edson schrot da silva.pdf
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE MESTRADO EM DIREITO POLÍTICO E ECONÔMICO
EDSON SCHROT DA SILVA
O SISTEMA BRASILEIRO DA INOVAÇÃO E SEUS DESAFIOS PERANTE
QUESTÕES POLÍTICAS, ECONÔMICAS E SOCIAIS
São Paulo 2014
EDSON SCHROT DA SILVA
O SISTEMA BRASILEIRO DA INOVAÇÃO E SEUS DESAFIOS PERANTE
QUESTÕES POLÍTICAS, ECONÔMICAS E SOCIAIS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito Político e Econômico da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Direito Político e Econômico.
Orientador: Prof. Dr. Alessandro Serafin Octaviani Luis
São Paulo 2014
S586s Silva, Edson Schrot da O sistema brasileiro da inovação e seus desafios perante questões políticas, econômicas e sociais. / Edson Schrot da Silva. – 2014. 144 fls. : il. ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Direito Político e Econômico) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2014. Orientador: Alessandro Serafin Octaviani Luis Bibliografia: f. 111-126 1. Política da Inovação. 2. Economia da Inovação. 3. Tecnologia e Aspectos Sociais. 4. Estrutura e Sistemas de Inovação. 5. Incentivos Fiscais para a Inovação. I. Título CDDir 341.39104
EDSON SCHROT DA SILVA
O SISTEMA BRASILEIRO DA INOVAÇÃO E SEUS DESAFIOS PERANTE
QUESTÕES POLÍTICAS, ECONÔMICAS E SOCIAIS
Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana
Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do
título de Mestre em Direito Político e Econômico.
Aprovada em ___ / ____ / _____
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________________ Prof. Dr. Alessandro Serafin Octaviani Luis – Orientador
Universidade Presbiteriana Mackenzie ___________________________________________________________________________ Prof. Dr. Silvio Luiz de Almeida – Examinador Interno
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Prof. Dr. Luiz Fernando Massonetto – Examinador Externo
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
À minha mãe, Helena, que se esforçou tanto pela
educação de seus filhos; ao pequeno Vinícius
que me ensina diariamente a como ser inovador
para acompanhá-lo em suas brincadeiras e
imaginações de criança, sendo a chama
necessária para a procura permanente de um
futuro melhor e transformador. E à Simone que
me ajuda a harmonizar tudo que construímos
juntos.
AGRADECIMENTOS Agradeço inicialmente a Universidade Presbiteriana Mackenzie, como instituição, pela
preocupação e compromisso com um ensino de qualidade e pela disponibilidade de um plano
pedagógico voltado ao debate de questões políticas e econômicas da atualidade.
Ao Dr. Alessandro Serafin Octaviani Luis, minha eterna gratidão, por ter sido
orientador amigo ao me aceitar com todas as minhas dificuldades e, principalmente por ter
sido mentor e facilitador ao indicar artigos e livros fundamentais, ao convidar para palestras e
aulas e ao fazer comentários sempre muito apropriados ao tema e também por ter me ajudado
a concluir este trabalho de pesquisa.
Aos professores do curso, pelo entusiasmo e capacidade técnica apresentada e, em
especial, aos professores que compuseram a banca de qualificação da dissertação juntamente
com o orientador, Dr. Silvio Luiz de Almeida e Dr. Luiz Fernando Massonetto que através de
seus comentários e questionamentos nos trouxeram uma visão muito mais sistêmica e
aprofundada sobre o tema.
À Dra. Zélia Luiza Pierdona que me tutoreou no grupo de pesquisa “Cidadania, Pacto
Federativo e Tributação” e, principalmente, me ajudou em um momento delicado de
cumprimento de formalidades vinculadas ao presente trabalho.
Às organizações e profissionais que nos auxiliaram no desenvolvimento teórico e
prático sobre o assunto em tela, trazendo contemporaneidade e pragmatismo a respectiva
dissertação, principalmente aos meus colegas Sr. Valter Pieracciani, Sr. José Hernani Arrym
Filho e Sr. Alfonso Abrami, responsáveis por me lançarem no campo da pesquisa e
entendimento da inovação nas empresas.
Ao professor Dr. Leopoldo Antônio de Oliveira Neto que me lançou como professor e
o qual sou eternamente grato.
Ao Nicholas Merlone, aluno brilhante, pelo apoio, debates e troca de ideias em relação
ao tema.
Ao Marcos Shigueo Ono que vem juntamente comigo trilhando um caminho difícil e
árido em ampliar a vantagem competitiva das empresas através da inovação e
desenvolvimento humano.
“O futuro deve ser uma fronteira aberta à
invenção do homem”1
(Celso Furtado)
1 FURTADO, Celso. Ob. cit. no Relatório do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) – Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação 2012-2015, pg.15
RESUMO
Este trabalho apresenta uma análise sistemática da estrutura e da legislação que regulamenta o
tema inovação no país. Na pesquisa, denota-se que a inovação é um tema transversal e reflete
questões políticas, jurídicas, econômicas e sociais como democracia, domínio econômico,
intervenção estatal, segurança jurídica, tecnologia, cultura e valores sociais, sendo todos
devidamente trabalhados de maneira aprofundada e entrelaçada nos capítulos do presente
estudo. Ao se defrontar, por exemplo, com o conceito de inovação do artigo 17, da Lei no
11.196/2005, estuda-se a sua indeterminação, o que traz à baila reflexões pontuais e inéditas
sobre sua segurança jurídica. Outrossim, quando se retrata os resultados atuais das políticas e
estruturas adotadas no país para o assunto, exige-se um aprofundamento sociológico da
cultura de inovação existente e do papel dos agentes da inovação como Governo,
Universidades, Centros de Pesquisas, Empresas e Movimentos Sociais em sua disseminação.
Também são retratados neste ponto, os artigos 218 e 219 da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988; princípio da eficiência do artigo 37°, caput, do mesmo diploma
normativo, com método comparativo com outros países; e, princípio democrático inspirando
as políticas e decisões dos órgãos de inovação do país. No campo econômico são apresentadas
questões sobre intervenção, estruturalismo econômico, domínio econômico pela inovação,
privilégios industriais e incentivos fiscais, cuja ótica envolve revisão bibliográfica, consulta a
sítios oficiais de pesquisa, decisões administrativas e judiciais inerentes.
Palavras chave: Política da Inovação. Economia da Inovação. Tecnologia e Aspectos Sociais.
Estrutura, Sistemas e Incentivos para a Inovação.
ABSTRACT
This work consists of a systematic review of legislation regulating and structure the
innovation theme, presenting the concept, characteristics, types, principles, scope, system
adopted and how they are interpreted and applied by the various standards bodies that oversee
this subject in the country. Deepening of the subject, it was observed that innovation
transcends technological issue and reflects aspects involving the political and economic rights
such as legal certainty, state intervention, economic domain, culture aspects and social values.
Thus, when confronted with the concept of innovation to Article 17 of Law no 11.196/2005.
This is not possible to study it without reflecting on legal certainty, the same is repeated when
studying the Brazilian System of Innovation that relies on the principle of effectiveness of
Article 37, caput, of the Constitution of the Federative Republic of Brazil of 1988 and the
guiding principles of innovation, Articles 218 and 219 of the same legislative instrument,
especially when compared with other countries, in the view of interventionist government
actions and economic dominance the issue of industrial privileges and incentives. In the
economic field there are questions about intervention, economic structuralism, economic
dominance through innovation, industrial privileges and tax breaks are presented, which
always supported by reviews of their subjects, whose perspective involves literature review,
research with official sites, administrative and judicial decisions.
Keywords: Innovation Policy. Innovation Economy. Technology and social analyses.
System, structure and tax breaks for innovation.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Tipos de Inovação .......................................................................................................... 24
Quadro 2 Inovação e níveis de incerteza ....................................................................................... 34
Quadro 3 Mecanismos de Política de Inovação Tecnológica ........................................................ 39
Quadro 4 Modelo de organização do Sistema Brasileiro da Inovação ........................................... 49
Quadro 5 Apresentação sintética das principais leis de incentivos do país ..................................... 77
Quadro 6 Fontes de recursos para inovação por Estado ................................................................ 80
Quadro 7 Fluxograma de Procedimento de Patentes Verdes ........................................................ 105
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Participação percentual dos gastos de atividades inovativas das empresas industriais
que implementaram inovações de produto ou processo no Brasil entre 2009 e 2011 ... 35
Gráfico 2 Participação percentual do número de empresas que implementaram inovações no
Brasil .............................................................................................................................. 41
Gráfico 3 Fontes de informação e cooperação para a inovação .................................................... 42
Gráfico 4 Fontes de inovação e seus impactos .............................................................................. 43
Gráfico 5 Orçamento da União executado em 2013 ...................................................................... 44
Gráfico 6 Comparativo de investimentos em inovação em razão do PIB entre países .................. 46
Gráfico 7 Comparativo de investimentos em inovação em razão do PIB entre os BRICs ............ 46
Gráfico 8 Comparação entre trabalhos científicos e número de patentes depositadas .................. 47
Gráfico 9 Pessoas ocupadas na área de P&D, segundo o nível de qualificação ............................ 54
Gráfico 10 Percentual de subvenções e incentivos no Brasil ........................................................... 78
Gráfico 11 Financiamento Público e Incentivos Fiscais .................................................................. 82
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Cálculo com opções de 60% e 80% de incremento da base de cálculo ........................... 28
Tabela 2 Dispêndios de custeio e redução da base de cálculo por região ...................................... 44
Tabela 3 Taxas de retorno social e privado em P&D ..................................................................... 57
Tabela 4 Taxas de ocupação em P&D ............................................................................................ 59
Tabela 5 Incentivos Fiscais e Subvenção ao Gasto em P&D ........................................................ 79
Tabela 6 Distribuição de Empresas por Setor que utilizam incentivos ......................................... 79
Tabela 7 Principais Agências de Fomento e suas linhas de financiamento .................................... 80
Tabela 8 Índice-B da Inovação ....................................................................................................... 83
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABDI Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial
ANPEI Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras
ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica
ANPROTEC Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores
APL Arranjo Produtivo Local
Art. Artigo
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior
CGEE Centro de Gestão e Estudos Estratégicos
CNPQ Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
CSLL Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
CTN Código Tributário Nacional
DE Desenvolvimento Experimental
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EMBRAPII Empresa Brasileira de Pesquisa de Inovação Industrial
FAPESP Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos
FNDTC Fundo Nacional de Desenvolvimento de Tecnologia e Ciência
HBE Harvard Business Essentials
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICT Instituto de Ciência e Tecnologia
IES Instituições de Ensino Superior
INPI Instituto Nacional de Propriedade Intelectual
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IPI Imposto sobre Produtos Industrializados
IRPJ Imposto de Renda Pessoa Jurídica
Max Máximo valor observado
Min Mínimo valor observado
MCTI Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação
MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
NIT Núcleo de Inovação Tecnológica
OCDE Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico
PA Pesquisa Aplicada
PB Pesquisa Básica
PCT Política de Ciência e Tecnologia
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
P&D&I Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação
PDTI Programa de Desenvolvimento Tecnológico Industrial
PDTA Programa de Desenvolvimento Tecnológico do Agronegócio
PIB Produto Interno Bruto
PITCE Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior
PINTEC Pesquisa de Inovação Tecnológica
RFB Receita Federal Brasileira
RHAE Recursos Humanos para Atividades Estratégicas
SAT Serviço de Apoio Técnico
SECIS Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social
SEPIN Secretaria de Política de Informática
SEPED Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento
SETEC Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
TIB Tecnologia Industrial Básica
TIC Tecnologia de Informação e Comunicação
TRF Tribunal Regional Federal
UNICAMP Universidade de Campinas
USP Universidade de São Paulo
USPTO/OMPI Organização Mundial de Propriedade Intelectual
SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 17
CAPÍTULO 1. SISTEMA BRASILEIRO DA INOVAÇÃO E POLÍTICA ................... 22
1.1 Conceitos e tipos de inovação ....................................................................................... 22
1.1.1 Conceito jurídico de inovação ................................................................................... 25
1.1.2 Reflexão dogmática do conceito de inovação quanto a sua segurança jurídica ......... 26
1.1.2.1 Redução da insegurança: posições judiciais e administrativas sobre o tema ........... 29
1.1.3 Homologação de projetos aderentes ao conceito de inovação e (in) segurança ........ 31
1.2 Riscos e incertezas de investimentos em inovação ....................................................... 33
1.3 Política de Ciência e Tecnologia no país ...................................................................... 35
1.3.1 Resultados da Política de Ciência e Tecnologia no país ............................................. 39
1.3.1.1 Panorama de investimentos privados em inovação no Brasil e prioridades ............ 41
1.3.1.2 Panorama de investimentos públicos em inovação no Brasil e prioridades ............ 43
1.3.1.3 Dados da inovação do Brasil no âmbito competitivo internacional ........................ 45
1.4 Características e Estrutura do Sistema Brasileiro da Inovação ..................................... 48
1.4.1 Princípio da Eficiência no Sistema Brasileiro de Inovação ........................................ 51
CAPÍTULO 2. SUJEITOS DA INOVAÇÃO E O SEU PAPEL NO SISTEMA
BRASILEIRO DA INOVAÇÃO ......................................................................................... 54
2.1 Perfil do profissional da inovação ................................................................................... 54
2.2 Reflexões sobre Tecnologia Social e inovação ............................................................... 56
2.3 Papel e cultura das empresas na inovação ...................................................................... 58
2.4 Papel e cultura do Governo na inovação ......................................................................... 59
2.5 Papel e cultura das Universidades e Institutos de Pesquisa na inovação ........................ 61
2.6 Princípio democrático e inovação ................................................................................. 62
CAPÍTULO 3. SISTEMA JURÍDICO DA INOVAÇÃO E SUA ANÁLISE .................. 67
3.1 Ciência e Tecnologia na Constituição Federal de 1988 .................................................. 67
3.2 História da legislação brasileira de inovação................................................................... 70
3.3 Influência dos manuais de OSLO e Frascati no Brasil ................................................... 74
3.4 Instrumentos de incentivos a inovação no Brasil ............................................................ 76
3.4.1 Instrumentos de incentivos em outros países ................................................................ 82
CAPÍTULO 4 - DOMÍNIO ECONÔMICO E INOVAÇÃO ............................................ 85
4.1 Ordem Econômica na Constituição de 1988 .................................................................... 85
4.2 Poder Econômico e Inovação ........................................................................................... 88
4.2.1 Lei da Oferta e Procura e a contribuição de Schumpeter com a inovação ................... 90
4.3 Reflexão doutrinária sobre Domínio Econômico e Inovação ........................................ 91
4.3.1 Visão furtadiana sobre domínio econômico pela inovação ......................................... 92
4.3.2 Condição subalterna por Gramsci e possibilidade de alteração pela inovação ........... 95
4.4 Intervenção no Domínio Econômico em prol da inovação ............................................. 97
4.5 Sistema de privilégios industriais .................................................................................. 98
4.5.1. Crise do sistema de Privilégios Industriais sob a óptica de Comparato ..................... 98
4.5.2. Sistema de patentes e a teoria da licença compulsória ............................................... 100
4.5.3. Sistema de patentes e a questão das patentes essenciais ............................................ 103
4.5.4. Sistema de prioridade de patentes verdes ................................................................... 104
CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 108
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................ 111
GLOSSÁRIO ...................................................................................................................... 127
APÊNDICE (s) ................................................................................................................... 136
ANEXOS (s) ....................................................................................................................... 138
17
INTRODUÇÃO
No século XX, a mão-de-obra e o poder econômico financeiro foram considerados os
maiores fatores de crescimento econômico. Na “nova economia” baseada na acumulação e
uso do conhecimento – Knowledge-basedeconomy, “a educação, o capital intelectual e a
capacidade de inovar parecem ser os pilares fundamentais da produtividade e do fator de
riqueza em empresas e países”1. Neste cenário, “estima-se que cinquenta por cento do Produto
Interno Bruto (PIB) dos países desenvolvidos é vinculado a bens e serviços de alta tecnologia,
baseados em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e pesquisa e desenvolvimento
nas plataformas tecnológicas de biotecnologia, nanotecnologia, eletroeletrônica, robótica e
exploração de recursos genéticos”2.
No campo político, econômico e social, a inovação na atualidade é entendida como
elemento de transformação de valor na nova estrutura econômica mundial, sendo capaz de
desenvolver uma sociedade qualificada e com melhor qualidade de vida.
Em relação ao âmbito regulatório, a inovação pode ser apresentada e analisada sobre
diversas perspectivas como institutos de propriedade intelectual, incentivos à inovação,
contratos de transferência de tecnologia e “Know-how” com pagamento de royalties ou
parcerias em formato de joint venture, modelos organizacionais visando fomento da inovação,
além de parcerias público-privadas para projetos de inovação compartilhados e programas
governamentais e privados de apoio financeiro a projetos de pesquisa e desenvolvimento
(P&D).
Sobre os institutos mencionados, percebe-se obras publicadas e jurisprudência
sedimentada em relação a alguns deles, principalmente no campo da propriedade intelectual,
com base na Lei no9.279/963 e, em uma onda mais recente, estudos sobre incentivos fiscais
delimitados a setores específicos de análise4.
1 SERRA, F.; TORRES, M.C.S; TORRES, A.P. Administração Estratégica. Rio de Janeiro: Reichmann& Affonso, 2003, pg.15. 2 Nos Estados Unidos, foi inserido no cálculo do PIB a questão dos ativos intangíveis, como royalties da indústria cinematográfica e investimentos em P&D, o que se prevê que elevará em três por cento o indicador no ano de 2014. Veja: Notícia publicada no jornal Valor Econômico em 16.06.2014. 3 São encontrados autores que tratam sobre propriedade intelectual. Para saber mais sobre o tema, confira: BARBOSA, Denis Borges.Uma introdução a propriedade intelectual. 2a.edição. São Paulo: Saraiva, 2004. 4 Veja: BERGAMASCHI, Eloisio Andrey. Inovação Tecnológica e Incentivos Fiscais no setor de serviços de telecomunicações, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul, 2011.
18
No entanto, ao analisar o tema da inovação de forma integrada, apesar de sua
relevância, há poucas reflexões sobre a instrumentalidade do aparato regulatório brasileiro
para vencer os desafios da atualidade, com algumas exceções como a recente obra publicada
de Alessandro Octaviani, “Recursos Genéticos e Desenvolvimento – Os desafios furtadiano e
gramsciano”, seguindo as posições e orientações de autores clássicos como Celso Furtado.
Denota-se importância nos estudos do Sistema Integrado da Inovação quanto a sua
aplicabilidade, lacunas e divergências interpretativas, o que remete a assumir no presente
trabalho a tarefa de reduzir progressivamente tais ocorrências e atribuir-lhe a maior
funcionalidade possível, principalmente pelo seu caráter transversal com temas de cunho
político, econômico, social e jurídico, como se verá de forma acurada mais à frente.
Nesse caminho, o problema-chave da pesquisa é analisar se a política, a estrutura, a
interpretação e a aplicabilidade do sistema nacional da inovação contribui para o aumento e
proteção jurídica de P&D de novas tecnologias por empresas sediadas no Brasil ou, ao
contrário, acaba limitando esta atividade empresarial. Ao mesmo tempo, analisa-se se
arcabouço jurídico existente atua em favor da inovação visando vantagem competitiva do país
e quão eficiente o sistema se mostra quando comparado a outros países em termos de
competitividade mundial e mecanismos de desenvolvimento econômico e social.
Desse modo, pode-se afirmar que o problema se resume em como se institucionalizar o
Sistema de Inovação no Brasil, incorporando-se aos aparatos e aparelhos do Estado todos os
mecanismos e as ferramentas inerentes ao sistema para se atingir o pleno funcionamento e a
concretização da inovação no país. Para tanto, procura-se ofertar uma visão culturalista ao
tema, na medida em que se consideram as dimensões política, econômica e social.
Em termos de justificativas iniciais, ressalta-se que a inovação é um tema de extrema
relevância por referência direta da Constituição Federal, em seus artigos 218 e 219, no título
VIII (Ordem Social), em seu capítulo IV (Da Ciência e Tecnologia).
A análise do sistema jurídico da inovação é cada vez mais densa e complexa em virtude
do aumento considerável de textos legais publicados. Além das leis matrizes do sistema
jurídico da inovação, como a Lei no9.279/96, Lei da Inovação no10.973/04, Lei da ABDI
no11.080/04, Lei do Bem no11.196/05, Lei Haddad ou também chamada Lei Rouanet de
Inovação ou Lei de incentivo à pesquisa e inovação no11.487/07, observa-se que entre o
período da promulgação da Constituição Federal de 1988 e fim da década de 90 (ano de 1999)
foram publicadas quarenta e sete leis sobre o tema inovação. No século XXI (na era do
conhecimento), entre os anos de 2000 e 2012, foram publicadas cento e uma leis sobre
19
inovação no país. Ou seja, houve um crescimento da atuação legislativa sobre a inovação em
mais de cem por cento entre uma década e outra5, o que evidencia a importância e aumento da
regulação nos últimos anos, tornando o sistema mais complexo e relevante em termos de
interpretação e análise sistêmica.
O fenômeno da intervenção estatal cada vez mais amplo e não linear também justifica o
aprofundamento no sistema jurídico ora estudado. Concomitantemente a uma ação legiferante
mais atuante no campo da inovação, proliferam-se publicações de instruções normativas da
Receita Federal Brasileira (RFB), como a Instrução Normativa no1187, de 29 de agosto de
2011) e de decisões de órgãos do Poder Executivo como o Ministério da Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI). No entanto, os diversos órgãos executivos, com hierarquia própria, nem
sempre se vinculam a mesma fonte jurídica, ora utilizando diretrizes conceituais e técnicas da
legislação interna; outras vezes, remetendo a interpretação do caso concreto a tratados
internacionais que, apesar de reconhecidos pela comunidade da inovação (Manual de Frascati
e Manual de Oslo), não foram ainda aprovados no país e, por consequência, não poderiam ser
utilizados no âmbito interno6 principalmente quando em confronto com a legislação interna7.
Sobre a jurisprudência, as situações fáticas ainda recentes parecem não ter sido
exploradas a ponto de assentar as dúvidas existentes, exceto em relação a lei de propriedade
intelectual que apresenta julgados sobre questões relacionadas à sigilosidade de uma pesquisa
cientifica, ao percentual de resultados em pesquisa compartilhada entre empresas e
inventores, sobre concessão de licença compulsória e uso de patentes essenciais, que são hoje
objeto de lides globais entre gigantes do setor de TI, como se verá no capítulo referente ao
poder e domínio econômico através da inovação.
A pesquisa também se preocupa com dados e indicadores de inovação, comparando os
resultados nacionais e também a capacidade que os agentes da inovação apresentam de
desenvolver um ambiente ideal de tecnologia eficiente, integrada e competitiva em relação a
outros países. Neste ponto, realça-se a Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC),
5 Veja: Sitio oficial do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) que permite uma análise histórica da legislação federal da inovação desde a promulgação da Constituição Federal de 1988. 6 Um tratado exige celebração do tratado pelo Presidente da República, aprovação por decreto legislativo do Congresso Nacional, ratificação do Presidente da República, com promulgação através de decreto de execução presidencial. 7 Em abril de 2012, o governo anunciou o INOVAR AUTO em substituição ao regime atual de redução contínua do IPI. Foi apresentado pela Medida Provisória no563/12 e convertido na Lei no 12.715/12, regulamentado pelo decreto no7819/12. A lei traz os conceitos de inovação da Lei no 11.196/05 (Pesquisa Básica, Aplicada, Desenvolvimento Experimental, TIB – Tecnologia Industrial Básica e Serviço de Apoio Técnico), já o decreto se vincula ao conceito adotado pelo Manual de Frascati desconsiderando TIB e Serviço de Apoio Técnico como inovação.
20
elaborada e publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de
2013.
Como objetivo essencial, portanto, destaca-se a reflexão integrada e sistêmica do
sistema brasileiro da inovação, esclarecendo conceitos, características, tipos, princípios,
política, estrutura, abrangência, influenciadores e interpretação dos itens mais relevantes que
alavancam ou dificultam o entendimento de sua aplicabilidade junto as empresas e órgãos que
atuam em projetos de pesquisa tecnológica.
Como objetivos adicionais são apresentados: (i) a consolidação explicativa sobre as
principais decisões administrativas (RFB e MCTI) e judiciais sobre o assunto, visando
facilitar o entendimento do tema no campo fático e jurídico; (ii) os principais indicadores de
inovação do Brasil, comparando sua eficiência com outros países; (iii) a aplicabilidade do
sistema jurídico da inovação, avaliando fatores críticos de implantação; e (iv) a
transversalidade do tema com assuntos políticos, econômicos e sociais, no que couber.
De forma estrutural, para atingir os objetivos propostos, o presente trabalho foi
organizado com este capítulo introdutório que contextualiza a questão de pesquisa e uma
conclusão. No desenvolvimento, abrangeu mais quatro capítulos. No capítulo I, avalia-se o
Sistema Brasileiro da Inovação e Política, apresentando o conceito de inovação, com ênfase
na questão de sua segurança; os riscos e incertezas de investimentos em inovação; na
sequência, trata-se da Política da Ciência e Tecnologia (PCT) e seus resultados; partindo para
as características e estrutura dos principais órgãos e “players” de tutela da inovação nacional e
sua eficiência. No capítulo II, Sujeitos da Inovação e seu papel no Sistema Brasileiro da
Inovação, fala-se sobre o perfil dos profissionais da inovação, o papel e cultura dos principais
agentes do país e também é efetuada uma reflexão sobre a teoria “Tecnologia Social”, além de
se tratar de forma peculiar do princípio democrático e sua correlação com a inovação. No
capítulo III, Sistema Jurídico da Inovação e sua análise, trata-se do mapa legislativo
nacional da inovação, com abordagem constitucional e histórico-normativa sobre o tema,
influência dos manuais de Oslo e Frascati na legislação nacional, bem como sobre os
incentivos fiscais existentes e sua comparação com outros países; e, em seguida, no capítulo
IV, seção que encerra a pesquisa, “Domínio Econômico e Inovação” é estudada a Ordem
Econômica na Constituição de 1988, questões de poder, intervenção e domínio econômico
pela inovação, e, por fim, analisa-se os sistemas de privilégios industriais, objetivando
contribuição pragmática sobre as principais discussões e reflexões inerentes a este contexto.
21
Quanto à metodologia aplicada neste trabalho de pesquisa foi utilizado o método
dedutivo que, segundo Marconi e Lakatos8, retrata a modalidade de raciocínio lógico que faz
uso da dedução para obter uma conclusão a respeito de determinadas premissas, organizando
e especificando o conhecimento que já se tem sobre o assunto. No trabalho, a aplicação do
método dedutivo envolve a organização e estrutura do conhecimento da legislação e teoria da
inovação existente para resposta as hipóteses levantadas.
O trabalho está definido como uma pesquisa descritiva, analítica e explicativa, motivada
pela necessidade de resolver problemas conceituais e estruturais sobre a inovação, sua política
e seus principais pontos de aplicabilidade na construção da realidade econômica e social.
O trabalho utilizou-se de revisão bibliográfica, análise da lei em uma perspectiva
histórica, além da coleta de dados e informações através da consulta a sítios oficiais como
Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), MCTI, RFB, Senado Federal, Câmara dos Deputados, Tribunais
Superiores e Universidades, como a Universidade de Campinas (UNICAMP) e Fundação de
Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Desse modo, entende-se que a apresentação integrada do sistema nacional da inovação
nos moldes metodológicos adotados neste trabalho, poderá eventualmente incentivar outros
trabalhos vinculados ao tema, além de ser um material capaz de apresentar aos agentes da
inovação diversas perspectivas sobre o assunto, e talvez chamar a atenção novamente do país
para profundas questões, como a da superação de condições periféricas e subalternas
lançadas, por exemplo, por Celso Furtado, visando a melhoria de nossa competitividade
global e a capacidade de desenvolvimento da sociedade como um todo.
8 MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria.Fundamentos de metodologia científica. 5ª.edição. São Paulo: Atlas, 2003.
22
CAPÍTULO 1. SISTEMA BRASILEIRO DE INOVAÇÃO E POLÍTICA
1.1 Conceitos e tipos de inovação
Pretende-se tratar dos conceitos e tipos de inovação, entendendo-se que sejam
importantes pontos de partida para o aperfeiçoamento do estudo, mesmo que não raras vezes
os conceitos formulados possam ser eventualmente imprecisos para retratar uma realidade tão
complexa como a inovação.
Em termos empíricos, a inovação pode representar qualquer iniciativa que gere ou
introduza uma novidade, simples ou complexa, percebida pela realidade. Pode significar a
criação de um produto ou processo melhor; ou, simplesmente, a substituição de um material
por um outro mais barato ou de melhor qualidade ou maior funcionalidade.
Historicamente, a inovação sempre esteve presente na humanidade como o ato de
resolver problemas, desde a descoberta do uso do fogo; avançando no século XV para um
processo baseado em rigor científico na solução de problemas técnicos.
O termo tecnologia tem origem na palavra “tekhne” do grego, significando o estudo da
ciência. Caracteriza-se a tecnologia por uma evolução controlada e metódica do uso do
conhecimento científico e empírico, com fins de aperfeiçoamento ou desenvolvimento de
novos produtos ou processos industriais. Na atualidade, a solução de problemas através da
tecnologia “volta-se para temas que interessam a sociedade como um todo e não apenas para
obtenção de vantagem competitiva e domínio econômico de um grupo ou empresa no
mercado”9.
Para Schumpeter10, há três termos – invenção, inovação e difusão, que juntos englobam
o processo de inovação, representando tecnologia. Para o autor, invenção “é uma ideia,
esboço ou modelo para um novo ou melhorado artefato, produto, processo ou sistema”;
enquanto inovação, no sentido econômico “é uma solução técnica – invenção que exige uma
transação comercial capaz de gerar riqueza”. Em outros termos, o autor sintetiza que invenção
é uma ideia potencialmente aberta para a exploração comercial; inovação é a exploração
comercial da invenção; e difusão é a propagação de novos produtos e processos pelo mercado
baseados na inovação já existente. Comenta ainda o autor que a inovação é a “força motriz do
9 DONADIO, L. Política Científica e Tecnológica. In: MARCOVITCH, Jacques (coord.). Administração em Ciência e Tecnologia. São Paulo, Edgard Blücher, 1983, p.18. 10 SCHUMPETER, J. A teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre os lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. Coleção os Economistas. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988, p.11.
23
desenvolvimento econômico, representada pela substituição de formas antigas por formas
novas de produzir e consumir, onde essa nova combinação de fatores de produção leva a uma
espécie de monopólio temporário, refletindo lucros extraordinários”.
No entanto, o conceito de inovação, no campo doutrinário, ainda não apresenta
consenso, havendo definições próprias adotadas por diversos autores, empresários e
profissionais da área (vide anexos A e B). Para Peter Drucker11, um dos mais citados, a
inovação é a principal fonte de oportunidade de riqueza na atualidade tanto para empresas
como países, sendo “o ato de atribuir novas capacidades aos recursos (pessoas, processos e
bens) existentes na empresa para gerar riqueza”.
Destaca-se o conceito apresentado pelo Manual de Oslo, da Organização para
Cooperação de Desenvolvimento Econômico12, nos seguintes termos: “A implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo modelo organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas”.
Para o manual de Oslo, segundo a OCDE, mais abrangente do que os manuais
anteriores publicados sobre o assunto, notadamente quando comparado com os da família
Frascati13, inovação difere-se de atividades inovadoras, sendo a última complementar a
primeira. Inovação é representada “pela introdução de novos produtos ou processos ou, ainda,
significantes alterações tecnológicas nos mesmos”; enquanto atividades inovadoras são um
“conjunto de atividades vinculadas a inovação como P&D, engenharia, marketing de
produtos, compras de tecnologia, vendas de tecnologia e também inovações organizacionais”.
A diferenciação conceitual entre inovação e atividades inovadoras é importante para
embasar os tipos de inovação citados pelo Manual de Oslo14, que englobam, quatro espécies a
saber:
11 DRUCKER, P.F. Inovação e espírito empreendedor. São Paulo: Atlas, 1969, pág.14. 12 Organização para Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE). Manual de Oslo, 2005.p.46. 13 Em 1963, especialistas da OCDE, em particular o Grupo de Especialistas Nacionais em Indicadores de Ciência e Tecnologia (NESTI), reuniram-se na Villa Falconieri, em Frascati, na Itália, com o objetivo de discutir uma metodologia e indicadores de P&D. O trabalho resultou na primeira versão do Manual de Frascati, sendo referência para estudos, análises, levantamentos e comparações entre empresas e países no que se refere a P&D. A sua 6ª edição de 2002 é a aplicada no Brasil. 14 Ibid.11, pp. 16-17.
24
TIPO DEFINIÇÃO
Inovação em Produto
Introdução de um benefício ou serviço novo ou significativamente melhorado, em relação `a suas características ou usos pretendido, incluindo melhorias significativas nas especificações técnicas, componentes e materiais, software, interface com o usuário ou outras características funcionais
Inovação em Processo Implementação de um novo ou significativamente melhorado processo produtivo ou entrega de produtos acabados
Inovações Organizacionais
(Negócio)
Implementação de novos métodos organizacionais, podendo ser mudanças em práticas de negócio, na organização do ambiente de trabalho, ou nas relações externas da empresa
Inovações em Marketing
Implementação de novos métodos de marketing. Podem incluir na aparência do produto e sua embalagem, na divulgação e distribuição do produto e em métodos para definir preços de benefícios e serviços
Quadro 1: Tipos de Inovação.
Fonte: OCDE: Manual de Oslo, 2005.
Dentre os tipos de inovação, conforme Schumpeter15, as inovações ainda podem ser
incrementais e radicais, sendo a inovação radical como aquela que traz “produtos ou
processos cujas características, atributos ou uso sejam significativamente diferentes se
comparados aos produtos ou processos existentes, podendo envolver tecnologias radicalmente
novas ou combinadas com tecnologias já existentes para novos usos, envolvendo, inclusive,
mudanças no sistema econômico”; e a inovação incremental entendida como “a melhoria de
inovações radicais, ou seja, melhoria em produtos ou processos existentes cujo desempenho,
funcionalidade ou característica tenham sido aperfeiçoados”. No apêndice A apresenta-se
exemplos práticos de inovação incremental e radical visando contribuir para sua
diferenciação.
No mercado, a inovação radical é fortemente baseada em P&D, exigindo parcerias com
Centros de excelência técnica como Universidades e Institutos de Pesquisa. Neste tipo de
inovação há significativo risco e altos investimentos, podendo levar anos para atingir
maturidade a ponto de ser comercializado.
Inovações incrementais, ao contrário, são geralmente as preferidas pelas empresas em
virtude do grau de investimentos a realizar, segurança e tempo de maturidade comercial
acelerada em comparação com a inovação radical. No tempo, é comum aparecerem inovações
radicais nas empresas após anos de realização de inovação incremental, conforme explica a
HBE16.
15 Ibid 11, p.22. 16 HARVARD BUSINESS ESSENTIALS. Managing creativity and innovation. Harvard Business School Press, Boston, Massachusets: 2003.
25
1.1.1 Conceito Jurídico de inovação
O conceito jurídico da inovação no Brasil é apresentado no artigo 17o, parágrafo
primeiro da Lei no11.196/05, nos seguintes termos: “1º - Considera-se inovação tecnológica a concepção de novo produto ou processo de fabricação, bem como a agregação de novas funcionalidades ou características ao produto ou processo que implique melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade, resultando maior competitividade no Mercado”.
Em complemento, pelo Decretono5.798/06, no seu artigo 3o, o conceito normativo
envolve algumas etapas do ciclo da transformação de uma ideia em produto ou processo, ou
na linha de Kotler17-18 envolve alguns itens do funil da inovação. O decreto apresenta os
conceitos de pesquisa básica, pesquisa aplicada, desenvolvimento experimental,
tecnologia industrial básica e serviços de apoio técnico, nos seguintes termos: a) pesquisa básica dirigida (PB): os trabalhos executados com o objetivo de adquirir conhecimentos quanto à compreensão de novos fenômenos, com vistas ao desenvolvimento de produtos, processos ou sistemas inovadores; b) pesquisa aplicada (PA): os trabalhos executados com o objetivo de adquirir novos conhecimentos, com vistas ao desenvolvimento ou aprimoramento de produtos, processos e sistemas; c) desenvolvimento experimental (DE): os trabalhos sistemáticos delineados a partir de conhecimentos pré-existentes, visando a comprovação ou demonstração da viabilidade técnica ou funcional de novos produtos, processos, sistemas e serviços ou, ainda, um evidente aperfeiçoamento dos já produzidos ou estabelecidos; d) tecnologia industrial básica (TIB): aquelas tais como a aferição e calibração de máquinas e equipamentos, o projeto e a confecção de instrumentos de medida específicos, a certificação de conformidade, inclusive os ensaios correspondentes, a normalização ou a documentação técnica gerada e o patenteamento do produto ou processo desenvolvido; e e) serviços de apoio técnico (SAT): aqueles que sejam indispensáveis à implantação e à manutenção das instalações ou dos equipamentos destinados, exclusivamente, à execução de projetos de pesquisa, desenvolvimento ou inovação tecnológica, bem como à capacitação dos recursos humanos a eles dedicados.
Observa-se que no conceito da lei em comento são citadas apenas as inovações em
produto e processo. Não são contempladas pela lei as inovações em negócio e marketing, ou
as atividades inovadoras abordadas pelo conceito do Manual de Oslo.
17 Sobre o assunto, confira: “o funil da inovação envolve a geração das ideias, seleção das ideias, desenvolvimento e teste do conceito selecionado, desenvolvimento da estratégia de marketing, análise do negócio, desenvolvimento do protótipo e testes (PA, PB, DE), produção de um lote piloto padrão, testes de mercado (que pode trazer novas adequações do produto) e comercialização em si”, In: KOTLER, P.; KEVIN, L. Administração de Marketing: A Bíblia do Marketing. Prentice Hall Brasil, 2006, 12a edição. p. 32. 18 O sistema jurídico da inovação brasileiro apenas regulamenta vantagens tributárias e mecanismos de defesa de propriedade quando envolverem PB, PA, DE, TIB e serviços de apoio técnico, restringindo, portanto, o conceito jurídico da inovação a uma pequena parte do funil de transformação de ideias em negócio, inclusive o teste de mercado, que muitas vezes é utilizado pelas empresas erroneamente em programas de incentivos fiscais e subsídios governamentais.
26
O MCTI explica que a opção legislativa para o conceito e criação de leis de incentivos
ao desenvolvimento econômico através da inovação tecnológica não foi baseada no Manual
de Oslo, mas sim no Manual de Frascati, de 2002, também da OCDE, com base no seu item
1.5.3, a saber: “As atividades de inovação tecnológica são o conjunto de diligências científicas, tecnológicas, organizacionais, financeiras e comerciais, incluindo o investimento em novos conhecimentos, que realizam ou destinam-se a levar `a realização de produtos e processos tecnologicamente novos e melhores”
1.1.2 Reflexão dogmática do conceito de inovação quanto a sua segurança jurídica
Na análise da questão da (in) segurança jurídica no campo conceitual do inovação, uma
hipótese a considerar é de que seu conceito, de acordo com abordagens interpretativas
(restritivas, expansivas, literais ou sistêmicas), podem mudar o entendimento do Sistema
Brasileiro de Inovação no quesito incentivos e isenções preconizadas pela Lei no 11.196/05.
