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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATUS SENSO” PROJETO A VEZ DO MESTRE O SURGIMENTO DAS CRECHES NO BRASIL E A IMPORTÂNCIA DA PROPOSTA PEDAGÓGICA NAS CRECHES POR: ROSANGELA CAMPOS DE PAULA FERNANDES Orientador: Prof. Maria Esther de Araújo Oliveira RIO DE JANEIRO 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATUS SENSO”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O SURGIMENTO DAS CRECHES NO BRASIL E A IMPORTÂNCIA DA PROPOSTA PEDAGÓGICA NAS

CRECHES

POR: ROSANGELA CAMPOS DE PAULA FERNANDES

Orientador: Prof. Maria Esther de Araújo Oliveira

RIO DE JANEIRO

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATUS SENSO”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O SURGIMENTO DAS CRECHES NO BRASIL E A

IMPORTANCIA DA PROPOSTA PEDAGÓGICA NAS

CRECHES

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Administração e Supervisão Escolar.

Por: Rosangela Campos de Paula Fernandes

RIO DE JANEIRO

2010

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por dar-me a sabedoria, na qual

converto em aprimoramento.

Aos meus pais e a minha avó (in memória) que

sempre incentivaram a estudar.

"Eduque os meninos ... e não será preciso castigar os homens".

(Pitágoras)

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EPÍGRAFE

“ O conhecimento jamais ocupa espaço em nossas vidas. Adquirir mais

conhecimentos só contribuirá para crescermos profissionalmente e termos condições

de tomarmos decisões com mais sabedoria e discernir o melhor caminho que

deveremos seguir.” (grifo meu)

“Jamais considere seus estudos como uma obrigação, mas como uma oportunidade

invejável para aprender a conhecer a influência libertadora da beleza do reino do

espírito, para seu próprio prazer pessoal e para proveito da comunidade à qual seu

futuro trabalho pertencer”. (Albert Einstein).

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RESUMO

Buscando conceituar o inicio da creche para melhor entende-la, procurei fazer uma retrospectiva da infância, resgatando a função que a creche exercia e as modificações que ocorreram, podendo assim melhor conceituá-la, deste modo foi observado que a creche iniciou-se na França. No Brasil seu advento iniciou-se com a roda dos expostos. Depois com a chegada da industrialização, teve um aumento das creches por causa da necessidade das mulheres terem que trabalhar fora. Durante muitos anos a creche foi atendida por entidades filantrópicas de cunho assistencialista. Com o passar dos anos houve várias constituições, ementas que mencionavam que o poder público deveria proporcionar condições. Porém, o poder público nunca efetivou as leis que determinavam este tipo de atendimento. Já na década de oitenta, teve a lei LDB que regulamentava de a educação para crianças de zero a seis anos, garantindo deste modo o acesso as creches. Abandonando o caráter assistencialista do cuidar e introduzindo o cuidar/educar, fazendo com que garanta o desenvolvimento em todos os aspectos da criança. Essa Lei fez revê alguns aspectos sobre o desenvolvimento infantil fazendo com que implementasse a proposta pedagógica, para que se tenha um melhor direcionamento nas atividades, deixando de lado a visão só de brincadeiras, sem cunho educativo.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste trabalho foi pesquisa bibliográfica e análise de

textos relacionados à educação infantil de autores como Philippe Àrie, Bonamino,

Leite e Filho, Patrícia Corsino entre outros no qual deram-me suporte para a

realização desta monografia.

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SUMARIO

INTRODUÇÃO 08

I. HISTÓRICO DA CRECHE 09

1.1 - O surgimento da creche 10

1.2 – A Evolução das Creches no Mundo 11

1.3 – A trajetória das Creches no Brasil 13

1.4 – O Surgimento da Creche no Rio de Janeiro 14

II– A RELAÇÃO EDUCAÇÃO/PROFESSOR E AS QUESTÕES QUE

ENVOLVEM SUA FORMAÇÃO 17

2.1 – A formação dos profissionais 17

III – A IMPORTANCIA DO PROJETO PEDAGÓGICO NA CRECHE 23

3.1 – O conceito e objetivos fundamentais 23

3.2 - A Construção da identidade e da sua filosofia 28

3.3 - A Necessidade de uma proposta pedagógica 30

IV – A VISÃO DOS TEÓRICOS EM RELAÇÃO À INFANCIA 34

4.1 – A criança sob a ótica dos teóricos 34

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA 38

ANEXOS 45

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INTRODUÇÃO

O tema central deste trabalho se refere ao processo de formação do

educador/ professor de educação infantil. Dentre as inúmeras questões que

envolvem esta temática, enfatizarei alguns pontos que considero de fundamental

importância de serem superados para a construção de uma política de formação

deste profissional de crianças de 0 à 3 anos de idade.

Ø A desvalorização deste profissional;

Ø A desinformação;

Ø A dicotomia: teoria x prática;

Ø O papel do Educador: cuidar x educar;

Ø A importância de ter um projeto pedagógico;

Ø A visão dos teóricos em relação a infância.

Sabe-se que o processo de formação está estritamente relacionado ao

processo de construção da identidade deste profissional.

Por isso iniciarei no primeiro capítulo, situando a educação infantil ao longo da

história a fim de contextualizar as principais questões que marcam este campo de

atuação, que era no a inicio a desinformação, não tendo a preocupação em relação

ao desenvolvimento da infância.

No segundo capítulo serão abordadas as questões que envolvem a formação

do educador/ professor, todo processo que teve de passar, as políticas públicas até

chegar a nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). E no terceiro

capítulo será abordado, a questão da importância do projeto pedagógico na creche.

No último capítulo, será abordado a visão de alguns teóricos em relação a infância,

que ao estudar, estudava o comportamento, a postura que o adulto julgava ser o

certo, e não como era realmente a criança, sua imaginação seus desejos.

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I. HISTÓRICO DA CRECHE

Os primeiros relatos sobre a educação no mundo segundo Philippe Ariès,

remonta da idade média, onde a criança era considerada um pequeno adulto, que

executava as mesmas atividades dos mais velhos. A mesma possuía pequena

expectativa de vida por causa das precárias formas de vida. O importante era a

criança crescer rápido para entrar na vida adulta.

A Igreja que nesta época possuía um grande domínio, também dirigia os

colégios existentes, sendo para um grupo seleto, os cléricos.

Com a mudança da sociedade que ocorreu na sociedade com o passar do

tempo, o sentimento em relação a criança foi modificando surgindo atitudes

contraditórias referente a concepção de criança. Primeiro o sentimento de infância

não existia, imperfeita e incompleta e é era vista como mini adulto, depois à

concepção de criança passou a ser considerada como ingênua, inocente é

traduzida pela paparicação dos adultos. Essas duas atitudes começam a modificar a

base familiar existente na Idade Média, dando espaço para o surgimento da família

burguesa.

Com esta modificação dentro da sociedade, termina a sociedade da idade

Média, passando a Moderna, com uma nova postura de entendimento social. Com a

Idade Moderna, tem-se a Revolução Industrial, o Iluminismo e a constituição de

Estados laicos que trouxeram modificações sociais e intelectuais, fazendo com que

a visão que se tinha da criança na idade Média se altera-se. Com toda essa

modificação, também a educação se torna mais pedagógica, menos empírica.

No século XVIII a família passa a reunir os dois elementos antigos associados

a um terceiro e novo elemento: a preocupação com a higiene e a saúde física.

Por causa da fragmentação social, a escola popular se tornou deficiente em

muitos aspectos. O padrão de criança era a criança burguesa, mas nem todas eram

burguesas, nem todas possuíam uma bagagem familiar que aproveitada pelo

sistema educacional. E para resolver esse problema, criou-se os programas de

cunho compensatório para suprir as deficiências de saúde, nutrição, educação e as

do meio sócio cultural.

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E para resolver esse problema, criou-se os programas de cunho

compensatório para suprir as deficiências de saúde, nutrição, educação e as do

meio sócio cultural.

Essa educação compensatória começou no século XIX com Pestalozzi,

Froebel, Montessori e McMillan. A pré-escola era encarada por esses pensadores

como uma forma de superar a miséria, a pobreza, a negligência das famílias. Mas

sua aplicação ocorreu efetivamente no século XX, depois muitos movimentos que

indicavam o precário trabalho desenvolvido nesse nível de ensino, prejudicando a

escola elementar.

Com o advento da educação compensatória, mesmo sendo de cunho

assistencial/filantrópico, foi o marco da creche que nós temos hoje.

A mudança foi que deixou de ser assistencialista, negligenciada pelo governo

passando a ser assistida e com uma visão pedagógica que traz subsídios para o

desenvolvimento da infância.

1.1 - O surgimento da creche

Os primeiros relatos de creche no mundo segundo diz ser uma creche bem

diferente da realidade de hoje, quando a creche é também uma instituição educativa.

Temos o surgimento da creche como um “invento” importante, pois, através da

creche as mulheres puderam, aliado a outros fatores, chegar à posição que elas

ocupam hoje na sociedade.

Hoje, a mulher tem praticamente os mesmos direitos que o homem, não é

mais vista como o sexo frágil, pelo contrário, vesse mulheres ocupando cargos de

chefia, sendo mais competentes que muitos homens, ameaçando a hegemonia

masculina e invertendo os papéis, mas, funções antes atribuídas somente aos

homens estão cada vez mais sendo ocupadas por mulheres.

A creche é uma grande aliada da mulher do século XXI, ou seja, uma mulher

completa que consegue ser bonita, inteligente, trabalhar fora, ter filhos, sustentar

família, ser independente e segura. Imaginemos como seriam os dias de hoje sem

uma instituição como a creche? Será que nós mulheres estaríamos hoje tão fortes

nessa sociedade? Como seria a criação de nossos filhos? Estaríamos completas?

Com certeza não.

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Quem é mãe quer o melhor para você, mas em primeiro sempre o melhor

para o seu filho.

Do surgimento das primeiras creches para as creches atuais, houve uma

mudança sensível de conceito e, em razão disso, ampliaram-se os objetivos e

responsabilidades junto criança.

As primeiras publicações remontam a França do século XVIII e descrevem a

creche como abrigo de crianças pobres e carentes, limitando-se ao recolhimento de

crianças de rua, visando esconder da sociedade a miséria existente no país.

Segundo as leituras feitas, observou-se ter sido em Paris, em 1884, a criação da

primeira creche que objetivava essencialmente abrigar filhos de operárias, as quais

necessitavam ir para o mercado de trabalho. O modelo inicial constituía-se em

lactários para bebês a fim de atender a mulher que ia trabalhar no campo, com o

apoio dos religiosos e voluntários do local. A creche era apenas para uma camada

social carente, daí o seu caráter assistencialista da qual dependiam as creches de

um trabalho voluntário e de possíveis doações.

