umbanda de nego veio

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Umbanda de Nego Véio Compêndio de Estudos (Volume 1) Gregorio Lucio São Paulo (SP) 2014

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Doutrina Umbandista

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  • Umbanda de Nego Vio

    Compndio de Estudos (Volume 1)

    Gregorio Lucio

    So Paulo (SP)

    2014

  • 1

    UMBANDA DE

    NEGO VIO

    Compndio de

    Estudos

    (Volume 1)

    Gregorio Lucio

    2014

  • 2

    Lucio, Gregorio Fernandes

    2014: Umbanda de Nego Vio. Compndio de Estudos (livro

    eletrnico) / Gregorio Fernandes Lucio

    So Paulo (SP), 2014

    Spinosa, Mario (foto de capa): As mos, a cruz e o rosrio

    TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

    Il.; ePUB

    Umbanda Religio Estudo

    Contato pelo email:

    [email protected]

    Site:

    www.umbandadenegoveio.blogspot.com

  • 3

    Apresentao

    Caro Leitor,

    A presente obra trata do primeiro volume de uma srie

    de textos escritos como resultado de um trabalho de

    estudos que vm sendo realizado por este que escreve.

    Particularmente, o presente volume compreende o

    perodo de estudos realizados entre julho de 2011 a

    janeiro de 2013.

    No pretende ser um cdice para a religio de

    Umbanda. Jamais foi essa a inteno. Ao contrrio,

    nosso sincero desejo o de compartilhar com o pblico

    interessado, justamente, alguns traos e apontamentos

    das nossas reflexes em torno do fenmeno religioso

    umbandista, a partir do olhar de um simples adepto, livre

    pensador e dedicado estudioso deste universo to plural

    e magnfico de significados, possibilidades de vivncia e

    experimentao do Sagrado.

    O autor.

  • 4

    Dedicatria

    Dedico a presente obra, primeiramente, aos Mentores de

    Luz (cujos nomes no ousarei citar aqui, uma vez que

    sempre preferiram manterem-se em anonimato, como

    professores dedicados e humildes) que me assistem e

    inspiram no estudo desta intrigante religio, a Umbanda,

    a qual optei por abraar como minha f e de cujas

    experincias recolho novos sentidos para meu existir.

    Tambm cabe meno de gratido e reconhecimento a

    Tenda de Umbanda Tamanaqua, templo umbandista

    localizado na Zona Leste de So Paulo, onde desenvolvo

    meu trabalho como simples integrante de sua corrente

    medinica e colaborador de apagado destaque em suas

    atividades semanais.

    Por fim, no posso deixar de mencionar minha esposa,

    Denise Beraldo, essa to agradvel e amorosssima

    companheira de todos os momentos, a qual sempre

    apoiou-me neste projeto pessoal. Gratido pela sua

    compreenso e carinho.

    Gregorio Lucio

    So Paulo, 11 de novembro de 2014.

  • 5

    Sumrio

    Introduo .............................................................................. 09

    Umbanda Religio Brasileira .............................................. 11

    Kardecismo e Umbanda so iguais? ................................... 14

    Prticas Rito-Litrgicas na Umbanda .................................... 21

    Das Entidades Espirituais da Umbanda .............................. 26

    As Ervas............................................................................... 31

    A Defumao ...................................................................... 35

    Os Banhos de Ervas ............................................................ 41

    A Pemba, a Lei de Pemba e o Ponto Riscado ..................... 45

    As Roupas Litrgicas e as Fitas ........................................... 52

    As Guias .............................................................................. 59

    As Velas............................................................................... 64

    Msica e Movimento na Umbanda ....................................... 69

    A Curimba e o Ponto Cantado ............................................ 74

    O Atabaque ......................................................................... 83

    A Dana Ritualstica na Umbanda ...................................... 91

    A Mstica Mistrica da Umbanda .......................................... 99

  • 6

    Simbolismo, Magia e Subjetividade na Umbanda (I) ....... 108

    Simbolismo, Magia e Subjetividade na Umbanda (II) ...... 114

    As Hierarquias na Umbanda ............................................. 122

    A Prtica Oracular na Umbanda ....................................... 128

    As Votividades e Oferendas na Umbanda ........................ 135

    O Psquico e o Imaginrio: Relao entre Mundo Espiritual

    e Materialidade ................................................................ 142

    A Realidade Espiritual do Terreiro de Umbanda ............. 151

    A Obsesso Espiritual .......................................................... 157

    As Egrgoras (A Utilizao das Foras Naturais e Mentais no

    Rito da Umbandista) ............................................................ 163

    A Demanda........................................................................... 170

    Sade e Cura na Umbanda .................................................. 188

    Tratamento Espiritual ....................................................... 193

    Vivncia Religiosa e Bem-Estar ......................................... 199

    O Mediunismo de Umbanda ............................................... 205

    Sensaes Medinicas Parte I (Fenomenologia Orgnica e

    Psquica do Transe)............................................................... 211

  • 7

    Sensaes Medinicas Parte II (Fenomenologia Orgnica

    e Psquica do Transe) ............................................................ 218

    O Mdium de Umbanda .................................................... 232

    A Espiritualidade Umbandista Manifesta no Estado Superior

    de Conscincia ..................................................................... 240

    Processos Mentais e o Transe Mediunista I ...................... 247

    Processos Mentais e o Transe Mediunista II ..................... 255

    Processos Mentais e o Transe Mediunista III .................... 263

    A Incorporao ...........................................................................

    A Manifestao ................................................................. 274

    A Interpretao Psquica e Espiritual do Fenmeno ........ 283

    A Relao Mdium-Guia na Umbanda ............................. 293

    A Ascenso da Conscincia ............................................... 300

    Vises do Transe de Possesso ......................................... 307

    Desenvolvimento Medinico na Umbanda ........................ 314

    Funo Anmica e Mecanismos Adaptativos .................... 321

    A Construo dos Papis Estruturantes ............................ 328

  • 8

    O Comando da Funo Medinica .................................... 337

    A Identificao do Supra Consciente e a Expresso Criativa

    .............................................................................................. 343

    Educao e Concincia Medinica.................................... 353

    A Viso de um Adepto ...............................................................

    O Processo de Ensino-Aprendizagem na Umbanda ......... 362

    A Sustentao do Trabalho Espiritual ............................... 367

    O Templo Religioso como Ambiente Educativo ............... 374

    A tica do Filho-de-Santo .................................................. 387

    Concluso ............................................................................. 394

    Sobre o Autor ....................................................................... 399

    Bibliografia ........................................................................... 401

  • 9

    Introduo

    Umbanda. uma cultura religiosa popular. o resultado

    emprico da f de um povo e no o produto do

    desenvolvimento intelectual hegemnico de um missionrio,

    telogo ou codificador. a expresso mais prxima do

    Socialismo dentro da Religio.

    Seus aspectos exteriores chamam a ateno, deslumbram

    mesmo. O transe o seu maior elixir. As roupas, as liturgias,

    as votividades, os orculos, as ofertas, as giras, os

    desmanches de demandas (que neste contexto no se referem

    a aspectos negativos, mas ao embate criativo e renovador que

    interpreta e ressignifica as situaes de conflito na

    experincia humana), os cnticos, as curimbas, os atabaques,

    as velas, as ervas, as flores, os pontos...

    Mas por trs de todo este universo polissmico, repleto de

    smbolos com fora atrativa e expressividade incomum, h um

    mundo de energias sutis que permeia a dimenso fsica,

    revelando-se devagar e amide, para aqueles que possuem

    olhos de ver e ouvidos de ouvir.

    A Aruanda Infinita, por meio de seus representantes, os Guias

    e Orixs, mostra-se no suceder das experincias dentro das

    Leis de Umbanda. Nas realizaes do cotidiano pertinentes a

    vida e a f de seu adepto.

    A funo simblica e psicolgica deste viver religioso na

    Umbanda est, inequivocamente, muito mais no sentir

    (corao) do que no pensar (crebro).

  • 10

    Contudo, preciso estabelecer pontes e dilogos entre o

    mundo subjetivo que contempla o sentido religioso, os

    discursos pertinentes ao universo interno dos terreiros e da

    Umbanda como um todo, com as outras formas de

    interpretao e entendimento da individualidade humana,

    para que esta bela cultura religiosa que emerge do mbito

    social com sua rica produo simblica seja tambm colocada

    como partcipe ativa na centralidade do campo religioso

    brasileiro, uma vez que sempre esteve posta margem deste.

    E no outra, seno esta mesma, a inteno deste trabalho.

    Contribuir para que a Umbanda tenha seu lugar de mrito

    dentro da cultura religiosa de nossa sociedade. Criar um

    campo de pesquisa e entendimento - assim como outros

    tambm j vm de h tempos realizando - que demonstre ser a

    Umbanda tambm uma religio autntica (e no uma seita,

    conforme ideologicamente alguns tentam classifica-la, com o

    objetivo de diminuir-lhe e manter o status quo social), capaz

    de dialogar com as mais diversas reas do saber humano e,

    acima de tudo, fornecer propsitos e compreenso da Vida

    que estejam totalmente integrados ao tempo histrico, social,

    psicolgico e espiritual do homem moderno.

    Sarav a Umbanda!

  • 11

    Umbanda - Religio Brasileira

    Muito se tem discutido a respeito das origens da

    Umbanda.

    Alguns acreditam ser esta uma religio revelada no dia

    15 de novembro de 1908, pelo mdium sr Zlio

    Fernandino de Moraes, logo, teria seu incio a partir de

    um escolhido e revelador (obedecendo, assim, a mesma

    estrutura de "mito fundante" das demais religies

    abramicas).

    Outros, creem-na como uma religio csmica, detentora

    dos mais altos nveis do conhecimento humano (em suas

    esferas cientfica, religiosa, artstica e filosfica), o

    Conhecimento Uno, provindo das mais antigas e mticas

    raas humanas j existentes na Terra (Raa Vermelha e,

    posteriormente, os Atlantes e Lemurianos), cujas chaves

    de conhecimento teriam sido guardadas e veladas pelos

    Antigos Egpcios e no decorrer da histria, haveria

    chegado ao Brasil por intermdio dos povos africanos e

    se conjugado aos conhecimentos j existentes dos

    indgenas brasileiros.

    Seria essa a chamada Aumbandan; outrem credita s

    tradies originariamente africanas as chaves e

    fundamentos para o surgimento da Umbanda no Brasil.

  • 12

    E, ainda, aqueles que reputam Umbanda a pecha de

    uma simples seita, destituda de corpo doutrinrio, senso

    racional e crtico, repleta de crenas e fetichismos, a qual

    surgiu como um processo de degradao das religies

    predominantes ao longo do processo de desenvolvimento

    social, notadamente nos centros urbanos das grandes

    cidades brasileiras.

    De nossa parte, cremos que a Umbanda surge como um

    processo natural de ressignificao de prticas religiosas

    pertinentes ao imaginrio coletivo da cultura popular

    brasileira (catolicismo popular, pajelana, espiritismo

    "kardecista" e as prticas africanistas). Em conjunto a

    este processo, no plano espiritual, h um mecanismo de

    adaptao e direcionamento dos Espritos afins faixa

    vibratria brasileira, os quais colocam-se em contato com

    o "mundo terreno" para contribuir com as necessidades

    espirituais, psicolgicas e sociais daqueles que, a pouco e

    pouco, tornaram-se adeptos da Umbanda e seu universo

    espiritual.

    Cremos, particularmente, ser a Umbanda uma religio

    essencialmente brasileira, contando com o amparo e

    assistncia de Grandes Numes, os quais orientam e

    direcionam a coletividade umbandista no processo de sua

    jornada espiritual, atravs da prtica da caridade, do amor

    ao prximo, da tica e da cada vez maior conscincia

    crtica e reflexiva de seu corpo de adeptos, fazendo com

    que saiamos de uma zona de marginalidade e sub-cultura,

    e passemos a ocupar e partilhar de um plano mais central

    na produo cultural e religiosa no cenrio brasileiro.

  • 13

    Ademais, em seu aspecto espiritual, tambm

    particularmente, no cremos que a Umbanda disponha de

    uma "misso" especfica, como as religies crists

    predominantes (por exemplo, o Catolicismo, por meio de

    sua Igreja procura arrebanhar fiis e balizar sua conduta

    religiosa para uma salvao; o protestantismo por sua

    vez, busca a converso do indivduo f crist para

    tambm desta forma conseguir sua salvao; o

    espiritismo "kardecista" pretende ser a Terceira

    Revelao das religies Abramicas, o Consolador

    Prometido por Jesus Cristo). Sinceramente, no

    cremos que a Umbanda disponha desta premissa na

    constituio de sua prxis religiosa, bem como em seus

    ensinamentos.

    Cremos que a singeleza , a doura e fora da Umbanda

    esto justamente na naturalidade em que ela se prope a

    oferecer abrigo queles que buscam uma vivncia

    religiosa em contato direto com o Sagrado atravs do

    Transe (no necessariamente mediunista), na qual o

    indivduo pode ser partcipe da comunidade religiosa,

    exercitar a solidariedade, a to falada caridade, e

    experienciar em si mesmo os efeitos salutares da conduta

    direcionada para a tica e a responsabilidade, para o

    contato com a natureza e a ligao direta com a

    Divindade (Zambi, Olorum, Deus, etc) nas mais diversas

    formas em que se apresente.

  • 14

    Kardecismo e Umbanda so

    iguais?

    certo que existem semelhanas entre a prtica do

    espiritismo dito "kardecista" com determinadas prticas

    da Umbanda. No entanto, impera entre adeptos dessas

    duas correntes religiosas uma certa confuso no que se

    refere distino entre ambas, e em idias errneas que

    implicam numa viso "kardequisada" da umbanda, como

    seja o entendimento de que esta seria uma corrente

    paralela ao Espiritismo (popularmente conhecido como

    Kardecismo), ou mesmo a de que a Umbanda seria uma

    espcie de sub-cultura religiosa produzida a partir de um

    processo de degenerao e miscigenao das prticas

    espritas (da o termo pejorativo "Baixo Espiritismo").

    Bem, a questo fundamental para podermos distinguir a

    Umbanda do Kardecismo (permita-me o leitor a

    utilizao do termo popular quando referir-me ao

    Espiritismo), primeiro a de encontrarmos quais so os

    aspectos que poderamos relacionar como sendo

    semelhantes entre ambos e aps isso chegarmos a sua

    distino.

    Sendo assim, podemos a priori relacionar como

    semelhanas:

    1 Crena em Deus;

  • 15

    2 Crena na Imortalidade do Indivduo;

    3 Crena na Reencarnao;

    4 Crena na existncia de Espritos;

    5 Crena na possibilidade da Comunicao dos Espritos

    por meio do fenmeno medinico.

    Acreditamos serem estes 5 aspectos que encontram-se,

    em termos de similaridade, entre a viso "kardecista" e

    umbandista. Obviamente, no elencaremos aqui os

    princpios ticos e morais (amar a Deus sobre todas as

    coisas e ao prximo como a si mesmo, a caridade, o

    respeito pelo prximo, a conscincia do dever e da

    responsabilidade, a conduta de vida que busca a

    absteno de vcios e prticas mundanas, etc), pois estes

    constituem o corolrio de todas as religies do mundo,

    mesmo que ensinados e transmitidos de maneira

    culturalmente diversa.

    Partindo agora para as diferenas entre Kardecismo e

    Umbanda, iremos direto a uma questo central e para isso

    nos utilizaremos de trs questes da obra intitulada O

    Livro dos Espritos, do respeitvel e eminente prof.

    Hippolyte Lon Denizard Rivail, mais conhecido como

    Allan Kardec, codificador da Doutrina dos Espritos,

    vinda de Frana para o Brasil. Lembramos que esta obra

    constitui a pedra angular do pensamento esprita. Vamos

    as questes:

  • 16

    Questo 553: Qual pode ser o efeito de frmulas e

    prticas com ajuda das quais certas pessoas pretendem

    dispor da vontade dos Espritos?

    Resp: O efeito de torn-las ridculas se so de boa-f;

    caso contrrio, so patifes que merecem um castigo.

    Todas as frmulas so enganosas; no h nenhuma

    palavra sacramental, nenhum sinal cabalstico, nenhum

    talism que tenha uma ao sobre os Espritos, porque

    estes so atrados pelo pensamento e no pelas coisas

    materiais.

    - Certos Espritos no tm, eles mesmos, algumas vezes,

    ditado frmulas cabalsticas?

    Resp: Sim, tendes Espritos que vos indicam sinais,

    palavras bizarras ou que vos prescrevem certos atos com

    a ajuda dos quais fazeis o que chamais de conjurao.

    Mas estejais bem seguros que so Espritos que zombam

    de vs e abusam da vossa credulidade.

    Questo 554: Aquele que, errado ou certo, tem confiana

    no que chama virtude de um talism, no pode por essa

    confiana mesma atrair um Esprito, porque, ento, o

    pensamento que age? O talism no seno um sinal que

    ajuda a dirigir o pensamento?

    Resp: verdade, mas a natureza do Esprito atrado

    depende da pureza da inteno e da elevao dos

    sentimentos. Ora, raro que aquele que to simples

    para crer na virtude de um talism no tenha objetivo

    mais material que moral. Em todos os casos isso

  • 17

    denuncia uma baixeza e uma fraqueza de idias, que o

    expe aos Espritos imperfeitos e zombeteiros.

    Questo 555: Que sentido se deve dar qualificao de

    feiticeiro?

    Resp: Aqueles a quem chamais feiticeiros so pessoas,

    quando de boa-f, dotadas de certas faculdades, como a

    fora magntica ou a segunda vista. Ento, como eles

    fazem coisas que no compreendeis, os acreditais dotadas

    de uma fora sobrenatural. Vossos sbios,

    frequentemente, no passam por feiticeiros aos olhos das

    pessoas ignorantes?

    (Captulo IX do Livro Segundo - Interveno dos

    Espritos no Mundo Corporal)

    Diante das questes expostas acima, vemos claramente o

    posicionamento do Espiritismo no que se refere a sua

    maneira de entender a relao com o mundo espiritual, a

    qual confronta diretamente as prticas ritualsticas e

    magsticas da Umbanda (obviamente a inteno de

    Kardec e dos Espritos no era criticar a Umbanda, at

    porque nem creio que eles soubessem da existncia de

    prticas espirituais que viriam a se constituir na

    Umbanda..sim, eles...no creio que os "Espritos do

    Espiritismo" sabem e conhecem tudo e a todos).

    Comeando pelo fato de que na Umbanda nos utilizamos

    de rituais (as giras esto fundamentadas em rito-

    liturgias), de signos cabalsticos (pontos riscados, cruzes,

    tringulos, estrelas, etc), de talisms (patus, guias, etc),

  • 18

    assim como utilizamo-nos da palavra e do som para

    congregarmos foras espirituais (a curimba, constituda

    de pontos cantados, toque de atabaques, etc), vemos que

    ai j esto as caractersticas fundamentais da prtica

    umbandista, as quais a distinguem drasticamente do

    "Kardecismo".

    H aqueles, mesmo adeptos da Umbanda, que admitem a

    utilizao das prticas ritualsticas, bem como os recursos

    simblicos e mgicos utilizados nas giras, como sendo

    meros pontos de apoio e direcionamento da

    inteno...corroborando, dessa forma, com a concepo

    de que estes seriam somente "muletas psicolgicas" para

    a produo de determinado efeito.

    No entanto, segundo nosso parecer, no consideramos

    como simples recursos de apoio, as simbologias e

    ritualsticas umbandistas, embora uma anlise superficial

    a respeito destes aspectos possa levar a crer nisso. Ao

    contrrio, as prticas umbandistas preconizam sempre

    uma inter-relao direta e no bipartida da realidade

    espiritual.

    O mundo dito material ou corpreo manifestao da

    realidade espiritual, e, por conseguinte, pela simbologia

    mgica e ritualstica podemos influenciar e movimentar

    foras (as quais no so enquadradas dentro daquelas

    conhecidas pela cincia) que desencadeiam reaes na

    realidade "material", como o caso da cura de

    determinadas doenas que ocorrem num trabalho de

    terreiro, quebrando o paradigma da cincia, o qual ainda

    no encontra explicaes conclusivas a respeito (de como

  • 19

    foras ou aspectos no-fisicos interferem em processos

    fsicos).

    Ademais, sempre importante lembrar que as prticas

    ritualsticas da Umbanda, as firmezas que existem numa

    tenda de umbanda, as prticas recomendadas para o

    corpo de mdiuns, suas protees, benzimentos, banhos,

    defumaes, cruzamentos, pontos cantados, riscados,

    etc...so essencialmente trazidos e transmitidos pelas

    Entidades Espirituais responsveis pela coletividade de

    cada templo em particular, e pela faixa espiritual da

    Umbanda como um todo. Admitir que esses recursos so

    meros apoios de menor importncia, tambm admitir

    que nossos Guias e Mentores so Espritos Ignorantes ou

    Zombeteiros, bem como seus adeptos tambm o seriam.

