joao enicelio da silva.pdf

137
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE EDUCAÇÃO, FILOSOFIA E TEOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO JOÃO ENICELIO DA SILVA O Corredor da Fé: Expansão e Concentração Religiosa no Bairro do Brás, em São Paulo São Paulo 2014

Upload: ledieu

Post on 07-Jan-2017

244 views

Category:

Documents


4 download

TRANSCRIPT

Page 1: Joao Enicelio da Silva.pdf

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CENTRO DE EDUCAÇÃO, FILOSOFIA E TEOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

JOÃO ENICELIO DA SILVA

O Corredor da Fé: Expansão e Concentração Religiosa no Bairro do Brás, em

São Paulo

São Paulo

2014

Page 2: Joao Enicelio da Silva.pdf

JOÃO ENICELIO DA SILVA

O Corredor da Fé: Expansão e Concentração Religiosa no Bairro do Brás, em

São Paulo

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana

Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título

de Mestre em Ciências da Religião. Área de

concentração: Ciências Sociais e Religião.

Orientador: Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira

São Paulo

2014

Page 3: Joao Enicelio da Silva.pdf

S586c Silva, João Enicelio da O corredor da fé: expansão e concentração religiosa no

bairro do Brás, em São Paulo / João Enicelio da Silva – 2014. 135 f.: il. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) –

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2014. Orientador: Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira Bibliografia: f. 100-111 1.Pentecostalismo 2. Antropologia urbana 3. Ciências da

Religião 4. Bairro do Brás – São Paulo I. Título

LC BR1644.5.B6

Page 4: Joao Enicelio da Silva.pdf

JOÃO ENICELIO DA SILVA

O Corredor da Fé: Expansão e Concentração Religiosa no Bairro do Brás, em

São Paulo

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana

Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título

de Mestre em Ciências da Religião. Área de

concentração: Ciências Sociais e Religião.

Aprovada em: ____ / ____ / ______.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________

Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira – Orientador

Universidade Presbiteriana Mackenzie - UPM

_______________________________________________________________

Prof. Dr. Ricardo Bitun

Universidade Presbiteriana Mackenzie - UPM

_______________________________________________________________

Prof. Dr. José Guilherme Magnani

Universidade de São Paulo – USP

Page 5: Joao Enicelio da Silva.pdf

DEDICATÓRIA

A Deus - Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas.(Rm11.36a)

A minha esposa Márcia Maria Alves

Page 6: Joao Enicelio da Silva.pdf

AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente a Deus pela vida e pela oportunidade de ingressar na pesquisa

acadêmica.

Agradeço à Universidade Presbiteriana Mackenzie, e especialmente ao Fundo Mack

Pesquisa, pelo incentivo de bolsa para pesquisa, e ao Prof. Dr. Rodrigo Franklin de Souza, na

ocasião de ingresso, diretor do Programa de Pós-Graduação de Ciências da Religião.

A Catarina Maria Costa, minha professora e orientadora da Academia, pessoa de uma

bondade inestimável; palavras não são capazes de traduzir a minha gratidão ao lembrar que

tudo começou com seu apoio e incentivo aos estudos.

Ao Professor Dr. Ricardo Bitun, grande amigo, que me recebeu no Mackenzie, grande

incentivador e apoiador, a minha imensa gratidão. Foram vários momentos valiosos que

compartilhamos sobre a pesquisa, sempre atencioso e disposto a ajudar.

Agradeço ao meu orientador, Professor Dr. João Baptista Borges, que, com sua

imensa experiência no ramo da Antropologia, aceitou me apoiar nesta pesquisa, por ter me

apresentado ao NAU (Núcleo de Antropologia Urbana da Universidade de São Paulo), fato

que contribuiu para a condução da pesquisa.

Agradeço ao Prof. Dr. José Guilherme Magnani, que me recebeu na USP em suas

aulas como aluno ouvinte, ao seu interesse e à sua disposição em percorrer um trecho do

campo da pesquisa, também minha gratidão pelas ricas conversas.

Agradeço a Jacqueline Moraes Teixeira, grande amiga, sempre prestativa, e a todos

os membros do GERM-NAU-USP, que com muito carinho me receberam nas reuniões do

grupo e com paciência compartilharam ideias sobre a pesquisa.

Agradeço a minha família, que durante dois anos me incentivou e apoiou nesta etapa

da minha vida, especialmente a minha esposa Márcia, pela paciência e compreensão por

tantas horas de minha ausência em função da dedicação à pesquisa.

Page 7: Joao Enicelio da Silva.pdf

RESUMO

SILVA, João Enicelio. O Corredor da Fé: Expansão e Concentração Religiosa no Bairro

do Brás, em São Paulo. São Paulo, 2014. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-

Graduação em Ciências da Religião. Universidade Presbiteriana Mackenzie.

O presente trabalho visa mapear a concentração de diversas igrejas evangélicas pentecostais

na avenida Celso Garcia, entre o número 01 e o número 1550, no bairro do Brás, em São

Paulo, a partir das categorias antropológicas “Pedaço; Mancha; Trajetos; Circuitos”

(MAGNANI, 2012). O modo de apresentação da cidade de São Paulo não está restrito apenas

às ruas de comércio, aos locais de lazer, aos pontos turísticos e gastronômicos, aos locais de

trabalho ou às áreas residenciais, mas se estende também à religião, especialmente a

Evangélica Pentecostal, a qual hoje concentra um grande número de templos no bairro do

Brás. A partir do mapeamento de noticiários em jornais regionais, de sites, de programas de

rádio e televisivos e de visitas ao bairro é notável que nas avenidas Rangel-Pestana e Celso

Garcia, especialmente no perímetro que compreende o bairro do Brás – recorte que respeita o

limite distrital oficial utilizado pela Prefeitura da Cidade de São Paulo –, concentra-se um

grande número de igrejas, sobretudo evangélicas pentecostais, que movimentam uma rede de

sociabilidade, tornando-se assim um objeto de estudo.

Palavras-chave: Ciências da Religião, Antropologia Urbana, Pentecostalismo, Brás, avenidas

Rangel Pestana - Celso Garcia.

Page 8: Joao Enicelio da Silva.pdf

ABSTRACT

SILVA, João Enicelio. The Hall of Faith: Religious Expansion and Concentration in the

Brás neighborhood, in São Paulo. Sao Paulo, P. 2014. Dissertation (Master). Mackenzie

Presbyterian University.

This paper aims to study the concentration of various Pentecostal evangelical churches in

Celso Garcia Avenue, between the number 01 and the number 1550, in the neighborhood of

Brás, in São Paulo, from the anthropological categories "Piece; Mancha; paths; Circuits

"(Magnani, 2012). The manner of presentation of the city of São Paulo is not restricted to the

shopping streets, the places of leisure, to tourist and gastronomic points, to workplaces or to

residential areas, but extends also to religion, especially the Evangelical Pentecostal, which

today has a great number of temples in the neighborhood of Bras. From the mapping news in

regional newspapers, websites, radio and television programs and visits to the neighborhood

is notable that in Rangel-Pestana and Celso Garcia avenues, especially on the perimeter

comprising the Brás neighborhood - cut regards the district official limit used by the City of

São Paulo - concentrated a large number of churches, particularly Pentecostal evangelical,

which handle a network of sociability, thus making it an object of study.

Keywords: Religious Studies, Urban Anthropology, Pentecostalism, Brás, Rangel Pestana -

Celso Garcia Avenues.

Page 9: Joao Enicelio da Silva.pdf

SUMÁRIO

Índice de Mapas .......................................................................................................................... 9

Índice dos Quadros ................................................................................................................... 10

Índice de Tabelas ...................................................................................................................... 11

Índice de Fotos ......................................................................................................................... 12

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 13

1. CAPÍTULO 1 - DESENHANDO O PROBLEMA DA PESQUISA .............................. 17

1.1 A CONSTITUIÇÃO DE UMA MANCHA URBANA DAS AGÊNCIAS RELIGIOSAS COMO

ESTRATÉGIA DE VISIBILIDADE RELIGIOSA ............................................................................... 20

1.2 AVENIDA RANGEL PESTANA-CELSO GARCIA – CORREDOR DE VISIBILIDADE

RELIGIOSA ............................................................................................................................. 24

1.3 METODOLOGIA ........................................................................................................... 26

2. Capítulo 2 - Bairro do Brás: breve histórico ..................................................................... 28

2.1 MEMÓRIA E DEVOÇÃO CATÓLICA ................................................................................ 32

2.2 O CATOLICISMO DOS IMIGRANTES ITALIANOS ............................................................ 36

2.3 DEVOÇÃO A CASALUCE: A SANTA NEGRA DOS NAPOLITANOS ..................................... 37

2.4 DEVOÇÃO A SÃO VITO MÁRTIR .................................................................................. 40

2.5 A PROCISSÃO DE NOSSA SENHORA DA PENHA: EXPRESSÃO DA RELIGIOSIDADE

POPULAR NO BRÁS ................................................................................................................. 42

2.6 MAPAS DAS DENOMINAÇÕES RELIGIOSAS NO BRÁS E CORREDOR DA FÉ: UMA

ABORDAGEM ESPACIAL .......................................................................................................... 45

2.6.1 As igrejas do distrito do Brás ................................................................................... 49

2.6.2 Igreja Católica .......................................................................................................... 53

2.6.3 Igrejas Protestantes Históricas ................................................................................. 54

2.6.4 Igrejas Pentecostais .................................................................................................. 55

2.6.5 Centros Espíritas ...................................................................................................... 57

2.6.6 Outras (Sinagoga, Mesquita, Ortodoxa Grega) ....................................................... 57

2.6.7 O Corredor da Fé ...................................................................................................... 58

3. CAPÍTULO 3 - O CINTURÃO PENTECOSTAL NA AV. RANGEL PESTANA-

CELSO GARCIA ..................................................................................................................... 64

3.1 O MOVIMENTO PENTECOSTAL E SEUS FUNDADORES ................................................... 64

3.2 AS TERMINOLOGIAS DO MOVIMENTO PENTECOSTAL .................................................. 65

3.3 DESCREVENDO A TOPOGRAFIA DA RELIGIÃO ATUAL NO “CORREDOR DA FÉ” .............. 66

3.3.1 Igreja Apostólica Essência de Deus ...................................................................... 68

3.3.2 Catedral Carismática das Nações ........................................................................... 69

3.3.3 Igreja Internacional do Poder da Fé ....................................................................... 70

3.3.4 Santuário Espiritualista de São Paulo..................................................................... 72

3.3.5 Igreja Jesus Fonte de Vida – IJFV ......................................................................... 73

Page 10: Joao Enicelio da Silva.pdf

3.3.6 Comunidade Cristã Amor e Graça – CCAG .......................................................... 74

3.3.7 Igreja Universal do Reino de Deus - IURD ........................................................... 75

3.3.8 Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério do Brás ................................ 76

3.3.9 Igreja Católica Paroquia São João Batista do Brás ................................................ 78

3.3.10 Templo de Salomão Bíblico ............................................................................... 79

3.3.11 Templo de Salomão (IURD)............................................................................... 81

3.3.12 Ministério Mudança de Vida (MMV) ................................................................ 82

3.3.13 Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus ................................................... 84

3.3.14 Catedral da Bênção (CB) .................................................................................... 85

3.3.15 Comunidade Missão dos Sinais de Deus ............................................................ 87

4. CAPÍTULO 4 - ESTRATÉGIAS DE CHEGADA E PERMANÊNCIA NO

“CORREDOR DA FÉ” ............................................................................................................ 88

4.1 A DETERIORAÇÃO DA AVENIDA RANGEL PESTANA–CELSO GARCIA: REFLEXO DE UM

BAIRRO ABANDONADO ........................................................................................................... 89

4.2 A CENTRALIDADE DO BAIRRO ..................................................................................... 91

4.3 A EXPANSÃO E CONCENTRAÇÃO DA MANCHA RELIGIOSA NO CORREDOR DA FÉ .......... 92

4.4 A ESPACIALIDADE JUSTIFICADA PELO RETORNO AO ISRAEL MÍTICO ........................... 93

4.5 O RÁDIO COMO MEIO DE PROPAGAÇÃO DAS MENSAGENS E CHAMADO AO LOCAL DO

MILAGRE E AO LOCAL DE PODER FORTE .................................................................................. 97

5. Considerações finais ........................................................................................................ 101

6. Referências Bibliográficas .............................................................................................. 102

7. Anexos ............................................................................................................................. 113

7.1 ANEXO A – ALGUNS RELATOS DE CAMPO ................................................................ 113

7.2 ANEXO D – FOTOS DAS DENOMINAÇÕES ................................................................ 124

Page 11: Joao Enicelio da Silva.pdf

9

Índice de Mapas

Mapa 01: Denominações Religiosas no distrito do Brás e Eixo do Corredor da Fé...............47

Mapa 02: Denominações Religiosas no Distrito do Brás e Denominações intituladas como

“Do Brás”................................................................................................................................ 51

Mapa 03: Corredor da fé e suas igrejas satélites .....................................................................60

Page 12: Joao Enicelio da Silva.pdf

10

Índice dos Quadros

Quadro 1 – Denominações Religiosas no distrito do Brás e Eixo do Corredor da Fé.........47

Quadro 2 – Denominações Religiosas no distrito do Brás e Intituladas como do “Brás.....51

Quadro 3 – Corredor da fé – Com extensão para além do perímetro do bairro do Brás......60

Quadro 4 – Igrejas Satélites próximas ao corredor da Fé..................................................62

Quadro 5 – Denominações Religiosas x Emissoras de Rádio.............................................101

Quadro 6 – Denominações Presentes no Corredor, no início da Pesquisa, em 2013.........116

Page 13: Joao Enicelio da Silva.pdf

11

Índice de Tabelas

Tabela 01- Quantidade de denominações catalogadas segundo a orientação religiosa............50

Tabela 02- Quantidade de denominações no distrito do Brás de acordo com a orientação

religiosa (incluindo igrejas fora do distrito, mas intituladas como "do Brás").........................53

Tabela 03- Quantidade de igrejas protestantes históricas de acordo com a denominação......55

Tabela 04- Quantidade de igrejas no corredor da fé.................................................................62

Tabela 05 - Quantidade de igrejas satélites – próximas ao corredor da fé................................63

Page 14: Joao Enicelio da Silva.pdf

12

Índice de Fotos

Foto 1 - Várzea do Carmo – ano: 1860.............................................................................28

Foto 2 – Paróquia Bom Jesus de Matosinho.....................................................................35

Foto 3 - Igreja de Nossa Senhora de Casaluce.................................................................38

Foto 4 - Paróquia São Vito Mártir...................................................................................41

Page 15: Joao Enicelio da Silva.pdf

13

INTRODUÇÃO

A sociedade paulista até meados do século XIX era configurada por uma população,

que, em sua maioria, era oriunda das regiões rurais, orientados por um ethos de fé e devoção

religiosa no seu dia a dia. A grande parte dos bairros constituídos hoje começou como

chácaras e terrenos pouco atrativos, mas, com a chegada dos imigrantes e migrantes, esses

locais foram sendo paulatinamente configurados com um misto de culturas e valores

diferentes. O bairro do Brás se constituiu basicamente neste cenário, e teve na religiosidade de

seus novos moradores um dos aspectos cruciais em suas mudanças e adaptações. Sabe-se que

o Catolicismo marcou uma época e continua marcando a vida urbana do bairro, com festas e

missas tradicionais constantes no calendário festivo do município.

Nos dias atuais, o cenário católico cedeu espaço para as mudanças na vida religiosa do

bairro, há milhares de pessoas as quais diariamente se deslocam de várias regiões da capital

paulista, e até mesmo de outras cidades e de outros estados, para lá estar, em busca de vida

melhor, de cura, de libertação e de solução sentimental e financeira. Tais pessoas vêm ao Brás

principalmente para participar das reuniões nas igrejas evangélicas pentecostais.

As avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia, principais vias de acesso a entrada e saída

do bairro do Brás, tradicionais pelo seu corredor de ligação entre o centro e a zona leste da

cidade, compreendem uma extensão aproximada de 8 km, com início no bairro do Brás e

término na rua Coronel Rodovalho, no bairro do Tatuapé.

Para além de sua vocação comercial e do corredor de ligação centro-leste, essas

avenidas foram eleitas por agentes da religião como um corredor de visibilidade religiosa,

local de concentração da fé, o qual, desde o Brasil ainda colônia, servira de passagem às

romarias entre a igreja matriz da Sé e a igreja de Nossa Senhora da Penha, esta última fundada

em 1667. Torres (1985), ao citar o historiador Leonardo Arroyo, em sua obra sobre as igrejas

de São Paulo, intitulou o então conhecido corredor de ligação centro-leste, as avenidas Rangel

Pestana e Celso Garcia, de “avenidas religiosas”.

Essas avenidas possuem aproximadamente vinte e quatro igrejas denominadas

“evangélicas pentecostais”, uma igreja católica e um templo de religião afrodescendente, ao

longo de sua extensão aproximada de oito quilômetros (a localização e o número exato de

templos não podem ser definitivos, pois há uma constante entrada e saída de denominações).

Page 16: Joao Enicelio da Silva.pdf

14

Com base nesse contexto, esta pesquisa visa mapear a presença religiosa no trecho das

avenidas Rangel Pestana – Celso Garcia, partindo do número 1421, onde se localiza a igreja

Bom Jesus do Brás, até o número 1550, que compreende o perímetro que pertence ao bairro

do Brás, trecho onde é notável a concentração de um grande número de templos, sobretudo

evangélicos pentecostais, que são, de alguma forma, o foco principal deste trabalho.

São Paulo, nos dias atuais, segue várias lógicas de organização em sua vida urbana,

que passam despercebidas aos olhos de muitos citadinos e transeuntes; o comércio, as áreas de

lazer, as moradias, as etnias e a religião estão organizados em ruas, avenidas, praças, viadutos

e até mesmo em bairros inteiros. Essa atualidade pode ser compreendida em um passado não

tão distante, notável inicialmente nas explicações simplistas de historiadores, geógrafos e

jornalistas.

Pontes e Mesquita (2004, p. 18), ao observarem a aglutinação de armazéns e de

atacadistas próximos ao terminal de cargas no bairro do Pari, no final do século XIX,

atribuem ao ocorrido o termo “concentração”. Já Moura (1943, p.94), na tentativa de

temporizar, entendeu que a concentração de lojas e de pessoas na capital teve início na região

chamada “Triângulo”, formada pelas ruas 15 de Novembro, Direita e São Bento, o que

constituía a tradição máxima de São Paulo no final do século XIX e início do século XX.

AB´SABER (2004, p.152) utilizou o termo “reaglutinização setorizada” para designar

as concentrações de comércio temático em São Paulo. Já as concentrações étnicas, a exemplo

dos bairros da Liberdade, de Higienópolis e outros, na concepção de ALESSANDRINI (2004,

p.352), “representam um fator de intimidade e segurança em meio às vicissitudes da vida

urbana”.

Na cidade de São Paulo são mais de 50 ruas temáticas, ou “de comércio

especializado”, como relatado em São Paulo (2014, p.1).

As explicações de historiadores, geógrafos e jornalistas a respeito das diversas lógicas

em que está organizada a cidade de São Paulo, até determinado ponto, são bem interessantes,

mas por certo não abrangem todos os aspectos sociais. Oliven (1995, p.19) destaca: “Para

compreender os processos que ocorrem no meio urbano é necessário examinar o pensamento

de cientistas sociais a respeito da cidade e das consequências da vida urbana sobre seus

habitantes”. Assim, esta pesquisa pretende estabelecer um diálogo teórico com as perspectivas

analíticas desenvolvidas pela Antropologia Urbana.

Page 17: Joao Enicelio da Silva.pdf

15

Ao estudar o contexto urbano paulistano, Magnani (1996) formulou em seus

expressivos estudos algumas categorias analíticas para designar as diversas concentrações

temáticas presentes na cidade. Dentre elas, uma chama atenção e emerge como essencial para

o desenvolvimento dos argumentos apresentados aqui, as intituladas “manchas”, que, em sua

concepção, são:

[...] áreas contíguas do espaço urbano dotadas de equipamentos que marcam

seus limites e visibilizam – cada qual com sua especificidade, competindo ou

complementando – uma atividade prática ou predominante. [...] Mancha,

contudo, não se restringe ao lazer: as lojas de tecidos e malhas, assim com as

de aviamento e produtos de couro no Brás, por exemplo, – procuradas por

atacadistas e varejistas – sustentam uma intrincada rede de sociabilidade que

vai além da mera compra de produtos. [...] A mancha, ao contrário – sempre

aglutinada em torno de um ou mais estabelecimentos – apresenta uma

implantação mais estável tanto na paisagem como no imaginário. As

atividades que oferece e as práticas que propicia são o resultado de uma

multiplicidade de relações entre seus equipamentos, edificações e vias de

acesso – o que garante uma maior continuidade, transformando-a, assim, em

ponto de referência físico, visível e público para um número mais amplo de

usuários. (MAGNANI, 1996)

Magnani é claro em suas explicações quanto aos sentidos da “mancha”; entende que

cada mancha exerce uma função, porém, tais funções não são definidoras das relações e das

interações sociais ali existentes, pois as manchas “sustentam uma intrincada rede de

sociabilidade” o que faz com que seus sentidos sejam sempre plurais.

O que a pesquisa pretende demonstrar é a descrição de uma “mancha” de templos

religiosos, sobretudo pentecostais, nas principais avenidas que ligam o centro da cidade à

zona leste da capital paulista. O presente trabalho, dentro da temática da religião, descreve a

presença evangélica pentecostal nas avenidas Rangel-Pestana e Celso Garcia, especialmente

no perímetro do bairro do Brás.

É possível considerar que o que permite a presença de tantas igrejas evangélicas

pentecostais na avenida Celso Garcia seja sua localização geográfica e a junção de

importantes equipamentos urbanos num mesmo território; dentre eles, vale destacar o

corredor de ligação centro-leste, contemplado por diversas linhas de ônibus que ligam a zona

leste de São Paulo ao centro e a outros bairros, além de a avenida também possuir acesso

facilitado pela malha ferroviária e metroviária. Além da facilidade de transporte para acesso à

região, vale destacar que o trecho objeto deste estudo está inserido em um bairro tradicional

de forte característica comercial, o Brás. Outra hipótese apontada é a deterioração dos

Page 18: Joao Enicelio da Silva.pdf

16

imóveis, o que facilita seus aluguéis e sua compra; esse argumento também vem sendo

reavaliado na medida em que o bairro passa a ser alvo do mercado e da especulação

imobiliária, algo que se intensifica com a construção do Templo de Salomão da Igreja

Universal do Reino de Deus (IURD).

Assim, o objetivo fundamental desta pesquisa é mapear o fenômeno que fez com que

várias denominações religiosas optassem por se instalarem nas avenidas Rangel Pestana -

Celso Garcia, no bairro do Brás, em São Paulo, bem como compreender as lógicas de

funcionamento e as relações de troca e sociabilidade que permeiam esse “corredor” de

visibilidade da fé.

Page 19: Joao Enicelio da Silva.pdf

17

1. CAPÍTULO 1 - DESENHANDO O PROBLEMA DA PESQUISA

O mapeamento e descrição do corredor “de visibilidade da fé” formado nas avenidas

Rangel Pestana e Celso Garcia no Brás exigiu um período intenso de incursões

etnográficasom o intuito de demonstrar um pouco desse processo, apresento trechos de um

relato de campo.

Apesar de ser inverno, é um final de tarde ensolarado do dia 31 de julho de 2014,

momento em que estou na avenida Celso Garcia, um dos eixos de ligação centro-leste, na

capital paulista. A migração pendular é intensa, percebe-se que são muitos os comentários em

bares, lojas, bancas de jornal e pontos de ônibus, não se fala noutra coisa, a não ser no valor

gasto na edificação da nova obra da Igreja Universal do Reino de Deus, o “Templo de

Salomão”, localizado no número 605 da avenida Celso Garcia, no bairro do Brás. “Foram 680

milhões”, diz o gerente de um bar onde paro para tomar um cafezinho. “Vocês viram nos

jornais?”, continua ele. “Aí tem de tudo, heliporto, piscina, restaurantes, estacionamento para

ônibus e até esteira para levar dízimo para o cofre, a iluminação e o som são importados, aí

tem grana preta, tudo é de primeira”.

Logo mais à frente, nas proximidades de outra denominação religiosa, encontro um

grupo de amigos reunidos em uma loja de equipamentos de som; estão ansiosos aguardando

pelo horário da cerimônia de inauguração, apesar de saberem que não poderão entrar no local

por se tratar de um evento exclusivo para convidados da alta sociedade paulistana e para

políticos do cenário nacional, dentre eles, a Presidente Dilma Rousseff, o Governador Geraldo

Alckmin e o Prefeito Fernando Haddad. Mesmo assim, há uma expectativa de acompanhar o

evento pelos telões que estão instalados no pátio frontal.

Os comentários desses amigos na loja não são diferentes de tantos outros por onde

circulei nesse dia. Nas conversas surgem acréscimos a respeito dos detalhes da obra e sobre a

vida do bispo Macedo, mas volta e meia vêm à tona aspectos a respeito dos valores gastos na

construção.

Enfim, chega o momento da cerimônia, dirijo-me para a porta frontal do templo. Ao

chegar ao local, deparo-me com um forte esquema de segurança, polícia militar, civil e

seguranças particulares, um cordão humano formado por jovens da “força universal”,

isolando os portões frontais e o acesso à via na calçada do outro lado da rua; por trás desse

cordão, multidões de curiosos, jornalistas, fotógrafos, idosos, jovens e pais com seus filhos.

Page 20: Joao Enicelio da Silva.pdf

18

Com muito custo, consigo um lugar na calçada da Igreja Católica de São João Batista,

que está bem em frente ao Templo de Salomão. Há uma grande expectativa para a abertura

dos portões, quando, ao escurecer, começa uma projeção mapeada de símbolos do Judaísmo

bíblico. Observam-se nas paredes frontais do templo, em uma grande tela, imagens de pedras

representativas das 12 tribos de Israel. Outros símbolos também são projetados, como as

menorahs e a arca. No momento em que termina a projeção, seis homens vestidos com trajes

supostamente do Judaísmo, todos de branco, transportam uma réplica da Arca da Aliança1, do

antigo templo (sede da avenida Celso Garcia, 499) para o Templo de Salomão; no percurso,

está estendido um tapete vermelho, e, na chegada, há um corredor humano no pátio interno

do templo. A arca está coberta por um manto, o qual é retirado na entrada do templo por

outros quatros homens. E, ao som de trombetas, a arca adentra o local. A reunião segue a

portas fechadas. Depois de alguns minutos, a projeção mapeada retorna, agora com a história

de vários personagens bíblicos, partindo de Abraão, Isaque, Jacó, Moisés e outros, até chegar

à breve história do surgimento da Igreja Universal do Reino de Deus, terminando-se a

apresentação com dados sobre a construção do Templo de Salomão. A projeção termina, mas

a reunião segue, mais uma vez, a portas fechadas.

Olho ao redor, e percebo que o tempo sagrado na avenida não para; em outras

denominações, outras reuniões acontecem, basta olhar à frente, do outro lado da calçada. Lá

está a Paróquia São João Batista do Brás; ao seu lado, a Igreja Assembleia de Deus do Brás;

logo atrás do Templo de Salomão, a Igreja Evangélica Brasileira; e, na lateral esquerda, a

Igreja Assembleia de Deus La Roca; a 100 metros aproximados do Templo de Salomão

(IURD), veem-se o Ministério Mudança de Vida, a Igreja Plenitude do Trono de Deus, a

Universal do Reino de Deus e a Igreja Ortodoxa Grega2.

Os relatos sobre a presença religiosa no bairro do Brás acompanham as histórias sobre

sua fundação que, como ocorreu com a maioria dos bairros tradicionais da cidade, deu-se em

torno da Capela do Bom Jesus de Matosinho, com suas procissões, romarias e missas, que

marcaram um período na hegemonia do Catolicismo. As transformações na região ocorreram,

1 A Arca da Aliança: trata-se de uma mobília do antigo culto judaico, responsável por armazenar a

tábua dos dez mandamentos, a vara de Arão e o Maná, elementos descritos no texto bíblico

veterotestamentário.

2 Relato referente à pesquisa de campo realizada em 31/07/2014, em decorrência da inauguração do

Templo de Salomão da Igreja Universal do Reino de Deus.

Page 21: Joao Enicelio da Silva.pdf

19

a princípio, com a chegada de imigrantes europeus no final do século XIX, os quais erigiram

edificações de novas igrejas, afinadas com suas devoções de origem.

Partindo desse histórico que remete a presença católica na formação das cidades e dos

bairros importantes, é possível aferir que, nas políticas de fundamentação das cidades, a

presença religiosa, e, nesse caso, a construção de uma capela, era visto como um importante

equipamento urbano. As paróquias serviam não apenas como espaço religioso, mas também

como espaço de sociabilidade, de reuniões que se davam para além do espaço privado

ocupado pela família. É nesse sentido que o espaço religioso emerge como equipamento

urbano e a garantia de uma forma de religiosidade como meio facilitador da vida nas cidades.

Em São Paulo, mesmo com o avanço de políticas de formação da metrópole e com o

aumento considerável de equipamentos urbanos (praças, áreas de lazer, de cultura, transporte,

etc.), pode-se afirmar que os espaços religiosos continuam atuando com espaços importantes

de sociabilidade e de vivência na cidade. Tal consideração baseia-se na imensa profusão de

templos e denominações religiosas que a cidade abriga e na necessidade de se constituir um

espaço de visibilidade para as religiões. Assim, a problemática da pesquisa envolve a seguinte

questão: dentro do tema da religião, a concentração de diversas denominações, sobretudo

evangélicas pentecostais, estabelecidas nas avenidas Rangel Pestana-Celso Garcia, do seu

início até o número 1550, perímetro do bairro do Brás, na cidade de São Paulo, segue a

mesma lógica com que se organizam o comércio, o lazer e outras redes de sociabilidade nessa

capital?

Para tentar responder tais proposições, duas hipóteses centrais são aqui desenvolvidas:

primeiramente, a descrição empírica de uma “mancha” religiosa constituída na rede de

relações da região do Brás, e, em segundo, a concentração de diversas denominações

religiosas, sobretudo pentecostais, o que nos remete a uma teia de estratégias relacionada à

visibilidade religiosa.

Page 22: Joao Enicelio da Silva.pdf

20

1.1 A constituição de uma mancha urbana das agências religiosas como estratégia de

visibilidade religiosa

Como dito anteriormente, a partir de várias caminhadas pelo bairro do Brás,

identificando as denominações religiosas, conversando com fiéis, moradores da região,

transeuntes e frequentadores, chamou-me atenção a concentração de diversas denominações

religiosas nas avenidas Rangel Pestana-Celso Garcia, especialmente no perímetro do bairro do

Brás.

Depois desse processo de reconhecimento de campo e de imersão, que durou

aproximadamente dois anos, não somente dialogando com os interlocutores, como também

assistindo às reuniões das denominações, pareceu-me importante não me ater à análise dos

conteúdos referentes às práticas religiosas, mas apenas pensar nos percursos pelos quais tais

denominações passam, e, principalmente, pensar no fato de os líderes religiosos se

encontrarem no bairro do Brás, e, consequentemente, instalarem lá as sedes de seus

ministérios, num território onde a IURD há muito tempo se instalou; ainda, pareceu relevante

pensar por que pessoas de diversas regiões da metrópole deslocam-se em direção a essa

região.

Uma das hipóteses para esta pesquisa é se a chegada e a saída de tantas denominações

religiosas implicam na presença de uma “mancha” religiosa. A categoria “mancha” faz parte

de um conjunto de categorias antropológicas desenvolvidas por Magnani (1996 e 2012), as

quais foram inicialmente utilizadas em função da necessidade de se analisar determinado

conjunto de atividades no contexto urbano a partir dos anos de 1980. Dentre essas categorias,

destacam-se:

“Pedaço: espaço ou segmento dele, demarcado; torna-se referência para distinguir

determinado grupo de frequentadores como pertencentes a uma rede de relações.”

“Mancha: pode ser compreendida por áreas contíguas do espaço urbano dotadas de

equipamentos que marcam seus limites e os viabilizam, cada qual com sua especificidade,

competindo ou complementando uma atividade ou prática dominante”.

“Trajetos: aplica-se a fluxos recorrentes no espaço mais abrangente da cidade e no

interior das manchas urbanas”.

Page 23: Joao Enicelio da Silva.pdf

21

“Circuito: categoria que descreve o exercício de uma prática ou a oferta de

determinado serviço em estabelecimentos, equipamentos e espaços que não mantêm entre si

uma relação de contiguidade espacial, sendo reconhecido em seu conjunto pelos usuários”.

Dado o número expressivo de denominações, mesmo no recorte das Avenidas Rangel

Pestana-Celso Garcia, determinado como locus da pesquisa, escolhi aleatoriamente algumas

dessas denominações para assistir às reuniões ali realizadas, na tentativa de melhor

compreender a formação da mancha em questão.

A região do Brás é marcadamente comercial, o que não implica nas atividades da

maioria das denominações religiosas no local; porém, o funcionamento intenso destas se dá

entre a sexta-feira e o domingo, com reuniões sobre exorcismo, prosperidade financeira, vida

sentimental, saúde física e espiritual. Para entender as características da mancha, descrevi

alguns aspectos gerais das denominações, as falas de entrevistados e as participações em

reuniões.

A Igreja de Bom Jesus do Brás, parte integrante da memória paulistana, vive na

atualidade um período de ausência de membros oficiais. Eunice, a secretária geral, relatou-

me detalhes de como o número de fiéis ficou reduzido nas missas; enquanto converso com

ela, chegam aqui e ali pessoas que entram e saem da igreja. A loja de produtos religiosos

pouco movimentada é uma nova face do Catolicismo no país, que se reflete no bairro. Já a

Comunidade Essência de Deus, denominada Católica Carismática, instalada em um espaço

menor, num piso superior de uma loja, no Largo da Concórdia /avenida Rangel Pestana,

apresenta um número expressivo de membros. Notável o estilo de suas práticas litúrgicas,

acompanhado por músicas e símbolos predominantemente pentecostais, como a presença no

púlpito da “arca da aliança” e da cruz. Pessoas mencionam que escutam o rádio, e,

incentivadas pela facilidade de acesso ao local, pela existência de meios de transportes, vêm

em busca do “milagre” na gruta de Nossa Senhora da Rosa Mística, instalada na parte que dá

saída para a rua do Gasômetro; o agendamento para consultas espirituais é feito antes e

depois da missa. Nessa denominação, o meu contato foi apenas com fiéis e com alguns

funcionários, pois não obtive chance de contato com a liderança.

Prosseguindo na avenida, em direção leste, sempre esteve de portas abertas a Igreja

Catedral Carismática das Nações. O líder dessa igreja me recebeu, e contou detalhes sobre a

sua origem evangélica e o seu trabalho atual carismático, além de ter falado sobre a aquisição

do imóvel onde está instalada a igreja. Questionei esse líder a respeito da presença de

elementos simbólicos do Pentecostalismo e do Catolicismo, e sobre a confissão religiosa do

Page 24: Joao Enicelio da Silva.pdf

22

público que circula pelo espaço, e ele respondeu: “Deus vem pra todos, católicos, evangélicos,

espíritas.”

Visitei o Santuário dos Santos Anjos, conversei com alguns diáconos, porém não

obtive informações adicionais da denominação além daquelas que estão no seu portal de

internet. Na Igreja Internacional da Fé, consegui contato com a liderança, que justificou a

espacialidade do seu templo com a centralidade do bairro. Os membros dessa igreja são de

vários bairros da capital, e chegam até lá trazidos pelas divulgações feitas no rádio.

Na Comunidade Amor e Graça, tive três interlocutores, sendo uma senhora, um rapaz,

ambos fiéis, e o líder da denominação, o qual, em sua fala, sempre incluía a justificativa do

espaço. O líder contou que já tinha sido membro de uma outra denominação na região e, por

causa da centralidade, marcada pela facilidade dos meios de transporte, optou por ficar no

bairro e expandir a igreja para outras regiões. Os membros contaram-me sobre o estilo de

trabalho da denominação, alinhada aos textos do Novo Testamento, especialmente as cartas

do Apóstolo São Paulo. A principal diretriz da denominação é o viver uma prática longe do

Israel mítico, baseando-se no Velho Testamento. Conta o rapaz: “Antes, eu era „da lei‟, agora

eu sou „da graça‟”, fazendo alusão a uma outra denominação, que também trabalha em suas

práticas litúrgicas elementos do Velho Testamento, ou „„a lei”.

O templo da IURD na avenida Celso Garcia, juntamente com o Templo de Salomão

(IURD), movimenta toda uma rede de sociabilidade, envolvendo lojas de produtos,

restaurante e café próprios, além de escolas e espaços para jovens e imigrantes. Nas

proximidades, há também lojas de roupas, as quais foram abertas com as instruções dos

bispos ou pertencem a membros da IURD.

Na Igreja Assembleia de Deus, assisti a diversos cultos e escutei a programas de rádio

e TV na tentativa de identificar trajetos e circuitos envolvendo essa denominação. Apenas se

identificou uma rede de relacionamento em torno de um estabelecimento de equipamentos de

som nas proximidades, que se reúne às terças-feiras, em cultos que têm a presença de pastores

de diversas regiões; estes, por sua vez, encontram-se na loja para comprar ou trocar seus

aparelhos de som; ali e acolá surgem conversas sobre o trabalho da igreja ou sobre o futuro

do Evangelho.

Os testemunhos e os programas televisivos movimentam uma rede de pessoas que vêm

aos cultos da bispa, no Ministério Mudança de Vida. Um dos pastores contou que a escolha

Page 25: Joao Enicelio da Silva.pdf

23

pelo bairro para a sede da denominação levou em conta a centralidade e a facilidade de

estacionamento.

Na Plenitude do Trono de Deus, assisti a reuniões de exorcismo e a “campanhas da

prosperidade”, mas não consegui falar com a liderança dos membros; falei com

frequentadores, pessoas que são de outras denominações, mas vão àquela igreja em busca da

bênção e da troca de experiências, e lá ouvem testemunhos, fazem campanhas e esperam por

um milagre.

Na Catedral da Bênção, consegui contato com o pastor auxiliar, o qual contou que, no

passado, a adesão à igreja foi conquistada por meio de divulgação no rádio. Hoje, o modus

operandi mudou: as famílias vêm para essa igreja através da evangelização. A escolha da

espacialidade ocorreu há muitos anos, quando se decidiu pelo local devido à sua

proximidade do centro da cidade.

Na Igreja Missão dos Sinais de Deus, frequentada por pessoas de diversas regiões e

confissões da capital, as propostas escutadas no rádio logo trazem fiéis para o espaço de

culto, os quais são de diversas denominações; as relações entre eles ocorrem pela

identificação com o “milagre”. Nos cultos, conversa-se sobre de onde o fiel veio, com que ele

trabalha e qual a bênção recebida por ele.

A partir dos conceitos de Magnani (1996 e 2012), é possível pensar que a mancha

religiosa localizada no trecho da avenida Rangel Pestana – Celso Garcia, perímetro do bairro

do Brás, está ligado a trajetos e circuitos que vão além do espaço do bairro.

Nessa dialética de circuitos e trajetos, a dinâmica da “mancha” religiosa se dá de

forma intensa. A maioria dos frequentadores vem de bairros distantes da cidade, localizados

nas extremidades da zona leste; muitos dos entrevistados trabalham na região, outros acessam

informações referentes à programação das igrejas por meio de programas de rádio, que ainda

emerge como veículo importante de comunicação. A lógica dos trajetos tem por regra a busca

por uma resposta a necessidades individuais dos frequentadores, que organizam suas

incursões nas igrejas mediante o calendário de campanhas oferecidas. O calendário de

campanhas temáticas conforma um circuito de práticas religiosas que extrapolam os limites

geográficos do bairro do Brás, fazendo com que o contingente de frequentadores circule por

outras regiões da cidade, como a rua Conde de Sarzedas, na região central, e em bairros

considerados importantes centros regionais, como o bairro de Santo Amaro, que funciona

como centro expandido para a zona sul, e o bairro de Vila Nova Cachoeirinha, centro

expandido da zona norte.

Page 26: Joao Enicelio da Silva.pdf

24

1.2 Avenida Rangel Pestana-Celso Garcia – Corredor de Visibilidade Religiosa

As avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia, nos últimos anos, foram eleitas por

agências de jornalismo e por agentes da religião como um corredor de visibilidade religiosa,

local de concentração da fé. Várias reportagens foram veiculadas em diversos meios de

comunicação a esse respeito, e até mesmo sobre o bairro do Brás como cenário da

religiosidade.

Tais exposições ocorreram ultimamente por conta da inauguração do Templo de

Salomão (IURD), ocorrida no ano de 2006, quando também foi inaugurada a Igreja

Assembleia de Deus do Ministério do Brás.

Em todas as reportagens, há uma tentativa de atribuir termos relacionados à

quantidade de denominações religiosas, tanto presentes na avenida como no bairro. Dentre os

termos atribuídos: “corredor da fé”3 ; “via da oração”4, “o bairro da fé”5 e “o cinturão

religioso do Brás”.6

Pereira (2010) sugere que a espacialidade das denominações, sutilmente, tenha uma

relação entre economia e religião. Almeida (2004) analisou os locais de culto no contexto

urbano paulista, especialmente as vias principais da zona leste da capital, e concluiu que as

diferentes confissões não seguem a mesma dinâmica espacial, por exemplo, a visibilidade

das paróquias católicas ocorre no interior dos bairros, onde estas estabelecem uma certa

centralidade, servindo como referência de localização.

3 AMENDOLA, Gilberto. Celso Garcia, a avenida da fé. Jornal da Tarde. São Paulo, p. 1-2. 29 set.

2006.

4 CORREA, VANESSA. Folha de São Paulo. 2014. Disponível em:

http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2014/06/1470202-igrejas-vizinhas-temem-transito-apos-

abertura-do-templo-de-salomao.shtml Acesso em: 20 set. 2013

5 BRÁS, Jornal Do. 2014. Disponível em:

<http://www.jorbras.com.br/portal/index.php?option=com_content&task=view&id=2820&Itemid=2.>

Acesso em: 20 set. 2013

6 IDOETA, Paula Adamo; SENRA, Ricardo. Templo evangélico reforça caldeirão religioso no leste

de São Paulo. Disponível em:

<http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_fotos/2014/08/140801_bras_vale_religioes_pai.shtml#dn

a-comments>. Acesso em: 01 ago. 2014.

Page 27: Joao Enicelio da Silva.pdf

25

Os templos da Assembleia de Deus, diferentemente dos católicos, encontram-se nas

vias principais dos bairros periféricos. A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) avalia o

espaço geográfico e instala seus templos nas grandes avenidas, dotadas de grande densidade

populacional, atendidas por uma vasta malha de transporte e com grande oferta de

equipamentos urbanos.

A visibilidade como meio de promoção da imagem e da adesão em massa foi

amplamente explorada por Corten, Dozon & Oro (2003); Almeida (2004);, Oro (2006);

Constins e Gomes (2007); Gomes (2008); Almeida (2011); Gomes (2011); Mafra (2011);

Giumbeli (2012) e Bledsoe (2012).

[...] Essa estratégia, a construção de suas grandes catedrais, visa dois

objetivos, visibilidade e adesão em massa; esse tipo de construção imponente

nas vias principais é uma estratégia de visibilidade e marketing que se

articula com a presença na mídia e na esfera política visto que para sua

efetivação as igrejas evangélicas necessitam de trâmites burocráticos nas

administrações municipais; a intenção é parecer maior do que realmente é.

(ALMEIDA, 2004, p. 23)

A teoria de Almeida (2004) quanto à visibilidade e à adesão em massa é confirmada

com o Templo de Salomão IURD, na avenida Celso Garcia. O edifício tornou-se um marco

na cidade, milhares de pessoas vão às suas reuniões. Com a implantação de suas catedrais e

seus megatemplos, a IURD consegue o feito também em outras cidades onde se instalou nos

últimos anos.

Outras denominações presentes na avenida Rangel Pestana-Celso Garcia, mesmo

com templos menores, buscam essa visibilidade e adesão instalando as suas sedes

administrativas nesse espaço.

Ser visto na cidade, arrebanhar multidões aos seus templos são uma boa hipótese por

que tantos líderes religiosos buscam o bairro do Brás, em São Paulo, em especial as avenidas

Rangel Pestana-Celso Garcia. Para isso, não se medem esforços, e apelos são feitos na TV,

no rádio e em diversos outros meios de publicidade.

O processo de visibilidade e adesão em massa inicia-se através de planejamento de

marketing e de mercado a respeito de consumidores de possíveis bens simbólicos. Não me

aprofundarei nessa relação que possivelmente resultaria em uma análise chamada por alguns

pesquisadores de “religião e mercado”.

Page 28: Joao Enicelio da Silva.pdf

26

1.3 Metodologia

A metodologia empregada neste trabalho inicialmente foi de análise de conteúdo

bibliográfico, especializada nos campos da religião, da história, da sociologia e,

predominantemente, da antropologia urbana, o que permitiu construir um panorama da

religiosidade do bairro e das avenidas Rangel-Pestana - Celso Garcia a partir da leitura de

diferentes cientistas da religião (historiadores, sociólogos e antropólogos). Pretende-se, dessa

maneira, viabilizar uma escrita pontilhada de referências. Para tanto, foram utilizadas as

fontes depositadas nas bibliotecas da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Faculdade

de Filosofia Letras e Ciências Sociais da Universidade de São Paulo, bem como as fontes do

Arquivo Histórico do município de São Paulo.

Em segundo momento, utilizou-se o método etnográfico, tendo sido feitas visitas às

igrejas e a eventos nas denominações das avenidas Rangel-Pestana - Celso Garcia, além de

anotações, mapas e fotografias de algumas paisagens, as quais farão parte do material a ser

apresentado nesta pesquisa.

Na medida do possível, à semelhança do que ocorrera com Silva (2000), foram

utilizadas entrevistas informais, visto que os participantes declinavam quando apresentávamos

questionários pré-estabelecidos. Percebido esse pormenor, abandonamos o processo formal e

adotamos em todas as entrevistas a informalidade, procedimento que resultou na fluidez da

pesquisa.

As entrevistas e os questionamentos, mesmo que informais, quando aplicados às

lideranças das denominações, procuraram seguir um roteiro que envolvia as seguintes

questões: a) identificação do pesquisado, b) nome da denominação à qual pertence, c) relato

histórico da denominação, d) quanto tempo está no Brás, e) o que lhe motivou escolher o

bairro ou, em especial, o corredor Rangel-Celso Garcia, f) estar no Brás tem algum diferencial

ou significado para você?, g) caso seja necessária a mudança, qual bairro da capital

escolheria?, h) a denominação desenvolve algum trabalho social?. Essas questões nos

guiaram diante de uma parcela representativa do número de líderes evangélicos pentecostais

presentes no campo pesquisado.

Outras questões nos guiaram quando as entrevistas foram realizadas com antigos

moradores da região, com lideranças de associações, com comerciantes, com jornalistas e com

Page 29: Joao Enicelio da Silva.pdf

27

outras pessoas da região. Buscou-se saber destes sua identidade, sua pertença religiosa, o local

de sua residência, se frequentam as denominações no bairro do Brás e qual sua opinião sobre

a existência de tantas denominações no espaço do bairro, em especial, no corredor Rangel

Pestana – Celso Garcia.

Os dados foram analisados a partir da teoria e das categorias analíticas “mancha”,

“trajeto” e “circuito”, elaboradas e adotadas por Magnani (2012), em seus mais expressivos

estudos. Tanto o método de análise de conteúdo como a etnografia resultaram no corpo

documental da pesquisa.

As caminhadas e participações nas reuniões das denominações, durante a pesquisa,

sempre ocorreram no sentido centro – leste, e foram feitas em dias diferentes da semana com

intenção de se assistir às diversas temáticas propostas pelas reuniões, o que permitiu traçar

alguns aspectos gerais das denominações que visualizei em campo.

A pesquisa propôs uma abordagem antropológica, não utilizando de nenhum método

invasivo; a relação se baseou na confiança mútua entre o pesquisador e o pesquisado. Os

dados colhidos através dos informantes mantiveram o seu anonimato (exceto aqueles cujos

informantes aceitaram a exposição), sendo as citações somente de forma indireta; contudo,

todo pesquisado foi conscientizado de que faria parte de uma pesquisa no campo da Ciência

da Religião e que, caso desejasse, sua identidade seria mantida em completo anonimato.

Page 30: Joao Enicelio da Silva.pdf

28

2. Capítulo 2 - Bairro do Brás: breve histórico

“O Brás tinha rezas e blasfêmias. Da mistura equilibrada desses dois

ingredientes, o espiritual e o profano, eram feitas as delicadezas e as

grossuras do bairro”. (DIAFERIA, 2002, p.40)

Brás, tradicional bairro da capital paulistana, pertence à Subprefeitura da Mooca,

sendo suas principais vias de acesso as avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia, a qual liga o

centro de São Paulo aos bairros da zona leste.

Nos dias atuais, o Brás é conhecido por suas características de comércio popular. Com

grande variedade de lojas e distribuidoras, em vários segmentos, concentradas em suas

principais ruas e arredores, esse bairro abastece diversos tipos de comércio de outras regiões

do Brasil, e até mesmo de fora do país.

É notável que essa vocação comercial faça do bairro um importante polo econômico

para o estado. A diversidade de produtos e serviços presentes em suas principais ruas e

avenidas atrai diariamente centenas de visitantes e turistas de todo o país e até mesmo de

outras partes do mundo.

Aquilo que se vê hoje no bairro do Brás teve início nos primórdios do século XX, e

está vinculado aos movimentos de ocupação urbana na capital paulista. (BIANCO, 2008,

p.42).

No início da sua fundação, a localização do bairro, próxima ao rio Tamanduateí,

dificultava o acesso aos moradores, pois as características topográficas e ambientais da várzea

do Carmo geravam desconforto aos possíveis interessados em adquirir lotes de terras naquela

localidade; era uma região marcada por capoeiras e por matagais. (TORRES, 1985, p. 64)

Diaferia (2002, p. 35) nos faz lembrar que, no passado, o bairro tinha um visual

diferenciado de outros bairros de São Paulo; como o acesso a ele era difícil devido à várzea e

ao rio Tamanduateí, possuía poucos moradores, o que lhe dava aspecto de sítio. (Foto 1)

Foto 1 - Várzea do Carmo – ano: 1860

Page 31: Joao Enicelio da Silva.pdf

29

Fonte: Acervo fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo - Tombo: DC/0000382/E

Nos primórdios do bairro, suas chácaras eram habitadas somente por escravos e por

caseiros, e seus proprietários viviam na região urbana. As terras dessa área teriam sido doadas

para aqueles que as pediam à Câmara Municipal com a finalidade de construírem casas de

campo, hortas e pomares. (REALE, 1982, pp. 7,9)

A localização do Brás outrora começava no antigo Gasômetro e se estendia por toda a

zona leste da cidade até a Penha. Na época, tinha-se por Gasômetro toda a área que

circundava a sede da companhia que produzia gás para a iluminação pública da cidade de São

Paulo, em meados do século XIX. Hoje, essa área reduziu-se apenas às proximidades do atual

Parque Dom Pedro II. O que se tem atualmente como essa localidade restringe-se à rua do

Gasômetro, hoje conhecida pelo seu comércio de madeiras.

O bairro do Brás tem origem a partir das primeiras décadas do século XVII; sua

paisagem, marcada por chácaras e regiões alagadiças, era cortada pelo Caminho da Penha

(atualmente avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia), que servira no passado como rota de

romaria e de comércio, entre a colina da Penha e a colina da Sé. O Caminho da Penha é

fundamental na formação do bairro do Brás, pois nele se situa a Capela de Bom Jesus de

Matosinho. A partir de 1725, iniciam-se as primeiras habitações no entorno dessa capela. No

entanto, o vilarejo formado somente passará à categoria de Freguesia em 1819, com a

Page 32: Joao Enicelio da Silva.pdf

30

assinatura de documentos pelo Bispo Dom Matheus, ocasião em que a igreja de Bom Jesus de

Matosinho foi elevada a Paróquia. (DIAFERIA, 2002, p. 41)

O Brás, desde o Brasil Colônia, passou por diversas transformações, as quais, em

alguns períodos, ocorreram de forma lenta, mas, em outros, de forma rápida. Os historiadores

são unânimes em afirmar que um período marcante na transformação espacial do bairro

ocorreu no final do século XIX, com a chegada da ferrovia e a decorrente vinda de

(i)migrantes de diferentes lugares.

A ferrovia, inaugurada em 1877, definiu a vocação do bairro e influiu

decisivamente na posterior configuração social do espaço, pelo fato de haver

atraído para suas margens atividades industriais e comerciais. Seus terrenos

alagadiços, de baixo custo, e as indústrias que começavam a se instalar

transformaram-no num bairro popular. (AMARAL, 2010. pp. 176-177)

É notável que a ferrovia trouxesse mudanças permanentes no espaço urbano do bairro,

para além das atividades comercias e industriais, como observa Amaral (2010). Alterações

foram percebidas também no perfil religioso da localidade, logo no início do século XX. Os

imigrantes italianos, chegados às décadas de 1920 e 1930 do mesmo século, trouxeram uma

devoção religiosa afinada com sua região de origem. (RIBEIRO, 1994, p. 98)

Com os planos de desenvolvimento urbano do município em parceria com o Estado e a

Federação7, o bairro foi se tornando arrojado, e passou a atrair mais pessoas, as quais vinham

de fora em busca de novas oportunidades de trabalho. Primeiro, chegaram italianos e outros

estrangeiros, e, mais recentemente, nordestinos e latinos8. A presença desses (i) migrantes,

tanto no início da formação do bairro quanto nos dias atuais, tem deixado traços de diferentes

culturas no local. Para Torres (1985, p. 43), por exemplo, a presença da imigração europeia na

cidade, especialmente a italiana, deixou marcas indeléveis no bairro.

Com as reformas urbanas e a expansão decorrente do fluxo populacional, novas áreas

foram sendo agregadas. Desse modo, as fronteiras do bairro foram ampliadas e, hoje, ele está

apenas a uma distância aproximada de dois quilômetros do centro da capital paulista, fazendo

divisa com os bairros da Mooca, do Belenzinho, do Pari, da Luz e da Sé (REALE, 1982, p.

03).

7 Investimento de verba federal para o desenvolvimento urbano.

8 Na década de 1940, os nordestinos, e, mais recentemente, os bolivianos.

Page 33: Joao Enicelio da Silva.pdf

31

A origem do nome9 atribuído ao bairro do Brás já gerou diversas especulações entre os

meios de comunicação, e três versões sempre são apresentadas. Entretanto, em dados

publicados no site da Prefeitura de São Paulo, é notável que a versão para a origem do nome

do bairro seja a mesma aceita por Torres (1985, p. 43), o qual faz referência às atas da Câmara

Municipal de São Paulo, no termo de vereança de 04 de março de 1769.

Os primeiros registros do bairro do Brás remontam ao início do século 18,

quando foi pedida a edificação de uma capela em homenagem ao Senhor

Bom Jesus do Matosinho em uma chácara de José Braz (assim mesmo, com

“z”). Ao que parecem, as primeiras referências a esse José Braz constam em

atas da Câmara dos Vereadores de 1769, quando se despacharam várias

petições em nome do mesmo. Tal chácara ficava na margem de uma estrada,

que era conhecida como Caminho do José Braz, passou a ser a Rua do Braz,

e hoje leva o nome de Avenida Rangel Pestana.10

Curiosamente, até o ano de 2010, a memória do chacareiro José Brás estava

circunscrita à pequena praça localizada ao lado da estação Brás do metrô. Após dez anos de

luta por parte de moradores e comerciantes da região, no dia 8 de janeiro de 2011, foi

inaugurado no espaço localizado embaixo do viaduto da estação do metrô Brás o parque

Benemérito José Brás. No ato público, estavam presentes o prefeito Gilberto Kassab, o

subprefeito da Mooca Rubens Casado, o secretário do Meio Ambiente Eduardo Jorge, o

vereador e autor da Lei do Parque Francisco Chagas, o engenheiro Carlos Fortner e o Padre

José Roberto da Igreja Nossa Senhora de Casaluce11.

9 A chácara da Marquesa de Santos ou do Ferrão serviu para demarcar os limites do Brás, até o ano de 1874.

Com a morte de dona Domitila de Castro, viúva do brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, a propriedade passou

para Brasílico de Aguiar Castro, filho caçula da Marquesa de Santos, o qual viveu até 1891. Brasílico era

conhecido também por Brás, e essa seria uma versão da origem do nome do bairro. Outros insinuaram que Brás

deve-se à passagem de Brás Cubas, fundador de Santos, pela região, por volta de agosto de 1567. Dentre as três

versões existentes a respeito da origem do nome do bairro, a versão mais aceita é a do historiador Nuto Santana,

para quem a verdadeira origem desse nome deve-se ao português José Brás, por ter residido em meados do

século XVIII entre o Gasômetro e o Largo da Concórdia, onde cultivava como dono das terras. (BATTAGLIA,

1981)

10 PREFEITURA DO MUNICIPIO DE SÃO PAULO. Coordenação das Subprefeituras, Subprefeitura

Mooca. São Paulo, 2013. Disponível em:

<http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/moo. php?p=435>. Acesso em: 11 ago. 2013.

11 AMIGOS da praça, Inauguração do parque benemérito José Brás. Amigos da Praça Blog spot, São Paulo 25

Jan. 2011. Disponível em: < http://amigosdapracabras.blogspot.com/2011/01/inauguracao-do-parque-benemerito-jose.html>

Acesso em: 11 ago. 2013.

Page 34: Joao Enicelio da Silva.pdf

32

As autoridades sempre prestigiaram o bairro. Na gestão do prefeito Paulo Maluf

(1993-1996), através do projeto de lei do vereador Hanna Garib, foi instituído o “Dia do Brás”

a ser comemorado, no âmbito do município de São Paulo, no dia 08 de junho, conforme a Lei

nº 11.756, de 12 de maio de 1995.12

O bairro do Brás tem em sua história, portanto, uma série de processos que conjugam

os valores dados à memória do fundador José Brás aos atos da política de governo. Nessa

memória, ainda há espaço para se pensar nos demais agentes que fizeram parte da construção

daquilo que o bairro é nos dias atuais. Esse bairro não ficou ileso diante das constantes

concentrações que se organizaram e se reorganizaram nos espaços sociais da capital

paulistana.

Na memória coletiva, as mudanças pelas quais passou a região, além do saudosismo,

deixaram suas marcas na paisagem religiosa de São Paulo. Basta olhar ao redor das

movimentadas avenidas do bairro para perceber que o Brás é um exemplo considerável das

transformações no campo religioso ocorridas no Brasil, especialmente em seus grandes

centros urbanos, nas últimas décadas do século XX.

Os movimentos apontam, desde os primórdios, a presença marcante de sujeitos sociais

cuja história e vida estão imbricadas à religiosidade, demonstrando a relação entre o

fenômeno urbano e a expansão de diferentes confissões religiosas no estado de São Paulo.

2.1 Memória e devoção católica

A fundação de diversos bairros, e até de cidades, no contexto brasileiro, esteve ligada

à religião católica romana, segundo o pesquisador Jesus (2006, pp. 12,17). Ao estudar essa

relação, o autor ressalta o fato de que, na origem do bairro do Brás, houve um forte vínculo

entre os primeiros moradores da localidade e sua devoção específica, para a qual erigiam

algumas capelas e igrejas católicas. Assim, a história de muitas cidades brasileiras e a história

da religião, ou da devoção de algum santo católico, está imbricada num conjunto de narrativas

onde a memória se desloca dos monumentos cívicos para os lugares sagrados.

12 SÃO PAULO. Lei n˚ 11.756, de 12 de maio de 1995. Institui o Dia do Brás. Diário Oficial do

Município de São Paulo, São Paulo, 13 mai. 1995. Disponível em:

<http://www.radarmunicipal.com.br/legislacao/lei-11756>. Acesso em: 11 ago. 2013.

Page 35: Joao Enicelio da Silva.pdf

33

Igrejas, capelas, lojas de artigos religiosos, celebrações e festas, comidas, odores e

sabores são apenas uma parte das memórias que se tem do antigo bairro do Brás, por onde

passaram tantas romarias, e que hoje fervilha com novas concentrações de fé e de crença no

divino.

Jesus (2006) também observa que, desde o passado colonial até os idos do Império

Brasileiro, a paróquia como existência religiosa exercia além do poder espiritual, poderes

seculares, isto é, civis e políticos: o discurso religioso corroborava a educação moral e os bons

costumes entre os citadinos; o pároco era autoridade nas questões éticas; os fiéis confessavam

seus pecados e tinham nas homilias dominicais apelos à vida regrada e piedosa. No entanto,

não eram essas as principais necessidades dos devotos católicos, ou não eram somente essas

as suas carências.

A invocação aos santos, às divindades, aos poderes sobrenaturais, quer em religiões de

matriz africana, quer em religiões de matriz indígena, ou nas de matriz cristã, está sempre

associada às situações em que o homem não tem domínio sobre a natureza. No século XIX, na

região do Brás, as enchentes dos rios, as secas e as pestes que atingiam os animais impeliam

os mais pobres, e, em alguns casos, os mais ricos, a buscarem na devoção aos santos uma

solução de seus problemas. (SOUZA, p. 441)

Até meados do século XIX, os paulistas, vindos de uma tradição rural,

consideravam a crença como uma necessidade de obter a proteção divina

para solucionar os problemas advindos da precariedade de sua existência: os

santos eram invocados para solucionar os problemas das enchentes, das

secas, das pestes que atingiam as plantações e os animais, das epidemias que

dizimavam as pessoas. (AZZI, 2005, p.41)

A devoção maior do bairro do Brás, no passado, era a Bom Jesus de Matosinho e a

Nossa Senhora da Penha, a qual era invocada em tempos de crise e de catástrofes na cidade.

(DIAFERIA, 2002, p.41)

Nesse contexto, o processo de formação do bairro do Brás demonstrou o poder

religioso na cidade com os vínculos existentes entre a religiosidade popular e o cotidiano da

sociedade. Os estudos sobre religião e cidade contribuem para a compreensão desse processo

no bairro do Brás, que, desde a sua fundação, está intimamente ligado à concentração de

religiosos, primeiro católicos, depois protestantes, e, atualmente, pentecostais.

No passado colonial, os relatos dizem respeito à presença de religiosos no bairro e à

construção da primeira capela em homenagem ao Senhor do Bom Jesus de Matosinho,

Page 36: Joao Enicelio da Silva.pdf

34

iniciada nos primórdios da colonização. Foi o próprio chacareiro José Brás quem erigiu a

primeira capela do bairro. A devoção católica ao Senhor do Bom Jesus foi trazida de Portugal,

da cidade de Matosinho, distrito de Porto, por volta da segunda metade do século XVIII

(REALE, 1982, p. 03). A identidade religiosa dos portugueses, marcadamente católicos no

lado de cá do Atlântico, mantinha-se vinculada a devoções que incluíam a crença em santos e

o costume de nomeá-los padroeiros das cidades.

O advento da República no país e as consequentes transformações urbanas do bairro

trouxeram uma nova onda de construções de edifícios católicos, em virtude das quais

colaboradores leigos da burguesia emergente, cheios de influências europeias, sentir-se-iam

num espaço religioso distante da rusticidade e da sociedade escravocrata (AZZI, 2005, p.413).

A partir da proclamação da Republica, houve em São Paulo um movimento

significativo por parte da instituição católica no sentido de construir novos

templos que se mostrassem à altura do desenvolvimento urbano, marcado

por forte influência europeia em seus edifícios. A direção dessas novas

construções estava nas mãos da hierarquia eclesiástica, do clero diocesano e

das diversas congregações europeias que se tinha estabelecido na cidade

nessa época. (AZZI, 2005, p.413)

Nesse processo de desenvolvimento urbano, podemos observar no bairro do Brás,

como descreve Torres (1985, pp. 101,102), novos templos com outras devoções católicas, a

exemplo da devoção à “santa cruz” da Igreja de Santa Cruz da Figueira, na rua do Brás,

expressando a fé da maioria da população católica. A autora faz menção aos documentos da

Câmara Municipal nos quais, no ano de 1873, são encontradas solicitações para a construção

de uma capela de São João; no ano de 1876, os documentos apontam para a solicitação de

José de Souza Ribeiro para a edificação de uma capela com invocação à Santa Cruz. Reale

(1982) destaca, dentre os principais fatos que marcaram a vida do bairro no início do século

XX, o aparecimento de novas igrejas.

O Catolicismo no bairro continuava predominante. Nesse processo de novas

construções, no ano de 1903, é inaugurada uma nova igreja matriz do Senhor Bom Jesus de

Matosinho (Foto 1), edificada em estilo romano, em forma de cruz. A edificação dessa nova

igreja, no entanto, não foi suficiente, inicialmente, para apagar os vestígios e as práticas da

Page 37: Joao Enicelio da Silva.pdf

35

religiosidade popular, como observa Reale (1982, p. 29), ao relatar que, na Semana Santa,

eram realizadas procissões do enterro13 e do encontro, que percorriam todo o bairro.

Foto 2 – Paróquia Bom Jesus de Matosinho

Fonte: Site da Paróquia -< http://www.tvagir.com.br/not%C3%ADcias/24-par%C3%B3quia-bom-

jesus-do-br%C3%A1s.html>

A atual paróquia nada lembra a primeira construção de 1803, a qual foi edificada pelo

Tenente José Corrêa de Moraes, em propriedade do chacareiro José Brás, e que, somente em

8 de junho de 1818, foi declarada matriz, por provisão e criação da Freguesia do Brás.

Essa primeira igreja, por um longo período, tornou-se referência para as devoções

populares, ponto de acolhimento da população e da imagem de Nossa Senhora da Penha nas

romarias anuais. A igreja de Bom Jesus de Matosinho, ou Bom Jesus do Brás, foi e continua

sendo parte da memória e da paisagem do bairro, porém não foi e não será a única edificação

católica da localidade. Dentre as novas igrejas que foram erigidas, impulsionadas pelo

desenvolvimento urbano, destacam-se as igrejas dos imigrantes italianos, as quais,

13 Procissão do Enterro do Senhor: manifestação católica que se estabeleceu em Portugal, pela

devoção dos fiéis, nos fins do século XV e princípios do século XVI, mais concretamente entre 1500 e

1510. Disponível em: < http://folcloredeportugal.blogspot.com/2011/04/procissao-do-enterro-do-

senhor.html> Acesso em: 20 mai. 2011.