A partir de 1862 a aristocracia francesa passa a financiar algumas instituições

a fim de controlar e moralizar a situação de pobreza existente. Logo começam a

surgir as creches particulares cujo objetivo era o lucro. Desde então a difusão de

creches tem sido uma realidade, não só nos países estrangeiros, acentuado na

Rússia e Inglaterra, em função da Revolução Social Russa e a Segunda Guerra

Mundial, mas, também no Brasil.

1.2 A Evolução da creche no mundo

No final do século XIX, com o florescer da medicina e suas grandes

descobertas (esterilização do leite) deu-se outro rumo à creche, que passa a ser

fonte de pesquisa e aplicações de novas descobertas na área da saúde. Como a

mortalidade infantil era em número elevado, passou-se a dar uma atenção especial

à higiene e à esterilização de todos os objetos, pessoas, alimentos e ambientes.

Com essas medidas radicais seria eliminada a mortalidade das crianças nestas

instituições.

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Neste período predominou o higienismo. A função da creche passou a ser a

de cuidar, limpar, alimentar e deixar a criança na cama esperando que cresça e

engorde regularmente.

No inicio do século XX a criança passa a ser vista dentro do seu ambiente

familiar e social. Em 1930 com a preparação para a guerra os homens foram para os

campos de batalha o que forçou as mulheres a irem trabalhar fora. Isto acarretou a

necessidade de se criar cada vez mais instituições que ficassem com as crianças o

dia todo. O número de crianças nesses estabelecimentos teve um aumento

significativo. Começaram então estudos de psicologia sobre os efeitos na criança, na

separação da família. O resultado desses estudos leva a creche a ser vista

novamente como um lugar perigoso. Os profissionais eram vistos como

incompetentes para lidar com crianças pequenas e as mães começaram a se sentir

culpadas por deixaram seus filhos na creche. Foi a partir daí que aconteceu um

retrocesso, a mãe crecheira foi novamente acionada, ela cuidava de seus filhos em

sua casa e recebia crianças de outras mães para cuidar.

Em 1951 novos estudos foram realizados e concluíram que os estudos

realizados anteriormente se referiam as crianças órfãs e abandonadas nas

instituições e que a instituição não tinha qualificação para desenvolver uma criança

de maneira completa, os problemas apresentados na pesquisa anterior nada tinham

a ver com o afastamento da família, ou seja, não era somente a privação do amor

materno que determinava o grau de distúrbio das crianças.

Outros estudos foram realizados em creches que não recebiam crianças

abandonadas e órfãs. Nestas creches a criança era assistida com cuidado em seu

desenvolvimento social, cognitivo e afetivo. A conclusão desses estudos relatava

que a criança se mostrava sadia, com a linguagem muito desenvolvida e boa

socialização. O modelo retratado se aproxima de como se entende a creche nos

dias de hoje.

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1.3 A trajetória da creche no Brasil

Ao estudar a história da creche no Brasil, faremos uma retrospectiva das

Constituições que o Brasil já teve e perceberemos e que a criança com idade até

sete anos não possuía sua educação assegurada. Fazendo o levantamento das

Constituições que o Brasil já teve, pode-se perceber que desde o império em 1824

com a “Carta Imperial” até 1988 quando foi promulgada a Constituição, conhecida

como a “Carta Cidadã” por muitos anos não houve grandes modificações em relação

a obrigatoriedade para as crianças menores de sete anos.

Na época do Império, quando foi promulgada a Carta Imperial até na década

de oitenta e oito com a “Carta Cidadã” pode-se dizer que quase nada foi feito para a

educação para os menores de sete anos. “A educação infantil no Brasil sempre ficou

delegado ao segundo plano, pois nas constituições ( Anexo 1) de 1891,1934,

1937,1946 1967 “será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos”.

Desta maneira como é descrito nas Constituições, a situação da Educação

Infantil, na esfera governamental não possuía realmente importância, porque:

As crianças eram vistas como miniatura do adulto, sem haver respeito às características e peculiaridades infantis. Caracterizava-se infância como um vir a ser. Essa concepção perdurou ao longo dos séculos e deixou marcas profundas no modo de pensar a infância. (www.gestaouniversitaria.com.br/)

A concepção de criança começou a modificar a partir da década de 80,

quando estudiosos das áreas da: Antropologia, Sociologia, entre outros, começaram

a perceber que aquele ser/criança possuía sua singularidade específica. O mundo, a

sociedade foi modificando-se e em conseqüência a cultura também, com isso vemos

que:

A infância como a concebemos atualmente, é fruto da história das civilizações, que ao longo dos tempos foi redefinindo-se. Cada época imprime uma concepção de infância diferente, gerada por características sociais, políticas, econômicas e culturais específicas. (www.gestaouniversitaria.com.br)

A sociedade foi desenvolvendo, e o olhar para as crianças menores de sete

anos, foi se modificando e percebendo que aquele ser que era percebido como algo

que viria a ser, possuía sua singularidade. E com estas modificações percebeu-se a

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necessidade de oportunizar seu desenvolvimento, e foi através da Constituição de

88, que se ratificou a importância deste pequeno ser. Com esta nova visão de

infância que deixava de ser assistencialista, também viu a necessidade de se criar

diretrizes que norteasse a educação com o cuidado de prevalecer o lúdico:

(...) construir um currículo centrado no caráter lúdico da aprendizagem e qualificar as interações possíveis das crianças com os adultos (...) e das crianças com o mundo, através do resgate da imaginação, do brinquedo, dos desafios cotidianos, das diferentes formas de expressão/ linguagem e muitos outros aspectos relevantes, envolvidos nestas relações. Esse processo vai além das portas e janelas da escola, (...), mexendo com as diferentes concepções e relações que existem na comunidade, nas famílias, nas organizações sociais e culturais" (SMED, 1999: 18). (www.gestaouniversitaria.com)

O MEC (Mistério da Educação e do Desporto) em 1994 propõe uma nova

formulação na política da Educação Infantil, e dentro desta reformulação reforça a

criança com sujeito histórico que esta em desenvolvimento e precisa de orientação

através de proposta pedagógica que estimule o físico e o mental de forma lúdica,

sempre respeitando o ritmo e as particularidades de cada um.

1.4 O surgimento da creche no Rio de Janeiro

A primeira referência de instituição que se destinava a guarda de crianças

pequenas no Brasil foi à roda dos expostos. Ela não recebeu o nome de creche,

apesar de exercer a função de recolhimento de crianças pequenas. Fundada em

1738 por Romão Duarte, dependia da benevolência dos mantenedores e era

frequentemente utilizada por escravas. Quando a criança era recebida, era feito o

registro do sexo, cor, sinais de fato, cédulas ou bilhetes que a acompanhava.

Posteriormente a criança era encaminhada por um responsável das finanças, que

lhe atribuía um número, um nome e a mandava à igreja para ser batizada.

A primeira creche popular inaugurada no Brasil (1908) foi à creche Sra.

Alfredo Pinto, criada para atender crianças de até dois anos, filhas de operárias.

Outros registros falam da creche Fábrica de Fiação e Tecidos Corcovado (1889) no

Rio de Janeiro, também para filhos de operários.

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Foram às indústrias testeis as que mais absorveram o trabalho feminino,

criando assim a necessidade de locais onde as mães pudessem deixar seus filhos,

em caráter permanente. Só que as creches eram confundidas com asilos, pois

abrigavam filhos de operários ou crianças abandonadas fazendo parecer uma

“instituição de abandono”. A imagem de asilo que se misturava à creche é descrita

por Cristina Maria Toledo Massadar Mordel (1991), no Primeiro Congresso Brasileiro

de Proteção a Infância:

Os asilos são para os pobres entes que se vêem privados de afetos paternais ou por acharem desamparados, ou por não poderem ou por não quererem eles dispensar os cuidados devidos a seus filhos. Os estabelecimentos que visitei são uma espécie de creche, onde os operários depositam os filhos enquanto permanecem nas fabricas. No fim do dia a proprietária do asilo recebe 100 ou 200 réis de cada pai, pelos filhos albergados. Entregam-se assim, os operários tranqüilos aos afazeres, sem que os preocupe o abandono dos filhos. A péssima instalação da creche, a promiscuidade anti-higiênica das crianças, quase todas com menos de 5 anos, as fisionomias esquálidas daqueles pequenos mal alimentados, a atitude incivil do vigilante, tudo isso provocou no seu espírito algumas considerações sobre os benefícios que produziria a instalação de creches, nas vizinhanças das fabricas.

Com a chegada de imigrantes no país ocasionou uma fartura de mão-de-obra

masculina e com isso um retorno da mulher na esfera doméstica. A família modelo

seria aquela em que o papel do homem era o de chefe de família, por isso

trabalhava para o sustento do lar. A mulher era a responsável pelos serviços

domésticos e a criação dos filhos. Predominava o estimulo à manutenção da mulher

em casa. Na medida em que o trabalho da mulher não era mais estimulado, a

creche se restringia a guarda dos filhos daquelas que por necessidade extrema

trabalhavam.

A visão que se tem nessa época era da creche ainda ligada à área medica,

pois, quando surgiam discussões, dizia respeito à questão da saúde dentro da

instituição.

A partir da década de 50 observamos algumas mudanças na maneira de ver a

creche. A Creche é percebida pelo seu caráter educativo visando o bem-estar da

criança. Contudo, sua principal clientela continua sendo a população carente e o

maior objetivo a saúde física. Na década de 60 a creche passa a ser vista como um

lugar de compensar carências, observando a intenção do atendimento às crianças

pequenas, através de apoio dado por organizações internacionais aos Estados. Aos

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poucos vai acabando com a idéia que creche é um mal necessário e passa a ser

uma instituição positiva.

O ano de 1975 ficou marcado como o ano internacional da Mulher, na qual

surgiram pesquisas relacionadas como: a violência contra a mulher, sexualidade,

desigualdade na sociedade e no trabalho, assim como a creche. A mulher passou a

atuar mais profissionalmente, necessitando de um lugar seguro para deixar seus

filhos. Desse modo a creche adquiri uma nova função: social, deixando de ser

assistencialista.

Com a Constituição de 1988, abre a oportunidade de crianças pequenas em

espaços educacionais e com isso a creche busca sua posição na sociedade como

uma instituição séria, com objetivos definidos e uma filosofia de trabalho,

oportunizando a criança o atendimento de suas necessidades, com a finalidade de

desenvolver os aspectos cognitivos, afetivo, social e cultural. Mais as crianças que

foram atendidas eram as de pré-escolar (5 anos). Ainda não tinha uma política

voltada para as crianças menores, de creches.

Na década de 90 cria-se a LDB (9394/96) para nortear os processos

educacionais existentes, quando é incluído à educação em creches. A nova Lei

(LDB) cria um dispositivo legal sobre os direitos e o respeito à criança, pois, a

criança é vista em uma nova concepção: criança cidadã, como pessoa em processo

de desenvolvimento e sujeito na construção de seu desenvolvimento.

A conclusão foi que as creches mesmo sendo iniciada no século anterior, tendo

evoluído através de várias concepções de atendimento, sua essência, que é o bem-

estar da infância, prevalece de forma mais pedagógica, possuindo uma concepção

de criança atuante e que está em constante desenvolvimento.

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II. A RELAÇÃO EDUCADOR/PROFESSOR E AS QUESTÕES QUEM

ENVOLVEM SUA FORMAÇÃO

Durante décadas a questão da formação professor/recreadoras que atuam

nas creches não existia, porque como essa instituição a principio foi criada por

um padre, depois teve um aumento por necessidade das mulheres terem de ir

trabalhar nas indústria, essa instituição não era reconhecida pelas

autoridades governamentais, não exigiam desses profissionais uma

qualificação adequada. Quem “ensinavam” a principio eram os padres depois

eram pessoas que não possuíam escolaridade adequada ou profissionais que

atuavam na área médica. Deste modo, o que o adulto pensava, acreditavam

que seria o melhor para as crianças, além do mais, não existia uma

concepção dentro da sociedade que favorecesse a infância.

Com a modificação que a sociedade sofreu ao passar das décadas e com

isso a concepção de infância adquiriu um novo olhar, a creche teve que se

adaptar ao novo conceito de infância, mas ao mesmo tempo que há esta

necessidade, ocorre que quem atua na creche não possuía a qualificação

necessária. Mas para sanar este problema já que os profissionais que atuam

agora nas creches são concursados e pela LDB os profissionais tem que

possuir o curso normal, pessoas que foram aprovadas nem todas possuíam o

curso normal, o MEC em parceria com a Secretaria Estadual de Educação e a

Secretaria Municipal de Educação, ofereceu o ProInfantil que é um curso

normal modalidade em educação infantil a distancia.

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2.1- A formação dos profissionais

Vários fatores interferiram no processo de “aprender a ensinar” e “ensinar a

aprender”. A história do magistério se constrói como qualquer outra profissão,

partindo das interferências do contexto sócio-político e cultural de cada época.

Assim, cada momento histórico foi e continua sendo feito pelas necessidades das

pessoas, dos grupos, dos movimentos, de lutas das categorias e da opinião pública. Na Europa, no século XIII, três tipos de escolas foram criadas: as Escolas

Catedralícias que atendiam crianças a partir de 10 anos de idade e adultos para

ensinar-lhes gramática; as Escolas Privadas com uma diferença básica das Escolas

Catedralícias, havia apenas um professor e os colégios que serviam como asilos

para crianças pobres e jovens com o objetivo de formar religiosos para fazer parte

da Igreja Católica. As primeiras políticas dirigidas à infância começaram mesmo a

ocorrer no século XV.

O sistema de ensino dos Jesuítas teve seu início no século XVI. Este sistema

educativo era apoiado pela Igreja e pelo Estado e tinha como fundamento teórico o

entendimento de que a educação constrói comportamentos e opiniões e não apenas

fornece conteúdos vazios. Este sistema de ensino foi implementado na Europa e em

suas colônias (África e América), o principal objetivo era catequizar os povos nativos

para transmitir-lhes a cultura Européia.

Este foi a primeiro modelo de educação que o Brasil teve. Os Jesuítas traziam

crianças órfãs para aprender a língua dos índios e ensinar às crianças nativas a

língua portuguesa para catequizá-los.

Um novo “olhar” para a questão da infância ocorre mesmo é no século XVII,

quando começa a diferenciação entre crianças e adultos. Surge então, maior

preocupação com a questão da infância. Com as mudanças impostas pelo

capitalismo o atendimento passa a ser dado com o objetivo de facilitar a ida das

mães para o trabalho. O primeiro atendimento neste sentido ocorre na França, com

a criação dos asilos ou refúgios, por Oberlim.

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Os refúgios do século XVIII vão representar o embrião do atendimento pré-escolar que, com sua origem em movimentos filantrópicos, tem um cunho marcadamente assistencial...” “... a educação é caracterizada por um sistema nacional, gratuito, obrigatório e laico...” (Bonamino e Leite Filho, 1995, p.10)

As primeiras creches surgem, na Europa, para dar atendimento às mães

trabalhadoras. Por enquanto não se entendia a faixa etária de 0 a 6 anos com

necessidade de trabalho pedagógico.

Em 1837, Froebel, na Alemanha, instala o primeiro Jardim de Infância mais

somente as crianças burguesas podiam freqüentar:

Para o “pai do Jardim de infância”, a chave para o sucesso do pleno desenvolvimento do homem estava nos primeiros anos de vida. Frobel comparava a criança a uma semente, e que encerra em si todo o potencial de vir a ser e que, se bem adubada e posta em condições favoráveis que perpetuarão sua espécie. (Bonamino e Leite Filho,1995,p.11)

Em 1824 a primeira constituição é elaborada no Brasil mais não havia

menção a respeito da Educação pública e gratuita. As mães escravas preferiam ver

seus filhos mortos a ter que vê-los como escravos por toda sua vida. Havia um local

chamado “Roda dos Expostos” ou “Enjeitados” onde eram depositados as crianças.

Segundo Bonamino e Leite Filho (apud Civiletti, 1981, p.33);

A Roda dos Expostos trata-se de um cilindro cuja superfície lateral à aberta em um dos lados e que gira em torno de um eixo vertical. O lado fechado fica voltado para a rua. Uma campainha exterior é colocada nas proximidades. Se uma mulher deseja entregar um recém-nascido, ela avisa à pessoa de plantão tocando a campainha. Imediatamente, o cilindro, girando em torno de si mesmo, apresenta o seu lado aberto, recebe o recém-nascido e, continuando o movimento, leva-o para o interior.

As crianças deixadas na Roda ficavam geralmente sob a responsabilidade de

famílias que recebiam pagamento da instituição para cuidá-las. Mas, na realidade, a

mortalidade infantil era enorme, poucos sobreviviam. Mesmo assim a Roda ainda

era uma esperança para muitos, principalmente filhos de escravas, pois

representavam uma tentativa de livrá-los da escravidão.

Com o surgimento do movimento Médico-higienista, a desvalorização do

aspecto materno da condição feminina, assim como a concepção de criança

começou a ser modificada. Cuidar passou a ser uma questão de ciência e não mais

do homem. Segundo Bonamino e Leite Filho (1995):

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...as primeiras creches brasileiras teriam sido implantadas por médicos que, aliados às mulheres burguesas realizaram seus projetos higienistas, visando o atendimento dos filhos das trabalhadoras domésticas. Assim, é possível dizer que durante os séculos XVIII e XIX, as iniciativas voltadas para a infância no Brasil são marcadas pelo caráter médico-sanitarista.” (p. 12-13).

Após a Lei do Ventre Livre, em 1871 o número de crianças abandonadas

sobe assustadoramente. O Estado começa a se preocupar com a assistência as

crianças pobres. Mesmo depois da Abolição da escravatura em 1888, no Brasil, o

aspecto assistencialista ainda é notório, enquanto na Europa no final do século XIX

já existem projetos pedagógicos voltados para a criança pequena.

Três formas de atendimento passam a vigorar:

Médico-higienista » Questiona-se a função da boa mãe. É grande a

preocupação com o alto índice de mortalidade infantil.

Jurídico-policial » O eixo central está na criança abandonada e na questão

da criminalidade infantil. O Estado deve criar locais para a orientação de crianças

visando o aproveitamento do ensino público.

Religioso » A Igreja deve cuidar das crianças pobres. A Igreja é vista como o

sustentáculo da sociedade capitalista.

A pedagogia tradicional entra em crise no final do século XIX. Os

questionamentos quanto a esta forma de ensino são inúmeros e uma nova proposta

pedagógica, chamada Movimento de Escola Nova parte para a ofensiva ao afirmar

que a pedagogia tradicional educou crianças que quando adultos fizeram a Primeira

Guerra Mundial.

No final do século XIX, Montessori, na Itália cria um método de educação

infantil que propõe despertar a atividade da criança através do estímulo e promove a

auto-educação, colocando meios adequados para a sua auto-formação. Maria

Montessori sustentava que a criança é educadora da sua personalidade.

(Gadotti,1999, p. 151).

Em contrapartida tiveram início na França após a I Guerra Mundial os

trabalhos de Celestian Freinet. Ele foi um dos educadores notadamente mais

marcantes no meio educacional.

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Ele afirmava a existência de uma dependência entre a escola e o meio social, de forma a concluir que não existe uma educação ideal, só uma educação de classes. Daí sua opção pela classe trabalhadora e a necessidade de tentar uma experiência renovadora de ensino”. (Gadotti,1999, p. 179)

A educação infantil na Europa passou a ser vista como espaço de

socialização e criatividade, porque os questionamentos quanto à pedagogia

tradicional eram intensos. Este incômodo acabou por fazê-los buscar novas

alternativas para a educação.

O que não ocorre tão rapidamente no Brasil. Após 1930, as autoridades

oficiais passaram a dar mais ênfase, valorizando mais o atendimento a crianças,

pois desta forma as atitudes patrióticas seriam reforçadas.

Em 1940, criaram-se órgãos de amparo assistencial e jurídico, com objetivo

de viabilizar a educação como direito de todos, além de cuidar de menores que

cometeram delitos. É interessante notar que a criação desses órgãos foi

acontecendo em diferentes momentos, o que revela que a infância foi tratada de

uma forma muito segmentada (educação, justiça, assistência à saúde etc).

O que não se pode desconsiderar é que quanto mais as responsabilidades

foram sendo fragmentadas mais as áreas da saúde, do bem estar, da família e

daquela que concerne à educação foram se isolando e obscurecendo, ou seja,

tornando o problema não como uma questão estrutural mais transformando em uma

questão de menos importância.

Há pouco mais de 10 anos é que começaram a ocorrer iniciativas de cunho

educativo para crianças na faixa etária de 4 a 6 anos, no Brasil. O MEC (Ministério

da Educação e do Desporto) é um exemplo, pois ele cria a COEPRE (Coordenação

de Educação Pré-escolar) em 1974/75.

O fracasso escolar era explicado pelas carências das classes populares, esta

era uma visão compensatória da função da pré-escola como preparatória para o

primeiro grau.

A política da COEPRE estava desvinculada da escola de primeiro grau com

prioridades para o município, e os recursos para sua implementação eram oriundos

de convênios com a comunidade (empréstimo de espaço, estímulo ao voluntariado,

trabalho pedagógico a partir da sucata, etc.).

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Um dos programas da COEPRE para solucionar o problema da infância eram

os chamados Centros de Educação Pré-escolar. Percebe-se que o Estado não está

preocupado com propostas educativas e sim na execução de soluções imediatas de

guarda de criança. Enquanto as famílias se interessavam por uma qualidade desse

atendimento, o Estado buscava apenas a expansão destes com baixo custo.

Somente a partir do final da década de 80 que o professor/ educador de

educação infantil, começou a ter maior importância, pois passou a refletir sobre sua

prática, reivindicando apoio governamental por uma melhor qualidade de ensino.

Até então, o professor/ educador trabalhava com suas próprias experiências e

suposições, sem nenhuma orientação específica para atuar com a faixa etária de 0 a

6 anos. Diante deste quadro, percebe-se claramente a dificuldade que o profissional

de educação infantil tem hoje em sua identidade profissional.

Com os debates ocorridos durante a década de 80 em torno da Constituição,

foi também articulada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/1996)

e em conseqüência houve a alteração e substituição da antiga Lei 5692/71 que

vigorou durante 20 anos.

São várias as modificações dentro da nova lei 9394/96, e destacamos a

seção referente à educação infantil:

Art. 29: Este segmento passa a ser concebida com a primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até 6 anos de idade, em seus aspectos: físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Art. 30: A educação infantil será oferecida em: I – creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até 3 anos de idade; V – Pré-escolas, para as crianças de 4 a 6 anos de idade. Art 31: Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registros do seu desenvolvimento, sem objetivo de promoção, mesmo para O ACESSO AO ENSINO FUNDAMENTAL.

Como antes as pessoas que trabalhavam em creche, atuando junto das

crianças, em sua maioria não possuíam a o curso normal, pois não era exigida uma

qualificação, e sim, deveria gostar de crianças. As creches eram administradas pela

SMDS. As ONG’S que possuía uma parceria com a SMDS, era através dela que as

pessoas eram contratadas para trabalhar com as crianças, e na maioria das vezes

eram pessoas da própria comunidade, não levando em conta o grau de instrução.

Quando as creches passaram da SMDS para SME, começou as mudanças

dentro da estrutura administrativa, pois, todas as pessoas que pertenciam ao quadro

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da SME eram efetivos, o que não ocorria com a SMDS. Então, criou-se um concurso

público no qual era exigido o nível fundamental, para a função de Agente Auxiliar de

Creche.

E para ficar dentro da regulamentação da LDB, o MEC que já vinha

realizando em outros Estados o Proinfantil, sugeriu e deu subsídios para que a

secretaria Estadual junto com a secretaria Municipal de Educação organiza-se o

curso de capacitação, o Proinfantil, que visa oferecer um curso de ensino médio,

modalidade Normal voltado para a Educação Infantil, para os agentes auxiliares de

creche que prestaram o concurso e foram efetivados.

Para sanar o impasse, pois, ao atualizar a LDB, estipulou-se que os

profissionais para atuarem na Educação Infantil deveriam ter o ensino médio,

modalidade normal ou nível superior, o que não acontecia com os agentes auxiliares

de creche. Então, para ficar dentro da regulamentação da LDB, o MEC que já vinha

realizando em outros Estados o Proinfantil, sugeriu e deu subsídios para que a

secretaria Estadual junto com a secretaria Municipal de Educação organiza-se o

curso de capacitação, o Proinfantil, que visa oferecer um curso de ensino médio,

modalidade Normal voltado para a Educação Infantil, para os agentes auxiliares de

creche que prestaram o concurso e foram efetivados.

No art. 61 da LDB/Atualizada (Lei 12.014 de 2009) consideram professores

habilitados em nível médio (Normal) ou Superior para a docência na Educação

Infantil e nos ensinos fundamental e médio.

Os professores do município do Rio, através de uma seleção irão atuar como

tutor para orientar na parte pedagógica os agentes auxiliares de creches que não

possuam a formação exigida na LDB/Atualizada (2009). E os professores do Estado

ficaram encarregado com as matérias do núcleo comum pertinente ao ensino médio.

Com isso esses agentes auxiliares de creche terão uma formação que irá ser a

distancia, tendo encontros quinzenais aos sábados com os tutores e agentes

formadores (professores).

Com isso, as creches terão uma visão mais pedagógica, porque, os agentes

auxiliares de creches irão estudar o núcleo comum, sua formação dará uma base de

concepção de infância no qual é essencial para entender essa criança como sujeito

ativo em seu desenvolvimento.

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No surgimento das creches não havia preocupação sobre quem seriam os

“mestres” haja vista que anteriormente não havia grande importância quanto a

infância.

Com toda modificação que ocorreu na sociedade, passou-se a ter maior

preocupação para com a infância, fazendo com que também houvesse maior rigor

com quem vai atuar junto a elas.

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III. IMPORTÂNCIA DO PROJETO PEDAGÓGICO NA CRECHE

A proposta pedagógica da creche deverá integrar educação e cuidado e

explicitar quais os objetivos prioritários de trabalho, as atividades propostas e

seu planejamento, as formas de registro, acompanhamento e avaliação dos

progressos infantis. Ela envolve a organização com as crianças de variadas

atividades, particularmente brincadeiras, com diferentes materiais (jogos,

papel, tintas, argila, livros infantis, aparelhos de som e imagem e outros

recursos) e em espaços físicos adequados ao favorecimento de interações

professor-criança, criança-criança e crianças-mundo físico e social.

Cabe ao professor cuidar desta organização mediadora da relação

criança-meio e interagir com ela, auxiliando-a na construção de significados,

dado que as concepções que ele, professor, tem sobre as capacidades

infantis em cada idade e os objetivos que seleciona para seu

desenvolvimento, que vão influir não apenas em sua forma de estabelecer

relações com a criança, como também na maneira como ele organiza o

ambiente em que ela se encontra.

A estrutura e a forma de funcionamento das instituições de educação

infantil envolvem, portanto uma série de fatores inter-relacionados: as

representações sobre a criança pequena, o papel dos professores, de outros

profissionais e dos pais no processo escolar, as rotinas presentes nas formas

de educação escolhidas, as características da população a ser atendida e da

comunidade na qual se inserem, os recursos materiais disponíveis, incluindo o

material pedagógico, e outros. Dado que as práticas sociais, ocorrendo em um

determinado meio social, com seus valores, são ferramentas para o

desenvolvimento da pessoa, diferentes formas de organização atuarão como

recursos para a construção pelas crianças de diferentes saberes, identidades

e funções psicológicas.

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Assim a proposta pedagógica de cada creche deve incluir questões como:

a forma de intervenção do professor, o grau de estruturação do conteúdo

proposto à criança, a presença de um determinado modelo educativo e o lugar

nela dado ao jogo infantil, a relação professor/criança a forma de organização

do espaço.

3.1- O Conceito e Objetivos Fundamentais

Em sua trajetória pela história, a creche teve vários momentos e diversas

interpretações. Conceituar creches é voltar ao passado e chegar até os nossos dias.

O conceito de creche pode ser entendido como um ambiente especialmente

criado para oferecer condições ótimas, que propiciem e estimulem o

desenvolvimento integral da criança.

A creche não pretende substituir a família, assim, ela deve ser entendida

como uma instituição que se completa na família, pois, ambas dividem a

responsabilidade de cuidar e educar a criança. Cristina Maria Toledo Massadar

Morel define com bastante clareza e precisão a evolução do conceito de creche: “de

lugar de abandono a espaço educativo”.

Os objetivos para a creche:

• Experimentar e utilizar os recursos de que dispõem para a satisfação de

suas necessidades essenciais, expressando seus desejos, sentimentos e

desagrados e agindo com progressiva autonomia;

• Familiarizar-se com a imagem do próprio corpo, conhecendo

progressivamente seus limites, sua unidade e as sensações que ele produz;

• Interessar-se progressivamente pelo cuidado com o próprio corpo,

executando ações simples relacionadas à saúde e a higiene;

• Brincar;

• Relacionar-se progressivamente com mais crianças, com seus professores

e com demais profissionais da instituição, demonstrando suas necessidades e

interesses;

As primeiras significações construídas pelas crianças referem-se a estados

emocionais de prazer-desprazer, alegria ou tristeza, confiança ou medo.

Gradativamente ela se mostra cada vez mais capaz de se voltar para o mundo que

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as rodeia, construindo conceitos sobre os objetos e situações. E esses conceitos

são chamados de conceitos “espontâneo” ou “empíricos” e permitem as crianças

conhecer e nomear a bola, o papel, o au-au e depois a luz, o sol e tudo que as

rodeiam.

Com o desenvolvimento a criança consegue ser capaz de relacionar esses

conceitos adquiridos e a organizá-los em conjuntos mais complexos buscando

conhecer a causa de certos fenômenos ou distinguir a qual conjunto pertence um

objeto. A criança vai se aproximando assim da formação de conceitos chamados

“científicos”, os quais irão adquirindo com o passar do tempo na educação infantil e

posteriormente na escola. Essa aquisição é construída na creche, com a

contribuição para o avanço do raciocínio infantil para as noções mais complexas.

As crianças são estimuladas a partir de trabalhos de psicomotricidade, onde

algumas noções básicas se desenvolvem, diversos aspectos que podem parecer

simples e até comum, mais que proporcionam ao corpo e a mente da criança uma

preparação para a aquisição de novos conhecimentos.

A psicomotricidade é trabalhada em atividades simples e em brincadeiras que

devem ser repetidas várias vezes como a escrita que prepara para a aquisição de

outros conteúdos.

A psicomotricidade desenvolve:

• A coordenação motora fina – capacidade de controlar os pequenos

músculos para exercícios refinados. Ex: recorte, colagem encaixe, escrita.

• A coordenação dinâmica global – possibilidade do controle e da

organização da musculatura ampla, para a realização de movimentos complexos.

Ex: correr, saltar, rastejar, andar,...

• O equilíbrio – é a base de toda coordenação dinâmica global. Pode ser

estático ou dinâmico. Ex: equilibrar num pé só, andar nas pontas dos pés.

• O ritmo – é a força criadora que está em todas as atividades humanas e

se manifesta em todos os fenômenos da natureza. Ex: bater palmas.

• A postura – está diretamente ligada ao tônus, constituindo uma unidade

tônico-postural, cujo, controle facilita a possibilidade de canalizar a energia tônica

necessária para realizar os gestos, prolongar uma ação ou levar o corpo a uma

determinada posição. Ex: andar por cima de uma corda estendida no chão.

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• A respiração – o ato respiratório compreende duas fases: a ativa,

inspiração e a passiva, a expiração. Ex: encher bolas de gás, desenhos soprados

com canudinhos de refresco e nanquim.

• O esquema corporal – elemento básico, indispensável para a formação

da personalidade da criança, sendo seu núcleo central, pois, reflete o equilíbrio entre

as funções psicomotoras e sua maturidade. Ex: brincar de carrinho de mão,

desenhar-se em tamanho natural no papel e depois contornar-se por cima do

desenho para posterior comparação.

• Lateralidade – é a capacidade motora de percepção integrada dos dois

lados do corpo: direito e esquerdo. Percorrer espaços demarcados no chão, ora com

um pé ora com o outro, cruzar informações como: mão direita na cabeça e mão

esquerda no joelho.

• Tônus – refere-se a firmeza muscular e está presente tanto nos músculos

em repouso como em movimento. Ex: subir em corda com nós ou em barras

simétricas. A música Serra, serra serrador também uma opção.

• Organização temporal – é a capacidade de situar-se em função da

sucessão de acontecimentos, da duração dos intervalos, caráter irreversível do

tempo. Ex: organizar o calendário da escola, contar o que fez ontem, hoje e o que

fará amanhã, compor sua árvore genealógica, marchar, andar e rolar bolas com

diferentes velocidades.

• Relaxamento – é uma forma de atividade psicomotora na qual se objetiva

a redução das tensões psíquicas, levando a descontração muscular. Ex: cubo de

gelo: ficar duro como um cubo de gelo e depois “derreter” ou brincadeira de estátua.

• Percepção – é a capacidade de reconhecer estímulos. Ex: jogos que

trabalhem noções de quente e frio, duro ou macio, pesado ou leve, seco ou

molhado, barulho ou silêncio.

• Estruturação espaço temporal – é a capacidade de avaliar tempo-

espaço dentro de uma ação. Ex: andar livremente parando a um sinal determinado.

Pular corda de acordo com seu próprio ritmo e com outro de acordo com o ritmo do

outro.

• Organização espacial – é a orientação e estruturação do mundo exterior,

a partir do EU e depois a relação de acordo com outros objetos ou pessoas em

posição estática ou em movimento. Ex: crianças sentadas em círculo, uma sai e

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algumas que ficaram na sala trocam de lugar e a criança que saiu, quando voltar

deve reconhecer quem mudou e para onde.

• Expressão, comunicação, afetividade e corporeidade – conceitos

relacionais que permeiam as relações de desejo, frustração, ação e interação com o

meio, com o espaço, com os objetos e consigo mesmo. Ex: expressões corporais,

imitação de um determinado animal, expressões corporais através de músicas,

alterando ritmos, conversas em rodas, contar e recontar histórias, cuidar de um

amigo ao se machucar ou passar mal ...

Esses e outros aspectos são trabalhados no dia a dia da creche, respeitando

a fase de cada criança e trabalhando de forma que as ações pedagógicas da creche

sejam essenciais para o desenvolvimento posterior da criança nos outros anos

escolares.

Portanto, pode-se entender que na creche, educar significa propiciar

situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada

e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação

interpessoal, de ser e estar com os outros em atitude básica de aceitação, respeito e

confiança, e o acesso pelas crianças aos conhecimentos mais amplos da realidade

social e cultural. Nesse processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das

capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais,

estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e

saudáveis.

A educação infantil constitui hoje um segmento importante no processo

educativo e tem merecido grande preocupação por parte dos legisladores. Entre

outras garantias a nova lei de Ensino prevê que o Estado será efetivado pela

universalização da Educação Infantil. A expressão abrange justamente as faixas

etárias de 0 a 6 anos, distribuídas por creches (até 3 anos) e pré-escolas ( de 4 a 6

anos) cujos os objetivos, definidos por educadores de longa data, vieram por

oficializar-se, reconhecendo a importância dos primeiros anos de vida para o

desenvolvimento da criança.

Se reportarmos nas últimas três décadas, o espaço social para a criança foi

se alargando e ela passou a ser mais valorizada em termos sociais. Houve um maior

estudo nas áreas do conhecimento; em Psicologia; Pedagogia; Antropologia;

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Sociologia, sendo as pesquisas direcionadas para as capacidades cognitivas,

afetivas e sociais. Segundo o MEC:

A expansão da Educação Infantil no Brasil e no mundo tem ocorrido de forma crescente nas últimas três décadas, acompanhando o trabalho de intensificação da urbanização, a participação da mulher no mercado de trabalho, as constantes pesquisas e descobertas sobre comportamento humano e as diversas áreas. A sociedade está mais consciente da importância das experiências na primeira infâncias, o que motiva demandas por uma educação institucional para crianças de zero a três anos. A conjunção desses fatores ensejou um movimento da sociedade civil e de órgãos governamentais para o atendimento às crianças de zero a seis anos fossem reconhecido na Constituição Federal de 1998. (MEC,1998. Pag. 11)

Os objetivos da creche têm como fundamento legal a Constituição de 1998,

inciso IV do artigo 208, afirmando: “O dever do Estado com educação será efetivado

em atendimento em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de

idade”. Com a inclusão da creche no capítulo da educação, a constituição explicita a

função eminentemente educativa da mesma, à qual se agregam as noções de

cuidado.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, no capitulo IV.Art.53, inciso IV,

reafirma esse direito constitucional: “É dever do Estado assegurar à criança o

atendimento em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos”.

Tratando ainda com mais profundidade sobre a inclusão da creche como

espaço educativo e com objetivos a serem cumpridos, temos a Leis de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional – Lei nº 9.394/96 que produz também o inciso da

Constituição Federal no Art.4 do título III – Do Direito à Educação e do dever de

educar.

No Art.29 a educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como

finalidade o desenvolvimento integral da criança de até seis anos de idade, em seus

aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família

e da comunidade.

Art. 30 a educação infantil será oferecida em:

I – creches, ou entidades equivalentes para crianças de até 3 anos.

II – pré-escolas para crianças de 4 a 6 anos de idade.

Art. 31 Na educação infantil avaliação far-se-á mediante acompanhamento e

registro do seu desenvolvimento, sem objetivo de promoção, mesmo para o acesso

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ao ensino fundamental. Assim a instituição brasileira quanto a educação infantil

enfatiza:

A creche e a pré-escola constituem simultaneamente um direito da criança à educação e um direito da família de compartilhar a educação de seus filhos em equipamentos sociais. O Estado tem deveres também com a educação da criança de zero a seis anos. Deve criar situações para a expansão do atendimento e a melhoria da qualidade, cabendo ao município a responsabilidade de sua institucionalização, com apoio financeiro e técnico das esferas federal e estadual. A creche, assim como a pré-escola é entendida enquanto equipamento educacional e não apenas de assistência. Neste sentido, uma das características da nova concepção de educação infantil reside na integração das funções de cuidar e educar.

A creche era apenas uma instituição para cuidar das crianças, hoje ela

conquista um caráter mais educacional. A criança de zero a seis anos, não fazia

parte da responsabilidade do Estado, hoje o Estado também deve criar ações e

condições que favoreçam o desenvolvimento dessas crianças. Acredita-se que as

legislações citadas, deixam claro que a creche sofreu e está sofrendo mudanças

radicais em seu conceito. A educação infantil passa a ser um direito das crianças e

não mais uma “saída” para alguns problemas dos responsáveis.

3.2 - A Construção da identidade e da sua filosofia

A construção, identidade e filosofia de qualquer instituição vêm antes da

formulação de proposta pedagógica. Se o individuo está no meio de uma discussão,

de qualquer assunto: futebol, receita de algum doce, trabalho, família, para defender

o seu ponto de vista, deve conhecer a causa e acreditar naquilo que está

defendendo. Utilizando o exemplo do jogo de futebol: a discussão sobre se um lance

foi pênalti ou não. Primeiro é preciso saber a definição de pênalti, em que situação

ele é considerado pênalti. A parti daí deve ver o lance, depois analisar cada detalhe

e ver se foi dentro da área, se foi fora, se realmente o jogador adversário empurrou o

outro ou se o jogador se jogou no chão para cavar o pênalti. Se é possível ter

clareza do que é um pênalti, se ele foi visto e analisado cada detalhe, aí sim poderá

se discutir e se colocar com certeza naquilo que se está defendendo, se não, fica

apenas no “achismo”.

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A mesma coisa acontece na construção da identidade e filosofia da creche.

Pois, essa construção dar-se-á através dos responsáveis pela instituição que

deverão ter conhecimento de causa, respaldando-se no trabalho que acredita e

tendo condições de defender seu ponto de vista.

Segundo Olga C. Mattiolo (1993), construir uma identidade é ter uma

distinção entre outros, é ter uma marca de diferença. Assim, a instituição deve ter

uma identidade forte que mostre distinção dela para as outras creches. É quando os

responsáveis da creche definem o que chamamos de missão. A missão da creche

mostra qual o objetivo que os fundadores pretendem quando resolveram atuarem

nesse segmento, ou seja, qual a razão de ser da instituição.

O exemplo abaixo mostra a filosofia educacional de uma creche, que darei o

nome fictício de Creche Feliz.

A Creche Feliz define sua filosofia educacional seguindo uma linha de

conhecimento ligada a estudos feitos pelo escritor com a visão sócio-interacionista,

Vygostky, que acredita que o trabalho realizado com crianças de zero a seis anos

deve visar a construção do conhecimento através da interação, explorando os

recursos a sua volta, realizando experiência, desenvolvimento o espírito de grupo,

cooperação, transformando situações e significados, usando a criatividade, o dialogo

e a fantasia de acordo com a realidade.

Com essa concepção interacionista, a Creche Feliz tem a certeza de que o

trabalho deve unir o biológico e o social, por isso, seu trabalho envolve a instituição,

a família, a comunidade, a criança, o espaço e tudo mais que faz parte da realidade

de cada criança, para que seu desenvolvimento seja completo.

O educar e o cuidar faz parte integrante da Creche Feliz, como a rotina está

inserida no dia-a-dia da instituição. Produzir o novo, respeitar o desejo e a

necessidade da criança, oferecendo um ambiente de socialização e bem estar de

acordo com a realidade da criança, são os pontos de partida para o desenvolvimento

de todos. Com essa filosofia percebe-se a linha de conhecimento em que a creche

se baseia, sua visão de criança, aspectos do desenvolvimento que serão explorados

e no que acredita para poder desenvolver um trabalho.

É importante ressaltar que a meta é garantir a presença de experiências que sejam importantes para a alegria, o desenvolvimento e crescimento das crianças fortalecendo assim, a possibilidade de sucesso escolar na

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trajetória educacional. (Orientações Curriculares para Educação Infantil, pág. 31).

3.3 - A Necessidade de uma proposta pedagógica

A criança passa todo o seu dia na creche, por isso é importante de definir

bem o que e como será trabalhado o seu dia a dia. De que forma isso ocorre?

Devemos pensar em uma proposta pedagógica que será realizada nesta instituição.

Mas, antes de fazer uma proposta precisamos saber para que serve, como fazer,

baseado em quê?

A Proposta Pedagógica tem que ter como objetivo principal nortear o

processo educativo que influencia decisivamente o ensino-aprendizagem da criança

pequena enquanto SER único através da integração de seus aspectos físicos,

emocionais, afetivos, cognitivos e sociais. Sendo a educação um fenômeno social,

esta se subordina à estrutura e a dinâmica das relações entre classes sociais, sejam

elas na escola ou na sociedade ao qual o indivíduo faz parte.

Considerando a proposta pedagógica como explicitação de qualquer ação

presente na creche, ela deverá mostrar o conceito de criança que a LDB descreve,

sempre tendo a visão de desenvolvimento a instituição adota. Não podemos

esquecer que quem faz a instituição são todos os responsáveis e funcionários que

nela realizam suas atividades.

A instituição tem a necessidade de desenvolver uma proposta pedagógica

porque ela é o “guia” de como e quais procedimentos deverão ser desenvolvidos

pelos envolvidos no dia a dia da creche.

Na construção de uma proposta pedagógica para a creche implica refletir e

analisar sobre os objetivos que essa creche deve alcançar. A concepção de criança,

espaço físico, princípios, procedimentos, atitudes e os meios pelos quais esses

aspectos serão oferecidos também são aspectos a serem analisados na formulação

da proposta, que deverá traduzir ações sistemáticas que garantam que todas as

relações construídas nas creches contemplem simultaneamente, o cuidar e o

educar. As questões econômicas, socioculturais e políticas também devem ser

levadas em consideração para a elaboração de uma proposta, mesmo porque, a

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clientela e a comunidade a ser atendida deve ser ponto de partida para muitas

questões que certamente estarão presentes em qualquer plano de trabalho.

A formulação da proposta pedagógica deve nortear-se por uma concepção de

criança como um ser humano completo, integrando as dimensões afetivas,

intelectual, física, moral e social. É importante lembrar que a creche não pode ser

vista como substituta da família, mas como ambiente de socialização diferente do

familiar. Nela se dá o cuidado e a educação de crianças que vivem, convivem,

exploram, conhecem, construindo uma visão de mundo e de si mesma, construindo-

se como sujeitos.

Para uma ação efetiva, a proposta pedagógica deve considerar o conjunto de

fatores que interagem na creche e definindo: a concepção de creche dos

funcionários e das famílias, as condições do espaço físico (ambiente seguro,

acolhedor, confiável, limpo, organizado), o tamanho do grupo e a relação

adulto/criança, relação de troca, onde as experiências não são passadas e sim

trocadas e que a todo instante a exploração com o mundo, a interação e a

descoberta estejam presentes nessa relação.

Para as ações que serão elaboradas com as crianças produza sucesso é

necessário um embasamento teórico que sustente essas ações. Geralmente

filósofos e pensadores considerados como referencias, são levados em

consideração e suas pesquisas são pontos de partida para nortear a proposta.

Vigotsky é bastante citado em propostas que visa o interacionismo e que vem ao

encontro de tudo que está sendo discutido em relação à educação infantil. Cabe a

cada responsável pela elaboração da proposta estudar e analisar diversos desses

estudos publicados pelos mais diferentes pensadores e a partir daí se identificar com

o que lhe parece mais próximo de suas crenças.

A organização do tempo e do espaço na creche, a discussão e a reflexão de

alternativas para atividades, procedimentos serão um desafio a se pensar para que

à resposta dessas ações tenham sucesso. Na proposta não poderão ser deixadas

de lado os direitos fundamentais da criança. Considera-se que toda a criança deve

ter direito a brincadeira, atenção individual, ambiente aconchegante, seguro e

estimulante, contato com a natureza, higiene e saúde, alimentação sadia,

movimentação em espaços amplos, proteção, afeto e amizade, expressar seus

sentimentos, desenvolver suas identidades culturais, sociais e religiosas...

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A proposta pedagógica não é somente trabalhar ou expor ações pedagógicas

incluídas no currículo, pois, abrange todo o conteúdo, conceitos e ideais que estão

diretamente ligados aos responsáveis pela instituição. Todas as ações propostas

devem estar respaldadas por conhecimentos teóricos e práticos, pesquisas e dados

coletados sobre o assunto. Não podemos nunca, achar alguma coisa e aplicar ou

simplesmente copiar algo que parece ser o certo, a investigação e o conhecimento

de causa são imprescindíveis, até porque estamos falando de trabalho com vidas.

A função pedagógica da creche não está diretamente ligada a atividades que

incluam o papel e o giz de cera e que o cenário para essa ação pedagógica seja a

sala de aula. Esta é a grande diferença entre creche e a escola, pois, a ação

pedagógica da creche está presente em como são realizadas as atividades. O

desenvolvimento infantil deverá ter uma organização estrutucional com as atividades

de interações entre adulto-criança, criança- criança e criança-mundo físico e social.

Se é visto o desenvolvimento infantil na creche desta forma, será possível

também mudar o caráter das atividades de cuidado físico e observar nelas certas

possibilidades educativas, ou seja, incluir o que se passa nas trocas afetivas entre

adultos e crianças e entre as crianças durante o banho, nas refeições, no horário da

entrada e em outras situações.

O educador deverá aproveitar as iniciativas das crianças, na interação,

incentivando-as a construir suas brincadeiras, usar a imaginação, o faz de conta, a

coordenar suas ações e a chegar a soluções em conjunto. Partindo de uma

brincadeira, “formar” conceitos básicos para que as crianças tomem noção do que é:

depressa/devagar; por cima/por baixo; alto/baixo; linguagem oral; expressão

corporal, entre outros conceitos que as crianças precisam e devem conhecer.

Os conteúdos trabalhados na creche não são os mesmos que trabalhados na

escola. Não se trata de sentar na sala, dar aulas sobre um tema, nem só ficar no

pátio brincando sem sentido, é importante estar atento para que não sejam

brincadeiras e sim situações propiciadas a crianças, nas quais tenham um objetivo

pedagógico que acrescente algo a criança, nas quais ela esteja estimulada a criar,

observar, explorar,construir, observar, escutar. As atividades deverão ser

previamente planejadas, pois, toda brincadeira e jogo na creche têm um propósito e

ajuda a desenvolver alguns aspectos importantes.

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Por isso, toda atividade desenvolvida requer uma reflexão sobre a prática

pedagógica na busca de melhores caminhos para orientar as atividades posteriores

das crianças. Segundo a LDB/Atualizada a avaliação:

..deve incidir sobre todo o contexto de aprendizagem: atividades propostas e o modo como foram realizadas, as instruções e os apoios às crianças individualmente e ao coletivo de crianças, os agrupamentos que as crianças formaram, o material oferecido e o espaço e o tempo garantidos para a realização das atividades. Espera-se, a partir disso, que o professor possa pesquisar quais elementos podem estar contribuindo, ou dificultando, as possibilidades de expressão da criança, sua aprendizagem e seu desenvolvimento, então fortalecer ou modificar, a situação, de modo a efetivar o Projeto político pedagógico de cada instituição.” ( Parecer CNE/CEB, página 12,13)

Na nova orientação curricular para a educação infantil, vem fazer um

aprofundamento das diretrizes que esta na Multieducação, “Temas em

debates/Educação Infantil – Revendo percursos no diálogo com os educadores (Rio

de Janeiro, SME, 2005)” trazendo como ponto de partida as propostas, projetos

políticos pedagógicos, planejamentos que estão norteando dentro das creches e

escolas na rede de educação.

Esta Orientação Curricular auxiliará a creche e as escolas de educação

infantil a elaborar, desenvolver e avaliar com autonomia o seu projeto pedagógico,

trazendo subsídio para a integração entre as áreas de conhecimentos como:

Linguagens: oral e escrita; Matemática; Ciências Sociais e Naturais; Corpo e

Movimento; Linguagens Artísticas: Música; Linguagens Artísticas: artes Visuais.

Exemplificando como trabalhar as áreas de conhecimento, fazendo com que

ao escolher a área de linguagem (oral e escrita; matemática; ciências naturais; corpo

e movimento; linguagens artísticas: músicas e artes visuais), possa exemplificar qual

o objetivo presente alcançar e qual habilidade pretende desenvolver a partir do mote

escolhido. Além disso, um outro tópico que fica evidenciado é a questão da rotina na

qual mostra exemplo de como devemos proceder no período da manhã e no período

da tarde e um exemplo de uma estrutura de rotina para crianças de até dois anos e

outro para crianças de três a cinco anos.

Com este planejamento: área/linguagem; objetivos gerais; habilidades fica

sabendo o que trabalhar qual o objetivo que espera alcançar e as habilidades serão

desenvolvidas.

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Essa avaliação que é feita diariamente serve como uma documentação sobre

o desenvolvimento que a criança adquiriu ou não em sua trajetória na Educação

Infantil, no qual deverá ser entregue quando passar para o Ensino Fundamenta.

A proposta pedagógica deve fazer a integração de educação e cuidado, de modo

que as condições propiciem e estimulem o desenvolvimento da criança. Deste modo

o planejamento facilitará com que a criança desenvolva todos os aspectos que

norteiam a LDB .

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IV. A VISÃO DOS TEÓRICOS EM RELAÇÃO À INFANCIA

Sempre houve alguém que se interessasse pela infância pelo decorrer dos

séculos e pelo mundo. Porém como nos séculos XVI e XVII refere-se ao inicio da

Idade Média e como não havia muitas pessoas preparadas para atuarem junto às

crianças, ficava sob a responsabilidade dos mais velhos ou dos padres a questão

da formação das crianças, e a base dos ensinamentos eram muito singular, sem

uma proposta definida de conteúdo (anexo 4).

Nos anos subseqüentes vários teóricos como: : Comênio, Rousseau,

Pestalozzi, Froebel, Decroly, Ewey, Montessori, Freinet, Piaget, Vygotsky

passaram a estudar a infância no qual veio ajudar a desmistificar a concepção de

criança como algo que veria a ser (anexo 5).

4.1 - A Criança sob a Ótica dos Teóricos

Desde os primórdios tempos a criança passou por diversas visões,

concepções de vida. Na qual o adulto intervinha em seu processo de formação,

pensando que era o melhor para ela.

Vários teóricos detiveram seu foco de estudo nesse ser pequeno, no qual é

dependente de nós adulto, mais mesmo assim por muitos anos elas ficaram a

“mercê” de nossas vontades.

Citarei alguns teóricos, e com ele sua visão de criança.

O primeiro será Philippe Ariés, que ao estudá-la fez um estudo classificando a

criança em três momentos distintos: a primeira, a criança é vista como criança-

adulto ou infância-negada, esta visão deu-se no século XIV e XV a segunda era

classificada como criança-filho-aluno ou infância institucionalizada, deu-se no século

XVI e XVII, nessa época a criança passou a ter um pouco mais de atenção ou

melhor mais cuidado: “A escola confinou uma infância outrora livre num regime

disciplinar cada vez mais rigoroso, que nos séculos XVIII e XIX resultou na

enclausuramento total do internato”. (www.fundamentos-teoricos-metodologicos-educacao-

infantil), a última visão de criança já é a mais atual, na qual a criança tem sentimento,

direitos e proteção da sociedade que as defende através do ECA e dos órgãos

governamentais.

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A criança passou por várias fases, mais em nenhum momento suas

características físicas sofreram modificação que não evidenciasse este tórrido

conceito de criança.

O historiador Philippe Arié fez uma retrospectiva da criança no qual buscou

sua identidade como pessoa de cada época. Porém Vygotsky já focou seu estudo no

sócio-interacionista, que buscava um entendimento do pensamento/desenvolvimento

em sua concepção de vida. Para Piaget em seus estudos percebeu que a criança

passa por estágios de desenvolvimento humano, no qual a criança tem que passar

até que consiga fazer a abstração concreta da realidade.

Tanto Arié, Vygotsky, Piaget tiveram seu foco de estudos nas crianças, com

esses estudos mesmos em épocas distintas, fizeram com que mais pessoas

passassem a conceber a criança como um ser ativo, crítico em seu

desenvolvimento. Mas, temos que ter em mente que estas modificações ocorreram

por causa da mudança que sofreu a sociedade em todo esse tempo. Com a

transformação que a sociedade teve, fez com que surgisse a concepção de que a

criança tem seus direitos.

E mesmos com essa toda modificação ocorrida, a criança nunca deixou de

ser criança, o que ocorreu foi a mudança que o adulto teve em relação com a

criança. Pode ser que, o que ocorreu foi a modificação das brincadeiras já que, com

a transformação da sociedade passou a ter novos conceitos, e com a chegada das

industrias que com ela vieram outros tipos de sociedade/costumes e o advento da

televisão alterou ainda mais as brincadeiras existentes.

A criança sempre brincou em sua infância, sempre teve sua imaginação em

alta. Como revela o poema de Manoel de Barros com: O menino que carregava

água na peneira.

Tenho um livro sobre as águas e meninos

Gostei mais de um menino

que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregava água na peneira

era o mesmo que roubar um vento e sair

correndo com ele para mostrar aos irmãos

A mãe disse que era o mesmo que

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catar espinhos na água

o mesmo criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.

Quis montar os alicerces de uma casa

sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino

gostava mais do vazio

do que do cheio.

Falava que os vazios são maiores

e até infinitos.

Com o tempo aquele menino

que era cismado e esquisito

porque gostava de carregar água na

peneira

Com o tempo descobriu que escrever seria

o mesmo que carregar água na peneira

No escrever o menino viu

que era capaz de ser

noviça, monge ou mendigo

ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.

Viu que podia fazer peraltagens com as

Palavras.

E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro

botando ponto final na frase.

Foi capaz de modificar a tarde botando

uma chuva nela.

O menino fazia prodígios.

Até fez uma pedra dar flor!

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A mãe reparava o menino com ternura.

A mãe falou:

Meu filho você vai ser poeta.

Você vai carregar água na peneira a vida

toda.

Você vai encher os

vazios com suas

peraltagens

e algumas pessoas

vão te amar por seus

despropósitos.

Com o novo olhar que os teóricos passam a ter sobre a infância, seus

estudos promovem um questionamento a sociedade, fazendo com que a

sociedade também faça essa modificação passando a ter uma maior

preocupação. Isto fez com que a concepção de criança passasse por uma

ruptura de infância negada para uma nova concepção de infância sujeito,

atuante.

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CONCLUSÃO

Tendo como base o levantamento bibliográfico realizada nesta pesquisa

considero que a imagem de infância junto com a modificação da sociedade, fez

com que a creche também sofresse modificações em sua prática como

também sua estrutura pedagógica. Para entender como se deu todo esse

processo, procurei fazer um levantamento através de estudos bibliográficos

para entender como deu-se essa evolução, até nos dias atuais.

Para isso procurei fazer um apanhado da concepção de criança, como

elas eram percebidas pelos adultos, e as modificações que ocorreram até

chegar à nova concepção de criança como sujeito, com seus direitos que a

nova LDB proporcionou.

Depois de fazer este levantamento, destas concepções em diferentes

momentos, surgiu a necessidade de estudar como dava o desenvolvimento da

criança em seu aspecto físico e motor, já que houve diferentes momentos de

concepções de crianças e de sociedade. Percebendo que havia várias

concepções de crianças e várias metodologias de ensino, aprofundei e procurei

fazer um levantamento de como eram “cuidadas” e por quem.

Com todas essas modificações, percebeu-se a necessidade de ter um

Projeto Pedagógico na qual norteasse os professores que nelas atuam. E neste

trabalho também foi focado a importância da proposta pedagógica, na qual visa

a construção da identidade social que nela está inserida, e é a partir dessa

nova visão de criança que não pode somente “cuidar” e sim de cuidar e educar

concomitantemente.

Toda essa pesquisa fez ver que a creche sofreu mudanças significativas,

e todas essas mudanças que ocorreram através do contexto histórico,

proporcionou uma melhor oportunidade na qual a criança tem para desenvolver

seu desenvolvimento motor e físico.

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BIBLIOGRAFIA

ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1981. BONAMINO, Alicia & LEITE FILHO, Aristeo. Elementos para uma reconstrução da gênese das políticas sociais e das políticas de educação infantil, Rio de Janeiro, 1995 (mimeo). BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para educação infantil: introdução, Brasília: MEC/SEF,1998. Pagina 11 CIVILETTI, Maria Vitória Pardal. O cuidado às crianças pequenas no Brasil Escravista, Cadernos de Pesquisa, 76 Fundação Carlos Chagas, São Paulo 1981. GADOTTI, Moacir. História das Idéias Pedagógicas. Rio de Janeiro: Ática, 1999. MEC. Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação, Parecer CNE/CBE Nº 20/2009. PINTO, Maria Claudia Alves da Costa. A história da creche no Brasil e no mundo: derrubando mitos e apresentando seu papel na sociedade de hoje. Volta Redonda: FOA/UGF, 1997. Página 10 RIO DE JANEIRO. Orientações Curriculares para a Educação Infantil, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2010. www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/viewFile/29283/28839 (Acessado em 01/02/2010) www.buscalegis.ufsc.br/revistas/files/journals/4/articles/1245/public/1245-1259-1-PB.pdf (Acessado em 03/02/2010) www.fundamentos-teoricos-metodologicos-educacao-infantil (Acessado em 09/02) www.gestaouniversitaria.com.br/index.php/edicoes/59-87/279-a-infancia-como-construcao-social.html (Acessado em 03/02/2010)

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44

www.investidura.com.br/bibliotecajuridica/legislacao/constituicoes/1650-constituicao-brasileira-da-1946-arts-129-218-e-adct.html (Acessado em 01/02/2010) www.jusbrasil.com.br/noticias/168958/artigos-educacao-infantil-o-que-diz-a-legislacao (Acessado em 31/01/2010) www.planalto.gov.br/CCIVIL/Constituicao/Constitui%C3%A7ao37.htm (Acessado em 01/02/2010) www.soleis.com.br/ebooks/Constituicoes1-17.htm (Acessado em 01/02/2010) www.xtimeline.com/evt/view.aspx?id=143333 (Acessado em 01/02/2010) www.http://sheillagml.blogspot.com/2008/06/linha-do-tempo-dos-tericos-da-educao.html ( acessado em 25/02/2010)

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ANEXOS

ANEXO 1

ESCOLA DO TRICÔ -> fundada em 1767 pelo Padre Oberlin, na França. A

palavra Creche, que tem origem francesa, significa manjedoura.

ESCOLA INFANTIL -> criada em 1816 por Robert Owen, na Escócia. Fundou o

INSTITUTO PARA FORMAÇÂO DE CARÁTER que era organizado em três

níveis: o 1º era a escola infantil para crianças de 3 a 6 anos; o 2º atendia

crianças de 6 a10 anos e o 3º era oferecido durante a noite e atendia alunos

dos 10 aos 20 anos.

JARDIM-DE-INFÂNCIA -> criado por Froebel em 1873, na Alemanha.

CASA DEI BAMBINI (casa das crianças) -> no início do sec. XX (1906), na

Inglaterra, Maria Montessori trabalhou com crianças pobres de um bairro

operário.

O INFANTÁRIO -> no início do sec. XX (1911), na Inglaterra, Margaret

McMillan em parceria com sua irmã Raquel criaram esta instituição.

Cabe observar que, com exceção dos jardins-de-infância de Froebel, todos os

outros programas foram iniciados para melhorar a vida das crianças pobres. A

creche surgiu como uma instituição assistencial que ocupava o lugar da família,

nas mais diversas formas de ausência.

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Anexo 2

v “Constituição Política do Império do Brasil de 25 de março de 1824,

conhecida como “Carta Imperial” – Esta tinha como objetivo maior consolidar e

manter a independência do Brasil, em razão da resistência oposta pelo Reino

de Portugal quanto dos segmentos da sociedade portuguesa aqui radicada que

não se conformavam em perder o domínio sobre o Brasil Colônia;”

(www.jusbrasil.com.br)

v “ Constituição de República dos Estados Unidos do Brazil de 24 de

fevereiro de 1891, conhecida como a Carta Republicana” – Do mesmo modo

que a Carta Imperial não tratou da educação das crianças de até 7 anos,

somente fala em seu “ artigo 72, parágrafo 6º8 quando reza que “será leigo o

ensino ministrado nos estabelecimentos públicos”. (www.jusbrasil.com.br)

v “Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 16 de julho

de 1934” – Seguiu a mesma linha de visão política, das demais Constituição

anteriores, pois, os artigos 148 a 158 que mencionam alguma coisa sobre a

educação, em momento algum refere ao ensino de criança pequena, como

está abaixo.( www.jusbrasil.com.br)

Art 148 - Cabe à União, aos Estados e aos Municípios favorecer e animar o

desenvolvimento das ciências, das artes, das letras e da cultura em geral,

proteger os objetos de interesse histórico e o patrimônio artístico do País, bem

como prestar assistência ao trabalhador intelectual.

Art 149 - A educação é direito de todos e deve ser ministrada, pela família e

pelos Poderes Públicos, cumprindo a estes proporcioná-la a brasileiros e a

estrangeiros domiciliados no País, de modo que possibilite eficientes fatores da

vida moral e econômica da Nação, e desenvolva num espírito brasileiro a

consciência da solidariedade humana.

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Art 150 – Compete a União:

a) fixar o plano nacional de educação, compreensivo do ensino de todos os

graus e ramos, comuns e especializados; e coordenar e fiscalizar a sua

execução, em todo o território do País;

b) determinar as condições de reconhecimento oficial dos estabelecimentos de

ensino secundário e complementar deste e dos institutos de ensino superior,

exercendo sobre eles a necessária fiscalização;

c) organizar e manter, nos Territórios, sistemas educativos apropriados aos

mesmos;

d) manter no Distrito Federal ensino secundário e complementar deste,

superior e universitário;

Art 158 - É vedada a dispensa do concurso de títulos e provas no provimento

dos cargos do magistério oficial, bem como, em qualquer curso, a de provas

escolares de habilitação, determinadas em lei ou regulamento.

(www.soleis.com.br)

v "Constituição dos Estados Unidos do Brasil", de 10 de novembro de

1937 – refere-se à educação nos artigos 128 a 134, como esta nos artigos

abaixo (www.jusbrasil.com.br)

Art 128 - A arte, a ciência e o ensino são livres à iniciativa individual e a de

associações ou pessoas coletivas públicas e particulares.

Art 129 - A infância e à juventude, a que faltarem os recursos necessários à

educação em instituições particulares, é dever da Nação, dos Estados e dos

Municípios assegurar, pela fundação de instituições públicas de ensino em

todos os seus graus, a possibilidade de receber uma educação adequada às

suas faculdades, aptidões e tendências vocacionais.

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É dever das indústrias e dos sindicatos econômicos criar, na esfera da sua

especialidade, escolas de aprendizes, destinadas aos filhos de seus operários

ou de seus associados. A lei regulará o cumprimento desse dever e os poderes

que caberão ao Estado, sobre essas escolas, bem como os auxílios,

facilidades e subsídios a lhes serem concedidos pelo Poder Público.

Art 130 - O ensino primário é obrigatório e gratuito. A gratuidade, porém, não

exclui o dever de solidariedade dos menos para com os mais necessitados;

assim, por ocasião da matrícula, será exigida aos que não alegarem, ou

notoriamente não puderem alegar escassez de recursos, uma contribuição

módica e mensal para a caixa escolar.

Art 132 - O Estado fundará instituições ou dará o seu auxílio e proteção às

fundadas por associações civis, tendo umas; e outras por fim organizar para a

juventude períodos de trabalho anual nos campos e oficinas, assim como

promover-lhe a disciplina moral e o adestramento físico, de maneira a prepará-

la ao cumprimento, dos seus deveres para com a economia e a defesa da

Nação.

Art 133 - O ensino religioso poderá ser contemplado como matéria do curso

ordinário das escolas primárias, normais e secundárias. Não poderá, porém,

constituir objeto de obrigação dos mestres ou professores, nem de freqüência

compulsória por parte dos alunos. (www.planalto.gov.br)

v Constituição dos Estados Unidos do Brasil", de 18 de setembro de 1946,

por meio dos artigos 166 a 175 – É uma continuação da Constituição anterior,

de modo que não houve grandes modificações; (www.jusbrasil.com.br)

Art 166 - A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola. Deve

inspirar-se nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana.

Art 167 - O ensino dos diferentes ramos será ministrado pelos Poderes

Públicos e é livre à iniciativa particular, respeitadas as leis que o regulem.

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Art 168 - A legislação do ensino adotará os seguintes princípios:

I - o ensino primário é obrigatório e só será dado na língua nacional;

II - o ensino primário oficial é gratuito para todos; o ensino oficial ulterior

ao primário sê-lo-á para quantos provarem falta ou insuficiência de recursos;

III - as empresas industriais, comerciais e agrícolas, em que trabalhem

mais de cem pessoas, são obrigadas a manter ensino primário gratuito para os

seus servidores e os filhos destes;

IV - as empresas indústrias e comerciais são obrigadas a ministrar, em

cooperação, aprendizagem aos seus trabalhadores menores, pela forma que a

lei estabelecer, respeitados os direitos dos professores;

(www.investidura.com.br)

v "Constituição do Brasil", de 24 de janeiro de 1967, em seus artigos 168 a

172; (www.jusbrasil.com.br)

Art 168 - A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola;

assegurada a igualdade de oportunidade, deve inspirar-se no princípio da

unidade nacional e nos ideais de liberdade e de solidariedade humana.

§ 1º - O ensino será ministrado nos diferentes graus pelos Poderes Públicos.

§ 2º - Respeitadas as disposições legais, o ensino é livre à Iniciativa particular,

a qual merecerá o amparo técnico e financeiro dos Poderes

Públicos, inclusive bolsas de estudo.

§ 3º - A legislação do ensino adotará os seguintes princípios e normas:

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I - o ensino primário somente será ministrado na língua nacional;

estabelecimentos primários oficiais;

II - o ensino dos sete aos quatorze anos è obrigatório para todos e gratuito nos

III - o ensino oficial ulterior ao primário será, igualmente, gratuito para quantos,

demonstrando efetivo aproveitamento, provarem falta ou insuficiência de

recursos. Sempre que possível, o Poder Público substituirá o regime de

gratuidade pelo de concessão de bolsas de estudo, exigido o posterior

reembolso no caso de ensino de grau superior;

Art. 170 - As empresas comerciais, industriais e agrícolas são obrigadas a

manter, pela forma que a lei estabelecer, o ensino primário gratuito de seus

empregados e dos filhos destes.

Parágrafo único - As empresas comerciais e industriais são ainda obrigadas a

ministrar, em cooperação, aprendizagem aos seus trabalhadores menores.

(www.xtimeline.com)

Esta Constituição não incentivava a educação para crianças menores de sete

anos, sendo que a União deveria prestar assistência ao sistemas educacionais

de ensino e o sistema federal ficou com a do supletivo. O ensino atribuição na

realidade sofreu um retrocesso porque o ensino particular teve um

fortalecimento, quando o Governo fez a substituição do ensino oficial gratuito

por bolsas de estudos.

Anexo 3

v “Constituição da República Federativa do Brasil de 5 de outubro de

1988, conhecida como “Constituição Cidadã” – Foi a partir desta Constituição

que começou a ter uma preocupação com as crianças menores de até 7 anos,

pois, o foco da preocupação estava voltada para o cidadão; (www.jusbrasil.com.br)

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Anexo 4

Século XVI

- Os fundamentos sociais, morais, econômicos, culturais e políticos da

sociedade antiga foram sendo superados desde a instauração da sociedade

moderna.

- A constituição de modos de vidas passou a ser exigência do novo contexto

social.

- Sugiram as primeiras preocupações com a educação das crianças pequenas.

Século XVII

- Vários teóricos desenvolveram seus ideais sobre educação, incluindo a

educação para a infância.

Anexo 5

João Amós Comênio (1592 – 1657)

É considerado como o maior educador e pedagogista do século XVII e um dos

maiores da historia.

1657 – Comênio apresentou à sociedade européia a sua “Didática Magna”.

Elaborou o Plano da Escola Materna.

Jean Jacques Rousseau (1712 – 1772)

Considerado como uma das personalidades mais destacadas da história da

pedagogia.

Ele centralizou a questão da infância na educação, evidenciando a

necessidade de não mais considerar a criança como um homem pequeno, mas

que ela vive em um mundo próprio cabendo ao adulto compreende-la.

1762 – Rousseau publica o livro “Emílio”, estruturando a educação em 5 partes,

desde o nascimento até a idade de 25 anos.

Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827)

Considerado o educador da humanidade.

O sistema pedagógico de Pestalozzi tinha como pressuposto básico propiciar à

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infância a aquisição dos primeiros elementos do saber, de forma natural e

intuitiva.

Influenciado por Rousseau, foi considerado um dos precursores da educação

nova, que ressaltou a importância de se psicologizar a educação e defini-la em

função das necessidades de crescimento e desenvolvimento da criança.

Friedrich Froebel (1782 – 1852)

Educador protestante alemão que desenvolveu suas teorias arraigadas em

pressupostos idealistas inspiradas no amor à criança e à natureza.

Fundamentava seu trabalho nas idéias de Pestalozzi.

1837 – Em Blankenburg, na Alemanha, foi reconhecido pela criação dos

“Kindergartens” (jardins da infância), nos quais destacava ser importante

cultivar os alunos infantis e por isso o fundamental era a atividade infantil.

Ovide Decroly (1871- 1932)

· 1901 – Desenvolveu suas atividades educativas junto a crianças anormais.

· Sua proposta de trabalho estava alicerçada nas atividades individual e

coletiva da criança sustentadas em princípios da psicologia.

· 1907 – Desenvolveu sua proposta educativa junto às crianças normais,

criando uma escola em Bruxelas.

· O “Sistema Decroly” está baseado em fins e em princípios para uma nova

escola, que supere a escola tradicional.

· Concluiu que o que mais interessa ser conhecido pela criança é, em primeiro

lugar, ela mesma, para depois conhecer o meio em que vive. Portanto o seu

programa de idéias associadas foi concebido na criança e suas necessidades e

na criança e seu meio.

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John Dewey (1859 – 1952)

Denominado como o máximo teórico da escola ativa e progressista foi

considerado um dos mais importantes teórico da educação americana

contemporânea.

Um dos pontos culminantes de suas contribuições pode ser encontrado em um

grande número de escolas infantis, trata-se do “Método de Projetos”.

Maria Montessori (1870 – 1952)

Considerada uma das mais importantes representantes da mudança que se dá

na escola com relação a concepção de ensino e aprendizagem.

1907 – Fundou em Roma a primeira “Casa Dei Bambini”, para abrigar,

aproximadamente, cinqüenta crianças normais carentes, filhas de

desempregados.

Celestin Freinet (1896 – 1966)

Foi considerado um educador revolucionário, o cultivo na educação do aspecto

social foi um dos grandes feitos desse educador francês.

Entendia que o dinamismo, a ação é que estimulavam as crianças a buscar o

conhecimento, multiplicando seus esforços em busca de uma satisfação

interior. Suas técnicas (texto, impresso, a correspondência escolar, texto livre,

a livre expressão, aula-passeio, livro da vida) faziam sentido num contexto de

atividades significativas, que possibilitassem às crianças sentirem-se sujeitos

do processo pessoal de aquisição de conhecimentos.

Jean Piaget (1896 – 1980)

· Sempre esteve preocupado em investigar como se dava a construção do

conhecimento no campo social, afetivo, biofisiológico e cognitivo.

· Podem-se destacar, nas obras de Piaget, vários aspectos relevantes para a

educação infantil, dentre eles a construção do real, a construção das noções de

tempo e espaço, a gênese das operações lógicas.

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Lev Semenovich Vygotsky (1896 – 1934)

· Sua preocupação foi com o desenvolvimento cultural da humanidade.

· Dedicou-se ao estudo da “pedologia” – ciência da criança, voltada para o

estudo do desenvolvimento humano, articulando os aspectos psicológicos,

antropológicos e biológicos.

· Os postulados básicos da teoria de Vygotsky dão destaque à mudança em

quatro níveis históricos – filogênico (desenvolvimento das espécies), históricos

( história dos seres humanos), ontogênico ( história individual das crianças) e

microgenético ( desenvolvimento de processos psicológicos particulares ) –

para que uma teoria do desenvolvimento humano seja elaborada

consistentemente.

· Para Vygotsky o aprendizado pressupõe uma natureza social específica e um

processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles

que as cercam.

Embora tenhamos consciência da relevância das teorias e investigações sobre

a educação de crianças de 0 a 6 anos, constata-se que grande parte dos

professores tem acesso às teorias sobre educação infantil de forma superficial

e mecânica, por meio de capacitações rápidas que não possibilitam uma

reflexão mais aprofundada sobre a realidade vivenciada e não se constrói

teorias adequadas a realidade da atualidade.