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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO E A INCLUSÃO ESCOLAR DO ALUNO COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA Por: Ana Paula Regal Pepe Orientador Prof. Mary Sue Pereira Rio de Janeiro 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO E A

INCLUSÃO ESCOLAR DO ALUNO COM TRANSTORNO DO

ESPECTRO AUTISTA

Por: Ana Paula Regal Pepe

Orientador

Prof. Mary Sue Pereira

Rio de Janeiro

2014

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO E A

INCLUSÃO ESCOLAR DO ALUNO COM TRANSTORNO DO

ESPECTRO AUTISTA

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Educação Especial e

Inclusiva.

Por: Ana Paula Regal Pepe

3

AGRADECIMENTOS

À Deus, autor da minha vida, que me

iluminou na realização desse trabalho.

À minha querida amiga e parceira

Denise, presente em todos os

momentos, me incentivando e dando

exemplo de força e dedicação.

Ao querido amigo Vinícius, com seu

testemunho de superação.

Às professoras Ana Cristina, Eliane e

Maria Cândida, com a colaboração de

suas experiências pedagógicas.

À Educação Especial, que me devolveu

o entusiasmo pela minha profissão.

.

4

DEDICATÓRIA

Ao meu querido pai, que com certeza,

se estivesse ainda no meio de nós,

estaria muito orgulhoso com mais esta

vitória em minha vida.

Ás minhas filhas Mariana e Natália e ao

meu companheiro Milton, que sempre

estão presentes me dando força e

coragem no meu caminhar.

.

.

5

RESUMO

O Capítulo I aborda o Atendimento Educacional Especializado,

complementar ou suplementar ao ensino regular, enfatizado pela Política

Nacional da Educação Especial na Perspectiva Inclusiva, seus aspectos legais

e a revisão histórica do movimento de inclusão, onde a Educação Inclusiva

passa a ser a política educacional do país.

O Capítulo II refere-se ao Transtorno do Espectro Autista, da

identificação aos dias de hoje, hipóteses causais e a importância da

identificação e intervenções precoces, onde as experiências no ambiente

poderão favorecer o curso do desenvolvimento e melhora no prognóstico.

E, finalmente, o Capítulo III apresentará a práxis do Atendimento

Educacional Especializado, na modalidade de Sala de Recursos, registrada

através da observação das atividades elaboradas e exercidas pelo

professor regente quanto à estratégias pedagógicas que favoreçam o

acesso do aluno com TEA ao currículo e sua permanência e interação no

grupo.

6

METODOLOGIA

A metodologia utilizada nesta monografia se destina a comprovar a

importância de todos os envolvidos no processo de inclusão, no conhecimento

do aluno com Transtorno de Espectro Autista, e o que o Atendimento

Educacional Especializado deve lhe oferecer para garantir sua plena

participação na vida escolar.

Na elaboração desta monografia, inicialmente, foram feitas pesquisas

bibliográficas através de livros técnicos, periódicos, artigos publicados e web

sites.

Posteriormente, foi realizada a pesquisa exploratória em escolas

públicas da Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro, onde foram

coletados dados a partir da observação do objeto de estudo, e em seguida, os

mesmos foram registrados e fundamentados teoricamente.

Cabe ressaltar a relevante contribuição de minha experiência como

agente da Educação Especial da 7ª Coordenadoria Regional de Educação do

Município do Rio de Janeiro.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I - O Atendimento Educacional Especializado

CAPÍTULO II - O Transtorno do Espectro Autista

CAPÍTULO III – O Atendimento Educacional Especializado e a inclusão escolar

do aluno com TEA

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

ANEXOS

ÍNDICE

8

INTRODUÇÃO

Durante séculos, o mundo tratou as pessoas com deficiência como

doentes que precisavam de atendimento médico, não de Educação. Somente

nos anos 90 que as velhas ideias assistencialistas foram suplantadas pela tese

da inclusão. Procurava-se garantir o acesso de todos à Educação.

Documentos como a Declaração de Mundial de Educação para Todos, de

1990, e a Declaração de Salamanca, de 1994, são marcos desse movimento.

Segundo Maria Teresa Eglér Mantoan, docente da Faculdade de

Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e uma das

pioneiras no estudo da inclusão no Brasil: “A escola regular é mais desafiadora

e uma ambiente desafiador é mais propício ao aprendizado.” Não apenas

aqueles com deficiência são mais beneficiados. Os outros alunos também

ganham muito com a inclusão. A flexibilização de recursos pode ajudar todos a

aprender mais.

Numa perspectiva inclusiva, não será o aluno com necessidades

especiais que deverá se adequar ao espaço escolar, mas todo o sistema

escolar deverá se adaptar às especificidades dos alunos.

Segundo Mantoan, “a inclusão obriga o sistema educacional a se

repensar, a descobrir novas formas de ensinar. Muda o entendimento do que é

aprendizagem”.

Os desafios para uma Educação Inclusiva perpassam pelos aspectos

político e educacional, referindo-se às ações destinadas a capacitação de

recursos humanos para atuar com alunos com necessidades especiais,

assegurar a matrícula de todo e qualquer criança, olhar as possibilidades,

superando as dificuldades geralmente apresentadas pelas deficiências,

superar a perspectiva homogeneizadora do ensino, considerar que as

necessidades educacionais especiais são relativas e interativas e superar

situações de participação apenas para “socialização” dos alunos para

oportunidades de desenvolvimento e aprendizagem.

9

O debate sobre a inclusão escolar do aluno com Transtorno do Espectro

Autista, resgata uma questão essencial à constituição de toda a sociedade que

se diz avançada: a forma como o ser humano vê e trabalha com as diferenças.

Os alunos que compõem o espectro autístico, talvez, sejam aqueles que

levam o professor a questionar suas próprias habilidades, certezas e o papel

do educador na escola e frente a esta sociedade. A entrada destes alunos na

sala de aula sugere reflexões e mudanças na arte do ensinar, sugere quebra

de paradigmas e a necessidade de repensar a cultura do pertencimento e o

papel da escola na construção da cidadania.

A partir da implementação da Política Nacional de Educação Especial

na Perspectiva da Educação Inclusiva (MEC/2007), surge o Atendimento

Educacional Especializado, na modalidade de Salas de Recursos

Multifuncionais, com a função de identificar, elaborar recursos pedagógicos e

de acessibilidade que favoreçam a plena participação destes alunos, de forma

a atender e valorizar as diferenças, com vistas à autonomia na escola e fora

dela.

A recente Legislação Federal, que dispõe sobre o autismo e sua

caracterização como deficiência, Lei 12.764/2012 (Lei Berenice Piana), abre

perspectivas de Atendimento Educacional Especializado do autista na escola.

Enfatiza a importância deste atendimento, apoiando o desenvolvimento do

processo inclusivo das Redes Públicas de Ensino, bem como, das instituições

de ensino privadas.

Esta Lei institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa

com Transtorno do Espectro Autista e estabelece diretrizes para sua execução.

De acordo com a lei, a pessoa com transtorno do espectro autista é

considerada pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais, garantindo a

intersetoralidade nas ações e políticas para seu o desenvolvimento, o incentivo

à capacitação de profissionais e pais ou responsáveis, e o diagnóstico

precoce, mesmo quando não definitivo.

10

CAPÍTULO I

O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO

A inclusão deve ser entendida como uma proposta de mundo,

extrapolando os muros da escola, fundamentada na ideia de Direitos

Humanos, onde TODOS devem identificar as barreiras que impedem esse

processo, percebendo que a barreira não é a deficiência, mas a dificuldade em

lidar com ela.

A Educação Inclusiva pode ser considerada uma nova cultura escolar:

uma concepção de escola que visa ao desenvolvimento de respostas

educativas que atinjam todos os alunos, diferenciando-se assim da escola

tradicional.

“Um processo de inclusão acaba por desinstalar muitas coisas

numa escola: currículo, grade horária, ementas, enfim. Das

mais sutis às mais drásticas, as transformações que um aluno

pode gerar mudam a escola, e isso tem sabor de renovação,

de reinvenção. Querendo ou não, desfaz-se a naftalina.”

(Thiago Amorim in Isabel Parolin, 2010)

1.1 – O movimento da Inclusão

A nossa Constituição Federal garante, expressamente, o direito à

igualdade (art.5º) e trata, nos artigos 205 e seguintes, do direito de TODOS à

educação. Esse direito deve visar o “pleno desenvolvimento da pessoa, seu

preparo para o trabalho” (art.205).

Além disso, elege como um dos princípios para o ensino, a “igualdade

de condições de acesso e permanência na escola” (art. 206, inc.I),

acrescentando que o “dever do Estado com a educação será efetivado

11

mediante a garantia de acesso aos níveis mais elevados do ensino, da

pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um” (art.208,

V).

Portanto, a Constituição garante a todos o direito à educação e ao

acesso à escola. Toda escola, assim reconhecida como tal, deve atender aos

princípios constitucionais, não podendo excluir nenhuma pessoa em razão de

sua origem, raça, sexo, cor, idade, deficiência ou ausência dela.

O Atendimento Educacional Especializado, citado no art. 208 da

Constituição, deve estar disponível em todos os níveis de ensino escolar

(básico e fundamental), de preferência nas escolas comuns da rede regular.

Esse é o ambiente escolar mais adequado para garantir o relacionamento do

aluno com seus pares da mesma idade e para estimulação de todo o tipo de

interação que possa beneficiar seu desenvolvimento cognitivo, motor, afetivo.

O direito de todos à educação tem peculiaridades: não é qualquer tipo

de acesso à educação que atende ao princípio da igualdade de acesso e

permanência em escola.

A partir da política de universalização da educação básica, ganhou

força a proposta de inclusão escolar no quadro internacional. A partir dessa

premissa, surge no início da década de noventa a “educação inclusiva”.

Segundo Rosana Glat (2007), “o princípio básico deste modelo” é que todos os

alunos, independentemente de suas condições socioeconômicas, raciais,

culturais ou de desenvolvimento, sejam acolhidos nas escolas regulares, as

quais devem se adaptar para atender às suas necessidades, pois se

constituem como os meios mais capazes para combater as atitudes

discriminatórias, e, como consequência, construindo uma sociedade inclusiva e

atingindo a educação para todos.

Documentos como a Declaração Mundial de Educação para Todos

(1990) e a Declaração de Salamanca (1994) passam a influenciar a formulação

das políticas públicas da educação inclusiva.

A Declaração Mundial de Educação para Todos, apresenta-se como

um documento elaborado em 1990, durante uma Conferência promovida pela

ONU, em Jomtiem (Tailândia). Tal Conferência visava a promover ajustes

globais no que se refere à educação, destacando-se os seguintes elementos:

12

A- definição das necessidades básicas de aprendizagem;

B- construção de modelos paramétricos de avaliação educacional em

nível global (PISA)

C- promoção da equidade e inclusão (art. 3).

A Declaração de Salamanca se insere no âmbito da promoção da

equidade e reestruturação dos Sistemas de Ensino previstos em Jomtiem.

Trata-se de um documento que fornece diretrizes e indicadores para as

políticas educacionais voltadas à Educação Especial em nível mundial.

Segundo Bueno (2001), “a Declaração de Salamanca inclui no âmbito

das políticas integradoras crianças com deficiência e crianças bem dotadas;

crianças que vivem nas ruas e que trabalham; crianças de populações

distantes ou nômades; crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e

crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidas ou marginalizadas. Isto é,

as crianças deficientes são apenas uma, entre tantas outras, das expressões

concretas das chamadas necessidades especiais”.

O modelo de “integração” foi, com o tempo, amplamente criticado por

exigir uma “preparação” prévia dos alunos com deficiências para a sua

adaptação ao ensino regular. Como ressalta Bueno (2001), o problema

continuava centrado no aluno e no ensino especial, já que à escola regular

caberia apenas educar aqueles com condições de acompanhar as atividades

rotineiras, concebidas sem qualquer preocupação com as necessidades

individuais. Consequentemente, a maioria desses educandos continuava

segregada em escolas ou classes especiais, por não apresentar condições de

ingresso nas turmas regulares.

No panorama político-educacional nacional surge a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional, Lei nº9. 394/96, onde em seu art. 58, afirma que

a Educação Especial é “a modalidade de educação escolar, oferecida

preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de

necessidades especiais”. Em seu art. 59, preconiza que “os sistemas de ensino

assegurarão aos educandos com necessidades especiais, currículos, métodos,

técnicas, recursos educativos e organização específicos para atender suas

necessidades, assim como,” terminalidade específica para aqueles que não

13

puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental , em

virtude de suas deficiências e aceleração para concluir em menor tempo o

programa escolar para os superdotados”, e “professores com especialização,

bem como professores do ensino regular capacitados para a integração

desses educandos nas classes comuns”, dentre outros incisos.

O entendimento equivocado da LDB (artigos 58 e 59) tem levado à

conclusão de que é possível a substituição do ensino regular pelo especial.

Isso decorre do fato de que toda a legislação ordinária tem que estar em

conformidade com a Constituição Federal (que também determina que o

acesso ao Ensino Fundamental seja obrigatório em seu art. 208.).

O termo “portador de necessidades educacionais especiais” originou-se

na Inglaterra, nos anos 70, em que se constatou que cerca de 20% de todo e

qualquer aluno, em algum momento da sua vida escolar, poderia apresentar

alguma necessidade específica para que sua aprendizagem pudesse ocorrer.

A expressão “portador de necessidades educacionais especiais”,

durante os anos 80, acabou chegando ao Brasil. Em meados dos anos 90,

com o advento da Declaração de Salamanca (1994), que adotou esta

expressão inglesa em seu texto, acabou influenciando nossa LDB. Assim foi

que no Brasil, a expressão foi oficializada em normativa em 1996.

Além da repercussão na LDB 9394/96, o termo também repercutiu em

nosso Plano Nacional de Educação (Lei nº 10.172, de 09 de janeiro de 2001),

que definiu a Educação Especial como o setor que “se destina às pessoas

com necessidades educacionais especiais no campo da aprendizagem,

originadas quer de deficiência física, sensorial, mental ou múltipla, quer

de características como altas habilidades, superdotação ou talentos”

Acompanhando o processo de mudança, a Educação Inclusiva passa a

ser a política educacional do país, amparada pela legislação em vigor e

convertida em diretrizes para a Educação Básica dos sistemas federal,

estaduais e municipais, conforme a Resolução CNE/CEB nº 2 de 2001:

Art. 2º: O sistemas de ensino devem matricular a todos os alunos,

cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com

necessidades educacionais especiais, assegurando às condições

necessárias para uma educação de qualidade para todos(BRASIL, 2001).

14

Na proposta atual, esses alunos, independentemente do tipo ou grau de

comprometimento, devem ser absorvidos diretamente nas classes comuns do

ensino regular, cabendo à escola a responsabilidade de se transformar,

principalmente no que diz respeito à flexibilização curricular, para dar a

resposta educativa adequada às suas necessidades.

Mônica Pereira (UFRJ, 2014) afirma que “inclusão não é uma

metodologia de ensino, e sim um processo, um ideário, uma proposta política

de mundo, e não apenas de educação”. Segundo ela, o processo de inclusão

deve ser fundamentado na ideia de Direitos Humanos para garantir a

dignidade humana, ser recheado de intenções que tem por objetivo alimentar

as ações. Aponta também a importância de identificar as barreiras da

inclusão, pois segundo ela, o que causa a barreira não é a deficiência, mas a

dificuldade para lidar com ela.

O Brasil, tentando seguir a trilha das nações signatárias da Declaração

Mundial sobre Educação para Todos, parece ter-se apercebido desta

diferença e em 2007, lança outro documento dentro da perspectiva de

Inclusão: o “”Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE” (Brasil, 2007).

Neste documento é reafirmada a visão que busca superar a oposição entre

educação regular e educação especial, e garante-se o acesso e permanência

no ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais especiais

dos alunos, fortalecendo seu ingresso nas escolas públicas. Neste Plano

prevê-se recursos financeiros oriundos de órgãos como FNDE e FUNDEB.

Em 2008, surge a “Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva

Inclusiva”, tendo como objetivo o acesso, a participação e a aprendizagem

dos alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas

habilidades/superdotação nas escolas regulares, garantindo a

transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a

educação superior; o atendimento educacional especializado (AEE); a

continuidade da escolarização nos níveis mais elevados de ensino; a

formação de professores para o atendimento educacional especializado e

demais profissionais da educação para a inclusão escolar; a participação da

família e da comunidade; a acessibilidade urbanística, nos mobiliários e

equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação, e na

15

articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. Esta política

retoma os princípios de Educação para Todos (UNESCO,1990) e da

Declaração de Salamanca(UNESCO,1994).

1.2 - O AEE – aspectos legais

O Decreto nº 6.571/2008 dispõe sobre o Atendimento Educacional

Especializado complementar ou suplementar ao ensino regular para os

alunos público alvo da educação especial e o seu financiamento por meio do

Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de

Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB. Este apoio financeiro

garante a implantação das Salas de Recursos Multifuncionais; formação

continuada de professores do AEE; formação de gestores e educadores;

adequação arquitetônica, assim como, elaboração e distribuição de recursos

pedagógicos para a acessibilidade e formação de núcleos de acessibilidade

em instituições federais de nível superior. Os recursos pedagógicos referem-

se a livros didáticos e paradidáticos em braile, áudio e LIBRAS, Laptops com

sintetizador de voz, softwares para comunicação alternativa (Boardmaker) e

outras ajudas técnicas que possibilitam o acesso ao currículo. O

financiamento da dupla matrícula de alunos público alvo da educação

especial na educação básica é instituído, no âmbito do FUNDEB, de modo a

fomentar a organização e oferta do Atendimento Educacional Especializado

na Perspectiva da Educação Inclusiva, conforme disposto no Art.6.

Diferentemente do que muitos pensam, o foco do trabalho é pedagógico

e não clínico. Nas Salas de Recursos, o professor prepara o aluno para

desenvolver habilidades e utilizar instrumentos de apoio que facilitem o

aprendizado nas aulas regulares. “Desenvolver habilidades é essencial para

que as pessoas com deficiência não se sintam excluídas e as demais as

vejam com normalidade”, diz Mantoan (UNICAMP). Vale lembrar que o

trabalho não é um reforço escolar. As antigas Salas de Recursos atendiam

alunos que apresentavam apenas dificuldade de aprendizado. Hoje, a lei

16

determina que somente quem tenha deficiência, transtornos globais de

desenvolvimento ou altas habilidades/superdotação seja atendido nesses

ambientes.

Com o objetivo de orientar a implementação do Decreto 6.571, são

instituídas as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional

Especializado na Educação Básica, por meio da Resolução nº 4 CNE/CEB.

De acordo com essas Diretrizes, o AEE deve integrar o Projeto Político

Pedagógico – PPP da escola, envolver a participação da família e ser

realizado em articulação com as demais políticas públicas. De acordo com o

Art.5º dessa Resolução, “o Atendimento Educacional Especializado é

realizado, prioritariamente, na Sala de Recursos Multifuncionais da própria

escola ou em outra escola de ensino regular, no turno inverso da

escolarização, não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser

realizado, também, em Centro de Atendimento Educacional Especializado da

Rede Pública ou de Instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas

sem fins lucrativos, conveniadas com a Secretaria de Educação ou órgão

equivalente dos Estados, Distrito Federal e Municípios”. Dessa forma, o

desenvolvimento inclusivo das escolas é compreendido como uma

perspectiva ampla de reestruturação da Educação, que pressupõe a

articulação entre a Educação Especial e o ensino comum, sendo esta a

função primordial do AEE, considerando a elaboração, a disponibilização e a

avaliação de estratégias pedagógicas, de serviços e recursos de

acessibilidade para a promoção efetiva do direito de todos à Educação.

Em seu Art.9º, a elaboração e execução do Plano de AEE são de

competência dos professores que atuam nas Salas de Recursos

Multifuncionais, em articulação com os demais professores do ensino regular,

com a participação da família e em interface com os demais serviços

setoriais.

O Art.10º determina que o PPP da escola deve institucionalizar a oferta

do AEE, prevendo na sua organização:

I – salas de recursos multifuncionais: espaço físico, mobiliário, materiais

didáticos, recursos pedagógicos e de acessibilidade e equipamentos

específicos;

17

II- matrícula no AEE de alunos matriculados no ensino regular da própria

escola ou de outra escola;

III- cronograma de atendimento dos alunos;

IV-plano do AEE: identificação das necessidades educacionais

especificas dos alunos, definição dos recursos necessários e das atividades a

serem desenvolvidas;

V- professores para o exercício da docência do AEE;

VI- profissionais da educação: tradutores e intérpretes de Língua

Brasileira de Sinais, guia intérprete e outros que atuem no apoio,

principalmente às atividades de alimentação, higiene e locomoção;

VII- redes de apoio no âmbito da atuação profissional, da formação do

desenvolvimento da pesquisa, do acesso a recursos, serviços e

equipamentos, entre outros que maximizem o AEE.

Na implantação da Sala de Recursos Multifuncionais para a oferta do

AEE, compete à escola:

a) Contemplar, no Projeto Político Pedagógico – PPP da escola, a

oferta do atendimento educacional especializado, com professor

para o AEE, recursos e equipamentos específicos e condições de

acessibilidade;

b) Construir o PPP considerando a flexibilidade da organização do AEE,

realizado individualmente ou em pequenos grupos, conforme o Plano

de AEE de cada aluno;

c) Matricular, no AEE realizado em sala de recursos multifuncionais, os

alunos público alvo da educação especial, matriculados em classes

comuns da própria escola e os alunos de outra(s) escola(s) de

ensino regular, conforme demanda da rede de ensino;

d) Registrar no Censo Escolar MEC/INEP, a matrícula de alunos

público alvo da educação especial nas classes comuns; e as

matrículas no AEE realizado na sala de recursos multifuncionais da

escola;

e) Efetivar a articulação pedagógica entre os professores que atuam na

sala de recursos multifuncionais e os professores das salas de aula

18

comuns, a fim de promover as condições de participação e

aprendizagem dos alunos;

f) Estabelecer redes de apoio e colaboração com as demais escolas da

rede, as instituições de Educação Superior, os Centros de AEE e

outros, para promover a formação dos professores, o acesso a

serviços e recursos de acessibilidade, a inclusão profissional dos

alunos, a produção de materiais didáticos acessíveis e o

desenvolvimento de estratégias pedagógicas;

g) Promover a participação dos alunos nas ações intersetoriais

articuladas junto aos demais serviços públicos de Saúde, Assistência

Social, trabalho, direitos humanos, entre outros;

Em conformidade ao Art.13º, o professor do AEE tem como atribuições:

ü participar do processo de identificação e tomada de decisões

acerca do atendimento às necessidades educacionais especiais

dos alunos;

ü preparar material específico para uso dos alunos na Sala de

Recursos;

ü orientar a elaboração de materiais didático-pedagógicos que

possam ser utilizados pelos alunos nas classes comuns;

ü indicar e orientar o uso de equipamentos e materais específicos e

de outros recursos existentes na família e na comunidade;

ü articular, com gestores e professores, para que o projeto

pedagógico da instituição de ensino se organize coletivamente

numa perspectiva da educação inclusiva;

ü participar das reuniões pedagógicas, dos conselhos de classe, da

elaboração do projeto pedagógico,[...]

(ALVES, D.O. et al. Salas de Recursos Multifuncionais: espaços

para atendimento educacional especializado. Brasília: Ministério

da Educação Especial, 2006, p.17-18)

A Nota Técnica Nº4/2014/MEC/SECADI/DPEE, de 23 de janeiro de

2014 apresenta orientações quanto a documentos comprobatórios de alunos

com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas

19

habilidades/superdotação no Censo Escolar. De acordo com este documento,

“cabe ao professor do AEE, elaborar o Plano de Atendimento Educacional

Especializado – Plano de AEE, documento comprobatório de que a escola,

institucionalmente, reconhece a matrícula do estudante público alvo da

educação especial e assegura o atendimento de suas especificidades

educacionais. Com isso, não se pode considerar imprescindível a

apresentação de laudo médico (diagnóstico clínico) por parte do aluno com

deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas

habilidades/superdotação, uma vez que o AEE caracteriza-se por atendimento

pedagógico e não clínico.

Durante o estudo de caso, primeira etapa da elaboração do Plano de AEE, se

for necessário, o professor do AEE, poderá articular-se com profissionais da

área da saúde, tornando-se o laudo médico, neste caso, um documento anexo

ao Plano de AEE. Por isso, não se trata do documento obrigatório, mas,

complementar, quando a escola julgar necessário. O importante é que o direito

das pessoas com deficiência à educação não poderá ser cerceado pela

exigência de laudo médico.”

1.3 – O AEE no Município do Rio de Janeiro

O Instituto Helena Antipoff (IHA) constituiu-se como o Centro de

Referência Municipal em Educação Especial no Município do Rio de Janeiro,

tendo como atual diretora a professora Kátia Cristina Vieira Nunes. A

instituição é responsável por implementar políticas públicas em Educação

Especial nas escolas municipais do Rio de Janeiro.

Os profissionais do IHA têm como atribuições o acompanhamento dos

alunos da Educação Especial por meio de visitas junto à Coordenadoria

Regional de Educação (CRE), a dinamização de cursos de capacitação,

palestras e reuniões, como também, a formulação de documentos e

orientações direcionadas ao trabalho pedagógico com alunos com deficiência

20

física, deficiência intelectual, deficiência visual, deficiência auditiva, surdez,

surdocegueira, deficiência múltipla, transtornos globais do desenvolvimento e

altas habilidades e superdotação.

Os professores de Salas de Recursos e de Itinerância são designados

de profissionais de AEE no Município do Rio de Janeiro. Realizam permanente

Formação e Atualização com os Serviços e as Oficinas disponíveis no Instituto

Helena Antipoff (IHA e/ou com as equipes de acompanhamento do IHA).

O professor de Sala de Recursos possui um dia semanal para visita às

escolas/e ou produção de materiais pedagógicos a serem utilizados com os

alunos da Educação Especial.

A partir de 2010, os professores de Salas de Recursos e de Itinerância

procedem ao preenchimento de sete documentos, organizados e apresentados

pelo Instituto Helena Antipoff (IHA), onde serão revisados anualmente pelos

Coordenadores das Equipes de Acompanhamento do IHA no intuito de avaliar

a manutenção ou o possível ajuste e/ou reorganização dos mesmos.

Os documentos são instrumentos de planejamento e de

acompanhamento utilizados pelo AEE. Visam auxiliar os professores do AEE a

corresponderem ao estabelecido nas atribuições dos profissionais de

Atendimento Educacional Especializado, que encontram-se expressas no

Artigo 13 da Resolução CNE/CEB Nº 4, de 2 de outubro de 2009.

Os Coordenadores das Equipes de Acompanhamento do IHA

procederão à orientação sobre o preenchimento da documentação em

reuniões periódicas que são realizadas com os profissionais do AEE.

Os documentos são apresentados a seguir: (anexo 1)

v DOCUMENTO 1 - Planejamento do Atendimento Educacional

Especializado para o aluno da Educação Especial em classe

comum (informações sobre o aluno, a escola e o planejamento de

ações do AEE; este documento será preenchido, bimestralmente, para

cada aluno e arquivado na secretaria de lotação do professor de AEE;

v DOCUMENTO 2 - Acompanhamento do Atendimento Educacional

Especializado (o documento é uma exploração sucinta da troca de

informações e das ações estabelecidas entre o professor de turma

21

comum e o AEE – será preenchido bimestralmente para cada aluno e

colabora na discussão e estudo de caso de alunos/escolas com a

equipe de Acompanhamento do IHA);

v DOCUMENTO 3 - Relatório de Visita do Atendimento Educacional

Especializado para o aluno da Educação Especial em classe

comum (preenchido a cada visita do profissional de AEE e corresponde

aos objetivos de observação do aluno em sala de aula (classe comum) e

de orientação ao professor, coordenador pedagógico e direção da

escola regular);

v DOCUMENTO 4 - Relação Nominal Unificada (RNU) do Atendimento

Educacional Especializado (preenchido mensalmente e enviado a

Coordenadoria Regional de Educação - CRE – o documento original

será arquivado em pasta/arquivo do AEE na secretaria de lotação do

professor de AEE);

v DOCUMENTO 5 - Entrevista com o responsável (preenchida para

cada aluno novo e atualizada anualmente – original arquivado em

pasta/arquivo do AEE na secretaria de lotação do profissional de AEE);

v DOCUMENTO 6 - Atividades do Atendimento Educacional

Especializado (se destina à comprovação por meio de rubricas da

direção ou da coordenação pedagógica de escolas – e de outras

instituições – das seguintes atividades: (1) Visita a Unidades Escolares,

(2) Participação em Centros de Estudos, (3) Participação em Conselhos

de Classe, (4) Reunião com Equipe de Acompanhamento do IHA, (5)

Formação Continuada, (6) Encontros com Profissionais de outras áreas

– o documento é entregue à direção da escola de lotação que faz a

conferência mensal das atividades do AEE. O profissional de AEE

arquiva cópia do documento em pasta/arquivo do AEE na secretaria da

escola de lotação);

v DOCUMENTO 7 - Programação do Atendimento Educacional

Especializado (documento que admite flexibilidade na forma de

apresentação);

22

É de responsabilidade da Direção da Unidade Escolar de lotação dos

profissionais de Salas de Recursos e de Itinerância (AEE) proceder ao

arquivamento da documentação regularmente preenchida por estes

professores, mantendo-a disponível na secretaria da escola.

O Instituto Helena Antipof (IHA), publica em 4 de agosto de 2011 a

primeira Coletânea de Textos – “Orientações para inclusão de alunos nas

escolas do Município do Rio de Janeiro”. Estes textos foram construídos sobre

a prática pedagógica da própria instituição e de demandas identificadas pelos

profissionais do IHA em contato diário com a rotina das escolas, na busca de

uma formação continuada para os professores que atuam na Educação

Especial do Município do Rio de Janeiro.

A Diretora do Instituto Municipal Helena Antipoff, professora Kátia

Cristina Vieira Nunes, nos diz: “Os textos presentes nesta coletânea abordam a

prática pedagógica, o saber agir diante dos desafios a serem enfrentados

perante o outro que nos parece por vezes tão diferente de nós. O que estes

alunos devem nos provocar é o desejo da investigação, de estudo e de

abertura ao humano.” (maio, 2011)

1.3.1- Composição das Salas de Recursos Multifuncionais

No período de 2005 a 2012, a composição das Salas de Recursos

Multifuncionais foi alterada, visando atender às demandas dos sistemas de

ensino.

As Salas de Recursos Multifuncionais implantadas no Município do Rio

de Janeiro, a partir de 2009, recebem em seu acervo os primeiros

equipamentos, mobiliários e materiais didáticos pedagógicos, além de

materiais e equipamentos específicos para deficiência visual. (anexo 1)

A partir de 2011, o acervo das Salas de Recursos Multifuncionais foi

composto por recursos de tecnologia assistiva, destinados ao atendimento

educacional especializado a alunos com deficiência visual. (anexo 2)

No processo educacional, poderão ser utilizadas nas Salas de

Recursos, tanto a tecnologia avançada, quanto os computadores e softwares

específicos, por exemplo, o Boardmaker, como também os recursos de baixa

23

tecnologia, que podem ser obtidos ou confeccionados artesanalmente pelo

professor, a partir de materiais que fazem parte do cotidiano escolar.

Os quites de atualização das Salas de Recursos Multifuncionais, em

2012/2013, são compostos por outros materiais e equipamentos. (anexo 3)

A entrega dos itens que compõem as salas de recursos multifuncionais

dá-se, diretamente, na escola, no endereço registrado no Censo Escolar, por

empresas diferentes, em prazo contado a partir da emissão da autorização da

entrega. O MEC/SECADI acompanha e fiscaliza essa execução.

O responsável pela escola, no momento da entrega, deve conferir os

itens especificados na nota fiscal e assinar o Termo de Recebimento e o

Termo de Aceitação.

A Sala de Recursos é multifuncional em virtude de sua constituição ser

flexível para promover os diversos tipos de acessibilidade ao currículo, de

acordo com as necessidades de cada contexto educacional.

CAPÍTULO II

O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

A palavra autismo vem do grego “autos” que significa “próprio, de si

mesmo”.

Nos estudos iniciais do autismo, o fascínio se faz evidente, na análise

da atitude indiferente das crianças observadas, em situações próprias para a

troca social. Desde a infância, as trocas sociais têm importância na nossa vida.

E o que se torna mais intrigante e desafiador é compreender as atitudes

sistemáticas de indiferença ou alheamento em relação ao compartilhamento

social.

24

“Desde 1938, chamaram-nos a atenção várias crianças cujo

quadro difere tanto e tão peculiarmente de qualquer outro tipo

conhecido até o momento que cada caso merece – e espero

que venha a receber com o tempo – uma consideração

detalhada de suas peculiaridades fascinantes” (Leo Kanner in

Belisário,2010)

2.1 – Autismo – da identificação aos dias de hoje

As primeiras descrições do autismo foram feitas em 1943, pelo médico

austríaco radicado nos Estados Unidos – Leo Kanner.

Ele identificou como traço fundamental a incapacidade na relação

sócio-afetiva com as pessoas e situações. No âmbito da comunicação,

descreveu ausência de linguagem em algumas crianças, presença de ecolalia

e aparência de surdez em algum momento do desenvolvimento.

“A conduta da criança é governada por um desejo ansiosamente

obsessivo para manter a igualdade, que ninguém, a não ser a própria criança,

pode romper em raras ocasiões” (Kanner in Belisário, 2010)

Leo Kanner observou em algumas crianças autistas relevante

capacidade em memorizar grande material, mesmo sem sentido,

hipersensibilidade a certos estímulos e problemas com a alimentação.

O médico vianense Hans Asperger, poucos meses depois de Kanner,

sem conhecer a seu trabalho,”descobriu” o autismo no estudo de casos de

várias crianças atendidas na Clínica Pediátrica Universitária de Viena.

Publicou em 1944, período pós-guerra, em alemão, a obra “Psicopatia

autista na infância”, sem tradução para outra língua. Fato este que,

provavelmente, contribuiu para um longo período de desconhecimento de seus

estudos, até a década de 80.

Asperger considerava que toda a personalidade da criança autista era

determinada pela limitação nas relações sociais, com tendência a comportar-

se de forma alheia às condições do meio, apresentando compulsividade e

caráter obsessivo de seus pensamentos. A linguagem expressiva apontava

25

alterações no ritmo e entonação, constituindo uma fala estranha, nesses

aspectos. Do ponto de vista da linguagem receptiva, demonstrava dificuldade

na compreensão de sentido ambíguo de palavras e expressões.

Os estudos de Kanner e Asperger, de acordo com Belisário (2010),

apresentam semelhanças e diferenças. Ressalta serem evidentes as

diferenças no aspecto educacional da criança autista, estudado por Asperger,

e principalmente, no desenvolvimento da comunicação e da linguagem.

Asperger identificou em suas observações que as crianças

apresentavam uma inteligência superior e aptidão para a lógica e a abstração,

apesar de interesses excêntricos. Aquelas diagnosticadas com Síndrome de

Asperger são consideradas por muitos como autistas de alto funcionamento,

ainda que alguns considerem esta síndrome como uma forma específica e

diferente de autismo.

Até a década de 60, o autismo foi considerado como um transtorno

emocional causado pela incapacidade de mães e/ou pais de oferecer o afeto

necessário durante a criação dos filhos. Durante as décadas seguintes,

pesquisas rigorosas e controladas levaram à hipótese da existência de

alteração cognitiva que explicaria as características de comunicação.

linguagem, interação social e pensamento presentes no autismo.

A partir daí, o autismo é explicado e descrito como um conjunto de

transtornos qualitativos de funções envolvidas no desenvolvimento humano,

classificados como Transtorno Globais do Desenvolvimento (TGD). Com

isso, o autismo deixa de ser entendido como psicose infantil.

Ao se falar de transtorno, Cancino (2013) diz: “é uma alteração

fundamentalmente biológica, uma variação anormal (no sentido de que não se

seguem padrões esperados para as normas da população) e que, apesar da

estimulação social, vai apresentar ausências, atrasos e diferenças na aquisição

de diversas capacidades, habilidades e competências de acordo com o

esperado para cada faixa de idade e para cada cultura.”

É importante considerar que os transtornos do desenvolvimento se

apresentam de formas variadas, onde um espectro vai desde o mais severo

até a forma mais sutil ou incompleta.

26

De acordo com o MEC/SEESP (2007), “os alunos com Transtornos

Globais do Desenvolvimento são aqueles que apresentam alterações

qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório

de interesses e atividades restrito. Incluem-se nesse grupo alunos com

autismo, síndromes do espectro autista e psicose infantil.”

O conceito atual do autismo é considerado uma “síndrome

comportamental com etiologias múltiplas e curso de um distúrbio de

desenvolvimento” (Gillberg in Silvia Ester, 2012).

Os sintomas variam muito de indivíduo para indivíduo. Trata-se de uma

síndrome tão complexa que pode-se observar quadros comportamentais

diferentes. Em alguns há o acometimento de convulsões, já que o transtorno

pode estar associado a problemas neurológicos e neuroquímicos. Tal

complexidade da variação do grau de intensidade e de incidência de sintomas

contribuiu para a mudança da nomenclatura para “Transtorno do Espectro

Autista”.

No Brasil, a classificação oficial do autismo é realizada, levando-se em

conta os critérios da CID-10 F84 (Classificação Internacional de Doenças), em

conjunto com o DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatística de Transtornos

Mentais). È importante ressaltar que a avaliação diagnóstica deve ser realizada

a partir de uma anamnese específica e uma observação comportamental.

Na academia existe uma concordância quando se fala de transtorno

autístico, referindo-se ao déficit na tríade comportamental:

• Comprometimentos na comunicação

• Dificuldades na interação social

• Atividades restritivas e repetitivas

Em maio de 2013, foi lançada a última revisão do DSM, chamada

DSM-V, incluindo mudanças significativas para os critérios diagnósticos do

autismo.

A nova revisão do DSM inclui uma nova definição do Transtorno do

Espectro Autista (TEA), indicando apenas duas áreas principais: comunicação

social e os comportamentos estereotipados ou repetitivos. Para ser

diagnosticado com TEA, o indivíduo deve exibir sintomas que comecem na

infância precoce, e esses sintomas devem comprometer a capacidade do

27

indivíduo em função da sua vida e do dia-a-dia, resultando em déficits sociais

e de comunicação.

O indivíduo tem problemas de interação social caracterizado pela

dificuldade de estabelecer ou manter o vai-e-vem de conversas e interações, a

incapacidade de iniciar uma interação e, problemas com a atenção

compartilhada ou partilha de emoções e interesses com os outros, por

ausência de interesse em pessoas. Quanto ao déficit na comunicação, aquele

com TEA apresenta problemas de comunicação não-verbal – o que pode

incluir o contato anormal dos olhos, postura, expressões faciais, tom de voz e

gestos, bem como a incapacidade de entender esses sinais não-verbais de

outras pessoas.

Anteriormente, um atraso de linguagem foi um fator significativo no

diagnóstico do autismo clássico. Neste aspecto, os indivíduos com Transtorno

de Asperger não poderiam receber esse diagnóstico, já que não apresentam

atraso de linguagem. Portanto, de acordo com a nova versão do DSM-V, os

atrasos de linguagem podem ser definidos como fatores que influenciam nos

sintomas clínicos de TEA, e não como critério de diagnóstico do autismo.

Os padrões restritivos e repetitivos de comportamento referem-se a

comportamentos motores ou verbais estereotipados ou comportamentos

sensoriais incomuns; excessiva adesão a rotinas e padrões ritualizados de

comportamento.

“Eu sou assim. E é assim que me sinto. Exigir que eu saia das

rotinas é parecido com o que sente um urso polar quando se

vê obrigado a viver na Amazônia.” (depoimento de Vinícius

Moura, Asperger, 2009, quando tinha 19 anos)

2.2- Hipóteses causais e importância da identificação e

intervenção precoces

De acordo com Silvia Ester (2012), “as questões sobre os possíveis

agentes causadores do autismo são muito polêmicas. Inquirem-se desde

28

causas psicológicas, disfunções cerebrais e alterações de neurotransmissores

e fatores ambientais, como definidores da doença, até os de natureza

genética, sendo esta última levantada e analisada mais recentemente por

diversos cientistas”.

Apesar de persistir uma série de dúvidas ou desconhecimento sobre o

autismo, a literatura científica internacional nesta área admite uma série de

concordâncias. Há um consenso sobre a base biológica do autismo e que este

transtorno envolve um espectro, ou seja, de que existem diferentes quadros

clínicos.

“Existem abordagens inatistas como as Teorias Biológicas e a Teoria da

Mente e uma abordagem desenvolvimentista. Embora esses dois tipos de

abordagens concordem sobre a base biológica inata do autismo, sua

compreensão de como esse fator age é diferente.” (LAMPREIA,2012)

A abordagem desenvolvimentista considera que o fator inato age em

interação com o ambiente. Isso significa que o quadro clínico pode ter

diferentes aspectos, dependendo das experiências ambientais que a criança

tiver. Em um ambiente mais favorável, que compreenda as dificuldades

apresentadas pelo autismo, o curso do desenvolvimento da criança pode ser

aproximado do desenvolvimento típico, daí a importância da intervenção

precoce no autismo.

“O meio é fundamental para ensinar a criança autista a conviver com

uma disfunção orgânica que produz características comportamentais

incômodas e a desenvolver os aspectos cognitivos e de linguagem”. (Fabio

Barbirato e Gabriela Dias, 2009)

Com a intervenção precoce, procura-se evitar então o agravamento do

quadro, evitando o isolamento e a ausência de comunicação e, desta maneira

prevenindo problemas na escola e na família. Estes dois importantes grupos

sociais devem contribuir para tornar este indivíduo um adulto independente

O TEA deve ser identificado até os 36 meses de idade da criança, e

com segurança até os 24 meses, com diagnóstico. Atualmente, os

pesquisadores têm procurado sinais mais precoces antes dos 12 meses de

idade, para poder iniciar uma intervenção precoce que melhore o prognóstico.

29

Lampreia afirma que, “por volta dos nove meses de idade, mãe e bebê

já não interagem apenas face-a-face, mas começam também a interagir a

respeito de um objeto envolvendo-se então, em interações triádicas mãe-bebê-

objeto. Para que isso aconteça, é necessário o desenvolvimento da

intencionalidade e da atenção compartilhada”.

Muitas pesquisas sobre autismo indicam falhas no interesse

compartilhado (comunicação intencional), em seguir o apontar, no apontar

declarativo (apontar para mostrar, isto é, para compartilhar seu interesse por

algo), no jogo de faz de conta, na imitação motora, na resposta ao nome e no

olhar para o outro.

Além disso, estudos mostram que muitos bebês autistas apresentavam

prejuízo na comunicação afetiva, demonstrando problemas sócio-afetivos e

problemas de falta de empatia, ou seja, em ser sensível à perspectiva do outro

– falta de aconchego no colo e a falta de antecipação ao ser pego no colo.

Durante o período de idade que vai dos dois aos cinco anos,

apresentam-se intensas modificações na criança autista. Enclausura-se nos

rituais sem um propósito definido e age com indiferença em relação às

pessoas; quando contrariada ou não compreendida, pode se autoagredir,

assim como pode ficar horas observando algo que lhe chame a atenção, e

perplexa diante de alta sonoridade ou, ainda, irritada ao menor ruído. (ESTER,

2012)

Há evidências na literatura de que há uma maior incidência de TEA em

meninos do que em meninas, sendo a proporção de quatro meninos para

cada menina, e que são bastante comuns condições médicas associadas ao

transtorno do espectro do autismo, sendo consideradas as mais frequentes a

epilepsia, o X-frágil, a esclerose tuberosa e a síndrome de Down. (Belizário in

Schmidt-2013)

O espaço escolar é fundamental na identificação e intervenção precoces

do aluno com características que indicam o Transtorno do Espectro Autista, já

que é um ambiente extremamente favorável à observação. O olhar mais

cuidadoso do educador pode levar ao encaminhamento e diagnóstico precoce.

A observação do professor o torna um pesquisador, levando-o a

conhecer o aluno, suas qualidades e, também, suas limitações. A partir disso,

30

o professor inicia uma ação objetiva no planejamento dos instrumentos de

ensino e de aprendizagem.

Quando o processo de intervenção é planejado de maneira contínua e

avaliativa, não ocorrendo tardiamente, há uma maior oportunidade de a pessoa

com autismo desenvolver-se e estruturar-se em seu próprio contexto.

2.3- Dificuldades de comunicação e linguagem, funções

executivas e cognição social

Com relação à linguagem, esta é compreendida por Lúria (1987) como

um sistema complexo de sinais convencionais que representam objetos,

ações, características ou relações e possibilitam a transmissão de

conhecimentos constituídos no processo histórico-social e de fundamental

relevância no que condiz ao desenvolvimento dos processos cognitivos e da

consciência do ser humano; age, inclusive, como uma ponte do conhecimento

sensorial para o racional, como um processo de contínua conscientização,

constituído por meio das formas sociais de vivências históricas humanas.

(ESTER, 2012)

A palavra faz pelo homem o grandioso trabalho de análise e

classificação dos objetos, que se formou no longo processo da

história social. Isto dá à linguagem a possibilidade de tornar-se

não apenas meio de comunicação, mas também o veículo

mais importante do pensamento, que assegura a transmissão

do sensorial ao racional na representação do mundo. (LÚRIA in

ESTER, 2012)

As crianças nascem em um ambiente social e comunicativo que tem

suas próprias práticas de comunicação, com pessoas que comunicam

permanentemente as suas intenções de maneira verbal, gestual e com

diversos movimentos corporais.

31

A criança autista não consegue perceber movimentos rápidos dos

outros, as séries de sons e palavras, nem as relações entre os objetos, seus

usos e as palavras que acompanham cada situação.

Considerando que é na linguagem e na comunicação que se concentra

um dos maiores obstáculos do TEA, uma vez que poucos autistas

desenvolvem habilidades para a conversação, embora muitos desenvolvam

somente habilidades verbais e a maioria consiga desenvolver somente

habilidades não verbais de comunicação.

Não apenas autistas de maior comprometimento, mas também os de

alto funcionamento apresentam problemas em sua comunicação, podendo

manifestar ecolalias e uso estereotipado da fala.

Dentro dos problemas de linguagem do aluno com Transtorno do

Espectro Autista, Sílvia Ester (2012) aponta:

- a ausência de fala, puxando, empurrando ou conduzindo fisicamente o

parceiro de comunicação para expressar seu desejo;

- retardo no desenvolvimento da fala, retrocesso dessa capacidade já

adquirida e emudecimento em alguns casos;

- expressões por meio do uso de uma ou duas palavras ao invés da

elaboração de frases;

- ausência de espontaneidade na fala;

- pouca fala comunicativa, com tendências ao monólogo;

- fala nem sempre correspondente ao contexto;

- utilização do pronome pessoal de terceira pessoa do discurso ao invés

da primeira;

- frases gramaticais incorretas;

- expressões bizarras, neologismos;

- estranha linguagem melódica e monótona;

- dificuldade na compreensão de informações ou significados abstratos;

- mímica e gesticulação mínimas;

- ecolalia imediata e/ou posterior;

- predominância do uso de substantivos e verbos;

- pouca alteração na expressão emocional;

- ausência ou pouco contato olho no olho;

32

- falta de função nas formas verbais e na palavra;

- pouca tolerância para frustrações;

- interesses e iniciativas limitadas;

Vê-se, então, que a linguagem, embora comunicativa e constitutiva do

pensamento, é, também, organizadora, planejadora da ação e reguladora do

comportamento. (ESTER, 2012)

Os indivíduos com TEA apresentam alterações na estrutura e

funcionamento do cérebro, bom como déficit significativo em habilidades

sóciocognitivas, prejuízos no reconhecimento, entendimento e

compartilhamento de suas emoções com os outros. Com base nos conceitos

de cognição social, pode-se pensar que os TEA são um transtorno de cognição

social. A cognição social envolve a compreensão sobre as pessoas, suas

ações, e a relação entre os próprios sentimentos, pensamentos e ações

(Belizário in Schmidt, 2013). Esta inabilidade social resulta de escasso contato

olho a olho e da incapacidade de imitação do outro.

Estudos mostram que o autista apresenta déficit em funções executivas

que envolvem principalmente o planejamento e a flexibilidade mental.

No TEA estas capacidades funcionam de forma inadequada porque a

criança erra e por não ser flexível, ela não aprende com o erro, passando a

cometê-lo novamente. Seus interesses são restritos com objetivos a longo

prazo, logo não tem interesse em cumprir metas. (Barbirato e Gabriela Dias,

2009)

Com o desenvolvimento, e na presença de ambientes favoráveis, alguns

autistas se tornaram mais flexíveis. Desse modo, a inclusão escolar é a melhor

e a mais adequada estratégia para modificar os ambientes sociais a fim de

incluir essas crianças. (Belizário in Schmidt, 2013)

33

CAPITULO III

O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO

E

A INCLUSÃO ESCOLAR DO ALUNO COM TEA

A Educação é a base de toda construção social, intelectual, de

interação e crescimento individual.

O acesso de crianças com TEA à rede regular pode promover grandes

avanços em seu desenvolvimento nos processos de ensino-aprendizagem,

socialização e inserção ao meio social, principalmente quando contamos com

profissionais capacitados nas escolas que atuam no Atendimento Educacional

Especializado, em espaços de Salas de Recursos Multifuncionais.

“A inclusão escolar promove às crianças com TEA

oportunidades de convivência com outras crianças da mesma

idade, tornando-se um espaço de aprendizagem e

desenvolvimento social.” (Belisário in Schmidt, 2013)

As escolas selecionadas para esta pesquisa estão sediadas na 7ª

Coordenadoria de Educação e atendem alunos da Pré-Escola ao 5º ano do

Ensino Fundamental da Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro.

3.1- O espaço físico e o funcionamento do AEE em

escolas públicas da Rede Municipal do Rio de Janeiro

A Escola Municipal Vitor Meireles possui 18 alunos incluídos como

público alvo da Educação Especial. Nesta Unidade Escolar existem 2 Salas de

Recursos do Tipo I, que realizam o Atendimento Educacional Especializado

para esses alunos como também para os de outras escolas próximas.

34

A Sala de Recursos da professora Ana Cristina Albuquerque Ferret,

possui 7 alunos público alvo da Educação Especial, sendo 3 com TEA,

atendidos individualmente ou em grupo, no contraturno, com frequência de três

dias na semana.

Um aluno é atendido, atualmente no turno, visto que, no contraturno

realiza atividades terapêuticas. Quando estava na Sala de Recursos, no

contraturno, demonstrava irritabilidade e cansaço, interferindo em seu

processo de aprendizagem.

Estes alunos recebem apoio pedagógico de estagiários, os quais são

orientados pela professora da Sala de Recursos, quanto às especificidades do

Transtorno, o uso do material adaptado, a rotina escolar dos alunos.

Esse profissional do AEE, em seu 5º dia, visita as turmas destes alunos,

viabilizando a troca de informações com a professora da turma comum e os

estagiários. Desta forma, esclarece dúvidas sobre o atendimento de cada

criança, sugerindo estratégias pedagógicas e materiais de apoio.

A Sala de Recursos é composta pelos seguintes materiais e

equipamentos: microcomputadores com gravador de CD, leitor de DVD,

teclado com colmeia, software para comunicação alternativa, lupa manual, lupa

conta-fios dobrável e lupa de régua, dominó com textura, plano inclinado –

estante para leitura, alfabeto em Braille, jogo da memória.

(Teclado adaptado -Sala de Recursos – EM Vitor Meireles)

35

(Materiais da Sala de Recursos – EM Vitor Meireles)

A professora Ana Cristina, atua como agente de inclusão em sua

escola, oportunizando no momento do Centro de Estudos, oferecer ao grupo

de professores, esclarecimentos quanto à Política de Inclusão e quanto às

especificidades do público-alvo da Educação Especial.

A Escola Municipal Cláudio Besserman possui 38 alunos incluídos,

sendo 8 alunos com Transtorno do Espectro Autista. Neste espaço escolar é

oferecido o Atendimento Educacional Especializado, na modalidade de Sala de

Recursos (Tipo I) aberta em 2011, realizado pela professora Maria Cândida

Bandeira Lacerda de Paula, onde os alunos com TEA são atendidos

individualmente ou em grupo, no contraturno, e 3 destes são atendidos pela

Sala de Recursos no próprio turno, pois demonstram comportamentos de

irritabilidade quando tem que frequentar a Sala de Recursos no contraturno ,

com frequência de 2 dias na semana. É importante ressaltar que todos os

alunos atendidos na Sala de Recursos são da própria Unidade Escolar.

De acordo com a professora, normalmente, o acompanhamento do

estagiário ao aluno especial em sala de aula é realizado pelo próprio professor

do AEE. Esclarece que este estagiário tem como atribuições intermediar nas

questões sociais, de comportamento, na comunicação, linguagem, nas

36

atividades e/ou brincadeiras escolares, nas atividades dirigidas e/ou

pedagógicas da escola, atuando em diferentes ambientes escolares (quadra,

refeitório, Sala de Leitura), colaborando com o professor da turma comum,

assim como, no auxílio ao aluno quanto à realização do trabalho adaptado pelo

professor do Atendimento Educacional Especializado.

O estagiário ao chegar Á Unidade Escolar, é recebido pela professora

Maria Cândida que, em seguida, repassa as atribuições do estagiário

(disponível no site do IHA *), o regimento escolar e textos informativos sobre

mediação escolar. Além disso, orienta este estagiário a observar esse aluno no

contexto escolar, apresenta-o à professora da turma comum e descreve as

especificidades desse aluno, sugerindo estratégias e disponibilizando horários

para o esclarecimento de dúvidas que possam surgir ao longo da mediação, já

que, segundo ela, devido ao considerável número de alunos atendidos na Sala

de Recursos, não há tempo hábil para o acompanhamento do estagiário na

sala de aula.

Esta Sala de Recursos é composta por diversos materiais e

equipamentos como computadores, notebook, scanner, impressora, software

como Boardmaker, lupas, jogos pedagógicos, jogos táteis, tesouras adaptadas,

colmeia adaptada dentre outros.

(equipamentos da Sala de Recursos – EM Cláudio Besserman)

*ihainforma.wordpress.com

37

O Boardmaker (board=prancha e maker=produtor) é um instrumento de

desenvolvimento educacional projetado para auxiliar a comunicação através de

figuras e símbolos. O programa foi desenvolvido especificamente para criação

de pranchas de comunicação alternativa. Ele possui em si a biblioteca de

símbolos PCS e várias ferramentas que permitem a construção de recursos de

comunicação personalizados.

( exemplo de atividade escolar personalizada com o Boardmaker)

A Escola Municipal Vice Almirante Paulo de Castro, atende alunos do 1º

ao 5º anos do Ensino Fundamental, onde encontram-se matriculados 13

alunos considerados público alvo da Educação Especial. Possui o Atendimento

Educacional Especializado (AEE), na modalidade de Sala de Recursos,

realizado pela professora Eliane de Fátima Costa Silva Freitas. Esta Sala de

Recursos foi implantada no ano de 2010, composta pelos seguintes materiais:

2 microcomputadores com gravador de CD, leitor de DVD; teclado com

colmeia; Software para comunicação alternativa (Boardmaker); lupa manual,

lupa conta-fio dobrável e lupa de régua; dominó com textura; Plano inclinado –

estante para leitura; alfabeto em Braille; jogo da memória.

Atualmente, atende 15 alunos incluídos da Educação Especial, sendo

que, destes, 6 são alunos com Transtorno do Espectro Autista.

38

(Sala de Recursos- EM Vice Almirante Paulo de Castro)

A professora Eliane entende o Atendimento Educacional Especializado

como um dispositivo pedagógico, que atua no ambiente escolar em todos os

seus diferentes segmentos, com o objetivo de apresentar, promover

conhecimento, orientar, instrumentalizar, oferecer suporte e estruturar ações

na construção e adequação de práticas que promovam o acolhimento inclusivo

e o real desenvolvimento do aluno, seja qual for sua deficiência.

(material da Sala de Recursos – EM Vice Almirante Paulo

De Castro)

39

Partindo desse entendimento, acredita que a primeira atuação e

contribuição do AEE para o processo inclusivo do aluno com TEA é a de

promover e mediar o encontro desse aluno com a escola e o encontro da

escola com esse aluno.

Segundo a professora Elaine, “ouvir e conversar com a escola sobre o

aluno com TEA significa reconhecer e compreender anseios, dificuldades,

possíveis resistências, promovendo com isso, a orientação necessária sobre

suas especificidades, na busca constante de alianças e parcerias sobre as

ações pretendidas e planejadas para o seu desenvolvimento.”

Quanto à atuação do estagiário junto ao aluno com TEA, a professora

Eliane promove um encontro inicial, onde apresenta a ele o aluno em suas

características. Oferece planos de ações e sugestões de estratégias, tanto

para o estagiário, como para o professor de turma, que poderão ser utilizadas

em sala de aula.

Através de visitas à salas de aula do aluno, observa a atuação do

estagiário, tecendo orientações quando necessárias.

Esse momento é fundamental para o trabalho pedagógico do professor

da turma comum, visto que, a Sala de Recursos fornece subsídios para que o

aluno com TEA seja compreendido em suas especificidades, assim como

contribui através de práticas pedagógicas e materiais adequados.

3.2- Autismo, Linguagem e Interação – contribuições do AEE

Entre as funções da linguagem temos a “comunicação” que representa a

ação de transmitir e receber informações por meio de métodos decorrentes da

linguagem falada, escrita ou codificada por símbolos, que permitem a sua

efetivação.

Na área de desenvolvimento comunicativo e da educação, Lev Vygotsky

afirma que aprender a comunicar e utilizar a linguagem é apropriar-se da

cultura do seu grupo social. (CANCINO, 2013)

40

3.2.1- A Comunicação Suplementar ou Alternativa (CSA)

Como vimos, uma das características próprias do autismo, segundo a

literatura, é a dificuldade que o autista possui em processar em seu cérebro as

informações recebidas, quando essas ocorrem somente por vias orais. Daí a

necessidade da utilização de recursos visuais, como a Comunicação

Suplementar ou Alternativa (CSA), como contribuição no desenvolvimento da

linguagem e interação social do aluno com TEA.

O termo Comunicação Suplementar ou Alternativa aborda toda forma de

comunicação que complemente, substitua ou apóie a fala (olhar, vocalizações,

gestos, expressão facial, sorriso, alteração de tônus muscular etc.) (CHUN in

ESTER, 2012)

Ao inserir a CSA como recurso para a promoção do desenvolvimento da

linguagem, o professor da Sala de Recursos atua como mediador do processo

ensino e aprendizagem do aluno e, este então passa a desenvolver a

capacidade de se comunicar, expressando seus desejos e emoções.

É importante lembrar que, no aluno com Transtorno de Espectro Autista

é comum o uso estereotipado e repetitivo da linguagem ou linguagem

idiossincrática, falta de jogo imaginativo, de imitação social. Portanto, é

necessário oportunizar a interação com outras pessoas, e não expô-lo a

maneirismos de outros alunos com a mesma síndrome.

Esta interação social permite ao aluno com TEA a possibilidade de

aprender e se transformar, diminuindo, ou até mesmo eliminando, certos

comportamentos por meio da ação mediadora do professor e dos colegas da

turma, construindo novo repertório de ações mais significativas.

A Comunicação Suplementar ou Alternativa, como recurso para a

construção da linguagem do aluno com TEA, favorece o processo de

desenvolvimento de suas funções psicológicas, visto que, a linguagem está

presente nas práticas sociais onde a atenção, a autorregulação e a memória

são exigidas.

É pela linguagem que o aluno com autismo, em seu processo de

aprendizagem, sofrerá transformações em seu campo de atenção, modificará

41

seus processos de memória, proporcionando maior qualidade em seu

processo de desenvolvimento da imaginação, ação essa, em geral, tão

comprometida na pessoa com autismo.

No processo contínuo de aprendizagem mediada, a CSA contribui tanto

na organização da rotina escolar para o professor, quanto à organização do

processamento de informações para o aluno com autismo. Por exemplo, o

PCS (Picture Communication Symbols) pode ser utilizado como agenda de

mesa apresentando a sequência de atividades que o aluno deve realizar,

permitindo ao professor dar atenção a todos os alunos em razão de se ter uma

maior organização.

A professora da Sala de Recursos da EM Cláudio Besserman, aponta a

importância da utilização dos PCS na organização da rotina escolar, através da

confecção de pranchas de comunicação, composta por figuras relacionadas às

preferências e à realidade do aluno com TEA. Além deste recurso, faz uso de

sistemas de comunicação de alta tecnologia como computadores e Tablet.

“Não há dúvida de que a utilização da CSA, somada às

experiências vivenciadas em contextos sociais de

aprendizagem, amplia a construção e o entendimento de

conceitos trabalhados, contribuindo para o aluno com autismo a

partir de representações visuais, como mais uma forma

receptiva de comunicação, além do modo auditivo de recepção.”

(ESTER, 2012)

O Sistema Pictográfico de Comunicação – Picture Communication

Symbols (PCS), desenvolvido em 1981 por Roxana Mayer Johnson,

compunha-se de 700 símbolos inicias, sendo, posteriormente, ampliado para

aproximadamente 3.200 símbolos. É um sistema gráfico visual que

compreende desenhos simples, podendo ser acrescido de fotografias, figuras,

números, círculos para cores, alfabeto e outros desenhos ou conjunto de

símbolos.

42

Suas características referentes a vocabulário estão compostas em uma

divisão de seis categorias principais, representadas por cores, conforme a

função de cada símbolo. O Branco (miscelânea) representa: artigos,

conjunções, preposições, conceito de tempo, alfabeto, cores. O Amarelo

representa pessoas e pronomes pessoais. A cor Laranja os substantivos. O

Azul representa advérbios e adjetivos e a cor Rosa os símbolos referentes a

expressões sociais.

(exemplo de cartões PCS)

O suporte físico para a disposição dos símbolos varia, desde suportes

de baixa tecnologia, tais como: pranchas de comunicação, pastas, agendas,

álbum de fotos, até equipamentos eletrônicos de alta tecnologia, como

softwares (como por exemplo, o Boardmaker, citado anteriormente),

Para trabalhar com o aluno com TEA o tema Família, por exemplo, o

professor da Sala de Recursos pode utilizar o CSA em forma de fotos dos

integrantes da família do aluno, contribuindo para o reconhecimento de cada

pessoa e o seu papel. Com isso, ele aprende a sua relação com todos os

componentes de sua família e passa a reconhecê-los.

Outra sugestão da utilização dos PCS para trabalhar os sentidos e os

significados dos sentimentos com o aluno TEA é através da representação

simbólica dos mesmos, já que possuem símbolos visuais que expressam

tristeza, alegria, raiva, dentre outros. No momento do uso, o professor

apresentava ao aluno os símbolos para que apontasse os que correspondiam

ao que estava sentindo naquele momento.

43

Para favorecer o desenvolvimento da comunicação do seu aluno autista

a professora Ana Cristina, Sala de Recursos da EM. Vitor Meireles, faz uso do

“Método das Boquinhas”. Este Método foi aprovado como Tecnologia

Educacional pelo MEC em 2009/2010 e 2011/2012, sendo atestado como

eficiente para alfabetizar e recuperar a alfabetização de crianças, jovens ou

adultos, trazendo grande e positivo impacto sobre os resultados na

aprendizagem e autoestima do professor e do aluno.

Os resultados de Boquinhas com crianças TEA têm sido comprovados

por inúmeros especialistas. Sua fundamentação teórica é de base

multissensorial, fônica-vísuo-articulatória, propiciando rapidez e segurança na

associação do fonema ao grafema (som à letra) uma vez que é uma

Metodologia Sintética, Concreta e Sinestésica e acrescenta o diferencial do

articulema (boquinha), contribuindo para o real aprendizado e recuperação da

leitura e escrita. Pode ser usado na íntegra, como Metodologia adotada pela

escola, ou como uma ferramenta de trabalho para a conversão

fonema/grafema, sendo inserido na proposta adotada pela escola.

Esta professora utiliza também o Boardmaker como recurso na

construção de pranchas de comunicação, de rotinas, de cores e como

estratégia na organização do pensamento, na escrita de frases e na

construção de número.

(Pranchas de Comunicação – Sala de Recursos-EM Vitor Meireles)

44

Na Sala de Recursos da EM Cláudio Besserman também se faz uso da

Comunicação Alternativa, através de pranchas de comunicação

confeccionadas pela professora Maria Cândida, onde os símbolos (PCS)

representam figuras de foco de interesse do aluno com TEA, como alimentos

preferidos, atividades de seu dia-a-dia, brinquedos que mais gosta, etc., com o

objetivo de estimular a linguagem e a interação social.

(prancha de CSA - Sala de Recursos – EM Cláudio Besserman)

São várias as estratégias que podem ser utilizadas com o objetivo de

estabelecer e construir a comunicação do aluno com TEA, de acordo com a

professora Eliane, Sala de Recursos da EM Vice Almirante Paulo de Castro.

Ressalta a importância de iniciar a construção dessa comunicação

através da observação apurada sobre o aluno, de uma análise sobre suas

ações e reações, de como se expressa, o que expressa e em que momento

se expressa.

A professora nos diz: “cada aluno é único e traz sua individualidade e, a

partir da observação da expressão dessa individualidade é que podemos

compor o primeiro canal de comunicação.”

45

(CSA desenvolvida na Sala de Recursos- EM Vice

Almirante Paulo de Castro)

Como contribuição do AEE quanto à apropriação da rotina escolar, a

professora Eliane visa estabelecer em seu trabalho pedagógico com o aluno

TEA, a previsibilidade, sinalizando verbalmente e visualmente, o que

acontece e aquilo que está por vir, fazendo com que reconheça o que está

sendo ouvido, para que forme a imagem mental.

3.3 – Papel do AEE no processo de aprendizagem do aluno

autista

No contexto do autismo, o trabalho do Atendimento Educacional

Especializado deve considerar aspectos relevantes no desenvolvimento do

aluno com TEA como a Função Executiva e a Teoria da Mente, entendendo

que existem prejuízos significativos nestas áreas.

No processo de aprendizagem, utilizamos, sistematicamente, a Função

Executiva, já que se faz necessário utilizar as informações e procedimentos

aprendidos, adaptando-os às novas situações a serem resolvidas. As pessoas

com TEA apresentam déficits na Função Executiva, quando demonstram

ansiedade diante de pequenas alterações na rotina, insistência em detalhes,

comportamentos estereotipados e repetitivos, foco de interesse em detalhes ou

parte de informações, dificuldade de perceber o todo e de integrar aspectos

isolados.

46

As pessoas com autismo apresentam algum prejuízo na antecipação.

Daí a aderência inflexível a estímulos que se repetem como assistir inúmeras

vezes o mesmo filme, usar o mesmo itinerário para escola, etc. Outra

característica de prejuízo na Função Executiva é a dificuldade de dar sentido

aos acontecimentos e atividades.

Os mecanismos de atenção compartilhada e de Teoria da Mente

estariam prejudicados, o que acarretariam prejuízos nas relações sociais e na

comunicação. Dessa forma, entende-se que o autista tem dificuldade na

compreensão do que as pessoas pensam, sentem e do modo como se

comportam, e com isso não interage com o meio social da mesma forma que

os outros.

Quanto mais cedo o aluno com TEA puder antecipar o que acontece

diariamente na escola, mais familiar será para ele a vivência escolar, cabendo

ao professor a tarefa de mediar essa antecipação, como por exemplo,

comunicar antes, de forma simples e objetiva, o que vai acontecer no momento

seguinte. Na medida em que o cotidiano escolar se torna mais previsível, seu

comportamento irá se modificando.

Na Sala de Recursos da EM Vitor Meireles, a professora Ana Cristina

constrói com o aluno com TEA um quadro de rotinas com atividades que serão

desenvolvidas neste espaço como na turma comum, contribuindo quanto à sua

apropriação da rotina escolar. Com a antecipação do que vai acontecer,

através do professor, o aluno diminui seu quadro de ansiedade.

A professora Ana Cristina utiliza alguns recursos pedagógicos a fim de

garantir a acessibilidade dos alunos ao currículo, bom como ampliar as

habilidades funcionais, tais como: Jogos diversos, pranchas de comunicação,

computador e/ou notebook, internet, softwares, pequenos vídeos, jornais,

instrumentos musicais, encartes de jornais. revistas, livros de literatura e

pedagógicos, músicas. Réguas de Cuisinaire, blocos lógicos, material dourado

e dança.

Segundo a professora, cada aluno com TEA é único. Alguns não

necessitam de adequações e sim de uma forma diferente de trabalhar os

conteúdos. Algumas crianças necessitam de adequações de currículo, outras

apenas de materiais e/ ou de comunicação alternativa. Variando de acordo

47

com a maneira que cada aluno vai reagindo, ela utiliza diversos materiais (jogo

simbólico, pranchas de comunicação, alfabetário com reálias) e até mesmo

apresentando de forma diferenciada o conteúdo que está sendo apreendido.

O alfabeto com reálias utilizado nesta Sala de Recursos,é construído

com miniaturas, onde cada aluno terá acesso facilitado. Este recurso permite

vivências da realidade no ambiente escolar. Há possibilidade da experiência,

através da manipulação dos objetos, onde o aluno inicia sua aproximação com

os conteúdos teóricos, descobrindo o mundo.

Para favorecer o desenvolvimento da comunicação do seu aluno autista

não verbal, a professora Ana Cristina, além da utilização dos PCS, faz uso do

“Método das Boquinhas”. Este Método foi aprovado como Tecnologia

Educacional pelo MEC em 2009/2010 e 2011/2012, sendo atestado como

eficiente para alfabetizar e recuperar a alfabetização de crianças, jovens ou

adultos, trazendo grande e positivo impacto sobre os resultados na

aprendizagem e autoestima do professor e do aluno. Os resultados de

Boquinhas com crianças TEA têm sido comprovados por inúmeros

especialistas. Sua fundamentação teórica é de base multissensorial, fônica-

vísuo-articulatória, propiciando rapidez e segurança na associação do fonema

ao grafema (som à letra) uma vez que é uma Metodologia Sintética, Concreta e

Sinestésica e acrescenta o diferencial do articulema (boquinha), contribuindo

para o real aprendizado e recuperação da leitura e escrita. Pode ser usado na

íntegra, como Metodologia adotada pela escola, ou como uma ferramenta de

trabalho para a conversão fonema/grafema, sendo inserido na proposta

adotada pela escola.

(Método das Boquinhas)

48

O conceito de Letramento traduz a ideia de que a leitura e a escrita

resultam de experiência social, cultural, cognitivas e linguísticas. A escola é,

sem dúvida, um espaço essencial para o letramento. Essa ideia ganha

bastante relevância no ensino do aprendente com autismo. É preciso salientar

que a ênfase dessa prática não pode estar centrada somente no processo de

aquisição de códigos alfabéticos e numéricos mas também, acima de tudo, nas

experiências e vivências socioculturais, familiar e escolar.

Há uma série de condições prévias, tanto cognitivas quanto motoras,

para o letramento. As condições cognitivas estão ligadas à atenção, à memória

e à linguagem. Quanto às condições motoras necessárias para a escrita,

devem ser observados possíveis comprometimentos ou imaturidade na

organização dos movimentos do estudante.

Na Sala de Recursos da professora Ana Cristina, o aluno autista é

estimulado à leitura, através do contato com o livro, de figuras que

representam a sequência lógica de uma história, dentre outros.

O livro, porque nos conecta a temas tão diversos, é uma excelente

ferramenta para a generalização da palavra. (CUNHA, 2013)

Esta professora relata a importância da família como um meio de chegar

ao foco de interesse do seu aluno com TEA, na medida em que, são descritos

para a professora seus interesses, suas rotinas. A partir daí, traça estratégias

de ensino e inicia a construção de uma relação afetiva com ele. Ela utiliza

vídeos de curta duração e jogos no computador, a fim de desenvolver a

atenção compartilhada e sua curiosidade, propiciando novas experiências

pedagógicas que possam enriquecer seu aprendizado.

A professora Maria Cândida da Sala de Recursos da EM Cláudio

Besserman relata que na elaboração do Plano de AEE, deve-se considerar

aprendizagens significativas e o conceito de desenvolvimento humano como

um todo, além dos conteúdos escolares.

Considera relevante uma prévia entrevista com a família, antes mesmo

de qualquer adequação pedagógica, para conhecer as potencialidades e

interesses do aluno. Diz também que, esse reconhecimento do contexto

familiar é fundamental para a identificação de sua rotina. Afirma: “de posse

dessas informações, poderemos definir qual a melhor maneira de intervir e

49

escolher quais os materiais que poderemos utilizar. Em nossa escola,

trabalhamos nos orientando no conceito de ensino colaborativo.”

Esta professora explica o que vem a ser ensino colaborativo citando: “...

é um modelo de prestação de serviços de educação especial no qual um

educador comum e um educador especial dividem a responsabilidade de

planejar, instruir e avaliar a instrução de um grupo heterogêneo de estudantes,

sendo que esse modelo emergiu como uma alternativa aos modelos de salas

de recursos, classes especiais ou escolas especiais e especificamente para

responder às demandas das práticas de inclusão de estudantes com

necessidades educacionais especiais. (Mendes, 2006, p.32)

Para o aluno com Transtorno do Espectro Autista, nesta Sala de

Recursos, são realizadas algumas adequações pedagógicas como:

• Uso de variadas linguagens para a apresentação de um tema a ser

estudado (livros, reportagens impressas, filmagens, filmes, audiolivros,

obras de arte, dramatização, etc.);

• Aceitação de qualquer forma de demonstração do conhecimento do

aluno (linguagem escrita, expressão oral, símbolos, maquetes,

esquemas);

• Flexibilização do tempo;

• Consulta a variados materiais (alfabetário, reta numérica, tabelas de

dupla entrada, fichas de consulta);

• Leitura oral dos textos para facilitar a interpretação do aluno;

• Utilização de materiais concretos (bonecos, brinquedos, material

dourado);

50

(materiais - Sala de Recursos – EM Cláudio Besserman)

• Sequência de atividades da rotina escolar da criança através de fotos,

gravuras ou esquemas escritos feitos junto à professora, visando a

antecipação dos fatos, tentando diminuir sua ansiedade;

• Utilização do relógio e calendário para a aquisição da noção de tempo, a

fim de que o aluno compreenda o significado de intervalo de tempo,

sequência de dias da semana, mês e ano.

• Utilização de DVD ou jogos para facilitar a compreensão de um

conteúdo;

• Uso de brinquedos que desenvolvam a habilidade atencional,

estimulando a permanência do foco de atenção durante a atividade;

• Utilizar vídeos gravados do aluno;

• Atividades lúdicas utilizando a tecnologia (desenvolver a confiança e

interação do aluno);

• Trabalhar com jogos que envolvam as convenções sociais;

As adequações curriculares realizadas na Sala de Recursos da

EM Vice Almirante Paulo de Castro, pela professora Eliane, atendem às

possibilidades de compreensão do aluno, produzindo atividades que

contemplem o tipo de organização mental e processamento da informação,

51

típicos do autismo. Dessa forma, se faz a adaptação do vocabulário utilizado,

facilitando sua compreensão.

Segundo ela, as crianças com autismo respondem satisfatoriamente às

imagens visuais e, por isso, utiliza em sua prática pedagógica recursos como

fotos, realias, imagens acompanhadas de sonoridade, como também a música,

a fim de propiciar o desenvolvimento da aquisição dos processos de leitura e

escrita.

(material da Sala de Recursos – EM Vice Almirante

Paulo de Castro)

Nesta Sala de Recursos, as estereotipias do aluno com TEA são

compreendidas como necessárias, em alguns momentos, representando

movimentos, ainda que, inadequados de auto regulação. Dependendo do grau

de compreensão desse aluno, a professora Eliane começa a trabalhar a sua

imagem corporal, através do espelho da sala, mostrando, sempre que possível,

a imagem de seus movimentos, falando o que está acontecendo, o que está

fazendo, com o objetivo de possibilitar a construção da consciência sobre seus

próprios movimentos.

A partir do foco de interesse do aluno autista, novas situações de

exploração são criadas. Por exemplo, uma criança fixada em determinado

desenho ou personagem, será capaz de responder a atividades em que as

52

figuras correspondentes a esses interesses estejam presentes, onde é possível

gerar várias situações de aprendizagem com as mesmas.

3.4- O AEE e a relação família/escola

Segundo Eugênio Cunha (2012), “a escola está inserida na educação

entre a família e a sociedade, onde se adquire princípios e regras

estabelecidas para o convívio. Ainda que seja normal existir em qualquer

aluno posturas comportamentais diferentes em casa e na escola, no

autismo, isto poderá trazer grande prejuízo. Por isso, é necessário que os

pais e os profissionais da escola trabalhem da mesma forma,

estabelecendo os mesmos princípios que permitirão uma articulação

harmoniosa na educação.”

O reconhecimento da escola como espaço de desenvolvimento de

aprendizagens, em prol da autonomia, e a convicção na possibilidade de se

exercer este papel junto ao aluno com TEA são fundamentais na relação

inicial com a família, no sentido de sustentar a permanência do aluno na

escola desde o início e o estabelecimento de vínculo com os familiares.

Tanto a família quanto a escola precisam compreender que, mesmo

quando o aluno supera as dificuldades iniciais e abandona determinadas

atitudes ou estereotipias, eventualmente elas podem se manifestar

novamente, não significando que o trabalho da escola está sendo mal

sucedido.

“É de fundamental importância o trabalho

conjunto entre a família e profissionais e também haverá

sempre necessidade que essa família esteja presente em

todos os momentos. A presença dela ajudará e muito na

progressão, pois muitas vezes a família é o gancho que o

profissional precisa para começar e poder terminar.” (Fátima

Alves in Eugênio Cunha,2012)

53

Todos os professores de Sala de Recursos que participaram da

pesquisa reconheceram a importância da parceria escola/família no

processo de inclusão do aluno com TEA.

Para que aja sucesso na interlocução nesta parceria, todos os

envolvidos nesse processo, principalmente o professor do AEE, devem

sistematicamente, dar retorno à família sobre todo e qualquer progresso

apresentado pela criança no ambiente escolar, para que a mesma consiga

entender o processo pedagógico de seu filho e perceber os pequenos

avanços que são extremamente significativos para seu desenvolvimento

humano.

Em contrapartida, a família destaca-se em todo esse processo inclusivo,

na medida em que, traz para a escola relatos sobre o dia a dia da criança

relacionados ao contexto em que vive atividades diárias, opções de

diversão e atendimentos clínicos. Além disso, poderá contribuir com a

escola no momento em que informa os motivos pelos quais algumas

manifestações são apresentadas pela criança. Por exemplo, alterações de

medicamentos feitas pelo profissional da área médica, onde há um período

de adaptação ao novo medicamento ou nova dosagem, o que muitas vezes

explica estados de sonolência ou agitação incomum.

O professor do AEE se apropria então desses conhecimentos a respeito

do aluno com TEA e, a partir daí, planeja práticas educacionais

propiciadoras do desenvolvimento de suas competências sócio-cognitivas.

Um repertório de atividades escolares para esse aluno inicia-se pela

avaliação para saber quais as habilidades ele possui e quais necessita

conquistar. Dependendo do grau de comprometimentos, aptidões básicas,

motoras e acadêmicas irão se desenvolver.

Cabe lembrar que, a elaboração do Plano do AEE é atribuição do

professor de Sala de Recursos, em articulação com os demais professores

do ensino regular, com a participação das famílias e em parceria com os

demais serviços setoriais da saúde.

54

CONCLUSÃO

O autista, sendo um indivíduo único, é exclusivo enquanto pessoa.

Embora apresente características peculiares à síndrome, suas manifestações

comportamentais diferenciam-se de acordo com seu nível linguístico e

simbólico, quociente intelectual, temperamento, histórico de vida, ambiente,

condições clínicas, assim como todos nós.

A escola é um espaço de competência social para qualquer criança,

mas pode ser principalmente para o aluno com Transtorno do Espectro Autista.

Pensar inclusão escolar a partir das pessoas com TEA é enriquecer e

diversificar o processo de ensino-aprendizagem.

Na verdade, a inclusão escolar inicia-se pelo professor.

É nesse contexto tão peculiar ao aluno autista que o Atendimento

Educacional Especializado surge como espaço propiciador de experiências

pedagógicas, sociais, afetivas, necessárias para seu desenvolvimento humano.

Cabe salientar que para realizar uma educação adequada, a escola

deverá, ao incluir o aluno no meio escolar, incluir também a sua família nos

espaços de atenção e atuação pedagógica.

55

ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1 >> Materiais do AEE (2009)

Anexo 2 >> Materiais do AEE (2011)

Anexo 3 >>Materiais do AEE (2012/2013)

56

ANEXO 1

Equipamentos:

2 Computadores

2 Estabilizadores

1 Impressora laser

1 Scanner

1 Teclado com colmeia

1 Mouse com entrada para acionador

1 Acionador de pressão

1 Lupa eletrônica

1 Notebook

Mobiliários

1 Mesa redonda

2 Cadeiras para digitador

4 Cadeiras

1 Armário

2 Mesas para computador

1 Mesa para impressora

1 Quadro branco

Materiais didáticos pedagógicos

1 Software para comunicação aumentativa e alternativa

1 Material dourado

1 Tapete alfabético encaixado

1 Memória de numerais

1 Alfabeto Braille

1 Quebra cabeças sobrepostos

1 Dominó de animais em Libras

1 Dominó de frutas em Libras

1 Dominó tátil

57

1 Memória tátil

1 Dominó de associação de idéias

1 Dominó de associação de frases

1 Bandinha rítmica

1 Sacolão criativo

1 Esquema corporal

1 QUITE de lupas manuais

1 Plano inclinado – Suporte leitura

Materiais e Equipamentos específicos para deficiência visual

1 Impressora Braille – pequeno porte 15

1 Máquina de escrever em Braille

2 Regletes de mesa

4 Punções

2 Soroban

2 Guias de Assinatura

1 Globo Terrestre Tátil

1 Kit de Desenho Geométrico

1 Calculadora Sonora

58

ANEXO 2

Equipamentos e Materiais Didáticos Pedagógicos

1 Impressora Braille – pequeno porte

1 Scanner com voz

1 Máquina de escrever em Braille

1 Globo terrestre tátil 1 Calculadora sonora

1 Kit de desenho geométrico

2 Regletes de mesa

4 Punções

2 Soroban

2 Guias de Assinatura

11 Caixinha de números

2 Bolas com guizo

59

ANEXO 3

Equipamentos e Materiais Didáticos Pedagógicos

2 Notebooks

1 Impressora multifuncional

1 Material dourado

1 Alfabeto móvel e sílabas

1 Caixa tátil

1 Dominó tátil

1 Memória Tátil

1 Alfabeto Braille

1 Caixinha de números

2 Bolas com guizo

1 Bola de futebol com guizo

1 Lupa eletrônica

1 Scanner com voz

1 Máquina de escrever em Braille

1 Mouse estático de esfera

1 Teclado expandido com colmeia

60

BIBLIOGRAFIA

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escrita: método fônico para tratamento – Rio de Janeiro: Wak Ed., 2011. 3 ed.

ALVES, Fátima. Inclusão: muitos olhares, vários caminhos e um grande

desafio. 5 ed. – Rio de Janeiro: Wak Editora, 2012.

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BAPTISTA, Claudio Roberto. (Org.). Inclusão e Escolarização: múltiplas

perspectivas – Porto Alegre: Mediação, 2006.

BUENO, José Geraldo Silveira. (Org.). Deficiência e escolarização: novas

perspectivas de análise – Araraquara, SP: Junqueira&Marin; Brasília, DF:

CAPES, 2008.

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Universidade do Ceará. Coleção de livros – Atendimento Educacional

Especializado – MEC/SEESP. 2007.

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Especial. LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

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MEC/SEESP, 2001.

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Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação

contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Guatemala: 2001.

BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial. Decreto Nº

6.571, de 17 de setembro de 2008. Dispõe sobre o Atendimento Educacional

Especializado.

BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial. Resolução

Nº 4, de 2 de outubro de 2009. Institui as Diretrizes Operacionais para o

Atendimento Educacional Especializado.

BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial. Política

Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva, 2008.

BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial. Manual

do Programa Escola Acessível, 2011.

BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial. Nota

Técnica Nº 11 de 2010. Dispõe sobre Orientações para a institucionalização de

oferta do Atendimento Educacional Especializado – AEE – em Salas de

Recursos Multifuncionais, implantadas em escolas regulares.

BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial. Nota

Técnica Nº 4 de 23 de janeiro de 2014. Dispõe sobre a Orientação quanto a

documentos comprobatórios de alunos com deficiencia, transtornos globais do

desenvolvimento e altas habilidades/superdotação no Censo Escolar.

CANCINO, Miguel Higuera. Transtornos do desenvolvimento e da

comunicação: autismo – estratégias e soluções práticas – Rio de Janeiro: Wak

Editora, 2013.

62

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diferente de ensinar – ideias e práticas pedagógicas – 2 ed. Rio de Janeiro:

Wak Editora, 2013.

CUNHA, Eugênio. Autismo e inclusão: psicopedagogia práticas educativas na

escola e na família – 4 ed. – Rio de Janeiro: Wak Editora, 2012.

FARRELL, Michael. Dificuldades de comunicação e autismo: guia do professor

– Porto Alegre: Artmed, 2008.

GLAT, Rosana. Inclusão Escolar de alunos com necessidades especiais/

Rosana Glat, Marcia Denise Pletsch – Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011.

GLAT, Rosana. (Org.). Educação inclusiva: cultura e cotidiano escolar – Rio de

Janeiro: 7Letras, 2007.

INCLUSÃO, Revista Ciranda da. A Revista do Educador . TGD: um desafio

para a inclusão– São Paulo: Ciranda Cultural Editora, ANO II- Nº 20.

LAMPREIA, Carolina. Programa de Capacitação para vigilância de sinais

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de Janeiro, 2010.

MAIA, Heber. (Org.). Neurociências e desenvolvimento cognitivo – Rio de

Janeiro: Wak Editora, 2011.

MAIA, Heber. (Org.). Necessidades educacionais Especiais- Rio de Janeiro:

Wak Editora, 2011.

ORRÚ, Sílvia Ester. Autismo, linguagem e educação: interação social no

cotidiano escolar – 3 ed. – Rio de Janeiro: Wak Editora, 2012.

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PLETSCH, Márcia Denise. Repensando a inclusão escolar: diretrizes políticas,

práticas curriculares e deficiência intelectual – Rio de Janeiro: Nau: Edur, 2010.

SCHMIDT, Carlo. (Org.). Autismo, educação e transdisciplinaridade –

Campinas, SP: Papirus, 2013.

64

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO 10

1.1 – O movimento da inclusão 10

1.2 – O AEE – aspectos legais 15

1.3 - O AEE no Município do Rio de Janeiro 19

1.3.1 – Composição das Salas de Recursos

Multifuncionais 22

CAPÍTULO II

O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 23

2.1 – Autismo – da identificação aos dias de hoje 24

2.2 – Hipóteses causais e importância da identificação

e intervenção precoces 27

2.3 – Dificuldades de comunicação e linguagem,

Funções executivas e cognição social 30

CAPÍTULO III

O AEE E A INCLUSÃO ESCOLAR DO ALUNO COM

TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 33

3.1 – O espaço físico e o funcionamento do AEE em

Escolas públicas da Rede Municipal do Rio de

Janeiro 33

65

3.2 – Autismo, Linguagens e interação – contribuições

do AEE 39

3.2.1- A Comunicação Suplementar ou Alterna-

tiva (CSA) 40

3.3 – Papel do AEE no processo de aprendizagem do

aluno autista 45

3.4 – O AEE e a relação família/escola 52

CONCLUSÃO 54

ANEXOS 55

BIBLIOGRAFIA 60

ÍNDICE 64