universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo … · capÍtulo iv – a repercussão internacional...

63
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O ORÇAMENTO PARTICIPATIVO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO DEMOCRÁTICA DOS MUNICÍPIOS Por: Maria das Mercês Cunha Vilas Boas ORIENTADOR: PROFª: Maria Poppe Rio de Janeiro 2008

Upload: hadang

Post on 12-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O ORÇAMENTO PARTICIPATIVO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO DEMOCRÁTICA DOS MUNICÍPIOS

Por: Maria das Mercês Cunha Vilas Boas

ORIENTADOR:

PROFª: Maria Poppe

Rio de Janeiro

2008

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O ORÇAMENTO PARTICIPATIVO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO DEMOCRÁTICA DOS MUNICÍPIOS

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Gestão Pública

Por: Maria das Mercês Cunha Vilas Boas

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

3

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela graça da vida e pela bênção do

conhecimento adquirido.

Ao meu filho, Rodrigo, pelo apoio e pelas horas em

que me cedeu o computador.

Aos colegas de turma pela solidariedade e experiência

compartilhada.

Aos professores do Instituto A Vez do Mestre da

Universidade Candido Mendes, em especial à Profª

Maria Poppe, pela orientação no decorrer deste Trabalho.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

4

RESUMO

No desenvolvimento deste trabalho, tornou-se claro que um dos mais

importantes benefícios do Orçamento Participativo (OP) é o aprofundamento do

exercício da democracia, através do diálogo de autoridades públicas com seus

cidadãos. Este modelo de orçamento foi primeiramente praticado no município de

Porto Alegre no final da década de 80 e é hoje adotado em mais de 200

municípios brasileiros, independente de partido político. Expandiu-se, também

para países latino-americanos e Europeus, que se baseiam na experiência de

Porto Alegre. É considerado uma ferramenta para reordenar as prioridades sociais

e promover a justiça social. Por outro lado, o OP também estimula a

modernização do processo de planejamento estratégico da municipalidade.

Os cidadãos passam de simples observadores a protagonistas da

administração pública. O OP proporciona melhores oportunidades de acesso aos

serviços de saneamento básico, pavimentação, melhoria em transportes, centros

de saúde e educação. Participando ativamente do processo do Orçamento os

cidadãos definem suas prioridades e, ao fazê-lo, têm a oportunidade de melhorar

sua qualidade de vida em menor tempo.

No entanto, verificamos também que a participação popular no orçamento

dos municípios brasileiros é ainda um processo em construção. Há muitas

dificuldades, como a vontade política dos prefeitos, a pouca divulgação

dificultando o envolvimento da comunidade, a pouca verba, a demora ocasionada

por licitações no cumprimento das obras, a descontinuidade do programa

ocasionado mudança de prefeitos, sem contar que só após alguns anos de

implementação é possível obter resultados mais consistentes.

Mas, a semente lançada já rendeu frutos que dificilmente poderão ser

subtraídos. Os acertos e as dificuldades apenas fornecem subsídios para o

aprimoramento deste instrumento de cidadania e consolidação da democracia.

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

5

METODOLOGIA

Na elaboração da monografia, foi necessário um processo de análise

documental, através de pesquisa bibliográfica na procura de todo tipo de material

potencialmente útil, como livros, leis específicas, revistas e jornais, tendo o

material coletado passado por uma triagem para o aproveitamento do que se

apresentasse de interesse para o desenvolvimento da pesquisa. Os endereços

eletrônicos de prefeituras foram amplamente consultados, assim como artigos e

trabalhos disponibilizados em sites da Internet, tendo como tema principal o

Orçamento Participativo, esse novo instrumento de gestão pública. Os autores

mais consultados foram Valdemir Pires, Sérgio de Azevedo, e Celina Souza.

Foi feita uma abordagem geral sobre a origem, para que serve e como se

faz o Orçamento Participativo, identificando seus principais aspectos, áreas de

atuação, eficácia, eficiência e economicidade, bem como o respaldo legal para sua

implantação.

Analisamos no desenvolver do trabalho que a implantação do processo de

orçamento público elaborado de forma participativa tem gerado benefícios para os

municípios que já adotaram o sistema, ampliando a democracia, a justiça social,

combatendo a corrupção e gerando uma melhor qualidade de vida para os

cidadãos, assim respondendo ao questionamento proposto na pesquisa.

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I - Noções Básicas Sobre O Orçamento Participativo

1.1 – O Controle Político

1.2 - A participação Popular – Exercício de Cidadania

CAPÍTULO II – Ciclos do Orçamento Participativo nos Municípios

2.1 – Objetivos

2.2 – Vantagens e Problemas

2.3 – Orçamento Participativo Digital, o que é?

CAPÍTULO III - A Experiência em Municípios Brasileiros

3.1 Resultados práticos em Porto Alegre

3.2 Resultados práticos no Rio de Janeiro

3.3 Resultados práticos em Belo Horizonte

CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do

Orçamento Participativo

4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento Participativo

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

ÍNDICE

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

7

INTRODUÇÃO

”Tudo que acontece no mundo, seja no meu

país, na minha cidade ou no meu bairro,

acontece comigo. Então, eu preciso

participar das decisões que interferem na

minha vida. Um cidadão, com um sentimento

ético forte e consciência de Cidadania, não

deixa passar nada, não abre mão desse

poder de participação”. (Souza,1994, p.22).

A Constituição Federal de 1988, elaborada com o intuito de adaptar as

regras institucionais do estado brasileiro ao regime democrático em restauração,

garantiu uma maior autonomia aos Municípios brasileiros com relação aos

Estados e ao Governo Federal. Assim, além de um maior volume de recursos

financeiros deu aos municípios uma maior autonomia política mediante a

permissão para que redigissem sua própria Lei Orgânica (art.29 da Magna Carta).

É por meio da Lei Orgânica que o Município define as prerrogativas de seus

poderes executivo e legislativo na elaboração orçamentária.

Ainda, com a intenção de reerguer a cidadania nas cidades, entre outros

objetivos, o legislador editou a Lei federal nº 10.257, de 10 de julho de 2001, o

Estatuto da Cidade, que regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal,

dando grande relevância à participação do povo na gestão administrativa local. O

Estatuto elencou no art. 2º as diretrizes gerais da política urbana no país,

prevendo, ainda, em seu art. 4º, os instrumentos a serem utilizados para a

obtenção de tais objetivos, dentre eles a elaboração do plano diretor da cidade e a

gestão orçamentária participativa. O §3º do mesmo artigo prevê que todos os

instrumentos que dependam de dispêndios de recursos do poder público deverão

ser objeto de controle social, garantida a participação de comunidades,

movimentos e entidades da sociedade civil em tal programa. Importante ressaltar

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

8

que o Estatuto da Cidade reserva um capítulo inteiro (Capítulo IV) para tratar da

“Gestão Democrática da Cidade”.

Assim, através de dispositivos legais positivados, o Estatuto da Cidade

instituiu instrumentos eficazes para induzir o Poder Público a agir com maior

transparência, tendo em vista a inegável carência da participação dos cidadãos

nas decisões políticas no Município.

Mas, mesmo antes da formalização da gestão democrática pelo Estatuto da

Cidade, em 2001, o município de Porto Alegre foi pioneiro ao conceber o

Orçamento Participativo em 1989 e incluí-lo em sua Lei Orgânica em 1990.

Deve-se ressaltar que diferentemente dos conselhos municipais setoriais, a

adoção de formas de Orçamento Participativo - OP não é regida por legislação

federal ou organismos multilaterais, sendo uma iniciativa dos próprios governos

locais.

A estrutura deste Trabalho é constituída do seguinte modo: no primeiro

capítulo define-se o que é o Orçamento Participativo (OP), seu surgimento no

Brasil, a parceria e divergência com diferentes partidos políticos, bem como a

efetiva ampliação de cidadania verificada com sua implantação em municípios

brasileiros, mediante a participação popular. O segundo capítulo relata os ciclos

de implantação do Orçamento participativo nos municípios; os objetivos; as

vantagens e dificuldades encontradas, como também aborda o orçamento

participativo digital. O terceiro capítulo apresenta alguns resultados práticos

advindos com a implantação do Orçamento Participativo em alguns municípios

brasileiros, destacando-se, entre eles, as cidades de Porto Alegre, Rio de Janeiro

e Belo Horizonte. O quarto e último capítulo aborda a repercussão e experiência

do OP no âmbito internacional.

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

9

CAPÍTULO I

NOÇÕES BÁSICAS SOBRE O ORÇAMENTO PARTICIPATIVO

O processo orçamentário brasileiro é composto pela Lei do Orçamento

(LOA), que é uma autorização anual de despesas e uma projeção de receitas

elaboradas pelo Poder Executivo e aprovada pelo Poder Legislativo; pela Lei de

Diretrizes Orçamentárias (LDO), que define as metas e prioridades que orientam a

elaboração da lei orçamentária, dispondo os limites das propostas e as normas

sobre remuneração, cargos e pessoal e, pelo Plano Plurianual (PPA), que é

voltado para a programação da administração pública por 4 anos, a partir do

segundo ano de cada mandato dos dirigentes do executivo. Constitui-se em um

guia e um planejamento para as autorizações orçamentárias anuais.

A Lei Complementar 101, de 04/05/2000, Lei de Responsabilidade Fiscal,

foi criada para controlar os gastos do setor público, fiscalizando e normatizando-

os. Além da sua função primordial – controlar os gastos públicos – a LRF abriu

espaço para o planejamento, reforçando determinados pontos que a Constituição

Federal de 88 normatizava, primordialmente no que se refere à vinculação dos

instrumentos de planejamento – PPA – LDO – LOA, ou seja, no art. 5ª está

expresso que o projeto de lei orçamentária anual (LOA), deve ser elaborado de

“forma compatível com o plano plurianual, com a lei de diretrizes orçamentárias...”.

Ademais, estabeleceu no art. 48, parágrafo único, a participação popular na

fiscalização do orçamento, assegurando a chamada transparência fiscal

A participação da população pode se dar nas três etapas acima, entretanto,

o processo de elaboração da LOA tem demonstrado ser a etapa mais adequada

para se iniciar a participação popular. É da parcela destinada a “Investimentos” da

LOA, que se retira o montante destinado ao Orçamento Participativo

Merece destacar que, com a escassez de recursos dos municípios, o

montante destinado a investimentos é de 10% a, no máximo, 20% do total da

receita orçamentária. O restante já está, em geral, comprometido com custeio,

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

10

manutenção e pagamento de pessoal. Ou seja, a parcela sujeita à interferência

popular é ainda muito pequena.

Ressalte-se que, não obstante a previsão legal, a realização de Orçamento

Participativo nos municípios depende fundamentalmente da iniciativa do

Executivo, que decide, por um ato do prefeito, iniciá-la. O Regimento Interno

costuma ser a única “legislação” do OP e faz parte da dinâmica a sua revisão a

cada ano, antes do início de um novo ciclo, já que o OP é um planejamento de

curto prazo.

Assim, um prefeito pode decidir pela elaboração da proposta orçamentária

contando exclusivamente com os especialistas de cada área na prefeitura. Mas

pode, também, construir as definições acerca dos investimentos diretamente com

a população, apresentando-as posteriormente como proposta orçamentária à

Câmara de Vereadores.

Nesse caso, a população, através de diversas associações, é convidada a

participar diretamente da discussão e definição sobre o destino do dinheiro

público, que pode ser aplicado no melhoramento das ruas, na construção de

esgotos, recuperação e ampliação da rede escolar e de saúde; ou seja, pode

interferir diretamente na qualidade de vida de cada cidadão, de cada família.

Desta forma, o Orçamento Participativo é a comunidade decidindo junto

com o governo municipal onde os investimentos vão ser realizados, através de um

processo de debates em todos os bairros, comunidades e entidades. A prefeitura

passa a gastar mais nas áreas sociais, atendendo as principais necessidades

propostas pela população. Além disso, essa participação permite a fiscalização do

governo pelo povo, garantindo o cumprimento do Orçamento e a realização dos

serviços propostos.

Em seu texto “Considerações Sobre a Experiência Brasileira do Orçamento

Participativo - Potencialidades e Constrangimentos” (www.rls.org.br/, 15/04/08)

AZEVEDO relata que essa nova experiência de participação popular procura

romper com a tradição até então existente de que apenas os governantes tomam

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

11

decisões, deixando os interesses da população de lado. Reconheceu-se, também,

que em sociedades complexas como a brasileira a participação política não pode

se limitar somente aos canais institucionais de representação (direito de votar e

ser votado), mas exige também outras formas de democracia, como a

participativa, de modo a ampliar o exercício do direito de cidadania.

