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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A Representação Feminina no discurso musical da MPB: A
sexualidade da mulher cantada em prosa e verso
Por: Ludmila Gomes Santos
Orientador: Profª. Fabiane Muniz
Co-orientadora: Profª. Narcisa Castilho Melo
Rio de Janeiro
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A Representação Feminina no discurso musical da MPB: A
sexualidade da mulher cantada em prosa e verso
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Candido Mendes como
requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Sexualidade.
Por: Ludmila Gomes Santos
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AGRADECIMENTOS
Fui cercada de pessoas que
sempre apoiaram o meu sonho de me
especializar em sexualidade. Para
todos vocês, uma gratidão infinita.
4
DEDICATÓRIA
Deus, obrigada por tudo!
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RESUMO
Esta pesquisa aborda a representação da mulher na Música Popular
Brasileira abarcando o século XX e XXI sob o olhar de cinco compositores-
cantores: Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes, Chico Buarque, Roberto Carlos
e Rita Lee. Pretende demonstrar as representações femininas encontradas nas
obras desses compositores, através da análise do discurso dessas músicas;
estudo da situação da mulher e história da MPB.
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METODOLOGIA
Em prol que conheçamos as representações femininas nas obras destes
mestres da MPB mergulhei no histórico da situação da mulher,
preferencialmente no ocidente (mas com pinceladas no oriente também). Não
deixei de lado a situação da mulher no Brasil, que também pesquisei.
Em seguida, percebi que era imprescindível que ocorresse um
conhecimento total das obras dos compositores-cantores e das suas vidas.
Então procurei me envolver com a história da MPB, seus diversos períodos;
movimentos e momentos em que os compositores-cantores estão de certa
forma inseridos, apresentando características dos períodos em suas obras.
Pesquisei profundamente a discografia dos compositores-cantores e selecionei
as músicas que tenham a mulher como temática.
A partir da seleção das músicas que preencham os pré- requisitos
anteriormente especificados fiz a análise do discurso e um quadro
demonstrativo das variadas representações encontradas nas obras destes
autores.
É importante deixar claro que apesar de termos inúmeros exemplos de
compositores que têm a mulher como inspiração foi necessário fazer uma
delimitação para que a pesquisa se tornasse viável e assim ficou delimitado o
trabalho: A Representação Feminina na MPB por intermédio da obra de Dorival
Caymmi, Chico Buarque, Roberto Carlos, Rita Lee e Vinícius de Moraes. Tendo
como objeto de pesquisa as músicas com enfoque no sexo feminino. O
material que utilizei é basicamente bibliográfico com autores que são
pesquisadores da situação da mulher no decorrer dos séculos, do seu
comportamento social; história da MPB e análise do discurso, como: Eros de
Souza, Marcos Napolitano, Rodrigo Faour, Karla Adriana Martins Bessa, Maria
Áurea Santa Cruz, Nelson Motta, Eni Orlandi, Regina Navarro Lins, Ricardo
Cravo Albin, entre outros.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 02
CAPÍTULO I - A situação da mulher no mundo no decorrer dos tempos (Época e lugar da mulher) 05
CAPÍTULO II - Introdução a Música Popular Brasileira/
Compositores: vida e obra
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CAPÍTULO III – A Mulher e a MPB 23
CONCLUSÃO 45
BIBLIOGRAFIA 53
ANEXOS
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INTRODUÇÃO
O tema desta pesquisa é a Sexualidade Feminina, que será explorada
nas suas mais variadas vertentes, vista sob a ótica da MPB.
O ponto primordial e que suscitou questionamentos que me instigaram a
realizar esta pesquisa é qual a representação da mulher nos discursos
musicais de Dorival Caymmi, Chico Buarque, Roberto Carlos, Rita Lee e
Vinícius de Moraes e de que maneira estas composições reforçaram e/ ou
transformaram a realidade feminina?
Esta questão é pertinente ainda mais quando pensamos na influência
que a música tem na vida das pessoas.
“Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, É ela, a menina que vem e que passa no doce balanço a caminho do
mar.” Estes versos são parte da música “Garota de Ipanema”, considerada a
música brasileira mais conhecida mundo afora. A sua letra é inspirada na
modelo Helô Pinheiro, que quando adolescente costumava freqüentar a praia
de Ipanema e que cotidianamente era admirada pelos compositores Tom Jobim
e Vinícius de Moraes e isto causou o surgimento da canção.
A mulher é uma presença constante na MPB. Ela é a inspiração de
vários compositores e aparecem em muitas músicas de sucesso. Quem não
conhece uma música em que a mulher seja retratada? Porém, a maneira em
que ela é retratada nas músicas varia bastante, pois podemos encontrar a
mulher ingênua, malandra, possessiva, carinhosa, recatada e por aí vai, e
estas visões diferenciadas causam impacto na sociedade e acabam por
influenciar a visão que esta tem da mulher, Isto é possível por causa da grande
abrangência que a cultura musical tem no Brasil.
É sabido que a sociedade tem procurado rever seus conceitos em
relação à situação da mulher, porém há muito para se fazer, as desigualdades
ainda são visíveis e percebidas por todos, entretanto é uma situação delicada,
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porque foi construída e mantida durante muito tempo e inevitavelmente
influencia o comportamento social. Com este trabalho pretendo apontar a
influência da MPB no olhar sobre a mulher, e usar elementos acessíveis para
auxiliar nas mudanças que já estão ocorrendo.
A área acadêmica será enriquecida com esta pesquisa, pois tenho a
intenção de abarcar cinco compositores influentes na sociedade e que podem
ser divididos em períodos diversos, perpassando o século XX e também o XXI.
Como o enfoque da pesquisa é a representação feminina, a associação da
sexualidade com a música é uma vertente muito interessante e pouco
explorada em conjunto, como será o caso desta pesquisa. A linguagem desses
compositores é diferenciada e os estilos musicais também, abrangendo todas
as camadas sociais.
Sou bacharel em música, mas desde a adolescência me interesso na
relação em que há entre a MPB e a mulher, e escrevi sobre o assunto numa
redação de vestibular.
Por um bom tempo, durante a aminha graduação de Pedagogia e até
mesmo o Bacharelado em Música, deixei de lado este meu interesse, porém
ele voltou com força total quando decidi me especializar em sexologia. Logo no
primeiro módulo me apaixonei pelas relações de gênero, principalmente nas
representações femininas, depois disso procurei ler mais sobre o assunto, e
quando fui pensar num assunto para a monografia este era o mais indicado,
então aproveitei para retomar o assunto que me interessava. Quando fui
delimitar o tema, procurei compositores-cantores que trabalhassem
constantemente com a temática mulher, tivessem um repertório vasto em
épocas diferentes, letras inteligentes e personalidades diversas. Depois de
muito analisar optei por Dorival Caymmi, Chico Buarque, Roberto Carlos, Rita
Lee e Vinícius de Moraes, artistas com trabalho reconhecido em todo país e até
fora dele.
A pesquisa é viável porque é um assunto que não perde o frescor, é
sempre atual e tem material acessível para todos. Hoje existe uma boa base de
pesquisa sobre a construção de papéis sexuais femininos; acerca da situação
da mulher através dos tempos e em variados povos, desde a antiguidade até
os dias atuais, com autores e enfoques variados. A vida dos compositores-
cantores é de fácil acesso e com farto material bibliográfico, assim como seu
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repertório abundante. A história da MPB também é acessível e está
disponibilizada em vários espaços.
Os objetivos que se pretende alcançar com esta pesquisa, de maneira
geral, consistem em identificar, entender e analisar qual é a relação mantida
entre o discurso musical de por Dorival Caymmi, Chico Buarque, Roberto
Carlos, Rita Lee e Vinícius de Moraes com as representações da mulher, e de
que maneira essas canções reforçaram e/ou transformaram uma realidade de
estereótipos acerca da mulher e da sua sexualidade na sociedade e expondo
os estereótipos ou as formas de libertação feminina contidas nas canções.
É possível também apontar os objetivos específicos:
• Investigar a história da sexualidade da mulher através dos tempos;
• Pesquisar a vida dos compositores (relação com a MPB; músicas sobre
mulheres, repercussões, etc);
• Pesquisar a História da MPB e seus diversificados gêneros e traçar a
relação desta com a mulher;
• Analisar os discursos musicais dos compositores;
De acordo com o tema, desenvolvi a seguinte hipótese, que no
desenvolvimento do trabalho poderá ser confirmada ou não. Muitas letras das
músicas com o enfoque na mulher são compostas a partir de estereótipos
femininos porque em grande parte são influenciadas por um discurso
predominantemente masculino, corroborado por uma sociedade que foi
constituída em bases patriarcais. Também elaborei algumas questões
secundárias que auxiliarão a permear a pesquisa.
• As letras das músicas são compostas pela presença de estereótipos
femininos influenciadas pelo pensamento masculino?
• Os estereótipos femininos são reforçados nas letras das canções?
• Quais são as representações femininas encontradas nestas músicas?
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CAPÍTULO I
A Situação da Mulher no mundo no decorrer dos
tempos: Época e lugar da mulher.
Mulher _ Sf 1. Ser humano do sexo feminino; 2. Esse mesmo ser após a
puberdade; 3. Esposa; 4. Amásia, concubina. (Dicionário Aurélio)
Quando observamos do ponto de vista legal e sociológico, a situação da
mulher na sociedade variou no tempo e no espaço.
Fazendo uma análise mais detalhada, percebe-se que a partir da história
da mulher remontando às sociedades primitivas até o século XX, o homem é
quem tinha em suas mãos o poder de conduzir o imaginário feminino por
intermédio dos seus discursos (Barbosa 2004).
È uma questão interessante porque o papel da mulher na sociedade
variava no tempo e no espaço. Para uma maior compreensão da
Representação Feminina é necessário fazer uma retrospectiva da trajetória da
mulher através dos séculos.
Na Antiguidade, a sexualidade feminina era tratada como algo sagrado.
Não havia nenhum pudor em demonstrar a sua sexualidade e ser mulher. De
acordo com o site Wikipédia (2010) nas civilizações antigas, podemos destacar
a Babilônia, Grécia, Egito, Roma, entre outras que adoravam a mulher das
mais variadas formas.
Na Pré- História a sociedade da época era matricêntrica, pois a
centralidade na mulher era causada pela sua fertilidade (Galiza 2008). A
religião dos antigos remontava a adoração à terra, à natureza, aos ciclos da
fertilidade.
Em relação à mulher grega, Barbosa (2004), valendo-se de um texto de
Cabral (1995), afirma: “ a mulher era um ser inferior física e mentalmente. No
que diz respeito a direitos civis, não era melhor do que um escravo. Filósofos
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como Platão e Aristóteles, tentavam comprovar, cientificamente, a inferioridade
da mulher, defendendo que o sémem era o único responsável pela concepção”.
Aristóteles deixava bem claro que a mulher era inferior ao homem por
acreditar que a racionalidade não ocupava a alma da mulher na sua totalidade.
Na Grécia, o casamento era importante porque se tinha em vista a
reprodução; e a monogamia acontecia sem ter relação com a religiosidade
(Galiza 2008).
Ao contrário das gregas, a mulher egípcia tinha um certo prestígio social.
Ela era responsável pela propriedade quando o marido saía em viagens. De
acordo com Galiza (2008) isso acontecia porque havia igualdade entre os
sexos no Egito, a igualdade era uma prática comum.
No site forumnow.com discorre sobre a divisão de tarefas da mulher
egípcia, a maioria das atividades das mulheres eram voltadas para o lar, mas
nada impedia de existirem sacerdotisas, agricultoras, escribas, donas de seus
próprios negócios.
As mulheres podiam escolher seu marido, mediante ao consentimento
paterno, ao completarem a maioridade. Não havia qualquer referência nos
papiros em relação a virgindade ou restrição do sexo como finalidade para
procriação.
No decorrer da Idade Média não era incomum encontrar mulheres que
assumiam a direção da casa, por causa da viuvez. Elas também tinham a
possibilidade de exercer um bom número de profissões e também tinham
direito a propriedade (Wikipédia 2010).
Pode-se encontrar até registros de mulheres que estudaram em
universidades, fundadoras de mosteiros e universidades (como Hilda de
Whitby) professoras de universidade (Ana Commena) e com grande
participação política (Rainha Leonor, Duquesa de Aquitânea), (Wikipédia 2010).
Porém a visão que a Igreja Católica disseminava da mulher era negativa.
Conforme Galiza (2008):
“A Igreja Católica Medieval considerava a mulher como causa e objeto
do pecado original, cometido por Eva. Assim sendo era considerada a porta de
entrada para o demônio. Só não eram consideradas assim quando virgens,
mães, esposas, ou quando viviam no convento.”
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A inferioridade feminina tinha como origem a fragilidade do sexo. As
filhas não eram incluídas na sucessão quando se casavam e o casamento era
um pacto estabelecido entre as famílias e com objetivo de procriação (Carneiro
2010) e como as mulheres não eram consideradas seres inteligentes, tinham
que estar sob a tutela de um homem (Galiza 2008).
Carneiro (2010) afirma: “As doutrinas diferentes a religião católica
pregavam que a mulher poderia ter os mesmo direitos que os homens, por isso
eram calorosamente perseguidos.”
Foi durante a Idade Média que aconteceu “A caça às Bruxas” em que se
perseguiam os rituais pagãos sob a liderança da Igreja Católica, por intermédio
do Santo Ofício (Inquisição). As maiores prejudicadas neste período foram as
mulheres (Galiza 2008).
Nesta época o Marianismo foi fundamentado, respaldado pela Igreja
Católica, indicando Maria como um exemplo a ser seguido e Eva, evitado.
(Wikipédia 2010).
Somente no século XVIII que pode-se perceber na história que há
reivindicação em relação aos direitos da mulher, pois ocorreu o advento do
Iluminismo e da Revolução Francesa. Foi nessa que surgiram a primeiras
obras de cunho feminista, tendo mulheres inglesas como autoras: Mary Wortley
Montagu (1689-1762) e Mary Wollstonescraft (1759-1797), (Olivieri 2007).
Diante dessas transformações na sociedade, e com a expansão do capitalismo,
surgiram os partidos de esquerda, e neles as mulheres têm espaço para as
manifestações (Wikipédia 2010).
Não é incorreto afirmar que a Revolução Industrial mudou as condições
de vida das mulheres agora também transformadas em proletárias, porém isso
não as isentava das obrigações do lar e dos ditames da sociedade.
Até o início do século XX era plena responsabilidade da mulher as
ocupações relacionadas, direta ou indiretamente, à maternidade, prover a
alimentação dos recém- nascidos, alimentar e educar as crianças, e também o
trabalho, ir à guerra, correr riscos, inclusive de mutilação e morte.
Não era aceitável para a sociedade que eles fugissem dos papéis pré-
estabelecidos para eles.
Porém a partir do século XX ocorreram fatos que desencadearam uma
grande mudança nos papéis desempenhados pela mulher na sociedade e
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pode-se atribuir ao feminismo uma grande parcela de responsabilidade nestas
transformações.
De acordo com o site Wikipédia (2010), o Feminismo é um discurso
intelectual, filosófico e político que tem como meta direitos equânimes e uma
vivência humana liberta de padrões opressores baseados em normas de
gênero.
As mulheres começaram a se organizar e batalharem pelos seus
direitos, já que eram consideradas cidadãos de segunda, sendo assim sem voz
ativa. Dentre as questões que reivindicavam eram: contra as longas jornadas
de trabalho, igualdade salarial, direito ao voto. Vale a pena dizer que já no
século XIX as mulheres protestavam acerca desses pontos.
Obviamente o Feminismo não foi bem aceito, Bessa (2007) diz: “A luta
feminina também tem divisões dentro dela. Os valores morais impostos às
mulheres durante muito tempo dificultavam a luta do direito de igualdade. As
mulheres que assumiram o movimento feminista foram vistas como “mal
amadas” e discriminadas pelos homens e também pelas mulheres que
aceitavam o seu papel de submissas na sociedade patriarcal.”
Mas apesar das objeções o movimento seguiu em frente e arrebanhou
conquistas, como sufrágio universal. E os resultados não tardaram muito a
aparecer. Bessa (2007) explica: “Após a década de 1940 cresceu a
incorporação da força de trabalho feminina no mercado de trabalho, havendo
uma diversificação do tipo de ocupações assumidas pelas mulheres. Porém, no
Brasil, foi na década de 1970 que a mulher passou a ingressar de forma mais
acentuada no mercado de trabalho.”
Mirian Goldenberg, em entrevista à Paladino (2010) afirma acerca do
feminismo: “O feminismo brigou por todo o tipo de liberdade e pela liberdade
sexual também. Até então a questão da virgindade era primordial para o
desempenho do papel feminino.” A quebra da idéia da virgindade como valor
acabou nos anos 60. A antropóloga ainda vai além e aponta quando isso
aconteceu no Brasil: “No Brasil isso chegou através do Tropicalismo, um
movimento que também pregava a igualdade e a liberdade. Com o movimento
hippie, vieram a defesa do amor livre, da experimentação em todos os
sentidos. As pessoas se sentiam livres para pensar sobre liberdade, em seu
mais amplo aspecto.”
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Não há como negar que à partir da década de 1960 que aconteceram as
transformações mais marcantes do século XX. Os movimentos sociais que
ocorreram neste período foram primordiais para que os modelos antigos, que
eram intocáveis fossem rompidos e substituídos, pois as mulheres
conquistaram a liberdade de pensar e assim tomar as rédeas da sua vida.
De acordo com o artigo “Anos 60: a década da virada”, de Patrícia
Paladino o surgimento da pílula anticoncepcional fez com que tabus fossem
quebrados e a mulher veio a conhecer realmente o significado da palavra
liberdade. Paladino (2009) afirma: “A mulher passou a ter escolha. Um primeiro
passo para a igualdade entre os sexos e a busca do equilíbrio.”
Podemos aventar como uma das escolhas que a mulher fez foi a de
estudar. Houve um aumento no número de universidades à partir da década de
1960, as oportunidades passaram a acontecer, e elas saíram das opções que a
sociedade oferecia: o técnico de enfermagem e o curso normal. A mulher
descobriu um mundo de escolhas, e estas estavam ao seu alcance.
Bessa (2007) diz: “A mulher ainda ocupa as atividades relacionadas aos
serviços de cuidar (nos hospitais, a maioria das mulheres são enfermeiras e
atendentes, são professoras educadoras em creche).” Porém, as mulheres
sabem que existem outras áreas e que elas são possíveis a todos, sua área de
atuação foi estendida. Um marco em prol da democratização das relações de
gênero, aqui no Brasil, foi conquistado na promulgação da constituição de
1988, pois o homem deixou de ser o chefe da família e deu-se a igualdade
jurídica para ambos os sexos (Bessa 2007).
É um longo caminho que a mulher tem percorrido, mas com persistência
ocorreram inúmeros avanços, e atualmente se espera muito mais da mulher do
que antes, quando era vista somente como: “cama e mesa”. A fala de Sousa
(2004) corrobora a questão: “Nos dias atuais, a mulher deve se entrosar melhor
nos movimentos políticos que dizem respeito às suas questões, em todos os
aspectos possíveis, tais como: ser vista como um ser humano, não ser tratada
como um ser inferior, isto é, como um objeto sexual e, tê-la como uma
companheira e não como uma empregada, ou escrava”.
Não restam dúvidas que nos dias atuais, a mulher faz toda a diferença
na sociedade atual.
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No próximo capítulo veremos uma breve história da MPB, que mantém
uma relação muito peculiar e íntima com a temática Mulher e também
conheceremos vida e obra dos compositores-cantores escolhidos para a
análise
CAPÍTULO II
Introdução à Música Popular Brasileira/ Compositores: Vida
e Obra.
2.1 Breve História da MPB
A MPB foi composta por diversas influências que contribuíram para sua
formação. No livro “Ouvinte Consciente”, de Sérgio Ricardo Corrêa, encontra-
se essas principais influências: índios, negros e portugueses.
Os índios, que já viviam no país, trabalhavam na sua própria música,
que estava presente no cotidiano do índio nos seus mais variados momentos,
como o prazer da diversão ou em rituais religiosos (Enciclopédia Digital 99).
Os portugueses também deixaram seu legado na música através da
colonização, trouxeram para o Brasil vários instrumentos musicais utilizados na
Europa, alguns atravessaram os séculos e tem importante participação ma
execução da Música Popular Brasileira (Corrêa 1975). Dentre estes
instrumentos pode-se destacar: cavaquinho, violão e a viola. A contribuição
portuguesa ainda se estendeu nas composições religiosas voltados para o
trabalho na catequese, cujo maior expoente foi José de Anchieta (Enciclopédia
Digital 99).
Não foi só por intermédio dos seus instrumentos musicais que os negros
participaram da formação da MPB. Segundo Corrêa (1975 p. 119): “A melodia
negra não era muito desenvolvida, mas a sua riqueza musical vem do ritmo,
que era muito variado. Utilizavam instrumentos de percussão de timbres
diversos, bate-mão (palmas) e vozes.”
A partir dessas influências ocorreu a evolução da MPB e podemos
destacar o surgimento de dois gêneros da Música Popular Brasileira, no século
XVIII: A Modinha e o Lundu (Corrêa 1975). Foi em que a música e a poesia
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trabalharam em conjunto e os poemas de Castro Alves foram musicados.
Domingos Caldas Barbosa foi o grande popularizador destes gêneros com as
suas composições, mas também se faz necessário citar outros expoentes do
período: Padre José Maurício Nunes, Francisco Manuel da Silva, Carlos
Gomes, Henrique Alves de Mesquita, etc. Não foi possível dissociar estes
gêneros da vida boêmia carioca a partir do século XIX (Enciclopédia Digital 99).
Com o tempo as modinhas cederam lugar ao choro por volta de 1870 na
cidade do Rio de Janeiro, de acordo com a Enciclopédia Digital 99: “O
nascimento do choro é atribuída ao período de 1870. O Rio de Janeiro, dada a
sua importância política e a sua intensa vida cultural, tornou-se o centro da
irradiação das tendências que se afiguravam. Compositores de outros estados
acabavam por se estabelecer no Rio de Janeiro, onde encontravam grande
espaço para suas composições, dada a abertura de várias casas editoras.”
Dentre os grandes nomes chorões encontramos: Catulo da Paixão
Cearense, Ernesto Nazaré, Chiquinha Gonzaga e Pixinguinha.
Em paralelo ao sucesso alcançado pelo choro ocorreu o surgimento de
um gênero que se tornou marca da MPB: Samba. O seu aparecimento nos
meios de comunicação se deu por intermédio da composição “Pelo Telefone”.
No livro “Ouvinte Consciente”, encontramos: “O primeiro samba de sucesso foi,
porém, “Pelo Telefone”, de Donga e Mauro de Almeida, lançado para o
Carnaval de 1917, gravado inicialmente pela Banda Odeon e, logo em seguida,
pelo Baiano” (Corrêa, 1975 p. 122).
Compositores que se destacaram com o samba: Sinhô, Donga, Joubert
de Carvalho e cantores, como: Baiano, Cadetes, entre outros.
A Fase de Ouro da MPB (1927-1946) tem como fundamento a chegada
das primeiras vitrolas elétricas no Brasil, de acordo com Corrêa (1975). Esta
época constituiu o início da Era de Ouro do Rádio, com os seus diversos
programas populares com cantores e compositores que logo se tornaram
conhecidos em todo país como: Noel Rosa, Ismael Silva, Ary Barroso, Dorival
Caymmi, Carmen Miranda, etc.
No período de 1946 a 1958, foi também conhecido como fase moderna,
caracterizada pela música como um negócio, como aparecimento de
sociedades arrecadadoras tais como, UBC, SBACEM, SBAT (Corrêa 1975).
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A influência norte-americana se fez presente nos arranjos de músicas,
percebida a partir de Copacabana, de João de Barro e Alberto Ribeiro, cantado
por Dick Farney (Enciclopédia Digital 99)
Também ocorreu o aparecimento do Baião, com grande sucesso, tendo
Luiz Gonzaga, considerado “O Rei”.
Os grandes nomes desse período são: Dick Farney, Luiz Gonzaga,
Maysa, Dolores Duran, etc.
A Bossa Nova, quando surgiu, no final da década de 1950 provocou uma
tremenda transformação na Música Popular Brasileira. No momento em que
João Gilberto lançou o seu disco de 78 rotações, “Chega de Saudade”,
surpreendeu todo mundo com o som que tirava do seu violão. O sucesso era
inevitável.
Corrêa (1975 p.127): “Em pouco tempo, a Bossa Nova tornou-se
conhecida e apreciada internacionalmente pelo povo e pelas elites musicais -
sobretudo nos Estados Unidos- como um movimento técnica e artisticamente
evoluído.”
No início da década de 60 houve o lendário show no Carnegie Hall e
muitos expoentes da Bossa Nova foram se apresentar lá, com destaque para
João Gilberto, Tom Jobim e Sérgio Mendes que continuaram lá com contratos
(Motta 2000).
Grandes nomes fizeram parte deste movimento musical, com destaque
para: Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Ronaldo Bôscoli, Roberto Menescal,
Carlos Lira.
Os festivais demonstraram o vigor da MPB, os festivais produzidos pela
TV Excelsior e TV Record movimentaram o cenário musical brasileiro,
provocando discussões acaloradas, impetuosas, com torcidas que não se
negavam a demonstrar aprovação ou desaprovação quanto a um resultado. Os
bastidores, entre músicas, também eram calorosos, com diferenças de opiniões
que transcendiam o momento de apresentações e ganhavam a rua (Motta
2000).
Novos talentos surgiram e revolucionaram o cenário musical brasileiro,
como: Chico Buarque, Edu Lobo, Geraldo Vandré, entre outros (Corrêa 1975).
Em paralelo aos festivais, um novo movimento que transformou o
cotidiano dos jovens e que reuniu milhões de fãs dispostos a fazer qualquer
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loucura para estar ao lado dos seus ídolos – A Jovem Guarda- que surgiu após
o mandato de segurança que impediu a TV Record de transmitir os jogos do
campeonato paulista de futebol nas tardes de domingo e resolveram investir
em um trio de jovens talentos, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia
para apresentar um programa musical neste horário ocioso. O sucesso foi
imediato.
Corrêa (1975 p. 128) afirma: “... o movimento Jovem Guarda
revolucionou a população adolescente do Brasil, estabelecendo padrões
específicos de gosto, atitudes e vestuário.”
Vários produtos foram produzidos, conforme demonstra Motta (2000
p.95) “...transformar o pessoal da “música jovem” em ídolos nacionais, fabricar,
calças, camisas, chaveiros, bonecos,bonés, brinquedos e tudo o mais que
pudesse ser comercializado com a marca “jovem guarda”, ...
O ritmo era vibrante, com letras que versavam sobre o cotidiano da
juventude, porém não trazia novidades estéticas a não ser o uso da guitarra
elétrica (Corrêa 1975).
Caetano Veloso e Gilberto Gil foram líderes do movimento Tropicália que
utilizou uma verdadeira miscelânea de elementos do Samba, Bossa Nova,
Nordestina, eletrônica, estrangeira, entre outras. A Enciclopédia Digital 99
define bem o que foi este movimento: “O tropicalismo brasileiro foi responsável
até então inviável conciliação, na música brasileira, entre os conceitos de
universalismo e regionalismo. Ainda mais, gerou grandes transformações na
inibida cultura brasileira da época que, possuindo tradições relativamente
novas, buscava caminhos pelos quais pudesse percorrer.”
A Tropicália foi objeto de muita oposição e divergências, mas isso não
conseguiu inibir os participantes deste movimento, pelo contrário. Podemos
citar os seguintes músicos deste movimento, pelo contrário. Podemos citar os
seguintes músicos e letristas da Tropicália: Gil, Caetano, Torquato Neto, Tom
Zé, Rogério Duprat, etc.
Fizemos uma breve introdução da MPB para contextualizar das
vertentes, períodos e fenômenos artísticos que os compositores-cantores que
tomamos por base para a nossa pesquisa participam. Agora vamos apresentar
cada um destes personagens da MPB, na ordem em que os movimentos
musicais que o trouxeram a evidência apareceram, embora seja importante
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deixar claro que eles ultrapassaram os movimentos e consolidaram uma bela
carreira na MPB.
2.2 Dorival Caymmi
Dorival Caymmi nasceu em Salvador em 1914, e foi criado num
ambiente musical e seus pais corroboraram para que fosse criado envolvido
pela musica. De acordo com Cravo Albin (2010): “o pai era funcionário publico
e tocava violão, bandolim e piano. Sua mãe cantava muito bem.”
No livro Noites Tropicais, de Nelson Motta (2000 p.366), ele reproduz
uma conversa com o compositor falando sobre sua formação musical: “Caymmi
conta que foi criado ouvindo opera e musica clássica, fala sobre Bach, diz que
todos os acordes e estruturas harmônicas que ainda hoje surpreendem os que
se acreditam “modernos” já estavam lá , em Bach.”
A Rádio Clube da Bahia o empregou em 1935 para ter a participação em
alguns programas, três anos depois começou a trabalhar na Radio Tupi e
apresentou a sua composição “O que e que a baiana tem” (Cravo Albin 2010);
Em 1939 gravou o seu primeiro disco e teve a participação luxuosa de
Carmem Miranda. Corrêa (1939 p. 178) cita este acontecimento: “No
suplemento de abril de 1939 da Odeon saia o primeiro disco de Dorival
Caymmi como cantor em dupla com Carmem Miranda.” o que é que a baiana
tem?”
Integrante da fase de ouro da radio foi para radio nacional, onde ficou
apenas três meses e então foi contratado pela radio Mayrink Veiga. A década
de 1940 foi de grande produção autoral, dentre as quais: “Essa nêga fulô”, “ É
doce morrer no mar” ( com Jorge Amado), “ Rosa Morena”, “ Peguei uma ita no
norte”, “Dora” , “ A vizinha do lado” , “Marina” : grande sucesso que tornou
clássico, “ Lá vem a baiana”, entre outros.
Durante a década de 1950, também compôs músicas que ficaram para a
posteridade, como “Só Louco”, e “ Eu vou para Maracangalha”. (Cravo Albin
2010).
Em 1964 fez um show da boate Zum Zum ao lado de Vinícius de Moraes
e lançou o LP “Caymmi visita Tom”. Outro grande sucesso de Caymmi foi
“Modinha para Gabriela”, criada em 1975 para compor a trilha sonora da novela
21
Gabriela (TV Globo), baseada no romance de Jorge Amado. No carnaval de
1986 foi homenageado pela escola de samba Mangueira, que levou o título do
ano. Como comemoração dos seus 80 anos, o songbook foi dividido e dois
volumes e caixa de quatro CDs com 82 canções. Em 2001, compôs a canção
tema da novela “Porto dos Milagres” em parceria com o filho Danilo (Cravo
Albin 2010).
Dorival Caymmi faleceu em 16/08/2008, na sua casa em Copacabana.
Talvez um resumo perfeito da importância de Caymmi para a MPB, esteja no
livro Noites Tropicais, de Nelson Motta (2000 p. 366).
“Sua música está presente e é fundamental em três grandes momentos
da nossa gloriosa música nacional. Primeiro com Carmem Miranda, como “O
que é que a Baiana tem?”e “Você já foi à Bahia?”; depois na Bossa Nova, com
as releituras revolucionárias de João Gilberto de “Rosa Morena”, “Doralice”,
“Saudades da Bahia” e outras; e finalmente no tropicalismo, com Gil e Caetano
criando a nova música sobre os alicerces sólidos da música de Caymmi.”
2.3 Vinícius de Moraes
Vinícius de Moraes nasceu no Rio de Janeiro em 19/10/1913. Seus pais
tocavam instrumentos e eram músicos amadores. Vinícius se formou em
Direito, mas sempre demonstrou pendor literário (Cravo Albin 2010). Ganhou
uma bolsa e foi estudar língua e literatura em Oxford e quando retornou ao
Brasil, em 1940, já era um excelente poeta (Castro 1999).
Na década de 1940 publicou os livros “Cinco elegias”(1943) e “Poemas,
sonetos e baladas” (1946). Também foi nesta década que começou na
Diplomacia como afirma Cereja e Magalhães (1998 p. 400): “Na década de
1940 ingressou na carreira diplomática e também no jornalismo, como cronista
e crítico de cinema. Como diplomata, viveu durante muitos anos em Los
Angeles, Paris e Montevidéu, com alguns intervalos no Brasil.”
Em 1956 Vinícius publicou a peça “Orfeu da Conceição” e a montou,
com cenário de Oscar Niemeyer (Cravo Albin 2010). Música de Tom Jobim,
que lhe foi apresentado naquela ocasião e logo se tornaria seu parceiro em
composições (Santos 1998 p.133). Nesse mesmo ano a peça foi transposta
22
para o cinema pelo francês Marcel Camus e acabou por levar o Oscar de
melhor filme estrangeiro em 1959, com grande sucesso.
Sua parceria com Tom Jobim fez com que houvesse uma aproximação
definitiva com a música popular, com canções gravadas por Elizeth Cardoso,
no antológico disco: “Canção do Amor demais” (Santos 1998 p.123); depois por
João Gilberto, no LP 78 RPM “Chega de Saudade” e assim surgiu a Bossa
Nova, movimento do qual Vinícius era considerado “Mestre” (Castro 1999).
Durante a década de 60 ficou claro que estava muito mais envolvido
com a música do que com a carreira diplomática. Segundo Castro (1999
p.391): “Era diplomata, compositor de Bossa Nova e homem do mundo, tudo
ao mesmo tempo.” Neste período muitas músicas suas foram gravadas, e
realizou diversos shows e apresentações, com o show na boate Zum Zum ao
lado de Dorival Caymmi e com Maria Bethânia e Gilberto Gil, no show “Pois é”,
no teatro Opinião.
Participou, com ótimos resultados do I Festival Nacional de MPB (TV
Excelsior). E também teve vários parceiros como: Baden Powell, Ary Barroso,
Carlos Lyra, Chico Buarque, Edu Lobo e Toquinho. No programa “De lá pra cá”,
da Rede Brasil, tendo Vinícius de Moraes como tema, exibido em 27/07/2010,
foi dito que Vinícius tinha ciúmes de seus parceiros e, com eles, mantinha uma
relação possessiva.
Fora do trabalho diplomático desde 1968 por causa do AI-5, foi
aposentado compulsoriamente sob o comando do general Arthur da Costa e
Silva, que ordenou: “Demita este vagabundo!” (Castro 1999. P. 393). Vinicius
dedicou-se de corpo e alma a musica construiu uma carreira italiana que
alcançou longos vôos por Portugal, Uruguai e Argentina com mais de 1000
apresentações entre 1974 a 1977.
Em 1980, meses antes da sua morte, foi lançado o disco “Arca de Noé”
com músicas infantis e desse disco ocorreu um especial na TV globo. Vinicius
faleceu em julho deste mesmo ano, em sua casa, na Gávea, após um edema
pulmonar. (Cravo Albin 2010)
Em agosto de 2010, em cerimônia realizada no Itamaraty ocorreu a
reintegração de Vinícius de Moraes, post- mortem, nos quadros do Itamaraty,
como embaixador. Durante a cerimônia, o presidente Lula, ministro Celso
23
Amorim e o ministro do STF Celso Ayres Brito reverenciaram a memória de
Vinícius (Correio Braziliense online, 17 /08/2010).
2.4 Chico Buarque
Chico Buarque nasceu no Rio de Janeiro em 19 de junho de 1944,
proveniente de uma família de intelectuais, seus pais era Sérgio Buarque de
Hollanda e Maria Amélia Buarque de Hollanda, sempre teve a casa
freqüentada por personagens ilustres. A Enciclopédia Digital 99 aborda a
situação:
“... desde cedo entrou em contato com círculo de artistas importantes da
época, como Alaíde Costa, Oscar Castro Neves e Baden Powell.”
Sua primeira composição que obteve êxito foi “Sonho de Carnaval”,
apresentada no I Festival Nacional de MPB da TV Excelsior (Corrêa 1975).
Ao obter o primeiro lugar no II Festival da MPB da TV Record, em 1966,
com sua composição, “A Banda”. Nelson Motta, que foi testemunha ocular dos
acontecimentos, descreve em seu livro, Noites Tropicais (2000 p.113): “A
Banda vendeu mais de 100 mil discos em uma semana, se transformou num
dos maiores sucessos brasileiros de todos os tempos e foi gravada no mundo
inteiro: Chico Buarque virou uma paixão nacional, uma unanimidade. Quase
uma obsessão.”
A partir daí Chico produziu um sucesso atrás do outro, mas não ficou
impune à ditadura ainda mais após a polêmica da peça de sua autoria “Roda
Viva”, no final de 1967.
Em 1969, Chico partiu com a sua então esposa Marieta Severo para a
Itália. No Brasil, a situação estava morta muito complicada depois do AI- 5. Ele
permaneceu neste país por 15 meses e passou por muitas dificuldades tendo
que tocar até em casamentos para se manter (Motta 2000).
De volta ao Brasil mostrou que a sua obra tinha passado por
transformações estéticas e ele produziu músicas que se tornaram clássicos da
MPB, como “Gente Humilde” (com Vinícius de Moraes), “Construção”, “Apesar
de você”, “Tanto mar”, entre outras.
No festival Phono 73 Chico e Gilberto Gil tiveram os microfones cortados
pela censura durante a apresentação de “Cálice” (Cravo Albin 2010). Sobre o
24
episódio, Motta (2000 p.264) discorre: “A música era um protesto tão sentido,
tão doloroso e apropriado, tão óbvio, que a Censura Federal naturalmente a
proibiu.”
Chico foi duramente perseguido pela ditadura militar durante a década
de 1970; o que fazia era censurado, como a peça escrita junto com Ruy
Guerra, “Calabar”, a trilha sonora desta mesma peça. Isso chegou a tal ponto
que me 1974 Chico teve que criar um personagem, Julinho da Adelaide, que
era o “autor” de composições gravadas por ele, como “Acorda amor” e “Jorge
Maravilha”. O personagem teve uma “morte súbita e cívica”, segundo Motta
(2000) após uma reportagem do Jornal do Brasil, que acabou por denunciar a
farsa.
O trabalho continuou com força total com várias canções que fizeram e
ainda fazem muito sucesso, como: “O que será? (A flor da pele), “Olhos nos
olhos”, “Mulheres de Atenas” (com Augusto Boal). Produziu o musical “Os
Saltimbancos”. Fez a trilha sonora da “Ópera do Malandro” (Cravo Albin 2010).
Os anos 80, sem a perseguição da ditadura foi de grande produção com
lançamentos de discos, filmes. Com destaque para o programa mensal Chico e
Caetano em 1986, na Rede Globo (Motta 2000).
Chico mostrou o seu lado multifacetado ao publicar livros e depois de um
tempo sem gravar volta às paradas de sucesso com o disco “Paratodos”, em
1993. E também foi homenageado pela escola de samba Mangueira, a
vencedora do Carnaval de 1998.
Nos anos 2000 ocorreram vários relançamentos de suas obras, como a
coletânea “Duetos” (2002); a remontagem da “Ópera do Malandro” (2003), e
uma caixa lançada pela revista “Seleções do Reader´s Digest”, chamada “As
mais belas canções de Chico” (2004). E nesta década também brindou os seus
fãs com uma coletânea de DVDs acerca da sua carreira (Cravo Albin 2010).
Em janeiro de 2011, a Rede Globo exibiu a microssérie “Amor em 4
atos”, com histórias baseadas em músicas de Chico Buarque (Oglobo
01/2011).
2.5 Roberto Carlos
25
Roberto Carlos nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo em
19 de Abril de 1941. Seu pai era relojoeiro e sua mãe, costureira. Aos seis anos
passou por uma experiência dramática, durante um acidente perdeu uma perna
e passou a usar prótese (Cravo Albin 2010).
Desde a tenra idade foi incentivado pela família a seguir à carreira
musical, talento descoberto precocemente. No programa Globo Repórter
Especial (2009) mostrou o Conservatório em que estudava piano na sua cidade
natal e colheu depoimentos de pessoas que acompanharam o início musical.
No final da década de 1950, já morando no Rio de Janeiro, conheceu um
grupo de amigos, na Rua do Matoso (Tijuca), que juntos formariam o conjunto
“The Sputniks”: Erasmo Carlos, Tim Maia e Jorge Benjor, que se tornariam
grandes nomes da MPB (Cravo Albin 2010).
Embora tenha começado a carreira ainda na década de 1950 só
conseguiu alcançar o sucesso em 1963, antes, apesar do inegável talento
recebeu muitos nãos, gravou 78 Rpm e um disco sem repercussão alguma, e
tentou,sem resultado ser cantor de bossa nova, assessorado por Carlos
Imperial. De acordo com Araújo (2006), no seu livro censurado “Roberto Carlos
em detalhes”, foi com a gravação do disco 78 Rpm Splish Splash/ Parei na
contramão, que estourou no país inteiro.
Em 1965 ocorreu à consolidação da carreira com o início do Programa
Jovem Guarda pela TV Record, apresentado por Roberto, Erasmo e
Wanderléia, que ficou quatro anos no ar e era uma das maiores audiências da
televisão brasileira (Cravo Albin 2010).
Motta (2000 p.96) também aborda como o programa foi recebido: “O
sucesso foi estrondoso e imediato, as lotações do teatro se vendiam com uma
semana de antecedência.” Cravo Albin (2010) parece completar: “Tal foi a
penetração social do movimento penetração social do movimento que, em
1966, o trio lançou uma linha de roupas e adereços (...). Expressões como “é
uma brasa, mora”, “bicho” e “carango” foram incorporadas à linguagem da
juventude brasileira.”
Roberto Carlos , em 1968, venceu o festival de San Remo com a balada
“Canzone per te” de Sergio Endrigo (Motta 2000). Sendo o primeiro artista
estrangeiro que mereceu tal prêmio (Cravo Albin 2010).
26
No final dos anos 60 ocorre perceptivelmente uma mudança no estilo de
repertório: um acentuado tom romântico. Na década de 1970 Roberto Carlos
consagra-se como maior cantor do país – O Rei – e seu sucesso não se atêm
ao Brasil, mas chega aos EUA, Europa e América Latina, sempre com vários
sucessos musicais, como: “Detalhes”, “Amada Amante”, “Além do horizonte”,
“Cavalgada”, “Proposta”, entre outras.
Os anos 80 foram marcados por vários shows, excursões internacionais
e quebra de vários recordes. Durante esta década, muitas músicas foram
lançadas: “Emoções”, “Fera Ferida”, “Caminhoneiro”, “Verde e Amarelo”,
“Amazônia”, etc. Na década seguinte foi seguida de homenagens, quebra de
recordes (o primeiro latino americano a vender mais discos que os Beatles), e
enfrentou drama, como o falecimento de sua esposa Maria Rita após luta
contra o câncer (Cravo Albin 2010).
O novo século trouxe muitos shows, o relançamento de toda a sua obra
em caixas, divididas por décadas; o lançamento do DVD “Duetos”, com
participação de diversos nomes da MPB. Roberto admitiu sofrer de TOC,
doença que o impedia de cantar muitos de seus sucessos, e contou que fazia
tratamento já apresentando melhoras.
Em 2008 fez show histórico com Caetano Veloso no Theatro Municipal
do Rio de Janeiro em homenagem a Tom Jobim (Cravo Albin 2010).
Em 2009 foi o ano de comemoração do 50º aniversário da carreira, com
mega show no Maracanã, “Globo Repórter Especial”, o especial “Elas cantam
Roberto Carlos”. No ano seguinte, seguiu-se o especial “Emoções Sertanejas”,
show no Madison Square Garden (Cravo Albin 2010). O especial tradicional
apresentado pela Rede Globo de 2010 foi um grande show gratuito na Praia de
Copacabana no dia 25 de dezembro, o maior público do cantor.
2.6 Rita Lee
Rita Lee nasceu em 31 de dezembro de 1947 em São Paulo. Estudava
piano, pois sempre demonstrou interesse pela música e era influenciada pela
mãe, pianista e a irmã que tinha um gosto musical eclético (Cravo Albin 2010).
Foi com o grupo “Os Mutantes” que alcançou notoriedade ao
participarem do III Festival da Música Popular Brasileira (1966) com a música
27
defendida por Nana Caymmi e também na música “Domingo no parque” de
Gilberto Gil. Foi uma apresentação que causou por causa do uso de guitarras e
influências inglesas que acabou por provocar a ira de vários movimentos
musicais (Motta 2000).
O primeiro disco dos “Os Mutantes” foi lançado em 1968, com músicas
como “Panis et circenses”. O grupo era integrante do movimento Tropicalismo
e no III festival internacional da Canção estava acompanhando Caetano Veloso
no momento da polêmica fala do cantor na música “É proibido proibir” (Os
Mutantes, Cravo Albin 2010).
Mesmo sendo membro dos “Os Mutantes”, gravou o seu primeiro disco
solo em 1970, “Build up”. Neste mesmo ano, casou-se com Arnaldo Batista, um
dos companheiros de grupo, porém o casamento durou apenas dois anos e
com o seu término, Rita acabou por sair do grupo (Cravo Albin 2010).
Góes (1998 p. 108) fala da importância que Rita Lee teve para “Os
Mutantes”: “Ainda que a participação de Rita no conjunto tenha tido vida curta,a
discografia registrada é de importância ímpar na música popular brasileira.Com
Os Mutantes gravou: em 1968, “Mutantes”; em 1969, “Mutantes II”;em 1970, “A
Divina Comédia ou Ando meio desligado”, e ainda pelo mesmo selo, Polydor,
os discos de 1971 e 1972 – “Jardim Elétrico e Mutantes e seus cometas no
país do Bauretz”, respectivamente.Durante a fase Mutante, Rita gravou
também dois discos solo: “Build up” e “Este é o primeiro dia do resto da sua
vida”.”
No decorrer da década de 1970 teve três momentos distintos na carreira:
logo após a saída dos “Os Mutantes” formou com Lúcia Turnbull o grupo “As
Cilibrinas do Éden”, que acabou se tornando o “Tutti-Frutti”. Foi com este grupo
que lançou “Fruto Proibido” em 1975, que foi um verdadeiro sucesso com a
venda de 200.000 cópias. Com o fim do Tutti-Frutti, Rita Lee lançou com
Gilberto Gil, o disco “Refestança ao vivo” (Cravo Albin 2010).
Em 1979 uniu-se ao marido Roberto de Carvalho em uma dupla que
resultou em seus maiores sucessos em mais de 10 anos. Podemos destacar:
“Lança-Perfume”, “Flagra”, “Saúde”, “Mania de você”, etc.
No auge do sucesso , em 1981, Rita recebe um convite especial,
narrado por Góes (1998 p.110): “João Gilberto, convida Rita para gravar com
ele um velho sucesso de Lamartine Babo, “Joujou e Balangandãs”, e também a
28
escolhe como convidada única num programa especial da Rede Globo.” Motta
(2000 p.337) fala da semelhança aparentemente inexistente entre Rita Lee, a
“Rainha do Rock” com João Gilberto, “o Pai da Bossa Nova”: “ela cantou com
João o antigo sucesso de Mário Reis, “Jujus e balangandãs”, com infinita graça
e alta precisão. Sua voz pequena e cool, sua inteligência musical, seu bom
gosto e sofisticação a aproximavam muito mais de uma cantora de Bossa Nova
do que o volume, peso e potência vocal esperados de uma rainha do rock.
João sorria feliz e Rita aliviada, quando no final o público explodiu em aplausos
delirantes exigindo bis.”
Os anos 80 foram marcados por altos e baixos, como o show no Rock in
Rio de 1985, em que tão estafada, não conseguia mais do que sussurrar do
início ao fim todas as músicas, mas com total apoio da platéia; e seus sucessos
e popularidade que crescia astronomicamente (Motta 2000).
Nos anos 90, desfeita a parceria com o marido, participou de novelas
como “Top Model” e “Vamp”; fez o bem sucedido show “Rita Lee em
bossa’n’roll e em 1995 abriu o show dos Rolling Stones ao lado do Barão
Vermelho e Spin Doctors (Cravo Albin 2010).
Em 2000 lançou o cd “3001” com músicas inéditas e bem roqueiras. Dois
anos depois, sái pela gravadora “Som Livre”, a coletânea “Novelas”, com
sucessos que fizeram parte de trilhas sonoras de novelas, como “Esse tal de
Roque enrow” (com Paulo Coelho), na novela “O Bravo”. O ano de 2003 é o do
lançamento do cd “Balacobaco”, que trouxe destaques como “Amor e Sexo”
(em parceria com Arnaldo Jabor) e “Tudo vira bosta” (parceria com Moacir
Franco).
Em 2006 foi lançado pelas gravadoras “Som Livre” e “Trama” o Dvd e o
Cd “Rita Lee Jones”, do especial “Grandes Nomes” gravado em 1980 para a
Rede Globo com vários sucessos (Cravo Albin 2010).
29
CAPÍTULO III
A Mulher e a MPB
3.1 Relação da MPB com a Mulher
No capítulo anterior tivemos a oportunidade de conhecer uma breve
História da MPB e dos compositores-cantores cuja obra será analisada. O que
se pretende agora é traçar uma relação da MPB com a temática Mulher.
Desde os primórdios da MPB podemos encontrar músicas em que a
Mulher era o tema principal. Mas como ela era representada?
De acordo com Rodrigo Faour, no seu livro “História Sexual da MPB”
(2006), existiam duas posturas básicas de visão em relação à Mulher pré-anos
60, que ele denomina “times”.
No “primeiro time”, com influências dos séculos XVIII aos XX, as
modinhas e valsinhas entendiam que a mulher era um ser inatingível e a
retratavam em meio a situações imaginárias, uma musa inalcançável.
No “segundo time”, a Mulher era considerada “o diabo de saias”,
responsável por todas as agruras sofridas. Este olhar foi muito presente até a
segunda metade do século passado, especialmente no Samba, mas poderia
ser observada em outros gêneros da MPB.
A Mulher não tinha voz, sua opinião não era respeitada. Para ela era
reservado o recôndito do lar, ou a vida religiosa, qualquer outra posição que
fugisse a isso era execrada. Então o que percebíamos na verdade era um
monólogo musical realizado pelo homem, o único ponto de vista até então era
masculino, como afirma Maria Áurea Santa Cruz, no livro “A musa sem
máscara” (1992). Faour (2006 p.22) corrobora a questão ao dizer: “Não vamos
esquecer que, até o final dos anos 50, 99% das canções eram compostas por
homens, mesmo aquelas gravadas por cantoras.”
30
É necessário observarmos que estas posturas não eram gratuitas, mas
produto dos séculos. Remontando-nos ao primeiro capítulo vemos que
primeiramente a mulher era adorada, mas que durante muito tempo a
sexualidade da mulher foi discutida, problematizada, adaptada e a Mulher
deveria se adequar ao contexto da época. No decorrer da história da
sexualidade percebe-se que era feito de tudo para que a Mulher estivesse
dentro dos padrões pré- estabelecidos pela sociedade, e por mais, que
aparentemente não acontecessem grandes mudanças na situação feminina
através dos séculos, elas ocorriam sim, e diversas vezes de forma tênue.
Assim os homens continuaram a encarar a Mulher com desconfiança e isso era
refletido nas canções.
Voltando às questões acerca da autoria musical, o homem é quem tinha,
realmente a proeminência nesta área e isto aconteceu porque a Mulher tinha
que desempenhar o papel que lhe era designado e não estava incluso a
composição musical. Santa Cruz (1992 p.15) diz: “Para a mulher- em virtude-
da sua capacidade biológica de reprodução- reservou-se apenas a
possibilidade de criar filhos. É com base neste argumento falacioso, desprovido
totalmente de comprovação científica, que os homens determinaram para si a
exclusividade da autoria musical.”
E esta é uma questão muito interessante porque ao pesquisar sobre a
sexualidade feminina percebe-se que muitas vezes não foi dado à Mulher o
direito de ser protagonista da sua própria história.
A Mulher observou, no decorrer do tempo, o seu direito ser retirado de
suas mãos. Os papéis que foram desempenhados por ela eram imbuídos pelo
homem. Era o homem quem detinha o poder. A Mulher era considerada um ser
de segunda classe, e como o machismo era uma regra comum para o homem,
também não eram raro que as queixas e/ou traumas masculinos estivessem
presentes na música (Faour 2006).
Mas os tempos mudaram e a relação da MPB com a Mulher ganhou
novas nuances. O que vem a seguir é um apanhado do que aconteceu a partir
do século XX.
No início do século entre os anos 20 e 30 a temática da musa
inalcançável estava em voga, e este amor se revelava sofrido, triste e mal
31
resolvido. A mulher estava num pedestal e como o homem não podia tê-la,
receava até citar o nome da amada (Faour 2006).
Mas para “Santa Cruz (1992 p.15) a denominação “musa” tinha outra
conotação: “Essa ênfase à “musa” deve-se a uma concepção machista da
sociedade, que sempre estabeleceu a criatividade como um privilégio
masculino.”
Vale ressaltar que não era dada à mulher a chance de expressar os
seus sentimentos, o que víamos nas músicas era o ponto de vista do homem.
Entre os anos 30 até o final da década de 50 há uma variação na
temática das canções, o enfoque é no amor mal resolvido ou que sequer foi
realizado. A representação que faziam da mulher era a pior possível,
creditando a ela a culpa dos fracassos no relacionamento e o homem
aproveitava esta oportunidade para humilhar e depreciá-la constantemente
(Faour 2006).
Santa Cruz (1992 p.30) também aborda uma tendência que apareceu
freqüentemente na década de 50: o transformismo musical. Este artifício de
linguagem consiste segundo a autora em que “o homem fala como se fosse
mulher, dando a impressão de ser, esse discurso impostor, realmente o
posicionamento feminino natural da época.”
A partir dos anos 60, com o surgimento da Bossa Nova, o olhar para a
Mulher se tornou diferente paulatinamente contendo letras que falavam acerca
dos romances de uma forma mais agradável. É preciso deixar claro que ainda
era possível encontrar frustrações amorosas, tristezas. Entretanto a Mulher já
não era mais a pérfida, sórdida. Já era possível vê-la como algo precioso e/ou
também como igual perante o homem. Mas também era possível encontrar
letras de música em que se deixava claro o sofrimento (Faour 2006).
Fica evidente que o período compreendido da década de 20 até a
década de 50 que a mulher não tinha a oportunidade de expressar como
compositora. Ao pesquisar esta questão foi de estarrecer a quantidade ínfima
de compositoras neste período. Isto evidencia a supremacia masculina, pois a
se a mulher ousasse entrar neste reduto tipicamente masculino era mal vista,
ignorada ou execrada. Pouquíssimas conseguiram ter sucesso neste quesito
durante 30 anos.
32
Santa Cruz (1992) ao abordar o tema aponta seis compositoras que
fugiram à regra, como: Carolina Cardoso de Menezes, Gilda de Abreu, Zilda
Gonçalves, Dona Ivone Lara, Dilu Melo e a precursora Chiquinha Gonzaga. A
autora não se furta a enumerar as razões para as impossibilidades de a Mulher
ser compositora àquela época, além dos homens acharem que a mulher não
tinha QI e/ou capacidade suficiente: “Outras evidências perceptíveis das
dificuldades enfrentadas pela mulher, quando optava por ser compositora,
dizem respeito as inúmeras qualificações artísticas de quase todas as que
foram citadas. Não lhes bastava somente igualdade de condições com o sexo
masculino na busca de oportunidades; era preciso muito mais competência do
que a exigida aos seus concorrentes.” (p.23)
Foi a partir do surgimento de compositoras como Maysa e Dolores
Duran que as mulheres se destacaram como compositoras no exato tempo em
que ocorria a dissociação entre o ultrapassado e o que estava surgindo. Um
novo momento em que a mulher teria uma nova postura quanto à sociedade e
também seria tratada de outra forma. Suas idéias não seriam mais
ridicularizadas, mas sim, consideradas.
Santa Cruz (1992 p.33) deixa clara a importância que Dolores Duran e
Maysa tiveram para a MPB: “Elas aparecem impondo os seus pontos de vista,
e falando, pela primeira vez, de sentimentos e ressentimentos, sem fazer de
suas palavras o eco da palavra masculina. Legitimam na escrita a fala
verdadeiramente feminina.”
Para concluir este tópico “A Relação da MPB com a Mulher”:
compreendemos que durante um longo período, a relação da MPB com a
mulher era movida alternadamente em sentidos opostos: num momento a
mulher era capaz de cometer as maiores perfídias, em outro de ser abnegada;
falsa ou verdadeira; pecadora ou santa; apaixonada ou rancorosa; sincera ou
falsa; do lar ou prostituta e por aí vai. A Mulher freqüentemente era envolvida
num dualismo e provinha do homem o poder atribuir a ela o seu lugar na
sociedade.
Durante a segunda metade do século xx, com as transformações
ocorridas na sociedade, a mulher conquistou o direito de expor suas idéias e
combater os estereótipos femininos há tanto enraizados na MPB que eram
33
encarados como verdade e repassados de geração em geração, tendo o
homem como principal interlocutor e propagador.
3.2 Analisando os discursos
Vem de longe o desejo do homem de desvendar os mistérios do
pensamento e este desejo vem tomando contornos cada vez maiores.
Entender o porquê daquela fala, daquela escrita, ou seja, analisar o discurso.
O surgimento da Análise do Discurso, que é uma das correntes de
estudos lingüísticos contemporâneos, se deu na França, na década de 60.
Pedrosa (2010) discorre, baseada em Fairclough,sobre a análise crítica do
discurso: “A partir da década de setenta, desenvolveu-se uma forma de análise
do discurso e do texto que identificava o papel da linguagem na estruturação
das relações de poder na sociedade (Fairclough, 2001).”
Pedrosa (2010) continua apresentando a proposta da análise:
“A ACD propõe-se a estudar a linguagem como prática social e, para tal,
considera o papel crucial do contexto. Esse tipo de análise se interessa pela
relação que há entre a linguagem e o poder. É possível defini-la como uma
disciplina que se ocupa, fundamentalmente, de análises que dão conta das
relações de dominação, discriminação, poder e controle, na forma como elas
se manifestam através da linguagem (WODAK, 2003). Nessa perspectiva, a
linguagem é um meio de dominação e de força social, servindo para legitimar
as relações de poder estabelecidas institucionalmente.”
É importante observar que o discurso pode ser uma “faca de dois
gumes”, tanto ser usada instrumento de dominação quanto de mudanças.
Carvalho (2010) aponta o que deve ser atentamente observado durante
a análise crítica do discurso: “É imprescindível que o leitor/receptor esteja
atento às ideologias que estão presentes nos textos que lê a fim de perceber a
luta constante em que está envolvido. O conceito de hegemonia constitui um
foco de luta sobre os pontos de instabilidade entre as classes ou blocos
dominantes, a fim de constituir, sustentar ou quebrar alianças ou relações de
dominação.”
34
Agora que foi lançada uma breve introdução sobre o que é a análise do
discurso, passaremos a análise de algumas canções dos compositores
selecionados.
Olhos nos olhos (Chico Buarque- 1976)
Na canção Olhos nos olhos é retratado o processo de redescoberta da
identidade por uma mulher após a separação.
A primeira estrofe descreve a separação e os primeiros versos exprimem
claramente que o homem não dispensou muita consideração ao terminar o
relacionamento: “Quando você me deixou, meu bem/Me disse para ser feliz e
passar bem.” Quando atentamos para a expressão “passar bem”, é comum a
usarmos com pessoas em que há um relacionamento superficial, ou até
pessoas estranhas à convivência, um recurso da polidez. Mas na situação
descrita é praticamente um descaso, desprezo.
No verso seguinte, o desespero a assolou, com o auxílio dos ciúmes e
ela expões o quanto era subserviente no relacionamento. Porém, nos versos
“Mas depois, como era de costume, obedeci.”; mais do que uma submissão, a
revolta, percebe-se um tom irônico em relação a subjugo em que vivia como se
dissesse: “Ah é?! Então como você mandou, vou obedecer e passar bem: bem
feliz!” Ao obedecê-lo, ela acabou por fazer exatamente o que ele não esperava.
Na segunda estrofe já encontramos uma mulher recuperada da
desilusão amorosa, que se sente capaz de reencontrar a quem lhe fez tanto
sofrer e também falar “Olhos nos olhos”, que pode ocasionar mais de um
significado. Ao falar isso ela pode sugerir que tenham uma conversa sincera,
que ele tenha uma postura sincera. Ou também ela pode querer demonstrar
que a sua submissão é algo do passado e que atualmente ela pode olhar
diretamente para ele e exprimir o que sente. Nos versos “olhos nos olhos quero
ver o que você faz/ ao sentir que sem você eu passo bem demais.” Além de
exprimir o que foi dito acima também demonstra a satisfação que ela sentirá ao
perceber que ele se surpreenderá e se constrangerá com esta transformação,
com o fato dela ter conseguido ser feliz mesmo com a sua ausência.
A terceira estrofe mostra os efeitos que essa separação causou “E que
venho até me remoçando/Me pego cantando/Sem mais nem porquê.” Com o
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desenlace ela se rejuvenesce, e sem a tensão que havia no relacionamento de
sempre agradar o parceiro, ela cantarola sem maiores motivos e para
arrematar e esmagar o ego do ex companheiro afirma “Quantos homens me
amaram/Bem mais e melhor do que você.” Dando clara indicação que alcançou
plena satisfação sexual após a separação. Para um homem, ouvir que há outro
que a satisfaça melhor do que ele é a morte! Assim ela demonstra o quanto a
sua vida se transformou.
Na quarta e última estrofe percebe-se que a situação foi invertida de
dependente, e abandonada, a mulher é quem oferece apoio ao homem: “Se
algum dia precisar de um conselho pode vir falar comigo.” Ela faz este
oferecimento porque está curada e a presença dele não a abala mais, que é
possível conviver amigavelmente sem sofrer, sem chorar, ou implorar uma
volta.
Sempre que se reencontrarem, o ex terá que agüentar observar a vida
de sucesso, felicidade e independência que a mulher irradia. Além disso, o
sentimento de posse não pode ser mais manifestado porque ela não está mais
em suas mãos e tem uma nova vida, que ergueu sozinha. Ela deixa claro que
percebe o conflito que se instalará na cabeça do indivíduo ao afirmar “Olhos
nos olhos, quero ver o que você diz/Quero ver como suporta me ver tão feliz.”
Como será agora ao perceber que ele foi apenas um capítulo do livro da vida
dela, passageiro, fugaz e o seu abandono um passaporte para a felicidade?
Marina (Dorival Caymmi 1946)
Esta música demonstra um clássico expediente utilizado pelo homem,
que “carinhosamente” coloca seus sentimentos e comandos em evidência e
que os seus desejos não poderiam ser desobedecidos. Este tipo de
comportamento é o conhecido “alisa e aperta”, em alguns versos são utilizados
alternadamente carinho e comando.
A época em que o compositor-cantor Dorival Caymmi fez esta música,
na década de 1940, sua escrita demonstrava como um homem, de uma
sociedade patriarcal, deveria se comportar diante dessa situação. Marina deve
ter tido um exemplo para copiar, na opinião de Caymmi, um mau exemplo. Ela
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era uma “moça bonita”, e estava em perigo, segundo a concepção do seu
amado, isso porque Marina morena se pintou.
“Marina morena você se pintou/Marina você faça tudo, mas faça um
favor”
Esta fala é determinante de quem não aceita ser retrucado, mas logo
depois ele investe com doçura:
“que eu gosto que eu gosto e que é só meu”
É como falar “eu te amo, você é minha”. Esta sentença tem a intenção
de ser romântica, mas na verdade expõe o sentimento de possessividade
machista, como se Marina fosse propriedade privada dele.
Para finalizar ele apela ao Criador, dizendo:
“Marina, você já é bonita/ Com o que Deus lhe deu”
Ele tenta de todas as formas fazer Marina desistir de se pintar, ou
melhor, realçar ainda mais a beleza dela. Porém, ao que parece Marina não
aceitou os argumentos e continuou se pintando. Tampouco seu amado aceitou
e logo expôs sua insatisfação.
“Me aborreci,me zanguei/Já não posso falar/ E quando me zango,
Marina/Não sei perdoar”
Aqui ele deixa explícito que não aceitaria mais que ela ignorasse a
vontade dele e a lembra que quando se zanga não sabe perdoar, lembrando,
segundo ele que ela já havia “pisado na bola” anteriormente, demonstrando ser
uma pessoa ressentida.
“Eu já desculpei muita coisa/ Você não arranjava outro igual/Desculpe,
Marina morena/Mas eu tô de mal.”
A sublimação do ego e o machismo. Logo a seguir ele a inferioriza com
a intenção de ferir e punir dando-lhe um xeque-mate impiedoso, fim de papo.
O discurso machista é permeado em todos os versos, às vezes se
mostra como o macho sedutor, galante e poeta, quando na realidade a
intenção é coibir e manter sob controle. A controvérsia entre o casal ocorreu
porque Marina resolveu tomar uma atitude que para alguns conservadores e
machistas só as meretrizes ou atrizes, ou seja, mulheres de má fama faziam.
Marina morena quis aderir à moda, mesmo sendo subjugada a um amor
possessivo, ela ousou em insistir no prazer de se pintar, na descoberta de
perceber a sua beleza de uma maneira diferente.
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O período e cenário proposto pela canção eram de que a mulher
“honesta” era recatada e mais importante era ter um homem como quase um
dono do que estar sozinha.
O discurso feminista não era a tônica, mas a vaidade feminina sublevou
a uma regra de submissão que culminou quase ou a um desenlace.
Cor- de- Rosa Choque (Rita Lee Roberto de Carvalho 1981)
Rita Lee é especialista em escrever letras bem humoradas, sensíveis e
ao mesmo tempo ácidas e detentoras de grandes verdades. Esta música é um
grande exemplo disso. Foi escrita em 1980, especialmente para a abertura do
programa TV Mulher, da Rede Globo, que inovou ao tratar de temas femininos.
Logo nos primeiros versos ela aborda a questão da dualidade feminina,
a dicotomia existente, como por exemplo: “santa versus prostituta”. No caso da
música é “a bela versus fera”.
“Nas duas faces de Eva/ A bela e a fera/ Um certo sorriso de quem nada
quer.”
Ao citar Eva, a compositora traz a tona o duplo papel que a personagem
desempenhou: A primeira mulher existente e a “responsável” por introduzir o
pecado na raça humana.
Rita Lee deixa claro que “ser mulher” não é algo que pode ser definido
com uma só característica, há vários sentidos, complexidades que formam o
sexo feminino, e mesmo por apresentar estas características tão dicotômicas, a
mulher não perde este sentido de “ser mulher”. E para isso utiliza a figura
histórica de Eva, assim como os papéis que ela desempenhou.
Ela também aponta para o sorriso da mulher,que desconcerta, ilude e
seduz os homens, mesmo que aparentemente não tenha esta intenção.
Nos versos seguintes “Sexo frágil não foge à luta/ e nem só de cama
vive a mulher.” Rita Lee se apropria de um argumento largamente utilizado pelo
universo masculino, que identificava a mulher especificamente para “cama e
mesa”. Sendo assim, a sua principal função é a de satisfazer as vontades do
homem, cuidando da casa, uma “criada” e sexualmente. A sua área de atuação
seria o espaço doméstico. No entanto a compositora inverte esta posição e
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deixa claro que esta não é a única função da mulher, ela pode ser parceira
sexual do homem, porém pode muito mais mesmo sendo apontada como “sexo
frágil”, a mulher não se furta a se esforçar pelos seus interesses, mesmo que
isso a leve a um embate.
Em seguida ocorre um outro jogo de comparação ao se referir a cor- de-
rosa, normalmente associada ao universo feminino, por sua delicadeza,
inocência. Normalmente sempre traz à lembrança menininhas ingênuas. Mas
ao incorporar à expressão a palavra “choque”, ela demonstra que esta mesma
delicadeza pode ser substituída pelo confronto. A mulher tem uma identidade
diferente do homem, ela apresenta uma maior fragilidade; no entanto, quando
percebe que as suas possibilidades são reduzidas por uma ideologia machista,
ela apresenta uma nova faceta e a “fera” imerge para se defender.
Na próxima estrofe, Rita Lee aponta para a menstruação feminina com
uma naturalidade de causar espanto, isso acontece porque ela é uma mulher, é
uma situação que ocorre todos os meses com ela, não um bicho de sete
cabeças.
“Mulher é bicho esquisito/ Todo mês sangra/ Um sexto sentido/ Maior
que a razão.”
Nestes versos ela apresenta duas diferenças emblemáticas existentes
entre homens e mulheres: a primeira é o fato de a mulher possuir um ciclo
menstrual. Não há como negar que a mulher é comparada a um animal,
observando a expressão “bicho”, porém é importante levar em consideração
que a autora a diferencia dos outros animais, por apresentar um ciclo menstrual
mensal, coisa que nem sempre acontece no reino animal. A segunda diferença,
e não menos evocada é que a mulher exercita mais o seu sexto sentido em
detrimento da razão, ao contrário do homem, que tem a razão como forte
aliada.
Para arrematar com muito bom humor, a compositora diz:
“Gata borralheira/ Você é princesa/ Dondoca é uma espécie em
extinção.”
Fazendo uma relação com o conto de fadas “Cinderela”, em que ao
mesmo tempo em que ela vivia em meio ao borralho (cinzas) tinha a
oportunidade de ter seu momento de princesa e que não se acomodava nele,
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porque com as mudanças ocorridas no mundo, ela teria que andar com seus
próprios pés, sem esperar uma carruagem.
Sua estupidez (Roberto Carlos e Erasmo Carlos 1969)
Nesta música é apresentada uma postura tipicamente masculina em que
o homem se apresenta como o que profere o discurso da verdade (até porque
ele é o narrador da situação) e se coloca em posição de conselheiro da mulher.
É uma música piegas, o que muda completamente o seu sentido e, ao mesmo
tempo é objetiva, captando este momento de tensão de maneira
impressionante e realista.
Ele inicia seu discurso num tom carinhoso e súplice, demonstrando
deferência pela sua amada.
Meu bem, meu bem/ /Você tem que acreditar em mim/ Ninguém pode
destruir um amor assim/ Um grande amor/ Não dê ouvidos a maldade alheia.”
Nesses versos ele mostra que o amor deles está sendo posto a prova,
ele se sente injustiçado pelos comentários que estão sendo tecidos e que em
sua opinião não tem força suficiente para destruir o relacionamento.
Em seguida ele ataca incisivamente:
“Creia/ Sua estupidez não lhe deixa ver que eu te amo.”
Ele a acusa de agir de maneira irracional, e como forma de
contrabalancear o ataque, ele recorre à famosa frase “eu te amo”.
Nos próximos versos, ele continua expondo de maneira incisiva e até
mesmo agressiva o que este estado emocional apresentado pela amada pode
ocasionar, inclusive até ironicamente apela para o uso da inteligência. Ele
acaba por menosprezar a inteligência dela, apontando para uma incapacidade
intelectual no afã de convencê-la de seu amor.
“Meu bem, meu bem/ Use a inteligência uma vez só/Quantos idiotas
vivem só/ Sem ter amor/ E você vai ficar também sozinha/ E eu sei porque/ A
sua estupidez não lhe deixa ver que eu te amo.”
É interessante perceber nesta música a alternância entre ofensas e
declarações de amor, mas de uma maneira muito peculiar, típica de Roberto
Carlos. Ele parece se apropriar da máxima: “Vale tudo na guerra e no amor.”
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Sempre apelando para uma postura mais prudente da amada, tentando sempre
a reconciliação e alertando para que racionalize a situação.
“Quantas vezes eu tentei falar/ que no mundo não há mais lugar/ Pra
quem toma decisões na vida sem pensar/ Conte ao menos até três/ Se precisar
conte outra vez/ Mas pense outra vez.”
Na última estrofe percebe-se claramente que o homem está chegando
ao limite, depois de alternar seqüencialmente em frases arrebatadoras e
carregadas de lamúrias ele finaliza lançando mão de que ela não terá nada
melhor do que o amor dele, “que é bem maior do que tudo que existe”, se não
ela aceitar que essa é a “verdade”.
“Meu bem, meu bem/ Sua incompreensão já é demais/ Nunca vi alguém
tão incapaz/ De compreender/ Que o meu amor é bem maior do que tudo/ que
existe/ Mas a sua estupidez não lhe deixa ver que eu te amo.”
Garota de Ipanema (Vinícius de Moraes e Tom Jobim 1962)
Um clássico da MPB, música já executada e gravada mais de 169 vezes
em várias línguas. Por causa do seu sucesso inspirou um filme homônimo em
1967. Sempre chamou atenção pela poesia sofisticada e melodia delicada.
Essa música é notável porque Vinícius suaviza a imagem da mulher na MPB,
numa época em que a mulher era considerada a grande vilã, responsável pelo
sofrimento do homem. Ele não se apresenta com o machismo que era comum
à MPB, mas como admirador e incentivador dessa graça inerente a cada
mulher.
“Olha que coisa mais linda/ Mais cheia de graça/ É ela, menina/ Que
vem e que passa/ Num doce balanço/ Caminho do mar...”
Nos duas primeiras estrofes é interessante destacar a relação
harmoniosa traçada entre a beleza natural da mulher em contraponto com a
beleza da natureza do bairro de Ipanema. Evidenciando como a ação da
natureza realça a beleza da garota. A ginga dos quadris na visão dos autores,
de tão perfeito, já era considerado mais que um poema. O que faz um poema?
Por intermédio de sua estrutura complexa, descreve coisas belas. Os
compositores ficaram tão extasiados que afirmaram que encontraram uma
perfeição antes nunca vista.
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“Moça do corpo dourado/Do sol de Ipanema/ O seu balançado/ É mais
que um poema/ É coisa mais linda/ Que eu já vi passar.”
Na terceira e quarta estrofe o poeta expõe com tristeza a infelicidade de
não ter esta musa ao seu lado. Ele ratifica a beleza que tanto o encantou, mas
que é de domínio público dos que a vêem andar pelo bairro. Mesmo não
sabendo, a bela garota exercia um efeito transformador no mundo do poeta,
que ficava leve, bonito, alegre por causa do amor platônico que ela despertava
nele, mesmo que ele não pudesse tê-la, aquela visão trazia uma satisfação por
vê-la passando sozinha, como se partilhasse da mesma solidão que ele sentia.
“Ah, por que estou t ao sozinho/Ah, por que tudo é tão triste/ Ah, a beleza
que existe/ A beleza que não é só minha/ Que também passa sozinha...
Ah, se ela soubesse/ Que quando ela passa/ O mundo sorrindo/ Se
enche de graça/ E fica mais lindo/ Por causa do amor...”
3.3 Tipos de Representações sobre a mulher na MPB (dentro do discurso
dos compositores analisados)
A seguir, uma lista contendo as representações femininas que foram
encontradas nas músicas analisadas. Cada compositor foi analisado
separadamente e ao lado do nome de cada música há o (s) número(s)
correspondente (s) a análise.
1. Sujeição (submissão), subserviciência
2. Vingança
3. Adultério
4. Discurso da verdade proferido pelo homem, aconselhador (Barbosa
2004)
5. Perfídia/ Falsidade, interesse
6. Menosprezo (abandono) da mulher; Mulher que abandona;
7. A idealização da mulher como musa
8. Visão da mulher no cotidiano doméstico/ maternidade
9. Responsável pela aflição do homem; responsável pela aflição da mulher
10. Dualidade feminina (Santa versus vadia)
11. Conflito entre o sentimento e a racionalidade
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12. Mulher intelectualmente desprezada/ Aversão ao feminino
13. A sensualidade da mulher, desejo
14. Maior consciência autonomia (Ruptura com o discurso dominante),
(Barbosa 2004)
15. Inocência
16. Consciência da sensualidade, da sexualidade
17. Fraqueza, mediocridade feminina
18. Imanência x Transcendência; Discurso da espera feminina
19. Cumplicidade
20. Fantasia, imaginário (ilusão), saudade.
Músicas analisadas divididas por compositores
Roberto Carlos
A atriz: 4, 7, 9,13,14
A cigana: 20
A garota do baile: 20, 7, 9
A mulher que eu amo: 13, 4, 7
Acróstico: 4,7
Amada amante: 4, 13, 14
Amante à moda antiga: 4
Amiga:1, 4,9, 17
Amigo não chore por ela: 9
Amor antigo: 9
Amor sem limite: 7
Ana: 9,
Aquela casa simples: 8
Arrasta uma cadeira: 7, 19
O broto do jacaré: 20
Cama e mesa: 13
Caminhoeiro: 13
Cavalgada: 1,13
Cheirosa:13,16
Coisa bonita: 7,13
Comandante do seu coração:1
Como as ondas voltam p/ o mar:20
Costumes: 8,20
Detalhes: 11
Do fundo do meu coração: 6
É meu, é meu, é meu: 1
É proibido fumar: 13
Eu sou fã do monoquíni: 13
Fim de semana: 8
João e Maria: 14
Lady Laura: 8
Louco não estou mais:9
Lua nova: 20
Menina: 13, 14
Meus amores da televisão: 7,20
Mexerico da Candinha: 4
43
Minha senhora: 14
Minha tia: 8
Mulher de 40: 14
Mulher pequena 13
Namoradinha de um amigo meu: 7
Nêga: 7
O amor é a moda: 4
O cadillac: 20
O charme dos seus óculos: 13
O divã: 8
O encontro:20
O grande amor da minha vida:15
O Grude: 13, 19
O que é que eu faço? :14
O Taxista: 8
O velho caminhoneiro: 8, 20
Obsessão: 7,20
Oh, meu imenso amor: 9
Olha: 4, 14
Os sete cabeludos: 5
Os seus botões: 4, 13
Papo de esquina: 4
Parei na contramão: 20
Pobre de quem me tiver depois de
você: 1, 19
Primeira Dama: 8, 13,
Procura-se: 13
Proposta: 13, 14
Quando as crianças saírem de
férias: 8, 13
Romântico: 4
Rotina: 8
Se diverte e já não pensa em mim:9
Se você disser que não me ama:14
Símbolo sexual:13, 16
Sinto muito, minha amiga: 14
Sua estupidez: 4,12
Susie: 7, 13
Todo mundo me pergunta: 19,20
Você é linda: 8
Você é minha: 13,16
44
Dorival Caymmi
A vizinha do lado: 7, 16
Acontece que eu sou baiano: 13
Adeus da esposa: 8
Dora: 13, 20
Doralice: 14
Francisca Santos das Flores: 9
Lá vem a baiana: 4, 16
Marina: 4, 6
Modinha para Gabriela: 14
Modinha para Teresa Batista: 14, 16
Morena do mar: 7
O dengo que a negra tem: 4
O mar: 4
O que é que a baiana tem: 4, 13, 16
Rainha do mar: 7
Requebre que eu dou um doce: 13
Rosa Morena: 14
Tia Anastácia: 8
Vamos falar de Tereza: 4
Você não sabe amar: 6
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Rita Lee
A fulana: 14
Barata tonta:
Baila comigo: 10
As mina de Sampa: 10
Balacobaco: 8
Beijo exagerado: 13
Bela BB: 4
Bem me quer: 10
Benvinda: 9
Benzadeusa: 10
Bwana: 1, 17
Chega Mais: 13
Cinderela Aparecida: 10
Círculo Vicioso: 4
Colombina: 9
Coração babão: 17
Coração em crise: 4
Cobra: 14
Cor-de-rosa choque:4, 10, 14
De pés no chão: 16
Dias melhores virão: 9
Doce de pimenta: 14
Doce vida: 10
Dona Doida: 20
E você ainda duvida: 4
Elvira pagã: 10
Entre sem bater: 17
Erva venenosa: 5
Esse tal de Roque enrow: 4
Eu e mim: 10
Favorita: 13
Fonte da juventude: 4
Jardim de Allah: 10
Lança perfume: 13
Livre outra vez: 14
Loco-motivas: 5
Luz Del fuego: 10
Mania de você: 13,16
Maria mole: 4
Melodia inacabada: 11, 14
Menino bonito: 11
Menopower:4
46
Mentiras: 17
Miss Brasil 2000: 4
Muito prazer, Zezé: 14
Mutante: 14, 17
Nunca fui santa: 14
Ovelha negra: 14
Pagu: 10, 14
Paixão da minha existência
atribulada: 16
Pecado original: 19
Pega rapaz: 13, 16
Perigosa: 14, 16
Perigosíssima: 1, 13
Piccola Marina: 13
Rebeldade: 4
Saúde: 14
Scarlet Moon: 4
Shangri-lá: 14
Strip- tease: 13, 16
Sucesso, aqui vou eu: 14
Tão: 4
Tataratlantes: 14
Tatibitati:11, 14
Tentação do céu: 13
Todas as mulheres do mundo: 4,14
Tratos à bola: 14
Vingativa: 2, 9
Você vem: 11, 17
Yoko ono: 16
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Vinícius de Moraes
A mulher carioca: 4
Acende uma lua no céu: 7
Andam dizendo: 9
Apelo: 3
Aula de piano: 4
Balada da flor da terra: 7
Barquinha Barquinha: 20
Blues para Emmet: 8
Bocochê: 20
Brigas nunca mais: 19
Broto maroto: 7
Broto triste: 4
Cala, meu amor: 8, 19
Canção do amor ausente: 13, 20
Canção para alguém: 20
Canção para grande amor: 6, 18
Cantiga da ausente: 20
Canto triste: 20
Cavalo Marinha: 8
Cem por cento: 4
Certa Maria: 4, 9
Chega de saudade: 20
Coisa mais linda: 7
Como é duro trabalhar: 13
Desalento: 14
Doce ilusão: 20
Ela é carioca: 4
Essa menina: 4, 10, 16
Eterno retorno: 3, 6
Formosa: 4
Fuga e antifuga: 1
Garota de Ipanema: 7
Garota porongondon: 4, 13
Gilda: 20
Grande paixão: 9, 20
Labareda: 4
Lamento: 9, 14
Lamento no morro: 20
48
Linda baiana: 7
Loura ou morena: 13
Luciana: 4
Maria: 7
Maria da Graça: 4, 7
Maria Moita: 8
Maria vai com as outras:10
Melancia e côco verde: 13
Menina das duas tranças:4
Menininha: 15
Minha desventura: 15, 20
Minha namorada: 1, 7, 19
Morena Flor: 7
Mulata no sapateado: 4, 13
Mulher, sempre mulher:4, 5, 6,
No colo da serra: 19
O astronauta: 7
O beijo que você não quis dar: 14
O céu é o meu chão: 9
O nosso amor de criança: 13, 15
O que tinha que ser: 18
Olha Maria: 14
Para viver um grande amor: 14
Parece que ela vai de samba: 4, 17
Passe bem: 6
Pobre menina rica: 4
Poema dos olhos da amada: 7
Por toda a minha vida: 7
Por você: 4, 7
Primavera: 20
Rancho das namoradas: 7
Regra três: 1, 6, 14
Samba da benção: 4
Samba em prelúdio: 20
São demais os perigos desta vida: 4
Se ela me chamar eu vou: 6, 14
Se ela quisesse: 4
Serenata do Adeus: 9
Só por amor: 1
Também quem mandou: 20
Taquicardia: 7, 14
Testamento: 14
Tristeza e solidão: 9
Um nome de mulher: 9
Valsa de Eurídice: 6, 17
Valsinha: 18
49
Chico Buarque
A Bela e Fera: 7
A história de Lily Braun: 11
A mais bonita: 16
A moça do sonho: 20
A mulher de cada porto: 11
A noiva da cidade: 4
A ostra e o vento: 15
A Rita: 2, 14
A Rosa: 5
A violeira: 14
Abandono: 6
Acalanto para Helena: 15
Ai se eles me pegam agora:10
Alumbramento: 4
Ana de Amsrterdam:10, 14
Angélica: 8
Anos dourados: 20
Aquela mulher: 14
As atrizes: 16
As minhas meninas: 15
Até segunda-feira: 8
Atrás da porta:1,2,6
Bandolim: 7
Barbara: 14
Beatriz: 4
Bem querer: 14
Benvinda: 20
Biscate: 3
Bolero Blues: 20
Bolsa de amores: 5, 6
Cala a boca, Bárbara: 14
Cambaio: 4
Carolina: 4
Casa de João da Rosa: 8
Cecília: 13
Ciranda da bailarina: 4
Com açúcar e com afeto: 1,8
Cotidiano: 8,18
Deixe a menina: 13
Desafio do malandro: 1
Desalento: 14
Desembolada: 14
Desencontro: 20
Dura na queda: 12
Ela desatinou: 12
Ela é dançarina: 8, 19
50
Ela e sua janela: 18
Ela faz cinema: 14
Essa moça tá diferente: 14
Essa passou: 9, 14
Eu te amo: 14
Feijoada completa: 8
Flor da idade: 7, 14
Folhetim: 14
Fora de casa:
Geni e o zepelim: 10, 12
Grande hotel: 13, 16
Iracema voou:14
Januária: 7
Joana Francesa: 14
João e Maria: 20
Jorge Maravilha: 14
Lábia: 13, 16
Las muchachas de Copacabana:14
Logo eu?:8
Luísa: 14
Madalena foi pro mar: 6
Mambordel: 14
Mano a mano: 9
Mar e Lua: 14
Meio dia meia lua: 20
Meu namorado: 1
Mil perdões: 3, 14
Morena de Angola: 7
Morena dos olhos d´água: 18
Mulher, vou dizer o quanto te amo:7
Mulheres de Atenas: 1, 8
Não fala de Maria:9
Noite dos mascarados: 14, 20
Novo amor: 6,18
O casamento dos pequenos
burgueses:8
O meu amor: 3, 16
O meu guri:8, 15
O último blues: 17
Olha Maria: 14
Olhos nos olhos: 14,16
Opereta de casamento: 10
Palavra de mulher: 14
Porque era ela, porque era eu: 19
Primeiro de maio: 7
Quem te viu, quem te vê: 4
Renata Maria: 7
Samba do grande amor: 5
Samba e amor: 13
Se eu fosse o teu patrão: 1,8
Sem açúcar: 1
Sentimental: 6, 14
Será que Cristina volta?: 20
Sílvia: 14
Sinhazinha (Despedida): 14
Sinhazinha (Despertar):4
Sob medida: 14
Sol e chuva: 11
Soneto:1
Sonhos sonhos são: 20
Sou eu: 14
Tablados: 10
Tango de Nancy: 11
Tango de covil: 7
Tanta saudade: 20
Tanto amar: 7
Tatuagem: 14
Teresinha: 1, 18
51
Teresa tristeza: 4
Tororó: 10
Uma canção inédita: 7
Uma menina: 4
Umas e outras: 10
Valsinha: 18
Veneta: 11, 14
Vida: 11
Você não ouviu: 5
52
CONCLUSÃO
Para realizar esta pesquisa foi necessária uma pesquisa intensa sobre
as obras dos compositores analisados, atentando para os discursos que
permearam e ainda permeiam a sociedade, e assim chegamos ao discurso do
homem sobre a mulher que tanto se fez presente nas músicas analisadas.
Embora tenha escolhido compositores que na história são considerados
mais progressistas em relação à mulher, foi observado que as influências do
sistema patriarcal ainda estão muito presentes, sendo assim, o discurso em
diversos momentos corrobora os estereótipos que são atribuídos à mulher.
Santos (2010) apud Hamilton (1993): “O estereótipo é uma estratégia de
simplificação da realidade, um atalho que tomamos para poder compreendê-la
e analisá-la. E é algo mais: é a expressão e a projeção de opiniões e
sentimentos de determinados coletivos a respeito dos outros; é a expressão de
nossas tradições socioculturais e, é finalmente um baluarte para defender
nossas posições.” (94)
Notadamente a mulher sempre foi tratada de modo desigual na
sociedade, e quando estes discursos corroboram os estereótipos contribuem
para que a mulher assimile e acomode esta visão construída pelo homem e
assim, ela perca a oportunidade de assumir, ser a protagonista da sua própria
história. Essa história vem de longe, pois a mulher em certas ocasiões, durante
a história, que a mulher era vista como uma “ameaça” para a sociedade. O seu
lado intuitivo poderia a qualquer momento desafiar o que era considerado o
“ideal”, sendo assim deveria ser coibido, escondido, moldado, transformado em
algo apresentável pela sociedade. A mulher deveria ser mantida sob controle,
guardada (escondida) em casa. Santos (2010 p.1) fala sobre o assunto:
“As diferenças construídas e reproduzidas entre as mulheres e homens
é uma brutal expressão de um sistema baseado no poder de dominação
(desigualdade, opressão, discriminação). Tradicionalmente foi considerado um
53
sistema que excluía as mulheres dos processos de produção e as submetia a
um exclusivo papel de reprodução dentro de um marco familiar.”
Esta situação tinha um grande apoio da igreja, continua Santos (2010
p.2)
“Daí que a divisão do trabalho tenha confinado a mulher durante séculos
dentro de casa e, para justificá-lo, o capitalismo e os organismos religiosos
levantaram um grande mecanismo ideológico e potenciava a idéia de que a
mulher era inferior ao homem.”
Retomando a pesquisa, foi observado que os compositores trouxeram
um novo olhar sobre a mulher, ela já não era apresentada como a grande vilã,
mas dividiam com ela a parcela de culpa.
Vale à pena analisar cada compositor separadamente.
Rita Lee apresenta diversos olhares acerca da mulher, falando com
muita propriedade sobre assuntos femininos que o homem não consegue
compreender totalmente. Ela se apropria de discursos e elementos históricos
notadamente masculinos e associar com humor, inteligente e ironia ao feminino
e ao fazer isso abrange muitas áreas que não foram discutidas. A dualidade
vadia x santa é muito tratada na obra da compositora, mas de uma maneira
que a mulher não era agredida por essa dicotomia, mas que tinha direito de ser
e escolher como viver.
Chico Buarque tem uma maneira muito interessante e sensível de
descrever a mulher, ele parece penetrar na alma dela e visualizar detidamente
o que se passa lá dentro. Muitos artigos já foram escritos analisando este fato.
Perceptivelmente as músicas de Chico valorizam a mulher através dos olhos
do homem. Durante a pesquisa foi impressionante a quantidade de músicas
que Chico se dedica a observar o universo feminino. As letras são bem
construídas e largamente analisadas.
Roberto Carlos falou muito sobre a sensualidade da mulher, do desejo
que sentia por ela e a realização desse desejo. Não foram raros os momentos
em que ele resvalou num discurso machista e patriarcal para justificar este
desejo. Mas como um dado interessante da sua obra, a mulher era
normalmente sua cúmplice, amiga, além de ser amante e não era considerada
como a culpada- mor do que acontecia no relacionamento. Suas letras são
54
delicadas e habilidosas, e mesmo quando apontavam crise no relacionamento
eram escritas muita sensibilidade, pois isso arrebanhou uma multidão de fãs,
em muitos momentos ele escreve o que a mulher quer ouvir.
Dorival Caymmi tem letras bem diretas e objetivas, demonstrando
sensibilidade e delicadeza, evidenciando a beleza e sensualidade da mulher
brasileira. Apesar de ter começado a escrever numa época em que a mulher
era responsabilizada por tudo, não se associou a este pensamento, embora em
raros momentos deixasse transparecer um machismo herdado de anos de
dominação patriarcal.
Vinícius de Moraes foi especialista em elogiar a mulher, colocá-la numa
posição de musa. Em algumas canções, foi observado que retratava a mulher
numa posição de fragilidade, reduzindo-lhe as possibilidades se não estivesse
amparada por um homem. Castro (1999) afirma que antes de Vinícius as
mulheres eram tratadas como párias, e que ele transformou essa realidade. É
uma declaração forte e que não pode ser corroborada, levando em
consideração a obra de Dorival Caymmi, mas não se pode deixar de falar que
Vinícius foi o grande incentivador do elogio e respeito à mulher a partir da
segunda metade do século XX.
É perceptível que ainda existem estereótipos acerca da mulher na MPB,
mas estes compositores se esforçaram para que ela fosse cantada de outras
maneiras. A feminilidade em suas composições adquiriu novas nuances para
que a sua voz fosse ouvida e respeitada, incentivando que a mulher assumisse
a escrita da sua vida e fosse protagonista da sua história.
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ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 >> Cd com músicas dos compositores Anexo 2 >> Apresentação em Power Point
56
57
ANEXO 1
58
ANEXO 2
59
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