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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” O RELACIONAMENTO PROFESSOR-ALUNO E A APRENDIZAGEM INTELECTUAL NO ENSINO NO PRIMEIRO GRAU MARIUZA BATISTA SANTOS ORIENTADOR: PROF. ROBSON MATERKO RIO DE JANEIRO AGOSTO/2001

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

O RELACIONAMENTO PROFESSOR-ALUNO E A

APRENDIZAGEM INTELECTUAL NO ENSINO NO PRIMEIRO

GRAU

MARIUZA BATISTA SANTOS

ORIENTADOR: PROF. ROBSON MATERKO

RIO DE JANEIRO

AGOSTO/2001

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

O RELACIONAMENTO PROFESSOR-ALUNO E A

APRENDIZAGEM INTELECTUAL NO ENSINO DO PRIMEIRO

GRAU

MARIUZA BATISTA SANTOS

Trabalho monográfico apresentado

como requisito parcial para a obtenção

do Grau de Especialista em

Psicopedagogia.

RIO DE JANEIRO

AGOSTO/2001

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Agradeço as minhas filhas Christiane e

Caroline que com muito carinho me

incentivaram e colaboraram para a execução

desta pesquisa.

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Dedico este trabalho de pesquisa a todos os

educadores que são comprometidos com o

seu fazer pedagógico.

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“Creio no sonho, creio no trabalho

Sonhei com paixão e as ousadias utopias

maiores que podia sonhar e não me

arrependo.

Utopias indispensáveis para os incrédulos.

Utopia impossível para os pobres de

coração.

Mas aí estão concretizadas tantas de minhas

utopias”.

Darcy Ribeiro

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SUMÁRIO

RESUMO 07

INTRODUÇÃO 08

1 – O HOMEM: UM SER DE RELAÇÃO 09

2 – A APRENDIZAGEM 12

2.1- Jean Piaget 15

2.1- Célestin Freinet 20

2.3- Lev Simyonovitch Vygotsky 22

2.4- Paulo Freire 28

2.5- Howard Gardner 30

3 – O RELACIONAMENTO PROFESSOR-ALUNO 33

E A APRENDIZAGEM INTELECTUAL

4 – CARACTERÍSTICAS E AITUDES 43

DOS PROFESSORES QUE MANTÊM

BOM RELACIONAMENTO COM OS ALUNOS

CONCLUSÃO 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48

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RESUMO

Esta pesquisa procura demonstrar a importância da qualidade no

relacionamento professor-aluno e sua implicação na aprendizagem. Quando

rica e prazerosa favorece o aprendizado, ao contrário, dificulta e pode até

impedir o crescimento pessoal e intelectual do educando.

O trabalho teve como suporte o estudo das teorias dos

educadores: Piaget, Freinet, Vygotsky, Paulo Freire e Gadner, destacando o

papel do educador e sua relação com o aluno segundo estas teorias.

A metodologia utilizada foi o método dedutivo, com uma

abordagem descritiva.

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INTRODUÇÃO

A escolha do tema surgiu com a necessidade que todo educador

deve ter, de preocupar-se com o aluno que apresenta dificuldades na apresenta dificuldades na aprendizagem intelectual. Quais os motivos e o que dificulta esse processo?

Na educação, cuja prática é interacionista, o papel do professor é

estimular a aprendizagem, daí pontuarmos a importância da relação professor-

aluno como um fator determinante na aprendizagem intelectual.

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1 – O HOMEM: UM SER DE RELAÇÃO

Sendo o homem um ser, eminentemente, de relação não se pode

separar a aprendizagem da relação não se ode separar a aprendizagem da

relação que ele tem com o meio, no qual está inserido. Daí a importância das

relações do indivíduo com os grupos (família, comunidade, escola). Há uma

interferência mútua de trocas: quanto mais ricas e ordenadas as pessoas,

provavelmente serão mais educadas e instruídas. Não podemos esquecer da

importância da humanização nas relações dos indivíduos, o que possibilita um

mundo melhor.

Temos como fator importante nas relações com o outro a ética,

que determina os valores morais e espirituais e fazem do mundo um melhor

lugar para se viver.

O mundo flui mediante as relações humanas e o poder da

interatividade, porque “o homem é um ser de relação e busca no outro o

reconhecimento de si mesmo, que só se define na oposição com o outro”. Ele é

predominantemente um ser social. O reconhecimento de si passa pelo

reconhecimento do outro.

O homem não tem, garantido de pronto, o seu próprio ser,

depende da interação com o outro. Ele é anti-natural, está em constante

mutação.

A ética tem a ver com a ação e a relação com os outros. No

relacionamento humano é de grande importância a comunicação, a linguagem.

O homem e a linguagem cresceram juntos. Linguagem, homem e sociedade

cresceram e continuam crescendo juntos, cada um influenciado e sendo

influenciado pelo outro. Daí a sua importância no desenvolvimento da

sociedade humana e do homem como indivíduo e suas relações. A ética leva à

busca da perfeição do indivíduo nas suas relações.

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Deve-se ter cuidado com as relações isto é, as ações. Elas são

marcadas pela irreversibilidade e impresivibilidade. As ações não retornam. A

praxis não retrocede, não se pode voltar o tempo.

A finalidade de relação (ação) é a boa ação, é ter consciência do

bem, do mal, do correto e do incorreto.

A ética pressupõe uma causa da ação, quer dizer, as razões que

levam um indivíduo a agir com consciência e liberdade.

A ética é regida por valores que se diferenciam de cultura para

cultura, de época para época. “Nada é perene, nada é fixo”. (Marx)

“É na relação com o outro, desde o nascimento, que vão se constituindo os papéis que a criança assume no diálogo (as formas culturais de responder à fala do outro), objetos do conhecimento (aquilo sobre o que se fala), e o próprio uso da língua (a noção desta com veículo comunicativo)”. (ASSIS, Regina; 1992, pg. 38)

Na relação com o outro, o homem constrói a sua identidade,

pois ela se define na prática do cotidiano vivido. Ela se constitui à medida

em que o homem tenha a oportunidade de participar como pessoa de um

grupo com suas características próprias. Dá-se a troca a partir da atividade

intra e interpessoal quando é definida sua singularidade.

A identidade nunca é um processo acabado. É um processo

pleno de tensões. A identidade se forma, se transforma, no contexto das

interações sociais, através de mediações entre a consciência individual e a

organização social e histórica.

As organizações sociais ditam os valores culturais, embora o

homem individualmente possa transformar estes mesmos valores. Ou

constituir outros, dependendo do tipo de relação que ele venha a ter com a

identidade grupal de autonomia e liberdade de fazer escolhas.

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Na construção da identidade, aparece a influência da relação

no ser que se forma, ou seja, a pessoa que o meio colaborou na construção:

mais humanista; autônomo ou menos autônomo; mais livre ou menos livre;

mais feliz ou menos feliz.

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2 – A APRENDIZAGEM

Quando se enfoca um determinado objetivo, segundo Demo,

acontece a aprendizagem quando a pessoa sabe lidar com a vida no seu

dia-a-dia. Não é necessariamente resolver os problemas, mas administrá-los

com inteligência. Administrar o problema envolve: pensar, analisar e buscar

caminhos que possam minimizar ou solucionar a dificuldade com lógica.

“Aprende-se muito a partir dos desacertos, sobretudo porque nos damos conta de nossa falibilidade. É preciso analisar melhor, olhar mais longe, aprender mais. Só não erra a máquina totalmente linear, reversível, que faz para frente o mesmo que faz para trás, que nada inventa. O aperfeiçoamento constante da aprendizagem permanente é diretamente proporcional aos erros cometidos e às suas retomadas. Nesse sentido a idéia apressada de resolver os problemas coincidiria com a pretensão de acabar com os erros, cometendo o pior deles”. (Demo; 2000, pg. 50)

Muitos estudos têm tentado explicar o que é aprender.

Provavelmente, a primeira teoria que surgiu para explicar como se aprende foi

a INATISTA ou APRIORISMO. Esta teoria parte do princípio de que todo

conhecimento é inato. Quando o homem nascia, já trazia dentro de si toda a

compreensão da realidade. Durante o seu desenvolvimento e maturação este

conhecimento desabrochava-se, desde que houvesse um ambiente propício. O

ambiente teria a única e exclusiva função de maximizar o surgimento dos

estágios de desenvolvimento. O que o homem viesse a ser no futuro, já estaria

pré-determinado em seu código genético, desde o nascimento.

Com o passar dos tempos foi sendo questionada e criticada,

dando lugar à outra teoria completamente oposta – o empirismo ou

ambientalismo. O empirismo, tendo como seu representante, Locke, passa a

afirmar que ao nascer, o homem é uma tábua rasa, nada existe dentro dele, e é

através dos órgãos dos sentidos que o conhecimento vai sendo impresso nesta

tábua.

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Nesta teoria o ambiente passa a ser o único responsável pelo

desenvolvimento do ser humano. Este, considerado um ser plástico,

desenvolve as características de acordo com as condições presentes no meio

ambiente.

Em laboratório, Watson e Pavlov, começam a manipular estímulos

para controlar o comportamento e surgem os estudos de Skinner falando em

reforço positivo e negativo, punição e extinção.

Do laboratório esta teoria vai para a sala de aula e surgem os

prêmios, castigos, as cópias, as advertências e até as expulsões.

O professor ganha um papel de destaque. Ele é “magic dix”,

porque ele detém o conhecimento e o passa para os alunos, que devem

recebê-lo através dos órgãos dos sentidos. A ênfase é na memorização e a

aprendizagem ocorre através de passos previamente programados que se

iniciam nos exercícios mais simples para os mais complexos.

Nessa duas teorias fica uma questão: e o sujeito? Piaget, que

sem intenção pedagógica, ofereceu aos educadores importante princípios para

orientar sua prática. Piaget mostra que o sujeito humano estabelece desde o

nascimento uma relação de interação com o meio e a relação se desenvolve

construindo e reconstruindo suas hipóteses sobre o mundo que o cerca. E o

educador deve respeitar o nível de desenvolvimento do aluno e ser um

orientador da aprendizagem. É nesse momento que surge o construtivismo e o

sujeito passa a ter um lugar diferente. Para que aprenda algo, tem que existir a

ação – é a ação do sujeito que produz o conhecimento.

O sujeito passa a ser caracterizado como um ser ativo –

cognicente – que compreende o meio através das ações que realiza sendo elas

observáveis ou não. Com Vygotsky surge a teoria sociointeracionista. Que

pregando que o aprendizado é essencial para o ser humano e se dá sobre tudo

pela interação social, isto é, o social interferindo também na aprendizagem,

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surgindo a prática pedagógica calcada nos pensamentos de Piaget e Wigst. Na

qual o homem e o meio se interagem construindo o conhecimento influenciado

pelo cognitivo – construcionismo.

Neste processo, o sujeito, ao agir sobre o meio para compreendê-

lo, modifica-o e também se modifica.

“Os erros passam a ser encarados como erros construtivos que, na verdade, representam formas lógicas de compreender o real. É através do erro que o sujeito chega ao conhecimento, já que o erro trás o conflito cognitivo, e é no conflito que se buscam outras formas de resposta”. (Pamplona, 1998)

O desenvolvimento e paralelamente a aprendizagem são

processos contínuos e só terminam com a morte.

Temos a aprendizagem formal e informal que não deveriam se

apresentar distintas e antagônicas como acontece. O conhecimento a ser

aprendido é que organiza de maneira distinta, isto é, sistematizado. “A

aprendizagem formal envolve elementos comuns à aprendizagem escolar, pois

ambas exercitam as mesmas funções, do ponto de vista orgânico e

psicológico”. (Lima, Elvira; 1997)

Todo conhecimento é construído, o que difere são os

procedimentos para este conhecimento, se formal ou informal. Em ambos os

casos o ser humano na relação com o outro.

A natureza da aprendizagem humana é sempre social e o

indivíduo utiliza estratégias para a aprendizagem. Na aprendizagem informal o

indivíduo domina as estratégias no processo, enquanto que na formal ele

depende da intervenção intencional do outro para que a estratégia seja

revelada a ele.

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“... penso que nós superamos a ingenuidade. Porque o grande mal de todas as teorias da aprendizagem era considerar as pessoas como sendo objetos no espaço e no tempo. A nossa identidade não é a identidade de um saco de batatas ou de um balde de água num lugar determinado. Nós estamos naquele lugar e já o transformamos, já buscamos relações, e isto desde o primeiro momento da nossa existência. Portanto a identidade não é uma pura identidade no espaço e no tempo. Quando dissemos que o construtivismo pós-piagetiano incorpora, por exemplo, os conceitos de história, de movimento, etc., queremos dizer que a história é feita por esses indivíduos, por esses “eus” complexos no mundo. O aspecto da identidade isolada não existe”. (Steim, Renildo; 1993, pg.: 41)

Só existe aprendizagem se houver relacionamento humano e a

qualidade dessa aprendizagem depende eminentemente da qualidade da

relação.

2.1 – JEAN PIAGET

Jean Piaget nasceu n Suíça, em 1896,numa família rica e culta,

aos sete anos já se interessava por estudos científicos. Biólogo, de formação

estudou Filosofia e doutorou-se em Ciências Naturais, aos 22 anos. Faleceu

em 1980, na suíça.

Piaget tornou-se psicólogo com o propósito de estudar, questões

epistemológicas. Para ele o conhecimento é um processo e deve ser estudado

de maneira histórica. Não se contentou com a resposta à pergunta: “Como é

possível o conhecimento?”. Mas sobretudo, “Como muda e evolui o

conhecimento?”.

Os estudos sobre a Teoria do Construtivismo começaram com

Piaget, que explica o desenvolvimento cognitivo e mental do ser humano no

campo do pensamento, da linguagem e da afetividade.

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Sendo impossível, a ele, retornar ao início da humanidade para

estudar o desenvolvimento cognitivo desde o homem primitivo até o atual,

iniciou seus estudos pelo nascimento até a idade adulta recorreu à psicologia

para explicar o fato de como o sujeito constrói conhecimento. Ao elaborar a

Teoria Psico-Genética procurou mostrar quais as mudanças qualitativas por

que passa a criança, esquematizando o desenvolvimento intelectual nos

seguintes estágios:

1) Inteligência Sensório-motora

- do nascimento até 2 anos de idade;

- parte dos reflexos incondicionados, dando preparação para as

operações concretas;

- nesse período o “eu e o mundo” são distintos

2) Período de preparação e organização das operações-

concretas

a) Pré-operatório

- 2 aos 7 anos de idade;

- Caracteriza-se por um pensamento pré-conceitual, intuitivo e

egocêntrico;

- Período de representação. Dá vida a objetos (fantasia);

- A criança não se coloca no lugar do outro.

b) Período operatório concreto

- 7 aos 12 anos de idade

- Surgem as operações mentais;

- Período de classificação e seriação;

- Começa a compreender o ponto de vista do outro.

3) Período do pensamento lógico-formal

- 12 aos 15 anos de idade;

- Caracteriza-se por ter um pensamento hipotético-dedutivo;

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- Período do pensamento abstrato;

- Constrói sua realidade.

Para Piaget, o conhecimento não é algo-determinado desde o

nascimento (inatismo), nem simples registro de percepção e informações

(empirismo). Resulta das ações e interações do sujeito com o ambiente em que

vive. Todo conhecimento é uma construção que vai sendo elaborada desde a

infância, através de interações do sujeito com os objetos que procuram

conhecer, sendo eles do mundo físico cultural. O conhecimento resulta de uma

inter-relação entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido.

Existe um sujeito ativo que procura conhecer e compreender o

que se passa à sua volta. Isto não acontece de forma imediata no contato com

os objetos. As possibilidades do conhecimento decorrem dos esquemas de

assimilação, ou esquemas de ação (agitar, sugar, balançar, etc.) ou operações

mentais (reunir, separar, classificar, estabelecer relações) que não deixam de

ser ações, mas que se realizam no plano mental.

Esses esquemas se modificam com o resultado do processo de

maturação biológica, experiências, trocas interpessoais e transmissões cultura.

Os estudos de Piaget têm como fundamentos psicológicos:

acomodação, adaptação, equilíbrio e assimilação.

Os objetos do conhecimento apresentam propriedades e

particularidades que nem sempre são assimiladas (incorporadas) pelos

esquemas já estruturados do sujeito.

Isto ocorre porque o esquema assimilado é muito geral e não se

aplica à uma situação particular ou é insuficiente para um objeto mais

complexo.

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Quando acontece a ampliação ou modificação de um esquema de

assimilação (transferência) Piaget chamou de mecanismo de acomodação.

Embora este mecanismo seja provocado pelo objeto, é também possível pela

atividade do sujeito, pois é este que se modifica para a construção de novos

conhecimentos.

É o desenvolvimento cognitivo que determina o conteúdo das

assimilações e acomodações, embora a atividade inteligente é sempre um

processo ativo e organizador de assimilação do novo ao já construído e de

acomodação de construído no novo. Acontece assim a relação do sujeito

conhecedor e do objeto conhecido. Por aproximações sucessivas, articulando

assimilações e acomodações, temos o processo de adaptação. A cada

adaptação realizada novo esquema assimilador se torna estruturado e

disponível para que o sujeito realize novas acomodações e assim

sucessivamente. O que promove este movimento é processo de equilibração

(conceito central na teoria construtivista).

Para Piaget a aprendizagem é construída através de desafios,

pois estes são estímulos ao “desequilíbrio” intelectual. Pela curiosidade o

indivíduo fica motivado e na busca do equilíbrio (alcançado pelas ações físicas

e mentais) acontecem assimilações e acomodações.

O pensamento torna-se cada vez mais complexo e abrangente e

interage com objetos do conhecimento cada vez mais abstratos e diferenciado

(estágios). Para Piaget, devemos respeitar o nível de desenvolvimento

intelectual da criança.

Educar para Piaget significa provocar o desenvolvimento

intelectual, social, moral do indivíduo. A família e a escola devem juntas

proporcionar trocas de experiência, levando a pessoa à construir o seu

conhecimento.

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Não deixando de levar em conta o estágio cognitivo e biológico de

cada um como também considerar um dos fatores mais importantes do

processo que é autonomia moral e intelectual. Autonomia moral é a capacidade

de agir conscientemente com os valores construídos, por ser próprio na

interação com o meio, como sendo os mais corretos.

“A construção da moralidade resulta de um processo de

conscientização da inserção da criança num mundo social”. (Freitas, Barbara;

1993, pg.: 34) Quando fala-se em autonomia não quer dizer deixar o aluno

livre, acreditando que ele evoluirá sozinho, mas sim provocar um conflito

cognitivo para que novas aprendizagens sejam elaboradas e finalmente

construídas. Para Piaget, a moral é construída, o que permite a construção da

autonomia moral é o estabelecimento da cooperação ao invés da coação, e do

respeito mútuo no lugar do sujeito intelectual. Na relação com o outro isso

significa democratizar as relações para termos sujeitos autônomos.

Para Piaget, devemos nos preocupar com o ser heterônimo, isto

é, agir e ou fazer julgamentos sem questionar os valores que os sustentam.

Devemos encorajar as pessoas a construir elas mesmas seus valores.

“A essência da autonomia é que as crianças se tornam capazes de tomar decisões por elas mesmas. Autonomia não é a mesma coisa que liberdade completa. Autonomia significa ser capaz de considerar os fatores relevantes para decidir qual deve ser o melhor caminho de ação. Não pode haver moralidade quando alguém considera somente o seu ponto de vista. Se também considerarmos o ponto de vista das outras pessoas veremos que não somos livres para mentir, quebrar promessas ou agir irrefletidamente”. (Kamü; 1986, pg.: 72)

Piaget deixou à pedagogia os pressupostos que: - o aluno desempenha um papel ativo no processo da

aprendizagem e constrói o seu conhecimento;

- a escola consiste em estimular o desenvolvimento das

atividades;

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- o ensino deve levar em conta o ritmo evolutivo do aluno;

- o professor tem o papel de facilitador, orientador da

aprendizagem, evitando oferecer soluções prontas ao

conhecimento.

2.2 – Célestin Freinet

Nascido em 1896 ao Sul da França, Freinet ainda sem concluir

seus estudos como professor primário, já pesquisava sobre educação. Iniciou

sua carreira docente em 1920, construindo os princípios de sua prática; cujo

mais relevante é proporcionar ao aluno um trabalho real. Suas técnicas surgem

da preocupação com a escola teórica desligada da vivência do educando.

Freinet nas investigações percebe que a aprendizagem é

estimulada pelo ambiente. Sua sala de aula era prazerosa e ativa. Respeitava

a maneira de pensar do aluno e como ele construía o conhecimento.

Observava muito os seus alunos, suas relações e, em seguida

intervinha nas suas dificuldades. Freinet percebia que “a aprendizagem se dá

pelo tateio experimental” e a medida que o aluno obtém sucesso, a tendência é

que vá avançando e construindo outro conhecimento.

Para Freinet, o aluno precisa de um mediador (professor) para

adquirir o conhecimento; ele não avança sozinho. A cooperação é um dos

pontos fundamentais da pedagogia de Freinet, e a interação entre o professor e

o aluno é essencial para a aprendizagem.

Freinet dá muita importância a sintonia entre o professor e o

aluno, que acontece no respeito do educador pela vivência do educando e suas

experiências.

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Não bastam as aulas-passeio, cantinhos, jornal, troca de

correspondência (prática da pedagogia Freinet), se o professor não considerar

os aspectos sociais e políticos da comunidade do aluno.

O pensamento de Freinet é que toda aprendizagem deve ter

aplicabilidade para a vida, e principalmente para o trabalho. Esta prática,

também, tem a intenção de preparar o aluno para construir e transformar a sua

comunidade, e isto é possível pela prática de conviver em contatos com ela

(comunidade).

Esta pedagogia tem a preocupação com a formação social do

indivíduo, porque ele interfere na sua qualidade de vida.

Segundo a pedagogia de Freinet, o professor deve ser sensível,

comprometido com o seu fazer profissional, e estar, sempre, buscando

atualizar a sua prática.

Nesta prática a metodologia aplicada é socializar para o grupo o

conhecimento adquirido individualmente. Porque cada aluno tem um

aprendizado pessoal. Desse modo eleva a auto-estima da turma e ninguém

avança sozinho na sua aprendizagem, a cooperação é fundamental.

Freinet reforça a importância da relação professor-aluno baseada

na confiança, no respeito mútuo e na cumplicidade. Professor a aluno

convivem em igualdade; eles constróem e organizam seus saberes no “Livro

da Vida” (registros das experiências do dia-a-dia com o meio). A prática

acontece com entusiasmo e as próprias idéias registradas no papel. Além disso

há troca de correspondência com amigos e familiares através da “Imprensa

Escolar”. Com a “Correspondência Interescolar” acontece a dinamização

do conhecimento porque possibilita o intercâmbio sociocultural e dá ênfase à

troca de saberes.

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Toda prática frenetiana nasce do comprometimento de criar uma

pedagogia que dá origem a uma escola democrática e popular que proporcione

ao filho do povo instrumentos necessários a sua emancipação. “A criança não

se cansa de um trabalho funcional, ou seja, que atenda aos rumos de sua

vida”. (Freinet; 1987, pg.: 40)

As técnicas utilizadas por Freneit deram origem às Invariáveis

Pedagógicas.

Invariáveis Pedagógicas:

• As crianças aprendem mais através da experimentação (tateio

experimental) do que pelas explicações dos professores;

• Uma escola democrática, sem imposições autoritárias;

• Uma escola onde o respeito mútuo educa para a dignidade;

• Uma ambiente onde a disciplina e a ordem são frutos da

motivação para o trabalho (educação para o trabalho);

• O trabalho individual é produzido numa equipe cooperativa;

• Pedagogia de êxito: aposta na necessidade que o ser humano

tem de conseguir sucesso naquilo que faz.

Todas as técnicas criadas por Freinet tem como principal objetivo

educar o homem para exercer a sua cidadania.

2.3 – Lev Simyonovitch Vygotsky

Vygotsky nasceu em Bielorússia em 5 de Novembro de 1896.

Teve uma vida curta, morreu aos 37 anos. Suas obras foram proibidas durante

muito tempo na União Soviética, porque embora militante do Partido

Comunista, ele ressaltou o aspecto individual da formação da consciência, e

portanto, a concepção de que uma coletividade constitui-se de pessoas com

singularidade próprias.

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Para Vigotsky o desenvolvimento do indivíduo e da espécie

humana resulta de um processo sócio-histórico, e coloca em suas pesquisas

uma visão interdisciplinar.

Na teoria de Vygotsky o indivíduo não nasce pronto, nem é cópia

do ambiente externo. Contrapõe-se ao pensamento inatista, segundo o qual o

homem já nasce com suas características, como inteligência e estados

emocionais predeterminados. Da mesma forma contestou o empirismo;

pensamento que define “que as pessoas nascem como um copo vazio e são

formadas de acordo com as experiências vividas”.

Vygotsky afirma que na evolução há uma interação constante

ininterrupta entre os processo internos e influências do mundo social. Deste

modo deve-se procurar analisar o reflexo do mundo exterior no mundo interior

do indivíduo, a partir da interação destes sujeitos com a realidade.

Fundamentou-se nas Funções Psicológicas Naturais (nascem com o

indivíduo) e as Funções Psicológicas Superiores (resulta do

desenvolvimento cultural).

A origem da vida consciente e do pensamento abstrato são

procuradas na interação do organismo com as condições de vida social, e nas

formas histórico-sociais de vida da espécie humana.

As pessoas mudam, segundo seus princípios, na interação entre

elas, a sociedade, a cultura e a sua própria história. É o interacionismo social.

O referencial histórico-cultural apresenta uma nova maneira de entender a

relação entre sujeito e objeto, no processo de construção do conhecimento.

No referencial construtivista o conhecimento se dá a partir da

ação do sujeito sobre a realidade (considerando sujeito ativo). Esse mesmo

sujeito não é só ativo, mas também interativos, porque constitui conhecimento,

e só se constitui conhecimento a partir de relações intra e interpessoais. É na

troca com outros sujeitos e consigo próprio que vão se interiorizando

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conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a constituição de

conhecimentos e da própria consciência. Trata-se de um processo que parte do

plano social (relações interpessoais), para o plano individual (relações

intrapessoais).

Para Vygotsky o sujeito do conhecimento não é apenas passivo,

regulado por forças externas que vão moldando e nem somente ativo regulado

por forças internas: ele é interativo. São peças importantes na construção do

desenvolvimento de uma criança ao nascer, a história e a cultura dos seus

antepassados, próximos e distantes, as quais ela se integra. A família, seus

hábitos e atitudes influem na construção do desenvolvimento da criança; assim

como a história e cultura de outros indivíduos com quem a criança se relaciona

em outras instituições, próximas ou distantes, como: escola, cidade, estado,

país ou outras nações. Não é um processo passivo, a criança interage, ela

participa ativamente da construção da sua própria cultura e de sua história,

modificando-se e provocando transformações nos demais sujeitos que com ela

interagem.

Vygotsky defere de Piaget; enquanto este afirma que a

aprendizagem depende do estágio intelectual do sujeito, para Vygotsky a

aprendizagem favorece o desenvolvimento. “O aprendizado adequadamente

organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários

processos de desenvolvimento que de outra forma, serão impossíveis de

acontecer”. (Vygotsky; 1987, pg.: 101)

Antes de iniciar vida escolar a criança já adquire esse

aprendizado através de interações com diferentes sujeitos (adultos e crianças),

e vive experiências que lhe permitem atribuir significados a diferentes ações,

diálogos e vivências. Vigotsky atribui um valor significativo a aprendizagem

escolar quando afirma: “... Produz algo fundamentalmente novo no

desenvolvimento da criança”. (1987, pg.: 95)

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Existe, para Vygotsky, uma relação entre desenvolvimento e

aprendizagem: só nos desenvolvemos quando aprendemos. A zona de

desenvolvimento proximal e a zona de desenvolvimento real explicam essa

relação. Quando o indivíduo tem o conhecimento construído ele tem o nível de

desenvolvimento real; e quando o indivíduo não consegue realizar sozinho o

conhecimento, mas entrando em interação com outro ou outros parceiros,

através de estímulos consegue realizá-lo, tem-se a zona proximal de

desenvolvimento. Neste caso o desenvolvimento estava em processo; já

continha aspectos e partes mais ou menos desenvolvidas de instituições,

noções e conceitos.

O nível mental de uma pessoa não pode ser medido, somente,

com o conhecimento que ele domina, deve-se investigar o que ele consegue

realizar com o auxílio de outros. Assim torna-se possível avaliar o nível de

dificuldade do sujeito e qual o processo utilizado, possibilitando trabalhar

funções que, ainda estão completamente, consolidadas.

Para Vygotsky; quando não consideramos essa funções que se

encontra em processo de consolidação, deixamos de atuar na zona de

desenvolvimento proximal, que é a distância entre o nível de desenvolvimento

real e o nível de desenvolvimento potencial. Essa intervenção é possível

utilizando experiências de aprendizagem compartilhada e assim amadurecem

essas funções.

A boa aprendizagem é a que consolida e cria zona de

desenvolvimento proximal sucessivas. Daí a importância de um mediador

ou estimulador da aprendizagem. Ela é um componente determinante do

processo de desenvolvimento pois “pressagia” o que indivíduo poderá

posteriormente realizar sozinho. “O que o aluno pode fazer hoje colaborando

com outro, pode fazê-lo sozinho amanhã”. (Vygostky; 1987, pg.: 58)

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Ressalta-se também que, nesse processo em construção

compartilhada, não é somente um sujeito que tem a abertura da zona de

desenvolvimento proximal, mas todos os sujeitos que estão em interação.

Todos ensinam e aprendem.

Este processo de interação não ocorre somente em sala de aula,

pode acontecer em outras relações.

Segundo Vygostky o indivíduo desenvolve as funções mentais

inferiores e superiores.

O desenvolvimento das funções mentais inferiores: memória,

linguagem e consciência, não seria possível senão pela manipulação dos

sistemas simbólicos: a linguagem, a escrita e os números que são verdadeiros

instrumentos de construção psicológica. A aprendizagem dos sistemas de

signos é importante para o desenvolvimento individual.

“O papel dos signos é fundamental a medida que eles tornam possíveis uma série de controles: sobre outrem, sobre o comportamento e sobre o pensamento. O exemplo típico é o da escrita cuja apropriação e domínio permitem não somente expressar o pensamento, mas sobretudo organizá-lo e regulá-lo”. (Foulim&Mouchon; 2000, pg.: 136)

Na teoria de Vygotsky, a linguagem ocupa um espaço exemplar

no desenvolvimento do sujeito: primeiramente a comunicação da criança com o

seu ambiente que é o meio de interação com os outros, função externa da

linguagem, que será progressivamente aperfeiçoada. Em seguida vem a

linguagem dirigida a si mesmo, denominada egocêntrica, que é o meio da

criança organizar suas próprias ações, é a “ferramenta intelectual”, que

possibilita a regulamentação das atividades mentais.

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“O estatuto da linguagem egocêntrica no desenvolvimento é um ponto de divergência essencial entre Piaget e Vygotsky: para Piaget sinal de imaturidade destinado a evoluir, para Vygotsky instrumento de pensamento destinado a progredir”. (Foulin & Mouchon; 2000, pg.: 149)

A função comunicativa da linguagem permite ao homem conviver

em processo de interlocução constante com os seus semelhantes. Mas não só

o papel de comunicação que exerce a linguagem. Ela permite formular

conceitos, isto é, abstrair e generalizar a realidade através de atividades

mentais complexas.

O desenvolvimento conceitual não se dá de forma definitiva, mas

gradual. Inicialmente a criança formula conceitos a partir de uma relação que

estabelece com a realidade concreta, aos poucos ela vai isolando

determinados atributos do objeto, rumo à abstração e generalização, cada vez

mais complexa.

Vygotsky investigou dois tipos de conceitos: os cotidianos e os

científicos. Conceitos cotidianos são os do dia-a-dia, adquiridos quando se está

em interação com o meio. E esses conceitos vão se modificando desde o

nascimento até a morte. Os conceitos científicos são os construídos em uma

situação sistematizada, como por exemplo: a escola através das suas

propostas curriculares e conteúdos selecionados.

Para Vygotsky os conceitos tanto cotidianos como científicos não

ocorrem distanciados um dos outros, mas encontram-se interrelacionados.

Vygotsky prova o quanto a aprendizagem interativa permite que o

desenvolvimento avance. Coloca a importância das trocas interpessoais e

ressalta que o processo de constituição do conhecimento é tão importante

quanto o produto (avaliação final).

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O papel do professor, a partir de Vygotsky, não é ser o centro do

processo “que ensina pessoas leigas e passivas, mas sim um orientador que

interage com o aluno através de trocas intelectuais na construção do

conhecimento mútuo”.

2.4 – Paulo Freire

Paulo freire foi o grande autor da Pedagogia da Libertação ou

Dialógica. Nasceu em 1921, no Estado do Recife, e faleceu em 1997. Ele foi

mais do que educador, foi um pensador. Toda sua obra voltou-se para a teoria

do conhecimento aplicada à educação.

A pedagogia do Freire foi toda sustentada pela dialética, na qual

educador e educando aprendem juntos, ou seja, se educam de maneira mútua.

Tal método dialético retratou-se na sua principal obra (pedagogia do Oprimido,

1970) a qual gerou as seguintes contribuições: contribuição à teoria dialética do

conhecimento, à qual se fundamenta no fato de que a melhor maneira de se

refletir é ir à prática e retornar à reflexão. Pensar o concreto, a realidade e

fornecer elementos para mudança, e contribuição à categoria pedagógica da

conscientização, visando uma autonomia intelectual.

“O saber se faz pela superação constante. O saber superado já é uma ignorância. Todo saber humano tem em si testemunho do novo saber que já anuncia. Todo saber trás consigo sua própria superação. Portanto, não há saber, nem ignorância absoluta: há somente uma relativização do saber ou da ignorância”. (Freire; 1985, pg.: 60)

Ainda em Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire propõe o método

no qual a linguagem passa a ser sinônimo de cultura, alfabetizar passa a ter o

significado de descodificar a palavra, de conscientizar o alfabetizado, levando-o

a pensar o mundo, julgá-lo e aprender a Ter discernimento. Deste modo, o

professor deve ensinar ao educando a expressar o seu próprio juízo e opiniões

e não a reproduzir, copiar o que já existe. Portanto, o método de Paulo Freire é

contra qualquer atitude paternalista em relação ao analfabeto, pois o educador,

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segundo Freire, o processo de educação se dá através de troca constante de

conhecimento entre o professor e o aluno. Assim, seu método visa superar a

contradição educador-educandos, defendendo a idéia de que o educador não

está a serviço da opressão, mas sim à serviço da libertação.

Segundo Paulo freire o educador deve valorizar a experiência de

vida de cada ser (educando) e incentivar nos educandos a consciência de que

“ser” significa mais do que “ter”.

No desenvolvimento de suas idéias a prática pedagógica, o autor

defende uma série de concepções em relação ao verdadeiro significado de

educar, como as que são apontadas à seguir:

- A educação não é neutra, ela é sempre de cunho político;

- A educação deve mover-se pelo ânimo de libertar o pensar

pela ação dos homens uns com os outros, na tarefa comum de

refazerem o mundo e torná-lo mais e mais humano;

- A educação deve nutrir-se pelo amor à vida;

- A educação deve ser contra a paz social que, na verdade, é a

paz privada dos dominadores (opressores);

- A educação tem que pretender, ter por objetivos, a libertação

autêntica dos homens a qual é a humanização em processos;

esta libertação é praxis que implica na ação e na reflexão dos

homens sobre o mundo para transformá-lo;

- A educação baseia-se na consciência como consciência

intencionada ao mundo.

“Quanto mais o homem é indócil, tanto mais é criador, apesar de

em nossa sociedade se dizer que o rebelde é um ser inadaptado”. (Freire;

1985, pg.: 32) O método de Paulo Freire propõe, então, a educação da

problematização dos dialogicidade e se faz dialógica; rompe os esquemas

verticais característicos da educação bancária (característica da escola

tradicional), na qual em lugar de comunicar-se, o educador faz comunicados e

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … BATISTA SANTOS.pdf · interatividade, porque “o homem é um ser de relação e busca no outro o reconhecimento de si mesmo, que

depósitos e os alunos recebem depósito e arquivam. Não há desenvolvimento

do conhecimento, não há práxis, supera a contradição educador-educandos,

pois educador e educando se tornam sujeitos do processo em que crescem

juntos e em que os “argumentos de autoridade tradicional” já não valem, pois,

para ser-se, funcionalmente, autoridade, se necessita de estar sendo com as

liberdades e não contra elas.

“O educando recebe passivamente os conhecimentos, tornado-se um depósito para o educador. Educa-se para arquivar o que se deposita. Mas o curioso é que o arquivado é o próprio homem, que perde assim o seu poder de criar, se faz menos homem, é uma peça. O destino do homem deve ser, criar e transformar o mundo, sendo sujeito de sua ação”. (Freire; 1975, pg.: 89)

Como, para Freire, os homens se educam em comunhão,

mediatizados pelo mundo, então educando e educador são, na verdade,

investigadores críticos, em diálogo constante na construção do conhecimento.

A educação problematizadora de Paulo Freire, de caráter

autenticamente reflexivo, implica em um constante ato de desvelamento da

realidade, é uma educação que busca emersão de consciências, de que resulte

sua inserção crítica na realidade.

2.5 – Howard Gardner

Gardner, psicólogo e autor do livro Estrutura da mente: Teoria das

Inteligências Múltiplas, ao lançar no Brasil em 1994, seu livro; faz com que as

educação e consequentemente os educadores repensem algumas posturas

pedagógicas.

Em sua teoria Gardner propõe a existência de um espectro de

inteligência que comanda a mente humana; o que suscitou algumas polêmicas.

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Segundo Gardner o ser humano tem as seguintes inteligências:

- Lógico-matemática: capacidade de realizar operações

matemáticas e de analisar problemas com lógica. Matemáticos

e cientistas têm essa capacidade privilegiada;

- Lingüística: habilidade de aprender línguas e de usar a língua

falada e escrita para atingir objetivos. Advogados, escritores e

locutores a exploram bem;

- Espacial: capacidade de reconhecer e manipular uma

situação espacial ampla ou mais restrita. É importante tanto

para navegadores como para cirurgiões ou escultores;

- Físico-cinestésica: potencial de usar o corpo para resolver

problemas ou fabricar produtos: dançarinos, atletas, cirurgiões

e mecânicos se valem dela;

- Interpessoal: capacidade de entender as intenções e os

desejos dos outros e, consequentemente, de se relacionar

bem com eles. É necessária para vendedores, líderes

religiosos, políticos e, o mais importante professores;

- Intrapessoal: capacidade da pessoa se conhecer, incluindo aí

seus desejos, e de usar essas informações para alcançar

objetivos pessoais;

- Musical: aptidão na atuação, apreciação e composição de

padrões musicais.

Gardner admite existir a oitava inteligência a naturalista que é a

capacidade de reconhecer objetos da natureza.

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Ele, também, questiona sobre outras inteligências: a existencial

ou espiritual, e, até mesmo, a inteligência moral; mas não as acrescenta as

sete primeiras.

Alguns estudiosos divergem da teoria de Gardner, dizem que falta

profundidade nos seus estudos, mas acreditam que a teoria ajuda muito no

campo da educação.

Uma das conclusões que se chega com relação a educação,

afirma que a escola deve valorizar o aluno por inteiro; seus interesses,

aptidões, capacitações, e, não priorizar determinados conhecimentos em

detrimento de outros. “A escola deve considerar as pessoas inteiras e valorizar

outras formas de demonstração de competências além dos tradicionais eixos

lingüísticos e lógicos-matemáticos”. (Machado; 2001, pg.: 20)

Para Gardner proporcionar ao aluno determinadas atividades não

quer dizer que se dá oportunidade ao aluno de desenvolver suas inteligências

“múltiplas”. Para que isso aconteça é preciso que o aluno questione o que faz e

esteja em estágio de criação.

A teoria de Gardner tem como base o respeito às diferenças

individuais e o desenvolvimento das potencialidades do aluno, e visa o seu

crescimento total.

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3 – O RELACIONAMENTO PROFESSOR-ALUNO

E A APRENDIZAGEM INTELECTUAL

A importância do relacionamento professor-aluno e a

aprendizagem passa, primeiramente, pela afirmativa de que o homem é um

ser, essencialmente, de relações.

“Nenhuma ação educativa pode prescindir de uma reflexão

sobre o homem e de uma análise de suas condições

culturais. Não há educação fora das sociedades humanas e

não há homens isolados”. (Freire; 1965, pg.: 61)

As teorias de aprendizagem apontam, notadamente, a

importância do professor e seu relacionamento com o aluno.

Segundo Piaget e sua teoria do construtivismo o desenvolvimento

cognitivo do aluno está no campo do pensamento, da linguagem, e da

afetividade. Em todos esses aspectos o professor tem um papel especial na

estimulação desses desenvolvimentos.

Quando Piaget diz que o conhecimento resulta das ações e

interações do sujeito (aluno) com o ambiente em que vive, e nesse ambiente,

um aprendizado intelectual, o professor tem um papel de grande influência.

Para Piaget o educador é um observador ativo, embora sem

interferir, diretamente durante a aprendizagem, mas sim provocar de maneira

amistosa a construção do conhecimento.

O professor não é um transmissor de conhecimentos, ele não

coloca, de pronto “o certo” ou “o errado”, deve levar o aluno a descobrir o erro.

Para Piaget o aluno é o construtor do seu conhecimento.

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O fazer do professor, na maioria das situações, contraria o

pensamento de Piaget.

“A criança na realidade não tem nenhuma oportunidade de tateio e pesquisa pessoal; sua atividade é dirigida, canalizada. É o professor quem explica, repete, questiona, responde às perguntas das crianças”. (Goulart; 2000, pg.: 162)

A teoria piagetiana valoriza a atividade do aprendiz e organiza as

atividades educativas a partir dos objetivos.

Outra tese piagetiana afirma que o desenvolvimento cognitivo é

processo seqüencial marcado por etapas caracterizadas por estruturas mentais

diferenciadas. A maneira do aluno compreender e resolver os problemas

depende da estrutura mental em que ele se encontra. Daí é necessário uma

constante observação criteriosa para identificar o momento (etapa) que o aluno

está vivendo. É o que podemos chamar “sondagem de prontidão”.

“É útil relembrar que cada estrutura cognitiva tem o seu momento próprio de aparecer. A interação adequada com o ambiente fará com que ela emirja e possa ser utilizada em toda sua plenitude. A perda deste momento parece-nos desastrosa, pois uma estrutura mental, se não exercitada no momento próprio, irá requerer, em etapa posterior, maior esforço, tanto do sujeito em desenvolvimento, quanto de quem pretende facilitar-lhe este processo”. (Goulart; 2000, pg.: 163)

Deve-se observar que para Piaget o desenvolvimento é um

processo seqüencial, e é mesmo para todas as pessoas; mas a cronologia é

variável de pessoa para pessoa. É necessário que através do estudo do

comportamento do aluno adequar as atividades propostas.

Segundo Piaget há uma grande relação entre as estruturas

cognitivas e o desenvolvimento social. Para ele o desenvolvimento cognitivo e

um processo social. A interação com as outras pessoas (importância do

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professor) tem significante papel nas operações lógicas. A cooperação é

indispensável no aprendizado do sujeito (importância do professor).

A fala da criança, também nos permite localizar a sua estrutura

mental. O professor para facilitar a aprendizagem cria oportunidades de

comunicação. A evolução da linguagem e do raciocínio se interfluenciam.

Piaget ressaltou em seus estudos a importância da autonomia

para o maior desenvolvimento moral e intelectual do aluno. Ele passa a não

depender, exclusivamente da memória e se torna independente para resolver

desafios pelos seus próprios meios(autonomia intelectual). Na autonomia moral

o educando é capaz de agir a partir dos valores morais, conscientemente

assumidos como os mais corretos.

“Num momento em que a meta da educação é a formação de indivíduos autônomos, os educadores deveriam retomar a análise do desenvolvimento afetivo-social realizado por Piaget”. (Goulart; 2000, pg.: 166)

Quanto a importância do papel do professor na aprendizagem e a

teoria de Vygotsky, o que mais temos a considerar é a zona de

desenvolvimento proximal.

Para Vygotsky só nos desenvolvemos quando aprendemos, a

aprendizagem caminha a frente do desenvolvimento. Isso tem relação com

zona de desenvolvimento proximal e a zona de desenvolvimento real.

Quando o aluno tem um conhecimento construído ele atingiu o

nível de desenvolvimento real; e quando ele, ainda não construiu esse

conhecimento sozinho, mas, estimulado por outros parceiros conseguir

construir o seu conhecimento; o seu nível de aprendizagem se encontra na

zona de desenvolvimento proximal.

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A importância da qualidade da relação professor-aluno torna-se

imprescindível, porque da interação com o aluno o professor pode detectar o

nível mental em que este se encontra, e organiza caminhos que estimulem a

construção do conhecimento e provoca o desenvolvimento real do educando

que realiza o seu nível de conhecimento independente.

O educador detecta a zona de desenvolvimento proximal, que se

estimulada, possibilita a aprendizagem.

O professor é mediador e estimulador da aprendizagem. O nível

de desenvolvimento mental de uma criança não pode ser determinado apenas

pelo que ele consegue produzir sozinho. É necessário o professor reconhecer o

que ele consegue realizar, mesmo com o auxílio de outras pessoas, e ser

mediador dessa aprendizagem.

É importante que o professor reconheça o processo mental

realizado pelo aluno até ele chegar as respostas; isto é fundamental. Nem

sempre o desempenho correto significa que houve aprendizagem, pode

acontecer “decoreba”. Deste modo também, o professor na sua intervenção

quando o aluno necessita, num determinado ponto, torna-se possível ele

(professor) trabalhar ao aluno funções que não estão de todo consolidadas.

É importante que o professor considere o processo de

consolidação. Se deixa de considerar, deixa, também, de atuar na zona de

desenvolvimento proximal; que é a distância entre o nível de desenvolvimento

real e o nível de desenvolvimento potencial.

O educador é responsável pelas experiências de aprendizagem

compartilhadas que atuam na zona de desenvolvimento proximal e estimula a

aprendizagem. “A boa aprendizagem é aquela que consolida e sobretudo cria

zonas de desenvolvimento proximal sucessivas”. (Góes; 1991, pg.: 20)

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … BATISTA SANTOS.pdf · interatividade, porque “o homem é um ser de relação e busca no outro o reconhecimento de si mesmo, que

Para Vygotsky a aprendizagem só é possível com a interatividade,

pois permite que o desenvolvimento caminhe. Ele destaca a importância das

trocas interpessoais na constituição do conhecimento; o que traz uma série de

implicações na prática pedagógica do professor. Vygotsky diz que o processo

de construção do conhecimento é tão importante quanto o produto final, que

acontece com a aprendizagem.

Diante desta colocação de Vygotsky muda o papel do professor:

- Ele não é mais o centro do processo que ensina a pessoas

passivas;

- O professor interage com o aluno (detecta a zona de

desenvolvimento proximal);

- O professor é o estimulador e mediador do processo;

- O professor estimula a cooperação.

Na pedagogia de Vygotsky o aluno aprende sozinho, a

aprendizagem não é uma atividade individual é basicamente interpessoal. O

que o aluno realiza hoje com a ajuda do professor, estará realizando sozinho

amanhã.

A aprendizagem implica em apropriar-se de conhecimentos. Logo,

exige do professor planejamento e reorganização constante de experiências

significativas para o alunos.

A qualidade da relação professor-aluno permite o professor

detectar as dificuldades do aluno que pode objetivar atividades necessárias ao

seu aprendizado. Desta forma, o professor poderá avaliar o processo: o nível

de propostas que estão sendo feitas, mas, sobretudo o nível de

desenvolvimento real do aluno, revelado pela sua produção independente, e,

ainda o seu nível de desenvolvimento proximal, onde ele necessita de ajuda.

Assim o professor consegue conhecer a realidade do aluno “o curso interno no

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seu desenvolvimento”, e ele pode prever o quanto o aluno necessita de ajuda,

e, principalmente, como se planeja para ajudá-lo.

Para que o professor possa atingir esses objetivos não pode

prescindir de constantes interação com os alunos através da linguagem.

Para Vygotsky, a linguagem é a “ferramenta psicológica mais

importante”. Deste modo o professor pode conhecer o seu aluno no que ele é

agora e no que pode vir a ser.

Ao observar as crianças em atividades Vygotsky conclui que elas

desenvolvem as suas atividades práticas com a ajuda da fala, assim como a

dos olhos e das mãos. Ele atribui grande importância a linguagem egocêntrica

(sentido intra-pessoal).

O momento de maior significado no curso do desenvolvimento intelectual, que dá origem as formas puramente humanas de inteligência prática e abstrata, acontece quando a fala e a atividade prática, então duas linhas completamente independentes de desenvolvimento, convergem”. (Vygotsky; 1980, pg.: 27)

Segundo Vygotsky, para que aconteçam as trocas de

experiências e consequentemente o conhecimento através da cooperação as

turmas não devem ser homogêneas e o professor deve estimular um ambiente

de interação constante. “Na ausência do outro o homem não se constrói

homem”. (Vygotsky)

Quanto a teoria de Freinet e a importância do papel do professor

na aprendizagem tem-se que a pedagogia frenetiana é completamente voltada

para a qualidade no relacionamento professor-aluno. Do sucesso desta relação

está o sucesso da aprendizagem.

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Para Freinet a relação do professor com os alunos deve ser de

confiança, respeito mútuo e cumplicidade.

Na teoria de frenetiana é completamente voltada para a qualidade

no relacionamento professor-aluno. Do sucesso desta relação está o sucesso

da aprendizagem.

Para Freinet a relação do professor com os alunos deve ser de

confiança, respeito mútuo e cumplicidade.

Na teoria de Freinet, o professor promove aulas-passeio, onde as

vivências são compartilhadas e enriquecidas pelas trocas. Tudo sob a

orientação do educador que aproveita todas as oportunidades, e até provoca

algumas, com o objetivo de levar o aluno a construir a sua autonomia e

cidadania. Tudo que é vivenciado no grupo é registrado e socializado entre

todos num ambiente amistoso.

A pedagogia de Freinet preocupa-se em respeitar o ambiente e a

cultura do aluno, e daí parte todo o aprendizado.

Para Freinet não existe aprendizagem divorciada da realidade e

da praticidade, fazer pedagógico do professor, segundo Freinet, se constitui

nas Invariáveis Pedagógicas:

- As crianças aprendem mais pela experimentação (tateio

experimental) do que pelas explicações do professor;

- A escola é democrática, sem imposições autoritárias;

- Um ambiente onde a disciplina e a ordem são frutos da

motivação para o trabalho (educação para o trabalho);

- O trabalho individual é produzido numa equipe cooperativa;

- Pedagogia do êxito, aposta na necessidade que todo ser

humano tem de conseguir sucesso naquilo que faz.

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Essas Variáveis Pedagógicas dependem, essencialmente da

qualidade na relação professor-aluno, enfatizada no interesse, bom

relacionamento, empatia, competência e muito respeito ao ser humano.

Quando se estuda a pedagogia de Paulo Freire e faz-se um

parâmetro com relação a importância do papel do professor na aprendizagem

vê-se que o fazer do professor é de muita influência na formação do aluno.

Podemos citar os valores do educador que influi a sua ética, e a

formação acadêmica e cultural. Segundo Paulo Freire a educação é produto da

interação entre as pessoas, e certamente, um influencia o outro. Porém, devido

ao lugar ocupado pelo professor, ele interfere, sempre na formação dos alunos;

“ensinando” coisas boas ou más para eles.

A pedagogia de Freire é sustentada pela dialética, na qual

educador e educando aprendem juntos, isto é, se educam de maneira mútua.

“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo. As pessoas se educam

em comunhão”. (Freire; 1985, pg.: 28)

Como para Freire os homens se educam em comunhão,

mediatizados pelo mundo, portanto educando e educador são, na verdade,

investigadores críticos; em diálogo constante na construção do conhecimento.

Analisando a pedagogia de Freire e o papel do professor tem-se

que o educador interage com o aluno através de uma pedagogia

problematizadora, reflexiva, em constante desvelamento da realidade que

provoca a conscientização; com o objetivo da inserção do aluno na realidade. É

a pedagogia do desafio, da desalienação, que produz o compromisso consigo

mesmo e com e com os outros, isto é, educar para a cidadania.

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“O desenvolvimento de uma consciência crítica que permite ao homem transformar a realidade se faz cada vez mais urgente. Na medida em que os homens, dentro de sua sociedade, vão respondendo aos desafios do mundo, vão temporalizando os espaços geográficos e vão fazendo história pela sua própria atividade criadora”. (Freire; 1985, pg.: 33)

Freire objetiva o aluno independente e autônomo, preza a prática

da liberdade “uma educação libertadora” que resulta na sua humanização.

Ressalta, ainda, Freire a educação problematizadora,

comprometida com a libertação, que se empenha na desmitificação do mundo;

parte do caráter histórico e da historicidade dos homens, os quais esta

educação reconhece como seres inacabados, inconclusos, “em” e “com” uma

realidade igualmente inacabada.

As raízes da educação, se encontram na inconclusão dos homens

e na consciência que dela têm; daí que seja a educação um “que – fazer”

permanente na razão desta inconclusão dos homens e do definir da realidade.

Para educar para a cidadania o professor deve observar a visão

sobre os homens, segundo Paulo Freire:

- Os homens com o mundo e com os outros (não homens

simplesmente no mundo);

- Homens recriadores do mundo (e não homens simplesmente

no mundo).

Homens como “corpos conscientes”:

- Homens como sujeito de sua ação e como seres de opção

(que optam pelo que querem e pelo que não querem).

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Segundo Freire, o educador deve valorizar a experiência do

educando e incentivar neles a consciência de que “ser” significa do que “ter”,

isto ;e educar para ser feliz.

“Em todos existe um ímpeto criador. O ímpeto de criar nasce da inclonclusão do homem. A educação é mais autêntica quanto mais desenvolve este ímpeto ontológico de criar. A educação deve ser desinibidora e não restritiva. É necessário darmos oportunidade para que os educandos sejam eles mesmos. Caso contrário o desmistifamos”. (Freire; 1985, pg.: 32)

O papel do professor na teoria de Horward Gardner implica na

postura do educador com relação ao respeito às diferenças individuais dos

alunos e suas potencialidades. Cabe ao professor oportunizar aos alunos

momentos de expansão dessas inteligências múltiplas.

O educador proporciona diferentes recursos pedagógicos para dar

oportunidade a todos os alunos de expandir as suas diferentes capacidades e

ainda respeitar todo e qualquer conhecimento que o aluno possui, e não,

somente o conhecimento lógico-matemático e a lingüística; como é mais

comum. Assim fortalece a auto-estima e a construção de outros

conhecimentos.

Para Gardner, o aluno desenvolve as diversas inteligências. O

aluno não deve ser visto pelo professor, somente como um executor de tarefas,

mas também deve ser levado a resolver problemas através da autonomia.

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4– CARACTERÍSTICAS E ATITUDES

DOSPROFESSORES QUE MANTÊM BOM

RELACIONAMENTO COM OS ALUNOS

O fazer pedagógico do educador determina a relação que ele tem

com o aluno. E este fazer requer atenção e reorganização constante.

É muito importante que o professor se coloque como aprendiz,

aberto a também a aprender com os alunos, com a vida, com as mudanças, e

ser um pesquisador constante.

O professor comprometido politicamente é tecnicamente

competente. A competência técnica se renova da mesma forma que o

compromisso político.

O educador que está politicamente comprometido com a sua

prática; sabe da importância social, cultural, coletiva e política do seu trabalho,

assim como a dimensão transformadora da sua ação.

“O compromisso é como um ato de amor, que tem de se renovar diariamente. Na realidade, o ato de educação exige necessariamente uma espécie de renovação diária de compromisso com o ato educativo”. (Rodrigues; 1988, pg.: 68)

Em sua tarefa educativa o educador assume uma postura

democrática sabe da importância coletiva do seu trabalho, isto é, intera-se com

o seu grupo de trabalho e desenvolve com os alunos um ambiente

democrático, de cooperação, solidariedade e respeito mútuo.

Não podemos listar atitudes e características do professor ideal,

porque há muitas variantes a considerar. Pode-se, sim, selecionar algumas

indispensáveis a um bom relacionamento professor-aluno que favorece a

aprendizagem intelectual do educando.

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O professor é competente, está sempre atualizando-se, e é

humilde ao se relacionar com o saber do aluno, procura não esquecer que

está sempre aprendendo. O aprendizado do professor não finda ao término de

as graduação, ele continua sendo um aluno-professor.

O professor é ético; auto-avalia-se, avalia os acontecimentos e o

mundo, é um ser crítico. O professor ó pode levar o aluno a construir valores

que ele possui.

“Professores que não são livres para construir sua próprias atividades, pesquisar, engajar-se em aprendizagem significativas, assumir riscos, tomar decisões e assessorar suas próprias competências, serão incapazes de criar tais possibilidades para o estudante”. (Demo; 2001, pg.: 42)

O professor procura seguir uma linha pedagógica progressista,

ele é sensível às mudanças, as inovações, as críticas e respeita as opiniões

dos outros e está pronto ao diálogo às discussões.

O professor atencioso é observador do aluno para melhor

conhecê-lo e ajudá-lo.

O professor é democrático, tem consciência dos seus direitos e

deveres (autonomia) e procura passar esta prática para os alunos. Enfim, não é

necessariamente, tendo ou não estas características que o professor vai

construir com o seu aluno a aprendizagem; mas, principalmente humanizando

todas as suas ações pedagógicas e amando, sempre o sujeito do seu trabalho

“o aluno”, seja ele “quem” e “como for”.

E, finalmente, lembre que você é um educador, portanto,

orientador e estimulador da aprendizagem de quem, ainda está em

desenvolvimento.

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“Qualquer que seja a postura pessoal, sem dúvida transmitimos mais do que ensinamos formalmente...E pode acontecer que isso seja o mais importante e duradouro ... Não há relação humana – e a relação professor-aluno na sala de aula é relação humana – em que não se dê uma influência mútua... Influímos, para bem ou para mal, querendo ou não”. (Morales; 1998:43)

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CONCLUSÃO

Neste novo cenário da educação será preciso reconstruir o saber

da escola e a formação do educador.

De tudo que se observa no processo ensino-aprendizagem e a

sua relação com a importância do papel do professor, está evidente que, seja

qual for a proposta do educador, ele interfere diretamente na construção do

conhecimento do aluno e sua formação.

O professor não é mais um mero transmissor de conhecimentos e

o aluno um recipiente que armazena informações e reproduz quando solicitado,

como faz até um papagaio.

Não se tem um aluno passivo, que não pensa, não questiona e

não coloca suas idéias. Diante desse aspecto, até surgem conflitos entre

educando e educadores.

No momento, o professor deve repensar o seu papel, buscar

conhecimentos e estar sempre se atualizando para enriquecer o seu trabalho.

Reconhecer que o mundo está em constante mutação e isso também ocorre

com o seu aluno e com toda a humanidade.

Não existe mais o professor simplesmente, existe o educador cujo

papel é estar em interação com o sujeito do seu fazer pedagógico (o aluno). O

educador é o mediador e o estimulador da aprendizagem e ao mesmo tempo

um eterno aprendiz, aberto a questionar e buscar sempre o aperfeiçoamento. O

professor deve dar atenção à sua formação, seus valores, para poder orientar

melhor seus alunos; dos valores do professor dependem os valores do aluno.

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Finalmente, conclui-se que a formação acadêmica do educador é

muito importante, mas não se pode prescindir em todo o processo educacional

da relação humanística que norteia todo o processo. Porque somos seres

humanos. Educação sem humanização produz pessoas desumanas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Psicológico e Educação. Psicologia da Educação. Porto Alegre: Artes

Médicas Sul, 1996.

DEMO, Pedro. Conhecer e Aprender: Sabedoria dos Limites e Desafios.

Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

FOULIN, Jean; Nõel; MOUCHON, Lerge. Psicologia da Educação. Porto

Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. RJ: Paz e Terra, 1985.

GOULART, Íris Barbosa. Psicologia da Educação. Petrópolis: Vozes, 2000.

LEMBO, Jonh M. Por que Falham os Professores? SP: Pedagógica e

Universitária, 1971.

MORALES, Pedro. A Relação professor-Aluno. SP: Loyola, 1999.