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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE POLÍTICA DE CRÉDITO PARA O CONSUMIDOR DE BAIXA RENDA NO MERCADO DE VAREJO EDUARDO CARVALHO ROSA ORIENTADOR PROFESSOR LUCIANO DA ROCHA GERARD RIO DE JANEIRO MAIO/ 2007

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

POLÍTICA DE CRÉDITO PARA O CONSUMIDOR DE

BAIXA RENDA NO MERCADO DE VAREJO

EDUARDO CARVALHO ROSA

ORIENTADOR

PROFESSOR LUCIANO DA ROCHA GERARD

RIO DE JANEIRO

MAIO/ 2007

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

POLÍTICA DE CRÉDITO PARA O CONSUMIDOR DE

BAIXA RENDA NO MERCADO DE VAREJO

Monografia apresentada a Universidade

Candido Mendes como requisito parcial

para obtenção do Grau de Especialista

em Finanças e Gestão Corporativa.

Por: Eduardo Carvalho Rosa

RIO DE JANEIRO

MAIO/ 2007

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AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares e amigos que

contribuíram para tornar possível essa

conquista, através de palavras de carinho,

incentivo ou censura, apoiando-me a

prosseguir.

Ao Professor Luciano da Rocha Gerard

pela colaboração na minha formação e

consciência profissional, pelas valiosas

sugestões e apoio que me proporcionou

durante a condução deste trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha família por

toda a dedicação e incentivo em mais

uma etapa importante da minha vida.

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RESUMO

O consumidor desempenha papel fundamental na seleção dos atributos dosbens, determinando quais devem estar presentes nos produtos adquiridos. Acorreta avaliação da preferência do consumidor permite a formulação deestratégias adequadas para conquistar novos clientes e manter a satisfaçãodos atuais consumidores. Compreender o comportamento do consumidortornou-se importante elemento estratégico para todos agentes da cadeiaprodutiva. Mas, em se tratando de clientes das classes C, D e E, que em suamaioria nem possuem comprovantes de renda, como pode ser feita umaanálise para que o crédito possa ser cedido? Para responder a questãoapresentada, esta monografia apresentou as etapas das políticas de crédito emempresas comerciais varejistas cujas estratégias neste setor são grandesdesafios. A versatilidade e agilidade de marketing e vendas encorajam eestimulam tomadas de decisões que aumentam o risco de crédito, e, porconseguinte, existem grandes possibilidades de aumentar a inadimplência comconsideráveis perdas. Partindo dessa premissa, aliada à verificação da relaçãoentre os critérios técnicos recomendáveis para a concessão de crédito e oscritérios realmente aplicados na ponta pelas lojas, apresenta-se um estudosobre as políticas de crédito em empresas comerciais de médio porte e comoatualmente os consumidores de baixa renda estão tendo uma facilidade maiorde acesso ao crédito pelo sistema bancário, através do crédito consignado,assim refletindo em grande redução na inadimplência.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste trabalho foi a pesquisa bibliográfica,

consulta a Internet e informativos diversos de Instituições Financeiras.

A pesquisa bibliográfica, mesmo abordando diversos títulos e autores, foi

de grande importância nos diferentes assuntos citados.

A consulta à Internet e os informativos diversos, foram a fonte na qual,

se pode obter dados recentes, de forma a atualizar grande parte no trabalho.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................................................

07

1 O SISTEMA DE CRÉDITO..............................................................................................................................

12

1.1 Análise e Concessão de Crédito..............................................................................................................................

16

2 MARKETING E COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR..............................................................................................................................

18

2.1 Determinantes do comportamento do consumidor..............................................................................................................................

18

2.2 Percepções, preferências e satisfação..............................................................................................................................

20

3 POTENCIAL DE CONSUMO DOS CONSUMIDORES DE BAIXA RENDA

(CLASSES C, D e E)..............................................................................................................................

22

4 POLÍTICAS DE CRÉDITOS E FONTES DE FINANCIAMENTO PARA OS

CONSUMIDORES DE BAIXA RENDA (CLASSES C, D e E)...........................25

5 CRÉDITO CONSIGNADO: UM MEIO DE QUITAR DÍVIDAS E DIMINUIR A

INADIMPLÊNCIA...............................................................................................34

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CONCLUSÃO..............................................................................................................................

36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................................................................

38

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INTRODUÇÃO

O consumidor desempenha papel fundamental na seleção dos

atributos dos bens, determinando quais devem estar presentes nos produtos

adquiridos. A correta avaliação da preferência do consumidor permite a

formulação de estratégias adequadas para conquistar novos clientes e manter

a satisfação dos atuais consumidores. Assim, compreender o comportamento

do consumidor tornou-se importante elemento estratégico para todos agentes

da cadeia produtiva.

A atividade varejista engloba o processo de venda de produtos e

serviços visando satisfazer as necessidades pessoais do consumidor final.

Kotler (1998, p.493) define varejo como "todas as atividades envolvidas

diretamente na venda de bens e serviços diretamente aos consumidores finais

para uso pessoal". Cox (1996, p.3) diz que varejo é "a venda de produtos e

serviços para o consumidor final".

Para conquistar o cliente e conseqüentemente fidelizá-lo, é

necessário começar com um profundo entendimento do que os clientes

valorizam. Isso não é simplesmente uma questão de descobrir quais as

necessidades de produtos ou serviços que os clientes têm, nem que benefícios

de produtos ou serviços eles querem. Refere-se ao entendimento (profundo) do

que eles percebem como valioso em sua vida.

Um dos itens valiosos, principalmente para as pessoas menos

favorecidas, de classes C, D e E é, sem dúvida, o principal: ter acesso a

produtos e serviços a preços acessíveis. Mas, para a maioria das pessoas

dessas classes, o crédito ou financiamento torna-se essencial para obtenção

de bens ou serviços.

O mercado de consumidores de classes C, D e E teve um

crescimento significativo nos últimos anos. Atualmente no mundo existem

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aproximadamente 4 bilhões de pessoas que vivem com menos de US$ 4.00

por dia e, diante desta realidade, o consultor C. K. Prahalad afirma que as

corporações devem criar produtos e serviços sob medida para a população de

baixa renda, transformando-a num gigantesco mercado consumidor.

Segundo números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística), o segmento de baixa renda é composto por pessoas que recebem

entre R$ 200,00 e R$ 750,00. Existem no Brasil cerca de 25 milhões de

pessoas nesse grupo, que representam 39% da População Economicamente

Ativa (PEA).

Como este segmento é representativo, todo o mercado teve que se

adaptar as melhores condições de Políticas de Crédito e Financiamento.

As lojas que oferecem crédito direto ao consumidor têm chegado

mais próximo da população de baixa renda, que, até mesmo por razões

culturais e influência da mídia, tem preferido os produtos de crédito parcelado

(crediário) do que os produtos de empréstimo (em dinheiro).

Um grande exemplo de empresa que obteve sucesso por direcionar

seus produtos para as classes C, D e E é, sem dúvida a rede de lojas das

Casas Bahia.

As Casas Bahia tem uma história de sucesso como poucos. Com 50

anos de vida e 390 lojas instaladas nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro,

Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Santa Catarina e

Paraná, a rede especializada em móveis e eletroeletrônicos é uma das maiores

empresas varejistas do país. Fundada em 1952 pelo imigrante polonês Samuel

Klein – que começou vendendo colchas e lençóis de casa em casa a bordo de

uma carroça pelas ruas de São Caetano do Sul (SP) –, a empresa fechou o

ano de 2003 com um faturamento de R$ 4 bilhões e abre em média 25 novas

lojas por ano.

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Grande parte do sucesso da Casas Bahia se deve ao fato de ela

saber o que quer, conhecer seu público e dar ênfase ao crediário. A rede dá

condições para que o cliente faça um bom plano de pagamento, com uma série

de facilidades, e isso sem forçar a venda.

A cultura e dinâmica de crédito fundamentalmente são oriundas da

cultura das instituições financeiras, que influenciam diretamente o

comportamento creditício individual. Basicamente toda a conceituação e

fundamentação teórica das operações de crédito são originárias e advindas do

mercado financeiro bancário.

A variedade de modelos alicerçados em índices, teorias, econometria

e sistemas especialistas são tentativas de isolar um problema de uma questão

a ser estudada, polida, testada e, se eficaz, implementada de maneira a obter

lucros. Inicialmente, para determinar um modelo, devem-se postular as

variáveis que podem afetar o risco de inadimplência para posteriormente

buscar um conjunto de ferramentas para estimar ou simular resultados,

aplicando uma série de testes. Existem situações em que é necessária a

exploração de dados sem ter em mente nenhuma teoria específica

(CAOUETTE, 2000)

Cada empresa deve desenvolver uma política creditícia coordenada

para encontrar o equilíbrio entre as necessidades de vendas e,

concomitantemente, sustentar uma carteira a receber de alta qualidade. A

política de crédito deve dirigir-se a vários temas básicos, incluindo o uso de

concessão de crédito para estimular volume de vendas; critério para concessão

de um crédito comercial; condições creditícias de venda de uma empresa;

responsabilidades específicas de vendas e crédito para obter a informação

necessária para processar linha de crédito solicitadas; autoridade do

departamento de crédito para implementar procedimentos de cobrança e

crédito; responsabilidades do departamento de vendas para assistir o

departamento de crédito na cobrança de contas atrasadas; administração da

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carteira de contas a receber; diretrizes e procedimentos para a função creditícia

em uma empresa; procedimentos e diretrizes de cobrança; suspensão de

crédito de contas de cliente, existindo título vencido, para controlar perda por

exposição ao risco etc.

Através de pesquisas bibliográficas e coleta de diversos artigos

referentes ao tema Crédito, um fator que chamou a atenção foi a conclusão de

que o principal problema encontrado numa operação de crédito é exatamente a

falta de pagamento do valor cedido. A inadimplência cresce dia a dia e, com

isso, muitas empresas têm observado uma diminuição de seus lucros com o

aumento dos custos. Portanto, ter uma visão global do cliente a fim de

determinar se o empreendimento do cliente em perspectiva é estável e viável é

o objetivo principal de todo e qualquer profissional que opere na concessão de

crédito.

Mas, em se tratando de clientes das classes C, D e E, que em sua

maioria nem possuem comprovantes de renda, como pode ser feita uma

análise para que o crédito possa ser cedido?

Para responder a questão apresentada, esta monografia apresenta

as etapas das políticas de crédito em empresas comerciais varejistas cujas

estratégias neste setor são grandes desafios. A versatilidade e agilidade de

marketing e vendas encorajam e estimulam tomadas de decisões que

aumentam o risco de crédito, e, por conseguinte, existem grandes

possibilidades de aumentar a inadimplência com consideráveis perdas.

Partindo dessa premissa, aliada à verificação da relação entre os critérios

técnicos recomendáveis para a concessão de crédito e os critérios realmente

aplicados na ponta pelas lojas, apresenta-se um estudo sobre as políticas de

crédito em empresas comerciais de médio.

No atual governo desenvolveu-se diversas atividades voltadas para o

consumo, e para isto acontecer facilitou o relacionamento do crédito com as

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diversas camadas da sociedade, principalmente aquelas com dificuldades de

acesso ao sistema bancário.

Foi criado o crédito consignado que veio refletir em uma grande

queda na taxa de juros, pois a consignação de empréstimos em folhas de

pagamentos reduz em muito a inadimplência, fator de peso no cálculo final da

taxa. Um outro fato positivo foi a facilidade de acesso ao crédito pelos

empregados em empresas privadas, servidores públicos e aposentados.

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1 O SISTEMA DE CRÉDITO

O sistema de crédito é uma das formas mais antigas do mercado

financeiro, tendo sua origem há 1.800 anos a.C. Acredita-se que o código de

Hamurabi incluía regulamentações do crédito na Babilônia; há evidências de

que a civilização ribeirinha da Babilônia, a “Indus Valley”, mantinha contato

comercial através da vizinha Melukha, deduzindo-se conseqüentemente que as

preocupações com o crédito provêm de tempos ainda mais remotos que 1.800

a.C. (CAOUETTE, 2000).

Segundo Beckamm apud Santos (2000), um dos pioneiros a

pesquisar a importância de crédito na atividade econômica, a oferta de crédito

pelas instituições financeiras e empresas deve ser vista como um importante

recurso estratégico para atender às necessidades de todos os supridores de

capital e agregar valor ao patrimônio dos acionistas.

Dentre várias conceituações e linhas de raciocínio dos autores, cabe

salientar a de Santos (2000, p.15), que diz:

Crédito, em finanças, é definido como a modalidade definanciamento destinada a possibilitar a realização detransações comerciais entre empresas e seus clientes. Ocrédito inclui duas noções fundamentais: confiança,expressa na promessa de pagamento; e o tempo, que serefere ao período fixado entre a aquisição e a liquidaçãoda dívida.

A palavra crédito, dependendo da situação, para Silva (2000, p.63),

tem vários significados, mas no sentido mais específico considera que “crédito

consiste na entrega de um valor presente mediante uma promessa de

pagamento, ou seja, corresponde à confiança de que a promessa de

pagamento será honrada”. Diz que, por exemplo, numa determinada loja

comercial, uma venda a crédito é caracterizada pela entrega da mercadoria ao

cliente mediante uma promessa de pagamento, numa ou mais parcelas, num

prazo futuro acordado. Já em banco, que tem a intermediação financeira como

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sua principal atividade, o crédito consiste em disponibilizar ao cliente recursos

em valores sob a forma de financiamentos e ou empréstimos mediante uma

promessa de pagamento numa data aprazada.

De acordo com Schrickel (2000, p.17), “crédito é um conceito que

está presente no cotidiano das pessoas e empresas mais do que se possa

pensar”. Todas as pessoas e empresas estão continuamente voltadas à

combinação dos recursos finitos com o conjunto das imaginações e

necessidades infinitas. – Existem, por exemplo, mais maneiras de gastar

dinheiro do que ganhá-lo, ou seja, há procura por crédito justamente para

satisfazer o elenco das necessidades, desde as mais elementares até as mais

ousadas e imagináveis. O autor ratifica que crédito é todo ato de vontade ou

disposição de alguém ceder parte do seu ativo a terceiro com a expectativa de

que essa parcela volte integralmente após decorrido um tempo estipulado.

Segundo Securato (2002, p. 17),

[...] o termo crédito é originado do latim “creditum”, quesignifica confiança ou segurança na verdade de algumacoisa, crença/ reputação, boa fama, estabelecendo umarelação de mútua confiança entre as partes envolvidasnuma determinada operação.

Para Gomes (2003, p.172), “crédito, num contexto amplo, está ligado

à idéia de segurança e de verdade que se pode inferir de alguma pessoa ou de

uma empresa”. No entanto, dentro da área financeira, crédito caracteriza a

concessão de receber “a posteriori” algo que se poderia estar recebendo no

momento da transação.

Com base na fundamentação teórica de conceitos de crédito dos

diversos autores, emite-se uma definição própria: Crédito é a expectativa de

receber uma certa quantia em moeda, dentro de um determinado período

acordado entre as partes, oriunda de uma transação industrial, comercial e ou

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financeira mediante a venda de produtos/ mercadorias, prestação de serviços e

ou empréstimos.

Nas empresas comerciais, de acordo com Silva (2000, p.64), “o

crédito assume um papel facilitador da venda, proporcionando ao cliente

adquirir mercadorias para atender às suas necessidades e ao mesmo tempo

incrementa as vendas dos comerciantes”. Afirma ainda que crédito e marketing

precisam estar muito próximos, pois acrescenta que, nas propagandas, é

comum verificarem-se frases do tipo: televisores em “n” parcelas; aceitamos

cheques pré-datados para “n” dias; aceitamos cartões de crédito; possuímos

crediário próprio, além de outras. O autor afirma ainda que, dentre algumas

atividades comerciais, o ganho no financiamento das mercadorias chega a ser

maior do que a própria margem operacional praticada na atividade principal do

negócio.

Mediante essa base de posições dos autores citados, pode-se

afirmar que o crédito está presente nas empresas comerciais que operam com

vendas a prazo, visto que, para competir, ganhar espaços junto ao mercado

através do desenvolvimento e crescimento, é necessário vender com prazo e

condições que atraem os consumidores e os tornem clientes, pois, segundo o

Dicionário Aurélio - Século XXI: “consumidor é aquele que compra para gastar

em uso próprio, e cliente é aquele que usa os serviços ou consome os produtos

de determinada empresa ou de profissional; freguês”.

E, quando se refere a consumidores e clientes adquiridos através de

vendas a prazo, devem-se conceituar os riscos que estão intrínsecos ao

crédito. Os próprios autores mencionados neste trabalho afirmam que o “risco é

inerente ao crédito”, uma vez que Gitmann (2001, p 205) define: “risco de

crédito, no sentido mais básico, é a possibilidade de perda financeira”. Ativos

com possibilidades maiores de perda são mais arriscados do que aqueles com

possibilidades menores de perda. O termo risco é utilizado alternadamente com

incerteza ao se referir à variabilidade de retornos associada a um dado ativo.

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Solomon (1981) afirma que risco é o grau de incerteza a respeito de

um certo evento. Esse conceito é confirmado por Securato (1996 e 2002), que

define risco como “grau de incerta” ou “a possibilidade de perda”, ou seja, a

probabilidade de ocorrência do evento gerador da perda ou da incerteza.

Considera que o evento pode ocorrer quando se propõe atingir objetivos,

admitindo-se que sejam dois tipos: sucessos: são os eventos que permitem

atingir os objetivos; fracassos: são os eventos que não permitem atingir os

objetivos.

Portanto, admitindo-se que os sucessos e os fracassos constituem

um conjunto dos possíveis resultados que possam ocorrer para se atingirem os

objetivos almejados, então se pode definir risco como a possibilidade de

ocorrerem fracassos.

Segundo Schrickel (2000, p.35), “risco significa incerteza - o

imponderável, o imprevisível - situada unicamente no futuro”. Assim, embora a

análise de crédito deva basear-se em eventos passados do cliente, as decisões

de crédito devem considerar fundamentalmente o futuro desse cliente. O risco

posiciona-se no futuro, no passado encontra-se apenas a história.

Pode-se dizer então que, independentemente da atividade, o risco de

crédito é constante, no entanto as empresas devem aplicar conceitos

fundamentais à análise e concessão do crédito baseados no conhecimento das

características e perfil do cliente através de um cadastro adequado e que

proporcione informações amplas, seguras e fidedignas.

Por isso as informações colhidas formal ou informalmente são

necessárias para gerar o conhecimento das pessoas e conseqüentemente

firmar conceito sobre essas pessoas, que são os clientes.

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1.1. Análise e Concessão de Crédito

Dentro de uma concepção mais abrangente, o crédito deve ser visto e

analisado como parte integrante do próprio negócio da empresa comercial

(SILVA, 2000). O autor destaca que conhecer o cliente é fundamental. Um bom

cadastro e um sistema de crédito eficaz podem ser uma excelente forma de

alavancar os negócios. Muitos gerentes e analistas de crédito, em vez de

reclamarem, dizendo que os clientes não gostam de fazer cadastro, deveriam,

sim, usar suas habilidades de vendas para vender aos clientes a conveniência

de fornecer as informações fidedignas para gerar uma relação de parceria mais

clara e segura.

Para Schrickel (2000), no processo, a análise e concessão de crédito

envolvem incontáveis formas e peculiaridades existentes na sua concessão às

pessoas físicas, ou seja, desde a simples venda a varejo de gêneros

alimentícios, através da lendária e romântica “caderneta”, até as mais

sofisticadas transações bancárias, envolvendo complexas formulações de

engenharia financeira.

Salienta que a venda direta ao consumidor, venda a prestação ou no

crediário obtidas diretamente nas lojas são comumente encontradas no

comércio em “n parcelas”, ou da venda através de cartão de crédito de

administradoras ou do próprio lojista, da “compra fiada”, do cheque pós-datado

(chamado de cheque pré-datado), entre outras formas mais encontradas no

mercado, as pessoas se utilizam para alavancar seu poder de compra ou

simplesmente atender às suas necessidades e interesses, como adquirir

imóveis, bens duráveis, meios de lazer e ou gêneros de primeira necessidade.

De acordo com Securato (2002), os parâmetros básicos da

concessão de crédito são avaliados mediante profunda análise da ficha

cadastral do cliente, a qual deverá contemplar um sistema de pontuação,

visando a quantificar os parâmetros definidos e atribuir pesos de acordo com a

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relevância de cada informação obtida. Conforme a pontuação obtida, a

concessão de crédito poderá ser automática ou ser analisada de acordo com a

política de crédito da empresa. Acrescenta ainda que a concessão do crédito,

além de se nortear nos parâmetros e políticas de crédito estabelecidas,

também se baseia nos chamados “C’s do Crédito” (Caráter; Capacidade;

Capital; Colateral; Condições; Conglomerado; Consistência; Comunicação e

Controle).

Segundo Santos (2000), o processo de análise e concessão de

crédito recorre ao uso de duas técnicas: a técnica subjetiva e a técnica objetiva

ou estatística. A conceituação, descrição do processo de análise subjetiva de

crédito e sua decisão baseiam-se na experiência adquirida, disponibilidade de

informações e sensibilidade de cada analista quanto à aprovação do crédito.

Para Martin (2001), o contínuo crescimento das vendas no comércio

obrigou o mercado a diversificar as opções de crédito aos clientes, adequando-

as ao estilo de vida, classe social e possibilidades financeiras das pessoas.

Assim o crediário foi instituído e é, atualmente, um instrumento mercadológico

que facilitou a vida do consumidor de baixo poder aquisitivo, que não possui

conta corrente bancária ou talão de cheques, conseqüentemente a sua única

opção era o pagamento à vista.

Formalizado por meio contratual entre o lojista e o cliente, o crediário

baseia-se num compromisso formal e por escrito, assinado pelas partes, em

que são definidas em suas cláusulas todas as obrigações do cliente e do lojista

de forma bem clara, precisa e objetiva, sob pena de serem algumas cláusulas

invalidades posteriormente, como: valor das prestações; o número de parcelas;

os encargos financeiros; eventuais descontos; a possibilidade de se reaverem

as mercadorias; as garantias; as penalidades, multas e juros por eventuais

atrasos pelo não pagamento.

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2 MARKETING E COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

Os consumidores influenciam o marketing, e reciprocamente, o

marketing influencia o consumidor. O ambiente estabelecido pelo consumidor é

um dos fatores importantes que ajudam a moldar e dirigir as organizações e as

atividades de marketing e, por outro lado, o esforço de marketing é um fator

que influencia o consumidor.

Assim, Engel e Blackwell (2000, p. 4) definem o comportamento do

consumidor “como as atividades diretamente envolvidas em obter, consumir e

dispor de produtos e serviços, incluindo o processo decisório que antecedem e

sucedem estas ações”. Cada concorrente no mercado espera influenciar

possíveis consumidores para escolherem o seu produto e marca, todas as

vezes que estes têm oportunidade de efetuar uma compra. Por isso, para

conhecer o mercado e tomar decisões de marketing é de suma importância

entender o comportamento do consumidor

2.1 Determinantes do Comportamento do Consumidor

Para prever o comportamento do cliente, é necessário conhecer os

fatores que o influenciam.

Kotler (2000, p. 182) menciona o campo “como estudo de pessoas,

grupos e organizações que selecionam, compram, usam e descartam artigos,

serviços, idéias ou experiências para satisfazer suas necessidade e seus

desejos”.

Para Sheth, et al. (2001, p. 251) “os três fatores que causam as

mudanças mais significativas no comportamento do consumidor são: as

mudanças na demografia, os avanços na tecnologia e as mudanças na política

pública”.

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As mudanças na demografia recentes no Brasil constatados são o

envelhecimento da população, as mulheres na força de trabalho, as unidades

familiares de pessoas solteiras, o declínio da classe média, o aumento da

classe baixa, a diversidade étnica e a redistribuição geográfica (Fonte: IBGE:

Censo 2000).

Na tecnologia é perceptível o maior disponibilização da informação, o

crescimento de produtos diversificados e inteligentes, o maior acesso aos

produtos e a personalização em massa. As revoluções tecnológicas podem

mudar de forma significativa os comportamentos de mercado e as expectativas

dos clientes. Na política governamental, que inclui a política monetária, a

política fiscal e a política pública, há movimentos para uma crescente defesa de

direitos dos consumidores, a maior integração regional, e economicamente, o

maior desenvolvimento dos ciclos econômicos em convergência a realidade da

globalização dos mercados.

A política monetária inclui decisões sobre as taxas de juros, a quantia

de dinheiro que regula as instituições financeiras, e assim por diante. A política

fiscal trata das práticas comerciais do governo, o bem como das práticas de

aquisição, gastos, empréstimos, a taxação. Finalmente, a política pública

abrange atos do governo como regulamentações econômicas,

regulamentações ambientais, decisões quanto à segurança de produtos e

fusões e aquisições, entre outras. Cada uma das 3 políticas têm efeitos

profundos sobre as compras dos clientes. E mais especificamente, o fator

econômico refere-se à situação de um país com respeito aos níveis de

emprego, salários, inflação, taxas de juros e de taxas de câmbio, bem como as

economias agregadas e a renda disponível dos núcleos familiares.

O clima econômico afeta o comportamento do cliente por meio de

três mecanismos: (i) diretamente expandindo ou reduzindo os recursos

financeiros de uma família, e assim, o poder de compra do cliente, tanto no

nível individual quanto industrial; (ii) influenciando o sentimento do consumidor

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pelo seu otimismo e pessimismo em relação ao futuro da economia, que

encoraja ou inibe os gastos dos clientes; e (iii) orientando os ciclos de

negócios.

2.2 Percepções, Preferências e Satisfação

As percepções, preferências e satisfação para o cliente são alguns

dos principais elementos do estudo do comportamento do consumidor. São

variáveis que podem servir para entendimento do comportamento do

consumidor e para a análise do seu perfil, e assim, descobrir as restrições ou

vantagens para este mercado. É preciso compreender como as atividades de

marketing são percebidas pelos consumidores, e desta forma, proporcionar

uma efetiva satisfação ao mercado.

O estudo das preferências é importante como elemento possível de

previsão daquilo que o mercado realmente adquire ou ao qual reage. De

acordo com o Kotler (2000, p. 68), “a preferência mostra o valor relativo que

uma pessoa atribui a um conjunto de objetos comparáveis, quando avalia seus

respectivos valores para si mesma”. Estas são baseadas nas diferenças

verdadeiras dos atributos do objeto, e também, nas diferenças individuais

quanto às motivações, valores, percepções e gostos. Na análise do

consumidor, geralmente enfatiza-se o “processamento de informação” da

formação da preferência, ou seja, o indivíduo recebe a informação, real e

fantasiosa sobre os atributos do objeto e processa uma parte ou toda ela, de

acordo com um estilo razoavelmente pessoal de processamento de

informação, formando as preferências.

Muito embora o enfoque de marketing preconize a satisfação das

necessidades dos consumidores como forma da organização atingir seus

objetivos, a maximização da satisfação nem sempre ocorre. Para Engel e

Blackwell (2000, p. 178),

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[...] todo consumidor efetua a compra com certasexpectativas sobre o resultado do o produto ou serviçoquando utilizado, e a satisfação é o resultado esperado.Satisfação é definida como avaliação pós-consumo deque uma alternativa escolhida pelo menos atende ouexcede as expectativas.

Segundo Kotler (2000, p. 58), “satisfação consiste na sensação (ou

resultado) percebido de um produto em relação às expectativas do comprador”.

A organização deve se esforçar pela criação de um alto nível de satisfação de

seus consumidores, em função dos custos adicionais que a organização teria

que incorrer, como também, devido às diferenças entre os diversos segmentos

de consumidores.

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3 POTENCIAL DE CONSUMO DOS CONSUMIDORES DE

BAIXA RENDA (CLASSES C, D e E)

Que o consumidor das classes D e E voltou a consumir é fato. Tanto

que a Latin Panel detectou um aumento de 5% no número de domicílios de

baixa renda no mercado de consumo no primeiro semestre do ano de 2004

ante igual período de 2003. Incontestável também é seu potencial, já que as

classes populares representam 75,7% da população brasileira e deixam, em

média, 45% de sua renda mensal nos supermercados, especialmente com

compra de alimentos e produtos de higiene e limpeza. Pouco convictas, na

verdade, têm sido as investidas da indústria de alimentação para ganhar esse

público, muito por causa de falta de informação.

Para entrar e ficar nas classes C, D e E é essencial que as indústrias

equilibrem qualidade e competitividade, o que só é possível se houver custos

fixos equilibrados, advindos de otimização fabril e interação da área de

pesquisa e desenvolvimento com a área de produção.

Além disso, é necessário estudar o perfil e hábito de compra do

consumidor, para oferecer o que ele busca nos lugares em que realiza suas

compras, sem descuidar da comunicação com esse público, seja em materiais

no ponto-de-venda, seja nas embalagens.

Segundo Solomon (1981, p.45):

As indústrias de alimentação ainda não exploram comopoderiam o mercado de baixa renda porque ainda ovêem sob a ótica de diversos mitos. Um exemplo é deque a marca, para os consumidores C, D e E, fica emsegundo plano, em detrimento do baixo preço.

No entanto, acredita-se que isso nem sempre é verdade, ainda mais

quando se trata de produtos ligados ao bem-estar, como alimentos e higiene.

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Tanto que as marcas mais caras estão sempre presentes nos lares

de baixa renda, que preferem optar por um produto de qualidade garantida a

arriscar a compra de um desconhecido, que pode colocar o pouco dinheiro que

têm, a perder.

Para se adequar a esse público as indústrias donas das marcas

líderes poderiam, por exemplo, disponibilizar os produtos em embalagens de

menor gramatura, e conseqüentemente mais baratas.

Outro "mito" observado é o de que não há potencial de consumo nos

mercados de baixa renda e de que a comunicação a essas pessoas precisa

vender sonhos. Os consumidores de classes C, D e E apresentam flexibilidade

de renda porque poupam mais do que os de alta renda e não necessitam de

marketing que prometa coisas que não fazem parte de seu dia-a-dia porque,

segundo pesquisas recentes, eles estão satisfeitos e têm orgulho de sua vida.

O que os consumidores de baixa renda buscam são produtos de bom

desempenho. Para que um produto popular dê certo é preciso também que

haja reconhecimento da marca, boa embalagem, durabilidade, prazo de

validade compatível e bom rendimento, uma vez que a fartura é essencial.

As principais oportunidades para o desenvolvimento de produtos

voltados às classes de baixa renda estão nos itens abandonados por eles e

também entre aqueles considerados supérfluos. estão nessa cesta produtos

como bebidas alcoólicas, chá, macarrão instantâneo, requeijão, hambúrguer,

iogurte, sobremesas, sucos de frutas, salgadinho em saquinho e mistura para

bolo. Outro interessante campo é o de alimentos voltados à conveniência,

como sucos prontos.

E a inovação é condição fundamental para baratear os produtos.

Além disso, é preciso que a indústria invista em uma boa distribuição, já que

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grande parte das vendas realizadas para esse público se dá no varejo

tradicional, ou seja, em pequenos pontos-de-venda.

Para promover essas inovações, têm peso estratégico nessa

movimentação as indústrias de ingredientes alimentares, cuja atividade

consiste em desenvolver tecnologias avançadas para agregar valor nutricional

e funcional a alimentos, e também alternativas em ingredientes para otimizar

produtos já existentes visando garantir maior "shelf life" (prazo de validade),

melhor sabor e, principalmente nesse caso, redução de custos.

Como já foi dito, o que o consumidor de baixa renda busca é bom

desempenho, daí o sabor, a qualidade e textura serem fundamentais para a

realização da segunda compra e conseqüente fidelização a um produto. Daí a

importância das indústrias de ingredientes alimentares, que conseguem auxiliar

as fabricantes de alimentos a equilibrar nesses produtos voltados às classes C,

D e E a qualidade e a competitividade econômica.

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4 POLÍTICAS DE CRÉDITOS E FONTES DE

FINANCIAMENTO PARA OS CONSUMIDORES DE

BAIXA RENDA (CLASSES C, D e E)

O vasto mercado consumidor emergente na base da pirâmide –

integrado por 4 bilhões de pessoas com renda per capita inferior a US$ 1.500

anuais – oferece às multinacionais e grandes empresas locais um mercado

atrativo para seus bens e serviços. Tal é o caso da Índia, que possui 700

milhões de pessoas no mercado rural. A China conta com um bilhão.

À medida que as economias avançadas passam a representar uma

parte cada vez menor da economia mundial, as mudanças nos hábitos de

consumo que a acompanham podem gerar oportunidades nada desprezíveis

para corporações globais. Investir e participar de mercados adequados,

especialmente ospujantes – particularmente os mercados emergentes – pode

adequados – e particular os pujantes – pode-se constituir numa opção

estratégica muito mais importante. De fato, muitas empresas já estão servindo

o “mundo dos pobres” por meios que geram altos retornos, levando a uma

maior eficiência operacional e descobrindo novas formas de inovação.

Para essas empresas, e para aquelas que seguem essa tendência –

promover negócios voltados para a base da pirâmide promete oferecer

vantagens competitivas no desenrolar do século 21. Ao mesmo tempo,

proporciona vínculos importantes com o mercado, disponibilizando recursos

para os consumidores da base da pirâmide.

As Casas Bahia, a maior rede varejista do Brasil, tem o foco quase

que inteiramente em consumidores de baixa renda. Ela usa o carnê, ou

caderneta, sistema de financiamento que permite aos consumidores de baixa

renda comprarem a crédito. As Casas Bahia usam um sistema próprio de

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verificação de crédito e aplicam regras baseadas no senso comum para

oferecer ou não financiamento àqueles sem histórico creditício.

As Casas Bahia têm receita de 4,2 bilhões de reais, 330 lojas, 10

milhões de clientes e 20 mil empregados. Cerca de 70% de seus clientes não

possui renda fixa ou formal, e são basicamente faxineiros, cozinheiros,

vendedores ambulantes e trabalhadores da construção civil cuja renda mensal

é o dobro do salário mínimo. Os carentes agora têm acesso a uma linha de

produtos e benefícios muito mais ampla, e com melhores condições de crédito,

do que tinham antes.

Para milhões de brasileiros, desde que o pagamento caiba no salário

no fim do mês, não existe empréstimo caro.

Costuma-se creditar ao tino para negócios do apresentador Silvio

Santos a autoria da idéia segundo a qual os consumidores pobres são

melhores pagadores porque prezam como ninguém o patrimônio de ter o nome

limpo na praça. Benevolente com os mais desfavorecidos, a tese não sobrevive

ao teste da realidade. Estudos e estatísticas mostram que os consumidores

das faixas de renda mais baixas são justamente os que mais atrasam seus

pagamentos – não por desvio de caráter, mas pela simples falta de dinheiro.

Além de serem mais suscetíveis aos altos e baixos da economia, eles têm

menos capacidade de negociação por não possuir emprego fixo nem bens para

oferecer em garantia.

Embora conheçam essa situação melhor do que ninguém, os

maiores grupos financeiros brasileiros encontraram motivos de sobra para se

engalfinhar numa disputa ferrenha para emprestar dinheiro às classes C, D e E,

que ganham até cinco salários mínimos. Nos últimos doze meses, o volume de

empréstimos das financeiras Finasa-Zogbi, Losango e Fininvest, as três

maiores, subiu de 8 para mais de 10 bilhões de reais. Juntas, elas dobraram o

número de lojas, que chegou a 600 no mesmo período. Acostumados a ser

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ignorados pelos bancos, os consumidores de baixa renda estão sendo

assediados pelas financeiras. O tapete vermelho foi estendido a empregadas

domésticas, motoristas e garçons. Na televisão, figuras populares como o

apresentador Faustão e o cantor Leonardo fazem comerciais e merchandising

falando das vantagens das financeiras – o braço dos bancos usado para atingir

a população de baixa renda. Todos oferecem crédito a quem não tem renda

mas está ávido por consumir.

Até meados do ano passado, apenas o Unibanco, com a Fininvest, e

o Bradesco, dono da Finasa, disputavam um mercado estimado em 60 milhões

de pessoas. Nos últimos doze meses, o Itaú entrou em cena com a criação da

Taií, e o HSBC resolveu estrear no negócio com uma política de aquisições.

Comprou a Losango e a Máxima, que hoje se chama Valeu. O apetite de quem

já estava no mercado também aumentou. O Bradesco adquiriu a Zogbi, e o

Unibanco ficou com a Creditec e os cartões de crédito HiperCard. Uma série de

fatores explica o interesse. A queda do juro básico da economia de 2003 para

2004 deu aos bancos a certeza de que, se quiserem manter a lucratividade,

terão de emprestar menos ao governo e mais a pessoas e empresas. Como os

clientes das classes média e alta já estão atendidos, restaria aos bancos

buscar, com as financeiras, a base da pirâmide social brasileira.

O risco de emprestar a pessoas não inseridas no universo bancário é

compensado pelas taxas de juros. As financeiras cobram, em média, juros de

12% ao mês no empréstimo pessoal, o dobro da taxa cobrada pelos bancos a

seus clientes tradicionais. Sabendo administrar o alto risco, as financeiras dão

bom retorno. Por isso, o crédito para a massa tornou-se uma estratégia central

nos bancos.

Além disso, como a economia dá sinais de que poderá voltar a

crescer por um período mais longo, é bem possível que a inadimplência das

classes C, D e E seja reduzida gradativamente e que esses consumidores

sejam incorporados à clientela normal dos bancos. O HSBC, dono da Valeu e

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da Losango, líder em financiamento de bens, espera usar as financeiras como

uma ponte para suas agências bancárias. A estratégia do banco é seguir uma

política semelhante à adotada no exterior. Nos Estados Unidos, o HSBC

comprou a gigante americana Household International para financiar o

consumo popular. Na Inglaterra, o banco administra as compras parceladas da

rede de lojas e supermercados Marks & Spencer. No caso do Brasil, o

interesse dos bancos pelas financeiras é ainda mais acentuado porque as

classes mais pobres representam a maioria da população do país.

Os consumidores das classes C, D e E também estão sendo

assediados nos supermercados. O grupo Pão de Açúcar e o Itaú formaram um

banco para financiar as compras feitas na maior rede de supermercados do

país. O Carrefour e a financeira Cetelem anunciaram que vão abrir um banco

para financiar até 3,5 bilhões de reais por ano, o que equivale a um terço das

vendas da rede. Já o Unibanco vai se juntar à rede de supermercados Sonae.

As agências de propaganda não sabem lidar com consumidor de

renda baixa.

Se considerarmos que 80% da população tem renda bruta menor

que R$ 1.125 por mês, valor que vem caindo ano a ano. Olhando mais perto,

no entanto, descobre-se que esses 80% de brasileiros, que correspondem às

classes C, D e E, foram 48% do mercado consumidor e vão movimentar R$

389 bilhões este ano. Parte do empresariado já descobriu esse filão e se deu

conta de que num país onde as classes A e B estão bem abastecidas de

produtos e serviços, o saldo para crescer é a classe C. Esse Brasil classe C

vem sendo rapidamente desbravado pelas empresas, mas continua

amplamente ignorado pela propaganda. Em termos de bens de consumo, a

classe C já possui o básico, como aparelho de TV, rádio e geladeira. A maioria

tem telefone fixo (69%), videocassete (67%) e maquina de lavar roupa (56%).

Mas só 42% têm automóvel, 35% possuem celular, 27% têm freezer e 24%,

forno de microondas. Os donos de computadores são só 8%; TV paga e

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acesso à Internet em casa são luxos de apenas 4%. A mulher é quem

basicamente decide as compras da família e em geral mostra-se fiel a um

grupo de marcas conhecidas, mas quando o dinheiro é curto as trocas por mais

baratas. Segundo levantamento da ACNielsen, 52% dos consumidores das

classes C e D não são fieis a uma marca. Além disso, para 57% da classe C e

66% da D o preço é principal fator decisivo na escolha dos produtos.

Em meio a crises internas e externas, vários planos econômicos mal-

sucedidos e poucos que tiveram algum sucesso, o Brasil tornou-se, nos dez

anos que separam 1993 de 2003, um País melhor para muitos. Durante este

período, a taxa de analfabetismo caiu de 11,3% para 3,5%. O número de

crianças fora da escola também ficou bem menor: caiu de 11,4% para 2,8% em

dez anos. As famílias tiveram mais condições de investir na moradia e a

quantidade de habitações construídas com materiais não-duráveis,

consideradas rústicas, caiu de 5,1% para 2,5% do total de domicílios.

A melhoria na infra-estrutura foi geral: entre outros dados, 97% dos

lares em 2003 já tinham iluminação elétrica, 10% mais que na década anterior;

a rede coletora de esgoto cresceu de 39% para 48%, mesmo ainda sendo o

serviço com menor cobertura. São resultados positivos de políticas públicas,

principalmente da expansão da previdência rural na última década e de

programas sociais como vale-gás e bolsa escola.

Mesmo com tantos avanços - todos apontados pela recém-divulgada

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) - a década não deixou saudades a boa parcela

da população, representada principalmente pela classe média. É que, no

período entre 1996 e 2003, a remuneração média do brasileiro teve queda real

de 18,8%, depois de três anos de aumentos conseqüentes do primeiro impacto

do Plano Real.

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A maior redução ocorreu entre os anos de 2002 e 2003, quando a

metade da população com os maiores salários teve perda real em seu

rendimento médio de 8,1%. Os analistas do IBGE lembram que o ano de 2002

foi afetado pela crise energética ocorrida em 2001 e pela turbulência no

período eleitoral, enquanto em 2003 a economia sofreu principalmente devido

às altas taxas de juros.

De acordo com Gomes (2003, p.108):

[...] ocorreu o "empobrecimento" da classe média, quemais sofreu com a alta de serviços e produtos comocombustível, luz e telefone. Como conseqüência,precisou ajustar seu padrão de vida e deixar de consumircertos bens e de realizar certas atividades. Muitostiveram de tirar seus filhos de escolas privadas e adiar acompra do carro novo.

A metade que ganhava os salários menores, apesar de beneficiada

com a estabilidade da moeda e com a possibilidade de compras a prazo,

também teve queda nos rendimentos, mas a perda nesse mesmo período foi

menor - de 4,2%. Mesmo assim, foi suficiente para levar muitos à linha da

miséria, como mostra o mapa da pobreza traçado pela Fundação Getúlio

Vargas. O estudo aponta que a população miserável aumentou 1% no período

mais crítico da última década - entre 2002 e 2003 - passando de 26,2% para

27,2% do total de brasileiros. Esse aumento foi mais acentuado nas regiões

metropolitanas, que sofrem mais rapidamente com as mudanças da economia.

Essa perda salarial da população de baixa renda, provocou alguns

ajustes de consumo. Há um aumento da procura por marcas alternativas e

mais baratas. A queda na renda foi um fator de desestímulo ao sistema

produtivo como um todo.

Nesse período, muitos empresários transferiram seu dinheiro para o

capital especulativo, aplicando em fundos de investimentos e títulos públicos ao

invés de correrem o risco de investir no comércio. A retomada da economia em

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2004 está trazendo melhoria na renda, mas a recuperação será lenta e

ocorrerá ao longo dos próximos dois ou três anos.

Com alta nas vendas do varejo, 2004 marcou o início de um período

de recuperação econômica

Se 2003 foi marcado pelo fraco desempenho da economia, que

resultou na perda da renda de trabalhadores e até hoje causa arrepios em

quem investe no comércio, o balanço de 2004 indica desempenho melhor,

especialmente nos últimos meses do ano, com o Natal e o acesso a benefícios

como o décimo terceiro salário. A retomada da economia, a começar pela

redução na taxa de desocupação, fez finalmente surgir possibilidades de

recuperação nos rendimentos reduzidos ao longo de uma década.

O nível de ocupação (proporção de pessoas ocupadas em relação à

população em idade ativa) atingiu o patamar mais alto desde março de 2002:

51,5%. Diante desses dados animadores, o ministro do Trabalho, Ricardo

Berzoini, aposta que, até o final do ano, o índice de desemprego, calculado na

casa dos 10%, deverá cair para apenas um dígito. Isso porque os últimos

meses do ano são favoráveis para o mercado de trabalho. Com relação ao

rendimento médio dos trabalhadores, houve recuperação de 3,2% em

setembro de 2004, se comparado a setembro de 2003, e de 1,7%, se

comparado a agosto deste ano.

A mais recente Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE, divulgada no

final de outubro, indica mais uma vez crescimento nas vendas no varejo: o mês

de agosto de 2004 marcou o nono aumento consecutivo. No acumulado do

ano, houve alta de 9,45% nas vendas e, nos últimos 12 meses, de 5,83%.

O principal responsável pela variação positiva do varejo foi o setor de

móveis e eletrodomésticos, que entre março e agosto cresceu em torno de

30% ao mês, registrando alta de 29,78% no acumulado do ano. Nota-se, no

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entanto, que o mês de agosto foi o primeiro do ano que indicou um aumento de

vendas no varejo de móveis inferior ao índice de 30% (29,5%), reforçando a

desaceleração no crescimento verificada também na taxa global.

Dados da Serasa - empresa de análises para decisões de crédito -

mostram que, até outubro, as empresas registraram aumento de 4,4% no

faturamento líquido. Para comparação, entre 2001 e 2003 houve crescimento

médio de apenas 1,4% no faturamento de pequenos e médios negócios. Com o

desempenho positivo das vendas no comércio, a indústria também registrou,

durante todo o ano, expansão maior que a prevista por empresários e

economistas. Tanto que muitos hoje passaram a operar com capacidade total

e, após muito tempo de resistência, começam a planejar investimentos. A

Pesquisa da Produção Industrial do IBGE mostra que a indústria apresentou

expansão durante 12 meses consecutivos analisados pelo instituto. Em agosto

de 2004, com relação a agosto de 2003, houve crescimento de 13,1%.

E os empresários já estão conscientes de que a continuidade do

crescimento depende de mais infra-estrutura: de acordo com a Confederação

Nacional da Indústria (CNI), em dados divulgados no final de outubro, 94% dos

executivos à frente de grandes corporações pretendem investir na indústria no

ano de 2005. Está havendo mudança no comportamento do empresariado, que

tem expectativas positivas com relação ao futuro e planeja expansão e

modernização de seus negócios.

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de aumentar a

taxa de juros em 0,50% em outubro de 2004 não afetou as vendas de final de

ano, já que o impacto da decisão normalmente não acontece

momentaneamente. Além disso, muitas lojas, como as Casas Bahia,

mantiveram as taxas cobradas do consumidor.

Passada a euforia de final de ano, surge um novo desafio: manter em

2005 o mesmo nível de atividades obtido neste ano. O relatório Focus da última

semana de outubro, elaborado pelo Banco Central juntamente com cem

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instituições financeiras, prevê crescimento de 3,5% do Produto Interno Bruto

(PIB) em 2005, praticamente um ponto percentual menor que o previsto para

2004 - de 4,56%.

O receio de que o crescimento da economia não atinja os níveis

deste ano é uma posição de precaução. É possível que alguns setores da

economia tenham um desempenho até melhor em 2005. Esse cuidado é

devido principalmente à perspectiva de aumento dos preços do petróleo, já que

a Petrobrás ainda não fez o repasse de forma integral para o preço dos

combustíveis.

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5 CRÉDITO CONSIGNADO: UM MEIO DE QUITAR

DÍVIDAS E DIMINUIR A INADIMPLÊNCIA.

Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso foi criado o

“microcrédito” com o objetivo de atender ao micro-empresário, ou seja, aquele

trabalhador informal que desenvolve uma atividade e não tem condições de

acesso ao sistema bancário. Este modelo, que recebeu “PRÊMIO NOBEL”,

através do seu maior criador o Sr. Muhammad Yunus, com o seu Banco

Gramenn, de Bangladesh, em 2007 não conseguiu êxito no Brasil,

simplesmente porque foi centralizado operacionalmente pelo BNDES e

fiscalizado pelo Banco Central.

No período pré-eleitoral do primeiro mandato, o atual Presidente Luiz

Inácio Lula da Silva defendeu a tese de que “não daria o peixe para comer,

mas sim a vara para pescar”.Pensava-se então que era o momento de se

desenvolver o microcrédito, como também aconteceu no Chile e em diversos

países da América Latina.

Engano, pois o governo Lula fez exatamente o contrário, desenvolveu

diversas atividades voltadas para o consumo, e para isto acontecer facilitou o

relacionamento do crédito com as diversas camadas da sociedade,

principalmente aquelas com dificuldades de acesso ao sistema bancário.

A regulamentação da Lei n 10.820, de 17/12/2003, sancionada pelo

Governo do atual presidente da Republica, veio refletir uma grande queda na

taxa de juros, pois a consignação de empréstimos em folhas de pagamentos

reduz em muito a inadimplência, fator de peso no cálculo final da taxa. Um

outro fato positivo foi a facilidade de acesso ao crédito pelos empregados em

empresas privadas, servidores públicos e aposentados.

Segundo informações do DATAPREV os aposentados que recebem até

um salário mínimo respondem a mais de 50% das operações de crédito

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consignado. As mulheres pensionistas e aposentadas do INSS com mais de 50

anos, apenas o primeiro grau completo e pertencente às classes C e D, foram

as maiores tomadoras desta modalidade de crédito. Observa-se também que o

crédito consignado vem alcançando pessoas de classes sociais mais altas.

O total do crédito consignado já responde em mais de 51% do total do

crédito pessoal.

Segundo a FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos),

“78% da população de renda familiar até R$ 870,00 usamo dinheiro para pagar dívidas, pois temem ficar com onome restritivo. O quadro de inadimplência mostra umataxa de 7,2% para o segmento. O crédito consignadovem crescendo a passos largos e já é 35% maior que em2005.”

A política adotada pelo Governo Lula dita como um “choque de crédito” além

dos dados favoráveis abordados, deverá ser aperfeiçoada em 2007 com a

adoção da “portabilidade do crédito”, “cadastro positivo” redução do piso na

“central de risco” e o “fundo garantidor de crédito”, que irão contribuir para

redução da inadimplência e a conseqüente queda das taxas de juros.

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CONCLUSÃO

O processo de Concessão de Crédito envolve várias etapas que

necessitam de uma análise criteriosa de modo a minimizar os riscos e obter o

retorno dos capitais emprestados. As informações obtidas através da Análise

de Balanço da empresa tomadora do crédito têm sua importância nesse

processo, visto que com essas informações é possível identificar o grau de

vulnerabilidade que a empresa apresenta no tocante aos aspectos econômico-

financeiros.

Verificou-se que as informações do balanço patrimonial e

Demonstração de Resultado do Exercício, quando bem trabalhadas e

analisadas, fornecem uma visão geral da empresa do ponto de vista de se

identificar os principais problemas que afetam a empresa, no período

analisado, e quais as perspectivas futuras, apontando-se alternativas de

mudanças de estratégias para correção de rumos.

Porém as informações oriundas da análise dos balanços não são

suficientes para orientar a tomada de decisão, especialmente no trato da

concessão do crédito, visto que há necessidade de se analisar outras variáveis

que envolvem o conhecimento mais amplo da empresa, de seus sócios, seu

histórico administrativo e operacional, as variáveis externas que podem

influenciar na mudança de postura da administração da empresa bem como

dos resultados a serem obtidos. Sendo necessário uma avaliação geral que

possa orientar a decisão final, acerca de se conceder crédito ou não.

O setor privado, especialmente a administração de grandes

empresas locais e multinacionais, necessita efetuar um compromisso muito

maior de capturar as oportunidades –pesquisando mercados na base da

pirâmide, avançando padrões de sustentabilidade e de confiabilidade pública, e

ainda, sendo criativo sobre como interagir com empresas locais ou externas

para auferir benefícios mútuos. Os governos dos países, tanto desenvolvidos

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como em desenvolvimento, podem facilitar este processo, e as instituições

internacionais de desenvolvimento podem ajudá-los.

Os mercados de baixa renda podem ser servidos de forma rentável.

É uma questão de definir cuidadosamente: objetivos, desenvolvimento de

produto e eficiência de custo.

Verificou-se também como fato positivo, a facilidade maior de acesso

ao crédito nas diversas camadas da sociedade, principalmente aquelas com

maiores dificuldades de acesso ao sistema bancário. Tal facilidade se dá ao

crédito consignado em folhas de pagamentos, refletindo em grande queda na

taxa de juros e a redução da inadimplência.

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