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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA HISTÓRIAS PARA APRENDER Por: Cristina Fernandes Orientadora: Profª: Fabiane Muniz Rio de Janeiro 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

HISTÓRIAS PARA APRENDER

Por: Cristina Fernandes

Orientadora:

Profª: Fabiane Muniz

Rio de Janeiro

2014

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

HISTÓRIAS PARA APRENDER

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como

requisito parcial para obtenção do grau de especialista em em

Psicopedagogia Institucional

Por: Cristina Fernandes

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AGRADECIMENTOS

Às minhas colegas Camilla Bomfim, Carol Martins, Raquel Braga, Roberta Barcelos e Rosangela Torres que muito contribuíram para este recomeço,

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro por me proporcionar conforto e segurança para trilhar novos caminhos.

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RESUMO

Este trabalho tem o objetivo de discutir como proporcionar uma aprendizagem mais

significativa aos alunos, incluindo e integrando todos no processo pedagógico.

Entende-se que sob novas condições e expectativas, os alunos podem desenvolver

uma história de sucesso no âmbito escolar e que a literatura pode ser uma forma

das crianças observarem o mundo. A leitura literária pode ajudar os alunos a irem

formando os seus conceitos sobre a vida, sobre os adultos, sobre o que é certo ou

errado, sobre o que é produtivo ou improdutivo. Ao se ter consciência de que tudo

que rodeia a criança está passando mensagens, podemos aproximar a criança de

bons textos que desenvolvam sua sensibilidade. Nesta era de comunicação, somos

bombardeados por mensagens. Pode-se desenvolver uma boa alfabetização

e garantir o aprendizado por meio de conduta ética que leve a formação de

um sujeito construtivo, capaz de respeitar-se, respeitar ao outro e o planeta. Assim,

devemos estar atentos a todos os tipos de informações ou de mensagens que

estamos transmitindo, e também, ao fato de que a literatura contribui com o

desenvolvimento das crianças nos seguintes aspectos: afetividade, raciocínio, senso

crítico, imaginação e criatividade. Uma das formas de se trabalhar a literatura é

através de atividades lúdicas que também desenvolvem o espírito de cooperação e

a socialização. As atividades lúdicas educativas envolvem a ensino fundamental e

devem ser desenvolvidas em grupo. O prazer da leitura permite a formação de um

leitor atento, sensível e capaz de compreender e interpretar textos, além de

enriquecer o vocabulário e de se utilizar à ortografia correta e adequadamente. No

entanto, seu principal valor é permitir ao aluno a fruição estética.

Palavras-chave: Literatura infantil - Contos de fadas - Leitura.

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METODOLOGIA

De acordo com Severino (2000), a pesquisa bibliográfica é uma busca em

livros, revistas, sites, jornais, documentários a respeito de um assunto. Ela tem o

objetivo de auxiliar o pesquisador no desenvolvimento de sua pesquisa, pois ela irá

apresentar e explicar o conhecimento atual sobre o tema selecionado e identificará

pesquisas que estão sendo feitas ou foram no passado, dentro do campo e do tema

escolhidos.

A metodologia aplicada para fundamentação desta pesquisa foi de natureza

exploratória, do tipo pesquisa bibliográfica e qualitativa, hipotético-dedutiva,

conforme Yin (2001), onde foram analisados autores e instituições especializadas

que tratam sobre o assunto, em sites especializados, material didático e leitura

realizada em livros indicados pela orientação do curso.

Através desta pesquisa, pretendeu-se construir conceito sobre as

características e o comportamento dos principais envolvidos na questão abordada

para que a leitura infantil através dos contos de fadas sejam estudadas de maneira

tranquila e produtiva, através das obras de alguns autores renomados como:

Bettelheim (2007); Coelho (2009) e Piaget (2012).

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 08

CAPÍTULO I

ORIGEM DOS CONTOS DE FADA .......................................................................... 11

CAPITULO II

ENTENDENDO OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM NA CRIANÇA ................. 19

CAPITULO III

A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS NA FORMAÇÃO E EDUCAÇÃO DE

CRIANÇAS ................................................................................................................ 26

CAPITULO IV

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COM A UTILIZAÇÃO DOS CONTOS DE FADAS ...... 36

CONCLUSÃO ........................................................................................................... 42

BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................... 45

ÍNDICE ...................................................................................................................... 48

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INTRODUÇÃO

Para se entender os caminhos que as crianças percorrem para construir suas

narrativas, como ocorrem o desenrolar desse processo e o que ele revela sobre o

pensamento infantil, é necessário sabermos e entendermos pelo menos um pouco

sobre seu processo cognitivo suas interações sociais e suas emoções.

Dentro de uma visão construtivista, entende-se o conhecimento como uma

possibilidade de mudar e agir sobre a realidade, aprender implica numa ação do

sujeito sobre o objeto. As estruturas da inteligência mudam através da adaptação a

situações novas com base em dois conceitos; a assimilação e a acomodação.

Entende-se assimilação como a integração de elementos novos em estruturas ou

esquemas já existentes.

O processo de assimilação implica tanto na elaboração de uma significação,

como também expressa o fato de que todo conhecimento está ligado a uma ação,

pois conhecer um objeto ou acontecimento é assimilá-lo a esquemas de ação.

Assim, parte-se do pressuposto que diante de crianças pequenas é necessário

adotar estratégias de leitura que considerem a necessidade do movimento e da

participação infantil na construção de um significado para o que ouvem ou contam,

ou mesmo, ao que contam no seu folhear de livros (a sua leitura).

Por outro lado, a criança se socializa, suas interações e seu grupo social têm

extrema importância na aquisição do conhecimento. A criança precisa ser vista

como um indivíduo, que tem vida, que existe, pensa, pratica ações, que brinca com

seus pés e mãos, descobrindo o prazer, que é o prazer essencial do movimento do

seu corpo. O que faz com que levantemos outro pressuposto: atividades de ouvir e

contar devem estar inseridos num contexto de grupo e de ludicidade.

Há ainda as emoções que envolvem toda atividade infantil. As emoções

podem ser provocadas quando vemos uma imagem marcante, quando ouvimos uma

música, um conto, uma historinha, uma fábula, ou quando sentimos um cheiro

gostoso. O mesmo ocorre quando se pensa em pessoas ou situações reais ou

imaginárias que tenham significado. (NOVA ESCOLA, 2005, p. 55)

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Mas, como deve proceder ao professor junto aos alunos nas atividades de

linguagem? Levantam-se assim mais um pressuposto: a emoção deve acompanhar

as atividades de linguagem.

Em relação ao repertório a ser escolhido destacamos que as histórias podem

ser compridas, curtas, antigas, atuais; contos de fadas, de fantasmas, realistas,

lendas, histórias em forma de poesias ou de prosa, enfim qualquer uma. O critério

de seleção não pode ser somente do professor, mas a criança também pode

participar. O que pode suceder depois depende do quanto o professor conhece das

crianças, do momento que estão vivendo, dos referenciais de que necessitam e do

quanto saibam aproveitar do texto.

O fato de enfatizar-se sobre a leitura de literatura infantil na sala de aula, não

significa que discordemos do fato de a leitura também se desenvolver em outros

níveis, pois o destino da narração de contos é o de ensinar a ouvir a pensar, a ver

com os olhos da imaginação, despertar a criatividade, a fantasia e a emoção. Ouvir

histórias representa momentos de prazer, de divertimento, de sedução. É um

momento mágico tanto para quem lê, quanto para quem ouve, não importando os

níveis em que está cada turma ou cada criança.

A linguagem deve ter um nível capaz de ser entendido por todos: pelos que

estudam, pelos que ensinam e também por aqueles que guardam um primeiro

encontro com a literatura.

Para entender estes aspectos buscaram-se apoio no livro “A Psicanálise dos

contos de fadas”, de Bruno Betlheim no qual o autor mostra as razões, as

motivações psicológicas, os significados emocionais, a função de divertimento, a

linguagem simbólica do inconsciente que estão inseridos nos contos infantis.

A pesquisa se caracterizou como bibliográfica, pois os levantamentos das

principais contribuições teóricas que envolvem o problema e selecionamos materiais

publicados em livros de diversos autores (citados ao longo da pesquisa). É também

descritiva, pois sua finalidade será de observar, registrar e analisar os materiais

pesquisados. Partimos da indagação “Como tornar alunos leitores no processo de

aprendizagem da língua materna no ensino fundamental I ? Essa indagação

selecionada serviu de orientação na busca e no processo de elaboração das

respostas claras e concretas.

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No primeiro capítulo estudou-se a origem dos contos de fadas e sua

importância da literatura infantil para o desenvolvimento e aprendizado das crianças.

No segundo capítulo, aprendeu-se sobre os processos de aprendizagem da

criança através de Piaget e sua teoria do desenvolvimento infantil.

No terceiro capítulo tratou-se da importância dos contos de fadas na formação e

educação de crianças demonstrando sua importância para os alunos do ensino

fundamental e finalizando, no quarto capítulo, com as práticas pedagógicas com a

utilização dos contos de fadas aonde se observa formas de usar os contos de fadas

na sala de aula e no dia a dia da criança.

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CAPÍTULO I

ORIGEM DOS CONTOS DE FADA

Quem nunca viu um pequeno contar alguma aventura cheia de perigos?

Quem nunca viu uma criança ansiosa ao ouvir uma história? Para se entender os

caminhos que as crianças de seis a dez anos percorrem para construir suas

narrativas, como ocorrem o desenrolar desse processo e o que ele revela sobre o

pensamento infantil, é necessário sabermos e entendermos pelo menos um pouco

sobre seu processo cognitivo suas interações sociais e suas emoções.

Para Cardoso (2012):

Os mitos, as lendas e os contos de fadas (ou contos maravilhosos) perderam o sentido apenas de entretenimento infantil e vêm sendo redescobertos como fontes de conhecimento do homem e de seu lugar no mundo, ajudando-o a reescrever/ compreender sua própria história de vida, que ligada em outras constroem, juntas, a história da humanidade. (CARDOSO, 2012, p. 141)

A criança, em seu processo de formação biopsicossocial, sente naturalmente

a necessidade de ler, contar, ouvir, folhear, imaginar, para melhor descobrir e

ampliar seu mundo interior, além de situar-se com mais segurança no meio em que

vive. As histórias nunca deixarão de ter assegurado o seu espaço, pois é nela que a

criança encontra respaldo para as vivências internas que almeja ter, através de uma

leitura saudável e criativa, descontraída e prazerosa.

Conforme Mendonça (2013): “O bom texto é aquele que deixa espaço ao

leitor, para que este atue como coautor, preenchendo as lacunas com a sua

interpretação.” (MENDONÇA, 2013, p. 213)

Bons textos precisam fazer parte da vida da criança na mais tenra idade, para

que ela possa entender o mundo e construir a sua história, assim, nesse contexto,

optou-se por destacar a importância dos contos de fada em nosso dia a dia, pois

estes contribuem mais em termos emocionais: desenvolvem a capacidade de

fantasia; fornecem escapes necessários falando aos medos internos da criança, de

suas ansiedades. Por exemplo: “João e Maria” ajudam a vencer a rejeição. Os

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contos favorecem a recuperação dos problemas, desenvolvendo coragem na

criança, mostrando que há sempre uma saída e permitem que tenham uma imagem

positiva da vida por meio do final feliz.

1.1- Conceito

MEREGE (2010, p.15) cita a definição de contos de fadas da escritora Ana

Maria Machado em seu livro Como e por que ler os clássicos universais desde cedo,

segundo a qual o conto de fadas seria a “história popular, de origem diferenciada em

relação aos clássicos, que surgiu anonimamente no seio do povo e foi sendo

recontada durante séculos”. A esta definição também acrescenta que “o conto de

fadas é também história autoral, escrita ou narrada segundo o modelo aceito para o

conto de fadas e evocando a mesma atmosfera de sonho, ideal e

sobrenaturalidade”.

1.2- Surgimento

O surgimento dos contos de fadas como literatura tem sua origem na Europa

no sec. XVII. A partir desta era, os contos que faziam parte da tradição cultural de

inúmeras civilizações, passaram a ter relevância como literatura propriamente dita

especialmente através de escritores como Charles Perrault, Jacob e William Grimm

que compilaram contos e histórias populares, velhos poemas épicos e lendas,

transformando assim os contos maravilhosos em obras destinadas ao público

infantil, denominando-os deste modo, contos de fadas pela sua natureza fantasiosa

e mágica.

É sabido que os contos de fada têm habitualmente uma complexa linhagem

de ancestralidade, que surge nos primórdios da tradição oral, circulando de memória

em memória, voando em várias direções como sementes ao vento e que, neste

movimento, assim chegaram à diversas e distantes terras até aterrissarem em solo

fértil gerando novas sementes que também se multiplicaram em tantas outras,

concebendo ou reciclando histórias.

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Reputa-se que o início das narrativas tem seu prelúdio com as primeiras

tentativas de comunicação, nos tempos pré-históricos, quando os seres humanos

passaram a desenhar nas paredes das cavernas, denominada de arte rupestre. Era

apenas o começo da busca pela interação entre os povos. Embora não

conhecessem a escrita, utilizavam esse tipo de arte com finalidade mágico-

simbólica. Os homens pré-históricos, ao desenharem nas paredes das cavernas

animais com flechas atravessadas, acreditavam que conseguiriam caçá-los mais

facilmente.

No momento em que a humanidade dominou a linguagem ocorreu a

necessidade de contar histórias não somente acerca de suas lutas e contendas

diárias, mas também sobre seus medos, desejos, sonhos, crenças e mitos.

Segundo GILIG (1999, p.26):

Contos, narrativas míticas, fábulas e lendas têm em comum o fato de constituírem uma narrativa escrita ou falada na qual a maioria dos personagens possui uma natureza ao mesmo tempo humana e sobre-humana, agindo em acontecimentos em um meio, ao mesmo tempo reais e suprarreais.

Não obstante sua origem remota, os contos de fadas como textos literários

começaram a despontar na Idade Média, através de manuscritos, em geral

anônimos, uma vez que a sociedade era dividida em letrados e não letrados, estes,

em maioria, pois somente os nobres e representantes do clero tinham acesso à

leitura e à escrita. As histórias eram contadas e recontadas através dos tempos e

foram disseminadas em variadas versões, porém sempre trazendo consigo

personagens e características comuns: reis poderosos, lindas princesas e príncipes

encantados, bruxas malvadas, criaturas mágicas e feras indomáveis. A figura de

uma criança órfã, famílias dizimadas e até mesmo anomalias anatômicas passaram

a fazer parte da trama o entre o bem e o mal, expressando simbolicamente,

portanto, para estes povos a transcendência da realidade em busca do sonho, do

desejo, identidade e origem.

Como pudemos constatar na história da humanidade, nossos antepassados

foram, em sua maioria, analfabetos. Porém não eram ignorantes, eles simplesmente

dispunham de outro método de armazenamento e transmissão oral, que substituiu

por muitos séculos a leitura formal em nossa sociedade, destinando, por

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conseguinte à contação de histórias uma possibilidade em manter viva a cultura e o

desenvolvimento das civilizações antigas. Tais circunstâncias proporcionaram

grande importância à oralidade tornando-a o principal meio de transmissão de

conhecimentos. Por intermédio dela, a natureza sociável do ser humano superou as

dificuldades de tempo e espaço e perpetuou as histórias de sofrimento, lutas e

conquistas.

1.3- Importância da Idade Media na Divulgação dos Contos

Como vimos anteriormente, as condições de vida das sociedades medievais

influenciaram fortemente na propagação oral destas histórias, pois nesta época

somente 2% da população europeia era alfabetizada e ao clero pertencia o controle

de toda literatura que não representasse nenhuma ameaça ao poder da Igreja

Católica caracterizando a obscuridade do período medieval. Neste sentido o ato de

contar histórias e a disseminação das mesmas foi extremamente prolífico visto que

as classes menos favorecidas, trabalhadores e escravos tiveram a oportunidade de

contos e lendas das mais diferentes partes do mundo – persas, chineses, gregos e

romanos – obtendo assim um segmento de grande valia na preservação de suas

raízes culturais.

A era medieval foi pródiga em histórias que contribuíram para a formação

psíquica dos seres humanos trazendo à tona valores profundos e inerentes da

existência tais como: força e fragilidade, rudeza e suavidade, dignidade e baixeza,

além de destacar o sobrenatural, a natureza, a fé e o divino.

KRAEMER (2008, p.02), diz que o conto de fadas funciona como resposta

aos anseios da humanidade como segurança, justiça, amor, rivalidade, medo e

rejeição. São narrativas curtas, compostas em linguagem acessível, que trabalham

o caráter, os valores morais, os relacionamentos que tanto contribuem para a

formação do adulto. Estas histórias, para criança, apesar de serem fantasiosas,

retratam algo bem real: os sentimentos mais contundentes que fazem parte do seu

íntimo.

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1.4- Os Contos de Fadas como Literatura Infantil

FRANZ (1990, p.12) afirma que até os sec. XVI e XVII, os contos de fada

eram contados tanto para adultos quanto para crianças. Na Europa, eles

costumavam ser a forma principal de entretenimento para as populações agrícolas

na época do inverno. Contar contos de fada tornou-se uma espécie de ocupação

espiritual essencial. Chegou-se mesmo a dizer que os contos de fada

representavam a filosofia da roda de fiar.

Assim sendo, as crianças ao longo dos tempos estiveram em permanente

contato com as narrativas da tradição oral, seja através de canções, contos ou

adivinhações. Não liam, porém escutavam. Até que a invenção da prensa permitiu

que os contos de fadas, enquanto literatura destinada à infância despontasse na

Europa entre os sec. XVI e XVII, especialmente na França por meio de histórias

compiladas em forma de fábulas por La Fontaine (As fábulas, 1668) e Charles

Perrault (Contos da Mãe Ganso, 1696). Esses escritores resgataram histórias que

estavam presentes em textos clássicos da herança cultural dos povos e civilizações

antigas e as transcreveram em forma de livro adaptando-as aos gostos refinados da

época.

Bettelheim (2003) afirma que embora as versões originais dos contos tenham

sofrido adaptações ao longo do tempo, elas ganharam em elegância e bom gosto o

que perderam em naturalidade. Também podemos concluir que este processo de

refinamento que a época exigia, originou um fenômeno de divulgação contribuindo

para que estes contos fossem considerados pelos mais letrados, como literatura de

qualidade.

Um século depois destas publicações, outros escritores se interessaram pelos

contos de fadas e começaram a recolher novos contos ainda não impressos. Entre

alguns, podemos destacar os irmãos Grimm na Alemanha e Hans Christian

Anderson, na Dinamarca.

