uniÃo de mulheres alternativa e resposta...tendência decrescente ao nível da incidência do...

50
1 UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA umarfeminismos.org Observatório de Mulheres Assassinadas OMA – Observatório de Mulheres Assassinadas da UMAR Dados 2015 (01 de Janeiro a 31 de Dezembro de 2015)

Upload: others

Post on 20-Jun-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

1

UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA

umarfeminismos.org

Observatório de Mulheres Assassinadas

OMA – Observatório de Mulheres Assassinadas da UMAR

Dados 2015

(01 de Janeiro a 31 de Dezembro de 2015)

Page 2: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

2

O OBSERVATÓRIO DE MULHERES ASSASSINADAS

A União de Mulheres Alternativa e Resposta - UMAR, por meio do trabalho que desenvolve

no Observatório de Mulheres Assassinadas - OMA apresenta o relatório final dos dados sobre

femicídio e tentativas de femicídio ocorridas em Portugal e noticiadas na imprensa pelo

período de 01 de Janeiro a 31 de Dezembro de 2015.

Em 2015 foram ainda noticiados 4 (quatro) outros femicídios ocorridos, um em 2012,

um em 2013 e dois em 2014 que não haviam sido contabilizados pelo OMA nesses anos

uma vez que se encontrava por determinar as circunstâncias e autoria dos mesmos.

Porém, tratando-se de femicídios que não ocorreram em 2015, mas sim, cuja relação

entre as vítimas e os homicidas só foi determinada em 2015, logo, noticiados neste ano,

não serão objeto da análise no capítulo dos femicídios ocorridos em 2015.

De acrescentar que a morte destas 4 mulheres não se encontrava registada no OMA em

anos anteriores. Em termos de metodologia definiu-se a sua inclusão nos dados globais

comparativos ao longo dos anos, seguindo o mesmo critério de 2013, ano em que

ocorreu situação idêntica.

Page 3: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

3

Relativamente a estes quatro femicídios apresentamos a síntese infra:

Ano de Ocorrência 2012 2013 2014 2014

Relação da vítima c/ o

homicida

Relação de

intimidade

(companheira)

Cunhada Relação de

intimidade

(amante)

Relação de

intimidade

(namorada)

Idade da Vítima 24-35 anos 18-23 anos Mais de 65

anos

18-23 anos

Situação Profissional - - -

Idade do homicida 51-64 anos ni

(co-autoria)

36-50 anos 18-23 anos

Situação Profissional Desempregado - Empregado Empregado

Mês de ocorrência Agosto Dezembro Outubro Julho

Distrito Viana Ctl. Vila Real Aveiro Coimbra

Concelho Ponte de Lima Peso da régua Aveiro Arganil

Motivação/Justificação Ciúmes Não aceitou

rejeição

- -

Arma do Crime/Meio

empregue

Objecto

contundente

Estrangulamento,

esfaqueamento e

degolação

Asfixia Queda

História de Violência

na Relação

Sim - - Sim

Local de ocorrência Local isolado Local isolado Residência Local

isolado

Medidas de Coacção

aplicadas

Prisão

preventiva

Prisão preventiva Apresentações

periódicas

Prisão

preventiva

Denúncia/Processos

em curso

Ni - - -

Identificação

M.ª Augusta

Ernesto

Catarina Rodrigues

ni

Andreia

Santos

Page 4: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

4

INTRDUÇÃO DO ESTUDO OMA 2015

No ano de 2015, o OMA da UMAR registou um diminuição da incidência do femicídio,

consumado ou tentado, quando comparado com período homólogo do ano anterior,

contabilizando um total de:

Não obstante os dados apresentados, não podemos concluir no sentido de uma

tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise

sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se que, tendo existido anos

pretéritos com uma incidência inferior, os mesmos foram contrariados por ano

seguinte com um novo aumento de registos. Concluímos sim que temos registado

ciclos e contraciclos na incidência do femicídio consumado e tentado, mas não uma

tendência nem de aumento, nem de diminuição.

DO ESTUDO DO FEMICÍDIO E TENTATIVAS DE FEMICÍDIO NAS

RELAÇÕES DE INTIMIDADE E RELAÇÕES FAMILIARES PRÓXIMAS

Tal como nos relatórios anteriores, apresentaremos em seguida uma breve

caracterização das vítimas directas e dos autores do crime de femicídio e femicídio na

forma tentada, bem como a caracterização destes crimes quanto à sua ocorrência em

termos geográficos e temporais, local, meio empregue, suposta motivação e contexto

em que foram praticados.

29 Femicídios 39 Tentativas

Femicídio

Page 5: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

5

I- OMA – FEMICÍDIOS

FEMICÍDIOS: RELAÇÃO DO HOMICIDA COM A VÍTIMA

Em termos da relação existente entre as mulheres assassinadas e o homicida, verifica-se

que o grupo que surge com maior expressividade é o das mulheres que mantêm ou

mantiveram uma relação de intimidade com os homicidas, correspondendo a 87%

(n=25, 15 delas em relações presentes e 10 em relações passadas) do total de mulheres

que foram assassinadas em 2015.

Neste item, registamos ainda que 13% das mulheres (n=4) foram assassinadas por

aqueles com quem tinham uma relação familiar privilegiada, designadamente numa

situação por descendente directo e em três situações, por familiares próximos.

52% 35%

3% 10%

Femicídios: Relação do homicida com a vítima

Relações deintimidadepresentes

Relações deIintimidadepassadas

Ascendentedirecto

Outro familiar

Page 6: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

6

FEMICÍDIOS:

RELAÇÃO DA VÍTIMA COM O HOMICIDA AO LONGO DOS ANOS

2004-2015

Desde o início do Observatório e dos dados recolhidos, verificamos que mantém-se a

tendência de maior vitimização das mulheres às mãos daqueles com quem ainda

mantinham uma relação, fosse ela de casamento, união de facto, namoro ou outro tipo

relação de intimidade (n total= 268), seguido pelo grupo dos ex-maridos, ex-

companheiros e ex-namorados (n total= 96).

RELAÇÃO COM

A VÍTIMA

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

Total

Marido,

Companheiro,

namorado,

relação de

intimidade

28

25

23

16

27

17

30

18

22+1

21

23+2

15

265+3

Ex-marido, ex-

companheiro,

ex-namorado

3

6

9

4

13

11

8

5

8

7

12

10

96

Descendentes

directos

7 1 0 1 2 0 3 2 1 4 2 1 24

Outros

Familiares

2 2 4 0 1 0 2 0 7 4+1 4 3 29+1

Desconhecida 0 0 0 1 3 1 0 0 0 0 0 0 5

Ascendentes

directos

- - - - - - 1 1 3 0 2 - 7

Relação não

correspondida

- - - - - - - 1 0 1 0 - 2

TOTAIS ANO 40 34 36 22 46 29 44 27 41+1 37+1 43+2 29 428+4

Nota: (+) Correspondem a femicídios referentes a anos anteriores mas só conhecidos em 2015. (Vide pág. 2)

Como podemos verificar do total de femicídios registados pelo OMA entre 2004 e 2015,

84,25% foram cometidos em relações de intimidade presente ou passada.

Page 7: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

7

FEMICÍDIOS: IDADE DAS VÍTIMAS

Em 2015 verificamos que foram as mulheres com idades superiores a 65 anos as mais

atingidas, um total de 9 dos 29 dos femicídios registados pelo OMA, correspondendo a

uma percentagem de 31%. Logo de seguida e com 8 femicídios cada, surgem as

mulheres dos escalões etários: 51-64 e 36-50 anos, correspondendo, cada um, a 28%.

Das mulheres assassinadas 7% (n=2) tinham idades compreendidas entre os 24 e os 35

anos de idade, sendo que num dos femicídios registados pelo OMA a mulher

assassinada tinha idade compreendida entre os 18-23 anos. Num dos femicídios

registados o item idade não foi possível apurar.

Dos dados analisados somos a concluir que a violência contra as mulheres, também na

sua forma mais letal, ocorre em todo o ciclo relacional das mulheres, já que

constatamos a ocorrência deste crime em todas as faixas etárias. Não obstante,

verificamos que o femicídio afecta particularmente mulheres com idades superiores a

36 anos.

3% 7%

28%

28%

31%

3%

Femicídio: Idade das vítimas

18-23 anos

24-35 anos

36-50 anos

51-64 anos

Mais de 65 anos

ni

Page 8: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

8

FEMICÍDIOS:

IDADE DAS VÍTIMAS AO LONGO DOS ANOS 2004 a 2015

Comparando os diversos anos desde 2004, podemos observar que não obstante as

variações, o grupo etário mais vitimizado pelo femicídio por violência de género é o

das mulheres com idades entre os 36 e os 50 anos.

Desagregação em 2012 do grupo etário mais de 50 anos, desdobrando-se e compreendendo dois escalões etários: 51-64 anos e, mais de 65 anos, encontrando-se contabilizados enquanto total no mais de 50 anos de idade.

Nota: (+) Correspondem a femicídios referentes a anos anteriores mas só conhecidos em 2015. (Vide pág. 2)

IDADE 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 TOTAL

Até 17 anos 1 0 0 1 0 0 0

0

0

0

2

0

4

Dos 18 aos 23

anos 2 2 3 3 4 4 3

3

2

4+1

1+1

1

32+2

Dos 24 aos 35

anos 6 7 9 6 19 8 14

7

9+1

4

7

2

98+1

Dos 36 aos 50

anos 14 11 12 8 10 13 13

9

12

7

15

8

132

> 50 anos 16 12 10 4 9 3 14 8 - - - - 76

Dos 51 aos 64

anos - - - - - - -

- 12 14 8 8 42

Mais de 65

anos - - - - - - -

- 6 7 10+1 9 32+1

Desconhecido 1 2 2 0 4 1 0 0 0 1 0 1 12

TOTAIS ANO 40 34 36 22 46 29 44 27 41+1 37+1 43+2 29 428+4

Page 9: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

9

FEMICÍDIOS:

SITUAÇÃO PROFISSIONAL DAS VÍTIMAS

No que toca à situação profissional das vítimas é de notar a ausência de informação

quanto a este item em 38% (n=11) das situações reportadas.

Naquelas em que foi possível recolher informação registamos que 17% (n=5) se

encontrava em situação de reforma e que 41% (n=12) das mulheres assassinadas

estavam inseridas em mercado de trabalho. Uma das mulheres assassinadas

encontrava-se desempregada (4%).

FEMICÍDIOS:

IDADE DOS HOMICIDAS

No que se refere à idade dos autores do crime de femicídio, podemos observar que em

2015, a maioria dos homicidas, a que corresponde uma percentagem de 38% tinham

idades compreendidas entre os 36-50 anos (n=11), seguindo-se os com idades entre 51-

64 anos de idade (n=8; 28%).

Com idades superiores a 65 anos e as idades compreendidas no intervalo dos 24-35

contabilizam-se, respectivamente, 7 (24%) e 3 (10%) dos homicidas.

38%

41%

4% 17%

Femicídio: Situação profissional da vítima

Sem informação Empregada

Desempregada Reformada

Page 10: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

10

FEMICÍDIOS:

IDADE DO HOMICIDA AO LONGO DOS ANOS 2004 a 2015

Apresentamos, infra, a tabela comparativa das idades dos homicidas ao longo dos

anos. Como podemos verificar, as idades dos homicidas seguem o mesmo padrão do

das vítimas, destacando-se o escalão etário 36-50 anos.

IDADES 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Total

Até 17 anos 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 2

18 - 23 anos 0 0 0 2 1 3 3 0 2 2 1+1 0 14+1

24 –35 anos 2 6 7 4 10 4 6 7 7 9 6 3 71

36 - 50 anos 7 5 9 3 20 13 19 6 13 6 18+1 11 130+1

> 50 anos 7 16 9 4 8 5 14 14 - - - - 77

51-64 anos - - - - - - - - 11+1 9 11 8 39+1

> 65 anos - - - - - - - - 4 9 7 7 27

Desconhecida 24 6 11 9 7 4 3 0 4 1+1 0 0 69+1

TOTAIS ANO 40 34 36 22 46 29 45 27 41+1 37+1 43+2 29 429+4

Desagregação em 2012 do grupo etário mais de 50 anos, desdobrando-se e compreendendo dois escalões etários: 51-64 anos e, mais

de 65 anos, encontrando-se contabilizados enquanto total no mais de 50 anos.

Nota: (+) Correspondem a femicídios referentes a anos anteriores mas só conhecidos em 2015. (Vide pág. 2)

10%

38% 28%

24%

Femicídio: Idade dos homicídas

24-35 anos

36-50 anos

51-64 anos

Mais de 65 anos

Page 11: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

11

FEMICÍDIOS:

SITUAÇÃO PROFISSIONAL DOS HOMICIDAS

No que toca à situação profissional dos homicidas foi possível constatar que 8 (28%)

exerciam actividade profissional identificada e que outros 2 (7%) estavam em situação

de desemprego.

Foram identificados ainda 5 (17%) homicidas em situação de reforma.

De notar ainda que em 14 situações (48%) não foi possível identificar este item.

FEMICÍDIOS: MÊS DE OCORRÊNCIA

Em 2015 verificamos uma média de 2,4 femicídios por mês, sendo que os meses de

Janeiro, Março e Abril contabilizaram 4 femicídios cada, num total de 12 dos 29

femicídios registados pelo OMA.

Não obstante, podemos verificar que em todos os meses de 2015 se registaram

femicídios.

48%

28%

7%

17%

Femicídio: Situação profissional do homicida

Sem informação Empregado

Desempregado Reformado

Jan

eir

o

Feve

reir

o

Mar

ço

Ab

ril

Mai

o

Jun

ho

Julh

o

Ago

sto

Sete

mb

ro

Ou

tub

ro

No

vem

bro

De

zem

bro

Tota

l

4 1 4 4 1 3 3 2 3 1 1 2

29

Femicídio: Mês de ocorrência

Page 12: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

12

FEMICÍDIOS:

MÊS DE OCORRÊNCIA AO LONGO DOS ANOS 2004 a 2015

Em termos globais, da análise dos registos ao longo dos anos conclui-se que a

incidência do femicídio das mulheres deixou de ocorrer, em particular, nos meses de

verão, pese embora seja ainda nestes meses que, em termos absolutos e pela análise do

conjunto dos anos do OMA, se registe o maior número de femicídios. Porém, e em

termos relativos, verifica-se uma dispersão da ocorrência do crime por quase todos os

meses do ano, num total de 432 mulheres assassinadas entre 2004 e 2015.

MESES

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

TOTAL MÊS

Janeiro 3 2 4 0 1 3 3 0 1 1 4 4 26

Fevereiro 4 3 1 2 2 1 0 2 5 1 4 1 26

Março 2 1 0 2 2 3 2 1 7 9 4 4 37

Abril 4 5 3 2 7 1 2 1 1 1 3 4 34

Maio 3 3 7 3 5 2 3 3 3 3 5 1 41

Junho 4 1 1 1 3 2 5 3 3 5 4 3 35

Julho 1 5 1 5 10 3 8 1 2 4 4+1 3 47+1

Agosto 8 4 5 0 3 0 4 5 4+1 3 2 2 40+1

Setembro 4 4 7 4 4 2 6 5 7 1 1 3 48

Outubro 4 3 3 1 3 4 6 1 2 5 3+1 1 36+1

Novembro 0 3 2 1 4 6 3 3 1 2 7 1 33

Dezembro 3 0 2 1 2 2 2 2 5 2+1 2 2 25+1

TOTAL ANO 40 34 36 22 46 29 44 27 41+1 37+1 43+2 29 428+4

Nota: (+) Correspondem a femicídios referentes a anos anteriores mas só conhecidos em 2015. (Vide pág. 2)

Page 13: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

13

FEMICÍDIOS: DISTRITOS

Quanto aos distritos, verificamos que 7 dos 29 femicídios ocorreram no distrito de

Porto, seguido do distrito de Lisboa que regista 6 femicídos.

O distrito de Setúbal registou 4 femicídios, seguido do distrito de Faro com 3 dos 29

femicídios registados pelo OMA.

Aveiro, Coimbra, Leiria e Viseu são distritos nos quais se registaram dois femicídios

em cada um deles e no distrito da Guarda, ocorreu um registo.

Em 2015 não foram registados, pelo OMA, femicídio nos demais distritos.

Femicídio: Análise por Concelho

Fazendo uma análise mais detalhada no que concerne à distribuição geográfica do

femicídio por concelhos, verificamos que os concelhos de Faro, Póvoa do Varzim,

Seixal, Sintra e Valongo registam 2 femicídios cada um, sendo que nos demais

concelhos identificados infra há a registar, em cada um deles, um femicídio.

Ave

iro

Co

imb

ra

Faro

Gu

ard

a

Leir

ia

Lisb

oa

Po

rto

Setú

bal

Vis

eu2 2

3 1

2

6 7

4 2

Femicídio: Distrito

Aveiro

Coimbra

Faro

Guarda

Leiria

Alb

ufe

ira

Alij

ó

Alm

ada

Am

aran

te

An

adia

Arm

amar

Bo

mb

arra

l

Co

imb

ra

Faro

Lam

ego

Leir

ia

Lisb

oa

Lou

res

Maf

ra

Mat

osi

nh

os

Oe

iras

P. d

e Fe

rrei

ra

voa

Var

zim

Sab

uga

l

Seix

al

Setú

bal

Seve

r d

o…

Sin

tra

Val

on

go

Tota

l

1 1 1 1 1 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1 2 1 1 2 2

29

Femicídios: Concelhos

Page 14: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

14

FEMICÍDIOS:

DISTRITOS AO LONGO DOS ANOS 2004 a 2015

Partindo da análise dos dados dos femicídios recolhidos pelo OMA entre os anos 2004

a 2015 verificamos que os distritos de Lisboa (94), Porto (61) e Setúbal (45) continuam

a assumir taxas de incidência preocupantes perfazendo um total de 200 dos 432

femicídios praticados nesse período.

Registamos que no ano de 2015, não foram noticiados femicídios em vários distritos.

Tal não garante a inexistência de femicídio nos distritos identificados, mas sim que não

foram identificadas, pelo OMA, notícias de femicídios.

DISTRITOS 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

2011

2012

2013

2014

2015 TOTAL

DISTRITO

Desconhecido 19 0 0 0 0 1 0

0

0

0

0

0 20

Aveiro 1 3

1 0 2 0 2 1 1 0 1+1 2 14+1

Beja 1 0

1 1 0 1 0 1 2 1 1 0 9

Braga 2 2

0 0 2 1 2 1 2 1 1 0 14

Bragança 0 1

1 0 0 1 1 1 0 1 2 0 8

Ctl. Branco 2 4

0 0 1 3 0 1 0+1 1 0 0 12+1

Coimbra 2 0

0 1 3 1 1 2 0 2 3+1 2 17+1

Évora 0 0

0 0 1 0 0 0 1 1 1 0 4

Faro 0 0

3 1 1 2 5 1 2 2 3 3 23

Guarda 0 0

0

1

1

0

0

0

0

1

1 1 5

Leiria 1 0

4 2 1 1 1 1 2 4 1 2 20

Lisboa 5 9

6 6 9 6 9 7 13 13 5 6 94

Portalegre 0 0

3 0 2 0 0 0 0 0 1 0 6

Porto 3 10

8 3 7 2 6 2 6 2 5 7 61

Santarém 0 1

3 1 2 1 0 1 1 2 3 0 15

Setúbal 0 2

3 2 4 3 8 5 3 4 7 4 45

Vila Real 1 0

1 0 0 3 2 1 2 0+1 3 0 13+1

Viana Castelo 2 1

0 2 0 0 0 0 1 1 0 0 7

Viseu 1 1

2 1 4 1 2 2 3 0 3 2 22

Madeira 0 0

0 0 0 1 4 0 1 0 1 0 7

Açores 0 0

0 1 6 1 1 0 1 1 1 0 12

TOTAL ANO 40 34 36 22 46 29 44 27 41+1 37+1 43+2 29 428+4

Nota: (+) Correspondem a femicídios referentes a anos anteriores mas só conhecidos em 2015. (Vide pág. 2)

Page 15: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

15

FEMICÍDIOS: LOCAL DE OCORRÊNCIA

Tal como o Observatório tem vindo a registar desde 2004, a residência continua a ser o

local onde a maioria dos femicídios foram praticados, a que corresponde uma taxa de

prevalência de 62% (n= 18).

Ainda salientamos que 5 mulheres foram assassinadas na via pública (17%), ao passo

que 4 morreram no seu próprio local de trabalho (14%) e duas foram assassinadas em

local isolado (7%).

FEMICÍDIOS: ARMA CRIME / MEIO EMPREGUE

Analisando-se agora a arma do crime ou o meio empregue para a sua prática,

verificamos que 52% (n=15) dos femicídios foram praticados com arma de fogo. A

arma branca foi identificada como tendo sido utilizada na prática de 5 dos femicídios

registados (17%). O estrangulamento e a agressão com objecto foi identificada, como o

Residência

Via pública

Local de trabalho

Local isolado

18

5

4

2

Femicídio: Local do crime

Afogamento

Agressão com objecto

Arma Branca

Arma de Fogo

Asfixia

Espancamento

Estrangulamento

Explosivos

Sem informação

1

2

5

15

1

1

2

1

1

Femicídio: Arma do crime/Meio empregue

Page 16: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

16

meio empregue para assassinar 4 mulheres: duas (7%) por estrangulamento e duas

(7%) por agressão com objecto.

Outros meios como o afogamento, a asfixia, o espancamento e a utilização de

explosivos foram identificados nas restantes situações registadas, com 1 femicídio para

cada um destes meios.

De notar que em uma das situações noticiadas não foi identificado o meio empregue

pelo agente na prática do crime.

FEMICÍDIOS:

MOTIVAÇÃO OU SUPOSTA JUSTIFICAÇÃO PARA A PRÁTICA DO

CRIME

Atendendo-se à suposta motivação/justificação, verificamos que a maioria dos

femicídios praticados e registados pelo OMA ocorreu num contexto de violência

doméstica (38%; n=11); a este contexto, salienta-se ainda que em 21% (n=6) das

situações foi identificada a separação não aceite pelo autor do crime como a motivação

para a prática do femicídio.

Em 10 % (n=3) das situações registadas, surge a atitude possessiva e com igual

percentagem o femicídio por compaixão da vítima.

Os ciúmes são mencionados em 7% (n= 2) das situações registadas, como tendo estado

na base motivacional para a prática do crime.

Em 4 das situações registadas não foi possível recolher informação sobre a motivação

do agente para a prática do crime (14%).

Page 17: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

17

Pese embora as categorias aqui apresentadas respeitem a forma como

jornalisticamente foram referidas, a UMAR entende que o femicídio tendo por base

o ciúme, o não aceitar o fim da relação ou a atitude de possessão incluem-se todos na

grande categoria de VIOLÊNCIA NAS RELAÇÕES DE INTIMIDADE (VRI). Assim

sendo concluímos que 76% dos femicídios ocorreram no âmbito de relações de

intimidade violentas.

FEMICÍDIOS: HISTÓRIA DE VIOLÊNCIA NA RELAÇÃO

10% 7%

10%

38%

21%

14%

Femicídio: Suposta justificação/Motivação

Atitude de possessão

Ciúmes

Compaixão pelosofrimento da vítima

Contexto ViolênciaDoméstica

Não aceita a separação

Sem informação

SIM

66%

Não

24%

S/ Informação

10%

História de Violência na Relação

Page 18: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

18

Cruzando a incidência do femicídio com a presença de violência doméstica nas

relações de conjugalidade ou de intimidade, presente ou passadas e relações familiares

privilegiadas, verificamos que em 66% (n=19) das mulheres assassinadas, a notícia

dava conta da existência prévia de violência doméstica naquela relação.

Em 7 situações (24%) não era conhecida história de violência doméstica e em 3 (10%)

das situações reportadas, não existia informação quanto a este item.

FEMICÍDIOS:

DENÚNCIAS/PROCESSOS EM CURSO

Salientam-se neste item, as situações em que foi possível identificar a existência de

denúncias anteriores à ocorrência do crime de femicídio, ou mesmo aquelas em que,

havia já sido aplicadas aos homicidas, medidas de coacção prévias pela prática do

crime de violência doméstica.

Pretende-se assim neste capítulo analisar, das situações de violência doméstica

identificadas, aquelas em que foi referenciada a existência de participação criminal às

autoridades competentes.

Assim e da análise do conteúdo noticiado foi possível apurar, relativamente a este item

de análise que, em 31% das situações existia denúncia anterior por violência

doméstica.

Continuamos porém, a identificar ainda um grande número de situações noticiadas em

que era inexistente informação. Porém, cruzando com o analisado no item anterior e

verificando que em 24% das situações não era conhecida história de violência na

relação, será de equacionar a possibilidade da não existência de denúncias, por

inexistência de crime de violência doméstica, surgindo assim e nestes casos, o femicídio

isolado de história prévia de violência.

31% 69%

Femicídio: Denúncias/Processos em curso

Denúncias/Processo emcurso

Sem informação

Page 19: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

19

FEMICÍDIOS: MEDIDAS DE COACÇÃO APLICADAS

Da informação recolhida nas notícias publicadas, foi possível concluir que, dos 29

femicídios ocorridos, só recolheriamos informação pertinente em 14 dos femicídios

ocorridos, isto porque ocorreram 15 situações de femicídio seguido de suicídio

imediato.

Assim, das situações passíveis de aplicação de medida de coação (n=14) verificamos

que em duas (2) das situações registadas pelo OMA essa informação não foi

disponibilizada e que, nas restantes 12, a medida de coação aplicada foi a de prisão

preventiva.

De referir que numa das situações em que foi aplicada a prisão preventiva, o homicída

viria a cometer suicídio, no cárcere.

Sobe assim para 16 o número de homicídas que cometeram suicídio.

15

Femicídio: seguido de suicídio

Prisão preventiva

nsa

Desconhecida

12

15

2

Femicídio: Medidas de coação aplicadas ao homicida

Page 20: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

20

II- OMA – TENTATIVAS DE FEMICÍDIO

01 de Janeiro a 31 de Dezembro de 2015

TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: RELAÇÃO DO AGRESSOR COM A VÍTIMA

Analisando-se a relação entre agressor e vítima verificamos que, no período em análise,

a maioria (85%, n=33) das vítimas mantinha ou manteve uma relação de intimidade

com o autor do crime.

De salientar contudo a elevada taxa de incidência das mulheres que viram as suas

vidas atentadas após ruptura da relação com o autor do crime (49%).

Dos crimes de femicídio na forma tentada, 15% foram praticados por filhos ou pai

(totalizando 6 das situações reportadas).

TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: IDADE DAS VÍTIMAS

No que concerne à idade das vítimas de femicídio na forma tentada, verificamos que as

faixas etárias 24-35 anos e 36-50 anos são as que registam valores mais elevados,

perfazendo ambas 54% (n=21) do total dos femicídios registados. Em 7 dos femicidíos

noticiados não foi possível obter informação relativa à idade da vítima.

Marido, companheiro,

namorado, relação

intimidade 36%

Ex-marido, ex-

companheiro, ex-namorado,

ex-relação intimidade

49%

Descendente Directo

10%

Ascendente Directo

5%

Tentativas de Femicidio: Relação Agressor - Vítima

Page 21: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

21

TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: SITUAÇÃO PROFISSIONAL DAS VÍTIMAS

Analisando-se agora a situação profissional em que se encontravam as vítimas, à data

da prática do crime, 21% (n=8) das vítimas encontrava-se inserida no mercado de

trabalho. Contrariamente ao verificado nos femicídios, nas tentativas deparamo-nos

com a ausência deste parâmetro na maioria das notícias analisadas (79%, n=30).

TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: IDADE DO AGRESSOR

Direccionando agora o olhar para a caracterização dos autores do crime de Tentativa

de Femicídio constatamos que os grupos etários 36-50 anos e 51-64 anos são aqueles

que assumem maior representatividade (59%, n=23), seguido do grupo etário 24-35

com 21% (n=8). Já os agressores com mais de 65 anos de idade, representam 5% (n=2)

da amostra). Em 6 das tentativas noticiadas não foi possível apurar das idades dos

autores do crime.

18-23anos

24-35anos

36-50anos

51-64anos

Maisde 65anos

ni TOTAL

1

11 10 7

3 7

39 Tentativas de Femicídio: Idade das Vítimas

21%

79%

Tentativas de Femícidio: Situação Profissional da Vítima

Empregada

Sem Informação

Page 22: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

22

TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:

SITUAÇÃO PROFISSIONAL DOS AGRESSORES

As notícias veiculadas pela comunicação social continuam a ser omissas quanto à

situação profissional quer das vítimas quer dos autores do crime, tendo-se no período

em análise, verificado que em 30 situações (a que corresponde uma taxa percentual de

77%) não foi feita menção relativa à situação profissional do agressor.

Do que foi possível apurar, regista-se que 2 dos agressores estavam em situação de

desemprego e que 7 estavam inseridos em mercado de trabalho.

24-35anos

36-50anos

51-64anos

Mais de65 anos

ni

8

12 11

2

6

Tentativa de Femicídio: Idade do agressor

24-35 anos

36-50 anos

51-64 anos

Mais de 65 anos

ni

77%

18% 5%

Tentativas de Femicídio: Situação Profissional do Agressor

SemInformação

Empregado

Desempregado

Page 23: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

23

TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: MÊS DE OCORRÊNCIA

Quanto aos meses em que se verifica um maior número de notícias relativas ao crime

de femicídio na forma tentada, verificamos que foram reportadas 6 tentativas no mês

de Fevereiro, 5 nos meses de Junho e Dezembro. Os meses de Julho e Outubro,

registaram, cada um, 4 tentativas. Os meses de Janeiro e Novembro registaram, uma

tentativa de femicídio, cada.

Assim sendo e partindo-se da análise estatística dos dados aferidos através da

imprensa escrita, o OMA regista uma média de 3 (3,25) tentativas de femicídio por

mês em Portugal.

TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:

MÊS DE OCORRÊNCIA AO LONGO DOS ANOS 2004-2015

Tal como nos anteriores propomo-nos mais uma vez a fazer uma análise comparativa

da distribuição dos crimes de femícidio na forma tentada pelos meses ao longo dos

diferentes anos.

Da análise comparativa por anos, podemos verificar que o mês de Setembro continua a

ser aquele que revela maior taxa de incidência deste tipo de crime (n=62; 12%).

1

6

2 2

3

5 4

3 3

4

1

5

Tentativas de Femicídio: Mês de Ocorrência

Page 24: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

24

No total, podemos observar que, desde o início deste Observatório, i.e., entre os anos

2004 e 2015, 503 mulheres foram alvo desta forma extremada de violência. Ainda que

os actos não tenham sido fatais, a severidade registada nestas agressões permite-nos

antecipar as sequelas a nível psíquico e físico que poderão perpetuar-se por toda a sua

vida e bem como a de todos/as aqueles/as que com elas vivem ou viveram na altura

da perpetração do crime.

MÊS

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

TOTAL MÊS

Janeiro 1 3 1 4 2 4 1 2 4 3 5 1 31

Fevereiro 1 1 0 11 4 1 2 1 2 4 3 6 36

Março 1 4 0 3 4 5 5 2 4 5 6 2 41

Abril 1 2 1 3 4 4 4 3 1 3 5 2 33

Maio 0 4 2 9 8 0 4 10 3 5 4 3 52

Junho 0 4 1 1 2 3 2 1 5 2 7 5 33

Julho 3 5 6 6 2 3 5 2 9 3 3 4 51

Agosto 1 1 7 5 5 4 6 6 8 2 4 3 52

Setembro 7 11 9 5 3 2 4 5 8 2 3 3 62

Outubro 5 5 9 6 2 0 1 5 4 3 5 4 49

Novembro 2 3 6 3

0 1 4

2

1

1

4

1 28

Dezembro 4 1 4 3 4 1 1 5 4 3 0 5 35

TOTAL ANO 26 44 46 59 40 28 39

44

53

36

49

39 503

Page 25: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

25

TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: DISTRITO

Relativamente aos distritos de ocorrência das tentativas de femicídio, destacamos

negativamente o distrito de Lisboa (n=14), seguido do distrito de Setúbal (5) e, com 4

registos cada, os distritos de Porto e Faro. Aveiro e Braga são distritos que registam 3

tentativas, Coimbra e Leiria 2, sendo que com 1 registo são identificados os distritos de

Beja e Guarda.

0 3

1 3

0 0 2

0

4 1 2

14

0 0

4

0

5

0 0 0

39 Tentativas de Femicídio

por Distritos

Page 26: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

26

TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:

DISTRITOS AO LONGO DOS ANOS 2004-2015

Tendo por base a análise da tabela acima identificada, podemos inferir que os distritos

com maior taxa de incidência de tentativas de femicídio continuam a ser Lisboa e

Porto, com um total de 183 dos 503 crimes praticados e noticiados (106 e 77

respectivamente).

DISTRITO

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015 TOTAL

DISTRITO

Desconhecido 18 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 20

Aveiro 0 5 8 11 4 2 4 1 2 3 4 3 47

Beja 0 1 0 0 1 0 0 1 0 1 1 1 6

Braga 0 2 4 5 1 4 4 2 2 1 4 3 32

Bragança 0 1 2 0 0 0 0 3 1 1 3 0 11

Castelo Branco

0 1 0 1 1 0 1 1 1 1 1 0

8

Coimbra 0 2 0 2 3 3 2 0 1 2 2 2 19

Évora 0 0 0 0 0 0 1 0 2 0 1 0 4

Faro 0 1 2 2 3 1 2 1 1 2 5 4 24

Guarda 1 0 1 0 0 1 1 1 2 1 1 1 10

Leiria 0 0 2 3 6 1 1 5 1 2 1 2 24

Lisboa 3 4 8 16 7 5 9 9 12 11 8 14 106

Portalegre 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 2

Porto 1 13 6 7 8 3 5 9 9 5 7 4 77

Santarém 1 1 1 3 2 1 0 4 3 2 2 0 20

Setúbal 1 3 0 1 2 2 4 5 12 2 2 5 39

Vila Real 0 2 3 0 0 0 0 0 1 1 2 0 9

Viana 0 2 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 3

Viseu 1 5 5 4 0 4 1 0 1 1 5 0 27

Madeira 0 1 1 2 0 0 0 1 2 0 0 0 7

Açores 0 0 1 1 2 0 4 0 0 0 0 0 8

TOTAL ANO 26 44 46 59 40 28 39 44 53 36 49 39 503

Page 27: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

27

Fazendo-se agora uma análise mais específica relativa aos concelhos verificamos que

Amadora e Lisboa foram os concelhos em que se registou maior múmero de

mulheres vítimas de tentativa de femicidío, com 4 e 3 tentativas respectivamente.

TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: SUPOSTA JUSTIFICAÇÃO/MOTIVAÇÃO

No que concerne aos motivos que estiveram subjacentes à prática do crime de

femicídio na forma tentada, verificamos que, tal como nos anos anteriores, a maioria

das tentativas é identificada como decorrente de um contexto de violência doméstica,

estando presente em 61% das situações reportadas (n=24). Salientamos ainda que 31%

(n=12) dos crimes ocorreu na sequência da vítima ter terminado, tentado terminar ou

ter manifestado intenção em romper com a relação, decisão não aceite pelo agressor.

Em 5% das situações reportadas (n=2), foram ainda elencados os ciúmes e a atitude de

possessão como estando na base para o cometimento do crime. Numa das situações

registadas não foi possível recolher informação quanto a este item.

Ali

Am

ado

ra

An

siã

o

Bat

alh

a

Bar

reir

o

Bra

ga

Ca

bec

eira

s d

e B

asto

s

Ca

sca

is

Cu

ba

Far

o

Gu

ima

rães

Ílh

avo

Lei

ria

Lis

bo

a

Lo

ure

s

Maf

ra

Mir

a

Mo

ita

Olh

ão

Pen

afie

l

Po

rtim

ão

Po

rto

Qu

arte

ira

S.M

. Fei

ra

Sei

a

Sei

xal

Ses

imb

ra

Sin

tra

V.N

. G

aia

Val

on

go

TO

TA

L

1 4

1 1 2 1 1 2 1 1 1 1 1 3 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1 1

39

Tentativa de Femicídio: Concelhos

Page 28: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

28

Se, ao contexto de violência doméstica identificado no reporte da notícia juntarmos o

não aceitar a separação, os ciúmes e a atitude possessiva, vistos estes como

manifestações de violência concluiremos que a quase totalidade das tentativas

registadas se enquadram no âmbito do fenómeno da violência doméstica.

TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: ARMA DO CRIME/MEIO EMPREGUE

Tal como verificado em anos anteriores, as armas de fogo e brancas continuam a ser os

meios mais empregues/utilizados para a consumação da prática do femicídio na forma

tentada, respectivamente com 36% e 31% a que correspondem ambas, a 26 das 39

tentativas registadas. A tentativa de imolação e a asfixia, com 4 registos cada foram

utilizadas em 20% das situações. Duas das vítimas foram ainda alvo de tentativa de

femicídio por arremesso de janela e de ravina, tendo o OMA adoptado a designação de

“Queda” e outras duas por espancamento. A tentativa de femicídio pela utilização de

ácido foi noticiada numa das situações registadas pelo OMA.

Atitude de possessão

2%

Ciúmes 3%

Contexto VD 61%

Não aceita a separação

31%

Sem informação 3%

Tentativas de Femicídio: Suposta Justificação /Motivação

ARMA DO CRIME/MEIO EMPREGUE

Queda 2

Arma de Fogo 14

Arma Branca 12

Fogo 4

Asfixia 4

Espancamento 2

Ácido 1

Total 39

Page 29: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

29

História de Violência na

Relação

TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: HISTÓRIA DE VIOLÊNCIA NA RELAÇÃO

Dos dados aferidos foi possível identificar que em 59% (n=23) dos crimes de tentativa

de femicídio noticiados foi reportada história de violência doméstica na relação,

sendo omissa esta informação em 36% das situações analisadas.

Estes dados vêm mais uma vez corroborar a ideia de que os crimes de femicídio,

consumado ou tentado, surgem na maioria das vezes como resultantes de uma

escalada da violência perpetrada numa relação de intimidade ou no seio familiar.

Em apenas 5% das situações analisadas (n=2) foi mencionado não se conhecerem

episódios de violência anterior.

TENTATIVA DE FEMICÍDIO: DENÚNCIAS/PROCESSOS EM CURSO

Pretende-se neste item buscar informação relativa à existência ou inexistência prévia de

denúncias ou processos em curso pelo crime de violência doméstica.

Notamos porém que, no que se refere ao femicídio na forma tentada, a maioria das

notícias não disponibiliza essa informação. Verificamos assim que, em 26 das 39

tentativas de femicídio noticiadas não havia informação relativa à participação

criminal do crime violência doméstica junto das entidades judiciais.

Sim

59%

Page 30: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

30

Das situações em que foi feita menção à existência prévia de denúncias por violência

doméstica (total de 13 situações), 8 foram referenciadas por terem denunciado por

várias vezes uma dinâmica relacional violenta junto das entidades judiciais.

Num dos crimes, o autor encontrava-se a cumprir pena por crime praticado contra a

vítima e em três situações verificou-se a existência de processo ainda em curso, sendo

que num deles tinham sido aplicadas medidas de coacção ao arguido.

TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: LOCAL DO CRIME

A residência, tal como registado nos femicídios, continua a surgir como o local onde a

maioria dos crimes é praticada (64%, a que correspondem 25 situações).

Salienta-se ainda que 26% (n=10) dos crimes de tentativa de femicídio foram cometidos

na via pública, 5% no local de trabalho da vítima (n=2) e 2% ocorreu num local isolado

(n=1).

Quanto a este item, não foi possível obter informação numa das situações noticiadas.

Cumprirpena

Denunciaanterior

Processopor VD em

curso c/medida de

coaçãoaplicada

Seminformação

Váriasdenúncias

Processopor VD em

curso

1 1 2

26

8

1

Tentativa de Femicídio: denúncias/processos em curso

Page 31: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

31

TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: MEDIDAS DE COAÇÃO APLICADAS

Relativamente a este item mencionamos o facto de não ser possível pelo relato

jornalístico perceber qual a medida de coacção aplicada em 18 das tentativas de

femicídio. Em 14 das 39 tentativas de femicídio registadas foi possível apurar que a

medida de coacção aplicada foi a de prisão preventiva e que em três situações a

medida foi de imposição de conduta sob a forma de afastamento e/ou proibição de

contacto com a vítima. Um agressor viu ainda ser-lhe aplicada a medida de prisão

domiciliária. Numa das situações, a medida aplicada foi de internamento hospitalar e

em duas das situações assinaladas como “não se aplica” (nsa), são respeitantes a dois

agressores que após terem atentado contra as vidas da ex-mulher e ex-namorada,

respectivamente, acabaram por consumar o suicídio.

64%

26%

5% 2% 3%

Tentativas de Femicídio: Local do Crime Residência

Via pública

Local deTrabalhoLocal Isolado

SemInformação

M.afastamentoou proibiçãode contacto

Prisãodomiciliária

Prisãopreventiva

InternamentoHospitalar

nsa Desconhecida

3 1

14

1 2

18

Tentativas de Femicidio: Medidas de Coacção Aplicadas

Page 32: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

32

III. – OMA - FEMICÍDIOS E TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:

CARACTERIZAÇÃO DAS/OS FILHAS/OS

01 de Janeiro a 31 de Dezembro de 2015

Análise comparativa dos anos 2012 a 2014

No seguimento de anos anteriores, o OMA apresenta os dados relativos às/aos

filhas/os das vítimas de femicidio tentado e consumado.

Desta forma analisará os dados relativos aos anos 2012, 2013, 2014 e 2015

compreendendo as seguintes variáveis:

1. Número de filhos/as

2. Idades dos/as filhos/as

3. Filhos/as que assistiram ao cometimento do crime

4. E ainda aqueles que foram alvo de agressões físicas directas.

OMA - Ano 2015

Idade dos/as filhos/as

No ano civil 2015 o OMA contabilizou um total de 73 filhos/as das vítimas de

femicídio consumado (46 filhos/as) e na forma tentada (27 filhos/as).

Deste número (73 filhos/as) aferido das notícias registadas pelo OMA, concluímos que,

24 eram filhos da vítima, 41 eram filhos comuns (da vítima e do homicida/agressor) e,

8 dos filhos/as eram-no somente do homicida/agressor.

Destacamos ainda que 16 destes filhos/as assistiram ao cometimento do crime

praticado. Salientamos que foi ainda possível identificar dois outros filhos, um de 23

anos e um de 5 anos que foram assassinados: o primeiro pelo padrasto e o segundo

pelo pai.

Seguidamente apresentaremos os escalões etários referentes aos filhos/as sendo que

surge igualmente uma categoria de “não especificados”, situações em que a notícia

Page 33: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

33

identifica o número preciso de filhos/as mas não identifica as suas idades, e uma

outras em que sendo referido na notícia a existência de “filhos” não são identificados o

seu número (contabilizando-se aqui 2 filhos/as).

Análise comparativa dos anos 2012 a 2014

Apresentamos de seguida informação respeitante, dentro dos dados passíveis de

recolha e relativos aos anos de 2012 a 2014.

Assim e no que se refere ao ano 2012 verificamos a existência de 81 filhos/as das

vítimas dos crimes cometido contra as mulheres, sendo que 37, são filhos de mulheres

assassinadas.

Destes 81 filhos/as, 73 eram filhos/as comuns da vítima e do agressor e 8 eram

filhos/as somente da vítima, fruto de anterior relação.

Salientamos ainda que 27 destes filhos/as presenciaram a prática dos crimes que

contra as suas mães foram perpetrados, sendo que destes 3 foram também eles/as

agredidos directamente pelo agressor, acabando um deles também por morrer.

No gráfico infra apresentamos a sua distribuição por faixa etária, de acordo com os

dados publicados nas notícias recolhidas.

0 2 1 1 3 3

29

7

0

46

1 2 4 0 0 1

6 11

2

27

Ano 2015 Femicidios e Tentativas de Femicídio:

Idades das/os Filhas/os

Femicídios Tentativas de Femicídio

Page 34: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

34

Ano 2013

No que concerne aos filhos/as registados no ano de 2013, contabilizamos um total de

65 filhos/as (39 nos femicídios e 26 nas tentativas de femicídio).

Dos 65 filhos/as aqui contabilizados/as, verificamos que 48 eram filhos do casal e 17

eram filhos/as das vítimas, fruto de anterior relação. 11 destes/as estavam presentes

no momento em que o crime foi praticado sendo que 3 deles viriam a ser também

agredidos directamente.

Tal como nos anos anteriormente descritos, somos a apresentar gráfico infra contendo

informação relativa à sua distribuição por classes etárias.

5 0

3 1 2 1 7

18

0

37

3 2 3 1 2 0 6

27

0

44

Ano 2012 Femicidio e Tentativas de Femicidio:

Idade das/os Filhas/os

Femicídios Tentativas de Femicídio

2 0 2 0 1 3

26

4 1

39

0 1 1 1 3 1 8 11

0

26

Ano 2013 Femicidios e Tentativas de Femicidio

Idade das/os Filhas/os

Femicídios Tentativas de Femicídio

Page 35: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

35

Ano 2014

No ano civil 2014 o OMA contabilizou um total 86 filhos/as das vítimas de femicídio

quer sejam na forma consumada, quer sejam na sua forma tentada.

Registamos igualmente que dos 86 filhos/as (49 nos femicídios e 37 nas tentativas de

femicídio), 67 eram filhos/as comuns do agressor e da vítima e, 19 eram filhos da

vítima e fruto de anteriores relações.

Destacamos ainda que 24 destes filhos/as assistiram ao cometimento do crime

praticado contra as suas mães, sendo que 11 (onze) filhos/as foram também vítimas de

agressões físicas directas (um deles mortal) – vítimas associadas.

Apresentamos de seguida, a sua distribuição por faixa etária.

Concluímos assim que desde 2012 o OMA já contabilizou um total de 305 filhos/as,

sendo que destes 163 ficaram órfãos (maiores e menores de idade).

2 5

3 1

4 5

27

2 0

49

0 1

5 2 2 2

8

16

1

37

Ano: 2014 Femicídios e Tentativas de Femicídio:

Idade das/os Filhas/os

Femicídios Tentativas de Femicídio

Page 36: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

36

III - OMA – FEMICÍDIOS E TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:

INFORMAÇÃO DAS VÍTIMAS ASSOCIADAS

01 de Janeiro a 31 de Dezembro de 2015

O OMA procura ainda aferir se, na decorrência dos crimes praticados e anteriormente

analisados, existiram ainda outras vítimas, mortais ou atingidas. A estas designa por

vítimas diretas, mortais e não mortais.

Aos indivíduos que presenciaram o crime mas que não sofreram consequências físicas

do mesmo, o OMA designa-os por vítimas indiretas.

Passaremos assim a apresentar a caracterização das vítimas associadas, tendo por base

as informações que a este respeito foram possíveis recolher das notícias do crime de

femicídio consumado e também na sua forma tentada.

De salientar ainda que das 10 vítimas associadas diretas, 4 acabaram por morrer (4

vítimas associadas mortais nos femicídios).

Directas Indirectas Sub-total

5

35

40

5

26

31

Femicídios Consumados e Tentados: Vítimas Associadas

Femicídio

Tentativa Femicídio

Page 37: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

37

FEMICÍDIOS E TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:

RELAÇÃO DAS VÍTIMAS ASSOCIADAS COM O AUTOR DO CRIME

Da análise da informação recolhida no que respeita à relação existente entre as vítimas

associadas de femicídio e de femicídio na forma tentada e os autores dos crimes,

verificamos que 59% são “Outros”, pessoas que assistiram ao cometimento do crime e

que não têm relação de parentesco com o autor do crime, designadamente: amigos/as,

vizinhos, companheiros actuais das mulheres que foram assassinadas, agentes

policiais, transeuntes. 24% das vítimas associadas era descendente directo em 1.º grau

do autor do crime, a que corresponde um total de 17 filhas/os, 7% era “outro

familiar” do homicida/agressor (incluem-se sogro, cunhados e sobrinhos), perfazendo

um total de 5 vitimas identificadas e 6% era ascendente directo do autor do crime

(total de 4 vítimas).

6%

24%

3%

1% 7%

59%

Relação das vítimas associadas com o homicida/agressor

Ascendente Directo 1.º Grau Descendente Directo 1º Grau

Descendente Directo 2º Grau Relação de intimidade

Outros Familiares Outros

Page 38: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

38

FEMICÍDIO E TENTATIVAS DE FEMICÍDIO:

VÍTIMAS ASSOCIADAS AO LONGO DOS ANOS 2004 A 2015

Partindo-se da análise dos dados relativos às vítimas associadas contabilizadas nos

anos 2004 a 2015, verificamos que o OMA contabilizou um total de 406 vítimas

associadas - directas e indirectas de femicídio e/ou tentativa de femicídio.

2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 sub-total Total

40

15 10 16 13 25

5 6 3 4 7 10

154

406

31 25 11

29

49

24 6

21 19 7

27

3

252

Femicídios Consumados e Tentados: Vítimas Associadas 2004 a 2015

Femicídios Tentativas de Femicídio

Page 39: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

39

V- OMA – ACÓRDÃOS DE HOMICÍDIOS

DECISÕES JUDICIAIS EM 2015:

DOS FEMICÍDIOS OCORRIDOS E NOTICIADOS NA IMPRENSA DURANTE

O ANO DE 2015

(Decisões judiciais dos Tribunais de primeira instância)

Dando seguimento à análise de notícias relativas a decisões judiciais pelo crime de

homicídio, levantamento iniciado em 2010, o Observatório das Mulheres

Assassinadas registou, em 2015, notícias de 11 acórdãos relativos a 21 dos femicídios

registados pelo OMA no ano de 2014 e passíveis de decisão judicial. Contabilizamos

aqui somente 21 femicídios e não os 36, uma vez que, em 15 dos femicídios ocorridos

em 2013 não é devida qualquer decisão judicial, por se tratar de femicídios seguidos de

suicídio.

ACORDÃOS:

FEMICÍDIOS REGISTADOS PELO OMA EM 2014 COM DECISÃO EM 2015

MÊS/DECURSO DO TEMPO

Verificamos que, relativamente aos femicídios listados pelo OMA em 2014, foram

registadas em 2015, notícias sobre decisões judiciais de primeira instância referentes a

14 dos femicídios.

De salientar que, dos 43 femicídios listados pelo OMA em 2014, nove dos homicidas

cometeram suicídio, não sendo devida decisão judicial nestas situações. Assim, dos

femicídios cometidos e passíveis de julgamento, 34, foram identificados 13 acórdãos

envolvendo 14 femicídios uma vez que o mesmo indivíduo assassinou 2 das mulheres

identificadas no OMA.

O objecto da nossa análise será pois de um total de 13 acórdãos, relativos a 14

femicídios ocorridos no ano de 2014.

Page 40: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

40

No que concerne ao tempo de permeio entre a ocorrência do crime e o acórdão a ele

respeitante verificamos que o tempo médio foi superior a 11 meses (11,77),

observando-se um decréscimo não significativo, se comparando com o ano anterior

cujo intervalo entre a prática do crime e a decisão condenatória foi havia sido de meses:

11,81.

ACÓRDÃOS TRIBUNAIS DE 1.ª INSTÂNCIA:

PENA APLICADA E INDEMMNIZAÇÕES FIXADAS

Relativamente à pena aplicada e do levantamento efetuado pelo OMA, apresenta-se de

seguida tabela na qual se identifica: a tipologia do crime, a condenação e a pena que o

Tribunal decretou para cada um dos crimes.

Decurso de tempo entre a prática do Crime e a decisão de 1.ª instância

Mês do Crime Mês da decisão a ele relativa Do crime à decisão em 1.ª instância

Janeiro 2014 Março 2015 14 meses

Fevereiro 2014 Março 2015 13 meses

Março 2014 Abril 2015 13 meses

Março 2014 Abril 2015 13 meses

Abril 2014 Julho 2015 15 meses

Maio 2014 Maio 2015 11 meses

Maio 2014 Junho 2015 13 meses

Maio 2014 Janeiro 2015 8 meses

Junho 2014 Março 2015 9 meses

Julho 2014 Julho 2015 12 meses

Agosto 2014 Julho 2015 11 meses

Setembro 2014 Julho 2015 10 meses

Outubro 2014 Setembro 2015 11 meses

Tempo médio:

11 meses (11,77)

Page 41: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

41

Tipologia da Agressão Tribunal Condenado por: Pena aplicada em 1ª

instância

Indemnização

fixada

Homicídio praticado em 2014 e cujo acórdão condenatório foi noticiado em 2015

Morte por Espancamento Seixal Homicídio 16 anos de prisão ni

Morte a Tiro Seixal Homicídio 19 anos de prisão ni

Morte por Esfaqueamento Vila Real Homicídio

qualificado e

homicídio tentado

20 anos de prisão 340 mil euros

Morte por Esfaqueamento Sintra Homicídio

qualificado

20 anos de prisão 120 mil euros

2 Morte a Tiro Viseu 4 Homicídios

qualificado, sendo

que destes, 2 foram

na forma tentada, 1

crime de detenção

de arma proibida e

1 de violação de

proibições ou

interdições

25 anos de prisão 362 mil euros

Morte por Espancamento Gondomar Violência

doméstica

agravado pelo

resultado

4 anos, suspensos na

sua execução e sujeito a

apresentações e a

desintoxicação alcoólica

ni

Morte Espancamento Évora Homicídio

qualificado e

violação

25 anos de prisão 20 mil euros

Morte por Esfaqueamento Lisboa Homicídio

qualificado e

violência doméstica

21 anos de prisão e

expulsão do país

80 mil euros

Morte por Asfixia Santarém Homicídio 16 anos de prisão ni

Morte à Machadada Vila Real Homicídio

Qualificado e

Violência

doméstica

25 anos de prisão ni

Morte por Esfaqueamento Penafiel Homicídio 14 anos e 6 meses de

prisão

ni

Morte a Tiro Vila Real Homicídio 18 anos de prisão 240 mil euros

Morte a Tiro Leiria Homicídio

qualificado e

Violência

doméstica

23 anos de prisão ni

Page 42: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

42

De notar que o OMA, no respeito pela informação constante da fonte que lhe serve de

base, referirá o tipo de crime e condenação que nela consta. Por tal facto poderá não

existir coincidência exacta entre esta e a qualificação jurídico-penal e condenação

constante do acórdão condenatório, designadamente quanto à qualificação.

Da análise concluímos que:

As penas aplicadas oscilaram entre os 4 e os 25 anos de pena de prisão.

A pena menos gravosa foi de 4 anos pelo crime de violência doméstica agravada (com

dano morte), aplicada pelo Tribunal da Gondomar. (Morte da mulher por espancamento).

Relativamente às penas mais elevadas foram de 25 anos de prisão, aplicada pelo

Tribunal de Viseu (quádruplo homicídio qualificado, 2 consumados e 2 na forma

tentada, 1 crime de detenção de arma proibida e 1 de violação de proibições ou

interdições – Morte de duas familiares, e tentativa à mulher e filha, a tiro). Pena de prisão de

25 anos foi ainda aplicada pelo Tribunal de Évora pelo crime de homicídio qualificado

e violação (morte da namorada por espancamento) e ainda, o Tribunal de Vila Real por

homicídio qualificado e violência doméstica (morte da companheira à machadada).

Porém, se atentarmos somente à condenação pela prática de um (1) crime de homicídio

consumado, concluímos que a condenação mais elevada foi decidida pelo Tribunal de

Sintra (Morte da ex-companheira, por esfaqueamento), com uma pena de 20 anos de prisão

e indemnização de 120 mil euros.

No que concerne às indemnizações fixadas verificamos a não referência de decisão

indemnizatória em 7 situações. Porém, da informação recolhida e passível de análise

quanto à fixação e indemnização e o seu montante, temos que:

- a indemnização mais baixa foi decidida pelo Tribunal de Évora que fixou

indemnização de 20 mil euros (morte da namorada por espancamento – homicídio qualificado

e violação) e que a mais elevada foi do montante de euros: 362 mil euros, fixada pelo

Tribunal de Viseu (Morte de duas familiares e tentativa à mulher e filha, a tiro - quádruplo

homicídio qualificado, 2 consumados e 2 na forma tentada).

Page 43: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

43

Estão assim concluídos 14 processos, dos 34 femicídios ocorridos em 2014 e passíveis

de decisão judicial (dado que 9 dos homicidas se suicidaram). O OMA não registou

qualquer informação referente aos demais 20 femicídios registados em 2014.

HOMICÍDIOS/FEMICÍDIOS NAS RELAÇÕES HOMOSSEXUAIS:

GAYS E LÉSBICAS

Também em 2015, o OMA não identificou qualquer notícia respeitante a crime de

homicídio consumado ou na forma tentada.

SÍNTESE DE RESULTADOS - OMA 2015:

SÍNTESE Nº VÍTIMAS

Femicídios 29

Tentativas de Femicídio 39

Homicídio Rel. Homossexuais 0

Tentativas Hom. Rel. Homossexuais 0

Vítimas Associadas 71

(4 delas mortais)

Filhos/as (maiores e menores) 73

Page 44: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

44

- CONCLUSÕES -

FACE AOS DADOS REGISTADOS E ANALISADOS PELO OMA

O OMA contabilizou entre 1 de Janeiro e 31 de Dezembro de 2015 um total de 29

mulheres assassinadas e 39 mulheres vítimas de tentativa de femicídio.

- Dos femicídios -

Da análise efectuada conclui-se que em 2015:

Foram assassinadas 2,4 mulheres a cada mês;

87% das mulheres assassinadas foram-no pelas mãos daqueles com quem

mantinham ou tinham mantido relação de intimidade;

Destas, 35% (n=10) já se encontrava separada do homicida;

A maioria das mulheres foi assassinada nas suas residências (62%);

Por arma de fogo (52%);

Em 76% a motivação ou justificação para a prática o crime foi identificada

como: contexto de violência doméstica, não aceita separação, ciúmes, atitude

possessiva;

Em 66% das situações era conhecida vivência em relação abusiva;

Em 31%, essa violência era do conhecimento de entidades oficiais;

A maioria das mulheres assassinadas tinha idade superior a 36 anos e estava

inserida em mercado de trabalho (41%), ou em situação de reforma (17%);

Os distritos de Lisboa, Porto e Setúbal foram aqueles que registaram mais

femicídios; e que nestes sobressaem os concelhos de Sintra, Póvoa do Varzim e

Valongo e o concelho do Seixal.

- Das tentativas de femicídio –

Concluímos para o ano 2015 que:

Em média, 3,25 mulheres foram vítimas de tentativa de femicídio;

85% dos autores eram indivíduos com quem as mulheres mantinham ou

tinham mantido relações de intimidade;

19 (49%) das mulheres já se haviam separado do agressor.

64% das tentativas ocorreram nas residências das vítimas;

Page 45: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

45

A arma mais empregue no cometimento do crime foi a arma de fogo (36%) e a

arma branca (31%);

A justificação/motivação avançada para a prática do crime foram: contextos de

violência doméstica, ciúmes, não aceitar a separação e a atitude possessiva em

97%;

Em 59% das situações era conhecida situação de violência na relação;

Em 33% (n=13) essa violência era do conhecimento de entidades oficiais;

54% das vítimas de tentativa de femicídio tinham entre 24 e 50 anos de idade;

Os distritos com maior ocorrência foram os de Lisboa, Setúbal, Porto e Faro e os

concelhos com maior número de registos foram os da Amadora e Lisboa.

Como conclusões mais gerais diremos que:

É de notar que em 2015 regista-se um menor número de femicídios consumados

e tentados, se comparado com período homólogo de 2014;

Não obstante, da análise temporal a 11 anos, não podemos afirmar que o

femicídio está em tendência decrescente. Concluímos sim que temos registado

ciclos e contraciclos na incidência do femicídio consumado e tentado, mas não

uma tendência nem de aumento, nem de diminuição, o mesmo não

acontecendo com o homicídio em geral, cuja tendência verificada é de

diminuição;

Tentando compreender os factores que estão na base do cometimento desta

tipologia de crimes e que sendo certamente multifactoriais, não podemos deixar

de fazer uma ligação entre o femicídio tentado e consumado com a violência

doméstica e as discriminações de género, dada a existência de indicadores que

convergem nesse sentido;

Não raramente ouvimos afirmações de que as mulheres permanecem em

relações abusivas que as desprotegem. Não questionando que uma relação

abusiva configura uma situação de insegurança e risco para as mulheres, os

dados analisados mostram que a separação não é, de per si, factor excludente

de insegurança e risco para as mulheres. De facto, do total de 68 mulheres

registadas em 2015, 29 já não residiam com o homicida/agressor.

Há pois que aliar estratégias de protecção das vítimas e de repressão dos

agressores que, aliadas à separação, se traduzam no aumento da segurança das

Page 46: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

46

vítimas e respondam eficazmente às suas necessidades de proteção e apoio,

assim como aos objectivos gerais e específicos de prevenção visados pelas

normas jurídicas. Assim, a formação de profissionais de forma contínua, um

trabalho de real cooperação interinstitucional, a avaliação e gestão do risco,

avaliação e monitorização das práticas e seu impacto são essenciais.

Respostas diversificadas de apoio às vítimas, próximas e eficazes,

acompanhadas de uma justiça mais célere que avalie resultados e monitorize o

cumprimento das decisões são determinantes na segurança e protecção exigida

às situações de violência doméstica.

Tudo, aliado a estratégias de prevenção primária poderão conduzir a uma

diminuição dos femicídios consumados e tentados registados em Portugal. Há

que apostar e investir preventivamente. Por um lado, de forma mais estrutural

e ao nível dos curricula e por outro, apoiando as mulheres nos seus processos

emancipatórios, sendo que não só a avaliação, mas a gestão do risco deve ser

instrumento utilizado em contínuo, aliando a esta, as estratégias

legais/judiciais de impedir a manutenção da actividade criminosa por parte

dos agressores;

Determo-nos igualmente sobre os sinais que estamos a dar às crianças de hoje,

adultos no devir. Olhar a prevenção primária como ferramenta útil e necessária

na alteração ainda por conseguir: uma sociedade que vive a igualdade de

género não só como premissa legal mas como pertença e no fazer o quotidiano

de homens e mulheres, de rapazes raparigas, meninos e meninas;

Temos de valorar as situações de violência doméstica de que temos

conhecimento. Em muitas das situações noticiadas há alguém que sabia, que

tinha ouvido relatos, que … . Não obstante, não ocorreu qualquer intervenção

no sentido de uma minimização do risco e do evitamento do crime. Há que

encarar a violência doméstica tal como ela é: uma realidade diária, inserida na

criminalidade violenta e que destrói a vida das vítimas, dos seus familiares e de

cada um/a de nós, afectando assim, toda a vida em sociedade;

Temos que reflectir, não para nela nos quedarmos, mas para que questionemos

como poderia ter sido evitado e se o poderia, bem como pensarmos estratégias

de coping capazes do evitamento de novas situações. Pensar e estudar os

motivos pelos quais, entre as duas tipologias de crime, num total para 2015 de

68, e com denúncias apresentadas em 26 delas, poderia o sistema de apoio,

Page 47: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

47

protecção e repressão ter agido de forma a evitar algum destes femicídios ou

tentativa dos mesmos.

Esperamos que a análise retrospectiva dos homicídios em violência doméstica

previstos na lei e ainda sem eficácia prática possa rapidamente ser

implementada dando respostas a algumas destas questões;

Desde 2012 o OMA identificou um total de 305 filhos/as, maiores e menores,

que se viram confrontados com situações de violência, violência extrema e

muitos deles órfãos. Será pois necessário perceber o que acontece e como

podemos apoiar e minimizar o impacto que a violência e a perda teve e terá ao

longo das suas vidas.

Pelo exposto e como conclusão, reforçamos o que já vimos afirmando:

Que o femicídio deve também ser contextualizado nas questões e discussões em

torno da violência doméstica e das políticas públicas em matéria de violência

doméstica e de género, da igualdade de género e também, especificamente, das

medidas policiais e judiciais, instrumentos de avaliação e gestão do risco e

avaliação da sua eficácia, protocolos de intervenção, aplicação de medidas de

coacção ao agressor e de protecção à vítima, recursos e meios em cooperação e

articulação especializada, adequada, célere e eficaz entre os diversos

operadores, investimento na autonomização sustentada e continuada às vítimas

de violência doméstica, avaliação da intervenção efectuada e recomendações de

melhoria, prevenção primária.

Verificamos que a maioria das situações registados pelo OMA surgem como o

culminar de uma escalada de violência perpetrada no seio de uma relação de

intimidade. Nesta salienta-se uma vivência relacional assente numa lógica de

poder e controlo estrutural que mantém as mulheres cativas em relações que as

vitimizam.

Constatamos igualmente atitudes de posse e propriedade dos homens

(homicidas/agressores) sobre as mulheres, reagindo violenta e fatalmente

contra elas quando estas decidem pôr termo à relação, ou ainda aqueles que se

acham omnipotentes face às suas companheiras ou mulheres e que sentem,

poderem decidir sobre a continuação da existência delas, decidindo pôr termo

às suas vidas, poupando-as a sofrimento e solidão que pensam ser insuportável

para as mesmas.

Page 48: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

48

Que a morte destas mulheres é pois manifestamente, resultado da desigualdade

entre homens e mulheres, assente numa sociedade patriarcal e machista que

continua a manter e legitimar a discriminação de género e a desigualdade entre

mulheres e homens;

Que tendo em conta os dados do OMA e a relação entre os autores do crime

com as vítimas, ressalta a preocupação em torno das demais vítimas,

designadamente as/os filhas/os e, entre estas/es, as/os especialmente

vulneráveis pela determinante idade. A perda da figura materna, ainda mais

quando causada por outra figura de referência, tem um impacto muito

significativo, podendo comprometer o desenvolvimento da criança/jovem.

Neste sentido, mais do que genericamente saber como o sistema de protecção e

promoção dos direitos das crianças e jovens está estruturado em termos de

respostas, é verificar da eficácia da sua acção e da existência de respostas

efectivas e duradouras, que possibilitem o desenvolvimento de recursos

internos para lidar com a(s) perda(s) acontecidas e promovam factores de

protecção com vista à sua resiliência.

Page 49: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

49

OMA - LISTAGEM 2015

O OMA registou em 2015 um total de 29 femicídios, dos quais 25 em relações de intimidade

presentes ou passadas e 4 em contexto de relações próximas.

Mês

Nome da Vítima

Idade

Relação c/ homicida

Data de

Ocorrência

Local da

prática do Crime

Área geográfica

Arma do crime/Meio empregue

Janeiro Mª Cremilde Pinheiro 52

Marido

22/01/2015 Residência Setúbal

Arma branca

Janeiro Judite Fernandes 84

Marido

19/01/2015 Residência Mem Martins-

Sintra

Asfixia

Janeiro Isabel Figueiredo 60

Marido

24/01/2015 Via Pública Lamego

Arma fogo

Janeiro Mª Leonor Sousa 67

Marido

29/01/2015 Residência Mancelos-Amarante

Arma branca

Fevereiro Conceição Tavares 40

Amante

25/02/2015 Via Pública Cruz de Pau -

Seixal

Agressão com

Objecto

Março Vânia Bráz 29

Marido 03/03/2015 Residência

Sta. Marta do Pinhal – Seixal

Arma branca

Março Maria Luísa Louro 77

Marido 08/03/2015 Residência Coimbra

Arma fogo

Março Maria Alice Corgas 76

Marido 02/03/2015 Residência Granja

Arma de fogo

Março Mª Cândida Rodrigues 62

Outro

Familiar

10/03/2015 Residência Faro

Arma de fogo

Abril Joana Nogueira 23

Outro

15/04/2015 Local de Trabalho Alijó - Aveiro

Arma de fogo

Abril Deolinda Maranhão 66

Marido

17/04/2015 Residência Matosinhos

Arma de fogo

Abril Sílvia Lima 42

Ex-Marido

28/04/2015 Local de Trabalho

Póvoa do Varzim – Porto

Arma de fogo

Abril Fátima Lima 70

Desc. Directo

(afinidade)

28/04/2015

Local de Trabalho/resi

dência? Póvoa do Varzim

– Porto

Arma de fogo

Maio Ângela Faria 31

Ex-marido

28/05/2015 Local de trabalho Faro

Arma de fogo

Junho Mª de Lurdes Silva 78

Marido

06/06/2015 Residência Oeiras – Lisboa

Arma de fogo

Junho Céu Brites ?

Marido

19/06/2015 Local isolado Martinela – Leiria

Estrangulamento

Junho Mª Beatriz Costa 58

Namorado

22/06/2015 Local isolado St. ª Apolónia –

Lisboa

Afogamento

Julho Isabel Soares 68

Asc. Directo

10/07/2015 Residência Paderne – Faro

Arma de fogo

Julho Marinha Gonçalves 45

Ex-

companheiro

23/07/2015 Via pública Ermesinde – Porto

Arma Fogo

Julho Ana Alves 50

Ex-

companheiro

28/07/2015 Residência Rolia – Lisboa

Arma Fogo

Agosto Anabela Pereira 38

Ex-marido

06/08/2015 Residência

Charneca Caparica –

Almada - Setúbal

Estrangulamento

Agosto Aidê Costa 41

Ex-marido

20/08/2015 Residência Sangalhos –

Anadia – Coimbra

Arma Branca

Setembro Mª Estrela Larsson 60

Marido

13/09/2015 Residência Qta. Patinho – Sintra – Lisboa

Asfixia

Page 50: UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA...tendência decrescente ao nível da incidência do crime. Efectivamente, da análise sistemática de anos anteriores (2004-2014), verifica-se

50

Setembro Mª João Cordeiro 52

Ex-

companheiro

18/09/2015 Via Pública

Delgada – Bombarral –

Leiria

Arma Branca

Setembro Mª José Carvalho 58

Marido

27/09/2015 Residência

Penamaior – Paços de Ferreira

– Porto

Espancamento

Outubro Gracinda Caria 67

Ex-marido

12/10/2015 Residência Soito – Sabugal -

Guarda

Arma de Fogo

Novembro Laura Ribeiro 56

Ex-marido

04/11/2015 Residência Baselhas-campo – Valongo – Porto

Espancamento

Dezembro ni 40

Marido

26/12/2015 Residência Sta. Cruz –

Armamar - Viseu

Arma de Fogo

Dezembro ni 45

Marido

27/12/2015 Local de trabalho Sacavém - Lisboa

Arma de fogo e outro

Femicídios ocorridos em anos anteriores e confirmados em 2015:

Ano Mês

Nome da Vítima

Idade

Relação c/ homicida

Data de

Ocorrência

Local da

prática do Crime

Área

geográfica

Arma do crime/Meio empregue

2012

Agosto Mª Augusta Ernesto 32

Companheiro

28?/08/2012 Local isolado

S. Pedro de Arcos,

Ponte de Lima, Viana do Ctl.

Objecto contundente

2013

Dezembro Catarina Rodrigues 22

Outro

familiar

(cunhado e

outros)

31/12/2013 Local isolado Peso da Régua,

Vila Real

Espancamento,

estrangulamento

e esfaqueamento

2014

Outubro ni 91

Amante ??/10/2014 Residência Aveiro

Asfixia

2014

Julho Andreia Santos 20

Namorado

??/07/2014 Local isolado Arganil, Coimbra

Queda

União de Mulheres Alternativa e Resposta - O Observatório de Mulheres Assassinadas:

Elisabete Brasil, Fátima Alves e Sónia Soares.

Almada, 29 de Fevereiro de 2016