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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE DESENVOLVIMENTO INFANTIL: A IMPORTÂNCIA DO IMAGINÁRIO, DA FAMÍLIA E DA ESCOLA POR: ZILENI DE ANCHIETA DO NASCIMENTO ORIENTADOR PROFESSORA MARIA ESTHER DE ARAÚJO RIO DE JANEIRO 2009 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DESENVOLVIMENTO INFANTIL: A IMPORTÂNCIA DO IMAGINÁRIO, DA

FAMÍLIA E DA ESCOLA

POR: ZILENI DE ANCHIETA DO NASCIMENTO

ORIENTADOR

PROFESSORA MARIA ESTHER DE ARAÚJO

RIO DE JANEIRO

2009

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

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PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DESENVOLVIMENTO INFANTIL: A IMPORTÂNCIA DO IMAGINÁRIO, DA

FAMÍLIA E DA ESCOLA

Apresentação de monografia à Universidade

Cândido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Psicopedagogia.

Por: Zileni de Anchieta do Nascimento

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AGRADECIMENTOS

Sou grata a Deus por me dar a oportunidade de

conhecer pessoas tão especiais, pessoas que me

incentivaram e ajudaram sempre. Talvez,

agradecê-los seja muito pouco diante do tanto que

fizeram por mim. Mas fica aqui meu

agradecimento: à minha mãe Leone (meu tudo,

minha vida); meus irmãos Geanderson, Zilma,

Paulo, Val, Penha, Carlos, Joel, Elza, Eglacy,

Naldo (incluo aqui meus cunhados e cunhadas);

agradeço também aos meus sobrinhos que estão

sempre ao meu lado, principalmente, Jani, Jéssica

e Nícolas (meus grandes amores).

Como agradecer aos amigos6 NOSSA!!!6sou

muito agradecida por tê-los. Vai meu obrigada

enorme para: Vinícius, Cláudio, Sandra, Eliana,

Marcelo, Dulce, Rose Adriane, Aline e Érica6

vocês sempre estiveram ao meu lado, me

ajudaram a percorrer o caminho até aqui6 amo

vocês!!! Agradeço aos meus professores, grandes

mestres6 obrigada à Carly Machado, Matha

Relvas, Maria Esther e Fabiane Muniz, aprendi

muito com vocês.

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DEDICATÓRIA

Dedico este projeto à minha fonte de

inspiração e eterno Salvador: DEUS

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RESUMO

Este trabalho foi realizado visando esclarecer as fases do

desenvolvimento infantil e a importância do imaginário, da família e da escola

nesse processo. Diante do quadro que se estende à vista de todos, percebe-se

que pais e educadores precisam estar cientes dos processos de

desenvolvimento de suas crianças e com isso ajudá-las a desenvolver suas

habilidades e capacidades intelectuais, morais e físicas. Para que isso se dê de

forma equilibrada - em todas as fases do desenvolvimento - é preciso que

todos que rodeiam as crianças estejam prontos para propiciar-lhes um

ambiente favorável, dando-lhes a oportunidade de construir-se como indivíduo

de uma sociedade. Nesse processo, é muito importante levar a criança a

conhecer o ambiente dos contos de fadas, pois é aqui que ela aprenderá de

maneira mais simples a lidar com problemas complexos e a buscar respostas

para questões diversas. Sendo assim, este trabalho buscou mostrar a

importância da construção do imaginário e o quanto isso interfere na vida de

cada pessoa, para tanto é preciso deixar a criança experimentar, conhecer e

explorar o mundo à sua volta.

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METODOLOGIA

Para a realização desta monografia foi muito útil o empréstimo de livros

da biblioteca da Universidade Cândido Mendes, sem os quais não seria

possível obter as informações necessárias para tal trabalho; e ainda, as

orientações da professora Maria Esther de Araújo, que esteve sempre pronta

para esclarecer dúvidas e ajudar nesse duro processo de pesquisa.

Assim, foram utilizadas as referências bibliográficas de autores

conceituados e consagrados no assunto, tais como: Bruno Bettelheim, Ellen G.

White, Yves de La Taille, Clara Regina Rappaport, Vygotsky, etc. As

informações foram complementadas com pesquisas feitas em sites, como:

� http://www.centrorefeducacional.com.br/wallon.htm,

� http://pt.wikipedia.org/wiki/Henri_Paul_Hyacinthe_Wallon,

� http://www.webartigos.com/artides/8668/1/a-teoria-do-desenvolvimento-

psicossocial-de-erik-erikson/pagina1.html

Além do já mencionado, foi usado para esse trabalho anotações das

aulas de Psicologia do desenvolvimento (Fabiane Muniz) e Prática dos jogos

(Dirce Morrissy), visto que as professoras mencionadas têm um vasto

conhecimento no assunto e indicaram vários autores que escreveram sobre

desenvolvimento infantil, só para citar alguns: Lacombe, La Taille, Rappaport,

Vygotsky.

Vale ressaltar, que nesse processo de pesquisa foram lidas algumas

monografias e artigos que tratavam do assunto escolhido, trazendo assim,

muitos esclarecimentos da forma como escrever sobre um assunto tão

relevante para pais e pessoas ligadas à educação, como professores,

psicopedagogos, etc.

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Por fim, o livro de Marco Antônio Larosa e Fernanda arduini Ayres,

Como produzir uma monografia, ajudou muito nesse processo de realizes

deste trabalho.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9 1. DESENVOLVIMENTO INFANTIL ................................................................. 11

1.1 FREUD ................................................................................................... 11 1.1.1 Fase Oral.......................................................................................... 13 1.1.2 Fase Anal ......................................................................................... 15 1.1.3 Fase Fálica ....................................................................................... 15 1.1.4 Fase de Latência .............................................................................. 16 1.1.5 Fase genital ...................................................................................... 17

1.3 HENRI WALLON ..................................................................................... 17 1.3.1 Estágio Impulsivo-Emocional ........................................................... 20 1.3.1 Estágio Sensório-Motor e Projetivo .................................................. 20 1.3.3 Estágio do Personalismo .................................................................. 21 1.3.4 Estágio Categorial ............................................................................ 21 1.3.5 Estágio da adolescência .................................................................. 22

1.4 ERIK ERIKSON ...................................................................................... 22 1.4.1 Confiança X desconfiança ................................................................ 24 1.4.2 Autonomia X vergonha e dúvida ...................................................... 24 1.4.3 Iniciativa X culpa .............................................................................. 25 1.4.4 Diligência X Inferioridade ................................................................. 25 1.4.5 Identidade X Confusão de Identidade .............................................. 26 1.4.6 Intimidade X Isolamento ................................................................... 26 1.4.7 Generatividade X Estagnação .......................................................... 27 1.4.8 Integridade X Desespero .................................................................. 27

1.5 VYGOTSKY ............................................................................................ 28 1.5.1 Estágios do Desenvolvimento .......................................................... 29 1.5.2 Zona de Desenvolvimento Proximal ................................................. 30 1.5.3 Pensamento e Linguagem ............................................................... 31 1.5.4 Síntese ............................................................................................. 31 1.5.5 Mediação .......................................................................................... 31

2 O PAPEL DOS CONTOS DE FADAS NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL 34 2.1 A HISTÓRIA DOS CONTOS DE FADAS ................................................ 34 2.2 A IMPORTÂNCIA DO IMAGINÁRIO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL ...................................................................................................................... 35 2.3 A ESCOLA E A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS .................................. 36 2.4 “A LUTA PELO SIGNIFICADO” .............................................................. 39

3. A FAMÍLIA E A ESCOLA NO PROCESSO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL ......................................................................................................... 41

3.1 O PAPEL DA FAMÍLIA NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL ................ 42 3.2 O PAPEL DA ESCOLA NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL ............... 44

3.2.1 Interação Social ................................................................................ 46 3.2.2 O objetivo da Educação ................................................................... 48

CONCLUSÃO ................................................................................................... 50 LIVROS ......................................................................................................... 51 SITES ........................................................................................................... 52

FOLHA DE AVALIAÇÃO .................................................................................. 53

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende fazer um estudo a respeito da

importância do imaginário nos estágios do desenvolvimento infantil e qual

a relação entre o imaginário, a formação da mente e o processo de

aprendizagem. Este trabalho tem como objetivo explorar o fator construção do

imaginário infantil com o propósito de contribuir para a atuação dos

profissionais da educação tanto em sala de aula quanto na escola, verificando

como os contos de fadas influenciam essa construção e, como a

Psicopedagogia pode fazer uso disso para atuar na escola. Para teóricos como

Freud, Vygotsky, Piaget, Wallon e Erikson a criança passa por estágios de

desenvolvimento. Nesses estágios é muito importante que a criança seja

estimulada de maneira a desenvolver suas potencialidades como indivíduo de

uma sociedade.

Tem-se visto muitas crianças e adolescentes se enveredando para o

mundo do crime e, embora, muitos fatores contribuam para isso, devemos levar

em conta o processo de construção do imaginário infantil e o seu

desenvolvimento. Sabendo que o imaginário, sabiamente construído, tem uma

grande influência sobre o processo de aprendizagem da criança, capacitando-a

a resolver problemas de âmbitos diversos e que o seu desenvolvimento

depende do meio em que se encontra e das possibilidades dadas a ela para

experimentar, conhecer e explorar o mundo à sua volta.

