universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo … · da criança de 0 à 2 anos na educação...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NO CURRÍCULO DA
CRECHE
Por: Bárbara Francisca de Lemos
Orientador
Profª. Geni Lima
Rio de Janeiro 2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NO CURRÍCULO DA
CRECHE
Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para a conclusão do curso de pós- graduação em Orientação Educacional e Pedagógica. Por Bárbara Francisca de Lemos
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AGRADECIMENTOS
A Deus que deu-me a oportunidade e perseverança
para concluir mais essa etapa de minha vida.
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DEDICATÓRIA
À minha família e amigos, que diante do meu
esmorecer estenderam a mim todo seu otimismo e
fizeram-me acreditar nesta minha grande vitória.
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RESUMO
Este trabalho tem como tema a importância da música no currículo do
segmento Creche da Educação Infantil que atende crianças de 0 a 3 anos.
Tem como objetivos mostrar que quando falamos em educação nos
referimos ao desenvolvimento do indivíduo como um todo, em todos os
aspectos, o social, o da preservação da saúde, o cognitivo, o psicomotor, o
psicológico, tendo como objetivo inseri-lo em sua vida social e interagir na
mesma. E a música pode auxiliar no desenvolvimento de vários desses
aspectos e assim participar na facilitação do processo ensino aprendizagem
visando também as idéias de Piaget que enfatiza a atividade do educando e a
estruturação do ambiente escolar que deve corresponder à características
pessoais do aluno como seus interesses, sua personalidade e seu
conhecimento cotidiano.
Foram usados como principais teóricos Jean Piaget e Teca Alencar de
Brito, educadora musical com mais de vinte anos de experiência com crianças
pequenas e relatora do Documento de Música do Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil.
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METODOLOGIA
Pesquisar as diversas formas de utilização da música no
desenvolvimento e no processo ensino aprendizagem da criança de 0 à 2 anos
na Educação Infantil, subsidiando-se em teóricos que falam do
Comportamentalismo ao Lúdico que está presente no objetivos do uso da
música na prática pedagógica. Fazendo sempre uma relação com a prática
narrando vivências e refletindo sobre as mesmas.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I – OLHAR ATENTO À MÚSICA NA EDUCAÇÃO 12
CAPÍTULO II – A MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA 18
CAPÍTULO III – AS MÚSICAS DA MÚSICA 25
CAPÍTULO IV – SOBRE O REPERTÓRIO 29
CONCLUSÃO 33
BIBLIOGRAFIA 37
ATIVIDADES CULTURAIS 39
ANEXOS 40
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INTRODUÇÃO
No início do nosso trabalho com a educação infantil, como recreadoras
em uma creche comunitária, carente não só de recursos humanos,
econômicos, mas também de recursos pedagógicos, sentimos a necessidade
de buscar atividades pedagógicas que despertassem a atenção e o interesse
daquelas crianças que não eram estimuladas a se desenvolverem nos diversos
aspectos possíveis e essenciais que são a base para o cumprimento pleno dos
outros módulos da educação básica.
Nessa busca vimos na música uma das linguagens mais ricas e
contagiantes de aprendizagem para crianças não só da Educação Infantil,
como também em outras fases da educação. Hoje, depois de cinco anos de
prática, trabalho e pesquisa acompanhamos como professoras o trabalho de
outras recreadoras em duas creches diferentes, e junto a essas profissionais
trabalhamos para que também tenham esse olhar didático e especial sobre
esse recurso precioso que temos em mãos.
Com a música podemos trabalhar o corpo ludicamente, envolvendo o
faz-de-conta que está sempre presente no seu dia-a-dia e trazendo o cotidiano
delas para o nosso convívio, nos dando a oportunidade de nos apropriarmos
disso para atender a todo o momento suas necessidades, estimulando e
partindo dos interesses da criança.
Quando falamos em educação nos referimos ao desenvolvimento do
indivíduo como um todo, em todos os aspectos, o social, o da preservação da
saúde, o cognitivo, o psicomotor, o psicológico, tendo como objetivo inseri-lo
em sua vida social. A música pode auxiliar no desenvolvimento de vários
desses aspectos e assim participar na facilitação do processo de ensino e
aprendizagem visando também as idéias de Piaget que enfatiza a atividade do
educando e a estruturação do ambiente escolar que deve corresponder à
características pessoais do aluno como seus interesses, sua personalidade e
seu conhecimento cotidiano.
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A receptividade da música é um fenômeno corporal, onde a criança
desde pequena já expressa por meio do ritmo, mesmo que este não seja
convencional. É a partir da relação entre gesto e som que a criança constrói
seu conhecimento. Ela usa espontaneamente os gestos ao sabor da sensação
que eles despertam. Schaeffer (in Jeandot, 1971) considera o princípio de
repetição e variação fundamental na música da mesma forma que Jean Piaget
(in Jeandot, 1971) o considera para o desenvolvimento da criança. Por
exemplo: quando uma criança bate uma caneca ou um objeto qualquer por
diversas vezes repetindo os movimentos, a cada repetição elas buscam a
renovação da sensação provocada e também quando os varia
intencionalmente, para experimentar e estudar os resultados dessas variações.
A nós adultos cabe compreender em que medida a música constitui uma
possibilidade expressiva para a criança, estando a mesma sendo privilegiada,
uma vez que atingida diretamente sua sensibilidade afetiva e sensorial.
A música é uma forma de linguagem e linguagem não é só fala mas é
também um gesto, uma produção do corpo. Com ela a criança pode perceber-
se no mundo aprendendo e interagindo com o outro e consigo mesma nas
atividades grupais onde percebe que depende do outro. E como é sempre
curiosa pesquisando e explorando diversas maneiras de linguagem, percebe
que seu corpo é o seu principal instrumento de pesquisa e exploração e que é
através dele que pode participar, integrar-se e interagir com o mundo.
Estabelecendo relações objetivas entre certos fatos do ambiente e certas
atitudes da criança, poderemos interferir nessas relações de maneira a obter
comportamentos desejáveis. Nos estudos de Pavlov, Watson e Skinner (in
Cunha, 2000) que aborda o Comportamentalismo podemos ver um significado
na educação de promoção de aprendizagem com ganhos evidentes para os
alunos e professores e para o sistema de ensino. Watson considera ser
possível transformar o indivíduo por meio da educação, naquilo que
desejamos, dependendo tão-somente de fatores condicionantes. Como na
creche um dos objetivos é criar hábitos na criança para interagir sobre si
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mesma e inserí-la ao meio social, a música pode se tornar um aliado nessa
ação proporcionando prazer relacionando todos os aspectos do aprendizado.
Watson tem realmente razão quanto ao atos condicionantes porém deixa
de lado as variações que existe nas relações humanas. Skinner então vem com
sua teoria dizendo que mais que o condicionamento puro e simples, nosso
comportamento é resultante de interações que mantemos com o nosso
ambiente também sendo, nós, capazes de modificar os reforçadores de
aprendizagem, o estímulo ambiente que almejamos.
No entanto, para Piaget o conhecimento só é possível quando há a
relação sujeito e objeto. O objeto motiva o sujeito a se apropriar dele
conhecendo, buscando, explorando. A música (objeto) então desperta a
atenção das crianças (sujeito) ao que vai ser ensinado.
A música também atende à necessidade lúdica da criança, nas
diferenças individuais, enriquecendo sua aprendizagem, o repertório infantil e
proporcionando várias formas de recrear que com seu uso adequado podemos
desenvolver vários aspectos na criança através de uma situação muito
agradável e interessante ao olhar dela.
Pretendemos então, neste trabalho, pesquisar as diversas formas de
utilização da música no desenvolvimento e no processo ensino aprendizagem
da criança de 0 à 2 anos na Educação Infantil, subsidiando-se em teóricos que
falam do Comportamentalismo ao Lúdico que está presente no objetivos do uso
da música na prática pedagógica. Farei sempre uma relação com a prática
narrando vivências e refletindo sobre as mesmas.
No primeiro capítulo, destacaremos a música com um valioso recurso
para a educação, onde por muitas vezes se perde propriedades
importantíssimas inerentes a ela. Dando continuidade, tratarei no segundo
capítulo .da provocação de sensações, sentimentos, movimentos que surgem
da música quando utilizada de forma consciente pelo educador com o objetivo
de desenvolver a criança integralmente.
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No terceiro capítulo faremos um análise da música no contexto da
escolar por meio de atividades desenvolvidas nas turmas de berçário crianças
de 0 a 2 anos como uma forma de refletir sobre as possibilidades de vivências
com esse material.
O quarto capítulo tratará da necessidade da ampliação do repertório
infantil enfatizando o gosto e a descoberta musical como uma construção social
e cultural.
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CAPÍTULO I
OLHAR ATENTO À MÚSICA NA EDUCAÇÃO
Em uma das creches na qual foram baseadas as observações não tem
um projeto pedagógico, sofre com a falta de funcionários e com a falta de
recursos. A recreadoras do maternal I, onde fizemos observações diariamente,
só conseguiam realizar no espaço da creche rotinas como a das refeições,
banho e recreação livre que implanta no momento em que assiste alguma
criança.
Nesse contexto assistencial a música entrava com um caráter
tradicionalista. Enfatizavam a reprodução e o ouvir sem reflexão, utilizando-se
de canções de comando, utilizadas como forma de criar ou reforçar
comportamentos, ou aliar-se a datas comemorativas.
O repertório musical é limitado à produção infantil, a despeito de sua
qualidade, e aos “sucessos” veiculados pela mídia, submetendo-se a música
aos conteúdos considerados prioritários, desconsiderando o contexto global
dos conteúdos desenvolvidos nas outras áreas do conhecimento.
Nos sentimos profundamente incomodados com esta situação e
partilhando deste incômodo resolvemos, criar um projeto para integrar o caráter
pedagógico com o caráter assistencial, pois na criança, sua identidade, seus
conhecimentos, sua percepção do mundo, seus valores e até as diretrizes
curriculares se fazem onde os dois aspectos estão fundidos em um só. Como
ponto de partida propomos sensibilizar as recreadoras sobre o assunto
convidando-as para vivenciar a música no contexto da educação infantil.
Em uma atividade numa das creches observadas, as recreadoras
resolveram, para “acalmar” as crianças, cantar a música do sapo (Anexo 1). De
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início percebemos que algumas já conheciam e agiam diante desse estímulo
sonoro. Durante a música nós fazÍamos interrupções para que eles
continuassem a cantar e sugeríamos alguns movimentos. Percebemos então
que cada um com seu jeitinho experimentava algumas palavras e movimentos.
Isso nos fez repetir essa atividade e a cada repetição se ampliavam suas ações
e gradativamente, surgiam novos desdobramentos: pulamos e falamos
imitando o sapo. Falar igual ao sapo nos levou a uma dúvida: seria “croc croc”
ou “ueb ueb”?
Resolvemos pesquisar e procurar no jardim o sapo. Não o achamos,
pois descobrimos em uma revista que o sapo vive em beira de rio, mas vimos
as plantas, as flores de cor amarela igual a cor da gema do ovo que comemos
no almoço. Fomos procurá-lo em um livro e vimos que o sapo tem dois olhos
redondos igual a uma bola, muito diferente do nosso, e come mosca. Não
parou por aí. |A cor do sapo é verde e sua pele é lisa igual ao papel 40 Kg que
usamos para fazer uma linda colagem. Relembrando a música, a cantamos
novamente fazendo “ueb ueb” igual ao sapinho de espuma que falava, que
uma amiga da turma trouxe.
Nessa ocasião a música nos levou a trabalhar com diversas áreas do
conhecimento. Ao cantar se facilita o processo de aprendizagem oral, ouvir e
ver um conjunto de combinações de palavras repetidamente como em músicas
sem letras, usando fonemas como “bam bam”, “qui qui” “ka ka”.
Assim percebemos que não se explora a música como um todo, levando
em conta sua história e época que marca sua produção cultural, ou seja, a
situação em que foi produzida, quem a produziu e porque.
Por isso, quando pensamos em educação integral da criança de 0 a 3
anos temos que pensar em suas necessidades, utilizando assim, a música a
fim de garantir a expressividade, da criança ao familiarizar-se com a imagem
do próprio corpo, interessando-se pelo cuidado com ele, o brincar e a
convivência em grupo. Nesse sentido, as atividades musicais devem ser
propostas de forma a não somente estimular o gosto pela música, como
também um movimento criativo por parte da criança.
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Então podemos dizer que a musica é fonte de alegria, prazer,
sentimento, conhecimento, cultura, tudo que traduz o ser humano. A escola é
lugar de seres humanos, seja eles alunos ou funcionários, professores.
Nossa vida é musical, existem os sons do cotidiano como os sons da
campainha, do motor do carro, dos passos do papai ou da mamãe chegando
em casa, as vozes que tem no nosso ambiente. O ambiente escolar tem todos
esses sons e esses devem também serem aproveitados por fazerem parte do
cotidiano escolar.
È preciso que a criança seja habituada a expressar-se musicalmente
desde os primeiros anos de vida, para que a música venha se constituir em
algo permanente em seu ser. Cabe ao professor encontrar o meio de, através
do ritmo, do timbre musical e da melodia, fazer com que as crianças busquem
contato com o outro, o ambiente.
O som e o ritmo juntos, podem despertar a sensibilidade da criança,
provocar nelas reações de cordialidade e entusiasmo, chamar a sua atenção,
estimular vontades e consolidar a ação educativa. Assim como também pode
representar um meio do educador compreender a criança, por meio de suas
vivências criativas e rítmicas, pois essas dizem muito traduzindo mudanças
ocorridas durante suas experiências.
Assim como as atividades de musicalisação a prática do canto também
traz benefícios para aprendizagem, por isso deveria ser mais explorada na
escola,. Cantar pode ser um excelente parceiro de aprendizagem., contribui
È oportuno lembrar que as sensações desagradáveis levam o indivíduo a evita-las, enquanto que as sensações agradáveis levam o indivíduo a repeti-las. Assim, sempre que se fizer acompanhar de música, a apredizagem será certamente agradável... (VALLE, 1998, p. 47)
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com a socialização, na aprendizagem de conceitos e descobertas do mundo.
Tanto no ensino das matérias quanto nos recreios cantar pode ser um veículo
de compreensão, memorização ou expressão das emoções. Além disso, o
canto também pode ser utilizado como instrumento para pessoas aprenderem
a lidar com a agressividade.
A experiência com a música antes do aprendizado do código
convencional é muito importante. Num trabalho pedagógico, entende-se a
música como um processo contínuo de construção que envolve perceber,
sentir, experimentar, imitar, criar e refletir. Apesar de excluir de seu comentário
a linguagem, Piaget cita em sua obrao período da lactação como “ Não menos
decisivo para toda a evolução psíquica ulterior: consiste nada menos que em
uma conquista, através das percepções e dos movimentos, de todo o universo
prático que rodeia ao menino pequeno.” (PIAGET, 1954 p. 73)
É um movimento comprometido com os processos criativos. A
linguagem musical define-se pela criação de formas sonoras com base nos
opostos e existe em tipos variados: tom, ruído e mescla. Além disso diferentes
modos lúdicos convivem no interior de uma mesma peça.
Podemos relacionar as formas de jogo infantil piagetianas com as três
dimensões presentes na música: sensório, motor, simbólico e com regras. Para
traze-la para a sala de aula é preciso atenção ao modo como as crianças se
relacionam com ela em cada fase de seu desenvolvimento.
Baseando-se ainda na teoria de Piaget em anologia aos estágios de
atividade lúdica se classificam as condutas da vivência em três categorias: a de
exploração ou manipulação de objetos que produzam ruído, dos oito meses até
os cinco anos; a de expressão que representa o jogo simbólico na criança, dos
cinco até os dez anos; e, a de construção que é a preocupação e m organizar a
música, da-lhe forma dos seis aos sete anos, quando a criança passa a
respeitar as regras no jogo, como as brincadeiras cantadas. Dessa maneira, a
expressão musical infantil segue uma trajetória que vai do impreciso ao
preciso. Entre os dois ou três anos, pode-se variar a velocidade, intensidade,
explorar e realizar sons de diversas alturas, de diferentes durações, sem a
orientação de pulso regular.
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Na educação infantil, observa-se a valorização de práticas que excluem
a criação. A música é linguagem cujo conhecimento se constrói com base em
vivências e reflexões orientadas. Todos devem poder tocar um instrumento,
através dessas práticas valorizadas pelo processo construtivo. Essa produção
deve ocorrer através de dois eixos, a criação e a reprodução que garantem três
possibilidades de ação: a interpretação, a improvisação e a composição. Na
escola é necessário que a linguagem musical comtemplem: o trabalho vocal;
interpretação e criação de canções; brinquedos cantados e rítmicos; jogos que
reúnem som, movimento e dança; jogos de improvisação, sonorização de
histórias elaboração e execução de arranjos; construção de instrumentos e
objetos sonoros; registro e notação; escuta sonora e musical, reflexões sobre a
produção e a escrita. Também é preciso reunir diversas fontes, produzindo com
as crianças um grande acervo, assim, a criança pode se sentir parte do
processo de criação e reproduzir a trajetória humana em busca da construção
de seus instrumentos.
Já, no trabalho com a voz, “A aprendizagem da voz cantada possui uma
relação coma a voz falada, no que se refere ao processo inicial de
aperfeiçoamento dessas duas habilidades (NOGUEIRA, in SOUZA E
TOGNOZZI (ORG.) p 13, 2002) e o professor é uma referência, desenvolve-se
um grande vínculo afetivo ao cantar para e com as crianças. Cantando
coletivamente, aprende-se a ouvir-nos e aos outros e desenvolver alguns
aspectos como atenção, cooperação e espírito de coletividade.
Elas também precisam ser incentivadas a improvisar e inventar canções.
Assim, se ampliará seu universo. No RCNEI ressalta-se a importância dos
brinquedos musicais. “Hora da história” é um importante momento para o
processo de educação musical pois podemos interpretá-la usando o recurso da
voz para ilustrar sonoramente a narrativa pode-se usar objetos ou matérias
sonoros utilizando a sonoplastia. Já, para conta-las usando instrumentos, estes
podem servir à sonoplastia imitando o efeito sonoro real além do mais, a
história pode servir de roteiro para o desenvolvimento de um trabalho musical.
No entanto deve- se atentar que essa fase não é apropriada para o registro de
notações musicais. Porém, é possível trabalhar o conceito de registro, a partir
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de atividades significativas que construam sentidos a partir da apropriação de
sons. Sua observação e sua análise revelam um modo as crianças percebem e
se relacionam com os efeitos sonoros. Ação e recepção se a partir da atividade
de escuta conciente e análise.
Cabe ao educador pesquisar obras que tenham afinidades com
trabalhos infantis produzidos ampliando seu universo musical. A avaliação
nesta área deve ser remetida aos conteúdos trabalhados. O aluno deve ser
comparado a ele mesmo no processo de formação. Diversas habilidades e
competências estão em jogo. Também é importante que seja feita a proposta
de auto-avaliação.
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CAPÍTULO II
A MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
“A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, completando a ação da família e da comunidade.” (LDB, lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996)
Considerando que a criança constrói o seu conhecimento das coisas do
mundo de forma ativa, na interação que estabelece com o mundo, pode-se
concluir que é através de sua “ação musical” que a criança vai construindo seu
conhecimento a respeito da música e junto com isso obtém as contribuições
para o seu desenvolvimento em geral.
As atividades a serem realizadas em turma estão subordinadas aos
objetivos e aos conteúdos a serem trabalhados, bem como aos interesses das
crianças. Devem guardar alguma relação de continuidade entre si, além de se
articular com os temas que são trabalhados pelos coordenadores de turma.
A música é movimento e nos convida a movimentar-nos também. Vem
de vibrações de corpos materiais, penetra no nosso ouvido provocando
vibrações que nos causam sensações sonoras.
Desde muito cedo as crianças reagem a uma música tocada ou cantada,
ou ainda, a uma simples marcação rítmica, balançando o corpo, batendo
palmas ou batendo o pé no chão. Com o tempo essa reação se traduz em
movimentos mais complexos, incluindo a dança.
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Durante o primeiro ano de vida o bebê conhece e experimenta o mundo
por meio de suas vivências sensoriais, ele é abraçado pela mãe, pelo adulto
ação que contribui para que ele delimite seu corpo, ele ouve e entende o que
falam pra ele através do tom de voz, da entonação, das expressões que ele vê,
mama e leva objetos à boca utilizando –se do oral e com a música não é
diferente. Quantas vezes percebemos os bebês procurando algum som quando
ele o ouve, vemos o sorriso deles quando é movimentado no colo do adulto.
Nesse momento, como durante outras ações, o adulto vai ser o meio
pelo qual o bebê vai ter seu contato com a música. Colocar músicas para ele
ouvir, cantar pra ele, dançar com ele no colo permitindo que ele sinta o
movimento provocado por esse estímulo por meio do nosso corpo. Aos pouco
percebemos as sensações que são provocadas quando os bebês vivenciam
esse tipo de atividades. Eles procuram o som emitido, reconhecem a voz do
adulto que fala ou canta, sorriem, balbuciam, emitem som como se quisessem
acompanhar o canto ou a fala, o que contribui de maneira significativa para o
desenvolvimento lingüístico e cognitivo. O balbucio é uma expressão sonora
considerada como primeira manifestação relacionada ao desenvolviemnto do
canto. (NOGUEIRA, in SOUZA E TOGNOZZI (ORG.) p 13, 2002)
Na faixa de mais ou menos doze meses até os dois anos e idade essa
movimentação que acontece pelo estímulo da música já acontece mais pela
exploração de suas possibilidades corporais, mexem os bracinhos, a cabeça,
batem ou balançam objetos sonoros experimentando os sons produzidos por
suas ações. As vias de conhecimento continuam a ser sensórias, porém se
amplia com os deslocamentos não sendo totalmente necessário o corpo do
adulto. Nesse momento eles já acompanham o canto, mesmo que com
palavras que não entendemos, imitam tanto palavras e sons como alguns
movimentos demonstrando conhecimento e prazer pelo repertório.
Entre os 24 meses e 3 anos de idade eles já cantam as músicas
utilizando-se da imitação e da apropriação das ações de cantar e de
movimentar-se do adulto, e a partir daí criam, inventam e experimentam. È
muito interessante que durante essas atividades se tenha um espelho para que
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a crianças observem a si mesmas e os outros estimulando esse conhecimento
do seu corpo e do outro, das possibilidades de movimentos do seu corpo e da
relação desse movimento com o espaço e sensações da música. Ouvir, cantar,
ouvir e cantar, ouvir, cantar e dançar, são ações diferentes e importantes.
Nessa fase comumente, as crianças começam a fazer representações, do que
é falado, do que é ouvido. O objeto, no caso escutado, nem sempre precisa
estar presente. Estimular e trabalhar essa possibilidade da representação do
real também é abordado a medida que se escuta e entende a musica. Durante
uma atividade onde cuidávamos da horta de temperos da escola, vimos,
cuidamos e conhecemos o alecrim. Ao ouvir o nome da planta uma aluna
cantou a música “Alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser
semeado...” o que gerou outras várias problematizações.
Quando vemos as possibilidades que se tem de trabalhar com a música,
a vemos transpassar por entre as a áreas da lingüística, do cognitivo, da
psicomotricidade e da afetividade. Nossa função como educadores é adequá-la
as idades e aos objetivos, tendo consciência de que apesar de esperarmos
certas ações por conta da idade, não existe um tempo certo para que o
desenvolvimento infantil aconteça. Temos que levar em conta que cada criança
tem seu ritmo seu tempo pra desenvolver-se.
Na medida em que a criança se lança à exploração dos instrumentos
rítmicos e de outros objetos do seu meio, ela tem a possibilidade de
desenvolver não apenas a acuidade auditiva, pois percebe as diferenças entre
os sons que ela mesma produz, mas também desenvolve a coordenação
motora fina.
Segundo Piaget ,
“...partindo de sua própria experiência, com as vivências e os conhecimentos já conquistados, contextualizavam o fazer numa dimensão mais ampla e rica, refletindo, desde então, sobre a importância e o papel que a música tem no conjunto de valores constituintes da cultura humana.” (BRITO, p11)
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“ a criança (...) assimila uma parte de seu universo à sucção, a ponto que se poderia exprimir seu comportamento inicial dizendo-se que, para ele, o mundo é essencialmente uma realidade a sugar. È verdade que, rapidamente, o mesmo universo se tornará também uma realidade para se olhar, ouvir e logo que os movimentos próprios lhe permitam, para manipular. (PIAGET, 1954, p.17)
Observando o berçário percebemos que o movimento mais freqüente
das crianças é levar o instrumento à boca, que é uma das primeiras formas
do seu contato com o mundo. Observando as crianças de aproximadamente
10 meses percebemos que elas realizam uma espécie de jogo muito simples
que consiste em se alternar com o adulto no manuseio do instrumento.
Percebemos então que aos poucos, ela vai ampliando suas possibilidades
de exploração dos objetos por outras vias.
As cantigas infantis são também interessantes no desenvolvimento da
linguagem. Através do canto a criança tem a possibilidade de exercitar o
aparelho fonador e de ampliar ludicamente seu vocabulário. Desde muito
pequenos os gestos que acompanham os brinquedos cantados podem assumir
um papel de grande importância. E viver as cantigas associadas aos gestos, o
que revela a sua capacidade de evocar aquela experiência e pode ser
considerado o início de sua atividade simbólica.
No momento em que as crianças adquirem certas palavras que vão se
tornando significativas para ela, passam a repeti-las, a cantá-las de acordo
com suas possibilidades.
Esse proceder de repetição de gestos, trata-se de um exercício de
memória, que não está separado da atividade simbólica da criança. Esta mais
tarde, terá, para o exercício desta capacidade, a mediação da linguagem
verbal, ou seja, poderá traduzir em palavras a evocação de suas experiências.
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A música também contribui para o desenvolvimento sócio afetivo à
medida que possui um grande potencial para promover a integração da turma.
As atividades musicais, principalmente pelo seu caráter lúdico, possibilitam a
formação de um ambiente alegre na turma, aproximando as crianças umas das
outras. Além disso, permitem que as crianças desenvolvam a sua auto-
expressão e se alternem entre si numa eventual posição de destaque.
A aprendizagem acontece depois de vivências de prazer, atenção,
descontração, concentração e troca.
È na socialização que a criança encontra o outro, o mundo do outro, e
aprende a conviver , a respeitar, a repartir, partilhar afeto, de encontro, de
limites. Momento de orientação das vivências, porque estas farão para sempre
parte da sua vida.
Junto à afetividade, surge o prazer de estar com o outro e com o outro
construir uma relação de amizade, carinho, desejo de querer o bem, de estar
bem, e de juntos percorrer uma vivência cidadã que começa na infância.
Desse modo, a expressão vem como manifestação de idéias e sentimentos
traçados no movimento do corpo, no rosto com o choro ou o sorriso, a voz ao
cantar a música, aquela que nos dá a voz, a vez, que mostra no traçado do
rosto, no movimento do corpo, no pensamento que aparece neles.
A criança vivencia os conteúdos, os conceitos, os limite, as regras, a
disciplina através das brincadeira. Brincadeiras de roda, brincadeiras cantadas.
Brincando a criança conceitua, experiência, a criança vive, portanto a criança
não esquece. Ela internaliza o que deve ser aprendido, saboreando os
saberes.
Numa sala de creche é notável o poder que a música desempenha nas
capacidades de interesse, concentração, atenção, participação, socialização e
aprendizagem da criança.
Por meio da música a educação se realiza de maneira tranqüila,
prazerosa, levando a criança à compreender a importância das relações, da
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socialização, vivenciando o respeito ao próximo, o que se percebe num simples
momento quando uma começa a cantar e outra acompanha percebendo a
presença e ação do outro, desenvolve a autonomia e o senso crítico.
Compreendem o raciocínio lógico matamático, a necessidade de perceber e
respeitar os limites, fazendo crescer o senso rítmico no aprimorar os
movimentos, construindo a dicção, a linguagem a comunicação, enfim a
integralização da criança.
A música faz com que a educação seja um processo natural de
movimento, envolvimento e desenvolvimento e, não algo maçante e
massacrante, imposto à criança. A criança sente necessidade desse
movimento, dessa expressividade. A criança tem interrese por atividades
manuais e corporais principalmente nessa fase. Ela necessita de uma
comunicação que faça com que aprenda, sinta e viva, orientando-se e a
vivência da linguagem musica, permite à criança habitar e habilitar sua
ludicidade.
Muitas escolas trabalham ainda com a música como uma linguagem
apenas de datas, de apresentações, de movimentos prontos e repetidos,
fazendo dessa vivência, algo mecânico, sem sentido, com hora marcada. Essa
postura afasta as verdadeiras vivências e possibilidades que a música habita,
pois a música como linguagem cabe em qualquer lugar, a qualquer momento,
comandando atividades, proporcionando prazer, atenção, interação, através de
jogos rítmicos, pequenos versos cantados entre outros.
A criança precisa ser constantemente estimulada, para o
desenvolvimento de sua inteligência e a exploração de sua inquietação, pois é
por natureza, inquieta. Sente necessidade de correr, pular, brincar. Ela, tendo
espaço e e oportunidade, naturalmente executa os movimentos. Cabe à escola
oferecer espaço e momentos para continuar a possibilitar esse processo. A
escuta também deve ser trabalhada pelo professores da educação infantil, pois
é através da audição e da percepção que muitos conteúdos são apropriados
pelas crianças. A sensibilidade das coisas, a percepção, a discriminação e a
interpretação sonora têm grande importância na formação e constante
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transformação da criança.. Desenvolve a consciência de espaço e tempo,
como aspectos prioritários da consciência humana
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CAPÍTULO III
AS MÚSICAS DA MÚSICA
Música não é só melodia, ritmo ou harmonia, ainda que esses elementos estejam muito presentes na produção musical com a qual nos relacionamos cotidianamente. Música é também melodia, ritmo, harmonia dentre outras possibilidades de organização do material sonoro” (BRITO, 2003. P. 28)
A música é composta de ruídos, sons e silêncios, esses, que fazem
parte do nosso cotidiano. Por isso deve fazer parte da nossa educação, da
nossa vivência como ser humano compreender algo que convivemos desde o
início de nossa formação, lá no ventre de nossa mãe. Podemos perceber isso
dentro da escola ao despertar o interesse das crianças em procurar e perceber
os diversos sons do nosso cotidiano como por exemplo, os sons do próprio
corpo: as palmas, os sons que conseguimos fazer com a boca, o beijo, o
muxoxo, ou as tentativas de imitar outros sons como a campainha, o som que
um animal produz, o ranger de uma porta, os portões se abrindo Procurando
várias outras maneiras de reproduzir esses sons, não só com a boca mas
explorando também seu cotidiano. O trabalho com sucata para reproduzir
instrumento musicais é uma ótima forma de construir essa relação que atenta a
criança a compreender e interferir no mundo que a rodeia. Isso quer dizer que
antes de estudar música, ler partituras, é preciso criar formas de desenvolver
na criança uma educação musical que a permita amanhã ouvir música
criticamente discernindo a boa música na música ruim.
Música, para estar inserida na educação, deve-se ter o cuidado de trazê-la
por meio de diversas obras que possam ser significativas para o
desenvolvimento pessoal do aluno, acolhendo-a contextualizando-a em
26
atividades de apreciação e de produção. A música sempre esteve associada à
tradições e culturas de uma determinada época e essa diversidade permite ao
aluno a construção de hipóteses e relações durante a exploração e o
conhecimento do mundo em que vive. Interpretando a música as crianças
estabelecem os contextos onde os elementos da linguagem musical ganham
significado.
Durante um sub-projeto de uma escola que abordava a música afro-
brasileira, e estendia-se a toda a escola, de 0 a 6 anos, foi levado para as
atividades das turmas que, com bebês de idade de 4 meses à 2 anos, diversos
ritmos. O samba, o axé, a música africana, o reggae, o funk e o hip hop, a
ênfase a seus diferentes movimentos, vestimentas e acessórios característicos
de cada música, e também os instrumentos de percussão que ouvíamos
presentes em cada uma delas.
Nos surpreendemos ao ver as crianças imitando e produzindo diferentes
movimentos a cada ritmo à medida que observavam movimentação dos adultos
a sua volta. No reggae levantavam as perninhas, no samba mexiam os
pézinhos e dançavam com bonecas, no funk existia uma mistura de
movimentos com os braços e cabeça andando para frente e para trás e nas
músicas africanas com a sugestão de tirar os sapatos, batiam os pézinhos no
chão percebendo junto ao ritmo e o som que reproduzia o contato com os pés
no chão e outro movimento com os quadris, ombros e braços. No início esses
movimentos foram sugeridos e ao longo do tempo foram sendo reproduzidos e
apreendidos pelas crianças. Dizemos isso porque depois de um tempo ela
realizavam esse movimentos sem precisar de nenhuma intervenção a não ser
a sonora.
Com os bebês foi se desenvolvendo respostas ao estímulo musical que
percebiam. Davam largos sorrisos ao dançar no colo do adulto, batiam e
mexiam as mãozinhas e balançavam o tronquinho olhando para o adulto como
se estivessem chamando-o para olhá-lo dançar.
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Os acessórios foram manipulados e usados. Com a música “Com que
roupa” de Noel Rosa “vestiram-se” com filó colorido e chapéus para ir ao
samba e dançarem a valer. Em povos africanos vimos que pintavam o corpo e
se vestiam com tecidos bem coloridos. As crianças pintavam o corpo com tinta
preta e com tecidos bem coloridos e brincavam de se vestir fazendo vestidos
iguais aos deles.
Ao cantar a música percebia algumas palavras as quais tinham um
significado mais próximo para eles e trabalhamos com elas: neném, mamãe,
mama. A música Mama África de Chico César trouxe para eles a “mamadeira”
e como nossa “mama era África” propussemos que déssemos a mamadeira
para o “neném pretinho” ( bonecas de cor preta que existia em nossa casinha
de boneca).
Aos poucos fomos despertando a atenção das crianças ao som do fundo
da música, levando-as a pesquisar sons em alguns instrumentos de percussão,
percebendo os ritmos como os pandeiros e chocalhos. Primeiro tentamos imitá-
los produzindo sons com a nossa boca, depois experimentar sua intensidade
fazendo mais alto, mais baixo, mais devagar, mais rápido e por fim juntamos
nossa voz com a voz/som do instrumento. Não que ficássemos em harmonia
perfeita, mas estavam vivenciando uma produção, mesmo que não atendendo
a padrões musicais, mais que eram deles e que para eles tinham significado.
Além, é claro, de ser muito gostoso.
Em todas estas atividades destacamos o fator contexto, pois se estamos
falando de educação, e como já dissemos antes que a música é um rico
recurso escolar, devemos ficar atentos a explorar a história, as informações e
as inferências trazidas por ela.
Nas situações citadas anteriormente a música fez referências ao
conteúdos trabalhados com a idade em questão ao propiciar movimentos e ao
conscientiza-los sobre os mesmos. O desenvolvimento da fala e a ampliação
do vocabulário acontecia a medida que prazerosamente as crianças cantavam.
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Elementos culturais foram explorados e vivenciados a partir da motivação
sonora. Além do conhecimento de variados aspectos musicais.
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CAPÍTULO IV
SOBRE O REPERTÓRIO
O repertório deve partir da legítima música da cultura infantil e que
procura integrar variados gêneros e estilos musicais, de diversas épocas e
culturas. Existem também autores já conhecidos e trabalhados em algumas
escolas como Bia Bedran, Zé Zuca, Palavra Cantada que fazem um trabalho
totalmente direcionado à educação, tendo então para esse fim todos os
cuidados na construção de seu repertório. (Anexo 2)
Canções da MPB
È importante que as crianças conheçam nossos compositores : Caetano
Velozo, Dorival Caymmi, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Gilberto Gil e muitos
outros que mesmo que não tendo produzido pensando no universo infantil,
aproximaram-se do conhecimento da criança, enriquecendo a produção cultural
do país. Para as crianças é importante que faça parte da formação o
conhecimento dos compositores nacionais como constituidor da construção da
identidade delas
Cantigas de Roda
As cantigas infantis não fazem frente à modelagem ou a um tipo de
produção de subjetividade realizada principalmente pela mídia, e com sua
pluralidade de temas, de formas rítmicas e melódicas, possibilita à criança que
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ela não fique “colada” a nenhum modelo cultural dominante, o que contribui
claramente para o desenvolvimento da sua autonomia. (Anexo 3)
Caixinhas de música
A caixinha de música tem a sua história particular. Está presente no
cotidiano das pessoas em todas as faixas etárias. É vista, desde um presente
delicado e caro, até como um brinquedo para as crianças. Mas é sua
sonoridade que nos leva a esse imaginário. É sua sonoridade que nos leva a
história da “Bailarina e Soldadinho de Chumbo”, cuja bailarina dança em cima e
ao som de uma caixinha de música. O realejos também são lembrados. É
conhecida a tradição dos realejos franceses e muitos discos já foram gravados
com eles. Vídeos e fotos de realejos podem dar idéias corporais, assim como
as bailarinas das caixinha de música podem favorecer a introdução de
pequenos passos de balé.
Acalantos
Os acalantos são cantados no Brasil desde muito antes da chegada de
Cabral. Os índios já cantavam para seu bebês. A idéia não é utilizar as
“canções de ninar” para fazerem bebês dormirem , também isso. Na verdade o
interesse é criar um ambiente sonoro gostoso na creche. E que se faça
conhecimento de outro tantos tipos de acalantos, não só os nacionais como o
de outros países. Atividades corporais como: os gestos das crianças dormindo,
espreguiçando, fazendo manha para dormir, tipos de bocejos, cara de sono,
cara de acordado, enfim são apenas algumas idéias que podemos desenvolver
com esse tema. (Anexo 4).
Brincos
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São cantados geralmente com poucos sons envolvendo também
movimentos corporais como; cavalinho, balanço. Junto com os acalantos esses
costumam ser as primeiras canções que cantamos para os bebês. (Anexo 5)
O que é bom ou ruim para as crianças ouvirem?
Nossas crianças vivem em meios culturais diferentes dependendo da
religião, da família e outros fatores que as fazem ouvir certos tipos de música.
A mídia também as bombardeiam com repertórios que incluem ideologias,
esteriótipos, estilos que a escola tem o papel de oferecer e aumentar o leque
de experiência musicais. Por exemplo, na creche que citei no início desse
trabalho, na turma de 3 anos, as crianças cantavam muito funk e músicas
evangélicas, além de saberem todas as músicas e coreografias dos dvd`s
infantis da Xuxa. As mães traziam e as recreadoras sempre colocavam, quase
todo dia. A explicação para tal hábito, é era “por que as crianças gostam”. Será
que elas só gostavam da Xuxa, ou elas sá conheciam a Xuxa? Comecei a
indagar e a provocar trazendo outros cd`s para as crianças ouvirem, entre eles,
ópera e MPB. Conversei com elas junto aos alunos conversando sobre o ritmo
novo que eles iam conhecer, quem cantava aquelas músicas, mostrando a
capa do cd. Num primeiro momento convidei-os para ouvir. Só ouvir. Um novo
exercício para todos, que para alguns foi muito difícil.
Num segundo momento, pedi para que todos levantassem e dançassem.
Vendo que as crianças rapidamente imitaram os adultos, sugeri que cada um
inventasse um movimento, pois o movimento espontâneo também era uma
dança. A cada vivência com esse repertório pedi para que as recreadoras
sugerissem novas atividades, incluindo essas músicas no repertório dessa
turma. Foi um sucesso, as crianças também “gostaram” de MPB.
O antigo adágio de que o gosto não se discute pode até ser verdadeiro, mas não deve esconder o fato de que o gosto é sucetível de desenvolvimento. Isso também uma experiência comum, que todos podemos comprovar em campos mais modestos. Para as pessoas que não estão habituadas a tomar chá, uma mistura pode ter exatamente
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o mesmo sabor da outra. Mas, se dispuserem de tempo, vontade e oportunidade para explorar quantos refinamentos podem existir, é possível que se convertam em autênticos connisseurs, capazes de distinguir o tipo e mistura preferíveis, e seu maior conhecimento certamente aumentará o prazer propiciado pelas misturas mais requintadas. (Valle,1998, p85)
Durante um encontro com as professoras pedimos para que contassem
um pouco do que estavam ouvindo com as crianças e suas impressões. Elas
começaram a contar sobre as atividades que fizeram e a reação das crianças
assim como também falaram muito sobre suas impressões e descobertas.
Contaram como ficaram surpresas em descobrir sobre seus compositores,
entender a letra e sua história, descobrir sons de instrumentos e sentimentos
despertados pelas mesmas. Foi aí que se deram conta da importância de
ampliar o repertório. Desse modo conversamos também sobre como se
constrói um gosto pela música a partir do meio social e assim como falamos de
conhecer e fazer parte de nossa cultura, chegamos juntos a conclusão de que
a música é um objeto cultural e didático. È papel da educação propor novas
experiências educativas com o objetivos educacionais concretos. A ampliação
do repertório musical é uma atividade que amplia a vivência cultural, social do
indivíduo e deve ser realizada pela escola.
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CONCLUSÃO
As atividades musicais devem integrar reprodução, criação e reflexão
sobre o fazer e também o apreciar, percebendo as questões relacionadas ao
som e a música inseridas em um contexto de realizações musicais. Devem
envolver invenção e interpretação de canções como meio de expressão e
exercício musical. Propiciando o contato com brinquedos sonoros, instrumentos
regionais, artesanais, industrializados de outras culturas, pedagógicos, etc...
Estimulando a pesquisa de timbres, os modos de ação e produção de sons
buscamos a integração entre as áreas buscando favorecer a construção do
conhecimento da criança.
A criança é um ser brincante e para que este brincar não seja um ato
mecânico, é interessante que as atividades sugeridas pelo educador estejam
inseridas em um contexto cultural e afetivo. O contexto cultural no sentido da
proposta oferecida estar relacionada a um tema ou a um projeto de trabalho,
por exemplo, surge provocando assim um entrelaçamento lúdico e pedagógico.
O contexto afetivo caracteriza pelo envolvimento do educador com a criança e
a atividade.
A música insere-se em diversos materiais e situações que o educador
pode oferecer para enriquecer as experiências infantis favorecendo a produção
de significados reais para a vida social, afetiva e cultural da criança.
Uma das funções básicas do brincar é permitir que a criança
elabore/resolva situações conflitantes que vivenciam no seu dia-a-dia. E para
isso ela lançará mãos de capacidades como a observação, a imitação e a
imaginação.
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Esse imitar não é mecânico ou simples cópia, aos realizá-los ela está
construindo a sua individualização.
È através da imitação que a criança constrói conceitos fundamentais
para o seu desenvolvimento. Imitando o adulto, a criança aprende a falar,
internaliza seus valores, conceitos e papéis sociais.
O brincar livre corresponde a oportunidade e a importância da criança de
ser ela mesma, de pedir, de recusar, de solucionar os problemas. No entanto
devemos lembrar que é relevante não apenas deixar a criança livre, mas
também e de igual importância é o papel de interagir e mediar esse processo,
já que somos seres humanos e necessitarmos de diálogo e de grupo. E
também na relação com o outro que nos formamos e descobrimos quem
somos.
Através da linguagem musical, a criança vivência: a socialização,
afetividade, aprendizagem, coordenação motora e expressão. O trabalho
realizado com educadores de infância através da prática e de seus
depoimentos em duas escolas diferentes nos permite a percepção sobre a
influência que a música apresenta no desenvolvimento infantil.
O trabalho fenomenológico nos conduz a uma apreciação e rigor na lida
com tais depoimentos, para que sejam trabalhados na íntegra, sem
modificações ou alterações do significado e essência de cada idéia.
A criança vivencia os conteúdos, os conceitos, os limites, as regras, a
disciplina através das brincadeiras. Brincadeiras de roda, brincadeiras
cantadas. Brincando a criança conceitua experiência, a criança vive, portanto a
criança não esquece. Ela internaliza o que deve ser aprendido, saboreando os
saberes, sabendo os sabores!
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Os educadores de infância mostram o poder que a música desempenha
nas capacidades de interesse, concentração, atenção, participação,
socialização e aprendizagem da criança.
Mostram que, por meio da música a educação se realiza de maneira
tranqüila, prazerosa, levando a criança a compreender a importância das
relações, da socialização, vivenciando o respeito ao próximo, desenvolvendo a
autonomia, o senso crítico. Compreende o raciocínio lógico matemático, a
necessidade de perceber e respeitar os limites, fazendo crescer o senso rítmico
no aprimorar dos movimentos construindo a dicção, a linguagem, a
comunicação, enfim, a integração da criança.
A música faz com que a educação seja um processo natural de
movimento, envolvimento e desenvolvimento e, não algo maçante e
massacrante, imposto à criança. A criança sente, necessidade desse
movimento, dessa expressividade. A criança tem, interesse por atividades
manuais e corporais. Ela necessita de uma comunicação que faça com que
aprenda, sinta e viva, orientando-se, e a vivência da linguagem musical,
permite a criança a habitar e habilitar sua ludicidade.
Encontramos ainda, muitas escolas trabalhando a música como uma
linguagem de datas, de apresentações, de movimentos prontos e repetidos,
fazendo dessa vivência, algo mecânico, sem sentido, com hora marcada. Essa
postura afasta as verdadeiras vivências e possibilidades que a música habita,
pois a música como linguagem cabe em qualquer lugar, a qualquer momento,
comandando atividades, proporcionando prazer, atenção, interação, através de
jogos rítmicos, pequenos versos cantados, entre outros.
A criança precisa ser constantemente estimulada, para o
desenvolvimento de sua inteligência e a exploração de sua inquietação, pois “é,
por natureza, inquieta. Sente necessidade de correr, pular, brincar. Ela tendo
espaço e oportunidade, naturalmente executa seus movimentos. Cabe à escola
oferecer espaço e momentos para continuar e possibilitar este processo.
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Aprender a escutar deve ser um dos aspectos trabalhados com
empenho e atenção pelos educadores, porque “a escuta tem grande
importância na educação infantil, pois todos os demais conteúdos se alinham
por meio da audição e da percepção”, (AKOSCHKY – BRITO 2003. p. 187) fato
este que reafirma a importância da criança experienciar os sabores do jogo, da
brincadeira, da música, de maneira expressiva e criativa.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
37
BRASIL. Lei de diretrizes e Bases da educação, lei n. 9394, de 20 de Dezembro de 1996. BRASIL, Ministério da educação e Cultura. Música na escola primária.
Programa de emergência. Brasília, DF : ministério da Educação, 1962.
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de educação fundamental. Referencial curricular nacional da Educação Infantil. Brasília ; MEC/SEF, 1998. BRITO, Teca Alencar de. Música Na Educação Infantil. 2.ed. São Paulo : Peirópolis, 2003. CUNHA, Marcus Vinícius da. Psicologia da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. FERREIRA, Idalina Ladeira; CALDAS, Sara p. Souza. Atividades na Pré-Escola. 6.ed. São Paulo : Saraiva, 1982. GARCIA. R. (org.) Múltiplas Linguagens na Escola. Rio de Janeiro, DP&A,2000. JEANDOT, Nicole. Explorando o universo da música. Série: Pensamento e ação no magistério. 2. Ed. 16 vol. São Paulo : Scipione, 1971. MORAIS, Zilma. Interações criança-criança e a função da brincadeira no desenvolvimento in Creche, Faz de conta e cia. NOGUEIRA, José Henrique. O bebê e a música. Rio de janeiro : Book Link, 2004. PIAGET, Jean. Seis estudos da Psicologia. Rio de Janeiro : Forense, 1954. SNYDERS, Georges. A escola pode ensinar as alegrias da música? 2. Ed. São Paulo: Cortez Editora,1992. TIRIBA, Léa. Buscando caminhos para a pré-escola popular. São Paulo : Ática, 1992.
VALADARES, Solange; ARAÚJO, Rogério. Educação Física no cotidiano
escolar: jogos e cantigas folclóricas. 5 vol. São Paulo : Fapi,1999.
38
VALLE, Edna Almeida Dell; COSTA, Niobe Marques da. Música na Escola Primária. Coleção: Didática dinâmica. 4. Ed. Rio de Janeiro : Livraria José Olímpio Editora, 1998.
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ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1- Música utilizada na atividade citada 38 Anexo 2- Exemplo de música infantil 39 Anexo 3- Exemplo de Cantigas de rodas 40 Anexo 4- Exemplo de Acalantos 41 Anexo 5- Exemplo de Brincos 42
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ANEXO 1
O sapo
O sapo, o sapo
Na beira da lago
Não tem, não tem
Rabinho nem orelha
Chuá, quá, quá (2x)
Na beira da lagoa
Chuá, quá, quá (2x)
Rabinho nem orelha
(Essa música permitiu aos educadores, além das atividades citadas no texto,
fazer relações entre o corpo do sapo e o nosso, o som que o sapo faz, e
fazendo relações, lembrar que o quá é produzido por outro bichinho que
conhecíamos: o pato. E ampliar cada vez mais as nossas pesquisas)
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ANEXO 2
Boneca de Lata
Bia Bedram
Minha Boneca de Lata
Bateu com a cabeça no chão
Levou mais de uma hora pra fazer a arrumação
Desamaça aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o nariz no chão
Levou mais de duas horas pra fazer a arrumação
Desamaça aqui, desamaça ali pra ficar boa...
(Essa música é de autoria de Bia Bedram, cantora formada em Artes e com
uma grande experiência na arte de contar histórias. Nessa música as partes do
corpo vão variando a cada repetição até completarem dez com: ombro,
cotovelo, mão, barriga, costas, joelho, pé e bumbum. Os movimentos são de
acordo com a música de maneira acumulativa chegando até dez horas sendo
muito usada em atividades de consciência corporal, memorização e
coordenação motora.)
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ANEXO 3
Brincadeiras e cantigas de roda
Sambalelê
Sambalelê ta doente
Ta com a cabeça quebrada
Sambalelê precisava
É de uma boa palmada
Samba. Samba
Samba ô Lelê
Quebra, quebra
Quebra ô Lalá
Atirei o pau no gato
Atirei o pau no gato, to
Mais o gato, to
Não morreu,reu, réu
Dona Chica, ca
Admirou-se, se
Do berro, do berro
Que o gato deu
Miau!
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ANEXO 4
Acalantos
Boi, boi, boi
Boi da cara preta
Pega esse menino
Que tem medo de careta
...
Bicho papão
Sai de cima do telhado
Deixa o neném
Dormir sossegado
...
Acalenta-te menino
Acalenta-te menino
Dorme logo pra crescer
Que o Brasil precisa filhos
Independência morrer
...
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ANEXO 5
BRINCOS
Dedo mindinho
Seu vizinho
Pai de todos
Fura bolo
Mata piolho
Sai daqui
Vai pra li
(Brincadeira realizada com os dedinhos das mãos. Na segunda parte da
música costuma-se fazer cosquinhas nas axilas das crianças.)
Serra, serra
Serra, serra, serrador
Quantas tábuas já serrou?
Um, dois, três,... dez!
(Coloca-se a criança nas pernas como se subisse em um cavalo e pelos
bracinhos faz movimentos para frante e para trás imitando o da serra)
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