Mais especificamente no campo tributário, em virtude das diversas isenções
apresentadas pela lei do “bem” no campo da inovação sugere-se sejam adequadamente
analisadas em virtude do artigo 111o, do Código Tributário Nacional (CTN) considerar que
“isenções são interpretadas de forma literal” e a Súmula 544, do Supremo Tribunal Federal
(STF) apontar que “a concessão de isenções não dispensa o cumprimento de obrigações
acessórias”.
Como premissa, cabe refletir sobre as ponderações de autores como Sbragia, Moreira,
Cota e Almeida19 quanto a eventual insegurança do conceito de inovação: “A análise da Lei de Inovação permite concluir que houve um avanço significativo ao se proporem instrumentos e meios de interação entre as universidades e as empresas. Essa relação acontecia informalmente, prejudicando a concretização de parcerias de longo prazo. Apesar de esses instrumentos não serem novidade no âmbito mundial, esta lei reforçou a importância da inovação tecnológica para o Brasil. As empresas têm dificuldade em operacionalizar a legislação e o paradigma de que universidades e empresas atuam em mundos diferentes. A Lei do Bem também representou um avanço significativo nas linhas de incentivo que foram ampliadas. No entanto, falta confiança dos investidores privados por ainda não existirem um amparo institucional adequado, limitações claras de competências e papéis entre os entes públicos e um consenso sobre o conceito de inovação tecnológica. Com relação à abrangência da legislação, as pequenas e médias empresas mais uma vez não foram as principais privilegiadas. A ausência de um programa de governo atual de instrução e divulgação de seus instrumentos de estímulo à inovação limita sua utilização pela sociedade.
19 SBRAGIA, Roberto. MOREIRA, Natali Vanali Alves. COTA, Marcelo Foresti de Matheus. ALMEIDA, Francisco Alberto Severo de. A Inovação Tecnológica no Brasil: Os Avanços no Marco Regulatório e a Gestão dos Fundos Setoriais. Revista de Gestão USP, São Paulo, v. 14, n. especial, p. 31-44, 2007, p. 42-43.
27
Na dimensão objetiva, também vale considerar se os principais órgãos (RFB e MCTI)
responsáveis pela tutela de incentivos fiscais de inovação no país atuam com um conceito de
inovação apto a excluir ou reduzir a (in) segurança jurídica para os destinatários da norma,
que pretendem ampliar a sua capacidade de inovar em produtos e processos.
Neste caminho, para ilustrar, em 2011, houve publicação da Instrução Normativa RFB
no1187, a qual em seu artigo 2o, parágrafo único, I e II estabelece o que não considerar em
termos de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação para fins de incentivos: Segundo a instrução “os (i) trabalhos de coordenação e acompanhamento administrativo e financeiro dos projetos relacionados a inovação e (ii) prestação de serviços indiretos nos projetos de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica, tais como serviços de biblioteca e documentação” não são atividades de P&D.
Outrossim, no último relatório anual de utilização dos incentivos fiscais (2012)
publicado pelo MCTI em dezembro de 2013, foram apresentadas quais seriam as etapas de
uma cadeia produtiva na qual incidem ou não os respectivos incentivos fiscais da lei do bem.
No caso, a descrição do MCTI repete o Decreto no5.798/06, excluindo do conceito de
inovação incentivada ações de pesquisa de mercado, implantação de linha de produção e
desenvolvimento de melhorias de gestão e/ou operação de transporte, logística e
comunicação.
Porém, neste caso, a definição de etapas incentivadas na cadeia produtiva adotada pelo
MCTI poderia eventualmente deixar em dúvida se contemplados pela lei os trabalhos de
desenvolvimento de inovação incremental que são comuns em linha de produção ou no
aperfeiçoamento do sistema de transporte ou logística.
Parece que a intenção do MCTI ao afirmar que os incentivos não podem ser aplicados
nas duas etapas da cadeia produtiva citada (linha de produção e transporte e logística) é evitar
que empresas adotem conceitos ampliativos de inovação vinculados a produtos ou processos
já acabados e contínuos que inclusive são já comercializados em mercado, sem melhorias ou
projetos vinculados.
O MCTI demonstra que incentivos fiscais à inovação tecnológica são
preferencialmente direcionados a esforços reais de pesquisa ou desenvolvimento de produtos
em fase de laboratório, protótipo ou, no máximo, escala semi-industrial; e não em produtos
que já se encontram em linha de produção.
Portanto, a hipótese que parece verdadeira é que há objetivamente um conceito
jurídico de inovação no Brasil que ampara inovações disruptivas ou radicais e também
28
incrementais e que, de forma subjetiva, há esforços interpretativos no sentido de excluir ou
dirimir dúvidas sobre o mesmo, que estão sendo solucionadas de forma contínua e mais
detalhada, através da edição de resoluções, instruções ou portarias principalmente da RFB e
MCTI.
Nesse sentido, uma fonte interpretativa importante para eventual redução da
insegurança referente ao conceito de inovação tecnológica é o Relatório Anual de Utilização
de Incentivos Fiscais elaborado e consolidado pelo MCTI. Com este instrumento que
condensa anualmente informações de projetos de aproximadamente mil empresas, as
autoridades administrativas (RFB e MCTI) podem acelerar ainda mais a publicação de
decretos, instruções, resoluções ou até mesmo manuais elucidando, por setor, as linhas
temáticas enquadráveis ou, ao contrário, as que não são adequadas ao uso de incentivos.
A legislação também busca apresentar outros conceitos que circundam a inovação
visando reduzir a sua indeterminação, o que se coaduna com a hipótese de esforço legislativo
nacional de sanear a insegurança jurídica do tema.
Nesse ponto, vale citar o artigo 19, §1o. da Lei no 11.196/05 que permite que a
exclusão do lucro líquido, na determinação do IR e da base de cálculo da CSLL de valor
correspondente a até 60% (sessenta por cento) da soma dos dispêndios realizados no período
de apuração com pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica. O
percentual de incentivos de 60% pode aumentar para 80% (oitenta por cento) em função do
número de empregados pesquisadores contratados pela pessoa jurídica. Referido incremento,
poderia significar para uma empresa que investe em um projeto de um milhão de Reais mais
de 30% de incentivos entre uma e outra opção, conforme cálculo abaixo:
Tabela 1 – Cálculo com opções de 60% e 80% de incremento da base de cálculo
Opção com 60%: R$ 1milhão com base de R$ 600mil, traria redução de IR de R$150mil (R$600mil*0,25),
mais redução de CSLL de R$54mil, totalizando R$204mil (20,4%)
Opção com 80%: R$ 1milhão com base de R$ 800mil, traria redução de IR de R$200mil (R$800mil*0,25),
mais redução de CSLL de R$72mil, totalizando R$272mil (27,2%) Diferença de R$ 68.000,00 entre as duas opções acima, sendo que o valor total da opção de 80% é de R$
272mil e a opção de 60% é de R$ 204mil.
Fonte: Lei no 11.196/05 e decreto 5798 (2006, art.10). Em complemento, vide Apêndice B que apresenta figura que elucida cálculos entre as opções.
29
Nesse quesito, fundamental na ótica de incentivos, a lei resolveu trazer a definição de
pesquisador, reduzindo sua indeterminação, através da instrução normativa RFB no 1.187 de
29 de agosto de 2011, em seu artigo 10: Art.10. O pesquisador graduado, pós-graduado, tecnólogo ou técnico de nível médio, com relação formal de emprego com a pessoa jurídica, que atue exclusivamente em atividades de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica; e § 1o. Para fins deste artigo, poderão ser considerados como dispêndios os custos com pesquisadores contratados pela pessoa jurídica, sem dedicação exclusiva, desde que: I - conste expressamente em seu contrato de trabalho o desempenho como pesquisador em atividades de inovação tecnológica desenvolvida pelo empregador; II - a empresa possua, para o projeto incentivado, controle das atividades desenvolvidas e respectivas horas trabalhadas.
Com a definição de pesquisador pela legislação, resta evidente que, para uma empresa
usufruir de incremento da base de cálculo de 80% ao invés de 60% em virtude do aumento de
número de pesquisadores ao ano, deverá seguir literalmente (art.111, CTN) os dispositivos
legais da instrução normativa em comento.
Destarte, não há que se falar em interpretação ampliativa ou restritiva a favor do
destinatário da norma ou dúvidas quanto a definição do que é considerado pesquisador pela
legislação, mostrando-se com este exemplo que parece verdadeira a hipótese de que há uma
ação constante dos órgãos que tutelam o tema no país em sanar item a item as principais
dúvidas inerentes ao conceito de inovação e seus incentivos, de acordo com as prioridades
detectadas e novas demandas inerentes.
Com isso, parece ser favorável no cenário atual as ações dos órgãos do Executivo e
Poder Legislativo em determinar adequadamente a abrangência do conceito de inovação,
principalmente para fins de incentivos, incluindo e excluindo situações através, por exemplo,
de decretos e instruções, visando aumento da segurança jurídica sobre o tema.
1.1.2.1 Redução da insegurança: posições judiciais e administrativas sobre o tema
Nesta seção, traz-se as posições jurisprudenciais sobre o assunto de acordo com
consulta efetuada nos sites oficiais dos principais tribunais do país.
Conforme o artigo 218, da Constituição vigente, o Estado promoverá e incentivará o
desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas. De acordo com a posição
jurisprudencial do STF: O termo “ciência”, enquanto atividade individual, faz parte do catálogo dos direitos fundamentais da pessoa humana (inciso IX do art.5º da CF). Liberdade de expressão que se afigura como clássico direito constitucional-civil ou genuíno direito de
30
personalidade. Por isso que exigente do máximo de proteção jurídica, até como signo de vida coletiva civilizada. Tão qualificadora do indivíduo e da sociedade é essa vocação para os misteres da Ciência que o Magno Texto Federal abre todo um autonomizado capítulo para prestigiá-la por modo superlativo (Capítulo IV do Título VIII). A regra de que ‘O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas’ (art. 218, caput) é de logo complementada com o preceito (§ 1º do mesmo art. 218) que autoriza a edição de normas como a constante do art. 5º da Lei de Biossegurança. A compatibilização da liberdade de expressão científica com os deveres estatais de propulsão das ciências que sirvam à melhoria das condições de vida para todos os indivíduos. Assegurada, sempre, a dignidade da pessoa humana, a CF dota o bloco normativo posto no art. 5º da Lei 11.105/2005 do necessário fundamento para dele afastar qualquer invalidade jurídica (Min. Cármen Lúcia). (ADI 3.510, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 29-5-2008, Plenário, DJE de 28-5-2010.)
Fica evidente, assim, a configuração da inovação como direito fundamental por
representar liberdade de expressão essencial a convivência humana capaz de manifestar-se
também como instrumento capaz de instituir uma eventual ordem social e econômica.
Nos termos do § 5º, do mesmo dispositivo legal, é facultado aos Estados e ao Distrito
Federal vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públicas de fomento ao
ensino e à pesquisa científica e tecnológica. Sobre este parágrafo, o STF decidiu:
"Dispositivo da Constituição estadual que, ao destinar dois por cento da receita tributária do Estado de Mato Grosso à mencionada entidade de fomento científico, o fez nos limites do art. 218, § 5º, da Carta da República, o que evidencia a improcedência da ação nesse ponto." (ADI550, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgamento em 29-8-2002, Plenário, DJ de 18-10-2002.) No mesmo sentido: ADI 336, Rel. Min.Eros Grau, julgamento em 10-2-2010, Plenário, DJE de 17-9-2010.
Com relação à Lei no 11.196/2005, que trata dos incentivos fiscais para a área da
inovação, não se encontram muitas decisões judiciais quanto a este assunto. O Tribunal
Regional Federal da 5a Região (TRF-5), dispõe de algumas decisões, contribuindo para a
jurisprudência ainda incipiente.20
20 Processo: APELREEX 1174 PE 0005630-12.2008.4.05.8300; Relator(a):Desembargador Federal Francisco Cavalcanti; Julgamento:23/09/2008; Órgão Julgador: Quarta Turma; Publicação: Fonte: Diário da Justiça - Data: 26/03/2009 - Página: 221 - Nº: 58 - Ano: 2009. EMENTA: Tributário. Incentivos fiscais. Redução de 75% do imposto de renda. medida provisória nº 2.199-14/2001. redação alterada pela lei nº 11.196/2005.início da fruição do incentivo não poderia exceder 10 anos. Na redação atual, dada pela Lei 11.196/2005, diz assim: “ o prazo de fruição do benefício será de 10 anos, contados a partir do ano-calendário de início de sua fruição”. Ou seja, se altera de 2003 para 2004 o início do benefício, o final sai de 2013 para 2014. Na verdade, ao se entender que é um ano para frente o início do incentivo, também é um ano para frente o seu fim. Então, na verdade, se há um recuo do início, mas não se altera o fim, o benefício passa a ter onze anos e não dez. 2. A redação inicial do parágrafo 1º da citada MP dizia assim: "A fruição do benefício fiscal referido no caput, dar-se-á a partir do ano- calendário subsequente àquele em que o projeto de instalação, modernização, ampliação ou diversificação entrar em operação, segundo laudo expedido pelo Ministério da Integração Nacional, até o último dia útil do mês de março do ano- calendário subsequente ao do início da fruição." A redação nova diz assim: "A fruição do benefício referido no caput dar-se-á a partir do ano-calendário subsequente àquele em que o projeto de instalação, ampliação, modernização ou diversificação entrar em operação, segundo laudo expedido pelo Ministério da Integração Nacional até o último dia do mês de março do ano-calendário subsequente ao do início da operação". É a redação dada pela Lei nº11.196/2005. Na verdade acomodou-se a redação do texto normativo,
31
Em sequência, traz-se as posições administrativas. Para tanto, recorre-se à consulta ao
site oficial da RFB.21-22-23 . Quanto ao MCTI, temos no relatório de Incentivos Fiscais do ano
corrente posições do órgão que são condensadas em anexo “C” do presente trabalho.
O que se conclui, apesar do número reduzido de decisões existentes, é que o Poder
Judiciário e os órgãos do Executivo se esforçam para reduzir hipótese de indeterminação do
conceito de inovação.
1.1.3 Homologação de projetos aderentes ao conceito de inovação e (in)segurança:
Antes da edição da Lei no11.196/05, em dezembro de 2005, o Brasil incentivava a
inovação tecnológica com os programas denominados Programa de Desenvolvimento de legal, à redação da instrução. 3. Apelação e remessa oficial parcialmente providas, para reconhecer que o direito ao gozo do benefício é a partir da operação, nos termos do parágrafo1º, do artigo 1º da MP 2.199-14/2001, de logo explicitando que o término do benefício será após dez anos, nos termos do parágrafo 3º do mesmo artigo.” 21 Acórdão nº 12-53330 de 05 de Marco de 2013; Julgalmento: 05 de Março de 2013; Órgão Julgador: Min. Fazenda-SR–DRF. EMENTA: IRPJ. Lucro real. Exclusões. Glosa de dispêndios com pesquisas e desenvolvimento de inovações tecnológicas. falta de detalhamento dos projetos. parecer do MCTI. A pessoa jurídica beneficiária do incentivo de que trata o art. 19 da Lei nº 11.196/2005 fica obrigada a prestar ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação - MCTI informações sobre seus programas de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica. Não logrando a interessada detalhar, com suficiente precisão, os projetos por ela executados, cabe a glosa do incentivo. Ratificação do parecer técnico emitido pelo MCTI, diante da ausência de elementos capazes de infirmá-lo ou desmenti-lo. IRPJ. Lucro real. Exclusões. Glosa de dispêndios com pesquisas e desenvolvimento de inovações tecnológicas. Dispêndios efetuados com empresas de médio e grande porte. A pessoa jurídica beneficiária do incentivo de que trata o art. 19 da Lei nº 11.196/2005 não está impedida de contratar, junto a empresas de médio e grande porte, serviços técnicos de apoio aos seus projetos de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovações tecnológicas. Para fazer jus, todavia, ao incentivo fiscal, a empresa deverá comprovar que os serviços contratados junto a estas empresas não caracterizam transferência, ainda que parcial, da execução do projeto. Na falta de tal comprovação, reputa-se correta a glosa do incentivo. Ano-calendário: : 01/01/2010 a 31/12/2010”. 22 “MINISTÉRIO DA FAZENDA - SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL - DELEGACIA DA RECEITA FEDERAL DE JULGAMENTO EM CURITIBA - 2 º TURMA - ACÓRDÃO Nº 06-33322 de 25 de Agosto de 2011; ASSUNTO: Normas de Administração Tributária; EMENTA: Projetos de P&D. IRPJ. Falta competência para análise. Às Delegacias da Receita Federal do Brasil de Julgamento - DRJ, compete conhecer e julgar em primeira instância, após instaurado o litígio, especificamente, impugnações e manifestações de inconformidade em processos administrativos fiscais, enquanto cabe ao MCT a supervisão e o controle das atividades da ciência e tecnologia. Benefícios fiscais dos incentivos à inovação tecnológica. Regularidade fiscal. Encerramento do período. O gozo dos benefícios fiscais dos incentivos à inovação tecnológica é condicionado à comprovação da regularidade fiscal da pessoa jurídica, por ocasião do encerramento do ano-calendário em que se deduziram do lucro real ou da base de cálculo da CSLL os dispêndios com P&D e a depreciação acelerada integral. Data do fato gerador: : 25/11/2009 a 25/11/2009” 23 Ementa da solução de consulta n 21, de 16.03.2011, da RFB:BUBBLEDECKS. Possibilidade. A utilização de bubbledecks no processo de construção de lajes, por ser considerada uma agregação de nova característica ao processo, é passível de enquadramento no conceito legal de inovação tecnológica previsto no § 1º do art. 17 da Lei no11.196/2005, desde que implique melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade e resulte em maior competitividade no mercado. Exemplo de decisão contrária ao enquadramento: Ementa da solução da consulta n.372, de 19.10.2007, RFB:O incentivo à inovação tecnológica de que trata o capítulo III da Lei nº11.196/05, não é aplicável ao desenvolvimento de projetos relacionados à comercialização, gestão e distribuição de produtos. Lei nº11.196/05, arts. 17; Lei nº10.973/04, art. 28.
32
Tecnologia Industrial (PDTI) e Programa de Desenvolvimento de Tecnologia no Agronegócio
(PDTA). Nestes programas, no entanto, os incentivos só poderiam ser aproveitados caso
houvesse ratificação prévia pelo MCTI de que efetivamente a empresa estava executando
P&D nos projetos apresentados ao seu crivo. Ou seja, os incentivos eram utilizados pelas
empresas somente após o MCT (atualmente, MCTI) homologar o projeto, através de um
procedimento moroso em que se preenchia um formulário, enviava-se para Brasília o projeto,
aguardava-se de seis meses a dois anos em média para sua aprovação e, finalmente, utiliza-se
o montante apurado para redução da base de cálculo de impostos retroagindo no ano-base de
sua execução alterando a DIPJ.
O procedimento burocrático e moroso de aprovação prévia dos projetos de pesquisa e
desenvolvimento perante o MCTI desestimulava empresas a procurarem o benefício
tributário, sendo utilizado por um número não muito maior do que uma centena de empresas,
de acordo com os dados disponíveis.
Após 2005, com a publicação da Lei no11.196/05, o procedimento foi completamente
reformulado, definindo que primeiro as empresas devem utilizar os incentivos reduzindo a
base de cálculo de IR e CSLL no ano-base de execução do projeto e, depois, no ano seguinte,
enviem o projeto para ser homologado a posteriori pelo MCTI.
Havendo um projeto no ano-base de 2013, por exemplo, pode ser elaborado pela
empresa inventário de dispêndios com redução da base de cálculo de impostos a pagar (IR e
CSSL) no próprio ano-base. O montante utilizado (redutor da base de cálculo) é informado
em fichas contábeis específicas na DIPJ até junho de 2014. Depois disso, são submetidos os
projetos ao MCTI, através de formulário, no mês de julho de 2014, com aprovação dos
mesmos geralmente em dezembro do ano (2014).
Em julho de 2013, 962 empresas preencheram eletronicamente o relatório do MCTI
informando que utilizaram a lei do “bem” para financiar parte de seus projetos de inovação
tecnológica (entre 20,4% a 27,2%) no ano-base de 2012. No entanto, deste total, foram
aprovados projetos de 767 empresas 24 , o que significou no ano uma rejeição de
aproximadamente 25% das empresas que buscaram os incentivos, o que dentre outros
fatores pode ainda representar a dificuldade das empresas interpretarem, de fato, o que é
inovação tecnológica. 24 Participaram em 2011, 154 empresas do setor de mecânica e transporte; 66 do setor químico; 65 do setor eletro-eletrônico; 57 de alimentos; 57 de software; 52 de bens de consumo; 43 de metalurgia; 37 de farmacêutica; 21 de moveleira; 14 do setor de papel e celulose; 13 do setor de agroindústria; 13 em construção civil; 13 para mineração; 10 no têxtil; 4 no setor de petroquímica; 2 de telecomunicações e 146 de outras industrias. Fonte: MCTI
33
Atualmente, o fator crítico deste procedimento é que o MCTI de forma retroativa
apresenta seu parecer favorável ou não as empresas após praticamente um ano do final do
exercício fiscal. No último relatório de 2012, só houve publicação da lista de empresas
beneficiadas em dezembro de 2013. O que se verifica é que não há qualquer dispositivo na
Lei no11.196/05 que determine o que fazer, quando fazer e quais consequências terão a
negativa do órgão (MCTI) ou, no futuro, uma eventual fiscalização da RFB apurando
eventual irregularidade com a legislação.
Alguns entendem que basta retificar a DIPJ; outros interpretam como um recolhimento
tardio com aplicação apenas de correção monetária; outros refletem sobre a aplicação de juros
de mora do artigo 160, do CTN por não ser culpa a demora do contribuinte, ou até mesmo
multa fiscal moratória do artigo 161, CTN.
A hipótese de insegurança parece presente neste caso, o que poderia ser resolvido com
a edição de um dispositivo na Lei no 11.196/05 ou de uma instrução que deixasse mais claro
as consequências para as empresas desenquadradas e o que fazer pós decisão do órgão
administrativo não favorável.
No campo administrativo, para as empresas não enquadradas, o que sobra é elaborar
um Recurso Administrativo explicando detalhadamente o projeto e sobre quais critérios se
balizou para utilização dos incentivos da Lei no11.196/05, aguardando decisão final do órgão
responsável por incentivos fiscais do MCTI.
1.2 Riscos e incertezas de investimentos em inovação
A Pesquisa e Desenvolvimento é efetuada por pessoas ou grupo de pessoas técnicas
que apresentam um conjunto de conhecimentos consolidados, receptivas as mudanças e com
disponibilidade de capital 25 . Ocorre, entretanto, que fatores externos influenciam a
quantidade, profundidade e ocorrência da inovação em um determinado local ou país. Dentre
estes fatores, ressaltam-se três pontos: 1) informações disponíveis de diferentes fontes como
ocorreu na Europa durante a época das cruzadas, podendo este fator explicar a evolução social
e econômica desta sociedade; 2) novas soluções assimiladas de forma sutil por uma
comunidade que vão sendo incorporadas dia-a-dia permitem inovações revolucionárias, como 25 adaptado de QUEIROZ, A.H. Empatia e Inovação: uma proposta de metodologia para concepção de novos produtos. 1999. Dissertação. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1999.
34
sugere Alvin Toffler em seu livro “A terceira onda”; 3) necessidade de investimentos em
inovação são essenciais para vencer uma série de condições que representam uma ameaça as
empresas.
Na visão de COOPER26, os investimentos em inovação acontecem pelos seguintes
motivos: a) mudança nas necessidades e desejos dos consumidores; b) avanços tecnológicos;
c) produtos em fase final de ciclo de vida; e d) aumento da competitividade baseada
principalmente na globalização e escassez de demanda em comparação com a oferta.
No quadro a seguir, podemos notar os níveis de incerteza por cada tipo de inovação
Quadro 2: Inovação e níveis de incerteza. Fonte: Teixeira (1983, p.63). O quadro apresentado é confirmado pelos dados da pesquisa elaborada pelo IBGE,
denominada Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC), publicada em 2013, registrando
que os investimentos em inovação no Brasil são mais vinculados a aquisição de máquinas e
equipamentos do que ações de P&D propriamente dita e também pequenas melhorias
técnicas. Os empresários parecem adotar a lógica de que é menor o risco de se agenciar
produtos ou processos já estabelecidos do que desenvolver um similar ou novo. A introdução
das inovações tecnológicas no mercado, representam um total de 4,7% dos gastos. Pelo
gráfico adiante, no entanto, prefere-se a realização de investimentos de P&D interno (29,8%
em 2011) do que aquisição externa de P&D (4,4% em 2011).
26 COOPER, R.G. Winnning at new products: accelerating the process from ide ato launch. New York: Basic Books, 2001, pp. 25-26.
35
Gráfico 1: Participação percentual dos gastos de atividades inovativas das empresas industriais que
implementaram inovações de produto ou processo no Brasil entre 2009 e 2011. Fonte: Pesquisa de Inovação, Pintec, do IBGE (2011, p.38.)
Segundo a Pintec, o financiamento para compra de máquinas e equipamentos foi o
mais utilizado (14,2%); e os menos utilizados foram o recém-criados instrumentos de
subvenção econômica (0,5%) e o financiamento a projetos de P&D e inovação tecnológica em
parceria com Universidades ou Institutos de Pesquisa (0,8%). Em relação aos incentivos
fiscais regulamentados pelas Leis de P&D e inovação tecnológica (Lei no8.661, de 2 de junho
de 1993; e cap. III da Lei no 11.196, de 21 de novembro de 2005) e pela Lei do Bem (Lei
no11.196, de 21 de novembro de 2005), observa-se que o percentual de empresas industriais
inovadoras que se utilizaram dos seus benefícios foi de 1,1% apenas, porém se for tomado o
porte daquelas com 500 ou mais pessoas ocupadas, essa proporção sobe para 16,2%.
1.3 Política de Ciência e Tecnologia no país
No Brasil, a Política de Ciência e Tecnologia (PCT) inicia-se na década de 50 com a
criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a
Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior (CAPES).
No fim da década de 60, surge o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (FNDCT) administrado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Neste
período é que o Brasil começa a incentivar a participação do setor privado no investimento
36
em P&D&I, com a Lei no4.506, de 30 de novembro de 1964, fortalecendo suas ações com o
Decreto-Lei no6.297/75.
Depois, em 29 de outubro de 1984, o governo sancionou a Lei no 7.232 que estabeleceu
os princípios, objetivos e diretrizes da Política Nacional de Informática, regulamentada pelo
Decreto no92.187, de 20 de dezembro de 1985.
Após a Constituição de 1988, evidenciam-se uma nova Política Industrial e alguns
incentivos à iniciativa privada, consubstanciados nas Leis no2.433 e 2.434. Em seguida, surge
a Lei no 8.661, de 02 de junho de 1993, regulamentada pelo Decreto no949, de 05 de outubro
de 1993, quando o governo retorna sua Política Industrial de apoio à Pesquisa,
Desenvolvimento e Inovação, com o PDTI e PDTA. Segundo Guimarães (1997), “essa lei
apenas restabelece os incentivos que compunham os programas introduzidos pela Política
Industrial de 1988”.
Em dezembro de 2004, foi sancionada a Lei no 10.973, conhecida como Lei da
Inovação, regulamentada pelo Decreto no5.563, de 11 de outubro de 2005. Essa lei é um
marco no debate sobre a inovação no país, definindo as bases políticas para a criação de um
ambiente favorável à inovação e ao desenvolvimento tecnológico. A lei organiza-se para
constituir um ambiente propício à construção de parcerias entre as Universidades, Institutos
Tecnológicos e empresas; estimular a participação de Institutos de Ciência e Tecnologia no
processo de inovação; e estimular diretamente a inovação nas empresas, as quais foram
fortalecidas com a edição da Lei no 11.196/05, conhecida como Lei do Bem.
No fim de 2007, foi lançado o Plano de Ação da Ciência, Tecnologia e Inovação do
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que ficou conhecido como PAC da Ciência. O
plano buscou estimular o investimento em P&D no setor privado, que, em 2006, destinou
cerca de 0,5% do PIB nacional para a atividade. A meta foi aumentar os investimentos para
0,65% do PIB até 2010, o que não foi atingida (0,51% do PIB em 2010). O MCTI englobou
no montante investimentos em bolsas de pesquisa, programas, como os Fundos Setoriais, e
principalmente incentivos fiscais. As prioridades do plano foram a expansão e consolidação
do sistema nacional de C,T&I, a promoção da inovação tecnológica nas empresas; a P,D&I
em áreas estratégicas; a C&T para o desenvolvimento social.
Vale citar igualmente o lançamento da Política de Desenvolvimento Produtivo do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), de 12 de maio de 2013, que
foi considerada uma sequência da Política Industrial, Tecnológica e Comércio Exterior
(Pitce). As principais metas foram: 1) ampliar o investimento fixo, de 17,8% para 22,1% do
37
PIB; 2) elevar o gasto privado em P&D, de 0,51% em 2005 para 0,65% do PIB (PAC de
C&T, lançado em 2007); 3) ampliar a participação das exportações brasileiras no mundo, de
1,18% para1,25%, e 4) dinamizar os gastos privados em P&D, ampliando em 10% o número
de empresas exportadoras de tecnologia. Definiu-se vinte e cinco setores chaves a serem
atendidos por suas diretrizes, seis deles de forma prioritária: nanotecnologia, biotecnologia,
complexo de defesa (incluindo enriquecimento de urânio), complexo industrial da saúde,
energia e tecnologia da informação.
Segundo o Livro Verde sobre Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI, 2001), a
preocupação dos países em colocar a produção de conhecimento e inovação tecnológica no
centro de sua política para o desenvolvimento rege-se por três motivos: 1) entendimento de
que inovação é o principal elemento de transformação do conhecimento em valor na nova
estrutura econômica mundial; 2) acreditar que investimentos em C&T&I trazem retorno na
forma de uma população mais bem qualificada, de empregos mais bem remunerados e de
geração de riqueza; e 3) acreditar que inovação apresenta oportunidades para ajudar a
sociedade a buscar respostas aos grandes desafios a serem enfrentados na busca da qualidade
de vida da população.
Avaliando especificamente a Política de Ciência e Tecnologia (PCT), advinda da
edição da Lei no10.973/2004, Renato Dagnino sintetiza as ideias sobre o tema: A PCT, ainda que atualmente menos influenciada pelo modelo linear de inovação continua baseada na ideia de que o conhecimento tem que “passar” pela empresa privada (que deve usar sempre a tecnologia mais moderna e ser cada vez mais competitiva), para beneficiar a sociedade. O que faz com que a PCT esteja crescentemente orientada, por um lado, para o desenvolvimento, no âmbito público, de atividades de formação de pessoal e de P & D que atendem o mercado. E, por outro, para a promoção de empresas de “alta tecnologia”, que, como se tem mostrado, escassa relevância possuem para a vida da maioria da população dos países ibero-americanos.27
Uma hipótese a considerar na formulação da PCT&I atual é o quanto a mesma se
relaciona a força dos interesses de seus quatro atores principais: 1) comunidade de pesquisa;
2) governo, ou Estado; 3) empresas; e 4) movimentos sociais. Para Renato Dagnino, há uma
fórmula para expressar as forças dos agentes na atual PCT representada da seguinte forma:
AD (agenda decisória) = c.C (comunidade de pesquisa) + g.G (governo) + e.E (empresa) +
s.S (movimentos sociais), onde as letras minúsculas indicam os pesos relativos dos quatro
atores. Em aprofundamento, Renato Dagnino e Carolina Bagagolli, em artigo: “Como
27 DAGNINO, Renato. As Trajetórias dos Estudos sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade e da Política Científica e Tecnológica na Ibero-América. ALEXANDRIA Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v. 1, n. 2, p. 3-36, jul. 2008. pp. 7-8.
38
Transformar a Tecnologia Social em Política Pública?”, inserido no livro “Tecnologia
Social”28, analisam a alocação prevista de recursos pelo Ministério de Ciência e Tecnologia
para interpretar a agenda decisória existente a favor ou não a um agente de inovação. Os
dados apresentados pelos autores revelam que 21% dos recursos são vinculados a
comunidade de pesquisa; 40% ao Governo e seus órgãos; 37% para as empresas e 2%
aos movimentos sociais29, sendo esta a distribuição relativa correspondente às atividades de
interesse de cada um dos atores. Em outro aspecto, a PCT em diversos países passa pelo “fortalecimento dos sistemas
nacionais de inovação”, o que vem se buscando, da mesma forma, no Brasil com a adoção de
postura mais colaborativa entre instituições de pesquisa, empresas e governo.
Segundo Carlos Américo Pacheco e Júlio Gomes da Silva30, a PCT brasileira tem duas
grandes agendas. A primeira, refere-se à correção de fatores sistêmicos que corroem a
competitividade brasileira; e a segunda, é renovar as bases da indústria brasileira, em setores
intensivos em tecnologia.
Os autores destacam que no Brasil há tradição de apoio a projetos de P&D, mas com
uma forte influência acadêmica no desenho das políticas e de seus instrumentos, mesmo
quando estes se destinam às empresas. Citam, outrossim, que as políticas de inovação não se
vinculam a outras políticas como a de comércio exterior. Sugerem formular políticas que
foquem em empresas e setores em que o Brasil tenha vocação ou grandes debilidades, como é
o caso da indústria eletrônica e a farmacêutica31 ou biodiversidade, por exemplo, que em
qualquer lugar do mundo, são os segmentos industriais em que são maiores as taxas de
inovação e maiores os gastos em P&D.
Os mecanismos de políticas públicas à inovação podem ser técnicos (não financeiros)
ou financeiros, conforme o próximo quadro. Os mecanismos técnicos tem impacto direto na
produção e gestão da inovação, já que remetem à infraestrutura de P&D oferecida. Os
mecanismos financeiros remetem a incentivos financeiros do Estado.
28 DAGNINO, Renato. Tecnologia Social. Ferramenta para Construir outra Sociedade. Campinas, SP.: IG/UNICAMP, 2009, pp.155 a 177 29 DAGNINO, Renato. Tecnologia Social. Ferramenta para Construir outra Sociedade. Campinas, SP.: IG/UNICAMP, 2009, pp. 84-99. 30 PACHECO, Carlos Américo e ALMEIDA, Julio Gomes. A política da Inovação – Instituto de Economia da UNICAMP. ISSN 0103-9466. Campinas, n. 219, maio de 2013. 31 No último relatório do MCTI, ano de 2012, publicado em 2013, os setores de eletrônica e farmacêutica tiveram renúncia fiscal de R$ 96milhões e R$ 97milhões, respectivamente. Apenas o setor de mecânica e transportes teve renúncia fiscal de R$ 250milhões.
39
Mecanismos Técnicos
Infraestrutura de P&D Laboratórios de análises Laboratórios de calibração e aferição Instituições de certificação Sistemas de Metrologia, Normatização e Qualidade Veículos de Difusão Tecnológica (Bibliotecas, Publicações) Sistema de Propriedade Intelectual Sistema de Importação de Tecnologia Mecanismos de Política de Comércio Exterior
Mecanismos Financeiros
Incentivos Fiscais
Isenções Fiscais Reduções Tributárias
Financiamentos
Empréstimos de Condições Favoráveis Financiamento com Participação de Result. Capital Semente Projetos Cooperativos com ICTs Subvenções
Uso de Poder de Compra do Estado
Quadro 3: Mecanismos de Política de Inovação Tecnológica. Fonte: Weisz, J. (2006, p.16).
1.3.1 Resultados da Política de Ciência e Tecnologia no país
Resgata-se os objetivos trazidos pela Lei no10.973/04 para examinar os resultados da
PCT, que são, em sua essência, constituir um ambiente propício à construção de parcerias
entre as Universidades, Institutos Tecnológicos e empresas; estimular a participação de
Institutos de Ciência e Tecnologia no processo de inovação; e estimular diretamente à
inovação nas empresas. Os dois primeiros itens serão avaliados com base na obra de Renato
Dagnino32 e o último, avaliado de acordo com os dados da PINTEC.
Segundo o autor, os Parques de Alta Tecnologia (PATs) que são quase duzentos no
Brasil, incubam por ano um total de dez empresas cada um. Do total, menos da metade atinge
um ano de existência, gerando aproximadamente de sete a dez empregos cada uma. Parece
haver dificuldade das empresas em permanecer no mercado na fase “pós-incubação”, o que
traz para a sociedade e universidades proveito quase inexpressivo.
As avaliações demonstram que os custos das incubadoras, se comparados com os das
bolsas e auxílios a projetos, bem como outros recursos fomentados por instituições de
financiamento como CNPq, Finep, Fapesp e Sebrae são significativamente maiores.
Conforme o autor, as empresas oriundas dos PATs desenvolvem software e não são
consideradas comprometidas com o desenvolvimento de alta tecnologia. 32 DAGNINO, Renato. Os modelos cognitivos das políticas de interação universidade – empresa. CONVERGENCIA Revista de CienciasSociales. UAEMex, núm. 45, septiembre-diciembre 2007, pp. 84-99.
40
Afirma-se que o impacto econômico na geração de emprego é igualmente contestado.
Porém, se aceitos, ele seria de quase dez mil empregos “firmes” gerados por ano num país
onde se inserem no mercado de trabalho quase um milhão e quinhentas mil pessoas por ano.
Dagnino afirma que, preocupados com a baixa eficácia das políticas tecnológicas e
industriais, pesquisadores europeus demonstraram que vários dos segmentos industriais de
baixa e média tecnologia que seriam migrados para a periferia, passaram por um processo de
reorganização que os tornou bem sucedidos no que tange ao mercado mundial.
Explica, assim, que são esses segmentos que geram uma quantidade expressiva de
novos produtos ou alterados tecnologicamente, partindo de inovações originadas em
indústrias situadas na região ou não.
Na óptica do autor, as indústrias dessa área parecem ter meios de organização e geração
de conhecimento e relações com a infraestrutura de C&T bem específicas, que não se
encaixam nos modelos normalmente tidos para formular a Política Tecnológica e Industrial.
O autor prossegue questionando: “seria possível indagar se por causa de vinte e três das
vinte e nove áreas industriais do Brasil serem de baixa tecnologia e responderem por
aproximadamente 85% da produção industrial do Brasil não se deveria considerar quando da
formulação de medidas de política de C&T direcionadas à relação pesquisa-produção este
quadro?”33
Dagnino esclarece que a experiência no Brasil de PATs evidencia um quadro singelo,
questionando: Será que a análise aqui desenvolvida e o conjunto dos fatos estilizados levantados neste trabalho acerca dos PATs e dos elementos extremos que deveriam ser por eles ligados – a universidade e a empresa -, não estaria mostrando uma inadequação dos modelos descritivos e normativos empregados para a elaboração da política de C&T em relação à realidade? Será que a excessiva importância que os setores de alta tecnologia possuem na determinação dos rumos da PCT e do ensino superior brasileiro não compromete sua capacidade de promover o desenvolvimento do tecido industrial local - mais ainda do que o europeu, de baixa intensidade tecnológica - e o crescimento econômico? Será que uma política que, ao invés de basear-se nos PATs, marcados por um viés de “alta tecnologia” e pela atração de empresas estrangeiras, promovesse, mediante outros tipos de arranjos, a capacitação das micro e pequenas empresas de propriedade nacional, de empreendimentos autogestionários e cooperativas situadas em setores de baixa intensidade tecnológica, não poderia alcançar resultados mais significativos do que os até agora logrados?
Concorda-se com o autor sobre a pequena efetividade dos PATs no Brasil, mas isso
não significa que os mesmos devem ser excluídos ou diminuídos na estrutura do Sistema
33 Ibid. 34, p.88.
41
Brasileiro da Inovação, podendo ser analisada hipótese de maior intervenção do Estado na
gestão dos mesmos, com administração por objetivos e metas pré-definidos que levem em
consideração a superação dos desafios apontados nesta seção.
1.3.1.1 Panorama de investimentos privados em inovação no Brasil e prioridades
Com base no PINTEC (Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica), realizado pelo
IBGE, no ano de 201134, que segue a metodologia do Manual de Oslo, cujo objetivo é
construir indicadores setoriais, nacionais e regionais comparativos entre diversos países das
atividades de inovação tecnológica é possível investigar o panorama de investimentos
privados em inovação no Brasil e discutir, por consequência, a efetividade da PCT nacional.
A edição de 2011 (triênio 2009-2011) evidencia que, no âmbito da Industria, há
predominância de empresas que inovaram apenas em processo (18,3%), seguidas pelas
inovadoras tanto em produto quanto em processo (13,4%). Interessante notar que, na
Pintec2008, o maior percentual entre as empresas industriais havia sido observado em relação
às empresas inovadoras em produto e processo conjuntamente (16,8%). Nos Serviços,
predominaram as empresas que inovaram tanto em produto quanto em processo na
Pintec2011 (21,8%), seguidas pelas inovadoras apenas em processo (9,7%). No setor de
Eletricidade e gás, o maior percentual se reporta às empresas que inovaram somente em
processo durante o período 2009-2011 (41,9%).
Gráfico 2: Participação percentual do número de empresas que implementaram inovações no Brasil.
Fonte: Pesquisa de Inovação, Pintec, do IBGE (2011, p.39)
34 O IBGE, com apoio do MCTI e FINEP, publicou a primeira edição do PINTEC em 2002, cobrindo o triênio 1998-2000. Desde então, mais três edições da pesquisa foram realizadas: PINTEC 2003 (triênio 2001-2003), PINTEC 2005 (triênio 2003-2005) e PINTEC 2008 (triênio 2006-2008). O PINTEC 2011 trata-se da 5a.edição, avaliando o triênio 2009-2011.
42
Observa-se que os setores com maior incidência de inovação de processo foram, na
sequência, os de P&D (81,7%), fabricação de sabões, detergentes, produtos de limpeza,
cosméticos, produtos de perfumaria e higiene pessoal (73,3%) e segmento automobilístico
(69,1%). Houve maior ocorrência de inovação de produto nos segmentos de pesquisa e
desenvolvimento (81,0%), fabricação de aparelhos eletromédicos e eletroterapêuticos e
equipamentos de irradiação (78,5%) e no segmento automobilístico (75,0%).
No que tange à taxa de inovação em geral (percentual de empresas que
implementaram algum tipo de inovação em produto ou processo no período), considerando a
faixa de empresas com 10 a 49 pessoas ocupadas, foram de 33,8% e 34,2%, respectivamente,
em Industria e Serviços. Quando se indica, em contraponto, empresas com mais de 500
pessoas ocupadas, verifica-se elevação do percentual para 55,9% e 76,7% em Industria e
Serviços. Fatores como maior capacidade para mobilizar recursos financeiros e materiais,
acessar redes institucionais de pesquisa, contratar mão de obra qualificada ajudam na
compreensão da aparente correlação positiva entre porte de empresa e taxa de inovação,
segundo parecer do IBGE.
Do mesmo modo, a pesquisa apresenta reflexões relevantes sobre a cooperação para a
inovação, uma vez que empresas isoladamente podem ter dificuldades para reunir todas as
competências necessárias para implementar novos produtos ou processos. A cooperação é
presente em segmentos de maior conteúdo tecnológico, dada a complexidade tecnológica
relativamente maior de seus produtos e processos. Baixos níveis de cooperação podem refletir
padrões que apontam para a concentração em atividades mais simples de inovação.
Gráfico 3: Fontes de informação e cooperação para a inovação
Fonte: Pesquisa de Inovação, Pintec, do IBGE (2011, p.53).
43
A PINTEC traz relevante dado sobre os principais motivos em termos percentuais de
investimentos em inovação pelo setor privado, demonstrando que o maior impacto está na
busca por melhoria da qualidade dos produtos e, por consequência, por competitividade,
conforme gráfico 4:
Gráfico 4: Fontes de inovação e seus impactos
Fonte: Pesquisa de Inovação, Pintec, do IBGE (2011, p.59). 1.3.1.2 Panorama de investimentos públicos em inovação no Brasil e prioridades
Observa-se que do orçamento geral da União executado em 2013, conforme gráfico
adiante, no montante de R$ 1,783 trilhões, foram investidos em Ciência e Tecnologia 0,38%
do total. Ou seja, aproximadamente R$ 6,7 bilhões de Reais, o que será também o
disponibilizado em 2014.
Ademais, no plano federal, de acordo com o último relatório de incentivos fiscais
vinculado a lei 11.196/05, publicado em dezembro de 2013 pelo MCTI, foram aprovados 787
relatórios, gerando benefícios em torno de R$ 3,05 bilhões, com incentivos baseados em
exclusão da base de cálculo de IR e CSLL, incentivos por pesquisadores e incentivos por
patentes, conforme tabela abaixo, por região do país:
44
Gráfico 5: Orçamento da União executado em 2013.
Fonte: Senado Federal – Sistema SIGA-Brasil (SIAF, 2014)
Extrai-se do gráfico que o maior “Ministério” é o do pagamento de juros e
amortizações da dívida com 40,30% do orçamento total, seguido pela Previdência Social com
24,11%. Ou seja, sobram para os outros Ministérios recursos no percentual de 35% de tudo
que é arrecadado no país em receitas originárias e derivadas.
Tabela 2: Dispêndios de custeio e redução da base de cálculo por região.
Fonte: MCTI – Relatório Anual de Incentivos Fiscais (2013, p.7).
Marco Antônio Raupp, Ministro do MCTI, fundamenta que são três linhas de
dispêndios. A primeira, baseada na manutenção e ampliação com qualidade da base de
geração de conhecimento de todo sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação (CT&I).
45
A segunda, na aglutinação e gestão estratégica de infraestrutura de CT&I, a fim de criar
laboratórios abertos para comunidade científica e tecnológica. E a última, vinculando-se ao
fortalecimento do programa de inovação das empresas, pelo Inova Empresas, cujos recursos
são provenientes do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do BNDES repassados
ao MCTI.
Vale retratar que o apoio do Estado para a P&D&I é essencial segundo a Organização
Mundial do Comércio, em seu artigo 8o, que autoriza a subvenção e o incentivo fiscal de até
75% dos dispêndios totais com inovação em produtos e processos (WTO, 1994) nos países.
Trata-se de uma hipótese a considerar que no Brasil os incentivos fiscais atingem no máximo
37,5% dos dispêndios em inovação tecnológica e, no caso dos subsídios em até 50% do total,
podendo-se destacar o potencial ainda a desenvolver em termos de política a favor de
investimentos públicos para a inovação no Brasil.
Permite-se registrar que o Estado que mais se vale da economia de mercado, os
Estados Unidos da América (EUA), trata-se igualmente daquele onde o envolvimento federal
ultrapassa mais da metade do esforço nacional de pesquisa-desenvolvimento, ou seja, mais de
setenta bilhões de dólares por ano.
1.3.1.3 Dados da inovação no Brasil no âmbito competitivo internacional
A inovação é um tema fundamental para o país e para as empresas como fonte de
crescimento da produtividade e do emprego. Por essa razão, torna-se imperial aos “governos
criarem condições para empresas realizarem investimentos em P&D e atividades inovadoras
necessárias para promover a mudança técnica necessária ao crescimento”35.
Em termos quantitativos, dados do INSEAD36 revelam que o Brasil ocupa uma
posição de 47o lugar em investimentos em pesquisa tecnológica de uma lista de 125 países.
No último relatório anual do Ministério da Ciência e Tecnologia37divulgado em dezembro de
2013, foram registradas apenas 740 empresas utilizando incentivos vinculados a “lei do bem”,
observando que para o benefício só se enquadram empresas que operam em lucro real.
Conforme a nota técnica do Ipea, em 06 de dezembro de 2013, com base no PINTEC,
houve queda na taxa de inovação na indústria e uma estagnação dos investimentos em P&D
35 OCDE. MeasuringInnovation: A New Perspective" - Uma nova perspectiva para as Medições da Inovação. Estocolmo, 1997. 36 INSEAD. Disponível em: ≤www.insead.com≥.Acesso em: 05/05/2013. 37 Relatório Anual de Incentivos Fiscais, MCTI, disponível em: ≤ www.mcti.org.br ≥. Data de acesso: 05/01/2013.
46
quando comparados com o PIB, embora tenha ocorrido crescimento no indicador de
investimento em P&D em relação ao faturamento das empresas.
Conforme os dados da Pintec, os gastos em atividades internas de P&D chegaram, em
2011, a R$19,95 bilhões correntes, ao passo que os gastos com a aquisição externa de P&D
atingiram R$ 4,29 bilhões, somando R$ 24,24 bilhões. Quando comparado ao PIB, esse
número representa 0,59% ante 0,58% verificado na edição de 2008 da Pintec.
Gráfico 6: Comparativo de investimentos em inovação em razão do PIB entre países
Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia (2011)
Analisando os BRICs, junto com a Coréia do Sul, temos o seguinte gráfico
comparativo de investimentos no PIB, apontando potencial para maiores investimentos em
P&D neste grupo de países, com destaque para o Brasil.
Gráfico 7: Comparativo de investimentos em inovação em razão do PIB entre os BRICs
Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia (2011).
Em termos de produção científica, o país está distante dos primeiros colocados como
EUA (32,7%), Japão (8,5%), Alemanha (8,4%) e China (6,7%) ocupando a 17a. posição.
Entretanto, todos os dados apontam um considerável aumento da capacidade científica do país
ao longo dos últimos 30 anos. Em vinte e cinco anos (1981 a 2005), o Brasil aumentou o
47
número de doutores de 547 para 10.616; em 1981, o Brasil respondia em 0,46% das
publicações indexadas, mas em 2004, por 1,8% e 2012 já são 3%.
Todavia, parece incipiente a capacidade do país transformar a ciência em inovação
tecnológica, de acordo com conclusão obtida a partir da análise dos pedidos de registro de
patentes 38 , conforme quadro que revela um descompasso significativo entre produção
científica e produção industrial.
Gráfico 8: Comparação entre trabalhos científicos e número de patentes depositadas
Fonte: Cf. José Alexandre SCHEINKAMAN. Política industrial x incentivos à inovação, in Folha de São Paulo, publicado em 05 de junho de 2005, p. B.2.
Nota-se que, em virtude dos indicadores, parece uma hipótese verdadeira a
necessidade de intervenção do governo em termos de políticas públicas para estímulo a
transferência da capacidade de pensamento para a capacidade de fazer produtos e processos,
visando atingir níveis similares aos países centrais que investem agressivamente em inovação.
Igualmente, há a um aspecto cultural a considerar, já que indicadores refletem baixa
utilização por empresas brasileiras de financiamentos públicos e de redes tecnológicas
formadas pelo Governo e Institutos de Pesquisas para promover a inovação tecnológica. No
Brasil, somente 11% das empresas contaram com alguma forma de financiamento público, no
período de 1998 a 2000. Ao comparar esse resultado com países como Finlândia, onde o
índice é de 51%, Holanda – 45% e França – 29%, verifica-se a necessidade de iniciativas
públicas para apoiar esse tipo de atividade, segundo dados da ANPAD - Associação Nacional
de Pesquisa e Desenvolvimento.
Outro aspecto cultural a considerar é que parece haver uma vocação brasileira a
importação ou tropicalização de tecnologia39 pelos empresários; e, no caso de pesquisadores,
preferência pessoal por publicação de “papers” técnicos40 ao invés do desenvolvimento e
38 Segundo dados da USPTO/OMPI, em 2012, havia registradas menos de 500 patentes nacionais em outros países no ano. Disponível em: ≤ www.uspto.br≥. Data de acesso: 25 de janeiro de 2013. 39 Segundo pesquisa realizada pela ANPAD – Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento, 50% dos empresários nacionais acham que inovar significa compra de máquinas e equipamentos; enquanto apenas 20% deles entendem que inovar é investir em Pesquisa e Desenvolvimento 40 SCHROT, Edson. Percalços e Estímulos a Inovação. São Paulo: Revista Embalagem Marca,Julho 2011. Ediçãono 143.
48
registro de pesquisas que gerem patentes de forma colaborativa entre estes dois agentes
(empresas-pesquisadores).
Não se pode olvidar que os indicadores de inovação continuam ainda abaixo do
esperado, cuja intervenção é recomendável pela existência de algumas falhas do mercado que
impedem empresas de se apropriarem com segurança dos investimentos que fazem em
tecnologia, seja pelo risco elevado do projeto falhar ou pela rejeição do próprio mercado em
relação ao produto ou processo inovador. Nesta seara, cabe ressaltar que a Lei no11.196/05 é
recente, datando menos de sete anos de existência e que a taxa de empresas que utilizam
financiamentos públicos para subsidiar seus projetos é restrita no Brasil, mas vem
aumentando, o que é bastante positivo, pelo menos em relação aos incentivos fiscais.41
1.4 Características e Estrutura do Sistema Brasileiro da Inovação
Diante da promulgação da Lei no 11.196/05, o Brasil adotou um sistema de iniciativa
nacional da inovação em contraponto ao que vivia antes de 2005, com o sistema de inovação
periférico42 retratado em três fases históricas distintas, sendo a primeira denominada de
“gestação insuficiente (1914-1929)”, e outras duas de “industrialização e inovação
restringidas (1930- 1955)” e “Industrialização pesada e inovação induzida (1956-1973)”.
Reinaldo Kaminskas43 esclarece os efeitos da adoção de um sistema de inovação
periférico na economia: “Além disso, os ciclos de inovações na economia brasileira/periférica seriam apenas uma caricatura de seus equivalentes nos países centrais. Em primeiro lugar, os ciclos periféricos ocorrem geralmente com um atraso temporal e com uma amplitude menor, pois o consumo de mercadorias restringe-se a uma faixa da população, devido, principalmente, à concentração de renda, diminuindo seus efeitos de encadeamento e geração de empregos. Em segundo, o atraso tecnológico recoloca-se a cada momento, devido à perseguição de um ‘alvo móvel’, visto que o progresso tecnológico e a criação de inovações não cessam nos países centrais. Por último, a internalização do ciclo na periferia ocorre de maneira descontínua e, muitas vezes, desordenada, gerando defasagens tecnológicas entre os setores industriais. Tais defasagens tornam-se críticas nos momentos de ascensão dos novos ciclos, pois impossibilitam a adoção do novo fator-chave produtivo pelo paradigma anterior. Ou seja, as inovações
41 Em 2013, de acordo com o PINTEC-IBGE apenas 22,8% (8,7 mil empresas) obtiveram ao menos um benefício do governo para desenvolver suas inovações de produto e/ ou processo de 2006 a 2008 entre as empresas industriais. No entanto, esta proporção cresce com o tamanho da empresa: 22,2% das que ocupam entre dez e 99 pessoas, 23,7% daquelas que possuem entre 100 e 499 pessoas ocupadas e atinge 36,8% nas empresas com 500 ou mais pessoas ocupadas. Depreende-se, portanto, que as grandes empresas foram relativamente mais beneficiadas nos programas governamentais. Na Finlândia, o índice é de 51%, na Holanda – 45%, na França -29% (fonte: CGEE, 2006). 42 KAMINSKAS, Reinaldo. A economia da inovação periférica – formação do padrão inovativo brasileiro Dissertação. Campinas: IE-Unicamp, 2005, pp.49, 55-60, 61-7. 43Ibid, p.48.
49
produtivas advindas com os novos ciclos não conseguem estender seus efeitos de forma horizontal por todos os setores, devido à ausência de maturidade tecnológica destes em relação ao padrão dos países centrais; a modernização produtiva ocorre de forma individual e verticalizada por cada setor.”
O desenvolvimento da inovação pode acontecer em dois ambientes distintos: a) dentro
das empresas; ou b) fora das empresas, isoladamente ou em parceria com Institutos de Ciência
e Tecnologia, Universidades, centros de pesquisas, fornecedores e clientes.
O modelo de organização de Sistema da Ciência e Tecnologia nacional é formado, no
cume da estrutura, pelo MCTI, Institutos Federais de Ciência e Tecnologia e Institutos de
Pesquisa Tecnológica (IPTs) federais. Advém logo em seguida entidades associadas e núcleos
de P&D&I e Institutos Nacionais de C&T, acompanhados por Núcleos de Excelência. Na
execução, aparecem grupos de pesquisas e redes temáticas, conforme próxima figura:
Quadro 4: Modelo de organização do Sistema Brasileiro da Inovação.
Fonte: CNPQ (2012).
O quadro de participantes do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação,
conforme relatório do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), baseia-se em uma
multiplicidade de órgãos e pessoas que interagem em diversos níveis, formado pelos: • Ministérios da Ciência e Tecnologia, Educação (CAPES), Saúde, Defesa,
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (BNDES), Agricultura, Relações Exteriores, entre outros.
• Órgãos federais, estaduais e municipais de fomento `a pesquisa científica, como CNPQ, CAPES, FAPs, além das agências de financiamento ao desenvolvimento tecnológico como FINEP e BNDES
• Instituições de Ensino Superior, Hospitais Universitários e Centros de Pesquisas públicos e privados (ICTIs);
• Empresas • Associações cientificas, tecnológicas e empresariais e órgãos não
governamentais que contam com a participação da sociedade.
No índice do relatório do quadro de participantes selecionados no Sistema Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação, do CGEE, Série Documentos Técnicos 06-10, publicado em
50
maio de 2010, constam discriminados a missão, áreas de pesquisa e contato de mais de 40
subestruturas diferenciadas dos seguintes órgãos: EMBRAPA (tipo EMBRAPA Algodão,
EMBRAPA gado de corte, EMBRAPA meio ambiente, EMBRAPA recursos genéticos e
biotecnologia, EMBRAPA monitoramento por satélite); 18 subestruturas das Organizações
Estaduais de Pesquisa Agropecuária (OEPAS); da FIOCRUZ (Fundação Osvaldo Cruz) com
11 subestruturas; da Comissão Nacional de Energia Nuclear composta por 7 subsistemas; do
Sistema do MCTI que será melhor analisado abaixo pela sua importância central ao
desenvolvimento tecnológico; dos Institutos Tecnológicos Estaduais com 13 subestruturas;
Saúde com seis órgãos (IPEPATRO, IEC, ILPC, INCA, INC, Instituto Butantan); Defesa
(IPqM, ITA, CTA, IME, CTex, IEAPM); Energia (CEPEL, CENPES, CPRM); e Tecnologias
da Informação e Comunicação (TICs) formada por 8 subestruturas.
Quanto à estrutura do MCTI, criada pelo decreto no91.146/1985, com posteriores
alterações), compõe-se de: Duas agências de fomento `a Ciência, Tecnologia e Inovação: O Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPQ) e a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Vinculam-se a ele também, a Agência Espacial Brasileira (AEB), a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), além de 19 unidades de pesquisa, ciência e inovação de excelência Há ainda quatro empresas públicas vinculadas ao sistema: Industrias Nucleares Brasileiras (INB); Nuclebrás Equipamentos Pesados (NUCLEP); Alcântara Cyclone Space (ACS) e Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (CEITEC). Do ponto de vista da estrutura organizacional interna, há quatro secretarias temáticas que são responsáveis pela gestão dos programas e ações do Ministério: Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (SECIS); Secretaria de Política de Informática (SEPIN); Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (SEPED) e Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (SETEC)44
O INPI tem sua estrutura regimental, bem como outras disposições de interesse
regulamentadas pelo decreto no 7.356/2010, em seu artigo 2o, que envolve os seguintes
órgãos: Presidência, Órgãos seccionais (Ouvidoria, Procuradoria Federal, Auditoria interna, Corregedoria, Coordenação-geral de TI, Coordenação-geral de Comunicação Social, Coordenação-geral de Planejamento e Orçamento e Diretoria de Administração) Há também órgãos específicos singulares que envolvem a Diretoria de Cooperação para o Desenvolvimento, Diretoria de patentes, Diretoria de marcas, Diretoria de contratos, Indicações geográficas e registro, Centro de Defesa de Propriedade Intelectual e Coordenação-geral de recursos e processos administrativos de nulidade.
44 MCTI. Agência Espacial Brasileira. MCTI completa 27 anos de criação. Disponível em: <http://www.aeb.gov.br/2012/03/mcti-completa-27-anos-de-criacao/>. Acesso em: 20/07/2013.
51
Tem-se no Brasil, ao total, vinte e cinco parques tecnológicos prestando serviços (em
operação), conforme lista da ANPROTEC45 apresentada no anexo C. São mais dezessete
parquesem implantação e trinta e dois em projeto.
No ano de 2013, foi criada pelo MCTI em parceria com a Confederação Nacional da
Indústria (CNI) e apoio da FINEP a ação piloto EMBRAPII (Empresa Brasileira de Pesquisa
e Inovação Industrial).
A Embrapii objetiva fomentar projetos de cooperação entre empresas nacionais e
instituições de pesquisa e desenvolvimento para a geração de produtos e processos inovadores
vinculados a área de bionanomanufatura, com período de ação piloto até dezembro de 2013 e
execução de projetos até dezembro de 2015. No processo, estão participando o IPT – Instituto
de Pesquisas Tecnológicas do Estado de SP em áreas vinculadas a biotecnologia,
nanotecnologia, microtecnologia e metrologia de ultra precisão. Além disso, estão
vinculados ao programa o Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia –
SENAI/CIMATEC nas áreas: automação e manufatura; e Instituto Nacional de Tecnologia –
INT nas áreas: energia e saúde.
1.4.1 Princípio da Eficiência no Sistema Brasileiro da Inovação
De acordo com Eros Roberto Grau46 a análise da eficiência da Administração Pública
adquiriu uma grande valoração para a sociedade, tornando-se um valor cristalizado, pois não
é interessante à sociedade a manutenção de uma estrutura ineficiente. A cristalização deste
valor ganhou normatividade, transformando-se em um princípio a ser observado por todo o
ordenamento jurídico no que tange à Administração Pública.
José Afonso da Silva47 define o princípio da eficiência como “o melhor emprego dos
recursos e meios (humanos, materiais e institucionais), para melhor satisfazer às necessidades
coletivas num regime de igualdade dos usuários”.
Para o antigo presidente da SBPC e atual Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação,
Marco Antonio Raupp, um dos problemas da eficiência dos órgãos de inovação é que os
mesmos não conseguem superar a dicotomia pública-privada, como explica:
45 ANPROTEC. Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores. Disponível em: < http://www.anprotec.org.br/ArquivosDin/portfolio_completo_resol_media_pdf_28.pdf>. Acesso em: 22/07/2013. 46 GRAU, Roberto Grau. A ordem econômica na constituição de 1988. 2. ed., São Paulo: Malheiros., 1991, p.194-196. 47 SILVA, José Afonso, Curso de Direito Constitucional Positivo.18.ed., São Paulo: Malheiros, 2000, p.112.
52
Temos uma deficiência histórica, que resulta do fato de que a atividade científica é nova no país e não está prevista nos códigos tradicionais. As instituições de C&T são, em sua maioria, públicas, mas os usuários do conhecimento científicos são privados.
Outra questão é a provável redução de eficiência do Sistema Brasileiro da Inovação
pela quantidade de controles de pesquisa existentes. Na avaliação de Glaucius Oliva, diretor
de Programas Horizontais e Instrumentais do CNPq, o sistema atingiu um grau de maturidade
que requer maior flexibilização, com mais foco nos resultados das pesquisas e menos controle
das ações: Precisamos desonerar as ações de ciência e tecnologia. Gastamos muito tempo com controle e pouco tempo com avaliação. É preciso flexibilizar o uso dos recursos em pesquisa e aplicar um esforço maior no acompanhamento das diferentes áreas.
O sistema de formação de pessoal, em sua configuração atual, também é considerado
muito rígido. Segundo Raupp, um dos maiores entraves ao desenvolvimento do sistema
nacional de CT&I é o déficit de pessoal qualificado nos institutos de pesquisa do país. "Não existe uma relação entre as contratações que ocorreram nas Universidades, que aumentaram significativamente, e as contratações para os institutos. Alguns deles estão em situação desesperadora pela falta de engenheiros e cientistas"
Dados do IPEA, no entanto, rebatem afirmações de que haveria escassez de engenheiros no Brasil:
O artigo aponta quatro dimensões que podem explicar a percepção dos agentes econômicos sobre escassez de mão-de-obra em Engenharia: a qualidade dos engenheiros formados, uma vez que a evolução na quantidade não foi acompanhada pela mesma evolução na qualidade; o hiato geracional, o que dificulta a contratação de profissionais experientes para liderar projetos e obras; os déficits em competências específicas; e, os déficits em regiões localizadas. Por outro lado, os autores alertam para o fato de que a inexistência de gargalos não significa a falta da ampliação dos investimentos no ensino de Engenharia, particularmente nas universidades públicas. Para eles, a Engenharia está profundamente ligada ao desenvolvimento econômico e à inovação. E neste aspecto o Brasil apresenta baixo índice de engenheiros por habitante ou por formados no ensino superior.48
Igualmente, conforme dados do IPEA, divulgado em 18 de dezembro de 2013, o
problema é que de sete em cada dez profissionais de ciência, tecnologia e engenharias
(CTEM) não ocupam postos de trabalhos típicos de suas áreas de formação. Através do Censo
de 2010, a pesquisa verificou que 59% dos engenheiros trabalham em setores não típicos,
como mercado financeiro e ensino. Os resultados demonstram que, entre 2000 e 2010,
ocorreu um aumento de contratação desses profissionais em algumas regiões. Em 2010, a
48 IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Pesquisas do Ipea contestam escassez de engenheiros.05/11/2013. <http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=20486> Acesso em: 18/12/2013.
53
maior parte com formação especializada passou a se concentrar nas regiões Sudeste, Sul e
Centro-Oeste.49
Outro desafio, é o aumento da infraestrutura existente no país para a inovação. Faltam
laboratórios para biotecnologia, biocombustíveis, microeletrônica e nanotecnologia, cuja
implantação está sendo colocada na agenda como prioridade na gestão atual do MCTI.
Por fim, quanto a eficiência do sistema há a questão do regime de igualdade entre os
usuários, destacando que a política de incentivos fiscais contempla empresas que se
enquadram no lucro real. Para pequenas empresas, a política é de subsídios, o que exige
apresentação de propostas de projeto para órgãos públicos, cuja aprovação depende dos
critérios exigidos nos editais, o que pode dificultar captação de recursos por este tipo de
empresa.
49 IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Boletim Radar n. 30. Tecnologia, Produção e Comércio Exterior. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/radar/131218_radar30.pdf> Acesso em: 18/12/2013.
54
CAPÍTULO 2. SUJEITOS DA INOVAÇÃO E SEU PAPEL NO SISTEMA
BRASILEIRO DA INOVAÇÃO
2.1 Perfil do profissional da inovação
O profissional da inovação é capaz de introduzir novos processos de trabalho e
também novos negócios no mercado. No cenário brasileiro, observa-se que nos últimos anos
cresceu significativamente o número de profissionais intelectuais no Brasil. Na formação de
pessoal para a pesquisa, o país consegue mais de seis mil doutores por ano, número similar a
Grã-Bretanha, observando que são 11,3 mil brasileiros que obtiveram o título de doutor e 39,6
mil, o de mestre, segundo o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em 2013.
São praticamente dez mil publicações por ano, lembrando que há duas décadas não se passava
de dois mil artigos.
De acordo com o PINTEC 2011 (2009-2011) a formação dos profissionais que
trabalham nas empresas em P&D, distribui-se deste modo:
Gráfico 9: Pessoas ocupadas na área de P&D, segundo o nível de qualificação
Fonte: Pesquisa de Inovação, Pintec, do IBGE (2011, p.45).
Observa-se que 65,3% das pessoas ocupadas nas atividades de P&D são
pesquisadoras; 26,4% são técnicos e 8,4% são auxiliares, com 69% dos profissionais com
nível superior, sendo, deste total, 58,5% graduadas e 10,7% pós-graduadas, havendo 24%
com nível técnico. Estima-se que pela pesquisa (PINTEC) são 115 mil pessoas ocupadas em
55
atividades de P&D no Brasil. Dados do CNPQ revelam que o número de grupos de pesquisa
aumentaram no Brasil chegando de 11.760, em 2000, para 27.523, em 2010, um salto de
quase 150%, podendo se chegar a 350 mil pessoas ocupadas em atividades de P&D,
somando-se iniciativa pública e privada, mas observando que não se trata somente este
número de pesquisadores de inovação tecnológica, mas de todo tipo de pesquisa, inclusive
jurídica e de gestão.
A proporção de pesquisadores voltados a inovação tecnológica na população sugere
que o Brasil encontra-se distante da média mundial, que é de mais de 1.000 pesquisadores
para cada milhão de habitantes. Em 2007, o país contava com pouco mais de 500
pesquisadores por milhão de habitantes, segundo o Relatório Unesco sobre Ciência 2010.Para
efeito de comparação, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura (Unesco), em 2010 a China estava prestes a superar tanto os EUA quanto a União
Europeia em número de pesquisadores. Estes três países representam cerca de 20% do
contingente mundial de pesquisadores. Se somada a participação do Japão (10%) e a da
Rússia (7%), percebe-se que os cinco países, com cerca de 35% da população mundial, têm
75% de todos os pesquisadores. Em contraste, a Índia, um país populoso, tem apenas 2,2%
dos pesquisadores do mundo, enquanto continentes inteiros como América Latina e África
têm 3,5% e 2,2%, respectivamente.
No artigo “Morte e ressureição do capitalismo”, de Jean-Jacques Salomon, discute-se
sobre o papel dos intelectuais como profissionais da inovação. Antes de refletir propriamente
sobre o tema, Salomon explica que o bom funcionamento das estruturas democráticas garante
o bom funcionamento da economia de mercado.50
Salomon realça a hipótese de que os intelectuais e pequenos burgueses que passaram
pelo ensino superior formam o exército de reserva dos novos proletários, rumando à
conclusão: Todas as estatísticas mostram que, em todos os países industrializados, a categoria
dos diplomados de ensino superior escapa mais facilmente do desemprego ou
encontra mais facilmente trabalho do que todas as outras categorias. São os
intelectuais que mais se adequam a um sistema em que a inovação é preponderante51
50 SALOMON, Jean-Jacques. Morte e ressurreição do capitalismo: a propósito de Schumpeter. Estud. av., São Paulo , v. 5, n. 13, Dec. 1991. 51 Ibid., p.17.
56
De tal sorte, o autor clarifica três pontos: (i) a inovação tecnológica se desenvolve
melhor numa economia de mercado; (ii) o Estado capitalista intervencionista pode atuar
positivamente nas atividades econômicas que envolvam a inovação tecnológica; e (iii) os
intelectuais numa economia capitalista possuem mais chances de arranjar emprego, não
constituindo exército de proletários, pelo contrário, podendo contribuir como mão-de-obra
especializada que atua justamente no campo da inovação tecnológica.
2.2 Reflexões sobre Tecnologia Social e inovação
Consoante Renato Dagnino, o termo tecnologia social tem como sinônimo o termo
tecnologia alternativa, estudada desde a década de 90, por alguns grupos de pesquisadores, da
rede de Tecnologia Social (RTS), mediante a prospecção de demandas e proposição de
soluções tecnológicas com objetivo da inclusão social em áreas como agricultura familiar,
habitação popular, energias alternativas, reciclagem de resíduos, produção e conservação de
alimentos. Tecnologia Social (TS), em síntese, compreende “produtos, técnicas e/ou
metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem
efetivas soluções de transformação social”.
O movimento da TS não é novo, tendo em Ghandi um de seus pioneiros, depois
passando pela Tecnologia Intermediária de Schumacher (1973) e que alcança seu auge com a
Tecnologia Apropriada (TA). O tema foi analisado por Dickson, 1980, em seu artigo
“Tecnología alternativa y políticas del cambio tecnológico”; em 1982 por Emmanuel, em
“Appropriate or Underveloped Tecnology?”; em 1987 por Stewart, em “”Macro-Policies for
Appropriate Tecnology in Developing Countries; e também por Herrera, em 1991, “The
generation of Technologies in rural áreas”.
No Seminário Tecnologia para a Inclusão Social e Políticas Públicas na América
Latina realizado no Rio de Janeiro, em 24 e 25 de novembro de 2008, surgiram seis estudos
sobre TS no Brasil. O primeiro trabalho – “Contribuições ao marco analítico-conceitual da
Tecnologia Social” – trata das duas maneiras principais que têm sido utilizadas para abordar o
conceito de TS: normativa e descritiva de artefatos sócio-técnicos concretos. O segundo
trabalho – “A Tecnologia Social e a Economia da Inovação” que parte da origem do conceito
de inovação, do ambiente da empresa privada capitalista e a necessidade da revisão da Teoria
da Inovação para englobar também a TS. O terceiro trabalho – “Em direção a uma teoria
crítica da tecnologia” – busca fortalecer o conceito de TS e, assim, contribuir para a sua
57
operacionalização. O quarto trabalho – “Em busca de uma metodologia para pesquisar a TS”
– propõe uma abordagem teórica-metodológica para a realização de diferentes análises
destinadas a gerar uma base empírica ao redor do conceito de adequação sócio-técnica. A
matriz conceitual deste quarto trabalho analisa a PCT com seu objeto de análise: sociologia da
tecnologia, economia da mudança tecnológica e análise de política pública. O quinto trabalho
– “A Tecnologia Social e seus arranjos institucionais” – apresenta um panorama dos atores
sociais que estão envolvidos com a TS no Brasil (Governo, Movimentos Sociais,
Universidades, outros). Por fim, o sexto trabalho – “Como transformar a TS em Política
Pública?”– busca responder esta pergunta focalizando uma das políticas essenciais para fazê-
lo: a Política de CT&I brasileira.
Na mesma linha, em termos práticos, estudos foram realizados indicando as taxas de
retorno privadas e sociais para investimentos em P&D&I. A tabela em sequência, elaborada
pela OCDE, apresenta um resumo dos estudos elaborados por pesquisadores, indicando taxa
de retorno através do cálculo estimado dos benefícios e os custos de investimento em
inovação.
Tabela 3: Taxas de retorno social e privado em P&D.
Fonte: OCDE (1996, p.38).
Conclui-se dos resultados obtidos que as taxas de retorno social dos investimentos
realizados em P&D são maiores que as taxas de retorno privado. Os economistas chamam a
diferença entre taxa de retorno privada e social como falha de mercado. No caso da inovação,
as falhas podem acontecer porque uma empresa não consegue se apropriar de todas as
vantagens e lucros que podem surgir de um investimento em P&D. Os dados podem favorecer
a intervenção do Estado a favor de incentivos na produção de novos conhecimentos.
58
2.3 Papel e cultura das empresas na inovação
As empresas são detentoras da lógica certa para criar produtos inovadores e
comercializá-los. Parece que já é superada a ideia de que inovação é assunto para acadêmicos
e cientistas alheios à vontade de mercado.
A aversão ao risco agravados por problemas conjunturais derivados de cenários
macroeconômicos e políticos conturbados gera nas empresas nacionais barreiras à inovação
que devem ser superadas com apoio estatal.
Nessa linha, Eli Diniz e Renato Boschi, no artigo “Uma nova estratégia de
desenvolvimento?”, refletem sobre a nova agenda de crescimento da América Latina,
delineando os passos de parceria cada vez maiores entre empresas e governo no novo cenário: Parece claro que os caminhos que se delineiam para a retomada do crescimento se situariam na definição de um modelo de desenvolvimento que combinaria elementos de trajetórias, recuperando o papel protagonista do Estado que remonta ao período desenvolvimentista mas, ao mesmo tempo, incorporando alguns elementos do modelo instaurado pelo processo das reformas de mercado com participação intensa das empresas. O resultado seria uma síntese institucional que se expressaria numa modalidade de desenvolvimento que vem sendo cunhada de “novo desenvolvimentismo” no debate brasileiro (Bresser Pereira, 2005, 2006, 2009)e que teria sua contrapartida externa na preocupação da CEPAL (hoje CEPALC, Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) com a retomada da tradição estruturalista, adaptada e redefinida aos novos tempos (Machinea & Serra, 2007).A dimensão social, relegada a um segundo plano durante quase todo o período do desenvolvimentismo, aparece agora fortemente como uma prioridade no cenário pós-neoliberal, retomando o veio apontado pela proposta da CEPAL nos anos oitenta de “crescimento com equidade”. (....) Os setores empresariais, caracterizados por forte pragmatismo e organizados em associações corporativas e uma teia de outras entidades à sua margem, foram em geral receptivos às reformas, muito embora a abertura tivesse impactado diferencialmente distintos segmentos da indústria (Diniz & Boschi, 2004; 2007) (...)
No entanto, os mesmos autores discutem o formato adotado pelo governo para que
empresas atuem com maior força no desenvolvimento nacional, enfatizando o papel do
BNDES e da escolha de setores para a inovação: Bastante generalizada foi também a percepção de que o governo Lula definiu, por contraste com seu antecessor, uma política industrial para o país centrada na atuação do BNDES. O aspecto distintivo dessa modalidade de ação do BNDES, para além da própria política industrial, seria a construção de um polo de financiamento público para promover o desenvolvimento (...) A primeira definiu quatro setores como estratégicos: fármacos e medicamentos, software, semicondutores e bens de capital. Essa primeira fase foi vista como o esboço de uma política industrial de teor ainda muito restrito, de perfil setorial e de alcance limitado. A segunda fase, elaborada entre 2007 e 2008, caracterizou-se por ter maior amplitude, além de contemplar, não apenas setores, mas a consolidação de cadeias produtivas. O cerne estaria no fomento conferido a setores já competitivos, deixando à margem aqueles que poderiam se beneficiar de políticas industriais
59
Apesar da natural preferência de recursos públicos para alguns setores e também tipos
de empresas, cabe destacar que não são apenas grandes empresas que são capazes de inovar
no país. No Brasil, como em outros países, há centenas de casos de clusters para a inovação
formado por pequenas empresas, sendo por exemplo o Polo Industrial de Xapuri, no Acre, um
modelo para exploração de recursos da floresta. Neste diapasão, segundo a PINTEC 2011,
observa-se um contingente grande de pessoal ocupado em atividades de Pesquisa e
Desenvolvimento em empresas de pequena porte.
