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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LAT O SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂN CIA DAS RELAÇÕES AFETIVAS NA FORMAÇÃ O DA CRIANÇA Por: Cristiane de Oliveira Carneiro Orientador Profª. Ma. Ana Cristina Guimarães Rio de Janeiro 2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES AFETIVAS NA

FORMAÇÃO DA CRIANÇA

Por: Cristiane de Oliveira Carneiro

Orientador

Profª. Ma. Ana Cristina Guimarães

Rio de Janeiro

2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES AFETIVAS NA

FORMAÇÃO DA CRIANÇA

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como condição prévia para a conclusão do

Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em

Psicopedagogia.

Por: Cristiane de Oliveira Carneiro

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RESUMO

A fase pré-escolar da vida tem um papel decisivo no processo do

relacionamento afetivo da criança. É nessa fase em que ela vai aprender as primeiras

normas de comportamento social, quer seja através da interação com seus pais, com

seus professores ou com outras crianças. Esses processos de interação serviram como

base para que pudéssemos observar a importância dessas relações no

desenvolvimento afetivo da criança.

A finalidade deste trabalho é analisar a importância das relações sócio-

afetivas na formação da criança. A visão de alguns autores, como Wallon, Vygotsky

e Piaget, serviu de embasamento para fundamentar as questões propostas pelo

presente estudo.

Buscamos identificar os principais meios que influenciam as atitudes das

crianças, visando uma melhor constituição de sua mentalidade e seu caráter, através

de condutas afetivas e sociais realizadas por elas.

Deve-se estimular as relações afetivas da criança de uma forma prudente, pois

os exemplos de comportamento que são mostrados à ela no dia-a-dia pelas pessoas

com as quais se relaciona, podem ser imitados na intenção de achar que agindo da

mesma maneira que estas pessoas ela não estará cometendo erros. Hipótese esta, não

verdadeira, pois muitas das atitudes que a criança vê são erradas, e ela ainda não tem

capacidade de identificar precisamente o que é correto ou não.

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METODOLOGIA

Para a realização deste trabalho, utilizou-se informações trazidas por livros

que abordam de uma forma geral a questão emocional e o relacionamento afetivo que

é desenvolvido pelo ser humano desde a infância.

Tendo como foco a questão social, procurou-se analisar aspectos que possam

definir a personalidade da criança, dentro do campo afetivo e identificar os aspectos

positivos e negativos que podem ser gerados através do afeto.

Como resposta para a produção desta monografia, pudemos observar que é

fundamental estimular e observar a construção das relações afetivas desde a infância,

pois através dos padrões afetivos que são desenvolvidos, é fornecida a base a partir

da qual podem ocorrer as transformações no comportamento da criança.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 06

CAPÍTULO I - Desenvolvimento afetivo 08

CAPÍTULO II - As influências da escola no desenvolvimento da afetividade 16

CAPÍTULO III - O afeto e a inteligência na educação infantil 25

CAPÍTULO IV- A construção da pessoa em Wallon 29

CONCLUSÃO 34

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 35

ÍNDICE 37

FOLHA DE AVALIAÇÃO 39

6

INTRODUÇÃO

Têm-se observado que a incorporação de modelo de comportamento e

interação com o ambiente é aprendido pela criança por meio de sua convivência e de

seus contatos sócio-afetivos com sua família, seus amigos e com os professores da

escola. Tais contatos mostram-se determinantes na formação de sua personalidade,

de seu autoconceito e de suas atitudes básicas.

O objetivo deste trabalho é identificar as relações afetivas existentes ao longo

do crescimento da criança e analisar a importância dessas relações no

desenvolvimento dos valores, das atitudes e do caráter da criança.

Para isto, desenvolvemos este trabalho embasado nos fundamentos de alguns

teóricos, tais como Piaget, Vygotsky, Wallon, dentre outros. Desta forma, buscamos

complementar a análise dos processos sociais e afetivos ocorridos durante a infância

com as pesquisas feitas pelos teóricos nesta área do comportamento infantil.

No Capítulo I, abordamos a questão do desenvolvimento afetivo da criança de

uma maneira geral, apresentando a influência de diversas formas de afetividade que

ocorrem ao longo da vida infantil, tais como: a relação com outras crianças; o

vínculo com seus pais e a formação de sua identidade.

No Capítulo II, aprofundamos a influência da instituição escolar na

afetividade da criança, abordando aspectos como: o ambiente físico escolar, a

influência dos professores e a relação entre as crianças.

No Capítulo III, procuramos destacar a ligação entre o afeto e a inteligência

na educação infantil, uma vez que, ao formar a personalidade, observa-se a

integração da afetividade e da inteligência, pois entre eles existe a mesma evolução,

o mesmo antagonismo.Para fundamentar o vínculo entre esses mecanismos de

adaptação, utilizamos como embasamento teórico os pensamentos de Dantas e

Almeida, dentre outros.

No Capítulo IV, abordamos a questão da construção da pessoa, utilizando os

estudos de Wallon, que em sua teoria afirma que a construção do sujeito depende

essencialmente do outro; tanto como referência, quanto como negação.

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Sendo assim, este trabalho apresenta quatro capítulos encadeados por um

mesmo propósito, que é o de ressaltar como ocorrem as diversas formas de afeto que,

dependendo da maneira como são desempenhadas, contribuem, de forma positiva ou

negativa, na formação da criança.

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CAPÍTULO I

DESENVOLVIMENTO AFETIVO

A criança, desde cedo, aprende padrões de relação com os meios transmitidos

através do seu convívio com a família e dos seus contatos sociais, importantes na

formação de sua personalidade, de seu autoconceito e de suas atitudes básicas.

Tendo a necessidade de satisfazer suas carências, o homem construiu a

cultura. Há dois aspectos presentes no processo de socialização: o desejo da

sociedade de que a criança aja de acordo com suas normas, seus padrões e seus

valores; e a capacidade do indivíduo de distinguir-se frente aos modelos culturais,

usando o seu livre arbítrio.

Dessa forma, a criança passa a apropriar-se dos bens culturais, ingressando

como sujeito do meio social, quando passa a dominar os instrumentos de origem

social, principalmente após a aquisição da linguagem.

O meio social é uma condição necessária para a modelagem e o

desenvolvimento afetivo do indivíduo. “Sem ele a civilização não existiria, pois foi

graças à agregação dos grupos que a humanidade pôde construir os seus valores, os

seus papéis, a própria sociedade” (ALMEIDA, 1999, p.45). A afetividade é

construída sob diferentes níveis de relações, seja em virtude das condições

maturacionais, seja em virtude das características sociais de cada idade.

O desenvolvimento humano é um processo de construção que vem sendo

estudado, e através dessas pesquisas surgiram diferentes concepções traçadas na

psicologia relacionadas a ele. Há três concepções que são destacadas: Inatismo /

Biologismo; Ambientalismo e Interacionismo. O Inatismo é uma corrente de

pensamento que justifica o desenvolvimento humano como já pertencente à pessoa.

Segundo ele, através do processo de maturação as aptidões individuais passariam a

guiar o comportamento.

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O Ambientalismo é uma corrente que afirma que o ambiente influencia o

desenvolvimento humano e que, de acordo com suas condições favoráveis, o

indivíduo aprende novos comportamentos.

Em meio ao impasse dessas duas correntes, surge uma terceira, o

Interacionismo, que faz uma relação de recíproca constituição entre indivíduo e

meio. “O desenvolvimento não decorre da ação isolada de fatores genéticos nem de

fatores ambientais, decorre das trocas recíprocas” (OLIVEIRA, 2002, p.126).

Através dessa última corrente, observa-se que a criança modifica seu meio e é

modificada por ele. A construção do homem ocorre em sua permanente atividade de

adaptação a um ambiente.

“Os papéis sociais formam a personalidade e cumprem as funções sociais e

culturais, ao fornecer ao grupo o sentido de sua existência e ao indivíduo uma

identidade (...)” (NERY, 2003, p.33). Na vida, todos os vínculos que são

estabelecidos são únicos e nos reportam a condutas e emoções especiais. Dessa

forma, podemos observar que a afetividade está presente em todos os nossos atos.

São três estágios da afetividade: emoções; sentimento; paixão. Esses três

estágios pressupõem o desenvolvimento de certas capacidades, que se revelam em

estado de maturação. Os dois últimos estágios surgem quando a criança já possui a

capacidade de representação.

A primeira etapa é de base orgânica (simbiose alimentar), onde está envolvida

a questão de bem-estar e mal-estar.A segunda etapa é o período emocional (simbiose

afetiva), que envolve os sentimentos de cólera, medo, alegria, sempre voltados para o

mundo social. A terceira etapa é de ordem moral, e só aparece mais tarde, quando

outras funções como a representação e o conhecimento passam a atuar na criança.

Nesta fase, já se opera o conflito entre a emoção e a razão.

Os sentimentos podem levar o indivíduo a procurar ou a evitar certas pessoas

ou experiências. O afeto inclui expressividade, comunicação, indicando possíveis

sentimentos de uma pessoa.

10

“O afeto influencia a velocidade com que se constrói o

conhecimento, uma vez que, quando as pessoas se sentem

seguras, aprendem com mais facilidade. Ele é um regulador

da ação, influindo na escolha de objetivos específicos e na

valorização de determinados elementos, eventos ou situações

pelo indivíduo”. (DAVIS, 1994 p.84).

1.1 - A afetividade do bebê

A primeira etapa da afetividade é de base orgânica, onde a relação está ligada

aos estados de bem estar ou mal estar. Dessa forma, o início da relação afetiva

ocorre com o mundo das pessoas por uma questão de sobrevivência. A relação da

criança com o meio é dada pelo movimento, através dos gestos expressivos.

“Sem dispor da palavra, o lactente projeta para o mundo social suas sensações

por meio de gestos - descargas musculares, espasmos, reflexos - conseguindo manter

com o meio próximo uma espécie de interação não-verbal, de uma mímica”

(ALMEIDA, 1999, p. 43).

Para sobreviver, a criança precisa firmar uma relação estável com um ou mais

adultos em seu ambiente. Nesta relação, determinados padrões afetivos são

desenvolvidos, fornecendo a base a partir da qual podem ocorrer as transformações

no comportamento da criança. Através da relação com determinados adultos o bebê

inicia a construção dos seus esquemas (motores, cognitivos, dentre outros) e de sua

afetividade.

“É através da interação com indivíduos mais experientes do

seu meio social que a criança constrói as suas funções

mentais superiores, como afirma Vygotsky, ou forma a sua

personalidade, como defende Freud. (...) Segundo Freud, o

bebê e a criança pequena têm pouco controle sobre as

poderosas forças biológicas e sociais que agem sobre eles. É

somente através da experiência que eles vão aprendendo a

lidar com elas, formando a sua personalidade. (...) As ações

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do bebê visam satisfazer as suas necessidades imediatas e se

dirigem, portanto, para buscar o prazer. (...) Freud enfatizou

a qualidade instintiva das ligações afetivas que seriam

manifestações do instinto sexual da criança. (...) Ele chamou

a atenção para a interação entre as necessidades e desejos

da criança e o tratamento que a mãe ou outros adultos lhe

dispensam. Nesse processo, a criança constrói não apenas a

sua personalidade, mas também a sua identidade, aquilo que

a diferencia das demais pessoas e que ela percebe como

sendo seu Eu” (DAVIS, 1994 p.82).

Com o crescimento do bebê, o diálogo do toque passa a ter menos efeito e a

comunicação oral transforma-se num excelente mecanismo de negociação com a

criança. Através da convivência, as relações afetivas passam a se estender para o

campo do respeito, admiração.

A afetividade orgânica que é manifestada através dos gestos, transfigura-se

em variados meios de expressão, surgindo assim a segunda etapa da afetividade, o

período emocional. Nesta simbiose afetiva, as emoções como a cólera, o medo e a

alegria estão voltadas para o mundo social.

1.2 - O vínculo da criança com seus pais

A mais significativa transmissão de valores, conceitos e sentimentos que os

pais passam para os filhos, é encontrada nos exemplos que eles dão em sua vida

diária. A forma como os pais administram seus comportamentos e sentimentos

passam a ser um modelo que será lembrado pelos filhos durante toda a vida.

“No relacionamento com adultos a criança vai educar suas

emoções, criar sentimentos novos, desenvolver a curiosidade

e despertar a formação de atitudes, além de aprender muitas

coisas, como a enfrentar situações desconhecidas ou de

adversidade, e ser corajosa” (CARMO, 2000, p. 93).

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A influência da família manifesta-se nas atitudes das crianças, onde lares que

o controle é intenso “produzem crianças que manifestam relativamente pouco

negativismo, desobediência, espontaneidade ou medo”, ao passo que em ambientes

familiares democráticos encontra-se “atitudes mais ativas, competitivas, agressivas,

curiosas e não-conformistas” (MUSSEN et al 1977, p.338).

Com o vínculo afetivo com os pais,

“o desenvolvimento dos julgamentos morais irá permitir que

a criança analise seu próprio procedimento e dos demais.

Todas estas aquisições fazem com que a criança possa

deslocar seus interesses da família para outros grupos

sociais, principalmente os companheiros de estudo ou de

brinquedos” (RAPPAPORT, 1982 p.94).

O comportamento das crianças vai depender dos modelos que lhes são apresentados

na infância e também das expectativas dos pais.

Para Novaes (1977 p.99), há duas dimensões da imagem paterna:

“... a imagem-lembrança que representa o pai real, ou seja,

como o filho o vê e a imagem simbólica que leva o filho a

representar o pai tal como gostaria que fosse. A imagem

paterna resulta, primeiramente, da experiência vivida pelo

filho, formando-se um esquema mental e afetivo; contudo,

essa ‘gestalt’, por sua vez imaginária e afetiva, não

representa integralmente a imagem paterna, sendo

necessário levar em conta (...) não só os traços idealizados

do pai, conseqüência lógica da identificação do filho com o

pai reconhecido como todo-poderoso, mas também os traços

reais, esquematizados e modificados sob o efeito de

impressões afetivas da infância”.

A imagem do pai auxilia para o desenvolvimento escolar da criança. Na fase

de lactência, adquirindo a percepção de fazer parte de um grupo social contribui para

a elaboração da noção do pai, atenuando-se o ‘status mágico’ a ele atribuído e o seu

poder. “Uma imagem paterna fraca pode fazer desaparecer o desejo de se tornar

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adulto e, em conseqüência, toda a situação de crescer oferecida pelo processo de

aprendizagem escolar pode representar para o aluno uma ameaça ao seu desejo de

continuar criança” (Novaes,1977 p.100).

1.3 - Relação entre afeto e desenvolvimento social

De acordo com Nery (2003), é muito comum que as pessoas associem alegria,

medo e cólera como um sentimento e não como emoção. Enquanto que a emoção é

de ordem fisiológica, com caráter insubordinado e é imprevisível, uma vez que

depende da presença do outro para sobreviver, o sentimento é formado por uma raiz

psicológica e sua ação é duradoura, podendo não-manifestar-se exteriormente por

possuir um caráter contido.

Segundo Piaget (apud Wadsworth, 1997), com a capacidade de reconstrução do

passado afetivo no desenvolvimento pré-operacional1, o comportamento pode

assumir um elemento de consistência que não era possível antes da representação.

“O passado sendo reconstruído e constituindo-se num

elemento do comportamento presente, o afeto torna-se menos

ligado à experiência imediata e à percepção do que antes.

(...) Piaget argumenta que a base para o intercâmbio social é

a reciprocidade de atitudes e valores entre as crianças e os

outros. O gostar passa a ser não tanto como conseqüência do

enriquecimento que cada parceiro obtém do outro, mas como

uma reciprocidade de atitudes e valores” (WADSWORTH,

1997 p.89 - 90).

A troca pode levar à valorização do outro (respeito mútuo), onde os valores

derivados das ações recíprocas não são perdidos, mas são representados e

1 Piaget denominou estágios as construções e reconstruções contínuas das estruturas

que tornam o indivíduo cada vez mais apto ao equilíbrio. Há quatro estágios: sensório-motor

(0 a 2 anos), pré-operatório (2 a 7 anos), operatório-concreto (7 a 11 anos) e operatório-

formal (12 anos em diante).

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recordados. Por esses valores serem retidos, através de representações, os futuros

intercâmbios têm uma maior probabilidade de antecipar experiências afetivas

positivas ou negativas.

A reversibilidade de pensamento e a descentração trazem consistência e

conservação ao raciocínio infantil, influenciando o desenvolvimento afetivo. No

estágio operacional concreto, o afeto passa a adquirir estabilidade e consistência que

não apresentava antes.

“Em virtude de os sentimentos do dia-a-dia poderem ser

representados e lembrados, os sentimentos passaram a ser

relacionados com os sentimentos anteriores. (...) Com o

passar do tempo, o que é preservado ou conservado são

alguns aspectos dos sentimentos do passado. O pensamento

afetivo passa a ser reversível. O passado pode ser

transformado em uma parte do raciocínio presente através

da capacidade de reverter e conservar. Para Piaget, a

interação social encoraja o desenvolvimento da conservação

de sentimentos” (WADSWORTH, 1997 p. 116).

1.4- A construção da identidade

A construção da identidade é um processo de autoconhecimento que é

influenciado pelas pessoas com as quais convivemos, pela cultura e pelo ambiente. A

escola tem papel fundamental na construção da identidade e da autonomia de cada

aluno. Em sala de aula, o professor deve proporcionar momentos de interação da

criança com os colegas e criar situações onde as crianças descubram suas

particularidades.

A identidade social é uma articulação entre uma transação “interna” ao

indivíduo e uma “externa” estabelecida entre o indivíduo e as instituições que

interage. De acordo com Erikson (1976), a identidade nunca está acabada, pois o que

envolve o “eu” é instável.

15

A identidade, ou auto-imagem surge aos poucos, à medida que diminui a

dependência da criança com relação aos pais. Uma vez cristalizada, a identidade

formada por processos sociais, é mantida, modificada ou mesmo remodelada pelas

relações sociais. Os processos sociais implicados na formação e conservação da

identidade são determinados pela estrutura social que se dá inicialmente através da

relação da criança com seus pais, seus professores e com outras crianças.

Após expormos as diversas formas pelas quais ocorrem o desenvolvimento

afetivo da criança, observaremos mais detalhadamente como é dado esse

desenvolvimento no ambiente escolar.

16

CAPÍTULO II

AS INFLUÊNCIAS DA ESCOLA NO

DESENVOLVIMENTO DA AFETIVIDADE

De acordo com Mussen et al (1977, p.468), a escola é “um sistema social

pequeno no qual as crianças aprendem regras de moralidade, convenções sociais,

atitudes e modos de se relacionar com os outros, bem como habilidades escolares”.

Na interação adulto-criança dá-se uma valorização maior à interação verbal,

que possibilita às crianças falar mais cedo, ganhar mais habilidades de comunicação

e adquirir mais habilidades sociais, se forem comparadas às crianças que têm um

menor nível de interação com o adulto.

Vamos, a partir de agora, comentar alguns fatores que influem diretamente,

na escola, sobre a relação sócio-afetiva da criança.

2.1 - O ambiente físico da escola

De acordo com as variáveis ambientais apresentadas nas escolas, pode-se

perceber que a qualidade do cuidado diário com a criança oferece efeitos duradouros

em seu desenvolvimento sócio-afetivo e escolar.

“Entende-se por qualidade de atendimento um número

pequeno de crianças em um grupo, uma quantidade pequena

de crianças para cada adulto, amplo espaço físico, materiais

apropriados às crianças, e adultos experientes com

treinamento em desenvolvimento infantil” (Mussen et al,

1995, p.471).

