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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PADAGÓGICAS PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EDUCAR SEGUNDO PESTALOZZI : OS FUNDAMENTOS TÉORICOS E METODOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO PESTALOZZIANA Por : Paulo Roberto Rigoto Ferreira Orientador Prof. Ms. Marco A. Larosa Rio de Janeiro 2001

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PADAGÓGICAS

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

EDUCAR SEGUNDO PESTALOZZI : OS FUNDAMENTOS TÉORICOS E

METODOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO PESTALOZZIANA

Por : Paulo Roberto Rigoto Ferreira

Orientador

Prof. Ms. Marco A. Larosa

Rio de Janeiro

2001

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PADAGÓGICAS

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

EDUCAR SEGUNDO PESTALOZZI : OS FUNDAMENTOS TÉORICOS E

METODOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO PESTALOZZIANA

Apresentação de monografia ao conjunto

Universitário Cândido Mendes como

Condição prévia para a conclusão do

Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

Em Docência Superior

Por : Paulo Roberto Rigoto Ferreira

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AGRADECIMENTOS

A todos os meus professores do

curso de Docência Superior : Sheila,

Marco Larosa, Neila, Cristie, Angela

Venturini, Celso Sanches e aos amigos

Waldemar Petri e ao casal Mônica e

Wagner C. Menezes e aos meus irmãos

Ricardo Luiz Rigoto Ferreira e Luiz

Carlos Rigoto Ferreira.

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DEDICATÓRIA

Dedico a todos aqueles que vivem empenhados

com dedicação e amor na seara da educação.

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RESUMO

A proposta do trabalho tem como análise a educação que pense, pesquise, planeje,

decida e execute as atividades educacionais em sintonia com a realidade da sociedade e as

práticas pedagógicas adequadas ao universo cultural dos alunos.

Trabalhando com o projeto pedagógico de Pestalozzi, partimos do princípio que o

amor é o eterno fundamento da educação: é uma integração harmoniosa entre corpo

docente, discente e a comunidade formando um todo, que pense de forma crítica e criativa

se eleva e o educador tem que executar as atividades educacionais com amor. Trabalhando

nos pontos fortes de cada aluno, o resto se fortalece, ou seja a sua auto estima se eleva e

também o educador precisa valorizar a correção e não o erro para não deixar que o fracasso

se instale na mente do educando .

Não existem receitas prontas, pois na prática pedagógica, como na vida cotidiana, as

coisas não acontecem do jeito que todos gostariam. Portanto, são necessários elementos que

visem superar uma abordagem meramente técnica.

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METODOLOGIA

Partindo do princípio que o tema de monografia esteja vinculado a uma área de

conhecimento com o qual o autor tenha alguma intimidade intelectual, sobre a qual já tenha

alguma leitura especifica do assunto. Afinal, toda pesquisa exige uma grande dose de

dedicação, prazer naquilo que se pretende, empenho e investimento intelectual, por isso o

autor resolveu pesquisar o método Pestalozziano de ensino.

O segundo passo foi localizar a Sociedade Pestalozziana do Estado do Rio de

Janeiro e procurar a biblioteca da entidade para coletar o material necessário para iniciar o

trabalho e depois as bibliotecas públicas, livros de amigos e internet.

Como método de trabalho nas pesquisas, adotamos os fichamentos e as resenhas,

que em síntese, são formas de resumos que permitem um rápido acesso ao texto lido,

evitando que, no futuro se tenha que ler a obra por inteiro novamente. Além disso,

possibilita a organização do estudo. No fichamento, resumimos somente os aspectos

relacionados diretamente com a dúvidas, problemas e soluções diretamente ligados ao

nosso objeto de pesquisa ou de estudo, ou parte dele. Assim, ao ler uma obra para ser

fichada, fichamos apenas aquilo que nos interessa, mas nunca sem esquecer de escrever,

pelo menos um parágrafo, com uma visão geral da obra. Na resenha, resumimos toda a obra

ou todo um capítulo.

O trabalho foi elaborado para ter três capítulos. No capítulo I, o autor apresenta em

resumo o desenvolvimento do trabalho de Pestalozzi no decorrer de sua vida. O segundo

capítulo trata de uma análise de como Pestalozzi via o seu mundo e sua proposta para

melhorar a vida de todos. O terceiro capítulo trata de métodos de ensino aplicados por

Pestalozzi.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I 12

CAPÍTULO II 37

CAPÍTULO III 47

CONCLUSÃO 77

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 78

BIBLIOGRAFIA CITADA 81

ANEXOS 83

INDICE 90

FOLHA DE AVALIAÇÃO 91

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INTRODUÇÃO

Em 1805, Pestallozzi fundou o famoso Internato de Yverdon, localizado na Suíça. O

Instituto de Yverdon funcionava no castelo construído em 1135 pelo duque de Zähringem.

Durante seus 20 anos de funcionamento, sob a direção de Pestalozzi, foi freqüentado por

estudantes de todos os países da Europa. O currículo adotado dava um destaque à atividade

dos alunos, iniciando-se com o conhecimento de objetos simples até chegar aos mais

complexos, partindo do conhecido para o desconhecido, do concreto para o abstrato, do

particular para o todo.

Em Berthoud, Pestalozzi extinguiu com os procedimentos ultrapassados em

educação que faziam com que os alunos ficassem sentados, enfileirados, estudando por

processos de memorização e adotou métodos ativos colocando os alunos em contato com a

realidade.

Segundo Pestalozzi, a educação do homem é o resultado puramente moral. Não é o

educador que lhe dá novos poderes e faculdades, mas lhe fornece coragem e entusiasmo,

cuidando apenas para que nenhuma influência desagradável traga distúrbios à marcha do

desenvolvimento da natureza. Educação é o processo pelo qual esses poderes e qualidades

se desenvolvem e surgem, como suas flores e frutos.

Porém esta educação não ocorre por meio de palavras e aulas frias. Educadores de

todo o mundo adotaram o método de Pestalozzi e difundiram suas idéias, inicialmente pelos

países vizinhos da Suíça e depois por toda a Europa e América.

(...)Freqüentado todos os anos por grande número de estrangeiros, citado, descrito,

imitado, era, numa palavra, a escola modelo da Europa. Os sábios naturalistas Humboldt,

Geoffroy Saint-Hilaire, F.Cuvier, o cientista Biot, o marquês de Dreux-Brezé, o barão de

Gérando, o conde de Lasteyrie, o Filósofo Maine de Biran, o duque de Broglie, o marechal

Sébastiani, o ilustre pedagogo padre Grégoire Girard, a famosa escritora Mme. De Staël, o

barão de Wangenheim, a grã-duquesa de Oldenburg,, então rainha de Wurtemberg, o

príncpe de Esterhazy, a princesa de Lippe-Detmold, lord Brougham, lord de Vescy, o

célebre reformador socialista Robert Owen, foram apenas algumas das altas personalidades

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políticas, científicas, literárias e filantrópicas que voltaram, maravilhadas, de suas visitas ao

Instituto. Louvaram o criador dessa obra revolucionária. Por ela também se interessaram,

Goethe, o rei da Prússia, Federico Guilherme III e sua esposa Luísia, o czar da Rússia,

Alexandre I, o rei Carlos IV da Espanha, os reis da Baviera e de Wurtemberg, o imperador

da Áustria, a futura imperatriz do Brasil, D.Leopoldina de Áustria, e muitos outros

expoentes da nobreza européia e do mundo cultural. O grande pensador e filósofo alemão

João Fichte, que igualmente conheceu o Instituto, declarou nos seus célebres “Discursos à

nação Alemã”, pronunciados no inverno de 1807 – 1808, que a reforma da educação devia

tomar por ponto de partida o método de ensino de Pestalozzi. E acrescentava: “ Do Instituto

de Pestalozzi espero a salvação da Alemanha”.

Em Yverdon, o notável educador suíço reuniu em torno de si e da obra, objeto de

tantas esperanças, conceituados professores vindos de várias partes, sendo que alguns deles

tinham sido anteriormente seus alunos. Partilhando do entusiasmo do venerável mestre e

devotados à causa sagrada do ensino, são mais citados pelos biógrafos os nomes de

Hermann Krüsi, Tobler, Buss, Niederer, João Ramsauer, von Muralt, José Schmid,

Barraud, Blochmann, Hoffmann, Hopf, Boniface, Conrad Näf, Mieg, Steiner, e muitos

outros. Afora eles, homens de grande mérito, a maioria dos quais igualmente ensinaram no

Instituto, acudiram de diferentes países para conhecer a instituição e seus professores, o

plano de estudos e os processos pedagógicos da sua aplicação. Entre estas ilustres figuras

que absorveram o novo método de educação e posteriormente o disseminaram em suas

terras natais, destacam-se : Fröbel, o sábio professor Carl Ritter, um dos fundadores da

geografia científica moderna e que lecionou esta matéria em Yverdon; a amiga de

Beethoven, Teresa de Brunszwik, divulgadora de Pestalozzi na Hungria; Carl von Raumer,

que escreveu mais tarde a curiosa sábia “História da Pedagogia”; von Trürk, filantropo e

pedagogo, de nobre família alemã, que renunciou o honroso lugar na magistratura de

Oldenburg, para vir estudar o sistema pestalozziano em Yverdon, aí se tornando mestre em

sua segunda visita; Nägeli, músico e educador zuriquense, criador dos orfeões de canto

popular e seu maior propagandista na suíça alemã; o reverendo Mayo e Greaves, dois

abnegados discípulos de Pestalozzi e divulgadores do seu método na Inglaterra; sendo que

o primeiro, durante três anos, ensinou religião aos alunos ingleses de Clendy e Yverdon;

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Jullien de Paris, que muito contribuiu para tornar conhecida na França a doutrina

pestalozziana(...)1.

Foi com justiça e verdade que se lavrou no frontal do monumento erigido à

memória de Pestalozzi, em Birr (Cantão de Argóvia )2, um epitáfio que, entre outras coisas,

dizia ter sido ele, em Yverdon, “o educador da Humanidade”.

(...)Uma média de 150 alunos internos (a maioria) e externos, metade dos quais

estrangeiros, isto é, não suíços, aprendiam com Pestalozzi que “o amor é o eterno

fundamento da educação”. Cedo, a reputação do Instituto se estendeu tão longe que atraiu

para ali até mesmo jovens do Brasil e dos Estados Unidos da América.(...)3

Johann Heinrich Pestalozzi, uma das maiores figuras da pedagogia, adepto das

idéias de Rousseau, acentuou a importância do contato com a natureza e defendeu uma

aprendizagem baseada na experiência. Profundamente humanista, exerceu grande

influência mundial, sobretudo no que se refere aos métodos para treinamento de

professores.

As idéias e o exemplo de vida do educador suíço são de profunda importância para

todos os educadores. Seus ensinamentos continuam atuais, pois seus princípios revelam a

verdadeira natureza da educação e em geral, os educadores, cheios de teorias e sistemas

próprios, são apenas intelectuais e sentimentais; seus métodos, ficam-lhes limitados ao

cérebro, ou se perdem em palavras. Pestalozzi, não; uniu a emoção ao intelecto, e ambos à

ação. Não só pensava as coisas, como as vivia também.

Já no seu tempo conseguira atrair a atenção dos seus contemporâneos; no século

passado, porém, é que o seu nome tornou o vulto considerável a que, hoje em dia, nós todos

já nos habituamos e em novembro de 1953, foi publicada no diário oficial uma resolução

1 WANTUIL, Zêus, Thiesen, Francisco, Allan Kardec, Rio de Janeiro: Federação EspíritaBrasileira,1979.P.33, 34, 35.2 Pertence a organização confederativa, formado pelo pacto de 12 cantões que adotaram constituições liberais.Cada um deles é uma espécie de pequeno Estado, que goza de ampla autonomia em relação ao poder central.Essa autonomia permite que cada região seja administrada do modo mais adequado as exigências do ambientee da população.3 WANTUIL, Zêus, Thiesen, Francisco, Allan Kardec, Rio de Janeiro: Federação EspíritaBrasileira,1979.P.36.

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que tornava a partir de então, a Pestalozzi do Brasil uma entidade voltada para a educação,

ciência e cultura. Eis os termos da resolução :

“O Ministro de Estado das Relações Exteriores resolve, nos termosdo artigo 3º do Estatuto aprovado pelo Decreto-lei nº 9.355, de 25 de junhode 1946, considerar a Sociedade Pestalozzi do Brasil como um dos gruposnacionais interessados pelos problemas educacionais, científicos e culturais,devendo a mesma entidade acreditar um Delegado junto ao InstitutoBrasileiro de Educação, Ciência e Cultura, como membro de sua AssembléiaGeral”.

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CAPÍTULO I

VIDA E OBRA DE PESTALOZZI

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HISTÓRIA DE PESTALOZZI

Johann Heirich Pestalozzi ou João Henrique Pestalozzi, nasceu em Zurich, na Suíça,

em 12 de janeiro de 1746

Em 1751, o pai de Pestalozzi faleceu, deixando a esposa e três filhos menores em

situação pouco garantida financeiramente e Pestalozzi contava com cinco anos de idade

quando perdeu o pai , cuja falta o deixou exclusivamente entregue nos caminhos maternos.

(...)Cuidadosamente preservado e guardado, o menino não chegou a conhecer o

mundo real e quase não entrou em contato com outros meninos de sua idade, tornando-se

pouco a pouco retraído, tímido e sonhador. O próprio Pestalozzi conta mais tarde : “A vida

verdadeira dos homens era me tão estranha como se não tivesse vivido no mesmo mundo.

Em todos os jogos eu era o mais desajeitado e para alguns dos meus companheiros

ocasionais eu era alvo de zombarias e de risos. Durante anos inteiros eu ficara fechado em

casa, vivendo agarrado à mãe. Faltaram-me por isso, todos os meios e fatores naturais de

desenvolvimento masculino, na força física, nos exercícios do corpo e formação do

espírito”.

Foi, assim, que esboçaram os primeiros traços do seu caráter. Esse ambiente moral

constituiu, sem dúvida, a causa da sensibilidade extremada e da intensa afetividade,

reveladas, mais tarde, no temperamento do grande educador.

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O menino se sentia feliz nesta vida devotada, simples, singela e relativamente pobre,

o que prova a primitiva naturalidade de sua vida sentimental e explica a alto conceito que

ele guardou toda a sua vida, da santidade do lar e da educação caseira. Mais tarde, ele tirou

destes antecedentes duas das teorias fundamentais da sua pedagogia.(...)4

Influência benéfica tiveram mais tarde, na formação da sua mentalidade, as férias

passadas na casa paroquial de um parente de sua mãe, generoso sacerdote de campo, na

pequena aldeia de Hoengg. O sentido humanitário se expressou no pequeno Henrique , ao

observar a vida apostólica do avô, o zelo, a dedicação de pastor, a sua caridade, perante as

necessidades e a miséria dos camponeses, foi decisivo para a sua vocação e idealismo e a

respeito de seus primeiros anos de vida, pouco se sabe desde quando deixou o regaço

materno. Segundo alguns, o pequeno ingressaria em uma escola pública primária onde ele

não revelou talento precoce..

Ele mesmo afirma este fato quando, mais tarde, redigindo as suas memórias, se

confessa como tendo sido um mau aluno e de fato, o seu interesse rumava apenas para as

matérias que mais o atraiam, com desprezo absoluto pela ortografia e a matemática e já

rapaz, deixando a escola primária, cursou, em seguida, a “escola de latim”, em sua cidade

natal. Depois, matriculou no “Colegium Humanitais”, em 1765, em centro de caráter

universitário, o “Collegium Carolinum”, que tinha os cursos de filosofia, e de teologia e

terminados os dois primeiros, desistiu ele do terceiro e com ele da carreira eclesiástica, para

a qual se tinha entusiasmado em outro tempo, na casa do seu avô, em Hoengg.

A cultura adquirida nestas várias escolas, não foi completa, mas em algumas

matérias ela foi profunda e poderosamente estimulante e naquele tempo as escolas

superiores da Suíça, achavam-se em franco progresso, acompanhando as idéias avançadas

da época, o iluminismo e o neo-humanismo.

Os célebres professores Bodmer e Breitinger, conhecidos na História da Literatura,

exerciam poderosa influência sobre os seus discípulos, que eles procuravam dotar de

caráter firme, dentro dos princípios, dos ideais da liberdade democrática, da ética, do

patriotismo e do civismo.

4 WÜTH, Tiago, Pestalozzi e a Pedagogia Social, Rio Grande do Sul: Instituto Pestalozzi de Canoas, 1971.P.26.

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Aí recebeu a segunda grande influência espiritual de sua vida, exercida pelo

professor Bodmer, de elevado espírito e de idéias democráticas, e foi pela ação benéfica

desse mestre que Pestalozzi, começou a conhecer as necessidades da educação do povo.

O estágio no “Collegium Carolinum” tornou-se de grande proveito para Pestalozzi e

ai ele se entregou ao estudo das línguas, das teologia, direito, e da história. Depois

consagrou-se a economia rural.

Pestalozzi ligou-se mais tarde a Bodmer, na liga Helvética5, fundada por este e que

tinha por finalidade o estudo da história pátria, a cultura dos sentimentos patrióticos, como

também a luta contra anomalias políticas e sociais. Os melhores elementos de Zürich,

aderiram à liga, entre eles o famoso Lavater. Pastalozzi dedicou-se com corpo e alma à liga

e ao seu programa. Nas colunas do semanário que a mesma publicava, ele colaborou como

redator, lutando com um ardor e uma seriedade superiores a sua idade, contra a imoralidade

na arte, na literatura, para o levantamento intelectual do baixo povo, e, batalhando para os

direitos do povo suíço, ele chegou a uma exaltação verdadeiramente revolucionária, o que

lhe conferiu o título de cidadão francês honorário.

O conselho Municipal de Zürich chegou a se irritar contra Pestalozzi e também toda

a confederação Suíça, cujo semanário acabou proibido. Pestalozzi acabou preso e só lhe

devolveram a liberdade com a condição de se manter quieto e ele ficou reprimido pela

reação que encontrou, pensou em estudar direito, para ser advogado das reivindicações do

povo.

Por fim, a sugestão de Rousseau o levou a ser agricultor dentro da concepção

filosófica do mestre genebrino, concepção esta que nos explica aliás, o fenômeno da volta à

terra em todas as épocas que seguiram transformações bruscas sociais e políticas.

Em 1762, nessa época apareceram as obras de Jacques Rousseau, um grande

filósofo que se dedicou aos estudos sociais, mostrando em seus livros, “Emílio”, e o

“Contrato Social”, os erros fundamentais de educação, na sociedade de então e com isso

uma profunda revolta em todo o mundo, e muito especialmente em Pestalozzi.

5 Os democratas suíços reagruparam-se no clube Helvético, que se tornou um centro de propaganda

revolucionária.

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Influenciado pela visão estupenda da natureza que o mestre francês o fazia entrever,

Pestalozzi tomou a resolução de dedicar-se à agricultura e nesta época ele desejava a mão

de uma moça modesta, de Zurich: Ana Schulthess; e, para poder casar-se necessitava de

trabalhar, procurando criar, para si mesmo uma situação econômica razoável.

Nesta decisão, todavia, inspirou ainda a outros fatores que só mais tarde Pestalozzi

revelou : Por um lado, a morte do seu amigo Bluntschli que, no leito de morte, assustado

perante o revolucionário Pestalozzi, lhe aconselhou escolher uma profissão tranqüila e

calma, por outro a silenciosa afeição de Ana Schultess, mais velha do que ele 8 anos e foi

então que pensou em fundar o seu lar, no qual poderia viver o sonho romântico de uma vida

ideal como a que Rousseau concebera, sublimada, no entanto, pela sua profunda

religiosidade e pela pureza da sua vida.

No outono de 1767, Pestalozzi procurou em Kirchberg o então famoso agrônomo

Tschiffli, que aproveitava os amplos recursos que lhe provinham do seu cargo oficial na

cidade, para transformar a sua propriedade numa fazenda modelo, e a sua vivenda numa

moradia quase palaciana. Influente pela sua riqueza mas também bondoso por natureza, ele

mantinha relações de intensa cordialidade com os camponeses vizinhos, os quais orientava

e auxiliava com os seus conhecimentos técnicos. Vinham de longe os interessados, para

conhecer seus métodos de cultura e de administração e não foi diferente com Pestalozzi,

que foi recebido pelo bondoso Taschiffeli, em sua casa, como amigo.

Deixou-o fazer a sua aprendizagem teórica e prática num longo estágio de 10 meses,

durante os quais compartilhou de todos os trabalhos de cultura, de pastagens ou plantas

industriais, especialmente da garance, planta tintorial, na época, de grande aceitação no

comércio e o inexperiente moço da cidade conheceu aspectos para ele completamente

novos da vida : o trabalho da terra, trato dos animais, a vida familiar da fazenda, a vida

social dos camponeses, as festas populares, as qualidades e defeitos do povo da campanha,

o bem estar na fazenda Tschiffeli ao lado da pobreza dos pequenos lavradores e da miséria

dos empregados rurais ou de artesanato doméstico.

Otimista e entusiasta, Pestalozzi acreditou na sua boa sorte e decidiu pelas terras na

região de Brugg, perto da aldeia de Birr e conseguiu comprá-las em 1768 com crédito que

lhe abrira uma casa bancária de Zürich e a propriedade em Neuhof foi comprada com ajuda

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de parentes e um outro amigo. Nesta fazenda, ele pensara ser fazendeiro abastado e nela

pensou poder manter a sua obra filantrópica, inclusive contando com o trabalho dos

meninos recolhidos, para conseguir a auto-suficiência da obra.

Nas cartas então mandadas à noiva Ana Schulthess, ele relatava as suas atividades,

mas a família da noiva não acreditava nele; recusou-lhe todo e qualquer auxílio e procurou

até impedir o casamento e por fim, em 30 de setembro de 1769, realizou-se o casamento

dos noivos, na pequena igreja de Gebisdorf, mas sem a presença dos pais da noiva.

Animado pelo exemplo do mestre, mas mal aconselhado por vizinhos, já na escolha

das terras e mais tarde na execução dos trabalhos, Pestalozzi iniciou a sua dura vida de

agricultor, em trabalho de sol a sol com a pá e enxada, mas sorte não lhe sorriu, orientado,

em parte por ignorância dos que assim fizeram, em parte pela maldade inata que

camponeses costumam demonstrar a gente da cidade que quer começar a trabalhar a terra

com idéias mais modernas que a sua rotina habitual, ele sofreu ainda os prejuízos de

enchentes, chuvas de pedras, más colheitas repetidas, fatores estes que ele não poderia

evitar e apesar de sua grande capacidade de trabalho, do seu entusiasmo, da sua atividade

comercial as dívidas se acumularam trazendo a ameaça da ruína, porque o banco recusou

novas investidas de capital.

Surgiram, então nas cidades, a indústria fabril. Muitos trabalhadores rurais e

artesãos domésticos, desanimados perante a falta de trabalho remunerado nas aldeias e nas

campanhas arruinadas pela seqüência das más colheitas, as mesma que procederam e

motivaram, em parte, o início da revolução francesa, acudiram, esperançosos, aos convites

das fábricas e em vez do tear da família, abandonado pela falta de encomendas ou pelo alto

custo da matéria prima, em vez da mesa de torno, na oficina caseira, foram procurar a sala

de trabalho coletivo de grande indústria. Foi o começo da imigração das populações rurais,

fenômeno da época, que veio tirar da lavoura, justamente quando precisava de braços

baratos para poder ressurgir, grandes levas de trabalhadores que na alternância das

conjunturas sociais e econômicas, vieram constituir nas cidades, ora castas de pequena

burguesia, ora a miséria da classe proletária dos subúrbios.

O eco das reivindicações populares, pregadas pelos escritores franceses dava aos

gemidos algo de ao mesmo tempo comovedor e ameaçador. Urgia tomar medidas que se

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muitos as preconizavam na Suíça também, mas não surgiu ação e o sonhador Pestalozzi,

que lutou para uma revolução social, que por isso fora preso e perseguido, o jovem que quis

ser advogado do povo, defensor dos seus direitos, acordou agora e esquecendo-se da sua

própria miséria, comum a tantos outros, abriu de par em par as portas do seu lar, às crianças

famintas que lhe vinham pedir abrigo.

Esquecendo a própria miséria ou esperando dar um exemplo salutar, Pestalozzi

recolheu aos poucos, até 60 menores na sua pobre casa. Pensou poder associar a mão do

menor desamparado, faminto, miserável, à sua própria luta, na esperança de poderem

juntos, resolver os seus problemas, o problema da fome, o da falta de dinheiro, o da

miséria...pelo trabalho intenso e produtor.

Nesta concepção revolucionária, Pestalozzi acreditou poder garantir aos recolhidos,

o lar, a alimentação, a roupa, a educação e assim o Neuhof se transformou em 1774, quinze

anos antes do início da revolução francesa, numa tentativa de reforma social, num abrigo

para menores desamparados ou pobres, numa concepção nova da qual temos hoje, quase

duzentos anos depois, a realização mais avançada, na obra apostólica do padre Flanagan e

Pestalozzi manteve a obra iniciada em 1774 até 1780, somente ao todo, 6 anos. Foram anos

de angústias e aflições, durante os quais amadureceu o espírito do mestre rumo a uma nova

concepção social e pedagógica.

A educação integral rumo à realidade da vida, reajustando menores não preparados,

escolhendo a vocação, cultivando as tendências, os talentos, a educação ativa, pelo trabalho

prático associado às observações e aos ensinamentos, veio substituir a educação formal,

retórica, dogmática com a sua severidade.

Veio a educação para cooperação social da família escolar, a concretização de tudo,

a objetivação rumo a uma melhor percepção e compreensão, o auxilio mútuo, a associação

da família à escola e tudo isso torna-se hoje um conjunto de pontos a serem destacados

entre aquilo que, na pedagogia moderna, deve ser atribuído à iniciativa pelo menos da sua

longa experimentação prática.

A necessidade da assistência ao menor pobre e desamparado, de educação que lhe

desse habilitação prática, rumo a uma profissão, da assistência ao lar pobre, através de

ensinamentos, conselhos e possibilidades de trabalho em indústrias caseiras, de um

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levantamento do nível cultural e social da massa do baixo povo, como medida que viria

garantir a felicidade coletiva da própria nação, foi reconhecida na Suíça e em muitos outros

países, em grande parte graças aos seus escritos irradiados de Neuhof.

Pestalozzi não procurou, como afirmam alguns biógrafos superficiais, menores

desamparados como auxiliares baratos na sua fazenda, o trabalho manual teria tomado o

primeiro lugar no seu programa, no qual, ao contrário, abandona os seus próprios

interesses, para se tornar pai e mestre das crianças enquanto a sua esposa, abandona os

afazeres do seu próprio lar, para dar aos acolhidos, comida, higiene, cuidados de toda

ordem, recomendando-lhes, fazendo-lhes roupas e tratando-os nas suas freqüentes doenças.

Ao chegarem os longos invernos suíços, as estradas da Suíça se tornaram

intransitáveis pela altura das neves. Isto provocou a paralisação de todos o trabalhos

agrícolas nos quais, em outra época os desempregados poderiam ganhar o sustento de

alguns dias, ajudando no recolhimento do feno ou cuidando dos rebanhos. Os menores que

vinham bater à porta de Pestalozzi, além de alimentos, passaram a pedir agasalho contra o

frio e abrigo numa sala aquecida.

Pestalozzi passou a recolher um após outro. Mais lenha teve ele de rachar, mais

alimentos a comprar, mais dívidas a lamentar e iniciou, então, uma sistematização das

ocupações de inverno usais na Suíça da sua época e, em parte, até hoje. Uma das principais

era de fiar e tecer. Pensou conseguir assim, aumento da sua renda que pelo menos

compensasse a maior despesa, permitindo ainda, fornecer aos menores, calçado, capas,

mantas, bonés, meias de lã, etc..

Todavia, ao chegava a primavera, a maioria dos abrigados fugia, mantendo-se

doravante, com as esmolas colhidas na vida ambulante, Pestalozzi enfrentou o problema

social que se apresentou, ele o estudou e analisou e tomou a decisão e criou “fazenda

escola” e na primavera e no verão, trabalharia com os menores, nos serviços da lavoura, no

outono e durante o inverno, em indústrias caseiras, especialmente fiação e tecelagem. Em

hora de descanso, daria instrução primária aos abrigados.

Começou logo com os poucos abrigados que ficaram quando da última debanda

primaveril. Nas horas de trabalho ele introduziu o canto, a narração, a prática de cálculo.

Nas aulas, procurava ilustrar tudo o que surgia na leitura ou na palestra e levava os menores

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a ver, a contemplar, a observar e depois tirava do visto, do contemplado, do observado, as

lições da aula.

Na aula, recebia crianças que, em vários anos de abandono e de miséria, se tornaram

completamente incultas e em épocas de miséria geral, os menores mais inteligentes tinham

sempre a preferência nos poucos empregos disponíveis, encontrou ele entre os seus

desamparados, muitos menores deficientes do intelecto, quando não doentios, fracos ou de

outra forma lesados, mas todos no entanto eram recebidos com bondade. Com todos era

iniciada com otimismo integral, a aprendizagem profissional e escolar.

