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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS PROJETO VEZ DO MESTRE CURSO PSICOPEDAGOGIA O DESENVOLVIMENTO SÓCIO-AFETIVO DA CRIANÇA SEGUNDO O REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL POR: Isabela Castro Lucas Rio de Janeiro, Julho, de 2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS PROJETO VEZ DO MESTRE CURSO PSICOPEDAGOGIA

O DESENVOLVIMENTO SÓCIO-AFETIVO DA CRIANÇA SEGUNDO O REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL

PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL

POR: Isabela Castro Lucas

Rio de Janeiro, Julho, de 2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO DE PESQUISA SÓCIO-PEDAGÓGICAS PROJETO VEZ DO MESTRE CURSO PSICOPEDAGOGIA O DESENVOLVIMENTO SÓCIO-AFETIVO DA CRIANÇA SEGUNDO O REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL

PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL.

Apresentação Monografia apresentada por Isabela Castro Lucas , como requisito parcial para conclusão do curso de especialização em psicopedagogia a nível de pós-graduação “Lato Sensu”, tendo como orientadora a professora: Mary Sue Carvalho Pereira. Rio de Janeiro, Julho de 1994.

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AGRADECIMENTOS

A meu pai, que muito contribuiu para a realização deste trabalho acadêmico e a minha mãe pelo milagre da vida.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia ao meu marido, que com sua dedicação, tanto colaborou para a confecção e o aperfeiçoamento deste trabalho. Também para o Felipe, meu filho, pela sua tolerância e compreensão nos momentos em que tive que optar pelos meus estudos, abrindo mão de sua agradável companhia, e especialmente pela alegria que trouxe ao nosso lar.

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Resumo

O presente trabalho tem como propósito de estudo investigar a concepção de desenvolvimento sócio- afetivo da criança na creche, presente no Referencial Curricular Nacional para a Educação infantil( MEC/SEF,1998),tendo como referências as concepções sócio-interacionistas eleitas para embasar a análise do Referencial.

Para tanto, utilizou-se como objeto de estudo o RCNEI, e levou-se em consideração as políticas públicas atuais e a história da creche na sociedade. A fim de responder questões específicas, como: quais as orientações gerais para o professor presentes na proposta pedagógica para a creche do RCNEI? Quais as principais diretrizes e concepções sobre creches existentes na educação infantil brasileira?

Desta forma, esta monografia, se propõe a contribuir com as discussões já existentes e colaborar para que os professores hajam de maneira mais conseqüentes e para que todas a s crianças tenham direito a uma infância plena e tenham possibilidades de se desenvolverem afetivamente e socialmente.

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SUMÁRIO CAPÍTULO 1 –INTRODUÇÃO CAPÍTULO II – CRECHE NA SOCIEDADE. CAPÍTULO III – DESENVOLVIMENTO SÓCIO – AFETIVO DA CRIANÇA CAPÍTULO IV – REFERNCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL – RCNEI CAPÍTULO V – CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO 1.1. Apresentação do Tema

A creche nos tempos atuais, é definida como uma instituição educativa

para crianças de até três anos de idade que através do trabalho do professor junto à

criança, complementa a ação de cuidar e educar das famílias.

Nesse sentido, ao confirmar a função educacional da creche remete-se à

necessidade de refletir sobre a concepção de criança, buscando entender o processo de

desenvolvimento infantil e o papel das interações com parceiros adultos e crianças, além

de considerar a importância do ambiente estruturado pelo professor na construção do

conhecimento, da linguagem e da própria criança como sujeito.

Para que a função educacional se efetive na prática, o trabalho

pedagógico precisa ser orientado com base na idéia de que crianças são seres

sociais e seu desenvolvimento está diretamente associado às situações de

aprendizagens proporcionadas pelos outros membros mas experientes de seu

grupo social. O atendimento em creche deve se organizar de forma que as

crianças sejam reconhecidas como indivíduos que vivem em sociedade, levando

em conta, assim, sua história de vida nos aspectos pessoal, familiar e regional.

O reconhecimento da importância do desenvolvimento sócio-

afetivo da criança de 0 a 3 anos, direcionou a escolha do tema do presente

estudo. Vale ressaltar que a creche é um espaço de socialização, de vivências e

de interações, sendo que brincadeira é uma atividade educativa fundamental na

infância. Durante o processo de ensino aprendizagem a própria organização

espacial afeta tudo o que a criança faz, influencia sua capacidade de escolha,

modifica suas atividades e a maneira como utiliza os materiais , interfere na

percepção que a criança tem da realidade e transforma as interações com as

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outras crianças, com os profissionais e com seus pais. Não esquecendo a

importância do acesso aos conhecimentos socialmente valorizados, o que

contribuirá, inclusive, para o longo percurso de aquisição da leitura e a escrita

(Abramowicz & Wajskop,1999) .

O processo de aprendizagem proporcionado na creche abrange o

desenvolvimento sócio-afetivo que está relacionado à formação da identidade

pessoal e social da criança, pois considera-se que a educação tem uma função

social, isto é, a escola não modifica a sociedade, mas desempenhando seu papel

de ensinar criticamente, fornecendo os instrumentos fundamentas para o

exercício da cidadania, pode contribuir para a mudança social ( Kramer,2000)

Portanto, essa contribuição também pode ocorrer na creche, com

propostas pedagógicas que tenham como princípio a importância de favorecer à

criança a construção de uma auto-imagem positiva, que perceba-se valorizada

nas suas possibilidades de ação e crescimento à medida que desenvolve seu

processo de socialização.

A relevância da temática ora despertou, dessa maneira, um

enorme interesse em abraçar essa área, da educação infantil, e tratá-la com

seriedade.

No momento, a formulação de proposta pedagógica para a

educação infantil é uma exigência proposta pela LDB – 9394/96 à todas as

instituições. Com o objetivo de orientaras creches e pré – escolas, o MEC

produziu um documento Referencial Curricular Nacional para a Educação

infantil- RCNEI ( 1998 ). Embora não seja caráter obrigatório, sua presença nas

instituições de educação infantil, por todo Brasil, vem ocorrendo, pois foi

produzido pelo Governo Federal e faz parte de uma política educacional mais

abrangente ( Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN). Por esses fatores é um

documento de inegável importância, exigindo estudos que analisem seu

conteúdo.

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1.2 . Formulação da Situação – Problema

A Educação Infantil, como prática social, deve tornar – se

real com base numa proposta crítica, visando proporcionar um modelo de

educação que não se limite a apenas reproduzir o social já existente.

Diante do exposto acima e buscando estudar,

principalmente, o RCNEI, coloca-se como questão: qual a concepção de

desenvolvimento sócio-afetivo da criança na creche, presente no Referencial

Curricular Nacional para a Educação Infantil?

1.3. Objetivo do Estudo

Os objetivos do presente estudo são: (a) verificar na

proposta pedagógica para a creche presente no RCNEI, as orientações gerais

para o professor , pois entende-se o professor como integrante importante no

desenvolvimento sócio-afetivo da criança, e (b) analisar as principais diretrizes,

normas e concepções sobre creche existentes na educação infantil brasileira,

segundo os documentos oficiais recentes, destacando a importância da função da

creche na sociedade brasileira.

1.4. Justificativa

Para Abramowicz & Wajskop (1999) todas as crianças

têm direito a uma infância plena e longe da obrigação de produzir

economicamente para a sua subsistência e de sua família ( embora não

respeitado) e direito a uma escola que preze por uma educação prazerosa e

significativa, respeitando a singularidade de cada uma. Entretanto entende-se

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que o trabalho é um elemento da cultura e portanto, presente na vida da criança

como algo a ser conhecido e praticado mais tarde.

Contanto, espera-se que este trabalho contribua para se

elucidar conceitos relativos à Educação Infantil e para trazer uma análise crítica

o documento RCNEI visando uma utilização por parte dos professores de uma

maneira mais esclarecida e conseqüente.

De acordo com Amorim (1994), nas relações sócio-

afetivas o que se propõe, por exemplo, é que através de jogos corporais possam

ser enriquecidas a vivência e a produção de diferentes aspectos da relação

criança/professor e criança/turma e da relação entre pares. É sobretudo com o

corpo, mediado pela palavra, que a criança constrói seus vínculos afetivos e suas

formas de convivência social.

Sendo assim, estudando os problemas sobre o assunto,

pode-se tirar conclusões e indicações para estudos futuros de qual o melhor

caminho no planejamento de uma proposta pedagógica que vive o

desenvolvimento sócio-afetivo da criança na creche.

1.5. Referencial Teórico

O estudo presente tem como tema de pesquisa o

desenvolvimento sócio afetivo da criança na creche fundamentando-se em

concepções sócio-interacionistas. O conjunto de referências teóricas que

embasam as categorias eleitas para proceder a análise do material definido como

objeto de pesquisa - o RCNEI, foi elaborado via os estudos de Machado (1995) e

Galvão (1999, 2000), pois cada uma das autoras articula as concepções sócio-

interacionistas de Vygostsky (em Machado) e Wallon (em Galvão) às questões

presentes na Educação Infantil.

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Entretanto, esse trabalho não pode deixar de lembrar de

alguns autores indispensáveis, quando os assunto são : a creche na sociedade, a

criança e o seu processo de desenvolvimento sócio-afetivo na creche.

Compreendem autores com Amorim (1994), Oliveira et al. (1999), Rosemberg

(1989), Abromowicz & Wajskop (1999), Rizzo Soares (1984), Krammer (2000),

Kuhlmann Jr.(1998), Rosseti Ferreira et al. (2000), entre outros.

A seguir serão apresentadas as questões do estudo que têm

por propósito encaminhar a busca dos objetivos expostos .

1.1 . Questões do Estudo

Pretende-se, com este estudo, procurar responder às seguintes questões:

Quais as orientações gerais para o professor presente na proposta pedagógica para a

creche do RCNEI e (b) Quais as principais diretrizes, normas e concepções sobre creche

existentes na educação infantil brasileira, segundo os documentos oficiais recentes.

1.7. Procedimentos metodológicos

Um objeto de estudo que pertence às Ciências Sociais possui

características peculiares. Dentre elas, Minayo ( 1994) destaca a consciência histórica, a

identidade entre sujeito e objeto, o caráter intrínseco e extrinsecamente ideológico e, por

fim, sua natureza essencialmente qualitativa. Ainda segundo a autora: “a metodologia

inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que possibilitam a

construção da realidade e o teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que

possibilitam a construção da realidade e o sopro divino do potencial criativo do

investigador ( op. Cit.,p. 16).

A pesquisa qualitativa, nas ciências sociais, trabalha com o universo de

significados, aspirações, crenças motivações, valores e atitudes o que “corresponde a

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um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem

ser reduzidos à operacionalização de variáveis” ( Minayo, 1994, p.21-2).

A metodologia adotada neste trabalho foi a pesquisa bibliográfica que

teve como objeto de estudo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

RCNEI (1998) elaborado pela secretaria de Educação fundamental do MEC. Nesse

estudo direcionado e fundamentado do RCNEI foram tomados como material de

análise, particularmente os volumes 1 e 2.

Também foram utilizados: legislação, documentos e periódicos,

pertinentes e atuais.

1.8.Organização do Estudo

Nos capítulos seguintes far-se-ão ponderações acerca de: Capítulo II-

Creche na sociedade, dividido em dois itens (2.1. creche na sociedade: Um Pouco de

sua História e 2.2. Políticas Públicas para creche na Atualidade), Capítulo III –

Desenvolvimento Sócio – afetivo da Criança, dividido em três itens ( 3.1. A Criança,

3.2 Desenvolvimento Infantil: Os aspectos sócio-afetivos 3 3.3. A creche como espaço

de Desenvolvimento sócio afetivo da criança) e capítulo IV – Referencial Curricular

Nacional para a educação Infantil – RCNEI( 1998), dividido em dois itens ( 4.1.

Considerações Gerais sobre o RCNEI e 4.2. Orientações para o Professor que Trabalha

em Creches presentes no RCNEI).

Posteriormente, têm-se o Capítulo V - Conclusão, a Bibliografia, as

Referências bibliográficas, e finalmente o anexo I ( Temática: Auto-estima ) e o anexo 2

(Temática: Interação).

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CAPÍTULO II

CRECHE NA SOCIEDADE

Entre educação e sociedade existe uma estreita relação. Isso se deve

porque a educação, junto com as demais instâncias da vida social, tem o papel de

contribuir para as transformações necessária no propósito de tornar a sociedade

brasileira mais igualitária e justa.

E é nesse contexto que a creche está sendo definida como o lugar de

educação, deixando de ser apenas um lugar de cuidar, assistir, e higienizar.

Nesse sentido, afim de explicitar a creche na sociedade, optou-se por

recorrer à história do atendimento à infância e à análise das políticas públicas para

creche atuais por considerar que dessa maneira, o estudo pode elucidar as concepções

presentes no RCNEI, no que se refere a relação entre criança, desenvolvimento sócio-

afetivo e creche.

2.1. Creche na sociedade: um pouco de sua história

A década de 80, no brasil, passou por um momento de ampliação do

debate a respeito da papel da creche no âmbito das Políticas Sociais destinadas à

pequena infância, à mulher e à família ( Rosemberg, 1989 ).

Levando-se em conta cada momento histórico, vê-se que são impostas

tarefas às instituições educativas de acordo com o que se constrói e atribui como papel e

período da infância. E isto quer dizer que nem sempre ser criança e vivenciar uma

infância tiveram o mesmo significado socialmente.

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Cada momento histórico tem sua importância, portanto será iniciado um

breve relato das raízes históricas das funções da creche, no sentido de resgatar o

processo pelo qual se constitui a educação infantil.

A creche – termo vindo do francês, que significava manjedoura – surge

no século XVIII, por iniciativa religiosa, com a finalidade de educar, guardar e abrigar

crianças pequenas cujas mães precisavam trabalhar, ou para crianças que necessitavam

de assistência ( Abramowicz & Wajskop, 1999).

Segundo Abramowicz & Wajskop ( 1999 ),

“entre os séculos XVIII e XIX apareceram as primeiras instituições de

educação de crianças pequenas: escolas de tricotar fundadas por Padre

Oberlin, creches fundados por Marbeu, e jardins da infância, os

Kindergaten, fundados por Froebel “( p. 9).

No Brasil, tem-se registro de que no período dos séculos XVI e XVII, até o início dos

XVIII, ordem religiosas exerceram grande influência da catequese, e posteriormente da

caridade, organizando as primeiras formas de atendimento, conhecidas como: “A roda

dos Expostos “( Lanter, 1999).

Já na passagem do século XIX para o XX, foi fundado pelo médico Arthur Moncorvo

Filho o instituto de proteção e assistência a infância do Rio de Janeiro IPAI – R.J,

considerada a entidade mais importante deste período, e mais tarde surge a creche

Senhora Alfredo Pinto anexa ao Instituto, fundada e mantida pela Associação das

Damas da Assistência à Infância ( Kuhlmann Jr., 1998)

Percebe-se, então, a concepção assistencialista que estava presente na

creche, criada com objetivo de complementar ou mesmo substituir a figura materna

devido a sua condição de vida: mulher trabalhadora e pobre, ficando evidente que o

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caráter educacional de então, tinha como finalidade controlar e disciplinar as camadas

populares ( Kuhlmann Jr., 1998).

Sendo assim, no início do século XX, a creche ainda era vinculada às

noções de pobreza e assistência, enquanto que a pré –escola era voltada para as crianças

da classe média, geralmente de dois a seis anos de idade, e ao contrário da creche, na

pré –escola vivifica-se o trabalho pedagógico, procurando buscar caminhos para que as

crianças descobrissem um mundo adulto à sua maneira, de forma criativa.

Nesse período, a creche era defendida por sanitaristas e médicos

preocupados com a higiene da população mais pobre, que vivia, em geral, em moradias

super lotadas e não adequadas à sua saúde, onde as crianças eram vítimas de

contaminações freqüentes. Vale lembrar que nesse período acelera o processo de

urbanização, juntamente com o começo da formação das camadas populares, pois até o

final do século anterior a sociedade brasileira era quase que exclusivamente rural e o

trabalho era escravo.

Mas no meado do século XX, alguma mudanças vão se operar, como

observou Rosemberg 1989:

“o final da década de 60 e início da de 70 corresponde em vários países a

um novo ciclo de expansão das creches, inclusive com revisão de seu

significado. Este novo ciclo tem sua origem em reivindicações e

propostas de movimentos sociais urbanos, enter eles os movimentos

feministas” ( p. 92 )

No Brasil, esse fenômeno tornar-se evidente a partir da Segunda metade

da década de 70, quando ocorreu o ciclo de expansão da creche com a participação dos

movimentos feministas. O empenho na luta por creches assumiu tal força que passou a

ser incorporada como uma reivindicação básica de alguns segmentos da classe

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trabalhadora (Rosemberg,1989) Nesse processo de luta, a creche deixa de ser

considerada como uma obra assistencial à infância carente passando a ser apresentada

como direito a educação de crianças pequenas.

Este movimento vai refletir na elaboração da Constituição Brasileira de

1998, onde a creche passou a ser fixada como “um direito da criança, um dever do

Estado e uma opção da família ( Oliveira et. Al., 1999)

Essas conquistas requerem medidas como: o estabelecimento de políticas

educacionais que dêem um atendimento adequado a essa demanda da população

trabalhadora; a formulação de propostas educacionais bem fundamentadas e

explicitadas que beneficiem o desenvolvimento das crianças; e, a formação de um

quadro de profissionais qualificados.

O direito das crianças pequenas à educação foi reafirmado no artigo n.º

54, IV, do Estatuto da Criança e Adolescente - ECA, em julho de 1990: é dever do

Estado assegurar à criança e aos adolescentes [...] atendimento em creche e pré-escola

às crianças de 0 a 6 anos de idade.

Em dezembro de 1996, fica estabelecido de maneira incisiva o vínculo

entre o atendimento às crianças de 0 a 6 anos e a educação, através da LDB ( Leis de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional – lei n.º 9394). Selou-se a expressão Educação

Infantil par designar todas as instituições de atendimento a crianças de 0 a 6 anos.

Sendo que as creches são destinadas às crianças de até três anos e as pré – escolas, às

crianças de 4 a 6 anos.

O processo de mudanças vem se desdobrando há mais de uma década

tendo papel especial a Coordenação Geral de Educação Infantil – COEDI, orientando,

divulgando, articulando e promovendo debate nos anos 90. Mas em 1998 mudanças na

orientação política para a Educação Infantil vão se processa com a publicação do

Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – (RCNEI), definido como um

documento para servir de base para a elaboração de projetos pedagógicos.

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De acordo com o referencial (1998)

“polêmicas sobre cuidar e educar, sobre o papel do afeto na relação

pedagógica e sobre educar para o desenvolvimento ou para o

conhecimento têm constituído, [...], o panorama de fundo sobre o qual se

constróem as propostas em educação infantil” (Vol. I, p.18)

O parecer n.º CEB 002/99 (MEC/CNEA, 1999) fundamenta a

colaboração prestada pelo MEC aos Sistemas Brasileiros de Ensino através do

“Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil “, explicitando seu caráter

não mandatório e visando a qualidade e a melhoria no encaminhamento dos problemas

até então presentes no cuidado e educação para as crianças de 0 a 6 anos e suas famílias.

Será no ano de 1999 a instituição das “Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Educação Infantil”(DCNEI) publicadas nos termos da resolução CEB nº1/99

(MEC/CNE, 1999) e fundamentada no Parecer n.º CEB 022/98 ( MEC/CNE, 1998), que

vem instituir as normas para a Educação Infantil.

Para finalizar as creches no Brasil se constituíram de. Maneira muito

diversa no decorrer de sua história, caracterizando-se por variadas modalidades de

atendimento como: atendimento entre 8 e 12 horas por dia durante o ano todo, sem

interrupção ou fechando para férias; atendimento 24h/dia ou meio período. Todo esse

processo histórico contribui para constatação de que , no contexto brasileiro, só nos

últimos 13 anos é que a educação infantil passou a ser considerada como dever do

Estado e direito de todos os cidadãos.

2.2. Políticas Públicas para Creches na Atualidade.

As políticas públicas, em geral, se traduzem em metas, regras e diretrizes

estabelecidas pelo Estado, que orientam o planejamento e o desenvolvimento de

atuações de um determinado setor da sociedade ( Rosseti - Ferreira et.al., 2000).

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No Brasil, ainda persistem vários problemas na elaboração das políticas

públicas, como a sua utilização ou finalidades eleitorais, ou mesmo, processos

decisórios poucos democráticos ( reunião de decisões e ações apenas nas mãos de

poucos). Entretanto, as políticas públicas e o Estado são influenciados pelo jogo

dialético onde se procura incorporar interesses e necessidades da população sem perder

a hegemonia da classe social mais favorecida.

Apesar desses problemas, alguns avanços aconteceram, principalmente a

partir da Constituição de 1988, que coloca a educação infantil como um dever do

Estado, no artigo 208, inciso IV que diz o seguinte:

“Artigo 208. O dever do Estado com educação será efetivado mediante a

garantia de :

IV – atendimento em creche e pré escola às crianças de 0 a 6 anos de

idade “.

Graças às pressões exercidas pela intensa participação dos movimentos

sociais, especialmente de educadores e pesquisadores, é que foi aprovado na

Constituição Federal, o artigo 227, que põe a criança e o adolescente como prioridade

nacional ( Rosseti – Ferreira at. El., 2000). Ainda com o resultado dessa mobilização

encontra –se o Estatuto da Criança e Adolescente – ECA (1990 ), que nada mais é que

a regulamentação desse artigo citado. Mas recentemente , a nova LDB, representa uma

conquista na área da Educação Infantil, apresentando novas perspectivas à todos os

profissionais de ensino.

A LDB, dentre seus importantes artigos relativo à creches e pré –escolas,

no capítulo II Seção II, tem-se

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“ Artigo 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem

como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de

idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,

complementando a ação da família e da comunidade.”

Tal artigo está em harmonia com a filosofia do ECA e com os atuais

princípios em relação à infância.

Tendo avançado no que diz respeito a definição de creche e pré escola,

no artigo 30 está claro que as creches serão oferecidas para crianças de até três anos de

idade, independentemente de ser pública ou privada, não importando o local onde

estiver instalada ou mesmo a classe social das famílias atendidas. Nesse sentido, a lei

rompe com a denominação de creche como destinada aos pobres.Com relação a

formação de profissionais que agem diretamente com as crianças, a LDB determina que

todos os professores precisarão de nível superior para poderem lecionar até o fim da

década da educação (2007), ou seja, para lecionar na Educação Infantil e nas quatro

primeiras séries do Ensino fundamental, o professor deverá fazer sua formação em

universidade ou Instituto superior de Educação.

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CAPITULO III

DESENVOLVIMENTO SÓCIO – AFETIVO DA CRIANÇA

Conforme Oliveira & Rosseti-Ferreira (1993) o desenvolvimento humano

é, “[...] uma construção partilhada, na qual tanto a criança quanto seus parceiros se

constróem nas interações que estabelecem (p.63). essa concepção é fundamentada em

idéias de Vygostky, que diz que os processos de desenvolvimento são movimentados

pelos processos de aprendizagem ( Kolh de Oliveira, 1995). E o bebê, mesmo tão

pequeno, já nasce com uma rica expressividade que favorece seu diálogo e s sua relação

com outras pessoas, facilitando seu aprendizado.

Para Wallon, as emoções são o primeiro meio que o bebê recém nascido

estabelece na comunicação com o outro. E neste abrangente assunto que é a

afetividade, a emoção é fundamental, pois ela provoca impacto no outro, seja dando

existência a uma emoção semelhante ou uma complementar, que pode era oposta

(Galvão, 1999)

Portanto, partindo do princípio que a criança nasce socializada, chega-se

a conclusão que o problema não é considerar como a criança se socializa, mas sim,

como essa criança é socializada pela sociedade. Até porque, em uma sociedade que

muitas vezes nega o papel social da infância, não se pode afirmar que o sujeito da ação é

a criança.

A fim de analisar o desenvolvimento sócio-afetivo da criança, decidiu-se

focalizar o conceito na criança primeiramente. Em seguida, apresenta-se a análise dos

aspectos sócio-afetivos no desenvolvimento infantil, e por último, o desenvolvimento da

criança, especificamente na creche.

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3.1. A criança

Um primeiro conceito de criança se encontra em Krammer(1992)

definido, de maneira comum, por:

“oposição ao adulto: oposição estabelecida pela falta de idade ou de

maturidade e de adequada integração social. [...]. Entretanto, a definição

deste limite está longe de ser simples, pois ao fator idade estão

associados determinados papéis e desempenhos específicos. E esses

papéis e desempenhos ( esperados e reais) dependem estreitamente da

classe social em que está inserida a criança”(p.15).

Na sociedade centrada no adulto, a criança é concebida como esperança,

potencialidade e promessa, um estado a ser ultrapassado, e o educador muitas vezes, por

esse motivo, relaciona-se, não com uma criança concreta, mas sim com um futuro

adulto. A infância idealizada pelo adulto deve-se ao seu jeito de escapar, e esperar por

uma sociedade sem a opressão dos papéis impostos, por não se r a favor do mundo em

que hoje vive, mundo esse que não foi desejado, nem sonhado na sua infância( Rocha,

1998).

O modo como a criança é vista pelos adultos deve-se às desiguais

constituições sociais, que têm como resultado a intervenção dos adultos na inserção da

criança nos contextos socioculturais e educacionais, cada qual a partir do lugar ocupado,

ou seja, projetando na infância uma nova sociedade em que o indivíduo esteja integrado,

ou adaptado a criança ao mundo no sentido de seu enquadramento social, ou mesmo

conciliando estes dois pontos ( Rocha, 1999).

Numa sociedade desigual, com classes sociais que vivem em condições

materiais tão diferentes, apenas têm a possibilidade de elevar-se aos níveis maiores de

ensino as classes de crianças dominantes, isto é, mais favorecidas. Já as crianças das

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classes menos favorecidas não tem como avançar nos estudos, devido a pobreza, e

muitas vezes nem freqüentam um estabelecimento de ensino, pela necessidade de

começar a trabalhar desde a mais tenra idade.

No mundo atual, a concepção de criança como um ser inocente, fraco,

incompleto, que precisa ser resguardado, e a violência contra essa criança, como uma

maneira radical de subordinação em relação ao adulto, convivem no mesmo universo,

escamoteando e tratando como um fato natural a ausência de seu direito à infância,

especialmente da criança pobre.

Porém não se deve subestimar a capacidade das crianças, pois existem

“determinados parâmetros psicológicos que orientam o desenvolvimento de todas as

crianças( Kramer, 2000, p.39). São eles: sócio-afetivo, cognitivo, simbólico e sensório

motor, que serão vistos posteriormente.

No processo educacional é importante que se saiba o contexto de vida

das crianças, para que no planejamento pedagógico feito pelo professor, todas as

crianças possam participar, interagindo, aprendendo, provocando assim seu

desenvolvimento humano.

Enfim deve-se orientar a atividade pedagógica por olhares onde sejam

contemplados indivíduos que tenham a possibilidade de desenvolver as dimensões

física, afetiva, cognitiva e social e que possuam plenamente o direito à infância.

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3.2. Desenvolvimento Infantil: os aspectos Sócio – afetivos

Como afirma Oliveira et.al. (1999), pode-se dividir em três concepções

as teorias do desenvolvimento humano como: inatista, ambientalista e interacionista. A

visão inatista do desenvolvimento humano seria definida por fatores biológicos; já a

visão ambientalista seria a adaptação às diferentes condições ambientais, possibilitando

o aprendizado de novos comportamentos, e finalmente a concepção interacionista que

contrapõe-se a estas duas visões (inatistas e ambientalista), pois considera que os dois

aspectos biológico e social, exercem influência mútua e não podem ser dissociados.

Com base numa perspectiva interacionista de desenvolvimento, parte-se do principio

que quando a criança nasce , ela já tem a possibilidade de apropriação de conhecimentos

presentes nas interações sociais.

Mas como alerta Machado ( 1995) :

“o contato entre parceiros nem sempre resulta em aprendizagem,

ensino ou desenvolvimento. Estar junto, lado a lado, agindo e

reagindo mecanicamente, não é o mesmo que interagir, isto é,

trocar, dar e receber simultaneamente”(p.30).

para Vygostky, zona de desenvolvimento proximal é a mediação entre o nível dos

problemas que são resolvidos sob a condução e com a ajuda dos adultos e outros ( nível

de desenvolvimento proximal), e aquele alcançado sozinho ( nível de desenvolvimento

real). O nível de desenvolvimento real faz parte do indivíduo enquanto conhecimentos

apropriados e nível de desenvolvimento real faz parte do social enquanto conhecimentos

historicamente acumulados. Já o nível de desenvolvimento proximal só se concretiza

caso haja a possibilidade de tornar-se desenvolvimento real numa condição de interação,

onde se tenham sujeitos com níveis diferenciados do conhecimento( Machado, 1995).

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Segundo galvão ( 2000)

“wallon vê o desenvolvimento da pessoa como uma construção

progressiva em que se sucedem fases com predominância

alternadamente afetiva e cognitiva. Cada fase tem um colorido próprio,

uma unidade solidária, que é dada pelo predomínio de um tipo de

atividade. As atividades predominantes correspondem aos recursos que a

criança dispõe, no momento, para interagir com o ambiente”(p.43).

Tais fases do desenvolvimento infantil para Wallon correspondem: às

semanas iniciais da vida do bebê dominadas praticamente por funções de ordem

fisiológica, vegetativa (respiração, sono, fome e sentimento desordenado do próprio

corpo); a idade de três meses até seis meses, onde o bebê tem a possibilidade de

condicionar o seu reflexo e estabelecer relação entre o que é de seu desejo e as

circunstancias exteriores; a partir dos seis meses o bebê dispõe de uma ampla gama para

traduzir suas emoções na troca com o meio em que vive; depois dos nove meses até três

anos, a criança desenvolve sua capacidade sensório-motora, tendo um período chamado

“espaço bucal”( leva os objetos à boca e outro chamado “espaço próximo” ( a criança

apalpa com a mão), também podendo desenvolver sua linguagem; e aos três anos a

criança passa pela crise de personalidade, precisando se auto-afirmar impondo seu ponto

de vista ( Galv!ão, 2000)

Wallon também leva em consideração outras fases como: a criança com

quatro anos até seis anos; arcaica depois dos seis anos, na idade escolar; e depois já na

outra etapa, na fase da puberdade ( Galvão 2000)

Mas, para compreender de maneira as crianças constróem seu

conhecimento e como se desenvolve fez-se necessário o estudo da s diferentes áreas

(sensório-motora, simbólica, sócio-afetiva e cognitiva) que, para Wallon nos três

primeiros anos de vida da criança, conforme foi explicado anteriormente corresponde:

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no primeiro ano de vida ao estágio impulsivo-emocional; e depois,

até o terceiro ano de vida ao estágio sensório- motor e projetivo ( Galvão, 2000).

Sendo assim, do ponto de vista cognitivo, Kramer (2000) destaca como

importante:

“a necessidade de levar sempre em consideração o fato de que a criança

conhece e constrói as noções e os conceitos à medida que age, observa e

relaciona os objetos do mundo físico. É no decorrer das atividades que

realizam que as crianças incorporam dados e relações, e é enfrentando

desafios e trocando informações umas com as outras e com os adultos

que elas desenvolvem seu pensamento”( p.20 –1 ).

No que se refere ao simbólico tem seu falar, gesticular, desenhar,

escrever e ler, pintar e rabiscar, brincar, conversar, escutar estórias, etc..., que são

sistemas simbólicos fundamentais para ampliar a capacidade de representação, a

comunicação e expressão, apreendidos pelas crianças nas diversas interações sociais .

Já do ponto de vista da psicomotricidade, entende-se que as crianças

precisam de espaço para expandir seus movimentos, correr, engatinhar, andar, saltar,

pular, descansar, experimentar, explorando desta forma o seu corpo, para que tenha um

crescimento sadio.

O desenvolvimento sócio-afetivo, deve-se ao processo de socialização e

interação da criança com o grupo, que permite que ela se sinta valorizada, importante e

com uma auto-imagem positiva.

É importante que se favoreça a articulação da realidade sociocultural da

criança seu estágio de desenvolvimento e os conhecimentos sistematizados do mundo

físico e social, e lembrar

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“que não é apenas a criança que desenvolve se modifica no processo de

interação que estabelece com outras pessoas. Essas também se

constituem, se constróem e mudam a si mesmas e ao meio em que

convive. Assim quando nasce um bebê, não nasce apenas uma criança,

nasce também uma mãe, um pai, um irmãozinho, uma avó que vão

constituir-se enquanto tais na interação com o novo membro da família.”

( Oliveira et.al.,1999, p.31).

3.3 A creche como espaço de Desenvolvimento sócio-afetivo da Criança

O vinculo criança professor se fortalece no carinho e cuidado corporais.

E o educador ao chamar a criança pelo nome, conduz-lhe a palavra, o olhar e os gestos e

dentre todo espaço coletivo da instituição educacional, afirma-se a criança em sua

singularidade, em sua diferença ( Amorim. 1994).

Quando a criança vai para a creche pela primeira vez, ela se depara com

um ambiente muito diferente do qual está habituada, em vez da família, ela se vê na

companhia de várias crianças pequenas.

Sendo assim, o cuidado do adulto com a criança pequena envolve a

dimensão afetiva, dando a ela carinho e atenção a fim de se sinta segura e confiante em

seu início na creche, interessando-se sobre o que a criança sente, compreendendo sua

singularidade, procurando identificar e responder às suas necessidades, e valorizando o

desenvolvimento sócio-afetivo da mesma através de um trabalho voltado para a

educação.

Portanto, para desenvolver um trabalho que leve em conta a dimensão

emocional da criança, a brincadeira tem papel fundamental, pois favorece a sua auto-

estima, e dessa maneira o educador na creche tem chances de observar os processor de

desenvolvimento particulares da criança e das crianças em conjunto.

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Assim sendo, para as crianças de 2 a 3 anos de idade o jogo do faz-de-

conta tem qualidades afetivas, e é uma forma da criança exercitar o próprio. Eu, seja

atribuindo partes de si mesmo a outros, como colegas, brinquedos, ou imaginando ser

um outro por inteiro, podendo experimentar, assim, diferentes maneiras de ser. Nessa

mesma faixa de idade, em algumas creches, observa-se cada vez mais crianças

realizando atividades sozinhas como: escovar os dentes, lavar as mãos, usar o vaso

sanitário e limpar-se, e de poucas palavras já podem aprender ou desenvolver sua fala, a

partir do momento que há alguém falando com elas, pois seu mundo precisa ser

habitado pela fala.

O que acontece quando um grupo de criança está unida, não é apenas:

“aquele sentimento de camaradagem que se cria entre indivíduos que

compartilham da mesma situação ,[...] , mas está ligado mais

profundamente à percepção, por parte das crianças, de seu estado de

igualdade cognitiva e afetiva além da social”.( Musati, 1998, p.199).

Na creche, o trabalho se define como brincar de descobrir relações que

estruturam o modo de pensar e agir da criança: pela “linguagem”, mas também no

“tempo” e no “espaço”, descobrindo as possibilidades do próprio “corpo”, pois ela além

de prestar cuidados físicos, dá condições também para que a criança se desenvolva

cognitivamente, simbolicamente, socialmente e emocionalmente. Por esses motivos,

todas as relações (mesmo as já descobertas e construídas) podem ser chamadas de

sócio-afetivas.

Oliveira et. Al . (1999) propõe que a creche, como objetivo educacional,

crie meios a partir dos quais a criança vá:

“1. Interagir, coordenar suas ações com as ações de outras pessoas,

construindo significados

2.explorar o meio à sua volta;

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3. brincar, transformar situações e significados já conhecidos em

elementos novos, desenvolvendo a esfera da fantasia, da criatividade, do

faz-de conta, e apropriando-se da realidade que a cerca”. (p.69).

Toda creche deve favorecer a sociabilidade, a cooperação e a amizade, criando

um ambiente propício às interações, à aprendizagem à produção de conhecimentos.

É importante que se pense a creche ‘não como uma instituição que substitui a família ,

mas sim, “complementando a ação familiar e da comunidade”(LDB, art.29), oferecendo

um ambiente de socialização que difere do familiar.

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CAPÍTULO IV

REFERENCIAL CURRICULAR PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL

RCNEI

4.1. Considerações Gerais sobre o RCNEI

Tendo em base o Referencial Curricular Nacional para a Educação

Infantil, que serviu de material para proceder a análise de conteúdo no que diz respeito

ao desenvolvimento sócio-afetivo, à criança e à creche, parte-se do princípio que:

Se por um lado, o Referencial pode funcionar como elemento orientador

de ações na busca da melhoria de qualidade da educação infantil

brasileira, por outro, não tem a pretensão de resolver os complexos

problemas dessa etapa condicional”(Vol I, P. 14)

Sobre a creche, o RCNEI representa um avanço, pois se propõe a superar o caráter

assistencialista das creches, tratando ao longo de seus dois volumes o assunto creche

seguido da pré- escola sem haver uma separação mais específica, utilizando termos

como: instituto de educação infantil e creche e pré-escola juntos, e fazendo separação

apenas quando se refere a criança na faixa etária de zero

três anos ou de quatro a seis anos.

“A opção pela organização dos objetivos, conteúdos e orientações

didáticas por faixas etárias e não pela designação institucional” ( Vol 1, p.45) tem a ver

com desejo de que a creche seja considerada um espaço onde se legitime o aprendizado,

em vez de ser só um local apenas de recreação, cuidados físicos. Portanto, a divisão por

faixa etária que se faz no Referencial apesar de gerar muitas discordâncias por parte dos

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profissionais desta área, é entendida como uma separação que foi contemplada a fim de

garantir atenção merecida às crianças pequenas, pois é importante conceber a criança

como ser social com direito à infância, em vez de conceber a educação infantil como um

ensino fundamental pré – existente.

E ao se conceber a criança com direito à infância explicita-se a necessidade da formação

profissional dessa pessoa que irá educar a criança nas instituições de educação infantil.

“. Não é a criança que precisaria dominar conteúdos disciplinares, mas as pessoas que a

educam”( Kuhlmann Jr.,2000, p.65).

Segundo o referencial é muito comum as crianças de zero a um ano de idade, ficarem

em mesmo grupo na creche, para que em um espaço especialmente preparado para elas

tenham possibilidade de engatinhar livremente, brincar, interagir, ensaiar os primeiros

passinhos, dormirem, etc... .Já as crianças que andam bem e estão começando a

controlar os esfíncteres são reunidas em um outro grupo, e não usando mais fraldas,

geralmente com três anos, elas já ficam em outro agrupamento.

Mas é importante lembrar que o convívio em grupos heterogêneos ajuda

no crescimento individual da criança, no decurso das imitações e das interações,

permitindo que ela perceba-se em sua singularidade.

A quantidade de crianças por grupos e a proporção de adultos por

crianças são fatores importantes a serem levados em consideração na creche, porque

“quanto menores as crianças, mais desaconselhados são os grupos

grandes, pois há uma demanda de atendimento individualizado. Até os 12

meses, é aconselhável não Ter mais de seis crianças por adulto, sendo

necessária uma ajuda nos momentos de maior demanda, como, por

exemplo, em situações de alimentação”(Vol.I, p. 72).

Ao passo que geralmente, na faixa etária de um a dois anos de idade

aconselha-se 8 crianças para cada adulto, precisando de auxílio em determinados

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instantes e, geralmente, aos três anos já se pode organizar grupos de 12 a 15 crianças

por adulto (Vol.I, p.72 )

Percebe-se no RCNEI, como ponto positivo a valorização do brincar e do

cuidar no volume 2, mas há um distanciamento da realidade, tanto no volume 1, quanto

no volume 2, pois é perceptível que no Referencial não pensou-se nas realidades

culturais diversas, porque nele se sugere que na creche a quantidade de crianças por

grupos e a proporção de adultos por crianças, marque um único modelo de organização.

Particularmente , em relação ao numérico por grupo, está se restringindo as

possibilidades de organização e arranjo na instituição. Tem-se um modelo único de

grupos por faixa etárias como nas turmas das primeiras séries iniciais do Ensino

Fundamental, negando outros arranjos como agrupamentos multi-etários e, mesmo um

grande número de crianças por grupo, contanto que respeite a proporção: adulto/criança

e relação criança/metragem.

Outra questão é que se o RCNEI for seguido minuciosamente, passo a passo, corre-se o

risco de estar preso a ele e de prejudicar o processo de ensino-aprendizagem da criança,

ou então transmitir uma imagem de fórmula pronta, dificultando a sua utilização na

prática.

Mas o documento tem seu lado positivo por fazer considerações sobre

afetividade, emoção e socialização presentes no dia a dia na Educação Infantil.

Sendo assim,

“polêmicas sobre cuidar e educar, sobre o papel do afeto na relação

pedagógica e sobre educar para o desenvolvimento ou para o

conhecimento têm constituído, portanto, o panorama de fundo sobre o

qual se constróem as propostas em Educação Infantil.”(Vol. I, p. 18).

É importante que a criança sinta-se como membro participante de uma

sociedade, por isso, de acordo com o Referencial Curricular Nacional, a creche tem a

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função básica de socialização, de levar a criança a desenvolver sua identidade e

autonomia, para que nas interações sociais e no estabelecimento de laços afetivos com

as outra crianças e com os adultos, a criança posa mais facilmente reconhecer as

diferenças entre as pessoas e aproveitá-las para o enriquecimento de si mesma.

No que se refere ao desenvolvimento sócio-afetivo da criança, o RCNEI toca em pontos

no dizem respeito a esse assunto, mas ausenta questões sobre adequação de espaço

físico, sobre o vínculo criança/professor e sobre a rotatividade do educador da creche

que se deve muitas vezes a sua remuneração.

Apesar do Referencial possuir alguns trechos de linguagem acessível e

clara, infelizmente praticamente em todo o texto falta clareza sobre o destino do

documento, sendo utilizada no documento uma linguagem codificada, técnica, que na

verdade se distancia do cotidiano do educador, dificultando o aceso ao

conhecimento(Palhares & Martinez 2000).

4.2. orientações para o Professor que Trabalha em Creche presente no RCNEI

o desenvolvimento sócio-afetivo da criança na creche corresponde em

desenvolver internamente a criança através da afetividade e externa mente através da

socialização, pois

“a criança é um ser social que nasce com capacidades afetivas,

emocionas e cognitivas. Tem desejo de estar próxima às pessoas e é

capaz de interagir e aprender com elas de forma que possa compreende e

influenciar seu ambiente” (Vol. II, p.21).

Sendo assim, é necessário romper com modelo educacional que

pressupõe que o educador tenha o controle de todo o processo de ensino-aprendizagem

sendo importante não ignorar a criança com seu caráter afetivo e seu papel social dentro

da sociedade.

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“nesse sentido, o bom professor é o que consegue enquanto fala trazer o

aluno até a intimidade do movimento de seu pensamento. Sua aula é

assim um desafio e não cantiga de ninar. Seu alunos cansam, não

dormem. Cansam porque acompanham as indas e vindas de seu

pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas”

( Freire, 1999, p.96).

Grande parte dos educadores na creche é de mulheres e grande número

desses profissionais não tem formação escolar mínima (Vol. I, p.39), mas segundo o

RCNEI sua proposta é que este documento se dirija ao professor de educação o sexo

feminino, quanto do masculino, e que o profissional dessa área possua uma

“competência polivalente” tornando-se um aprendiz, fazendo a reflexão sobre sua

prática, dialogando com a comunidade e as famílias, debatendo com outros educadores

e buscando sempre aperfeiçoar-se no trabalho que desenvolve( Vol. I, p. 41).

Dessa maneira, o RCNEI orienta o professor de educação infantil no que

se refere ao jogos e brincadeiras, à organização de um ambiente de cuidados essenciais

à organização do tempo e à observação, registro e avaliação formativa.

As propostas de atividades são úteis no auxílio dos múltiplos caminhos

para fazer educação com crianças de 0 a 3 anos, dentre elas estão: pintura à dedo e com

as mãos e ouvir e discriminar sons e expressões. A massagem em bebês pode

transformar-se em um momento rico de comunicação e expressão entre educadoras e os

bebês.

Porém, quando o Referencial orienta o professor no que diz respeito aos

jogos e brincadeiras, ele se limita a falar praticamente das brincadeiras de faz- de –

conta, que são brincadeiras, geralmente, de criança de 2 a 3 anos de idade. O documento

não deixa claro para o professor quais são as brincadeiras mais indicadas para o bebê de

até dois anos de idade, mesmo quando ele sugere que se fixe um espelho de corpo

inteiro, para que os pequenos possam imitar-se e olhar-se. Tanto é, que nas fotografias

presentes no Referencial, vê-se bebês, em sua maioria, no colo de alguém ou deitado.

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O clima de afeto com um bebê é muito forte ao ponto dele poder ficar

frustrado e raivoso quando o adulto que dele cuida não agir de acordo com os seus

desejos, pois o bebê ainda não diferencia o seu próprio corpo e os limites de seus

desejos. Essas experiências de frustração podem possibilitar o desenvolvimento da

criança pequena, já que explicitam desencontros e divergências, instantes propícios à

diferenciação entre o eu e o outro ( Vol. II, p. 15). Nesse sentido, é importante que se

crie possibilidades para que o bebê possa brincar com o próprio corpo e com os objetos.

O bebê aos poucos vai descobrindo os limites de seu próprio corpo e o

que seus movimento podem causar, tanto que a creche precisa garantir condições para

que a criança, progressivamente, seja capaz de cuidar de si mesma no que se refere à

saúde e higiene

“a saúde da criança que freqüenta instituições de educação infantil revela

sua singularidade como sujeito que vive em determinada família que por

sua vez vivem em grupo social, tendo assim uma história e necessidade

de cuidados específicos. Revela também a qualidade se sua vida na

creche ou na pré- escola. O ambiente coletivo demanda condições

ambientais e cuidados adequados ao contexto educacional”

( Vol. II, P. 51).

As condições ambientais e os cuidados explicitados dizem respeito às cadeiras, mesas,

berços, sanitários, etc... . que precisam ser adequados ao tamanho da criança, para que

ela se sinta segura confortável. Além disso, sendo a creche uma instituição voltada para

a educação de crianças de 0 a 3 t6em-se como principal foco a criança, e tudo que

estiver ligado a ela deve ser levado em consideração.

A organização do banho da criança na creche é um exemplo pois durante a sua

realização precisa-se de banheira higiênica e segura para o bebê, de sabonete, de toalha,

de pente, água limpa e temperatura agradável, também sendo importante que os objetos

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pessoais de cada criança esteja marcado com o seu nome, seguindo as recomendações

sanitárias de prevenção de doenças.

Nesse sentido, o sono e repouso da criança na creche necessita de

cuidados propiciando-lhe colchonetes plastificados forrados ventilação adequada

permitindo uma temperatura confortável , penumbra, e lógico lençóis limpos e

exclusivos da criança (Vol.II,p.60).

E conforme o Referencial, até mesmo, na hora da alimentação

recomenda-se que os professores tenham cuidados como:

“ofereçam uma variedade de alimentos e cuidem para que a criança

experimentem de tudo. O respeito às suas preferências e às suas

necessidades indica que nunca devem ser forçadas a comer, embora

possam ser ajudadas por meio da oferta de alimentos atraentes, bem

preparados, oferecidos em ambientes afetivos, tranqüilos e agradáveis”

(Vol.II,p.55).

E mais, com a utilização dessas condições ambientais e dos espaços na

creche a criança poderá através da brincadeira interagir com crianças da mesma idade e

de idades diferentes, entrando no plano das emoções, das idéias, podendo imitar uma

realidade interior vivenciada ou presenciada por ela.

As crianças, em especial de 0 a 2 anos, por intermédio do vínculo afetivo

com o adulto de referência, sentem-se mais seguras para explorar o espaço e para

estabelecerem relações com outras pessoas, portanto a substituição dos educadores deve

ser pensada com cuidado e planejada com antecedência, a fim de que as crianças

estejam preparadas para esta situação.

Nesse processo de substituição no intuito de que as crianças não sintam

tanto a mudança a ponto de interferir no seu processo de desenvolvimento, é bom o

professor antigo ir dando lugar para o novo aos poucos, gradativamente. Até porque o

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clima de afeto é importantíssimo nas trocas interativas, na aprendizagem e na

socialização da criança.

As capacidades de caráter afetivos estão ligadas à construção da auto

estima, à compreensão dos outros e de si mesmo, e às posturas no convívio social

(Vol.I,p.48).

“Compreender os outros em si mesmo”, significa a criança percebe-se em

sua singularidade e aprender a conviver com diferente temperamentos, hábitos,

costumes e culturas dos outros, até porque será nas situações de interação social que ela

irá se desenvolver, onde existirão conflitos e negociação de idéias e de sentimento.

As conquistas pessoais da criança sejam elas de conhecer os nomes das

outras pessoas na creche, de comer sozinha de cantar uma música, etc... são importantes

na valorização da sua auto-estima, principalmente quando ela própria faz uma

avaliação positiva de suas ações e/ou quando recebe uma avaliação positiva do

educador.

Para o RCNEI:

“a observação e registro se constituem nos principais instrumentos de que

o professor dispõe para apoiar sua prática. Por meio deles o professor

pode registrar, contextualmente, os processos de aprendizagem das

crianças; a qualidade das interações estabelecidas com outra crianças,

funcionários e com o professor e acompanhar os processos de

desenvolvimento obtendo informações sobre as experiências das crianças

na instituição “

( Vol. I, p. 58-9).

Os professores podem fazer o registro das observações de diversas

maneiras, ou seja, através da escrita, fotografias, gravação em áudio e vídeo, etc...

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Registros estes, que possibilitarão ao professor ter uma visão integral e particular das

crianças e fazer uma avaliação de forma sistemática e contínua (Vol.I,p59). Aqui, mais

uma vez, se evidencia o caráter ideal, descolado da realidade. Não se questiona tal

orientação , em si, mas a maneira apresentada, sem ponderar a diversidade cultural e ,

principalmente econômica brasileira. Cabe indagar: quantas instituições de Educação

Infantil dispõe de recursos para adquirir esse equipamentos? Faltou alertar que os

registros por si só não “dizem”: nada, é preciso desenvolver a capacidade de analisar tal

material.

As orientações didáticas para o professor que deseja trabalhar ou já

trabalha com crianças de zero a três anos, presentes no RCNEI, dizem respeito às

seguintes temáticas: auto-estima, faz-de-conta,, interação, imagem, cuidados e

segurança.

Auto-estima: o professor precisa acreditar e confiar na capacidade de todas as

crianças com as quais trabalha, ouvindo suas falas, procurando compreender o que

elas estão querendo comunicar, fortalecendo, assim, sua auto-confiança;

Escolha: o professor interpretar através do choro ou expressões faciais da criança os

indícios de sua preferência por uma ou outra situação;

Faz-de-conta: o professor pode propiciar situações para que as crianças imitem

ações que representam diferentes pessoas, personagens ou animais, reproduzindo

ambientes como: casinha, trem, posto de gasolina, fazenda e etc.(Vol. II, p.31);

Interação: cabe ao professor promover atividades individuais ou em grupo,

respeitando as diferenças estimulando a troca entre as crianças ( Vol. II, p.32);

Imagem: é aconselhável que o professor coloque um espelho para que as crianças

possam se ver de corpo inteiro e para que possam brincar em frente a ele,

contribuindo para a construção da identidade de cada criança;

Cuidados: satisfação das necessidade de alimentação, higiene e descanso das

crianças, que à medida que vão crescendo, o professor pode incentivá-las a

participar das atividades de atendimento das necessidades; e,

Segurança: o professor orientar as crianças na utilização de brinquedos e objetos de

maneira segura.

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CAPÍTULO V

CONCLUSÃO

Tendo em vista o estudo realizado, pode-se observar que a concepção de

desenvolvimento sócio-afetivo da criança na creche presente no Referencial Curricular

Nacional para a Educação Infantil representa um avanço, pois como já foi dito,

anteriormente, procura superar o caráter assistencialista da creche e leva em

consideração o processo de ensino-aprendizagem da criança nos vários aspectos como:

o brincar, o cuidar, o social, o afetivo, a autonomia, e identidade.

O cuidar apesar de ainda dar idéia de caráter assistencialista, é muito

importante na desenvolvimento infantil no que se refere aos cuidados com o aspecto

biológico do corpo, o aspecto afetivo, e o aspecto intelectual. E não é só porque se

tratam de crianças, pois até mesmo com adultos quando se é marcada uma palestra pôr

exemplo, tem que se fazer o planejamento, que inclui ter banheiros para as pessoas

utilizarem, local para as pessoas sentarem, envolvendo todo um processo de cuidado a

fim de que tudo dê certo.

Portanto, o RCNEI toca em aspectos fundamentais do desenvolvimento sócio- afetivo

da criança de zero a três anos, apesar de ter falhas quando se pauta numa realidade

própria das classes sociais mais favorecidas, e não das menos favorecidas, o que na

verdade deveria ser unanime a todas as classes.

No decorrer do documento, é na concepção sócio-interacionista de

desenvolvimento que é fundamentada a sua proposta pedagógica, quando trata de

aspectos do desenvolvimento de crianças de 0 a 3 anos.

Nesse estudo procurou-se recuperar a instituição creche no contexto

histórico, lembrando do atendimento às crianças, filhos de mães de baixa renda,

esperando, assim, contribuir para aperfeiçoar a ação da creche como espaço onde as

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crianças vivem, convivem, exploram e crescem, adquirindo elementos para participar

numa sociedade complexa e que pode ser mais justa.

Além da história da creche na sociedade também considerou-se as

políticas públicas atuais como: a LDB 93/94, o ECA (1990), entre outras, por se Ter em

mente que elas são importantes quando resultam em mudanças benéficas ou não, mas

que fazem as pessoas refletirem. Porém o que percebe-se é que essas mudanças estão

sendo benéficas sim, trazendo muitas contribuições e sendo fundamentais no avanço da

concepção de creche, levando em conta cada vez mais o aprendizado da criança e

valorizando seu desenvolvimento sócio-afetivo.

Foram lidos estudos e propostas elaboradas por Amorim ( 1994),

Kuhlmann Jr.(1998), Krammer(2000) e também outros presentes neste estudo, assim

como teorias e idéias de Vygostky e Wallon, expostas em trabalhos de Machado (1995)

e Galvão (1999, 2000), respectivamente, que deram apoio teórico sobre a concepção de

desenvolvimento sócio-afetivo da criança na creche presente no RCNEI, possibilitando

analisar mais esclarecidamente o Referencial e levando a um sentimento de esperança,

pois apesar de a proposta nele apresentada ainda não ser a ideal, percebe-se que o

caminho está meio andado para se ir atrás de uma proposta mais abrangente de todas as

crianças, sendo elas de que classe for.

O desejo é de que na creche as crianças possam cada vez mais se

desenvolverem, se relacionando com os coleguinhas e professores de forma amigável,

aprendendo a contornarem as situações sem serem egoístas, tendo afeto pelas pessoas,

ou seja, através da socialização e do afeto abrirem um leque de oportunidades, onde elas

possam ter estrutura para aos poucos escolher qual o melhor caminho a seguir.

O que se sugere é que em vez de um documento com uma linguagem, em sua maioria,

mais acadêmica, que se faça sim um documento mais acessível para todos os

educadores, procurando buscar na realidade vivida aspectos como respaldo, levando em

conta a autonomia de cada creche importante na resolução de imprevistos e possíveis

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planejamentos, procurando ter sempre como fundamental, como essencial o bom

desenvolvimento da criança.

O que é necessário explicitar é que o desenvolvimento sócio-afetivo da criança é

importantíssimo, porque a partir de todos os outros aspectos do desenvolvimento da

criança poderão se desenrolar com mais facilidade, abrindo espaço para liberdade de

expressão da criança , sua criatividade, sua desenvoltura, e o que mais se deseja é que é

sua felicidade.

Lógico que não se pode esquecer da colaboração da família, que têm

grande influência sobre a criança, por isso que se faz necessária a sua participação na

instituição, até porque a família é a primeira referência delas, e o seu interesse em

contribuir para o desenvolvimento de suas crianças dando afeto, alicerce, preparação

para vida que se faz presente, leva à esperança de um Brasil mais desenvolvido, com

crianças mais felizes e capazes.

Este trabalho foi muito produtivo e satisfatório. Com certeza só

acrescentou e provavelmente surgirão mais implicações e questionamentos,

posteriormente, que poderão acrescentar mais ainda, seja no pessoal, no social, no

profissional,, no familiar, no emocional, porque o que importa é a vontade de melhorar,

de fazer parte de várias conquistas que na verdade são de todos os brasileiros.

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Bibliografia

ABRAMOWICZ, Anete & WAJSKOP Gisela. Educação Infantil: creches: atividades

para crianças de zero a seis anos.2. ed. São Paulo: Moderna, 1999.

AMORIM, Marília. Atirei o pau no gato. A pré-escola em serviço. 6. Ed. São Paulo:

Brasiliense, 1994.

BRASIL. Constituição Federal. 1998.

Estatuto da Criança e do adolescente. Lei nº 8069 de 1990.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, nº 9394 de 1996

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. : saberes necessários à prática educativa.10.

ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

GALVÃO, Izabel. Wallon e a criança, esta proposta abrangente. Revista Criança: do

professor de Educação Infantil n, n.33. Brasília, MEC, dez.1999, p.3-7.

Henri Wallon : uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. 8 . ed.

Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

KOHL DE OLIVEIRA, Marta. O pensamento de Vykostky como fonte de reflexão

sobre a Educação. Cadernos CEDES, n.35. Campinas, SP: Papirus, 1995, p.9-14.

KRAMER, Sonia. A política da pré-escola no Brasil: a arte do disfarce. 4. Ed. São

Paulo: Cortez, 1992 ( coleção biblioteca da educação. Série 1. Escola; V.3)

KUHLMANN JUNIOR, Moysés. A infância e educação infantil: uma abordagem

histórica. Porto Alegre Mediação, 1998.

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Referências bibliográficas

NOVA ESCOLA, A revista do professor. Ano XV, n.132. São Paulo: Abril, maio 2000

MACHADO, Maria Lúcia de A. Educação Infantil: muitos olhares.2 ed. São Paulo:

Cortez, 1995, P. 25 – 50.

MEC/SEF/COEDI. Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos

fundamentais das crianças. MEC/SEF/DPEF/COEDI, Brasília, 1997.

Educação Infantil: bibliografia anotada. Brasília, MEC/SEF/DPEF/COEDI,

1995.

Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil ( volumes I,II,III).

Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília,

MEC/SEF, 1998.

MEC/CNE. Parecer CEB n.º 22(17/12/1998).

Parecer CEB n.º 2 (29/01/1999)

Resolução CEB n.º 1(07/04/1999)

MYNAIO, Maria Cecília de Souza ( org.) Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 15. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

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ÍNDICE CAPÍTULO I- INTRODUÇÃO.......................................................1 1.1. Aposentação do Tema.....................................................................................1 1.2. Formulação da Situação – problema...............................................................3 1.3. Objetivo do Estudo ........................................................................................3 1.4. Justificativa.....................................................................................................3 1.5. Referencial Teórico.........................................................................................4 1.6. Questões do Estudo.........................................................................................5 1.7. Procedimento Metodológicos.........................................................................5 1.8. Organização do Estudo...................................................................................6

CAPÍTULO II – CRECHE NA SOCIEDADE.............................7 2.1. Creche na sociedade: Um Pouco de Sua História..........................................7 2.2. Políticas Públicas para Creche na Atualidade.............................................12 CAPíTULO III – DESENVOLVIMENTO SÓCIO- AFETIVO DA CRIANÇA......16 3.1. A Criança......................................................................................................17 3.2. Desenvolvimento Infantil: Os aspectos Sócio-afetivos................................18 3.3. A Creche como espaço de Desenvolvimento Sócio-afetivo da Criança.......22 CAPÍTULO IV – REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL- RCNEI..............................................................................25 4.1. Considerações Gerais sobre o RCNEI..........................................................25 4.2. Orientações para o Professor que Trabalha em Creche presente no RCNEI...........28 CAPÍTULO V – CONCLUSÃO ...................................................35 BIBLIOGRAFIA.............................................................................38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................39

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ANEXOS

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE Pós – Graduação “Lato Sensu” AVALIAÇÃO _______________________________________________________

_______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________

Avaliado por: ___________________________Grau_____________ ________________________, de ___________________, de______

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