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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
PROJETO A VEZ DO MESTRE
PROCESSO E JULGAMENTO DOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO, MEDIDA DE URGÊNCIA E RECURSO
INOMINADO NA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS
ESPECIAIS FEDERAIS
Por: Paula Butler Areal Nogueira
Orientador
Prof. Jean Alves Almeida
Rio de Janeiro
2008
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
PROJETO A VEZ DO MESTRE
PROCESSO E JULGAMENTO DOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO, MEDIDA DE URGÊNCIA E RECURSO
INOMINADO NA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS
ESPECIAIS FEDERAIS
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como condição para a conclusão do Curso de
Pós Graduação “Lato Sensu” em direito Processual
Civil.
Por: Paula Butler Areal Nogueira
3
AGRADECIMENTOS
Aos que me incentivaram e apoiaram a
completar mais uma etapa em minha vida, todo o
meu carinho, respeito e admiração.
4
DEDICATÓRIA
A Deus, que me fortalece a cada dia.
À minha família, meu baluarte.
Aos meus companheiros de jornada
pelos momentos de tensão e de alegria
que passamos.
E especialmente ao meu namorado,
pelo apoio, pela compreensão e por todo
o amor a mim dedicado.
5
RESUMO
O presente trabalho tem como escopo proporcionar uma visão simples e
prática do procedimento adotado para três tipos de recursos cíveis em sede de
Juizados Especiais Federais, de modo a esclarecer e facilitar o trabalho
daqueles que militam na justiça federal. São eles: embargos de declaração,
medida de urgência e recurso inominado.
Ressalta-se que a obra não pretende esgotar totalmente todos os temas
abordados. Pretende-se tão somente prover maior esclarecimento a respeito
do assunto que, para muitos, afigura-se um tanto quanto confuso.
Assim, haverá primeiramente uma abordagem rápida acerca da teoria
geral dos recursos e dos princípios aplicáveis, como também uma análise geral
sobre o sistema processual desses recursos adotado pela Lei 10.259/2001.
Os capítulos seguintes comentarão essas espécies recursais, bem como
seus requisitos e procedimentos.
Durante todo o trabalho foram feitas abordagens relevantes acerca do
tema tratado que, guardadas suas devidas importâncias, não poderiam ficar de
fora desse trabalho, tendo em vista o seu objetivo, de ser fonte de pesquisa e
estudo para estudantes de direito, advogados e servidores públicos federais.
6
METODOLOGIA
A metodologia adotada na pesquisa baseou-se em livros jurídicos sobre
Direito Processual Civil, Juizados Especiais Federais, como também a sites
oficiais da Justiça Federal de primeiro e segundo graus da 2ª Região, seus
provimentos, resoluções e jurisprudência.
Foram igualmente consultados outros trabalhos colocados à disposição
na internet a respeito do tema, resenhas jurídicas, informativos, sem esquecer
da experiência comum obtida em três anos de serviço público federal.
Vale mencionar ainda as aulas ministradas pelos Professores no
Instituto A Vez do Mestre, durante todo o curso de pós-graduação, assim como
a orientação metodológica gentilmente fornecida pelo Professor Jean Alves
Almeida.
7
SUMÁRIO INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO 1 10
BREVE HISTORICO
CAPITULO 2 12
DOS PRINCIPIOS PERTINENTES
CAPITULO 3 16
DA APLICAÇÃO DA TEORIA GERAL DOS RECURSOS
CAPITULO 4 27
DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
CAPITULO 5 31
DA MEDIDA DE URGÊNCIA
CAPITULO 6 35
DO RECURSO INOMINADO
CONCLUSÃO 44
BIBLIOGRAFIA 46 INDICE 47 FOLHA DE AVALIAÇÃO 48
8
INTRODUÇÃO
Os Juizados Especiais Federais, de fato, são uma realidade recente.
Eles representam uma garantia do amplo acesso à justiça. Sua maior finalidade
é aproximar o cidadão do Poder Judiciário, através de uma prestação
jurisdicional diferenciada e célere, pois se sabe quão demoradas são as
demandas de rito ordinário ajuizadas na justiça federal.
A burocratização do procedimento ordinário, os longos prazos,
pluralidade de partes somados ao grande numero de processos em andamento
fazem com que as ações permaneçam em trâmite durante anos, postergando o
desejo do autor de obter um provimento jurisdicional.
Diante desse quadro, havia uma grande necessidade de se equacionar
uma prestação jurisdicional eficaz em curto tempo para desafogar a justiça de
primeira e segunda instância.
Dentro desse contexto, foram criados os juizados especiais, norteados
pelos princípios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual
e celeridade.
Das decisões proferidas pelos juizes de primeiro grau caberia recurso à
Turma Recursal que funcionaria como órgão revisor. E assim foi feito.
Diferentemente dos juizados especiais estaduais, na justiça federal as
Turmas Recursais são consideradas colegiado de segunda instância,
compostas por juizes de primeiro grau.
Como a criação dos Juizados Especiais Federais ocorreu muito após o
advento da Lei 9.099/95 que criou os juizados estaduais, muito se indagava a
respeito do seu processamento e da sua sistemática recursal. Esta ainda
constitui um ponto fraco para os militantes da área do direito. Os recursos, seus
9 trâmites e suas formalidades ainda são indagações constantes nos corredores
forenses.
Assim, será demonstrado como o recurso inominado, os embargos de
declaração e a medida de urgência constituem recursos não complexos, com
procedimento mais curto que o previsto para o rito comum. São meios
impugnativos compatíveis com o rito célere proposto, sem que importe em
violação aos princípios constitucionais ligados ao direito processual, tais como
contraditório e ampla defesa, pois este é o devido processo legal previsto em
lei federal para os juizados especiais federais.
10
CAPITULO 1
Breve histórico
A Justiça Federal ganhou caráter nacional com o advento da
Constituição Federal de 1988, trazendo a extinção do Tribunal Federal de
Recursos – TFR, prevista no art. 27, do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias. Até então, a justiça federal tinha passado por uma série de
mudanças desde os idos tempos do Império, época em que o Poder Judiciário
possuía um caráter unitário e limitado, já que o imperador exercia o controle
sobre ele.
A grande inovação, no entanto, ocorreu com a constitucionalização dos
juizados especiais com competência para o julgamento de causas com valor
até 60 salários mínimos, excluídas as causas do art. 109 da CRFB/88.
Posteriormente, a alteração no art. 98 da CRFB, trazida pela Emenda
Constitucional nº 22, de 18/03/1999, permitiu que o legislador ordinário também
criasse os juizados especiais na justiça federal. Todavia, sua concretização
somente ocorreu com a edição da Lei 10.259/01. Tal lei criou os Juizados
Especiais Federais, mas não estabeleceu um rito propriamente dito, mas
disposições particulares relativas ao procedimento previsto na Lei 9.099/95.
Tanto é assim que a própria Lei 10.259, em seu art. 1º, prevê a sua aplicação
subsidiária, naquilo em que não houver conflito.
Vale dizer que a história dos juizados especiais teve o seu despertar em
1982, no Rio Grande do Sul, de maneira muito informal, já que não havia lei
prevendo tal procedimento. A experiência teve saldo tão positivo que
impulsionou a criação da Lei 7.244/84, a qual facultava aos Estados, Distrito
Federal e Territórios a criação de Juizados de pequenas causas.
11 No Rio de Janeiro e Espírito Santo, estados que compõem a 2ª Região,
os juizados especiais federais começaram as suas atividades em 7 de janeiro
de 2002.
No Rio de Janeiro existem nove Juizados Especiais Federais Cíveis.
Alguns deles são especializados, isto é, julgam apenas matérias cíveis
enquanto outros possuem competência exclusiva para ações previdenciárias,
em decorrência da previsão feita na lei 10.259/01, art. 19, parágrafo único.
As Turmas Recursais são consideradas órgão de segunda instância,
embora composta por juízes de primeiro grau. A composição atual é de duas
Turmas Recursais (1ª TR e 2ª TR), com quatro juízes relatores atuando em
cada uma delas, com mandato de dois anos, por escolha do Tribunal Regional
Federal, através dos critérios da antiguidade e do merecimento,
alternadamente.
12
CAPÍTULO 2
Dos Princípios pertinentes
O processo do Juizado Especial é orientado pelos princípios da
oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual, celeridade,
conciliação conforme dispõe o art. 2º da Lei 9.099/95. Esses princípios são os
responsáveis pelo objetivo proposto, qual seja, o atendimento rápido e eficaz à
população.
Pelo principio da oralidade pode-se entender que é aquele que
prevê a prevalência da palavra oral sobre a escrita, pois é meio imediato de se
interagir, contato maior com o conflito posto em solução com o objetivo de
tornar mais ágil da prestação jurisdicional.
Entretanto, esse princípio sofre uma certa mitigação na prática, pois
que somente nas ações que versem sobre direitos disponíveis, tais como as
que envolvam responsabilidade civil, é que se verá a predominância da palavra
oral sobre a escrita. Nesses casos, há uma probabilidade maior de se ter a
conciliação. Nos demais casos, as provas produzidas pelas partes são, em sua
maioria, documentais, o que dispensa uma audiência prévia, ante a
manifestação da ré pela impossibilidade de acordo. Evita-se com isso
postergar desnecessariamente o processo.
Não é incomum afirmar que a irrecorribilidade das decisões
interlocutórias constitui um sub-princípio da oralidade, como forma de impedir a
interrupção contínua no andamento do processo. Assim, para que não haja
prejuízo para às partes, a matéria relativa às decisões interlocutórias
irrecorríveis fica imune à preclusão, podendo ser reexaminadas quando da
interposição do recurso inominado.
13
Recentemente, houve uma campanha a “ Conciliar é legal”, na qual
vários processos, em sistema de mutirão, tiveram seus conflitos de interesses
solucionados por meio de acordo. Tal campanha teve enorme êxito, com saldo
bastante positivo.
A simplicidade visa um procedimento de fácil entendimento pelas
partes, ou seja, que elas consigam compreender o trâmite do processo. Não se
pode esquecer que a simplicidade traz consigo a abreviação do processo,
facilitando o acesso à justiça.
O principio da simplicidade é corolário do princípio da
informalidade, pois pugna por procedimento simples e espontâneo, de modo
que as partes se sintam a vontade para se manifestarem.
O princípio da informalidade é aquele que evita o formalismo
exagerado, tanto em relação ao tratamento como no que se refere aos atos
processuais, observado os limites da dignidade e da segurança jurídica.
Caracteriza-se pelo desapego às formas rígidas e inúteis, responsáveis pela
demora no processo de rito comum.
Pode-se dizer que esse princípio é a aplicação, na essência, do
princípio da instrumentalidade das formas.
O principio da economia processual é a engrenagem dos Juizados
Especiais. Significa uma prestação jurisdicional rápida e segura. Pretende-se
obter um máximo de resultado através de uma quantidade mínima de atos
processuais.
Aqui também está presente a aplicação do princípio da
instrumentalidade das formas, porque praticado um ato processual, ainda que
14 de maneira diversa do que prevê a Lei, se ele atingiu a sua finalidade, ele é
válido.
Em se tratando de juizados especiais, deve-se esperar que as
causas ali propostas sejam julgadas com a máxima rapidez, sem comprometer
a prestação jurisdicional eficaz. Busca-se solucionar a lide com rapidez.
Afora os princípios informativos dos Juizados Especiais, existem
outros que guardam devida importância junto à esse sistema, tal qual o
princípio da motivação das decisões judiciais, disposto no art. 93, IX, da
Constituição Federal. Segundo esse artigo todas as decisões deverão ser
fundamentadas, sob pena de nulidade.
A importância é que o art. 6º da Lei 9.099/95 diz que o juiz adotará
em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos
fins sociais da lei e às exigências do bem comum. Isso significa dizer, nas
palavras de Joel Dias Figueira Junior que
“o que o legislador procurou ressaltar, e com absoluta
razão, foi a necessidade de ver, de uma vez por todas,
ultrapassadas as barreiras da mera subsunção, para se
atingir, finalmente, uma interpretação e aplicação da
norma jurídica ao caso concreto, dentro dos padrões
sociológicos e axiológicos de interpretação. Por isso, e
não menos por isso, foi que frisou: o julgador atenderá
aos fins sociais da lei e às exigências do bem comum”1
Assim, o julgador deve buscar sempre a solução mais justa e que
satisfaça, igualmente, o interesse geral. Para isso não basta identificar o caso e
submete-lo à previsão legal. Deve se valer dos meios de interpretação, da
1 In: Juizados Especiais Federais Cíveis e Criminais. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2001, p. 158-159.
15 experiência comum, dos valores sociais, para proferir uma decisão equânime,
sempre justificando a sua decisão para afastar a arbitrariedade.
Outro princípio pertinente é o da igualdade das partes que, no
contexto dos juizados, adquiri sua aplicação plena. Por esse princípio as partes
possuem os mesmos direitos e deveres processuais. Seu maior reflexo se dá
no tocante aos prazos processuais. No rito previsto para os juizados, a
Fazenda Pública Federal não tem prazo diferenciado, nem o privilégio do
reexame necessário, presentes no rito ordinário.
Por fim, o art. 12 da Lei 9.099/95 consagra o princípio da
publicidade, segundo o qual todos os atos do processo serão públicos. É
garantia da transparência e do controle dos atos processuais.
16
CAPITULO 3
Aplicação da Teoria Geral dos Recursos
Recurso é a ferramenta processual que a parte dispõe para submeter a
decisão proferida a uma nova análise, pela mesma autoridade judicial ou
aquela hierarquicamente superior, com o objetivo de reformá-la ou invalidá-la.
É o meio idôneo a ensejar o reexame da decisão dentro do mesmo processo
em que foi proferida, antes da formação da coisa julgada. 2
O ato de recorrer constitui um ônus processual, já que a parte não está
obrigada a recorrer do julgamento que lhe é desfavorável. Entretanto, o
recurso se faz regra, porquanto a parte não se contenta com um único
julgamento, necessitando de uma segunda opinião. Essa é uma reação natural
do homem diante de um juízo a priori.
Não se pode esquecer que aquele que interpõe um recurso visa também
se precaver de um possível erro do julgador. Desse modo, o recorrente busca
uma certeza jurídica.
Tem-se, então, que o recurso é um remédio voluntário que permite
através de reexame, a reforma, a anulação, o esclarecimento ou a integração
de decisão judicial. Sua interposição é um ato de vontade.
Sua natureza jurídica é controvertida. Prevalece na doutrina
entendimento no sentido de que o recurso é um incidente do mesmo processo,
em que prolatado o pronunciamento impugnado 3. Constitui um elemento do
próprio direito de ação exercido dentro do mesmo processo. Isso o diferencia
das ações autônomas de impugnação que dão origem ao aparecimento de um
2 Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, 1ª edição, v. V, nº 104, p. 187-191. 3 Câmara, Alexandre Freitas, Lições de Direito Processual Civil, 5ª edição, v. II, p. 48.
17 novo processo, isto é, uma ação distinta e autônoma diferente daquela que
estava em andamento.
Os recursos podem atacar todo o conteúdo impugnável da decisão, ou
somente parte dele, já que a lei pode limitar esse conteúdo impugnável, como
acontece com os embargos infringentes. Daí serem classificados como recurso
total ou recurso parcial. Cabe ressaltar que a ausência de previsão legal,
impede o manejo desse recurso em sede de Juizado Especial Federal.
Podem ser classificados também como principal ou adesivo. Segundo o
art. 500 do CPC, cada parte pode interpor o seu recurso, de maneira
independente, conforme exigências legais. Assim, o recurso interposto por
cada uma delas será considerado principal, porque independentes um do outro.
Mas em caso de sucumbência recíproca, se uma das partes interpõe recurso
(que será o principal), pode a outra parte, que inicialmente estava
aparentemente satisfeita, quando intimada da interposição do principal, interpor
recurso adesivo, no mesmo prazo que dispõe para responder ao recurso
principal. O recurso adesivo fica subordinado ao principal, seguindo a mesma
sorte. Aplica-se a regra segundo a qual o acessório segue o principal.
Todavia, nos Juizados Especiais Federais, em caso de sucumbência
recíproca, cada parte deverá interpor, independentemente, o seu recurso,
tendo em vista que a Lei 10.259/01 não prevê recurso adesivo. Sua vedação é
está prevista no art. 63 da Resolução nº 30 da Presidência do TRF 2ª Região.
Nesse sentido também, o Enunciado FONAJEF nº 59:
“Não cabe recurso adesivo nos Juizados Especiais
Federais”.
18 Há na doutrina quem defenda a admissibilidade de recurso adesivo nos
juizados especiais.4
Em relação ao recurso necessário, a lei é clara no sentido do seu não
cabimento. Assim dispõe o art. 13 da Lei 10.259/01:
“Nas causas de que trata esta Lei, não haverá reexame
necessário”.
Vale ressaltar que o advento da Lei 10.352/01 acrescentou ao art. 475
do CPC o §2º, que acabou com o reexame necessário no processo comum nas
ações cujo valor da causa ou da condenação seja igual ou inferior a sessenta
salários mínimo.
Mas antes do julgamento do recurso (juízo de mérito), necessária se faz
a análise dos requisitos de admissibilidade. Este é um juízo preliminar, no qual
serão analisadas as condições impostas pela lei para a interposição de
recurso. Se preenchidos todos os requisitos legais, o recurso será conhecido, e
poderá ter o mérito apreciado.
Assim, primeiro cumpre verificar se estão satisfeitas as condições
impostas pela lei para que se possa apreciar o conteúdo da postulação (juízo
de admissibilidade); depois, e desde que o resultado tenha sido positivo – isto
é, que o recurso seja admissível -, cumpre decidir a matéria impugnada através
deste, para acolher a impugnação, caso fundada, ou rejeita-la, caso infundada
(juízo de mérito) 5.
Se o juízo de admissibilidade for negativo, o recurso não será
conhecido. Tal decisão terá conteúdo meramente declaratório. Se o juízo de
admissibilidade for positivo, ele será conhecido, e provido ou improvido,
4 Souza, Álvaro Couri Antunes, Juizados Especiais Federais Cíveis – Aspectos relevantes e os Sistemas Recursal da Lei 10.259/2001, Biblioteca de Teses. Riode Janeiro: Ed. Renovar, 2004, p. 144-145 5 Barbosa Moreira, José Carlos, O Novo Processo Civil Brasileiro, 21ª edição, Ed. Forense, 2001, p. 116
19 conforme seja reconhecido o seu fundamento, mas em ambos os caso haverá
o juízo de mérito.
Os requisitos de admissibilidade variam de acordo com o rito processual
e com a espécie de recurso a ser interposto. Porém, pode-se dizer que há uma
regra geral que deve ser observada em todos os casos, um sistema básico,
cuja inobservância levará ao não conhecimento do recurso.
Não há um consenso na doutrina quanto à classificação dos requisitos.
Eles podem ser classificados como extrínsecos (atinentes ao próprio direito de
recorrer) e intrínsecos (concernentes ao exercício daquele direito), genéricos
(aplicáveis a todos os recursos) ou específicos (somente para alguns recursos)
ou subjetivos (relativos à parte que interpõe o recurso) ou objetivos (requisitos
do próprio recurso).
Para Alexandre Câmara tem-se ainda uma outra forma de classificação,
que leva em consideração ser a interposição de um recurso um ato de
exercício do poder de ação, e que esse meio de impugnação das decisões
judiciais implica o desenvolvimento do processo perante o órgão competente
para a sua apreciação, entendendo ser aplicável, de forma adaptada, os
conceitos de “condição de ação” e “pressupostos processuais”. 6
Como dito, várias são as formas de se classificarem os recursos, sendo
que mais importante é saber quais são os requisitos de admissibilidade
genéricos, indispensáveis à interposição de recursos nos Juizados Especiais
Federais. Os requisitos específicos serão analisados conforme estudo das
espécies recursais.
Assim, pode falar que os requisitos de admissibilidade são aqueles
exigidos para que se exerça o direito de recorrer, bem como aqueles permitem
sua existência e validade no mundo jurídico.
6 Câmara, Alexandre Freitas, lições de Direito Processual Civil, 5ª edição, v. II, Ed. Lúmen Júris, 2001, p. 58.
20 Então, é necessário que estejam presentes os requisitos da legitimidade
para recorrer, o interesse em recorrer, a possibilidade jurídica do recurso, o
órgão ad quem investido de jurisdição, o recorrente com capacidade
processual e a regularidade formal do recurso.
Para que alguém possa interpor recurso, é indispensável ter sofrido um
prejuízo imposto pela sentença. Quanto à legitimidade para recorrer, o art. 499
do CPC deve ser analisado juntamente com os artigos 10 e 11 da Lei 9.099/95
e art. 6º da Lei 10.259/01. Isso porque não se admite nos Juizados Especiais a
intervenção de terceiro, nem a assistência, admitindo-se apenas o
litisconsórcio. Assim, quem poderá recorrer será somente o autor, réu, seus
respectivos litisconsortes e o Ministério Público na forma do art. 499, §2º do
CPC.
No TRF da 2ª Região, de acordo com o art. 10 do Provimento Nº
02/2002 da Coordenadoria dos Juizados Federais, não se aceitará
litisconsórcio facultativo com mais de cinco autores, em observância ao
princípio da celeridade.
O interesse em recorrer também pressupõe a existência de um gravame
que somente poderá ser revertido através da via recursal. Com a interposição
do recurso, o recorrente pretende um resultado melhor daquele imposto pela
decisão impugnada. Mas esse objetivo só será alcançado se, para tanto,,
utilizar o recurso correto. Do contrario, não haverá modificações ao
sucumbente, sendo a sentença alcançada pela autoridade da coisa julgada
material.
Desse modo, haverá interesse em recorrer quando o recurso for o único
meio colocado à disposição de quem o interpõe, a fim de alcance, dentro do
21 processo, situação jurídica mais favorável do que a proporcionada pela decisão
recorrida. 7
Pode-se afirmar que o interesse em recorrer caracteriza-se pelo
trinômio: utilidade + necessidade + adequação.
Para cada tipo de decisão haverá um recurso. Havendo dúvida objetiva
do recurso a ser interposto, e não sendo caso de má-fé ou erro grosseiro,
aplica-se o principio da fungibilidade, desde que observados certos requisitos.
Tal princípio permite que o recurso inadequado seja aceito como se fosse o
adequado. Mesmo sem previsão expressa no CPC, sua subsistência é
inegável.
O recurso interposto deve ter previsão na Lei 10.259/01. Diz-se estar
ausente a possibilidade jurídica do recurso quando inexistir previsão legal.
Exemplo clássico adotado em doutrina é caso de recurso interposto contra
despacho de mero expediente, o qual configura-se irrecorrível conforme
disposição do art. 504 do CPC. Por essas razões é que se pode afirmar que a
possibilidade jurídica do recurso está intimamente associada à recorribilidade
da decisão, já que somente decisões recorríveis poderão ser impugnadas por
meio de recurso.
Ao interpor um recurso deve-se observar a competência dos órgãos
jurisdicionais estabelecida precipuamente na Constituição Federal, de modo
que o órgão ad quem competente para o reexame seja exatamente aquele ao
qual o recorrente dirige a petição recursal. Mesmo no caso previsto no artigo
109, §3º e §4º da Constituição Federal (c/c art. 20 da Lei 10.259/01), em que a
juízo estadual exerça jurisdição federal, por ausência de sede de vara de juízo
federal, o recurso interposto contra a decisão proferida deverá ser dirigido ao
Tribunal Regional Federal.
7 Câmara, Alexandre Freitas, Lições de Direito Processual Civil, 5ª edição, v. II, Ed, Lumem Júris, 2001, p.60
22 A capacidade processual deve ser observada desde a propositura da
ação. A parte que não tenha capacidade para estar em juízo não pode recorrer.
Assim é que, exceto nos casos de bacharéis em direito, inscritos na
Ordem dos Advogados, postulando em causa própria, será indispensável a
presença de advogado para a interposição de recurso, ainda que se tenha
litigado em primeiro grau sem acompanhamento de profissional habilitado.
Essa determinação imposta pela Lei (art. 41, da Lei 9.099/95) tem por
finalidade a proteção das partes ante a maior complexidade inerente aos meios
de impugnação, devendo interessado se fazer representar por um advogado,
salvo se detentor de capacidade postulatória.
Em relação à regularidade formal do recurso alguns aspectos devem ser
observados quando da sua interposição. A petição recursal deve ser
apresentada na forma escrita e fundamentada, contendo as razões do pedido
de nova decisão, sem as quais não se conhecerá do recurso por ausência do
requisito motivação. Haverá Inépcia do recurso, já que não demonstradas as
razões do pedido de novo julgamento. Vale dizer, que não há necessidade de
se apresentar duas peças, isto é, uma peça para a interposição e outra para as
razões recursais. Prima-se pelo princípio da Instrumentalidade das formas.
Alguns problemas são freqüentemente enfrentados. Um diz respeito à
inovação recursal, que consiste em pedir algo no recurso que não foi pedido na
petição inicial. Se o recorrente acrescenta na petição recursal outro pedido,
este não será sequer conhecido, ressalvada a possibilidade de deduzi-lo em
ação própria. Se, no entanto, o recorrente discorrer sobre tema diverso daquele
discutido nos autos, ter-se-ia a hipótese de recurso com razões dissociadas,
cujo resultado será o não conhecimento do recurso. Nesse caso, a parte não
terá mais como modificar o gravame que lhe fora imposto pela sentença, já que
a Lei 10.259/01 não prevê recurso para esse tipo de decisão.
23 Os recursos deverão obedecer ao prazo previsto em lei para sua
interposição, sob pena de não serem conhecidos por manifesta
intempestividade. O decurso do prazo sem a interposição do recurso implica
em preclusão temporal, com o conseqüente trânsito em julgado.
Não há aplicação do privilégio do prazo em dobro para recorrer,
concedido pelo art. 188 do CPC à Fazenda Pública e ao Ministério Público, em
que pese não ter a Lei 10.259/01 excepcionado tal fato, como o fez com o
reexame necessário.
Também não tem aplicação nos Juizados Especiais Federais a
obrigatoriedade de intimação pessoal dos ocupantes de cargo de Procurador
Federal, prevista no art. 17 da Lei nº 10.910/04. Assim dizem os Enunciados 39
e 50, respectivamente, das Turmas Recursais do Rio de Janeiro:
“A obrigatoriedade de intimação pessoal dos ocupantes
de cargo de Procurador Federal, prevista no art. 17 da
Lei nº 10.910/2004, não é aplicável ao rito dos Juizados
Especiais Federais.”
“A prerrogativa de intimação dos Procuradores da
Fazenda Nacional mediante vista dos autos, prevista no
art. 20 da Lei 11.033/2004, não se aplica ao rito dos
Juizados Especiais Federais.”
Portanto, a título de exemplo, o Instituto Nacional de Seguro Social –
INSS deve interpor recurso no prazo de 10 (dez) dias a contar da data
publicação da sentença no Diário Oficial, e não da intimação pessoal.
Em regra, os recursos estão sujeitos ao pagamento de custas
processuais, denominado preparo, no valor de 1% do valor da causa. Se essa
quantia calculada for inferior ao valor mínimo estipulado para o recolhimento do
24 preparo, então, recolher-se-á o valor desse mínimo, hoje fixado em R$ 10,64
(dez reais e sessenta e quatro centavos).
O art. 42, §1º diz que o preparo será feito independente de intimação
nas 48 (quarenta e oito) horas seguintes à interposição, sob pena de deserção,
hipótese em que o recurso também não será conhecido.
Ocorre que, em primeiro grau de jurisdição a gratuidade é a regra.
Normalmente, pede-se a gratuidade de justiça logo na petição inicial. Havendo
o deferimento do beneficio, pedir-se-á apenas a sua confirmação quando da
interposição do recurso, já que em segundo grau a regra é o pagamento das
custas.
Todavia, se o recorrente deixar de efetuar o preparo no prazo da lei, e
estiver não existir nos autos declaração de hipossuficiência, proceder-se-á a
intimação do recorrente para que, em 48 (quarenta e oito) horas, efetue o
recolhimento do mesmo ou apresente declaração de hipossuficiência assinada
de próprio punho ou através de advogado com poderes específicos. Decorrido
o prazo sem a manifestação do recorrente, o recurso será considerado deserto.
Cumprida a determinação, o recurso será apreciado.
Se o preparo deixou de ser efetuado por motivo legitimo, e comprovado
o fato através de petição ao juiz, a deserção não será imposta. O magistrado
fixará novo prazo para a comprovação do recolhimento das custas (art. 511 do
CPC). O mesmo se aplica para os casos de recolhimento a menor. A intimação
será para que seja efetuada a devida complementação.
A União, as autarquias e fundações são isentas de custas, emolumentos
e demais taxas judiciárias (art. 24-A, da lei 9.028/95). As empresas públicas da
União estão sujeitas ao recolhimento do preparo para fins de recurso.
25 Além disso, existem os impedimentos processuais que também
impedem o conhecimento do recurso, tais como a coisa julgada, o acordo entre
as partes, assim considerado ato jurídico perfeito e a desistência do recurso.
Esta última pode ser requerida a qualquer momento, antes da sessão de
julgamento, por simples petição nos autos, independentemente da aceitação da
parte ex adversa ( art. 501 do CPC), não havendo necessidade de
homologação judicial. Nesse sentido o Enunciado nº 7 das Turmas Recursais
do Rio de Janeiro:
O pedido de desistência da ação pelo autor independe da anuência do réu.”
Não cabe em sede de Juizados Especiais Federais Cíveis a interposição
de recurso por termo, conforme redação do Enunciado nº 49 das Turmas
Recursais do Rio de Janeiro, in verbis:
“A interposição de recurso por termo de que trata o art.
578 do CPP não se aplica analogicamente aos processos
da competência dos Juizados Especiais Federais Cíveis
(§ 2o, do art. 41, da Lei 9.099/95)”.
Por fim, cabe ressaltar que o exame de admissibilidade feito pelos
Juizados Especiais Federais é provisório. O exame definitivo será feito pela
Turma Recursal, o que se revela pertinente, mormente quando a própria Lei
prevê que não caberá recurso de sentença terminativa, havendo a necessidade
de uma reanálise a fim verificar se é caso mesmo de extinção sem resolução
de mérito ou de se conhecer e julgar o recurso com o objetivo de afastar a
negativa de jurisdição, o que se verá adiante.
Os Enunciados das Turmas Recursais da Seção Judiciária do Rio de
Janeiro pertinentes ao juízo de admissibilidade são os seguintes:
26 Enunciado 17:
Quando não houver prévia análise da admissibilidade
pelo juiz a quo, a mesma será efetuada pelo relator, sem
devolução ao Juizado de origem.
Enunciado 30:
O exame da admissibilidade do recurso pelo Juizado
Especial Federal é provisório, não obstando sua
apreciação pela Turma Recursal se a parte interessada o
requerer, mediante simples petição nos autos, no prazo
previsto em lei para os embargos de declaração.
27
CAPITULO 4
Dos Embargos de Declaração
Dispõe o artigo 48 da Lei 9.099/95:
“Art. 48. Caberão embargos de declaração quando, na
sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição,
omissão ou dúvida.
Parágrafo único. Os erros materiais podem ser corrigidos
de oficio.
Art. 49. Os embargos de declaração serão interpostos por
escrito ou oralmente, no prazo de 5 (cinco) dias, contados
da ciência da decisão.
Art. 50. Quando interpostos contra sentença, o embargos
de declaração suspenderão o prazo para recursos.
Esse recurso é verbo conhecido de todos. Terá cabimento quando na
sentença ou acórdão houver omissão, contradição ou obscuridade.
O prazo para a sua interposição será de 5 (cinco) dias, contados da
ciência da decisão que se quer impugnar. A petição será dirigida ao juiz
prolator da decisão. Daí alguns autores sustentarem que os embargos
possuem natureza incidente e não de recurso.
A Lei 9.099/95 prevê, diferentemente do CPC, que a interposição de
embargos de declaração suspende o prazo para o recurso. Assim o tempo
decorrido antes da sua oposição será considerado para efeito de contagem do
28 prazo recursal para a interposição do recurso inominado. O prazo restante será
contado a partir da publicação da decisão dos embargos.
No Código de Processo Civil, a oposição dos embargos de declaração
interrompem o prazo para a interposição do recurso, conforme dispõe o art.
538.
O mesmo se aplica para os casos de interposição de embargos de
declaração em face de decisão proferida pela Turma Recursal, caso em que
também se suspenderá o prazo para a interposição de recurso extraordinário.
Os embargos de declaração também servem para corrigir os eventuais
erros materiais constantes no julgado. Nessa situação aplica-se o disposto no
art. 463, incisos I e II do CPC.
Assim, haverá obscuridade quando houver falta de clareza em
determinado ponto da decisão, dificultado a compreensão pelas partes.
A contradição é a ausência de lógica, caracterizada pela incoerência
entre as proposições apresentadas ou entre a fundamentação e o dispositivo.
Já a omissão é a ausência de manifestação do juiz sobre ponto sobre o
qual devia ter se pronunciado.
Dessarte, toda vez que houver dúvida sobre questão relevante da
decisão, que comprometa a sua compreensão, caberão embargos de
declaratórios.
É comum se afirmar que o juiz não está obrigado a responder todas as
alegações da parte, quando já tenha encontrado motivo suficiente para
fundamentar a sua decisão. Isso se aplica aos casos de embargos
protelatórios, ao quais será aplicada multa não excedente a 1% sobre o valor
da causa, sendo que em caso de reiteração, a multa poderá ser elevada até
29 10%, ficando condicionada a interposição de outro recurso, desde que efetue o
depósito no respectivo valor.
Não são poucos os que entendem ser cabível oposição de embargos de
declaração em face de decisão interlocutória, desde preenchidos os requisitos
de admissibilidade.
Sua forma de interposição pode ser a escrita ou a oral (art. 49 da Lei
9.099/95). Em segundo grau, a interposição oral “não é aconselhável, tendo em
vista que o teor do acórdão, tal como será publicado, não chega ao
conhecimento imediato do advogado presente naquele ato e, mesmo que
assim não fosse, a pauta de julgamento não comporta esse tipo de
intervenção. Não obstante, o causídico poderá oferecer os embargos,
opportuno tempore, oralmente, na Secretaria do Colegiado, sendo eles
também, reduzido à forma escrita pelo serventuário” 8
Questão relevante é a omissão quanto a matéria constitucional
suscitada. Aqui, os embargos poderão ser opostos com a finalidade de
prequestionamento. Para que eventual recurso extraordinário seja admitido é
necessário que sobre a matéria constitucional tenha havido debate, ainda que
em sede de embargos de declaração. Aplica-se as Súmulas 282 e 356 do
Supremo Tribunal Federal.
A petição de embargos será protocolada na Secretaria Única das
Turmas Recursais, dentro do prazo previsto em lei. A Secretaria providenciará
a remessa ao relator da decisão impugnada para a apreciação dos embargos
opostos.
Em regra, não há oferecimento de contra-razões aos embargos, salvo
nos casos de aplicação de efeitos infringentes, hipótese em que o embargado
será intimado a apresentar respostas aos embargos no prazo também de 5
(cinco) dias. 8 Figueira Jr., Joel Dias, Manual dos Juizados Especiais Federais Cíveis Estaduais e Federais, Ed. Revista dos Tribunais, 2006, p. 279.
30
Entretanto a aplicação dos efeitos infringentes não é pacífica na doutrina
e jurisprudência. Na prática, os efeitos modificativos são aplicados aos
embargos de declaração de modo a sanar as incorreções na decisão
embargada.
Nas Turmas Recursais, o relator poderá apresentar os embargos em
pauta de mesa da sessão seguinte, se referentes à sessão imediatamente
anterior. Não sendo o caso, os embargos serão decididos por meio de decisão
monocrática referendada (submete-se a decisão ao crivo dos demais relatores)
ou por decisão a ser incluída em pauta de julgamento.
31
CAPÍTULO 5
Da Medida de Urgência
No processo o juiz pode praticar três tipos de atos: despachos, decisões
interlocutórias e sentenças, conforme dispõe o art. 162 do CPC.
Os despachos são atos que impulsionam a marcha processual. Podem
ser praticados de oficio ou a requerimento da parte. São atos desprovidos de
conteúdo decisório, a cujo respeito a lei não estabelece outra forma.
A decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo,
resolve questão incidente (art. 162, § 2º).
Sentença é o ato do juiz que extingue o processo com ou sem
julgamento do mérito (art. 162 c/c arts. 267 e 269 todos do CPC).
Contra as decisões interlocutórias, em regra, cabe agravo. No entanto,
no sistema dos Juizados Especiais Federais vigora o principio da
irrecorribilidade das decisões interlocutórias em respeito à celeridade. Isso
porque diante da oralidade em grau máximo, com a conseqüente concentração
dos atos, não se pode dar vez aos recursos de decisões interlocutórias que
comprometeriam o bom e rápido andamento processual.
É certo que na prática surgem questões, no decorrer do processo, que
não podem ficar desprovidas de revisão, sob pena de perigo de dano de difícil
reparação. Exemplo, são as decisões que deferem ou indeferem pedidos de
tutela antecipada ou tutela cautelar. Nesses casos, aplicar-se-á o art. 4º da Lei
10.259/01 que diz:
32 “Art. 4º. O juiz poderá, de oficio ou a requerimento das
partes, deferir medidas cautelares, no curso do processo
para evitar dano de difícil reparação”.
Como visto, o legislador fez previsão expressa de um recurso contra
decisão que defere ou não medida cautelar, proferida incidentalmente.
Analisando esse recurso pelo seu aspecto formal, pode-se dizer que se
trata do recurso de agravo. Entretanto, esta não a denominação dada pela lei.
Sabe-se que o agravo possui duas modalidades, o retido e o agravo de
instrumento. Diz-se retido porque ele permanece nos autos para ser apreciado
somente por ocasião do julgamento do recurso interposto contra sentença.
Essa modalidade revela-se incompatível com o procedimento dos juizados
especiais federais, norteados pelos princípios da celeridade, informalidade e
economia processual. Em assim sendo, e não podendo as decisões de
urgência ficar sem um reexame, a lei criou outro mecanismo compatível com o
rito. Tem-se que havendo urgência na providência requerida, ela deve ser
apreciada rapidamente. Assim é que, deferida ou indeferida uma tutela
antecipada ou tutela de cautelar, caberá recurso de medida de urgência para
as Turmas Recursais.
Note-se que muito se parece com a figura do agravo de instrumento,
pois serão formados novos autos, com cópias da petição inicial, da decisão
recorrida, bem como daquelas que o recorrente julgar necessárias para a
formação do convencimento do juiz acerca do periculum in mora e do fumus
boni iuris. Esse instrumento será distribuído a um dos relatores da Turma
Recursal. Mas sua denominação não será de agravo de instrumento, e sim
MEDIDA DE URGÊNCIA, para abranger as medidas cautelares como também
os casos de antecipação de tutela (art. 273 do CPC). Ambos os institutos são
permitido no rito dos Juizados Federais, o que não poderia ser diferente pois
constituem garantias constitucionais (art. 5º, XXXV, da CF).
33 Pode-se dizer, então, que a Medida de Urgência é uma contra-cautela.
Conseqüentemente não haverá necessidade de propositura de ação
cautelar, o que faz desaparecer nesse microsistema a distinção até então
existente entre a tutela antecipada e a medida cautelar, já que havendo
recurso, seja de decisão antecipatória ou acautelatória, ambas serão
processadas à parte do feito principal.
O prazo par a interposição do recurso de medida de urgência é de 10
(dez) dias, aplicando no que couber o disposto nos artigos 522 e 558 do CPC.
Cabe ressaltar que só haverá uma hipótese de agravo de instrumento:
da decisão proferida pelo Presidente da Turma Recursal que negar seguimento
a recurso extraordinário. O agravo de instrumento será dirigido ao Supremo
Tribunal Federal e terá autos próprios. Nesse sentido, a Sumula 727, in verbis:
“Não pode o magistrado deixar de encaminhar ao
Supremo Tribunal Federal o agravo de instrumento
interposto da decisão que não admite recurso
extraordinário, ainda que referente a causa instaurada no
âmbito dos Juizados Especiais”.
Essa também a posição adotada pela Lei 10.259/01, quando no artigo
15 diz que:
“O recurso extraordinário, para os efeitos desta Lei, será
processado e julgado segundo o estabelecido nos §§ 4º a
9º do artigo 14, além da observância das normas do
Regimento”.
34 O artigo14, § 1º, por sua vez, diz que o STF, no âmbito de suas
competências, expedirá normas regulamentando o processamento do recurso
extraordinário.
Afora o caso previsto na sumula 727, todos os outros recursos
interpostos com denominação de agravo de instrumento, frise-se, que não seja
em face de decisão que inadmite Recurso Extraordinário, serão
manifestamente incabíveis por ausência de previsão legal.
Quanto ao procedimento em si, tão logo distribuída a dos relatores, o
pedido liminar será apreciado, sem o conhecimento da parte contraria –
inaudita altera pars. A decisão que deferirá ou não a liminar será uma decisão
monocrática de relator, sem o referendo dos demais relatores. Tal decisão será
encaminhada à Secretaria para publicação e intimação do recorrido para
oferecer resposta. As eventuais providências para o cumprimento da decisão
serão efetuadas, bem como comprovado o seu cumprimento se assim
determinar a decisão. Após, com o retorno dos autos ao gabinete do juiz
relator,o mérito da medida de urgência será julgado, confirmando a liminar ou
revogando-a. Essa decisão do mérito será proferida em sessão de julgamento,
perante os demais juizes da respectiva Turma Recursal, que acompanharão ou
não o voto do relator. As partes serão intimadas da sessão de julgamento, e as
decisões publicadas na própria Sessão. Após, os autos da Medida da Urgência
serão baixados ao Juizado de origem e apensados ao autos principais. Ficará
prevento o juiz relator da Medida de Urgência para eventual interposição de
recurso inominado. O arquivamento será conjunto e somente se dará com após
certidão de trânsito em julgado do recurso inominado.
35
CAPITULO 6
Do Recurso Inominado
O Princípio do duplo de jurisdição previsto no art. 5º, LV, da Constituição
Federal de 1988 garante o reexame das decisões proferidas pelo juiz singular.
Sem adentrar na divergência acerca da previsão pela Constituição do referido
principio, fato é a sua face de garantia de boa justiça.
“Assim, partindo-se do pressuposto de que o recurso inominado previsto
na lei dos Juizados Especiais Cíveis é dirigido a um outro órgão, entendemos
que efetivamente está garantido o duplo grau de jurisdição, na medida em que
este recurso não sofre limitação no que se refere à possibilidade de se pleitear
o reexame tanto da matéria de fato como aquela de direito” .9
Desse modo, compete às Turmas recursais o julgamento dos recursos
contra as decisões proferidas pelos juizes dos juizados, sendo “inadmissível a
avocação, pelo Tribunal Regional Federal, de processos ou matéria de
competência da Turma Recursal, por flagrante violação ao art. 98 da
constituição Federal” (Enunciado nº 28 do FONAJEF).
Proferida sentença em um processo que tramite no Juizado Especial
Federal ter-se-á a emissão de um provimento jurisdicional acerca da pretensão
deduzida.
Essa decisão pode, ao mesmo que julga o mérito, antecipar os efeitos
da tutela pretendida. Sem adentrar no mérito sobre a possibilidade de
antecipação na própria sentença, poderá a parte recorrer contra a decisão de
antecipação de tutela e, ao mesmo tempo, mas por meios diferentes, recorrer
9 Laspro, Orestes Nestor de Souza, Revista do Advogado, Associação dos Advogados de São Paulo, 1997
36 da sentença de mérito. Trata-se de meios impugnativos distintos, pois as
decisões possuem natureza diversa, muito embora tenham sido proferidas em
um único instrumento.
Da decisão antecipatória da tutela, cabe Medida de Urgência como visto
no capítulo anterior. Já da decisão que julga o mérito, caberá recurso
inominado, como se verá adiante.
Como dito anteriormente, a recorribilidade da decisão que se quer
impugnar é requisito indispensável para que se admita a interposição do
recurso.
Reza o art. 5º da Lei 10.259/01:
“Exceto nos casos do art. 4º, somente será admitido
recurso de sentença definitiva”.
A redação do art. 5º propicia uma interpretação restritiva, ou seja, dão a
entender que não se admitirá recurso inominado de sentença que extingue o
processo sem resolução de mérito.
Para Guilherme Bollorini10 esse entendimento apresenta alguns
inconvenientes, pois permite que o juiz ao deferir a petição inicial ou ao julgar
extinto o processo sem julgamento de mérito, profira sentença que já nasce
sob o pálio da imutabilidade como ato jurídico processual. Segundo o autor, a
parte somente poderia impugnar essa decisão terminativa por meio de
mandado de segurança ou pedido de reconsideração, o que, por um lado
prestigia a celeridade, por outro causa perplexidade no que respeita ao acesso
à justiça, pois deixaria a critério do juiz dar ou não continuidade ao processo.
10 Pereira, Guilherme Bollorini, Juizados Especiais Federais Cíveis, 2ª edição, Ed. Lúmen Júris, 2006, p. 191-192
37 Para corroborar seu entendimento, cita a doutrina de Araújo Cintra,
Grinnover e Dinamarco:
“Nenhum ato pode ficar imune aos necessários controles
(...). É preciso que se exerça ao menos o controle interno
sobre a legalidade e a justiça das decisões judiciárias.
Eis a conotação do princípio do duplo grau de jurisdição”.
Dentro desse contexto, o autor conclui que a expressão “sentença
terminativa” deve ser entendida como sentença que julga extinto o processo,
com ou sem julgamento de mérito.
Contudo, esse não é o entendimento que tem prevalecido na prática.
Tem-se que nos casos de inépcia da inicial, o juiz determinará que o
autor a emenda de modo a tornar possível o exame do mérito.
Da mesma forma não haverá prejuízo à parte que teve seu processo
extinto sem julgamento do mérito por ilegitimidade, já que, superada a
ilegitimidade, poderá ingressar com nova ação, ante a ausência de coisa
julgada.
Nos casos de ocorrência da prescrição ou decadência o que se vê, na
prática, é o julgamento do mérito com base no inciso IV do art. 269 do CPC.
Não obstante, se o juiz indeferir a petição inicial, verificando desde logo a
decadência ou prescrição, sendo provisório o juízo de admissibilidade feito pelo
Juizado, em todos os casos, sem exceção, havendo recurso, haverá remessa
obrigatória às Turmas Recursais, onde o juízo de admissibilidade será
definitivo.
Se realmente se tratar de incidência da prescrição ou decadência, o juiz
relator admitirá, excepcionalmente, o recurso, com base no Enunciado 30 das
38 Turmas Recursais. Em seguida proferirá decisão no sentido de conhecer e
negar provimento ao recurso, para julgar improcedente o pedido inicial, com
base no art. 269, IV, do CPC, para assim afastar o risco de negativa de
jurisdição, porquanto uma nova ação haveria de ser distribuída ao mesmo
órgão jurisdicional, que, por certo, manteria o mesmo entendimento já
manifestado na sentença recorrida.
A razão disso, é que a parte normalmente só se contenta com o “sim” ou
“não”. Nos casos de extinção sem mérito, sempre fica a esperança de se obter
um provimento jurisdicional positivo, o que a impulsiona a entrar com nova
ação. Sem contar na movimentação desnecessária da máquina judicial,
despertada com o ajuizamento de uma nova ação, cuja pretensão esteja
prescrita.
Vale destacar que não há como se aplicar, com rigor excessivo, o
disposto no art. 293 do CPC, ou seja, não se pode considerar a inicial de forma
tão restritiva, em notório desrespeito aos princípios que norteiam os Juizados
Especiais Federais, notadamente o da informalidade.
Nessa esteira de pensamento, vale a adoção dos enunciados nºs 3.1.1 e
3.2 da Consolidação dos Enunciados Jurídicos Cíveis dos Juizados Especiais
Cíveis, conforme pode se conferir da sua redação:
“3.1.1 – A petição inicial deve atender, somente, aos
requisitos do art. 14 da Lei 9.099/95, ressalvando-se, em
atenção aos princípios do art. 2º do mesmo diploma, a
possibilidade de emenda por termo na própria audiência,
devendo o Juiz interpretar o pedido da forma mais
ampla, respeitado o contraditório.”
“3.2 – Em face dos princípios constitucionais vigentes e
dos que constam da Lei 9.099/95, o Juiz do Juizado
Especial poderá dar um real e mais ampla abrangência
39 ao pedido inicial que contenha expressões
imprecisas, como por exemplo, perdas e danos,
indenização, se a narração dos fatos na vestibular
assim o permitir.”
Dessarte, parece mais acertada a posição adotada no sentido de qua a
intenção do legislador foi a de somente admitir recurso de decisão que ponha
fim ao processo, com julgamento do mérito, hipótese em que a sentença fará
coisa julgada material, impedindo seja rediscutido o direito em ação posterior.
Esse foi o entendimento adotado pelo Enunciado 18 das Turmas
Recursais do Rio de Janeiro, in verbis:
“Não cabe recurso de sentença que não aprecia o mérito
em sede de Juizado Especial Federal (art. 5º da Lei
10.259/2001), salvo quando o seu não conhecimento
acarretar negativa de jurisdição”.
Permite ainda o legislador que nos casos de extinção do processo se
resolução do mérito possa o relator julgar desde logo a lide, se a causa versar
sobre questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato
julgamento. Essa é a Teoria da Causa Madura, prevista no art. 515, §3º do
CPC, e introduzida pela Lei 10.352/2001.
Nesses casos não se justifica a anulação da sentença, para que outra
seja proferida no mérito propriamente, tendo em vista a causa encontrar-se
madura para julgamento, inclusive com a resposta do recorrido, o que permite,
quanto à profundidade, a devolução plena da matéria à apreciação pelo órgão
ad quem.
Quando houver aplicação pelo juiz a quo do art. 285-A do CPC, que o
permite reproduzir o teor da sentença de improcedência proferida em casos
40 idênticos, cuja matéria controvertida tenha sido unicamente de direito, deve-se
atentar se houve o cumprimento do §2º, no caso de manutenção da sentença
diante do recurso oferecido pelo autor sucumbente. Isso porque o art. 285-A,
caput, prevê a dispensa de citação, que é o ato pelo qual o réu é chamado ao
processo para se defender. Ausente a citação e havendo interposição de
recurso, deve o juiz, antes de determinar a remessa dos autos à Turma
Recursal, proceder à citação do réu para apresentar resposta ao recurso, sob
pena de violação aos princípios do contraditório, da ampla defesa e do devido
processo legal.
Se porventura não for observado tal preceito, haverá um retardamento
do processo, uma vez que os autos serão devolvidos ao Juizado para o
cumprimento da determinação do §2º, do art. 258-A do CPC.
Não poderá haver decisão pela Turma Recursal sem das contra-razões,
sob pena de nulidade.
O recurso da sentença de mérito não recebeu denominação pela Lei.
Por costume, chama-se Recurso Inominado. Sua interposição será por escrito
e em dez dias, contados da intimação da sentença (art. 42 da Lei 9.099/95),
observadas as considerações deitas anteriormente acerca da intimação da
União e Procuradores Federais, sendo certo que a parte será sempre intimada
por meio de publicação no Diário Oficial. Também será de 10 (dez) dias o
prazo par apresentar contra-razões pelo recorrido.
Para a interposição do recurso será indispensável a presença de
advogado (art. 41, §2º da Lei 9.099/95).
Recebido o recurso e oferecidas as contra-razões, o Juizado fará
remessa dos autos ao Setor de Distribuição das Turmas Recursais. Lá o
recurso será distribuído a um dos oito juizes relatores (são 2 Turmas, cada uma
com 4 relatores).
41 Efetuado o juízo de admissibilidade, e não havendo providências a
serem tomadas, o processo aguardará decisão. As decisões poderão ser de
três tipos:
a) decisão monocrática de relator, usada para negar seguimento ao
recurso, conforme Enunciado 25 das Turmas Recursais e Enunciado FONAJEF
29, respectivamente, in verbis:
“O juiz relator poderá negar seguimento ao recurso
de sentença proferida de acordo com enunciados e
sumulas das Turmas Recursais e Turmas de
Uniformização, e jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça”.
“Cabe ao relator, monocraticamente, atribuir efeito
suspensivo a recurso, bem assim lhe negar
seguimento ou dar provimento nas hipóteses
tratadas no art. 557, caput, e §1-A do CPC, e
quando a matéria estiver pacificada em sumula da
Turma Nacional de Uniformização, enunciado da
Turma Regional ou da própria Turmas Recursal”.
b) decisão monocrática referendada, que como o nome diz, é
submetida ao referendo (aquiescência) dos demais relatores que compõem o
quorum nos julgamentos do recurso do relator, obedecida a ordem decrescente
de antiguidade na Turma. A decisão referendada constará de uma listagem a
ser assinada pelo demais relatores. A isso se dá o nome de referendo. Tais
decisões não serão proferidas em sessão de julgamento, sendo as partes
intimadas da decisão após a sessão.
c) decisão de pauta de julgamento, que são aqueles que exigem do
relator uma fundamentação mais profunda e detalhada, bem como aquelas
42 decisões anulatórias. Essa decisão poderá ser elaborada na forma de Ementa-
Acórdão. O julgamento constará apenas de ata, com a indicação suficiente do
processo, fundamentação sucinta e parte dispositiva, em obediência aos
princípios da simplicidade e objetividade. Sendo a sentença confirmada por
seus próprios fundamentos, a sumula de julgamento servirá de acórdão. Nos
demais casos, será lavrado acórdão pelo relator. Vencido o relator, o acórdão
será lavrado pelo prolator do voto vencedor. As partes serão intimadas da data
da sessão de julgamento, e as decisões proferidas serão publicadas na própria
Sessão.
Questão não menos importante é a relativa aos efeitos do recebimento
do recurso inominado, prevista no art. 43 da Lei 9.099/95, que diz:
“O recurso somente devolutivo, podendo o juiz dar-lhe
efeito suspensivo, para evitar dano irreparável para a
parte”
O efeito devolutivo é aquele que devolve ao tribunal o conhecimento das
matérias apreciadas pelo juiz singular, permitindo a execução provisória do
julgado. O efeito suspensivo é aquele que impede a decisão de produzir seus
efeitos imediatos. Melhor dizer efeito obstativo, já que a palavra suspensivo dá
idéia de que algo já teve inicio.
Contudo, é perfeitamente possível a aplicação do efeito suspensivo, a
pedido ou ex oficio, em qualquer instância. Mas o juiz somente concederá tal
efeito diante do fumus boni iuris e periculum in mora, a fim de evitar dano de
difícil reparação. Trata-se de aplicação subsidiária do art. 558, parte final do
CPC.
Entende Guilherme Bollorini que o recurso de sentença nos Juizados
Especiais Federais será sempre recebido nos efeitos devolutivo e suspensivo,
eis que a fase de execução prevista na Lei 10.259/2001, somente admite o
43 cumprimento, tanto das obrigações de fazer, não fazer ou entregar coisa certa,
como das obrigações de pagar com o trânsito em julgado da sentença.11
Já o principal efeito produzido pela interposição do recurso inominado é
o de obstar o trânsito em julgado da sentença.
Por último, terá lugar um principio pertinente às decisões emanadas de
instância superior, cuja observância se impõe. Fala-se do Princípio da
reformatio in pejus. A proibição da reformatio in pejus significa que quando
somente uma das partes recorre, o órgão ad quem competente para o reexame
da sentença não pode modificá-la em prejuízo do recorrente.
Em outras palavras, significa dizer que o recorrente não poderá ter a
situação jurídica piorada se somente ele recorreu. Daí falar-se na proibição da
reforma para pior.
Não haverá que se falar em reforma para pior quando houver
interposição de recurso por ambas as partes.
O principio em comento é aplicável a todas as decisões judiciais de
segunda instância, sejam elas decisões cíveis, penais ou trabalhistas.
11 Pereira, Guilherme Bollorini, Juizados Especiais Federais Cíveis, 2ª edição, Ed. Lúmen Iuris, 2006, p. 195-196.
44
CONCLUSÃO
O presente trabalho cumpriu seu objetivo de apresentar de forma clara
sucinta a forma pela qual os recursos de medida de urgência, embargos de
declaração e recurso inominado são processados e julgados pelas Turmas
Recursais do Rio de janeiro.
Em nenhum momento pretendeu-se esgotar o tema proposto, nem
tampouco abranger todas as espécies recursais. Foram abordadas questões
relevantes, tais como a Teoria da Causa Madura e a aplicação do art. 285-A do
CPC.
Foram demonstradas divergências doutrinárias acerca da interpretação
do art. 5º da Lei 10.259/2001, questão de extrema importância para o correto
manejo do recurso inominado, expondo-se, inclusive, soluções para aqueles
que adotam interpretação extensiva ao mencionado artigo.
Da mesma forma restou clara a hipótese de cabimento da medida de
urgência e seus requisitos essenciais, provando que as tutelas de urgência,
deferidas ou indeferidas, não ficam desprovidas de reexame por uma instância
superior, que exercerá controle sobre esse ato.
Tudo isso sem deixar de fora uma rápida abordagem acerca da Teoria
Geral dos Recursos, porém com foco no microssistema dos Juizados Especiais
Federais, considerando os seus princípios norteadores.
De todo o exposto, fica a conclusão de que se trata da adoção de um
procedimento simplificado, objetivo e célere, que respeita o princípio do devido
processo legal e as garantias do contraditório e da ampla defesa.
45 Enfim, os Juizados Especiais Federais vieram pra fazer a diferença,
promovendo a racionalização do sistema e cidadania sem exclusão.
46
BIBLIOGRAFIA
BARBOSA MOREIRA, José Carlos, Comentários ao Código de
Processo Civil, 1ª edição, v. V, 2001.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos, O Novo Processo Civil Brasileiro,
21ª edição, Ed. Forense, 2001.
CÂMARA, Alexandre Freitas, Lições de Direito Processual Civil, 5ª
edição, v. II, Ed. Lúmen Júris, 2001.
DINAMARCO, Candido Rangel, Teoria Geral do Processo, 15ª edição,
Ed. Malheiros, 1999.
FIGUEIRA Jr., Joel Dias, Manual dos Juizados Especiais Federais
Cíveis Estaduais e Federais, Ed. Revista dos Tribunais, 2006.
NERY Jr., Nelson, Princípios Fundamentais – Teoria Geral dos Recursos
PEREIRA, Guilherme Bollorini, Juizados Especiais Federais Cíveis, 2ª
edição, Ed. Lúmen Júris, 2006.
THEODORO Jr., Humberto, Curso de Direito Processual Civil, 27ª
edição, Ed. Revista Forense, v. I, 1999.
TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA Jr., Joel Dias,
Juizados Especiais Federais Cíveis e Criminais, Ed. Revista dos Tribunais,
2008.
47
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTOS 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO 1 10
BREVE HISTORICAO
CAPITULO 2 12
DOS PRINCIPIOS PERTINENTES
CAPITULO 3 16
DA APLICAÇÃO DA TEORIA GERAL DOS RECURSOS
CAPITULO 4 27
DOS EMBARGOS D EDECLARAÇÃO
CAPITULO 5 31
DA MEDIDA DE URGÊNCIA
CAPITULO 6 35
DO RECURSO INOMINADO
CONCLUSÃO 44
48 BIBLIOGRAFIA 46 INDICE 48 FOLHA DE AVALIAÇÃO 49
49
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
Título da Monografia: O PROCESSO E JULGAMENTO DOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO, MEDIDA DE URGÊNCIA E RECURSO INOMINADO NAS
TURMAS RECURSAIS DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS.
Autor: PAULA BUTLER AREAL NOGUEIRA
Data da entrega: 31/01/08
Avaliado por: _____________________ Conceito: _______________