universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo lato …empreendendo a sua jornada pessoal, não se...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O ARQUÉTIPO DA SABEDORIA, A ARTETERAPIA E A
INSTITUIÇÃO ESCOLA.
Caminhos para a Individuação, Transformação e Cura.
Por: Sonia Maria D’Araujo Gonçalves
Orientador
Prof.ª Mary Sue Pereira
Rio de Janeiro
2009
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O ARQUÉTIPO DA SABEDORIA, A ARTETERAPIA E A
INSTITUIÇÃO ESCOLA.
Caminhos para a Individuação, Transformação e Cura.
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Candido Mendes como
requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Arteterapia em Educação e Saúde.
Por: Sonia Maria D’Araujo Gonçalves
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AGRADECIMENTOS
Ao amigo Fernando, símbolo de
admiração e que transformou singelas
plantinhas em árvores fortes, com
frutos doces, que se inclinam , dançam
e brincam com o vento; as eternas
amigas: Mariza, Sandra e Dulce, pelas
palavras de incentivo permanente; a
supervisora: Mary Sue pela paciência e
dedicação, fazendo brotar pouco a
pouco as idéias que estavam
escondidas; a Eveline Carraro, que
num período de dúvida iluminou o meu
pensamento; aos professores, pela
gentileza de dividir sua sabedoria; aos
colegas de classe, pela companhia
alegre, compartilhando momentos
únicos; a Maria, pela sua amizade e
apoio; aos meus cães Luid e Luan e a
calopsita Margarida, pela presença
constante, alegrando os meus dias e
entretendo o meu trabalho.
4
DEDICATÓRIA
Dedica- se a minha mãe Rosa Araujo,
sempre viva em meu coração e fonte de
eterna inspiração, pela sua alegria,
tenacidade e carinho permanentes,
iluminando com afinco sua energia
poderosa de amor incondicional até hoje
sobre minha vida...
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RESUMO
O novo homem cidadão, mais consciente e pensante, orientado através
de uma educação, familiar e institucionalizada diferenciadas, utilizando os
pressupostos da psicologia analítica e dos recursos da arteterapia, com uma
maneira nova e diferente de se inserir na sociedade, que faz questionamentos,
ousa com ética, com responsabilidade e criatividade, terá ferramentas e
condições internas, para primeiro transformar- se a si mesmo, e
posteriormente, poderá impulsionar as transformações urgentes que a
sociedade contemporânea há tanto reclama?
Acredita- se que essa questão é viável de tornar- se gradativamente em
realidade, na medida em que haja as transformações urgentes no âmbito
escolar, sendo recriada uma nova estrutura de ensino, concomitantemente,
com a contribuição da psicologia Junguiana e seus pressupostos e juntamente
com o uso das técnicas expressivas, que são ferramentas importantes nesse
processo. E permeando todo esse caminho há a ativação do arquétipo da
sabedoria, que quando aflorado, permite a fluidez e a quietude no coração dos
homens, e a conscientização das várias etapas que o ser humano atravessa
para chegar a um self estruturado (processo de individuação), que possibilita
uma profunda transformação interior e, simultaneamente, promove
modificações no seu grupo familiar, na sociedade e por fim no planeta.
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METODOLOGIA
O processo de produção do trabalho foi desenvolvido através da leitura
de livros, cujas referências bibliográficas encontram- se nas páginas: 70, 71 e
72.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I -- A Abordagem Junguiana 13
CAPÍTULO II -- O Arquétipo da Sabedoria 25
CAPÍTULO III -- Arteterapia 34
CAPÍTULO IV – A Instituição Escola 45
CAPÍTULO V – Vida, Questões e Pensamentos 59
CONCLUSÃO 67
BIBLIOGRAFIA 71
ÍNDICE 75
FOLHA DE AVALIAÇÃO 77
8
INTRODUÇÃO
Atualmente as pessoas começam a ter notícias desagradáveis a partir
do momento que acordam, através dos meios de comunicação. Mudanças
urgentes se fazem necessárias no indivíduo, na sociedade e no planeta. O
olhar Junguiano pode servir como meio para efetuar essas transformações,
que só poderão desabrochar e terem êxito numa sociedade formada por
homens cada vez mais conscientes, criativos e livres, que consigam
empreender um diálogo com o inconsciente e este flua junto com o ego, como
um grande rio que deságue as suas águas no reconhecimento dos objetivos
principais da vida, acordando a intuição e gradativamente o núcleo
desconhecido e profundo do self.
O homem que consegue acender o seu “fósforo” pessoal (arquétipo do
Velho Sábio) consegue iluminar o seu caminho e auxilia no caminhar dos
demais... Empreendendo a sua jornada pessoal, não se deixa manipular com o
comportamento de “galinhas”, se identifica também com o seu lado “águia”,
abre suas grandes asas (Imaginação Ativa) num vôo alto (conhece o centro
inconsciente do si mesmo), para o solene cume da montanha (Individuação),
além do céu azul (mundo interior e exterior fluindo juntos na mesma direção).
A constelação do arquétipo do Velho Sábio combinada com o constante
acesso ao conhecimento permite, às vezes, comandar os acontecimentos
sincrônicos dos homens e do planeta.
A Mulher Subterrânea Guardiã (arquétipo feminino sábio) liga
profundamente e com propriedade a vida e a energia da árvore e da mulher,
liberando uma grande força vital feminina oriunda da Mãe Terra, que
transborda, liberta, fortalece e expande os sentidos, num processo tão
profundo, que se evidencia somente na beleza das expressões artísticas,
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incluindo as atividades expressivas com Arteterapia, porque as palavras não
dispõem de elementos para expressar.
A sabedoria permite a descoberta que o ego e o Self não são a mesma
coisa, há a tendência à quietude do ego e o aprimoramento do Self e favorece
que o indivíduo fique em contato mais profundo com a própria psique e com a
psique das outras pessoas. Ela também possibilita a percepção da
multiplicidade de personagens internos (arquétipos).
Conforme os homens percebem mais claramente e ficam
gradativamente conscientes da sua condição de criaturas uni dimensionadas,
formando combinações ricas de uma grande variedade de arquétipos que
fazem parte do inconsciente e, que passeiam e transbordam dentro dele,
podem assumir, às vezes, o controle dos seus pensamentos e das suas
emoções; e mais podem aprender a identificar esses grandes temas
arquetípicos, aceitando- os como características humanas e começam a viver
com essas imagens de uma maneira positiva, tendo a possibilidade de unificá-
los e dialogar com essas personalidades distintas que dividem o mesmo e
único corpo e partilham a mesma psique. A percepção do self (si mesmo)
permite estar conectado com as suas próprias profundezas e ir alcançando
progressivamente o processo de Individuação.
A Imaginação Ativa tem um papel fundamental junto com os sonhos e
com a Arteterapia nesse diálogo interno.
A vida das pessoas é uma história acabada e embalada por uma força
superior, sem nenhuma participação do homem? Ou ela é elaborada
conscientemente no dia a dia? Como será a escrita desse roteiro?
O homem consciente, criativo e livre, que se insere na realidade de uma
maneira nova, poderá impulsionar o inconsciente e efetuar as mudanças
imprescindíveis nele próprio e na sociedade atual?
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O que significa a denominação Criança Índigo? E Cristal? Qual a sua
participação no processo de mudança nos valores da sociedade, da escola e
da família?
Acredita- se que essas e outras questões de vida são tão fundamentais
que deveriam ter um olhar mais inteligente e sensível por parte das instituições
governamentais e, principalmente educacionais, e essas conceituações
psicológicas e filosóficas deveriam fazer parte integrante da grade do ensino
fundamental, e principalmente do secundário, num contexto didático favorável
e com planejamento técnico adequado às faixas etárias.
A abordagem Junguiana (analítica) constitui- se num instrumento
importante para o pensar de muitas questões atuais e junto com a Arteterapia
poderão constituir- se de ferramentas, força de poder curativo e transformador
nos acontecimentos contemporâneos, como a corrupção, as doenças mentais,
os problemas sociais e educacionais, a falta de qualidades morais, entre
outros, podendo ser responsável pela construção de uma nova história pessoal
e reconstruindo a realidade.
É igualmente importante que a Instituição escola se reinvente,
assumindo conteúdos e conceitos mais modernos, adequados a um novo
contexto de vida, e principalmente abandone velhos e inoperantes
planejamentos e ideologias, que permanecem os mesmos há séculos.
Disponibilizando aos educando os conteúdos do programa indispensáveis, mas
também oferecendo e elaborando um espaço de reflexão, com temas e
debates, que viabilizem oportunidades ao educando para aprender a pensar e
a refletir sobre os conceitos programáticos, de forma a poder utilizá- los na sua
vida, objetivando também a reflexão de assuntos importantes que permeiam a
sua vida interior, concomitante com atividades práticas que favoreçam um
maior autoconhecimento desses alunos, do seu grupo familiar e da sociedade.
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Acredita- se que ao focar esses conceitos na criança e no adolescente,
ajudará a criar indivíduos mais conscientes dos processos de sua vida interior,
possibilitando um maior autoconhecimento e, portanto, uma maior liberdade de
propósitos, escolhas e decisões, formando indivíduos mais felizes e
preparados para as experiências cotidianas. Essas pessoas conseguem
também alterar e melhorar o mundo à sua volta, tendo a possibilidade de
transformar nesse fluxo, a sociedade contemporânea, principalmente em seus
valores éticos, sociais, morais, políticos, religiosos e econômicos.
O mundo externo, com a recente disponibilidade de recursos ligados à
informática fornece um mundo conectado rapidamente com todos os lugares
do planeta e com todas as pessoas simultaneamente, sem qualquer esforço.
Mas a grande aventura ainda se constitui na conexão interna. Conseguir se
interiorizar e se conectar consigo próprio ainda consiste num processo de
aventura, de criatividade, de fé e de coragem que nenhum procedimento
tecnológico criado pelo homem consegue substituir esse profundo diálogo com
sua essência e a percepção da caminhada.
A importante renovação imprescindível na instituição escola deve fluir
com essas mudanças internas e externas disponibilizadas, concomitantemente
com um novo olhar dos profissionais ligados ao ensino e à saúde, que devem
estar comungados principalmente com o arquétipo do Velho Sábio.
Será que a instituição escola poderá futuramente ser objeto de total
transformação? Construindo um educar mais consciente, considerando os
avanços e esclarecimentos da neurobiologia, percebendo as verdadeiras
necessidades da vida contemporânea e das profundas demandas do
educando, incorporando e ativando, inclusive, o arquétipo do velho sábio com
a possibilidade de representar um espaço livre e criativo para desenvolver o
conhecimento de qualidade e a auto- reflexão, objetivando a formação de
alunos mais felizes e auto- suficientes, disponibilizando qualidade de ensino
para todas as classes sociais. Será isso ainda possível?
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Qual será o papel da psicologia, e especificamente, da psicologia
analítica, no processo de transformação e adaptação do planeta e das
sociedades que nele vivem? Face às várias crises que assolam a política, a
economia e as estruturas sociais, que apontam para a necessidade urgente de
se construir um futuro voltado para o desabrochar de valores como a
solidariedade e a justiça social, formando indivíduos éticos e com
comprometimento com o modelo representativo.
E, portanto, será que esse novo homem cidadão, mais consciente e
pensante, fruto de uma orientação e educação, familiar e institucionalizada,
diferenciada, que se insere na realidade de uma maneira nova, isto é, que
questiona, ousa com ética e com responsabilidade, e que primeiro transforma-
se a si mesmo, poderá impulsionar as transformações urgentes na sociedade
contemporânea?
O objetivo do trabalho é promover uma reflexão através da psicologia
analítica e, especialmente da arteterapia sobre o potencial de transformação e
cura individual e coletiva, traçando um paralelo sobre a importância da
modificação da estrutura escolar e descrevendo a essência do arquétipo da
sabedoria como elemento para a ampliação da consciência, contribuindo para
impulsionar as mudanças necessárias e promover ideais em ações.
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CAPÍTULO I
A ABORDAGEM JUNGUIANA
A obra de Jung é conhecida há muitas décadas, embora muitos de seus
conceitos e teorias não tenham repercutido de maneira significativa no
contexto geral da época, ficando restritas aos círculos de seguidores. Ele
estava muito além do seu tempo e suas idéias tiveram que aguardar o
amadurecimento e o entendimento da sociedade, principalmente a
contemporânea, para se destacarem e serem compreendidas.
Quase não existe praticamente nenhum campo do conhecimento
humano que não tenha sido tema de pesquisa sua, conseguindo reunir e
revelar a profundeza da alma (psique) humana. Também pesquisou temas
religiosos e místicos para ratificar suas teorias sobre o inconsciente coletivo.
Fato importante também constitui- se na publicação da sua autobiografia.
Nesse último livro publicado somente depois de sua morte e escrito em parte
por Jung e compilado o restante por Anita Jaffé, através de reuniões com ele,
corresponde a um ato final de pura coragem e fé, num depoimento impactante.
Sua obra remete ao poema de Fernando Pessoa que se destaca:
Todo estado de alma é uma paisagem. Isto é, todo o estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma paisagem. Há em nós um espaço interior onde a matéria de nossa vida física se agita. [...]. Se eu disser: Há sol nos meus pensamentos ninguém compreenderá que os meus pensamentos são tristes. (PESSOA, Cancioneiro - Nota Preliminar).
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A obra de Jung nunca esteve tão inter-relacionada com o pensar atual,
face inclusive ao progresso e descobertas da física quântica. Seus conceitos
ainda atuais e sua ousada e globalizante psicologia, centrada e aperfeiçoada
basicamente nas suas próprias vivências, pesquisas e descobertas, possibilita
o conhecimento das relações internas do individuo, incluindo o
desenvolvimento à individuação. Sua trajetória aponta a presença de um
homem admirável, que construiu sua vida e sua moradia, na medida em que
foi elaborando e construindo, também, um dinâmico caminho para a sua
psicologia, identificada não mais apenas com a libido, mas ampliando esse
conceito para energia psíquica, onde pode conjugar suas descobertas com a
física, ampliando o seu enfoque para além do homem, contextualizando os
conceitos de religiosidade, criatividade, nutrição, liberdade e arte, entre outros.