No que tangia ao aspecto profissional, aprendiam a arte de fiar e de tecer e em

breve, na ampla sala de trabalhos que Pestalozzi mandou construir, as rocas giravam, o fio

surgia, enrolava e era tecido por mãos ágeis e nas aulas, tanto como durante o próprio

trabalho manual, Pestalozzi cultivava com carinho e a amor a língua materna que ele

sempre considerou matéria fundamental. Assim, proporcionava e exigia boa expressão na

narração, coerência, na lógica, obediência às regras gramaticais, variações de forma, tudo

no meio da alegre palestra que animava o trabalho da oficina e ao lado desta atividade

intensa, surgia diariamente a luta pela reforma e correção dos maus hábitos, de rudeza, de

brutalidade, de grosseria, de preguiça, de mentira, de desonestidade e justamente no meio

desta atividade intensa, repetia-se sempre novamente o milagre da regeneração, da

transformação e ao cabo de messes ou anos, Pestalozzi colocava os seus discípulos quando

poderiam afinal se tornar colaboradores integrais, pois ao seu místico culto da liberdade

individual, repugnava reter aquele que sonhava ganhar livremente a sua vida e gozar

livremente o fruto do seu trabalho. Muitas vezes, os fracassados voltavam, outros

arrimavam agora os que os desampararam quando eram pequenos e doentios ou por eles

eram então explorados.

Entre os seus abrigos, ele procurava os talentos especiais para cultivá-los. Apareceu

assim o famoso Gottfried Mind, que nunca aprendeu a ler nem a escrever, mas que

desenhava gatos em todas as posições possíveis. Tornou-se o famoso artista que a Suíça

chamou de “Rafael dos Gatos”.

Pestalozzi observava os seus protegidos durante o dia. À noite, rezava com eles.

Depois os chamava um a um, para dar-lhes conselhos, mostrar-lhes os erros cometidos, o

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rumo ao qual eles o levariam. Reerguia os fracos, reanimava os desanimados, reconfortava

a todos com palavras de bondade e ao seu lado, dona Ana se preocupava com o bem estar

dos menores em todos os aspectos desde do vestuário até a saúde.

A situação se agravou com novo período de más colheitas. As dívidas continuaram

a crescer. Os vizinhos começaram a zombar do fazendeiro generoso que quis ajudar a

outros e não podia ajudar a si mesmo. Foi necessário vender parcelas da terra, para atender

às mais permanentes exigências dos credores.

Auxílios havia poucos. Não havia ainda então, a compreensão para a cooperação

social, em obras assistências; era uma raridade alguém que quisesse ajudar e ninguém

compreendia a inclinação de Pestalozzi de querer auxiliar a outros com todas as suas forças.

Pestalozzi era conhecido por todos, como um sonhador, que não sabia viver no mundo real

e por fim, a fome veio bater à porta da casa de Pestalozzi. Com o coração despedaçado,

teve de se conformar em fechar o instituto, despedindo um por um os eus asilados.

Encerrou assim, em 1780, outro capítulo da sua vida, após 6 anos de existência do refúgio

de menores desamparados que ele tinha criado com tanta luta.

Dedicou-se então, à mulher e ao filho doente e foi quando lhe veio um auxilio

providencial na pessoa de uma moça desconhecida, Isabela Näff, que se apresentou um dia,

declarando querer trabalhar de graça para ajudar Pestalozzi.

Tomou, em seguida, conta da casa, da cozinha, da horta e seu esforço e a sua

dedicação, restabeleceram ao menos um certo equilíbrio na pobreza do ambiente. Pestalozzi

imortalizou mais tarde esta rara dedicação, criando a “Gertrudis”6 das suas obras literárias.

Pestalozzi tinha em Basilea um amigo dedicado, o conselheiro da Câmara

Municipal, Iselin, antigo companheiro político da Sociedade Helvética. Por muitas vezes,

nas dificuldades materiais encontradas no Neuhof, Iseli foi o conselheiro de Pestalozzi.

Conhecia-lhe a riqueza de idéias, e por varias vezes sugeriu-lhe aproveitasse o silêncio da

casa agora abandonada pelos menores, para dar forma literária ao seu pensamentos.

Pestalozzi aceitou o conselho e em numerosos esboços, passou a estudar as causas

da miséria e do infortúnio das massas populares e por fim indicou como causa principal, a

falta de educação no lar e na família, de uma educação que, criando respeito e carinho, teria

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por efeito o hábito da cooperação integral dos membros da família, na luta pela vida.

Continuou assim a procurar no trabalho intenso a solução ao problema da miséria. Da

célula familiar este hábito de trabalho intenso e de cooperação integral de uns com outros,

de confiança mútua e de dedicação recíproca, se estenderiam a coletividade maior. Não se

poderia realizar a reeducação do povo sem começar pela reeducação das famílias e nos

anteriores trabalhos os contemporâneos de Pestalozzi apreciaram a profundeza das idéias e

o fervor das convicções do autor e do ponto de vista literário, os trabalhos de Pestalozzi

eram fracos, pois no entusiasmo da sua palavra rápida, na angustiosa preocupação de

argumentos e de palavras convincentes, pouco ligava ele a forma e à própria ortografia,

geralmente revisadas pelos amigos e colaboradores.

Mas no livro Lienhardo e Gertrudis, ele conseguiu, mesmo do ponto de vista

literário, criar uma verdadeira obra de arte e trabalhou, em verdade, com mais calma e

recolhimento, animado pela crítica favorável a anteriores publicações e pela diminuição das

preocupações materiais. O tom do livro é de palestra simples, na maneira de falar do povo.

O assunto é a narração da vida de famílias modestas em uma aldeia, mostrando os

problemas diários da pobreza, da miséria, defeitos humanos e qualidades, preocupações e

alegrias.

Ele estuda as causas da pobreza, da falta de ordem, do desleixo nos trabalhos rurais,

a mania das longas permanências em bodegas, botequins, a falta de educação, as

superstições, mostrando como o Estado poderia melhorar as coisas agindo de cima para

baixo, mas como deveriam as próprias famílias contribuir para um melhoramento geral,

abrindo luta contra a decadência pelo trabalho intenso, pela economia, pela boa conduta

social, pela honestidade e especialmente por um melhoramento progressivo da vida e da

educação no lares, condição fundamental para se elevar- a vida das comunas e das nações e

tal foi o sucesso do livro, que Pestalozzi escreveu sucessivamente mais 4 volumes para

completar, mas com anos de intervalo, em 1783, 1785, 1787, nos quais acompanha o

destino posterior dos personagens da obra, estudando neles mais a fundo as causas dos

males sociais, aconselhando com maiores minúcias, os meios de combate-los.

6 Personagem fictício de sua obra literária.

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Já no terceiro volume complementar, chega assim a criar um verdadeiro compêndio

de pedagogia social. Neste volume constatou, por exemplo que pouco se poderia esperar na

reeducação da velha geração que sempre teria recaídas em velhos defeitos, mas muito da

nova geração, da infância e da juventude e com esta constatação, ele dá um passo avante na

sua conceptível pedagogia, pois embora mantendo a sua lei de que o lar é fundamento e

base da educação, ele reconhece agora que, perante as recaídas constantes dos pais em

velhos defeitos e vícios, a escola deverá suprir às falhas do lar, ampliando o seu programa

de ação muito além do simples ensino, rumo a um programa de educação integral.

Em 1782 aparece o 2º livro popular, “Cristóvão e Isabel” no qual o autor apresenta

uma família de camponeses , lendo o livro “Lienhardo e Gertrudis” e procurando adaptar a

sua vida aos ensinamentos neles contidos. Neste manual de uma pedagogia de família,

Pestalozzi já começa a se aproximar dos conceitos que fixará no 3º volume complementar.

(...)Assim “Lienhard e Gertrudis” levaram as idéias do mestre ao povo, até nas

humildes choupanas. Anos depois, “De como Gertrudis ensina os seus filhos”, se tornara o

compêndio apurado, a metodologia da teoria educacional nova e será em breve adotado nas

escolas. Pouco a pouco os conceitos se afirmam, na medida que são experimentados na

obra prática das escolas de Pestalozzi ou dos seus discípulos ou então evoluem à luz da

crítica.(...)7

Na maior obra de Pestalozzi foi assim “Monumenta Germaniae Poedagogica”. há

três volumes inteiros, com mais de 1.500 páginas dedicadas à biografia pestalozziana e

inúmeras são ainda as apreciações da sua obra e da personalidade como são inúmeros os

estudos a seu respeito, por suíços, alemães, austríacos, italianos, ingleses, americanos,

espanhóis e latino-americanos e em muitos países surgiram escolas ou estabelecimentos de

assistência social, com o seu nome ou inspirados pelas suas idéias.

Ao presenciar o inicio da revolução francesa8, Pestalozzi esperou, como Mirabeau,

Madame, Roland, Danton.. ver a realização das belas concepções sonhadas e descritas por

tantos crentes bem como as mais transcendentais reformas, imediatamente, no terreno da

7 WÜTH, Tiago, Pestalozzi e a Pedagogia Social, Rio Grande do Sul: Instituto Pestalozzi de Canoas, 1971.P.4.8 A queda da monarquia francesa em conseqüência da revolução em 1789 que mudou para sempre opanorama da Europa e exerceu influência sobre o restante do mundo.

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justiça social, dos princípios da fraternidade e da educação popular. Infelizmente, o curso

sangrento da revolução prejudicou e atrasou as parcas e demoradas realizações, o que

profundamente o decepcionou e Foi neste momento que ele publicou o seu “sim ou não ?

“,no qual ele se mostra apavorado diante das violências da revolução amargamente

comentadas nas antecâmaras dos reis e dos príncipes que não souberam em tempo, prever

que no sofrimento coletivo, os povos romperiam algum dia o dique que lhes continha o

desabafo, arrastados pela força elementar do desespero e do rancor e de ambos os lados

reconheceram a crise, constataram as ruínas que a confusão trouxe em vez da salvação, mas

não conseguiram entender-se ter meios honestos para uma solução e Pestalozzi mostra em

seguida, um estudo histórico retrospectivo os erros e as falhas do regimes passados que só

sabiam explorar o povo, e mostra como clero e nobreza falharam na sua missão social

abstração feita de grandes e nobres figuras vencidas pela corrente geral e por fim preconiza

um plano que modifique toda o cenário, uma transformação que melhore a vida social e

educacional de toda a massa popular nas campanhas e nas cidades.

Foi este o trabalho profundo, corajoso e sincero que lhe valeu a aclamação como

cidadão honorário da nação francesa, quando este memorável estudo de mais 100 páginas,

foi lido na convenção.

A onda revolucionária, atingira pois também a terra de Pestalozzi, o próprio cantão

no qual ele morava e quando veio a interferência francesa, extinguindo a república do

patriciado e substituindo-a pela República Helvética Unitária (1798).

Em 1798, Pestalozzi, com 52 anos, esperou ver agora as suas idéias vitoriosas e

ofereceu os seus serviços ao novo governo, no qual o ministro Stapfer, titular das artes e da

cultura, o acolheu com amizade, encarregando-o à responsabilidade de continuar a ser, mas

oficialmente, o pregador do povo.

Surgiu assim a “Folha Popular Helvética”, auxilio pecuniário, por via de regra

concedido pelos poderes públicos e na qual Pestalozzi iniciou nova série de estudos

políticos e sociais, entre estes o seu famoso estudo contra as décimas urbanas ou seja

imposto que abrange a décima parte de um rendimento e a favor do imposto sobre a renda.

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Foi quando se apresentou ao novo governo, o grave problema de 400 órfãos da

guerra civil em Zürich, justamente em Stanz, que resultara da aniquilação dos adversários

políticos, naquela ocorrência funesta e fratricida luta.

Pestalozzi a propôs para resolver o problema e foi aceito, e assim, após longos anos,

retornava ao exercício escolar no seu orfanato, outrora criado em Stanz e ele sonhava e

desejava voltar à atividade no magistério e pensava na abertura de um novo refúgio para

menores pobres como já tivera no Neuhof.

Inaugurou o orfanato de Stanz em 1799, num antigo convento de Ursulinas. em

poucas semanas, já estava ele cercado por 80 órfãos, que passou a atender, auxiliar e apenas

uma governante para o os serviços domésticos da casa.

A continuidade das guerras da Europa contra a revolução Francesa, com a

organização da 2º coalização, trouxe a luta ao território suíço. O edifício das Ursulinas foi

requisitado para servir de hospital de sangue e Pestalozzi distribuiu os menores entre as

propriedades rurais vizinhas ou os devolveu a parentes e encerrou as atividades no

estabelecimento que lhe foi confiado.

O excesso de trabalho, a falta de descanso, tinham abalado profundamente a sua

saúde, que foi assim obrigado a um repouso imprevisto para se recuperar e ao deixar Stanz,

Pestalozzi encontrou na Serra Bernense um curto período de descanso. Todavia logo sentiu-

se inquieto na sua solidão. Ansiava por nova atividade e queria continuar a servir o povo,

queria continuar a estudar, a observar, a experimentar.

O seu amigo Stapfer, então ministro de Estado, projetava a criação de uma escola

normal Helvética e lhe ofereceu a direção. Pestalozzi não se julgou à altura de tão elevada

missão. Recusou, declarando que queria experimentar ainda, uma educação popular melhor,

na própria escola popular. O ministro Stapfer concordou e consegui-lhe a licença de ensinar

na escola rural de Burgdorf proporcionando-lhe hospedagem no castelo da cidade.

Na referida escola rural, confiaram-lhe a metade dos alunos, que deveria ensinar, no

entanto na mesma sala na qual a outra metade era atendida pelo mestre-escola e sapateiro

local, chamado Dysli. Este ignorante, incapaz de compreender o alcance social dos estudos

do mestre, invejoso e desconfiado, passou a desacreditar Pestalozzi perante os pais dos

alunos e todos declararam que não queriam saber de experiências com seus filhos.

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Deixando então a escola rural, Pestalozzi passou a trabalhar em várias outras escolas

de Burgdorf, na escola de leitura Stähli e na escola masculina, nas quais teve melhores

resultados, merecendo elogios oficiais.

No entanto, Pestalozzi não se sentia bem nestas pequenas escolas. Procurando para

a escola popular melhores métodos pedagógicos e querendo continuar a experimentar os

seus métodos inteiramente opostos aos tradicionais, ele precisava ver-se livre de

imposições de rotina pedagógicas da época. Estas considerações o levaram a criar em 1800,

na mesma localidade de Burgdorf, uma instituição própria que encontrou logo apoio da

associação dos amigos da educação, criada pelo ministro Stapfer, encontrando o apoio do

governo que lhe concedeu uma subvenção, cedendo-lhe ainda o castelo de Burgdorf para

nele estabelecer a nova obra.

A nova instituição incluía uma escola primária, um internato e uma escola de

professores e os primeiros colaboradores de Pestalozzi em Burgdorf, passaram a ser krüsi,

Tobler e Buss. Um dos primeiros alunos foi João Ramsauer, menino pobre de Appenzell e

que seria mais tarde um dos mais fiéis e competentes auxiliares do mestre.

