnologia

marca a era que Scott McNealy, CEO da Sun Microsystems, intitulou de era da

participação3 [...] A nova onda de tecnologia transforma as pessoas de

consumidores em prosumidores” (KOTLER, 2010, p. 7, grifo nosso). Ainda, segundo

Toffler:

Acima de tudo, a civilização da Terceira Onda começará a cicatrizar a ruptura histórica entre o produtor e o consumidor, gerando a economia do “prossumidor” de amanhã. Por essa razão, entre muitas, poderia – com alguma ajuda inteligente nossa – resultar na primeira civilização verdadeiramente humana da História registrada (TOFLER, 2005, p.25).

Existem mudanças que tornaram impossível que o fluxo de consumo da

civilização industrial seguisse. Os sistemas da Segunda Onda entraram em crise e o

planeta não consegue mais se manter com esse uso desenfreado de recursos. A era

da informação e tecnologia foi o pontapé inicial para mudar esse contexto e

3 Grifo nosso

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desencadear um novo começo. A terceira maior mudança social vivida inicia com a

mudança de valores sociais (TOFLER 2005).

Toffler (2005) defende o contexto de “desmassificação dos meios de

comunicação de massa” na Terceira Onda. Ele explica que a propaganda da

Segunda Onda criou uma mentalidade chamada de “mentalidade em massa”.

Porém, no novo modelo, ao invés de massas recebendo conceitos com as mesmas

mensagens, nossos tempos trazem pequenos grupos desmassificados que recebem

e enviam mensagens e imagens próprias uns para os outros. “Em vez de apenas

recebermos o nosso modelo mental de realidade, nós agora somos impelidos a

inventá-lo e continuamente a reinventá-lo. Isto coloca um enorme fardo em nós”

(TOFFLER, 2005, p.172). O autor defende que cada vez mais trocaremos

informações uns com os outros com uma velocidade jamais vista antes, mas

também com maior individualidade, e essa mudança caracteriza a Terceira Onda e

nos torna uma “sociedade de informação” (TOFFLER, 2005).

Nesse avanço de informação, a tecnologia física chave foi o computador e

as mediações que a tecnologia nos possibilitou. Consequentemente a essas

mediações, uma revolução na sociedade oportunizou acesso às memórias sociais.

As memórias da sociedade são divididas de duas formas: as privadas, que

permanecem com o indivíduo e morrem com o mesmo, e as compartilhadas, que em

conjunto possibilitam o “sucesso evolucionário da nossa espécie (...) e qualquer

coisa que altere a maneira como construímos, armazenamos ou usamos a memória

social toca consequentemente o próprio manancial do destino” (TOFFLER, 1980,

p.181).

No início da sociedade as explicações aos fenômenos se davam em torno

de mito, lenda, história e tradição na mente dos seres humanos e o armazenamento

era muito limitado. Na Segunda Onda, aumentamos e muito a capacidade de

armazenamento, através da alfabetização e fontes de estoque como bibliotecas,

museus, arte, a invenção do fichário.

Nada, entretanto, se compara a Terceira Onda e a quantidade de informação

que estamos produzindo, que é exponencialmente maior em comparação a tudo

visto até então. Além do mais, o registro dessas informações nunca foi tão fiel,

organizado e de fácil acesso através das telas e da tecnologia, que armazena e

torna ativa a memória social (TOFFLER, 2005).

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A desmassificação radical dos veículos de comunicação, a invenção de novos meios de comunicação em massa, o mapeamento da Terra por satélite, a monitorarem de pacientes de hospital por sensores eletrônicos, a computorizarão dos arquivos das companhias – tudo isso significa que estamos registrando as atividades da civilização em detalhes de fina granulação (TOFFLER, 2005, p.182).

Essa mudança de armazenamento de informação mexe, entre tantas, com

uma das faces mais importantes da sociedade, a economia. O mercado foi

modificando-se e nesse momento muda novamente. Ao falar desse novo

consumidor, ou prosumidor é importante focar no fato que a sociedade caminhou

para uma mudança de pensamento, mas, principalmente, de atitude. O novo

trabalhador enxerga o mercado muito diferente daquele das ondas anteriores, o

novo trabalhador espera encontrar significado no que faz juntamente com

recompensa financeira. E tendo em vista seu entorno de maneira diferente, atitudes

mais humanas começam a tomar forma, já que as crises do industrialismo, de bem-

estar social, escolar, nos sistemas financeiros e no sistema de valores impedem a

continuação do sistema da Segunda Onda. A Terceira Onda marca um momento de

mudança de atitude do consumidor.

2.2 – CONSUMO versus CONSUMISMO

O consumir é inerente aos seres humanos. Seja esse consumo pago ou não,

possuímos necessidades básicas e vamos atrás de satisfazer as mesmas. Segundo

Canclini (2006, p. 60): “consumo é o conjunto de processos socioculturais em que se

realizam a apropriação e os usos dos produtos”. Na Primeira Onda como citado, o

objetivo de produzir era quase que exclusivamente para consumo próprio. Depois do

fortalecimento de vida em comunidades maiores, a vida por escambo, ou permuta

começa a se fazer mais presente, mas com o mesmo objetivo, de sustento básico.

Com a chegada Segunda Onda, o foco mudou para a produção em massa e

aumento da geração de lucros. Para Baudrillard (2008), o consumismo é

intrinsicamente ligado à ideia da “felicidade”, ele reforça que o mito da felicidade, ou

mito da igualdade foi concebido na Revolução Industrial e nas Revoluções do século

XIX. E, para que o mito se desenvolva é necessário que a felicidade seja mensurável

através de objetos e signos. Ele define que o mito da felicidade é baseado em

princípios individualistas:

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Sendo assim, a Felicidade distancia-se ainda mais de toda a festa ou exaltação coletiva, já que, alimentada por uma exigência mais igualitária, se funda nos princípios individualistas, fortificados pela Declaração dos Direitos do Homem do Cidadão, que reconhecem explicitamente a cada um o direito à Felicidade (BAUDRILLARD, 2008, p. 50).

Bauman (2008) indica a distinção entre os termos de consumo e

consumismo, sendo, consumo uma ocupação, um ato característico dos indivíduos

em sociedade, e consumismo um atributo da sociedade onde meus desejos se

transformam e se torna a “principal força propulsora e operativa da sociedade, uma

força que coordena a reprodução sistêmica, a integração e estratificação sociais,

além da formação de indivíduos humanos” (BAUMAN, 2008, p.41).

Para Ana Beatriz Barbosa Silva, médica psiquiatra e especialista em

comportamento humano, vivenciamos a tragédia do ser frente ao “ter”. “Ser” é

possuir uma identidade, é particular. Ela defende que “ser” leva a posse de nós

mesmos. Já o “ter”, por sua vez, conduz a posse material e leva ao egoísmo (SILVA,

2014). Nesse contexto a sociedade consumista é ditada pelo “ter” que desperta e

fomenta o egoísmo nas relações.

A cultura consumista e individualista está tão profundamente enraizada em nosso comportamento diário que, na maioria das vezes, não percebemos o quanto vivemos sob a ditadura do ter. Em nossa linguagem habitual, encontramos frases que demostram claramente a “virulência” do consumo: “Qual é o preço? ”, “Dinheiro compra tudo”, “O que o dinheiro não compra, ele manda buscar” (SILVA, 2014, p. 18).

O “ter” alimenta o sistema econômico porque prioriza a produção frente a

valores humanos. Mas como isso se alimenta? A competitividade, por exemplo,

fortalece o consumo e o individualismo, ela vem sendo ensinada desde a infância

em família e em sociedade. Não é difícil encontrar exemplos, na escola o mais ágil é

visto como melhor e o que não tem tanta habilidade em determinada atividade é o

perdedor ou ainda, o aluno esperto é, muitas vezes, mais encorajado do que o aluno

esforçado. Inteligente também geralmente é o indivíduo que tem habilidade em

ciências exatas, já que faz muito pouco tempo que começamos a falar de outras

formas de inteligência, como a social e a emocional. E dessa forma que na

sociedade o “ser” e o “ter” começam a se tornar a mesma coisa e esse sistema se

realimenta.

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Consumir guarda em si um efeito colateral inevitável: se, em um primeiro momento, o ato de consumir gera um estado de alegria ou de euforia momentânea, libertando parte de nossa ansiedade, com o tempo nós nos “viciamos” nessa sensação abstrata de prazer e passamos a comprar mais e mais, na tentativa ilusória de criar um estado permanente de satisfação [...] formando um círculo vicioso (SILVA, 2014, p. 20).

Para Silva (2014) essa dualidade em entre o ser e o ter contraria a genética

dos seres humanos, pois somos seres dependentes de nossas relações

interpessoais para que ocorra nosso desenvolvimento pessoal e em sociedade. “É a

nossa capacidade de organização e cooperação coletiva que nos faz realizar coisas

que nenhuma outra espécie animal pode executar” (SILVA, 2014, p. 22).

Bauman (2008) nos leva a sociedade dos excessos e defende que deixamos

de ser ativos no consumo e nos transformamos em mercadoria sem existir uma

separatividade entre as coisas a serem consumidas e os seres humanos que as

consomem.

Na sociedade do consumo, ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar mercadoria, e ninguém pode manter segura sua subjetividade sem reanimar, ressuscitar e recarregar de maneira perpétua as capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoria vendável (BAUMAN, 2008, p. 20).

A premissa é que os próprios consumidores se esforçam para se tornar e

permanecer uma mercadoria que alguém deseja comprar, e, para isso ocorra, se

esforçam para sermos notados, desejados e cobiçados. Logo, a ausência de

“compradores”, causa sofrimento.

O consumo em si, assim como indicado por Canclini (2006) tem muitas

serventias. O processo pode ir desde ser considerado um processo de ritual a um

processo de construção de signos, que busca estabelecer e comunicar um status,

por exemplo. É importante, entretanto, não determinar o comportamento de

consumo como irracional, ou seja, como um ato inconsciente. O autor explica: “é

preciso descontruir as concepções que julgam os comportamentos dos

consumidores como predominantemente irracionais e as que somente veem os

cidadãos atuando em função da racionalidade dos princípios ideológicos” (CANCLINI

2006, p.35). A questão problema apontada são os malefícios que consumismo

constitui para a sociedade. Horn; Vergani (2010) destacam seis malefícios do

consumismo que são exemplificados abaixo:

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Quadro 1: Malefícios do Consumismo segundo Horn e Vergani (2010)

Malefícios O que promove

Massificação no trato das pessoas

Instiga às pessoas a aquisição de bens de maneira incessante gerando sentimento de pertencimento e inclusão apenas quando o consumo é promovido e validado.

A publicidade desvirtuada

Incitam consumidores a pensarem a agirem com a lógica do consumo, valendo-se de formas simbólicas capazes de criar normas e condutas para influenciar indivíduos.

O civismo ausente Pensamento e atitude individualista-consumista pela maior parte dos indivíduos. Abandono da noção de coletivismo.

A crescente esgotabilidade dos recursos naturais

A produção e consumo sempre crescentes provoca a poluição do meio ambiente, da erosão da biodiversidade e do aquecimento do clima.

A descartabilidade como conduta padrão

Roda do consumismo: a valorização do novo gera o descarte do antigo, do desatualizado.

Fonte: Informações sintetizadas pela aluna com base na Revista Relações de consumo: consumismo (HORN; VERGANI, p. 143-156, 2010).

Conforme podemos perceber, a visão dos autores abrange as várias áreas

em relação aos malefícios do consumo inconsciente. Segundo Canclini (2006) o

consumo tem esse poder de definir o que consideramos valioso, portanto

assumimos nosso modo de pensar e nos distinguirmos em sociedade, quando

estamos consumindo estamos escolhendo o sentido social.

E é no sentido social que se notam as primeiras mudanças de atitude. Como

essas atitudes se constituem e se relacionam com o comportamento humano é o

que vamos abordar no próximo capítulo.

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3 TENDÊNCIAS E COMPORTAMENTO DE CONSUMO

“Os hábitos e gostos dos consumidores condicionam sua capacidade de se converterem

em cidadãos” (CANCLINI, 2006,).

O comportamento do ser humano vem sendo estudado através dos anos

em diversas áreas das ciências humanas, dentro destas, a área da Psicologia

introduziu muitas teorias. Karsaklian (2004) elucida as teorias em quatro correntes

maiores. A autora ressalta a teoria behaviorista que baseia o comportamento

humano em um impulso que advém das necessidades biológicas e do hábito. Para

os behavioristas todo o comportamento é observável, dessa forma a mente

(pensamentos e desejos) não foram objeto de estudo dessa corrente.

Em contraponto, a teoria cognitivista, nega que existam estímulos que gerem

um comportamento automatizado. De acordo com esta abordagem, o indivíduo se

comporta baseado em seus pensamentos, que se originam de suas experiências.

A terceira teoria de destaque, a psicanalítica, é amplamente conhecida pelo

seu idealizador, Sigmund Freud, a mesma defende que o comportamento humano é

movido por motivações inconscientes e por impulsos instintivos que, ao longo da

vida, nos esforçamos a satisfazer.

E a quarta teoria, a mais contemporânea de todas, vem a ser a teoria

humanista. Esta teoria não limita o comportamento a uma relação entre reações e

estímulos, mas afirma que o organismo é motivado por necessidades internas, que

podem ser manifestar interna ou externamente. Um dos principais expoentes dessa

teoria é Abraham Maslow.

A teoria de Maslow possibilitou que as necessidades humanas fossem

hierarquizadas. De acordo com ele, as necessidades não têm a mesma importância,

sendo que, somente após atingir o primeiro nível de satisfação de determinada

necessidade, da que parece mais importante ao indivíduo até a menos importante,

essa necessidade passa a cessar temporariamente para que o indivíduo possa

atingir o próximo nível.

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Figura 1: Necessidades hierarquizadas na Pirâmide de Maslow

FONTE: Elaborado pela aluna com base na obra de Karsaklian (2004)

Na visão de Maslow às necessidades de segurança, por exemplo, só

poderiam ser preenchidas caso os níveis das necessidades fisiológicas estivessem

completos. Porém, com a ascensão do consumismo e a mudança de hábitos, a

teoria começou a sofrer críticas embasadas, principalmente, na questão de que,

muitas vezes, observam-se pessoas que não tem todos os itens de afeto,

necessidade que pertence ao nível social, por exemplo, e que, em busca de

compensar essa necessidade, tentam “comprar” estima para se sentirem mais

completas, comprando roupas, produtos e outros, para que assim, possam

preencher essa lacuna e, consequentemente, partindo para o próximo nível sem que

o anterior esteja completamente preenchido. De acordo com Kotler (2010) a

pirâmide passou a ser a base do capitalismo, no entanto Zohar (2006 apud Kotler,

2010) revelou que Maslow chegou a lamentar o que havia defendido, pois, pouco

antes de morrer passou a acreditar que a pirâmide deveria ser invertida e que

autorrealização seria uma necessidade primária dos seres humanos.

Baseados no comportamento humano, na área mercadológica, buscamos

identificar motivações para definir estratégias para entender o indivíduo-consumidor.

Essa área de estudo é conhecida como comportamento do consumidor. Para Engel;

Blackwell; Miniard (2000, p.4) comportamento do consumidor é definido como “as

atividades diretamente envolvidas em obter, consumir e dispor de produtos e

serviços, incluindo os processos decisórios que antecedem e sucedem estas ações”.

Na visão de Solomon (2002) o comportamento do consumidor pode ser visto como

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um processo contínuo que, segundo ele, vai muito além da troca e da interação no

momento da compra, pois “embora a troca continue sendo uma parte importante do

comportamento do consumidor, a visão mais abrangente enfatiza todo o processo de

consumo, o que inclui as questões que influenciaram o consumidor antes, durante e

depois da compra” (SOLOMON, 2002, p. 24).

Karsaklian (2004) relata esse processo de consumo iniciando pelas

motivações que o consumidor julga importante, e que vão, de acordo com sua

personalidade, ditar suas preferências. Ainda, de acordo com as suas percepções, o

consumidor desenvolve atitudes positivas ou negativas em relação a produtos,

estilos, marcas, etc. Dessa maneira, ele aprende sobre novas marcas, novas opções

e novos modos de uso. Além dessas características pessoais, o meio social

influencia em todo comportamento de consumo. Nesse meio, os grupos de

referência (locais de convívio) do consumidor, ajudam a ditar seu comportamento de

acordo com os integrantes do grupo.

O consumidor também respeita e muito os chamados líderes de opinião,

estes têm poder incrivelmente maior que a publicidade, pois fazem parte do meio,

sendo geralmente amigos e familiares que fazem indicações de seus produtos

preferidos. Entretanto, os líderes de opinião podem ser representados por

celebridades as quais o consumidor prestigia. Neste caso, na constante da norma

subjetiva da teoria de Ajzem e Fishbein esta avaliação pode não apresentar um

agente influenciador direto, mas de alguma forma é percebida pelo consumidor. A

autora atenta que o uso de celebridades é amplamente utilizado para propor novas

referências com as quais o consumidor se identificará “ao mesmo tempo, isso

representará uma segurança para ele [o consumidor], pois qualquer comentário

desagradável que se faça sobre o produto adquirido será rebatido com o fato de que

tal celebridade o usa, logo o produto é recomendado” (KARSAKLIAN, 2004, p. 77).

Por fim, Karsaklian (2004) elucida que, de maneira social, a renda do

consumidor o classifica dentro de classes sociais, porém isso não o classifica dentro

de um comportamento, sendo necessário, cruzar essa informação a outros fatores,

como ao estilo de vida, como ele consome, lugares que visita, tendências de moda,

tecnologias que utiliza etc. Tudo isso, o engloba em um padrão mais amplo que é o

cultural. Já para Giglio (2002, p. 210), cultura é separatista, pois em conjunto com

sociedade formam “um conjunto de regras, que ditam quem pertence ao grupo,

quem se diferencia ou não, quem é melhor que o outro, e outras divisões”.

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Em relação ao processo de decisão de compra, o mais correto seria falar

sobre uma unidade de decisão de compra, pois pode existir apenas um decisor, mas

que é geralmente conduzido por outros. Segundo Solomon (2002) o comportamento

do consumidor envolve muitos atores, pois outras pessoas podem influenciar com

recomendações contra ou a favor do serviço ou bem em questão. O processo do

consumo é resumido por Solomon no seguinte esquema:

Figura 2: A roda do comportamento do consumidor

Fonte: SOLOMON, 2008, p. 43.

Para iniciar a abordagem a tendências do consumo, iremos nos deter a

termo “atitudes” dentro do processo de comportamento do consumidor como norte

para este trabalho. De acordo com Karsaklian (2004, p. 73), “a análise das atitudes e

das preferências constitui um objeto de primeira necessidade para a compreensão

dos comportamentos de compra”. Todos os fatores do processo são igualmente

importantes, porém é em relação as suas atitudes que o consumidor reflete sobre as

consequências de seu comportamento. E a consequência do comportamento está

intimamente relacionada às mudanças de paradigma de consumo as quais iremos

tratar. Solomon (2002, p. 101) ainda define a atitude como “uma predisposição para

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avaliar um objeto ou produto positiva ou negativamente”. E, alinhando-se a causa, o

marketing social vai se referir as mudanças das atitudes e comportamentos dos

consumidores de um modo que seja benéfico para a sociedade como um todo.

3.1 ATITUDES DE CONSUMO

Para uma avaliação mais clara é importante separar os termos

comportamento e atitude. Karsaklian (2004, p. 76) aponta que “a atitude não é

observável e o comportamento sim”, o comportamento é uma ação em relação à

atitude que advém de uma percepção, logo uma atitude positiva é fundamental para

criar engajamento e um comportamento favorável, enquanto atitudes negativas

possivelmente engajam comportamentos de rejeição. Assim, atitudes claramente

indicam comportamentos. Giglio (2002) trata o conceito de atitude como sinônimo de

“representação social”, esclarecendo que, em relação ao comportamento do

consumidor não há consumo sem a aprovação, pois a todo o momento ocorre um

julgamento que leva a definir se algo é bom para si ou bom aos olhos dos outros.

Pode então, existir desejo de compra, mas com representações negativas a resposta

final será a não compra.

Não basta que o cliente conheça suas expectativas e queira comprar. É necessário que ele aprove o seu ato, processo esse que nem sempre tem recebido a devida atenção por parte de empresas, que têm lançado produtos baseadas em pesquisas de intenção de compra, que só captam a expectativa (porque se pergunta apenas se as pessoas gostariam de usar ou de comprar tal produto), mas não a aprovação do consumo (GIGLIO, 2002, p. 139).

Com a finalidade de explicar como as atitudes facilitam o comportamento

social, e como elas são determinantes nas escolhas, o psicólogo Daniel Katz

desenvolveu a teoria funcional das atitudes. Ele observou que as pessoas podem ter

atitudes diferentes em relação ao mesmo objeto, logo, na tentativa de mudar uma

atitude e por seguinte um comportamento, é importante entender quais são as

funções implicativas nessa formação de opinião. Segundo Katz (1960 apud

Solomon, 2002) essas funções são quatro, conforme o quadro a seguir:

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Quadro 2: Teoria funcional das Atitudes segundo Katz

Funções caracterizadas por Katz* Explicação

Função utilitarista

Relacionada ao benefício ou tentativa de evitar uma punição. Podem aparecer de uma forma que não aborde claramente o benefício, mas sim que ressalte aos olhos do consumidor. Karsaklian (2004) ressalta que essas atitudes são as que maximizam ganhos ou minimizam custos. Ex.: Se a marca Pepsi lança uma campanha pensando em destacar somente o sabor da sua linha Twist (sabor de limão) está destacando a função utilitarista.

Função expressiva de valor

É muito importante em relação ao estilo de vida do consumidor. Tem relação ao seu autoconceito e de que produtos escolhem para expressar sua identidade social. Não tem relação com classe social, mas com sim com escolhas.

Função defensiva do ego

São expressas como forma de se auto proteger, de algo externo, ou uma ameaça percebida interna. Ex.: campanha de desodorante que mostra diversas situações que são percebidas como embaraçosas caso a pessoa esteja suando, apelam para a defesa do ego.

Função do conhecimento

Algumas atitudes tem a função de ser “juiz” em caso de dúvida, então se formulam de um significado que pode formar a opinião que trará ordem, estrutura e significado. Ex.: “A Bayer quer que você saiba algo sobre analgésicos”. Esse tipo de informação gera vínculo de conhecimento com o mercado. Quando é informativo encaixa-se nessa função.

Fonte: KATZ 1960 apud SOLOMON, 2002, p. 166.

Segundo Karsaklian (2004), outro modelo conhecido em relação a atitudes é

a o modelo de Ajzem e Fishbein. Os dois fatores principais na teoria são: o fator

atitude com relação à compra do produto, onde o consumidor julga mais a questão

utilização do objeto. Onde ele vai usar? Como vai se sentir? O importante é a sua

atitude em relação à compra e não ao produto em si. O segundo fator principal é a

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norma subjetiva, a qual tratamos antes, que se refere à previsão de como o grupo

vai perceber sua motivação, seus desejos, norma à qual o indivíduo estará mais ou

menos disposto a obedecer.

Figura 3: Modelo de Ajzem e Fishbein

FONTE: KARSAKLIAN, 2004, p. 77.

É essencial também relatar os componentes que estruturam atitude e que

farão parte de quaisquer modelos apresentados. O primeiro deles é o componente

cognitivo, que tem relação com o aprendizado, crenças e conhecimento que o

consumidor possui ou julga possuir. Todo o aprendizado obtido vai ajudar a formar

uma imagem do produto/marca. Logo, reforçar o conhecimento mantém o

consumidor informado e mais envolvido. Envolvimento afetivo é o segundo

componente e resume-se aos sentimentos que o consumidor abarca. De acordo com

Karsaklian (2004, p. 74) “afetividade assume uma posição cada vez mais importante

na explicação dos comportamentos de compra e consumo” visto que “na maior parte

dos casos, o consumidor é conquistado pela emotividade. ” O terceiro componente

citado o conativo que tem relação com as intenções de compra do cliente.

Para Engel; Blackwell; Miniard (2000) na maioria dos produtos as crenças

são o item que mais influência. Por exemplo, na compra de um aquecedor, as

percepções do produto a serem levadas em consideração podem ser basicamente

de função utilitarista, que depende então das informações que aquele consumidor

detém (componente cognitivo). Os mesmos autores ainda declaram que as atitudes

podem ser definidas pelo que chamam de valores essenciais. Estes valores são

básicos para se compreender o comportamento das pessoas e podem ser úteis para

profissionais de marketing de várias maneiras” (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD,

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2000, p. 399). Segundo eles, valores essenciais definem, entre outros fatores, como

os produtos são usados numa sociedade, por exemplo, quais alimentos devem ser

ingeridos, ou, que carro deve ser comprado para se obter determinado status, além

de serem determinantes também para estabelecer o comportamento ético que será

seguido tanto pelas empresas como pelos consumidores.

Visto que valores definem muitas relações na sociedade é preciso que os

profissionais estejam atentos a mudanças de valores e paradigmas que a sociedade

está implicada. De acordo com Engel; Blackwell; Miniard (2000, p. 405) “os valores

em transição afetam o tamanho dos segmentos de mercado. ” E as “mudanças de

valores podem alterar as respostas à propaganda, assim como as respostas a

ofertas de serviço e a formatos de varejo preferidos”. Nas últimas décadas várias

mudanças vêm sendo vivenciadas pela sociedade ocidental. As famílias, por

exemplo, não fazem mais parte do mesmo escopo, patriarcal, e nem mesmo se

mantém no quadro pai, mãe, filhos. Famílias são sustentadas por mães ou pais

solteiros, com ajuda dos avós da criança por vezes, e outras são constituídas por

casais homossexuais.

No final do mês de maio de 2015 o Grupo Boticário apresentou uma

campanha em apoio a “famílias não tradicionais” que rendeu grande alvoroço. No

vídeo4, que é uma homenagem ao Dia dos Namorados, é possível ver casais do

mesmo sexo se encontrando e presenteado com presentes da marca. O comercial,

não expõe troca de beijos ou carícias, mas deixa clara a mensagem alusiva ao amor

entre casais de mesmos e diferentes sexos. Ainda, utiliza da trilha sonora “Toda

Forma de Amor” da obra de Lulu Santos, que reforça a temática. Muitas pessoas se

posicionaram contra e muitas a favor, mas o comercial seguiu no ar, e também

disponível na internet, com mais de três milhões e seiscentos mil visualizações5.

O caso contou com abertura de representação (nº: 088/15) no Conselho

Nacional de Autorregulamentação Publicitária – o Conar em junho sendo que em

julho de 2015 chegou a sua decisão final decidindo pelo arquivamento do caso. Nas

suas palavras o relator, representante da sociedade civil no Conselho de Ética -

considerou que o filme retratou uma realidade da sociedade contemporânea. O voto

dele, pelo arquivamento da representação, foi aceito por unanimidade. Nas palavras

do relator:

4 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=p4b8BMnolDI. Acesso em 20/05/2016. 5 Conforme acesso em 20/05/2016, a quantidade de visualizações é disponibilizada junto ao vídeo.

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Aos pais, tios, avôs que questionam, entre estupefatos e indignados nas mensagens ao Conar, como vão explicar às crianças as cenas do filme, resta-nos dizer: esta é uma missão, ainda que muito árdua, da família. Não contem com a publicidade para omitir a realidade [...]. O espaço amplificado pela internet não deve se deixar ocupar apenas pelos censores (CONAR, representação nº: 088/15, jul.2015) Disponível em http://www.conar.org.br/. Acesso em: 26.maio.2016.

Figura 4: Dia dos Namorados O Boticário

FONTE: https://www.youtube.com/watch?v=p4b8BMnolDI. Acesso em 20/05/2016.

Na mesma linha de mudança o crescimento industrial dá espaço à

informação como vimos no segundo capítulo desse trabalho, e, nessa crescente, o

consumerismo, também iniciou uma grande mudança. Na contramão do

consumismo, nasceu na década de 1960 nos Estados Unidos, o consumerismo6,

que, também é visto como uma grande mudança de valores do período (GIGLIO,

2002).

6 Percebeu-se ao longo da pesquisa que consumerismo é interpretado por alguns autores como sinônimo de consumismo. Todavia, conforme Giglio (2002) neste trabalho essa terminologia está sendo utilizada com sentido oposto ao termo consumismo.

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Se por um lado, encontramos um expressivo número de pessoas que abdica de sua liberdade de ação (para fazer), de pensamento, (para decidir o que quer o que precisa) em prol de fazer parte de um grupo, por outro, surgem movimento que buscam desenvolver exatamente essa consciência sobre os males do consumo alienado (GIGLIO, 2002, p. 238).

A década de 1960 para cá alguns sinais fracos de mudança aconteceram e

suportam a ideia que um novo consumidor nasceu através da tendência de fundo

muito forte que se baseou na sustentabilidade. Como vimos somente com uma

mudança de atitude positiva sobre seu comportamento, sobre o que deseja alcançar

e sobre a percepção que o grupo tem de suas ações podem se alterar o

comportamento de consumo do consumidor.

3.2 TENDÊNCIAS DE CONSUMO: LOWSUMERISM

“Nada é permanente, exceto a mudança”.

Heráclito

Uma tendência estabelece ideias futuras e pode ter caráter passageiro ou

duradouro. Conforme Caldas (2004, p.25) a palavra tendência vem do latim

“tendentia”, que quer dizer “tender para”, “inclinar-se para”, sentir-se “atraído por

algo” que chama a atenção. Outro emprego dado pelo autor é de “orientação comum

a um grupo de pessoas” ou “escola”.

Tendências têm sido tratadas há muito mais tempo no campo da moda,

como ideias de fenômenos passageiros que duram uma estação. Todavia, neste

trabalho observamos o significado de tendências, como “correntes de mudança

profundas que incluem os estilos de vida e os valores” (MASSONIER, 2008, p.18) 7.

Segundo Caldas (2004) existem classificações referentes ao período de

duração de uma tendência. Ele divide as tendências em tendências de fundo, que

são aquelas que influenciam a sociedade por um longo período de tempo, ou como

fenômenos passageiros que são identificados como tendências de ciclo curto

(CALDAS, 2004).

Mas como podemos saber se estamos tratando de uma tendência de fundo

ou de uma moda passageira? Massonier (2008) propõe que um dos fatores é que os

produtos e serviços do futuro são sustentados por várias tendências passageiras ao

7 Tradução nossa.

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mesmo tempo. Por exemplo, iogurte com baixas calorias, produtos fitness, e etc.,

estão alinhados com a tendência macro, ou tendência de fundo que se refere à

alimentação saudável.

Ainda para Caldas (2008) para interpretar os sinais e definir uma tendência

como “de fundo” é necessário seguir o seguinte percurso: avaliar o cenário

sociopolítico-econômico, avaliar as sensibilidades (sinais) do período imediatamente

anterior, avaliar sinais de comportamento e da esfera do consumo, resumir as

chaves interpretativas do período e propor recomendações.

As tendências abrem caminho, em princípio de forma tímida, mas logo ganham força e não se pode pará-las. Podemos estar de acordo com elas ou não, mas expressam os aspectos profundos de uma sociedade e, quando se consolidam, arrasam o que encontram no seu caminho (MASSONNIER, 2008, p.25, tradução nossa).

Os profissionais que captam os sinais de mudança são conhecidos como

“caçadores de tendência”8. Estes se dedicam a detectar pelo mundo sinais

vanguardistas e o fazem observando hábitos, o que as pessoas usam nas ruas, o

que leem e o que se assistem. É necessário, além de outros fatores, uma grande

sensibilidade para captar o mundo (MASSONIER, 2008).

O futuro está entre nós do mesmo modo que o mar; se olhamos de longe, podemos perceber a onda que está se formando. A habilidade do surfista consiste em observar os cenários e captar a onda antes que ela aconteça. Desse modo, poderá acompanha-la e não ser derrubado por ela (MASSONIER, 2008, p.14).

O Relatório Popcorn publicado em 1991 já antecipava tendências

relacionadas a um consumidor diferenciado. A tendência de número oito do livro é

chamada de ‘Consumidor Vigilante’ onde a autora defende que o consumidor

começará a indagar a veracidade dos produtos e de suas respectivas propagandas.

Começamos a estudar esse novo comportamento do consumidor no final da década de 70 e no início da de 80 [...]. Vimos uma mudança no comportamento de compra: comprar menos, mas melhor, muitas vezes baseando-se em bíblias como Consumers Reports. Começamos a comprar mais defensivamente” (POPCORN, 1991, p. 65).

Em sua obra Caldas (2008) abordou o tema de consumo, tendo como

exemplo, os jovens japoneses que são ávidos por artigos de luxo e por adquirir os

8 Tradução nossa. Do original: cool hunters

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mais recentes modelos de tudo que é lançado. Segundo ele “pesquisas recentes

demonstram que esse consumo desenfreado continua encontrando resposta na

geração que hoje atinge a casa dos trinta anos e que viveu o auge da prosperidade

econômica” (CALDAS, 2008, p. 201). Todavia após uma década o autor admite que

o comportamento, até mesmo entre os jovens japoneses, começa a dar sinais fortes

de consumo mais equilibrado. “Não vou incorrer nos erros que apontei: é pouco para

construir uma tendência de futuro, mas é um sinal forte que, somado a outros,

indica, uma reversão de quadro” (CALDAS, 2008, p. 201).

Ressaltamos aqui o ano da obra de Caldas, dois mil e oito. Este é um ano

determinante, pois diversos autores apontam como sendo o ano de expansão de um

consumo mais consciente. Botsman; Rogers (2011) afirmam que quando a grande

recessão chegou em dois mil e oito, alguns especialistas já falavam do fim do

consumismo, enquanto outros, por outro lado, sugeriram que o consumidor tinha de

ser incentivado ao consumo do modelo tradicional, de comprar, consumir e jogar

fora. Todavia, esse modelo não se mostrou sustentável ou saudável. Thomas

Friedman escreveu em seu editorial do The New York Times, “2008 foi quando

batemos contra a parede – quando tanto a Mãe Natureza quanto o mercado

disseram: ‘não dá mais’” (FRIEDMAN, 2008 apud BOTSMAN; ROGERS, 2011, p.

int. xvii). A força dessa mudança só poderia, entretanto, iniciar a partir uma mudança

de atitude do consumidor frente a seus atos que, a mais de 50 anos, estimulam a

viver além de nossos recursos financeiros e ecológicos.

Mas o que é, e qual o caminho para a sustentabilidade? De acordo com a

ONG World Wildlife Fund Brasil a definição para desenvolvimento sustentável seria

“o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem

comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações”

(WWF-Brasil). O conceito de desenvolvimento sustentável sucedeu o conceito de

ecodesenvolvimento a partir de 1980, inserido no relatório Estratégias Mundiais de

Conservação, elaborado pela União Internacional para a Conservação da Natureza

(IUCN) e pelo World Wildlife Fund (WWF), sob a encomenda da ONU (Organização

das Nações Unidas). De acordo com Boff (2008):

Sustentável é a sociedade o planeta que produz o suficiente para si e para os seres dos ecossistemas onde ela se situa; que toma da natureza somente o que ela pode repor; que mostra um sentido de solidariedade geracional, ao preservar para as sociedades futuras os recursos naturais que elas precisarão (BOFF, 2008, p. 137).

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O cuidado com o meio ambiente não era algo que preocupava a sociedade,

somente no final do século XX o meio ambiente começou a ser tratado como um

bem escasso e de valor para todos. A “onda verde” começa a se formar próximo ao

final dos anos 1970 começam a se criar condições para estabelecer movimentos

civis pró ambientalismo (GIACOMINI, 2004).

Esse paradigma só viria a mudar com a sequência de muitos fatores, além, é óbvio, da degradação explícita do meio ambiente, anulando ganhos de qualidade de vida que s processos industriais e tecnológicos estavam propiciando ao homem (GIACOMINI, 2004, p. 33).

A I Conferência Internacional de Estocolmo de 1972, patrocinada pela ONU

foi um dos primeiros grandes atos que oficializaram o meio ambiente como pauta. O

Brasil, por sua vez, deixou claro seu posicionamento com afirmações que

apontavam suas preocupações com livrar-nos da pobreza e atrair mais indústrias,

independentemente dos poluentes que viessem com elas. Dez anos mais tarde

aconteceu a II Conferência Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco-92),

durante o mesmo evento o projeto Agenda 21 foi apresentado, tratando de uma

série de fatores que antecipam a sustentabilidade geral e ambiental. Este modelo foi

visto como mais realista, pois insere o fator ambiental nos demais sociais como,

cultural, econômico, e qualidade de vida (GIACOMINI, 2004).

Personagem coadjuvante no início da fase desenvolvimentista mundial, o ambientalismo vem assumindo, pouco a pouco, papel central no cenário da comunidade internacional. Desde o momento em que os agentes da produção e do consumo sentiram que o meio ambiente era pela fundamental para sustentar a qualidade de vida, conceitos como o de “progresso” nunca foram reexaminados (GIACOMINI, 2004, p. 49).

Giacomini (2004) acredita que “o próprio instinto de sobrevivência fará a

humanidade repesar as formas de consumo e o relacionamento com o meio

ambiente” (GIACOMINI, 2004, p. 50-51). Para ele ainda o conceito de

conscientização ecológica, tem base na educação, pois tem que envolver atributos

do meio ambiente e da cidadania. Ele defende que o tema iniciou graças ao

ambiental, mas que vai além e necessita estar em harmonia com a sociedade.

A Terceira Onda de Toffler (2005) abriu diante de nós o conceito de

sociedade da informação. Inserimos agora nessa sociedade o indivíduo que já foi

previsto por cool hunters anteriores ao século vigente, o consumidor-cidadão.

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A formação prevê um consumidor-cidadão consciente dos problemas que afetam o mundo e responsável pelos destinos do processo histórico no qual está imerso, por isso crítico e solidário e, se crítico e solidário, ético, e também participativo e atuante, e por isso político (HORN; VERGANI, 2010, p. 152).

Segundo Giacomini (2004) parte das pessoas nessa sociedade

informacional caracteriza a própria sociedade como afluente. Afluente seria a parte

populacional que tem certa escala de suas necessidades básicas satisfeitas e que,

dessa forma, utiliza tempo e recursos para satisfazer necessidades afluentes ou

emergentes aos outros. “Os integrantes da sociedade afluente também atuam como

líderes de opinião, alardeando posturas diante de desperdício, consumismo,

desrespeito ambiental, e muitas vezes atingem meios de comunicação”

(GIACOMINI, 2004, p. 65).

Guglieri (2016) propõe que a prévia Era Industrial foi descontruída para a

desmaterialização dos produtos com a inserção da sociedade na Era Digital e essa

troca propicia um despertar de uma consciência coletiva, que se tornou possível,

devido ao rompimento das barreiras geográficas que a tecnologia propicia.

Entretanto está nas mãos do consumidor transformar seu entorno,

repensando seus atos diante de tantas opções de consumo. Gonçalves (2012)

expressa que é necessário repensar comportamentos e hábitos de consumo, pois a

partir de uma escolha mais correta é possível desenvolver uma consciência

ecológica harmonizada entre o consumo e a natureza.

Como podemos perceber a tendência que podemos testemunhar está na

contramão não do consumo, mas do consumismo. Kotler (1996) resume a ideia

quando se refere que “os ambientalistas não estão contra o marketing e consumo.

Simplesmente, desejam que as empresas e os consumidores ajam com princípios

mais ecológicos” (KOTLER, 1996, p. 150).

Felizmente, os sinais deste comportamento de consumo sustentável

começaram a abrir novas formas de consumo e se evidenciam graças à velocidade

tecnológica de nosso tempo. Dessa forma, o consumo da onda verde, do

desenvolvimento sustentável nasce como uma tendência de fundo nas últimas

décadas, e é essa macrotendência que sustenta novas formas de consumo que

guiam para um consumo sustentável e para um consumidor ainda mais engajado.

De acordo com o filósofo Gilles Lipovetsky (2007) era necessário que

começássemos a refletir sobre nossos desejos de consumo, porém, até o ano de

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dois mil e sete o autor não tinha uma visão positiva sobre a sociedade além do

consumo tradicional:

[...] a sociedade de hiperconsumo como nosso único horizonte, nada deterá a expansão do consumo pago a todas as nossas atividades, a onimercantilização do mundo. Se existem diferentes políticas econômicas ou sociais, não existe, por ora, solução alternativa à sociedade de hiperconsumo (LIPOVETSKY, 2007, p. 343).

Todavia, Lipovetsky declarou recentemente no 23º Congresso de Marketing

da ADVB, que ocorreu em Porto Alegre: “iremos assistir ao nascimento de um

consumidor frugal, um consumidor responsável e colaborativo, mais atento ao

ecológico e que sabe dividir, compartilhar” (23 º CONGRESSO..., 2014).

Conforme citado, a macrotendência da onda verde abriu um leque para

outras tendências. Em exemplo desta mudança está relacionada ao ‘contra

consumo’ e que vem atraindo cada vez mais adeptos a repensar suas necessidades

pessoais, e a descartarem pertences sem grandes utilidades em sua vida,

praticando assim, um consumo pensado e não apenas impulsivo e descabido.

Uma dessas tendências, apontada no Patchwork de Tendências de Furtado

(2009) é nomeada “a sociedade do excesso joga a toalha e pede menos”. Segundo

a autora um modo de vida simplificado seria um dos desejos contemporâneos a ser

explorado como tendência com um consumidor que procuraria “menos produtos para

diminuir o stress da vida, lojas menores para diminuir o tempo despendido nas

compras e simplificação de processos operacionais para tornar a vida mais leve”

(FURTADO, 2009, p. 18). Nessa corrente, o Minimalismo entra como representante

da onda verde. Os seguidores do consumo minimalista buscam repensar excessos

da vida, incluindo, mas não se detendo, ao excesso de consumo de coisas.

Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus, criadores do website “The

Minimalist” 9 descrevem no artigo “Consumo não é o problema” 1011, que somente o

consumo compulsório é problemático.

9 Disponível em: http://www.theminimalists.com. Acesso em 28 de jun. 2016. 10 Tradução nossa. Disponível em: http://www.theminimalists.com/consumption/. 11 Do original: Consumption it is not a problem. Acesso em 28 de jun. 2016.

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Comprar mais coisas para fazer-nos feliz – aderir um modelo quebrado – esse é o real problema. [...] A solução é consumir conscientemente – ignorar anúncios ilógicos, então, podemos determinar o que nós precisamos, baseados em nossas próprias vidas, e não no que nos disseram (MILLBURN; NICODEMUS, 2015, tradução nossa). 12

Massonier (2008) ainda acrescenta o conceito de consumo inteligente.

Conforme a autora, essa maneira de consumir ultrapassa o valor do produto através

de um indivíduo que se sente confortável e até mesmo orgulhoso de sua

racionalidade e equilibra seus gastos sem despreocupar com seguir consumindo de

forma diferenciada as coisas que lhe dão prazer.

Na mesma abordagem minimalista, o essencialismo é outra prática que,

assim como o minimalismo, não se detém somente ao consumo de coisas, mas a

busca “por menos” em todas as áreas da vida. McKeown (2015) define o

essencialismo como uma busca disciplinada por menos, porém melhor:

Ao investir em menos coisas, temos a experiência satisfatória de alcançar um avanço significativo no que mais importa. [...] O caminho do essencialista rejeita a ideia de que se pode fazer tudo. [...] Em vez de escolher reativamente, o essencialista distingue de maneira deliberada as poucas coisas vitais das muitas triviais, elimina o que não é essencial e depois remove obstáculos para que o essencial tenha passagem livre (MCKEOWN, 2015, p. 15).

Tal pensamento vai de encontro ao que Lipovetsky (2007) defende como

anticonsumidores. Estes consumidores estarian optando por produtos éticos e

recusam identificação com as marcas, trazendo para si a responsabilidade e

esforçando-se por minimizar seu consumo. Todavia, o autor reforça que este

consumo não aponta de nenhuma forma “desconsumidores”. “Seu intuito não é sair

do universo consumista […] o que lhes importa é consumir melhor […] trata-se de

comprar de maneira “inteligente”, como um sujeito e não como um fantoche-

consumidor” (LIPOVETSKY, 2007, p.344).

Recentemente a BOX 1824 empresa especializada em comportamento e

tendências, lançou um vídeo referente à sua pesquisa “lowsumerism”, O termo vem

das definições em inglês “low”, baixo, e “consumerism”, consumismo. A ideia é

repensar a lógica do consumo e consumir com maior consciência. O documentário

12 Do original: “Purchasing more stuff to make us happy—adhering to a broken template—is the real issue. […] The solution is to consume deliberately—to ignore the inane advertisements so we can determine what we need based on our lives, not on what we’ve been told”. (MILLBURN; NICODEMUS, 2015). Acesso em 28 de jun. 2016.

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que apresenta a pesquisa aponta seis principais fases que trilham o comportamento

de consumo de acordo com os diferentes períodos, conforme quadro a seguir:

Quadro 3: Lowsumerism – a linha cronológica do consumo

Fases do consumo Comportamento

1890 O crescimento do

consumo

Período em que as pessoas começaram a ser encorajadas pela indústria a comprarem cada vez mais, assim, haveria um aumento da demanda, que levaria a uma maior produção e consequentemente, aumento de lucros.

1920 Crédito e Propaganda

A competição crescente entre as indústrias gerou um boom que impulsionou a publicidade e o lema era “quem aparece mais, vende mais” e ao mesmo tempo surgiu o crédito com o seu discurso de “compre agora, pague depois”.

1950 O consumo do sonho de

vida americano

American dream surge. Ser bem sucedido significava ter uma casa grande no subúrbio, um carro, dois filhos e uma cerca branca. Era pregado que “o trabalho duro pode levar a um estilo de vida confortável”. E um estilo de vida confortável gerava possibilidade de consumir sem preocupação.

1980 Consumo individualista

O mercado percebeu que as pessoas se tornavam cada vez ais individualistas. Logo, era a hora de atender desejos cada vez mais específicos, onde a individualidade de cada pessoa era explorada.

1990 A era do consumismo

Incentivo ao descartável e ao uso de mão de obra barata. A tecnologia começou a evoluir de forma mais rápida do que tudo que havíamos conhecido até então e todos queriam ter o último gadget da moda. Ao mesmo tempo, a mídia começa a alertar sobre os sintomas negativos de se comprar em excesso e a ansiedade causada pelo consumo cresce cada vez mais.

2010 Economia compartilhada

(Sharing Economy)

As pessoas começaram a colocar o acesso acima da posse. Os serviços de streaming de música e vídeo se popularizam cada vez mais, bem como empresas como Airbnb e BlaBlaCar e se tornam as primeiras escolhas de muitos consumidores. Não há uma redução do desejo de consumo, mas sim um menor desejo de possuir.

Fonte: Informações sintetizadas pela aluna com base na pesquisa The Rise of Lowsumerism, realizada pela Box1824 em agosto de 2015. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jk5gLBIhJtA. Acesso em 03. Jul.2016.

A pesquisa ainda aponta três atitudes de lowsumerism para ser mais

consciente e consumir menos. Seriam estas: sempre reflita sobre a real necessidade

antes de comprar, busque alternativas de menos impacto ambiental, como: trocar,

consertar e fazer você mesmo e, viva somente com o que é realmente necessário.

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É importante ressaltar que essa nova cultura de consumo é possível graças

ao posicionamento do consumidor que, como vimos, já vinha dando sinais de

mudança. Referente a esse consumidor consciente, Rifkin (2001) destaca o

processo de mudança da propriedade pessoal para as relações de acesso:

[...] a propriedade pessoal foi considerada há muito como uma extensão do próprio ser e a “medida do homem”, a perda de seu significado no comércio sugere uma mudança considerável na maneira como as futuras gerações perceberão a natureza humana. De fato, um mundo estruturado em torno de relações de acesso provavelmente produzirá um tipo bem diferente de ser humano (RIFKIN, 2001, p. 6).

Foi então, a partir da onda verde, que esta abordagem do lowsumerism se

desenvolveu dando forma a novas alternativas de consumo. Alternativas que focam

em diminuir o desejo de possuir, o que consequentemente diminuir o consumismo.

A partir da macrotendência de desenvolvimento sustentável que criou força

na onda verde e com o lowsumerism iremos gerar uma nova alternativa de consumo:

a economia colaborativa. Esta irá defender alternativas de consumo que geram

menos impacto, onde o consumidor pode emprestar, alugar, trocar, reutilizar. E é

desta nova economia que trataremos no capítulo seguinte.

3.2.1 Economia colaborativa: a nova onda

“Consumismo é um comportamento ultrapassado, do qual logo teremos vergonha” (BOX 1824).

De acordo com Pugliese (2015) economia colaborativa é termo de ordem no

lowsumerism e a colaboração entre estranhos se transformou em um negócio

lucrativo devido à tecnologia.

Airbnb13 e o Craiglist14 fazem parte dessa lista de negócios colaborativos

rentáveis. O Airbnb, por exemplo, iniciou com um simples website no começo de

2008, pois seus sócios estavam convencidos que poderiam começar um negócio

que juntasse visitantes que quisessem alugar um espaço, mas que esse espaço

fosse de moradores locais. Eles acompanharam sinais que do mercado, que

apontavam que não havia espaço em hotéis para tantos hóspedes e uniram isso a

13 Disponível em: www.airbnb.com/. Acesso em 30 de jun. 2016. 14 Disponível em: www.craigslist.org. Acesso em 01 de jul. 2016.

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ideia de que as pessoas acreditariam em um intermediário de confiança e um

sistema de pagamento seguro ao fazer sua reserva. As únicas regras fixas no Airbnb

que os viajantes façam perguntas ao anfitrião antes de efetuarem uma reserva e que

esse espaço não seja uma mercadoria (BOTSMAN; ROGERS, 2011). O principal

negócio do Airbnb é gerar uma relação de confiança.

A grande quebra de paradigma do modelo colaborativo está em, além da vantagem financeira, usar conforme a necessidade. Nesse modelo, a posse deixa de ser protagonista para dar espaço ao acesso, e isso muitas vezes está atrelado à diminuição do desejo de consumo – a semente do Lowsumerism (PUGLIESE, 2015).

Rifkin (2001) conhecido por abordar tendências nas áreas da ciência e

tecnologia e seus impactos na sociedade defende em sua obra, A Era do Acesso,

que a economia hipercapitalista baseada no “ter” e na propriedade está fadada ao

passado. Segundo ele, na nova era os mercados estariam cedendo lugar às redes e

a propriedade estaria sendo substituída rapidamente pelo acesso. Aparentemente as

previsões de Rifkin (2001) estavam corretas.

As empresas e os consumidores estão começando a abandonar a realidade central da vida econômica moderna – a troca de bens materiais entre vendedores e compradores no mercado. Isso não significa que a propriedade irá desaparecer no início a Era do Acesso. Ao contrário. A propriedade continuará a existir, mas com uma probabilidade bem menor de ser trocada em mercados. Em vez disso, os fornecedores detêm a propriedade na nova economia e fazem leasing, alugam ou cobram uma taxa pela admissão, pela assinatura ou pela associação em curto prazo (RIFKIN, 2001, p.4).

Mas qual seria afinal, o conceito de Economia Compartilhada ou

Colaborativa? Em palestra proferida em 14 de julho de 2016 por Wolfgang Menke,

CEO fundador da House of All15 a economia colaborativa “não é fofa, não é hippie. É

real. E dá dinheiro” (informação verbal).

Menke (2016), estrutura a ideia de economia compartilhada em três pilares,

aos quais ele denomina serem os princípios da House of All. São eles:

a. (Sub) utilização de recursos: os dois lados ganham;

b. Descentralização: ideia básica que é de todo mundo, sem propriedade, logo

todos são responsáveis;

15 Conforme palestra sobre Economia Compartilhada, proferida por Wolfgang Menke em 14.07.2016, House of All é um empresa com viés colaborativo com sede em São Paulo – SP que engloba o total de quatro negócios colaborativos (House of Learning, House of Food,House of Bubbles and House of Work).

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c. Relacionamento e confiança;

Menke (2016), também citou os benefícios encontrados pelo consumidor que

frequenta e passa a utilizar a House of all (informação verbal):

Figura 5: O que a House of all entrega para o consumidor

Fonte: PALESTRA SOBRE ECONOMIA COMPARTILHADA. Imagem criada pela aluna de acordo com informações fornecidas pelo palestrante, Wolfgang Menke. 14 de julho. 2016

Menke (2016) ainda defende que o consumidor que procura sua empresa

está recebendo estilo de vida, logo pessoas interessadas nesse determinado estilo

de consumo é que irão se interessar pelo negócio. Assim como, a empresa fomenta,

de diversas maneiras, a outros consumidores para que criem uma atitude positiva

em relação a essa forma de economia. Ele ainda diz que esse ciclo é possível

devido aos demais componentes envolvidos, a staff, ou equipe, o ambiente, os

influenciadores, que fazem parte de um ambiente gerador de economia colaborativa.

Wolf ainda defende que colaborativismo traz uma série de benefícios para a

convivência em comunidade, conforme exposto no quadro a seguir:

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Quadro 4: Benefícios do colaborativismo de acordo com Wolfgang Menke

Benefícios do colaborativismo

Explicação

Um sistema econômico Gera renda

Ser Ambiental Melhor para o meio ambiente, menos poluição;

Criar comunidade Fazemos juntos, e fazemos mais vezes e por menos;

Ser conveniente É mais fácil e gera menos custo para ambos fazer junto Fonte: PALESTRA SOBRE ECONOMIA COMPARTILHADA - Wolfgang Menke em 14.jul.2016, em Caxias do Sul – RS.

Essa nova economia, portanto, possibilita que o mercado comece a girar

mais em torno de noções de compartilhamento. Na parte física de negócios isso é

possível, entre outros processos, através do coworking. Coworking é uma palavra da

língua inglesa que envolve um estilo de trabalho que vem sendo utilizado para

nomear espaços de trabalho colaborativo, onde profissionais de diversas áreas

podem operar no mesmo local, dividindo o espaço e pagando uma taxa ou alugando

o lugar por um período, sem envolver a posse do mesmo. De acordo com o website

Coworking Brasil16:

O coworking é um movimento que está redefinindo a forma como nós trabalhamos e vivemos. Inspirados pela cultura participativa do movimento open source e da natureza transformadora das áreas de tecnologia, nós estamos construindo um futuro mais sustentável através de um novo equilíbrio entre vida e trabalho (COWORKING BRASIL, 2016).

Conforme Censo Coworking Brasil 201617 em território Brasileiro, 65% dos

entrevistados utilizam de espaços de coworking para atuar na área de consultoria,

seguido de 50% que atuam na área de publicidade e design, seguindo de 45%

marketing, internet, startups e 38% para advocacia, etc. Sendo que, as três

principais fontes de renda para manter os espaços em funcionamento em nível brasil

são locação das posições de trabalho com 73%, 61% locação das salas privativas,

47% locação de sala de reunião e locação para eventos, sala eventos, treinamentos

e workshops.

A economia colaborativa foi impulsionada pela tecnologia e disseminação

das mídias sociais e logo acompanha a velocidade destas. De acordo com Kotler

(2010) as mídias sociais são classificadas em duas categorias, a primeira é

denominada por ele como expressivas, que incluem sites para networking social

como blogs e redes sociais, a exemplo, Twitter, Facebook e etc. A segunda é das

16 Disponível em https://coworkingbrasil.org. Acesso em 04 de jul. 2016. 17 Disponível em https://coworkingbrasil.org/censo/. Acesso em 04 de jul. 2016.

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mídias colaborativas que incluem sites como Wikipédia18, um espaço onde qualquer

pessoa pode dedicar seu tempo a editar um conteúdo criando uma enciclopédia

construída por muitas mãos e o Craiglist19 site norte-americano que contem e exibe

gratuitamente milhões de anúncios, como uma versão de classificados de jornal

online e gratuita.

O consumo colaborativo está para todos aqueles que escolheram uma forma

alternativa para consumir, pois beneficia o coletivo. Todas as pessoas já, mesmo

sem perceber já utilizaram de uma forma colaborativa de consumir através de trocas,

escambos, negociação, etc. Porém, foi com o boom tecnológico e com as redes

sociais que o consumo colaborativo iniciou como economia para posteriormente

passar para o campo físico (BOTSMAN; ROGERS, 2011). As pessoas não

acordaram simplesmente em um dia pensando, precisamos colaborar mais entre

nós, somos desunidos. Segundo Botsman; Rogers (2011) existe um por que para

estarmos vivendo essa mudança.

A convergência das redes sociais, uma crença renovada na importância da comunidade, preocupações ambientais urgentes e a consciência de custos estão nos afastando das formas antigas, desequilibradas, centralizadas e controladas de consumismo, e nos aproximando de meios de compartilhamento, agregação, abertura e cooperação (BOTSMAN; ROGERS, 2011, p. int. xviii).

Botsman; Rogers (2011) ainda defendem quatro princípios que compartilham

a essência para que a economia colaborativa possa existir. Estes estão sintetizados

conforme segue:

Massa Crítica:

Massa crítica é um termo compreendido como impulso que atinge o ponto

suficiente em um sistema para torná-lo autossustentável. Dois pontos são levados

em consideração relacionando o termo ao consumo colaborativo. Primeiramente é

importante para o modelo colaborativo que haja escolhas suficientes para que o

consumidor exerça seu papel e opte pelo que mais lhe agrada, logo é necessário dar

o direito de escolha. “Em algum ponto a troca alcançará a “massa crítica”:

mercadorias suficientes para que todos encontrem alguma coisa de que gostem e

tenham a sensação de terem escolhido bem” (BOTSMAN; ROGERS, 2011, p. 65).

18 Disponível em www.wikipedia.org/. Acesso em 07 de jul. 2016. 19 Disponível em www.craigslist.org. Acesso em 07 de jul. 2016.

