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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE AFETO E AUTO-ESTIMA PARA ALUNOS DO ENSINO MÉDIO Por Regina Celia da Rocha Viegas Orientador Nilson Guedes de Freitas Rio de Janeiro 2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

AFETO E AUTO-ESTIMA PARA ALUNOS DO ENSINO MÉDIO

Por Regina Celia da Rocha Viegas

Orientador

Nilson Guedes de Freitas

Rio de Janeiro

2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

AFETO E AUTO- ESTIMA PARA ALUNOS DO ENSINO MÉDIO

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes

como requisito parcial para obtenção do grau de especialista

em Docência do Ensino Superior. Orientador Nilson Guedes de

Freitas

Por Regina Célia da Rocha Viegas.

Rio de Janeiro

2007

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AGRADECIMENTOS

A todos os professores que através de suas

atitudes marcaram para sempre a minha vida. Ao

professor Nilson Guedes de Freitas pelo

empenho em qualificar esse trabalho. E aos meus

colegas de curso pelo convívio afetuoso.

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DEDICATÓRIA

Aos meus filhos que sempre me

estimularam a acreditar que o futuro poderá ser

melhor desde que pautado no amor, amor ao

próximo e a si mesmo, e aos meus pais que

sempre estão presentes na minha vida.

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EPÍGRAFE

Coração de Estudante Milton Nascimento Composição: Wagner Tiso / Milton Nascimento

Quero falar de uma coisa

Adivinha onde ela anda

Deve estar dentro do peito

Ou caminha pelo ar

Pode estar aqui do lado

Bem mais perto que pensamos

A folha da juventude

É o nome certo desse amor

Já podaram seus momentos

Desviaram seu destino

Seu sorriso de menino

Quantas vezes se escondeu

Mas renovasse a esperança

Nova aurora, cada dia

E há que se cuidar do broto

Pra que a vida nos dê

Flor e fruto

Coração de estudante

Há que se cuidar da vida

Há que se cuidar do mundo

Tomar conta da amizade

Alegria e muito sonho

Espalhados no caminho

Verdes, planta e sentimento

Folhas, coração,

Juventude e fé.

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RESUMO

Esse trabalho procura estudar a importância do afeto e da auto-estima para

o aluno do Ensino Médio. O objetivo geral deste trabalho é analisar objetivamente

a interferência que esses sentimentos causam nos alunos. A conduta

apresentada pelos alunos no ambiente escolar e o baixo rendimento escolar vêm

preocupando pais de alunos, professores e responsáveis pela educação, por esta

razão o estudo desse tema se justifica. O estudo está limitado pelas relações

professor-aluno e seus pares no ambiente escolar. Baseado no estudo de

teóricos das áreas da pedagogia, biologia e psicologia, como Freire (1996),

Piaget (1954/1984) e Alves (2000) sobre esse tema, serão realizadas reflexões e

análises de algumas situações onde o afeto e a auto-estima estão diretamente

ligados como causa e efeito de comportamentos apresentados no ambiente

escolar. Conclui-se que o relacionamento afetivo entre professor-aluno e seus

pares, promovem um desempenho positivo, e que o professor através de

atividades específicas pode elevar a auto-estima de seus alunos, contribuindo

com a melhora da capacidade intelectual e social.

Palavras chave: afeto, auto-estima, adolescência, inteligência, ensino médio

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ABSTRACT

This work seeks to study the importance of friendship and self-esteem for

the high school student. The general purpose of this work is to analyze objectively

how such feelings affect the students. The conduct presented by the students

and their low performance at school have been worrying the parents, teachers and

the education professionals, which explains the direction of the study presented

herein. The study, in a general way, is limited by the relationship among students

and teachers and their roomates in school. Based on the studies of theorists in

the areas of pedagogy, biology and psicology, such as Freire (1996), Piaget

(1954/1984) and Alves (2000) regarding this topic, there will be made reflections

and analysis of some situations in which friendship and self-esteem are directly

linked as cause and effect of the students` behavior at school. The conclusion is

that the affective relationship between the teachers and students and their

roomates promotes a satisfactory performance and that the teacher, by means of

specific activities, may increase the self-esteem of their students, which

contributes for a better social and intellectual performance.

Keywords: friendship, self-esteem, adolescence, intellect, high school.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

1 - RELAÇÃO DE AFETO NOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO 12

2 - AUTO-ESTIMA E INTERESSE DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO 21

3–AÇÕES EDUCATIVAS 27

CONCLUSÃO 33

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 37

ANEXO 39

ÍNDICE 40

FOLHA DE AVALIAÇÃO 41

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INTRODUÇÃO

Esse trabalho tem como problema a ser estudado as causas e efeitos que

o afeto e a auto-estima promovem nos alunos do Ensino Médio, como a falta

desses sentimentos desequilibra o aluno e torna difícil a convivência no ambiente

escolar. Embora possa parecer à primeira vista tratar-se de um tema comum, por

já ter sido estudado exaustivamente por vários teóricos, ele está presente e

continua interferindo nos relacionamentos.

Muito se têm falado sobre o desinteresse, a falta de atenção e o baixo

rendimento escolar dos alunos, os exames nacionais vêm comprovando este fato

ano após ano. A escola tem sido nos últimos anos palco de depredações,

paredes pixadas, lixo e falta de cidadania. A falta de apego à escola, ao mobiliário

da escola, aos colegas e por último a si próprio, quando muitos alunos não se

importam se a nota é boa ou ruim, esses fatos têm preocupado os professores.

O relacionamento professor-aluno e seus pares têm ocorrido de forma

agressiva, os alunos não estão respeitando os professores nem os funcionários

da escola. Existe hoje um grande número de alunos desmotivados, sem interesse

em participar das atividades escolares, descrentes dos valores sócio-culturais,

morais, étnicos. Encontra-se dentro das escolas a violência física com brigas,

agressões, depredações e pixações nas paredes. Ofensas verbais,

discriminações, segregações, humilhações e desvalorização com palavras,

gestos e atitudes de desmerecimento. A conduta apresentada pelos alunos em

sala de aula, com professores e funcionários, tem preocupado pais de alunos,

professores e responsáveis pela educação, por esta razão o estudo desse tema

se justifica.

O objetivo geral deste trabalho é analisar objetivamente a interferência que

os sentimentos de afeto e auto-estima causam nos alunos do Ensino Médio, que

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10 são em sua maioria adolescentes com vários problemas relacionados a esta fase

do desenvolvimento.

O estudo sobre o afeto e auto-estima é muito amplo, esse trabalho está

limitado pelas relações professor-aluno e seus pares no ambiente escolar,

considerando em suas reflexões os alunos do Ensino Médio.

Baseado nos estudos de teóricos das áreas da pedagogia, biologia e

psicologia sobre esse tema, serão realizadas reflexões e análises de algumas

situações onde o afeto e a auto-estima estão diretamente ligados como causa e

efeito de comportamentos apresentados no ambiente escolar.

No primeiro capítulo a afetividade é avaliada segundo o biólogo Jean

Piaget (1954/1994, p.188), como a energia que impulsiona a ação, a mola

propulsora de todo tipo de atividade, podendo influenciar no funcionamento das

estruturas de inteligência. O relacionamento afetivo acolhe, recebe, aceita o

diferente, cria um relacionamento amigável, torna o convívio um ato de amor.

O ser humano nasceu para viver em grupo, em sociedade, os alunos

precisam aprender a aceitar e ser aceito pelo grupo social em que vive, o afeto

cria um ambiente de receptividade, de amizade e compreensão. Segundo o

professor Paulo Freire (2005), sem o diálogo a relação professor-aluno não

acontece, o professor precisa conhecer seus alunos, numa relação de amor e

humildade, num diálogo de confiança.

No seguimento seguinte, segundo capítulo, a auto-estima é analisada

através dos trabalhos de Jean Piaget (1984) onde a projeção do eu sobre o

objeto cria a identidade, condicionando ao sucesso como ao fracasso. Nessa

linha também os Cadernos de Pesquisa, da Fundação Carlos Chagas (2006),

apresentam alguns trabalhos realizados em escolas brasileiras, onde a falta de

auto-estima dos alunos indica problemas na aprendizagem e no relacionamento

professor-aluno e seus pares.

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11 Por fim, no terceiro capítulo, algumas providências que indicam um

caminho para melhorar a relação professor-aluno e seus pares, estas ações

foram citadas como estímulo à criatividade dos professores.

Baseando-se em estudos apresentados pelos Cadernos de Pesquisa

(2006), Jean Piaget (1984), Rubens Alves (2000), Paulo Freire (1996) e outros

teóricos, conclui-se que o aluno com carência afetiva e baixa auto-estima

desenvolve uma série de comportamentos negativos dentro do ambiente escolar

que resulta em problemas generalizados prejudicando a ele e aos colegas.

O aluno com boa auto-estima se aceita como é, vive de bem com a vida,

tem motivação, energia para conviver com as dificuldades, tolerância consigo

mesmo, autoconfiança para buscar solução para os seus problemas. A escola é

o lugar privilegiado para desenvolver a socialização dos jovens, estimulando

hábitos e atitudes, valores morais e étnicos, para formar seres humanos mais

tolerantes e justos.

Algumas razões motivaram a produção deste trabalho uma delas é

acreditar que existe uma solução para a resolução de todo o problema, que ao

pensar e repensar, nesse exercício reflexivo e através de novas investidas na

prática educacional, será possível encontrar a solução. Tenham uma boa leitura.

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1- A RELAÇÃO DE AFETO NOS ALUNOS DO ENSINO

MÉDIO

O afeto é um sentimento acolhedor, dá carinho, dedicação, atenção,

amizade é o domínio das emoções num ato de amor. A afetividade é um atributo

psíquico que dá o valor e representa a realidade.

A afetividade atua no desenvolvimento intelectual através da motivação e

interesse, atua nas relações professor-aluno dentro do ambiente escolar

exercendo uma influência sobre as emoções e o comportamento.

1.1- Afeto e cognição

A afetividade é a energia que impulsiona a ação, motiva, desperta o desejo,

que sustenta todo tipo de atividade, podendo influenciar no funcionamento das

estruturas de inteligência, porém, não poderia modificá-la, reconstruí-la ou

destruí-la, segundo Piaget (1954/1994). Os sentimentos negativos alteram a

capacidade intelectual, a atenção, o interesse, o envolvimento dos alunos nas

atividades escolares.

À afetividade caberia então o papel de uma fonte de energia da qual dependeria o funcionamento da inteligência, porém não suas estruturas, da mesma forma que o funcionamento de um automóvel depende da gasolina, que aciona o motor, porém não modifica a estrutura da máquina (PIAGET, 1954/1984, p.188)

As emoções influenciam o raciocínio tornando-o mais rápido quando se está

feliz e mais lento quando se está triste. Com freqüência os efeitos da afetividade

promovem um ambiente produtivo, com respeito às diferenças individuais, com

condutas assertivas, sendo capaz de promover a autoconfiança, autonomia e

melhor rendimento escolar para os alunos.

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13 A afetividade sendo a energia que movimenta a ação do aluno, em razão

dos sentimentos que promove neste aluno, deve estar presente no

relacionamento professor-aluno de tal maneira que ele esteja motivado a

participar das atividades escolares. Fatores de ordem emocional como a

motivação, a autoconfiança, a auto-estima, entre outros, podem afetar a

capacidade cognitiva dos alunos, prejudicando o seu desempenho em atividades

que envolvem a concentração e o raciocínio, necessários no processo de

aprendizagem.

Numa sociedade conturbada e competitiva em que vivemos é necessário

estabelecer regras claras de conduta, de respeito às dificuldades de cada um e

valorizar as diferenças, que comprovadamente enriquecem os relacionamentos

humanos. Os alunos precisam estar integrados e informados sobre todas as

atividades que serão desenvolvidas para que possam ter uma noção clara dos

objetivos a serem atingidos pelos trabalhos propostos, deverá haver um respeito

mútuo no relacionamento professor-aluno, regras claras, discutidas e

equacionadas em sala de aula.

A criança, como o adulto, só executa alguma ação exterior ou mesmo inteiramente interior impulsionado por um motivo e este se traduz sempre sob forma de uma necessidade (uma necessidade elementar ou um interesse, uma pergunta etc) (PIAGET, 1984, p.14)

O aluno precisa estar emocionalmente envolvido nas atividades propostas, esta motivação pode ser de característica intrínseca, quando o aluno tem o prazer em realizar uma tarefa, através de suas próprias iniciativas, ou extrínseca, quando o aluno para realizar uma tarefa precisa de uma valorização exterior, como incentivo do professor ou de algum colega, é uma motivação originada de uma vontade de conquistar o reconhecimento externo. A afetividade desenvolve a motivação através de laços de afeto, reconhecimento do outro, carinho e atenção.

O aluno do Ensino Médio passa por transformações físicas e psíquicas

próprias da adolescência, precisa ser recebido num ambiente escolar onde possa

expressar suas angústias e anseios, encontre oportunidade de se desenvolver.

Através do relacionamento afetivo professor-aluno o jovem terá segurança para

se expressar se desenvolver sem constrangimento.

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14 Existe, com efeito, um paralelo constante entre a vida afetiva e a intelectual. Demos aí apenas um exemplo, mas veremos que esse paralelismo se seguirá no curso de todo o desenvolvimento da infância. Tal constatação só surpreende quando se reparte, de acordo com o senso comum, a vida do espírito em dois compartimentos estanques: o dos sentimentos e o do pensamento. Mas, nada é mais falso e superficial. Na realidade, o elemento que é preciso sempre focalizar, na análise da vida mental, é a “conduta” propriamente dita, concebida – como procuramos expor rapidamente na nossa introdução - como um restabelecimento ou fortalecimento do equilíbrio. Ora toda conduta supõe instrumentos ou uma técnica: são os movimentos e a inteligência. Mas, toda conduta implica também modificações e valores finais (o valor dos fins): são os sentimentos. Afetividade e inteligência são, assim, indissociáveis e constituem os dois aspectos complementares de toda conduta humana. (PIAGET, 1984, p.21.)

O afeto é a mola propulsora de toda ação pedagógica, a interação

estabelecida entre professor-aluno em sala de aula deve promover um

relacionamento de qualidade, onde os valores pessoais possam ser destacados e

desenvolvidos para o benefício de todos.

O jovem precisa do sentimento de pertencimento ao grupo para que se

sinta motivado a desenvolver as atividades escolares, do contrário fica

mentalmente ausente, recolhido ao seu mundo interior, o que é classificado com

distraído.

Contudo, no dia-a-dia da sala de aula, devido ao grande número de alunos

em sala, muitas vezes o professor não consegue atender a todos os alunos da

forma desejável, entretanto, deve prevalecer um ambiente saudável de respeito

mútuo, onde os alunos sintam-se acolhidos, exercitem sentimentos de tolerância,

cooperação e afetividade, sabendo conviver com os sentimentos uns dos outros.

O relacionamento afetivo do professor desenvolve atitudes de interesse e

confiança que amplia a capacidade cognitiva do aluno, possibilitando que ele

alcance melhor desempenho nas atividades, pois está envolvido emocionalmente.

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15 1.2 - Afeto e plasticidade cerebral

O sistema nervoso humano é extremamente flexível e plástico. A

plasticidade neural é o nome dado à capacidade que os neurônios têm de formar

novas conexões a cada momento. Os exercícios físicos e mentais se utilizam de

vários sentidos ao mesmo tempo, como visão, audição, olfação, gustação, tato e

emoção que atualmente é considerado o sexto sentido.

O professor que se relaciona afetivamente com seus alunos, numa relação

de respeito mútuo, promove um ambiente de significado emocional positivo, onde

o convívio social e a experiência da interação entre os alunos são feitos de forma

saudável, e todas as formas de inteligências podem ser incentivadas.

Acredita-se que a decisão hipocampo para armazenar uma memória baseia-se em dois fatores: se a informação tem significado emocional ou se está relacionada a alguma coisa que já sabemos. (KATZ, e RUBIN; Mantenha o seu cérebro vivo: exercícios neuróbicos para ajudar a prevenir a perda de memória e aumentar a capacidade mental. Rio de Janeiro. 2000. p.20).

A partir do conhecimento da plasticidade cerebral verificamos que o aluno

deve ser visto de forma integral, através de suas competências múltiplas que

poderão ser artísticas: desenho, música, lingüística ou matemática.

A sala de aula deve propiciar o desenvolvimento de habilidades individuais

para desenvolvimento integral dos alunos. Comprovado por estudos e pesquisas

o ser humano possui diversas habilidades que precisam ser estimuladas e

desenvolvidas, trabalhadas de forma ampla. O professor deve estar atento, os

alunos são diferentes e precisam ser tratados de forma diferenciada, respeitando

a individualidade de cada um e a unidade da sala de aula como um todo.

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16 A certeza de que a mente humana abriga diferentes inteligências pode

ser confirmada quando se observa caso de lesão cerebral, adquirido ou

não, e essa pessoa perde elementos específicos de uma ou mais

inteligências, conservando intactos os demais. Nessas circunstâncias

descobre-se, por exemplo, que o dano cerebral levou a linguagem, mas

não a sensibilidade musical; a capacidade matemática, mas não o

sentimento de empatia e solidariedade. (ANTUNES, Inteligências

múltiplas e seus jogos: inteligência lingüística. v. 5. Petrópolis.2006.p.7).

A escola hoje se preocupa com a inclusão étnica, cultural e sócio-

econômica, com os portadores de deficiência física e mental. Os professores

devem se preparar para trabalhar com a capacidade afetiva e emocional de seus

alunos, os trabalhos científicos demonstram que o desenvolvimento intelectual é

constituído levando em conta os componentes afetivos e cognitivos.

A afetividade atua no desenvolvimento cognitivo através da motivação e

interesse através da construção das relações do ser humano dentro de uma

perspectiva social e cultural. A relação afetiva desenvolve uma profunda

influência sobre o pensamento e sobre toda a conduta do aluno fazendo com que

ele sinta-se reconhecido e valorizado.

1.3 - Afeto e socialização

A adolescência é uma fase do desenvolvimento onde existem

comportamentos como a rebeldia, a contestação, a identificação de ídolos,

questionamentos sobre a autoridade, a sexualidade, o egoísmo, a necessidade

de viver em grupo, esses sentimentos são naturais e precisam ser tratados com

diálogo e compreensão. No ambiente escolar o jovem vai conviver com outros

jovens com formação de valores diferentes dos seus, nessas ocasiões começam

a surgir os grupos, as segregações e os conflitos.

A educação na diversidade é um meio essencial para desenvolver a compreesão mútua, respeito e tolerância, que são os fundamentos do

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17 pluralismo, a convivência e a democracia. Por isso, é fundamental que as escolas, que são instâncias fundamentais para a socialização dos indivíduos, ofereçam a possibilidade de aprender e vivenciar esses valores (MEC, SEESP, Ensaios Pedagógicos, Construindo Escolas Inclusivas: 1.,Brasília.2002.p.10)

A tolerância é encarada como a capacidade de transigir, aceitar com

respeito os pensares, atitudes e crenças que dos que diferem de suas formas

pessoais.

O que tem perturbado o ambiente escolar hoje é a falta de limites, reflexo

de uma sociedade competitiva, onde falta compreensão dos direitos individuais e

coletivos, a intransigência, a falta de noções de cidadania estão presentes nos

relacionamentos. A escola é o lugar ideal para promover o encontro entre os

jovens que possuem características diferentes, sejam étnicas, sócio-cultural,

econômicas, físicas ou mentais, desenvolvendo valores e promovendo o exercício

de uma vida em sociedade justa e igualitária.

desde a educação tem de promover de forma intencional a aceitação e valorização da diferenças de qualquer tipo para “aprender a viver juntos”, o que implica a compreensão do outro como “um outro legítimo” e o desenvolvimento de novas formas de convivências baseadas no pluralismo, o entendimento mútuo e as relações democráticas. A percepção e a vivência da diversidade nos permitem, alem disso, construir e reafirmar a própria identidade e distinguir-nos dos outros. O ser humano realiza-se plenamente como membro de uma comunidade e uma cultura, mas também no respeito a sua individualidade, pelo que outro aspecto fundamental da educação tem de ser “aprender a ser. (MEC, SEESP, Ensaios Pedagógicos, Construindo Escolas Inclusivas: 1.,Brasília.2002.p.11)

Encontramos no ambiente escolar, situações de violências físicas e

psíquicas que agem de forma negativa nos alunos, causando desinteresse, apatia

e em muitos casos evasão escolar. As violências físicas são causadas por alunos

agressivos que não respeitam os colegas e muitas vezes os professores. As

agressões psíquicas são aquelas onde o aluno é tratado com pouco caso pelos

colegas e em alguns casos pelos professores.

A falta de motivação gera dispersão em sala de aula, abre espaço para

que alguns alunos que não conseguem acompanhar as atividades desenvolvam

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18 atitudes negativas que geram provocações aos colegas através de ofensas

verbais, discriminações, segregações e situações de constrangimentos.

O professor autoritário não consegue resolver uma situação de conflito. Só

o diálogo pode encontrar a saída para o conflito, o professor precisa ser enérgico

quando necessário, mas nunca deixar de ser afetuoso.

As situações de indisciplina são oportunidades de se discutir os valores e a

vida em sociedade, abordar o conceito de democracia e a convivência numa

sociedade democrática.

O aluno adolescente que está insatisfeito com sua vida pessoal, com a

vida familiar, ou com a sociedade de maneira geral, apresenta um

comportamento inadequado para chamar a atenção, sendo o diferente no grupo,

ele demonstra através de seus atos a insatisfação que sente. Nesse momento o

professor precisa através da afetividade buscar o diálogo, conhecer este aluno, a

fim ajudá-lo em suas dificuldades, para que possa integrá-lo ao ambiente escolar.

O relacionamento de amizade e confiança que o professor desperta em

seus alunos desencadeia uma série de sentimentos positivos, como tolerância,

paciência, visão de felicidade, que muitas vezes não são encontrados no

ambiente familiar, apresentando uma alternativa positiva para o convívio em

grupo. Nas comunidades carentes a escola é a única opção de acesso a uma

vida melhor, mais digna, mais humana.

As interações com outras pessoas são um gatilho importante para as reações emocionais. Além disso, como as situações sociais são em geral imprevisíveis, há mais probabilidade de resultarem em atividades fora da rotina. A maioria das pessoas possui uma necessidade forte e intrínseca dessas interações. Quando elas não existem, o desempenho mental declina. (KATZ, e RUBIN, Mantenha o seu cérebro vivo: exercícios neuróbicos para ajudar a prevenir a perda de memória e aumentar a capacidade mental.Rio de Janeiro.2000. p.35).

Nos trabalhos apresentados por Katz (2000) são apresentados fatores de

desenvolvimento cerebrais ligados à socialização, as relações afetivas e as

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19 vantagens que fazem aos indivíduos com relação ao seu desenvolvimento a nível

de estímulos emocionais.

O ser humano sozinho não consegue se desenvolver, é através dos

relacionamentos que ele adquire situações novas que o levam a reflexão,

impulsionando para novos rumos, instigam a buscar soluções. O relacionamento

afetivo faz com que ele sinta-se confortável dentro das situações novas e

encorajado a aprender com as conseqüências de atos, através do reforço positivo

o professor estimula seus alunos a vencer as dificuldades e encontrar solução

para os problemas apresentados na vida cotidiana.

As críticas devem ser feitas, para desenvolvimento do aluno, mas é muito

importante a forma como serão feitas. As críticas devem ser de formuladas

positivamente, devem ser construtivas, os limites devem ser colocados de forma

clara e sincera, para que haja sempre o respeito mútuo no relacionamento

professor-aluno.

Como conclusão, pode-se constatar a unidade profunda dos processos que, da construção do universo prático, devido à inteligência senso-motora do lactente, chega à reconstrução do mundo pelo conhecimento do universo concreto devido ao sistema de operações da segunda infância. Viu-se como estas construções sucessivas consistem em descentralização do ponto de vista, imediato e egocêntrico, para situá-lo em coordenação mais ampla de relações e noções, de maneira que cada novo agrupamento terminal integre a atividade própria, adaptando-a a uma realidade mais global. Paralelamente a esta elaboração intelectual, viu-se a afetividade libertar-se pouco a pouco do eu para se submeter, graças à reciprocidade e à coordenação dos valores às leis da cooperação. Bem entendido, é sempre a afetividade que constitui a mola das ações das quais resulta, a cada nova etapa, esta ascensão progressiva, pois é a afetividade que atribui valor a atividade e lhes regula a energia. Mas, a afetividade não é nada sem a inteligência, que lhe fornece meios e estabelece fins. É pensamento pouco sumário e mitológico atribuir as causas do desenvolvimento às grandes tendências ancestrais, como se as atividades e o crescimento biológico fossem por natureza estranhas à razão. Na realidade, a tendência mais profunda de toda atividade é a marcha para o equilíbrio. E a razão – que exprime as formas superiores desse equilíbrio – reúne nela a inteligência e a afetividade. (PIAGET, 1984.p.69)

Segundo Piaget (1984) a afetividade está presente em todo processo

evolutivo do ser humano, ativando o emocional e fazendo a ponte entre a

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20 inteligência e a razão, sedimentando os conhecimentos para que possam ser

utilizados em outros momentos.

A afetividade atua no desenvolvimento intelectual na forma de motivação e

interesse, como na construção das relações do ser humano dentro de uma

perspectiva social e cultural. Desenvolve uma profunda influência sobre o

pensamento e sobre a conduta do aluno, a afetividade dá valor e representa a

realidade.

A afetividade, portanto é o sentimento indispensável no relacionamento

professor-aluno, o educador deve estar com predisposição de conhecer e

compreender seus alunos, para que o ambiente em sala seja prazeroso, onde

haja um sentimento de grupo, criando vínculos onde os alunos se sintam

estimulados a participar das atividades.

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2- AUTO-ESTIMA E INTERESSE DOS ALUNOS DO

ENSINO MÉDIO

O tema auto-estima faz lembrar dos livros de auto-ajuda tão populares

atualmente, contudo trata-se de um tema relevante nos relacionamentos

humanos, principalmente no ambiente escolar. Algumas razões podem justificar a

necessidade de um enfoque científico sobre à auto-estima pois está associado a

aspectos da personalidade, está relacionado a saúde mental e estados

psicológicos, a ausência pode estar relacionada a depressão, a pouca auto-

estima tem gerado problemas de ordem social levando os jovens a ao fracasso

escolar , gravidez precoce, delinqüência, uso de drogas, de acordo trabalhos

científicos produzidos atualmente.

2.1- Auto-estima

Um grande número de variações se sobrepõem as relações professor-aluno

em sala de aula, não cabe neste trabalho avaliá-las contudo vale ressalvar a

importância que é dada pelo aluno à opinião do professor, a avaliação que ele faz

de si mesmo em relação aos colegas e ao ambiente sócio-cultural que é a escola.

Compeende-se a auto-estima como o juízo pessoal de valor, externado nas atitudes que o indivíduo tem consigo mesmo. É uma experiência subjetiva, à qual as pessoas têm acesso mediante relatos verbais e comportamentais observáveis (Coopersmith,1967). A percepção que o indivíduo tem do seu próprio valor e a avaliação que faz de si mesmo em termos de competência constituem pilares fundamentais da auto-estima. Estudiosos sugerem que esse julgamento pessoal é formado desde.a.infância,(Rosenberg,1989).(MARRIEL,C.M.,ASSIS,S.G.,AVANCI,J.Q.,OLIVEIRA,R.V.C.Violência escolar e auto-estima de adolescentes. Cadernos de Pesquisa, S. P., 2006. vol. 36, no.127)

A auto-estima pode ter algumas definições mas com certeza foi muito bem

definida por Coopersmith (1967) e apresentada no Caderno de Pesquisa

(vol.36no.127S.P.2006), a auto-estima é o respeito a si mesmo, é amor próprio,

reconhecer o seu valor, saber de suas limitações e se aceitar como é, sem

precisar se modificar para atender a expectativas externas.

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22 No caso dos alunos do ensino médio, que em geral estão na fase da

adolescência, essa auto-estima é geralmente permeada por várias incertezas, os

jovens estão questionando os valores morais, econômicos, sócio-culturais,

políticos, toda e qualquer coisa que esteja em sua frente.

Em vez de classificar, considerando uma escala de valores alienantes que visa “normalizar” o homem à norma estabelecida, passaríamos a amá-lo para compreendê-lo e ajudá-lo em seu devir. Somente a partir desse ponto, em que se estabelece o respeito mútuo e necessário, poderemos caminhar em direção à orientação da educação para a coletividade, para a cidadania. (FREITAS, Pedagogia do amor: caminho da libertação na relação professor-aluno. Rio de Janeiro. 2006.p.25)

O juízo que o jovem faz sobre si mesmo está condicionado a imagem

projetada que as pessoas mais ligadas a eles fazem, estas pessoas são os

familiares, os amigos e os professores. O professor Nilson Guedes (2006),

apresenta a relação professor-aluno baseada no amor e respeito mútuo. O

professor em sala de aula passa a ter grande responsabilidade na formação da

auto-estima e identidade de seus alunos, cabe a ele o controle dos hábitos e

atitudes desenvolvidos em sala de aula.

Muito se tem afirmado que passamos a saber quem somos por meio dos

outros, não seria possível saber quem somos sem a avaliação dos outros sobre

nós. Neste caso as relações interpessoais serão fundamentais para a formação e

manutenção do autoconceito. Com isso o desempenho dos alunos está

comprometido com a forma em que este aluno é tratado em sala de aula pelo

professor e seus colegas de classe como pode ser analisado no texto a seguir

apresentado no Caderno de Pesquisa (2006).

Ao longo do trabalho ficou evidente que alunos de baixa auto-estima têm relacionamentos mais difíceis na escola, colocando-se mais freqüentemente na posição de vítimas de violência. Têm ainda mais dificuldade de se sentir bem nesse espaço, configurando um perfil de aluno que merece ser priorizado nas práticas educativas. (MARRIEL,C.M.,ASSIS,S.G.,AVANCI,J.Q.,OLIVEIRA,R.V.C.Violência escolar e auto-estima de adolescentes. Cadernos de Pesquisa. São Paulo. 2006. vol. 36, no. 127)

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23 2.2 - Auto-estima e relacionamento no ambiente escolar

A baixa auto-estima começa muitas vezes na infância, dentro do ambiente

familiar, dentro de condições sócio-econômicas insustentáveis, o aluno chega à

escola esmagado pelos sentimentos de humilhação e muitas vezes de maus

tratos.

Na escola ele poderá se posicionar apático, quieto, sem participação, sem

motivação, sem interesse nas atividades em sala, alheio a tudo ou ter atitudes

agressivas, depredando a escola, desrespeitando os professores, funcionários ou

mesmo os colegas. A falta de amor próprio, zelo com a sua aparência, descuido

com o material escolar, comportamentos descuidados, estado emocional triste,

são reflexos da baixa auto-estima. O aluno com baixa auto-estima não acredita

ser capaz de ter alguém que o ame, sente um sofrimento que geralmente não

expressa com palavras, poderá ser observado através de seus hábitos e atitudes,

segundo Piaget (1984, p.22).

Ao contrário, com o desenvolvimento da inteligência e com a conseqüente elaboração de um universo exterior, e principalmente com a construção do esquema do “objeto”, aparece um terceiro nível de afetividade: este é caracterizado, retomando o vocabulário da psicanálise, pela “escolha do objeto” , isto é pela objetivação dos sentimentos e pela sua projeção sobre outras atividades que não apenas a do eu. Note-se que com o progresso das condutas inteligentes, os sentimentos ligados à própria atividade se diferenciam e se multiplicam: alegrias e tristezas ligadas ao sucesso e ao fracasso dos atos intencionais, esforços e interesses ou fadigas e desinteresses, etc.

O aluno que deixa de participar das atividades que não resultam em nota

perde a oportunidade de integração com outros colegas, deixa de vivenciar

situações que levam a resolver conflitos de idéias, de promover sentimentos

como cooperação, tolerância, diferenças individuais de hábitos, atitudes e

princípios sócio-culturais. A falta do convívio social provoca um distanciamento

entre as pessoas, fazendo com que vivam alheias aos sentimentos de outras

pessoas, sem o exercício da convivência ela terá dificuldade de conviver com os

seus próprios sentimentos. Através do convívio social a experiência de um

contribui para o enriquecimento do outro.

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … CELIA DA ROCHA VIEGAS.pdf · 5 EPÍGRAFE Coração de Estudante Milton Nascimento Composição: Wagner Tiso / Milton Nascimento Quero falar de

24 Pesquisas científicas têm comprovado que a ausências de convívio social causa severos efeitos negativos na capacidade cognitiva geral. Projetos da Fundação MacArthur confirmam que manter atividades sociais e mentais são fatores importantes para a saúde mental. (KATZ, e RUBIN, Mantenha o seu cérebro vivo: exercícios neuróbicos para ajudar a prevenir a perda de memória e aumentar a capacidade mental.Rio de Janeiro.2000. p.20).

Pesquisas científicas interessadas nas diversas áreas cerebrais vêm

comprovar a importância do convívio social para o desenvolvimento afetivo e

cognitivo. A socialização é uma das metas educacionais objetivada no projeto

pedagógico, esses estudos apresentados por Katz (2000) apontam mais um

apelo no sentido dos professores desenvolverem atividades que favoreçam o

relacionamento saudável entre os alunos que muitas vezes não tem a

possibilidade de desenvolver esse tipo de atividade assistida no ambiente

familiar. Jovens portadores de deficiência devem participar das atividades

escolares a fim de desenvolver a integração e a troca de experiências que

surgem neste convívio.

2.3 - Auto-estima e aproveitamento escolar

Aos interesses ou valores relativos à própria atividade, estão ligados de perto os sentimentos de autovalorização: os famosos “sentimentos de inferioridade” ou de “superioridade”. Todos os sucessos e fracassos da atividade se registram em uma espécie de escala permanente de valores, os primeiros elevando as pretensões do sujeito e os segundos abaixando-as com respeito às ações futuras. Daí resulta um julgamento de si mesmo para o qual o indivíduo é conduzido pouco a pouco e que pode ter grandes repercussões sobre todo o desenvolvimento. Certas ansiedades, em particular, resultam de fracassos reais e, sobretudo, imaginários. (PIAGET, 1984. p.39)

O aluno que chega à escola muitas vezes com fome, com problemas

familiares, problemas relativos ao grupo social vizinho à sua residência, grupos

muitas vezes violentos que intimidam os moradores, esse aluno chega carente de

tudo principalmente auto-estima. A escola é o lugar privilegiado para promover o

equilíbrio físico e mental, através de atividades que venham a resgatar a auto-

estima, favorecendo a valorização do aluno, fazendo com que ele descubra novas

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25 aptidões, desenvolva hábitos e atitudes condizentes com a vida em uma

sociedade democrática.

Piaget (1954/1994) em seus estudos especificou as conseqüências

que a baixa auto-estima trazem para as crianças e jovens, como podem ficar

potencializados para o fracasso ou ao sucesso de acordo com os estímulos

emocionais que recebe no decorre de sua vida. Skinner (1938) em seus estudos

científicos sobre o comportamento humano enfatizou a premiação como forma de

desenvolver a capacidade cerebral, deixando os estímulos como uma das

principais causas do sucesso ou fracasso nas atividades humanas.

Como regra geral, haverá simpatia em relação as pessoas que responderem aos interesses do sujeito e que o valorizam. A simpatia, então, de um lado supõe uma valorização mútua e, de outro, uma escala de valores comum que permita as trocas. É o que a linguagem exprime, dizendo que as pessoas se gostam: “concordam entre si”, ”têm os mesmos gostos” etc. É, portanto, com base nesta escala comum que se efetuam as valorizações mútuas. Inversamente, a antipatia nasce da ausência de gostos comuns e da escala de valores comuns. (PIAGET, 984. p.40)

As pessoas de maior importância na vida dos jovens, familiares,

professores e colegas, serão responsáveis pela imagem que estes jovens farão

de si mesmo. Por isso, torna-se tão importante um ambiente de cordialidade,

companheirismo e respeito na sala de aula, no pátio e no refeitório.

O professor deve procurar conhecer seus alunos, proporcionar o diálogo a

fim de despertar a confiança e o respeito. Quando o aluno percebe que é

reconhecido pelo professor fica comprometido emocionalmente com o ele e

passa a ter uma relação sincera e construtiva. O aluno precisa sentir que é parte

importante no processo de aprendizagem, na adolescência ele já possui

maturidade para saber o que é bom para ele, e está buscando a sua afirmação

com pessoa.

Ora, o respeito mútuo conduz a formas novas de sentimentos morais, distintas da obediência exterior inicial. Podem-se citar, em primeiro lugar, as transformações referentes ao sentimento da regra, tanto a que liga as crianças entre si, como aquela que as une ao adulto. (PIAGET, 1984. p.57)

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26 O professor precisa avaliar o tempo e a capacidade de assimilação das

situações novas desenvolvidas em sala de aula, a fim de respeitar o potencial

individual cada um. As atividades devem estar inseridas no contexto dos alunos,

essa compreensão por parte do professor gera respeito ao aluno que será

reproduzido por esse aluno em situações futuras.

Se o diálogo é o encontro dos homens para ser mais, não pode fazer-se na desesperança. Se os sujeitos do diálogo nada esperam do seu quefazer, já não pode haver diálogo. O seu encontro é vazio e estéril. É burocrático e fasticioso. (FREIRE, Pedagogia do Oprimido, S. P. 2005, p.95)

O aluno com boa auto-estima consegue se posicionar de forma positiva

nas situações de dificuldade porque acredita que poderá encontrar êxito, é

proativo capaz de fazer as coisas acontecerem, supera os momentos de crises e

dificuldades, sabe buscar a solução para os problemas, não tem medo de

perguntar, procura alternativas para as dificuldades, sabe colocar limites nas

relações com os colegas a fim de se proteger, repele críticas negativas, é

generoso, participa com entusiasmo das atividades, é assertivo, busca o sucesso

na realização das tarefas.

O professor deve estimular as qualidades de seus alunos, valorizar as

contribuições trazidas para as aulas, incentivar a criatividade, a crítica e a

independência de seus alunos, respeitando a sua individualidade e as

características pessoais.

Os alunos com auto-estima contribuem para que o grupo trabalhe com

interesse e entusiasmo contagiando os colegas com atitudes positivas, o

professor deve estar atento e valorizar os relacionamentos construtivos a fim de

melhorar a qualidade do aprendizado da turma.

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27

3. AÇÕES EDUCATIVAS

As ações educativas são propostas de atividades em grupo que favorecem

o desenvolvimento de valores como a interação social construtiva baseada na

comunicação, cooperação, confiança, tolerância, reciprocidade, respeito mútuo e

responsabilidade. Outro objetivo dessas atividades é criar situações onde seja

estimulada a criatividade na resolução de problemas de relacionamento que

surgem naturalmente nas atividades. Os alunos precisam participar do

planejamento das atividades previstas pelo professor, onde devem ser

estabelecidas regras objetivas e claras.

que se esteja atento à importância de se preservar a capacidade crítica, a autonomia de idéias e principalmente, a “escrita” de uma escola mais antenada com seu tempo. Uma escola que resgate seu papel social, como instância capaz de fortalecer o sentido de pertencimento dos alunos, de lhes oferecer formação condizente com a atuação digna na sociedade, que traga ao centro do processo educativo. Que seja lugar, no cotidiano, da construção de relações de afeto, de limites e, principalmente, de participação dos jovens que nelas depositam confiança. (ESTEVES, Luis C. G., NUNES, Maria F. R., FARAH NETO, Miguel, ABRAMOVAY, Miriam. Estar no papel: cartas dos jovens do Ensino Médio. UNESCO, INEP/ MEC, Brasília, Ed. UNESCO, 2005, p.130).

A escola é o lugar privilegiado para o desenvolvimento do jovem tendo em

vista as oportunidades que são criadas no seu dia-a-adia. O professor deve

utilizar os temas geradores de oportunidades apresentados pelos alunos, fazendo

ligações com os conteúdos escolares, o diálogo entre os jovens fornecem

elementos que podem enriquecer os programas curriculares.

O aluno precisa ser treinado e incentivado para vencer, ter sucesso em

suas tarefas, as dificuldades devem ser apresentadas de acordo com o

desenvolvimento da turma. As críticas devem ser feitas num clima de cordialidade

e respeito para que possam ser aceitas e assimiladas pelo aluno. A valorização é

o melhor caminho para o sucesso, não se consegue um bom aluno com críticas

negativas. Quanto maior for o sucesso alcançado pelo aluno melhor se tornará

nas próximas atividades, porque terá auto-estima, acreditará no sucesso, já

experimentado e vivido em experiências anteriores.

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … CELIA DA ROCHA VIEGAS.pdf · 5 EPÍGRAFE Coração de Estudante Milton Nascimento Composição: Wagner Tiso / Milton Nascimento Quero falar de

28 As críticas feitas pelos alunos das escolas públicas são voltadas, na sua maioria, para as questões relativas à infra-estrutura, ao absentismo dos professores e a pouca participação na gestão. Já as críticas relativas às escolas particulares incidem na rigidez dos mecanismos de controle, na escassez dos equipamentos e nos métodos de ensino que não admitem ou reconhecem a autoria do estudante. O ponto comum entre ambas é a vontade dos alunos de poder se expressar, de ter um pouco mais de voz em algumas decisões tomadas. São decisões que, na ótica dos estudantes, dizem respeito a eles e, portanto nada mais natural que também sejam ouvidos a respeito delas. (ESTEVES, Luis C. G., NUNES, Maria F. R., FARAH NETO, Miguel, ABRAMOVAY, Miriam. Estar no papel: cartas dos jovens do Ensino Médio. UNESCO, INEP/ MEC, Brasília, Ed. UNESCO, 2005, p.128)

Os jovens desejam participar das atividades escolares, reclamam da

incompatibilidade das atividades propostas de uma forma geral nas escolas e o

assunto de interesse dos alunos. Esse distanciamento pode ser corrigido através

de um relacionamento afetivo professor-aluno, onde o aluno seja o motivo maior

de existir da escola, onde as atividades sejam adequadas aos interesses dos

alunos e a partir desse ponto possam ser instigados a se desenvolver e crescer

culturalmente, socialmente, possibilitando maior inserção na vida social e no

mercado de trabalho.

A participação dos alunos no processo educacional é condição primordial

de aprendizagem, onde não existe interesse não se desenvolvem aptidões. Sem

o envolvimento emocional não existe aprendizado, a afetividade cria condições de

desenvolvimento segundo Piaget (1954/1994), através da participação nas

atividades os jovens criam vínculos emocionais que irão permanecer por toda a

sua vida, atividades construídas com base na afetividade serão alicerces para a

construção de conhecimentos que estarão sedimentados através da emoção.

Também trabalhamos, com os professores, ações educativas que podem ser realizadas em sala de aula. Elas buscam criar situações em que o adolescente participe de forma ativa e traga à tona seus conflitos, frustrações e aspirações, assuma-os, refletindo sobre eles e discutindo com os outros, buscando solucioná-los de forma construtiva. (GONÇALVES, Mª Augusta Salin; PIOVESAN, Orene Mª; LINK, Andrisa; PRESTES, Lusiana F. LISBOA, Joiciana G., Violência na escola, práticas educativas e formação do professor. Cadernos de Pesquisa. S.P., 2005. vol 35, no.126)

O professor deve planejar suas atividades voltadas para o interesse do

aluno, devem ser dinâmicas e estimulantes, com o objetivo de propiciar um

ambiente oportuno para que os alunos possam se expressar, com isso promover

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29 debates onde os alunos possam expor suas insatisfações e tentar chegar a um

consenso. A escola é o lugar privilegiado para desenvolvimento da amizade,

confiança, limites, responsabilidade e cooperação, valores tão importantes numa

escola inclusiva.

3.1 - Atividades lúdicas

Através de atividades lúdicas os alunos poderão desenvolver habilidades,

conhecendo melhor a si mesmo e agregando valores positivos como o amor

próprio e a auto-estima.

O desenvolvimento de projetos pedagógicos envolvendo as artes visuais,

criações gráficas, vídeos. Dramatizações de pequenos textos criados pelos

próprios alunos. Composições literárias, a criação de um jornal dos alunos,

concurso de poesias ou músicas, atividades que levem os alunos a pensar a vida,

o meio ambiente e o seu ambiente social, oferecem informações para reflexões

sobre o respeito ao próximo, tolerância, convivência entre diferentes grupos.

Noções sobre a importância da ordem e limites dentro das relações são

desenvolvidas à medida que o jovem verifica que sem esses princípios os

trabalhos que eles conduzem não conseguem se desenvolver.

A regra obriga na medida em que o próprio eu está comprometido, de modo autônomo, com o acordo feito. É por isso que este respeito mútuo leva a uma série de sentimentos morais desconhecidos até então: a honestidade entre os jogadores, que exclui a trapaça - não porque esta seja “proibida”, mas pelo fato de que viola o acordo entre indivíduos que se estimam – o companheirismo, o fair play, etc. Compreende-se, assim, por que a menina só então começa a ser compreendida, já que é nesta idade que enganar os amigos é considerado como mais grave do que mentir para um adulto. A conseqüência afetiva, especialmente importante do respeito mútuo, é o sentimento de justiça. Este é muito grande entre os companheiros e influência nas relações entre crianças e adultos até modificar, às vezes, as atitudes em relação aos pais. (PIAGET, Jean. 1984.p.58)

O professor tem um papel importante ao desenvolver o plano de aula com

a inclusão de atividades que promovam ações educativas sócio-culturais e éticas.

Os conteúdos devem estar ancorados na realidade da comunidade onde será

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30 trabalhado, deverá estar inscrito no contexto dos alunos para que possam ser

assimilados.

3.2 - Atividades esportivas

Quanto a vida social do adolescente, pode-se encontrar aí nos outros campos uma fase inicial de interiorização (a fase negativa de Ch.Bühler) e uma positiva. Durante a primeira, o adolescente parece, muitas vezes, completamente anti-social. Nada é mais falso, no entanto, pois ele medita continuamente sobre a sociedade, mas a sociedade que lhe interessa é aquela que quer reformar tendo desprezo ou desinteresse pela sociedade real, condenando-a. Alem disso, a sociabilidade do adolesce afirma-se muitas vezes desde o início, com o contato dos jovens entre si, sendo mesmo bastante instintivo comparar estas sociedades de adolescentes com as das crianças. Estas têm por finalidade essencial o jogo coletivo ou, às vezes (por causa da organização escolar que não sabe tirar delas o partido que deveria), o trabalho concreto em comum. As sociedades dos adolescentes, ao contrário, são, principalmente, sociedades de discussão: a dois, ou em pequenos cenáculos, o mundo é reconstruído em comum, sobretudo através de discursos sem fim, que combatem o mundo real. (PIAGET, Jean. 1984.p.68.)

Através dos exercícios físicos os jovens direcionam de forma positiva toda

a energia que é própria da sua idade, aprendem a controlar as emoções, a

trabalhar em equipe, respeitar as diferenças e acreditar no esforço e dedicação

para construir uma vitória. A prendem a conviver com o sentimento negativo de

uma derrota, mas aprendem sobre tudo a trabalhar para uma nova chance de

vitória.

Comprovadamente o esporte cria hábitos e atitudes saudáveis, que

estimulam a auto-estima e valores positivos. A escola precisa utilizar-se das

atividades esportivas que estimulam o sentimento de equipe, de participação

dentro de um grupo, de divisão de tarefas, de cooperação, obediência a regras

claramente definidas. A oportunidade de vitória é dividida e compartilhada com os

elementos do grupo. Esses valores emocionais precisam ser trabalhados na

adolescência, os jovens estão procurando fortalecer a sua identidade e precisam

de valores positivos para que se desenvolvam de forma saudável, para que

possam viver numa sociedade mais justa e humana.

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31 3.3- Atividades em grupo

Segundo Freire (1996), o homem se forma a partir do contato com o outro,

esse outro é responsável pela sua formação, à medida que parte dele o

questionamento, a ação e reação a esse relacionamento. Sem contato humano

não haverá crescimento, um instiga o outro em seu processo evolutivo, essa é a

natureza humana. Para o educador Freire (1996) negar ao homem a cultura é

afastá-lo de oportunidades de direito adquirido através de seus antepassados.

A escola precisa ir ao encontro dos interesses de seus alunos e resgatar o

interesse pelo desenvolvimento e crescimento, despertando o senso crítico, o

diálogo, meios pelos quais possa expressar seu pensamento. O professor deve

procurar utilizar temas geradores de projetos educativos que façam ligação dos

conteúdos programáticos com a vida dos alunos.

Os alunos precisam ser instigados, criar o hábito de questionar, ter

curiosidade, utilizando temas de interesse dos alunos os professores podem

iniciar o processo de pesquisa e reflexão.

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto continuo procurando e reprocurando. Ensino enquanto busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. (FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica educativa. S. Paulo,1996. p.29)

Os trabalhos em grupo sejam em sala de aula, na biblioteca ou em casa,

levam os alunos a se submeter às regras de convívio, são levados a enfrentar

situações de inesperadas através do relacionamento com colegas que

apresentam atitudes e valores diferentes dos seus, nesse momento ele exercita o

autocontrole, a cooperação, a tolerância, e outros sentimentos que possam surgir.

O professor deverá estar atento e buscar através do diálogo afetivo esclarecer a

importância da participação de todos para a realização do trabalho envolvendo a

turma num debate, onde esteja claro o conteúdo e o prazo de elaboração,

determinando limites.

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32 Um debate pedagógico como aquele desencadiado pela inclusão escolar exige que lembramos que o compromisso do educador tem como base a sua apropriação dos seus próprios recursos e instrumentos: a observação, o diálogo, a negociação e a avaliação que retroalimenta o agir do educador (Jesus, 2004) Estes desafios permite que os limites entre educação especial e educação sejam discutidas com veemência. O professor que não é capaz de flexibilizar objetivos e planejar com certo nível de individualização não consegue trabalhar com as classes heterogêneas que historicamente constituem o campo de atuação da educação escolar. (MEC, SEESP, Ensaios Pedagógicos, Construindo Escolas Inclusivas: 1, Brasília, 2002, p.19)

Educar é um ato de amor, o professor precisa estar comprometido

emocionalmente com o seu trabalho, não é como um trabalho mecanizado, uma

produção em série, é um trabalho com outro ser humano, alguém que sente, age

e reage a toda a sorte estímulos. O aluno pode chegar à sala com problemas

pessoais, familiares, com dificuldades econômicas, com dificuldades físicas e

mentais. Portanto o professor precisa ser sensível para perceber o outro com

quem irá se relacionar, precisa estar atento, envolvido no ambiente que se

apresenta para que possa desenvolver o seu papel de educador.

Muito se espera de um professor, principalmente os alunos que muitas

vezes não sabem se relacionar bem, pela falta de valores que deveriam trazer de

casa ou da comunidade onde vivem. Ao professor cabe apontar um caminho

afetuoso de respeito e compreensão, a fim de promover valores humanitários que

possam tornar o convívio em sociedade um ato de amor e respeito mútuo.

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33

CONCLUSÃO

Este trabalho teve início a partir de reflexões sobre os problemas

relacionados ao sentimento de afeto e auto-estima nos alunos do ensino médio,

foram apresentadas citações de teóricos onde ficou evidente que a falta desses

sentimentos nos relacionamentos professor-aluno e seus pares contribuem para

um ambiente tumultuado e improdutivo.

A falta de interesse e o baixo rendimento escolar dos alunos verificados na

maioria das escolas tem sido assunto de interesse entre os educadores em geral.

Os alunos não estão preocupados em aprender e em muitos casos não se

importam se a nota é boa ou ruim. Este fato demonstra a falta de motivação e um

desconhecimento do papel da escola na formação de um individuo.

A falta de valores éticos, sócio-culturais e de cidadania entre os alunos tem

sido marcada pela depredação da escola, o lixo é jogado pelo chão as paredes

estão pixadas. Existe uma falta de valorização do material escolar que serve

diretamente aos alunos, com isso uma série de comportamentos negativos são

impulsionados.

Cenas de violências físicas ou verbais entre alunos são freqüentes, alunos

são colocados em situações de constrangimentos e humilhações, o tratamento

desrespeitoso com os professores e funcionários da escola, são verificados

constantemente.

Este trabalho pretendeu comprovar que o relacionamento afetivo partindo

inicialmente do professor e contaminando a turma, associado ao desenvolvimento

da auto-estima dos alunos, pode transformar o ambiente escolar, que atitudes

sinceras, de afeição ao aluno e crença nas suas potencialidades como ser

humano capaz de se desenvolver, poderão dinamizar esse processo.

Inicialmente, no primeiro capítulo, o afeto foi analisado com embasamento

em teóricos da área da psicopedagogia como a energia que impulsiona a ação,

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34 despertando o desejo que sustenta todo tipo de atividade, envolvendo o aluno

emocionalmente para que ele esteja inteiro no processo.

Foi avaliado como o raciocínio se desenvolve a medida que a emoção está

presente na atividade e como o mecanismo de memória se beneficia através da

afetividade.

O afeto esteve relacionado com a plasticidade cerebral, onde as

competências individuais podem ser trabalhadas a partir do relacionamento

afetivo. O professor que conhece seus alunos consegue ter acesso aos conflitos

pessoais e intervir de maneira positiva tratando com atenção especial cada caso.

A inclusão é uma realidade que o professor deve perseguir, para tanto o

afeto e o respeito mútuo devem estar presentes na relação professor-aluno, para

que os alunos desenvolvam o sentimento de pertencimento a turma e ao

ambiente escolar.

A integração social é meta da educação, a diversidade sócio-cultural deve

ser trabalhada através dos relacionamentos afetivos, o professor promove a

integração dos alunos construindo situações onde às noções de cidadania e

respeito ao próximo devem ser exercitadas.

Como foi visto no segundo capítulo, a auto-estima é avaliada como o

respeito a si mesmo, amor próprio, reconhecimento do seu próprio valor, esses

sentimentos foram avaliados considerando-se que o aluno com baixa auto-estima

possui um rendimento insuficiente, não tem capacidade de resolver as atividades

propostas e coloca-se em situação desfavorável nos relacionamentos com seus

colegas.

O aluno com boa auto-estima conhece o seu valor, sabe se colocar nos

momentos de dificuldade, não tem medo de pedir ajuda, consegue se integrar

com certa facilidade no ambiente escolar.

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35 O professor deve conhecer e desenvolver as qualidades de seus alunos,

com o objetivo de desenvolver a auto-estima, todo aluno possui qualidades é

preciso despertá-las.

Finalmente, no terceiro capítulo, são sugeridas algumas ações que são

chamadas educativas porque visam desenvolver competências, descortinar as

qualidades dos alunos.

O diálogo com os alunos é apontado como fator de envolvimento e

comprometimento dos alunos com as atividades. Os alunos na fase da

adolescência precisam sentir-se responsáveis pelas suas decisões, precisam de

limites, e regras pré-estabelecidas.

As atividades lúdicas foram tratadas como ferramentas, que ajudam tanto

ao professor como ao aluno, no processo de auto--conhecimento. São atividades

utilizadas para desenvolver a criatividade, o senso crítico e valores morais, éticos

e sócio-cultural.

As atividades esportivas foram avaliadas porque além de promover a

integração social, possuem a capacidade de desenvolver através dos exercícios

físicos o desenvolvimento mental nos alunos.

Os trabalhos em grupo foram avaliados porque permitem atingir vários

objetivos educacionais ao mesmo tempo, como o estímulo ao desenvolvimento

pessoal, a cooperação, a socialização e o próprio hábito de pesquisa.

O professor precisa acreditar e confiar no potencial de seus alunos, criar

situações educativas para que os alunos possam se expressar, é uma forma de

desenvolver a auto-estima e valorizar a relação professor-aluno e seus pares.

O primeiro contato dos professores com os alunos é muito importante,

desde o início o professor deve manter uma conduta afetiva, com regras claras de

condutas, manter um diálogo aberto, convidando os alunos a participar das

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36 programações das atividades e dos prazos de execução. Fazê-los entender que a

escola existe por eles.

Um novo estudo pode ser desenvolvido a partir desse trabalho, o tema

Inclusão se faz necessário, considerando os itens abaixo:

a) Como trabalhar a Inclusão na escola tradicional? Um estudo sobre medidas a

serem adotadas considerando os Parâmetros Curriculares Nacionais.

b) A inclusão é étnica, sócio-econômica, portadores de deficiências físicas e

mentais, como utilizar a psicopedagogia no ambiente escolar? O professor deve

estar preparado para trabalhar na diversidade e atender as necessidades básicas

de alunos com deficiências físicas e mentais.

c) Como deve ser o espaço arquitetônico adequado para inclusão de alunos

portadores de deficiência física e psíquica? O espaço arquitetônico deve permitir

a locomoção, possuir sala de estudo específica para cada necessidade, espaço

para recreação e exercícios físicos.

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37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS

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ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTO 03 DEDICATÓRIA 04 EPÍGRAFE 05 RESUMO 06 ABSTRACT 07 SUMÁRIO 08 INTRODUÇÃO 09 1 - A RELAÇÃO DE AFETO NOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO 12 1.1-Afeto e cognição 12 1.2- Afeto e plasticidade cerebral 15 1.3- Afeto e socialização 16 2- AUTO-ESTIMA E INTERESSE DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO 21 2.1- Auto-estima 21 2.2- Auto-estima e relacionamento no ambiente escolar 23 2.3- Auto-estima e aproveitamento escolar 24 3 – AÇÕES EDUCATIVAS 27 3.1 - Atividades lúdicas 29 3.2 - Atividades esportivas 30 3.3 - Atividades em grupo 31 CONCLUSÃO 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS 37 ANEXOS 39 ÍNDICE 40 FOLHA DE AVALIAÇÃO 41

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Regina Célia da Rocha Viegas matriculada no curso de Docência

Superior, nº. de matricula N200927, apresenta monografia sobre

Afeto e auto-estima nos alunos do Ensino Médio.

Orientador Nilson Guedes de Freitas

Data da entrega: 27/01/2007

Avaliado por: Conceito: