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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A PSICOMOTRICIDADE NA QUALIDADE DE VIDA DA TERCEIRA IDADE Por: Carla de Queiroz Ferreira Orientador Prof. Vilson Sérgio de Carvalho Rio de Janeiro Janeiro / 2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A PSICOMOTRICIDADE NA QUALIDADE DE VIDA

DA TERCEIRA IDADE

Por: Carla de Queiroz Ferreira

Orientador

Prof. Vilson Sérgio de Carvalho

Rio de Janeiro

Janeiro / 2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A PSICOMOTRICIDADE NA QUALIDADE DE VIDA

DA TERCEIRA IDADE

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Psicomotricidade.

Por: Carla de Queiroz Ferreira

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, minha

mãe por me ajudar na realização desta

pós-graduação e por tudo na vida.

Aos colegas, professores e ao

orientador para a elaboração deste

trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha mãe e à

memória do meu pai, por terem sempre

me apoiado, incentivado e realizado mais

esta conquista em minha vida e aos

amigos que de alguma forma participaram

neste processo comigo.

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RESUMO

A Psicomotricidade é uma ciência relativamente nova e tem o homem

como objeto de seu estudo, englobando várias áreas pedagógicas e

terapêuticas. É uma ciência da saúde e da educação destinada a estudar,

analisar e orientar todas as condutas do indivíduo: motoras, neuromotoras,

perceptomotoras. Tem como objetivo estimular a percepção e a consciência do

corpo como lugar de sensação, expressão e criação; a integração harmoniosa

entre cada segmento corporal e suas inúmeras possibilidades de movimento; a

sua relação com o tempo e com o espaço, normalizando ou melhorando o

comportamento geral do indivíduo, de suas emoções e necessidades. Além

disso, ela é uma terapia porque se dispõe a desenvolver as faculdades

expressivas do indivíduo. Seu objeto de estudo é, portanto, o corpo e a sua

expressão dinâmica, fundamentado por três conhecimentos básicos que o

substanciam (o movimento, o intelecto e o afeto). Vem sendo desenvolvida

desde o início do século por neurologistas, psiquiatras, psicólogos e finalmente

por psicanalistas. A psicomotricidade para idosos, como parte do atendimento

interdisciplinar à velhice, tem como objetivo maior a manutenção das suas

capacidades funcionais e resgatar o prazer de viver, a volta para o meio social

que o exclui. Envelhecer, mantendo todas as funções, não significa problema

quer para o indivíduo ou para a sociedade.

A presente monografia visa demonstrar, então, a importância da

psicomotricidade na terceira idade, que, através de fatores físicos, psicológicos

e sociais, resgata essa nova fase de vida das pessoas, preparando-as a levá-la

de uma forma bem mais agradável e saudável, oferecendo-lhes uma qualidade

de vida melhor.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada foi com enfoque teórico e através de

informações em consultas bibliográficas, como livros e pesquisa na Internet.

Foram colhidos dados necessários à psicomotricidade, à terceira idade e à

qualidade de vida, atendendo a proposta deste trabalho.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – A PSICOMOTRICIDADE 09

CAPÍTULO II – A TERCEIRA IDADE 15

CAPÍTULO III – ATIVIDADES FÍSICAS PARA O IDOSO 25

CAPÍTULO IV – A PSICOMOTRICIDADE NA TERCEIRA IDADE 31

CAPÍTULO V – QUALIDADE DE VIDA NA TERCEIRA IDADE 35

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41

WEBGRAFIA 43

ÍNDICE 44

FOLHA DE AVALIAÇÃO 46

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INTRODUÇÃO

A população idosa aumentou quantitativamente e a qualidade de vida é

um objetivo almejado. O envelhecer saudável, o acesso às mínimas condições

de vida e a saúde como processo social têm de ser priorizado para que se

alcance melhores níveis de desenvolvimento. A saúde, portanto, é um

indicador que revela as condições ofertadas por uma Nação à sua população.

Alguns dos grandes êxitos do século XX foram o aumento da

longevidade, a reeducação da fecundidade e a melhoria de saúde, fatores que

contribuíram para uma transição demográfica com uma rapidez sem

precedentes. A esperança de vida ao nascer, que no início da década de 1950

era de 51 anos, chega hoje a mais de 69 anos, sendo que em alguns países já

atingiu os 75 anos.

E assim sendo, no século XXI, a saúde dos idosos será um dos

elementos essenciais ao desenvolvimento econômico e social.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde – 1975), saúde é o

“bem estar físico, mental e social dos indivíduos”, notando-se, assim, que a

questão não é meramente biológica; saúde é um conjunto, e deve ser tratada

não de forma fragmentada.

Dessa forma, a psicomotricidade que atua na terceira idade contribui

prevenindo as limitações que essa fase de vida apresentam, seja trabalhando a

reeducação psicomotora, seja promovendo melhor qualidade de vida às

pessoas, fatores estes responsáveis pelo aumento da população idosa, que

está aprendendo a ter uma vida mais ativa e feliz. Além disso, a

psicomotricidade tem a função de resgatar a vida passada, suas lembranças,

seus momentos felizes e prazerosos, estando sempre ligada à afetividade, que

nesta fase da vida é necessário trabalhar, haja vista que muitas pessoas não a

tem. A psicomotricidade será a reintegradora desses idosos à sociedade, onde

se sentirão mais felizes e mais úteis em sua própria vida e na sociedade.

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CAPÍTULO I

A PSICOMOTRICIDADE

Segundo De Meur (1989), a Psicomotricidade é uma “ciência que visa

destacar a relação existência entre a motricidade, a mente e a afetividade, de

maneira a facilitar uma abordagem global da criança por meio de uma técnica”.

Já para Fonseca (1993), Psicomotricidade é uma “concepção

psicopedagógica do movimento humano”.

A palavra corpo teve sua origem:

- do sânscrito garbhas, que significa embrião;

- do grego Kapós, que significa fruto, semente, envoltura; e, por último,

- do latim corpus, que significa tecido de membro.

O uso hábil do corpo foi importante na história da espécie durante

milhares de anos, no ocidente durante a Era Clássica.

A beleza da forma humana era sobressaltada através da arte e do

atletismo. Havia a preocupação nestas atividades em desenvolver um corpo

perfeito, proporcional e gracioso em todos os seus movimentos, no seu

equilíbrio e na sua tonicidade.

Segundo a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, pode-se aprender

um pouco da história da psicomotricidade:

Historicamente, o termo “psicomotricidade” aparece a partir do discurso

médico, mais precisamente neurológico, quando foi necessário, no início do

século XIX, nomear as zonas do córtex cerebral situadas mais além das

regiões motoras.

Com o desenvolvimento e as descobertas da neurofisiologia, começa a

constatar-se que há diferentes disfunções graves sem que o cérebro esteja

lesionado ou sem que a lesão esteja claramente localizada.

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São descobertos distúrbios da atividade gestual, da atividade práxica.

Portanto, o “esquema anátomo-clínico” que determinava para cada sintoma sua

correspondente lesão focal já não podia explicar alguns fenômenos

patológicos. E é justamente a partir da necessidade médica de encontrar uma

área que explique certos fenômenos clínicos que se nomeia, pela primeira vez,

a palavra Psicomotricidade, no ano de 1870.

As primeiras pesquisas que dão origem ao campo psicomotor

correspondem a um enfoque eminentemente neurológico.

A figura de Dupré, neuropsiquiatra, em 1909, é de fundamental

importância para o âmbito psicomotor, já que é ele quem afirma a

independência da debilidade motora (antecedente do sintoma psicomotor) de

um possível correlato neurológico.

Em 1905, Henry Wallon, médico psicólogo, ocupa-se do movimento

humano, dando-lhe uma categoria fundante como instrumento na construção

do psiquismo. Esta diferença permite a Wallon relacionar o movimento ao

afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos do indivíduo.

Piaget, por sua vez, destacou a relação evolutiva da psicomotricidade

com a formação do pensamento cognitivo.

Em 1935, Edouard Guilmain, neurologista, desenvolve um exame

psicomotor para fins de diagnóstico, de indicação da terapêutica e de

prognóstico. Em 1947, Julian de Ajuriaguerra, psiquiatra, redefine o conceito de

debilidade motora, considerando-a como uma síndrome com suas próprias

particularidades. É ele quem delimita com clareza os transtornos psicomotores

que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico.

Com estas novas contribuições, a psicomotricidade diferencia-se de

outras disciplinas, adquirindo sua própria especificidade e autonomia. Vem

contemplar a questão corporal em sua relação com o meio ambiente, mais

especificamente no que diz respeito à conscientização da criança em relação

ao seu próprio corpo.

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Na década de 70, diferentes autores definem a psicomotricidade como

uma motricidade de relação. Começa, então, a ser delimitada uma diferença

entre uma postura reeducativa e uma terapêutica que, ao despreocupar-se com

a técnica instrumentalista e ocupando-se do “corpo de um sujeito”, vai dando,

progressivamente, maior importância à relação, à afetividade e ao emocional.

Para o psicomotricista, a criança constitui sua unidade a partir das interações

com o mundo externo e nas ações do outro (mãe e substitutos) sobre ela.

Madame Gisele Soubiran é mundialmente considerada a criadora da

Cátedra de Psicomotricidade e reconhecida como a “mãe da Psicomotricidade”.

Segundo Costallat (1974), “a Psicomotricidade em seus meios e fins

jamais se esquece da união psico-afetivo-motora e atua sobre este conjunto,

pois os transtornos psicomotores têm as mais diversas manifestações”.

Le Boulch (1987) diz que a “Psicomotricidade é a ciência de síntese que,

com a pluralidade de seus enfoques, procura elucidar os problemas que afetam

as inter-relações harmônicas”, as mesmas constituem a unidade do ser

humano e sua convivência com os demais.

Ainda em seus estudos, diz esse autor supramencionado que:

O trabalho psicomotor beneficia a criança no controle de sua motricidade, utilizando de maneira privilegiada a base rítmica associada a um trabalho de controle tônico e de relaxação cautelosa conduzido.

Le Boulch foi o pioneiro na constatação da atuação curativa e preventiva

do movimento físico, nos distúrbios de aprendizado. Ninguém antes havia

tributado ao movimento valores tão completos.

Para Maria Beatriz da Silva Loureiro:

A Psicomotricidade é a otimização corporal dos potenciais neuro-psico-cognitivo funcionais, sujeitos as leis de desenvolvimento e maturação,manifestados pela dimensão simbólica corporal própria, original e especial do ser humano.

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Já Franco Boscani diz que:

A Psicomotricidade nos leva a abandonar em reabilitação, a visão clássica e racional, onde o processo terapêutico é realizado só com a cabeça e o corpo é visto como objetivo final. O conceito psicomotor emerge sobre o princípio de que o indivíduo conhece, comunica, aprende, opera e se adapta a realidade externa, através de dois tipos de funções corporais que não podem ser separados: a função tônica e a função motora através da ação e a tônica através da expressão qualitativa da ação.

Vitor da Fonseca (1969):

A Psicomotricidade visa privilegiar a qualidade da relação afetiva, a mediatização, a disponibilidade tônica, a segurança gravitacional e o controle postural, à noção do corpo, sua lateralização e direcionalidade e a planificação práxica, enquanto componentes essenciais e globais da aprendizagem e do seu ato mental concomitante . Nela o corpo e a motricidade.

De acordo com esse mesmo autor (2004), a Psicomotricidade é uma

prática indispensável em inúmeros países, como recurso de intervenção

educativa, reeducativa e terapêutica. É uma medida indispensável na

pluralidade das estruturas educativas, das de reabilitação, de saúde, de

segurança social, etc.

A Psicomotricidade tem por finalidade:

a) mobilizar e reorganizar as funções psíquicas emocionais e

relacionais ao indivíduo em toda a sua dimensão experiencial, desde o bebê

até a velhice;

b) aperfeiçoar a conduta do ato mental onde emerge a ela renovação e

a execução do ato motor;

c) aumentar as percepções e as sensações para a conscientização,

simbolização e conceituação;

d) melhorar o potencial motor e harmonizá-lo, afetivo-relacional e

cognitivo, desenvolvendo a personalidade, a adaptação social e o

processamento da informação; e

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e) promover a adaptação a novas situações através da esfera do

psíquico e a esfera do motor, para que a consciência se edifique e se

manifeste.

1.1 Campos de Atuação da Psicomotricidade

a) Educativo – a psicomotricidade é uma atividade pedagógica

preventiva que propicia o desenvolvimento das capacidades básicas,

sensoriais, perceptivas e motoras, utilizando o corpo para atingir um fim, ou

seja, a formação do indivíduo.

b) Reeducativo – a psicomotricidade atua nas funções prejudicadas e,

através do movimento, tem o objetivo de superar, reduzir ou aliviar os sintomas

e/ou alterações do desenvolvimento psicomotor para a sua reabilitação.

Resgata, assim, o que teve de se perder ou o que não foi bem desenvolvido.

c) Terapêutico – a psicomotricidade através da ação terapêutica que

utiliza o corpo, seus movimentos e suas possibilidades expressivas, que

revelam conflitos e dificuldades do indivíduo, atuará nas emoções e na

afetividade através de práticas corporais que o ajudarão em sua inscrição em

seu meio.

A especificidade do psicomotricista situa-se assim, na compreensão da

gênese do psiquismo e dos elementos fundadores da construção da imagem e

da representação de si. O sintoma psicomotor instala-se quando ocorre um

fracasso na integração somatopsíquica, conseqüente de fatores diversos, seja

na origem do processo de constituição do psiquismo ou posteriormente, em

função de disfunções orgânicas e/ou psíquicas. A patologia psicomotora é,

portanto, uma patologia do continente psíquico, dos distúrbios da

representação de si cuja sintomatologia pode se apresentar no somático e/ou

no psíquico.

O estudo da Psicomotricidade é recente. Ainda no início do século XX

abordava-se o assunto apenas excepcionalmente, passando a afirmar-se

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pouco a pouco, evoluindo em diversos aspectos, que atualmente voltam a se

agrupar.

Em uma primeira fase, a pesquisa teórica fixou-se, sobretudo, no

desenvolvimento motor da criança. Depois, estudou a relação entre o atraso no

desenvolvimento motor e o atraso intelectual da criança. Seguiram-se estudos

sobre o desenvolvimento da habilidade manual e aptidões motoras em função

da idade.

Hoje em dia, o estudo ultrapassa os problemas motores, pesquisando

também as ligações com a lateralidade, a estruturação espacial e a orientação

temporal por um lado e, por outro, as dificuldades escolares de crianças de

inteligência normal. Faz também com que se tome consciência das relações

existentes entre o gesto e a afetividade, como no seguinte caso: uma criança

segura de si caminha de forma muito diferente de uma criança tímida.

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CAPÍTULO II

A TERCEIRA IDADE

O conceito de terceira idade tem sido variável, havendo quem diga que

exista a “boa idade”. Isto é conceitual. A idade mostrada na carteira de

identidade pode ser superior a 50 anos, mas a mente, o espírito da pessoa, é

que mostra a quantas ela anda. Aquela frase, cujo autor se desconhece, mas

diz que “há idosos aos 20 anos e há jovens aos 90”, mostra bem como é a

realidade por toda a vida características da infância ou primeira idade. Na

terceira idade persistem características particulares da primeira e segunda

idades somadas ao processo natural de envelhecimento. Este processo pode

ocorrer por razões familiares, necessita trabalhar e interrompe um processo de

desenvolvimento mental natural para encarar as realidades da vida adulta. Por

outro lado, há pessoas que, mesmo idosas, ainda mantêm vivo o espírito jovem

e o mesmo comportamento infantil.

Ao se chegar à terceira idade, carrega-se todas as características mais

importantes deste processo de amadurecimento, que evidentemente varia para

cada indivíduo. Pessoas tristes, céticas, evidentemente têm tendências a

encarar a terceira idade como um período da vida cheio de problemas e sofrem

mais. Outras são mais alegres e encaram os problemas da vida de maneira

mais amena.

O envelhecimento é vitalício. Não começa num tempo específico, tal

como aos 60 ou 70 anos. Ao invés disso, é um processo cujo início se dá no

momento do primeiro sinal de vida do ser humano e vem acompanhado de

mudanças com grau acentuado de variação entre os indivíduos. Uma coisa,

porém, é inegável: o envelhecimento é a regressão de funções e a diminuição

da vulnerabilidade e não da aproximação da morte. Mas de que morte? A que

significa perda da vida ou da que significa perda de possibilidades ao longo da

vida?

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A população de idosos está atualmente ocupando um espaço muito

importante em nossa sociedade, e o aumento dessa população é uma

realidade. Dado este fato, no Brasil, começa a surgir uma certa preocupação

em diversos setores, no sentido de não desamparar os idosos, dando-lhes

melhores e maiores assistências mediante suas necessidades. Com o aumento

desta população, tornam-se necessárias modificações para que melhor

adequar a nova sociedade, sensibilizando a previdência social para ajustes nos

serviços de saúde, educação, lazer e entretenimento.

A população brasileira envelheceu rapidamente nas últimas décadas,

sendo hoje a perspectiva de vida de 67,8 anos, devendo atingir 74 anos em

2020, perspectiva de vida atual dos países desenvolvidos. E analisando a

população brasileira numa estrutura piramidal, pode-se perceber a expansão

do topo e uma regular tendência de encolhimento da base. O País está se

tornando jovem de cabelos brancos.

Inter relacionar-se com idosos ou ser um idoso deve ter como objetivo

primordial maximizar suas habilidades, de modo a preservar sua independência

e sua autonomia, manter a auto-estima sempre elevada, realizar o maior

número de atividades diárias, atividades em grupo, promovendo situações

agradáveis, explorando a convivência e a socialização.

Nesta etapa da vida, encontra-se esta população, tendo que se

reposicionar diante de vínculos familiares, sociais e, por que não dizer,

também, consigo mesmo.

A sociedade não pode permitir que estas pessoas, por tanto tempo

contribuindo com seu avanço, ativas na construção da história, tenham que se

adaptar a um novo mundo, um novo espaço, onde elas mesmas, reafirma-se

mais uma vez, ajudaram a construir. Entende-se como certo que esta mesma

sociedade possa se adequar a esta população e proporcionar auxílio às

modificações necessárias para que possam continuar com uma vida digna,

atuando nas atividades que lhes forem agradáveis, manifestando emoções de

alegria, afastando o “mau tempo”, ou até quem sabe, continuar

profissionalmente ativos.

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O idoso não deve ser considerado improdutivo. Deve ser aceito e

amparado por profissionais qualificados em recuperar e aprimorar habilidades

físico-motoras, cognitivas, capacidade de se relacionar, aptidão para variadas

funções diárias. Contribuir para o bem-estar dos idosos em seu envelhecimento

físico, social e cultural. A partir daí, levá-lo a redescobrir suas possibilidades,

investir em novos desafios, permitir-se a momentos de prazer, de alegria e de

espontaneidade, afinal, a morte, no sentido de perda de possibilidades ao

longo da vida, como dito anteriormente, pode ser maximizada ou minimizada

nos hábitos e atitudes realizadas no dia a dia de cada um de nós.

Quando se chega na terceira idade, inicia-se um novo momento, o de

começar uma nova etapa, de iniciar novos caminhos, novas conquistas,

compartilhar experiências dos caminhos já percorridos e nunca dizer que já

percorreu por todos eles. Os caminhos continuam, porém com brilho diferente,

pode-se acreditar. Basta seguir em frente e vislumbrar as novas possibilidades,

novas amizades, os novos momentos. No entanto, vale ressaltar que a terceira

idade não forma um grupo homogêneo de fácil identificação nas características

sociais, mentais, culturais, raciais, fisiológicas e profissionais. São indivíduos

com diferentes histórias construídas em sua trajetória. O que trazem, ao certo,

é a sua faixa etária diversificada e um processo de envelhecimento físico e

mental. Diante desta possibilidade, estes grupos poderão obter um melhor

atendimento a seus anseios e necessidades, iniciando um processo coletivo e

individual de desmistificação, compreensão e aceitação do processo de

envelhecimento como algo inerente ao próprio processo existencial.

Conscientizar os indivíduos que a terceira idade é mais uma etapa da

vida a qual se tem de cumprir, sem medos ou receios, incentivando-os a

participarem de novos momentos e redescobrirem os encantos que passaram

desapercebidos.

No entanto, vale a pena insistir na implementação de programas para

atender o indivíduo em processo de envelhecimento, se não pelos inegáveis

benefícios fisiológicos que acarretam aos grupos, ao menos pelos importantes

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ganhos nos aspectos psicossociais e de qualidade de vida que se pode

oferecer, visando adicionar mais vida aos anos, do que anos à vida.

Onde nesta vida só tornam-se idosos os selecionados por ela.

2.1 A Fisiologia do Envelhecimento

Não está exatamente claro como o corpo envelhece. Sabe-se, porém,

que o processo de envelhecimento difere de pessoa para pessoa, assim como

de um aparelho ou sistema do corpo (coração, pulmões, músculos, etc.) para

outro.

Os principais fatores que influenciam o envelhecimento do corpo são o

tempo, a hereditariedade e seu meio ambiente, sobre os quais se detém muito

pouco controle. Existem, contudo, outros aspectos de vida, tais como a dieta, o

estilo de vida e o nível de exercício, que podem afetar beneficamente o

processo de envelhecimento e aumentar a qualidade de vida e bem-estar, onde

neste processo da seguinte forma:

- Idade do meio ou crítica – dos 45 aos 60 anos, aproximadamente.

Encontram-se os primeiros sinais de envelhecimento, que representam

freqüentemente uma tendência ou predisposição ao aparecimento de doenças.

- Senescência gradual – dos 60–70 anos, aproximadamente. È

caracterizada pelo aparecimento de alterações fisiológicas e funcionais

instaladas, típicas da idade avançada.

- Velhice – nesta idade, que se inicia por volta dos 70 anos, está-se

frente ao velho ou ancião, no sentido estrito.

- Longevo ou grande velho – aquele com mais de 90 anos.

De maneira geral, os estudiosos em gerontologia são unânimes em

salientar que a idade cronológica não corresponde à idade biológica, e esta

classificação é utilizada como uma orientação para o profissional quanto à

maneira de se abordar a problemática, reabilitativa ou paliativa.

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O envelhecimento faz parte de um processo que tem início na

concepção. Por volta dos 30 anos, a pessoa já começa a sentir um declínio

gradual, geralmente sutil. Este processo ocasiona alterações consideráveis no

indivíduo, nos quais são destacados os aspectos físicos, psicológicos e sociais,

que de certa maneira um está relacionado com o outro, caminhando juntos.

2.1.1 Envelhecimento físico

Pode-se citar, dentre os fatores físicos, alterações em torno dos órgãos

e sistema do organismo intracelulares, que prejudicam não somente sua

função como também sua multiplicação. No sistema nervoso, ocorre uma

diminuição da atividade cerebral, deficiência e perda de neurônios, diminuindo

o número de ramificações e conexões com os outros órgãos que inervam,

diminuição dos reflexos da sensibilidade e percepção corporal, diminuição da

capacidade intelectual, alterações na atenção, etc.

No sistema motor, as articulações, músculos e ossos sofrem diversas

alterações. Segundo estudiosos, a estatura diminui, começando entre os 50 e

55 anos, há compreensão das vértebras e o achatamento dos discos

intervertebrais, de 3 a 4 centímetros, o que provoca uma constante perda de

equilíbrio devido a mudanças motoras, os ombros se curvam, a cabeça se

inclina para diante, ocorre um flexionamento dos joelhos, descalcificação que

caracteriza a osteoporose.

Nas articulações, a sobrecarga é danosa e principalmente a do idoso,

que se torna mais delgada e frágil. No sistema cardiovascular, o coração

aumenta em volume, a freqüência cardíaca diminui e os pulmões diminuem de

tamanho e peso.

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2.1.2 Envelhecimento psicológico

Na velhice, o equilíbrio psicológico se torna mais difícil, pois a longa

história da vida acentua as diferenças individuais, quer pela aquisição de um

sistema de reivindicações e desejos pessoais, quer pela fixação de estratégias

de comportamento. Atrás de uma barreira de isolamento social, pessimismo

face à existência, passividade e queixas somáticas, que têm sido erroneamente

considerados como parte do processo normal de envelhecimento,

mascaram-se a ansiedade, a depressão e a insônia, precursoras comuns de

infarto do miocárdio.

No decorrer dos anos, certas modificações se processam no íntimo do

indivíduo, de forma que ficam alterados seus valores e atitudes. Os

entusiasmos são menores, a motivação tende a diminuir e são necessários, ao

idoso, estímulos bem maiores para fazê-lo empreender uma nova ação. È

como se ele carecesse da reserva de força física ou psicológica para lutar

contra fatores, tanto externos como internos, que ameacem a vida. Perdendo o

diálogo harmonioso com seu corpo, apresentam problemas de postura, rigidez,

coordenação motora comprometida e medo de caminhar, aumentando, desta

forma, as tensões psíquicas. Por não manterem mais relação de movimentos

corporais, voltam-se para dentro. Por isso, o uso de atividade física como forma

de expressão corporal é bastante importante, pois proporciona um

funcionamento normal do organismo, fonte de satisfação elementar que

contribui para produzir eutonia. Além disso, com a atividade física

sistematizada e dirigida, procura-se eliminar a ociosidade e estimular o

indivíduo. O fato de se fazer uso do corpo de forma correta aumenta a

disposição para a participação nas atividades do dia a dia. Entretanto, a

motivação para a atividade física depende muito de características

comportamentais e de experiências vivenciais. As pessoas mais saudáveis

possuem uma condição maior de adaptação. No Brasil, onde as pessoas das

classes desfavorecidas são em maior número, observa-se nos ambulatórios de

hospitais e postos de saúde a manifestação dos sentimentos desagradáveis

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acumulados, através de uma “linguagem física” que evidencia sintomatologias

diversas. A atividade física atua de forma benéfica nessa fase, contribuindo

para a liberação das tensões e estados de insegurança através da aquisição de

novos valores.

2.1.3 Envelhecimento social

A preocupação antológica do homem para com o seu futuro não é do

mundo moderno, vem de milênios. A idéia fixa do ser humano com relação à

incerteza do porvir, com a ameaça de faltar bens materiais que garantam sua

subsistência até o final da vida, pode ser detectada no Código de Hamurábi, de

23 séculos a.C., no Código de Manu, do século XIII a.C., e na Lei das XII

Tábuas, de 300 anos a.C.

Dentro de todos os agrupamentos sociais, o estado de velhice foi

tomado como elemento de valorização, graduado conforme a condição social,

desde o simples anonimato até a posição mais dignificante. Rosemary

Rauchbach (1990) relata que, em algumas tribos esquimós, o envelhecimento

só chegava para os indivíduos no momento em que não mais conseguiam, por

si sós, provarem suas próprias necessidades e colaborarem no trabalho geral

do grupo. Sentindo-se, então, pesados aos demais, recorriam ao suicídio,

solução indicada pela própria cultura para aqueles que, incapacitados para a

vida normal, eram considerados velhos e deviam desaparecer. As sociedades

da Antiguidade, em geral, consideravam o estado de velhice altamente

dignificante e acatavam como a um sábio todo estado aquele que atingia essa

etapa.

Para entender melhor a questão dos idosos no Brasil é preciso

conhecê-los nos “dois brasis”: o do nordeste e o do sul. No nordeste, ainda

predomina a família patriarcal, onde é muito forte a presença da cultura

indígena, em que o velho desempenha papel de destaque, de transferir para os

jovens a cultura da tribo, seu folclore, sua crenças, sua histórias, sendo o mais

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respeitado de todos os indivíduos, justamente pela experiência acumulada ao

longo da vida. No sul, predomina a sociedade industrial, marcada pelo

acirramento da competição entra as pessoas, na busca de promoção social e

humana, resultante direta da estrutura de produção. Dentro deste quadro, os

inabilitados são reduzidos socialmente. Da mesma maneira, esta sociedade

extremamente competitiva segrega e discrimina a pessoa que ingressa na

terceira idade. Assim sendo, sob o aspecto social, dá-se o isolamento e o

esquecimento dos idosos, o que acaba prejudicando também o psicológico.

Em muitas cidades onde estão funcionando grupos organizados de

idosos, com programas que incluem diferentes atividades sociais, culturais e

esportivas, tem sido observado que a atividade física é um excelente caminho

para que as pessoas se libertem de preconceitos, percam complexos e

redescubram a alegria de viver e a espontaneidade, reintegrando-se à

sociedade.

2.2 O Lazer para o Idoso

O lazer, ao longo dos anos, tem sido considerado o tempo livre do

homem. Momento em que as pessoas podem desfrutar prazeres, tranqüilidade

e até descanso. Portanto, o lazer deve ser um momento onde o indivíduo se

empenha em algo que escolhe, que lhe dá prazer e que o modifica como

pessoa. Os prazeres podem ser encontrados nas atividades lúdicas através do

lazer. E, dentro deste quadro, encontram-se os jogos, os brinquedos e as

brincadeiras. Daí, a importância destes no cotidiano das pessoas.

O lazer, em toda sua abrangência, pode vir a ser uma forma de tentar

amenizar os declínios e conseqüências trazidas pelo processo de

envelhecimento, tentando resgatar a autonomia, a auto-estima, o auto conceito

desses indivíduos e, assim, proporcionar-lhes bem-estar, podendo aumentar a

satisfação e o prazer de viver. Portanto, lazer pode também ser uma forma de,

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além de melhorar os contatos sociais, amenizar estes problemas sócio-

psicológicos dos idosos.

È dever do Poder Público preocupar-se com uma política que priorize

ações que estimulem e beneficiem o idoso, nos segmentos da cultura, lazer,

esporte e educação, tendo como meta a promoção de sua cidadania,

preparando-o para uma maturidade e vida felizes, e, ainda, proporcionar uma

maior integração entre os idosos, oferecendo oportunidades do descobrimento

de mais fontes de satisfação de vida, através do entretenimento e do lazer,

motivando-os ao convívio social, descobrindo valores e estimulando-os a uma

melhor qualidade de vida, pois é necessário não sentir a presença da velhice

como uma decadência. Pode-se permanecer jovem, física e intelectualmente,

através de vários meios, cuja eficácia é conhecida: vigiando a saúde,

alimentando-se adequadamente, fazendo-se exercícios físicos, mantendo as

faculdades intelectuais. Enfim, conservar um pensamento atento, positivo e

otimista é escolher permanecer jovem na velhice.

A elaboração de projetos para a terceira idade, criando condições para

promover sua autonomia, sua integração e sua participação efetiva na

sociedade, asseguraria ao idoso o direito de exercer sua cidadania.

Pikunas (1979) salienta a necessidade de que, nesta fase, deve-se

manter interesses ocupacionais e aumentar as atividades recreativas dos

idosos, ocupando totalmente seu tempo e tornando estes anos tardios da vida

satisfatórios e produtivos.

Segundo Dumazedier (1973), fazendo um inventário das atividades de

lazer praticadas pelas pessoas, observa-se que elas recobrem o conjunto das

atividades culturais do lazer, classificadas em cinco grandes categorias,

estabelecidas segundo os critérios de necessidade de realização do corpo e do

espírito dos indivíduos, que seriam: físicos, manuais, artísticos, intelectuais e

sociais. No aspecto relativo à velhice são poucos os estudos que interligam os

temas.

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Segundo Salgado (1982), apesar do declínio de capacidade, os idosos,

em sua maioria, demonstram alto grau de interesse pelas artes, ciências,

filosofia, religião, direito e política. Suas metas são restritas, embora haja os

que se atualizam por meio de leitura, noticiários de televisão ou qualquer meio

pelo qual acompanha o desenrolar dos acontecimentos.

Entretanto, é fácil deduzir a precariedade das ofertas de lazer para os

idosos, quando estas já não são suficientes para o atendimento das

populações jovens, que por natureza se mostram prioritárias para o consumo e

provocam certa pressão nos poderes públicos. Observa-se em todas as

regiões do País a pouca participação dos idosos em programações

comunitárias de lazer (Salgado, 1982).

As dificuldades financeiras dos idosos, as condições precárias de saúde

e a perda gradual do hábito de lazer externo são alguns dos impedimentos

para esta prática.

Na idade adulta, um novo conjunto de papéis sociais e

responsabilidades provocam nos hábitos de lazer uma mudança. O tempo livre

é sempre mais ocupado pelo exercício de outras funções, deixando para um

segundo plano as práticas de lazer.

A prática do lazer é uma experiência pessoal que aumenta o processo

de integração entre as pessoas, sejam estas jovens ou idosas, e não diferencia

a idade do indivíduo que a vivência. Porém, muitos valores deturpados, e até

mesmos preconceituosos, tendem a guiar as concepções de lazer dentro da

própria comunidade idosa. Este representa, justamente, o interesse deste

estudo, no sentido de compreender diretamente com esta população as

concepções de lazer vigentes.

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CAPÍTULO III

ATIVIDADES FÍSICAS PARA O IDOSO

Na sociedade atual, há uma preocupação em atividade física infantil,

adolescente, adulta e, portanto, não se pode esquecer dessa pessoa que

envelhece e chega à terceira idade.

A atividade física realizada com regularidade é uma das principais bases

para a manutenção da saúde em qualquer idade.

Na terceira idade, a atividade física é fundamental tanto para as funções

cardiovasculares e pulmonares, como também na manutenção da saúde

mental.

Há de se lembrar, contudo, que o exagero na atividade é sempre

prejudicial. Assim como em todas as idades, o descanso para a terceira idade

se faz ainda mais necessário.

A atividade física é citada como componente mais importante para uma

boa qualidade de vida. A busca pelo prazer, pela satisfação e bem-estar

pessoal vem crescendo demasiadamente, e estes benefícios podem ser

encontrados na prática da atividade física.

O envelhecimento combinado à prática de atividade física é um grande

triunfo nessa fase da vida, a qual se chama de terceira idade ou mesmo melhor

idade. Hoje em dia, a população tem uma expectativa de vida maior; portanto,

é importantíssimo determinar os mecanismos pelo qual os exercícios podem

melhorar a saúde, a capacidade funcional e a qualidade de vida dessa

população.

Para se trabalhar com a terceira idade é necessário saber, acima de

tudo: orientar, conhecer o aluno, estimular a socialização ao grupo

agradavelmente sem visar competição e sim se importar com os interesses do

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grupo; elaborar aulas que se adequem às condições gerais, mas respeitando a

individualidade de cada um.

3.1 Cuidados Gerais

Antes do início de um programa de atividades, é aconselhável um

acompanhamento médico, a fim de ser diagnosticado problemas

cardiovasculares, ortopédicos, desvios de coluna, etc.

Um ambiente onde o aluno se sinta à vontade e com segurança é um

dos pontos mais importantes para o bom desempenho das atividades. Em

todas as atividades é muito importante a re-hidratação, tomando bastante água

antes, durante e depois.

Abaixo, seguem os tipos de atividades e os cuidados especiais que

devem ser tomados para o trabalho na água, na quadra, no salão e no parque.

Em todas as atividades físicas deve haver um alongamento antes e

depois de qualquer atividade.

3.1.1 Na água

Na água, os gerontes correm e saltam à vontade, sem que haja um

maior comprometimento com problemas articulares, os quais são altamente

contra-indicados no meio seco. Além de diversão e da melhora física, a

atividade aquática é uma terapia, podendo ser realizados vários tipos de

atividades, tais como jogos recreativos, aula de natação, hidroginástica, jogos

desportivos (voleibol) e diversas formas de relaxamento.

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3.1.2 Na quadra

Nas atividades de quadra, ao contrário da água, o impacto é grande,

devendo haver um maior policiamento em relação às atividades a serem

trabalhadas. Atividades recreativas, jogos sem contato físico, aulas de dança.

Ginástica, alongamento, estafetas, gincanas são algumas das principais

atividades a serem realizadas.

Cuidados devem ser tomados, no entanto, pois os jogos de contato

(futebol, basquete) devem ser evitados, prevenindo quedas e o auto-impacto. O

treinamento excessivo pode ser um grande problema.

3.1.3 No salão

Os jogos de salão sempre têm um atrativo muito especial, pois estão

relacionados com alegria, comunicação e bons momentos. Eles devem ser

voltados à integração, ao contato visual e à melhoria da auto-estima.

No que diz respeito aos cuidados, deve-se levar em conta o tipo de piso

e os objetos que há nesse salão, para que não ocorra nenhum imprevisto.

3.1.4 No parque

Assim como nas quadras, aulas de dança, ginásticas e gincanas podem

ser desenvolvidas no parque, aproveitando-se o ambiente natural. A atividade

mais usada, no entanto, é a caminhada, que ajuda a recuperar a condição

física, fortalecendo a musculatura, além de propiciar o contato com a natureza.

Nessas caminhadas, sugere-se haver cantigas para a descontração e

integração.

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Com relação aos cuidados, como em qualquer outra atividade física, o

alongamento se faz necessário, antes e após a caminhada. A postura deve ser

observada para uma auto correção, evitando efeitos danosos à coluna

vertebral. Deve-se procurar local plano para essa caminhada, usar calçados

confortáveis e procurar não caminhar em horários de muita presença de sol.

É necessário adaptar o tipo e o nível dos exercícios às características

físicas de cada pessoa. O professor de Educação Física deve ter uma grande

dedicação para trabalhar com a terceira idade. Há alguns que jamais poderão

ser deixados de lado, como: obter uma avaliação médica de seu aluno, sendo

que neste deverão constar às restrições aos exercícios que poderão ocasionar

riscos àquela pessoa. Após analisar a avaliação, o professor analisará as

condições do aluno, limitações e problemas, e, aí sim, poderá descrever o

exercício. È muito importante ressaltar que esta avaliação deverá ser renovada

de três em três meses.

3.2 Benefícios da Atividade Física

A atividade física proporciona ao aluno da terceira idade os seguintes

benefícios:

- obter saúde, bem-estar físico, domínio corporal, aumento da

mobilidade, cura contar a depressão, uma respiração saudável, vitalidade;

- autoconfiança, reações positivas, tensão e ansiedades reduzidas,

emagrece, previne doenças (cardiorespiratórias, hipertensão, diabetes e

outras), promove a socialização e melhora a capacidade funcional.

Os contra indicados para a prática de atividade física são os portadores

de: angina instável, hipertensão, doença sistêmica aguda ou febre, arritmias de

difícil controle, fadiga física, labirintopatia, convulsões recentes, diabetes

descompensada.

O intuito da atividade física para a terceira idade é promover a alegria e

a auto-estima, para que elas deixem de ver a vida passar numa “cadeira de

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balanço”, e aproveitar a cada segundo desta vida com saúde e vitalidade, sem

se lamentar pelo que aconteceu e sim prevenir o que poderia acontecer.

3.3 Cuidados Especiais

Existem cuidados especiais que o professor de Educação Física deve

observar levando em conta os três aspectos fundamentais para as atividades

com os idosos. São eles:

- Aspecto técnico-metodológico

O professor deve ser claro nas suas explicações, utilizando-se de

exemplos concretos.

Nas atividades lúdicas, deve estabelecer regras simples, a fim de que os

alunos da terceira idade possam cumpri-las e alcançar as metas, procurando

manter todos os alunos em atividade, alternado os diferentes segmentos,

braços, pernas, mãos, etc., vigiando-os sempre, permanecendo em constante

relação com eles. Nestes casos, a formação em círculo é ótima, pois o docente

será mais um do grupo.

- Aspecto fisiológico

O profissional deve controlar permanentemente a turma em certos

aspectos observáveis, como palidez, suor, mal estar, fadiga, dor torácica

precordial e vertigem.

Para evitar tais sintomas ou sinais são desaconselháveis os movimentos

bruscos, posições de cabeça para baixo, hiperflexões, hiperextensões, rotação

externa da nuca e região lombar, pois não se busca uma performance.

Além disso, não deve usar atividades com sobrecargas, procurando

sempre corrigir a postura do aluno, quando sentado. Para isso, deve realizar

exercícios sem sintomas de dor.

Outros cuidados especiais dizem respeito ao conforto e à segurança dos

alunos, ou seja, a roupa deve ser folgada, o calçado de sola de borracha

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flexível e, de preferência, usar proteção para os joelhos, com joelheiras ou algo

parecido.

Importante é ressaltar que o professor deve permitir que os alunos

interrompam o exercício, se assim o necessitarem.

- Aspecto psicológico

Os elogios são sempre bem-vindos e o professor de Educação Física

não pode esquecê-los, embora deva também corrigir seus alunos, ajudando-os

no momento oportuno.

Interessar-se e entusiasmar-se com as atividades é também muito

importante, o que denota uma atuação honesta com os alunos, valendo frisar

que exercícios que coloquem o aluno em evidência diante de seus

companheiros devem ser evitados.

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CAPÍTULO IV

A PSICOMOTRICIDADE NA TERCEIRA IDADE

A Psicomotricidade para idosos, como parte de um atendimento

interdisciplinar à velhice, tem como objetivo maior a manutenção de suas

capacidades funcionais.

Visa criar uma consciência de seu poder de sabedoria, valorizar suas

capacidades e dar realce às suas forças, incentivar o enfrentamento de certas

condições físicas e perdas, além de estimular o auto cuidado com o

desenvolvimento de hábitos pessoais de saúde.

A prática psicomotora vai colocá-los diante de um espaço de vida, de um

espaço de atividade. Essa intervenção certamente levará o idoso a questionar

suas atitudes e conseqüentemente ter mais possibilidades em adaptar-se às

mudanças que o envelhecer acarreta.

O trabalho em grupo com os idosos é interessante, pois é criado um

meio favorável para a expansão, na qual as pessoas não só se identificam

entre si, como também passam a sentir-se parte de um todo, em que são

aceitas e estabelecem relações interpessoais a partir da convivência que

ocorre semanalmente.

O trabalho psicomotor através de uma terapia corporal trabalha

basicamente com o prazer, o prazer de sentir o próprio corpo, tão esquecido e

adormecido, o prazer de perceber possibilidades, o prazer de alguma maneira

com as limitações, o prazer de brincar, de viver.

As atividades psicomotoras estimulam acima de tudo a consciência de

um corpo que é a expressão de um corpo que pensa, que sente, que age em

relação com os outros, com os objetos e consigo mesmo.

Assim, deve-se ter: na afetividade, valores pessoais, como a

agressividade, amizade, ódio, amor, alegria, prazer, frustração, êxito, entre

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outros; na socialização, valores como a cooperação, competição, participação,

luta, segregação, justiça, entre outros; na cognição, os valores dos conceitos

elaborados como a lógica, imaginação, resolução de problemas, compreensão,

reflexão, entre outros. Incluem-se, ainda, as funções de: espacialidade,

temporalidade, corporeidade, equilíbrio, das coordenações e outras; as

capacidades inerentes para realizações em que estivessem presentes a força,

flexibilidade, resistência, velocidade, sociais, para atividades de aprendizagem

realizadas com os outros, no sentido da expressão, da comunicação, do jogo,

do esporte, da dança; finalmente, os procedimentos do fazer, inerentes à

motricidade, poderiam ser objeto da aprendizagem de habilidades de saltar,

levantar, recepcionar, golpear, subir, carregar, entre outras. (Moreira, 2001).

A Psicomotricidade, como toda ciência, corresponde a um objetivo de

estudo próprio, do qual retira sua unidade e especificação, o corpo e sua

expressão dinâmica, fundamentado em três conhecimentos:

- o movimento: que segundo os conhecimentos atuais, ultrapassa o ato

mecânico e próprio do indivíduo, sendo a base das posturas e posicionamentos

diante da vida;

- o intelecto: que encena a gênese e todas as qualidades do

pensamento humano, seu desenvolvimento humano, seu desenvolvimento

depende do movimento para se estabelecer, desenvolver e operar;

- o afeto: que é a própria pulsão interna do indivíduo, que matiza a

motivação e envolve todas as relações do sujeito com os outros, com o meio e

consigo mesmo.

A Psicomotricidade está presente no corpo em todas as situações, e é

solicitado a agir com destreza em todos os momentos. É através do movimento

que o homem participa do mundo e através dele que manifesta a própria

intencionalidade. O ato motor não é somente uma sucessão de impulsos

fisiológicos, mas sim o modo de o indivíduo colocar-se em relação com o

mundo externo, possibilitando, assim, a expressão de uma imagem mental.

A terceira idade é uma etapa da vida onde ocorre uma diminuição das

capacidades físicas e psicológicas que leva ao surgimento de patologias.

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O idoso, ao cessar sua atividade produtiva, muitas vezes reduz contato

com as pessoas, com o meio ambiente, e se angustia por compreender que

seu tempo de vida está cada vez mais restrito, o que reduz sua auto-estima,

freqüentemente manifestando um estado depressivo, associando uma

sensação de mal estar e desconforto contínuo.

A Psicomotricidade tem se revelado extremamente útil aos especialistas

na prevenção e no tratamento de uma série de doenças da terceira idade, tais

como: disfunções psicomotoras, problemas de circulação, agitação corporal,

hiperatividade, artrites e artroses, problemas posturais, além das muitas

doenças emocionais, como a depressão.

Numa visão relacional, expressiva e psicossomática, a Psicomotricidade

é atravessada pelos ritmos e por materiais específicos psicomotores,

realizando, através da ludicidade e da sensibilização corporal acompanhada da

verbalização do vivido, dinâmicas que ajudam o idoso a despertar para um

envelhecimento com mais consciência e qualidade. Ou seja, mente e corpo

acontecendo juntos, criando um sentimento de unidade, dando um sentido para

o corpo, para a mente e para a saúde.

Segundo Ferreira (2000, p. 165):

A Psicomotricidade para idosos, como parte do atendimento interdisciplinar à velhice, tem como objetivo maior à manutenção das suas capacidades funcionais. Um conceito bastante útil no contexto do envelhecimento... Envelhecer mantendo todas as funções não significa problema para o indivíduo ou para a sociedade.

A Psicomotricidade para idoso, visa criar uma consciência do seu poder

de sabedoria, valorizar suas capacidades e dar realce às suas forças,

incentivar o enfrentamento de certas limitações físicas e perdas e estimular o

autocuidado com o desenvolvimento de hábitos pessoais de saúde. A prática

psicomotora coloca-o diante de um espaço de vida, de um espaço de atividade.

Essa intervenção certamente levará o idoso a questionar suas atitudes e

conseqüentemente ter mais possibilidades em adaptar-se às mudanças que o

envelhecer acarreta (Ferreira, 2000).

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O trabalho pode ser realizado individualmente ou em grupo, sabendo-se

que, em grupo, cria um meio favorável para a expansão, na qual as pessoas

não só se identificam entre si, como também passam a se sentir parte de um

todo, no qual são aceitas, e estabelecem relações interpessoais a partir da

convivência.

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CAPÍTULO V

QUALIDADE DE VIDA NA TERCEIRA IDADE

O século XXI aponta a importância da construção da qualidade de vida,

que certamente não virá de graça: decorrente da capacidade de reconhecer a

verdade sobre nós mesmos, compreender quem somos, como lidamos com os

desafios da vida, como reagimos às perdas e frustrações.

Para se conquistar a qualidade de vida, não parece que a melhor

postura seja esperar pelo governo ou por padrões bondosos. Mas o homem

continuará a ser responsável pelo seu destino. Há quem tenha gratuidade para

o check-up anual e se negue a fazê-lo. Há quem saiba que precisa livrar-se do

sedentarismo, mas insista em permanecer nele.

A construção da qualidade de vida dependerá do comprometimento

pessoal com a valorização da vida e do viver. Decorrerá de orientar a vida por

princípios e valores, postura que começa por admitir a realidade, sem camuflar

crenças e opiniões.

A qualidade de vida na terceira idade pode ser definida como

manutenção da saúde, em seu maior nível possível, em todos os aspectos da

vida humana e, entre eles, está o aspecto físico.

Neste aspecto, os fatores mais importantes na manutenção da saúde

são:

- Os cuidados com a alimentação – o fator mais importante na

manutenção da saúde é o cuidado com a alimentação.

Uma alimentação saudável implica em suprir o organismo com todos os

nutrientes de que este necessita para o seu melhor funcionamento durante

toda a vida, para que mais tarde o indivíduo não venha sofrer as

conseqüências de uma má alimentação.

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- A prática regular de exercícios físicos – várias pesquisas comprovam

que a atividade física, seja ela qual for, desde que bem orientada, promove

benefícios à saúde. A prática regular beneficia na manutenção da saúde e na

prevenção contra doenças, ocasionando mais agilidade, força, atributos

necessários para a realização das tarefas diárias, além de desenvolver a

auto-estima, aumenta a vaidade e a vontade de viver (fator psicológico).

- A visita periódica a médicos – as visitas periódicas aos médicos são

fundamentais para prevenir, diagnosticar e tratar possíveis doenças que

possam interferir na qualidade de vida de um indivíduo.

A saúde na terceira idade depende, sobretudo, dos cuidados tidos no

passado. A qualidade de vida depois dos 60 anos é determinada pelas

atividades que a pessoa desenvolveu e também da forma como ela se

alimentou até lá. Com a idade, a pessoa perde força nos músculos, que

atrofiam aos poucos, e ganha gordura. Contudo, é possível reverter os efeitos

do tempo. O exercício físico na terceira idade mantém e melhora as atividades

de vida diárias, como tomar banho, fazer compras ou dirigir.

Uma pessoa sedentária pode começar com quinze ou vinte minutos

diários de caminhada, o que já fará com que ela sinta os efeitos positivos. A

prática do exercício deve ser regular, apoiada em disciplina e estruturada numa

seqüência lógica.

O ideal é que a pessoa se submeta a uma avaliação médica antes de

começar uma prática desportiva. Um profissional de Educação Física deve ser

acionado para uma avaliação pré-atividade física. Um questionário (anamnese)

é aplicado para ajudar na identificação de práticas mais adequadas.

As atividades recomendadas aos idosos estão no âmbito

biopsicossocial, isto é: bio (biológico) – o exercício influi em aspectos

funcionais (internos) e visa o aumento da força, da flexibilidade, do equilíbrio e

da função cardiovascular; psico (psicológico) – o trabalho físico aumenta a

disposição, melhora a auto-imagem, a auto-estima e a sensação de bem-estar;

e a ampliação das relações sociais são benefícios da prática desportiva.

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Para Ferreira (2000, p. 167):

A qualidade de vida, segundo Pereira (1993), é um conteúdo multidimensional formado por elementos – componentes econômicos, sociodemográficos disposicionais e situcionais, e pelo grau de bem estar subjetivo acerca da existência cognitiva de satisfação global ou específico com domínios gerais ou particulares da vida, acerca da intensidade e freqüência da experiência afetiva positiva e da experiência afetiva negativa, e acerca dos inúmeros aspectos ou fatores psicossociais da saúde mental dos indivíduos.

A satisfação de vida é retratada como um indicador do nível de

avaliação cognitiva da experiência de vida. Os estados afetivos são um

indicador emocional da avaliação subjetiva da vida e da felicidade também tem

sido apontada como um componente afetivo do bem-estar subjetivo.

Vários são os indicadores de bem-estar, destacados por Ferreira (2000),

direcionados para os idosos: saúde física e mental; satisfação: controle

cognitivo; competência social; produtividade; atividade; eficácia cognitiva;status

social; renda;continuidade de papéis familiares, ocupacionais e nas relações

informais com amigos.

O bem-estar subjetivo sofre grandes influências do temperamento e que

trazem satisfação da saúde física percebida, ou seja, a sensação subjetiva de

saúde influi mais do que a situação real, da funcionalidade física e cognitiva,

das condições ambientais e de iniciar e manter contatos sociais.

Dentre estes indicadores, destaca-se a atividade como aspecto

importante não só referente a manutenção da funcionalidade como também

pela intensificação das interações sociais e o desempenho de novos papéis

esperados para seu grupo etário, que tendem a gerar aprovação social,

refletindo-se no auto-conceito que, sendo positivo, gera satisfação na vida. O

afastamento entre o idoso e a sociedade é um processo automático de

desengajamento e redução de vínculos e atividades. Esse processo parece ter

grande influência na depressão, nos sentimentos de inferioridade, na

dependência e no desajuste pessoal e social do idoso. (Brito e Netto, 2001;

Ferreira, 2000).

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Outro indicador destacado é a funcionalidade física e cognitiva que se

relaciona com o senso de controle pessoal, ou seja, a crença de que se possui

capacidade suficiente para alterar o que lhes acontece se refletindo na imagem

corporal que quando positivo gera satisfação na vida. A satisfação na velhice

dependeria da capacidade do indivíduo de manter ou restaurar seu bem-estar

diante das crises.

Segundo Brito e Netto (2001), a mais recente linha de pesquisa sobre o

envelhecimento investiga as reservas inexploradas e o potencial de mudança

(plasticidade) do idoso.

A plasticidade comportamental ou adaptabilidade parece ser critério para

se avaliar o potencial e o grau de preparação do indivíduo para lidar com vários

tipos de demandas que estaria diretamente relacionada à qualidade de vida.

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CONCLUSÃO

Com esta pesquisa verificou-se a importância de escolhas saudáveis

para a contribuição de uma qualidade de vida no processo de envelhecimento

nos aspectos físico, social e psicológico.

O tema qualidade de vida é presente, e pensá-lo para o futuro, pensar o

tema qualidade de vida na perspectiva da complexidade.

Associando o tema qualidade de vida ao ser idoso, é fundamental

lembrar que hoje a sociedade se altera em níveis populacionais com o

surgimento de um grupo, em sua maioria, ativo e autônomo, que são os idosos.

O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial que se instaura, sendo

que dados estatísticos mostram que o contingente populacional que mais

cresce no mundo é o das pessoas que têm mais de 60 anos.

Estes dados geram alterações demográficas, pois se inicialmente a

predominância era de uma população jovem, o aumento da expectativa de

vida, a redução do índice de natalidade, a aposentadoria mais cedo, o

crescimento industrial e tecnológico, as melhores condições ambientais,

nutricionais, de trabalho, de saúde e a possibilidade de participação em

espaços de exercícios físicos regulares, incitou a criação de diversas

intervenções para esta população, como também a necessidade de conhecer

os seus interesses, objetivos, visando propiciar uma vida mais digna e de

qualidade.

Percebe-se, então, que o processo de envelhecimento não é um

processo único e nem depende de apenas um fator, podendo acarretar,

também, conseqüências sociais e psicológicas. Ao mesmo tempo, com o

propósito de preparar os indivíduos para enfrentar da melhor maneira possível

essa fase da vida, os estudos demonstram que a prática regular de exercícios

físicos é significava dentro de um processo profilático, visando manter e

resgatar a qualidade de vida do idoso.

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A Psicomotricidade vem contribuir com a qualidade de vida da

população idosa, já que resgata a auto-estima, o prazer em viver, a afetividade,

a socialização, mostrando que o “novo” ainda se faz presente, através do

trabalho da imagem corporal, livrando este idoso de uma vida doente.

Sem ter a intenção de esgotar o assunto, finaliza-se este trabalho,

citando-se Ferreira (2000), que diz: “Jovem é aquele que desafia os

acontecimentos e encontra no jogo da vida, tão jovem quanto a confiança e a

sua esperança e tão velho quanto a sua descrença, o seu desânimo e cinismo.”

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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RAUCHBACH, R. A atividade física para a terceira idade, analisada e adaptada. Ed. Lovise, 1990. REQUIXA, R. Sugestões de diretrizes para uma política nacional de lazer. SESC. São Paulo, 1980. SALGADO, M. A. O significado da velhice no Brasil. SESC. São Paulo, 1982. (Caderno da Terceira Idade). WAGORN, Y.; THÉBERGE S. Orban; WILLIAN, A. R. Manual de ginástica e bem-estar para a terceira idade. Para uma velhice feliz e saudável. São Paulo: Marca Zero, 1991.

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WEBGRAFIA

CORPO e Mente. Disponível em: <http://www.idademaior.com.br>. Acesso em: 15 jan. 2007. KAWANO, Viviane; SCWATZ, Gisele Maria. Revista Digital, Buenos Aires, año 10, nº 87, ago 2005. Disponível em: <http://www.efdeportes.com>. Acesso em: 15 jan. 2007. MANHÃES, Renata. Psicomotricidade. Disponível em: <http://www.salesianolins.br>. Acesso em: 15 jan. 2007. SOCIEDADE Brasileira de Psicomotricidade. Disponível em: <http://www.psicomotricidade.com.br/apsicomotricidade.htm>. Acesso em: 15 jan. 2007. TERCEIRA Idade. Cooperativa do Fitness. Disponível em: <http://www.cdof.com.br>. Acesso em: 15 jan. 2007. VARELLA, Drauzio. Envelhecimento saudável. Disponível em: <http://www.drauziovarella.com.br>. Acesso em: 15 jan. 2007. VERDERI, Érica. Educação postural e qualidade de vida. Disponível em: <http://www.programapostural.com.br>. Acesso em: 15 jan. 2007. ZANINI, Alessandro et alli. Terceira Idade. Aspectos do envelhecimento – físico, psicológico e social. Disponível em: <http://www.programapostural.com.br>. Acesso em: 15 jan. 2007.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTOS 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

A PSICOMOTRICIDADE 09

1.1 – Campos de Atuação da Psicomotricidade 13

CAPÍTULO II

A TERCEIRA IDADE 15

2.1 – A Fisiologia do Envelhecimento 18

2.1.1 – Envelhecimento Físico 19

2.1.2 – Envelhecimento Psicológico 20

2.1.3 – Envelhecimento Social 21

2.2 – O Lazer para o Idoso 22

CAPÍTULO III

ATIVIDADES FÍSICAS PARA O IDOSO 25

3.1 – Cuidados Gerais 26

3.1.1 – Na água 26

3.1.2 – Na quadra 27

3.1.3 – No salão 27

3.1.4 – No parque 27

3.2 – Benefícios da Atividade Física 28

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3.3 – Cuidados Especiais 29

CAPÍTULO IV

A PSICOMOTRICIDADE DA TERCEIRA IDADE 31

CAPÍTULO V

QUALIDADE DE VIDA NA TERCEIRA IDADE 35

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41

WEBGRAFIA 43

ÍNDICE 44

FOLHA DE AVALIAÇÃO 46

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes.

Título da Monografia: A Psicomotricidade na Qualidade de Vida da

Terceira Idade.

Autor: Carla de Queiroz Ferreira.

Data da entrega: 26/01/2007.

Avaliado por: Conceito: