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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM O DESENVOLVIMENTO DO CÉREBRO EMOCIONAL E A EDUCAÇÃO INFANTIL Por: Patrícia Cremonez Simas Orientador Prof. Marta Pires Relvas Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

O DESENVOLVIMENTO DO CÉREBRO EMOCIONAL E A

EDUCAÇÃO INFANTIL

Por: Patrícia Cremonez Simas

Orientador

Prof. Marta Pires Relvas

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

O DESENVOLVIMENTO DO CÉREBRO EMOCIONAL E A

EDUCAÇÃO INFANTIL

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Neurociência

Pedagógica

Por: Patrícia Cremonez Simas

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por me capacitar e me dar

força em todos os momentos, aos

meus pais, familiares e amigos, às

crianças da turma “Amigos das

Árvores” (Pré-escola IB), minha querida

mestra prof. Marta Pires Relvas e a

todos que de alguma forma me

apoiaram nesta trajetória.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho às crianças da turma

“Amigos das Árvores” (Pré-escola I-B) e a

todos os alunos da Creche Maternal

Florescendo, que são a fonte da minha

força e da minha inspiração.

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RESUMO

Este trabalho de pesquisa aborda a relação entre Neurociência e a criança da

educação infantil, discutindo como os estímulos são captados pelo cérebro,

desde a sua formação no ventre materno até os seis anos.

No primeiro capítulo, será citado o desenvolvimento do cérebro emocional,

desde a fase embrionária até os seis anos.

No segundo capítulo será estudada a neurobiologia das emoções, a fisiologia

da aprendizagem e a relação entre a aprendizagem e a emoção.

No terceiro capítulo será abordada a importância da Neurociência na

Educação Infantil, fazendo associações com possíveis atividades pedagógicas.

Palavras-chave: Neurociência, Aprendizagem, Emoção, Educação Infantil,

Cérebro.

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METODOLOGIA

Este estudo refere-se a uma pesquisa teórica, envolvendo um estudo

bibliográfico, onde serão consultadas as principais publicações que tratam do

tema.

Para o estudo das estruturas cerebrais, neurobiologia das emoções e a

fisiologia da aprendizagem, foram pesquisados os seguintes autores:

GAZZANIGA (2006), LENT (2008), MACHADO (2004), RELVAS (2005), (2009)

e (2009).

Para a pesquisa sobre o desenvolvimento do cérebro emocional: revista

“Mente e Cerébro” especial: “A mente do bebê” em quatro volumes; LENT

(2004), GAZZANIGA (2006), RELVAS (2005), (2009), (2009) e LOPES (2004)

Para relacionar a Neurociência com a Educação infantil as atividades

pedagógicas, além dos autores acima citados, também foram estudados:

ANTUNES (2004), CRAIDY, M.; KAERCHER (2001), GRASSI (2008),

JEANDOT (2002), JOURDAIN (1998), KRAMER, S. (2003), SACKS (2007)

SÁNCHES (2003), RICHTER (2004), SMOLE (2000), SUNDIN (1991),

SNYDERS (1997), VAYER (1989), VICTORIO (2008)

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I -

Embriogênese do Sistema Nervoso 09

CAPÍTULO II -

A influência da emoção na aprendizagem 23

CAPÍTULO III –

A Neurociência na Educação Infantil 34

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43

ÍNDICE 45

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INTRODUÇÃO

É impossível realizar um trabalho de qualidade na educação infantil sem

conhecer o principal órgão da aprendizagem: o cérebro.

O bebê nasce com cem bilhões de células neurônios, que irão realizar

conexões a partir das experiências que ele vai ter ao longo da vida. A

aprendizagem acontece por meio dos cinco sentidos biológicos, onde os

nervos sensitivos captam os estímulos externos e fazem conexões com o

tálamo, que tem a função de encaminhar esses estímulos para as outras

partes do cérebro. Este, porém, realiza tal função em sintonia com o

hipotálamo, que identifica se a informação é agradável ou não. Caso positivo,

produz serotonina e quando é desagradável, estimula as suprarrenais a

produzir cortisol adrenalina. Quando o cérebro produz serotonina, a

aprendizagem de fato acontece, pois há interesse naquele conteúdo.

A emoção e o afeto devem fazer parte do cotidiano escolar porque para

a criança da educação infantil, tudo ao seu redor é uma aprendizagem nova,

pois está descobrindo o mundo. Quando há um vínculo afetivo, o professor

torna-se um exemplo para o aluno. Por outro lado, porém essa afinidade não

existe, a criança pode criar uma aversão ao ambiente escolar, o que pode lhe

causas problemas futuros.

Nota-se, então, a importância da neurociência e do afeto na sala de aula

da educação infantil.

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CAPÍTULO I

EMBRIOGÊNESE DO SISTEMA NERVOSO

1.1. A Formação do Cérebro

“É bem provável que o correto funcionamento da memória fetal seja essencial

ao desenvolvimento adequado das estruturas do sistema límbico.” (Mente e

Cérebro, v.01 p. 23)

Logo após a fertilização, a célula-ovo ou zigoto entre em divisão

mitótica. No quarto dia de concepção, forma-se a mórula que é um conjunto de

trinta e duas células ainda idênticas. Enquanto o processo de divisão celular

acontece, a estrutura é transportada pela tuba uterina (também denominada

trompa de Falópio) para a cavidade do útero, onde o conjunto é transformado

em blastocisto, que é composto por uma cavidade e massa celular interna,

localizada em apenas um dos pólos. Essas células compõem as células-tronco

embrionárias, que são dotadas de características pluripotentes, isto é, tem

habilidade para se transformar em qualquer outro tecido do organismo. Na

parte externa, o tecido é revestido por uma camada celular, denominada

trofonblasto que originará as membranas e os anexos embrionários.

A partir da terceira semana embrionária, inicia-se a morfogênese de

todos os organismos do embrião, na qual encontramos três camadas

germinativas: ectoderma, mesoderma e endoderma. Do mesoderma surgirão o

esqueleto, os músculos e os sistemas circulatório, excretor, urinário e

reprodutor. Já o endoderma dá origem aos órgãos do aparelho digestivo entre

outros. O sistema nervoso, a pele e seus anexos são oriundos do ectoderma,

que é a camada embrionária mais externa.

Devido a um complexo programa que gerencia a expressão de genes

específicos em superpopulações celulares, acontece a diferenciação das

células do sistema nervoso. Lent explica:

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O destino de cada célula depende de fatores difusíveis a que

ela é exposta, e da maquinaria celular (receptores, enzimas

etc) que ela apresenta para responder a esses fatores. As

células do tecido ectodérmico produzem e reconhecem certas

proteínas chamadas proteínas morfogenéticas do osso (BMP´s

do inglês bone morphogenetic proteins ) que as fazem

permanecer ectodérmicas e se diferenciar em epiderme.

Quando o receptor de BMP´s é bloqueado, ou seja, impedido

de se ligar a essas proteínas, o destino dessas células se

modifica e, em vez de se diferenciarem em epiderme, elas vão

constituir o tecido nervoso. O mesoderma subjacente ao

ectoderma produz três proteínas capazes de bloquear o

receptor de BMP: noguinha, folistatina e cordina. . Assim, na

presença dessas proteínas, as células ectodérmicas se

diferenciam em tecido neural. (LENT 2008, p. 90)

Nesse momento o embrião encontra-se em um formato achatado. O

ectoderma da área próxima da linha média inicia um processo de

espessamento para formar a placa neural, sofrendo influência de fatores

secretados pela notocorda (estrutura mesodérmica localizada abaixo do

ectoderma). Tal processo acaba bloqueando as BMP´s. A placa neural

“representa um primórdio celular diferenciado, com células que darão origem a

bilhões e as células glias, distribuídos com particularidades para cada região.”

(Mente e Cérebro, “A mente do bebê, v.01, p. 11). Enquanto a placa neural se

dobra em torno de um sulco central, as células neuroendodérmicas se

multiplicam, passando de uma formato cilíndrico para prismático. A placa

neural passa, então, a dobrar-se em si mesma, gerando uma aproximação

gradativa das suas bordas, que se juntam e formam o tubo neural que

rapidamente se separa do ectoderma superficial. Quando as células se unem,

algumas células neuroectodérmicas se separam das suas vizinhas porque

deixam de ser similares e geram a crista neural. O tubo neural e a crista são as

estruturas mais precoces do sistema nervoso. O tubo neural originará as

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estruturas do sistema nervoso central (encéfalo e medula espinhal) e a crista

às do sistema nervoso periférico (gânglios espinhais e nervos) e a outras

estruturas não-neurais (melanócitos, células da medula supra-renal e alguns

componentes esqueléticos da cabeça).

Nesse momento precoce do desenvolvimento, ainda não há neurônios

constituídos. O embrião ainda não é dotado de sensações, percepções nem de

outras funções típicas do sistema nervoso maduro, pois as células ainda não

se comunicam como farão posteriormente. Lent explica que o tubo neural

contém duas aberturas ou neuróporos, uma caudal rostral e outra que

rapidamente se fecham. O tubo neural aparenta ser uniforme, mas ele se

diferencia e se dobra, originando áreas que exibem estruturas e funções

variadas. Inicialmente surgem no pólo mais rostral três dilatações que

compõem as três vesículas encefálicas primitivas. A partir da porção mais

cranial, observamos então, o procencéfalo, o mesencéfalo, o rombencéfalo. A

medula primitiva é encontrada caudalmente a elas.

A partir desse momento, alguns dobramentos começam a acontecer no

sistema nervoso, alterando a sua forma novamente. Agora, ao invés de um

tudo cilíndrico, passa a ser um tubo contorcido. Somente a medula primitiva

mantém-se cilíndrica, formando posteriormente a medula espinhal. No

mesencéfalo surge a flexura cefálica, que induz o procencéfalo a se dobrar

para baixo e para trás. Outras flexuras vão aparecendo. Uma caldalmente

(flexura cervical) entre o rombencéfalo e a medula espinhal, fazendo com que

a porção posterior do tubo a se dobre para baixo. Outra no rombencéfalo, a

flexura pontina, que dobra o encéfalo ao meio. Devido às diferenças no ritmo

de proliferação celular que acontecem em cada uma das áreas do sistema

nervoso, surgem essas flexuras. Ao passo que as dobras surgem, as três

vesículas iniciais se transformam em cinco: o prosencéfalo divide-se em

telencéfalo e dienféfalo; o mesencéfalo mantém-se uma estrutura única e o

rombencéfalo transforma-se em mielencéfalo e metencéfalo. Desta forma, as

estruturas do sistema nervoso são formadas. (LENT, 2008)

Lopes explica que

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...após o primeiro mês de gestação o embrião mede cerca de 5

milímetros de comprimento, o sulco neural já fechou, o coração

já se formou e começam a diferenciar-se os braços e as

pernas. Após o segundo mês de gestação o embrião mede 2,5

centímetros, e praticamente toda a organogênese já terminou.

A partir do final do segundo mês de gestação passamos a

chamar de feto o indivíduo em formação. (LOPES, 2004, p.

155)

Na tabela abaixo, Lent correlacionou as estruturas do sistema nervoso em na

fase embrionária com as formadas posteriormente.

Vesículas primitivas Estruturas anatômicas

Prosencéfalo Telencéfalo Córtex cerebral

Núcleos da base

Diencéfalo Diencéfalo

Mesencéfalo Mesencéfalo Mesencéfalo

Rombencéfalo Metencéfalo

Cerebelo

Ponte

Mielencéfalo Bulbo

Medula primitiva Medula primitiva Medula espinhal

(LENT, 2008, p.93)

Observa-se cinco fases, em nível celular, durante o desenvolvimento do

sistema nervoso: gênese das células nervosas, migração, diferenciação

morfofuncional (emissão de prolongamentos, expressão de

neurotransmissores, receptores e outras moléculas funcionalmente

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relevantes), busca dos alvos para o estabelecimento de conexões, e

fenômenos regressivos:

Gênese das células nervosas

“As primeiras fases do desenvolvimento embrionário se

caracterizam justamente por uma intensa proliferação de

precursores neuronais e gliais, que gradualmente vai formando

as diferentes regiões do sistema nervoso central. Nessa fase

precoce, tudo indica que o genoma controla sozinho a maior

parte do processo, tendo em vista que o ambiente externo tem

ainda pouco acesso ao sistema nervoso imaturo, formando se

in útero” (LENT, p. 114)

Numa fase precoce do desenvolvimento, uma única camada de células

chamada zona ventricular ou germinativa, compõe as paredes das vesículas

encefálicas. A parte interna do tubo é oca e preenchida pelo líquido do tubo

neural. Conforme os precursores do tecido nervoso se multiplicam, esta vai se

tornando mais espessa em relação à luz do tubo, “permanecendo no adulto

somente um espaço restrito que constitui as cavidades das diferentes partes

do encéfalo e da medula: os ventrículos e forames, o aqueduto cerebral e o

canal medular.” (LENT, 2008, p. 97)

Durante o desenvolvimento, diversas mitoses vão sendo feitas pelas

células da zona ventricular. Isso proporciona o aumento da espessura da zona

ventricular, contribuindo para o surgimento dos neurônios e das células da glia

que compõem as diversas áreas do sistema nervoso. A neurogênese

(processo de gênese dos neurônios) normalmente ocorre antes da gliogênese.

A partir das divisões mitóticas feitas pelas células da zona ventricular,

duas células-filhas vão surgindo e dão início a um novo ciclo celular, originando

outras células. Outras param de se dividir e migram, deixando a zona

ventricular. Assim, “acontecem divisões simétricas, que originam duas células-

filhas iguais (ambas reiniciam o ciclo, ou ambas migram) e divisões

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assimétricas, com células-filhas de destinos diferentes (uma deixa o ciclo e a

outra o reinicia).” (LENT, 2008, p. 96)

Migração Neuronal

Durante o desenvolvimento cerebral, muitos neurônios são gerados em

locais diferentes do que irão ocupar posteriormente, logo, são obrigados a

migrar até o destino final. Na fase de migração, os neurônios jovens ou

precursores (células que deixam o ciclo), deslocam-se radialmente grudados

às células glia radiais que se esticam desde a zona ventricular até a superfície

“pial”, criando caminhos que facilitam a migração dos neurônios até as

camadas corticais em formação. Dependendo da sua área de origem, esses

neurônios, irão compor os núcleos e as camadas (LENT, 2008).

Conforme a revista Mente e Cérebro, esse processo é muito importante

para o estabelecimento da função neural, pois trata-se de uma atividade

extremamente organizada e complexa do desenvolvimento cerebral. É um

processo longo, no início da neurogênese, demora de um a três dias. Já nos

estágios finais do desenvolvimento cortical, pode demorar até mais de duas

semanas. O processo completo dura três meses, desde o terceiro até o sexto

mês de gestação. Devido a esta longa duração e complexidade, o tecido torna-

se mais vulnerável, facilitando o surgimento de possíveis distúrbios funcionais

e anatômicos. (MENTE e CÉREBRO, “A mente do bebê”, v. 01)

Diferenciação morfofuncional

Alguns autores acreditam que, na fase de migração, alguns precursores

já começam a sua diferenciação. Segundo Lent, “fatores moleculares

secretados localmente por outros neurônios, ou por células da glia, e

informação provenientes dos aferentes exercem grande influência na

diferenciação neuronal.” Quando nascem, os neurônios tem um formado

arredondado, como pequenas bolinhas que ainda não possuem habilidade de

receber e transmitir estímulos. Ao migrarem, sua morfologia passa a ser

alongada, com um prolongamento anterior (líder) e outro posterior (seguidor),

que são muito importantes para seus deslocamentos. A partir desse momento,

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inicia-se a emissão de prolongamentos, dentritos e um único axônio, que

começam a se comunicar com as células próximas (dendritos e ramificações

do axônio) e distantes (axônios). Agora, incia-se a síntese de canais iônicos,

ezimas e neurotransmissores, permitindo ao neurônio, começar a exercer as

funções. (LENT, 2008, p. 96)

Busca dos alvos para o estabelecimento de conexões - direcionamento

axônico

Uma estrutura sensível denominada “cone de crescimento”, guia os

axônios em direção aos seus alvos, seja nas regiões próximas ou distantes.

Muitos estudos tem sido feitos para entender as alterações morfológicas

dos axônios e as pistas moleculares e celulares que organizam o

deslocamento do cone de crescimento. Identificou-se, então, “sinais

moleculares difusíveis atrativos ou repulsivos, de pistas aderidas à matriz

extracelular ou às membranas que orientam a trajetória das fibras e a

descrição da dinâmica morfogenética dos axônios corticais.” Essas pistas são

chamadas semaforinas, netrinas (do sânscrito “o que guia) e efrinas. Essa

busca de alvos é denominada direcionamento axônico.

Processos regressivos.

O resultado da etapa anterior do processo é o desenvolvimento em excesso de

células, axônios, dendritos e sinapses. Por isso, é preciso “refinar o sistema”

para que se obtenha a exatidão típica das conexões neurais.

Consequentemente acontece um grande número de morte celular programada

no córtex, eliminações axônica, dendrítrica e sináptica seletivas. Em relação à

morte celular programada (ou apoptose), Lent explica que, “é uma espécie de

suicídio da célula” e que, “sobrevivem os neurônios que reconhecem e inervam

eficientemente seus alvos, enquanto os demais são eliminados.” Já as

eliminações de dendritos, axônios e sinapses, não necessariamente resultam

em morte celular. “durante o desenvolvimento existe um excesso de inervação,

que é retirado para se chegar ao padrão adulto.” (LENT, 2008, p. 100)

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Gliogênese

As células da glia também são oriundas das paredes ventriculares e,

assim como os neurônios, migram para constituir as estruturas do sistema

nervoso. Existem menos estudos em relação à migração dessas células, mas,

há indícios de que elas utilizem os prolongamentos das células radiais ou

feixes de fibras neuronais que já estejam prontos.

O tecido nervoso termina seu processo de constituição a partir do

momento em que todos os seus elementos unitários, como neurônios

excitatórios, neurônios inibitórios e as células da glia, estejam presentes e

trabalhando. As células, então, estabelecem e amadurecem contatos entre si:

neurônio com neurônio (circuitos neurais), neurônios com gliócitos, e gliócitos

com gliócitos, proporcionando o pleno funcionamento do sistema nervoso. No

nascimento, o processo de neurogênese e migração está concluído. Após o

nascimento, a formação de conexões, o estabelecimento e o reforço de

sinapses e os processos regressivos ainda acontecem. (LENT, 2008)

Aprendizagem intra-uterina - Estímulos memorizados

Vários estudos têm demonstrado que a capacidade de aprendizagem já se inicia no período fetal. A memória, uma das funções fundamentais para o aprendizado e o desenvolvimento em geral, está presente desde a fase pré-natal e se mantém de forma quantitativa e qualitativa, de acordo com a maturação cerebral. (Mente e Cérebro, Fev. 2011, p. 35)

Os estudos experimentais, que procuram identificar a capacidade de

memorização de estímulos do feto, são as principais fontes de evidências

sobre o aprendizado fetal. Os pesquisadores testam a habituação, o

condicionamento clássico e o aprendizado pós-exposição. A habituação pode

ser definida como a redução de uma resposta a certo estímulo, após

aplicações repetidas dele. Acredita-se que habituação seja importante para a

sobrevivência e bom desempenho cognitivo posteriormente. Pesquisas nos

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anos 90 mostraram que o feto movimenta-se intensamente respondendo aos

estímulos acústicos. Porém, após ser submetido ao mesmo estímulo repedidas

vezes, a resposta para de acontecer. Aparentemente, o tabagismo e a

redução da oxigenação por parte da mãe (devido a doenças pulmonares ou da

permanência em locais de grande altitude, por exemplo) e a síndrome de Down

(trissonia do cromossomo 21) levam a importantes mudanças da capacidade

de habituação fetal.

Ainda existem poucos estudos sobre o condicionamento clássico. Trata-

se da realização de dois estímulos: o condicionamento (que sozinho não

produz resposta imediata) e o incondionamento (que isoladamente provoca

resposta). Se aplicados juntos, observa-se resposta a ambos os estímulos.

Em relação a aprendizagem a partir da pós-exposição de estímulos, pesquisas

visam demonstrar diferenças entre as respostas mediante a estímulos

familiares e aos que não são. Essas diferenças são frequentemente

percebidas em um único sujeito e podem ser consideradas como evidências de

aprendizado e memorização pré-natal. Há evidencias de que os recém-

nascidos preferem a voz materna à de pessoas desconhecidas e de que

dedicam um grau de atenção maior a programas de televisão assistidos por

suas mães durante o período de gestação. Essas observações sugerem que a

criança se recorda de tais estímulos, ainda que tenha sido submetida a eles na

quando ainda estava no ventre materno.

Ainda não se sabe ao certo o período exato da gestação em que estas

capacidades aparecem. Supõe-se que com vinte e duas semanas de gravidez

a habituação já tenha surgido e o condicionamento com dez. Acredita-se que a

habituação está relacionada à memória de curto-prazo (de até quinze minutos),

enquanto o condicionamento e o aprendizado pós-exposição, à memória de

longo prazo. Os estudiosos ainda não sabem ao certo o tempo de duração da

memória de eventos pré-natais, mas eles observaram que memórias familiares

ainda estavam presentes uma semana após o nascimento, mas que sumiam

após a terceira semana, o que indica que a memória do feto tem curta

duração, caso não seja estimulado novamente após o nascimento. (Mente e

Cérebro, “A mente do bebê”, v. 01)

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A emoção na vida pré-natal:

Mesmo protegido no aconchego do ventre materno, o bebê não

permanece alheio ao que acontece com a sua mãe. Estudos recentes

comprovam que as ligações cerebrais do feto são diretamente afetadas pelas

emoções e pensamentos da mãe. Esses estão relacionados com os hormônios

e os neurotransmissores, que atravessam a corrente sanguínea e a placenta

em direção ao cérebro do bebê ainda em desenvolvimento.

Transtornos emocionais durante a gravidez aumentam a produção dos

hormônios do estresse, especialmente cortisol e norepinefrina, podendo

provocar a destruição em excesso de neurônios e sinapses, modificando a

organização e a fisiologia do cérebro do feto. Consequentemente há prejuízos

futuros em relação à capacidade da criança em lidar com o estresse. “A

exposição prolongada aos hormônios do estresse, como a adrenalina e o

cortisol, prepara o cérebro do feto para reagir no “modo” lutar ou fugir em todas

as ocasiões mesmo quando não é o mais apropriado.” (MENTE e CÉREBRO,

“A mente do bebê”, v. 02, p. 74)

Segundo a revista Mente e Cérebro, alguns feitos psicobiológicos do

estresse podem ser observados, como: inibição da ramificação dos dentritos;

migração celular confusa, resultando na formação de circuitos errados;

destruição de sinapses na área da amígdala e do hipocampo, afetando a

memória e o sistema ativador reticular e hipotalâmico; redução da produção de

ocitocina (relacionado ao comportamento social) e de serotonina; diminuição

do peso cerebral, do conteúdo de DNA e da síntese de ácido nucléico no

cérebro; intensificada geração do hormônio vaso pressina, (relacionado ao

comportamento territorial, agressivo e do estímulo sexual); diminuição da

capacidade de cognitiva (aprendizado); alterações no desenvolvimento do

corpo caloso e do cerebelo, principalmente do vermis cerebelar, podendo

desencadear no autismo.

Em contraste com a situação acima citada, quando a mãe está focada

na felicidade e no amor, o cérebro do bebê é “banhado” por endorfinas e

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neurormônios (semelhante a ocitocina) que liberam uma extensa sensação de

bem-estar. (MENTE e CÉREBRO, “A mente do bebê”, v. 02, p. 74)

Os estudiosos afirmam que

“as experiências de vida no período neonatal, como as

sensações (relacionadas à fome, por exemplo), ativam vias

neurais específicas com a respectiva associação límbica,

modulando o humor e a emoção (tônus afetivo). Padrões

rudimentares de atividade neural fornecerão a base do

desenvolvimento psicológico da criança. Tais padrões

permitem entender de que forma os bebês acumulam

experiências iniciais e como isso afetará o seu comportamento

mais tarde.” (MENTE e CÉREBRO, Especial N° 26, 2011, p.

35)

1.2. O desenvolvimento do cérebro na vida pós-natal:

Eles não enxergam exatamente como adultos nos primeiros meses de vida, mas distinguem aromas, tem capacidade de reconhecer texturas pelo toque, preferem determinados tipos de som e desde bem novinhos gostam (ou desgostam) de certos sabores. Os bebês nascem muito mais “prontos” do que se supunha há algumas décadas. (Mente e Cérebro, Fev. 2011, p. 39)

Os neurobiólogos explicam que desde o nascimento, o cérebro já possui

conhecimentos prévios, e imediatamente inicia a questionar o exterior. O bebê

recém-nascido é capaz de gravar e relembrar sinais biológicos fundamentais,

como faciais e a fala. (MENTE e CÉREBRO, Fev. 2011).

A forma como o cérebro irá se desenvolver, que talentos e aprendizados

serão adquiridos, dependerá de alguns fatores como a interação com o meio e

o fluxo das informações vindas dos sentidos. O cérebro humano, ao

nascimento, é dotado de centenas de bilhões de neurônios (número que

diminui um pouco ao longo da vida). Porém, os primeiros dois anos de vida são

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fundamentais, pois o número de conexões aumenta significativamente. Cada

neurônio envia sinais a milhares de outros. Devido a uma quantidade maior

que centenas de trilhões de ligações sinápticas, os neurônios se reúnem em

redes capazes de se comunicar entre si, mesmo a distâncias maiores. (Mente

e Cérebro, especial “como o cérebro aprende”, p. 9).

Segundo Lent, ao longo dos três primeiros anos de vida, o

estabelecimento de sinapses cresce significativamente. Entre os três e os dez

anos de idade, porém, começa a diminuir. Serão mantidas aquelas que

estiverem sendo utilizadas e as demais serão descartadas. Desta forma, os

estímulos (visuais, auditivos, emocionais etc), são fundamentais nessa fase, a

fim de reforçar e proporcionar o pleno funcionamento das conexões e sinapses

(LENT, 2008).

Conforme a revista Mente e Cérebro,

“Do nascimento até os dois anos há aumento expressivo de prolongamentos de neurônios. Por meio deles, são estabelecidas sinapses ou conexões elétricas com outras células, tornando a comunicação neuronal mais rápida e efetiva. A estimulação tem aqui papel fundamental.” (MENTE e CÉREBRO, “A mente do bebê, V.01, p. 15)

Estudos mostraram com apenas três meses, o bebê já tem condição de

armazenar informações sobre locais em que certos eventos tenham

acontecido; aos seis meses, é capaz de reter informações de ordem temporal

dos fatos.

O desenvolvimento cognitivo não acontece de uma forma homogênea e

contínua. A interação entre os inúmeros fatores de crescimento das regiões

cerebrais, o nível de mielinização de suas estruturas, a evolução pré-natal e a

maneira como o cérebro imaturo reorganiza seus padrões de resposta diante

das experiências, vão definir como o processo acontecerá. Existe uma sintonia

entre a forma de desenvolvimento do cérebro e o que organiza o seu

crescimento e maturação. Não há dúvidas de que o ambiente exerce grande

influência nas estruturas cerebrais e suas conexões neurais. Durante toda a

vida, o cérebro passa por um processo de crescimento, que é mais intenso na

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primeira infância. O cérebro passa por diferentes etapas e mudanças ao longo

da vida. Segundo Lent,

“O desenvolvimento da criança pode ser comparado com o de

uma planta: revela-se por si própria e processa-se em uma

sequencia inata. É necessário, porém, ter em mente que os

fatores ambientais são fortemente capazes de modificar a

progressão do desenvolvimento, embora não o sejam de lhe

dar origem.” (LENT, 2008, p. 107)

Piaget e Lúria compreendem a formação e a elaboração das inúmeras

funções cognitivas através da ontogênese (desde a concepção até a fase

adulta), perpassando por diversas fases em que as estruturas mentais não

permanecem inalteradas, “a execução de tarefas dependerá de conexões

constantes e em evolução”. Podemos, então, relacionar as fases do

desenvolvimento descritas por Piaget, com a as fases do desenvolvimento

cerebral. (MENTE e CÉREBRO, Especial N° 26, 2011, p. 36)

O que acontece no cérebro em cada idade:

Desenvolvimento intelectual, segundo teoria dos estágios de Piaget.

1° m

ês

Tronco encefálico: comanda ações reflexas e controla funções

respiratórias e circulatórias

Esquemas reflexos: automatismos inatos ou

adquiridos, que são a base da organização corporal e da

consciência

6 °

mês

Córtex primário: ligado à percepção, transmite impulsos sensoriais e motores para os

mecanismos neuromusculares

Esquema sensório-motor: aprendizado prático, decorrente

dos sentidos e das ações motoras

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2 a

nos

Córtex associativo: processa

informações (discrimina estímulos recebidos e os preexistentes)

Estágio pré-operatório:

sofisticação da função simbólica e da aquisição da linguagem.

7 an

os Córtex associativo heteromodal:

integra estímulos sensoriais, compara informações e as envia

ao sistema límbico

Estágio operatório-concreto: aparecimento do raciocínio lógico

ainda sem capacidade de abstração.

11 a

nos

Córtex associativo heteromodal: Pensamento formal: capacidade de abstrair fatos por meio do raciocínio hipotético-dedutivo.

(MENTE e CÉREBRO, Especial N° 26, 2011,p. 36)

A emoção está intimamente ligada a todo esse processo. Na primeira

infância, “O afeto é essencial para a formação dos circuitos cerebrais.

Experiências traumáticas e falta de carinho podem causar transtornos

psíquicos mais tarde.” (Mente e Cérebro especial n°9, p. 41)

Experiências que geram traumas influenciam firmemente as conexões

do cérebro da criança e o equilíbrio dos neurotransmissores. Isso faz com que

aconteçam mudanças que aumentam a possibilidade do indivíduo desenvolver

transtornos psíquicos posteriormente. Alguns estudos feitos nos últimos

tempos mostraram que, “na primeira infância, experiências com forte conteúdo

afetivo dirigem o desenvolvimento psicológico da criança.” (Mente e Cérebro

especial -“ n°9, p. 41)

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CAPÍTULO II A INFLUÊNCIA DA EMOÇÃO NA APRENDIZAGEM

2. 1. A Neurobiologia das Emoções “Do ponto de vista biológico, a emoção pode ser definida como um conjunto de reações químicas e neurais subjacentes à organização de certas respostas comportamentais básicas e necessárias à sobrevivência dos animais.” (LENT,2008, p. 254)

Para entender como a emoção acontece no cérebro, é necessário

conhecer o conjunto de estruturas que fazem parte do Cérebro Emocional: o

Tronco Cerebral, a área Pré-frontal e o Sistema Límbico, o tálamo e o

hipotálamo são as áreas encefálicas relacionadas com as emoções e suas

expressões (MACHADO, 2004). No fenômeno da emoção, existem dois

aspectos bem definidos: a sua expressão, que tanto pode ser controlada como

ser imitada, quando a emoção correspondente não está presente, e emoção

propriamente dita, que é incontrolável.

Tradicionalmente, fazemos distinção entre expressão e

experiência das emoções. A experiência emocional refere-se a

estados subjetivos, frutos da introspecção consciente. Por

outro lado, a expressão das emoções pode ser medida

objetivamente, e envolve respostas comportamentais, bem

como alterações endócrinas e autonômicas. (LENT, 2008, p.

228)

O sistema límbico é composto de diversas estruturas cerebrais que

produzem respostas fisiológicas a estímulos emocionais. Associa-se com a

memória, atenção, instintos sexuais, emoções (prazer, medo, agressão etc.),

personalidade e conduta. Seu principal papel é regular os processos

emocionais, assim como o sistema nervoso autônomo e os processos

motivacionais fundamentais à sobrevivência da espécie e do sujeito, como

fome, sede e sexo. A falta de estímulos nessa área pode

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Em 1937 Papez propôs um circuito que interliga o hipocampo, os corpos

mamilares, os núcleos talâmicos anteriores e o giro do cíngulo, formando o

substrato neural para a expressão e a experiência emocional. Para ele, o

hipotálamo é fundamental para a expressão emocional, o giro do cíngulo

participa como uma área cortical que recebe as experiências emocionais e o

córtex visual os estímulos visuais.

Posteriormente, o anatomista norte-americano Paul MacLean recuperou

e ampliou a teoria de Papez, abrangendo a concepção do cérebro emocional.

Ressaltou a importância do hipotálamo para a expressão das emoções e do

córtex cerebral para a experiência emocional. Além das estruturas presentes

no circuito de Papez, MacLean acrescentou algumas outras regiões, como a

amígdala, o septo e o córtex pré-frontal, e nomeou o novo conjunto de Sistema

Límbico.

Dentro deste sistema, o hipocampo desempenha funções fundamentais

relacionadas ao comportamento, às emoções, à memória e à tomada de

decisão. Avaliando que um sinal neural é importante, o hipocampo guarda a

informação na memória, colaborando para a seleção de fatos e eventos que

serão armazenados e com o reconhecimento de lugares. (RELVAS, 2005);

(RELVAS, NEUROLOLOGIA DAS EMOÇÕES). Segundo Isquierdo, cada

célula do hipocampo que constitui a memória recebe aproximadamente 10.000

terminações sinápticas excitatórias. Supõe-se que em algumas memórias,

outras dez são ativadas; noutras cem e noutras mil dessas conexões,

enquanto que em outras, nada. Numa terceira memória se ativam aquelas

duas que não aconteceram na primeira, e assim por diante. Assim, se formam

padrões complexos, de tal maneira que uma única célula pode participar de

inúmeras memórias. (ISQUIERDO- disponível em

http://www.cerebromente.org.br/n04/opiniao/izquierdo.htm)

A amígdala cerebral é uma estrutura em forma de amêndoa, que,

apesar de pequena, é complexa, formada por diversos núcleos diferenciados.

O processamento e o armazenamento de reações emocionais são as suas

principais atribuições, mas ela também influencia o aprendizado e a memória

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emocional, afetando diversos comportamentos ligados ao aprendizado

implícito, memória implícita sobre situações de perigo, respostas sociais e

vigilância. A estimulação desta estrutura produz medo e ansiedade. Ela capta

informações a partir de diversas modalidades sensoriais, como do bulbo

olfatório, assim como informações extero e interoreceptivas, respectivamente

do tálamo e das vias aferentes viscerais. Quando chegam à amígdala, estas

informações integram-se em caráter afetivo. Está ligada à timidez e à fobia

social. (LENT, 2008)

O hipotálamo gerencia o sistema neuroendócrino (hormônio do

crescimento, tireóide e sexuais), é um dos principais responsáveis pela

homeostase do meio interno, é intimamente envolvido no controle neural de

comportamentos com alto teor emocional, que garantem a preservação do

indivíduo ou espécie (“homeostasia” comportamental) e regula a glândula

hipófise que localiza-se em sua base.Pode ser dividido em três zonas

longitudinais (periventricular, medial e lateral) e em quatro regiões diferentes

no sentido rostrocaudal (pré-óptica, anterior, tuberal e mamilar). Estudos

mostraram que a metade caudal do hipotálamo seria uma região criticamente

envolvida com a “ira fictícia” e juntamente com outros estudos, os cientistas

concluíram que a expressão emocional seria mediada por descargas no

hipotálamo. A região medial recebe aferências vindas das áreas límbicas do

telencéfalo e está ligada à organização de respostas comportamentais

fundamentais para a sobrevivência do sujeito no meio em que habita

(comportamento de defesa), assim como da espécie (comportamentos

reprodutores). Já a área periventricular executa papel essencial no controle

endócrino. Nessa área também encontramos grupos de células que estão

ligadas ao controle de neurônios pré-glanglionares das divisões simpática e

parassimpática do sistema nervoso regulatório visceral ou autônomo. Nota-se

que a zona lateral do hipotálamo integra respostas de alerta generalizados,

que ficam em evidência na execução de comportamentos motivados. (LENT,

2008)

O Tálamo atua como uma “estação de transmissão”. Os estímulos que

entram através dos sentidos, seguem pelos nervos sensitivos dirigindo as

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informações para o tálamo, cuja responsabilidade é distribuir as informações

para áreas específicas no cérebro. Através do Tálamo, o sistema de

recompensa e o hipocampo são acionados, armazenando as memórias e

provocando o reconhecimento da informação. (LENT, 2008)

O Tronco encefálico é um pequeno talo que se une a medula espinhal

com a parte mais rostral do Sistema Nervoso Central. Seu formato é

semelhante a um tronco de cone invertido, porém, mais fino no seu interior.