Ao iniciar a sua nova obra, Pestalozzi, ao mesmo tempo que sentia a necessidade de

certificar a eficácia do seu método para fundamentar um novo estilo de ensino, já sentia

também a necessidade de fixar as suas conclusões num livro. Surgiu, assim o seu famoso

livro:

“Como Gertrudis ensina os seus filhos”, esboço de um verdadeiro manual de

pedagogia familiar. (1801) e ainda neste período de Berthold, surgiram os seus compêndios

de metodologia: “Do ensino de leitura”, “ABC do método intuitivo”, “Do ensino dos

valores numéricos “.

Data ainda do período de Berthoud e surgimento do seu livro “Como Gertrudis

ensina os seus filhos”, no qual,” em 14 cartas do mestre” relembrou a obra da sua vida e

procurou sintetizar os seus métodos didáticos e a sua concepção da pedagogia social.

Numa destas cartas, ele chegou às conclusões que mais caraterizam a sua

personalidade, quando preconiza a necessidade de uma harmonia absoluta entre a instrução

a ser proporcionada e as necessidades e possibilidades intelectuais e sociais de cada

indivíduo.

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Condena então os excessos de pseudo-intelectualismo, super-alimentação dos

espíritos com leituras e estudos acumulados sem programa nem método e sem utilidade ou

necessidade prática para a vida, para as obrigações, para a situação econômica e social de

cada um.

Sugere que a formação do caráter, o preparo para uma vida útil, calma e feliz

acompanhem o ensino teórico e a leitura e se queixa da falta absoluta de estudos e de leitura

na massa do povo, enquanto há excesso de verbalismo oco e presunçoso entre muitos

elementos da elite social, o que ele considera causas da degenerescência de lacunas”. A

falta de concretização nos exercícios numéricos.

Foi em Berthoud que Pestalozzi recebeu na sua instituição o jovem Niederer,

formado em teologia e filosofia e este moço, culto mas ambicioso e que se revelou desleal e

ingrato, no decorrer do tempo se tornou o pesadelo dos últimos anos de Pestalozzi.

Inveja, ciúme da glória do mestre, procurando pôr-se a si mesmo em evidência,

falseou a obra literária de Pestalozzi , em muitos casos, por ocasião de revisão da mesma e

lançando mão de um dos recursos elementares e banais da psicologia, pisou sobre o terreno

certo e firme da crítica demolidora e escandalosa, método ainda hoje em voga para todos

aqueles que embora inteligente, não saberiam vencer em uma competição honesta.

A natureza calculista e fria de Niederer correspondia menos com a sua natureza

sentimental que a personalidade de Schmid9 que embora enérgico e firme na direção, era

mais leal e mais sincero nas suas relações com Pestalozzi. Aos poucos a preferência deste

tornou-se conhecida e o rancor de Niederer começou a se revelar em discussões , crítica,

inimizade velada primeiro e numa crise que se alastrou por 10 anos, suportada por

Pestalozzi, chegou a injúrias e mesmo a ataques em panfletos e revistas, a processos que

levaram o velho mestre a aflição extrema. Entretanto a reputação da obra de Berthoud,

estendia-se pela Suíça e começava a se estender pelos países vizinhos.

Os anos de Burgdorf foram os mais felizes de Pestalozzi, e a reputação de sua obra

se estendeu pela Suíça e também pelos países vizinhos, embora não faltassem os dias de

9 Ex-aluno de Pestalozzi que se tornou professor no Instituto de Yverdon,. Fiel ao seu mestre e devotado acausa sagrada do ensino.

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amarguras, prenunciando os futuros sofrimentos maiores e em 1801, falecia o filho do

mestre.

Pouco depois, a crise política entre os Republicanos Unitários de caráter

predominantemente democrático e aos quais pertencia Pestalozzi, e os federalistas,

predominantemente aristocratas, viria perturbar intensamente a vida da instituição. Com a

retirada das tropas de Napoleão, irrompeu a guerra civil entre as duas facções. Napoleão

chamou uma delegação de Paris para redação da Constituição da Republica Helvética

Unitária. Pestalozzi era um dos delegados e ele esperava que vencessem agora, as suas

idéias de pedagogia social.

Infelizmente para ele, Napoleão, tinha problemas mais urgentes que exigiam a

atenção e a Republica Helvética que ele havia protegido, no período consular, ficou

esquecida depois e ressurgiu a República Federativa com autonomia dos cantões, a vitória

do grupo aristocrático.

Pestalozzi pagou o seu partidarismo com a perda as subvenção oficial à sua obra e

exigiram –lhe ainda a devolução do castelo de Berthoud. Conseguindo, no entanto, a

concessão de ex-convento de Münchenbuchsee, para lá transferiu a sua instituição.

Os auxiliares de Pestalozzi, tinham grande respeito pela sua bondade e admiravam-

no pelo seu saber, mas todos sabiam da sua incapacidade administrativa demonstrada em

Berthoud e com a perda da subvenção oficial, a situação se tornaria crítica e eles pediram

que cedesse a administração da nova casa a um estranho.

Assim, passou a direção econômica ao rico proprietário Fellenberg de uma fazenda

vizinha, homem de grande competência e que em poucos anos transformou uma herança

em fazenda-modelo. Venerador de Pestalozzi, ele tinha criado na sua propriedade uma

escola Rural que aos poucos se transformou, com a cooperação do pedagogo Wehrli, em

uma escola rural complementar, com Jardim de Infância e uma escola normal rural.

Todavia, Pestalozzi sofreu muito com esta dependência e no ano seguinte ele deixou

Münchenbuchsee, com parte dos alunos e mestres para se estabelecer em Yverdon

(Yferten), onde a municipalização também lhe cedeu um castelo abandonado, situado nas

margens do lago de Neufchatel.

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Meses depois, os demais professores e alunos, que apesar da boa direção econômica

de Fellenberg, sentiam a falta da mão bondosa de Pestalozzi, vieram se juntar outra vez

com o mestre e começou então, a fase culminante da vida de João Henrique Pestalozzi, a

ascensão, a realização máxima.

A fama do mestre e da sua obra educacional e literária teve agora um efeito

inesperado. Em vez dos menores pobres, convergiam os filhos de famílias remediadas e

mesmo ricas, vindo não só da vizinhança, mas da Suíça inteira e de muitos países

estrangeiros.

O ensino era ministrado em classes paralelas, em francês e em alemão. As idades

dos alunos variavam desde 5 ate 17 anos e ao lado do internato masculino, Pestalozzi se viu

obrigado a abrir um internato feminino que começou com 17 meninas. De início, entregou

o departamento feminino, aos dois discípulos Krusi e Hopf , mais tarde a sua nora, viúva de

Jakob Pestalozzi e por fim a Mille, Rosette Kasthofer que casou pouco depois com

Niederer, iniciando as intrigas que virão entristeceram a vida do velho Pestalozzi.

Diante, o pedido de muitos candidatos, vindo de vários países, anexou ainda um

curso de estagiários do magistério. Neste curso, recebeu discípulos fabulosos que em parte

levaram para longe as idéias do mestre, criando instituição norteada pelos seu métodos.

No entanto, este novo caráter de sua obra, desnorteava Pestalozzi, cujo coração

novamente o levava a preocupar-se com os pobres. Por isso, apesar do protesto dos seu

auxiliares, temerosos de verem os recursos da instituição novamente comprometidos, ele

criou, em 1818, perto de Yverdon, um asilo para menores pobres que de fato não pôde

manter, vendo-se obrigado a recolher estes menores no instituto de Yverdon, sob o protesto

da Municipalidade que não queria ver prejudicada socialmente a obra que chamava a

atenção do mundo.

Entretanto, Pestalozzi recebia, graças à atividade do seu auxiliar Schmid, a renda de

50.000 francos, proveniente de uma reedição das suas obras reunidas. Em vez de entregar

esta renda a sua esposa e a seu neto Teófilo, como herança e também como indenização dos

muitos prejuízos sofridos pela família em função da extravagância da caridade do mestre,

ele novamente aplicou esta renda imprevista na manutenção destes meninos pobres.

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Na instituição, Niederer, tomava conta agora da parte pedagógica nos cursos

secundários, especialmente no ensino das matemáticas que constituíram a parte

programática mais cuidada, o que trouxe mestres especializados da Alemanha, que

desejavam conhecer os métodos aplicados, enquanto mereceu Pestalozzi a crítica do Padre

Girard, que desejava ver menos matemática e mais religião.

Schmid passou a ser o auxiliar providencial que, além de bom professor, era

também o administrador da casa, da qual a esposa de Pestalozzi, por muitos anos se

afastou, para zelar da propriedade de Neuhof, para o qual Pestalozzi se retiraria mais tarde,

graças a esta providência da esposa.

Apesar das dissensões que o desenvolvimento da obra trariam mais tarde, entre

Pestalozzi e Niederer, este tanto como os demais auxiliares, constituíram, por vários anos,

uma verdadeira família Pestalozziana, na qual as idéias do mestre norteavam toda a vida da

casa e todos os métodos de ensino e de educação.

O fanatismo doutrinário, tão freqüentemente causador de campanhas de traição na

vida de grandes homens, não o poupou e no entanto, muito mais aparece, nas lutas que o

vieram ferir, a banal e miserável inveja, nua, sem revestimentos hipócritas e por vezes, a

luta de senso comercial, maior fraqueza e maior glória do insigne mestre.

No instituto Yverdon, Pestalozzi introduziu uma série de inovações pedagógicas,

que em nossos dias se generalizam e que para a sua época, eram quase revolucionárias e é

conhecido o seu princípio fundamental da associação íntima do trabalho manual, na horta,

na lavoura, na oficina, com estudo nas aulas, concepção que hoje é vencedora, nos

conceitos básicos da pedagogia social.

Mas o que é menos conhecido é que ele associava os seus alunos às preocupações

materiais da manutenção das suas casas, criando uma verdadeira cooperativa escolar. O seu

discípulo inglês Roberto Owen, foi mais tarde, na sua terra, um dos maiores propagandistas

do cooperativismo.

Por fim, os melhores professores começaram a desertar, indo fundar

estabelecimentos próprios. Schmid, atingido pelas intrigas subterrâneas do seu inimigo, foi

expulso do canton e Pestalozzi, desanimado, acabou fechando a instituição, retirando-se em

2 de março de 1825 para o Neuhof, onde o neto Teófilo o recebeu.

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Pestalozzi viu-se obrigado a abandonar o campo de ação, esgotado para o trabalho e

pela idade, retirou-se para Neuhof. Foi ali, naquela pequeno povoado, que ele enfrentou,

pela primeira vez, as dificuldades da vida e ao refletir agora, na solidão do seu retiro, ao

analisar a obra da sua vida, ele reconheceu os seus enganos, quase sempre motivados por

este predomínio do sentimento sobre a reflexão, da concepção do idealismo sobre a

antevisão objetiva.

Reconheceu estes enganos, e os confessou com sinceridade e humildade e não

deixou todavia, de sentir a grandeza da obra realizada. Nesta constatação dupla ele encontra

a serenidade que lhe permitiria deixar ainda alguns belos trabalhos literários como herança

espiritual, mas também a capacidade de perdoar generosamente aos seus detratores,

atribuindo-se a si mesmo a causa dos mal-entendidos e propondo, sempre novamente, a

reconciliação e surgiu assim, em 1826, o seu opúsculo “Canto do Cisne” um retrospecto da

sua vida e um resumo das suas teorias, entre as quais, com humildade comovedora, ele

mesmo reconheceu e corrigiu, publicou erros de concepção.

Pouco depois, publicou outro trabalho :”O meu destino, como diretor em Berthoud e

Yverdon”. Neste estudo ele quis, antes de morrer, justificar o seu amigo Schmid, num

último serviço amigo, a fim de reconstruir a sua reputação gravemente abalada, pela

campanha de Niederer e Fellenberg. Infelizmente, este trabalho, surgindo por um dos

caraterísticos ímpetos sentimentais de Pestalozzi, provocou intempestiva e virulenta reação

de Niederer, em uma agressão sumamente injuriosa, ditada a um estranho que ainda

reforçou os termos injuriosos e este panfleto foi o golpe de graça para o infeliz ancião e um

documento perante os estudiosos e pesquisadores pestalozzianos, para a classificação

definitiva do tipo de Niederer, cujo nome nunca se livrará da pecha infamante que a sua

odiosa campanha lhe deixou.

Pestalozzi chegou a pedir piedade, em carta humilde dirigida aos seus dois carrascos

: Niederer e a mulher, que, no entanto, tudo lhe deviam e nesta carta pedia que ao menos o

deixassem morrer em paz.

Numa reunião da Sociedade Helvética em Schingnach, em, 1825, Pestalozzi foi

eleito presidente da sociedade. Em 26 de abril de 1826, realizou-se em Langenthal a posse

na qual o secretário da Sociedade leu o discurso preparado por Pestalozzi e no qual, como

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numa justificativa derradeira da sua obra, ele tinha acrescentado um verdadeiro estudo

demonstrando a praticabilidade das teorias pedagógicas. Esta segunda parte todavia, não foi

lida então, mas foi aproveitada depois em uma sessão da Associação Cultural de Brugg,

pelo pastor Steiger e por fim os ataques de Niederer e Fellenberg conseguem atingi-lo. Em

15 de fevereiro de 1827, foi transportado a Brugg, ao hotel “Casa vermelha”, no qual ditou

logo o seu testamento que continha um último apelo aos seus inimigos :“Que as minhas

cinzas possam abafar o ilimitado ódio dos meus inimigos e que atendam ao meu último

apelo realizando o que é justo e fazendo-o em paz, dignidade e decoro como compete a

homem

Que a paz que eu desejo para mim, consiga também levar o meus inimigos à paz! Eu lhes

perdôo e bendigo os meus amigos”.

Morreu no dia 17 de fevereiro de 1827, às 19 horas, assistido pelo neto Teófilo e sua

esposa, que era irmã de Schmid.

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CAPÍTULO II

A FILOSOFIA DE PESTALOZZI

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CONCEITO

Na sua filosofia de vida, Pestalozzi se considerava servo dos homens como no

intuito de pôr em prática o ensinamento de Jesus, quando ensinou, que, quem quiser tornar-

se grande deve fazer-se servo de todos porque, Jesus deu exemplo para nós, quando disse

que não veio ao mundo para ser servido, mas para servir até o ponto de morrer para libertar

os homens, como se lê no Evangelho de S.Mateus, nos versos 27 e 28, do capítulo 20.

Viver para os outros. Eis aí um princípio marcante da filosofia de Pestalozzi que

deve ser tomado em consideração se queremos compreender melhor a sua vida e sua obra e

também ele, Pestalozzi, veio ao mundo para servir, ajudando os mais necessitados a se

libertarem da ignorância e da miséria. Fizeram-lhe justiça, portanto, quando escreveram no

seu túmulo :“Para os outros tudo, nada para si mesmo”

De família cristã, habituado desde cedo à leitura da bíblia e à oração, Pestalozzi

sentiu desenvolver-se no seu íntimo aquela fé que lhe deu forças para enfrentar montanhas

de dificuldades e entregava-se, como Sócrates, a profundas meditações de que resultou a

nítida consciência da sua missão : ajudar os pobres pela educação. Regenerar o homem e a

humanidade pela educação. Pestalozzi sentia-se um homem com uma missão. Tinha fé

inabalável no poder da educação para criar um novo homem e nova sociedade.

Tinha fé no homem. Como Rousseau, acreditava na bondade natural do homem. Isto

é, no íntimo de cada ser humano existe a centelha divina que, estimulada e ajudada pela

educação, logo se desenvolve, resplandece e enobrece o homem. Foi animado por esta fé

que se dedicou à educação.

Homem de ação. Pestalozzi foi homem de ação. O homem que tem consciência de

sua missão logo se torna homem de ação, de fé e coragem. Ainda adolescente assumiu

atitude corajosa ao combater as injustiças e corrupção dos governantes do seu tempo. A

ignomínia da prisão não lhe arrefeceu o ânimo. Corajosamente, deixou as comodidades da

vida citadina para enfrentar as durezas do trabalho agrícola no campo. Corajosamente,

ofereceu-se em sacrifício pela educação dos desamparados.

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A sua fé não consistia em vãs palavras. Era nele a força propulsora que o

impulsionava para ação em benefício dos outros e ele era um homem angustiado pelo

desejo de ajudar os outros sem ter recursos para fazê-lo e ele sofria com os que sofriam. Ele

próprio fez revelação do seu estado de espírito quando escreveu : “Faz muito tempo, desde

a minha mocidade que meu coração, como impetuosa corrente, se dirigia única e

exclusivamente para um fim : estancar as fontes da miséria em que via imerso o povo ao

meu redor.”

A SUA FILOSOFIA PARA COM A NATUREZA

Rousseau, foi, sem dúvida, um dos mais influentes apóstolos do naturalismo, cuja

influência no pensamento e na cultura contemporânea tem sido realmente extraordinária e

Pestalozzi, que depois de ler o Emílio, sentiu-se de tal modo entusiasmado com as novas

idéias que mudou o rumo de sua vida, tomou a decisão de abandonar os estudos para

dedicou-se à agricultura.

Pestalozzi seguiu, em parte, a filosofia de Rousseau : o naturalismo. A palavra é

muitas vezes repetida em todos os seus escritos, a começar do seu primeiro livro “Vigílias

de um solitário”.

Mas Pestalozzi não se escravizou a Rousseau. Em muitos pontos afastou-se dele e o

corrigiu. Foi também influenciado pelo idealismo de Leibnitz, Wolf, Kant, Jacobi e outros

pensadores da época. Ademais, Pestalozzi não era deísta como Rousseau. Acreditava no

Deus da bíblia e isto faz muitas diferença na sua filosofia.

Ao estudar a marcha da natureza na evolução do homem, Pestalozzi começa por

considerá-la primeiro no seu estado primitivo, onde predomina a vida animal. No segundo

passo da evolução, estuda-o na sua vida social. Por último, chega ao estágio superior, isto é,

ao nível da moral e da ética.

No primeiro estágio, na vida animal, o homem é egoísta, busca só seus interesses

particulares e vive sob o império dos instintos, alheios a qualquer idéia moral egoísta..

Desgraçadamente, ainda hoje, muitos pararam neste estágio.

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Como o egoísmo gerou o desejo de apropriação, com ele nasceu o direito de

propriedade e a luta entre os homens pela posse de bens. Para por termo às lutas e salvar a

existência da espécie, surgiu o contrato social com todas as suas implicações dos direitos e

deveres da sociedade. Neste caso o homem evoluiu para um estágio superior : é o homem

social. As leis têm origem na convenção dos homens para regular a vida social e elas

determinam como forças exteriores ao indivíduo e não partindo da interioridade, carecem

de essência moral.

O último estágio ‘é de natureza moral e ética. Por uma evolução espiritual o homem

chega à intuição de valores éticos e religiosos, muito acima não só do homem primitivo

como também do estado social e é para este ponto culminante que Pestalozzi quer conduzir

o homem a partir de uma educação sabiamente orientada.

Pestalozzi quer desenvolver a natureza moral no homem e para isso a instrução deve

estar subordinada à educação. A educação não é simples transmissão de conhecimentos

como muita gente pensa. Educação é formação. Em outras palavras é o desenvolvimento

harmônico de todos os poderes da pessoa e para isto cumpre despertar e desenvolver o

sentimento moral que dorme dentro dela.

FILOSOFIA SOCIAL

Quando empenhado na educação das crianças pobres, em Neuhof, lhe ocorreu logo

a idéia de imprimir na instituição o espírito de família. Ali ele era tratado como “o pai

Pestalozzi” porque a todos tratava como filhos. Ele e a esposa desvelavam-se dia e noite a

atender às necessidades dos alunos justamente como os pai fazem com os filhos. O Instituto

de Neuhof era realmente uma família e para ele, uma escola verdadeira devia ser como uma

família. Ao escrever “Leonardo e Gertrude”, foi inspirado a fazer a Gertrudes a mãe ideal,

que fez de seu lar uma escola, onde ela ensinava os seus próprios filhos e os dos vizinhos.

Getrude mostra como o lar é a escola onde a criança aprende a trabalhar em

cooperação, e também desenvolve os poderes do raciocínio e as demais qualidades morais

essenciais na convivência social e nada há que mais requeira atenção do que o trabalho em

geral porque sem firme atenção nenhum trabalho pode se bem feito. Esta verdade se mostra

mais evidente em se tratando de trabalho que as crianças podem fazer em casa porque,

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então, ele varia continuamente e de muitos modos, levando-as a fixar sua atenção em

grande número de objetos diferentes.

Se quer ser eficiente em seu trabalho tem que tomar na devida consideração as

circunstâncias em que tem que operar. Nem pode a criança eximir-se se atentar para o fato

de que o fracasso resulta de erros em ajuizar as coisas.

O primeiro desenvolvimento dos poderes da criança advem se sua participação no

trabalho de sua casa, porque este é certamente aquele em que os pais melhor entendem, e

tem mais competência para ensinar.

Se tão importante é a família na educação do homem, torna-se claro que alguma

coisa deve ser feita para protegê-la e salva-la da destruição de que se vê ameaçada. A

história, esta mestra da vida, nos esta mostrando que a ruína das nações é sempre precedida

pela destruição da família.

Naquela novela já referida, que imortalizou o nome de Pestalozzi, foi uma mulher,

Gertrude, que pela sua coragem, sua iniciativa, suas virtudes, salvou a vida do marido,

salvou o futuro dos filhos, regenerou Bonal e fez de escola doméstica o modelo de milhares

de outras pelo mundo inteiro e a mulher tem lugar de excepcional relevo na pedagogia

pestalozziana. É claro que sem mulher virtuosa não pode haver família nem escola, nem

sociedade.

FILOSOFIA MORAL E RELIGIOSA

A moral na pedagogia pestalozziana é fundamental uma vez que o homem é de

natureza moral como doutrinava Kant e o renomado filósofo de Koenisberg, o homem tem

a lei moral escrita no íntimo de sua alma. Basta que o indivíduo volte os olhos para seu

mundo interior e ali encontrará a noção nítida do bem e do mal. E mais : além desta noção

de consciência, parece-lhe ouvir uma voz interior a lhe dar uma ordem : foge do mal e

pratique o bem.

Isto nos faz lembrar a experiência de Sócrates há mais de dois mil anos. Isto nos faz

lembrar da exortação da bíblia no salmo 34 : “Aparta-te do mal e faze o bem.” E ainda a

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prática deste movimento – O rearmamento moral – que nos leva a ouvir a voz interior no

silêncio das meditações cotidianas.

Esta lei escrita no íntimo da natureza humana, esta voz interior que nos concita a

fugir do mal e praticar o bem, requer a existência de Deus como legislador e, com isto,

penetramos nos domínios da religião. Kant sentiu a influência de sua mãe, que era pietista.

Pestalozzi recebeu a influência da família notadamente do avô, que exercia o ministério

evangélico. Ele mesmo esteve para abraçar a mesma carreira e começou a estudar teologia.

As forças que atuaram no seu espírito e o levaram a abandonar a carreira

eclesiástica e certos dogmas da religião não lhe apagaram os sentimentos em que se

baseava a sua fé cristã haurida no ambiente religioso em que viveu e na leitura da bíblia.

Porque não se apegava a determinados dogmas e passou a não ensinar o catecismo

adotado na igreja reformada, muitos puseram em dúvida a sua crença; houve mesmo quem

o acusasse de ateísmo e a acusação não se justifica de modo nenhum, uma vez que

Pestalozzi lia diariamente a bíblia, comentava-a diante dos seus alunos e com eles dirigia

suas preces a Deus.

Na verdade , ele era um homem profundamente religioso e a moralidade está em tão

íntima relação com a religião que nem sempre é fácil estabelecer uma clara distinção entre

elas.

Facilmente se conclui pela sua identidade. Foi assim com Pestalozzi. Neste, como

em outras assuntos, são muitas as suas contradições que, em muitos casos, são apenas

aparentes e pode-se afirmar, entretanto, que a sua moral era de inspiração evangélica, com

amor predominância do amor e assim era também a sua moral: Era uma moral do coração e

por isso ligado intimamente à religião, o que nos leva a considerar as palavras citadas :

(...)O amor é a única real adoração e a única fonte verdadeira da fé. Só o amor

conduz o homem par a vida. Sem amor a terra é morte e perdição. O homem sem amor, é

homem sem esperança. Aquele que é escravo da inveja, do ódio, da ira, perde-se no

desespero. As melhores forças do homem o abandonam quando ele não teme a Deus, e ele

não pode amar a seu irmão se não há temor de Deus no seu coração.(...)10

10LOPES, José, Luciano, Pestalozzi e a Educação Contemporânea, Duque de Caxias-RJ : Centro deEditoração e Jornalismo da AFE, 1981.P.121.

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Aprendeu isto nos evangelhos. Ali se lê que Cristo dizia aos seus discípulos que a

lei fundamental do reino de Deus é o amor: amar a Deus e amar o próximo e quando dois

de seus discípulos pleiteavam os primeiros lugares no seu reino, que julgavam seria

temporal e mundano, respondeu que quem quisesse ser o maior, deveria tornar-se servo de

todos.

Dizia ainda que, ele, Jesus veio ao mundo para servir e não para buscar proveito

próprio. Amor absoluto e altruísmo absoluto eram padrões de sua vida e assim procurou

viver Pestalozzi quando, sem medir sacrifícios, compadecia-se dos pobres presos nas trevas

da ignorância e tudo fazia para libertá-los por meio da educação.

Também ele deu a sua vida em resgate de muitos e o seu método para desenvolver o

sentimento moral na vida dos seus alunos é interessante e original. Em vez de doutrinar por

meio de palavras, usava o poder da intuição levando os alunos, a uma vivência da moral.

Na carta de Stanz, isto é, onde fala da sua experiência em Stanz, ele nos dá um exemplo de

como ensinava moral.

Reúne os alunos e lhes dá a notícia do incêndio que destruiu Altdorf, deixando

muitas criancinhas na orfandade e miséria. Despertou o sentimento de piedade e simpatia

no coração dos alunos que tomaram a decisão de abrigar muitas das crianças vítimas do

desastre. Tomada a decisão, leva-as a refletir sobre as conseqüências dela: Teriam que

comer menos e privar-se de muitas coisas para poder ajudar às outras. Oferece a

oportunidade de confirmar ou rejeitar a decisão já tomada. E eles a confirmam, dispostos a

fazer sacrifícios em favor dos mais necessitados.

FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA

A ginástica e várias formas de exercícios corporais constituíam atividades

educativas em Yverdon. Mas dentro das atividades físicas Pestalozzi dava ênfase especial

aos trabalhos manuais que ao mesmo tempo que exercitam o corpo e lhes dão saúde,

preparam o aluno par o exercício de uma profissão que tem como resultado o

desenvolvimento moral e o desenvolvimento econômico na sociedade.

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Ele acreditava que nada contribui mais para a educação do homem que o trabalho

ou seja o trabalho é o grande educador do homem e Pestalozzi teve esta intuição genial,

muito embora não tenha sido o primeiro a reconhecer o valor do trabalho.

Os beneditinos o precederam de longa data, vivendo ele numa época de transição. O

desenvolvimento das indústrias enriquecia as cidades em prejuízo da lavoura e as

populações campesinas tornavam-se cada vez mais pobres e grande era o número de

crianças que viviam da mendicância e o seu grande coração sofria ao presenciar os

sofrimentos dos outros.

Chegou à conclusão de que estes jovens mendigos só poderiam se libertar da

miséria mediante a educação. Não a educação livresca, puramente intelectual, mas de uma

educação ligada ao trabalho. É preciso desenvolver em cada um a capacidade de trabalhar.

Por isso, em Neuhof, no mesmo lugar em que havia tentado desenvolver uma

empresa agrícola, fundou um instituto para educar crianças pobres. Para isto, recebeu

auxílio de amigos, entidades filantrópicas e até de autoridades governamentais.

Segundo o seu projeto, as crianças aprenderiam a trabalhar e o produto do seu

trabalho deveria render o suficiente para custear as suas despesas nos estudos e Pestalozzi,

que se inspirou em Rousseau, pensava poder realizar aí o maior sonho de sua vida:

regenerar o homem pela educação ligada ao trabalho.

O trabalho, na verdade, liberta o homem da mendicância e da miséria. Mas não é só

isto. O trabalho é fator de educação porque desenvolve a prática da atenção e sabiamente

entenderam os beneditinos que a ociosidade é mãe de todos os vícios e que o trabalho

contribui poderosamente para a formação do caráter e santificação da vida.

Foi com esta idéia de regenerar o homem e a sociedade que Pestalozzi se empenhou

tão abnegadamente na educação das crianças e impressionado pela contínua atividade que

se vê na criança e pela riqueza e versatilidade de suas orças físicas, intelectuais e morais,

ocorreu-lhe a idéia de poder variar de trabalho de modo a evitar fadiga, o que tornaria

possível não só ensinar as crianças a ganhar o pão, mas também cultivar, ao mesmo tempo,

a sua natureza moral e intelectual.

No seu livro de natureza mais filosófica, “Minhas investigações sobre a marcha da

natureza no desenvolvimento do gênero humano”, publicado em 1797, escreveu que a

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natureza humana passa por três etapas. Na primeira é biológica, é o homem animal sujeito a

seus instintos egoístas. Na ânsia de querer apossar-se de tudo, causa conflitos permanentes

e na segunda, etapa aparece o homem social. Para evitar o extermínio faz o contrato social e

leis que regulam as relações sociais.

Como Sócrates, e depois como Kant na crítica da razão prática, basta que o homem

volte os olhos para dentro de si mesmo, em meditação, para constatar a distinção do bem e

do mal, e ouvir como que uma voz a dizer : foge do mal e pratica o bem e conclui-se que o

homem é essencialmente moral. Daí a insistência de Pestalozzi quando à necessidade de

educar o coração.

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CAPÍTULO III

A PEDAGOGIA DE PESTALOZZI

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MÉTODO DE ENSINO

Sabemos hoje que a pedagogia de Pestalozzi não foi produto de especulações

filosóficas, que surgiu das deduções de princípios gerais, mas que nasceu das experiências

realizadas constantemente pelo próprio mestre.

Nesta conquista de conhecimentos por experiências próprias , em terrenos

completamente novos, nesta experimentação contínua, repetida, à procura de deduções e de

conclusões, reside justamente o valor inconfundível da obra de Pestalozzi.

No entanto, ficou também certo que, com toda a genialidade do espírito de

Pestalozzi na concepção, na pesquisa, nas deduções, a força impulsiva da sua alma,

antevendo e desejando a realização de benefícios no plano assistencial, predominava sobre

a sua capacidade científica, que ele, na sua modéstia comovedora, dizia e repetia

inexistência por falta de estudos teóricos. A sua “intuição” do bom, impunha-se à sua

capacidade de reflexão lógica rumo ao certo e apesar desta constatação sua e de muitos

outros, a Universidade de Breslau lhe conferiu, em vida, o titulo de Doutor Honoris Causa.

Esta constante interferência do seu profundo sentir, prejudicou, no entanto, a

redação clara dos seus trabalhos de teorias e de doutrina e a sistemática apresentação do seu

método e os seus discípulos, os seus colaboradores, mas também os seus estudiosos e

continuadores, sistematizaram, mais tarde, todas as partes da sua obra literária, analisando e

interpretando os pensamentos do mestre perante a prática observada nas suas escolas.

Assim, Paulo Natorp resume os princípios fundamentais da doutrina pedagógica de

Pestalozzi, da forma seguinte:

1º - Princípio da espontaneidade, segundo o qual há, no indivíduo, um auto

desenvolvimento das suas energias e não apenas um desenvolvimento de energias

sugeridas.

2º - Princípio do método, segundo o qual o educador vigia este auto-

desenvolvimento, animando-o e conduzindo-o por caminhos acertados.

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3º - Princípio da intuição, a forma primitiva do aperfeiçoamento humano pela

natureza, através das sugestões da mesma, na observação inicialmente inconsciente,

lentamente consciente, observadas e analisadas.

4º - Princípio do equilíbrio das forças, espirituais, morais e físicas, pelo pensar, pelo

sentir, pelo experimentar.

5º - Princípio da coletividade, ou do auxílio ao auto-desenvolvimento do indivíduo,

rumo a sua articulação social com a coletividade.

Outra súmula, interessante, dos princípios básicos do mestre, nos apresenta o seu

contemporâneo, o filantropo Fischer, nos seguintes “5 (cinco) propósitos essenciais”:

1 – Dar ao espírito uma cultura intensiva e não simplesmente extensiva: plasmar, e

não apenas mobiliar o espirito.

2 – Ligar o ensino inteiramente à educação da linguagem.

3 – Fornecer ao espírito do menor, para todas as suas preocupações, dados

fundamentais, idéias-mães.

4 – Simplificar o mecanismo do ensino e do estudo, (elementos audiovisuais de

Pestalozzi)

5 – Popularizar a ciência.

Referências a Pestalozzi, forneceram um interessante resumo, em 11 sentenças, que

apresenta as idéias principais do mestre quanto à sua pedagogia.

1 – A intuição é a base da instrução.

2 – As práticas da linguagem devem estar ligadas à intuição.

3 – O aprender não se processa ao mesmo tempo que o julgamento e a crítica.

4 – Em cada grau de ensino, o trabalho deve começar pelos elementos mais simples

e gradativamente se desenvolver, acompanhando o desenvolvimento natural da criança.

5 – Deve haver insistência em cada parte do ensino, para dar à criança tempo de

adquirir a posse completa.

6 – O ensino deve seguir a ordem natural e não exposição sintética.

7 – A individualidade da criança é sagrada.

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8 – A finalidade principal do ensino primário não é de fazer a criança adquirir

conhecimentos e talentos, mas de desenvolver e aumentar as faculdades das sua

inteligência.

9 – Ao saber é preciso acrescentar o fazer, aos conhecimentos teóricos, a habilidade

prática.

10 – As relações entre mestre e aluno devem assentar sobre o alicerce do amor.

11 – A instrução deve ficar subordinada à finalidade superior da educação.

Por fim, daremos a súmula de trabalho que em 1812 foi publicado pelo já citado

Marc Antoine Jullien, discípulo entusiasta e que estudou de perto a pedagogia de Pestalozzi

em Yverdon, ouvindo-lhes os ensinamentos e estudando a sua aplicação prática.

Os vários trabalhos de Jullien tem sido objeto de muitos estudos posteriores como

também de traduções e eles têm sido citados nas publicações de muitos pesquisadores; esse

estudo é um dos mais conscienciosos e dos mais honestos que conhecemos e damos

dele um expressivo resumo :

A) - Princípios fundamentais

1 – Religião, fundamento de todos os graus de educação.

2 – Moral e lógica, inspiradas e insinuadas, como princípio vital do sistema.

3 – Desenvolvimento de todas as faculdades, segundo a natureza de cada um.

4 – Íntima harmonia entre este desenvolvimento e a aquisição de conhecimentos.

5 - Intuição, princípio-base e meio da instrução.

6 – Ordem gradual e encadeamento lógico de todas as partes da educação.

7 – Combinação dos elementos das duas educações : familial e social.

8 – Determinação da esfera própria de cada um dos objetos da educação e de cada

um dos objetos da educação e de cada um dos meios que emprega.

9 – A existência considerada como meio essencial da educação.

B) – Caracteres essenciais do sistema

1 – A educação pela mãe, modelo mais perfeito e completo de uma verdadeira

educação.

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2 – Adaptação de objetos e meios especiais para a educação de cada faculdade.

3 – Máxima clareza e simplicidade em todas as lições.

4 – Procurar sempre a visão dos conjuntos e dos detalhes.

5 – Procurar sempre penetrar no fundo do assunto.

6 – Identificar o método do ensino, com o grau dos estudos e com ramos de

conhecimentos.

7 – Disciplina, produto da concentração no assunto, da natureza dos menores e da

essência da sistema.

8 – Coleta diária de dados sobre observações feitas, para aperfeiçoamento constante

dos métodos de trabalho.

9 – Educação pré-vocacional.

C) – Meios de execução prática

1 – Aptidão para os diversos conhecimentos e preparo básico para as respectivas

vocações.

2 – Saúde física e moral.

3- Devolução, à sociedade, de elementos humanos, zelosos, respeitosos, fiéis,

capazes e úteis.

4 – Aperfeiçoamento das instituições sociais, pelo aperfeiçoamento dos indivíduos.

5 – Desenvolvimento do espírito humano em toda a sua extensão.

6 – Preparo do aprendiz do artesanato ou da indústria, não apenas para a prática

profissional, mas para cooperação consciente e fiel no organismo geral do seu meio.

7 – O sistema educacional de Pestalozzi, aperfeiçoando a infância e a juventude,

aperfeiçoa a humanidade e dá maior impulso ao progresso das ciências e das artes.

8 – Generalizada, produziria sempre maior número de indivíduos melhores, mais

instruídos e mais felizes.

Só da adição das felicidades individuais, poderá advir a felicidade coletiva.

INTUIÇÃO - a palavra-chave na pedagogia pestalozziana.

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Os avanços teóricos da psicologia humanística e os estudos sobre o cérebro levaram

grande número de pessoas a acreditar que existe, além de um grande poder interior, uma

sabedoria oculta dentro de nós.

Essa força vital é uma energia vibrante em movimento dinâmico proveniente do

cosmos, que dá vida a todas das criaturas da terra, sem exceção, apenas em alguns é mais

trabalhada.

Os pesquisadores do assunto chegaram à conclusão de que existe uma energia

universal, um fluxo do cosmos ou uma inteligência cósmica, que quando captada, transmite

à pessoa que capta, uma força imensurável, e passa lhe uma espécie de autonomia ou

liberdade. Uma vez sintonizada, a vida do captador será mais tranqüila e mais harmoniosa e

para ele, o ato de viver será um prazer, ao invés de ser uma batalha ou esforço brutal.

O DESENVOLVIMENTO DA INTUIÇÃO

Reservar algum momento do dia para ficar em silêncio, para apenas ser. Ficar

sozinho em meditação silenciosa pelo menos duas vezes ao dia por aproximadamente, trinta

minutos pela manhã e trinta minutos à noite.

Na bíblia há uma frase : “Fique em silêncio, sinta a minha presença e saiba que eu

sou Deus”. Isso só se consegue através da meditação.

No silêncio, a intenção mais remota espalha ondas sobre o leito da consciência

universal, que interliga todas as coisas. Mas se você não experimentar a quietude da

consciência, se sua mente continuar como um oceano turbulento, pode jogar qualquer

edifício dentro dela que nem vai notar.

Reservar um período do dia para comungar com a natureza e observar em silêncio a

inteligência que há em todas as coisas vivas e essa comunhão com a natureza o levará a

uma interação harmoniosa com todos os elementos das forças vitais e lhe dará a sensação

de união com todas as coisas vivas.

Praticar o não julgamento. Começar o dia dizendo:

“Hoje, não julgarei nada que aconteça” e durante todo o dia lembrar de não fazer

julgamentos.

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O não julgamento cria silêncio em sua mente. É uma boa idéia, portanto, começar o

dia com essa frase e durante o dia, lembrar dela toda vez que se pegar julgando alguma

coisa. Se achar difícil fazer isso durante todo o dia, pelo menos se comprometa a não julgar

nada “nas próximas duas horas”, ou “durante uma hora”. Depois, gradualmente, vá

aumentando esse tempo.

Em outras palavras, intuição significa a voz interior, a intuição não diz, só sugere, é

o fluxo do universo, é a energia, mente suprema, eu superior, presença do eu sou, é a soma

de tudo o que conhecemos e do que poderemos vir a ser.

Isso demonstra que o poder metafísico encontra-se dentro de você, sujeito,

exclusivamente, ao seu controle e direção e tão logo o ser humano aprenda a agir em

consonância com esse poder miraculoso, poderá modelar e motivar sua vida em qualquer

sentido e modificar todos os efeitos produzidos por qualquer ato, fato ou circunstância que

lhe afete, podendo até mesmo criar tudo o que deseja.

Para termos uma noção mais clara do que seja a intuição, vamos defini-la em termos

do que ela não é :

- O pensamento racional se desenvolve com o tempo, ocorre numa seqüência

definível de etapas com começo, meio e fim. É apresentado em forma linear e a intuição

não oferece seqüência.

- Ocorre quando menos se espera, é como se fosse um instantâneo em oposição a

um filme. Não aplica regras específicas.

A intuição não sofre restrições, é produto da capacidade da mente de fazer muitas

coisas ao mesmo tempo sem que tenhamos consciência delas e a maneira como as

informações intuitivas são recebidas varia de pessoa para pessoa. Umas recebem

mensagens mentais enquanto que outras recebem mensagens simplesmente auditivas, é o

caso da inspiração de Mozart, Beethoven e muitos outros. Há, ainda, aquelas pessoas que

têm pensamentos repentinos. Tudo parece vir do nada. Há os que recebem a comunicação

exclusivamente no físico, como leves arrepios, contração de determinados músculos, quer

na nuca, estômago etc.

À intuição pode ser ocorrer de várias maneiras, as mais corriqueiras são, as

relacionadas a seguir:

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Físico – O corpo físico é um dos mais importantes meios usados pela energia

universal para a comunicação com o homem. O corpo diz e traduz o estado mental em que

se encontra o indivíduo, é só uma questão de observar e pesquisar o “porquê” de certas

atitudes e posturas que às vezes assumimos, sem uma aparente razão de ser.

O segundo tipo de comunicação intuitiva é a via emotiva. Esta é uma modalidade

muito forte de comunicação, e a margem de erro nesta modalidade é mínima. Podemos sem

exagero , até afirmar que é um meio infalível. O seu campo emocional reage de imediato, a

qualquer sinal de desarmonia. Por exemplo, quando encontramos alguém que é muito

estimado por um grande número de pessoas, inclusive por nossos amigos, mas nós

próprios, não conseguimos compartilhar dessa estima. É um caso patente de comunicação

por via emotiva. Temos que fazer uma análise rigorosa para apurarmos o verdadeiro

motivo; ás vezes é até uma questão de momento, ou simplesmente porque esta pessoa

apresenta uma semelhança física com alguém que nos machucou no passado, até mesmo na

infância. Pode, também, ser um registro da vida uterina. Enfim, o subconsciente não

raciocina, apenas registra impulsos eletromagnéticos que obedecem determinadas

freqüências. A hora de fazer substituição destes registros é exatamente quando se descobre

uma reação desta natureza. O que não pode é deixar passar sem descobrir a causa e eliminá-

la imediatamente.

O terceiro meio pelo qual a intuição faz comunicação com o ser humano é muito

importante e, também, o mais comum, embora ninguém se preocupe em determinar a

causa. Normalmente vem através dos sonhos. Ou por uma forte sensação de já ter visto

alguém antes sem ser apresentado, ou de ter estado num local que só agora você está

conhecendo, ou até mesmo, a nítida impressão de ter passado por uma situação que está

ocorrendo agora.

Não devemos esquecer que o subconsciente não conhece tempo nem espaço, por

isso, é muito comum ele ter conhecimento e registrar fatos que o consciente ainda não se

apercebeu ou mesmo ainda não vivenciou. Cada caso deve ser examinado com cuidado,

porque, inclusive pode-se estar diante de um fenômeno paranormal, que deve ter um

tratamento especial.

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A intuição se manifesta de modo suave e repetido. Não deve assustar, porque é

apenas a energia maior que está manifestada em você e que, por alguma razão está

querendo se comunicar. Não é simples suposição. Ela se mantém constante dando a

resposta repetidas vezes. Pode, ainda, vir em forma de sentimento de grande amor ou, até

mesmo, de inquietação.

Ante estas manifestações, a mente consciente usa uma porção de “pode ser” e de

“talvez”, aliás usa, constantemente, no dia a dia o sentimento de dúvida, e o mais grave é

que esta insegurança faz o indivíduo sentir-se culpado.

Ultimamente, o assunto vem despertando maior interesse, cada vez mais, está

considerada como um elemento – chave na descoberta e resolução de problemas, na tomada

de decisões, um gerador de idéias criativas, um revelador da verdade.

A descoberta intuitiva, embora pareça geralmente ocorrer quando a mente está

ocupada com algo diverso do objeto da descoberta, nem sempre é esse caso. Ás vezes

ocorre quando o descobridor está trabalhando no problema.

Esta descoberta aplica-se a qualquer dimensão e a qualquer questão, incluindo as de

importância pessoal e social. Ela revela fatos verificáveis. Oferece respostas e soluções para

problemas específicos ou de necessidade mais geral.

A mente intuitiva é programada com a questão do desejo. A intuição não surge ao

acaso, ela tem que ser trabalhada racionalmente para se tirar maior proveito dela e ela pode

vir de uma só vez ou em etapas.

Tudo isto é, nada mais nada menos, do que a força cósmica tentando nos falar,

esclarecer ou ajudar em algum ponto. Como ela é disciplinada não interfere taxativamente,

apenas limita-se a dar sinais que serão ou não aceitos por nós.

(...)AS ATIVIDADES NO INSTITUTO DE YVERDON

Os alunos gozavam de grande liberdade; as portas do castelo permaneciam abertas o

dia todo, e sem porteiros. Podia-se sair e entrar a qualquer hora, como em toda casa de uma

família simples, e as crianças quase não se prevaleciam disso. Eles tinham, em geral, dez

horas de aula por dia, das seis da manhã às oito da noite, mas cada lição só durava uma

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hora e era seguida de pequenos intervalos , durante os quais ordinariamente se trocava de

sala. Por outro lado, algumas dessas lições consistiam em ginástica ou trabalhos manuais,

como cartonagem e jardinagem. A última hora da jornada escolar, das sete às oito da noite,

era dedicada ao trabalho livre; as crianças diziam : “On travaille pour soi”, e elas podiam, a

seu bel-prazer , ocupar-se de desenho ou de geografia, escrever a seus pais ou pôr em dia

seus deveres.

Os mestres mais jovens, que, em sua maioria, tinham sido alunos em Berthoud

(Bergdorf), eram encarregados da vigilância durante todo o tempo em que não havia lições

e eles pernoitavam nos dormitórios, tomavam parte nas recreações dos alunos, com o

mesmo prazer que estes; acompanhavam-nos ao jardim, ao banheiro, ao passeio, sendo

muito estimados. Divididos em grupos, cada grupo desempenhava sua funções de três em

três dias, pois que essa vigilância os ocupava de manhã à noite.

Três vezes por semana, os mestres davam conta a Pestalozzi da conduta e do

trabalho dos alunos; estes, cinco a seis de cada vez, eram chamados à presença do “velho”

para receber suas admoestações e exortações. Pestalozzi os levava então, um após outro, a

um canto do seu gabinete de trabalho, e com eles conversava em surdina. Perguntava se

tinha algo para lhe dizer, para lhe pedir; procurava assim ganhar-lhes a confiança, a fim de

sondar se eles se sentiam bem, o que lhes agradava ou desagradava.

Todos os domingos, numa assembléia geral, passava-se em revista o trabalho da

semana.

Roger de Guimps discorreu, ainda sobre a natação no lago Neuchâtel, às margens do

qual descem as encostas do Jura cobertas de vinhedos, sobre as caminhadas pelo vasto

jardim contíguo ao castelo, sobre a obrigatoriedade de exercícios militares para os alunos

maiores, sobre o ensino facultativo da dança e da esgrima, sobre as ascensões às montanhas

próximas, sobre a patinagem durante o inverno, sobre as festas principais do ano, inclusive

a de aniversário de Pestalozzi, sobre as grandes excursões às florestas da vizinhança, a fim

de realizarem estudos e colherem plantas, sobre as representações teatrais, geralmente

baseadas nos feitos heróicos da história da Suíça da Idade Média, sobre os jogos e

diversões várias, sobre a importância que Pestalozzi dava ao canto : cantava-se nos

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intervalos das lições, nos recreios, nos passeios. A música e o canto adquiriram ali, de 1816

a 1817, grande impulso com o notável compositor suíço Xaver Schnyder von Wartensee.

Todas essas atividades, e muitas outras aqui não mencionadas, explicam a razão do

renome mundial de que gozava o Instituto de Yverdon. “Não havia castigos nem

recompensas. Pestalozzi não queria a emulação nem o medo. Só admitia a disciplina do

dever, ou melhor, a da afeição, do amor”. Nas admoestações que fazia, sempre indiretas,

punha tanta bondade e compreensão em sua palavras, que não raro os alunos se retiravam

com lágrimas nos olhos, de sincero arrependimento. Além de receberem excelente preparo

físico, intelectual e moral, os escolares eram igualmente educados para a vida em

sociedade, de modo a poderem enfrentar o mundo em qualquer situação ou circunstância.

Conforme conta Ackermann, que foi aluno de Pestalozzi em Yverdon, “o ensino ali

era essencialmente heurístico, isto é, o aluno é conduzido a descobrir por si mesmo, tanto

quanto possível por seu esforço pessoal as coisas que estão ao seu alcance dogmaticamente

pelo método catequético”. Partindo do princípio : “a intuição é a fonte de todos os nossos

conhecimentos”, Pestalozzi fundou sobre a intuição o edifício do ensino novo.

“A história, a literatura, todos os ramos dos conhecimentos humanos eram

ensinados em Yverdon pelos homens mais notáveis “ , escreveu Augustin Cochin, que fora

aluno do estabelecimento em questão. Pierre Philibert Pompée arrola em várias passagens

de sua biografia muitas das matérias que os alunos aprendiam. Mas é Jullien de Paris que

apresenta lista bem completa e nele nos apoiamos para acrescentar, aos que já foram aqui

citados, mais estes conhecimentos lecionados no Instituto : noções gerais, porém exatas, de

mineralogia, de botânica, de zoologia, e de anatomia comparada; um curso abreviado da

história natural; elementos de filosofia e psicologia; lições de física experimental e de

química; estudo de línguas mortas ou antigas ( principalmente grego e latim ) ; o ensaio das

seguintes línguas vivas ou modernas: italiana, inglesa, francesa e alemã, sobretudo as duas

últimas; o estudo geral das matemáticas, dividido em quatro seções: cálculo teórico e

prático, e aritmética superior; álgebra ou aritmética literal e universal; geometria e

trigonometria; mecânica, com noções de astronomia e geografia matemática. Todas essas

matérias faziam parte do ensino secundário, a que se juntava, ainda, uma tintura geral das

belas artes, aí incluído o desenho e a música. Ensinava-se, também, a geografia política e

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civil, e geografia geral e a história civil. Enfim, a instrução religiosa e moral. Na instrução

primária, além da leitura, da escrita, do desenho, do canto e da ginástica, eram dadas noções

de linguagem, elementos de cálculo mental ( calcul de tête) e de cálculo por escrito ( calcul

des chiffres ).

Afirma o “Dictionnaire de Pédagogie et d’Instruction Primaire”, de Buisson, que no

estabelecimento de Pestalozzi entravam todas as disciplinas do programa do ensino

primário e secundário, inclusive línguas antigas. N a verdade, porém, a instrução ali não se

limitava ao que acima está escrito; estendia-se e desdobrava-se sob diferentes ângulos e

matizes.

Insignes mestres, que de perto acompanharam o ensino realizado em Yverdon,

afirmaram que as crianças adquiriam, num ano, mais conhecimentos reais do que em dois

ou três anos pelos métodos antigos.(...)11

EDUCAÇÃO DO CORAÇÃO

“A cultura do intelecto não enobrecerá o homem a não ser que seja baseada na

cultura do coração.” Pestalozzi.

Uma vez que falamos da família e do que ela significa na educação, é justo que

falemos também do amor. O amor é o elo que uni as pessoas, as família. Sem amor não

existe harmonia, e nem família. Sem amor não há educação e a sociedade entra em colapso.

Pelo amor o homem resplandece, aprende a contemplar o céu, a natureza, as flores

que desabrocham nos campos, torna-se sensível e ama tudo o que esta ao seu redor. Pelo

amor ele se alegra com o sorriso de uma criança, torna-se caridoso e amável. Pelo amor

sublimou-se a vida de Jesus, de São Francisco, de São Vicente de Paula, D.Bosco e

Pestalozzi e muitos outros.

A lei do amor substitui o individualismo pela integração das criaturas, e acaba com

as misérias sociais. Feliz daquele que, no decorrer de sua vida, ama amplamente seus

11 WANTUIL, Zêus e Thiesen, Francisco, Allan Kardec Rio de Janeiro : Ed.Federação EspíritaBrasileira,1979.P.37.

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irmãos em sofrimento! Feliz daquele que ama, pois não conhece nem angústia da alma,

nem do corpo.

O amor é essência divina. Desde o maior até o menor, todos nós possuímos, no

fundo do coração a chama desse fogo sagrado e o efeito da lei do amor é o aperfeiçoamento

moral da raça humana e a felicidade durante a vida terrena.

Visto que o amor é esta força poderosa que irradia o ser, enobrece e santifica a

natureza humana, torna-se evidente que o educador tem a obrigação e o dever de procurar

desenvolvê-la na alma do educando com o fim de libertá-lo do egoísmo que devora as

energias espirituais do homem.

O egoísmo é a chaga da humanidade, pois retarda o progresso moral e causa todas

as desgraças que conhecemos, é negação da caridade e, consequentemente, o maior

obstáculo para a felicidade dos homens.

A meta é conscientizar o educando que ele vive no mundo para exercitar a bondade,

o amor, aprender a respeitar a vida, vencer as suas ilusões, alargar a sua consciência em

conhecimentos e harmonizar-se com a natureza e com toda a humanidade.

Pestalozzi define claramente a sua posição religiosa e faz da sua vida um culto

permanente a Deus:

(...) O amor é a única real adoração que o homem pode fazer a Deus e a única fonte

verdadeira da fé. Só o amor conduz o homem para a vida. Sem amor a terra é morte e

perdição.

O homem sem amor, é homem sem esperança. Aquele que é escravo da inveja, do

ódio, da ira, perde-se no desespero. As melhores forças do homem o abandonam quando ele

não teme a Deus, e ele não pode amar a seu irmão se não há temor de Deus no seu

coração.(...)12

EDUCAÇÃO E TRABALHO

Ali mesmo, em Neuhof, surgiu-lhe esta idéia luminosa : a educação ligada ao

trabalho. Os alunos trabalhavam e estudavam. A terapêutica do trabalho é hoje largamente

12 LOPES, José, Luciano, Pestalozzi e a Educação Contemporânea, Duque de Caxias – RJ : Centro deEditoração e Jornalismo da AFE, 1981. P.120.

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empregada não só na recuperação de excepcionais, mas também na educação regular das

escolas comuns. A verdade é que o trabalho tem importante função educativa. Escola-

oficina é o ideal para o que educando consiga educação completa.

Isto é o que procurou Kerchensteiner realizar na Alemanha com as Escolas de

trabalho. Esta é uma idéia pestalozziana que só mui lentamente se vai realizando entre nós.

A VIDA EDUCA

Eis aqui um princípio de profunda e ampla significação na pedagogia pestalozziana.

Ele é considerado como o núcleo, o ponto central do Schwanengesang, “o canto do cisne”,

última obra em que Pestalozzi procura rever, em resumo, todas as suas idéias pedagógicas

para que, com fracasso de Yverdon, não viessem a cair no esquecimento.

Já em outros escritos salientava o valor da educação fundada na natureza, isto é, na

natureza humana que é a própria vida. Os poderes adormecidos no íntimo de cada ser

humano aguardam para serem despertados e desenvolverem-se. Por isso, a vida educa.

Lê-se na tradução espanhola de Schwanengesang:

O olho quer ver, o ouvido ouvir, o pé quer andar e a mão agarrar. Da mesma forma

o coração quer crer e amar e o espírito quer pensar. Existe em cada um dos dotes da

natureza humana um impulso que os faz elevar do estado elementar primitivo ao de

adaptabilidade e perfeição. O inculto que ainda existe em nos é apenas um germe em estado

potencial e não a verdadeira potencialidade.

Os estímulos do mundo externo, que nos cercam, despertam as forças latentes em

nossa mente. A inteligência, o sentimento ou o amor, e a vontade constituem os elementos

fundamentais à nossa estrutura mental.

Os sentidos são os órgãos pelos quais tais poderes, ou forças. São estimulados e

entram em comunicação com o mundo externo.

A repetição, ou exercício, desperta e desenvolve tais forças. Assim começa a

educação.

Visto que os estímulos externos têm tanta significação, torna-se evidente a

importância do ambiente na educação.

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É importante para o educando melhorar e desenvolver os estímulos do mundo

externo e saber aceitar as suas falhas. Todo mundo falha. E afinal, só falha quem tenta. E é

melhor tentar do que não tentar.

O problema é que se não conseguirmos lidar com as falhas, acabamos inseguros,

com medo de ousar. Nossa auto-imagem sai prejudicada.

Mas o fato é : tudo que é importante na vida não se faz certo da primeira vez, as

falhas fazem parte da vida. O indivíduo deve aceitar suas falhas e aprender com elas, para

aumentar a chance de dar certo na próxima vez. É só assim - aprendendo, acertando e

progredindo – que uma pessoa confiará mais em si mesma, aumentando a sua auto-estima e

se conscientizará que os erros são os grandes momentos de nossa existência.

LIÇÕES DA VIDA

A CRIANÇA que vive com o ridículo

aprende a ser tímida.

A CRIANÇA que vive com crítica

aprende a condenar.

A CRIANÇA que vive com suspeita

aprende a ser falsa.

A CRIANÇA que vive com antagonismo

aprende a ser hostil.

A CRIANÇA que vive com afeição

aprende a amar.

A CRIANÇA que vive com estímulo

aprende a confiar.

A CRIANÇA que aprende verdade

aprende a ser justa.

A CRIANÇA que vive com elogio

aprende a dar valor.

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A CRIANÇA que vive com generosidade

aprende a repartir.

A CRIANÇA que vive com o saber

aprende a conhecer.

A CRIANÇA que vive com paciência

aprende a tolerância.

A CRIANÇA que vive com felicidade

conhecerá o amor e a beleza.

Autor: Ronald Russel

IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO

Em regra, a família é o primeiro ambiente que o homem experimenta ao chegar a

este mundo. Ora, se o ambiente é tão importante como ficou dito, decorre daí o valor da

família que Pestalozzi soube enaltecer como a primeira escola para a formação do homem e

é nesta escola de virtudes que se prepara moralmente o homem para a vida pública e

particular.

Tem-se como certo que a educação do homem começa no dia que ele nasce e

afirmam outros que ainda no ventre materno já o embrião sente os efeitos dos estímulos do

meio ambiente. Por isso, deve-se evitar que a gestante tenha sustos ou emoções fortes, ou

faça uso de álcool ou drogas que prejudiquem o desenvolvimento normal do embrião.

Mas Pestalozzi sempre a valorizou como a primeira escola do homem, onde “a vida

educa” e por isso, promover o amparo da família e protegê-la é sábia medida política

indispensável ao progresso da nação e a felicidade do povo.

Os pais tem o dever e a obrigação moral, primeiro para consigo mesmo, e em

seguida, para com os seus filhos. O dever é a lei da vida: encontra-se desde os menores

detalhes, assim como nos mais elevados atos.

Um resumo das leis da vida que os pais têm que ensinar aos seus filhos:

Verdade, Quando uma mentira seria muito mais fácil;

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Confiança, Quando poderia haver omissão;

Fidelidade, em momentos de dúvidas;

Perseverança, quando se acharem cansados demais para continuar;

Entusiasmo, quando os obstáculos se interpõem no caminho;

Energia, no momento em que se sentirem mais esgotados;

Humildade, quando os outros elogiarem;

Pensar no bem estar dos outros, antes de pensar em nossa própria conveniência;

Dar aos outros antes de pensar em receber;

Aprender com os outros, ao perceber que sabemos muito pouco;

Altruísmo, apesar de sentirmos ao nosso redor uma atmosfera de egoísmo;

Alegria, mesmo nos momentos em que as perspectivas são as piores possíveis.

A ESCOLA E A FAMÍLIA

Na sua famosa novela “Leonardo e Gertrude”, descreve a vida numa família, onde a

virtuosa Gertrude desempenha a função de mãe e professora. Ela ensina a ler, a orar e

trabalhar e o fazia de modo natural e simples. Nem assumia aspecto de professora.

Quando na sua vila de Bonal o governo resolveu criar escola, adotou-se o modelo da

de Gertrude no seu lar. Com isto, ensinou Pestalozzi que a escola deve ser como uma

família. Sabe-se até hoje que deve haver íntima relação entre escola e família. Só num

ambiente familiar, impregnado de amor, pode o homem desenvolver todos os poderes da

sua personalidade. Na escola, como na família, a lei suprema é o amor.

RESPEITO A PERSONALIDADE

Sem empregar o termo personalidade, sem gastar palavras na explicação de

liberdade, o seu modo de viver, o seu trato com os alunos, constituíam afirmação do seu

respeito à pessoa humana. A abolição dos castigos físicos é eloqüente testemunho disso.

Alunos e professores viviam em camaradagem e tratavam-se com mútuo respeito e

amizade. Pestalozzi era para eles como pai. “Pai Pestalozzi” era como o tratava. Ele os

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tratavam como filhos. Gozavam de liberdade e eram orientados de modo a assumir a

responsabilidade.

Os institutos de Burgdorf e de Yverdon podiam ser considerados como “ecoles des

personnes”, isto é, escolas para a formação de pessoas, como escreve Louis Weylan. Nós

diríamos mais propriamente hoje, escola de personalismo, justamente porque personalismo

é hoje uma poderosa corrente de filosofia do mundo contemporâneo.

O CONHECER PARA SER

Quando você está trabalhando, o passar das horas deve soar como música extraída

de uma flauta.

...E o que é trabalhar com amor ? É como tecer uma roupa com fios do coração

como se fosse o seu bem-amado a usá-la.

- Kalil Gilbran, O Profeta.

Todos têm um propósito de vida... um dom singular ou um talento único para dar

aos outros.

E quando misturamos esse talento singular com benefícios aos outros,

experimentamos o êxtase da exultação de nosso próprio espírito – entre todos, o supremo

objetivo.

Nota-se aqui uma mudança de rumo na educação. Naqueles tempos como ainda

hoje, pensavam muito que educar é adquirir conhecimentos. Quanto mais fatos o educando

puder adquiri do mundo e sua história, será um homem melhor instruído. Mas para

Pestalozzi a educação visa desenvolver as forças ocultas da natureza humana. Em outras

palavras, deve desenvolver o seu ser. Melhor é ser do que simplesmente conhecer.

Meditemos nas suas próprias palavras, segundo se lê em Educational Reformers, de

Robert Quick :

Gertrude disse ao professor : “Você devia fazer para as crianças o que seus pais

deixaram de fazer. Leitura, escrita e aritmética não constituem, finalmente, aquilo de que

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mais precisam. É justo e bom que aprendam alguma coisa; mas para eles o que mais

importa é ser alguma coisa”.

É bom considerar bem a diferença entre ser e conhecer e depois de citar Pestalozzi o

autor junta o seguinte comentário endereçado aos ingleses :

“Quando esta verdade for plenamente compreendida pelos professores e diretores

então haverá alguma esperança para a educação nacional”.

Ser e conhecer não devem estar separados. Herbat vai dizê-lo depois. Mas a

educação deve dar prioridade a SER, isto é, a formação do caráter, da essência moral da

personalidade.

EDUCAÇÃO HARMÔNICA

Inteligência, amor e vontade constituem a estrutura de nossas forças mentais e

Pestalozzi, por várias vezes, expondo a sua doutrina, usou de outras palavras : cabeça, para

designar inteligência; mão, para significar vontade, ou poder de ação; e coração, para

referência ao amor.

Em todos os tempos a educação deu ênfase especial ao desenvolvimento da

inteligência, das forças prodigiosas que nos asseguram o extraordinário progresso das

ciências, das artes, da técnica e da filosofia. Não é, pois, de se admirar que ainda hoje o

desenvolvimento da inteligência seja objeto de especial atenção.

Mas Pestalozzi ensina em “o canto do cisne”, que se deve desenvolver todos os

poderes da pessoa. Ensina mais que o cultivo de só um deles, em prejuízo dos demais, é

danoso porque produz certo desequilíbrio e enfraquecimento da personalidade e não leva a

uma educação perfeita.

Convém considerar, entretanto, que este auxílio recíproco só se dá quando se

procura desenvolver o educando no seu tríplice aspecto. Isto é , quando se lhe cultivam, ao

mesmo tempo, cabeça, mão e coração e Ter-se-á, então, o homem harmonicamente

desenvolvido, o homem equilibrado, o homem embora imperfeito, porém mais a caminho

da perfeição.

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EDUCAÇÃO PARA TODOS

A idéia de que o povo precisa ser educado é uma permanente contribuição de

Pestalozzi. Até o seu tempo só as elites recebiam educação. O povo era praticamente

ignorado.

Mas Pestalozzi acreditava no espírito, chispa divino, no interior de cada ser humano,

embora da mais humilde condição. Piamente acreditava que tal espírito deve ter

oportunidade de se desenvolver, dá se realizar, libertando-se da sua condição de miséria.

Estava plenamente convicto de que a educação é o único processo para regenerar o homem.

O povo tem direito à educação. Lutou para conseguir isso. Quando o czar da Rússia

esteve em Basiléia, foi ao seu encontro e tomou ousadamente a defesa dos humildes.

Apelou para a magnanimidade do imperador pedindo liberdade e escolas para

milhões que viviam sob o julgo da servidão. Não perdeu nunca de alertar os governantes da

Europa sobre este problema. Então os políticos começaram a descobrir o povo. Volveram a

sua atenção para a necessidade de educá-lo.

Se na democracia o povo é o soberano, torna-se necessário educar o soberano. Sem

a verdadeira educação, isto é, sem a educação integral do homem, jamais haverá

democracia.

Há muitos países em que a educação do povo está em grande atraso; mas todo

governo bem organizado e esclarecido considera a educação como um dos problemas de

maior significação.

Tudo isto está implícito nos apelos que Pestalozzi dirigiu aos dirigentes do novo

governo da Suíça, que se estabelecera com a revolução.

A MORAL EM PRIMEIRO LUGAR

Segundo Pestalozzi a moral é a fonte da educação e o homem é um ser

essencialmente moral, porque tem a centelha divina no íntimo do seu ser.

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A EDUCAÇÃO PELO AMOR

Da personalidade de Pestalozzi a característica de maior significação é o amor. Aqui

está a chave que nos faz compreender a razão por que mesmo no meio dos seus fracassos,

da miséria que o levou à penúria, não abandonou nunca a idéia de ajudar os pobres,

proclamando que devemos seguir o exemplo de Cristo e empregar os nossos bens em

auxílio dos mais necessitados.

O amor é que lhe deu forças para, já octogenário, empreender a construção de um

orfanato para crianças pobres.

Por isso é que Vítor Cousin viu nele uma das mais fiéis imitações de Cristo.

Por isso é que a sua vida tem inspirado discípulos em todo o mundo, os quais vêm

fundando orfanatos, casas de asilo, escolas-granjas e muitas outras instituições que

exigiriam mais largo espaço se quiséssemos mencioná-las.

EDUCAÇÃO INTELECTUAL

A força da inteligência só se desenvolve pelo exercício, como todas as forças da

natureza humana e o desenvolvimento é uma palavra mui significativa na pedagogia

pestalozziana.

Por muito tempo o ensino nas escolas visava transmitir conhecimentos do mundo

exterior. Considerava-se a mente como um saco que se devia encher de conhecimento – de

fatos da terra, céus e mar. Nomes de todos os ocidentes geográficos, de estrelas e planetas

dos céus, de todos os animais da terra e do mar, dos homens e sua história. Rabelais

defendia um saber enciclopédico. E ele não estava só nesta idéia. O mais sábio era o que

reunisse maior soma dessas informações.

Pestalozzi mudou o rumo do ensino. Não consiste este só em transmitir

conhecimentos, mas em desenvolver forças.

Ele comparou a educação com o crescimento de uma planta, de cujo embrião que

existe na semente, vem se desenvolvendo lentamente o tronco com ramos e as folhas até à

arvore completa. Assim se desenvolvem as forças que estão no espírito da criancinha até o

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homem completo. Ao educador cumpre vigiar cuidadosamente e ajudar este

desenvolvimento. Ele insiste nesta analogia.

Intuição é palavra-chave na pedagogia pestalozziana e ele mesmo declara na carta

nona do livro – Como ensina Gertrudis a sus hijos :

“O dia em que reconheci que o principio absoluto de todo o conhecimento é a

intuição, formulei o princípio superior que domina a ciência da educação”.

Intuição é a palavra que se tem prestado a muitos equívocos uma vez que vários

autores a empregaram com sentidos diferentes. Para Pestalozzi significa uma clara

percepção dos objetos mais a interna reação conseqüente.

Gabriel Compayré explica o conceito pestalozziano de intuição:

“Intuição não é somente a percepção externa dos sentidos. A intuição estende-se às

experiências da consciência interna, aos sentimentos e às emoções tanto quanto às

sensações”.

Num sentido mais geral e profundo, pode-se dizer que a intuição é uma visão

imediata do espírito.

Tal como foi dito, há uma intuição sensível quando os sentidos percebem os

objetos; já uma intuição moral quando a consciência percebe imediatamente o bem e o mal;

há uma intuição intelectual quando o espírito percebe imediatamente a verdade; há uma

intuição espiritual na visão mística e na concepção pestalozziana, esclarecida por

Compayré, ela envolve todas as outras, é essencialmente dinâmica, ativa e serve de

fundamento da escola ativa.

A visão não deve ser considerada um ato só dos órgãos visuais, mas também dos

outros sentidos. Agir, fazer, trabalhar, são processos da visão e por isso é que a ação

concorre poderosamente para o desenvolvimento desta força prodigiosa que é a

inteligência; nasce daí toda a filosofia da Escola Ativa, ou Escola Nova, verdadeira

revolução no campo da educação.

Destarte, as atividades todas, quando sabiamente ordenadas, constituem formas de

exercício pelos quais se desenvolvem as forças da inteligência. A grande revolução aqui

consiste em que a educação deixou de ser simples transmissão de conhecimento para se

tornar desenvolvimento de forças da inteligência.

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Numerosos processos educativos hoje em prática em todas as escolas do mundo

tiveram sua origem em Pestalozzi. Muitos professores são pestalozzianos sem saber é por

isso que Gabriel Compayré declarou que “a educação contemporânea é essencialmente

pestalozziana”. Isto quer dizer que desde o jardim da infância que Fröbel criou, todas as

inovações no campo da pedagogia constituem um desenvolvimento das idéias que surgiram

no célebro delirante de Pestalozzi, resultantes das loucas aventuras de Neuhof, Stanz,

Burgdorf e Yverdon.

Já na sua primeira publicação de natureza pedagógica chegara Pestalozzi a algumas

conclusões interessantes:

“O processo da natureza no despertar das forças interiores do homem deve ser

simples e aberto a todos; da mesma forma que a educação para uma sabedoria serena deve

ser simples e ao alcance de todos.”

“Mediante atividades práticas é que a natureza desperta os poderes no homem e os

faz crescer pelo exercício.”

“Tais exercícios, sempre com objetivos mais próximos, devem ser feitos

livremente, sem coerção.”

“A instrução mediante rígidos exercícios coercitivos não é método natural. Teria

como resultado uma unilateralidade prejudicial à percepção da verdade.”

“Cada coisa que fazemos contra nossa consciência do que é direito enfraquece a

nossa capacidade para aprender a verdade. Por isso toda a sabedoria dos homens repousa na

força de um bom coração que procura a verdade.”

“Nada há que mais intimamente interessa ao homem que Deus. A crença em Deus.

Que faz parte de nossa natureza, da mesma forma que a noção do que é certo e errado, do

que é justo e injusto, deve ser colocado como fundamento da educação da espécie humana.”

O importante é aprender fazendo. Se você tiver que entender todas as minúcias e ter

todas as informações detalhadas sobre cada coisa que for fazer, vai acabar não fazendo

nada. Ou pelo menos, fará muito menos do que o seu potencial permite.

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CONCLUSÃO

Como análise final, podemos concluir que este trabalho tenta mostrar uma visão

abrangente de quem foi Pestalozzi, como foi sua vida, por que se preocupou com a

educação, quais os métodos desenvolvidos que revolucionaram a sua época e que

continuam atuais ainda.

A metodologia utilizada por Pestalozzi tem grande importância para a solução de

permanentes problemas de educação. Embora em muitos pontos o método Pestalozziano já

esteja ultrapassado, em muitos outros está orientando toda educação moderna. Muitos de

seus princípios a inspiraram a modernização de muitas escolas de nossos dias atuais e

abririam novos horizontes à educação.

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ANEXOS

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Anexo 1

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Anexo 2

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Anexo 3

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Anexo 4

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Anexo 5

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Anexo 6

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ÍNDICE

AGRADECIMENTO

DEDICATÓRIA

RESUMO

METODOLOGIA

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

III

IV

V

VI

VII

08

CAPÍTULO I

VIDA E OBRA DE PESTALOZZI

CAPÍTULO II

A FILOSOFIA DE PESTALOZZI

12

37

CAPÍTULO III

A PEDAGOGIA DE PESTALOZZI

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BIBLIOGRAFIA CITADA

ANEXOS

47

77

78

81

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

Instituto de Pesquisa Sócio-Pedagógicas

Pós-Graduação “Latu Sensu”

Titulo da Monografia:

EDUCAR SEGUNDO PESTALOZZI : OS FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO PESTALOZZIANA.

Data de Entrega: _______________________ ____________________________________

Avaliado por: _____________________ __________________Grau____________

Rio de Janeiro_____de_________________de 20____

_________________________________________________

Coordenador do Curso