Pode- se ter inúmeras conceituações sobre a Psicologia analítica,
entretanto Nise (2007) elaborou uma excelente, quando sintetiza que: “A obra
de Jung é comparável a um organismo vivo que cresce se desenvolve e se
transforma simultaneamente com o seu autor” (p.20).
1.1 – A Psicologia Analítica
Na década de sessenta foi caracterizada por ser uma época de
interesse mais amplo pela consciência humana e pela exploração do interior,
incluindo as experiências inapropriadas do uso de drogas. As pessoas
começaram a perceber que essas experiências traziam imagens e símbolos
desconhecidos para o consciente do indivíduo.
Ficou, nessa oportunidade, evidenciada a necessidade de um novo
modelo de psique, que abrangesse novos elementos. A vinda do material
inconsciente à superfície é curativa e transformadora, quando acontece dentro
do setting terapêutico, em circunstâncias e profissional corretos.
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C. G. Jung (2007) introduziu o importante conceito de inconsciente
coletivo através da observação de seus próprios sonhos e adicionando- se os
sonhos, as fantasias, e alucinações de seus clientes, ele percebeu que a
psique humana tem acesso a imagens e símbolos que são comuns a todos os
homens. O inconsciente coletivo é uma parte da psique e é diferente do
inconsciente pessoal. Enquanto o inconsciente pessoal é formado de
conteúdos que já foram da consciência e saíram dela porque foram reprimidos
ou esquecidos; os conteúdos do inconsciente coletivo nunca fizeram parte da
consciência porque foram adquiridos através da hereditariedade. Jung
descobriu a importância da mitologia, dos contos de fadas, da arte e da religião
como fontes de informação sobre o inconsciente coletivo.
Jung (op. Cit.) descobriu e denominou outro importante conceito que
são os arquétipos, que podem aparecer nos sonhos e nos trabalhos artísticos
de indivíduos cuja vida ou a educação nunca haviam conhecido determinadas
expressões culturais, fruto de disposições inatas e carregadas de emoções.
O aspecto inconsciente de um acontecimento é revelado por meio de
sonhos, da Imaginação Ativa ou através de técnicas expressivas, de uma
maneira não racional, mas, se revela através de uma imagem que é simbólica.
Quando se acredita na existência de uma psique inconsciente, admite- se a
existência de duas personalidades dentro do mesmo indivíduo. Certas tribos
acreditam que o homem tem várias almas e algumas culturas aceitam que o
ser humano é constituído de várias unidades interligadas e isso ratifica que a
psique não é unificada. Em determinadas situações pode o indivíduo ser
facilmente dominado por seus humores e, às vezes, observa- se que o controle
de si mesmo é uma virtude muito difícil e rara.
Além de perceber e identificar a presença de imagens internas, o
indivíduo deve compreender a linguagem sensorial, e conseguir abstrair as
emoções e os pensamentos negativos, agindo com sabedoria para criar e
permanecer em harmonia interna e, principalmente, tendo consciência que
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apenas a própria pessoa é responsável pelo desequilíbrio de sua psique.
Portanto, o estado de paz interior do indivíduo não pode ser responsabilidade
de outra pessoa, porque ninguém, absolutamente ninguém tem esse poder. E,
portanto, quando o indivíduo consegue ficar nesse estágio de felicidade e
sabedoria interna, ele transmite essa harmonia ao seu grupo social e ela se
expande para todo o planeta.
1.2 – Os Complexos, os Arquétipos e os Símbolos
Todos os fenômenos psíquicos são de natureza energética. Os complexos são nós de energia [...] os arquétipos são núcleos de energia, em estado virtual e os símbolos são máquinas transformadoras de energia (SILVEIRA, 2007, p. 41).
Os complexos são os conteúdos do inconsciente pessoal, enquanto os
arquétipos são conteúdos do inconsciente coletivo. O arquétipo seria a “forma”
preexistente e padronizada, que já existia na psique coletiva da espécie
humana e que se está registrada de maneira definitiva na psique individual do
ser humano e compete ao homem como ser único e ao ambiente processar
continuamente os conteúdos dessa “forma”. Esse registro na memória pode
ser acessado através das técnicas e recursos como a música, a dança, a
escrita, a meditação, a pintura, entre outros.
A presença de um conflito favorece o aparecimento do complexo e para
que este seja elaborado, é necessário que ocorra uma descarga de emoção
que está vinculada a ele e, portanto, o complexo fica visível e se materializa.
As atividades expressivas oferecem uma ótima oportunidade para que haja a
fluidez dessa descarga.
O arquétipo imprime uma forte carga de energia específica (númen) à
imagem, e interfere em algumas situações com seus próprios impulsos e
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sentimentos, podendo controlar o ego; e quando funcionam como complexos,
modificam as vontades conscientes de maneira bastante perturbadora. Ele
pode possuir um lado positivo quando origina em criação, fonte de inspiração e
êxtase, e, portanto, resulta em Arte ou, pode ter um aspecto negativo e
destruidor, quando se manifesta na forma de uma possessão (psicose) ou
fanatismo.
Os arquétipos são incontáveis. Os principais arquétipos são: a Grande
Mãe, o Pai, a Persona, a Sombra, a Anima e o Animus, o Herói, o Puer
aeternus, o Velho Sábio, o Self, entre outros.
As estruturas arquetípicas não são formas estáticas, mas energias
dinâmicas que se manifestam por meio de impulso, tão espontâneas quanto os
instintos. As imagens arquetípicas são tão instintivas quanto à habilidade dos
gansos formando um “V” no seu caminho da imigração. Outra forma conhecida
de expressão arquetípica é percebida no mito e nos contos de fadas, e nesses
contextos o significado de arquétipo fica mais claro.
A energia psíquica do homem flui através dos símbolos, de uma maneira
parecida como as águas de um rio fluem e possibilitam a integração da
percepção sensorial externa às vivências internas, guiando as ações conforme
esses significados e retratando os arquétipos.
Na atividade artística, os materiais plásticos emprestam o seu corpo e a
sua flexibilidade para que a imagem arquetípica possa tornar- visível, através
da consciência dos símbolos, que surgem no ato de criar. E nesse sentido, o
arquétipo do artesão, do pintor, do dançarino... com sua sabedoria e intuição,
molda delicadamente a materialidade, desenvolvendo a sua obra e
desabrochando suas emoções, que estavam escondidas no inconsciente.
Os símbolos proporcionam a aproximação do consciente com o
inconsciente porque a princípio, quando ainda se apresentam como um
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mistério, proporcionam a estimulação da intuição no homem frente ao
desconhecido. Depois, quando se materializam e ficam compreendidos através
do pensamento lógico, eles se esvaziam e desaparecem.
Os arquétipos só podem ser compreendidos quando relacionados à
história própria daquele determinado indivíduo e Jung lembra que arquétipos
são imagens ligadas à pessoa através de uma verdadeira ponte de emoções.
Ele afirmava que é a partir do mundo das formas arquetípicas que o indivíduo é
guiado para determinadas direções, que levam ao caminho único e pessoal na
vida, que é o caminho em direção ao processo de individuação.
1.3 – O Processo de Individuação.
Jung utilizou o termo individuação para definir o processo que o
indivíduo realiza durante o decorrer de toda a vida, possibilitando atingir metas
e processando sua auto- realização, além de desenvolver todo o seu potencial,
favorecendo um maior autoconhecimento e permitindo que o indivíduo
desenvolva- se e torne- se auto- sustentável. Ele desperta porque é um
processo que acontece de modo consciente.
A individuação proporciona a efetiva reconstrução do indivíduo e ele
torna- se completo, em direção a uma maior liberdade de escolhas e decisões.
Ela é um processo, portanto, de crescimento em busca da essência de cada
um. Individuação não significa que a pessoa se isolou do grupo social, porque
como ele se sente mais centrado e completo, mais procura o caminho dos
valores, interesses e qualidades humanas, possibilitando a união ao grupo
humano. A individualização não isola, ela faz a pessoa se conectar.
Na fase final do processo de individuação germina a consciência da
unidade total que é simbolizado pelo arquétipo do self, que significa o princípio
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da integração. Os arquétipos se relacionam em muitas combinações e
possibilitam criar a psique da pessoa. Essa combinação de arquétipos resulta
na individuação.
A individuação é o movimento em busca da conscientização do self total. Usando os sonhos como modelos, percebemos que a individuação também consiste, em grande parte, em fazer uma síntese das personagens interiores que existem dentro de nós. Individuação não é só tornar- se cônscio desses sistemas de energia interiores, mas encontrar o relacionamento e a unidade entre eles (JOHNSON, 2007, p. 66).
No processo de individuação a pessoa consegue identificar a diferença
entre os valores e idéias oriundas do próprio Self (si - mesmo), das opiniões
originárias do mundo exterior, sendo importante essa capacidade de
discernimento, na medida em que pode detectar se está tomando as decisões
baseada nas próprias necessidades ou apenas está refletindo o mundo a sua
volta, sem verdade ou convicção.
Conhecer- se a si próprio desenvolve segurança e permite
simultaneamente um maior conhecimento a respeito do mundo e esse
processo é um empreendimento para a vida toda. Conhecer- se a si mesmo
completamente é uma viagem interna onde o tempo não existe, as emoções se
acalmam e há o desabrochar de um novo olhar para o mundo externo,
proporcionando equilíbrio, paz interna, aumento da consciência e do poder de
decisão, além de outros atributos que harmonizam a vida interiormente.
Conhecer- se a si próprio finalmente é poder chegar à varanda interior e
contemplar o crescimento e a integração da união do consciente com o
inconsciente, aventurando- se a perceber que a vida adquiriu um significado
especial e único, além de permitir que a pessoa desenvolva, através do amor e
respeito por ela mesma, o amor e a empatia pelo outro ser humano,
descobrindo outro sentimento tão em desuso chamado compaixão.
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Enquanto o ego é o centro da consciência, o Self é o centro da
consciência e do inconsciente. O desenvolvimento do Self não implica na
destruição do ego porque ele ainda continua como centro da consciência, mas
agora está submetido ao self. E para que os conteúdos psíquicos fiquem
conscientes é preciso haver o diálogo com o ego. Portanto, enquanto a mente
consciente está ocupada com as distrações diárias, muitas vezes o
inconsciente trabalha com ela ou predomina, podendo assumir o controle. A
incorporação dos conteúdos inconscientes é contínua até que a consciência
absorva toda a totalidade do self.
Portanto, quando o inconsciente e o consciente conseguem dialogar e
se concentram em torno do self, a personalidade amadurece e completa- se. E
isso permite que aconteça a totalização do ser humano ou sua “esferificação”.
O indivíduo não se constitui mais num ser fragmentado, e guiado pelo ego. O
seu mundo interno ampliou- se, podendo abraçar valores que foram cultivados
e acumulados pela espécie e ele torna- se um ser completo, e agregando
todas as suas dicotomias, abrangendo seus aspectos claros e escuros e
convivendo com o diálogo entre consciente e inconsciente.
No estágio inicial do processo de individuação (na primeira metade da
vida) há o desenvolvimento do ego, porque ele precisa estar suficientemente
forte para suportar as enormes transformações oriundas desse processo,
principalmente a difícil tarefa de deixar a proteção dos responsáveis e adentrar
no mundo. E essa força do ego é disponibilizada para a segunda metade da
jornada.
Na individuação há a percepção da Persona, os confrontos com a
Sombra e com a Anima ou Animus.
O indivíduo que não iniciou o processo de individuação é muito
inconsciente dele mesmo e do mundo ao seu redor, ele age de um modo
instintivo e sempre percebe e compreende que tudo que não está consciente
21
nele é reflexo do mundo exterior, e, portanto, projeta essas equivocadas idéias
sobre as outras pessoas, culpando- as e não percebendo, por desconhecer as
projeções do seu próprio inconsciente, que essas idéias são fruto dele mesmo.
Na meia idade, entretanto, essa distorção fica inviável e quando se olha no
espelho percebe- se que o inimigo é o próprio indivíduo porque há o diálogo
entre a pessoa e a sombra. Esse encontro com as qualidades inferiores é
muito difícil, mas possibilita que essa projeção sobre os outros comece a
diminuir. E são essas constatações de encontros com os sentimentos difíceis
como a raiva, o ciúme, o egoísmo, etc. que possibilitam melhorar e tornar
verdadeiros os relacionamentos da pessoa, buscando a cura dela mesma e o
melhoramento do mundo, permitindo um viver com mais responsabilidade e
sinceridade.
As mãos modelam a argila, dando lhe muitas formas diferentes, as
mãos vão modelando e libertando as esculturas já existentes, embora ocultas
ao olhar comum. Assim, também, no processo de individuação, a pessoa tem
que desejar ser remodelada, entregando- se inteiramente e profundamente
nesse difícil processo, onde serão removidas várias camadas de material,
aonde vão se esculpindo escolhas, e revelando a sua verdadeira natureza, o
seu verdadeiro eu. São necessárias coragem e fé para empreender essas
transformações, porque senão corre- se o risco de terminar os dias sem tomar
conhecimento da sua verdadeira essência. Coragem e fé para visitar e
conhecer as profundezas do seu interior, contemplando e reconhecendo o
mapeamento das suas subidas e descidas (montanhas e vales), tentando
conhecer seus medos e sua sombra, como fez o personagem Dante, da Divina
Comédia. A sua viagem interna o levou até as profundezas do inferno, mas
também possibilitou uma conexão com o espírito, com fontes importantes que
ele desconhecia. E esse confronto entre consciente e inconsciente produz o
alargamento do mundo interior, que, como já foi descrito, passa a ter como
centro dessa personalidade o self e não mais o ego. Portanto, até chegar ao si
mesmo ou self a pessoa tem que passar por muitas etapas: a inocência da
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infância, a soberania do ego e o seu declínio para poder florescer o self, que
como já foi definido, representa a fluência do consciente com o inconsciente.
Se o indivíduo deixar- se levar seriamente ao processo de individuação,
ele adquire uma orientação interna nova e, portanto, isso significa também um
olhar diferente para observar, refletir e remodelar os acontecimentos da vida
diária. Como é um processo aonde o indivíduo pouco a pouco vai se
aprofundando, ele é um caminho que é permanentemente aperfeiçoado visto
que a realização plena do ser humano deve ser algo que se encontra na
fronteira do infinito...
O Self, entre outras formas, pode assumir, muitas vezes, a forma de um
Velho homem Sábio e pode representar uma compreensão superior, além de
se constituir em elemento de rumo interno.
1.4 – Sincronicidade
Um conteúdo inesperado, que está ligado direta ou indiretamente a um acontecimento objetivo exterior, coincide com o estado psíquico ordinário. (JUNG, 2007, p.23)
A sincronicidade ou “coincidência significativa” tem sido objeto de
inúmeras dúvidas desde o século passado, e está relacionada tanto à
psicologia quanto à física quântica.
O fenômeno da sincronicidade é consequência da presença de uma
imagem inconsciente que penetra na consciência de maneira direta ou indireta,
ou seja, de modo simbólico, e esse conteúdo interior subjetivo é observado e
associado intuitivamente, e aparece concomitantemente com um evento
exterior paralelo. O interessante disso é que parece existir um acontecimento
23
preexistente de fatos futuros, que eram desconhecidos completamente pelo
indivíduo até aquele momento.
As emoções também exercem um papel importante na freqüência das
sincronicidades porque elas proporcionam o envolvimento com arquétipos
fortes e estes desencadeiam uma também forte série de acontecimentos
sincronísticos. Entretanto, também o indivíduo é capaz de perceber a
sincronicidade quando fica atento a tudo que faz e através dessa atenção
focada expande a sua percepção e entra num estado de receptividade.
Acontecimentos que ocorrem do lado de fora estão ligados diretamente
ao que o indivíduo pensa, percebe, sente ou sonha e a pessoa vivencia com
intensa exclamação essa “coincidência significativa”. Nesse sentido a
sincronicidade proporciona a idéia de que o universo é indivisível e, portanto,
necessariamente existe uma forte ligação entre o que está dentro da pessoa,
em sua psique, e o que está fora dela, no mundo real, e essa interação
acontece sem nenhuma ligação causal e, portanto, fenômenos de
sincronicidades sinalizam que um determinado conteúdo percebido pelo
indivíduo pode coincidentemente acontecer também no mundo exterior.
É interessante como a psique percebe esses acontecimentos antes
deles acontecerem de fato no mundo exterior. É quase como se o indivíduo
constatasse acontecer concretamente, no mundo de fora, o que antes ele
percebeu somente no mundo interior, antecipando e tendo consciência de
acontecimentos que ainda se tornarão realidade.
Para Jung (2007), o indivíduo tem quatro funções básicas que seriam:
pensamento, emoção, sensação e intuição. De um modo geral, a pessoa
quase sempre possui apenas uma de modo predominante, mas quando todas
são ativadas, elas entram em harmonia e a função sincronicidade é adquirida.
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Sincronicidades constituem, portanto em avisos de acontecimentos
importantes que ainda vão ocorrer ou, muitas vezes, funcionam como um sinal
que objetivam mostrar e encaminhar os homens para um caminho interior, um
caminho para o próprio inconsciente coletivo, para o coração, ou ainda um
caminho para a espiritualidade...
Os sinais de sincronicidade ficam mais presentes e tem uma maior
frequência na medida em que o indivíduo começa a ficar mais consciente deles
e de como o inconsciente coletivo é percebido. Esses sinais sincronísticos
quase sempre acompanham as fases mais difíceis do processo de
individuação.
Conforme Jung (2006) relata, face inclusive, seus estudos sobre o I
Ching (I Ging), que constitui- se num método oracular oriental que
pressupõe que existe uma correlação sincronística entre o estado
psíquico de quem pergunta e o hexagrama que fornece a resposta.
Não sabia também, de forma alguma (como até hoje, em geral, não se sabe) que o futuro se prepara, muito tempo antes, no inconsciente e que por isso os visionários podem advinhá- lo com anterioridade. (JUNG, 2006, p. 275)
Sob esse ponto de vista, acessando o inconsciente, pode- se vislumbrar
uma lacuna do tempo um pouco além do presente. Talvez, porque os
fenômenos sincronísticos não estão sujeitos aos períodos determinados e
conhecidos da consciência: passado, presente e futuro, acontecendo de uma
maneira atemporal e em “realidades paralelas”. Os indivíduos que possuem
sensibilidade, percepção e intuição podem perceber com maior facilidade
esses sinais de sincronicidade.
25
CAPÍTULO II
O ARQUÉTIPO DA SABEDORIA
O arquétipo da sabedoria é consequência da percepção e construção de
um mundo interno, equilibrado, que não é mais considerado desconhecido e,
portanto, não necessita mais de mecanismos de defesa contra ele.
Quando o indivíduo consegue se conduzir pelos caminhos do self ele
aprende a relacionar- se com o mundo subjetivo do si mesmo e aprende a ficar
conectado com as suas próprias forças internas e consegue ser guiado pelo
processo da individualização.
Até alcançar um diálogo com o self, a pessoa passa por situações boas
e ruins, e esses caminhos são recheados de experiências novas. Mas.
conforme o indivíduo vai sucessivamente constatando essas experiências ruins
elas perdem seu caráter traumático, e floresce a Sabedoria como resultante
dessas sucessivas descidas nas próprias profundezas, e proporciona ainda a
necessidade de despertar a criatividade e a organização do psiquismo do
indivíduo. E nesse subir e descer pelos vales e montanhas, a pessoa
consegue agora se distanciar e perceber as suas descidas apenas como uma
testemunha, e a conseqüência disso é que agora ela já não sofre tanto com os
dissabores que, às vezes, a vida oferece.
O arquétipo da sabedoria tem poder de transformar o indivíduo,
oferecendo a coragem necessária para efetuar a mudança de posturas
cristalizadas. Ele leva a pessoa a viver a vida em toda a sua plenitude, porque
cada um tem que encontrar o seu caminho e segui- lo. E o arquétipo da
26
sabedoria constitui- se em chama de orientação porque ela conhece este
caminho que a pessoa deve tomar.
O arquétipo da Sabedoria leva o individuo a integrar e harmonizar o
interior e o exterior, proporcionando simultaneamente o olhar para dentro,
podendo se interiorizar e participar conscientemente da vida interna, e o olhar
para fora, adicionando as novas percepções e consolidando o que foi
observado no mundo exterior. Ele direciona a pessoa à totalidade, chegando
ao self, visto que o Arquétipo do Self incorpora também o Arquétipo da
Sabedoria. Essa exploração do mundo interior com o exterior possibilita um
grande amadurecimento. Entretanto a idade cronológica não leva
necessariamente à aquisição de sabedoria, nem ao aparecimento da
maturidade ou a consolidação do Arquétipo do Self. A sabedoria pode ser,
muitas vezes, encontrada na criança e no jovem. Existem jovens e crianças
muitas vezes mais maduros e centrados que seus parentes com maior idade
cronológica.
A experiência religiosa tem um papel fundamental nesse processo
porque coloca o indivíduo em contato com as realidades mais profundas dentro
e fora dele, clareando o significado da sua vida e constituindo- se de fonte para
a integração das decisões conscientes e inconscientes. Enfim, o Arquétipo da
Sabedoria possibilita que o indivíduo saiba mais dele próprio, da sua história e
dos seus mitos pessoais, além de fazer a pessoa ter uma maior consciência de
outros valores importantes como a necessidade e a importância da amizade, a
consciência do verdadeiro amor e um melhor entendimento sobre temas que
remetem ao nascimento e a morte.
2.1 – O Arquétipo do Velho Sábio
Como já foi mencionado o Self é o centro interior da psique total, e o
Arquétipo do Velho sábio uma das muitas personificações do Self. A figura do
27
velho sábio pode aparecer em sonhos, como nas visões ligadas à meditação
ou através da Imaginação Ativa. O Velho Sábio quando aparece nos mitos ou
contos de fadas tem a função de auxiliar o herói, que se encontra em situação
difícil e sem resolução de saída para o problema, que só se resolverá através
de auto-reflexão profunda ou insight. O conhecimento necessário surge sob a
forma de um pensamento personalizado que é a presença do Arquétipo do
Velho Sábio, aconselhando quase sempre a tomar um novo caminho. O
aparecimento do arquétipo neutraliza a situação emocional e confere clareza
ao quem, onde, como e para que, possibilitando um diferente olhar sobre o
conhecimento da situação e do objetivo a alcançar, além de deter as
informações que o ajudarão a prosseguir, até alcançar este objetivo.
O velho representa, por um lado, o saber, o conhecimento, a reflexão, a
sabedoria, a inteligência, a intuição, conjugado com qualidades morais como a
solicitude e a benevolência. Ele também é o iluminador, o professor ou um
psicopombo (guia das almas). E como o arquétipo é um conteúdo autônomo
do inconsciente, o conto de fadas concretiza o arquétipo, dando à figura do
velho uma aparência de sonho.
Como todo o arquétipo possui um lado positivo, favorável, luminoso,
mas, também possui outro lado desfavorável e negativo. Essa manifestação
negativa pode ser representada pela figura do feiticeiro que por motivos
mesquinhos, pratica o mal ou ainda pode ser representado negativamente pela
figura da velha, que está associada à sequência: bebe - menina – velha –
morte e pode simbolizar um ego angustiado, em face da degradação da
aparência física. A velha vestida de negro pode simbolizar a velhice e morte de
acordo com o mistério do destino, ela nos remete à transformação que inicia
com o fresco botão de flor que rapidamente desaparecido dá origem ao destino
derradeiro da flor murcha...
A constelação do arquétipo do velho sábio possibilita a entrada num
estágio decisivo de desenvolvimento, porque na presença de algum problema
28
externo, o arquétipo do velho sábio é uma boa solução para a situação, porque
conforme está internalizada no indivíduo há a possibilidade de conversação
com ele sobre a situação e, essa simples presença gera tranquilidade para a
resolução do problema ou situação conflitante e possibilita o aumento da
autoconfiança.
Pode- se exemplificar essa figura com Philemon, que foi o nome que
Jung deu a uma das imagens arquetípicas da sabedoria, em sua autobiografia:
Lembranças, sonhos e reflexões ele diz:
Psicologicamente, Philemon representa um discernimento superior. É uma figura misteriosa para mim. Às vezes me parece quase real, como se fosse uma personalidade viva. Caminhava para cima e para baixo com ele no jardim e, para mim, ele é o que os hindus chamam de guru. (JUNG, 2006, p.219).
Ele observava que Philemon ia além da sua própria personalidade e
mantinha diálogos animados com ele, e foi nessa ocasião que Jung criou a
técnica da Imaginação Ativa.
Ao abrir as portas do seu inconsciente, a princípio ele encontrou essa
imagem arquetípica em um sonho. Quando Jung (op. Cit.) percebeu Philemon
nos sonhos ele não entendeu o significado daquela imagem e o pintou como
um homem velho e sábio. Depois de reconhecer essa parte sábia da psique
pode-se, portanto, pintá- la ou desenhá- la como fez Jung e, também, tentar
conversar com ela, descobrindo os seus ensinamentos de vida assim como
perceber outros mistérios da vida pessoal.
Lidar com essas imagens: caminhos, guias, gurus desperta na pessoa
uma capacidade especial, que é o conhecimento inconsciente ou intuição,
objeto de estudo de Jung. Esse conceito não desvaloriza o pensamento
racional, porque ele também é importante, mas com o aprimoramento da
29
intuição é mais fácil progredir no processo de individuação, porque é um
conhecimento percebido mais rapidamente. Além da intuição e do pensamento
racional, existe o pensamento adquirido através de imagens primordiais que
são os símbolos. É muito importante ter acesso aos símbolos porque eles
permitem a volta a um estado de sabedoria ancestral e possibilitam uma
grande harmonia, resultando no amadurecimento de uma vida mais plena,
independente da mente consciente.
A sabedoria Xamã tem como princípio que: as cobras não mordem as
pessoas. As cobras mordem o que as pessoas pensam. Nesse sentido, de
acordo com essa filosofia primitiva, as vidas são desequilibradas com
pensamentos, sentimentos e ações errados e não se podem responsabilizar as
outras pessoas pelos problemas que a própria pessoa, de certa forma,
contribuiu para gerar. As respostas para os problemas tem que ser
encontrados, primeiramente, no interior de cada um, possibilitando as
transformações necessárias para o continuar da caminhada mais prazerosa e
de mais verdade.
Quando o arquétipo do Velho Sábio é vivenciado de uma forma plena, a
pessoa pode se confrontar com um grande espelho d’água oriundo da
natureza, favorecendo a propagação da luz ou chama que serve para clarear a
escuridão.
Essa luz brilha sobre os outros também, mas acredita- se que não
deliberadamente, porque cada um tem que encontrar a sua própria luz interior,
que nunca vem pronta e procurar o seu fósforo pessoal que é responsável em
acender a iluminação do seu próprio caminho. E nunca entregar essa
responsabilidade a alguém porque somente cada pessoa é que detém a
sabedoria do que se vive e tem que viver, descobrindo quieto o frescor da noite
e do dia no seu interior. A essência desse arquétipo acarreta uma ampliação
da consciência, porque quando se entra nessa época de introspecção fica- se
livre da opinião de terceiros, podendo o indivíduo se aproximar dele mesmo,
30
conseguindo agregar sabedoria de vida, coragem e força para redefinir novos
caminhos e, portanto, passando a vida a limpo. Uma força profunda interior
arremeça a pessoa para frente, permitindo, passo a passo, transformar metas
em ação.
