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www.helenamilena.com/roswell/ - Existe uma verdade para cada rumor 1 Roswell High – 04 – O Observador (The Watcher) Tradução: Mia - www.helenamilena.com/roswell (dê os devidos créditos) Revisão: Mia, Gabriel Autora: Melinda Metz Copyright (c) 1998 by POCKET BOOKS, a division of Simon & Schuster Inc. First published in 1998 by Archway Paperbacks UMA NOVA FRAQUEZA ASSUSTADORA Max respirou profundamente e se concentrou em formar a conexão que precisaria para curar o corte. Ao invés das várias imagens que ele esperava receber de Liz, ele continuava a receber uma única imagem repetitivamente... a imagem dele com os olhos rolando para trás de sua cabeça. Por que é que não estava funcionando? Por que ele não conseguia entrar? Max respirou profundamente novamente. Pense em Liz, ele disse a si mesmo. Mas só consegua a mesma imagem nauseante. Liz soltou a sua mão da dele. - Está tudo bem. Não é nada demais. Você tem algum lenço ou alguma coisa? A gente pode simplesmente fazer uma faixa. Max rasgou a parte de baixo de sua camisa e cuidadosamente emendou na mão de Liz. - Você tem certeza que pode dirigir? – ele perguntou. - Tenho – ela deslizou para trás do volante e retornou a estrada. O deserto que passava por ele parecia mais sombrio e perigoso agora que ele sabia que não tinha mais seus poderes. *** 1 *** Max Evans olhava-se no espelho do banheiro. - Não tá nada bom, chefe – ele disse para seu reflexo. Bochechas para dentro. Bolsas... estava mais para uma bagagem… embaixo de seus olhos. Sua pele parecia quase transparente, acinzentada. Ele reconheceu uma espinha no pescoço. Era na verdade meio que... confortante. O fazia se sentir jovem. Max deu uma passo em direção a balança. Três quilos a menos que ontem. Uma onda de pânico passou por ele. Estava perdendo o equilíbrio, caindo da balança e pretendendo continuar no banheiro. Cobriu seu rosto com as mãos. "Será que estou tendo tendo uma crise de meia idade aos dezesseis?", ele se perguntou. "Por que é que me sinto tão fraco?"

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Roswell High – 04 – O Observador (The Watcher) Tradução: Mia - www.helenamilena.com/roswell (dê os devidos créditos) Revisão: Mia, Gabriel Autora: Melinda Metz Copyright (c) 1998 by POCKET BOOKS, a division of Simon & Schuster Inc. First published in 1998 by Archway Paperbacks

UMA NOVA FRAQUEZA ASSUSTADORA Max respirou profundamente e se concentrou em formar a conexão que

precisaria para curar o corte. Ao invés das várias imagens que ele esperava receber de Liz, ele continuava a receber uma única imagem repetitivamente... a imagem dele com os olhos rolando para trás de sua cabeça.

Por que é que não estava funcionando? Por que ele não conseguia entrar? Max

respirou profundamente novamente. Pense em Liz, ele disse a si mesmo. Mas só consegua a mesma imagem nauseante.

Liz soltou a sua mão da dele. - Está tudo bem. Não é nada demais. Você tem algum lenço ou alguma coisa? A

gente pode simplesmente fazer uma faixa. Max rasgou a parte de baixo de sua camisa e cuidadosamente emendou na mão

de Liz. - Você tem certeza que pode dirigir? – ele perguntou. - Tenho – ela deslizou para trás do volante e retornou a estrada. O deserto que passava por ele parecia mais sombrio e perigoso agora que ele

sabia que não tinha mais seus poderes. *** 1 *** Max Evans olhava-se no espelho do banheiro. - Não tá nada bom, chefe – ele disse para seu reflexo. Bochechas para dentro.

Bolsas... estava mais para uma bagagem… embaixo de seus olhos. Sua pele parecia quase transparente, acinzentada. Ele reconheceu uma espinha no pescoço. Era na verdade meio que... confortante. O fazia se sentir jovem.

Max deu uma passo em direção a balança. Três quilos a menos que ontem.

Uma onda de pânico passou por ele. Estava perdendo o equilíbrio, caindo da balança e pretendendo continuar no banheiro. Cobriu seu rosto com as mãos. "Será que estou tendo tendo uma crise de meia idade aos dezesseis?", ele se perguntou. "Por que é que me sinto tão fraco?"

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Ele ouviu umas risadinhas altas do andar de baixo. Deus... eu tenho que ir trabalhar.

- Hãn... estou saindo agora – disse Max. Ele limpou a garganta e desceu as

escadas. – Para sair preciso passar pela sala de estar. Estou agora indo para a sala de estar.

Max deu um passo para a sala. Ah, cara. Sua irmã, Isabel, e o namorado dela,

Alex Manes, não tinham entendido a dica dele. Eles ainda estavam um em cima do outro. Max tentou não olhar enquanto se apressava para passar por eles, mas ele ainda viu mais do que queria. Marca de batom. Alguns botões desabotoados. Mãos em todos os lugares.

Isso era simplesmente uma coisa um cara não precisa ver sua irmã fazendo.

Sua irmãzinha. Tá, ela estava no terceiro ano do colégio. Mas mesmo assim. Max bateu a porta e trotou para seu Jeep, aliviado por ter dado o fora da casa.

Deslizou para o lugar do motorista, ligou o motor e deu ré para sair da garagem. Virou a esquerda, tomando o centro de Roswell, então ligou o rádio e colocou

os óculos escuros para protegê-lo contra o sol da tarde. O ar fresquinho passando por ele, fazendo seu cabelo louro voar para trás. Começou a se sentir como um cara em alguma propaganda de Jeeps. Uma sensação bem eu-sou-o-rei-do-mundo-bem-aqui-no-meu-Jeep.

Já fazia um tempo que ele não se sentia bem assim. Mas as coisas iam

basicamente do jeito que ele queria. Isabel estava com um garoto que ele realmente gostava, um garoto que a tratava bem. É, Max gostaria que eles encontrassem num lugar mais calmo para praticar a maratona de pegação, mas ele aprovava todo o lance Isabel-Alex.

Ele sorriu. Isabel ficaria furiosa se soubesse o que ele estava pensando agora.

Ela diria que só porque ele era o irmão dela não significava que teria que dar o carimbo de aprovação, como se eles fossem pedaços de carne que se encaixavam para serem hambúrgueres. Ela diria que não era problema dele.

Mas era. Todos no grupo eram problema dele. Ele estava conectado a todos os

seis. E eles conectados a Max. Às vezes quando eles saiam juntos, suas auras tremeluziam juntas e criavam uma enorme aura cheia de cores. Mesmo quando estavam separados, o sentimento de unidade continuava com ele. Max não achava que ele poderia se sentir assim tão bem se algo estivesse realmente errado com um dos outros.

Isabel e Alex certamente estão felizes. Talvez até um pouco felizes demais para

o gosto de Max. Ele quase ficava assustado em pensar nos dois ficando ainda mais felizes... eles podem quebrar alguma lei natural ou algo assim. Isso cuidaria de dois, dos seis.

Maria DeLuca estava okay também, especialmente consiferando que ela quase

morreu semana passada. Ela achou um anel que continha uma das Pedras da Meia-

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Noite. A Pedra havia lhe dado poderes psíquicos... ela precisava apenas pensar em alguém para sentir um pouco de pensamentos e emoções da pessoa. Infelizmente os caçadores de recompensa do planeta natal de Max estavam rastreando a Pedra roubada. Eles tentaram matar Maria, e eles provavelmente teriam conseguido.

Mas Michael Guerin, o melhor amigo de Max, encarou os caçadores de

recompensa com ela e basicamente a salvou. Agora a pior coisa que Michael teria de lidar eram com as mudanças para a casa dos pais adotivos da vez. Seus novos pais adotivos, os Pascals, tinham um monte de regras, mas eles realmente pareciam se preocupar com as crianças que moravam com eles. Isso tinha que contar também.

E Liz... adimita, pensou Max. Agora você chegou na verdadeira razão para estar

se sentindo assim tão bem. Liz Ortecho não te odeia mais. Ele tinha chegado tão perto de ferrar completamente as coisas com Liz. Ele a

beijou e disse que queria ser apenas amigos. Então a beijou de novo e disse que queria ser apenas amigos de novo. Aí quando ela decidiu sair com outro cara, Max a seguiu como algum tipo de perseguidor lunático. Não era exatamente uma coisa que um amigo faria.

Então Liz entrou no modo Odiar-o-Max. Mas quando Maria se feriu, foi preciso

todos os seis para passar por isso... então eles colocaram a instabilidade maluca de Max de lado por enquanto. Eles estavam tentando arrumar um modo de voltarem a ser amigos. Apenas amigos. Mas amigos.

Uma nova música começou a rolar na rádio. Uma daquelas chorosas, gemidas

música de menina sobre dor no amor. Não era o que Max queria ouvir agora. Não quando ele estava realmente se sentindo bem para variar. Ele apertou rapidamente o botão para mudar de estação.

Um solo de bateria tocou. Estava alto. Alto demais. Mais alto do que estaria se

ele estivesse sentado ao lado daqueles grandes amplificadores num show. Max tateou para encontrar o controle do volume e girou para a esquerda. Mas a bateria ficou ainda mais alta. Ele sentiu como se as baquetas estivessem batendo dentro de seu cérebro. Golpeando sua célula cinzenta.

Max estacionou perto do meio fio. Desligou o rádio. A bateria parou. Mas ainda

tinha tantos sons. Um carro buzinava enquanto passava por ele. Max pôs a cabeça para trás e cerrou os dentes. A buzina parecia furar seu delicado tímpano como uma agulha.

Max levou as mãos até as orelhas. Ele tentava não gritar. O som de seu próprio

urro de dor seria agonizante. Fechou os olhos com força, se inclinou, e pressionou sua testa contra o volante.

Suas mãos não estavam bloqueando completamente o barulho. Ele ainda podia ouvir o pneu dos carros contra a estrada, um pássaro gorjeando em uma das árvores, duas garotas sorrindo. Ele podia ouvir a eletricidade passando sobre os fios

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de energia. E as folhas das árvores roçando umas nas outras. E seu próprio sangue correndo em suas veias. Estava demais. Ele não podia agüentar.

Então parou. Como se uma mão gigante tivesse diminuído o volume cósmico.

Max podia ouvir apenas os sons abafados de suas mãos. Vagarosamente, abriu os olhos. Observou um carro passar por ele. Ele mal podia escutá-lo.

Max moveu as mãos uns centrímetros longe de suas orelhas. Ele as deixou

preparadas, prontas para voltar para lá se fosse preciso. Mas os sons eram... apenas sons normais. Alguns mais altos que os outros, mas nenhum deles chegava nem perto de estar no nível dolorido de antes.

"O que foi isso?", pensou Max. Ele deu uma olhada ao redor da rua. Localizou

uma mulher um pouco distante dele, trabalhando no jardim. Ela parcia absorta em seu trabalho para ter experimentado qualquer coisa parecida com a que Max experimentou.

Claro que não aconteceu isso com ela. Talvez tenha quebrado a estação de

rádio, alguma coisa que fez a música saltar para níveis doloridos. Mas isso não explicava o volume dos carros e pássaros e energia elétrica. Não, o que quer que tenha acontecido, aconteceu dentro dele.

Max deixou sair uma longa, tremida respiração e levou as mãos ao volante.

Esperou mais uns minutos para ter certeza que não seria pego novamente pela explosão sonora, então saiu do meio-fio.

Ele sentia a tensão em seu pescoço, ombros e braços enquanto dirigia. Até os

dedos estavam enroscados com força em volta do volante. Relaxe, ele disse a si mesmo. Só tome um fôlego e relaxe. Seu corpo não iria obedecer… estava preparado para o próximo round.

Mas o round não veio. Max fez o caminho para o Museu do OVNI sem nem ter o

menor vestígio da explosão sonora. Manobrou o Jeep para dentro de uma vaga vazia no estacionamento. "Será que devo perguntar a Ray o que aconteceu?", ele se perguntou. Talvez tenha sido uma coisa alienígena.

Mas Ray Iburg não gostava de ser questionado sobre coisas alienígenas. Ele

disse que mesmo que Max, Isabel e Michael fossem do planeta natal dele, a Terra era o lar deles agora. Ele não queria que eles passassem suas vidas pensando em outro lugar qualquer.

Mesmo que Max suspeitasse que Ray passava um tempão pensando no lar...

seu lar. A primeira vez que Max descobriu que Ray era um alienígena também, ficou

com essa imagem na cabeça. Ele nunca admitiria para ninguém que pensou que Ray faria algo no estilo Luke Skywalker-Yoda, onde Ray iria transmitir toda sua sabedoria para Max, contar sobre seus pais, ensiná-lo a refinar seus poderes, esse tipo de coisa. Certo, talvez isso tenha sido idiota. Mas foi isso que ele pensou.

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Acabou que não foi assim. Ray contou a ele e Michael sobre a morte de seus pais. Ele os mostrou um holograma recriando a espaçonave batendo no deserdo fora de Roswell lá em 1947. E os disse como carregou as câmeras de incubação da nave para a caverna no deserto onde estariam a salvo durante os anos que levariam para desenvolverem a maturidade. Ele até mostrou algumas coisinhas que eles podiam fazer com seus poderes, coisas que podem ajudá-los a se proteger de serem descobertos pelo Xerife Valenti. Além do que, ele esteve completamente lá para eles quando um grupo de caçadores de recompensa alienígenas perseguia Maria.

Isso era tudo. Ray estava feliz que Max tenha continuado a trabalhar no museu.

Mas agia como se ele e Max fossem dois humanos comuns. E queria que Max agisse da mesma forma.

Max queria muito mais do que isso de Ray. Ele queria que Ray lhe ensinasse a

história do planeta deles... a cultura e todos os fenômenos. Ray diria a ele que o volume alto que ele presenciou era relacionado a ser alienígena. Então ele, provavelmente, não diria mais nada.

Max desceu do Jeep e cruzou o estacionamento. Tirou o óculos de sol e colocou

na gola da camisa. - Eu achei uma pintura linda dos foo fighters – anunciou Ray no segundo que

Max passou pela porta. – Venha dar uma olhada – ele começou a fazer o caminho de volta ao museu sem esperar por resposta.

- Eu não sabia que os Foo Fighters tinham alguma conexão com OVNIs –

comentou Max enquanto seguia Ray. - Não diga isso alto – avisou Ray. Ele deu uma rápida olhada ao redor

procurando por turistas, mas os poucos clientes do museu estavam vagando pela estante de camisetas no outro lado. - As pessoas pagam um bom dinheiro para vir aqui e gostam de suas estranhas teorias humanas. Eu mesmo, acho que é a segunda versão da Segunda Guerra Mundial de uma lenda urbana. O capitão gancho da geração no banco de trás do carro.

- Peraê. Estou falando de uma banda de Rock aqui, Ray. E você está falando

sobre…? Ray virou no canto e apontou com a cabeça para um massiva pintura a óleo de

um velho avião de guerra sendo perseguido pelo que pareciam ser bolas de fogo laranja e verde.

- A banda tirou o nome desses foo fighters. É assim como as pessoas chamam

essas bolas incrivelmente rápidas e brilhantes e discos prateados foram reportados por seguirem aviões e navios na Europa e no Pacífico durante a guerra. Os Ufologistas pensam que eram OVNIs – explicou Ray. Ele apontou para Max. – E se alguém perguntar sobre eles, você acredita na mesma coisa. Sacou?

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- Eu gosto de ludibriar o público – disse Max. Agora parecia uma boa hora para perguntar o que havia acontecido no carro.

Ray inclinou a cabeça para um lado. - Acho que a pintura está torta. Que sorte que trouxe a escada de mão. - Eu arrumo – Max se apressou e subiu um outro degrau. Ele empurrou o canto

do quadro cerca de meia polegada. – Como é que ficou? – perguntou. Ele parecia perto demais da pintura para dizer. A pintura era tão grande,

preenchia quase todo seu campo de visão. Max encarou-a. As bolas laranja e verde praticamente vibravam com cor. Ele sentia como se elas estivessem voando em direção a ele. Estavam tão claras. Pareciam quase que brilhando.

- Ray, isso está certo? – repetiu Max. Ele sentiu sua boca movendo, formando

palavras. Mas nenhum som saiu de lá. Percebeu que o museu havia ficado absolutamente silencioso.

- Ray! – ele gritou. Ele podia sentir os músculos de sua garganta trabalharem.

Mas não podia forçar o som para fora. Ele começou a virar e olhar para Ray, mas seus olhos estavam pregados nas

cores da pintura. Estavam mais brilhantes agora. Tão brilhantes que faziam seus olhos queimarem.

"Olhe para o outro lado! Agora!", ele ordenou a si mesmo. Mas as cores eram

tão bonitas. Tão vívidas. Hipnotizantes. O verde e o laranja encheram sua visão. Era como olhar direto para o sol. E ele não podia forçar olhar para outro lado.

Seus olhos pareciam como carvão quente presos dentro de sua cabeça. As

bolas verdes e laranjas explodiram em frente a ele. O enchendo sua vista com chamuscantes pedaços de cores.

Então uma onda de vertigem passou por Max, e tudo ficou escuro. Ele não podia

sentir a escada de mão em baixo de seus pés. E ele estava caindo. Ele sabia que estava a apenas alguns centímetros do chão. Ele deveria ter

aterrizado instantaneamente. Mas continuava se esbarrando com a escuridão, um silêncio vazio. Girando, se contorcendo, rolando. Mas sempre caindo.

Então havia acabado. Ele pôde sentir o chão de azuleijo de seus pés sobre suas

costas. Ele pôde ouvir a voz de Ray chamar seu nome. Abriu um pouco os olhos. Ele viu bolhas de cor, mas nenhum tinha o efeito que

as bolas de fogo verde e laranja da pintura. Abriu os olhos completamente e se sentou.

- Você está bem? O que aconteceu? – perguntou Ray.

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Max esfregou os dedos no rosto. - Eu estava esperando que você me contasse – ele murmurou. Ray se virou para o grupo de turistas que havia se reunido aos dois. - Ele está bem. Vocês podem todos voltar ao que estavam fazendo. Não percam

a exibição do ciclo da colheita - ele disse aos turistas. Então ajudou Max a se levantar. – Venha, vou arrumar alguma coisa para você beber.

Ray levou Max para uma mesa no fundo do pequeno café do museu. - Você quer água, limonada ou o quê? Max sacudiu a cabeça. Tudo o que ele queria era informação. - Nada. Eu só preciso que você me ajude a descobrir o que está acontecendo.

Eu estava na escada, tudo estava normal. Então o verde e o laranja na pintura ficaram cada vez mais brilhantes até que estavam queimando meus olhos. Então foi como se eu tivesse ficado cego. E surdo... isso, na verdade, aconteceu primeiro. Aí eu estava caindo. Era como se eu tivesse caindo de um arranha-céu ou algo assim. Levou séculos para atingir o chão.

Dizer isso alto... o fez parecer como um idiota. Talvez ele estivesse com febre ou

algo assim. Ray sentou-se em frente a Max e estudou intensamente seu rosto. - É a primeira vez que acontesse uma coisa assim? – ele perguntou. - No caminho para cá aconteceu uma coisa esquisita também. Todos os sons

ficaram incrivelmente altos. Eu achei que meus tímpanos iriam explodir. Então simplesmente parou. Tudo soava normal novamente – Max disse a ele. Ele diminuiu a voz. – Eu achei que isso fosse talvez uma coisa alienígena. Mas talvez seja...

- Você pensou corretamente – Ray o interrompeu. – Você já teve espamos de

extrema fatiga? - Hã.. acho que sim, maios ou menos. Uma ou duas vezes – adimitiu Max,

pensando em algumas semanas atrás. Ele realmente não tinha pensando nada sobre espasmos.

Ray concordou com a cabeça, sua expressão séria. - Você simplesmente descreveu o primeiro estágio do akino. - E isso seria...? – perguntou Max. Ele fez força para se manter calmo e racional

mesmo achando que havia algo no tom de voz de Ray que fez a ansiedade de Max subir de nível. Sem mencionar que agora listras amarelas pálidas invadiam as pétalas azul-e-verde da aura de Ray.

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- Nossa raça tem uma... inconsciência coletiva – explicou Ray. – É como uma internet psíquica. Todo o conhecimento, toda a experiência de vida, todas as emoções de todo nosso povo estão em nossa consciência. Quando um jovem alcança a maturidade, ele ou ela é capaz de formar uma conexão com a consciência pela primeira vez. O rito de passagem é chamado de akino. Os sintomas físicos que você experimentou... as explosões de acentuadas sensações, a fadiga... são sinais de que é tempo de você formar a sua conexão.

Max respirou aliviado. - Então, é uma coisa boa, certo? – na verdade, aquilo soava mais do que bom.

Soava incrível. A consciência coletiva responderia a cada pergunta que Max tinha sobre seu planeta natal, seu povo.

Ele sentiu seus músculos relaxarem um pouco. Ele não tinha algum tipo de

doença somente de alienígena escondida. E Ray sabia exatamente o que estava acontecendo. Ele poderia acompanhar Max com toda essa coisa do akino.

- Geralmente seria causa de celebração – concordou Ray. – Como um bar

mitzvah ou casamento humano. Mas... - Eu sei, eu sei. Eu vivo na Terra. Aqui é meu lar. Eu não deveria gastar meu

tempo pensando num lugar que nunca irei – interrompeu Max. - Não era isso o que eu ia dizer – falou Ray. – Não há dúvidas de que você deve

entrar na inconsciência coletiva. E em breve. Mas estamos muito distantes. Você precisa… você precisa dos cristais de comunicação. E eles estão na nave.

- Na nave? A nave desapareceu depois da queda, tá lembrando? Não sabemos

onde ela está – protestou Max. – Michael e eu temos procurado por ela praticamente nossas vidas inteiras.

Ray foi até o outro lado da mesa e pegou na mão de Max. O que foi estranho.

Ray não era um daqueles caras de contato. Max sentiu seus músculos apertarem até todo seu corpo começar a doer.

- Max, se você não se conectar a consciência, você irá morrer – disse Ray lenta

e claramente. Morrer. Essa palavra sugou todo o ar dos pulmões de Max e o deixou

engasgado. Não. Não poderia ser. Alguns espamos de enjôo não poderiam equivaler a uma

doença fatal. - Espera – ele protestou. – Eu vivi na Terra minha vida inteira. Você não tem

como saber como isso afetou meu corpo. Você não pode ter certeza de que responderei do mesmo modo que responderia se eu estivesse no nosso planeta natal – Max falou rapidamente. Ele tentou soltar a mão, mas Ray continuava a apertá-la.

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- Você está certo. Eu não sei como crescer para a maturidade nesse planeta pode ter afetado você. Mas aqui está o que sei – respondeu Ray. – Eu sei que essas experiências que descreveu para mim... os dolorosos altos sons e cores brilhantes... são exatamente o que passei quando chegou meu akino.

- Isso não quer dizer porcaria nenhuma. Eu achei que você fosse um cientista ou

algo assim. Você não acha que está fazendo uma grande suposição aqui? – quis saber Max. Ele tentou soltar a mão mais uma vez com mais violência e dessa vez Ray permitiu que ele o fizesse.

Max cruzou os braços, enfiando as mãos contra seu corpo. Mas ainda podia

sentir tremores correndo por ele. - Talvez esteja certo – disse Ray gentilmente. Ele usou a manga para esfregar

uma mancha de café numa das carinhas alienígenas que decoravam a mesa. – Mas só no caso de que não esteja... eu...

Max sentiu como se tivesse prestes a perder. Ele já podia sentir um engasgo em

sua garganta, e seus olhos estavam tão molhados que outra piscada poderia trazer consigo lágrimas.

Levantou-se tão rápido da cadeira que tropeçou. Se equilibrou antes de cair no

chão e voltou ao lugar. Então respirou profundamente, levando ar aos pulmões. - O que você quer que eu faça hoje? – ele perguntou. – Eu sei que você não

está me pagando para ver meu cabeço crescer. Ray deu um sorrisinho… talvez porque Max usou uma das expresses favoritas

dele ou porque ele havia mudado incrivelmente o assunto, Max não tinha certeza. - Por que você não vai ao armazém e vê se consegue encontrar alguma outra

coisa sobre foo fighters para a gente exibir? - Falou – Max deu três passos para longe da mesa, então voltou. – Ray, se você

estiver certo e eu tiver que me conectar a consciência, quanto tempo eu tenho? - É difícil dizer o tempo exato – adimitiu Ray. – Talvez meses. Talvez dias. *** 2 *** - Está na hora de fechar? – se queixou Maria – Por favor, que esteja na hora de

fechar. Ela girou nos calcanhares com o novo sapato e estudou a grande pústula que crescia ali.

- Em cinco minutos – disse Liz, sua melhor amiga. – Aliás, eu não sei porque

você usa esses sapatos para vir trabalhar. - Nesses sapatos eu realmente pareço mais alta – explicou Maria. – Você

simplesmente não sabe como é quando se tem a minha altura. As pessoas agem

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como se eu fosse algum tipo de mutante. Pessoas estranhas me dão tapinhas na cabeça.

Isso era verdade. Mais ou menos. Maria gostaria de ser maior. Mas se ela fosse

completamente honesta, ela diria que escolheu os sapatos mais pelo que eles fazem com suas pernas do que o que fazem com sua altura. Ela teria que viver no ginásio de esportes para ter essas panturrilhas que esses sapatos davam a ela.

O pai de Liz entrou trazendo os novos uniformes para as garçonetes do

Crashdown Café. Eram basicamente imitações de Homens de Preto. Exceto que Maria usava saia preta em vez de calças pretas. E a nova saia, com sapatos novos, bem, não era como se ela ficasse de repente tão bonita quanto Liz, ou nada assim. Mas o visual com certeza dava a ela outra aparência, e um pouco mais de gorjetas do que o normal.

Infelizmente, o cara que ela mais queria que a olhasse, Michael Guerin, não

havia aparecido hoje. Ele ia muito ao Crashdown. Claro, ele nunca se importou em dizer a ela com antecedência que estava dando uma passadinha. Isso tornaria as coisas bem mais fáceis para ela. E seus pés.

- As pessoas não dão tapinhas na sua cabeça porque é baixinha – explicou Liz.

– É porque seu cabelo é elástico. As pessoas querem tocar para ver se vai voltar. - Ah, valeu por esclarecer isso – Maria tentou dar a Liz um olhar irritado, mas

isso se quebrou com risos. - Vou recolher os açucareiros e você pode começar a pôr açúcar neles – disse

Liz. – Assim você pode ficar atrás do balcão... onde provavelmente ninguém vai notar que você não está usando sapatos.

Maria imediatamente desmereceu os disfarçados conselhos torturantes sobre

calçados. Aaaah! Ela deu uma balançada nos pés, então se abaixou para pegar o açúcar. Enquanto apanhava a caixa, as notas de abertura de Close Encounters tocou.

O sino da porta. Alguém estava entrando. Era Michael? Sem se levantar, Maria

agarrou o sapato esquerdo e enfiou o pé dentro. Ela sentiu uma explosão de umidade nos pés enquanto calçava. Ignorou a dor e pôs o pé direito, se segurando no balcão para manter o equilíbrio. Então se levantou vagarosamente, tentando ter um ar legal de eu-não-faço-a-menor-idéia-de-que-o-sino-da-porta-tocou.

Seu sorriso casuau desapareceu quando ela viu Elsevan DuPris parado em

frente a caixa registradora. O cara lhe dava arrepios. Não é como se ele não fosse amigável. De fato, ele era amigável até demais. E seu sotaque sulino, era sulino demais. Simplesmente soava falso. O que levantava a questão… por quê? Por que uma pessoa vaguearia por aí vestido num paletó branco e sapatos brancos, girando uma bengala e falando um sotaque sulino tão obviamente falso?

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DuPris era editor-dono do Astral Projector, o tablóide de Roswell sobre tudo o que é alienígena. Então você tinha que esperar que o cara fosse um tantinho excêntrico. Mas ele era excêntrico até em sua excentricidade.

- Estou fazendo uma enquete para meu jornalzinho, e me pergunto se vocês

seriam boazinhas e me ajudariam – DuPri falou lentamente. – Acredito que há uma conexão entre pessoas que tem habilidade de dobrar a língua com alienígenas de algum ponto de sua linhagem. Pensei que seria interessante em saber se temos um grande número de pessoas com essas atribuições em nossa bela cidade, por razões óbvias.

Liz se apressou para o balcão e gotejou um pouco de açúcar no açucareiro em

forma de disco voador. - Parece interessante. Adoraria ver os detalhes alguma outra hora, mas estamos

fechados agora, então... - Então direi boa noite a vocês duas, senhoritas. E estarei certo de trazer

esses... hã... resultados experimentais – falou DuPris. Ele tirou o chapéu branco do Panamá e vagueou até fora do lugar. Liz o seguiu e trancou a porta no segundo que que ele pôs os pés para fora.

Maria sorriu enquanto tirava os sapatos pela segunda vez. Liz com certeza sabia

como colocar as pessoas em seus devidos lugares quando era preciso. Se ela não estivesse por perto, Maria provavelmente teria feito essa coisa de dobrar a língua, sentindo-se como uma imbecil o tempo inteiro.