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Prova social é a segunda razão pela qual massa crítica é essencial para o

consumo colaborativo alcance. Os primeiros usuários são como uma prova social

que esse consumo é algo que deveria ser experimentado. É uma etapa, que os

primeiros adeptos cruzam para proporcionar um novo comportamento. Cialdini

(2008) apud Botsman; Rogers (2011) liderou em experimento que queria comparar

os efeitos das placas de banheiros em hotéis pedindo a colocarem suas toalhas

usadas dependuradas caso quisessem reutilizá-las. As frases tradicionais usadas

pedindo que fosse feito pelo meio ambiente, ou ajude a economizar para gerações

futuras, ou junte-se a nós para salvar o meio ambiente, tiveram taxas de sucesso

similares em torno de 30%. As frases sugerindo que os hóspedes ajudassem o

próprio hotel a poupar energia tiveram taxa de eficácia de 16%. Porém, quando

levado em consideração a influência dos pares convidando aos hóspedes a se

juntarem a outros hóspedes a fim de ajudar a preservar o meio ambiente, quase

75% dos hóspedes responderam positivamente e reutilizaram as toalhas.

De acordo com Botsman; Rogers a prova social é instintiva e nos permite

tomar decisões com base nas decisões alheias e comportamentos dos outros

liderando ao crescimento da massa crítica. Cialdini afirma “em algum nível de base,

é o reconhecimento da sobrevivência: estas pessoas são parecidas comigo – nós

compartilhamos as mesmas circunstâncias” (CIALDINI, 2008 apud BOTSMAN;

ROGERS, 2011, p. 69). A prova social é fundamental para o consumo colaborativo

porque permite que as pessoas vejam ou experimentem uma massa crítica que já

faz trocas.

Capacidade Ociosa:

O segundo termo importante para a incorporação do consumo colaborativo é

o “poder da capacidade ociosa”. É a ideia que permeia o assunto é “você não

precisa de furadeira, precisa de furos”, mesmo assim as pessoas compram

furadeiras, ou objetos que raramente usam, mas ficam em pilha acumulando pó.

Segundo Botsman; Rogers (2011) um carro fica ocioso em média 22 horas

por dia, e nos Estados Unidos, 80% do que as pessoas possuem são utilizados

menos de uma vez no mês.

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No cerce do consumo colaborativo está o cálculo de como podemos aproveitar esta capacidade ociosa e redistribuí-la em outro lugar. A tecnologia moderna, incluindo as redes sociais online e os dispositivos portáteis habilitados por GPS, oferece uma infinidade de maneiras para resolver o problema. A onipresença da conectividade barata que nos rodeia cedente criado pelo hiperconsumo sem criar custos ou inconveniências (BOTSMAN; ROGERS 2011, p. 71).

A capacidade ociosa está também relacionada com serviços e itens não

tangíveis, como tempo, habilidades, espaço. Um exemplo é o Landshare no Reino

Unido, ou o Yardshare, nos Estados Unidos que unem quem tem espaço, mas não

tem tempo, ou força física para cultivar um horta, por exemplo, este compartilha o

espaço, ferramentas e os interessados se inscrevem e depois de forma justa dividem

uma parte do que foi cultivado. Além de cultivar algo orgânico, os benefícios incluem

criar comunidade e novas amizades. Esses e muitos outros exemplos têm dado

certo, devido à capacidade de redes sociais para combinar “desejo com

necessidade” (BOTSMAN; ROGERS, 2011).

Crença no bem comum:

Bem comum significa “coisas comuns a todos”, público. Entretanto, entre os

séculos XVIII e XIX nasceu a propriedade privada que foi justificada pela lógica que

o que era compartilhado era usado excessiva e indevidamente porque os indivíduos

agiriam sempre por interesse próprios. Bollier (2009) apud Botsman; Rogers (2011)

defendeu que um dos maiores bem comuns da humanidade, é a internet mostra

como as pessoas podem ser organizadas para cuidar do que elas consideram

importantes. “Por meio das nossas experiências digitais, estamos reconhecendo

que, ao fornecer valor para a comunidade, permitimos que o nosso próprio valor

social se expanda em troca” (BOTSMAN; ROGERS, 2011, p. 76).

Confiança entre desconhecidos:

O consumo colaborativo elimina o intermediário entre produtor e consumidor,

sujeito indispensável no modelo de sociedade do hiperconsumo. Ao invés deste,

temos um novo intermediário que é alguém que não conhecemos, mas que nos

ajuda a tomar decisões através de sua avaliação positiva, da sua indicação, dentro

de um sistema organizado. A lógica do mercado e do controle “de cima para baixo” é

removido e as plataformas permitem que os pares criem comunidades

descentralizadas que desenvolvem e estabelecem a confiança entre desconhecidos

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(BOTSMAN; ROGERS, 2011). “Os caronas, os vândalos e os abusadores são

facilmente eliminados, da mesma maneira que a abertura, a confiança e a

reciprocidade são estimuladas e recompensadas” (BOTSMAN; ROGERS, 2011, p.

80). Dessa forma, os usuários, através das ferramentas certas, podem coordenar

seus projetos, se autogovernar e ganham o direito de monitorar uns aos outros.

“Voltamos a uma época em que se você fizer alguma coisa errada ou

constrangedora, toda comunidade ficará sabendo” (BOTSMAN; ROGERS, 2011, p.

80).

Segundo Agudo (2016) os ciclos dessa nova economia colaborativa estão

em constante mudança, e neste momento estamos vivenciando o terceiro ciclo. O

primeiro envolveu novas empresas que ajudaram as pessoas a compartilhar seus

bens e serviços. Após 2008 “colaboração tornou-se a palavra de ordem de

economistas, filósofos, analistas de negócios, identificadores de tendências,

comerciantes e empresários” (BOTSMAN; ROGERS, 2011, p. int. xiii).

O segundo ciclo, de acordo com Agudo (2016) começou a acontecer no

campo das habilidades gerais, de dirigir a montar móveis. Um bom exemplo é o

Zipcar, quando os usuários se autodenominavam “zipters”, pois os membros do

serviço utilizavam do serviço de compartilhamento de carros para locar por

determinado período, e é possível se tornar um membro a partir de $7 dólares por

mês.

O terceiro ciclo, segundo ele, é relacionado com o compartilhamento de

conhecimento. As pessoas estão em busca de plataformas online para compartilhar

e produzir material sobre eu negócio, auxiliando negócios alheios, ele não envolve a

venda direta, mas, sim ensina e dissemina um conteúdo. Em tempos de recessão no

Brasil, iniciar uma carreira como professor ou instrutor dando dicas tem se mostrado

uma opção a muitos que querem aprender e compartilhar seu conhecimento através

da internet.

A empreendedora digital Cris Franklin20 é um exemplo dessa forma de

cooperação no online. Em sua página online oficial ela conta como saiu de

estudante da área da saúde, para empreendedora digital. Sua trajetória começou

com vendas em redes sociais, e logo passou a oferecer soluções digitais do Google.

Ela descreve que sua empresa estava funcionando bem, mas que em pouco tempo

ela percebeu que não tinha mais qualidade de vida, pois não tinha mais tempo para

20 http://www.crisfranklin.com.br/

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outras atividades. Foi então que, através de um terceiro, ela percebeu que não

deveria mais vender soluções, mas sim ensinar as pessoas a fazerem. Hoje, além

de empreendedora digital ela se autodenomina uma impulsionadora de pessoas

comuns a criarem o negócio dos seus sonhos, utilizando a internet, ensinando entre

outros pontos, como, aumentar as vendas, como ter mais dinheiro e gerir o próprio

tempo. Cris Franklin é um ótimo exemplo de mudança de mentalidade, de que

através do compartilhamento de conteúdo e possível rentabilizar seu próprio negócio

a partir de acessos de outros usuários.

Rifkin (2001) defende que o capital intelectual é a força propulsora da nova

era. A criatividade humana é onde o investimento estará e não mais no campo físico.

“Conceitos, ideias e imagens – e não as coisas – são os verdadeiros itens de valor

na nova economia” (RIFKIN, 2001, p.5).

O sucesso comercial na economia de acesso depende menos das trocas

individuais de bens no mercado e mais do estabelecimento de relações comerciais

de longo prazo. Os consumidores já estão começando a mudar da propriedade para

o acesso. Enquanto bens duráveis, baratos continuam a serem comprados e

vendidos no mercado, itens de maior valor como aparelhos, automóveis e casas

estão cada vez mais sendo acessados pelos consumidores na forma de alugueis,

trocas e outras associações e condições de serviços. As marcas, por sua vez então

tem um novo desafio de se adaptar e dialogar com esse consumidor, como uma

escalada o consumidor muda e molda um novo mercado, atinge as marcas que,

dependem então de novas estratégias de marketing para adaptar sua realidade e

continuar a acompanhar os desafios do novo consumidor.

3.2.2 O desafio da comunicação

As táticas de marketing objetivam satisfazer consumidores desenvolvendo

estratégias na forma de campanhas, marcas, produtos, imagens, promoções, etc.

Essas estratégias são pensadas a partir de conhecimento das necessidades e

desejos do público. Todavia, associado à redução de demanda, o conceito

“demarketing” vem sendo tratado para reduzir a escala de consumo. Isso significa

reduzir quantidades de material, assim como diminuir o desperdício (GIACOMINI,

2004). Conforme Giacomini (2004) o marketing verde inverte a situação de que os

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produtos devem se adequar ao consumidor. Ao invés disso, “o consumidor deve

alterar seus hábitos e atitudes para manter os sistemas ambientais existentes de

fora sustentada” (GIACOMINI, p. 134, 2004).

Conforme explanamos essas mudanças já deram sinais e se tornaram

realidade com uma massa crítica crescente de cidadãos que, não defendem uma

vida sem consumo, mas sim de consumo de maneira consciente. Giacomini (2004)

expõe que ações conscientes podem ser percebidas vindas de pessoas e

instituições, no Brasil e fora dele. “Essa atitude é reflexo da tomada de consciência

crescente da sociedade, que clama pela qualidade de vida e o bem comum”

(GIACOMINI, p. 17, 2004). Nesse sentido o marketing começa a segmentar seus

esforços em prol desse consumidor que mudou atitudes e vem transformando o

mercado.

A Fiat Automóveis Brasil, por sua vez, é uma das empresas que entendeu

que dialogar com esse novo consumidor é importante e também traz resultados para

sua marca. No comercial do Novo Punto, lançado em fevereiro de 2015 apresenta o

carro de uma maneira diferente. Geralmente comerciais de carro são realizados

mostrando o carro em movimento, mostrando seus diferenciais e manobras

emocionantes. Este comercial, entretanto, apresenta o modelo no ambiente interno

da garagem de uma casa, segundos depois um ator andando de bicicleta se

aproxima da garagem e a abre, guardando sua bicicleta no interior, então, olha para

o carro e segue para o interior da casa. Durante essa última cena o seguinte texto é

introduzido pelo narrador: “Um carro inovador pra quem tem muita personalidade.

Até pra deixar na garagem sempre que dá pra usar a bicicleta”.

O comercial se mostra incentivador e reforçador de uma atitude sustentável

por parte do consumidor. Logo abaixo do comercial é possível visualizar os

comentários submetidos e perceber as primeiras percepções.

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Figura 6: Comercial do Novo Punto 2015

Fonte:: Imagem retirada do comercial da empresa. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=4azCcac_rnY. Acesso em 27. junho.2016

Figura 7: Comentários de consumidores referentes ao comercial do Novo Punto

FONTE: Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=4azCcac_rnY. Acesso em 27. junho. 2016

Como podemos perceber, consumidores entenderam o sentido do comercial

que arrisca não mostrar os atributos do carro em movimento como faz a grande

maioria dos comerciais. Por outro lado, foca a atenção nas motivações que farão

essa parcela de consumidores escolherem este veículo, dialogando com o

consumidor que não utiliza o carro como meio de transporte principal, como se

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estivesse informando, se essa é sua preferência, ou essas são suas motivações,

esse é o produto certo para você.

A General Motors (GM) também é uma das empresas que está arriscando-

se no mercado colaborativo. Sentido as mudanças do mercado em janeiro de 2016

resolveu apostar entrando no mercado com o serviço de car sharing

(compartilhamento de carro). Várias plataformas existem fora do Brasil e algumas no

Brasil como é o caso da Fleety21. A GM por sua vez, lançou o aplicativo Maven22 e

segundo Samuel Russel, diretor de marketing da GM é apenas uma parte da

estratégia de mobilidade urbana global da GM. Russel coloca:

Vemos as preferências dos consumidores em evolução, tais como o compartilhamento de automóvel, como oportunidades reais de negócios que poderemos incluir rapidamente em nossas capacidades existentes, tais como o OnStar (Reportagem de Donett, 2016. Disponível em http://carpress.uol.com.br/reportagem/1538-gm-lanca-no-brasil-programa-de-compartilhamento-maven).

Kotler (2010) defende que as empresas precisam entender que necessitam

colaborar mais com seus consumidores, pois a tendência é que os consumidores

assumam o papel do marketing. “O marketing não é apenas algo que os

profissionais fazem com os consumidores. Os consumidores também estão fazendo

marketing para outros consumidores” (KOTLER, 2010, p. 36). De acordo com o

autor, os consumidores vêm sendo cocriadores de produtos e serviços. E este é o

poder da tecnologia aliado à indústria da economia colaborativa.

O aumento da colaboração do consumidor é o que guiará o futuro, pois os

consumidores não estão mais isolados, mas sim, conectados e passam a ter

informações bem fundamentadas. O marketing 3.0 “representa a colaboração de

entidades de negócios que compartilham conjuntos semelhantes de valores e

desejos” (KOTLER, 2010, p. 12). Mas o que é o Marketing 3.0?

21 A Fleety promove aluguel de carro pessoa-a-pessoa e hoje o aplicativo está disponíveis nas capitais de Curitiba, São Paulo, Florianópolis e Rio de Janeiro. Disponível em https://www.fleety.com.br/. 22 O que é Maven? Disponível em inglês em https://www.youtube.com/embed?listType=playlist&list=PL5UWrgmuniqJYhmGP-d4P3HKhrLcFZ0mH

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Três grandes forças que moldam a paisagem de negócios da era do Marketing 3.0: a era da participação, a era do paradoxo da globalização e a era da sociedade criativa. Observe como essas três grandes forças transformam os consumidores, tornando-os mais colaborativos, culturais e voltados para o espírito. Entendendo essa transformação, retemos condições de entender melhor o Marketing 3.0 como uma mistura de marketing colaborativo, cultural e espiritual (KOTLER, 2010, p. 5).

É muito importante ressaltar que, na realidade do mundo colaborativo as

pessoas estão conectadas entre si e se tornaram consumidores extremamente

expressivos que utilizam, e muito, as mídias sociais. E, “são esses consumidores

que com seu estilo de vida e suas atitudes, influenciam a sociedade de modo geral”

(KOTLER, 2010, p. 19).

Além de novas atitudes do consumidor, o desafio do marketing encontra-se

na ascensão da sociedade criativa, novamente impulsionada pela tecnologia. Kotler

(2010) afirma que a sociedade humana se aproxima de se auge, pois cada vez mais

o número de pessoas criativas cresce. Ele ainda reforça que características mais

importantes dessa sociedade de criativos são de que as pessoas acreditam na sua

autorrealização, são cocriadores e colaboradores.

Para Giacomini (2004) a “ecopropaganda”, entre outros termos que se

caracterizam por trabalhar a publicidade com o fator E (fator ecológico) é uma das

formas especializadas de propaganda, assim como propaganda institucional,

política, religiosa, entre outras, que estão para auxiliar o marketing nesse novo

desafio. O desafio da ecopropaganda seria o de criar ou mudar hábitos,

comportamentos e atitudes, para gerar hábitos que sejam favoráveis para o

desenvolvimento sustentável coletivo, ao “dar sequência a um projeto social em que

atitudes coletivas superem as de interesse mais individualizado” (GIACOMINI, 2004,

p. 68).

Silva (2014) por sua vez, é otimista frente à publicidade estar caminhando

para um caminho consciente:

Acredito, firmemente, que existe um tipo de publicidade feito com consciência e competência que pode, sim, promover a venda de determinados produtos sem mentiras apelativas, valores distorcidos ou enaltecimento de futilidades irresponsáveis. Torço para que a publicidade saiba atentar para os erros do passado e consiga construir uma nova era: a publicidade ética voltada para o consumo sustentável (SILVA, 2014, p. 29).

O desafio dos profissionais de comunicação, por fim, é utilizar da voz ativa

da comunicação através de seu mix de ferramentas para informar e educar a marcas

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e consumidores finais a tomarem decisões alinhadas com a coletividade e com

causas ambientais. Mais do nunca é papel da comunicação social desenvolver uma

sociedade de princípios sustentáveis para que sejam fomentadas atitudes,

preocupações e motivações que priorizem hábitos de viés coletivo.

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4 CAXIAS DO SUL E O JOVEM CAXIENSE

Com o slogan atual “dá fé e do trabalho”, Caxias do Sul é considerada a

capital do trabalho na região sul do Brasil. De acordo com o perfil socioeconômico

desenvolvido pela prefeitura da cidade o culto ao trabalho e a vocação

empreendedora de seus habitantes são os fatores que deram origem ao setor

industrial que, nos dias de hoje, caracteriza a cidade como segundo maior polo

metalomecânico do Brasil. (PREFEITURA DE CAXIAS DO SUL..., [ca. 2015]).).

A história da cidade iniciou pelos índios caingangue, primeiros habitantes

conhecidos dessa terra. Foi então que, a partir de fevereiro de 1870, D. Pedro 2°

autorizou ao Governo da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, a ceder

terras de solo montanhoso que seriam divididas em lotes coloniais e urbanos para

serem apropriados por imigrantes italianos. Cinco anos mais tarde a chegada oficial

dos italianos começou na região serrana do Rio Grande do Sul. As terras eram de

mata virgem e os colonos tiveram de desbravar seu próprio lote para formar ali seu

lar. Foram lhe fornecidos ferramentas, alimentação e sementes para tal, porém,

certa parte do tempo (no máximo de 15 dias no mês), eles trabalhavam para o

governo como forma de saldar seus débitos com os cofres públicos (ADAMI, 1966).

Foi o trabalho dos imigrantes italianos que iniciou e continuou o progresso da cidade, ao lado dos alemães, negros, poloneses, luso-brasileiros, e hoje, de tantas outras etnias que referendam a marca de uma Caxias plural, multicultural e diversificada. Mas é preciso destacar que nosso progresso não teria sentido se não fossem os valores herdados de nossos antepassados, como o trabalho, a simplicidade, a fé, a união e a família, que falam por si e se revelam nas pessoas que constroem a cidade hoje (CAXIAS 2030, [ca. 2015]).

Caxias do Sul ainda é vista como uma cidade com foco no trabalho, porém

desde a década de 1990 a produção cultural e artística, passou a ter maior

visibilidade passando a possuir a Secretaria Municipal da Cultura, Lei Municipal de

Incentivo à Cultura, Fundo de Cultura, entre outros (CAXIAS 2030..., [ca. 2015]).

Atualmente a cidade conta com 473.955 mil habitantes conforme dados da

Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser (FEE, 2014).

Destes, aproximadamente 96,29% dos habitantes vivem na área urbana e 3,71% na

área rural, sendo apenas parte da população descendente dos imigrantes italianos,

pois, ao longo da sua história, a cidade recebeu imigrantes das mais diversas etnias.