Tabela 4: Taxas de ocupação em P&D.
Fonte: IBGE – Pesquisa de Inovação (2011).
2.4 Papel e cultura do Governo na inovação
O Estado tem um papel relevante no processo de crescimento da inovação. Segundo
Dagnino a condução de políticas de ciência e tecnologia seguem uma lógica de oferta
semelhante as adotadas por países desenvolvidos e com orientação capitalista. Lassance
Junior comenta sobre uma tendência cultural por parte do Governo em dirigir recursos para
tecnologias convencionais nacionais e de acordo com critérios de qualidade baseados em
métodos de países desenvolvidos.
Na opinião da pesquisadora Eva Stal52, o Estado pode fomentar iniciativas de
desenvolvimento científico e tecnológico com as seguintes ações:
52 STAL, E. & FUJINO. A propriedade intelectual na Universidade e o papel das agências de fomento, Anais do XXII Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica, organizado pela FIA/FEA-USP, UNIFACS e IEL?CNI. Salvador, 2002.
60
1) Execução direta de atividades de P&D em Institutos e Laboratórios de Pesquisa Governamentais e nas empresas estatais
2) Formação de Recursos Humanos em vários níveis, principalmente nas escolas técnicas, graduação e pós-graduação
3) Financiamento de P&D nas empresas. 4) Concessão de incentivos fiscais `as empresas que realizam P&D 5) Criação e manutenção de redes e sistemas de informação, bibliotecas e bases
de dados 6) Medidas de ordem legal, com sistemas de patentes, licenças e marcas, que
preservam o direito de propriedade intelectual dos resultados das inovações 7) Medidas de ordem econômica não diretamente relacionadas a P&D, mas que
reduzem o custo da inovação de forma indireta por aportar recursos em fases subsequentes e essenciais como desenvolvimento de mercado e comercial, instalações para produção, marketing e outros. Estudos demonstram, inclusive, segundo a autora, que os gastos de P&D equivalem a 50% do custo total de sucesso da inovação industrial.
8) Medidas que visam `a reduzir a incerteza do processo de inovação, como proteção no mercado interno por meio de políticas de compras governamentais e, com menor frequência, controle de importações e proteção a expansão para mercados externos, com apoio `as exportações por meio de esquemas especiais de financiamento.
Avaliando os sistemas nacionais de inovação apresentados pela autora compostos por
Pesquisa, Ensino, Governo, Entidades não Governamentais e Setor Produtivo, o papel do
Estado é também diagnosticar o sistema existente dentro da configuração proposta pelos
acadêmicos Pari Patel e Keith Pavitt e buscar alavancá-lo com as peculiaridades do país: Segundo os autores há três sistemas: 1) Sistemas Maduros – capazes de manter o
país na (ou perto da) fronteira tecnológica internacional. Exemplo: EUA, Japão, Alemanha, França, Inglaterra e Itália; 2) Sistemas Intermediários – basicamente voltados `a difusão da tecnologia, com forte capacidade de absorver avanços gerados em sistemas maduros. Exemplos: Suécia, Holanda, Dinamarca, Suiça, Coréia do Sul e Taiwan; e 3) Sistemas incompletos – com infraestrutura tecnológica mínima havendo sistemas de ciência e tecnologia (C&T), mas não os convertendo em efetivos sistemas de inovação, com dificuldade em arranjos entre os agentes de inovação do país. Exemplos: Brasil, Argentina, México, Índia e China.
Em outra análise sobre o papel fundamental do Estado da inovação aparecem três
questões centrais formuladas por Eli Diniz53: 1) houve configuração de um novo regime
produtivo coordenado pelo Estado no Brasil do século XXI? É possível identificar a
formulação de uma nova estratégia de desenvolvimento para o país? Quais segmentos do
aparato estatal se destacam na construção dessa estratégia de desenvolvimento? Em resposta,a
autora sintetiza: Na primeira questão, observa-se durante o primeiro mandato, sobretudo na condução da política macroeconômica, marcada pela prioridade à estabilização econômica, metas de inflação, superávits primários elevados, juros altos, política fiscal restritiva e flexibilização da taxa de câmbio; depois, a partir do segundo mandato, quando se verifica a ampliação, no interior do governo, do espaço ocupado pelo grupo desenvolvimentista. De certa forma, o Programa de Aceleração do Crescimento
53 DINIZ, E. e BOSCHI, R. Uma nova estratégia de desenvolvimento?, publicado em 2011, p. 8.
61
(PAC) simbolizaria a expansão da influência desse núcleo mais desenvolvimentista, configurando-se como um ponto de inflexão. (...) Na segunda questão, observa-se um consenso em relação à impossibilidade de se identificar um modelo consistente de longo prazo aglutinando distintos aspectos de uma plataforma nitidamente desenvolvimentista. A agenda estaria pautada por uma ênfase na inclusão social e por uma visão estratégica sobre a expansão do mercado interno de consumo de massas como elemento propulsor de uma nova modalidade de crescimento. Um aspecto compartilhado em praticamente todo o conjunto das entrevistas é o fato de que a estabilidade econômica representou uma conquista incorporada como um valor suprapartidário e acima de visões ideológicas concorrentes. (....) A visão comumente disseminada acerca do papel do Estado, numa vertente liberal, reforçada com a vigência das reformas orientadas ao mercado, é a de que a expansão do Estado constitui aumento supérfluo do gasto público, com inchaço da burocracia e desperdício de recursos. A visão alternativa e que marcou o debate político na última década, foi a insistência sobre o fato de que era necessário re-aparelhar o Estado, recuperando sua capacidade de intervenção, assim possibilitando o enfrentamento das novas prioridades da agenda pública.
2.5 Papel e cultura das Universidades e Institutos de Pesquisa na inovação
Em linhas gerais, autores como Renato Dagnino afirmam que a PCT brasileira atende
quase que exclusivamente aos interesses da própria comunidade de pesquisa. O modelo dessa
política, pautado pela noção de que existiria uma relação linear entre ciência, tecnologia e
desenvolvimento social (ou seja, de que mais ciência geraria mais tecnologia e, por fim, mais
desenvolvimento), permite que a comunidade de pesquisa tenha acesso a mecanismos e
instrumentos que garantem a realização de suas atividades. Segundo Serafim, há “dificuldade
de inserção de uma proposta capaz de aumentar o empoderamento de atores sociais que
buscam uma nova lógica para a relação ciência-tecnologia-sociedade, com formação de
grupos de discussão e de trabalhos entre os fazedores de política, comunidade de pesquisa e
os segmentos da sociedade civil”.
Na educação parece prevalecer a neutralidade da ciência e determinismo tecnológico,
com pouco viés nas questões sociais. O campo que estuda a relação entre Ciência, Tecnologia
e Sociedade surge em meados da década de 70. Segundo Auler e Delizoicov (2006), uma das
principais características da Educação seria a busca pela participação e pela democratização
das decisões em temas sociais envolvendo ciência e tecnologia. Um campo que parece crescer
também é o da multidisciplinariedade da ciência que envolve áreas como sociologia, história,
filosofia e economia. Segundo Von Linsingen (2006), isso justificaria uma mudança na forma
de ensinar disciplinas dos campos de ciências e engenharias, que deveriam incorporar às
tradicionais preocupações disciplinares um conjunto de variáveis distintas, como exemplo, a
importância de problemas locais ou questões cotidianas da população.
62
Na II Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação notou-se mudança no
papel das Universidades e Institutos de Pesquisa no país e também inclusão da pauta de
Tecnologia Social na agenda da ciência e tecnologia nacional: “Todos sabemos da importância extraordinária do desenvolvimento da ciência pura. Aqui, vejo o professor Alberto Carvalho da Silva e me recordo não sei se de 50 anos atrás de quando se discutiam essas questões na universidade. Na verdade, tínhamos uma certa aversão à possibilidade de que os recursos fossem destinados à tecnologia, temerosos que estávamos e, na época, com muita razão de que, com isso, se esvaziassem os recursos para a ciência pura.O tempo, hoje, é outro, não apenas porque temos mais recursos, como aqui mencionei, como porque existe a compreensão de que, entre a universidade e a empresa, as muralhas estão tombando. Não no mau sentido, tornar a universidade uma empresa no sentido banal de mercado, nem no sentido oposto de imaginar que universidade é mera academia, no sentido de mofo, no sentido de alguma coisa desligada do produto real da vida. Não. No bom sentido. Exatamente porque a universidade não está mofada e nem está disposta a virar mercadoria; exatamente porque os empresários também sabem dar valor ao que se produz na universidade e não vão confundir a cooperação científica como se fosse, simplesmente, uma agregação de valor, não no sentido do valor científico, mas do valor meramente material, massa bem que existe mais do que isso, é possível que se aposte, como estamos apostando, hoje, nesta fusão maior entre o desenvolvimento científico, social e o desenvolvimento tecnológico”
2.6 Princípio democrático e inovação
O conceito de democracia desenvolveu-se ao longo dos anos, na medida em que os
governos assumiam-se como democráticos, sendo uma construção histórica. Desse modo,
tem-se procurado refletir considerações sobre o seu significado.
Hélcio de Abreu Dallari Júnior 54 reflete sobre quatro pontos da democracia: a)
soberania da vontade do povo como fundamento do poder político e organizadora do Estado;
b) importância da vontade popular; c) relevância do controle do povo no poder político; e d)
caráter fundamental da participação popular.
No que tange às decisões políticas, a participação popular direta nas tomadas decisões
deve ser conciliada com a representatividade, afinal no Brasil adota-se uma democracia
semidireta, sendo instrumentos de participação popular direta o plebiscito, o referendo e a
iniciativa popular.
Por outro lado, atualmente, cada vez mais, com o advento da internet e das redes
sociais55, o povo assume uma possibilidade decisória maior, onde a participação política se
trata de uma liberdade fundamental inexorável.
54 JUNIOR DALLARI, H.A. Teoria Geral do Estado Contemporâneo, 4a.ed., 2011, pp.41-42. 55 Sobre o assunto, cabe lembrar que o povo na Islândia debateu sobre a criação de sua nova Constituição pelo Facebook em 2012. Embora alguns argumentem que pelo fato desta rede social não se tratar de código aberto, na
63
No panorama empresarial, por sua vez, é possível discutir a democracia do ponto de
vista da organização chamada de Tecnoestrutura, conforme reflete Galbraith.56
A reflexão envolve a substituição da figura individual e centralizadora do empresário,
para todos aqueles que colaboram com conhecimento especializado, talento ou experiência
para tomada de decisões pelo grupo – que constitui o cérebro da empresa. O autor afirma que
não existe nome para todos os que participam da tomada de decisões em grupo ou para a
organização por eles constituída, mas se propõe a denominá-la de Tecnoestrutura.
Tratando-se, por sua vez, de inovação nas instituições democráticas, nota-se certo
avanço nos últimos anos. Diversos órgãos dos Poderes encontram-se nas redes sociais, como
Facebook, Twitter ou Linkedin.
O dado elencado é positivo, uma vez que permite um contato mais próximo com a
população, mesmo sabendo-se que parte do povo brasileiro não se encontre conectado às
redes sociais, já que, por outro lado, atinge-se parcela considerável, cumprindo uma função
social e de obediência ao principio democrático. Exemplo disso é o Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) que pelo Facebook leva diversas informações úteis à população, como meio,
inclusive, de conscientização; ou, em outro exemplo, em recente divulgação da notícia57 pela
rede social de que a vacina contra catapora passa a ser oferecida pelo Sistema Único de Saúde
(SUS).
Para haver maior aproveitamento deste potencial democrático, acredita-se que a
interação das instituições com o povo pela via digital aumentará nos próximos anos,
recebendo perguntas, sugestões e críticas, de modo que essas fossem de fato aproveitadas e
implementadas na realidade. O marco civil da Internet é exemplo deste fim58.
Por outra perspectiva do assunto, resolveu-se analisar órgãos que atuam na PCT e
verificar se estão atuando de acordo com o princípio democrático, com ênfase na Agência
Brasileira da Inovação - FINEP, órgão de fomento, como empresa pública vinculada ao
MCTI, nos termos do artigo 1º., do seu estatuto que foi aprovado pelo Decreto no 1.808 de 7
de fevereiro de 1996, alterado pelo Decreto no 2.209, de 18 de abril de 1997 e pelo Decreto no verdade, ocorreria mais uma ação de marketing do que propriamente a consubstancialização do princípio democrático, o que, no entanto, discorda-se, pois naquele país que dada a sua realidade populacional e o contexto em que se realizou este processo os efeitos foram positivos. 56 Galbraith, J.K. A Fraude Inocente: O crescimento das Grandes Empresas e o Futuro da Democracia, trad. Duarte Souza Tavares, Cascais, 2006, p.88. 57 cf. Notícia do Portal Saúde – SUS: Vacina contra catapora passa a ser ofertada no SUS. 02/09/2013. Com acesso via post do CNJ pelo Facebook. 58 No Brasil, debateu-se de modo aberto ao público, por intermédio da plataforma eletrônica do Congresso Nacional, pelo Twitter e por meio de postagens em blogs sobre o Marco Civil da Internet, que foi aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, tendo seguido para sanção Presidencial.
64
2.471, de 26 de janeiro de 1998, pelo Decreto no 3.987, de 29 de outubro de 2001, e pelo
Decreto no 7.322, de 30/09/2010.
Com vistas a atingir a sua finalidade, com fulcro no artigo 4º, a Finep poderá: I - conceder a pessoas jurídicas financiamento sob a forma de mútuo, de abertura de créditos, ou, ainda, de participação no capital respectivo,[...]; II - financiar estudos, projetos e programas de interesse para o desenvolvimento econômico, social, científico e tecnológico do País, promovidos por sociedades nacionais no exterior; III - conceder aval ou fiança; IV - contratar serviços de consultoria; V - celebrar convênios e contratos com entidades nacionais ou estrangeiras, públicas ou privadas, e internacionais; VI - realizar as operações financeiras autorizadas pelo Conselho Monetário Nacional; VII - captar recursos no País e no exterior; VIII - conceder subvenções; IX - conceder a pessoas jurídicas brasileiras, de direito público ou privado, e a pessoas físicas, premiação em dinheiro por concurso que vise ao reconhecimento e ao estímulo das atividades de inovação; e X - realizar outras operações financeiras.
Nota-se, a partir da leitura dos incisos elencados, as amplas possibilidades de
financiamentos que a Finep disponibiliza para atingir seu fim.
Conforme o artigo 10, do seu estatuto, a Finep possui a seguinte estrutura básica: I -
órgãos colegiados: a) Conselho de Administração; b) Conselho Consultivo; II - órgão de
direção geral: a) Diretoria Executiva; III - órgão de fiscalização: a) Conselho Fiscal.
Ademais, a Finep disponibiliza em seu sítio um Portal de acesso à informação, onde
divulga informações: a) institucionais e organizacionais da Finep, compreendendo suas
funções, competências, estrutura organizacional, relação de autoridades, agenda de
autoridades, horários de atendimento e legislação; b) pertinentes aos programas, ações,
projetos e atividades implementadas pela Finep; c) referentes ao resultado de inspeções,
auditorias, prestações e tomada de contas realizadas na Finep; d) convênios; e) despesas; f)
licitações e contratos; g) empregados e h) dentre outras informações, os dados para contato.
Já os recursos da Finep (2011) para crédito e subvenção econômica passaram de R$ 1
bilhão em 2010 para R$ 5 bilhões em 2011, somada a esta cifra o aporte de R$ 2 bilhões via
PSI (Programa de Sustentação ao Investimento).
A partir do exame das possibilidades de financiamentos e dos recursos ofertados pela
Finep para o atingimento dos seus fins, bem como do sistema de transparência de suas
práticas, verifica-se que esta se trata de uma instituição democrática, uma vez que a renda e a
transparência podem ser consideradas como a pedra de toque para que um programa inovador
65
de uma empresa seja implantado e produza resultados positivos, fornecida de modo
transparente.
Uma terceira perspectiva de cunho democrático, além das citadas análises de
participação popular no poder e análises de atitude democrática dos órgãos da estrutura de
inovação do país, pode ser a questão da transferência de tecnologia entre países desenvolvidos
e subdesenvolvidos e a importância crescente do segredo e reserva no mundo da tecnologia.
Nesse âmbito, Fábio Konder Comparato argumenta que o principio cardeal de política
econômica deveria ser a máxima difusão tecnológica possível evitando concentração
econômica pelo monopólio da experiência técnica acumulada.
Diante da análise da relação entre democracia e transferência de tecnologia, verifica-se
que há espaço para amadurecimento do tema. Ainda existe grande dificuldade na
transferência de tecnologia e conhecimento, sendo estes restritos em sua maioria aos países
desenvolvidos, que os concentram como instrumento não só do poder econômico, mas
também político e estratégico.
Contudo, parece haver sinais em alguns casos de cenário internacional, como exemplo
entre Brasil e Estados Unidos de que isso poderá avançar. Em termos preliminares, não
descartando maior análise sobre o assunto, a hipótese sugerida aparece à partir da reportagem
de Carlos Vasconcellos no jornal Valor: As chamadas ciências da vida respondem por cerca de 30% da atividade P&D no Brasil. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos respondem por 75% da inovação tecnológica global nessa área. Os números apresentados durante a 3ª Conferência de Inovação Brasil-Estados Unidos dão uma mostra do potencial para parcerias entre instituições públicas, universidades e empresas dos dois países nesse segmento. [...] Já Deborah Wince-Smith, CEO do Conselho de Competitividade dos Estados Unidos, considera que os dois países têm uma tremenda oportunidade de unir seus esforços e ativos para criar algo maior. "Seria interessante desenvolver um projeto-piloto de inovação para testar novos modelos regulatórios", diz. Segundo Norberto Rech, gerente-geral de medicamentos da Anvisa e diretor da Farmacopeia Brasileira (o Código Oficial Farmacêutico seguido no Brasil), a agência reguladora tem adotado uma estratégia de acordos bilaterais e multilaterais para reconhecer a capacidade de órgãos estrangeiros, e ser reconhecida por eles. Isso já acontece em relação ao Food and Drug Administration (FDA) americano: "Não abrimos mão da nossa autonomia, mas podemos trocar informações com outras agências para agilizar os processos de validação de novas drogas ou equipamentos", diz Rech. "Oitenta e cinco por cento da demanda de pesquisa clínica no Brasil, por exemplo, já passaram por aprovação em países com os quais temos convênio. Desse modo, conseguimos reduzir em 70% o tempo para a aprovação desses testes no país", conta.
A partir da leitura do trecho em comento, percebe-se que pode existir parcerias com
transferências de informações entre órgãos e instituições dos EUA e do Brasil. Cabe frisar ser
válida esta iniciativa, porém se ressalta que, para verdadeiramente atender ao principio
66
democrático, contribuindo para a redução das desigualdades sociais, bem como da dominação
econômica, política e estratégica dos países desenvolvidos, alterando-se as estruturas de
poder, deve ocorrer não somente a troca de informações, mas principalmente a transferência
da tecnologia envolvida nos processos que abrange parcela substancial da população.
Em síntese, o Brasil parece carregar certo avanço na aproximação de órgãos com o
povo, através das redes sociais. Percebe-se que o órgão avaliado Finep por permitir
instrumentos de fomento de atividades de inovação, bem como por ser transparente, trata-se
de um órgão democrático. Já a avaliação do elo entre a democracia e transferência de
tecnologia, constata não se tratar de ambiente propriamente democrático, devido à dificuldade
de transferência de tecnologia, que se concentra nos países desenvolvidos, como ferramenta
de poder, havendo neste campo uma hipótese para a democracia se entranhar. Trata-se de área
que requer investimentos e, que de fato as parcerias que visem o bem comum e o interesse
nacional, além do uso mais efetivo de licenças compulsórias e de patentes essenciais, como se
verá no capítulo atinente a estes instrumentos.
67
CAPÍTULO 3. SISTEMA JURÍDICO DA INOVAÇÃO E SUA ANÁLISE
3.1 Ciência e Tecnologia na Constituição Federal de 1988
Ciência e tecnologia resultam do conhecimento humano. Nesse sentido, Celso Ribeiro
Bastos esclarece: A ciência volta-se mais para as formulações teóricas e a tecnologia procura extrair rendimento prático desses mesmos princípios. Quase se poderia dizer que a tecnologia é a ciência aplicada.59
Gilberto Bercovici e José Francisco Siqueira Neto, por sua vez, esclarecem sobre os
aspectos constitucionais da Ciência e Tecnologia: A Constituição de 1988 inovou em relação às constituições anteriores por reconhecer de maneira mais enfática a importância da ciência e tecnologia. Essa previsão constitucional está inserida no contexto das relações dialéticas entre Estado e ciência no século XX, que, segundo Peter Michael Huber, se tornaram simbióticas. A necessidade, expressa constitucionalmente, de uma política científica visa também garantir a expansão das forças produtivas e o acesso ao conhecimento para as futuras gerações. 60
Renato Dagnino, por sua vez, ao estudar os elementos para uma teoria crítica da
tecnologia, formula um conceito genérico a este respeito: A consideração desses aspectos leva a entender a tecnologia como o resultado da ação de um ator social sobre um processo de trabalho que ele controla e que, em função das características do contexto socioeconômico, do acordo social, e do ambiente produtivo em que ele atua, permite uma modificação no produto gerado passível de ser apropriada segundo o seu interesse.61
Em seguida, particulariza o conceito genérico para a Tecnologia Capitalista: Ela é o resultado da ação do empresário sobre um processo de trabalho que, em função de um contexto socioeconômico(que engendra a propriedade privada dos meios de produção) e de um acordo social (que legitima uma coerção ideológica por meio do Estado) que ensejam, no ambiente produtivo, um controle (imposto e assimétrico) e uma cooperação (de tipo taylorista ou toyotista), permite uma modificação no produto gerado passível de ser por ele apropriada.62
E tece uma consideração final sobre o conceito por ele formulado: O conceito de tecnologia aqui proposto se diferencia do usualmente encontrado em vários sentidos. Em primeiro lugar porque não se refere ao ator que modifica o processo de trabalho e, por isso, não deixa claro que se ele não o controla (no
59 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros, 22ª. ed., 2010, p. 676. 60 BERCOVICI, Gilberto. SIQUEIRA NETO, José Francisco. Direito e Inovação Tecnológica. In: SCALQUETTE, Ana Cláudia Silva; SIQUEIRA NETO, José Francisco. (Orgs.) 60 Desafios do Direito. Economia, Direito e Desenvolvimento. São Paulo: Atlas, 2013.p. 24. 61 DAGNINO, Renato. Elementos para uma Teoria Crítica da Tecnologia. Revista Brasileira de Ciência, Tecnologia e Sociedade, v. 1, n. 1, p. 3-33, 2jul/dez 009. p. 26. 62 DAGNINO, Elementos para uma Teoria Crítica da Tecnologia. Op. cit. p. 28.
68
sentido “técnico”, do ambiente produtivo) não haverá como efetivar a introdução de conhecimento; por mais interessante, novo, atrativo, ou “científico” que ele seja. Em segundo, porque o conceito usual implicitamente supõe que qualquer conhecimento que permita aumentar a quantidade de produto gerado durante o tempo a ele dedicado poderá ser utilizado pelo ator que controla o processo de trabalho, enquanto que aquele põe em evidência o fato de que isso irá ocorrer somente se o ator tiver a possibilidade de dividir a produção resultante de acordo com seu interesse. Em terceiro lugar porque chama a atenção para o fato de que essa possibilidade é facultada por um acordo social que legitima certa forma de propriedade. E que se este acordo deixar de existir, ainda que o ator siga controlando o processo de trabalho ele não terá interesse em introduzir conhecimento novo no ambiente produtivo.63
Vale salientar que a Constituição vigente procurou promover e incentivar o
desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológica, nos termos do artigo 218.
Essas preocupações, evidentes no texto constitucional, ressaltam a importância dessas
atividades para o desenvolvimento do Estado e da própria sociedade, que, apesar de não
inovadoras em relação às normas constitucionais anteriores, sedimentam-se como um
verdadeiro avanço normativo, uma vez que se firma a atenção conferida ao desenvolvimento
da ordem social.
A mencionada promoção abrange a atuação direta do Estado, através da criação e
manutenção de entidades, assim como a atuação indireta, por entidades “quase estatais” ou
por meio da destinação de recursos orçamentários para o fomento dessas atividades.
Já quanto ao incentivo, a lei deve apoiar e estimular as empresas que invistam em
pesquisa, criação de tecnologia adequada ao país, formação e aperfeiçoamento de seus
recursos humanos e que pratiquem sistemas de remuneração que assegurem ao empregado,
desvinculada do salário, participação nos ganhos econômicos resultantes da produtividade de
seu trabalho, conforme dispõe o artigo 218, § 4º, da Constituição de 1988.
Além disso, a Lei Suprema vigente determina igualmente que o Estado deve apoiar a
formação de recursos humanos nas áreas de ciência, pesquisa e tecnologia, bem como
conceder aos que delas se ocupem meios e condições especiais de trabalho, nos termos do
artigo 218, § 3º. No plano infraconstitucional, a Lei no8.691/93 regulamenta no âmbito federal
disposições relacionadas ao artigo mencionado da Constituição.
Da leitura do artigo 218 e 219 da Constituição Federal e seus parágrafos percebe-se a
importância e tratamento prioritário do tema “inovação” no país. Art. 218. O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento cientifico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas: §1º A pesquisa científica básica receberá tratamento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o progresso das ciências;
63 Ibid. pp. 29-30.
69
§2º A pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderantemente para a solução dos problemas brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional; §3º - O Estado apoiará a formação de recursos humanos nas áreas de ciência, pesquisa e tecnologia, e concederá aos que delas se ocupem meios e condições especiais de trabalho. §4º - A lei apoiará e estimulará as empresas que invistam em pesquisa, criação de tecnologia adequada ao País, formação e aperfeiçoamento de seus recursos humanos e que pratiquem sistemas de remuneração que assegurem ao empregado, desvinculada do salário, participação nos ganhos econômicos resultantes da produtividade de seu trabalho. §5º - É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica. Art. 219. O mercado interno integra o patrimônio nacional e será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e socioeconômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnológica do País, nos termos de lei federal.
Destaca-se ainda que a adoção de um sistema jurídico da inovação incorreto ou sua
interpretação restrita podem trazer consequências ao mercado e a autonomia tecnológica do
País.
Os objetivos do sistema estão na Constituição Federal, na articulação entre três
artigos, 3o, 219 e 218, que, segundo Alessandro Octaviani “estimulam a superação do
subdesenvolvimento, com a homogeneização social e a autonomia dos centros decisórios”.
Para alcançar um dos eixos da autonomia dos centros decisórios, a autonomia
tecnológica, o Estado “promoverá” e “incentivará”, significando o termo promover “mover
em uma dada direção”. O Estado moverá a ciência, a pesquisa e a tecnologia para a direção da
autonomia por ação direta ou indireta, auxiliando um particular a concretizar tal objetivo, por
meio de incentivos.
Na visão de Alessandro Octaviani64: A autonomia dos centros decisórios e a homogeneização social são feixes informativos de cada elo da cadeia. A pesquisa cientifica básica “deve ter em vista o bem publico”; a pesquisa tecnológica deve estar voltada “preponderantemente para a solução dos problemas brasileiros” e “para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional”; a pesquisa e tecnologia que se incentiva sejam buscadas dentro das empresas é aquela que seja “adequada ao País”. Todas as atividades e atores da produção tecnológica (“a pesquisa cientifica básica”, a “pesquisa tecnológica”, o “apoio do Estado”, as “empresas” integrantes do sistema) estão subordinados ao objetivo de superação do subdesenvolvimento. A atividade de inovação é uma pequena parte dessa cadeia, submetendo- se a tais objetivos constitucionais, sendo a construção do sistema nacional de inovação um importante momento dessa busca, jamais uma estrutura com poder jurídico de contrariá-lá (...)
64 OCTAVIANI, Alessandro. O ordenamento da inovação: a economia política da forma jurisdicional, pg.13. Divulgação da pesquisa em andamento realizada no Departamento de Direito Econômico da Universidade de São Paulo, pelo grupo Direito e Subdesenvolvimento: o desafio furtadiano, a respeito do ordenamento da inovação tecnológica e seus efeitos.
70
A lei da Inovação em seu artigo 1o reforça o mesmo entendimento do autor,
juntamente com o artigo 27o que também ressalta o combate às desigualdades regionais,
dando validade ao preconizado na Constituição Federal:
Art. 1o. Esta lei estabelece medidas de incentivo à inovação e à pesquisa cientifica e tecnológica no ambiente produtivo, como vistas à capacitação e ao alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento industrial do País, nos termos do art. 218 e 219 da Constituição. Art. 27. Na aplicação do disposto nesta Lei, serão observadas as seguintes diretrizes: I - priorizar, nas regiões menos desenvolvidas do País e na Amazônia, ações que visem a dotar a pesquisa e o sistema produtivo regional de maiores recursos humanos e capacitação tecnológica; II - atender a programas e projetos de estímulo à inovação na indústria de defesa nacional e que ampliem a exploração e o desenvolvimento da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e da Plataforma Continental;
III - assegurar tratamento favorecido a empresas de pequeno porte; e IV - dar tratamento preferencial, diferenciado e favorecido, na aquisição de bens e serviços pelo poder público e pelas fundações de apoio para a execução de projetos de desenvolvimento institucional da instituição apoiada, nos termos da Lei no 8.958, de 20 de dezembro de 1994, às empresas que invistam em pesquisa e no desenvolvimento de tecnologia no País e às microempresas e empresas de pequeno porte de base tecnológica, criadas no ambiente das atividades de pesquisa das ICTs. (Redação dada pela Lei nº 12.349, de 2010)
3.2 História da legislação brasileira de inovação
No Brasil, a intenção desenvolvimentista ou modernizante com base em pilares da
inovação inicia-se na década de 50, com a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), através da Lei no1.310/51, da Campanha Nacional de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (atual Capes) através do Decreto no29.741, de
11 de julho de 1951, com o objetivo de "assegurar a existência de pessoal especializado em
quantidade e qualidade suficientes para atender às necessidades dos empreendimentos
públicos e privados que visam ao desenvolvimento do país", além de BNDE (atualmente
BNDES) e Petrobrás. Sobre a institucionalização do tema no Brasil há referências nas obras
de Simon Schwartzman, “Formação da Comunidade Científica no Brasil” e Ricardo
Bielschowsky, “Pensamento Econômico Brasileiro: o ciclo ideológico do desenvolvimento”.
Em 1962, foi criado o Ministério do Planejamento, tendo sido Celso Furtado o primeiro
ministro. A ruptura política de 1964 afeta a área com a assunção de Roberto Campos como
novo Ministro do Planejamento que institui o Escritório de Planejamento Aplicado (EPEA).
No fim da década de 60, com o decreto-lei 719, de 31.01.1969, surge o Fundo Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) administrado pela Financiadora de
Estudos e Projetos (FINEP) criada em 1967, pelo decreto 200. Relevante também na década
71
de 60, é a instituição da Política Nacional de Energia Nuclear criada pela Lei no4.118, de
1962; a edição da Lei no4.506, de 30 de novembro de 1964 que começa a incentivar a
participação do setor privado em investimentos de P&D&I; e em 1967, a criação da Zona
Franca de Manaus.
Nas décadas de 70 e 80, o enfoque foi praticamente o de regulamentar a questão da
energia nuclear, com exceção do ano de 1984, através da Lei no7.232, que criou a Política
Nacional de Informática. Em 1988, com a Lei no7677, nasce a Política de Tecnologia Mineral.
Em 1989, com a Lei no7.802, surge a regulamentação de pesquisa de agrotóxicos e resíduos.
Na década de 90, começam-se as normatizações sobre incentivos e importação e
exportação de tecnologia, tendo como referencias as Leis nos8010/90, 8.172/91, 8.191/91,
8.248/91 e 9.449/97. A Lei no8.691/93 determina o plano de Carreira para a área de C&T; a
Lei no8.854, de 1994, cria a Agência Espacial Brasileira (AEB); e a Lei no8.948, de
08.12.1994, institui o Sistema Nacional de Educação Tecnológica, sendo no mesmo ano com
a Lei no8.958 determinada a disposição sobre as relações entre as instituições federais de
ensino superior e de pesquisa científica. No ano de 1996, surge como marco legal a lei de
propriedade industrial, Lei no9.279/96. Na mesma linha, em 1997, surge a lei de Cultivares e,
em 1998, a Lei de Proteção de Propriedade Intelectual a Programas de Computador e Lei de
Direitos Autorais – Lei no9.610/98.
Quanto ao marco legal desta fase, recorre-se ao estudo: “Propriedade Intelectual e
Inovação Tecnológica: Algumas Questões para o Debate Atual”, em que YAMAMURA,
PAULINO, CARVALHO, BUAINAIN afirmam que: Um conjunto de estatutos ou leis regula a propriedade intelectual em suas diversas dimensões e definem o objeto de proteção jurídica. A propriedade intelectual é tradicionalmente dividida em dois grandes grupos, a propriedade industrial e os direitos de cópia ou autor. Essa divisão, que corresponde às formas de proteção seculares, não explicita as formas sui generis de proteção, resultado do progresso científico e tecnológico. Estas formas são a proteção de cultivares, que protege as criações vegetais, e de desenhos de layout de circuitos integrados, que compreendem o desenho final das camadas que compõem os circuitos.65
Os autores destacam a importância da proteção jurídica à propriedade conferida pelas
patentes no âmbito da legislação internacional que se deve harmonizar com a nacional. Esse marco de referência nacional é a base sobre a qual se assenta a legislação de cada país e os tratados internacionais ou processo de internacionalização da regulamentação da propriedade intelectual não se sobrepõe à legislação nacional, que deve sempre ser ajustada aos acordos internacionais. Os tratados internacionais representam mecanismos importantes de harmonização das legislações nacionais, de interação multilateral e, principalmente, de garantia de direitos de propriedade nos
65 Ibid., p. 6.
72
diversos países que deles participam. Eles tendem a tratar dos aspectos relativos aos campos de proteção jurídica66
Após a Constituição Federal, as seguintes leis se evidenciam, em ordem cronológica
decrescente: o marco legal da internet, Lei no12.965, de 23.04.2014; Lei no12.745, de
19.12.2012, que autoriza a criação da CEITEC – Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica
Avançada, lembrando que a primeira lei referente ao tema foi a Lei no11.759/2008; Lei no
12.734, de 30.11.2012, modificando regras de distribuição de royalties de exploração de
Petróleo; Lei no12.715, de 17.09.2012, que dentre outras medidas, institui o Programa de
Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos
Automotores, o Regime Especial de Tributação do Programa Nacional de Banda Larga para
Implantação de Redes de Telecomunicações, o Regime Especial de Incentivo a Computadores
para Uso Educacional, o Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica e o Programa
Nacional de Apoio à Atenção da Saúde da Pessoa com Deficiência; restabelece o Programa
Um Computador por Aluno; altera o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da
Indústria de Semicondutores; Lei no12.598, de 22.03.2012, que estabelece normas de
desenvolvimento de produtos e de sistemas de defesa; Lei no12.529, de 30.11.2011, que
estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência; Lei no12.507, de 11.10.2011, que
estipula o Programa de Inclusão Digital tablet PC produzido no País; Lei no12.350, de
20.12.2010 que estabelece medidas tributárias à realização da Copa no Brasil e fomento as
atividades de pesquisa tecnológica vinculada; Lei no12.096, de 2009, que amplia
financiamentos do BNDES para a área de pesquisa tecnológica; Lei no11.194, de 08.10.2008,
que regulamenta o inciso VII do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, estabelecendo
procedimentos para o uso científico de animais.
Em especial, os anos de 2004 a 2006, tiveram uma atividade legislativa intensa em
relação ao tema inovação, com destaque para as Lei no11.488, de 15.06.2007, que cria o
Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura - REIDI; Lei no
11.487, de 15.06.2007, que altera a Lei no 11.196/05, para incluir novo incentivo `a inovação
tecnológica; Lei no11.484, de 2007, que dispõe sobre os incentivos às indústrias de
equipamentos para TV Digital e de componentes eletrônicos semicondutores e sobre a
proteção à propriedade intelectual das topografias de circuitos integrados, instituindo o
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores –
PADIS e o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de 66 YAMAMURA, Simone. PAULINO, Sonia Regina. CARVALHO, Sergio M. Paulino De., BUAINAIN, Antônio Márcio. Propriedade Intelectual e Inovação Tecnológica: Algumas Questões para o Debate Atual.
73
Equipamentos para a TV Digital – PATVD; Lei no11.478, de 29.05.2007 que institui o Fundo
de Investimento em Participações em Infraestrutura (FIP-IE) e o Fundo de Investimento em
Participação na Produção Econômica Intensiva em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação
(FIP-PD&I) e dá outras providências; Lei no11.460, de 21.03.2007 que dispõe sobre o plantio
de organismos geneticamente modificados em unidades de conservação; acrescenta
dispositivos à Lei no9.985, de 18 de julho de 2000, e à Lei no11.105, de 24 de março de 2005;
revoga dispositivo da Lei no10.814, de 15 de dezembro de 2003; e dá outras providências; Lei
no11.196, de 21.11.2005 que institui o Regime Especial de Tributação para a Plataforma de
Exportação de Serviços de Tecnologia da Informação - REPES, o Regime Especial de
Aquisição de Bens de Capital para Empresas Exportadoras - RECAP e o Programa de
Inclusão Digital; dispõe sobre incentivos fiscais para a inovação tecnológica; Lei no11.105, de
24.03.2005, Regulamenta os incisos II, IV e V do § 1º do art. 225 da Constituição Federal,
estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam
organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional
de Biossegurança – CNBS, reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança –
CTNBio, dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança – PNB; Lei no11.097, de
13.01.2005 que dispõe sobre a produção do biodiesel na matriz energética brasileira; e,
finalmente, Lei no10.973, de 02.12.2004, que dispõe sobre incentivos à inovação e pesquisa
cientifica e tecnológica no ambiente produtivo (lei da inovação).
Na esfera estadual, têm-se em destaque as leis dos Estados do Amazonas, Lei no3095,
de 17 de novembro de 2006; da Bahia, Lei no17.346, de 25de novembro de 2008; do Mato
Grosso, Lei Complementar no297, de 07 de janeiro de 2008; do Rio de Janeiro, Lei no1.913,
de 17 de dezembro de 2008; do Rio Grande do Sul, Lei no13.196, de 13 de julho de 2009; em
Santa Catarina, Lei no14.348, de 15 de janeiro de 2008; e em São Paulo, Lei Complementar
no1049, de 19 de junho de 2008.
Em relação aos Municípios, houve a primeira publicação de lei municipal vinculada a
inovação em uma capital no Município de Florianópolis, no ano de 2012, Lei Complementar
no432, de 07 de maio de 2012. Todavia, registra-se a primeira ação legiferante municipal no
campo da inovação pela Prefeitura de Itajubá, em Minas Gerais, em 2007. Hoje tem-se leis
municipais em Porto Alegre (Lei no721, de 29.11.2013), Curitiba, Sorocaba e outras. Em São
Paulo, a proposta é o “Vai TEC”- Programa para a Valorização de Iniciativas Tecnológicas,
no qual será necessário apresentar um projeto para uma comissão de avaliação composta por
74
quatro integrantes da Prefeitura e quatro representantes indicados pelo Conselho Municipal de
Ciência, Tecnologia e Inovação.
3.3 Influência dos manuais de OSLO e Frascati no Brasil
A Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) foi criada
em 1961, tendo como principal objetivo o apoio aos seus membros para o crescimento
econômico permanente, além de estudar mecanismos para o desenvolvimento do comércio
mundial e níveis de melhoria de vida da população. As orientações da OCDE são
costumeiramente também utilizadas pelos países não-membros, como é o caso do Brasil.
Vale salientar que apesar do país não internalizar o manual de Oslo e Frascati
formalmente, seguindo a teoria dualista adotada em casos de tratados e manuais
internacionais, a Lei no 11.196/05é influenciada por estes materiais, como se verá.
Historicamente, foi no âmbito da OCDE que surgiram as primeiras sistematizações,
definições e diretrizes a respeito da inovação. Em 1963, buscando parametrizar a metodologia
utilizada pelos seus membros quando da execução de pesquisa e desenvolvimento, foi
desenvolvido o manual de Frascati.
Em 1990, embasados os membros da OCDE em novos dados estatísticos e buscando
aperfeiçoar as metodologias advindas do manual de Frascati, foi desenvolvido o manual de
Oslo que teve três edições, sendo a última de 2005. O manual de Oslo ampliou a definição de
inovação diferenciando o termo de atividades inovativas, como se viu no capítulo I.
O conceito de inovação do manual de OSLO se tornou mais abrangente. Entretanto,
vale registrar que a definição utilizada na Lei no 11.196/05, do artigo 17, como já comentado,
não seguiu o referido manual, sendo menos ampla, adotando o preconizado no Manual de
Frascati.
Em relação ao manual de Frascati é de se observar que ele apresenta três categorias de
P&D, sendo a primeira vinculada a pesquisa básica, focada no estudo teórico ou experimental
visando contribuir de forma original para a compreensão dos fatos e fenômenos observáveis,
teorias, sem ter aplicação específica imediata como foco. Em seguida, tem-se a pesquisa
aplicada que é dirigida especificamente para um objetivo prático. E, por fim, a pesquisa e o
desenvolvimento experimental, compreendidos como o trabalho criativo executado de forma
sistemática para aumentar o estoque de conhecimento para novas aplicações.
75
Após a publicação da segunda edição do Manual de Oslo, muitos países em
desenvolvimento em várias regiões do mundo conduziram pesquisas sobre inovação. O
desenho dessas pesquisas foi concebido em concordância com os padrões do Manual de Oslo.
“Porém, quase todos esses exercícios de medidas de inovação resultaram em adaptações das
metodologias propostas, com o objetivo de capturar as características particulares dos
processos de inovação em países com estruturas econômicas e sociais diferentes daquelas dos
países mais desenvolvidos da OCDE”, conforme é comentado em material do MCTI,
denominado “Caminhos da Inovação”67, item 489 em diante – anexo II, pg. 149-165, cujas
principais conclusões são condensadas a seguir: 484. Aceita-se amplamente que os mecanismos de disseminação e as mudanças incrementais respondam pela maioria das inovações realizadas nos países em desenvolvimento, devido às características particulares da sociedade e da economia em muitos desses países, que influenciam os processos de inovação de várias formas 485. Para entender os processos de inovação nos países em desenvolvimento é importante conhecer o tamanho e a estrutura das empresas e dos mercados. Embora o setor das pequenas e médias empresas (PMEs) seja muito significativo (incluindo um grande número de empreendimentos de porte micro e pequeno e, em alguns países, de médio porte, muitas vezes não registrados), mesmo as empresas consideradas "grandes" na maioria dos países em desenvolvimento geralmente operam com escalas de produção sub-ótimas, com custos unitários mais elevados e longe da eficiência ótima. A competitividade é baseada majoritariamente na exploração de recursos naturais ou no trabalho barato, e não na eficiência ou em produtos diferenciados. Isso conduz a uma organização informal da inovação e em menos projetos de P&D 486. Falhas de mercado importantes relacionadas às economias de escala e às externalidades colocam altas barreiras à inovação. Por exemplo, os processos produtivos e, mais especificamente, as atividades de inovação estão sujeitos a indivisibilidades e à falta de economias de escala, e isso influencia a viabilidade dos projetos de P&D. 487. Vários fatores sistêmicos exógenos conformam o cenário da inovação nos países em desenvolvimento, tais como: incerteza macroeconômica; instabilidade; infraestrutura física (falta de serviços básicos como eletricidade ou tecnologias de comunicação "velhas"); fragilidade institucional; ausência de consciência social sobrea inovação; natureza empresarial de aversão ao risco; falta de empreendedores; existência de barreiras aos negócios nascentes; ausência de instrumentos de políticas públicas para dar suporte aos negócios e para o treinamento gerencial. (....) 489. As economias de países em desenvolvimento dependem muito de práticas informais. A informalidade não é um contexto favorável à inovação. A criatividade esporádica empregada na resolução de problemas na economia informal não conduz à aplicação sistemática e assim tende a resultar em ações isoladas que não aumentam as capacitações nem ajudam a estabelecer uma trajetória de desenvolvimento baseada na inovação. 490. Muitas empresas em países em desenvolvimento operam em ambientes econômicos e de inovação não usuais devido à existência, e em alguns casos à prevalência, de empresas públicas (China) ou empresas sólidas paraestatais (alguns estados árabes), onde a ausência de competição às vezes desencoraja as inovações ou drena o potencial inovador dos mercados locais. Todavia, as grandes empresas estatais (por exemplo em setores como petróleo, aeroespacial ou telecomunicações) às
67 Vide:http://biblioteca.terraforum.com.br/BibliotecaArtigo/Manual%20de%20Oslo%20Areas%20de%20inova%C3%A7%C3%A3o%20-%20DEFINI%C3%87%C3%95ES%20DADOS%20PESQUISA.pdf
76
vezes se tornam líderes tecnológicas por meio de investimentos importantes no trabalho de desenvolvimento experimental (como em alguns países da América Latina). Ademais, em países com sistemas econômicos menos desenvolvidos, as principais políticas e programas governamentais de C&T podem ter mais impacto sobre a inovação do que as atividades e estratégias das empresas privadas (....) 493. As inovações no setor agrícola têm alto impacto econômico, em virtude do elevado peso do setor na economia. 494. A dominância das corporações controladas pelo exterior ou multinacionais resulta em um menor poder de decisão das empresas locais ou das subsidiárias (especialmente no tocante à inovação), sobretudo por causa da divisão de funções nessas organizações. Nos últimos anos, essa divisão foi estendida para empresas locais independentes na estrutura das redes internacionais de produção. A transferência tecnológica proveniente das corporações multinacionais e do exterior é portanto uma fonte de inovação fundamental.
Portanto, o relatório do MCTI apresenta reflexões que podem conduzir o país a utilizar
os conceitos, metodologias e ferramentas dos referidos manuais, mas com objetivos e metas
que podem variar de acordo com as características e fase de evolução da inovação nacional.
3.4 Instrumentos de incentivos a inovação no Brasil
Segundo Conselvan (2009), a primeira lei de incentivo no Brasil foi a Lei no4.506, de
30 de novembro de 1964. Esta lei definiu que os dispêndios de custeio de pesquisa
tecnológica seriam considerados gastos operacionais, incluindo as doações feitas para
Institutos de Pesquisas e Universidades, limitadas a 5% do lucro operacional, além de permitir
que as despesas de royalties, também fossem consideradas gastos operacionais, estas
limitadas a 5% da receita líquida.
Em 1966, o CNPQ trabalhou a questão de isenção de impostos de importação de
equipamentos para empresas, antes restrita apenas a instituições de pesquisa. Surgiu o decreto
6.297/75 que previu a dedução em dobro das despesas com treinamento de pessoal. Em 29 de
outubro de 1994, tivemos a Lei de Informática; em 1988, surgem as Lei no2.433 e 2.434, que
o governo passou a oferecer incentivos significativos para estimular a iniciativa privada na
participação do processo de inovação tecnológica.
Em 1993 e 1994, surgem os programas PDTI e PDTA, com a Lei no8.661/1993. Os
PDTI/PDTA elaborados pelas empresas deviam ser submetidos à aprovação do MCTI e
poderiam ter prazo máximo de 5 anos. Os principais incentivos eram a redução de 8% do IR
devido; isenção de IPI para equipamentos destinados à P&D; amortização e depreciação
acelerada para equipamentos e softwares destinados a atividades de pesquisa e redução de
50% de IOF.
77
No tocante a lei de inovação, Lei no10.973, 2004, ela foi importante por incluir
diretrizes de políticas e medidas como a previsão de concessão de recursos financeiros sob a
forma de subvenção econômica; dar orientação ao tratamento favorecido as empresas de
pequeno porte; recomendar tratamento preferencial, na aquisição de bens e serviços pelo
Poder Público, às empresas que invistam em pesquisa e no desenvolvimento de tecnologia no
país; além de enviar ao Congresso Nacional projeto de lei, concedendo incentivos fiscais para
inovação nas empresas.
Um novo sistema de incentivos foi introduzido no Brasil com a Medida Provisória no
252, de 15 de junho de 2005, ratificada e alterada pela Medida Provisória no 255/05 e
convertida, em 21 de novembro de 2005, na Lei no 11.196/05 e decreto 5.578/06. Esta lei
atende as recomendações referentes ao tratamento fiscal diferenciado para empresas que
investem em inovação tecnológica, elaborados na 3a. Conferência Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação, realizada em 16 de novembro de 2005.
Para a utilização dos benefícios previstos na lei 11.196/05 é necessário seguir o artigo
10 e 14, do decreto no5.798/06 que determina lançamento de despesas de inovação em contas
contábeis específicas e encaminhar relatório ao MCTI até o dia 31 de julho do ano seguinte ao
do exercício contemplado.
Em síntese, pode-se apresentar o seguinte quadro de leis e seus objetivos quando se
estuda a questão dos incentivos a inovação, conforme ordem cronológica de publicação:
Leis de Propriedade Industrial (Lei no 9.279/96): regula as obrigações e os direitos ligados à propriedade
industrial, visando garantir ao inventor de um novo produto, processo de produção ou modelo de utilidade de
aplicação industrial, a propriedade de sua invenção por um determinado período, durante o qual qualquer outro
interessado em fabricar a invenção, com fins comerciais, deverá obter licença do autor e pagar lhe royalties Lei de Proteção de cultivares (Lei no 9.456/97): concede direitos de propriedade intelectual àquele que obtiver
cultivar, espécie de planta que foi melhorada devido à alteração ou introdução de uma característica que antes
não possuía. A lei impede, durante determinado período, a comercialização de variedades de vegetais por
terceiros não autorizados, assim como de seu material de reprodução ou multiplicação comercial.
Lei 8010/90: traz incentivos para importação de equipamentos para pesquisa por instituições sem fins lucrativos
credenciados pelo CNPQ ou pesquisadores individuais (modificada pela MP 161).
Lei 8.661/93: cria o PDTI e PDTA Foram extintos os respectivos programas com a Lei do Bem em virtude de
sua pouca efetividade nas empresas.
Lei de informática (Lei no 11.077/04, que alterou as Leis nos 10.664/03, 10.176/01 e 8.248/91): exige o
cumprimento de um conjunto mínimo de operações a serem realizadas no país, com isenção de IPI (parcial após
2001), dedução de até 50% das despesas com P&D do IR e 1% do IR na compra de ações de empresas de TI
(revogado em 1997); preferência nas compras governamentais, com a contrapartida de aplicação de ao menos
78
5% de P&D e fabricação de Processo Produtivo Básico (PPB).
Lei de Subvenção do Fundo Verde Amarelo (Lei no 10.332/01): cria subvenções econômicas ao setor privado,
no âmbito do FNDCT para equalizar juros de empréstimos a P&D; participar do capital de PME; subvencionar
empresas com PDTI/PDTAs e dar liquidez aos investimentos em fundos de risco.
Lei de Inovação (Lei no 10.973/04): define mecanismos de incentivo à CT&I, entre os quais a subvenção a
empresas inovadoras, o estabelecimento de dispositivos legais para a incubação de empresas no espaço público e
a criação de regras para a participação do pesquisador público nos processos de inovação tecnológica
desenvolvidos nas empresas. A lei permite ainda o compartilhamento de infra-estrutura , equipamentos e
recursos humanos, públicos e privados, para o desenvolvimento tecnológico e a geração de produtos e processos
inovadores. Cria, também, os NITs, responsáveis pela política de inovação nas ICTs
Lei do “bem” (Lei no 11.196/05): abatimento de gastos com inovação sobre o lucro tributável; possibilidade de
redução de 50% do IPI incidente sobre equipamentos,máquinas, aparelhos e instrumentos destinados para
pesquisa e desenvolvimento tecnológico, redução do IRPJ na depreciação e na amortização aceleradas de
máquinas, equipamentos e aparelhos; e subvenção de 60% da remuneração de mestres e doutores, empregados
em atividades de inovação em empresas localizadas no Brasil por agências de fomento em C&T
Lei “Rouanet da Pesquisa” (Lei no 11.487/07): regulamentada em novembro de 2007, modifica a Lei do Bem
ao incluir a isenção fiscal para empresas que atuarem em parcerias com ICTs.
Lei de Equalização de Juros (Lei no 12.096/09): autoriza concessão de subvenções econômicas nas operações
de financiamento `a inovação tecnológica realizadas pelo BNDES.
Quadro 5: Apresentação sintética das principais leis de incentivos do país
Fonte: MCTI (2013)
No Brasil, ao se avaliar a força dos incentivos com outros tipos de instrumentos de
financiamento público para a inovação, percebe-se do próximo gráfico que aquele representa
60% do total, o que se verá que é diferente em outros países.
Gráfico 10: Percentual de subvenções e incentivos no Brasil
Fonte: MCTI (2012)
79
Tabela 5: Incentivos Fiscais e Subvenção ao Gasto em P&D
Fonte: MCTI (2009)
Atualmente, são 762 empresas utilizando os incentivos, nos seguintes setores,
conforme quadro a seguir:
Tabela 6: Distribuição de Empresas por Setor que utilizam incentivos
Fonte: MCTI (2013).
80
Há também instrumentos de abrangência estadual e municipal em diversas unidades
da federação, conforme se verifica no gráfico que segue:
Quadro 6: Fontes de recursos para inovação por Estado
Fonte: Revista PEGN (2011).
De acordo com o Manual de Orientações Gerais sobre Inovação, desenvolvido pelo
Ministério de Relações Exteriores, é possível ter acesso aos programas de financiamento e
fomento à inovação endereçados às empresas nas seguintes linhas:68
Tabela 7: Principais Agências de Fomento e suas linhas de financiamento
FINEP
Programa Juro Zero: financiamento reembolsável a juro zero para projetos de inovação, endereçado a micro e pequenas empresas, atualmente operando somente nos estados da Bahia, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco e Santa Catarina; Programa Subvenção Econômica: financiamento não reembolsável para projetos de inovação nacional, com áreas e temas induzidos, baseados nas prioridades da PDP – Política de Desenvolvimento Produtivo51, operado nacionalmente
68 Vide: GRIZENDI, Eduardo. Manual de Orientações Gerais sobre Inovação.Ministério de Relações Exteriores.Departamento de Promoção Comercial e Investimentos .Divisão de Programas de Promoção Comercial. 2011. Disponível em: <http://www.brasilglobalnet.gov.br/ARQUIVOS/Publicacoes/Estudos/PUBEstudosManualDaInovacao.pdf>. Acesso em: 03/12/2013.
81
Programa PRIME52: financiamento não reembolsável para estruturação de empreendimentos de base tecnológica (negócios), endereçado a mucro e pequenas empresas nascentes, operado em parcerias com Incubadoras Âncoras, em diversos estados brasileiros; Programa PAPPE Subvenção/Integração: financiamento não reembolsável para projetos de inovação, com áreas e temas induzidos, baseados nas prioridades das políticas nacionais e regionais, operado em parceria com as FAP‘s - Fundações de Apoio a Pesquisa estaduais, em diversos estados brasileiros; Programa Inova Brasil: financiamento reembolsável a juros reduzidos para projetos de inovação, nacional, endereçado a médias e grandes empresas, operado nacionalmente Programa Inovar: importante programa da FINEP de financiamento às empresas que não se encaixa nesta classificação de reembolsável e não reembolsável Este trata do financiamento às empresas na forma de capital de risco, tanto para empresas nascentes e micro empresas (Programa Inovar Semente) quanto para pequenas e médias empresas (Programa Inovar). [...]
CNPq
O Programa RHAE - Recursos Humanos em Áreas Estratégicas é um programa do CNPq de financiamento não-reembolsável, de apoio às atividades de pesquisa tecnológica, por meio da inserção de mestres ou doutores, em empresas na forma de pagamento de bolsas a pesquisadores participantes de projetos de inovação nas empresas, endereçados a micro, pequena e média empresa, operado diretamente por ele, de abrangência nacional. O desenvolvimento do projeto deve ter duração máxima de 30 meses. O programa tem as seguintes modalidades: · Bolsa SET (Fixação e Capacitação de Recursos Humanos - Fundos Setoriais), para mestres e doutores, 6 (seis) níveis de experiência em atividades de pesquisa, desenvolvimento ou inovação; · Bolsa DTI (Desenvolvimento Tecnológico Industrial), para profissionais, 3 (três) níveis de experiência em atividades de pesquisa, desenvolvimento ou inovação; · Bolsa ITI ( Iniciação Tecnológica Industrial), para estudantes de nível superior e nível médio; - Bolsa EV (Especialista Visitante), para profissionais de nível superior, 3 (três) níveis de experiência em projetos de P&D ou na implantação de processos gerenciais
BNDES
O BNDES tem diversas linhas de financiamento à inovação. As principais são: Linha Capital Inovador (Foco na Empresa): financiamento reembolsável, com foco na empresa, a taxas de juros atraentes, de abrangência nacional, para apoio a empresa em seus ―esforços inovativos, tanto em investimentos tangíveis quanto em intangíveis, incluindo a implementação de centro de pesquisa e desenvolvimento, para empresa de qualquer porte; Linha Inovação Tecnológica (Foco no Projeto): financiamento reembolsável, com foco no projeto, a taxas de juros atraentes, de abrangência nacional, para apoio a projeto de inovação tecnológica, pelo menos para o mercado nacional, e que envolva risco tecnológico, para empresa de qualquer porte. Linha Inovação Produção: financiamento reembolsável a taxas de juros atraentes, de abrangência nacional, para apoio a projeto de inovação, incluindo a modernização da capacidade produtiva necessária à absorção dos resultados do processo de pesquisa e desenvolvimento da inovação, para empresa de qualquer porte; Programa PSI (Programa de Sustentação do Investimento) – Inovação: financiamento reembolsável, de abrangência nacional, para apoio a empresa no desenvolvimento de capacidade para empreender atividades inovativas em caráter sistemático, ou a projeto de inovação de natureza tecnológica que envolva risco tecnológico e oportunidades de mercado, para empresa de qualquer porte. Fundo Tecnológico – FUNTEC: financiamento não reembolsável, de abrangência nacional, para projetos de inovação, com áreas e temas induzidos, em conformidade com os Programas e Políticas Públicas do Governo Federal, para Instituição Tecnológica - IT, tendo uma empresa necessariamente como interveniente participante do projeto.
FAPESP
O Programa PIPE (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas) é um programa da FAPESP de financiamento não-reembolsável para apoiar a execução de pesquisa científica e/ou tecnológica em pequenas empresas sediadas no Estado de São Paulo. [...]
Fonte: Manual de Orientações Gerais sobre Inovação. Ministério de Relações Exteriores. (2011)
82
3.4.2 Instrumentos de incentivos em outros países
Conforme a OCDE, o Japão foi o primeiro país a oferecer incentivos fiscais para as
atividades de P&D, na década de 50. Depois, na década de 60, a Dinamarca também adotou o
instrumento. Dos seus membros, atualmente, vinte países adotam a política de incentivos.
Os incentivos quando comparados com outros instrumentos de financiamento, de
acordo com a OCDE, apresentam as seguintes vantagens: autonomia na decisão dos
investimentos, menos controle e burocracia, dispensa de requisitos para auxilio financeiro,
vantagem psicológica e viabilidade política.
No entanto, adverte Guimarães que “apesar das diversas vantagens dos incentivos
fiscais, podem eles se tornar onerosos aos cofres públicos em virtude da magnitude da
renuncia fiscal envolvida, além de não permitir orientação de investimentos nas áreas de
maior rentabilidade social”.
De qualquer forma, percebe-se que os incentivos fiscais tornaram-se maiores nos
últimos anos em termos de volume nos países em que o adotam como instrumento de
incremento da inovação. No Canadá, já ultrapassa o montante de US$ 1,5 bilhões (na década
de 90, não chegava a US$ 0,7 bilhões); nos Estados Unidos, já ultrapassa USS 7 bilhões (na
década de 90, o valor correspondia a US$ 1,5 bilhões).
No gráfico seguinte pode se perceber que os incentivos fiscais vinculam-se a fração
importante dos recursos públicos destinados a inovação:
Gráfico 11: Financiamento Público e Incentivos Fiscais
Fonte: OCDE (2006).
83
Do gráfico exposto, percebe-se que países como Espanha, Portugal, Austrália e Canadá
têm uma política forte em termos de incentivos fiscais como instrumento de financiamento.
A OCDE acompanha constantemente a evolução do indicador conhecido como Índice-B
entre os seus países, observando dentre seus critérios três categorias:
a) taxa de subsídio > 0, representando uma generosa política de incentivos, onde mais de
100% das despesas com atividades de P&D podem ser deduzidas dos impostos a
serem pagos;
b) taxa de subsídio = 0, representando que as despesas com atividades de P&D são
dedutíveis no ano fiscal em que elas ocorreram; e
c) taxa de subsídio < 0, indicando que o país não oferece incentivos fiscais para as
atividades de P&D
Tabela 8: Índice-B da Inovação
Fonte: OCDE (2006) e WARDA (2006)
Nota-se do gráfico a diferença de políticas públicas vinculadas a financiamento da
inovação por meio de instrumentos de incentivos entre os países da OCDE. Espanha, México,
Portugal, Republica Checa e Polônia são países muito generosos. Contudo, há países que não
contam com este tipo de mecanismo de apoio, como a Alemanha e a Finlândia.
Ao estudar os dois países, Alemanha e Finlândia, denota-se que questões relacionadas
ao ambiente econômico, política favorável de estímulos através de subsídios a projetos,
84
infraestrutura adequada para o desenvolvimento tecnológico, capacitação e educação superior
de mão-de-obra e maior independência das empresas em desenvolver tecnologia sem apoio do
Estado representam sinais de amadurecimento do processo de inovação de um país.
Destarte, Eloísio Andrey Bergamaschi conclui que “incentivos fiscais induzem e
auxiliam o setor privado na execução de projetos de P&D&I”. Porém, no longo prazo, o
Estado precisa “preconizar a criação de uma cultura favorável a inovação não apenas por
incentivos, mas também pelos chamados mecanismos não financeiros”69, como infraestrutura
de P&D, laboratórios de análise, calibração e aferição, sistemas de metrologia, normatização e
qualidade, veículos de difusão tecnológica, sistema mais eficiente de propriedade intelectual,
sistema de importação de tecnologia visando tropicalização e mecanismos de política de
comércio exterior.
69 Ibid.5, p.35.
85
CAPÍTULO 4. DOMÍNIO ECONÔMICO E INOVAÇÃO
4.1 Ordem Econômica na Constituição de 1988
O Direito Econômico a ser estudado neste capítulo é o vinculado a superação do
subdesenvolvimento por intermédio da inovação. As relações entre direito e desenvolvimento
são objeto de estudo de diversos autores, tendo aqui no Brasil destaque o estruturalismo
econômico utilizado, como exemplo, por Eros Grau, Fábio Konder Comparato, Celso
Furtado.
Em termos iniciais, como esclarecimento, neste capítulo procura-se investigar
hipóteses, sem contudo se afastar dos autores selecionados que permitem indicar caminhos
para os modos de produção e domínio em que se espelharam suas reflexões. Não se buscou
apresentar uma nova ordem de pensamento para a questão da convergência tecnológica de
ponta do conhecimento humano e do cerceamento de bens comuns a um grupo vinculado ao
poder econômico, mas foi possível trazer uma síntese das principais reflexões atinentes,
sempre com apoio da obra “Recursos Genéticos e Desenvolvimento”, de Alessandro
Octaviani, e, principalmente, na medida do possível, houve preocupação na presente pesquisa
em trazer dados e informações concretas e atualizadas a todos estes pensamentos, como
exemplo do caso das patentes essenciais em recente lide entre empresas do setor de tecnologia
da informação e comunicação.
Ao analisar a obra de Alessandro Octaviani70 que primeiramente tece comentários
sobre “Law and Development”, encontra-se síntese do impacto de Comparato, Eros Graus e
de Gilberto Bercovici sobre questões de direito e desenvolvimento, nos seguintes termos: “Avalio possível apresentar a contribuição de Comparato para a tessitura de uma tradição jurídica brasileira preocupada com a superação do subdesenvolvimento costurando sua produção teórica em direito privado, suas sugestões de reorganização constitucional e a postulação de um indispensável direito econômico, a partir da necessidade apontada pelo autor de construir a capacidade de governar. Suas reflexões sobre os institutos privados é preocupada em coloca-los sob o alcance de um controle público, que transcenda o individualismo e o formalismo jurídico do liberalismo do século XIX; suas propostas de reorganização constitucional e institucional são vertidas `a superação do subdesenvolvimento, postulando uma forte participação popular; e o direito econômico, me parece, instrumento para a organização da capacidade de governar para superar o subdesenvolvimento(...)
Na menção a Eros Grau, o autor cita trecho que comenta a finalidade que cerca o
desenvolvimento nacional pelo crescimento econômico:
70 OCTAVIANI, Alessandro. Recursos Genéticos e Desenvolvimento. São Paulo: Saraiva, 2013, pp. 65-78.
86
“Outro dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil é o de garantir o desenvolvimento nacional (art. 3, II). (...) Não me deterei, neste passo, em digressões cuja obviedade, pode ser sumariada na distinção entre o qualitativo – o desenvolvimento – e o quantitativo – o crescimento econômico. Importa incisivamente considerar que, como anotei em outra oportunidade “a ideia de desenvolvimento supõe dinâmicas mutações e importa que esteja a realizar, na sociedade por ela abrangida, um processo de mobilidade social contínuo e intermitente. O processo de desenvolvimento deve levar a um salto, de uma estrutura social para outra, acompanhado da elevação do nível econômico e do nível cultural-intelectual comunitário” (...)
No caso de Gilberto Bercovici, ao citá-lo o autor reforça a indispensabilidade do direito
econômico: “Para repensar as bases e a estrutura do Estado brasileiro não se pode deixar de levar em consideração a questão central da atualidade: a prevalência das instituições democráticas sobre o mercado e a independência política do Estado em relação ao poder econômico privado, ou seja, a necessidade de o Estado ser dotado de uma sólida base de poder econômico próprio. O fundamento dessa visão é o de que não pode existir um Estado democrático forte sem que sua força também seja ampliada do ponto de vista econômico, para que ele possa enfrentar os detentores do poder econômico privado(...)”
Em linhas próprias, conclui Alessandro Octaviani: “A sumária apresentação das reflexões de Fábio Konder Comparato, Eros Grau e Gilberto Bercovici me permite afirmar que estamos diante de uma tradição que incorporou o estruturalismo econômico dentro de nossa cultura jurídica. (...) Nesta tradição que o problema do presente trabalho será pensado: como a regulação brasileira de um assunto (no caso recurso genético) deve ser organizada e interpretada para que o subdesenvolvimento possa ser superado, ou, nos termos que tenho avençado, possamos confrontar, na particularidade dos arranjos jurídicos específicos, as condições periféricas e subalterna, apontando para a construção de um sistema nacional de inovação distributivo e de uma democracia participativa quente?”
No campo normativo, de acordo com o artigo 170, da Constituição Federal, a ordem
econômica funda-se na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tendo por fim
assegurar a todos existência digna, de acordo com os ditames da justiça social, observados os
seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.
87
Nota-se a partir da leitura do caput do dispositivo que dois são os fundamentos
estruturantes da ordem econômica: a) valorização do trabalho humano; e b) livre iniciativa.
Além disso, extrai-se sua finalidade: a dignidade humana, conforme a justiça social.
Partindo da análise de seus princípios, por sua vez, percebe-se que estes enquanto bases,
alicerces da ordem econômica, sustentam-na impondo-lhe limites.
Assim, a soberania nacional trata-se de fundamento último que não admite autoridade
externa na ordem interna, inclusive, nos aspectos econômicos, o que, na realidade,
atualmente, como consequência inevitável da globalização encontra-se relativizado.
Enquanto isso, a propriedade privada, além de estar assegurada como um direito
fundamental no artigo 5º, encontra-se novamente prevista no artigo 170, neste ponto inserida
no contexto da ordem econômica e, ressalte-se, limitada por sua função social, que deverá
atender sob pena de sanções e, até mesmo, desapropriação.
A livre concorrência, por sua vez, vincula-se a uma manifestação decorrente da livre
iniciativa, de modo que seja limitada, por exemplo, pela defesa do consumidor e pela
existência de um meio ambiente equilibrado, que existem como balizas para sua atuação.
Da mesma forma, a redução das desigualdades sociais e regionais é mais que um
princípio da ordem econômica, sendo um fim a ser constantemente perseguido, embora sua
plenitude dificilmente será atingida.
Igualmente, o pleno emprego deve ser buscado no contexto da ordem econômica, apesar
de ser dificilmente alcançado mesmo em tempos de crescimento econômico.
As empresas de pequeno e médio porte são vinculadas a tratamento diferenciado, o que
remete a política de incentivos para concorrer em melhores condições em um ambiente
econômico altamente competitivo.
Analisando a Ordem Econômica vigente com base na Constituição Federal, Eros
Grau71, sintetiza: a ordem econômica na Constituição de 1988 consagra um regime de mercado organizado, entendido como tal aquele afetado pelos preceitos da ordem pública clássica (Geraldo Vidigal); opta pelo tipo liberal do processo econômico, que só admite a intervenção do Estado para coibir abusos e preservar a livre concorrência de quaisquer interferências, quer do próprio Estado, que do embate econômico que pode levar à formação de monopólios e ao abuso do poder econômico visando aumento arbitrário dos lucros - mas sua posição corresponde ao do neoliberalismo ou social-liberalismo, como a defesa da livre iniciativa (Miguel Reale); ;a ordem econômica na Constituição de 1988 contempla a economia de mercado, distanciada porém do modelo liberal puro e ajustada à ideologia neoliberal (Washington Peluso Albino de Souza); a Constituição repudia o dirigismo, porém acolhe o intervencionismo
71 GRAU, Eros. A ordem econômica na Constituição de 1988, 4. ed., São Paulo: Malheiros, 1998, pp. 212-213
88
econômico, que não se faz contra o mercado, mas a seu favor (Tércio Sampaio Ferraz Júnior); a Constituição é capitalista, mas a liberdade apenas é admitida enquanto exercida no interesse da justiça social e confere prioridade aos valores do trabalho humano sobre todos os demais valores da economia de mercado (José Afonso da Silva)
Visto sob o ângulo objetivo, o direito econômico consiste na positivação das opções
de políticas econômicas estabelecidas pelo Estado. Fábio Konder Comparato comenta que o
direito econômico “é uma espécie de ordenamento constitucional da economia, no qual se
situariam os princípios básicos que devem reger as instituições econômicas” 72
O autor citado define o direito econômico como “um conjunto de técnicas jurídicas de
que lança mão o Estado contemporâneo na realização de sua política econômica”. Trata-se,
em síntese, portanto, de um sistema normativo de ação estatal sobre as estruturas do sistema
econômico.
4.2 Poder Econômico e Inovação
As reflexões sobre Poder Econômico envolvem compreensão das transformações da
sociedade e dos Estado e as relações existentes entre Direito e Economia.
Washington Peluso Albino de Souza aborda o Poder Econômico, onde afirma: “Exprime, antes de tudo, uma concepção de “natureza política”, pois que representa uma das manifestações do poder. Simbolizando uma forma de “domínio” no relacionamento entre pessoas ou entidades da mais diversa natureza, envolve, ao mesmo tempo, o aspecto jurídico que estabelece o regime dessas “relações”. “Direitos” e “Obrigações” a elas estão presentes na mais variada gama, indo da imposição e do domínio absoluto até os relacionamentos mais democráticos e igualitários”.73
Nota-se, a partir da leitura, o aspecto de “natureza política” que o poder expressa,
manifestando-se desde a imposição e do domínio absoluto até as relações mais democráticas e
igualitárias.
Para Celso Furtado, em “Criatividade e Dependência da Civilização Industrial” (p.116),
observa-se que o poder mais impactante é o do controle da tecnologia, nos seguintes termos:
Dentre os recursos de poder referidos, o primeiro – o controle da tecnologia – constitui atualmente a trava mestra da estrutura de poder internacional. Reduzida a suas últimas consequências, a luta contra a dependência vem a ser um esforço para anular os efeitos do monopólio desse recurso detido pelos países centrais. E ́ que a
72 COMPARATO, Fábio Konder. Ensaios e pareceres de direito empresarial. Rio de Janeiro: Forense, 1978, p. 462. 73 SOUZA, Washington Peluso Albino de. Primeiras Linhas de Direito Econômico, 6ª ed., São Paulo: LTr, 2005. p. 236.
89
tecnologia possui a virtualidade de, por uma ou outra forma, substituir-se a todos os demais recursos de poder. Não e ́ demais lembrar que a tecnologia constitui na civilização industrial a expressão final da criatividade humana. Conforme assinalamos anteriormente, todas as demais formas de criatividade foram progressivamente postas a seu serviço. O vetor do fruto dessa criatividade e ́ a acumulação nos instrumentos de trabalho, nas infraestruturas que produzem os efeitos de conjunto, no homem sob a forma de competência para atuar e em particular para produzir novos conhecimentos. O que vimos chamando de civilização industrial não e ́ senão a resultante de certa orientação da criatividade humana, orientação que favorece a acumulação e conduz a ̀ reprodução de certas estruturas sociais. O produto da criatividade assim orientada e ́ a técnica moderna, ingrediente nobre do processo de acumulação. Aqueles que a controlam ocupam posições dominantes na luta pelo excedente. Enfrentar essas posições na esfera internacional, mediante a utilização de combinações adequadas de outros recursos, ou de massa crítica de certos deles, e ́ a essência da luta contra a dependência.”
Tratando-se da inovação nesse âmbito, nota-se que ela de fato pode ser analisada sob
esta perspectiva de poder, uma vez que igualmente atua sobre a comunidade de acordo com
sensibilidade do ambiente. Como exemplo, a partir do surgimento do celular, um bem de
consumo inventivo com uso de inovação tecnológica, atenderam-se aos impulsos dos
interesses dos indivíduos, caracterizando o caráter psicossocial da economia. Nessa esfera,
cabe ao Estado garantir o desenvolvimento que deve ser limitado pelo equilíbrio social, ou
seja, não permitir que o poder econômico nessas relações prejudique o âmbito consumerista,
sem que com isso deixe de existir.
A ponderação de Washington Peluso Albino de Souza sobre o Poder na Economia de
Mercado é precisa: O mundo dominado pela chamada “cultura ocidental” tem a estrutura jurídica construída à base do relacionamento pela “troca”, como “fato econômico” básico. Dessa relação, projeta-se o “sentido social”, com o direito regulamentado, ou regulando os interesses em jogo nas transações, por meio do estabelecimento do regime de obrigações que se cumprem coativamente quando o comportamento espontâneo deixa de atender às mútuas vontades.74
Portanto, numa economia de mercado o arcabouço normativo da ordem econômica
delineado pelo direito econômico deve romper com a estrutura dominante de poder dos países
centrais que produzem uma dependência tecnológica aos países periféricos, sendo que neste
processo a criatividade e a técnica encontram-se submetidos a este serviço, o que não deve
prevalecer. Aos Estados cabe a missão de atuar para equalizar as forças, às vezes conflitantes,
dos que detém o poder econômico e àqueles que necessitam de uma tecnologia para
sobreviver, o que ocorre por meio de mecanismos como conselhos e órgãos de regulação da
74 SOUZA,W. Primeiras Linhas de Direito Econômico. Op. cit., p. 238.
90
economia que impedem o monopólio ou concentração de mercado de determinadas
atividades.
4.2.1 Lei da Oferta e Procura e a contribuição de Schumpeter com a inovação75
Keynes76, contrariando a visão clássica de que toda oferta gera sua própria demanda,
separa a demanda agregada em investimento (I) e consumo (C), afirmando que a oferta inicial
pode ser diferente da demanda final, definindo, ao contrário dos clássicos, que é a demanda,
ou as expectativas da demanda, que determinam a oferta.
Para Keynes, o consumo tende a crescer com elevação da renda, permitindo poupança
de uma parcela adicional da renda. Na sociedade de economia monetária, a poupança se
transforma em ativo financeiro que pode ou não ser transformado em investimento (máquinas,
outros) para instrumento de oferta. Nesta linha, o ponto de equilíbrio entre oferta e demanda
não decorre apenas da poupança, mas sim da realização efetiva de investimento.
No curto prazo as decisões são tomadas pelas expectativas de demanda em termos
imediatos: com crescimento das vendas e queda nos estoques, amplia-se a produção e vice-
versa. No curto prazo, portanto, a lógica é baseado no princípio da demanda efetiva. No longo
prazo a decisão não é imediata e nem confiável: ocorre comparação entre expectativa de
rendimentos futuros e os custos dos investimentos, sempre comparados ao que se recebe em
termos de poupança como ativo financeiro.
Ao contrário de Keynes, Schumpeter77 não se interessou pelo grau de ocupação de
uma dada capacidade produtiva, mas sim no entendimento de como essa capacidade cresce e
se modifica. Sua preocupação não é estudar o investimento enquanto mecanismo de
crescimento e acumulação de capital, mas sim como veículo de inovação. De acordo com sua
Teoria de Desenvolvimento Econômico (TDE), são cinco tipos básicos de inovações: (i) de
um novo produto ou nova especificação que melhore a qualidade ou funcionalidade do
produto; (ii) novo processo produtivo ou nova logística comercial; (iii) novos mercados para
75 Parte do estudo desta seção é proveniente da palestra: “Inovação e Desenvolvimento”, ministrada por Alessandro Octaviani no Centro Universitário Senac - São Paulo, Unidade Consolação, em 09 de junho de 2014, em que o autor desta pesquisa esteve presente. 76 KEYNES, John Maynard. Teoria geral do emprego, do juro e da moeda (General theoryofemployment, interestand money). Tradutor: CRUZ, Mário Ribeiro da. São Paulo: Editora Atlas, 1992. 77 SCHUMPETER. Teoria do desenvolvimento econômico (Die Theorie der WirschaftlichenEntwicklung), São Paulo: Ed. Victor Civita, 1982.