Mussen et al(op.cit.) apresenta uma pesquisa que liga a influência do tamanho

do grupo, do espaço disponível por criança e da quantidade de matérias por criança

em relação ao desenvolvimento sócio-afetivo das crianças. Nesta pesquisa, observa-

17

se que classes de grupos grandes envolviam-se mais com brincadeiras de pega-pega e

de correr e em interações com companheiros do mesmo sexo, já as classes de grupos

pequenos, envolviam-se mais em brincadeiras de fantasia e imaginação.

Em relação aos espaços disponíveis, quando eles eram muito lotados havia

uma diminuição nas brincadeiras cooperativas e um certo aumento da agressividade.

Porém, isso não significa que o espaço superocupado vá prejudicar no

desenvolvimento da criança, pois “espaços pequenos podem ser cuidadosamente

organizados, e as crianças podem aprender a dividir os materiais, quando estes são

limitados” (Mussen et al, 1995, p.472).

A quantidade de equipamentos em sala de aula não parecia prejudicar muito,

pois enquanto que em uma classe havia várias unidades de cada tipo de material e as

crianças “ficavam menos agressivas e era menos provável que chorassem do que

quando havia apenas uma ou duas unidades de cada brinquedo”, em outra, quando o

ambiente estava praticamente sem material, as crianças “dividiam o material e

brincavam mais juntas” (Mussen et al, 1995, p.472).

Nas escolas, pode-se encontrar ambientes bastante contraditórios: o ambiente

escolar tradicional e o ambiente escolar centrado no aluno. As escolas tradicionais

são conservadoras e de rotina rígida, organizada em forma de classes. Cada classe

confiada a professores que dominam as grandes áreas do conhecimento e expõem

lições colocando os alunos em contato com os grandes textos que são tomados como

modelos a serem imitados. Sua principal característica é a ênfase dada ao conteúdo -

muitas vezes trabalhado de forma repetitiva e a partir de memorizações. A motivação

para a aprendizagem depende basicamente da aprovação do professor, da competição

com os companheiros de classe e dos reforços diferenciais aplicados às realizações.

As escolas centradas no aluno enfatizam que cada indivíduo é único. Para

aprender não basta o aluno ouvir; ele precisa experimentar, ver, tocar. É o chamado

“aprender fazendo”. As atividades são centradas no aluno, a iniciativa e a

espontaneidade são valorizadas, sendo respeitado o ritmo de cada um. Buscam

realizar o desenvolvimento total da criança – social, intelectual e psicológico. Os

professores mantêm o seu papel de autoridade, mas de uma forma flexível.

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Esses dois tipos de escolarização podem surtir efeitos no desenvolvimento

das crianças. Enquanto que as escolas mais centradas no aluno apresentam crianças

com “auto-percepções mais diferenciadas, mais receptivas aos próprios impulsos

negativos, mais investidas de seu status infantil, e mais abertas em suas concepções

dos papéis sexual e social”, encontra-se nas escolas tradicionais crianças

“consistentemente mais impessoais, mais orientadas para o futuro e mais

convencionais no que diz respeito às suas imagens de papéis e de desenvolvimento”

(Mussen et al 1977, p.411).

2.2 - Influência dos professores sobre as crianças

Na interação professor-aluno, o fator afetivo exerce influência decisiva.

Através da interação, professor e alunos passam a construir imagens do seu

interlocutor, concedendo-lhe certas intenções, características e significados, gerando

uma rede de expectativas recíprocas que pode ser ou não harmoniosa.

“Para que a interação professor-alunos possa levar à

construção de conhecimentos, a interpretação que o

professor faz do comportamento dos alunos é fundamental.

Ele precisa estar atento ao fato de que existem muitas

significações possíveis para os comportamentos assumidos

por seus alunos, buscando verificar quais delas melhor

traduzem as intenções originais. Além disso, o professor

necessita compreender que aspectos da sua própria

personalidade – seus desejos, preocupações e valores –

influem em seu comportamento, ao longo de interações que

ele mantém com a classe” (DAVIS, 1994 p.84).

Quando a criança entra na escola, geralmente o professor é o primeiro adulto

(fora da família) a desempenhar um papel central em sua vida.

“Os tipos de professores que uma criança tem determinarão

em larga medida se suas experiências acadêmicas facilitarão

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seu desenvolvimento geral ou simplesmente aumentarão suas

dificuldades e frustrações” (Mussen et al 1977 p.406).

As professoras tendem a influenciar as crianças através de processos de

reforço e modelação, mas sua influência também depende da situação escolar e da

elaboração que a criança faz do comportamento do professor. Suas ações também

podem servir como modelos para comportamentos tipificados sexualmente.

Normalmente, a primeira professora de uma criança é uma mulher. Por suas

atitudes e condutas serem parecidas com as da mãe da criança, muitas crianças

pequenas tendem a reagir à professora como se esta fosse sua mãe substituta.

“Se a criança vê sua mãe como uma criatura afetuosa e

receptiva, é possível que se aproxime da professora com uma

atitude igualmente positiva. Se, por outro lado, a criança

nutre sentimentos hostis por uma mãe rejeitadora e se

comportou com ela de modo geralmente agressivo, poderá

transferir essas respostas para a professora” (Mussen et al

1977, p.406).

Ainda de acordo com Mussen et al (1995, p.477)

“(...) os professores elogiam e criticam o aproveitamento

escolar e o comportamento dos alunos, porém, a eficácia do

reforço social depende de como este é usado. (...) Pode-se

esperar que a maioria dos professores elogiaria o bom

desempenho escolar, mas, na maioria das salas de aula, os

índices de elogio e crítica ao desempenho escolar são baixos.

Em vez disso, os professores recompensam o comportamento

obediente, tranqüilo e conformista, e geralmente punem o

comportamento agressivo, indisciplinado ou o

comportamento abertamente dependente. (...) Alguns

professores pressupõem o bom comportamento de

determinados alunos e dão relativamente pouca atenção às

crianças quietas e conformistas”.

20

As expectativas dos professores para com os alunos também podem

influenciar no desenvolvimento das crianças. Sem ter intenção, os professores

acabam por interpretar as ações das crianças e rotulá-las, como exemplo, se “um

estudante por quem tem alta expectativa erra, é porque não se esforçou

suficientemente, mas a falha do estudante de quem ele tem baixa expectativa se deve

à falta de capacidade” (Mussen et al, 1995, p.481).

Através dos estudos apresentados por Mussen et al (1977, p.408) foi verificado que

“(...) criança pequena exposta a professoras mais calorosas

e encorajadoras tendia a ser mais construtiva quando se

defrontava com possíveis fracassos, mais influente, porém

menos destrutiva, além de mais envolvida nas atividades de

classe. As professoras que adotavam medidas disciplinares

estritas e não encorajavam e nem recompensavam os

estudantes, promoviam atitudes negativas em relação à

escola e aos professores, e aumentavam não só a tensão e a

agressividade, como também as dificuldades de ajustamento

escolar posterior”.

2.2. 1 – O posicionamento do professor frente às emoções

Têm-se observado que nas atividades escolares há uma grande lacuna no que

diz respeito ao reconhecimento das relações entre os aspectos afetivo, motor, pessoal

e cognitivo. A função motora costuma ser relacionada à agitação e tumulto, e dessa

forma, costuma ser excluída das atividades por não saber-se trabalhá-la de uma

forma positiva em sala de aula. Já o movimento, segundo Almeida (2004), costuma

ser vinculado à indisciplina e desatenção. Dessa forma, buscando eliminar o que

possa prejudicar o aprendizado, passa-se a ignorar uma importante função do

movimento, que é a de permitir a representação das emoções.

“As reações posturais das crianças são normalmente

interpretadas como desatenção. Assim, há uma grande

insistência pela contenção do movimento, como se sua

simples eliminação pudesse assegurar a aprendizagem da

21

criança. (...) é preciso que o professor esteja muito atento

aos movimentos das crianças, pois estes podem ser

indicadores de estados emocionais que devem ser levados em

conta no contexto de sala de aula” (ALMEIDA, 2004, p.91).

Em sala de aula, costuma-se notar uma falta de clareza a cerca da relação

entre movimento e emoção, gerando uma dificuldade por parte do professor em saber

lidar com as situações emotivas.

“Por não considerarem a imprevisibilidade, os indivíduos,

ao depararem com relações emocionais de outrem, ficam

mais suscetíveis ao seu contágio. No caso dos professores, ao

não conhecerem os possíveis indicadores de uma emoção,

geralmente se entregam ao seu contágio” (ALMEIDA, p.91,

2004).

Quando há essa “entrega ao contágio”, o sujeito fica mais vulnerável ao

aumento das relações emotivas e torna-se completamente alheio à realidade a sua

volta. O desconhecimento em relação à emoção pode acarretar uma redução das

capacidades cognitivas do indivíduo, quando a emoção se faz presente na sala de

aula. O estado emocional no professor influenciará conseqüentemente nas atividades

pedagógicas.

Há uma grande necessidade de que o professor seja hábil para lidar com as

emoções, uma vez que as crises emotivas das crianças podem se transformar em um

canal de manifestação gerando redução ou multiplicação das descargas emocionais

dos alunos.

Em uma sala de aula observa-se tanto o professor (que às vezes apresenta

uma falta de conhecimento sobre o funcionamento fisiológico e social da emoção)

quanto o aluno (que em sua formação prevalece a existência de atitudes emotivas

devido à sua imaturidade fisiológica) como sujeitos inaptos à emoção.“Uma forma

de ficar imune ao contágio da emoção é não se tornar seu espectador. Ignorar sua

dramatização é uma forma de fazê-la sucumbir à razão; a emoção para sobreviver

necessita de espectadores, de cúmplices” (Almeida, p.93, 2004).

22

Por o professor desconhecer o mecanismo de ação da emoção sobre o corpo e

o meio social, ele se mantém alheio às suas mais evidentes expressões. A criança

com estado emocional apresenta sintomas corporais perceptíveis aos olhos. O

professor demonstrando uma incapacidade em lidar com os estados emocionais não

consegue identificar as expressões posturais de medo, alegria e cólera em sala de

aula.

É comum observar que ao tentar solucionar as situações de conflito o

professor procure demonstrar que aquele determinado comportamento não o

agradou. Neste tipo de manifestação, o professor não deveria expressar-se

emocionalmente em surto de cólera, porém é comum presenciar este tipo de reação,

pois ele pensa que, agindo dessa forma irá permitir que os alunos o percebam

achando que assim, ao demonstrar sua vulnerabilidade estará resolvendo a situação.

2.3 - Organização da classe

Por muito tempo os educadores foram formados a partir de uma visão

homogeneizadora e linear, conduzindo-os a uma neutralidade que ignora valores

básicos da composição pluriétnica da sociedade. Atualmente, encontramos um

variado cenário social, político e cultural, e para que haja um avanço na formação

docente, é imprescindível o estudo e o conhecimento do multiculturalismo, uma

vertente que permite uma visão de inclusão e de formação do aluno, sendo capaz de

lhe valorizar a cultura e etnia como forma de afirmação e elevação da auto-estima.

O multiculturalismo entende a cultura como não restrita à etnia, à nação ou à

nacionalidade, mas como um lugar de direitos coletivos para a determinação própria

de grupos. Devemos promover uma visão positiva do conflito, como espaço crítico

das diferenças. Existem conflitos porque existem diferenças em vários níveis. O

desafio é encontrar os mecanismos que facilitem uma resolução democrática, e não

autoritária, dos mesmos.

A pluralidade cultural e étnica pode despertar no educador uma postura crítica

acerca dos instrumentos pedagógicos em voga, no interior das escolas,

possibilitando-lhe a desconstrução de mitos, paradigmas e preconceitos

historicamente veiculados na cultura escolar.

23

O educador deve ter uma postura crítica e transformadora, sendo concebido

como um “agente revolucionário” (McLaren, 2000), não admitindo indiferença,

discriminação e apatia diante das violações diárias dos direitos das pessoas, e que se

engaje na luta pela melhoria das condições de vida e de trabalho de todos.

Em sala, deve-se estimular a cooperação entre os alunos para que possa além

de promover a aprendizagem, resultar em relacionamentos interpessoais melhores

entre os estudantes. A atividade cooperativa favorece a preocupação com o bem-estar

dos outros. “Quando a formação cultural das crianças é muito diferente, o respeito

mútuo pode ser incentivado colocando-as em estruturas de cooperação nas quais cada

pessoa tem um papel valorizado para desempenhar” (Mussen et al, 1995, p.483).

2.4 – A relação criança – criança

Depois da família, é a escola que exerce o papel sócio-afetivo da criança, num

contexto social mais amplo e diferenciado e apresentando grande importância, pois

na escola acontece a primeira relação com diferentes grupos. Sendo assim, a escola

integra e amplia a socialização, e exerce influência na transmissão dos valores morais

e culturais.

A pré-escola beneficia a interação da criança, principalmente para as que são

superprotegidas ou as que não têm muita oportunidade de convívio com outras

crianças. Ela representa um período de transição oferecendo, de uma forma lúdica,

autocontrole e independência.

As interações criança-criança desenvolvem-se através de uma trama de

coordenações de ações intersubjetivas concretas, em que a linguagem está presente,

ainda numa forma virtual, ou seja, como traços de um mundo sócio-lingüisticamente

organizado no qual a criança está imersa. As crianças que passaram pelo processo de

participação e cooperação na escola conseguem superar suas atitudes

individualizadas, em favor de atitudes socializadas.

“As crianças influenciam-se mutuamente, servindo como modelos

reforçando, punindo e interpretando comportamentos” (Mussen et al, 1995 p.484).

Às vezes, através da opinião refletida dos outros, é que formam suas próprias

24

opiniões. A relação entre crianças favorece em vista que há certas habilidades que

não são aprendidas da mesma forma com os adultos. O grupo de amigos proporciona

uma medida mais realística do desenvolvimento das capacidades.

Veremos agora a construção dos desenvolvimentos afetivo e intelectual na

vida das crianças e as conseqüências que esta relação acarreta em suas vidas.

25

CAPÍTULO III

O AFETO E A INTELIGÊNCIA NA EDUCAÇÃO

INFANTIL

A inteligência é a capacidade do indivíduo de aprender rápido e adaptar-se a

novas realidades. É, pois, um poder, um produto concreto. A característica mais

diferenciada nas pessoas é a modificabilidade cognitiva, que resulta da capacidade do

indivíduo para adquirir novos modos de pensamento e sentimento, que estão sujeitas

à mudança se fornecermos certas condições e oportunidades. Sua verdadeira essência

é a formação progressiva das estruturas operacionais e pré-operacionais durante o

desenvolvimento, mas o afeto contribui substancialmente para a formação das

estruturas cognitivas.

Para Wallon (1971), a personalidade é constituída por duas funções: a

afetividade e a inteligência. Na construção progressiva da personalidade, há a

integração de duas funções: a afetividade, que está ligada às sensibilidades internas, a

construção da pessoa e o mundo social; e a inteligência, que está ligada às

sensibilidades externas, a construção do objeto e ao mundo físico.

De acordo com sua teoria, estudar a inteligência é estudar a maneira como

cada um trabalha o todo organismo-meio, numa longa conquista pessoal que parte

das manifestações emotivas espontâneas e chega, na idade adulta à escolha entre as

múltiplas opções de ação. A essência da inteligência é a faculdade de adaptar-se, de

modificar-se, de aprender. Há grandes influências do desenvolvimento intelectual

para o afetivo e vice-versa, uma vez que “entre a emoção e a atividade intelectual

existe a mesma evolução, o mesmo antagonismo” (ALMEIDA, 2004, p. 49).

Mesmo quando o período é propício para que haja o predomínio de

afetividade ou de inteligência, há uma integração entre elas que torna possível uma

convivência mútua. Essas funções têm um objetivo comum, que é o desenvolvimento

do indivíduo, e por isso convivem em contínua relação e “evoluem ao longo do

desenvolvimento: são construídas e se modificam de um período a outro, pois, à

26

medida que o indivíduo se desenvolve, as necessidades afetivas se tornam

cognitivas” (ALMEIDA, 2004, p. 50).

“O desenvolvimento da inteligência, em grande parte, é

função do meio social. Para que ele possa transportar o nível

da experiência ou da invenção imediata e concreta, tornam-

se necessários os instrumentos de origem social, como a

linguagem e os diferentes sistemas de símbolos surgidos

desse meio” (WALLON, 1971, p.14).

Segundo Vygotsky (1989), o momento de maior significado no curso do

desenvolvimento intelectual, que dá origem às formas puramente humanas de

inteligência prática e abstrata, acontece quando a fala e a atividade prática, então

duas linhas completamente independentes de desenvolvimento, convergem. Ou seja,

antes de controlar o comportamento, a criança passa a controlar o ambiente através

da fala. Com a ajuda da fala, as crianças passam a ser tanto sujeito como objeto de

seu comportamento.

De acordo com Rogers (1961), o único aprendizado verdadeiro é aquele que

influencia significativamente o comportamento do indivíduo, e isso é fruto da

descoberta - experiência pessoal transformadora. A aprendizagem deve ocorrer em

grupo, nas relações com outra pessoa, quando a interação faculta o emergir dos

sentimentos. A inteligência e a afetividade se estruturam nas ações e pelas ações dos

indivíduos, uma vez que são mecanismos de adaptação que permitem a construção de

noções sobre objetos, pessoas e situações, efetuando-lhes valores, atributos e

qualidades. Dessa forma, favorecem para a formação do próprio sujeito, sua

identidade e visão do mundo.

A afetividade precede as funções das estruturas cognitivas e seus estágios

correspondem exatamente aos estágios de desenvolvimento das estruturas, ou seja,

há correspondência e não sucessão.Para Dantas (1992), ao passo que a inteligência

vai alcançando novos estágios, a afetividade começa a se racionalizar, uma vez que,

o que foi atingido no plano da inteligência será incorporado no plano da afetividade.

27

Sendo assim, o desenvolvimento do sujeito estará subordinado à mutualidade entre

essas duas funções.

Para Piaget (1998), é incontestável que o afeto desempenha um papel

essencial no funcionamento da inteligência. Sem afeto, não haveria interesse, nem

necessidade, nem motivação; e conseqüentemente, perguntas ou problemas nunca

seriam colocados e não haveria inteligência. A afetividade é uma condição necessária

na constituição da inteligência, porém, não é suficiente.

Este teórico defende que a inteligência é um processo adaptativo e que a sua

função é estruturar o universo, da mesma forma que o organismo estrutura o meio

ambiente. As estruturas da inteligência mudam no processo adaptativo em

decorrência das acomodações ou modificações dos esquemas ou estruturas de

assimilação (atividade de integração de elementos novos em estruturas existentes).

Ao estabelecer a tomada de consciência por parte do sujeito, os esquemas afetivos

apresentam uma maior dificuldade visto que eles escapam de imediato à consciência

do indivíduo por causa de sua significação genética para o eu do sujeito. Entretanto,

estes esquemas são análogos aos esquemas cognitivos, com a diferença de que os

primeiros teriam caráter irreversível.

O afeto explica a aceleração (no caso de interesse e necessidade) ou

retardamento (quando a situação afetiva é obstáculo para o desenvolvimento

intelectual), mas não a causa da formação das estruturas. Mesmo que o afeto leve a

desvios momentâneos, fatores puramente cognitivos corrigirão eventualmente cada

estrutura, independentemente do afeto.

Através de estudos realizados por Wallon (1968), nota-se que o

desenvolvimento da inteligência depende essencialmente de como cada criança faz

as diferenciações com a realidade exterior. Visto que, ao mesmo tempo em que suas

idéias são lineares, elas se misturam, ocasionando um conflito permanente entre dois

mundos, o interior, povoado de sonhos e fantasias, e o real, cheio de símbolos,

códigos e valores sociais e culturais. É através da busca pela solução dos confrontos

que a inteligência evolui. O sincretismo, que é bastante comum nessa fase, é fator

28

determinante para o desenvolvimento intelectual, e, a partir daí, se estabelece um

ciclo constante de boas e novas descobertas.

Para Almeida (p. 83,2004), “a inteligência costuma ceder aos caprichos da

emoção, pois sempre que esta se exprime, suprime a atividade intelectual e reduz

para si todas as disponibilidades do sujeito”. Ela enfatiza que o grande desafio é

tentar manter um nível de equilíbrio entre a razão e a emoção para que não haja um

comprometimento na realização de qualquer atividade do sujeito. Porém, indaga que,

“se, por um lado, o único modo de se produzir

intelectualmente é diminuindo a intensidade do estado

emotivo, por outro lado, será que esses surtos emotivos que

acometem os indivíduos não são benéficos para as

elaborações intelectuais e para a própria sobrevivência

desses indivíduos?”

Uma vez visto que os conflitos são essenciais para a extensão da

personalidade do sujeito, nota-se que os surtos emotivos são benéficos, pois

estimulam o desenvolvimento dos indivíduos à medida que ultrapassá-los irá exigir

uma conduta serena, o equilíbrio entre a razão e a emoção.

De acordo com esta autora,

“a emoção instiga a inteligência toda vez que a

ameaça com sua insubordinada presença na atividade do

conhecimento.A inteligência, por sua vez, necessita das

tormentas da emoção para ser estimulada a se desenvolver.

A emoção impõe à inteligência o desafio de superá-la,

instigando-a ao uso de todas as habilidades e capacidades

lógicas do indivíduo (ALMEIDA, p.88, 2004).”

Como vimos, há uma estreita relação de complementaridade entre afeto e

inteligência. Ao passo em que uma se desenvolve, a outra a acompanha. No capítulo

seguinte veremos a concepção de Wallon sobre a formação do sujeito.

29

CAPÍTULO IV

A CONSTRUÇÃO DA PESSOA EM WALLON

Wallon (apud Galvão, 2002) elaborou uma teoria pedagógica onde a criança

deveria receber uma formação integral, ou seja, intelectual, afetiva e social. Nesta

teoria, há quatro elementos básicos que relacionam-se visando a autonomia: a

afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa. A teoria

do desenvolvimento cognitivo de Wallon é centrada na psicogênese da pessoa

completa, onde para ele não é possível dissociar o biológico do social no homem.

Pensando no desenvolvimento humano, estudou-o a partir do

desenvolvimento psíquico da criança, que aparece de forma descontínua, marcado

por contradições e conflitos, provocando alterações qualitativas no seu

comportamento em geral.

A passagem dos estágios de desenvolvimento não se dá linearmente, mas por

reformulação, instalando-se no momento da passagem de uma etapa a outra, crises

que afetam a conduta da criança.

Os cinco estágios de desenvolvimento do ser humano apresentados por

Galvão (2002) sucedem-se em fases com predominância afetiva e cognitiva:

Impulsivo-emocional - que ocorre no primeiro ano de vida. A predominância

da afetividade orienta as primeiras reações do bebê às pessoas. O recém-nascido não

se identifica como indivíduo diferenciado, não sendo capaz de distingüir o seu corpo

das superfícies exteriores. É através das interações sociais que é feita a identificação

e distinção entre o eu e o outro. Dependência total – a resposta motora aos estímulos

é uma resposta reflexa. Os reflexos podem ser mais adaptados ao seu objeto, ou

manifestados através de grandes descargas impulsivas (sem o menor controle sobre

essas respostas).

Sensório-motor e projetivo - que vai até os três anos. Neste estágio o ato

precede ao pensamento.A criança passa a ter uma maior autonomia na manipulação

de objetos e na exploração dos espaços. Também, nesse estágio, ocorre o

desenvolvimento da função simbólica e da linguagem. Através da interação com os

30

objetos e com o seu próprio corpo, a criança experimenta a diferença de sensibilidade

existente entre o que pertence às superfícies exteriores e o que pertence a seu próprio

corpo. Passa a ocorrer uma diversificação da atividade sensório motora – o

surgimento do andar. Nesta fase, Wallon (Galvão, 1993) dá uma grande importância

à imitação. Esta não é mais que a repetição de um gesto executado por ela própria

como forma de resistência de uma excitação recente e facilmente renovada no

aparelho psicomotor. A imitação é bastante importante para a aquisição de novas

aprendizagens (identificação).

Personalismo - ocorre dos três aos seis anos. Nesse estágio desenvolve-se a

construção da consciência de si mediante as interações sociais, reorientando o

interesse das crianças pelas pessoas. “Confundindo o meu com o eu a criança busca,

com a posse do objeto, assegurar a posse de sua própria personalidade” (GALVÃO,

2002, p.54). De acordo com Galvão (2002), há três períodos na evolução do EU:

conscientização da sua própria pessoa (personalidade polivalente); afirmação

sedutora da personalidade (com choques de sentimentos) e período de imitação –

troca de amizades com facilidade, idade dos grupinhos, das exclusões.

Categorial - os progressos intelectuais dirigem o interesse da criança para as

coisas, para o conhecimento e conquista do mundo exterior.

Predominância funcional - ocorre nova definição dos contornos da

personalidade, desestruturados devido às modificações corporais resultantes da ação

hormonal. Questões pessoais, morais e existenciais são trazidas à tona.

Cada fase predominante (de dominância, afetividade, cognição), incorpora as

conquistas realizadas pela outra fase, construindo-se reciprocamente, num

permanente processo de integração e diferenciação.

4.1 - A questão da “imitação” vista por Wallon

A construção do eu na teoria de Wallon depende essencialmente do outro.

Seja para ser referência, seja para ser negado. Principalmente a partir do instante em

que a criança começa a viver a chamada crise de oposição, em que a negação do

outro funciona como uma espécie de instrumento de descoberta de si própria.

Manipulação, sedução e imitação do outro são características comuns nessa fase.

31

As repetições parecem sugerir que as crianças comportam-se dessa maneira

no intuito de assegurar-se de um saber. Repetir nada mais é do que uma forma de

imitar o co-específico. As freqüentes repetições sugerem que a criança ao observar e

repetir a resposta de um adulto pelo qual guia-se como uma referência, está

referendando o que foi dito sem correr o risco de "errar".

A imitação é entendida como a gênese de comportamentos. É pela imitação

que se integra um modelo social. Neste conjunto de gestos e de símbolos, o

movimento está cheio de um grande número de representações. É pela imitação que a

criança se apropria dos dados sociais que são fundamentais para o seu

desenvolvimento.

A criança, ao imitar a mãe, tem que reter a imagem do gesto, da postura ou da

mímica facial e só depois é que a imitação surge como espelho. A criança se

interessa pelas ações do adulto, imitando-as, mas não consegue estabelecer conexões

internas entre as várias operações, isto é, a criança sabe o que fazer, mas não como o

fazer.

A gênese da imitação segundo Wallon, (apud Fonseca e Mendes, 1988) passa

por várias etapas:

1. Contato magnético – motor (empático) com o modelo social pela

realização de movimentos tentativa, expressos por impulsos livres embora

descoordenados e desorganizados;

2. Integração mais controlada e sistematizada dos modelos expressa por

uma reprodução gestual mais fiel e ajustada (regulada);

3. Reprodução semelhante do modelo social;

4. (Re) criação do modelo já com gestos originais de complemento, isto

é, gestos exteriores ao modelo (por gestos próprios da criança).

Imitar os outros e imitar-se (repetir-se a si próprio) são comportamentos

fundamentais para a diferenciação do próprio comportamento. A imitação tem um

aspecto lúdico, altamente utilitário e um grande significado social. É pela imitação

dos outros, principalmente dos mais velhos, que a criança se transforma, ou se forma,

num ser social. Ao imitar, a criança identifica-se e participa nos modelos sociais.

32

Essa primeira fase das trocas entre indivíduos e com o mundo em geral

corresponde a um tipo de inteligência denominada por Wallon de inteligência das

situações, de onde emerge a inteligência discursiva, cuja manifestação inicial é a

representação. A imitação é o elemento responsável pela superação de um tipo de

inteligência pelo outro (inteligência das situações e inteligência discursiva).

A criança toma atenção à finalidade das ações, não conseguindo isolar as suas

variáveis. Interessa-se mais em obter resultados, mesmo que para isso tenha que

recorrer a movimentos pouco diferenciados. Ela está fundamentalmente interessada

na ação e só mais tarde se interessará (por razões do seu desenvolvimento cognitivo),

pela planificação e compreensão da ação. Por esse motivo, que o adulto que convive

com a criança deve ter plena responsabilidade de seus atos e seu comportamento,

pois nessa fase a criança tende a imitar sem refletir se está correto ou não.

4.2 - As emoções

Wallon (apud Galvão,2002) passou a criticar as concepções das teorias

clássicas sobre a dimensão afetiva que, a seu ver, eram pautadas numa lógica

mecanicista e linear, e rompeu com uma visão valorativa das emoções, buscando

compreendê-las a partir da apreensão de suas funções, e atribuindo-lhes um papel

central na evolução da consciência de si. Passa a conceber as emoções como um

fenômeno psíquico e social, além de orgânico.

Na perspectiva de Wallon (ibid), inteligência e afetividade estão integradas: a

evolução da afetividade depende das construções realizadas no plano da inteligência,

assim como a evolução da inteligência depende das construções afetivas. No entanto,

o autor admite que, ao longo do desenvolvimento humano, existem fases em que

predominam o afetivo e fases em que predominam a inteligência.

Quando nasce uma criança, todo contato estabelecido com as pessoas que

cuidam dela são feitos via emoção; ela manifesta corporalmente o que está sentindo.

Quando há o predomínio da função afetiva, neste momento estamos voltados para

nós mesmos, fazendo uma elaboração do EU.

33

O período emocional corresponde ao predomínio da motricidade expressiva

que a manifesta. Ante de modificar o ambiente físico, o movimento atua sobre o

meio humano em forma de comunicação. O primeiro instrumento usado pela criança

é o adulto e, neste sentido, ela é um ser social.

34

CONCLUSÃO

Para que a criança possa desenvolver-se cognitivamente, mentalmente,

socialmente e intelectualmente, é fundamental que ela tenha uma boa produtividade

no campo afetivo, pois todos esses aspectos estão interligados, e não havendo uma

boa progressão em uma dessas áreas poderá prejudicar no desenvolvimento das

outras.

Um bom mundo interno surge de uma relação satisfatória com os pais

internalizados que se refletirá, naturalmente, nas suas relações com outros grupos que

favoreçam uma relação afetiva, inclusive a escola.

É importante observar e estimular as relações afetivas da criança, sempre lhe

proporcionando um contato amplo com o mundo externo, quer seja com seus pais,

seus amigos ou seus professores. Deve-se ter muita cautela com os exemplos que se

deseja passar para as crianças, pois elas procuram absorver aquilo que elas vêm

ocorrendo no dia-a-dia com as pessoas que se relacionam, não tendo ainda

capacidade de identificar precisamente o que é correto ou não.

Ao nos formarmos como Psicopedagogos, buscamos atuar como agentes

transformadores, visando uma melhor qualidade das relações afetivas às quais a

criança está exposta, uma vez que estas relações irão influenciar na formação de seu

comportamento.

35

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Papirus, 2004.

CARMO, Célio Assis do. Criança hoje: como educar os filhos em sintonia com o

futuro. Rio de Janeiro: Revan, 2000.

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Paulo: Cortez, 1994.

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GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento

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MUSSEN, Paul Henry, CONGER, John Janeway, KAGAN, Jerome.

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NERY, Maria da Penha. Vínculo e afetividade. São Paulo: Agora, 2003.

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Paulo: Cortez, 2002.

PIAGET, J. A psicologia da criança. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

36

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WALLON, Henri. As origens do caráter na criança. São Paulo: Difel, 1971.

______________. A evolução psicológica da criança. Lisboa, Edições 70. 1968.

37

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

RESUMO 03

METODOLOGIA 04

SUMÁRIO 05

INTRODUÇÃO 06

CAPÍTULO I

DESENVOLVIMENTO AFETIVO

08

1.1 - A afetividade do bebê 10

1.2 - O vínculo da criança com seus pais 11

1.3 - Relação entre afeto e desenvolvimento social 13

1.4 - A construção da identidade 14

CAPÍTULO II

AS INFLUÊNCIAS DA ESCOLA NO DESENVOLVIMENTO DA

AFETIVIDADE

16

2.1 – O ambiente físico da escola 16

2.2 - Influência dos professores sobre as crianças 18

2.2.1 - O posicionamento do professor frente às emoções 20

2.3 – Organização da classe 22

2.4 - A relação criança-criança 23

CAPÍTULO III

O AFETO E A INTELIGÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

25

CAPÍTULO IV

A CONSTRUÇÃO DA PESSOA EM WALLON

29

4.1 - A questão da “imitação” vista por Wallon 30

4.2 - As emoções 32

38

CONCLUSÃO 34

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 35

ÍNDICE 37

FOLHA DE AVALIAÇÃO 39

39

FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Instituto de Pesquisa Sócio-Pedagógicas

Pós-Graduação “Lato Sensu”

Título da Monografia:

A importância das relações afetivas na formação da criança

Autor:

Cristiane de Oliveira Carneiro_

Data da entrega:

30/JULHO/ 2005_

Avaliado por: Ana Cristina Guimarães_ Conceito:______

Rio de Janeiro_____de___________________de_______

_________________________________

Coordenador do Curso