    E isso tambm um outro aspecto errneo, o qual

    podemos verificar na vivncia da prtica religiosa, no

    "dia-a-dia de terreiro", em cujo meio, no contato com as

    entidades espirituais, reconhecemo-las como Espritos de

    grande sabedoria, conhecimento e simplicidade.

    No estamos aqui dizendo que devamos aceitar tudo o

    que os Espritos nos trazem, de maneira indiscriminada e

    tola. Isso porque inegvel que existem em determinados

    ncleos dito "umbandistas" prticas exageradas

    e esdrxulas, as quais suscitam estranheza at mesmo

    entre o prprio meio umbandista. No entanto, devemos

    avaliar a atitude e a mensagem daqueles que buscam

    trazer seus conselhos, suas mirongas, suas

    firmezas...Somente assim podemos avaliar a natureza e a

    inteno de determinados Espritos. Da mesma maneira

    como faramos com qualquer pessoa que chegasse at

  • 20

    ns a fim de nos trazer uma mensagem ou um conselho.

    Usar sempre o bom senso.

    Importa ainda considerar que no devemos nos pautar na

    viso "kardecista" para lastrear ou basear nossa prtica

    religiosa como umbandistas. Isso porque o "kardecismo"

    no dispe de uma viso adequada (no dispe de uma

    viso mica) para entender o universo espiritual

    pertinente a Umbanda. Por uma razo bvia: o

    Espiritismo foi concebido na Frana, em uma cultura

    extremamente diversa, num meio intelectual e

    "cientificista", sendo toda a sua proposta filosfica e

    metodolgica assentada sobre os discursos e a viso de

    mundo pertinente quela poca, naquele pas.

    Para finalizar, gostaramos de ressaltar aqui que as

    opinies grassadas no texto so particulares, no

    representam a idia de nenhuma coletividade ou

    instituio em especfico, to pouco tem a inteno de

    outorgar-se a Verdade. Da mesma forma, nosso respeito

    incondicional a todas as correntes religiosas, e em

    especfico ao prprio Espiritismo (do qual fomos, somos

    e seremos sempre admiradores e estudiosos, apesar de

    nossa crena estar situada nas lides da Umbanda).

  • 21

    Prticas Rito-Litrgicas na

    Umbanda

    Iremos agora explanar, de maneira simples e resumida, a

    respeito das prticas rito-litrgicas no templo de

    Umbanda.

    Adiantamos que no iremos tratar aqui de modelos de

    rituais, estabelecer cronogramas e procedimentos, pois

    isso dado e cabe a cada templo umbandista e aos seus

    dirigentes, os quais certamente dispem de amplos

    conhecimentos e vivncia para estabelec-los.

    Nosso objetivo ser o de tratar reflexivamente a questo

    ritualstica e da liturgia na prtica Umbandista,

    ressaltando seus objetivos, suas consequncias espirituais

    e social-coletiva. Para isso, iremos pautar-nos nos "ditos

    e escritos" de proeminentes umbandistas e pesquisadores,

    cujas obras esto citadas ao fim deste post.

    Primeiramente gostaramos de considerar o ritual como

    sendo a prxis fundamental para agregar, em torno de um

    objetivo especfico, as idias, pensamentos e o

    comportamento da coletividade presente no rito. Por sua

    vez, a liturgia (fechando assim o binmio rito-liturgia)

    implica em todo o proceder por parte dos adeptos, o qual

    viabiliza o cumprimento e a eficcia do rito. A liturgia

    seria constituda por determinados gestos, palavras,

  • 22

    rezas, roupas, aparatos e posturas corporais, e at mesmo

    o comportamento subjetivo (indicando concentrao,

    mentalizao, silncio, respeito, reciprocidade, etc)

    realizados dentro do ritual.

    Pois bem, toda a prtica rito-litrgica na Umbanda possui

    3 aspectos sobre os quais esta se fundamenta, quais

    sejam:

    1 Preparatria;

    2 Atrao de Foras;

    3 Movimentao destas Foras segundo o objetivo

    visado.

    Para que possamos cumprir um dado objetivo faz-se

    necessrio cumprir uma srie de prticas e um

    cronograma pr-estabelecido, a fim de sairmos de uma

    condio inicial e realizemos o que nos propomos a

    fazer. Em cima desta premissa que se assentam os

    vrios ritos presentes e verificveis no universo

    Umbandista.

    Dito isso, focamos a necessidade da prtica rito-liturgica

    como fundamental para o estabelecimento e a propagao

    da tradio umbandista. As tradies umbandistas,

    dentro de sua respeitvel diversidade, esto ligadas

    diretamente ao processo rito-liturgico. A tradio a

    consequencia imediata da vivncia e da prtica do rito ao

    longo do tempo, por meio do qual so ressignificados e

    transmitidos os princpios velados pelas Leis de

  • 23

    Umbanda, de gerao a gerao, de sacerdote/sacerdotisa

    ao iniciado, do mestre ao aluno.

    Como afirmaria mile Durkheim, um dos baluartes da

    sociologia moderna: "O culto no simplesmente um

    sistema de smbolos pelos quais a f se traduz

    exteriormente; o meio pelo qual ela se cria e se recria

    periodicamente. Consistindo em operaes materiais ou

    mentais, ele sempre eficaz".

    Ainda considerando a vivncia do rito, no seu aspecto

    social/coletivo devemos considerar o indivduo como

    portador de uma identidade divina, a qual no se

    caracterizaria por um individualismo exclusivista; mas

    uma identidade vivida e integrada ao contexto coletivo

    religioso. No rito religioso, o indivduo assume o

    "divino" interior, estabelecendo um contato prximo com

    a Divindade. Na Umbanda, essa

    experincia "mstica" dar-se- pelo transe mediunista, no

    qual o sujeito-mdium comunga com seu orix (aspecto

    manifesto da Divindade) por intermdio de seu Guia,

    sua "entidade de frente", seu "pai-de-cabea", o

    qual funciona como um mediador, manifestador e

    regulador dos aspectos mais profundos e pulsantes da

    inter-relao homem/Orix e mdium/Esprito Guia.

    Chegamos agora no aspecto espiritual da vivncia rito-

    litrgica. A importncia da conscincia religiosa por

    parte do adepto umbandista deve comportar esse ngulo

    de viso e compreenso da realidade espiritual, pois

    somente assim este poder ampliar e aprofundar sua

    vivncia e sabedoria dentro das Leis de Umbanda, e

  • 24

    obviamente colher melhores e mais frutos abenoados

    ao longo de sua jornada espiritual.

    Considerando que nos dias de rito, notadamente, as

    irradiaes do Orix comeam a se estreitar e entrelaar

    com as do mdium de maneira mais profunda pelo menos

    7 horas antes dos trabalhos, as prticas de preparao do

    mdium antes das giras, como sejam os "banhos de

    defesa", a introspeco, o cultivo da orao, a absteno

    de determinados hbitos e vcios, so fundamentais para

    que o adepto possa romper as barreiras

    interiores, inconscientes, de maneira a emergir a

    fora arquetpica e espiritual de seu Orix regente, e essa

    confluncia de foras possa resultar em processos de

    sade, de prosperidade, de maturidade emocional e

    vitalidade perante a vida. assim tambm que o mdium

    pode, de maneira prtica e patente, aprofundar seus

    estados de transe e assim aos poucos eliminar a dvida

    do "eu ou no-eu" durante a prtica mediunista.

    Adicionalmente, todos os templos umbandistas srios e

    com compromissos fundamentados na relao com os

    Mentores e Guias Luminares da Umbanda, possui toda

    uma estrutura espiritual, localizada obviamente na

    dimenso extrafsica, a qual comporta e atinge uma

    esfera exterior muito maior do que os limites fsicos do

    templo. Dentro desta dimenso esto inseridas uma srie

    de energias polivalentes e poderosas, as quais sero

    movimentadas no momento do rito a benefcio de todos

    os presentes e de tantos outros distantes, seja espacial ou

    dimensionalmente. A quantidade de Espritos associados

    ao rito, seja na condio de orientadores e amparadores,

  • 25

    seja na condio de doentes em tratamento supera em

    muito a quantidade de encarnados presentes no dia de

    trabalho.

    Sendo assim, toda a dedicao e carinho, alm do

    respeito e da seriedade, com os quais os mdiuns possam

    revestir-se, sero sempre fatores fundamentais para o

    bom andamento e para a eficcia dos trabalhos

    espirituais, em benefcios de todos!

  • 26

    Das Entidades Espirituais da

    Umbanda

    Muito se tem dito e escrito a respeito das entidades

    espirituais vinculadas ao universo espiritual da Umbanda.

    de conhecimento de todos, inclusive popularmente, as

    representaes simblicas sob as quais estas entidades se

    apresentam nos ritos dos templos umbandistas. So os

    nossos caboclos, pretos-velhos, crianas, baianos,

    boiadeiros, marinheiros...

    No entraremos aqui no estabelecimento de linhas de

    trabalho, ou na caracterstica particular de cada tipo de

    entidade, as quais cabem para cada templo, de acordo

    com sua tradio.

    Faremos sim, uma incurso direcionada ao conhecimento

    de quem so os Espritos que se manifestam como Guias

    e Protetores na Corrente Astral da Umbanda, bem como

    qual a sua relao com o universo "material", com a

    conscincia medinica e como estes Numes transitam

    entre a dimenso humana e a dimenso divina (expressa

    pelo Orix).

    Para iniciarmos, precisamos compreender em essncia a

    atuao do(s) Orix(s) como sendo a de um ser

    estruturador da Realidade. Tudo o que existe no

  • 27

    Universo, seja de natureza concreta ou abstrata, fsica ou

    no-fsica, realiza-se e sustenta-se por meio do(s)

    Orix(s). O(s) Orix(s) quem manifesta a "vontade

    Divina" no tempo e no espao, estruturando as vrias

    dimenses da Vida e abarcando em si as esferas

    pertencentes a estas dimenses (Natureza, Humanidade,

    Espiritualidade e Divindade).

    Por ser o agente manifestador da Divindade Maior

    (Olorum, Deus, Zambi, etc.), o Orix manifesta-se

    no universo como um todo, tornando-se regente de uma

    determinada faixa vibratria, a qual alberga em si todos

    os seres portadores de conscincia (independente de seus

    nveis) e, por consequncia, todas as coisas existentes.

    Lembremos que o "mundo material"

    (Natureza/Humanidade), segundo nossa conceituao,

    manifestao do "mundo espiritual"

    (Espiritualidade/Divindade), por isso o universo

    material existe na medida em que manifestado pela

    Conscincia, a qual est situada na dimenso

    Espiritualidade/Divindade.

    Obviamente, existe um contnuo "fluxo e refluxo" neste

    trnsito entre a Realidade Divina/Espiritual e a realidade

    Natural/Humana.

    Sendo assim, Orix torna-se ento manifestao da

    Divindade (sendo Seu preposto na Hierarquia Divina), na

    Espiritualidade (manifestando-se como fora viva atravs

    dos Numes Espirituais), na Natureza (por meio dos 4

    elementos: ar, fogo, agua e terra) e, por fim, na

    Humanidade (emergindo como fora

  • 28

    arquetpica pertinente ao inconsciente pessoal e coletivo

    do indivduo).

    Dito isso, entendemos agora que dentro de cada faixa

    vibratria, a qual denominamos Linha dentro das Leis de

    Umbanda, esto contidos aspectos divinos, entidades

    espirituais, elementos da natureza e seres humanos cujas

    conscincias "vibram originalmente" em sintonia com

    esta ou aquela faixa, representante deste ou daquele

    Orix. por isso que temos ento pessoas filhas de tal

    Orix, espritos representantes de Orix tal, elementos da

    natureza relacionados com Orix tal, assim como

    atributos divinos ligados a determinado Orix.

    Diante dessa questo, entenderemos que as entidades

    tidas como Guias e Protetores em nossa Lei de Umbanda,

    so aquelas que passando pelo ciclo nascimento - morte -

    reencarnao (ciclo reencarnatrio), a pouco e pouco,

    vivenciam e vivenciaram a experincia do contato

    homem/Orix, seja na vida do mundo espiritual, seja na

    vida "humana" (encarnao), seja na sua passagem

    evolutiva pelos reinos da natureza, adquirindo

    conscincia do Orix, daquilo chamado de "Deus

    interno", passando a ser manifestadores da fora e

    irradiao do Orix.

    Assim que podemos ter, dentro de uma mesma Linha,

    entidades diversas. Ex: Preto-Velho, Caboclo, e

    Boiadeiro manifestando a irradiao de Ogum;

    Marinheiro, Criana, Caboclo e Preto-Velho,

    manifestando a irradiao de Yemanj, e assim por

    diante.

  • 29

    Importante considerarmos tambm que os termos

    "Caboclo", "Preto-Velho", "Criana", "Baiano", etc.,

    mais do que a forma de apresentao destes Espritos,

    remetem ao grau espiritual concernente a cada um. Esse

    grau espiritual no traduz uma relao vertical entre as

    Entidades (por exemplo, Preto-Velho seria "mais

    evoludo" que o Caboclo, e vice-versa). Ao contrrio, as

    relaes do plano espiritual revelam-se horizontalmente

    entre os Guias e Protetores, sendo dada a ascendncia de

    determinado Esprito sobre o mdium pelo fato deste

    guardar maior afinidade vibratria e krmica sobre o seu

    tutelado. Embora seja verdade que muitos espritos

    tiveram pelo menos sua ltima encarnao como ndios,

    negros, nordestinos e sertanejos, isso no se torna uma

    regra na qual possamos enquadrar todos as Entidades que

    "baixam" nos templos de Umbanda.

    Tratando agora a respeito da relao mdium/Guia,

    podemos tambm citar um aspecto interessante, segundo

    o qual sendo o mdium filho de determinado Orix, esse

    receber um Guia manifestador deste mesmo Orix,

    conhecido como "pai de cabea" ou "guia de frente". Ser

    sempre sob a cobertura dessa entidade "principal" que

    iro ocorrer as manifestaes mediunistas das demais

    entidades que compem a "coroa medinica" do mdium.

    A abertura da sintonia medinica ser sempre realizada

    pelo guia de frente (no necessariamente incorporando-se

    no mdium antes das demais, mas sim efetivando uma

    influenciao mais subjetiva e sutil), resguardando o

    mdium e sua identidade.

  • 30

    Finalmente, e ainda sobre a atuao do Guia de frente,

    na experincia do transe, ao longo da vivncia

    tempo/rito, podero emergir os contedos

    numinosos presentes no inconsciente do mdium

    proporcionando experincias msticas profundas e

    alteraes marcantes no seu comportamento e percepo

    da vida, compreendo-se como Ser existente tanto na

    realidade material (natureza/humanidade) quanto

    espiritual (espiritualidade/divindade), como sujeito eterno

    e constitudo pelo Divino/Orix.

  • 31

    As Ervas

    Na Umbanda tudo tem um fundamento e uma razo de

    ser.

    No importa se essa "razo de ser" seja diretamente

    concordante com a cincia moderna, pois nem sempre a

    viso metafsica preconizada pela compreenso

    Espiritualista da realidade comporta mtodos de

    mensurao quantitativa e qualitativa, exigncias bsicas

    para a comprovao do mtodo cientfico acadmico.

    Importa sim, que a metafsica caracterstica de um

    segmento religioso comporte em seus princpios e

    fundamentos um discurso e uma prtica coerentes entre

    si, e esteja embuda de crtica da realidade de si mesma e

    da sociedade na qual est inserida. Assim, ambas as

    formas de compreender a realidade, no seu aspecto

    religioso e cientfico, podem se interfacear, no

    fundindo-se, mas convivendo num mesmo ambiente

    cultural, sendo comportadas pela f e pela razo humana,

    cada uma respeitando a esfera de ao a que lhe pertence.

    Dizemos isso para podermos abrir nosso estudo reflexivo

    a respeito das Ervas na Umbanda.

    Deixaremos claro mais uma vez que no iremos aqui

    passar receitas de banhos ritualsticos, defumaes,

    simpatias, amacis, etc. no que tenhamos nada contra,

  • 32

    muito pelo contrrio, uma vez que somos umbandista,

    mas como sempre nossa inteno ser a de refletirmos a

    respeito do porqu do uso e da importncia das ervas no

    universo religioso umbandista e como essas esto ligadas

    aos aspectos fsicos e espirituais, segundo o sistema de

    crena da Umbanda. Como sabemos que em nosso meio

    existem vrias tradies, procuraremos tratar o assunto

    da maneira mais ampla possvel para que tenhamos uma

    viso satisfatria e adaptvel ao mximo nmero de

    adeptos.

    A Umbanda, por ser essencialmente um credo

    Espiritualista, compreende a Realidade como sendo

    portadora de uma poro material e outra poro

    espiritual. No entanto, como j tratado em textos

    anteriores, no entendemos estas duas "polaridades" do

    Universo como estando separadas uma da outra.

    Entendemos inclusive que o "mundo material"

    manifestao do "mundo espiritual", seus aspectos

    essenciais coexistem dentro de um sistema maior em que

    foras sutis transitam entre ambos, carreando os influxos

    de origem divina/espiritual para o universo material, bem

    como a experincia dos efeitos materiais em essncia

    repercutem vibratoriamente em determinados nveis mais

    prximo-imediatos do plano espiritual.

    Uma vez compreendida essa questo, passamos a

    entender como, segundo nosso sistema de crena e

    experincia religiosa, tudo no planeta dotado de uma

    dimenso corpreo-fsica e outra mais

    essencial/espiritual. As ervas, utilizadas em nossa prtica

  • 33

    religiosa com as mais diversas finalidades, possuem

    ento uma dimenso corprea e vital (so seres vivos)

    assim como uma dimenso espiritual/divina (esto

    associadas s conscincias espirituais ainda em estgio de

    evoluo neste reino anterior ao hominal, assim como

    est contida nelas a manifestao direta dos Orixs).

    Diante de tudo isso, entendemos agora que as ervas

    podem influenciar o mundo material, quando utilizadas

    como medicamentos, alimentos, etc...assim como podem

    influenciar a dimenso espiritual, quando empregadas na

    rito-liturgia umbandista, em forma de banhos de defesa,

    defumaes, amacis, etc.

    Para concluir, abordaremos mais um aspecto de

    fundamental importncia para nossa compreenso. Como

    dissemos anteriormente, entendemos que tudo que h em

    nosso planeta, e neste caso, especificamente na natureza,

    dotado de uma constituio sutil e espiritual. Dessa

    forma, necessrio que haja, quando da utilizao da

    erva nas prticas do rito umbandista, uma ligao entre

    o(s) indivduo(s)/mdium(ns) operador(es) do rito com a

    erva ou as ervas que sero utilizadas.

    a mente do sensitivo que "dispara" o comando para que

    sejam movimentadas as foras sutis que esto contidas na

    erva e no ambiente que ser atingido por tal ao

    magstica. Devemos lembrar que para um trabalho

    espiritual, no qual as ervas sero utilizadas como

    poderoso recurso, a vontade e o pensamento do operador

    que iro subordinar e comandar o processo.

  • 34

    Evidentemente existem prticas de fundamento

    especficas dentro de cada terreiro que destinam-se

    justamente a promover esse "despertar" das propriedades

    espirituais das ervas. Para citar um exemplo, quando o

    corpo de mdiuns canta e dana para os Orixs junto ou

    prximo s folhas que posteriormente sero utilizadas

    nos trabalhos ritualsticos da casa, mesmo que muitos dos

    presentes no o saibam, podemos estar certos de que

    neste instante est ocorrendo uma verdadeira "agitao"

    nos planos etricos/espirituais em cujas dimenses

    movimentam-se os aspectos curativos/espirituais de

    nossas folhas sagradas, com as quais sempre poderemos

    contar como abenoados remdios para o corpo e para as

    questes espirituais, levando toda a negatividade, os

    acmulos nocivos de energias densas, afastando seres

    espirituais de baixa frequncia e nos colocando

    vibratoriamente em contato com os Guias e Orixs de

    nossa amada Umbanda!

  • 35

    A Defumao

    Em continuidade ao assunto iniciado e tratado no post

    anterior, trataremos agora de outra questo extremamente

    presente no dia-a-dia da prtica umbandista: a

    defumao. A defumao como verdadeira magia para a

    correo e harmonia das estruturas espirituais do templo

    e principalmente do indivduo.

    sabido por parte de todos os adeptos da nossa

    Umbanda como se preparar uma boa defumao. Os

    templos umbandistas fornecem essa orientao, alm de

    contarmos com uma considervel bibliografia no meio

    umbandista que trata, pelo menos de maneira bsica, a

    respeito deste fundamento.

    Entretanto, gostaramos neste momento de aprofundar o

    olhar a respeito e reflexionar sobre como uma prtica,

    vista como um mero "exotismo" ou prtica primitiva ao

    olhar do leigo, est revestida de tanta sabedoria e

    conhecimento a respeito das dimenses do ser humano e

    da vida.

    A difuso cada vez maior de idias a respeito da

    realidade quntica do universo em nossa cultura ocidental

    - a qual caracterizada pelo cientificismo e pelo

    racionalismo filosfico -, tem suscitado muitas

    discusses em nosso meio social e tambm nos meios

    acadmicos.

  • 36

    A compreenso quntica do universo (preconizada pelo

    eminente professor de Fsica da Universidade de Oregon,

    Amit Goswami) postula que a Realidade criada pela

    Conscincia, a qual escolhe, entre vrias possibilidades

    provveis, quais os contextos que iro surgir como

    realidades. Isso implica em dizer, sumariamente, que

    nossa conscincia objetiva ou de corpo (as sensaes

    corporais como calor, frio, dor, leveza, presso sobre a

    pele) e nossa conscincia subjetiva ou psquica

    (percepo de individualidade, assim como sentimentos,

    emoes, ideias, pensamentos), seriam causadas pela

    ao da Conscincia. A este princpio foi dado o nome de

    causao descendente (a Conscincia cria a realidade, o

    crebro e o corpo), implicando numa posio contrria ao

    paradigma cientfico materialista, tido como causao

    ascendente, o qual define o crebro como criador da

    conscincia e do sentido de individualidade.

    A Conscincia seria, portanto, Causal.

    Obviamente, essa Conscincia, a qual essencialmente

    ns mesmos, opera essas "escolhas" num nvel

    inconsciente, por isso no temos a percepo objetiva e

    consciente de que estamos produzindo a realidade em

    que vivemos, sentimos, pensamos e nos movimentamos.

    Talvez ai more a chave central para a compreenso da

    Lei Krmica. Em outra oportunidade, voltaremos a este

    aspecto para refletirmos a respeito da Lei do Karma e do

    Livre-Arbtrio.

    importante fixarmos, deste conceito acima explicitado,

    que a partir do momento em que a Conscincia cria a

  • 37

    Individualidade, a qual est localizada em vrios nveis

    dimensionais (natural - espiritual - divino, por exemplo),

    Ela (a Conscincia) manifesta estruturas paralelas que

    interagem dinamicamente e regulam-se umas as outras,

    num movimento de equilbrio. Essas estruturas, fazendo

    uma ponte com os conhecimentos espiritualistas,

    podemos cham-las, didaticamente, de: corpo fsico

    (material), corpo vital ("semi-material" ou etreo), corpo

    psquico (sutil) e corpo mental (sutilssimo).

    Uma vez que o movimento harmnico entre essas

    estruturas dinmicas implica na sade, consequentemente

    a desarmonia entre esses movimentos equivaleria

    doena (seja ela fsica, psquica ou espiritual).

    Cremos que o princpio espiritual (conhecido nos cultos

    de nao, nos Candombls, como Ax) est manifesto em

    cada ser humano, cada Esprito, e em cada elemento da

    Natureza (por conta da prpria ao dos Orixs), e este

    pode ser transmitido, assimilado, compartilhado e

    renovado dentro deste Sistema abarcado pela

    Conscincia.

    As ervas, na dimenso natural (Natureza), pelos

    processos de seu desenvolvimento, recolhem do solo os

    nutrientes necessrios para sua subsistncia e

    perpetuao da espcie, alm da influncia da luz solar e

    da lua, as quais tambm contribuem nos fenmenos da

    fotossntese e no seu crescimento.

    J na sua dimenso espiritual, as ervas esto carreadas de

    grande acmulo etrico, por conta da absoro das

  • 38

    energias sutis provindas dos 4 elementos (ar, fogo, gua e

    terra).

    Adicionalmente, na sua dimenso divina, as ervas

    carregam o princpio espiritual do(s) Orix(s).

    As ervas tambm so, portanto, manifestao da

    Conscincia Causal.

    Por carregarem em si substncias qumicas (seu princpio

    ativo), no momento de sua queima essas so liberadas no

    ambiente. Como muitas das ervas utilizadas na

    defumao possuem propriedades antisspticas e

    curativas (por exemplo, alecrim, eucalipto, arruda e

    guin), sua fumaa age primariamente sobre o corpo e o

    ambiente contribuindo para o saneamento destes.

    Em relao s estruturas etrica/espiritual, quando

    utilizamo-nos da defumao em nossas giras, os

    princpios espirituais liberados pelas ervas no momento

    de sua queima e potencializados na fumaa, influenciam

    estas estruturas de cada indivduo (encarnado ou

    desencarnado), estabilizando-as e contribuindo para que a

    Individualidade possa recuperar-se ou fortalecer-se.

    No entanto, na prtica litrgica, este processo manifestar-

    se- sempre pelo comando do mdium/operador, cuja

    conscincia e o poder da vontade "dispara" o gatilho que

    ir promover sua movimentao no plano espiritual.

    No podemos nos furtar a dizer da importncia de nossos

    Guias e Mentores neste processo, os quais dinamizam, no

  • 39

    momento da defumao, seus prprios "princpios

    espirituais", verdadeiros "mananciais de luz",

    direcionando-os para todos, formando uma verdadeira

    "aura coletiva" da qual cada um retirar o que lhe seja

    necessrio.

    Finalizemos colocando um ponto de destaque. No

    cremos, particularmente, que essa influncia nas

    estruturas sutis da Individualidade, efetivada no ato da

    defumao, processe-se obedecendo s Leis Fsicas

    conhecidas e aceitas atualmente. Nossa proposta aqui, ao

    citarmos conceitos da Fsica Quntica, a de

    contemporizar nossa viso do universo espiritual,

    estabelecendo uma relao com assuntos atuais,

    provindos de um meio oposto ao religioso, qual seja o

    meio cientfico acadmico.

    Pretendemos assim situar o conhecimento humano como

    sendo o contemplador de ngulos de entendimento da

    realidade diversos mas ao mesmo tempo

    complementares, dos quais podemos dispor para darmos

    significados nossa existncia e realidade.

    Lembremos que somos a Conscincia e escolhemos a

    nossa realidade!

    Deixamos isso claro para no parecer que estamos

    tentando dar explicaes cientficas para um processo

    essencialmente mgico e subjetivo, segundo nosso

    entendimento, embora totalmente eficaz e real.

  • 40

    O amigo leitor deve estar se perguntando agora: U... A

    que tipos de Leis ento essa prtica de "transmisso de

    foras" obedecer?

    Respondemos: Temos uma linha de estudo que versa a

    respeito dos fundamentos de transmisso de foras

    espirituais dentro da prtica umbandista.

    Isso por que a explicao do processo implica no

    tratamento de alguns conceitos que tornariam o presente

    texto muito extenso. Ento, no captulo

    "Simbolismo , Magia e Subjetividade na Prtica

    Umbandista", trataremos do assunto.

    Sarav!

    Defuma com as Ervas da Jurema,

    Defuma com Arruda e Guin,

    Benjoim, Alecrim e Alfazema

    Vamos defumar Filhos de F!

  • 41

    O Banho de Ervas

    O corpo instrumento da alma. Estamos manifestos no

    plano material e instrumentalizados por um complexo

    orgnico responsvel por arquivar nossas experincias

    sensoriais e extra-sensoriais, mediante cujo mecanismo

    acrescemos ao nosso patrimnio interior, por via do

    inconsciente, os registros dos quais nos valeremos ao

    longo de nossa caminhada espiritual, obedecendo ao

    imperativo da reencarnao.

    Como j salientamos em nossos textos anteriores,

    segundo nossa concepo, a Umbanda no v o mundo

    espiritual e o mundo material como expresses

    dissociadas e independentes. Cremos numa Unidade que

    se manifesta em dimenses diversas.

    Voltamos a essa premissa para que possamos entender o

    porque das prticas espirituais da Umbanda estarem

    intimamente ligadas a utilizao de elementos da

    natureza, smbolos e at mesmo com expresses

    corporais caractersticas.

    Ao contrrio do que alguns seguidores de outras

    correntes espiritualistas vem na Umbanda, no

    nos utilizamos de recursos "materiais" como apoio para

    conseguir "efeitos espirituais" que poderiam ser atingidos

    somente com faculdades subjetivas, supostamente de

    "nveis superiores". Para ns, a noo de corporeidade

  • 42

    est diretamente associada significao do mundo, no

    qual, como Espritos encarnados, nos manifestamos.

    Por exemplo, diferentemente do Espiritismo (vide:

    "Kardecismo" e Umbanda so iguais?), no qual a relao

    com o mundo espiritual expressa, notadamente, pela

    fala do mdium (por isso a utilizao do termo

    psicofonia, para designar o fenmeno pelo qual o esprito

    se comunica, nas sesses medinicas espiritistas), na

    Umbanda possumos duas formas de expresso do

    fenmeno espiritual: a linguagem corporal e a fala,

    sendo a primeira mais significativa e rica dentro da

    simbologia e fenomenologia do transe (por conta de suas

    gestualidades, danas, expresses faciais, atos litrgicos,

    etc.).

    "A linguagem da umbanda no referencial, no

    etiqueta objetos, metafsicos ou no, o que lhe permite

    uma grande liberdade de composio. Pode conceber-

    se como processos de enunciao que envolvem a

    integralidade dos sentidos"(Bairro, 2004).

    Como manifestao do Esprito, na Umbanda o corpo

    expressa memrias coletivas e pessoais, sendo essas para

    ns, o conjunto das vivncias da humanidade ao longo do

    tempo (em suas dimenses natural, social, espiritual e

    divina).

    Assim, os banhos de ervas compem dentro das prticas

    religiosas na Umbanda, mais um significativo

    procedimento para estabelecer-se a relao do seu adepto

    com o mundo espiritual.

    http://umbandadenegoveio.blogspot.com/2011/07/kardecismo-e-umbanda-sao-iguais.html

  • 43

    O banho de erva, assim como a magia das fumaas (vide:

    A Defumao), compe a preparao fundamental de seu

    adepto para o contato com o Sagrado, com os Numes da

    Umbanda, os quais no somente valem-se do psiquismo

    como tambm utilizam-se do corpo do mdium, num

    autntico processo de incorporao.

    Dessa forma, importante que no s o subjetivo (os

    pensamentos e as emoes) esteja em harmonia,

    refletindo um estado de serenidade. tambm

    sumamente imprescindvel que o corpo tambm esteja

    em estado propcio para a prtica espiritual.

    A prtica de banhar-se com as ervas ritualsticas serve

    como instrumento de fixao das irradiaes espirituais

    em torno do Aura do indivduo, restabelecendo o

    equilbrio de suas estruturas dimensionais mais sutis. O

    banho de ervas tambm pode ser utilizado como

    descarregador de "energias negativas" e como elo

    sintonizador com a vibrao de seu Orix.

    O "filho de f" umbandista precisa estar com seu corpo

    "vibratoriamente" adequado para que suas energias

    espirituais possam fluir de si, influenciando a realidade e

    produzindo estados de bem-estar, de equilbrio emocional

    e prosperidade.

    O mdium umbandista precisa estar com seu corpo

    "purificado" e sintonizado com as faixas espirituais de

    onde provm os Guias e Protetores da Corrente Astral de

    Umbanda, para que seu trabalho possa ser feito a

    contento.

  • 44

    No caso de uma influncia espiritual negativa, as

    emanaes etricas propiciadas pelo banho impactam

    sobre o corpo astral da entidade obsessora, alijando-a da

    ligao com seu "hospedeiro", favorecendo que este se

    reestabelea.

    Como vemos, nossas prticas esto repletas de

    significado e sabedoria, das quais nos dispomos dentro de

    nossa cultura religiosa, buscando sempre a sade, a

    felicidade e a relao com o Divino.

  • 45

    A Pemba, a Lei de Pemba e o

    Ponto Riscado

    A Pemba um elemento ritual muito caracterstico e

    presente nos terreiros de Umbanda.

    Como mostra a figura ao lado, trata-se de um giz rstico,

    constitudo de calcrio.

    Esse elemento amplamente utilizado nos rituais

    africanos, e obviamente, herdamos desta cultura religiosa

    tal prtica.

    A Pemba geralmente utilizada de duas formas

    especficas nos ritos: em p ou em forma de pedra.

    A origem do nome, Pemba, vem da lenda africana

    referente ao monte Kabanda e as guas do rio Usil (tidos

    como sagrados pelas tribos Bacongo e Congo). A lenda

    conta a histria da donzela M.Pemba, virgem filha do

    poderoso lder de sua tribo, Soba Li-u-Thab. M.Pemba

    seria conservada virgem para que fosse oferecida s

    divindades cultuadas por aquela tribo, no entanto, a

    jovem conhece um estrangeiro, e ambos entregam-se a

    uma aventura amorosa, tomados pela paixo.

    O pai de M.Pemba, quando toma conhecimento de tal

    aventura amorosa, manda degolar o rapaz para que em

  • 46

    seguida fosse lanado ao rio USIL, de maneira que fosse

    devorado pelos crocodilos. M.Pemba, consternada com

    tal tragdia e desiluso amorosa, para atestar sua dor e

    pesar, cobria todo o seu corpo com o p branco retirado

    do monte Kabanda e noite, para que seu pai no

    soubesse desse ato de dor perante a morte de seu amor,

    lavava-se nas margens do rio.

    Um dia, pessoas da tribo que observavam M.Pemba

    banhar-se, viram que a jovem elevava-se aos cus,

    deixando em seu lugar um monte de massa branca s

    margens do rio. Ao informarem o pai, Soba, enfurecido,

    mandou que tambm degolassem aos membros da tribo.

    No entanto, como estes haviam passado em seu corpo

    aquela massa branca deixada pela jovem "divinizada",

    perceberam que o tirano lder acalmava-se e tornava-se

    bom, desculpando os seus servos.

    A partir da, a Pemba vem sendo utilizada dentro dos

    ritos africanos.

    A Lei de Pemba.

    O termo refere-se ao domnio da mstica

    simblica, realizada e transmitida pelos guias de

    Umbanda, cujos seus maiores conhecedores e guardies

    de seu segredo so os nossos Pretos-Velhos.

    A Lei de Pemba expressa pela utilizao de smbolos

    cabalsticos de origem universal, presentes em todas as

    culturas ao longo da histria da Humanidade, os quais

  • 47

    ganham re-significao prpria dentro da rito-liturgia

    umbandista.

    A Lei de Pemba contm em si aspectos fundamentais do

    conhecimento transcendente a respeito das Leis

    Espirituais que regem os movimentos das conscincias

    viventes no planeta Terra, bem como as vinculaes de

    ordem krmica entre estas e os mecanismos pelos quais a

    vontade humana pode subordinar foras sutis e naturais,

    movimentando-as, com a inteno de produzir efeitos

    que impactem nas dimenses material e espiritual.

    Sendo assim, a Lei de Pemba manifesta as chaves para o

    conhecimento dos atributos e vinculaes das Entidades

    Espirituais dentro das Leis de Umbanda, assim como

    guarda para si aspectos mais profundos que no podem

    ser acessados diretamente por pessoas (encarnadas) e

    mesmo entidades espirituais que ainda no possuam

    nveis de conhecimento e de conscincia prprios para

    tal.

    Como dissemos, as Entidades Espirituais ligadas

    Corrente Umbandista, trazem os conhecimentos, em

    maior ou menor grau, referentes Lei de Pemba e para

    que possam graf-los, "abrindo-os" para a dimenso

    material, utilizam-se de smbolos prprios da cultura

    humana, os quais encontram-se gravados no inconsciente

    do mdium e em si prprios. Para isso, dentro da cultura

    umbandista, damos significados prprios a tais

    simbologias, contextualizando-os de acordo com nosso

    universo simblico-espiritual.

  • 48

    De acordo com Evans-Pritchard (2004), conforme consta

    em Etiene Sales (2005), o smbolo religioso uma

    representao analgica do mundo invisvel, sendo a

    cultura a matriz geradora das formas simblicas que

    trazem existncia (mundo imanente) foras do mundo

    espiritual.

    Pelo exposto acima, vemos que a Espiritualidade ir

    utilizar-se daqueles smbolos subjacentes no inconsciente

    do indivduo, portanto dotados de grande fora

    emocional e transcendente, para imprimir as "ordens" e

    "movimentos" que facultaro a obteno de determinados

    efeitos sobre o ambiente, sobre a coletividade presente ao

    rito, sobre o mdium ou o consulente, sobre um esprito

    desencarnado ou um doente necessitado de ajuda, etc...

    Depreendemos ento que a Lei de Pemba, num nvel

    mais fundamental, utilizada para a criao de

    concentraes de foras que sero postas em movimento

    para beneficiar os presentes ao rito.

    Assim, a Lei de Pemba consubstancia-se, dentro da

    prtica rito-litrgica umbandista, por meio do Ponto

    Riscado.

    Ponto Riscado

    Segundo as Hierarquias Espirituais regentes das Leis de

    Umbanda, os espritos ligados Corrente Astral afim

    nossa faixa espiritual religiosa, esto agrupados em 3

    categorias distintas, quais sejam:

  • 49

    Orixs, Guias e Protetores (trataremos em artigos

    futuros de maneira mais detalhada a respeito das

    Hierarquias Espirituais da Umbanda).

    Essa categorizao evidencia uma qualificao em

    termos de evoluo espiritual para os espritos

    trabalhadores da Umbanda.

    Pela Lei de Afinidade, estes espritos iro utilizar-se de

    mdiuns compatveis com seus propsitos e alcances de

    trabalho. De maneira geral, os espritos identificados com

    o trabalho medinico esto entre aqueles na condio de

    Guias e Protetores.

    Conforme havamos dito, a Lei de Pemba contm em si

    uma srie de aspectos profundos da realidade espiritual, e

    por conta disso, seu acesso no dado de maneira

    integral a todos os Espritos e mdiuns. O patamar de

    conhecimento e possibilidades de compreenso a respeito

    da utilizao da grafia cabalstica umbandista, est

    diretamente relacionado ao grau de conscincia

    manifestados pelo Esprito atuante e o seu respectivo

    mdium.

    Dessa forma que veremos Pontos Riscados que

    meramente trazem informaes a respeito da Entidade

    manifestada naquele momento, qual a sua pertena

    espiritual e ordens de trabalho. Ou seja, pelos smbolos

    contidos no Ponto Riscado, podemos identificar qual a

    Linha, Falange e Cruzamento (se for o caso) do Guia ou

    Protetor. Alis, justamente, o que ir categorizar um

  • 50

    esprito na condio de Guia ou Protetor exatamente a

    simbologia e interpretao expressa no Ponto Riscado.

    Resumindo, pelo Ponto Riscado a entidade poder dizer

    quem , qual a sua linha e, qual seu grau dentro da

    hierarquia espiritual. O Ponto Riscado a assinatura da

    Entidade Espiritual.

    Adicionalmente, o Ponto Riscado utilizado no

    somente para identificao dos Espritos como tambm

    para beneficiar determinadas pessoas (fsica ou

    espiritualmente) e para a consagrao de guias, patus,

    elementos rituais (pembas, instrumentos da curimba,

    fitas, velas, imagens, etc).

    No podemos deixar de considerar, quanto

    interpretao e significado dos smbolos usados nos

    Pontos Riscados, ser imprescindvel levar em conta o

    contexto cultural e tradicional do templo umbandista

    onde sero expressos e manifestos. Isso por que, segundo

    Sales (2005): "O significado de um smbolo no

    intrnseco, mas depende do discurso em que encontra

    inserido em sua prpria estrutura. Fora do contexto onde

    foram gerados, os significados dos smbolos se alteram

    [...]. preciso perceber a dinmica prpria da cultura

    religiosa do local e sua influncia nas simbologias e

    representaes".

    Compreendemos ento que os Pontos Riscados no so

    smbolos universais (embora os elementos contidos neles

    sejam) e sua linguagem expressa um padro dinmico

  • 51

    que carece ser interpretado dentro do contexto religioso

    de cada casa de Umbanda.

    Sendo assim, esperamos ter contribudo um pouco com o

    esclarecimento a respeito destes aspectos to presentes na

    nossa vivncia umbandista.

    Que Oxal abenoe-nos!

  • 52

    As Roupas Litrgicas e as Fitas

    A questo dos aparatos litrgicos na Umbanda sempre

    notada por parte daqueles que frequentam ou tomam o

    primeiro contato com nossa religio. Em meio a essa rica

    estrutura semitica presente nos ritos umbandistas,

    encontramos os elementos que serviro como pontos de

    atribuio de significados de nossa cosmoviso, quais

    sejam os elementos rituais.

    Neste post, traremos consideraes a respeito de

    dois elementos rituais especficos: As Roupas Litrgicas

    e as Fitas.

    Antes disso, devemos lembrar que em posts anteriores,

    havamos j situado a interao Esprito-corpo, sob cujos

    mecanismos a corporeidade fundamental para o

    entendimento de sua ao sobre a espiritualidade. O

    corpo, por caracterizar-se como manifestao do Esprito,

    tambm esprito, situado na dimenso material. Os

    elementos corpreos (ditos materiais) tambm possuem

    estruturas sutis e irradiaes espirituais que os compem.

    O trabalho com o corpo e o corpreo torna-se o vnculo

    principal para influenciarmos a realidade espiritual,

    pois pela experincia do contato com a realidade fsica

    (material) que o Esprito agrega os valores

    imprescindveis para o seu aprimoramento e evoluo.

  • 53

    Assim, a composio de sentidos estticos para as

    prticas espirituais no so fetichismos, mas so atos de

    reconhecimento do espiritual naquilo que em sua

    essncia j o . A matria-prima utilizada na confeco

    de todo o aparato litrgico, contm essencialmente a

    fora espiritual por provir da Natureza, na qual esto

    impressas, de forma latente, as irradiaes dos Orixs.

    No "corpo fsico" esto situados os elos de vrias

    dimenses do Ser e da Vida. No corpo, encontramos a

    ligao entre o indivduo e o coletivo, a cultura e a

    natureza, o sagrado e o humano (Silva, 2008).

    O corpo do adepto deve ser preparado para receber os

    Guias, manifestadores dos Orixs, e para isso deve estar

    interiormente e exteriormente adequado para tal ato,

    havendo um entrelaamento dos planos sagrado e

    humano, permeados por um sentido esttico.

    Cultura e natureza, assim como sagrado e humano, so

    aspectos interpretados dentro da cultura Umbandista,

    assim como nas demais religies afro-brasileiras, como

    sendo no-opostos. Antes, so aspectos que fluem para

    um mesmo princpio e fim.

    As roupas litrgicas - roupas de santo, como so

    conhecidas -, obedecem a uma composio bsica e

    homognea, de maneira que todos os integrantes

    do cazu estejam apresentando-se uniformemente.

    Nessa prtica, entendemos que no momento do rito,

    quando o mdium veste sua roupa de santo, ele deixa de

    lado a sua individualidade - seus atributos sociais,

  • 54

    seu status econmico, seu grau de intelecto, etc. -, para

    inserir-se em um contexto religioso que o conduzir a

    uma vivncia na qual a persona individual deve ser

    deixada de lado para que haja a passagem para a persona

    social, o sujeito integrante de um sistema maior, no qual

    ele compe um elo. Um dos vrios elos da corrente

    medinica.

    Assim, nossas circunstncias particulares devem ser

    deixadas, momentaneamente, de lado para que possamos

    integrar-nos aos trabalhos espirituais, porquanto neste

    trnsito entre persona individual - persona social

    anularemos os aspectos centrais de nossa conscincia

    para abrirmos campo a persona-espiritual que ir acessar

    a persona-divina, a depender de cada um, habitante do

    interior de cada ser humano.

    A roupa litrgica, por caracterizar um aparato especfico

    e importante para o mdium, deve ser tratada como tal.

    Recomenda-se, portanto, que esta seja lavada em

    separado das demais roupas de uso do mdium, assim

    como seja guardada em local especfico e, de preferncia,

    em separado das demais roupas.

    Nunca demais lembrar que a utilizao das roupas de

    santo deve limitar-se aos dias de rito, bem como

    s devem ser vestidas dentro do templo religioso, salvo

    excees preditas pelo dirigente da casa.

    Outra caracterstica das roupas de santo refere-se sua

    aparncia. bem sabido de todos os umbandistas que as

    vestimentas tm a cor branca como fundamental. Os

  • 55

    modelos das roupas litrgicas so estabelecidos pela casa

    e devem ser utilizados por todos os seus mdiuns, no

    permitindo-se variaes. Isso por que bvio que, no

    aspecto coletivo, a roupa de santo visa dar uniformidade

    ao grupo frequentador do templo.

    A utilizao de roupas brancas, como smbolo religioso,

    milenar e podemos encontr-las ao longo da histria

    dentro das culturas egpcia, tibetana, hind, chinesa e

    rabe. No Brasil, o costume da utilizao da cor branca

    dentro dos ritos nas religies afro-brasileiras, deu-se por

    influncia dos negros mals. O termo mal originou-se

    da palavra em iorub imal, sob a qual identifica-se os

    negros mulumanos.

    Estes, trazidos tambm como escravos ao Brasil, eram

    islamizados e trouxeram o hbito da utilizao da roupa

    branca, bem como do turbante (tambm conhecido como

    toro), entre outros elementos prprios de sua cultura j

    sincretizada entre a cultura iorub e o islamismo.

    Com isso dizemos que, ao contrrio do que muitos

    pensam, o uso da roupa branca na Umbanda no advm

    de uma influncia kardecista, pois como j deixamos

    claro em um texto anterior (ver: Kardecismo e Umbanda

    so iguais?), o Kardecismo no prev nenhuma espcie

    de roupa caracterstica, to pouco a utilizao de

    qualquer objeto ritual ou simblico.

    Continuaremos agora dando enfoque para a utilizao das

    Fitas na prtica umbandista.

    http://umbandadenegoveio.blogspot.com/2011/07/kardecismo-e-umbanda-sao-iguais.htmlhttp://umbandadenegoveio.blogspot.com/2011/07/kardecismo-e-umbanda-sao-iguais.html

  • 56

    Para refletirmos a respeito da utilizao de um objeto to

    singelo e aparentemente de menor importncia, um

    adereo, na prtica ritual, precisamos compreender a

    natureza e a finalidade do smbolo dentro da vida humana

    e, especialmente, das prticas religiosas.

    Segundo Heinz-Mohr:

    "Todos, quer tenham ou no conscincia, servem-se de

    smbolos, de dia e de noite, na linguagem, nas aes e

    nos sonhos. O smbolo escapa, porm, definio exata.

    Forma parte de seu ser no se deixar reduzir a quadro

    fixo, uma vez que une extremos, o incomponvel,

    concretude e abstrao, servindo finalidade de aludir,

    com sinal perceptvel ao sentidos, a algo que no

    perceptvel aos sentidos".

    O termo smbolo, vem do grego symbolon, cujo

    significado "lanar com, pr junto com, juntar".

    Compreendemos ser a funo do smbolo a de juntar

    aspectos de uma mesma realidade, os quais encontram-se

    aparentemente dissociados, devido nossa limitao

    perceptiva em relao a essa mesma realidade. Logo, o

    smbolo servir como instrumento que intui ou restitui,

    mesmo que de maneira momentnea, a unio entre dois

    ou mais planos e sentidos diferentes de uma totalidade

    que nos est inacessvel razo discursiva e aos sentidos

    externos (Malandrino, 2006).

    As Fitas, ento, iro simbolizar aspectos transcendentes

    das foras espirituais, mais especificamente das faixas

  • 57

    vibratrias sob regncia dos Orixs, servindo-se para isso

    de seu formato caracterstico e suas cores, intuindo os

    planos de energias espirituais bem como sua irradiao

    especfica, simbolizada na colorao prpria a cada

    Orix.

    Os smbolos, na prtica

    religiosa, exprimem vivncias espirituais e psicolgicas

    de uma individualidade ou coletividade, advindos das

    profundezas do inconsciente, e por isso devem ser

    objetos de uma experincia mais profunda do que a do

    simples conhecimento (Malandrino, 2006).

    A Umbanda, por ter constitudo-se de uma formao

    sincrtica entre as culturas indgena, africana e europeia,

    herdou em seu imaginrio, integrando ao seu universo

    espiritual, o simbolismo das prticas caractersticas de

    cada uma destas, reelaborando-as e dando-lhes

    significados prprios.

    Notadamente em relao ao uso das Fitas, herdamo-las

    do Catolicismo Popular, difundido pelos portugueses, o

    qual era repleto de prticas mgicas, visando o benefcio

    e a cobertura espiritual para os seus fiis. Conforme

    lemos em Silva:

    "Assim, fitas cortadas pelos padres na altura das

    imagens dos santos e amarradas na cintura eram usadas

    para removerem dores, doenas e realizarem o pedido de

    seus portadores" (Silva, 2000).

  • 58

    Na prtica umbandista, as Fitas destinam-se ento a

    propiciar um campo de proteo e descarga de energias

    em relao ao corpo do mdium, desde que utilizadas

    sobre os ombros ou envoltas na cintura. Colocadas sobre

    uma oferta ou atadas a algum elemento ritual, tm a

    finalidade de manifestar, espacialmente, a vibrao de

    determinado Orix.

    Finalmente, interessante notar que as prticas

    umbandistas surgem de um mecanismo de significao

    de prticas populares e tradicionais das culturas

    formadoras de nossa sociedade, conciliando-as com a

    dimenso espiritual, traduzindo os aspectos ocultos de

    uma Realidade transcendente (sagrada) que evidencia-se

    no mundo corpreo por meio da cultura, da natureza e do

    humano.

    Essa a sabedoria dos nossos Guias e Mentores e dos

    nossos ancestrais, babalorixs e yalorixs, que a despeito

    de no possurem formao intelectual dos bancos

    universitrios, e por isso foram muitas vezes vistos como

    ignorantes e primitivos, possuam e possuem ainda, pois

    que so Espritos eternos, grande poder de sensibilidade

    espiritual e intuio a respeito dos altiplanos da Vida.

  • 59

    As Guias

    Orix - homem - guia.

    Esse o fluxo mstico das foras sutis que sero

    impregnadas neste elemento ritual de tanta valia e

    significado dentro da prxis umbandista. O Orix

    estende e deposita sua irradiao sobre o colar

    ritualstico (guia) por intermdio do ser humano

    (mdium), portador do divino e da corporeidade, o qual

    a ponte vinculadora para a passagem da fora

    espiritual dos planos invisveis para o mundo corpreo.

    Vimos reforando que os smbolos, dentro do rito

    religioso, tm a funo precpua de ligar aspectos de uma

    Realidade total, para dar ao homem a viso e o contato

    do mundo invisvel pelo mundo visvel, pois somente por

    meio do smbolo que podemos entender e experienciar

    o mundo espiritual, o qual constitudo de aspectos de

    realidade que no podem ser abarcados

    integralmente pela nossa capacidade intelectiva e pelos

    nossos sentidos corporais.

    As guias, especificamente, encerram em si mesmas a

    transio contnua do mundo invisvel (espiritual) para o

    mundo visvel (material), pois que nelas encontra-se a

    elaborao das foras espirituais conjugadas com o

    trabalho artesanal do humano, infundindo o princpio da

    http://umbandadenegoveio.blogspot.com.br/2011/09/simbolismo-magia-e-subjetividade-na.html

  • 60

    fluncia de dois aspectos da realidade humana (esprito e

    matria) num ponto em comum.

    Cada guia destina-se a envolver o mdium na vibrao de

    seu Orix ou de seus Guias e Protetores, portanto, esta

    deve ser concebida pelo prprio indivduo seu portador,

    ou pelo dirigente da casa a que esteja vinculado.

    Obviamente, a confeco da guia obedecer s ordens

    das Entidades Espirituais, as quais traro ao mdium as

    instrues de como devero ser feitas, bem como os seus

    elementos constitutivos.

    Alm disso, dever passar por um processo de preparao

    para ser utilizada (ser cruzada, por exemplo), bem como

    o mdium deve ser autorizado pelo dirigente da casa para

    que possa valer-se deste elemento.

    A guia fornece a identidade ritual do adepto, vinculando-

    o a um Orix e a um Guia espiritual, responsveis por sua

    guarda e orientao.

    Ao colocar a guia no pescoo, o indivduo adentra o

    espao mstico e sagrado que envolve neste instante o seu

    complexo fsico e espiritual, ligando-o s correntes

    espirituais sustentadoras de seu templo. Entendemos que

    no espao que se forma dentro da guia, circular,

    vinculam-se irradiaes que estaro destinadas a

    projetarem-se para fora do campo de foras do mdium,

    influenciando o ambiente (fsico e etrico) a sua volta,

    para trazer-lhe de volta a somatria das energias afins

    geradas ao longo do trabalho espiritual.

  • 61

    Da mesma forma, as guias tambm serviro para criar um

    movimento inverso, dinamizando suas foras (e as do

    mdium) para tornarem-se escudo e pontos de descarga

    de vibraes negativas, oriundas do plano astral inferior,

    e de formas-pensamento (idias plasmadas no plano

    astral) de teor perturbador desencadeadas pelos maus

    sentimentos e pensamentos daqueles presentes aos

    trabalhos (encarnados ou desencarnados) em condio de

    desequilbrio.

    A guia, dentro da linguagem ritual, possui

    aspectos identificadores, os quais variam em sentido de

    acordo com cada templo umbandista, no entanto, de

    maneira geral podemos consider-las:

    a) quanto s cores: as cores representam os Orixs. A

    combinao de cores pode representar o tipo ou

    qualidade do Orix, assim como tambm podem indicar a

    qual Orix determinado Guia Espiritual est subordinado;

    uma cor especfica, a depender da orientao da casa,

    tambm pode simbolizar o grau de determinado mdium

    dentro da hierarquia da casa. Ou seja, se ele iniciante,

    se j mdium formado, se babalorix/yalorix, etc.

    b) quanto ao nmero de fios: geralmente, as guias

    traadas com mais de 1 fio, podem representar o nvel de

    aprofundamento que o mdium obteve dentro da

    tradio. Ou seja, se ele possui 1 ou mais preparaes

    (obrigaes);

    c) quanto a sua utilizao: existem guias que no iro

    representar um Orix ou Guia Espiritual ligados quele

  • 62

    mdium. Podem, entretanto, ser de utilidade ritual ou

    espiritual. Em outras palavras, essas guias podem ser

    destinadas a representar aquele templo de maneira

    especfica, ou servir de proteo ou defesa

    para um adepto, num caso especfico, a depender de sua

    situao e necessidade naquele momento.

    Est estabelecido que a guia s possui valor e significado

    se estiver vinculada pessoa/mdium, destinada a ser sua

    proprietria. No h, portanto, sentido na utilizao de

    guias adquiridas j prontas, penduradas nas lojas de

    artigos religiosos. To pouco deve-se emprestar a outrem

    ou tomar-lhe emprestado a guia, por qualquer motivo que

    seja.

    Lembramos, novamente, de um ensino contido num post

    publicado anteriormente: a fora do Guia reside na mente

    do mdium.

    pela mente enobrecida e sria que vincularemos as

    energias transcendentes que sero irradiadas de ns, e

    atradas a ns, ao longo do anos de contato espiritual. O

    mdium disciplinado e habituado prtica do transe, bem

    como reflexo em torno de si mesmo, faz de sua mente

    um lago de guas calmas, que pode refletir a beleza do

    luar. Luar este que representa a irradiao positiva dos

    Guias e Protetores de Aruanda. Assim que podero fluir

    de si e chegarem onde forem necessrias as foras

    espirituais emanadas dos planos etreos para o campo

    material, beneficiando a todos que necessitem, pelo

    esclarecimento, pela palavra orientadora e consoladora,

    ou pela orao silenciosa em favor da Humanidade.

  • 63

    Queremos com isso colocar que no pela quantidade e

    nem pela beleza das guias que possamos ter em nossos

    pescoos que iremos ter maiores ou melhores retornos e

    gratificaes em nossa vida espiritual, especificamente

    no mediunismo umbandista.

    O nmero de guias tambm representar a experincia do

    mdium ao longo de sua vivncia medinica. A

    utilizao da guia sinal de responsabilidade e dever de

    conscincia por parte daquele que a possua.

  • 64

    As Velas

    "[..]a vela acesa, por exemplo, tanto um sinal

    sensvel, como um importante transmutador

    energtico visto que nela esto contidas as quatro

    foras sutis (cera: telrica; cera derretida: hdrica;

    chama: gnea; fumaa: elica). Nota-se que nessa

    explicao a vela no representa as foras sutis, ela as

    foras sutis, logo ela um veculo condensador de

    energias dos sete raios sagrados no plano material. A

    vela, nesse sentido, um smbolo do sagrado ao mesmo

    tempo em que o sagrado. No s a vela, mas todos os

    objetos presentes no cong (altar) ou utilizados numa

    oferenda ou num banho pedras, ervas, alimentos etc.

    apresentam esse duplo carter, metafrico e metonmico,

    de representar e presentificar o sagrado" (Chiesa,

    2010).

    As velas tambm so conhecidas dentro

    de algumas casas umbandistas e candomblecistas

    como murilas.

    Lembraremos sempre que a utilizao de smbolos, os

    mais diversos, na prtica umbandista, so atos concretos

    carregados de sentido espiritual, presentificando as foras

    espirituais provenientes do mundo imanente, invisvel.

    Assim como o uso das Fitas, tratado em artigo anterior,

    herdamos tambm das prticas do Catolicismo Popular a

    utilizao das velas como meios de inter-relao entre o

  • 65

    sagrado e o humano. A vela um dos smbolos religiosos

    mais tradicionais, e por meio destas que o homem

    tentou estabelecer um primeiro contato com o divino.

    O princpio foi o fogo, quando os homens primitivos

    danavam em volta da fogueira, aps terem aprendido a

    manipul-lo (uma vez que representava grande ameaa

    ao homem daquela poca), como uma forma de se

    relacionarem com uma fora dominante e arrebatadora,

    identificada como a prpria divindade.

    Nas culturas da Antiguidade Clssica, encontraremos o

    significado das velas como representantes da sabedoria e

    da iluminao, bem como da luz da alma imortal. Assim,

    so utilizadas por diversas religies, e a relao da

    Divindade simbolizada pela ideia da chama viva que

    nunca apaga, consta, por exemplo, na orao no

    cannica do Senhor, citada nas Homlias de Orgenes,

    conforme lemos em Jung (1978): "Ait autem ipsi

    Salvator: qui iuxta me est, iuxta ignem est, qui longe est a

    me, longe est a regno" (Quem est perto de mim, est

    perto do fogo; quem est longe de mim, est longe do

    reino).

    No inconsciente coletivo ficou, portanto, enraizada a

    simbologia do rito executado em torno da

    chama, pelo qual o homem buscava harmonizar-se com

    as foras da natureza, que at ento o subjugavam e

    amedrontavam.

    Nas prticas rito-litrgicas da Umbanda, a utilizao da

    vela efetiva iluminar determinado espao, fazendo a

  • 66

    ligao do aspecto mgico ao religioso, invocando certas

    vibraes do plano astral para aquele ambiente, naquele

    instante. Por isso, comum os congs, os cruzeiros, as

    ofertas, etc, serem acompanhados de velas acesas, as

    quais iluminam aqueles elementos, sustentando os

    pedidos, louvores e agradecimentos.

    Quando dispostas no cong, obedecendo

    distribuio das cores referentes a cada Orix, as velas

    remetem ao significado do Setenrio Divino, ou as Sete

    Linhas de Umbanda e sua mstica direcionada a

    representao dos aspectos manifestos da Divindade Una,

    o Deus Criador.

    Segundo algumas tradies umbandistas, a quantidade

    numrica de velas a serem utilizadas criam o campo

    propcio para pedidos de ordem espiritual ou material.

    Sendo assim, sequencias de velas acesas em nmero par,

    criam campo propiciatrio para tratamento de questes

    de ordem material (doena fsica, problemas na justia,

    dificuldades financeiras, desemprego, etc.); enquanto

    velas acesas em nmero mpar criam campos

    propiciatrios para tratamento de questes espirituais

    (sentimentos conturbados, influncias espirituais

    negativas, falta de clareza e sentido na vida, sensao de

    angstia, etc.).

    Num ritual de Umbanda podemos encontrar estmulos

    visuais (cores, smbolos, imagens, velas), auditivos

    (cnticos, toques de atabaque), proprioceptivos (danas),

    olfativos (defumaes, gua-de-cheiro, ervas, tabaco) e

    gustativos (alimentos, bebidas). No encontramos,

  • 67

    apenas, os estmulos tteis no ritual, excetuando-se,

    talvez, as palmas (Morini, 2007).

    No rito umbandista, encontramos uma srie de

    simbologias que, por meio de um sentido esttico,

    desencadeiam estmulos a

    serem assimilados psicologicamente e organicamente

    pelos presentes. Evidentemente, as velas esto entre

    aqueles smbolos de natureza visual.

    O contato com a imagem simbolizada na vela remete-nos

    a significaes especficas de suas partes, como o seu

    corpo, com sua colorao especfica

    simbolizando determinado Orix, e o pavio, sustentando

    a chama ao longo da queima, simbolizando a energia

    espiritual, presentificando no espao a presena

    da Divindade, em uma corrente de luz que se expande em

    direo aos cus, como se retornasse, aps ter sido

    evocada, levando consigo as mentalizaes que foram

    geradas no momento do rito.

    Portanto, quando acendemos uma vela com determinada

    inteno, estejamos certos de que neste instante abre-se

    um portal para o plano astral, por onde ocorrer,

    enquanto perdurarem a queima de seus elementos e a

    sustentao dada pelo pensamento de quem ora ou

    pede, a passagem de irradiaes que iro impactar,

    mesmo que de maneira limitada, sobre o ambiente e

    tambm sobre ns mesmos, promovendo o

    entrelaamento do indivduo com tais irradiaes. Por

    isso, o profundo respeito e a sinceridade de inteno so

    posturas interiores imprescindveis para aquele que

  • 68

    pretende fazer luzir uma vela, em benefcio de algum ou

    de si prprio.

  • 69

    Msica e Movimento na

    Umbanda

    Msica e movimento so aspectos fundamentais das

    prticas umbandistas e constituem o corolrio da sua

    rito-liturgia, como expresses veiculadoras e

    presentificadoras do xtase religioso.

    A gira de Umbanda, de uma maneira geral, caracteriza-se

    pela musicalidade, a qual direciona e regula os

    seus diversos "momentos". A exp