91
bens já existentes; (iv) novas fontes de matérias primas; e (v) nova organização empresarial
como um monopólio.
Sua análise refuta a ideia de que o bem estar econômico só pode ser obtido através do
equilíbrio entre oferta e demanda. Para ele, mesmo operando em caráter de oligopólio e não
competindo por preços, uma empresa inovadora pode ampliar a capacidade de lucro de forma
expressiva e aumentar o seu grau de investimento e distribuição para a sociedade.
Schumpeter divide o ciclo em fases de prosperidade, recessão, depressão e retomada.
Com o esgotamento do processo de inovação e difusão, inicia-se a recessão, onde não só o
investimento se reduz, bem como novas indústrias prevalecem sobre as indústrias
tecnologicamente defasadas. Inicia-se um processo de desinvestimento que culmina com a
depressão. Com o fim do investimento privado, a depressão, alimentando-se apenas do
próprio pânico, se desvanece e a racionalidade volta a imperar, promovendo a retomada da
economia para um nível superior.
4.3 Reflexão doutrinária sobre Domínio Econômico e Inovação
A Economia da Inovação representa uma corrente relativamente recente da Economia,
que se desenvolveu a partir das reflexões de Schumpeter. De acordo com essa corrente, as
inovações tecnológicas representariam o elemento fundamental que impulsionaria o
desenvolvimento do sistema capitalista, sendo a inovação o elemento endógeno principal.
Originada nos países centrais, essa abordagem procura compreender, a partir de uma
abordagem disciplinar, quais os principais determinantes e consequências de natureza
econômica da inovação tecnológica. As análises realizadas pelos autores associados a essa
corrente estão centradas na figura da empresa e do empresário, como ator social.
No que se refere especificamente às políticas públicas, a leitura associada à Economia
da Inovação considera dois aspectos determinantes principais. O primeiro deles refere-se à
importância conferida ao aprendizado em seu sentido amplo (individual e organizacional),
que depende fortemente da cooperação entre os atores sociais. O segundo aspecto envolve o
reconhecimento de que as políticas públicas são essenciais para a promoção de atividades
intensivas em conhecimento em todos os setores, tendo como objetivo explícito o
melhoramento das capacidades das firmas e, através disso, possibilitar ganhos de
competitividade.
92
Como consequência, através das contribuições de Kline e Rosenberg (1986), sustenta-
se que a tecnologia não é resultado de um processo em que os fabricantes simplesmente
ofertam produtos e processos que serão posteriormente demandados pelos usuários. Seria
resultado de uma negociação dinâmica, que frequentemente envolve elementos de natureza
tácita entre os atores sociais envolvidos com o processo, alimentando-os de novos
conhecimentos sobre determinada técnica.
Salomon78, corrobora com este entendimento, afirmando: “a inovação trata-se por definição de um processo aleatório que não coincide a lógica de seus usos, ou seja, o inventor acredita que aperfeiçoou um produto ou um novo processo para determinado uso, quando, na realidade, as aplicações no mercado podem ser muito distintas”79
Na economia da inovação surgem como exemplo tecnologias no setor eletroeletrônico
vinculadas a refrigeração de alimentos, e, de repente, estas mesmas inovações estão sendo
utilizadas de forma customizada no setor aéreo.
4.3.1 Visão furtadiana sobre domínio econômico pela inovação
A inovação, como já dito, encontra nas obras de Celso Furtado a certeza teórica para se
posicionar como um dos instrumentos mais efetivos de crescimento, maior produtividade e
emprego, o que remete a um estudo mais aprofundado do autor no presente trabalho.
Nas palavras do autor, o Brasil parece se encontrar na condição periférica da
tecnologia de ponta, mas isso não significa que o futuro já está escrito contrário a seus
interesses. Como pondera Reinado Kaminskas80 há avanços como a promulgação da Lei
no11.196/05 que trouxe um sistema de iniciativa nacional de inovação em contraponto a um
sistema de inovação periférico, que convive com três fases distintas: (i) “gestação insuficiente
(1914-1929)”; (ii) “industrialização e inovação restringidas (1930- 1955)”; e (iii)
“Industrialização pesada e inovação induzida (1956-1973)”81.
No entanto, longe de esgotar o tema, e com a esperança sempre presente de mudança
no futuro, mesmo que ideológica, não há como pensar em crescimento apenas por meio da
criação de leis e políticas, mas, principalmente, pela vontade política de agir em prol da
inovação. Portanto, reafirma-se que o marco mínimo seja a elaboração de diagnósticos, de
78 Ibid., p. 104. 79 SALOMON, Morte e ressurreição do capitalismo: a propósito de Schumpeter. Op. cit., p. 103. 80 KAMINSKAS, Reinaldo. A economia da inovação periférica – formação do padrão inovativo brasileiro. Dissertação (Mestrado em Economia), Campinas, IE-Unicamp, 2005. pp. 49-67. 81 Ibid., p. 105.
93
políticas e até mesmo do marco regulatório do direito econômico como um todo para a
superação da condição periférica do país e do seu subdesenvolvimento, principalmente nos
tempos atuais, mas se faz necessário avanços para concretização de mudanças em face da
submissão mental, cultural e institucional do país, como aponta Alessandro Octaviani: Essa condição periférica ou semiperiférica foi acentuada nos últimos 25-30 anos, com submissão mental e institucional das elites brasileiras aos dogmas do neoliberalismo. Os resultados concretos da aplicação do credo liberal redivivo foram pífios, salvo do ponto de vista ideológico.82
A resposta a fuga do subdesenvolvimento não está na crença somente de
investimentos estrangeiros ou nos aportes de empresas internacionais que procuram remeter
seus lucros mais vultosos ao seu país sede. Os números demonstram que o Brasil cresceu
pouco na década de 1990 (2,7%a.a) mesmo com a presença de oligopólios globais presentes
no território nacional. Parece que o progresso tecnológico próprio é a causa mais eficiente
rumo ao desenvolvimento e nada mais apropriado do que as lições de Celso Furtado neste
contexto.
Celso Furtado ao analisar a questão da superação do subdesenvolvimento econômico,
com foco nos casos da China, Japão e Coreia do Sul aponta: As experiências referidas nos ensinam que a homogeneização social é condição necessária mas não suficiente para superar o subdesenvolvimento. Segunda condição necessária é a criação de um sistema produtivo eficaz, dotado de relativa autonomia tecnológica.83
A preocupação retratada constantemente em sua obra “Formação Econômica do
Brasil”, é saber se conseguiremos escapar dos ciclos econômicos baseados em produtos de
pouca complexidade de manufatura (exportação exclusiva da matéria-prima) com oferta
inelástica e baixo fluxo financeiro (ciclo do açúcar, couro, ouro, borracha, café, soja e,
provavelmente, mais recente, do petróleo) para uma economia de mercado baseada em
industrialização inovadora e pulverizada que seja capaz de per si aumentar o fluxo financeiro
com crescimento da renda monetária para toda a coletividade.84
Em outras palavras, o autor incita como desenvolver-se a partir de um nível
relativamente baixo de acumulação, tida em conta de malformações sociais incentivadas pela
divisão internacional do trabalho e os constrangimentos impostos pela mundialização dos
mercados. Pergunta-se: “Como ter acesso a tecnologia moderna sem deslizar em formas de
82 OCTAVIANI, Alessandro. Recursos Genéticos e Desenvolvimento - Os Desafios Furtadiano e Gramsciano. 1ª. edição. São Paulo: Saraiva, 2013.p.166. 83 FURTADO, Celso. Brasil - A Construção Interrompida. 3ª. edição. São Paulo: Paz e Terra, 1992. 84 FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 7a edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
94
dependência que limitam a autonomia de decisão e frustram os objetivos de ter um sistema
social homogêneo?”85
Para Celso Furtado, “o ciclo de industrialização apoiada na formação de mercado
interno restringiu a iniciativa empresarial no campo tecnológico. Prevaleceu a mentalidade de
que a tecnologia é algo que está a venda num supermercado internacional, quando não se
pactuou tacitamente como um sistema de divisão de trabalho em que a empresa local,
subsidiaria, recebe o produto tecnológico da casa-matriz”.86
Alessandro Octaviani, destaca que dentre as várias possibilidades de superação do
subdesenvolvimento está uma das postulações mais amplas de Celso Furtado: “deve haver a
construção de um sistema nacional de inovação com sentido distributivo” (ou seja, ao Brasil é
necessário construir de forma combinada sistemas de inovação e bem-estar social), haja vista
“o progresso tecnológico (inovação) ser o motor da dinâmica capitalista. De acordo com a
visão de Furtado, há uma relação direta entre impulso a inovação, acumulação capitalista e
desenvolvimento econômico.87
O autor destaca nesta lógica, sempre referenciando Celso Furtado, que: Ao postular a conjugação entre o sistema do bem-estar e sistema da inovação na periferia, os convergentes neoschumpeterianos/estruturalistas avaliam ser possível um confronto com a lógica centro-periferia, são fundamentalmente um conjunto de condições que capacite a população a aprender a produzir, consumir e gerenciar de melhor maneira as instituições que a governam. “Por outro lado, há a direção do sistema de inovação para o sistema de bem-estar: 1) crescimento da produção e da produtividade são fontes de melhoras no bem-estar; 2) o progresso tecnológico pode ser uma ferramenta para o aperfeiçoamento de condições de trabalho; 3) a comunidade científica pode definir metas que são específicas ao país (por exemplo: biotecnologia combinada com pesquisas médicas); e 4) projetos definidos em termos de soluções técnicas economicamente viáveis para problemas sociais definidos.88
Encerrando a seção, reforça-se a participação do Estado que é fundamental neste
cenário em suas três formas de intervenção: (i) regulação; (ii) fomento; e (iii) atuação direta.
A história de Sistemas Nacionais de Inovação não deixa dúvida da necessidade de intervenção
positiva do Estado, seja no EUA, na Coréia, no Brasil, ou em qualquer país.
85 FURTADO, Celso. O capitalismo global. 7ª. edição. São Paulo: Paz e Terra, 2007.pp. 48-50. 86 FURTADO, Celso. A fantasia desfeita. 2ª. edição. São Paulo: Paz e Terra, 1989. p. 32 87 OCTAVIANI, Alessandro. Recursos Genéticos e Desenvolvimento - Os Desafios Furtadiano e Gramsciano. Op. cit.,pp. 180-181. 88 Ibid., pp. 185-186.
95
4.3.2 Condição subalterna por Gramsci e possibilidade de alteração pela inovação
A reflexão sobre o desafio gramsciano para a atualidade inicia-se com a questão:
“quem são eles que ousam querer nivelar?”. Segundo Alessandro Octaviani: “perceber as próprias possibilidades em uma relação de poder já é uma alteração das condições do jogo, pois convencer o outro de que ele não tem sequer possibilidades faz uma relação congelar em uma posição francamente favorável ao que conseguir instalar a crença”.
Não adentrando no campo da filosofia de poder, explicada por clássicos como
Maquiavel, Lá Boétie e Weber, cada um em seu tempo e crença, aprofunda-se no desafio
gramsciano e sua visão “realista da existência de dirigentes e dirigidos”.89 Segundo o autor os
grupos subalternos sempre sofrem os efeitos das iniciativas dos grupos dominantes, mesmo
quando se rebelam. Gramsci ressalta que a “unidade histórica das classes dirigentes acontece
no Estado sem que as classes subalternas consigam ter a mesma unidade e força suficiente
para implementar uma nova economia política”.
O autor traz a seguinte reflexão: “A formação objetiva dos grupos sociais subalternos, através do desenvolvimento e
das transformações que se verificam no mundo na produção econômica, assim como
sua difusão quantitativa e sua origem a partir dos grupos sociais preexistentes, cuja
mentalidade, ideologia e fins conservaram por um certo tempo; sua adesão ativa ou
passiva `as formações políticas dominantes, as tentativas de influir sobre os
programas destas formações para impor reivindicações próprias e as consequências
que tais tentativas têm na determinação de processos de decomposição e de
renovamento ou de nova formação; o nascimento de novos partidos dos grupos
dominantes; as formações próprias dos grupos subalternos para reivindicações de
caráter restrito e parcial; as novas formações que afirmam a autonomia dos grupos
subalternos, mas nos velhos quadros; as formações que afirmam a autonomia
integral” (...)
Poder é a capacidade de impor a vontade a outrem, independentemente de resistência
oferecida; dominação legítima é a aceitação porque sempre houve aquela situação.
Hegemonia não é apenas dominação legítima, mas é uma ação por parte do hegemonizado
que enxerga uma criação sua, da qual tirará amplo proveito90.
89 GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere, trad. Carlos Nelson Coutinho, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, v.4, p.241 90 OCTAVIANI, Alessandro. Hegemonia e direito: uma reconstrução do conceito de Gramsci, p. 51
96
O que é relevante no contexto da inovação são os instrumentos que permitem
hegemonia baseados em domínio intelectual e produção econômica. Os intelectuais podem
traduzir conceitos, programas e projetos vinculados aos interesses hegemônicos, havendo
dificuldade dos grupos subalternos utilizarem-se desta mesma ferramenta, captando o perfil
de homem social (intelectual) a moldar o mundo para os seus interesses; a outra esfera é a
fábrica, que na ótica de Alessandro Octaviani: “cria uma programação que aceita horários, necessidade de maior especialização, distinção social entre os mais graduados, os maiores salários para quem domina as tecnologias avançadas e idiomas estrangeiros, sendo todas questões coaguladas no dia a dia da produção, que se impõem com violência simbólica, sem a necessidade de mediação do intelectual, inscrevendo-se no corpo”.
Parece que toda a mudança de poder deve envolver aspectos de democracia, com a
participação maior do grupo subalterno no poder, inclusive em relação a tecno-ciência, seja
pela proposta de institucionalização do contrapoder popular, de Fábio Konder Comparato91;
seja pela democracia mobilizadora articulada por Mangabeira Unger92 ou na cidadania
cognitiva de Boaventura de Souza Santos, Maria Paula Meneses e João Arriscado Nunes93.
Fábio Konder Comparato, comenta que “a democracia autêntica(...) deve ser
exercitada diretamente pelo próprio povo, perante todos os órgãos do Estado, não só para
fiscalizá-los, denunciar os crimes, desvios, imoralidades e omissões, mas também para que o
povo tome por si, e não por meio de representantes, as grandes decisões políticas”. Aqui a
ideia é “criar um consórcio das organizações não governamentais dedicadas, exclusivamente,
à tarefa de atuar como agentes desse contrapoder popular”.
Mangabeira Unger, atuando contra as “falsas necessidades” afirmando que “todo país
precisa dizer não às ideias e aos interesses dominantes no mundo e na época em que emerge.
Assim fizeram os países que hoje nos esmeramos em imitar”. Na sua visão “para se energizar
a política, devem ser adotados arranjos e modelos que mantenham a sociedade civil em um
alto nível de engajamento cívico, favorecendo-se uma solução rápida para impasses que
surjam entre ramos do governo, a par de repetidas práticas de reformas estruturais”.
Para Boaventura, Maria Paula Meneses e João Arriscado Nunes, a cidadania cognitiva
envolve um mapeamento de experiências em que o cidadão leigo fique à vontade para exercer
a gestão sobre temas complexos como “1. Os exercícios de consulta aos cidadãos e de
antevisão tecnológica, tais como a consulta pública sobre biociências no Reino Unido, os 91 COMPARATO, Fábio Konder. A participação popular no exercício das funções públicas. 92 UNGER, Roberto Mangabeira. O direito e o futuro da democracia. 93 SANTOS, Boaventura de Souza, e outros. Introdução: para ampliar o cânone da ciência: a diversidade epistemológica do mundo, p.73-4.
97
exercícios de technology foresight, o debate público sobre biotecnologia na Holanda ou o uso
de focusgroups na definição de políticas públicas; 2. A avaliação participativa de tecnologias,
sob a forma de conferências de consensos ou de cidadãos, fóruns de discussão ou juris de
cidadão; 3. O desenvolvimento participativo de tecnologias, incluindo a avaliação construtiva
de tecnologias, bem como iniciativas nos domínios das tecnologias apropriadas, de energias
alternativas, do acesso a água potável e saneamento básico, do desenvolvimento de novos
materiais, dos usos das tecnologias da comunicação e informação para cidadania ativa; 4. A
investigação participativa (science shops, community-based research, investigação-ação
participativa, epidemiologia popular). 5. A estas formas podemos acrescentar a ação coletiva
e o ativismo técnico-científico, incluindo o ativismo terapêutico, o ativismo ambiental, as
mobilizações coletivas com base no lugar ou a organização de movimentos sociais e de
iniciativas de cidadãos em torno de problemas específicos, não necessariamente de âmbito
local”. 94
Essas ações relacionadas a maior participação popular, também discutidas no capítulo
II ao avaliar o princípio democrático, remetem a uma proposição de que a regulação do
Sistema Brasileiro da Inovação precisa expor mais os seus desafios e clamar por mais
sugestões, ideias e contribuições da população, com posterior fiscalização coletiva de sua
operacionalidade.
4.4 Intervenção no Domínio Econômico em prol da inovação
Conforme Luís Roberto Barroso, existem três ferramentas de intervenção no domínio
econômico: pela disciplina, pelo fomento e pela atuação direta. Pela primeira, o autor afirma
que ocorre através da edição de leis, regulamentos e pelo poder de polícia. Pelo segundo,
Barroso lembra que o Estado apoia determinadas atividades econômicas, por meio de
incentivos fiscais, como o suporte para instalação de uma indústria numa certa região. Por
fim, pela terceira, segundo o autor, o Estado intervém na ordem econômica diretamente,
através de duas formas: 1) prestação de serviços públicos; 2) exploração de atividade
econômica.95
94 Bonavides, Apud Alessandro Octaviani, p.250. 95 Para saber mais sobre o assunto, cf. BARROSO, Luís Roberto. Constituição, Ordem Econômica e Agências Reguladoras. REDAE. Revista Eletrônica de Direito Administrativo Econômico. Número 1. Fevereiro / Março / Abril de 2005. Salvador – Bahia – Brasil, pp. 5 – 7.
98
No campo da inovação tecnológica, a disciplina de sua atividade ocorrepela edição de
instrumentos normativos que a regulam e de poder polícia, como a aplicação de sanções em
caso de descumprimentos de determinadas previsões legais ou pela fiscalização de uma
autoridade numa empresa de inovação tecnológica para verificar se os benefícios fiscais estão
sendo de fato empregados na atividade fim.
O fomento da atividade, por sua vez, acontece, por exemplo, através da Lei no
11.196/05, conhecida como Lei do Bem, que beneficia empresas de vários setores que buscam
competitividade e desenvolvimento por meio de investimentos em inovação tecnológica.
A intervenção direta no domínio econômico, por fim, ocorre através da exploração de
atividade econômica, por exemplo, por meio de monopólio outorgado à União, nos termos do
artigo 177, da Constituição de 1988, como no caso das inovações na área do petróleo do pré-
sal explorado pela Petrobrás.
4.5 Sistema de privilégios industriais
O presente item destina-se a analisar a questão dos sistemas de privilégios industriais,
com embasamento nas reflexões de Fábio Konder Comparato e também tratar de questões
atuais sobre este ponto, como licença compulsória, patentes essenciais e patentes verdes,
dando contemporaneidade a pesquisa.
4.5.1 Crise do sistema de privilégios industriais sob a óptica de Comparato
Sobre inovação tecnológica e patente, Fábio Konder Comparato96 no que se refere à
crise do sistema de privilégios industriais, leciona que ocorre uma inexistência de paralelismo
entre o desenvolvimento da tecnologia industrial e o crescimento de invenções registradas,
bem como um reduzido número de transferência de tecnologia entre países desenvolvidos e
subdesenvolvidos, além da importância crescente do segredo e reserva no mundo da
tecnologia.
Da mesma forma, Comparato pondera acerca do embasamento teórico dos privilégios
industriais. Conceitua, desse modo, propriedade: evitar a invasão abusiva do Poder Público na
exploração de inventos industriais.
96 COMPARATO, Fábio Konder. A Transferência Empresarial de Tecnologia. Coleção Cadernos do CEDEC. No. 4 - 1984.
99
O debate principal reside em dois pontos que se indagam: a) privilégios industriais
trazem o progresso da coletividade?;e b) características concorrenciais, correlatas à função da
empresa, ao explicarem o regime de patentes, ocasiona a negação prática de sua função social,
levando a fortificar, mas não a minimizar os desequilíbrios de poder e influência no mercado?
A primeira questão trata do fato de o inventor possuir o encargo de gerar interessados na
utilização de novas ideias de fabricação. Assim, o Statute of Monopolies estabeleceu o tempo
de patente em catorze e vinte e um anos com o embasamento do tempo de aprendizagem nas
guildas ou corporações de ofício. Destaca-se que o tempo de patente é de vinte anos, no
Estado brasileiro, nos termos da Lei no9.279/1996, sendo um ato declaratório, cuja função não
é reconhecer a propriedade, mas sim estabelecer um poder-dever do titular em utilizar sua
invenção.
Conforme Comparato, o ato de publicidade se trata de uma advertência aos terceiros,
além de uma comunicação necessária à coletividade, com vistas ao aprimoramento técnico.
A concessão de patentes, por sua vez, é um prêmio de exclusividade da exploração por
divulgar a sua invenção. Isso porque reúne instrumentos concretos para assegurar ao inventor
os seus direitos - execução de obrigação de fazer pelo descumprimento.
Enquanto isso, a segunda questão aborda o direito de exclusividade no seu aspecto
fundamental que não pode ser tido somente como uma ferramenta econômica de amortização
de investimentos e domínio de mercado.
O autor, assim, faz uma proposta de aprimoramento do regime de transferência
industrial.
Sendo assim, reflete que as invenções disruptivas e radicais encontram-se vinculadas às
empresas multinacionais e ao Estado e, com isso, o sistema de transferência de tecnologia
abrange visão internacional para solução.
Critica, então, a igualdade dos agentes econômicos nos mercados nacionais, conforme a
convenção de Paris, em 1883. Da mesma forma, critica a independência de registro de
patentes entre países. Denega em um país e consegue em outro.
Todavia, dá suporte à ideia de “certificados de atribuição ou autoria de invenção”
(remuneração ao inventor), ao contrário da exploração exclusiva.
Comparato argumenta, a seguir, no sentido da ideia de regimes mistos com direito de
exclusividades de patentes e certificados de invenção.
Então, aborda os contratos de Know-how. É quando o autor recorda que o nível de
transferência de tecnologia é menor do que o de patentes.
100
Explica que nos contratos de Know-how a transferência de tecnologia, normalmente, já
é ultrapassada para o concedente.
Com efeito, não se transfere tecnologia para concorrentes, porém para parceiros que são
empresas de nível médio e sem condições de competir com a concedente.
Comparato, no contexto, argumenta que o princípio mestre de política econômica
deveria ser a máxima difusão tecnológica plausível evitando, com isso, a concentração
econômica pelo monopólio da experiência técnica acumulada.
Gilberto Bercovici e José Francisco Siqueira Neto argumentam nesse diapasão: Uma das grandes questões presentes em uma política de desenvolvimento científico e tecnológico é como enfrentar o monopólio das empresas multinacionais e de sua tecnologia, elaborada para condições muito distintas das dos países periféricos. Ou seja, a falta de opções tecnológicas adequadas também é um problema estrutural. Uma política de desenvolvimento científico e tecnológico deve se preocupar com a necessidade de criar tecnologia própria e de saber como absorver a tecnologia importada. 97
Enquanto isso, Comparato, visando a concretização e o aumento dos contratos de
Know-how, pondera que se tem quatro ações a realizar: a) proibição de cláusulas restritivas;
b) redução das exigências de registro do contrato no INPI; c) redução de dificuldade de
importação de pessoal técnico para o Brasil; e 4) redução de impostos para a transferência de
royalties.
4.5.2 Sistemas de patentes e a teoria de licença compulsória
Uma patente, do que se extrai do artigo 6o ao 12o, da Lei de Propriedade Industrial,
segundo o INPI, é “um título de propriedade temporária sobre uma invenção ou modelo de
utilidade, outorgado pelo Estado aos inventores ou autores ou outras pessoas físicas ou
jurídicas detentoras de direitos sobre a criação”.
Exclui-se do depósito de patentes, segundo o artigo 10 da lei em comento, I - descobertas, teorias científicas e métodos matemáticos;
II - concepções puramente abstratas; III - esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis, financeiros, educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização; IV - as obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação estética;
V - programas de computador em si; VI - apresentação de informações; VII - regras de jogo;
97 BERCOVICI, Gilberto. SIQUEIRA NETO, José Francisco. Direito e Inovação Tecnológica. In: SCALQUETTE, Ana Cláudia Silva; SIQUEIRA NETO, José Francisco. (Orgs.) 60 Desafios do Direito. Economia, Direito e Desenvolvimento. São Paulo: Atlas, 2013. p. 26.
101
VIII - técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como métodos terapêuticos ou de diagnóstico, para aplicação no corpo humano ou animal; e IX - o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na natureza, ou ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais.
Quando se deposita uma patente é disponibilizado acesso ao público sobre o
conhecimento dos pontos essenciais do invento, registrando, entretanto, que o que se garante
com a patente é o direito de prevenção de evitar que outros fabriquem, usem ou ofereceram a
respectiva inovação.
Para se obter uma patente, de acordo com o artigo 8o da Lei no9.274, os requisitos são:
novidade, atividade inventiva e aplicação industrial.
Os principais sistemas de patente são: - INPI (no Brasil): autarquia federal responsável por registro de marcas e patentes, segundo a lei de propriedade industrial em vigor. A diretoria de patentes é o setor responsável pelas patentes no INPI, desde a análise até a concessão da patente. - Convenção sobre a Patente Europeia – EPC: Criada com o objetivo de trazer um sistema de patentes unificado para a Europa, a EPC é uma parceria entre o Instituto Europeu de Patentes e os escritórios das nações participantes da União Européia. A patente estaria assegurada em toda a Europa por esse escritório. - Tratado de Cooperação de Patentes – PTC: É o que mais se aproxima de um sistema de patentes internacional, ainda que seja composto por volta de 137 países. O pedido de patentes pode ser dividido em duas fases: a internacional e nacional. A internacional é composta por um depósito internacional, uma busca obrigatória e um exame preliminar (esse ultimo opcional), daí serão emitidos os resultados da pesquisa e uma opinião que servirão de referência tanto da viabilidade da patente para quem deposita, quanto para os escritórios nacionais na segunda fase. É importante observar que ainda que o sistema facilite o pedido de patente em cada nação membro ele não elimina a necessidade de formular o pedido em cada um desses escritórios.
Sendo um direito de exclusividade no exercício de uma certa atividade econômica, a
patente tem aspectos que a assimilam ao monopólio. No entanto, muitas vezes existem
diversas tecnologias alternativas para solucionar o mesmo problema técnico, o que pode
moderar ou retirar da patente, em cada caso, o aspecto de monopólio. Com mais precisão, dir-
se-ia da patente ser um monopólio instrumental, eis que a exclusividade recai sobre um
instrumento específico de acesso ao mercado, e não sobre o mercado todo em questão.
A licença compulsória trás como proposta a flexibilidade de seu uso “sem autorização
do titular”, como também a ligação entre os direitos inerentes aos detentores de patentes e a
quebra como função social, ocasionada por determinadas situações, pré-estabelecidas. Sendo
um instrumento pelo qual, o Estado de modo intervencionista, busca corrigir o exercício
abusivo dos direitos de patentes, através da autorização a terceiros do seu uso, sem a prévia
liberação de seu titular, buscando reparar a falha de mercado e à política pública que pretende
102
servir, ou seja, ocorre quando o titular da patente exercer de forma abusiva os seus direitos ou
praticar abuso do poder econômico o qual tem como penalidade a licença compulsória.
O art. 31 do Acordo TRIPS, permite o licenciamento compulsório, mediante o
preenchimento de certas condições estabelecidas, as quais podem ser resumidas em: - Toda solicitação para obter-se uma licença compulsória deve ser considerada em
função de suas características próprias; - Antes de pedir a licença compulsória, o interessado deve solicitar a concessão de
uma licença voluntária por parte do detentor da patente em termos e condições comerciais razoáveis;
- O alcance e duração da licença compulsória se limitarão ao objetivo para o qual a mesmo foi autorizada;
- A licença compulsória terá caráter não-exclusivo; - A licença compulsória não será transferível; - A licença servirá principalmente para o abastecimento do mercado interno do país-
membro que a autorize; - A licença cessará uma vez que deixe de existir a causa que levou a sua concessão; - O titular da patente receberá uma remuneração adequada tendo em vista o valor
econômico da outorga da licença em questão, e; - A validade jurídica de toda decisão relativa à transferência de licença compulsória
estará sujeita a revisão judicial.
No Brasil, a licença compulsória foi introduzida com o Código de Propriedade
Industrial, no ano de 1945, que no Capítulo XXI, tratava “da licença obrigatória para
exploração das invenções, modelos de utilidade, de desenhos e de modelos industriais”,
trazendo em seu artigo art. 53, a possibilidade de concessão a terceiro o uso da patente, como
penalidade aquele que, no período de dois anos não explorasse de “modo efetivo o objeto do
invento no território nacional”, ou no caso de interrupção, por igual período, não justificasse
as causas. Atualmente, é previsto no artigos 68 a 74, da Lei de Propriedade Industrial e deve
ser concedida caso haja: (i) insuficiência de exploração (artigo 68, §1º); (ii) exercício abusivo
(artigo 68, §2º); (iii) abuso do poder econômico (artigo 68, §3º); (iv) dependência de patentes
(artigo 70); e (v) interesse público ou emergência nacional (artigo 71).
4.5.3 Sistemas de patentes e a questão da patentes essenciais
Na discussão sobre o monopólio de patentes também aparece recentemente,
principalmente pelo litígio entre empresas gigantes do setor de TI, internet e comunicações a
questão das patentes essenciais, conforme se verifica de notícia abaixo98: A missão da Federal de Comércio dos Estados Unidos determinou nesta quarta-feira, 24, que o Google libere as patentes de padrões essenciais da indústria da Motorola
98 Disponível em 24.07.2013 no seguinte endereço: http://convergecom.com.br/tiinside/24/07/2013/ftc-exige-que-google-licencie-patentes-essenciais-da-industria-da-motorola-mobility/#.U6cAe6i-ciQ.
103
Mobility, que adquiriu em 2011. Segundo a ordem da FTC, divulgada pelo blog de tecnologia All Things Digital, o gigante das buscas deve licenciar as patentes essenciais em condições "equivalentes, razoáveis e não discriminatórias", conhecidas pelo termo Frand. A comissão ainda impede a companhia de utilizar as patentes como "arma" contra rivais em busca de liminares para proibição de importação de produtos baseados nessas tecnologias. Após a aquisição da Motorola Mobility, o Google moveu diversos processos de patentes em nome da empresa adquirida. Entre eles está a ação contra a Microsoft que, em abril, teve a multa a ser paga reduzida, por um tribunal federal em Seattle, em Washington. A decisão foi tomada após o tribunal entender que as tecnologias que a Motorola acusava a Microsoft de ter usado envolviam padrões de vídeo e de comunicação sem fio.
Em outra reportagem99, temos:
No início do mês a Apple teve de tirar alguns produtos das prateleiras das lojas na Alemanha por conta de um mandado expedido pelo tribunal regional de Mannheim, que julgou que alguns modelos de iPhone e iPad infringiam patentes da Motorola. A proibição durou pouco e foi logo suspensa, liberando a Apple para vender os produtos. Essa foi uma de uma série de batalhas jurídicas na Europa e nos Estados Unidos envolvendo infração de patentes. A Motorola Mobility também acusou a fabricante do iPhone de infringir suas patentes de tecnologia num tribunal da Flórida, EUA, em janeiro deste ano. De seu lado, a Apple teve uma vitória na quinta-feira, num tribunal distrital de Munique que lhe garantiu um mandado contra alguns dos smartphones da Motorola alegando violações de patentes da Apple para desbloqueio de touchscreens. Por trás desses processos está a disputa sobre como as empresas deveriam lidar com patentes essenciais. Quando negociações de licenciamento de patentes falham em conseguir usar os termos do FRAND, a Google tem pressionado continuamente por meios legais buscando ordens judiciais que lhe permitam bloquear vendas de produtos que estariam supostamente infringindo as regras de patente. De seu lado, a Apple tem exigido que exista consistência em torno do conceito de licenciamento de patentes essenciais e sugeriu ao ETSI (EuropeanTelecommunications Standards Institute) que estabeleça que, num momento de disputa e investigação das práticas de licenciamento, não seja permitido o bloqueio da venda dos produtos.
Por definição, uma patente essencial é uma patente que representa uma tecnologia
necessária para implementar um novo padrão de tecnologia e que devem ser licenciadas
conforme termos justos e não discriminatórios estabelecidos pela norma FRAND (Fair
Reasonable Non-Discriminating). Muitas vezes, a patente essencial é trabalhada por empresas
parceiras para criar um novo padrão de mercado; outras vezes é apenas de uma empresa
terceira na qual a empresa inventora precisa se utilizar dela para criar a invenção.
Exemplo de patente essencial poderia ser os “hiperlinks” para a tecnologia HTML.
Alguns padrões de RAM são essenciais para a criação da memória RAM, além de outros
exemplos. Observa-se que não há uma resposta exata para se configurar uma patente como
essencial, devendo ser avaliados caso a caso.
As patentes essenciais estão sendo utilizadas como defesa de mercado em diversos
casos, havendo necessidade de aprimoramento da legislação nacional sobre o tema. 99 Disponível em 29.08.2012 no seguinte endereço: <http://tecnologia.terra.com.br/negocios-e-ti/motorola-licencia-patentes-essenciais-de-celulares-a-apple,b20833a1150ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html >
104
4.5.3 Sistema de prioridade de patentes verdes
Charbel José Chiappetta, em sua pesquisa, Tecnologias ambientais: em busca de um
significado, procura estudar um conceito que bem expresse a delimitação justamente do que
se referem as tecnologias ambientais, tecendo as seguintes considerações: No contexto das tecnologias ambientais, emerge da literatura uma pluralidade terminológica, seguida de propostas conceituais que tendem a não fornecer um significado preciso. Essa confusão conceitual tende a entravar o entendimento comum do que é uma tecnologia ambiental. Entretanto, como se discorreu aqui, o entendimento comum do significado é imprescindível para que a tecnologia ambiental seja gerada e, mais ainda, para que ela seja difundida (...) Assim, ao buscar-se um significado de tecnologia ambiental, este artigo propõe o desenvolvimento de hardwares ou softwares que, por meio da adoção de novos conceitos de design, equipamentos e procedimentos operacionais, passam a incorporar práticas de melhoria contínua de desempenho ambiental, principalmente por utilizar matérias-primas de baixo impacto ambiental, processá-las de forma eficiente, fomentar o reaproveitamento e o mínimo desperdício de seus produtos finais, alterando um dado ciclo produtivo. (...) No contexto nacional, tendem a se difundir dos centros de pesquisa e desenvolvimento para as empresas, que podem obter vantagens financeiras advindas de sua adoção. Já no contexto internacional, difundem-se por meio de transferência de conhecimentos ainda não aplicados ou já incorporados a produtos, devendo-se incentivar o fluxo difusor no sentido centro-periferia.100
O autor realça, portanto, a importância de se ter um conceito comum de tecnologias
ambientais.
A classificação dessas tecnologias, segundo o autor, são divididas em: a) tecnologias de
controle e prevenção da poluição; b) tecnologias de mensuração e organizacionais; e c)
tecnologias de impacto ambiental nulo.
Em seguida, explica que as categorias destacadas se desenvolvem, respectivamente, em:
a) empresas ambientalmente intermediárias; b) empresas de serviços ambientais; e c)
empresas ambientalmente intensivas.
Então, elucida que esse modelo de desenvolvimento necessita de fomento
governamental, através de políticas de ciência e tecnologia, formação de recursos humanos,
estrutura disponível para pesquisa e articulação de redes de cooperação, principalmente pelo
desinteresse de transferência de tecnologia que respeita o meio ambiente.
No que tange ao Programa de Privilégio de Registro de Patentes Verdes no INPI, o seu
ingresso exige que o interessado entregue ao órgão (INPI) um formulário específico
(Formulário FQ013 - “Solicitação para Programa de Patentes Verdes”), bem como ter o
100 JABBOUR, Charbel José Chiappetta. Tecnologias ambientais: em busca de um significado. RAP — Rio de Janeiro 44(3):591-611, Maio/Jun. 2010, p. 608-609.
105
pedido publicado na RPI (ou pedir a sua publicação antecipada) e requerer o exame do pedido
em questão. Se o pedido for decorrente de acesso à amostra de componente do patrimônio
genético nacional ou conhecimento tradicional associado, é necessário apresentar também
petição de acesso ou negativa de acesso (CGEN).
O Programa Piloto de Patentes Verdes estão limitados as 500 (quinhentas) primeiras
solicitações consideradas aptas por uma comissão técnica do próprio INPI, com duração de
um ano a contar de 17.04.2013.
Caso já haja pedidos depositados no INPI, poderão ser os mesmos adequados ao
programa com petição de “solicitação para programas de patentes verdes”.
Em síntese, o seguinte quadro ilustrativo demonstra o procedimento de registro
simplificado de patente verde:
Quadro 7: Fluxograma de Procedimento de Patentes Verdes
Fonte: INPI (2013)
Os dados do órgão demonstram que até 05 de março de 2013 o programa havia
protocolado 67 (sessenta e sete) pedidos de patente. Desses, 16 (dezesseis) já estavam em
trâmite de exame nas divisões técnicas.
A primeira patente verde no Brasil foi deferida no dia 12 de março de 2013, com tempo
recorde de nove meses de análise após a solicitação de ingresso do pedido no programa
(atualmente, o tempo de exame de pedidos de patentes leva entre seis e dez anos), envolvendo
tecnologia de pirólise, uma espécie de combustão na ausência de oxigênio que reduz a
produção de gases tóxicos.
Percebe-se que se trata de um ação importante para o aumento e melhor catalogação de
patentes verdes no Brasil, mas que pelo tempo de implantação não é possível ainda concluir
106
que trará ao país avanços consistentes neste campo, podendo ser necessárias, eventualmente,
outras medidas de estímulo como: (i) conscientização de empresários e laboratórios técnicos
sobre o novo procedimento, (ii) gratuidade da taxa de depósito e manutenção da patente; (iii)
garantia imediata de redução de impostos baseada, por exemplo, na Lei no 11.196/05.
A classificação de patentes verdes adotada pelo INPI em seu projeto piloto
aproximam-se das reflexões e estudos do Plano Nacional sobre Mudança do Clima elaborado
em conjunto por diversos ministérios no ano de 2008, mas deixa escapar plataformas
tecnológicas fundamentais para enfrentamento do aquecimento global citadas no referido
documento.
O plano demonstra que o Brasil, diferentemente dos países desenvolvidos, tem a sua
maior parcela de emissões líquidas de CO2 (dióxido de carbono)101 na conversão de florestas
ao uso agropecuário e que é pequena a emissão do uso de combustíveis fósseis em virtude das
hidrelétricas como matriz energética, utilização de etanol no transporte e carvão vegetal na
indústria. Também estuda o documento as razões da emissão de metano (CH4) e óxido
nitroso (N20) no Brasil, concluindo que as maiores oportunidades de mitigação102 estão nas
cinco classificações de patente verde do país: (i) energia, tanto no quesito energia alternativa
como também sua conservação; (ii) transporte; (iii) agrícola; e (iv) resíduos, mas,
adicionalmente, pode haver oportunidades de mitigação também nos setores de edificações ou
construções, indústria e silvicultura/florestas.
No caso de silvicultura/florestas, sem dúvida, a questão da agricultura ainda é refletida
como a mais grave e merece atenção especial do Plano, mas não deixa escapar o documento
às questões referentes ao biodiversidade do país (PPBio – Programa Nacional de Pesquisa em
Biodiversidade) e sua redução, que atingiu nos últimos quinze anos devastação de mais de
420 mil quilômetros de cobertura florestal.
No eixo de sub-redes temáticas são apresentados planos de adoção de um modelo
brasileiro de sistema climático com aquisição de um supercomputador da rede CLIMA,
mostrando fundamental a tecnologia da informação como plataforma a auxiliar na luta contra
o aquecimento global e desenvolvimento de tecnologias verdes.
101 Mudança do uso da Terra e Florestas representa 75% da emissão de CO2 no Brasil; queima de combustíveis no transporte equivalem a 9%; 7% são relacionados a queima de combustíveis na indústria; 6% estão em queima de combustíveis em outros setores; 2% em processos industriais e 1% em emissões fugitivas. 102 Mitigação significa as mudanças e substituições tecnológicas que reduzam o uso de recursos e as emissões por unidade de produção, bem como a implementação de medidas que reduzam as emissões de gases de efeito estufa e aumentem os sumidouros de carbono.
107
Infelizmente, o documento não trata da biotecnologia, nanotecnologia e uso de
recursos genéticos, nem como tecnologia de mitigação, nem quando retrata os fundos,
programas e linhas de crédito do BNDES, deixando, portanto, de absorver todas as
plataformas de desenvolvimento tecnológico identificadas no conceito de tecnologia verde.
No relatório de incentivos fiscais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, no
ano de 2013, pela primeira vez foi identificado o relatório como um elo importante ao
Programa de Sustentabilidade Ambiental no sentido de garantir o comprometimento do
documento final da Rio+20, que renova o compromisso com o desenvolvimento sustentável.
No entanto, não se enxerga no relatório qualquer gráfico ou menção ao número de
tecnologias verdes desenvolvidas entre as 767 empresas classificadas no programa de
inovação no país no ano de 2011 (com 962 empresas participantes) e muito menos se as
mesmas foram depositadas como patentes verdes, o que dificulta a análise e avaliação de
avanços neste tipo de tecnologia com base nas informações de incentivos fiscais para
desenvolvimento tecnológico.
Na ótica do conceito adotado também não são categorizadas pelo relatório as seguintes
plataformas verdes: (i) biodiversidade; (ii) biotecnologia (apesar da farmacêutica e
petroquímica ser citada); e (iii) nanotecnologia que deveriam, na ótica defendida nesta
pesquisa, serem incluídas como beneficiárias do Programa de Privilégio de Registro de
Patentes Verdes.
Entende-se que tal omissão prejudica a capacidade do Brasil se mostrar como um país
que pulveriza e estimula a pesquisa e desenvolvimento de tecnologia verde entre as empresas,
reduzindo os custos financeiros através de incentivos fiscais para que tais projetos se
transformem em produtos e processos capazes de aumentar a eco-eficiência, reduzir riscos par
os seres humanos, proteger e conservar o meio ambiente e enfrentar o aquecimento global.
108
CONCLUSÃO
A pesquisa procurou refletir sobre as várias facetas do sistema brasileiro da inovação,
através da racionalidade normativa existente, da operacionalidade da Política de Ciência e
Tecnologia e seus resultados econômicos e sociais.
No campo da racionalidade normativa existente percebeu-se que a legislação brasileira
avançou no sentido de adotar um sistema aberto de inovação, à partir das publicações das Leis
no10.973/04 e Lei no 11.196/05, com participação mais efetiva do Estado em dispêndios,
estruturação da inovação e intervenção direta com a criação de empresas focadas em P&D
como a EMBRAPII recentemente, construção de novos laboratórios abertos para a
comunidade científica e tecnológica em todo o país e subsídios diretos em projetos de P&D
como o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do BNDES para as empresas e
pesquisadores autônomos, além de renúncia fiscal a favor das empresas em prol da inovação.
No tocante à renúncia fiscal, a legislação nacional avançou de forma adequada
permitindo que empresas utilizassem os incentivos fiscais de projetos de inovação sem que
necessitassem de aprovação prévia pelo MCTI, inserindo o Brasil no grupo de países que
mais oferecem incentivos fiscais para participação das empresas em investimentos de P&D,
apesar do benefício ser restrito a poucas empresas com enquadramento no lucro real. No
capítulo III foi delineado o quadro de utilização dos incentivos fiscais à pesquisa no país, o
que demonstra a conclusão ora descrita.
Em relação ao aparato regulatório brasileiro segue-se a mesma conclusão de
Alessandro Octaviani, perante limites da teoria do estruturalismo direito econômico latino-
americano, que ao tratar de recursos genéticos, declara “estamos razoavelmente aparelhados
para instrumentalizar a construção de uma democracia quente. Todavia, a regulação
legislativa e administrativa têm operado um verdadeiro bloqueio dessa construção”103.
Acredita-se que a regulação avançou, mas ainda se está somente no começo. Do
ponto de vista histórico, a ciência sempre contou com o apoio do governo, desde o século
XIX, com a inclusão de disciplinas na educação básica voltadas a ciência, criação de
Instituições Cientificas Brasileiras como o IPT de São Paulo, em 1889, e do Instituto Oswaldo
Cruz, em 1900 e, a partir da década de 30, surgimento de Universidades para sistematização e
pulverização deste conhecimento na sociedade. No entanto, o apoio do governo em relação ao
103 OCTAVIANI, Alessandro. Recursos genéticos e desenvolvimento – Os desafios furtadiano e gramsciano. Pg.273
109
desenvolvimento da inovação, que se configura como a aplicação de resultados de pesquisa,
da ciência, em novos produtos e serviços foi negligenciada por anos, sendo objeto de política
pública com planos e programas específicos só à partir da década de 60. Notou-se na evolução
histórica nacional certos hiatos em relação ao desenvolvimento tecnológico nacional,
notadamente entre a década de 70 e final da década de 80, pela política de substituição de
importações e também utilização maciça de tecnologias externas pelos empresários, através
de contratos de licenciamento.
Nos dias atuais, sobre a operacionalidade da Política de Ciência e Tecnologia o que se
percebe de mais grave é o abismo separando as Companhias e as Universidades e a falta de
uma cultura de proteção de resultados de pesquisa e sua exploração, com geração de maior
número de patentes e utilização de contratos de assistência técnica e “royalties” pelos diversos
agentes de inovação.
Nos dois pontos acima, a intervenção estatal em favor de iniciativas de parceria entre
Empresas-Universidades e conscientização e estímulos aos agentes da inovação na proteção
da pesquisa são fundamentais para o Brasil se aproximar dos países que mais crescem e se
destacam nos rankings de competitividade global. Exemplos como o Programa de Inovação
Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE), iniciado em 1997,Programas de Gestão da
Inovação da FINEP, de 2012 e Programas de prioridades de registro de Patentes Verdes, de
2013, precisam se disseminar no país para que tenhamos saltos nos indicadores de inovação.
Na atual Política de Ciência e Tecnologia, não somente os mecanismos financeiros
devem ser privilegiados, mas principalmente os mecanismos técnicos que envolvem aspectos
de infraestrutura de P&De veículos de difusão tecnológica na sociedade, cuja implantação
acelerada depende de uma intervenção mais impactante do Estado.
A racionalidade do segredo industrial e também da exclusividade de exploração de
patentes são avanços para estímulo de um maior número de inovações em uma sociedade,
mas quando mal utilizadas, através de critérios pré-estabelecidos, devem ser submetidas a
uma análise de ruptura por instrumentos como o das patentes essenciais, licença compulsória
e patentes verdes como se viu no capítulo IV.
Como perspectiva futura, as observações e diferentes retratos da inovação registradas
e condensadas neste trabalho podem servir de referência para novas pesquisas que busquem
analisar itens específicos do arcabouço regulatório, da PCT, e, principalmente, perceber as
diversas relações existentes entre: tecnologia-sociedade, tecnologia-economia e tecnologia-
direito.
110
Pode-se concluir que a contribuição deste trabalho foi investigar a estrutura do sistema
nacional da inovação diante das ópticas econômica, política, cultural e social,
contextualizadas numa relação de poder e dominação entre os países centrais e periféricos, no
que tange à dependência tecnológica, de modo a despertar para um futuro de um
desenvolvimento e ruptura que se acredita ser mais sustentável, por intermédio de uma maior
vontade política e participação da comunidade na implantação de um projeto que se dissemine
entre todos os perfis de agentes de inovação do país, sem perder de vista a globalização.
111
BIBLIOGRAFIA
ACS, Z.J. e Audrestch, D.B. Small firms and entrepreneurship: an East-West
perspective. Cambridge: Cambridge University Press, 1992.
AFUAH, A. Innovation Management: strategies, implementation, and profits. 2. ed. New
York: Oxford University Press, 2003
ALBUQUERQUE, Eduarto da Motta e. “Inadequacy of technology” – Textoparadiscussão
n.254.Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar, 2005.
ALMEIDA, S.L. A compreensão da forma e a crítica da reforma: da relação entre
Estado e reprodução do capital. Margem Esquerda, v. 1, p. 1, 2013.
ALMEIDA, S.L.; TIZESCU, A. D. S. Estado e capitalismo: uma reflexão sobre os seus
fundamentos de acordo com a teoria da regulação. In: POMPEU, Gina Vidal Marcílio;
PINTO, Felipe Chiarello de Souza; CLARK, Giovani. (Org.). Direito e Economia. 1ed.São
Paulo: FUNJAB, 2014, v. , p. 145-172.
ANPEI. Desenvolvimento da área de P&D é essencial para o sucesso das empresas.
Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras,
2008. Disponível em: http://www.anpei.org.br/MostraNoticia.aspx?id=2156 Acesso em:
23/10/2008
ARAÚJO, Cicero. Inovar ou inovar: A indústria brasileira entre o passado e o futuro.
Tese (Livre-Docência em Sociologia). FFLCH-USP, 2006.
ARAÚJO Jr., J. T. Os mercados intersetoriais da economia brasileira nos anos 70.
Pesquisa e Planejamento Econômico, Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p. 579-598, dez. 1989.
ARRUDA M.; HOLLANDA S.; VELMULM R. Inovação Tecnológica no Brasil: A
indústria em busca da competitividade global. ANPEI, São Paulo, Brasil 2006.
ARRUDA, M., VERMULM, R., HOLLANDA, S. Como alavancar a inovação tecnológica
nas empresas. São Paulo: Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia
das Empresas Inovadoras, jun. 2004, mimeo.
112
AUDRESTCH, D. B. “International diffusion of technological knowledge”. WZB
Discussion Papers, Berlim, 1995.
BABBIE, E. Métodos de Pesquisas de Survey. Belo Horizonte, Ed. UFMG, 1999.
BAGNOLI, Vicente. Direito e Poder Econômico. Os Limites Jurídicos do Imperialismo
frente aos Limites Econômicos da Soberania. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2009. BANCO MUNDIAL. Sinopse sobre a inovação nos países: Brasil. Escritório do
Economista Principal do Banco Mundial para a América Latina e Caribe. Disponível em:
http://www.obancomundial.org/index.php/content/view_folder/1640.html. Acesso em
12/01/2008.
BALESTRIN, Alsones. O efeito da rede em polos de inovação: um estudo comparativo.
Revista de Administração, RAUSP, v.40, n.02, abril/maio/junho de 2003, pp.159-171,
Universidade de São Paulo.
BAPTISTA, M. Reestruturação Produtiva Política Industrial e Contratações Coletivas
nos anos 90: As Propostas dos Trabalhadores. Eixo 2 : Estado, Políticas Públicas e
Financiamento – Informática. Unicamp, 2000.
BARBOSA, Denis (org.). Direito da Inovação: comentários `a Lei 10.973/2004, Lei
Federal da Inovação, 2006.
BARDY, L.P.C. Competitividade e desenvolvimento tecnológico. Parcerias Estratégicas,
no 11. Brasília: (Ministério da Ciência e Tecnologia Centro de Estudos Estratégicos), Junho
2001.
BARROSO, Luís Roberto. Constituição, Ordem Econômica e Agências Reguladoras.
REDAE. Revista Eletrônica de Direito Administrativo Econômico. Número 1. Fevereiro /
Março / Abril de 2005. Salvador – Bahia – Brasil.
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 22ª. edição. São Paulo:
Malheiros, 2010.
BERCOVICI, Gilberto. Constituição e Estado de exceção permanente – atualidade de
Weimar. São Paulo: Azougue, 2004.
113
__________. Constituição econômica e desenvolvimento: uma leitura a partir da
Constituição de 1988. São Paulo: Malheiros, 2005.
__________. Soberania e Constituição: Poder Constituinte. Estado de exceção e os
limites da Teoria Constitucional. Tese (Titularidade em Direito do Estado). São Paulo:
FDUSP, 2005.
BERCOVICI, Gilberto. SIQUEIRA NETO, José Francisco. Direito e Inovação Tecnológica.
In: SCALQUETTE, Ana Cláudia Silva; SIQUEIRA NETO, José Francisco. (Orgs.) 60
Desafios do Direito. Economia, Direito e Desenvolvimento. São Paulo: Atlas, 2013.
BERGAMASCHI, Eloisio Andrey. Inovação Tecnológica e Incentivos Fiscais no setor de
serviços de telecomunicações. Dissertação de mestrado pela UFRS, 2009.
BILDERBEEK, R. et al. Services in innovation: knowledge intensive business services
(KIBS) as co-producers of innovation. SI4S Synthesis Paper (S3), 1998.
BOYLE, James. “The opposite of property’. Law and Contemporary Problems, v. 66., n.1,
2003, p.1-32.
BRASIL. Presidência da República. Lei Federal no. 4.506, de 30 de novembro de 1964.
Dispõe sobre o imposto que recai sobre as rendas e proventos de qualquer natureza.
Disponível em: http://www.senado.gov.br. Acesso em: 18/01/2008
_______. Presidência da República. Lei Federal no. 6.297, de 15 de dezembro de 1975.
Dispõe sobre a dedução do lucro tributável, para fins de imposto sobre a renda das pessoas
jurídicas, do dobro das despesas realizadas em projetos de formação profissional, e dá outras
providências. Disponível em: http://www.senado.gov.br. Acesso em: 18/01/2008
_______. Presidência da República. Lei Federal no. 1.446, de 13 de fevereiro de 1976.
Dispõe sobre a tributação de rendimentos de serviços técnicos prestados no exterior.
Disponível em: http://www.senado.gov.br. Acesso em: 18/01/2008
_______. Presidência da República. Lei Federal no. 7.232, de 29 de outubro de 1984. Dispõe
sobre a política nacional de informática e da outras providencias. Disponível em:
114
http://www.senado.gov.br. Acesso em: 18/01/2008
_______. Presidência da República. Decreto no. 92.187, de 20 de dezembro de 1985.Aprova
o regulamento para a concessão dos incentivos fiscais de que tratam os artigos 13 a 15 da lei
7.232, de 29 de outubro de 1984, e dá outras providências. Disponível em:
http://www.senado.gov.br. Acesso em: 18/01/2008
_______. Presidência da República. Decreto-Lei no. 2.433, de 19 de maio de 1988.Dispõe
sobre os instrumentos financeiros relativos a política industrial, seus objetivos, revoga
incentivos fiscais e da outras providencias. Disponível em: http://www.senado.gov.br. Acesso
em: 18/01/2008
_______. Presidência da República. Decreto-Lei no. 2.434, de 19 de maio de 1988. Dispõe
sobre a isenção ou redução de impostos na importação de bens e dá outras providências.
Disponível em: http://www.senado.gov.br. Acesso em: 18/01/2008
_______. Presidência da República. Decreto-Lei no. 7.988, de 28 de dezembro de 1989.
Dispõe sobre a redução de incentivos fiscais. Disponível em: http://www.senado.gov.br.
Acesso em: 18/01/2008
_______. Presidência da República. Lei Federal no. 8.248, de 23 de outubro de 1991. Dispõe
sobre a capacitação e competitividade do setor de informática e automação, e dá outras
providências. Disponível em: http://www.senado.gov.br. Acesso em: 20/01/2008
_______. Presidência da República. Lei Federal no. 8.661, de 2 de junho de 1993.Dispõe
sobre os incentivos fiscais para a capacitação tecnológica da indústria e da agropecuária e dá
outras providências. Disponível em: http://www.senado.gov.br. Acesso em: 20/01/2008
_______. Presidência da República. Lei Federal no. 9.532, de 10 de dezembro de 1997.
Altera a legislação tributária federal e dá outras providências. Disponível em:
http://www.senado.gov.br. Acesso em: 20/01/2008
_______. Presidência da República. Lei Federal no. 10.332, de 19 de dezembro de 2001.
Dispõe sobre o mecanismo de financiamento para o programa de ciência e tecnologia para o
programa de inovação para competitividade, e dá outras providências. Disponível em:
115
http://www.senado.gov.br. Acesso em: 20/01/2008
_______. Presidência da República. Decreto no. 4.195, de 11 de abril de 2002. Regulamenta
a Lei 10.332, de 19 de dezembro de 2001 que institui mecanismos de financiamento para
programas de ciência e tecnologia e dá outras providências. Disponível em:
http://www.senado.gov.br. Acesso em: 20/01/2008
_______. Presidência da República. Lei Federal no. 10.973, de 2 de dezembro de 2004.
Dispõe sobre incentivos a inovação e a pesquisa cientifica e tecnológica no ambiente
produtivo e dá outras providências. Disponível em: http://www.senado.gov.br. Acesso em:
20/01/2008
_______. Presidência da República. Lei Federal no. 11.196, de 21 de novembro de 2005.
Dispõe sobre incentivos fiscais para a inovação tecnológica. Disponível em:
http://www.senado.gov.br. Acesso em: 20/01/2008
_______. Presidência da República. Decreto no. 5.563, de 11 de outubro de 2005a. Dispõe
sobre a inovação e a pesquisa cientifica e tecnológica no ambiente produtivo, e dá outras
providências. Disponível em: http://www.senado.gov.br. Acesso em: 20/01/2008
_______. Presidência da República. Decreto no. 5.798, de 07 de junho de
2006.Regulamenta os incentivos fiscais as atividades de pesquisa tecnológica e
desenvolvimento de inovação tecnológica, de que tratam os artigos 17 a 26 da Lei 11.196, de
21 de novembro de 2005. Disponível em: http://www.senado.gov.br. Acesso em: 20/01/2008
BRAUDEL, Fernand. A dinâmica do capitalismo. Trad. Carlos Ferreira. Lisboa: Teorema,
1985.
BRITTO, J. Redes de firmas: modus operandi e propriedades internas dos arranjos
inter-industriais tecnológicos. Departamento de Economia FEA/UFF, mimeo, maio de 1996.
BURLAMAQUI, L., PROENÇA, A. Inovação, recursos e comprometimentos: em direção a
uma teoria estratégica da firma. Revista Brasileira de Inovação, v. 2, n. 1, jan./jun. 2003.
CNI. Políticas públicas de inovação no Brasil: a agenda da indústria.
ConfederaçãoNacional da Indústria (CNI). Brasília: CNI, 2012.
116
CEC.Annual Report on Research and technological development activities of the
European Union in 2006.COMMISSION OF THE EUROPEAN COMMUNITIES.
Brussels2007.Disponívelem: http://ec.europa.eu/research/reports/2007/pdf/commission_staff_
working _ document_en.pdf Acesso em: 20/01/2008
CHESBROUGH, H. Open Innovation The New Imperative for Creating and Profiting
from Technology, Harvard Business Scholl Press, 2003.
CGEE. 3a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação : síntese das
conclusões e recomendações. – Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, Centro de
Gestão de Estudos Estratégicos, 2006.
CNI. Políticas públicas de inovação no Brasil : a agenda da indústria. Confederação
Nacional da Indústria. – Brasília, 2005.
COMISSÃO EUROPÉIA. European innovation scoreboard 2003. Revista Cordis Focus, n.
20, Nov. 2003 (Suplemento). Acessível em:<www.cordis.lu/trendchart>.
COMPARATO, Fábio Konder. A reforma da empresa. In: Comparato, Fabio Konder.
Direito Empresarial estudos e pareceres. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 3-26.
____________. Ainda o contrapoder popular. Folha de São Paulo, 26 de maio de 2004, p.
A-3
____________. Brasil, um país em busca de futuro. Folha de São Paulo, 27 de novembro
de 2005, p. A-3
____________. Muda Brasil: uma Constituição para o desenvolvimento democrático.
4a.ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
____________. O indispensável direito econômico. In: Comparato, Fabio Konder. Ensaios
e pareceres de direito empresarial. Rio de Janeiro: Forense, 1978, p. 453-72.
__________________. Crise dos Sistemas de Privilégios Industriais, 17 de novembro de 1978.
CORDER, S.; SALLES-FILHO, S. Aspectos Conceituais do Financiamento à Inovação
117
Revista Brasileira de Inovação,Volume 5, Número 1, Janeiro / Junho 2006.
CREST. Evaluation of tax incentives for R&D: an overview of issues and considerations.
EU/ CREST - OMC Working Group, 2006.Disponívelem: http://ec.europa.eu/invest-in-
research/pdf/download_en/final_report_060306.pdf . Acesso em 10/01/2008.
CRUZ, R. Valores dos empreendedores e inovatividade em pequenas empresas de base
tecnológica. Tese de Doutorado em Administração. Porto Alegre: UFRGS, 2005.
DAGNINO, Renato. As Trajetórias dos Estudos sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade e
da Política Científica e Tecnológica na Ibero-América. ALEXANDRIA Revista de
Educação em Ciência e Tecnologia, v. 1, n. 2, p. 3-36, jul. 2008.
__________. Elementos para uma Teoria Crítica da Tecnologia. Revista Brasileira de
Ciência, Tecnologia e Sociedade, v. 1, n. 1, p. 3-33, 2jul/dez 009.
__________. Os modelos cognitivos das políticas de interação universidade – empresa.
CONVERGENCIA Revista de Ciencias Sociales. UAEMex, núm. 45, septiembre-diciembre
2007, pp. 84-99.
__________. Tecnologia Social. CONVERGENCIA Revista de CienciasSociales. UAEMex,
núm. 55, septiembre-diciembre 2011,
DAVILA, T., EPSTEIN, M. J., SHELTON, R. As regras da inovação. Porto Alegre:
Bookman, 2007.
DONADIO, L. Política Científica e Tecnológica. In: MARCOVITCH, Jacques (coord.).
Administração em Ciência e Tecnologia. São Paulo, EdgardBlücher, 1983.
DOSI, G. Technical change and economic theory. London; New York, Pinter Publishers.
EISENHARDT, K. M. Building theories from case study research.Academy of Management
Review.Stanford: v.14, n. 4, pp. 532-550, 1989.
ERBER, F. S. A transformação dos regimes de regulação: desenvolvimento tecnológico e
intervenção do Estado nos países industrializados e no Brasil.Faculdade de Economia e
118
Administração, UFRJ, 1989 (Tese para Concurso de Professor Titular).
FAPESP. Entraves da Lei da Inovação. Agência FAPESP. Out. 2007. Disponível em:
http://www.agencia.fapesp.br Acesso em: 15/10/2008
FIESP. Onde e Como Buscar Apoio à Inovação Tecnológica para sua Empresa.
DECOMTEC. São Paulo, outubro de 2006. Disponível em
http://www.fiesp.com.br/download/pesquisa/estim_inovtec29jun.pdf Acesso em: 12/08/2008
FIESP. Diagnóstico Regional da Indústria. DEPAR, Out. 2007. Disponível em:
http://www.fiesp.com.br/acao-regional/pdf/apresentacao-diagnosticoregional.pdf Acesso em:
14/10/2008
FOWLER, F. J. Survey Research Methods. 2 ed. Newbury Park : Sage, 1993.
FREEMAN, C. The economics of industrial innovation.London: Frances Pinter Publish,
1982.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 7a edição. São Paulo: Companhia das
Letras, 2011.
________. Brasil:a Construção Interrompida. 3ª. edição. RJ: Paz e Terra, 1992.
________. O capitalismo global. 7ª. edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.
________. A fantasia desfeita. 2ª. edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
________. Criatividade e dependência na civilização industrial. RJ: Paz e Terra, 1978.
________. Em busca de novo modelo: reflexões sobre a crise contemporânea. 2a.ed. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
________. O mito do desenvolvimento econômico. São Paulo: Circulo do Livro, 1974.
Gagnon, Y.C. e Toulouse, J. “The behavior of business managers when adopting new
technologies”.
GALGANO, Francesco. The New LexMercatoria. The Berkeley Eletronic Press, 1995.
GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 2a Ed. São Paulo: Atlas, 1989. ________.
Métodos e técnicas de pesquisa social. 4a Ed. São Paulo: Atlas, 1994.
119
GRAMSCI, Antônio. Cadernos do cárcere, v.1, 2, 3, 4, Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988: interpretação crítica.
17a ed. São Paulo: Malheiros: 2012
_________. Planejamento econômica e regra jurídica. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1977.
GRIFFITH R., REDDING S., VAN REENEN, J. Mapping the Two Faces of R&D:
Productivity Growth in a Panel of OECD Industries. The Review of Economics and
Statistics.Vol. 86, No. 4, Pag. 883-895. Nov., 2004.
GRIZENDI, Eduardo. Manual de Orientações Gerais sobre Inovação. Ministério de
Relações Exteriores. Departamento de Promoção Comercial e Investimentos . Divisão de
Programas de Promoção Comercial. 2011. Disponível em:
<http://www.brasilglobalnet.gov.br/ARQUIVOS/Publicacoes/Estudos/PUBEstudosManualDa
Inovacao.pdf>. Acesso em: 03/12/2013.
GUTIERREZ, Felipe. 30 empresários e especialistas respondem o que é inovação na
prática. Negócios & Classificados. Folha de S. Paulo. 30/09/2012.Disponível em
<http://classificados.folha.uol.com.br/negocios/1161347-30-empresarios-e-especialistas-
respondem-o-que-e-inovacao-na-pratica.shtml>. Acesso em: 03/12/2013.
GUIMARÃES, E. A. Políticas de inovação: financiamento e incentivos. IPEA - Texto para
Discussão – 1212, Ago 2006.
HERSSHEY: Idea Group Publishing, 1998.Brasil, Ministério da Ciência e Tecnologia.
“Projeto ETS — Apoio à Constituição de Entidades Tecnologias Setoriais. Brasília, 1997.
HORTA, Raul Machado. Direito Constitucional. 4ª. edição., revista e atualizada. Belo
Horizonte: Del Rey, 2003.
HUURDEMAN, A. The worldwide history of telecommunications.Wiley-
IntersciencePublication, 2003.
120
HUGGETT M.; OSPINA S. Does productivity growth fall after the adoption of new
technology? JournalofMonetaryEconomics Volume 48, Ed. 1, Pag. 173-195, Agosto 2001.
IBGE. Pesquisa de Inovação Tecnológica PINTEC 2005 – Instruções para
preenchimento do questionário. Rio de Janeiro, 2006.
IBGE. Pesquisa de Inovação Tecnológica 2005 – PINTEC. Rio de Janeiro, 2007.
IEICE Trans. Fundamentals, v. E84–A, n.1, p.55-60 Jan 2001AMANHÃ. Inove agora
paga-se bem. Revista Amanhã. Porto Alegre, Ed. 226, Novembro.2006. IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Boletim Radar n. 30. Tecnologia,
Produção e Comércio Exterior. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/radar/131218_radar30.pdf> Acesso em:
18/12/2013.
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Pesquisas do Ipea contestam escassez de
engenheiros. 05/11/2013.
<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=20486>
Acesso em: 18/12/2013. JUNIOR DALLARI, H.A. Teoria Geral do Estado Contemporâneo, 4a.ed., 2011, Ed. Rideel.
KAMINSKAS, Reinaldo. A economia da inovação periférica: formação do padrão
inovativo brasileiro. Dissertação (Mestrado em Economia), Campinas, IE-Unicamp, 2005.
KEYNES, John Maynard. Teoria geral do emprego, do juro e da moeda (General theoryofemployment, interestandmoney). Tradutor: CRUZ, Mário Ribeiro da. São Paulo: Editora Atlas, 1992.
KLINE, S.J.; ROSENBERG, N. An overview ofinnovation. In: Landau, R., Rosenberg, N.
(Eds.), The Positive Sum Game. National Academy Press, Washington, DC., 1986.
KNIGHT, F. H. Risco, Incerteza e Lucro. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1972.
KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração de Marketing: A Bíblia do
Marketing. Prentice Hall Brasil, 2006, 12a edição. 776p.
121
KRUNGLIANSKAS, I. Tornando a pequena e média empresa competitiva: Como
inovare sobreviver em mercados globalizados. São Paulo: Ed. Iege,1996.
LEMOS, Ronaldo. O direito derivado da tecnologia: perspectivas globais e sociais, e
caminhos estratégicos brasileiros. Tese (Doutorado em Teoria Geral e Filosofia do Direito).
São Paulo, FDUSP, 2004.
LICHTENBERG F. R., SIEGEL D. The Impact of R&D Investment on Productivity –New
evidence using linked R&D-LRD data. Economic Inquiry 29, Pag. 203–229, April 1991.
LOKSHIN B.; MOHNEN P. Measuring the Effectiveness of R&D tax credits in the
Netherlands. UNU-MERIT Working Papers, Jul. 2007.LONGO, W.P. Conceitos Básicos
sobre Ciência e Tecnologia. Rio de Janeiro, FINEP,1996. v.1.
MARTINS, Ives Gandra. Desafios para 2013. Revista Conselhos. Ano 03. No 17. Janeiro /
Fevereiro – 2013.
MASSO, Fabiano Del Masso. BAGNOLI, Vicente. Teoria Jurídica do Mercado e a Atividade
Empresarial (Aplicação jurídica uniforme para todas as atividades econômicas). In:
SCALQUETTE, Ana Cláudia Silva; SIQUEIRA NETO, José Francisco. (Orgs.) 60 Desafios
do Direito. Economia, Direito e Desenvolvimento. São Paulo: Atlas, 2013.
MASSONETTO, Luís F. ; BERCOVICI, Gilberto . Limites da Regulação: Esboço para
uma Crítica Metodológica do "Novo Direito Público da Economia". Revista de Direito
Público da Economia, v. 25, p. 137-147, 2009.
MALHOTRA, N. K. Pesquisa de Marketing: uma orientação aplicada. Porto Alegre:
Bookman, 2001.
MARCONI, M.A.; LAKATOS, E.M. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de
pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpretação de
dados. 5a Ed. – São Paulo: Atlas, 2002.
MARCOVITCH, J; SBRAGIA, R.; STAL, E.; TERRA J. C. Inovação Tecnológica e
incentivos fiscais. Revista de Administração. Universidade de São Paulo, vol. 26, n. 1,p.43-
122
60, jan/mar 1991.
MCT. Ciência, tecnologia e inovação: desafio para a sociedade brasileira - Livro Verde /
Coordenado por Cylon Gonçalves da Silva e Lúcia Carvalho Pinto de Melo. – Brasília:
Ministério da Ciência e Tecnologia / Academia Brasileira de Ciências. 2001.
_____. Relatório Anual de Avaliação da Utilização dos Incentivos Fiscais ao Congresso
Nacional, Lei no 8.661/93, Ministério da Ciência e Tecnologia Brasília, dezembro de 2.002,
Disponível em: http://www.mct.gov.br/prog/empresa/pdti_pdta/YCongresso2002.pdf. Acesso
em 10/01/2008
_____. Relatório anual da utilização dos incentivos fiscais ano base 2006 - Lei n.o
11.196/05. Dez. 2007. Disponível em: http://www.mct.gov.br/upd_blob/0023/23188.pdf
Acesso em 12/01/2008
_____. Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional – Plano de
Ação 2007-2010. Disponível em: http://www.mct.org.br. Acesso em 10/01/2008
_____. Indicadores Nacionais de Ciência e Tecnologia. Disponível em:
http://www.mct.org.br. Acesso em 05/01/2008a
_____. Formulário da Lei do Bem – Incentivos Fiscais. Disponível em:
http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/56039.html. Acesso em 20/06/2008b
MILLER W. L. ; MORRIS L. Fourth Generation R&D: managing knowledge,
technology, and innovation. USA, New York: John Wiley& Sons, Inc., 1999.
NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa. Rio de Janeiro:
Campus, 1997.
OCDE – Organization for Economic Cooperation and Development. Manual de Oslo –
Proposta de Diretrizes para Coleta e Interpretação de Dados sobre Inovação
Tecnológica. European Commission, 1997.Traduzidoem 2004 sob a responsabilidade da
FINEP .
123
______. The Knowledge-Based Economy, General Distribution, OECD/GD, 1996.
______. Fiscal measures to promote R&D and innovation.Paris: OCDE/GD, 1996a, 165.
______. Tax Incentives for Research and Development, Trends and Issues.OECD (2003).
Disponível em www.oecd.org/dataoecd/12/27/2498389.pdf. Acesso em 10/01/2008
______. Science, technology and industry outlook 2006.OCDE: Paris, 2006.
______. Promoting innovation in services.Paris: OECD. DSTI/STP/TIP(2004)4/FINAL. 14
Oct. 2005. Disponível em: http://www.oecd.org/dataoecd/21/55/35509923.pdf . Acesso em
20/01/2009
______. Communications Outlook 2005.Paris: OCDE, 2005. ______. Communications
Outlook 2007.Paris: OCDE, 2007.
OCTAVIANI, Alessandro. Recursos Genéticos e Desenvolvimento - Os Desafios
Furtadiano e Gramsciano. 1ª. edição. São Paulo: Saraiva, 2013.
OCTAVIANI, Alessandro. O ordenamento da inovação: a economia política da forma Juridical. São Paulo: 2009
____________. O ordenamento da Inovação Tecnológica em Ação: Lei 10.973/04, Lei
11.196/05 e Lei 11.487/07 - Pesquisa Empírica Sobre Seus Efeitos.
________________. Hegemonia e direito: uma reconstrução do conceito de Gramsci.
Dissertação (Mestrado em Ciência Política). São Paulo, FFLCH-‐USP, 2005.
__________________. A benção de Hamilton na semiperiferia: ordem econômica-social e os
juros da dívida pública interna. In: Jose Mauricio Conti e outros (orgs). Orçamentos
públicos e direito financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.
OFCOM. Communications Market Report.Office of Communications.Research
Document.Ago. 2007. Disponível em: http://www.ofcom.org.uk/research/cm/cmr07/ Acesso
em: 15/12/2007
124
OIC. Plano de Mobilização Brasileira pela Inovação Tecnológica. Observatório da
Inovação e Competitividade. Disponível em: http://www.observatoriodainovacao.org.br/
Acesso em: 12/10/2008
OLIVEIRA, C.A.A.; GOULART, O.M.T. Alianças como instrumento eficaz de inovação.
In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PROGRAMAS DE PÓS-
GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 27., 2003, Atibaia. Anais.: ANPAD,
2003.
Paris: OECD, 1995.Porter, M. “Clusters and the new economics of competition”. Harvard
Business Review, novembro/dezembro de 1998.
Paris: OECD, 1997.Foray, D. e Lundvall, B. A. “The knowledge-based economy: from
the economics of knowledge to the learning economy”. In: Employment and growth in the
knowledge-based economy.
PARDO, M. Competición y GestiónTecnológica. In: XVIII Simpósio de Gestão da
Inovação Tecnológica, São Paulo, 1994.
PEREIRA J. M.& KRUGLIANSKAS, I. Gestão de Inovação: A Lei de Inovação
Tecnológica como ferramenta de apoio às políticas industrial e tecnológica do Brasil.
RAE- Eletrônica - v. 4, n. 2, Art. 18, jul./dez. 2005.
PIERACCIANI, Valter. Usinas de Inovação, Editora Canal Certo, 2013.
PINTEC. Disponível em: http://www.pintec.ibge.gov.br/. Acesso em março de 2014.
QUADROS DE CARVALHO, R.et alii. Technological innovation in Brazilian industry:
an assessment based on the São Paulo innovation survey. Artigo apresentado à Terceira
Conferência Internacional sobre Política Tecnológica e Inovação, Austin, 30 de agosto a 2 de
setembro, 1999.
ROCHA, F. L. Impactos das fusões e aquisições sobre a concentração industrial:
observações preliminares sobre o caso brasileiro, 1996-2000. Economia Aplicada, FEA-
USP/Fipe, abr./jun. 2004.
125
ROSEMBERG, N. Exploring the black box. Cambridge, Inglaterra: Cambridge University.
Press, 1994.
SALERNO, M. S. Os novos instrumentos de apoio à inovação nas empresas e como a
universidade pode deles se beneficiar. POLI-USP, 2006. Disponível em:
www.poli.usp.br/NUDI/apresentacoes/NOVOS_INSTRUMENTOS.pdf.Acesso
em:12/01/2008
SALLES FILHO, Sergio. Política de Ciência e Tecnologia no I PND (1972/74) e no I PBDCT
(1973/74). Revista Brasileira de Inovação. Vol. 1, Número 2, Julho / Dezembro 2002., p.
397-419.
SALOMON, Jean-Jacques. Morte e ressurreição do capitalismo: a propósito de
Schumpeter. Estud. av., São Paulo , v. 5, n. 13, Dec. 1991 .
SCHROT, Edson. Percalços e Estímulos a Inovação. Revista Embalagem Marca. Julho
2011. Edição no. 143, pp.39-41.
SCHROT, Edson. Estímulos `a Inovação pela lei 11.196.05. Revista Fundepag.
Abril/Maio/Junho.2010. Edição no.15, pp-45-48
SCHUMPETER, J. A teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre os
lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. Coleção os Economistas. São Paulo: Ed.
Nova Cultural, 1988.
___________. Teoria do desenvolvimento econômico (Die Theorie der WirschaftlichenEntwicklung), São Paulo: Ed. Victor Civita, 1982.
SIMANTOB, Moysés e LIPPI, Roberta. Guia Valor Econômico da Inovação nas
Empresas. EditoraGlobo2003
SOLOW, R. M. A Contribution to the Theory of Economic Growth. The Quarterly Journal
of Economics, Vol. 70, No. 1. (1956), pp. 65-94.
SOLOW, R. M. Technical Change and the Aggregate Production Function. The Review of
Economics and Statistics, Vol. 39, No. 3. (1957), pp. 312-320.
126
SZMRECSÁNYI T. Idéiasfundadoras.Revista Brasileira de Inovação, v. 1, n° 2, p 201- 224,
Jul/Dez 2002.
SOUZA, Washington Peluso Albino de. Primeiras Linhas de Direito Econômico, 6ª ed., São
Paulo: LTr, 2005.
STEINBOCK, D., , Assessing Finland’s Wireless Valley: can the pioneering continue?,
Telecommunications Policy, 25, pp. 71-100, 2001.
TEIXEIRA, D. S. Pesquisa, desenvolvimento experimental e inovação industrial:
motivações da empresa privada e incentivos do setor público. In: MARCOVITCH,
Jacques (coord.). Administração em ciência e tecnologia. São Paulo: Edgard Blücher, 1983.
TUSHMAN, M. L. & ANDERSON, P. Technological discontinuity and organizational
environments. Administrative Science Quarterly. v. 31, 1986.
VANALI, Natali. Artigo: Ensaio sobre as fontes legislativas da inovação. Publicado em
Revista USP, v.14, 2009, pp.45-48
WARDA, J. Tax Treatment of Business Investments in Intellectual Assets: An International
Comparison, OECD Science, Technology and Industry Working Papers, OECD
Publishing, 2006.
WEBER, R. P. Basic content analysis. Second Edition. Newbury Park : Sage University
Paper, 1990.
WEISZ, J. Mecanismos de apoio à inovação tecnológica – 3. ed. – Brasília: SENAI/DN,
2006.
WORLD TRADE ORGANIZATION (WTO). Final act embodying the results of
theUruguay Round of multilateral trade negotiations. Marrakesh: WTO, 1994.
ZAWISLAK, P. A. A relação entre o conhecimento e desenvolvimento: essência do
progresso técnico. Análise. V. 6, n. 1, p. 125-149, 1995
127
GLOSSÁRIO:
Agência ou órgão de fomento - Entidade de apoio a organizações científicas e empresariais que oferecem linhas de crédito para financiamento de capital fixo e de giro, prestação de garantias, realização de operações especiais de investimento, prestação de serviços de assessoria e consultoria financeira, estímulo à produção regional e assistência à implementação de projetos de desenvolvimento industrial. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Angel investor ou investidor anjo - Pessoa física que, por meio de uma pessoa jurídica, investe em empresas nascentes (startups). Tem normalmente uma participação minoritária no negócio e não ocupa posição executiva na empresa, mas apoia o empreendedor com seu conhecimento, experiência e relacionamento, além dos recursos financeiros. É geralmente um ex-empresário ou executivo que já trilhou uma carreira de sucesso, acumulando recursos suficientes para investir e oferecer sua experiência para as empresas. O investimento é normalmente feito por um grupo de dois a cinco investidores anjo, tanto para diluição de riscos como para o compartilhamento da dedicação, sendo definido um ou dois como investidores-líderes para cada negócio, de forma a agilizar o processo de investimento. Fonte: Anjos do Brasil.
Arranjo produtivo local (APL) - Arranjos Produtivos Locais são aglomerações de empresas, localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais, tais como: governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa. Fonte: MDIC.
Atividade de inovação - São etapas científicas, tecnológicas, organizacionais, financeiras e comerciais que conduzem, ou visam conduzir, à implementação de inovações. Algumas atividades de inovação são em si inovadoras, outras não são atividades novas, mas são necessárias para a implementação de inovações. As atividades de inovação também inserem a P&D que não está diretamente relacionada ao desenvolvimento de uma inovação específica. Uma inovação precisa ter sido implementada para ser considerada como tal. Isso ocorre com a introdução de um produto novo ou melhorado no mercado ou quando novos processos, métodos de marketing e métodos organizacionais são efetivamente utilizados nas operações das empresas. Fonte: Manual de Oslo.
Centro de inovação - Organização que abriga e promove a geração de empreendimentos inovadores e de atividades para o desenvolvimento de conhecimento científico e tecnológico e capacitação tecnológica, financeira e gerencial de empresas numa região. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Centro de pesquisa - Organização que abriga laboratórios para realização de atividades de pesquisa e desenvolvimento. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Clusters - Empresas e/ou instituições que interagem entre si, gerando e capturando sinergias, com potencial de atingir crescimento contínuo superior a uma simples aglomeração econômica, geograficamente próximas e pertencentes a um setor específico. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
128
Consórcio de pesquisa - Realização conjunta de pesquisa entre empresas com a finalidade de compartilhar informações e risco e baratear o custo da pesquisa, geralmente em estágio pré-competitivo, podendo envolver concorrentes diretos ou não. São formados para lidar com assuntos muito incipientes, quando os resultados visam o longo prazo ou quando existe intenção de captura de valor sobre a informação. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae.
Contrato de confidencialidade - Instrumento legal em que as partes destacam materiais ou conhecimentos confidenciais que desejam compartilhar para determinado propósito, mas cujo uso generalizado desejam restringir. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Contrato de parceria - Instrumento legal que visa formalizar a execução de atividades entre empresas, instituições e/ou pessoas físicas. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Cooperação tecnológica - Forma de colaboração entre empresas e instituições de ensino e pesquisa para desenvolvimento de produtos e processos quando a tecnologia usada não pode ser efetivamente transferida por meio da venda do direito de utilização ou da simples transferência de informações. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Cooperação universidade-empresa - Forma de colaboração para formação de recursos humanos, acesso a laboratórios, apoio à pesquisa, ao desenvolvimento tecnológico e à transferência de tecnologia. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Empresa graduada - Organização que alcança desenvolvimento suficiente para ser habilitada a sair da incubadora. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Empresa incubada - Organização que está abrigada em uma incubadora de empresas. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Empresa inovadora - É aquela que implementou uma inovação durante o período de análise. Fonte: Manual de Oslo.
Fomento - Aplicação de recursos orçamentários governamentais em atividades diversas relacionadas à pesquisa científica e tecnológica. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Fundos setoriais - Criados a partir de 1999, são instrumentos de financiamento de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação no País. Há 16 Fundos Setoriais, sendo 14 relativos a setores específicos e dois transversais. Destes, um é voltado à interação universidade-empresa (FVA – Fundo Verde-Amarelo), enquanto o outro é destinado a apoiar a melhoria da infraestrutura de ICTs (Infraestrutura). As receitas dos Fundos são oriundas de contribuições incidentes sobre o resultado da exploração de recursos naturais pertencentes à União, parcelas do Imposto sobre Produtos Industrializados de certos setores e de Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) incidente sobre os valores que remuneram o uso ou aquisição de conhecimentos tecnológicos/transferência de tecnologia do exterior. Fonte: Finep.
Gestão tecnológica - Administração sistemática de habilidades, mecanismos, conhecimentos, planos e instrumentos organizacionais necessários à estruturação da capacidade empresarial
129
de gerar, introduzir, apropriar, modificar e gerenciar inovações, com vista à competitividade. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Incubação - Processo de apoio ao desenvolvimento de pequenos empreendimentos ou empresas nascentes, por meio do qual empreendedores podem desfrutar de instalações físicas, ambiente instrucional e de suporte técnico e gerencial no início e durante as etapas de desenvolvimento do negócio. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE
Incubadora: Mecanismo que estimula a criação e o desenvolvimento de micros e pequenas empresas industriais ou de prestação de serviços, empresas de base tecnológica ou de manufaturas leves, por meio da formação complementar do empreendedor em seus aspectos técnicos e gerenciais. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Inovação - Implementação de um produto, bem ou serviço novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas. O requisito mínimo para se definir uma inovação é que o produto, o processo, o método de marketing ou organizacional sejam novos (ou significativamente melhorados) para a empresa. Isso inclui produtos, processos e métodos que as empresas são as pioneiras a desenvolver e aqueles que foram adotados de outras empresas ou organizações. Fonte: Manual de Oslo.
Inovação aberta (open innovation) - Trata-se da busca por outros caminhos para aumentar a eficiência e eficácia dos processos de inovação. Isso tem sido feito por meio da busca ativa de novas tecnologias e novas ideias fora da empresa, da cooperação com instituições de pesquisa, com seus fornecedores ou até mesmo com seus competidores, com o objetivo de agregar valor a seus produtos. Outro importante aspecto é o licenciamento de ideias e tecnologias que não se enquadram na estratégia da empresa, que pode gerar, por exemplo, spin-offs. A inovação aberta pode ser descrita como a combinação de ideias internas e externas, como também, de trajetórias internas e externas para o mercado, de modo a avançar o desenvolvimento de novas tecnologias. Fonte: Agência USP de Inovação, com base em texto de Henry Chesbrough, criador do conceito.
Inovação incremental - Reflete pequenas melhorias contínuas em produtos ou em linhas de produtos. Geralmente, representam pequenos avanços nos benefícios percebidos pelo consumidor e não modificam de forma expressiva a forma como o produto é consumido ou o modelo de negócio. Fonte: Manual de Oslo.
Inovação radical ou disruptiva - É aquela que causa um impacto significativo em um mercado e na atividade econômica das empresas nesse mercado. Esse conceito é centrado no impacto das inovações, em oposição a sua novidade. Representa uma mudança drástica na maneira que o produto ou serviço é consumido. Geralmente, traz um novo paradigma ao segmento de mercado, que modifica o modelo de negócios vigente. Inovações radicais engendram rupturas mais intensas. Fonte: Manual de Oslo.
Instituição Científica e Tecnológica (ICT) - Órgão ou entidade da administração pública que tenha por missão institucional, dentre outras, executar atividades de pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou tecnológico. Fonte: Lei de Inovação.
130
Instituição de apoio - Fundação criada com a finalidade de dar apoio a projetos de pesquisa, ensino e extensão e de desenvolvimento institucional, científico e tecnológico de interesse das instituições federais de ensino superior e demais instituições científicas e tecnológicas, registrada e credenciada nos Ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação. Fonte: Lei de Inovação.
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) - Autarquia ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) responsável pelo aperfeiçoamento, disseminação e gestão do sistema brasileiro de concessão e garantia de direitos de propriedade intelectual para a indústria. Entre os serviços do INPI estão os registros de marcas, desenhos industriais, indicações geográficas, programas de computador e topografias de circuitos, as concessões de patentes e as averbações de contratos de franquia e de transferência de tecnologia. Fonte: Portal INPI.
Janela tecnológica - Possibilidade de desenvolvimento decorrente de mudanças de paradigmas tecnológicos ou científicos que proporciona compensação e redução de desníveis econômicos e tecnológicos entre nações. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Joint ventures - Entidade formada por duas ou mais organizações com o objetivo de desenvolverem, juntas, um projeto ou negócio, dividindo riscos e aproveitando sinergias para o projeto ou negócio específico. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Know-how - Experiência técnica. Saber fazer. Termo utilizado para referir-se a processos de fabricação não patenteada, mas que exige grande habilidade. Refere-se também a um conjunto de operações que demandam experiência específica. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Learning bydoing- Desenvolvimento de capacitações científicas, tecnológicas e organizacionais e esforços substanciais de aprendizado com experiência própria, no processo de produção. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE
Learning byinteracting - Desenvolvimento de capacitação mediante interação com fontes externas, como fornecedores de insumos, componentes e equipamentos, licenciadores, licenciados, clientes, usuários, consultores, sócios, universidades, institutos de pesquisa, agências e laboratórios governamentais, entre outros. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE
Learning bysearching - Desenvolvimento de capacitação por meio de busca por novas soluções técnicas nas unidades de pesquisa e desenvolvimento ou em instâncias menos formais. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Learning byusing - Aprendizagem pelo uso e comercialização. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Licença de fabricação ou utilização de patentes - Cessão de direitos, por parte de pessoas físicas ou jurídicas, de propriedade sobre desenhos e especificações de produtos sujeitos aos processos definidos de industrializações patenteados e registrados no Brasil e no país de
131
origem, obrigado à vinculação duradoura entre as partes contratantes. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Licenciamento - Permissão para usar, explorar, modificar, de acordo com determinadas condições regidas pelo contrato de licenciamento, uma determinada tecnologia ou patente. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Licenciamento de tecnologia - Acordo contratual pela qual uma organização vende a outra empresa os direitos de uso de tecnologia de sua propriedade, sob a forma de patentes, processos e/ou know-how técnico, e pelo qual recebe pagamentos de royalties e/ou outra forma de compensação. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Modelo de utilidade - Modalidade de patente que se destina a proteger inovações com menor carga inventiva, normalmente resultantes da atividade do operário ou artífice. É mais flexível, menos oneroso e o período de proteção é menor do que o de uma patente. No Brasil, pela legislação de propriedade intelectual vigente, o modelo de utilidade só se aplica a inovações em elementos físicos, tais como utensílios, pequenos equipamentos etc, vedada a proteção a processos nesse caso. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Modelo linear de inovação - Visão simplificada do processo de inovação, baseado na transferência simples de tecnologias específicas de fontes de pesquisa para a indústria. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Modelo sistêmico de inovação - Conceito de inovação que leva em conta as interações complexas e contínuas entre muitas pessoas, organismos e fatores ambientais. Sob essa ótica, a P&D já não pode ser considerada a fonte única de inovação, por exemplo. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Modernização tecnológica - Significa a utilização, e não necessariamente domínio, de tecnologias mais avançadas do que as usadas anteriormente. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Monitoramento tecnológico - Exercício de produzir visões do futuro, antecipar oportunidades e potenciais ameaças, indicar tendências e prioridades por meio do acompanhamento e mapeamento de tecnologias. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Nicho tecnológico - Oportunidade de inovação de natureza predominantemente incremental, detectada no paradigma tecnológico vigente, que utiliza competências essenciais da empresa ou da região, para possibilitar vantagem competitiva em determinado mercado. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Núcleo de inovação tecnológica (NIT) - Núcleo ou órgão de uma instituição científica e tecnológica (ICTs) criado com a finalidade de gerir sua política de inovação. Fonte: Lei da Inovação.
Parque tecnológico - Polo ou complexo tecnológico industrial de base científico-tecnológica planejado, de caráter formal, concentrado e cooperativo, que agrega empresas cuja produção
132
se baseia em pesquisa tecnológica desenvolvida nos centros de P&D vinculados ao parque. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Patente - Patente é um título de propriedade temporária sobre uma invenção ou modelo de utilidade, outorgado pelo Estado aos inventores ou autores ou outras pessoas físicas ou jurídicas detentoras de direitos sobre a criação. Em contrapartida, o inventor se obriga a revelar detalhadamente todo o conteúdo técnico da matéria protegida pela patente. Fonte: INPI.
Pesquisa aplicada - A pesquisa aplicada consiste igualmente em trabalhos originais empreendidos com a finalidade de adquirir conhecimentos novos. Ela é dirigida principalmente a um objetivo ou um determinado propósito prático. Fonte: Manual Frascati.
Pesquisa básica - Consiste em trabalhos experimentais ou teóricos desenvolvidos principalmente com a finalidade de adquirir novos conhecimentos sobre os fundamentos de fenômenos e fatos observáveis, sem considerar uma aplicação ou uso particular. É dividida em pesquisa básica pura e pesquisa básica orientada. Fonte: Manual Frascati.
Pesquisa básica orientada - Pesquisa realizada com a expectativa de que conduzirá à criação de uma ampla base de conhecimento que permita resolver os problemas e perceber as oportunidades que se apresentam atualmente ou possam vir a se apresentar em uma data posterior. Fonte: Manual Frascati.
Pesquisa básica pura - É executada para avançar os conhecimentos, sem intenção de colher os benefícios econômicos ou sociais no longo prazo e sem esforços para aplicar os resultados desta pesquisa em problemas práticos, ou transferi-los para setores responsáveis de sua aplicação. Fonte: Manual Frascati.
Pesquisa e desenvolvimento - O trabalho criativo empregado de forma sistemática, com o objetivo de aumentar o volume de conhecimentos, abrangendo o conhecimento do homem, da cultura e da sociedade, bem como a utilização desses conhecimentos para novas aplicações. Abrange três atividades: a pesquisa básica, a pesquisa aplicada e o desenvolvimento experimental. Fonte: Manual Frascati.
Polo tecnológico - Área de concentração industrial resultante da interação de um conjunto de empresas com centros de excelência localizados em universidades de alto nível. Se caracteriza pelo intercâmbio de informações, a troca de experiências, os serviços que facilitam a utilização de recursos humanos de qualidade, a contratação de projetos tecnológicos, o acesso a centros de pesquisa, bibliotecas, serviços de documentação especializada. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Privaty equity- é um tipo de atividade financeira realizada por instituições que investem essencialmente em empresas que ainda não são listadas em bolsa de valores, com o objetivo de alavancar seu desenvolvimento. Esses investimentos são realizados via Fundos de Private Equity. São foco desses investidores empresas já consolidadas e com faturamento expressivo. Fonte: ANPEI.
Propriedade intelectual (PI) - Área do Direito que, por meio de leis, garante a inventores ou responsáveis por qualquer produção do intelecto - nos domínios industrial, científico, literário
133
ou artístico - o direito de obter, por um determinado período de tempo e de forma exclusiva, recompensa pela própria criação. Segundo a Organização Mundial de Propriedade Intelectual(OMPI), a PI está dividida em duas categorias: Propriedade Industrial (patentes/invenções, marcas, desenho industrial, indicação geográfica e proteção de cultivares); Direitos Autorais (trabalhos literários e artísticos, e cultura imaterial como romances, poemas, peças, filmes, música, desenhos, símbolos, imagens, esculturas, programas de computador, internet, entre outros.). Fonte: Associação Paulista de Propriedade Intelectual.
Prospecção tecnológica - Pesquisa sobre as tendências da tecnologia nos vários setores industriais. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Protótipo - Modelo original básico representativo de invenção ou criação nova, feito em escala, e que apresenta todas as características essenciais do produto final desejado. É usado em testes físicos. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Redes de inovação - Organização das relações heterogêneas entre agentes de produção de conhecimentos e aqueles que buscam estabelecer vantagens competitivas no mercado. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Roadmap tecnológico - Técnica que conjuga prospecção das expectativas e tendências do mercado-indústria e busca traçar em quais soluções (produtos e/ou serviços) e respectivas tecnologias a empresa deve investir e/ou desenvolver para melhorar seu posicionamento competitivo. Dão orientação, foco e priorização a programas de desenvolvimento. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE.
Seed capital ou capital semente - Disponibilização de capital para desenvolvimento de uma ideia ou conceito até o momento em que sua viabilidade possa ser avaliada. Investimento feito na fase inicial do novo negócio, em que muitas vezes ainda é uma ideia. Por ser ainda inicial, oferece maior risco e também maior retorno quando concretizada. Fontes: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae – CE e Revista Exame.
Sistema de inovação - Rede interativa de instituições dos setores público e privado que gera, adota, importa, modifica e difunde novas tecnologias. Esse sistema pode ser nacional, regional ou local. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae.
Spin-off - Empresa oriunda de laboratório e resultante de pesquisa acadêmica ou industrial; empresa impulsionada por outra já estabelecida no mercado, para atuar na mesma área de negócio, mas com produto ou serviço diferente daquele que a empresa original comercializa. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae.
Spin-out - Empresa constituída por um grupo ou unidade de uma grande empresa para explorar novos desenvolvimentos ou oportunidades de mercado recentes e onde a equipe de gestão e o capitalista de risco também têm uma cota do capital. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae.
Stagegates - Metodologia para avaliar ideias, conceitos e projetos de inovação baseada em estágios bem definidos e progressivamente quantitativos. Metodologia para que ideias e projetos inovadores possam receber mais apoio e recursos organizacionais em seus estágios
134
iniciais de desenvolvimento e conseguir avançar para estágios nos quais consigam materializar benefícios e adquirir recursos mais significativos. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae.
Startup ou empresa emergente - Organização em fase de estruturação (quase firma) que busca nichos específicos de mercado. Nessa categoria de empresa, a base técnica da produção advém de esforços de pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Pode estar ou não inserida em incubadora. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae.
Tecnologia - Método para transformar inputs em outputs; aplicação dos resultados de pesquisa científica à produção de bens e serviços; tipo específico de conhecimento, processo ou técnica exigido para fins práticos; conhecimentos de que uma sociedade dispõe sobre ciências e artes industriais, incluindo os fenômenos sociais e físicos, e sua aplicação à produção de bens e serviços. Identificam-se duas grandes categorias de tecnologia: tecnologia de produto (componentes tangíveis e facilmente identificáveis) e tecnologia de processo (técnicas, métodos e procedimentos.) Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae.
Tecnologia crítica - Método que consiste em identificar tecnologias usando um conjunto de critérios racionais, por meio do qual a importância ou criticidade de uma tecnologia pode ser avaliada. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae.
Tecnologia industrial básica (TIB) - Tecnologia aplicada ao processo de manufatura de uma indústria. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae.
Tecnologia-chave - Resulta em vantagem competitiva para aqueles que a fazem melhor do que seus competidores. Normalmente, as companhias mais bem sucedidas em uma indústria são as melhores nessa tecnologia/competência. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae.
Transferência de conhecimento - É a troca de conhecimento/informação por meio de redes de colaboração. Transferência de boas ideias, resultados de pesquisas e habilidades entre universidades, outras organizações de pesquisa, negócios e a comunidade para possibilitar inovações em produtos e serviços. - Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae.
Transferência de tecnologia - Intercâmbio de conhecimento e habilidades tecnológicas entre instituições de ensino superior e/ou centros de pesquisa e empresas. Faz-se na forma de contratos de pesquisa e desenvolvimento, serviços de consultoria, formação profissional, inicial e continuada, licenciamento de patentes, marcas e processos industriais, publicação na mídia científica, apresentação em congressos etc. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae.
Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT) - Tratado multilateral que permite requerer a proteção patentearia de uma invenção, simultaneamente, num grande número de países, por intermédio do depósito de um único pedido internacional de patente. Seu principal objetivo é simplificar e tornar mais econômica a proteção das invenções quando a mesma for pedida em vários países. Um pedido PCT pode ser apresentado por qualquer pessoa que tenha nacionalidade ou seja residente em um Estado membro do Tratado. Fonte: INPI.
135
Vantagem tecnológica - Capacidade da empresa de se manter na fronteira do conhecimento para o favorecimento do processo de inovação. Fonte: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae.
Venture capital ou capital de risco - Investimento de risco em empresas novas ou já estabelecidas com a expectativa de ganhos acima da média do mercado. O capital utilizado em tal prática geralmente é proveniente de um fundo de investidores. Investimento direcionado a empresas já estabelecidas, mas de pequeno e médio portes, com potencial de crescimento. Os recursos financiam as primeiras expansões e levam o negócio a novos patamares no mercado. Fontes: Dicionário Tecnologia e Inovação Sebrae e Revista Exame.
136
APÊNDICE A – Exemplos práticos de diferenciação entre inovação radical e
incremental
Incremental Radical
Produto Trocar o chip de um computador de 16Bits
para 32 Bits pode ser incentivado
Criar um CD player é incentivado
Processo Automatizar uma linha
de produção manual
Criar uma linha de produção para
tratamento da vinhaça.
Negócio Empresa aérea que desenvolve uma
sistemática de atendimento por internet
Empresa aérea que atua “lowcost, lowfair”
(Sothwest Airlines)versus empresa classe
A (American Airlines)
Gestão e
Marketing
Automatizar o sistema de gestão com SAP Formar um sistema de gestão de
conhecimento online como a Google
Exemplos de diferenciação entre inovação radical e incremental
137
APÊNDICE B – Cálculo de incentivos fiscais com incremento da base de 60% para 80%
ou 100% de acordo com os critérios da Lei no 11.196/05.
138
ANEXO A – Conceitos de inovação segundo diversos autores:
AUTOR DEFINIÇÃO Martin Bell e Keith Pavitt
(Universidade de Sussex) A inovação pode ser vista como um processo de aprendizagem organizacional.
C. K. Prahalad
(Universidade de
Michigan)
Inovação é adotar novas tecnologias que permitem aumentar a competitividade da companhia.
Ernest Gundling (3M)
Inovação é uma nova ideia implementada com sucesso, que produz resultados
econômicos.
Giovanni Dosi
(Universidade de Pisa)
Inovação é a busca, descoberta, experimentação, desenvolvimento, imitação e adoção de novos produtos, novos processos e novas técnicas
organizacionais
Gary Hamel (Strategos) Inovação é um processo estratégico de reinvenção contínua do próprio negócio e da
criação de novos conceitos de negócios.
Joseph Schumpeter
(economista) A inovação caracteriza-se pela abertura de um novo mercado.
Guilherme Ary Plonski
(IPT)
Inovação pode ter vários significados e a sua compreensão depende do contexto
em que ela for aplicada. Pode ser ao mesmo tempo resultado e processo ou ser
associada à tecnologia ou marketing.
Peter Drucker
(Universidade de
Claremont)
Inovação é o ato de atribuir novas capacidades aos recursos (pessoas e processos)
existentes na empresa para gerar riqueza.
Tom Kelley Inovação é o resultado do esforço do time
Disponível em: Guia Econômico Valor de Inovação nas Empresas, Globo, 2003.
139
ANEXO B -Conceitos de inovação segundo diversos empresários:
EMPRESARIO DEFINIÇÃO
Jorge Gerdau,
presidente da
GERDAU
"É a criação de ideias para buscar melhorias: de produtos, de design ou de
processos."
Lourenço Bustani,
sócio da Mandalah
"É tudo o que melhora a vida das pessoas, torna-as mais felizes, saudáveis,
informadas, engajadas, motivadas, confiantes, solidárias, conectadas, envolvidas e
capazes. No contexto de mercado, é o encontro entre o lucro e esse propósito".
José Antônio Fay,
presidente da BR
Foods
"As barreiras para a inovação estão ligadas à educação. À medida em que o país
melhorar o nível de educação vai melhorar a capacidade de criação. Temos boa
indústria de música, por exemplo, mas quando precisamos de educação empresarial
há deficiência."
Valter Pieracciani,
sócio da
Pieracciani.
"Organizações inovadoras têm pessoas, processos e ambientes preparados. No campo
da tecnologia, o Brasil não é campeão. Mas somos bom em inovação de significado,
que depende menos de tecnologia e mais de design, de conceito de produtos."
Edmundo Aires,
vice-presidente de
inovação da
Braskem
"É o processo pelo qual se busca criar ou mudar alguma coisa para atender a
uma nova demanda ou tornar algo existente mais produtivo, menos custoso,
mais atraente."
CledorvinoBelini,
presidente da Fiat "A inovação pode ser entendida como a transformação de conhecimento em valor."
Alexandre
Hohagen, vice-
presidente do
Facebook na
América
"É a capacidade de criar coisas disruptivas, que causem real impacto no que existia
anteriormente. Inovação pode estar em todos os lugares, nos tênis de corrida mais
leves ou em prédios inteligentes. Ser inovador é romper com o que já existe. O
brasileiro é extremamente criativo, mas não estamos aproveitando todo o seu
potencial."
Pedro Buarque de
Holanda,
presidente da
Conspiração
Filmes
"Inovar é acreditar que 2+2 podem ser 5."
Gil Giardelli,
diretor executivo
da consultoria Gaia
Creative
"O futuro é colaborativo. Para uma empresa entrar nessa era deve desmontar paredes,
quebrar egos, colocar jovens no conselho e perceber que a inovação não está nas
salas das reuniões da diretoria."
Berthier Ribeiro-
Neto, diretor de
"É criar processos, produtos ou serviços que levem pessoas a mudar
comportamentos. A maior inovação na história da civilização moderna talvez tenha
140
engenharia do
Google para a
América Latina
sido a adoção da agricultura, que levou as tribos a se fixarem na terra. A segunda
maior talvez tenha sido a invenção da máquina a vapor, que desencadeou a
Revolução Industrial."
Tony Knopp,
gerente de relações
com empresas do
MIT
"Inovação não é só uma nova ideia, mas um novo produto que é um sucesso.
Precisa ter o lado prático, não basta apenas ser novo. No MIT, temos um ditado:
'Não se pede permissão. Pede-se perdão se algo der errado'. Eu sou um gringo
carioca, então tenho o direito de falar: a grande pergunta para o Brasil é se o país terá
uma empresa como Google ou Apple, realmente inovadoras."
Luiz Barretto,
presidente do
Sebrae nacional
"O empreendedor não precisa se assustar com a inovação, ela não é só mudança
tecnológica. Podem ser criados modelos de gestão. Isso não significa investir muito
dinheiro, e sim adotar boas práticas."
David Neeleman,
presidente da Azul
"É buscar soluções para reduzir custos, mas oferecendo o melhor serviço.
Poderíamos ser mais inovadores observando o que foi feito no mundo e fazendo
melhor aqui."
Diogo Carvalho,
sócio da Bug
Agentes Biológicos
"Inovar significa mudar algo obsoleto para algo melhor e com apelo sustentável. O
fomento ao empreendedorismo nos institutos de pesquisa nos tornaria um dos países
mais inovadores do mundo, mas existe um preconceito que desacelera esse processo.
A ideia de ganhar dinheiro com pesquisa ainda é tabu." Disponível em: http://classificados.folha.uol.com.br/negocios/1161347-30-empresarios-e-especialistas-respondem-o-que-e-inovacao-na-pratica.shtml
141
ANEXO C -Exemplos de atividades de inovação, de acordo com o MCTI
Este anexo fornece uma lista de exemplos para cada tipo de inovação. Essas listas foram elaboradas como ilustrações e não devem ser consideradas exaustivas. Elas visam dar àqueles que desenvolvem as pesquisas um entendimento melhor de cada tipo de inovação, mas não são concebidas para ser mostradas às empresas como exemplos de inovações. Há duas razões para isso. Primeiramente, a inclusão das listas pode conduzir as empresas a descartar as inovações não listadas. Ademais, a lista é datada, sendo muitas inovações imprevisíveis. Vale a pena ressaltar que os dois critérios centrais para identificar as inovações são a introdução de mudanças significativas e o fato de serem novas para uma empresa. Assim, uma mudança pode representar uma inovação para uma empresa e não para outra. Muitas vezes, são necessárias descrições mais detalhadas para determinar se uma mudança deve ser classificada como uma inovação e de qual tipo. Exemplos de Inovações:
540. Uma inovação de produto é a introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente melhorado no que se refere a suas características ou a seus usos previstos. Isso inclui melhoramentos expressivos nas especificações técnicas, componentes e materiais, softwares incorporados, facilidade de uso ou outras características funcionais. 541. As inovações de produto excluem: Mudanças ou melhoramentos menores. Atualizações de rotina. Mudanças sazonais regulares (como nas linhas de vestuário). Personalização para apenas um cliente que não inclua atributos fundamentalmente diferentes se comparados a produtos feitos para outros clientes. Mudanças no desenho que não alteram a função, o uso previsto ou as características técnicas do bem ou serviço. A simples revenda de novos bens e serviços adquiridos de outras empresas. 542. Exemplos de inovações de produtos: A substituição de insumos por materiais com características melhoradas (tecidos respiráveis, ligas leves mas resistentes, plásticos não agressivos ao meio ambiente etc.). Sistemas de posicionamento global (GPS) em equipamentos de transporte. Câmeras em telefones celulares. Sistemas de fecho em vestuário. Aparelhos domésticos que incorporam softwares que melhoram a facilidade ou a conveniência de uso, como torradeiras que desligam automaticamente quando o pão está torrado. Softwares antifraude que perfilam e rastreiam as transações financeiras individuais. Redes sem fio embutidas em laptops. Produtos alimentícios com novas características funcionais (margarinas que reduzem os níveis de colesterol no sangue, iogurtes produzidos com novos tipos de culturas etc.). Produtos com consumo de energia significativamente reduzido (refrigeradores com o uso eficiente de energia etc.). Mudanças significativas em produtos para atender padrões ambientais. Aquecedores programáveis e termostatos. Telefones IP (protocolo de Internet). Novos medicamentos com efeitos significativamente melhorados. Exemplos de Inovação em serviços: Novos serviços que melhoram muito o acesso dos consumidores a bens ou serviços, como o serviço de entrega e retirada em casa para aluguel de automóveis. Serviço de assinatura de DVD em que, por uma taxa mensal, os consumidores podem pedir um número predefinido de DVDs via Internet com entrega postal em casa e retorno via envelope pré-endereçado. Vídeo contra apresentação via Internet banda larga. Serviços de Internet como bancos ou sistemas de pagamentos de contas. Novas formas de garantia, como a garantia estendida para bens novos ou usados, ou garantias em pacotes com outros serviços, como cartões de crédito, contas bancárias ou cartões de fidelidade para os consumidores. Novos tipos de empréstimos, por exemplo empréstimos a taxas variáveis com
142
um teto fixo para o valor da taxa. Criação de sites na Internet, onde novos serviços como a oferta gratuita de informações sobre produtos e várias funções de suporte ao cliente. A introdução de cartões inteligentes e de cartões plásticos de várias funções. Um novo escritório bancário de autoatendimento. A oferta aos clientes de um novo "sistema de controle de fornecimento" que possibilite aos clientes checar se as entregas dos contratantes atendem às especificações. 543. Uma inovação de processo consiste na implementação de métodos de produção ou distribuição novos ou significativamente melhorados. Isso inclui mudanças significativas nas técnicas, equipamentos e/ou softwares. 544. As inovações de processo excluem: Mudanças ou melhoramentos menores. Um aumento nas capacitações dos produtos ou serviços por meio da adição de sistemas de fabricação ou de logística muito similares àqueles já em uso. 545. Exemplos de inovações de processos: Produção: Instalação de uma tecnologia de fabricação nova ou melhorada, como os equipamentos de automação ou sensores em tempo real capazes de ajustar processos. Novos equipamentos exigidos para produtos novos ou melhorados. Instrumentos de corte a laser. Embalagem automatizada. Desenvolvimento de produto auxiliado por computador. Digitalização de processos de impressão. Equipamentos computadorizados para o controle da qualidade da produção. Equipamentos de testes melhorados para o monitoramento da produção. Entrega e operações. Scanners/Computadores portáteis para registrar bens e estoques. Introdução de códigos de barras ou de chips de identificação por frequência de rádio passiva (RFID) para rastrear materiais ao longo da cadeia de fornecimento. Sistemas de rastreamento GPS para equipamentos de transporte. Introdução de softwares para identificar rotas de distribuição ótimas. Softwares ou rotinas novos ou melhorados para sistemas de compra, contabilidade ou manutenção. Introdução de sistemas eletrônicos de liquidação Introdução de um sistema automatizado de resposta por voz. Introdução de um sistema eletrônico de fornecimento de tickets. Novas ferramentas de softwares desenhadas para melhorar os fluxos de oferta. Redes de computadores novas ou significativamente melhoradas. 546. Uma inovação de marketing é a implementação deum novo método de marketing envolvendo mudanças significativas na concepção ou na embalagem do produto, no posicionamento do produto, na promoção do produto ou na formação de preços. 547. As inovações de marketing excluem: Mudanças na concepção ou na embalagem do produto, no posicionamento do produto, na promoção do produto ou na formação de preços baseadas em métodos de mercado previamente utilizados pela empresa. Mudanças sazonais, regulares ou de rotina nos instrumentos e marketing. O uso de métodos de marketing já aplicados, para atingir um novo mercado geográfico ou um novo segmento de mercado (por exemplo, grupos de clientes sócio-demográficos). 548. Exemplos de inovações de marketing: As inovações de marketing podem referir-se a qualquer método de marketing (concepção do produto/embalagem, posicionamento, formação de preços, promoção) desde que ele tenha sido usado pela primeira vez pela empresa. Concepção e embalagem. Implementação de uma mudança significativa na concepção de uma linha de móveis para dar-lhe nova aparência e ampliar seu apelo. Implementação de uma concepção fundamentalmente nova para frascos de loção para o corpo visando dar ao produto uma aparência exclusiva. Posicionamento (canais de vendas). Introdução pela primeira vez de licenciamento de produtos. Introdução pela primeira vez de vendas diretas ou de varejo exclusivo. Implementação de um novo conceito para a apresentação de produtos como os salões de vendas para móveis desenhados de acordo com temas, permitindo aos consumidores visualizar os produtos em salas totalmente decoradas. Implementação de um sistema de informação personalizado, obtido por exemplo a partir de cartões de fidelidade, para adequar
143
a apresentação de produtos às necessidades específicas dos consumidores individuais. Formação de preços. Introdução de um novo método que possibilite aos consumidores escolher as especificações do produto desejado no site da empresa e então ver o preço para o produto especificado. O uso pela primeira vez de um método para variar opreço de um bem ou serviço segundo sua demanda. O uso pela primeira vez de ofertas especiais reservadas, acessíveis apenas aos possuidores de cartão de crédito da loja ou cartão de recompensas. Promoção: O uso pela primeira vez de marcas registradas. O uso pela primeira vez de posicionamento de produto em filmes ou em programas de televisão. Introdução de um símbolo de marca fundamentalmente novo visando posicionar o produto da empresa em um novo mercado. O uso pela primeira vez do lançamento de um produto por meio de líderes de opinião, celebridades ou grupos particulares que estejam na moda ou que estabeleçam tendências de produtos. 549. Uma inovação organizacional consiste na implementação de um novo método organizacional nas práticas de negócios da empresa na organização do local de trabalho ou nas relações externas. 550. As inovações organizacionais excluem: Mudanças nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas baseadas em métodos organizacionais já em uso na empresa. Mudanças na estratégia de gerenciamento da empresa, a menos que estejam acompanhadas pela introdução de um novo método organizacional. Fusões e aquisições de outras empresas. 551. Exemplos de inovações organizacionais: As inovações organizacionais podem referir-se a qualquer método organizacional nas práticas de negócios da empresa, na organização do local de trabalho ou nas relações externas desde que tenham sido usadas pela primeira vez na empresa. Práticas de negócios Estabelecimento de uma nova base de dados das melhores práticas, lições e outros conhecimentos mais facilmente acessíveis a outros. Introdução pela primeira vez de um sistema de monitoramento integrado para as atividades da empresa (produção, financiamento, estratégia, marketing). Introdução pela primeira vez de sistemas de gerenciamento para a produção geral ou para operações de fornecimento, como gerenciamento da cadeia de fornecimento, reengenharia de negócios, produção enxuta, sistema de gerenciamento de qualidade. Introdução pela primeira vez de programas de treinamento para criar equipes eficientes e funcionais que integram funcionários de diferentes setores ou áreas de responsabilidade. Organização do local de trabalho. Implementação pela primeira vez da responsabilidade de trabalho descentralizada para os trabalhadores da empresa, como conceder muito mais controle e responsabilidade sobre os processos de trabalho para o pessoal de produção, distribuição e vendas. Estabelecimento pela primeira vez de equipes de trabalho formais e informais para melhorar a acessibilidade e o compartilhamento de conhecimentos de diferentes departamentos, como marketing, pesquisa e produção. Implementação pela primeira vez de um sistema anônimo de relato de incidentes para encorajar a comunicação de erros ou riscos visando identificar suas causas e reduzir sua frequência. Relações externas: Introdução pela primeira vez de padrões de controle de qualidade para fornecedores e subcontratados. Uso pela primeira vez do fornecimento externo (outsourcing) de pesquisa e de produção. Ingresso pela primeira vez na colaboração de pesquisas com universidades ou outras organizações de pesquisa.
144
ANEXO D -Lista de Parques Tecnológicos no Brasil
Fonte: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE, 2012)