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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE RECOMPOSIÇÃO DO EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO NOS CONTRATOS ADMINSITRATIVOS Por: Frederico Augusto Kalache de Paiva Orientador Anselmo Souza Rio de Janeiro 2011

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Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · do equilíbrio econômico-financeiro nos contratos administrativos – é fundamental delimitar as principais características

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

RECOMPOSIÇÃO DO EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO

NOS CONTRATOS ADMINSITRATIVOS

Por: Frederico Augusto Kalache de Paiva

Orientador

Anselmo Souza

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS - GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

RECOMPOSIÇÃO DO EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO

NOS CONTRATOS ADMINSITRATIVOS

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito Público

e Tributário.

Por: Frederico Augusto Kalache de Paiva

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, professores e a

Direção do Projeto A vez do Mestre.

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DEDICATÓRIA

“Dedico este Trabalho à minha família,

base de toda minha formação como

pessoa”.

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RESUMO

O contrato administrativo para ser viável de consecução necessita ter o

devido equilíbrio econômico-financeiro, de acordo com as condições efetivas

da proposta da contratação.

Em algumas situações, em razão da previsibilidade do desequilíbrio, o

próprio contrato resolve formas e mecanismos a permitir a chamada

recomposição daquilo que foi originariamente pactuado, visando evitar perdas

ou ganhos exagerados para qualquer uma das partes (Administração Pública e

particular).

Em outras situações, e da impossibilidade de se prever todas as

conjunturas aptas a afetar a equação econômico-financeira do contrato, haverá

a necessidade de serem utilizados mecanismos que igualmente irão permitir o

reequilíbrio da referida equação, não obstante ele tenha resultado de fatores

imprevisíveis.

O direito ao equilíbrio econômico-financeiro do contrato, apesar de

servir para ambas as partes contratantes, mostra-se vital para os contratados,

significando um tipo de reserva protetiva ao contratado, considerando a

superioridade da Administração, justificada no interesse público.

Goza de “status” constitucional tal direito, conforme previsão do inciso

XXI do artigo 37 da Carta Magna, ao se prever a necessidade de se manter as

condições da proposta.

Visando a mantença de tal equilíbrio nos contratos administrativos, é

que existem figuras jurídicas distintas, como a revisão, reajuste e

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repactuação, que serão pormenorizadas no decorrer desta monografia,

objetivando um esclarecimento objetivo dos institutos jurídicos que garantem

esse equilíbrio econômico-financeiro ao longo da vigência dos contratos

administrativos.

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METODOLOGIA

A monografia foi desenvolvida através de pesquisa científica de coleta

de dados na doutrina especializada, legislação pertinente, além do

conhecimento cotidiano do autor que trabalha na administração pública

indireta. A pesquisa bibliográfica foi baseada em obras de autores renomados,

como: Marçal Justen Filho; José dos Santos Carvalho Filho; Joel de Menezes

Niebuhr; Jesse Torres Pereira Junior; Alexandre Santos de Aragão; Revistas

especializadas (Zênite; Forum), etc..

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09 -10.

CAPÍTULO I - Breves noções de Contrato Administrativo 11 – 16.

CAPÍTULO II - Equação econômico-financeira

do contrato administrativo 17 – 23.

CAPÍTULO III – Mecanismos Para Recomposição 24 – 41.

da Equação Econômico-financeira previstos

na Legislação Brasileira.

CONCLUSÃO 42.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43.

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INTRODUÇÃO

A Administração Pública possui como objetivo precípuo a satisfação do

interesse público, ou seja, a eterna busca dos interesses e valores de toda

uma sociedade, com vistas ao desenvolvimento do bem-estar da coletividade.

Para a satisfação desse interesse público, a Administração Pública vê-

se constante e crescentemente forçada a adquirir bens e receber serviços

junto a terceiros. Para tanto ela necessita celebrar contratos, cujo teor

pressupõe o acordo de vontades entre as partes contratantes a fim de criar

obrigações e estabelecer o conteúdo delas, alinhando interesses.

Como ocorre em todo o contrato, a manifestação da vontade entre as

partes contratantes é elemento essencial a sua celebração. Todavia, o contrato

administrativo possui aspectos peculiares que o individualizam no mundo

jurídico, uma vez que o interesse público, essência do contrato administrativo,

concede prerrogativas à Administração Pública, derrogando o regime de

igualdade típico dos contratos convencionais.

As referidas prerrogativas decorrem de Lei e estão enumeradas no

artigo 58 da Lei nº 8.666/93, como veremos mais adiante.

Muito embora a Administração Pública possua tais prerrogativas frente

ao contratado, o que acaba por redundar num natural desequilíbrio a seu favor

- expressado em cláusulas exorbitantes ou prerrogativas protetoras do

interesse público – o equilíbrio econômico-financeiro do contrato é intangível e

essencial para sua a sobrevivência, delineando espécie de reserva de proteção

ao contratado em face da superioridade da Administração.

Nessa reserva, que corresponde à equação econômico-financeira do

contrato, não vale a superioridade da Administração; vale, sim, o direito do

contratado ao equilíbrio econômico-financeiro do contrato.

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Os mecanismos do equilíbrio econômico-financeiro do contrato

administrativo são a Revisão ou Reequilíbrio e o Reajuste, sendo este último

subdividido em Reajuste por índice financeiro e Repactuação, decorrente de

variação de preços de mercado. A partir destes conceitos básicos é que a

presente monografia pretenderá desenvolver de forma sintética e explicativa

este importante e polêmico tema que envolve os contratos administrativos.

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CAPÍTULO I

Breves noções de Contrato Administrativo

Antes de adentrar no tema central desta monografia – Recomposição

do equilíbrio econômico-financeiro nos contratos administrativos – é

fundamental delimitar as principais características que envolvem um contrato

administrativo para melhor compreensão deste trabalho.

Existem diversos conceitos de contrato administrativo na doutrina, que

acabam em destacar seus elementos principais. Dentre eles, elegemos

ressaltar o entendimento de JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO1, como

sendo: “O ajuste firmado entre a Administração Pública e um particular,

regulado basicamente pelo direito público, e tendo por objeto uma atividade

que, de alguma forma, traduza interesse público”.

De fato, se faz fundamental sobressair no contrato administrativo o seu

objetivo precípuo, qual seja: o interesse público. Isso porque, toda atividade

administrativa deve ser desenvolvida pelo Estado para benefício da

coletividade. Mesmo quando o fim imediato visa algum interesse estatal, a

finalidade perseguida de sua atuação deve ser voltada ao interesse público.

Insurgem do interesse público, cláusulas singulares no contrato

administrativo, que são conhecidas como “cláusulas exorbitantes”, expressão

esta consagrada pela doutrina e, devidamente tipificada no artigo 58 da Lei nº

8.666/93, quais sejam: A Administração pode modificar unilateralmente os

contratos administrativos; rescindi-los nos casos especificados do artigo 79 da

mesma lei; fiscalizar a execução; aplicar sanções administrativas pela

inexecução total ou parcial do ajuste; nos casos de serviços essenciais, ocupar

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provisoriamente bens móveis, imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto

do contrato, na hipótese da necessidade de acautelar apuração administrativa

de faltas contratuais pelo contratado, bem como na hipótese de rescisão do

contrato administrativo.

O interesse público é fundamento essencial não só norteador na

relação contratual com a administração pública, mas também na própria fase

que precede a formação do contrato, uma vez que a administração não pode,

em tese, contratar com o particular que lhe convier, sob pena de afronta ao

interesse público.

Toda contratação operada com a administração pública deve ser

precedida de Licitação Pública, admitida às exceções legais nos casos de

licitação dispensada, dispensável e inexigível, figuras jurídicas estas previstas

nos artigos 24, 17 e 25 da Lei nº 8.666/93, sendo certo que tais exceções ao

dever de licitar não devem, de igual forma, fugir de seu objetivo da busca do

interesse público.

Com efeito, cumpre ressaltar que a exceção do dever de licitar trata-se

de exceção à regra de licitação insculpida no artigo 37, inciso XXI da

Constituição da República, seja em razão de uma inviabilidade de competição

(inexigibilidade), seja em hipóteses em que a realização da licitação pública

imporia prejuízos a valores concernentes ao interesse público, conforme casos

de dispensa de licitação expressos na Lei nº 8666/93.

Assim, após o procedimento licitatório ou após os processos que de

dispensa ou inexigibilidade competentes, a administração pública irá, em regra,

formalizar a contratação junto ao particular, observados os ditames da Lei nº

8.666/93.

1 Carvalho Filho, José Santos – Manual de Direito Administrativo – 19ªed., página 162, editora Lumen Juris, 2008.

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Mais uma vez, em nome do interesse público e de sua

indisponibilidade, devem os contratos administrativos ser formalizados por

escrito, impondo-se uma série de protocolos para a proteção da coisa pública,

a fim de evitar distorções e deturpações.

Segundo JOEL DE MENEZES NIEBUHR2: “Explicando melhor,

particulares firmam contratos do jeito que quiserem, verbais ou escritos,

porquanto o que vale são as suas vontades. Agentes administrativos, que

gerenciam o interesse público, não gozam da liberdade de agir de acordo com

as suas vontades, e, pois, decidir livremente em firmar os contratos apenas

verbalmente ou por escrito. Para melhor curar do interesse público, os agentes

administrativos, em regra, devem firmar contratos escritos.

O artigo 55 da Lei nº 8.666/93 prescreve todas as cláusulas

necessárias que devem ser estabelecidas nos contratos administrativos:

Art. 55. São cláusulas necessárias em todo contrato as que estabeleçam:

I - o objeto e seus elementos característicos;

II - o regime de execução ou a forma de fornecimento;

III - o preço e as condições de pagamento, os critérios, data-base e periodicidade do reajustamento de preços, os critérios de atualização monetária entre a data do adimplemento das obrigações e a do efetivo pagamento;

IV - os prazos de início de etapas de execução, de conclusão, de entrega, de observação e de recebimento definitivo, conforme o caso;

V - o crédito pelo qual correrá a despesa, com a indicação da classificação funcional programática e da categoria econômica;

VI - as garantias oferecidas para assegurar sua plena execução, quando exigidas;

2 De Menezes Niebuhr, Joel – Licitação Pública e Contrato Administrativo – 1ª edição – página 439 – editora Zênite, 2008.

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VII - os direitos e as responsabilidades das partes, as penalidades cabíveis e os valores das multas;

VIII - os casos de rescisão;

IX - o reconhecimento dos direitos da Administração, em caso de rescisão administrativa prevista no art. 77 desta Lei;

X - as condições de importação, a data e a taxa de câmbio para conversão, quando for o caso;

XI - a vinculação ao edital de licitação ou ao termo que a dispensou ou a inexigiu, ao convite e à proposta do licitante vencedor;

XII - a legislação aplicável à execução do contrato e especialmente aos casos omissos;

XIII - a obrigação do contratado de manter, durante toda a execução do contrato, em compatibilidade com as obrigações por ele assumidas, todas as condições de habilitação e qualificação exigidas na licitação.

1.1 – Instrumento de contrato e congêneres

Os contratos escritos podem ter variações quanto a sua formalização.

Para tanto se torna necessária a observância do disposto no artigo 62 da Lei nº

8.666/93, que estipula os casos de obrigação do instrumento contratual,

facultando em outros sua substituição por demais instrumentos hábeis,

vejamos:

Art. 62. O instrumento de contrato é obrigatório nos casos de

concorrência e de tomada de preços, bem como nas dispensas

e inexigibilidades cujos preços estejam compreendidos nos

limites destas duas modalidades de licitação, e facultativo nos

demais em que a Administração puder substituí-lo por outros

instrumentos hábeis, tais como carta-contrato, nota de empenho

de despesa, autorização de compra ou ordem de execução de

serviço.

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Enfim, o instrumento contratual, propriamente dito, será obrigatório

dependendo da modalidade de licitação ou do valor envolvido, nos casos de

dispensa e inexigibilidade, podendo ser substituídos por instrumentos

congêneres em situações que envolvam contratações de valores abaixo de R$

80.000,00 (oitenta mil reais), e em específico, em caso de contratações de

obras e serviços de engenharia, valores abaixo de R$ 150.000,00 (cento e

cinquenta mil reais).

Com efeito, após uma breve exposição sobre as características

básicas da formação do contrato administrativo e focalizado no tema desta

monografia, enfatizamos o fato de que em toda contratação existem valores

financeiros envolvidos. Esses valores equivalem à proposta do contratado e

estes são assumidos pela Administração como contraprestação devida à

execução do objeto do contrato.

Antes mesmo disso, por ocasião da licitação ou do processo de

dispensa e inexigibilidade, forma-se a equação econômico-financeira,

consistente na relação entre os custos previstos pelo licitante e o valor

proposto por ele.

Segundo JOEL DE MENEZES NIEBUHR3, “Dizer que os contratantes

gozam do direito ao equilíbrio econômico financeiro do contrato equivale a

dizer que a equação econômico-financeira deve ser mantida durante toda a

execução do contrato ou, noutros termos, que a relação de proporção, formada

à época da licitação, entre os custos prospectados pelo licitante e o valor

proposto por ele deve ser mantido durante toda a execução do contrato”.

Uma vez delineadas as premissas básicas que envolvem o contrato

administrativo, passaremos no próximo capítulo a trabalhar especificamente

3 De Menezes Niebuhr, Joel – Licitação Pública e Contrato Administrativo – 1ª edição – página 533 – editora Zênite, 2008.

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sobre os mecanismos existentes para preservar sua equação econômico-

financeira.

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CAPÍTULO II

Equação Econômico-Financeiro do Contrato

Administrativo

A equação econômico-financeira do contrato administrativo é a relação

de equivalência entre o encargo definido pela Administração Pública (objeto

do contrato) e o preço (valor da proposta) ofertado pelo licitante. Ela se forma

com a apresentação da proposta na licitação.

Podemos fazer algumas observações sobre encargo e preço para

melhor delinearmos os elementos que compõe o equilíbrio do contrato.

O encargo é o conjunto de obrigações decorrentes direta e

indiretamente do cumprimento do objeto e demais condições necessárias para

atendimento dos termos do contrato e que impõe ônus financeiro/custo para o

contratado, enfim, é o custo da empresa para executar o contrato.

O preço é o valor pecuniário exigido pelo contratado para contratar

com a Administração Pública. Deve ser suficiente para proporcionar a perfeita

execução do objeto, bem como viabilizar o cumprimento do encargo com

obtenção de lucro, compreendidas todas as obrigações impostas pela

formação desse vínculo.

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O preço não pode ser inferior ao custo de execução ou superior aos

parâmetros comuns de mercado praticados para o objeto, sob pena de

caracterizar valor inexequível ou preço excessivo.

2.2. Fundamento da manutenção do equilíbrio econômico-financeiro do

contrato.

A manutenção do equilíbrio da equação econômico-financeira durante

todo o contrato tem fundamento na própria Constituição da República,

conforme podemos destacar do artigo 37, XXI.

Art. 37. (...)

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação,

as obras, serviços, compras e alienações serão

contratados mediante processo de licitação pública que

assegure igualdade de condições a todos os

concorrentes, com cláusulas que estabeleçam

obrigações de pagamento, mantidas as condições

efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente

permitirá as exigências de qualificação técnica e

econômica indispensáveis à garantia do cumprimento

das obrigações;

Podemos auferir do texto constitucional que a equação econômico-

financeira formada na oportunidade da apresentação da proposta,

consubstanciada na relação de proporção entre os custos prospectados pelo

licitante e o valor proposto por ele, deve manter-se intacto durante a execução

do contrato.

O equilíbrio econômico-financeiro do contrato não se trata de direito

exclusivo do contratante, pois a Administração Pública, como parte, também é

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detentora deste direito, em que pese o fato dos contratados invocá-lo com

muito mais frequência, considerando, por exemplo, que os insumos utilizados

por eles e seus custos em geral são frequentemente majorados, conferindo-

lhes, em tese, o direito à majoração da contraprestação devida pela

Administração, embora o oposto também possa ocorrer.

O desequilíbrio da equação econômico-financeira do contrato pode ter

como causa: a modificação unilateral do contrato pela Administração; o

fato do Príncipe; o fato da Administração; os fatos imprevistos e

imprevisíveis. As três primeiras causas são identificadas como áleas

administrativas, sendo a última como álea econômica. MARIA SYLVIA

ZANELLA DI PIETRO denomina que ambas as áleas podem ser classificadas

como áleas extraordinárias4.

A alteração unilateral do contrato, prevista nos artigos 58, I e 65, I da

Lei nº 8.666/93, consiste na atuação formal e direta pela Administração nas

cláusulas regulamentares do contrato, e que, normalmente, resulta na ruptura

do equilíbrio econômico-financeiro do contrato. Tal modificação implica na

necessidade de revisão das condições de execução do contrato, a fim de

restabelecer a equação inicialmente formada.

Art. 58. O regime jurídico dos contratos administrativos instituído por esta Lei confere à Administração, em relação a eles, a prerrogativa de:

I - modificá-los, unilateralmente, para melhor adequação às finalidades de interesse público, respeitados os direitos do contratado

(.....)

Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados, com as devidas justificativas, nos seguintes casos:

I - unilateralmente pela Administração:

4 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 17 ed. São Paulo, 2003.p.264.

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a) quando houver modificação do projeto ou das especificações, para melhor adequação técnica aos seus objetivos;

b) quando necessária a modificação do valor contratual em decorrência de acréscimo ou diminuição quantitativa de seu objeto, nos limites permitidos por esta Lei

O fato da Administração ocorre quando a conduta da Administração

torna impossível para o particular executar o contrato, acarretando rompimento

da equação econômico-financeira. A Lei nº 8.666/93 disciplinou a hipótese nos

incisos XV e XVI do artigo 78 e inciso VI do § 1º do artigo 57.

Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato:

XV - o atraso superior a 90 (noventa) dias dos pagamentos devidos

pela Administração decorrentes de obras, serviços ou fornecimento,

ou parcelas destes, já recebidos ou executados, salvo em caso de

calamidade pública, grave perturbação da ordem interna ou guerra,

assegurado ao contratado o direito de optar pela suspensão do

cumprimento de suas obrigações até que seja normalizada a

situação;

XVI - a não liberação, por parte da Administração, de área,

local ou objeto para execução de obra, serviço ou fornecimento,

nos prazos contratuais, bem como das fontes de materiais naturais

especificadas no projeto;

(...)

Art. 57. A duração dos contratos regidos por esta Lei ficará

adstrita à vigência dos respectivos créditos orçamentários, exceto

quanto aos relativos:

(...)

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§ 1o Os prazos de início de etapas de execução, de

conclusão e de entrega admitem prorrogação, mantidas as

demais cláusulas do contrato e assegurada a manutenção de

seu equilíbrio econômico-financeiro, desde que ocorra algum

dos seguintes motivos, devidamente autuados em processo:

(...)

VI – Omissão ou atraso de providências a cargo da

Administração, inclusive quanto aos pagamentos previstos de

que resulte, diretamente, impedimento ou retardamento na

execução do contrato, sem prejuízo das sanções legais

aplicáveis aos responsáveis.

Já o fato do príncipe traduz-se em determinação do Estado dada de

forma geral e imprevisível que venha onerar de forma excessiva o contrato. Por

exemplo, se ocorrer aumento de impostos, que venha a onerar

excessivamente o contrato, está-se diante de fato do príncipe, estando todas

as pessoas sujeitas a ele, e não somente o contratado.

Quanto aos fatos imprevistos ou imprevisíveis, o emprego dos

mesmos redundará quando há circunstâncias externas imprevistas e

imprevisíveis que, estranhas à vontade das partes, incidirem no rompimento da

equação econômico-financeira do contrato, disciplinado na Lei nº 8.666/93 na

alínea “d” do inciso II do artigo 65:

Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser

alterados, com as devidas justificativas, nos seguintes casos:

(...)

II – por acordo das partes:

(...)

d) para restabelecer a relação que as partes pactuaram

inicialmente entre os encargos do contratado e a retribuição da

administração para a justa remuneração da obra, serviço ou

fornecimento, objetivando a manutenção do equilíbrio

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econômico-financeiro inicial do contrato, na hipótese de

sobrevirem fatos imprevisíveis, ou previsíveis porém de

consequências incalculáveis, retardadores ou impeditivos da

execução do ajustado, ou, ainda, em caso de força maior, caso

fortuito ou fato do príncipe, configurando álea econômica

extraordinária e extracontratual.

Nessas circunstâncias é autorizada a alteração contratual, com

fundamento da Teoria da Imprevisão, toda vez que fique demonstrada a

ocorrência imprevisível da onerosidade excessiva dos encargos do contratado.

Nesse sentido, podemos nos reportar a farta jurisprudência do Tribunal de

Contas da União, espelhadas, por exemplo, nos acórdãos 1.596/2006 –

Plenário e no recentíssimo 25/2010 – Plenário.

Afirma Carvalho Filho5 que a Teoria da Imprevisão possui duas

vertentes: se o contratante prejudicado não puder cumprir as obrigações

contratuais de nenhuma forma, dá-se a rescisão contratual sem culpa; se o

cumprimento for possível, mas acarretar ônus para a parte, esta tem o direito à

revisão do preço para restaurar o equilíbrio rompido.

Verificamos, assim, que uma vez constatado o desequilíbrio

econômico-financeiro do contrato é imperial haver um reestabelecimento da

equação econômico-financeira, face ao direito subjetivo a que possui as

partes.

Trata-se, em verdade, de emprego da teoria da imprevisão decorrente

da cláusula rebus sic stantibus, cuja aplicação constitui exceção ao princípio da

força obrigatória do contrato.

Logo, toda vez que as circunstâncias iniciais sofrerem alterações, de

forma a prejudicar uma das partes envolvida no contrato, será necessário um

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ajuste no contrato à nova situação, configurando a possibilidade de emprego

da rebus sic stantibus.

5 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual do direito administrativo 11. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004. P. 186.

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CAPÍTULO III

Mecanismos Para Recomposição da Equação

Econômico-financeira previstos na Legislação

Brasileira.

A Recomposição econômico-financeira dos contratos administrativos

deve ser efetuada, obedecendo aos critérios estabelecidos na legislação, de

modo a identificar corretamente as hipóteses do desequilíbrio e os dispositivos

legais aplicáveis para prover o reestabelecimento da equação.

O sistema ilustrado abaixo dá a exata noção deste mecanismo,

individualizando de forma objetiva os mecanismos de recomposição.

A Revisão ou Reequilíbrio trata-se hipótese de recomposição da

equação econômica financeira do contrato administrativo em face de eventos

MECANISMOS DE RECOMPOSIÇÃO

Revisão/Reequilíbrio Reajuste Lato Sensu

Reajuste Índice por Financeiro

Repactuação Variação de preços de mercado

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imprevisíveis ou, se previsíveis, de consequências incalculáveis, conforme

previsão legal contida no artigo 65, II, d da Lei nº 8.666/93.

Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser

alterados, com as devidas justificativas, nos seguintes

casos:

II - por acordo das partes:

(...)

d) para restabelecer a relação que as partes pactuaram

inicialmente entre os encargos do contratado e a

retribuição da administração para a justa remuneração da

obra, serviço ou fornecimento, objetivando a manutenção

do equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato, na

hipótese de sobrevirem fatos imprevisíveis, ou

previsíveis porém de consequências incalculáveis,

retardadores ou impeditivos da execução do ajustado,

ou, ainda, em caso de força maior, caso fortuito ou fato

do príncipe, configurando álea econômica

extraordinária e extracontratual. (grifou-se).

A referida modalidade tem por base a conhecida Teoria da Imprevisão,

reconhecida no Direito Privado e no Direito Público, e consubstanciada no

artigo 478 e 479 do Código Civil Brasileiro.

Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou

diferida, se a prestação de uma das partes se tornar

excessivamente onerosa, com extrema vantagem para

a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários

e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do

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importadas a serem pagas pelo contratado ao seu fornecedor, no exterior, em

moeda estrangeira. Um mês após iniciada a sua execução, o dólar sofre

expressiva valorização em face do Real.

Curial, ainda, destacar que uma das alterações mais comuns de quebra

da equação econômico-financeira é a alteração da carga tributária incidente

diretamente sobre a execução da prestação do objeto do contrato. A questão

mostra-se tão relevante que os parágrafos 5º e 6º do artigo 65 da Lei nº

8.666/93 preveem explicitamente que a variação da carga tributária configura-

se como causa apta a gerar efeitos jurídicos sobre o equilíbrio econômico-

financeiro do contrato.

Segundo, MARÇAL JUSTEN FILHO7, haverá quebra da equação

econômico-financeira quando o tributo (instituído ou majorado) recair sobre

atividade desenvolvida pelo particular ou por terceiro, necessária à execução

do objeto da contratação. Mais precisamente, cabe investigar se a incidência

tributária configura-se como um “custo” para o particular executar sua

prestação. A resposta positiva a esse exame impõe o reconhecimento da

quebra do equilíbrio econômico-financeiro. Diversa é a situação quando a

incidência recai sobre a riqueza já apropriada pelo particular, incidindo

economicamente sobre os resultados extraídos da exploração.

Assim, a elevação do ICMS produz desequilíbrio sobre contratos que

imponham ao particular, como requisito de execução de sua prestação, a

necessidade de participar de operações relativas à circulação de mercadorias.

O mesmo se diga quando se eleva o IPVA se a execução da prestação

envolver necessariamente a utilização de veículos automotores. Mas a

instituição de imposto sobre a renda apresenta outro contorno, eis que a

incidência se dá sobre os resultados obtidos pelo particular na exploração de

um empreendimento.

6 Direito Administrativo 18ª Ed. Pág. 235, Ed. Atlas, 2010.

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A formalização da concessão da revisão deve ser feita através de termo

aditivo ao contrato. Quanto ao prazo para sua concessão pode ser adotado

como referência o máximo de 60 (sessenta) dias, contados a partir da

solicitação e da entrega dos comprovantes de variação dos custos.

Importante frisar que, ao contrário da figura do reajuste (que será

adiante melhor explicada) a revisão não é condicionada nenhum intervalo de

tempo mínimo, ou seja, o contrato pode ser revisto a qualquer tempo, desde

que verificada e comprovada à ocorrência dos seus pressupostos.

Outro ponto de destaque cinge-se quanto à necessidade de haver

solicitação formal do contratado quanto à revisão e a possibilidade da

administração concedê-la de ofício. Frisamos que a doutrina diverge em

relação a tal aspecto. Podemos citar que Jorge Ulisses Jacoby Fernandes

entende ser indispensável o pleito do contratado, ao passo que o professor

Diógenes Gasaparini, José Cretela Júnior e Joel de Menezes Niebuhr,

possuem a compreensão, ora compartilhada, de que a Administração pode dar

cumprimento ao processo de revisão independente do pleito de quaisquer dos

contratantes.

Com efeito, podemos identificar situação clássica de revisão do

contrato, onde fica insofismável sua necessidade, quando nos deparamos com

um aumento ou diminuição quantitativa do objeto do contrato nos termos do

§1º e §2º do artigo 65 da Lei nº 8.666/93, como, por exemplo, quando a

Administração resolve acrescer em 25% o valor inicial atualizado de um

contrato, o que gerará, por consequência, a necessidade de rever os valores a

serem pagos ao contratado.

Passamos a expor argumento da corrente majoritária supra-aludida:

“A preocupação com a preservação da equação econômico-financeira

não deve ser apenas formal, mas efetiva. Importa, por parte da Administração

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Pública, na prática obrigatória de atos e medidas que restaurem a isonomia da

relação encargo-remuneração e, desde logo, façam desaparecer a

desigualdade que a Constituição Federal forcejou por impedir. Trata-se,

portanto, de dever-poder da Administração Pública contratante. Por ser assim,

a prática desses atos é medida administrativa que independe de qualquer

pedido do co-contratante onerado com o desequilíbrio econômico-financeiro do

contrato. Ainda que de passagem, diga-se que não cabe à Administração

Pública contratante, para furtar-se a obrigação de promover essa

recomposição, alegar que a busca da restauração da economia contratual há

de ser em juízo. Também entende desse modo José Cretella Júnior ao ensinar

que: “A Administração tem o poder-dever de tomar providências imediatas

para, por aditamento, restabelecer o equilíbrio econômico-financeiro inicial do

contrato, sempre, que ocorrer alteração, que aumente os encargos do

interessado licitante” ou, com todo o respeito, acrescentamos, em razão de

agravos decorrentes do seu impedimento.”8

O Reajuste Lato Sensu, trata-se de recomposição do preço em função

da variação dos custos de produção provocada especialmente pelo fator

inflacionário, sendo implementado em função de índices financeiros setoriais

ou específicos ou por meio de negociação entre as partes, objetivando a

recomposição dos valores de acordo com os novos processos de mercado.

Podemos subdividi-lo em duas espécies: O Reajuste por índice

financeiro e a Repactuação.

O Reajuste dos valores do contrato administrativo em função de

estipulação de índices financeiros é o instrumento por meio do qual a

Administração antecipa-se à variação de preço que ela previamente sabe que

irá ocorrer, estipulando, no próprio edital de licitação e no contrato, critério para

8 GASPARINI, Diógenes. Zênite. Reajuste, revisão e repactuação. Revista Zênite de Licitações e Contratos-ILC, Curitiba: Zênite, nº 123, p.416, mai.2004, seção Doutrina/Parecer/Comentários.

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fazer frente a ela. Geralmente são aplicados índices financeiros setoriais ou

específicos, tais como IPC, IPCA, etc..

O artigo 40, XI da Lei nº 8.666/93 traz esta hipótese de mecanismo de

recomposição, que deve ser disciplinado no próprio edital de licitação pública:

Art. 40. O edital conterá no preâmbulo o número de ordem em

série anual, o nome da repartição interessada e de seu setor, a

modalidade, o regime de execução e o tipo da licitação, a

menção de que será regida por esta Lei, o local, dia e hora para

recebimento da documentação e proposta, bem como para início

da abertura dos envelopes, e indicará, obrigatoriamente, o

seguinte:

(...)

XI - critério de reajuste, que deverá retratar a variação efetiva do

custo de produção, admitida a adoção de índices específicos ou

setoriais, desde a data prevista para apresentação da proposta,

ou do orçamento a que essa proposta se referir, até a data do

adimplemento de cada parcela;

Faz-se fundamental comentarmos que o referido dispositivo foi feito à

época da edição da Lei nº 8.666/93, quando havia uma inflação desenfreada,

que pedia medidas jurídicas para tentar neutralizar seus efeitos devassos

sobre os preços do contrato.

Contudo, diante da estabilidade monetária conquistada pelo “Plano

Real”, considerando disposição legal prevista no artigo 2º, §1º da Lei nº

10.192/2001, passou a ser proibitiva a previsão de concessão de reajustes em

prazo inferior a 01 (um) ano:

Art. 2o É admitida estipulação de correção monetária ou de reajuste

por índices de preços gerais, setoriais ou que reflitam a variação dos

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custos de produção ou dos insumos utilizados nos contratos de prazo

de duração igual ou superior a um ano.

§ 1o É nula de pleno direito qualquer estipulação de reajuste ou

correção monetária de periodicidade inferior a um ano.

Assim, por força da referida periodicidade mínima, grande parte dos

contratos administrativos, de prazos inferiores a doze meses, não sofrem

reajustamento e, tampouco, preveem cláusulas nesse sentido. Não há,

portanto, nestes casos qualquer afronta ao artigo 40, XI da Lei nº 8.666/93.

A questão de maior polêmica se dá quando na contratação em prazo

superior a 12 meses esteja ausente previsão de reajuste no edital e no

contrato, o que vem a gerar questionamentos sobre o direito do contratado ao

reajuste.

O Mestre Diógenes Gasparini, seguindo entendimento de grande parte

da doutrina especializada, entende que em tais situações é indevido o reajuste,

conforme podemos destacar do trecho abaixo:

“Embora não seja pacífico, tem-se entendido que o reajustamento só é

possível se previsto no edital ou no processo de contratação direta, pois se

assim não for, enteder-se-á o contrato administrativo como irreajustável e que

o contratado embutiu no preço a inflação do período, até porque poderia ter

reclamado contra a omissão editalícia do índice de reajustamento inflacionário.

Se não o fez, é justo entender que encontrou outro modo de se preservar

contra a inflação”.9

Por outro lado, há outra corrente que entende que a Administração não

pode deixar de observar a norma obrigatória do inciso XI, do artigo 40, e que a

falta de previsão de reajustamento em contratos com prazo de execução maior

9 Gasparini, Diógenes. Reajuste, revisão e repactuação. Revista Zênite de Licitações e Contratos – ILC, nº 123, p. 416, maio de 2004, seção Doutrina/Parecer/Comentários.

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que 12 meses é ilegal e não pode ferir o direito do contratado ao equilíbrio

econômico-financeiro do contrato, de modo que ante sua ausência, deveria

haver alteração do contrato visando suprir tal ilegalidade.

O autor desta monografia compartilha do entendimento no Mestre

Diógenes Gasparini, acrescentando a colocação de que as disposições do

contrato vinculam as partes aos seus estritos termos (pacta sunt servanda),

não sendo admitidas alterações sem amparo legal.

Destarte, conforme prevê o art. 66 da Lei nº 8.666/93, “o contrato

deverá ser executado fielmente pelas partes, de acordo com as cláusulas

avençadas e as normas desta Lei, respondendo cada uma pelas

consequências de sua inexecução total ou parcial”.

A partir dos termos legais, pode-se concluir que, em regra, há a

necessidade de todos os contratos com prazo de vigência igual ou superior a

um ano, fazerem previsão de cláusula dispondo acerca dos critérios de

reajuste de preços que serão aplicados.

Todavia, ainda que essa seja a regra, é importante reconhecer que o

reajuste representa um direito de natureza patrimonial do particular

contratado. De acordo com essa natureza, trata-se, portanto, de um direito

disponível, ao qual o particular pode renunciar.

Nesse compasso, a falta de impugnação aos termos de edital que

pretenda a celebração de contrato com prazo de vigência superior a um ano,

sem previsão de cláusula de reajuste, pode ser tomada como renúncia ao

direito de reajustamento dos preços. A apresentação de proposta na licitação,

sem oposição aos termos do instrumento convocatório, confirma a

concordância do particular com as condições que serão praticadas no futuro

ajuste. A combinação dos artigos 41 e 55, inc. XI, da Lei nº 8.666/93 amparam

essa conclusão.

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Sobre a inaplicabilidade do reajuste diante da ausência de cláusula

contratual expressa nesse sentido, posicionou-se o Superior Tribunal de

Justiça:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO – CONTRATO

ADMINISTRATIVO – REAJUSTE DE PREÇOS – AUSÊNCIA DE

AUTORIZAÇÃO CONTRATUAL – DESCABIMENTO.

1. O reajuste do contrato administrativo é conduta autorizada por

lei e convencionada entre as partes contratantes que tem por escopo

manter o equilíbrio financeiro do contrato.

2. Ausente previsão contratual, resta inviabilizado o pretendido

reajustamento do contrato administrativo.

3. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, não

provido. (STJ, RE nº 730.568/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em

06.09.2007.)

Em outra oportunidade, ao avaliar situação da mesma espécie, o

Superior Tribunal de Justiça reconheceu que:

Não é a concordância das partes que legitima as majorações de

preço, mas sim, o contrato que há de autorizá-las, quando prevista no

edital, na conformidade da legislação, competente. (...). Desta forma,

sendo o edital a lei interna do contrato, não há como se admitir cláusula

contratual por ele não prevista. (STJ, AgRg no REsp nº 877.150/SP, Rel.

Min. Luiz Fux, julgado em 03.04.2008.)

Portanto, com base nessas razões, não havendo disposição contratual

a respeito dos critérios de reajuste, parece possível concluir pela aceitação do

licitante em renunciar a esse direito, o que gera a impossibilidade de os preços

contratados serem reajustados ao longo da execução do ajuste.

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Com relação à Repactuação, podemos defini-la como o instrumento

cabível para manter o equilíbrio econômico-financeiro nos contratos

administrativos que tenham por objeto a prestação de serviços de trato

continuado, firmado entre a Administração Pública Federal e terceiros,

decorrentes do fenômeno mercadológico conhecido como “terceirização de

serviços”.

A legislação atinente a essa espécie de reajuste está regulada no

Decreto Federal nº 2.271/97, bem como na Instrução Normativa nº 02/2008 do

Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

Em termos gerais, podemos dizer que a repactuação regula o

ajustamento do valor de terceirização de serviços de acordo com a variação

efetiva do custo de produção, observando os valores salariais praticados ao

tempo da data-base10 da categoria dos profissionais postos à disposição da

Administração Pública pelos contratados.

Ponto crucial a ser observado na repactuação é a periodicidade que a

mesma pode der concedida. Para esclarecer essa questão, deve-se observar

concomitantemente o disposto no artigo 5º do Decreto nº 2.271/97 e o artigo

37, 38 e 39 da IN º 02/08. Vejamos:

Dec. 2.271/97 (...)

Art. 5º Os contratos de que trata este Decreto, que tenham por objeto a

prestação de serviços executados de forma contínua poderão, desde

que previsto no edital, admitir repactuação visando à adequação aos

novos preços de mercado, observados o interregno mínimo de um ano

e a demonstração analítica da variação dos componentes dos custos

do contrato, devidamente justificada.

IN nº 02/08 (...)

10 No Brasil, data-base é o período do ano em que patrões e empregados se reúnem para repactuar os termos dos seus contratos coletivos de trabalho.

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Art. 37. A repactuação de preços, como espécie de reajuste contratual,

deverá ser utilizada nas contratações de serviços continuados com

dedicação exclusiva de mão de obra, desde que seja observado o

interregno mínimo de um ano das datas dos orçamentos aos quais a

proposta se referir, conforme estabelece o art. 5º do Decreto nº 2.271,

de 1997. ((Nova redação pela Instrução Normativa MP nº 3, de

15/11/2009).

Art. 38. O interregno mínimo de 1 (um) ano para a primeira repactuação

será contado a partir:

I - da data limite para apresentação das propostas constante do

instrumento convocatório, em relação aos custos com a execução do

serviço decorrentes do mercado, tais como o custo dos materiais e

equipamentos necessários à execução do serviço; ou (Nova redação

pela Instrução Normativa MP nº 3, de 15/11/2009).

II - da data do acordo, convenção ou dissídio coletivo de trabalho ou

equivalente, vigente à época da apresentação da proposta, quando a

variação dos custos for decorrente da mão de obra e estiver vinculada

às datas-base destes instrumentos. (Nova redação pela Instrução

Normativa MP nº 3, de 15/11/2009).

Art. 39. Nas repactuações subseqüentes à primeira, a anualidade será

contada a partir da data do fato gerador que deu ensejo à última

repactuação. (Nova redação pela Instrução Normativa MP nº 3, de

15/11/2009).

Assim, ponderando os dispositivos acima transcritos, vale imaginarmos

situações hipotéticas para melhor compreendemos, na prática, a aplicabilidade

da repactuação e seus efeitos:

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Consideramos, por exemplo, que um contrato de prestação de serviços

de natureza contínua foi assinado em 01/03/2008 entre um ente da

administração pública e uma empresa, tendo os valores sido balizados numa

Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) firmada em 01/06/2007; A nova data

base da categoria em 01/06/2008 reajusta os salários da categoria através de

CCT depositada e registrada na DRT11; O pedido de repactuação é feito em

01/12/2008; O termo aditivo de contrato, reajustando o valor do contrato em

função da repactuação é assinado em 01/02/2009.

No exemplo acima, temos que o pedido de repactuação feito em

01/12/2008 é perfeitamente cabível, pois observa o interregno mínimo de 01

ano da data da CCT à época a que a proposta se referiu (ou seja, 01/06/2007,

pois o contrato foi assinado em 01/03/2008, tendo por base CCT de

01/06/2007 que balizou os valores da proposta). Destarte, a repactuação é

devida com efeitos retroativos desde 01/06/2008 (data base da categoria),

época da aplicação dos novos valores da CCT.

Dessa forma, a aplicação da repactuação do referido contrato

reestabeleceria o equilíbrio econômico-financeiro ao citado contrato.

Curial observar que é entendimento atual que o pedido de repactuação

do contratado deverá ser realizado no máximo até a celebração do aditivo de

prazo imediatamente posterior ao fato gerador da repactuação, ou seja, se for

firmado novo aditamento do contrato, prorrogando o prazo de execução, sem

que seja feita qualquer ressalva da repactuação – considerando, logicamente,

ser esta já possível – fica precluso o direito do contratado de pleiteá-la

posteriormente.

Com efeito, trazemos a baila destaques do Acórdão nº 1.827/08 –

Plenário do TCU (Tribunal de Contas da União), servindo de paradigma do

entendimento referente aos efeitos da repactuação:

11 Delegacia Regional do Trabalho.

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Nos contratos de serviços contínuos, cada prorrogação caracteriza um novo

contrato. Uma vez assinado o termo aditivo, o contrato original não mais pode

ser repactuado. (item 58 do Voto).

Com a celebração da prorrogação sem ressalvas quanto à repactuação, opera-

se a preclusão lógica desse direito. A preclusão lógica verifica-se quando se

pretende praticar ato incompatível com outro anteriormente praticado. Ou seja,

depois de celebrada a prorrogação do contrato e mantido o seu valor vigente,

sem qualquer ressalva, revela-se incompatível pretender a repactuação

(alteração) dos preços, haja vista o valor ser fator decisivo para a decisão em

torno da prorrogação (item 61 do Voto).

Se fossem admitidos os efeitos retroativos da repactuação depois de

formalizada a prorrogação, o juízo acerca da conveniência e da oportunidade

de prorrogar o contrato estaria comprometido (item 62 do Voto).

Se as negociações para a celebração do acordo ou da convenção de trabalho,

ou a solução do dissídio coletivo prolongarem-se para além da data-base e,

nesse intervalo, a Administração convocar o contratado para a prorrogação,

deverá ser prevista cláusula para resguardar o direito à repactuação, a ser

exercido tão logo se disponha do documento coletivo devidamente

homologado. (item 69 do Voto).

Outro tópico que é digno de comentário, quanto a repactuação, está

relacionado na identificação do marco inicial de repactuação no caso da

contratação direta baseada no inciso XI do artigo do artigo 24 da Lei nº

8.666/93.

Art. 24. É dispensável a licitação:

XI - na contratação de remanescente de obra,

serviço ou fornecimento, em conseqüência de rescisão

contratual, desde que atendida a ordem de classificação

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da licitação anterior e aceitas as mesmas condições

oferecidas pelo licitante vencedor, inclusive quanto ao

preço, devidamente corrigido

A hipótese de dispensa prevista no art. 24, inc. XI, da Lei nº 8.666/93,

objetiva evitar o desperdício de tempo e recursos, na medida em que permite o

aproveitamento da licitação que foi realizada e que resultou em um contrato

rescindido. Para que seja possível realizar a contratação direta com base

nesse dispositivo, faz-se necessária a observância dos seguintes requisitos:

a) deve o contrato originariamente firmado ter sido rescindido;

b) deve ser observada a ordem de classificação das propostas da licitação anterior;

c) devem ser aceitas, pelo licitante remanescente convocado, as mesmas condições oferecidas pelo particular detentor da melhor proposta e inicialmente contratado, inclusive quanto ao preço, devidamente corrigido.

Quando a contratação de remanescente tiver por objeto a prestação de

serviços de natureza contínua perante a Administração Pública Federal, o

particular contratado terá direito à repactuação do valor contratual, depois de

um ano da data da apresentação da proposta ou do orçamento a que ela se

referir. A repactuação objetiva a adequação do valor do contrato aos novos

preços de mercado para a atividade contratada, observados o interregno

mínimo de um ano e a demonstrarão analítica da variação dos componentes

dos custos do contrato feita mediante planilhas de custos e formação de

preços, devidamente justificada.

O fato de o contrato ter sido celebrado com base no art. 24, inc. XI, da Lei

nº 8.666/93, não altera essa regra. Por isso, também o particular contratado

para a execução do remanescente terá direito à repactuação após decorrido o

lapso de um ano contado da data da apresentação da proposta na licitação

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anterior ou do orçamento a que esta se referir. A data do orçamento a que a

proposta se referir é aquela da convenção, do acordo ou do dissídio coletivo

que serviu de parâmetro para elaboração da proposta apresentada no certame

(conforme prevê o disposto no item 7.2 da IN nº 18/97 do MARE).

Portanto, na hipótese de contratação direta com base no art. 24, inc. XI,

da Lei nº 8.666/93, o marco inicial a ser considerado para fins de repactuação

será o mesmo do primeiro contrato. Inclusive, se já decorrido o lapso de um

ano da data da apresentação da proposta ofertada pelo particular na licitação

anterior ou, ainda, um ano da data do orçamento que serviu de parâmetro para

sua oferta (convenção, acordo ou dissídio coletivo da categoria envolvida), fará

ele jus à celebração do contrato com o valor já repactuado.

Aplicação do Decreto nº 2.271/97 e da IN 02/2008 do MPOG na

Administração Público Indireta.

Em que pese o Decreto nº 2.271/97 revelar em seu artigo 1º que sua

aplicação fica limitada à Administração Pública Federal direta, às autarquias e

às fundações federais, sugerindo, em princípio, que somente tais órgãos

estariam sujeitos à figura da repactuação, não há óbice que as mesmas regras

de repactuação sejam seguidas também pela administração pública indireta.

Com efeito, a própria Resolução nº 10/96, do Conselho de Coordenação

e Controle das Empresas estatais, reproduzem as diretrizes do referido decreto

ao prescrever nos artigo 1º e 3º:

Art. 1º - Vedar a inclusão, nos contratos de prestação de serviços, de

cláusulas de indexação a qualquer titulo.

(...)

Art. 3º Estabelecer que, nos casos de contratos com vigência superior a

um ano ou quando haja cláusula de prorrogação, a repactuação de

preços deverá ter, como parâmetros básicos, a qualidade e os preços

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vigentes no mercado para prestação desses serviços e, quando couber,

as orientações expedidas pelo Ministério da Administração e Reforma

do Estado.

A formalização da adoção da sistemática sobre as regras atinentes a

repactuação pelas entidades da Administração Pública indireta, pode ser feita

através de ato normativo próprio reconhecendo e prescrevendo a aplicação

dos referidos diplomas (Dec. 2.271/97 e IN 02/2008 do MPOG).

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CONCLUSÃO Em suma, foi verificada neste trabalho monográfico a necessidade de

haver equilíbrio econômico-financeiro nos contratos administrativos,

possibilitando sua execução de forma eficiente e salutar, não só a execução do

contrato propriamente dito, como também ao atendimento do interesse público.

A negativa de revisão de preços, quando a mesma é cabível, caracteriza

em enriquecimento sem causa, artigo 884 do Código Civil brasileiro, pondo em

risco a viabilidade da execução do contrato e o atendimento do interesse

público nele colimado.

Afinal de contas, num contrato administrativo, Administração Pública e

particular figuram como partes de uma mesma relação jurídica, e não

reestabelecer a equação financeira, quando esta é rompida por motivos

alheios à vontade do contratado, corresponderia fato odioso, consubstanciado

em enriquecimento sem causa da Administração e pobreza do particular, o que

não é admitido pelo Direito.

Assim, sempre que rompido esse equilíbrio financeiro, sem que haja

qualquer conduta típica de inexecução contratual do particular, deve o contrato

administrativo ser revisto, observando-se, com propriedade, os institutos de

recomposição do equilíbrio econômico-financeiro identificados nesta

monografia, tendo sempre como norte a legalidade, moralidade e o interesse

público.

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Bibliografia: Niebuhr, Joel de Menezes – Licitação Pública e Contrato Administrativo – 1ª

edição, Curitiba, Zênite Editora, 2008;

Furtado, Lucas Rocha – Curso de licitações e contratos administrativos – 2ª

edição, Belo Horizonte, Fórum, 2009;

Carvalho Filho, José dos Santos – Manual de Direito Administrativo – 19ª

edição, Lumen Juris, 2008;

Souto, Marcos Jurema Villela – Direito Administrativo Contratual – 1ª edição,

Lumen Juris, 2004;

Di Pietro, Maria Sylvia Zanella – Direito Administrativo – 10ª edição, Atlas,

2010;

Justen Filho, Marçal – Comentários à lei de Licitações e Contratos

Administrativos – 13ª edição, Dialética, 2009.

Legislação consultada: Constiuição Federal de 1998; Código Civil; Lei nº

8.666/93.