Então ela provavelmente entraria forçada numa longa conversa sobre ele,

fazendo débeis comentários sobre precisar voltar a trabalhar mas sem conseguir, na verdade, escapar.

Liz voltou com os braços cheios de garrafas de catchup e os colocou no balcão.

Maria dobrou a língua para ela. - Então você é parte alienígena – provocou Liz. – Algo mais que você tem

escondido? - Você já sabe que sou na verdade um homem, então acho que não – respondeu

Maria. Ela apanhou a caixa de açúcar e começou a encher os açucareiros. - Só checando – disse Liz. – Manter segredos de mim é um séria violação. Eu

não quero ter que te mostrar novamente o quadro de melhores amigas – ela mergulhou por trás do balcão e rumou para a cozinha.

Maria deu uma olhada nela. Liz estava fazendo aquele tipo de piada que tinha

uma verdade lá no fundo. E a verdade é que Maria não tem sido completamente honesta com sua melhor amiga ultimamente.

Liz voltou até o balcão com uma enorme jarro de plástico com catchup e um

funil.

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- Certo, certo. Eu estou usando esse sapato porque estava esperando que Michael aparecesse – revelou Maria. – E sim, tenho uma completa e patética queda por ele.

Liz sorriu. - Eu já sabia disso. Eu estava na verdade falando sobre todo o lance de poderes

psíquicos. Como é que você não me contou uma coisa assim tão grande? – ela desenroscou a tampa da garrafa fechada de catchup e enfiou o funil.

Maria sentiu um rubor passar pelo seu pescoço. Um segundo depois todo o seu

rosto ficaria vermelho. - Eu ainda me sinto como uma tremenda idiota. Não acredito que realmente

pensei que era vidente. Você deveria ter visto. Eu estava tão animada, pensando que tinha esse dom maravilhoso. Era tão incrível apanhar algo que pertencia a alguém e poder de fato ver exatamente o que a pessoa estava fazendo. E curar Sassy. Aquilo foi incrível.

- Você não deveria se sentir uma idiota. Como é que você poderia saber? –

perguntou Liz. – Como se você fosse pensar ‘Ei, talvez o anel que encontrei no shopping tem uma pedra de poder alienígena dentro dele’.

Liz empurrou a garrafa de catchup para longe e se virou para encarar Maria. - O que eu quero saber é porque você não me disse o que estava acontecendo –

ela disse, seus olhos escuros sérios e cuidadosos. Eu realmente a magoei, percebeu Maria. Dã. Como se eu não fosse ficar

magoada se soubesse que Liz mantinha um grande segredo de mim. - Eu não estava tentando te excluir ou nada assim – explicou Maria. – É só que

você não estava assim tão bem. Você estava tão acabada com o lance de Max. Não parecia ser uma boa hora de revelar.

- Maria não importa o que estiver acontecendo comigo, eu ainda vou querer

saber o que está acontecendo com você – disse Liz. – Se você me dissesse, talvez, eu pudesse...

- Pare – interrompeu Maria. – Você e Max agem como se fossem responsáveis

pelos problemas de todo o mundo. Isso não é nem de longe verdade. Ela deu um longo suspiro. - Quer saber, se eu te dissesse, teria uma chance de você ter me parado antes

de... - Antes de você quase morrer – completou Liz.

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- É. E isso é provavelmente porque eu não contei nada a você. Eu não queria que aquilo parasse. Eu disse a mim mesma que não diria nada a você porque você estava tão devastada por todo o lance com o Max. Mas essa é apenas parte da verdade. Eu basicamente sabia que estava brincando com algo perigoso. Eu continuava a ter apagões, e até um sangramento nasal intenso.

Maria escutou Liz inpirar fortemente, mas ela não parou de falar. Ela tinha que

colocar isso para fora. - Mas eu não queria parar de usar os poderes – ou ser parada por você – até

encontrar onde está escondida a nave dos pais de Michael. - Então isso foi tudo por Michael – disse Liz. - Eu tinha essa idéia ridícula de que se pudesse fazer isso por ele... – Maria

sacudiu a cabeça com força. – Esqueça. É ridículo demais até para dizer. - Não é ridículo – Liz disse a ela. – Bem, tá certo, é ridículo. Mas

compreensívelmente ridículo. Não simplesmente por ser ridículo. - Isso faz eu me sentir melhor – murmurou Maria. Então olhou diretamente nos

olhos de Liz. – Faz mesmo. Me sinto bem por dizer a você a verdade completa. - Então, estamos de acordo. Sem mais segredos – falou Liz. - Sem mais segredos – prometeu Maria. Ela se apoiou na parte que fazia curva

do balcão e passou para dentro, então apanhou uns dois açucareiros e rumou para as mesas mais próximas.

- Maria – chamou Liz. Maria virou para olhar para ela. Ela devia saber que Liz não a deixaria escapar

numa boa sem fazer toda uma palestra sobre colocar a vida dela em perigo. Maria Maria se virou para encará-la.

- Por que é que você não conta a Michael o que sente? – perguntou Liz. - Por quê? – repetiu Maria. Ela corou de novo, então apertou o açucareiro com

força contra o peito. – Porque se eu fizer isso, ele vai rir de mim. Ou pode começar a ficar todo estranho comigo. Ou pode me evitar. – Maria podia ouvir sua voz saindo emotiva, mas continuou. – Ele pode parar de subir até minha janela tarde da noite... e não acho que posso suportar isso.

- Você sabe o que mais pode acontecer? – Liz perguntou gentilmente. – Ele

pode dizer que se sente o mesmo com relação a você.

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*** 3 *** - Certo, então andei pensando na lista dessa semana “Os Bills Que Eu Gostaria

De Ser”. Número um: Bill Gates. Número dois: Billy Baldwin. Número três: Sr. Bill. O que vocês acham? É muito idiota?

No mesmo lugar de ontem na quadra. As mesmas pessoas. Praticamente a

mesma conversa, com Alex soltando as idéias para as listas que ele colocava em seu website, pensou Liz. Então ela sorriu. Ela não iria querer se fosse de outro modo.

- Que tal termos sobre caras que passam tempo demais pensando em suas

páginas de internet? – sugeriu Michael. – Número um: wedgie boy. - Ei, você sabe quantos hits o site tem? Minhas listas têm seguidores. É

praticamente uma coisa cult – protestou Alex. - Número dois: big goober – sugeriu Maria. Liz percebeu que Isabel não se ofereceu para ajudar o namorado. Ela não

estava certa do que pensava sobre o lance de Alex e Isabel. Não é como se ela não gostasse de Isabel. Liz estava na verdade se sentindo cada vez mais próxima de Isabel o tempo inteiro. Mas Isabel e Alex... simplesmente não eram um casal óbvio. Eles tinham algo de eu-sou-um-pouco-country e eu-sou-um-pouco-rock-and-roll acontecendo ali.

Isabel era a garota mais moderna. A garota que era notada e invejada, uma hora

cobiçada, outra odiada, ou alguma combinação disso em basicamente todo mundo. Alex era, bem... - E que tal sobre crianças nerds? – Maria disse, abafando risadas. Não, Alex não era exatamente nerd. Mas ele não se sobressaia na multidão

como Isabel. Você tinha que conhecê-lo antes de perceber o quão legal ele era. Ele tinha esse ótimo, irritante senso de humor e quando acreditava em alguma coisa, ele com certeza não voltaria atrás. Além do que tinha aqueles incríveis olhos verdes, cabelos avermelhados quase castanhos, e um corpo magro e musculoso.

Não era difícil para Liz ver porque uma garota iria querer sair com ele. Muitas

garotas, na verdade. Mas Isabel? Liz sacudiu a cabeça. Ei, se funciona, então funciona. E parecia que isso estava dando certo.

- Qual é, Liz, Max. Se jutem à diversão. Podem dizer também – Alex disse a

eles. Ele bateu o punho no peito. – Eu posso agüentar. - Hã... cybernerd? – falou Liz. - Alguém vai querer o resto desse sanduiche? – perguntou Max.

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- Eu quero – Alex e Michael disseram na mesma hora. Liz deu um olhar afiado para Max. Ele basicamente desmaiou a semana

passada, de forma inesperada. Desde então ela tem perguntado se ele estava se sentindo bem, e ele continuava a insistir que estava bem. Mas ela acreditava em ir de acordo com os fatos... o fato de que ele parecia frequentemente letárgico, o fato de que ele não estava comendo muito, o fato da pele dele ter esse tom levemente acinzentado. E os fatos faziam Liz duvidar dele.

Ela não queria repetir a mesma Situação-Maria. Se houvesse alguma coisa

errada acontecendo com Max, ela precisava saber o que era. O sino tocou. Isabel e Maria rumaram vagarosamente para a aula de ingles.

Michael e Alex tomaram direções opostas. A deixando sozinha com Max. - Pronta para outra aventura no maravilhoso mundo da ciência? – ele perguntou

a ela enquanto se levantava. Ele parecia normal. Exceto que sua voz estava meio que alta, como se estivesse

se esforçando para manter o tom usual e errando um pouco. - Sempre – respondeu Liz. Ela escutou a mesma clareza em sua voz, um som

que parecia dizer está-vendo-não-há-realmente-nada-de-errado. Isso era tão ridículo. Ela amava Max e sabia que ele a amava. É, eles

concordaram… bem, Max insistia e Liz concordava… que eles seriam apenas amigos.

Mas isso significava que eles teriam que ser tão falsos? Por que é que ele não

podia confiar a ela a verdade... o que quer que fosse? Por que é que ela não podia simplesmente dizer a ele para parar com isso e dizer o que estava acontecendo?

"Talvez fosse porque nós continuavamos a ser cuidadosos um com o outro",

pensou Liz enquanto eles faziam o caminho para o edifícil principal. Nós nos esforçamos para manter essa amizade de fachada por causa da bagunça que é nossa relação. Mas não é assim tão errado. Talvez nós dois soubéssemos que seria muito fácil destruir essa fachada.

Liz liderou o caminho para dentro e se dirigiu à escadaria. Ela e Max subiram em

silêncio. Ela podia ouvir a respiração dele quando chegavam quase perto do fim. Outro fato para adicionar a pilha. Max estava em boa forma. Umas escadinhas não podiam deixá-lo quase sem fôlego.

Liz encurtou os passos enquanto caminhavam descendo o corredor para dar

uma chance de Max recuperar o fôlego. - Eu li sobre o experimento que vamos fazer hoje. Parece bastante interessante

– ela disse quando eles entraram na sala e tomaram seus lugares de sempre no laboratório.

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Max não respondeu. Liz Ortecho, Rainha da Conversa Fiada, ela pensou. - Nós teremos outro experimento longo hoje – anuncionou a Sra. Hardy. – Vocês

podem ir na frente e já começar. Eu irei até cada um de vocês, mas me chamem se tiverem perguntas.

- Vou preparar o Bico de Bunsen – disse Max. - Vou pesar as amostras – se voluntariou Liz. Pelo menos tinha algo que eles faziam sem serem falsos. Eles levavam o

trabalho no laboratório muito a sério. E formavam um ótimo time. Liz tirou o medidor de dentro do armário... estava meio sujo. Deu um passo até a

pia, abriu a torneira, umedeceu um longo pedaço de papel toalha marrom e esfregou o medidor. "Esses cientistas amadores não sabem que medidores sujos podem corromper todos os dados?", ela pensou.

- Max – a Sra. Hardy chamou da estação perto da entrada da sala -, as chamas

estão muito altas. Liz deu uma olhada. A Sra. Hardy estava certa. As chamas do Bico de Bunsen

estavam centímetros a mais do que precisavam. E a pontinha do dedo de Max estavam bem no meio das chamas!

O cheiro de carne cozida entrou em seu nariz e Liz sentiu sua garganta apertar.

O que é que ele estava fazendo? Será que não estava sentindo que estava se queimando? Liz soltou a mão e girou o gás. As chamas desapareceram.

- Max, você tá bem? – quis saber Liz. – Me deixe ver seu dedo – ela tentou

pegar a mão dele. - Estou bem – ralhou Max. Ele afastou a mão dela. - Não pode estar bem – ela respondeu de volta. – Você estava com a mão no

fogo. E sua pele... Max, sua pele estava borbulhando. *** - Eu tenho que ir me trocar para praticar – disse Isabel, mas não se afastou de

Alex. O que ele estava fazendo simplesmente era bom demais. Exceto que o modo como ele estava inclinado sobre ela estava apertando as costas dela contra os degraus de metal da arquibancada.

- Eu podia ajudar você – murmurou Alex em seu ouvido, seu hálito quente

enviando ondas de prazer pelo corpo de Isabel. Ele pôs as mãos para frente e começou a desabotoar a blusa dela.

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Isabel segurou a mão dele. - Valeu, mas acho que posso fazer isso. O lugar onde eles estavam atrás das arquibancadas preveniria a maioria das

pessoas de vê-los. Mais ainda assim. Alex vagarosamente abotoou os botões. Então endireitou o colarinho dela e pôs

uma parte do cabelo dela no lugar. Às vezes ele podia ser tão gentil. Fazia Isabel se derreter toda por dentro.

- I-sa-bel! – a voz alta de Stacey Scheinin, voz de boneca ecoou por todo o

ginásio. – Dê um passo a frente. Você não pode desperdiçar nem um minuto de prática. Nós vamos assistir a um vídeo de nossa última dança antes de começarmos. Você verá o que quero dizer.

- Quer que eu a mate pra você? – perguntou Alex. - Talvez como meu presente de aniversário – respondeu Isabel. Ela lhe deu um

rápido beijinho de despedida e deu o fora antes que ele pudesse colocar as mãos de volta nela.

- Lembre-se que hoje a noite você vai jantar na minha casa – falou Alex. - Como se eu fosse esquecer – respondeu Isabel. E como é que ela poderia

esquecer? Ela tem tentando pensar em uma boa desculpa para se livrar disso a semana inteira. Ela conheceu a mãe dele por uns dois segundos, e ela parecia bem legal. Mas o pai dele parecia detestável. E então tinha dois irmãos dele. Alex mal falava deles, então ela não sabia realmente o que experar.

- Te vejo em algumas horas – se virou e rumou para o vestiário. Ela prestou

atenção em não se apressar. Stacey estava segurando a porta para ela, levantando a sobrancelha, o que deveria parecer intimidante. Isabel lhe deu um sorrisinho para mostrar que não era.

- Pessoal, Isabel precisa de nossa ajuda – chamou Stacey enquanto seguia

Isabel pela fila de armários. – Ela tem um novo garoto que precisa seriamente de uma remodelagem. Eu sei que todas vocês já viram ele. Alguma sugestão? Eu estava pensando talvez numa tatuagem “Eu amo Isabel”.

Isabel pensou em dizer que estava fazendo apenas caridade, dando a Alex um

pouco dela. Não é como se ele pudesse escutá-la ou nada assim. Ele nunca saberia.

Mas ela se sentiu como lixo. Não iria funcionar. - É, uma tatuagem é uma ótima idéia. Isabel poderia ter uma também para

combinar – alguém disse na outra fila de armários.

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Uma das garotas da corte de Stacey. Todas copiavam essa vozinha afetada dela. Rebanho patético.

- Ele não parece ter muito dinheiro, a julgar pela roupas, aliás – outra Stacey-

tiete comentou. – Eu digo que ele deveria ir com algo baratinho. Tipo uma boa sacola de papel cobrindo a cabeça.

É, e se Stacey estivesse saindo com ele, você diria o quão lindo ele era, pensou

Isabel. Ela sentou-se no banco de madeira em frente ao armário dela e girou a sua combinação. Não abriu. Tentou novamente. Continuou fechado. Então ela percebeu que seu armário era o do lado.

- O que mais? – disse Stacey, saltando. – Uma tatuagem e uma sacola de papel

não vai dar conta. Vamos lá, nossa intengrante precisa de ajuda. Tish Okabe sentou-se ao lado de Isabel. - Eu acho que Alex é um fofo – ela disse alto. - Você acha todo mundo fofo – pelo menos umas três meninas gritaram em

resposta. Isabel acertou a combinação e abriu a porta de metal. Era legal que Tish

defendesse Alex. Mas Isabel sabia que era ela quem deveria estar fazendo isso. Ela simplesmente não sabia o que dizer. Stacey iria atacar de volta ou qualquer coisa sairia da boca dela e permaneceria assim. Talvez fosse melhor apenas ignorá-la.

É, pensou Isabel. Continue dizendo isso para si mesma. Ou simplesmente você

poderia fazer crescer uma espinha dorsal, como diria Alex. - Não estou surpresa que você não pode imaginar o que vejo em Alex, Stacey –

disse Isabel calculadamente. – É tipo como algumas pessoas preferem comer hambúrguer a comer filé mignon. Seus paladares simplesmente não são tão sofisticados para apreciarem a diferença.

- Ohhh, isso não é fofo? Ela ficando ao lado do namorado – murmurou Stacey. Isabel pensou em dar uma porrada em Stacey. - Você sabe quem eu acho que é filé mignon? – Corrine Williams perguntou a

Isabel. – Seu irmão. Estou dando uma festa na sexta. Diga a Max para aparecer. E traga aquele outro cara que sempre anda com ele... Michael Guerin.

- É – Stacey foi falando. – Se você levar os dois, então acho que você pode levar

Alex também - ela lambeu o dedo e fez como quem tivesse ganhado um ponto. Ganhe enquanto pode, Princesa da Insignificância. Porque você não tem a

menor chance com Max ou Michael, pensou Isabel. Mas ela não pôde evitar de sentir uma pontada de vergonha por Alex não fazer parte do grupo de pessoas-legais.

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*** 4 *** - Eu não tenho um grande desejo de ser uma lula. Exceto talvez uma lula como

o Lula Lelé – disse Alex aos seus irmãos sentados à mesa. – Ou ele era um polvo? Não. Tem que ser uma lula. Consequentemente se chama Lula.

Jesse apenas o encarou, no modo será-que-você-perdeu-o-juízo?. - É um desenho. Passa no Cartonn Network – explicou Alex. – Eles têm Speed

Racer. Scooby Doo. Todos os clássicos. - Primeiramente, fuzileiros navais não são chamados de lulas... essa é a

marinha. Fuzileiros navais são chamados de jarheads. Não por tolos como você, aliás... você simplesmente levaria porrada se tentasse – Jesse disse a ele. – E segundo, eles têm aquele desenho, Josie e as Gatinhas?! Porque aquelas gatinhas eram demais.

Alex sorriu. Jesse era definitivamente o mais legal dos seus três irmãos. Sim, ele

deu a Alex um discurso de “você tem que ser um homem militar”. Mas pelo menos Jesse pensava, e até falava sobre outras coisas. Diferentemente de seu pai. E o seu outro irmão Harry, que também estava em casa, de visita.

Felizmente para Alex, seu terceiro irmão mais velho Robert, não poderia chegar

em casa a tempo. Alex não pensava que podia suportar mais um em volta dele lhe dando palestras sobre porque ele deveria ir direto para a carreira militar depois que se formar. O ataque de três, Jesse, Harry e seu pai, já era suficiente. E Alex suspeitava que ainda não tinham terminado.

- Ser fuzileiro naval muda a sua vida – disse Jesse. Não. Com certeza não tinham terminado. - É como se tivesse uma família nova – continuou Jesse. – Ou pelo menos como

se tivesse uma família maior. Uma família maior. É. Isso realmente parecia atraente. Harry vagou pela sala de jantar e caiu numa das cadeiras. - Vocês garotas estão fazendo um lindo trabalho na mesa – ele disse

gentilmente. - Valeu. Nós colocamos uma linda tigela vermelha no chão da cozinha para você

– Jesse respondeu. – Achamos que você poderia se sentir mais confortável lá já que temos compania vindo e você ainda não aprendeu a usar os talheres.

- Companhia? – perguntou Harry. – Ah, é. Vamos conhecer a namoradinha de

Alex.

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Namoradinha. Alex sabia que seu irmão estava esperando uma CDF. Ele mal podia esperar para ver a cara de Harry quando olhasse para Isabel. Okay, isso soou meio chovinista. E ele se desculpou com a deusa do sexo feminino ou algo assim. Mas ainda assim ele ainda se sentiria muito bem mostrando a Harry – e a Jesse e até seu pai – que o irmãozinho estava jogando nas ligas grandes.

Harry se inclinou para trás da cadeira até que a cadeira ficou balançando em

dois pés. - Então, eu acabei de falar no telefone com Alice Shaffer – ele disse a Alex. Alex colocou o último garfo no lugar. - Quem? – ele perguntou. - Sua diretora – respondeu Harry. – Ela disse que você nunca lhe deu o pedido

de materiais para o CTOR. Ele se balançava para frente e para trás, fazendo os pés da cadeira rangerem. – Ela disse que você nem mencionou o CTOR para sua conclusão.

Alex pensou em chutar a cadeira do irmão por debaixo da mesa. Só porque o pai

deles era completamente obcecado em começar o programa do CTOR no colégio, porque é que o Harry teria que ficar todo intrometido?

- Nós três teremos um encontro com ela às quatro horas – continuou Harry. –

Papai quer que você vá – ele informou a Jesse. – Ele acha que você e eu seremos excelentes exemplos do que o CTOR pode fazer. Então é melhor você ficar de bico calado para não estragar tudo.

- Eu perdi os materiais que papai me deu – disse Alex. – Estou querendo

arrumar um novo pelo correio. Não tem motivo para ter um encontro nem o material. Não foi uma desculpa muito criativa. Somente meio passo acima de ‘o cachorro

comeu’, que ele não poderia usar justamente por não ter um cachorro. - Pode ficar tranquilo – respondeu Harry. – Papai me falou para levar um comigo. Oh, happy day. Jesse deu a Alex um olhar semi-simpático. - Você não pensou que iria se safar dessa, pensou? - Acho que não – adimitiu Alex. Mas ele estaria fazendo tudo o que pudesse para bloquear seu pai dessa. Ele

pensou nisso como prática. Um modo de se preparar para a grande batalha... aquela que ele diria ao Major que não estava planejando seguir carreira militar.

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Só porque você é impulsinado a ajudar a arrumar um programa de CTOR no colégio e ser incapaz de escapar em se juntar ao dito programa, não significa que vai acabar na carreira militar, Alex prometeu a si mesmo.

Ele desejou poder acreditar nisso. - A gente devia pensar no que vamos dizer – Harry disse a Jesse. - A diretora do

Alex não pareceu tão animada quanto ao programa. - Eu não vou dizer nada, se lembra? – respondeu Jesse. - Ótimo – disse Harry. – Alex, eu quero saber em quais clubes e organizações

você já está na escola. Assim eu… A campanhia da porta tocou, interrompendo Harry. - Eu vou – Alex disse antes que Harry pudesse dizer outra palavra. Ele abriu a

porta e um grande sorriso idiota se espalhou em seu rosto. Ele não pensava que ficaria tão feliz em ver Isabel.

- E você está realmente linda – ele disse, cuidando para manter a voz baixa.

Harry e Jesse cairiam no chão de tanto rir se o escutassem. Mas Isabel parecia mesmo linda... como sempre. Exceto que essa noite ela

estava com um vestido lindo. Ela vestia um brilhante e apertado vestido decorado com rosas que cresciam do final. E o cabelo louro descia sobre seus ombros em ondas perfeitas.

- Valeu – respondeu Isabel. – Então, você vai me apresentar? Alex se virou e viu seus irmãos parados ali. E seu pai a meio caminho da

escada. Seu estômago meio que se amarrou por um minuto. Seu pai tinha a tedência de lhe dar esse efeito.

- Esse é o meu irmão Jesse. Esse é o Harry. E esse é meu pai – disse Alex. - E eu sou Isabel Evans – ela adicionou. Ela apertou a mão de todos eles. Dã! Ele se esqueceu de apresentá-la. Mas Isabel foi bem rápida. Ela era boa em

impressionar as pessoas e fazê-las se sentirem sossegadas. Ao menos quando ela se importava.

- Por que é que vocês estão todos aí no corredor? – sua mãe chamou. –

Venham para a sala de estar. Todos obedientemente trotaram para dentro. Alex e Isabel se sentaram no sofá

de dois lugares. Ele geralmente colocava o braço ao redor dela, mas simplesmente parecia estranho demais em frente a família dele.

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- Então, Isabel... Alex está me ajudando a imaginar como fazer sua diretora concordar com o programa de CTOR no colégio – Harry disse a ela. – Alguma idéia?

Mas que baba ovo. Alex estava certo de que Harry só queria mostrar a seu pai

que ele estava por dentro da situação do CTOR. Harry tinha vinte e dois anos... e ainda vivia para agradar o papai.

- Talvez você pudesse tentar dizer a ela que é meio parecido com atividade de

animadora de torcida – respondeu Isabel. – Stacey Scheinin, a líder, é quase que um sargento. Exceto que tem a voz da Minnie Mouse.

Alex segurou-se para não explodir em risadas. Ele não sabia se seu pai iria

gostar da comparação do CTOR-líderes-de-torcida. Mas o pai dele simplesmente sorriu. E continuou a sorrir enquanto Isabel começou a imitar a Stacey e as ourtas meninas do time.

Sua mãe e seus irmãos estavam rindo também. E os furtivos olhares que Harry

e Jesse davam a Isabel deixou bem claro que eles achavam que ela era gostosa. Mas Isabel era a garota dele. Alex gostou de ser o irmão invejado para variar,

em sua vida curtinha. *** Max apanhou o isqueiro e acendia e apagava repetitivamente em suas mãos.

Ele podia ver o fluido borrifando em volta do plástico verde. Ele acendeu e encarou as chamas, pensando na queimadura com o Bico de

Bunsen na aula do laboratório. Aquela chama ofuscou seus olhos até que ele podia ver apenas uma parede de cores tremeluzentes laranja e amarelas. Todo o laboratória havia desaparecido. Liz havia desaparecido. E Max estava em volta de um bonito e terrível fogo que pareceu derreter seus olhos com o esplendor de cores.

Liz disse que ele estava segurando os dedos na chama, mas ele não sentia

nada exceto a sensação de seus olhos saírem de lá e se juntarem as chamas. Max colocou o isqueiro de lado e abriu seu laptop. Selecionou um arquivo

chamado Fertilizante. Ele chamou o arquivo desse nome porque de vez em quando sua mãe, seu pai, ou Isabel pegavam emprestado seu computador e ele pensava que a palavra akino chamaria a atenção. Assim como a palavra morte. Fertilizante, era algo que nenhum deles ficaria tentado a dar uma olhada. E parecia apropriado. Fertilizante, era isso o que ele iria se tornar. Algo que ajudaria as plantas a crescerem. Comida de verme.

"Será que dá pra ser mais mórbido?", Max disse a si mesmo. Max digitou uma data e adicinou uma pequena descrição da experiência que ele

teve no laboratório. Quando tivesse dados suficiente, planejava começar a mapear.

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Quantos espasmos de intensa visão, intensos sons, quanto... qualquer novo sintoma que aparecesse. Ele queria perceber o quão rápido era a progressão do akino.

Tratar o akino como projeto de ciência o ajudava a sentir que era algo que

estava fora dele. Algo clínico. Impessoal. Ele mesmo se chamava de Paciente X em suas notas. Paciente X experimentou cegueira. Paciente X experimentou a sensação que descreveu como baquetas de bateria golpeando seu cérebro. Paciente X pensou parecer estar fora da variedade mórbida. A pele do Paciente X foi reportada como borbulhante depois de ser exposto a chama.

Foi isso o que Liz disse. Que sua pele estava borbulhando. A pele do Paciente

X, se corrigiu Max. Uma testemunha reportou que a pele do Paciente X estava borbulhando.

Max apanhou o isqueiro novamente. Seria melhor ter material de primeira mão

para o arquivo. Primeira mão. Rá! Um trocadilho! O Paciente X ainda tem senso de humor. Ele acendeu o isqueiro, hesitou, então levou o indicador até a chama.

Sentiu calor, mas não sentiu dor. Mesmo quando sentiu cheiro de algo que

parecia cahorro quente num churrasco, não sentiu nenhuma dor. E ele tinha que concordar com a observação da testemunha. Sua pele estava borbulhando!

Ele levou o polegar ao esqueiro e o apagou, a chama desapareceu. As bolhas

em seu dedo ficaram menores, então pararam completamente de se formar, fazendo sua pele parecer completamente normal. Sem ficar vermelho. Sem empolar. Ele passou o dedo sobre a mesa. Sem dor.

Fascinante. O caso do Paciente X era verdadeiramente fascinante. Max escutou duas batidinhas rápidas em sua porta. Ele rapidamente mudou

para uma página em branco enquanto Isabel invadia seu quarto e se jogava em sua cama.

- Eu ganhei tantos pontinhos hoje a noite, tantos – ela anunciou, sorrindo seu

melhor sorriso convencido. – Todo mundo na família de Alex ama a Isabel. A mãe, os irmãos. Até mesmo o pai.

- Hã, isso é bom – respondeu Max. Até sair com essas três palavras era difícil. O Paciente X estava tendo

dificuldade com básica interação interpessoal. Ele tinha que se lembrar de escrever isso.

Isabel deu uma fungada. - Você está fazendo um de seus experimentos de química aqui? Isso fede. Você

deveria usar a garagem, se lembra? - É, me esqueci – ele murmurou.

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Agora era a hora de contar tudo a ela. Max tinha planejado contar a ela... e Michael e a todos... sobre o Akino ontem a noite. E então novamente na hora do almoço. Mas ele não pôde.

Se ele dissesse a eles, falaria como ele, Max, e não o Paciente X, está prestes a

morrer. Ele também estaria falando sobre sua irmã e seu melhor amigo, que também morreriam de akino no final das contas. Não apenas mais dois casos de estudos a serem adicionados ao arquivo.

Ele não poderia lidar com isso. Isso não. Talvez ele não precisasse. Talvez ele encontrasse os cristais a tempo. Talvez

houvesse uma cura milagrosa para o paciente X. Talvez. *** 5 *** Por que é que você não conta ao Michael o que sente? Liz fazia parecer como se não fosse grande coisa. Tipo, por que é que você não

conta ao Michael que ama gatos? Ou por que é que não conta ao Michael que ama filmes de terror? Ou por que é que não conta ao Michael que você gosta particularmente de queijo ricota com uvas secas?

Só em pensar nisso… em dizer a Michael o que ela sentia sobre ele... já deixava

Maria estressada. Ela se sentou e tateou em sua estante pelo seu frasquinho de óleo de eucalipto. Era disso o que ela precisava agora. Uma caminhada entre as árvores calmas e antigas, onde ela podia esquecer Liz, Michael e todo o resto.

Ela borrifou umas gotinhas do óleo no travesseiro. A essência de eucalipto

inundou seu nariz. Eucalipto. Que, é claro, a lembrava Michael. Liz provavelmente diria que isso era algum tipo de borrifamento Freudiano, uma

mensagem do incosciente de Maria dizendo para tirar o traseiro da cama e ir direto na casa de Michael para confessar seus sentimentos. Mas Liz era uma amiga cruel que lhe deu um conselho cruel. Tipo, por exemplo, sua melhor sugestão: Por que é que você não conta ao Michael o que sente?

Ela apanhou o telefone e apertou o número um da discagem rápida. Liz

respondeu no segundo toque. - Eu odeio você – explodiu Maria sem nem ao menos dizer alô. - Maria? – murmurou Liz, a voz grave cheia de sono. Maria deu uma olhada no relógio. Era quase uma e meia. - Foi mau, não sabia que era tão tarde – ela disse.

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- Mas você só ligou pra dizer que me odeia? – Liz pareceu parte confusa, parte divertida.

- É. Isso mesmo. Realmente odeio. Como é que você pôde me dizer pra me abrir

com o Michael? – Maria sabia que estava falando rápido demais, mas ela não pôde se controlar.

- Então... então ele não se sentia da mesma forma? O que foi que ele disse? Me

conte tudo – instruiu Liz. - Ele não disse nada – adimitiu Maria. - Quê? Ele ficou só encarando você? – perguntou Liz. - Não, ele não disse nada porque não contei a ele – respondeu Maria. – Não sei

se consigo. - Claro que consegue – insistiu Liz. - Tá vendo, é por isso que odeio você. É por isso que você é uma amiga muito,

muito cruel. Uma boa amiga me escutaria falar sobre Michael umas duas horas por dia, todos os dias e nunca, NUNCA, iria sugerir que eu realmente devesse fazer alguma coisa sobre isso.

- Calma aí – disse Liz. – Estou começando a entender. Amigos bons são

aqueles que só dizem a Maria o que ela quer ouvir. Maria suspirou. - Desculpe. Estou sendo uma completa lunática. Pode voltar a dormir. - Espera. Só me diz uma coisa primeiro. Qual a pior coisa que pode acontecer se

você disser a Michael? – perguntou Liz. Maria hesitou, correndo os dedos pelas dúzias de dobras no cobertor. - Às vezes é como se eu pudesse sentir esse pontinho brilhante dentro de mim,

no lugar que é preenchido com... com o que sinto sobre Michael – começou Maria, tentando explicar seu maior medo.

- Com amor, você quer dizer – interrompeu Liz. - Tá, me faça dizer – respond Maria. – Amoooor. Enfim, revelar esse pontinho

brilhante... bem, pode não ser nada bonito. Eu fico pensando naqueles peixes que vivem lá no fundo do oceano. Quando eles forçam e puxam para a superfície... Cabum! Tripa de peixe pra todo lado. Eles simplesmente explodem.

- Então você pode explodir, o que eu tenho que dizer, é psicologicamente muito

improvável, ou, e sinto que devo dizer de novo correndo o risco de ser uma amiga

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muito, muito cruel, Michael pode dizer que se sente da mesma forma com relação a você – disse Liz.

As palavras dela trouxeram novas imagens ao cérebro de Maria. Uma foto de

um pedacinho brilhante de ela levantando e explodindo num mar de estrelas. Estrelas que dividiam o céu com outras estrelas, estrelas dos pedacinhos brilhantes de Michael.

- Bem, ele me beijou duas vezes. Existe um indicador que ele talvez possa se

sentir do mesmo jeito. Ou dois indicadores, na verdade – disse Maria a Liz. - Descreva, por favor – ordenou Liz, então deu um grande bocejo. - Os dois foram nos lábios – respondeu Maria – Mas foram muito rápidos. E um

deles teve o elemento de agradecimento... porque eu estava o ajudando a encontrar a nave dos pais dele. E um teve o elemento do medo... porque ele pensou que eu estava praticamente, você sabe, morta. Então não sei se eles realmente significaram alguma coisa – Maria respirou profundamente a essência de eucalipto no ar e se apressou a continuar. – Certo, talvez eles signifiquem que ele não pensa em mim exatamente como a irmãzinha dele. Mas com certeza não significam que Michael está procurando algum tipo de promessa de amor sem fim da minha parte.

- Você está se esquecendo de um fato realmente importante. Michael quase foi

morto tentando salvar sua vida – Liz a lembrou. - Mas ele provavelmente teria feito a mesma coisa por qualquer um do grupo –

respondeu Maria. – Além do que, se ele realmente se sentisse do mesmo modo, como é que ele não está aqui agora? Por que é que ele não está me beijando, um beijo de verdade que dure mais do que dois segundos?

- Só tem um modo de descobrir – disse Liz. - É, eu deveria simplesmente sair do meu estado de sofrimento, acho –

concordou Maria. – Eu vou fazer isso. Agora mesmo. Antes de me convecer a não o fazer – ela desligou antes de deixar Liz se despedir. Então pegou o telefone de novo e apertou a discagem rápida. Liz respondeu na hora.

- Eu só queria dizer que não te odeio de verdade – anunciou Maria, então

desligou o telefone outra vez. Saiu da cama e deslizou para o guarda-roupa Ela sabia que tinha que continuar

se mexendo senão iria amarelar. Agora a questão importante. - O que é que eu devo vestir? – ela murmurou – Imagino se tenho alguma coisa

que caia bem com tripas explodindo. Ela deu um baixo grunhido de frustração. Apanhou seus jeans favoritos e um

suéter áspero verde escuro e os vestiu com pressa. Então saiu de casa na ponta nos pés.

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Ela desejou poder ir de carro, mas teve medo do som acordar sua mãe. Então retirou a bicicleta da garagem. Ela hesitou por um momento, ficando parada na estrada. Talvez fosse mais inteligente simplesmente voltar para casa e bater em minha cabeça com algo bem pesado para me tirar de circulação por algumas horas, pensou.

Não, ela já chegou até aqui. Maria subiu na bicicleta e começou a pedalar.

Decidiu que era uma coisa boa não estar dirigindo. Os pedais lhe faziam desabafar toda sua energia por estar nervosa. Talvez ela pudesse queimar a maior parte dessa energia antes de chegar na casa de Michael. Maria pedalou mais rapidamente, voando pelas ruas escuras.

Não demorou tanto para ela chegar na casa dos Pascals. Maria deu um salto

para fora da bicicleta e a colocou perto da cerca baixa que crecia ao lado da garagem. Então se apressou para o portão que levava ao quintal e deslizou para dentro. Ela circulou em volta da janela de Michael. Estava uns centrímetros aberta. Tudo o que ela teria que fazer era deslizar para dentro e engatinhar.

É, era só isso. Isso e mais todo o lance de dizer-a-Michael-que-ela-o-amava. Maria olhou para o céu. Ela pensou que talvez as estrelas lhe dessem a

inspiração que ela precisava. Ou a coragem. Ou o que quer fosse que ela precisava para andar o passo que faltava que separava ela de Michael.

Mas o céu estava nublado. Não dava para ver nenhuma estrela. Maria deu a

volta vagarosamente. Ela realmente precisava ver uma estrela antes de fazer isso. Apenas uma estrelazinha apagada.

A janela rangeu. - E aí, você vai entrar ou não? – uma voz baixa perguntou. Maria não conseguiu frear um gritinho idiota. Sacudiu a cabeça em direção a

janela e viu Michael sorrindo para ela. - Vou entrar – respondeu Maria. – Digo, se estiver tudo bem. Michael deu a mão e a ajudou a escalar para dentro. - Dylan está dormindo, então… - Não, não tô não – Dylan, o irmão adotivo de treze anos, sentou-se na cama. –

Ei, Maria. - Oi – ela sussurrou. E de repente se sentiu completamente idiota. Isso não vai

funcionar. Como é que ela iria fazer um discurso romântico com Dylan ali na cama do lado e os pais adotivos de Michael dormindo uns dois quartos depois?

- Dylan, tem um pedaço de torta sobrando. Por que é que você não vai pegar? –

perguntou Michael gentilmente.

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- Você sabe que temos regras contra comer entre as refeições – respondeu Dylan, sua voz cheia de indignação. Então ele bufou e saiu do quarto.

Michael se sentou na cama. Maria hesitou, tentando decidir se ela deveria sentar

na cama dele também, ou na do Dylan. "Pare de ser idiota", ela ordenou a si mesma, e sentou-se ao lado de Michael.

- Hãm, como foi na escola? – ela disse, sem olhar para ele. - Como foi na escola? – repetiu Michael. - Hã, é, digo, as aulas são mais difícies quando se está no último ano? Devo me

preocupar? – adicionou Maria. "Ah, meu Deus. O que é que eu tô falando?", perguntou Maria a si mesma. Ela

deu uma olhada para Michael para ver se ele havia começado a fazer uma camisa de força com o cobertor.

Ele não o fez. Mas pela primeira vez Maria percebeu que Michael estava usando

somente uma samba-canção e uma camiseta. O que não ajudou em nada no problema de jogar conversa fiada que ela estava enfrentando. O cara era simplesmente muito gato.

- E também acho que você pode me ajudar a me decidir quais cursos

alternativos ter no próximo ano – ela emendou. – Sabendo que você, sabe, você está fazendo alguns.

- Então você veio aqui para receber conselhos para escolher entre corte de

madeira e coral para o próximo ano? – perguntou Michael. - Sim. Não. Eu não sei – disse Maria rapidamente. Ela realmente desejou ter o

frasquinho de cedro agora. Precisava ficar calma... seriamente. Ela contentou-se com uma longa respiração. Então virou o rosto para Michael. Era ridículo ficar sentada aqui falando para as paredes do modo como ela está fazendo.

- Não. Com certeza não. Não foi por isso que eu vim – disse Maria firmemente,

falando diretamente para os ombros de Michael para que não precisava ver a expressão no rosto dele. Então se forçou para olhá-lo nos olhos. – Eu vim porque nunca te agradeci por ter salvo a minha vida. Obrigada.

Não foi o que ela veio para dizer. Mas era algo que ela esteve esperando para

dizer a ele. E foi um grande melhoramento depois de ficar vomitando coisas sobre o colégio.

- Eu pensei que você fosse morrer – adimitiu Michael, sua voz rouca. – Eu

estava apavorado. Então ele a estava beijando. Não um desses beijinhos rápidos de amigos. Um

beijo forte, quente, diferente de tudo o que Maria já experimentou. Parecia que

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aquele pedacinho brilhante dela estava expandindo, preenchendo todo seu corpo com calor e luz. Calor derretido. Luz que cegava. Se fragmentando.

O beijo terminou tão rápido quanto começou. Michael afastou a cabeça e a

encarou como se não pudesse acreditar no que tinha acabado de acontecer. - Eu estava com medo de que você você fosse morrer também - ela passou os

braços em volta do pescoço dele e pressionou a cabeça contra os ombros dele. Se perguntou se ele podia sentir ela tremer. Se perguntou se ele sabia que era por causa daquele beijo que deixou o mundo de ponta-cabeça. – Teria sido minha culpa.

- Não, não faz isso – Michael murmurou no cabelo dela. - Mas é verdade – ela insistiu. – Eu devia saber que estava acontecendo uma

coisa ruim. Eu devia ter parado de usar o anel. Mas eu queria tanto encontrar pra você.

- O quê? – Michael a pegou pelos ombros e a afastou dele. – Você me deixou

pensar que o que estava fazendo era totalmente seguro. Você ficava me dizendo pra não me preocupar!

- Eu sei, mas pensei... eu pensei que podia encontrar a nave de seus pais. Eu

sei o quão isso é importante para você, e eu... eu, hum... - Mas você quase morreu! Por que é que você faria isso, Maria? - Isso é o que estou tentando dizer – choramingou Maria – Eu fiz isso porque... - Não tem nenhuma razão boa o suficiente para você se colocar nesse tipo de

perigo. Foi a coisa mais estúpida que você já fez na vida – Michael disse a ela, sua voz baixa e curta, cheia de raiva.

Maria estava completamente despreparada para isso. O que aconteceu com o

plano dela – de engatinhar pela janela, despejar seus sentimentos numa mesa e lidar com as consequencias? Agora ela sentia sua mente nadar num oceano de culpa, procurando por explicações. E ela não podia lidar com isso.

- Eu... eu tenho que ir – ela murmurou. Ela se afastou dele e escapuliu pela

janela. Michael não disse uma palavra para impedí-la enquanto ela se arrastava para fora e caia com força no chão.

Ela se levantou e correu para a bicicleta. Subiu nela e pedalou com força, rua

abaixo. O vento enxugando suas lágrimas quentes enquanto caiam para sua bochecha.

Ela nem teve a chance de dizer a Michael porque era tão importante para ela

encontrar a nave. Tudo o que queria dizer é que ela fez o que fez porque o amava.

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*** 6 *** - Você dirige, tá? – perguntou Max. Ele passou as chaves para Michael. Michael fez a volta no Jeep e subiu para trás do volante. Ele não achou que

alguma vez já dirigiu o Jeep quando Max estava por perto para dirigir. - Você está se sentindo bem? – ele perguntou. - Tô sim – respondeu Max. – Só que, sei lá, meio que cansado. Michael deu uma segunda olhada em Max, então girou a chave na ignição e

levou o Jeep para a rua. - Algum lugar em especial que você queira procurar? - ele perguntou. Eles tiveram essa coisa estranha de papéis invertidos acontecendo. Geralmente

Max ajudava a procurar a nave de seus pais basicamente para fazer companhia a Michael. Mas hoje a noite foi idéia de Max sair para procurar. Não era nem o dia que eles geralmente saiam.

- Eu não sei. Acho que podemos procurar pela rocha que Maria viu quando usou

a Pedra para rastrear Valenti. Aquela que ela disse que parecia uma galinha – respondeu Max.

Maria. Uma explosão incandescente de raiva passou por Michael só em pensar

no que ela fez. Ela sabia que usar aquela Pedra para ver Valenti era perigoso, mas não parou. Ah, não. Isso seria muito racional. Ela nem mesmo esperou que ele estivesse com ela, para observá-la e ter certeza de que ela estaria bem. Aquela menina precisava de um guardião.

- Valenti estava em casa da primeira vez que Maria usou a Pedra para vê-lo –

Michael disse a Max. – Então ela tentou novamente menos de uma hora depois. Foi aí que ela viu ele dirigir perto da rocha. Então nós podemos escolher uma direção e ir por cerca de quarenta e cinco minutos. Então começar a procurar em um grande círculo por volta da cidade.

- Quando você diz isso, parece tão fácil - -comentou Max. Ele deu uma risada

estranha, ofegante. - Então, você tem alguma preferência em qual direção escolher ou não? –

perguntou Michael. - Não – respondeu Max. Michael deixou o Jeep na direção que estavam. Eles chegariam ao deserto mais

cedo ou mais tarde. A única coisa ruim sobre uma longa viagem era que lhe dava muito tempo para pensar. Sua mente continuava a voltar para a visita que Maria fez a seu quarto ontem a noite. Aquilo o confundiu completamente, o pertubou em tantas maneiras diferentes.

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- Descobri uma coisa que você não vai acreditar – anunciou Michael. – Maria sabia que estava se colocando em perigo tentando rastrear Valenti com o anel. E ela mentiu bem na minha cara. Ela olhou bem pra mim e me disse pra não me preocupar, agindo como se eu estivesse sendo super-protetor.

- Hummm – murmurou Max. - É isso? Hummm? – Michael sacudiu a cabeça. – Maria não é simplesmente o

tipo de garota que mente. Digo, eu vi que ela ficou toda animada por causa do poder, pra ficar preocupada. Mas mentir – ele sacudiu a cabeça novamente.

- É. Se Maria mentiu, você pode apostar que ela teve os motivos dela –

concordou Max. Michael bufou. - Acho que sim. Ela é diferente de Isabel. Izzy mente para puro entretenimento

próprio. Ela é tipo um daqueles gatos siameses. Você sabe.... completamente interessados em si mesmos, bonitos demais, muito conscientes do fato e completamente determinados a usar disso para conseguir o que querem.

- Então se Isabel é um gato, Maria é o quê? – perguntou Max. - Algo como um filhotinho. Como um filhote de Golden Retriever. Louro e fofinho.

Meigo. Ávido para agradar. - Um conselho. Você pode não querer contar a Maria sobre a analogia Golden

Retriever – disse Max, então retornou sua atenção à procura. Os olhos indo de um lado para outro pelo deserto. Ele claramente não estava deixando nada passar despercebido.

Isso era bom porque um segundo depois os pensamentos de Michael se

voltaram para Maria de novo. - Eu só queria saber porque ela fez isso – ele exclamou. – Isso tá me deixando

louco. No silêncio que se seguiu, Michael percebeu que ele já sabia a resposta. Maria

sabia que se tivesse dito a ele, ele a teria feito parar de usar o poder. E ela queria tanto encontrar a nave. Foi o que ela disse.

Não, na verdade o que ela disse foi. "Eu queria tanto encontrar a nave para

você. " Para ele. Ele pensou em perguntar a Max se isso significava que Maria estava... o quê,

tipo, apaixonada por ele ou algo assim. Ou só significava que eram amigos, e ela estava procurando encontrar a nave porque ela queria ajudá-lo como amigo. Não, isso era muito infantil.

Tragam os saquinhos de vômito.

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- Tem alguma coisa ali? – perguntou Max, sua voz tensa e urgente. Ele apontou para uma rocha a esquerda.

Michael se abaixou e a estudou. - Acho que não – ele respondeu. – Parece uma rocha normal para mim. Não

uma rocha tipo galinha. - Isso é impossível! – choramingou Max. - Talvez – adimitiu Michael. – Mas pelo menos pelo que Maria viu, sabemos que

a nave ainda está intacta. E sabemos que está – ou ainda está – guardada em algum lugar próximo. Estamos mais perto de encontrá-la do que jamais estivemos.

- É, agora só vai durar uns dez ou vinte anos a mais pra encontrarmos – Max

murmurou. Cara, as coisas devem estar realmente ruim entre Max e Liz outra vez. Max

estava obviamante tendo uma enorme escapada em fantasias. Michael sabia sobre tudo isso. Quando ele era pequeno, mesmo nem tão pequeno assim, ele passava horas e horas desejando poder encontrar a nave, pular dentro dela, e simplesmente voar para casa – com Max e Isabel, claro.

Exceto que ultimamente... ultimamente essa fantasia não era mais tão atraente.

Parcialmente porque ele sabia que não havia nenhuma família lá no planeta deles, ninguém para esperar lhe dar as boas vindas. Mas não era isso. Era que agora ele tinha mais a deixar para trás do que jamais teve. Como Liz e Alex. E Maria.

Maria. O que é que ele iria fazer com relação a ela? Ele esteve se perguntando

essa mesma pergunta por um tempão. Tentando imaginar se seria simplesmente muito esquisito ter algo romântico começando com ela.

Romântico. Certo. Tradução: algo físico. Quando ele começaria a sair com

Maria, ele começaria a cair no pensamento de que ela era sua irmãnzinha. Mesmo pensando que ela era da mesma idade de Isabel, ela parecia mais jovem de alguma forma. Mas era bastante impossível imaginar Isabel gritando por ver um filme de terror barato, metendo as unhas no braço dele, cobrindo os olhos, e implorando para que ele a avisasse quando a parte assustadora passasse. Que era o que Maria sempre fazia.

E ele gostava. Mas daquele modo de irmão mais velho. Ele imaginou o que

aconteceria da próxima vez que eles tivessem uma nova sessão de filmes de terror. Quando ela atirasse nele, a situação poderia lembrar a ele aquele beijo?

Aquele beijo. Michael aumentou um pouco a velocidade, voando entre a

escuridão da estrada vazia. Ele não sabia o que pensar daquele beijo. Exceto que ele nunca, nunca mais iria olhar para Maria como nada próximo a irmã novamente.

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*** - Coloque que você se apaixonou completamente por ele apenas lendo suas

listas – sugeriu Maria. Ela se inclinou sobre os ombros de Isabel enquanto Isabel digitava. – Daí assine como Victoriana, Senhora das Trevas.

Maria estava feliz por Isabel ter convidado ela e Liz para sua casa. Ela podia ter

alguma distração. Não que alguma coisa pudesse fazê-la parar de pensar sobre o que aconteceu a noite passada com Michael. Mas pelo menos três por cento de seu cérebro poderia se concentrar em mandar uma mensagem para Alex, enquanto os outros noventa e sete pensavam permanentemente na expressão no rosto de Michael e na fúria em sua voz quando exigiu saber o que estava errado com ela.

- Alex não vai reconhecer seu nickname? – perguntou Liz. - Estou usando o da minha mãe – respondeu Isabel. Maria deu uma risada que foi quase um pigarro. - E se Alex responder de volta? E se ele tentar começar algum tipo de sexo

virtual com sua mãe? - Isso é tão nojento – reclamou Isabel. – Mas não estou preocupada. Alex é

muito babão por mim para pensar em qualquer outra pessoa. - Lembre-se que você tem 'Victorianna' mencionado em seu maiô. E na coleção

de langerie com pele de leopardo – provocou Liz. Ela prendeu o longo cabelo preto e colocou nos ombros. – Ainda tá se sentindo assim tão confiante? Hein, Isabel? Hein, hein, hein?

- Meninos gostam muito mesmo de... coleções de animais selvagens em sutiãs e

calcinhas – adicionou Maria. Isabel apertou o botão para enviar e mandou a mensagem para Alex. - Alex está completamente preso na armadilha da minha feminidade – ela disse

convencida. Maria e Liz trocaram olhares e as duas explodiram em gargalhadas. - Sua o quê? – quis saber Liz. - Você escutou – respondeu Isabel. – Então, vou deslogar ou o quê? "Deve ser o máximo ser Isabel", pensou Maria. Tão linda de morrer que você

pode tratar o mundo como se fosse um grande shopping de garotos. Escolher um louro aqui, um ruivo ali. Só pensando em qual você vai querer, sem se importar se eles vão querer você.

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- Vá para a página de Lucinda Baker – disse Liz. – Quero ver se ela já pôs coisa nova.

- Como faço? – perguntou Isabel. - Você nunca foi lá? – Liz alcançou o teclado e digitou o endereço. – É uma

bagunça. Ela faz o rank de técnicas de beijo de cada garoto na escola. "Até o de Michael?", se perguntou Maria. Ela não pensava que queria ler a

descrição do beijo de Michael. E se ela descorisse que ele beija todo mundo igualzinho como ele a beija? Ela não podia suportar a idéia de que não era algo especial que só poderia acontecer entre os dois.

A lembrança daquele beijo era tudo que a fazia continuar. É, Michael parecia

completmanente desgostoso com ela. Completamente furioso. Mas aquele beijo... Meu Deus. Aquele beijo lhe deu a esperança de que poderia haver uma chance de Michael sentir algo por ela. Algo como amor.

- Certo, é o seguinte. Você apenas clica no nome de um cara para ler a crítica da

Lucinda – explicou Liz. Os olhos de Maria correram logo para a letra G. Michael não estava listado. Pelo

menos ela foi poupada disso. Isabel deu uma olhada rápida descendo a lista. - Rick Surmacz. Interessante. - É, eu pensei que Maggie McMahon tinha prendido ele na armadilha da

feminidade dela – brincou Maria. – De que outra forma ela poderia coordenar todas as roupas que ele usa todos os dias?

Isabel clicou no nome de Rick. - Eu o chamo de Rick, o perfurador – ela leu alto. – Ele, de alguma forma, parece

pensar que um beijo bom é aquele onde ele enfia o máximo possível a lingua pela sua garganta. Sem sutileza. Sem misericórdia. Apenas me amordaça. Literalmente.

- Eca – comentou Maria. – Vocês acham que Maggie vê isso? - Sem chance – respondeu Liz. – Se lesse, a próxima roupa que ela escolheria

para ele seria um lindo saco de defunto. - Veja o do Craig Cachopo depois – disse Maria, lutando para manter pelo

menos quatro porcento de seu cérebro longe de Michael. – Liz e eu tinhamos uma completa queda por ele na sexta série. Quase destruiu a nossa amizade.

Isabel rolou a tela para cima. - Ele não está aqui – ela disse a Maria.

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- Mas Max está! – berrou Liz. Ela agarrou o mouse de Isabel e clicou. - Okay, eu não deveria realmente ter Max nessa lista porque nunca beijei ele –

Liz leu, sua voz perdendo um pouco da pressa. – Mas uma garota pode sonhar, certo? E eu suspeito que um beijo de Max seja que nem um sonho. Esses caras quietinhos podem realmente te surpreender. Aqui vai a esperança de que eu tenha fatos reais com você em breve.

- Vai sonhando – disse Isabel. Ela deu a Liz um simpático sorriso. – Você tem

que saber que mesmo que Max fique lhe afastando, ele não tem o mínimo interesse em nenhuma outra pessoa.

Liz concordou com a cabeça. - É, eu sei – disse ela baixinho. – Mas valeu por me lembrar. Maria sentiu uma pontadinha de inveja. Isabel e Liz tinham esses dois caras

completamente apaixonado por elas. É, Max insistia que ele e Liz não podiam ser mais do que amigos. Mas pelo menos Liz sabia que Max se sentia do mesmo jeito que ela se sente por ele.

- Hum, Max tem parecido diferente pra vocês ultimamente? – perguntou Liz. - Ele está meio que desorientado, se é isso que você quer dizer – respondeu

Isabel. Maria franziu as sobrancelhas, tentando se lembrar como Max tem agido

ultimamente. Ela tem estado tão concentrada em Michael. - Ele tem estado mais quieto do que o normal – ela disse. – Preocupado. - Mas ele não está doente ou nada assim? - Sinceramente, eu acho que é por sua causa. Acho que ele sente sua falta –

disse Isabel a Liz. – Essa não é realmente a palavra certa, já que vocês dois se vêem o tempo todo, mas...

- Mas é diferente – Liz terminou a frase. - Se você quer mesmo saber como o Craig beija, eu posso dizer – anunciou

Isabel, mudando brutalmente o assunto da conversa. Ela obviamente decidiu que Max não era o que Liz precisava discutir agora. – Um pouco molhado. Um barulho de respiração que distrai. Mas não é nada mau.

- Não brinca! – gritou Maria. – Eu nem sabia que você já tinha saido com ele. - Não saí. Mas eu fiz uma visitinha a ele em seus sonhos a noite. Quando eu

estava, hã... na minha campanha para a rainha do baile – ela adimitiu. Isabel suspirou e desligou o computador.

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- Você entrou no sonho do cara e o beijou para ele votar em você? – quis saber Liz.

- Só os bonitinhos – respondeu Isabel. – Michael e Alex destruiram isso

completamente. Vocês se lembrarão que perdi para Liz – ela mostrou a lingua para Liz. Liz sorriu e atirou um travesseiro nela.

Maria não disse nada, mas estava feliz que Isabel tenha perdido. Não seria legal

ganhar assim. Além do que, Liz tinha merecido ganhar. Ela estava tão linda quanto Isabel, de um modo completamente diferente. E era simplesmente tão popular quanto Isabel.

- Então, como é entrar nos sonhos das pessoas? – perguntou Maria. – É mesmo

revelador? Você sabe os segredos mais profundos e sombrios das pessoas? - Eu posso mostrar a vocês – ofereceu Isabel. – Pelo menos acho que posso

Nós três podemos formar uma conexão, então podemos passear pelos sonhos juntas.

- É meio que uma invasão de privacidade, apesar disso – disse Liz. - É. Você tá certa – resondeu Isabel. – Mas por outro lado, é legal. - A gente tem que fazer isso – Maria disse rapidamente. Ela sabia que Liz estava certa sobre a invasão de privacidade. Mas tinha a

chance dela fazer Isabel escolher o sonho de Michael. Talvez o sonho mostrasse como ele realmente se sentia com relação a ela.

- Então, quem é que vai ser? – perguntou Isabel. - A Sra. Hardy? – sugeriu Liz. - Uma professora? – perguntou Maria. – Isso não tem aquele fator: Eca? Talvez

devêssemos escolher alguém que conhecemos melhor. Maria não queria simplesmente sugerir o nome de Michael. Ela queria esperar e

fazer parecer casual. Ela disse a Liz tudo o que aconteceu na casa dele. Mas mesmo assim. Ela não queria parecer desesperada.

- Eu sei. Nós iremos para o plano do sonho e vocês duas podem cada uma

escolher um orbe. Assim será uma surpresa. – disse Isabel. Ela se sentou no chão e fez um sinal para Liz e Maria se sentarem ao seu lado. – Apenas relaxem. Respirem profundamente. E eu faço resto – ela orientou. Ela segurou as mãos das duas.

Um espiral de cor se tornou visível ao redor delas, o roxo escuro da aura de

Isabel, seguida de perto pelo rico ambar da de Liz e a brilhante azul de Maria. Um instante depois uma mistura de perfumes preencheu o ar. Maria pensou nelas como auras do olfato. Ela inspirou profundamente, apreciando as diferentes essências de

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ylang-ylang de Liz, de canela de Isabel, e sua própria rosa, assim como o aroma que elas faziam quando se misturavam.

- Fechem os olhos – disse Isabel baixinho. Maria obedeceu e se encontrou cercada por globos que giravam e brilhavam

multicoloridos. Maria sorriu quando uma delas roçou seu rosto. Era tão macio quanto bolha de sabão, e soltava uma nota de música perfeita, alta e doce.

- Bem vindas ao plano do sonho – disse Isabel a elas. – Cada orbe é criado

quando uma pessoa começa a dormir. Apenas escolham uma e eu coloco vocês dentro.

Maria se esforçou para escolher cada nota dos orbes, procurando por aquela

que a faria começar a vibrar, quase como uma pontada, dentro dela. Erão sons tão bonitos, mas nenhum deles era o que ela procurava. Era porque

Michael não tinha adormecido ainda, ela percebeu. Se ele não adormeceu, não teria o orbe do sonho.

- Você escolhe primeiro – ela disse a Liz. - Aquele ali – Liz apontou para o tremeluzente orbe verde pálido. Isabel olhou para Liz. - Estranho. Achei mesmo que você escolheria o da sua mãe – ela disse. – Eu já

fiz muito isso de comparar várias pessoas na cidade com seus orbes, e eu estou quase certa de que é ela. Você quer escolher outro diferente?

Liz hesitou, então sacudiu a cabeça. - Esse está bom. Isabel estendeu as mãos e começou a sussurrar. Um momento depois o orbe

verde girava em suas mãos. Isabel continuava a murmurar, e o orbe crescia, se esticando até que alcançou o mesmo tamanho das três.

- Se você não quiser que ela veja você no sonho dela, podemos assistir daqui –

disse Isabel. – Ou entrar lá e estar realmente no sonho dela. - Vamos ficar aqui fora – respondeu Liz. Ela deu um passinho para mais perto do

orbe e espiou lá dentro. Maria se mexeu ao lado dela. A Sra. Ortecho estava caminhando pela ponta de um lago. Enquanto passava

por baixo de uma árvore, um ovo caiu de um ninho e aterrisou diante de seus pés. Rachou e abriu, e sangue escorreu de dentro.

Maria ouviu um sonzinho de agonia vindo de Liz.

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- Não precisamos assistir a isso – Maria lhe disse. - Não, eu quero – respondeu Liz. Maria retomou a atenção para o sonho. A cena mudou bruscamente como

acontece às vezes nos sonhos, e a Sra. Ortecho estava parada na cozinha. Ela abriu a geladeira e tirou um ovo da caixa. Ela passou as mãos ao redor do ovo, como se estivesse tentando lhe passar um pouco do seu calor.

Então, instantaneamente, ela estava de volta ao lago, subindo em direção ao

ninho com o ovo ainda envolto em sua mão. Um galho se quebrou em baixo de seus pés. A Sra. Ortecho caiu. O ovo caiu de suas mãos, caiu direto no fundo do lago.

A água se tornou vermelha e começou a borbulhar. E uma garota saiu das

profundesas do lago, encharcada de sangue. Ela flutuou direto até a Sra. Ortecho, as mãos cheias de arranhões.

A Sra. Ortecho berrou, e Liz se afastou do orbe. - Já é suficiente – ela exclamou. Isabel tocou vagarosamente o orbe. Ela sussurrou até que ele se contraísse até

sua forma original. - Você tá bem? – perguntou Maria a Liz. – Pesadelo bem horrível esse, né? - Aquela menina. Acho que era Rosa – explicou Liz, seus olhos brilhando de

emoção. - Tem certeza? Eu não pude ver o rosto dela com todo aquele... – Maria parou

antes de falar a palavra sangue. Liz sacudiu a cabeça. - Era ela – ela insistiu. – Se passaram cinco anos desde que ela morreu e minha

mãe continua tendo pesadelos. - Provavelmente só de vez em quando – disse Isabel. – E de vez em quando não

é necessariamente ruim. Sonhos ajudam as pessoas a processar as coisas. - Acho que sim – murmurou Liz. Maria deu uma olhada em Isabel. - Vamos sair um pouco. Isabel fechou os olhos e se concentrou. O plano do sonho desapareceu e elas

estavam sentadas no chão do quarto de Isabel mais uma vez. - Desculpe por você não ter tido sua vez – Liz disse a Maria.

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- Tá tudo bem. O orbe que eu realmente queria visitar não estava lá – ela deixou a cabeça cair para trás e deu um alto suspiro. – Eu tenho uma confissão a fazer a vocês, minhas irmãs amigas. Eu queria ter ido no sonho de Michael.

- Estou em choque – respondeu Isabel, com uma exagerada imitação de

surpresa. Maria procurou o rosto de Liz. - Você contou a Isabel? – ela quis saber. - Ela não me disse nada. Mas eu tenho olhos. E meus olhos viram os seus olhos

olharem para Michael dessa forma – respondeu Isabel. Ela deu uma olhada no relógio. – Michael, Max e eu só precisamos de duas horas de sono. Ele não vai estar no plano dos sonhos em algumas horas. Vocês deveriam ficar por aqui, as duas, e eu levo vocês lá quando for a hora. Eu tenho pijamas e essas coisas que vocês podem pegar emprestado.

- Acho que podemos acordar bem cedinho e ir para casa trocar de roupa antes

de ir pro colégio – disse Liz. – Mas tenho que ligar pra casa pra avisar – ela adicionou. Isabel alcançou a cabeceira de sua cama e apanhou o telefone. Entregou a Liz, e Liz rapidamente discou o número.

Maria tentou não escutar. Escutar sempre a fazia se sentir desconfortável.

Escutar Liz pedindo permissão para ficar até mais tarde do que foi planejado ou ir para algum lugar fora da cidade. O pai dela fazia um bilhão de perguntas, como se ele não confiasse nela. O que era muito injusto.

Liz era, anormalmente, uma garota perfeita. Nunca deixava as notas ficarem

vermelhas. Completamente responsável quando trabalhava no restaurante. Fazia as coisas na casa. Não bebia. Não fumava. Não fazia nada dessas coisas que os pais se preocupam que os filhos estejam fazendo.

O Sr. Ortecho era basicamente um cara legal. Maria gostava de trabalhar para

ele. Mas ela queria que ele largasse do pé de Liz. Só porque Rosa teve overdose não significava que isso também aconteceria a Liz. E ele deveria conhecer a própria filha bem para perceber isso.

Liz desligou e passou o telefone para Maria. Ela ligou rapidamente para a mãe,

que imediatamente disse que ela poderia ficar na casa dos Evans. Grande surpresa. Maria sabia que o namorado dela estava lá e eles ficariam felizes em ter um pouco mais de privacidade.

- Vocês querem assistir a algum filme ou algo assim até que fique tarde o

suficiente pra gente voltar ao plano do sonho? – perguntou Isabel. - Claro – respondeu Liz. E Isabel começou a fazer as escolhas.

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Maria pensou que era legal Isabel tentar tanto para ser uma boa anfitriã. Izzy não tinha muitas amigas e parecia que era realmente importante para ela fazer coisas de menina essa noite.

- Esse aqui tá bom pra você, Maria? – perguntou Isabel. Maria não estava ouvindo. Qualquer filme que elas escolhessem estava bom

para ela. Ela pensava no filme e imaginava uma contagem regressiva até que chegasse a hora para entrar no orbe de sonho de Michael.

Pela hora que o filme chegou nos créditos, Maria sentiu um monte de borboletas

se agitando dentro de seu estômago. Ela pegou a mão de Isabel e novamente deu um passo a frente para o lugar onde cantavam, brilhavam e giravam os orbes.

Ele provavelmente estaria sonhando com algo completamente idiota, ela

pensou. Tipo cachorros-quentes dançantes. "Algo que não tem nada a ver com comigo. Bem, ao menos você acreditava em uma daqueles livros de interpretação dos sonhos."

Maria escutou o profundo som do orbe do sonho de Michael. Mais borboletas

nasciam enquanto Isabel chamava o orbe e sussurrava para que ele se expandisse. Sem se dar mais tempo para sofrer, Maria deu um passo a frente para a macia,

molhada superfície, Isabel e Liz bem atrás dela. Ela sentiu como se uma mão alcançasse seu coração e o apertasse com força.

Michael com certeza não estava sonhando com cachorros-quentes dançantes. Ele estava sonhando que abraçava Isabel!

*** 7 *** - Quer ajuda com o jantar, mãe? – perguntou Max enquanto vagava pela

cozinha. Ele sabia que deveria estar procurando pela nave novamente, mas estava exausto demais para enfrentar outra partida desencorajadora pelo deserto vazio.

- Você pode atender a campainha quando o rapaz do Flying Pepperroni

aparecer. Eu mandei pedir uma pizza – respondeu a Sra. Evans. – Seu pai e eu temos um caso enorme para nos preparar. Cozinhar não estava marcado na agenda. Sorte a sua.

- Sem sorte pro papai, apesar disso. Você sabe o que ele sempre diz... –

começou Max. - Ele prefere comer a caixa – os dois terminaram juntos.. É estranho o tanto de informação que você guarda sobre seus pais sem

perceber. Informação desnecessária. Papai diz que papelão é mais saboroso do que pizza, come pegando um pedaço de cada coisa em seu prato em sequencia então ele acaba com exatamente o mesmo pedaço de cada coisa no final, coloca três

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montinhos de açucar na colher de sopa em seu café e prefere que ninguém comente sobre isso. E isso era só uma parte da informação que ele coletou sobre o pai dele com relação a comida.

Max tinha centenas desses arquivos mentais. Como o arquivo de infância de sua

mãe. Mamãe costumava ter uma melhor amiga imaginária chamada Solly, uma melhor amiga de verdade chamada Annabelle e uma boneca que nem aquela que a Buffy teve no Family Affair, a Sra. Beasely, esse era o nome da boneca.

E ele sentia que era importante saber esses fatos engraçados sobre seus pais.

Ou pelo menos sobre alguém que ele conhecia. E que alguém saberia disso depois que eles... morressem.

Mas esse alguém não seria ele. Os dias estavam passando... três já se foram...

e ele podia sentir seu corpo mudando. E as chances de encontrar a nave não estava tão boas para o Paciente X.

O que foi mesmo que o médico disse? Você deveria pensar em fazer os

preparativos. É, foi isso. Max tinha a sensação de que o velho Paciente X deveria estar fazendo seus preparativos.

E isso incluiria falar com Michael, Isabel e os outros. Ele teria que fazer isso.

Não podia esperar muito mais que isso. O único diagnóstico bom para o Paciente X foi que ele estava se sentindo menos

assustado, menos irritado, menos tudo. O Paciente X se tornou um garoto numa bolha. Desde o momento que Ray disse a Max sobre o akino, pareceu que uma fina camada de plástico se formara ao redor dele. E a cada dia o plástico se tornava mais espesso, criando uma barreira entre ele e todo o resto, até seus próprios sentimentos.

Talvez o oxigênio na bolha tinha algum tipo de anestesia misturada a ela

também. Porque Max, ou o Paciente X, ou quem quer que fosse, não se importava que ele fosse o garoto na bolha. Ele não se importava que ele e sua mãe estivesse se comunicando através de uma parede de plástico. Ele estava tendo problemas para se preocupar com qualquer coisa.

Estranhamente, entretanto, ele ainda meio que se preocupava com os arquivos

de informações sobre seus pais, que estavam dentro de sua cabeça. Ele iria gostar que alguém se lembrasse que a mãe dele poderia recitar todo o discurso de E o Vento Levou. Isso parecia importante.

Max se levantou e marchou em volta da mesa da cozinha, se sentou, e

imediatamente pôs-se de pé novamente, mesmo sentindo como se seu corpo pesasse três vezes mais do que o normal.

- E se eu fizer uma salada? – perguntou. Ele não queria muito salada, mas

queria continuar ali na cozinha, e poderia assim fazer algo útil. Abriu a porta da geladeira e deu uma checada no compartimento de vegetais. Tinha uma cabeça de alface, bem bonita, e uma par de cenouras meio abatidas.

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- Eu mandei pedir salada também – disse a mãe dele. – Então temos tempo para você se sentar e me dizer o que é que está errado.

- Não tem nada errado. Só queria fazer salada, só isso – Ele fechou a gaveta

dos vegetais com o pé e fechou porta da geladeira. - Estou mais preocupada com os papos debaixo dos seus olhos do que com a

salada. Estão grandes o suficiente, pedindo umas férias de duas semanas. Nunca o vi assim – ela respondeu. Sentou-se à mesa e deu uns tapinhas na cadeira ao lado dela.

Relutante, Max sentou-se. Ele sabia que não tinha como escapar da mãe

quando ela pensava que eles tinham que conversar. E isso geralmente ajudava. Não era como se ela dissesse a ele o que fazer. Era que na maioria das vezes quando ele tinha que explicar o que quer que estivesse acontecendo a ela, ele meio que imaginava uma solução para si mesmo.

Mas não tinha nem chance disso acontecer dessa vez. Há muito tempo atrás ele

e Isabel prometeram um ao outro que nunca iriam dizer aos pais a verdade sobre a origem deles.

Max iria manter a promessa. Se ele contasse aos pais a verdade, eles estariam

em perigo. Assim como Liz, e como qualquer um que se aproxime demais dele. Enquanto o pessoal do Project Clean Slate de Valenti, cassasse alienígenas, todos que conheciam Max, Michael e Isabel estavam em perigo. E isso era inaceitável.

O Paciente X irá morrer. Tudo bem. Tá, não é tudo bem, mas provavelmente

inevitável. Isabel irá morrer. Michael irá morrer. Provavelmente inevitável também. Mas os pais dele não precisavam morrer, não por um longo, longo tempo. E ele

queria que continuasse assim. Ele não iria encurtar as expectativas de vida deles, lhes dizendo seu segredo e colocando-os em perigo.

- Então eu preciso de uma contra-investigação em você? – perguntou a mãe

dele. – Ou você pode me dizer o que é que está acontecendo? Ele tinha que inventar alguma coisa. Ele olhou para a esquerda e percebeu um

fio de linha prateada na têmpora dela. Ele pôs a mão, puxou o fio, e estendeu na frente dela.

- Ah! Seja bonzinho. Isso vai acontecer com você também – ela o alertou. Na verdade, não, mãe. Não vai acontecer – ele respondeu numa sussurro. Ele pôs o fio cinza no bolso da calça. - Acho que vi outro – ele anunciou. Esticou o braço, mas sua mãe deu um tapa

na mão dele, para afastá-lo. - Pára de enrolar – ela ordenou.

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- Certo, o negócio é o seguinte – disse Max. Ele precisava de uma mentira bem boa, mas não tinha nada que ele pudesse pensar. – Hum, tem essa menina no colégio que é completamente inteligente e linda e tudo o mais. Mas o problema é que ela fica me dizendo que quer ser somente minha amiga.

Na verdade, ele era quem ficava dizendo a Liz que queria ser apenas amigo

dela. E acabou sendo uma coisa boa isso. Quando ele morrer, pelo menos só terá um amigo morto, não um namorado morto.

- Isso faz eu me sentir bem mais velha do que o fio cinza – queixou-se sua mãe.

– Meu filho falando comigo sobre problemas de relaciomanento. A campainha da porta soou. Max levantou-se da mesa. - Eu atendo. - Peça algum dinheiro ao seu pai – disse a mãe dele. Então ela piscou para ele.

– Você pode perguntar outra coisa também. Pergunte quantas vezes eu disse a ele que era melhor que fossemos apenas amigos antes de finalmente aceitar sair com ele.

Max forcou a si mesmo a sorrir para que ela pensasse que ele havia feito ele se

sentir melhor, então caminhou para a porta da frente. - Pai, preciso de mais dinheiro pro cara da pizza! – ele gritou. - Estou indo, estou indo – seu pai disse da sala de estar. – Mas será que não

daria pra gente ter pedido outra coisa ao invés de pizza? Eu prefiro comer a caixa. "Essa pode ser a última vez que escuto ele dizer isso", percebeu Max. *** Michael vagou pela sala de estar, segurando um pedaço de pizza já fria e um

copo de leite. O coração de Isabel deu um solavanco, e ela derramou um pouco de soda na

parte da frente de sua camisa. Apanhou um guardanapo e tentou limpar o local. - Assustei você? – perguntou Michael. Ele se jogou no sofá ao lado dela. - Eu não ouvi você entrar – ela respondeu. Ele nunca tocava a campainha. Os

pais de Isabel o chamavam de terceiro filho, e ele tratava a casa dela como se fosse a dele.

Era verdade que ela não tinha escutado ele chegar. Mas não foi por isso que o

coração dela praticamente perfurou um buraco em sua costela. Quando ela viu Michael, a imagem do orbe do sonho dele instantaneamente passou pela sua mente. E o coração dela respondeu.

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Michael meteu os pés na mesinha de centro, dobrou a pizza no meio e deu uma grande mordida. Ele com certeza não estava agindo como um cara que havia sonhado em ter os braços em volta de Isabel. Há qualquer segundo ele estaria arrotando ou coçando a bunda.

Isso era um alívio. Seria estranho demais para o irmaozão Michael ter algum tipo

de sentimento romântico com relação a ela. Ela tinha plena consciência disso, mesmo que seu corpo parecesse ter esquecido temporariamente desse detalhe.

Isabel ergueu a sobrancelha. - Tem certeza de que você tem tudo o que precisa? – ela perguntou com um

falso quê de doçura. – Quer que eu dê uma corrida lá em cima e pegue pra você alguns travesseiros ou qualquer coisa?

- Que boazinha você é por perguntar – respondeu Michael, sua voz tão doce

quanto a dela. – Mas acho que tô bem legal. A menos que você queria tirar meus sapatos e me dar uma massagenzinha nos pés.

- É, eu tenho sonhado em pôr minhas mãos no seu pé grande e fedorento – ela

respondeu. Teve uma época que ela teria feito... apaixonadamente. Quando ela tinha, tipo, doze anos. Ela tinha essa ultra queda pelo Michael. Ela tinha todo um caderno preenchido com informações como sua banda favorita, sua comida favorita. Esse caderno foi comida de algum lixo, página por página, quando Isabel completou treze anos e achou que tudo o que estava lá era fortemente humilhante

- Então, cadê todo mundo? – perguntou Michael. - Meus pais voltaram ao escritório. Eles têm esse imenso caso. E Max está no

quarto dele. Pelo menos eu acho que é Max – ela disse. – Mas pode ser o irmão gêmeo do mal. Aquele que chamamos carinhosamente de O Mudo.

- É, o que é que ele tem esses dias? – Michael enfiou as mãos pelo cabelo

espetado. – É só aquele lance dele com Liz ou o quê? - Não acho que nada de novo aconteceu com eles – ela respondeu. – Mas talvez

toda a frustração sexual se tornou algo muito pesado para ele. - Não posso dizer que sei – Michael deu um sorrisonho para ela. – Sou lindo

demais para ter que pagar por isso. - Ah, certo. Vivo esquecendo desse detalhe. Acho que é porque eu não acho –

ela replicou. Na verdade, Isabel tinha que admitir que Michael era um número muito alto na

escala de gostosura. Ele não era tanto como um irmão que ela não gostava de olhar. E tinha muita coisa ali pra se olhar... cabelo preto, intensos olhos cinzas, aquele abdômen tanquinho perfeito, ombros grandes...

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Ela parou, de repente sentindo que estava sendo infiel a Alex. O garoto dela com certeza tinha muita coisa também. Era apenas o que Michael tinha de sobra e ele não. E às vezes olhar essas coisas era divertido.

- Ah, falando nessa sua beleza fabulosa, Corrine Williams quer que eu o convide

para essa festa que ela dará na Sexta – Isabel disse a ele. - Você e Alex irão? – ele perguntou enquanto enfiava a borda da pizza para

dentro da boca e limpava as mãos nas pernas da jeans. - Hum, não tenho certeza – disse Isabel. Ela não estava afim de ter outra sessão

de vergonha sobre Alex-Isabel pelo pessoal da Stacey. Não foi divertido no vestiário, certamente não será divertido numa festa.

Michael deu uma olhada na TV. - É esse aquele programa onde ela fica tentando ter um filho? Ele esticou o braço por trás do sofá. O braço dele roçou no ombro de Isabel e

ela sentiu um formigamento passar por ela. O que não deveria estar acontecendo. Não tinha acontecido antes... pelo menos não desde que ela tinha doze anos, quando ela era tipo um brinquedinho elétrico que dava choques sempre que Michael estivesse por perto.

- Esse é o programa antigo dela – respondeu Isabel se sentando mais reta para

se afastar da conexão entre o corpo dela e o de Michael. – Nesse ela é uma mãe solteira desses dois gêmeos que estão sempre tentando conseguir um casamento pra ela.

- Ah, sim. Eles têm poderes de bruxo, ou algo assim – disse Michael. – Não dá

pra acreditar que você assiste isso. - Não, esse é o outro programa antigo. E eu não estou realmente assistindo. Eu

estou assistindo ao que vem depois dele – respondeu ela. - Então aquele cara, ele é o diretor do colégio deles, certo? Isabel sacudiu a cabeça. - Esse é o programa antigo. Ele é o treinador de futebol deles. - Certo, dá pra ver que preciso estar no comando do controle remoto – anunciou

Michael. Ele tentou alcançar, mas Isabel chegou primeiro e segurou o controle nas costas

dela. - Novidade pra você, eu não sou o Alex. Então não vai ter aquele lance todo de

Princesa Isabel – ele disse

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Ele começou a tentar alcançar as costas dela. Isabel se inclinou para trás, de modo que ela ficou quase deitada no sofá, predendo o controle entre seu corpo e o sofá.

Michael a estudou por um momento, seus olhos cinzas estreitados. Outro

formigamento correu pelo corpo de Isabel, seguido por uma onda de culpa. Ela só podia imaginar como Maria iria reagir se ela visse ela pequena sessão de flertes.

- Podemos fazer isso da forma fácil, ou da forma difícil – Michael informou a ela. - Não estamos fazendo isso de jeito nenhum. Essa é a minha casa. Significa que

eu tenho controle sob o controle remoto – insistiu Isabel. - Certo, então vai ser assim – Michael abriu caminho entre as pernas dela e

começou a fazer cócegas. E é claro, ele sabia exatamente o lugar para onde ir. Ele sabia disso faz anos.

Isabel berrou enquanto ele enfiava os dedos na barriga dela, bem abaixo das

costelas. Ela não podia aguentar. O pegou pelo ombro e o jogou para trás. Pelo menos ela tentou. Ele só se mexeu meia polegada.

Mas Isabel tinha outros modos de ganhar essa luta. Ela enfiou as unhas nas

costas dele. - Injusto. Eu não tenho garras – protestou Michael, sem parar de fazer cócegas. - Mas você pesa, tipo, duas vezes mais do que eu – choramingou Isabel. – E

está praticamente deitado em cima de mim. Ela e Michael se olharam, e os dois congelaram. Isabel pôde sentir a respiração

dele ficar pesada. Ele havia ficado sem ar por que fez as cócegas? Porque Isabel tinha certeza que era por causa disso que seu coração batia com

violência contra suas costelas agora. Era somente porque ela se contorceu demais, tentando manter o controle remoto longe.

Não tinha nada a ver com a repentina e intensa consciência do corpo de Michael

pressionado contra o dela. Nadinha. Isabel tirou o controle de suas costas e o empurrou para Michael. - Aqui, assista ao que você quiser. Eu vou lá... arrumar algum dever de casa pra

fazer.

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*** 8 *** Liz deu uma olhada em seu relógio. Se ela andasse rápido, teria tempo de dar

uma parada no museu do OVNI antes de começar o turno no Crashdown. Bom. Max estaria lá, e ela precisava vê-lo. Somente vê-lo e se assegurar que ele estava bem.

Ela tinha essa sensação ruim em seu estômago de que ele não estava bem.

Todo dia no colégio ele parecia cada vez mais acabado. E tinha aquela coisa estranha que aconteceu com o Bico de Bunsen. Max tentou convencê-la que a pele borbulhante foi apenas uma ilusão de ótica, mas o cheiro de carne queimada foi muito acentuado.

- Liz, quer uma carona? – ela ouviu uma voz a chamar. Ela sabia, mesmo sem

olhar, que era Max. - Ótimo – ela respondeu enquanto fazia a volta e subia no Jeep. Ela estudou o rosto dele enquanto ia para a rua. Ele parecia um paciente com

câncer, ela decidiu. - Você tá me encarando – Max lhe disse. Liz decidiu ser direta. - Estou preocupada com você – ela admitiu. – Você fica me dizendo que não tem

nada de errado. Mas não caio mais nessa. - Eu tô só meio que cansado – ele disse a ela. – Eu não tenho... Suas palavras se esgoraram. Seus olhos rolaram para traz de sua cabeça até

que somente a parte branca ficou a mostra. - Max! – berrou Liz. Uma longa e alta buzina explodiu, atraindo a atenção dela. Ela olhou para cima e

viu um caminhão de entrega de Lime Warp a cerca de doze polegadas de distância deles. Eles passaram o sinal vermelho.

Liz esticou o braço, alcançou o volante e o girou para a esquerda. Os pneus do

Jeep berraram em protesto. Ela tirou o pé de Max do acelerador e apertou o freio, resistindo ao desejo de empurrar o freio com força direto para o chão.

- Okay, okay. Agora estacione – ela murmurou para si mesma. Ela manobrou o

Jeep para a beira da calçada e desligou o carro, então virou o rosto para Max. - Você consegue me ouvir? – ela gritou. Checou os olhos dele. Ainda estavam

apenas as bolas brancas.

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Liz engoliu com dificuldade. Tinha que ficar calma. Tinha que ajudar Max. Mas o que é que ela deveria fazer? Ela poderia correr até a casa de alguém e pedir para usar o telefone da ambulância. Mas não queria deixar Max sozinho. Nem por um minuto.

- Max, vamos – ela gritou, sua voz cortada. – Diga alguma coisa. Você consegue

me ouvir? Sou eu. Liz – as pálpebras dele começaram a se agitar. – É! É isso aí – exclamou Liz. Ela tirou uma das mãos do volante e esfregou em sua outra mão. Estava fraca e sem reação.

Ela viu uma fenda de azul em baixo dos cílios dele, então os olhos dele voltaram

ao lugar. A mão dele deu uma tremida. Ele já estava melhor. Ah, graças a Deus. Max sacudiu a cabeça. - Acho que dei um cochilo no volante. Eu tenho andado realmente desligado

ultimamente. Talvez você devesse dirigir. Você pode me levar até o museu, e eu posso pegar o Jeep com você mais tarde.

Liz o encarou. Ele estava em choque. Só podia ser. - Max, você teve um tipo de ataque – disse Liz gentilmente. – Vou levar você a

sala de emergência. - Na seção alienígena? – perguntou Max brevemente. Ele deslizou a mão para

longe dela e a pôs no volante. – Liz, você sabe que não posso ir para a sala de emergência. Por favor, apenas me leve para casa. Vou dizer no trabalho que estou doente e relaxar, tentar descançar. É tudo o que eu preciso. Apenas descançar.

- Isso não vai fazer eu me sentir muito melhor – repondeu Liz. A adrenalina

ainda estava explodindo em seu corpo. Todos os seus nervos pareciam estar eletrificados. E Max esperava que ela simplesmente o largasse em casa e se despedir animadamente?

Ela lembrou a si mesma que ele não viu o que ela viu. Ele não viu os olhos dele

rolarem e... - Max, você tem que acreditar em mim. Isso não é algo que você pode fingir que

não aconteceu. Você tem que se consultar – ela disse a ele. - Olha, eu já falei com Ray sobre isso – murmurou Max. – Não é uma coisa

humana, certo? Não é uma coisa que médico pode curar. O estômago de Liz apertou até ficar uma bola amassada. - Então o que é? Me diga, Max. Max correu os dedos no caminho do volante. - Preciso ir trabalhar. Ou, pelo menos, tenho que fazer uma ligação.

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Liz pegou o rosto dele com as mãos e o forçou a olhar para ela, mas ele ainda não a olhava nos olhos.

- Não vamos a lugar nenhum até que você me diga. - Eu estou morrendo. Liz apertou os dedos no rosto dele. - O quê? Finalmente ele levantou os olhos e a olhou diretamente. - Eu estou morrendo. *** Michael estacionou o carro dos Pascals bem atrás do Rabbit de Alex. Ele não

pôde acreditar que fora intimado a uma reunião. Os seis se viam todos os dias no colégio. O que é que tinham para conversar que não poderiam ter falado ontem no almoço?

Ele saiu do carro e bateu a porta. Seja o que for, tem que ser bom. Ele estava

perdendo o jogo na TV. Ele e Dylan tinham feito uma aposta, e se as coisas acontecerem da forma como ele pensou que se aconteceriam, Dylan estará limpando a privada e polindo a banheira que eles dividiam por um longo tempo.

Michael se apressou para a casa dos Evans e entrou. - Espero que você não tenha me chamado para cá porque decidiu que

precisamos de uniformes nas cores de nossas auras ou algo assim – ele reclamou enquanto davas um passo para dentro da sala de estar. – Porque se foi isso...

Suas palavras estacaram quando viu a cara desgostosa de Max. Alguma coisa

estava muito errada. Michael caiu na cadeira mais próxima a ele. - O que foi? – ele perguntou gentilmente. Max não respondeu. Michael virou o olhar para Liz. Seus olhos estavam

vermelhos, e algumas lágrimas corriam pela bochecha dela. - É melhor alguém começar a falar. Agora. Foi o Valenti? Ele descobriu alguma

coisa? - Eles não nos contaram nada ainda – disse Maria. – Estavam esperando por

você – ela parecia tão assustada quanto ele. Assim como Alex e Isabel.

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- Bem, estou aqui agora – ele se inclinou para frente, seus olhos pregados em Max novamente.

- Eu... nós... – Max limpou a garganta. Ele jogou o cabelo para longe do rosto e

Michael pôde ver os dedos dele tremerem. – Tem algo chamado akino. Akino é... – suas palavras se esgotaram.

- Akino é algo que todos em seu planata passam. É o tempo de se conectar ao

que chamam de inconsciente coletivo – falou Liz. Olhando de Isabel para Michael. – Ray disse que contém todo o conhecimento da civilização de vocês, todas as emoções também. Basicamente deixa vocês sentirem as emoções de cada um do seu planeta de uma vez só. Talvez até daqueles que já morreram. Não tenho certeza.

Liz abaixou o olhar para a mesinha de centro, e Michael pensou ter visto novas

lágrimas brotarem nos olhos dela. Ele pensou em se levantar e chacoalhar ela até ela terminar seu pensamento. Ele segurou os braços o mais forte possível na cadeira para se manter no mesmo lugar.

- Vamos, Liz – implorou Isabel. Liz tomou um longo fôlego, numa respiração tremida. Então as palavras

começaram a sair de sua boca tão rapidamente que foi difícil fazer parar. - Max está passando pelo akino e isso significa que ele tem que se conectar a

inconsciencia coletiva ou ele morrerá. Mas ele não pode se conectar a consciencia daqui da Terra sem os cristais de comunicação que estão na nave dos seus pais.

Isso tinha que ser uma piada. Uma semana atrás Michael descobriu de Ray que

seus pais estavam mortos. Também descobriu que não tinha nenhuma família em seu planeta natal. E agora... agora seu melhor amigo estava morrendo? Isso tinha que ser uma piada doentia.

Michael ouviu Isabel começar a chorar baixinho. Um som o penetrou. Um choro

como aquele nunca deveria vir de Isabel. Ela parecia um animal que fora capturado numa armadilha por dias, sem esperança, com dor, morrendo.

Morrendo. E isso aconteceria a todos eles. Em breve Isabel estaria morrendo

também. E até aí, ele e Max provavelmente já terão morrido. Deixando a Izzy dele passar por tudo isso sozinha.

- Quanto tempo? – exigiu saber Michael, quebrando o silêncio. - Ray disse... – começou Liz. - Meses, semanas ou dias – interrompeu Max, parecendo como se ele estivesse

forçando as palavras pela barreira atrás de sua garganta. – Eu não sei por quanto tempo até que você ou... não sei quando pode começar. Acho que acontece em tempos diferentes para cada pessoa. Pode levar anos – ele olhou nos olhos de Michael por alguns momentos, então seus olhos foram em outra direção.

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"Poderia ser amanhã", pensou Michael, dizendo o que Max não conseguiu dizer. - Então precisamos de um plano para encontrar a nave – disse Alex. Maria se

juntou a ele e começou a balbuciar sobre as notas e mapas e as coisas. "O que é que tinha de errado neles?", pensou Michael. Ele tem procurado por

essa nave toda sua vida. A chance de acharam a nave nos próximos dias é mínima. A menos que... Michael se lembrou que Ray escondeu as Pedras da Meia-Noite na caverna. Hummm.

Ele se endireitou e viu Liz o encarando com um pequeno meio sorriso no rosto. - Tive uma idéia – ela disse lentamente. Alex e Maria continuaram a falar bobagem. - Vamos deixar Liz falar – ordenou Michael. - Eu tive uma idéia – ela repetiu. – Eu estava simplesmente sentada aqui,

olhando para Michael e de repente me lembrei como nós o salvamos dos caçadores de recompensa.

- Nós todos fizendos a conexão – exclamou Maria. – E foi forte o suficiente para

trazer Michael de volta. Por que é que não pensei nisso?! Quando todos nós nos conectamos é... eu nem tenho palavras pra descrever o que é.

Liz se virou para Max. - Talvez a força da nossa conexão poderia lhe dar o empurrão para você

completar o akino sem os cristais. O que você acha? Michael sabia o que ele pensava. Ele pensava que era uma idéia

impressionantemente melhor do que tentar encontrar a nave agora. E se não funcionasse, iria para a caverna e resolveria as coisas ele mesmo.

A força da conexão salvou a vida dele. Por que é que não será capaz de salvar a

de Max também?

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*** 9 *** Com a mão esquerda, Max pegou na mão de Liz e na de Isabel com a direita,

completando o círculo. A conexão entre os três estalou instantaneamente. Dessa vez as auras deles pareciam luzes de raio lasers, penetrando por entre a

sala de estar dos Evans com um chiado de eletricidade. Fazendo explodir faíscas onde as seis lâminas de luz cruzavam no meio. E ali, no coração do círculo, as seis cores individuais queimavam numa bola de luz branca. A verde esmeralda dele, vermelho tijolo de Michael, azul cintilante de Maria, o quente âmbar de Liz, a forte roxa de Isabel e a brilhante laranja de Alex, se combinavam em uma luz de cegar.

Os pelos nos braços de Max se eriçaram e a força de seus amigos explodiu

dentro dele, torando suas veias em verdadeiros fios. Parecia como se eles estivessem direcionando suas essências em direção a Max. Ele sorriu enquanto Alex passou para ele a imagem do Popeye crescendo os músculos depois de tomar espinafre, então arfou quando Liz o mostrou um bando de papagaios levantando vôo de uma vez. As imagens vinham cada vez mais rápidas. Isabel mostrou ela mesma batendo nele com uma pá durante uma briga que eles tiveram quando eram crianças. Um tubarão, olhos caidos e com dentes de navalha nadando rápido pela água, veio de Michael. Uma flor nascendo em segundos, vinha de Maria.

Um instante depois uma música tocou. Uma nota de cada um deles. Cada nota

em uma frequencia diferente, cada uma se ajustando em sua própria vibração pelas veias dele, que brilhavam.

Ele se sentiu invencível. Cada sentido estava preenchido com a conexão deles.

As cores de suas auras, o som e o sentimento de suas músicas, a emoção de suas imagens, e as essências, as essências estavam explodindo em seu nariz... a rosa, o cedro, o eucalípto, o ylang-ylang, a canela e a amêndoa. Ele respirou profundamente, aspirando os perfumes para dentro de seus pulmões, dentro de cada pequeno alvéolo pulmonar.

Agora, ele disse a si mesmo. Agora! Ele procurou pela sua mente, procurando por um vislumbre, um sussurro, algo

que o desse uma direção. Apertou os olhos, tentando mandar uma partezinha dele, de todos eles, para o universo. Passando as pontes da galáxia. Fundo no silêncio do espaço.

Ele sentiu seu corpo perder peso. Leve, tão leve. Como se tivesse sido

convertido em pura eletricidade, passando por planetas que nem tinham nome. Ele quase podia ver os planetas passando rapidamente por ele.

Em algum lugar lá fora estava a união das almas de cada pessoa que viveu em

seu planeta. Em algum lugar lá fora havia uma memória viva de cada pensamento, cada emoção, cada sonho. Ele tinha que ser capaz de sentir isso.

Estou aqui. Quero me juntar a vocês. Quero me conectar. Max tentou tirar essa

mensagem dele, jogá-la lá no nada.

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De repente Max pensou ter ouvido uma resposta. Tão leve quanto um único fio de cabelo deslizando pelo seu rosto, ele sentiu outra mente, ou mentes, tocando na sua própria. Não teve nenhuma imagem, ou nenhum som, ou nenhuma essência. Mas mesmo assin, ele sentiu o toque de algo. Algo do lado de fora do grupo.

Sim! Ele explodiu essa palavra dentro de sua cabeça. Sim! Quero me juntar a

vocês. Preciso me conectar. Alcancei meu akino. Quando disse Akino, o som de um milhão de vozes preencheu a cabeça de Max.

Um milhão de vozês todas falando de uma só vez, todas exigindo atenção, gritando cada vez mais alto enquanto lutavam para serem ouvidas.

Altas notas de músicas, sem nenhum ritmo, sem ordenação, elevando-se por

cima das vozes, o enviando ondas de choque através de seu tímpano. Imagens de rostos, animais, plantas passaram rapidamente por sua mente.

Mortes, aniversários. Guerras, fomes, celebrações. Fórmulas, diagramas e equações.

Max podia sentir o sangue começar a correr pelas artérias e veias de seu

cérebro enquanto ele se esforçava para absorver tudo. Ele podia sentir seus vasos inchando, empanturrando-se com sangue. Explodindo.

Ele podia realmente sentir a sinapse incendiando suas correntes elétricas.

Repetitivamente, tentando lidar com a demanda de toda aquela informação. Eletrizando seu cérebro.

Max esticou a boca e gritou. Pensou ter ouvido os outros gritarem também... Liz,

Michael, Isabel, Alex e Maria. Gritando para que aquilo acabasse. Então ficou tudo escuro. A próxima coisa que ele ouviu fora uma voz. Uma única voz. - Temos que acabar com encontros como esses. Max abriu os olhos e viu Ray Iburg olhando para baixo com as duas mãos

pressionadas na testa de Max. - Melhorou pra todo mundo? – ele perguntou. Max tentou se lembrar rapidamente. Na verdade, ele se sentia muito bem. Ou

tão bem quanto ele tinha se sentido antes do akino começar. - É, valeu. Como foi que você sabia quando vir? - O som de sofrimento que ouvi não foi exatamente sutíl – respondeu Ray. Ele

foi em direção a Liz e pôs as mãos na testa dela. Max deu uma olhada ao redor. Todos haviam desmaiado.

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- Me deixe ajudar – ele disse a Ray, começando a deslizar para o lado de Isabel. - Pare – ordenou Ray. – Não quero ter que te curar duas vezes. Aliás, o que

vocês estavam tentando fazer? - Estávamos tentando ajudar Max a se conectar ao inconciente coletivo –

murmurou Liz. Ela sentou-se e Max pôde ver que a cor já estava voltando ao rosto dela. Ray fez um bom trabalho.

- Tenho sorte de não ter encontrado um grande caminho de vegetais quando

apareci – disse Ray a eles enquanto colocava as mãos em Michael. – Mais um segundo de demora e vocês teriam cerca de um ponto de QI acima do repolho. E eu não sei se seria capaz de trazer vocês de volta.

- Acho que isso tornaria o discurso da oradora da turma mais interessante, né,

Liz? – perguntou Michael. – Os pensamentos de um repolho em o que esperar depois que acabar o colégio.

- É. Muitos caminhos excitantes estão disponíveis, formandos camaradas. Sopas

de salada – murmurou Liz. – Comida de coelho. Alex se sentou e piscou umas duas vezes. - Então acho que devemos começar a fazer planos para encontrar a nave. Max uma gargalhada amarga. - Talvez a gente deva esperar Isabel e Maria recuperarem a consciência – ele

disse. - Acho que sim – respondeu Alex. – Mas não é como se você... Não é como se

nós tivessemos muito tempo. *** Michael pressinou uma limonada gelada contra sua testa e fingiu escutar os

planos para a festa da noite da procura. Ele não precisava fazer mais do que fingir que escutava porque ele mesmo já decidiu que as procuras não dariam em nada. Teriam que usar a Pedra da Meianoite.

Correção. ELE teria que usar a Pedra. Ele iria usar para observar Valenti e

encontrar a nave. E se usar a Pedra traria os caçadores de recompensa para ele outra vez, hoje era um ótimo dia para morrer. Uma porcaria de um dia perfeito. Contanto que ele conseguisse a localização da nave primeiro. Contanto que ele salvasse Max e Isabel.

Um dos três, ele era a melhor escolha para o sacrifício. Max e Izzy têm uma

família. Os pais deles ficariam destruidos se alguma coisa acontecesse aos dois.

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Não era assim com Michael. Não era como se os Pascals se importassem tanto com ele. É, o grupo... o grupo sentira falta dele. Mas ainda teriam um ao outro. Izzy ainda teria Max. Ela não seria deixada sozinha.

- Que é que você acha, Michael? – perguntou Alex. - Três times de dois. E ainda Ray por conta própria. Ótimo – ele respondeu.

Michael tinha quase certeza de que tinha sido isso que eles sugeriram. Ele só queria que esse encontro terminasse ele pudesse chegar até a caverna. Ele pegaria a Pedra. Aquela caneta que ele afanou da mesa de Valenti também.

- Então começamos hoje a noite? – perguntou Maria. - É. Nos encontramos no estacionamento da escola às sete – disse Isabel. Nenhum fez nenhuma objeção ao plano, então Michael se pôs de pé. - Encontro todos vocês lá – ele disse enquanto se apressava para fora do

quarto. Pelo tempo que alcançou a porta da frente, Michael já estava correndo. Pulou para dentro do carro e dirigiu para fora da cidade, cuidando para manter a velocidade baixa. Valenti amava parar os adolescentes e Michael não tinha tempo para isso.

Michael concentrou toda sua atenção em se dirigir a caverna. Toda hora um

pensamento sobre Max entrava na cabeça deçe, e ele tirava de lá. Michael não precisava pensar em Max, se preocupar com Max, chorar por Max. Nada disso. Porque ele estava tomando conta da situação. Agorinha mesmo.

Michael virou para a estrada principal e impulsionou a Station Wagon por entre o

deserto. Parou a meia milha da caverna. Não queria ninguém – como alguém do Project Clean Slate – se perguntando o que faria um carro ali e então vasculhando.

Michael pulou para fora do carro e correu a toda velocidade para a caverna.

Tome conta disso, tome conta disso, tome conta disso. As palavras martelando em sua cabeça no ritmo das pisadas.

Quando ele alcançou a rachadura no chão do deserto que abria para a caverna,

se jogou para dentro num movimento tranquilo. Sem hesitar, caminhou direto para o canto onde mantinha o saco de dormir. O anel com a Pedra dentro estava lá. Assim como a caneta.

Michael se abaixou e os tirou de lá. Enfiou o anel no dedo e segurou com força a

caneta na outra mão. - Certo, onde é que está o Vale... - Não faça isso, Michael!

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Ele ouviu um som de baque e Maria meio que pulou, meio que caiu dentro da caverna. Ela se levantou e correu em direção a ele. Tirou a caneta das mãos dele e atirou longe.

- Que diabo é que você tá fazendo aqui? – ele quis saber. - Eu segui você – ela respondeu, seus olhos azul brilhando. – Não que eu

precisasse. No segundo que você se levantou da cadeira, eu soube para onde você estava indo – enguliu em seco e se apressou a continuar. – Qual é o seu problema? Foi isso que você perguntou para mim quando descobriu que eu continuava a usar a Pedra quando sabia que era perigoso. Agora você está fazendo a mesma coisa. Então eu pergunto. Qual seu problema?

- Não é a mesma coisa – Michael caminhou pela caverna e agarrou a caneta. –

Estou usando a Pedra para encontrar a nave para salvar a vida de Max. Salvar a vida dele. É esse meu problema, Maria.

- Não, vou te dizer qual o problema. Os caçadores de recompensa vão vir atrás

de você... e dessa vez eles o matarão! – Maria berrou. - E daí? – perguntou Michael. – Isso significa dois vivos, um morto. Não três

mortos, porque é assim que vai ser se eu não usar. - Ah, certo. Eu deveria ter pensado nisso. Dois ao invés de três. Que maravilha –

respondeu Maria, lágrimas abafando sua voz. – Agora eu não tenho problema nenhum com você se matando.

Ótimo. Ela estava chorando. Chorando de verdade, a choradeira sacudindo o

corpo dela inteiro. Ele deu um passo em direção a ela. - Não! – ela exclamou. – Não venha. E não tente tocar em mim! Não quero que

você toque em mim quando você vai simplesmente se matar no segundo que eu sair. Não...

Maria cobriu o rosto e rompeu-se em lágrimas. Michael caminhou

vagarosamente. O choro histérico crescendo cada vez mais. Ele não podia mais aguentar aquilo, ficar ali parado só olhando. Hesitou por um

momento, então cruzou a distância entre eles em três longos passos. Ele tentou a alcançar, mas ela abaixou as mãos rapidamente, e a expressão em seu rosto o fez parar.

- Estou falando sério... não toque em mim – ela disse. Ela secou os olhos com a

manga, então puxou um lencinho do bolso e assoou o nariz. - Você tá bem? – ele perguntou. – Descupe ter gritado contigo. Eu só... - Você pensa que é alguma espécie de herói, não é? – Maria perguntou,

somente um pequeno tremor permanecia em sua voz. – Mas não é. Está sendo

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egoista. Está se sentindo tão bem consigo mesmo por ser O Cara, aquele a fazer o sacrifício. Não está nem pensando em como Isabel ou Max irão se sentir.

- Não me importo como eles irão se sentir. Pelo menos estarão vivos para sentir

alguma coisa – disse Michael, groseeiramente. - Tente pensar em como você se sentiria se Max desse a vida dele pela sua –

respondeu Maria. – Ou Isabel. Pense em como você iria realmente se sentir se Isabel sacrificasse a vida dela para salvar a sua.

Michael não pode responder. Ele não chegaria nem perto de imaginar o que

sentiria. Sua mente ficava jogando esse pensamento para fora. - Eles o aman – disse Maria gentilmente. – Tudo que você sente por eles, eles

sentem por você. Sei que você acha que eles têm um ao outro e os pais, então você pensa que eles não podem se preocupar com você do mesmo modo que se preocupa com eles porque você não tem ninguém. Mas não é verdade.

Michael sentiu lágrimas alfinetarem seus olhos e piscou para refreá-las. - Alex e Liz amam você também. Algo a mais para você lidar – ela adicionou. –

Qualquer coisa que você faça para machucar a si mesmo, machuca a nós também. Se deixar os caçadores de recompensa te matar, isso irá matar a todos nós também. Matará a mim – ela olhou para ele. – Porque amo você também. Eu amo você, Michael.

Ela não estava dizendo que o amava como um amigo. Ela estava dizendo que o

amava. O amava. Uau. Ele nem sabia o que fazer com essa informação. Maria alcançou a mão de Michael e retirou o anel do dedo dele. Ele a deixou. - Então tá tudo certo se eu tocar em você agora? – ele perguntou. - Só não assanhe meu cabelo – ela respondeu. Ele sorriu e passou os braços ao redor dela. - Nós encontraremos a nave – Maria prometeu a ele. – Todos nós. Juntos. Nós

podemos fazer qualquer coisa. Michael não respondeu. Ele apenas a trouxe para mais perto e a apertou com

força contra ele.

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*** - Não dá pra ir mais rápido? – quis saber Isabel. Estava certa de que Michael

tinha decidido usar a Pedra. Ela nunca deveria tê-lo deixado sair de sua casa. Mas é que tinha aquele filme dentro da cabeça dela mostrando Max deitado em um caixão, seu rosto pálido exceto pela extravagante mancha da maquiagem. E o caixão sendo abaixado até o chão por um cabo de metal que rangia.

Isabel apertou os olhos com força e as imagens a invadiram novamente. Não

ajudava, olhos abertos ou fechados, o filme se sobressaria diante das coisas. O cheiro do filme também estava funcionando bem. Ela podia sentir o sujo e acentuado odor do blush barato.

- Se nos mandarem parar o carro, vai demorar bem mais – Alex respondeu. Mas

ele acelerou mais um pouco. - É, você está certo – Isabel virou a cabeça e encarou o deserto. Mas o filme do

funeral de Max continuava passando. E o teatro em sua mente havia se tornado um multiplex. Uma tela ainda mostrava o caixão de Max sendo abaixado até bater no chão. Um mostrava Michael usando a Pedra e então desmoronando. Outro mostrava um clássico... seu ex-namorado Nikolas sendo almeijado pelo Xerife Valenti.

E um mostrava Isabel em pé sozinha em um apartamento, uma coisa sem fim, a

neve cobrindo o campo. Completamente sozinha num silêncioso frio. Completamente sozinha até que chegasse, finalmente, sua vez de morrer.

Ela deu uma olhada em Alex. Ela sabia que se dissesse o que estava passando

em sua mente agora, ele diria que não importa o que acontecesse, ela não ficaria sozinha. Ele estaria bem ali com ela, para confortá-la, esquentá-la.

Mas não era o mesmo. Max, Michael e até Nikolas dividiam um laço com ela

mais forte do que qualquer coisa que ela possa vir a compartilhar com Alex. Um laço de identidade, poderes e memórias de sua espécie. O laço de viver num mundo onde você é a caça.

Ter todos esses laços cortados seria como estar naquele campo. O filme que

Isabel abria a boca e começava a gritar. Tinha somente o eco como resposta. Se isso parecia como se Max fosse morrer, Isabel iria até Valenti. Ela não

precisava da Pedra para encontrar o que precisava saber. Ela usaria a mente para comprimir o coração dele até que ele berre como um porco e diga a ela tudo o que quiser saber.

Se ele acabasse morrendo, beleza. Era muito melhor do que Max morrendo. Ou

Michael. Ou ela. - Quase lá – Alex disse a ela enquanto saia da estrada. O carro batia com força

e sacudia enquanto eles passavam entre as grandes pilhas de areia do deserto. – Parece que Maria chegou e ganhou de nós.

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Ele estava certo. Aquele era com certeza o carro da mãe de Maria, que ela usou para ir a casa

dos Evans. Estava estacionado bem ao lado do carro dos Pascals. Isabel sentiu uma pontada de ciúmes por Maria ter encontrado Michael primeiro, então uma pontada de culpa por ter sentido ciúmes.

- Como foi que ela soube como vir aqui? – perguntou Isabel. - Do mesmo modo que você, eu acho – respondeu Alex. Alex estacionou o carro ao lado dos outros dois. Ele e Isabel pularam para fora e

começaram a rumar em direção a caverna. Alex passou os braços ao redor dos ombros dela e eles caminharam. Isabel desejou que ele não o fizesse. Parecia tão pesado. Não pesado de quente e reconfortante. Estava mais para pesado-que-a-fazia-perder-a-velocidade.

Ela sabia que Maria tinha provavelmente impedido Michael de usar a Pedra. Mas

ela queria ver por si mesma. - Vamos correr. Ela se afastou de Alex e se apressou para a caverna. Se mexeu, sentindo a

grande pedra embaixo de seus dedos do pé. Uma sondada rápida na caverna mostrou que Michael estava bem. Também

mostrou que ele tinha os braços apertados em Maria, seu rosto enterrado no cabelo dela.

Nesse momento, era o lugar onde Isabel queria estar. Nos braços de Michael. Alex se apressou atrás dela. Ele deslizou a mão na cintura dela e a apertou

contra ele. - Tá vendo? Tá tudo bem. Chegamos a tempo. Isabel concordou com a cabeça. Mas não podia evitar em desejar que tivesse

chegado alguns minutos antes. Pelo menos uns segundos antes de Maria e Michael acabarem abraçados.

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*** 10 *** - Max, você e Liz cobrem essa seção aqui – Michael apontou para um quadrante

do deserto em seu mapa rabiscado. - Beleza – respondeu Max. Ele meio que desejou que Michael não tivesse

colocado Liz como seu par, no entanto. Liz era a única pessoa capaz de penetrar em sua bolha de plástico. Essa tarde, quando ela segurou seu rosto com as mãos e insistiu para ele lhe falar sobre o akino, uma grande parte de sua camada protetora havia sido despedaçada. Quando ele estava com ela, ele era cem por cento Max, não o anônimo Paciente X.

Foi bom contar a verdade a ela. Mas machucou, também. Quase mais do que

ele poderia aguentar. - Meu nome é Liz e eu serei seu chofer hoje a noite – ela disse a ele. Ela tentou

soar engraçada, mas ele podia dizer que a lembraça de sua tontura, ou o que quer que tenha sido aquilo, ainda estava perambulando na mente dela.

Max atirou as chaves para ela enquanto os dois caminhavam em direção ao

Jeep. - Sempre foi uma fantasia minha ter, bem, não um chofer mulher... mais pra um

mordomo mulher – ele respondeu. Ele não foi tão melhor quanto Liz ao tentar soar engraçado.

- Vocês conhecem alguém que faz tudo o que o Alfred faz pelo Batman, mas que

faça isso sendo uma jovem e gostosona? – perguntou Alex atrás deles, um sinal de tensão em sua voz também.

- Exatamente – respondeu Max. Ele se suspendeu para dentro do Jeep, tentando fazer o movimento parecer

fácil, embora isso tenha tomado bastante esforço agora. Uma das mil coisinhas que estavam ficando difíceis a cada dia.

- Vai colocar o cinto de segurança? – Liz perguntou depois de colocar seu

próprio. - Qual a diferença? – ele perguntou, sem pensar. Então ouviu Liz respirar com

dificuldade e rapidamente colocou seu cinto. Essa coisa de manter as aparências o mais normal possível era mais complicado do que ele imaginava.

Liz deu a volta com o Jeep e rumou para a estrada ao sul. Cerca de vinte

minutos depois eles estavam sozinhos na estrada principal, indo em direção ao deserto.

- Eu esqueci como vai ser difícil achar a pedra que parece uma galinha que

Maria descreveu, agora que está escuro – comentou Liz.

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- Michael, Isabel e eu podemos ver melhor a noite do que durante o dia – Max a lembrou. – Foi bom que dividimos as equipes desse modo.

Exceto que ele provavelmente teria preferido ficar com Alex ou Maria. Ficar ali

sentado com Liz, agora que ela sabia a verdade, estourava mais buracos em sua bolha. Os sentimentos, a aflição, o medo, a raiva entavam achando meios de entrar. E a anestesia não estava funcionando tão bem.

*** Maria espiou dentro do deserto, procurando por qualquer coisa que parecesse

familiar do que ela viu de Valenti naquela noite. Era tão difícil dizer. Muito do deserto parecia como... o deserto.

Ela queria ter sido par de Max ao invés de Michael. Estar no carro com ele

estava a fazendo suar, e ela estava tentando se lembrar se havia colocado o desodorante de ervas antes de se apressar para a casa dos Evans pela manhã. Tanta coisa acontecera desde então.

Incluindo Maria finalmente ter dito a Michael que ela o amava. Ela deu uma

espiada nele. Ele estava completamente concentrado em escanear o deserto enquanto dirigia. Ela tinha a sensação de que poderia estar sentada ali pelada e ele nem perceberia.

O que ele estava pensando? Será que ele estava totalmente surtado com o que

ela disse? É, ele a abraçou. Mas ele com certeza não disse "Eu te amo também". Talvez ele teria dito se Isabel e Alex não tivessem aparecido. Então novamente, talvez ele estivesse preocupado demais em salvar a vida do melhor amigo, Maria disse a si mesma.

Um longo, irritado som de uma buzina afastou os pensamentos dela. Ela deu

uma olhada por cima dos ombros e viu um carro meio amassado na cola deles. - Não ocorreu a ele simplesmente passar por nós? – reclamou Michael. – Não é

como se não tivesse espaço. O que mais tem é espaço. O cara no Caddy deu outra longa buzinada. Maria se virou e abanou as mãos

para ele passar. O cara nem pareceu agradecido. Ele pareceu realmente... Familiar. Familiar de onde ela tinha visto Valenti. Ela tentou imaginá-lo com uma

arma presa em seu peito. - Michal, eu acho que esse é o segurança do forte onde a nave é mantida – ela

disse a ele, sua voz tremendo de excitação. – Você pode fazer com eu olhe melhor para ele?

- Michael ajustou o carro dos Pascals por cima dos ombros. Assim que o Caddy

passasse ele pararia ao seu lado para que Maria pudesse olhar para o lado do motorista.

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- Se for ele, não precisaremos nos preocupar sobre nenhuma pedra em formato de galinha. Ele pode nos levar diretamente a ela – disse Michael.

O cara no Caddy abaixou o vidro da janela. - Ah, agora você quer ir rápido? – ele gritou. – Ótimo. Maria sentiu como se tivesse entrado num elevador que estivesse caindo. Ela

estava errada. - Sinto muito. Michael diminuiu a velocidade e o Caddy tomou a estrada. - Acho que seria um pouco fácil demais – ele murmurou. Maria pensou em pegar nos ombros dele ou no braço, apenas um toquinho para

ele saber que não estava sozinho nisso tudo. Mas manteve as mãos pregadas no colo e mudou o foco dessa tarefa.

Maria pressionou sua testa contra o vidro gelado da janela do carro e tentou

concentrar cada parte de sua atenção em achar a pedra, checando o formato de cada uma que ela via. Não parece galinha. Não parece galinha. Não parece galinha.

Depois de umas cem "Não parece galinha", Michael entrou pelo deserto e parou

o carro. - Você viu alguma coisa? – ela gritou? - Não, eu senti alguma coisa. Uma explosão de medo – ele respondeu. - De Max ou Isabel? – quis saber Maria. Ela sabia que os alienígenas podiam

sentir a emoção uns dos outros. Michael sacudiu a cabeça. - Então de quem? Ah, Ray? Foi forte? Você acha que ele está bem? A gente

deveria ir procurar ele? – Maria perguntou apressada. - Calma. Deixa eu me concentrar um minuto – ele respondeu. Maria sustentou a respiração, o som de seu próprio fôlego soou alto em seus

ouvidos. - Não sei quem foi – Michael soou surpreso e... incomodado. - Como você pode estar certo do que não sentiu nada de Ray, Max ou Isabel? –

perguntou Maria. – São apenas sentimentos, sem pensamentos ou nada assim, certo? Todos os três devem estar tendo extremas emoções agora. Talvez seja por isso que é diferente.

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- Não sei como descrever. É como se as pessoas tivessem sabores diferentes – respondeu Michael. – Não reconheço esse. Não é de ninguém familiar.

- Sabores? – repetiu Maria. - Não posso explicar melhor que isso – ele lhe disse. – Não é algo que você

possa realmente entender sem ter experimentado. Maria concordou com a cabeça. "Aposto que Isabel entederia", ela pensou. Será que ele está desejando que ela

estivesse ali com ele agora? *** - Espera – Alex parou o carro com um barulho. – Aquilo parece uma galinha pra

você? – ele apontou para um rocha a esquerda. - Aquilo? – Isabel deu uma olhada. – Um sapo, talvez. As pernas do sapo não

deveriam ter o mesmo gosto que as de galinha? - Você está olhando pra ela de um ângulo errado – ele a puxou para perto dele,

respirando seu perfume picante. – Veja, como uma galinha bicando o chão. Aquilo é um bico.

- Você tá certo – um imenso sorriso passou pelo rosto de Isabel. – Você tá certo!

Acho que encontramos a pedra em formato de galinha! Alex abriu com violência a sua porta e os dois correram em direção a rocha.

Parecia bem mais com uma galinha assim de perto. Ele não estava esperando encontrá-la de primeira. Ele tinha suas dúvidas de que ao menos encontrariam. Mas ali estava! A rocha em formato de galinha! Ele soltou um cacarejo alto e começou a bater os braços como se fossem asas. Isabel começou a cacarejar também, e arrastar os pés contra o chão. Eles circulavam um ao outro, cacarejando, bicando, arrastando os pés e sorrindo. Ele estava sorrindo tanto que começou a sentir cãimbra. Mas ele não se importava.

Max iria sobreviver! Isabel iria sobreviver! Michael iria sobreviver! Alex parou de cacarejar e agarrou Isabel. Ele a subiu e começou a girar

rapidamente, fazendo círculos enjoativos. Ele estava obviamente no meio de um tipo de estresse/alívio para estresse/histeria. Mas ele não estava nem aí. Se sentia bem demais.

- Me coloca no chão – ela meio que sorriu, meio que arfou. Relutantemente, ele a deslizou para o chão. Ela girou em mais um círculo, o seu

sorriso deixando um rastro, desaparecendo. - Quê? Achamos a pedra em formato de galinha! – ele berrou.

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- Mas onde está a sede? – perguntou Isabel. – Não vejo nada além de deserto. - Talvez subterrânea? – propôs Alex, começando a se sentir idiota por se sentir

animado por conta de uma rocha. Não era o momento de celebrar ainda. – Devemos procurar por rachaduras no chão do deserto, como na entrada da sua caverna.

- Não dá pra ver a entrada da caverna até você praticamente estar em cima

dela. E não temos nem idéia de quão longe Valenti passou depois dessa pedra – respondeu Isabel. – Isso é completamente perdido.

- Não, não é. Chamaremos todo mundo para cá. Concentraremos nossa busca –

argumentou, tentando convencer a si mesmo tanto quanto ele tentava convencê-la. - Ainda assim vai tomar muito tempo – a voz de Isabel foi suave a um grito. Ela

apertou a boca, como se não pudesse acreditar no som que saiu de lá. – Desculpe. - Não se desculpe – Alex a acalmou. – Eu entendo. - Você não pode entender – ela disse vagarosamente sem olhar em seus olhos.

– Sei que você quer. Sei até que você tenta. Mas você não pode entender. *** - É isso. Nós cobrimos nossa seção marcada – Liz virou o Jeep e rumou de volta

para a cidade. Os olhos de Max pareceram cansados do esforço de encarar o deserto. Ele

deixou os olhos vagarem para as estrelas. Elas estavam tão brilhantes, tão pertos da Terra. Ele achou que o vislumbre delas o acalmava de algum modo.

- Muitas delas são partes de pares binários – comentou Liz, vendo que ele

estava observando as estrelas. – Mesmo através de um telescópio ainda parecem uma única estrela. As coisas... elas simplesmente parecem pertencer a dois – continuou Liz.

Ele fez um barulho de "Oh, que interessante", sem virar a cabeça para ela. Ele

não estava gostando do rumo dessa conversa. - O que aconteceu com você, me fez pensar naquela coisa de apenas amigos –

Liz de repente pôs o Jeep no deserto e parou. - Precisamos voltar – disse Max. Ele abaixou os olhos, mas ainda assim não

olhou para Liz. Se ela tentasse fazer com que ele falasse o que sentia em relação a ela, ele iria perder o jogo. A bolha seria despedaçada de uma vez, o deixando indefeso. Sem pele.

- Isso é importante – ela insistiu, deixando aquele tom teimoso em sua voz. –

Quando você me disse que tinhamos que ser amigos, você falou que era para minha própria proteção.

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- Era e ainda é – respondeu Max sem olhar para ela. – Se aproximar demais de mim pode trazer Valenti a você... você sabe disso. E sabe do que ele é capaz. Ele matou Nikolas bem na nossa frente.

- Eu sei – ela lhe disse. – Não é isso que quero dizer. O que quero dizer é que

você fica nos separando porque quer que eu fique a salvo. Mas é você quem... quem está em perigo agora. Não de Valenti. Nem de nada que você sabia que existia.

- Mas o que isso tem... – ele começou a protestar, finalmente virando o rosto

para ele, se surpreendendo como sempre em quão bonita era com aquele cabelo liso, lábios perfeitos, e olhos escuros.

- Estou tentando explicar. Só escute – ela disse. Só escute. Como se aquilo não fosse nada. Como se aquelas palavras não

fossem cortar o coração dele. - Não sabemos como isso vai acontecer pra nenhum de nós – ela continuou. –

Concluindo, você pode ser atropelado por um carro antes do seu akino chegar... Eu poderia ter leucemia ou algo assim. Nenhum de nós sabemos quanto tempo nos resta. Só queria saber porque você não nos deixa ficar juntos no tempo que ainda resta para nós. Por que, Max?

Max inclinou a cabeça para trás e mirou as estrelas. Como é que ele poderia

responder isso? Como ele poderia responder algo que nem fazia mais sentido para ele?

- Me pergunto quais delas são pares – ele disse, evitando responder. - Nós dois – ela respondeu baixinho. – Compartilhamos a mesma luz. Ele abaixou a cabeça e olhou para ela novamente. - Você tá certa – ele admitiu. – Mas e se... - Shhh – Liz tirou o cinto de segurança e se inclinou na direção dele até que

seus lábios ficaram a uma fração de distância dos dele. Ele podia sentir o calor dos lábios através da pequena distância.

Tudo o que ele precisava fazer era realizar um movimento infinitesimal. Como

ele poderia se virar para ela? Max fechou a distância com um beijo suave. Tudo sobre esse momento pareceu frágil, como se uma respiração errada pudesse separá-los.

Então Liz passou os braços ao redor dele, apertando-se ao lado dele, e ele

percebeu que estava errado. Não tinha nada frágil ali. Liz era forte, e quente e primordialmente viva.

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Ele queria se aproximar dela, ficar ainda mais perto. Deslizou as mãos por deibaixo de sua blusa, correndo os dedos sobre a pele macia dela. Liz se contorceu, tentando fazer seu corpo entrar em contato com o dele. Ela o beijou ainda mais profundamente, convidando a lingua dele para entrar em sua boca, e acariciar a dela.

Um gemido baixinho escapou de sua garganta. Então Liz soltou um grito de dor. Max interrompeu o beijo. - O que aconteceu? – ele exclamou. - Cortei minha mão. Na barra, eu acho. Deve ter sido num rebite ou algo assim –

ela respondeu. - Me deixa ver – ele pegou a mão dela e a estudou. – Tá bem profundo. Deixa

eu curar isso pra você. - Como naquele dia no Crashdown – ela disse. O dia em que ele a curou do ferimento a bala. O dia em que ele confiou a ela o

seu segredo. O dia que tudo mudou para sempre. Basicamente o melhor e o pior dia da vida dele. Até hoje. Foi o pior, mas melhor também.

Max respirou profundamente e se concentrou em formar a conexão que

precisaria para curar o corte. Ao invés das várias imagens que ele esperava receber de Liz, ele continuava a receber uma única imagem repetitivamente... a imagem dele com os olhos rolando para trás de sua cabeça.

Por que é que não estava funcionando? Por que ele não conseguia entrar? Max

respirou profundamente novamente. Pense em Liz, ele disse a si mesmo. Mas só consegua a mesma imagem nauseante.

Liz soltou a sua mão da dele. - Está tudo bem. Não é nada demais. Você tem algum lenço ou alguma coisa? A

gente pode simplesmente fazer uma faixa. Max rasgou a parte de baixo de sua camisa e cuidadosamente emendou na mão

de Liz. - Você tem certeza que pode dirigir? – ele perguntou. - Tenho – ela deslizou para trás do volante e retornou a estrada. O deserto que passava por ele parecia mais sombrio e perigoso agora que ele

sabia que não tinha mais seus poderes.

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*** 11 *** - Parece que fomos os últimos a voltar – comentou Alex enquanto estacionava o

carro no estacionamento do colégio. Isabel não respondeu. Ele não esperava que ela respondesse mesmo. Ela havia

ficado em silêncio toda a viajem de volta. Assim como ele. Toda vez que pensava em dizer alguma coisa, lembrava de Isabel insistindo que não tinha como ele entender. E qualquer comentário brilhante que ele fizesse sairia como algo completamente estúpido de se dizer.

Estacionou ao lado do Jeep de Max e os dois se apressaram para encontrar os

outros. - Encontramos a pedra em formato de galinha – ele anunciou. – Mas nenhum

sinal da sede – adicionou rapidamente antes de todos começarem a dançar e cacarejar.

- Pelo menos estamos um pouco mais perto – disse Maria. Ela desceu as

mangas da blusa até as mãos, como se estivesse congelando ou algo assim. Alex não achava que estava assim tão frio.

- Se você quiser designar áreas para nós procurarmos ao redor da pedra, eu

com certeza posso voltar lá – ele disse a Michael. Liz deu uma olhada em Max. - Por que não nos encontramos aqui amanhã de manhã? Alex deu outra olhada em Max, tentando não parecer muito óbvio sobre o

assunto. É, ele parecia prestes a cair duro no chão. - Amanhã tá bom pra mim – respondeu Alex. - Eu estava pensando que a gente podia chegar lá na festa da Corrine Williams –

sugeriu Michael. – Deve estar bem quente nesse momento. - Você quer ir? – Alex perguntou a Isabel. Ele imaginou que um pouco de

distração poderia ser bom. Ele se perguntou se ela estaria pensando muito sobre as informações do akino que atingiriam a ela diretamente. Ou se ela só estava pensando em Max agora.

Alex estava com certeza tentando manter seu cérebro no problema de Max. Se

ele começasse a pensar em Michael e Isabel... se começasse a pensar na morte deles também, acabaria trancado num manicomio qualquer.

Isabel deu uma olhada no rosto de Max. - Acho que eu preferiria ir para casa.

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- Você vai pra festa – insistiu Max. – Quê? Vocês acham que eu quero vocês sentados perto de mim, me encarando?

- Eu gosto de encarar você. Por favor, por favor, me deixa ficar e encarar você?

– Liz meio que provocou. - Não. Quero que você vá também. Parece divertido – ele disse a ela. – Só

quero ir para casa e dormir. - Certo, então tá decidido. Podemos ir todos no meu carro. A rua inteira dela

deve tá cheia de carro – disse Alex. - Vou deixar Max em casa e me encontro com vocês lá – prometeu Liz. Todos ficaram lá por um segundo, então Michael começou a caminhar para o

carro de Alex, Isabel e Maria bem atrás dele. Alex ligou o rádio no segundo que deslizou para o banco de motorista para que eles não precisassem puxar uma conversa.

Ele ficou aliviado quando estacionou o carro no fim do quarteirão de Corrine. A

festa estava saindo para o gramado. Ainda estava na fase de muita gente, som alto e barulho. Perfeito.

Alex passou o braço ao redor do ombro de Isabel enquanto eles começavam a

descer a rua. Ele achou que ela estava um pouco tensa. - Você tá bem? – ele sussurrou. Ela concordou com a cabeça e passou o braço na cintura dele, girando os dedos

no cinto da calça dele. Alex teve um daqueles orgulhos chovinistas de olha-a-garota-que-está-comigo, especialmente enquanto cruzavam o jardim de Corrine e entravam na casa.

Ele percebeu que ele e Isabel estava recebendo alguns olhares. E parecia muito

bom, ele tinha que admitir. - Vou pegar algo pra gente beber – ele berrou no ouvido dela. Não tinha nada a

ver os dois lutando para entrar na cozinha. Ela sorriu para ele, um daqueles sorrisos cheios de a-deusa-Isabel-está-

sorrindo-para-você. Por um momento aquilo afastou tudo da cabeça dele. Tudo. Ele começou a acotovelar as pessoas para sairem de sua frente, incapaz de tirar

o grande e imbecial sorriso de seu rosto. - Será que eu entrei num universo alternativo? – um cara gritou atrás dele. –

Porque acabei de ver Isabel Evans entrar aqui com aquele cara Alex do ginásio. Achei que ela só saia com universitários e estrelas do basquete.

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*** Michael se inclinou contra o salgueiro no canto do jardim de Corrine. Ele pensou

que iria querer aparecer na festa, mas ele tinha esquecido sobre o fator Maria. Ele ainda estava se martelando com o que ela havia dito na caverna. Foi muita coisa, muito rápido. Ele não sabia o que teria que fazer agora. Se

entrasse e Maria se aproximasse dele, era pra ele dançar com ela? Dirigir por aí no carro já era difícil o suficiente. Mas dançar. Tocar. Como é que você podia fazer algo assim depois de uma garota dizer que ama você? Ela não iria achar que isso significaria alguma coisa? Não é isso que todas as garotas pensam, que tudo tem algum significado?

O que ele realmente queria era que as coisas voltassem a ser como eram antes.

Onde eles poderiam sair juntos, se divertir, assistir a filmes ruins. Certo, talvez ele gostasse que as coisas voltassem a ser como eram com alguns

beijos em algum momento. Agora que todo o lance de irmãzinha estava fora do caminho para sempre, ele gostaria de poder beijar Maria de vez em quando.

Mas ele não acha que queria algo grande, intenso, algo do tipo tragédia de

amor Max-e-Liz. E pelo jeito que Maria o olhou quando disse que o amava... não dava para ficar maior e mais intenso do que aquilo.

*** - Stacey disse que você teria que trazer Michael e Max para Alex poder vir –

disse Corrine no ouvido de Isabel. Stacey disse. Ela se perguntou quantas Stacey-tietes iriam se aproximar e dizer

o que Stacey havia dito. Provavelmente cada uma das que davam gritinhos e sorrisinhos. Elas viviam para isso.

Isabel realmente não precisava disso essa noite. - E onde é que está seu par? – Isabel fingiu procurar na multidão. – Vomitando

as tripas no banheiro? Ou ele já desmaiou? - Teve que sair mais cedo – respondeu Corrine. Então se apressou para longe. "Claro que sim, querida", pensou Isabel. Ela viu Alex saindo da cozinha e fez o

caminho em direção a ele. Pegou os drinks de sua mão e os deixou no chão ao lado da parede.

- Vamos dançar primeiro – ela disse. Agarrou as mãos de Alex e o empurrou em

direção a um pequeno espaço perto de onde Doug Highsinger estava dançando com Stacey. Ela queria que Stacey visse que ela não estava fugindo de lá, como se tivesse algo para esconder.

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Alex pôs as mãos no quadril dela e eles começaram a se balançar com a música. Isabel se inclinou para trás, se assegurando de que seu cabelo tocara no braço de Doug Highsinger. Quando ele a olhou, ela voltou vagarosa e graciosamente para os braços de Alex, se esticando contra o corpo dele.

Ela não precisava olhar para saber que Dougie manteve os olhos nela durante

todo o processo. "Toma isso, idiota", ela pensou. Ele vem desejando sair com ela desde o primeiro ano, mas Isabel nunca saiu com ele.

É. Ele tinha que ficar com a Stacey. Isabel sorriu enquanto passava as mãos

pelos cabelos de Alex. Geralmente ela gostava de sentir o cabelo dele... era grosso e sedoso. Mas agora tudo o que ela se preocupava era como aquilo iria aparecer. Ela queria que cada garoto naquela sala desejasse ser Alex. E que cada garota soubesse que era aquilo que cada garoto estava desejando.

Quando a música acabou, Isabel se sentiu confiante de que tinha cumprido sua

missão. - Vou lá fora um minutinho – ela disse a Alex. Ele concordou com a cabeça e ela

fez o caminho em direção ao jardim. Ela tomou alguns segundos de fôlegos do ar frio da noite. Então viu Michael perto do salgueiro.

Isabel caminhou para lá. Era a primeira vez que eles ficariam sozinhos desde

que Max os disse sobre o akimo. Ela realmente não queria falar sobre isso agora. Michael passou o braço no ombro dela, e ela se inclinou para ele. Hummmm,

sim, era essa a sensação que ela estava procurando. Sentir os ombros largos dele contra suas costas e saber que ele entenderia o que ela estava sentido. Porque ele também estava sentindo a mesma coisa.

*** Maria viu Alex sentado quase na escada de Corine. Ela fez o caminho em

direção a ele e se jogou ao lado dele, no tapete felpudo. Ela estava surpresa que Corrine – a garota mais materialista e superficial que Maria já conheceu – tolerasse um tapete felpudo em sua própria casa. Talvez ela tivesse convencido a si mesma que aquilo pareceria um retrô legal.

- Você viu Isabel? Ela desapareceu de mim – perguntou Alex. Parecia ser uma tendência, ela pensou. Mas é claro, Michael não era seu

namorado. Ela não podia esperar que ele passasse a festa com ela. - Da última vez que a vi, ela estava dançando com você – Maria respondeu. –

Aliás, foi um grande show. As garotas estavam, tipo, quase começando a empurrar uns dólares em suas calças.

- Legal – respondeu Alex, mas pareceu um pouco distraído.

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- Tem uma coisa que eu queria te perguntar – Maria disse a ele. – Você tendo o posto de melhor amigo homem cujo trabalho é explicar o funcionamento da mente masculina.

- Uh, certo – ele arrancou um fio do tapete felpudo e o enrrolou entre os dedos. –

Que cor você diria que é essa? - Vermelho queimado – ela disse rapidamente. – Agora, se uma menina diz a um

cara que ela o ama, ele não deveria ser obrigado a dar algum tipo de resposta? Em palavras, digo.

- Espera, deixa eu pegar minha cópia de Homens são de Marte, Mulheres são

de Vênus – brincou Alex, seus olhos procurando sem descanço pela multidão. Maria estava feliz por ele não estar prestando total atenção. Se ele estivesse

concentrado nela como geralmente ficava, perceberia que ela estava falando sobre si mesma e tentaria pegar todos os detalhes da história.

- Acho que como representante masculino, eu diria que a falta de palavras é

meio que uma resposta – continuou Alex. – Talvez não seja a resposta que uma garota iria querer ouvir.

- Então isso quer dizer que os caras não sentem o mesmo? – pressionou Maria.

Ela começou a mastigar as pontas do cabelo, então percebeu o que fazia. Putz! Ela não fazia isso desde que tinha nove anos.

- Humm, bem, pode ser – ele respondeu. – Mas alguns caras simplesmente não

são caras que falam muito. Ele poderia sentir aquela coisa de Eu-te-amo dentro dele, mas não conseguir realmente colocar pra fora.

- Só queria dizer que você não me ajudou em nada – Maria o informou. - Olha, palavras são superestimadas – disse Alex. – Você sabe como alguém se

sente em relação a você pelo modo como ela te trata. É isso o que conta. Agora eu vou encontrar Isabel, a Mulher Desaparecida – ele se levantou e deixou Maria na escada sozinha.

"O modo como ele me trata", ela pensou. Ele me trata de modo que ele não vai

se aproximar o suficiente para me tratar de modo algum. *** Liz abriu a porta silenciosamente. Ela não sabia porque se importava em fazer

isso em silêncio. Seus pais sempre queriam que ela os dissesse quando chegasse em casa, estivessem dormindo ou não.

Caminhou direto para o quarto deles e deu uma dupla batida na porta, seguida

por três batidinhas mais devagar. Ela chamava a batida de voltei-viva-e-livre-de-drogas. Mas só para ela mesma, claro.

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- Boa noite, mi hija – seu papa chamou. - Boa noite – ela respondeu. Se perguntou se ela deveria telefonar para Corrine

e dizer a Maria ou a alguém que não iria. Não, eles imaginariam isso. Ela vagou pelo hall até a cozinha. Pensou em tomar leite, talvez até uma carne

de peru se sobrou alguma. Sabia que seria uma daquelas noites em que precisaria de uma ajudinha para dormir.

Ela alcançou a maçaneta do refrigerador e percebeu que uma novo foto dela

aparecia na porta. Era muito constrangedor ver sua própria cara colada na geladeira. Pelo menos quando Rosa estava viva, as fotos dela ocupavam metade do

espaço. Liz lembrou a si mesma de ir ao porão e ver se conseguiria achar algumas fotos. Cada foto de Rosa havia desaparecido um dia depois dela morrer.

Não que Liz precisasse se lembrar de sua irmã. Ela pensava nela todo dia. Do

mesmo modo que pensava em Max. Se... *** 12 *** - Queria ir de novo com vocês, pessoal – disse Maria do seu lugar na pontinha

da cadeira de Alex. – Mas meu pai comprou esses ingressos pra o show faz um tempão. Ele tá querendo mesmo ter aquela união pai-e-filha, só eu e ele, sem Kevin.

- Vá lá e se una. Tá tudo bem – disse Max a ela. – Se mais alguma pessoa tiver

algo pra fazer, vão lá e façam. Vocês passaram o dia todo rastejando pelo chão do deserto ao redor da pedra em forma de galinha.

Ele quase desejou que todos fossem embora. Pelo menos por um tempo.

Parecia tão estranho ser o centro das atenções... todo esse nervosismo, vigilância, atenção cuidadosa.

Michael estendeu seu mapa na mesinha de centro dos Evans. Eles estavam

usando a casa de Max e Isabel no lugar da deles porque os pais deles iriam passar o final de semana em Clovis, onde tinham o seu segundo escritório. Eles tinham tanto trabalho a fazer até Segunda que pensaram que era perda de tempo dirigir de volta a Roswell só para dormir.

- Vamos só continuar prolongando a procura num círculo mais largo ao redor da

pedra – explicou Michael. – Além do que Ray manterá a área sob vigilância constante. Ele pode pegar alguém indo para o forte e o seguir.

Maria se levantou e apanhou sua mochila. Então se apressou para fora, sua

aura deixando um rastro pelo caminho.

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- Certo, estou indo. Tchau – ela se virou e se apressou ainda mais para fora do quarto antes que ele pudesse reagir.

Max esperou que estivesse errado, mas ele pensou ouvir som de lágrimas na

voz dela. Se Maria ia chorar toda vez que olhasse para ele, ele realmente não iria aguentar.

- Alex e Isabel, vocês ficam com essa seção – continuou Max. – E Liz e Max... Ele foi interrompido por Maria voltando de repente para o quarto. - Tive uma idéia. É meio nada a ver, mas pode funcionar – ela soltou. – Vocês

sabem usar o poder de vocês para mudar a aparência, certo? Max concordou com a cabeça. Ele só fez isso uma vez, além de praticar com

Ray. E foi para espionar Liz quando ela saiu com outro cara. Max deu uma olhada para ela e ela sorriu para ele. Ele sabia que ela estava pensando a mesma coisa.

- Enfim, eu pensei que todos vocês pudessem sair diferentes e usando coisas

como o guarda que eu vi no forte onde a nave está guardada. A cara dele tá gravada na minha memória – explicou Maria. – Então talvez alguém que conheça o guarda verdadeiro, apareça e comece a conversar. Se é alguém que ele conhece do trabalho...

- A gente pode ter alguma informação chave – interrompeu Michael. – Acho que

isso com certeza vale a tentativa – ele se virou para Max. – Quer tentar? - Por que não? – perguntou Max. Então se lembrou. O akino havia destruido

seus poderes. Como é que ele pôde se esquecer disso? – Você e Isabel terão que fazer isso para Liz, Alex e em mim – ele admitiu. – Não consigo fazer... mais nada assim.

- Só nos diga como – disse Isabel rapidamente. Ele odiava se sentir tão indefeso. O que viria depois? Alguém teria que dar

comida na boca dele? Limpar a bunda dele? O quê? - Não é tão diferente de curar – ele disse a Isabel e Michael. – Exceto que ao

invés de apertar as moléculas para fechar um corte ou algo assim, você as aperta e as força a formar a pele e o osso em formas diferentes.

- Vou tentar com Liz – disse Michael. Max se levantou e trocou de lugar com Michael para que ele pudesse ficar ao

lado de Liz. Ele não estava tão feliz com a idéia de Michael se conectar com Liz, tocar nela. Mas sabia que estava sendo só um crianção e disse a si mesmo para superar aquilo.

Maria descreveu o segurança com movimentos entusiásticos de mãos.

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- Certo, ele tinha rosto arredondado, bochechas de gente de meia idade... e linhas de sorriso profundas... e um nariz largo e achatado.

Michael arregalou os olhos enquanto tocava as pontas dos dedos no rosto de

Liz. Suas mãos começaram a massagear as bochechas dela, como se estivesse mechendo com farinha. Ele escutou a sugestão de Maria e escupiu o rosto de Liz de acordo com o ouviu. Em um minuto o rosto de Liz parecia com o rosto de um homem de meia idade. Michael afastou as mãos e mostrou a Maria o resultado.

- Não, não, não. Desculpe. Simplesmente não parece com a imagem na minha

cabeça. E se eu me conectar a você, Michael, e te transmitir minha imagem mental? – perguntou Maria.

- Vamos tentar – disse Michael. Maria se conectou então a Michael. Ele colocou as mãos no rosto de Liz

novamente e vagarosamente começou a transformação... os olhos foram de azul para castanhos, sobrancelhas espessas e uma pequena papada.

- É isso, é isso – Maria o encorajou. Michael escorregou as mãos para os cabelos de Liz. Se transformaram em

laranja, então clarearam para um louro claro e finalmente mudaram para um branco curto enquanto mudava de cor. O resultado final foi ficando com poucos fios, maior um pouco do que um corte militar.

- Perfeito. Ficou que nem aquela boneca – murmurou Maria. – Sabe aquela que

você meio que podia colocar o cabelo dela para trás da cabeça pra deixar ele curto? Liz deu uma olhada em Max. - Como eu fiquei loura? Digo, praticamente uma loura careca – ela perguntou

correndo os dedos no seu cabelo curto. - Eu não expulsaria você da cama – respondeu Michael antes de Max. - Vamos. Vamos continuar com isso – exigiu Isabel. – Quero dar o fora daqui. Depois de alguns minutos o trabalho em Liz estava pronto. A conexão Maria-

Michael foi até Alex. Isabel decidiu transformar a si própria. - Vou pegar algo pra beber – ele se sentiu tão inútil ali. Maria dando instruções.

Isabel e Michael trabalhando em Alex e Liz. E ele sentado ali tamborilando os dedos. A palavra "fracassado" apareceu em sua cabeça.

Vagarosamente fez o caminho até a cozinha, seus pés tão pesados quanto

blocos de cimento. Sentou-se na cadeira mais perto e descançou sua cabeça na mesa. Ali, sozinho, não tinha que fingir que estava absolutamente exausto, ao ponto de ficar ali sentando, respirando era como o esforço que faria se estivesse malhando.

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- Max, sua vez – chamou Michael. Max levantou a cabeça. Como é que eles já terminaram com Liz e Alex? Ele deu uma olhada no relógio em cima do fogão e percebeu que esteve ali por quase meia hora. Deve ter cochilado. Geralmente não precisaria dormir mais do que suas duas horas a cada noite se quisesse. Agora estava apagando sem nem mesmo perceber.

Max pôs-se de pé, e um tremor fez arder suas pernas. Respirou profundamente

e se concentrou em fazer o caminho até a sala de estar e manter a expressão de medo fora de seu rosto.

- Acho que vou ter que ficar aqui – ele admitiu enquanto se inclinava para o sofá. - Fico com você – Liz se voluntariou imediatamente. Pelo menos ele pensou que

foi ela. As palavras sairam da boca de um cara louro e musculoso com a voz rouca e a indescritível roupa do segurança. Michael obviamente não havia esquecido de trabalhar as cordas vocais quando fez a transformação.

- Não preciso de uma babá – ele respondeu, tentando a irritação fora do tom. –

Conseguir informações sobre a nave, essa é a coisa mais importante que você pode fazer por mim – ele adicionou, tentando acalmá-la.

Ela concordou com a cabeça e se virou para os outros dois "seguranças". Isabel

já tinha terminado o trabalho em Alex e fez em si mesma. - Devemos escolher diferentes partes da cidade – Liz disse a eles. – Dois de nós

não podem aparecer no mesmo lugar ao mesmo tempo. Eles começaram a dividir os lugares da cidade e clubes enquanto caminhavam

para fora do quarto. - Cuidado – Max disse depois enquanto eles o deixavam de fora da missão. –

Liguem se... precisarem de alguma coisa. Como se tivesse algo que ele pudesse fazer caso ligassem. - Você pode ser nosso Charlie e nós seremos suas Panteras – Alex disse lá de

trás. Ao menos Max tinha quase certeza de que era ele. A voz era a mesma de Liz, mas era o modo Alex de dizer as coisas.

- É melhor vocês os alcançarem e se distribuirem – disse Max a Michael. – Liz

está certa. Pode ser perigoso se alguém ver dois de vocês juntos. Não tenho certeza se os agentes do Project Clean Slate sabem que podemos mudar a aparência. Mas se eles souberem, e virem dois seguranças...

- Eu não vou sair – interrompeu Michael. - Você não vai ficar comigo – protestou Max. - Então você quer ficar aí no sofá? Ou quer ir para a cama? – Michael perguntou

sem rodeios.

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Max desistiu. - Cama, eu acho. Michael se adiantou para ele e alcançou sua mão. Max a apanhou e deixou

Michael o ajudar a se levantar. Alex teve um momento de nervosismo quando caminhou até o Moe, um dos

poucos lugares em Roswell que não tinha algo do tipo alienígena como tema. Então ele percebeu que não tinha nem chance de ser pego. Ele estava com tipo, trinta anos de idade ou algo assim.

Caminhou para o bar e pediu uma cerveja de gengibre. Ele imaginou que a cor

poderia passar por um drink misturado, então ele não se sentiria como um total idiota.

Alex deu uma olhada rápida pelo lugar. Quê, não seu pai. Ele pensou ter visto

seu pai porque o Moe’s era o lugar de diversão para os militares aposentados da cidade. Alex não sabia se o Project Clean Slate tinham alguma conexão com os militares, mas parecia que poderia ter, então ele imaginou que o Moe’s era o lugar certo para encontrar alguém que conheça o segurança.

Ele afastou seu canudo ridicularmente fino e deu uma golada em sua cerveja de

gengibre enquanto olhava vagarosamente ao seu redor. Ele esperava que alguém lhe desse um aceno, ou um tchauzinho, qualquer coisa que mostrasse que tinham visto – o segurança – antes. Nada.

Se o segurança viesse aqui com frequencia o bartender teria provavelmente o

reconhecido. Mas o lugar estava lotado então o cara teria simplesmente passado a bebida para Alex e corrido pára o fim do balcão. Então Alex não pôde sentir um senso de reconhecimento do segurança ou não.

Quando eu chegar no segundo round talvez finja que tenho amnésia e pergunte

a ele se sabe quem sou. Alex bufou. Ele podia visualizar a si mesmo cambaleando pelo bar com as mãos pressionadas em suas têmporas, murmurando "Onde estou? Quem é você? Quem sou eu?"

Talvez tivesse sido melhor continuar com a procura na área ao redor da pedra.

Mas eles podiam voltar a ela amanhã. Alex não pôde evitar pensar em quanto tempo eles ainda tinham.

Max estava com uma péssima aparência. Os efeitos do akino estavam agindo

muito rapidamente. E estava realmente refletindo no corpo dele agora. Em menos de um dia o rosto dele emagreceu. Você praticamente podia ver os ossos forçando o caminho através de sua pele fina e transparente. Alex sentia uma pontada de choque cada vez que olhava para Max.

- Scotch, Rocks – uma voz ordenou atrás dele.

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Uma voz incrivelmente familiar. Você sabia que isso podia acontecer, Alex lembrou a si mesmo. Ele olhou para trás e viu seu pai deslizando para o banco ao lado.

- É militar? – ele perguntou a Alex. Claro. Seu pai agrupava todo mundo em militar e não militar. Ele iria querer

saber com quem estava lidando. - Marinha – respondeu Alex. As palavras simplesmente pularam de sua boca,

talvez porque Jesse tinha falado muito sobre isso. Talvez porque, pelo menos uma vez, ele teria a oportunidade de impressionar seu pai.

- Tenho um na marinha e um é fuzileiro – seu pai respondeu. Obviamente não valho a pena em ser mencionado, pensou Alex. - Mais algum filho? – ele perguntou só para ver se seu pai iria continuar a negar

a existência de Alex sob uma pergunta direta. - Um. Está terminando o colégio e ainda não tem idéia do que quer fazer com a

vida. Nenhuma – respondeu seu pai. - Hum – grunhiu Alex. Então percebeu que tinha uma oportunidade real. Uma

chance de jogar a isca para seu próprio benefício. – Parece meu irmão, Willy – comentou Alex. – Meu pai estava realmente preocupado com ele. Ele tentava o endireitar para começar o programa de CTOR em sua escola. Mas Willy... continuava escapando disso. Ocupado demais peidando no computador e perseguindo as garotas para se importar com isso. Ele queria se graduar sem realizar nadinha – a última parte foi uma indireta a uma citação do pai dele do que iria acontecer a Alex.

- Exatamente – seu pai golpeou o balcão. – Exatamente como meu filho. Ele não

percebe que o que ele faz nos próximos dois anos irão determinar o curso do resto de sua vida.

Você caiu certinho na isca, pai, pensou Alex começando a realmente gostar de

sua pequena pescaria. - Então como foi que esse seu irmão acabou? – perguntou o pai de Alex. - Você não vai acreditar nisso – respondeu Alex. Ele tomou mais sua cerveja de

gengibre, saboreando o momento antes de deixar seu pai se engasgando com a história.

- Willy se deu realmente bem. Você provavelmente já ouviu sobre ele. Ele agora

atende pelo nome de Bill. Bill Gates. Seu pai se sufocou com um cubo de gelo.

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Alex deu um sorrisinho. É, pai. Pense nisso da próxima vez que começar a me pertubar sobre o CTOR. Eu posso crescer e me tornar um grande arquiteto de software que tem praticamente mais do que metade do universo.

*** Isabel estacionou o Jeep no estacionamento do Balão Metereológico. A luz neon

alcançava o asfalto... o azul do balão, o verde do pequeno alienígena que ficava espiando por trás dele e o vermelho da arma de raio do alienígena.

Ela saltou para fora do Jeep e tropeçou. Ainda estava se acostumando ao seu

novo corpo. O segurança tinha muita massa, a maioria era músculo, mas ainda assim.

Uma mulher lá pela casa dos quarenta usando perneiras com homenzinhos

verdes por todo o lugar sorriu para Isabel enquanto ela se aproximava da porta. Isabel sorriu de volta. Ela acreditava em ser gentil aos menos fortunados. E qualquer um que pensasse ser atraente o suficiente para usar essas perneiras em público estava com certeza incluida nisso.

O sorriso da mulher cresceu ainda mais. Era um flerte. Isabel deu um gemido baixinho. Ela acha que eu vou dar em cima dela,

percebeu Isabel. Ela pensa que sou um cara louro-quase branco promiscuo... protinho para ser colhido.

Ela fez uma expressão vazia enquanto passava pela mulher e ia em direção ao

bar. É, ela era um cara, mas não desejar atenção era não desejar atenção. E Isabel sabia como lidar com isso.

Ah, não. Espera, ela pensou. E se a mulher me conhece... conhece o

segurança? E se eu acabei de dar um chega pra lá na pessoa que eu esperava encontrar?

Isabel olhou para a mulher. Ela não estava dando olhares malignos ao guarda, o

que ela provavelmente faria se conhecesse ele e ele simplesmente passasse por ela assim.

Essa coisa de se passar pelo segurança estava se saindo mais difícil do que ela

imaginava. Ela viu uma mesa vazia e caminhou em direção a ela. Então se sentou e cruzou as pernas.

É, isso é muito masculino, ela se repreendeu. Descruzou as pernas e fez aquela

coisa que os caras fazem, onde encontram o maior espaço que puderem. Jogou o braço na borda a mesa e abriu bastante as pernas. É, ela era um cara. Dê a ela algum espaço.

Max morreria de rir se ele pudesse me ver agora. Sua irmãnzinha bancando o

cara fortão.

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O pensamento em Max a fez sentir um pontada de medo. O akino parecia estar entrando num novo estágio... atacando seu corpo. E o que ela estava fazendo para ajudá-lo? Sentando-se num bar tentando se lembrar de não cruzar as pernas como uma garota.

Uma garçonete numa blusinha apertada com Balões Metereológicos se

apressou para a mesa. Os 'Os' duplos na camisa eram super grandes... e posicionados bem embaixo do peito dela. Pobrezinha, Isabel pensou. Ela deve receber muitos comentários dos caras de classe com quem costuma sair aqui.

- Vou ficar com uma cerveja – disse Isabel, tendo a certeza de olhar para a

garçonete bem nos olhos. Ela imaginou que era provavelmente o único cara que não encarou os Os a noite inteira. A garçonete deve ter gostado disso também, porque ela voltou com a bebida de Isabel em segundos.

Isabel fingiu tomar uma golada de cerveja. Ela só pediu porque parecia uma

coisa que um homem como ela pediria. Além de que, se ela pedisse soda, ela estaria tentada a beber, e ela poderia precisar fazer xixi, e xixi não era uma coisa que ela gostaria de fazer nesse corpo.

Eu gostaria de saber qual seria meu nome, ela pensou. Alguém poderia me

chamar do outro lado da sala e eu sequer saberia. Ela deu uma checada no pessoal, movendo seus olhos rapidamente de pessoa a pessoa, cuidando para não dar nenhuma outra idéia as senhoras.

Seus olhos se pregaram no relógio atrás do balcão. Tem quase uma hora desde

que viu Max. Ela estava quase com medo de voltar quando terminasse aqui. Com medo de ver quais novas mudanças veria nele.

Isabel escaneou a multidão novamente, só em caso de ter perdido alguém. Ela

não viu nem um flash de reconhecimento no rosto de ninguém. O plano de Maria era maluco. Isso nunca iria dar certo. E procurar pela sede acabou virando um passo acima de contar todos os grãos de areia do deserto. Somente um novo sabor para a palavra impossível.

Um grito da mesa ao lado atraiu sua atenção naquela direção. A garçonete dela

estava olhando furiosamente para um universitário e seus dois sorridentes amigos. A frente da camisa dela estava ensopada.

- Ei, me desculpa – o universitário falou, sem muitas sinceridade. – Pensei ter

ouvido eles anunciarem que a competição de camisa molhada tinha começado. Você queria entrar, certo?

- Errado – respondeu Isabel por ela. Esse era um problema que não era

impossível, e seria um prazer enorme lidar com isso. Ela se virou para o rapaz. – Peça desculpas.

O universitário a encarou um momento, seus olhos vidrados. Então se virou para

a garçonete.

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- Me desculpe – ele disse a garçonete. Então piscou para seus amigos. – Me deixe te ajudar a se secar.

Isabel se pôs na frente antes que ele pudesse encostar na garota. Ela o segurou

pela camisa e o arrancou de sua mesa. Então afastou seu braço pesado e golpeou seu punho no nariz dele. Ela sorriu quando respingou sangue.

Era bom ter um problema com uma solução fácil. *** 13 *** Liz sentiu alguém dar um tapa em seu ombro. Isso era ótimo. Ela só esteve no

OVINIacos por meia hora, e alguém já a reconheceu. Ela se virou e sentiu um golpe de puro terror.

O Xerife Valenti estava de pé em sua frente. - Venha comigo – ele ordenou. Se virou e caminhou em direção a saida. Ele acha que você é o segurança, ela disse a si mesma enquanto o seguia em

direção ao estacionamento. Ele acha que você é algum cara que trabalha na sede. Essa pode ser a chance de conseguir uma boa informação. Apenas relaxe.

Valenti foi direto para sua cruiser. O som do salto de sua bota contra o

pavimento fazia seus dentes doerem. Ele entrou no carro, obviamente assumindo que ela entraria também, sem perguntar por nenhuma informação.

Liz caminhou para a porta do passageiro, esperando não fazer nenhum

movimento muito diferente dos que o segurança fazia. Ela não tinha um andar especialmente feminino, então provavelmente estava indo bem. Abriu a porta, deslizou para dentro e bateu para fechar.

Ela deu uma espiada rápida em Valenti. Pelo menos dessa vez ele não estava

usando seus óculos escuros espelhados. Mas ainda assim era impossível imaginar o que ele estava pensando. Se os olhos de Valenti eram o espelho de sua alma, então claramente ele não possuia uma. Alertar a mídia. Como se já não fosse obviamente doloroso.

Valenti saiu do estacionamento e caminhou em direção ao centro da cidade. - Você precisa fazer parte de alguns testes na sede. Nerz ficou doente e

ninguém além de você está de folga. Felizmente você é previsível em suas horas fora das atividades.

Liz sentiu alívio explodir nela como um show de fogos de artifício. Talvez uma

vez que ela entrasse na sede, pudesse descobrir um caminho para a nave. Talvez

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fosse capaz de ter os cristais hoje a noite! Mesmo que não os pegasse, eles estariam tão perto de salvar Max como nunca estiveram.

- Tem algo divertindo você, Towner? – perguntou Valenti. Provavelmente porque

o sorriso estava cobrindo todo seu rosto. Agora ela pelo menos sabia seu nome. Towner. - Não. Só pensando numa piada que alguém me contou – respondeu Liz. Ela

imaginou que não tinha nem chance de Valenti se interessar em humor para perguntar qual, e estava certa.

Enquanto eles passavam pelo outdoor da câmera de comércio nos subúrbios da

cidade, Liz checou o hodômetro. Quando eles entrarem na estrada principal, ela checaria novamente. Ela mal podia acreditar que a sede estava sendo entregue em suas mãos pelo próprio Xerife Valenti.

A menos que... e se o próprio segurança já está na sede?, ela pensou. E se

Valenti sabe disso? E se é por isso que ele está me levando lá... porque ele pensa que sou um alienígena com a habildiade de alterar minha aparência. E se ele não se importa se eu souber a localização porque ele planeja nunca mais me tirar de lá.

De repente pareceu que metade do ar havia sumido de dentro da cruiser. E o ar

que restava estava misturado com o cheiro de cigarro e suor. Mesmo se fosse verdade, não há nada que você possa fazer sobre isso agora,

ela disse a si mesma. Quê, você vai se jogar para fora de um carro em movimento e desaparecer no deserto? Valenti provavelmente ira atirar em você.

Aquele pensamento não ajudou em seu nervosismo. Ela encanrou para fora da

janela, a estrada vazia e tentou contar a linha pontilhada enquanto eles passavam sobre elas. Ela precisava se concentrar em alguma coisa. Mas Valenti estava indo rápido demais.

Ele deu uma virada para a esquerda e balançou a cruiser para dentro do

deserto. Ele estava se dirigindo para a pedra em formato de galinha. Pelo menos Maria pegou essa parte certa.

Dois quilometros depois, eles passaram pela pedra. A cruiser continuou

balançando pelo deserto em linha reta. Os olhos de Liz continuavam a observar o hodômetro. 4 metros, 11 metros, 17

metros, 22 metros. Eles estavam indo em direção a uma enorme formação rochosa. Isso seria um ótimo ponto de referência. Ela tinha que se lembrar disso.

- Abra a entrada – Valenti disse a ela. O coração de Liz subiu pra sua garganta. Obviamente isso era uma coisa que

ela deveria saber como fazer. Tem que ter algum controle remoto ou algo. Ela esperou que tivesse.

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Abriu o porta luvas. Papéis. Óculos de sol. Um par de foguetes de cinalização. - Exatamente o quanto você bebeu hoje? – perguntou Valenti. - Não sabia que teria que trabalhar – respondeu Liz. Valenti fez um barulho de quem estava com nojo. Então ele apanhou algo que

parecia um controle de porta de garagem com alguns botões a mais no painel e deu a ela.

Escolha um botão, qualquer botão, pensou Liz selvagemente. Ela apertou o mais

próximo ao seu dedão. Nada aconteceu. Deu uma olhada em Valenti. Ele teria percebido?

Não pense nisso, só tente outra vez, ela ordenou a si mesma. Ela golpeou o

botão em cima à esqueda. Nada. Tentou o do lado dele... e o meio da formação rochosa começou a se abrir.

Não é de se admirar que Max e Michael tenham procurado todo esse tempo sem

encontrar esse lugar, ela pensou. Uma arfada escapou de seus lábios. Ela tentou disfarçar com uma tosse. Valenti estava acompanhando todas os pequenos deslizes dela? Não tinha chance de dizer. Seu rosto estava indiferente como sempre. Ela apostou que ele nem piscou quando atirou em Nikolas.

"Não pense nisso", ela pensou. Ela não podia pensar em Valenti matando

alguém. Já estava nervosa o suficiente. Liz se esforçou a manter qualquer sinal de espanto fora de seu rosto enquanto

Valenti dirigia para dentro da abertura. Provavelmente devo fechar a porta também, ela pensou. Apertou o botão que havia funcionado a vez passada. Com velocidade supreendente as portas se fecharam. Arrancando um dos faróis de Valenti.

- Perdão – ela murmurou. - Sem problema. Vou tirar do seu salário – ele respondeu. Perdão também, Towner, pensou Liz enquanto o carro começou a descer num

movimento muito devagar. Eles estavam indo para um enorme elevador. Abria para um estacionamento no

subterrâneo. Valenti estacionou num lugar que marcava Reservado. Ele saiu do carro, novamente assumindo que Liz iria segui-lo. Ela foi atrás dele.

Ele liderou o caminho descendo um longo corredor de cimento, como o que Maria tinha visto na noite que usou a Pedra para rastreá-lo.

Liz estava tão perto. A nave pode estar em qualquer canto. Eles alcançaram uma enorme porta de metal. Valenti introduziu um código, a

porta se abriu e eles continuaram até uma imensa sala aberta. Dentro havia duas

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filas de celas de vidro. Havia uma cama em cada uma delas, mas apenas uma estava feita.

Um tremor se arrastou por Liz. É aqui onde Max, Michael e Isabel ficariam se

Valenti descobrisse a verdade sobre eles? Eles seriam mantidos presos aqui como ratos de laboratório, constantemente monitorados?

Valenti cruzou a sala sem ao menos falar com nenhum segurança, parados

perto da cela que parecia ter sido ocupada recentemente. Ele destrancou a pequena porta e a abriu para Liz.

- Você receberá as instruções em um momento – ele a informou. O momento

que ela deu um passo para dentro, ele fechou a porta atrás dela. O quarto estava vazio exceto por uma mesa de metal e uma cadeira dobrável.

Liz se sentou e esperou. Ao menos ela receberá instruções. Isso era bom. Ninguém estava esperando que ela já soubesse o que estaria fazendo.

- Towner, tudo o que você estará fazendo hoje descreve tudo que ocorreu em

seu quarto – uma voz disse pelo interfone. Liz se inclinou na cadeira de metal gelada. Qualquer coisa que acorreu na sala

dela. Ela meio que não gostava de como aquilo soava. Aliás, o que eram esses experimentos? Eles tinham que se conectar a alienígenas de alguma forma, não tinham? Ou isso era a única área que o Project Clean Slate cobria?

E se os testes fossem param determinar o efeito de alguma nova arma

biológica? Algum vírus inteligente ou algo assim. Era muito tarde para se preocupar com isso agora. Ela estava certa que a porta

estava trancada pelo lado de fora. E mesmo se não estivesse, ela... Espera. Alguma coisa estava acontecendo. Liz limpou a garganta. - Hum, eu vejo um ponto de brilho no ar na altura dos olhos. É aproximadamente

do tamanho de uma bola de basquete. Liz agarrou a borda da mesa com as duas mãos, esperando ver o que

aconteceria depois. Um momento depois uma imagem formada no meio. - Vejo uma imagem que parece um holograma. É um homem centado num

restaurante. Chique. Toalha de mesa branca. Velas. Posso ouvir música de violino. E posso dizer que o homem está animado. Nervoso. Feliz. Tudo isso.

Liz não sabia como, mas estava recebendo sentimentos do homem no

holograma. Foi como Max descreveu quando ele me contou como Ray mostrou a ele o holograma do acidente com a nave de seus pais, ela percebeu.

Então talvez fosse isso o que estava acontecendo. Talvez os agentes do Project

Clean Slate estivessem tentando duplicar a tecnologia alienígena ou algo assim. Ela

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relaxou os dedos da mesa. Ela iria passar por isso bem. Tudo o que ela tinha que fazer era olhar para umas imagens flutuantes. E se tivesse sorte, pegaria um vislumbre da nave no caminho para fora.

- Algo mais? – a voz perguntou pelo interfone. Liz estudou o holograma. - Sei que ele está se preparando para pedir a namorada em casamento – ela

disse. – Não sei como sei disso. Não é como se pudesse ler seus pensamentos ou nada assim. Mas eu simplesmente... sei.

O holograma desapareceu. Inútil. Eu nem consegui descobrir o que ela disse,

pensou Liz. Ela estava se sentindo um pouco tonta. Ou confusa, como se tivesse tomado xarope demais... enquanto saltava num trampolim.

O ar em frente a ela começou a brilhar novamente. Ah, ótimo. Tempo para a

segunda apresentação. Liz se perguntou como eles... quem quer que eles sejam... se sentiriam com relação a um pedido de pipoca com um monte de manteiga.

- Ah, esqueci de dizer que o ar começou a brilhar – ela disse rapidamente. Ela

não queria causar ainda mais problemas do que já causou ao Towner. - O holograma apareceu – ela continuou. – É outro restaurante. Já o vi na

cidade. O Crashdown Cafe. Tem dois homens sentados perto do telefone. O coração de Liz martelou em sua garganta quando ela os reconheceu. O dia

em que ela fora baleada. Ah, Deus, o dia que ela foi baleada esses dois estavam lá. Brigando. O cara musculoso, foi ele que puxou a arma. Mirou no gorducho, mas o gorducho afastou a arma. A arma explodiu e a próxima coisa que Liz sabia era que ela estava batendo contra a parede, seu estômago molhado com seu próprio sangue.

- Continue – a voz disse pelo interfone. - Os dois homens estão irritados. Os dois pensam que cada um os traiu por

dinheiro – disse Liz, tentando fazer com que aquilo não significasse nada para ela. Dessa vez o holograma a deixou ver o que acontecia depois. Ela teria que ver a

arma sendo puxada de novo. Ver o tiro ser disparado. - O homem mais musculoso atirou na garçonete. Posso sentir a dor dela –

continuou. E ela podia. Ela podia sentir a dor novamente. Exatamente como sentiu naquele

dia. Exatamente igual.

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Ah, Deus. De alguma forma eles estavam pegando a imagem dela. Dessa vez o holograma era como uma memória gravada. Tipo quando Ray mostrou a Max a nave. Devia ser por isso que ela estava se sentindo tão estranha e enjoada. Alguém estava acessando seu cérebro.

E em mais dois segundos o holograma mostraria Max saltando sobre o contador

e curando Liz do ferimento da bala com o toque de suas mãos. Liz deixou escapar um grito. - Faça parar – ela uivou. – É como se uma furadeira estivesse perfurando meu

globo ocular. Faça parar! O holograma desapareceu. Valenti apareceu de repente na porta. Liz pressionou os punhos contra seus olhos e repetiu. Valenti estava caindo

nessa? Ele acreditaria em sua agonia? Ou ele teria descoberto seu disfarce e decidido torturá-la.

Vagarosamente Liz abaixou as mãos. - Que diabo foi isso que aconteceu? – Valenti exigiu saber. - Me diga você – respondeu Liz. – Senti como se minha cabeça fosse explodir.

Não me recrutei para isso. - Vou te escoltar até sua casa – respondeu Valenti. – Mas é melhor eu não

descobrir que sua cabeça estava explodindo por causa de álcool. Ele deu a ela um olhar demorado enquanto ela passava por ele. Claramente ele

tinha essa sensação de que algo estava errado, mas não conseguia imaginar exatamente o quê.

Liz se perguntou se ele faria a conexão quando eles voltassem aqui e

roubassem os cristais. *** 14 *** Maria sentiu lágrimas queimarem seus olhos... novamente. Você não é

simplesmente um raiozinho de sol? Em outro minuto Max iria proibí-la de entrar em seu quarto permanentemente. Maria podia dizer que ela chorando o deixava realmente desconfortável.

E por que não o faria? Era como se ela estivesse levantando essa grande placa

que dizia "Advinha, Max. Você está morrendo!" Ele parecia mal, aliás. Todo afundado. Os outros perceberam isso também. Liz,

Isabel e Michael ficavam dando olhadinhas cautelosas para ele. Eram cuidadosos não somente em encarar mas em se abalar com sua aparência.

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Quando Alex entrou no quarto, ficou muito feliz com a distração. - Desculpe, estou atrasado – ela disse a eles. – Meu pai não queria me deixar

sair de casa até eu mostrar a ele meu site, se vocês conseguirem acreditar nisso. - Estamos tentando descobrir a melhor maneira de entrar na sede. Alguma

idéia? – Michael perguntou a ele. A campainha da porta tocou antes dele poder responder. - Eu atendo – disse Maria. Ela se apressou para sair. No caminho da porta ela

tirou um frasco de óleo de cedro de seu bolço e deu uma longa fungada. Não tinha ajudado muito ultimamente, mas era melhor do que nada.

Ela abriu a porta e viu Ray Iburg parado em frente. - Estamos todos no quarto de Max – ela disse a ele enquanto liderava o caminho

de volta. - Pensei que vocês poderiam precisar de uma fonte de poder extra quando

fossem para a sede – ele disse enquanto entrava. - Ótimo. Nós talvez precisemos de um escudo como aquele que congelou o

Valenti no Shopping – respondeu Michael. Ray sacudiu a cabeça. - Não estou recuperado o suficiente para aquilo ainda. Me tomou uma grande

quantia de poder. Não serei capaz de fazer aquilo em provavelmente um mês – ele explicou. – Mas eu ainda posso derrumar alguém se tiver de fazer.

- Isso também pode ser útil – disse Michael. – Certo, a equipe estará com você,

eu e Isabel, então. Ele estava no modo de comando. Concentrado inteiramente na estratégia. Pelo

menos dessa vez Maria não tinha que se perguntar se ele estava pensando em Isabel ou nela. Ele não estava pensando em nenhuma das duas.

- Espera. Eu... – Alex começou a protestar. - Você não tem poderes para se proteger – cortou Michael. Alex concordou com a cabeça. Fazia sentindo para Maria também. E isso a

lembrou pela milionésima vez que Michael e Isabel eram próximos de um modo que ela e Michael nunca poderão ser. Michael e Isabel compartilharam os mesmos poderes, a mesma história. Michael e Maria compartilhavam o mesmo gosto para filmes. Agora, classe, o que é o fundamental para um relacionamento de verdade?

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- Por que algum de vocês não muda a aparência para se tornar o Valenti? – Liz perguntou rápido como fogo. – Valenti manda naquele lugar. Como ele, vocês teriam acesso a tudo...

- Plano perfeito. Eu faço isso – disse Michael. - Você e eu deveríamos mudar a aparência também – Ray disse a Isabel. –

Dessa forma quando eles vierem procurar por nós, podemos simplesmente desaparecer.

- Precisamos ter certeza de que Valenti já não está lá na sede antes de ir pra lá.

Eu telefono para ele. Digo que quero que me fale sobre o plano a longa distância de carreiras ou algo assim – Alex se apressou para fora da sala.

Max respirou asperamente e agitado. Uma respiração que soou tão dolorosa que

Maria não sabia como ele poderia aguentar continuar a respirar. E se eles não voltassem a tempo? Era isso que estava tentando não pensar. Ela

passou os dedos nos cabelos com força e tentou enterrar esse pensamento novamente.

Alex se apressou de volta para o quarto. - Ele está lá. E não ficou feliz em receber ligação sobre vendas num domingo

pela manhã. - Você deveria vigiar a casa dele – disse Michael. - Vou também – Maria se voluntariou. Ela não conseguia ficar aqui com Max... a

aura dela já estava muito cheia de tristeza. - O que vocês vão fazer se ele sair para a sede? – perguntou Liz. – Você não

tem nenhum modo de alertar Michael. - Irei impedi-lo – respondeuy Alex, com total convicção. Maria acreditava nele. Alex tinha mais do que um pouco de comando nele

também, tanto quanto ele não queria ser o Sr. Militar. - Vamos lá – Alex disse a Maria. Obedientemente ela caminhou direção a porta. Então se virou e olhou de volta

para o quarto. Seus olhos procuraram Michael. Essa podia ser a última vez que ela o veria.

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*** Liz encarou o rosto de Max. Ele caiu num sono inquieto, então dessa vez ela

podia realmente olhar para ele, estudar sua mudanças, sem se preocupar em amendrontá-lo.

Ela notou cada detalhe como se estivesse num laboratório de biologia. De algum

modo isso ficava um pouco mais fácil. Pequenos pedaços da pele dele estavam se descascando. Seus lábios estavam secos e abertos, com alguns pontos de sangue seco. Seus olhos estavam afundados bem dentro de sua cabeça. Assim como suas bochechas. Seu pescoço estava...

Pare, ela pensou. Pare de reduzí-lo a todas essas pecinhas de carne estragada.

Esse é Max. Esse ainda é Max, o cara que você ama. Liz apanhou a mão dele. Se perguntou se a sensação funcionava dentro dos

sonhos dele de alguma forma. Ela desejou que sim. Checou o relógio. Michael, Isabel e Ray devem estar quase na sede. Ela se

perguntou quanto tempo levaria para eles encontrarem os cristais. Ela temia que... mesmo que encontrassem imediatamente... seria tarde demais. A deteriorização de Max estava se acelerando a um ponto aterrorizante.

Ele estava dormindo, distante dela, e ela não tinha poderes para fazer parar. Ela

apertou os dedos na mão dele, laçando seus dedos entre os deles. Mas não era suficiente. Precisava chegar mais perto dele. Mais perto ainda.

Tirou os sapatos e subiu na cama ao lado de Max. Passou o braço pelo no peito

dele e enterrou o rosto em seus ombros. - Não vou deixar você ir, Max – ela sussurrou. Ele estava gelado. Era como se seu corpo não estivesse produzindo nenhum

tipo de calor. Ela se pressionou ainda mais, tentando dividir seu calor com ele. - Amo você, Max – ela disse. – Eu amo você. Fique comigo, certo? Você tem

que ficar comigo. Ela arrastou o braço de Max para ela, tentando ficar ainda mais perto. Ficou lá

frouxo e pesado. Sem vida. O braço de um cadáver. Levantou-se rapidamente e saltou da cama. Pressionou os dedos contra os

lábios de Max e sentiu o sopro de alívio enquanto ele deixava sair uma respiração. - Desculpa, Max – ela sussurrou. – Eu não quis surtar - ela endireitou o cobertor

em cima dele e amaciou seu travesseiro. Ela sentiu algo duro e frio por debaixo de seus dedos e tirou de lá.

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Seu bracelete prateado. Max havia virado aquilo em líquido no pulso dela no dia que ele revelou que era um alienígena. Ele tinha tentado convecê-la que não estava mentindo.

Ela esteve tão mortalmente apavorada. Apavorada com Max. Quando ele fez o

bracelete voltar a sua forma e avançou para ela, para lhe dar, ela fugiu. E ele guardou. Na verdade ele tem dormido com isso debaixo do travesseiro. Liz

correu os dedos no bracelete prateado e lágrimas encheram seus olhos. Max não precisava disso infiltrando seus sonhos. Ele não precisava de sua fraqueza e lamúria. Ele precisa que ela seja forte, o aperte com força, deseje que ele sobreviva.

Ela se apressou para fora do quarto e desceu o hall para ir ao banheiro. Trancou

a porta atrás dela e se sentou na beira da banheira, se balançando para frente e para trás, deixando o choro descer.

Depois de uns minutos ela se levantou, foi até a pia, salpicou água gelada em

seu rosto e secou o rosto rudemente. Se encarou no espelho. - Já chega – disse firmemente. – Max precisa de você com ele. Ela se virou e caminhou para fora do banheiro e pelo hall. Quando deu um

passos na entrada do quarto de Max, os olhos dele estavam abertos. Ele limpou a garganta com dificuldade.

- Eu... estava sonhando... – ele limpou a garganta novamente. – Ou você estava

comigo na cama antes? – ele perguntou. Ela sorriu para ele. - Você não estava sonhando – ela respondeu. - Não foi como... eu havia imaginado. Era óbvio que as palavras estavam tomando um tremendo esforço. Gotas de

suor corriam de seu rosto. Ele recuou enquanto elas faziam fendas em sua pele. - Haverá outras vezes – ela prometeu a ele. Ela esperava estar lhe dizendo a verdade. *** 15 *** - Liz disse que há um tipo de controle remoto para abrir a porta na formação

rochosa, coisa que não temos – disse Michael enquanto eles dirigiam em direção a sede com o carro que Ray havia alugado.

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Michael não tinha nem pensado sobre o fato de que o pessoal do Project Clean Slate poderia rastrear veículos tão facilmente como ele poderia mudar de rosto. Fácil, fácil. Ele ficou feliz por Ray ter tido a idéia de alugar um carro com uma de suas velhas identidades. Ray havia mudade de rosto e nome algumas vezes desde que caiu na Terra.

- Tenho certeza que eles têm algum tipo de câmera de vigilância – respondeu

Ray. – Vamos só deixar ele dar uma olhada em você como Valenti e tenho certeza que vão correr e nos deixar entrar. Provavelmente ainda se desculpar por não terem sido mais rápidos.

Tudo bem para Michael. Tinha uma vantagens em ser um clone de Valenti.

Embora toda vez que ele vislumbrasse seus olhos cinzas no espelho retrovisor, lhe desse agonia.

Os próprios olhos de Michael eram cinzas, então não era lá uma mudança de

cor. Mas ele não podia negar a sensação de quando olhava para seu reflexo, era Valenti o encarando de volta. Valenti, o cara que o queria morto ou preso em alguma daquelas celas que Liz viu, um experimento, pelo resto da vida dele.

- Você tá bem aí atrás, Iz? – ele perguntou por cima do ombro. - Tô – ela murmurou. Não soou muito convicente. Ele sabia que estava a deixando maluca estar no

caro com ele parecendo o Valenti. Isabel tinha pesadelos com Valenti desde que era pequenininha. O xerife era a personificação de seus medos mais sombrios sobre o que poderia acontecer se alguém descobrisse a verdade.

- Você não vai perguntar se eu estou bem? – brincou Ray. - É melhor que esteja porque chegamos – respondeu Michael. Ele estacionou

em frente a formação rochosa. Michael saiu do carro e encarou a frente, tentando parecer suavemente irritado. Um momento depois uma enorme porta se abriu.

- Bem vindos a Bat Caverna – Michael murmurou enquanto sentava atrás do

volante de novo. Ele dirigiu para o elevador que Liz lhe contou e quando chegaram em baixo, estacionou num espaço reservado. Ele era Valenti. O grande imbecil.

Uma guarda se apressou assim que ele, Ray e Isabel colocaram os pés fora do

carro. - Não estávamos o esperando até a noite - ele disse. - É por isso que estou aqui. Quero ver como são as coisas quando não sou

esperado – respondeu Michael. Ele não se importou dizer a ele quem eram Ray e Isabel. Ele imaginou que Valenti não se importaria em se explicar para um peão.

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O plano de Liz estava funcionando perfeitamente. Ele podia agir como se estivesse fazendo algum tipo de inspeção ou até dar a Ray e Isabel uma tour e eles poderiam procurar em cada lugar.

Na verdade, para quê procurar? Esse peão provavelmente atenderia a tudo o

que Valenti quisesse. - Quero mostrar a nave aos meus sócios. Meus sócios. Ele meio que gostava disso. Meio que misterioso e você-é-

insignificante-demais-para-saber-quem-eles-realmente-são. Talvez ele devesse levar esse show para a estrada. Fazer uma tour representando Valenti.

Ele não podia acreditar que isso apareceu em sua mente. Ele sentiu como se

estivesse parcialmente tonto ou algo do tipo. Ele iria realmente ver a nave. Ele passou quase sua vida inteira procurando por ela, e ela estava aqui.

O guarda concordou com a cabeça e liderou o caminho a um labirinto de

corredores acimentados, parando e então colocando um código de segurança. Quando eles alcançaram uma longa série de porta de metal, o guarda deu um passo atrás. Ele obviamente queria que Michael fizesse alguma coisa, mas o quê?

- Por favor, de um passo adiante da linha vermelha, retire os óculos para um

escaneamento da retina – uma voz feminina automática lhe falou. Michael automaticamente tomou a posição, mas seus intestinos estavam

praticamente se contorcendo dentro dele. Seus olhos eram os de Valenti, com certeza. Mas não tinha chance de suas retinas combinarem. Não tinha chance nenhuma.

Um feixe de luz passou por seus olhos. - Indivíduo não identificado – anunciou a voz. – Acesso negado. O guarda retirou um walkie-talkie e murmurou alguma coisa. Era isso. Eles

estavam fritos. A menos que se mexessem realmente rápido. Ray se mexeu para trás do guarda, pronto para derrubá-lo. Isabel olhava pronta

para enfrentar todo mundo, a julgar pelo seus olhos estreitos e o modo como suas mãos estavam fechadas em seu punho. Hora do Rock and Roll, pensou Michael. Então as portas se abriram.

- Vou chamar alguém para verificar o sistema – disse o segurança, seu rosto

rosa de vergonha. Ísso iria ser assim tão fácil? Não que ele estivesse reclamando. - Faça isso – respondeu Michael enquanto ele passava pelas portas, Ray e

Isabel estavam bem atrás dele.

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A nave estava ali na frente deles. Era feita de um metal liso e era menor do que Michael esperava. Mas olhando para ela, ele encontrou dificuldade em respirar.

A nave fora construida num planeta cuja galáxia os humanos ainda nem deram

nome. Carregou seus pais até aqui. E eles morreram dentro dela quando começavam a retornar da viagem.

Michael sentiu que poderia ficar ali por horas, apenas encarando-a. A construção

era incrível. Ele não via um corte. Nem um parafuso. Nem um rebite. Nada. Estamos falando sobre aerodinâmica. O próprio metal era ainda mais maluco. Tinha lugares que parecia quase líquido. Derretido. Ondulando como se estivesse vivo.

Isabel o acotovelou. - Temos uma tabela de horários para manter, xerife – ela disse. - Certo – Michael caminhou para a nave, então hesitou. Onde eram as portas

dessa coisa? Ele não via um trinco. Ray se aproximou e tocou num pequeno círculo em relevo e a porta apareceu.

Isabel inpirou profundamente e adiantou-se sob o piso. - Vá em frente – Ray disse a Michael. Michael começou do lado de dentro. Ele basicamente tinha desistido que esse

dica jamais chegaria. Mas ele estava em pé na nave. Ele alcançou e correu ligeiramente os dedos na parede mais próxima.

Então se dobrou e caiu de joelhos, a dor passando sobre ele. Dor vinda de Max,

mais forte do que qualquer coisa que ele jamais sentiu. - Xerife Valenti, o senhor está bem? – um guarda berrou. Passos apressados em direção a ele e outra pontada de dor. Ele sentiu seu

rosto... se mexer. Se contorcer. Ele não conseguia controlar as mudanças que fez em sua estrutura molecular.

O segurança agarrou Michael pelo ombro... e viu o rosto dele. O rosto de

Michael, não o de Valenti. *** - Tem alguma coisa acontecendo – Alex disse a Maria. Valenti acabara de sair de casa. Foi direto para sua cruiser, seu rosto imóvel e

cruél. Isso não era um homem que estava indo para a quitanda. - O que você vai fazer? – quis saber Maria, sua voz alta e aguda. - Seguí-lo – respondeu Alex.

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Talvez ele tenha descoberto que a namorada estava o traindo, pensou Alex enquanto esperava a cruiser passar por eles numa emboscada policial. Ou que Kyle foi pego fumando maconha atrás do colégio.

Não é provável. Seria uma coincidência bem grande se qualquer uma dessas

coisas acontessessem durante as horas que Michael, Isabel e Ray estavam invadindo a sede.

- Vai! – berrou Maria. – Você vai perder ele! - Me deixa fazer – ralhou Alex. – Não quero que ele nos perceba – ele esperou

mais alguns segundos para deixar um outro carro entre eles e Valenti, então saiu para a estrada.

Valenti dirigia direto para a estrada principal para sair da cidade. E sim, ele

passou da quitanda. - Ele está saindo da cidade! Ele está indo para a sede! Você disse que iria pará-

lo! Por que não está parando ele? – berrou Maria. - Quero esperar até chegarmos pertinho do deserto – Alex respondeu. – É

perigoso demais na cidade. Não quero acidentalmente bater em alguém. - Certo, certo, certo. Desculpa – ela disse. – Eu não quis gritar. Eu só... - Eu sei – respondeu Alex. – Eu também. Alex manteve seus olhos pregados em Valenti enquanto eles saiam da cidade.

Não que ele tivesse alguma dúvida para onde Valenti estava indo. - Certo, vou ficar ao lado dele. Você grita... alguma coisa. Que está tendo um

assalto ou algo assim. Qualquer coisa de xerife que você possa pensar. Talvez seja suficiente para fazê-lo voltar. O Project Clean Slate é um segrego. Valenti tem que pelo menos fingir que é um xerife comum.

Maria concordou com a cabeça. - Estou pronta quando você estiver. Alex acelerou e ficou ao lado de Valenti. Maria se inclinou para fora da janela. - O 7-Eleven foi roubado – ela berrou. – O dono foi baleado. Você tem que voltar

lá! Maria voltou para o carro. - Ele nem ao menos virou a cabeça. Ele tinha que ter me visto, não acha? - É – respondeu Alex. – Hora do plano B.

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- Que seria...? – quis saber Maria. - Não sei exatamente. Mas é melhor fechar a janela e colocar o cinto de

segurança só pra garantir – ele lhe disse. Assim que Maria pôs o cinto, Alex sacudiu o volante para a direita. Metal contra

metal enquanto seu Rabbit dava a cruiser um forte empurrão. Eles com certeza tinham a atenção de Valenti agora. E ele não estava feliz. Ele

deu ao Rabbit uma batida de lado que o mandou para quase a caminho de uma travessa.

Alex esperava que Valenti pegasse a oportunidade para mantrer alguma

distância entre os carros. Mas esse não era o estilo dele. Com um grito dos pneus, ele empurrou sua cruiser para o lado e mirou no Rabbit de Alex.

- Segura aí, ele vai bater na gente! – Alex avisou a Maria. Um segundo depois a cruiser bateu com força na trazeira do Rabbit, o jogando

no deserto. Valenti recuou, se preparando para bater novamente. Alex o viu fazendo, mas não consegui sair a tempo. E não tinha chance dar a volta em Valenti e começar a bater nele.

Alex apertou com força o volante enquanto a cruiser dava sua segunda batida. - O riacho! Ele está nos levando para o riacho! – berrou Maria enquanto Valenti

recuava de novo. O estreito desfiladeiro não era tão profundo. Mas não seria assim tão divertido. E

uma vez que eles descessem, não teria chance deles voltarem para parar Valenti. Alex soultou uma praga enquanto sacudia o volante para a esquerda e acelerava

com força. Tarde demais. A cruiser bateu contra eles novamente. E o Rabbit foi em direção a ponte do riacho. *** A dor que varreu Isabe diminuiu. O que isso significava? Agora que ela não

podia mais sentir a dor de Max, isso significava... isso significava que ele estava morto?

Apanhe os cristais, ela disse a si mesma. É tudo o que você pode pensar agora.

Ela se apressou pelo estreito corredor da nave, seus pés rangendo na rede de metal do chão.

Ray disse que os cristais eram guardados em uma das fendas embaixo do

painel de controle. Mas onde era o painel de controle. E onde estavam Ray e Michael?

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Ela não poderia arriscar voltar a olhar para eles. Se ela foi a única que entrou na nave, ela era a única esperança de Max.

Desejou ter um mapa do interior da nave. Era bem maior do que ela pensava

que fosse. Era como se a nave fosse maior dentro do que fora, o corredor tomava ramificações em todas as direções. Ela não tinha nem certeza se estava no corredor certo. Só escolheu esse porque parecia levemente maior que os outros.

O corredor de Isabel se abriu e se alargou até se formar uma imensa sala com

enormes janelas. Ela não podia ver nada de fora. Não sabia se era algum tipo de mecanismo de ocultar ou sei lá o quê. E não se importava. Ela não viu nenhum controle de nenhum tipo, então estava obviamente no lugar errado.

Mais dois corredores se alargaram da sala de observação. Eles pareciam

basicamente idênticos. Isabel escolheu o mais perto. Ela desceu corredor a baixo com a cabeça abaixada. Ficava mais e mais largo até que se abriu numa sala que tinha algo que Isabel imaginou poder ser um painel de controle. Graças a Deus.

Agora onde estavam as fendas que Ray mencionou? Ela não viu nada que

pudesse ser chamado de fenda ou buraco ou cubículo ou qualquer coisa. Ela se lançou contra o painel e deslizou os dedos sobre o metal suave por baixo do controle. Ela sentiu uma fenda em relevo e apertou. Uma fenda se abriu. Nenhum cristal.

Isabel ouviu passos se aproximando. - Finalmente – ela chamou. – Eu posso ter alguma ajuda aqui - ela encontrou

outra fenda em releo e apertou com tanta força que quebrou uma unha. Começou a procurar por outra fenda. Então percebeu que os passos estavam se

aproximando mais, mas ela não tinha tido nenhuma resposta. Isabel sentiu os pelos de seu pescoço se eriçarem. Isso significava que quem quer que estivesse se dirigindo em direção a ele não era Ray ou Michael.

Ah, isso foi muito inteligente, acabar de anunciar exatamente sua localização,

pensou Isabel. Ela deslizou as duas mãos sobre o metal, procurando pelo próximo gancho. Achou um. Apertou. Nenhum cristal.

Os passos estavam muito mais pertos agora. Isabel arrastava as mãos para

frente e para trás, deixando sujeira de suor neles. Encontrou outra fenda. Apertou. E viu três cristais brilhando levemente na luz fosca. Ela os agarrou e enfiou em seus bolsos.

- Deixe isso aí. Ponha as mãos na cabeça – uma voz ordenou. Isabel levantou as mãos e vagarosamente se virou. Um segurança bloqueava o

centro do corredor. Um segurança com uma arma em seu peito. Seus olhos vagaram pelos outros dois corredores. Daria para ela pegar um deles

a tempo? Ou era só um bom motivo para levar um tiro nas costas.

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- Venha aqui. E não abaixe as mãos, ou atirarei em você – o segurança ordenou. Isabel caminhou em direção a ele. Ela iria derrubá-lo e isso significava ter que

tonar nele para fazer a conexão. Ela se perguntou se ele tinha reflexos rápidos. Será que ele iria perceber que

estava em perigo e puxar o gatilho mais rápido do que ela poderia achar uma veia legal na cabeça dele e apertar?

Pelo menos ela tinha o rosto falso novamente. Melhor ainda, o rosto era bonito.

Não tão bonito quanto o dela, mas ainda assim muito bonito. Isso lhe dava um pouco de vantagem. Homens não costumam pensar que garotas bonitas são potencialmente letais. Além do que servia para uma boa distração.

Mais dois passos e ela estaria perto o suficiente para alcançá-lo. Isabel fez seu

lábio inferior tremer um pouco, um truque ela ela aprendeu na quarta série. Ela esperava que ele pensasse que ela estava completamente apavorada e indefesa.

Isabel deu um passo, então mais um. Certo, espero que funcione. Porque se não

funcionar, um de nós vai sair da sede num saco. Ela deu mais alguns passos, pretendento tropeçar. Ela se deixou cair, os braços

estendidos. O segurança instintivamente se moveu para apanhá-la. Sua mão tocou na dela e ela resolveu fazer a conexão.

A série de imagens começou. Isabel as deixou passar numa mancha de cores.

Ela escutou o coração do guarda começar a bater contra o dela. Rapidamente ela começou a explorar o corpo dele. Seus corpos.

Escolheu uma veia bem fundo em sua cabeça e usou para unir as moléculas.

Ela sentiu a dor dele e seu atordoamento, mas não soltou. Não até que ele caísse no chão.

Isabel saltou sobre ele e correu pelo corredor da sala do observatório. Escolheu

o corredor mais largo que se ramificava pela sala e correu a toda velocidade. Parou abruptamente quando alcançou a porta de saída. Ela podia ouvir uma

briga acontecendo. Deu mais um passo e se inclinou parcialmente para fora. Seu coração parou, então deu duas batidas fortes em seu peito.

Michael e Ray estavam batalhando contra cinco guardas. Os guardas tinha um

tipo de bastões elétricos, como os usados nos animais. Estavam usando para manter Michael e Ray sem tocar neles. Tinha um guarda no imóvel chão. Os outros provavelmente viram que Michael e Ray poderiam machucar com o toque e estavam se certificando de que nenhum deles chegue perto o suficiente para causar nenhum dano.

Ela hesitou, andando de fininho. Deveria simplesmente correr de lá? Essa era

provavelmente a sua melhor chance de escapar. Se ela tentasse ajudar Michael e

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Ray, ela poderia não chegar em Max a tempo. E Michael e Ray tinham um ao outro como ajuda.

É, ela decidiu. Ela tinha que ir sem eles. Isabel pregou os olhos nas grandes

portas de metal que dariam para fora da sala. Então correu apressada. Ela não sabia se os guardas ao menos a viram passar voando por eles. Se a

viram, não estavam lhe perseguindo. Ainda não. Ela girou no corredor e congelou. O Xerife Valenti estava a metade do caminho do corredor de cimento,

carregando uma arma. Seus olhos gelados presos nela. Era esse o momento que Isabel temeu por toda sua vida. O momento que o logo

a arrastaria para sua caverna. Uma coisa estava clara... ela não iria deixar ele levá-la com vida.

- Não quero atirar em você. Então seja inteligente. Não tente nada estúpido –

disse Valenti. Claro que ele não queria atirar nela. Ela tinha muito mais valor para ele viva.

Mas o único modo que ele a teria era morta. Não seja maluca, uma vozinha implorou em sua mente. Deixe ele levá-la.

Michael e Ray irão atrás de você. Você sabe disso. Não tem nem chance de Michael deixar que Valenti a prenda aqui.

Mas Michael podia morrer. Ray podia morrer. E Isabel seria deixada a mercê de

Valenti. Esse pensamento fez com que ela se decidisse. Isabel soltou um urro de terror e

lançou-se contra Valenti. - Pare – ele gritou. – Agora! - Pare! – uma outra voz berrou. Uma mão a agarrou pela parte de trás de sua

blusa. Isabel virou a cabeça para ver quem a tinha capturado. Ray. - Não atire. Nós paramos. Estamos parados bem aqui – Ray disse. Ray iria deixar Valenti levá-la. Examiná-la. Fazer experimentos nela. E

finalmente dissecá-la. Não! Isabel se afastou e saltou na direção do xerife. Ray se atirou na frente dela. Um tiro foi disparado e Ray caiu no chão, as pétalas

de verde e azul de sua aura instantaneamente cessaram. Ah, Deus. Ah, não. Ray estava morto.

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Isabel não queria deixá-lo ali. Não queria que Valenti ficasse com seu pobre e indefeso corpo. Mas Ray estava morto e Max ainda estava vivo.

Ela não hesitou mais do que um quarto de segundo; Correu por Valenti e se

atirou contra o próximo corredor. Viu outra fila de porta de metal. Lançou-se contra a porta, então usou seus poderes para juntar as moléculas, fechando a porta.

Assim está bom, ela pensou. Valenti não terá problemas em passar dessa porta

com uns dois guardas o dando apoio. Isabel desejou correr pela sua vida e a de Max. Mas forçou a si mesma a

continuar. Matinha a concentração nas moleculas, fazendo-as se mexer cada vez mais rápido até que a porta de metal ficou tão quente, que começaria a derreter. Então se apressou a permitir que as moleculas fossem mais lentamente. As portas congeralaram, mas agora estavam seladas.

Michael seria capaz de abrir, se e quando ele chegasse ali. Mas qualquer outra

pessoa precisaria pelo menos de um maçarico. Isso, Isabel disse a si mesma. Agora você está pensando. E é assim que você

vai dar o fora daqui. Ela se inclinou contra a parede e pressionou as mãos no rosto. Sentiu a pele e

os ossos se moverem por debaixo de seus dedos enquanto mudava a aparência para combinar com a do guarda que ela derrubou.

Então ela calmamente fez o caminho até a garagem, pegou o carro alugado,

desceu o elevador e alguns minutos depois estava indo a toda velocidade pelo deserto.

- Agüenta um pouco mais, Max – ela sussurrou. – Estou quase aí. *** - Max, você tem que agüentar – chorou Liz. – Michael, Isabel e Ray vão voltar

com os cristais a qualquer segundo. - É, Max – adicionou Alex, só o leve tremor em sua voz sinalizando que ele

estava desolado. – Você não pode fazer o checkout agora. Você me deve um carro. Um com air bags. Aqueles bebês são a única razão para eu e Maria estarmos aqui falando com você.

Max abriu os lábios, mas o únivo com que saiu foi um clique molhado. É isso o que as pessoas chamam de chacoalhada da morte?, pensou Liz

selvagemente. Não, ele ainda estava respirando. Sem força, respirações ásperas que eram difíceis de se ver. E ouvir.

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- A gente deveria ajudá-lo a se sentar – perguntou Maria. – Você acha que o ajudaria a respirar?

Liz não sabia o que fazer. Eles deveriam chamar uma ambulância? Os

paramédicos poderiam ao menos trazer oxigênio ou algo. Mas se eles o levassem ao hospital, e se Michael, Isabel e Ray aparececem com os cristais, Max não estaria aqui.

E Max morreria sem os cristais, no hospital ou lá fora. - Liz – Max resmungou. - Estou aqui – ela disse a ele. – Não tente falar. Guarde suas forças. - Amo... você – sua pálpebra se agitou e fechou. - Não! – berrou Liz. Ela o agarrou pelos ombros e o sacudiu. A cabeça dele caiu

pesadamente para frente e para trás. - Não, Max. Por favor, não. - Ele está...? – Maria exclamou, se afastando da cama. - Checa o pulso dele – ordenou Alex. – Talvez esteja apenas inconsciênte. Ele estava certo. Ela não tinha certeza. Ela não ouvia as terríveis e rasgadas

respirações, mas talvez. Talvez. Ela pressionou os dedos contra o lado do pescoço dele. Mas suas mãos

estavam tremendo e sua própria batida cardíaca estava batendo forte em seus ouvidos. Ela não podia dizer.

- Max, vamos lá. Não vou deixar você partir – ela chorou. Ela gentilmente abriu

uma das pálpebras dele. Ela pensou ter visto a pupila dele se contrair um pouco. - Eu não acho... acho que ele ainda está conosco – exclamou Liz. - Max, não vá para a luz! – gritou Alex. Fazendo piadas como sempre, mas Liz podia ouvir a emoção na voz dele. - Max, precisamos de você – chamou Maria. – Você não pode ir ainda. Liz ouviu um grito de pneus do lado de fora. Um segundo depois a porta da

frente se abriu. - Eles estão aqui! Ouviu isso? Eles voltaram! – ela checou as pupilas dele

novamente. Dessa vez não houve resposta. Liz sentiu como se seu corpo virasse água do mar, imenso e gelado.

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- Eu os tenho! – Isabel gritou enquanto explodia dentro do quarto. - Eu... acho que pode ser tarde demais – respondeu Liz. Ela pressionou a mão

no peito de Max. Ela não conseguia sentir as batidas de coração dele. - Tente, mesmo assim – exigiu Alex. Isabel tirou os cristais do bolso e colocou nas mãos do irmão. Ela enrolou os

dedos dele, bem presos aos cristais, mantendo-os pertos dos dela. - Você tem que conectar ao incosciente coletivo, Max – Isabel disse a ele. - Por favor, Max – implorou Liz. – Você não pode morrer agora que finalmente

concordou que não temos mais que ser somente amigos. Sem perceber, todo mundo tinha se aconhegado ao lado de Max para apoiá-lo.

Maria sentiu as mãos de Isabel em seu ombro e olhou para ela. O rosto dela estava encharcado.

- Não se preocupe, Izzy. Max vai conseguir – Maria sussurrou. – Você trouxe os

cristais... e agora ele vai ficar bem. Isabel olhou nos olhos de Maria, seus olhos se arregaralam, e ela expirou. - Espero que esteja certa. Porque Valenti pegou Michael – ela disse.