A proposta seria, portanto, a de estender o conceito de cidadania, tendo em

vista não só incorporar novos atores sociais tradicionalmente excluídos da

participação social, mas também ampliar a natureza da participação no sentido de

integrar os cidadãos aos diferentes níveis do processo de gerenciamento de sua

cidade.

Veremos que, no exemplo de Porto Alegre, a participação conjunta do

Governo Municipal com a população vem rendendo bons frutos há 20 anos.

Embora tenha falhas ainda não sanadas, o OP a cada ano vem melhorando sua

atuação, levando as discussões sobre finanças a todos os setores da sociedade

civil organizada.

1.1. O Controle Político

Com a reconquista da autonomia municipal através da Constituição Federal

de 1988, houve o surgimento de novas práticas de organização do poder no

âmbito local, em que passa a ser evidenciada a participação das organizações

representativas da sociedade na gestão das políticas públicas.

Conforme Azevedo, é nesse contexto que, a partir de 1989, ganha

visibilidade nacional a política de Orçamento Participativo implantada em de Porto

Alegre, sob o comando do Partido dos Trabalhadores. Frise-se que um dos

fatores que contribuiu para a difusão de programas participativos está associado

ao crescimento dos partidos de esquerda nos governos locais, especialmente o

PT. Como uma das bandeiras do PT é a participação popular, passou a haver

incremento de experiências com o Orçamento Participativo, funcionando este

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

12

como marca positiva para o partido. Assim, essa prática logo se espalhou para

diversas capitais lideradas pelo PT.

No entanto, metrópoles governadas por outros partidos de diferentes

tendências romperam com tal paradigma, implantando o OP, reconhecendo que

este não é um mero método de governar e sim um meio de se alcançar a

democracia. O Orçamento Participativo possui princípios universais, destacando-

se entre eles, a) autonomia, de forma que as regras e procedimentos são

desenvolvidos e modificados no próprio processo; b) objetividade, permitindo que

cada um que participa voluntariamente nas discussões e decisões saiba

claramente do que se trata; c) transparência, isto é, todos os números do

orçamento estão disponíveis à população; d) efetiva implementação de todas as

decisões tomadas (ANDRIOLI, www.espaçoacadêmico.com.br, Acesso em

30/04/08).

Mas o que acontece quando o partido político que estabeleceu o orçamento

participativo perde as eleições? A experiência de alguns municípios demonstrou

que ocorreu um enfraquecimento na continuidade dos programas, mas com a

reação popular as diversas coalizões têm-se conscientizado de que deve haver

uma aliança entre elas, visando a sustentabilidade do programa, especialmente

onde a experiência é considerada bem-sucedida. Ademais, o processo conduz a

uma maior consciência política da população, que não fica mais passiva,

esperando ações por parte de um político eleito, pois ela mesma passa a

participar das decisões.

Com o passar do tempo, o número de cidades brasileiras que adotam o

Orçamento Participativo já passa de duzentas, sob a gestão de diferentes

partidos, porque independente de quem esteja no comando, o povo assimilou a

idéia e aderiu ao projeto.

Abaixo, encontram-se opiniões de alguns especialistas que reforçam o

entendimento de que, hoje em dia, o OP não é só do PT:

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

13

“Pelo que vi do Orçamento Participativo em Porto Alegre,

sinto-me seguro em afirmar que esta cultura de gestão não

pode ser classificada ideologicamente, entre esquerda ou

direita, mas historicamente, entre ser atrasada ou moderna.

Nos tempos atuais, com a sociedade mais vigilante e

exigente, e com a crescente escassez de recursos para

investimento, decidir coletivamente tudo aquilo que diz

respeito ao coletivo é uma exigência histórica.” (LIMA,

www.odocumento.com.br - Acesso em 06/05/08).

“Apesar de mudanças nas facções político-partidárias em

Porto Alegre e em Belo Horizonte ao longo da experiência

do OP, o programa vem sendo mantido e fortalecido. A

aceitação popular, que vem se manifestando através do

apoio dos movimentos sociais e do resultado das pesquisas

de opinião, também deve estar contribuindo para a

sobrevivência do OP.” (SOUZA, http://www.scielo.br, Acesso

em 06/05/08).

“O Orçamento Participativo também não constitui uma

fórmula que possa ser simplesmente transferida para outras

regiões do mundo. A sua experiência, porém, tem

demonstrado que foram desenvolvidos princípios universais

e que, possivelmente, o mais importante é a disposição de

colocar em curso uma dinâmica que aposta numa crescente

participação popular sem ter medo da democracia. Afinal, a

participação só tem sentido, se o próprio espaço em que ela

acontece pode ser constantemente modificado e

transformado” (ANDRIOLI, www.espaçoacadêmico.com.br/

Acesso em 06/05/08).

Para o sociólogo Leonardo Avritzer, professor da

Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisador do

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

14

orçamento participativo, não é possível afirmar que os

programas não resistem ao fim dos mandatos: “no entanto,

uma das grandes vulnerabilidades do Orçamento

Participativo é a sua dependência do sistema político.

Mesmo experiências importantes sofrem dessa

dependência e o ideal seria institucionalizá-lo com uma

forma de democratização do orçamento independente de

quem está ocupando a administração municipal.”

(www.clipping.planejamento.gov.br, consulta em 06/05/08)

Com relação ao comentário acima de “institucionalização do OP” para que

ele se torne “independente de quem está ocupando a administração municipal”,

necessário se faz um aparte: as leis orgânicas dos municípios garantem ao

Executivo a prerrogativa da iniciativa legislativa na área orçamentária. Nos

municípios onde foi implantado o OP, o Executivo elabora as planilhas

orçamentárias com base nas demandas selecionadas e hierarquizadas no OP,

para, então, enviar para a Câmara dos Vereadores.

Os Vereadores queixam-se que seu papel tem-se restringido à aprovação,

praticamente integral, do texto elaborado pelo Executivo. Assim, sua função

representativa de defender as demandas de seu eleitorado tem sido realizada

quase que inteiramente dentro dos limites do OP. Observe-se que para que um

Vereador possa emendar o orçamento municipal com a inclusão de uma despesa

de seu interesse, é preciso que seja anulada outra despesa de mesmo valor.

Como já dito acima, o Executivo elabora seu orçamento tendo em vista as

demandas selecionadas pelas comunidades no OP e, assim, pode-se tornar

constrangedor para os vereadores transferir recursos de investimentos definidos

pela população, a quem eles devem representar. Com o OP, a maioria da

população passou a não mais precisar de bater na porta dos vereadores a fim de

conseguir as benfeitorias para suas Vilas ou bairros. Desta forma, estes se

sentiram suprimidos de seu poder político sobre o destino das verbas públicas e,

a fim de recuperar o poder sem se opor ao OP, propuseram institucionaliza-lo,

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

15

já que a função legislativa é o seu instrumental político por natureza . Partem da

premissa de que o OP passaria a ter uma existência independente da boa vontade

do Executivo local e de que o que realmente conta é o que está definido em lei.

Mas, a essa visão é muito questionável. No dizer de MAHFUS,

(jus2.uol.com.br - acesso em 14/05/08):

“A questão de aprisionar o Orçamento Participativo, em um

conjunto de leis e ordenamentos que burocratizem a

construção efetiva desta forma de participação popular, tem,

na realidade, como único objetivo frear a emancipação

cidadã o que acarretará em um futuro, bem próximo, em

pessoas que começarão a disputar espaços com aqueles

que hoje dominam. Caracterizar o Orçamento Participativo é

dar a ele uma conotação de poder as associações

comunitárias e os diferente setores sociais que estão de uma

forma ou de outra, nas estruturas decisórias da cidade. O

grande sucesso do Orçamento Participativo, é a introdução

de uma fórmula mediadora de democracia diretas e

representativa, em que há efetivamente a participação

popular e principalmente o cidadão entende que aquilo que

foi aprovado será realizado. Com isso, em um primeiro

momento, impede o politiqueiro de implementar o

clientelismo e transformas determinados bairros em feudos

políticos. È partir deste momento que fica claro a importância

da não-institucionalização do orçamento participativo,

impedido com isso de haver uma subordinação à Câmara de

Vereadores e portanto, não aceitando nenhum carimbo

oficial. O que realmente interessa é a aprovação interna das

associações e as deliberações das plenárias. Isto dá força e

prestígio ao Orçamento Participativo, afastando de plano a

suspeita por parte do cidadão que na verdade teríamos

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

16

apenas um referendo de promessas. Com isso temos a

garantia da soberania do processo associativo e da votação

e decisão cidadã das plenárias. Isto basta para que se

implementem políticas públicas.”

Ademais, deve-se enfatizar que o princípio da auto-regulamentação do

Orçamento Participativo, encontra apoio tanto dentro das leis orgânicas

municipais, como da própria Constituição Estadual, que prevêem esta forma de

consulta popular para que ocorra uma maior justeza e transparência na aplicação

de recursos públicos.

1.2 – A Participação Popular – Exercício de Cidadania

A maneira como o povo participa do poder faz surgir três tipos de

democracia, a qual tem como essência o poder residindo no povo. A democracia

direta, onde o povo exerce sozinho os atos de governo; democracia indireta ou

representativa, onde o povo outorga as funções governamentais para os

representantes eleitos; e democracia semidireta, que consiste na democracia

representativa (ou indireta) agregada a institutos de participação direta do povo,

como a democracia participativa.

A Constituição Federal brasileira, em seu artigo 1º, parágrafo único, adota

como forma de governo a democracia semidireta, ou seja, todo o poder emana do

povo, mas o exercício do governo é colocado nas mãos de representantes

escolhidos periodicamente nas urnas eleitorais, garantindo-se ainda a participação

do cidadão na gestão pública por meio de instrumentos diretos, previstos na

própria Carta.

Dessa forma, a República Federativa do Brasil utiliza-se da última espécie

de democracia citada acima, ou seja, a democracia semidireta, aliando a

representação a institutos que garantam a participação do povo na gestão da

coisa pública. Para o ordenamento jurídico brasileiro ambas (democracia

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

17

representativa e participativa) podem conviver conjuntamente. Os representantes

são necessários, mas a opinião do povo deve fundar e legitimar suas decisões.

A participação na gestão democrática da cidade é um instrumento de

combate à desigualdade e de promoção da equidade. Fortalece a organização dos

movimentos sociais e legitima a criação pelo ente público de canais institucionais

de participação (SANTIN, www.mundojurídico.adv.br/ - Acesso em 15/05/08).

A premissa básica do regime democrático é que o poder não pertence

apenas aos dirigentes, mas a toda a coletividade. A democracia participativa

busca suprir os limites da democracia representativa. Ela permite aos cidadãos

irem além do voto, através da atuação plena na vida política. A sociedade

brasileira será democrática na medida em que a população seja consciente de

seus deveres e do seu direito ao exercício pleno da cidadania e da participação.

AZEVEDO & FERNANDES (2005) dizem que o Orçamento Participativo

propicia a criação de formas mais estáveis de gestão democrática. Afirmam,

também que ele radicaliza a prática da democracia e provoca uma cobrança de

transparência de ações governamentais. Caso o administrador tenha a intenção

de romper com o processo democrático de realização do orçamento municipal,

poderá encontrar resistência dos movimentos sociais.

O Orçamento Participativo possibilita o exercício da cidadania, pois, na

busca de uma cidade mais democrática, são criados espaços de diálogo entre

governo municipal e população, para pensar os rumos do município e definir

prioridades para a utilização dos recursos públicos.

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

18

CAPÍTULO II

CICLOS DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO

Não há um modelo rígido para o OP. Este deve ser apropriado para cada

realidade distinta, com suas questões específicas. Portanto, cada gestor, deve

primeiro identificar qual a metodologia que melhor o auxiliará a elaborar um

planejamento participativo, que beneficie tanto a administração municipal como

também a comunidade.

No entanto, apesar das diferenças entre os municípios que possuem OP

em sua gestão, podemos traçar um modelo geral do “Ciclo do Orçamento

Participativo”. Para isso, utilizamos informações provenientes de cartilha

elaborada pelo Fórum Nacional de Participação Popular – FNPP.1

(www.participaçãopopular.org.br - consulta em 15/05/08).

Primeiramente é necessário mobilizar a população para que esta participe

do OP. É uma parte muito importante do processo. Do sucesso dela depende a

garantia de que esta experiência seja mais universal, isto é, que qualquer cidadão

tenha acesso ao OP. Para isso, é preciso identificar e envolver os setores mais

articulados e já organizados da sociedade e saber utilizar os instrumentos

adequados para mobilizar cada grupo social a ser atingido: bairros mais pobres,

mais ricos, população analfabeta, meio rural, mulheres etc. Os mecanismos de

divulgação do OP mais utilizados são a imprensa local, o rádio, o carro de som, a

correspondência, faixas e cartazes, nesta ordem. Em menor número de

municípios, utiliza-se televisão e outdoors. Alguns municípios usam a INTERNET,

como Belo Horizonte.

1 O Fórum Nacional de Participação Popular (FNPP) é formado por ONGs e organizações da sociedade civil que se articulam para promover o intercâmbio entre as experiências de participação na gestão pública e o debate sobre os grandes desafios que envolvem a democratização do exercício do poder público nas suas diversas instâncias - participacaopopular.org.br

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

19

Em outro momento, a cidade é dividida em regiões, a partir de critérios

geográficos, número de moradores por área, com o objetivo de facilitar a

participação dos diversos setores da sociedade na definição das prioridades.

Nestas regiões, a população discute, apresenta suas reivindicações e elege os

delegados do orçamento participativo. Exemplificando a cidade de Porto Alegre foi

dividida, inicialmente em 16 regiões, em 2008 acrescentou a região de “Ilhas”,

contabilizando, pois, 17 regiões. Belo Horizonte foi dividido em 9 administrações

regionais e, o Município do Rio de Janeiro, em 12 regiões.

O ciclo do Orçamento Participativo inicia-se, em geral, com duas rodadas

de assembléias regionais que ocorrem entre os meses de março e julho de cada

ano. As primeiras plenárias abrem o período de discussões anuais onde são

recolhidas e analisadas as prioridades locais, apontadas pela população. Caso o

OP já tenha sido implementado, há dois itens principais em pauta: a prestação de

contas do ano anterior e a apresentação das regras do processo para o ano em

curso.

São convocadas as Plenárias Temáticas pelos setores organizados, tais

como: educação, mulher, cultura, esporte, juventude, saúde, funcionalismo,

saneamento básico, meio ambiente, grupos étnicos, desenvolvimento econômico

e geração de renda, ou outros grupos cujas reivindicações tenham sentido no

contexto orçamentário. Estas plenárias são assessoradas pela equipe técnica do

orçamento participativo da prefeitura e são feitas no âmbito municipal. Em geral,

os delegados, responsáveis por encaminhar as demandas nas demais etapas do

ciclo, já são eleitos nessas primeiras sessões.

A segunda rodada de assembléias é organizada para eleger membros do

Conselho do Orçamento Participativo e deliberar prioridades orçamentárias. Os

residentes de cada região geralmente discutem e hierarquizam prioridades em

reuniões menores entre as duas rodadas.Os delegados são eleitos, em geral,

proporcionalmente ao número de habitantes ou de participantes nas regiões. Por

exemplo, a cada 10 ou 20 participantes, um delegado pode ser escolhido. Ou

então, cada 10 mil habitantes dão direito a eleger um delegado. As principais

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

20

funções dos delegados são repassar informações aos moradores e deliberar sobre

as prioridades regionais e municipais.

Quanto aos conselheiros, eleitos para comporem o Conselho do Orçamento

Participativo – COP, na segunda rodada de assembléias, possuem como principal

função discutir, propor e decidir sobre as prioridades do município. Também

acompanharão e fiscalizarão todo o processo orçamentário. O Conselho é

geralmente composto por, pelo menos, dois moradores de cada região, em alguns

casos eleitos diretamente pela comunidade, em outros escolhidos entre os

delegados. O Conselho é o órgão mais importante, já que fiscaliza a preparação

da peça orçamentária até sua votação na Câmara dos Vereadores.

Vale destacar que sempre há representantes indicados pelos governos para

acompanhar o processo. Em alguns casos, estes representantes têm somente

direito a voz e, em outros casos, têm direito a voz e voto.

O representante eleito deve ser capaz de dialogar tanto com o governo e

demais representantes das outras regiões, quanto com a sua base local. Por isso,

ter espaços permanentes de articulação entre representantes, como é o caso dos

Fóruns de Delegados que existem em alguns municípios, é muito importante. É

necessário, também, uma definição clara e um amplo conhecimento das regras de

funcionamento do OP, dos critérios de definição de prioridades para que ele se

torne um espaço realmente público.

Frise-se que somente com periodicidade e regularidade de reuniões, um

conselho ou fórum do OP pode se constituir como um verdadeiro espaço de

representação e de negociação. Quanto maior a regularidade e a definição clara

dos procedimentos para a convocação e a realização das reuniões, maiores as

possibilidades de todos os conselheiros serem informados sobre a pauta e se

capacitarem para intervir no debate com qualidade. Em geral, as reuniões são

coordenadas por representantes ou técnicos do governo.

Com o passo anterior concluído, temos o início das plenárias sub-regionais

e em seguida das regionais, ou seja, quando as propostas de projetos e dos

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

21

cronogramas prioritários já estão definidos e há um “clima” participativo,

concluindo assim a “parte mais ampla e pesada do processo” de acordo com

PIRES (2001: p.116). Com a consolidação das prioridades, há o encaminhamento

para a assembléia geral, onde serão feitos os últimos ajustes, para depois ser

confeccionado o projeto de lei.

Após a deliberação sobre as prioridades para os investimentos ou para todo

o orçamento do município, o governo elabora a chamada “Peça Orçamentária” ou

“Projeto de Lei Orçamentária Anual” (LOA). Este Projeto de Lei é elaborado pelos

órgãos da prefeitura e segue para a Câmara Municipal para debate, no período de

setembro a dezembro de cada ano.

Na medida em que o OP se torna mais significativo e passa a ter maior

poder de decisão sobre o orçamento da cidade, nota-se a necessidade de maior

articulação com a Câmara Municipal, pois esta é o órgão responsável pela

aprovação e pela fiscalização da realização do Orçamento. Em alguns casos a

população ou os representantes do OP fazem a entrega solene de sua proposta à

Câmara, acompanhando a sua tramitação com visitas aos vereadores e

participação nas sessões de debate ou votação.

A execução do orçamento ainda é pouco acompanhada pela população. O

acompanhamento das decisões do Orçamento Participativo geralmente é

realizado pelo Conselho do OP, pelos delegados e técnicos da prefeitura. Como

na maioria dos casos há poucas reuniões do Conselho, esta tarefa acaba sendo

pouco sistemática e limita-se ao acompanhamento das obras realizadas.

A pesquisa realizada pela FNPP relata que no processo de consolidação do

OP, vários procedimentos têm sido experimentados em diversos municípios. Entre

estes, destacam-se as Caravanas da Cidadania, que consistem na visita dos

delegados ou conselheiros aos bairros da cidade, para conhecer as prioridades

escolhidas pelas diversas regiões ou assembléias temáticas. As caravanas têm

sido uma das formas importantes para melhorar a qualidade da participação no

OP. Mais de cem Municípios pesquisados afirmaram que organizam estas visitas

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

22

com o objetivo principal de contribuir para que as prioridades sejam melhor

definidas. Em alguns municípios, esta ação pretende confirmar as definições

tomadas pelos delegados ou conselheiros.

Os participantes são delegados, conselheiros, representantes das

secretarias municipais ou moradores. Coletivamente, em um ônibus, eles visitam a

comunidade e a obra que está sendo escolhida para ser integrada ao Plano de

Investimentos aprovado pelo OP. Estes participantes relatam a importância de

conhecer as várias regiões da cidade e poder sentir cada uma das carências

apresentadas. Este conhecimento permite comparar a urgência e a relevância de

cada obra ou serviço proposto, o que possibilita o debate e a decisão sobre quais

delas serão escolhidas. As visitas permitem também concretizar a visão e o

conhecimento da cidade como um todo, fazendo com que os delegados ou

conselheiros sintam-se mais capacitados e seguros para a definição da hierarquia

que será estabelecida pelo Conselho do OP.

Em complementação ao acima exposto e relembrando que o chamado

“ciclo do OP” possui variações ocasionadas pelas diferenças entre os Municípios,

é importante destacar que o assunto também foi abordado na quinta edição do

seminário “Repensando o Orçamento Participativo”, realizado em 04 de fevereiro

de 2006 no Instituto Polis,2 que identificou 6 etapas pelas quais as experiências

de OPs passam no decorrer de cada ano: 1) Definição das regras do jogo; 2)

Mobilização e divulgação; 3) Escolha de prioridades; 4) Escolha de

representantes; 5) Negociação com o Executivo e com a Câmara de Vereadores;

e 6) Execução orçamentária e acompanhamento.

Conforme o Organograma, elaborado pelo Professor Valdemir Pires em sua

obra literária intitulada "Orçamento Participativo o que é, para que serve e como

se faz” (SP, 2001, p.102) pode-se dizer que a Comissão Coordenadora do

Orçamento Participativo (CCOP), é a responsável pela implementação e

2 ONG dedicada ao estudo e formulação de políticas públicas municipais e estratégias de desenvolvimento local, com sede em São Paulo. – www.polis.org.br

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

23

elaboração do Orçamento Participativo, sendo que essa comissão deve estar

relacionada com um Grupo de Apoio (grupo este formado pelos funcionários da

prefeitura, funcionários da Câmara de Vereadores e assessoria externa

"economistas, advogados, assistentes sociais, etc").

A CCOP deve ser formada por três tipos de representantes: Poder

Executivo (composto pelos seguintes setores: Planejamento, Finanças e Gabinete

do Prefeito),Poder Legislativo (formado pelos vereadores escolhidos entre eles) e

Comunidade (escolhidos em assembléias organizadas para essa finalidade). A

comunidade se divide em três partes: Delegados Sub-Regionais; Delegados

Regionais e Delegados para Assembléia, sendo estes três como também o Grupo

de Apoio e a CCOP fiscalizados pela Comissão para Acompanhamento da

Execução Orçamentária.

2.1 – Objetivos

Em geral, o orçamento participativo organiza e seleciona as demandas da

sociedade por região da cidade e por temas, tais como saúde, assistência social,

educação, cultura e lazer, organização da cidade e desenvolvimento urbano,

dentre outros.

Assim, no atendimento às questões acima traçadas, o Orçamento

Participativo objetiva primordialmente:

1.Estabelecer, ouvindo a população, as prioridades na aplicação dos recursos do

município.

2.Descobrir as verdadeiras necessidades prioritárias, sentidas pelos próprios

usuários dos serviços públicos.

3.Estabelecer uma prática de transparência administrativa, no trato do bem

público, impossibilitando a troca de favores.

4.Criar canais de comunicação direta com o governo.

5.Possibilitar o exercício da cidadania ativa, mediante a participação da sociedade.

6. Compatibilizar participação individual e participação coletiva.

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

24

7. Controle e fiscalização de obras e melhoramentos pela população.

8. Estabelecer relacionamento saudável com o poder legislativo.

Em cartilha elaborada por Teixeira, Albuquerque e Pontual,

(www.participaçãopopular.br, consulta em 16/05/08), definiu-se que o Orçamento

Participativo pode ser um instrumento eficaz para as seguintes importantes

conquistas políticas, econômicas e sociais:

• Maior transparência na elaboração e execução do orçamento.

• Maior controle social do orçamento e das finanças públicas.

• A criação de um novo padrão para a distribuição dos recursos que

possibilite atender aos mais pobres.

• Mudanças no sistema de arrecadação que permitam o aumento dos

recursos municipais

• O enfrentamento da corrupção e do clientelismo

• O aumento da legitimidade da Administração Municipal

• A partilha do poder entre poder público e sociedade

• O fortalecimento da cooperação e da solidariedade

• Afirmação da cultura do diálogo e do compromisso mútuo entre

governantes e população para com os recursos públicos

• Mobilização de setores sociais organizados e não organizados

• A educação para a cidadania

• A ampliação da esfera pública

Ou seja, o objetivo do Orçamento Participativo é a participação ativa da

população na definição das prioridades de investimento público na cidade, sendo

que a democratização da gestão pública é uma condição necessária para a

melhoria da qualidade de vida de todos os cidadãos e uma forma de impulsionar a

democracia.

Assim, ao compartilhar com os agentes políticos a administração dos

destinos da sua comunidade, o cidadão criará o bom hábito de participar, e o

administrador o de prestar contas e ouvir a sociedade.

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

25

2.2. Vantagens e Problemas

A vontade política dos governantes e da sociedade civil é um ponto

essencial para que se inicie um processo de Orçamento Participativo. Essa

vontade precisa ser traduzida em ações concretas e contínuas e estar preparada

para enfrentar contradições e interesses diversos que fazem parte do processo do

OP. Cada município possui seu próprio formato organizacional e,

consequentemente, apresentam resultados desiguais quanto ao êxito alcançado

com a implementação do OP.

Há ainda as dificuldades advindas de uma política fiscal que concentra os

recursos na União, o que é um entrave no avanço das prefeituras em suas

políticas sociais.

No entanto, com o envolvimento da população, tem ocorrido uma inversão

nas prioridades dos governos locais, beneficiando classes antes menos

favorecidas. Há um aprofundamento do sentimento de cidadania nos moradores,

cada vez mais cientes de seus direitos e deveres.

Essa criação de uma esfera pública, não estatal, em que a sociedade pode

controlar o Estado tem o mérito de não excluir mas, sim, de valorizar a democracia

representativa, já que de certa forma o representante do povo está dando

oportunidades à população de poder participar da gestão pública, tornando o

indivíduo, quase sempre excluído , um “cidadão ativo” que exerce seus direitos

políticos, direitos esses que são assegurados na Constituição federal.

SOUZA (www.Scielo.br, acesso em 01/06/08) revisou a literatura do

Orçamento Participativo no Brasil, analisando as cidades de Porto Alegre e Belo

Horizonte. Resumiu os aspectos positivos e negativos do Orçamento Participativo,

apontando, dentre outras, as seguintes vantagens e problemas:

Vantagens

. Torna a democracia representativa aberta à participação mais ativa de

segmentos da sociedade civil.

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

26

. Reduz clientelismo, populismo, patrimonialismo e autoritarismo, mudando a

cultura política e aumentando a transparência.

. Estimula o associativismo.

. Facilita o processo de aprendizado sobre melhor e mais ativa cidadania

. Desloca prioridades dos segmentos privilegiados para beneficiar a maioria da

população (os pobres): paralelamente tenta abrir canais de participação a outras

classes sociais.

. Permite equilibrar bandeiras ideológicas voltadas para a delegação de poder aos

cidadãos com respostas pragmáticas que atendam a suas demandas.

. Estabelece uma organização que pode sobreviver a mudanças de governo.

. Estimula os participantes a trocar visões individualistas por solidárias e a ver os

problemas da cidade de forma coletiva.

Problemas

. A interação com o governo coloca em risco a independência dos movimentos

comunitários.

. Formas de clientelismo ainda sobrevivem.

. A sociedade civil ainda está em formação.

. Limitações financeiras e de recursos para o OP, reduzindo a abrangência dos

programas. As comunidades tendem a parar de participar quando suas

demandas são atendidas.

. Persistem dificuldades para aumentar a participação: os jovens, as classes

médias e os pobres são sub-representados.

. Lentidão na execução dos programas frustrando os participantes.

. Clivagens entre o PT e o executivo.

. Risco de reificação do movimento popular, tornando difícil a separação clara

entre seu papel e o do governo.

. Decisões fragmentadas e demandas de curto prazo podem prejudicar o

planejamento urbano e projetos de longo prazo.

. Supremacia dos movimentos sociais e do executivo sobre o legislativo na

questão da alocação de recursos.

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

27

Deve-se observar que muitas vezes a morosidade nos resultados

apresentados tem a ver com os processos de licitação dos serviços públicos que

acabam entravando o que é aprovado nas assembléias do Orçamento

participativo.

2.3. Orçamento Participativo Digital, o que é?

O Orçamento Participativo digital foi implantando em Belo Horizonte em

2006. É um dispositivo participativo eletrônico pelo o qual os cidadãos podem

decidir, através de votação pela Internet, a destinação de um quinto da verba

participativa total. Em 2006, por exemplo, dos cerca de 100 milhões de reais

destinadas à escolha popular, R$ 20.250.000,00 (vinte milhões duzentos e

cinqüenta mil reais) foram destinadas ao OP Digital.

Acessando o site www.opdigital.pbh.gov.br, todo cidadão que vota em

Belo Horizonte pode escolher nove obras, uma em cada regional. Em 2006 o

Orçamento Participativo Regional e o Orçamento Participativo Digital aprovaram

107 obras para o biênio 2007-2008.

A votação, em geral ocorre no mês de novembro. Para facilitar a

participação, a Prefeitura, disponibiliza diversos pontos de acesso gratuito à

Internet. No site do OP Digital, as propostas estão disponíveis em vídeos e

maquetes virtuais com detalhes de cada obra e há explicações sobre o

funcionamento de todo o processo de votação. Além disso, é possível saber o

número de votos que cada obra tem e há uma opção interativa com uma sala de

bate-papo e um fórum para troca de informações, além de espaço para

apresentação de sugestões e pedidos de esclarecimentos.

O OP Digital já foi implantado em outros municípios mineiros e tem atraído

a atenção de várias cidades brasileiras e mesmo de outros países, interessados

neste processo inédito de participação popular. Neste sentido representa um

avanço já que o governo eletrônico é uma tendência global. Os dirigentes de todo

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

28

o mundo têm concentrado esforços no desenvolvimento dessa nova política de

aproximação ao cidadão.

Ressalte-se que o Orçamento Digital é implantado com a ajuda dos TRE’s

das capitais que disponibilizam parcialmente o banco de dados de eleitores para

as prefeituras respectivas. A parceria é feita a partir de autorização dos

corregedores dos Tribunais Eleitorais, que possuem a competência de zelar pela

integridade do cadastro das justiças eleitorais.

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

29

CAPÍTULO III

A EXPERIÊNCIA EM MUNICÍPIOS BRASILEIROS

Em cidades brasileiras com distintas realidades, tamanhos e população

deve-se garantir um envolvimento amplo entre população e governo. O OP

constitui, provavelmente o experimento mais avançado de democratização de

governos locais. As numerosas experiências já desenvolvidas em municípios

brasileiros, embora tenham alcançado êxito variado, contribuíram para o

amadurecimento e popularização deste modelo de gestão pública

(Azevedo/Fernandes, 2005 p.185). Governo e sociedade devem se comprometer

na implementação de um projeto participativo coeso, que garanta a continuidade

da experiência ao longo de diferentes gestões. É, também, fundamental que haja

um esforço de divulgação da experiência, para garantir a ampliação do número de

participantes.

Mais de 200 municípios brasileiros adotam a prática do Orçamento

Participativo. Relacionamos abaixo alguns desses municípios (Recife, Fortaleza,

Niterói e São Paulo), com declarações de pessoas locais e, a seguir, enfocaremos

com mais atenção os municípios de Porto Alegre, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

• RECIFE - “O Orçamento Participativo, além de método de gestão democrático,

é tratado por nossa gestão como um processo social e cultural. Por isso

mesmo investimos no Orçamento Participativo das crianças, mobilizando a

cada dois anos 200 mil crianças da nossa rede municipal de educação e na

capacitação dos delegados e dos membros das comissões de

acompanhamento de obras, que hoje são mais de 700 fiscalizando mais de

uma centena de obras em execução.” J.COSTA, texto publicado em 10/03/08 -

disponível em http://jc.uol.com.br, acesso em 01/06/08).

• FORTALEZA - “O povo de Fortaleza pode encontrar no Orçamento

Participativo (OP) um espaço popular de debates e decisões sobre os destinos

da cidade. Desde o ano de 2005, o primeiro ano do OP em Fortaleza, a

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

30

Prefeitura e o povo estão juntos na tarefa de construir uma cidade bela, justa e

democrática. A população se reuniu em assembléias populares e determinou

as prioridades de investimentos em obras e serviços .O OP tem o desafio de

compartilhar cada vez mais com o povo o poder de decidir sobre os

investimentos públicos. Através do OP, a população pode decidir como e onde

serão investidos os recursos públicos em obras e serviços, promovendo ainda

a transparência e o controle social da máquina pública. Nos dois anos em que

o OP aconteceu, mais de 32 mil pessoas participaram das assembléias que

aconteceram por todas as regiões da cidade.” (XAVIER, texto publicado em

15/05/07,www.eudesxavier.org.br, consulta em 01/06/08).

• NITERÓI - “Orçamento Participativo de Niterói comemora 10 anos com

audiência pública – Na próxima quinta-feira, dia 28/02/08, às 19 horas, no

plenário da Câmara de Vereadores, a Prefeitura de Niterói realiza a primeira

audiência pública do ano para a prestação de contas do Orçamento

Participativo da cidade e a abertura do ciclo de reuniões que prevê 18

encontros regionais para a escolha dos novos conselheiros municipais. Ao todo

serão escolhidos 72 novos conselheiros que se somarão aos outros 16 que

integram os outros conselhos municipais do município que têm assento

garantido no programa do Orçamento Participativo. Implantado há 10 anos em

Niterói, tendo como primeiro coordenador o atual Prefeito Godofredo Pinto o

Orçamento Participativo é um espaço de debate onde a população discute e

decide, através de encontros com as autoridades municipais, as prioridades de

investimento do orçamento da cidade em obras e serviços. No dia 6 de março,

começam os encontros regionais num total de 18 que acontecerão em cada

uma das regiões do município. "Esse ano o Orçamento Participativo vai se

dedicar a trabalhar as demandas já apresentadas pela população nos anos

anteriores. É importante que todo o morador se interesse pelo orçamento da

sua cidade e participe da escolha dos investimentos, sabendo também dos

problemas e dificuldades a serem enfrentados pelo poder público", ressalta

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

31

Marilza Medina, subsecretária de Orçamento Participativo de Niterói.” (Texto

publicado em 26/02/08, www.niterói.rj.gov.br/portal - consulta em 01/06/08).

• SÃO PAULO – “A interrupção da Gestão Orçamentária Participativa, na forma

do conhecido Orçamento Participativo implantado na gestão anterior, merece

destaque por ser um retrocesso no que se refere à democratização da

participação popular na gestão pública, não apenas da região central da

cidade, mas em todo o município de São Paulo. Apesar das eventuais críticas

ao processo de funcionamento do orçamento participativo nos anos anteriores,

entende-se que o papel do governo municipal é sempre o de aperfeiçoar os

mecanismos democráticos já instituídos e nunca o de simplesmente eliminá-los

sem oferecer alternativas.

O orçamento participativo foi legalmente implantado na cidade de São Paulo

através da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2001. Por ser uma lei

com vigência anual, ele voltou a ser incluído na LDO dos anos 2002, 2003

e 2004. A implementação do orçamento participativo atendia não apenas aos

compromissos de campanha da gestão anterior, mas principalmente às

demandas dos movimentos sociais e da sociedade civil por uma maior

transparência na gestão municipal e pela vontade de sair do papel passivo

para ser agente ativo na formulação das políticas públicas da cidade. “(texto

publicado em 30/01/07 http://dossie.centrovivo.org/, consulta em 04/06/08).

Percebe-se pelos textos acima que o OP de Recife, Fortaleza, Niterói tem

obtido êxito e continuidade através dos anos, ao passo que em São Paulo houve

uma interrupção, gerando insatisfação e sendo o fato qualificado como retrocesso

no que se refere à democratização da gestão pública.

3.1. – Resultados práticos em Porto Alegre

O Orçamento Participativo nasceu em Porto Alegre, a partir de um processo

experimental e consultivo dirigido pelo governo municipal e por novos movimentos

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

32

sociais no final dos anos 80. O OP foi então introduzido sob a administração do

Partido dos Trabalhadores (PT), numa coalizão com movimentos sociais. Embora,

inicialmente, cercado de dificuldades devido a limitações fiscais, o OP de Porto

Alegre conseguiu superar estes desafios ao longo do tempo, consolidando-se,

progressivamente, até atingir sua forma atual. Hoje, o OP é conduzido por uma

nova coalizão política liderada pelo Partido Popular Socialista (PPS), que

administra o município de Porto Alegre. Possui, atualmente, uma metodologia

complexa para organizar a participação popular em uma cidade de mais de 1.4

milhões de habitantes, bem como para priorizar investimentos públicos com base

em três critérios principais: necessidades básicas não atendidas, população e

preferências dos cidadãos (www.worldbank.org, em 05/06/08).

Depois da elaboração do Plano de Investimentos, que começa em março de

cada ano (na primeira rodada do OP) e vai até janeiro do ano seguinte (com a

aprovação pelo Conselho do OP), há o caminho da execução das obras a

percorrer. Ele começa com as licitações das empresas que vão elaborar os

projetos executivos. Após finalizados os projetos, são necessários de dois a quatro

meses para licitar as obras. Este é o prazo para a modalidade mais comum, que é

a tomada de preços, mas o mesmo pode também se estender, caso alguma

empresa entre com recurso em relação à licitação.

No segundo semestre (do segundo ano), se a tramitação do processo que

antecede a execução da obra transcorrer dentro do previsto, é dada ordem de

início. A partir daí, o prazo de entrega da obra obedece às particularidades de

cada uma: há obras executadas em curto espaço de tempo e outras mais

complexas, realizadas num prazo maior e, às vezes, em mais de uma etapa.

Como resultados concretos do modelo de Porto Alegre podemos destacar os

seguintes: a) em 1990, no início do processo, apenas 80% da população tinha

acesso à rede de água potável, o que em 2002 aumentou para 98%; b) em 1989,

o sistema de esgoto beneficiava somente 46% da população, chegando a 85% em

1996; c) o número de matrículas nas escolas públicas foi triplicado de 1989 a

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

33

1999; d) o número de favelas vem sendo continuamente reduzido. (ANDRIOLI,

www.espacoacademico.com.br/, consulta em 06/06/08)

Raul Du Pont, do PT, que foi prefeito da cidade por 16 anos - de 1989 até

2004 relata em entrevista concedida em 06/08/2004, os seguintes resultados:

“Os resultados ao longo desses quase 16 anos, quando a população pôde

tomar a si as rédeas do governo, permitiram que, em valores constantes, retirada

a inflação, pudéssemos praticamente multiplicar por cinco os gastos nas áreas

sociais de saúde, educação, assistência social e habitação, áreas

fundamentais para a vida do cidadão. O município de Porto Alegre, em termos

atuais e em valores constantes, em 1989, gastava com investimentos e gastos

correntes R$138 milhões; em 2003, foram aplicados R$ 664 milhões nessas

quatro áreas - uma decisão que partiu dos próprios interessados, da cidadania que

reivindicava esses serviços e equipamentos. Da mesma forma, na área da saúde

e da educação tivemos números significativos. A rede de saúde, que há 15 anos

dispunha de 12 unidades sanitárias e um hospital de pronto-socorro, hoje dispõe

de 46 unidades sanitárias, seis centros de saúde, cinco serviços de pronto-

atendimento, 62 equipes do Programa Saúde da Família, um pronto-socorro

ampliado e reformado e mais um hospital municipalizado, o Hospital Presidente

Vargas, que presta atendimento infantil e pré-natal. A educação neste município

sofreu uma mudança significativa na sua rede e nos seus serviços. Não temos

nenhuma dúvida de que essas questões foram alcançadas exatamente porque a

população pôde decidir de maneira pública, aberta e voluntária a hierarquização

dos gastos. Podemos registrar, ainda, os 330 quilômetros de ruas pavimentadas,

100% de coleta de lixo domiciliar, 99,5% das casas com encanamento de água

tratada e uma das maiores redes de creches comunitárias do país”.

(www2.fpa.org.br/, consulta em 10/06/08).

No entanto, como já comentado, tem-se observado uma queda nos

investimentos indicados para o OP, quando o município não é governado pelo PT,

partido político que implementou o OP em Porto Alegre e que esteve no poder por

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

34

16 anos. Em 2004 foi eleito um prefeito do PPS e em 2005 notou-se uma queda

drástica nos investimentos, conforme relato da ONG Cidade:

“Pode-se observar, claramente, que existe, sim, uma tendência

histórica de queda, mas, também, que ela se acentua

drasticamente após 2005. O argumento do governo local é de que

o arrocho social foi necessário para reverter a crise fiscal herdada

do governo anterior. Entretanto, é curioso que a crise não tenha o

impedido de investir mais de 15 milhões de reais em propaganda e

em outros setores não priorizados pela população por meio do OP.

Como a Ong Cidade faz anualmente, em março de 2008, realizou

um levantamento, não dos valores como fez o Banco Mundial, mas

da quantidade de obras e serviços concluídos em relação ao

número total de demandas:

.Demandas concluídas do PI 20053

Em 2005, das 302 obras e serviços apresentados no PI, 115 foram

executados.

.Demandas concluídas do PI 2006

Em 2006, das 214 obras e serviços apresentados no PI, 103 foram

executados.

.Demandas concluídas do PI 2007

Em 2007, das 219 obras e serviços apresentados no PI, 21 foram

executados.” (www.ongcidade.org/, consulta em 10/06/08)

O Orçamento Participativo (OP) do município de Porto Alegre chega à 20ª

edição neste ano de 2008. As assembléias gerais e temáticas para levantar as

demandas da população foram encerradas na metade de maio/08. Nas duas

últimas décadas, o OP de Porto Alegre atravessou altos e baixos. Teve grandes

momentos de impulso e realizações e outros menores, mais enfraquecidos. O

momento atual parece exigir resistência às tentativas de esvaziamento que vem 3 PI=Plano de Investimento

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

35

sofrendo por parte da atual administração, como revelam os relatórios das

assembléias regionais e temáticas de 2007. Mas é uma conquista irreversível. A

semente de organização da sociedade civil e de seu maior engajamento político

rendeu frutos que dificilmente poderão ser subtraídos dos cidadãos de Porto

Alegre (www2.portoalegre.rs.gov.br/op/, consulta em 10/06/08)

3.2. – Resultados práticos no Rio de Janeiro

O orçamento participativo do município do Rio de Janeiro está incluído nos

Planos Estratégicos da Cidade:

“O plano estratégico é um método ou processo que consiste em

prever, identificar e mobilizar potenciais disponíveis e condições

favoráveis, tendo por objetivo direcionar ações táticas, definir linhas

estratégicas e implementar programas e projetos, visando à

obtenção de resultados desejáveis para o futuro de uma cidade”

(www.rio.rj.gov.br, em 10/06/08).

Na cidade do Rio de Janeiro o primeiro plano estratégico foi aprovado

como modelo de planejamento urbano no final de 1995 (“Rio sempre Rio”) ainda

no primeiro governo do prefeito César Maia, sendo o seu secretário de urbanismo

Luís Paulo Conde, que o sucederia na eleição posterior, continuando o mesmo

projeto de gestão.

Resultado de uma parceria do Município com a iniciativa privada. Este

Plano, além de introduzir na cidade a cultura estratégica, passou a ser uma

referência nacional como forma inovadora de planejar, ultrapassando os limites

das intervenções urbanísticas anteriores e indicando novos caminhos, tendências

e aspirações a serem seguidos. Foi, segundo uma avaliação do Banco Mundial

em seu relatório de 1999, "um sucesso sem precedentes enquanto exercício de

construção de consenso e parceria".

O segundo Plano Estratégico “As cidades da Cidade” (início em 2001) é

um desdobramento inovador do Plano anterior. Nesta nova fase, o Plano

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

36

Estratégico considera separadamente as características, aspirações e identidade

própria de 12 regiões - conjuntos de bairros agrupados segundo critérios

histórico-geográficos - tendo os cidadãos definido, em cada uma delas, estratégias

específicas para alcançar seus Objetivos Centrais. Cada região possui natureza e

topografia distintas, arquitetura e estilo singulares, "atmosfera" e "jeito de ser"

próprios. As regiões são as seguintes: Bangu, Barra da Tijuca, Campo Grande,

Centro, Grande Méier, Ilha do Governador, Irajá, Jacarepaguá, Leopoldina,

Tijuca/Vila Isabel, Zona Norte e Zona Sul. (www.rio.rj.gov.br, consulta em

10/06/08).

No entanto, VAINER (2000) critica esta forma de implementar política

urbana baseada no planejamento estratégico, ressaltando que o mesmo possui

bases neoliberais, incompatíveis com um processo participativo e democrático.

Segundo relato do autor, na elaboração do Plano Estratégico do Rio de Janeiro

(primeiro plano, Rio sempre Rio) não houve participação direta da sociedade, mas

sim a priorização de interesses de governantes e empresários. O processo

ocorrido no Rio de Janeiro foi deflagrado e liderado por liberais que decidiram, em

consenso, o que seria bom ou ruim para a cidade. Percebe-se nessa experiência a

legitimação de interesses de grupos dominantes da cidade dentro da visão liberal

do Banco Mundial. Torna-se evidente nesse processo a falta de democracia, a

ausência de espaço para negociação e a falta de mediação do poder público entre

as parcerias públicas e privadas.

De fato, na definição do “plano estratégico II” consta a seguinte observação:

“Convém ressaltar que, devido ao fato dos Planos Estratégicos Regionais terem

sido elaborados com ampla participação da sociedade, consideramos importante

manter, nesta publicação, todas as propostas apresentadas durante o processo.

No entanto, estão sendo definidos critérios para priorização dessas

propostas, no sentido de orientar as fases de impulsão e monitoramento.”(g.n.)

Assim, verifica-se que quem define as prioridades são os dirigentes políticos do

plano.

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

37

O Fórum Popular do Orçamento do Rio de Janeiro (FOP)4

(www.cartilha.blogger.com.br/ - consulta em 10/06/08) também considera que há

pouca abertura para a participação popular no Orçamento do município do Rio de

Janeiro. Em cartilha denominada “Cidadania no Orçamento” o Fórum alerta:

“A execução do orçamento pela Prefeitura do Rio ameaça transformar o

orçamento num puro faz de conta. Por que ?

Porque todos os anos a Prefeitura conseguia, na própria Lei

Orçamentária aprovada pelos vereadores, uma autorização para

deslocar, remanejar, grandes somas de recursos de uma despesa para

outra. Parece mentira, mas a Prefeitura podia alterar, por decreto, boa

parte do orçamento. Isso quer dizer que o dinheiro para a construção da

creche na comunidade poderia, mesmo depois de aprovado, ser

transferido para outra despesa qualquer sem maiores satisfações por

parte da Prefeitura.”

Não obstante o acima, o OP foi oficialmente implementado no Rio de

Janeiro em 2002, conforme texto abaixo: (www.armazemdedados.rio.rj.gov.br/, em

12/06/08)

“Atendendo ao disposto no Art. 26 da Lei N.º 3.189, de 23 de março de

2001, regulamentado pelo Decreto N.º 21.186, de 26 de março de 2002,

e pelo Decreto N.º 21.428, de 20 de maio de 2002, foram realizadas, ao

longo do ano de 2002, diversas reuniões organizadas pelo Plano

Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro, em cada uma das 12 regiões

nas quais foi dividido o Município.

Nestas reuniões, com ampla participação popular, foram indicados os

temas prioritários de cada região, escolhidos dentre aqueles em que se

divide a atividade pública municipal, bem como apresentados e

priorizados diversos projetos para cada tema. Também coube à

comunidade eleger um representante de cada região para integrar a

Comissão Central Provisória do Orçamento Participativo. 4 O Fórum Popular do Orçamento do Rio é uma organização apartidária que reúne pessoas e entidades cariocas interessadas em democratizar o orçamento do município. O FP vem trabalhando desde 1995 para se tornar um instrumento legítimo de acesso às informações governamentais, tentando fazer com que o governo municipal priorize as questões sociais

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

38

Da consolidação dos temas prioritários das 12 regiões, foram obtidos os

cinco temas prioritários do Município, a serem atendidos pelo Orçamento

Participativo: Desenvolvimento Econômico, Saúde, Cultura, Meio-

Ambiente e Esporte e Lazer.

Ponderados pelos critérios de população, índice de condição de vida e

pela prioridade indicada por cada região de acordo com a metodologia

aprovada, os projetos foram ordenados e encaminhados ao Poder

Executivo para apreciação da viabilidade quanto aos aspectos técnico e

financeiro.

Esta relação de projetos representa, portanto, os anseios da população,

expressos por representantes de diversos segmentos da sociedade civil,

constituindo-se num instrumento de fundamental importância para a

Administração Municipal.

Os projetos considerados viáveis pela Prefeitura foram incorporados ao

Projeto de Lei Orçamentária de 2003, encaminhado ao Poder Legislativo

em 30 de setembro de 2002.”

A Lei nº 4.566, de 20/07/07, que dispõe sobre as Diretrizes Orçamentárias

para o exercício financeiro de 2008, prevê o Orçamento participativo conforme

abaixo:

“Art. 1º Ficam estabelecidas, em cumprimento ao disposto no § 2º do art.

165 da Constituição Federal, na Lei Complementar Federal nº 101, de 04

de maio de 2000, e no § 2º do art. 254 da Lei Orgânica do Município do

Rio de Janeiro, as diretrizes gerais para elaboração dos orçamentos do

Município, relativas ao exercício de 2008, compreendendo:

(...)

Art. 7º O projeto de lei orçamentária anual será encaminhado à Câmara

Municipal, conforme estabelecido no inciso II do § 5º do art. 165 da

Constituição Federal, nos arts. 254 e 258 da Lei Orgânica do Município e

no art. 2º, seus parágrafos e incisos, da Lei Federal nº 4.320, de 17 de

março de 1964, e será composto de:

(...)

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

39

VIII - demonstrativo dos projetos selecionados mediante o processo de

orçamento participativo, com a dotação correspondente, discriminados

por Áreas de Planejamento;

(...)

Art. 43. A participação popular na elaboração do projeto de lei

orçamentária será realizada de acordo com o disposto na Lei Municipal

nº 3.189, de 23 de março de 2001, e regulamentos complementares.

Parágrafo único. As prioridades são aquelas selecionadas pela

comunidade, nos fóruns populares realizados no âmbito das Comissões

Regionais do Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro e

consolidados pelo Conselho Popular de Orçamento, e de acordo com os

preceitos da Lei Complementar nº 101, de 2000.

Art. 44. A Câmara Municipal organizará audiências públicas para

discussão da proposta orçamentária durante o processo de sua

apreciação e aprovação.” (www.camara.rj.gov.br/, consulta em 10/06/08)

De acordo com o site oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro

(www.rio.rj.gov.br), o Plano Estratégico II “As Cidades da Cidade” teve como

instrumento básico de sua implementação as reuniões das Comissões Regionais,

organizadas pela equipe central do Plano e subprefeitos. Visando à impulsão das

suas propostas, foi montado um sistema técnico de monitoramento de planos e

projetos que tiveram como 'ferramenta' um banco de dados com diversas

informações relativas às propostas contidas nos planos. Resultados importantes

foram alcançados, entre eles a inclusão de 116 de suas propostas nos orçamentos

de 2003 e 2004, através do processo de Orçamento Participativo, e outros

projetos em execução por diversos órgãos da Prefeitura.

Como resultados concretos, relacionamos abaixo os elencados por algumas

das acima citadas regiões, compreendendo os anos de 2003 e 2004, observando

que tais resultados foram disponibilizados no seguinte site oficial da Prefeitura do

Rio de Janeiro: www.rio.rj.gov.br/planoestratégico, acessado em 16/06/08):

Zona Sul

OP-2003

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

40

• Apoio à participação do Rio de Janeiro nas feiras

internacionais, direcionadas ao turismo Implantação de projeto

de despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, elaborado pela

Secretaria Municipal de Meio Ambiente;

• Criação de Centro de Referência tendo como foco a

valorização e o orgulho da"Maneira de Ser

Carioca",comunicabilidade, hospitalidade, musicalidade,

irreverência, vida ao ar livre, vida noturna, boemia e

espontaneidade, entre outros itens;

• Reequipamento das unidades de saúde.

OP-2004

• Definição e divulgação de calendário de eventos mensais,

com desfiles carnavalescos em julho e agosto dirigido aos

turistas do hemisfério norte;

• Realização de estudos para implantação do "Rio-Bus", com

ordenamento do trânsito em função dos bairros, adequação

do número de ônibus e táxis;

• Contratação de mais profissionais de saúde, adequando a

oferta de recursos humanos à capacidade instalada das

unidades e ás necessidades da população;

• Controle e fiscalização rigorosa de invasões de áreas verdes.

Zona Norte

OP-2003

• Criação de centros culturais na Região, em especial na

comunidade do Amarelinho e Cine Guaraci em Rocha

Miranda;

• Aumento da oferta de cursos de qualificação profissional

através de parcerias entre Estado, Município, Universidades,

entidades de ensino, de pesquisa e empresas Implantação do

Page 41: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

41

Programa Saúde da Família em todas as comunidades

carentes da Região;

• Criação de área de esportes e equipamentos recreativos na

Praça Ucranianos.

OP-2004

• Intensificação do controle da poluição industrial;

• Criação de oportunidade de estágios para estudantes, através

de parcerias entre entidades de ensino e empresas da

Região;

• Contratação de mais profissionais de saúde, adequando as

ofertas de recursos humanos à capacidade instalada das

unidades e às necessidades da população;

• Ampliação da creche Mané Garrincha no bairro de Marechal

Hermes e construção de creches nas seguintes comunidades:

Chico Mendes, Nova Alecrim, Parque Santa Edwiges e Praça

Florença, e nos bairros Pavuna, Mariópolis e Anchieta;

• Atividades para a terceira idade e deficientes físicos

principalmente na Área Projetada "E", na Vila Primavera.

Região Centro

OP-2003

• Implantação de atividades culturais e esportivas nos espaços

públicos Implantação de portais para identificação de áreas de

comércio especializado (São Cristóvão);

• Criação e ampliação de posto de saúde com atendimento 24

horas e com serviço de remoção e emergência dirigido à toda

a região;

• Implantação de atendimento geriátrico nos postos de saúde da

Gamboa e da Saúde.

OP-2004

Page 42: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

42

• Implantação de corredor iluminado formado pela Cinelândia,

Lapa, Rua do Lavradio, Praça Tiradentes, Largo da Carioca e

Praça XV, Praça da República, Rua Frei Caneca, Beco da

Sardinha, Estácio, rio Comprido, Catumbi, cidade Nova, Santa

Teresa e Paquetá, com a criação de circuitos culturaiss

voltados para a região, integrando as favelas à rede de

equipamentos históricos culturais e de lazer;

• Ampliação da rede de trabalho para as associações das

comunidades carentes, criando mecanismos de promoção de

oportunidades e intercâmbios;

• Criação de creches na Gamboa e Saúde, bem como nos

demais bairros da Região;

• Ampliação da rede de trabalho para as associações das

comunidades carentes, criando mecanismos de promoção de

oportunidades e intercâmbios.

Barra da Tijuca

OP-2003

• Estudo para identificação de novos produtos turísticos;

• Organização e definição de calendário para utilização das

praias e das lagoas com atividades de lazer.

OP-2004

• Ampliação das oportunidades para formação da excelência

profissional para jovens e adultos;

• Implantação do Parque Municipal de Grumari de forma auto-

sustentável;

• Melhoria do Terminal Rodoviário da Barra , Construção de

unidade escolar em Vargem Pequena e ampliação da Escola

Municipal Olegário Domingues;

Page 43: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

43

• Construção de unidade escolar em Vargem Pequena e

ampliação da Escola Municipal Olegário Domingues.

(www.rio.rj.gov.br/planoestratégico - acesso em 16/06/08)

Por fim, resta observar que, apesar de serem alocadas verbas para as

prioridades do Orçamento Participativo, o povo carioca pouco sabe do programa já

que além de ser pouco divulgado, não há uma participação efetiva da população.

Há muita dificuldade de se encontrar publicações sobre o OP do Município do Rio

de Janeiro, especialmente na Internet, meio muito usado pelos municípios

brasileiros para divulgarem seus programas relacionados ao OP, obras e

resultados obtidos. De acordo com e-mail recebido do Fórum de Orçamento

Participativo do Rio de Janeiro, o OP do Rio de Janeiro não é “um verdadeiro

orçamento participativo, já que a consulta popular não é realizada, embora nas

prestações de contas do Município conste uma planilha do OP, sob número 4.6,

página 151, ano 2007”.

3.3. – Resultados práticos em Belo Horizonte

Em Belo Horizonte há dois aspectos relevantes do Orçamento Participativo,

que asseguram credibilidade ao processo: a continuidade e a regularidade, que

são rigorosamente observadas. (Azevedo/Fernandes, 2005: p.26).

A primeira versão do Orçamento Participativo, em Belo Horizonte, foi

implementada em 1994, pelo então prefeito Patrus Ananias do PT. Desde então,

o Orçamento Participativo foi sofrendo adequações para se tornar um instrumento

capaz de atender às demandas específicas da sociedade belorizontina,

priorizando as regiões mais carentes e desassistidas.

Ao longo do tempo, Belo Horizonte reviu, em vários momentos, o processo

do Orçamento Participativo frente às demandas da sociedade civil organizada: a

necessidade de solucionar as carências do movimento dos sem-casa; a

distribuição dos recursos entre as regiões administrativas; a participação da classe

média e a priorização da população mais vulnerável, além da constituição de

espaços para discussão e articulação de políticas públicas.

Page 44: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

44

Segundo avalia o Secretário de Planejamento Orçamento e Informação,

Júlio Pires, o Orçamento Participativo se transformou no maior programa de

intervenção na periferia de Belo Horizonte. Destaca, ainda, a integração do

programa no planejamento da cidade. "Do ponto de vista do planejamento, da

urbanização da periferia, da mobilização popular, da conscientização e da

participação cidadã, o OP é um sucesso que marcou lugar na capital e no mundo".

(www.nabaladabh.com.br, consulta em 15/06/08)

É de conhecimento, que os grandes centros urbanos nem sempre

conseguem controlar o crescimento desordenado da população, cada dia mais

numerosa e que a migração de parcelas significativas da população rural contribui

para este aumento. Isto, reflete de forma direta nas carências e piora a condição

de vida urbana.

Como alternativa para combater o problema, em 1996 foi implantado o

Orçamento Participativo da Habitação para atender às reivindicações dos

movimentos populares de luta por moradia.

Assim o Orçamento Participativo de Belo Horizonte é subdividido em duas

modalidades: OP Regional e OP da Habitação.

Segundo declarações do atual Prefeito de Belo Horizonte, o Orçamento

Participativo chega aos 15 anos em 2008 com mais de 900 obras

concluídas, com investimentos de R$ 790 milhões e 500 mil participações.

(www.brasilemaçao.com.br, consulta em 20/06/08).

Iniciado em 1993, o programa já teve 1.184 obras escolhidas nos processos

dos orçamentos participativos regionais e mais nove obras aprovadas no OP

Digital. Durante os 15 anos de sua existência o OP realizou investimentos em

urbanização de bairros, construção de infra-estrutura em vilas e favelas, definição

e a implantação de áreas verdes, parques e praças por toda a cidade

representando 70% das solicitações.

As obras incluem a construção, reforma ou ampliação de Unidades

Municipais de Educação Infantil (Umeis), escolas fundamentais, centros de saúde,

Page 45: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

45

espaços BH Cidadania5, áreas de esporte e lazer, centros culturais e albergues.

Estas solicitações representaram 30% dos empreendimentos aprovados, em mais

de 500 mil participações durante os processos.

A média de conclusão das obras são de um empreendimento entregue a

cada seis dias.

Com relação ao OP Digital, uma obra (Praça Raul Soares) está em

execução e as outras oito em processo licitatório.

Em 28/04/08, a população começou a escolher as obras do Orçamento

Participativo de 2009/2010. A previsão da prefeitura é de que R$ 80 milhões

sejam investidos, mesmo montante aplicado na edição 2007/2008. A distribuição

da verba entre as nove regiões administrativas da cidade é feita de acordo com

indicadores sociais, como o Índice de Qualidade de Vida (IQVC). Em geral, as

mais carentes levam a maior parte do bolo. Os projetos são elaborados e licitados,

devendo ter início no próximo ano (2009).

Terminado o processo de escolha do OP tradicional, será aberta a segunda

edição do Orçamento Participativo Digital, eleição de intervenções pela internet,

que terá início em novembro/dezembro. O formato da consulta popular será

mantido, mas, conforme adiantou o jornal “Estado de Minas”, na edição de

28/04/08, o OP Digital vai mudar. A PBH confirmou que, em vez de votar em nove

empreendimentos, sendo um por regional, o cidadão vai optar por um único, de

maior porte.

A previsão é de que 10 obras, selecionadas pela administração municipal,

entrem na disputa. Apenas uma, de maior impacto, será eleita, diferentemente da

primeira eleição na internet, feita em 2006. A mudança é uma alternativa para

viabilizar projetos do Programa de Estruturação Viária de Belo Horizonte. A

maioria custa caro e não caberia no orçamento previsto para a consulta popular

(www.uai.com.br/, consulta em 20/06/08).

5 Programa implantado em Julho/02 em áreas de grande vulnerabilidade social nas nove regiões administrativas da cidade, visando dar maior eficiência aos programas sociais criados. Cerca de 120 mil famílias estão cadastradas, sendo assistidas em áreas de saúde, educação, abastecimento, esporte e cultura.

Page 46: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

46

Enfim, o modelo de orçamento participativo de Belo Horizonte tem se

destacado como um dos mais eficientes do país. Os resultados e a metodologia

aplicada são amplamente divulgados na mídia local. A Internet é especialmente

usada na pratica do orçamento participativo digital, visando atrair o maior número

de pessoas para o processo, especialmente os jovens e a classe média, que não

tinham o hábito de participar do OP tradicional. A vontade da população é levada

em consideração e há transparência do emprego das verbas públicas. O povo

realmente participa e se sente privilegiado em participar, influenciando diretamente

nas decisões da prefeitura da cidade. Merece destaque o fato de que, em

26/04/04, o programa de Orçamento Participativo de Belo Horizonte recebeu

prêmio do Serviço Público da ONU, concedido pela Divisão da Administração

Pública e Desenvolvimento da Gestão das Nações Unidas, na categoria

"Aprimoramento dos Processos dos Serviços Públicos".

Page 47: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

47

IV CAPÍTULO

A REPERCUSSÃO INTERNACIONAL DA

EXPERIÊNCIA BRASILEIRA DO ORÇAMENTO

PARTICIPATIVO

Por ser um importante instrumento de participação popular, o OP é

referência para o mundo. Conforme a ONU, a experiência é uma das 40 melhores

práticas de gestão pública urbana no mundo. O Banco Mundial reconhece o

processo de participação popular de Porto Alegre como um exemplo bem-

sucedido de ação comum entre Governo e sociedade civil.

Esse reconhecimento manifesta-se de outras formas. Segundo ANDRIOLI,

(www.espacoacademico.com.br/) todo ano, representantes de prefeituras

brasileiras e estrangeiras, entre estudiosos do mundo inteiro, chegam à Capital

com o objetivo de conhecer o OP, falar com lideranças comunitárias e conhecer

obras decididas pela população. Muitas dessas prefeituras adotaram a

participação popular, como é o caso de Saint-Denis (França), Rosário (Argentina),

Motevidéu (Uruguai), Barcelona (Espanha), Toronto (Canadá), Bruxelas (Bélgica),

A experiência fora do Brasil iniciou-se a partir do ano de 2000. Publicação

no site “http://staging.unchs.org “ revelou que o OP tem sido experimentado em

mais de 50 cidades européias, destacando-se, além das acima citadas, Londres

na Inglaterra; Sevilha, Cordoba e Rubi na Espanha; Morsang-sur Orge e

Bobigny, na França; Palmela e Lisboa em Portugal; Mons, na Bélgica; Pieve

Emanuele e Altidona na Itália e Berlim na Alemanha. É também experienciado em

cidades da África como Cameroon e da Ásia, como Sri Lanka.

Revela, também, que o impacto político do orçamento participativo na

Europa será sentido a longo-prazo. Até o momento a sua dimensão política está

bem menos presente do que em Porto Alegre.

As cidades européias que adotam o orçamento participativo, divulgam sua

experiência na INTERNET, como nos exemplos a seguir relacionados:

Page 48: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

48

“A Freguesia lisboeta de Carnide tem há três anos um orçamento

participativo, para o qual contribuem todos os moradores desde idosos a

crianças, num processo que é uma referência a nível internacional.

O envolvimento da população faz-se na altura de preparar o orçamento,

com sessões públicas e inquéritos, reuniões específicas com idosos e

crianças, mas sobretudo ao longo do ano, com uma prestação

permanente de contas, contou à Lusa o presidente da Junta de

Freguesia de Carnide, Paulo Quaresma (CDU), publicado em 19/11/07”.

(http://cdulumiar.blogs.sapo.pt/163958.html- consulta em 16/06/08)

“Seminário Internacional sobre Experiências de Orçamento

Participativo

Em Abril 2008, nos dias 4 e 5, teve lugar o I º Seminário Internacional

sobre Experiências de Orçamento Participativo, no Município de

Bergamo, rica cidade industrial do Norte da Itália, com 118.000

habitantes, em que participaram mais de 250 pessoas.

Desde 2006 que o município realiza o OP nos bairros de Redona e Via

Quarenghi, uma área com alta concentração de imigrantes onde o

processo tem favorecido projectos de integração sócio-territorial,

facilitando o diálogo entre os novos habitantes e os moradores locais. O

evento também foi útil para reforçar o processo de construção de uma

rede europeia de Orçamentos Participativos que começou em Málaga

em Março de 2007, e permitiu também dialogar com várias experiências

latino - americanas como foi o caso de, Guarulhos no Brasil e na

República Dominicana que em 2007 criou uma lei nacional para a

implementação do OP nos municípios do país”.

(www. 2.portoalegre.rs.gov.br, consulta em 16/06/2008)

4.1. A Rede “URB-AL” e o Orçamento Participativo

Merece destaque o programa da Rede URB-AL que reúne municípios da

América Latina e da Europa como sócios, tendo entre seus objetivos a prática da

Page 49: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

49

democracia participativa. No site oficial da Prefeitura de Porto Alegre encontra-se

a seguinte apresentação: (www.2portoalegre.rs.gov.br, em 16/06/08)

“É um programa descentralizado de cooperação da Comissão Européia que

objetiva a aproximação de cidades, entidades e coletividades locais da

América Latina e União Européia, através da troca de experiências de políticas

urbanas. Criada em 1995, ao longo desses dez anos, a URB-AL já teve como

participantes mais de 700 coletividades locais. Ela permite o acesso a múltiplos

contatos internacionais, através dos quais se estabelecem relações

duradouras entre coletividades locais européias e latino-americanas, facilitando

outras iniciativas. O programa é baseado no intercâmbio recíproco de

experiências entre os participantes na busca de benefício mútuo. Para tanto,

as cidades apresentam projetos comuns com atividades elaboradas, propostas

e postas em prática, de maneira descentralizada. Os participantes neste

programa se agrupam livremente, segundo suas afinidades, ao redor de um ou

vários temas relacionados com a cidade. Co-financiada pela Comissão

Européia com importantes recursos, a Rede URB-AL concretizou várias das

prioridades definidas no Rio de Janeiro, em 1999, pelos Chefes de Estado e de

Governo dos países da União Européia, da América Latina e do Caribe. Desde

então, estas prioridades são constantemente reafirmadas, especialmente as

questões relativas à luta contra a pobreza e os desequilíbrios sociais, a

promoção e a proteção dos Direitos Humanos e a promoção da sociedade da

informação”.

Entre os objetivos da Rede URB-AL, destacam-se:

“.Buscar informações e divulgar as boas práticas de gestão de políticas

públicas locais, européias e latino-americanas, no tocante ao financiamento

local e à democracia participativa, compondo um quadro atualizado dessas

iniciativas;

.Conhecer e sistematizar as diferenças e semelhanças das diversas

experiências de gestão das políticas públicas na esfera do financiamento local

e das práticas de democracia participativa, tais como o Orçamento

Participativo;”

Page 50: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

50

De fato, a Rede promove o intercambio entre governos locais e desenvolve

projetos que ajudam na implantação do orçamento participativo em várias cidades

do mundo interessadas no processo, analisando as barreiras que podem obstar o

êxito do processo.

Setenta e seis (76) municípios brasileiros tornaram-se sócios da Rede.

Alguns já sediaram os encontros como Rio de janeiro, Porto Alegre e Belo

Horizonte. Exemplificamos abaixo alguns encontros ocorridos:

“Cidades sócias desenvolvem programa de capacitação em democracia

participativa: As cidades participantes do Projeto B URB-AL estão na

fase de elaboração do conteúdo de seus módulos de educação em

democracia participativa. No I Encontro Internacional, realizado em

Porto Alegre, em novembro de 2007, foi estabelecida a temática a ser

trabalhada por cada uma das cidades para a formação do Sistema

Intermunicipal de Capacitação em Planejamento e Gestão Local

Participativa. Sob a coordenação de Porto Alegre, estiveram presentes

representantes de Barcelona (ESP), Belo Horizonte (BRA), Córdoba

(ESP), Cuenca (ECU), Quito (ECU), Regioni Toscana (ITA), Rosário

(ARG) e San Salvador (ESA). Durante o primeiro semestre deste ano,

as cidades sócias desenvolveram os módulos de ensino em seus

municípios. No mês de abril, a coordenação de Porto Alegre realizou o

módulo "OrçamentoParticipativo estratégias de financiamento para o

financiamento local", em parceria com a Escola de Gestão Pública

(EGP) da Prefeitura Municipal e a Universidade Federal do Rio Grande

do Sul (UFRGS)”. (www2.portoalegre.rs.gov.br).

“Porto Alegre é referência internacional em gestão local (artigo

publicado em 10/06/08): Florença/Itália - A histórica Florença, na Itália,

recebe a partir de hoje, 10, os representantes das nove cidades sócias e

das universidades parceiras do Sistema Intermunicipal de Capacitação

em Planejamento e Gestão Local Participativa, que realiza seu segundo

encontro até quinta-feira, 12. O projeto é coordenado por Porto Alegre e

faz parte do Programa Urb-Al, a rede de cooperação da Comissão

Européia com cidades e governos locais da América Latina. Este II

Page 51: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

51

Encontro servirá para a avaliação dos resultados dos módulos de

capacitação implantados pelas cidades sócias, conforme ficou definido

no I Encontro, realizado na capital gaúcha, em novembro do ano

passado.” ( www2.portoalegre.rs.gov.br, consulta em 19/06/08 ).

“Comissão Européia aprovou, no âmbito da Rede 9 do Programa

URB-AL, Financiamento Local e Orçamento Participativo”, o Projeto de

Articulação entre Planejamento Territorial e Orçamento Participativo.

Coordenado pela Prefeitura de Belo Horizonte, incluiu a participação das

prefeituras de Bella Vista (Argentina), Guarulhos (Brasil), Córdoba

(Espanha), Ariccia (Itália) e o Centro Internacional de Gestão Urbana

(CIGU) como sócio externo. O projeto pretendeu estudar as experiências

que articulam o planejamento das cidades com as prioridades escolhidas

pelo cidadão através do Orçamento Participativo. A partir da coleta das

contribuições buscou-se criar um instrumento de planejamento para

medir o impacto urbano e social das obras o OP e os benefícios

decorrentes para as comunidades locais.” (www.pbh.gov.br- consulta em

20/06/08).

A ressonância internacional da experiência de democracia direta fez de

Porto Alegre a sede do Fórum Social Mundial6 em 2001, 2002, 2003 e 2005, como

referência mundial dos movimentos críticos à globalização neoliberal e

contraponto ao Fórum Econômico Mundial de Davos.7

Estima-se que atualmente existam cerca de duas mil experiências de

Orçamento Participativo no mundo, muitas delas desenvolvidas e inspiradas nas

iniciativas brasileiras. Com cerca de duas décadas de gradativa e crescente

experiência com programas de Orçamento Participativo, o Brasil virou uma

referência internacional quando se fala em democracia participativa.

6 O Fórum Social Mundial (FSM) é um evento de âmbito mundial, organizado por movimentos sociais com objetivo de celebrar a diversidade, discutir temas relevantes e buscar alternativas que julgam adequadas para questões sociais. 7 O Fórum Econômico Mundial (FEM) é uma reunião anual entre executivos-chefe das corporações mais ricas do mundo, alguns líderes políticos nacionais (presidentes, primeiros ministros e outros) e intelectuais e jornalistas seletos - em torno de 2.000 pessoas no total - que geralmente acontece em Davos, Suíça. Contrapondo-se a essa posição ideológica e a essa entidade, o Fórum Social Mundial é organizado por diversas ONGs. Nele predomina a ideologia de esquerda (socialista),que prega a luta contra a globalização econômica e contra a disseminação do neoliberalismo.

Page 52: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

52

CONCLUSÃO

O trabalho abordou o Orçamento Participativo, que é um movimento global

de governos locais que permite aos cidadãos irem além do voto, participando

diretamente no destino do orçamento público de seu Município, ou seja, com o

OP, é a população que prioriza os investimentos. Essa nova forma de democracia

participativa é uma idéia contemporânea que busca suprir os limites da

democracia representativa.

Vimos que, com tamanha diversidade entre as cidades e regiões brasileiras,

a forma de se fazer o Orçamento Participativo muda, visando sua adequação a

cada local. A vontade política dos governantes locais é essencial para se iniciar o

processo. O gestor deve propiciar a população com informações adequadas sobre

essa prática para que esta possa participar em condições de compreender,

minimamente, o que está sendo discutido ou decidido.

Destacou-se a importância da transparência nas decisões relacionadas ao

orçamento e na execução das obras e serviços. Vale lembrar que o processo do

orçamento participativo não se encerra com a sua elaboração, é fundamental a

criação de mecanismos que possibilitem à população o acompanhamento da

execução orçamentária e a fiscalização dos gastos do poder público.

Outro aspecto de destaque é que o OP atende a demandas dos setores

desfavorecidos, ou seja, procura fazer uma distribuição mais justa do orçamento

público, canalizando recursos para as áreas caracterizadas como concentradoras

de pobreza urbana. É o que se chama no processo de “inverter prioridades”.

Necessário ressaltar que o Orçamento Participativo é hoje reconhecido

nacional e internacionalmente como uma das mais importantes e eficientes

inovações em termos de democratização da gestão pública, sendo adotado por

mais de 200 municípios brasileiros e por várias cidades da América Latina e da

Europa, que se espelham na experiência de 20 anos de Porto Alegre.

A experiência tem comprovado que, com base na participação local da

população, é possível investir os recursos públicos de forma mais eficaz e, ao

Page 53: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

53

mesmo tempo, mais democrática. No exemplo de Porto Alegre, a participação

conjunta do Governo Municipal com a população vem rendendo bons frutos há 20

anos. Embora tenha falhas ainda não sanadas, o OP a cada ano vem melhorando

sua atuação, levando as discussões sobre finanças a todos os setores da

sociedade civil organizada.

Há quem defenda a institucionalização do Orçamento participativo, mas

deve-se enfatizar que o princípio da auto-regulamentação do Orçamento

Participativo, encontra apoio tanto dentro das leis orgânicas municipais, como da

própria Constituição Estadual, que prevêem esta forma de consulta popular para

que ocorra uma maior justeza e transparência na aplicação de recursos públicos.

Relembramos que, em geral, o orçamento participativo organiza e seleciona

as demandas da sociedade por região da cidade e por temas, tais como saúde,

assistência social, educação, cultura e lazer, organização da cidade e

desenvolvimento urbano, dentre outros, dando à comunidade a oportunidade de

decidir junto com o governo municipal onde os investimentos vão ser realizados.

Há debates em todos os bairros, comunidades e entidades. Em Belo Horizonte

houve o aspecto inovador do Orçamento Digital em que a população opina

também pela Internet. Essa participação é uma forma de controle sobre o ente

estatal e só tem a valorizar a democracia representativa, onde o representante dá

ao povo a oportunidade de participar da gestão pública.

Por fim, embora enfrente várias dificuldades, inclusive ocasionados pela

alternância de poder nos Municípios, o Orçamento Participativo veio para ficar.

Não é um mero método de governar e sim um novo meio de se alcançar a

democracia no Brasil, ressaltando-se o fato de que já há estudos para

implementa-lo tanto no âmbito estadual como no federal.

Page 54: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

54

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANDRIOLI, Antônio Inácio. O Orçamento Participativo de Porto Alegre: um

exemplo para a Alemanha. Revista Espaço Acadêmico nº 43, Dez/2004:

http://www.espacoacademico.com.br/043/43andrioli.htm, consulta em 30/04/08.

AZEVEDO, Sérgio de - Considerações Sobre a Experiência Brasileira do

Orçamento Participativo: Potencialidades e Constrangimentos. Disponível em

www.rls.org.br/publique/media/Sergio_Azevedo.pdf, consulta em - 5/04/08)

AZEVEDO, Sérgio de; FERNANDES, Rodrigo B. Construindo a Democracia, Ed.

Revan, Rio de Janeiro, 2005, pp. 26, 27, 45, 185.

BELO HORIZONTE, Prefeitura Municipal de - Seminário Internacional, em Out/05,

www.pbh.gov.br/noticias/redeurbal9/oprojeto.htm - consulta em 20/06/08.

BELO HORIZONTE, Prefeitura Municipal de, – Orçamento Participativo Digital -

www.opdigital.pbh.gov.br, - acesso em 20/06/08

BELO HORIZONTE, Prefeitura Lança Orçamento Participativo 2009/2010 -

http://www.nabaladabh.com.br/site/modules.php?name= News&file=article&sid=14

acesso em 20/06/08.

BELO HORIZONTE - Texto publicado em 28/04/08 “Belo Horizonte começa a

escolher obras do orçamento participativo”, acessado em 20/06/08, disponível em

http://www.uai.com.br/UAI/html/sessao_2/2008/04/28/em_noticia_interna,id_sessa

o=2&id_noticia=60756/em_noticia_interna.shtml.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, 38ª Edição, São

Paulo, Editora Saraiva: 2006.

CIDADE. O Estatuto da Cidade, Lei 10.257 de 10/07/2001

http://www.senado.gov.br/sf/publicacoes/estatuto - acesso em 10/04/08

COSTA João da, Orçamento Participativo: O povo decide. Texto publicado em

10/03/08, www.joaodacosta.com.br/artigos/artigo.php?, acesso em 01/06/08

Page 55: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

55

DU PONT, Raul – Entrevista concedida ao Portal do PT, disponível em

http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=2094, acesso em

10/06/08.

FEDOZZI, Luciano. Orçamento Participativo: reflexões sobre a experiência de

Porto Alegre. Tomo Editorial; Rio de Janeiro: UFRJ/IPPUR, 3ª edição, 2001.

______________. Observando o Orçamento Participativo – Análise histórica de

dados: perfil social e associativo, avaliação e expectativas. Porto Alegre: Tomo

Editorial, 2007.

FORUM CENTRO VIVO. Dossiê de Denúncia. Texto publicado em 30/01/08

http://dossie.centrovivo.org/Main/CapituloVIIParte3 – Acesso em 04/06/08

FORUM NACIONAL DE PARTICIPAÇÃO POPULAR (FNPP)–Cartilha do

Orçamento Participativo-http://www.participacaopopular.org.br/cartilha%20OP.doc

consulta em 15/05/08).

FÓRUM POPULAR DO ORÇAMENTO DO RIO DE JANEIRO (FOP), Cidadania

do Orçamento (www.cartilha.blogger.com.br/cartilha1a.htm -consulta em 10/06/08)

LEI nº 4.566, de 20/07/07, que dispõe sobre as Diretrizes Orçamentárias para o

exercício financeiro de 2008 do Município do Rio de Janeiro – disponível em

http:://www.camara.rj.gov.br/, consulta em 10/06/08

LEI nº 10257 de 10/07/2001 - O Estatuto da Cidade – disponível em:

http://www.senado.gov.br/sf/publicacoes/estatuto - acesso em 10/04/08

LIMA, Kleber, O Orçamento Participativo (e vivo).

http:// www.odocumento.com.br/articulista.php?id=781, Acesso em 06/05/08.

MAHFUS, Júlio César. Orçamento Participativo. A construção da cidadania em

busca da hegemonia social. http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1277,

acesso em 14/05/08

MANDL, Carolina – Delegados do Orçamento Participativo viram cabos Eleitorais.

http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=428334, consulta em

06/05/08.

Page 56: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

56

MENDES, Denise Cristina Vitale Ramos - Democratizando os processos

orçamentários: a experiência do Orçamento Participativo nos municípios

brasileiros. Disponível em: http://www.stn.fazenda.gov.br/premio_tn/Premio/ -

acesso em 10/06/08

NITERÓI, Prefeitura Municipal de – texto sobre o OP, publicado em 27/02/08:

http://www.niteroi.rj.gov.br/portal3/modules.php?name=News&file=print&sid=132,

acesso em 01/06/08.

ONG CIDADE – Execução de obras e serviços no OP cai drasticamente desde

2005: disponível em www.ongcidade.org/site/arquivos/jornal/orcamento.pdf

consulta em 10/06/08

PIMENTEL, Fernando http://www.brasilemacao.com.br/noticia_int.asp?cod=2537,

consulta em 20/06/08)

PIRES, Valdemir. Orçamento Participativo: O que é, para que serve, como se faz.

1ª ed. São Paulo: Ed. Manole, 2001, pp. 68, 35, 102., 116

PORTO ALEGRE, Prefeitura Municipal de, Histórico do Orçamento Participativo,

http://www2.portoalegre.rs.gov.br/op,consulta em 10/06/08.

PORTO ALEGRE, Prefeitura Municipal de, Seminário Internacional sobre

Experiencias de Orçamento Participativo http://www2.portoalegre.rs.gov.br/urbal9/,

consulta em 16/06/2008.

RIBEIRO, Ana Clara T. e GRAZIA, Grazia de, Experiências de Orçamento

Participativo no Brasil: período de 1997 a 2000, Petrópolis: Vozes, Fórum Nacional

de Participação Popular, 2003

RIO DE JANEIRO, Prefeitura Municipal do – Orçamento Participativo,

Rio Estudos nº 74, (www.armazemdedados.rio.rj.gov.br/ consulta em 12/06/08)

RIO DE JANEIRO, Prefeitura Municipal do – Plano Estratégico II, disponível:

www.rio.rj.gov.br/planoestrategico/interna.php?n0=1&n1=1 - 15k –, acesso em

em 16/06/08

Page 57: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

57

SANTIN, Janaina Rigo; FREITAS, Felipe Simor de - O Estatuto da Cidade e a

Gestão Democrática Municipal - disponível em http://www.mundojuridico.adv.br/

sis_artigos/artigos.asp?codigo=479, acesso em 15/05/2008.

SILVA, Jose Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2001 SOUZA, Celina. Construção e consolidação de instituições democráticas: papel

do orçamento participativo. São Paulo em Perspectiva. Dez 2001, vol. 15, n. 4,

disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-

88392001000400010&nrm=iso&lng&tlng=pt., Acesso em 01/06/08.

SOUZA, Herbert de - Ética e Cidadania. Coleção Polêmica, Ed. Moderna, São

Paulo, 1994, p.22.

TEIXEIRA, Ana; GRAZIA, Grazia de; ALBUQUERQUE, M.Carmo; PONTUAL,

Pedro - Democratização da Gestão Pública e Controle Social - disponível em

http://www.participacaopopular.org.br/cartilha%20OP.doc, consulta em 16/05/08

Texto: Orçamento Participativo de Carnide é Referência Internacional

disponível em: http://cdulumiar.blogs.sapo.pt/163958.html- consulta em 16/06/08.

Texto: As 72 perguntas mais freqüentes sobre o Orçamento Participativo

Disponível:http://staging.unchs.org/campaigns/governance/documents/FAQPP.pdf

acesso em 27/06/08

VAINER, C. B. Os liberais também fazem planejamento urbano? Glosas ao plano

estratégico da cidade do Rio de Janeiro in. ARANTES, O; MARICATO E. e

VAINER, C. B . A cidade do pensamento único: desmanchando consensos -

Petrópolis: Vozes, 2000, p. 105–119.

XAVIER, Eudes, Orçamento Participativo de Fortaleza. Texto publicado em

15/05/07, www.eudesxavier.org.br/fortaleza/texto.php?ID=45, acesso em 01/06/08.

WIKIPÉDIA, A enciclopédia Livre – Fórum Econômico Mundial – disponível em

http://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%B3rum_Econ%C3%B4mico_Mundial

consulta em 20/06/08.

Page 58: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

58

WORLDBANK. Rumo a um Orçamento Participativo Mais Inclusivo e Efetivo em

Porto Alegre – Estudo realizado pelo Banco Mundial em 2006. Disponível em:

http://siteresources.worldbank.org/INTBRAZIL/Resources/OP_port.pdf, acesso em

05/06/08.

Page 59: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

59

ATIVIDADES CULTURAIS

Page 60: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

60

ATIVIDADES CULTURAIS

Page 61: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

61

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2 AGRADECIMENTO 3 RESUMO 4 METODOLOGIA 5 SUMÁRIO 6 INTRODUÇÃO 7 CAPÍTULO I NOÇÕES BÁSICAS SOBRE O ORÇAMENTO PARTICIPATIVO 9 1.1 – O Controle Político 11 1.2 - A Participação Popular – Exercício de Cidadania 16 CAPÍTULO II CICLOS DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO 18 2.1 - Objetivos 23 2.2 – Vantagens e Problemas 25 2.3 – Orçamento Participativo Digital, o que é? 27 CAPÍTULO III A EXPERIÊNCIA EM MUNICÍPIOS BRASILEIROS 29 3.1 - Resultados Práticos em Porto Alegre 31 3.2 - Resultados Práticos no Rio de Janeiro 35 3.3 - Resultados Práticos em Belo Horizonte 43

Page 62: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

62

CAPÍTULO IV A REPERCUSSÃO INTERNACIONAL DA EXPERIÊNCIA BRASILEIRA DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO 47 4.1 – A Rede “Urb Al” e o Orçamento Participativo 48

CONCLUSÃO 52

BIBLIOGRAFIA 54

ATIVIDADES CULTURAIS 59

ÍNDICE 61

FOLHA DE AVALIAÇÃO 63

Page 63: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO IV – A Repercussão Internacional da Experiência Brasileira do Orçamento Participativo 4.1. A Rede Urb Al e o Orçamento

63

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes Título da Monografia: O Orçamento Participativo como Instrumento de Gestão Democrática dos Municípios Autor: Maria das Mercês Cunha Vilas Boas Data da entrega: Avaliado por: Conceito