adestradora de galinhas
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ADESTRADORA DE GALINHAS
Texto: Adelice Souza
Ilustrações: Ana Luísa Reis
Salvador, BA - 2015
Texto: Adelice Souza
Ilustrações: Ana Luísa Reis
ADESTRADORA DE GALINHAS
Secretaria de Cultura do Estado da BahiaPalácio Rio Branco, Praça Thomé de Souza, s/n - Centro Salvador, CEP: 40.020-010, Bahia, Brasil. www.cultura.ba.gov.br
Copyright © 2015 by Adelice SouzaIlustradora: Ana Luisa Reis
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Governador da Bahia Rui Costa
Secretário da Educação Osvaldo Barreto
Secretário de Cultura Jorge Portugal
Subsecretário da Educação Aderbal de Castro Meira Filho
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Comissão ExecutivaCarlos Vagner da Silva MatosClaudia Antônia Oliveira MoraesCristiane Mary VasconcelosDaiane Morbeck Bomfim Elisa Bastos AraújoNadja Maria Amado de Jesus
Comissão EditorialCarla de QuadrosJorge de Souza AraújoMilena Britto de QueirozMônica Menezes Santos
Catalogação Elma do Nascimento Monteiro - CRB5/1018
Consultoria técnica (Design Editorial) Daniel Dias
S719a
Souza, Adelice
Adestradora de galinhas/Adelice Souza; ilustrado por Ana Luisa Reis. - Salvador: Secretaria da Educação, Secretaria de Cultura, 2014.
16p.; il. (Coleção Pactos de Leituras)
ISBN: 978-85-64531-04-8ISBN da Coleção: 978-85-64531-03-01
1. Leitura. 2. Literatura Infantil. I. Reis, Ana Luisa. II. Título. III. Série
CDU: 821(81) (0.053.3)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP,) Brasil
Para Deco e Fiinha, que são avós de gente, planta e galinha.
E para Purinha, minha filhinha.
Eu odiava galinhas: elas comiam cocô e destruíam florzinhas. Era férias
e eu ia pra casa de Voinha. Lá não tinha criança, só galinhas. Se, com
lição, eu tudo aprendia (eu era tão sabida!), elas podiam aprender tudo
também. Pois burro é que é burro. Galinha é galinha, não é burro. E todo
mundo - até burro – aprende tudo quando tem alguém para ensinar, é o
que diz a minha professora.
E criei as regras:
a. eu não queria brincar sozinha;
b. não havia ninguém para brincar além das galinhas;
c. elas entrariam na minha.
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Era a hora de ditar as regras. Mas a língua delas era diferente de tudo,
até do inglês da escola. Falei olá, falei hello e nem um alô. E o galo
cantou. O segredo era cantar! Então cantei
o hino do menino que também teve um bichinho.
Viva Janjão
Viva Joãozinho
Beleza e pureza
O rio, o menino
No meu caminho
Viva Joãozinho
Viva Janjão
É o meu santinho
Com seu carneirinho
No meu coração
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E elas comeram do milho. E cantaram mais bonito que eu. A de
crista mais alta, o galo, parecia um rei, seria o Rei Roberto. A
da pena mais curta, a galinha, cantava menos e ciscava mais.
Era uma rainha e sua graça seria Conceição. Enquanto Voinho
plantava quiabos, jasmins e minhocas no jardim, peguei a
mangueira e joguei aguinha na cabeça delas. Correram felizes.
E assim foram batizadas, quase do mesmo jeito que eu fui.
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Meu amigo Zezinho tinha um gatinho que ficou doente e passou a
comer a mesma comida que era dada pra gente.
A ração tinha gosto de nada. Começou a comer de um tudo e pegou
gosto de ficar são. As coisas são como são. Para ensinar as galinhas
a não comerem cocô, Voinha fazia a minha refeição e eu dava a
elas um pouquinho. Eu nunca comi cocô (Deus me livre!), e minha
comidinha, cheia de chameguinho de Voinha, era tão boazinha,
que elas aprenderam a só querer comidinha limpinha e gostosinha.
Como a minha.
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A casa das galinhas era um cercadinho para que elas não destruíssem
as florzinhas. As florzinhas não andavam por aí porque estavam
plantadas no chão. As galinhas, não. Então fiz uma invenção: do
cercadinho das galinhas, construí uma casa para as florzinhas. E as
galinhas ganharam a imensidão. Ninguém vive feliz na prisão. Depois
me permiti uma traquinagem: fiz xixi no chão. E sorri carvão.
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Mesmo com bananinha (e até goiaba!), as galinhas devoravam as
florzinhas. Elas gostavam de plantas. Em volta da cerca, mergulhei
grãos de milho na terra. Elas não chegavam até às flores porque
comiam antes os grãozinhos. As florzinhas cresceram lindas. Mesmo
dentro da casinha. Eu não queria usar uma cerca. Mas até eu, que sou
muito sabida, preciso, de vez em quando, ter uma porta trancada para
saber quando não posso entrar. Imagine as galinhas...
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6Conceição ficava lá deitadinha. Roberto cantando,
ela chocando. Nasceram 10 ovos. Conceição era muito melhor do que
a galinha dos ovos de ouro: pois dos seus ovinhos, nasciam coisinhas
que se moviam no mundo.
E isso devia valer muito mais do que ouro.
O filhote 10 nem nasceu;
O filhote 9 entrou pelo cano e morreu;
O filhote 8 sumiu e foi pro infinito;
O filhote 7 foi engolido pela cobra de duas cabeças
que morava no fundo da terra;
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O filhote 6 desapareceu de uma vez, não sei o que foi que ele fez;
Os filhotes 5, 4, 3, 2 e um ficaram vivos com sua mainha e painho.
E como a vida é curta por demais, ao invés de chorar pelos que se
foram, eu fazia festa com os que ficaram (eu fui tão sabida!).
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As férias acabaram e eu ia voltar para casa. As galinhas já haviam
aprendido tudo, até tristeza de férias quando acabam. No último dia
ficaram quietinhas, sem fazer nada, a família toda olhando para mim
como quem dizia assim: o amor é este mistério, começa mesmo do
nada e é uma coisa sem fim. E, em silêncio, agradeci a Deus do céu
por elas. E sei que elas agradeceram ao seu Deus da terra, por mim.
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Tudo que está distante da gente é como se
estivesse morto. Mas a gente não deixa de gostar
porque está distante ou morto. Eu precisava
aprender a ficar sozinha sem minhas galinhas.
Quando a gente ama, nunca está sozinho, está
sempre acompanhado de quem a gente gosta, pelo
carinho. Eu nunca mais seria sozinha nem estaria
sozinha, porque agora eu amava as galinhas.
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Quem fez este livro
A menina que ilustrou:
Ana Luísa Reis nasceu em
Salvador (BA), é ilustradora,
artista plástica e estuda a
alfabetização no 1º ano do
Esnsino Fundamental. Sabe
fazer bolo, farofa e salada.
Tem 5 anos e ainda é filhote.
A moça que escreveu:
Adelice Souza nasceu em Castro
Alves (BA), é escritora, diretora de
teatro, yoguini (que pratica yoga),
dramaturga (que escreve peças),
professora, dançarina, sanfoneira e
atriz. Sabe fazer maçã do amor.
Tem 39 anos e ainda não tem filhotes.
Foto: David Glat
A Coleção Pactos de Leituras, no âmbito da Secretariada Educação do Estado da Bahia, integra as ações doPrograma Estadual de Alfabetização na Idade Certa etem como objetivo ampliar as práticas de leitura econtação de histórias nas classes de alfabetização. As obras literárias dessa coleção contribuem para
garantia do direito à alfabetização até os oito anos de idade, meta prioritária do PROGRAMA EDuCAR PARA
TRANSFORMAR – um Pacto pela Educação, e promove a divulgação da produção literária de autoria baiana.