Espera-se que este trabalho traga contribuições ampliando a

percepção de que dedicar tempo às crianças lhes dá oportunidade de

desenvolvimento, oferecendo às crianças, na fase inicial de seu

desenvolvimento, estímulos que despertarão suas habilidades e

potencialidades. Para tanto, faz-se necessário entrar em contato com

instrumentos que lhes despertará a curiosidade, que lhes levará a experimentar

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o "mundo mágico" dos contos de fadas e, enquanto a mente se desenvolve,

elas aprendem, por um lado, a resolver seus problemas, e por outro, a criar

maneiras de escapar de situações adversas.

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1. DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Segundo Rappaport, Fiori e Davis (1981), a preocupação com o estudo

da criança é bastante recente na história da humanidade. Até a época próxima

ao século XX, as crianças eram tratadas como pequenos adultos. Recebiam

cuidados especiais apenas em tenra idade. Já aos três/quatro anos

participavam de atividades predominantemente adultas. Isso despertou a

consciência de alguns estudiosos, que passaram a refletir acerca do assunto e

no século XIX e início do século XX, observa-se uma preocupação mais ampla

e sistemática com o estudo da criança e com a necessidade de uma educação

formal para esta. Do ponto de vista social, o estudo encontrou grande

dificuldade para afirmar-se como uma área séria, científica e útil.

Entretanto, grandes teóricos passaram a estudar os estágios do

desenvolvimento humano, sob aspectos diversos, dando respaldo ao que antes

era ignorado. Neste capítulo, trataremos sobre estes estudiosos e suas

contribuições para a área da educação.

1.1 FREUD

Freud nasceu em Freiberg, Moravia, em 1856. Ingressou na

Universidade de Viena em 1873, aos dezessete anos, tendo sido aprovado em

seus exames médicos finais em 1881. Sua permanência na universidade foi

prolongada pela curiosidade científica que o levava a acompanhar os cursos de

grandes cientistas e pensadores. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Sigmund_Freud)

Freud dedicou-se a estudar o ser humano sob o aspecto psicanalítico,

dando ênfase ao inconsciente. Essa idéia despertou oposição tanto dentro dos

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círculos médicos, quanto dos leigos. O próprio Freud reconheceu ser difícil

para o ser humano aceitar, naturalmente, a idéia de que somos dominados por

processos que desconhecemos, e a descoberta do inconsciente, que tira do

homem o domínio sobre sua própria vontade, causou um mal-estar em

médicos e leigos.

Embora pudessem explicar a dimensão do conflito interno, a definição

do consciente e inconsciente não respondia a algumas questões, então estes

conceitos dão lugar a três construtos psicanalíticos que constituem a

estruturação da personalidade: Id, Ego e Superego.

O Id é o reservatório de energia do individuo. É constituído pelo conjunto dos impulsos instintivos inatos, que motivam as relações do individuo com o mundo. O organismo, desde o momento do nascimento, é uma fonte de energia que se mobiliza em direção ao mundo, buscando a satisfação do que necessita para seu desenvolvimento. (RAPPAPORT, FIORI E DAVIS, 1981, p. 20/21)

O Ego surge como uma instância que se diferencia a partir do Id, serve

de intermediário entre o desejo e a realidade.

Para Freud, o ego se estrutura como uma nova etapa de adaptação evolutiva do sujeito. Isto o leva a afirmar que o Ego é acima de tudo corporal, ou seja, biológico. (1981, p. 25)

O terceiro construto é o Superego,

[...] responsável pela estruturação interna dos valores morais, ou seja, pela internalização das normas referentes ao que é moralmente proibido e o que é valorizado e deve ser ativamente buscado. (1081, p. 28)

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Freud estuda, também, os mecanismos de defesas do indivíduo,

processo psíquico cuja finalidade consiste em afastar um evento gerador de

angústia. Os mecanismos de defesa são funções do Ego, portanto

inconscientes. Em seu estudo, Freud, fala ainda da sexualidade e libido.

A libido é a energia afetiva original que sofrerá progressivas organizações durante o desenvolvimento, cada uma das quais suportadas por uma organização biológica emergente no período. Cada nova organização da libido, apoiada numa zona erógena corporal, caracteriza uma fase de desenvolvimento. (1981, p. 33)

A libido é uma energia voltada para obtenção de prazer. E neste

sentido é definida como uma energia sexual e caracteriza cada fase do

desenvolvimento infantil como uma etapa psicossexual. Para a compreensão

desse processo, passemos a tratar das fases de desenvolvimento propostos

por Freud.

1.1.1 Fase Oral

Ao nascer, o bebê perde a ligação simbiótica que tinha com a mãe

quando no útero. Com o corte do cordão umbilical, a separação é inevitável e

irreversível, e a criança inicia sua adaptação ao meio. O bebê começa a lutar

pela vida. A luta entre os instintos de vida e morte já é um combate neste

momento. “É preciso reagir, imaginar, introjetar o mundo externo. Ou se recebe

o externo, ou se deixa de viver.” (1981, p. 36)

Sendo assim, a estrutura sensorial mais desenvolvida é a boca. É pela

boca que o bebê começará a provar e a conhecer o mundo, é pela boca que

descobrirá a ligação afetiva que terá com a mãe, através do seio.

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“Neste momento a libido esta organizada em torno da zona oral.”

(1981, p. 36) e a modalidade de relação oral será a incorporação. Na fase

inicial da vida a criança precisa de um elemento concreto. Então, incorpora o

leite e o seio, e sente a mãe em si. “Tudo que a criança pega é levado à boca:

é comendo que ela conhece o mundo e que as identificações podem ser

estabelecidas.” (1981, p. 36) A incorporação lança os fundamentos da

identificação, é a etapa concreta da introjeção e a organização primitiva da

identificação.

Freud descreve, ainda, uma sexualidade oral infantil. Ele percebe que,

além da necessidade física da alimentação, a criança sente prazer no ato de

mamar, pois o movimento de sucção continua mesmo depois de satisfeita. “O

prazer oral é um modalidade que se estabelece anacliticamente ao prazer

alimentar, mas que dele se separa.” (1981, p. 37)

Rappaport, citando K. Abrahan, diz que ele propõe duas etapas do

desenvolvimento da libido na fase oral. A primeira etapa vem antes da dentição

e é chamada de etapa oral de sucção, quando a modalidade de relação é

incorporativa. A segunda etapa surge com a eclosão dos dentes, é denominada

etapa oral sádico-canibal, pela primeira vez a criança é posta em uma posição

de controle.

De um lado, ama, e amar significa a incorporação oral. De outro, o mastigar e comer atualiza fantasias destrutivas. Se o desenvolvimento afetivo for normal, o amor será estabelecido como sentimento básico. Se o desenvolvimento for dominado por angústias, a agressividade (ódio) será predominante, restando o sentimento de que tudo que é amado e incorporado é inevitavelmente destruído. (1981, p. 38)

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1.1.2 Fase Anal

No segundo ano de vida, a libido passa da organização oral para a anal,

neste período (entre o segundo e terceiro ano de vida) dá-se a maturação do

controle muscular na criança, isto é, dá-se a organização psicomotora de base.

Neste período inicia-se o andar, o falar e em se estabelece o controle de

esfíncteres.

Este período é denominado fase anal, porque a libido passa a organizar-se sobre a zona erógena anal. A fantasia básica será ligada aos primeiros produtos, notadamente ao valor simbólico das fezes. Duas modalidades de relação serão estabelecidas: a projeção e o controle. (1981, p. 39)

Segundo Rappaport, Abrahan e Freud subdividem a fase anal em duas

etapas.

A primeira é biologicamente caracterizada pelo domínio dos processos expulsivos, sobre os quais se assentará o mecanismo psicológico da projeção. A segunda etapa é retentiva, o que propiciará a base para os mecanismos psicológicos ligados ao controle. (1981, p. 40)

1.1.3 Fase Fálica

Por volta dos três anos de idade, a libido inicia uma nova organização. A

zona erógena passa para os genitais,

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[...] desenvolve-se o interesse infantil por eles, a masturbação torna-se freqüente e normal e a preocupação com as diferenças sexuais entre meninos e meninas passam a contaminar até a percepção dos objetos... Esta discriminação sexual não caracteriza a existência de dois genitais, o masculino e o feminino, mas apenas a presença ou ausência de pênis. A vagina é e continuará sendo desconhecida ainda por muito tempo. Os homens, e o gênero masculino, são definidos pela presença do órgão fálico, ao passo que as mulheres identificam-se pela sua ausência. (1981, p. 41)

Nas duas primeiras fases, oral e anal, vê-se que cada uma delas tem

uma erotização corporal, uma fantasia particular e uma modalidade de relação

de objeto. Na fase fálica, a libido erotiza os genitais. A fantasia é fálica e a

tarefa básica deste momento consiste em organizar os modelos de relação

entre o homem e a mulher. É importante ressaltar que tudo isso se refere à

organização da fantasia infantil. Portanto, nada tem a ver com a reação de

pessoas adultas em relação às fantasias. A criança precisa vivenciar essas

fantasias para se desenvolver de forma plena.

1.1.4 Fase de Latência

Neste período há uma repressão da energia sexual. Mas ela não pode

simplesmente ser eliminada ou reprimida, é preciso que ela seja canalizada

para outras finalidades, assim essa energia é canalizada para o

desenvolvimento intelectual e social da criança. Este processo é chamado de

realizações socialmente produtivas de sublimação.

O período de latência caracteriza-se pela canalização das energias sexuais para o desenvolvimento social, através das sublimações. O período de latência não é, portanto, uma fase... É um período intermediário entre a genitalidade infantil (fase fálica) e a adulta (fase genital). (1981, p. 45)

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1.1.5 Fase genital

Para Freud, alcançar a fase genital constitui atingir o pleno

desenvolvimento do adulto normal,

As adaptações biológicas e psicológicas foram realizadas. Aprendeu a amar e a competir. Discriminou seu papel sexual. Desenvolveu-se intelectual e socialmente... É capaz de amar num sentido genital amplo. (1981, p. 45)

Nessa fase a perpetuação da vida é uma finalidade. Os filhos serão

fontes de prazer. O indivíduo será capaz de trabalhar e produzir, sendo que

produzir é a sublimação do gerar.

1.3 HENRI WALLON

Wallon nasceu em Paris, no dia 15 de junho de 1789. Tornou-se

conhecido por seu trabalho científico sobre Psicologia do Desenvolvimento,

voltado principalmente à infância, em que assume uma postura interacionista.

Em 1989, Wallon é admitido na Escola Normal Superior. Aos 23 anos formou-

se em Filosofia e, logo após, formou-se em Medicina. De 1908 a 1931

trabalhou com crianças portadoras de deficiência mental.

A obra de Henri Wallon é perpassada pela idéia de que o processo de aprendizagem é dialético: não é adequado postular verdades absolutas, mas, sim, revitalizar direções e possibilidades.

Uma das consequências desta postura é a crítica às concepções reducionistas: Wallon propõe o estudo da pessoa completa, tanto em relação ao seu caráter cognitiva quanto ao caráter afetivo e motor. Para Wallon, a cognição é importante, mas não mais importante que a afetividade e motricidade.

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Henri_Paul_Hyacinthe_Wallon 24.06.09)

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Para Wallon o fator orgânico é a primeira condição para o

desenvolvimento do pensamento, mas ressalta a importância da influência do

meio. O indivíduo, para ele, seria o resultado de influências sociais e

fisiológicas, portanto o estudo do psiquismo deve considerar os dois aspectos

do desenvolvimento humano. Por outro lado, Wallon considera que as

potencialidades psicológicas dependem especialmente da interação sócio-

cultural.

Portanto, a psicogenética de Wallon está dividida em duas partes. A

primeira descreve as primeiras etapas do desenvolvimento psicomotor; e a

segunda tem o indivíduo como um ser organicamente social, isto é, “sua

estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura para se atualizar.” (DANTAS,

1992, p.36) Assim a teoria do desenvolvimento, na concepção de Wallon, é

centrada na psicogênese da pessoa como um todo e não em apenas um

aspecto do desenvolvimento humano. Então, “o desenvolvimento do sistema

nervoso não seria suficiente para o pleno desenvolvimento das habilidades

cognitivas.” (24/06/09)

Para Wallon, a cognição está alicerçada em quatro categorias de atividades cognitivas específicas, às quais se dá o nome de ‘campos funcionais’. Os campos funcionais seriam o movimento, a afetividade, a inteligência e a pessoa. (24/06/09)

O movimento é um dos primeiros campos funcionais que se

desenvolve e serve de base para os demais. Enquanto atividades cognitivas,

os movimentos estão divididos em: movimentos instrumentais (ações

executadas para alcançar um objetivo imediato) e movimentos expressivos

(tem uma função comunicativa e está associado a outros indivíduos).

Wallon acredita que o movimento tem grande importância na atividade

de estruturação do pensamento no período que antecede a aquisição da

linguagem.

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A afetividade, por sua vez, seria a primeira forma de interação com o meio ambiente e a motivação primeira do movimento. À medida que o movimento proporciona experiências à criança, ela vai respondendo através de emoções, diferenciando-se, para si mesma, do ambiente. A afetividade é o elemento mediador das relações sociais primordial, portanto, dado que separa a criança do ambiente. (24/06/09)

As emoções são a base do desenvolvimento da inteligência, sendo

este o terceiro campo funcional descrito por Wallon.

Em sua obra, a inteligência tem um significado específico, estando

relacionada a duas atividades cognitivas: o raciocínio simbólico e a linguagem.

À medida que a criança aprende a pensar nas coisas que estão fora do seu

campo de visão, o raciocínio simbólico e o poder de abstração se

desenvolvem. Ao mesmo tempo, e relacionados, as habilidades linguísticas

surgem no indivíduo, potencializando sua capacidade de abstração.

Wallon dá o nome de pessoa ao quarto campo funcional. Este campo

coordena os demais e é responsável pelo desenvolvimento da consciência e da

identidade do eu.

As relações entre estes três campos funcionais não são harmônicos, de modo que constantemente surgem conflitos entre eles. A pessoa, como campo funcional, cumpre um papel integrador importante, mas não absoluto. A cognição desenvolve-se de maneira dialética, em um constante processo de tese, antítese e síntese entre os campos funcionais. (24/06/09)

Ainda em seu estudo,

Henri Wallon reconstruiu o sue modelo de análise ao pensar no desenvolvimento humano, estudando-o a partir do desenvolvimento psíquico da criança. Assim, o desenvolvimento da criança aparece descontínuo, marcado por contradições e conflitos, resultado da maturação e das condições ambientais, provocando alterações qualitativas no seu comportamento em geral [6] Nesse sentido, a passagem dos estágios de desenvolvimento não se dá linearmente,

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por ampliação, mas por reformulação, instalando-se no momento da passagem de uma etapa a outra, crises que afetam a conduta da criança. (http://www.centrorefeducacional.com.br/wallon.htm 13/05/09)

Sendo assim, são cinco os estágios de desenvolvimento segundo

Wallon e sucede-se em fases afetivas e cognitivas.

Na sucessão de estágios há uma alternância entre as formas de atividades e de interesse da criança [6] onde cada fase predominante, incorpora as conquistas realizadas pela outra fase construindo-se reciprocamente, num permanente processo de integração e diferenciação. (13/05/09)

1.3.1 Estágio Impulsivo-Emocional

Do nascimento até próximo ao primeiro ano de vida, a criança passa

por uma fase denominada estágio impulsivo-emocional. Nesse estágio

predomina a afeição, e a emoção é o principal instrumento de interação com o

meio.

Trata-se nitidamente de uma fase de construção do sujeito, onde o trabalho cognitivo está latente e ainda indiferenciado da atividade afetiva [6] Ele consiste essencialmente na preparação das condições sensório-motoras (olhar, pegar, andar) que permitirão ao longo do segundo ano de vida, a exploração intensa e sistemática do ambiente. (DANTAS, 1992, p.40)

1.3.1 Estágio Sensório-Motor e Projetivo

De um ano até aos três anos de idade, a criança passa pelo estágio

sensório-motor e projetivo. Nessa fase há uma predominância da inteligência e

o mundo externo prevalece nos fenômenos cognitivos. A inteligência, nesse

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período, é dividida entre inteligência prática (a interação do objeto com o

próprio corpo) e a inteligência discursiva (apropriação da linguagem e

imitação).

Este sim será o momento em que a inteligência poderá dedicar-se à construção da realidade, tendo obtido certa diferenciação, tornar-se-á aquilo que Wallon chamou de inteligência prática ou das situações, e cuja extrema visibilidade a tornou tão bem conhecida com o nome de sensório-motora.

Quase simultaneamente, a função simbólica, alimentada pelo meio humano, vem despontando: no final do segundo ano a fala e as condutas representativas são inegáveis, confirmando uma nova forma de relação com o real, que emancipará a inteligência do quadro perceptivo imediato. Esta função é frágil no início, apóia ainda muito tempo nos gestos que a transportam, ‘projeta-se’ em atos: por isso Wallon a chama projetiva. (DANTAS, p.42, 1992)

1.3.3 Estágio do Personalismo

Nesse estágio, que se estende dos três anos aos seis/sete anos de idade, há

uma predominância afetiva sobre o indivíduo. Este é um período importante

para a formação da personalidade da criança e da sua autoconsciência.

Uma consequência do caráter auto-afirmativo deste estágio é a crise negativista: a criança opõe-se ao adulto. Por outro lado, também se verifica uma fase de imitação motora e social. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Henri_Paul_Hyacinthe_Wallon 24.06.09)

1.3.4 Estágio Categorial

Neste estágio, entre os sete e onze anos de idade, a criança começa a

desenvolver as capacidades de memória e atenção voluntárias.

É aqui que se formam as categorias mentais

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Conceitos abstratos que abarcam vários conceitos concretos sem se prender a nenhum deles. [6]

No estágio categorial, o poder de abstração da mente da criança é consideravelmente amplificado. Provavelmente por isto mesmo, é nesse estágio que o raciocínio simbólico se consolida como ferramenta cognitiva. (24/06/09)

1.3.5 Estágio da adolescência

A partir dos onze/doze anos, a criança começa a passar por mudanças

físicas e psicológicas, próprias da adolescência. Este é um estágio com

características afetivas, onde a criança passa por conflitos internos e externos.

Os grandes marcos desse período é a busca pela auto-afirmação e o

desenvolvimento da sexualidade.

Os estágios de desenvolvimento não se encerram com a adolescência. Em verdade, para Wallon o processo de aprendizagem sempre implica na passagem por um novo estágio. O indivíduo, ante algo em relação ao qual tem imperícia, sofre manifestações afetivas que levarão a um processo de adaptação. O resultado será a aquisição de perícia pelo individual. O processo dialético de desenvolvimento jamais se encerra. (24/06/09)

1.4 ERIK ERIKSON

Erik Homburguer Erikson nasceu em Frankfurt, no dia 15 de junho de

1902 e faleceu em Harwich em 12 de maio de 1994. Foi psiquiatra e um dos

teóricos da Psicologia do Desenvolvimento.

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Em 1933 naturalizou-se americano e passou parte da sua vida morando

na reserva dos índios Sioux, as suas experiências pessoais em antropologia

deram-lhe uma perspectiva social marcante. As investigações com os índios

confrontaram-no com o sentimento de desenraizamento e de ruptura que estes

experienciavam entre a história do seu povo e a cultura americana. Em 1936

começou a estudar a influência de fatores culturais no desenvolvimento

psicológico.

A Teoria do desenvolvimento Psicossocial foi desenvolvida por Erikson.

Ele é considerado o primeiro psicanalista infantil americano. Tornou-se psicanalista após trabalhar com Anna Freud, porém, em seus estudos, não focou no Id e nas motivações conscientes como os demais psicanalistas, mas nas crises do ego no problema da identidade. (http://www.webartigos.com/artides/8668/1/a-teoria-do-desenvolvimento-psicossocial-de-erik-erikson/pagina1.html 26/06/2009)

A teoria de Erikson é dividida em oito fases, com algumas

características peculiares, tais como: o foco está no ego; outras etapas do ciclo

vital são estudadas (além da infância, a adolescência, idade adulta e velhice

são valorizadas); a crise do ego, que pode ser positivo ou negativo, perpassa

as oito fases; de um desfecho positivo surge um ego mais forte e estável,

enquanto o desfecho negativo gera um ego mais fragilizado; após cada crise

do ego há uma reformulação e reestruturação da personalidade.

Sendo assim, os estágios são chamados de Estágios Psicossociais e

correspondem às oito crises do ego que servem para fortificá-lo ou fragilizá-lo,

dependendo do desfecho. As crises dão nome aos estágios psicossociais

descritos abaixo.

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1.4.1 Confiança X desconfiança

Esta fase é análoga à fase oral da Teoria de Freud. Nela o bebê mantém seu primeiro contato social - com seus provedores - que, geralmente é a mãe. Para ele, a mãe é um ser supremo, mágico, aquele que fornece tudo o que ele necessita para estar bem.

Quando a mãe falta, o bebê experimenta o sentimento de esperança. Ele começa a esperar que sua mãe volte e, quando isso ocorre com freqüência, há o desfecho positivo e a confiança básica é desenvolvida. Do contrário, se a mãe não retorna ou demora a fazê-lo, o bebê perde a esperança, há o desfecho negativo e o que se desenvolve é a desconfiança básica.

É necessário, portanto, que os provedores tratem a criança com muita atenção, carinho e paciência para que a confiança, a segurança e o otimismo se consolidem. Sem esses sentimentos, a criança crescerá insegura e desconfiada. [6] (26/06/2009)

1.4.2 Autonomia X vergonha e dúvida

Com o controle de seus músculos a criança inicia a atividade exploratória do seu meio. É neste momento que os pais surgem para ajudar a limitar essa explores. Há coisas que a criança não deve fazer. Então os pais se utilizam de meios para ensinar a criança a respeitar certas regras sociais. Esta crise culminará na estruturação da autonomia e pode ser comparada à fase anal freudiana.

Os pais fazem uso da vergonha e do encorajamento para dar o nível certo à autonomia à criança enquanto aprendem as regras sociais [6] se a criança é exposta à vergonha constante ela pode reagir com o descaramento e a dissimulação e tornar-se um adulto com o sentimento frequente de vergonha e dúvida sobre suas potencialidades e capacidades. (26/06/2009)

Nesta fase se desenvolve a vontade. À medida que as capacidades da

criança se desenvolvem, ela tende a ter vontade de conhecer e explorar o

mundo à sua volta. Porém, como ela começa a assimilação de regras sociais, é

preciso ter cuidado para que a vontade não seja substituída pelo controle. Os

pais devem dar à criança o grau certo de autonomia, se é exigida demais (ela

não dará conta), sua auto-estima vai baixar; se é pouco exigida, a criança tem

a sensação de abandono e de dúvida sobre suas capacidades.

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1.4.3 Iniciativa X culpa

Essa fase é comparada à fase fálica freudiana, neste período é somada à confiança e à autonomia, adquiridas nas fases anteriores, a iniciativa. Esta se manifesta quando a criança deseja alcançar uma meta e, planejando sua ação, utiliza-se de suas habilidades motoras e intelectuais para alcançá-la. A iniciativa surge para atingir metas que, muitas vezes, tornam-se fixação. É nesse período que as crianças ampliam seus contatos, fazem mais amigos, aprendem a ler e escrever (fruto da energia proveniente da iniciativa). (26/06/2009)

Durante essa Terceira crise do ego, a criança pode desenvolver o senso

de responsabilidade. Ela sente a necessidade de realizar tarefas e cumprir

papéis. Sendo assim, os pais devem dar oportunidades aos filhos para

realizarem tarefas condizentes com seu nível motor e intelectual.

1.4.4 Diligência X Inferioridade

Quando a criança se torna confiante, autônoma e desenvolve a iniciativa para objetos imediatos, passa à nova fase do desenvolvimento psicossocial - aquela que na Teoria Freudiana (fase de latência) teve menos destaque - onde a criança aprende mais sobre normas sociais e o que os adultos valorizam.

Aqui, tarefas realizadas de maneira satisfatória remetem à ideia de perseverança, recompensa em longo prazo e competência no trabalho. O ego está sensível, uma vez que se falhas ocorrerem ou se o grau de exigência for alto, ele volta a níveis anteriores de desenvolvimento, implantando o sentimento de inferioridade na criança. (26/06/2009)

Nessa etapa surge o interesse pelas profissões, por isso pais e

professores devem estimular a representação social da criança para valorizar e

enriquecer sua personalidade, além de facilitar suas relações sociais.

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1.4.5 Identidade X Confusão de Identidade

É na adolescência que surge a confusão de identidade.

Questões como: O que sou? O que serei? Sou igual aos meus pais? São levantadas e, somente quando forem respondidas, terá sido superada esta crise do ego.

O adolescente se influencia facilmente pelas opiniões alheias, isso faz com que ele assuma posições variadas em intervalos de tempo muito curtos. Este estágio pode fazer o ego regredir como forma de fuga ao enfrentamento desta crise. (26/06/2009)

Se as crises anteriores forem bem vividas, se torna mais fácil a

superação da crise de identidade.

1.4.6 Intimidade X Isolamento

Nesse estágio, a identidade está estabilizada, o ego fortalecido e o

individuo aprenderá a conviver com o outro ego. As uniões surgem nessa fase.

Mas se as crises anteriores não tiverem desfechos positivos, o individual tende

ao isolamento como forma de preservar seu ego frágil.

O isolamento pode ocorrer por períodos curtos ou longos. No caso de um período curto, não podemos considerar negativo, já que o ego precisa desses momentos para evoluir. Mas quando o isolamento é longo e duradouro o desfecho dessa crise está sendo negativo [6] Erikson definiu o elitismo também como desfecho negativo desta fase. O elitismo consiste numa espécie de narcisismo comunal, ou seja, a formação de grupos fechados de pessoas com egos semelhantes, caracterizando a incapacidade de conviver com outros egos e, portanto, não superando esta crise. (26/06/2009)

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1.4.7 Generatividade X Estagnação

Caracteriza-se pela necessidade que o indivíduo tem de gerar. Gerar qualquer coisa que o faça sentir produtor e mantenedor de algo. Pode ser filhos, negócios, pesquisas, etc. o sentimento oposto é o da estagnação.

Quando a pessoa olha para sua vida e vê tudo o que produziu, sente a necessidade de ensinar tudo o que sabe e tudo o que viveu, o desfecho é positivo. Por outro lado, o não-compartilhamento de suas “gerações” com os outros gera o que Erikson chamou de estagnação, o que pode ser considerado um desfecho negativo. (26/06/2009)

Aqui, percebe-se a necessidade que o indivíduo tem de mostrar-se útil

para si mesmo e para o mundo. Para tanto, ele precisa “gerar”, pois isso

mostrará sua potencialidade como ser humano.

1.4.8 Integridade X Desespero

Esta é a fase final do ciclo psicossocial, e pode ser chamada de

culminância ou avaliação. Há, então, duas possibilidades: desfecho positivo (o

indivíduo procura estruturar seu tempo e se utilizar de suas experiências para

viver bem); ou desfecho negativo (estagnação diante da fase final da vida). Ou

seja, ao chegar à fase final da vida, o ser humano tem diante de si uma

escolha: viver bem a experiência adquirida até ali, ou se desesperar diante da

condição em que se encontra. Essa escolha se deve aos desfechos de cada

crise da vida, se a criança se desenvolve de forma plena, saberá encarar esta

fase de maneira correta.

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1.5 VYGOTSKY

Lev Semenovitch vygotsky, nasceu em 17 de novembro de 1896 e

faleceu em 11 de junho de 1934. Formado em Direito pela Universidade de

Moscovo em 1918, o bielo-russo Vygotsky era filho de uma família judia.

Durante o seu período acadêmico estudou literatura e história na Universidade

Popular de Shanyavskii.

Vygotsky ministrava um curso de Psicologia no Instituto de Treinamento

de professores onde criou um laboratório de psicologia.

Sua experiência na formação de professores o levou ao estudo dos distúrbios de aprendizagem e linguagem das diversas formas de deficiências congênitas e adquiridas. Complementando sua formação para estudo da etiologia de tais distúrbios formou-se em Medicina [6] seu interesse em Medicina estava associado à manutenção do grupo de pesquisa de neuropsicologia com Alexander Luria e Alexei Nikolaievich Leontiev. [6]

Para Vygotsky, os signos, a linguagem simbólica desenvolvida pela espécie humana, têm um papel similar ao dos instrumentos: tanto os instrumentos de trabalho quanto os signos são construções da mente humana, que estabelecem uma relação de mediação entre o homem e a realidade. Por esta similaridade, Vygotsky denominou os signos de instrumentos simbólicos, com especial atenção à linguagem, que para ele configurava-se um sistema simbólico fundamental em todos os grupos humanos e elaborado no curso da evolução da espécie e história social. (http://www.wikipedia.org/wiki/lev-vygotsky 26/06/2009)

A linguagem, para Vygotsky, é capaz de transformar os rumos das

atividades do indivíduo. Quando se aprende a linguagem específica do meio

sociocultural, transformam-se os rumos do próprio desenvolvimento. Assim, a

visão de Vygotsky dá importância à dimensão social e interpessoal na

construção do sujeito.

As suas pesquisas sobre aprendizagem tiveram um grande enfoque na

Pedagogia. Os processos de desenvolvimento chamaram a sua atenção, pois

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sempre procurou o aparecimento de novas formas de organização psicológica,

ao invés de reduzir a estrutura de aprendizagem a elementos constitutivos.

As obras de Vigotsky incluem, além das fases da criança, alguns

conceitos de suma importância para a área do desenvolvimento humano.

1.5.1 Estágios do Desenvolvimento

Vygotsky, ao estudar os estágios do desenvolvimento humano, nota

como as crianças agem em relação àquilo que vê. Como exemplo, cita-se: Aos

três anos de idade, a criança escreve o nome do pai ou da mãe, praticando a

Escrita Indecifrável, ou seja, se o pai é alto, ela faz um risco grande, se a mãe

é baixa, ela faz algo pequeno.

Já aos quatro anos, a criança passa para uma nova fase, a Escrita Pré-

silábica, semelhante à anterior, mas bem mais elaborada: as letras são

inventadas; usa letras convencionais de forma aleatória, sem obedecer a uma

sequência lógica.

No desenvolvimento, aos quatro ou cinco anos, a criança entra na fase

da Escrita Silábica, aqui as letras convencionais representam sílabas, mas a

criança não faz separação entre vogais e consoantes, faz uma mistura e, às

vezes, escreve só com maiúsculas ou só com minúsculas.

Aos cinco anos, a criança entra na fase da Escrita Silábica alfabética.

Nesta fase a escrita é caótica, faltam letras, mas evolui em relação à fase

anterior.

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Com aproximadamente seis anos, a criança entra na fase da Escrita

Alfabética. Ela já conhece o valor sonoro das letras, mas ainda comete erros. O

hábito de ler e escrever é que corrigirão esses erros.

1.5.2 Zona de Desenvolvimento Proximal

A ZPD se relaciona com a diferença entre o que a criança consegue

realizar sozinha e aquilo que é capaz de aprender e fazer com a ajuda de uma

pessoa mais experiente. A ZPD é, portanto, tudo o que a criança pode adquirir

em termos intelectuais quando lhe é dado o suporte educacional devido.

Vygotsky define a Zona de Desenvolvimento Proximal como a distância

entre o nível de desenvolvimento real, determinado pela capacidade de

resolver um problema sem ajuda, e o nível de desenvolvimento potencial,

determinado através de resolução de um problema sob a orientação de um

adulto.

Lev Vygotsky diz que o indivíduo não pode transpor um expediente de aprendizagem sem algum conhecimento anterior cognitivamente relacionado, a fim de conectar e suportar a nova informação. (http://pt.wikipedia.org/wiki/zona_de_desenvolvimento_proximal 26/06/2009)

Assim,

O desenvolvimento real é aquele que já foi consolidado pelo indivíduo, de forma a torná-lo capaz de resolver situações utilizando seu conhecimento de forma autônoma. O nível de desenvolvimento real é

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dinâmico, aumenta dialeticamente com os movimentos do processo de aprendizagem. O desenvolvimento potencial é determinado pelas habilidades que o indivíduo já construiu, porém encontra-se em processo. Isso significa que a dialética da aprendizagem que gerou o desenvolvimento real, gerou também habilidades que se encontram em um nível menos elaborado que o já consolidado. Desta forma, o desenvolvimento potencial é aquele que o sujeito poderá construir [6] portanto, a ZPD fornece os indícios do potencial, permitindo que os processos educativos atuem de forma sistemática e individualizada. (26/06/2009)

1.5.3 Pensamento e Linguagem

Outro conceito importante é a relação que Vygotsky estabelece entre

pensamento e linguagem. O que se destaca aqui é a formação de conceitos e

a compreensão das funções mentais enquanto sistemas funcionais, sem

localização específica no cérebro de grande plasticidade e dinâmica, variando

ao longo da história da humanidade e do desenvolvimento individual.

1.5.4 Síntese

Vygotsky define a síntese não só como a soma ou a justaposição de

dois ou mais elementos, e sim como a emergência de um produto totalmente

novo, gerado a partir da interação entre os elementos anteriores.

1.5.5 Mediação

Vygotsky particulariza o processo de ensino e aprendizagem na expressão obuchenie, uma expressão própria da língua russa que coloca aquele que aprende e aquele que ensina numa relação

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interligada. A ênfase em situar quem aprende e, aquele que ensina como partícipes de um mesmo processo [6] (26/06/2009)

Assim, aparece o conceito de mediação, como um pressuposto da

relação eu – outro social.

A relação mediatizada não se dá necessariamente pelo outro corpóreo, mas pela possibilidade de interação com signos, símbolos culturais e objetos [6] para vygotsky a aprendizagem relaciona-se ao desenvolvimento desde o nascimento, sendo a principal causa para o desabrochar do desenvolvimento. (26/06/2009)

Pode-se ver que apesar de haver alguns pontos divergentes entre as

teorias destes grandes homens, todos estavam preocupados com o

desenvolvimento da criança. Freud preocupa-se coma psique, Piaget com o

desenvolvimento intelectual, Wallon com o aspecto social, Erikson com um

desfecho positivo para cada nova etapa da vida e Vygotsky com uma

concepção de formação social.

Vários aspectos estão envolvidos nos estágios do desenvolvimento

infantil, e pode-se dizer que um estágio está interligado a outro, ou seja, a

criança começa a construir seu conhecimento a partir do momento em que

nasce. Assim, ela vai “sofrendo” influência de seus pais, do ambiente em que

vive e da cultura na qual está inserida.

Daí pode-se definir o desenvolvimento

Como mudanças nas estruturas físicas e neurológicas, cognitivas e comportamentais que emergem de maneira ordenada e são relativamente duradouras. (MUSSEM, 1995, p.3)

Vale ressaltar que a criança precisa de estímulos para que seu

desenvolvimento se dê de forma completa. Em cada fase da vida, ela precisa

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experimentar e vivenciar diversas situações, pois estas a farão entrar numa

nova etapa de maneira mais autônoma, e assim, estará pronta para encarar as

diferenças que lhe espera. Tudo isso parece acontecer num ciclo: a criança

está sempre experimentando, aprendendo e retendo o conhecimento; daí entra

num novo estágio: experimenta, aprende, retém o conhecimento e o acumula

junto ao já adquirido na fase anterior, e isso ocorre em cada fase e a isso se

chama construção de conhecimento.

No entanto, para se entender de forma clara o desenvolvimento infantil é

preciso levar em conta três aspectos básicos: as mudanças são universais, há

diferenças individuais e o comportamento da criança é influenciado pelo

contexto ou situação ambiental. Assim, o desenvolvimento humano não é

apenas biológico, é também social.

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2 O PAPEL DOS CONTOS DE FADAS NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Para falar em desenvolvimento infantil não se pode deixar de fora a fala

do imaginário. As crianças ao se desenvolverem precisam conhecer o mundo

através de histórias que vão lhes proporcionar experiências com o mundo

irreal, mas que para elas será uma forma de aprendizagem. Aprenderão

através dos contos de fadas, a encontrar saídas para seus problemas e muitas

vezes encontrarão respostas para suas indagações. Visto que para se ter um

desenvolvimento completo, a imaginação da criança precisa ser bem

trabalhada, de forma que ela nem deixará de ter “ilusões” e nem será “iludida”

demais. Portanto, é importante que pais e educadores saibam trabalhar essa

questão do imaginário nas fases do desenvolvimento infantil para que a criança

desenvolva seu potencial criativo e saiba resolver problemas de âmbitos

diversos.

2.1 A HISTÓRIA DOS CONTOS DE FADAS

A palavra portuguesa “fada” vem do latim fatum (destino, fatalidade, fado, etc). No Brasil e em Portugal, os contos de fadas, na forma como são conhecidos hoje, surgiram no fim do século XIX sob o nome de contos da carochinha. Esta denominação foi substituída por contos de fadas no século XX.

(http://www.amigodaalma.com.br/conteudo/artigos/contos_fadas.htm Artigo de Paulo Urban Publicado na Revista Planeta nº 345 / junho 2001)

Os contos de fadas são uma variação do conto popular ou fábula.

Partilham com estes o fato de ser uma narrativa curta, transmitida oralmente, e

onde o herói ou heroína enfrentam grandes obstáculos antes de triunfar contra

o mal. Caracteristicamente envolvem algum tipo de magia, metamorfose ou

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encantamento, e apesar do nome, animais falantes são muito mais comuns

nessas histórias do que as próprias fadas.

As versões infantis dos contos de fadas hoje consideradas clássicas

teriam nascido meio que por acaso na França do século XVII, na corte de Luís

XIV, pelas mãos de Charles Perrault. Mas vários escritores ficaram conhecidos

por seus escritos infantis, como: Os irmãos Grimm, Hans Christian Andersen,

Lewis Carroll e Carlo Callodi.

2.2 A IMPORTÂNCIA DO IMAGINÁRIO NO DESENVOLVIMENTO

INFANTIL

Segundo Paulo Urban, em seu artigo publicado na revista Planeta em 1991

(http://www.amigodaalma.com.br/conteudo/artigos/contos_fadas.htm), muitos

pais desejam ver seus filhos com as cabeças funcionando racionalmente como

as suas, e acreditam que a maturidade deles dependa exclusivamente do

ensinamento lógico oferecido pela maioria das escolas que, via de regra, em

nossa sociedade moderna, nada mais fazem que repassar um conteúdo

pedagógico desprovido de maiores significados para a vida. Esquece-se de

explorar os sentimentos como fundamental ingrediente para a formação do

caráter e, ainda que bem alfabetizem, desconsideram os contos de fadas como

se estes só gerassem confusões quanto aos conceitos sólidos de realidade que

devem ser ensinados às crianças.

Afinal, como se sabe, a sabedoria não é algo que nasce pronto, precisa

ser construída ao longo da vida, e toda essa construção têm início ainda na

infância, nos primeiros anos de vida. É nos primeiros anos de vida que o

indivíduo tem um extraordinário potencial para desenvolver suas

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potencialidades, mas isso só ocorrerá num bem explorado e maduro

psiquismo. Isso leva as crianças a trabalharem a necessidade de conhecer

seus próprios sentimentos em relação ao mundo e ao outro, e deve ser bem

trabalhado por pais e educadores.

Nesse sentido, os contos de fadas cumprem um papel relevante no

desenvolvimento humano, possuem um rico teor moral que envolve a atenção

das crianças, despertando-lhes sentimentos e valores intuitivos que as levam a

um desenvolvimento pleno, tão pleno como possa vir a ser o intelecto.

Os contos de fadas podem ser vistos como pequenas obras de arte,

capazes de envolver o indivíduo em seu enredo, instigar-lhe a mente e

comover-lhe com a sorte de cada personagem. Os contos causam impacto na

mente, pois tratam das experiências cotidianas, e permitem que a criança se

identifique com as dificuldades ou alegrias do herói, cujos feitos narrados

expressam a condição humana frente às provações da vida. Sendo assim, tão

verdadeiros ao simbolizar o caminho humano de desenvolvimento, e

apresentando as situações críticas de escolhas que devem ser feitas todos os

dias, despertam nas crianças um interesse não só de diversão, mas também

de aprendizado apropriado para sua segurança. Nesse processo, cada criança

apreende o que de melhor possa aplicar em sua própria história, assim

ampliam os significados aprendidos tornando-os eficientes, conforme as

necessidades do momento em que vivem.

2.3 A ESCOLA E A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS

O espaço da escola, principalmente na fase da educação infantil, é

privilegiado para “sonhar”. O educador tem nas mãos a possibilidade de ajudar

a criança a sonhar coisas diferentes.

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O conto de fadas é um dos eixos condutores do trabalho na educação

infantil. A história dá margem para desdobramentos de conteúdos e conceitos.

Através da história a criança pode lidar com seus medos, suas angústias, sua

raiva: pode significar e resignificar experiências. Os contos falam do

afastamento da família, de sofrimento, de sair de casa, perder-se para depois

ser encontrado, ou seja, falam da vida de cada indivíduo. É certo que essas

histórias atravessam gerações porque tratam desses aspectos da vida, daí a

importância de se trabalhar essas histórias com crianças, principalmente até os

seis anos de idade.

Nos contos de fadas tem sempre o poderoso, o grande, o forte, o

pequenininho, frágil, aquele em quem ninguém acredita e que, muitas vezes,

resolve as questões. Assim, todos são atingidos pelo enredo e apreende a

história para aplicar na própria vida.

Com as histórias infantis, os educadores, podem trabalhar os alicerces,

a base da construção do imaginário da criança, do seu eu, sua individualidade

emocional, além da inteligência e da socialização.

Nas fases do desenvolvimento a criança passa por várias experiências

que a ajudam a crescer como pessoa. De zero a dois anos ela age sobre o

mundo, vive a ação daquilo que ouve. A partir dos dois anos, quando aparece a

linguagem, ela entra no mundo simbólico e pode representar as ações vividas.

Nesse momento as histórias passam a ter sentido para a criança, assim a

história é o melhor meio para a construção da imaginação, do mundo

simbólico.

Para que ocorra um bom desenvolvimento no que se refere à

imaginação, a escola precisa ajudar a criança a ampliar seu mundo (que até

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então se reduz a sua casa, a casa da vovó, a creche, a escola). O professor

deve levar a criança a construir espaço e tempo através do imaginário. Sendo

assim, a história transporta a criança para a floresta, o castelo, o mar. O

espaço vai sendo ampliado primeiro pela história para depois ser vivenciado

pela criança. Já em relação ao tempo, a história trabalha num primeiro

momento o tempo como uma sequência de ações para depois entrar no tempo

para além desse tempo (há muito tempo atrás, antigamente, a Princesinha

nasceu, cresceu6), ou seja, trabalha o tempo cronológico.

Além do já mencionado, os contos trabalham noções matemáticas,

sequências de ações (cumulativas) e as articulações do pensamento. Portanto,

antes de pegar o caderno para escrever e ler, o professor deve trabalhar tudo

isso com a criança, despertando nela o desejo de ler, de se alfabetizar -

primeiro para o mundo fascinante dos livros, para depois querer contar para o

outro (aqui entra a comunicação/socialização) - entenda-se esta leitura não

apenas como ler as palavras, mas ler o mundo que se forma à sua volta, ler a

imagem, o corpo, os barulhos, os movimentos, enfim, ler suas experiências de

vida.

É essa leitura, construída de forma correta na escola, que levará a

criança a obter respostas para seus medos, suas inseguranças. Através dos

contos de fadas ela busca responder às questões diárias, aplicando as

experiências dos “heróis” à sua própria vida.

Assim, vale ressaltar, que a leitura dos contos de fadas é de suma

importância para a formação de todas as crianças, ou seja, escutá-las é o início

da aprendizagem da criança.

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2.4 “A LUTA PELO SIGNIFICADO”

A criança necessita ter uma verdadeira consciência de sua existência e

para isso precisa encontrar um significado para a própria vida. É bem sabido

que a criança passa por crises enquanto se desenvolve - principalmente na

adolescência - e muita vez perde o desejo pela vida, porque esta lhe parece

sem significado.

Uma compreensão do significado da própria vida não é subitamente adquirida numa certa idade, nem mesmo quando se alcança a maturidade cronológica. Ao contrário, a aquisição de uma compreensão segura constitui a maturidade psicológica. E esta realização é o resultado final de um longo desenvolvimento: a cada idade buscamos e devemos ser capazes de achar alguma quantidade módica de significado congruente com o “quanto” nossa mente e compreensão já se desenvolveram. (BETTELHEM, 1981, p.11)

Entende-se, assim, o quanto é essencial que família e escola estejam

preparadas para assistir as crianças durante seu desenvolvimento, pois

qualquer falha pode torná-la despreparada para exercer suas potencialidades.

Muitas vezes, vemos crianças e adolescentes se enveredando para o mundo

do crime e, embora muitos fatores possam ser atribuídos a isso, pode-se dizer

que o processo de construção do imaginário contribui em muito para que isso

ocorra. Negar à criança, em suas fases iniciais, a oportunidade de sonhar e de

“viajar” através dos contos de fadas, é negar-lhe uma oportunidade de

construir-se como indivíduo.

Hoje, como no passado, a tarefa mais importante e também mais difícil na criação de uma criança é ajudá-la a encontrar significado na vida. Muitas experiências são necessárias para se chegar a isso. A criança, à medida que se desenvolve, deve aprender passo a passo a se entender melhor; com isto, torna-se mais capaz de entender os outros, e eventualmente pode-se relacionar com eles de forma mutuamente satisfatória e significativa. (BETTELHEM, 1980, p.11/12)

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Essa capacidade de se entender melhor e entender os outros é o que

levará a criança a ter uma autonomia e uma auto-realização na vida. A isso,

Erikson chama de desfecho positivo, ou seja, a capacidade que o indivíduo tem

de superar as crises e, assim, fortificar-se como pessoa. Portanto, torna-se

necessário que pais e educadores deem à criança um ambiente que lhe

transmita segurança e otimismo. Assim, ela não ficará à mercê dos acasos da

vida, mas terá um desenvolvimento completo de modo que sua emoção,

imaginação e intelecto se ajudem e se enriqueçam.

Nossos sentimentos positivos dão-nos força para desenvolver nossa racionalidade; só a esperança no futuro pode sustentar-nos nas adversidades que encontramos inevitavelmente. (BETTELHEIM, 1980, p.12)

Vale ressaltar que ao ler um conto de fadas a questão para a criança

não é quem ela quer ser, mas com quem ela quer se parecer. Daí a

importância de se trabalhar bem a questão do imaginário na criança, pois ela

não está apenas aprendendo a ler e escrever, está aprendendo a fazer

escolhas e a lidar com suas próprias emoções.

Em seu livro, A psicanálise dos contos de fadas, Bruno Bettelheim

(1980), deixa bem claro que os contos de fadas lidam com os problemas

existenciais e os dilemas das crianças, suas necessidades de serem amadas

e o medo de não ter valor para o outro; fala do amor pela vida e do medo da

morte. Assim, o conto de fadas oferece soluções de maneira que a criança

possa apreender no seu nível de compreensão, onde ela possa perceber que

só partindo para o mundo é que o herói - ou seja, ela mesma - pode se

encontrar; e ao se encontrar, encontrará também o outro com quem será

capaz de “viver feliz para sempre”; isto é, encontrará a segurança para seguir

adiante e não terá medo de fazer suas escolhas.

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3. A FAMÍLIA E A ESCOLA NO PROCESSO DO

DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Dois fatores importantíssimos no que se refere ao desenvolvimento

infantil são a família e a escola. Esses dois pilares têm nas mãos um trabalho,

que se feito da maneira errada poderá prejudicar a criança para toda a vida,

mas em contrapartida podem fazer um trabalho tal que a criança se

desenvolverá de forma plena e terá a capacidade de tomar as decisões

corretas e fazer escolhas que lhe permitam ter uma vida bem resolvida.

A mais bela obra já empreendida por homens e mulheres, é lidar com espíritos jovens. O máximo cuidado deve ser tomado, na educação da juventude, para variar de tal maneira a instrução, que desperte as nobres e elevadas faculdades da mente. Pais e mestres acham-se igualmente inaptos para educar as crianças, se não aprenderam primeiro s lição do domínio de si mesmos, a paciência, a tolerância, a brandura e o amor. Que importante posição para os pais, tutores e professores! Bem poucos há que compreendam as mais essenciais necessidades do espírito, e a maneira porque devam dirigir o intelecto em desenvolvimento, os pensamentos e sentimentos crescentes dos jovens. (WHITE, Fundamentos da educação cristã, 1996, p.15)

Diante desse quadro, percebe-se que família e escola têm o “destino”

das crianças nas mãos e isso lhes dá uma responsabilidade enorme ao que se

refere ao cuidado com seus filhos e alunos. Muitas vezes o que se vê são

crianças e adolescentes que parecem bem educados enquanto se encontram

sob a disciplina, quando, porém, o sistema que as ligou a certas regras se

rompe, parecem incapazes de pensar, agir ou decidir por si mesmas.

Essas crianças estiveram por tanto tempo sob uma regra de ferro, sem permissão de pensar e agir por si mesmas naquilo em que era perfeitamente próprio que o fizessem, que não tem confiança em si mesmas, para procederem Segundo seu próprio discernimento, tendo opinião própria (a tão falada autonomia). (WHITE, 1996, p.16)

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É certo que a criança não deve ser deixada a pensar e proceder

independentemente de seus pais e mestres. Elas devem ser ensinadas a

respeitar as regras, e serem guiadas pelos pais e professores. As crianças

devem ser educadas de maneira que desenvolvam suas faculdades

intelectuais, físicas e morais. Assim, ao saírem de sob a mão guiadora de pais

e mestres, agirão com confiança, determinação e autonomia.

3.1 O PAPEL DA FAMÍLIA NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

A família desempenha um papel fundamental no desenvolvimento dos

filhos. A criança passa a maior parte do tempo com a mãe e com o pai, e deles

apreende muitas noções para que se desenvolva de forma plena.

Desde muito cedo os pais precisam se conscientizar de que exercem

influência sobre os filhos e que isto marcará a vida da criança até a idade

adulta. Portanto, uma atitude impensada, uma palavra mal-dita, pode levar a

criança a desenvolver desconfiança em relação a si mesma, ao outro e ao

mundo.

A família deve ser o maior dentre todos os fatores educativos. É em casa

que a educação deve ter seu início. Ali está a primeira escola da criança. Ali,

tendo os pais como instrutores, a criança aprenderá lições que a guiarão por

toda a vida. Sobre os pais está a responsabilidade de proporcionar

desenvolvimento físico, moral e intelectual às crianças. Deve ser objetivo de

cada família “alcançar” para seus filhos um desenvolvimento bem equilibrado.

As instruções dadas pelos pais aos filhos devem ser simples e claras

para que estes apreendam o que está sendo ensinado por meio da experiência

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(acertar ou errar não vem ao caso, o importante é experimentar para apreender

o valor que se quer atingir). As crianças devem ser ensinadas a cumprir os

deveres práticos da vida diária

Enquanto ainda são pequenas, deve a mãe dar-lhes alguma tarefa simples a fazer cada dia. Levará mais tempo para ela as ensinar do que fazê-la ela própria; mas lembre-se de que deve, para a formação do caráter delas, lançar fundamento da prestatividade.

(Ellen G. WHITE, Conselhos aos pais, professores e estudantes, 2000, p.122)

Crianças e adolescentes precisam sentir-se úteis na vida em família, pois isso os ajudará em cada fase de seu desenvolvimento. Os pais devem procurar despertar nos filhos interesse pelas tarefas e pelo estudo. A vida não lhes foi dada para ser vivida em ociosidade e em agradar a si mesmas, mas para aprender coisas novas a cada dia e, assim, desenvolverem todo seu potencial como individuo.

Os pais devem levar os filhos a ver que grandes possibilidades são postas diante de todos os que desenvolvem suas aptidões, incentivando-os a estar sempre em busca de algum novo conhecimento que lhes capacite para a vida futura. Por esta razão é de suma importância uma educação que lhes permita se desenvolver de forma equilibrada e completa. Habilitar a criança para uma vida plena,

[6] requer algo mais que uma educação parcial, unilateral, que desenvolva as faculdades mentais com prejuízo das físicas. Todas as faculdades da mente e do corpo precisam ser desenvolvidas; esta é a obra que os pais, auxiliados pelo mestre, devem fazer pelas crianças e os jovens postos sob seu cuidado. (WHITE, 2000, p.145)

Assim, os pais desempenham um papel muito importante no

desenvolvimento da criança, são eles que lhes darão as primeiras lições e que

ajudarão os filhos a resolverem os primeiros dilemas e questões. São os pais

que levarão os filhos a se reconhecerem como partes importantes de uma

sociedade e que mostrará aos filhos o quanto é importante desenvolverem

suas habilidades e capacidades, para que em cada fase de seu

desenvolvimento cresçam intelectualmente, fisicamente e moralmente.

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3.2 O PAPEL DA ESCOLA NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Ao longo do desenvolvimento a criança passa um longo tempo aos

cuidados da escola, e esta precisa estar preparada para receber esta criança e

ajudá-la a desenvolver suas potencialidades como indivíduo. É na escola que a

criança começa a se socializar de forma mais contundente, e o professor

precisa estar atento a essa socialização, fazendo com que a criança aja de

forma correta, para que assim, ela saiba que precisa respeitar o outro.

A socialização é um processo interativo, necessário para o desenvolvimento, através do qual a criança satisfaz suas necessidades e assimila a cultura ao mesmo tempo em que, reciprocamente, a sociedade se perpetua e se desenvolve. [6] dentro deste conceito, a escola exerce um papel importante na consolidação do processo de socialização, processo esse que ocorre já no início da vida da criança. A escola será determinante para o desenvolvimento cognitivo e social infantil e, portanto, para o curso posterior de sua vida. (http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/A0351.pdf, 18/08/2009 (O papel da escola no processo de socialização infantil, por Juliane Callegaro Borsa, documento produzido em 18/07/2007)

Segundo Mussen, Conger, Kagan e Huston (1995, p.309), o sucesso na

escola e na vida adulta depende não só das capacidades das pessoas, mas

também de suas atitudes, motivações, habilidades para o trabalho e reações

emocionais em relação à escola e outras situações de aprendizado.

Para eles, à medida que se desenvolvem, as crianças adquirem

capacidades mais refinadas para pensar e adotar padrões de desempenho e

para usar informações sobre o desempenho de outra criança. Assim, durante

os primeiros anos escolares ocorrem algumas mudanças na vida das crianças:

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As expectativas estabelecidas pelas crianças se tornam mais realistas, ou seja, mais próximas de seu desempenho real [6]. As crianças usam cada vez mais comparações sociais para avaliar seu próprio desempenho [6]. As crianças estabelecem níveis cada vez mais elevados de aspiração para si próprias, ou seja, elas escolhem tarefas mais difíceis. [6] (MUSSEN, CONGER, KAGAN, HUSTON, 1995, p.315)

Isso tudo tem a ver com as fases de desenvolvimento da criança, que ao

passar de uma fase para outra vê que pode atingir outras metas e não teme se

arriscar. Assim, quando a criança chega à escola, o professor deve dar a ela a

oportunidade de crescer como ser humano, de mostrar suas potencialidades e,

principalmente, de se desenvolver intelectualmente, fisicamente e moralmente.

Nesse ínterim, entra a brincadeira com outras crianças, este é o primeiro passo

para o desenvolvimento das relações sociais. Sendo que estas brincadeiras

não ocorrem com freqüência antes dos dois anos.

Durante os dois primeiros anos, as brincadeiras das crianças mudam de respostas primeiramente sensório-motoras tais como correr ou bater com um martelo de Madeira, para brincadeiras mais simbólicas e solitárias, tais como fazer de conta que está dirigindo um carro ou trocar as fraldas de uma boneca [6] Depois de dois anos, os colegas se tornam cada vez mais importantes para a vida social das crianças. As interações das crianças aumentam e se tornam mais positivas e muitas crianças podem iniciar uma brincadeira, cooperar e aguardar sua vez. Geralmente, é a brincadeira que reúne as crianças e fornece um ambiente propício para a formação e manutenção de relações sociais, incluindo amizades. (1995, p.384)

Nesse caso o professor tem a responsabilidade de estabelecer o vínculo

entre as crianças, pois é na escola que essa interação se tornará cada vez

mais frequente, mais fortalecida, mais social e complexa. Já que um dos pré-

requisitos para estabelecer e manter essas relações é a capacidade de

controlar seu próprio comportamento, levando em conta as necessidades e

sentimentos das outras crianças - isso só vai ocorrer de maneira equilibrada se

o desenvolvimento da criança estiver se construindo de maneira satisfatória. À

medida que as crianças crescem, elas se tornam mais capazes de agir

socialmente, se tornam mais hábeis em se colocar na posição dos outros e

adotar as regras e restrições de sua cultura.

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Nesse sentido, a escola desempenha uma função importantíssima, que

é a de ajudar a criança a encontrar um equilíbrio nas relações estabelecidas

sem deixar que isso interfira em seu processo de aprendizagem e

desenvolvimento.

3.2.1 Interação Social

Segundo João carlos Martins, (artigo da PUC -SP, 31/08/2009), todo

homem se constitui como ser humano pelas relações que estabelece com os

outros. Desde o nascimento o indivíduo é socialmente dependente dos outros e

entra em um processo histórico que, de um lado, lhe oferece os dados sobre o

mundo e visões sobre ele e, de outro lado, permite a construção de uma visão

pessoal sobre este mesmo mundo.

Como seres humanos e, portanto, ontologicamente sociais, passamos a construir a nossa história só e exclusivamente com a participação dos outros e da apropriação do patrimônio cultural da humanidade. Temos assim um movimento cultural de constituição do Homem que passa pela vivência com os outros e vai se consolidar na formação adulta de cada um de nós [6] assim, o indivíduo transforma-se de criança em adulto processando internamente, por meio do seu livre-arbítrio, as diversas visões de mundo com as quais convive. [6]

Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas atividades adquirem um significado próprio num sistema de comportamento social, e sendo dirigidas a objetivos definidos, são refratadas através do prisma do ambiente da criança. O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa através de outra pessoa. Essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de desenvolvimento profundamentre enraizado nas ligações entre história individual e história social.

(http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_28_p111-122_c.pdf , artigo escrito por João Carlos Martins, doctored da PUC -SP 31/08/2009)

Diante desse pensamento de Vygotsky, citado por Martins, deve-se

refletir sobre a importância das trocas entre os indivíduos como momentos de

muito significado no processo de desenvolvimento do ensino-aprendizagem. O

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objetivo da educação deve ser criar condições para que os alunos se tornem

cidadãos que pensem e atuem por si mesmos e, acima de tudo, capacitar as

crianças para que sejam indivíduos livres de manipulações e conducões

externas, para que consigam pensar e examinar criticamente as ideias que lhes

forem apresentadas e a realidade social aonde estão inseridas.

Para que a criança tenha essa visão de mundo é necessário que a

escola lhe proporcione meios de investigação e discussão para a internalização

de funções mentais que garantam a ela a possibilidade de pensar por si. Para

isso é preciso estimulá-la a operar com ideias, analisar fatos e discutí-los para

que, na troca e no diálogo, cada um construa o seu ponto de vista para um

pensar competente e comprometido com a sociedade.

Desde que as atividades propostas pelo professor tenham por base as

interações entre sujeito e objeto, essa elaboração de ideias e diálogo com o

outro garantirá à criança a conquista do conhecimento.

Tais interações permitem ao sujeito ultrapassar a impressão inicial das ideias que lhe chegam e buscar o que está além delas, oculto, mais profundo e sistematizado, de forma a instrumentalizá-lo para o exame da realidade. (31/08/2009)

Para Vygotsky (1989), tudo que está no sujeito existe antes no social e

quando é apreendido e devolvido para a sociedade passa a existir no plano

intrapsicológico, ou seja, a criança vai aprendendo e se modificando através

das interações com o mundo a sua volta. Vygotsky salienta, ainda, que as

possibilidades que o ambiente proporciona ao indivíduo são fundamentais para

que este se contitua como sujeito lúcido e consciente, capaz de alterar as

circunstâncias em que vive.

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Assim, a criança vai conferindo um sentido às coisas e se apropriando

da palavra, isso lhe permite analisar as relações entre seu pensamento e sua

linguagem, e é nesse signicado que o pensamento e a fala se unem, criando

condições para o desenvolvimento intelectual.

adulto e crianças, professores e alunos podem conferir às palavras significados e sentido diferentes. Desta forma, os sujeitos mais experientes, ao interagirem com as crianças, estimulam-nas não só na apropriação da linguagem, como também na sua expansão, possibilitando, assim, a elaboração de sentidos particularizados, que dependem da vivência infantil e da obtenção de significados mais objetivos e abragentes. (31/08/2009)

As interações sociais permitem pensar um indivíduo em constante

transformação e construção de si mesmo e do mundo em que vive, e mediante

essas interações a criança conquista e confere novos significados para a

sociedade e seu grupo social.

Assim, as interações das crianças com seus pais e professores é de

suma importância, pois através dessa interação a criança estará

desenvolvendo seu potencial como indivíduo de uma sociedade e aprendendo

a resolver seus próprios conflitos, primeiro mediados por um adulto, para

depois se tornarem independentes e autônomos.

3.2.2 O objetivo da Educação

O verdadeiro objetivo da educação deve ser considerado

cuidadosamente. Todos tem capacidades e habilidades e devem ser

valorizados por isso. As crianças, enquanto se desenvolvem, devem ser

incentivadas a atingir a mais alta capacidade possível para se tornarem úteis, a

fim de que realizem um bom trabalho para a sociedade em que vivem.

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Os pais e educadores devem levar suas crianças a almejarem ter

propósitos firmes na vida. Sabe-se que muitas crianças enfrentam problemas

em suas famílias, muitas outras são levadas para o crime, e tantas outras não

tem sonhos. Falou-se, no capítulo anterior, da importância de um

desenvolvimento do imaginário, as crianças precisam fantasiar, sonhar e

idealizar um “mundo” para si mesmas, e aqui entra a importância de uma

educação para a vida. Aquele que educa não deve se preocupar apenas em

ensinar a ler e escrever, ele precisa trocar experiências com a criança, ajudá-

las a analisar suas próprias vidas e a terem objetivos elevados, sejam quais

forem as condições onde vivam. Sabe-se que o ambiente influencia muito a

vida dos seres humanos, mas no processo de desenvolvimento todos devem

ser ensinados a superar sejam quais forem as condições. Ao receberem

incentivos por parte dos educadores, as crianças aprendem a transformar a

própria vida.

Daí a necessidade do educador saber lidar com cada criança e ajuda-

las em cada fase da vida, amparando-as elas podem atingir qualquer altura que

desejarem. Podem tornar-se pessoas fortes e de firmes princípios, aptos para

desempenharem suas atividades e exercerem suas habilidades diante do

mundo.

“O futuro da sociedade será determinado pela juventude de hoje [...]

(White, Fundamentos da educação cristã, 1996, p.90) e os pais e educadores

tem grande responsabilidade junto às crianças, pois são eles que devem ajudá-

las a se desenvolverem de forma plena, tanto física, como moral e intelectual.

Pais e educadores têm nas mãos a oportunidade de “modelar” a mente e o

caráter dos filhos e para tanto precisam estar preparados para exercer a função

de mestres, porque é o futuro dos que se desenvolvem que está em suas

mãos. E as crianças precisam de verdadeiros mestres nesse longo processo

de desenvolvimento.

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CONCLUSÃO

O desenvolvimento infantil reúne vários aspectos da vida de um

individuo. Principalmente no que se refere ao seu lado emocional e intelectual.

Diante desse fato, pais e educadores se veem com a responsabilidade de se

preparar para receber as crianças e ajudá-las a se desenvolverem de forma

plena. Como se viu teóricos como Piaget, Freud, Vygotsky, Wallon e Erikson,

traçaram alguns pontos importantes sobre as fases do desenvolvimento infantil

e estes pontos devem ser estudados por todos aqueles que se empenham na

educação da criança, pois toda e qualquer falha nesse processo pode

prejudicar a criança por toda sua vida. Assim, estar preparado para ajudar a

criança em seu desenvolvimento é quase uma obrigação.

Tanto pais quanto educadores devem estar cientes da importância de

conhecer bem as necessidades dos pequenos para que os ajudem a se

reconhecerem como indivíduos pertencentes a uma sociedade. Devem eles,

pais e professores, propiciar meios para que as crianças sejam capazes de se

descobrir em meio a outros objetos e crianças. Para tanto, faz-se necessário

que elas conheçam o mundo imaginário e através desse mundo do faz-de-

conta encontrem saídas para seus problemas e aprendam a resolver questões

adversas da própria vida.

As crianças, desde muito cedo, começam a se preparar para a vida em

sociedade e isso requer um aprendizado equilibrado. Por isso elas precisam

aprender a se relacionar com o outro, pois assim estarão se preparando para a

vida adulta. Vida onde o que aprenderam enquanto criança será posto em

prática, ou seja, é na vida adulta que ela saberá que seu desenvolvimento foi

pleno.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LIVROS

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980

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WHITE, Ellen G. Fundamentos da educação cristã. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1996

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SITES

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(Artigo de Paulo Urban, Publicado na Revista Planeta nº 345 / junho 2001)

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Universidade Cândido Mendes

A importância do desenvolvimento infantil

Por: Zileni de Anchieta do Nascimento

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