Em uma psique equilibrada, o espírito jovem (energia e determinação) e
a alma velha e sábia (visão e força do que se deseja) se harmonizam. Ser
sábio requer um profundo autoconhecimento e um aprimoramento continuo,
enfrentando, às vezes, grandes desastres, decisões incorretas e recomeçando
sempre quando necessário, a fim de remodelar seu espírito, coração, mente,
corpo e alma, face o florescimento permanente da sabedoria já pré- existente e
aperfeiçoando o seu modo de enxergar, ser e viver.
2.2 – O Arquétipo da Mulher Sábia Guardiã Subterrânea
Na confusão da vida atual, muitas pessoas encontram- se perdidas, e é
frequente a sensação literal de sentir a falta de chão sob os seus pés, porque
perderam suas raízes e se atém apenas “as copas das árvores”. Nesse
descuido, acabam por não saber mais onde estão as verdadeiras fontes de
força secreta, que equilibram, centram, promovem o enraizamento e produzem
energia para cada célula, criando e recriando a vida.
Conforme elabora Ciornai (2007), os pés tem um importante papel no
equilíbrio e sustentação do corpo, assim como estão ligados ao crescimento
interno e à vida espiritual. A palavra pé também está muito relacionada à
palavra “paidor” que em grego significa criança. Ciornai (op. Cit.) diz que:
[...] gostaria de salientar a importância de o terapeuta cuidar do enraizamento de seu cliente, pois os pés trazem a criança que todo o homem carrega dentro de si. Sabemos que quanto mais trabalhamos os pés e [...] mais e mais os pés vão se enraizando no chão e a energia do
31
corpo aos poucos torna- se equilibrada. Além disso, os pés como base do equilíbrio e do movimento do corpo também ajudam a desenvolver o equilíbrio do psiquismo e da espiritualidade, pois se comportam como raízes de nosso ser. (CIORNAI, 2005, vol. 64, p.128).
Esses pensamentos remetem aos conceitos elaborados por Clarissa
Pinkola Estés (2007) sobre o paralelo da vida da mulher com a vida das
árvores.
A árvore abriga sob a terra uma “árvore oculta”, feita de raízes vitais
alimentadas por águas invisíveis, e a alma oculta da árvore empurra a energia
para cima, para que a sua natureza sábia sobreviva a céu aberto, e o mesmo
acontece com a vida de uma mulher. Por debaixo da terra existe também uma
mulher oculta (guardiã subterrânea) que cuida para que a fonte profunda ou
energia vibrante nunca acabe. Essa mulher oculta empurra esse espírito vital
em busca da vida, atravessando o solo e nutrindo o seu eu em céu aberto. Às
vezes, assim como essa árvore pode transformar- se em simples caixotes, as
mulheres podem viver momentos em que são derrubadas e pensam que é o
seu fim. Mas a mulher oculta que vive sob a terra encontra saída, porque as
vidas da mulher e da árvore encontram forças e percebem que não precisam
ser destruídas e podem florescer em paz. E conforme Estés, com relação à
força do arquétipo sábio feminino, ela diz que:
Dentro da psique de muitas mulheres existe algo que
entende intuitivamente que o conceito de “curar” está
incluído na palavra “saúde”. Quando ferida ela se torna
“cheia de cura” [...] significa que algum filamento vibrante,
gerador de vida, no seu espírito e na sua alma se move
persistentemente na direção da própria vida, seja na busca
de forças, seja na reconstituição da integridade perdida [...]
(ESTÉS, 2007, p. 40).
32
Quando ocorre a repressão do ego na superfície, a guardiã subterrânea
aumenta a vitalidade, até que a árvore a céu aberto fica tão profunda quanto
às suas raízes. Com relação à mulher, como assinala Pinkola (op. Cit.), a
mulher subterrânea guardiã ( arquétipo feminino) empurra a força da vida para
cima, em direção à mente, ao espírito e ao coração. Se a mulher prestar
atenção e se escutar conscientemente brotarão folhas, flores e frutos (filhas)
sob a forma de idéias novas e vibrantes por uma vida melhor e com mais
significado. Conforme a mulher amadurece, ela expande a visão, a audição e a
mente, transformando a menina em uma mulher sábia e vibrante. Esses
acontecimentos são tão sutis e profundos que raramente a expressão
linguística consegue expressar, e a expressão através das Artes consegue fluir
melhor essas imagens. Essa fonte sábia e única de energia empurra as
mulheres a desenvolver a intuição e elas, nesse momento, nunca mais
encontram obstáculos que as impeçam de fazer qualquer coisa que desejem.
Nesse processo de continuamente tornar- se sábia, ela vai se enraizando cada
vez mais na vida da alma, e representa a mais pura libertação, porque os
ensinamentos são transmitidos para as mais jovens, dando prosseguimento à
vida.
Através do olhar do arquétipo da mulher sábia, percebe- se que as
mulheres de agora são herdeiras daquelas que iluminaram o próprio caminho
porque decidiram sempre persistir através da sabedoria de ser como a água
que descobre como passar pelos pequenos orifícios, e de com paciência,
tranqüilidade e determinação, simplesmente ir diante sempre, até conseguir
chegar as suas metas de vida, num permanente caminhar. E agora através do
fósforo pessoal pode- se acender a chama a partir do delas.
Considera- se que esse arquétipo de sabedoria é uma importante como
contribuição no papel mais atuante da mulher no cenário social, possibilitando
expandir suas potencialidades internas, e contribuindo com um desempenho
mais assertivo no plano social, principalmente na área de trabalho,
33
considerando os anos de atraso cultural e social enfrentado por elas no
contexto histórico.
Assim como tradicionalmente existe a figura literal da avó, que se
apaixona pelos netos, existe mulheres que geram idéias, outras transbordam
trabalhando com a sua Arte. O arquétipo da mulher sábia tem como objetivo
primordial viver a vida plenamente, não de acordo com o querer dos outros,
mas viver sob o domínio do livre arbítrio, viver de forma plena e verdadeira, e
oferecendo que as pessoas ao seu redor se inspirem e desfrutem desse viver
verdadeiro, vibrando junto.
Quando a pessoa percebe todo o seu potencial, onde o consciente e
inconsciente fluem harmoniosamente, ela encontra- se na obrigação de
realizá- lo de forma plena. Esse momento normalmente coincide com o
desenvolvimento do seu potencial para atividades artísticas. Viver em
plenitude, conforme as suas capacidades é uma arte, a arte criativa.
34
CAPÍTULO III
ARTETERAPIA
Definir Arteterapia envolve muito dos pressupostos da psicologia
analítica (Junguiana) e remete inevitavelmente ao maravilhoso trabalho de
Nise da Silveira.
Psiquiatra pioneira que revolucionou os métodos de atendimento ao
portador de distúrbios mentais no Brasil, utilizando- se dos conteúdos da
psicologia Junguiana. Ela criou no Centro Psiquiátrico Pedro II, no Engenho de
Dentro, uma Oficina Terapêutica Ocupacional, organizado para aliviar a dor
dos pacientes mentais, principalmente esquizofrênicos, que na prática eram
isolados e abandonados, sem a ajuda de nenhum tratamento expressivo.
Atualmente esse centro deu origem ao Museu do Inconsciente.
Como formas de tratamento, nos ateliês terapêuticos, os pacientes
podem desenvolver trabalhos manuais e atividades expressivas como: pintura,
música, dança, modelagem e teatro, etc. Ela transformou todo o trabalho que
vinha sendo realizado nesta área e promoveu um novo olhar profissional sobre
o paciente, trazendo a arte e as técnicas expressivas para o centro do trabalho
terapêutico.
Atualmente a arteterapia conseguiu ampliar o seu campo de atuação e
promove o seu benefício a outros grupos como os: dependentes químicos,
pacientes com programa de diálise crônica, pacientes com HIV, câncer, para
portadores de paralisia cerebral, crianças em habilitação em enfermarias, entre
outros.
35
3.1 – Arte e Arteterapia
Arteterapia é o processo de combinação de imagens, dando significado
a emoções e sentimentos, procurando tratamento para o sofrimento, onde o
caminho é o objetivo. Realmente a arte permite expressar o que
verdadeiramente está dentro de cada um e evoca rapidamente o inconsciente
coletivo que está presente em todos os indivíduos, mas que precisa ser
despertado. E necessariamente as atividades expressivas favorecem esse
despertar.
A linguagem da arte é tão expressiva e forte, que a palavra serve como
auxiliar, muitas vezes, somente depois da criação finalizada. Esses trabalhos
remetem de uma forma imperiosa o aparecimento de sensações, emoções,
pensamentos e, sentimentos verdadeiros do indivíduo, que até então não
estavam conscientes.
A arte proporciona que a pessoa reflita, pense, questione, distraia- se,
consiga fugir da realidade, acesse a linguagem simbólica e desperte o
inconsciente entre outras finalidades. E as atividades de relaxamento que a
acompanham as dinâmicas arte terapêuticas também possibilitam o emergir da
fantasia, proporcionando que o indivíduo seja testemunha de suas próprias
vivências internas e desatando nós que até então estavam escondidos.
É um processo onde a pessoa deve envolver- se e abrir- se em todas as
direções, onde não há métodos, nem receitas, e correndo o risco, inclusive, de
possibilidade de algumas falhas no caminho, que serão saneadas
imediatamente, na medida em que ocorram, porque este caminhar é que é o
objetivo.
A arteterapia reconstrói e integra a personalidade da pessoa, porque há
a integração do que foi criado com as emoções ocultas do indivíduo, e nesse
36
momento, ela percebe e vivencia sentimentos novos. De princípio há somente
a percepção de pesquisa de material, fase normalmente de medo e indecisões.
Depois ocorre, a Integração, onde a pessoa integra o novo a sua vida. Esse
processo não é linear e isso acontece continuamente. Como terceira etapa
surge a Transformação, quando ela consegue integrar esse novo na vida
cotidiana.
Quando o indivíduo cria e materializa a sua arte, ele expressa imagens
simbólicas oriundas do inconsciente, consegue integrá- las ao conteúdo
consciente, e concomitantemente efetua a transformação de si mesmo e da
realidade, desabrochando um olhar diferente nas suas percepções e consegue
ordenar melhor seus pensamentos e sentimentos. Nesse sentido, num primeiro
momento, não compete ao arteterapêuta explicar os trabalhos, sendo apenas
um facilitador e ajudando na descoberta dos possíveis significados internos.
Quando a pessoa entra em contato com a arte e faz trabalhos com arte
terapia, ele abre uma porta de enriquecimento interno imediato e consegue ter
acesso à criança espontânea e livre que cada um tem dentro de si e quando
ela é abordada conscientemente, ela proporciona a cura da pessoa e desloca
o foco de atenção para os muitos talentos deixados de lado. Esses talentos
têm um papel curativo grande quando emergem e conseguem ser utilizados. E
conforme as belas palavras centradas na psicologia gestáltica de Selma
Ciornai, que diz:
E no trabalho de arteterapia, quando a pessoa começa a mexer com materiais de arte, sua “criança interna” vem a tornar se figura, deixando seus personagens internos mais aguerridos descansarem... Ela vai se deliciando com a fluidez de uma cor lentamente com a outra com as formas que as pressões de seus dedos na argila vão criando. Esses efeitos a vão fascinando, banhando- a internamente e, sem que se dê conta vai acalmando o seu ritmo interno, entrando em outra sintonia... [...] arte é uma espécie de MEDITAÇÃO ATIVA. Nas palavras inspiradoras de Chico Buarque vamos entrando em “estado de delicadeza”, flexibilizando as camadas de defesa e contatando nosso
37
ser mais profundo e genuíno. (CIORNAI, 2004, vol. 62, p. 83).
E no computo geral, percebe- se que a pessoa quando realiza
atividades em arteterapia se acalma, deixando fluir as suas emoções, e ela
olha com atenção as imagens, garimpa emoções, ouve histórias, remodela
sentimentos, dança, interpreta, cria, vive, gosta... E com certeza se
transforma...
3.2 – Arte e Imaginação Ativa
Jung desenvolveu a técnica da imaginação ativa. Ela possibilita que se
ative uma imagem, através do desenho ou da dança, com o objetivo de
estabelecer um relacionamento com as emoções que ela invoca, permitindo o
diálogo entre o ego e o self.
A Imaginação Ativa é uma forma interessante de se utilizar o poder da
imaginação para ativar a relação entre mente consciente e inconsciente.
Através dela vamos ao inconsciente para buscar o que se encontra lá e
vivenciar o que ele tem para transbordar para a mente consciente. Mas esse
processo tem que ser viabilizado com muito cuidado porque ao lidar com o
inconsciente, está se lidando com uma das maiores forças da experiência
humana, e a pessoa pode se afastar da realidade, ficando absorvida pelas
imagens e pode se perder no mundo da fantasia, não conseguindo retornar
para o aqui e o agora.
As imagens simbólicas do inconsciente fluem para o nível consciente
através dos sonhos e da Imaginação Ativa, portanto, eles transformam e
convertem o material invisível em imagens que a mente consciente pode
perceber. Eles também geram os símbolos que o inconsciente usa para se
38
expressar. Ao vivenciarmos o símbolo, acessamos o arquétipo. Quando a
imagem se comunica é através de uma das vozes interiores, e como resposta
aparece a parte interna desconhecida que ouve e registra.
Na Imaginação Ativa a pessoa não dialoga com ela mesma, mas sim
com uma de suas personalidades. Nesse diálogo entre ego e as várias
personalidades que surgem do inconsciente e aparecem na imaginação é que
a pessoa começa a reunir suas partes divididas em uma unidade, descobrindo
e conhecendo as partes de si mesmo que até então ela desconhecia. O
trabalho com a imaginação ativa harmoniza o indivíduo e o encaminha para os
seus verdadeiros objetivos da vida. Nem todas as imagens que aparecem são
arquétipos, porque o inconsciente é composto de energia também. E essas
formas de energia se traduzem em sentimentos, atitudes, valores, etc.
Hoje, já se tem conhecimento que a mente do homem percebe o mundo
de um modo dual, e é bastante difícil a concretização do processo de
individuação, que promove a integração de todos esses fragmentos em um
todo forte e integrado (self). É preciso ousadia e coragem para constatar e
aceitar esse lado negativo e instintivo da personalidade, mas quando há o
amadurecimento nessa iniciativa, essas partes consideradas inaceitáveis
possuem um papel importante na construção de uma vida mais verdadeira,
porque a pessoa adquire meios de dominar, conscientemente, esse outro lado.
Portanto, antes que o indivíduo consiga encontrar o seu caminho do
meio, mantendo essas dualidades em equilíbrio, ele tem que ter acesso e
consciência delas e não ter medo de explorá- las.
Nesse momento do processo a pessoa está consciente dos muitos
conflitos da vida, mas ainda não está inteira.
39
No processo da Imaginação Ativa , quando a pessoa interage com as
imagens, ela fica muito surpreendida ao perceber que elas exprimem
pensamentos totalmente diferentes da sua mente consciente.
O indivíduo na Imaginação Ativa tem que estar consciente do processo
todo, para poder descer até o mundo interior, participando efetivamente com
seus sentimentos numa situação onde tudo parece real. E nesse caminho da
verdade o indivíduo encontra sua própria ética. Quando consegue se chegar a
essa etapa é necessário exteriorizar a essência desse processo.
E finalmente quando a imaginação ativa é realizada com eficiência, as
diferentes partes que integram o indivíduo, e que estavam brigando ou
divididas são reunidas, e proporciona o despertar da pessoa, estabelecendo a
paz e a comunhão entre ego e o inconsciente.
Para o homem desenvolver a sua arte ele depende fundamentalmente
do poder da imaginação e de seus símbolos para as várias formas de
desempenho poético, literário, nas atividades com esculturas, pinturas, etc.
Porque não seria possível desenvolver a inteligência abstrata, o pensamento
lógico e a linguagem sem a capacidade de abstrair e gerar imagens.
Quando o homem faz arte, ele cria e há a ativação do imaginário. A arte
abre as portas do inconsciente, mergulhando no cenário do universo interior,
sem se deixar manipular pelos conteúdos não estruturados do inconsciente, e
esse mergulho para o seu interior permite libertar o homem.
3.3 – O caminho para o processo de Individuação
Como afirma Maria Cristina Urrutigaray (2008): “A utilização das técnicas
em arteterapia favorece a individuação.” (p.72). A possibilidade de criar
40
favorece a força e a coragem de sair das posições conhecidas e ir se
libertando pouco a pouco, e ousando para cada vez mais ir conhecendo os
lados sombrios e desconhecidos e ir devagarzinho integrando esses conteúdos
inconscientes ao consciente.
Portanto, a atividade criativa estimulada pela arte possibilita a
elaboração do potencial criador do homem, assim como permite o
desenvolvimento da sua personalidade. E conforme a pessoa vai aprimorando
o seu trabalho artístico, ela concomitantemente vai modelando as suas
escolhas, adquirindo uma maior liberdade, além de propiciar o aumento da
autoconfiança. Enfim, a arteterapia possibilita a auto-realizarão do self e a
realização da energia arquetípica, e vai gradativamente constituindo- se em
ferramenta importante rumo ao processo de individuação. E conforme discorre
Urrutigaray:
Jung classificou o processo terapêutico correspondente a
quatro estágios: a confissão, a elucidação, a educação e,
finalmente, a transformação, pelos quais os analisandos os
atravessam na procura de seu autoconhecimento, de auto-
realização e de poder ser verdadeiro consigo mesmo.
(Jung in URRUTIGARAY, 2007, p. 109).
3.4 – Instrumento de mudança individual, social e do planeta
A arte através do seu poder criador auxilia o indivíduo a reforçar os seus
aspectos sadios. Quando a pessoa faz arte ela abre as portas do seu interior,
aumentando sua sensibilidade e possibilita também a sua transformação
pessoal, que por consequência leva ao autoconhecimento e compreensão de
características que passavam despercebidas. Esse mergulho interno,
juntamente com o uso das cores, texturas e, formas que os materiais plásticos
geram o resgate da liberdade e a possibilidade da organização interna, abrindo
41
as comportas das emoções e das sensações. E esse novo olhar interno
possibilita também uma nova e libertadora arrumação externa. Quando o
indivíduo está se expressando através da arte, ele também promove a
transformação social, proporcionando que cada pessoa descubra a sua
essência única e seu objetivo de vida, expressando todo o seu potencial e,
quando manifesta a sua própria e autêntica presença, com certeza ela
promove também a transformação da sociedade e, portanto, propaga essa
energia transformadora e criativa para todo o planeta.
E a arte possibilita sempre um recomeço lúdico e criativo, e conforme
Maria Betânia Paes in Ciornai:
Outra característica importante do trabalho de arte, segundo Kreitler e Kreitler (aput Ciornai, 1994, p. 16), é que na atividade artística cria- se outra realidade, uma realidade alternativa, na qual é possível relaxar as defesas, errar, experimentar, sentir, brincar, deixar transparecer o lado criança de nossa personalidade – a nossa essência. Pode- se escolher, mudar, transformar... recomeçar. Faz- se brincando o que é preciso aprender na vida – ter coragem necessária para ser e vir a ser (CIORNAI, 2004, vol. 62, p. 204).
A arte resgata a criança interna que todo o adulto ainda guarda dentro
de si, e possibilita que o homem torne- se uma pessoa com capacidade de
refazer- se permanentemente, permitindo- se fazer novas escolhas e trabalhar
os caminhos ainda desconhecidos e vivendo a sua vida de uma maneira mais
criativa. Nesse sentido, as coisas ao seu redor também se modificam para
“abraçar” essa nova pessoa que agora não está mais estagnada em seus
medos e angustias, porque já consegue conhecê- los e domina- los.
42
3.5 – O Arquétipo do Velho Sábio, a Arte e a Arterapia como
força de poder transformador e curativo
O arquétipo do Velho sábio compreende a graça, a força e o poder
como uma forma de energia a disposição do homem. Esse arquétipo só pode
clarear o que recentemente vemos diariamente, sem saber o que fazer, em
frente aos meios de comunicação, como a corrupção, a depressão e os
problemas educacionais e sociais que se tornam visíveis no caminho para o
trabalho ou para outro destino: crianças pedindo esmolas, roubos, violência,
trânsito caótico. Somente com a amplitude da consciência de todos é que essa
situação poderá ter um novo rumo, despertando e cristalizando uma nova
sociedade e o Arquétipo do Velho Sábio poderá contribuir nesse sentido,
oferecendo o seu dom único ao universo e somente com essa grande chama
de conscientização, onde há a possibilidade de diálogo entre consciente e
inconsciente, é que se poderá alcançar o verdadeiro caminho da felicidade, da
auto- realização e da liberdade.
E a arte é um instrumento essencial para o desenvolvimento humano,
porque favorece um olhar mais atento aos conteúdos internos, estabelecendo
o equilíbrio emocional, encontrando a própria linguagem expressiva e auxilia
na procura do caminho verdadeiro. Os materiais facilitam o contato com
conteúdos inconscientes e experiências da fase pré- verbal ou coletiva,
permitindo a elaboração desses conteúdos.
E a arteterapia contribui muito para alcançar essa ampliação da
consciência, através do aumento do autoconhecimento, da sinalização do
inconsciente até então cristalizado e desconhecido, e, sobretudo, sob a forma
de identificação de novas forças e caminhos ainda não explorados, que
contribuem para despertar para uma vida de melhor qualidade, melhor
felicidade, melhor sabedoria... E quanto maior for essa ampliação da
consciência, maior clareza e controle poderá o indivíduo exercer sobre si
43
mesmo, porque quanto mais consciente ele se torna, mais tem possibilidade
de identificar suas emoções, fraquezas e forças, agindo, portanto, de uma
maneira mais inteligente e sábia.
O caminho do indivíduo nas vivências com arteterapia é primeiro o de
criador, e num segundo momento, com a obra acabada, é de percepção e
consciência. E essa consciência leva a um novo olhar, uma nova percepção
que conduz a construção de uma nova realidade. É um caminho
absolutamente aberto, sem roteiro, sem finalizações, porque o processo é que
se constitui o ato terapêutico. O ato criativo é imprevisível e é impossível
estabelecer regras ou desfechos. Cada construção artística que a pessoa
realiza exerce simultaneamente uma descoberta “fresca”, verdadeira e
imediata em algum aspecto da vida da pessoa e conforme o tema pode
desabrochar inclusive percepções de religiosidade. Permite também que o
indivíduo se torne instrumento de mudança, porque ele efetivamente se
transforma primeiro.
Com relação ao papel da arteterapia com possibilidade curativa
podemos constatar que, muitas vezes, as pessoas não conseguem exprimir
seus conflitos internos, porque estes estão tão profundamente ocultos que o
indivíduo nem toma consciência deles. No ato criativo há a possibilidade de
dar- lhes uma forma e uma visibilidade concreta através dos diversos materiais
como as tintas, o barro, a argila ou qualquer outro material artístico, e essa
pode se caracterizar na primeira fase do processo de cura, porque possibilita a
conscientização dos problemas, a descoberta da capacidade criativa, além de
permitir que o indivíduo consiga descobrir a sua essência única, o seu objetivo
de vida e auxilia a pessoa, inclusive, a expressar os seus potenciais que até
então eram desconhecidos.
E abordando o processo de cura com arte, temos as declarações de
Jeanne Achterberg in Ciornai:
44
Segundo essa pesquisadora, não só a arte, as imagens e o uso da imaginação sempre estiveram presentes em processos e rituais de cura ao longo dos tempos [...], uma das recentes descobertas das pesquisas científicas nesse campo é a freqüência de ondas cerebrais emitidas quando a pessoa está envolvida e absorta em um processo criativo é absolutamente similar ao tipo de ondas cerebrais que propiciam processos de auto- regeneração e cura. E isso traz um subsídio científico para a relevância da arteterapia como meio terapêutico na recuperação de doenças psíquicas e físicas, tanto em contextos e instituições de saúde quanto em atendimentos individualizados. (CIORNAI, vol. 62, 2004, p. 80 e 81).
Essas informações fornecem dados que há muito já eram constatados
pelos profissionais ligados à área de saúde e que trabalham com arteterapia. A
diferença de conduta e o bem proporcionado pelas atividades expressivas é
visível porque o indivíduo: criança, jovem, adulto ou idoso, naqueles momentos
de criatividade e de plena liberdade, em que estão participando do teatro,
ouvindo música, pintando ou dançando, eles conseguem se desvincular de
suas preocupações e tensões, conseguindo soltar- se e se liberar bastante do
estresse, além de promover um real poder de realização, possibilitando o
sentimento de sentir- se melhor com eles mesmos, conseguem mudar de
atitude perante a vida visto que conforme vão modelando ou configurando o
desenho, vão progressivamente configurando a si próprios e, simultaneamente
interagindo e transformando o meio ambiente. Portanto, esse simples
movimento de mudança daquele indivíduo tem o poder de mudar os que estão
ao seu redor e paulatinamente contribuirá para as modificações na sociedade
e no mundo. E esses procedimentos arterapêuticos de transformação
deveriam ser organizados, adequados e absorvidos pela instituição escola.
45
CAPÍTULO IV
A INSTITUIÇÂO ESCOLA
Rede Pública de Ensino
A origem da palavra educação quando originária do grego significa a
capacidade de desenvolver a sabedoria do indivíduo. Ocorre que essa
etimológica atualmente está equivocada porque a escola não consegue ser um
instrumento que mobilize o educando a desenvolver- se interiormente,
provocando a sua curiosidade, liberdade e motivação a fim de ocorrer a
aprendizagem verdadeira. Contrariamente, ela elabora um ensino de
superficialidade, tentando formatar os alunos a “patinarem” na maioria das
vezes, dentro de conhecimentos totalmente inexpressivos. Por quê?
Por que a Instituição Escola há infinitos milhões de anos não muda em
nada o processo de ensino? No qual o professor fala, fala... e o aluno
simplesmente finge que escuta, finge que escuta... num processo totalmente
defasado do mundo contemporâneo.
Por que tudo se renova e oxigeniza e a Escola perpetua sempre os
mesmos modelos ultrapassados de ensino, e não se prioriza a efetiva
aprendizagem?
Por que se aprendem tantos conteúdos que nunca vão ser necessários
e nem utilizados efetivamente e muitos conhecimentos importantes, que
preparam o educando para a vida, são desconsiderados?
46
Por que todos, indiscriminadamente, têm que saber exatamente os
mesmos conteúdos definidos por determinada pessoa num dia e horário pré-
estabelecido?
Por que as provas, na grande maioria, medem apenas os fatores de
memória, sem possibilidade de consulta, em isolamento do grupo e sem
nenhuma construção coletiva?
Por que conhecimentos informando como se é internamente,
possibilitando autoconhecimento, que favorecem um maior entendimento das
questões psicológicas e filosóficas não integram a grade do ensino?
Por que a educação não é voltada com o olhar direcionado ao educando
como um organismo vivo, uma semente, que somente com solo e condições
apropriadas poderá crescer e germinar o pensar, o ousar e com possibilidades
de gerar a sabedoria?
Por que atualmente nem os ensinamentos básicos de português e
matemática conseguem ser efetivamente aprendidos pelos alunos?
Por que o professor perdeu o seu papel fundamental de ser o único
profissional envolvido no processo de aprendizagem e ensino?
Por que a escola está cheia de responsáveis que deveriam estar
trabalhando em seus ofícios, e não diariamente dentro da escola, opinando
sobre assuntos, que na maioria das vezes, desconhecem?
Por que os alunos da rede pública nunca estão em igual posição de
conhecimento técnico em relação ao mercado, com os alunos oriundos do
ensino particular?
47
Por que muitos profissionais de ensino não permanecem nessa
profissão e um grande percentual migra para outras atividades antes da
aposentadoria?
Por que a Instituição família se resvala da sua fundamental
responsabilidade pela orientação do educando, responsabilizando a Escola,
que se constitui num co produtor técnico do processo de vida daquele
indivíduo?
Por quê? Por quê? Por quê?... ... ...
4.1 – A Escola de Ponta à Cabeça
As perguntas acima deveriam ser encaradas com coragem e sabedoria,
e serem objeto de profunda reflexão, na procura de soluções urgentes para os
graves problemas que a escola pública enfrenta.
Acredita- se que o papel da escola contemporânea seria em estar
envolvida com a expansão do autoconhecimento e com o potencial criativo dos
educandos. Permitir e aceitar que os estudantes sejam mais espontâneos,
ajudando a perceber seus medos, a definir os seus pensamentos inibidores, a
aprender a conhecer a existência das suas muitas subpersonalidades,
aprendendo a lidar com elas e com os sentimentos, conseguem torná- los mais
conscientes para o processo de individualização. Esses conceitos importantes
podem ser trabalhados no cotidiano da vida escolar, entrelaçando- os aos
conteúdos programáticos através da psicologia e da filosofia, tendo em vista a
faixa etária e o interesse do educando. A imaginação criativa e o exercício da
reflexão proporcionam o ousar pensar e, portanto, deixa- se de aceitar o que
os outros dizem como verdades absolutas. Ousar vira sinônimo de revolução
criativa, responsável, assertiva, reflexiva... Essa revolução interior leva a
48
mudanças significativas e propaga a revolução exterior com ética e a liberdade
de ser exatamente o que cada um é de verdadeiro. E o pensamento,
finalmente, alcança a direção à sabedoria...
O sistema educacional deveria dar prioridade à abertura do novo,
oxigenando e entremeando o programa didático com o objetivo de fazer o
aluno pensar, refletir, buscar respostas para situações importantes que
resgatem o papel da educação privilegiada no pensar criativo, e deixar de lado
o ensino que já foi tentado, testado e é percebido como inoperante, porque
apenas se interessa pela repetição enfadonha de conteúdos, muitas vezes
obsoletos e que ficaram cristalizados durante décadas, sem nenhuma
oxigenação.
A nova proposta da escola deveria estar equipada com instrumentos
que possibilitasse a melhoria do círculo social, promovendo a sua
democratização, e enfatizando o educando na sua integralidade, observando o
lado racional, mas não desconsiderando o estado emocional, construindo
futuros homens cidadãos que primeiro se aperfeiçoam, para depois terem
capacidade de exercer seus deveres e direitos, buscando alternativas no
pensar com sabedoria sobre as necessárias mudanças sociais.
Essa situação de cristalização do ensino na escola remete ao poema de
Fernando Pessoa, Tempo de Travessia:
Há um tempo que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo... e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É tempo de travessia. E se não ousarmos fazê- la, teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos.
49
4.2 – Um olhar diferente nos papéis do psicólogo, do quadro
pedagógico e da família
Há de se pensar com urgência num sistema escolar voltado para uma
conscientização do processo interno e abrangente do educando, e remodelar a
área de atuação do psicólogo dentro do âmbito escolar. Retirá- lo do papel
predominantemente burocrático e muitas vezes improdutivo, para utilizar essa
mão de obra tão importante num desempenho mais atuante, criativo, aonde
possa tirar o seu olhar da instituição e depositá- lo no educando (jovem ou
criança), e no corpo docente, procurando ser um elemento de conscientização
para a descoberta de muitos processos que ocorrem dentro das pessoas e que
elas não percebem, como por exemplo: conscientizá-las dos seus medos, das
suas dificuldades, e possibilitando que elas percebam as inúmeras
personalidades que convivem no seu interior, conhecendo- as pode integrá-
las, buscando também que o educando e a classe docente possa conhecer os
objetivos da sua vida como indivíduo único e dar base para que a sua
caminhada como ser único, trasforme- o, e permita, também, a transformação
familiar, social e se alastrando para uma verdadeira mudança no cosmos.
Mas para que esse processo aconteça, é evidente que apenas envolver
o corpo docente nessas transformações é inoperante, há de se modificar as
bases. A princípio, vem logo a pergunta: Porque no ensino fundamental
estabeleceu- se que somente um único educador deve atuar em sala de aula,
com classes com até trinta e cinco a quarenta alunos? Ou deveria ser
diminuído o número de alunos para quinze ou, no máximo, vinte ou aumentar o
número de professores atuando em sala. O ensino fundamental que é o mais
importante e prioritário, é também o mais descuidado. Por que não colocar
trabalhos com arteterapia como uma dinâmica diária, possibilitando
descobertas ao educando nas atividades expressivas, permitindo que ele se
expresse também, ao invés de ser considerado uma foto muda em sala de
aula, e que trabalhe com os vários materiais disponibilizados, inclusive
50
sucatas, que são materiais de fácil acesso e permitem a construção de
trabalhos maravilhosos, além de desenvolver a criatividade. Informando- o
sempre, mas ao mesmo tempo, focando sua atenção para a beleza da
interação com a música, a poesia, a pintura, o teatro, o desenho, a expressão
corporal, o escutar e o encenar histórias contadas ou do dia a dia do
educando, enfim... Trazendo à sala de aula vida e alegria.
E, portanto, a arteterapia como instrumento dessa transformação
individual e social torna- se um elemento importante, porque permite um
feedback mais rápido e auxilia quando fornece elementos para o clareamento
e entendimento das questões ligadas ao inconsciente.
Nesse sentido, a escola deveria olhar com maior atenção para os
conhecimentos oriundos da psicologia analítica porque ela não pode ser
somente uma fonte de ensino e aprendizagem, mas também pode se tornar
um espaço importante para o autoconhecimento, de reconhecimento e
avaliação de problemas, que podem ser facilmente diagnosticados antes que
aumentem e explodam posteriormente e principalmente gerenciando o
processo de individuação no educando.
Que os educadores tenham a capacidade de pensar, sentir, dinamizar
verdadeiramente o educando a uma aprendizagem criativa, que busque
soluções para os problemas cotidianos. Construindo responsabilidade nesse
aprendiz, e enfim, preparando e dando subsídios para que esse aluno tenha
mais consciência de suas escolhas e decisões de vida, contribuindo para
formar homens éticos e não apenas sendo elemento de transmissão
unicamente de conteúdos.
Muito importante é estabelecer quais são os limites e, tornar claras e
visíveis essas fronteiras, construindo e refletindo sobre o que pode ou não
fazer. No momento, esses padrões de conduta e a sua visibilidade para o
educando são fundamentais. Esse grau de liberdade que a autonomia oferece
51
tem que ser bem alinhavado e sujeito às regras claras de convivência. E essas
novas regras têm que ser pensadas e discutidas continuamente e com muita
sabedoria. Elas têm que estar embasadas na verdade de que qualquer
comportamento contrário à norma estará sujeito a colher os frutos amargos de
quem os praticaram erradamente, porque o aluno tem que admitir a total
responsabilidade por seus atos.
Considera- se que somente um trabalho sério, com profissionais
competentes, engajados num mesmo objetivo, pode efetuar essa
transformação, conseguindo agregar contextos psicológicos e filosóficos no
currículo escolar, acabando por desenvolver um trabalho inovador, unificando o
educando, integrando as suas partes dissociadas e tranformando- o num self
estruturado, numa personalidade única, criativa, feliz e livre para caminhar e
desenvolver todo o seu potencial.
O mundo continuamente se reveste de alterações de todos os sentidos,
muda constantemente a cada dia. E porque a instituição de ensino público não
acompanha essas transformações? Porque continua sempre focando os
mesmos conhecimentos, às vezes totalmente inoperantes, e não percebe que
precisa se reformular por completo, de ponta a cabeça, espelhando- se em
transmitir atitudes de vida e incluir nos parâmetros curriculares algo mais do
que uma aprendizagem robotizante, que não visa o questionamento e o levar a
pensar... mas leva sobretudo ao alheamento e ao desinteresse do aluno ao
processo.
As instituições de ensino deveriam mirar- se na complexidade da
pessoa, fornecendo atividades que lhe explique as suas dicotomias internas,
observando seus medos, as suas incertezas, o que verdadeiramente ocorre no
seu intimo, concomitantemente, com os conteúdos programáticos e
conhecimentos que deve adquirir, e que serão necessários para uma maior
prontidão para a vida. A escola tradicional leva em consideração apenas o
aspecto mental, e fica claro que para que ocorram mudanças verdadeiras no
52
homem e na sua realidade, é importante que a escola evidencie também como
o estudante pode exercitar o seu sentir, o seu querer e o seu fazer, porque só
essa sequencia possibilita as transformações tão desejadas.
Com a arteterapia esse olhar mais profundo no si mesmo (self) do
aluno, através de seus trabalhos artísticos, com a aproximação na prática do
psicólogo, desenvolvendo a equipe docente, que se capacitará a um trabalho
mais pontual sobre essas atividades criativas, possibilitando uma
conscientização acerca desse transbordamento de emoções, observando um
maior diálogo futuro entre consciente e inconsciente, enfim, atuando como um
retrato de uma psicologia viva e uma escola verdadeiramente atuante acerca
do desenvolvimento total do educando.
Os professores, sempre com a supervisão do profissional ligado à saúde
(psicólogo) poderão desenvolver um trabalho que vise uma melhor qualidade
de vida ao educando, melhorando seus aspectos internos e revalidando a
aprendizagem de conteúdos filosóficos e psicológicos válidos para uma melhor
qualidade de vida.
O psicólogo também poderia organizar debates e reflexões com o grupo
familiar, com a participação efetiva da classe docente, no sentido de tentar
melhorar a estrutura e a relação familiar, no sentido de que haja um diálogo
verdadeiro, um olhar profundo e atento à demanda, sentimentos, emoções,
pensamentos e atos dos educandos, tendo- lhes respeito e, principalmente,
que a família encontre tempo para ouvi- lo atentamente, sem julgamento e
apenas manifestando o verdadeiro amor incondicional. E é nesse início de
vida da criança que acredita- se ser fundamental o olho no olho, a verdadeira
troca afetiva, a volta dos saudáveis limites, o olhar de carinho, as expressões
de amor, porque somente assim, desde cedo a criança e o adolescente
poderão posteriormente desenvolver a empatia e a compaixão pelos demais
seres humanos. A estrutura familiar atualmente falha, e falha muito, face às
conturbações na sua conformação contemporânea, e, portanto, está cada vez
53
mais difícil essa imagem de troca amorosa descrita acima. Portanto, seria
interessante, a escola pontuar e discutir com os responsáveis sobre as
deficiências encontradas na melhoria desse quadro, e também, fornecer meios
para que pelo menos na escola, o aluno encontrasse uma estrutura forte e
segura que pudesse não suprir essas graves falhas familiares, mas pelo
menos atenuar os seus danos.
Urgente se faz necessárias muitas transformações na estrutura escolar,
que hoje muitas vezes torna- se modelo de inoperância, gerando pessoas que
quase sempre tem dificuldades para aprender e constituem- se em objetos de
violência da sociedade, tornando- se simultaneamente em elementos
agressores para o grupo, incluindo a classe docente, que acaba por se tornar
refém desse triste quadro vicioso, além do inexpressivo salário que recebem,
pelo precioso trabalho que exercem.
E apesar da contínua perfeição na tecnologia, a sociedade nunca esteve
tão submersa em um quadro de depressão e violência. E acredita- se que a
educação tem um papel fundamental e de poder para a mudança dessa
paisagem negra.
4.3 – A Sabedoria das crianças Índigo e Cristal e a Instituição
Escola
Essas denominações são estranhas ao Brasil, entretanto essas crianças
por serem, às vezes rebeldes à autoridade, são classificadas, muitas vezes,
como tendo distúrbios de comportamento do tipo hiperativo ou com déficit de
atenção.
[...] e vem justamente para nos ajudar a entender que vamos ter que mudar muitas coisas [...] as crianças índigo
54
vem para ajudar na mudança e transformação social, educacional, familiar e espiritual do planeta, [...]. (GUERRA, 2008, p. 29).
Crianças Cristal são consideradas as pacificadoras porque trazem
elementos de luz e equilíbrio para continuar o trabalho das crianças índigo.
Acredita- se que Jesus Cristo foi uma delas.
Falar sobre essas crianças nos remete irremediavelmente ao problema
da educação atual e do precário ensino das escolas.
Como essas crianças usam simultaneamente os dois hemisférios
cerebrais, é difícil que tenham condições de aprendizagem em instituições que
enfatizam apenas a preocupação com a aprendizagem cognitiva, deixando de
lado a promoção pela aprendizagem associada ao corpo, às emoções, os
sentimentos, a criatividade e a ação. Nesse sentido, as instituições deveriam
proporcionar atividades que despertem também o lado direito do cérebro como
as atividades vinculadas à arteterapia.
Segundo estudiosos, a criança índigo é um adulto em desenvolvimento,
com uma grande sabedoria e profunda inteligência emocional. Conforme esses
mesmos estudiosos, para ser considerada Índigo, a criança tem que agregar
uma série de características gerais como: serem intuitivas, com tendência à
hiperatividade, sensitivas, extremamente criativas, com percepção aguçada
para o entendimento das grandes questões universais e com muita capacidade
de memória, entre outros atributos.
Os educadores devem desenvolver inclusive as habilidades,
afetividades e capacidades do educando, em vez de focarem sua preocupação
somente na memória, com as notas ou com os cinco sentidos como únicas
maneiras de acessar a verdade sobre a aprendizagem de modo fidedigno. E
55
proporcionar- lhes espaço para serem ouvidos, porque eles querem participar
ativamente e com criatividade do seu processo de aprendizagem.
Mesmo essas crianças possuindo conhecimentos pré existentes, a
escola ainda representa um papel fundamental na educação das mesmas e
torna- se urgente uma transformação da instituição para conseguir recebê- las
com liberdade. E que elas possam caminhar e cumprir os seus objetivos.
Somente a educação possibilita a ampliação e transformação do potencial das
crianças em verdadeira sabedoria.
O educando, portanto, teria a capacidade de co- criar. Criar com
confiança e ativamente um novo amanhã. Quando entra em contato com o seu
eu mais profundo, tem a certeza e acredita que os acontecimentos externos
realmente acompanham o seu querer mais profundo, podendo segundo a sua
liberdade e de acordo com o seu livre arbítrio reverter os acontecimentos, mas
é preciso, entretanto, que ele verdadeiramente queira viabilizar essas
mudanças e concomitantemente, ocupe espaços que também tenham essas
transformações como objetivo.
Os adultos índigo e cristal poderiam usar de seus atributos junto aos
pais e educandos, para conseguirem recriar a capacidade da instituição Escola
para se reinventar e ocupar novamente o seu lugar de prestígio junto ao grupo
social, face sua desvitalização e vencendo todos os desafios e demandas
contemporâneos.
Há ainda alguma divergência sobre a existência ou não dessas crianças,
mas para os especialistas nesta matéria, essas crianças são espíritos sábios e
vieram com o objetivo de fazer uma grande transformação nos sistemas
educacionais, modificando- os e adequando- os às necessidades do mundo
contemporâneo. E precisa- se estar bem enraizado, equilibrado e com os pés
bem centrados no chão, para que tenha êxito e visibilidade as mudanças
56
educacionais tanto tempo clamando por chegarem e inexplicavelmente
preteridas até a presente data.
4.4 – A Escola Pensante:
Gerando indivíduos com sabedoria, criativos e com uma
vivência intensa nas atividades expressivas, com mãos e pés
atuantes.
Como poderia ser organizada e construída esse organismo vivo: a
escola pensante?
Em arteterapia, nos trabalhos expressivos, a mão tem a propriedade de
modelar a argila, o barro ou qualquer outro material, elas vão retirando os
excessos com delicadeza, determinação e empenho, e por fim, surge a beleza
da escultura perfeita, que sem ninguém saber já se escondia debaixo do bloco
de argila, e cabe às mãos a tarefa de liberá- la. Assim, também, essas
mesmas mãos poderiam ir modelando, modelando, modelando... e
concretamente ir libertando as novas e sólidas estruturas externas e internas
de um novo ambiente escolar, transformando as salas de aula em organismos
vivos, e processando os conteúdos sob a sabedoria da demanda
contemporânea. Modelando não os alunos, mas modelando o próprio ensino,
que deve ser dinâmico, participativo, e que leve o educando a refletir e a
pensar, sobretudo moldando também seus princípios éticos. Caberia inclusive
um ensino voltado para conteúdos que fossem utilizados em outros ambientes,
como o ensino de etiqueta, por exemplo, que poderia proporcionar um melhor
desempenho do comportamento do educando no clube, no restaurante, na
escola, etc., e incluindo, principalmente aulas de Artes: de música, de poesia,
de teatro, etc., com crianças a partir de cinco ou seis anos, possibilitando aulas
sobre artistas como Miró, Van Gogh, Beethoven, Mozart, Fernando Pessoa,
entre outros. Estas aulas teriam o mérito de fazer o aluno apreciar a obra de
57
arte, refletindo sobre o autor e sua criação. Esse conhecimento é fundamental
porque a criança desde cedo fica em contato com o fazer artístico,
despertando a sua alma para a beleza das atividades expressivas.
Poderia- se contemplar o currículo abordando questões importantes e
que gerem curiosidade como questões ligadas ao nascimento e à morte,
envolvendo os objetivos de vida, a atenção sobre a importância da respiração,
a possibilidade de acessar músicas instrumentais que acalmam e
proporcionam a oportunidade de relaxar, ouvindo- as, pintando, lendo poesias,
etc. Terem liberdade, oportunidade e espaço para escolherem, em
determinados momentos, os conteúdos de seu interesse e que inclua
curiosidades sobre a vida, incluindo inclusive, dinâmicas que envolvessem a
tendência para a escolha de futuras profissões.
Os pés ou “paidor” – em grego significa criança, eles também poderiam
ajudar a fazer nascer essa Escola Criança, e poderiam enraizar a instituição
escolar, sustentando e equilibrando o seu corpo físico e emocional, fincando- a
fortemente no chão, com raízes profundas. E então, essa Escola Criança
poderia florescer num contexto educacional diferenciado e oxigenado.
Caminhando, crescendo e se alimentando de vida, e promovendo o
intercâmbio com o mundo, num espaço que leve a reflexão e ao
desenvolvimento do cidadão pensante.
Será que essa Escola Pensante não poderia abrigar sob a terra uma
escola oculta, com raízes profundas, que frequentemente enviasse sua energia
educacional, através do arquétipo do velho sábio e que essa fonte de
sabedoria empurrasse fortemente uma nova Estrutura educacional,
transformada, viva, vibrante, capaz de produzir folhas, flores e frutos
totalmente doces e amadurecidos?
E trouxesse os responsáveis dos educandos para essa Escola
Pensante, que é coprodutora da vida do educando, mas conscientizando- os
58
sempre que a responsabilidade fundamental pela orientação do educando, é
primeiro do grupo familiar. E creio que o ensino deveria ser novamente
colocado nas mãos do profissional de ensino, que é o indivíduo responsável
pela articulação da aprendizagem.
È necessário para que essa realidade tenha êxito que haja muita união,
consenso e desafios a transpor, disciplina, ética, criatividade, limites
transparentes e respeito entre o corpo docente, crianças e pais, priorizando
sempre as diferenças individuais, e levando à co- criação das práticas
educacionais vigentes.
Será que esse organismo vivo novo e vibrante: a Escola Pensante
poderá um dia, depois de muita modelagem, emergir da argila, e tornar- se
visível para toda a sociedade? Será que ela já tem indícios de existência,
embora oculta para todo o grupo social? Será?
E será que devagarzinho não se poderiam incluir nelas as crianças que
não conseguiram se incluir no modelo tradicional de educação? Portanto,
pouco a pouco, ia se desenvolvendo um novo sistema educacional, que tendo
ficado mais amadurecido e experiente, poderia atrair e aconchegar todo o
restante que ora estuda nas instituições públicas.
E independente de acreditar ou não na hipótese de crianças Índigo
nascendo, é importante observar que as crianças e os jovens contemporâneos
expressam comportamentos extremamente diferentes das gerações anteriores,
isto é, desde muito cedo gostam de escolher o que vão comer e que roupa
usar, possuem intimidade profunda com os equipamentos de alta tecnologia,
apresentam um comportamento autônomo desde cedo, surpreendendo, muitas
vezes, os seus pais, são hiperativas e não gostam de serem conduzidas com
autoridade, entre outras características e, portanto, é visível que o sistema de
ensino não tem mais eficácia e tem que mudar radicalmente em suas bases,
já.
59
CAPÍTULO V
Vida
Questões e pensamentos...
Quem define os rumos que a vida dos indivíduos toma?
Como buscar a eterna e procurada felicidade?
A vida das pessoas é uma história acabada ou ela é impulsionada por
uma força superior? Ela tem algum sentido pré- estabelecido?
O homem tem alguma atuação no desenrolar dessa história?
O homem pode ser livre e criativo para decidir que caminhos tomar?
O roteiro dessa história já vem escrito e pronto e cabe ao homem
apenas desempenhá- lo?
Ou ele tem a chance de mudar o enredo e, chamar para si mesmo a
responsabilidade pelo desabrochar de sua vida?
Pensamentos e questões...
60
5.1 – A vida de cada dia
[...] Sinto- me contente de que minha vida tenha sido aquilo que foi: rica e frutífera. [...], as coisas foram o que tinham que ser; pois foram o que foram, porque eu sou o que sou. Muitas coisas [...] foram provocadas intencionalmente, mas nem sempre representaram uma vantagem para mim. Em sua maioria dependeram do destino. Lamento muitas tolices [...], mas se não fossem elas não teria chegado à minha meta. [...] Achar que a vida tem ou não sentido é uma questão de temperamento. [...] Espero ansiosamente que o sentido prevaleça e ganhe a batalha. (C.G. JUNG, 2006, p. 412).
Na realidade a vida das pessoas, na verdade, é uma história. Às vezes,
isso é difícil de constatar porque passa despercebida nas confusões da vida
diária e com o envolvimento nas tramas cotidianas, a pessoa fica tão
preocupada e envolvida em resolver os conflitos e problemas que permeiam a
vida, para realizar os desejos, conservar os apegos nas vivências dos
relacionamentos interpessoais, conseguir receita suficiente para sanear suas
despesas, que pode deixar de lado a necessidade de ter consciência de viver a
vida ali, naquele momento, na beleza do tempo presente.
O homem nasce com o objetivo de interpretar a história dessa vida
atual. Essa vida ocorre em espaço e tempo bem definidos, onde o princípio é
definido pelo nascimento, o fim pela natural morte física e o meio que se
configura com o que chamamos de vida, e se a pessoa não estiver consciente
desta vida, e viver conscientemente os sucessivos momentos do presente, ela,
às vezes, pode passar despercebida. Principalmente aquelas pessoas que
deslocam sistematicamente o seu pensamento ou emoções para o passado ou
para o futuro.
61
O conhecimento só é importante quando ele se entrelaça com as
experiências vividas, com o que está acontecendo em volta, aqui e agora. E o
encanto e a beleza da vida estão exatamente na preciosidade de ter essa
consciência do momento presente. Estar consciente que o corpo é o meio vivo
para a expressão e as experiências da vida também é importante, porque é
através do corpo, que está sempre no momento presente, que a vida acontece,
se expressa e se realiza.
Quando o indivíduo se abre para tocar naquele momento presente e
vivenciá- lo profundamente, ele encontra a felicidade, que na verdade se
encontra dentro de cada um, ela já faz parte de cada ser. A felicidade é a
consciência e a constatação da comunhão do ser com o momento presente, e
isso gera a percepção de outros sentimentos como o amor, a generosidade, a
compaixão, etc.
5.2 – A vida em cena
[...] Podemos pensar durante toda a vida que seguimos nossas próprias idéias, sem descobrir que fomos comparsas essenciais no palco do teatro universal. Pois há fatos que ignoramos e que, entretanto influenciam poderosamente nossa vida por serem inconscientes (JUNG, op. Cit., p. 122).
O inconsciente é um universo composto de energias invisíveis, forças e
formas inteligentes, além de personalidades diferentes, que frequentemente
não são percebidas, mas que vivem dentro da psique e que parece que tem
vida própria. Portanto, para entendermos mais o ser humano temos que
observá- lo incluindo todas essas complexidades. A consciência se desenvolve
a partir do inconsciente, e vai gradualmente formando uma pessoa mais
completa. Essa incorporação da matéria do inconsciente para o consciente
deve ser contínua até, que finalmente, a mente consciente reflita a totalidade
62
do self. E a liberdade do homem vai somente até o ponto atingido da
consciência.
Quando Jung verbaliza a expressão “palco do teatro”, remete
imediatamente às conotações de personagem, ator, enredo, autor...
Inicialmente quem escreve o roteiro da vida pessoal é a mistura da própria
pessoa (seu ego) mais a participação do destino (arquétipos e ancestralidade).
Quem escreve é o próprio self. Ele tem um importante papel na direção da
peça (vida) dos indivíduos e, portanto, quanto melhor estruturado, mais rica e
interessante será o enredo de vida daquela pessoa.
O que cada pessoa representa nessa história? As pessoas são atores,
interpretando personagens ou são apenas personagens cumprindo
determinado papel num enredo pré- existente e sem capacidade de nenhuma
liberdade?
O ator tem a função principal de representar seu personagem da melhor
forma possível. O personagem tem outros objetivos. Ele tem medos, desejos,
vontades e outros interesses, porque por estar inconsciente, muitas vezes, dos
objetivos de vida e de uma maior harmonia interior, ele só consegue buscar
satisfação naquilo que o mundo material oferece a ele. Por isso é inteligente
conseguir desprender a persona do rosto e vivenciar muitos papéis nesse
estágio, até conseguir não levar os acontecimentos tão a sério e se tornar ator.
O personagem (ego) busca sempre pelo final feliz, já o ator (self), deve
priorizar o momento feliz, porque somente assim ele poderá dar beleza e vida
ao personagem.
O ator deve atuar nessa história com dignidade, e com todo o seu corpo,
sentimentos e pensamentos. Ele ao representar o personagem se depara com
muitas situações que ele cria consciente ou inconscientemente, mas a alegria
63
está em representar da melhor maneira essa personagem abstraindo a beleza
daquele momento único, daquela vida presente e grandiosa.
O que é a vida? A vida, nesse momento, é cada pessoa com suas
vivências únicas daquele momento específico que é o presente, o aqui e
agora. E a conscientização de que quando se agarra o leme da viagem de
viver o dia a dia, assume- se a responsabilidade pela jornada e, portanto, a
pessoa descobre seu próprio caminho, possuindo internamente os recursos
necessários para essa tarefa. E esse movimento possibilita o encontro
supremo com a deliciosa sensação de liberdade. Entretanto, na verdade, o
verdadeiro significado da vida ainda é um dos maiores mistérios a serem
desvendados ou revelados por cada indivíduo no decorrer dela.
Uma das diferenças principais entre o ator (self) e o personagem (ego) é
que o ator conseguiu ter consciência da história que está representando, dos
problemas, das emoções e das atitudes que envolverão o seu personagem
nessa trama, e está mais livre de ansiedades, isto é, ele conhece mais os fatos
que são inconscientes e que influenciam muito a sua vida. Entretanto, o
mesmo não acontece com o personagem ou ego. Este se estressa
constantemente naquele enredo, porque não tem consciência da história,
assim como também não sabe que decisões tomar e, portanto, o enredo vai se
desenvolvendo, na maioria das vezes, a revelia da sua vontade pessoal.
O ator (self) tem possibilidade de agir com liberdade no palco? Ele tem
que seguir a orientação do autor e da história, já previamente escrita, e dessa
forma, a sua liberdade é restrita, apesar dele poder, muitas vezes, improvisar.
E essa improvisação é a parte da vida que é criativa, auto- centrada,
que proporciona prazer e realiza. Essa improvisação é a liberdade do livre
arbítrio, que mesmo dentro de uma história já mais ou menos elaborada, o
indivíduo poder trazer a oportunidade de usando as ferramentas do
64
inconsciente, juntamente com os cenários conscientes, ter a possibilidade de
acessar e emergir o significado e o caminho verdadeiro da vida.
E, portanto, nessa improvisação, o homem é um ser dotado de liberdade
e de vontade própria, e não se constitui em uma folha solta ao vento ou um
animal completamente à deriva. E de acordo com Jung (2006), que descreve
sobre a importância da liberdade nesse emaranhado do destino:
Tais eram as coisas que, ocultas no inconsciente, me esperavam. Devia inclinar- me diante deste destino e, no fundo, deveria tocar o chão com minha fronte para que minha submissão fosse completa. Mas alguma coisa – faltava um milímetro – impediu- me de fazê- lo. Era como uma voz interior, dizendo: “Sim, mas não totalmente.” Alguma coisa em mim se revoltava e não consentia em ser um peixe mudo. [...] O homem reserva para si uma margem, mesmo em face da decisão divina. Sem isso, onde estaria sua liberdade? (JUNG, 2006, p. 259 e 260).
5.3 – A arte da vida com sabedoria
Se o homem viver seguindo apenas a sua razão, provavelmente andará
sempre por caminhos estreitos e conhecidos, pensando que está de posse do
controle de sua vida, mas se a pessoa vive sua vida sem essa rigidez e sem
esse absoluto controle, ela pode expressar a sua espontaneidade e se deliciar
com as surpresas que o dia a dia possibilita e é uma grande oportunidade de
amadurecer e mudar com elas. Porém quando o inconsciente acompanha
também essa existência, é importante prestar atenção aos seus sinais, que
comunicam o que não está claro a nível consciente. E esses sinais
representam os sonhos pré- monitórios, os pressentimentos, a intuição e as
sincronicidades, entre outros.
Esse é o quadro geral do enredo da vida das pessoas, mas, quando o
homem desiste de seguir o seu próprio ego e se deixa guiar livremente, ele é
levado ao arquétipo do velho sábio, que é aquela figura sábia interna que teve
65
o privilégio e o conhecimento de saber quem é aquela pessoa e qual o seu
verdadeiro caminho e objetivo na vida.
Nesse sentido, observa- se que o caminho de cada um não é
homogêneo para todos, ele é singular porque depende de fatores externos e
internos, tais como: do grau de desenvolvimento em que a pessoa se encontra,
isto é: se o seu self está fragilizado ou já se constitui num centro forte e
equilibrado. Depende também do diálogo dessa figura sábia interna com a
pessoa, possibilitando adquirir mais liberdade, na medida em que conquista
mais consciência, ampliando e conhecendo mais o seu inconsciente.
Com o continuar desse amadurecimento há uma mudança de fato no
indivíduo, e não é mais necessário ouvir, nem dialogar, com nenhuma voz lhe
dizendo como agir ou qual caminho deve seguir. A própria pessoa já é capaz
de descobrir por si mesma as soluções para os problemas que surgem no
íntimo de seu ser. Chega o momento que o indivíduo cresce e não precisa
recorrer tão regularmente aos conselhos de nenhum velho sábio, porque a
sabedoria, agora, encontra- se costurada no íntimo de cada um, plantada no
seu próprio jardim, e basta ter sensibilidade para conhecê- la e colher os
frutos. E a disponibilidade da coragem, da espiritualidade e da determinação
faz traçar e marcar as suas próprias pegadas no caminho do inconsciente,
assim como proporciona paz e centramento para decidir novos rumos,
alcançando objetivos que vão se delineando, transformando- se e
transformando as pessoas ao redor. Nesse exato momento, a pessoa sabe e
tem consciência de sua existência e tem disponíveis os meios de acessar o
seu inconsciente, para estar cada vez mais disponibilizada em volta de um self
forte, conseguindo cada vez mais liberdade e, desenvolvendo o seu processo
de individuação, numa aventura única e magnífica.
66
E conforme Begg destaca, quando discorre sobre sincronicidade:
As sincronicidades nos dizem que, sob a nossa consciência comum, existe uma norma organizadora e inteligente, criativa e infinitamente sensível que desafia e transcende a compreensão individual. Quando a nossa intenção é séria e quando a imbuímos de energia ao centralizar nossos pensamentos e sentimentos, visualizando o resultado desejado, nós geramos uma força que é verdadeiramente criativa e pode surgir no futuro, desde que estejamos atentos à advertência de sermos cuidadosos naquilo que almejamos, porque estamos certos de que o conseguiremos. (BEGG, 2001, p. 65 e 66)
Begg foca, utilizando a sincronicidade, um outro olhar mais
contemporâneo, espelhando a espécie humana não como um produto
acabado, mas como parte de um sistema de energia sempre mutável, em
processo de recriação e de permanente criatividade. Assim deve- se estar
atento e preparado para saber lidar com aquilo que a pessoa pediu no futuro,
para que quando verdadeiramente aconteça no presente, face os
acontecimentos sincronísticos, ela saiba ter sabedoria para que não seja
desperdiçado o que foi tão solicitado e conquistado. E, portanto, cada ser
humano está em determinado estágio de consciência para desenvolver alguns
aspectos que não estão ainda estruturados, e acredita- se que nos últimos
estágios dessa evolução humana, aonde ele adquire maior liberdade, a
concepção que o homem é mais que personagem e ator é perfeitamente
aceitável, visto que, nesse estágio, ele é o único responsável pelos seus
pensamentos, sentimentos, intenções, ações e escolhas, porque se é
descoberto esse caminho de sabedoria e sincronicidade (precognição de
acontecimentos futuros) que leva da intenção interna para a realização
externa, o homem está definitivamente caminhando criativamente para
construir, dia a dia, conscientemente, a história de sua própria vida, esculpindo
o seu destino e tentando fazer dele uma grande obra prima.
67
CONCLUSÃO
A psicologia Junguiana, e em especial a arteterapia poderão constituir-
se em ferramentas e força de poder transformador e curador nos
acontecimentos contemporâneos: a corrupção, doenças mentais, problemas
sociais e educacionais, falta das qualidades morais, entre outras, sedo
responsáveis pela construção de uma nova história pessoal e reconstruindo a
realidade. Com a ativação do arquétipo do velho sábio, que simboliza
sabedoria, conhecimento, auto- reflexão e inteligência, além de outras
qualidades morais, o homem agrega o despertar do inconsciente sobre a
mente coletiva, e incorpora- se esse arquétipo internalizando- o. Ele cresce. E
simultaneamente, observa- se que jorra essa luz própria de volta, ao redor, nos
semelhantes e no mundo exterior e, portanto, o homem se recria, se educa e
transforma o seu semelhante com a intenção de criar um mundo melhor para
todos... iluminando e sendo iluminado.
O homem passa por estágios que auxiliam na construção do processo
de individuação. Essas etapas são situações que representam desafios, que
geram aprendizado e experiências que promovem o amadurecimento No
período de constituição do arquétipo do Velho Sábio, o homem reconhece o
seu verdadeiro valor pessoal, se apropria de sua própria luz, podendo utilizá- la
para a concretização do bem comum, alargando o campo do eu consciente em
direção ao self. Depara- se com alguns aspectos esquecidos, vivencia as
perdas inevitáveis ao longo da estrada, mergulha gradativamente no
inconsciente, encara o seu lado sombrio, sendo capaz de seguir por novos
caminhos e transcender. A função transcendente (função simbólica do self)
permite que o homem seja capaz de perceber e compreender uma nova
realidade pessoal e, portanto, consegue finalmente avaliar com atenção o seu
modo de ser.
68
Cada indivíduo encontra- se em um estágio de desenvolvimento: mental,
espiritual, emocional e físico e, portanto, na medida em que vai evoluindo, vai
construindo e estruturando melhor o self, e os arquétipos vão tendo uma
influência secundária na sua vida, e cada vez mais, ele vai gradativamente
adquirindo a passagem de “personagem” para o estágio de “ator”, isto é, ele de
início apenas representa uma personagem (persona) e cada vez mais vai se
conscientizando da sua história própria e o inconsciente vai tornando- se claro,
fluindo junto com o consciente. Nesse sentido ele vai conseguindo
oportunidades para efetuar novas escolhas e ampliando a sua liberdade. E
quando, finalmente, consegue estruturar- se, criar raízes, germinar, crescer
como uma árvore boa, tomando em suas mãos o seu destino, estando cada
vez mais capacitado para conduzir seus próprios passos, os acontecimentos
sincronísticos vão acompanhando essa trajetória e vão se intensificando, na
medida em que os desejos são focados e se tornando objetos da consciência.
O desejo proporciona a ocorrência da sincronicidade, que vão se constituindo
em ímãs do desejo, e surpreendentemente, percebe- se no mundo externo a
realização do que alguns dias ou momentos antes foi focado e desejado no
interior.
A escola tem um papel fundamental e de base para a reconstrução
individual e coletiva, entretanto, ela encontra- se em estado de decadência,
como, aliás, todas as instituições totais da sociedade atual, portanto, é
necessária uma transformação imediata e radical em suas bases.
A arte é um instrumento essencial para o desenvolvimento humano,
porque favorece um olhar mais atento aos conteúdos internos, estabelecendo
o equilíbrio emocional e encontrando na própria linguagem expressiva o auxílio
para o caminho da individuação. Os materiais facilitam o contato com os
conteúdos inconscientes e as experiências da fase que o homem ainda não
conseguia se expressar, facilitando a sua elaboração. A arteterapia contribui
muito para alcançar essa ampliação da consciência, através do aumento do
autoconhecimento, da sinalização do inconsciente cristalizado e desconhecido,
69
permitindo acessá- lo e transbordá- lo para o consciente e, sobretudo, sob a
forma de identificação de novas forças e caminhos ainda não explorados que
contribuem para despertar para uma vida de melhor qualidade, melhor
felicidade, melhor sabedoria... Ela cuida do ser humano em toda a sua
plenitude, dando lhe oportunidades de poder integrar o lado emocional, o
neurológico, o cognitivo e o afetivo.
A arte e a arteterapia resgatam a “criança interna” que todo adulto
guarda dentro de si mesmo, desenvolve a criatividade, proporciona bem estar,
relaxamento, além de ser um canal de expressão para materializar os medos,
ansiedades e necessidades profundamente ocultas, que não ficavam visíveis
e, com os materiais plásticos ganham contornos e se materializam,
constituindo- se num primeiro passo para o processo da cura.
Na atual sociedade percebemos frequentemente os mandos e
desmandos dos mais fortes, “detentores do saber”, do ter e do poder, que
querem controlar e subordinar aos outros conforme os seus interesses, mas é
preciso que o homem não aceite essa subordinação e dominação, que
geralmente provoca pobreza e exclusão social. Por isso, através do arquétipo
da sabedoria é necessário que se despertem os valores éticos que existem
dentro de cada um, para que haja a construção de uma sociedade mais justa e
um mundo melhor, onde todos possam participar e decidir, sem omissão,
libertando- se, sendo felizes e construindo uma sociedade que floresça amor,
compreensão, sabedoria e compaixão...
A arteterapia possibilita ao psicólogo desenvolver um olhar com
atenção, ver com carinho o significado das imagens e símbolos, garimpar e
selecionar pequenos rabiscos, pedaços de fala, ouvir histórias, perceber um
olhar, ver o não visível, perceber recortados pensamentos e sentimentos
negativos, reconstruindo- os, observar o amassar da sombra através dos
materiais, ver criar e modelar a esperança, observar o pintar e fluir das
emoções com liberdade, perceber a dança com a vida, colar a alma (psique)
70
no infinito da criatividade... Enfim, agrupar, organizar, classificar, guardar,
devolver, transformar... Construindo um lindo mosaico, com todos esses
pedacinhos mágicos que é a grande obra de arte pessoal...
71
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Emoções. RJ Wak, 2007.
75
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
A ABORDAGEM JUNGUIANA 13
1.1 – A Psicologia Analítica 14
1.2 – Os Complexos, os Arquétipos e os Símbolos 16
1.3 -- O Processo de Individuação 18
1.4 – Sincronicidade 22
CAPÍTULO II
O ARQUÉTIPO DA SABEDORIA 25
2.1 – O Arquétipo do Velho Sábio 26
2.2 -- O Arquétipo da Mulher Sábia Guardiã Subterrânea 30
CAPÍTULO III
ARTETERAPIA 34
3.1 – Arte e Arteterapia 35
3 2 – Arte e Imaginação Ativa 37
3 3 – O Caminho para o processo de Individuação 39
3.4 – Instrumento de mudança individual, social e
do planeta 40
76
3.5 – O Arquétipo do Velho Sábio, a Arte e a Arteterapia
Como força de poder transformador e curativo 42
CAPÍTULO IV
A INSTITUIÇÃO ESCOLA (Rede Pública de Ensino) 45
4.1 – A escola de Ponta à Cabeça 47
4.2 – Um olhar diferente nos papéis do psicólogo, do
quadro pedagógico e da família 49
4.3 – A Sabedoria das Crianças Índigo e Cristal e a
Instituição Escola 53
4.4 – A Escola Pensante 56
CAPÍTULO V
VIDA, QUESTÕES E PENSAMENTOS 59
5.1 – A vida de cada dia 60
5.2 – A vida em cena 61
5.3 – A arte da vida com sabedoria 64
CONCLUSÃO 67
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 71
BIBLIOGRAFIA CITADA 74
ÍNDICE 75
FOLHA DE AVALIAÇÃO 77
77
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: