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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DO HÁBITO DA LEITURA Por: Ana Amelia Lourenço de Sousa de Lourenço Gallotta Orientador Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DO HÁBITO DA LEITURA

Por: Ana Amelia Lourenço de Sousa de Lourenço Gallotta

Orientador

Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DO HÁBITO DA LEITURA

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para a obtenção do grau de especialista em Orientação Educacional e Pedagógica.

Por: Ana Amelia Lourenço de Sousa Gallotta

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AGRADECIMENTOS

À Deus e aos espíritos de luz

nos quais acredito e respeito antes de

qualquer coisa, por me sustentarem

nos momentos mais difíceis, aos meus

pais Aldo e Maria Amelia por minha

vida e tudo o que sou, ao meu esposo

Davi pelo amor e incentivo e as minhas

amigas Alessandra Coutinho, Amanda

e Fernanda Sotero pela amizade,

carinho e parceria durante esses dez

anos de amizade.

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DEDICATÓRIA

Aos meus alunos com a esperança de

possam ser tornar leitores conscientes e

apaixonados.

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RESUMO

O presente estudo monográfico tem por objetivo analisar como o

desenvolvimento de interesses e hábitos permanentes de leitura é um processo

constante, que começa no lar, aperfeiçoa-se sistematicamente na escola e

continua pela vida afora, através das influências da atmosfera cultural geral e

dos esforços conscientes da educação e das bibliotecas públicas. Com base

em pesquisa bibliográfica e na prática, buscou-se mostrar um novo caminho a

ser seguido; como, aliada da escola pode fornecer ao indivíduo uma cultura,

sólida e geral, maior do que qualquer diploma ou herança. Os fatores decisivos

nesse processo são o prazer proporcionado pelos livros, que começa a ser

experimentado em idade pré-escolar (através da narração de histórias e da

leitura em voz alta), o ensino da leitura acompanhado pela satisfação no

progresso e no êxito, levando as múltiplas possibilidades e necessidades, e o

encorajamento de toda e qualquer motivação possível para ler. O trabalho

apresenta uma visão histórica porque conceitua leitura e aborda como esta era

tratada antigamente e o que foi feito para que chegasse ao que hoje

representa. Vale ressaltar a importância do tema para o indivíduo e para a

sociedade, mostrando como incentivar para o desenvolvimento ao hábito da

leitura, da escrita e da escola na prevenção do fracasso escolar. Conclui-se

mostrando que a responsabilidade da leitura está na união da escola com pais,

livros e nos órgãos responsáveis pela educação.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 07

CAPÍTULO I - O conceito da leitura 09

CAPÍTULO II - A importância da leitura para o indivíduo e para a sociedade 14

CAPÍTULO III - Formas de incentivo ao desenvolvimento do hábito da leitura 19

CÁPITULO IV - A escrita, a leitura e a escola na prevenção do fracasso escolar 24

CONCLUSÃO 30

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 32

ÍNDICE 33

FOLHA DE AVALIAÇÃO 34

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INTRODUÇÃO

Ler é uma prática básica, essencial para aprender.

Equipamento algum substitui a leitura. Mesmo numa época em que

proliferam os recursos audiovisuais e as “máquinas” ou “mecanismos” de

ensinar (embora estejam ao alcance de poucas, bem poucas, escolas), mesmo

numa época em que a informática se impõe com todo seu poder econômico e

processual, pode-se (re) afirmar: Nada, equipamento algum substitui a leitura.

A leitura nem sempre é um ato agradável, nem sempre é um prazer. A

idéia da leitura como obrigatoriamente agradável, associada à idéia de ler,

sempre com prazer esteve presente, por muito tempo, em nossas orientações

acadêmicas.

Em certos momentos, sentíamo-nos, até, desconfortáveis,

constrangidos, por não termos alcançado aquele prazer de ler, aquele estágio

evoluído, aquela atitude peculiar a quem ascendeu intelectualmente aquele

estágio e atitude próprios, enfim, de uma elite intelectual.

Entretanto, assumindo a realidade e a percepção da realidade, embora,

em certos casos, pareça óbvia, não o é, chega-se à constatação de que ler

nem sempre é agradável, seja pelo conteúdo, seja pela forma do texto, seja

pelas habilidades requeridas (atenção, concentração, acuidade, perseverança),

seja pelo o nosso momento pessoal (emocional), seja pelos interesses que nos

motivam, nem sempre atendidos pelo texto.

Assim, muitas vezes, é natural que nos sintamos desanimados com

algumas leituras, e que custemos a iniciá-las, ou que, iniciando, queiramos

interrompe-las, com a proposta de fazê-lo por “pouco tempo”; na verdade, o

“pouco tempo” se estende, com a desculpa de só mais um pouquinho...e, se e

quando chegarmos ao fim, a sensação é de “alívio”; “missão (árdua) cumprida

...”!

Se sentimo-nos “culpados” por sensações tão inadequadas diante da

leitura, uma reavaliação com mais critérios de realidade levará a compreender

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que a obrigação de ter prazer com a leitura é um dos tantos preconceitos, ou

uma das tantas idealizações que orientam o nosso comportamento.

É claro que a leitura poderá ser agradável e, em muitos casos, o é; a

análise feita anteriormente procura explicar, apenas, que é possível que não

seja e que nem sempre é.

Portanto, esta monografia consta de uma introdução, quatro capítulos e

uma conclusão.

No 1º capítulo abordo o conceito de leitura, mostrando que através dela

podemos solucionar problemas.

No 2° capítulo ressalto a importância da leitura para o indivíduo e para a

sociedade.

No 3° capítulo trato de algumas formas de incentivo ao hábito da leitura.

No 4° e último capítulo coloco o papel da leitura e da escrita na

prevenção do fracasso escolar.

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CAPÍTULO I

CONCEITO DE LEITURA

Ler não significa apenas ver as letras do alfabeto e juntá-las em

palavras, mas também estudar a escrita, decifrar e interpretar o sentido,

reconhecer e perceber.

A literatura amplia e diversifica nossa visão e interpretação sobre o

mundo e da vida como um todo.

A leitura é de importância fundamental na vida das pessoas. A

necessidade de muita leitura está posto entre todos, haja vista, que propicia a

obtenção de informações em relação a qualquer contexto e área do

conhecimento, assim como, pode constituir-se em fonte de entretenimento.

Para uns, atividade prazerosa, para outros, um desafio a conquistar. Urge

compreender que a técnica da leitura garante um estudo eficiente, quando

aplicada qualitativamente. O que é leitura? Como e quando começamos a ler?

Questões óbvias, que pela sua evidência pouco são problematizadas.

Etimologicamente, ler deriva do latim “lego/legere”, que significa recolher,

apanhar, escolher, captar com os olhos. Nesta reflexão, enfatizamos a leitura

da palavra escrita. No entanto entendemos, com LUCKESI (2003) que “a

leitura, para atender o seu pleno sentido e significado, deve intencionalmente,

referir-se à realidade. Caso contrário, ela será um processo mecânico de

decodificação de símbolos”.( p.119)

A leitura de textos, tomada como fins em si mesmos, em função da

mistificação daquilo que está escrito, gera uma conseguência nefasta para a

formação do leitor. Se um texto, quando trabalhado não proporcionar um salto

de qualidade no leitor para sua visão de mundo, tanto no aspecto social,

quanto no cotidiano do leitor, a leitura perde a sua validade.

O ensino da leitura deveria corresponder à percepção que conseguimos

da natureza da leitura. Processo complexo, a leitura compreende várias fases

de desenvolvimento. Antes de qualquer coisa, é um processo perceptivo

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durante o qual se reconhecem símbolos. Em seguida, ocorre a transferência

para conceitos intelectuais.

Em uma leitura bem elaborada desenvolvemos curiosidades sobre

assuntos diversos. Ela nos torna céticos, fazemos perguntas e procuramos

respostas. Nela somos imparciais de acordo com o ponto de vista que o texto

emprega, buscamos sempre informações, e conseguimos. Inovamos idéias.

De acordo com BAMBERGER (2006), “Essa tarefa mental, no entanto,

não consiste apenas na compreensão das idéias percebidas, mas também na

sua interpretação e avaliação. Para todas as finalidades práticas, tais

processos não podem separar-se um do outro; fundem-se no ato da leitura”.(

p.23)

Ao se tentar delinear os conceitos de leitura e mesmo de texto, verifica-

se que esses extrapolam até os limites do verbal. Os chineses, por exemplo,

utilizam mais amplamente o conceito de leitura há muitos séculos. Referindo-

se a um quadro dizem ler o quadro, e não vê-lo. Para se ler, não se necessita

tão somente de decodificar signos, mas de utilizar todos os sentidos, ou seja,

toda a capacidade de interpretação e compreensão. Lêem-se quadros,

fotografias, gestos, pessoas, cidades. A palavra grega legei significa colher,

juntar, pôr as coisas umas ao lado das outras. Em latim, originou a palavra

lego, mas os latinos utilizavam também interpretare, tendo ambas o

significado de ler.

Segundo Sodré (1994):

“A diferença consiste em que, quando os latinos diziam lego, legere,

estavam se referindo a olhar para o mesmo plano, juntar

horizontalmente com o olhar; quando empregavam interpretare,

significava ler de um plano para o outro, verticalmente com

aprofundamento de dimensão vertical”.( p. 184).

Tal é a dificuldade na conceituação de leitura, que Barthes e

Compagnon (1987) assim definem o verbete leitura: “A palavra leitura não

remete para um conceito, e sim para um conjunto de práticas difusas”.(p.47)

Social e historicamente o ato de ler envolve-se com um conjunto de

práticas; a técnica da decodificação e da prática social; ler sempre esteve

ligado às lutas políticas e sociais no decorrer da história. É ainda uma forma de

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gestualidade, mesmo nos tempos modernos, pois significa para o corpo uma

ocupação do tempo livre com o prazer, o trabalho e o passatempo. Assim a

leitura como lazer é forma de sabedoria, ou sinônimo de ler bem, quando

desenvolvida criticamente e não mecânica ou inocentemente.

Para Martins(1994):

“A verdadeira leitura consiste em atribuir significado ao escrito e

depende diretamente das informações que o indivíduo já possua

sobre o mundo, o seu estoque simbólico. Ao atribuir significado muito

mais amplo ao conceito de leitura, imbicada com a experiência prévia

do leitor, conclui que, em se tratando de leitura, aprofunda-se sempre

o aprendizado. Em cada novo texto que esteja lendo, em cada novo

conhecimento que esteja adquirindo, melhor o leitor está se

tornando.( p.26).

Na realidade, pouca leitura é feita com o objetivo específico de recolher

informação do texto. Ler não é ver o que está escrito, nem atribuir uma versão

oral. É saber que certas respostas podem ser encontradas na produção escrita,

construindo conhecimento que entrelace informações novas àquelas que já

possuía.

A leitura é uma atividade essencial a qualquer área do conhecimento.

Está intimamente ligada ao sucesso do ser que aprende. Permite ao homem

situar-se com os outros. Possibilita a aquisição de diferentes pontos de vista e

alargamento de experiências. É também um recurso para combater a

massificação executada principalmente pela televisão. O livro ainda é um

importante veículo para a criação, transmissão e transformação da cultura.

A medida que um bom leitor descobre o significado literal de uma

passagem, ele se envolve em vários passos, isto é, faz referências, vê

implicações, julga a validade, qualidade, eficiência ou adequação das idéias,

compara os pontos de vista de autores diferentes, aplica as idéias adquiridas

às novas situações, soluciona problemas e integra as idéias lidas com as

experiências prévias.

Um indivíduo que tem boa expressão, e sabe dizer o que quer, diminui

as chances de ser manipulado. Um dos efeitos da leitura é o aprimoramento

da expressão, tanto individual como coletiva.

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Yunes (1994) sugere “a possibilidade de se lançar muitos olhares sobre

determinado conceito e questiona se há consenso sobre o que seja leitura”. Na

prática do seu trabalho, prefere partir de premissas básicas como a conexão

ver/ler/conhecer, por mais simplistas que possam parecer”. (p. 116)

Para a autora:

A partir de questão ilusoriamente simples, encontra-se outra muito

complexa, que é precedência da leitura frente à escrita: “lemos antes

de escrevermos e lemos, portanto mais que palavras, lemos o

mundo, com códigos muito sutis desentranhados da experiência e da

reflexão quase intuitivamente a princípio”.(YUNES, 1994, p.180).

Buscar um significado mais profundo e profícuo para a leitura foi objeto

de estudo que se baseou nos fundamentos filosóficos, e psicológicos do ato de

ler. Partindo da premissa básica de que a leitura seja atribuição de significados,

afirma que essa só se efetiva enquanto forma de participação, pois os signos

impressos registram diferentes experiências humanas. É, portanto, um tipo

específico de comunicação, uma forma de encontro entre homem e a realidade

sócio-cultural representada pelo texto. O compreender deve ser visto enquanto

forma de ser, emergindo através de atitudes do leitor diante do texto, assim

como através do seu conteúdo, ou seja, o texto como indutor de percepção ou

panorama dentro do qual os significados são atribuídos.

Segundo Silva (1981):

“Compreender a mensagem, compreender-se na mensagem,

compreender-se pela mensagem, eis aí os três propósitos

fundamentais da leitura, que em muito ultrapassam quaisquer

aspectos utilitaristas, ou meramente” livrescos” da comunicação leitor-

texto. Ler é, em última instância, não só uma ponte para a tomada de

consciência, mas também um modo de existir no qual o indivíduo

compreende e interpreta a expressão registrada pela escrita e passa

a compreender-se no mundo”.( p.45).

Ler é um ato libertador. Quanto maior vontade consciente de liberdade,

maior terá que ser o índice de leitura.

Através do hábito da leitura, o homem pode tomar consciência das suas

necessidades, promover a sua transformação e a do mundo. Pode participar

do exercício dialético da libertação.

Por ser a leitura um objeto comum de múltiplas pesquisas, oriundas de

todas as disciplinas, e por continuar sendo uma questão científica esfacelada, a

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leitura foi e continua sendo a oportunidade para trocas interdisciplinares tão

frutíferas quanto imprevistas.

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CAPÍTULO II

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA O INDIVÍDUO E

PARA A SOCIEDADE.

Um exame das variações dos hábitos de leitura de uma nação para

outra demonstra que o lugar ocupado pelos livros na escala de valores dos

responsáveis pela promoção é de primeira importância: todas as autoridades

do Estado, da comunidade e da escola, todos os professores, pais e

pedagogos precisam estar seriamente convencidos da importância da leitura e

dos livros para a vida individual, social e cultural, se quiserem contribuir para

melhorar a situação do indivíduo e da sociedade. Esta mesma convicção deve

ser então transmitida aos que estão aprendendo a ler de modo apropriado a

fase do seu desenvolvimento. A fase da descoberta, quando a criança inicia a

educação infantil, por exemplo, é um ótimo período para estimular o gosto

pelos livros. Para isso, os textos ficcionais são os principais instrumentos que

podemos usar para formar leitores nessa etapa da escolarização.

Livros de ficção ultrapassam a mera realidade e trabalham com outros

níveis de percepção. A partir das histórias, podemos compartilhar sonhos,

alegrias, medos, preocupações e aprendizados diversos.

É importante enfocar que a literatura infantil é fundamental para a

aquisição de conhecimento, recreação, informação e interação necessários ao

ato de ler. A necessidade de aplicação coerente de atividades que despertem

o prazer de ler, devem estar presentes diariamente presente na vida das

crianças, desde bebês.

Conforme Silva (1995), “Bons livros poderão ser presentes e grandes

fontes de prazer e conhecimento. Descobrir esses sentimentos desde

bebezinhos, poderá ser uma excelente conquista para toda vida”.(p. 57)

Nos tempos antigos, antes da invenção da imprensa, reservava-se a

pouquíssimos o privilégio da leitura e, mesmo depois do século do Humanismo,

ela só era acessível a uma elite culta. A verdade é que vivemos na sociedade

dos computadores e, se na era virtual a criança não souber ler, sua vida futura

estará totalmente comprometida. Mais ainda se ela vier de uma classe mais

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baixa. No Brasil, os pobres têm na escola um mecanismo de ascensão social,

portanto, a leitura desenvolvida nela deve ser de boa qualidade. A criança que

lê mal está condenada a ser malsucedida na vida.

Só nestes últimos decênios, com o desenvolvimento tecnológico e

econômico exigindo continuidade a colaboração intelectual da maioria das

pessoas, surgiu à pergunta: como poderá tornar-se realidade a extensão a

todos do direito de ler? Ao professor cabe ensinar à criança o “caminho das

pedras”, ou seja, ensinar-lhe que é possível atingir alívio, autoconhecimento,

segurança e alegria por meio da leitura, que passa a ser uma boa companhia.

A leitura é importante em todos os níveis educacionais. Portanto, deve

ser iniciada no período de alfabetização e continuar nos diferentes “graus” de

ensino. Ela constitui-se numa forma de interpretação das pessoas de qualquer

área do conhecimento.

No ensino, não basta discutir ou teorizar o valor da leitura. É preciso

construir e levar a prática que a leitura venha a ser cada vez mais sedimentada

na vida do educando.

A pesquisa sobre leitura, um dos ramos mais jovens da ciência, projetou

nova luz sobre o seu significado, não só em relação às necessidades da

sociedade, mas também às do indivíduo. O direito de ler significa igualmente o

de desenvolver as potencialidades intelectuais e espirituais, o de aprender e

progredir.

A leitura foi outrora considerada simplesmente um meio de receber uma

mensagem importante. Hoje em dia, porém, a pesquisa nesse campo definiu o

ato de ler, em si mesmo, como um processo mental de vários níveis, que muito

contribui para o desenvolvimento do intelecto.

Por essa razão, a leitura é uma forma exemplar de aprendizagem.

Estudos psicológicos revelaram que o aprimoramento da capacidade de ler

também redunda na capacidade de aprender como um todo, indo muito além

da mera recepção.

De acordo com CAGLIARI (2000): “A leitura é a extensão da escola na

vida das pessoas. A maioria do que se deve aprender na vida terá de ser

conseguido através da leitura fora da escola. A leitura é uma herança maior do

que qualquer diploma”.(p.148).

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A escola, ao formar leitores, capacita-os, portanto, ao exercício, cada

vez mais pleno, da cidadania. Essa valorização se dá em todos os níveis da

educação formal brasileira.

Segundo CAGLIARI (2000): “Ler é uma atividade exatamente complexa

e envolve problemas não só semânticos, culturais, ideológicos, filosóficos, mas

até fonéticos”.( p. 149).

A leitura é um dos meios mais eficazes de desenvolvimento sistemático

da linguagem e da personalidade. Trabalhar com a linguagem é trabalhar com

o homem.

Se conseguir fazer com que a criança tenha sistematicamente uma

experiência positiva com a linguagem, antes que as histórias em quadrinhos,

as revistas ilustradas e a torrente de imagens veiculadas pelos meios de

comunicação de massa tomem conta dela, isto estará promovendo o seu

desenvolvimento humano.

A leitura favorece a remoção das barreiras educacionais de que tanto se

fala, concedendo oportunidades mais justas de educação, principalmente

através da promoção do desenvolvimento da linguagem e do exercício

intelectual e aumenta a possibilidade de normalização da situação pessoal de

um indivíduo.

Os livros, portanto, não têm importância menor hoje do que tiveram no

passado, mas ao contrário. São o que têm sido há séculos: portadores do

conhecimento de uma geração para outra e dificilmente poderão ser

ultrapassados por qualquer outro meio de transmissão das descobertas

intelectuais, pedras angulares da vida intelectual e emocional. Para os jovens

leitores, os bons livros correspondem às suas necessidades internas de

modelos e ideais, de amor, segurança e convicção. Ajudam a dominar os

problemas éticos, morais e sociopolíticos da vida, proporcionando-lhes casos

exemplares, auxiliando na formação de perguntas e respostas. São um auxílio

na tarefa de atingir uma meta educacional e desenvolver a personalidade dos

jovens ajudando-os a estabelecer um conceito global de mundo.

BAMBERGER (2006), diz:

“A sociedade do”futuro” não raro tem sido descrita como a sociedade

da aprendizagem. Acredita-se que será necessário o aprendizado

contínuo para garantir a continuidade do desenvolvimento econômico.

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A leitura e os livros têm hoje um novo significado e já não basta a

uma pessoa completar sua educação escolar. O progresso da ciência

e da tecnologia se processa num ritmo tal que a instrução que hoje é

ministrada será considerada insuficiente amanhã. A tarefa do futuro é

a educação permanente ou, melhor ainda, a auto-educação

permanente”.( p.12).

Os livros desempenham inúmeros papéis nessa educação. Primeiro há

a necessidade satisfazer os interesses, necessidades e aspirações individuais

através da seleção individual do material de leitura. Todo ser humano pode ser

ajudado pelos livros e se desenvolver à sua maneira, pode aumentar sua

capacidade crítica e aprender a fazer escolha entre a massa da produção geral

dos meios de comunicação.

Se os meios de comunicação oferecem um estímulo inicial mais forte, na

direção certa, os livros são indispensáveis no sentido de aprofundar essa

noção e promover a pesquisa do assunto por conta própria.

Pela primeira vez na história, a leitura deixa de ser privilégio de uma

pequena parcela da sociedade; tornou-se indispensável que um número maior

de pessoas leia.

De acordo com BAMBERGER (2006):

“Comparada ao cinema, ao rádio e a televisão, a leitura tem

vantagens únicas. Em vez de precisar escolher dentre uma variedade

limitada, posta à sua disposição por cortesia do patrocinador

comercial, ou entre os filmes disponíveis no momento, o leitor pode

escolher dentre os melhores escritos do presente ou do passado. Lê

onde e quando mais lhe convém, no ritmo que mais lhe agrada,

podendo retardar ou apressar a leitura, interrompe-la, reler ou parar

para refletir, a seu bel-prazer. Lê o que, quando, onde e como bem

entende. Essa flexibilidade garante o interesse contínuo pela leitura,

tanto em relação à educação quanto ao entretenimento”.( p.13).

Todo bom leitor é bom aprendiz, eis uma das conclusões fundamentais

da pesquisa sobre leitura e esse fato é importante para o êxito tanto na escola

quanto na vida ulterior, quando todos precisam estar preparados para se

adaptarem as novas circunstâncias.

Portanto, é pela leitura que é aplicada a capacidade do ser humano de

resolver seus problemas de maneira mais consciente e satisfatória, que

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enriquece a sua linguagem. E, pois, o primeiro e o mais útil instrumento de

cultura.

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CAPÍTULO III

FORMAS DE INCENTIVO AO DESENVOLVIMENTO DO

HÁBITO DA LEITURA.

Através dos registros escritos descobrimos e aprendemos culturas,

histórias e hábitos diferentes, compreendemos a realidade, o sentido real das

idéias, vivências, sonhos.

Diante do fato, pode-se considerar a leitura como uma das mais

importantes tarefas que a escola tem que ensinar, mas é importante ressaltar

que para isso o professor deve ter consciência da necessidade, além de

praticar com eficiência o hábito da leitura.

Grande parte das escolas trabalha somente com textos literários e

didáticos e muitas vezes selecionam esses materiais de forma burocrática, ou

seja, uma relação de interesse entre editora, escola e, até mesmo, professor.

Convém deixar claro que esse tipo de atitude não é de forma generalizada,

pelo contrário, existem educadores que realmente desempenham seu papel de

maneira responsável, desenvolvendo estratégias e diferentes formas de

realizar uma leitura eficiente.

O livro pode ser considerado como precioso recurso de ensino. No

entanto, não é tão popular como o giz, o quadro negro, o lápis e o caderno.

São incontáveis os livros editados, com inúmeros títulos diferentes que

poderiam, se bem utilizados, concorrer para a melhoria do ensino.

O livro é o mediador na comunicação escrita entre o professor e o aluno.

Através dele, se valoriza um ensino informativo e teórico. Por esse motivo, se

torna necessário a formação de leitores que possa trabalhar esse material.

Segundo estudiosos, existem três objetivos distintos para compreender a

importância do hábito de ler :

• Ler por prazer;

• Ler para estudar;

• Ler para se informar.

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Através da leitura realizada com prazer, é possível desenvolver a

imaginação, embrenhando-se em seu mundo, desenvolvendo a escuta lenta,

enriquecendo o vocabulário e envolvendo linguagens diferenciadas.

A leitura voltada para o estudo é a mais cobrada pelos professores

desde o início do ensino fundamental, apesar de muitos não estarem

preparados para desenvolver em seus alunos tal hábito.

A leitura dinâmica e descontraída é a uma das melhores formas de

adquirir informações. O ideal é que se aprenda a ler textos informativos,

artigos científicos, livros didáticos, paradidáticos, entre outros.

O que leva o jovem leitor a ler não é o reconhecimento da importância

da leitura, e sim várias motivações e interesses que correspondem à sua

personalidade e ao seu desenvolvimento intelectual.

SHINTH (apud BAMBERGER, 2006), diz que “O interesse é a pedra de

toque do progresso, do prazer e da utilidade da leitura. É o gerador de toda a

atividade de voluntário de leitura”.(p. 31)

A percepção dessas motivações e interesses esclarece qual é a tarefa

do professor: treinar jovens leitores bem sucedidos, apresentando-lhes o

material de leitura apropriado, de modo que o êxito não somente inclua boas

habilidades de leitura, mas também o desenvolvimento de interesses de leitura

capazes de durar a vida inteira.

De acordo com a autora do artigo da revista Nova Escola:

“não são apenas os estudantes que precisam de estímulo para ler.

Muitos professores também não têm esse hábito, que igualmente

pode ser incentivado na escola. A principal causa do fracasso da

escola em suas tentativas de formar leitores é que os próprios

professores não sentem prazer na leitura”. (Cançado, 2005,p. 29)

Aos poucos, a escola brasileira percebe a necessidade de se aprimorar

na tarefa de alfabetizar.

Como em qualquer outra tarefa didática, o primeiro passo consiste em

conhecer a criança, ou seja, conhecer os interesses, baseando neles o trabalho

que há de ser feito e desenvolvendo-os ao máximo. Nem mesmo as

motivações, interesses ou hábitos valiosos devem ser impressos na criança e,

se as inclinações ameaçarem criar problemas para seu próprio

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desenvolvimento ou para a sociedade, será preciso sublimá-las, derivando-as

para outros interesses positivos os quais tampouco devem ser impostos à

criança; urge descobrir-lhe as propensões, tentar expandi-las e finalmente,

ajudá-la a seguir o caminho desejável.

O que os educadores discutem é se seria possível aprender a gostar de

ler. Como, afinal, desenvolver nas crianças o hábito da leitura? As ações

deveriam começar na família. É importante deixar as crianças manusearem os

livros e os adultos lerem histórias para elas.

Segundo Rangel (1990), “ler é uma prática básica, essencial para

aprender. Nada substitui a leitura, mesmo numa época de proliferação dos

recursos audiovisuais e da informática. A leitura é parte essencial do trabalho,

do empenho, de perseverança, da dedicação em aprender. O hábito de ler é

decorrente do exercício e nem sempre constituí-se um ato prazeroso, porém,

sempre necessário. Por esse motivo, deve-se recorrer a estímulos para

introduzir o hábito de leitura em nossos alunos”.(p. 38)

Mas, hoje, os pais dedicam pouco tempo a formação de seus filhos e

essas práticas são delegadas à escola. Bem, se essa é uma tarefa que cabe

ao professor, nada melhor do que saber que caminho seguir. O principal, no

entanto, é ter em mente que a leitura do texto deve estar sempre associada à

leitura da vida.

A maioria das pessoas hoje não lê por falta de tempo. Mas o que estaria

por trás dessa afirmação?

O tempo tem um forte componente emocional. Nunca temos tempo para

as coisas que consideramos sem importância. É a tal “preguiça de ler”, que

pode ser entendida de várias formas, como cansaço, falta de motivação para o

assunto, dificuldade de introspecção, falta de curiosidade ou alienação do

mundo. Esses problemas atingem tanto o professor quanto o aluno, quando

falamos de leitores. Para quebrar essa barreira, é preciso, que a leitura seja

instigante.

BAMBERGER (2006) diz:

“Na história da educação muitas vezes os jovens são tão

completamente desviados do seu caminho por um novo encontro que

passam a perseguir interesses inteiramente novos, às vezes

positivos, mas freqüentemente de efeito negativo sobre os outros e

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sobre a sociedade. Seja como for, os psicólogos descobriram que

quanto mais cedo se influenciarem as crianças, tanto mais eficaz será

a influência; pois “a criança” é o pai do homem”.( p.63).

É por essa razão que os educadores devem estar atentos para as

características das diferentes faixas de idade e, com este conhecimento,

poderão contribuir de certa forma para o desenvolvimento do interesse quanto

aos hábitos de leitura, escolhendo assim, leituras adequadas.

Foi-se o tempo em que os gibis eram proibidos na sala de aula e as

crianças tinham de esconde-los sob a carteira. Os quadrinhos são uma

excelente opção para incentivar a leitura em quem está entrando no mundo das

letras. A começar pelos personagens, que, por si só, são atraentes para a

garotada e despertam interesses por serem bem conhecidos. Os livros de

ficção também são uma excelente opção, pois a partir das histórias, podemos

compartilhar sonhos, alegrias, medos, preocupações e aprendizado diversos.

Podemos falar do mundo inteiro e, principalmente, de nós mesmos.

Mas o grande trunfo, são os recursos gráficos. As imagens aparecem

associadas a texto coloquiais e permitem que a criança antecipe o enredo e

atribua sentido à história, mesmo sem saber ler.

Para formar leitores, é indispensável que o formador-mediador-professor

seja, ele também, um leitor de muitos textos, com conhecimento teórico, gosto

pela leitura e reconhecimento da importância dos textos, em formato de livro ou

não. Seja ele professor de qualquer disciplina. Cada área deve investir nos

gêneros que fazem parte do seu dia a dia.

Quanto mais estudantes e professores exercitarem a compreensão

abrangente e diversificada dos textos, mais completa será a formação do leitor,

e mais preparada estará a comunidade escolar para viver a cidadania.

Professores estimulem pesquisas sobre temas que intriguem os alunos

ou fazam parte do cotidiano, como o tempo. Assim, eles terão um bom motivo

para procurar informações em livros, revistas e jornais.

Não são apenas os estudantes que precisam de estímulos para ler. A

escola deve fazer uma parceria com os pais para que o ambiente em casa

também seja motivador para a criança. O momento da reunião dos pais pode

ser usado, por exemplo, para conversar sobre leitura, livros e escritos. Mostrar

à família a importância dos projetos de leitura; que estes são fundamentais.

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Este breve apanhado das várias possibilidades de ativação do trabalho

com os livros está longe de ser completo e tampouco constitui uma receita de

êxito. Fez-se tão somente uma tentativa para descrever atividades e sugestões

para que formas de incentivar o hábito da leitura se expande cada vez mais.

Por isso, o desenvolvimento de interesses e hábitos permanentes de leitura é

um processo constante, que começa no lar, aperfeiçoa-se sistematicamente na

escola e continua pela a vida afora, através das influências da atmosfera

cultural geral e dos esforços conscientes da educação.

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CAPÍTULO IV

A ESCRITA, A LEITURA E A ESCOLA NA PREVENÇÃO

DO FRACASSO ESCOLAR.

CAGLIARI (2000) diz: “Ninguém escreve ou lê sem motivo, sem

motivação”.( p. 104).

A escrita, seja ela qual for, tem como objetivo primeiro permitir a leitura.

A leitura é uma interpretação da escrita que consiste em traduzir os símbolos

escritos em fala.

A escrita se diferencia de outras formas de representação do mundo,

não porque induz à leitura, mas também porque essa leitura é motivada, isto é,

quem escreve diferentemente por exemplo de quem desenha, pede ao leitor

que interprete o que está escrito, não pelo puro prazer de fazê-lo, mas para

realizar algo que a escrita indica. Por exemplo, separar o banheiro dos homens

das mulheres; no caso das placas de trânsito, disciplinar o tráfego, evitando

acidentes; no caso do texto tradicional, informar o leitor a respeito de seu

conteúdo, etc.

De acordo com CAGLIARI (2000): “A motivação da escrita é a sua

própria razão de ser; a decifração constitui apenas um aspecto mecânico de

seu funcionamento”.( p. 105).

A leitura não pode ser só decifração; deve, através da decifração,

chegar à motivação do que está escrito, ao seu conteúdo semântico e

programático completo. Por isso, é que a leitura não se reduz à somática dos

significados individuais dos símbolos (letras, palavras, etc.), mas obriga o leitor

a enquadrar todos esses elementos no universo cultural, social, histórico em

que o escritor se baseou para escrever.

Quando se faz um desenho de uma casa para representar o objeto casa

não se produz uma escrita. Mas, ao desenhar uma casa que se diga casa,

então está se escrevendo a palavra casa. Aí está claramente exemplificada a

diferença entre desenhar e escrever.

Historicamente muitos sistemas de escrita desenvolveram a partir de

desenhos. Ela começou a existir no momento em que o objetivo do ato de

representar pictoricamente tinha como endereço à fala como motivação fazer

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com que através da fala o leitor se informasse a respeito de alguma coisa. É

claro que as motivações da escrita não se restringem apenas à informação do

leitor. A função informativa é a primeira cronologicamente, mas não é a única e

nem sempre a principal.

A função da escrita deve ser trabalhada. Para isso é preciso que sejam

lidos para as crianças livros de literatura infantil, jornais, revistas, cartas,

bilhetes, avisos, etc., além de incentivá-las a escrever histórias em geral,

notícias sobre assuntos que lhes interessem, cartas, bilhetes, avisos; outra

atividade é a criação de textos para propaganda em sala de aula.

Quando as crianças vão escrever, não é necessário que se estabeleça

um roteiro anterior; os roteiros, nesta fase, só atrapalham. Elas precisam

escrever o mais livremente possível. O que não se deve fazer é pedir que

contem uma história em cinco linhas, usando só palavras conhecidas e

respondam a perguntas do tipo: quem, quando, onde, porquê, etc. Esse tipo de

camisa de força é altamente inconveniente, pois quebra a iniciativa da própria

criança e limita sua reflexão pessoal e tende a padronizar a expressão

individual literária, com prejuízo futuro para o aprendizado da escrita e da

leitura.

É preciso não corrigir demais as crianças: deve-se dar tempo para que

aprendam e incentivar a auto-correção, a autocrítica. Quanto mais se tenta

facilitar, orientar e corrigir tudo o que a criança faz, menos ela reflete sobre sua

ação. Motivar as crianças é desafiá-las a fazer suas tarefas.

Segundo CAGLIARI (2000): “A criança de que falamos é qualquer

criança normal, de qualquer parte do mundo”.( p.16).

Portanto, a escrita é algo com o qual os adultos estão envolvidos que

nem se dá conta de como vive alguém que não lê e não escreve, de como a

criança encara essas, atividades, de como de fato funciona esse mundo

caótico e complexo, que parece tão familiar e de uso fácil.

O mundo da escrita já é complicado e caótico no seu aspecto gráfico,

quanto mais se juntarem a isso o mundo dos significados carregados pela

escrita. A leitura vai operar justamente nesse universo. Às vezes, ler é um

processo de descoberta, como a busca do saber científico. Outras vezes,

requer um trabalho paciente, perseverante, desafiados, semelhante à pesquisa

laboratorial. A leitura pode também ser superficial, sem grandes pretensões,

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uma atividade lúdica, como um jogo de bola em que os participantes jamais se

preocupam com a lei da gravidade, mas nem por isso deixam de jogar com

gosto e perfeição.

Um dos motivos que pode levar a criança a não querer aprender a ler é

o risco que toda aprendizagem supõe: o medo de enfrentar uma situação

desconhecida, o receio de não ser capaz, a percepção de que na situação em

que está colocada ela não está autorizada a errar, tudo isso pode desenvolver

nela um bloqueio que dificulte a aprendizagem.

Durante muito tempo acreditou-se que a percepção era uma capacidade

imediata e direta, que dependia apenas dos órgãos do sentido. A

aprendizagem neste caso era vista como um processo pelo qual o organismo

conquista um novo comportamento através de um treinamento particular;

baseado na repetição, dentro dessa visão, para aprender a ler e escrever, a

criança deveria incorporar um objeto exterior.

Passado o tempo, pesquisas mais recentes demonstravam que a

percepção é dirigida em grande parte por aquisições anteriores, que

determinam a conduta perceptiva presente, isto é, uma aprendizagem que

depende das experiências anteriores do aprendiz. Essa nova visão da

percepção como aprendizagem é importante na medida em que dirigem a

atenção para o papel das vivências prévias da criança, suas experiências de

vida.

O papel do professor nos primeiros momentos da aprendizagem não se

resume a transmitir conhecimento; mas de promover situações significativas

que dêem condições à criança de se apropriar de um conhecimento ou de uma

prática.

É na escola, pela mediação do professor e com a ajuda do livro didático

que os estudantes aprenderão a ler, a escrever e a enxergar sua própria

realidade e a realidade do outro. Essa relação é essencial ao jovem, que pelo

contato e exploração de diferentes textos e por meio de ações intermediadas, o

aluno passará a interagir com seus pares, a produzir um conhecimento

partilhado, conseguindo representar oralmente e por escrito, sob vários

registros verbais, seu pensamento, sua experiência prévia de vida e seu

conhecimento coletivo de mundo.

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BARBOSA (1994) diz que: “A tarefa é aprender a ler e para ser um bom

leitor é necessário fazer um uso ótimo de tudo o que já se sabe”.( p.128).

Antes de obrigar a criança a observar, analisar ou escrever sílabas,

palavras ou frases, é indispensável que a escola lhe proporcione oportunidades

de utilizar a escrita em contextos significativos; que lhe permita observar,

explorar, questionar, experimentar os vários usos da escrita no mundo em que

vive e que promova ao mesmo tempo, a leitura constante de histórias infantis,

álbuns ilustrados, revistas em quadrinhos, jornais.

É desse modo que a escola proporciona uma experiência rica de

situações de uso da escrita, favorecendo especialmente aquelas crianças que

não tiveram a oportunidade de viver estas experiências em seu meio social e

familiar. Aquelas que dispõem de ambientes de livros e leitores encontram

maiores facilidades de êxito na aprendizagem da leitura e da escrita justamente

por causa dessas experiências prévias com o mundo da escrita. Com essas,

provavelmente desde o primeiro dia de aula o professor poderia iniciar as

atividades de sistematização, pois todas já têm as informações mais gerais

necessárias e suficientes para o ensino voltado para uma informação mais

específica sobre a escrita.

Entretanto, para não reproduzir as desigualdades sociais, é necessário

que a escola seja capaz de proporcionar a todas as crianças essas

experiências prévias com a leitura, pois sem elas, corre-se o risco de fracassar

quanto aos seus objetivos.

De acordo com CAGLIARI (2000): “Seria bom que a escola se

preocupasse menos com a escrita, especialmente com a ortografia, e desse

maior ênfase à leitura, desde a alfabetização”.( p.168).

A escola deve acompanhar a evolução do mundo, mas ela é também

uma guardiã da tradição. A leitura serve não só para se aprender a ler, como

para aprender outras coisas, lendo. Serve ainda para se ensinar e treinar a

pronúncia dos alunos no dialeto padrão. A leitura é uma maneira de se

aprender o que é escrever e qual a forma ortográfica das palavras. Para

conseguir esses objetivos é preciso planejar as atividades de tal modo que se

possa realizar o que se pretende. A leitura não pode ser uma atividade

secundária na sala de aula ou na vida, uma atividade para a qual a professora

e a escola não dedicam mais que uns míseros minutos, na ânsia de retornar

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aos problemas de escrita, julgados mais importantes. Há um descaso enorme

pela leitura, pelos textos, pela programação dessa atividade na escola; no

entanto, esta deveria ser a maior herança legada pela escola aos alunos, pois

sem ela, e não a escrita, será a fonte perene de educação, com ou sem escola.

O fato de a escola em geral não saber fazer de seus alunos bons

leitores traz conseqüências graves para o futuro destes, que terão dificuldades

enormes em continuar na escola, onde a leitura se faz necessária a todo

instante, e serão fortes candidatos à evasão escolar.

Se por um lado os problemas de alfabetização estão apoiados na

maneira imprópria como a escola trata as questões de fala, escrita e leitura, a

incompetência dessa instituição, por um lado, é alimentada nas escolas de

formação. Porém, a falta de visão de muitos, associada à ausência de

conhecimentos lingüísticos, tem atribuído o fracasso escolar ora ao aluno, visto

como um ser incapaz, carente, cheio de deficiências, ora ao professor.

Uma das causas desse fracasso é a incompetência técnica. Ocorre que

quem orienta a educação não sabe ensinar devidamente, porque desconhece

muitos aspectos básicos da fala, da escrita e da leitura.

O professor deve estar atento: quando uma criança não encontra

utilidade na leitura, é ele que deve fornecer-lhe outros exemplos, criar

situações mais envolventes. Seu próprio interesse e envolvimento com a leitura

servem como modelo indispensável: ninguém ensina bem uma criança a ler se

ela não se interessa pela leitura.

BARBOSA (1994) diz que: “O professor não pode e não deve confiar em

uma metodologia especial, milagrosa, mas na sua experiência fundamentado

por sua competência pedagógica”.( p.139).

Sabe-se que a teoria da aprendizagem da leitura não será a responsável

pela mudança do mundo. Apesar das pesquisas, dos inúmeros trabalhos

publicados na área da leitura, diversas crianças continuam com muita

dificuldade de aprender a ler e muitos professores acreditam que isso é

inevitável, nada é possível fazer. Só que mesmo que ele não possa mudar o

mundo, poderá realizar o trabalho melhor se compreender o que é a leitura e

como as crianças aprendem a ler. Poderá, mesmo desenvolvendo uma série

de atividades sem real utilidade, ir introduzindo algumas outras que de fato

favoreçam a aproximação da criança com a leitura. Mas o que realmente

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importa é que ela progrida e que encontre prazer e sentido nos múltiplos

contatos com a língua escrita e que os benefícios da leitura sejam

compartilhados por todos.

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CONCLUSÃO

Ao concluir este trabalho, tem-se a certeza de que uma das

preocupações atuais em relação à leitura das pessoas é descobrir como fazê-la

interessar-se por este tipo de atividade, uma vez que o mundo de hoje exige

cada vez mais delas, a habilidade de ler, compreender e refletir sobre o que é

lido.

O primeiro fator para aproximar uma criança da leitura é ter livros à sua

posição. Uma casa em que livros são tratados como tesouros, sem que a

criança tenha permissão para tocá-los irá transformar o livro em algo tão solene

quanto desinteressante, não contribuindo para que ela desenvolva o gosto pela

leitura.

Pequenas atitudes dos pais podem contribuir para que a criança se

aproxime ou se distancie dos livros. Mesmo que os pais não tenham a leitura

entre os seus passatempos favoritos, é preciso que evitem criticar quem lê ou

desprezar os livros. Por outro lado, se elas gostam de ler, serão exemplo para

o filho.

Mas não é só dos pais a responsabilidade e o compromisso com o

incentivo da importância da leitura. A escola tem um papel fundamental neste

processo. Tudo o que se ensina na escola está diretamente ligado à leitura e

depende dela para se manter e se desenvolver e por isso que, o melhor que a

escola pode oferecer aos alunos é a prática voltada para a leitura e, se isto não

acontece, estará fadada ao insucesso.

Os livros também fazem parte desse incentivo. O fator decisivo nesse

processo é o prazer proporcionado por eles, que começa a ser experimentado

em idade pré-escolar. Logo, desempenha um significado crucial na auto-

educação.

O modo como alguns livros são feitos hoje demonstra o pouco caso que

a leitura é tratada na sociedade. Um livro é um livro, não um amontoado de

papel impresso de qualquer maneira.

O hábito de ler, ler muito, sempre foi uma forma de preencher a solidão

do indivíduo. Antigamente, talvez se lesse mais porque não havia tantos

atrativos quanto hoje, sobretudo nas grandes cidades. O ser humano precisa

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conversar consigo, ter seu momento e a leitura é um grande auxílio da reflexão,

da meditação, do voltar-se para dentro de si.

Finalmente, é importante destacar que é preciso que os órgãos

responsáveis pela educação tenham assessorias para auxiliar de fato o

professor, dando-lhe o suporte que as escolas de formação abandonaram ou

substituíram por conteúdos vazios.

Só assim um leitor competente vai ser alguém que por iniciativa própria,

seja capaz de selecionar dentre trechos que circulam socialmente, aqueles que

podem atender a uma necessidade sua, conseguindo utilizar estratégias de

leituras para abordá-las de forma a entender a essa necessidade.

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BIBLIOGRAFIAS

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Ática, 2006.

BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e leitura. 2 ed. São Paulo:

Cortez, 1994.

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KATO, M. O aprendizado da leitura. São Paulo: Martins Fontes, 1985.

LUCKESI, Cipriano C. Evasão e repetência. São Paulo: Cortez, 2003.

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura? 19.ed. São Paulo:

Brasiliense, 1994.

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YUNES, Eliana. Pensar a leitura: complexidade. São Paulo: Loyola,

2002.

LUCKESI, Cipriano C. Evasão e repetência. São Paulo: Cortez, 2003.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

SUMÁRIO 6

INTRODUÇÃO 7

CAPÍTULO I

O conceito de leitura 9

CAPITULO II

A importância da leitura para o indivíduo e para a sociedade 14

CAPITULO III

Formas de incentivo ao desenvolvimento do hábito da leitura 19

CAPITULO IV

A escrita, a leitura e a escola na prevenção do fracasso escolar 24

CONCLUSÃO 30

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 32

ÍNDICE 33

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

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