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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
ECOS E REFLEXOS DO FOLCLORE NO PROCESSO EDUCATIVO
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para
a conclusão do Curso de Pós-Graduação
“Lato Sensu” em Docência do Ensino
Superior.
Por: . José Edmilson da Silva
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AGRADECIMENTOS
A Prof. Ms Mary Sue pela
atenção e orientação deste
trabalho, a Prof. Ms Monica
Torres e a UniverCidade pela
concessão do estágio.
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DEDICATÓRIA
As minhas afilhadas e a todos que
direta ou indiretamente
colaboraram com este trabalho.
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“O homem não tramou o tecido da vida: ele é simplesmente um dos seus fios.Tudo o que fizer ao tecido fará a si mesmo.”
(Cacique Touro Sentado – Carta da Terra/1854).
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RESUMO
O objetivo inicial deste trabalho consistiu em discutir a importância do folclore na atuação
dos professores em exercício e a compreensão dos populares em relação ao processo de
acervo cultural popular. Com ênfase para o professor de educação física, a partir das
atividades corporais, propostas e desenvolvidas junto às crianças em seu cotidiano. Além
disso, visou contribuir na construção do conhecimento sobre o papel do folclore no
desenvolvimento do indivíduo, sobre a influência da cultura popular na construção da
identidade do sujeito. A análise temática dos dados, permite concluir que os professores têm
uma concepção utilitarista do folclore, e que ha pouca legitimidade do discurso hegemônico
para dar conta do folclore como um todo. A partir da compreensão das informações,
sugerimos a criação nos segmentos educacionais, em conjunto com as comunidades, de
núcleos de estudo e preservação do Folclore e da Cultura Popular. Visa-se desse modo
constituir um espaço onde seja preservada a memória cultura, e onde os estudantes
possam desenvolver atitudes críticas e éticas de investigação, preocupados com o folclore e
a cultura popular nas relações com a construção da cidadania.
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METODOLOGIA
Fiz o possível para incomodar intensamente amigos e desconhecidos. Mendiguei
estórias de bichos e de homens assombrosos em todos os recantos.
Preparando minha monografia, ia sendo compelido a cruzar com todos esses bichos e
seres encantados, senti-me na disposição de ressaltá-los da maneira que merecem, em fim,
ter cada elemento onde poderão ser percebidos como fonte de conhecimento e saber
popular.
Este estudo tem como objetivos 1) identificar, nos discursos de populares e de
professores em exercício, os sentidos referentes à manifestações folclóricas; 2) analisar
pontos de convergência e/ou de divergência nos discursos desses dois grupos. A
investigação foi de natureza qualitativa e de caráter exploratório. O instrumento utilizado foi a
entrevista semi-estruturada. O corpus do estudo foi constituído pelos discursos de dez
informantes, sendo cinco populares e cinco professores.
Minha postura como pesquisador pode ser caracterizada como observador-
participante, visto que os grupos a serem observados efetivamente pertencem ao meu
cotidiano, sendo assim, há que se fazer uma participação, de forma a não me envolver
totalmente com os membros pesquisados, mantendo uma perspectiva que me permita
identificar, descrever e compreender as ações e as representações que são construídas
durante as interações.
Imediatamente após, executei um cotejamento entre as informações obtidas e aquelas
provenientes do consuetudinário contemporâneo. Isto porque o legado cultural ocidental
iniciou sua formação na Grécia e em Roma e são, inquestionavelmente, os esteios culturais
do Ocidente Cristão. Quero com isso testar a medida do discurso e prática do processo
educativo em relação com a cultura popular (folclore), leia-se arcabouço cultural atual. E
guiá-lo na direção anacrônica através de postulados tais como “Sacis, Iemanjá e Iara são
demônios...” referindo-se as figuras da cultura popular brasileira. “Participar de cultos afro-
brasileiros e carnaval, ainda são coisas do demônio.” Cremos que ao cabo de tal processo
teremos como produto à falência das expressões popular e todo seu universo simbólico, por
meio da falta do resgate dos legados sócio-cultural da humanidade.
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Os dados obtidos foram suficientes para afirmarmos a pouca legitimidade do discurso
hegemônico para dar conta do folclore como um todo. A partir da compreensão das
informações, sugerimos a criação nos segmentos educacionais, em conjunto com as
comunidades, de núcleos de estudo e preservação do Folclore e da Cultura Popular. Visa-se
desse modo constituir um espaço onde seja preservada a memória cultural, e onde os
estudantes possam desenvolver atitudes críticas e éticas de investigação, preocupados com
o folclore e a cultura popular nas relações com a construção da cidadania.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I - O Conceito 10
CAPÍTULO II - O Processo 14
CONCLUSÃO 27
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 28
ANEXOS 31
FOLHA DE AVALIAÇÃO 37
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INTRODUÇÃO
A mudança pode significar riqueza, tal qual poderá também se transformar em
empobrecimento. E possível, que homem do século XXI possa ter perdido a pista de muitos
pormenores das antigas tradições populares.
Esse estudo aborda o folclore como fenômeno social que traz consigo uma
predominância de símbolos, mitos, crenças e valores. Pois neste estudo consideramos o
homem enquanto corpus social, ou seja o conjunto imaginário de tradições a nós legados
desde as civilizações da antiguidade, num processo de homem e mundo.
Considerar a cultura trazida do meio familiar é reconhecer a importância do apoio às
manifestações folclóricas. Esse apoio deve-se dar, sobretudo, no sentido de assegurar as
condições sociais e expressões aos homens para garantir o florescimento de suas
expressões culturais dinâmicas. No mais, é auxiliar o planejamento curricular, com vistas a
aproximar o aprendizado formal e não formal, em razão da importância de seus valores na
formação do indivíduo.
Com tudo, o primeiro passo deste estudo relaciona-se diretamente com o enfoque
investigativo e analítico, o que o torna um objeto de discussão e análise. E baseado nesse
delineamento é importante estabelecer uma observação crítica para o significado do discurso
dos professores e populares nas várias esferas sociais.
Esse trabalho será baseado em entrevistas semi-estruturadas realizadas em escolas
públicas onde estão inseridos alunos, professores e funcionários; em informações veiculadas
na mídia e na apropriação de alguns elementos folclóricos, tais como: Música, dança etc...
Neste sentido, cabe um envolvimento entre os educadores de diferentes matérias em
torno do folclore, reconhecendo a importância da documentação folclórica em todos os seus
aspectos, utilizando-se dos meios tecnológicos específicos. Visualizando-o como um amplo
campo de ação para os estudos e a prática da multidisciplinaridade.
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O CONCEITO
Folclore é o conjunto das criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas
tradições expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social.
Constituem-se fatores de identificação da manifestação folclórica: aceitação coletiva,
tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade.
Ressaltamos que entendemos folclore e cultura popular como equivalentes. Sendo
parte integrante da cultura nacional, as manifestações do folclore são equiparadas às demais
formas de expressão cultural, bem como seus estudos aos demais ramos das Humanidades.
“Como ocidentais, somos herdeiros da lógica binária, do principio da identidade,
da lógica das contradições, e temos dificuldades para pensar em pluralismo,
complexidade, complementaridade, indeterminação. Estas dificuldades
crescem quando buscamos caminhos alternativos, promovendo investigações
que ajudem a construir trilhas e não trilhos para necessariamente, incorrer no
irracionalismo”.(TEVES, 2000,p.23)
Milhares de anos se passaram desde o tempo em que um punhado de povos
mestiçados criou no Brasil a fabulosa cultura popular.
Vivemos muito longe daquela época (ocupação portuguesa e chegada dos negros) , a
partir daí herdamos os principais fundamentos filosóficos, a sensibilidade estética e toda uma
forma típica de pensar.
É impossível sem sensibilidade compreender a plenitude do legado bio-psico-social
sem conhecer e interpretar validamente nossas verdadeiras origens.
No limiar da história, essas informações foram simbolizadas em mitos e lendas, cujo
entendimento é uma das poucas chaves capazes de abrir para nós os tesouros de
conhecimento que se ocultam no grande universo do imaginário popular brasileiro.
Esse é um processo de estudo nada fácil, mas que se nos apresenta fascinante como
verdadeiro desafio a nossa inteligência e a nossa capacidade de investigação do acervo
cultural do povo brasileiro, tão amplo, ao mesmo tempo que dialético.
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Os grandes movimentos telúricos, os espetaculares fenômenos cósmicos, as causas
atuantes, depois personalizadas nos mitos e outros atores do nosso legado sócio-cultural,
tudo isso é registrado em áreas diversas, por meio de alegorias e outros meios de expressão
simbólica, que se cristalizam, pós supressões, acréscimos ou deturpações, nas formas que
conhecemos: mitos e lendas.
Na perspectiva do tempo, a dificuldade hoje é menor, pois cada investigador conta
agora com subsídios de várias ciências e postulados que muito progrediram nas últimas
décadas, e têm condições de contribuir apreciavelmente para melhor aprofundamento
dessas provocantes questões.
Esse inclusive, é, excelente ponto de partida para o avanço do estudo, pois apresenta
não somente uma visão panorâmica do universo folclórico brasileiro, mas também os
aspectos do pano de fundo do processo educacional atual.
Houve um tempo em que as pessoas “cultas” podiam ser identificadas pela extensão
dos seus conhecimentos popular. Se isso ainda se aplica... Ou deveria aplicar-se aos dias de
hoje é matéria para um belo simpósio. O certo é que algum saber acerca dessas velhas
histórias ainda parece constituir valiosa aquisição.
De certo, que essa importância, se dá no sentido podermos ressaltar através dos
elementos contido no folclore um canal de linguagem universal. Se repararmos no fato de
que esses elementos remontam a muito antes do povo que conhecemos, às fontes implícitas
em outras histórias que hoje nos são familiares.
Histórias que explicam o próprio homem: suas origens, as primeiras fases da cultura,
sua difusão e povoamento, suas relações genealógicas.
Isso nos recorda que o limite entre o natural e o sobrenatural nunca estiveram
isolados. Pois geralmente essas relações refletem a organização e os valores da sociedade
em que eram recontados.
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1.1 – CULTURA VIVA
A cultura é o fluxo de significações criadas, cooproduzidas e permutadas pelos povos.
É ela que nos torna capazes de edificar patrimônios culturais e viver em suas
lembranças. Ela nos permite reconhecer nossos elos com nossa linhagem, nossa
comunidade, nossa família lingüística, nossa nação – sem falar da própria humanidade. Ela
nos ajuda a dar sentido a nossa vida. Mas a cultura pode também nos levar a fazer de
nossas diferenças os estandartes da guerra e do extremismo. Ela não deve pois jamais ser
considerada como uma evidência, mas traduzida com cuidado em formas de
complementação positiva. A cultura não é nunca estática: cada indivíduo produz obras e
imagens que se fundam no fluxo da história.
Hoje, quando povos pertencentes a todas as culturas entram em contato mais
estreitos que nunca, se observam mutuamente e se colocam as mesmas questões: como
preservar nosso patrimônio cultural? Como nossas culturas plurais podem coexistir num
mundo interativo? A missão do Setor de cultura da UNESCO é ajudar os povos do mundo a
responder a estas questões.
Como o lembra a célebre frase do filósofo mali Hampaté Bâ: "Quando morre um velho
na África, é uma biblioteca inteira que se queima".
1.2 - REVITALIZANDO O PROCESSO CULTURAL
O patrimônio cultural do mundo compreende também as tradições orais, as línguas, a
música, a dança, as artes do espetáculo, o artesanato, os costumes, as crenças, etc. Para
numerosas sociedades, inclusive as minorias culturais e as populações autóctones, estas
dimensões do tecido cultural evoluem ao contato com outras culturas, através das
migrações, da mídia, e mais recentemente da Internet. A mudança é fonte de riqueza , mas
também de empobrecimento. Às vezes, por força de empréstimos, ou porque submetidas a
fortes pressões de outras culturas, algumas desaparecem para sempre. Já desde muito
tempo a UNESCO está atenta à preservação de certas formas frágeis de expressão cultural,
e hoje sua missão adquire maior amplidão.
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1.1 – AS ETNIAS
Os aspectos históricos e geográficos expõem uma diversidade regional marcada pela
desigualdade, do ponto de vista do atendimento pleno dos direitos de cidadania. A formação
histórica do Brasil mostra os mecanismos de resistência ao processo de dominação
desenvolvidos pelos grupos sociais em diferentes momentos. Uma das formas de resistência
refere-se ao fato de que cada grupo – indígena, africano, europeu, asiático e do oriente
médio – encontrou maneiras de preservar sua identidade cultural, ainda que às vezes de
forma clandestina e precária.
Assim sendo, tratar da presença do índio pela inclusão nos currículos de conteúdos que
informem sobre a riqueza de suas culturas e a influência delas sobre a sociedade, conforme
disposto na Constituição de 1988 (art. 210, parágrafo 2º), é valorizar essa presença e
reafirmar os direitos dos índios como povos nativos, de forma que corrija uma visão
deturpada que os homogeneíza como se fossem de uma única grupo, devido à justaposição
aleatória de traços retirados de diversas etnias.
Compreender a formação das sociedades européias e das relações entre sua história,
viagens de conquistas, entrelaçamento de seus processos políticos com os do continente
americano, em particular América do Sul e Brasil, auxiliará professores e alunos a formarem
referencial não só de conteúdos específicos, como também da estruturação de processos de
influenciação recíproca. Isso é especialmente importante para o momento atual, quando o
quadro internacional interfere no cotidiano do cidadão de muitas e variadas formas.
O estudo histórico do continente africano compreende enorme complexidade de temas do
período pré-colonial, como arqueologia; grupos humanos; civilização antigas do Sudão, do
sul, e do norte da África; o Egito como processo de civilização africana a partir das migrações
internas. Essa complexidade milenar é de extrema relevância como fator de informação e de
formação voltada para a valorização dos descendentes daqueles povos. Significa resgatar a
história mais ampla,na qual os processos de mercantilização da escravidão foram um
momento que não pode ser amplificado a ponto que se perca a rica construção histórica da
África. O conhecimento desse processo pode significar o dimensionamento correto do
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absurdo, do ponto de vista ético, da escravidão, de sua mercantilização e das repercussões
que os povos africanos enfrentam por isso.
1.2 - LINGUAGEM
Conhecer a existência do uso de outras línguas diferentes da Língua Portuguesa, idioma
oficial, significa não só ampliação de horizontes, como também compreensão da
complexidade do país. A escola tem a possibilidade de trabalhar com esse panorama rico e
complexo, referindo-se à existência, estrutura e uso de centenas de línguas. Pode, com isso,
além de oferecer informações e possibilitar reflexões sobre a língua materna, promover a
compreensão de como se constituem identidades e singularidades de diferentes povos e
etnias, considerando as diferentes línguas (o bilingüismo e o multilingüismo) e linguagens(7)
presentes nas diversas regiões do Brasil e de outros países.
É necessários considerar outros modos de comunicação, como a linguagem do corpo e
a linguagem das artes em geral, permitindo transversalizar, em particular, com Educação
Física e Arte. A música, a dança, as artes em geral, vinculadas aos diferentes grupos étnicos
e a composições regionais típicas, são manifestações culturais que a criança e o adolescente
poderão conhecer e vivenciar. Dessa forma enriquecerão seu conhecimento sobre
diversidade presente no Brasil, enquanto desenvolvem seu próprio potencial expressivo.
Cabe ressaltar que os povos culturalmente distintos privilegiam formas distintas de
comunicação. A língua falada pe apenas uma delas; a escrita alfabética é outra. O corpo é
meio de comunicação por excelência: a pintura corporal, de diferentes etnias, possui as
características de um sistema de comunicação visual, rigidamente estruturado e capaz de
simbolizar eventos como o nascimento de uma criança, o casamento ou outros estágios da
vida de um indivíduo. Como arte, a pintura corporal, a cerâmica, a escultura, a cestaria e
outras formas de expressa o conhecimento e a comunicação, exprimem a experiência dos
povos que as produziram, e só a partir da configuração cultural de cada um desses povos é
que a arte pode ser entendida e apreciada.
A linguagem oral, por sua vez pressupõe a investigação das histórias orais em diferentes
épocas e contextos, como transmissoras de uma determinada cultura, tendo em vista
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preservar e reinventar valores, normas e costumes no interior daquele grupo social. Daí a
sua relevância para a configuração de nossa memória e identidade.
1.3 - CONTRIBUIÇÃO DO FOLCLORE PARA O PLANEJAMENTO ESCOLAR
Para informar adequadamente a perspectiva de ensino e aprendizagem, é importante
esclarecer o caráter interdisciplinar que constitui o campo de estudos, teóricos da Pluralidade
Cultural. A fundamentação ética, o entendimento de preceitos jurídicos, incluindo o campo
internacional, conhecimentos acumulados no campo da História e da Geografia, noções
originários da Antropologia, da Lingüística, da Sociologia, da Psicologia, aspectos referentes
a Estudos Populacionais, além do saber produzido no âmbito de movimentos sociais e de
suas organizações comunitárias, constituem uma base sobre a qual se opera tal reflexão
que, ao voltar-se para a atuação na escola, deve ter cunho eminentemente pedagógico.
A seguir são apresentadas algumas indicações das diferentes contribuições, a título de
subsídios-chave, a fim de balizar o trabalho pedagógico deste tema, embora não o esgotem.
São pistas que o professor poderá seguir aprofundando e ampliando conforme as
necessidades de seu planejamento. Visam, sobretudo, a explicitar que tratar do povo
brasileiro, em seus desafios e conquistas do cotidiano e no processo histórico, exige estudo
e preparo cuidadoso que não se confundem, em hipótese alguma, com o senso comum.
É interessante, também, registrar que raríssimos estudos tratam das relações entre
crianças e intercâmbio cultural, no seu contexto mais amplo, como fator relevante para o
desenvolvimento psicológico e cognitivo. Há estudos, sobretudo no campo da lingüística e da
antropologia, que tratam da apreensão e da elaboração cultural pela criança no interior de
seu grupo de origem. Contudo, tem sido pouco usual propor à criança e ao adolescente uma
abertura para culturas diferentes da sua, englobando conteúdos atitudinais. Nesse sentido,
procurou-se fazer um levantamento do que estaria disponível no plano internacional e no
Brasil.
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1.4 – BRINCADEIRA É COISA SÉRIA
A criançada se reunia à tardinha, logo após os deveres de casa. A rua, então,
transforma-se em uma espécie de parque, de pátio, de escola. Ali se ensinava e se aprendia,
os professores eram os garotos mais velhos, donos da malícia e da experiência,
conhecedores das artimanhas de brincar, jogar e quase sempre vencer. Os menores, uma
espécie de discípulos, acompanhavam os mestres daquela arte. Admirados, olhávamos e
imitávamos, aprendíamos inúmeros brinquedos, suas técnicas e seus segredos. A pedra
mais achatada para o jogo de amarelinha, os lugares secretos para o esconde-esconde, a
vareta de bambu mais resistente para confecção das pipas. Ali, naquele espaço pedagógico,
esqueciam-se os padrões externos, a seriedade, a formalização.
Ludicamente assimilávamos aquela quantidade infinita de regras, valores,
comportamentos e conhecimentos. A técnica de cada jogo, o enredo de cada história, seus
movimentos mais próprios e suas características eram internalizadas de uma forma
espontânea e agradável, distante daquela maneira de “aprender” com a qual, hoje, já
adultos, lidamos.
Aprender e ensinar, naquele contexto, ganha-se ares de diversão, “status” de saber
(popular). Quem era capaz de subir na árvore mais alta? Acertar o alvo com as pêras com o
estilingue (atiradeira)?
Olhando para esse processo de ensino e aprendizagem, não é difícil de percebermos
o quanto existe a contribuição do nosso universo folclórico na sistemática de ensino, e de
certa forma, o que sem dúvida torna o processo... Sem dor, sem sofrimento sem decoreba.
Até mesmo nos dias de hoje, não presenciamos se quer alguma criança ou adulto que tenha
que ficar repetindo as regras do jogo de bolinhas de gude ou que precise se estratégias para
memorizar cantigas de rodas.
Neste sentido, acredito que se faça, necessário uma leitura do processo educativo e
suas relações com folclore, ou seja: com a cultura popular de nosso país. Pois de forma
alguma devemos desprovir os alunos dessa contextualização, pois o no cenário atual é
visível a dificuldade que os alunos encontram na aplicação prática dos elementos folclóricos,
da cultura popular e das tradições. Este processo não deve ater-se aos trabalhos teóricos de
outros componentes do currículo.
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Devemos então, traçar uma política de avanço, queremos o outro lado. O gesto
carregado de sentido, significado e intenção. Deve-se querer uma ação cognitiva, afetiva
social e claro, motora. Os movimentos sejam inseridos em situações onde cada aprendiz se
veja estimulada a pensar e a planejar a sua movimentação, fugindo de um pegador,
atravessando um rio imaginário, queimando um amigo, enfim, vivendo cada movimento com
o “coração e a cabeça”.
1.4 – ECOS DA PLURALIDADE CULTURAL
O tema Pluralidade Cultural oferece aos alunos oportunidade de conhecimento de
suas origens como brasileiros e como participantes de grupos culturais específicos. Ao
valorizar as diversas culturas presentes no Brasil, propicia ao aluno a compreensão de seu
próprio valor, promovendo sua auto-estima como ser humano pleno de dignidade,
cooperando na formação de autodefesas a expectativas indevidas que lhe poderiam ser
prejudiciais. Por meio do convívio escolar, possibilita conhecimentos e vivências que
cooperam par que se apure sua percepção de injustiças e manifestações de preconceito e
discriminação que recaiam sobre si mesmo, ou que venha a testemunhar – e para que
desenvolva atitudes de repúdio a essas práticas.
Essa auto percepção mais elaborada coopera para o fortalecimento da auto-estima,
abrindo-se assim para o diálogo com o Outro, para o trabalho de composição de memórias,
identidades e projetos coletivos – de sua família, de seu grupo étnico, de seu bairro, de sua
turma, de sua cidade, de seu estado, de sua região, de seu país.
Ao mostrar as diversas formas de organização, como parentesco, grupos de idade,
formas de governo, alianças político-econômicas, desenvolvidas por diferentes comunidades
étnicas e diferentes grupos sociais, explicita-se que a pluralidade é fator de fortalecimento
da democracia pelo adensamento do tecido social que se dá, pelo fortalecimento das
culturas e pelo entrelaçamento das diversas formas de organização social de diferentes
grupos.
Esse tema necessita, portanto, que a escola, como instituição voltada para a
constituição de sujeitos sociais e ao afirmar um compromisso com a cidadania, coloque em
análise suas relações, suas práticas, as informações e os valores que veicula.
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Reconhecer essa complexidade que envolve a problemática social, cultural e étnica é
o primeiro passo. A escola tem um papel fundamental a desempenha nesse processo. Em
primeiro lugar, porque é um espaço em que pode se dar a convivência entre estudantes de
diferentes origens, com costumes e dogmas religiosos diferentes daqueles que cada um
conhece, com visões de mundo diversas daquela que compartilha em família. Nesse
contexto, ao analisar os fatos e as relações entre eles, a presença do passo no presente, no
que se refere às diversas fontes de que se alimenta a identidade – ou as identidades, seria
melhor dizer – é imprescindível esse recurso ao Outro, a valorização da alteridade como
elemento constitutivo do Eu, com a qual experimentamos melhor quem somos e quem
podemos ser. Em segundo, porque é um dos lugares onde são ensinadas as regras do
espaço público para o convívio democrático com a diferença. Em terceiro lugar, porque a
escola apresenta à criança conhecimentos sistematizados sobre o país e o mundo, e aí a
realidade plural de um país como o Brasil fornece subsídios para debates e discussões em
torno de questões sociais.
A temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à valorização de
características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território
nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e
excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de
conhecer o Brasil como um país complexos, multifacetado e algumas vezes paradoxal.
A criança na escola convive com a diversidade e poderá aprender com ela
singularidades presente nas características de cultura, de etnias, de regiões, de famílias, são
de fato percebidas com mais clareza quando colocadas junto a outras. A percepção de cada
um, individualmente, elabora-se com maior precisão graças ao Outro, que se coloca como
limite e possibilidade. Limite, de quem efetivamente cada um é. Possibilidade, de vínculos,
realizações de “vira-ser”. Para tanto, há necessidade de a escola instrumentalizar-se para
fornecer informações mais precisas a questões que vêm sendo indevidamente respondidas
pelo senso comum, quando não ignoradas por um silencioso constrangimento. Esta proposta
traz a necessidade imperiosa da formação de professores no tema da Pluralidade Cultural.
Provocar essa demanda específica na formação docente é exercício de cidadania. É
investimento importante e precisa ser um compromisso político-pedagógico de qualquer
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planejamento educacional/escolar para formação e/ou desenvolvimento profissional dos
professores.
Mesmo em regiões onde não se apresente uma diversidade cultural tão acentuada, o
conhecimento dessa característica plural do Brasil é extremamente relevante. Ao permitir o
conhecimento mútuo entre regiões, grupos e indivíduos, ele forma a criança, o adolescente e
o jovem para a responsabilidade social de cidadão, consolidando o espírito democrático.
A diversidade marca a vida social brasileira. Diferentes características regionais e
maneiras diferenciadas a apreensão do mundo, a organização social nos grupos e regiões,
os modos de relação com a natureza, a vivência do sagrado e sua relação com o profano. O
campo e a cidade propiciam às suas populações vivências e respostas culturais diversas,
que implicam ritmos de vida, ensinamentos de valores e formas de solidariedade distintas.
Os processos migratórios colocam em contato grupos sociais com diferenças de fala, de
costumes, de valores, de projetos de vida.
Na escola, onde a diversidade está presente diretamente naqueles que constituem a
comunidade, essa presença tem sido ignorada, silenciada ou minimizada. São múltiplas as
origens da omissão com relação à cultura popular brasileira.
Na década de 30, quando a política oficial buscou “assimilar” a população imigrada de
diferentes origens, documentos de autoridades educacionais explicitavam grande
preocupação com a nacionalização do filho do imigrante, implicando a marginalização do
negro e a aculturação do índio.
Por outro lado, a perspectiva de um Brasil “de braços abertos” compôs-se no “mito da
democracia racial”. Assim, na sociedade em geral, discriminações praticadas com base em
diferenças ficam ocultas sob o manto de uma igualdade que não se efetiva, empurrando para
uma zona de sombra a vivência do sofrimento e da exclusão.
Algumas doutrinas pedagógicas concorreram para acentuar atitudes equivocadas por
parte de educadores na escola. Teorias que afirmam a carência cultural, ainda que rejeitadas
atualmente, deixaram marcas na prática pedagógica justificando o fracasso escolar única e
exclusivamente pela “falta de condições” dos alunos. Portanto, é fato que a escola encontra-
se marcada por práticas cultural e historicamente arraigadas, bem como por teorias que
deslocaram a responsabilidade da escola para o aluno, além de currículos e formação de
professores insuficientes. Entre outras medidas estruturais, o estabelecimento de condições
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que revertam esse processo inclui, necessariamente, o reconhecimento e valorização de
características específicas e singulares de regiões, etnias, escolas, professores e alunos.
A cultura, como código simbólico, apresenta-se como dinâmica viva. Todas as culturas
estão em constante processo de reelaboração, introduzindo novos símbolos, atualizando
valores, adaptando seu acervo tradicional às novas condições historicamente construídas
pela sociedade. A cultura pode assumir sentido de sobrevivência, estímulo e resistência.
Quando valorizada, reconhecida como parte indispensável das identidade individuais e
sociais, apresenta-se como componente do plurarismo próprio da vida democrática por isso,
fortalecer a cultura de cada grupo social, cultural e étnico que compõe a sociedade brasileira,
promover seu reconhecimento, valorização e conhecimento mútuo, é fortalecer a igualdade,
a justiça, a liberdade, o diálogo e, portanto, a democracia.
O termo “raça”, de uso corriqueiro e banal no cotidiano, vem sendo evitado cada vez
mais pelas ciências sociais pelos maus usos a que se prestou. Nas ciências biológicas, raça
é a subdivisão de uma espécie, cujos membros mostram com freqüência certo número de
atributos hereditários. Refere-se ao conjunto de indivíduos cujos caracteres somáticos, tais
como a cor da pele, o formato do crânio e do rosto, tipo de cabelo etc., são semelhantes e se
transmitem por hereditariedade. O conceito de raça, portanto, assenta-se em conteúdo
biológico, e foi utilizado na tentativa de demonstrar uma pretensa relação de
superioridade/inferioridade entre grupos humanos. Convém lembrar que o uso do termo
“raça” no senso comum é ainda muito difundido, para reafirmação étnica, como é feito
comumente por movimento sociais, ou nos contextos ostensivamente pejorativos que
alimentam o racismo e a discriminação.
Por sua vez, o conceito de etnia substitui com vantagens o termo “raça”, já que tem
base social e cultural. “Etnia”ou “grupo étnico” designam um grupo social que se diferencia
de outros por sua especificidade cultural. Atualmente o conceito de etnia estende-se a todas
as minorias que mantêm modos de ser distintos e formações que se distinguem da cultura
dominante. Assim, os pertencentes a uma etnia partilham da mesma visão de mundo, de
uma organização social própria, apresentam manifestações culturais que lhe são
características. “Etnicidade” é a condição de pertencer a um grupo étnico. É o caráter ou a
qualidade de um grupo étnico que freqüentemente se autodenomina comunidade. Já o
“etnocentrismo” tendência de alguém tomar a própria cultura como centro exclusivo de tudo,
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e de pensar sobre o outro também apenas a partir de seus próprios valores e categorias –
muitas vezes dificulta um diálogo intercultural, impedindo o acesso ao inesgotável
aprendizado que as diversas culturas oferecem.
Historicamente, no Brasil, tentou-se justificar, por essa via, injustiças cometidas contra
povos indígenas, contra africanos e seus descendentes, desde a barbárie da escravidão a
formas contemporâneas de discriminação e exclusão destes e de outros grupos étnicos e
culturais, em diferentes graus e formas. A escola deve posicionar-se criticamente em relação
a esses fatos, mediante informações corretas, cooperando no esforço histórico de superação
do racismo e da discriminação.
Pela educação pode-se combater, no plano das atitudes, a discriminação manifestada
em gestos, comportamentos e palavras, que afasta e estigmatiza grupos sociais. Contudo,
ao mesmo tempo que não se aceita que permaneça a atual situação, da qual a escola é
cúmplice ainda que só por omissão, não se pode esquecer que esses problemas não são
essencialmente do âmbito comportamental, individual, mas das relações sociais, e que como
elas têm história e permanência, o que se coloca para a escola é o desafio de criar outras
formas de relação social e interpessoa, por meio da interação o trabalho educativo escolar e
as questões sociais, posicionando-se crítica e responsavelmente diante delas.
O cotidiano oferece muitas manifestações que permitem o trabalho sobre pluralidade:
os fatos da comunidade ou comunidades do entorno escolar, questões típicas de
adolescência e juventude, as notícias de jornal, rádio e TV, programas e suplementos
destinados a essa faixa etária específica, as festas locais. Além disso, a prática de
intercâmbio entre escolar de diferentes regiões do Brasil e de diferentes municípios de um
mesmo estado, e a consulta a órgãos comunitários e de imprensa, inclusive na própria
comunidade, são instrumentos pedagógicos privilegiados a serviço da formação de crianças
e adolescentes.
Partilhar um cotidiano em que o simples “olhar-se” permites a constatação de que
todos – alunos, professores e demais auxiliares do trabalho escolar – são provenientes de
diferentes famílias, diferentes origens e possuem, cada qual, diferentes histórias, permite
desenvolver uma experiência de interação “entre diferentes”, na qual cada um aprende e
cada um ensina. Traz a consciência de que cada pessoa é única e, por essa singularidade,
insubstituível.
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Aprender a posicionar-se de forma que compreenda a relatividade de opiniões,
preferências, gostos, escolhas, é aprender o respeito ao outro. Ensinar suas próprias
práticas, histórias, gestos, tradições, é fazer-se respeitar ao dar-se a conhecer.
Tratar-se de oferecer ao aluno, e construir junto com ele, um ambiente de respeito,
pela aceitação; de interesse, pelo apoio à sua expressão; de valorização, pela incorporação
das contribuições que venha a trazer.
Esse tipo de atuação exige do professor a consciência de que estará aprendendo,
numa área em que a prática do acobertamento é muito mais freqüente que a do
desvelamento.
A prática do desvelamento é decisiva na superação da discriminação. Exige do
professor discernimento, sensibilidade, intencionalidade e informação.
Assim, discernir o ocorrido no convívio, é tratar com firmeza a ação discriminatória,
esclarecendo o que é o respeito mútuo, como se pratica a solidariedade, buscando alguma
atividade que possa exemplificar o que diz, com algo que faça, junto com seus alunos. Um
bom exemplo é a análise dos livros didáticos e outros materiais usados no ambiente escolar.
A intencionalidade se faz necessária como produto de uma reflexão que permite ao
professor perceber o papel que desempenha nessa questão. É também a capacidade de
perceber que tem o que trabalhar em si mesmo, e isso não o impede de trilhar, junto com
seus alunos, o caminho da superação do preconceito e da discriminação em relação ao
legado sócio-cultural.
Compreender elaboração de projetos que possibilitem experiências de vida e atuação
no campo social, na escola ou a partir dela, ajudam o estudante a entender mecanismos de
funcionamento do poder, seu sentido ético, e ampliar essa compreensão, paulatinamente,
até a elaboração de leis, de planos de governo, negociações intra e extra-partidárias, ou
seja, do sistema político em que vive. Nesse sentido, o professor deverá cooperar, ao
mesmo tempo que aprende com o restante da classe. Observe-se que essa vivência, em si,
será extremamente importante, por trazer para o aluno a possibilidade de constatar que a
sociedade se apresenta, em sua complexidade, como um constante objeto de estudo e
aprendizagem, em que todos sempre têm a aprender.
Portanto, o que se busca á a construção de um repertório básico referente à
pluralidade étnica/cultural, suficiente tanto para identificar o que é relevante para a situação
25
escolar como para buscar outras informações que se façam necessárias. Essa informação
deverá também contribuir na constituição da memória coletiva do aluno, bem como na
identidade nacional que se reconstrói a cada dia.
De fato, pelo tratamento analítico e crítico de informações referentes à memória
coletiva, podem-se propiciar elementos que venham a suprir necessidades presentes na
construção da identidade tanto individual como sócio-cultural e nacional. Da mesma forma,
essas informações poderão ser subsídios para a elaboração de projetos, igualmente situados
nos diversos planos (individual e coletivo). A contribuição da Pluralidade Cultural irá na
direção do entendimento da construção de identidade e da história, pelo conhecimento das
diferentes comunidades e grupos humanos que formam o Brasil em suas próprias
identidades e histórias.
Assim, a problemática que envolve a discriminação ao processo da cultura popular
brasileira, seja ela no formato da: étnica, cultural e religiosa, em vem de se manter em uma
zona de sombra que leva à proliferação da ambigüidade nas falas e nas atitudes,
alimentando com isso o preconceito, pode ser trazida à luz, como elemento de aprendizagem
e crescimento do grupo escolar, extravasando par a compreensão de processos sociais
complexos, nos quais ao ser humano cabe papel ativo como sujeito sócio-cultural.
Sem dúvida, pluralidade vive-se, ensina-se e aprende-se. É trabalho de construção, no
qual o envolvimento de todos se dá pelo respeito e pela própria constatação de que, sem o
outro, nada se sabe sobre ele, a não ser o que a própria imaginação fornece.
Neste sentido, o Brasil, representa uma esperança de superação de fronteiras e de
construção da relação de confiança na humanidade. A singularidade que permite essa
esperança é dada por sua constituição histórica peculiar no campo cultural. O que se almeja,
portanto, através do folclore é permitir que cada um reconheça-se como brasileiro. Mesmo
apesar da discriminação, da injustiça e do preconceito que contradizem os princípios da
dignidade, do respeito mútuo e da justiça. As experiências de convívio, norteam para
reelaboração das culturas de origem,constituindo algo intangível que se tem chamado de
brasilidade.
Através do folclore se permite que se vivenciem diferentes práticas corporais avindas
das mais diversas manifestações culturais. Permite também que se perceba como essa
variada combinação de influência está presente na vida cotidiana. Particularmente no Brasil,
26
as danças, os esportes, as lutas, os jogos e as ginásticas, das mais variadas origens étnicas,
sociais e regionais, compõem um vasto patrimônio cultural que deve ser valorizado,
conhecido e desfrutado. O acesso a esse conhecimento contribui para a adoção de uma
postura não preconceituosa e não discriminatória diante das manifestações e expressões
dos diferentes grupos étnicos e sociais (religiosos, econômicos e de diferentes origens
regionais) e das pessoas que deles fazem parte.
È possível fazer um trabalho de pesquisa e cultivo de brincadeiras, jogo, lutas e
danças produzidos na cultura popular, que por diversas razões corre o risco de ser
esquecidos ou marginalizados pela sociedade. Pesquisar informações sobre essas práticas
na comunidade e incorporá-las ao cotidiano escolar, cirando espaços de exercício, registro,
divulgação e desenvolvimento dessas manifestações, possibilita ampliar o espectro de
conhecimento sobre a cultura corporal de movimento. Dessa forma, a construção de
brinquedos, a prática de brincadeiras de rua dentro da escola, a inclusão de danças
populares de forma sistemática - e não apenas eventual – nas festas e comemorações
contribuem para a construção de efetivas opções de exercício de lazer cultural e para o
diálogo entre a produção cultural da comunidade e da escola.
A intensa veiculação pela mídia e o caráter quase universal proporciona uma
banalização, distorções decorrentes da massificação e do caráter competitivo impostos pela
indústria do lazer e do turismo, em manifestações como o samba e a capoeira.
As regras dos jogos, as adaptações dos esportes, assim como as expressões
regionais, ganham um sentido maior quando vivenciadas dentro de um contexto significativo,
que permita, por exemplo, comparar a capoeira que se pratica na Bahia com a capoeira que
se pratica em São Paulo. Pode-se, contextualizar aspectos relativos à expressão cultural e
ao treinamento para competição, explicitar a trajetória da imigração de uma cultura, sua
apropriação por outras culturas, trazendo à tona os valores e usos dados por seus
protagonistas.
Reconhecer e valorizar a diversidade cultural é atuar sobre um dos mecanismos de
discriminação e exclusão, entraves à plenitude da cidadania para todos e, portanto, para a
própria nação.
27
CONCLUSÃO
Baseado nos fatos que ocorrem durante a execução deste trabalho, este estudo
torna-se possível afirmar “as pessoas devem ser informadas em vez de distraídas, e
educadas em vez de divertidas. Programas de educação/interpretação da pluralidade cultural
podem ser utilizados como veículos de mudanças, com efeitos significativos na orientação de
hábitos, atitudes e valores”.
O processo de estudo me conduziu para uma vastidão de novos questionamentos em
relação ao folclore e as relações com os profissionais da educação. Acredito que de acordo
com o desenvolvimento do estudo e outras iniciativas novas respostas iram surgir.
O fato é, que a abordagem do estudo da cultura popular pressupõe uma proposta
alternativa, e nesse sentido é possível reafirmar a necessidade de um canal didático que
promova uma harmonia entre os aspectos culturais e os profissionais de educação, o estudo
do folclore brasileiro.
Neste sentido, o caráter da pesquisa tem a pretensão de informar e formar ,
fornecendo condições gerais e específicas para que cada profissional da área de educação
possa compreender que o folclore constitui-se de fatores de aceitação coletiva,
tradicionalidade, dinamicidade e funcionalidade.
Deverá despertar em cada profissional ou popular a preocupação de construir uma
escola de qualidade, que se integre com a comunidade, de forma a comprometer-se
mutualmente com os seus valores e ideologias, pois esse elencado poderá favorecer a sua
aplicabilidade, baseando-se na interdisciplinaridade e aproveitando-se dos temas
transversais, visando o desenvolvimento e o aprimoramento dos domínios: afetivos,
psicomotores e cognitivos; com base nas investigações, observações e aplicações. Através
das danças, cantos, bailados, músicas, histórias, jogos e encenações.
Acredito, ainda, que de acordo com o resultado da pesquisa se torne mais possível a
implantação do referido estudo, buscando assim dar subsídios e informações para que os
professores e alunos estabeleçam uma nova relação de convivência diária, elencando
transformações que proporcionem um resgate na ação positiva do processo de ensino
aprendizagem.
28
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Anexos
ENTREVISTA / Nº: 01
Idade: 28 Sexo: M Identificação: Professora do 4º ciclo 1 – Você acha que o ensino de folclore deve ser ministrado além do dia 22 de agosto? ( x ) sim ( ) não 2 – Você acha importante ter o referido assunto como estratégia constante? ( ) sim ( x ) não 3 - Você acredita que irá utilizar estes conhecimentos na sua vida pessoal e profissional? ( x ) sim ( ) não 4 – Durante sua vida escolar o ensino de folclore foi bem trabalho? ( ) sim ( x ) não
ENTREVISTA/ Nº: 02
Idade: 23 Sexo M Identificação: Popular 1 – Você acha que o ensino de folclore deve ser ministrado além do dia 22 de agosto? ( x ) sim ( ) não 2 – Você acha importante ter o referido assunto como estratégia constante? ( x ) sim ( ) não 3 - Você acredita que irá utilizar estes conhecimentos na sua vida pessoal e profissional? ( ) sim ( x ) não 4 – Durante sua vida escolar o ensino de folclore foi bem trabalho? ( x ) sim ( ) não
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ENTREVISTA / Nº: 03
Idade: 28 Sexo: M Identificação: Professor de Educação Física 1 – Você acha que o ensino de folclore deve ser ministrado além do dia 22 de agosto? ( ) sim ( x ) não 2 – Você acha importante ter o referido assunto como estratégia constante? ( x ) sim ( ) não 3 - Você acredita que irá utilizar estes conhecimentos na sua vida pessoal e profissional? ( ) sim ( x ) não 4 – Durante sua vida escolar o ensino de folclore foi bem trabalho? ( ) sim ( x ) não
ENTREVISTA/ Nº: 04
Idade: 26 Sexo: F Identificação: Professor de Educação Física 1 – Você acha que o ensino de folclore deve ser ministrado além do dia 22 de agosto? ( ) sim ( x ) não 2 – Você acha importante ter o referido assunto como estratégia constante? ( x ) sim ( ) não 3 - Você acredita que irá utilizar estes conhecimentos na sua vida pessoal e profissional? ( ) sim ( x ) não 4 – Durante sua vida escolar o ensino de folclore foi bem trabalho? ( ) sim ( x ) não
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ENTREVISTA / Nº: 05
Idade: 24 Sexo: F Identificação: Popular 1 – Você acha que o ensino de folclore deve ser ministrado além do dia 22 de agosto? ( x ) sim ( ) não 2 – Você acha importante ter o referido assunto como estratégia constante? ( ) sim ( x ) não 3 - Você acredita que irá utilizar estes conhecimentos na sua vida pessoal e profissional? ( ) sim ( x ) não 4 – Durante sua vida escolar o ensino de folclore foi bem trabalho? ( ) sim ( x ) não
ENTREVISTA/ Nº: 06
Idade: 23 Sexo: F Identificação: Popular 1 – Você acha que o ensino de folclore deve ser ministrado além do dia 22 de agosto ? ( x ) sim ( ) não 2 – Você acha importante ter o referido assunto como estratégia constante? ( x ) sim ( ) não 3 - Você acredita que irá utilizar estes conhecimentos na sua vida pessoal e profissional? ( ) sim ( x ) não 4 – Durante sua vida escolar o ensino de folclore foi bem trabalho? ( x ) sim ( ) não
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ENTREVISTA / Nº:07
Idade: 24 Sexo: M Identificação: Professor de Educação Física 1 – Você acha que o ensino de folclore deve ser ministrado além do dia 22 de agosto? ( x ) sim ( ) não 2 – Você acha importante ter o referido assunto como estratégia constante? ( x ) sim ( ) não 3 - Você acredita que irá utilizar estes conhecimentos na sua vida pessoal e profissional? ( x ) sim ( ) não 4 – Durante sua vida escolar o ensino de folclore foi bem trabalho? ( x ) sim ( ) não
ENTREVISTA/ Nº: 08
Idade: 22 Sexo: F Identificação: Popular 1 – Você acha que o ensino de folclore deve ser ministrado além do dia 22 de agosto? ( ) sim ( x ) não 2 – Você acha importante ter o referido assunto como estratégia constante ( x ) sim ( ) não 3 - Você acredita que irá utilizar estes conhecimentos na sua vida pessoal e profissional? ( ) sim ( x ) não 4 – Durante sua vida escolar o ensino de folclore foi bem trabalho? ( ) sim ( x ) não
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ENTREVISTA / Nº: 09
Idade: 26 Sexo: M Identificação: Professora de Educação Física 1 – Você acha que o ensino de folclore deve ser ministrado além do dia 22 de agosto? ( ) sim ( x ) não 2 – Você acha importante ter o referido assunto como estratégia constante? ( x ) sim ( ) não 3 - Você acredita que irá utilizar estes conhecimentos na sua vida pessoal e profissional? ( ) sim ( x ) não 4 – Durante sua vida escolar o ensino de folclore foi bem trabalho? ( ) sim ( x ) não
ENTREVISTA/ Nº: 10
Idade: 28 Sexo: M Identificação: Popular 1 – Você acha que o ensino de folclore deve ser ministrado além do dia 22 de agosto ? ( ) sim ( x ) não 2 – Você acha importante ter o referido assunto como estratégia constante? ( x ) sim ( ) não 3 - Você acredita que irá utilizar estes conhecimentos na sua vida profissional? ( ) sim ( x ) não 4 – Durante sua vida escolar o ensino de folclore foi bem trabalho? ( ) sim ( x ) não
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Resultado da Pesquisa
Através do resultado obtido na entrevista podemos perceber a comprovação da
hipótese, que existe um desencontro nos interesses e no entendimento no que diz respeito
ao estudo de folclore nos diversos segmentos educacionais.
Neste caso notaremos o seguinte percentual para as perguntas:
Pergunta, nº 1 - Você acha que o ensino de folclore deve ser ministrado além do dia 22 de
agosto ?
· 47,5% disseram que sim.
· 52,5% disseram que não
Pergunta, nº 2 - Você acha importante ter o referido assunto como estratégia constante ?
· 62,,5% disseram que sim.
· 37,5% disseram que não.
Pergunta, nº 3 - Você acredita que irá utilizar estes conhecimentos na sua vida pessoal e
profissional?
· 27,5% disseram que sim.
· 72,5% disseram que não.
Pergunta, nº 4 - Durante sua vida escolar o ensino de folclore foi bem trabalho?
· 35% disseram que sim.
65% disseram não.
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes
Título da Monografia: Ecos e Reflexos do Folclore no Processo Educativo.
Autor: José Edmilson da Silva
Data da entrega: 24 de fevereiro de 2003.
Avaliado por: Conceito:
Avaliado por: Conceito:
Avaliado por: Conceito:
Conceito Final: