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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ- REITORIA DE PESQUISA E PÓS- GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” ÉTICA NA EDUCAÇÃO AUTORA: ILMA GONÇALVES PEREIRA ORIENTADOR: ANTONIO FERNANDO VIEIRA NEY Rio de Janeiro Agosto / 2002

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

ÉTICA NA EDUCAÇÃO

AUTORA: ILMA GONÇALVES PEREIRA

ORIENTADOR: ANTONIO FERNANDO VIEIRA NEY

Rio de Janeiro

Agosto / 2002

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

ÉTICA NA EDUCAÇÃO

AUTORA: ILMA GONÇALVES PEREIRA

Monografia apresentada à pró-Reitoria de Pesquisa e Pós Graduação do Curso de Docência do Ensino Superior da Universidade Cândido Mendes para obtenção do grau de Especialista.

Rio de Janeiro

Agosto / 2002

3

4

Dedicamos este trabalho aos nossos familiares, principalmente aos amigos professores, que se tornaram nosso pilar de apoio e aprendizado “nesta curta jornada”.

5

Agradecimento

Ao prof. Antônio Fernando Vieira Ney pela dedicação ao ensino. Ao meu amigo Márcio Freitas Ribeiro pela cooperação da pesquisa.

6

Enfrentamos, a meu ver, situação inteiramente nova em matéria de educação, cujo objetivo, se quisermos sobreviver, é o de facilitar a mudança e a aprendizagem.

Carl R. Rogers (1973)

7

SUMÁRIO

RESUMO

Introdução

CAPÍTULO I - MORAL E ÉTICA ATRAVÉS DOS TEMPOS............................................ 10

1.1 O que é moral e ética..................................................................................................... 10

1.2 Problema Social ou Religioso....................................................................................... 13

1.3 A importância da Educação Familiar no Desenvolvimento Moral e Ético .................. 15

1.4 Professores, A Necessidade de Conscientização de Debater Ética e Moral ................. 20

1.5 Implantar – Ética e Moral, Nos Currículos Escolares do Ensino Fundamental............ 23

CONCLUSÃO......................................................................................................................... 30

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 37

8

INTRODUÇÃO

A educação moral não se faz simplesmente pela aprendizagem intelectual das

normas éticas, mas pela aquisição dos habitus1 que elevam à formação do senso moral.

Diante da ausência de um sistema de valores éticos de validade reconhecida e capaz de

servir de fundamento à ação pedagógica da escola no campo da formação moral e,

considerados os obstáculos que a ela se opõem, explica-se a dificuldade em responder

satisfatoriamente à indagação: a educação ética e moral é possível?

A ética pedagógica é a necessidade de princípios e valores fundantes2 ao processo

de legitimação da autoridade do professor.

O professor tem uma obrigação moral inerente à sua prática pedagógica, e esta

obrigação sustenta-se numa livre escolha. Optar por essa profissão implica assumir um

dever moral. E, para cumprir com esse dever, é necessário um procedimento, uma conduta

ascética3, estar “tendido para “ a interação do aluno. Significa dizer que, mesmo mantendo-

se no seu lugar social, o professor fala a um outro que assim como ele é cognoscente4, mas

também sensível, que, além de sujeito epistêmico5, é sujeito moral.

A escola deve estruturar-se de modo a que cada aluno seja valorizado em sua

individualidade, e jamais reduzido ao denominador comum de um tipo de aluno. A

recomendação é que a escola ofereça oportunidades reais para que se crie em seu interior

um processo educacional mais sensível às singularidades dos comportamentos dos

estudantes, pois assim nela poderão desabrochar as virtualidades de cada aluno.

1 Fazer adquirir o hábito de: Pessoa que vive em prática de devoção 2 Hegemonia Universal - Valores Legitimadores dos valores 3 Que tem aptidão para conhecer ou aprender 4 Que tem a faculdade de conhecer 5 Adquire conhecimentos aplicados pelas ciências

9

Sendo assim, uma das funções da escola, senão a mais importante é possibilitar aos

alunos a descoberta das suas potencialidades, para que utilizem melhores suas aptidões.

Ética na Educação: uma preocupação de resgatar valores morais requer saber o que

envolve os termos ética, educação e moral.

No mundo da educação, quem propuser uma educação moral corre o risco de ser

visto não somente como saudosista de um período ainda recente de nossa história, como

favorável a uma imposição implacável de valores e condutas, privando o aluno da

liberdade de escolha. Agora, falar em formação ética carece garantir uma imunidade

pedagógica contra toda e qualquer tentação de autoritarismo6 (falar de moral).

Se, temos duas palavras, moral e ética, é porque as herdamos de dois idiomas

antigos que, cada qual com o seu termo (mores7 em latim e ethos8 em grego), referiam-se

às normatizações das condutas humanas, situando-as seja do lado do bem, do desejável, do

obrigatório ou do permitido, seja do lado do mal, do indesejável, do proibido ou do

desaconselhável, ou seja, na sua raiz etimológica, os conceitos de moral e de ética são

sinônimos.

Na relação pedagógica, o educador dá de si mesmo, de seu ser, da sua existência. O

termo ética pode ainda ser compreendido em duas significações: como realidade moral,

envolvendo aspectos objetivos e subjetivos; como filosofia moral.

No primeiro aspecto deduz que as relações entre educação e a moral não são

acidentais e sim necessárias, porque a educação é fator de moralidade, contribuindo para a

atualização e desenvolvimento de valores éticos, particularmente por meio da educação

moral.

No segundo aspecto, é da filosofia moral que a educação recebe os princípios e os

critérios para a determinação dos fins e dos meios da ação educativa.

Embora necessárias, as relações entre ética e educação são múltiplas e complexas,

seja pela natureza de ambos, seja porque vivemos um período crítico no qual os valores

morais estão muito conturbados. E é justamente em situação de crise que a educação moral

se faz indispensável, embora sejam maiores as dificuldades para praticá-la.

Portanto, o problema objeto do estudo é:

6 Caráter ou sistema autoritário (Despotismo) 7 Costumes considerados, pelos membros do grupo social, absolutamente essenciais, invioláveis, indiscutíveis, de caráter sagrado. 8 Costumes, hábitos

10

“Até que ponto a introdução da ética e da moral nos currículos escolares pode

resgatar valores morais da sociedade?”

Diagnosticar, se ética e moral na educação pode resgatar os valores morais da

sociedade.

Verificar a possibilidade da introdução da ética e da moral nos currículos escolares do

ensino fundamental.

Perceber a importância dos limites familiares, na formação moral.

Distinguir a importância da educação familiar no desenvolvimento escolar.

Verificar se a presença dos familiares, participando na escola, facilita a educação ética e

moral.

Verificar se os professores estão conscientes da necessidade de debater com os alunos e a

comunidade sobre ética e moral.

Pode-se observar no PCN, a inclusão de ética e moral nos currículos do ensino

fundamental?

Até que ponto as atividades das crianças e dos jovens frente aos problemas sociais, são

tratados na família?

Pode-se observar a educação familiar refletindo no desenvolvimento escolar?

A presença dos familiares e da comunidade na escola, facilita a educação ética e moral?

Observa-se o envolvimento do professor nos debates, em geral, sobre ética e moral?

ÉTICA - É a ciência normativa que serve de base à filosofia prática e o conjunto de

princípios morais que se devem observar no exercício de uma profissão.

MORAL - Parte da filosofia que trata dos atos humanos, dos bons costumes e dos deveres

em sociedade, perante os de sua classe.

CURRÍCULOS ESCOLARES - Conjunto das matérias de um curso escolar.

VALORES MORAIS - Designativo dos preceitos gerais de moral que devem ser

observados por todos os membros da sociedade.

11

CAPÍTULO I - MORAL E ÉTICA ATRAVÉS DOS TEMPOS

1.1 - O que é moral e ética?

A moral tem sido definida muitas vezes como um sinônimo de ética ou é um termo

usado para designar códigos, condutas e costumes de indivíduos ou de grupos. Como

estudo psicológico, a moral é explicada por nossos juízos éticos, indicando aprovação ou

desaprovação a nossos atos. Está também relacionada com a história presente e passada.

Ser moral é reconhecer o bem por aquilo que ele é e praticar a virtude enquanto totalidade.

A ética distingue-se da moral porque é uma filosofia à qual interessa

particularmente o estabelecimento e a recomendação de quais tipos de ações ou maneiras

de viver devem ser seguidas para considerar as ações como corretas, boas ou virtuosas, em

confronto com aquelas que se consideram como incorretas, más ou viciosas.

A ética tem um interesse voltado mais para a ação do que para a aprovação de

nossos atos; constitui-se mais em direção e explicação desses mesmos atos. Seu propósito

principal é estabelecer um ideal, uma norma de conduta ou de caráter, ou seja, um critério

ético.

As instituições tradicionais, inerentes ao mito e a religião, comportam imperativos

explícitos ou implícitos, mas conhecidos pelo homem que elas têm a finalidade de formar.

Tais imperativos ou regras, um dia, não são mais considerados suficientes ou a evolução

histórica e lógica induz a consciência humana a refletir sobre o que é sagrado ou sobre

aquilo que já não o é mais.

Todo indivíduo tem uma configuração física e social que depende das diversas

sociedades no tempo e no espaço. Trata-se de preceitos sociais originados das instituições.

A indagação sobre o problema da ética teve sua expressão em Sócrates através de

suas teses sumariamente resumidas em quatro pontos:

1. A virtude pode ser ensinada pela Ciência (conhecimento).

2. Para fazer o bem e ser feliz, basta conhecer a própria natureza.

12

3. A sabedoria é a primeira das ciências, necessária a todas as coisas.

4. A ciência do homem sendo una9, compreende tanto o que diz respeito à conduta

individual quanto as que se referem aos negócios públicos. MARIETTI (1989, p.

32)

O importante em Sócrates é o fato de distinguir julgamentos de método e não

proposições dogmáticas. Era por meio da reflexão que ele transmitia as mais tradicionais

máximas morais, sem que as substituísse por uma fórmula dogmática qualquer.

Filosoficamente, a ética é a teoria que leva à prática, já que o conhecimento é um

saber como viver.

De qualquer modo, a moral relaciona-se com a teoria do valor, isto é, a teoria do

que se deve fazer para alcançar o bem, enquanto a ética relaciona-se com a teoria do que se

deve fazer.

Na teoria do valor, a questão fundamental é saber se o bem pode ser definido e de

como fazer para alcançá- lo, além de procurar saber se ele é objetivo ou subjetivo, absoluto

ou relativo.

Os intuicionistas10 ou naturalistas11 acham que a bondade é uma propriedade

intrínseca, indefinível e, por isso, objetiva ou absoluta.

Os moralistas metafísicos12 sustentam que o bem pode definir-se em termos

psicológicos ou metafísicos e interpretam, como regra geral, que se determina coisa é boa é

porque um sujeito ou grupo de sujeitos tenha tomado uma certa atitude a respeito.

Para outros filósofos, o valor é objetivo ou absoluto no sentido de que se encontra

em um mesmo lugar para todos. Aristóteles, por exemplo, definia o bem como aquilo a que

todas as coisas tendem.

A ubiqüidade13 do termo valor, para outros, varia de indivíduo para indivíduo e de

grupo para grupo, isto é, que coisas diferentes podem ser bem para indivíduos ou grupos

distintos.

Outro aspecto do problema é saber que coisas são boas, qual é o bem, o que é o

supremo bem, e assim por diante. A pergunta oscila entre aqueles que dizem que o bem

consiste no prazer, na satisfação ou em algum estado sentimental e aqueles outros que

9 Único / sem divisões - Ciência como parte de um todo 10 Pessoas partidárias do Intuicionismo - a intuição guia suas normas e padrões de vida 11 A natureza tudo prove, baseados na natureza. 12 Indivíduo incompreensível pela nebulosidade de suas teorias. 13 Caráter do ser presente em todas as partes

13

acham que o bem é uma virtude, um estado da vontade, do conhecimento ou um estado

intelectual.

LINS (1964, p. 142) cita que; Jean-Jacques Rousseau dizia ser “a piedade a única

virtude natural e que desta qualidade derivam-se todas as virtudes sociais”. Pode-se inferir,

então, que a piedade funciona como lei social.

A educação moral suscita sempre muitas controvérsias. Sob o ponto de vista de

alguns educadores, o currículo em si e a própria atividade escolar trazem subjacente à

educação moral.

Aqueles de convicções mais rígidas são de opinião que a educação moral não pode

ser ministrada na escola porque a moral é a vontade de Deus, ao qual se deve obediência

estrita.

Os primeiros, isto é, os que defendem a moral como subjacente no próprio currículo

a vêem em termos humanísticos mais amplos. A secularização do ensino14 e a educação

humanística15 são a expressão das duas correntes.

A secularização do ensino que, de forma geral, abandonou a educação religiosa,

teve como conseqüência a idéia de que não haveria necessidade dessa modalidade de

ensino desde que as crianças devidamente socializadas, pudessem corresponder às

exigências do mundo.

Mas mesmo alguns partidários da escola laica16 sustentam que a educação sem o

apoio da religião torna-se incerta e precária. Para sanar essa dificuldade, são eles de

opinião que a educação moral, em lugar de voltar-se para o sobrenatural, deveria estar

voltada para a lei natural. No caso, a lei litúrgica17 e a ritualística18 seria substituída pelo

método científico.

Não endossando nem uma nem outra corrente, o fato é que mesmo num regime

democrático necessita-se de uma moral secular para que o homem possa dirigir seu próprio

destino, sem que os valores espirituais sejam desprezados. Além de ensinar a respeitá- los, a

escola laica julga de sua obrigação ensinar a lealdade, a respeitar a liberdade acadêmica e a

liberdade civil, como formas similares de valores que se acham presentes na democracia.

14 Passagem do ensino religioso ao estado Laico 15 Conjunto de teorias e documentos atinentes às humanidades 16 Ensino por oposição ao eclesiástico - Leiga da Religião 17 Ciência que trata das cerimônias, conhecimentos e ritos eclesiásticos 18 Observância dos usos e costumes, pela pragmática, pelo cerimonial

14

1.2 - Problema social ou religioso?

Da mesma forma como a democracia é direcionada para a dignidade e igualdade do

homem, independentemente de raça, sexo, origem cultural e para a livre escolha dos

governantes, todos têm direito aos valores espirituais.

Partindo ainda do princípio de que a escola tem por objetivo a integração e a

unidade social, os partidários da escola laica concluem que sua missão de educação moral

está incluída implicitamente.

A educação humanística como tal tem o homem como centro de reflexão e por base

o respeito à autonomia moral da pessoa humana, atribuindo à comunidade o papel e a

função da elaboração teórica e da ordem moral e sua definição prática.

Segundo NISKIER (1989, p.57), dentro das chamadas correntes humanísticas, a

cristã tanto quanto a marxista tem fé no poder da organização e manifesta uma

desconfiança sistemática em relação à liberdade pessoal. É a prevalência do princípio da

autoridade sobre o da liberdade individual.

NISKIER (1992, p.203) afirma que as correntes libertária e existencialista partem

do princípio de que a maioria da humanidade vive em situação de opressão e de alienação

moral. Sob esse ponto de vista, essas correntes apontam a experiência comunitária como

fonte de autêntica renovação moral, tanto em nível de sistema (normas) quanto no sentido

pessoal de desempenho moral.

A tendência dos adeptos da educação humanística religiosa é achar possível

promover a aproximação de Deus através da experiência humana. Essa aproximação seria

feita por meio da ciência e das relações sociais.

Acham ainda que, tendo a comunidade o maior respeito pela personalidade

humana, uma comunidade cristã chegará a seus propósitos se agir em termos de

democracia moderna mais do que através do ensino da religião, em termos estritos. A

educação em si mesma, mais do que a evangelização ou a catequização, faria com que o

amor a Deus e o respeito pelo outro fossem mais bem apreendidos pela iniciativa humana

do que divina.

Tal forma de considerar a natureza humana relaciona-se com a teoria pedagógica de

atividade do aluno, ou seja, ensinar a religião e aprender a religião são experiências

criativas e todas elas levariam a Deus. Concluem então que a educação religiosa consiste

na educação em seu sentido mais amplo.

15

Os teólogos da educação admitem que a educação humanística religiosa se situa um

pouco acima da concepção laica, mas – ao mesmo tempo – está impregnada da idéia do

secularismo.

A teologia da educação baseia-se na idéia de algo sobrenatural, partindo não do

princípio da autonomia do homem, mas do pensamento divino sobre ele, isto é, que o

homem deveria crescer de acordo com as leis de sua própria existência.

No entanto, pode-se perguntar: quais as leis que regem a existência? E a natureza

humana pode ser determinada pelo que o homem possa saber de si mesmo?

A teologia da educação vê a necessidade de suplementar a razão natural com a

revelação divina. Tal ponto de vista, porém, incorre na possibilidade de tornar o professor

dogmático19 e autoritário.

Por sua vez, os adeptos da educação humanística religiosa contrapõem que conduzir

a educação dessa forma seria atribuir- lhe um caráter unívoco, contrariando os princípios da

educação democrática.

Para LARROYO (1974, p.73), São Tomás de Aquino indicava a possibilidade de

ser dado o ensino da Moral independentemente do argumento teológico, ao pedir que os

professores de filosofia jamais provassem verdades filosóficas recorrendo as palavras de

Deus, porque filosofia não é baseada em revelação, mas na razão. Assinalava ainda que a

fé e a razão têm como ponto comum Deus, criador da razão e da revelação. Por isso, as

duas ciências se harmonizam.

Os principais problemas filosóficos da educação podem ser encontrados na moral e

na educação do caráter. Nenhum planejamento sobre a educação moral e do caráter pode

ignorar que deve existir uma teoria de base a respeito do assunto.

A dificuldade, entretanto, reside em como educar para a moral sem incluí- la em um

contexto religioso, ainda mais sabendo-se que a moral tem sua origem em usos e costumes

de uma comunidade. Assim, moral e social seriam a mesma coisa.

Laicistas20 e educadores humanistas têm pontos de vista coincidentes, mas

encontram oposição nos teólogos da educação. Para estes, a moral é uma decorrência dos

costumes e, também, têm sua origem divina, sendo Deus o regulador da lei moral e não o

homem.

19 Que se pretende impor com autoridade, autoritário, sentencioso 20 Acreditam no ensino leigo – sem bases religiosas

16

Os Laicistas insistem em que a moral decorre da pressão do grupo social: classe,

escola, família. Por sua vez, os teólogos da educação acham que a pressão social é boa,

mas não de todo suficiente. Esta corrente não confia numa educação moral sem o

envolvimento de um comando divino. Pode-se objetar que o conhecimento do catecismo

ou dos mandamentos não garantem com certeza uma conduta moral.

1.3 - A importância da educação familiar, no desenvolvimento moral e ético

Outra dificuldade presente é determinar qual o conteúdo do currículo numa

educação moral e de caráter. Alguns ensinam moral porque esta conduz à ação, enquanto

deixam a ética de lado porque a seu ver, esta enfatiza somente o conhecimento.

O fato é que a educação moral dissociada da interdisciplinaridade21 ensina virtudes

abstratas e não sua prática. A inclusão de virtudes abstratas no currículo não significa

necessariamente que o aluno vá se tornar virtuoso.

A questão moral centraliza-se em assumir uma identidade ou criar um identidade

própria. Todo sistema moral e uma construção humana e, por isso, deve girar em torno do

homem.

Existem, sistemas morais que vão de um extremo cultural a outro, mudando apenas

de forma e de conteúdo. A moral não é imutável nem definitiva e qualquer sistema moral

depende em grande parte do apoio social (político, ideológico, religioso e familiar),

representado pelas instituições interessadas em mantê- lo. O juízo moral depende assim do

que se entende por moral e ética.

Enquanto a moral é a ciência dos costumes, como já vimos, a ética é o aspecto sob

o qual esses costumes são encarados. Em outras palavras, a ética é a teoria e a

sistematização do conteúdo das palavras nos quais se baseia a conduta de um povo ou de

um grupo social.

Sendo o sistema moral uma construção humana, a natureza do homem é o centro e

o eixo de toda a problemática moral. Assim, um sistema moral teórico e a definição de um

projeto moral pessoal encerram problemas fundamentais quanto a seu ponto de partida. Por

exemplo, o moralista considera a moral como uma manifestação codificada de Deus; o

21 Comum a diversas disciplinas

17

humanista vê apenas a pessoa humana; o fisicista22, apenas a natureza e a chamada ordem

natural; o racionalista23, por sua vez, identifica a ordem moral de acordo com os ditames da

razão. Para o idealista, a moral é o reflexo de uma ordem ideal sem relação histórica com a

realidade da vida humana. O existencialista, vê apenas a ideologia como seu ponto de

partida, cabendo à “esquerda” a tarefa de elaborar uma moral autêntica, capaz de motivar a

humanidade para as tarefas históricas que a aguardam.

Qualquer que seja o sistema, entretanto, é imprescindível que a legitimidade de um

sistema ético se expresse pelos efeitos que produz ou ajuda a produzir. Essa legitimidade

não é adquirida por via autoritária, porque a legitimidade moral e a jurídica não são a

mesma coisa. A ordem moral é que confere ao campo jurídico uma legitimidade própria.

A obrigação legal pode ser imposta (a ninguém é dado desconhecer a lei), mas a

questão moral transcende porque se trata de algo pessoal, baseado na consciência de cada

um. Apesar de certo modo convergentes, a obrigação legal desconhece os aspectos

subjetivos, enquanto a moral atenta para sua qualidade subjetiva. Da ordem legal surge o

dever, da ordem moral surge a virtude.

O papel da moral é indicar e orientar a partir da liberdade responsável, não a

originada pela legalidade ou pela permissividade. Portanto, o melhor sistema moral não

seria o resultado do maior apoio externo, mas aquele decorrente das relações interpessoais,

pelo senso de solidariedade e pela responsabilidade coletiva. Seria partir de uma

consciência coletiva para uma hiperconsciência.

Quanto mais baixo o nível moral mais necessárias se tornam as leis e o exercício da

autoridade e tanto mais esta é reforçada mais se dificulta a evolução moral sadia.

A disciplina moral é indispensável para o desenvolvimento da personalidade

humana. São dois os elementos importantes na disciplina moral:

1º. A possibilidade de opção;

2º. A capacidade de auto-regulação.

Por possibilidade de opção entende-se um saber intuitivo a respeito de tudo de que

o indivíduo necessita para seu pleno desenvolvimento; seria o senso moral.

Já a capacidade de auto-regulação é uma atividade de autonomia, isto é, o indivíduo

é legislador de si próprio, mas enfrenta a responsabilidade por suas ações.

22 Aplica a doutrina que pretende todos os fenômenos biológicos sejam fundamentalmente redutíveis a fenômenos fisico-químicos; mecanicismo 23 Que segue as idéias, na qual a razão é considerada fonte de conhecimento independente da experiência

18

Trata-se além do mais de uma realização comunitária, como se entre a comunidade

e o indivíduo houvesse uma interação dialética24.

As medidas de controle externo não levam ao aprimoramento da responsabilidade

moral e daí a responsabilidade social fica reduzida ao medo. A incapacidade de ser

responsável significa a incapacidade para ser livre e quando a responsabilidade foge da

pessoa para a estrutura anônima, a liberdade está em perigo.

Sendo os atos humanos em seu sentido específico o objeto da moral, qualquer ação

humana é ipso facto (por isso mesmo) moral. Não há ação humana neutra ou indiferente:

ou é boa ou é má.

Aristóteles via o objetivo da vida humana como uma atitude racional para com as

sensações e os desejos. Para ele, a vida justa é aquela em que o homem concretiza a parte

suprema de sua natureza, a razão. Além do mais, o homem não é forçado a agir (com

nobreza, justiça, honestidade) de acordo com as virtudes porque sua própria natureza o

impele para as boas ações e não por imposição de qualquer autoridade fora dela. A virtude

é o maior bem do homem, mas na opinião de Aristóteles, ela é uma disposição ou hábito: o

homem torna-se moral executando atos morais.

O Iluminismo25, declarava que existiam em todos os critérios, os do bem e do mal,

que a razão natural prescindia da religião revelada e que um mundo moral e uma sociedade

justa seriam possíveis sem os suportes dos ensinamentos da religião.

No plano empírico, acreditava o Iluminismo que o homem se relaciona com o

mundo exterior através das sensações. A moral seria fundada então na sensação do prazer e

do desprazer e o interesse do homem estaria justamente em evitar o desprazer.

Kant julgava que a moral não tinha fundamento nas paixões ou sensações, mas sim

na própria razão.

No que se refere ao individualismo, as relações do indivíduo, com a “polis”26 foram

substituídas pelas noções de felicidade individual e pela auto-realização.

O universalismo, assegurava que os homens são todos iguais, com as mesmas

disposições racionais, movidos por motivos e interesses idênticos e com os mesmos

valores.

24 Argumentação dialogada, segundo a filosofia antiga 25 Movimento filosófico, a partir do séc. XVIII, em oposição ao obscurantismo da Idade Média, baseando-se na concepção mecanicista da vida natural e humana 26 Onde o conhecimento era conquistado por um ato de liberdade intelectual. O modelo individual era não o sábio, mas aquele que aspirava à sabedoria, o filósofo (Grécia clássica)

19

No mundo atual, esses princípios sofreram modificações. Como diz Sérgio Paulo

Rouanet, não mais existe fé para que a escolha moral seja baseada na razão, na

individualidade e na crença em verdades universais. Não há mais consciência moral no

indivíduo, mas em normas, usos e instituições que resolvem os dilemas morais de cada um.

No entanto, diz ele:

“Tenho a impressão de que possamos reter os elementos positivos da filosofia ética da ilustração como a idéia da existência de um fundamento racional, secular para a moralidade; reter o direito à autovalorização individual e à autofelicidade, como também a idéia, que não deve desaparecer nunca, de que o indivíduo tem direito de julgar a sua comunidade, em vez de ser um mero objeto de uma engrenagem na vida coletiva. E reter o universalismo de uma maneira menos ingênua, reconhecendo plenamente a existência de diferenças, mas postulando acima das diferenças e, além delas, a necessidade de ajustar todas, nivelando as diferenças, sem que isto signifique o fim das particularidades em que reside a riqueza do ser humano, mas que deve estar no bojo de um projeto, de uma utopia, de uma comunidade argumentativa universal.” NISKIER (1992, P.103,104)

“Educação como ponto de vista individual tem sua origem no verbo

latino educare, que significa fazer sair, conduzir para fora. O verbo latino expressa nesse caso, a idéia de estimulação e liberação de forças latentes”. HAYDT (1998, p.11,12)

Os dois termos para educação estão ligados ao aspecto formativo.

Já definido o que vem a ser ética, moral e educação, precisamos saber a integração

que existe entre esses termos.

Concordamos com KONDER (1990, P.19,20), quando diz, desde o passado que já

se fala em ética, moral e educação. A ética é a teoria, os conceitos, as teses, os ideais do ser

humano. A moral é a prática, a vivência do ser humano. Ética e moral é um somatório onde

se tem a virtuosidade, virtuosidade essa que Aristóteles defende.

Aristóteles foi o verdadeiro fundador da ética como disciplina independente da

metafísica. Questionou veementemente a idéia platônica27 de bem, considerando-a vazia

por sua generalidade. Preocupou-se com o bem, em termos do que é bom nas ações

humanas.

Para o estagirita28 o fundamento do conhecimento moral do homem está no desejo,

na vontade (oresis). Seu desenvolvimento se dá mediante uma atitude, uma disposição

estável (hexis), que os escolásticos vieram a traduzir por habitus.

27 Alheio a interesses ou gozos materiais 28 Pessoa natural de Estagira (Macedônia antiga – cidade de Aristóteles)

20

Assim o próprio nome ética indica que Aristóteles baseia a virtude (arete) na

prática e no ethos.

O que mais se destaca na reflexão aristotélica é um conjunto de conceitos bem

precisos acerca da finalidade da ação humana, da felicidade, da virtude, da contemplação,

da arte, da moral e de suas relações com a práxis29 e política. Suas idéias, foram

amplamente aproveitadas pelos filósofos cristãos posteriores, tendo sido definitivamente

incorporados à filosofia tomista.

Se formos ler o texto de Aristóteles intitulado Ética a Nicômaco, verificaremos que

o filósofo grego coloca na sua ética a virtuosidade. A razão pelo qual inclui tais virtudes é

clara dentro da filosofia aristotélica: uma vez que a ética é definida como uma “arte de

viver”, como uma busca da felicidade, faz sentido incluírem-se nela traços de caráter e

condutas que são necessários ao alcance desta felicidade.

A escola tem como obrigação educar resgatando valores, pois se fala em ética na

política, ética no trabalho, ética profissional, designam certas pessoas como éticas e outras

como não éticas, como não poderia deixar de acontecer, fala-se em ética na educação.

No mundo da educação, quem propuser uma educação moral corre o risco de ser

visto não somente como saudosista de um período ainda recente de nossa história, como

favorável a uma imposição implacável de valores e condutas, privando o aluno da

liberdade de escolha. Agora, falar em formação ética carece garantir uma imunidade

pedagógica contra toda e qualquer tentação de autoritarismo (falar de moral) ou de laxismo

(não falar de ensino de valores).

O que se espera é que o educador faça o educando assumir sua existência segundo

valores que não são imposto mais propostos e que o próprio educando atualiza.

Na relação pedagógica, o educador dá de si mesmo, de seu ser, da sua existência.

No primeiro aspecto deduz que as relações entre educação e a moral não são acidentais e

sim necessárias, porque a educação é fator de moralidade, contribuindo para a atualização

e desenvolvimento de valores éticos, particularmente por meio da educação moral. No

segundo aspecto, é da filosofia moral que a educação recebe os princípios e o critérios para

a determinação dos fins e dos meios da ação educativa.

Embora necessárias, as relações entre ética e educação são múltiplas e complexas,

seja pela natureza de ambos, seja porque vivemos um período crítico no qual os valores

29 O que habitualmente se pratica; uso estabelecido; pragmática

21

morais estão muito conturbados. E é justamente em situação de crise que a educação moral

se faz indispensável, embora sejam maiores as dificuldades para praticá-la.

Nossa sociedade é hedonista30, ou seja, cada qual busca a satisfação de suas

necessidades, tendo como objetivo o bem individual.

Que moral os mestres devem ensinar, se a sociedade está caracterizada por

extremado pluralismo ético ou apatia moral desagregadora da própria noção de valor e de

valor e de obrigações morais?

A educação moral não se faz simplesmente pela aprendizagem intelectual das

normas éticas, mas pela aquisição dos habitus que elevam à formação do senso moral.

Podem ser consideradas como tarefas da educação moral:

Fazer conhecer as normas éticas e saber agir corretamente;

Assegurar que a conduta do educando seja conforme essas normas.

Constata-se uma certa perplexidade na escola moderna quando se trata da educação

moral. Diante da ausência de um sistema de valores éticos de validade reconhecia e capaz

de servir de fundamento à ação pedagógica da escola no campo da formação moral e,

considerados os obstáculos que a ela se opõem, explica-se a dificuldade em responder

satisfatoriamente à indagação: a educação ética e moral é possível?

“Não há educação do homem em geral, mas a educação toda sempre está voltada para a formação de uma Personalidade concreta, um ser individual portador de uma originalidade irredutível. Por isso mesmo, todo processo educativo deveria ter como base o princípio da individualização.” (John Dewey, 1989, p.27) “O processo de desenvolvimento do aluno, enquanto ser capaz de aprender, sim, mas a partir de competências singulares.”(Preocupação constante de Sucupira) (OLIVEIRA, 1996, p.27)

1.4 - Professores – A necessidade de conscientização de debater ética e moral.

“Educação é um conceito amplo que se refere ao processo de desenvolvimento

unilateral de personalidade, envolvendo a formação de qualidades humanas (físicas,

morais, intelectuais, estéticas) tendo em vista a orientação da atividade humana na sua

relação com o meio social, num determinado contexto de relações sociais. A educação

corresponde, pois, a toda modalidade de influências e inter-relações que convergem para

a formação de traços de personalidade social e do caráter, implicando uma concepção de

30 Doutrina ética, ensinada por antigos epicureus, cirenaicos e por modernos utilitaristas, que afirma

22

mundo, ideais, valores, modos de agir, que se traduzem em convicções ideológicas,

morais, políticas, princípios de ação frente a situações reais e desafio da vida prática31”.

O trabalho docente constitui o exercício profissional do professor e este é o seu

primeiro compromisso com a sociedade. Sua responsabilidade é preparar os alunos para se

tomarem cidadãos ativos e participantes na família, no trabalho, nas associações de classe,

na vida cultural e política. É uma atividade fundamentalmente social, porque contribui para

a formação cultural e científica do povo, tarefa indispensável para outras conquistas

democráticas.

A característica mais importante da atividade profissional do professor é a

mediação entre o aluno e sociedade, entre as condições de origem do aluno e sua

destinação social na sociedade, papel que cumpre provendo as condições e os meios que

assegurem o encontro do aluno com as matérias de estudo. Para isso, planeja, desenvolve

suas aulas e avalia o processo de ensino.

O sinal mais indicativo da responsabilidade profissional do professor é seu

permanente empenho na instrução e educação dos seus alunos, dirigindo o ensino e as

atividades de estudo de modo que estes dominem os conhecimentos básicos e as

habilidades, desenvolvam suas forcas, capacidades física e intelectuais, tendo em vista

equipá-los para enfrentar os desafios da prática no trabalho e nas lutas sociais pela

democratização da sociedade.

Como toda profissão, o magistério é um ato político, porque se realiza no contexto

das relações sociais onde se manifestam os interesses das classes sociais. O compromisso

ético-político é uma tomada de posição frente aos interesses sociais em jogo da sociedade.

Isso é relatado no filme clássico “Sociedade dos poetas Mortos”, que nos faz entender a

ética na educação, resgatando os valores éticos e morais de um colégio bem conservador,

em 1959, na Inglaterra, a Welton Academy.

Os quatro princípios básicos dessa escola era a tradição, honra, disciplina e

excelência, quem deixasse de cumprir era expulso.

A intenção era preparar os jovens (adultos) para as melhores universidades, fazendo

isso eles se sentiam realizados com os resultados da fervorosa dedicação aos princípios

ensinados na escola.

Os pais desses jovens queriam que fosse da escola o dever de educar, ensinar, pois

era considerada a melhor escola preparatória da Inglaterra.

31 Educação como meio de se chegar a perfeição do ser ético e moral – nota do autor

23

Devido a repressão que é dada a esses jovens, eles aprontam, deixam de cumprir as

normas impostas, quando não estão diante dos olhos dos diretores e professores da escola,

até mesmo fumando escondido.

Os jovens consideram os quatro princípios da academia, como tramóia, horror,

decadência e excremento.

O pai de um dos jovens não aceita que seu filho seja repleto de tarefas, pois ele

deve se dedicar a medicina, profissão que ele, o pai, e a mãe querem que seu filho siga e

seu pai não aceita ser contestado, não deixando o filho optar, por isso, sendo motivo de

zombaria por seus colegas.

Quanto aos professores, passam muitos exercícios e a famosa “forma de decorar” é

a ferramenta dos alunos; o rigor dos trabalhos e tudo valendo nota (bem tradicional),

exceto o novo professor John Keating (ex-aluno), que tenta fazer com que eles comecem a

pensar e descobrir novos caminhos, sozinhos. Começa por dar sua primeira aula no

corredor, depois pede que arranquem as primeiras folhas do livro. Os professores

tradicionais não entendem e acham que sua aula é mal conduzida.

O novo professor procura fazer com que seus alunos pensem por si próprio, acha

que os cursos são importantes, mas, os sentimentos são mais importantes que tudo.

O significado de “Sociedade dos Poetas Mortos” simboliza os “mestres” a sugar a

essência da vida dos discentes.

Um dos alunos, decide fazer teatro e o pai é contra, mas acaba interpretando, tendo

o papel principal da peça, o pai impede seu filho de continuar fazendo o que deseja e o leva

para casa, não sabendo ele que seu filho acabaria com seu sonho de viver realizado e acaba

se matando.

Esse novo professor acaba sendo mandado embora, pois não segue o currículo

estabelecido, pois para o professor, educar é ensinar a pensar sozinho e a escola prefere

ficar com a tradição32.

A valorização demasiada, fez com algumas escolas e famílias esquecessem de pôr

limites ou regras, tomando o ato da “liberdade33 em libertinagem34”, pois não se podia

dizer não a uma criança por que deveria “causar um trauma”. Hoje, as crianças, tem uma

liberdade, na qual a Escola Tradicional não oferece e os pais as colocam na intenção de

32 Filme: Sociedade dos Poetas Mortos, 1989, EUA, Abril Vídeo, Peter W., Diretor 33 Que é garantida pelas leis constitucionais, sem que o Estado interfira nem na matéria, nem nos métodos. 34 Desregrado nos costumes, dissoluto, licencioso.

24

resgatar os valores éticos e morais, pois na Escola Nova as ações dada para a liberdade não

deram certo. As questões éticas precisam ser avaliadas por todos.

A Escola Tradicional exige demasiadamente e a Escola Nova tem como objetivo a

liberdade. Qual destas estará com a razão?

O uso do celular (professor e aluno), walkman, bonés, o próprio uniforme, lista de

chamada, o cigarro (professor e aluno), bem como outros fatores nos mostram que a ética e

a moral estão deixando de existir.

Qualidade na educação é fingir para o pai que você é rigoroso, fingir para o filho que você dá toda a liberdade e fazer o que tem de ser feito.” (WALDEZ, Luiz Ludwig. Qualidade na educação. O Globo, Rio de Janeiro, 11.out.1998. Educação p.3)

Não há como ser ético em uma área e não ser ético em outra. Ao sermos éticos num

mundo globalizado devemos ter o cuidado de não ultrapassarmos o direito do outro.

Nos últimos anos a escola brasileira tem feito um esforço significativo no sentido

de se aperfeiçoar.

Uma boa definição do ato de pensar a ética e ser ético, é a busco das referências que

conduzem a uma vida melhor.

Formação moral se tornou sinônimo de vida escolar, ainda que, naturalmente, toda

a formação moral estivesse ligada aos princípios de cada religião.

Nas escolas ensinamos o que se precisa para passar nas provas, mas nas sabemos

como falar da amizade, do respeito, não debatemos sobre a maldade, não meditamos sobre

a alegria, o humor e o riso.

1.5 - Implantar – ética e moral – nos currículos escolares do ensino fundamental.

A Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (LDB), no título V, dos Níveis e das

Modalidades de Educação e Ensino, no seu capítulo 1 da composição dos níveis escolares

cita nos seus art. 21 e 32.

Art. 21 – A educação escolar compõe-se de:

I - Educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e

ensino médio;

25

Artigo nº. 32 – Ensino Fundamental – Sobre ensino fundamental, Refiro-me aos

anexos do texto, nos itens nº. II, III e IV, pois traduzem uma nova “concepção formativa”

do aluno.

II - A compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da

tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;

III - desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a

aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e

valores;

IV - fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana

e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social.

A escola se tornou um vazio ético, preenchido de conhecimento por todos os lados.

Não deveria surpreender que a relação entre professores e alunos tenha atingido níveis

críticos de intolerância e desrespeito mútuo. Na vida cotidiana, atravessando a rua,

dirigindo um carro, subindo num ônibus, vendo e convivendo com as misérias da vida, o

desrespeito um ao outro.

A capacidade técnica avançou muito mais do que a humanidade do ser humano.

A escola não ensinará ética, porque ética não se ensina. Ética é coisa que se

descobre e se interioriza através da reflexão e da problematização, por mais tenra seja a

idade, por mais primária que seja a cultura.

A família brasileira perdeu, ou está perdendo rapidamente, as referências que

constróem o caráter moral do indivíduo e do cidadão.

A escola é uma das poucas instituições capazes de atingir a todo o povo. Será

certamente o melhor instrumento que teremos a mão para levar os conceitos morais a

todos.

As religiões que sempre foram o berço da formação moral, estão se tornando

instituições concorrentes, disputam o mercado.

Um Brasil ético nascera do ventre da escola. O problema não está, portanto, em

saber se é importante introduzir na escola a problemática ética; a dificuldade reside apenas

em saber como.

A postura autoritária é contraditória ao espírito essencial da ética, que respeita a

liberdade e a integridade inalienável de cada um. O debate ético aceita a instituição

coletiva da autoridade, mas não tolera o abuso autoritário. A razão, no domínio ético, vem

26

de um único ponto: a razoabilidade, a adequação ao bem comum, a sintonia com o direito

inalienável à felicidade pessoal.

VALLS (1994,p.35) afirma que, ética é polêmica. Que ninguém pode dela

participar sem envolver a si próprio. Ética não é ciência. Suas “verdades” podem sempre se

alterar, conforme o “ângulo do olhar”.

Nossa escola foi preparada para ensinar, os professores foram preparados para

ensinar. O que ela sabe ensinar é que o Brasil foi abordado pelo primeiro lugar que

avistaram, e foi batizado de Monte Pascal. A escola sabe mostrar que a soma dos ângulos

internos de um triângulo é sempre cento e oitenta graus. A escola sabe explicar o

movimento dos projéteis, e consegue compreender quando um cientista sustenta que o

exercício do arremesso de projéteis, talvez, tenha tido origem na inteligência.

Enquanto esses assuntos nos ocupavam, fomos desaprendendo a explorar a alma

humana, a discutir a vida.

Poucos ambientes são tão próprios à introdução dos problemas éticos quanto o

escolar. Inequivocamente, um instituto destinado à construção do ser humano, baseado

numa organização coletiva, mesmo que a contragosto ligado à autonomia do indivíduo,

direcionando para o debate e tematização de problemas, o ambiente da escola é

impregnado, por sua própria natureza, do problema ético.

É verdade que a escola se distanciou, perdeu a capacidade de formular e coletivizar

posições institucionais sobre seus próprios fundamentos éticos, do trabalho de reintroduzir

em cada escola os valores que ela elegerá.

Existe um princípio essencial a essa discussão e todos devem estar fartamente

alertados para ele: ética, hoje, é conflito potencial. Não existe mais, salvo sobre raros

pontos extremos, consenso sobre problemas éticos.

Devemos ter consciência de que perdemos, em parte, o sentido destes registros

simbólicos e precisamos resgatá- los.

No sentido de dar vida à discussão, podemos capturar em programas de televisão

problemas que envolvem a ética do comportamento individual, ou comportamento cidadão,

trazendo-os para a sala de aula. “As novelas” são uma fonte permanente, com a vantagem

de serem acompanhadas por quase todos, tanto crianças quanto professores. As situações e

cenas que envolvem controvérsias seriam retomadas em sala e as posturas, então,

conceituadas. Depois de conceituadas, podem ser avaliadas.

27

“Você decide” foi um conhecido programa interativo produzido pela Rede Globo

mostra como a crise de referências éticas suscita tanto interesse. O programa teve sempre o

mesmo formato: define-se uma situação que sempre envolve decisões alternativas, com

diferentes implicações éticas. As alternativas básicas de desfecho são apresentadas e o

público vota. Para estudantes mais maduros, trata-se de um material que proporciona forte

interesse e suscita discussões de aprofundamento, inclusive na direção de identificar

valores dominantes de nossa cultura.

Uma outra linha de trabalho se encontra em eventos históricos. Os materiais podem

ser extraídos de biografias de grandes personalidades, ou de estratégias de determinadas

nações, focando os aspectos que envolveram decisões importantes. A análise dessas

situações revelará que as decisões tomadas e implementadas nunca eram únicas, nunca

inteiramente evidentes, desprovidas de alternativas e teriam conseqüências distintas.

Educar não é apenas treinar a razão com vistas a aquisição de conhecimento, e

também promover processos que imprimam caráter moral às atitudes.

A escola moderna encontra-se perdida por não encontrar quais valores ela deseja ter

em seus alunos; para que sociedade ela trabalha seu discípulo; que o aspecto da

individualidade é importante. Parece estar, a educação atual, presa ao mito da caverna35,

permitindo que apenas sombras sejam vistas e vozes ouvidas; a luz do sol não é exagerada.

Repensar a ética e começar a enxergar o sol, é permitir que outros o façam. Esse

repensar deve acontecer com urgência. É preciso dar ao discípulo que hoje há condições

para que ele alcance o saber. Para que isso aconteça, o respeito a individualidade e pela

capacidade de reconhecer no próximo ser pensante, se efetive na vida daqueles que se

definem como mestre da educação. E isso requer um comportamento ético.

Levar o aluno a conhecer o seu universo enquanto pessoa particularmente o

universo maior que é a sociedade, deve ser o grande empreendimento do educador. Para

alcançar esse objetivo, deve o educador trabalhar com habilidades do pensamento, o

raciocínio, da investigação, da formação de conceitos, da tradução de códigos. O aflorar

dessas habilidades do educando permitirá a percepção de uma visão mais ampla da

realidade que o cerca.

O educador deve ter como tarefa primeira definir sobre seu papel; o porquê do seu

existir. Defina-se como necessário a um projeto social que vai exigir dele ou desafiar, o

35 Aristóteles (1973,p.279)

28

provocar, o despertar do educando, o interesse pela pesquisa, pelo conhecimento que o

levarão a uma busca de experiência e compromissos na perseguição ao saber.

A atual situação da educação para atender a qualidade educacional está longe. Nós

educadores devemos inovar as atividades escolares.

Pedro Demo diz: “Que a exigência contínua de atualização pelo menos no sentido

de aperceber-se de onde estamos e para onde vamos”. HAYDT (1998,p.52)

A educação que precisamos é uma educação de excelência, aquela que permite a

construção e reconstrução do conhecimento e sua atualização constante; é construir a

atitude de aprender a aprender, é possibilitar ao educando tornar-se crítico, criativo e

participativo, solidário como cidadão, em todo o trabalho que exerça.

Nós educadores não somos possuidores do saber que transmitimos para o aluno e

eles recebem com um ser copiador, mas devemos ser orientadores da aprendizagem, para

que a escola se transforme no essencial do aprender a aprender, do aprender a pensar, a

pesquisar, a indagar, a descobrir e a questionar.

O professor que tem uma visão global do conhecimento, procura manter-se

informado e inovar-se, não deve ser uma pessoa treinada, onde levará a repetição e o

professor de hoje deve se preocupar com a avaliação, não uma avaliação da qualidade de

conhecimento que o aluno adquiriu com o professor, mas do progresso na arte de aprender

a aprender e recriar.

Cientes de como o mundo nos proporciona um destino comum, um destino que

partilhamos para o bem e para o mal, para melhor e para pior, as pessoas poderão desejar

de si e dos outros que nossas ações sejam sempre direcionadas pela intenção de fazer com

que seja para o melhor.

Será isto uma educação para a ética em sintonia com o mundo contemporâneo.

Mais que o ensinamento de temas e conceitos; mais que exploração do embate que as

situações da vida proporcionam. Será colocar a si próprio em questão, colocar o próximo

em questão, colocar a sociedade em questão.

A ética é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou

forma de comportamento dos homens, o da moral, considerado, porém na sua totalidade,

diversidade e variedade. O valor da ética como teoria está naquilo que explica, e não no

fato de prescrever ou recomendar com vistas à ação em situações concretas.

29

A ética parte do fato da existência da história da moral, isto é, toma como ponto de

partida a diversidade de morais no tempo, com seus respectivos valores, princípios e

normas.

A ética não cria a moral. A ética é a ciência da moral, isto é, uma esfera do

comportamento humano.

“Este movimento de interiorização da reflexão e de valorização da subjetividade ou da personalidade começa com o filósofo Sócrates, e parece que ele culmina com o filósofo alemão Emmuel Kant, lá pelo final do século XVIII. Kant buscava uma ética de validade universal, que se apoiasse apenas na igualdade fundamental entre os homens. Sua filosofia se volta sempre, em primeiro lugar, para o homem, e se chama filosofia transcendental, porque busca encontrar no homem as condições de possibilidade de conhecimento verdadeiro e do livre agir. No centro das questões éticas, aparece o dever, ou a obrigação moral, uma necessidade diferente da natural. O dever obriga moralmente a consciência moral livre, e a vontade verdadeiramente boa deve agir sempre conforme o dever e por respeito ao dever.” VALLS (1994,p.18)

A moral é um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são

regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de

tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social sejam acatadas livres

e conscientemente, por uma convicção íntima, e não de maneira mecânica, externa ou

impessoal.

Cuvillier diz:

1. É pela profissão que o indivíduo se destaca e se realiza plenamente, provando sua

capacidade, habilidade, sabedoria e inteligência, comprovando sua personalidade para

vencer obstáculos.

2. Através do exercício profissional, consegue o homem elevar seu nível moral.

3. É na profissão que o homem pode ser útil a sua comunidade e nela se eleva e

destaca, na prática dessa solidariedade orgânica. SÁ (1989,p.119)

O valor profissional deve acompanhar-se de um valor ético para que exista uma

integral imagem da qualidade. O sentido de utilidade pode existir e a ética não se cumprir.

Um juízo ético que não é bom na prática deve ressentir-se também de um defeito

teórico pois a questão fundamental dos juízos éticos é orientar a prática.

As pessoas acreditam que a ética é inaplicável ao mundo real, pois imaginam que a

ética seja um sistema de normas simples e breves, do tipo não minta, não roube, não mate.

30

A idéia de viver de acordo com padrões éticos está ligada a idéia de defender o

modo como se vive, de dar- lhe uma razão de ser, de justificá- lo.

A ética é universal. A ética exige que extrapolemos o “eu” e o “você” e cheguemos

à lei universal.

A educação é uma manifestação da cultura e depende do conteúdo histórico e social

que está inserida.

Todo sistema de educação está baseado numa concepção do homem e do mundo.

A educação, ou seja, a prática educativa, é um fenômeno social e universal, sendo

uma atividade humana necessária à existência e funcionamento de todas as sociedades.

Cada sociedade precisa cuidar da formação dos indivíduos, auxiliar no desenvolvimento de

suas capacidades físicas e espirituais, prepará- los para a participação ativa e

transformadora nas várias instâncias da vida social. Não há sociedade sem prática

educativa nem prática educativa sem sociedade. A prática educativa não é apenas uma

exigência da vida em sociedade, mas também o processo de prover os indivíduos dos

conhecimentos e experiências culturais que os tomam aptos a atuar no meio social e a

transformá-lo em função de necessidades econômicas, sociais e políticas da coletividade.

Em sentido amplo, a educação compreende os processos formativos que ocorrem

no meio social, nos quais os indivíduos estão envolvidos de modo necessário e inevitável

pelo simples fato de existirem socialmente; neste sentido, a prática educativa existe numa

grande variedade de instituições e atividades sociais decorrentes da organização

econômica, política e legal de uma sociedade, da religião, dos costumes, das formas de

convivência humana. Em sentido estrito, a educação ocorre em instituições específicas,

escolares ou não, com finalidades explícitas de instrução e ensino mediante uma ação

consciente, deliberada e planificada, embora sem separar-se daqueles processos formativos

gerais.

31

CONCLUSÃO

Foi totalmente adequada a formação pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura)

dos novos parâmetros curriculares colocando a temática ética como um dos temas

transversais36. A questão ética deve receber atenção especial, mas sem ser trabalhada numa

disciplina específica. O ideal é que seja explorada a partir de possibilidades abertas pelos

diversos conteúdos curriculares.

A Ética permeia todo o currículo. Está nas guerras estudadas nas aulas de História,

no jeito certo ou errado de falar nossa língua ou no cuidado com o meio ambiente. Além

disso, o tema está presente nas relações internas da escola. A convivência democrática

entre professores e alunos ou entre colegas vale como uma bela experiência para os

estudantes.

Os valores morais e éticos que a família transmite as crianças têm sua importância

em todo o contexto social, hoje tem se dado muito valor à inteligência e vem se

esquecendo da moral e dos bons costumes, ter educação é saber usar tanto a inteligência,

quanto a moral.

É possível observar hoje que os pais estão muito mais preocupados em "depositar"

seus filhos logo cedo em escolas para que aprendam a ler e escrever, do que realmente

interessados em educá- los; chegam a pensar, ser da escola a obrigação de educar seus

filhos, esquecem que a escola não educa e sim transmite conhecimentos, a maior

preocupação da escola é o ensino-aprendizagem. A formação do caráter, a educação moral

o despertar do fazer pensar e refletir é um dever da família, mas hoje observamos várias

famílias se desestruturando e há uma decadência das estruturas sociais, hoje predomina o

relaxamento dos laços morais; já não se sabe nem quem somos e nem para que vivemos. E

mesmo com toda esta falta de estrutura a família ainda é a base de tudo, ainda hoje as

crianças procuram por esse apoio, é necessário um resgate de valores.

36 Devem permear todos os conteúdos do currículo / Vivência escolar

32

"Vosso raciocínio moral sem dúvida influencia nossa fala moral. Mas às vezes falar apenas é insuficiente. A moralidade é também fazer a coisa certa, e o que fazemos depende, não apenas do nosso pensamento, mas também de influências sociais". MYERS (2000,p.85).

Para que esse resgate aconteça é preciso que os pais dêem o exemplo com ações,

assim será muito mais fácil a criança assimilar que, o falar e o fazer devem estar lado a

lado.

"As idéias morais se tornam mais fortes quando resultam em ações, nossas ações alimentam nossas atitudes. Somos tão capazes de passar da ação para uma maneira de pensa quanto de pensar e agir em seguida. Para desenvolver princípios morais mais profundos, as pessoas podem agir com base nos que já têm. Levantar e se manifestar, explicar e defender aquilo em que acreditamos, empenhar dinheiro e energia é crer em nossas convicções com mais vigor". MYERS (2000,p.85).

A comunicação entre pais e filhos é primordial para um desenvolvimento saudável

e intenso, quando esta comunicação é mal interpretada ou feita de forma a deixar dúvidas,

é um dos fatores mais prejudiciais à educação infantil. O poder das palavras dos pais é

enorme, através dela é possível estimular, mas também é possível agredir e até traumatizar;

se um pai diz que o filho é burro, este pode aceitar e acreditar que o pai está dizendo a

verdade e jamais irá se desenvolver.

O diálogo é um espaço para mudança de comportamentos, tanto de pais quanto dos

filhos, através do diálogo saudável e de reais sentimentos de interesse se de cuidados pelos

filhos é possível grandes transformações.

Pais bem informados e conscientes de seu "poder", são mais eficientes na "arte de

educar" e "ajudar" para que seus filhos se tornem pessoas bem desenvolvidas internamente

e socialmente, capazes de agir de forma racional e ainda assim com o poder de amar. Ou

seja, os príncipes em potencial a que se destinaram ao nascer.

São vários os fatores que fazem com que a família seja o principal pilar da

construção do indivíduo como um todo. É na família que acontece o primeiro contato

social, que se recebe as influências de cultura e costumes. "A socialização primária é a

primeira socialização que o indivíduo experimenta na infância, em virtude da qual torna-

se membro da sociedade". BERGER e LUCKMAM (1991,p.175).

Ao nascer, a criança já recebe toda a cultura da família, ou seja, a herança cultural,

que é todo um conjunto de comportamentos; seja o credo, o meio em que se vive, os

33

costumes do grupo à sua volta. Mesmo sem perceber, esta cultura é assimilada pela

criança, que ao nascer tem um número limitado de comportamentos para sua

sobrevivência, que são as reações ligadas aos reflexos necessários a manter sua vida, é na

família que vai aprender uma série de costumes, de manias e de comportamentos sociais, e

por isto a família e suas influências são tão importantes ao desenvolvimento escolar e

social da criança. "Os psicólogos concordam sobre a grande importância da família na

determinação de nosso traços de personalidade. Os pais e as condições do lar moldam a

criança, em seus primeiros anos de vida" BARROS (2001,p.55).

O respeito mútuo, a justiça, o diálogo e a solidariedade são pontos de destaque

dentro do conteúdo de Ética nas quatro primeiras séries do Ensino Fundamental. A

importância de incluí- los no programa se torna clara quando as diversas etnias, culturas,

religiões e opiniões presentes na formação da população brasileira são levadas em conta.

Essa diversidade gera preconceitos que se manifestam na forma de intolerância ou

desprezo com relação ao que é diferente. Seus alunos devem saber que todas as pessoas são

dignas de respeito, não importa sexo, idade, cultura, raça, religião, classe social ou grau de

instrução.

Parâmetros Curriculares Nacionais - 1ª a 4ª - ÉTICA - Deixe claro para a turma que

todos devem ser respeitados, não importando o sexo, a religião ou a etnia.

Conflitos são resolvidos com diálogo.

Respeitar as diferenças é fundamental.

É preciso construir uma sociedade justa.

O trabalho do professor em sala de aula no que diz respeito à Ética deve possibilitar

ao aluno ser capaz de:

Compreender o conceito de justiça e perceber a necessidade da construção de uma

sociedade justa;

Respeitar as diferenças entre as pessoas;

Ser solidário e rejeitar discriminações;

Aplicar os conhecimentos adquiridos na escola para construir uma sociedade

democrática e solidária;

Valorizar o diálogo como forma de esclarecer conflitos e tomar decisões coletivas;

34

Construir uma imagem positiva de si, confiar em sua capacidade de escolher e

realizar seu projeto de vida e legitimar as normas morais que garantam a todos essa

realização;

Assumir posições, considerando diferentes pontos de vista e aspectos de cada

situação.

Parâmetros Curriculares Nacionais - 5ª a 8ª - ÉTICA - Para falar de ética é preciso

lembrar conceitos como respeito mútuo, justiça, solidariedade e diálogo.

· A ética está em todas as disciplinas.

· Faça da escola um ambiente participativo.

· Saiba lidar com a punição de alunos.

Fazer parte de um grupo ou de uma comunidade exige do cidadão conhecer as

normas que regem a conduta aceita nos mais variados âmbitos, como o social, o cultural e

o político. Os PCN definem quatro blocos de conteúdo para o ensino da Ética. Eles foram

organizados para que os alunos tenham informações sobre como atuar autônoma e

criticamente em uma sociedade democrática.

Respeito mútuo - É a valorização de cada pessoa, independentemente de sua origem

social, etnia, religião, sexo, opinião. Revelar seus conhecimentos, expressar sentimentos e

emoções, admitir dúvidas sem ter medo de ser ridicularizado, exigir seus direitos são

atitudes que compreendem respeito mútuo.

Justiça - Num primeiro momento pode remeter à obediência às leis. Mas o conceito

de justiça vai muito além disso. É a busca da igualdade de direitos e de oportunidades, o

que pressupõe o julgamento do que é justo ou injusto.

Solidariedade - É a expressão de respeito dos indivíduos uns pelos outros. Ser

solidário é partilhar um sentimento de interdependência e tomar para si questões comuns.

Solidariedade inclui desde a ajuda a um amigo até a luta por um ideal coletivo da

sociedade.

Diálogo - A comunicação entre as pessoas pode ser fonte de riquezas e alegrias. É

uma arte a ser ensinada e cultivada. Mas atenção: o diálogo só acontece quando os

interlocutores têm voz ativa. Limitar-se a impor visões de mundo sem considerar o que o

outro tem a dizer não constitui um diálogo.

35

A perspectiva transversal permitirá à criança ter claro que a questão ética não

configura um domínio específico, como a história política de sua cidade, o microclima de

sua região, as reações químicas entre gases ou as leis de colocação de satélites no espaço

geodésico. As crianças perceberão que a dimensão ética remete a alternativas sempre

presentes na conduta dos homens. Que não se trata de algo que se aprende como se

aprende a subtrair, mas de uma sensibilidade, uma atenção que é construída, e, em alguns

momentos, aplicada.

A exploração dos temas éticos deve ser feita no sentido de cultivar a percepção de

que a vida envolve sempre decisões alternativas, e que isso gera dilemas, controvérsias,

dramas. Mais relevante ainda, que a arte mais sublime que pode ser exercida pelo homem é

a construção de sua vida com beleza, com elegância, como se fosse um trabalho artístico.

A cultura ética os levará a perceber que, efetivamente, vida é uma obra de arte aberta, que os preceitos éticos são como técnicas de uma arte de viver melhor a vida, uma arte, que envolve sempre a sua própria vida e a vida dos que estão ao seu lado, voluntária ou involuntariamente, todos juntos na mesma travessia". VALLS (1994,p.85)

Se nós educadores não mudarmos os diversos aspectos das relações sociais na

escola, ficaremos vivendo de sonhos, ou somente no que está registrado no regimento

escolar. E é o que está acontecendo, quando nos referimos a formação ética, observamos

que é muito bonito e fácil o que está escrito ou falado, mas a prática não acontece.

A busca pelo bem comum está envolvendo discussões e reflexões éticas e morais.

A prática do professor deve estar baseada na prática do aluno para que tenha um

sentido e possa refletir sobre problemas éticos e morais.

A importância da família na educação é fator primordial ao desenvolvimento

escolar e social da criança, é na família que se tem os primeiros contatos com os valores e

as culturas sociais, é a partir daí que se formará o caráter e se desenvolverá todo o modo de

ser e agir da criança, seja com grupos de colegas (amigos), como no seu desenvolvimento

escolar. "Nenhum cientista social duvida que a família seja importante no desempenho

educacional dos jovens" FERREIRA (1993,p.66).

"A criança compartilha originalmente dos valores e atitudes de seus pais, não, exatamente, pelo modelo, mas através do próprio "superego" deles. Assim, recebe idêntico conteúdo e o superego torna-se o veículo de tradição e de todos os ancestrais valores que, por esse processo, tem sido transmitidos de geração em geração". SIMÕES (1993,p.18)

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A forma que a criança vai reagir frente aos problemas sociais vai depender das

experiências recebidas nos primeiros anos de vida; sua capacidade de tolerar e de saber

lidar com toda a tensão da sociedade, é um reflexo da segurança ou insegurança de seus

pais, ao passar a realidade do que acontece na sociedade, de modo verdadeiro sem tentar

enganar a criança, é preciso que a criança aprenda desde cedo que existem momentos

difíceis e de grandes sofrimentos na vida de todos, se não foi dada a criança à oportunidade

de viver esta realidade, estará sendo negado a oportunidade de se crescer com as

adversidades da vida e não se terá boa reação frente aos inúmeros problemas sociais do

dia-a-dia.

Se as crianças não fizerem parte do processo de desenvolvimento social e não

tiverem plena consciência disso, ao se deparar com algum problema vai preferir não

"crescer", não crescendo, não se assumem responsabilidades e não se desenvolve. Por isso

o diálogo é parte integrante do desenvolvimento social e escolar da criança. A questão dos

limites na educação é outro fator de grande influência no desenvolvimento da criança, uma

tarefa nada fácil para os pais, afinal é muito fácil confundir limites com autoritarismo,

existe um certo "medo" instalado nos pais em relação a colocar limites, o dizer não aos

filhos achando que isso irá torná- los seres traumatizados, frustados e revoltados, o fato de

não dizer não irá sim deixar as crianças sem limites achando que são os donos do mundo e

o centro de tudo e a partir daí os pais irão perder o controle de seus filhos e também o

respeito que deveria ter sido conquistado com uma certa dose de autoridade, através de

muito diálogo, onde devem mostrar o porque de se dizer sim e não, o porque de poder

fazer ou deixar de fazer algo e que o direito de um vai até onde o do outro começa.

"Verdade. Educar é uma tarefa enorme, variada, complexa, difícil. Mas se tivermos que

reduzir a educação a apenas um item, então não resta dúvida: educar é colocar limites

corretamente". LOBO (2000,p.523).

Os limites precisam ser claros, justos, precisam ser entendidos, para poderem ser

aceitos e cumpridos. E fazer cumprir os limites é reforçar na criança a necessidade de tê-

los em sociedade, afinal sempre que possível, a criança irá tentar transpo- los como que

fazendo um teste com os pais, então não é apenas importante colocar limites é importante

se fazer cumprir e saber como fazer, porque dependendo do modo da repreensão dos pais,

isso poderá trazer influências para o futuro da criança. É importante saber onde e como

cobrar os limites, que já devem estar sempre pré-estabelecidos na relação entre pais e

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filhos esta aí então a importância do bom relacionamento, o que não significa ceder, mas

sim serem justos, calmos e compreensíveis dentro do possível limite.

É preciso que os pais acreditem que dar limites é um ato de educação, só sabendo

seus limites a criança poderá se desenvolver e crescer respeitando os outros e assim serem

mais educados e integrados de forma positiva na sociedade. Os pais devem procurar

sempre usar de autoridade sem serem autoritários.

Ter autoridade não significa ser autoritário, hoje sabemos que o autoritarismo não

ajuda na educação e sim amedronta, só que hoje alguns pais chegam mesmo a abrir mão de

suas autoridades, e crianças criadas sem autoridade não tem limites e isso traz prejuízos

muito sérios a educação.

Os pais precisam ter poder sobre a criança, pois isso ajuda na hora que elas

precisem tomar alguma decisão. Pais com poder passam para os filhos uma certa

segurança, e com segurança aprendem a ter autonomia e independência. É claro que os pais

devem dizer a seus filhos o que fazer e como fazer, mas isso apenas até que eles sejam

capazes de decidir por si mesmos.

Com a presença dos pais junto aos filhos, passando valores, colocando limites,

procurando estar presentes, procurando sempre o diálogo e um entendimento, a criança terá

uma maior possibilidade de um bom desenvolvimento social e escolar.

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