Atua, basicamente, na expressão das emoções, pois dele partem, juntamente

com os nervos cranianos, sinais para o sistema nervoso somático e Sistema

Nervoso Autônomo, desencadeando expressões fisionômicas, lacrimejamento,

salivação, sudorese, tremores de extremidades, alterações viscerais nos

órgãos torácicos e abdominais como taquicardia, diarréia ou constipação etc.

Essas ações são reguladas pela formação reticular, pelo sistema límbico e

pela área pré-frontal, com as quais o tronco cerebral tem conexão. No tronco

cerebral também existem outras duas estruturas neurológicas essenciais: os

núcleos da rafe, (rafe é a prega que une as duas metades do tronco cerebral)

que implicam na fisiologia do sono e alterações do humor a partir da síntese do

neurotransmissor serotonina, e o locus ceruleus, que produz a noradrenalina,

ligada à atenção e vigília, estresse e pânico.

O córtex pré-frontal também tem uma importante participação na

expressão dos estados emocionais devido às intensas conexões que mantém

com tálamo, amígdala e outras estruturas subcorticais límbicas. É uma área de

armazenamento da memória de trabalho, que possibilita submeter ideias

subsequentemente e fazer associações complexas como planejar, calcular,

filosofar, retardar ações voluntárias, controlar comportamentos instintivos etc.

Por meio dos fascículos de associação do córtex, a área pré-frontal recebe

fibras de todas as demais áreas de associação do córtex, ligando-se ainda ao

sistema límbico. Há evidencias de que está ligado à capacidade do sujeito de

seguir sequências ordenadas de pensamento e ao controle emocional.

O cortex orbitofrontal. é uma parte do córtex pré-frontal que forma a

base do lobo frontal. Localiza-se na parede superior da órbita acima dos olhos.

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Segundo Gazzaniga, o córtex orbitofrontal assume importante função na

capacidade do indivíduo em responder e agir em um mundo social e

emocional. Os neurocientistas encontraram dificuldades em definir a função

comportamental exata do córtex orbitofrontal, mas concordam que todos os

comportamentos conhecidos como responsabilidade dessa área parecem estar

relacionados. (GAZZANIGA, 2006)

Fisiologia da Aprendizagem

Para que uma informação seja interpretada pelo cérebro, ela passa por

diversas áreas do cérebro, através das conexões neurais. Para entender como

isso acontece, é preciso entender a fisiologia da aprendizagem.

Os Neurônios são células especializadas. Eles recebem e transmitem os

estímulos internos e externos, proporcionado ao organismo produzir respostas

adequadas para a manutenção da homeostase. Segundo Relvas, “eles são

feitos para receber certas conexões específicas, executar funções apropriadas

a passar suas decisões a um evento particular a outros neurônios que estão

relacionados com aqueles eventos.” (RELVAS, 2005, p.22). São compostos

de um corpo celular, e de finos prolongamentos celulares denominados

neuritos, que podem ser subdivididos em dendritos e axônios. Estas células

não têm a capacidade de se regenerar. Segundo Gazzaniga, os neurônios

podem ser pré-sinápticos e pós-sinápticos, com relação a uma sinapse em

particular, mas a grande parte dos neurônios é tanto pré-sináptica como pós-

sináptica. “São pré-sinápticos quando seus axônios fazem conexões com

outros neurônios e pós-sinápticos quando recebem conexões de outros

neurônios através dos seus dentritos.” (GAZZANIGA, 2006, p. 43). Os axônios

são prolongamentos longos que atuam como condutores dos impulsos

nervosos. Considerando o sentido das informações, os axônios localizam-se

antes da sinapse, por isso são chamados de pré-sinápticos. O axônio é o

“cabo” condutor de sinais, e pontos de contatos sinápticos, onde a informação

Pode ser passada de uma célula a outra. Os axônios tem um início, chamados

de cone de implantação, um meio que é o axônio propriamente dito e um fim,

denominado terminal axonal ou botão terminal. O terminal axonal é o local

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onde o axônio entra em contato com outros neurônios e/ou outras células e

passa a informação (impulso nervoso) para eles. Os dentritos são processos

semelhantes a arborizações, que recebem aferências de outros neurônios nas

sinapses. Se localizam após as sinapses, tendo em vista o fluxo de

informação, por isso são chamados de pós-sinápticos. Eles recebem e liberam

os sinais. (GAZZANIGA, 2006).

As neuroglias são células que atuam na sustentação dos neurônios e

auxiliam o seu funcionamento. Elas colam nos outros neurônios, possibilitando

que novas conexões neurais se formem. São responsáveis pela sustentação

física e química do tecido nervoso, além de sua proteção e manutenção.

Ao redor dos axônios dos neurônios, existe uma substância lipídica que

envolve os axônios dos neurônios, chamada mielina. Ela aumenta a resistência

da membrana. Quanto mais mielinizado estiver o axônio, mais rápida será a

conexão neural, consequentemente a aprendizagem. Conforme Gazzaniga, “a

mielina é um envoltório concêntrico de membrana de célula glial ao redor do

axônio; o citoplasma nesta porção da célula glial está essencialmente

espremido, deixando camada sobre camada de membrana celular, o que

constitui a mielina.” (GAZZANIGA, 2006, p. 66). A cor cinzenta do córtex é

produzida devido à agregação de inúmeros neurônios. As outras regiões entre

eles são brancas, que é a cor da mielina. A cor branca revela a presença de

feixes de axônios passando pelo cérebro. As Células de Schwamn não são

parte das células nervosas, mas um dos tipos de células gliais. Isolam os

neurônios envolvendo seus processos membranosos ao redor do axônio

formando a bainha de mielina.

Entre a extremidade de um axônio e do dendrito do neurônio seguinte,

há um minúsculo espaço denominado “espaço sináptico”, que é a região

especializada na transmissão do impulso nervoso de um neurônio a outro.

Existem dois tipos de sinapse: a física e a química. A física é rápida e está

ligada aos sentidos biológicos. Através do nervo aferente, “chega a

informação” de fora para dentro. Já a química é lenta, transmite hormônios

para as células por meio da corrente sanguínea e, através do nervo eferente,

“sai a informação” de dentro para fora.

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Impulso nervoso é o nome dado aos sinais que os nervos transmitem ao

encéfalo, através dos nervos e da medula espinhal. O impulso nervoso, que

percorre o neurônio, é de natureza eletroquímica e resulta de modificações

internas e externas da membrana neural. Internamente a membrana do

neurônio possui carga elétrica negativa e externamente ela é positiva. Para

que um impulso passe de um órgão receptor ao encéfalo ou do encéfalo a um

órgão efetor ele necessita percorrer vários neurônio. Existe uma enorme

quantidade de células espalhados que funcionam como sensores que são

capazes de receber estímulos externos e transferí-los para locais específicos

do sistema nervoso. Nesses locais, os estímulos recebidos são

"compreendidos" e é gerada então uma resposta específica.

Assim, o impulso nervoso é o caminho percorrido pelo “estímulo” ao longo das

células nervosas (neurônios). O sentido do impulso é sempre o mesmo:

dendrito corpo celular axônio. O impulso nervoso é um impulso elétrico que se

origina das alterações nas cargas elétricas das superfícies interna e externa da

membrana celular (potencial de ação).

2.2. As Emoções

Segundo Lent, podemos dividir as emoções humanas podem em três

tipos: emoções primárias; emoções secundárias; e emoções de fundo,

propostas recentemente pelo neurologista português António Damásio.

Existem pelo menos seis emoções primárias: alegria, tristeza, medo, nojo,

raiva e surpresa. As emoções secundárias são mais complexas e dependem

de fatores socioculturais. Ex.: culpa e vergonha. Já as emoções de fundo estão

relacionadas com o bem estar ou com o mal estar, com a calma ou com a

tensão. Estímulos internos, vísceras. Expressam-se em alterações complexas

musculoesqueléticas, tais como variações sutis na postura do corpo e na

configuração global dos movimentos. Essas emoções não são consideradas

nas discussões tradicionais sobre emoção, embora em geral sobrevivam a

várias doenças neurológicas. (LENT, 2008)

“As emoções são conjuntos de reações químicas e neurais que ocorrem no

cérebro emocional e que usam o corpo como “teatro”, ocasionando até

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emoções viscerais, que afetam os órgãos internos, de acordo com a sua

intensidade.” (RELVAS, 2005,P. 83)

2.3. A Aprendizagem:

“Tudo é aprender. E aprender é sempre adquirir uma força para outras vitórias,

na sucessão interminável da vida.” (Cecília Meireles, apud RELVAS, 2005, p.

100)

A aprendizagem pode ser explicada como a maneira como indivíduos

retem novos conhecimentos, desenvolvem habilidades e mudam o

comportamento, através da experiência construída por fatores emocionais,

neurológicos, relacionais e ambientais. O Aprendizado resulta da interação

entre estruturas mentais e o ambiente. Não se limita às aquisições feitas na

escola, mas se aplica a todos os conhecimentos que o indivíduo adquire

durante a vida, no âmbito familiar, social e institucional. (BARBOSA,1989). A

neurociência explica que todas as áreas cerebrais estão relacionadas com o

processo de aprendizagem, que pode ser definido como uma alteração

biológica que ocorre a partir da comunicação entre os neurônios, criando uma

rede de interligações que podem ser acionadas com facilidade e rapidez.

(RELVAS, 2009).

A plasticidade cerebral assume um importante papel na aprendizagem,

uma vez as áreas do cérebro destinadas a determinadas funções, podem

assumir outras quanto se fizer necessário. O cérebro tem capacidade de

transferir conhecimentos de uma área para outra, fenômeno conhecido como

“interdisciplinaridade do cérebro”. Relvas cita como exemplo, a possibilidade

do ritmo de uma música ser aproveitado na leitura, na escrita e nos conceitos

matemáticos. Segundo a autora, a plasticidade cerebral “é propriedade do

sistema nervoso que permite o desenvolvimento de alterações estruturais em

resposta à experiência, e como adaptação a condições mutantes e a estímulos

repetidos.” (RELVAS, 2005, p. 43). Afirma que todos os nossos processos de

aprendizagem e de reabilitação das atividades motoras e sensoriais dependem

da plasticidade cerebral cujo desenvolvimento acontece ao longo da vida

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(RELVAS, 2009). Conforme Lent, “define-se neuroplasticidade como a

capacidade do sistema nervoso de alterar a sua função ou a sua estrutura em

resposta às influências ambientais que o atingem.” (LENT, 2008, p. 112)

Existem três tipos de neuroplasticidade: a morfológica – quando há alterações

nos axônios, nos dentritos e nas sinapses (detectáveis especialmente em

animais experimentais por meio de técnicas de microscopia); a funcional – que

apresentam transformações na fisiologia neuronal e sináptica (detectáveis

também em situações experimentais através de técnicas eletrofisiológcas); e a

comportamental – mudanças relacionadas aos fenômenos de aprendizagem e

memória. (LENT, 2008)

A memória também tem importante função na aprendizagem, uma vez

que, segundo Relvas, “sem memória não há aprendizagem.” A partir da

experiência e aquisição de conhecimentos novos, acontece a transformação

do comportamento, que é a aprendizagem. Através da memória, estes

conhecimentos ficam armazenados, podendo ser resgatados quando

necessário.

As memórias são armazenadas em redes de neurônios que se

comunicam quimicamente por meio dos neurotransmissores. O processo de

comunicação entre os neurônios e do estabelecimento de redes é o

eletroquímico. No interior dos neurônios, o processo é elétrico.

Izquierdo afirma que “formamos novas memórias sobre outras mais

antigas, eventualmente modificando-as e inventando mentiras verídicas”

(IZQUIERDO, 2002, apud RELVAS, 2005). As informações recuperadas

podem sofrer modificações conforme o contexto do momento, em meio a um

complexo transito de sinapses (espaço entre neurônios onde acontece a

transferência de informações em forma de impulsos elétricos). A memória não

localiza-se em uma única parte do cérebro, é um fenômeno biológico e

psicológico que abrange sistemas cerebrais que trabalham juntos. (RELVAS,

2009). Quando as informações chegam aos sentidos (visão, tato, paladar,

audição e olfato), inicia-se a formação das memórias, fase conhecida como

aquisição. Ao chegarem ao cérebro, acontece um processamento em diversas

regiões que resultam em memórias que podem ser de três tipos, conforme a

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duração: Memória de Trabalho ou Operacional, Memória Recente ou Memória

de Curta Duração (Mcd) e Memória Remota, Permanente ou de Longa

Duração (Mld). A Memória de Trabalho guarda informação consciente no

cérebro por um pequeno período de tempo, apenas por alguns segundos ou

minutos, somente enquanto é processada. A Memória Recente retém a

informação por minutos ou horas e pode ter comprometimentos em alguns

processos patológicos, já a Memória de Longa Duração é aquela em que a

informação fica armazenada por anos. Mesmo que o sujeito sofra sérios danos

cerebrais, permanece inalterada. (RELVAS, 2005).

2.4. Emoção e Aprendizagem

Ensinar é aprender. Aprender a enfrentar o desafio da vinculação da emoção com a razão no processo de conhecer e, além disso, enfrentar o desafio de criar recursos, instrumentos, estratégias táticas e operacionais que mobilizem, no educando, sua emoção em paralelo com a sua razão. (RELVAS, 2005, p. 101)

Para que seja possível promover a aprendizagem na escola, é preciso

observar e respeitar a emoção do aluno. Proporcionar um ambiente acolhedor,

em que a criança se sinta segura. Aprendemos quando atribuímos significado

ao conteúdo trabalhado, por isso, faz-se necessário despertar na criança o

interesse pelas novas aprendizagens através de conexões afetivas emocionais

do sistema límbico, que são ativadas no cérebro de recompensa. A aula

prazerosa libera substancias naturais conhecidas como serotonina e dopamina

que estão relacionadas à satisfação, ao prazer e o humor. Por outro lado, uma

aula desagradável, provoca a liberação de substancias como adrenalina e

cortisol que bloqueiam a aprendizagem e alteram a fisiologia do neurônio,

interrompendo as transmissões das informações das sinapses nervosas.

Quando os estímulos chegam ao cérebro, antes que a consciência

possa exercer algum papel, o sistema límbico analisa diretamente a

informações e decide quais são importantes e valiosos, a partir de

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comparações a experiências e reflexos anteriores. Somente após esse

processo, a informação alcança a consciência.

“Informações nas quais o sistema límbico estampou um selo

emocional encravam-se no fundo da memória, e de forma

bastante duradoura, enquanto um mero saber muitas vezes se

dissipa com rapidez, os sentimentos perduram por muito

tempo. O cérebro se aproveita disso, vinculando diversos

conteúdos da memória a um mesmo matiz emocional, que,

mais tarde no aprendizado é reativado e facilita a integração

dos elementos de uma nova situação na rede preexistente.

Informações revestidas de colorido emocional não apenas

encontram com mais facilidade o caminho até a memória de

longa duração: elas permanecem mais acessíveis, prontas a

ser evocadas. (MENTE E CÉREBRO, especial “Como o

cérebro aprende”)

Na sala de aula, o professor deve trabalhar a auto-estima dos alunos,

porque “a emoção está para o prazer, assim como o prazer está para o

aprendizado, e a auto-estima é a ferramenta que movimenta os estímulos para

gerar bons resultados.” (RELVAS, 2005, p. 52). Se a criança somente observa

de forma neutra o que acontece na sala de aula, provavelmente não irá

armazenar as informações em sua memória, pois “apenas os sentimentos são

capazes de transformar uma aula numa experiência pessoal, porque nesse

caso os conteúdos a aprender passarão a significar alguma coisa para o

aluno.” (MENTE E CÉREBRO, especial “Como o cérebro aprende”, p. 12)

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CAPÍTULO III - A NEUROCIÊNCIA NA EDUCAÇÃO

INFANTIL

O que nos distingue como seres humanos é a nossa capacidade de entrelaçar o intelectual com o emocional para constituir significações através de diferentes linguagens. É nessa rede afetiva e lógica que nos tornamos singulares e sociais em determinada cultura. É entre os dois e os sete anos de idade, período simbólico por excelência no desenvolvimento humano, que a criança conquista a capacidade de imaginar. (RICHTER, 2004, p. 56)

A Neurociência contribui para a prática pedagógica na Educação Infantil,

trazendo um melhor entendimento acerca do funcionamento cerebral das

crianças e possibilitando um planejamento mais consciente, já que se torna

possível realmente entender de que maneira a aprendizagem acontece no

cérebro.

O cérebro humano, especialmente o da criança na primeira infância,

possui plasticidade cerebral. Segundo Relvas (2005), apesar do recém nascido

ter apenas cerca um quarto da massa cerebral do adulto, ele já é dotado de

praticamente todos os neurônios que irá precisar ao longo da vida. Logo, estes

irão se expandir e realizar inúmeras conexões. Cada experiência vivida pela

criança, na época certa, em seus primeiros anos de vida, será fundamental

para o seu desenvolvimento, pois possibilita a realização de conexões

sinápticas. Torna-se fácil, então, entender porque os estímulos sensoriais são

fundamentais para o sucesso na aprendizagem, especialmente da Educação

Infantil. A neurociência esclarece que a aprendizagem acontece quando dois

ou mais sistemas funcionam de forma inter relacionadas. Logo, é possível

compreender, por exemplo, como é proveitoso aliar a música e os jogos em

atividades escolares, pois há a possibilidade de se trabalhar mais de um

sistema ao mesmo tempo: o auditivo, o visual e até mesmo o tátil (a música

possibilitando dramatizações).

É através de novas conexões neurais que a aprendizagem acontece. Os

estímulos são captados através dos sentidos, que passam pelos nervos

sensitivos, formados por neurônios que convergem no tálamo que é

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responsável por distribuir esses mesmos estímulos para outras partes do

cérebro, juntamente com o hipotálamo que identifica quando essa informação

é agradável, produzindo serotonina. Quando é desagradável, estimula as

suprarrenais a produzir cortisol adrenalina. Explica-se, então, porque sem

emoção não há aprendizagem.

O trabalho realizado na Pré-Escola deve acontecer através de

atividades lúdicas que favoreçam o entendimento das crianças e também

estimulem as emoções.

O faz-de-conta:

A brincadeira bem conduzida estimula a memória, exalta sensações emocionais, desenvolve a linguagem interior e, às vezes, a exterior, exercita níveis diferenciados de atenção e explora com extrema criatividade diferentes estados de motivação.” (ANTUNES, 2004, p. 31)

No faz-de-conta, a criança pode refletir sobre o mundo que a cerca,

assumindo diversos posicionamentos. Esses momentos permitem que a

criança reviva situações que lhe causam sensações, como excitação, alegria,

medo, tristeza, raiva, ansiedade etc. Conseguem trabalhar fortes emoções

muitas vezes difíceis de suportar, através das suas ações nas brincadeiras.

Leni Vieira Dornelles cita como exemplo quando a criança brinca de médico.

Nesse momento ela pode “reviver”, através do faz-de-conta, situações difíceis

de suportar, como uma operação, uma injeção ou engolir um remédio com

gosto ruim. (In CRAIDY & KAERCHER, 2001)

Além disso, devido às regras e normas presentes na brincadeira, as

crianças são “induzidas” a se comportarem de forma mais avançada daquilo

que na sua idade seria peculiar, pois precisam se esforçar para exibir um

comportamento o mais parecido possível do real. Consequentemente, Isso as

impulsiona para além do seu comportamento habitual. (CRAIDY &

KAERCHER, 2001).

Sánches identifica três níveis de expressividade motora e relaciona o

faz-de-conta como um deles. O jogo simbólico indica a habilidade da criança

em deixar de ser ela para mesma para ser um personagem, colocando-se no

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lugar do outro, tomando consciência do seu eu e diferenciando-se dos outros.

Possibilita ao sujeito imitar a realidade, fazer a sua reprodução pessoal e

demonstrar como se situa e está internalizando o mundo ao seu redor.

(SÁNCHES, 2003)

A música:

Música contorna completamente os centros que envolvem a razão e a consciência, não depende do cérebro mestre para adentrar pelo corpo (ou seja, a música não depende das funções superiores do cérebro para entrar no organismo), ainda pode excitar por meio do tálamo – o posto de todas as emoções, sensações e sentimentos. Uma vez que a música é capaz de alcançar o tálamo, o cérebro superior é automaticamente invadido, e se o estímulo é mantido por algum tempo, um contato íntimo entre o cérebro superior e o mundo da realidade pode ser desta forma estabelecido. (SCHULLIAN e SCHOEN, 1948, apud OLIVER, 2008, p. 70)

O contato com a música acontece precocemente, pois desde a barriga

de sua mãe, o bebê ouve as batidas de seu coração e percebe um dos

elementos fundamentais da música, o ritmo. Logo após o nascimento, a

criança já tem vida musical, pois quando algum som é emitido ao seu redor,

sua resposta imediata é virar-se em direção a ele. Um recém-nascido reage

ao som de uma música, quer ficando calmo e sereno, como ocorre com as

canções de ninar, e com a música erudita suave, quer reagindo

defensivamente em relação a um som mais intenso. Os estudos em psicologia

infantil afirmam que ocorrem sutis mudanças no batimento cardíaco do bebê

ao ouvir uma música. O cérebro da criança de seis meses já capta o sistema

de notas existentes em uma melodia, (JOURDAIN, 1994)

Sacks afirma que grande parte do que ouvimos na primeira infância,

pode ficar gravado no cérebro para o resto da vida. (SACKS, 2007). Kolb e

Whishaw dizem que “o som não existe sem um cérebro para criá-lo” (KOLB e

WHISHAW, 2002, apud VICTORIO, 2008, p. 21). Os bebês, com apenas sete

vezes de vida, são capazes de se lembrar de uma música muitos dias depois

de tê-la ouvido. (Mente e Cérebro, Fev. 2010)

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A música influencia o ser humano de uma forma geral, logo este recurso

pode e deve ser utilizado com todo tipo de criança na escola inclusiva de

Educação Infantil. Segundo Oliver, música facilita o aprendizado, tornando-se

bastante eficiente nos distúrbios de aprendizagem, como autismo, demências

entre outros (OLIVER, 2008,). A música tem poder de influenciar nosso corpo

de forma tão intensa que, segundo Synyders, atinge o coração, o espírito e o

corpo. Ela faz o corpo vibrar e se movimentar de forma espontânea. Tal

fenômeno se dá devido ao seu “enraizamento” psicológico; a própria música

atinge uma espécie de existência corporal. Snyders afirma também que o

educador deve ver a música não só como poder, mas como algo que chega à

violência. Tal afirmação quer dizer que, da mesma forma que a música pode

ser um recurso excelente se utilizado de forma correta, o contrário também

pode acontecer, pois músicas negativas podem gerar sentimentos de violência,

medo ou desânimo. Além disso, dependendo do que se ouve, a música pode

influenciar positiva ou negativamente o desenvolvimento da criança, nos

aspectos emocional, motor, afetivo, cognitivo, social e comportamental.

(SNYDERS, 1997, P.63).

Segundo Wilherms, cada elemento musical está relacionado a um

aspecto do ser humano. O ritmo ao movimento; a melodia à afetividade e a

estrutura musical (na harmonia ou na forma musical) contribui para a afirmação

ou restauração mental do homem (WILHERMS, 1976, apud GAINZA, 1988). É

importante que as atividades pedagógicas que envolvem a música na escola,

tenham uma bela sonância, pois, segundo Steiner, na primeira infância, os

ritmos musicais atuam plasticamente nos órgãos, por isso devem causar uma

boa impressão rítmica aos sentidos (STEINER, 1992, apud SMOLE, 2000).

Segundo Sundin, as atividades estéticas e a música na educação podem

favorecer grandemente na estimulação das habilidades da criança, pois,

contribui para o desenvolvimento cognitivo, a atenção, a memória, a agilidade

motora e etc., além de promover a socialização na sala de aula ou na escola.

(SUNDIN, 1991). Sabemos que os estímulos sensoriais são fundamentais para

o sucesso na aprendizagem. Assim, o educador, em sua atuação com as

crianças, pode realizar atividades fazendo algumas associações que

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proporcionem a memorização, como imagens e sons, palavras, cores e etc.,

Inventar letras para músicas, versinhos ritmados, frases engraçadas, etc.,

Relvas afirma que tais atividades facilitam o armazenamento e o acesso a

determinados conhecimentos. (RELVAS, 2009).

Ao utilizar a música na escola, o professor precisa respeitar o gosto

musical do aluno, para obter um resultado positivo. Se a música utilizada for

inadequada para o sujeito, pode gerar reações opostas às desejadas, trazendo

prejuízos. É preciso pesquisar o mundo musical em que a criança está

inserida, conhecer a sua história, meio social, cultural e familiar, antes de

iniciar um programa com atividades. (JEANDOT, 2002).

Exemplo de atividade: desenhar, em um cartaz, diversas “carinhas” que

expressem diferentes emoções, como amor, medo, alegria, suspense etc.

Colocar músicas variadas e pedir para a criança dizer qual é a carinha

correspondente à música tocada. Um dia eu fiz essa atividade com as crianças

utilizando músicas instrumentais. As crianças mostraram-se sensíveis à

música. Muitas ficaram encolhidas, outras pularam no colo dos adultos e teve

criança que até chorou. Pude perceber como a música realmente influencia a

emoção. Na sequência, imaginamos histórias a partir do que ouvimos.

Surgiram coisas interessantes, como princesas, monstros, bandidos e casais

apaixonados. A atividade contribuiu para que as crianças soltassem a

imaginação de forma criativa, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e

emocional.

Corpo e Movimento:

O movimento é intrínseco à vida. Fonte em si mesmo de aprendizado permite a aquisição de experiências e estas se convertem, por complexidade, em objetivos e finalidades. Descobrir as sensações de prazer e bem-estar que o próprio corpo proporciona é fundamental para que a criança possa se conhecer e evoluir, desenvolvendo cada vez mais suas competências. (SÁNCHES, 2003, p. 43)

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É pelo corpo e movimento, que a criança realiza suas experiências,

organiza a sua personalidade, toma consciência e conhecimento de si própria,

estabelecendo relação com o meio e com os outros. Percebe o mundo que ao

seu redor e utiliza o seu corpo para relacionar com essa realidade do mundo.

Para que a criança tenha um desenvolvimento saudável, ela necessita

expandir seus movimentos, explorando seu corpo e o espaço físico. (KRAMER,

2003). Vayer afirma que há, obrigatoriamente, “um intrincamento estreito Eu-

realidade do espaço e do tempo.” O entendimento e a consciência dessa

realidade não se separam da consciência e do uso que a criança tem de seu

próprio Eu, ou seja, do seu próprio corpo. A relação do sujeito com o outro se

revela forma clara através da sua atitude e das suas expressões corporais. É

dessa maneira que as dificuldades de comunicação (angústia, ansiedade,

fugas, agressividade etc), que são reações de insegurança, se traduzem em

manifestações tônicas e posturais. Esses estados podem ser temporários, mas

também podem permanecer, gerando bloqueios e interferindo na forma como

a criança usa seu corpo, consequentemente, perturbando suas condições de

compreender o mundo. (VAYER, 1989)

“Dançar, nadar, treinar lutas marciais, jogar tênis ou xadrez, praticar

arvorismo ou qualquer outra atividade física que mantenha o corpo e a mente

em movimento favorece a capacidade neural.” (“MENTE E CÉREBRO”,

especial “O desafio de aprender”, p. 8). A atividade física produz endorfina, um

neurotransmissor relacionado à sensação de bem-estar. O exercício físico

regular facilita a circulação sanguínea, levando oxigênio a partes menos

irrigadas do cérebro, possibilitando que novas conexões neurais sejam feitas.

Por isso, é um colaborador importante para a aprendizagem e a Memória.

(RELVAS, 2005)

Arte: “... acreditamos que toda pessoa tem potencial criativo, e a arte na escola deve ser parte fundamental no processo de formação do homem, pelos seus conteúdos cognitivos, afetivos e perceptivos.” (FERREIRA, 2008, p. 20)

Além de prazerosas, as atividades plásticas envolvem funções

psicomotoras e mentais superiores. Ao mesmo tempo em que a criança pinta,

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recorta, dobra, esculpe, modela, ela constrói novos conhecimentos, elabora e

expressa suas emoções, além de estimular e desenvolver funções

psicomotoras e neuropsicológicas. Ela passa a ser capaz de interpretar e

representar o mundo que a cerca através dessas atividades. (GRASSI, 2008)

Richter explica que a linguagem pictória ajuda a criança a abordar e

elaborar significados complexos que ainda não podem ser expressos pela

linguagem oral nessa idade. Ela diz ainda, que os trabalhos não devem ser

comparados e sim valorizados, por parte do adulto, de forma individualizada.

Deve-se ter em mente, que a criança expressa os seus sentimentos através da

arte, logo, é preciso observar as idéias, o simbolismo mental e emocional do

trabalho. (RICHTER, 2004)

Desenho:

“O desenho é um ato de inteligência, desenhar é um ato inteligente. Isto quer

dizer notadamente que, para as crianças, ele representa uma das maneiras

fundamentais de apropriar-se do mundo e, em particular do espaço.”

(PORCHER, 1992, apud, FERREIRA, 2008, p. 22)

Um dos fatores essenciais no aparecimento da linguagem escrita,

segundo Vygotsky, é o desenho. Para ele, o desenho surge a partir do

momento em que a linguagem verbal já progrediu, tornando-se habitual na

criança. Quando ela sente dificuldade de desenhar todas as palavras, “a

escrita pictográfica dá lugar à ideográfica, ainda que o desenho nunca venha a

ser totalmente substituído pela escrita.” (Vygotsky 1984, apud, SMOLE, 1996,

p.47). Para Derdyk “a criança, em um determinado momento percebe que tudo

que está depositado no papel partiu dela não lhe foi dado, foi inventado por ela

mesma. Inaugura-se o terreno da criação.” (DERDYK 2003, apud

FERREIRA,2008, p. 21)

Os itens citados acima são exemplos de algumas práticas que fazem

parte do cotidiano da maioria das escolas, mas, desconhecendo a atividade

cerebral e a importância da emoção na sala de aula, muitas vezes a atividade

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pode tornar-se incompleta. Por isso, cabe ao educador conhecer os seus

alunos, proporcionando um ambiente de aprendizagem afetivo, visando o

pleno desenvolvimento das crianças.

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CONCLUSÃO

A partir dos estudos feitos ao longo deste trabalho, fica claro que a

emoção é peça fundamental no processo de desenvolvimento e na

aprendizagem, já que desde o ventre materno já fazem parte da vida do ser

humano. Sensações como a alegria e o estresse podem influenciar em

inúmeros aspectos o cérebro do feto.

Após o nascimento e, ao longo da vida, não é diferente. Tudo que

sentimos e, a forma como lidamos com as emoções, são determinantes para o

nosso sucesso ou o fracasso, seja no aspecto cognitivo, comportamental ou

social.

O estudo comprovou o quando a Educação Infantil é fundamental para o

desenvolvimento, já que se trata do momento mais propício para a

aprendizagem, devido ao intenso número de sinapses que ocorrem nessa

fase. Por isso, é importante que os educadores tenham em mente o quando a

emoção influencia na aprendizagem e no desenvolvimento do aluno. Assim,

será possível realizar um planejamento de qualidade, contribuindo, de fato,

para o crescimento saudável e feliz das nossas crianças. A emoção

definitivamente pode e deve ser trabalhada de forma efetiva na Educação

Infantil.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Apostila: Neurobiologia das emoções. Marta Relvas. ANTUNES, C. Educação infantil: prioridade imprescindível. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004 CRAIDY, M.; KAERCHER, G.E.P.S. Educação infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001 FERREIRA, A. A criança e a arte: o dia-a-dia na sala de aula. 3 ª.ed. Rio de Janeiro: WAK Ed., 2008 GAZZANIGA, M. Neurociência Cognitiva – A biologia da Mente; tradução Angelica Rosat. 2ª Ed. – Porto Alegre: Artmed, 2006 GRASSI, Tânia. Oficinas Psicopedagógicas. 2ª ed. Ver. e atual – Curitiba: Ibpex 2008. JEANDOT, N. Explorando o Universo da Música. 2ª ed., São Paulo: Scipione, 2002. JOURDAIN, Robert. Música, Cérebro e Êxtase – Como a música captura nossa imaginação Trad. Sonia Coutinho, Rio de Janeiro: Objetiva, 1998. KRAMER, S. (coord.) Com a Pré-escola nas mãos: uma alternativa curricular para a educação infantil. São Paulo: ABDR, 2003 LENT, R. (coord.) Neurociência da Mente e do Comportamento – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 2008 LOPES, S. Bio. Volume único 1ed. São Paulo: Saraiva, 2004 MACHADO, Angelo: Neuroanatomia Funcional. 2 ª ed - São Paulo, Editora Atheneu, 2004. RELVAS, Marta P. Fundamentos Biológicos da Educação – Despertando Inteligências e Afetividade no processo de aprendizagem. Rio de Janeiro: WAK Ed., 2005. RELVAS, Marta P. Neurociência e Educação – potencialidades dos gêneros humanos em sala de aula. Rio de Janeiro: WAK Ed.,2009

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RELVAS, Marta P. Neurociência e Transtornos de Aprendizagem – As Múltiplas Eficiências para uma Educação Inclusiva. Rio de Janeiro: WAK Ed. 3 ª ed. 2009. Revista MENTE e CÉREBRO – “A mente do bebê” em quatro volumes.

Revista MENTE e CÉREBRO, edição especial, n°26, “O desafio de aprender”

Revista MENTE e CÉREBRO, edição especial , n°9, “O equilíbrio das

emoções”

Revista MENTE e CÉREBRO Fev. 2011

RICHTER, S. Criança e pintura: ação e paixão do conhecer. Porto Alegre: Mediação, 2004 SACKS, Oliver. Alucinações Musicais – Relatos sobre Música e Cérebro trad. Laura Teixeira Motta – São Paulo: Companhia das Letras, 2007 SÁNCHES, P. A psicomotricidade na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2003. SMOLE, Kátia. A Matemática na Educação infantil: a teoria das inteligências múltiplas na prática escolar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. SUNDIN, Bertil. – A importância da música e de atividades estéticas no desenvolvimento geral da criança. In: RUUD, E. Música e saúde. São Paulo: Summus, 1991. SNYDERS, Georges. A escola pode nos ensinar as alegrias da música? 3ª ed. editora Cortez, São Paulo, 1997 VAYER, P. O Diálogo Corporal – A ação educativa para a criança de 2 a 5 anos. Trad. M. Ermantina G. G. Pereira e Erandi Lopes. São Paulo: Ed. Manole, 1989 VICTORIO, Márcia. Impressões Sonoras – Música em Arteterapia. Rio de Janeiro: WAK Ed. 2008 . Na WEB: http://www.cerebromente.org.br/n04/opiniao/izquierdo.htm)

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

A EMBRIOGÊNESE DO SISTEMA NERVOSO 09

1.1

A formação do cérebro 09

1.2 O desenvolvimento do cérebro na vida pós-natal 19

CAPÍTULO II

A INFLUÊNCIA DA EMOÇÃO NA APRENDIZAGEM 23

2.1.

A neurobiologia das emoções 23

2.2.

Emoções 29

2.3.

Aprendizagem 30

2.4.

Emoção e aprendizagem 32

CAPÍTULO III

A NEUROCIÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 34

CONCLUSÃO 42

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43

ÍNDICE 45