Page 38: Joao Enicelio da Silva.pdf

36

notadamente, até os dias atuais, fazem parte da tradição do bairro e do calendário festivo da

cidade.

2.2 O Catolicismo dos imigrantes italianos

Os imigrantes italianos chegaram ao bairro do Brás entre o final do século XIX e o

início do século XX, e eram, em sua maioria, devotos do Catolicismo.

Inicialmente, esses imigrantes frequentavam a igreja matriz de Bom Jesus de

Matosinho, até então a única do bairro, onde oficialmente eram realizadas missas dominicais

e outras missas, em datas e eventos religiosos; na região, essa igreja não somente atendia à

população local, mas também aos diversos imigrantes recém-chegados, como registra Ribeiro

(1994, p. 127).

Os italianos carregavam um forte sentimento de devoção religiosa de acordo com sua

região de sua origem, como nos relata Ribeiro (1994, p. 127). Instalaram-se no bairro do Brás

napolitanos14 e bareses15. Esses imigrantes buscaram organizar espaços e atividades em

função das tradições e dos santos dos quais eram devotos em sua terra natal. Ao descrever

sobre o imigrante italiano, Ribeiro (1994, p.129) afirma que:

Reconhecido notadamente por seu caráter patriótico e religioso, ao imigrar

para São Paulo, o italiano carregou suas crenças e tradições e, tão logo se

adaptou à nova pátria, seu primeiro passo foi perpetuar a memória do

padroeiro, com a construção das capelas de Casaluce e São Vitor Mártir.

Ribeiro (1994, p. 136) relata que as crenças aos santos e as devoções praticadas pelos

imigrantes italianos eram manifestadas nas capelas, porém nada os impedia de frequentar a

igreja matriz do Bom Jesus de Matosinho e nela praticarem suas atividades religiosas. A

autora também afirma que as atividades religiosas estavam relacionadas a todas as etapas da

vida do imigrante italiano.

14 Imigrantes italianos vindos da província de Nápoles.

15 Imigrantes italianos vindos da província de Bari sul da Itália.

Page 39: Joao Enicelio da Silva.pdf

37

2.3 Devoção a Casaluce: a santa negra dos napolitanos

A devoção a Casaluce teve origem na Itália, e, ao atravessar o oceano, concentrou-se

no bairro do Brás; sua origem e história estão relatadas no livro de tombo da paróquia, e

foram publicadas no site da arquidiocese de São Paulo. A história de Nossa Senhora de

Casaluce provém do sul da Itália, com raízes que remontam o século XII, como afirma

Ribeiro:

A História de Nossa Senhora de Casaluce vem do sul da Itália (século XlI).

Casaluce significa "CASA DE LUZ". Na cidade de Aversa, em um dia de

temporal muito forte, uma linda moça de cor negra bateu à porta de um

seminário para pedir abrigo, porém, naquele tempo, não era permitida a

entrada de mulheres nessas instituições. Então, os padres pediram que a

moça fosse a um convento de freiras na cidade mais próxima, "Casaluce". As

freiras a acolheram e a instalaram num quarto. No dia seguinte, as freiras não

a encontraram e no seu lugar havia apenas um quadro - era a figura da moça,

com uma criança nos braços.16

A imagem de uma moça negra com uma criança no colo, acolhida em uma noite de

chuva pelas freiras da Casa da Luz, é emblemática. Há uma questão intrigante nessa narrativa:

uma moça negra e uma casa da luz. Casa da Luz, ou Casaluce, teria sido então o lugar da

revelação de uma santa negra, a qual, misteriosamente, manifestara-se às freiras em um dia

de chuva. Interessante nesse relato da Santa de Casaluce é a questão étnica que se apresenta:

uma santa negra de devotos brancos. Num país multicultural e pluriétnico como o Brasil, isso

não seria problema, a moça com uma criança no colo evocava Maria com o menino Jesus em

seus braços.

No bairro do Brás, os napolitanos, com a intenção de atender aos devotos de Nossa

Senhora de Casaluce, decidiram construir, com os seus próprios recursos e mão de obra, uma

pequena capela como devoção à santa padroeira negra. (RIBEIRO, p. 129). Assim, a

construção da Capela Nossa Senhora de Casaluce serviu de marco da presença dos italianos

no bairro, e inaugurou uma nova devoção na cidade. A devoção católica aos santos,

fortemente moldada pelo Catolicismo popular no Brasil, ganhava reforços do além-mar, em

16 Região Episcopal da Sé, Arquidiocese de São Paulo. Paróquia de Nossa Senhora de Casaluce. São

Paulo. Disponível em: <http://www.regiaose.org.br/aspx/DetailsParoquia. aspx?idEntidade=533>

Page 40: Joao Enicelio da Silva.pdf

38

um tempo em se pensava que a religião perderia forças nas cidades por causa do progresso e

do desenvolvimento urbano.

A devoção a Casaluce teve apenas dois templos construídos no mundo, o de São Paulo

e o de Nápoles. Isso talvez demonstre o caráter local da devoção, que se contrapõe ao caráter

universal dos dogmas e dos sacramentos da Igreja Católica e da religião cristã. Além disso, tal

fato poderia significar que a devoção é também um elemento de identidade de uma

comunidade local. Os napolitanos quiseram trazem em sua bagagem de mudança algo que

lhes constituísse como religiosos, e não se eximiram de investir dinheiro e trabalho para a

construção da capela, o que demonstra o valor cultural da devoção.

Em São Paulo, a igreja de Nossa Senhora de Casaluce está situada na rua Caetano

Pinto, 608, no bairro do Brás. Na fachada do prédio, esteticamente modesto, encontra-se

estampada a imagem da santa (Foto 3).

Foto 3 - Igreja de Nossa Senhora de Casaluce

Crédito: Foto do autor – Vista frontal da igreja Nossa Senhora de Casaluce.

Como parte constituinte da paisagem urbana, o prédio da igreja demonstra a

permanência da devoção à santa napolitana, que se tornou também devoção dos brasileiros,

Page 41: Joao Enicelio da Silva.pdf

39

posto que, hoje, não somente italianos a veneram, como também brasileiros, os quais, já há

algum tempo, acolheram a imagem da moça negra com uma criança no colo.

Essas devoções e essas capelas davam sentido à vida dos imigrantes. Em carta aos que

ficaram na Itália, trabalhadores do interior do estado de São Paulo reclamavam que ali não se

ouvia nem um sino, fazendo menção à igreja e aos serviços paroquiais. Desse modo, a

devoção pode ser vista também como a expressão da iniciativa e da experiência do indivíduo

ou da comunidade deslocada da religião oficial, o Catolicismo elitista, comprometido com o

estado.

Os festejos à padroeira, marcados pela presença da banda de música, composta por um

quinteto (RIBEIRO, 1994, p. 133), aconteciam no mês de maio, regados de comidas típicas

italianas e com a presença de barracas onde se podiam encontrar pizzas, fogazzella, spoliatella

e spaguetti al sugo. O evento em homenagem à padroeira Casaluce foi uma das primeiras

festas típicas de imigrantes a acontecer no âmbito do município de São Paulo,

especificamente no bairro do Brás, e perdura até os dias de hoje, já em sua 114ª edição no ano

de 2014.

Para encerrar a festa, até hoje se realiza uma grande concentração de pessoas numa

procissão que percorre as ruas Caetano Pinto, Piratininga e a avenida Rangel Pestana. Nessa

procissão, o principal andor é o de Nossa Senhora de Casaluce, constituído, na falta de uma

imagem tridimensional, por uma tela onde está representada pictoricamente a santa negra. A

tela sai para a procissão envolta num manto azul, onde os devotos costumam pregar

contribuições com alfinete, até que o manto fique repleto de notas. Ao lado da imagem da

santa ficam os festeiros, as filhas de Maria, as freiras, as vicentinas e os principais

representantes da Congregação Mariana. (RIBEIRO, 1994, p.135)

Nessas procissões, há uma série de elementos que devem ser estudados. Desde a

posição central ocupada pela imagem da santa, as cores do manto que a paramentam até a

posição dos devotos, as cantigas e as rezas entoadas. No entanto, não é esse o objetivo desta

pesquisa. Cabe apenas comentar que a concentração e a permanência dessa procissão no

bairro do Brás ainda hoje demonstram a força que a religiosidade popular costuma expressar

nas devoções aos santos e aos padroeiros. Mesmo com as mudanças empreendidas no espaço

urbano, desde as primeiras décadas da República, o Catolicismo popular segue adiante.

Page 42: Joao Enicelio da Silva.pdf

40

2.4 Devoção a São Vito Mártir

A origem da devoção a São Vitor Mártir na cidade de São Paulo teve início no final

do século XIX, com a chegada de uma pequena estátua no bairro do Brás. Segundo Ribeiro

(1994), a imagem foi trazida em 1885, de Polignano A‟Mare , na Itália, por Modesto de

Lucca. Ele era morador do bairro do Brás e trouxe a imagem da Itália para o Brasil porque

queria ter a proteção do santo, além de querer perpetuar a memória do padroeiro.

A pequena imagem de São Vitor, mesmo antes que tivesse uma capela ou paróquia, foi

venerada, inicialmente, em cortiços, em ruas e em festas de congraçamentos dos imigrantes

bareses. Somente no ano de 1912, através da união dos jornaleiros e com a fundação da

Associação de São Vitor Mártir, a comemoração obteve um caráter semioficial, ocasião em

que foi celebrada missa e feita uma procissão em homenagem ao santo. (BASACCHI, 2004

p.5)

Foto 4 - Paróquia São Vito Mártir:

Crédito: Foto do autor – Vista frontal da paróquia São Vitor Mártir

Page 43: Joao Enicelio da Silva.pdf

41

Existem no mundo apenas três igrejas dedicadas a São Vitor Mártir. Uma em Praga,

outra em Polignano A‟Mare e a de São Paulo, no Brás. Há mais de 70 anos essa igreja atrai

uma grande massa de fiéis. Suas festas em homenagem a “San Vitto Martire” são tradicionais

e fazem parte oficialmente do Calendário Cultural da cidade de São Paulo.

A atual igreja que vemos hoje na rua Polignano A Maré, nº 51, no bairro do Brás,

somente foi declarada paróquia a partir de 24 de março de 1940. Sua construção somente teve

início quatro anos após essa nomeação, e foi financiada por meio de ofertas arrecadadas nas

festas de São Vitor Mártir e por contribuições de industriais italianos. O término da

construção possibilitou a nomeação de um vigário, como observa (BASACCHI, 2004, p. 6).

As práticas de ofertas e de doação de prendas não cessaram com o término da

construção da paróquia, uma vez que tais práticas estão ligadas à Associação São Vitor

Mártir. Essas ofertas e prendas doadas pelos descendentes de Polignano A Maré se destinam

aos festejos de São Vitor Mártir que ocorrem anualmente no mês de maio, ocasião em que são

distribuídas comidas típicas e são promovidos shows e outros eventos da cultura italiana. A

renda obtida com os valores arrecadados é destinada à paróquia, à manutenção de uma

creche e à assistência social na comunidade. (RIBEIRO, 1994, p. 135), ao escrever sobre a

prática de ofertas e de prendas feitas pelos comerciantes imigrantes bareses, afirma que: “a

oferta é um sério compromisso de fé relacionado à crença da proteção e retribuição de um ano

próspero”.

A associação São Vitor Mártir, fundada oficialmente em 21 de outubro de

1919, é responsável pela organização da festa de São Vitor. Para manutenção

da creche com mais de 120 crianças e de outras atividades culturais, a

instituição promove shows, em que é distribuída comida típica da região das

Apulias, em todos os fins de semana de maio, estendendo-se até a primeira

quinzena de julho. (BASACCHI, 2004, p. 6)

Existem duas festas com apelo à homenagem a São Vitor Mártir, sendo a mais antiga

aquela da Associação de São Vitor Mártir, realizada na rua Fernandes Silva, nº 96, em salão

coberto; no ano de 2013, completou a sua 95ª. A outra festa é a da paróquia realizada na rua

Polignano A Maré, ocasião em que a rua é fechada e decorada para receber a quermesse com

barracas de comidas típicas; no ano 2013, ocorreu a 16ª edição dessa festa.

O caráter das festas dos imigrantes italianos, nos seus primórdios, tinha um forte apelo

cultural, e estava ligado à expressão religiosa desses imigrantes. No entanto, com o passar

dos anos, novos significados foram incorporados às festas, as quais passaram a ser momentos

Page 44: Joao Enicelio da Silva.pdf

42

de reencontros, de preparo de comidas, oportunos para construir e aprimorar a Associação

com recursos adquiridos das vendas nas festividades. (RIBEIRO, 1994, p.133)

Dentre as duas festas que prestam homenagem ao santo, a que mais evidencia a

devoção ao padroeiro é a da rua Polignano A Maré, até mesmo por ser organizada pela

paróquia, que promove procissão e quermesse. A missa solene e a procissão que comemora a

devoção ao santo ocorrem no segundo domingo de maio após o dia 15; nas primeiras edições

da festa, os hinos eram cantados no dialeto italiano (RIBEIRO, 1994, p.133).

Os devotos de São Vitor Mártir na cidade de São Paulo são reconhecidos como a

maior comunidade de fiéis no mundo fora da Itália. No ano de 2011, ocorreu um fato único

nessa devoção, por iniciativa do presidente da Associação de São Vitor Mártir, com a

intenção de integrar as comunidades de devotos: foi trazida da Itália a relíquia do braço de

São Vitor Mártir, conhecida como "Il Braccio di San Vito".17, ocasião em que a devoção

tomou conta dos fiéis, com a realização de missa e da procissão a cargo do arcebispo de São

Paulo Don Odilo Scherer.

Atualmente a festa de São Vitor está na 93ª edição. Por tratar-se do ano da

Itália no Brasil, um fato histórico ocorreu pela primeira vez na paróquia, a

relíquia de São Vitor intitulada "Il Braccio di San Vito". Deixou a cidade de

Polignano A Maré e veio a São Paulo.18

A devoção, que teve início com os imigrantes italianos, hoje excede as fronteiras do

Brás, fazendo parte da cidade de São Paulo, não somente pelos festejos que estão inseridos no

calendário cultural do município, mas pelas pessoas, (i) migrantes, que, de diversas etnias,

frequentam a paróquia, participam de suas missas, procissões e eventos venerando o santo.

2.5 A Procissão de Nossa Senhora da Penha: expressão da religiosidade popular no

Brás

17 A relíquia trata-se de um dos ossos do braço do santo, considerado milagroso, protegido em um

relicário em formato de mão. Festa de São Vitor. Brasil receberá visita inédita de relíquia de São Vito.

Disponível em: <http://festadesaovito.com.br/2014/?p=257 > Acesso em: 20 ago. 2013.

18 FESTA de São Vito traz a SP relíquia "Il Braccio di San Vito". GUIA Folha de SP, São Paulo, 14

mai. 2011. Disponível em: < http://guia.folha.com.br/passeios/ult10050u915880.shtml>. Acesso em

20 ago. 2013.

Page 45: Joao Enicelio da Silva.pdf

43

Ainda no Brasil Colônia, as pregações jesuítas eram feitas por meio de música,

bailado e procissão. Kantor (2005, p. 325) descreve os tipos de procissão existentes:

Eram quatro tipos de procissões: 1) as festivas ou jubilares (padroeiros,

inauguração de igrejas e grandes festas); 2) as rogativas (epidemias,

penitências, catástrofes naturais, pela saúde dos monarcas, expedições

militares); 3) gratulatórias (celebração de vitória de militares[...]. Havia

também as procissões em comemoração à chegada de relíquias ou recepção

de autoridades nas vilas e povoações); 4) finalmente, as procissões de

desagravo, realizadas em protesto contra alguma medida autoritária.

Dentre as concentrações ocorridas de festas e de procissões católicas no bairro do

Brás, a da Nossa Senhora da Penha era a mais expressiva, no âmbito municipal, nos séculos

XVII e XVIII, especialmente por razões relacionadas à situação de saúde pública que

frequentemente afetava a cidade.

As procissões rogativas em favor dos munícipes atraíam pessoas das mais diversas

partes da localidade. Por sua regularidade e pelo caráter oficial que ela assumia diante das

demais devoções, a festividade da Penha tornou-se o centro das atenções da população

municipal. A procissão de Nossa Senhora da Penha ficou conhecida após as transladações da

imagem da padroeira da igreja da Penha para a igreja da Sé, fato que, segundo Jesus (2006, p.

53), ocorreu pela primeira vez em 1768.

Na procissão misturavam-se elementos da doutrina católica, elementos da

cultura popular e da religiosidade de brancos, de indígenas e de negros.

Assim, as festas e procissões eram marcadas por grande colorido cultural,

com rezas e ladainhas, com enfeites e fantasias que lembravam elementos

medievais e romanos, com danças de negros, com elementos da cultura

indígena, como chocalhos e adornos feitos de palha e penas, além de

tabuleiros de quitutes de mais variada origem, junto à farta bebida e à

fumaça das velas e do fumo de corda.

A procissão de Nossa Senhora da Penha ocorria mediante prévio entendimento entre

as autoridades eclesiásticas e a Câmara Municipal, e estava vinculada à religiosidade dos

paulistanos. (TORRES, 1985, p. 53)

É interessante observar como, burocraticamente, se processava o trâmite

para efetuar a transladação da imagem da Nossa Senhora da Penha: primeiro,

Page 46: Joao Enicelio da Silva.pdf

44

a petição popular ou de algum político era entregue à câmara; daí, ela seguia

até as mãos do governador da província que a enviava para ser apreciada

pelo vigário geral que, enfim, a mandava de volta para a câmara. Cabia a

esta organizar e financiar a procissão, exigir que as ruas fossem limpas e

enfeitadas, exigir a presença da população, das pessoas ilustres e dos

políticos que acompanhariam a saída e a chegada da santa peregrina.

(JESUS, 2006)

A população acreditava, segundo relatos, que, no ato rogativo da procissão, a cidade

seria curada dos males e das diversas pestes que a assolavam. Esses males, ora provocados

pelas enchentes, ora por epidemias, tornavam os fiéis os mais devotos penitentes da santa.

(SOUZA, 2004, p.441)

Naquele contexto, Nossa Senhora da Penha era a padroeira de toda a cidade. A

procissão passava pelo bairro do Brás, e a Igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos servia

de parada obrigatória para a imagem, tanto no seu trajeto de ida quanto no de volta. Essa

parada somente foi reconhecida em 23 de agosto de 1819, após a ação do estado em elevar a

Capela do Brás à categoria de Freguesia. A transladação da imagem de Nossa Senhora da

Penha, que tantas vezes atravessara o Brás, ocorreu pela última vez em 1876.

Depois daquele ano, somente na celebração do terceiro centenário de Nossa Senhora

da Penha, em 1968, é que novamente se viu a trasladação da santa, como narra a historiadora

Maria Celestina Torres:

O ano de 1968 é particularmente auspicioso. No domingo de 14 de abril,

domingo de Páscoa, celebrou-se também o terceiro centenário de Nossa

Senhora da Penha, padroeira da cidade, e nesse dia os paulistanos reviveram

a antiga tradição de se transladar a imagem de Nossa Senhora da Penha, do

seu santuário, para a praça da sé, onde presidiria as cerimônias da “páscoa da

fraternidade”, realizada pelo cardeal Agnelo Rossi. (TORRES, 1985, p. 200)

O cortejo do século XX apresentou uma mudança significativa na relação entre

religião e cidade. O bairro do Brás havia mudado, as antigas ruas pouco movimentadas no

passado estampavam uma nova paisagem, exigindo das autoridades religiosas, que

organizavam a celebração, novas formas de condução dos elementos que compunham o ritual

religioso, incluindo-se a imagem da santa.

No passado, a santa era transladada da Penha de França à matriz da Sé, através da

avenida Rangel Pestana – Celso Garcia, com parada na igreja do Bom Jesus de Matosinho.

Desta feita, por ocasião do terceiro centenário de Nossa Senhora da Penha, em 1968, ela foi

Page 47: Joao Enicelio da Silva.pdf

45

levada de helicóptero até a concentração no Parque Dom Pedro II e daí até a Sé em cortejo,

onde ocorreram desfiles com as Forças Armadas e a missa campal, com as bênçãos do Papa

Paulo VI.

No retorno à igreja de Nossa Senhora da Penha, a imagem da santa foi conduzida em

cortejo motorizado pelas ruas do Brás.

Torres ressalta que as mudanças na procissão estão diretamente ligadas às mudanças

urbanas do século XX (Torres, 1985, pp. 200,201), evidenciando a relação direta entre a

religiosidade popular e o desenvolvimento do espaço da cidade de São Paulo, demarcado por

novas concentrações da fé, expressas na presença de novos templos e de diferentes devoções.

2.6 Mapas das denominações religiosas no Brás e corredor da fé: uma abordagem

espacial

O mapa religioso do Brás é resultado de observações de campo e de registros

cartográficos realizados no bairro. Nesse levantamento, foram cadastradas todas as

denominações religiosas em atuação no distrito, de modo a caracterizar sua distribuição.

Para tanto, foram utilizados três recursos. O primeiro deles foi o trabalho de campo,

que visou ao levantamento das denominações religiosas previamente conhecidas ao longo do

distrito do Brás. Em um segundo momento, foram buscadas informações junto à base de

endereços do Google Maps/Google Street View19

, aliadas às páginas virtuais de diversas

instituições religiosas, com o objetivo de identificar mais unidades não detectadas durante o

trabalho de campo, e de verificar se as referidas unidades, no momento desta pesquisa, ainda

estão em exercício no endereço cadastrado do bairro. Como último recurso, foi realizada a

validação do mapa, por meio da observação direta das denominações cadastradas, durante um

percurso pelas ruas do bairro.

O recorte espacial da pesquisa envolve o distrito do Brás, com destaque para a avenida

Rangel Pestana e seu prosseguimento, a avenida Celso Garcia; assim, caracteriza-se para

além do Brás um longo corredor, permeado por denominações de diversas orientações

religiosas.

19 Neste procedimento, só foram cadastrados igrejas e templos com fotografias do Google Street

View, atualizadas entre o período de julho e setembro de 2014. As informações obtidas com

fotografias de datas anteriores não foram utilizadas em razão da volatilidade de permanência de

algumas denominações na região.

Page 48: Joao Enicelio da Silva.pdf

46

Ressalte-se que esse recorte respeita o limite distrital oficial utilizado pela Prefeitura

da Cidade de São Paulo. Entretanto, historicamente, o local conhecido popularmente como

"Brás" envolvia (e ainda envolve) partes da vizinhança que hoje integra outros distritos,

como Pari, Belém, Bresser e Mooca.

O Mapa (Mapa 01), o Quadro (Quadro 01) e a Tabela (Tabela 01) a seguir

apresentam o resultado desse levantamento.

Mapa 01: Denominações Religiosas no distrito do Brás e Eixo do Corredor da Fé

Fonte: Dados elaborados a partir do Google Maps/ Google Street View: Crédito do Autor visita aos

locais.

Quadro 1 – Denominações Religiosas no distrito do Brás e Eixo do Corredor da Fé

______________________________________________________________________

Page 49: Joao Enicelio da Silva.pdf

47

Denominações Religiosas no distrito do Brás

Denominações Endereços

Protestante Históricas

Igreja Metodista no Brás Rua Xavante, 195

Terceira Igreja Presbiteriana Independente Rua Joli, 492

União Central Bras. da Igreja Adv. Sétimo Dia Rua Cap. Faustino lima, 289

Pentecostais

Igreja Congregação Cristã do Brasil Rua Visc. de Parnaíba, 1616

Igreja Mundial do Poder de Deus Rua Carneiro Leão, 439

Igreja Pentecostal O Poder da Fé Rua Carneiro Leão, 90

Igreja Evangélica Catedral da Bênção Rua Domingos Paiva, 270

Igreja Evangélica Assembleia de Deus em São Paulo Rua do Hipódromo, 146

Igreja Ev. Assembleia de Deus M. "Cristo La Roca" Rua Júlio César da Silva,164

Igreja Evangélica Camhi Rua Gonçalves Dias, 216

Espíritas:

União Brasileira Espiritualista Rua Mons. Anacleto, 75

União Espírita Cristã B. Laudelino Novaes de Brito Rua Brig. Machado, 264

Centro Espírita José Barroso Rua Inácio de Araújo, 255

Casa de Caridade Espírita Três Estrelas Rua Flora, 172

Sinagoga e Mesquita:

Mesquita Mohammad Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) Rua Elisa Whitaker, 17

Sinagoga Israelita do Brás Rua Bresser, 47

Católicas

Igreja São Vito Mártir Rua Polignano A Maré, 51

Igreja Nossa Senhora Casaluce Rua Caetano Pinto, 618

Igreja Católica Das Santas Missões Rua Do Gasômetro, 996

Ortodoxa

Igreja Ortodoxa Grega São Pedro Rua Bresser, 793

Denominações Religiosas no Eixo do Corredor da Fé

Page 50: Joao Enicelio da Silva.pdf

48

Denominações Endereço

Paróquia Bom Jesus do Brás Av. Rangel Pestana, 1421

Comunidade Essência de Deus Av. Rangel Pestana, 1897

Catedral Carismática das Nações Av. Rangel Pestana, 2345

Igreja Internacional do Poder da fé Av. Rangel Pestana, 2419

Santuário Espiritualista de São Paulo Av. Celso Garcia, 14

Santuário dos Santos Anjos Av. Celso Garcia, 174

Igreja Jesus Fonte de Vida Av. Celso Garcia, 188

Comunidade Nova Geração Av. Celso Garcia, 238

Comunidade Cristã Amor e Graça Av. Celso Garcia, 243

Igreja Universal do Reino de Deus Av. Celso Garcia, 499

Igreja Evangélica Assembleia de Deus – M. do Brás Av. Celso Garcia, 560

Igreja Católica Paróquia São João Batista do Brás Av. Celso Garcia, 600

Templo de Salomão (IURD) Av. Celso Garcia, 605

Ministério Mudança de Vida Av. Celso Garcia, 777

Igreja Pentecostal Concerto Eterno Av. Celso Garcia, 816

Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus Av. Celso Garcia, 899

Igreja Avivamento em Glória Av. Celso Garcia, 1010

Catedral da Bênção Av. Celso Garcia, 1081

Comunidade Missão dos Sinais de Deus Av. Celso Garcia, 1515

Igreja Pentecostal Deus é Amor Av. Celso Garcia, 2214

Igreja do Evangelho Pleno em Cristo Av. Celso Garcia, 3478

Igreja Internacional do Mover de Deus Av. Celso Garcia, 3503

Bola de Neve Av. Celso Garcia, 3147

Igreja Internacional da Graça de Deus Av. Celso Garcia, 3757

Templo da Fé Av. Celso Garcia, 4030

Ministério Plenitude do Avivamento Av. Celso Garcia, 4217

Igreja Nova Geração Mundial de Deus Av. Celso Garcia, 4224

Casa de Umbanda Caboclo Changa Av. Celso Garcia, 4725

Page 51: Joao Enicelio da Silva.pdf

49

Igreja Evangélica Assembleia de Deus - M. Belém Av. Celso Garcia, 4906

Igreja Pentecostal Deus é Amor Av. Celso Garcia, 5426

Ministério Apostólico de Reavivamento Profético Av. Celso Garcia, 5436

Igreja Internacional da Graça de Deus Av. Celso Garcia, 5519

Igreja Batista Palavra Viva Av. Celso Garcia, 5518

Igreja Mundial do Poder de Deus Av. Celso Garcia, 5520

Comunidade Cristã Paz e Vida Av. Celso Garcia, 6076

_____________________________________________________________________ Fonte: Dados elaborados a partir do Google Maps/ Google Street View: Crédito do Autor visita aos

locais.

Tabela 1- Quantidade de denominações catalogadas segundo a orientação

religiosa

Denominação Religiosa Templos ou salões

Igreja Católica 5

Igreja Protestante Histórica 3

Igreja Evangélica Pentecostal 40

Espírita 4

Islâmica 1

Judaica 1

Afro-americana 1

2.6.1 As igrejas do distrito do Brás

A catalogação das denominações religiosas no Brás mostra que existe uma

diversificação no bairro, abrangendo unidades católicas, protestantes, pentecostais e espíritas,

além de uma mesquita e de uma sinagoga. Para além destas, encontramos, nas proximidades,

denominações intituladas como “do Brás” (Mapa 02, Quadro 02 e Tabela 02).

Page 52: Joao Enicelio da Silva.pdf

50

Mapa 02: Denominações Religiosas no Distrito do Brás e Denominações intituladas

como “Do Brás”

Fonte: Dados elaborados a partir do Google Maps/ Google Street View: Crédito do Autor visita aos

locais.

Quadro 2 – Denominações Religiosas no Distrito do Brás e Intituladas como do “Brás”

Denominações Endereços

Denominações Religiosas no distrito do Brás

Evangélicas Históricas

Igreja Metodista no Brás Rua. Xavante, 195

Terceira Igreja Presbiteriana Independente Rua. Joli, 492

União Central Bras. da Igreja Adv. Sétimo Dia Rua. Cap. Faustino lima, 289

Evangélicas Pentecostais

Page 53: Joao Enicelio da Silva.pdf

51

Igreja Congregação Cristã do Brasil Rua. Visc. De Parnaíba, 1616

Igreja Mundial do Poder de Deus Rua. Carneiro Leão, 439

Igreja Pentecostal O Poder da Fé Rua. Carneiro Leão, 90

Igreja Evangélica Catedral da Bênção Rua. Domingos Paiva, 270

Igreja Evangélica Assembleia de Deus em São Paulo Rua. do Hipódromo, 146

Igreja Ev. Assembleia de Deus M. "Cristo La Roca" Rua. Júlio César da Silva,164

Igreja Camhi Rua. Gonçalves Dias, 216

Espíritas:

União Brasileira Espiritualista Rua. Mons. Anacleto, 75

União Espírita Cristã B. Laudelino Novaes de Brito Rua. Brig. Machado, 264

Centro Espírita José Barroso Rua. Inácio de Araújo, 255

Casa de Caridade Espírita Três Estrelas Rua. Flora, 172

Sinagoga e Mesquita:

Mesquita Mohammad Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) Rua Elisa Whitaker, 17

Sinagoga Israelita do Brás Rua Bresser, 47

Católicas

Igreja São Vito Mártir Rua Polignano A Maré, 51

Igreja Nossa Senhora Casaluce Rua. Caetano Pinto, 618

Igreja Católica Das Santas Missões Rua. Do Gasômetro, 996

Ortodoxa

Igreja Ortodoxa Grega São Pedro Rua. Bresser, 793

Denominações Religiosas no Eixo do Corredor da Fé – Perímetro do Brás

Denominações Endereço

Paróquia Bom Jesus do Brás Av. Rangel Pestana, 1421

Comunidade Essência de Deus Av. Rangel Pestana, 1897

Catedral Carismática das Nações Av. Rangel Pestana, 2345

Igreja Internacional do Poder da fé Av. Rangel Pestana, 2419

Santuário Espiritualista de São Paulo Av. Celso Garcia, 14

Santuário dos Santos Anjos Av. Celso Garcia, 174

Igreja Jesus Fonte de Vida Av. Celso Garcia, 188

Page 54: Joao Enicelio da Silva.pdf

52

Comunidade Nova Geração Av. Celso Garcia, 238

Comunidade Cristã Amor e Graça Av. Celso Garcia, 243

Igreja Universal do Reino de Deus Av. Celso Garcia, 499

Igreja Evangélica Assembleia de Deus – M. do Brás Av. Celso Garcia, 560

Igreja Católica Paroquia São João Batista do Brás Av. Celso Garcia, 600

Templo de Salomão (IURD) Av. Celso Garcia, 605

Ministério Mudança de Vida Av. Celso Garcia, 777

Igreja Pentecostal Concerto Eterno Av. Celso Garcia, 816

Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus Av. Celso Garcia, 899

Igreja Avivamento em Glória Av. Celso Garcia, 1010

Catedral da Bênção Av. Celso Garcia, 1081

Comunidade Missão dos Sinais de Deus Av. Celso Garcia, 1515

Denominações para além do distrito do Brás – intituladas como do “Brás”

Igreja Presbiteriana do Braz Rua. São Leopoldo, n.º 318

Igreja Batista Unida do Brás Rua. Valdemar Dória, 44

Primeira Igreja Batista do Brás Rua. Major Otaviano, 363

Fonte: Dados elaborados a partir do Google Maps/ Google Street View: Crédito do Autor visita aos

locais.

Tabela 02- Quantidade de denominações no distrito do Brás de acordo com a

orientação religiosa (incluindo igrejas fora do distrito, mas intituladas como "do

Brás")

Orientação Religiosa Templos ou salões

Igreja Católica 4

Igreja Protestante Histórica 6

Page 55: Joao Enicelio da Silva.pdf

53

Igreja Evangélica Pentecostal 24

Espírita 4

Islâmica 1

Judaica 1

Ortodoxa Grega 1

2.6.2 Igreja Católica

A Igreja Católica no Brás conta com quatro unidades, das quais três são paróquias

ligadas à Mitra Arquidiocesana de São Paulo, e todas elas antigas no bairro. A Paróquia do

Bom Jesus, a mais antiga de todas, evoluiu de uma capela do século XVIII, dedicada ao

Senhor de Matosinhos, mas seu prédio atual data de 190320. A Igreja Nossa Senhora de

Casaluce se instalou no Brás em 1900, por ocasião da vinda de imigrantes italianos, os quais

trouxeram essa devoção. Já a Igreja de São Vito Mártir foi erguida um pouco mais tarde, na

década de 1940, a partir de uma capela construída 1912, e sua fundação também está atrelada

a imigrantes italianos que se fixaram no bairro.

Bastante próxima aos limites oficiais do distrito do Brás, mas no distrito do Belém, há

a Paróquia São João Batista do Brás. Essa igreja foi a primeira paróquia erigida

canonicamente pela Arquidiocese de São Paulo, em 1908, sendo considerada, na época, uma

das igrejas mais importantes da cidade por seu número de fiéis.21

Segundo o Mapa (01), duas dessas paróquias estão preferencialmente distribuídas no

eixo da avenida Rangel Pestana/Celso Garcia. Isso provavelmente se deve ao fato de esse

corredor ser um antigo acesso para a atual zona leste da cidade, então conhecido como

"Caminho da Penha", e mais tardiamente como "Rua do Braz". Esse é um antigo caminho de

procissões e romarias, como, por exemplo, a procissão de Nossa Senhora da Penha, a qual,

com o processo de industrialização e de adensamento imobiliário, deixou de ocorrer.

20 PAULO, Arquidiocese de São. Região Episcopal Sé. 2014. Disponível em:

<http://www.regiaose.org.br/aspx/DetailsParoquia.aspx?idEntidade=468>. Acesso em: 10 set. 2014.

21 BRÁS, Paróquia São João Batista do. Paróquia 105 anos: uma história riquíssima. 2014. Disponível

em: <http://www.saojoaobatistadobras.org/?page_id=898>. Acesso em: 02 set. 2014.

Page 56: Joao Enicelio da Silva.pdf

54

Apenas uma das igrejas católicas, a Igreja Católica das Santas Missões, não é ligada à

Arquidiocese, possuindo dois endereços no bairro, um de frente para a avenida Rangel

Pestana e outro de frente para a rua do Gasômetro, ambos instalados em salas comerciais. A

temática abordada nessas igrejas assemelha-se a uma igreja neopentecostal, principalmente

em suas práticas litúrgicas.

2.6.3 Igrejas Protestantes Históricas

São três o número de igrejas protestantes históricas dentro dos limites do distrito do

Brás, porém, fora de seus limites, mas nas cercanias do distrito do Belém, há mais três

ocorrências que têm em seu nome o termo "do Brás", em função de o limite oficial do bairro

ser muito mais extenso até meados do século passado (Tabela 3).

Tabela 03- Quantidade de igrejas protestantes históricas de acordo com a

denominação

Igreja Metodista 1

Igreja Batista 2

Igreja Presbiteriana 2

Igreja Adventista 1

Desse modo, as igrejas se encontram bem distribuídas no bairro e na região,

abrangendo todos os polos do Brás. O curioso é que nenhuma dessas igrejas está instalada nas

avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia, o Corredor da Fé, com exceção da Igreja

Presbiteriana do Braz, que, no passado, iniciou suas atividades na avenida Rangel Pestana,

135, e, depois de sucessivas mudanças, nas avenidas Rangel Pestana, nº 281, 283 e Celso

Garcia, nº 103 e em outros endereços circunvizinhos, e, por fim, instalou-se na rua São

Leopoldo, 318, no bairro do Belenzinho.

No ano de 2014, a Igreja Presbiteriana do Braz completou 100 anos de fundação; suas

atividades religiosas tiveram início em 29 de setembro de 1912. Na época, surgiu com um

pequeno grupo que decidiu reunir-se à Igreja Presbiteriana do Brasil. No início, essa igreja foi

Page 57: Joao Enicelio da Silva.pdf

55

supervisionada pela congregação das cidades de Sarcura Grande, Tietê, Porto Feliz, Sete

Foções e Campinho. A organização oficial dessa igreja deu-se em 29 de março de 1914, sob a

direção do Reverendo Modesto Perestelo, com a denominação de “Egreja Christan

Presbyteriana do Braz”. Dentre os vários dirigentes que passaram pela Igreja Presbiteriana do

Braz, destaca-se o Reverendo Boanerges Ribeiro. Na atualidade, a pequena denominação se

expandiu, e deu origem a outras igrejas, tais como: Vila Maria, São Miguel Paulista, Penha,

Vila Esperança, Vila Formosa, Ermelino Matarazzo, Vila Diva, Bosque da Saúde, Vila

Prudente, Mooca, Ferraz de Vasconcelos, Brooklin e Santo Amaro.

Neste trecho do trabalho não se discorre sobre os aspectos históricos de outras

denominações consideradas “protestantes históricas”, instaladas no bairro e na

circunvizinhança, e intituladas “do Brás”; não se constatou se essas igrejas, em algum

momento, no passado, tiveram instalações de seus templos no corredor Rangel Pestana –

Celso Garcia. Aqui, apenas mencionam-se os nomes das denominações históricas

protestantes, que são:

Igreja Metodista no Brás

Terceira Igreja Presbiteriana Independente

União Central Brasileira da Igreja Adventista do Sétimo Dia

Igreja Batista Unida do Brás

Primeira Igreja Batista do Braz

Igreja Presbiteriana do Braz

2.6.4 Igrejas Pentecostais

A história do Pentecostalismo no Brasil retoma a personagem de Luigi Francescon,

imigrante italiano, que, depois de passar pelas denominações históricas presbiteriana e

batista, familiarizou-se com o batismo com o Espírito Santo, com a cura divina, com o

exorcismo, com o profetismo e com a glossolalia, no início do século XX. Francescon

difundiu sua mensagem nos Estados Unidos da América, e depois viajou com destino à

América Latina. Primeiramente, foi à Argentina, e depois veio ao Brasil; chegou a São

Paulo, e, a seguir, foi ao Paraná, na cidade de Santo Antônio da Platina; posteriormente,

Page 58: Joao Enicelio da Silva.pdf

56

retornou para São Paulo, especificamente para o bairro do Brás, onde, com a ajuda de outros

imigrantes italianos, industriais e comerciantes, fundou a primeira igreja pentecostal no país,

a Congregação Cristã no Brasil, em 1910. (PEREIRA, 2012, pp. 364-365)

No mesmo período, chega ao país a segunda denominação pentecostal, a Assembleia

de Deus, dessa vez na região norte do país, especificamente na cidade de Belém do Pará; de lá

para São Paulo, dá-se a chegada da denominação, basicamente, através do fluxo migratório,

ainda nos primeiros anos do século XX. Tanto a Congregação Cristã no Brasil como a

Assembleia de Deus são classificadas por uma vasta literatura como as principais

denominações de “primeira onda”.22

A partir de 1950, surgem as igrejas de “segunda onda”, a exemplo: Igreja

Quadrangular, Igreja o Brasil para Cristo, Casa da Bênção e Igreja Deus é Amor. Somente

no período posterior a 1975 surgem as igrejas de “terceira onda”, mais conhecidas como

“igrejas neopentecostais”, a saber, as principais: Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja da

Graça de Deus e Renascer em Cristo.

As denominações religiosas por ora designadas neste trabalho de “denominações

pentecostais”, hoje presentes no espaço do bairro do Brás e nas avenidas Rangel Pestana -

Celso Garcia, têm sua origem muito parecida com as denominações de segunda onda, mas,

em sua prática litúrgica, assemelham-se fortemente às neopentecostais. Sem pormenorizar,

optamos por chamá-las ao longo da pesquisa de “denominações pentecostais”, pois

entendemos que todas elas tiveram início a partir do processo de cisão cuja maior adesão se

dá nas denominações de segunda onda.

As denominações pentecostais no bairro do Brás estão instaladas principalmente na

avenida Rangel Pestana - Celso Garcia. É nesse corredor que encontramos a Assembleia de

Deus Ministério do Brás, a Igreja Deus é Amor, a Universal do Reino de Deus, a Igreja da

Graça de Deus, a Mundial do Poder de Deus e várias outras denominações, como já se

mencionou, resultantes de cisões. Observa-se no Mapa 1 e no Quadro 1 a espacialidade

dessas denominações pentecostais.

22 “Onda”: terminologia utilizada para classificar o Pentecostalismo no Brasil – maiores detalhes

serão elucidados no próximo capítulo desta pesquisa.

Page 59: Joao Enicelio da Silva.pdf

57

2.6.5 Centros Espíritas

Os centros espíritas da região também se encontram bem distribuídos no Brás, mas

não se concentram no eixo do Corredor da Fé. Em vez disso, suas sedes se encontram em

endereços de pouca movimentação comercial ou viária, em edifícios de pequeno porte

assemelhados a residências (Mapa 1). A única exceção é para a União Espiritualista

Brasileira, instalada em um edifício de dois pisos. Essa casa também exerce funções de

religiões afro-americanas, como a umbanda. As datas de fundação desses centros são muito

antigas (início do século XX até 1960), porém é possível que essas denominações tenham

mudado de endereço algumas vezes dentro do bairro.

2.6.6 Outras (Sinagoga, Mesquita, Ortodoxa Grega)

Como observado no Mapa 1, e de acordo com as igrejas protestantes históricas e os

centros espíritas, a localização dessas três unidades (sinagoga, mesquita e igreja ortodoxa

grega) se concentra em ruas com pouco movimento comercial e viário, fora do eixo do

Corredor da Fé.

A espacialidade dessas denominações é resultante do fluxo migratório dos primeiros

anos do século XX. Com a chegada dos imigrantes, veio sua religiosidade, afinada com sua

região de origem.

A Sinagoga Israelita do Brás é resultado da União Israelita do Brás, que foi fundada

em 23 de junho de 1925, na rua Bresser, nº 47.

A Mesquita do Brás é um projeto recente, de 1981, e hoje abriga os muçulmanos

xiitas. A justificativa para a existência dessa mesquita no local é a grande quantidade de

árabes e descendentes que habitam a região, levando à construção de outras mesquitas um

pouco mais para além do distrito do Brás. 23

A Igreja Ortodoxa Grega de São Pedro, situada na Rua Bresser, 793, foi construída por

Pedro Papatzanaki em 1956, membro da comunidade grega de São Paulo.

23 BRASIL, Islam. Mesquita do Pari. 2014. Disponível em:

<http://islamismobr.blogspot.com.br/2013/12/a-mesquita-do-pari.html>. Acesso em: 20 set. 2014.

Page 60: Joao Enicelio da Silva.pdf

58

2.6.7 O Corredor da Fé

Como já sublinhado, o Corredor da Fé corresponde ao prosseguimento das avenidas

Rangel Pestana e Celso Garcia, do centro da cidade de São Paulo em direção à zona leste do

município. Sua extensão é de aproximadamente 8 quilômetros, iniciando no limite oeste do

Brás e atravessando o distrito do Belém até o limite leste do distrito de Tatuapé. (Mapa 03)

A distribuição de denominações religiosas no Corredor da Fé é quase exclusivamente

de igrejas de origem pentecostal. As únicas exceções são um templo de natureza afro-

americana, localizado no bairro do Tatuapé, e a Igreja Católica Paróquia São João Batista do

Brás (Quadro 03).

Curiosamente, na avenida Celso Garcia, 2728, temos o “Fofinho Bar”, local de

referência do rock na capital paulista, como observa Moraes (2014): “De um lado, o black

metal, refúgio dos satanistas e quimbandistas, estilo definido por seus adeptos como o último

bastião de resistência ao cristianismo”. (MORAES, 2014)

Eventualmente, surgem algumas denominações pentecostais em ruas transversais e

paralelas ao eixo do Corredor, num raio variável. Neste trabalho, optamos por selecionar as

denominações que se localizam num raio máximo de 150-200 metros do Corredor, pois seu

processo de surgimento se enquadra no mesmo local que gera essa concentração de igrejas

pentecostais no eixo Rangel Pestana/Celso Garcia. Optou-se por classificá-las de “igrejas

satélites” (Quadro 04).

Mapa 03: Corredor da fé e suas igrejas satélites

Page 61: Joao Enicelio da Silva.pdf

59

Fonte: Dados elaborados a partir do Google Maps/ Google Street View: Crédito do Autor visita aos

locais.

Quadro 3 – Corredor Da Fé – com extensão para além do perímetro do bairro do Brás

Denominações Religiosas no Corredor da Fé

Denominações Endereço

Paróquia Bom Jesus do Brás Av. Rangel Pestana, 1421

Comunidade Essência de Deus Av. Rangel Pestana, 1897

Catedral Carismática das Nações Av. Rangel Pestana, 2345

Igreja Internacional do Poder da fé Av. Rangel Pestana, 2419

Santuário Espiritualista de São Paulo Av. Celso Garcia, 14

Santuário dos Santos Anjos Av. Celso Garcia, 174

Igreja Jesus Fonte de Vida Av. Celso Garcia, 188

Comunidade Nova Geração Av. Celso Garcia, 238

Page 62: Joao Enicelio da Silva.pdf

60

Comunidade Cristã Amor e Graça Av. Celso Garcia, 243

Igreja Universal do Reino de Deus Av. Celso Garcia, 499

Igreja Evangélica Assembleia de Deus – M. do Brás Av. Celso Garcia, 560

Igreja Católica Paroquia São João Batista do Brás Av. Celso Garcia, 600

Templo de Salomão (IURD) Av. Celso Garcia, 605

Ministério Mudança de Vida Av. Celso Garcia, 777

Igreja Pentecostal Concerto Eterno Av. Celso Garcia, 816

Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus Av. Celso Garcia, 899

Igreja Avivamento em Glória Av. Celso Garcia, 1010

Catedral da Bênção Av. Celso Garcia, 1081

Comunidade Missão dos Sinais de Deus Av. Celso Garcia, 1515

Igreja Pentecostal Deus é Amor Av. Celso Garcia, 2214

Igreja do Evangelho Pleno em Cristo Av. Celso Garcia, 3478

Igreja Internacional do Mover de Deus Av. Celso Garcia, 3503

Bola de Neve Av. Celso Garcia, 3147

Igreja Internacional da Graça de Deus Av. Celso Garcia, 3757

Templo da Fé Av. Celso Garcia, 4030

Ministério Plenitude do Avivamento Av. Celso Garcia, 4217

Casa de Umbanda Caboclo Changa Av. Celso Garcia, 4725

Igreja Evangélica Assembleia de Deus - M. Belém Av. Celso Garcia, 4906

Igreja Pentecostal Deus é Amor Av. Celso Garcia, 5426

Ministério Apostólico de Reavivamento Profético Av. Celso Garcia, 5436

Igreja Internacional da Graça de Deus Av. Celso Garcia, 5519

Igreja Batista Palavra Viva Av. Celso Garcia, 5518

Igreja Mundial do Poder de Deus Av. Celso Garcia, 5520

Comunidade Cristã Paz e Vida Av. Celso Garcia, 6076

Fonte: Dados elaborados a partir do Google Maps/ Google Street View: Crédito do Autor visita aos

locais.

Page 63: Joao Enicelio da Silva.pdf

61

Tabela 04- Quantidade de igrejas no corredor da fé

Denominação Religiosa Templos ou salões

Igreja Católica 1

Igreja Evangélica Pentecostal 40

Afro-americana 1

Eventualmente, surgem algumas denominações pentecostais em ruas transversais e

paralelas ao eixo do Corredor, num raio variável. Neste trabalho, optamos por selecionar as

denominações que se localizam num raio máximo de 150-200 metros do Corredor, pois seu

processo de surgimento se enquadra no mesmo que gera essa concentração de igrejas

pentecostais no eixo Rangel Pestana/Celso Garcia. Optou-se por classificá-las de “igrejas

satélites” (Quadro 04)

Quadro 04 – Igrejas Satélites próximas ao corredor da Fé

IGREJAS SATELITES

Pentecostais:

Igreja Congregação Cristã do Brasil Rua. Visc. De Parnaíba, 1616

Igreja Mundial do Poder de Deus Rua. Carneiro Leão, 439

Igreja Mundial do Poder de Deus Rua. Domingos Paiva, 206

Igreja Evangélica Catedral da Bênção Rua. Domingos Paiva, 270

Igreja Evangélica Assembleia de Deus em São Paulo Rua. do Hipódromo, 146

Igreja Camhi Rua. Gonçalves Dias, 216

Igreja Ev. Assembleia de Deus M. "Cristo La Roca" Rua. Julio C. da Silva, 164

Santuário da Bênção Rua. Cesário Alvim, 74

Assembleia de Deus Ministério Belém Rua. Cons. Cotegipe, 273 Igreja

Apostólica Rua. Baguari, 158

Page 64: Joao Enicelio da Silva.pdf

62

Igreja Ap. Unção e Adoração com Cristo Rua. Henrique Lindenberg, 78

Católicas

Igreja São Vito Mártir Rua Polignano A Maré, 51

Igreja Nossa Senhora Casaluce Rua. Caetano Pinto, 618

Igreja Católica Das Santas Missoes Rua. Do Gasômetro, 996

Igreja São Carlos Borromeu Rua. Cons. Cotegipe, 933

Paróquia Cristo Rei Rua. Maria Eugênia, 104

Fonte: Dados elaborados a partir do Google Maps/ Google Street View: Crédito do Autor visita aos

locais.

Tabela 05 - Quantidade de igrejas satélites – próximas ao corredor da fé

Denominação Religiosa Templos ou salões

Igreja Católica 5

Igreja Evangélica Pentecostal 11

Possivelmente o que facilita a presença de tantas igrejas evangélicas pentecostais no

corredor da Av. Rangel Pestana – Celso Garcia, inicialmente tenha ocorrido pela deterioração

urbana a partir da segunda metade do século XX, fator que impulsionou o mercado

imobiliário com baixos custos dos imóveis tanto para locação como aquisição, e

posteriormente pelo corredor de ligação centro-leste contemplado por diversos meios de

transportes (rodoviário e ferroviário) que ligam a zona leste de São Paulo ao centro e a outros

bairros, fator que incentiva a expansão denominacional de outras regiões para o Brás até a

implantação da sede de muitas denominações no bairro e no corredor da fé.

No passado, o bairro foi marcado com novas devoções católicas trazidas por

imigrantes na maioria italianos; no presente, os novos fluxos migratórios, marcadamente de

povos latinos, como peruanos, chilenos e sobretudo bolivianos, seguem outra dinâmica;

esses povos em sua maioria são acolhidos pelo catolicismo local com a pastoral do imigrante

ou por algumas denominações que têm toda uma programação de cultos em dias e horários

específicos na língua espanhola, como o caso da Igreja Universal do Reino de Deus no

Page 65: Joao Enicelio da Silva.pdf

63

templo da rua Carlos Botelho, 427. Porém, percebe-se que recentemente surgiram novos

templos, e com isso novos fluxos com a presença de Igrejas da Comunidade Hispânica, com

programação totalmente dedicada a essa comunidade, como é o caso da Igreja Camhi

(Centro de Adoración Missión Hispana) e da Igreja Ev. Assembleia de Deus M. "Cristo La

Roca" que se concentram na proximidade do corredor da fé ou num raio de até 150 metros.

Page 66: Joao Enicelio da Silva.pdf

64

3. CAPÍTULO 3 - O CINTURÃO PENTECOSTAL NA AV. RANGEL PESTANA-

CELSO GARCIA

Este capítulo descreve quais são as denominações religiosas estabelecidas no corredor

avenida Rangel - Celso Garcia, no perímetro do bairro do Brás. Em um primeiro momento, a

definição a respeito de quais são essas denominações é resultado de um survey feito no início

da pesquisa em 2013, quando se constatou, sobretudo, a predominância de igrejas de cunho

evangélico-pentecostal. Nesse sentido, faz-se necessário um breve histórico do surgimento do

Pentecostalismo e a descrição das terminologias utilizadas para designar o movimento em

solo brasileiro. Em um segundo momento, após a imersão em campo, analisa-se quais são as

estratégias de chegada e de permanência dessas denominações no corredor da Avenida

Rangel Pestana-Celso Garcia.

3.1 O Movimento Pentecostal e seus fundadores

Para compreender as raízes do Pentecostalismo no Brasil, é importante recorrer ao

surgimento desse movimento em território norte-americano, que ocorreu no final do século

XIX, marcado por uma época de conflitos entre múltiplas denominações evangélicas, pelo

abandono dos leigos por parte das lideranças eclesiásticas, pela negligência para com os

pobres, pelo pessimismo do fim de século e pela presença de movimentos de recuperação

espiritual, como o conhecido na história Movimento de Santidade, iniciado muito antes pelo

metodista John Wesley (1703-1784) (MEDONÇA, 2008, p.134).

O Pentecostalismo moderno nasceu no contexto urbano americano em duas regiões

distintas e com duas personagens. A primeira, pouco mencionada entre os pesquisadores

sobre o assunto, foi Charles Fox Parham (1873-1929), líder de uma escola bíblica na cidade

de Topeka, no Kansas, local onde surgiram as primeiras experiências de glossolalia (o “falar

em línguas estranhas”) e do “batismo no Espírito Santo”.

Esse movimento teve início em 1901, e consagrou Parham como o precursor do

Movimento Pentecostal. A segunda personagem importante no estudo sobre o

Pentecostalismo foi William Joseph Seymor (1870-1922); negro, discípulo de Parham,

tornou-se pastor da Missão de Fé Apostólica da Rua Azusa, 312, em Los Angeles, movimento

que teve início em 1906. Seymor entendia que havia uma terceira bênção na sequência

Page 67: Joao Enicelio da Silva.pdf

65

(regeneração, santificação e batismo no Espírito Santo); foi exatamente em uma de suas

reuniões que surgiu o aparecimento do “falar em línguas”.

3.2 As terminologias do Movimento Pentecostal

É notável que, desde os primeiros estudos desse movimento em território brasileiro, os

pesquisadores, na tentativa de classificá-lo e explicá-lo, fizeram uso de termos, ou tipologias,

como observou Giumbeli (2000), em um de seus artigos intitulado A Vontade do Saber:

Terminologias e Classificações sobre o Protestantismo Brasileiro.

Dentre as terminologias utilizadas por diversos pesquisadores, Giumbeli destaca a de

Mendonça (2008) e a de Paul Freston (1994). Já Mariano (2010) descreve que a tipologia

utilizada por Freston, denominada de “ondas”, teve origem em David Martin, que, ao

descrever o Protestantismo mundial, divide-o em três ondas, a saber, a puritana, a metodista e

a pentecostal.

Na tipologia de Freston, o Pentecostalismo brasileiro divide-se também em três

grandes ondas, sendo a primeira entre 1910 e 1911, com a implantação da Congregação Cristã

no Brasil, em São Paulo, no bairro do Brás, e, posteriormente, com a Assembleia de Deus, em

Belém.

A segunda onda compreende o período de implantação de igrejas genuinamente

brasileiras, com a inauguração das igrejas O Brasil para Cristo (1955), Igreja do Evangelho

Quadrangular (1954), Igreja Deus é Amor (1962) e Casa da Bênção (1964).

A terceira onda é compreendida a partir de 1970, com a inauguração das igrejas

Universal do Reino de Deus (1977) e Internacional da Graça de Deus (1980).

Em sua classificação do movimento, Mariano (2010) preferiu utilizar os termos

“Pentecostalismo Clássico”, “Deuteropentecostalismo” e “Neopentecostalismo”. No entanto,

reconhece que:

Quando dividimos o pentecostalismo em três vertentes, demarcamos suas

genealogias, seus vínculos institucionais, delineamos suas principais

características, confrontamos suas diferenças e semelhanças, estabelecemos

suas distinções; quando enfim as classificamos, não estamos com isso

supondo que tal construção tipológica dê conta totalmente desse universo

religioso tão complexo, dinâmico e diversificado (Mariano, 2010, p.47)

Page 68: Joao Enicelio da Silva.pdf

66

Exatamente por compreender a diversidade e a capacidade de crescimento desse

movimento, que se espalhou pelo mundo, Campo (2012) não fica restrito às tipologias

existentes, e afirma que o “pentecostalismo assumiu culturas, tendências e se aclimatou em

várias partes do mundo. Daí a necessidade de se falar nesse objeto sempre no plural”.

No estado de São Paulo, o Pentecostalismo, em face de seu acelerado crescimento, já

ultrapassou o último censo IBGE (2010),24 com o número de 6.088.132 fiéis. Porém, hoje, a

maior expressão religiosa oriunda desse grupo, localizada na capital paulista, está no

tradicional bairro do Brás, onde, em 1910, foi fundada a primeira igreja pentecostal – a

Congregação Cristã no Brasil.

Esse bairro é atualmente conhecido por sua característica comercial; suas várias ruas e

avenidas, diariamente, são visitadas por paulistanos e por pessoas de outras localidades.

Dentre essas ruas e avenidas, encontramos a avenida Rangel Pestana, seguida pela avenida

Celso Garcia, ambas conhecidas por serem um corredor de ligação do centro com a zona leste

da cidade.

Para além dessa atividade, as avenidas revelam em seu histórico uma vocação

religiosa, pois, no passado, serviram de passagem para grandes romarias; no presente, atraem

multidões para os diversos templos, sobretudo oriundos do Pentecostalismo nacional, que

ganhou corpo a partir de 1960, com novas denominações, frutos de diversas dissidências.

3.3 Descrevendo a topografia da religião atual no “corredor da fé”

[...] Quem passa pela Celso Garcia também ouve muita.

Música religiosa, gritos de louvor e ameaças ao

Demônio. Outro detalhe: parar em frente a um desses

Templos é pedir para ser abordado. Você pode ser

convidado a assinar um livro de orações ou milagres.

Gilberto Amendola

24 IBGE. Estados@. 2010. Disponível em:

<http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=sp&tema=censodemog2010_relig>. Acesso em:

30 jan. 2014.

Page 69: Joao Enicelio da Silva.pdf

67

Partindo do Parque D. Pedro II, na capital de São Paulo, no sentido centro – leste,

encontramos a avenida Rangel Pestana, e em sua continuação, após uma distância

aproximada de 1,7 km, a avenida Celso Garcia, a qual, antes da proclamação da República,

era apenas uma única avenida, conhecida como “caminho do Brás” ou “Estrada da Penha” .

A avenida Celso Garcia tem uma extensão aproximada de 6 km, tendo seu início na

rua Dr. Ricardo Gonçalves, no bairro do Brás, e seu término na rua Coronel Rodovalho, no

bairro do Tatuapé. Para além de sua vocação comercial e do corredor de ligação centro-leste,

a Rangel Pestana – Celso Garcia foi eleita por agentes da religião como um corredor de

visibilidade religiosa, local de concentração da fé, o qual, desde o Brasil Colônia, servira de

passagem às romarias entre a igreja matriz da Sé e a igreja de Nossa Senhora da Penha,

fundada em 166725. Torres (1985), ao citar o historiador Leonardo Arroyo, em sua obra sobre

as igrejas de São Paulo, intitulou o então conhecido corredor de ligação centro-leste, as

avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia, de “avenidas religiosas”.

Tais avenidas também foram escolhidas como local para desenvolvimento do projeto

mais audacioso de expressão neopentecostal: a construção da réplica do Templo de Salomão,

com edificação na altura do seu número 605, uma obra realizada pelo bispo Edir Macedo, da

Igreja Universal do Reino de Deus. Tal fato fortalece ainda mais o título de “corredor da fé”.

A avenida Rangel Pestana – Celso Garcia possui mais de vinte denominações

religiosas, duas igrejas católica e uma casa de artigos de religião afro-brasileira; ao longo de

sua extensão aproximada de sete quilômetros, a quantidade de templos não pode ser

definitiva, pois há uma constante entrada e saída de denominações.

Nesse sentido, entendemos que “O corredor da fé” denominado nessa pesquisa não

se inicia apenas na avenida Celso Garcia, mas tem seu início na Igreja Bom Jesus do Brás, na

avenida Rangel Pestana, nº 1883, e termina na avenida Celso Garcia, nº 1550, trecho

compreendido no perímetro do bairro do Brás, demarcado o espaço como lócus desta

pesquisa. Neste tópico da pesquisa, faremos menção a alguns aspectos históricos das

denominações religiosas, e, em nenhum momento, faremos juízo de valor, apologia, ou

proselitismo, apenas buscaremos, no histórico das denominações, um fio condutor que nos

faça compreender as relações das denominações com o espaço geográfico que aqui

denominamos “corredor da fé”. Todos os dados mencionados são amparados pelas entrevistas

25

LEMAD, Laboratório de ensino e material didático. História de São Paulo: Av. Celso Garcia.

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - USP. São Paulo. 2011. Disponível em:

<http://www.lemad.fflch.usp.br/node/260>. Acesso em: 02 mai. 2013.

Page 70: Joao Enicelio da Silva.pdf

68

formais e informais, bem como pelos dados divulgados em jornais, livros, vídeos, gravações,

revistas e panfletos das denominações; outras fontes utilizadas são as páginas oficiais de

internet, quando a denominação a possui, e páginas da rede social chamada Facebook.

A partir desse momento, os logradouros citados no texto pertencem ao bairro do Brás,

na capital paulista, e quando não, menciona-se o nome do bairro a que o logradouro

pertence.

Partindo-se da Igreja Bom Jesus do Brás, sempre no sentido centro-leste, deparamo-

nos com o viaduto Alberto Marino, e, logo após o seu final, no Largo da Concórdia, encontra-

se a primeira denominação religiosa, após a Igreja Bom Jesus do Brás, mencionada em

tópico anterior.

3.3.1 Igreja Apostólica Essência de Deus

Conhecida por seus líderes, e frequentadores como Paróquia do Bom Jesus dos

Milagres “O Cristo Redentor”, essa igreja está localizada no Largo da Concórdia, com

passagem aos fundos para a rua do Gasômetro, e frente para a avenida Rangel Pestana, nº

1897. Fundada em 12 de junho de 1986, liderada pelo Reverendo Aurélio e por outros padres

denominados “carismáticos”, essa igreja tem como público pessoas de todas as denominações,

conforme menção feita nas vinhetas de sua própria estação de rádio online. As principais

marcas dessa igreja são a vidência e o exorcismo. Também é notável a forte presença de bens

simbólicos, elementos do Catolicismo e do Neopentecostalismo, distribuídos e ungidos em

reuniões.

No salão da igreja, encontram-se assentos como os bancos de madeira utilizados nas

igrejas católicas e também cadeiras como as utilizadas em igrejas neopentecostais.

A programação dessa igreja católica, bem semelhante à do Neopentecostalismo, fica

aberta todos os dias para reuniões vigorosas de exorcismo e oração, como a reunião da

Trezena da Fé. Em visita de campo, constatou-se que a saudação de abertura da missa é

evangélica, “Graça e Paz”, e a primeira oração é católica, “Ave-Maria”. O templo sagrado é

marcado por reuniões especiais em dias e horários determinados (às 10h00, às 15h00 e às

17h00), com a presença do reverendo às segundas-feiras, às terças-feiras, às quartas-feiras e

às quintas-feiras.

Page 71: Joao Enicelio da Silva.pdf

69

Outro destaque da igreja está na ênfase ao atendimento particular, previamente

agendado, na gruta de Nossa Senhora da Rosa Mística, a qual fica em um salão inferior, com

saída para a rua do Gasômetro. A missão declarada dessa igreja é levar a palavra de Deus, a

libertação e a cura espiritual para os necessitados de um milagre.26

A divulgação de fotos, de vídeos e da programação ocorre basicamente através de três

veículos de comunicação: sua home page < http://essenciadedeus.com/>; sua página pessoal

na rede social Facebook <https://www.facebook.com/comunidadeessenciadedeus> e sua

rádio online, disponível em < http://streaming09.maxcast.com.br/player/essencia/>.

3.3.2 Catedral Carismática das Nações

Localizada na avenida Rangel Pestana, nº 2345, aos fundos de uma lanchonete e de

uma loja de lingerie, a Catedral Carismática das Nações é uma igreja de origem evangélica

pentecostal, porém possui em sua nomenclatura a palavra “carismática”, a qual carrega o

sentido de que as portas do templo estão abertas a pessoas de todas as denominações

religiosas. A igreja foi aberta há aproximadamente dois anos, em um local que já foi sede de

outra igreja evangélica, a igreja Mundial Renovada, uma das primeiras dissidências da Igreja

Mundial do Poder de Deus, a qual era dirigida pelo então bispo Roberto Damásio, conhecido

como “o Bispo dos milagres”.

Na época em que foi inaugurada, em 29/05/2010, tinha seu salão alugado, e não

durou muito para que o bispo Damásio fechasse-lhe as portas, e passasse a fazer viagens

missionárias. Depois de algum tempo viajando, o bispo reabriu a igreja em 24 de agosto de

2013, em novo endereço, na avenida Celso Garcia, nº 3503, no bairro do Tatuapé.

O atual templo, hoje Catedral Carismática das Nações, pertence ao Bispo Agnaldo,

que afirma, segundo entrevista (Anexo A), ser a aquisição do imóvel para a construção da

igreja fruto da “promessa de Deus”, depois de um período de oração e de um sacrifício

efetuado na Gruta dos Milagres, em Moji das Cruzes, interior de São Paulo.

Bispo Agnaldo é evangélico há mais de 20 anos, e o seu trabalho missionário

começou em Manaus e estendeu-se a outros estados, especialmente, na região sudeste, em

26 FACEBOOK. Igreja Apostólica Essência de Deus. 2014. Disponível em:

<https://www.facebook.com/comunidadeessenciadedeus/info>. Acesso em: 02 jun. 2014.

Page 72: Joao Enicelio da Silva.pdf

70

São Paulo. O bispo ficou conhecido por sua participação em programas de rádio, na Rede do

Bem FM - 97.3. Ao mencionar os programas de rádio nas entrevistas, o bispo recordou a

amizade que fez com o pastor Jabes de Alencar (líder da Assembleia de Deus do Bom Retiro).

O rádio foi uma oportunidade que lhe permitiu arrebanhar membros para sua igreja.

Hoje, o seu público não está restrito apenas a moradores da região, mas estende-se às

zonas leste e sul, à região central, a Osasco e a demais regiões da Grande São Paulo. Apesar

do trabalho em outros estados, a atuação do bispo no endereço do Brás é de grande

importância, pois se tornou a sede de todo o ministério, local onde, além de ser sede

administrativa, são ministradas as reuniões do Bispo Agnaldo. Em pergunta feita ao bispo

sobre qual seria a importância de sua igreja estar presente no bairro do Brás e, sobretudo, no

corredor Rangel Pestana – Celso Garcia, ele respondeu: “Aqui passa muita gente, hoje estar

no Brás é ser honrado”.

Atualmente, o bispo não tem programa no rádio, e a sua membresia cresce pela

divulgação por panfletos e pela evangelização na porta da igreja, local onde há uma mesa com

um grande livro para inclusão do nome do interessado para oração e onde sempre há alguém

para convidar as pessoas a participarem das reuniões. Outra forma de crescimento da igreja se

dá pelo proselitismo feito pelos membros. Os cultos são semelhantes aos das outras

denominações neopentecostais; a mais importante das reuniões ocorre às sextas-feiras, aos

sábados e aos domingos, sendo que os sábados estão reservados à oração e ao atendimento às

pessoas que precisam de aconselhamento (no período das 09h30 às 14h00). Já os domingos

são dias de reuniões em três horários, às 9h30, às 15h00 e às 18h00.

3.3.3 Igreja Internacional do Poder da Fé

A partir de dados divulgados no site oficial da instituição, é possível estabelecer as

origens, ou o mito fundante, da denominação. Os relatos dizem respeito a uma experiência

religiosa, “visão espiritual revelada”, por parte do seu atual líder, interpretada através do

texto bíblico do Evangelho de 1º João 5:4. Com o expressivo slogan “A fé é a vitória que

vence o mundo”, a denominação teve início acanhado em 2006, com “reuniões na garagem

de uma irmã”, afirmam os relatos do site da denominação. Somente após dois anos, em 17 de

setembro de 2008, dirigida pelo Apóstolo Vitor e sua esposa Bispa Fernanda, a instituição

religiosa torna-se oficial.

Page 73: Joao Enicelio da Silva.pdf

71

O início de suas atividades ocorreu no município de Sertãozinho, no interior de São

Paulo, porém a denominação logo se expandiu, e hoje está presente nas cidades de Batatais,

de Ribeirão Preto, de Bebedouros, em duas unidades no estado de Goiás e em uma unidade

no estado de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Já na capital paulista, fixa-se a unidade

localizada no “corredor da fé”, denominada “sede do Brás”, situada na avenida Rangel

Pestana, nº 2419, inaugurada em 18/04/2014. A denominação está presente também na

avenida João Dias, no bairro de Santo Amaro, na zona sul da cidade de São Paulo.

A missão declarada da igreja é livrar as pessoas do sofrimento, do engano, dos vícios,

da depressão e da angústia, baseando-se na fé em Jesus Cristo. “É Missão e responsabilidade

da igreja ensinar às pessoas o caminho da salvação, que é o Nosso Senhor Jesus Cristo.”27

A programação de todas as Igrejas Internacionais do Poder da Fé segue um calendário

predefinido: segunda-feira - reunião da prosperidade; quarta-feira - reunião das causas

impossíveis; sexta-feira - reunião do livramento; e domingo - reunião do encontro com Deus,

sempre em três horários: às 08h00, às 14h00 e às 19h30.

A principal fonte de informação e divulgação da igreja está no seu site institucional, <

http://www.internacionaldopoderdafe.com.br/>, mapeado pelos seguintes links: Home, a

Igreja, Apóstolo Vitor, Bispa Fernanda, Nossas igreja, Programação, Programação de rádio,

Reuniões, Evangelismo e doação, Colunistas, Galeria de fotos, Mural de recados, Galeria de

vídeos, Rádio web, Agenda, Notícias da igreja, Poder da fé online e Contato.

Ainda pela web, há a TV e a Rádio online, disponíveis, respectivamente, nos links <

http://www.internacionaldopoderdafe.com.br/galeria_videos.html> e <

http://www.rededaevangelizacao.com.br/>. Outros meios eletrônicos de divulgação são

atribuídos à denominação nos links: Facebook, < https://www.facebook.com/poderdafe/info>,

Twitter, < https://twitter.com/inter_poderdafe>, GooglePlus,

<https://plus.google.com/101850940434188987013>, Instagram,

< http://instagram.com/poderdafe>, Youtube, < http://www.youtube.com/igrejapoderdafe> e

SoundCloud <https://soundcloud.com/poderdafe>.

27 FÉ, Igreja Internacional do Poder da. A fé é a Vitória que vence o mundo. 2014. Disponível em:

<http://www.internacionaldopoderdafe.com.br//conteudo/igreja-internacional-do-poder-da-fe-uma-

missao-de-fe>. Acesso em: 05 out. 2014.

Page 74: Joao Enicelio da Silva.pdf

72

Em semelhança às outras denominações neopentecostais, a Igreja Internacional do

Poder da Fé tem programação na rádio Sara Brasil FM 101,3 e na Rede do Bem FM 97,3.

Questionamos o seu fundador a respeito da importância de estar no “corredor da fé”, e a única

resposta que obtivemos é que se trata de uma região central de fácil acesso.

3.3.4 Santuário Espiritualista de São Paulo

A Igreja Reino dos Céus foi fundada em 1978 por Adelino de Carvalho, natural de

Uberaba – MG, porém a inauguração oficial da igreja somente ocorreu em 28 de janeiro de

1981, no bairro da Pampulha, em Belo Horizonte – MG. A marca da igreja são o exorcismo e

a cura divina.

No site institucional da denominação, há menção a um suposto milagre ocorrido por

volta de 1980, ocasião em que o apóstolo Adelino de Carvalho foi assunto em manchetes nos

jornais de Belo Horizonte; teria então ele, através de poder espiritual, cessado um incêndio em

uma casa, em que nem mesmo o corpo de bombeiros conseguira apagar, fato que projetou o

apóstolo no meio religioso. Em pouco tempo, a igreja se expandiu, e hoje está presente nos

estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Paraná. No “corredor da fé”,

encontramos duas igrejas, uma na avenida Celso Garcia, nº 14, intitulada Santuário

Espiritualista de São Paulo, e a outra, Santuário Santos Anjos, situada na avenida Celso

Garcia, nº 174. Além dessas duas unidades em São Paulo, há também o Centro de Meditação

Cristã, na avenida General Olímpio da Silveira, nº 447, no bairro de Santa Cecília, na capital

de São Paulo.

Organizada através de uma divisão ministerial, a igreja pretende atender a todas as

faixas etárias. O requisito básico para se concorrer a um cargo eclesiástico é o de ser

“dizimista fiel”. A divisão ministerial é apresenta da seguinte maneira: Reino Jovem; PARC

– Pequeninos Adoradores do Reino dos Céus; FAMAARC - Frente Avançada Missionária das

Águias do Apostolado da Igreja Reino dos Céus; Ministério da Santa Ceia; Ministério de

Dança e PAM - Projeto Ação Mulher. Dentro dessa divisão, encontram-se os cargos

eclesiásticos, dos quais se destacam: linha de frente, oficiais, presbítero, embaixador, ministro

da ceia, diaconato, guardião.

No ano de 2014, o Apóstolo Adelino completou 39 anos de exercícios pastorais, mas,

desde seus 33 anos de idade, passou a ser conhecido pelo corpo da instituição pelo nome de

Davi Efraim, nome este escolhido por sua própria vontade, após uma leitura bíblica do Velho

Page 75: Joao Enicelio da Silva.pdf

73

Testamento, compreendendo que o significado de “Davi” é “amado”, e o de “Efraim” é

“frutífero, fértil”.

Além das publicações de diversos livros, de CD´s, de DVD´s e de jornal, a igreja

possui divulgação pelos seguintes sites: <www.igrejareinodosceus.com.br/> ,

<facebook.com/apostolodavi>,<facebook.com/montemaanaim>, <facebook.com/reinojovem>,

<www.adelinodecarvalho.com.br>, <www.editorarhema.net>, <www.jornaldoreino.com.b> e

<www.rederomantica.com.br>.

3.3.5 Igreja Jesus Fonte de Vida – IJFV

Com sede na cidade de Carapicuíba, no estado de São Paulo, localizada na Estrada da

Gabiroba, nº 80, no bairro de Jardim Santo Estevão, a Igreja Jesus Fonte de Vida foi fundada,

em 12 de maio de 1997, pelo Missionário Elias e sua esposa Missionária Marlucia Ferreira.

“Um ministério que vive para levar a palavra de Deus. [...] Missão: Tirar os cativos e libertar

os oprimidos das mãos de satanás”.28

O templo no bairro do Brás instalou-se primeiramente na rua João Boemer, nº 55, no

1º andar. De acordo com o Missionário Elias, os membros da filial do Brás não são apenas

moradores da região, mas também pessoas de todas as demais regiões de São Paulo, fruto da

divulgação através do seu programa radiofônico na emissora Sara Brasil FM 101.3.

Dentre as causas que os levaram para o bairro, estão: a expansão missionária e a

centralidade do bairro, favorecida pelo acesso da malha de transporte público. No final do

mês de setembro de 2014, a denominação se mudou da rua João Boemer para a avenida

Celso Garcia, nº 188, local que já foi sede da denominação Centro de Meditação Cristã.

Em conversa de campo com a pastora Leticia Ferreira, a mudança de endereço é

resultado da “promessa de Deus”, faz parte do processo de expansão. A pastora declara: “nós

temos sonho de expandir também para o bairro de Santo Amaro.”

Já na página da denominação no Facebook, há uma menção ao novo templo na Celso

Garcia. “Só quero dizer que esta igreja é a pequena nuvem que o servo do profeta Elias viu.

(I Reis 18:44). Este é o sinal que chuva do Senhor vai descer!”

28 FACEBOOK. Igreja Jesus Fonte de Vida. Disponível em:

<https://www.facebook.com/igjesusfontedevida>. Acesso em: 25 out. 2014.

Page 76: Joao Enicelio da Silva.pdf

74

3.3.6 Comunidade Cristã Amor e Graça – CCAG

Para o Bispo Emerson Viana, estar presente no “corredor da fé” não tem nenhum

diferencial, apenas considera o local privilegiado por ser uma região central de fácil acesso.

Apesar de não residir no bairro, a origem religiosa do bispo está no bairro, pois foi membro

de outra denominação com sede na rua Carlos Botelho, paralela à avenida Celso Garcia.

Após romper com aquela outra denominação evangélica, o Bispo Emerson Viana,

juntamente com sua esposa e pastora Silvana Viana, fundaram a Comunidade Cristã Amor e

Graça ( CCAG), no mês de setembro de 2004, com sede na avenida Celso Garcia, nº 243,

no Brás.

Com o passar do tempo, a denominação foi crescendo, e sua expansão atingiu o bairro

de São Miguel Paulista, em São Paulo, e a cidade de Guarulhos; recentemente, em

24/08/2014, houve a inauguração de um novo templo no bairro da Lapa, também em São

Paulo. No mês seguinte, no dia 07 de setembro de 2014, a denominação comemorou 10

anos de existência.

Em entrevista, a principal declaração do bispo é que a CCGA não se trata de mais

uma igreja, e sim de uma família, e, enquanto igreja, “Uma igreja livre das obras da lei,

livre de ordenanças de homens e sem o misticismo que anda invadindo as igrejas”29.

Os

líderes declaram pregar o verdadeiro evangelho de Jesus Cristo.

Apesar de o seu líder não simpatizar com as ferramentas eletrônicas, em especial, com

a internet, a igreja possui um portal de internet no endereço eletrônico

http://www.portalamoregraca.com.br/, onde é possível encontrar mensagens no formato mp3,

matérias, estudos bíblicos, fotos e vídeos institucionais e dos principais eventos da

denominação. Para além do seu portal, a CCAG está presente nas principais redes sociais,

como o Facebook, < https://www.facebook.com/AmoreGraca>, o Twitter, o Vimeo, o

Instagram, além de haver no portal uma rádio online.

A programação de cultos segue um calendário semelhante entre a sede e as filiais; são

celebrados cultos nos seguintes dias: quartas-feiras e sextas-feiras, às 9h00 e às 19h00; no

domingo, em três horários: 8h30, 15h00 e 19h00. Exceto na unidade da Lapa, que possui

cultos às terças-feiras, a liderança dos cultos é alternada entre a direção do bispo e a pastora.

29 GRAÇA, Comunidade Cristã Amor e. Quem Somos: Artigos e Materias. 2014. Disponível em:

<http://www.portalamoregraca.com.br/>. Acesso em: 27 out. 2014.

Page 77: Joao Enicelio da Silva.pdf

75

A programação da igreja pode ser ouvida pela Rádio Certa 88,7 FM (SP), por 24h, e pela

Rádio Raiz FM 103,5, diariamente, das 19h00 às 06h00.

3.3.7 Igreja Universal do Reino de Deus - IURD

Com 35 anos de existência, é considerada, na atualidade, uma das maiores

denominações neopentecostais, amparada por uma rede de comunicação contendo diversas

rádios e TVs, além de mídia impressa, somando um conglomerado de empresas ao seu redor.

A sua origem remonta-se a um antigo bairro carioca, o bairro da Abolição, zona norte da

cidade do Rio de Janeiro.

Foi naquele bairro que Edir Macedo, juntamente com RR Soares, Roberto Augusto

Lopes e os Irmãos Samuel e Fidelis Coutinho, fundaram a IURD, fato ocorrido oficialmente

em julho de 1977. Ainda no início, ocorreram várias discordâncias de poder, o que veio a

culminar em diversas divisões.

Dentre as primeiras divisões ocorridas, observa-se a saída de RR Soares, que então

fundou a Igreja da Graça. Em 1980, período em que a IURD completava três anos, Edir

Macedo é consagrado Bispo, ocasião em que decide mudar o sistema de governo da igreja

para Eclesiástico Episcopal, passando assim a centralidade de poder para suas mãos. A partir

desse período, a igreja começou a ganhar outros patamares, e a visibilidade da denominação

não ficou apenas na periferia; em decorrência do caráter empreendedor de Edir Bezerra

Macedo, a igreja ganhou as metrópoles e o mundo.

Nesse sentido, no ano de 1980, a IURD chegou à cidade de São Paulo implantada por

Roberto Lopes, primeiramente, na região central da capital, exatamente no Parque D. Pedro

II, e depois se mudou para o bairro da Luz. Roberto Lopes permaneceu em São Paulo até

1984. A primeira Igreja IURD de São Paulo, depois de duas sucessivas mudanças de bairros,

passa a funcionar, em 1992, como sede nacional, no bairro do Brás, local onde funcionou o

Cine Roxy, símbolo da memória paulistana, exatamente na avenida Celso Garcia, nº 499.

(MARIANO, 2010, pp. 54:56)

Roberto Lopes permaneceu na igreja de São Paulo até 1984, mas após alguns anos da

fundação da IURD naquela cidade, ele deixou a denominação e retornou à Igreja Nova Vida.

Almeida (2009, p. 61-62), descrevendo a respeito do então fundador da IURD em São Paulo,

Roberto Lopes, destaca três aspectos por parte dele que contribuíram para a expansão da

IURD. Primeiro, foi Roberto Lopes quem deu o passo inicial para as atividades políticas

Page 78: Joao Enicelio da Silva.pdf

76

ligadas à IURD; segundo, ele contribuiu para o estabelecimento da centralidade do poder;

terceiro, Roberto Lopes foi peça fundamental para a implantação da IURD em São Paulo.

Outras dissidências ocorreram na IURD. Almeida (2009, p.61) ressaltou a saída do Bispo

Renato Suett, que, em 1995, fundou, na mesma avenida Celso Garcia, a Igreja do Senhor

Jesus Cristo.

No início, a IURD optava por não construir templos, e na sua estratégia de expansão

estavam a locação e a aquisição de grandes espaços, como os antigos cinemas e as fábricas

fechadas. Somente a partir da segunda metade de 1990 que a IURD optou por construir os

seus templos, o que culminou nas chamadas “catedrais”. Assim, no início do ano 2000, o

novo templo do Brás, na avenida Celso Garcia, nº 499, passou a ser chamado de “Catedral

do Brás”. (ALMEIDA, 2009: 64)

A Catedral do Brás fica na esquina da rua Bresser, rodeada por uma rede de

lanchonetes e por outros pontos comerciais. A catedral possui um amplo estacionamento e um

amplo espaço de sociabilidade; já nas suas calçadas, sempre encontramos obreiros,

distribuindo jornais e folhetos da denominação, e convidando as pessoas a participarem dos

encontros religiosos, os quais têm, em sua programação, reuniões: do empresário, dos

sentimentos, do descarrego, da família e do Espírito Santo.

3.3.8 Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério do Brás

A Assembleia de Deus, a maior das denominações pentecostais do Brasil em número

de adeptos, iniciou-se em 1911, na cidade de Belém, no estado do Pará. Chegou ao sudeste do

país com a leva de migrantes, e, nas primeiras décadas seguintes, teve a sua fundação em São

Paulo. Logo em 1930, os pastores criaram uma convenção para discussão de assuntos

relacionados aos interesses internos, bem como aos rumos da denominação. Essa convenção

ficou conhecida pela sigla CGADB. Paulo Leiva Macalão, que participou desse evento,

alguns anos depois, fundou uma nova convenção, a CONAMAD (Convenção Nacional das

Assembleias de Deus no Brasil, Ministério Madureira). A Assembleia de Deus Ministério do

Brás hoje faz parte desta Convenção.

Paulo Leiva Macalão também foi o responsável pela fundação da primeira igreja do

Ministério de Madureira, em São Paulo, que ocorreu na rua da Glória, no bairro da

Liberdade, no ano de 1938. A igreja lá permaneceu apenas por dois, depois se mudou para a

Page 79: Joao Enicelio da Silva.pdf

77

rua Cantareira, e posteriormente para a rua da Mooca, nº 403, na avenida Rangel Pestana, nº

995. Essas sucessivas mudanças ocorreram até que o primeiro terreno da sede da igreja fosse

comprado, na rua Major Marcelino. O número de membros da igreja foi crescendo, e houve

necessidade de uma nova sede. Criou-se um meio de arrecadar recursos financeiros com a

atual presidência do Pastor Samuel Ferreira, Vice Presidente da CONAMAD, e, em 15 de

novembro de 2006, foi inaugurado o novo templo na avenida Celso Garcia, nº 560, a atual

sede do Ministério, que preside diversos setores. A denominação faz parte da primeira

geração do Pentecostalismo no Brasil, porém já não há mais demonstração dos usos e

costumes presentes nas primeiras décadas de 1900.

Na página de internet, pelo texto constante no link “Quem somos”, é possível

compreender que a igreja cresceu, e tornou-se inevitável o uso de tecnologia a fim de

proporcionar segurança, conforto e fácil acesso para aqueles que se deslocam para a sede do

ministério:

Os cultos são transmitidos ao vivo pela Internet, contamos com amplo

estacionamento, acesso para portadores de necessidades especiais, poltronas

confortáveis com capacidade para, aproximadamente, 5.000 pessoas,

enfermaria completa e quatro elevadores para total conforto dos usuários. [...]

Além disso, estamos numa região de fácil acesso, próximo ao Metrô Bresser-

Mooca e corredores de ônibus na Avenida Celso Garcia. Pode-se chegar à

sede ainda por importantes vias, como Radial Leste e Marginal Tietê.30

Todas as atividades da igreja possuem uma programação com agenda anual. Dentre as

atividades, destacam-se: escola bíblica dominical, culto de missões, culto Celebrando em

Família, culto de batismo, culto de ceia, reunião de obreiros, culto de missões, culto de

ensinamentos, culto da conquista, culto de oração, entre outras. Para além das reuniões no

templo, a AD Brás tem programação nas redes de TV, exibida na Rede Bandeirantes e na

RedeTV!, além de programas de rádio na Musical FM 105,7. A igreja possui ainda o portal de

internet <adbras.com.br> e uma fanpage no Facebook, em<

https://www.facebook.com/igreja.adbras/timeline?ref=page_internal>.

30 MORGANTE, Ad Brás Jd. História Ad Brás. 2014. Disponível em:

<http://admorgante.com.br/web/igreja/historia-ad-bras>. Acesso em: 30 out. 2014.

Page 80: Joao Enicelio da Silva.pdf

78

3.3.9 Igreja Católica Paroquia São João Batista do Brás

Situada na avenida Celso Garcia, nº 600, no coração do Brás, a paróquia foi

construída pela Arquidiocese de São Paulo, em 1908. Considerada no início do século um dos

templos católicos mais importantes da cidade de São Paulo, possui arquitetura arrojada, vitrais

produzidos por artistas parisienses e um enorme órgão de tubo importado da Alemanha.

A paróquia é hoje um local da memória religiosa do bairro e da cidade. Além dessas

informações encontradas no site da denominação, destaca-se a memória em tempos de

epidemias, quando a paróquia atuou na ajuda aos doentes da gripe espanhola, no início do

século XX. A paróquia tem também histórico de atuação na educação religiosa, no bairro e

nas adjacências.

“Hoje, com a presença do atuante pároco Pe. Marcelo Monge, reiniciamos a

cada dia nossa grande jornada de caridade, fé, esperança e muito amor.

Havemos de continuar a produzir novos belos e abundantes frutos, – para

Deus, para todos nós e para as gerações-futuras dessa paróquia tão amada,

que sabe ser gentil e guerreira a um só tempo.”

Na programação da igreja, é possível notar a preocupação com a comunidade

hispânica que reside nas proximidades da paróquia. Não apenas é celebrada missa em

espanhol, mas são prestados diversos serviços voltados para a comunidade, dentre eles o

ensino do Português.

Quanto à organização da paróquia, divide-se em torno das seguintes pastorais:

Apostolado da Oração; Catequese de Adulto; Catequese de Criança; Catequese de Crisma;

Pastoral do Batismo; Pastoral da Criança; Pastoral da Comunicação; Pastoral dos Coroinhas;

Pastoral do Dízimo; Pastoral da Pessoa Idosa; Grupo de Artesanato; Grupo de Jovens; Grupo

de Oração; e Legião de Maria.

As missas são celebradas nos seguintes horários: domingos - às 08h00, às 10h00 e às

18h00; segundas-feiras – às 15h00; terças-feiras – às 19h00; quartas-feiras – às 7h00, e

Miercoles - Celebrações em Espanhol, às 19h00; quintas-feiras – às 12h10 e às 19h00;

sextas-feiras – às 7h00; e sábados – às 17h00.

Em semelhança a outras denominações religiosas, a paróquia tem site próprio: <

http://www.saojoaobatistadobras.org>.

Page 81: Joao Enicelio da Silva.pdf

79

“Amigo internauta, o site da Paróquia São João Batista do Brás é o nosso

espaço virtual de vivência de fé. Aqui você encontra: atividades dos diversos

grupos e pastorais que existem em nossa dinâmica paróquia, notícias, artigos

e subsídios para sua formação cristã católica. Nossa paróquia te acolhe de

braços abertos! Pe. Marcelo Monge - Pároco”31

A paróquia está sob a supervisão da Região Belém – Bispo Auxiliar Dom Edmar

Peron, Cúria na Região Belém, a qual, por sua vez, pertence à Arquidiocese de São Paulo,

que tem como Arcebispo Metropolitano o Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer.

3.3.10 Templo32

de Salomão Bíblico

Vaux (2004, pp. 320-321), na tentativa de definir o sentido da palavra “templo” na

língua dos povos da antiguidade, acádios, fenícios e hebraicos, reconhece que nessas línguas

não havia palavra específica que designasse um edifício construído em lugar sagrado para

celebração de culto. Na pesquisa de Vaux, os vocábulos referentes à palavra “casa” (“e-kal”,

em acádio; “e-kur”, como “casa grande”, em sumério; “ras shamra”, como “casa da

montanha”, em fenício; e “bet” ou “hekal”, em hebraico) não distinguem, em qualquer uma

dessas línguas, “casa” de “palácio”, de “morada do deus” ou de “morada do rei”.

Ainda, de acordo com Vaux, no contexto judaico, a idealização de uma “casa” para

Iahvé, o Deus de Israel, que tornaria Jerusalém o centro religioso da nação israelita, partiu,

segundo relatos bíblicos, da mente do rei Davi, conforme mencionado no trecho bíblico de 2

Samuel 7.1-7. Entretanto, teria o Deus de Israel reservado essa tarefa ao seu filho Salomão,

pois este era um rei pacífico (I Crônicas 22.8-10), enquanto que seu pai, Davi, era um homem

de guerra, que “derramou muito sangue” (I Reis 5.17-19;8.15-21).

Os relatos bíblicos a respeito do templo construído pelo rei Salomão encontram-se

nos livros I Reis Cap. 6-7 e 2 Crônicas Cap. 3-4. Esses textos são considerados de difícil

interpretação (inclusive apontados por alguns estudiosos como textos modificados pelos

copistas), e não descrevem muitos detalhes sobre o templo, como espessura das paredes,

disposição da fachada, sistema de cobertura, etc. Há poucos detalhes registrados, referentes ao

31 BRÁS, Paróquia São João Batista do. Quem somo. Disponível em:

<http://www.saojoaobatistadobras.org>. Acesso em: 02 nov. 2014.

32 “O edifício construído em um lugar sagrado e no qual se celebra o culto é o templo” (VAUX, 2004, p.320).

Page 82: Joao Enicelio da Silva.pdf

80

início de sua construção: a madeira usada era proveniente do Líbano, fruto de negociação com

o rei de Tiro; as pedras vinham de Jerusalém; a mão de obra pesada era fornecida pelos

israelitas; os detalhes da construção eram executados por especialistas fenícios.

Tratava-se basicamente de um edifício longo, dividido internamente em três partes: a

primeira, o vestíbulo (Ulam, Sala de Culto); a segunda, o lugar santo (Hekal); e a terceira, a

“câmara de trás”, ou o “santo dos santos” (Debir). Pode-se constatar que o modelo

arquitetônico desse templo tem forte relação com templos construídos em outras localidades

por outros povos da época, especialmente, os sírios e os fenícios. (VAUX, 2004 pp. 350-355)

O período aproximado da história em que ocorreu a construção do templo de Salomão

corresponde aos anos de 968 a.C. a 961 a.C. Depois de pronto, o templo permaneceu em

funcionamento por 367 anos, até que, por ordem de Nabucodonosor, rei da Babilônia, foi

destruído, conforme relato bíblico dos livros 2 Rs 25:8-9.

Esse templo, para os judeus, significava “o lócus da santificação”, simbolizava “o

centro da terra", onde os produtos da terra eram recebidos por Deus e devolvidos a Ele; ainda,

concebia-se que o aperfeiçoamento do ser sagrado ocorria no alinhamento com o templo.

(NEUSNER, 2004, pp.193-194)

Pensava-se que o templo era uma cópia terrena do palácio celestial de Iaweh

e sua sede oficial como “rei” como uma porção da terra sobre a qual ele

reinava e que tinha concedido a Israel , e como o santuário de Estado oficial

para todo Israel e, mais tarde, par Judá, no qual Iaweh habitava, porque ali,

no culto, ele manifestava a sua presença. Contudo, a montanha em que o

Templo tinha sido construído, dentro da estrutura do complexo do palácio,

veio a assumir, pouco a pouco, por causa da rocha de Deus que ela

circundava, o significado da montanha de Deus, aliás localizada pela

tradição do antigo Oriente Médio nas regiões setentrionais da terra. No curso

do tempo, o Templo deu a Jerusalém o prestígio de ser a residência e a

cidade de Deus, o lugar do culto e a cidade do Templo. (FOHRER, 1982,

p.244).

Na pesquisa de Fohner (1982) Constatou-se que, no período monárquico, mesmo após

o reinado de Salomão, apesar da existência de outros santuários, o templo construído por

aquele rei teve um significado maior para os israelitas.

Page 83: Joao Enicelio da Silva.pdf

81

3.3.11 Templo de Salomão (IURD)

A megaconstrução na avenida Celso Garcia, nº 605, no bairro do Brás, em São Paulo,

denominada “Templo de Salomão”, erigido pelo bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do

Reino de Deus, não deixa de simbolizar, também, o retorno à Israel dos templos bíblicos.

Da mesma forma que, no passado, o Templo de Salomão, erguido no bairro

do Brás, em São Paulo, tem um significado profundo, porque todos os que

ali entrarem, independentemente de sua crença, estarão voltado para os

tempos bíblicos. Por isso, o Templo de Salomão, construído na capital

paulista, tem um sentido espiritual muito forte, uma vez que resgatará a

Santidade, o Respeito, o Temor, a Reverência e a Consideração para com o

Senhor Deus. Em Sua Casa, também chamada de Casa de Sacrifício, todo o

povo terá a oportunidade de render ao Eterno a própria vida como sacrifício

santo e agradável a Deus.33

Com essa proposta, no dia 31 de julho de 2014, Edir Macedo, inaugurou a

megaconstrução.

No complexo, que tem quase 74 mil m² de área construída, foram utilizados

28 mil m³ de concreto e quase 2 mil toneladas de aço. O prédio frontal tem

11 andares e mede 56 metros de altura. Já o prédio dos fundos tem cerca de

41 metros de altura. Todo o piso do templo e o altar são revestidos com pedras

trazidas de Israel. 34

A área construída desse templo, local para público estimado de 10.000 pessoas, é de

100.000 metros quadrados, em um terreno de 35.000 metros; possui 10.000 lâmpadas de

LED, estacionamento com 1800 vagas para veículos de passeio e com 50 vagas para ônibus;

uma obra cujo valor de custo é de 685 milhões. Os detalhes do templo remetem à Israel

bíblica: no altar, uma réplica da “arca da aliança”, candelabros de sete braços (menorás)

instalados nas paredes, com iluminação de LED. Para além de todo o requinte do templo, no

seu terreno foi também construído um museu, memorial do Velho Testamento (Veja São

Paulo, 2014, p. 42-48)

33 SALOMÃO, O Templo de. O templo de Salomão. 2014. Disponível em:

<http://www.otemplodesalomao.com/#/otemplo.>. Acesso em: 10 nov. 2014.

34 PAULO, G1 São. Templo de Salomão. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/sao-

paulo/noticia/2014/07/templo-de-salomao-e-inaugurado-em-sao-paulo.html>. Acesso em: 15 nov.

2014.

Page 84: Joao Enicelio da Silva.pdf

82

As descrições a respeito da construção, mencionadas no site oficial do templo de

Salomão da IURD, são:

Os visitantes poderão desfrutar de conforto, segurança e todas as facilidades

projetadas, tais como: estacionamento coberto; ar condicionado; sistema de

geração de energia própria, caso haja a interrupção no fornecimento de

energia comercial; elevadores inteligentes e preparados para serem utilizados

por portadores de necessidades especiais; sistema de segurança equipado

com circuito fechado de tevê; ventilação e iluminação naturais disponíveis

nas hospedagens, escritórios e escolas bíblicas; área verde harmonizada com

arquitetura, por meio de projeto paisagístico; entre outras.35

Nos primeiros dias de inauguração, o acesso às reuniões no templo ficou restrito às

lideranças, às caravanas e aos convidados especiais; somente após a segunda quinzena de

agosto de 2014, o acesso foi liberado ao público, inicialmente, com prévio agendamento e

com uso de pulseira que identificava o dia e o horário da reunião da qual o visitante ia

participar. Hoje, os visitantes têm livre acesso ao templo, desde que não haja reuniões

particulares, e com a restrição de que eles não portem produtos eletrônicos, como celular e

câmera, os quais devem ser guardados em armários na entrada do templo. Quanto às reuniões,

o templo segue o calendário da IURD, no qual os temas são previamente determinados por

horários e por assuntos (sentimental, financeiro, espiritual). Além da divulgação do templo

nas igrejas da IURD, existem as chamadas, com apelos para que a população compareça ao

local, veiculadas nos programas radiofônicos e televisivos, nas emissoras em que a Igreja

Universal tem programas.

3.3.12 Ministério Mudança de Vida (MMV)

A memória histórica da denominação remete a meados da década de 1990, à existência

de um pequeno salão, no interior do estado de São Paulo, na cidade de São José do Rio Preto,

custeado pela empresa Rossafa Imóveis, da família da fundadora da denominação, a bispa

Cléo Rossafa. O Ministério Mudança de Vida no início foi chamado de Igreja Batista Ágape,

e, depois, de Igreja Mundial de Cristo.

35 SALOMÃO, O Templo de. construção. 2014. Disponível em: <

http://www.otemplodesalomao.com./#/construcao..>. Acesso em: 10 nov. 2014.

Page 85: Joao Enicelio da Silva.pdf

83

Cléo Rossafa foi ungida a pastora em 1996; suas pregações, inicialmente, eram apenas

para os familiares, e, aos poucos, formou-se uma igreja, a qual foi crescendo e espalhou-se

pelas cidades circunvizinhas a São José do Rio Preto, até chegar a São Paulo, capital.

(ROSSAFA, 2005. pp. 121-122)

Na capital paulista, a sede da denominação fica na avenida Celso Garcia, nº 777.

Dessa sede, expandem-se várias filiais em cidades do interior de São Paulo: São José Rio

Preto (sede), MMV Mirassolândia, MMV Cambuí, MMV Galeazzi, MMV Paz, MMV Juriti,

Guapiaçu, MMV Murchid, Rádio Rio Preto, Riso, Araçatuba, Bauru, Birigui, Catanduva,

Fernandópolis, Penápolis, Presidente Prudente, Tanabi, Votuporanga. O tempo sagrado das

reuniões da sede e das filiais tem a seguinte programação36: domingo, “Reunião das Primícias

para os Comprometidos com Deus”, às 9h00, às 15h00 e às 18h00; segunda-feira, “Reunião

para a Prosperidade”, às 7h00, às 9h00 e às 15h00, e “Vigília do Melhor da Terra”, às 19h30,

com a Bispa Cléo (transmissão ao vivo); terça-feira, “Reunião para a Restauração Familiar”,

às 7h00, às 9h00, às 15h00 e às 19h30; quarta-feira, “Reunião de Busca ao Espírito Santo” e

“Renovação da Mente”, às 7h00, às 9h00, às 15h00 e às 19h30, com a Bispa Cléo

(transmissão ao vivo); quinta-feira, “Reunião das 7 Unções”, às 7h00, às 9h00, às 15h00 e às

19h30; sexta-feira, “Reunião para a Cura e Libertação”, às 7h00, às 9h00, às 15h00 e às

19h30; sábado, “Culto”, às 7h00 (apenas em São Paulo), e “Evangelismo”, às 9h00.

“Olá, Deus te abençoe, graças a Deus, sejam muito bem-vindos”. É com essa fala que

a Bispa Cléo Rossafa abre a sua programação televisiva. Em semelhança a outras

denominações, o Ministério Mudança de Vida tem um portal de internet, com rádio e TV

online; sua programação também ocorre nas seguintes emissoras: Rádio 102,5 FM - S. J. do

Rio Preto, Rádio TOP 101,3 FM - Bauru e região, Rádio Hits 90,1 - Rancharia, Presidente

Prudente e região, emissora Bandeirantes, NGT, MIX TV e TV DA CIDADE. Além das

mídias radiofônicas e televisivas, a denominação tem jornal, online e impresso, chamado

“Folha Vida”, no qual são veiculados os principais eventos da denominação e os testemunhos

dos membros. 37

36 VIDA, Ministério Mudança de. Mude sua vida. 2014. Disponível em:

<http://www.mudancadevida.com.br//index.php/mude-sua-vida/reunioes >. Acesso em: 15 nov. 2014

37 VIDA, Ministério Mudança de. Mude sua vida. 2014. Disponível em: <

http://www.mudancadevida.com.br/index.php/tv-mudanca-de-vida/programacao >. Acesso em: 15

nov. 2014

Page 86: Joao Enicelio da Silva.pdf

84

Em conversa com alguns dos pastores da sede, obteve-se o relato de que a escolha da

avenida Celso Garcia ocorreu pela proximidade do bairro ao centro de São Paulo, pelo acesso

a estacionamento e pelo grande fluxo de transporte urbano e de pessoas que circulam

diariamente pela região. (Anexo A)

3.3.13 Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus

Essa igreja foi fundada por Agenor Duque e sua esposa Ingrid Duque, em 07 de

setembro de 2006, após a bênção apostólica ministrada pelo apóstolo Marcos Sardinha e pela

bispa Alda (Comunidade Evangélica Missionária Internacional Aliança da Paz). No início, na

avenida Celso Garcia, nº 331, de igual modo às demais denominações neopentecostais, a

denominação começou de maneira acanhada; sua principal fonte de investimento foram as

economias pessoais do casal.

O rádio era o seu principal aliado na divulgação denominacional, e, com capital

escasso, após um período, teve-se que deixar o rádio, ocasião em que o casal precisou se

desfazer de bens pessoais para honrar com compromissos, como o aluguel do imóvel onde

funcionava a igreja e até mesmo a programação da Rádio Musical FM 105,7. (AVIVA, 2011,

p. 12).

Os desafios financeiros foram superados, mas, para Agenor Duque, havia desafios

maiores.

O dia que Deus usou o apóstolo Marcos Sardinha para me consagrar, ele

disse que Deus me daria um ministério para cuidar só dos soldados feridos, e

eu creio neste chamado, minha maior dificuldade é com este alvo. Por ajudar

os feridos, temos enfrentado pelo caminho traidores, invejosos, caluniadores

e perseguidores que tentam parar o chamado de Deus sob a minha vida,

porém a igreja apostólica Plenitude do Trono de Deus é como uma omelete,

quanto mais bate, mais cresce. (AVIVA, 2011, p. 12)

Logo a denominação retornou à rádio FM 105,7 com maior força, e com uma

programação de horário por toda a madrugada; estava agora em um novo endereço, na

avenida Celso Garcia, nº 899, local que já fora sede da Igreja Mundial do Poder de Deus, do

Bispo Valdemiro Santiago. Com a vida financeira mais equilibrada, Agenor Duque adquiriu

o imóvel que fora alugado, período em que a denominação passou a experimentar

Page 87: Joao Enicelio da Silva.pdf

85

crescimento. Surgiram, então, as filiais, nos bairros paulistanos Santo Amaro, Cachoeirinha,

Itaim Paulista, Guaianazes e Itaquera, e também na cidade de Osasco e no estado de Minas

Gerais.

Os principais veículos de comunicação da denominação são o seu portal de internet, <

http://www.iaptd.com.br/>, com rádio e TV online, fan page < https://pt-

br.facebook.com/plenitudedotronodedeus>, programas nas rádios Musical FM 105.7 e Rede

do Bem 97.3 FM – SP, e, na televisão, TV Aberta: Canal 14, Claro TV: Canal 16, Vivo TV:

Canal 12, Sky: Canal 177, Oi TV: Canal 19, GVT TV: Canal 247, e Net: Canal 27.

A programação das reuniões da denominação segue sempre três horários: às 9h00, às

15h00 e às 19h00, com temas relacionados a prosperidade (culto dos empresários),

normalmente às segundas-feiras. O Culto de Libertação (com o culto do pão da revelação e

outros temas), normalmente, é às sextas-feiras. O Culto da Família, normalmente, é aos

domingos. Além dessas atividades, há as campanhas, que são cultos ministrados em dias

específicos e por um determinado período de tempo, com um certo objetivo que o fiel queira

alcançar.

Apesar da possibilidade de se assistir aos cultos através de todos os meios de

comunicação mencionados, nota-se na programação da denominação um forte apelo para que

as pessoas compareçam ao templo, denominado “sede nacional”, na avenida Celso Garcia, nº

899. O slogan do bispo e dos pastores no rádio é anunciado em torno da frase: “Vem pra cá,

São Paulo, vem pra cá, Brasil, o lugar do milagre é aqui no Brás”.

3.3.14 Catedral da Bênção (CB)

Essa denominação evangélica foi fundada por Doriel de Oliveira e sua esposa Ruth

Brunelli, no dia 09 de junho de 1964, em Belo Horizonte, Minas Gerais, fruto da dissidência

da igreja “O Brasil para Cristo”, do missionário Manoel de Melo. No início, a denominação

fundada por Doriel ficou conhecida pelo nome de “Tabernáculo Evangélico de Jesus”. Após

alguns anos, exatamente em 1970, Doriel se mudou para Brasília, passando dez anos na

capital brasileira. Em 1980, a pequena igreja já era um grande templo de alvenaria, que logo

ficou conhecido por local de manifestação de milagres, com exposição na mídia; rapidamente

Page 88: Joao Enicelio da Silva.pdf

86

experimentou o crescimento, e, a partir de 1985, foi construída uma nova sede, conhecida

como “Catedral da Casa da Bênção”, com capacidade para mais de 5 mil pessoas.

Nos dias 20 a 27 de julho de 2014, a denominação comemorou, em Brasília, 50 anos

de existência, com a presença de diversas caravanas vindas de todo o Brasil. Dentre os

preletores do evento, cita-se o seu presidente Apóstolo Doriel. Também compareceram ao

evento diversos pregadores do cenário pentecostal como Silas Malafaia, Josué Gonçalves,

Napoleão Falcão, Jorge Linhares, Cláudio Duarte, Roberto Lucena, Silvio Gali e Walter

Brunelli.

Hoje, a programação da denominação ocorre principalmente nos finais de semana, e

sua sede, em Brasília, transmite a programação pela TV online, no seu portal de internet

<http://cb.org.br/tv/>. As outras filiais têm seus sites locais e sua programação independentes

do modelo da sede. A denominação também disponibiliza online a “Revista Mensagem” e o

jornal “Catedral News”.

As igrejas Casa da Bênção no estado de São Paulo foram fundadas sob a

responsabilidade do pastor Sergio Afonso, da cidade de Mauá. Na capital paulista, a primeira

igreja foi fundada pelo missionário Antônio da Anunciação Lana, em meados da década de

1990, inicialmente no parque D. Pedro II, local conhecido como ponto inicial das linhas de

ônibus da cidade. Depois em 1999, essa igreja mudou para seu atual endereço, na avenida

Celso Garcia, nº 1081. (Brunelli, 2011, p. 101)

De acordo com o pastor auxiliar Wellington, a escolha pelo bairro do Brás ocorreu por

se tratar de uma região central. Apesar de tantos anos de existência no bairro, hoje os

membros da denominação são de diversas regiões da capital, e chegam ao número

aproximado de 600 pessoas, produto de uma época em que a denominação possuía

programação no rádio (antiga Rádio Morada do Sol). Ressalte-se que poucas pessoas residem

nas proximidades desse templo. Outra informação importante: além da programação de cultos

que ocorrem na igreja, a CB trabalha com grupos nos lares.

Quando questionado sobre trabalhos sociais na região, o pastor Wellington respondeu

que a prioridade é a ajuda espiritual às pessoas que residem em prédios e em casarões

marcados pela deterioração, visto que há muitas moradias em pensões e em cortiços, e é

nesses espaços que ocorrem as evangelizações.

Page 89: Joao Enicelio da Silva.pdf

87

3.3.15 Comunidade Missão dos Sinais de Deus

Fundada pelo Apóstolo Mauricio Palhuca e sua esposa Fabiane Palhuca, atualmente a

denominação está presente, no estado de São Paulo, nas cidades de Suzano e de São Paulo, e

nesta última, no bairro do Brás, na avenida Celso Garcia, nº 1515, onde ocorrem as

concentrações de maior público, com uma programação que segue os seguintes dias:

domingo, às 08h00, às 14h00 e às 19h00 – com o tema “família e Espírito Santo”; quarta-

feira, às 09h00, às 15h00 e às 19h00, com o tema “Libertação”; e sexta-Feira, às 09h00, às

15h00 e às 19h00, com o tema “Vida Sentimental e Milagres”.38

De acordo com sua biografia publicada no site da denominação, o apóstolo Palhuca é

especializado, no campo religioso, em batalha espiritual e em libertação:

Apóstolo Palhuca, um homem que com 13 anos teve um encontro com Deus

e desde essa idade tem um compromisso muito forte com o céu. Já na sua

pré-adolescência recebeu o Dom da Revelação de Deus. Ouvindo a voz de

Deus e se relacionando com ele, sendo experimentado e preparado nas coisas

Espirituais e aprendendo mais e mais da área da Libertação e Guerra

Espiritual. Ao longo desses 23 anos de experiência com Deus o Apóstolo

Palhuca vem ajudando muitas pessoas a entenderem os seus caminhos, a se

libertarem, e a terem sucesso em suas vidas Sentimentais, Financeira,

Espirituais e etc...39

Para além da especialização do líder na área de libertação, a denominação realiza

reuniões temáticas durante certo período de dias, chamadas “campanhas”; encontram-se no

site da denominação, atualmente, as seguintes campanhas: “Eu não deixarei para lá”, “Lenço

dos Milagres Urgentes” e “Meu Projeto para 2014”. A denominação é organizada em

ministérios chamados: louvor, infantil, projeto social e dança. Não sendo diferente de

algumas denominações presentes no “corredor da fé”, a Comunidade Missão dos Sinais de

Deus tem um site próprio, com rádio online e com disponibilidade de download de artigos e

de arquivos de áudio. A denominação também tem programação nas rádios 99,5 FM e 103,1

FM, emissoras que captam grande parte de seu público.

38 DEUS, Comunidade Missão dos Sinais de. Programação. 2014. Disponível em:

<http://www.sinaisdedeus.com.br>. Acesso em: 26 nov. 2014.

39 DEUS, Comunidade Missão dos Sinais de. Quem Somos. 2014. Disponível em:

<http://www.sinaisdedeus.com.br>. Acesso em: 26 nov. 2014.

Page 90: Joao Enicelio da Silva.pdf

88

4. CAPÍTULO 4 - ESTRATÉGIAS DE CHEGADA E PERMANÊNCIA NO

“CORREDOR DA FÉ”

“Todos procuram o Brás e parece haver uma razão simples, no fundo, para explicar isso. É

que no Brás todos são “imigrantes”, o que dificulta discriminações. A vizinhança é tolerante,

todos no limite são bem-vindos ainda que estejam só de passagem” (MARTIN; FRÚGOLI JR,

1992)

A pesquisa, num primeiro momento, após levantamento de campo, através de um

survey, permitiu identificar as denominações religiosas como sendo predominantemente

pentecostais. Por outro lado, em uma segunda fase, quando ocorreu a imersão no campo e a

descrição de seu histórico, identificou-se que a maioria das denominações possui, sim, raízes

no Pentecostalismo, ou no Neopentecostalismo, no que se refere à origem de suas lideranças

e às suas práticas e estratégias de expansão, principalmente com elementos do

“Pentecostalismo de Segunda Onda” e do Neopentecostalismo.

Como exemplo, pontua-se o uso do rádio, e recentemente da TV e da internet, assim

como as técnicas empresariais e de marketing, bem utilizadas pelo grupo dos neopentecostais,

apesar de as práticas desse grupo estarem mais relacionadas ao que Guerriero (2008, p.15)

denomina de Novos Movimentos Religiosos (NMR): “tudo aquilo que é novo no campo

religioso, sejam os novos grupos, sejam as novas formas de vivências religiosas dentro das

religiões já estabelecidas”.

Observa-se que a maioria das denominações presentes na avenida Rangel Pestana-

Celso Garcia assemelha-se aos novos movimentos egressos do interior de grandes

denominações pentecostais, ou neopentecostais, ou até mesmo do Catolicismo carismático,

produto da discidência de líderes católicos.

No entanto, Almeida (2006), em artigo intitulado “A expansão pentecostal:

circulação e flexibilidade”, reconhece que a tipologia a respeito dos novos grupos oriundos do

Pentecostalismo não é suficiente para explicá-la.

Mas como classificar, então, os protestantes “renovados” e os carismáticos

católicos que se apropriaram de dimensões do pentecostalismo como a

experiência extática da glossolalia e, no caso dos católicos, da conversão

individual tipicamente evangélica com ênfase na subjetividade e na

emotividade? E, mais ainda, como entender a pentecostal Igreja Universal do

Reino de Deus que [...] incorporou elementos da religiosidade afro-

brasileira? Em resumo, o pentecostalismo extrapola suas fronteiras

institucionais assim como incorpora mecanismos de funcionamento de

religiões fora do campo cristão. (ALMEIDA, 2006, p. 01)

Page 91: Joao Enicelio da Silva.pdf

89

Nota-se que as novas igrejas surgidas por rompimento de organismos eclesiásticos

guardam em sua identidade elementos de seu grupo de origem, porém, reestruturaram-se

objetivando a entrada ou a permanência no “corredor da fé”.

Esse novo modo de ser e de permanecer está associado a algumas dinâmicas que

facilitam e promovem esse processo de escolha do bairro, tais como: a deterioração urbana

do bairro e das avenidas Rangel Pestana-Celso Garcia, a centralidade do bairro, a expansão da

mancha religiosa, o lugar do “poder forte”, o retorno ao Israel mítico e a propagação pelos

meios de comunicação (especialmente o rádio) e por outros mecanismos associados ao apelo

de mercado. Essas são algumas das respostas obtidas na pesquisa de campo. Com exceção da

análise entre religião e mercado, faz-se uma breve exposição dos resultados obtidos.

4.1 A deterioração da avenida Rangel Pestana–Celso Garcia: reflexo de um bairro

abandonado

No final do século XIX e início do século XX, o bairro do Brás ficou conhecido

como porta de entrada para a imigração europeia. Milhares de europeus, principalmente

italianos, desembarcaram em Santos, e de lá foram para São Paulo, chegando por trens ao

Brás. Nesse período, a capital paulista experimentou uma rápida modernização urbana, em

virtude da economia cafeeira e da expansão industrial. A urbanização e a constituição de

instituições ligadas à industrialização ocorrem em paralelo às novas formas de experiências

sociais e culturais vinculadas a imigrantes e a trabalhadores. Surgem nesse cenário, no bairro

do Brás, as igrejas dos imigrantes italianos, as cantinas, os times de várzea e os grandes

teatros. (PEREIRA, 2002, pp 3-5)

As primeiras gerações de imigrantes europeus, dentro desse processo de urbanização

e de industrialização, fizeram do Brás um bairro de prestígio, marcado pela presença de

grandes cinemas, de teatros e de lojas de luxo. Já a segunda geração descendente dos

imigrantes, como registra Martin (1984, pp.165-177), torna-se o marco inicial da deterioração

do bairro, geração esta marcadamente composta de pequenos e médios comerciantes, os quais

ascenderam socialmente, e, de forma espontânea, foram deixando o bairro como residência

oficial e mudando-se para bairros vizinhos, o que contribuiu para o processo de

esvaziamento, de estagnação populacional e de subdivisão de antigos casarões em

Page 92: Joao Enicelio da Silva.pdf

90

submoradias de abrigos para migrantes nordestinos, especialmente de 1945 a 1964, período

em que o contingente populacional do Brás é marcado por migrantes nordestinos, em função

de uma corrente migratória que, tendo começado em meados de 1940, foi se intensificando

até 1970.

Para além do processo voluntário de deterioração, Martin aponta para outro período

histórico que ele chama de “deterioração planejada”, o qual ocorre por indução do Estado.

São exemplos dessas induções estatais: a construção de viadutos, a separação dos bairros do

Brás e da Mooca, a construção da avenida Radial Leste, as mudanças no aspecto urbano (por

exemplo, perda de arborização no Parque D. Pedro II), a ausência de serviços de revitalização

por parte dos órgãos municipais, a subdivisão da Prefeitura entre Sé e Mooca, a lei de

zoneamento que dava amplas permissões para mudanças urbanas, a construção do viaduto

Alberto Marino, em 1968, e das obras do metrô, a partir desse período. Todos esses fatores

foram responsáveis, num primeiro momento, pelo esvaziamento do bairro, e, num segundo

momento, pelas ações de desapropriação.

Tanto a deterioração espontânea como a planejada passam a ser notadas pelos agentes

da religião, a partir do início de 1980 até 1990, período em que as indústrias de maior porte

mudam-se para as proximidades das grandes rodovias, em especial para a região do ABC

paulista.

Pereira (2002, p.6) caracteriza esse período como de “desconcentração” e de

“modernização industrial”. Notáveis pelo abandono das velhas fábricas são o aumento de

cortiços e a diversificação das funções dos prédios de cinemas e teatros para sedes de fábricas,

e dos prédios de grandes lojas para estacionamentos. Dentro dessa dinâmica, no ano de 1992,

em meio ao processo de esvaziamento do bairro por parte das indústrias, a Igreja Católica das

Santas Missões, no Largo da Concórdia, e a Igreja Universal do Reino de Deus, no prédio

do antigo Cine Roxy, foram as primeiras denominações a se estabelecerem no corredor da

avenida Rangel-Celso Garcia. Segundo pesquisa de campo, tais fatos mostram que a chegada

dessas denominações atraiu outras denominações, as quais se instalaram em antigos galpões

de fábrica, alugando-os, num primeiro momento, e, posteriormente, adquirindo-os por

valores oportunos, como relataram alguns dos entrevistados (opinião que diverge entre as

lideranças que não admitem ter havido especulação imobiliária; a escolha pelo local, de

acordo com alguns líderes, foi feita em virtude da centralidade do bairro).

Page 93: Joao Enicelio da Silva.pdf

91

4.2 A centralidade do bairro

No início do século XX, o bairro do Brás foi projetado como espaço operário /

industrial e, posteriormente, comercial, resultado da chegada da estrada de ferro, com sua

estação central no bairro. Ao mesmo tempo em que a ferrovia separava o bairro da cidade,

ligava São Paulo ao litoral, e até mesmo a outras cidades de outros estados da Federação,

possibilitando o acesso de migrantes nacionais e estrangeiros e fazendo do bairro uma porta

de entrada e saída tanto de pessoas como de mercadorias, atribuindo-se certa centralidade ao

seu caráter espacial.

O Brás é exatamente esse elemento de transitoriedade. O Brás tem, desde a

sua origem, uma vocação centrípeta. Ele é um vetor de irradiação, é um

vetor de espiralamento das populações e das mercadorias que a partir do

bairro se dirigem a todas as demais direções da cidade. No sentido em que,

desde a sua origem, ele já nasce como um nexo viário e hoje temos lá uma

base, uma estação de distribuição rodoviária no Largo da Concórdia, que

abrange praticamente todos os pontos cardeais da cidade. O Brás é também

um dos pontos do Metrô da cidade e é o principal entroncamento urbano e

interurbano ferroviário da cidade através da sua estação. Portanto, ele tem

essa tendência de jogar sua população para todas as direções e com isso criar

uma espécie de situação de nexo e de coligação entre as partes.40

O bairro do Brás possui conexões com diversos bairros paulistanos através de suas

vias expressas, especialmente as avenidas Rangel Pestana-Celso Garcia, que possuem

diversas linhas de ônibus, de trens e de metrô, as quais alcançam diversos bairros da

periferia leste, norte e sul da cidade e até outros municípios da região metropolitana. Essas

conexões na literatura urbana são compreendidas como radiocêntricas, pois conduzem e

atraem grande fluxo de pessoas, gerando intenso dinamismo econômico e fazendo das áreas

centrais uma referência urbana.

Na perspectiva de Frúgoli Jr (2000, p. 33), a cidade não deve ser vista como detentora

de apenas uma centralidade, mas permeada por diversos centros, que competem a partir do

dinamismo econômico, das empresas, das políticas públicas e dos grupos sociais. É notável

que a centralidade do Brás não seja a única no município, mas as denominações religiosas

deram a esse bairro esse caráter.

40 SEVCENKO, Nicolau. Brasmite: Periferia no Centro. 1999. Disponível em:

<http://www.pucsp.br/artecidade/site97_99/brasmitte/brasmitte02/sevcenko.html>. Acesso em: 20

nov. 2014.

Page 94: Joao Enicelio da Silva.pdf

92

As entrevistas de campo revelaram que, para os líderes das denominações religiosas

do “corredor da fé”, o bairro do Brás é uma das principais centralidades para estabelecimento

dos seus templos, competindo com outras regiões para as quais eles já expandiram ou

pretendem expandir filiais; dentre os bairros de sua preferência, estão Santo Amaro (zona sul),

São Miguel Paulista (zona leste), Cachoerinha (zona norte), Lapa (zona oeste) e cidades da

região metropolitana como Guarulhos, Osasco, Moji das Cruzes e Santo André.

Um dos primeiros grupos religiosos a valer-se da centralidade do bairro foi a Igreja

Universal do Reino de Deus, na avenida Celso Garcia, e a Igreja das Santas Missões, na

avenida Rangel Pestana. Depois desses, outros grupos passaram a observar o Brás como

possível local de referência para suas instalações.

4.3 A expansão e concentração da mancha religiosa no corredor da fé

A paisagem da avenida Rangel Pestana e Celso Garcia nos revela a presença de várias

manchas comerciais. No primeiro trecho da avenida, encontramos estabelecimentos

comerciais de borracha e espuma; após o Largo da Concórdia, e na continuação da avenida

adentrando para a Celso Garcia, encontramos lojas de vestuário e estabelecimentos bancários,

além de salão de beleza, ótica, padarias e restaurantes. Esse cenário segue até o Templo de

Salomão.

A partir desse ponto até o número 1550, próximo à avenida Celso Garcia,

encontramos duas manchas principais, sendo a primeira de artigos para cozinha residencial

e industrial, e a segunda, em torno da pequenas fábricas e lojas, de carrinhos para hot dog,

para churrasco e para outros tipos de alimentação. Outra mancha, perceptível em período

noturno, quando as lojas comerciais estão fechadas, é a das Night Clubs, que funcionam, em

sua maioria, na parte superior dos imóveis, principalmente no trecho que compreende o Largo

da Concórdia até o Templo de Salomão.

Neste trabalho não se mapearam todas as manchas existentes no corredor da avenida

Rangel Pestana-Celso Garcia, apenas mencionam-se as principais; dentre elas, encontra-se a

mancha de denominações religiosas, sobretudo de igrejas pentecostais.

Ao entrevistar alguns comerciantes mais antigos do bairro, notou-se que a expansão e

a concentração de várias denominações religiosas, especialmente no corredor da fé, teve

Page 95: Joao Enicelio da Silva.pdf

93

início com a implantação da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), ainda no começo de

1990.

Gostaria de reproduzir uma das frases que durante a pesquisa de campo que chamou

minha atenção para aquele que seria um dos movimentos religiosos mais expressivos não só

das avenidas Rangel Pestana - Celso Garcia, como de todo solo pátrio: “primeiro veio a

universal e depois as outras igrejas” (Anexo A).

O que ocorreu no passado e ocorre no presente tem uma explicação plausível na teoria

de Magnani (2012, p.94): a mancha constitui-se em torno de um estabelecimento que

funciona como âncora. Nesse caso, a Igreja Universal, instalada no edifício do antigo Cine

Roxy, na avenida Celso Garcia, 499, abriu espaço para o surgimento de vários equipamentos

como bares, restaurantes e livrarias.

No presente, o fenômeno se repete, com a implantação do Templo de Salomão.

Observou-se em torno de sua construção uma estrutura de lojas de produtos evangélicos,

especialmente com produtos do Templo, onde há uma competição, a saber, quem

comercializa os produtos oficiais do Templo. Além disso, bares e restaurantes também

competem na perspectiva de serem os estabelecimentos oficiais vinculados ao Templo. No

entorno também se encontram lojas de vestimentas e de outros segmentos que atendem aos

fiéis dessa denominação.

Se as outras denominações foram atraídas para a região pelo baixo custo dos imóveis,

pela centralidade do bairro, ou pela mancha dotada de equipamentos urbanos, formada

inicialmente pela IURD, nota-se que cada uma das diversas denominações instaladas no

corredor da fé, apesar de todas propagarem o Evangelho de Jesus Cristo como prática

predominante, possui uma especificidade (guerra espiritual, cura divina, restauração de

família, prosperidade financeira, e outros), oferecendo, assim, uma diversificação religiosa;

porém, percebe-se que essas denominações mais competem do que se complementam, o que

caracteriza a mancha, como observou (MAGNANI, 2012, p.94)

4.4 A espacialidade justificada pelo retorno ao Israel Mítico41

41 Categoria desenvolvida e trabalhada pela Professora. Edlaine de Campos Gomes da Universidade

Federal do Estado do Rio de Janeiro

Page 96: Joao Enicelio da Silva.pdf

94

“Estar no Brás é ser honrado”; “Essa igreja é promessa de Deus”. “Deus nos revelou esse

lugar”

Os relatos de campo, as entrevistas com líderes das denominações, a participação nas

reuniões e a análise de material radiofônico e televisivo permitiram identificar algumas

“categorias nativas”, como “honra”, “conquista”, “promessa”, “mão de Deus e revelação”, as

quais, de certo modo, fazem parte de um arcabouço ainda maior de tantas outras categorias

derivadas de várias interpretações bíblicas do Velho Testamento, feitas por líderes religiosos

e por membros de diversas denominações evangélicas, especialmente por grupos originados

do Neopentecostalismo.

Ao conjunto de categorias nativas do Neopentecostalismo, especialmente da Igreja

Universal do Reino de Deus, Gomes (2009, p.111) nomeou de “circuito da conquista”. Na

concepção do autor, é através desse conjunto de categorias que se torna possível compreender

a maneira como esses grupos constroem sua identidade e como dão sentido às suas crenças

e às suas práticas. As categorias e suas interpretações veterotestamentárias remetem ao que

Gomes nomeia de “retorno ao Israel mítico”.

A história dos israelitas emerge de povos que migraram do deserto da Síria e da

Arábia rumo ao Crescente Fértil – território que abrange o Golfo Pérsico até a Síria e a

Palestina –, num período em que ocorreram diversas correntes migratórias, dentre elas:

acádio-egípcia, por volta de 3000 a.C.; amonita, 2500 -2300 a.C.; cananeia, 2100-1700 a.C 4);

e aramaica, 1400-900 a.. Nesta última, os israelitas se uniram com os amonitas, os moabitas e

os edomitas, formando os povos arameus. Percebe-se que, nesse começo da história, não há

unificação de tribos etnicamente homogêneas, mas famílias, grupos e tribos de origens

diferentes; são povos seminômades, criadores de rebanhos, marcados por formas de

sociabilidade e de religiosidade peculiaridades. (FOHRER, 1982, pp. 24-25).

Dentre os substratos religiosos do povo arameu, mantido na passagem do nomadismo

para o sedentarismo, encontram-se: a) a circuncisão; b) a proibição ou o “tabu”; e c) a noção

e as práticas de magia, que incluem o uso mágico do vestuário ou de um bordão, a crença no

mau-olhado, o poder mágico da mão, a palavra de efeito, como “bênção” ou “maldição”,

preanunciada por um líder que poderia ser o mágico, o vidente, o poeta ou o sacerdote (Js

10,12 ; Jz 5,12). (FOHRER, 1982, p. 32)

É razoável supor que o conceito de profetismo em 1 e 2 Reis, com sua

crença no poder quase mágico dos “homens de Deus” e líderes profetas, seja

um resquício daquela cultura primitiva em que as várias funções ainda

estavam combinadas numa única pessoa. O elemento mágico do período

Page 97: Joao Enicelio da Silva.pdf

95

antigo continua na noção do poder efetivo das palavras e atos proféticos.

Essa noção pervade toda profecia israelita, onde ela se baseia na vontade e

poder de Iaweh. (FOHRER, 1982, p. 33)

Compreende-se que o fundamento religioso do povo israelita, em especial o elemento

mágico, favorece a elaboração de categorias nativas que permeiam algumas das

denominações que compõem “o corredor da fé”; seus líderes, autointitulados “profetas de

Deus”, recebem revelações, proferem palavras proféticas, são “honrados”, “abençoados”,

agraciados com a promessa de Deus, ou seja, são detentores e distribuidores de poder

mágico, o que ocorre em paridade com alguns “homens de Deus” mencionados no Velho

Testamento, como Elias, Elizeu, Daniel, Moisés e Josué.

Na concepção dos líderes denominacionais, o espaço de estabelecimento de seus

templos no “corredor da fé”, para além da especulação de mercado imobiliário e da

centralidade do bairro com suas conexões radioconcêntricas, não passa de conquista,

revelação, promessa ou honra de Deus.

Cabe neste momento um breve entendimento dessas categorias nativas interpretadas a

partir da visão de integrantes desses grupos religiosos.

A noção de “conquista” remete ao relato do segundo livro da bíblia, o Êxodo, no

qual o pano de fundo é a poderosa libertação realizada pelo Deus de Israel, que afasta o povo

da escravidão do Egito, e o conduz para a Terra Prometida.

A saída desse povo é liderada pelo profeta Moisés, e, posteriormente, na chegada e na

conquista das terras de Canaã, por Josué. A interpretação da “conquista” baseia-se na

promessa feita a Moisés e no recebimento dessa promessa por Josué, conforme relatos

bíblicos dos livros de Deuteronômio e Josué: Dt 11:2424 “

Todo lugar que pisar a planta do

vosso pé, desde o deserto, desde o Líbano, desde o rio, o rio Eufrates, até ao mar ocidental,

será vosso.”42; Js. 1.3 3 “Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado, como

eu prometi a Moisés”.43

Na interpretação literal desse e de outros versículos, o prédio no qual está

estabelecido espacialmente o templo, a qualquer momento, pode tornar-se propriedade da

42

SAGRADA, BÍBLIA. Almeida Revista E Atualizada. Brasília: Sociedade bíblica no Brasil, 1993; 2005, S.

Dt 11:24.

43SAGRADA, BÍBLIA. Almeida Revista E Atualizada. Brasília: Sociedade bíblica no Brasil, 1993; 2005, S.,

S. Js 1:3.

Page 98: Joao Enicelio da Silva.pdf

96

denominação, e, quando isso não acontece, justifica-se que o fato não ocorreu por não ter

sido “promessa” de Deus.

A noção de “promessa” como categoria nativa, entre as denominações do “corredor da

fé”, difere em conceito desse vocábulo no Catolicismo, em que o termo, por sua vez, está

ligado a outro, o “voto”: quando pessoas em situações de dificuldade prometem fazer ou

omitir algo caso seja atendida a sua solicitação por uma divindade. “Promessa”, para as

denominações do “corredor da fé”, por sua vez, tem ligação com a “revelação”: o profeta, ou

qualquer outro membro de uma denominação, recebe uma visão, uma profecia ou um sonho

diretamente de Deus, e, nessa experiência, contempla-se o aviso referente ao recebimento de

algo (“bênção”), que pode ser a cura de uma enfermidade, o casamento, a casa, o carro, o

emprego, a empresa, em suma, um bem material ou espiritual. O anúncio da bênção proferido

pelo profeta consiste na “Promessa de Deus” para o ser humano. Observa-se que, no

Catolicismo, “promessa” é o que o homem promete a Deus. Já nas denominações

neopentecostais, a mesma palavra se refere ao que Deus prenunciou ao homem, e a obtenção

do resultado dessa promessa pode estar ligada ou não à execução obrigatória de uma

determinada tarefa por parte do fiel.

A categoria “ser honrado” deriva da palavra “honra”, para a qual o dicionário da

Bíblia de Almeida aponta quatro definições:

1) Respeito próprio que resulta em um bom nome e na estima pública (Pv

3.35; Rm 2.7). 2) Homenagem às qualidades de alguém (Et 6.3; Rm 13.7).

3) Salário (1Tm 5.17, RC). 4) “Preferir em honra” quer dizer alguém dar

preferência aos outros, estimando-os acima de si mesmo (Rm 12.10); “vaso

ou utensílio para honra” quer dizer “instrumento para propósitos elevados”

(2Tm 2.21). (KASCHEL, 2014).

A definição mais plausível da palavra “honra” no contexto evangélico, dentre as

quatro acima, é aquela que se refere aos líderes chamando para si suas qualidades e

projetando visibilidade frente a seu grupo e a outros grupos. O texto bíblico normalmente

interpretado é o do livro do Velho Testamento de Ester, cap. 6 e cap. 7: Et 6.3: “Então, disse

o rei: Que honras e distinções se deram a Mordecai por isso? Nada lhe foi conferido,

responderam os servos do rei que o serviam.44”.

44

SAGRADA, BÍBLIA. Almeida Revista E Atualizada. Brasília: Sociedade bíblica no Brasil, 1993; 2005, S.

Et 6:14

Page 99: Joao Enicelio da Silva.pdf

97

O relato bíblico dos capítulos 6 e 7 do livro de Ester fala de um homem, Mordecai,

que vivia na fortaleza de Susã, no período em que os judeus estavam exilados e eram

comandados pelo reinado de Assuero (Xerxes), Imperador da Pérsia (493 a.C.). Mordecai

destacou-se por denunciar um complô preparado para assassinar o rei, porém negou-se a

inclinar-se perante Hamã, o mais alto oficial do reinado, o qual ficou furioso e desenvolveu

estratégias para acabar com o povo judeu. Ajudado pela rainha Ester, Mordecai denunciou

Hamã, que foi morto. Mordecai recebe o cargo mais alto no serviço do rei. Esse fato é tido

como resultado da fidelidade para com o seu povo e com o seu Deus (GARDNER, 1995,

p.467). O relato de Mordecai não é o único que traz a noção de “ser honrado”. Outros

personagens bíblicos demonstram o sentido da categoria que gira em torno de “ser

desprezado pelos homens e honrado por Deus”.

Ter uma denominação religiosa estabelecida espacialmente no bairro do Brás,

especificamente no “corredor da fé”, é resultado da fidelidade ao grupo de pertencimento e a

um Deus que jamais desampara seus fiéis e os coloca em prestígio em relação aos outros.

As categorias nativas apresentadas não se baseiam apenas em relato único, mas em

vários relatos, que lhe dão um sentido do todo. Esses, por sua vez, são versículos bíblicos que

são lidos e interpretados literalmente sem que se recorra ao seu contexto, às regras de

hermenêutica e às regras de exegese. Se o templo local onde se vivem as experiências da fé é

resultado da “conquista” da honra por parte de Deus, nesse sentido os programas de rádio e

de TV não diferem: a denominação somente alcançou as frequências do rádio e os canais de

TV por revelação ou por “promessa de Deus”.

4.5 O rádio como meio de propagação das mensagens e chamado ao local do milagre e

ao local de poder forte

“Vem pra cá São Paulo, vem pra cá Brasil, o milagre tá aqui no Brás, na Av. Celso Garcia,

899”. 45

45

Slogan sempre proferido pelo pastor Agenor Duque no programa de rádio veiculado todos os dias à

noite na Emissora - FM 105,7, das 22h00 às 00h00.

Page 100: Joao Enicelio da Silva.pdf

98

A transmissão de programas evangélicos através do rádio iniciou-se ainda na década

de 1940, com os protestantes históricos (presbiterianos), mas somente a partir de 1950 os

pequenos grupos evangélicos tiveram abertura nas emissoras. Nesse período, surgiu a

primeira igreja genuinamente pentecostal, O Brasil para Cristo, do missionário Manoel de

Melo. Com ela, criou-se o programa de rádio conhecido entre os evangélicos como A Voz do

Brasil para Cristo, o qual iniciava uma nova era do rádio para os pentecostais. Nessa época,

também, surgem os centros produtores de programas, por exemplo, o CAVE (Centro

Audiovisual Evangélico). A ênfase do Pentecostalismo nesse período era o apelo à cura

divina; nesse sentido, o rádio tornou-se um forte aliado na propagação do evangelho, pois

ecoavam em suas ondas sonoras as mensagens e as fortes chamadas para que os ouvintes se

dirigissem aos locais de culto, onde “residia o milagre” (Campos, p. 69-70)

Se, com o advento tecnológico, o rádio, para uma parcela da população, deixou de ser

meio eficaz de comunicação, para outra, especialmente a população das periferias

metropolitanas, o rádio tornou-se veículo poderoso, principalmente em conjunto com o

telefone. Nessa perspectiva, Carranza (2011, p.191) afirma que pastores e padres são

mediadores de sentido ao ordenarem e ressignificarem as intervenções dos radio-ouvintes,

transformando o rádio em radioatendimento.

No “corredor da fé” não é diferente: os líderes passaram a fazer uso do rádio, tanto

AM como FM, e recentemente, das Web Rádios, em seus sites institucionais, seus portais de

rádios gospel, e em aplicativos para celulares Android e Ios. Ressalte-se que o celular é um

dos melhores meios de comunicação para propagação de mensagens, e por meio dele são

feitos atendimentos, além de fortes apelos convocando para o comparecimento ao endereço

físico da denominação.

O Quadro (05) a seguir apresenta as denominações do “corredor da fé” e as principais

emissoras nas quais elas veiculam seus programas radiofônicos. O quadro não contempla

todas as emissoras de rádio das quais as igrejas têm programação, visto que há uma constante

mudança de emissoras / igrejas. O quadro não apresenta também as denominações Catedral da

Bênção e Igreja Católica Paróquia São João Batista do Brás, presentes no “corredor da fé”,

pois, no momento desta pesquisa, elas não veicularam programação por meio do rádio.

Quadro 05 – Denominações Religiosas x Emissoras de Rádio

Denominações Frequência de Rádio

Page 101: Joao Enicelio da Silva.pdf

99

Paróquia Bom Jesus do Brás Rádio 09 de Julho – AM 1600khz

Comunidade Essência de Deus Rádio AM (São Paulo) 1150 AM

Catedral Carismática das Nações Rádios FM 102,7 - FM 90,3

Igreja Internacional do Poder da Fé Rádios FM 101,3 - FM 97,3

Santuário Espiritualista de São Paulo Rádio Capital – AM 1040 kHz

Igreja Jesus Fonte de Vida Rádio FM 101.3.

Comunidade Cristã Amor e Graça Rádio FM 88,7 - FM 103,5

Igreja Universal do Reino de Deus Rádio FM 99.3

Igreja Ev. Assembleia de Deus – M. do Brás Rádio FM 105,7.

Templo de Salomão (IURD) Rádio FM 99.3

Ministério Mudança de Vida Rádio FM 90,5 - 101,3 - 102,5

Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus Rádio FM 97,3 - FM 105,7

Igreja Missão dos Sinais de Deus Rádios FM 99,5 - FM 103,1

Fonte: Dados elaborados a partir de informações contidas nos sites das denominações – crédito do

autor, manual das frequências.

Para além do rádio, a televisão tornou-se também meio de propagação das mensagens

e do chamado ao local do milagre. Em detrimento do rádio, a programação da TV tem um

custo bem elevado, criando, assim, um marcador de diferença. Aparecem na TV as grandes

denominações, enquanto as pequenas mantêm-se no rádio, e improvisam a transmissão de

imagens através das chamadas Web TVs, com links exclusivos em suas páginas da internet.

Um detalhe tanto na programação radiofônica como na televisiva emerge do

discurso: trata-se de um forte apelo para que os fiéis compareçam aos locais de culto e a

eventos, com a justificativa de que lá se tem o “poder de Deus”. Esse discurso corrobora uma

prática de deslocamento que, na concepção de Gomes (2008, p. 69), trata da busca de:

“Um lugar de poder mais forte”. Em grande parte das vezes, o percurso não

é solitário e tampouco anônimo. Organizam-se em grupos e caravanas em

suas respectivas congregações locais, e partem juntos. Outras vezes,

formam-se grupos de parentes, amigos ou conhecidos. Um levando o outro,

com o propósito de, individual e coletivamente, terem uma experiência com

Page 102: Joao Enicelio da Silva.pdf

100

o sagrado. O peregrino solitário também tem seu lugar. Ele parte de um

ponto preestabelecido em direção ao “lugar de poder mais forte”.

O “lugar de poder forte” é uma das justificativas dos líderes denominacionais, e

significa que somente no espaço onde está instalada a denominação, ou onde está o “homem

de Deus”, é que está o poder divino. Campos (1997, p. 123) menciona que: “o templo é o

espaço geográfico, onde o céu parece ter-se encontrado com a terra e com tal está carregado

de sinais estimuladores de experiências com o sagrado”.

Essas e outras justificativas apresentadas demonstram que a espacialidade das

denominações, sobretudo pentecostais, no corredor da fé, não se restringe apenas a uma única

análise, mas nota-se que vários fatores, ao longo dos últimos anos, contribuíram para a

formação da mancha religiosa nas avenidas Rangel Pestana – Celso Garcia e no bairro do

Brás.

Page 103: Joao Enicelio da Silva.pdf

101

5. Considerações finais

Nesta pesquisa pretendi descrever e esquadrinhar a dinâmica da “mancha” de templos

religiosos, sobretudo pentecostais, nas principais avenidas que ligam o centro da cidade à

zona leste da capital paulista, tendo como inspiração teórica as categorias analíticas

desenvolvidas no escopo da antropologia urbana. No que diz respeito às contribuições

analíticas no campo das ciências das religiões, meu objetivo consistiu em mapear a presença

religiosa e, de forma mais específica, a presença evangélica pentecostal nas avenidas Rangel-

Pestana e Celso Garcia, especialmente no perímetro do bairro do Brás.

A análise me permitiu considerar que a presença de tantas igrejas evangélicas

pentecostais na avenida Celso Garcia seja em sua dimensão geográfica – que diz respeito à

junção de importantes equipamentos urbanos num mesmo território, com destaque para o

corredor de ligação centro-leste, contemplado por diversas linhas de ônibus que ligam a zona

leste de São Paulo ao centro e a outros bairros, além de a avenida também possuir acesso

facilitado pela malha ferroviária e metroviária – como eixo formador de redes de

sociabilidade, que permite o encontro de pessoas num espaço social definido ao mesmo tempo

em que incentiva o trajeto para outras regiões da cidade.

Diante do que foi desenhado aqui é possível afirmar eu o fenômeno apresentado neste

trabalho reúne e compreende as lógicas de funcionamento e as relações de troca e

sociabilidade que permeiam esse “corredor” de visibilidade da fé, constituindo um circuito de

crença na cidade de São Paulo.

Page 104: Joao Enicelio da Silva.pdf

102

6. Referências Bibliográficas

ABUMANSSUR, Edin Sued. As Moradas de Deus: Arquitetura de Igrejas Protestantes e

Pentecostais. São Paulo: Fonte Editorial, 2004.

AGIER, Michel. Antropologia da Cidade: lugares, situações, movimentos. São Paulo:

Terceiro Nome, 213.

AGNOLIN, Adone. História das Religiões: Perspectiva histórico-comparativa. São Paulo:

Paulinas, 2013.

ALENCAR, Gedeon. Assembleia de Deus: Origem, Implantação e Militância (1991-1946).

São Paulo: Arte Editorial, 2010.

ALENCAR, Gedeon. Protestantismo Tupiniquim: Hipóteses sobre a não Contribuição

Evangélica à Cultura Brasileira. São Paulo: Arte Editorial, 2007.

ALESSANDRINI, Ana Fani; OLIVEIRA, Carlos Ariovaldo Umbelino. Geografias de São

Paulo. São Paulo: Contexto, 2004.

ALMEIDA, Ronaldo de. A Igreja Universal e seus Demônios: Um Estudo Etnográfico. São

Paulo: Terceiro Nome, 2009.

ALMEIDA, Ronaldo de. Os Pentecostais Serão Maioria no Brasil? Revista de Estudos da

Religião, São Paulo, n. 4, p.48-58, 01 dez. 2008.

ALMEIDA, Ronaldo de. Religião e desigualdade urbana. I Interseções, Rio de Janeiro, n. 13,

p.126-135, 01 jun. 2011.

ALMEIDA, Ronaldo de. Religião na Metrópole Paulista. Revista Brasileira de Ciências

Sociais. São Paulo, n. 56, p.15-27, 01 out. 2004.

ALMEIDA, Ronaldo de; MONTERO, Paula. TRÂNSITO RELIGIOSO NO BRASIL. São

Paulo em Perspectiva. São Paulo, n. 15, p.92-101, 02 jan. 2001.

ALMEIDA, Ronaldo. A expansão pentecostal: circulação e flexibilidade. In: TEIXEIRA,

Faustino; MENEZES, Renata (Org.). As religiões no Brasil. Petrópolis: Petrópolis, 2006

ALVES, José Eustáquio Diniz; CAVENAGHI, Suzana; BARROS, Luiz Felipe Walter.

Estradas da fé: os caminhos da difusão das filiações evangélicas no Rio de Janeiro. In: XIX

ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, 1., 2014, São Pedro-

SP. Estradas da fé. São Pedro/SP: Abep, 2014.

AMENDOLA, Gilberto. Celso Garcia, a avenida da fé. Jornal da Tarde. São Paulo, 29 set.

2006.

AMORIM, Sérgio Gonçalves de. Religião e Espaço no Brasil Moderno: Contribuições

Teóricas e Percepções Empíricas. Ciências da Religião - História e Sociedade, São Paulo, v.

11, n. 1, p.54-64, 2013. Semestral.

Page 105: Joao Enicelio da Silva.pdf

103

AZZI, Riolando. Entre o Trono e O altar: a Igreja Católica em São Paulo como poder

espiritual. In: VILHENA, Maria Ângela; PASSOS, João Décio (Org.). A igreja de São

Paulo: Presença Católica na história da cidade. São Paulo: Paulinas, 2005.

A‟BSABER, Aziz Nacib. São Paulo: ensaios entreveros. São Paulo: Edusp, 2004.

BAPTISTA, Paulo Augustinho Nogueira; PASSOS, Mauro; SILVA, Wellington Teodoro

da. O Sagrado e o Urbano: Diversidades, Manifestações e Análise. São Paulo: Paulinas,

2008.

BASSACCHI, Mário. São Vito Mártir: História e novena. São Paulo: Paulinas, 2004.

BATTAGLIA, Vital. Conheça seu bairro Brás. Jornal da Tarde. São Paulo, p. 10-12. 07 dez.

1981.

BÊNÇÃO, Catedral da. História. 2014. Disponível em: <http://cb.org.br/inicio/historia/>.

Acesso em: 22 nov. 2014.

BERGER, Peter L.. O Dossel Sagrado: Elementos para uma teoria sociológica da Religião.

São Paulo: Paulus, 2011.

BERGER, Peter L.; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade. Petrópolis:

Vozes, 2012.

BERGER, Peter L.; LUCKMANN, Thomas. Modernidade, Pluralismo e Crise de

Sentido: A orientação do Homem Moderno. Petrópolis: Vozes, 2004.

BIANCO, Gloecir. Italianos Pentecostais. Curitiba: Protexto, 2008.

BITUN, Ricardo. Mochileiros da Fé. São Paulo: Reflexão, 2011.

BLEDSOE, David Allen. Movimento Neopentecostal Brasileiro: um estudo de caso. São

Paulo: Hagnos, 2012.

BONINO, José Miguez. Rostos do Protestantismo Latino Americano. São Leopoldo:

Sinodal, 2003.

BOURDIEU, Pierre. A Economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2011.

BOURDIEU, Pierre. A miséria do mundo. Petrópolis: Vozes, 2008.

BOURDIEU, Pierre. Os Usos Sociais da Ciência: Por uma sociologia clínica do campo

científico. São Paulo: Unesp, 2003.

BRÁS, Ad. História Institucional e Liderança: Quem Somos. 2014. Disponível em:

<http://lojaadbras.com.br/AdB/about-hot-explorer/template/quem-somos>. Acesso em: 30

out. 2014.

BRÁS, Jornal do. BRÁS, GIGANTE DE 195 ANOS. Jornal do Brás. São Paulo, 30 maio

2013.

Page 106: Joao Enicelio da Silva.pdf

104

BRÁS, Paróquia São João Batista do. Paróquia 105 anos: uma história riquíssima. 2014.

Disponível em: <http://www.saojoaobatistadobras.org/?page_id=898>. Acesso em: 02 set.

2014.

BRASIL, Islam. Mesquita do Pari. 2014. Disponível em:

<http://islamismobr.blogspot.com.br/2013/12/a-mesquita-do-pari.html>. Acesso em: 20 set.

2014.

BRUNELLI, Walter. Casa da Bênção: A construção de uma Identidade Interpentecostal.

2011. 140 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciências da Religião, Centro de Educação,

Filosofia e Teologia Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião, Universidade

Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2011.

CAMARGO, Ana Maria de Almeida. São Paulo metrópole em Mosaico. São Paulo: Ciee,

2010.

CAMPOS, Bernardo. Da Reforma Protestante à Pentecostalidade da Igreja: Debate sobre

o Pentecostalismo na América Latina. São Leopoldo: Sinodal, 2002.

CAMPOS, Leonildo Silveira et al. As Origens Norte-Americanas do Pentecostalismo

Brasileiro: Observações sobre uma relação ainda pouco avaliada. In: PEREIRA, João Baptista

Borges (Org.). Religiosidade no Brasil. São Paulo: Edusp, 2012. p. 143-165.

CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, Templo e Mercado: Organização e Marketing de um

Empreendimento Neopentecostal. São Bernardo do Campo / SP: Vozes, 1997.

CAMURÇA, Marcelo. Ciências Sociais e Ciências da Religião: Polêmicas e interlocuções.

São Paulo: Paulinas, 2008.

CARMO FILHO, Manoel do. A mentira sobre a verdade, a verdade sobre a mentira: a

incredulidade da teologia liberal e o misticismo no neopentecostalismo à luz da suficiência da

Escritura Sagrada. João Pessoa: Betel Publicações, 2011. 159 p.

CARVALHO, Apóstolo Adelino de. Reino dos Céus. 2014. Disponível em:

<www.igrejareinodosceus.com.br>. Acesso em: 20 out. 2014.

COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Neopentecostalismo: Uma avaliação Pastoral. Campinas:

Independente, 2008.

CONTINS, Marcia; GOMES, Edlaine de Campos. Edificações religiosas e autenticidade:

Comparando a IURD e os carismáticos católicos. Revista Antropológicas, Recife, n. 19,

p.169-199, jun. 2008.

CONTINS, Marcia; GOMES, Edlaine de Campos. Os Percursos da Fé: uma análise

comparativa sobre as apropriações religiosas do espaço urbano entre carismáticos e

neopentecostais. Ponto Urbe [online], São Paulo, n. 1, p.1-15, jan. 2007.

CORREA, Vanessa. Igrejas Vizinhas temem trânsito após abertura do Templo de

Salomão. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2014/06/1470202-igrejas-

vizinhas-temem-transito-apos-abertura-do-t>. Acesso em: 15 jun. 2014.

Page 107: Joao Enicelio da Silva.pdf

105

COSTA, Emerson. O trânsito Religioso e a Recomposição das Formas Religiosas. João

Pessoa: UFPB, 2012. 145 p.

CUNHA, Magali do Nascimento. A explosão Gospel: Um olhar das Ciências Humanas sobre

o cenário evangélico no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 2007.

DEUS, Comunidade Missão dos Sinais de. Quem Somos. 2014. Disponível em:

<http://www.sinaisdedeus.com.br>. Acesso em: 26 nov. 2014.

DEUS, Igreja Apostólica Plenitude do Trono de. Igreja. 2014. Disponível em:

<http://www.iaptd.com.br/>. Acesso em: 20 nov. 2014.

DIAFERIA, Lourenço. Brás. São Paulo: Boitempo, 2002.

DURAND, Jean Paul. Instituições Religiosas. São Paulo: Paulinas, 2003.

DURKHEIM, Émile. As formas elementares de vida religiosa. 3. ed. São Paulo: Paulus,

2008. 535 p.

DURKHEIM, Emile. As regras do método sociológico. São Paulo: Companhia Editora

Nacional, 2002.

ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano: A essência das Religiões. São Paulo: Martins

Fontes, 2010.

FACEBOOK. Igreja Apostólica Essência de Deus. 2014. Disponível em:

<https://www.facebook.com/comunidadeessenciadedeus/info>. Acesso em: 02 jun. 2014.

FACEBOOK. Igreja Jesus Fonte de Vida. Disponível em:

<https://www.facebook.com/igjesusfontedevida>. Acesso em: 25 out. 2014.

FÉ, Igreja Internacional do Poder da. A fé é a Vitória que vence o mundo. 2014. Disponível

em: <http://www.internacionaldopoderdafe.com.br>. Acesso em: 05 out. 2014.

FERREIRA, Amauri Carlos; GROSSI, Yonne. Dos lugares: cidade e imaginário

religioso. Horizonte, Belo Horizonte, n. 3, p.47-58, jan. 2005.

FERREIRA, Valdinei. Protestantismo e Modernidade no Brasil: da Utopia à Nostalgia.

São Paulo: Reflexão, 2010.

FILORAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo. As Ciências das Religiões. São Paulo: Paulus,

1999.

FOHRER, George. História da Religião de Israel. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1982.

FRESTON, Paul. Evangélicos na política Brasileira. Curitiba: Encontrão, 1994.

FRÚGOLI, Jr. Centralidade em São Paulo: trajetórias, conflitos e negociações na

metrópole.. São Paulo: Edusp, 2000.

Page 108: Joao Enicelio da Silva.pdf

106

F°, Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão (Org.). Reconhecendo o

Sagrado: Reflexões Teórico-Metodológicas dos Estudos de Religiões e Religiosidades. São

Paulo: Fonte Editorial, 2013.

F°, Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão. A Grande Onda vai te Pegar: Marketing,

Espetáculo e Ciberespaço na Bola de Neve Church. São Paulo: Fonte Editorial, 2013.

GARDNER, Paul (Ed.). Quem é quem na Bíblia Sagrada. São Paulo: Vida, 2008.

GIUMBELLI, Emerson. A vontade do Saber: Terminologias e classificações sobre o

protestantismo brasileiro. Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, v. 21, n. 1, p.87-119, jan.

2000.

GIUMBELLI, Emerson. A presença do Religioso no Espaço Público: MODALIDADES NO

BRASIL. Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, n. 28, p.80-101, jan. 2008.

GIUMBELLI, Emerson. Lojas de Artigos Evangélicos: uma pesquisa sobre consumo

religioso. Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis, n. 7, p.213-236, jan. 2005.

GIUMBELLI, Emerson. O Cristo Pichado Sacralidade e Transgressão de um Monumento

Urbano. Ponto Urbe [online], São Paulo, n. 12, p.1-12, dez. 2013.

GIUMBELLI, Emerson. Religiões no Brasil dos anos 1950: processos de modernização e

configurações da pluralidade. Plura: Revista de Estudos de Religião, São Paulo, n. 1, p.79-

96, dez. 2012.

GOMES, Edlaine de Campos. ONDE ESTÁ O PLURALISMO: manifestações da religião na

metrópole. Enfoques: revista eletrônica dos alunos do PPGSA/IFCS/UFRJ, Rio de

Janeiro, v. 7, n. 1, p.50-72, jan. 2008.

GOMES, Edlaine de Campos. Um “poder mais forte”: reflexões sobre “grandes eventos”

neopentecostais e cidade. Os Urbanitas: Revista de Antropologia Urbana, Rio de Janeiro,

n. 8, p.1-22, dez. 2008.

GOMES, Edlaine. A era das Catedrais: a autenticidade em exibição. Rio de Janeiro:

Garamond, 2011.

GONZÁLEZ, Ondina E; GONZÁLEZ, Justo L. Cristianismo na América Latina. São

Paulo: Vida Nova, 2010.

GRAÇA, Comunidade Cristã Amor e. Quem Somos: Artigos e Materias. 2014. Disponível

em: <http://www.portalamoregraca.com.br/>. Acesso em: 27 out. 2014.

GRESCHAT, Hans Jurgen. O que é Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas, 2005.

GUERRIERO, Silas (Org.). O estudo das Religiões: Desafios Contemporâneos. 3. ed. São

Paulo: Paulinas, 2008.

Page 109: Joao Enicelio da Silva.pdf

107

GUTIÉRREZ, Benjamin F.; CAMPOS, Leonildo Silveira. Na Força do Espírito: Os

Pentecostais na América Latina: um desafio às igrejas históricas. São Paulo: Associação

Evangélica Literária Pendão Real, 1996.

HUXLEY, Thomas Henry. Escritos sobre ciência e religião. São Paulo: Unesp, 2008.

IBGE. Estados@. 2010. Disponível em:

<http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=sp&tema=censodemog2010_relig>.

Acesso em: 30 jan. 2014.

IDOETA, Paula Adamo; SENRA, Ricardo. Templo evangélico reforça caldeirão religioso

no leste de São Paulo. Disponível em:

<http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_fotos/2014/08/140801_bras_vale_religioes_pai.s

html#dna-comments>. Acesso em: 01 ago. 2014.

JESUS, Edson Penha de. Penha: de Bairro Rural a bairro paulistano um estudo do

processo de configuração do espaço penhense. 2006. 200 f. Dissertação (Mestrado) - Curso

de Geografia Humana, Programa de Pós Graduação em Geografia Humana - FFLCH,

Universidade de São Paulo - USP, São Paulo, 2006.

KANTOR, Iris. Festividades públicas em São Paulo colonial: memória e colonização na

segunda metade do século XVIII. In: VILHENA, Maria Angela; PASSOS, João Décio. A

igreja de São Paulo: Presença Católica na história da cidade. São Paulo: Paulinas, 2005. pp.

323-336.

KASCHEL, Werner; ZIMMER, Rudi. Dicionário da Bíblia de Almeida. Sociedade Bíblica

do Brasil, 2014.

LEMAD, Laboratório de Ensino e Material Didático- FFLCH-USP. História de São

Paulo: Av. Celso Garcia. Disponível em: <http://lemad.fflch.usp.br/node/260>. Acesso em:

02 fev. 2014.

LÉONARD, Émile G.. O iluminismo num Protestantismo de Constituição Recente. São

Bernardo do Campo: Metodista, 1998.

LÉONARD, Émile G.. O Protestantismo Brasileiro. 3. ed. São Paulo: Aste, 2002.

LEONEL, João (Org.). Novas Perspectivas sobre o Protestantismo Brasileiro: Vol. 1. São

Paulo: Fonte Editorial, 2010.

LEONEL, João (Org.). Novas Perspectivas sobre o Protestantismo Brasileiro:

Pentecostalismo e Neopentecostalismo Vol. 2. São Paulo: Fonte Editorial, 2012.

LIMA, Rogério; FERNANDES, Ronaldo Costa (Org.). O Imaginário da Cidade. Brasília:

UnB, 2000.

MAFRA, Clara. Os Evangélicos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.

MAFRA, Clara. Jesus Cristo Senhor e Salvador da Cidade: Imaginário Crente e Utopia

Política. Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, n. 49, p.583-613, jun. 2006.

Page 110: Joao Enicelio da Silva.pdf

108

MAFRA, Clara. O problema da formação do “cinturão pentecostal” em uma metrópole da

América do Sul. Interseções, Rio de Janeiro, n. 13, p.136-152, 01 jun. 2011.

MAFRA, Clara; ALMEIDA, Ronaldo. Religiões e Cidades: Rio de Janeiro e São Paulo. São

Paulo: Terceiro Nome, 2009.

MAGNANI, José Guilherme Cantor. Da Periferia ao Centro: Trajetórias de pesquisa em

Antropologia Urbana. São Paulo: Terceiro Nome, 2012.

MAGNANI, José Guilherme Cantor. Quando o campo é a cidade: Fazendo antropologia na

Metrópole. In: MAGNANI, José Guilherme Cantor; TORRES, Lilian de Lucca (Org.). Na

metrópole: Textos de Antropologia Urbana. São Paulo: Edusp, 1996.

MAGNANI, José Guilherme Cantor; TORRES, Lillian de Lucca (Org.). Na

Metrópole: Textos de Antropologia Urbana. São Paulo: Edusp, 2008.

MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil. São

Paulo: Loyola, 2010.

MARRX, Murilo. Nosso Chão do Sagrado ao Profano. São Paulo: Edusp, 1989. 217 p.

MARTIN, André Roberto. O Bairro do Brás: e a deterioração urbana. 1984. 188 f.

Dissertação (Mestrado) - Curso de Geografia Humana, Programa de Pós Graduação em

Geografia Humana - FFLCH, Universidade de São Paulo - USP, São Paulo, 1984.

MARTIN, Andre Roberto; FRÚGOLI JR, Heitor. Braz do Brasil Braz de todo o mundo

(Pagu). Revista do Departamento de Geografia, São Paulo, n. 6, p.105-111, 01 jan. 1992.

MCALISTER, Walter. Neopentecostalismo: A História não contada: Quem foi Roberto

McAlister, conhecido como o pai desse movimento. Rio de Janeiro: Anno Domini, 2012.

MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O celeste Porvir: A inserção do Protestantismo no Brasil. 2.

ed. São Paulo: Edusp, 2008.

MENDONÇA, Antonio Gouvêa. Protestante, Pentecostais & Ecumênicos: O Campo

Religioso e seus Personagens. 2. ed. São Bernardo do Campo: Metodista, 2008.

MORAES, Lucas Lopes de. Para além da Metrópole: dádiva e aliança entre os adeptos do

Black metal. Ponto Urbe [online] Disponível em: < http://pontourbe.revues.org/1375>, São

Paulo, n. 14, p.1-16, 25 jul. 2014.

MORGANTE, Ad Brás Jd. História Ad Brás. 2014. Disponível em:

<http://admorgante.com.br/web/igreja/historia-ad-bras>. Acesso em: 30 out. 2014.

MOURA, Paulo Cursino de. São Paulo de outrora: evocação da metrópole. Belo Horizonte:

Itatiaia, 1943.

NEUSNER, Jacob. Introdução ao Judaísmo. São Paulo: Imago, 2004. 324 p.

Page 111: Joao Enicelio da Silva.pdf

109

NIEBUHR, H. Richard. As Origens Sociais das Denominações Cristãs. São Paulo: Aste,

1992.

NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza (Org.). Linguagens da Religião: Desafios, métodos e

conceitos centrais. São Paulo: Paulinas, 2012.

OLIVA, Alfredo dos Santos; BENATTE, Antônio Paulo (Org.). 100 anos de

Pentecostes: Capítulos da História do pentecostalismo no Brasil. São Paulo: Fonte Editorial,

2010. 466 p.

OLIVEIRA, David Mesquita (Org.). Pentecostalismo e Transformação Social. São Paulo:

Fonte Editorial, 2013.

OLIVEIRA, Ivan de. Mercantilização do Sagrado. São Paulo: Reflexão, 2013.

OLIVEN, Ruben Geoge. A antropologia de Grupos Urbanos. Petrópolis: Vozes, 2007.

ORO, Ari Pedro; CORTEN, André & DOZON, Jean-Pierre. Igreja Universal do Reino de

Deus, os Novos Conquistadores da Fé. São Paulo, Paulinas, 2003.

ORO, Ari Pedro. O "neopentecostalismo macumbeiro" . Revista USP, Brasil, n. 68, p.

319-332, fev. 2006. ISSN 2316-9036. Disponível em:

<http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/13505/15323>. Acesso em: 15 Out. 2014.

doi:http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i68p319-332.

ORO, Ari Pedro; STEIL, Carlos Alberto; RICKLI, João (Org.). Transnacionalização

Religiosa: Fluxos e redes. São Paulo: Terceiro Nome, 2012.

OTTO, Rudolf. O sagrado. Petrópolis: Vozes, 2011.

PASSOS, João Décio (Org.). Movimentos do Espirito. São Paulo: Paulinas, 2005.

PASSOS, João Décio. Pentecostais Origens e Começo. São Paulo: Paulinas, 2005.

PAULO, Arquidiocese de São. Região Episcopal Sé. 2014. Disponível em:

<http://www.regiaose.org.br/aspx/DetailsParoquia.aspx?idEntidade=468>. Acesso em: 10 set.

2014.

PAULO, G1 São. Templo de Salomão. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/sao-

paulo/noticia/2014/07/templo-de-salomao-e-inaugurado-em-sao-paulo.html>. Acesso em: 15

nov. 2014.

PEREIRA, João Baptista Borges (Org.). Religiosidade no Brasil. São Paulo: Edusp, 2012.

PEREIRA, José Carlos. As fronteiras da religião na metrópole. Revista Nures, São Paulo, n.

15, p.1-13, maio 2010.

PEREIRA, Verônica Sales. Brás: Canteiro da Memória na Modernidade de São Paulo. 2002.

351 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Sociologia, Sociologia da Faculdade de Filosofia,

Page 112: Joao Enicelio da Silva.pdf

110

Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo FFLCH, Universidade de São

Paulo - USP, São Paulo, 2002.

PETERS, Ted; BENNETT, Gaymon. Construindo Pontes entre a Ciência e a Religião. São

Paulo: Unesp, 2003.

PIEDRA, Arturo. Evangelização Protestante na América Latina: Análise das Razões que

Justificaram e promoveram a Expansão protestante (1830-1960). São Leopoldo: Sinodal,

2006.

PIEDRA, Arturo. Evangelização Protestante na América Latina: Volume 2. São Leopoldo:

Sinodal, 2008.

PONCIANO, Levino. São Paulo 450 Bairros, 450 anos. São Paulo: Senac, 2004. 364 p.

PONDÉ, Luiz Felipe. Para entender O Catolicismo Hoje. São Paulo: Benvirá, 2011.

PONTES, José Alfredo Vidigal; MESQUITA, Ruy. São Paulo de Piratininga: de pouso de

tropas a metrópole. São Paulo: Terceiro Nome, 2004.

PROENÇA, Wander de Lara. Magia, Prosperidade e Messianismo: Práticas,

Representações e Leituras no Neopentecostalismo Brasileiro. Curitiba: Instituto Memória,

2009.

REALE, Ebe. Brás, Pinheiro, Jardins: Três Bairros três mundos. São Paulo: Pioneira, 1982.

RIBEIRO, Suzana Barreto. Italianos do Brás Imagens e Memórias. São Paulo: Brasiliense,

1994.

RIVERA, Dario Paulo Barrera. Evangélicos e Periferia urbana em São Paulo e Rio de

Janeiro: Estudos de Sociologia e antropologia urbana. Curitiba: CRV, 2012.

ROMEIRO, Paulo. Super Crentes: O evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice

Milhomens e os profetas da prosperidade. São Paulo: Mundo Cristão, 2007.

ROMEIRO, Paulo; ZANINI, André. Suor Carisma e Controvérsia: Igreja Mundial do Poder

de Deus. São Paulo: Candeia, 2009.

ROSENHAHL, Zeny. Espaço e Religião: Uma Abordagem Geográfica. 2. ed. Rio de

Janeiro: Uerj, 2002.

ROSENHAHL, Zeny. Primeiro a Obrigação, depois a devoção. Rio de Janeiro: Uerj, 2012.

ROSENHAHL, Zeny. Trilhas do sagrado. Rio de Janeiro: Uerj, 2010.

ROSSAFA, Cléo. Mudança de Vida. Rio de Janeiro: Igreja Mundial de Cristo', 2005.

SAGRADA, BÍBLIA. Almeida Revista e Atualizada. Brasília: Sociedade bíblica no Brasil,

1993; 2005

Page 113: Joao Enicelio da Silva.pdf

111

SALOMÃO, O Templo de. O templo de Salomão. 2014. Disponível em:

<http://www.otemplodesalomao.com/#/otemplo.>. Acesso em: 10 nov. 2014.

SANTARCANGELO, Maria Candida Vergueiro. Penha de França 1668-1968. São Paulo:

Leste Lar, 1969.

SANTOS JUNIOR, Orlando Alves dos. Urban common space, heterotopia and the right to the

city: reflections on the ideas of Henri Lefebvre and David Harvey. Revista Brasileira de

Gestão Urbana, Curitiba, v. 2, n. 6, p.146-157, maio 2014.

SÃO PAULO. Adriana Omuro. São Paulo Turismo S/A. Ruas de comércio

especializado. 2014. Disponível em: <http://www.cidadedesaopaulo.com/sp/br/guia-de-

compras/ruas-de-comercio-especializado>. Acesso em: 30 mar. 2014.

SCANTIMBURGO, João de. Os Paulistas: Volume XXI. São Paulo: Imprensa Oficial, 2006.

650 p.

SEVCENKO, Nicolau. Brasmite: Periferia no Centro. 1999. Disponível em:

<http://www.pucsp.br/artecidade/site97_99/brasmitte/brasmitte02/sevcenko.html>. Acesso

em: 20 nov. 2014.

SHERRILL, John L.. Eles Falam em Outras Línguas. São Paulo: Arte Editorial, 2005.

SIEPIERSKI, Paulo D.; GIL, Benedito M.. Religião no Brasil: Enfoques, dinâmicas e

Abordagens. São Paulo: Paulinas, 2007.

SILVA JÚNIOR, Nilson da. Igreja líquida: uma leitura da Igreja moderna através do

Neopentecostalismo. Ciberteologia: Revista de teologia e Cultura, São Paulo, n. 7, p.61-77,

abr. 2011.

SILVA, Vagner Gonçalves da. O antropólogo e sua magia. São Paulo: Edusp, 2006.

SOARES, Afonso Maria Ligorio; PASSOS, João Décio (Org.). A Fé na Metrópole: desafios

e olhares múltiplos. São Paulo: Paulinas, 2009.

SOUZA, Beatriz Muniz de; MARTINO, Luís Mauro Sá (Org.). Sociologia da Religião e

Mudança Social. São Paulo: Paulus, 2008.

SOUZA, Ney de (Org.). Catolicismo em São Paulo: 450 anos de presença da igreja católica

em São Paulo. São Paulo: Paulinas, 2004.

STARK, Rodney. O crescimento do Cristianismo: Um sociólogo reconsiderando a história.

São Paulo: Paulinas, 2006.

STARK, Rodney; BAINBRIDGE, William Sims. Uma Teoria da Religião. São Paulo:

Paulinas, 2008.

TEIXEIRA, Faustino. As Ciências da Religião no Brasil: Afirmação de uma área

acadêmica. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2008.

Page 114: Joao Enicelio da Silva.pdf

112

TEIXEIRA, Faustino. Sociologia da Religião Enfoques Teóricos. 4. ed. Petrópolis: Vozes,

2011.

TORRES, Maria Celestina Teixeira Mendes. O Bairro do Brás: História dos bairros de São

Paulo. São Paulo: Prefeitura Municipal Secretaria de Educação e Cultura Departamento de

Cultura, 1969.

USARSKI, Frank (Org.). O espectro disciplinar da Ciência da Religião. São Paulo:

Paulinas, 2007.

USARSKI, Frank. Constituintes da Ciência da Religião: Cinco ensaios em prol de uma

disciplina autônoma. São Paulo: Paulinas, 2006.

VAUX, Roland de. Instituições de Israel no Antigo Testamento. 2004. ed. São Paulo: Vida

Nova, 2004.

VELHO, Otávio (Org.). O fenômeno urbano. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.

VIDA, Ministério Mudança de. Mude sua vida. 2014. Disponível em:

<http://www.mudancadevida.com.br/>. Acesso em: 15 nov. 2014.

VILHENA, Junia de; ZAMORA, Maria Helena (Org.). A cidade e as Formas de

Viver: Religiões, fé e fundamentalismo. Rio de Janeiro: Museu da República, 2007.

VILHENA, Maria Angela; PASSOS, João Décio (Org.). A igreja de São Paulo: Presença

Católica na história da cidade. São Paulo: Paulinas, 2005.

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Companhia das

Letras, 2009.

WERNET, Augustin. Vida Religiosa em São Paulo: do Colégio dos Jesuítas à diversidade de

Cultos e crenças (1554-1954). In: PORTA, Paula (Org.). História da Cidade de São

Paulo: A cidade Colonial. São Paulo: Paz e Terra, 2004. p. 191-245.

WILLAIME, Jean Paul. Sociologia das Religiões. São Paulo: Unesp, 2012.

Page 115: Joao Enicelio da Silva.pdf

113

7. Anexos

7.1 Anexo A – Alguns Relatos de Campo

Ao longo da pesquisa foram várias as incursões em campo, porém nos pareceu melhor

descrever aqui alguns relatos de campo, principalmente os feitos após o segundo semestre de

2014. Esses relatos nos permitiram identificar nas falas possíveis hipóteses na formação da

mancha religiosa.

Por questões éticas, não se mencionaram nomes de todos os entrevistados, exceto nos

casos em que os interlocutores aceitaram a exposição de sua identidade. Todos os

entrevistados tomaram ciência da pesquisa e de sua finalidade.

29/07/2014

Entrevistamos informalmente o comerciante Carlos, da Mix barracas, na Av. Celso

Garcia, 1212:

Essas igrejas não mudam em nada. Os seus membros não compram aqui, pelo

contrário, elas só nos atrapalham com o trânsito. Tudo isso começou com a Igreja Universal,

primeiro veio ela, e depois as outras.

29/07/2014

Nessa data conversei com o sr. Walmir Ennes, corretor imobiliário, que me mostrou

o prédio na Celso Garcia, 331.

A preferência é alugar para as igrejas. O salão possui um espaço aproximado de 12m

x 50m e já foi uma denominação pentecostal. Hoje o valor do aluguel é R$ 19.000,00.

12/08/2014

Conversei com Sr. Valmor, funcionário da Camisaria Emanuel (camisas sob medida).

A loja fica ao lado da Igreja Assembleia de Deus e próxima à Igreja Universal, fluxo de

entrada e saída de obreiros da IURD, por conta da inauguração do Templo de Salomão.

Pergunto se a loja é da igreja e ele diz que não, mas que a proprietária tinha aberto a loja por

orientação do Bispo.

31/07/2014

Page 116: Joao Enicelio da Silva.pdf

114

Percebe-se que nos meses de maio de 2014 a julho 2014, ocorreram inaugurações de

lojas e restaurantes por ocasião do Templo de Salomão (IURD). A exemplo no dia

31/07/2014, visualizei uma placa com os dizeres “Em breve inauguração do restaurante

Girafas”. Registrei alguns relatos nessa data sobre a circulação de pessoas pela região, em

consequência do Templo de Salomão. Nesse dia, tive meu primeiro contato com o jornalista

Eduardo, do “Jornal do Brás”.

19/08/2014

Estava em frente ao Templo de Salomão observando a movimentação por conta do

acidente do ônibus que invadiu as grades frontais do templo, quando ouvi um jovem dizer:

Olha isso aí, o diabo é sujo mesmo, hein?

19/08/2014

Nessa data, visitei a Catedral Carismática das Nações, por volta de meio-dia, situada

na av. Rangel Pestana nº 2345. Encontrei um senhor sentado à porta de um corredor em frente

a uma mesa com um livro de pedidos de oração; esse corredor está ladeado por uma

lanchonete e por uma loja de artigos femininos. Trata-se de uma igreja de confissão

carismática. Pergunto se ele é o líder, ele diz que não, e logo chama um senhor que se

identifica como bispo da igreja. Pergunto há quanto tempo ele está no local; sua resposta:

Dois anos.

Perguntei-lhe:

O senhor sabia que antes era outra igreja aqui?

Respondeu-me:

Sim, estive em alguns dos cultos, aliás foi em um desses cultos que Deus me disse

que este lugar seria meu. Então comecei a orar. Quando soube que o pastor tinha desocupado

o imóvel, subi na gruta milagrosa na cidade de Moji das Cruzes-SP e ungi o azeite, depois

lancei sobre as portas fechadas; dias depois, localizei o proprietário do imóvel e fechamos

negócio.

O que significa estar no Brás, para o senhor?

Ele respondeu:

Estar aqui é ser honrado.

Pergunto-lhe:

Page 117: Joao Enicelio da Silva.pdf

115

Os seus membros são do bairro?

Alguns sim, mas tenho membros de Osasco, Santo Amaro, zona leste e outras regiões

de São Paulo.

Como outras pessoas ficam sabendo do seu trabalho?

As pessoas indicam, mas durante algum tempo tinha programa na Rede do Bem FM

97,3.

Como funcionam os seus cultos?

Às sextas-feiras, aos sábados e aos domingos, ministério de cura, libertação,

prosperidade. Sábado, das 9h30 às 14h00, atendimento; domingo, às 9h30, 15h00 e 18h00,

culto com a família.

Há quanto tempo o senhor é evangélico?

Vinte anos, aproximadamente, o meu trabalho começou em Manaus, estendeu-se a

outros estados, porém mantenho a sede no Brás.

O senhor alugou o imóvel para a lanchonete e para a loja de lingerie?

As duas lojas são minhas, o espiritual tem que andar junto com o material. Já sou

empresário do ramo de estacionamento, hoje pago um valor alto de prestação; além disso, fiz

muitas melhorias no imóvel, coisas que o outro pastor não fez.

O bispo fez questão de me mostrar o salão, ofereceu-me um café, levou-me ao piso

superior, onde havia uma mesa com dois telefones e uma divisória com foto de Jerusalém.

Hoje estar no Brás é ser honrado, aqui passa muita gente.

19/08/2014

Av. Celso Garcia, 14 - Santuário - Telefone: 2291-6030 (Julia), numa sexta-feira, no

período das 9h00 às 10h30.

Nesse dia, fui informado de que a responsável pelo templo era a sra. Julia e que ela

somente viria na sexta-feira.

19/08/2014

Page 118: Joao Enicelio da Silva.pdf

116

Loja Fraga Rocha - Sr. Edilson (católico), comerciante há mais de 15 anos, tem loja

na Celso Garcia há três anos. Relata que primeiro veio a Igreja Universal e depois vieram as

outras.

Ela é puxadora. Na sequência, vieram a Assembleia de Deus e as demais. O Brás é

um bairro central. Há um grande movimento de pessoas no bairro depois da inauguração, em

31/07/14, do Templo de Salomão. Tive alguns clientes evangélicos, mas não são exclusivos

da IURD e de outras denominações; o maior número de clientes são os bolivianos, eles

gostam de música.

19/08/2014

Igreja Evangélica Brasileira, fundo do templo de Salomão. Dia ensolarado. Encontro

um senhor pintando as janelas (batentes). Apresento-me e ele diz seu nome. Pergunto-lhe a

respeito da igreja, ele me conta sobre a história da igreja, que teve início em Santos, na casa

do sr. Adão e de Dona Carolina, no início do século XX.

Por que a escolha do bairro do Brás para sede em São Paulo?

As nossas congregações começam nos lares e não têm nenhuma ligação com

escolha mercadológica.

O que o sr. pode me dizer a respeito dessa expansão de igrejas no Brás e

especialmente na Celso Garcia, com a abertura do Templo de Salomão, que faz fundos para

sua igreja?

Já sabíamos isso, já estava previsto no segundo volume de nossos livros sagrados,

onde menciona que “não deveríamos nos impressionar com o vulto – apenas testemunhar”.

Fomos nós que chegamos primeiro os outros vieram por nossa causa.

19/08/2014

Igreja Plenitude do trono de Deus – 15h. Culto da campanha da pesca maravilhosa.

Um barco posto em cima do púlpito, e filas enormes para receber a oração e a unção da pesca

maravilhosa. Na saída, converso com uma moça que se identifica por Carolina, diz que reside

na Vila Matilde e que frequenta o culto; ouviu na rádio 105,7, dito por membros de outras

igrejas: “Aqui é abençoado”.

19/08/2014

Page 119: Joao Enicelio da Silva.pdf

117

Igreja Assembleia de Deus. Por volta das 16 horas. Calçadas livres. Na porta, há uma

grande movimentação de carrinhos de alimentos (milho, pipoca, churrasco, doce). É período

eleitoral. Do portão para dentro, rapazes distribuem “santinhos de candidatos a política

estadual e federal”. Os membros aos poucos vão chegando. São notáveis os diferentes estilos

de vestimentas; entre as mulheres, as mais velhas lembram o Pentecostalismo tradicional. A

abertura e o andamento do culto segue uma liturgia pentecostal. Já passa das 22h00 horas,

há uma grande movimentação na porta da igreja com o comércio de alimentos.

Sigo em direção à estação integrada de trem com o metrô. É um trecho vazio, parece

uma outra avenida, causa medo. Percebem-se portas pequenas iluminadas com acesso ao piso

superior das lojas. Trata-se de Night Clubs. Em um espaço aproximado de 1000km, notei seis

dessas casas noturnas.

22/08/2014

Visita ao Jornal do Brás. Relato depoimento em anexo, à frente.

22/08/2014

Comunidade Missões dos Sinais de Deus. Um salão com garagem, lanchonete e

banheiros e, aos fundos, o salão da igreja. O horário de culto está próximo, há uma

movimentação de pessoas vestidas em semelhança às vestes dos frequentadores das igrejas

pentecostais tradicionais. Pergunto, então, para um obreiro sobre a orientação da

denominação.

É exclusivamente pentecostal?

Ele me responde:

Nós recebemos pessoas de todas as denominações, elas vêm através da rádio.

Trabalhamos com várias campanhas de cura, prosperidade e libertação.

22/08/2014

Mudança de Vida. Converso com um pastor que não se identificou e, por questão

ética, não menciono seu nome. A denominação teve início no interior paulista. Viu-se a

necessidade de se estar na capital.

Então, escolhemos a Celso Garcia, porque é uma região central com estacionamento

e facilidade de transporte, para aqueles que não vêm de carro.

22/08/2014

Page 120: Joao Enicelio da Silva.pdf

118

Igreja São João Batista. Converso com o assistente (Leandro).

Estou aqui desde 2007. O estabelecimento das igrejas evangélicas ocorre por causa

do fácil acesso, apesar do transporte ser ruim. Nossos membros são 85% do bairro e da zona

leste. As igrejas evangélicas congestionam o trânsito, não respeitam as vagas demarcadas e as

guias rebaixadas. A igreja católica faz diversos trabalhos sociais, como pastoral da criança,

pastoral do idoso, atendimento esse que se estende a toda a população, inclusive aos

evangélicos.

21/08/2014

Comunidade Cristã Amor e Graça - Bispo Emerson Viana. Sou recebido pela dona

Cida, que tem uma barraca de produtos eletrônicos e de refrigerantes, na porta da igreja. Ela

explica que a igreja está presente nos seguintes locais: Guarulhos, Lapa, São Miguel, Brás.

Rádio FM 88,7. Pessoas do trabalho, pessoas da rádio.

Não tem batismo, não tem ceia, não acreditamos no diabo.

No momento em que me apresento como pesquisador, ela diz para que eu volte outro

dia e converse diretamente com o Bispo. Volto uma semana depois e então sou recebido pela

dona Cida, que tem uma cafeteria na porta da igreja. De um aparelho de telefone na

lanchonete ela avisa uma outra pessoa que tem um rapaz querendo falar com o bispo. Então,

pede-me que espere, que ele vai me atender. Aguardo aproximadamente uma hora. Nesse

período, converso com alguns membros que já estão sentados na lanchonete esperando a

igreja abrir. Quando, então, um jovem me diz que aquele é o dia do seu testemunho.

Passei no vestibular. Deus está me abençoando. Eu era da “lei” (IURD), agora sou

da graça.

Depois da espera, sou muito bem recebido pelo Bispo, que relata o início do seu

ministério oriundo de outra denominação.

22/08/2014

Loja Instinto Br. Converso com Renato, vendedor.

A loja atende todo mundo, mas os nossos clientes são em grande maioria da igreja,

até porque o dono é obreiro na igreja.

22/08/2014

Page 121: Joao Enicelio da Silva.pdf

119

Esquina Rua Bresser. Frigo Brás. Faixa “parabeniza a universal por mais esta

conquista”.

27/08/2014

Andando pela Avenida Celso Garcia, avisto de longe - Salão de Beleza “Jeovah

Jireh”, estou no número 1316 da avenida Celso Garcia, o nome do salão me chamou atenção,

trata-se de um termo usado nas denominações evangélicas que significa “O Senhor proverá”.

Entro no Salão e converso com uma das proprietárias que me responde:

– Estou aqui há aproximadamente dois meses; antes estava na Vila Sabrina, apesar de

pagar um aluguel de 1.500,00 e o espaço ser pequeno, aqui é bem melhor.

Pergunto:

– Esse nome bíblico do salão sugere que a senhora seja evangélica, ou estou

enganado?

Ela responde:

– Sim, sou evangélica, sou membro da Universal, foi lá onde eu fiz o curso para abrir

o salão de beleza. Porém, conheço todas as igrejas da região, onde tem uma campanha boa eu

vou.

19/09/2014

Igreja Jesus Fonte de Vida. Converso com a pastora. Hoje é o dia da pintura da Igreja

para sua inauguração.

– Somos de Carapicuíba, Itapevi, esse templo é resposta de Deus para os nossos

sonhos de expansão para o bairro Brás e futuramente para o bairro de Santo Amaro.

ANEXO B - Quadro 6 – Denominações Presentes no Corredor, no início da Pesquisa,

em 2013

Quadro 6 – Denominações Presentes no Corredor, no início da Pesquisa, em 2013

Denominações Endereços

Paróquia Bom Jesus do Brás Av. Rangel Pestana, 1421

Comunidade Essência de Deus Av. Rangel Pestana, 1897

Catedral Carismática das Nações Av. Rangel Pestana, 2345

Page 122: Joao Enicelio da Silva.pdf

120

Santuário Espiritualista de São Paulo Av. Celso Garcia, 14

Santuário dos Santos Anjos Av. Celso Garcia, 174

Centro de Meditação Cristã Av. Celso Garcia, 188

Igreja Nova Geração Mundial de Deus Av. Celso Garcia, 238

Comunidade Cristã Amor e Graça Av. Celso Garcia, 243

Igreja Universal do Reino de Deus Av. Celso Garcia, 499

Igreja Ev. Assembleia de Deus M. Brás Av. Celso Garcia, 560

Igreja Mundial de Cristo Av. Celso Garcia, 777

Igreja Pentecostal Concerto Eterno Av. Celso Garcia, 816

Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus Av. Celso Garcia, 899

Igreja Evangélica Avivamento em Glória Av. Celso Garcia, 1010

Catedral da Bênção Av. Celso Garcia, 1081

Igreja Apostólica Geração Eleita Av. Celso Garcia, 1515

Igreja Pentecostal Deus é Amor Av. Celso Garcia, 2214

Igreja do Evangelho Pleno em Cristo Av. Celso Garcia, 3478

Igreja Evangélica Eterna Trindade Av. Celso Garcia, 3503

Bola de Neve Av. Celso Garcia, 3147

Igreja Internacional da Graça de Deus Av. Celso Garcia, 3757

Ministério Plenitude do Avivamento AV. Celso Garcia, 4217

Igreja Nova Geração Mundial de Deus Av. Celso Garcia, 4224

Igreja Ev. Ass. de Deus M. do Belém Av. Celso Garcia, 4906

Igreja Pentecostal Deus é Amor Av. Celso Garcia, 5426

Ministério Apostólico de Reaviva mento Profético Av. Celso Garcia, 5436

Igreja Internacional da Graça de Deus Av. Celso Garcia, 5519

Igreja Batista Palavra Viva Av. Celso Garcia, 5518

Comunidade Crista Paz e Vida Av. Celso Garcia, 6076

Fonte: Crédito do Autor visita aos endereços – Março / 2013

Page 123: Joao Enicelio da Silva.pdf

121

ANEXO C - Brás: considerações históricas, étnicas e geográficas sobre o bairro da Fé -

Por Eduardo Cedeño Martellotta, jornalista do Jornal do Brás

O bairro do Brás tem suas origens no chacareiro português José Brás, que, por volta de

1769, construiu a Capela Bom Jesus de Matosinhos, que deu lugar à atual Igreja Bom Jesus

do Brás, localizada no Largo do Brás, bem na avenida Rangel Pestana.

Porém, a fundação oficial do Brás deu-se em 8 de junho de 1818, por meio do Decreto

do Rei D. João VI, quando foi criada a “Freguesia do Brás”.

O bairro era, então, uma imensa copa verdejante, como lembra Milton George Thame,

diretor-presidente do Jornal do Brás.

Com a chegada de imigrantes portugueses, italianos, espanhóis, alemães e japoneses

na Hospedaria dos Imigrantes, no ano de 1890, o Brás começa a se desenvolver. Parte desses

imigrantes teve como destino as fazendas do interior de São Paulo, e outra parte se vinculou

às indústrias do Brás, do Pari, do Belém e da Mooca.

Dentre as indústrias, destacaram-se as Indústrias Matarazzo.

A Chácara Bresser tomava conta do bairro, em área imensa.

No Brás, os imigrantes moravam em cortiços das ruas Caetano Pinto e Carneiro Leão,

onde havia rixas entre espanhóis e italianos.

Na década de 1950, começam a chegar os migrantes nordestinos, que desembarcavam

na Estação do Norte – atual Estação Brás da CPTM –, Companhia Paulista de Trens

Metropolitanos. Os árabes destacavam-se no comércio de roupas, e vieram em seguida

coreanos e bolivianos, já na década de 1990.

As avenidas Celso Garcia e Rangel Pestana e suas adjacências sempre atraíram, no

passado, muitos artistas e cantores de nível internacional que ali se apresentavam em clubes

como o Independência, que funcionava na Celso Garcia, acima das antigas Lojas Pirani. O

Independência (que fica hoje na rua Dr. Carlos Botelho, ao lado da Igreja Universal do Reino

de Deus) tinha um lindo tapete vermelho. Os cinemas eram diversos – cito aqui Eden-Theatre

(pioneiro no bairro), Cinema Popular, Piratininga, Amerikan Cinema, Brás-Bijou, Brás-

Cinema, Ideal, Isis-Theatre, Pavilhão Oriente, Avenida, Eros, Salão Cinema, Savoy, São

Sebastião, São José, Brás Politheama, Celso Garcia, Mafalda, Olímpia, Babilônia, Oberdã,

Page 124: Joao Enicelio da Silva.pdf

122

Roxy, Universo, Fontana e do Teatro Colombo. A Celso Garcia era mais romântica, nela

aconteciam os footings (paqueras), onde de um lado ficavam as moças e de outro, os rapazes.

Embora o Brás tenha hoje aproximadamente 9.000 lojas, de todos os tipos – tecido,

plástico, confecção, eletrônicos, móveis, madeira, borracha, etc. –, a religião está presente no

dia a dia dos moradores e frequentadores das dezenas de igrejas existentes no bairro. A

maioria dos 25.000 moradores do Brás (Censo de 2010) é católica, sendo que os imigrantes

italianos veneram as imagens de São Vito Mártir e Nossa Senhora de Casaluce; portugueses e

andinos (bolivianos, peruanos e paraguaios) vão às igrejas Bom Jesus e São João Batista, no

Brás e às igrejas Santa Rita, Santo Antônio e São Pedro, no Pari. Os ortodoxos gregos têm

como lugar sagrado a pequena igreja situada no meio das lojas da rua Bresser. Os árabes

islâmicos preferem a mesquita do Brás, que fica na rua Elisa Whitaker.

As igrejas evangélicas, que são maioria, têm como público os moradores de outros

bairros distantes do centro da cidade e de municípios da Grande São Paulo. Eles veem nas

avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia um corredor de fácil ligação do centro com a zona

leste da cidade através dos ônibus. A estação Brás do Metrô e da CPTM integra essa

facilidade de locomoção. O corredor abriga essas igrejas evangélicas, e outras ainda,

pentecostais, carismáticas, etc. Outro chamariz do público evangélico certamente são as lojas

do bairro, que geram multidões nas ruas Oriente, Maria Marcolina, Silva Teles e Largo da

Concórdia.

O corredor Rangel Pestana-Celso Garcia sempre foi religioso, desde 1841, quando

romarias caminhavam a pé da Sé até a Penha, mais especificamente até a Igreja de Nossa

Senhora da Penha. A Igreja Bom Jesus do Brás, por sua vez, era pouso obrigatório dos

romeiros e viajantes que se dirigiam à Penha. Quando a cidade era acometida de secas e

epidemias, a imagem de Nossa Senhora da Penha fazia paragem na Igreja Bom Jesus e depois

seguia para a Sé.

Um dos locais que mais recebe público atualmente é a Igreja Universal do Reino de

Deus, situada na av. Celso Garcia, 499 – a primeira existente na cidade de São Paulo –, aberta

no ano de 1984, cuja propriedade é do bispo Edir Macedo. Mais recentemente, após a

inauguração do Templo de Salomão, também de Macedo, no dia 31 de julho de 2014, uma

aglomeração de pessoas tem ido ao local, nas proximidades da IURD, no número 605 da

Celso Garcia.

Page 125: Joao Enicelio da Silva.pdf

123

As pessoas vão à igreja em busca de uma solução para os seus problemas, sejam eles

financeiros, de saúde ou de relacionamento. Acreditam que a imagem do santo ou a palavra

do bispo ou do pastor é milagrosa ou que tem poder, e a igreja é vista como um lugar sagrado

e de oração. Mas em todas elas está a palavra de Deus ou de Alá, e também a de Jesus Cristo,

como salvador e pregador de um mundo de paz, união, fraternidade e amor.

Page 126: Joao Enicelio da Silva.pdf

124

7.2 ANEXO D – Fotos das Denominações

Foto 1 - Várzea do Carmo – ano: 1860

Fonte: Acervo fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo - Tombo: DC/0000382/E

Page 127: Joao Enicelio da Silva.pdf

125

Foto 2 – Paróquia Bom Jesus de Matosinho

Fonte: Site da Paróquia -< http://www.tvagir.com.br/not%C3%ADcias/24-par%C3%B3quia-bom-

jesus-do-br%C3%A1s.html>

Foto 3 - Igreja Nossa Senhora de Casaluce

Crédito: Foto do autor – Vista frontal da Igreja Nossa Senhora de Casaluce.

Page 128: Joao Enicelio da Silva.pdf

126

Foto 4 - Paróquia São Vito Mártir

Crédito: Foto do autor – Vista frontal da paróquia São Vito Mártir

Foto 4 - Comunidade Essência de Deus – Paróquia Bom Jesus dos Milagres

Fonte: Elaborada a partir do Google Street View, em setembro de 2014.

Page 129: Joao Enicelio da Silva.pdf

127

Foto 5 - Catedral Carismática das Nações

Fonte: Eduardo Martellotta

Foto 6 - Igreja Internacional do Poder da Fé

Fonte: Eduardo Martellotta

Page 130: Joao Enicelio da Silva.pdf

128

Foto 7- Santuário Espiritualista de São Paulo

Fonte: Elaborada a partir do Google Street View, em setembro de 2014.

Foto 8- Santuário dos Santos Anjos

Fonte: Eduardo Martellotta

Page 131: Joao Enicelio da Silva.pdf

129

Foto 9- Igreja Jesus Fonte de Vida

Fonte: Eduardo Martellotta

Foto 10 - Comunidade Cristã Amor e Graça

Fonte: Eduardo Martellotta

Page 132: Joao Enicelio da Silva.pdf

130

Foto 11 - Igreja Universal do Reino de Deus

Fonte: Eduardo Martellota

Foto 12 - Igreja Assembleia de Deus – Ministério do Brás

Fonte: Eduardo Martellota

Page 133: Joao Enicelio da Silva.pdf

131

Foto 13 - Paróquia São João Baptista do Brás

Fonte: Eduardo Martellota

Foto 14 - Templo de Salomão

Fonte: Eduardo Martellota

Page 134: Joao Enicelio da Silva.pdf

132

Foto 15 - Ministério Mudança de Vida

Fonte: Eduardo Martellota

Foto 15 - Plenitude do Trono de Deus

Fonte: Eduardo Martellota

Page 135: Joao Enicelio da Silva.pdf

133

Foto 16 - Catedral da Bênção

Fonte: Eduardo Martellota

Foto 17 – Igreja Missão dos Sinais de Deus

Fonte: Eduardo Martellota

Page 136: Joao Enicelio da Silva.pdf

134

Foto 18 – Aspectos da Avenida

Fonte: Eduardo Martellota

Page 137: Joao Enicelio da Silva.pdf

135