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“FAMÍLIA FELIZ”: IDENTIDADE FAMILIAR NARRADA ATRAVÉS DOS ADESIVOS AUTOMOTIVOS Valquíria Coutinho Tavares - PUCRS/ University of Huddersfield Kátia Soares Coutinho - PPGIE/UFRGS 1 Introdução De acordo com os dados do IBGE, o número de filhos por família foi reduzido em 10,7% no período de 2003-2013, em nosso país (PORTAL BRASIL, 2015). Outras mudanças ocorreram neste mesmo período, na composição das famílias brasileiras, tendo o número de membros diminuído de 3,8 em 2000 para 3,3, em 2010 (IBGE, 2016) e diversificado os laços de parentesco entre seus membros (BIROLLI, 2014). No âmbito do casamento, da parentalidade e de outros direitos associados modernamente à família, as fronteiras da legitimidade também vem se modificando e acrescentando novas formas de compreensão da mesma (BIROLLI, 2014). As diferentes dimensões da educação e da cultura constituem o foco dos Estudos Culturais, e Wortmann (2015) aponta diversas tecnologias culturais, entre elas a escola, a arquitetura, o cinema, a televisão, o teatro, a publicidade, os o jornalismo impresso, a música, as exposições, e outros “[...] que estão implicadas na produção de significados que atuam na formação e regulação de identidades e desejos dos sujeitos que com elas interagem (WORTMANN, 2015, p. 13). Assim uma das formas de narrar a realidade é através das imagens, que podem ser percebidas na qualidade de signos quando representam fatos visíveis da realidade (SANTAELLA; NÖTH, 2012), possibilitando a comunicação entre elas e o leitor (GRASSI, 2013), tornando-as elementos fundamentais para a educação. Deste modo, olhando os adesivos automotivos que mostram os elementos de uma família (GRASSI, 2013) sob o viés da sociedade do espetáculo (DEBORDE, 2003), percebe- se a importância da publicização do privado em diversas situações, até mesmo quando as pessoas se deslocam utilizando o automóvel. Sendo assim, nossa proposta é problematizar algumas reflexões à luz dos Estudos Culturais, incorporando também elementos da Psicologia, para investigar quais são as subjetividades implícitas nas narrativas visuais da estrutura familiar estampadas nos adesivos automotivos do tipo “família feliz” (GRASSI, 2013) utilizados como elemento decorativo por uma parcela da população. 2 Identidade familiar, homoafetividade, parentalidade: os meus, os teus, os nossos

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“FAMÍLIA FELIZ”: IDENTIDADE FAMILIAR NARRADA ATRAVÉS DOS

ADESIVOS AUTOMOTIVOS

Valquíria Coutinho Tavares - PUCRS/ University of Huddersfield

Kátia Soares Coutinho - PPGIE/UFRGS

1 Introdução

De acordo com os dados do IBGE, o número de filhos por família foi reduzido em

10,7% no período de 2003-2013, em nosso país (PORTAL BRASIL, 2015). Outras mudanças

ocorreram neste mesmo período, na composição das famílias brasileiras, tendo o número de

membros diminuído de 3,8 em 2000 para 3,3, em 2010 (IBGE, 2016) e diversificado os laços

de parentesco entre seus membros (BIROLLI, 2014). No âmbito do casamento, da

parentalidade e de outros direitos associados modernamente à família, as fronteiras da

legitimidade também vem se modificando e acrescentando novas formas de compreensão da

mesma (BIROLLI, 2014).

As diferentes dimensões da educação e da cultura constituem o foco dos Estudos

Culturais, e Wortmann (2015) aponta diversas tecnologias culturais, entre elas a escola, a

arquitetura, o cinema, a televisão, o teatro, a publicidade, os o jornalismo impresso, a música,

as exposições, e outros “[...] que estão implicadas na produção de significados que atuam na

formação e regulação de identidades e desejos dos sujeitos que com elas interagem

(WORTMANN, 2015, p. 13). Assim uma das formas de narrar a realidade é através das

imagens, que podem ser percebidas na qualidade de signos quando representam fatos visíveis

da realidade (SANTAELLA; NÖTH, 2012), possibilitando a comunicação entre elas e o leitor

(GRASSI, 2013), tornando-as elementos fundamentais para a educação.

Deste modo, olhando os adesivos automotivos que mostram os elementos de uma

família (GRASSI, 2013) sob o viés da sociedade do espetáculo (DEBORDE, 2003), percebe-

se a importância da publicização do privado em diversas situações, até mesmo quando as

pessoas se deslocam utilizando o automóvel. Sendo assim, nossa proposta é problematizar

algumas reflexões à luz dos Estudos Culturais, incorporando também elementos da Psicologia,

para investigar quais são as subjetividades implícitas nas narrativas visuais da estrutura familiar

estampadas nos adesivos automotivos do tipo “família feliz” (GRASSI, 2013) utilizados como

elemento decorativo por uma parcela da população.

2 Identidade familiar, homoafetividade, parentalidade: os meus, os teus, os nossos

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Zygmunt Bauman problematiza a humanidade na sociedade pós-moderna, definindo-a

como “líquida”. Essa ideia simboliza a despersonalização do homem, que se transforma em

“coisa” disponível para consumo e descarte pelo outro, o qual se torna entediado pela utilização

contínua deste “objeto”, que naturalmente é substituível por exemplares parecidos. Nesse

contexto, amar é algo considerado extremamente difícil e incerto, uma vez que os resultados

definitivos de vivências afetivas não nos são conhecidos (BAUMAN, 2008). Dessa forma, uma

vez que receamos a proximidade nas nossas relações íntimas, optamos por desistir da

concretude dessas interações e começamos a nos relacionar virtualmente (BITTENCOURT,

2009), indicando que “é preciso diluir as relações para que possamos consumi-las” (BAUMAN,

2004, p. 10).

As relações estabelecidas pelos seres humanos servirão como estrutura para a formação

de padrões psicológicos operacionais e de formas de regulação emocional, o que pode

influenciar na formação da personalidade (BOWLBY, 1988). Dessa forma, o meio familiar

propicia, por intermédio do amparo afetivo, os aspectos necessários para que as pessoas se

desenvolvam e se relacionem (DESSEN; POLONIA, 2007). Os vínculos formados com

qualidade, baseados em aspectos fundamentais como segurança e estabilidade, entre pais e

filhos, proporciona um amadurecimento saudável, influenciando na independência e

organização da identidade (FLEMING, 2005). Perceber que o contexto familiar é harmônico,

relevante e não hostil favorece o estabelecimento de relações românticas positivas e uma

individuação com sucesso no início da vida adulta. A literatura aponta que o progresso dos

relacionamentos românticos associa-se com a construção de uma identidade individual, assim

como com suas relações interpessoais no geral, como os familiares e os pares (CORREIA;

MOTA, 2016).

A ideia de que casamento, heterossexualidade e procriação, conjuntamente, definem o

que é uma família (BIROLLI, 2014) determinou por muito tempo a sua conceituação. Uma

família era considerada um grupo social composto basicamente por marido, esposa e filhos,

que se origina com o casamento, e no qual os integrantes estão unidos - seja por laços legais,

por direitos e deveres econômicos ou religiosos, por vínculo estabelecido por proibições

sexuais, ou por diferentes sentimentos (LÉVI-STRAUSS, 1956).

Hita (1998), porém, atualiza o conceito de família e passa a defini-lo como um conjunto

de indivíduos que convivem em um determinado espaço físico e compartilham as diversas

atribuições, por exemplo, pagar as contas e impostos, cozinhar, supervisionar a educação dos

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filhos e outras que são necessárias à organização e funcionamento da mesma. Além disso, a

configuração estrutural familiar vem se modificando constantemente e o conceito moderno de

família engloba uma série de aspectos, entre os quais: questões de gênero, afetividade,

sexualidade, formação de identidade e valores, modos de produção e obtenção de renda

(BIROLLI, 2014).

A homossexualidade existe desde os tempos remotos, em culturas diversas (BIROLLI,

2014). Em diferentes períodos da história, foi condenada e considerada como crime, doença,

anormalidade e perversão sexual. Atualmente, a homossexualidade é considerada uma maneira

normal de vincular-se em vários contextos sociais. Casais e famílias homoafetivas compõem

um dos grupos mais marginalizados socialmente e, mesmo atualmente o preconceito está

presente em muitos espaços e de forma muito expressiva.

As modificações que vem acontecendo na constituição familiar indicam uma maior

multiplicidade quanto aos perfis de famílias. Por um lado, há um crescimento da expectativa de

vida e, por outro, a quantidade de gravidez decai. Portanto, verifica-se um aumento de avós e

netos nas famílias contemporâneas. As organizações familiares são mais modernas e há um

acréscimo de casamentos consensuais. Com a expansão das taxas de divórcios, ocorre

juntamente um aumento relevante de reconstituição nas famílias, em que os filhos podem ser

de somente um dos parceiros (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E

ESTATÍSTICA, 2010). As formas recentes de composição familiar podem envolver também

padrasto ou madrasta, e há a possibilidade de os filhos terem que se adaptar com um novo irmão

(PEREIRA; ARPINI, 2012).

Outra consequência possível após separações ou divórcios é o crescimento dos índices

de filhos que se desenvolvem em famílias monoparentais (INSTITUTO BRASILEIRO DE

GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). Além disso, diversos casais escolhem estabilizar suas

situações financeiras e suas carreiras profissionais antes de terem filhos. Assim, postergar a

fecundidade da mulher altera os padrões da organização familiar (INSTITUTO BRASILEIRO

DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010).

3 Famílias e pets: paixão “animalitária”

A família atual incorpora também a presença cada vez mais próxima dos animais de

estimação, caracterizando a convivência de múltiplas espécies no âmbito familiar e um lugar

de destaque dos mesmos, chegando a uma “paixão animalitária” e a um processo de

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“humanização” dos pets. Por vezes, ocorre uma substituição da falta/ausência de filhos,

transferindo, dessa maneira, afetos humanos para os pets (PASTORI; MATOS, 2015). Segata

(2012, p. 24-25) complementa:

Na sorte das discussões contemporâneas, a humanidade dos animais é um tema controverso.

Até chegarem ao posto de “nossos bebezinhos”, de “lindinhos da mamãe”, de “fieis

companheiros”, e viverem em nossos lares, motivarem manifestos ou se tornarem o foco da

atenção de gestos médicos e estéticos, houve um longo caminho a ser percorrido, que

incluiu, necessariamente, uma série de investimentos que acalmaram ou que tentam tornar

invisíveis as suas pulsões naturais. [...] latir, rosnar, urinar, mostrar as garras, foram algumas

das vantagens evolucionárias que permitiram que cães e gatos garantissem a sua

alimentação ou protegessem o seu território e prole. Mas isso não combina com a decoração

da sala de estar de nenhum apartamento, o que faz com que esses animais que se comportem

dessa forma sejam diagnosticados como “doentes mentais” - agressivos, ansiosos ou

depressivos - e medicados com psicotrópicos.

Além disso, donos de pets e pessoas que oferecem “ajuda animalitária” dizem encontrar

nesses animais algo inexistente no “mundo humano”, isto é, que outros indivíduos não lhes

propiciam: um sentimento de “amor incondicional”, um afeto abundante, tornando-os

insubstituíveis como elementos da família. Entretanto, essas razões não explicam os casos em

que animais são maltratados ou abandonados, indicando que essa afeição não sensibiliza todos

igualmente. O “amor incondicional” atribuído aos pets é o principal motivador das ações

promovidas por indivíduos preocupados com os animais necessitados (PASTORI; MATOS,

2015).

O tempo para o lazer e as atividades esportivas são expressas pelo desfrute do ócio e do

tempo livre e configura-se como um espaço importante de convívio familiar, como veremos na

sequência.

4 Lazer, esportes e diversão em família

As atividades de lazer e esportivas, assim como outros tantos aspectos, variam conforme

a cultura local e o período histórico. Entre as atividades de convivência familiar, destacamos

os passeios de bicicleta nos parques ou vias da cidade, que se tornam mais seguros, prazerosos

e convenientes conforme os espaços urbanos são modificados (por exemplo, implementação de

ciclovias). Assim sendo, no final da década de 80, Forjaz (1988, documento eletrônico)

destacou:

Aquelas formas de entretenimento produzidas no espaço doméstico e familiar envolvendo

a afetividade e a sociabilidade (tais como visitas, reuniões, ou simplesmente bater papo,

conversar, conviver) aparecem com freqüência bem menor e não constituem o padrão

dominante de lazer.

Complementarmente, Formiga, Ayroza e Dias (2005) relatam que

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Atualmente, a diversão tem sido ponto de grandes questionamentos em vários setores da

sociedade: escola, família, clubes de recreação. Isto tem levado a repensar a forma de lazer

que os adolescentes estão vivendo, desde a atividade mais comum, como é o caso do esporte

ou outras mais avançadas, por exemplo, o vídeo game e demais diversões tecnológicas.

A prática esportiva pode proporcionar a aprendizagem de diversas habilidades, tais

como: cognitivas e sociais (regras, respeito aos outros), planejamento de atividades (organizar

os treinos, pensar nos movimentos que fará), assumir responsabilidades e ter experiências para

além do ambiente familiar. Também auxilia, potencialmente, no aumento da auto-estima (como

ao perceber que é bom nisso e ser apreciado pelos outros), no desenvolvimento da tolerância à

frustração (saber vencer e perder), sendo possível adquirir uma maior capacidade para enfrentar

cenários diferenciados (relação com a resiliência) e manter interações positivas com as demais

pessoas (SANCHES, 2007).

As variadas categorias esportivas existentes divergem conforme o clima, as convenções,

a cultura e as heranças das diferentes nações. Entretanto, há esportes com predileção global,

como o beisebol, o futebol, o basquetebol, o voleibol, o atletismo, o golfe, o tênis, o hóquei em

patins e o ciclismo. O futebol, por exemplo, é o esporte que atrai maior público brasileiro, e o

futebol de salão e o de praia começaram a gerar mais adeptos na população e uma maior

dimensão na mídia. O vôlei, incluindo o jogado na praia, estão integrando cada vez mais

adeptos, visto os atuais resultados em eventos mundiais (SANTOS et al., 1997).

Outra prática esportiva bastante comum é o surf, pois nosso país possui um litoral

extenso, com 9.200 km (DECININO, 2007), propiciando a prática de esportes aquáticos por

todo o território nacional. No item a seguir, veremos a violência no mundo atual.

5 Diferença & identidade: a violência no mundo globalizado e líquido

Diferença e identidade constituem criações culturais e sociais na percepção de Silva

(2003). Já para Woodward (2003) as identidades são engendradas pela marcação da diferença.

Tal marcação se dá tanto por meio de sistemas simbólicos de representação quanto por meio de

exclusão social (WOODWARD, 2003). Porém, na visão de Bauman (2005), a identidade não

é mera "construção social"; ter uma ou várias identidades é uma tarefa política e as mesmas

transitam em diferentes esferas da sociedade.

Essas identidades diversas relacionam-se aos processos de inclusão/exclusão das

minorias no mundo globalizado onde habitamos. “Identidades que estereotipam, humilham,

desumanizam, estigmatizam [...]” (BAUMAN, 2005, p. 14). Desse modo, são criados

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estereótipos “[...] que se reproduzem tendo como matriz a redução das periferias (e favelas) à

pobreza, ao crime e à violência, como se estes fossem as marcas identificadoras daquilo que

está à margem da civilização, da cidadania e da legalidade institucional.” (MARTINS, 2015, p.

22). Por fim, Hall (2005) pontua que as identidades estão em constante movimento, em um

processo contínuo de transformação e mudança, sendo, portanto, definidas historicamente - e

não biologicamente.

Uma das representações sociais estereotipadas largamente difundidos pela grande mídia

diz respeito às periferias das grandes metrópoles vistas como espaços do caos e da violência,

sendo estes lugares permeados pela criminalidade, pela ausência de garantias legais e regida

por leis próprias. Lugares onde o estigma social e “a significação moral da diferença são

reforçados pela estruturação da desigualdade” (MARTINS, 2015, p. 22). Souza e Lima (2006,

p. 1212) identificam que a violência afeta a população de modo desigual, gerando riscos

diferenciados em função de gênero, raça/cor, idade e espaço social. A análise de Appadurai

(2009, p. 96) contrapõe o “[...] mundo vertebrado, organizado pelo sistema dorsal central de

equilíbrios internacionais de poder, tratados militares, alianças econômicas e instituições de

cooperação” ao mundo celular, “[...] cujas partes se multiplicam por associação e oportunidade,

mais do que por legislação ou por projetos”. De qualquer modo

6 A questão da pessoa com deficiência

Ao campo dos Estudos Culturais interessa a problematização de representações

naturalizadas, estereótipos e preconceitos decorrentes do posicionamento desigual dos sujeitos

(WORTMANN, 2015). Trazemos, então, para as nossas reflexões, o tratamento dispensado às

pessoas com deficiência que muitas vezes, ainda se situa no campo da exclusão e do estigma

social (GOFFMAN, 1988). Para o autor, o conceito de estigma se dá sempre em uma

perspectiva dos contextos por onde circulam as pessoas com deficiência, seja na escola, no

lazer, no trabalho e, por vezes, nas próprias famílias e envolve também preconceitos,

estereótipos, exclusão e outros comportamentos discriminatórios.

A partir da década de 80 do século XX, os processos de inclusão foram deflagrados

mundialmente e trouxeram mais visibilidade à questão das dificuldades enfrentadas pelas

pessoas com deficiência. Através de muitas lutas e reivindicações no mundo todo, este coletivo

ganhou representatividade, conseguindo aprovação de vasta e consistente legislação protetiva

que passa por todos os tipos de deficiência e ampara também as pessoas idosas.

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No Brasil, o último Censo (INSITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E

ESTATÍSTICA, 2010) mostrou que 23,9% da população total, têm algum tipo de deficiência –

visual, auditiva, motora e mental ou intelectual.

A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com

Deficiência) - Lei nº 13.146/2015 é enfática ao estabelecer em seu Art. 8º que

É dever do Estado, da sociedade e da família assegurar à pessoa com deficiência, com

prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à

paternidade e à maternidade, à alimentação, à habitação, à educação, à

profissionalização, ao trabalho, à previdência social, à habilitação e à reabilitação, ao

transporte, à acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à informação,

à comunicação, aos avanços científicos e tecnológicos, à dignidade, ao respeito, à

liberdade, à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 2015, documento

eletrônico).

No Brasil, apesar do apoio recente da legislação, muito ainda tem que ser conquistado

na prática para que a deficiência deixe de ser motivo de exclusão e estigma social e as pessoas

sejam incluídas em todos os contextos aos quais têm direitos como cidadãos.

7 Metodologia

Este estudo pretendeu investigar quais as narrativas subjacentes aos adesivos “família

feliz” presentes em automóveis utilizados pelas famílias em seus deslocamentos.

A metodologia de cunho qualitativo do tipo pesquisa documental utilizou o processo de

análise textual qualitativa (MORAES, 2003), sendo o levantamento dos dados realizado na

cidade de Porto Alegre através de pesquisa de campo efetuado em duas etapas: a) fotografias

de 30 adesivos do tipo “família feliz” em automóveis circulantes em Porto Alegre entre os

meses de outubro de 2016 a abril de 2017; b) entrevistas semiestruturadas com dois donos de

lojas que vendem adesivos deste modelo. A observação (leitura visual) do material coletado

propiciou a observação das temáticas que nos levaram às categorias emergentes, segundo

Moraes (2003). Essas categorias são as seguintes:

a) agrupamento familiar

b) presença de pets

c) equipamento esportivo e formas de lazer

8 Análises e discussão

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Os resultados mostram a diversidade de variadas composições familiares, expressas nos

adesivos observados, sendo a parentalidade ampliada também para casais homoafetivos e avós.

No entanto, há situações em que está registrada a presença de apenas um provedor com

filho(a/s) e/ou pets.

A “família feliz” típica (GRASSI, 2013) é constituída por um casal e seus filho(s) e

bichinhos de estimação (figura 1, 2), mostrando que a afetividade estende-se a outras espécies,

constituindo o que Pastori e Matos, (2015) denominaram de famílias multiespecíficas. A

presença dos pets, sempre ao lado dos humanos, demonstra que esses são vistos como filhos,

como se pode observar na figura 2.

Figura 1 – Homoafetividade, Pets e “Família Feliz”.

Fonte: Arquivo das autoras.

Figura 2 – Pets, Avós e “Família Feliz”.

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Fonte: Arquivo das autoras.

As atividades de lazer da “família feliz” são demonstradas através dos adesivos que

trazem pranchas de surf e corrida como atividades realizadas em conjunto pelos membros da

família, como nas figuras 3 e 4.

Figura 3 – Pranchas de Surf e “Família Feliz”.

Fonte: Arquivo das autoras.

Figura 4 – Corrida como Atividade da “Família Feliz”.

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Fonte: Arquivo das autoras.

Entre os 30 adesivos coletados, não foi encontrado nenhum adesivo retratando pessoa

com deficiência fazendo parte da “família feliz”. Ficam, no entanto, estes questionamentos em

aberto: por quê os adesivos automotivos não trazem representações de pessoas com deficiência?

Será que as “famílias felizes” de nossos dias ainda sentem necessidade de esconder seus

parentes com deficiência? Ou os mesmos constituem condição impeditiva para a “felicidade”?

Quanto de preconceito e estigma isto denota?

No entanto, durante nossas coletas de fotografias de adesivos, percebemos alguns táxis

de modelos diferenciados (como na figura 5), apresentando adesivagem indicativa de recursos

de acessibilidade e entramos em contato com uma taxista no ponto do Bourbon Country. A

frota de táxis acessíveis da capital, registra atualmente, segundo dados da Prefeitura Municipal

de Porto Alegre1, 71 veículos credenciados, modelos de carros com altura adequada para

acomodação de cadeiras de rodas necessárias para o deslocamento de passageiros com

mobilidade reduzida. Estes automóveis adaptados são identificados com adesivos padronizados

de acordo com as normas internacionais.

1Disponível em: <http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smacis/default.php?p_noticia=190800&PRIMEIRO+TAXI

+ACESSIVEL+JA+CIRCULA+EM+PORTO+ALEGRE>. Acesso em: 23 mar. 2017.

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Figura 5 – Táxis Acessíveis.

Fonte: Arquivo das autoras.

O símbolo da cadeira de rodas (como na figura 6), conhecido como Símbolo

Internacional de Acesso remonta ao ano de 1969, quando foi adotado pela Rehabilitation

International (RI)2. Pode-se inferir que este serviço oferecido pelos táxis do município de Porto

Alegre veio oferecer um diferencial importante, que não foi pensado pelos dois aplicativos de

transporte de passageiro que recentemente aportaram na capital gaúcha.

Figura 6 – Símbolo Internacional de Acessibilidade.

2 Disponível em: <http://www.riglobal.org/about/>. Acesso em: 23 mar. 2017.

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Fonte: <http://www.acessibilidadenapratica.com.br/textos/simbolo-internacional-de-acesso-sia/>.

Por outro lado, destaca-se a maior prudência com relação ao uso dos adesivos nos

automóveis, atribuída a uma certa desvalorização da vida humana provocada pelo aumento da

violência urbana (APPADURAI, 2009), traduzindo-se em um crescente medo e sensação de

insegurança. Como consequência, há mais receio em expor rotinas, costumes e realizações da

unidade família e de seus membros através dos adesivos automotivos.

9 Considerações finais

Através da coleta de fotografias de trinta adesivos colados em automóveis, realizadas

na cidade de Porto Alegre e de entrevistas semiestruturadas com dois sujeitos, a metodologia

de cunho qualitativo do tipo pesquisa documental confirmou a publicização do privado,

característica da sociedade do espetáculo (DEBORDE, 2003) e uma certa confusão entre o

público e o privado (BIROLI, 2014). As narrativas familiares evidenciadas pelos adesivos

automotivos, alvos desta investigação, expressam a falta de privacidade e a exposição dos

grupos ou tribos - neste caso as famílias - característica da comunicação instantânea e

superficial deste nosso século, pois o espetáculo, como aponta Deborde (2003, p. 9) “[...] não

é apenas um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediatizada por

imagens.”. E, neste sentido, a externalização do sentido de “felicidade” e de “normalidade”

confirmam a condição de pertencimento almejada por todos, independentemente de instrução

ou poder aquisitivo (GRASSI, 2013).

Como crítica a esse estado de felicidade estereotipada percebe-se que as narrativas

hegemônicas aparecem veiculadas na mídia, assim como nos adesivos da “Família Feliz”, de

forma a representar a família em um padrão específico, tradicional e estático (OLDONI;

SOARES, 2013). A exibição de modos de ser: demonstrar felicidade, alegria, praticar esportes;

de ter: animais de estimação, equipamentos esportivos (prancha de surf, bola e uniforme do

time, bicicleta) confirma o espetáculo como “[...] a conservação da inconsciência na

modificação prática das condições de existência.” (DEBORDE, 2003, p. 17).

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Como limitações deste trabalho, apontamos as entrevistas realizadas com apenas dois

sujeitos donos de lojas que vendem este tipo de adesivo automotivo (família feliz), pois muitas

vezes a comercialização dos mesmos é feita via internet.

Referências

APPADURAI, A. O Medo ao Pequeno Número: ensaio sobre a geografia da raiva. São Paulo:

Iluminuras, 2009.

BAUMAN, Z. Amor Líquido – Sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge

Zahar, 2004.

______. Identidade: Entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

______. Medo Líquido. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008

BITTENCOURT, R. N. A Fragilidade das Relações Humanas na Pós-Modernidade. Revista

Espaço Acadêmico, v. 9, v. 100, p. 62-69, 2009. Disponível em: <http://eduem.uem.br/ojs/

index.php/EspacoAcademico/article/view/7606/4568>. Acesso em: 16 maio 2017.

BOWLBY, J. A Secure Base: Parent-child attachment and healthy human development.

London: Basic Books, 1988.

BRASIL. Lei Nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa

com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília: Presidência da República,

2015 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13

146.htm>. Acesso em: 2 fev. 2017.

BIROLLI, F. Família: novos conceitos. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2014.

Disponível em: <http://www.fpabramo.org.br/forum2013/wp-content/uploads/2014/08/

colecaooquesaber-05-com-capa.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2016.

CORREIA, F.; MOTA, C. P. Ambiente Familiar e Qualidade da Vinculação Amorosa: papel

mediador da individuação em jovens adultos. Análise Psicológica, v. 34, n. 1, p. 15-29, 2016.

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