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No Idese23, índice que avalia a situação socioeconômica dos municípios gaúchos

quanto à Educação, à Renda e à Saúde, Caxias do Sul obteve em todos os

indicadores, um índice maior que 0,858, apontando um alto grau de

desenvolvimento. (PREFEITURA DE CAXIAS DO SUL..., [ca. 2015]).). Apenas para

base comparativa, o município serrano mais bem colocado foi o de Carlos Barbosa

com Idese de 0,882 e o estado do Rio Grande do Sul atingiu o Idese de 0,747. (FEE,

2013).

Caxias foi uma cidade construída com muito trabalho, de um povo que

precisou enfrentar o medo e dificuldades de imigrar sem saber o que encontraria por

certo, logo não é de se estranhar o fortalecimento do trabalho e empreendedorismo

da região.

4.1 JOVENS DA “GERAÇÃO Y” E O CONSUMO

Especialistas dividiam gerações a cada 25 anos, porém, atualmente, já não

se espera mais um quarto de século para tal. Aponta-se que uma nova geração

surge a cada 10 anos apenas. Logo, a cada 10 anos, diferenças entre costumes e

idades vêm sendo sentidas em locais de trabalho com pessoas de diversas idades,

trocando experiências e gerenciando conflitos e costumes. Lancaster; Stillman

(2011) dividem as gerações em: Geração Y os nascidos entre 1982 e 2000,

compreendendo a faixa atual dos 16 aos 34 anos de idade. Anterior a estes, a

Geração X foram os nascidos entre 1965 e 1981, sucedidos pelos Baby Boomers

nascidos entre 1946 e 1964 e anteriores a esses os Tradicionalistas que nasceram

antes de 1946. A geração Y, geração em questão, é ainda chamada de Geração do

Milênio (Millennials), Geração Google, Nativos Digitais entre outros. Em 2011, no

Censo de 2010, já contavam com 76 milhões de pessoas e eram o grupo de

trabalhadores que mais ingressam no mercado de trabalho (LANCASTER;

STILLMAN, 2011).

A geração do milênio é a primeira geração que nasceu e cresceu na era

digital. Devido a isso, o desejo deles por propriedade ou pelo possuir, demostra um

rompimento. Isso se deve ao fato de existirem novas formas de se demostrar status,

que agora estão nos meios digitais. “Nossas “marcas” online definem “quem somos”

23 O IDESE utiliza um índice que varia de zero (valor mínimo) a um (valor máximo). Quanto mais próximo de um, melhor o desempenho.

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e “do que gostamos”, a propriedade efetiva passa a ser menos importante do que

demostrar o uso ou o uso por associação” (CHASE, 2009 apud BOTSMAN;

ROGERS, 2011, p.82).

De acordo com Magnoni; Miranda (2012) apud Tapscott (2012) alguns

aspectos vividos pela Geração Y contribuem para a compreensão de seus

integrantes. Essa é a geração tecnológica que cresceu acompanhando a evolução

digital. Logo, a tecnologia e as intermediações feitas por computador são essenciais

em sua vida.

De 2005 para 2008, o índice de jovens que acessa a internet cresceu de 66% para 86%. Esse crescimento está fortemente relacionado à maior oferta de locais gratuitos e pagos para acessar a internet. 55% dos jovens costumam acessar a internet fora de casa. (DOSSIÊ UNIVERSO JOVEM 4 MTV, 2008).

Lancaster; Stillman (2011) classificaram sete tendências que acompanham

essa geração e as nomearam de “Fator M”. Eles explicam que, ao longo da história,

esses fatores demostraram atitudes que irão alterar os processos anteriores aos

Millennials e que criam choques e confrontos que terão de ser negociados para

avançar na mudança. Essas tendências são resumidas conforme quadro a seguir:

Quadro 5: Tendências do Fator M

Tendências Explicação

Educação no lar São vistos como protegidos por seus pais, e tem dificuldade em cortar o cordão umbilical.

Garantia de direitos

Um ambiente com forte valorização das qualidades dos indivíduos, os membros dessa geração ouviram muitos elogios e podem se ver como alguém que merece tratamento especial. O desafio aqui é estabelecer padrões realistas que não os desmotivem e não desmereça outras gerações.

Significado

O que se faz tem que ter significado. A geração Y quer somar e contribuir para a empresa, país, para uma causa ou para sua cidade. Encontrar um sentido para seu trabalho é essencial.

Grandes expectativas

Grandes expectativas em geração ao sucesso, o que resulta em troca de empregos em busca de algo que se identifiquem mais.

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(conclusão)

Necessidade de dinamismo

Para geração que nasceu ou cresceu dentro do digital, e tiveram acessos à diversão, entretenimento, e informações a um clique, esse dinamismo multifuncional é aplicado a todas as áreas de sua vida.

Rede Social

Outras formas de comunicar são características dessa geração, que foram reinventados formando poderosas redes sociais. Além de fonte de acesso a coleta de informações nos faz repensar a forma como se aprende com essa geração.

Colaboração

A imagem de “dar ordens” dá espaço ao “negociar” e conversas abertas. A tendência aqui é que a Geração Y cobre novas formas de liderança baseadas com decisões baseadas na cooperação e colaboração.

Fonte: Informações sintetizadas pela aluna com base na obra “O Y da questão: como a Geração Y está transformando o mercado de trabalho”, 2011, pgs. 20-21.

A pesquisa o Sonho Brasileiro, desenvolvida pela Box1824 mapeou jovens

brasileiros de 18 a 24 anos para saber quais suas aspirações para o futuro.

Conforme a pesquisa no período da geração Y o Brasil vivia um período de

estabilidade política e desenvolvimento econômico, estava sendo inserido no

BRIC24, e superava crises. Concomitante a isso, o Brasil começou a comunicar mais

informações e dados públicos e evidenciaram-se escândalos de corrupção no país.

Também se abriu espaço para discussão de questões sociais, aumentaram-se o

número de ONGs e de vozes alternativas à política institucional.

Segundo a pesquisa esse cenário influencia diretamente no perfil do jovem,

que passa a ter uma atuação coletiva forte, mas que não é mais retratada

necessariamente a partir de um mártir de modelos revolucionários, “hoje ganha força

a ideia de que pensar no outro não exclui pensar em si mesmo” (O SONHO

BRASILEIRO, 2011, BOX1824).

Ainda, conforme o Dossiê Universo Jovem 4 MTV (2008) 32% dos jovens

acreditam que a população vai mudar sua postura em relação à preservação do

meio ambiente, e outros 48% acham que a população vai mudar em parte.

24 BRIC é um agrupamento econômico dos países considerados emergentes e com potencial econômico para superar as grandes potências mundiais em um período de, no máximo, cinquenta anos. Atualmente é composto por cinco países: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Fonte: http://www.brasilescola.com/geografia/bric.htm

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A crença maior é que não haverá escolhas: o homem vai ter que mudar sua relação com o meio ambiente. Cinco em cada dez jovens acreditam que só a população, atuando de forma coletiva, pode virar o jogo em favor do meio ambiente e do Brasil. Acreditam, porém, que isso só vai acontecer quando o grau de consciência for maior ou quando o problema for sentido na pele e no bolso (DOSSIÊ UNIVERSO JOVEM 4 MTV, 2008)

Nesse cenário o estudo apresenta um novo perfil que é denominado “novo

coletivo”.

Após as representações acentuadamente individualistas dos anos 80 e 90, a partir dos anos 2000 os jovens voltam a valorizar e se conectar com discursos mais coletivos. Porém, a noção de coletivo que trazem é diferente daquela predominante nos anos 70 (PROJETO O SONHO BRASILEIRO, 2011, BOX1824).

O projeto apontou que 50% dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos mostram-

se mais conectados com discursos coletivos do que individualistas. 67% dos jovens

brasileiros discordam da afirmação de que “só pensa em fazer algo pela sociedade

se tiver algum benefício para si próprio”. 79% dos jovens brasileiros afirmam que

concordariam em “utilizar parte do seu tempo livre para ajudar a sociedade”. 77%

dos jovens concordam que o seu bem-estar depende do bem-estar da sociedade

onde vivem. (PROJETO O SONHO BRASILEIRO, 2011).

Sucesso não significa, necessariamente, dinheiro. O que eles querem é reconhecimento. Independência financeira para poderem ter qualidade de vida – no caso, ter equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal. Ou seja, ter tempo para os amigos, levar uma vida tranquila e sem stress, liberdade para fazer o que quiser e onde quiser. (DOSSIÊ UNIVERSO JOVEM 5 MTV, 2010)

O projeto O Sonho Brasileiro ainda apontou um perfil de jovens que estão

em busca de realizar algo pela melhoria da sociedade, denominado: “jovens-ponte”.

Suas ações são exemplos para outros, sendo destacado seu papel de

influenciadores. Os jovens-ponte transitam por muito mais grupos que a média das

pessoas, e, enquanto o fazem, recolhem referências de diferentes grupos,

diversificando e ampliando sua visão sobre o coletivo e suas ações. Seu papel mais

importante é o de redistribuir estes pensamentos e ideias, conectando redes e

pessoas que não se conectariam espontaneamente. Devido aos jovens-ponte da

geração Y se constrói um novo tipo de participação coletiva. (PROJETO O SONHO

BRASILEIRO, 2011). A essência de muitos dos vínculos sociais dessas ações é

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colaborativa e podem ser feitas através de moedas sociais unindo forças para

conseguir e usufruir o uso de maneira compartilhada. Logo, como podemos

perceber, o perfil do jovem é desenhado de maneira colaborativa e dinâmica.

Dessa forma, a geração Y é a escolha de amostra para essa pesquisa

principalmente devido ao fato desta ter vivenciado e estar integrada ao mundo a

partir da internet e das redes sociais desde o início da onda na qual surgiu e se

desenvolveu a economia colaborativa como é atualmente. Como podemos perceber,

o desenvolvimento na imersão digital está para a economia colaborativa assim como

está para a geração Y. E, devido a esse fato, não existiram barreiras geográficas ou

limites de acessos até onde chegar. Por isso, ao focar estudos no jovem Caxiense,

acreditamos que estamos acessando a memória coletiva que representa toda essa

geração, contudo que foi influenciada pelos costumes e conceitos históricos das

gerações anteriores a sua e que habitam a cidade de Caxias do Sul – RS.

4.1.1 Entrevistas em profundidade

Entre os dias 25 de julho a 05 de agosto de 2016 foram entrevistados o total

de 12 (doze) jovens. As entrevistas foram guiadas pelo questionário de perguntas

desestruturado25 elaborado pela acadêmica com supervisão de sua professora

orientadora. Os nomes dos entrevistados foram trocados por pseudônimos como

forma de preservar a opinião e privacidade dos mesmos. Os resultados da pesquisa

seguem a seguir (informação verbal):

Quadro 6: Entrevistas em profundidade – dados essenciais

Entrevistados Idade Grau de

Instrução

Experiências / Vivências em

outros países?

Há quanto tempo reside em Caxias do Sul?

Consciente

25 anos

Superior em andamento em Administração de Empresas

Intercâmbio de um ano e seis meses no EUA

Natural e residente da

cidade

Essencialista

30 anos

Superior completo em

Licenciatura de Filosofia

Não Natural de Antônio Prado e

reside em Caxias desde 2005

25 O questionário na íntegra está disponível nos anexos deste trabalho.

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(conclusão)

Informado

25 anos

Superior incompleto em Administração de Empresas

Intercâmbio para a Irlanda

Natural de Bagé e reside em

Caxias do Sul desde os 11

anos.

Colaborador

34 anos

Superior completo em Fisioterapia e

Administração e Pós em Gestão

da Inovação

Não Natural e residente da

cidade

Esclarecido 28

anos Superior em

andamento em Design

Não Natural e residente da

cidade

Vigilante

25 anos

Superior completo em

Comércio Internacional

Intercâmbio na Espanha

Natural e residente da

cidade

Solidário

30 anos

Superior completo em

Letras. Mestre em Cultura e Comunicação

Já morou em mais de seis

países e viajou para quarenta

diferentes.

Natural da cidade e reside na

Dinamarca há dois anos

Participativo

30 anos

Superior incompleto em

Educação Física e Filosofia.

Não Natural e residente da

cidade

Crítico

24 anos

Superior completo em Publicidade e Propaganda

Não Natural e residente da

cidade

Criativo

24 anos

Superior completo em Publicidade e Propaganda

Não Natural e residente da

cidade

Natural

26 anos

Superior completo em Análise de Sistemas

Intercâmbio para Dublin -

Irlanda

Natural e residente da

cidade

Coletivo

27 anos

Superior completo em

Design gráfico

Não Natural de Don Pedrito e reside na cidade há 15

anos Fonte: Informações sintetizadas pela aluna com base nas entrevistas em profundidade apresentadas (informação verbal).

Como podemos verificar a tabela anterior apresenta que nove de doze

entrevistados são naturais de Caxias do Sul, sendo os demais residentes há mais de

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dez anos e a idade média dos entrevistados de 27 anos. Percebe-se ainda que, oito

dos doze jovens já concluíram uma formação de nível superior, seguidos de dois que

estão cursando e de dois que iniciaram, mas não finalizaram e não estão cursando

no momento. Notou-se como dado relevante de pesquisa, que dos doze jovens

entrevistados cinco já haviam realizado intercâmbio para países estrangeiros.

Acreditamos que esse índice, não sendo por acaso, influencie nas escolhas

presentes e futuras desses jovens visto a possibilidade que tiveram de vivenciar

outras culturas, viver situações de adaptação em outro país e até mesmo expandir

seu conhecimento ao estabelecer uma análise crítica comparativa frente a essas

questões e referente a estruturas governamentais.

Para o desenvolver da entrevista agrupamos as perguntas em quatro blocos

sobre diferentes temas. O primeiro bloco foi denominado Jovem Caxiense e

Trabalho e foram questionados aos jovens sobre a relação deles com o trabalho,

tempo livre e demais atividades que se envolvem.

As respostas nos mostraram que, dos doze entrevistados, oito gerenciam

negócios próprios atualmente, sendo que sete destes oito empreendedores

acreditam vivenciar a economia colaborativa em seus negócios.

Coletivo é empresária proprietária de da Vereda Criativa, uma escola de

criatividade para negócios que iniciou em maio de 2014 em Caxias do Sul. Segundo

a entrevistada ela iniciou a atividade porque “sentia falta de ter um ensino qualificado

para as áreas de marketing e comunicação e áreas para área da economia criativa”.

Outro entrevistado, Criativo, aos 24 anos se envolve com dois projetos: trabalha no

1quarto, empresa direcionada para produção audiovisual e de comédia, e é sócio

proprietário da Nébula, agência de publicidade a qual ele considera ter um caráter

colaborativo. “Eu vejo a Nébula como um grande hub26 onde eu tenho o tato de ir

atrás de clientes e quando eu vejo que eu não consigo fazer sozinho eu acabo

pegando outras pessoas pra me ajudar”.

Informado é o segundo entrevistado que se dedica a 1quarto. “A 1quarto

começou como coletivo audiovisual e ai foi transformado em uma empresa da

necessidade de ter um espaço físico, CNPJ, endereço”. Anteriormente a empresa

ele trabalhou em empresas da região nas áreas de manutenção, até que, segundo

ele percebeu:

26 Hub é o termo que vem sendo utilizado para nomear espaços colaborativos. Os sinônimos para a palavra em inglês são: coração, centro. Definição disponível em inglês em: http://www.wordreference.com/definition/hub

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que eu tava sendo mão de obra pra alguém e não para a minha pessoa, dai freei tudo e pensei: o que eu vou fazer? Não to nada satisfeito trabalhando para os outros, não to atingindo uma satisfação pessoal também. Entrevistado Informado, 25 anos.

Ele lembra que começou em produção audiovisual porque isso dava prazer

e o prendia ao trabalho. “A 1quarto começou comigo, mas eu sempre gostei de

dividir as coisas com os amigos, não sei fazer as coisas sozinhas, eu sei fazer, mas

não sei fazer tudo sozinho, como todo mundo, e o teu diferencial soma muito”. Hoje

além da 1quarto ele se envolve com a Nóia Coletiva – “uma coletiva de todos, tipo

uma nuvem, onde a gente tem os amigos independentes e consegue contratar pra

freelancer, tipo uma comunidade, onde as pessoas se envolvem”. A 1quarto está

dentro de um espaço de coworking, hoje, segundo ele, eles não pagam o aluguel do

espaço porque trocam por trabalhos pontuais para o coletivo que administra o

mesmo. Quando questionado sobre o que mais gosta de fazer ressaltou:

Eu tenho tudo que o dinheiro pode me proporcionar, menos dinheiro. Eu sou um cara extremamente realizado com o trabalho, eu sou um cara muito feliz não tenho o que reclamar. E o mais legal é que eu to me especializando muito nessa área de audiovisual, produção, e to aprendendo muito nesse cenário. Aquilo que tu projeta sozinha tu até tem o alcance de onde pode chegar, mas quando tu te envolve com mais pessoas, o produto acaba ficando muito mais rico e muito mais legal, porque tem toque de todo mundo e isso é muito rico. Entrevistado Informado, 25 anos.

Natural é formado em Análise de Sistemas e resolveu mudar de emprego

em busca de satisfação pessoal:

Larguei o emprego no final do ano passado, porque eu queria me dedicar exclusivamente à comédia e eu viajei para Dublin para fazer cursos, eu devia ter ficado oito meses lá e eu fiquei dois porque o 1quarto começou a funcionar e eu tive que voltar para começar a trabalhar aqui. Eu sei que tem alguma coisa em mim que é uma predisposição para comédia e se eu não fizer isso eu não vou ser feliz, eu não vou ser estável. Eu vi isso pelos últimos anos, que passei e de repente eu descobri que nossa, eu posso fazer o que eu gosto e ao mesmo tempo sobreviver e pode ser tudo divertido e pode ser tudo legal e então é isso, e não quero perder isso. Entrevistado Natural, 26 anos.

Essencialista é musico e artista visual. Ele trabalha com produção visual na

Antro Filmes e também, está à frente da gestão da Paralela que é uma associação

sem fins lucrativos. A Antro hoje está inserida na Paralela, a qual subloca o espaço

para a produtora através do espaço de coworking. Segundo o entrevistado a

Paralela é dividida em duas frentes:

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É uma associação que pode abrigar projetos experimentais pequenos, como a nossa produtora de vídeo. Já frente institucional que faz a gestão das outras frentes. Na parte de coworking onde a gente subloca salas para algumas empresas também tem relação com a economia criativa. Entrevistado Essencialista, 30 anos.

Na frente de eventos, terceirizam o espaço para pequenos coletivos,

produtores, selos e núcleos de produção, inclusive para poder pagar o aluguel da

própria casa e outras contas. Essencialista acredita que a associação é fomentadora

de economia criativa e de pequenos coletivos que estão começando.

Mas ela [a Paralela] é um meio de campo ainda experimental que a gente tem que definir se é a melhor opção, entende? Acho que como fomentador de cultura na cidade é importante. É uma casa que não tem uma cara, porque o momento que a gente tem também não tem uma cara, 2016, ele é meio que um fragmento de várias coisas, então a casa é isso. Entrevistado Essencialista, 30 anos.

Participativo que também dedica seu tempo exclusivamente para a Paralela

diz que acredita muito também no poder de fomentador da associação, a fala dele

também está carregada de significado sobre a possibilidade de poder ver as coisas

acontecerem pelo coletivo:

Surgiu a Paralela e começou a abrir um espaço para pessoas que se identificaram, e o pessoal alugou para usar esse espaço para se divulgar. E nisso foi dando uma gama bem grande de áreas. E eu acho que faz uma diferença, porque tu ver as coisas acontecendo, e não só pra ti, para os outros também. Entrevistado Participativo, 30 anos.

Esclarecido que está à frente da mesma associação respondeu da seguinte

maneira o questionamento do que mais gostava e relação ao seu trabalho:

“Na verdade, em torno da paralela em si, é uma questão da gente estar conseguindo de verdade, fazer um projeto, onde a gente realmente conversa sobre as coisas e não toma decisões sobre a perspectiva do dinheiro” Entrevistado Esclarecido, 28 anos.

Crítico se vê no futuro cada vez mais engajado com essa cena cultural e já

percebe os efeitos da economia colaborativa:

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Eu to me pegando cada vez mais apaixonado, por essa coisa toda que tá acontecendo no mundo que é a Economia Colaborativa e tudo isso que a gente tá conversando, que é até uma mudança grande na internet, isso afetou muito o mercado musical e eu adoro isso. [...]. Eu percebo que existe muitos debates surgindo e eu me vejo muito entrando nesse mundo. Entrevistado Crítico, 24 anos.

O segundo bloco de entrevistas foi denominado Jovem Caxiense e

Sociedade e o objetivo era desenhar a visão desse jovem frente à sociedade

brasileira e Caxiense.

Solidário que realiza um trabalho voluntário de 15h semanais acredita que a

responsabilidade do governo e cidadão deva ser compartilhada frente as

dificuldades da sociedade atual. “Tem que ter uma responsabilidade compartilhada

entre o governo e o cidadão, eu não vejo outra maneira de funcionar. Os políticos só

fazem o que fazem porque tem acesso ao poder”.

Consciente concorda com a visão de responsabilidade compartilhada e que

está nas mãos do cidadão mudar sua própria atitude para mudar a realidade em que

vive e os seus próprios representantes.

E eu acho que no Brasil, infelizmente, o nosso problema não tá só no governo, mas na população, porque o brasileiro sempre quer tirar vantagem de todo mundo, sabe? E a gente adora colocar a culpa no governo, mas não é só responsabilidade deles, acho que enquanto a gente não faz a nossa parte como cidadão, o governo é só um reflexo da população que a gente tem. Entrevistado Consciente, 25 anos.

Ela acredita ainda que esse senso coletivo tão presente na sua geração é o

que possa fazer avançar nossa sociedade.

Eu acredito que sim, a gente vive numa sociedade que tem muita coisa ruim, mas quando a gente consegue fazer pelo menos a nossa parte, não pensando só na gente, mas nas outras pessoas, a gente ajuda a construir um lugar melhor. Entrevistado Consciente, 25 anos.

Natural ressalta em sua fala a vivacidade que a geração Y tem de fazer

coisas que tenham sentido maior e que toque a vida dos outros. Essa é a visão que

ele tem sobre a importância de se fazer algo pela sociedade e o papel dele como

cidadão, ele também nos conta o porquê definiu por sair do seu emprego anterior e

trocar por algo que gerasse esse sentido que ele buscava.

Foi outros pontos que eu tive nesses últimos tempos, desses últimos anos, que o meu trabalho, não tava fazendo nada, meio que vazio, eu acordava,

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trabalhava, chegava em casa, dormia, acordava e trabalhava e ai, eu falei, ok eu não quero fazer isso, eu não quero que seja vazio, só que dai eu comecei a ver que as vezes na comédia também era tão vazio quanto, faltava alguma coisa ali, que sei lá, não ia diferenciar de um trabalho normal, e dai eu comecei a entrar nessa nóia de que tudo que eu fizesse ia tentar o máximo de passar alguma coisa, sempre, alguma mensagem, nem que seja uma coisa pequena, uma coisa boba, sei lá uma coisa que eu acredito que eu acho que as pessoas precisam saber. Entrevistado Natural, 26 anos.

Colaborador ressaltou na sua fala que as melhorias necessárias estão

iniciando, mas que, na sua visão, ainda demorariam a acontecer:

Acho que essas mudanças, enfim essas melhorias não vão acontecer nessa geração, isso é fato. Daqui a umas duas gerações talvez. Porque partindo do pressuposto que a gente já foi educado há muito tempo a consumir, a saber que existe o preto e o branco, a saber que existe o alto e o baixo, o gordo e o magro eu acho que vai demorar umas duas a três gerações para a gente aprender a se reconhecer como humano. Entrevistado Colaborador, 34 anos.

É interessante perceber que assim como o entrevistado anterior, os demais

entrevistados têm a visão que fazem parte do início de uma mudança, mas ainda

não conseguem intuir como que irá acontecer. Por outro lado, percebem que estão

ajudando a construir algo diferente e influenciando nessa mudança.

O que a gente vai conseguir nessas próximas gerações são pessoas educadas para aceitar o outro, que é diferente de eu verdadeiramente entender. Existem pessoas que são preconceituosas, porque é muito maior do que elas. Elas aceitam e respeitam o outro, mas tem algo dentro delas que elas não conseguem. A gente tem que desde agora plantar a semente. Acho que a gente está vivendo uma quebra de paradigmas, as pessoas estão mudando e fazendo o que gostam o que elas desejam e o que elas acham que é o certo. Entrevistado Colaborador, 34 anos.

Vigilante e Participativo concordam que uma mudança está acontecendo,

principalmente na cena cultural da cidade:

Eu acho que agora com a integração de culturas aqui em Caxias as coisas estão mudando bastante, eu to vendo, principalmente na vida noturna tu não tinha opção, saca? A estação férrea era um negócio morto e não se fazia nada. E hoje em dia tá sempre lotado, as pessoas estão indo pra rua, estão ocupando mais os espaços públicos, principalmente à noite. E isso tá bom. [...] As pessoas estão deixando de ficar tão recolhidas. Entrevistado Vigilante, 25 anos.

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Da vontade de coisas que não aconteciam, que surgiu a Paralela e começou a abrir um espaço para pessoas que se identificaram, e o pessoal alugou para usar esse espaço para se divulgar. E nisso foi dando uma gama bem grande de áreas. E eu acho que faz uma diferença, porque tu ver as coisas acontecendo, e não só pra ti, para os outros também. Entrevistado Participativo, 30 anos.

Os entrevistados ainda foram questionados sobre quais ações eles

promovem, levando-se em conta o papel deles como cidadãos. O entrevistado

Esclarecido, por exemplo, acredita que colabora através do trabalho que realiza

hoje:

É ir tentando achar, junto com a galera da associação algumas alternativas para uma própria forma da gente cooperar. E serve também pra gente ir estimulando outras pessoas a fazerem outras coisas, mas às vezes tu tem que construir o próprio modelo [...] E pensar que dá pra fazer outras coisas que não os empregos que possivelmente estão a disposição na faculdade, não que não seja importante, mas enfim, acho que é uma exploração de novas possibilidades. Entrevistado Esclarecido, 28 anos.

Criativo por sua vez, está vivenciando a transformação que acredita:

A gente veio de um momento que eu acho que era um momento muito egoísta, se alguém pudesse me ajudar, eu ia pagar para essa pessoa me ajudar, e assim eu ia sair ganhando. A pessoa também ia sair ganhando, mas o objetivo era eu sair ganhando. Hoje eu acho que a gente tá num período que a gente vê um problema e chama os outros pra se ajudar. O que eu ganho com isso? Qualidade de vida, e o que você ganha com isso? Qualidade de vida. O dinheiro acabou se tornando nada, porque antes tudo girava em torno de dinheiro. Entrevistado Criativo, 24 anos.

Em uma das questões levantadas, foi solicitado que os entrevistados

citassem pontos positivos e negativos do Brasileiro e do Caxiense, enquanto

cidadão. Pensando-se em cidadão brasileiro as opiniões mais recorrentes foram em

primeiro lugar de quatro dos entrevistados que citaram a criatividade como ponto

mais positivo.

Acho que todo mundo deve ter tido criatividade, mas eu acho que é uma criatividade que surge da necessidade. Brasileiro vê a oportunidade e sabe aproveitar, o poder de análise é grande qualidade. Entrevistado Criativo, 24 anos.

Brasileiro é criativo porque é muito rico culturalmente, tem muita referência. Entrevistado Crítico, 24 anos.

Brasileiro bota muita fé nas gambiarras sejam elas físicas ou intelectuais. E isso é uma coisa bem importante, é por isso que estamos com a Paralela aqui, é por isso que temos uma produtora de vídeo, sem ninguém nunca ter estudado cinema, e a gente tá de fato conseguindo fazer com muito autodidatismo. Entrevistado Essencialista, 30 anos.

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Como ponto negativo o Brasileiro os mais fortemente apontados foram: o

brasileiro é desinformado, visto que três entrevistados apontaram esse ponto.

Todo mundo tem uma opinião sobre tudo, mas não checam dados. Entrevistado Vigilante, 25 anos.

Negativo é que ele [o brasileiro] deixa a mídia falar por ele e já faz muito tempo, tá enraizado na cultura. Entrevistado Essencialista, 30 anos.

O segundo ponto mais abordado também por três dos entrevistados foi: o

jeitinho brasileiro, que se traduz como querer tirar vantagem e ser desonesto por

esse motivo.

A gente não tem um senso de sociedade – todo mundo pensa no que é melhor para si – “de onde sai o governo? O governo sai do povo”. Começa no nível pessoal – os escândalos de corrupção, os roubos milionários do governo não são nada mais do que uma escala maior daquilo que a gente é como cidadão individual. Entrevistado Solidário, 30 anos.

Às vezes eu vejo o brasileiro querendo se dar bem em tudo. A gente teve que descontruir isso na gente. Você aprende com todo mundo que às vezes você não vai se dar bem, as vezes é a outra pessoa que tem que se dar bem e tu tem que dar a vez, e não tem problema, as vezes tu vai perder. Entrevistado Natural, 26 anos.

Uma coisa que eu acho negativo e que infelizmente aqui a gente ouve muito [quando diz ‘aqui’ a entrevistada se refere ao Estados Unidos, país que atualmente a mesma está em intercambio de estudos e trabalho] é a questão do brasileiro querer tirar vantagem de tudo, e infelizmente, por mais que seja uma coisa que doa porque é ruim ouvir alguém falar mal do pais da gente, infelizmente, tem fundamento. Entrevistado Consciente, 25 anos.

Quando tiveram de pensar na perspectiva de Caxias do Sul os entrevistados

tiveram pontos de vista diferentes e poucos mantiveram os pontos parecidos com a

sua opinião sobre o brasileiro. Os pontos mais citados foram: o Caxiense é

empreendedor e trabalhador, com quatro dos entrevistados, porém com a ressalva

de que dinheiro não deve estar em primeiro lugar.

O trabalho quando visto do lado saudável, que não coloque o dinheiro em primeiro lugar, mas sim as pessoas e o mundo. Acho que é importante pra caramba e o Caxiense tem isso bem forte. Entrevistado Crítico, 24 anos.

Caxiense é bom porque ele é foda, ele dá um jeito de ser o mais foda nas coisas, de ganhar dinheiro e trabalhar e fazer as coisas acontecerem. Entrevistado Participativo, 30 anos.

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Em relação aos pontos cinco entrevistados concordaram que o ponto

negativo mais forte do Caxiense é ser preconceituoso.

As pessoas velhas têm tipo um ranço com tudo que é novo, aqui em Caxias não pode surgir nenhuma novidade que ah isso não vai dar certo, ou no meu tempo não tinha esse negócio, ou isso ai é moda e vai acabar logo, ou pouca vergonha. Sabe essa descrença que tem em projetos novos. Tanto é que é difícil as pessoas empreenderes aqui em coisas diferentes. Entrevistado Vigilante, 25 anos.

Uma grande dificuldade de aceitar o outro, que vem de nossos antepassados. Uma dificuldade de aceitar o outro, verdadeiramente como são. Entrevistado Colaborador, 34 anos.

Caxias é muito mais família. E o que não é família é estranho, é ruim, é estrangeiro. Entrevistado Solidário, 30 anos.

A gente é de uma terra tradicional, e tradicional no sentido fraternal sabe, tudo é família, então, a gente acaba tratando as nossas próprias amizades como família, e se não é da nossa família a gente tá cagando. Entrevistado Criativo, 24 anos.

O segundo ponto mais citado foi agrupado e é definido por alguns termos, os

entrevistados disseram que o Caxiense é fechado, em relação à hospitalidade e por

não ampliar seus horizontes. Ainda outros dois entrevistados citaram o excesso de

trabalho como negativo em relação ao Caxiense.

Às vezes são meio contra as mudanças e as vezes é meio difícil de aceitar o novo, e apesar da gente trabalhando com uma super inovação, eu acho meio inovador, e nunca teve muita resistência, e eu não sei se era porque tava no ponto de isso acontecer em Caxias, essa economia, esse novo formato. Entrevistado Participativo, 30 anos.

Falta enxergar outras formas de ganhar dinheiro, outras formas de gerar conhecimento, gerar serviço, que não envolva metalomecânico. Entrevistado Natural, 26 anos.

Dedicação ao trabalho. Caxiense não vive, caxiense sobrevive. A nossa vida é levantar cedo, trabalhar. Não se tem vida, não se tem convívio social, a gente não faz tempo para os amigos, o trabalho é prioridade. Entrevistado Solidário, 30 anos.

O terceiro bloco de entrevista foi nomeado como o Jovem Caxiense e

Consumo em geral, o objetivo das perguntas desse bloco foi gerar ao entrevistado

uma reflexão sobre seus critérios de consumo e seu nível de envolvimento a pensar

sobre desperdício, consumismo e desrespeito ambiental. No primeiro cenário foram

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questionados os critérios de consumo, tendo como afirmativa que nossos objetivos

são uma das nossas representações perante a sociedade. Dos pontos mais citados

ao menos cinco dos entrevistados hoje compram suas roupas através de brechós,

roupas de segunda mão.

Primeiro eu não compro muita coisa e quanto eu compro eu compro roupa reutilizada, tipo vou em brechó e acho uma roupa muito legal ou troco com amigos também. Produtos eu tento olhar se é daqueles que não testam em animais. Entrevistado Vigilante, 25 anos.

Eu praticamente só compro roupas em lojas de segunda mão, roupas doadas. Eu tenho uma preocupação em mente com os animais e com o uso da terra. Se o preço não é exorbitante eu prefiro aquilo que é produzido local, pelo fato da poluição e toda cadeia de consumo por trás do produto que a gente recebe. E eu procuro, na medida do possível, dar apoio aos produtores locais. Entrevistado Solidário, 30 anos.

Mais cinco opiniões também foram contabilizadas para a listagem dos que

preferem comprar seus objetos ou alimentos de produtores locais ou via internet,

mas de quem produz diretamente.

Eu gosto de comprar de quem faz, eu tenho um carinho muito grande por quem faz. E isso é uma coisa que a internet te possibilita, poder estar perto de quem faz. Hoje eu estou numa fase que eu só quero um carro que ande, e me leve de um lado pro outro, porque pra mim gastar em carro é bobagem, eu prefiro gastar em viagem, gosto de conhecer gente. Entrevistado Colaborador, 34 anos.

Sim sem dúvidas, desde que eu comecei a trabalhar com arte ou a trabalhar no meu autodesenvolvimento eu comecei a dar muito valor para o que as pessoas estão fazendo, porque as coisas são tão banais, tão descartáveis, tão fúteis, que tu não te prende, e isso te acomoda num esquema que tu começa a não valorizar o que as pessoas fazem. Entrevistado Informado, 25 anos.

Com base em Karsaklian (2004) que defende que, além dessas

características pessoais, o meio social influencia em todo comportamento de

consumo, perguntamos se os entrevistados percebiam que influenciavam outros de

seus grupos de referência a terem atitudes parecidas.

Essencialista cita que percebe isso como característica da sua geração:

Quando os nichos são pequenos qualquer movimento, de certa forma influencia. Eu acho que existe uma necessidade até nessa geração de tu ver o outro e se espalhar no outro, e ver no coletivo algo que é maior do que só tu. Entrevistado Essencialista, 30 anos.

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Informado acredita que a proximidade de grupos cria essa influência e que

ele mesmo acaba mudando seu entorno esforço apenas com seu comportamento.

Acho que sim, eu acho que é meio inevitável porque em casa eu acabo sendo o mais diferente de todos e eu sinto, às vezes, que eu faço algumas alterações muito sutis por alguma coisa que eu fale. Entrevistado Informado, 25 anos.

Crítico concorda e diz que conscientemente tenta influenciar através de seu

comportamento:

eu tento sempre influenciar com postura mesmo, do que com discurso, eu

acho muito chato quando alguém quer pregar algo. Entrevistado Crítico, 25

anos.

Vigilante por sua vez não acredita que sua postura frente ao consumo

influencia grande parte dos demais ao seu redor. Interessante citar que ele,

diferentemente de alguns dos demais entrevistados, ele é funcionário público e não

vivência a economia colaborativa diretamente nessa área. Dentro disso, abrimos

espaço para a reflexão de que há de existir uma pré-disposição para ser

influenciado/a por certas determinadas atitudes. Assim sendo quando questionado

“a partir dos critérios que você apontou na questão anterior, considera que influencia

as pessoas do seu convívio com a sua postura”, respondeu:

Acho que não. Entre colegas de trabalho nenhum, amigos poucos, mas já tem alguns ali, a gente mesmo que se junta por isso também, família nada. Entrevistado Vigilante, 24 anos.

Social Good por outro lado acredita que sua visão influencia e que uma

mudança está acontecendo em torno disto.

As mudanças precisam partir de algum ponto. Está acontecendo uma mudança, grande e muito rápida, mas até todo mundo se adaptar, é como uma doença que se espalha, demora um pouco. Por exemplo, eu prefiro andar de bicicleta a de carro porque é a mudança que eu posso fazer sabe, e as pessoas ao meu redor também. Entrevistado Criativo, 24 anos.

Perguntamos também aos entrevistados em qual nível eles colocariam seu

envolvimento ao pensar em desperdício, consumismo e desrespeito ambiental.

Participativo expõe que não costuma ter excessos de consumo “Eu compro quando

eu preciso e eu sempre compro em brechó, meu blusão oficial do inverno poderia ter

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uns 12 anos”. Sobre preocupação ambiental e demais itens ele admite que possua

mais a preocupação do que realmente age. “Tenho [a preocupação], mas eu faço

menos do que eu gostaria ou eu deveria”.

A maioria dos entrevistados mostrou uma consciência ambiental apurada,

deixando claro que agem nas pequenas coisas, mas acreditam que poderiam estar

agindo mais em favor da preocupação ambiental, desperdício e consumismo.

Eu considero bem importante essa questão do meio ambiente, ali na minha casa, no Brasil, por mais simples que fosse a gente sempre separou o lixo orgânico do reciclável, aqui, me incomoda muito o fato de não separar o lixo, sendo um país de primeiro mundo, nossa eu fico extremamente irritada, eu já tentei explicar, já tentei ajudar, mas não adianta, parece que é algo que está enraizada na cultura deles27. Entrevistado Consciente, 25 anos.

Não desperdiço e não jogo comida fora a não ser que esteja ruim, separo lixo direitinho. Nas pequenas coisas acho também que quanto mais a gente ensina as crianças desde cedo, melhor. Porque eu fui ensinado no colégio, mas é uma coisa diferente do que era hoje, hoje acho que as crianças aprendem mais cedo. Entrevistado Vigilante, 25 anos.

Esse critério fica evidente em algumas coisas, em outras coisas eu gostaria de ser mais criterioso, mas o que realmente existe é eu consumir muito inciativas locais, e propagação e de tentar incentivar porque tem um monte de coisa boa. Entrevistado Esclarecido, 28 anos.

O último e quarto bloco de perguntas foi denominado Jovem Caxiense e

Economia Colaborativa, objetivo maior das perguntas foi entender qual a ideia

desses jovens sobre economia colaborativa e como eles descrevem seu

envolvimento. Abaixo seguem algumas respostas da percepção dos entrevistados

sobre economia colaborativa.

Solidário, por exemplo, entende como economia que implica em ser

sustentável.

Ter hábitos sustentáveis, usar as roupas o máximo possível. Uma coisa me irrita, qualquer coisinha a pessoa já lava, mesmo se estiver limpa, sem manchas, ou não estiver suada já lava. Não é porque eu tenho condições que eu vou desperdiçar. Colaborativo é mais a questão das caronas, eu vi o teu pedido para pesquisa no couchsurfing, tem seu lado social, e é bom para o ambiente. Entrevistado Solidário, 30 anos.

27 Consciente está realizando intercambio e reside atualmente nos EUA.

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Acho que é quando as pessoas colaboram, as pessoas se ajudam, não tem aquela visão da concorrência. Tipo aquele cara ali faz o que eu faço então não vou falar muito com ele porque ele vai achar alguma coisa do meu trabalho e vai querer copiar, vai querer fazer igual. Isso não existe mais né, nós estamos no tempo da internet é CTRL+C e CTRL+V, tu ta aqui trocando uma ideia tu vai somar, tu vai construir. Entrevistado Participativo, 30 anos.

É um termo novo na verdade, algo totalmente novo, mas eu acho que é algo, por ex.: o Airbnb, que é uma coisa que eu já fiquei várias vezes. Quando eu vou viajar eu fico na casa de alguém, pago muito mais barato do que eu pagaria em um hotel, e sem contar que a gente acaba conhecendo pessoas e aproveitando a viagem tanto quanto se a gente tivesse em um hotel. Entrevistado Consciente, 25 anos.

É todo mundo sair ganhando, é tipo, todo mundo se unir em prol de um mesmo problema, ou de uma mesma oportunidade, e todo mundo usufruir disso, e quando eu digo sair ganhando eu não digo questão financeira, eu digo conhecimento, espírito, vivência, experiência. [...] Eu acho que a nossa geração se baseia muito em experiência também, as pessoas querem agregar algo nelas. Entrevistado Criativo, 24 anos. Vejo como duas coisas: uma coisa é ter acesso ao benefício que aquele produto me dá, mas não ao produto em si, eu não preciso ter um carro para usufruir. [...], mas daí não sei dizer se é compartilhado, criativo, colaborativo. Outra coisa: mercado de trabalho. Eu posso entrar em diferentes projetos com pessoas diferentes. Entrevistado Crítico, 24 anos.

Acredito que é quando vem de baixo, sabe, não é a questão industrial que venha de cima e que tu tem poder de escolha, acho que vai muito do pessoal. Entrevistado Informado, 25 anos.

Em relação à economia colaborativa, essa pesquisa vai utilizar dos verbos

“vivencia” e “utiliza” para diferenciar níveis de participação dos jovens junto à

economia, sendo que se parte do pressuposto que estes jovens foram escolhidos

previamente para cessão de entrevista por demonstrarem sinais de interesse com

economia colaborativa, conforme colocado anteriormente. De acordo com o

Dicionário Online de Português28 o termo vivenciar significa: viver determinado

momento de modo que o mesmo tenha significado profundo; sendo sinônimo de

experimentar. No caso do termo utilizar, o dicionário apresenta o significado de:

usar, fazer uso de; dar uma utilidade para; adotar, aplicar, desfrutar, usar, beneficiar,

entre outros.

Conforme as respostas fornecidas, consideramos que sete de doze dos

entrevistados estão vivenciando de alguma forma à economia colaborativa. Esta

conclusão foi tomada baseada nos três pilares mencionados anteriormente. A

28 Disponível em www.dicio.com.br. Acesso em 16. Ago. 2016.

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relação com o trabalho ou outro departamento apresentou que eles estão utilizando

de subutilização de recursos, seja no espaço físico ou material, ou seja, existe troca

de recursos. Ainda, os jovens buscam descentralizar tarefas ou propriedades,

trabalhando com projetos onde não hierarquizam cargos, mas sim dividem o poder

de escolha entre todos, e, logo, geram um relacionamento de confiança. Além

destes, os relatos mostram que eles já recebem alguns dos benefícios do

colaborativismo, ou seja, as suas atividades geram um ou mais destes: são

rentáveis, pois independentemente do projeto gerar lucro para eles, o lucro é muitas

vezes reinvestido no projeto, estão também, criando comunidade, porque realizam

juntos e a moeda para firmar relacionamento não necessariamente é monetária,

ainda, estão preocupados com a qualidade de vida que tiram e do aprendizado que

cada experiência está gerando para eles próprios e para os demais e, por fim,

entendem que essa maneira, torna o processo mais conveniente porque gera menos

investimento para ser feito.

De outra forma os jovens que utilizam desse sistema colaborativo, se

mostram com um perfil mais incentivador, e da mesma forma criam comunidade com

os demais.

Se juntar para fazer acontecer para algo maior. Tem muita gente acreditando, e muita gente se dedicando, só porque confia e sabe que aquilo vai acontecer em algum momento. A gente poderia estar ganhando dinheiro separadamente, mas a gente sabe que se a gente se dedicar agora, vai rolar muito mais. Entrevistado Natural, 26 anos.

Fazemos parte de espaços que já existem, compartilhamos nossa sede com outras iniciativas. Até dentro de casa a gente tenta cuidar o uso da roupa, se não tá usando, repassar, ou empréstimo mesmo, ao invés de comprar eu pergunto se alguém tem e eu acho que esse é o mínimo de cuidado. Entrevistado Coletivo, 27 anos.

Quando eu sai do trampo e comecei a trabalhar com economia colaborativa eu percebi que eu Diogo, era muito mais rico sendo eu Diogo, do que sendo uma ferramenta que preenche planilha em uma empresa [... ] Então eu comecei a perceber eu tenho uma riqueza, eu tenho algo a explorar, então eu acho que economia colaborativa é muito isso, o despertar de cada um [...] O próprio lugar que a gente tá aqui a gente não paga aluguel, troca por serviços. Eu acredito que as pessoas vão caminhar pra isso, as pessoas vão se despertar. Entrevistado Informado, 25 anos.

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A economia colaborativa é primeiro de tudo o reconhecimento que existem intermediários que são meios, que tem funções tão importantes quanto as tuas funções.... Existem pessoas tentando reinventar formas de viver, de relacionar trabalho e vida, e esse é o maior problema da contemporaneidade porque a gente não consegue relacionar trabalho e vida. A gente trabalha pra ficar saindo no final de semana, para se divertir no final de semana, e o trabalho tem que ser uma coisa divertida e não só no mínimo divertida... Tu tá atrelado a coisas que tu não queria se atrelar, enfim... Acho que dentro desse lance de economia colaborativa é importante ter empatia pelos outros e acreditar que existem outras formas de se viver. Entrevistado Essencialista, 30 anos.

Hoje em dia a gente tem um selo, da honeybomb, e é muito horizontal, porque eu tenho uma habilidade muito especifica e o outro tem também, e não existe um chefe, e a gente tá ali por uma causa que a gente acredita que é a música, e a gente forma uma rede. São pessoas que estão ali por algo maior que não é o dinheiro. Entrevistado Crítico, 24 anos.

Perguntamos se os entrevistados já utilizaram de plataformas de economia

colaborativa. Percebeu-se que os que já viajaram para o exterior ou para outros

estados já tiveram algum contato pessoal, ou mesmo através de amigos. Isso

acontece, provavelmente pelo fato de plataformas colaborativas ainda não serem

utilizadas na cidade. Nos outros casos notamos que alguns não sabiam no que

estávamos nos referindo, ou mesmo sabendo, não utilizaram. Todavia, todos, sem

exceção, todos gostariam de utilizar. Abaixo descrevemos alguns dos comentários

sobre a questão.

Fiquei em hotel umas duas vezes na minha vida, o resto tudo couchsurfing e eu uso Airbnb. Foi uma evolução, primeiro comecei a usar hostels, depois couchsurfing e depois em Airbnb. Entrevistado Solidário, 30 anos.

Natural acredita que as plataformas funcionam no Brasil e em Caxias, ele

expressa percebe que amigos compram para incentivar. “As pessoas não compram

o CD só pela música, mas é para ver aquilo continuar acontecendo”. Colaborador já

utilizou de algum tipo de serviço, ela conta que utilizou da plataforma Bllive29 que é

uma rede colaborativa de troca de tempo e que os amigos de outro estado utilizam

também de outras plataformas. “Meus amigos do Rio fazem muito isso, de usar o

Airbnb” exemplifica.

29 Disponível em bllive.com. A lógica é que o usuário disponibilize algo que saiba fazer, como por exemplo, dar aulas de guitarra em troca do tempo de outra pessoa que possa lhe ensinar a fazer algo do seu interesse, promovendo assim a troca, outro fator importante da plataforma é que promove a utilização do tempo ócio em troca de algo novo e que não envolve pagamento em dinheiro em espécie.

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Consciente que já utilizou por diversas vezes a plataforma do Airbnb em

suas viagens diz acreditar no sucesso das plataformas no Brasil e em Caxias do Sul.

“Eu acredito que seja viável e existem pessoas boas que a gente pode confiar, e eu

acredito que as novas gerações a gente tá buscando esse tipo de troca, então

acredito que seja viável sim, com certeza”. Outros três entrevistados destacaram que

já utilizaram da plataforma Catarse30, para incentivar a cultura local, conforme

depoimentos:

Poucas coisas eu usei, Caxias não tem muito disso. O CD do Cuscobayo levantou 25 mil reais, as pessoas estão comprando antes de ter o produto, porque acreditam, é outro engajamento. É uma cultura muito nova até pra nós, pra mim que trabalho na área é algo novo e forte. Entrevistado Informado, 25 anos.

Já utilizei como comprador a Catarse, e eu fiz recentemente um hangout com uma banda, onde aprendi muito sobre. Entrevistado Crítico, 24 anos.

Já utilizei Catarse mais nas iniciativas artísticas e é bem comum da gente falar sobre isso [...]. Eu acho que está crescendo de uma certa maneira esse lance da cultura, e não só cultura, mas o entretenimento e que tipo de entretenimento a gente quer, mas acho que é uma visão meio turva [...]acho que tem muita, muita, muita coisa até poder ter um crescimento expressivo, até por um desconhecimento. Entrevistado Esclarecido, 28 anos.

Conforme percebemos, as informações levantadas nas entrevistas em

profundidade nos inclinam a um perfil característico do residente de Caxias do Sul,

pelo fator empreendedor. Por outro lado, nos mostram que esse jovem está

explorando um mercado econômico cultural que modifica a cena da cidade, que é

conhecida pelo comércio e indústria. De maneira a precisar esse perfil, esses dados,

juntamente com seus critérios de consumo e percepções sociais, serão a seguir

cruzados com as informações dos dados quantitativos.

4.1.2 Questionários online

Segundo Malhotra (2006) a elaboração de uma amostragem inicia quando

especificamos com precisão a população-alvo, seguido pela composição da

amostra, técnicas de amostragem, tamanho da amostra e execução da pesquisa.

Dessa forma, solicitamos a Universidade de Caxias do Sul a quantidade de alunos

30 Disponível em catarse.me. Catarse é uma plataforma de crowdfunding, ou financiamento coletivo brasileira onde você pode apresentar um projeto e também apoiar projetos de outros financeiramente.

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matriculados em seus diversos cursos que estão dentro da faixa de idade atual dos

16 aos 34 anos de idade, pois, conforme definido por Lancaster; Stillman (2011), é a

faixa de idade atual que engloba a geração do milênio. Em retorno nos informaram

que 22.400 alunos compreendem essa faixa etária. Conforme cálculo estimado,

consideramos o tamanho de universo de 22.400 pessoas com a heterogeneidade de

50%, uma margem de erro de 5% e nível de confiança de 95%. A partir dos dados,

nossa amostra apontada mínima necessitaria ser de 378 pessoas, mas alcançamos

a amostra total de 387 respostas. Todos tiveram acesso a pesquisa através de um

em link online que foi enviado para diversos coordenadores de cursos de graduação,

os quais, gentilmente reenviaram aos seus alunos. As perguntas e resultados são

apresentados a seguir:

Figura 8 – Distribuição da idade

Conforme podemos perceber 97,6%31 dos pesquisados se enquadrou no

grupo de foco da pesquisa. Apenas 2,3% ou 9 pessoas não se encaixaram na faixa

etária proposta, estando assim, dentro da margem de erro de 5% dos entrevistados.

Figura 9 – Relação com a cidade

31 A faixa em verde que é omitida do gráfico representa 7,2% (28 pessoas) dos pesquisados.

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Em relação com a cidade a pesquisa se apresenta consistente em seus

dados, pois conforme podemos identificar 96,4% dos pesquisados nasceu e reside

na cidade ou nasceu fora daqui e reside há certo tempo na cidade.

Figura 10 – Grau de escolaridade

Em relação ao grau de escolaridade 89,1% (345 pessoas) encontram-se na

universidade, e outros 6,2% (24 pessoas) possuem superior completo, o que não é

indicativo de que a pessoa não possa estar cursando outro curso.

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Figura 11 – Preocupação ambiental

A pesquisa apresentou que a maioria dos jovens concorda que a causa

ambiental pode ser uma preocupação, 70% concordou parcialmente com o afirmado,

e outros 28,8% discordou parcialmente. Em conclusão, pode-se apontar que há por

parte desse jovem, uma visão mais positiva em relação à afirmação. O jovem

acredita sim, que existe uma preocupação, porém, não é seguro totalmente da

mesma.

Figura 12 – Perfil de compras

Em relação à tecnologia, comprovamos então a preferência dos jovens por

adquirir seus produtos online, através dos 75,7% dos entrevistados32. Ainda,

percebemos que os centros de compra usuais, como shoppings centers e lojas no

centro da cidade contabilizam o maior número de foco de compra desses jovens

entrevistados. Os locais considerados fatia da economia colaborativa como brechós,

troca e aluguel, totalizam 23,3% da preferência, sendo que os negócios locais

32 Importante ressaltar que mais do que uma resposta poderia ser escolhida.

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receberam 82 dos votos ou 21,2% mostrando assim uma possível atenção do jovem

a fomentação da economia local.

Figura 13 – Produtos verdes x valor da compra

Conforme gráfico, podemos perceber que os jovens, em sua maioria, não

estão inclinados ao consumo mais responsável se isso ocasionar um aumento no

preço do produto. Percebemos que isso é relacionado ao momento da compra

sendo, dessa forma, passível de influência de outros fatores.

Figura 14 – Produtos orgânicos x valor da compra

Conforme gráfico podemos perceber que o jovem está à mercê de influência

de demais fatores para definir sobre a compra de seus produtos ecológicos.

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Figura 15 – Conceito de economia colaborativa

Conforme representação do gráfico anterior, percebemos que a economia

colaborativa é um tema ao qual o jovem universitário de Caxias do Sul não tem

afinidade. 44,2% dos entrevistados indicam claramente que não conhecem o

assunto e 48,6% dizem conhecer, em parte, o que não apresenta clareza de

informações. Ainda, 4,9% (19 pessoas) informam que conhecem muito bem sobre o

assunto e 2,3% (9 pessoas) afirmam que se envolvem em atividades com o assunto.

Figura 16 – Envolvimento com a economia colaborativa

A somatória das respostas dos entrevistados novamente aponta que a maior

porcentagem destes, ou seja, 54% não se envolvem ou utilizam a economia

colaborativa. Ainda outros 36,7% nunca utilizaram, mas acreditam conhecer o

assunto e 36 pessoas ou 9,3% da totalidade tem um envolvimento ativo com o

assunto.

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Figura 17 – Plataformas e a economia colaborativa

Os resultados para a pergunta se apresentaram da seguinte forma: 82% dos

entrevistados nunca utilizaram aplicativos, ou plataformas do modelo colaborativo.

18% dizem já ter utilizado. Dos que já utilizaram, segue relação dos mais utilizados:

Quadro 7 – Plataformas e a economia colaborativa

Plataforma / modelo colaborativo Quantidade de usuários

Airbnb 25 pessoas

Plataformas de Crowdfunding (financiamento coletivo)

24 pessoas

Couchsurfing e similares 15 pessoas

Espaços coworking 8 pessoas

Blablacar/ comunidades de grupo de carona e sites similares

8 pessoas

Grupos pelo facebook 4 pessoas

Uber (modelo compartilhado) 3 pessoas

Bliive e similar 2 pessoas

Inválidos33 4 Fonte: Elaborado pela aluna com base nas respostas dos pesquisados das pesquisas quantitativas.

Figura 18 – Aplicabilidade da economia colaborativa

Os resultados do gráfico apontam que a maioria dos pesquisados 59,9% não

avaliaram como alto sua relação com o modelo apontado. 26%,6% apresentam certa

33 Foram considerados inválidos por não terem relação com economia colaborativa.

(conclusão)

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dúvida ao colocar o ponto média da questão e a minoria de 13,5% se identifica e

acredita que aplique de alguma maneira.

Figura 19 – Modelo tradicional x Modelo Colaborativo

O modelo tradicional fica um pouco acima do modelo colaborativo, conforme

se apresenta no gráfico, a preferência atual do jovem universitário segue pelo

modelo tradicional.

Figura 20 – Razões por optar pelo Modelo Colaborativo

Questionamos aqueles que escolheram o modelo colaborativo o porquê se

sentiriam confortáveis com essa opção, podemos apontar por ordem decrescente

que optam devido ao preço (mais acessível) com 77,4%, a questão sustentável fica

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em segundo fator essencial com 55,4%, seguido de um quase empate entre, ser

conveniente com 36,2% e faço novas amizades com 35% dos votos.

Figura 21 – Razões por optar pelo Modelo Tradicional

Da mesma maneira questionamos aqueles que escolheram modelo

tradicional o porquê preferem não optar por uma proposta mais colaborativa. Os

resultados apontam que a maioria destes, ou 66,2% não utilizou porque não teve a

oportunidade de conhecer. 55,2% clicaram no item “me sinto mais seguro com os

serviços” tradicionais, o terceiro item mais votado também a mesma relação 45,3%

não utilizaria devido a segurança.

Figura 22 – Consumidor e a publicidade

43,7% dos entrevistados opinou que acreditam que existe publicidade

focada em interagir com o consumidor colaborativo. Outra parte ainda não soube

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opinar sobre o assunto seguido de 25,3% que não percebem uma mudança nesse

sentido.

Figura 23 – Porcentagem de envolvidos com Economia Colaborativa

Em resposta a esta questão, a maioria dos pesquisados 362 pessoas ou

94% diz não se envolver ou representar um negócio colaborativo, sendo que 1% (4

pessoas) disseram não saber opinar. O restante, 5% das pessoas (19 pessoas)

disseram que se envolvem e 2 pessoas não responderam/ obtiveram resposta

inválida. A seguir apontamos os motivos do envolvimento ou não envolvimento, que

comentaram com resposta adicional.

Figura 24 – Respostas comentadas

A figura representa a informação adicional de que 5% (19 pessoas) dos que

responderam não se envolver ou não representar projeto ou negócio relacionado a

economia colaborativa, não o fazem, de fato, porque desconhecem o tema ou

porque utilizam apenas como usuários de plataformas e outros acessos disponíveis.

Dos que se envolvem 47% (9 pessoas das 19 que responderam se envolver) o

fazem através de coworking, projeto em disciplina de empreendedorismo dentro da

universidade ou projetos próprios.

6%

13%

9% Afirma não se envolver,mas utiliza

Afirma não se envolver,e desconhece

Afirma se envolver

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Figura 25 – Percepção do pesquisado quanto a economia colaborativa

Em resposta a esta questão, a maioria dos pesquisados 288 pessoas ou

74% diz acreditar que a economia colaborativa pode vir a ser a forma mais utilizada

de consumir no futuro. Já 18% (68 pessoas) discorda e não acredita que a economia

colaborativa será o futuro do consumo. Ainda, 5% (21 pessoas) avaliou que não

poderia opinar, pois desconhece o assunto ou não saberia. Outros 2% (6 pessoas)

acreditam que talvez, que possa a vir a ser e 1% (4 pessoas) tiveram respostas

inválidas.

4.2 RESULTADOS: O CENÁRIO ENCONTRADO

De forma a elucidar melhor os resultados posteriormente, destacaremos a

seguir as atitudes encontradas de maior destaque em relação à economia

colaborativa. Essas informações foram percebidas através do cruzamento das

entrevistas em profundidade e pesquisas quantitativas, conforme seguem:

Quadro 8: Principais atitudes relacionadas à economia colaborativa

Principais atitudes relacionadas à economia colaborativa

Notas

Preocupação ambiental

Sendo a onda verde a tendência de fundo que deu base à economia colaborativa, uma atitude positiva frente a preocupação ambiental se torna relevante.

Pensar no coletivo

Somos seres dependentes de nossas relações interpessoais, para que ocorra nosso desenvolvimento pessoal e em sociedade (SILVA, 2014). O pensamento coletivo é base de sustento para à economia colaborativa.

Confiança em estranhos

O desenvolver de uma relação de confiança com estranhos é base para se desenvolver negócios que não dependem de moeda monetária.

Menor preocupação com a propriedade

Não se preocupar tanto com o ter, utilizando-se do tempo ocioso de objetos

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(conclusão)

e evitando a compra desnecessária.

Novas formas de consumo Fomentação da economia local, utilizar-se de trocas, empréstimos e outros.

Diminuição do consumismo Valorização do SER frente ao TER, comprar quando necessário.

Preocupação com o consumir melhor

Consumir menos e com melhor qualidade, preocupando-se com a responsabilidade dos seus atos como consumidor.

Fonte: Elaborado pela aluna com base no cruzamento de informações das entrevistas e questionários aplicados.

Os resultados aplicados na pesquisa podem ser analisados de formas

diferentes devido à escolha os critérios apresentados. Iniciaremos abordando uma

visão geral do público do estudo qualitativo, onde se obteve o critério de seleção de

jovens já envolvidos com economia colaborativa. O perfil traçado para esse jovem

Caxiense se apresentou muito característico da sua geração, Y e vários de seus

motivadores nos fazem entender o porquê de seu envolvimento com este modelo

econômico. A pesquisa nos proporcionou perceber que ele possui grandes

expectativas sobre o futuro e uma forte necessidade de dinamismo nas tarefas

diárias. Ao mesmo tempo, ressalta a importância que ele transfere para transmitir

seus valores pessoais e defender os mesmos, sempre que possível. Vários dos

entrevistados são jovens que largaram seus empregos para iniciar um negócio

próprio, que não, necessariamente, seguiu um modelo de negócios padrão, mas que

foi se criando através de autodidatismo e tecnologia. Logo, fica claro no jovem

entrevistado, a presença de um perfil altamente empreendedor, onde não parece

existir uma barreira entre trabalho e vida pessoal, porém se mostra relevante que os

dois fatores sejam trabalhados de maneira prazerosa e coerente de acordo com

seus valores. Os mesmos parecem não percebem mais sentido em trabalhar sem

gostar do que fazem, ou para em busca de algo que não acreditam. Aliás, mostrou-

se fundamental para o jovem promover algo que faça sentido em busca de uma

melhoria para o bem-comum do coletivo.

O jovem que vivência a economia colaborativa também apresentou um

grande elo colaborativo, no sentido de interagir, de querer ajudar, de ser

transformador do meio através de suas atitudes.

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O que eu gosto mesmo de fazer é ajudar pessoas, [...] eu acho que profissionalmente eu acabo me dando bem se todo mundo ao meu redor se der bem. Entrevistado Criativo, 24 anos. O meu trabalho, não tava fazendo nada, meio que vazio, eu acordava, trabalhava, chegava em casa, dormia, acordava e trabalhava e ai, eu falei, ok eu não quero fazer isso, eu não quero que seja vazio, só que dai eu comecei a ver que as vezes na comédia também era tão vazio quanto, faltava alguma coisa ali, que sei lá, não ia diferenciar de um trabalho normal, e dai eu comecei a entrar nessa nóia de que tudo que eu fizesse ia tentar o máximo de passar alguma coisa, sempre, alguma mensagem, nem que seja uma coisa pequena, uma coisa boba, sei lá uma coisa que eu acredito que eu acho que as pessoas precisam saber. Entrevistado Natural, 26 anos.

Outro cerne motivador de economia colaborativa se mostrou na ligação com

a cena cultural e de entretenimento da cidade. Muitos deles apostam nessa cena

como fonte trabalho, e dizem que sentem falta de incentivos para seja reconhecida

como fonte de possível renda, assim como se reconhece Caxias do Sul como cidade

da indústria e do comércio.

Ainda, no caso do jovem Caxiense, a mudança climática ambiental não se

apresentou como determinador para repensar o uso dos recursos ambientais ou

para uso da economia colaborativa. Nas pesquisas qualitativas o jovem mostrou

uma preocupação maior do que efetivamente uma mudança de atitude, eles

admitem fazer o que está ao alcance deles e também procuram promover ações

cotidianas como, não lavar a roupa sem maior necessidade, para poluir menos, usar

menos o carro e mais bicicleta e transporte coletivo. Ainda, não mostram

identificação com grandes marcas e compram roupas em brechó, de segunda mão,

e somente quando realmente precisam.

Esse momento específico da minha vida estou vendo as coisas diferentes. Esse tênis eu comprei no brechó semana passada paguei R$20 reais e para mim tá show de bola. Não precisa ir muito longe, a um ano e meio atrás eu gastaria R$200, R$ 300 reais, sabe. Entrevistado Natural, 26 anos.

Os entrevistados ainda demonstraram muito interesse em apoiar iniciativas

de produção local. A maioria deles, diz apoiar iniciativas locais como forma de

fomentar a cultura, ou ainda, dão preferência de comprar diretamente do vendedor,

sem intermediários, o que, conforme vimos, é uma ação peculiar do prosumidor que

foi aprendida através do acesso à tecnologia. Conforme Toffler (2005) eliminamos os

intermediários para ser agente consumidor, produtor e reprodutor de informação.

Ainda, conforme Canclini (2006) é no sentido social que se notam as primeiras

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mudanças de atitude. E o que pudemos testemunhar nesses jovens é uma mudança

de valores sociais. Ao que se refere a consumo colaborativo, conforme apontado

anteriormente, consideramos que sete de doze dos entrevistados estão vivenciando

de alguma forma à economia colaborativa, sendo que os demais a utilizam. Dessa

maneira, eles apresentam várias das principais atitudes citadas anteriormente. Como

por exemplo, a de desenvolver uma relação de confiança com estranhos. Consciente

descreveu sua primeira experiência com o website Airbnb:

Quando você se inscreve eles confirmam suas informações, e cada pessoa tem as revisões sobre a pessoa, os comentários, então foi isso que eu tentei fazer, a primeira vez que eu reservei o apto lá eu vi quantos comentários tinha e quantas estrelas a pessoa tinha recebido. No dia de ir para o apartamento o proprietário veio me receber, me deu a chave, explicou certinho como funcionava tudo. Me senti super em casa e ele era de outro país também, então além de ser uma troca de cultura, eu me senti muito bem na casa e foi quando virei adepta ao Airbnb. Entrevistado Consciente, 25 anos.

Logo, ao mesmo tempo em que percebemos um cidadão jovem Caxiense

que é orientado para o modelo compartilhado, mas que não altera seu desejo de

consumir, porém modifica a forma de consumo, sem muitas vezes colocar uma

moeda monetária para efetuar transações ou sendo guiado pela necessidade de

possuir. Esse jovem empreendedor, vem estreitando suas relações com base na

confiança, fomentando a cultura e comércio local e mostrando sua preocupado com

seu papel social e coletivo.

Por outro lado, temos a análise de um grupo de entrevistados que não,

necessariamente, saberiam opinar sobre economia colaborativa, mas que foram

convidados a responder o questionário justamente para que pudéssemos pensar o

perfil do jovem universitário e suas atitudes. Começamos a desenhar um jovem

universitário na faixa etária majoritária dos 16 aos 30 anos que reside em Caxias do

Sul. Esse jovem apresenta uma visão mais positiva em relação a uma preocupação

ambiental, porém, não é seguro totalmente da mesma. Em relação à tecnologia o

jovem universitário caxiense diferentemente do entrevistado quantitativo tem

preferência por adquirir seus produtos online, 75,7% dos entrevistados optaram por

compra online, seguidos de 62,5% que preferem centros de compra tradicionais.

Apenas 23,3% dão preferência a brechós, troca e aluguel. No caso dos dados

quantitativos, cinco dos doze entrevistados compram suas roupas através de

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brechós ou roupas de segunda mão, apontando um pensamento consciente mais

onipresente do que o dos jovens universitários em geral.

Quanto ao perfil dos pesquisados frente a suas atitudes relacionadas ao

modelo colaborativo, 44,2% destes indicam claramente que não conhecem o

assunto, somando-se a 48,6% que dizem conhecer, em parte. Os resultados

apontam que 92,8% dos entrevistados não possuem clareza de informações quanto

ao tema. Ainda, 90,7% dos entrevistados não conhecem e nunca utilizaram do

modelo (54% não se envolvem ou utilizam a economia colaborativa e 36,7% nunca

utilizaram).

Tendo esse resultado como base, ressaltamos o primeiro componente que,

conforme Karsaklian (2004), estrutura uma atitude: o cognitivo. E é esse

componente que aqui apontamos como maior fator impedidor para que ocorra uma

atitude positiva frente a economia colaborativa referente ao pesquisado quantitativo.

O conhecimento do pesquisado se mostrou baixo em relação ao assunto, conforme

resultados apontados. Questionados ainda porque não escolheriam o modelo

colaborativo, 66,2% confirma que não utilizou porque não teve a oportunidade de

conhecer. 55,2% clicaram no item “me sinto mais seguro com os serviços”

tradicionais, o terceiro item mais votado também a mesma relação 45,3% não

utilizaria devido a segurança. Ainda, quanto as principais atitudes relacionadas ao

modelo o jovem não se apresentou muito positivo.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade apresenta mudanças de tempos em tempos, quando uma

mudança acontece não existe retrocesso, logo tudo que aprendemos é armazenado

e passado para gerações posteriores. Nesse estudo abordamos a temática de

tendências de consumo com um viés que se fez observador do passado para a

análise de uma tendência.

Para abordar a temática de maneira mais assertiva, aplicamos o estudo em

campo para que pudéssemos perceber se essas mudanças que vemos acontecer no

mundo acontecem na cidade que residimos. Para tanto esse estudo propôs

responder a seguinte pergunta: Quais são as principais mudanças nas atitudes de

consumo do jovem Caxiense que estão relacionadas à economia colaborativa e que

vem rompendo com o paradigma do consumismo?

Como pudemos perceber as mudanças aconteceram em velocidades

diferentes. Se antes consumíamos por necessidades primárias, na onda seguinte

passamos a consumir como forma de nos representar socialmente e, dessa forma,

nos distinguirmos. Com o advento da sociedade industrial o consumo passou a ser

base para estreitamos relações baseados no ter, e acabamos nos tornamos objetos

de nosso próprio consumo. A Terceira Onda, no entanto, promoveu uma mudança

de cultura grandiosa assim como as demais, porém de uma forma diferente.

Anteriormente a ela passamos um longo período aprendendo a massificar: o

consumo, as mídias, a propaganda. O poder de decisão, antes nas mãos da mídia e

de grandes instituições passou, em uma velocidade nunca vista antes, para as mãos

do consumidor, ou prosumidor, conforme abordamos. Trocamos informações de

forma individual e de muitos para muitos, em segundos, e com ela vimos se

aproximando uma mudança de valores.

Conforme abordamos no capítulo três, o estudo do comportamento humano

passou a ter foco também no comportamento de consumo, logo entender porque

consumíamos e de que forma estaríamos mais suscetíveis a aceitar novos produtos

e marcas passou a objeto de estudo dos profissionais das ciências humanas, que

tiveram de acompanhar os valores e mudanças de paradigmas que acompanhavam

e afetavam diferentes segmentos do mercado. A mudança de mercado que iniciou

com sinais fracos na década de 1970 indicou o que se tornaria uma tendência de

fundo: a onda verde. E com ela movimentos ambientais que trouxeram à tona o

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assunto sustentabilidade e o início da formação de um consumidor-cidadão. Entre

essas tendências o lowsumerism, faz parte de uma tendência que vai de contramão

ao consumismo e que é sustentada pela macrotendência de desenvolvimento

sustentável que criou força na onda verde. E foi através desses novos fatores, que

novas alternativas de consumo se formaram, e destacamos a economia colaborativa

que foi evidenciada nesse trabalho.

A economia colaborativa, assim como demais processos da sociedade da

informação, foi impulsionada pela tecnologia e seus alicerces como as redes sociais.

Ela se desenvolve através de pontos fundamentais citados aqui: massa crítica,

tempo ocioso, crença no bem comum e confiança entre desconhecidos, mas

necessariamente só pode ser desenvolvida como economia, através das

plataformas, redes e interações digitais.

Conforme abordamos existem uma série de atitudes relacionadas à

economia colaborativa que tem base na nossa relação enquanto indivíduos, uns

com os outros, e na nossa relação com o meio ambiente. No cenário Caxiense, o

estudo mostrou que muitas entre as principais mudanças de atitudes no consumo

relacionadas à economia colaborativa vêm sendo efetivamente encontradas por

aqueles que já demostraram um engajamento com a economia colaborativa. Os

jovens entrevistados em profundidade apontam um perfil fomentador de economia

colaborativa. Os critérios de consumo do mesmo jovem também apresentam um

envolvimento maior com questões relacionadas ao modelo colaborativo, sendo que

eles percebem a necessidade de adquirir menos, e demostraram preferência por

modos de consumo colaborativos. Ao contrário, o jovem universitário pesquisado

não demostra uma preocupação tão clara com esses critérios. Ainda, ambos

modelos de pesquisa, demostraram que esse jovem tem um nível envolvimento com

questões ambientais e de sustentabilidade muito superficial quanto ao aplicar

mudanças na sociedade. Os entrevistados em profundidade demostraram um saber,

muito maior que um agir para a sustentabilidade social, mas se preocupam em

realizar ações dentro de suas possibilidades.

Percebemos que, dentro das atitudes relacionadas à economia colaborativa

é necessário que o consumidor tenha uma pré-disposição por optar por essa forma

de consumo. Os jovens que já possuem um envolvimento se sentem seguros a

utilizar desse modelo econômico e demostram atitudes positivas frente a essa, por

outro lado o jovem que não conhece tem receio. Fica claro que a falta de

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conhecimento fortalece a insegurança, ao mesmo tempo que a questão cultural em

relação a cidade também fica muito aparente. Uma mudança social, no caso de

jovens que possivelmente percebem somente o modelo econômico atual como

possível, dificulta o processo de aceitação visto que, conforme citado, o próprio

jovem, vê o Caxiense como fechado a novas possibilidades.

Concluímos que existem, portanto, atitudes que foram observadas e estão

criando uma quebra no paradigma do consumismo, porém, de maneira geral, essas

atitudes somente foram observadas de maneira efetiva na parcela de jovens que

utiliza, vivencia ou se envolve com o modelo colaborativo de alguma maneira, seja

no trabalho, ou como usuário, por exemplo.

Para que tenhamos mais pessoas engajadas e demonstrando uma atitude

positiva frente ao consumo colaborativo, é necessário que o assunto ganhe maior

visibilidade na região e passe a ser difundido cada vez, para que consequentemente

atinja um maior número de pessoas. Salientamos, portanto, a importância de o tema

ser abordado na comunidade Caxiense, e discutido em ambiente universitário, pois

como modelo econômico aceito, pode abranger o interesse de diversas áreas de

estudo. A publicidade por sua vez precisa trabalhar a valorização das relações e

interações humanas para conseguir dialogar com esse novo consumidor.

Sensibilidade aparece como palavra de ordem, e o desafio da comunicação está em

entender o perfil de consumo desse novo consumidor e adaptar um novo mercado

onde o consumo não, necessariamente, envolve posse.

Em termos gerais, ressaltamos ainda que como característica de estudo de

viés exploratório, essa temática poderia contar com novas possibilidades e

diferentes abordagens não encerrando suas possibilidades nesse estudo.

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ANEXO A

QUESTIONÁRIO 1 – ENTREVISTAS EM PROFUNDIDADE

Nome do entrevistado: _________________________________________________ Data: _______________________________________________________________ Idade: ______________________________________________________________ Natural de: __________________________________________________________ Reside em: __________________________________________________________

Jovem Caxiense e Trabalho: O que você costuma fazer no seu tempo livre?

Onde e com o que você trabalha?

Quais seriam os pontos positivos e negativos da sua atual atividade?

Além do seu trabalho você se envolve com outras atividades, de caráter não-

remunerado (ex.: trabalho voluntário...)

Jovem Caxiense e Sociedade:

Qual o papel de cada um: cidadão e governo, na sociedade?

Quais são as ações que você promove?

Aborde pontos positivos e negativos do cidadão brasileiro e do caxiense:

Jovem Caxiense e Consumo em geral:

Suas roupas/ seus objetivos representam você. Tendo como base essa

afirmação, quais são seus ao escolher uma marca ou produto?

A partir dos critérios que você apontou na questão anterior, considera que

influencia as pessoas do seu convívio com a sua postura?

Ao pensar em desperdício, consumismo e desrespeito ambiental, qual seria o

seu nível de envolvimento com essas questões?

Jovem Caxiense e Economia Colaborativa: O que você entende por economia colaborativa?

Você acredita que utiliza a economia colaborativa? (Em caso de resposta

afirmativa, explique de que forma)

E sobre tecnologia e consumo colaborativo: você já utilizou de plataformas

colaborativas? Você considera que plataformas de compartilhamento

funcionam, especialmente no Brasil? E no caso de Caxias do Sul?

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ANEXO B

Jovem e Consumo Colaborativo em Caxias do Sul

Essa pesquisa tem o intuito de estudar o jovem e sua relação com o consumo colaborativo na cidade de Caxias do Sul. Suas respostas servirão, em somatória as respostas dos demais, para o desenvolvimento do meu Trabalho de Conclusão de Curso. Em caso de dúvidas, você pode me contatar através do [email protected]. OBRIGADA pela sua participação, ela é MUITO importante. 1.

2.

3.

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4.

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8.

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Obrigada pela sua participação.