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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE INCLUSÃO DE DEFICIENTES AUDITIVOS E VISUAIS NAS UNIVERSIDADES CAMILE FERNANDES ROSA Orientador : Profº Nelsom José Veiga de Magalhães RIO DE JANEIRO - RJ MARÇO DE 2005

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

INCLUSÃO DE DEFICIENTES AUDITIVOS E VISUAIS NAS UNIVERSIDADES

CAMILE FERNANDES ROSA

Orientador : Profº Nelsom

José Veiga de Magalhães

RIO DE JANEIRO - RJ

MARÇO DE 2005

2

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITÒRIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

INCLUSÃO DE DEFICIENTES AUDITIVOS E VISUAIS NAS UNIVERSIDADES

CAMILE FERNANDES ROSA

Trabalho monográfico

apresentado a Universidade

Cândido Mendes como

requisito parcial para obtenção

do grau de especialista em

Docência do Ensino Superior

RIO DE JANEIRO – RJ

MARÇO DE 2005

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, que é minha força e

coragem; a minha mãe que sempre me apoiou,

minha amiga Silani Rangel de Azeredo que me

ajudou nos momentos mais precisos, na fé que

eu tenho e que me deu força a tornar possível a

realização desse sonho; na esperança em que

um dia, todas as pessoas possam ir e vir sem

maiores dificuldades, e a todos os meus amigos

de curso que me divertiram durante essa

jornada.

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha mãe Sueli

Fernandes Rosa, a minha família que sempre

me deu força para lutar pelos meus ideais, à

paciência e o apoio a mim ofertados. E que

com a graça de Deus essa será mais uma das

vitórias que pretendo conquistar.

5

EPÍGRAFE

“Todos os dias devíamos: Ouvir um

pouco de música, ler uma boa poesia, ver um

quadro bonito, e se possível, dizer algumas

palavras sensatas”.

(Goethe,1993 p. 03)

6

RESUMO

O principal objetivo deste trabalho, é definitivamente, incluir as pessoas

portadoras de deficiência auditiva e visual em quaisquer debates referentes aos

direitos de cidadania, seja no processo educativo, seja na saúde, no trabalho, no

esporte e lazer, na comunicação e no transporte.

Contextualizando, os que trabalham em educação especial, examinando

questões relativas ao desenvolvimento e aprendizagem dos alunos com

deficiência auditiva e visual. Se é construído uma semântica restrita, na medida

em que é debatido conceitos e consensos acerca do processo de educação

universitária de alunos.

Incluir os alunos portadores de deficiência auditiva e visual em quaisquer

debate referente aos direitos de cidadania, seja na vida social, seja no processo

educativo.

Objetivando alargar o diálogo, procurando envolver outros pensadores em

particular os educadores que trabalham na educação universitária. Dentre outras

razões, romper o mito em que vivemos entre as duas educações: a normal e a

educação especial.

7

METODOLOGIA

A metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica nas diversas fontes,

buscando-se assim um material claro e coerente, que consiga definir a situação –

problema e esclarecer as hipóteses traçadas inicialmente, atendendo também aos

objetivos da pesquisa.

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................9

CAPITULO I – O APOIO AOS DEFICIENTES AUDITIVOS E VISUAIS NO

ENSINO SUPERIOR..............................................................................................10

1.1 – A comunicação entre corpo docente e o aluno deficiente

1.2 – Inclusão dos deficientes auditivos

1.3 – Inclusão dos deficientes visuais

CAPITULO II – OS CAMINHOS DA INCLUSÃO................................... ...............21

2.1 – Diferenciando Inclusão de integração

2.2 – A história da inclusão no cenário brasileiro

2.3 – A identidade dos alunos com necessidades educacionais especiais no

contexto da política educacional brasileira

CAPITULO III – DAS NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS À

REMOÇÃO DE BARREIRAS PARA A APRENDIZAGEM.............. .....................31

3. 1 – As necessidades educacionais especiais no Relatório de Warnock

3.2 – As necessidades especiais na Declaração de Salamanca

3.3 – A remoção de barreiras para a aprendizagem na educação especial

CONCLUSÃO.....................................................................................................42 ANEXOS..............................................................................................................44 . BIBLIOGRAFIA......................................................................................................45 INDICE....................................................................................................................47

9

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é o desenvolvimento dos alunos deficientes

auditivos e visuais, principalmente para um público – alvo de docentes do ensino

superior que não são especialistas em Educação Especial. Acredite-se que, no

meio acadêmico, ele sirva para informar e contribuir que os deficientes auditivos e

visuais sejam estimulados a ingressar no ensino superior e neste encontrem

condições adequadas de ensino – aprendizagem e de vida universitária.

No capítulo I é abordado,que maior parte das instituições de ensino superior

ainda não estão preparadas para receber os portadores de necessidades

especiais auditivas e visuais. Desde quando foi iniciado efetivamente a

sistematização de um trabalho coletivo para os alunos deficientes que

ingressavam nos diferentes cursos das Universidades, percebendo-se o grande

desafio que se colocava à atuação acadêmica, principalmente, por serem poucas

as referências de estudos e experiências nessa área.

No capítulo II o problema é iniciado no vestibular. As bancas examinadoras

não sabem como lidar com esses dois tipos de necessidades e, na maioria dos

casos, o candidato é mal avaliado.

O capítulo III, apresentar os problemas e algumas soluções encontradas

pelas Universidades, no tratamento de seus alunos portadores de deficiência

auditiva e visual.

Na conclusão encontra-se algumas considerações que são importantes ao

longo dos capítulos.

10

CAPÍTULO I - O APOIO AOS DEFICIENTES AUDITIVOS E VISUAIS NO ENSINO SUPERIOR. Quando se inicia efetivamente a sistematização de um trabalho coletivo

para os alunos portadores de deficiência auditiva e visual que ingressam nos

diferentes cursos das universidades, percebe-se o grande desafio que se coloca à

atuação acadêmica, principalmente, por serem poucas as referências de estudos

e experiências nessas áreas.

Neste capítulo, tais assuntos foram analisados segundo a visão de vários

autores de renome como: Sánchez (1993); Rosita Edler de Carvalho (2000);

Bezerra, C. C (2003); MEC (1999); Negreda (1992); Moores (1971) e

Vanderheinden (1992).

Após chegarem ao ensino superior, alguns alunos acabam desistindo de

seus cursos, pois encontram uma barreira tão grande que acabam tendo

depressão, ostracismo, intolerância e tristeza profunda. As informações são tão

rápidas que não conseguem acompanhar, e, desistem.

De acordo com Sánchez (1993:39) “Isto é apenas uma fase de implantação

nas universidades e que se conhece um pouco do que se pode ser feito e, por

propósito inicial: providenciar ao aluno deficiente da universidade acesso à maioria

dos materiais didáticos de apoio ao ensino e à pesquisa, necessários a sua

formação”.

Os deficientes auditivos e visuais estão tendo cada vez mais acesso ao

ensino superior, coisa rara até muito pouco tempo. Para os educadores, ao

mesmo tempo em que esta afirmação é estimulante, também gera preocupações.

Esta constatação remete à preocupação que as Universidades devem ter em

receber adequadamente tais alunos, procurando soluções que possam minimizar

as dificuldades encontradas por estes alunos na inserção da comunidade

acadêmica.

“No caso específico, os problemas mais freqüentes encontrados, se

relacionam às seguintes dificuldades. Vestibular; acesso à literatura de apoio às

disciplinas; utilização de laboratórios; acompanhamento das aulas, principalmente

11

daquelas que exigem a interpretação de gráficos, esquemas, figuras, filmes não

dublados e nem legendados, recurso áudio visuais; realização de provas em

conjunto com a classe; socialização e locomoção;” Sanchez (1993:43)

Existem, no entanto, formas para selecionar de maneira muito satisfatória

alguns dos problemas apresentados, formas estas que devem ser conhecidas

pelos docentes não especializados em educação especial, antes que digam não a

um aluno deficiente auditivo e visual, simplesmente por desconhecerem o que

pode ser a ele oferecido.

Segundo Rosita Edler Carvalho, (2000:38) “A inclusão dos alunos

portadores de deficiência auditiva e visual nos cursos superiores não deve ser

apenas uma obediência à portaria do MEC. Instituições que têm por objetivo

formar profissionais capazes de contribuir para a sociedade não podem esquecer-

se que ela é formada por distintas etnias e raças, cegos, surdos, e uma infinidade

de pessoas de diferentes características. Portanto, as universidades devem

proporcionar aos deficientes auditivos e visuais a oportunidade de crescer como

seres humanos plenamente capazes de se integrar à sociedade. Cabe, ainda

assinalar o fato de que os alunos ouvintes, que têm como colegas os surdos e

cegos, começaram a se interessar profundamente pela linguagem de sinais e a

libra, manifestando o desejo de aprendê-la como outras formas de comunicação.

Ao mesmo tempo, os deficientes auditivos e visuais, ao serem tão bem recebidos

pelos colegas, sentem-se estimulados no seu aprendizado. Esta troca de

experiências resulta em benefícios para todos”

Um esforço de integração que pode começar nas universidades, que devem

trabalhar com base na adaptabilidade, e não utilizar modelos prontos, mas

metodologias que permitam a inclusão e ao mesmo tempo independência. O aluno

especial elege um colega para auxiliá-lo nas anotações ou nos deslocamentos.

Cabe à universidade fornecer-lhes condições para que seu aprendizado

independa dessas situações.

12

1.1 – A Comunicação entre corpo docente e o aluno

deficiente

O papel do professor assume importância primordial no que se refere à

sensibilização que ele pode desenvolver junto dos outros colegas.

Este trabalho visa divulgar um sistema para facilitar a comunicação entre o

aluno portador de deficiência auditiva e visual e o professor. O sistema

denominado LIBRAS, ou Língua Brasileira de Sinais é a língua materna dos

surdos brasileiros e, como tal, poderá ser aprendida por qualquer pessoa

interessada pela comunicação com essa comunidade. Como língua, esta é

composta de todos os componentes pertinentes às línguas orais, como gramática

semântica, pragmática sintaxe e outros elementos, preenchendo, assim, os

requisitos científicos para ser considerada instrumental lingüístico de poder e

força. Possui todos os elementos classificatórios identificáveis de uma língua e

demanda de prática para seu aprendizado, como qualquer outra língua. Foi na

década de 60 que as línguas de sinais foram estudadas e analisadas, passando

então a ocupar um status de língua. É uma língua viva e autônoma, reconhecida

pela lingüística. Pesquisas com filhos surdos de pais surdos estabelecem que a

aquisição precoce da Língua de Sinais dentro do lar é um benefício e que esta

aquisição contribui para o aprendizado da língua oral como Segunda língua para

os surdos.

Os estudos em indivíduos surdos demonstram que a Língua de Sinais

apresenta uma organização neural no cérebro da mesma maneira que as línguas

faladas. A Língua de Sinais apresenta, por ser uma língua, um período crítico

precoce para sua aquisição, considerando-se que a forma de comunicação natural

é aquela para o qual o sujeito está mais bem preparado, levando-se em conta a

noção de conforto estabelecido diante de qualquer tipo de aquisição na tenra

idade.

“Já o sistema denominado BR Braile, automatiza a transcrição de textos

escritos no sistema Braile para textos escritos no sistema óptico, em língua

portuguesa. O processo automatizado proposto permite, aos professores que não

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conhecem o sistema Braile por alunos cegos. Alguns testes realizados mostram

que o BR Braile é capaz de transcrever textos em Braile para textos com

caracteres alfanuméricos, de forma legível, atendendo os requisitos de baixo custo

e de facilidade de operações necessários à realidade brasileira”. Bezerra,C.C.

(2003: 12)

Segundo Bezerra, C.C.(2003:22) “O Braile é um dos códigos de apoio da

língua, e sua importância está no fato de habilitar o ser humano a compreender o

mundo através de um sistema organizado de símbolos, substituindo o alfabeto

convencional por um alfabeto de pontos em relevo, o que possibilita ao deficiente

visual a escrita e a leitura”.

O professor que for trabalhar com transparência, diante de um aluno com

alguma deficiência visual, precisa ler em alto e bom som o texto apresentado. No

caso de desconhecer o idioma oficial dos deficientes auditivos, a Libras, deve

lembrar-se de falar sempre de frente, articulando as palavras com clareza

suficiente para permitir a leitura orofacial e não deixar de transcrever o texto na

lousa ou utilizar transparências.

Segundo Sánchez (1993:48) “Essas não são as condições ideais, e sim

atitudes ideais em condições inadequadas.”

As primeiras tentativas de criar um método de acesso à linguagem escrita

aos cegos datam do século XVI e XVII. Entre eles estavam a gravação de letras e

caracteres em madeira ou metal, sistemas de nós em cordas, caracteres

recortados em papel e até mesmo alfinetes de diversos tamanhos pregados em

almofadas. Até 1829, os portadores de deficiência visual aprendiam a ler através

desses e de outros complicados métodos de leitura. Naquele ano um jovem

francês de 15 anos cego desde os 3 anos de idade, chamado Luis Braile,

desenvolve o sistema que é até hoje o mais efetivo recurso para a educação de

cegos. Braile era aluno da escola Haüy, a primeira escola para cegos do mundo e

foi influenciado por um método de transmissões de mensagens sigilosas criadas

pelo oficial de exército francês Charles Barbier, que consistia na combinação de

12 pontos em relevo com valor fonético.

14

Segundo Bezerra C. C, (2003:31) “O Braile é composto por 6 pontos, que

são agrupados em duas filas verticais com três pontos em cada fila (cela Braile). A

combinação desses pontos forma 63 caracteres que simbolizam as letras do

alfabeto convencional e suas variações como acentos, a pontuação, os números,

os símbolos matemáticos e químicos e até as notas musicais. Para o cego

poderem ler números ou partituras musicais, por exemplo, basta que se

acrescente antes do sinal de 6 pontos um sinal de número ou de música”.

“Antes do invento da máquina de Braile, e ainda no Brasil por razões

econômicas, o Braile era escrito com reglete e punção. Hoje em dia, além da

máquina Braile, que é produzida no Brasil, já existem impressoras de Braile

ligadas ao computador. Alguns programas podem traduzir as letras digitadas e

marcar em relevo o papel”.

‘Assim como a escrita convencional abriu um novo mundo para o homem

comum, o Braile fez o mesmo para os portadores de deficiência visual. E mais, o

Sistema Braile impulsionou uma revolução para os deficientes visuais, através

dele as pessoas cegas podem resgatar sua cidadania. Alfabetizando-se ela tem

condições de estudar e estudando tem mais chances de conseguir emprego e ter

um emprego significa estar socialmente incluído e ser independente”. Bezerra,

C.C. (2003:32)

O professor que não tem especialidade em lecionar para alunos portadores

de deficiência precisa se adaptar. Se for utilizar a transparência diante de um

aluno com alguma deficiência visual, precisa ler em alto e bom tom o texto

apresentado. No caso de desconhecer o idioma oficial dos deficientes auditivos, a

Libras, deve lembrar-se de falar sempre de frente (não falar virado para a lousa),

articulando as palavras com clareza para permitir a leitura orofacial e não deixar

de transcrever o texto na lousa ou utilizar transparências. Essas não são as

condições ideais, e sim atitudes ideais em condições inadequadas.

15

1.2 – INCLUSÃO DE DEFICIENTES AUDITIVOS

A portaria nº 1.697 do MEC, assinada pelo ministro da Educação, em

dezembro de 1999, “obriga todas as universidades a oferecerem intérpretes para

os alunos deficientes auditivos. Entretanto, ainda são muito poucas as instituições

que obedecem esta determinação do governo. Com isso, o acesso ao ensino

superior de uma parcela dos mais de cinco milhões de surdos do Brasil torna-se

ainda mais limitado. Nega-se a esses cidadãos o direito que 97% da população do

país possuem: o de cursar uma universidade”.

As Faculdades Integradas Rio Branco, mantidas pela Fundação de

Rotarianos de São Paulo, são pioneiras no Estado de São Paulo no oferecimento

de intérpretes de Libras (Língua Brasileira de Sinais). Desde a abertura dos

cursos, em 2000, este serviço está disponível, sem qualquer acréscimo na

mensalidade. Afinal, trata-se de direito garantido pelas normas oficiais do ensino

brasileiro. Os estudantes surdos acompanham as aulas junto com os colegas

ouvintes, assessorados pelos intérpretes, que lhes traduzem as exposições orais e

as orientações dos professores. Ademais, são usados os recursos da informática

como instrumento auxiliar para o aprendizado, pois os surdos são inteiramente

visuais e lidam muito bem com as novas tecnologias da informática.

“A inclusão dos surdos nos cursos superiores não deve ser apenas uma

obediência à portaria do MEC. Instituições que têm por objetivo formar

profissionais capazes de contribuir para a sociedade não podem esquecer-se que

ela é formada por distintas etnias e raças, cegos, surdos, e uma infinidade de

pessoas de diferentes características. Portanto, as universidades devem

proporcionar aos surdos a oportunidade de crescer como seres humanos

plenamente capazes de se integrar à sociedade. Cabe, ainda assinalar o fato de

que os alunos ouvintes, que têm como colegas os surdos, começaram a se

interessar profundamente pela linguagem de sinais, manifestando o desejo de

aprendê-la como uma outra forma de comunicação. Ao mesmo tempo, os surdos,

16

ao serem tão bem recebidos pelos colegas, sentem-se estimulados no seu

aprendizado. Esta troca de experiências resulta em benefícios para todos”

“Crianças com deficiência auditiva que estudam em escolas regulares não

têm, necessariamente desempenho pior do que aquelas que ouvem normalmente,

desde que tenham um acompanhamento especial”. MEC (1999)

Embora a inclusão faça parte das diretrizes educacionais oficiais e seja

defendida por vários psicólogos e profissionais da área de saúde, ela esbarra em

dois problemas: a falta de estrutura e a de preparação do professor. Apesar disso,

percebe-se que os deficientes auditivos decorrem muito mais da falta de apoio do

que de seus problemas de audição.

Existe sim uma defasagem decorrente da deficiência auditiva, os deficientes

têm desempenho melhor em matemática do que em português. O mundo do

deficiente auditivo é muito limitado, por isso, ele costuma ir melhor nas disciplinas

que trabalham com dados concretos. É muito importante que o surdo tenha um

acompanhamento paralelo às aulas, a fim de ser melhor nas áreas em que tem

mais dificuldade. Apesar disso, alguns casos isolados chegam a surpreender.

Todos os professores precisam de orientação para lidar com os deficientes

em sala de aula, e que possam oferecer condições para que seus alunos tenham

bom aproveitamento. No caso do surdo, é importante, por exemplo, que o

professor conheça a língua de sinais, e que saiba se comunicar com o aluno,

orientando em cada posição na sala de aula e sempre falando para ele, para que

possa fazer a leitura labial.

“A educação para deficientes auditivos começou a se expandir no séc. XVI,

quando até então os surdos eram considerados ineducáveis. Segundo Negreda

(1992: 180) a expansão surgiu a partir da necessidade do abade L'pée de ensinar

conceitos religiosos a estes indivíduos. Foi a partir deste fato que foi fundada em

1755 a primeira escola para surdos na França, utilizando a linguagem de sinais -

sistema convencional de símbolos ou gestos feitos com as mãos”

“A partir de então começaram a surgir várias escolas especiais para os

surdos. Segundo Negreda, (1992:180) em um determinado momento (1870)

alguns pesquisadores consideraram a linguagem de sinais inadequada para a

17

educação dos surdos e alegaram que esta estava os diferenciando dos indivíduos

normais. Proibiram o uso da língua de sinais, causando um grande declínio e

insatisfação no processo educacional da comunidade surda. Passaram a usar

outras tendências como: oralismo, comunicação total e o bilingüismo.”

Com a evolução dos tempos e vários estudos sobre linguagem para

deficientes auditivos, hoje se sabe que "a língua de sinais é a língua natural dos

surdos". Entretanto, permanece a discussão entre esta e o bilingüismo na

atualidade, pois não se sabe qual das duas atende por completo as necessidades

educacionais do deficiente auditivo. Muitas abordagens são feitas em relação ao

deficiente auditivo, a mais atual é a sua integração em escola comum.

Para a criança deficiente auditiva, adquirir linguagem é um processo lento e

dependente da presença física do objeto. Seu desenvolvimento intelectual

depende em grande parte da adequação no confronto das duas realidades: a do

mundo real e a do universo da linguagem.

Segundo Sánchez (1993:52), “os surdos também apresentam a capacidade

de comunicar-se, assim como os ouvintes, em qualquer parte do mundo. Sendo

assim, reconhecer a diferença entre surdos e ouvintes é encarar a realidade

relativa ao surdo. É reconhecer suas limitações e sua habilidade lingüística que se

manifesta na criação, uso e desenvolvimento de línguas gestuais/visuais, tornando

assim iguais aos outros. A melhor maneira para a criança aprender a linguagem é

através do uso de atividades que a envolvam, e captem seu interesse.”

“As pessoas deficientes auditivas sentem vontade de se comunicar, de

serem aceitas socialmente com seus sonhos, fantasias e desejos. Por isso

Sánchez (1993:58), relata que não haverá isolamento se estes encontrarem em

sua comunidade o que eles necessitam. Assim se sentiriam estimulados no

processo de aprendizagem e membros efetivos da comunidade e cidadãos de

fato”

“Um dos objetivos da escola, de fazer a criança pensar, sentir e agir,

segundo Rosita Edler Carvalho (2000:92), tem sido frustrado uma vez que não lhe

tem permitido desenvolver sua capacidade de análise da própria realidade e a

partir dela tentar construir os conhecimentos e selecionar práticas necessárias a

18

uma vida mais saudável. O deficiente auditivo é capaz de construir seu

conhecimento desde que a proposta de trabalho seja desafiadora, fonte de prazer

e descoberta. O processo de aprendizagem deve ser apaixonante, tanto para o

professor, quanto para o aluno. A construção do conhecimento deve acontecer no

convívio com o grupo e a afetividade entre alunos e professores é essencial no

processo de construção do conhecimento”.

Se para a pessoa ouvinte o percurso dentro do nosso sistema educacional

se assemelha a uma corrida de obstáculos, para o deficiente auditivo as

dificuldades podem ser intransponíveis. Por isso é que existem escolas

especializadas que lutam para que elas não fiquem isoladas em seu próprio

mundo silencioso.

A qualificação do professor seja em curso de graduação, aperfeiçoamento,

especialização, extensão é de fundamental importância, o desempenho do

pessoal é insatisfatório quanto ao oferecimento de orientações e para o

desenvolvimento do processo educativo.

Conforme Moores (1971:56) “defende a importância do papel dos

professores surdos na educação de pessoas surdas. Isso, mostra a preocupação

de muitos autores em relação à educação do deficiente auditivo e que estes

também consideram-na de fundamental importância para os mesmos. Com isso é

necessário que se faça investimentos na formação de professores, através de

cursos e atualizações que permitem a construção de novos conhecimentos

possibilitando a busca de uma maior igualdade social, conquistando assim,

espaço para o exercício da cidadania entre os alunos.”

Segundo Sánchez, (1993:102), “hoje as crianças e adolescentes surdos

demonstram que querem saber cada vez mais. Têm a expectativa de se tornarem

o que os surdos nunca pensaram ser: professor, médico, psicólogo, lingüistas e

etc. sabendo que não vão fracassar. A inclusão de pessoas surdas nos sistemas

educacionais públicos apaga o esquecimento a que foram relegadas. Há ainda a

preocupação de formar pessoal habilitado para dar a esses deficientes todas as

possibilidades de participarem plenamente do processo educativo”.

19

A compreensão do deficiente auditivo como pessoa em busca de seu pleno

desenvolvimento, tal como se tem hoje, foi uma conquista na história da evolução

humana para a qual têm contribuído pessoas de diferentes campos de estudo e

atividade. Ao deficiente auditivo, a mais atual é a sua integração em escola

comum.

1.3 – Inclusão de deficientes visuais

Conforme apresenta Vanderheinden (1992:36), “a deficiência visual

abrange pessoas que possuem, desde uma visão fraca, passando por aqueles

que não conseguem perceber sequer a luz. Porém, para fins de discussão, divide-

se estas pessoas em dois grandes grupos: os que possuem visão, conhecidos

como os de visão sub-normal, e os que são legalmente cegos”.

“A cegueira pode se apresentar no nascimento da pessoa, ser adquirida

através de doença ou acidente, ou pode ser associada à idade”.

“Como é de se esperar, os indivíduos com deficiência visual possuem

certas limitações funcionais que incluem a aumento da sensibilidade à claridade, a

visão do mundo como se fosse através de lentes amareladas. As pessoas que são

legalmente cegas podem ainda reter alguma percepção de formas, contrastes

entre a luz e a escuridão (habilidade de localizar uma fonte de luz), ou podem ser

totalmente cegas (não tendo percepção da luz do ambiente)”. Vanderheinden

(1992:40)

Para a correta inclusão de um aluno deficiente visual em uma sala de aula,

independe do nível de ensino, são necessárias diversas providências, entre elas, a

interpretação do que o aluno escreve no sistema Braille.

O aluno deficiente visual, quando submetido a uma avaliação escrita,

elabora-a, praticamente como regra geral, com o auxilio da reglete ou da máquina

de datilografia Braille. O mesmo acontece na elaboração de trabalhos extra-

classe, encomendados pelo docente. Para interpretar a prova ou o trabalho

20

elaborado resta, ao docente, se especializar em transcrição Braille ou solicitar ao

aluno deficiente visual, que leia o que foi escrito na prova ou no trabalho.

Geralmente, a última alternativa é a adotada por ser a mais acessível,

porém, é a mais inadequada do ponto de vista pedagógico.

A tecnologia atual permite uma quarta alternativa que pode minimizar tal

problema, contribuindo para a inclusão dos deficientes visuais.

21

CAPÍTULO II – OS CAMINHOS DA INCLUSÃO

Percorrer pelo caminho da história da deficiência e suas várias

representações sociais, é uma forma de entender e compreender porque estes

indivíduos foram afastados do nosso convívio, não sendo possível conhecê-los.

O assunto analisado neste capítulo é, segundo a visão de vários autores

como: Foucault (2002); Werneck (1997); Mazzotta (2001); LDB (1998); Ainscow

(1997); Glat (1997); Mantoan (1997) e Rattner (2000).

No imaginário das pessoas é bastante forte a representação e

categorização generalizada destas pessoas, em que um deficiente visual é igual

em sua deficiência que um deficiente auditivo. O tratamento é dado da mesma

maneira.

Poucas são as informações encontradas em tempos antigos frente à

deficiência. Mas é chocante saber que indivíduos que nascessem diferentes e

deficientes eram mortos, abandonados e chamados de monstruosos.

Segundo Foucault (2002:10), “Percorrendo a história da loucura, afirma

que, desde o século XIV ao século XVII, a exclusão de indivíduos é uma prática

constante, isto é, a eliminação de pessoas indesejadas, pois valores éticos, morais

e o modelo médico estão fortemente enraizados.”

“A prática de retirá-los do convívio social, seja enviando-os em

embarcações marinhas seja fechando-os em celas e calabouços, asilos e

hospitais, é um elemento predominante desta época”.

“No século XVII, na Europa, a internação dessas pessoas é um grande

movimento, um período de segregação e de categorização dos indivíduos,

internando a loucura pela mesma razão que a devassidão e a libertinagem. Os

indivíduos excluídos eram alienados, separados em grupos, entre os quais,

indigentes, vagabundos e mendigos, prisioneiros, pessoas ordinárias, mulheres

caducas, velhas senis ou enfermas, velhas infantis, pessoas epiléticas, inocentes

malformados e disformes, pobres bons, moças incorrigíveis”. Focault, (2002:11)

Portanto, a trajetória das pessoas com necessidades educativas especiais,

ou seja, as pessoas portadoras de deficiência, é marcada pela exclusão, pois elas

22

não eram consideradas pertencentes à maioria da sociedade, eram abandonadas

ou mortas. Depois, iniciou-se o atendimento em instituições especializadas, sendo

assim uma prática segregativa. Em seguida, passou-se à prática da integração

social e, recentemente à prática da inclusão social.

2.1 – Diferenciando inclusão de integração

A década de 60 foi um período de grande criação de instituições

especializadas. A partir do final daquela década, iniciou-se o movimento de

inserção das pessoas portadoras de deficiência nos sistemas sociais gerais.

Segundo Werneck, (1997:102), os termos integração e inclusão são

vocábulos que expressam situações diferentes de inserção, que, por detrás, se

posicionam em execuções diferentes. Prossegue, ainda, enfatizando que

integração tem sido compreendida de diversas maneiras, surgindo em função dos

questionamentos quanto as práticas sociais e escolares de segregação, assim

como as atitudes sociais em relação às pessoas com deficiência intelectual”.

Sobre esta questão, Werneck explica que: “a integração e a inclusão são

dois sistemas organizacionais de ensino que têm origem no principio de

normalização. Continua explicando que normalizar não é tornar o indivíduo

normal, mas é atender às suas necessidades e reconhecer o seu direito de ser

diferente”

“Entre estes dois sistemas de organização de ensino existem semelhanças

e diferenças. A semelhança é que ambos promovem a inserção da pessoa com

necessidades educativas especiais. A diferença é que a integração é a inserção

parcial. Questiona-se que nesta forma de inserção não ocorre a reestruturação da

escola. A inclusão é a inserção total e incondicional, também chamada de sistema

caleidoscópio, termo criado por educadores canadenses. Este sistema de

organização de ensino exige uma transformação da escola, uma ruptura do

sistema educacional“ Werneck, (1997:103)

23

Na integração, a inserção depende da capacidade do aluno em adaptar-se

à escola, enquanto, na exclusão, a inserção focaliza as particularidades de cada

aluno.

A integração traz consigo a idéia de que a pessoa com deficiência deve

modificar-se segundo os padrões vigentes na sociedade, para que possa fazer

parte dela de maneira produtiva e, conseqüentemente ser aceita. Já a inclusão

traz o conceito de que é preciso haver modificações na sociedade para que esta

seja capaz de receber todos os segmentos que dela foram excluídos, entretanto

assim em um processo de constante dinamismo político social.

A inclusão é uma opção que não é incompatível com a integração, mas é

um movimento que vem questionar políticas, organização das estruturas escolares

regulares e especiais, sendo a meta principal não deixar ninguém no exterior da

escola regular. A inclusão tem um caráter de reunir alunos com e sem

dificuldades, funcionários, professores, pais, diretores, enfim todas as pessoas

envolvidas com a educação. Sua metáfora é a caleidoscópio: O caleidoscópio

precisa de todos os pedaços que o compõem. Quando se retira pedaços dele, o

desenho se torna menos complexo, menos rico. As crianças se desenvolvem,

aprendem e evoluem melhor em um ambiente rico e variado.

2.2- A história da inclusão no cenário brasileiro

A defesa da cidadania e do direito à educação das pessoas portadoras de

deficiência é atitude muito recente em nossa sociedade. Manifestando-se através

de medidas isoladas, de indivíduos ou grupos, a conquista e o reconhecimento de

alguns direitos dos portadores de deficiência podem ser identificados como

elementos integrantes de políticas sociais, a partir de meados deste século.

Segundo Mazzotta, (2001:67) “O atendimento aos portadores de deficiência

no Brasil deu-se no século XIX, por iniciativas oficiais e particulares isoladas,

refletindo o interesse de alguns educadores pelo atendimento educacional,

inspirados por experiências européias e norte-americanas.

24

“A preocupação com a inclusão desta minoria marginalizada na política

educacional brasileira veio ocorrer somente no final dos anos 50 e início da

década de 60 do século XX.”

“A história da Educação Especial no Brasil foi se organizando sempre de

maneira assistencial, dentro de uma pesquisa segregativa e por segmentação das

deficiências, fato que contribuiu para o isolamento da vida escolar e social das

crianças e jovens com deficiência.” . Mazzotta, (2001:67)

A proteção das pessoas portadoras de deficiência nunca foi tema constante

dos textos constitucionais. A primeira ação nesse sentido de proteção específica à

pessoa portadora de deficiência foi na Emenda Constitucional de 1969.

2.3- A identidade dos alunos com necessidade educacionais

especiais no contexto da política educacional brasileira.

A linguagem política referente aos alunos com necessidades educacionais

especiais, à inclusão e à integração escolar, pode-se constatar a ambigüidade do

tratamento de tais termos e expressões, no conjunto de instrumentos legais e

normativos da educação brasileira nos últimos quatorze anos. Destacando

conteúdos do Plano Nacional de Educação e das Diretrizes Nacionais para a

Educação Especial na Educação, aponta algumas das dificuldades para

compreensão da identidade dos alunos referidos como tendo necessidades

educacionais especiais. Apresenta, também, algumas recomendações para a

revisão da política educacional em relação a tais elementos.

A complexidade que envolve a questão da identidade pessoal, da

identidade social e mesmo das identidades nacionais deve-se, em grande parte, à

dualidade determinada pela presença ou ausência de participação ativa, dignidade

e respeito. Em outras palavras, deve-se às situações de inclusão e exclusão ou

marginalização do ser enquanto ser que pensa e age.

25

No mundo ocidental, as últimas décadas do século XX, configuram-se como

destacado momento da globalização da economia, de valores e culturas, bem

como momento de fortalecimento dos movimentos sociais organizados em defesa

da inclusão e eliminação das situações de exclusão.

Iniciamos o novo milênio imbuídos da crença na importância da

preservação e alargamento dos espaços conquistados na luta pela melhoria da

qualidade de vida de cada um e de todos os homens, pautando-nos mais pelo

desejável do que pelo que nos apresenta como possível. Nesse sentido, é

oportuno lembrar o que dizem autores, os processos atuantes em escala global

atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e

organizações em novas combinações de espaço-tempo, tornando o mundo, em

realidade e em experiência, mais interconectado. A globalização implica um

movimento de distanciamento da idéia sociológica clássica da sociedade como um

sistema bem delimitado e sua substituição por uma perspectiva que se concentra

na forma como a vida social está ordenada ao longo do tempo e do espaço.

Particularmente no que se refere às identidades culturais, Hall, comenta

que as identificações globais, uma vez colocadas acima do nível da cultura

nacional, começam a deslocar e, algumas vezes, a apagar, as identidades

nacionais. As identidades nacionais permanecem fortes, especialmente com

respeito a coisas como direitos legais e de cidadania, mas as identidades locais,

regionais e comunitárias têm se tornado mais importantes.

Da mesma maneira, a busca fundamental do homem pela liberdade, no

plano individual, e pela igualdade de direitos e de oportunidades, no espaço social,

fortalece a construção de sua identidade pessoal e social. A importância, pois, das

comunidades locais e regionais não pode ser ignorada ou diminuída na

elaboração, discussão e entendimento das políticas sociais públicas.

Partindo desses pressupostos é que registro a leitura crítica da política

educacional brasileira, tomando como referência os principais documentos legais

e normativos oficiais a partir da Constituição Federal de 1988. Assim, foram

analisados os seguintes documentos: Lei Federal nº 7853/89 (dispõe sobre a

política Nacional para a integração da Pessoa Portadora de Deficiência), Lei nº

26

9394/96 (Institui a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), Decreto

Federal nº 3298/99 (Regulamenta a Lei 7853/89 e Institui a Política Nacional para

a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência), Lei nº 10.172, de 09 de janeiro

de 2001 (aprova o Plano Nacional de Educação), Resolução CNE nº 02, de 11 de

setembro de 2001 (institui as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na

Educação Básica).

Nessa tentativa de síntese, focalizei a linguagem política relativa aos

educandos com necessidades educacionais especiais, a integração e a inclusão

escolar, detalhando alguns pontos do Plano Nacional de Educação e da

Resolução CNE nº 02/2001.

Cabe destacar, de início, que a política educacional é somente uma das

áreas das políticas sociais construídas segundo o princípio da igualdade de todos

perante a lei. Assim, que diferencialmente, abrange igualmente as pessoas de

todas as classes sociais. Tem também como pilar outro princípio da democracia

social que é a igualdade de oportunidades, cuja concretização demanda referência

a situações específicas e historicamente determinadas.

Nas diretrizes para o ensino superior, o plano define um prazo para sua

universalização, considerando a indissociabilidade entre acesso, permanência e

qualidade da educação escolar.

Entre os objetivos e metas consta a observância das metas estabelecidas

pela educação especial, nos termos em que aparecem. Estabelece um prazo para

elaborar padrões mínimos nacionais de infra-estrutura, incluindo adaptação dos

edifícios escolares para o atendimento dos alunos portadores de necessidades

especiais.

Com relação à Educação Especial reitera que a diretriz atual é a da plena

integração das pessoas com necessidades especiais em todas as áreas da

sociedade. Trata-se portanto, de duas questões: o direito à educação comum a

todas as pessoas e o direito de receber essa educação sempre que possível junto

com as demais pessoas nas escolas regulares Ainscow (1997:119). Assim, refere-

se à integração e não à inclusão, bem como à educação comum e escolas

regulares e não à educação e escolas inclusivas.

27

Nas diretrizes menciona uma escola integradora, inclusiva, que implica a

participação da comunidade. Destaca que a política de inclusão reorienta as

escolas especiais para prestarem apoio aos programas de integração e registra

como medida importante a garantia de vagas no ensino superior para os diversos

graus e tipos de deficiências. Ainscow (1997:122). Portanto, identifica escola

integradora com escola inclusiva e a política de inclusão objetiva, também, a

integração de alunos com quaisquer deficiências.

Entre algumas metas salienta-se que em alguns anos, implante ao menos

um centro especializado, destinado a pessoas com severa dificuldade de

desenvolvimento, em parceria com as áreas de saúde, assistência social, trabalho

e organização da sociedade civil, garantir a generalização da aplicação de testes

de acuidade visual e auditiva em todas as escolas de educação infantil, ensino

fundamental, médio e superior. Também a implantação e generalização do ensino

de LIBRAS. Como tendências recentes dos sistemas de ensino são apontadas:

integração/ inclusão, quando possível; ampliação do regulamento das escolas

especiais para prestarem apoio e orientação aos programas de integração, além

do específico; melhoria da qualificação dos professores do ensino superior;

expansão dos cursos de formação / especialização.

Sintetizando a análise das políticas públicas de educação escolar, detive-

me em alguns dos pontos que me pareceram merecedores de atenção quando

de sua operacionalização e revisão:

Há uma oscilação entre a adoção dos modelos médico e social na

declaração de princípios e nos programas e propostas de ação.

O sentido empregado para a expressão educandos com necessidades

educacionais especiais localiza no aluno a origem das necessidades e não

esclarece a sua relação com o meio escolar. Tanto é assim que em diversos

textos legais e normativos há a expressão “portadores de necessidades

especiais” (como LDB, PNE, RES./CNE); ora refere-se a condições individuais,

ora ambientais.

É fundamental que se entenda que as necessidades especiais não

decorrem linearmente das condições individuais, tomadas isoladamente, mas

28

apresentam-se concreta e objetivamente na relação entre a pessoa e as

situações de vida. Portanto, evidencia um grande equívoco a expressão

“Portador de Necessidades Especiais”.

Ainda a esse respeito, conforme Mazzotta, (2002:30) destaca que:

“alunos e escolas são assim identificados por seus papéis

sociais e não, propriamente, por sua configuração

individual separada ou isolada de uma contextualização

social e cultural. Enquanto papéis sociais e atores culturais,

em suas relações recíprocas surgem necessidades e

respostas condicionadas pelo contorno dinâmico e atuante

de seu meio ambiente. Esta faceta, que parece óbvia, tem

sido reiteradamente ignorada nas discussões e

encaminhamentos desse tema, particularmente no que se

refere a educandos portadores de deficiências e que

apresentem necessidades especiais.”

“Alunos e escolas são adjetivados de comuns ou especiais e em

referência a uns e outras são definidas necessidades comuns ou especiais a

partir de critérios arbitrariamente construídos por abstração, atendendo, muitas

vezes, a deleites pessoais ou até mesmo de espertos. Alertemo-nos, também,

para os grandes equívocos que cometemos quando generalizamos nosso

entendimento sobre uma situação particular”. Mazzotta, ( 2002:31)

“Imprecisão conceitual sobre INTEGRAÇÃO e INCLUSÃO, ora

empregadas com o mesmo significado, ora colocadas em oposição ou

superação da integração pela inclusão. Dentre outras conseqüências, tal

indefinição contribui para uma cisão entre “defensores” da integração e da

inclusão, como se o próprio sentido de educação já não fosse a busca de

integração ou inclusão social. Mais ainda, pois, a integração não pode ser vista

simplesmente como um problema de políticas educacionais ou de modificações

29

pedagógico-curriculares na Educação Especial. Integração é um processo

subjetivo e inter-relacional. “Glat, (1997: 199).

Imprecisão no sentido e abrangência da EDUCAÇÃO ESPECIAL e da

EDUCAÇÃO INCLUSIVA, ora colocadas numa relação de oposição, ora de

superação ou incorporação, tanto nos textos legais e normativos quanto nos

discursos de multiplicadores dessas idéias; com a conseqüente desqualificação

da educação especial e dos profissionais que nela atuam, como se fossem

artífices de uma perversidade social e cultural. Tais circunstâncias contribuem

para a evasão dos profissionais especializados, desestímulo à formação de

novos professores especializados e desativação e extinção de cursos superiores

de habilitação específica ou especialização. Além disso, o que é pior,

estabelece-se uma polarização na educação escolar entre classe comum e

escola especial, provocando exclusão de numerosos contingentes de alunos do

sistema escolar.

Quanto à qualificação dos professores, estabelece como requisito uma

“formação em educação especial ou em suas áreas específicas”, sem a devida

fundamentação.

Cabe salientar que, a despeito das diferentes e às vezes conflitantes

abordagens para a implementação de uma educação escolar inclusiva, a

promulgação da recente legislação consiste importantíssimo avanço ao apoiar

publicamente a inclusão escolar de todas as crianças e jovens. E, como bem diz

Mantoan, (1997:120), “a inclusão é um motivo para que a escola se modernize e

os professores aperfeiçoem suas práticas e, assim sendo, a inclusão escolar de

pessoas deficientes torna-se uma conseqüência natural de todo um esforço de

atualização e de reestruturação das condições atuais do ensino”.

30

Em razão disso, é preciso que estejamos cientes de que:

“multiplicar informações e conhecimentos não será suficiente

enquanto as práticas profissionais e as políticas públicas

continuarem alheias a considerações éticas, de justiça e de

eqüidade. Todas as pesquisas, bibliotecas e bancos de

dados, enquanto não resultem em novas práticas de gestão

e mudanças comportamentais, não resolverão os intricados

problemas de nossa sociedade no limiar do terceiro

milênio”.Rattner, (2000:362)

E, nesse momento, é preciso estar alerta para o fato de que a política

educacional, enquanto política social pública, tem um dinamismo que envolve

avanços e recuos, desvios e contradições tornando imperioso não

desencadearmos ou aderirmos a uma proposta de inclusão selvagem a exemplo

do que ocorreu nos anos setenta na Itália com a então conhecida “integração

selvagem”.

31

CAPITULO III – DAS NECESSIDADES EDUCACIONAIS

ESPECIAIS À REMOÇÃO DE BARREIRAS PARA A

APRENDIZAGEM

Apesar dos avanços conseguidos na concepção da educação como

dimensão central dos países com vistas ao desenvolvimento sustentado nos

aspectos econômico e social, ainda convivemos com enormes obstáculos para

assegurar universidades de boa qualidade para todos e para toda a vida, o que

pode ser constatado nos elevados índices de fracasso escolar.

O capítulo foi analisado através da visão de alguns autores como: Rosita

Edler de Carvalho (2000); Alcott (1997); Ainscow (1997); LDB (1998) e Declaração

de Salamanca (1994).

Para enfrentar esse grave problema muito se tem discutido e, nas últimas

décadas, no âmbito da educação especial, as várias mudanças de tendências nos

paradigmas educacionais têm provocado uma série de reflexões e de

substituições dos termos, até então empregados. A questão da terminologia

sempre foi objeto de controvérsias, embora a busca de novas denominações

objetivem identificar os sujeitos aos quais se referem, sem estigmatizá-los.

As expressões necessidades especiais e necessidades educacionais

especiais, por exemplo, são denominações propostas e, geralmente, usadas como

sinônimas pelos que trabalham em educação especial, para substituir várias

outras atribuídas ao seu alunado.

Segundo Rosita Edler Carvalho, (2000:35) “As referidas expressões tem

conotações distintas das implícitas nos conceitos de deficiência e incapacidade

pois, no imaginário coletivo, a deficiência e a incapacidade dela resultante estão

associadas com patologia, numa visão reducionista e preconceituosa em relação

aos indivíduos.”

“A expressão necessidades especiais consta do Art. 58 da LDB 9394/96 em

seu Capítulo V, referente ao alunado da educação especial. Considerando-se que

32

a nova LDB, depois de uma longa “gestação”, veio a luz no auge de todo um

movimento em prol de uma universidade inclusiva – uma universidade de boa

qualidade para todos-, a expressão tornou-se mais abrangente, aplicando-se, não

só os alunos com deficiências, como a todos aqueles “excluídos” por diversas

razões que os levam a ter necessidades especiais, em várias dimensões de vida,

particularmente a universidade. Em decorrência, também se ampliou o alunado da

educação especial, pelo menos, na letra da lei”.

“A substituição dos termos: excepcional, deficiente, portador de deficiência,

pessoa com deficiência e outros, pela expressão “necessidades especiais”, traduz

uma intenção persuasiva dos especialistas em relação aos leigos. Objetiva-se

favorecer, por meio de palavras, um corte epistemológico que evolua do

paradigma reducionista organicista – centrado na deficiência do sujeito – para o

paradigma interacionista – que exige uma leitura dialética e incessante das

relações sujeito/mundo.” Rosita Edler Carvalho, (2000:35)

Sob este enfoque interacionista, necessidades especiais traduzem as

exigências experimentadas por qualquer indivíduo e que devem ser supridas pela

sociedade. Enquanto que na expressão “pessoa portadora de deficiência”

destaca-se a pessoa que carrega (porta, possui) uma deficiência, pretende-se que

“necessidades especiais” evidenciem a responsabilidade social de prever e prover

meios de satisfaze-las.

Usando-se uma imagem da Psicologia da Forma, a deficiência deixa de ser

a figura passando a ser o principal papel, seja na promoção das necessidades

especiais de determinadas pessoas ou grupos, seja na satisfação dessas

necessidades.

Conforme Rosita Edler Carvalho, (2000.38) “Em vez de o individuo ser

percebido como o responsável solitário por suas limitações, os aspectos políticos,

sociais, econômicos e ideológicos ganham a dimensão de figura. E passam eles a

ser analisados no que contribuem para a concorrência e perpetuação das

deficiências, tanto mais intensamente, quanto menos vigorosos forem os

movimentos sociais em prol de ações preventivas ou mais escuros forem os

33

interesses para identificar e satisfazer as necessidades especiais que surgem e se

manifestam em muitas pessoas.”

“Que o empenho com a substituição de nomenclaturas, além de evitar os

estigmas, é para reduzir o hiato entre o que se pretende e o que se tem alcançado

na educação de pessoas portadoras de deficiência”

”Como no âmbito educacional escolar as expressões têm sido amplamente

usadas por profissionais da educação especial, estabeleceu-se uma ligação entre

as necessidades educacionais especiais e a deficiência (embora, todos os alunos,

indiscriminadamente, sintam e manifestem necessidades educacionais, ainda que

temporariamente). Como conseqüência dessa associação, todos os que se

desviam dos padrões normais entram para a categoria de alunos com

necessidades educacionais especiais, percebidos como portadores de deficiência,

ainda que lhes seja aplicada uma outra etiqueta” Rosita Edler Carvalho, (2000:38)

Em outras palavras, a imprecisão e abrangência da expressão, associada à

nossa forte tendência de medicalização da educação, tem expandido o número de

alunos que se encaixam na categoria de necessidades educacionais especiais,

passando à condição de deficientes, circunstancialmente produzidos. E o que é

mais sério, acabam desalojando dos espaços os deficientes reais, aqueles que,

pelas limitações impostas por suas deficiências auditivas e visuais, apresentam

necessidades específicas que exigem adaptações de toda a ordem, inclusive na

universidade, para garantir-lhes a igualdade de direitos à aprendizagem e à

participação.

Se por um lado é pertinente, como direito de cidadania, considerar as

necessidades dos diferentes alunos, por outro lado teme-se que, com outra

maquiagem, retornemos aos procedimentos clínicos, na medida em que as

necessidades educacionais especiais induzem à noção de que precisa ser

diagnosticado.

34

3.1- As necessidades educacionais especiais no Relatório de

Warnock.

O relatório ou informe Warnock, assim conhecido internacionalmente, é um

documento publicado em 1978, fruto do trabalho coordenado por Mary Warnock,

do Departamento de Educação e Ciência, da Inglaterra. Trata-se do relatório de

uma investigação que durou quatro anos, acerca das condições da educação

especial inglesa, nos anos de 70.

Suas conclusões e recomendações foram apresentadas ao Parlamento

inglês e tiveram repercussão nacional e internacional, influenciando textos de

mandamentos legais, como é o caso, em 1981, do Education Act, dentre outros,

como a nossa própria LDB.

A introdução do conceito de necessidades educacionais especiais, em

substituição das categorias deficiência ou desajustamento social e educacional, é

um dos aspectos-chave que constam do documento. Na verdade, para as funções

da educação, foi questionada a importância daquelas categorias de classificação,

na medida em que pouco ou nada contribuíram para o sistema educacional, como

um todo.

Tratava-se, à época, de abordagem inovadora em educação especial,

evitando-se a terminologia da deficiência. O conceito da incapacidade e o de

desvantagem educacional, associados às dificuldades de aprendizagem, foram

questionados, alegando-se que não há uma relação biunívoca entre incapacidade

auditiva e visual e as dificuldades educacionais enfrentadas pelos alunos.

Em outras palavras, significa que a presença da deficiência não implica,

necessariamente, dificuldades de aprendizagem. De outro lado, inúmeros alunos

apresentam distúrbios de aprendizagem e não são, necessariamente, portadores

de deficiência. Mas ambos os grupos têm necessidades educacionais especiais,

exigindo recursos educacionais que não são utilizados na via comum da educação

escolar, para alunos das mesmas idades.

Segundo as estatísticas apresentadas no documento, é muito grande a proporção

de alunos com dificuldades de aprendizagem se serem portadores de qualquer

35

deficiência. Ambos os grupos se encaixam na condição de necessidades

educacionais especiais exigindo respostas educativas adequadas, além de

medidas preventivas para evitar que, na escola, os casos se originem ou se

intensifiquem.

Essas afirmativas provocam inúmeras reflexões com implicações na

organização do atendimento educacional escolar: se por um lado o impacto

educacional provocado pela deficiência depende, principalmente, do estágio do

desenvolvimento global alcançado pelo universitário, por outro lado, as

dificuldades enfrentadas, mesmo pelas mais severamente comprometidas,

dependem dos estímulos e dos apoios que lhes são oferecidos em casa e na

escola. O mesmo aplica-se às necessidades educacionais especiais dos alunos

com distúrbios de aprendizagem.

A ênfase desloca-se, pois, do aluno com defeito para situar-se na resposta

educativa da escola, sem que isso represente negação da problemática vivida

pelo educando.

Essas considerações permitem concluir que identificar a natureza da

deficiência e considerá-la como único critério de abordagem das desvantagens

escolares, comunica pouco acerca das necessidades educacionais a serem

supridas nas universidades. Dizendo de outro modo, não existem critérios

objetivos e confiáveis para relacionar a deficiência – enquanto atributo isolado do

indivíduo – e as dificuldades de aprendizagem que enfrenta, pois a maioria destas

é devido às condições educacionais precárias, incapazes de suprir-lhe as

necessidades.

Para atender às necessidades, dentre outros recursos educacionais, é

preciso promover a eliminação de barreiras arquitetônicas; preparo e competência

profissional dos educadores; a ampliação do material didático existente,

incorporando-se, como rotina, a aquisição de materiais específicos para alunos

cegos e surdos; as adaptações dos equipamentos escolares; as adequações

curriculares e o apoio psicopedagógico ao aluno e a orientação a seus familiares.

Por mais bem-intencionada e justificada pelos achados da pesquisa

realizada pelos integrantes do grupo de trabalho, a expressão necessidades

36

educacionais especiais tem sido objeto de inúmeras críticas, algumas favoráveis e

outras contrárias ao seu uso.

Segundo Alcott, (1997:03) “No primeiro caso porque o foco da atenção se

desloca da deficiência para as respostas educativas da universidade que, em

parceria com as famílias, devem suprir as necessidades referentes a: meios

especiais de acesso ao currículo; “

“No segundo caso, as críticas mais significativas são: a expressão é muito

vaga, exigindo novos conceitos para sua adequada compreensão; é muito

abrangente incluindo alunos com e sem deficiência mas que apresentam

dificuldades de aprendizagem, além dos de altas habilidades que também

apresentam necessidades educacionais especiais; não deixa clara a diferença

entre necessidades especiais e necessidades educacionais especiais, podendo

ocorrer a existência das necessidades especiais na vida diária e que não são

necessariamente extensivas ao processo de aprendizagem:ao suprir qualquer

alusão à deficiência, acarreta uma visão mágica e idealizada da educação

especial, na medida em que caberia a esta garantia do pleno desenvolvimento de

todos os alunos”. Alcott, (1997:04)

Acrescente-se a esses aspectos um outro, igualmente importante: a

expressão pouco esclarece ou contribui para a melhoria da prática pedagógica.

Apesar dessas e de outras criticas, os estudiosos do assunto reconhecem o

enorme valor histórico da contribuição da equipe chefiada por Warnock, porque

intensificou a discussão acerca da educação especial, bem como das propostas

de integração.

37

3.2- As necessidades especiais na Declaração de Salamanca

“No capítulo de Introdução da Declaração de Salamanca, explicita-se que

as necessidades educativas especiais referem-se a todas as crianças e jovens

cujas necessidades decorrem de sua capacidade ou de suas dificuldades de

aprendizagem“ Declaração de Salamanca, (l994:18)

Vinte seis anos após a divulgação do informe Warnock, encontra-se, neste

conceito adotado na declaração de Salamanca (1994: 28), as idéias-chave que já

tinha sido cunhadas desde o inicio da década de 70, tendo sido preservadas na

expressão extraída do Informe e agora retomadas sob o paradigma da escola de

boa qualidade para todos, uma escola inclusiva.

Do próprio Informe já consta a questão da não-segregação de alunos com

dificuldades de aprendizagem, estimulando-se sua integração sob três formas: a

física, a social e a funcional (a mais completa). Estas idéias desenvolveram-se e

reapareceram na Declaração de Salamanca através do conceito de escolas

integradoras entendidas como aquelas que encontraram maneiras de educar, com

êxito, todas as crianças, adolescentes e jovens, inclusive os que apresentam

deficiências graves.

Com esse objetivo (o êxito, o sucesso). Além de atender as necessidades

educacionais especiais de todos os aprendizes, as escolas integradoras poderão

favorecer, na comunidade escolar, mudanças de atitudes de discriminação e de

exclusão de tantos em tantos alunos, tidos como “problemas”, substituindo-as por

movimentos de aceitação das diferenças e de reciprocidade no relacionamento,

em vez de piedade ou de tolerância.

“Independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais,

emocionais, lingüísticas ou outras”, todos devem ser recebidos em todas as

universidades (item 3, Declaração de Salamanca)” Uma escola que inclua a todos,

que reconheça a diversidade e não tenha preconceitos contra as diferenças, que

atenda as necessidades de cada um e que promova a aprendizagem. (op. cit.

Prefácio).

38

Partindo-se do pressuposto de que todos nós já experimentamos

necessidades educacionais especiais, em alguma situação de nossa trajetória de

vida escolar, elas passam a ter uma conotação de “normalidade” deixando de

servir como rótulo ou estigma para alguns. Pode-se dizer que tais necessidades

se manifestam numa dimensão de continuum, na qual se identificam desde

aquelas permanentes as mais intensas até as transitórias e menos expressivas.

Segundo Rosita Edler Carvalho, (2000:45) “As escolas integradoras

pressupõem uma pedagogia centrada no aluno, que permita identificar suas

necessidades, para supri-las, com vistas ao seu pleno desenvolvimento e em

respeito aos seus direitos de cidadania de pertencer e de participar.”

“Nessas escolas integradoras, alunos com necessidades educacionais

especiais devem, sempre que possível, aprender junto com seus pares, ditos

normais, para fomentar a solidariedade entre todos. Apesar da enorme

controvérsia implícita na interpretação de “sempre que possível” (expressão vaga

e muitas vezes de utilização perversa), as novas idéias sobre as necessidades

especiais sugerem que a escolarização de crianças, adolescentes, jovens e

adultos, devem ocorrer no ensino regular." Rosita Edler Carvalho, (2000:45)

Na Declaração de Salamanca, (1994: 26) “As classes e as escolas

especiais são consideradas exceções, recomendáveis apenas para os casos cujas

necessidades educacionais ou sociais não podem ser satisfeitas, em turmas de

ensino regular ou, quando necessário, para o bem-estar do aluno de seus pares.”

“Estamos diante de outras ambigüidades, pois fica difícil objetivar,

diferenciando-se realmente, quando as universidades podem ou não podem

satisfazer as necessidades dos alunos e o quanto desejam ou não enfrentar os

desafios para tal”

“Igualmente complicado é operacionalizar o quando necessário para o bem-

-estar do aluno e de seus pares. Como interpretar o sentido e o significado do

bem-estar, dos deficientes dos outros, não deficientes? Qual é, realmente, a maior

preocupação: para com o deficiente ou como, infelizmente, pensam muitos, para

com os “normais” que poderiam ser prejudicados pela presença dos deficientes?

39

Questões como essas tem servido para as escolas justificarem suas

recusas aos alunos, alegando falta de condições (o que nem sempre é

verdadeiro), ou receio de não contribuírem para o bem-estar dos alunos.”

Declaração de Salamanca, (1994: 26)

Apesar da ressalva quanto às universidades, a Declaração de Salamanca

não traz uma recomendação decisiva para que deixem de existir. Ao contrário:

alude à a experiência nelas acumuladas como excelente contribuição para

implementação da educação inclusiva. O que se destaca é a preocupação com a

sua proliferação, como espaços exclusivos e segregados para o alunado excluído

das redes pela ineficiência do processo ensino-aprendizagem que, sendo elitista,

rotula e expulsa.

3.3- A remoção de barreiras para a aprendizagem na educação

especial

“As discussões em torno das necessidades educacionais especiais e de

suas relações com as propostas de educação para todos apresentarem sensíveis

progressos nas reuniões de Ainscow (1997:81) e de Salamanca (1994:34) e em

outros eventos organizados por diferentes países, dos quais resultam documentos

contendo recomendações”

“No entanto, a distância entre o discurso e a prática continua enorme, além

das também consideráveis confusões entorno da terminologia e das populações-

alvo às quais os “discursos”, materializados em textos, se destinam. Costuma-se

relacionar a Declaração Mundial de Educação para Todos com os alunos ditos

normais, enquanto que a Declaração de Salamanca é entendida como um

documento “complementar”, destinados aos alunos com necessidades

educacionais especiais (deficientes ou não, mais com a característica comum de

serem problemáticas).” Salamanca (1994:34)

40

Devido a isso, parece que ainda não é muito claro para todos os

educadores e pais o vínculo entre a inclusão e a proposta de “educação para

todos”, parecendo que o documento de Salamanca refere-se aos portadores de

deficiência e o de Jomtiem aqueles alunos que, sendo normais, “não apresentam

necessidades educacionais especiais” ou estão fora da escola.

Essa dicotomia tem intensificado a separação da educação em termos

administrativos e políticos, filosóficos e pedagógicos) em duas grandes

modalidades: a comum ou regular, destinada aos ditos normais e a especial, para

alunos com necessidades educacionais especiais.

Os movimentos em prol de uma educação para todos são movimentos: de

inclusão de todos em universidades de qualidade, “independentemente de suas

condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras” e para

garantir-lhes a permanência, bem-sucedida, no processo educacional escolar

desde a educação infantil até a universidade.

Como a expressão necessidades educacionais especiais é muito

abrangente, e consagrou-se na educação especial, o que se constata é a

rotulação de todos que se encaixam na nomenclatura como deficientes, alunado

da educação especial, ainda é percebida como a outra educação, que não é

regular.

O inchaço no alunado da educação especial entre nós assume dimensões

consideráveis devido ao fracasso escolar. Esse fato tem um problema para a

maioria de nossos Estados e Municípios, pois suas Secretárias de Educação não

dispõem de recursos financeiros, materiais e humanos para fazer frente à

demanda por educação especial, mesmo deixando de implementá-la em classes

ou em escolas especiais.

Se a proposta de educação inclusiva já tivesse consenso dos pais de

alunos, dos professores e de gestores, essa expansão não seria tão problemática:

todos os alunos estariam na condição de educandos, sem rótulos para eles ou

para a educação que se lhes oferece. Como quaisquer aprendizes de uma

universidade de boa qualidade para todos, seriam os usuários do especial na

educação e não da educação especial como subsistema à parte.

41

Os educadores que atuam no ensino universitário declaram suas

preocupações com o fracasso escolar e com a democratização do acesso de

todos à universidade, mas, dificilmente, usam a expressão educação inclusiva,

como paradigma das mudanças necessárias. Talvez porque a idéia de inclusão

está, ainda relacionada aos alunos com deficiência aos quais a maioria dos

professores do ensino universitário opõem resistência, por considerá-los como

alunado de um outro subsistema, cuja competência e dos especialistas em alunos

com defeito.

Para a maioria dos administradores, a inclusão está associada à expansão

da matrícula, traduzida, estatisticamente, pelo aumento das vagas nas

universidades, ou pelo número de alunos portadores de deficiências nas turmas

de ensino superior, sem a ênfase necessária à qualidade da resposta educativa da

universidade, para todos.

42

CONCLUSÃO

A questão central está no como as comunidades, as universidades e os

sistemas educativos podem oferecer respostas educativas de boa qualidade pela

remoção de barreiras para a aprendizagem, entendidas como obstáculos

enfrentados pelos alunos, criando-lhes dificuldades no processo de adquirir e

construir conhecimentos, bem como para participar e pertencer.

Deslocar o eixo das reflexões das necessidades educacionais especiais

para remoção de barreiras à aprendizagem parece uma proposta mais fadada ao

êxito, na prática, pois na idéia de remoção de barreiras, todos os atores e autores

do e no processo ensino-aprendizagem são considerados como co-partícipes.

Melhorar as universidades e os processos que nela têm lugar, identificando

e removendo barreira, tanto diz respeito àqueles educadores que estão

comprometidos com as idéias de educação para todos, com os que trabalham

com o conceito de necessidades educacionais especiais e com os que defendem

os movimentos de inclusão, em sua concepção mais abrangente.

Afinal, espera-se que a universidade se identifique como um espaço

privilegiado de formação e de exercício da cidadania, de apropriação e construção

de conhecimentos e onde se desenvolva uma cultura para a paz. Um espaço

privilegiado de aprendizagem e de participação, seja para seu alunado, seja para

toda a sua comunidade.

Para garantir o sucesso na concretização desta intencionalidade educativa,

há que superar as barreiras existentes em suas múltiplas origens e intensidades,

para o que se faz necessário: libertar o aluno da condição de solitário responsável

por seu insucesso na universidade, identificar todos os obstáculos que lhe

impedem ou dificultam seu sucesso no processo de aprendizagem, analisar o

43

contexto em que a aprendizagem se realiza, e abandonar, definitivamente, os

rótulos, quaisquer que sejam.

As barreiras para a aprendizagem não existem, apenas, porque as pessoas

sejam deficientes ou com distúrbios de aprendizagem, mas decorrem das

expectativas do grupo em relação às suas potencialidades e das relações entre os

aprendizes e os recursos humanos e materiais, socialmente disponíveis, para

atender às suas necessidades. Dizendo de outro modo, as barreiras à

aprendizagem dependem do contexto onde são criadas, perpetuadas ou, muitas

vezes e, felizmente, eliminadas.

Elas não estão, apenas, nos alunos, nos professores ou nas relações entre

eles e a universidade e as famílias: existem barreiras em todos os componentes

do sistema educativo, nos níveis macro e micropolíticos.

Uma agenda educacional inclusiva pressupõe a identificação de todas as

formas de exclusão / segregação adotadas no sistema para que, em conjunto,

gestores, educadores, família e alunos busquem formas de colaboração que

permitam o enfrentamento dos obstáculos que estejam interferindo na

aprendizagem de qualquer aluno. Alguns desses obstáculos decorrem de

características biopsicossociais, o que não nos autoriza a rotular esse aluno como

incapaz e impedido, exacerbando-se a visão determinista de que a tendência é

sua marginalização social. Tão pouco nos autoriza a organizar o atendimento

educacional escolar como compensação de suas limitações.

Felizmente tendência não é destino e, havendo igualdade de

oportunidades, todos poderão ser incluídos na maravilhosa experiência de

aprender a aprender, aprender a pensar e aprender a fazer.

44

ANEXOS

45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

· BEZERRA, C.C. (2003). “BR BRAILLE: Programa Tradutor de Textos Braille digitalizados para caracteres alfanuméricos em Português”. 2003.

· CARVALHO, Rosita Edler. A nova LDB e a Educação Especial. Rio de Janeiro: WVA,2000.

· FOUCAULT, Michel. História da Loucura. São Paulo: Editora Perspectiva,2002.

· MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Ser ou estar, eis a questão: explicando o déficit intelectual. Rio de Janeiro: WVA, 1997.

· MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Integração X Inclusão: educação (de qualidade) para todos. Porto Alegre: Revista Pátio, 1997. · MAZZOTTA, Marcos José Silveira. Educação Especial no Brasil: Histórias e políticas públicas. São Paulo: Cortez, 2001. · WERNECK, Claudia. Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva. Rio de Janeiro: WBE, 1997. · GLAT, Rosana. Um novo olhar sobre a integração do deficiente. São Paulo: Memnon, 1997.

· RATTNER, Henrique. Política de ciência e tecnologia no limiar do século.São Paulo:2000.

· Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ,1998.

· ALCOTT, M. Na introdução para crianças com necessidades especiais. Hoddr & Stoughton, 1997.

· MOORES, D. F. Pesquisa Recente em Comunicação, 1971.

· NEGREDA, A. M. S. Comunicação Total: estudo e atualização. Atualização Científica, 1992.

· SÁNCHEZ, C. Vida para os surdos. Nova Escola. 1993.

46

· VANDERHEIDEN, Gregg. C. Fazendo recursos accessíveis para pessoas com deficiência. Trace R e D center at the universit of Wisconsin – Madisom, USA.1992.

· AINSCOW, M. Educação para todos: torná-la uma realidade. In: Caminhos para

escolas inclusivas. Lisboa: Ministério da Educação, 1997.

47

INDICE INTRODUÇÃO......................................................................................9

CAPITULO I – O APOIO AOS DEFICIENTES AUDITIVOS E VISUAIS NO

ENSINO SUPERIOR..............................................................................................10

1.1 – A comunicação entre corpo docente e o aluno deficiente............................12

1.2 – Inclusão dos deficientes auditivos................................................................15

1.3 – Inclusão dos deficientes visuais...................................................................19

CAPITULO II – OS CAMINHOS DA INCLUSÃO................................... ...............21

2.1 – Diferenciando Inclusão de integração............................................................22

2.2 – A história da inclusão no cenário brasileiro...................................................23

2.3 – A identidade dos alunos com necessidades educacionais especiais no

contexto da política educacional brasileira...................................................24

CAPITULO III – DAS NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS À

REMOÇÃO DE BARREIRAS PARA A APRENDIZAGEM.............. .....................31

3. 1 – As necessidades educacionais especiais no Relatório de Warnock............34

3.2 – As necessidades especiais na Declaração de Salamanca..........................37

3.3 – A remoção de barreiras para a aprendizagem na educação especial..........39

CONCLUSÃO.....................................................................................................42 ANEXOS..............................................................................................................44 . BIBLIOGRAFIA......................................................................................................45 INDICE....................................................................................................................47