Em muitos destes contos notamos no enredo o relato de ritos iniciáticos dos

povos primitivos, em que o heroi para alcançar a vitória, submete-se à

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inúmeras provas cuja superação comprova o seu amadurecimento. Também se

observa o caráter popular dos mesmos, pois estes personagens encontram-se em

situação de inferioridade no seu círculo social necessitando, portanto da ajuda de

elementos mágicos e fantasiosos para superar os obstáculos e alcançar as justas

recompensas ou o castigo implacável.

É oportuno lembrar que a passagem da oralidade para o texto escrito trouxe

consigo uma importante característica aos contos de fadas: a inclusão da

moralidade. A partir de meados do século XVII – e gradativamente até o século XIX

–, durante a Revolução Industrial, a diminuição da mortalidade infantil e o aumento

da expectativa de vida contribuíram para o desenvolvimento da noção social de

infância. Neste momento da história do mundo, a noção de família nuclear emerge

na sociedade promovendo então a infância como uma etapa que conquista atenção

de educadores por ser considerada uma fase relevante do desenvolvimento humano

contribuindo para aquisição de hábitos e formação moral do futuro adulto, ratificando

não somente a natureza folclórica, mas também a importância pedagógica dos

contos.

Canton (2009, p.26 e 27) afirma que a partir do sec. XVIII os contos de fadas

se popularizaram em peças de teatro, livros, conversas nos salões de chá e saraus.

A sociedade francesa foi inundada com essas histórias, que eram recriadas a partir

da tradição popular oral, além da adaptação de manuscritos medievais italianos e

dos contos orientais, que viraram também modismo e começaram a ser traduzidos

na França no começo do referido século. A força desta moda está ligada a sua

capacidade de lidar com a moral e os costumes, isto é, com as noções de

civilização.

Bettelheim (2003) confirma o caráter de moralidade dos contos, onde virtudes

como paciência e perseverança são um caminho para a glória, quando afirma que a

mensagem que os contos de fada transmitem à criança é múltipla: que uma luta

contra as dificuldades da vida é inevitável, é parte intrínseca da existência humana,

mas que se a pessoa não se intimida, se defronta de modo firme com as opressões

inesperadas e muitas vezes injustas, ela dominará todos os obstáculos e, ao fim,

emergirá vitoriosa.

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1.5- Breve Biografia dos Principais Escritores

1.5.1- Charles Perrault

Nasceu na França no sec.XVII em uma família próspera e estudou, portanto

nas melhores escolas de Paris, tornando-se mais tarde, advogado. Iniciou-se na

carreira literária publicando um poema épico que não se tornou muito conhecido:

São Paulino, de cunho cristão.

Em 1697 com uma publicação denominada Contos de Mamãe Gansa, onde

reuniu uma série de oito contos tais como Chapeuzinho Vermelho, Gata Borralheira,

Pequeno Polegar, A Bela Adormecida no bosque, entre outros, obteve fama e

reconhecimento como escritor.

Merege (2010) transcreve em seu livro Contos de Fadas: origens, história e

permanência no mundo moderno, o prefácio do conto Pele de Asno deste escritor,

em 1696:

Houve pessoas capazes de perceber que essas bagatelas não são simples bagatelas, mas guardam uma moral útil, e que a forma de narração não foi escolhida senão para fazer entrar essa moral da maneira mais agradável no espírito, e de um modo instrutivo e divertido ao mesmo tempo. (PERRAULT, apud MEREGE, 2010, p.49)

1.5.2- Irmãos Grimm

Alemães, nascidos com um ano de diferença, Jacob e Wilhelm Grimm,

estudaram como o pai, Direito, mas abandonaram a advocacia para dedicarem-se à

literatura.

Estudiosos da língua alemã, em 1806 começaram a reunir antigas histórias

que circundavam a cultura da época, recolhendo inúmeros contos da tradição oral,

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além de lendas e cantigas folclóricas aos quais originou, em 1812, uma publicação

denominada Histórias das Crianças e do Lar.

Entre os principais contos escritos pelos irmãos Grimm podemos destacar :

Branca de Neve e os Sete Anões, João e Maria, Os Músicos de Bremen, Rapunzel

entre outros. Ao todo deixaram cerca de duzentos contos publicados.

1.5.3- Hans Christian Andersen

Nasceu em 1805 na Dinamarca, teve uma origem pobre e devido à morte de

seu pai precisou trabalhar ainda criança, porém não se adaptou como aprendiz em

diversas fábricas que o admitiu e buscou na carreira de ator o seu ofício. Também

não obteve sucesso e acabou por renunciar a seu projeto. Escreveu poemas, peças

de teatro e narrativas de viagem, mas foi a história “O Patinho Feio” que o tornou

reconhecido.

Dentre suas principais obras podemos citar: Soldadinho de Chumbo, Os

Cisnes Selvagens, A Roupa Nova do Rei, A Pequena Sereia, e muitos mais. Seu

primeiro livro infantil foi publicado em 1835.

Andersen reinventou o conto de fadas para estes novos tempos em que a

infância passou a ser valorizada na sociedade abordando em sua obra diversos

conflitos emocionais vivenciados por todas a crianças ao longo dos tempos.

Tais temas são vivenciados como maravilhas porque a criança se sente compreendida e apreciada bem no fundo de seus sentimentos, esperanças e ansiedades, sem que tudo isso tenha que ser puxado e investigado sob a luz austera de uma racionalidade que ainda está aquém dela. Os contos de fadas enriquecem a vida da criança e dão-lhe uma dimensão encantada exatamente porque ela não sabe absolutamente como as histórias puseram a funcionar seu encantamento sobre ela. (BETTELHEIM, 2003, p.27)

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CAPITULO II

ENTENDENDO OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM NA CRIANÇA

Para entender-se melhor a relação da aprendizagem com o desenvolvimento

infantil é necessário entender-se como ela acontece nas diferentes fases do

desenvolvimento humano, por isso, citaremos as ideias de dois estudiosos do

assunto que trouxeram informações relevantes para a educação.

Piaget estudou as interrelações entre a motricidade e a percepção, sempre

através das experiências. Para ele, a motricidade interferia na inteligência, antes de

a criança adquirir a linguagem.

Outro estudioso do desenvolvimento humano Wallon, dizia que o esquema

corporal era o elemento básico, em construção do desenvolvimento da

personalidade da criança e não apenas uma unidade biológica ou psíquica.

Para ele a escola é a instituição que tem a função de promover atividades,

com os alunos, dos meios necessários para realizá-las. Cabe ao mestre, utilizar

meios pedagógicos adequados, guiar a criança de maneira a tirar o máximo de

proveito dos meios e de seus recursos próprios. “A vida intelectual supõe a vida

social.” (WALLON, 1979, p. 7 apud ALMEIDA, 1999, p. 51)

Neste trabalho estudar-se-á Piaget e suas ideias sobre o desenvolvimento

humano, tentando entender como ele vê a aprendizagem nas crianças.

Segundo Mendonça (2013):

Na escola, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o trabalho com este tipo de texto, que permite ao leitor preencher seus espaços, é muito raro. Sob a perspectiva pedagógica, o bom texto é aquele que “ensina algo”, e que, por isso, são textos em que não há espaço para serem preenchidos pelo leitor, uma vez que as noções que se deseja passar com as leituras, devem estar óbvias, claras. (MENDONÇA, 2013, p. 213)

Conforme Castelo (2009), Piaget foi um dos primeiros a pesquisar a ação da

criança sobre o meio, preocupando-se em estudar a gênese do pensamento

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humano, observando a criança e percebendo que desde que ela nasce já possui um

tipo de inteligência, que é anterior a linguagem, entendendo, assim, o

desenvolvimento da inteligência.

Para ele existe uma inteligência chamada motora, que é a primeira a ser

desenvolvida pelo indivíduo, pois a criança traz uma herança genética, através dos

movimentos chamados reflexos e através do contato com o ambiente, chamado por

Piaget de reações circulares. A criança constrói um movimento intencional. Até em

torno dos dois anos, a criança constrói a inteligência sensório-motora, que é a

capacidade de perceber a intencionalidade e a conseqüência dos gestos, sendo

esses os recursos que ela terá para interagir com o meio.

2.1- Educação e suas funções

Pain (1985, p.11 e12) afirmou que o processo de aprendizagem se inscreve

na dinâmica da transmissão da cultura, que constitui a definição mais ampla da

palavra educação. Podemos atribuir a esta última quatro funções interdependentes:

a) Função mantenedora da educação: ao reproduzir em cada indivíduo o

conjunto de normas que regem a ação possível, a educação garante

continuidade da espécie humana. De fato, se a continuidade do

comportamento animal está inscrita em sua maior parte na disposição

genética, a continuidade da conduta humana se realiza pela aprendizagem,

de tal maneira que a instância ensino-aprendizagem permite a cada

indivíduo, pela transmissão de aquisições culturais de uma civilização, a

vigência histórica da mesma.

b) Função socializadora da educação: a utilização dos utensílios, da

linguagem, do habitat, transforma o indivíduo em sujeito. Desta forma, na

realidade a educação não ensina a comer, a falar ou a cumprimentar. O

que ela ensina são as modalidade destas ações, regulamentadas pelas

normas do manejo dos talheres, pela sintaxe, pelos códigos gestuais da

comunicação. O indivíduo, à medida que se sujeita a tal legalidade, se

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transforma em um sujeito social, e se identifica com o grupo, que com ele

se submete ao mesmo conjunto de normas.

c) Função repressora da educação: se, por um lado, a educação permite a

continuidade funcional do homem histórico, garante também a

sobrevivência específica do sistema que rege uma sociedade, constituindo-

se, como aparelho educativo, em instrumento de controle e de reserva do

cognoscível, com o objetivo de conservar e de reproduzir as limitações que

o poder destina a cada classe e grupo social, segundo o papel que lhe

atribui na realização de seu projeto socioeconômico.

d) Função transformadora da educação: as contradições do sistema

produzem mobilizações primariamente emotivas, que aquele procura

canalizar mediante compensações reguladoras que o mantém estável.

Mas, quando essas contradições são assumidas por grupos situados no

lugar da ruptura, elas se impõem às consciências de maneira crescente.

Daí surge modalidades de militâncias que se transmitem por meio de um

processo educativo que consiste não apenas em doutrinação e em

propaganda política, mas que também revela formas peculiares de

expressão revolucionária.

2.2- Processos de Aprendizagem

Em relação à aprendizagem Pain (2012, p.15) afirma que para Piaget o

importante para o desenvolvimento cognitivo não é a sequência de ações

empreendidas pela criança, consideradas isoladamente, mas sim o esquema destas

ações, isto é, o que nelas é geral e pode ser transposto de uma situação para outra.

Lembra ainda que, em sendo o esquema concebido como resultado direto da

generalização direta das próprias ações, ele não é, absolutamente, de natureza

perceptível.

Seguindo o mesmo fluxo de raciocínio, também especifica quatro fatores

como sendo responsáveis pela psicogênese do intelecto infantil: o fator biológico,

particularmente o crescimento orgânico e a maturação do sistema nervoso; o

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exercício e a experiência física, adquiridos na ação empreendida sobre os objetos;

as interações e transmissões sociais, que se dão, basicamente através da

linguagem e da educação; e o fator de equilibração das ações.

Ainda de acordo com Piaget (2012, p.12-15), o desenvolvimento cognitivo

compreende quatro estágios: o sensório motor (do nascimento até os dois anos), o

pré- operacional (dos dois aos sete anos), o estágio das operações concretas (dos

sete aos doze anos) e, por último, o estágio das operações formais, que

corresponde ao período da adolescência (dos doze anos em diante).

Considerando que o objeto deste estudo é o universo formado por crianças do

Ensino Fundamental I, irei me ater exclusivamente à descrição das duas fases

piagetianas que estão inseridas no decorrer destas séries (do primeiro ao quinto

ano): a pré -operacional e a de operações concretas.

2.3- Estágio pré operacional

Na fase pré operacional podemos destacar como principal característica o

desenvolvimento da capacidade de manejar o mundo de maneira simbólica por meio

de representações tais como:

a) imitação,

b) jogo simbólico,

c) desenho,

d) imagens mentais,

e) memória e

f) linguagem.

Outra característica importante desta fase é a conduta egocêntrica nas

representações mentais, desenvolvendo a percepção centrada e não possuindo

ainda capacidade de abstração, de colocar-se no lugar do outro. Neste período ela

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já possui uma percepção global, mas ainda se encontra inabilitada de se prender a

detalhes, por este motivo ela se deixa levar pelos sentidos.

Piaget (1989, p.60) nos fala que o egocentrismo uma espécie de

centralização do pensamento, uma inocência do espírito, no sentido de uma

ausência de toda relatividade intelectual e de todo sistema racional de referência.

Piaget concluiu que as crianças com menos de seis anos não conseguem

distinguir pensamentos ou sonhos de entidades físicas reais e não têm nenhuma

teoria da mente. Afirma também que somente aos cinco ou seis anos as crianças

compreendem a distinção entre o que parece ser e o que é. Entretanto, pesquisas

mais recentes indicam que, entre 2 e 5 anos, o conhecimento das crianças sobre

processos mentais – tanto os seus como os de outras pessoas – desenvolve-se

largamente.

GOING (1997, p.33) nos diz que segundo Piaget, no período operatório

concreto a criança apresenta uma excessiva segurança no seu ponto de vista, isto é,

mesmo sem experimentar ou analisar empiricamente um determinado fato, ela opta

convicta de que está certa.

Na etapa final desta fase, a partir dos cinco anos, quando ocorre a

preparação para a alfabetização Papalia e cols (2006, p.298) relatam que crianças

pré-escolares desenvolvem-se rapidamente em vocabulário, gramática e sintaxe,

assim como que à medida que os aprendem as crianças tornam-se mais

competentes na pragmática – o conhecimento prático de como utilizar a linguagem

para se comunicar. A partir disso, as crianças tornam-se mais competentes na

interação social e preparação para a alfabetização.

Ainda sobre isto, declara que este processo se denomina Alfabetização

emergente, o que consiste no desenvolvimento de habilidades, conhecimento e

atitudes que subjazem à leitura e à escrita. Além de habilidades linguísticas gerais,

como vocabulário, sintaxe e compreensão de que a linguagem é utilizada para se

comunicar, incluem-se aí habilidades específicas, como a compreensão de que as

palavras são compostas de sons distintos ou fonemas, e a capacidade de ligas os

fonemas às letras ou combinações de letras alfabéticas correspondentes.

Neste ponto ressaltamos a importância da interação social na promoção da

alfabetização emergente. Reiteram que as crianças tendem mais a se tornar boas

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leitoras e escritoras se, durante os anos pré-escolares, os pais oferecem desafios de

conversação para os quais as crianças estão preparadas – se utilizarem um

vocabulário rico e centrarem a conversa à mesa nas atividades diárias ou em

perguntas sobre por que as pessoas fazem coisas e como as coisas funcionam.

Essas conversas ajudam crianças a aprender a escolher palavras e encadear as

sentenças de forma coerente.

É também durante a segunda infância, as crianças apresentam uma melhora

significativa da atenção e da velocidade e eficiência com que processam as

informações; elas começam a formar memórias de longa duração.

2.4- Estágio Operatório Concreto

Going (1997, p.33) nos diz que segundo Piaget, no período operatório

concreto a criança apresenta uma excessiva segurança no seu ponto de vista, isto é,

mesmo sem experimentar ou analisar empiricamente um determinado fato, ela opta

convicta de que está certa.

Sabe-se que é neste período que a criança irá frequentar regularmente a

escola, porém nas sociedades contemporâneas as crianças estão na pré-escola há

alguns anos. Esta fase é marcada pelo declínio gradativo do egocentrismo sendo

substituído, portanto pelo pensamento lógico. Observam-se diversos avanços

cognitivos tais como melhor compreensão de conceitos espaciais, relações entre

causa e efeito, seriação, conservação e número. Podemos também observar nesta

fase uma potencialização da capacidade de reter informações e o surgimento do

julgamento moral, que é a capacidade de se colocar no lugar do outro e poder se

expressar através de diversos argumentos. Vemos que a razão entra no lugar da

assimilação egocêntrica e a criança passa a ter atitudes críticas tais como não

acreditar mais em Papai Noel, cegonha, etc.

Os atos físicos passam a ser internalizados e ocorre mentalmente, o

pensamento é designado operatório, pois se torna reversível. A construção das

operações permite a elaboração da noção de conservação, assim o pensamento

baseia-se mais no raciocínio do que na percepção.

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Outra característica desta fase é que a criança consegue desempenhar suas

habilidades e capacidades a partir de objetos reais, concretos. O sujeito só

consegue pensar corretamente em materiais que pode visualizar e experimentar,

pois ainda não consegue pensar abstratamente.

Piaget ainda descreve os aspectos afetivos presentes nesta fase:

a) Autonomia em relação aos adultos;

b) Sentimentos morais: respeito recíproco, honestidade, companheirismo

e justiça;

c) Sentimento de pertencer a um grupo;

d) A criança passa a enfrentar os adultos (fortalecimento de opiniões e

ideias);

e) Cooperação.

Portanto, afirma-se que é de fundamental importância conhecer e

compreender cada fase do desenvolvimento cognitivo, assim pode-se auxiliá-las

para que as atravessem com êxito. Ao passar pelas fases, irão permanecer

elementos no indivíduo adquiridos ao longo destas construções, cada estágio

corresponde a determinadas características que são modificadas para uma melhor

organização. Através das ideias de Piaget, conclui-se que o indivíduo atravessa por

várias etapas de sua vida construindo seu aprendizado e que o mesmo quando se

defronta com um novo conhecimento, o mesmo se desequilibra, faz assimilação do

conteúdo e em seguida acomoda o conhecimento, adaptando ao conhecimento

anterior, com isso ocorre a aprendizagem que é o resultado da interação entre

maturação e experiência.

Going (1997, p.29) afirma que para Piaget, o conhecimento é um processo

de construção contínua, que vai desde o nascimento até a morte e que se dá graças

à ação do sujeito (conhecimento) sobre o objeto (como objeto de conhecimento) e

reciprocamente obedecendo uma organização espaço-temporal-causal, que

possibilita a construção das estruturas mentais, da inteligência.

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CAPITULO III

A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS NA FORMAÇÃO E EDUCAÇÃO DE

CRIANÇAS

Com uma necessidade de se comunicar, a contação de histórias tornou-se a

maneira pela qual o homem transmitiu a literatura por muito tempo. Conforme

Zilberman e Magalhães (1987), em 1440, foram feitas as primeiras obras impressas

para crianças, que eram páginas coladas a algo que parecia um suporte, com

aparência ruim e nada atrativa, e assim foi até 1850. O conteúdo desse material era,

normalmente, orações, ensinos morais e políticos. No entanto, com o advento da

Literatura Infantil, as crianças puderam desfrutar de anedotas, contos e histórias de

cavalaria, além das narrativas populares, mesmo que não fossem feitas para elas.

As primeiras Manifestações Literárias no Ocidente Europeu se originou na

Idade Média, durante séculos medievais. A literatura narrativa veio de fontes

distintas, como a popular e a culta. A origem da fonte popular é a prosa narrativa,

derivada das antiquíssimas fontes orientais ou greco-romanas. A origem da fonte

culta é a prosa aventureira que vem das novelas de cavalaria, de inspiração

ocidental.

Foi entre os séculos IX e X que as terras europeias começaram a circular

oralmente na Literatura Popular. Através dos séculos, seria conhecida como

folclórica e mais tarde seria conhecida como a Literatura Infantil.

Com origem na Índia, a literatura infantil surge no século XVII, com a

ascensão da família burguesa, sendo usada pela pedagogia, por causa de suas

histórias adequadas para isso. Assim um século depois a criança passa a ser vista

como indivíduo, sendo diferente de um adulto, com necessidades e características

só dela, necessitando de exemplos para se tornar adulta. (ROJO, 2003)

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Nasce à literatura Infantil no século XX, e o maior marco que se destaca até

hoje com suas histórias que encantam jovens e adultos, é Monteiro Lobato. Mais

conhecido como divisor das águas do Brasil, uma parte do Brasil de ontem e o Brasil

de hoje. E mais tarde na política e na economia.

Surge também a psicologia experimental e a literatura infantil entra numa

nova fase, onde a inteligência é a forma de estruturar o universo de cada indivíduo,

observando-se sempre os estágios do desenvolvimento. (ZILBERMAN e

MAGALHÃES, 1987)

Vivendo entre os anos de 1882 e 1948, José Bento Marcondes Monteiro

Lobato pertenceu à formação dos humanistas liberais, aqueles que viam no

indivíduo, na inteligência, na cultura a solução para grandes problemas que afligem

até hoje a humanidade.

Neste trabalho procurou-se visar o histórico da Literatura Infantil e Juvenil de

forma teórica e prática. A literatura faz parte da vida da criança, pois é ela que entra

no mundo da fantasia dando assim liberdade de expressar aquilo que se aprendeu e

vivenciou através do Lúdico.

Muitos foram os gêneros criados para a literatura infantil como: fábulas,

contos, contos de fadas, poesias entre outros, mas a poesia segundo Jesualdo

(1978) são especiais:

... a criança tem uma alma poética. E é essencialmente criadora. Assim, as palavras do poeta, as que procuraram chegar até ela pelos caminhos mais naturais, mesmo sendo os mais profundos em sua síntese, não importa, nunca serão melhor recebidas em lugar algum do que em sua alma, por ser mais nova, mais virgem. (JESUALDO, 1978, p 30)

No Brasil a literatura infantil surgiu apenas no século XIX com histórias como:

histórias fantásticas, de aventuras e que retratavam o dia a dia da criança. Sendo

publicados apenas em 1808, através da imprensa Régia. (LAJOLO e ZILBERMAN,

1988)

No segundo período de 1920 a 1945, surge então Monteiro Lobato, que

publica em 1921 “Narizinho Arrebitado”, que deu início a uma série de histórias para

crianças, tais como as do Sítio do Pica-Pau Amarelo, conhecidas mundialmente.

(ZILBERMAN e MAGALHÃES, 1987)

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Entre as décadas de 1940 e 1960, a literatura infantil entra numa terceira

fase, que é marcada pela grande quantidade de livros específicos para crianças e

em que os autores tornaram-se profissionais da área e as editoras se especializaram

para atender esta demanda. (ZILBERMAN e MAGALHÃES, 1987)

Já nos anos de 1960 a 1980, a literatura infantil consolida sua atuação com

grandes mudanças nas formas e nos conteúdos dos livros, trazendo uma nova

maneira de escrever, criar personagens. Esta é vista, com histórias de cunho

urbano, valorizando a linguagem oral. Nos anos de 1960 e 1970 a produção literária

infantil se aproxima da contemporânea, onde em 1970, surgem vários autores que

marcaram a literatura brasileira, sempre ligando suas obras às escolas.

Apesar de as escolas sempre utilizarem os livros, no século XIX, as obras

eram traduzidas de Portugal e assim, pela falta de contextualização, a leitura

nacional entra em crise, assim, estudos sobre a formação do leitor são iniciados no

século XX, o que ainda não se conseguiu chegar a uma conclusão, pois o livro tem

concorrido diretamente com a televisão, os videogames e atualmente com a internet.

Surge aí, a necessidade de a escola assumir um papel de grande relevância no

resgate da leitura infantil, pois conforme Albino (2009):

Nesse sentido, a escola assume um papel relevante nessa discussão, tornando-se uma instituição com desempenhos contraditórios. Num primeiro momento, trata-se de um local onde se aprende a ler e a escrever, conhece-se a literatura e desenvolve-se o gosto pela leitura. Por outro lado, define-se também como um ambiente caracterizado pelas carências no campo do ensino, sendo marcada pela deficiência dos métodos empregados que incluem a baixa freqüência de exercícios de leitura, a falta de critérios na seleção e a má qualidade do material manipulado, somados ao baixo nível de linguagem, ao mero desinteresse pela leitura e à escassez de repertório por parte dos alunos.

Visto que a leitura proporcionada pela escola é um meio de acesso do jovem ao texto literário, a teoria da literatura infantil tem, nos últimos anos, voltado sua atenção ao ensino Enfatizando a necessidade de uma metodização das práticas pedagógicas centradas na natureza do literário e na comunicação leitor/obra, propõe como objeto de discussão das questões relativas à obra, ao leitor (aluno) e ao mediador da leitura (papel desempenhado pelo professor). Quanto ao receptor, são enfocadas questões relativas ao interesse, à valorização do caráter lúdico e do prazer da leitura e à emancipação do leitor por meio da quebra de seu horizonte de expectativas. (ALBINO, 2009, p. 20)

Nesse sentido entende-se que a Literatura Infantil é Teoria e Didática, ou

seja, prática na vida real. O trabalho abordado tem como narrativa primordial a

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imaginação humana, sendo o relato de casos, histórias fabulosas, tirando um

ensinamento salutar.

Compreender a tarefa do professor enquanto agente facilitador no

processo ensino-aprendizagem é entender que tal tarefa exige preparo e dedicação.

O professor precisa buscar de diversas formas, a vontade de ensinar como uma

proposta de conhecer e compreender práticas socioculturais da Leitura e da Escrita

de crianças e de adolescentes de diferentes inserções culturais. O lúdico tem sua

origem na palavra latina ludus que quer dizer jogo e está confinada a sua origem ao

termo lúdico estaria se referindo apenas ao jogar, ao brincar, ao movimento

espontâneo. (ROJO, 2003)

O brincar e o jogar são atos indispensáveis à saúde física, emocional e

intelectual e sempre estiveram presentes em qualquer povo desde os mais remotos

tempos. Através deles, a criança desenvolve a linguagem, o pensamento, a

socialização, preparando-se para ser um cidadão capaz de enfrentar desafios que

sempre estamos prestes a enfrentar. O jogo, nas suas diversas formas, auxilia no

processo do desenvolvimento psicomotor, isto é, no desenvolvimento da motricidade

fina e ampla, bem como no desenvolvimento de habilidades do pensamento, como a

imaginação, a interpretação, a tomada de decisão e a criatividade.

Sendo assim, a utilização do lúdico no ambiente escolar traz enormes

vantagens para o processo de ensino aprendizagem, porque ele é um impulso

natural da criança e do adolescente, o que já é uma grande motivação, pois eles

(crianças e adolescentes) obtêm prazer, e seu esforço para alcançar o objetivo da

aula é espontâneo. Com isso, a aula que possui o lúdico como um dos seus

métodos de aprendizagem, é uma aula que se encontra voltada para os interesses

dos alunos, sem perder o foco do ensino, lembrando que a forma de ensinar a leitura

aparece através do estímulo que o professor passa para o aluno através da

seguridade e confiança. (ROJO, 2003)

Para Matos, Cabral e Silva (2014):

A Literatura permanece acordando desejos. Faz a gente arriscar pensamentos nos quais o rumor da língua, aprisionado em letras, se esforça pela multiplicação de sentidos... Estudos e publicações o atestam e novas iniciativas o confirmam. Estamos no mundo e, nele configuramo-nos segundo a verdade das palavras... e dos desejos. (MATOS, CABRAL e SILVA, 2014, p. 03)

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A leitura é fundamental para que a criança e o adolescente possa entender o

significado dos seres e dos objetos. O professor deve trazer o conhecimento prévio

e interessante sobre o assunto para que a criança ou o adolescente possa despertar

e compreender o lúdico, ou seja, dar asas a sua imaginação sem medo do novo.

Eles precisam buscar informações de como aplicar esta tarefa interessante e

gratificante tanto para o seu aluno quanto para o seu próprio mérito, pois trabalhar

com adultos e crianças de forma lúdica cresce a vontade de sempre buscar novos

conhecimentos de formas diversas para se trabalhar. Devem se permitir viver o

lúdico e buscar o conhecimento teórico para através de experiências lúdicas

obterem informações sobre o brincar espontâneo e orientado.

São várias as maneiras de ensinar, basta à vontade de o professor buscar

conhecimentos e adquiri-los sempre que for possível. Ensinar a ler e a entender o

que se lê, é fundamental para a vida toda. Significados são apenas modos diferentes

de se entender e aprender o que é sinônimo.

Como se leu anteriormente é da escola o papel de incentivar e não de obrigar

a leitura pelos alunos. Hoje em dia, a leitura é vista como uma das causas do

fracasso escolar, conforme Magnani (1989):

A falta do hábito de leitura mostra-se no seu lado mais cruel: aquele que limita ao indivíduo o acesso à própria cidadania, aqui entendida como o pensar sobre fatos/eventos e posicionar-se diante deles. (MAGNANI, 1989, p. 10)

Levar o aluno ao prazer de ler deve ser a principal preocupação da escola, e

não a moralização ou a reprodução da literatura. A leitura precisa fazer sentido para

a alma, e toda a vez que houver algum trabalho envolvido, que seja motivado, que

seja criativo. Preocupar-se com as questões da leitura, buscando soluções para

esse tipo de problema, estudando as teorias e desenvolvendo estratégias é o intuito

desse trabalho.

A psicologia analítica do suíço Carl Jung sustenta que os seres humanos nascem

não apenas com uma herança biológica, mas também com uma herança psicológica,

sendo que ambas são determinantes inerentes do comportamento e da postura do ser

humano diante da vida. Assim segundo ele, a criança já nasce com este arcabouço que

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irá permear e direcionar seu desenvolvimento psíquico e a interação deste sujeito com o

meio em vive. Este material psíquico, que não provém da experiência pessoal, foi

denominado por ele como inconsciente coletivo.

Jung concluiu, portanto em seus estudos que estas representações formam o

esquema básico da psique e, por este motivo os contos de fadas fazem parte da história

da humanidade atravessando os mais diversos períodos culturais, perdurando assim em

nossa existência através do passado ancestral do homem.

Amarilha (2009, p.70) nos informa que par Carl Jung (1988) os contos são produtos

da fantasia e expressão “espontânea” do inconsciente, são uma representação simbólica

de problemas gerais humanos e suas soluções possíveis, ou seja, as representações da

fantasia são tão primárias e originais como os próprios desejos e instintos. e constituíram

através dos séculos instrumentos para a expressão do pensamento mítico, perpetuando-

se no tempo por desempenharem uma função psíquica importante ao processo da

individuação.

Von Franz (1980, p.9) discípula de Carl Jung diz que é no inconsciente coletivo que

o contador popular busca inspiração para a criação dos contos de fadas. Conclui ainda

que, para Jung, os contos de fada são o melhor caminho para se estudar a anatomia

comparada da psique. Nos mitos, lendas ou qualquer outro material mitológico mais

elaborado obtém-se as estruturas básicas da psique humana através da grande

quantidade de material cultural.

Bettelheim (2003, p.33) complementa que num conto de fadas, os processos

internos são externalizados e tornam-se compreensíveis enquanto representados pelas

figuras da história e seus incidentes.

Ainda segundo ele, os contos de fadas, à diferença de qualquer outra forma de

literatura, dirigem a criança para a descoberta de sua identidade e comunicação, e

também sugerem as experiências que são necessárias para desenvolver ainda mais o

seu caráter.

Gonçalves (2010, p.70) ressalta que é por meio das histórias, sobretudo o conto de

fadas, que a criança busca a verdade que a linguagem simbólica é capaz de transmitir,

resgatando valores e encontrando respostas para suas questões internas. Os contos de

fadas têm importância na formação da personalidade porque transmitem valores à

criança, usando uma linguagem adequada.

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Bettelheim afirma que é através dos contos de fadas que a criança adequa o

conteúdo inconsciente às fantasias conscientes. Para que ela possa superar os

problemas psicológicos do crescimento, obter um sentimento de individualidade, de

autovalorização, e um sentido de obrigação moral, necessita entender o que está se

passando dentro de seu eu inconsciente. Dos contos, elas retiram seus próprios

conceitos, sempre em consonância com o momento, não podendo fazê-lo sozinhas.

Para dominar os problemas psicológicos do crescimento – superar decepções narcisistas, dilemas edípicos, rivalidades fraternas, ser capaz de abandonar dependências infantis: obter um sentimento de individualidade e de autovalorização e um sentido de obrigação moral – a criança necessita entender o que está se passando dentro de seu inconsciente. Ela pode atingir essa compreensão, e com isto a habilidade de lidar com as coisas não através da compreensão racional da natureza e conteúdo de seu inconsciente, mas familiarizando-se com ele através de devaneios prolongados – ruminando, reorganizando e fantasiando sobre elementos adequados da história em resposta a pressões inconscientes, o que capacita a lidar com este conteúdo (BETTELHEIM, 2003, p.16).

3.1- Importância pedagógica da utilização dos contos de fadas em sala de aula

É de domínio público que com frequência o conto de fadas se constitui como o

primeiro contato das crianças com a literatura, seja através de seus pais e familiares ou

mesmo na leitura oral de seus professores. Também são, dos textos literários, os mais

conhecidos do público infantil, pois são intensamente disseminados em nossa sociedade

através da mídia: filmes, desenhos, histórias em quadrinhos etc.

Abramovich (1991, p.10) relata que seu primeiro contato com o mundo mágico das

histórias aconteceu quando era muito pequenina, ouvindo sua mãe contar algo bonito

todas as noites, antes de adormecer, como se fosse um ritual... Lembro de sua voz

contando “João e Maria” e das várias adaptações que criava em relação à casa da bruxa,

sempre sendo construída com todas as comidas que gostava.

Após estes primeiros contatos com os contos de fada, é na escola que podemos

intensificar o mergulho neste universo literário tão rico e encantador. O professor tem em

suas mãos um vasto conteúdo de trabalho que pode ser utilizado ao longo de diversas

séries e disciplinas desde a pré-escola até o ensino fundamental.

Vivemos um momento propício ao resgate da utilização dos contos de fadas nas

escolas, pois existe um movimento da sociedade atual que reflete o desejo humano em se

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envolver com o imaginário, o ficcional e com o mundo da fantasia, embora estejamos

vivendo num mundo onde se valoriza muito a imagem e a tecnologia.

Rocha (2013, p.19) afirma que com a participação efetiva do professor através de

uma postura diferenciada: questionadora, investigadora, criativa, consciente e flexível na

relação que estabelece com a criança ele irá contribuir para o desenvolvimento emocional

e cognitivo da mesma, assim como para uma educação voltada aos valores humanos e a

criatividade.

Gonçalves (2010, p.64) diz que o próprio contexto histórico em que vivemos faz

com que a escola seja um espaço privilegiado. É nela que a criança poderá entrar em

contato com a literatura infantil, sendo, portanto, o professor o principal mediador. Para

tanto, deve reconhecer a literatura não apenas como exclusiva das crianças, mas

reconhecer o seu caráter científico que determinou sua ascensão aos planos dos

currículos do Ensino Superior.

Coelho (2009) afirma que a presença dos contos de fadas na escola possui uma

relevância muito grande na formação da criança como ser social e como leitor. Os contos

de fadas apresentam algumas características que os diferem de outros gêneros literários.

Nos contos percebe-se a presença do elemento mágico, o que possibilita a metamorfose

nos personagens ou objeto que conduz a resolução do conflito.

Bettelheim (2003, p.12) declara que aquisição de habilidades, inclusive a de ler,

fica destituída de valor quando o que aprendeu a ler não acrescenta nada de importante a

nossa vida. [...] Para que uma história realmente prenda a atenção da criança, deve

entretê-la e despertar a sua curiosidade. Contudo, para enriquecer sua vida, deve-se

estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas

emoções; estar em harmonia com suas ansiedades e sugerir soluções para os problemas

que a perturbam.

Segundo Soares (2010, p.21): “Letrar é mais que ensinar a ler e escrever dentro de

um contexto onde a leitura e a escrita tenham sentido e façam parte da vida do aluno.”

Para que isto ocorra é fundamental que as atividades de leitura e escrita

empregadas na escola permitam uma possibilidade prazerosa ao desenvolvimento do

letramento. Os contos de fada devido ao fascínio que exercem em crianças e adultos

podem e devem ser utilizados como recurso estimulador da leitura e escrita utilizando-se

da reflexão sobre conflitos existenciais próprios da infância e pré-adolescência.

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Para Rego (1990, p. 51) o conto de fadas, do ponto de vista da aprendizagem,

supõe uma relação entre o adulto e a criança: o ouvinte e o narrador e, assim, esse

ouvinte (criança) tem a oportunidade de brincar com todos os elementos mais misteriosos

do existir isento da reprovação do narrador.

A escritora Cecília Meireles em seu livro problemas da literatura infantil deixa

bastante clara sua opinião a respeito da importância da literatura infantil tradicional para a

formação da criança.

Insistimos na permanência do tradicional na literatura infantil, tanto oral quanto

como escrito, porque por ele vemos um caminho de comunicação humana desde a

infância que, vencendo o tempo e as distâncias, nos permite uma identidade de formação.

Por essa comunhão de histórias, que é uma comunhão de ensinamentos, de estilos de

pensar, moralizar e viver, o mundo parece tornar-se fácil, permeável a uma sociabilidade

que tanto se discute. A literatura tradicional apresenta esta particularidade: sendo diversa

em cada país, é a mesma no mundo todo. É que a mesma experiência humana sofre

transformações regionais, sem por isso deixar de ser igual nos seus impulsos e idênticas

nos seus resultados. Se cada um conhecer bem a herança tradicional do seu povo, é

certo que se admirará com a semelhança que encontra, confrontando-a com a dos outros

povos. (...) É um humanismo básico, uma linguagem comum, um elo entre as raças e os

séculos. (MEIRELES, 1979, p. 64).

Um dos aspectos que o professor precisa entender para utilizar a literatura em sala

de aula é que na verdade ela não seria apenas um instrumento para ensinar a ler, pois

segundo Bettelheim (2003, p.13) para que uma história realmente prenda a atenção da

criança, deve entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas para enriquecer sua vida, deve

estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas

emoções; estar harmonizada com suas ansiedades e aspirações: Resumindo, deve de

uma vez só vez relacionar-se com todos os aspectos de sua personalidade, e isso sem

nunca menosprezar a criança, buscando dar inteiro crédito a seus predicamentos e,

simultaneamente, promovendo a confiança nela mesma e no seu futuro.

Farias (2006, p.30) diz que as histórias tradicionais são importantes porque

ensinam, educam, ampliam o conhecimento, iluminam, provocam reflexões pessoais e

coletivas, despertam sentimentos adormecidos, comovem, alimentam a cognição,

transmitem valores, recriam a memória, auxilia na transformação pessoal e na cura dos

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ferimentos psíquicos, mantem viva a tradição e expandem a linguagem e vocabulário.

Elas permitem, ainda, extrapolar os limites da compreensão lógica sobre o mundo,

rompendo assim, com o nosso modelo de educação escolar.

Farias (2006, p.97) presume em relação aos contos de fadas que se quase toda

boa história nos encanta e ensina algo, por que não fazem uso dessas histórias na

educação? Longe de serem discursos monolíticos e ingênuos, essas narrativas contém,

na maioria das vezes, a complexidade que abriga a certeza e a incerteza, o medo e o

sonho, a solução e o enigma a ser resolvido.

Amarilha (2009, p.73) conclui que, os contos de fada, com seu rico referencial

simbólico, ressaltam o papel que a literatura deve ter para a criança: o de tornar

acessível ao leitor experiências imaginárias que sejam catalisadoras dos problemas do

desenvolvimento humano e assim proporcionar autoconfiança sobre o seu próprio

crescimento. Quando os professores entenderem a importância de dar oportunidade às

crianças para assistirem e participarem de conflitos de heróis tão inexperientes quanto

elas próprias, talvez os contos de fadas sejam mais presentes em sala de aula.

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CAPITULO IV

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COM A UTILIZAÇÃO DOS CONTOS DE FADAS

Cantar, brincar e encantar faz parte da atividade proposta para as crianças

através das cantigas de roda. Cantar é maravilhoso, pois “... quem canta seus males

espanta.” Todos gostam de cantar e de brincar, assim, em sala de aula, as

atividades devem ser voltadas para uma tradição oral, a fala que é transmitida de

geração a geração.

Para se ter atividades bem variadas deve-se procurar e pesquisar diferentes

cantigas de roda, como algumas foram citadas no capítulo anterior. Assim pode-se

também proporcionar a leitura e a escrita das canções de forma lúdica, onde

primeiramente se escuta as canções para depois se pode dramatizá-las ou

expressá-las da forma mais simples. Ampliar o repertório musical e de outras

brincadeiras são propostas para serem aproveitadas na sala de aula, durante um

período voltado para a recreação com efetiva aprendizagem.

Matos, Cabral e Silva (2014) fizeram uma pesquisa de campo com alunos de

uma escola pública no Nordeste brasileiro e ao introduzirem os contos de fadas

entre as crianças puderam experimentar os benefícios que esse tipo de leitura traz

aos pequenos leitores:

A literatura Infanto-juvenil, representada pelos Contos de Fada, em nosso projeto, mostrou-se um material valioso para que obtivéssemos resultados tão positivos. Além de melhorar a concentração dos alunos e sua capacidade de interpretar um texto, possibilitou um melhor relacionamento entre a classe para a elaboração das atividades em conjunto. Os alunos estavam tão empolgados em participar das atividades que esqueciam as desavenças para que fosse possível a finalização das atividades propostas. (...) O sentimento de união superou o individualismo existente entre eles por causa da vontade que tinham de participar. Vimos que eles deram o melhor de si para a dramatização da peça, atividade preferida da turma. (MATOS, CABRAL e SILVA, 2014, p. 09-10)

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Estas atividades podem ser trabalhadas em grupo, pois juntos é possível

descobrir as sensações e a vontade de se divertir, tirar a inibição que muitos alunos

têm ao entrarem no meio escolar no seu dia a dia.

A metodologia é simples, pois é possível recuperar através dessa brincadeira

de faz de conta, os pais, avós, amigos nos próprios livros, cantigas de roda. O

trabalho é feito com o grupo de alunos, sempre buscando novas técnicas e uma das

que, com certeza sempre dá certo é a de analisar as cantigas, criá-las e inventar

outras.

Dentre as atividades que podem ser trabalhadas na sala de aula, tem-se:

Organizar um pequeno livro com as cantigas de rodas com as letras e ilustradas

pelas crianças.

Quando foi trabalhado este projeto percebeu-se que ele abrangeu várias

áreas como:

a) Português: o significado das palavras, a grafia das palavras, parlendas,

trava-línguas e adivinhas.

b) Artes: confecção de cartazes com as músicas, instrumento que revelam a

interação dos alunos com as diversas culturas, para confecção desses

instrumentos usa-se material reciclável, como garrafas pet e etc.

Pode-se também fazer jogos populares com sucatas.

c) Educação Física: pode-se trabalhar o desenvolvimento da coordenação

motora, a noção do espaço, equilíbrio e as danças.

Estas atividades são chamadas de atividades interdisciplinares e englobam

algumas matérias diferentes na mesma proposta.

Neste capítulo abrimos espaço para trazer exemplos de práticas pedagógicas

que podem ser realizadas em sala de aula utilizando os contos de fadas como eixo

principal do trabalho com crianças do ensino fundamental I.

Going (1997) atesta que ao trabalharmos com os contos de fada na sala de

aula, procuramos valorizar como um todo os seguintes aspectos: o afetivo e o

cognitivo. Por meio do ato prazeroso de escutar histórias a criança amplia o

processo de construção das imagens mentais, possibilitando a identificação com os

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personagens que são relevantes às suas necessidades interiores. Também, o conto

tem uma mensagem que proporciona condições da criança trabalhar o espaço

(construção da imagem mental do ambiente e personagens), o tempo (memória e

sequência dos fatos), bem com causalidade, via reflexão dos pontos que levaram a

história a tomar determinado rumo.

Farias (2006, p.89) destaca que a articulação real e irreal, consciente e

inconsciente, local e universal, tão presentes nas histórias da tradição, facilitam a

religação do conhecimento e a reconciliação do homem em sua inteireza mitológica,

inteireza essa sempre aberta e paradoxal. A concretização de uma prática

educativa pautada por princípios que rejuntem faces diferentes de uma mesma

moeda depende, sobretudo, de um tipo de abordagem que é, ao mesmo tempo,

transversal e longitudinal. Mais do que uma disciplina específica, o conjunto de

conteúdos variados e dispersos nas narrativas interessa a diferentes disciplinas.

4.1 Atividades Propostas

Existem inúmeras possibilidades de se trabalhar com os contos de fadas em

sala de alano segmento do ensino fundamental I. Neste trabalho veremos somente

alguns exemplos do quão rico e vasto é este universo de fadas, duendes, bruxas,

sapos e princesas.

4.1.1- A escolha do conto

Este é um aspecto de vital importância, pois é a partir de uma escolha

acurada que se despertará o interesse da criança, levando em conta, entre outros

fatores, o ponto de vista literário, o interesse do ouvinte, sua faixa etária, suas

condições sócios econômicas. É importante salientar que o professor deve estar

atento ao tipo de linguagem empregada pelo autor para que ao ser narrado, o texto,

não se torne enfadonho e de difícil compreensão.

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Segundo Coelho (2009) escolher que história contar é um passo muito

demorado, e por isso recomenda-se cuidado para evitar tropeços depois. Às vezes

leva-se algum tempo pesquisando em livros e revistas até se encontrar a história

adequada à faixa etária e que atenda aos interesses dos alunos ouvintes e ao

objetivo especifico que a ocasião requer.

4.1.2- Como contar histórias

Abramovich (1991, p.18) em seu livro Gostosuras e Bobices ressaltam que

para contar uma história, é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem

palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases,

dos nomes... Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma

canção...Contar histórias é uma arte...e tão linda! É ela que equilibra o que é ouvido

como o que é sentido, e por isso não é nem remotamente declamação ou teatro...

Ela é o uso simples e harmônico da voz.

Ainda segundo a autora supracitada, a ensaísta cubana Alga Marina

Elizagaray diz que: “O narrador tem que transmitir confiança, motivar a atenção e

despertar admiração tem que conduzir a situação como se fosse um virtuose que

sabe seu texto, que o tem memorizado, que pode permitir-se o luxo de fazer

variações sobre o tema”.

Isto posto, podemos crer que para que haja um total aproveitamento do uso

dos contos de fada em sala de aula, é importante que o professor disponibilize todos

os recursos possíveis para criar um clima lúdico de envolvimento, encanto e magia,

utilizando entonações diversas, pausando e criando intervalos, com a finalidade de

estimular o pensamento e a curiosidade nas crianças.

4.1.3- Algumas Propostas de Trabalhos em Sala de Aula

Neste tópico abordaremos algumas sequências de atividades sugeridas para

crianças acima dos seis anos de idade.

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a) Dispor confortavelmente os alunos preferencialmente sentados numa

rodinha e apresentar o conto proposto e uma breve biografia do autor;

b) O professor prossegue com a leitura do conto, sempre atento à

modulação de voz e aos gestos com a finalidade de prender a atenção

dos alunos. O professor deve estar preparado para estabelecer um

breve diálogo com os alunos ainda neste momento. A narração não

deve ser uma declamação monótona e aborrecida;

c) Ao contar a história, o professor pode trabalhar a coordenação motora

e a expressão corporal das crianças, pedindo-lhe que imitem alguns

dos personagens, trazendo, portanto um momento lúdico e de

brincadeira;

d) Após a leitura do conto deve-se trabalhar primeiramente a

interpretação do conto. Perguntas tais como: quantos e quais são os

personagens mais importantes da história? Qual personagem foi o

favorito? Gostaram da história e por quê? Com qual personagem você

mais se identificou?

e) Outra sugestão para trabalhar a interpretação do conto é pedir que

cada criança conte um pedacinho da história, em sequência utilizando

seus próprios recursos de dramatização e entonação de voz;

f) Trabalhando linguagem e comunicação pode-se pedir às crianças que

mencionem alguma palavra “nova”, de significado desconhecido ou de

grafia mais complexa. Também é interessante a utilização de jogos

como cruzadinhas e caça-palavras no intuito de trabalhar o

vocabulário;

g) No caso de crianças que já dominam a linguagem escrita, o trabalho de

produção textual a partir do conto, é indiscutível e fundamental.

Podemos pedir à criança que crie um outro final ou personagem para o

conto;

h) Trabalhar a expressão artística da criança propondo qualquer tipo de

criação plástica tais como desenho, pintura, colagens, modelagem, etc;

i) Pode-se trabalhar o meio ambiente e o momento histórico,

considerando o local onde se passa o conto, o tipo de moradia, a

vegetação e

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j) as condições de vida, procurando relacionar temáticas sociais do conto

com a sociedade contemporânea;

k) Trabalhar noções de saúde e higiene trazendo à tona possíveis hábitos

e costumes dos personagens do conto e como eles poderiam se

proteger para evitar doenças e destruição do meio em que vivem;

l) Na matemática pode-se utilizar o mesmo conto trabalhando com

inúmeros conceitos tais como operações com números, conjuntos,

proporções, algarismos romanos, frações, horas e um sem fim de

possibilidades;

m) Pode-se também propor trabalhos de pesquisa na biblioteca, na

internet, jornais e revistas;

n) Por fim, mas não menos importante, pode-se trabalhar a convivência e

os sentimentos a partir da reflexão do aluno com o jogo simbólico

proporcionado pelo conto.

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CONCLUSÃO

Como pudemos concluir com este trabalho a utilização dos contos de fadas

no ambiente escolar permite aos alunos e educadores inúmeras possibilidades de

trabalhar diversos conteúdos e, principalmente despertar na criança o desejo pela

busca de conhecimento, contribuindo na formação do futuro leitor. Neste aspecto a

figura do professor é de fundamental importância, pois é frequente em nosso país,

que o primeiro contato da criança com a literatura ocorra na escola e os contos de

fada são indiscutivelmente uma ótima e preciosa fonte literária e, como assegura

Abramovich (1991, p.121) os contos de fadas são tão ricos que têm sido fonte de

estudo para psicanalistas, sociólogos, antropólogos, psicólogos, cada qual dando

sua interpretação e se aprofundando no eixo de seu interesse.

É inegável o relevante papel que a leitura desempenha na vida de todos nós,

seres humanos. É uma prática social das mais antigas, onde existe a apropriação

dos leitores para compreender o mundo em que se estão rodeados. A prática da

leitura permite o acesso ao conhecimento. Assim, o leitor é induzido a confrontar sua

realidade sóciocultural, política, emocional e lingüística entre o novo e o pré-

conhecimento, que lhe é inato tornando-se leitor dinâmico em conexão com outros

interlocutores.

A leitura também é responsável por transportar os leitores a outros mundos e

permitindo a eles inventar, criar e recriar ao longo das experiências de vida. Lendo

descobre-se, redescobrem-se imagens por meio da palavra, dessa forma, o ato de

ler exige posicionamento, compromisso e ideologia.

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A reflexão, a pesquisa e a conscientização sobre o tema e sua importância

para a sociedade em que vivemos, deve ser o freqüente desejo do educador, pois é

através de seu trabalho frente ao aluno que uma nova sociedade será formada, de

cidadãos críticos, autônomos e criativos, que lêem e entendem o que lêem, sabendo

diferenciar os diversos tipos de textos e de mensagens.

Os alunos chegam à escola escrevendo, mesmo sem saber o que esta escrita

significa, e muitas vezes, usam o professor como escriba de suas criações, isso não

quer dizer que não possuam habilidade para ler ou escrever, significa apenas que

ainda não possui autonomia para isso, por isso necessitam da ajuda do parceiro

mais experiente de Vygotsky (1991), de um trabalho mais específico relacionado à

leitura e à escrita.

O professor precisa entender que ele é um dos únicos que poderá levar a

criança, na mais tenra idade a desfrutar de bons e belos textos, fazendo com que ela

se familiarize com eles e tenha na leitura uma prática diária.

A escola deve preparar melhor seus professores, principalmente os de ensino

fundamental, no sentido de mostrar a importância das histórias infantis na vida da

criança, pois será através delas que elas vão compreender o mundo que as rodeia,

resolver seus pequenos problemas e entender questões que, as vezes, são difíceis

de lidar como a separação dos pais, a briga com os irmãos, perder um ente querido

entre outros temas tratados em histórias e contos de fadas, além de trabalharem

com seu imaginário e a criatividade.

Termina-se com o que o sábio Paulo Freire pensava sobre o ato de aprender

a ler e escrever, que de maneira resumida explica a importância de tal ato.

“Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas

transformam o mundo.” (FREIRE, 1990, p. 78)

Por isso a alfabetização não pode ser feita de cima para baixo, como uma

dádiva ou uma imposição, mas de dentro para fora, pelo próprio analfabeto e apenas

com a colaboração do educador. “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si

mesmo; os homens educam-se entre si, mediados pelo mundo. “(FREIRE, 1990, p.

79)

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Durante a pesquisa bibliográfica, buscamos observar como a leitura literária

pode resgatar a história individual de cada um, promover a socialização, pois, ao

ouvir historias, podem opinar comentar e recontá-las.

As estratégias para o desenvolvimento da sensibilidade artística devem fazer

com que aprendam se divertindo, saibam admirar e expressar o espanto, a tristeza,

a alegria e o medo.

O professor deve sondar o que os alunos já sabem sobre contos, histórias,

personagens e ambientes inseridos no contexto a fim de gradativamente incentivá-

los a ler contos clássicos.

Muitas outras dinâmicas podem ser desenvolvidas, tais como estimulá-los a

ilustrar os textos; relacionar as histórias lidas com coisas e fatos da vida da criança;

criar um ritual de leitura reservando um tempo e um lugar especiais para curtir as

histórias sem interrupções; estimulá-los a contarem sobre o que leram, etc.

Cabe então ao professor fazer da leitura algo prazeroso e alegre, para que no

futuro possamos ter mais leitores críticos, criativos, além de estarmos ajudando na

formação de cidadãos que sabem o que querem e expressam seus desejos de

maneira correta e consciente.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTOS 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

ORIGEM DOS CONTOS DE FADA 11

1.1- Conceito 12

1.2- Surgimento 12

1.3- Importância da Idade Media na Divulgação dos Contos 14

1.4- Os Contos de Fadas como Literatura Infantil 15

1.5- Breve Biografia dos Principais Escritores 17

1.5.1- Charles Perrault 17

1.5.2- Irmãos Grimm 17

1.5.3- Hans Christian Andersen 18

CAPITULO II

ENTENDENDO OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM NA CRIANÇA 19

2.1- Educação e suas funções 20

2.2- Processos de Aprendizagem 21

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2.3- Estágio pré operacional 22

2.4- Estágio Operatório Concreto 24

CAPITULO III

A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS NA FORMAÇÃO E

EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS 26

3.1- Importância pedagógica da utilização dos contos de fadas em sala

de aula 32

CAPITULO IV

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COM A UTILIZAÇÃO DOS CONTOS DE FADAS 36

4.1 Atividades Propostas 38

4.1.1- A escolha do conto 38

4.1.2- Como contar histórias 38

4.1.3- Algumas Propostas de Trabalhos em Sala de Aula 39

CONCLUSÃO 42

REFERÊNCIAS 45

ÍNDICE 49

.

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