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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
Integração Sensorial: transformação da percepção para a aprendizagem
Michele Cabral Bencardini Moreau
Orientadora: Prof. Mary Sue Pereira
FEV.2010
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
Integração Sensorial: transformação da percepção para a aprendizagem
Michele Cabral Bencardini Moreau
OBJETIVOS:
Este trabalho monográfico tem como objetivo cumprir as exigências para conclusão da Pós-graduação e obtenção do título de especialista em Educação infantil e Desenvolvimento.
METODOLOGIA
Este trabalho trata, inicialmente de uma pesquisa bibliográfica baseada
nos autores MOMO, SILVESTRE E GRACIANI (2007), PEDRETTI E EARLY
(2005), Willians e Wright (2008) e Zanella–Goodrich (2005).
A partir da revisão bibliográfica será realizado o estudo de caso, com
Isaias uma criança de três anos com hipótese diagnóstica de transtorno
invasivo do desenvolvimento (TID) e transtorno do processamento sensorial,
que recebe atendimento interdisciplinar (terapia ocupacional, fonoaudiologia e
fisioterapia) em um setor de atendimento à crianças especiais, situado em
instituição pública, no município Rio de janeiro.
Para avaliação qualitativa do emprego da Terapia da integração
sensorial, será tomada por referência a anamnese realizada pela terapeuta
ocupacional, por ocasião do ingresso desta criança em terapia. A evolução
será descrita a partir da reavaliação após o emprego da abordagem da
integração sensorial.
RESUMO
A aprendizagem está intimamente relacionada à habilidade do indivíduo
de planejar e organizar seu comportamento. Para isso é necessário que a
informação sensorial trazida pelo meio ambiente e pelo movimento de seu
corpo, seja recebida e processada em seu sistema nervoso central.
A Terapia da integração sensorial surge como recuso para crianças que
apresentam disfunção do processamento sensorial. Esta será aplicada no
tratamento de Isaias uma criança de três anos com hipótese diagnóstica de
Transtorno invasivo do desenvolvimento (TID) tendo como comorbidade o
Transtorno do processamento sensorial. Serão avaliados e reavaliados, após
aplicação desta metodologia, aspectos das áreas e dos componentes de
desempenho
SUMÁRIO
Introdução 06
Fundamentação Teórica 07
Capítulo I
Teoria da Integração Sensorial 09
Capítulo II
Análise do Desempenho Ocupacional 30
Capítulo III
A Criança e a disfunção do Processamento Sensorial-Caso Clínico 34
Capitulo IV
Conclusão 44
Indice 47
Bbiliografia 49
INTRODUÇÃO
Estudar a Facilitação do processo de aprendizagem para crianças com
Transtorno do Processamento Sensorial (TPS) é o desafio desta monografia.
Mas, como facilitar a aprendizagem para crianças com TPS?
Ainda hoje no Brasil, diversos educadores desconhecem um transtorno
estudado desde a década de 60, pela terapeuta ocupacional Jean Ayres.
Fatores como: falta de atenção, inquietação psicomotora, comportamento
aversivo ao toque e a determinados materiais, impulsividade, isolamento ou
comportamento retraído, podem apontar para o TPS. Mesmo não estando
familiarizados com este diagnóstico, professores observam perplexas, as
dificuldades escolares apresentadas por seus alunos.
Esta monografia visa contribuir para o aprendizado de diversas crianças,
esclarecendo aos seus educadores a razão de determinados comportamentos
e instrumentalizando-os a partir do estudo de um caso clínico fundamentado
bibliograficamente.
A Terapia da integração sensorial será aplicada no tratamento de Isaias
uma criança de três anos com hipótese diagnóstica de Transtorno invasivo do
desenvolvimento (TID) tendo como comorbidade o Transtorno do
processamento sensorial.
A eficácia da intervenção terapêutica será verificada a partir da
modificação dos padrões de comportamento nos seguintes componentes de
desempenho ocupacional: sensoriomotor, integração cognitiva e componentes
cognitivos; habilidades psicossociais e componentes psicológicos e nas áreas
de desempenho. Atividades de vida Diária (AVD) Atividades de Trabalho e
Produtiva, Atividades Lúdicas e de Lazer.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A terapeuta ocupacional Dra. Jean Ayres, com doutorado em
neurociências, desenvolveu a Teoria da Integração Sensorial, que visa explicar
a relação entre processamento sensorial e déficits em comportamento quando
estes não podem ser explicados por lesão neurológica ou anormalidades. A
partir desta teoria desenvolveu metodologia específica de avaliação e
tratamento além do racional.
Zanella–Goodrich (2005) afirma que a aprendizagem está intimamente
relacionada à habilidade do indivíduo de planejar e organizar seu
comportamento. Para isso é necessário que a informação sensorial trazida pelo
meio ambiente e pelo movimento de seu corpo, seja recebida e processada em
seu sistema nervoso central.
No caso de crianças com transtorno do processamento sensorial os
déficits no processamento e integração da informação geram a produção de
ações inapropriadas e conseqüentemente prejuízos nas aprendizagens
conceituais e motoras.
Tendo sua origem nos Estados Unidos, a cerca de dezessete anos
Integração Sensorial foi trazida para o Brasil e aplicada junto às pré-escolas.
Esta vem auxiliando a crianças que demonstram comportamentos de busca
sensorial a participar mais ativamente das atividades em classe, a aumentar
atenção e concentração durante as atividades acadêmicas. Crianças
portadoras ou não do transtorno do processamento sensorial, passaram a
apresentar comportamento mais organizado, menos disperso em sala de aula,
facilitando a interação social como afirmam Momo, Silvestre e Graciani (2007).
A abordagem da terapia da integração sensorial no contexto escolar é
complementar ao projeto pedagógico por auxiliar e facilitar a aquisição de
habilidades, aprendizagem e o desenvolvimento neuropsicomotor, cognitivo e
emocional prevenindo transtornos e distúrbios decorrentes do transtorno do
processamento sensorial.
CAPITULO I
1. Teoria da Integração Sensorial
1.1 Histórico
A Teoria da Integração Sensorial foi desenvolvida pela Terapeuta
Ocupacional Jean Ayres e surge a partir da combinação do trabalho de três
teoristas: Rood, Kephart e Frostig (Zanella-Goodrich, 2005). Doutora em
Neurociências fundamentou seu método a partir do funcionamento do Sistema
Nervoso Central (SNC) e na organização deste sobre as informações
processadas pelo meio ambiente
Seu interesse pelo assunto fez com que estudasse o tema durante três
décadas para formular sua Teoria. Zanella-Goodrich (2005) ressalta que Dra.
Jean Ayres era portadora de um distúrbio de aprendizagem. Seu trabalho
resultou no desenvolvimento de uma metodologia específica para avaliação,
tratamento, além do racional, para como explicar déficits e mudança
comportamental.
Com base em conceitos de Neurodesenvolvimento e Neuropsicologia, a
abordagem da Integração Sensorial, procura explicar a relação entre a
habilidade do SNC de organizar e processar os estímulos recebidos do meio
ambiente pelos receptores sensoriais e os comportamentos motores, cognitivos
e emocionais emitidos em reposta a situação geradora, conforme afirmam
Momo, Silvestre e Graciani (2007).
A Teoria Considera a importância de algumas regiões cerebrais frente
aos estímulos ambientais. O funcionamento e a ligação do córtex com outras
regiões, como o tálamo, núcleos vestibulares, formação reticular, cerebelo e o
sistema límbico, viabilizaram e justificaram a aplicação do método.
Para Dra. Jean Ayres, a organização das sensações do corpo e do meio
ambiente em um processo freqüente de reconhecimento, interpretação e ação,
resultam na Integração Sensorial (Philot, 2009).
Nos últimos trinta anos, o método de otimização do processamento
sensorial, vem sendo aprimorado e inserido por terapeutas ocupacionais, na
rede regular de ensino na maioria das escolas nos Estados Unidos. Este foi
Incluído no currículo pedagógico como atividade complementar que aprimora a
coordenação motora, as percepções e que, conseqüentemente facilita o
desempenho escolar, tanto da criança sem dificuldades quanto da criança com
necessidades especiais.
No Brasil, sua aplicação junto às pré-escolas tem aproximadamente 17
anos e doze anos no ensino fundamental o que viabiliza a crianças e
adolescentes com comportamento de busca sensorial a participar mais
ativamente das atividades em classe. Tem sido observada melhora da atenção
e concentração e do relacionamento interpessoal de crianças com distúrbios de
interação social, após a implantação desta metodologia (Momo, Silvestre e
Graciani, 2007, p.9).
1.2 Postulados da Teoria da Integração Sensorial
O cérebro recebe constantemente grandes quantidades de informação a
por meio dos sentidos. É através deles que a criança, conforme aprende a se
mover, equilibrar-se e relacionar-se com os objetos e pessoas ao seu redor,
experimentando e aprendendo sobre o mundo em que vive.
O cérebro organiza toda a informação recebida para possibilitar uma
resposta. Essa organização que o cérebro dá à informação sensorial é
chamada de integração sensorial. Ela permite que dirijamos nossa atenção
para produzir comportamento útil e adaptativo e para que nos sintamos bem
sobre nós mesmos.
O processamento sensorial é a capacidade do Sistema Nervoso Central
(SNC) de processar a informação trazida pelo meio ambiente por meio dos
sentidos, organizá-la e produzir uma “resposta adaptativa”, ou seja, resposta
adequada, proporcional a intensidade do estimulo.
Zanella-Goodrich (2005) apresenta os seguintes postulados
desenvolvidos a partir da Teoria da Integração Sensorial:
“1.) A aprendizagem depende da habilidade do indivíduo
de receber a informação sensorial trazida pelo meio
ambiente e pelo movimento de seu corpo, processar e
integrar dentro do SNC e usar para planejar e organizar
comportamento.
2.) Quando o indivíduo tem déficits no processamento e
integração da informação, ocorrem déficits também na
produção de ações apropriadas, os quais por sua vez
interferem na aprendizagem conceitual e motora.
3.) Ao se dar oportunidade para uma informação
sensorial mais rica, dentro de um contexto de atividades
significativas, o planejamento e organização de um
comportamento adaptativo virão melhorar a habilidade do
SNC de processar e integrar informação sensorial e,
através deste processo, aumentar a aprendizagem
conceitual e motora.
A mesma autora ressalta que recentes experimentos realizados com
animais, têm confirmado a capacidade do ambiente e da informação sensorial
influenciarem o SNC, modificando-o. Este experimentos condizem com a
hipótese defendida por Ayres, em 1972, a atividade sensório motora é um
importante modificador da atividade neural e tem um grande impacto na
neuroplasticidade.
1.3 Teoria da Neuroplasticidade
A Neuroplasticidade é o que diferencia a Teoria do Processamento
Sensorial das abordagens mais tradicionais. Devido à importância desta Teoria
para a que está sendo estudada nesta monografia, serão apresentadas
algumas considerações sobre o tema.
Durante muito tempo, acreditou-se que o sistema nervoso central (SNC),
após seu desenvolvimento, tornava-se uma estrutura rígida, imutável e que
lesões nele seriam permanentes, pois suas células não poderiam ser
reconstituídas ou reorganizadas. Hoje, sabe-se que o SNC tem grande
capacidade d adaptação e que, mesmo no cérebro adulto, há evidências de
plasticidade na tentativa de regeneração.
Nos primeiros anos o cérebro desenvolve a organização que será a
estrutura para comportamento e aprendizagem posteriores. Nesse período, os
movimentos espontâneos, as brincadeiras que envolvem o corpo todo, são
muito eficazes em desenvolver o sistema nervoso
1.3.1 Tipos de Neuroplasticidade
A neuroplasticidade refere-se à habilidade do sistema nervoso de alterar
algumas das propriedades morfológicas e funcionais em resposta a alterações
do ambiente, ou seja, é a adaptação e reorganização da dinâmica do sistema
nervoso frente às modificações.
Durante muito tempo considerou-se que apenas o sistema nervoso
imaturo ou em desenvolvimento era capaz de receber influências externas que
permitissem uma reorganização estrutural. Sabe-se atualmente que este
conceito vem sendo gradativamente mudado em função de diversos
experimentos e observações, que têm demonstrado um potencial neuronal de
regeneração antes não imaginado.
1.3.1.1Estágio I - Desenvolvimento, períodos críticos e a emergência do
comportamento
Durante a vida intra-uterina, A seqüência de eventos que leva uma
célula, indiferenciada, a se transformar em um neurônio compreende a
determinação (separação de um grupo de células que vão expressar-se
geneticamente como neurônios e sua disposição em regiões específicas do
embrião) e diferenciação (engloba a proliferação e a formação de neurônios de
certa linha, sua migração para os locais adequados e desenvolvimento de suas
interconexões específicas).
Os neurônios dispõem de uma capacidade intrínseca sobre seu
posicionamento em relação a outros neurônios, e seus axônios alcançam seus
destinos graças aos marcadores de natureza molecular e à quimiotaxia. A
secreção de substâncias neurotróficas, neste caso, os fatores de crescimento
auxiliam ao axônio na busca de seu alvo.
A maturação do Sistema Nervoso Central sofre, portanto, influências dos
fatores genéticos, do microambiente fetal e, também, do ambiente externo,
sendo este último de grande relevância para seu adequado desenvolvimento.
Cada evento desencadeia uma série de outros eventos, e assim
sucessivamente em uma cadeia interdependente. O último estágio desse
processo, a formação entre as interconexões dos neurônios, inicia-se no
período embrionário, porém só vai se completar na fase pós-embrionária,
através da influência adequada de fatores ambientais, nesse, o aprendizado e
as experiências possuem papéis cruciais, uma vez que passarão a integrar as
regiões cerebrais e promover alterações celulares.
Também nessa última fase temos os denominados períodos críticos, nos
quais a criança será exposta a determinados fatores ambientais a fim de
permitir o adequado desenvolvimento de suas habilidades perceptuais,
cognitivas e sociais, permitindo que o SN complete sua maturação.
1.3.1.2Estágio II-Aprendizagem
O processo da aprendizagem pode ocorrer a qualquer momento da vida de
um indivíduo, seja criança, adulto ou idoso, propiciando o aprendizado de algo
novo e modificando o comportamento de acordo com o que foi aprendido.
A aprendizagem requer a aquisição de conhecimentos, a capacidade de
guardar e integrar esta aquisição, para posteriormente ser recrutada quando
necessário.
Durante o processo de aprendizagem, há modificações nas estruturas e
funcionamento das células neurais e de suas conexões, ou seja, o aprendizado
promove modificações plásticas, como crescimento de novas terminações e
botões sinápticos, crescimento de espículas dendríticas, aumento das áreas
sinápticas funcionais, estreitamento da fenda sináptica, mudanças de
conformação de proteínas receptoras, incremento de neurotransmissores
Os processos de organização da experiência e o modo pelo qual ela é
retida e transformada vem sendo estudados pelas neurociências.
Os estudos sobre aprendizagem consideram dois tipos de paradigma:
associacionista e não-associacionista.
O paradigma não-associacionista compreende a aprendizagem de
dados elementares não envolvendo o estabelecimento de relações. Refere-se
a tarefas repetitivas, muitas vezes são fundamentais para a aprendizagem de
outras mais complexas.
Os exemplos mais comuns de não-associacionista são:
A) Habituação
Entende-se por habituação uma diminuição da resposta
comportamental a um estímulo repetitivo. Uma situação em que ocorre a
habituação, por exemplo, é o fato de no indivíduo como não se assustar mais
com rojões durante uma partida de futebol.
B) Sensibilização
A sensibilização consiste no aumento da resposta reflexa após um
estímulo. Pode ser observado este fenômeno na resposta vigorosa de um
animal frente a um estímulo tátil.
Já o paradigma associacionista prevê o estabelecimento de relações
entre os estímulos. Trata-se do condicionamento clássico, onde se torna
possível o estabelecimento de uma relação entre determinados eventos do
meio ambiente, enfatizando-se assim que o aprendizado envolve associação
de idéias. Uma luz acesa sempre ao oferecimento de carne ao cão, Por
exemplo, depois de algumas repetições, este passará a representar as
respostas fisiológicas (salivação) sempre que a luz for acesa, mesmo antes de
receber a carne.
Sobre o refinamento de habilidades estudos mostram que a melhora de
desempenho obtida pelo treino e repetição provoca alterações no substrato
neural: Pela prática obtem-se o a mudança no processo neural, o que favorece
o ganho na performance.
O ser humano possui dois tipos de memória, a processual ou
procedimental e a declarativa.
A) Memória processual
A memória processual responde pelo arquivo relacionado ao "como
fazer", tendo como resultado, o aprendizado que ocorre durante a realização.
Essa é mais dependente dos indicadores específicos da situação de treino e,
portanto, mais lento, requerendo repetições.
B) Memória declarativa
A memória declarativa dá conta do "o que fazer", resultando na
aprendizagem de fatos e eventos. Essa responde por um sistema de
conhecimento de maior flexibilidade. Esse conhecimento é adquirido
rapidamente após a exposição a um único evento, podendo ser mais facilmente
generalizado e aplicado a novas situações.
1.3.1.3 Estágio III-A condição de lesão neuronal e sua repercussão
clínica: os estágios de recuperação
A lesão promove no SNC vários eventos que ocorrem, simultaneamente, no
local da lesão e distante dele. Inicialmente, as células traumatizadas liberam
seus aminoácidos e seus neurotransmissores, os quais, em alta concentração,
tornam os neurônios mais excitados e mais vulneráveis à lesão. Neurônios
muito excitados podem liberar o neurotransmissor glutamato, o qual irá alterar
o equilíbrio do íon cálcio e induzirá seu influxo para o interior das células
nervosas, ativando várias enzimas que são tóxicas e levam os neurônios à
morte.
Alguns fatores ambientais que influenciam a plasticidade do Sistema
Nervoso Central de excitotoxicidade. Ocorre, também, a ruptura de vasos
sanguíneos e/ou isquemia cerebral, diminuindo os níveis de oxigênio e glicose,
que são essenciais para a sobrevivência de todas as células.
A falta de glicose gera insuficiência da célula nervosa em manter seu
gradiente transmembrânico, Permitindo a entrada de maior quantidade de
cálcio para dentro da célula, ocorrendo um efeito cascata.
De acordo com o grau da lesão cerebral, o estímulo nocivo pode levar as
células nervosas à necrose, havendo ruptura da membrana celular, fazendo
com que as células liberem seu material intracitoplasmático e, então, lesem o
tecido vizinho. Ou pode ser ativado um processo genético em que a célula
nervosa conserva sua membrana plasmática (apoptose), portanto, não
liberando seu material intracelular, não havendo liberação de substâncias com
atividade pró inflamatória e, assim, não agredindo outras células.
A apoptose é desencadeada na presença de certos estímulos nocivos,
principalmente pela toxicidade do glutamato, por estresse oxidativo e alteração
na homeostase do cálcio.
A lesão promove, então, três situações distintas. Em uma em que o corpo
celular do neurônio foi atingido e ocorre a morte do neurônio, sendo, neste
caso, o processo irreversível. Outra possibilidade ocorre quando o corpo celular
está íntegro e seu axônio está lesado ou, o neurônio se encontra em um
estágio de excitação reduzido. Na terceira situação, os mecanismos de
reparação e reorganização do SNC começam a surgir imediatamente após a
lesão e podem perdurar por meses e até anos. São eles:
a) Recuperação da eficácia sináptica
Este processo consiste em fornecer ao tecido nervoso um ambiente mais
favorável à recuperação23. Assim, nesta fase, a recuperação é feita por drogas
neuroprotetoras, que visam a uma melhor oferta do nível de oxigenação e
glicose, à redução sanguínea local e do edema.
b)Potencialização sináptica
Este processo consiste em manter as sinapses mais efetivas, por meio do
desvio dos neurotransmissores para outros pontos de contatos que não foram
lesados.
c)Supersensibilidade de denervação
Em caso de denervação, a célula pós-sináptica deixa de receber o controle
químico da célula pré sináptica para manutenção de seu adequado
funcionamento, então, a célula promove o surgimento de novos receptores de
membrana pós-sináptica.
d)Recrutamento de sinapses silentes
No nosso organismo, em situações fisiológicas, existem algumas
sinapses que, morfologicamente, estão presentes, mas que, funcionalmente,
estão inativas. Essas sinapses são ativadas ou recrutadas quando um estímulo
importante às células nervosas é prejudicado. No caso de lesão das fibras
principais de uma determinada função, outras fibras que estavam dormentes
poderão ser ativadas.
e)Brotamentos
Consiste na formação de novos brotos de axônio, oriundos de neurônios
lesados ou não-lesados.
O brotamento regenerativo ocorre em axônios lesados e constitui a
formação de novos brotos provenientes do segmento proximal, pois o coto
distal, geralmente, é rapidamente degenerado.O crescimento desses brotos
e a formação de uma nova sinapse constituem sinaptogênese regenerativa.
O brotamento colateral ocorre em axônios não lesionados, em resposta a
um estímulo que não faz parte do processo normal de desenvolvimento.
Este brotamento promove uma sinaptogênese reativa.
A capacidade de formação de novos brotos e crescimento dos axônios pode
ser programada geneticamente ou pode depender do meio.Com o avanço
tecnológico, principalmente da engenharia genética, muitos desses e outros
fatores neurotróficos podem ser produzidos em laboratório, na tentativa de
ofertar ao SNC maiores condições de regeneração.
De acordo com Zanella-Goodrich(2005) existem dois tipos de
neuroplasticidade: a neuroplasticidade do desenvolvimento e a
neuroplasticidade reativa.
A neuroplasticidade do desenvolvimento é aquela que ocorre durante o
processo de maturação. O cérebro da criança possui maior densidade sináptica
até oito meses de idade, entrando em declínio após este período.
A neuroplasticidade reativa consiste na habilidade do SNC em
recuperar-se após uma lesão. As novas abordagens de tratamentos
desenvolvidos na recuperação de adultos são resultado dos estudos em
neuroplasticidade.
1.3.2 Mecanismos de Neuroplasticidade do Desenvolvimento
Por mecanismos de neuroplasticidade do desenvolvimento Zanella-
Goodrich(2005)cita:
a) Sinaptogênese: Aumento do numero de sinapses, de locais de
receptores e a eficiência na liberação e no uso de substancias
neurotransmissoras.Aparentemente é relacionada às
demandas ambientais e necessidades de uso.
b) Arborização Dendritica: aumento no número de ramificações
de um neurônio que possibilita uma maior numero de
sinapses, conseqüentemente maior comunicação neural e
melhor processamento.
c) Brotamento: processo de recuperação onde um neurônio não
afetado tenta desviar-se da área afetada e recuperar a função
perdida.
d) Aumento de mielinização: a mielina nem a propriedade de
favorecer a transmissão neuronal e aumentar a velocidade de
condução.
e) Mudança na Estrutura: a partir de mudanças ambientais as
estruturas se modificam para ajustar as demandas.“A estrutura
do cérebro pode ser modificada como resultado de demandas
ambientais e informação sensorial”(Goldman &Lewis, 1978
apud Zanella-Goodrich,2005).
f) Desmascaramento: ocorre quando uma área antes não
utilizada é posta em uso para o suprimento de novas
necessidades. Existem muitos argumentos que a abordagem
da integração sensorial, atua muito utilizando este processo
específico.
Diversos fatores que influenciam a neuroplasticidade devem ser
considerados para o emprego da terapia da integração sensorial tais
como: “envolvimento em atividade, ambientes enriquecidos, períodos
críticos, idade, estado pré mórbido, local da lesão, tamanho e rapidez do
insulto, estado cognitivo, época do inicio da terapia, atividades em um
contexto(teorias do controle motor), cérebro em desenvolvimento versus
maduro” (Zanella-Goodrich,2005, p.3)
1.4 Relação entre Neuroplasticidade e Teoria do Processamento Sensorial
A integração sensorial tem o princípio enraizado de que o ambiente tem
um impacto tanto no crescimento quanto no amadurecimento do Sistema
Nervoso Central, uma vez que este é maleável e mutável.
Logo a terapia da integração Sensorial é capaz de fornecer informação
sensorial de maneira mais enriquecida para possibilitar a neuroplasticidade.
Respeitar os limites da criança e considerar seu interesse nas atividades
propostas criando um ambiente atraente, são recursos importantes para
facilitar um comportamento adaptativo.
1.5 Disfunção do Processamento Sensorial
O cérebro humano depende da informação visual, auditiva, tátil, olfativa
e gustativa que recebe do ambiente através dos sistemas sensoriais. Além
disso, precisa também de informação sobre gravidade e movimento. O cérebro
reúne todas essas sensações e as organiza para um plano de ação.
Um distúrbio na recepção e organização das informações sensoriais
recebidas sobre o mundo, afeta o desempenho nas demais áreas. Quando a
criança não recebe informações sensoriais importantes de forma clara e
concisa, pode não estar recebendo o “alimento” que o cérebro precisa para o
processo de aprendizagem.Por esta razão, crianças muito inteligentes, podem
não produzir de acordo com o potencial intelectual que possuem. Apontando
para uma dificuldade no processamento sensorial
1.5.1 Características da Disfunção do Processamento Sensorial
Quando o processamento das informações se dá de maneira
harmoniosa, o comportamento emitido é adequado ao contexto, e a
aprendizagem ocorre sem intercorrências. Porém, quando o Sistema Nervoso
Central apresenta imaturidade, a habilidade de processar e organizar as
informações recebidas do ambiente é deficitária o individuo apresenta
comportamentos inadequados à situação. Pode se suspeitar de disfunção do
processamento sensorial no caso de a criança apresentar:
A) Falta de força e tônus muscular, o que pode resultar em má postura e
fadiga
B) Má consciência espacial e desenvolvimento pobre da percepção de
posição, resultando em insegurança durante os movimentos.
C) Falta de coordenação entre os dois lados do corpo. A criança pode
ficar desajeitada e confusa quando as duas mãos precisam trabalhar
em conjunto, como para atividades de cortar ou escrever.
D) Falta de coordenação entre os olhos e o corpo, de modo que há uso
ineficaz de informação visual para auxiliar no desempenho de ações.
E) Atenção de curta duração. A criança geralmente tem dificuldade em
focaliza nas tarefas que precisa fazer.
F) Lentidão ao desempenhar ou aprender tarefas motoras novas, uma
vez que precisa pensar sobre cada movimento que faz. Desajeitada,
bate-se nas coisas ou cai muito parecendo não ver os obstáculos no
caminho.
G) Comportamento hiperativo; a dificuldade em concentração faz com
que perceba todas as coisas ao mesmo tempo e não consiga se
concentrar em uma só.
H) Sentido tátil mal desenvolvido, fazendo com que não goste de ser
tocada, tenha dificuldade em aprender sobre a forma e textura das
coisas. Por outro lado, pode não perceber seu espaço pessoal e
tocar demais as pessoas, chegar perto demais.
I) Criança extremamente difícil para se alimentar: só come comidas
com um certo tipo de textura, ou na mesma temperatura.
J) Apresenta medo excessivo, isola-se
K) Dificuldade em graduar a força que precisa para manipular objetos ou
tocar as pessoas.
L) Problemas em usar e entender linguagem, resultando em problemas
na fala, leitura e escrita. Problemas na articulação da fala sem razão
aparente.
Defrontamo-nos então com uma criança que incapaz de canalizar sua
energia, organizar seu espaço e se torna mais ativa do que o desejável. Esta
criança possui dificuldades em atingir o nível de alerta que o cérebro necessita
para se beneficiar do processo educativo.
Pais e professores podem oferecer oportunidades enriquecidas para que
as crianças brinquem de forma a desenvolver melhor a integração sensorial e
aprender melhor. Quando há suspeita de que a criança apresenta disfunção de
integração sensorial, é indicada uma avaliação por terapeuta ocupacional com
especialização nessa área. Dependendo dos resultados da avaliação pode ser
indicada uma terapia com uma abordagem de integração sensorial.
O termo “disfunção de integração sensorial (DIS)”é um termo guarda-
chuva. Sob ele se abrigam várias sub-áreas:
1.5.1.1 Distúrbios de modulação:
•Defensividade tátil
•Defensividade sensorial
• Insegurança gravitacional
• Intolerância a movimento
1.5.1.2 Distúrbios de coordenação
• Integração bilateral e seqüenciamento
• Dispraxias (ou dificuldade de planejamento motor)
Zanella-Goodrich,(2005) sustenta que resultados das pesquisas em
neuroplasticidade suportam o uso da atividade significativa com objetivo. Um
aspecto importante da terapia de integração sensorial é que a motivação da
criança e o brincar é que são as principais ferramentas usadas.
A integração sensorial tenta criar um ambiente que desafia a criança
com desafios no tamanho certo e facilite o comportamento adaptativo. Através
de um ambiente sensorial enriquecido, recomendações de uma “dieta
sensorial” para o lar e brincadeiras que levam a criança a perceber melhor o
mundo ao seu redor, essa criança pode desenvolver melhor integração
sensorial e vir a produzir de acordo com seu potencial intelectual.
1.6 Percepção e Processamento Sensorial
Para o conhecimento do corpo e suas partes e para o estabelecimento
de relações entre o corpo e os objetos, é imprescindível que este corpo
experimente suas habilidades perceptivas e motoras.
Todo o conhecimento do meio externo e interno chega o corpo por meio
de receptores sensoriais. Estas informações chegam e são codificadas e
integradas a outras sensações ou à memória para dar lugar à percepção.Há
diferenças entre sentir e perceber que podem ser exemplificadas por meio dos
verbos: ver/enxergar, ouvir/escutar, tocar apalpar.
Receptores Sensoriais distribuídos por todo o corpo reagem a estímulos
específicos. Os receptores transmitem o potencial de ação gerado pelo
encéfalo. O influxo aferente chega ao encéfalo inicia-se então o processo que
resultará na percepção.
Os Sentidos e tipos de percepção coexistem em sua ação e função. A
percepção surge da interação dos sentidos. As formas de os sentidos
cooperarem são as seguintes:
A) Efeito desencadeante:
Ocorre quando um sentido recebe o estimulo e “solicita” a cooperação
dos demais.
B) Efeito simultâneo:
Um único estímulo provoca a intervenção de vários sentidos ao mesmo
tempo.
C)Efeito Inibitório
Vários sentidos atuam em um primeiro momento e, por seleção inibe-se
um ou mais deles.
É importante lembrar que todas as ações ou respostas são decorrentes
de uma organização adequada das informações recebidas dos sistemas
sensoriais.O processamento sensorial corresponde à estruturação de um
sistema integrado de informações, como visto anteriormente e a construção de
respostas adaptativas ao meio ambiente.
A resposta adaptativa compreende a reação emitida pelo indivíduo
mediante a ação do ambiente, que seja adequada ao contexto e à situação, e
que promove aprendizagem. Esta ação pode ser captada a partir dos sistemas:
visual, auditivo, tátil, olfativo, gustativo, pode ser referente também ao
movimento e a posição do corpo no espaço.
As novas informações obtidas por estes sistemas compõe uma espécie
de “banco de dados” gerados pela organização e pela promoção de respostas
anteriores, como uma memória sensorial funcional
1.7 Aplicação da Abordagem da integração Sensorial no contexto escolar
Aplicação da abordagem no contexto escolar complementa o projeto
pedagógico, uma vez que facilita a aquisição de habilidades, a aprendizagem e
o desenvolvimento neuropsicomotor, emocional e cognitivo da criança,
prevenindo transtornos e distúrbios decorrentes do Transtorno processamento
sensorial.
A orientação de terapeuta ocupacional que desenvolva um trabalho com
integração sensorial é fundamental na implementação desta abordagem. Ele é
o profissional indicado para identificar e prescrever estratégias sensoriais mais
adequadas para o perfil de cada aluno.
CAPITULO II
2. Análise do Desempenho Ocupacional
Pedretti e Early (2004) classificam as ocupações em três áreas:
atividades da vida diária, atividades de trabalho e produtivas e atividades
lúdicas e de lazer.
O desempenho em ocupações pode ser considerado em termos de
componentes de desempenho. Os componentes de desempenho consistem
nas habilidades ou funções subjacentes que apóiam a capacidade de
desempenho. Como exemplo destes pode-se citar a força muscular, a memória
e o equilíbrio.
2.1 Áreas de Desempenho
A) Atividades de vida Diária(AVD)
Compreendem as AVD tarefas de cuidado pessoais como vestir-se,
despir-se, suprir-se e alimentar-se, mobilidade, socialização, comunicação e
expressão sexual.
B) Atividades de Trabalho e Produtivas
São atividades relativas à administração da casa, os cuidados com
outras pessoas, as atividades educacionais e vocacionais.
C)Atividades Lúdicas e de Lazer
Estas dizem respeito a jogos, brincadeiras, lazer apropriados a faixa
etária.
2.2 Componentes de desempenho
Os padrões de comportamento aprendidos com o desempenho ocupacional
do indivíduo são classificados como componentes de desempenho.Os
componentes de desempenho abrangem componente sensorial, integração
Cognitiva e os Componentes Cognitivos, habilidades psicossociais e
Componentes Psicológicos.
A) Componente Sensoriomotor
Compreende a três tipos de função:
A.1) Funções Sensoriais: A consciência e o processamento sensorial e
processamento da percepção.
A.2) Funções Neuromusculoesqueléticas: As Repostas reflexas, a área de
amplitude de movimento, o tônus muscular, a força, a resistência, o controle
postural, o alinhamento postural e a integridade dos tecidos moles.
A.3) Funções Motoras: A coordenação motora ampla, movimentos de uma
a outro lado do corpo, lateralidade, integração bilateral, controle motor,
praxia coordenação fina e destreza, e o controle motor oral.
B) Integração Cognitiva e os Componentes Cognitivos
Trata-se da capacidade de utilizar as funções cerebrais superiores. Entre
estes componentes estão o nível de conscientização, orientação,
reconhecimento, âmbito de atenção, início da atividade, término da
atividade, memória, seqüenciamento, operações espaciais, categorização,
formação de conceitos, resolução de problemas aprendizado e
generalização.
C) Habilidades Psicossociais e Componentes Psicológicos
Consistem nas capacidades de interação social e processamento
emocional. Nesta categoria encontram-se os valores, interesses, auto conceito,
desempenho do papel, conduta social, habilidades interpessoais, capacidades
para lidar com fatos, auto expressão, autocontrole e administração do tempo.
2.3 Contextos de Desempenho
Um desempenho ocupacional bem sucedido ocorre dentro do contexto
das exigências culturais do indivíduo e é consistente com a idade e o estágio
de desenvolvimento. A seleção de intervenções adequadas para a terapêutica
do indivíduo deve considerar os contextos de desempenho. O mesmo ocorre
com a avaliação.
Estes contextos de desempenho tem dimensões temporais a saber: a
idade do indivíduo , a fase de maturação ou estágio de desenvolvimento e os
estágios de em processos importantes da vida como criação dos filhos,
educação ou carreira.
Tem também dimensões ambientais, que se manifestam em três
categorias:
A) ambiente físico: residência, edificações, ambientes ao ar livre,
mobília, ferramentas e outros objetos de uso
B) Ambiente social: Inclui pessoas e grupos sociais significativos
para o indivíduo.
C) Ambiente cultural: costumes, crenças, padrões de
comportamento, fatores políticos e oportunidades de emprego
e independência econômica.
Capítulo III
3. A Criança e a disfunção do Processamento Sensorial-Caso Clínico
3.1 Avaliação Inicial
Isaias, aos dois anos e onze meses comparece à avaliação
acompanhado pelos pais. Foi encaminhado ao setor pela escola por apresentar
atraso na fala estereotipia e não entender ordens simples. A pediatra do
desenvolvimento sugeriu hipótese diagnóstica de Transtorno Invasivo do
Desenvolvimento- Autismo Infantil.
Avaliação dos Componentes de Desempenho
Avaliação sensório motora:
Funções Sensoriais:
-Percepção Auditiva: Apresenta comportamento desorganizado em ambientes
com muito barulho(SIC).
- Percepção olfativa: não verificada.
- Percepção tátil: Identifica toque leve. Rejeita toque profundo de estranhos
mas aceita bem o toque dos pais. Problemas com escovação dos dentes e a
não experimentação de objetos com a boca sugerem hiperresponsividade na
cavidade oral. O mesmo ocorre com os pés, evita pisar na areia, anda na
pontas dos pés.
- Percepção visual: Realiza pouco contato visual.
- Propriocepção: bate os pés no chão com intensidade, “batuca” com lápis e
objetos similares em superfícies diversas.
- Conceito Corporal: não reconhece nem nomeia parte do corpo quando
requisitado.
Funções Neuromusculoesqueléticas
-Controle Postural e Tônus: Apresenta tônus de base baixo, e senta-se com
rotação interna e abdução de coxofemoral.
Funções motoras:
- Não há histórico de atraso nos marco neuro-motores,
- Motricidade Ampla e fina adequadas ao estágio de desenvolvimento
- Integração bilateral: adequada a idade cronológica
Integração Cognitiva e os Componentes Cognitivos
- Orientação espaço –temporal: ainda não se orienta espaço-temporalmente.
- Apresenta pouca permanência em atividade
- Com relação à aprendizagem de conceitos não associa nem com a utilização
de objetos concretos
- Não realiza jogo simbólico.
- Ainda não automatizou a escuta do próprio nome.
- Faz uso de jargão, antecipa falas de desenhos animados e letras de músicas.
- Desenvolvimento da linguagem inadequado
- Não compreende ordens simples
- Pouco interesse em atividades dirigidas
- Utiliza objetos de maneira descontextualizada
Habilidades Psicossociais e Componentes Psicológicos
- Interação empobrecida
- Comportamento isolado
- Apresenta estereotipias
Avaliação das Áreas de Desempenho
A) Atividades de vida Diária(AVD)
- Comer: Dependente. Não se interessa pela alimentação
- Banhar-se: Dependente.
- Vestir-se: Realiza de maneira assistida, esboça participação.
- Despir-se: Realiza de maneira assistida, esboça participação.
- Usar o Sanitário: ainda não adquiriu o controle de esfíncteres.
- Escovar os dentes: Dependente. Aversivo a atividade.
- Dormir: Dorme no quarto dos pais.
B) Atividades de Trabalho e Produtivas
- Apresenta desempenho escolar insatisfatório.
C)Atividades Lúdicas e de Lazer
-Brincadeira inadequada para a idade cronológica.
3.2 Tratamento
A partir da anamnese foi percebido que além do TID, Isaias apresenta
características da Disfunção do Processamento Sensorial, o que explica seu
comportamento aversivo a determinadas texturas, sua desorganização frente
aos diversos estímulos auditivos e sua busca sensorial no que diz respeito à
propriocepção.
Como conseqüência desta percepção inadequada a criança tem
dificuldades em reconhecer o próprio corpo e suas partes. Sem seu esquema
corporal integrado como é possível reconhecer os limites deste corpo? E sem
conhecer seu corpo como perceber o outro e ter atenção ao que faz ou diz?
Era preciso elaborar estratégias do “tamanho certo”, ou seja, que
oferecessem na proporção ideal estimulação até que seu SNC fosse capaz de
processar a informação de maneira a produzir resposta adaptativa.
Uma das primeiras orientações dada à família era a de filtrar o excesso
de informações. Para conversar com a criança em momentos que apresentava-
se desorganizada , os pais deveriam sentá-la, bem posturada, oferecer pressão
com as mãos sobre os ombros, membros superiores e inferiores e dirigir-se a
ela com expressões curtas e objetivas.
Com relação defensividade tátil foram oferecidos objetos com texturas
diferentes. Banhos com grãos(arroz, feijão, alpiste) nomeando do corpo nele,
nas terapeutas, na boneca. Carpete, espuma de barbear, tinta, cola.
Concomitantemente brinquedos era oferecidos dentro de seu contexto
funcional. E as canções, sempre presentes em sua rotina, também passavam a
sem empregadas de maneira contextualizada.
As atividades eram reforçadas no ambiente familiar e as respostas aos
estímulos passaram a apresentar-se de maneira mais adequada.
Os jargões deram lugar a um maior numero de palavras ditas de forma
ecolálica, e que pouco a pouco, passaram a surgir dentro de um contexto.
Começou-se a incentivar a construção simbólica com boa resposta do
paciente.
A mãe demonstrou alguma resistência ao desfralde. Acreditou que seria
um processo difícil e demorado. O paciente não se interessava pelo penico
nem pelo sanitário, apesar de apresentar o incômodo com a fralda.
O pai identificou que a criança tinha receio de ficar sentada no vaso.
Comprou um redutor para o assento e confeccionou uma adaptação para apoio
dos pés. Tentou-se estimulá-lo pelas vias sensoriais auditiva e termo-tatil,
através do som da água da torneira descendo ralo a baixo, da sensação da
mesma molhando seus pés(sugestão do pai), água quebrada a friagem sobre a
frente de seu corpinho enquanto posicionado de pé para urinar. Então, após
inúmeras tentativas Isaias conseguiu adquirir o controle dos esfíncteres.
Em determinado momento da terapia foi oferecido o equipamento
suspenso(característico da terapia da integração sensorial). Uma rede de
material viscoelastico que oferece estímulo visual, proprioceptivo e vestibular.
Na ocasião o desafio oferecido foi acima do suportado por Isaias. O que rendeu
algumas sessões de muitas lágrimas ao retornar ao setor. Foi Preciso
reconquistar sua confiança para avançar.
A participação incansável da família que cumpria com as orientações
dadas pelas terapeutas e contato com a escola foram fundamentais para que
Isaias apresentasse um bom prognóstico,
Mais organizado a apresentou melhor desempenho ocupacional em
diversas áreas. Tendo as aprendizagens facilitadas pela organização sensório-
percepto-cognitiva.
3.3 Reavaliação
Segue abaixo quadro comparativo com a descrição da avaliação inicial e
a evolução percebida na ocasião da reavaliação. A evolução do caso clinico
observada neste quadro sugere a eficácia da abordagem empregada no
tratamento.
Quadro 1. Quadro comparativo:avaliação Inicial versus reavaliação
Avaliação sensório motora: Avaliação inicial: Reavaliação:
Funções Sensoriais:
-Percepção Auditiva:). Apresenta comportamento
desorganizado em ambientes
com muito barulho(SIC
Houve melhora
- Percepção olfativa: não verificada. não verificada.
- Percepção tátil: Identifica toque leve. Rejeita
toque profundo de estranhos,
mas aceita bem o toque dos
pais. Problemas com
escovação dos dentes e a
não experimentação de
objetos com a boca sugerem
hiperresponsividade na
cavidade oral. O mesmo
ocorre com os pés, evita
pisar na areia, anda na
pontas dos pés.
Aceita melhor o toque
de estranhos. Com
relação à
hiperresponsividade
tátil nos pés foi
realizada com êxito a
dessensibilização.
Passou a brincar na
areia,não anda mais
nas pontas dos pés. A
hiperresponsividade
cavidade oral ainda é
um desafio.
- Percepção visual: Realiza pouco contato visual. Bom contato visual,
fixa o olhar nos olhos
dos outros e
acompanha
movimentos.
- Propriocepção: Bate os pés no chão com
intensidade, “batuca” com
lápis e objetos similares em
superfícies diversas
Redução da
freqüência ambos os
comportamentos
estereotipados. Utiliza
o lápis de maneira
funcional.
- Conceito Corporal:
Não reconhece nem nomeia
parte do corpo quando
requisitado.
Reconhece e nomeia
parte do corpo quando
requisitado.
Funções
Neuromusculoesqueléticas:
Avaliação inicial: Reavaliação:
-Controle Postural e Tônus: Apresenta tônus de base
baixo, e senta-se com
rotação interna e abdução de
coxofemoral.
Houve sutil melhora
no tônus. Continua
sentando-se com o
mesmo padrão.
Funções motoras: Avaliação inicial: Reavaliação:
- Não há histórico de atraso nos marco neuro-motores.
- Motricidade Ampla e fina adequadas ao estágio de desenvolvimento.
- Integração bilateral: adequada a idade cronológica.
Integração Cognitiva e os
Componentes Cognitivos
Avaliação inicial: Reavaliação:
- Orientação espaço–
temporal:
ainda não orienta-se espaço-
temporalmente.
Sem alteração.
- Permanecia em atividade: Apresenta pouco interesse e
permanência em atividade
dirigidas
Aumentou o tempo de
permanência e o
interesse nas
atividades propostas.
- Com relação à
aprendizagem de conceitos:
Não associa nem com a
utilização de objetos
concretos.
Nomeia diversos
objetos. Pai diz que
começa a classificar a
função de alguns.
- Construção simbólica: Não realiza jogo simbólico. Começa a reproduzir
com a boneca
atividades de
alimentação, beija a
boneca.
-. Auto- Percepção: Ainda não automatizou a
escuta do próprio nome
Atende pelo nome.
- Linguagem: Faz uso de jargão, antecipa
falas de desenhos animados
Vocabulário ampliado.
Surgem palavras
e letras de músicas. Fala
ecolálica Desenvolvimento
da linguagem inadequado
dentro do contexto.
Ecolalia presente
todavia, começa a ser
utilizada de maneira
funcional. Pede
objetos pelo nome e
começa a montar
frases simples.
- Compreensão: Não compreende ordens
simples
Compreende e
obedece algumas
ordens simples.
- Manipulação de objetos: Utiliza objetos de maneira
descontextualizada
Emprego de objetos
de forma funcional.
Habilidades Psicossociais e Componentes Psicológicos
- Interação: Empobrecida Melhor interação com
o outro.
- Comportamento Isolado Ainda isola-se em
alguns momentos,mas
a busca interação se
dá de maneira mais
freqüente.
-Estereotipias Freqüentes Menos presente.
Avaliação das Áreas de Desempenho
Atividades de vida
Diária(AVD)
Avaliação inicial: Reavaliação:
- Comer: Dependente. Não se
interessa pela alimentação.
Mantido.
- Banhar-se: Dependente. Mantido.
- Vestir-se: Realiza de maneira assistida,
esboça participação.
Melhor compreensão
coma maior
participação. Continua
necessitando de
assistência. - Despir-se: Realiza de maneira assistida,
esboça participação.
- Usar o Sanitário: ainda não adquiriu o controle Adquiriu o controle de
de esfíncteres. esfíncteres. Está
aprendendo a pedir
para ir ao banheiro.
- Escovar os dentes: Dependente. Aversivo a
atividade.
Mantido.
- Dormir: Dorme no quarto dos pais. Pais começam a
cogitar a hipótese de
retirá-lo do quarto.
Atividades de Trabalho e Produtivas
-Desempenho escolar: Insatisfatório. A professora relata
que está mais
participativo,
demonstra interesse
pelas musicas e algum
materiais que antes
evitava como cola e
tinta.
Atividades Lúdicas e de Lazer
-Brincadeira inadequada para
a idade cronológica.
Joga bola, brinca
deslizando o carrinho
antes só ficava
girando e observando
as rodinhas.
Diversificou seu
interesse por outros
brinquedos ampliando
as possibilidades do
brincar.
CAPITULO IV
4. Conclusão
Após estudar a Facilitação do processo de aprendizagem para crianças
com Transtorno do Processamento Sensorial(TPS) a partir de um caso clínico
acredito que este trabalho pode contribuir com a comunidade acadêmica no
sentido de motivar educadores a utilizar diferentes estratégias para alcançar
seus objetivos educacionais.
As “estranhezas” de determinados comportamentos podem ser
indicativos de que a criança é portadora da Disfunção do Processamento
Sensorial e estes comportamentos podem estar sinalizando as necessidades
no que diz respeito à graduação do estimulo sensorial para uma aprendizagem
eficaz.
Isaias portador de um difícil diagnostico, após o investimento por meio
das terapias, da família e da escola apresentou um bom prognostico. Esse fato
evidencia a importância de considerar o sujeito em sua singularidade
valorizando suas potencialidades.
A metodologia empregada em seu tratamento considerou seus
interesses. Pois como exposto anteriormente atividade prazerosa tem efeitos
importantes na neuroplasticidade.
Foram observados efeitos positivos da abordagem da integração
sensorial na maioria dos aspectos avaliados(componentes de desempenho e
áreas de desempenho). Na nova etapa do tratamento da criança, que agora
apresenta melhor atenção nas atividades, serão reforçados os treinamentos de
Atividade de Vida Diária.
4.1 Recomendações
Em função do tempo reduzido para apresentação deste trabalho
monográfico o instrumento avaliativo restringiu-se ao preenchimento da
avaliação do terapeuta.
Sugiro que outros casos clínicos possam ser estudados e que este
instrumento avaliativo possa ser reformulado no modelo questionário
possibilitando que um maior numero de pessoas em contato com a criança
possam contribuir para avaliação e reavaliação a saber, funcionários da escola,
professora, auxiliares, coordenadores, pais, irmãos, outros parentes e
terapeutas da criança.
Este trabalho ressaltou a importância também do profissional de terapia
ocupacional para avaliar problemas relativos à aprendizagem no contexto
escolar. Não é muito comum a presença deste compondo as equipes de
profissionais nas escolas brasileiras. Recomendo que este fato possa ser
discutido no ambiente acadêmico para que diversos alunos possam ser
beneficiados por uma intervenção precoce.
Por fim aconselho que a temática exposta neste trabalho possa compor
as ementas na formação de profissionais da educação, fornecendo recursos
para lidarem com o grande desafio de ensinar crianças portadoras do Distúrbio
do Processamento Sensorial encontrando caminhos para sua formação.
INDICE
Introdução 06
Fundamentação Teórica 07
Capítulo I
1. Teoria da Integração Sensorial 08
1.1 Histórico 08
1.2 Postulados da Teoria da Integração Sensorial 09
1.3 Teoria da Neuroplasticidade 10
1.3.1Tipos de Neurplasticidade 11
1.3.1.1Estágio I - Desenvolvimento, períodos críticos e a
Emergência do comportamento 12
1.3.1.2Estágio II- Aprendizagem 13
1.3.1.3 Estágio III-A condição de lesão neuronal e sua
Repercussão clínica: os estágios de recuperação 15
1.3.2 Mecanismos de Neuroplasticidade do Desenvolvimento 16
1.4 Relação entre Neuroplasticidade e Teoria do Processamento
Sensorial 20
1.5 Disfunção do Processamento Sensorial 20
1.5.1 Características da Disfunção do Processamento Sensorial 21
1.5.1.1 Distúrbios de modulação 23
1.5.1.2 Distúrbios de coordenação 24
1.6 Percepção e Processamento Sensorial 24
1.7 Aplicação da Abordagem da integração Sensorial no contexto escolar 26
Capítulo II
2. Análise do Desempenho Ocupacional 30
2.1 Áreas de Desempenho 30
2.2 Componentes de Desempenho Ocupacional 31
2.3 Contextos de Desempenho 32
Capítulo III
3. A Criança e a disfunção do Processamento Sensorial-Caso Clínico 34
3.1 Avaliação Inicial 34
3.2 Tratamento 37
3.3 Reavaliação 38
Capitulo IV
4. Conclusão 44
4.2 Recomendações 46
Indice 47
Bibliografia 49
BIBLIOGRAFIA
MOMO, A.R. B; SILVESTRE, C.; GRACIANI, Z. O Processamento Sensorial como Ferramenta para Educadores: Facilitando o Processo de Aprendizagem, 2ª. edição. São Paulo: Artevidade, 2007. ZANELLA-GOODRICH, H.M, Introdução a Integração Sensorial, In CURSO: “INTEGRAÇÃO SENSORIAL TEORIA E APLICAÇÃO”. São Paulo: AACD, 2005. PEDRETTI, L.W.; E EARLY, M.B.; Terapia Ocupacional Capacidades Práticas para a Disfunção Física. Tradução de Lúcia Speed Ferreira de Mello; Claudio Ascencio da Rocha; São Paulo : Roca,2004 . AYRES, A. J. Sensory integration and the child, Los Angeles, Western Phychological, 1979. BLANCHE, E. I., BOTTICELLI, T. M., HALLWAY, M. K. Combining neuro-developmental treatment and sensory integration principles an approach to pediatric therapy, Arizona, The Psychological Corporation, 1995. BLY, L. A historical and current view of the basis of NDT, Pediatric Physical Therapy, 3:131-135., 1991 CARR, J. H. E SHEPHERED, R. B. Neurological Rehabilitation. Optimizing motor performance, Oxford, Butterworth Heinemann, 1998.
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