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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DO SUPERVISOR
EDUCACIONAL NA ANÁLISE E INTERVENÇÃO DO FRACASSO
ESCOLAR
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Administração
e Supervisão Escolar
Por: Adriana da Silva Costa Vicente
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DO SUPERVISOR ESCOLAR
NA ANÁLISE E INTERVENÇÃO DO FRACASSO ESCOLAR
Por: Adriana da Silva Costa Vicente
Orientador
Profª Mary Sue Pereira
Niterói
2011
3
AGRADECIMENTOS
Ao Joaquim, Carolina e Vinicius, pelo
apoio recebido, dispensando todo
carinho, compreensão e incentivo
nessa minha nova busca profissional.
4
DEDICATÓRIA
Dedico a Deus, pela força espiritual nos
momentos difíceis, aos meus pais pelo
que sou hoje, a minha família pelo
caminhar juntos não me deixando
desanimar.
5
RESUMO
O fracasso escolar é o sintoma da crise educacional brasileira,
configurando-se em uma questão preocupante para educadores. Sendo assim,
esta pesquisa inicialmente retrata a evolução da educação numa retrospectiva
histórica do fracasso escolar no Brasil, possibilitando compreender a amplitude
desta questão. Cita a importância de refletir sobre a necessidade de
transformar os fatores e relações intra-escolares, como condição necessária
para minimizar o fracasso escolar possibilitando a escola o cumprimento pleno
do seu verdadeiro papel que é o de criar condições para o êxito do aluno frente
à aprendizagem escolar. Busca analisar o papel do supervisor escolar frente ao
fracasso escolar, sua contribuição e investigação dos processos que
impossibilitam a aprendizagem. Aborda também como este profissional pode
atuar na prevenção do insucesso escolar tornando-se um agente de
transformação auxiliando na formação de indivíduos mais atuantes e pensantes
dentro da sociedade.
6
METODOLOGIA
O trabalho foi desenvolvido através da leitura de várias fontes de
pesquisa que auxiliaram a análise do objeto de estudo. Para fundamentação
teórica houve a leitura de vários livros de autores conceituados que abordam o
tema do trabalho. Foram utilizadas também pesquisas de leis e artigos
relacionadas a educação.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Evolução da Educação numa 11
Retrospectiva Histórica do Fracasso Escolar no Brasil
CAPÍTULO II - Análise do Fracasso Escolar: 19
Fatores e Relações Intra- Escolares CAPÍTULO III – O Supervisor Educacional e suas 28
Contribuições frente ao Fracasso Escolar
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38
ÍNDICE 40
FOLHA DE AVALIAÇÃO 41
8
INTRODUÇÃO
O objeto de estudo deste trabalho nasceu a partir da necessidade de se
pesquisar as origens do fracasso escolar, traduzindo a supervisão escolar
como potencial de análise e intervenção.
A supervisão escolar, como campo de construção interdisciplinar, vem
contribuir para a precisão de uma abordagem mais completa e efetiva sobre o
insucesso escolar auxiliando a compreensão e atuação nos impedimentos de
aprendizagem.
A problemática dos alunos que não conseguem alcançar a
aprendizagem dos conteúdos formais, na maioria das vezes, não é solucionada
dentro da escola pelo professor ou equipe gestora, e sim por profissionais
desvinculados da prática pedagógica.
A necessidade de uma intervenção eficaz para o enfrentamento do
fracasso escolar é verdadeiro e eminente, o que faz aumentar a procura de
subsídios na atuação do Supervisor Educacional.
É evidente que existem fatores externos à escola que, de certa forma,
podem provocar conseqüências na aquisição da aprendizagem em alguns
alunos, tais fatores apresentam uma perspectiva ampla e permeiam os demais
(intra-escolares e individuais do aluno); uma vez que abrangem o
funcionamento da sociedade, sua cultura, estruturação política, economia e as
demais instâncias que nos cercam.
Nos últimos anos, a pesquisa em relação à escola tem tomado novas
abordagens, porém as características da clientela que continuam sendo
ressaltadas são as mesmas dos anos 70, mais especificamente na teoria da
carência cultural.
9Hoje já é realidade o aumento do número de vagas nas escolas,
garantindo o acesso de grande parte da população brasileira à educação, mas
ainda não houve a melhoria da qualidade de ensino, acarretando, até os dias
atuais, altos índices de exclusão escolar provocados pela evasão e repetência
que são fontes geradoras do fracasso escolar.
Na busca da qualificação em novas propostas de ensino, devem ser
levado em consideração questões que poderiam ocasionar esse fracasso: o
posicionamento da própria unidade escolar por não se adaptar ao aluno, a
adequação dos verdadeiros objetivos escolares, se a escola está realmente
interessada no desenvolvimento cognitivo, afetivo e social do aluno. Pode-se
também considerar as questões ligadas ao distanciamento cultural dos temas
explorados, à linguagem do professor e ainda à metodologia adotada.
As questões levantadas levam a pensar na importância do Supervisor
Educacional no campo da análise e intervenção no fracasso escolar.
Para melhor entendimento, foi traçado inicialmente uma retrospectiva do
fracasso escolar no Brasil, proporcionando uma melhor compreensão da
extensão deste tema e a necessidade em abordá-lo de modo ético. Os fatores
e relações intra- escolares são abordados neste trabalho, pois uma das
particularidades das investigações do fracasso escolar é acrescida com a
pesquisa da participação do próprio sistema escolar como sendo causador do
tal fracasso, através da atenção ao que se convencionou chamar de fatores e
relações intra-escolares. Também é evidenciada neste estudo a importância da
atuação do Supervisor Educacional frente à questão do fracasso escolar e sua
contribuição na busca de maior compreensão das transformações pelas quais
passa a sociedade brasileira hoje, levando a escola a repensar o seu papel
político.
10Sendo a escola um espaço eminentemente social, é da sua
responsabilidade que o aluno chegue à aprendizagem, entendendo sua
importância, para encontrar o que precisa saber a fim de interagir com o meio
social, trabalhar em equipe, desenvolvendo valores de autonomia, respeito e
solidariedade. Enfim, dando ao aprendizado um sentido de vida e não de
preparação para a vida.
Mais do que nunca a pesquisa levanta a necessidade do Supervisor
Educacional assumir um papel de mediador privilegiado exercendo um olhar
mais cuidadoso, responsável, investigativo e provocador, conduzindo às
intervenções pedagógicas adequadas, através da criação de propostas de
trabalho significativas, intencionais e planejadas para que os alunos avancem
na construção de novos patamares. Nesse sentido, ser supervisor é direcionar
o trabalho pedagógico para um olhar onde possa ver a realidade, é realizar
uma ação voltada para um mundo mais justo e igualitário, valorizar os sujeitos
enquanto construtores do seu próprio desenvolvimento.
As pesquisas mostram que o problema do fracasso escolar está muito
mais ligado a escola que ainda se mantém estática num mundo onde as
transformações acontecem rápidas, do que nos alunos considerados incapazes
de aprender.
A escola tem como uma de sua funções, formar homens aprendentes,
críticos, conscientes das dificuldades que os cercam, capazes de tomarem
decisões defendendo para si e para sua comunidade o direito da cidadania,
homens competentes politicamente.
É dever do supervisor educacional atual, ampliar sua visão sobre o
trabalho na escola, buscar sempre atuar no contexto, ter uma visão de
totalidade da instituição escolar, interna e externamente e estar totalmente
inserido no processo de ensino e de aprendizagem dando sua contribuição
para que o fracasso escolar não seja mais o sintoma da crise brasileira.
11
CAPÍTULO I
EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO NUMA RETROSPECTIVA
HISTÓRICA DO FRACASSO ESCOLAR
Numa releitura da história educacional brasileira, podemos dizer que a
educação sempre esteve voltada para modelos importados e para atender a
classe dominante, sem a preocupação de se discutir a realidade que, em
termos gerais, deixava de ressaltar a relação entre o meio no qual a educação
acontecia.
Na Pedagogia Liberal Tradicional, o professor exercia a mera função de
transmitir conhecimentos, regras, pensamentos e os hábitos da sociedade. Seu
objetivo era de um ajustamento de todos à sociedade, a fim de respeitarem o
poder defensor da prática social, para assegurar a continuidade desejada.
Este sistema estava garantindo o domínio social, cultural e econômico
de uma minoria letrada, o que atendia os interesses da elite dominante.
A revolução de 30 foi o marco referencial para a entrada do Brasil no
mundo capitalista de produção. A acumulação de capital, do período anterior,
permitiu com que o Brasil pudesse investir no mercado interno e na produção
industrial. A nova realidade brasileira passou a exigir uma mão de obra
especializada e para tal era preciso investir na Educação.
O conceito de aprendizagem sofre conseqüências da revolução
tecnológica e, automaticamente incorpora mais essa dimensão.
12Surge o movimento Escalanovista, influenciado por John Dewey e
William Kilpatrick( Modelo Norteamericano de Educação ). Nesta época surge a
pedagogia Liberal Renovada Progressista (Pedagogia da Escola Nova), onde a
escola teria a função democrática de equalizar oportunidades. Eis aí, segundo
alguns teóricos, o chamado “otimismo ingênuo” ou, ainda, a “ilusão liberal” da
Escola Nova. A Tendência Pedagógica denominada Pedagogia Liberal
Tradicional permanecia no contexto social.
O atendimento às crianças pobres continuava a ocorrer em asilos, não
era reconhecido o direito de freqüentarem uma escola regular.
Pedagogos liberais procuraram corrigir as origens da educação,
colaborando para uma pedagogia amparada nos conhecimento da Psicologia
sobre o desenvolvimento infantil, buscando a participação ativa do aluno no
processo de aprendizagem.
Nessa evolução, as atenções para o aspecto qualitativo reduziram-se à
expansão quantitativa, preocupando-se em ajustar a escolarização aos
interesses das classes dominantes.
Com a cooperação da escola Nova e Psicologia, começou-se a cogitar
possíveis fatores responsáveis pelo fracasso escolar como a estrutura e
funcionamento da escola, sendo assim, abre outras possibilidades de pesquisa,
desviando o foco do aluno, das causas externas e ambientais como as únicas
justificativas para o fracasso escolar.
A Escola Nova evidenciou uma queda na qualidade de ensino e não
conseguiu modificar as estruturas organizacionais dos sistemas escolares,
apresentando sinais de esgotamento e frustração.
13Nos anos 50, 60 e 70 o Brasil passa por um momento de desenvolvimento
econômico e industrial, além disso, surgem os Movimentos Sociais e
Estudantis que culminaram com a Ditadura Militar. A escola é vista como um
Aparelho Ideológico do Estado e, como tal, usada para manter o
Entretanto nada mudou, a criança pobre continuou sendo rotulada e
marginalizada, o que justificava sua internação e seu afastamento do convívio
familiar e social.
Alguns pedagogos dirigiam-se para o ponto de vista da estrutura e
funcionamento do ensino, e outros educadores e psicólogos demarcam seu
diagnóstico do fracasso escolar, baseados na apreciação das características
psicológicas, biológicas e sociais da clientela escolar.
Nos anos 70, predomina a defesa da escola pública, de sua reforma e a
procura de respostas para as questões educacionais brasileiras ainda
buscando o conhecimento de outros países. Nesta época estavam manifestos
os princípios da carência cultural e reprodutivista, conhecida como Escola
Aculturalista. Os assuntos eram precedentes da bibliografia educacional
norteamericana, com tecnologia aplicada ao ensino.
Surge então, a Pedagogia Liberal Tecnicista que predomina em função
da necessidade da formação de mão de obra qualificada e as idéias de
burocratização do ensino – nasce aqui os Especialistas em Educação.
Até meados dos anos 70, valia nas investigações sobre o fracasso
escolar as reflexões que se preocupavam com a proporção relacional no
processo ensino aprendizagem, salientando a importância da relação professor
e aluno. Cabe ressaltar que nesta época a Pedagogia Tecnicista dominava e a
dimensão biopsicossocial era desprezada segundo plano.
14Proença (1998) afirma que até a década de 80, nos trabalhos realizados
em torno do fracasso escolar, não se ouvia o aluno, suas emoções e
pensamentos não eram respeitados e não tinham importância, como se o aluno
fosse incapaz de falar sobre o seu processo de escolarização.
Ainda nessa época, as pesquisas sobre o fracasso escolar são
influenciadas pela Antropologia e passam investigar o aluno no seu contexto
escolar e familiar, o que cooperou para demonstrar que os fatores intra-
escolares foram propiciadores do fracasso escolar, refletidos pela inadequação
da escola à realidade onde ela está inserida, não respeitando as diversidades
culturais.
Segundo Souza (1997) a década de 80 ficou marcada, garantindo o
acesso de grande parte da população urbana à educação, não assegurando a
melhoria da qualidade do ensino.
No final da década de 70 e o início da década de 80, é que começou a
surgir a preocupação com as crianças e jovens de classes populares.
Em 1996 e 1997, o índice de repetência no ensino fundamental continua
acentuado, daí o surgimento da proposta de progressão continuada nos
sistemas estaduais e municipais de ensino.
Em 1996, 65% dos alunos precisavam de mais de doze anos para concluir o
ensino fundamental. No mesmo ano foi criado o Programa de Aceleração de
Aprendizagem pelo Ministério da Educação e Cultura, visando recuperar os
alunos em defasagem idade/série.
Hoje já está sendo defendida, por inúmeros educadores, a organização
educacional por ciclos, um caminho para combater o fracasso escolar, onde a
proposta não é fragmentar a aprendizagem e sim, respeitar o ritmo de cada
indivíduo privilegiando o seu desenvolvimento global. Trata-se de adotar uma
nova atitude perante a aprendizagem, que passa a ser entendida como
processo contínuo, e não como produto estanque e acabado.
15Existem duas concepções sobre os ciclos de aprendizagem, assim
esclarecendo;
“No pólo mais conservador, quase nada muda na
organização do trabalho, nos programas, nas práticas de
ensino aprendizagem, nas progressões, na avaliação;
fala-se de ciclos plurianuais, os textos oficiais são escritos
nessa linguagem, porém, na prática, operam as mesmas
categorias mentais, cada um mantém sua turma e
trabalha com um horizonte anual, os professores
continuam a passar seus alunos para os colegas no final
do ano; em certos casos, pratica-se até mesmo a
reprovação dentro de um ciclo.”No pólo mais inovador, os
ciclos de aprendizagem são sinônimo de profundas
mudanças nas práticas e na organização da formação e
do trabalho escolar; é uma verdadeira inovação, que
assusta uma parcela dos professores e dos pais e requer
novas competências.” ( Perrenoud,2004p.13)
No Brasil, em alguns estados e municípios foram implantados os ciclos
de aprendizagem na concepção conservadora, pois os ciclos plurianuais
quebrariam todo um sistema educacional onde ainda é praticada a reprovação.
Mesmo que possamos não concordar com a forma como foram
executados alguns programas, temos que reconhecer que, em toda a História
da Educação no Brasil, jamais houve execução de tantos projetos na área da
educação numa só administração.
16Apesar de toda essa evolução e rupturas inseridas no processo, a
educação brasileira não evolui muito no que se refere à questão da qualidade.
As avaliações, de todos os níveis, estão priorizadas na aprendizagem dos
estudantes, embora existam outros critérios. O que podemos notar é que os
estudantes não aprendem o que as escolas se propõem a ensinar.
Embora os Parâmetros Curriculares Nacionais estejam sendo vistos
como diretrizes de ação, nossa educação só teve caráter nacional no período
da Educação Jesuítica. Após isso, o que se presenciou, foi o caos e muitas
propostas desencontradas que pouco contribuiu para o desenvolvimento da
qualidade da educação oferecida.
É provável que estejamos próximos de uma nova ruptura, e esperamos
que ela viesse com propostas desvinculadas do modelo europeu ou americano
de educação, criando soluções novas em respeito às características brasileiras.
Como fizeram os países do bloco conhecidos como Tigres Asiáticos, que
buscaram soluções para o seu desenvolvimento econômico investindo na
educação. Ou como fez Cuba que, por decisão política do governo, erradicou o
analfabetismo em apenas um ano e trouxe para sala de aula todos os cidadãos
cubanos.
Na evolução da História da Educação brasileira a próxima ruptura
precisaria implantar um modelo que fosse único, que atenda às necessidades
de nossa população e que seja eficaz.
“A ruptura com o enciclopedismo, com a memorização de
fatos e regras, culmina nas orientações curriculares atuais
para as competências que acentuam os saberes como
recurso para compreender, antecipar, decidir e agir
conscientemente”. ( Perrenoud, 2004, pag15)
17Em resumo, o que está sendo sugerido no texto citado acima é a
participação ativa do sujeito, o que supõe a participação pessoal do aluno na
aquisição de conhecimento, de maneira que eles não sejam uma repetição ou
cópia dos professores e livros textos, mas que consigam ter uma nova visão
pessoal e do mundo.
Ainda hoje muitos profissionais da educação acreditam que o aluno deve
receber informações prontas e ter, como única tarefa repeti-las na íntegra. Este
modelo tradicional de se pensar a aprendizagem não atende mais as
necessidades do nosso tempo desencadeando muitas vezes fatores que irão
provocar o fracasso escolar.
A retrospectiva histórica nos faz perceber a estreita relação de
funcionalidade entre a educação e os interesses políticos e econômicos de
sucessivos governos.
Também nos auxilia no entendimento da persistência da crise
educacional, que ainda deixa sua marca com altos índices de evasão,
repetência, baixa qualidade do ensino e outros fatores que com certeza são
significantes para o agravamento do “sintoma” da patologia do ensino que
conhecemos como fracasso escolar.
“Neste momento, o Brasil vem se desenvolvendo e se
empenhando a fim de reconstruir seu sistema
educacional. Rápidas e profundas inovações acontecem,
e as escolas devem assumir funções instrutoras,
formadoras e orientadoras a fim de que as gerações
novas possam entender, aceitar e dirigir as
transformações sociais que ocorrem, preservando sua
herança cultural e acompanhando tal desenvolvimento.”
(Giancaterino,2010,pg.76).
18A nova LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394/96, sofreu
várias modificações recebendo adendos que mudaram o projeto inicial. Mas
houve muitos ganhos no que tange aos interesses das classes populares no
campo educacional. Também se torna um caminho ao combate do fracasso
escolar, pois ela permite formas alternativas de organização, avaliação,
controle da freqüência escolar modalidades como a EJA, Educação Especial,
além de outros critérios, que tem como foco o processo de ensino é
aprendizagem.
Segundo Porto (2009) quando acontecem inovações educacionais, para
que possam dar certo exigem que os envolvidos comecem a pensar de forma
diferente:
“A flexibilidade, característica da nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação, poderá ser mais bem aproveitada via
gestão democrática da escola, por meio da participação
de profissionais da educação na elaboração do projeto
político-pedagógico da escola, definindo os objetivos
políticos de sua ação. Com a participação da comunidade
local e em conselhos escolares ou equivalentes, é
possível também solucionar muitos problemas que
permanecem pendentes nas escolas, à espera de solução
por parte de sistemas centralizados de ensino. Mas,
novamente, a participação exige mudança nas
mentalidades de ambas.” (Porto, 2009, p.43)
19
CAPÍTULO II
ANÁLISE DO FRACASSO ESCOLAR: FATORES E
RELAÇÕES INTRA-ESCOLARES
No decorrer dos anos 70, uma das particularidades das investigações do
fracasso escolar, foi acrescida com a pesquisa da participação do próprio
sistema escolar, sendo um dos causadores do fracasso escolar, são os
chamados de fatores e relações intra-escolares.
2.1 Fatores Intra- Escolares
Leite (1998) mostra que os delimitadores intra-escolares são revelados
pelo próprio sistema escolar, isto é, organização interna da escola, prática
pedagógica, os recursos naturais e humanos, programas e currículos.
As carências qualitativas ocorridas no sistema escolar, tanto no ensino
público como no privado e em todos os seus níveis, formam um obstáculo para
a modernização da sociedade.
O objetivo da ação educativa do ponto de vista do sistema de ensino,
seja ele qual for, é ter interesse em que o estudante aprenda e se desenvolva
individual e coletivamente.
Segundo Luckesi (2003) os dados estatísticos educacionais do país,
bem como a conduta individual dos professores, demonstram que, nem
sempre, esse objetivo tem sido alcançado:
“De acordo com as estatísticas, os dados educacionais
são elucidativos a respeito do fato de que o sistema de
ensino não está comprometido com o desenvolvimento
dos educandos, (...)” (Luckesi, 2003, p.122)
20O autor coloca que os dados de repetência, evasão escolar e
analfabetismo demonstram o quanto o sistema educacional brasileiro está
pouco cuidadoso às verdadeiras carências educacionais do país.
A democratização da educação escolar apóia-se em três elementos
fundamentais: acesso universal ao ensino, permanência na escola e qualidade
satisfatória.
A universalização do ensino está garantida pela Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (9394/96) que assegura a obrigatoriedade do Ensino
Fundamental que, segundo parecer conjunto nº 4, de 20/02/2008 do Conselho
Nacional de Educação e da Câmara de Educação Básica, estabelece a
matrícula obrigatória das crianças a partir dos seis anos completos ou a
completar até o início do ano letivo. A obrigatoriedade do oferecimento da
Educação Infantil, citado na Lei 9394/96 artigo11 & V pelos Municípios, e do
Ensino Médio que segundo a Lei 12.061 de 27 /10/09 passa ser obrigatório já a
partir do início do ano de 2010, vislumbra um grande avanço no acesso
universal ao ensino.
A permanência na escola em termos de freqüência escolar no que se
refere ao acompanhamento familiar está também garantida pela Lei 9394/96,
art. 5º & 1° inciso III, onde determina como incumbência dos estabelecimentos
de ensino comunicar os responsáveis legais, sobre a freqüência alunos.
Todas as medidas tomadas são necessárias, mas ainda existe um alto
índice de evasão escolar, repetência e baixa qualidade de ensino. Nem todas
as crianças, jovens e adultos deste país ingressam à escola; muitos que
conseguem nela não permanecem; e aqueles que ali ficam nem sempre
encontram um ensino de qualidade.
21“Em síntese, esta sociedade não investe o suficiente no
desenvolvimento do educando, especialmente dos
educandos originários das camadas populares. Este,
inclusive, não é um fenômeno novo.” (Luckesi, 2003,
p.123)
Estar realmente empenhado em que os alunos aprendam e se
desenvolvam individualmente ou em grupo, é uma norma política social que
não é considerada para as maiorias populacionais. Esse princípio é muito
importante na medida em que objetiva a democratização do saber. O saber é
fundamental, politicamente, como tem revelado a história da sociedade.
De acordo com Luckesi (2003) se o professor de sala de aula realizar
um trabalho de qualidade servirá como fator coadjuvante de permanência dos
alunos dentro do processo de aquisição do conhecimento, e
consequentemente, um fator dentro do processo de democratização da
sociedade.
“A sociedade na qual vivemos no que se refere à
escolaridade, manifesta-se perversa tanto sob perspectiva
coletiva como sob individual. Do ponto de vista coletivo,
subtraindo as maiorias populacionais do acesso ao saber,
seja pela baixa oferta de vagas escolares, seja pelo
processo de evasão escolar, seja pelas más condições de
ensino: do ponto de vista individual pela desqualificação a
que vem sendo submetido o educador.” (Luckesi, 2003,
p.126)
22Assim sendo, é fundamental que a sociedade e seus educadores
possibilitem aos estudantes possibilidades significativa de ascendência cultural,
de desenvolvimento de suas capacidades cognitivas, de formação integral e de
aumento de qualidade de vida.
Os currículos e programas devem atender as necessidades dos alunos.
Muitas vezes, os programas são elitistas propagando a tradição escolar, e o
currículo pode fabricar desigualdades se não respeitar as adversidades
culturais em que a escola está inserida contribuindo para o insucesso escolar.
Para evitar tais situações a participação na elaboração e execução do
projeto político pedagógico, planejamento, metodologia, conteúdos e avaliação
devem acontecer sempre de forma coletiva e sempre revendo a prática
pedagógica.
O Projeto Político Pedagógico é o plano que engloba todas as ações que
a instituição quer realizar a partir do seu posicionamento quanto à sua
intencionalidade e da leitura da sua realidade. É um instrumento teórico-
metodológico para a transformação da realidade.
O planejamento implica o estabelecimento das metas, ações e recursos
necessários à produção de resultados importantes para vida pessoal e social.
Para Luckesi (2003) o planejamento é a consecução dos nossos
desejos, para tanto, importa a atenção plena aos sentimentos que perpassam
nossas carências, nossos atos de planejar e construir os resultados que
estamos esperando. Planejar duvidando da ação que estamos definindo não
conduzirá a um bom planejamento.
Além disso, tornam-se necessários conhecimentos específicos que
possibilitem a melhor decisão sobre o que pretende fazer e o modo de atingir o
que se objetiva.
23Segundo Luckesi (2003) planejar é um ato decisório político e técnico
que inclui uma decisão técnica que se refere à construção dos modos
operacionais que vão medir a decisão política e a compreensão científica do
processo de nossa ação.
Para caminhar contra o fracasso escolar, uma instituição educacional
terá de organizar-se como um corpo coerente de condutas, para que os alunos
tenham um caminho claro e seguro para seguir no processo de construção
significativa do conhecimento.
“Uma escola, para funcionar coerentemente, necessita do
planejamento e da ação coletiva do corpo docente,
juntamente com as outras instâncias pedagógicas e
administrativas” (Luckesi,2003,p.148)
Outro fator importante no insucesso escolar são os recursos metodológicos
usados para o ensino.
“A metodologia compreende o estudo dos métodos, e o
conjunto dos procedimentos de investigação das
diferentes ciências quanto aos seus fundamentos e
validades, distinguindo-se das técnicas que são aplicação
específica dos métodos.” (Libâneo,1994,p.53)
Os recursos metodológicos devem estar sempre voltados para os
objetivos do processo da aprendizagem do aluno.
24É bom ressaltar que técnicas, recursos ou estratégias de ensino são
complementos da metodologia, que deve ser disponibilizados aos professores
para o enriquecimento do processo de ensino.
Muitas vezes, ocorre uma confusão sobre a conceituação de métodos de
ensino e procedimentos. É preciso diferenciá-los, tomando como referencial a
compreensão de que ao método atribui-se o entendimento de um objetivo e a
técnica efetua o método, por conseguinte, o objetivo
Segundo Luckesi (2003) a confusão entre método e técnica conduziu ao
“didatismo” dos anos 60 e 70, levando inclusive a Didática à sua perda de
identidade, e que tal acontecimento ajudou a fortalecer o fracasso escolar.
Os conteúdos também ocupam um lugar relevante na vida escolar. Eles
constituem um dos objetos de mediação retratando a experiência social da
humanidade, possibilitando sua conversão em meios pelos quais os estudantes
podem compreender e defrontar as ações teóricas e práticas da vida social.
Neste sentido, os professores necessitam do conhecimento da história
da comunidade escolar, quem são seus alunos, observar as diferenças entre
eles, realizando uma análise crítica da realidade que os cerca para poder
adaptar o conteúdo no contexto onde a escola está inserida.
A prática avaliativa exercida por algumas instituições escolares também
ajudam a produção do fracasso escolar.
Segundo Luckesi (2003) a avaliação tem tido função classificatória, onde
o professor exerce uma autoridade que pode decidir a vida do aluno ou a
avaliação classificatória que utiliza a aprovação e reprovação do aluno
confirmando a profecia auto-realizadora dos professores.
Nos dias atuais, a formação contínua se desenvolve e a formação inicial
se amplia possibilitando pensar que todas as escolas estão se encaminhando
para uma avaliação formativa.
25Segundo Perrenoud (1999) vivemos um período de transição, e o fato da
avaliação estar ainda entre duas lógicas, isto é, entre a avaliação tradicional às
vezes chamada de normativa e a avaliação formativa que acompanhada de
uma intervenção diferenciada e até individualizada do aluno, frustra os que
lutam contra o fracasso escolar e sonham com uma avaliação puramente
formativa.
A avaliação existe para auxiliar o processo de aprendizagem, pois seu
objetivo é incluir o aluno, pelos mais variados meios, no curso de uma
aprendizagem significativa que integre as suas experiências de vida. Se
tivermos essa compreensão e o coração aberto sempre realizaremos uma
avaliação atenta as necessidades dos nossos alunos, possibilitando o seu
desenvolvimento e consequentemente ajudando a evitar o fracasso.
2.2 As relações intra – escolares
Outra questão que deve ser analisada são as relações existentes dentro
da instituição escolar. Essas interações ocorrendo de forma positiva colaboram
de forma crucial para o processo ensino aprendizagem, pois ampliam a
capacidade cognitiva de todos envolvidos no processo através da mediação
das trocas interpessoais, enriquecendo as possibilidades de solucionar
problemas.
As interações adequadas implicam em valorizar e aproveitar a
experiência e conhecimento de cada participante do grupo para construir novas
formas de pensar uma situação ou conteúdo.
Segundo a abordagem sócio-histórica, a diversidade nas interações é
imprescindível, não objetivando extinguir as diferenças, mas dando condição
para que todos possam expor suas idéias. Neste sentido há um valor simétrico
que propicia iguais condições de participação para todos como sujeitos da
aprendizagem.
26Cabe ressaltar que as interações, por si só não garantem a construção
do conhecimento, pois nem sempre são positivas ou surge espontaneamente,
demandado exploração e trabalho sobre os indivíduos, isto é, intervenção do
professor.
Na interação com os alunos, o professor mediador precisa estabelecer
uma relação de confiança onde o aluno possa colocar suas dúvidas e
descobertas. O trabalho realizado deve articular o afetivo e o cognitivo. Trata-
se de uma visão que antes de qualquer outro objetivo, procura chegar antes do
aluno e acolhê-lo enquanto pessoa pertencente a determinado contexto. Nesse
aspecto, o professor não apenas transmite uma informação ou faz perguntas,
mas também ouve os alunos. O trabalho docente não deve ser unidirecional.
As respostas e as opiniões dos alunos mostram como eles estão reagindo à
atuação do professor e as dificuldades que encontram na construção do
conhecimento.
É importante que haja dentro da escola espaço para o diálogo, que a
gestão seja democrática contribuindo para a autonomia do pensar,
possibilitando o sucesso dos alunos.
2.3 Análise do fracasso escolar
Após esta abordagem, poderíamos ficar tentados a analisar o fracasso
escolar como um problema específico passível de ser combatido através de
recursos especiais, mas na verdade isso não é assim.
Segundo Perrenoud (2001) para lutar contra o fracasso escolar,
precisamos de uma nova escola baseada no princípio da educabilidade de
todos, onde a ação educativa deverá ter coerência, continuidade, qualidade.
Fazer aprender os que não aprendem e olhar a realidade de frente.
As pesquisas na área educacional têm proposto teorias cada vez mais
precisas e realistas na luta contra o fracasso escolar, porém só se tornarão
eficazes se houver adesão intelectual e afetiva dos profissionais da educação.
27O fracasso escolar deve ser analisado numa visão sistêmica, onde o
ensino é visto muito mais que uma manifestação das inclinações individuais. É
um sistema de ação, uma estrutura que muda as pessoas, uma organização
que deseja ensinar, exercer influência política no indivíduo.
A explicação do fracasso escolar não pode mais evitar uma análise
institucional. A escola exerce tanto poder sobre as pessoas, submetendo o
indivíduo durante pelo menos nove anos de sua existência a uma ação
pedagógica, muitas vezes não alcançando o objetivo de ensiná-los, refletindo
uma incapacidade de realizar outra ação que não seja simplesmente transferir
os problemas.
Mudar a relação dos saberes, o sentido da aprendizagem, as
resistências dos profissionais da educação, a dependência das famílias
envolvidas no processo educacional, modificar a analogia das diferenças, é
uma proposta para que o Supervisor Escolar possa vislumbrar um caminho de
atuação contra o fracasso escolar.
28
CAPÍTULO III
O SUPERVISOR EDUCACIONAL E SUAS
CONTRIBUIÇÕES FRENTE AO FRACASSO ESCOLAR
Reconhecer que o supervisor educacional pode contribuir no combate ao
fracasso escolar implica em refletir sobre suas origens teóricas, revisando os
conceitos sobre o pensamento e a atuação deste profissional.
A função supervisora e suas relações com as necessidades escolares
na qual está inserida estão ligadas a análise dos contextos social, político e
econômico do Brasil.
A escola deve contribuir na construção da cidadania crendo que a
solidariedade entre pessoas autônomas pode provocar um processo de
melhoria da sociedade. Sendo assim, a comunidade escolar deve estar atenta
para o complicado mundo moderno.
Considerando as intensas transformações exigidas na sociedade atual, é
válido destacar as mudanças dos comportamentos rígidos para os flexíveis,
afetando todos os campos de ação da vida social e econômica nas últimas
décadas, tendo como foco principal o desenvolvimento das habilidades
cognitivas e comportamentais.
Nesta sequência de idéias torna-se evidente falar sobre a supervisão
educacional e sua respectiva função na realidade brasileira, sua atuação junto
ao professor na busca de uma educação de qualidade, e sua contribuição no
combate ao fracasso escolar.
É oportuno ressaltar um pouco a história da supervisão escolar,
conceituado-a na história educacional.
No Brasil a função da supervisão é conhecida desde o século XVI, com
a influência dos jesuítas. Nesta época a supervisão se apresentava no aspecto
formal da função exercendo o papel de “controle”.
29No século XVIII surge o modelo de supervisão dos Estados Unidos que
influenciou diretamente o modelo brasileiro que passa a ser conhecido como
“Inspeção Escolar” este aparece paralela ao processo de industrialização.
“A supervisão surgiu no Brasil pela primeira vez com a
reforma Francisco Campos, Decreto-Lei nº 19.890, de
18/04/1931, concebida de forma bem diferente da que se
vinha realizando até aquele momento de simples
fiscalização, para assumir o caráter de supervisão.”
(Rangel, 2001 apud Giancaterino, 2010 p.81).
É preciso, entretanto esclarecer que nesta época os profissionais de
Supervisão passaram atuar nas unidades escolares, suprindo a exigência de
uma nova realidade social. Além de continuarem a serem conhecidos como
inspetores, deixam de assumir uma função apenas fiscalizadora para
assumirem o papel de Supervisores Educacionais.
Em 1942 as ações incumbidas ao supervisor educacional eram de
naturezas pedagógicas, administrativas e de inspeção.
Em 1950 a prática da inspeção dá espaço para o aparecimento de uma
Supervisão Educacional voltada a uma transformação da sociedade, onde se
objetivava uma política desenvolvimentista.
No período entre os anos de 1953 e 1963, a educação tinha como
objetivo a qualidade do ensino por meio de treinamento de recursos humanos,
visando à mão de obra qualificada. Surge à primeira turma de supervisores
educacionais, cuja formação se deu através de cursos de aperfeiçoamento. Tal
formação foi necessária para que os supervisores escolares pudessem atuar
no ensino elementar brasileiro.
Com o período da ditadura a ação pedagógica deste profissional é
esquecida e volta-se as práticas em consonância com termos, como
fiscalização, controle e inspeção.
30A Lei nº 5.540/68 art. 30 & 1º, exige que a formação do supervisor seja
através de curso superior, em graduação com objetivo da reprodução da
Pedagogia Tecnicista.
Nos anos 70 a Educação Brasileira conhece a nova Lei 5692/71
nomeada como Lei de Diretrizes e Bases do Ensino do 1º e 2º graus, que no
seu capítulo V, artigo 33, que ao falar da formação dos especialistas usa
termos como planejadores, inspetores, mudando novamente a ação da
Supervisão. Nesta época a supervisão começa a atuar como inspeção
administrativa e como assistente técnico pedagógico, sendo assim, sua
atuação é ampliada, pois passa ser um especialista que realiza seu trabalho
tanto nas escolas como lotados nos órgãos educacionais competentes como as
Secretarias de Educação Municipais e Estaduais.
Os períodos de 1976 até 1979 foram marcados pela luta desses
profissionais, em busca da identidade da profissão da Supervisão Educacional
e estabelecimento de um parâmetro nacional.
A prática da supervisão se perpetua marcada por uma ação burocrática
ainda nos anos 80. Neste período a crítica sobre a forma de atuação do
supervisor educacional toma um vulto insustentável, suscitando a posição de
alguns educadores à extinção da profissão.
O supervisor se manteve nas instituições educacionais, sem deixar de
continuar a busca da sua identidade profissional e a valorização e
regulamentação de sua função educacional.
Na década de 90, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394/96,
cita no seu artigo 64, a formação do Supervisor Educacional, o que nos remete
ao entendimento da necessidade desse profissional em seus diversos campos
de atuação.
31Hoje, a supervisão é entendida como uma profissão que possibilita a
diminuição do insucesso escolar, pois deve intervir no processo pedagógico.
Nesse sentido o supervisor assume a competência e o compromisso de
organizar e coordenar encontros de formação docente continuada, objetivando
o conhecimento de práticas pedagógicas com princípios emancipadores.
Com a evolução do processo de ensino e aprendizagem, a supervisão
passa a trabalhar como mediadora, entre o professor e o aluno, envolvida
como parceira e aliada na ação pedagógica:
“(...) A relação supervisão-professor, em termos de
processo de interação é muito similar a professor-aluno.
Assim como o aluno – e não o professor -, naquele
momento da aula, é o foco das atenções em termos de
construção do conhecimento, quem vai ter a prática
pedagógica em sala de aula é o professor, e não o
supervisor. Seu papel é, pois, de mediador.”
(Vasconcellos, 2009, p.88)
O supervisor escolar é um profissional habilitado para exercer as
funções técnicas, sendo de extrema importância a ação desenvolvida com os
professores, propiciando novas formas de trabalho e organização do ambiente
educacional.
Sua atuação depende da coerência entre teoria e prática, visando à
construção do conhecimento, da autonomia, vislumbrando a mudança dos
indivíduos. A teoria visa à criação de um corpo teórico da supervisão, com
meios de pesquisas e diagnósticos que lhe sejam próprios, através da
investigação das questões educacionais, referentes ao processo de
aprendizagem e de ensinagem.
32 “Nesse aspecto, cabe assinalar que o supervisor escolar,
a partir do processo de investigação e ação, confronta o
seu conhecimento com o planejamento e as metodologias
técnicas com os resultados sociais que eles produzem,
constrói um conhecimento novo, redefinido o papel da
técnica, não mais como neutra, ou como fim em si
mesmo, mas em sua influência na aprendizagem do aluno
e na ideologia que é passada por meio dos métodos e
técnicas aos educadores.” (Giancaterino, 2010, p.85).
p.32).
Segundo Vasconcellos (2009) o supervisor escolar é um dos
profissionais responsáveis pela colaboração da definição e explicitação do
Projeto Político-Pedagógico além de assumir a função de articulador do mesmo
na área pedagógica da instituição, possibilitando que a escola consiga exercer
o seu papel que é garantir que os alunos aprendam e se desenvolvam.
Sendo assim a atual concepção de Supervisão entende como sua função a
coordenação da prática pedagógica, intervindo como mediadora no processo
de ensino e de aprendizagem.
33 “(...). Em consonância com essa perspectiva, O Projeto
Lei 290/2003 aponta indicativos de regulamentação para
o exercício da profissão do Supervisor Escolar, destaca-
se no seu Art. 2º que O Supervisor Educacional, ou
Supervisor Escolar, tem como objetivo de trabalho
articular crítica e construtivamente o processo
educacional motivando a discussão da Comunidade
Escolar acerca da inovação da prática educativa a fim
de garantir o ingresso, a permanência e o sucesso
dos alunos, por meio de currículos que atendam às
reais necessidades da clientela escolar, atuando no
âmbito dos sistemas educacionais Federal, Estadual e
Municipal, em seus diferentes níveis e modalidades de
ensino e em instituições públicas e privadas.” (grifo
nosso). (Rangel e Freire (orgs), 2011 p. 131)
Esta é uma contribuição do Supervisor Escolar frente ao Fracasso
Escolar intervindo e garantindo o direito da aprendizagem, onde a instituição
escolar deve pensar e repensar sua prática atendo e respeitando o aluno como
ser cognoscente.
A supervisão educacional que atua principalmente nas melhorias da
condição do processo de ensino e aprendizagem, deve organizar um trabalho
em conjunto com a Orientação Educacional, Administração Escolar,
professores e alunos, visando diminuir os problemas encontrados no cotidiano
escolar.
Também é válido ressaltar que uma ação supervisora comprometida
com o sucesso escolar dos alunos deve participar na elaboração, execução,
análise e estudo do planejamento, currículo, programas, métodos de ensino,
avaliação e recuperação.
34No cenário de hoje, já se consegue conhecer a grande importância do
supervisor no acompanhamento e na orientação do processo de ensino e
aprendizagem. Mas na prática muitas vezes o supervisor assume o papel de
inspetor assumindo toda parte exigida pelo sistema de ensino exercendo seu
trabalho como Supervisão Educacional e de Coordenador Pedagógico quando
atua dentro das unidades de ensino.
Independente da área de trabalho da Supervisão, esse profissional atua
no processo da formação humana. Sendo assim para enfrentar a problemática
do fracasso escolar, é fundamental que o supervisor tenha em sua formação
profissional e busque na sua formação em trabalho, estudos que envolvam:
planejamento, currículo, organização, legislação, valores éticos, democracia,
aprendizagem, coletividade, conhecimentos necessários para a realização de
uma ação efetiva contra a reprodução do fracasso escolar.
A atuação do supervisor escolar deve ser focada numa ação preventiva,
que visa à orientação no processo de ensino e de aprendizagem, objetivando
favorecer a construção do conhecimento.
Quanto mais próxima a relação que o supervisor escolar tiver com a
escola e os professores, maiores serão as possibilidades de uma análise mais
abrangente, considerando um maior número de variáveis que interferem na
aprendizagem.
Também é necessário realizar uma análise do funcionamento da escola,
sua estrutura, ideologia, procedimentos pedagógicos e avaliativos.
A ação preventiva assume uma atitude crítica frente ao fracasso escolar,
numa compreensão mais globalizante, visando apresentar transformações nas
ações dirigidas para a melhoria da prática pedagógica.
Não podemos deixar de citar ainda a contribuição do supervisor na
modalidade da Educação Especial, como integrante de equipes
multidisciplinares.
35“(...) Por Educação Inclusiva, segundo a LDB, se entende
o processo de inclusão dos portadores de necessidades
educativas especiais ou de distúrbio de aprendizagem na
rede regular de ensino “(...) ( Rangel e Freire ( orgs), 2011
p.124)
Dentro de muitas importantes funções do supervisor escolar, é também
importante o planejamento de uma formação continuada dos professores,
como uma forma da superação de alguns comportamentos e práticas
pedagógicas que não estão adequadas com os princípios da sociedade
inclusiva.
É importante destacar a assessoria do supervisor num trabalho
integrado com o orientador educacional, de estimular uma grande mudança
nas relações entre professores e alunos. Os professores deveriam ter a função
de mostrar para os alunos que não há limites para aprender, levando-os a ser o
pólo central do processo de aprendizagem, mobilizando-se para a busca do
conhecimento. Essa intervenção, nas relações intra-escolares, auxilia o aluno
no êxito escolar.
A relação da escola com o aluno deve passar pela valorização deste
enquanto ser humano, respeitando suas potencialidades, desejos, relações
afetivas, sua cultura.
A atuação do supervisor escolar deverá ajudar o aluno a enfrentar a
escola atual. Tal ação não visa colocar o estudante na aceitação passiva de
normas autoritárias ou reprimir-lhe a individualidade, mas busca favorecer as
sua iniciativas pessoais, propondo e não impondo atividades, proporcionando
um clima acolhedor para o sucesso escolar.
36
CONCLUSÃO
O fracasso escolar começou a preocupar diversos países nos anos 60,
mas resiste até os dias atuais e para se ter uma chance de combatê-lo
precisamos de uma análise fundamentada, clara e compartilhada do problema.
As estratégias de luta contra o fracasso escolar não devem seguir
apenas na direção da diferenciação do ensino ou pedagogias de domínio, mas
deveriam ser considerados, simultaneamente, o respeito às adversidades
culturais, as modalidades de aprendizagem dos alunos e a adaptação à
realidade dos fatores intra-escolares.
Mesmos as crianças diagnosticadas com alguma dificuldade cognitiva,
são capazes de aprender se houver uma intervenção curricular, desde que
adaptemos constantemente a mensagem e as exigências, os objetivos e as
situações didáticas aos seus recursos do momento.
Muitas vezes, parece que a escola quer lidar de perto com a questão do
interesse do aluno, seu fracasso e sucesso, mas acaba sendo a patrocinadora
do desinteresse do mesmo, enxergando-o como mais um problema a ser
resolvido. Neste caso o investimento deve acontecer nas relações intra-
escolares.
A instituição de ensino transforma diversas diferenças e desigualdades
em fracassos e sucessos escolares, destinando os estudantes a serem bons
ou maus alunos, devido a um funcionamento particular do sistema escolar.
Sendo assim, podemos associar o fracasso escolar com o fracasso da escola.
Atuar na instituição escolar, estabelecer uma comunicação positiva com
professores, funcionários e alunos acerca do fracasso escolar é uma ação
buscada pela supervisão escolar que vem de modo geral, buscando uma maior
aproximação com a escola e comunidade escolar.
37A supervisão vem contribuindo com procedimentos específicos na busca
de soluções para a difícil questão do processo de ensino e de aprendizagem. O
conhecimento da supervisão escolar não se estaciona numa restrição imutável,
nem nos déficits e transformações subjetivas do aprender, mas estima a
capacidade do sujeito a disponibilidade de saber e de fazer. Sendo assim vem
adotando uma postura crítica frente ao fracasso escolar, atuando com novas
perspectivas de ação, conhecimentos teóricos aprofundados e uma grande
responsabilidade profissional frente à realidade educacional brasileira.
Enquanto área do saber educacional, a supervisão escolar deve estar
sempre presente no enfrentamento dos problemas críticos da educação,
apresentando uma atuação consciente e comprometida, sempre considerando
as dimensões pedagógicas, sociais e políticas do fracasso escolar.
38
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Cortez, 2003.
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RANGEL, Mary – Freire, Wendel (orgs.) Supervisão Escolar: avanços de
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VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Coordenação do trabalho pedagógico:
do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo:
Libertad, 2009.
40
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I 11
Evolução da Educação numa Retrospectiva Histórica
do Fracasso Escolar no Brasil
CAPÍTULO II 19
Análise do Fracasso Escolar: Fatores
e Relações Intra- Escolares
2.1 - Fatores Intra- Escolares 19
2.2 - As Relações Intra- Escolares 25
2.3 - Análise do fracasso escolar 27
CAPÍTULOIII 28
O Supervisor Educacional e suas Contribuições
Frente o Fracasso Escolar
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38
ÍNDICE 40
41
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito