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Ano IV • Número 14 • Julho/2015
Esta é uma publicação trimestral da ANBIMA sobre regulação internacional e seus impactos
nos mercados financeiro e de capitais brasileiros
União do Mercado de Capitais e o financiamento de longo prazo na Europa »
A Comissão Europeia recentemente eleita tem como um dos principais objetivos retomar o investimento na
Europa. Entre os planos desta Comissão está a consolidação da União do Mercado de Capitais, que teve como
primeiro passo a recente publicação das normas referentes aos Fundos Europeus de Longo Prazo. [leia mais]
Autoridades britânicas propõem reforma de conduta nos mercados de renda fixa, cambio e commodities »
Em relatório recentemente publicado, as autoridades britânicas sugerem reformas para promoção da equidade e
da eficiência nos mercados de atacado e observam que tanto reguladores quanto instituições financeiras têm papel
central no controle das práticas e na identificação e mitigação dos riscos de conduta. [leia mais]
Respostas à consulta sobre fundos e gestores sistêmicos promovem reação dos reguladores »
Diretoria da IOSCO sugere mudança do foco sobre entidades para atividades e produtos mas, a despeito disso, a
SEC americana consulta sobre alterações na documentação enviada por fundos e gestores. [leia mais]
Comitê de Basileia publica informações adicionais sobre liquidez de longo prazo e razão de alavancagem »
No segundo trimestre de 2015, o Comitê de Basileia publicou os padrões para divulgação do indicador de liquidez
de longo prazo, esclareceu algumas das principais dúvidas sobre a razão de alavancagem, além de publicar duas
consultas sobre risco de juros e avaliação de crédito. [leia mais]
Fed esclarece dúvida sobre Regra de Volcker a poucas semanas de sua entrada em vigor »
Para reduzir as incertezas jurídicas associadas à Regra de Volcker, regulador americano publica instrução sobre
situações em que fundos estrangeiros poderiam ser equiparados a bancos, mas ainda existem dúvidas às vésperas
da entrada em vigor da norma. [leia mais]
Com extensão do prazo de implementação, reguladores consultam sobre requerimentos de margem »
Autoridades europeias e americanas lançaram novas consultas sobre margem, aproveitando a postergação do
calendário proposto por IOSCO e BCB para resolver conjunto específico de questões. [leia mais]
Consulte também pelo endereço: http://portal.anbima.com.br/informacoes-tecnicas/estudos/radar/Pages/default.aspx
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RADAR
União do Mercado de Capitais e o financiamento de
longo prazo na Europa
A mudança na presidência da Comissão Europeia, ocorrida ao final de
2014, trouxe mudanças importantes. A saída de Manuel Barroso (que
estava no cargo desde 2004), para a entrada de Jean-Claude Juncker
trouxe, para além de novos mandatos para as 27 pastas do órgão
executivo europeu, uma nova postura. A Comissão Juncker assumiu como
prioridade a retomada do crescimento da economia e do emprego na
União Europeia e, neste sentido, uma das primeiras propostas anunciadas
por esta Comissão foi o Plano de Investimento para a União Europeia. São
três os principais objetivos deste Plano: criar um ambiente mais adequado
ao investimento; mobilizar, no mínimo, € 315 bi para investimento em
setores estratégicos nos próximos três anos e, ao mesmo tempo, prover
suporte ao investimento na economia real.
O primeiro objetivo, de melhoria das condições para realização de
investimento, compreende, entre outros pontos, o desenvolvimento da
União do Mercado de Capitais (CMU, a sigla em inglês). Com o intuito de
mitigar as barreiras que impedem o desenvolvimento de um mercado de
capitais integrado entre os 28 países na UE, a CMU consiste em um
conjunto de medidas que deverão ser adotadas – progressivamente – ao
longo dos próximos anos. No atual cenário de estagnação da atividade
econômica, elevado endividamento e, ao mesmo tempo, de incremento da
carga regulatória sobre a atividade bancária, a promoção de uma
alternativa competitiva ao financiamento bancário via mercado de capitais
figura como um possível caminho para a promoção do crescimento
sustentável da economia europeia.
Entre as propostas de mais curto prazo da CMU, destaca-se a
recentemente aprovada regulação dos fundos europeus de longo prazo
(ELTIF, na sigla em inglês). Tendo em vista o tamanho sucesso obtido
pelos UCITS, propôs-se a elaboração de fundos de longo prazo que se
beneficie de uma estrutura de “passaporte” similar. Assim, os ELTIFs
foram concebidos como fundos de investimento alternativos e fechados
que necessitam investir, no mínimo, 70% do seu portfolio em ativos de
mais longo prazo (e.g. investimento em infraestrutura, imóveis e
companhias não listadas em mercado organizado). Outra característica
importante destes fundos está no fato dos seus cotistas não poderem
resgatar as suas cotas antes do período de encerramento do fundo.
O desenvolvimento do mercado de private placements também é
considerado uma medida relevante. Esta alternativa de colocação direta
dos títulos de dívida é uma opção mais comumente utilizada no mercado
americano, mas, no continente europeu, ainda é considerada uma opção
subaproveitada. A Comissão Europeia ainda não emitiu nenhuma proposta
► A Comissão Europeia liderada com Jean-Claude Juncker traz um objetivo claro, de promoção do crescimento via mercado e, neste escopo, a União do Mercado de Capitais é um processo essencial.
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concreta para tratar esta questão, mas o próprio mercado europeu,
representado por meio da ICMA, reconheceu a premência desta discussão
e publicou, em fevereiro deste ano, o Pan-European Corporate Private
Placement Market Guide. Como o próprio nome sugere, este documento
serve como um guia para todos os envolvidos na oferta privada de títulos
corporativos em jurisdições europeias e conta, por exemplo, com uma lista
de recomendações e modelos dos documentos requeridos.
Também fazem parte da agenda de curto prazo da CMU: a publicação da
Diretiva de Prospectos, com o intuito de racionalização entre diferentes
jurisdições da informação divulgada no referido documento, e a promoção
de securitizações claras, transparentes e comparáveis. No longo prazo,
naturalmente, a questão tarifária é entendida como uma importante
barreira ao desenvolvimento do mercado de capitais comum e, portanto,
aparece como uma questão prioritária.
O Plano de Investimento da Comissão Juncker também têm como meta
mobilizar centenas de bilhões de euros para investimento em setores
estratégicos. Para tanto, será concebido o European Fund for Strategic
Investment (EFSI). Espera-se que este fundo possa alavancar os recursos
originalmente empregados pelas autoridades europeias cerca de quinze
vezes. Assim, a Comissão Europeia busca movimentar um valor próximo
de €315 bi até 2017.
Por fim, o terceiro e último objetivo, de prover suporte ao investimento na
economia real, diz respeito à criação do European Investment Advisory
Hub e do EU Investment Project Portal. Estes dois projetos figuram como
plataformas para apoiar inciativas bem sucedidas de financiamento de
pequenas e médias empresas por meio da divulgação de informações
relevantes. O Anexo aborda o funcionamento destes dois projetos e do
EFSI com maiores detalhes.
Direto da fonte:
Assessment Methodologies for Identifying Non-Bank Non-Insurer Global Systemically Important Financial Institutions, IOSCO e FSB, 8/1/2015: http://www.iosco.org/library/pubdocs/pdf/IOSCOPD435.pdf
Enhancing Risk Monitoring (…), Mary Jo White, 11/12/2014:
http://www.sec.gov/News/Speech/Detail/Speech/1370543677722#.V
RV03090wdU
FSB Chair's Letter to G20 on Financial Reforms (…), FSB, 11/2/2015:
http://www.financialstabilityboard.org/wp-content/uploads/FSB-Chair-
letter-to-G20-February-2015.pdf
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Autoridades britânicas propõem reforma de conduta
nos mercados de renda fixa, cambio e commodities
O tesouro britânico, o Banco da Inglaterra e a FCA publicaram em junho
deste ano as conclusões da revisão iniciada um ano antes sobre o
funcionamento dos mercados de renda fixa, câmbio e commodities (ver
RADAR nº 12). Nesta versão final, as autoridades britânicas ressaltaram a
importância e a abrangência das reformas adotadas nesses últimos anos
na Europa (notadamente, MiFID 2, MAD, MAR, REMIT) e em nível
internacional (acordo de Basileia III, reforma dos benchmarks, princípios do
FSB sobre as remunerações nas instituições financeiras, etc.), bem como
as mudanças realizadas dentro das instituições voltadas para governança
e controles internos. Contudo, tais autoridades também destacaram que
certas áreas ainda não foram adequadamente tratadas e, portanto, novos
esforços são necessários para melhorar o funcionamento dos mercados
FICC e reduzir os riscos de má conduta.
Apesar das recomendações das autoridades britânicas abordarem
principalmente questões que devem ser alvo do legislador, dos
reguladores ou do mercado local, existe também a proposta de promoção
de uma discussão internacional. Em linhas gerais, estas sugestões de
reforma dos arcabouços legal e regulatório apresentadas buscam
endurecer o regime de abusos de mercado, ampliar o escopo dos
instrumentos cobertos pela regulação e aumentar as penalidades
aplicáveis.
Uma das principais sugestões das autoridades britânicas é a criação do
FICC Markets Standards Board (FMSB), um órgão estabelecido pela
indústria, com representantes sêniores de instituições financeiras globais e
domésticas, de end-users e de infraestruturas. O FMSB será responsável
por: identificar áreas onde padrões de mercado devem ser fortalecidos
e/ou esclarecidos por meio de guias ou estudos de caso (por exemplo,
como no caso de stop loss orders); promover a adesão aos padrões
estabelecidos, inclusive ao compartilhar boas práticas de controle; e, por
fim, contribuir para a convergência internacional dos padrões de conduta
nos mercados FICC.
O relatório propõe também incrementar o monitoramento dos funcionários
não gestores e coibir a reciclagem, entre instituições, de funcionários com
casos prévios de má conduta. Para tanto, as autoridades britânicas
propõem as devidas alterações no Senior Managers e no Certification
Regimes, paralelamente a uma extensão das provisões destes regimes a
todos os participantes do mercado (hoje estes regimes são unicamente
aplicáveis aos bancos). Outras recomendações discutem as qualificações
e o treinamento dos indivíduos atuando nos mercados FICC: caberá ao
► Além do reforço do arcabouço regulatório, as autoridades britânicas sugerem propostas para garantir que as próprias instituições elevem os padrões de negociação, de certificação e a responsabilização dos indivíduos.
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FMSB desenvolver padrões mínimos para as equipes, incluindo uma
obrigação de educação ao longo da vida profissional.
A respeito das políticas de remuneração dentro das instituições
financeiras, as autoridades britânicas sugerem que o FSB investigue novas
opções, em nível internacional, para assegurar um melhor alinhamento
entre as remunerações e os riscos de conduta. Opções sugeridas incluem
a consideração, entre outros, da proporção de remuneração variável no
total do recebido pelo agente, assim como o escopo de instrumentos e
estruturas de remuneração disponíveis.
Outro capítulo do relatório desenvolve possíveis cenários futuros para os
mercados FICC. Vários aspectos são discutidos, incluindo a aplicação das
regras de competição e os obstáculos para inovação e entrada de novos
participantes. O relatório destaca os progressos da transparência e do uso
de plataformas eletrônicas de negociação, ao mesmo tempo em que
ressalta os benefícios da coexistência de diversos modelos de negociação,
incluindo, aí, o mercado de balcão. Instituições poderão também ter que
identificar e produzir métricas relevantes na execução das ordens para
demonstrar o caráter eficaz e justo das praticas de negociação. O impacto
das inovações tecnológicas no risco de conduta, sugerem os britânicos,
deveria também ser avaliado.
Nas seções que abordam as questões de governança e controles, o
relatório ressalta o papel dos diretores não executivos, a necessidade de
ferramentas para medir conduta e cultura nas instituições, a importância da
“primeira linha de defesa” (isto é, o departamento de compliance e os
chefes das mesas de operação) na supervisão dos riscos de conduta e o
desenvolvimento de novas ferramentas para o monitoramento das
transações e das comunicações das equipes.
O próximo passo neste debate será a rodada de discussões agendada
para o mês de outubro de 2015, reunindo participantes dos mercados de
renda fixa, câmbio e commodities. Pouco depois, o Banco da Inglaterra e a
FCA deverão publicar um novo regime de whisteblowing. E, por fim, uma
primeira revisão da implementação das recomendações será publicada no
próximo ano.
Direto da fonte:
Fair and Effective Markets Review: Final Report, HMT, BoE e FCA, 10/6/2015:
http://www.bankofengland.co.uk/markets/Documents/femrjun15.pdf
Investment and Corporate Banking Market Study, FCA, 22/5/2015:
http://www.fca.org.uk/news/investment-and-corporate-banking-market-study
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Respostas à consulta sobre fundos e gestores
sistêmicos promovem reação dos reguladores
A segunda consulta da dupla FSB e IOSCO para determinação da
metodologia de identificação de instituições sistematicamente relevantes
em escala global que não são bancos nem seguradoras (ver Radar
ANBIMA nº 13) se encerrou dia 29 de maio. Ao todo, os organismos
internacionais publicaram respostas de 47 instituições na página do FSB.
Entre elas, encontram-se, além da resposta enviada pela ANBIMA,
comentários de outras associações de classe (e.g. ICMA e ICI), de
gestores de fundos com atuação global (e.g. Blackrock e PIMCO) e até
mesmo de infraestruturas de mercado (e.g. LHC.Clearnet).
As respostas, em geral, foram críticas à proposta do FSB e da IOSCO. A
metodologia voltada para apuração do risco sistêmico no nível da entidade
foi duramente criticada. Esta metodologia seguia uma lógica
deliberadamente próxima daquela utilizada para determinação de bancos e
seguradoras sistemicamente importantes. Isto implicou, por exemplo, a
definição de canais de transmissão de risco às vezes adequados às
atividades bancárias, mas que são pouco significativos para determinar um
possível risco sistêmico de determinado gestor ou fundo de investimento.
A Diretoria da IOSCO, em reunião realizada entre os dias 14 e 18 de
junho, deliberou sobre as respostas obtidas pela consulta e publicou uma
resposta oficial. Entre os resultados da reunião destaca-se a
recomendação para que o foco imediato dos esforços internacionais, no
sentido de identificar potenciais riscos sistêmicos e vulnerabilidades
associadas à indústria de gestão de recursos, seja uma completa revisão
das atividades e dos produtos dessa indústria, levando em conta um
contexto financeiro global amplo. A diretoria da IOSCO considera que essa
revisão deve ter precedência relativamente à continuidade do trabalho de
definição da metodologia de identificação de instituições sistemicamente
importantes no segmento de fundos.
A despeito da metodologia para determinação do risco de sistêmico estar
ainda em revisão, uma conclusão da consulta que parece ter ecoado entre
os reguladores é a crítica à opacidade da indústria em outras jurisdições.
Como mencionado na resposta da ANBIMA à consulta, o mercado
brasileiro é significativamente mais transparente que o de outras
jurisdições centrais, como o dos EUA.
Buscando enfrentar esta questão, a SEC publicou recentemente uma
consulta pública, propondo alteração nos formulários correntemente
enviados por fundos e gestores ao regulador americano. Entre outros
elementos, as mudanças propostas farão com que fundos de investimento
registrados na SEC fiquem obrigados a enviar um relatório mensal sobre a
► Enquanto diretoria da IOSCO indica mudança no foco da análise dos potenciais riscos sistêmicos associados à indústria de gestão de recursos, a SEC consulta sobre possibilidade de incrementar requerimentos informacionais dos fundos e gestores americanos.
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composição dos seus portfolios (“Form N-PORT”) e um relatório anual
(“Form N-CEN”), que servirá como uma espécie de censo (contendo, por
exemplo, informações sobre o investimento em companhias estrangerias e
as operações de empréstimo de ativos). As propostas também exigiriam
alteração nas demonstrações contábeis que são regularmente publicadas
ou enviadas ao regulador, além de permitir que os fundos mútuos
forneçam estes relatórios aos acionistas por meio de suas páginas na
internet. Por fim, destacam-se também as recomendações de alteração no
“Form ADV” que, entre outros elementos, faria com que gestores de
recursos enviassem recorrentemente dados agregados sobre as contas
geridas. O período para envio de comentários se encerra em 11/08/2015.
Direto da fonte:
Public responses to the March 2015 consultative document Assessment Methodologies for Identifying NBNI G-SIFIs, IOSCO e FSB, 12/6/2015:
http://www.financialstabilityboard.org/2015/06/public-responses-to-march-2015-consultative-document-assessment-methodologies-for-identifying-nbni-g-sifis/ Amendments to Form ADV and the Investment Advisers Act Rules, SEC, 11/6/2015:
https://www.sec.gov/rules/proposed/2015/ia-4091.pdf Resposta da ANBIMA à Segunda Consulta FSB/IOSCO sobre NBNI-SIFI, ANBIMA, 29/5/2015:
http://www.anbima.com.br/arqsbaixar/relatoriodiretoria/1-NBNI-
SIFI_Comments-from-the-Brazilian-Financial-and-Capital-Markets-
Association.pdf
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Comitê de Basileia publica informações adicionais
sobre liquidez de longo prazo e razão de alavancagem
Na última revisão internacional sobre a adoção de Basileia, em abril, o
BCBS conferiu nota quatro (máxima) ao Brasil em quase todas as
categorias – exceto nos requerimentos de liquidez de curto prazo e de
alavancagem, com nota três, e também na definição de instituições
bancárias sistemicamente importantes em escala doméstica, com nota
mínima. A nota três nos quesitos referentes à liquidez de curto prazo e
alavancagem é explicada unicamente pela vigência das respectivas
normas somente a partir de outubro desse ano. Como a próxima revisão
também deverá ocorrer em outubro de 2015, é possível que o Brasil
obtenha a nota máxima nestas duas categorias a partir dessa data.
Esta próxima revisão internacional sobre a adoção dos Acordos de Basileia
deverá contar ainda com uma inovação: a inclusão do indicador de liquidez
de longo prazo (ver Radar ANBIMA nº 12). Conforme cronograma
estipulado pelo Comitê Basileia, este indicador deverá entrar em vigor
somente a partir de 2018. No segundo semestre de 2015, portanto, as
jurisdições serão avaliadas de acordo com o estágio de implementação
das normas referentes a este indicador. Com isso, espera-se, portanto,
que o Banco Central do Brasil publique normas referentes a este indicador
nos próximos meses.
Para auxiliar na adoção do referido indicador de liquidez de longo prazo, o
BCBS publicou recentemente os padrões para sua divulgação. No
documento de poucas páginas, o Comitê apresenta um modelo da tabela
que as instituições bancárias deverão publicar para apresentar o indicador,
e esclarece algumas questões sobre seu preenchimento. Esta tabela,
calculada trimestralmente, com dados referentes ao último dia de cada um
destes períodos, deverá ser apresentada pelas instituições financeiras na
mesma frequência de divulgação de seus balanços contábeis.
Em relação à razão de alavancagem, o BCBS publicou há poucos dias um
documento com respostas às perguntas mais frequentes sobre o tema.
Como informado pelo próprio Comitê, a publicação periódica de FAQs
como este visa auxiliar na implementação consistente destes
requerimentos nas diferentes jurisdições. A razão de alavancagem é
regulada, no Brasil, pela Resolução nº 4.401, do CMN (para maiores
detalhes sobre a adoção do Acordo de Basileia no Brasil, ver Informe de
Legislação nº 15/13 – Basileia III no Brasil).
Por fim, destacam-se duas consultas do Comitê que estão abertas para
comentários. A primeira diz respeito à revisão tratamento do risco de juros
nas operações bancárias. Sobre este tema, o BCBS apresenta duas
alternativas: tratar esta exposição a risco, de maneira uniforme, no Pilar 1
► Comitê avalia positivamente a implementação de Basileia no Brasil e torna evidente que o próximo desafio será a publicação das normas referentes ao indicador de liquidez de longo prazo.
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do Acordo (isto é, imputar requerimentos de capital a estas exposições) ou
no Pilar 2 (com a divulgação de informações quantitativas), permitindo
maior adaptabilidade às condições específicas do mercado e da gestão de
risco em cada jurisdição.
A segunda consulta diz respeito à revisão do tratamento de risco
associado ao ajuste das avaliações de crédito. O objetivo desta consulta é
triplo: rever os requerimentos associados ao Pilar 1, associar a
determinação destes requerimentos com as principais práticas contábeis
utilizadas e, ao mesmo tempo, alinhar estas alterações com aquelas
promovidas pela revisão do tratamento do risco de mercado.
Direto da fonte:
Eighth progress report on adoption of the Basel regulatory framework, BCBS, 27/4/2015:
http://www.bis.org/bcbs/publ/d318.htm Net Stable Funding Ratio disclosure standards, BCBS, 22/6/2015:
http://www.bis.org/bcbs/publ/d324.pdf Frequently asked questions on the Basel III leverage ratio framework, BCBS, 7/7/2015:
http://www.bis.org/bcbs/publ/d327.pdf Interest rate risk in the banking book - consultative document, BCBS, 8/6/2015:
http://www.bis.org/bcbs/publ/d319.pdf Review of the Credit Valuation Adjustment (CVA) risk framework - consultative document, BCBS, 1/7/2015:
http://www.bis.org/bcbs/publ/d325.pdf
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Fed esclarece dúvida sobre Regra de Volcker a poucas
semanas de sua entrada em vigor
Desde a sua publicação, a Regra de Volcker – norma que visa reformular o
sistema bancário americano – suscitou inúmeras dúvidas, especialmente
quanto aos seus efeitos sobre jurisdições estrangeiras (ver Radar
ANBIMA nº 8). Como a norma americana se vale de uma estrutura um
tanto complexa (se não inovadora) para abarcar os conceitos de
“operações proprietárias” e “fundos cobertos”, a sua tradução para outras
jurisdições não é trivial. Disto resultam, ao mesmo tempo, incerteza jurídica
e potenciais custos indevidos.
Uma das principais questões referentes às operações com fundos
estrangeiros diz respeito à possibilidade de inclusão destes veículos de
investimento na categoria “entidade bancária”. Isto porque a Regra de
Volcker define isenções para que alguns fundos estrangeiros sejam
excluídos da definição de “fundos cobertos”, mas, ao mesmo, prevê que
somente os fundos cobertos são excluídos da definição de entidade
bancária. Logo, torna-se evidente que fundos estrangeiros não cobertos
poderiam ser entendidos como entidades bancárias.
Isto significa que, observadas certas condições, um fundo de investimento
não americano poderia ser considerado como uma instituição equiparada a
um banco. Desse modo, tal fundo se veria forçado a restringir suas
operações proprietárias e o investimento em outros fundos de
investimento. Naturalmente, isto vai contra os objetivos destes veículos de
investimento e, como tal, poderia ser entendido como um efeito
transfronteiriço indevido da norma americana.
A SIFMA levou esta questão ao FRB em outubro do ano passado. Nesta
ocasião, a associação americana indagou os reguladores bancários sobre
a possibilidade dos fundos de investimento estrangeiros serem
classificados como entidades bancárias. Como exposto no próprio ofício, a
solução para tal problema poderia vir de uma orientação interpretativa (isto
é, sem requerer uma emenda à norma).
Em linha com esta argumentação, o FRB emitiu o FAQ nº 14, buscando
responder a dúvida. Segundo texto oficial, o FRB recomenda que um
foreign public fund (ou “fundo estrangeiro ofertado publicamente”, em
tradução livre) somente deveria ser considerado uma entidade bancária se
alguma instituição deste tipo responder por mais de 25% dos direitos de
voto de tal fundo – passado o período máximo de três anos de seeding.
Mas apesar de esclarecedora, tal publicação ainda deixa algumas dúvidas.
Como o FAQ nº 14 diz respeito especificamente aos fundos de
investimento organizados fora dos EUA que são distribuídos pública e
► Regulador bancário americano publica esclarecimentos sobre provisões da Regra de Volcker que equiparariam fundos estrangeiros ofertados publicamente a instituições bancárias, mas ainda existem outras questões prementes para o mercado nacional.
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majoritariamente em uma jurisdição estrangeira, restam dúvidas sobre os
fundos de investimento que não são, cumulativamente, cobertos e
ofertados publicamente no exterior.
Além desta questão mais geral, a aplicação da Regra de Volcker no Brasil
suscita algumas questões adicionais. Por exemplo, fundos regulados pela
Instrução nº 409, da CVM (em breve, pela Instrução nº 555, também da
CVM) que são destinados exclusivamente a investidores qualificados ou
profissionais não estariam isentos da definição de fundo coberto. Isto pode
ser entendido como um efeito indevido da norma americana, por equiparar
tais fundos – altamente regulados e supervisionados – a hedge funds
americanos. De maneira similar, ainda não está claro em que situações a
gestão e a administração dos fundos cobertos pela norma americana
seriam consideradas atividades permitidas.
As primeiras provisões de Regra de Volcker entrarão em vigor a partir do
dia 21/7/15. Todavia, este prazo diz respeito às operações com fundos de
investimento estabelecidos de 21/7/13 em diante. As entidades bancárias
contarão com mais dois anos para se adequarem às restrições aplicáveis
aos fundos previamente estabelecidos.
Na ANBIMA, o efeito das provisões da Regra de Volcker sobre o mercado
brasileiro é assunto prioritário na pauta do Grupo Técnico sobre Regulação
Internacional (GTRI). O grupo, formado em 2013, aborda as principais
questões regulatórias internacionais e conta com reuniões mensais
regulares. Mais informações podem ser obtidas com Gabriel Porto
Direto da fonte:
Volcker Rule - Frequently Asked Question 14, FRB, 12/6/2015:
http://www.federalreserve.gov/bankinforeg/volcker-rule/faq.htm#14 Letter to Federal Reserve on Volcker Rule Interpretations (…), SFIMA, 20/9/2014:
http://www.sifma.org/issues/item.aspx?id=8589951710
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Com extensão do prazo de implementação,
reguladores consultam sobre margem
Somente a partir de 2011 as provisões acerca dos requerimentos
compulsórios de margem entraram na pauta do G20. O objetivo seria, ao
mesmo tempo, incentivar a liquidação centralizada e mitigar o risco
sistêmico associado às operações do mercado de balcão que não são
padronizadas.
Um dos primeiros passos neste sentido foi convocar a IOSCO e o BCBS
para redigirem os padrões globais para estes requerimentos de margem.
Isto porque a elaboração de tais modelos padronizados é entendida como
uma maneira de promover da harmonização regulatória entre diferentes
jurisdições
Os padrões da IOSCO e do BCBS foram publicados incialmente em 2013,
levando em consideração os comentários obtidos em duas consultas
anteriores (uma em 2012, apresentada no Radar ANBIMA nº 3, e outra
no início de 2013). A primeira revisão deste documento ocorreu somente
em 2015. Nesta ocasião, adiou-se o cronograma de introdução dos
requerimentos de margem inicial (“initial margin”) e de margem de variação
(“variation margin”) por nove meses. Também foi introduzido um período
de adaptação de seis meses para as margens de variação (ver Radar
ANBIMA nº 13).
De acordo com este novo cronograma, as Autoridades Supervisoras
Europeias (ESA, na sigla em inglês) lançaram, em junho de 2015, a
segunda consulta conjunta, no âmbito do EMIR, sobre os padrões
regulatórios técnicos, (“regulatory technical standards“, ou RTS) referentes
aos procedimentos de mitigação de risco para derivativos negociados em
mercado de balcão que não são liquidados centralmente, . Levando em
conta as respostas obtidas na primeira consulta, esta segunda versão
aborda um conjunto mais restrito de questões. São exemplos:
As metodologias de cálculo das margens inicial e de variação;
Os critérios para elegibilidade do colateral;
A metodologia para averiguar se o colateral empregado é
suficientemente diversificado e, portanto, não está sujeito a risco
direcional desfaróval (wrong-way risk);
A metodologia para determinar os “haircuts” apropriados para
mensurar volatilidade; e
Os procedimentos operacionais a serem estabelecidos pelas CCPs.
Esta consulta também considera um período de adaptação para margem
de variação, de acordo com a revisão mais recente dos padrões
publicados pela IOSCO e pelo BCBS.
► Requerimentos compulsórios de margem para derivativos não padronizados são objeto de consultas públicas pelas autoridades europeias e pela CFTC, em linha com o cronograma recentemente proposto por IOSCO e BCBS.
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RADAR
No mesmo mês, a CFTC, propôs uma norma referente aos requerimentos
compulsórios de margem. Segundo essa proposta, os requerimentos de
margem dispostos por tal Comissão seriam válidos também para
operações com contrapartes localizadas em outras jurisidições. Assim,
swap dealers e major swap participants registrados na CFTC que realizem
swaps com contrapartes não-americanas teriam que responder pelos
mesmos requerimentos de margem propostos por este regulador para
operações entre americanos. Uma exceção, porém, seria em casos onde
existam acordos de observância substitutiva (“substituted compliance”)
entre as jurisdições envolvidas. Isto permitiria substituir os requerimentos
de margem da CFTC por aqueles demandados pelos reguladores da outra
jurisdição.
O tema “observância substitutiva” é objeto de análise do Grupo Técnico de
Regulação Internacional (GTRI), da ANBIMA, desde a sua concepção, em
2013. O assunto foi abordado em algumas publicações assinadas pelo
grupo, incluindo a resposta à consulta da IOSCO sobre regulação
transfronteiriça.
Direto da fonte:
Second Joint Consultation on draft RTS on risk-mitigation techniques for OTC-derivative contracts not cleared by a CCP, ESA, 10/6/2015:
http://www.eba.europa.eu/documents/10180/1106136/JC-CP-2015-002+JC+CP+on+Risk+Management+Techniques+for+OTC+derivatives+.pdf Proposed rule regarding the Cross-Border Application of the Margin Requirements, CFTC, 29/6/2015:
http://www.cftc.gov/ucm/groups/public/@newsroom/documents/file/crossborder_factsheet062915.pdf GTRI responde consulta pública promovida pela Iosco, ANBIMA, 26/3/2015:
http://portal.anbima.com.br/a-anbima/noticias/Pages/2015/03/GTRI-responde-consulta-publica-promovida-pela-Iosco.aspx
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RADAR
SIGLAS
BCBS: Basel Committee on Banking Supervision
BoE: Bank of England
CFTC: Commodities Futures Trading Commission
CMN: Conselho Monetário Nacional
CMU: Capital Markets Union
EFSI: European Fund for Strategic Investment
ELTIF: European Long Term Investment Fund
EMIR: European Market Infrastructure Regulation
ESA: European Supervisory Authorities
ESMA: European Securities and Markets Authority
EUA: Estados Unidos da América
FAQ: Frequently Asked Question
FCA: Financial Conduct Authority
FICC: Fixed Income, Currency and Commodities
FMSB: FICC Markets Standards Board
FRB: Federal Reserve Board
FSB: Financial Stability Board
HMT: Her Majesty’s Treasury
IOSCO: International Organization of Securities
Commissions
LCR: Liquidity Coverage Ratio
MAD: Market Abuse Directive
MAR: Market Abuse Regulation
MiFID: Markets in Financial Instruments Directive
NBNI-SIFI: Non-Bank Non-Insurer Systemically
Important Financial Institution
REMIT: Regulation on Wholesale Energy Market
Integrity and Transparency
SEC: Securities Exchange Commission (United States)
UCITS: Undertakings for Collective Investment in
Transferable Securities
UE: União Europeia
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RADAR
AGENDA INTERNACIONAL
2° trimestre/2015
3° trimestre/2015
CONFIRA AQUI AS NOTAS SOBRE A PARTICIPAÇÃO DA ANBIMA NESSES EVENTOS
Iosco sugere mudança de foco na identificação de riscos associados à indústria de gestão de recursos
http://portal.anbima.com.br/a-anbima/noticias/Pages/2015/06/Iosco-sugere-mudanca-de-foco-na-identificacao-de-riscos-associados-a-industria-de-gestao-de-recursos.aspx
40ª Conferência Anual da IOSCO http://www.iosco2015london.co.uk/events/iosco-2015-london/event-summary-e23a0f7ff8314dfcb08290dc8a709f4b.aspx
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RADAR
SUPERINTENDÊNCIA GERAL
José Carlos Doherty
GERÊNCIA DE ESTUDOS REGULATÓRIOS
Patrícia Fesch Menandro, Bernardo Kruel, Gabriel Porto, Julie Ansidei, Vivian Almeida e Bruno Grimaldi
DIAGRAMAÇÃO
Carlos Alberto Valério Jr. e Max Denvir
PRESIDENTE: Denise Pauli Pavarina
VICE-PRESIDENTES: Carlos Eduardo Andreoni Ambrósio, Carlos Massaru Takahashi, Gustavo Adolfo
Funcia Murgel, José Olympio da Veiga Pereira, Pedro Lorenzini, Robert J. van Dijk, Sérgio Cutolo dos
Santos e Valdecyr Gomes.
DIRETORES: Alenir de Oliveira Romanello, Altamir Batista Mateus, Carlos Augusto Salamonde, Carolina
Lacerda, Celso Scaramuzza, Jair Ribeiro da Silva Neto, Luciane Ribeiro, Luiz Sorge, Luiz Fernando
Figueiredo, Otávio Romagnolli Mendes, Richard Ziliotto, Saša Markus, Sylvio Araújo Fleury e Vital Meira
de Menezes Junior.
COMITÊ EXECUTIVO: José Carlos Doherty (Superintendente Geral), Ana Claudia Leoni (Educação), André
Mello (Controladoria, Tecnologia e Serviços), Guilherme Benaderet (Supervisão de Mercados), Patrícia
Herculano (Representação Institucional), Valéria Arêas (Representação Técnica), Marcelo Billi
(Comunicação) e Soraya Alves (Jurídico).
RIO DE JANEIRO: Avenida República do Chile, 230
13º andar CEP 20031-170 + 21 3814 3800
SÃO PAULO: Av. das Nações Unidas, 8501 21º andar
CEP 05425-070 + 11 3471 4200
www.anbima.com.br